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Aula 04 Direito Administrativo p/ XX Exame de Ordem - OAB Professores: Érica Porfírio, Erick Alves

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  • Aula 04

    Direito Administrativo p/ XX Exame de Ordem - OAB

    Professores: rica Porfrio, Erick Alves

  • Direito Administrativo para XX Exame OAB 2016

    Teoria e exerccios comentados

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    AULA 04

    Ol pessoal!

    Na aula de hoje estudaremos o tema poderes da administrao pblica.

    Para tanto, seguiremos o seguinte sumrio:

    SUMRIO

    Poderes da Administrao Pblica ....................................................................................................................... 3

    Poder vinculado ............................................................................................................................................................. 3

    Poder discricionrio .................................................................................................................................................... 4

    Poder hierrquico ......................................................................................................................................................... 9

    Poder disciplinar ........................................................................................................................................................ 14

    Poder regulamentar .................................................................................................................................................. 16

    Poder de polcia .......................................................................................................................................................... 23

    Abuso de poder.............................................................................................................................................................. 48

    RESUMO DA AULA ..................................................................................................................................................... 54

    Jurisprudncia da aula .............................................................................................................................................. 56

    Questes comentadas na aula ............................................................................................................................... 62

    Gabarito ............................................................................................................................................................................. 69

    Sem dvida, o poder de polcia o mais cobrado nas provas da OAB, conforme o raio X da aula 00. Portanto, vamos dar mais ateno a ele, beleza?

    Preparados? Aos estudos!

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    PODERES DA ADMINISTRAO PBLICA

    Os agentes pblicos possuem uma srie de prerrogativas que lhes permitem exercer atividades com a finalidade de concretizar os interesses da coletividade. Tais prerrogativas decorrem do princpio da supremacia do interesse pblico e constituem os chamados poderes administrativos.

    Conforme ensina Carvalho Filho, pode-se conceituar os poderes administrativos como o conjunto de prerrogativas de direito pblico que a ordem jurdica confere aos agentes administrativos para o fim de

    permitir que o Estado alcance seus fins.

    De regra, os poderes administrativos so concedidos por lei e destinam-se a instrumentalizar o administrador pblico para o atingimento do objetivo finalstico a que se presta o Estado: a satisfao dos interesses pblicos. Por isso, os poderes administrativos so considerados poderes instrumentais, ou seja, so os instrumentos que permitem Administrao cumprir suas finalidades. Diferem, assim, dos poderes polticos (Legislativo, Judicirio e Executivo), que so considerados poderes estruturais, pois formam a estrutura do Estado estabelecida na Constituio.

    Vejamos ento os principais poderes administrativos geralmente cobrados em prova.

    PODER VINCULADO

    O poder vinculado se relaciona com a prtica de atos vinculados, isto , atos cuja forma de execuo est inteiramente definida na lei.

    Os atos vinculados no admitem juzo de convenincia e oportunidade por parte do administrador pblico, pois a lei discrimina todos os elementos necessrios sua prtica. O agente, ento, deve agir nos exatos termos e limites previstos na lei, sem margem para escolha de conduta diversa.

    o caso, por exemplo, da cobrana de tributos pela Administrao Fazendria que, nos termos do art. 3 do Cdigo Tributrio Nacional, constitui atividade administrativa plenamente vinculada. Assim, ao ocorrer o fato gerador de determinado tributo, no cabe ao auditor fiscal decidir se realiza ou no a cobrana: o agente dever obrigatoriamente cobrar o tributo, nos termos previstos na lei, sob pena de responsabilidade.

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    O poder vinculado, ento, aquele que credencia o agente pblico para executar os atos vinculados previstos em lei. No nosso exemplo, o poder que permite ao auditor fiscal realizar a cobrana do tributo.

    Na verdade, o poder vinculado no constitui propriamente uma prerrogativa, e sim um dever que obriga o administrador pblico a se conduzir rigorosamente em conformidade com os parmetros legais. Ora, como vimos, o auditor fiscal no s pode como deve fazer a cobrana do tributo quando verificar a ocorrncia da hiptese de incidncia prevista em lei, sob pena de responsabilidade.

    Todavia, alguns autores consagrados, a exemplo de Hely Lopes Meirelles, ainda costumam incluir o poder vinculado entre os poderes administrativos, dando a ideia de uma prerrogativa.

    PODER DISCRICIONRIO

    A lei no capaz de traar rigidamente todas as condutas de um agente administrativo. Assim, em vrias situaes ela lhes oferece a possibilidade de valorao da conduta, isto , permite ao agente avaliar a convenincia e oportunidade dos atos que vai praticar.

    O poder discricionrio, portanto, aquele que confere prerrogativa para a Administrao praticar atos discricionrios, isto , atos cuja execuo admite certa margem de flexibilidade por parte dos agentes, os quais, dessa forma, podem usar seu juzo pessoal para escolher, entre vrias condutas possveis previstas em lei, a que traduz maior convenincia e oportunidade para o interesse pblico.

    Nesse caso, trata-se efetivamente de um poder para a Administrao. Esse poder de escolha, contudo, no deve ser exercido com arbitrariedade, e sim aplicado dentro dos limites da lei, com vistas ao atendimento dos interesses da coletividade.

    O juzo de convenincia e oportunidade constitui o denominado mrito administrativo, que se concretiza nas hipteses em que a prpria norma legal estabelece, por exemplo, que a administrao poder prorrogar determinado prazo por at quinze dias, ou que facultado administrao, a seu critrio, conceder ou no determinada autorizao etc.

    Detalhe interessante que o poder discricionrio fundamenta no s a prtica, mas tambm a revogao de atos discricionrios que a

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    Administrao Pblica tenha praticado e que, num momento posterior, passe a considerar inoportunos e inconvenientes.

    Importante notar que, geralmente, os limites legais do poder discricionrio so bem definidos. Veja, acima, o exemplo hipottico da prorrogao de prazo. O administrador at poder decidir se autoriza ou no a dilao do prazo; se autorizar, a lei fixa um limite mximo de quinze dias. Ou seja, ainda que tenha poder discricionrio para autorizar a prorrogao, esse poder no absoluto, vale dizer, o agente no poder autorizar a prorrogao por vinte, trinta ou sessenta dias, mas sim, no mximo, por quinze dias.

    Alm dos limites impostos expressamente pela prpria lei, o poder discricionrio tambm encontra obstculo nos princpios administrativos, sobretudo nos princpios da razoabilidade e da proporcionalidade. Se determinada atuao administrativa ultrapassar esses limites ser considerada arbitrria, o que sinnimo de conduta ilegal, podendo, assim, ser anulada pela prpria Administrao ou pelo Poder Judicirio.

    Por exemplo, o art. 130 da Lei 8.112/1990 prev expressamente que a suspenso ser aplicada em caso de reincidncia das faltas punidas com advertncia e de violao das demais proibies que no tipifiquem

    infrao sujeita a penalidade de demisso, no podendo exceder de 90

    (noventa) dias.

    Dessa forma, diante da ocorrncia de situaes que se enquadrem nas hipteses do art. 130 da Lei 8.112/1990, a Administrao dever aplicar a pena de suspenso ao servidor e, no uso do seu poder discricionrio, observando os princpios da razoabilidade e da proporcionalidade, estipular o prazo de afastamento, que poder ser de 20, 40, 60... at o mximo de 90 dias. Nesse quadro, uma suspenso de, por exemplo, 100 dias, seria um ato puramente arbitrrio e ilegal, por ter extrapolado os limites do poder discricionrio, passvel de anulao pela prpria Administrao ou pelo Poder Judicirio, se provocado. Da mesma forma, seria passvel de anulao uma suspenso de 90 dias, a mais grave possvel, para punir uma infrao leve, configurando uso claramente desproporcional do poder discricionrio; nessa hiptese, no h que se falar em revogao, visto que, quando a Administrao pratica um ato discricionrio com violao aos princpios da razoabilidade da proporcionalidade, esse um ato ilegtimo (e no meramente inoportuno e inconveniente), devendo, portanto, ser anulado.

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    Se, por outro lado, a Administrao fixar uma suspenso de 60 dias (dentro, portanto, do limite legal), e esse prazo for compatvel com a gravidade da conduta do servidor (observando, assim, os princpios da razoabilidade e da proporcionalidade), o ato representar exerccio legtimo do poder discricionrio, no estando sujeito anulao.

    Em relao ao controle judicial dos atos discricionrios, Carvalho Filho ressalta que a atuao do Judicirio deve se concentrar nos aspectos vinculados do ato, ou seja, naqueles sobre os quais o agente no tem liberdade de escolha, notadamente competncia (se o ato praticado por agente incompetente), finalidade (se o ato teve fim diverso do interesse pblico) e forma (se o ato foi produzido com forma diversa da prevista em lei). Todavia, segundo o autor, o Judicirio no pode aferir os critrios administrativos (convenincia e oportunidade) firmados em conformidade com os parmetros legais, e isso porque o Juiz no administrador, ou seja, no exerce tipicamente a funo administrativa, e sim a jurisdicional. Caso contrrio, haveria invaso de funes, vulnerando o princpio da independncia dos Poderes.

    Um exemplo trazido pelo autor ilustra bem a hiptese: em virtude de o Municpio do Rio de Janeiro ter alterado paradas e itinerrios de certas linhas de nibus, foi proposta ao judicial contra tal ato, e o STJ, apreciando a matria, decidiu tratar-se de ato discricionrio, que sob o aspecto formal no apresenta nenhum defeito, no podendo o Judicirio

    adentrar em suas razes de convenincia1.

    O poder discricionrio confere certa liberdade para o

    administrador valorar a oportunidade e a convenincia da

    prtica do ato, especialmente quanto ao seu motivo e ao

    seu contedo, observados os limites legais.

