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Aula 07 Direito Civil p/ XX Exame de Ordem - OAB Professor: Paulo H M Sousa

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Aula 07

Direito Civil p/ XX Exame de Ordem - OAB

Professor: Paulo H M Sousa

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DIREITO CIVIL – OAB XX Teoria e Questões

Aula 07 – Prof. Paulo H M Sousa

AULA 07 RESPONSABILIDADE CIVIL

Sumário Sumário ................................................................................................. 1!

Considerações Iniciais .............................................................................. 2!

10. RESPONSABILIDADE CIVIL .................................................................. 3!

10.1. NOÇÕES GERAIS .......................................................................... 3!

10.2. RESPONSABILIDADE OBJETIVA E SUBJETIVA ................................... 6!

10.2.1 – Distinção ................................................................................ 6!

10.2.2 – Pressupostos do dever de indenizar ............................................ 8!

10.2.3 – Indenização ........................................................................... 21!

10.2.4 – Excludentes de responsabilidade ............................................... 22!

10.2.5 – Responsabilidade por fato de outrem ......................................... 28!

10.2.6 – Responsabilidade por fato de coisa ............................................ 34!

10.2.7 – Responsabilidade por fato de animais ........................................ 36!

10.3. RESPONSABILIDADE CIVIL-PENAL ................................................. 38!

Lista de Questões da Aula ........................................................................ 41!

Considerações Finais ............................................................................... 49!

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AULA 07 – RESPONSABILIDADE CIVIL

Considerações Iniciais Nas três últimas aulas vimos o Direito dos Contratos, a Teoria Geral e os Contratos em Espécie, regulamentados pelo CC/2002. Como eu te disse lá, essa é uma das partes mais importantes da 1ª Fase do Exame da OAB.

Nesta aula, terminaremos o Livro do Direito das Obrigações do CC/2002, tratando do tema da Responsabilidade Civil, dando continuidade à sequência na linha de compreensão do Direito Civil. Começamos com as noções gerais da Parte Geral do Código, passamos à Teoria do Fato Jurídico, às Obrigações, continuando pela Teoria Geral dos Contratos.

Primeiro, o tema da Responsabilidade Civil tem uma amplitude extraordinária e, por isso, vamos tratar das linhas gerais do tema. Daremos o foco exigido pela prova da OAB, mas sem entrar na parte que é afeita ao Direito do Consumidor, que tem uma perspectiva bem diferente e muito mais ampla.

Na totalidade dos Exames, tivemos 14 questões que envolviam o tema da Responsabilidade Civil, o que torna essa a disciplina com menos questões na provada 1ª Fase da OAB. Aí, você pode pensar, “ah, mas então nem vou estudar responsabilidade civil, já que caíram 28 questões sobre contratos e apenas a metade de responsabilidade civil, é um tema menos importante, menor”. Aí é que está!

Primeiro, grande parte das noções de Responsabilidade Civil vistas aqui no Direito Civil são desenvolvidas lá no Direito do Consumidor. A Responsabilidade Civil nas relações de consumo é parte considerável lá do Direito do Consumidor. Ou seja, o que se vê aqui é aproveitado, e muito, lá.

Dessas 14 questões, TODO o conteúdo delas estará nesta aula, ou seja 100% das questões sobre responsabilidade civil estarão reunidas em apenas uma aula. Proporcionalmente, portanto, essa é a aula, isoladamente, que apresenta o maior número de questões de Direito Civil em todos os Exames da OAB!

Ao passo que tratamos das 28 questões de Direito dos Contratos em três aulas e trataremos o Direito das Coisas em outras três aulas, o Direito de Família e o Direito das Sucessões em duas aulas, cada, a Responsabilidade Civil é vista integralmente em uma aula. Apesar de ser menos cobrada, portanto, você tem a oportunidade de estudar uma parte integral da prova de Direito Civil em apenas uma aula.

Vamos lá...

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10. RESPONSABILIDADE CIVIL

10.1. NOÇÕES GERAIS Inicialmente, é importante distinguir dois termos muito próximos, mas bastante distintos: obrigação e responsabilidade. Essa distinção, oriunda do Direito alemão, facilita a compreensão do instituto da responsabilidade civil em suas variadas formas e situações.

A obrigação (Shuld) é o vínculo que nasce na assunção de uma prestação por um devedor em relação a um credor, com vistas à satisfação deste último, no tempo, modo e local devidos, de modo voluntário e completo, conforme lecionada Clovis do Couto e Silva.

Já a responsabilidade (Haftung) se verifica nas situações em que se permite que alguém ataque o patrimônio alheio para obter uma prestação pecuniária, advinda ou não de uma relação prévia. Ou

seja, a responsabilidade pode advir do descumprimento de uma obrigação estabelecida entre as partes ou advir do contato social. Isso ocorre, respectivamente, por exemplo, quando o devedor não entrega o objeto numa obrigação de dar coisa certa, ou quanto alguém atinge o meu carro num acidente de trânsito.

Por isso, obrigação e responsabilidade não se confundem. É possível, dessa forma, falar em obrigação sem responsabilidade, nos casos em que o devedor cumpre sua obrigação devidamente (pois aí sequer surge responsabilidade), ou, por exemplo, na obrigação natural, em que se mantém a responsabilidade do devedor, mas não se permite ao credor responsabilizá-lo pelo inadimplemento. Por outro lado, é possível haver responsabilidade sem obrigação, como no caso do fiador, que é responsável pela dívida sem ser obrigado, ou dos pais, pelos danos causados pelos filhos.

Vale lembrar, como dissemos em nossas aulas anteriores, que a culpa não é elemento dos fatos jurídicos ilícitos, mas apenas de alguns deles. A responsabilidade, assim, não depende de culpa, mas de imputação, ou seja, uma determinada ilicitude deve gerar uma imputação a alguém. Atualmente, inclusive, se fala até em responsabilidade por ato lícito, como veremos à frente.

Dito isso, passemos às funções que a responsabilidade civil tem, atualmente. Quais são elas? As seguintes:

• Significa recolocar, recompor, reconstruir o status quo antedeteriorado pelo fato ilícito cometido

• Aqui não há componente sancionatório na responsabilizaçãopatrimonial, mas apenas conteúdo ressarcitório

A. Ressarcitória/Indenizatória/Reparatória

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Essa é a função mais básica da responsabilidade civil e geralmente fica intensamente ligada à indenização por danos materiais ou patrimoniais. O objeto aqui lembra muito a Lei de Talião, num sentido “econômico”: “me fez perder dinheiro, você também vai perder dinheiro”; “deixei de ganhar dinheiro por sua causa, você é quem vai me pagar pelo prejuízo”...

É, em linhas gerais, a previsão do art. 927 do CC/2002, que estabelece que aquele que causar dano a outrem fica obrigado a repará-lo.

Desse dispositivo, a doutrina retira dois princípios, que são muito habitualmente utilizados pela jurisprudência:

Essa modalidade sempre foi discutida e sempre trouxe bastante controvérsia e não se chega a um ponto pacífico quanto a quando ele é devido. Ainda assim, a função compensatória é amplamente reconhecida contemporaneamente, sendo controversos apenas os casos de reconhecimento e o quantum devido.

Em outras palavras, nós reconhecemos que o dano extrapatrimonial, imaterial, ou de moral é devido, mas não há exatamente um consenso sobre quando e quando e quanto ele é devido. Apesar de ter sido reconhecida claramente no art. 186, a função compensatória é casuisticamente observada. Em outras palavras, é a jurisprudência quem vai visualizar se é, ou não, cabível dano de natureza compensatória.

Por conta do princípio da restituição integral, que rege amplamente a responsabilidade civil brasileira, há dificuldade de se aceitar a função preventiva (e a punitiva, vista abaixo). As exceções estão previstas nos arts. 944, parágrafo único e 945 do CC/2002.

No primeiro caso, se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz

1. Restitutio in integrum (restituição integral)

• Ou seja, o dano deve ser integralmente ressarcido, o que significa dizer que ele não pode ser nem ressarcido a menor nem a menor

• Isso gera, assim, uma limitação ao ofensor e à vítima, pois aquele terá um piso a indenizar e esta terá um teto a receber

2. Compensatio lucri cum damno (compensação dos danos pelos lucros)

• Efeito inverso do ato ilícito, quando o ato ilícito, que num primeiro momento gerou dano, acabou por posteriormente trazer benefícios

• Nesse caso, os benefícios gerados pelo evento danoso devem ser descontados do valor a indenizar

• No plano extrapatrimonial é impossível recolocar o sujeito nasituação anterior, ou seja, o dano não comporta umdimensionamento econômico

• Por isso, equipara-se o dano a uma quantidade econômica, parafins de indenização

B. Compensatória

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reduzir, equitativamente, a indenização. Ou seja, a restituição, para a vítima, não será integral. Por exemplo, imagine que você, indo para o trabalho, ao desviar de um pedestre que atravessa a rua desatento, bate no carro ao lado; o carro ao lado é um veículo de R$8 milhões e, com a batida, alguns fragmentos do veículo atingem o rosto da motorista, que é a modelo mais bem paga do mundo. Você consegue imaginar o valor da indenização? Nesse caso, o juiz poderá reduzir a indenização, já que sua culpa foi muito pequena e o dano, ao contrário, imenso.

No segundo caso, quando a vítima concorre para o dano, num concurso de culpas, há mitigação da indenização, que será fixada tendo-se em conta a gravidade de sua culpa em confronto com a do autor

do dano. Novamente, a restituição não será integral. Isso ocorre, por exemplo, numa situação em que você, apressado para o trabalho, está acima do limite de velocidade permitido e, numa esquina, outro motorista fura o sinal. Nesse caso, como ambos têm culpa, um pelo excesso de velocidade, outro por não respeitar a preferência legal, a indenização será parcial.

Aqui, destaca-se a Teoria dos Punitive Damages, amplamente utilizada pelo direito consuetudinário, mas que enfrenta forte resistência no Brasil, ainda com uma cultura muito arraigada na ideia de que o quantum deve sempre corresponder à perda sofrida pela vítima.

Parte da jurisprudência já se utiliza da função punitiva ao estabelecer o valor dos danos morais, de forma a evitar que o ofensor continue a praticar condutas lesivas.

Essa função tem estreita ligação com a função sancionatória, e, tal qual ela, gera as mesmas controvérsias.

• Função peculiar, caminhando conjuntamente com a funçãocompensatória do dano

• A quantificação do dano traz em si uma carga punitiva, punindo oofensor (sem ligação alguma com a responsabilidade criminal)

C. Sancionatória/Punitiva

• Mais presente na esfera cível já que na sociedade capitalista deconsumo atual, provavelmente, a sanção mais eficaz é aeconômica

• A prevenção é tanto geral quanto especial.

D. Preventiva 39200168310

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São situações nas quais todos os danos acidentais são indenizados, independentemente da origem. Lembrou de alguma coisa? Temos alguns exemplos disso: o INSS e o DPVAT. No caso do seguro automobilístico obrigatório, todos os que têm veículos pagam anualmente o seguro, independentemente de quererem ou não, independentemente de causarem dano ou não. Todas as vítimas são indenizadas, por outro lado.

Venosa, porém, critica a função de socialização de riscos. Para ele indeniza-se sempre, mas se indeniza menos, já que são sempre tarifados os danos. O próprio DPVAT é um exemplo; veja alguns dos valores de indenização (segundo a tabela da Lei 11.492/2007, atualmente ainda não atualizada):

Morte R$13.500,00

Compra de remédios e tratamentos R$2.700,00

Perda de dedo do pé R$1.350,00

Funções da Responsabilidade Civil

Com isso, podemos passar à distinção entre a responsabilidade civil objetiva e subjetiva.

10.2. RESPONSABILIDADE OBJETIVA E SUBJETIVA

10.2.1 – Distinção A responsabilidade subjetiva é regra, conforme estabelece o art. 927, parágrafo único. Arnaldo Rizzardo estabelece que:

• Funciona como uma distribuição do risco por toda a sociedade• Assim, evita-se, de um lado, que a vítima não seja indenizada, por

variadas razões, e se faz com que todos paguem por um riscosocialmente distribuído

E. Socialização do risco/dano

Ressarcitória/indenizatória/reparatória

Compensatória

Sancionatória/Punitiva

Preventiva

Socialização de riscos/danos

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Pela teoria da responsabilidade subjetiva, só é imputável, a título de culpa, aquele que praticou o fato culposo possível de ser evitado. Não há responsabilidade quando o agente não pretendeu e nem podia prever, tendo agido com a necessária cautela.

O art. 186, por sua vez, traça as linhas gerais da responsabilidade civil subjetiva:

Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

A responsabilidade civil subjetiva era a única presente no CC/1916 originário. Com o tempo, porém, nos casos de prova de culpa muito difícil ou impossível (a chamada prova diabólica no processo civil) passou-se para a responsabilidade civil com “culpa presumida”.

A culpa presumida nada mais é do que o inverso da presunção de inocência do Direito Penal; eu presumo que o causador do dano é culpado e ele tem de provar

que estava certo. Nesses casos, não se prescinde a culpa, apenas inverte-se o ônus da prova.

São os casos em que se presume que o autor não agiu conforme o direito, como nos acidentes de trânsito em que há uma batida traseira. Quem está errado? Não dá para saber de antemão, mas nós presumimos que o carro que trafegava atrás está errado. Ele sempre será obrigado a indenizar? Não, mas ele terá de provar que o motorista da frente estava errado. Presume-se a culpa e inverte-se o ônus da prova.

Passa-se, então, para a responsabilidade civil “sem culpa”, ou objetiva. Nesses casos, se dispensa a culpa, sequer se falando em culpa ou ônus; agiu ou se omitiu? É responsável, mesmo que prove que não tem culpa alguma.