    A curiosidade que, alm do poder discricionrio, o poder vinculado tambm

    fundamenta a prtica de atos discricionrios, especificamente no que tange aos aspectos

    vinculados destes atos, quais sejam: competncia, finalidade e forma. Assim, temos a

    seguinte situao: na edio de um ato vinculado, o agente administrativo tem respaldo

    somente no poder vinculado; j na prtica de um ato discricionrio, o respaldo vem tanto

    do poder discricionrio (motivo e contedo) como do poder vinculado (competncia,

    finalidade e forma).

    Estudaremos mais detalhadamente esses aspetos do ato administrativo em aula especfica

    do curso.

    1 RMS 11.050/RJ

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    1. (FGV OAB 2010) No mbito do Poder discricionrio da Administrao Pblica, no se admite que o agente pblico administrativo exera o Poder discricionrio

    (A) quando estiver diante de conceitos legais e jurdicos parcialmente indeterminados, que se tornam determinados luz do caso concreto e luz das circunstncias de fato.

    (B) quando estiver diante de conceitos legais e jurdicos tcnico cientficos, sendo, neste caso, limitado s escolhas tcnicas, por bvio possveis.

    (C) quando estiver diante de conceitos valorativos estabelecidos pela lei, que dependem de concretizao pelas escolhas do agente, considerados o momento histrico e social.

    (D) em situaes em que a redao da Lei se encontra insatisfatria ou ultrapassada.

    Comentrios: vamos analisar cada alternativa, buscando aquela em que o agente pblico no pode utilizar o poder discricionrio:

    a) ERRADA. A doutrina majoritria entende que os chamados conceitos jurdicos indeterminados deixam Administrao a possibilidade de apreciao segundo critrios de convenincia e oportunidade. o que ocorre quando a lei manda punir o servidor que praticar falta grave, ou quando a lei prev tombamento de bem que tenha valor artstico ou cultural, sem definir em que consistem esses conceitos. Em cada caso concreto, ao analisar as circunstncias de fato, a Administrao dever decidir se a situao se enquadra ou no nesses conceitos, sempre de forma motivada. Assim, por exemplo, luz do caso concreto e luz das circunstncias de fato, a falta cometida pelo servidor pode ser considerada uma falta grave, enquadrando-se no conceito da lei. Em outro caso concreto, envolvido em circunstncias de fato diferentes, a mesma falta pode no ser considerada grave pela Administrao. Para fazer esses juzos de valor, a Administrao se vale do poder discricionrio.

    b) ERRADA. De fato, conforme ensina Maria Sylvia Di Pietro, quando estiver diante de conceitos legais e jurdicos tcnico cientficos, que dependem da manifestao de rgo tcnico, a Administrao no pode utilizar seu poder discricionrio. Isso porque, nesses casos, a Administrao fica vinculada opinio tcnica especializada, no podendo adotar soluo diversa. Por exemplo, quando a lei assegura o direito aposentadoria por invalidez, a deciso da Administrao fica vinculada ao laudo pericial mdico,

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    fornecido pelo rgo especializado competente, que concluir sobre a invalidez ou no para o trabalho. No existe, para a Administrao, mais do que uma soluo juridicamente vlida, que aquela apontada pelo parecer. O item, ao contrrio, afirma que o poder discricionrio ficaria limitado s escolhas tcnicas, por bvio possveis. Como visto, s existir uma soluo juridicamente vlida, que a soluo apresentada pelo rgo tcnico, e no vrias solues por bvio possveis. No caso de conceitos tcnicos, a deciso da Administrao deve se embasar em pareceres tcnicos; no h espao para que determinada medida seja adotada discricionariamente pelo fato de o agente pblico entender que ela bvia.

    c) ERRADA. Nos casos de conceitos de valor, como os de moralidade, interesse pblico, utilidade pblica etc., a discricionariedade pode existir. luz do caso concreto e luz das circunstncias de fato, a Administrao pode definir se determinado ato ou no moral ou condizente com o interesse pblico, da o erro. Contudo, como ocorre em todos os casos em que a discricionariedade possvel, no significa que h liberdade total, isenta de qualquer limite. Di Pietro ensina que, muitas vezes, a matria de fato permite tornar determinado um conceito que na lei aparece como indeterminado. o caso, por exemplo, da expresso notrio saber jurdico; ela indeterminada quando aparece na lei, porm pode tornar-se determinada pelo exame do currculo da pessoa a que se atribui essa qualidade.

    d) CERTA. O poder discricionrio no permite ao agente pblico avaliar a convenincia e a oportunidade da redao da Lei, ou seja, o agente no pode deixar de aplicar a Lei por entender que ela se encontra insatisfatria ou ultrapassada. Tal valorao compete ao Poder Legislativo ou, em determinados casos, ao Poder Judicirio. Enquanto a redao da lei estiver vigente e no for impugnada em aes judiciais, a Administrao dever aplica-la em sua integralidade.

    Gabarito: alternativa d

    2. (Cespe CNJ 2013) O exerccio do poder discricionrio pode concretizar-se tanto no momento em que o ato praticado, bem como posteriormente, como no momento em que a administrao decide por sua revogao.

    Comentrio: A questo est correta. O poder discricionrio fundamenta no s a prtica, mas tambm a revogao de atos discricionrios que a Administrao Pblica tenha praticado e que, num momento posterior, passe a considerar inoportunos e inconvenientes. Perceba que a deciso de revogar ou no um ato tambm discricionria.

    Gabarito: Certo

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    PODER HIERRQUICO

    O desempenho eficiente da funo administrativa requer que haja distribuio de competncias e escalonamento entre rgos, cargos e atribuies. Para que haja harmonia e unidade de direo, se estabelece uma relao de coordenao e subordinao entre os diversos nveis, ou seja, se estabelece uma relao de hierarquia.

    Uma relao de hierarquia caracteriza-se pela existncia de nveis de subordinao entre rgos e agentes pblicos, sempre no mbito de uma mesma pessoa jurdica2. o caso, por exemplo, da relao entre um Ministrio e respectivas secretarias e demais rgos administrativos, ou entre um chefe de departamento e os funcionrios desse setor.

    Nesse contexto, o poder hierrquico aquele que permite ao superior hierrquico exercer determinadas prerrogativas sobre seus subordinados, especialmente as de dar ordens, fiscalizar, controlar, aplicar sanes, delegar e avocar competncias. Vamos ver um pouco mais sobre cada uma dessas prerrogativas.

    A prerrogativa de dar ordens permite ao superior hierrquico assegurar o adequado funcionamento dos servios sob sua responsabilidade. Tambm conhecida como poder comando.

    Alm de ordens diretas, verbais ou escritas, direcionadas a um subordinado especfico, o poder de comando tambm pode ser exercido mediante a edio de atos administrativos ordinrios, como ordens de 2 Marcelo Alexandrino e Vicente Paulo (2014, p. 232).

    Poder hierrquico

    Dar ordens

    Fiscalizar

    Aplicar sanes

    Controlar

    Delegar e avocar

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    servio, portarias, instrues, circulares internas etc., que obrigam de forma indistinta todos os subordinados aos quais se destina.

    Por seu turno, os subordinados se sujeitam ao chamado dever de obedincia, isto , ao dever de acatar as ordens emitidas por seus superiores hierrquicos, exceto quando estas ordens forem manifestamente ilegais3.

    Prosseguindo, a prerrogativa de fiscalizar permite ao superior acompanhar, de modo permanente, a atuao de seus subordinados. Trata-se, na verdade, de um poder-dever, ou seja, mais que uma prerrogativa, uma obrigao do superior fiscalizar a atuao dos seus subordinados.

    Como decorrncia lgica do poder de fiscalizar, existe o poder de controle, que permite ao superior tomar medidas concretas face s constataes surgidas no acompanhamento das atividades de seus subordinados. O poder de controle compreende, assim, a manuteno dos atos vlidos, convenientes e oportunos, a convalidao de atos com defeitos sanveis, a anulao de atos ilegais e a revogao de atos discricionrios inoportunos ou inconvenientes4.

    O controle hierrquico permite que o superior aprecie todos os aspectos dos atos de seus subordinados, no se restringindo, assim, a questes de legalidade, mas tambm abrangendo o mrito administrativo. Pode o superior, por exemplo, por razes de convenincia e oportunidade, no concordar com determinada proposta formulada por subordinado seu, decidindo de forma diversa.

    Detalhe que o controle hierrquico pode ocorrer de ofcio ou mediante provocao dos interessados, por meio de recursos hierrquicos.

    Quanto aplicao de sanes, registre-se que s decorrem do poder hierrquico as sanes disciplinares, quais sejam, aquelas aplicadas aos servidores pblicos que cometam infraes funcionais. Assim, as sanes aplicadas a particulares no tm como fundamento o poder hierrquico, afinal, no h hierarquia entre a Administrao e os administrados. Tais sanes (aos particulares) decorrem do exerccio do poder disciplinar ou do poder de polcia, conforme o caso. Falaremos mais sobre isso daqui a pouco. 3 Lei 8.112/1990: art. 116: So deveres do servidor: IV - cumprir as ordens superiores, exceto quando manifestamente ilegais;

    4 Marcelo Alexandrino e Vicente Paulo (2014, p. 233).

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    Em relao delegao de competncias, refere-se ao ato pelo qual o superior hierrquico confere o exerccio temporrio de algumas de suas atribuies a um subordinado. A delegao de competncias um ato discricionrio e, por isso, revogvel a qualquer tempo. Dizendo de outra forma, o superior pode, dentro dos limites da lei, delegar as competncias que desejar, em razo de circunstncias de ndole tcnica, social, econmica, jurdica ou territorial, podendo, da mesma forma, revoga-la quando quiser, retirando do subordinado os poderes para praticar os atos delegados.