Vamos a um exemplo dado na aula de Direito das Obrigações: “obrigação de dar coisa incerta, em que, antes da escolha, o devedor não pode exonerar-se da obrigação, mesmo havendo fortuito, segundo o art. 246 do CC/2002”. Ou seja, eu tenho de te dar um tablet de um modelo específico. Antes da entrega, porém, mesmo ocorrendo fortuito, eu sou obrigado a te entregar um tablet igual, mesmo que eu prove que teve uma chuva absurda que derrubou a minha loja ou que eu fui roubado por um funcionário vingativo.

O art. 927, parágrafo único do CC/2002 traz as linhas gerais da responsabilidade objetiva:

Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.

A responsabilidade objetiva baseia-se na Teoria do Risco, que, segundo Arnaldo Rizzardo, se adota porque:

Todo aquele que dispõe de um bem deve suportar os riscos decorrentes, a que expõem os estranhos.

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Essa teoria surge com o risco-proveito, ou seja, aquele que quer ter determinado lucro com uma atividade, um proveito, deve arcar com os prejuízos, os riscos, decorrentes dessa atividade.

Nesse sentido, o CDC inaugura um novo ramo na responsabilidade civil, pois tem pressupostos e características peculiares e especiais em relação ao CC/2002. Segundo Cavalieri Filho:

A responsabilidade civil passou a ser dividida em duas partes: a responsabilidade tradicional e a responsabilidade nas relações de consumo.

O ápice da responsabilidade objetiva é o seguro social, que se visualiza a partir da função de socialização de riscos, como se disse anteriormente. Indeniza-se ainda que não se saiba o causador do dano, como no DPVAT e no INSS. Resta, nesses casos, quase nenhum dano que não será ressarcido, justamente o objetivo da responsabilidade objetiva, eis que se pauta no dano e não na culpa.

Quando é uma ou outra? Não há uma resposta fixa, pois a espécie depende da lei, da atividade e mesmo da jurisprudência. A resposta é casuística, sem prefixação e mutável.

10.2.2 – Pressupostos do dever de indenizar Os pressupostos do dever de indenizar são os elementos que compõem o dever de indenizar. O art. 186 do CC/2002 trata do ato ilícito. Esse artigo conjuga os pressupostos do ato ilícito, qual seja um dos componentes do dever de indenizar. Os componentes do dever de indenizar são, como regra geral:

1. conduta/ato ilícito;

2. dano;

3. nexo causal.

Vejamos cada um desse pressupostos detalhadamente.

Teoria da Culpa

Responsabilidade subjetiva

Regra do CC/2002 Presunção de culpa

Teoria do Dano

Responsabilidade Objetiva

Exceções do CC/2002

Regra do CDC

Socialização dos danos/riscos: seguro social

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1) Conduta/Ato ilícito

A conduta/ato ilícito, por aplicação do art. 186 do CC/2002, deverá ser, em regra, culposa, ao menos. O direito civil brasileiro adota o princípio da culpa, excepcionando o princípio do risco/dano. Entende-se que não há responsabilidade sem culpa.

Verifica-se a existência da culpa quando se exige comportamento diverso do agente e há censura ao comportamento tomado, contrário ao ordenamento. A culpa é analisada pela censurabilidade da conduta, ou seja, não num juízo a priori do magistrado, mas uma análise comparada da censura (probidade, ética, moral).

Aqui, apesar de toda a controvérsia a respeito dessa possibilidade, criou-se a figura do homem médio para auferir a quantificação da culpa. A figura do homem médio gera a figura da conduta esperada do agente. Podemos pensar essa figura, a partir do princípio da boa-fé objetiva, como vimos na aula na qual apresentamos a Teoria Geral dos Contratos, numa noção de standard de comportamento esperado dos agentes na vida social. Ou seja, a imagem ideal de um agente probo, honesto, prudente, que procura não causar dano a outrem.

A culpa baseia-se em três fatores:

A classificação da culpa é feita com base nos efeitos:

A. Negligência

• Conduta que o agente deveria ter tomado, mas não o fez. Trata-se deuma conduta positiva, ativa, comissiva, não tomada pelo agente

• Exemplo é o motorista não conserta os freios do carro, após uma revisão,e, posteriormente, bate o carro por falta deles; o dono não colocafocinheira no cachorro, que morde um pedestre no parque

B. Imprudência

• Esperava-se uma conduta passiva, omissiva, mas o sujeito se arriscou etomou a ação para si. Trata-se de uma conduta negativa que se espera doagente, mas que toma uma conduta positiva, contrária ao ordenamento

• Exemplo é o motorista que dirige alcoolizado, que causa acidente; o donodo imóvel que deixa coisas no parapeito da janela do prédio, que caemsobre um passante

C. Imperícia

• A imperícia, ou falta de perícia, é ligada às atividades técnicas, ou seja, osujeito que age sem a perícia necessária ao ato.

• Exemplo é o enfermeiro, inexperiente, que ministra medicamentoserrados; o médico sem especialização que realiza procedimento cirúrgicocontra as normas médicas

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Questão 47 – XI Exame da OAB

Carla ajuizou ação de indenização por danos materiais, morais e estéticos em face do dentista Pedro, lastreada em prova pericial que constatou falha, durante um tratamento de canal, na prestação do serviço odontológico. O referido laudo comprovou a inadequação da terapia dentária adotada, o que resultou na necessidade de extração de três dentes da paciente, sendo que na execução da extração ocorreu fratura da mandíbula de Carla, o que gerou redução óssea e sequelas permanentes, que incluíram assimetria facial. Com base no caso concreto, à luz do Código de Defesa do Consumidor, assinale a afirmativa correta.

A) O dentista Pedro responderá objetivamente pelos danos causados à paciente Carla, em razão do comprovado fato do serviço, no prazo prescricional de cinco anos.

B) Haverá responsabilidade de Pedro, independentemente de dolo ou culpa, diante da constatação do vício do serviço, no prazo decadencial de noventa dias.

C) A obrigação de indenizar por parte de Pedro é subjetiva e fica condicionada à comprovação de dolo ou culpa.

A. Culpa in eligendo

• A falta de acerto na escolha de preposto, representante, empregado ou afalta de controle sobre os bens usados em uma atividade

• Por exemplo, o empregador é responsabilizado por acidente causado peloempregado

• B. Culpa in vigilando

• É a falta de cuidado e/ou fiscalização do responsável por bens ou pessoas• Por exemplo, a culpa dos pais pelos atos praticados pelos filhos

C. Culpa in committendo

• Culpa pela prática ativa de um ato• Por exemplo, o acidente automobilístico provocado por motorista que fura

preferencial

D. Culpa in omittendo

• Culpa pela falta de iniciativa, desde que exigida a ação• Por exemplo, a responsabilidade do dono do cachorro que ataca um

pedestre porque estava sem a focinheira

E. Culpa in custodiendo

• Ocorre quando há falta de atenção e cuidado com coisas sob custódia• Por exemplo, o acidente em estrada causado por uma vaca leiteira que

fugiu da fazenda, por falta de cerca

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D) Inexiste relação de consumo no caso em questão, pois é uma relação privada, que encerra obrigação de meio pelo profissional liberal, aplicando-se o Código Civil.