    Ressalte-se que a delegao transfere o mero exerccio de uma competncia, permanecendo a titularidade dessa competncia com a autoridade delegante, a qual no pode renunciar a suas responsabilidades, visto que elas sempre decorrem de lei.

    Nem todas as competncias, porm, podem ser delegadas. Exemplos clssicos de competncias indelegveis so os atos polticos (somente se delega atos administrativos) e as funes tpicas de cada Poder, salvo nos casos expressamente previstos na Constituio (por exemplo, no caso das leis delegadas, em que o Presidente da Repblica poder exercer funo legislativa, nos termos do art. 68 da CF).

    Ademais, no mbito federal, no podem ser objeto de delegao (Lei 9.784/1999, art. 13):

    a edio de atos de carter normativo;

    a deciso de recursos administrativos;

    as matrias de competncia exclusiva do rgo ou autoridade.

    J a avocao ato discricionrio, de carter excepcional, mediante o qual o superior hierrquico atrai para si o exerccio temporrio de determinada competncia exercida por um subordinado. Assinale-se que a avocao desonera o subordinado de toda responsabilidade pelo ato avocado pelo superior.

    A Lei 9.784/1999, que disciplina o processo administrativo

    no mbito federal, admite delegao de competncias

    mesmo que no haja subordinao hierrquica, ou seja,

    possvel haver delegao de competncia fora do mbito do poder hierrquico. O

    mesmo no ocorre, contudo, com a avocao de competncia, a qual s possvel

    nas hipteses em que exista hierarquia entre os rgos ou agentes envolvidos.

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    Por fim, importante ressaltar que o poder hierrquico no depende de lei que expressamente o preveja ou que estabelea o momento do seu exerccio ou os aspectos a serem controlados. Ele inerente organizao administrativa hierrquica, possuindo carter irrestrito, permanente e automtico. Nesse aspecto, difere da tutela administrativa, exercida pela administrao direta sobre as entidades da administrao indireta, que s pode ser exercida nos termos e limites previstos em lei.

    3. (FGV OAB 2013) Jos da Silva o chefe do Departamento de Pessoal de uma Secretaria de Estado. Recentemente, Jos da Silva avocou a anlise de determinada matria, constante de processo administrativo inicialmente distribudo a Joo de Souza, seu subordinado, ao perceber que a questo era por demais complexa e no vinha sendo tratada com prioridade por aquele servidor.

    Ao assim agir, Jos da Silva fez uso

    A) do poder hierrquico.

    B) do poder disciplinar.

    C) do poder discricionrio.

    D) da teoria dos motivos determinantes.

    Comentrios: A avocao de tarefas medida inerente ao exerccio do poder hierrquico. Com efeito, o poder hierrquico aquele que permite ao superior hierrquico exercer determinadas prerrogativas sobre seus subordinados, especialmente as de dar ordens, fiscalizar, controlar, aplicar sanes, delegar e avocar competncias.

    Na avocao, o superior hierrquico atrai para si a responsabilidade de executar determinada atribuio de um subordinado. o contrrio da delegao, em que o superior hierrquico atribui a um subordinado a responsabilidade de executar algumas de suas competncias.

    Gabarito: alternativa a

    4. (ESAF CVM 2010) No que tange ao poder hierrquico, assinale a opo correta.

    a) A atuao da autoridade administrativa que consiste em restringir ou condicionar o uso de bens ou exerccio de direitos pelos particulares, visando preservao do interesse pblico, tem como fundamento o poder hierrquico.

    b) As sanes administrativas aplicadas pelo poder pblico, no exerccio do poder de

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    polcia, tm fundamento no poder hierrquico.

    c) H relao de hierarquia entre a Unio e as entidades que integram sua Administrao Indireta.

    d) Decorre do poder hierrquico a edio de atos regulamentares.

    e) A avocao de competncia decorre do poder hierrquico.

    Comentrio: Vamos analisar cada alternativa:

    a) ERRADA. Trata-se da definio de poder de polcia, e no de poder hierrquico.

    b) ERRADA. As sanes administrativas aplicadas pelo poder pblico no exerccio do poder de polcia tm como fundamento o prprio poder de polcia, e no o hierrquico. Com efeito, no h relao de hierarquia entre Administrao e administrados. Assim, por exemplo, o fato de o particular precisar de alvar para construir em terreno prprio no porque ele est subordinado Administrao, e sim porque a necessidade de tal licena foi definida por lei como uma forma de evitar que a referida atividade privada interferisse nos interesses da coletividade.

    c) ERRADA. A hierarquia ocorre sempre dentro de uma mesma pessoa jurdica. Lembre-se de que as entidades da administrao indireta possuem personalidade jurdica prpria, diferente da pessoa poltica instituidora. Dessa forma, entre a Unio e as entidades da administrao indireta no existe hierarquia, mas apenas vinculao para fins de controle finalstico (superviso ministerial).

    d) ERRADO. O poder hierrquico fundamenta a edio de atos normativos com efeitos internos, portanto, incidentes apenas sobre os agentes e rgos presentes na relao hierrquica. J os atos regulamentares propriamente ditos possuem efeitos gerais e abstratos e decorrem do poder regulamentar. Todavia, essa alternativa poderia causar dvida. Veja que, na questo anterior (21), a banca relacionou o poder regulamentar ao poder hierrquico. Enfim, nesses casos em que h dvida, a melhor estratgia buscar, dentre as alternativas, a que esteja mais certa ou menos errada. Nesta questo, no h dvida de que a seguinte.

    e) CERTA. Segundo Hely Lopes Meirelles, do poder hierrquico decorrem faculdades implcitas para o superior, tais como a de dar ordens e fiscalizar o seu cumprimento, a de delegar e avocar atribuies e a de rever os atos de inferiores. Lembrando que avocar chamar para si funes originariamente atribudas a um subordinado.

    Gabarito: alternativa e

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    PODER DISCIPLINAR

    O poder disciplinar pode ser entendido como a possibilidade de a Administrao aplicar sanes queles que, submetidos sua ordem administrativa interna, cometem infraes.

    No exerccio do poder disciplinar, a Administrao Pblica pode:

    Punir internamente as infraes funcionais de seus servidores;

    Punir infraes administrativas cometidas por particulares a ela ligados mediante algum vnculo especfico (contrato, convnio etc).

    Detalhe a ser observado que no so apenas os servidores pblicos que se submetem ao poder disciplinar da Administrao. Determinados particulares tambm esto sujeitos. o caso, por exemplo, dos que firmam contratos com o Poder Pblico, que estaro sujeitos s sanes disciplinares pelo vnculo estabelecido por meio do instrumento contratual. Claro que, para tanto, as sanes devem estar previstas no contrato firmado, sobretudo especificando as infraes punveis.

    O poder disciplinar correlato com o poder hierrquico, mas com ele no se confunde. No uso do poder hierrquico, a Administrao Pblica distribui e escalona as suas funes executivas; j no uso do poder disciplinar ela controla o desempenho dessas funes e a conduta interna de seus servidores, responsabilizando-os pelas faltas cometidas.

    Note que, quando a Administrao pune infraes funcionais de seus servidores, faz uso tanto do poder disciplinar como do poder hierrquico. Ao contrrio, quando pune infraes administrativas cometidas por particulares, por exemplo, quando descumprem um contrato administrativo firmado com o Poder Pblico, incide apenas o poder disciplinar, pois no existe relao de hierarquia.

    A doutrina enfatiza que o poder disciplinar da Administrao Pblica no se confunde com o poder punitivo do Estado, o qual exercido pelo Poder Judicirio com o objetivo de reprimir crimes, contravenes e demais infraes de natureza cvel e penal previstos em lei. Com efeito, o poder punitivo do Estado incide sobre qualquer pessoa que pratique algum ato infrator tipificado em lei, enquanto o poder disciplinar alcana somente pessoas que possuam algum vnculo jurdico especfico com a Administrao Pblica, seja vnculo funcional (ex: servidores e empregados pblicos), seja contratual (ex: empresas particulares contratadas pelo Poder Pblico ou que firmam convnios de repasse de recursos pblicos).

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    Pelas mesmas razes, o poder disciplinar no se confunde com o poder de polcia, ao qual se sujeitam todas as pessoas que exeram atividades que possam, de alguma forma, acarretar risco ou transtorno sociedade, a exemplo das empresas de construo civil, dos motoristas, dos comerciantes de alimentos, dos portadores de arma de fogo etc.

    Vejamos as empresas de construo civil. Mesmo que no tenham contrato com o Poder Pblico, assas empresas esto sujeitas ao poder polcia (ex: necessitam de alvars, podem ser fiscalizadas, a obra pode ser embargada etc.). Diz-se que as pessoas sujeitas ao poder de polcia possuem um vnculo geral com a Administrao Pblica (lembrando que o poder disciplinar incide sobre as pessoas que possuem um vnculo especfico).

    Por fim, no demais lembrar que a aplicao de penalidades administrativas deve ser sempre devidamente motivada, a fim de assegurar aos interessados o devido direito de defesa.

    5. (Cespe PGE/BA 2014) A aplicao das penas de perda da funo pblica e de ressarcimento integral do dano em virtude da prtica de ato de improbidade administrativa situa-se no mbito do poder disciplinar da administrao pblica.

    Comentrio: O item est errado. O poder disciplinar permite Administrao apurar e aplicar penalidades administrativas a seus servidores e s demais pessoas sujeitas disciplina interna do Poder Pblico. J o processamento e o julgamento das aes de improbidade administrativa, com a consequente aplicao das penas correlatas, de natureza civil e poltica, competem ao Poder Judicirio, no exerccio do poder punitivo do Estado.