Comentários

Apesar de a questão mencionar o CDC, pelas regras do CC/2002, é possível responde-la já aqui.

A alternativa A está incorreta, pois, por se tratar de um profissional liberal, a responsabilidade é subjetiva, consoante regra geral do art. 927 do CC/2002.

A alternativa B está incorreta, tal qual a alternativas A.

A alternativa C está correta, pois é necessário comprovar-se ao menos a culpa do prestador, que, neste caso, é a imperícia.

A alternativa D está incorreta, já que se caracteriza evidente prestação de serviços por alguém que se enquadra no conceito de fornecedor (vide as aulas de Direito do Consumidor).

Ainda é possível distinguir a responsabilidade civil em contratual e extracontratual. Lembra-se quando falamos da responsabilidade e dissemos que a responsabilidade era diferente da obrigação? Pois bem, “a responsabilidade pode advir do descumprimento de uma obrigação estabelecida entre as partes ou advir do contato social.”

No primeiro caso, o descumprimento de uma obrigação gerará a responsabilidade civil contratual quando há a violação de deveres inerentes ao contrato, quando o contratante deixa de cumprir com o acordado, gerando prejuízo à contraparte. Neste caso, aplica-se a

disciplina das perdas e danos, prevista nos arts. 389 e ss. do CC/2002, como vimos na aula de Direito das Obrigações.

Fala-se, no âmbito da responsabilidade civil contratual, de outra espécie de culpa, a culpa in contrahendo, que basicamente é a culpa originada do fato de um contratante fazer com que o outro faça um contrato que claramente gerará prejuízo pelo simples fato de ter contratado. É, em resumo, uma violação de algum dos deveres laterais de conduta do princípio da boa-fé objetiva, como o dever de informação, por exemplo.

Já a responsabilidade civil extracontratual se baseia no contato social, ou seja, na inexistência de uma relação jurídica prévia entre o causador do dano e a

vítima. Neste caso, aplica-se o disposto nos arts. 186 e ss. do CC/2002.

Segundo boa parte da doutrina brasileira, atualmente é indiferente classificar a culpa como contratual ou extracontratual, pois os efeitos trazidos pelo CC/2002 são basicamente os mesmos. É a corrente chamada de monista, que apregoa haver apenas uma forma de responsabilidade, independentemente de provir de contrato ou contato.

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Não obstante, persistem diferenças importantes, como, por exemplo, em relação ao ônus da prova. Na responsabilidade contratual, por exemplo, basta ao credor demonstrar o descumprimento de uma cláusula

contratual para exigir a responsabilização do devedor/agente, não sendo necessária a demonstração de culpa. Já na responsabilidade extracontratual, deve o credor demonstrar a culpa do devedor/agente para obter a indenização (lembrando que a regra geral é a responsabilidade subjetiva, que demanda prova de culpa).

Por isso é que você, quando entra com uma ação de despejo contra o locatário, não precisa dizer nada mais do que “ele não pagou”, sem qualquer prova; ele, para não pagar, é que deverá provar algo, como já ter pago, ou ter consignado em pagamento porque você exigiu valor superior ao devido. A responsabilidade é contratual. Agora, se você bate o carro e entra com uma ação de reparação, deve mostrar que o sujeito furou a preferencial, ou não receberá indenização alguma.

Ademais, a culpa também admite gradação. Quanto aos graus, culpa pode ser:

Mas, por que a gradação da culpa é relevante? Em verdade, já vimos a resposta a isso, ainda que não diretamente, mais acima. Apesar de não ser possível estabelecer a indenização a partir do grau de culpa, o art. 944, parágrafo único, permite ao juiz reduzir o montante indenizatório se mínima a culpa.

2) Dano

O dano é o pressuposto central da responsabilidade civil. Em regra, o dano deve envolver um comportamento contrário ao Direito; entretanto, nem sempre a antijuridicidade é necessária, eis que um ato lícito pode também gerar danos. Aqui a responsabilidade civil distancia-se da penal, eis que esta apenas responsabiliza quando há antijuridicidade, enquanto naquela há responsabilidade ainda que nenhum ilícito tenha sido cometido.

A. Grave

• Inobservância crassa e imperdoável das regras comuns exigidas nas atividades. Avizinha-se ao dolo, como, por exemplo, o acidente causado por motorista embriagado

B. Leve

• Falta evitável com a atenção comum e normal esperada. Ocorre, porexemplo, no caso de um acidente causado por motorista desatento quemexe no retrovisor enquanto dirige

C. Levíssima

• Ocorre se evitável o erro apenas com uma atenção especial ou habilidadeincomum. Exemplo disso é o acidente no qual o motorista não desvia deum objeto que aparece repentinamente, batendo em outros carros

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De um lado, temos o dano patrimonial ou material. No dano patrimonial há visível interesse econômico no fato; por isso, verifica-se um dano quando uma necessidade econômica é insatisfeita, seja negativamente, seja positivamente. Ele é quantificável em dinheiro, em pecúnia, em “valores econômicos”.

Os efeitos patrimoniais podem ser imediatos, presentes, ou futuros, mediatos, diminuindo ou impedindo o patrimônio do lesado.

Se o dano for atual, ele é chamado de dano emergente, ou seja, é o dano que emerge do ato; ao contrário, se forem danos futuros, eles são chamados de lucros cessantes, ou seja, danos que cessam os lucros futuros, como vimos na aula de Direito das obrigações.

Assim, o dano emergente se consubstancia no momento do ato ilícito ou logo após; já o lucro cessante é o dano que se projeta no futuro pela perda de vantagens e interesses futuros. Geralmente, as duas espécies de dano surgem concomitantemente, havendo tanto uma perda quanto a cessação de um ganho. Com um exemplo fica fácil lembrar: um motorista de Uber é abalroado por outro carro; ele, além de perder o carro parcialmente (um dano emergente), ele deixa de lucrar com as corridas (os lucros cessantes).

O dano reparável é o dano certo, ainda que seja futuro, o que não se repara é dano eventual. É possível estabelecer danos presumidos, de acordo com a doutrina.

Por outro lado, temos o dano extrapatrimonial, imaterial, comumente chamado de dano moral. Além de uma lesão ao patrimônio, pode o indivíduo sofrer danos que não podem ser quantificados, que não são economicamente visíveis e suscetíveis de apreciação monetária.

São os danos que perturbam a moral, a honra, o nome, a tranquilidade, os sentimentos, o afeto, ou seja, todos elementos subjetivos, ao contrário dos danos materiais, que são objetivamente verificáveis.

Todo dano moral traz ofensa à personalidade (direitos de personalidade). Mesmo a partir de danos a bens materiais, pode haver dano moral, decorrente daqueles.