    Gabarito: Errado

    6. (Cespe PM/CE 2014) O poder disciplinar fundamenta tanto a aplicao de sanes s pessoas que tenham vnculo com a administrao, caso dos servidores pblicos, como s que, no estando sujeitas disciplina interna da administrao, cometam infraes que atentem contra o interesse coletivo.

    Comentrio: O poder disciplinar fundamenta apenas a aplicao de sanes s pessoas que tenham vnculo com a administrao, caso dos servidores pblicos e das pessoas contratadas pelo Poder Pblico. J as pessoas no sujeitas disciplina interna da administrao, ao cometerem infraes que atentem contra o interesse coletivo, so sancionadas com base no poder de polcia, da o erro.

    Gabarito: Errado

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    PODER REGULAMENTAR

    O poder regulamentar a faculdade de que dispem os Chefes do Poder Executivo (Presidente da Repblica, Governadores e Prefeitos) para editar atos administrativos normativos.

    Em regra, o exerccio do poder regulamentar se materializa na edio de:

    Decretos e regulamentos, os chamados decretos de execuo ou decretos regulamentares, que tm por objetivo definir procedimentos para a fiel execuo das leis, nos termos do art. 84, IV da CF5; ou de

    Decretos autnomos, que tm como objetivo dispor sobre determinadas matrias de competncia dos Chefes do Executivo, listadas no inciso VI do art. 84 da CF6, as quais no so disciplinadas em lei.

    A doutrina enfatiza que o poder regulamentar, consubstanciado na edio de decretos e regulamentos de execuo e de decretos autnomos, um poder inerente e privativo do Chefe do Poder Executivo7.

    fato, porm, que no Brasil, alm dos Chefes do Poder Executivo, diversos rgos e autoridades administrativas, e mesmo entidades da administrao indireta, tambm editam atos administrativos normativos. o caso, por exemplo, dos Ministros de Estado, que possuem competncia para expedir instrues para a execuo das leis, decretos e regulamentos (CF, art. 87, inciso II), ou da Receita Federal, que edita instrues normativas para orientar os contribuintes no recolhimento de tributos. Na administrao indireta, pode-se tomar como exemplo o Banco Central, a CVM e as agncias reguladoras, que editam resolues, portarias e instrues normativas sobre assuntos de sua competncia.

    Contudo, os atos normativos produzidos por esses outros rgos e autoridades, denominados regulamentos autorizados, no decorrem do poder regulamentar, visto que este, como vimos, exclusivo (inerente e privativo) do Chefe do Poder Executivo. Para solucionar a questo, a

    5 Constituio Federal, art. 84, inciso IV: Compete privativamente ao Presidente da Repblica sancionar promulgar e fazer publicar as leis, bem como expedir decretos e regulamentos para sua fiel execuo. 6 Constituio Federal, art. 84, inciso VI: Compete privativamente ao Presidente da Repblica dispor, mediante decreto, sobre:

    a) organizao e funcionamento da administrao federal, quando no implicar aumento de despesa nem

    criao ou extino de rgos pblicos;

    b) extino de funes ou cargos pblicos, quando vago. 7 Hely Lopes Meirelles (2008, p. 129).

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    doutrina costuma dizer que esses outros atos normativos tm fundamento no poder normativo da Administrao Pblica, que seria um poder mais amplo que o poder regulamentar, por abranger a capacidade normativa de toda a Administrao para editar regulamentos autorizados.

    Assim, o poder regulamentar, exclusivo do Chefe do Poder Executivo, seria uma espcie do gnero poder normativo, este extensvel a toda a Administrao Pblica. Deve ficar claro, apenas, conforme salientam Marcelo Alexandrino e Vicente Paulo, que ao praticar atos com base no poder regulamentar (espcie), o Chefe do Poder Executivo no deixa de estar exercendo o poder normativo da Administrao Pblica (gnero).

    Vamos agora esmiuar um pouco mais as caractersticas dos atos administrativos normativos.

    Decretos de execuo ou regulamentares

    Os decretos de execuo ou regulamentares, nos termos do art. 84, IV da CF, so regras editadas pelo Chefe do Poder Executivo com vistas a possibilitar a fiel execuo das leis que, de algum modo, envolvam atuao da Administrao Pblica.

    Como exemplo, pode-se citar o Decreto 8.624/2014, que regulamenta a Lei n 12.741/2012. A referida lei preceitua que o valor de determinados tributos incidentes sobre as mercadorias e servios devem constar dos respectivos documentos fiscais, ou seja, a lei cria um direito de informao para o consumidor e uma obrigao de informar dirigida aos empresrios. J o decreto no cria novos direitos e obrigaes, mas apenas estabelece como sero os procedimentos para que a lei seja cumprida, por exemplo, definindo que a informao dever ser aposta em campo prprio ou no campo Informaes Complementares do respectivo documento fiscal.

    Deve ficar claro que os decretos de execuo no podem, em hiptese alguma, inovar o direito, vale dizer, no podem criar direito ou obrigao que a lei no criou, nem restringir ou ampliar direito ou obrigao disciplinada na lei. Ao contrrio, os decretos devem se limitar ao contedo da lei, explicando seus dispositivos e definindo os procedimentos operacionais necessrios sua fiel execuo, sob pena de sofrer invalidao.

    No nosso exemplo, o Decreto no poderia determinar que os comerciantes inclussem no documento fiscal informaes sobre outros tributos alm daqueles expressamente definidos na lei, mas apenas

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    estabelecer como o valor dos tributos previstos na lei deve ser informado ao consumidor.

    No obstante, Carvalho Filho pondera que legtima a fixao de obrigaes subsidirias (ou derivadas), diversas das obrigaes primrias (ou originrias) contidas na lei, desde que essas novas obrigaes guardem consonncia com as obrigaes legais. Se, por exemplo, a lei concede algum benefcio s pessoas que se enquadrem em determinada condio, pode o ato regulamentar indicar quais documentos o interessado estar obrigado a apresentar para comprovar sua situao. Essa obrigao probatria no est expressamente prevista na lei, mas est nela amparada, podendo ser considerada legtima.

    Detalhe importante que a competncia para expedio dos decretos e regulamentos de execuo no passvel de delegao (CF, art. 84, pargrafo nico).

    Os decretos de execuo ou regulamentares, em regra, so atos de carter geral e abstrato, ou seja, no possuem destinatrios determinados e incidem sobre todos os fatos ou situaes que se enquadrem nas hipteses neles previstas.

    A doutrina enfatiza que o Chefe do Poder Executivo s pode regulamentar leis administrativas, isto , leis cuja execuo, de algum modo, necessite da atuao da Administrao Pblica. Assim, o poder regulamentar no abrange, por exemplo, a regulamentao das leis penais e processuais, que prescindem de qualquer participao da Administrao para o seu cumprimento.

    Decretos autnomos

    Os decretos autnomos so regulamentos editados pelo Poder Executivo na qualidade de atos primrios, diretamente derivados da Constituio, ou seja, so decretos que no se destinam a regulamentar alguma lei, no precisam de lei prvia para existir. Sua finalidade normatizar, de forma originria, as matrias expressamente definidas na Constituio, inexistindo qualquer ato de natureza legislativa que se situe entre eles e a Constituio.

    No Brasil, a edio de decretos autnomos s pode ser feita para dispor sobre (CF, art. 84, VI):

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    a) Organizao e funcionamento da administrao federal, quando no implicar aumento de despesa nem criao ou extino de rgos pblicos;

    b) Extino de funes ou cargos pblicos, quando vagos.

    Importante ressaltar que essas so as duas nicas matrias passveis de normatizao mediante decretos autnomos. Qualquer outro tema deve ser tratado originariamente por lei.

    As matrias objeto dos decretos autnomos constituem competncia privativa do Chefe do Poder Executivo, vale dizer, sua edio no conta com a participao do Poder Legislativo. Encontram-se sob a denominada reserva de administrao (matrias que somente podem ser reguladas por ato administrativo), estando fora da competncia do Poder Legislativo.

    Ao contrrio do que ocorre com os decretos de execuo, a competncia para edio dos decretos autnomos pode ser delegada a outras autoridades administrativas. Na esfera federal, o Presidente da Repblica pode delega-la aos Ministros de Estado, ao Procurador-Geral da Repblica ou ao Advogado-Geral da Unio (CF, art. 84, pargrafo nico).

    A competncia para editar decretos autnomos pode ser delegada. J para os decretos de execuo, no pode.

    Regulamentos autorizados

    Os regulamentos autorizados so aqueles em que o Poder Executivo, por expressa autorizao da lei, completa as disposies dela constantes, e no simplesmente a regulamenta, especialmente em matrias de natureza tcnica.

    Tpico exemplo de regulamentos autorizados so as normas editadas pelas agncias reguladoras, conforme estudamos na aula passada.

    Como vimos, tais regulamentos devem observar as diretrizes, os parmetros, as condies e os limites estabelecidos na lei que autorizou sua edio, de modo que a norma elaborada funcione apenas como uma complementao tcnica necessria das disposies legais.

    Uma vez que podem ser editados por rgos e entidades de natureza tcnica, constituem manifestao do poder normativo, e no do poder regulamentar, que privativo do Chefe do Executivo.

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    O regulamento autorizado ato administrativo secundrio (deriva da lei, ato primrio que o autoriza). No se confunde com a lei delegada, prevista no art. 68 da CF, pois esta literalmente uma lei, cuja edio delegada pelo Congresso Nacional.

    Alis, frise-se que vedada a utilizao de regulamentos autorizados para tratar de matrias constitucionalmente reservadas lei.