No caso do dano extrapatrimonial, a responsabilização se dá pelo princípio da boa-fé objetiva, pela violação dos deveres laterais de conduta esperados pela boa-fé objetiva. Abrange a responsabilidade pré-contratual, e até mesmo a responsabilidade pré-negocial, além da responsabilização pela culpa post pactum finitum, ou seja, mesmo após o término do contrato, cujo adimplemento foi perfeito.

O dano moral deve ser visto amplamente, incluindo-se nele até mesmo o dano estético, o dano existencial, e, eventualmente, o dano punitivo, quando aplicado, já que não se encaixa na categoria dos danos patrimoniais. Esses danos são acumuláveis, inclusive com os danos materiais.

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De qualquer forma, a extensão desses danos será analisada pelo juiz, que definirá o montante da indenização. Como não há um valor apriorístico, de antemão, a condenação, em valor inferior, não gera sucumbência.

Num caso ou no outro, seja no dano material seja no dano imaterial/mora, o dano pode ser classificado como dano direto e dano indireto.

O dano direto surge do resultado imediato da ação danosa e causa imediato déficit econômico. São os danos verificados a partir da conduta, que, se não tivesse existido, inexistiria também dano, ou seja, há

uma ligação direta ou imediata com as circunstâncias.

Já o dano indireto indaga as conseqüências indiretas, remotas da ação, ou seja, os efeitos dos efeitos. Como,

por exemplo, no caso do acidente de trânsito, eu deixo de comparecer a um compromisso. Nesse caso, entre a conduta e o dano há algo que se interpõe; em outras palavras, eu perdi o compromisso não exatamente porque sofri um acidente, mas porque ao me acidentar fiquei sem o veículo.

Entretanto, deve-se analisar o vínculo de causalidade entre a conduta e os danos. Deve haver um vínculo de causalidade entre ambos (nexo de causalidade), ou seja, a conduta deve desempenhar papel

suficientemente decisivo na consumação daquele dano em específico; portanto, deve haver uma relação direta de causa e efeito entre as situações, como veremos mais à frente, quando tratarmos do nexo de causalidade.

Nesse sentido, necessário se faz analisar as concausas: qual a parcela de “culpa” de cada uma das causas e se elas são, de fato, causas do dano. Vale lembrar que, eventualmente, segundo o art. 945, se houver culpa concorrente entre o causador do dano e a própria vítima, a indenização deve ser reduzida proporcionalmente à parcela de culpa da vítima no evento.

Questão 34 – V Exame da OAB

João trafegava com seu veículo com velocidade incompatível para o local e avançou o sinal vermelho. José, que atravessava normalmente na faixa de pedestre, foi atropelado por João, sofrendo vários ferimentos. Para se recuperar, José, trabalhador autônomo, teve que ficar internado por 10 dias, sem possibilidade de trabalhar, além de ter ficado com várias cicatrizes no corpo. Em virtude do ocorrido, José ajuizou ação, pleiteando danos morais, estéticos e materiais. Com base na situação acima, assinale a alternativa correta.

(A) José não poderá receber a indenização na forma pleiteada, já que o dano moral e o dano estético são inacumuláveis. Assim, terá direito apenas ao

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dano moral, em razão do sofrimento e das cicatrizes, e ao dano material, em razão do tempo que ficou sem trabalhar.

(B) José terá direito apenas ao dano moral, já que o tempo que ficou sem trabalhar é considerado lucros cessantes, os quais não foram expressamente requeridos, e não podem ser concedidos. Quanto ao dano estético, esse é inacumulável com o dano moral, já estando incluído neste.

(C) José terá direito a receber a indenização na forma pleiteada: o dano moral em razão das lesões e do sofrimento por ele sentido, o dano material em virtude do tempo que ficou sem trabalhar e o dano estético em razão das cicatrizes com que ficou.

(D) José terá direito apenas ao dano moral, em razão do sofrimento, e ao dano estético, em razão das cicatrizes. Quanto ao tempo em que ficou sem trabalhar, isso se traduz em lucros cessantes, que não foram pedidos, não podendo ser concedidos.

Comentários

A alternativa A está incorreta, já que, como dissemos, os diversos danos, se verificados, podem ser cumulados.

A alternativa B está incorreta, pois os lucros cessantes estão incluídos no dano material, pelo que ele, em realidade, ainda que não expressamente, os requereu.

A alternativa C está correta, pois podem ser cumulados danos materiais e danos morais e, nestes, cumular danos morais em sentido estrito com danos estéticos e mesmo com danos punitivos, se tivessem sido deferidos.

A alternativa D está incorreta, pelas mesmas razões que a alternativa B.

3) Nexo causal

O nexo causal, como o próprio nome diz, investiga a causa e, por isso, está intimamente ligado ao item anterior. Esse é o tema mais tratado atualmente pela doutrina e pela jurisprudência, em face do reconhecimento de inúmeras situações de responsabilidade sem culpa, ou mais propriamente, responsabilidade objetiva, dependente apenas da verificação da conduta e do dano.

Já verificamos a causa e o dano, falta analisar o liame que liga essas duas fontes; assim, faz-se a triangulação necessária e, portanto, configura-se a responsabilidade civil.

Assim, para se responsabilizar um sujeito, ante um dano causado, é necessário analisar se a conduta por ele tomada encontra uma ligação com esse dano. O

nexo causal, portanto, pode ser chamado de imputação, mais ou menos como a doutrina do direito penal, mas mais ampla que ela, pois mais abrangente. No Direito Penal, a imputação limita-se ao “autor” do dano, enquanto o Direito Civil pode responsabilizar um terceiro, que não causou o dano, mas que deve ser responsabilizado por ele.

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Os problemas enfrentados pelo Direito Penal, nesse sentido, são igualmente causadores de dor de cabeça no Direito Civil. O grande questionamento que se faz é: até que ponto pode-se estabelecer que entre um evento (a causa, a conduta danosa) e outro (o efeito, o dano sofrido), há uma ligação suficientemente forte para se responsabilizar o agente do primeiro evento em relação ao outro? Ou, em que momento “quebra-se” a corrente que liga um evento a outro?

Para que você possa entender a extensão desse problema, vejamos um exemplo que ajuda a se visualizar como o nexo de causalidade é difícil de analisar. É mais ou menos assim: há um acidente automobilístico envolvendo um motorista que, desatento, avança o sinal vermelho após se assustar com um disparo de uma arma de fogo de um policial militar ocorrida numa perseguição; o outro motorista, em alta velocidade, estava ultrapassando um veículo que trafegava abaixo da velocidade mínima da via e não conseguiu parar porque seus freios apresentaram um defeito. Um dos dois motoristas fica preso nas ferragens do veículo, vem um pedestre que tenta ajudá-lo a sair, mas o carro acaba pegando fogo. O pedestre se queima e vão ambos para o hospital. O motorista sofre sua infecção hospitalar e morre; o terceiro fica incapacitado para o trabalho, por causa das queimaduras. O outro motorista era um artista de teatro, que perde a peça inaugural, que é cancelada, e a empresa responsável pelo evento sofre uma pesada multa contratual. Por conta do cancelamento do evento, há um quebra-quebra na saída do teatro e muitas pessoas se ferem; alguns dos convidados, inclusive, destroem o patrimônio público. Por quais danos o causador da conduta vai responder? Ou, ainda, quem é o responsável por cada um dos danos?

A doutrina se divide em muitas teorias. Segundo a maioria da doutrina, o art. 403 traz, ainda que relativamente às perdas e danos (“as perdas e danos só incluem os prejuízos efetivos e os lucros cessantes por efeito dela direto e imediato”), um indicativo da teoria adotada pelo CC/2002, a Teoria do Dano Direto e Imediato.

Segundo a Teoria do Dano Direto e Imediato, interessa o dano que é efeito imediato e direto do fato causador. Por isso, num acidente automobilístico, reparam-se os danos decorrentes do acidente e não do tratamento ruim, ou do acidente com a ambulância, por exemplo.

Em relação ao nexo de causalidade, faz-se necessário retomar a questão da culpa concorrente, pois o art. 945 do CC/2002 estabelece que se a vítima tiver concorrido culposamente para o evento danoso, a sua indenização será fixada tendo-se em conta a gravidade de sua culpa em confronto com a do autor do dano.

Assim, se a vítima do dano concorrer com o agente no dano, cada um arcará equitativamente com o prejuízo,

na proporção de suas culpas. O problema, fático, é saber qualquer é a proporção das culpas, mas aí vai-se ao arbítrio do juiz.

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Questão 38 – XV Exame da OAB

Devido à indicação de luz vermelha do sinal de trânsito, Ricardo parou seu veículo pouco antes da faixa de pedestres. Sandro, que vinha logo atrás de Ricardo, também parou, guardando razoável distância entre eles. Entretanto, Tatiana, que trafegava na mesma faixa de rolamento, mais atrás, distraiu-se ao redigir mensagem no celular enquanto conduzia seu veículo, vindo a colidir com o veículo de Sandro, o qual, em seguida, atingiu o carro de Ricardo. Diante disso, à luz das normas que disciplinam a responsabilidade civil, assinale a afirmativa correta.

A) Cada um arcará com seu próprio prejuízo, visto que a responsabilidade pelos danos causados deve ser repartida entre todos os envolvidos.

B) Caberá a Tatiana indenizar os prejuízos causados ao veículo de Sandro, e este deverá indenizar os prejuízos causados ao veículo de Ricardo.

C) Caberá a Tatiana indenizar os prejuízos causados aos veículos de Sandro e Ricardo.

D) Tatiana e Sandro têm o dever de indenizar Ricardo, na medida de sua culpa.

Comentários

A alternativa A está incorreta, pois a divisão da culpa deve seguir o grau dela. No entanto, Sandro e Ricardo não têm culpa.

A alternativa B está incorreta, já que proporção da culpa de Sandro é 0, pelo que eu foi mero instrumento do dano causado por Tatiana.

A alternativa C está correta, porque Tatiana é quem causou todo o dano, sem a participação de Sandro ou Ricardo.

A alternativa D está incorreta, pela mesma razão da alternativa B.

Por fim, de um modo um tanto excepcional quanto à regra trazida pela Teoria do dano direto e imediato, surge a Teoria da Perda de uma Chance. Nas situações em que se aplica tal Teoria o dano, em realidade, é virtual, probabilístico, abandonando-se a perspectiva de que o dano precisa ser certo, direto, imediato.

Por aplicação dela, indeniza-se a vítima pelas situações em que, havendo uma oportunidade potencial, ela é perdida pelo dano causado. Ou seja, na realidade, verificando-se com relativa precisão a conduta danosa e o nexo de causalidade, dispensa-se a prova do dano, ao menos no plano concreto, material, projetando-se o dano em uma probabilidade, uma chance.

Essa chance, porém, não é qualquer chance, mas uma chance efetiva, real, probabilisticamente razoável.

Talvez um ótimo exemplo é aquele caso do corredor brasileiro que foi agarrado

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por um manifestante nas Olimpíadas de Atenas, em 2004. Veja a notícia do ocorrido para pensarmos no caso:

Vanderlei Cordeiro de Lima ficou neste domingo com a medalha de bronze na prova da maratona dos Jogos Olímpicos de Atenas. O brasileiro liderou boa parte da prova, mas foi atrapalhado por um invasor já perto do final. O ouro ficou com o italiano Stefano Baldini, enquanto a prata foi para o norte-americano Mebrahtom Keflezighi.

O COB protestou contra o resultado, mas a IAAF (Federação Internacional de Atletismo) rejeitou o pedido e confirmou o resultado final da prova. O Comitê Olímpico Brasileiro promete recorrer ao Tas (Tribunal Arbitral do Esporte).

O brasileiro levou o susto com 1h53 de prova. Ele foi agarrado por um invasor, que saiu do meio da torcida e furou o bloqueio de segurança. Segurando um cartaz e vestindo roupas tipicamente irlandesas, o penetra empurrou e quase derrubou o atleta fora da pista. Logo em seguida, torcedores, voluntários e seguranças livraram Vanderlei.

O invasor é o padre Neil Horan, que é famoso por seus protestos em todo o mundo. No Grande Prêmio da Inglaterra de Fórmula 1, em 2003, por exemplo, ele invadiu a pista e arriscou a própria vida correndo para cima dos carros também com um cartaz. A prova foi vencida pelo brasileiro Rubens Barrichello.

O problema abalou o brasileiro, que saiu fazendo cara de dor e colocou a mão na perna direita. Ele ainda balançou negativamente a cabeça depois de olhar inconformado para trás.

A diferença para o segundo colocado, que era de cerca de 45 segundos, caiu para aproximadamente 11 pouco depois. Assim, com 2h de disputa, Vanderlei perdeu posições para o italiano Baldini e para o norte-americano Keflezighi, respectivamente.

Apesar do problema, Vanderlei comemorou muito o resultado. Antes mesmo de cruzar a linha de chegada, ele abriu um sorriso e abriu os braços. Aplaudido, ele mandou beijos para a torcida.

Pois bem, e aí, ele iria ganhar a prova? Ele tinha 45s de vantagem, ficou em 11s, mas, no fim, ficou em terceiro mais de um minuto atrás do primeiro. Ele levaria o ouro? Ou mesmo sem o “ataque” do manifestante, acabaria ficando atrás?

Veja, é impossível, com absoluta certeza, dizer que há um nexo de causalidade ligando a conduta do manifestante (agarrar o corredor) ao dano (ficar com o bronze). É aí que entra a discussão sobre a “indenizabilidade” da perda de uma chance.

Surpreendentemente, em 2005, o STJ aplicou a Teoria no caso do “Show do Milhão”. Veja a ementa do julgado:

RECURSO ESPECIAL. INDENIZAÇÃO. IMPROPRIEDADE DE PERGUNTA FORMULADA EM PROGRAMA DE TELEVISÃO. PERDA DA OPORTUNIDADE.