    Marcelo Alexandrino e Vicente Paulo esclarecem que importante enfatizar as seguintes diferenas entre os regulamentos autorizados e os regulamentos de execuo, estudados anteriormente:

    Regulamentos autorizados Regulamentos de execuo

    No tm previso expressa no texto

    constitucional.

    Esto previstos no art. 84, IV da CF.

    Efetivamente completam a lei, veiculam

    disposies que no constam da regulao

    legal, nem mesmo implicitamente (a lei

    intencionalmente lacunosa), em suma, inovam

    o direito (embora seguindo as diretrizes da lei).

    Os regulamentos de execuo no

    podem, na teoria, inovar o direito, de

    forma alguma.

    So editados por rgos e entidades

    administrativos de perfil tcnico, conforme

    autoriza a lei.

    So de competncia privativa do Chefe

    do Poder Executivo, indelegvel.

    Dispem sobre matrias de ndole tcnica

    pertinentes rea de atuao do rgo ou

    entidade que os edita.

    No se restringem a assuntos de ordem

    tcnica, podendo tratar de qualquer

    assunto administrativo.

    Controle dos atos regulamentares

    Caso o Poder Executivo extrapole os limites da lei no exerccio do seu poder regulamentar, o Congresso Nacional poder sustar tais atos normativos. o que diz o art. 49, V da CF:

    Art. 49. da competncia exclusiva do Congresso Nacional:

    V - sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar ou dos limites de delegao legislativa;

    Cuida-se, como se pode observar, de controle exercido pelo Legislativo sobre o Executivo no que diz respeito aos limites do poder

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    regulamentar, com o objetivo de coibir violao indevida da funo legislativa.

    Ademais, o Poder Judicirio e a prpria Administrao podem exercer controle de legalidade sobre atos normativos, anulando aqueles considerados ilegais ou ilegtimos.

    Em relao ao controle judicial, possvel ao Poder Judicirio controlar a legalidade e a constitucionalidade de atos administrativos normativos.

    Caso o ato normativo esteja em conflito com a lei que ele regulamenta, por extrapolar seus limites (ultra legem) ou por contraria-la frontalmente (contra legem), a questo caracterizar tpica ilegalidade, passvel, portanto, de controle de legalidade. No cabe, no caso, impugnao mediante ao direta de inconstitucionalidade ADI (CF, art. 102, I, a)8.

    Por outro lado, se o ato normativo ofender diretamente a Constituio, sem que haja alguma lei a que deva subordinar-se, ter a qualificao de ato autnomo e, nessa hiptese, poder sofrer controle de constitucionalidade pela via direta, ou seja, atravs de ADI.

    Sendo assim, para que seja vivel o controle de constitucionalidade de decreto, regulamento ou outro tipo de ato administrativo de cunho normativo, dois sero os aspectos que o ato dever conter9:

    indispensvel que ele tenha, de fato, carter normativo, isto , seja dotado de normatividade, de generalidade e abstrao; e

    necessrio que ele tenha carter autnomo, vale dizer, o ato deve conflitar diretamente com a Constituio da Repblica (o conflito no pode ocorrer entre o ato e uma lei que ele regulamente).

    Caso contrrio, o controle judicial dever ocorrer por outras vias, e no por ADI. Atualmente, por exemplo, cabvel a impugnao direta pela arguio de descumprimento de preceito fundamental, instituto previsto no art. 102, 1 da CF.

    8 Ver ADI 996/DF 9 Ver ADI 1.396/SC

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    7. (Cespe SUFRAMA 2014) Poder regulamentar o poder que a administrao possui de editar leis, medidas provisrias, decretos e demais atos normativos para disciplinar a atividade dos particulares.

    Comentrio: O poder regulamentar confere prerrogativa Administrao, mais precisamente ao chefe do Executivo, para editar decretos e regulamentos com vistas a permitir a efetiva concretizao das leis. Trata-se, portanto, de produo normativa no campo infralegal, vale dizer, edio de atos normativos secundrios. Dessa forma, a questo erra ao afirmar que o poder regulamentar fundamenta a edio de leis e medidas provisrias, que so espcies normativas primrias.

    Gabarito: Errado

    8. (Cespe TCU 2013) Se, ao editar um decreto de natureza regulamentar, a Presidncia da Repblica invadir a esfera de competncia do Poder Legislativo, este poder sustar o decreto presidencial sob a justificativa de que o decreto extrapolou os limites do poder de regulamentao.

    Comentrio: A assertiva est correta, nos termos do art. 49, V da CF:

    Art. 49. da competncia exclusiva do Congresso Nacional:

    V - sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar ou dos limites de delegao legislativa;

    Gabarito: Certo

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    PODER DE POLCIA

    O poder de polcia, tambm denominado polcia administrativa, a faculdade de que dispe a Administrao Pblica para condicionar ou restringir o uso de bens, o exerccio de direitos e a prtica de atividades privadas, tudo com vistas a proteger os interesses gerais da coletividade.

    Constitui, portanto, toda atividade administrativa calcada no princpio da supremacia do interesse pblico pela qual se impe algum tipo de limitao ou interferncia rbita do interesse privado com o fim de ajust-lo ao interesse pblico, a exemplo da expedio de alvars para construes, da interdio de estabelecimentos em situao irregular, da fiscalizao ambiental, da aplicao de sanes pelo descumprimento de normas de trnsito etc.

    Repare que, em todas essas situaes, o Poder Pblico condiciona ou restringe atividades particulares em favor do interesse pblico. Uma interdio de estabelecimento pela vigilncia sanitria, por exemplo, busca evitar que os desleixos do proprietrio em relao ao cumprimento das normas de higiene prejudiquem a sade da populao; j as fiscalizaes de trnsito visam prevenir acidentes causados por condutores que trafegam em alta velocidade, embriagados, sem habilitao etc.

    O poder de polcia pode ser entendido em sentido amplo

    ou estrito. A definio apresentada anteriormente

    corresponde ao sentido estrito. Tomado a partir dessa

    concepo, o poder de polcia abrange to somente as atividades administrativas de

    regulamentao e de execuo das leis que estabelecem normas primrias de

    polcia. Em sentido amplo, alm da atividade administrativa, o poder de polcia

    tambm abrange a atividade do Poder Legislativo de editar leis que tenham o

    objetivo de condicionar ou limitar a liberdade e a propriedade, as chamadas

    limitaes administrativas ao exerccio das atividades pblicas.

    Deve ficar claro que, ao exercer o poder polcia, a Administrao est praticando um ato administrativo, sujeito, portanto, s regras que regem as demais atividades da Administrao, inclusive ao controle de legalidade pelo Poder Judicirio.

    Ademais, qualquer medida restritiva adotada com base no poder de polcia deve observar o devido processo legal, assegurando ao

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    administrado o direito ampla de defesa, bem como deve se pautar pelos princpios da razoabilidade e da proporcionalidade.

    Competncia

    A competncia para exercer o poder de polcia , em princpio, da pessoa federativa qual a Constituio Federal conferiu o poder de regular a matria.

    Assim, conforme leciona Hely Lopes Meirelles, os assuntos de interesse nacional ficam sujeitos regulamentao e policiamento da Unio; as matrias de interesse regional sujeitam-se s normas e polcia estadual; e os assuntos de interesse local subordinam-se aos regulamentos e ao policiamento administrativo municipal.

    Embora essa diviso de competncias parea simples, a diversidade de temas com que a Administrao se depara na prtica faz com que frequentemente surjam dvidas em relao ao ente competente para a execuo e o exerccio do poder de polcia sobre determinada atividade.

    Por exemplo, a jurisprudncia j se firmou no sentido de que a Unio tem competncia para regular horrio de atendimento bancrio10, mas para fixar horrio de funcionamento de lojas comerciais a competncia do Municpio11.

    Quando for conveniente, os entes federativos podem exercer o poder de polcia em sistema de cooperao, firmando convnios administrativos ou consrcios pblicos com base no regime de gesto associada previsto no art. 241 da CF. o que ocorre, com frequncia, nas atividades de fiscalizao do trnsito, em que h infraes sujeitas fiscalizao federal, estadual e municipal, sendo, ento, conveniente uma atuao conjunta para conquistar maior eficincia12.

    Modalidades de exerccio

    O poder de polcia administrativa pode ser exercido de forma preventiva ou repressiva.

    O poder de polcia preventivo ocorre nos casos em que o particular necessita obter anuncia prvia da Administrao para utilizar 10 Smula n 19, do STJ: A fixao do horrio bancrio, para atendimento ao pblico, da competncia da Unio. 11 Smula n 645, do STF: competente o municpio para fixar o horrio de funcionamento de estabelecimento comercial. 12 Carvalho Filho (2014, p. 79).

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    determinados bens ou para exercer determinadas atividades privadas que possam afetar a coletividade. Tal anuncia formalizada nos denominados atos de consentimento, os quais podem ser de licena ou de autorizao:

    Licena: ato administrativo vinculado e definitivo pelo qual a Administrao reconhece que o particular preenche as condies para usufruir determinado direito de que seja possuidor. So exemplos a licena para o exerccio da profisso na qual o indivduo se formou ou a licena para a pessoa construir em terreno de sua propriedade.

    Autorizao: ato administrativo discricionrio e precrio pelo qual a Administrao autoriza o particular a exercer determinada atividade que seja de seu interesse (e no de seu direito). So exemplos o uso especial de bem pblico, a interdio de rua para a realizao de festividade, o trnsito por determinados locais e o porte de arma de fogo.

    Perceba que a licena, por se tratar de permisso para o exerccio de um direito subjetivo do particular, possui carter vinculado e definitivo, ou seja, no pode ser negada quando o requerente satisfaa os requisitos legais e regulamentares exigidos para sua obteno. J a autorizao, que no se refere a um direito, e sim a um interesse do particular, possui carter discricionrio e precrio, isto , pode ser negada ainda que o requerente satisfaa os requisitos, alm de ser passvel de revogao a qualquer tempo, independentemente de indenizao.

    O instrumento formal que geralmente formaliza as licenas e autorizaes o alvar, mas documentos diversos tambm podem cumprir esse papel, como carteiras, declaraes, certificados, etc. A ttulo de exemplo, a autorizao para que se mantenha arma de fogo no interior da residncia formalizada pelo certificado de registro de arma de fogo; j a licena para dirigir concedida mediante a emisso de carteira nacional de habilitao. O que importa, pois, o consentimento que a Administrao deseja emitir por semelhantes atos.

    No que tange ao poder de polcia repressivo, refere-se aplicao de sanes administrativas a particulares pelo descumprimento de normas de ordem pblica (normas de polcia).

    Dentre as inmeras sanes cabveis pode-se mencionar: imposio de multas administrativas; interdio de estabelecimentos comerciais; suspenso do exerccio de direitos; demolio de construes irregulares; embargo administrativo de obra; apreenso de mercadorias piratas etc.

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    Geralmente, tais sanes so decorrentes de alguma atividade de fiscalizao na qual se tenha constatado a prtica de infraes. Frise-se, porm, que o ato repressivo a aplicao da sano, e no o procedimento de fiscalizao, o qual, de regra no tem o objetivo especfico de acarretar sanes, e sim de prevenir ou coibir a prtica de irregularidades.

    Em regra, utiliza-W ; WW? sano de polcia ;; W referir a qualquer atuao administrativa que seja adotada

    como consequncia de infraes cometidas pelos

    particulares a normas de polcia.

    Porm, vale saber que parte da doutrina costuma utilizar essa expresso apenas para

    designar as sanes propriamente ditas, isto , aquelas cujo objetivo realmente punir o

    infrator, a exemplo das multas administrativas. Para as medidas repressivas que tenham

    como finalidade maior proteger a coletividade, evitando danos ou limitando os efeitos dos

    que j tenham ocorrido, a exemplo da destruio de alimentos estragados encontrados em

    um restaurante ou do embargo de obras com vcios construtivos, essa corrente da doutrina

    ; ; SW;N? medidas de polcia

    Questo bastante debatida na jurisprudncia diz respeito cobrana de taxas (espcie de tributo) como decorrncia do exerccio do poder de polcia. Com efeito, art. 145, II da CF, dispe:

    Art. 145. A Unio, os Estados, o Distrito Federal e os Municpios podero instituir os seguintes tributos:

    II - taxas, em razo do exerccio do poder de polcia ou pela utilizao, efetiva ou potencial, de servios pblicos especficos e divisveis, prestados ao contribuinte ou postos a sua disposio;

    Exemplos de taxas decorrentes do poder de polcia so as taxas para obteno de licena de funcionamento de atividades comerciais, industriais e de lazer.

    A jurisprudncia destaca que a taxa de polcia deve sempre decorrer do efetivo exerccio do poder de polcia, isto , da realizao de atividades ou diligncias pblicas no interesse do contribuinte. Caso essas atividades no estejam sendo exercidas de fato, a cobrana da taxa poder ser questionada. No nosso exemplo, se o fato gerador da taxa a necessidade de se realizar inspeo no estabelecimento previamente

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    concesso da licena, logicamente no h fato gerador caso a inspeo no seja empreendida na prtica, o que invalida a cobrana do tributo.

    Entretanto, cumpre salientar que, segundo a jurisprudncia do STF, a incidncia da taxa, como decorrncia do exerccio regular do poder de polcia, dispensa a fiscalizao porta a porta. Em outras palavras, o exerccio do poder de polcia no necessariamente presencial, pois pode ocorrer a partir de local remoto, com o auxlio de instrumentos e tcnicas que permitam Administrao examinar a conduta do agente fiscalizado. Nesse caso, o exerccio de polcia considerado presumido, desde que exista um rgo com competncia e estrutura capaz de fiscalizar a atividade 13.

    Fases da atividade de polcia (ciclo de polcia)

    A doutrina e a jurisprudncia classificam em quatro fases a sequncia de atividades que pode integrar o exerccio do poder de polcia (tomado em sentido amplo, ou seja, incluindo a atividade legislativa), o chamado ciclo de polcia, a saber:

    1) Legislao ou ordem

    2) Consentimento

    3) Fiscalizao

    4) Sano

    A legislao, tambm denominada ordem de polcia, a fase inicial do ciclo de polcia, pois aquela que institui os limites e condicionamentos ao exerccio de atividades privadas e ao uso de bens. Em razo do princpio da legalidade, a ordem primria deve estar sempre contida em uma lei, a qual poder ser posteriormente regulamentada por atos normativos infralegais.

    O consentimento de polcia corresponde anuncia prvia da Administrao, quando exigida em lei, para a prtica de determinadas atividades ou para a fruio de determinados direitos. Como j vimos, esta anuncia prvia ocorre mediante a concesso de licenas e autorizaes.

    A fiscalizao de polcia a atividade pela qual a Administrao verifica se o particular est cumprindo adequadamente as regras emanadas na ordem de polcia (legislao) e tambm, quando for o caso,

    13 Ver RE 588.322/RO e RE 361.009/RJ

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    se est observando as condies estipuladas na respectiva licena/autorizao.

    J a sano de polcia ocorre quando a Administrao verifica alguma infrao ordem de polcia ou aos requisitos da licena/autorizao e, em consequncia, aplica ao particular infrator uma medida repressiva (sano), dentre as previstas na lei de regncia.

    Um exemplo prtico em que esses quatro grupos ficam bem definidos no mbito da limitao propriedade e liberdade no trnsito: o Cdigo de Trnsito Brasileiro (CTB) estabelece normas genricas e abstratas para a obteno da Carteira Nacional de Habilitao (legislao); a emisso da carteira materializa a anuncia do Poder Pblico em relao aos indivduos que tenham preenchido os requisitos tcnicos exigidos para a habilitao (consentimento); a Administrao instala equipamentos eletrnicos para verificar se h respeito velocidade estabelecida em lei (fiscalizao); e tambm a Administrao sanciona aquele que no guarda observncia ao CTB (sano).

    Importante observar que as nicas fases que sempre estaro presentes em todo e qualquer ciclo de polcia so as fases de legislao (ordem de polcia) e de fiscalizao.

    Legislao e fiscalizao so as nicas fases que sempre existiro num ciclo de polcia.

    Com efeito, o consentimento deve ocorrer apenas quando houver necessidade de licena ou autorizao para o uso de bens ou a prtica de certas atividades privadas. Se determinada atividade estiver sujeita a normas de polcia previstas em lei, mas no anuncia prvia da Administrao, ainda assim poder ser fiscalizada e, em caso de infrao, poder ser aplicada a sano correspondente. Nesse caso, o ciclo de polcia forma-se apenas com as fases de legislao, fiscalizao e sano. Ademais, nem toda fiscalizao encontra irregularidade no caso concreto, hiptese em que no haver sano alguma. O ciclo de polcia se completa, ento, apenas com as fases de legislao e fiscalizao.

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    Poder de polcia originrio e delegado

    A doutrina classifica o poder de polcia em originrio e delegado conforme o rgo ou a entidade que o exerce.

    Em suma, o poder de polcia originrio exercido pela administrao direta, enquanto o poder de polcia delegado exercido pela administrao indireta (entidades de direito pblico, ou seja, autarquias e fundaes pblicas).

    Existe polmica quanto possibilidade de delegao do poder de polcia a entidades da administrao indireta de direito privado (empresas pblicas, sociedades de economia mista e fundaes pblicas de direito privado).

    A doutrina majoritria entende que essa delegao no possvel, uma vez que o poder de polcia, cujo exerccio tem fundamento no poder de imprio do Estado, s pode ser exercido por pessoas jurdicas de direito pblico. Outra parte da doutrina, no entanto, admite a delegao de poder de polcia a entidades de direito privado, desde que integrem a Administrao Pblica formal e a competncia seja expressamente conferida por lei. Existe ainda uma posio intermediria, que considera vlida apenas a delegao de algumas etapas do ciclo de polcia, especialmente a de fiscalizao.

    Na jurisprudncia, h um importante precedente do Superior Tribunal de Justia (STJ)14, no qual foi decidido que as fases de consentimento e de fiscalizao podem ser delegadas a entidades com personalidade jurdica de direito privado integrantes da Administrao Pblica e que, diferentemente, as fases de ordem de polcia e de sano, por implicarem coero, no podem ser delegadas a tais entidades. Esse entendimento, porm, no seguido pelo STF, cuja jurisprudncia no sentido de que o poder de polcia no pode ser delegado a entidades administrativas de direito privado.

    Quanto s entidades administrativas de direito pblico (autarquias e fundaes) no h controvrsia. Elas s no podem editar leis. Portanto, podem exercer poder de polcia, inclusive aplicar sanes administrativas, desde que amparadas em lei.

    14 REsp 817.534/MG

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    As guardas municipais podem realizar a fiscalizao de trnsito?

    SIM. As guardas municipais, desde que autorizadas por lei municipal, tm

    competncia para fiscalizar o trnsito, lavrar auto de infrao de trnsito e impor

    multas. O STF definiu a tese de que constitucional a atribuio s guardas

    municipais do exerccio do poder de polcia de trnsito, inclusive para a imposio

    de sanes administrativas legalmente previstas (ex: multas de trnsito).

    A dvida ocorreu porque, segundo a tese contrria, a competncia para fiscalizar

    o trnsito e impor multas seria da Polcia Militar, j que cabe a este rgo (PM)

    realizar o policiamento ostensivo e a preservao da ordem pblica, nos termos do

    5 do art. 144 da CF/88.