1. O questionamento, em programa de perguntas e respostas, pela televisão, sem viabilidade lógica, uma vez que a Constituição Federal não indica percentual relativo às terras reservadas aos índios, acarreta, como decidido pelas instâncias ordinárias, a impossibilidade da prestação por culpa do devedor, impondo o dever de ressarcir o participante pelo que razoavelmente haja deixado de lucrar, pela perda da oportunidade.

2. Recurso conhecido e, em parte, provido.

Ora, havia chance à participante de acertar a “pergunta do Milhão”, se não havia, nas quatro alternativas, a resposta certa?

É mais ou menos como se numa questão da Primeira Fase da OAB eles te fizessem uma pergunta que não tivesse resposta certa. Pois bem,

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exatamente por causa dessa questão você não passou para a Segunda Fase. Bom, você acertaria a questão se tivesse uma resposta certa? É impossível saber, mas você, de qualquer forma, “perdeu a chance” de conseguir, ou seja, houve um dano, ainda que ele não seja verificável com “certeza absoluta”.

No caso do Show do Milhão, como o participante tinha 25% por cento das chances de acertar a resposta (já que eram quatro alternativas), decidiu o STJ condenar a empresa de televisão em 25% do valor final esperado. Imagine se a OAB aplicasse essa teoria? Você receberia 25% dos pontos da questão! Felizmente, eles simplesmente anulam a questão, e se ganha o ponto automaticamente...

A teoria da perda de uma chance, assim, permite aplicar a responsabilidade civil mesmo no caso de dano “incerto”, ou seja, há uma indenização por evento futuro.

Mas o CC/2002 já previa algumas situações que ficam, na realidade, no meio-termo entre a aplicação da perda de uma chance e a causação de dano direto e imediato. Vejamos elas.

O art. 948 do CC/2002 estabelece que no caso de homicídio, a indenização consiste, no pagamento das despesas com o tratamento da vítima, seu

funeral e o luto da família e na prestação de alimentos às pessoas a quem o morto os devia, levando-se em conta a duração provável da vida da vítima. O artigo não exclui outras reparações, como o dano moral.

Questão 40 – XIII Exame da OAB

Felipe, atrasado para um compromisso profissional, guia seu veículo particular de passeio acima da velocidade permitida e, falando ao celular, desatento, não observa a sinalização de trânsito para redução da velocidade em razão da proximidade da creche Arca de Noé. Pedro, divorciado, pai de Júlia e Bruno, com cinco e sete anos de idade respectivamente, alunos da creche, atravessava a faixa de pedestres para buscar os filhos, quando é atropelado pelo carro de Felipe. Pedro fica gravemente ferido e vem a falecer, em decorrência das lesões, um mês depois. Maria, mãe de Júlia e Bruno, agora privados do sustento antes pago pelo genitor falecido, ajuíza demanda reparatória em face de Felipe, que está sendo processado no âmbito criminal por homicídio culposo no trânsito. Com base no caso em questão, assinale a opção correta.

A) Felipe indenizará as despesas comprovadamente gastas com o mês de internação para tratamento de Pedro, alimentos indenizatórios a Júlia e Bruno tendo em conta a duração provável da vida do genitor, sem excluir outras reparações, a exemplo das despesas com sepultamento e luto da família.

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B) Felipe deverá indenizar as despesas efetuadas com a tentativa de restabelecimento da saúde de Pedro, sendo incabível a pretensão de alimentos para seus filhos, diante de ausência de previsão legal.

C) Felipe fora absolvido por falta de provas do delito de trânsito na esfera criminal e, como a responsabilidade civil e a criminal não são independentes, essa sentença fará coisa julgada no cível, inviabilizando a pretensão reparatória proposta por Maria.

D) Felipe, como a legislação civil prevê em caso de homicídio, deve arcar com as despesas do tratamento da vítima, seu funeral, luto da família, bem como dos alimentos aos dependentes enquanto viverem, excluindo-se quaisquer outras reparações.

Comentários

Para responder a essa questão, bastava lembrar das regras do art. 948:

No caso de homicídio, a indenização consiste, sem excluir outras reparações:

I - no pagamento das despesas com o tratamento da vítima, seu funeral e o luto da família;

II - na prestação de alimentos às pessoas a quem o morto os devia, levando-se em conta a duração provável da vida da vítima.

A alternativa A está correta, pois abrange todas as indenizações previstas neste artigo.

A alternativa B está incorreta, já que os alimentos estão expressamente previstos no inc. II.

A alternativa C está incorreta, porque, como veremos à frente, a responsabilidade civil e penal são independentes. Além disso, a absolvição por falta de provas não é excludente, de antemão, da responsabilidade civil.

A alternativa D está incorreta, dado que a parte final do caput do art. 948 é clara ao dispor que podem ser cobradas outras indenizações.

Se, ao invés de homicídio, tratar-se de dano à incolumidade física, o art. 949, o ofensor indenizará o ofendido das despesas do tratamento e dos lucros cessantes até ao fim do tratamento, além de eventuais outros prejuízos sofridos.

Por fim, se da ofensa resultar defeito pelo qual o ofendido não possa exercer o seu ofício ou profissão, ou se lhe diminua a capacidade de trabalho, a

indenização, além das despesas do tratamento e lucros cessantes, incluirá pensão correspondente à importância do trabalho para que se inabilitou, conforme regra do art. 950 do CC/2002. O parágrafo único do artigo ainda permite que o prejudicado, se preferir, poderá exigir que a indenização seja arbitrada e paga de uma só vez.

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10.2.3 – Indenização Verificada tríade da responsabilidade civil (conduta/ato ilícito/culpa, o dano e o nexo de causalidade), deve-se procurar pelo melhor meio para a reparação que seja mais conveniente ao agente e à vítima. Apesar de a reparação pecuniária ser a primeira a vir à mente quando se pensa em reparação, ela não deve ser, ao contrário, a mais indicada.

Por isso, vale lembrar que o objetivo da responsabilidade civil é reparar o status quo ante; ou seja, a melhor reparação é aquela que deixa as coisas no estado anterior, como se não tivesse havido dano. É a chamada “reparação perfeita”.

Assim, a melhor resposta, genericamente falando, não é a pecúnia, mas a reparação do dano em si, por si (acidente automobilístico: reparar o veículo; cirurgia malfeita: refazê-la, deixando o paciente “bem”; plástica: arrumar o defeito; produto ruim: trocar por um bom etc.). Entretanto, por vezes, é impossível a reparação em espécie, restando somente a indenização correspondente.

É importante notar que por vezes a reparação em espécie não é a melhor saída, seja para o lesado, seja para o autor do dano. Às vezes, a reparação em espécie não será capaz de reparar integralmente o dano, como, por exemplo, num dano estético, pois não é interessante ser operado novamente pelo mesmo médico. E, por outro lado, às vezes a reparação em espécie gerará enriquecimento ilícito ao lesado, como no caso da substituição de um bem com problemas, depois de um tempo relativamente longo, já que o bem estaria desgastado pelo uso e, consequentemente, desvalorizado.