    Como visto, o STF entendeu que essa tese no est correta, porque a questo

    em tela no envolve segurana, pblica, mas sim poder de polcia de trnsito, o qual

    no prerrogativa exclusiva das entidades policiais. A fiscalizao do trnsito, com

    aplicao das sanes administrativas (multas), embora possa se dar

    ostensivamente, constitui mero exerccio de poder de polcia, no havendo,

    portanto, proibio de que seja exercida por entidades no-policiais (como o caso

    das guardas municipais).

    STF. Plenrio.RE 658570/MG, rel. orig. Min. Marco Aurlio, red. p/ o acrdo Min. Roberto Barroso,

    julgado em 6/8/2015 (Info 793).

    Por fim, vale saber que a maior parte da doutrina, assim como o Supremo Tribunal Federal (STF)15, no admite a delegao de poder de polcia a pessoas privadas no integrantes da Administrao Pblica formal, ainda que efetuada por meio de lei.

    Entretanto, possvel o Poder Pblico atribuir a pessoas privadas, mediante contrato, a operacionalizao de mquinas e equipamentos em atividades de fiscalizao, a exemplo da triagem feita em aeroportos para detectar eventual porte de objetos ilcitos ou proibidos. No caso, o Estado no transfere a titularidade do poder de polcia, ou seja, no se trata de delegao, e sim de mera atribuio operacional.

    15 ADI 1.717/DF

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    DELEGAO DE PODER DE POLCIA:

    a entidades administrativas de direito pblico: pode delegar (consenso)

    a entidades administrativas de direito privado:

    Doutrina: no pode delegar (majoritria), pode (desde que feita por lei),

    posio intermediria (pode apenas algumas fases, como a fiscalizao).

    STF: no pode delegar.

    STJ: pode delegar apenas consentimento e fiscalizao; legislao e sano

    no podem.

    a entidades privadas: no pode delegar (consenso).

    Atributos do poder de polcia

    Os atributos do poder de polcia so:

    Discricionariedade

    Autoexecutoriedade

    Coercibilidade

    A discricionariedade no exerccio do poder de polcia significa que a Administrao, em regra, possui certa liberdade de atuao. Ela pode, por exemplo, segundo critrios de convenincia e de oportunidade, determinar quais atividades ir fiscalizar em um determinado momento e definir quais sanes sero aplicadas e em quais gradaes, sempre observando, claro, os limites estabelecidos em lei e os princpios da razoabilidade e da proporcionalidade.

    Nada impede, contudo, que a lei vincule a prtica de determinados atos de polcia administrativa, como a concesso de licena para construo em terreno prprio ou para o exerccio de uma profisso, casos em que a Administrao no possui liberdade de valorao se o particular preencher os requisitos legais.

    A autoexecutoriedade consiste na possibilidade de que certos atos administrativos sejam executados de forma imediata e direta pela prpria Administrao, independentemente de ordem judicial.

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    Assim, por exemplo, a Administrao pode, com base no poder de polcia, aplicar sanes administrativas a particulares que pratiquem atos lesivos coletividade independentemente de prvia autorizao judicial. Da mesma forma, a Administrao pode, por si s, promover a demolio de edifcio em situao irregular.

    Porm, nem toda atividade de polcia administrativa pode ser levada a termo de forma autoexecutria. Por exemplo, embora a Administrao, no exerccio do poder de polcia, possa impor multa a um particular sem necessidade de participao do Poder Judicirio, a cobrana forada dessa multa, caso no paga pelo particular, s poder ser efetuada por meio de uma ao judicial de execuo.

    Detalhe que a Administrao pode, caso entenda necessrio, recorrer previamente ao Judicirio quando pretenda praticar atos de polcia em que seja previsvel forte resistncia dos particulares envolvidos, como na demolio de edificaes irregulares ou na desocupao de terras invadidas, ocasio em que poder valer-se do auxlio das foras policiais. Frise-se que tal autorizao no obrigatria, mas pode ser obtida para conferir maior legitimidade e segurana ao ato.

    A coercibilidade se traduz na possibilidade de as medidas adotadas pela Administrao Pblica com base no exerccio do poder polcia serem impostas ao administrado, inclusive mediante o emprego da fora e independentemente de prvia autorizao judicial.

    Autoexecutoriedade e coercibilidade so conceitos muito prximos. Conforme salienta Maria Sylvia Di Pietro, a coercibilidade indissocivel da autoexecutoriedade. O ato de polcia s autoexecutrio porque dotado de fora coercitiva. Alis, a autoexecutoriedade, tal como a conceituamos, no se distingue da coercibilidade, definida por Hely Lopes Meirelles como a imposio coativa das medidas adotadas pela Administrao.

    Nem todos os atos de polcia administrativa ostentam os

    atributos da autoexecutoriedade e da coercibilidade.

    Os atos preventivos, a exemplo da concesso de licenas e

    autorizaes, bem como alguns atos repressivos, como a cobrana de multa no

    paga espontaneamente pelo particular, no gozam de autoexecutoriedade e de

    coercibilidade.

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    Prescrio

    A Lei 9.873/1999, aplicvel esfera federal, estabelece em cinco anos o prazo prescricional das aes punitivas decorrentes do exerccio do poder de polcia, contados da data da prtica do ato ou, no caso de infrao permanente ou continuada, do dia em que tiver cessado.

    O mesmo prazo prescricional vale para a Administrao impetrar ao judicial de cobrana de multas administrativas aplicadas no exerccio do poder de polcia, quando no pagas espontaneamente pelo administrado (art. 1-A).

    Por outro lado, o prazo prescricional de cinco anos no se aplica quando o fato objeto da ao punitiva da Administrao tambm constituir crime, ocasio em que sero aplicveis os prazos prescricionais previstos na lei penal16.

    A referida lei prev, ainda, que a prescrio tambm incide no procedimento administrativo paralisado por mais de trs anos, pendente de julgamento ou despacho. Trata-se de hiptese da chamada prescrio intercorrente, que aquela que ocorre mesmo depois de o processo j ter sido instaurado, no caso, acarretada pela inrcia da Administrao.

    Por derradeiro, cumpre ressaltar que as disposies Lei 9.873/1999 no se aplicam s infraes de natureza funcional e aos processos e procedimentos de natureza tributria (art. 5).

    Distino entre poder polcia e outras atividades estatais

    A doutrina costuma explorar a diferena entre as atividades decorrentes do exerccio do poder de polcia (polcia administrativa) e as atividades de prestao de servios pblicos.

    Diz-se que a polcia administrativa representa uma atividade negativa, por acarretar restries aos direitos e interesses dos indivduos, enquanto o servio pblico seria uma atividade positiva, vez 16 Art. 1o Prescreve em cinco anos a ao punitiva da Administrao Pblica Federal, direta e indireta, no exerccio do poder de polcia, objetivando apurar infrao legislao em vigor, contados da data da prtica do ato ou, no caso de infrao permanente ou continuada, do dia em que tiver cessado.

    1o Incide a prescrio no procedimento administrativo paralisado por mais de trs anos, pendente de julgamento ou despacho, cujos autos sero arquivados de ofcio ou mediante requerimento da parte interessada, sem prejuzo da apurao da responsabilidade funcional decorrente da paralisao, se for o caso.

    2o Quando o fato objeto da ao punitiva da Administrao tambm constituir crime, a prescrio reger-se- pelo prazo previsto na lei penal.

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    que, ao contrrio, no restringe, e sim oferece comodidades ou utilidades materiais ao usurio do servio. Ademais, o poder de polcia integra o rol das denominadas atividades jurdicas do Estado, cujo desempenho se funda no poder de imprio; j a prestao de servios pblicos se enquadra nas chamadas atividades sociais do Estado, que se destinam a incrementar o bem-estar social, cujo desempenho no decorre do exerccio do poder de imprio.

    Outra diferenciao importante entre atividade de polcia administrativa e atividade de polcia judiciria.

    Ser atividade de polcia administrativa aquela que incida sobre infraes de natureza administrativa, ao passo que ser atividade de polcia judiciria quando se referir apurao de ilcitos de natureza penal com a finalidade de instruir a propositura de ao no Poder Judicirio.

    Assim, quando agentes administrativos, por exemplo, executam servios de fiscalizao em atividades de comrcio, em locais proibidos para menores, sobre as condies de alimentos para consumo ou em parques florestais, esto exercendo atividade de polcia administrativa. Ao contrrio, quando os agentes investigam a prtica de crime e, com esse objetivo, ouvem testemunhas, realizam inspees e percias em determinados locais e documentos, convocam indiciados, etc., esto exercendo polcia judiciria, eis que, terminada a apurao, os elementos so enviados ao Ministrio Pblico para, se for o caso, providenciar a propositura da ao penal17.

    Mais uma diferena que a polcia administrativa exercida sobre atividades, bens e direitos, enquanto a polcia judiciria incide diretamente sobre pessoas. Em consequncia, no existem sanes de polcia administrativa que impliquem deteno ou recluso de pessoas; j as atividades de polcia judiciria podem ocasionar esse tipo de sano.

    Alm disso, a polcia administrativa desempenhada por rgos administrativos integrantes dos mais diversos setores de toda a Administrao Pblica, sempre que a lei lhes atribuir essa funo, a exemplo da Vigilncia Sanitria, do Ibama, da CVM, do Detran etc.; j a polcia judiciria privativa de corporaes especializadas (Polcia Civil, Polcia Federal e Polcia Militar).

    17 Carvalho Filho (2014, p. 83)

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    Detalhe que a Polcia Militar desempenha tanto atividade de polcia judiciria como de polcia administrativa, esta ltima quando, por exemplo, aplica multas de trnsito, apreende mercadorias irregulares etc.

    Importante ressaltar que a doutrina tradicional aponta, ainda, como critrio de distino, o fato de que a polcia administrativa teria carter preventivo, por prevenir situaes ou condutas contrrias ao interesse pblico, ao passo que o carter da polcia judiciria seria repressivo, pois seu objetivo possibilitar a punio pelo Poder Judicirio. No obstante, vale ressaltar que, como vimos, a atividade de polcia administrativa tambm contempla medidas de natureza repressiva, como a aplicao de multas, apreenso de mercadorias, interdio de estabelecimentos etc.

    9. (FGV OAB 2010) O poder de polcia, conferindo a possibilidade de o Estado limitar o exerccio da liberdade ou das faculdades de proprietrio, em prol do interesse pblico

    (A) gera a possibilidade de cobrana, como contrapartida, de preo pblico.

    (B) se instrumentaliza sempre por meio de alvar de autorizao.

    (C) afasta a razoabilidade, para atingir os seus objetivos maiores, em prol da predominncia do interesse pblico.

    (D) deve ser exercido nos limites da lei, gerando a possibilidade de cobrana de taxa.

    Comentrios: vamos analisar cada alternativa:

    a) ERRADA. Conforme ensina Carvalho Filho, a atividade do Poder Pblico no exerccio do poder de polcia autoriza-o a exigir do interessado o pagamento de taxa, conforme disposto no art. 145, II da CF. Em consequncia, no cabvel a cobrana de tarifa, que se caracteriza como preo pblico, e que, diferentemente daquele tributo (taxa), tem natureza negocial ou contratual, sendo adequado, por exemplo, para remunerar servios pblicos econmicos, inclusive os executados por concessionrios e permissionrios de servios pblicos (energia, transportes, linhas telefnicas etc.). Desse modo, ilcito que o ato administrativo institua tarifa (preo pblico) para remunerar o poder de polcia, quando o correto a instituio de taxa, a ser processada por lei.

    b) ERRADA. O instrumento formal que geralmente formaliza as licenas e autorizaes o alvar, mas documentos diversos tambm podem cumprir esse papel, como carteiras, declaraes, certificados, etc. Lembrando que a

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    concesso de licenas e autorizaes caracteriza o exerccio do poder de polcia preventivo. Mas o poder de polcia tambm pode ser repressivo, modalidade que possui outros meios de instrumentalizao, a exemplo da imposio de multas, da demolio de construes irregulares, da apreenso de mercadorias piratas etc.

    c) ERRADA. Conforme ensina a doutrina, qualquer medida restritiva adotada com base no poder de polcia deve observar o devido processo legal, assegurando ao administrado o direito ampla de defesa, bem como deve se pautar pelos princpios da razoabilidade e da proporcionalidade.

    d) CERTA. A possibilidade de haver a cobrana de taxas em razo do efetivo exerccio do poder de polcia est prevista no art. 145, II da Constituio Federal.

    Gabarito: alternativa d

    10. (FGV OAB 2012) correto afirmar que o poder de polcia, conferindo a possibilidade de o Estado limitar o exerccio da liberdade ou das faculdades de proprietrio, em prol do interesse pblico,

    A) gera a possibilidade de cobrana de preo pblico.

    B) se instrumentaliza sempre, e apenas, por meio de alvar de autorizao.

    C) para atingir os seus objetivos maiores, afasta a razoabilidade, em prol da predominncia do interesse pblico.

    D) deve ser exercido nos limites da lei, gerando a possibilidade de cobrana de taxa.

    Comentrios: Essa questo, substancialmente, idntica anterior. Todas as alternativas se repetem e o gabarito o mesmo, pelas mesmas razes. Portanto, no h necessidade de comentrios adicionais.

    Gabarito: alternativa d

    11. (FGV OAB 2013) Atendendo a uma srie de denncias feitas por particulares, a Delegacia de Defesa do Consumidor (DECON) deflagra uma operao, visando a apurar as condies dos alimentos fornecidos em restaurantes da regio central da capital. Logo na primeira inspeo, os fiscais constataram que o estoque de um restaurante tinha produtos com a validade vencida. Na inspeo das instalaes da cozinha, apuraram que o espao no tinha condies sanitrias mnimas para o manejo de alimentos e o preparo de refeies. Os produtos vencidos foram apreendidos e o estabelecimento foi interditado, sem qualquer deciso prvia do Poder Judicirio.

    Assinale a alternativa que indica o atributo do poder de polcia que justifica as medidas tomadas pela DECON.

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    A) Coercibilidade.

    B) Inexigibilidade.

    C) Autoexecutoriedade.

    D) Discricionariedade.

    Comentrios: O atributo que permite o exerccio do poder de polcia de forma imediata e direta pela prpria Administrao, independentemente de ordem judicial, a autoexecutoriedade. Tal atributo possibilita que a Administrao execute as medidas narradas no enunciado por iniciativa prpria, em defesa do interesse pblico, sem necessidade de qualquer autorizao prvia do Poder Judicirio.

    Gabarito: alternativa c

    12. (FGV OAB 2013) Oscar titular da propriedade de um terreno adjacente a uma creche particular. Aproveitando a expanso econmica da localidade, decidiu construir em seu terreno um grande galpo. Oscar iniciou as obras, sem solicitar prefeitura do municpio X a necessria licena para construir, usando material de baixa qualidade. Ainda durante a construo, a diretora da creche notou que a estrutura no apresentava solidez e corria o risco de desabar sobre as crianas. Ao tomar conhecimento do fato, a prefeitura do municpio X inspecionou o imvel e constatou a gravidade da situao. Aps a devida notificao de Oscar, a estrutura foi demolida.

    Assinale a afirmativa que indica o instituto do direito administrativo que autoriza a atitude do municpio X.

    A) Tombamento.

    B) Poder de polcia.

    C) Ocupao temporria.

    D) Desapropriao.

    Comentrio: No caso, a prefeitura agiu sobre o patrimnio do particular com o intuito de preservar o interesse pblico, evitando o desabamento do galpo sobre a creche. Trata-se, portanto, do exerccio do poder de polcia.

    A necessidade de alvar de construo seria uma forma de prevenir a realizao de construes que atentem contra a segurana dos demais membros da coletividade. Ou seja, trata-se de uma medida inerente ao poder de polcia preventivo. Como o particular no seguiu o trmite previsto para a obteno do alvar, a prefeitura foi obrigada a utilizar medidas de polcia repressivas, que resultaram na demolio da estrutura at ento construda.

    Detalhe que o enunciado se preocupou em ressaltar que a demolio s

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    foi efetivada aps a devida notificao de Oscar. Com efeito, qualquer medida restritiva adotada com base no poder de polcia, a exemplo da demolio da estrutura irregular, deve observar o devido processo legal, assegurando ao administrado o direito ampla de defesa, bem como deve se pautar pelos princpios da razoabilidade e da proporcionalidade.

    Gabarito: alternativa b

    13. (FGV OAB 2014) A Secretaria de Defesa do Meio Ambiente do Estado X lavrou auto de infrao, cominando multa no valor de R$ 15.000,00 (quinze mil reais) empresa Explora, em razo da instalao de uma sada de esgoto clandestina em uma lagoa naquele Estado. A empresa no impugnou o auto de infrao lavrado e no pagou a multa aplicada.

    Considerando o exposto, assinale a afirmativa correta.

    A) A aplicao de penalidade representa exerccio do poder disciplinar e autoriza a apreenso de bens para a quitao da dvida, em razo da executoriedade do ato.

    B) A aplicao de penalidade representa exerccio do poder de polcia e autoriza a apreenso de bens para a quitao da dvida, em razo da executoriedade do ato.

    C) A aplicao de penalidade representa exerccio do poder disciplinar, mas no autoriza a apreenso de bens para a quitao da dvida.

    D) A aplicao de penalidade representa exerccio do poder de polcia, mas no autoriza a apreenso de bens para a quitao da dvida.

    Comentrios: vamos analisar cada alternativa:

    a) ERRADA. A aplicao da penalidade no representa exerccio do poder disciplinar, pois inexiste algum vnculo especfico entre o Estado X e a empresa Explora. Com efeito, o enunciado no informa se a multa foi aplicada no mbito de algum contrato celebrado entre o Estado e a empresa. Na verdade, a multa foi aplicada no exerccio do poder de polcia, por intermdio do qual o Estado limita e condiciona o exerccio de atividades particulares em prol do interesse pblico. No caso, o esgoto clandestino poderia poluir a lagoa e causar grandes danos ao meio ambiente e sade coletiva.

    b) ERRADA. De fato, como afirmado acima, a aplicao da multa representa exerccio do poder de polcia. Todavia, a Administrao no pode apreender bens da empresa para assegurar a quitao da dvida, visto que a cobrana da multa no uma atividade dotada de executoriedade. Para forar o pagamento da dvida, a Administrao precisa acionar o Poder Judicirio.

    c) ERRADA. Como visto nas duas alternativas anteriores, a aplicao de penalidade representa exerccio do poder de polcia (e no do poder disciplinar), mas, de fato, no autoriza a apreenso de bens para a quitao da dvida.

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    d) CERTA. Pelas razes expostas anteriormente.

    Gabarito: alternativa d

    14. (FGV OAB 2015) Determinado municpio resolve aumentar a eficincia na aplicao das multas de trnsito. Aps procedimento licitatrio, contrata a sociedade empresria para instalar cmeras do tipo radar que fotografam infraes de trnsito, bem como disponibilizar agentes de trnsito para orientar os cidados e aplicar multas. A mesma sociedade empresria ainda ficar encarregada de criar um Conselho de Apreciao das multas, com o objetivo de analisar todas as infraes e julgar os recursos admini