A quantificação dos danos é talvez a maior dificuldade na responsabilidade civil. Quando a responsabilidade é contratual, podem os contratantes prefixar

no próprio contrato, em uma cláusula penal, os valores de ressarcimento. Se for responsabilidade extracontratual, o ressarcimento deverá ser

verificado caso a caso, especificamente, segundo regra do art. 946.

Entretanto, a indenização não é aferida de modo amplo, irrestrito e ilimitado, mas segundo os parâmetros estabelecimentos no art. 402 do CC/2002: o que perdeu (dano emergente) e o que deixou de ganhar (lucro cessante). Porém, quando a indenização versa sobre danos morais, a liberdade do julgador é muitíssimo alargada, inexistindo qualquer parâmetro legal como limite, seja positivo, seja negativo. O balizamento fica a cargo, então, da jurisprudência, que vai consolidando entendimentos sobre o quantum caso a caso.

Para compreender como facilitar esse problema, é necessário entender os dos sistemas de aferição de dano. Eles são dois:

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Pode-se dizer que o sistema brasileiro é, na verdade, misto, pois nós temos na legislação algumas fontes de tarifação. Nos arts. 939 e 940 do CC/2002 o legislador coloca o quantum exato para a aferição de dano. Vejamos.

Os danos patrimoniais, via de regra, devem ser provados, apenas excepcionalmente eles podem ser presumidos. Em regra, são tarifados, limitados ao montante efetivamente despendido. Já em relação aos danos morais "puros" sempre serão arbitrados pelo juiz, não havendo tarifação para tanto, em nenhuma hipótese.

Em regra, segundo o art. 206, § 3º, inc. V do CC/2002, o prazo da ação de reparação de danos é de 3 anos, contados da data do evento.

10.2.4 – Excludentes de responsabilidade Há situações em que a ação humana, embora cause um dano, com nexo causal, não é considerada um ato ilícito, não gerando, muitas vezes, dever de indenizar. São hipóteses de isenção de responsabilidade, inscritas no

art. 188 do CC/2002.

A. Sistema aberto (Sistema do arbitramento)

• Em tese, nosso ordenamento se pauta por esse sistema, ou seja, omagistrado pode livremente fixar o montante da indenização

• Contudo, isso não é de todo verdadeiro, pois há limitações negativas epositivas para o magistrado. Esse sistema ganhou força com o CC/2002,pois legou ao magistrado mais poder; é um sistema que preza mais pelajustiça do caso, mas tem o ônus de ser mais “inseguro”

B. Sistema tarifário

• É um sistema mais seguro, mas mais problemático, pois exclui apossibilidade de aferição dos danos reais, de sua extensão real,estabelecendo um quantum fechado, impassível, "pétreo"

1) Credor demanda dívida não vencida

• Segundo o art. 939, o credor que demandar o devedor antes de vencida adívida, fora dos casos em que a lei o permita, ficará obrigado a esperar otempo que faltava para o vencimento, a descontar os juroscorrespondentes, embora estipulados, e a pagar as custas em dobro

2) Credor demanda dívida já paga

• O art. 940 do CC/2002 estabelece que aquele que demandar por dívida jápaga, no todo ou em parte, sem ressalvar as quantias recebidas ou pedirmais do que for devido, ficará obrigado a pagar ao devedor, no primeirocaso, o dobro do que houver cobrado e, no segundo, o equivalente do quedele exigir

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Tratam-se de atos legitimados pelo direito, pois exercidos com apoio em algumas das seguintes hipóteses: a) legítima defesa; b) exercício regular de direito reconhecido e c) destruição de coisa ou lesão à pessoa para remoção de perigo iminente.

Segundo o art. 65 do CPP, a sentença penal que reconhece as excludentes de antijuridicidade (legítima defesa, estado de necessidade, estrito cumprimento do dever legal, exercício regular de

direito) faz coisa julgada no juízo cível. Isso significa que não é preciso comprovar novamente essas circunstâncias (art. 935 do CC/2002).

Há, ainda, outras previsões que atenuam a responsabilidade, como a ocorrência de caso fortuito, força maior, culpa exclusiva da vítima e a absolvição criminal, mas estão fora do âmbito do art. 188. O art. 187, por sua vez, dispõe que o excesso no exercício de direito é ilícito, consoante os limites dados pela boa-fé e os bons costumes. A prática de direito não pode trazer prejuízo maior que se não fosse praticado. Vejamos os excludentes de responsabilidade.

1. Legítima defesa (art. 188, I)

Não é necessário o prévio julgamento no juízo criminal para ficar comprovada, pois há independência dos juízos, na forma do art. 935 do CC/2002, como dito. Mas, os requisitos para sua aferição vêm, sem dúvida, do Direito Penal:

A legítima defesa que ofende a honra não exclui a indenização. Da mesma forma, se o resultado da legítima defesa ofende a pessoa estranha à agressão, a responsabilidade de indenizar subsiste em relação

ao terceiro. O ato, embora justificável, não exclui a indenização, segundo o art. 930, parágrafo único. Porém, pode haver direito de regresso em face daquele que provocou a reação quanto à indenização a ser paga ao terceiro, como estabelece o caput do art. 930 do CC/2002.

Por fim, a legítima defesa putativa – em que há erro de fato sobre a situação de legítima defesa – não exclui a ilicitude, nem o dever de indenizar, se decorreu de negligência na apreciação errônea dos fatos.

2. Exercício regular de direito (art. 188, I)

O exercício de direito não pode ir além de um justo limite e deve atender à satisfação de um interesse sério e legítimo. A prova do exercício regular é de quem causa o dano e não de quem o sofreu, porque

A) Agressão atual ou iminente e injusta (sem

provocação)

B) Preservação de direito próprio ou alheio

C) Emprego moderado dos meios

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este só precisa comprovar a contrariedade do ato com o direito, nas palavras de Pontes de Miranda.

Se o exercício do direito não é regular, está configurado o abuso de direito, considerado ato ilícito, por aplicação do art. 187 do CC/2002.

Como caracterizar o exercício de um direito de maneira regular ou abusiva? É necessário analisar, a partir da legislação, os princípios contratuais para se analisar se a ação do titular do direito é regular ou abusiva. Quer um exemplo? No caso de inadimplemento das mensalidades escolares, pode a instituição de ensino vedar que o aluno participe das atividades institucionais ou reter seu histórico escolar, em caso de inadimplemento? Veja a decisão do primeiro caso, no STJ:

ENSINO. HISTORICO ESCOLAR. RETENÇÃO. A EXCEÇÃO PREVISTA NO ARTIGO 4. DA LEI 8.170, DE 17.1.91, SOMENTE PODE SER APLICADA UMA VEZ RECONHECIDOS OS SEUS PRESSUPOSTOS, O QUE INCORREU, NA ESPECIE. AFASTADA A INCIDENCIA DA NORMA, DESNECESSARIO SUSCITAR AQUI O INCIDENTE DE SUA INCONSTITUCIONALIDADE. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. (REsp 61.344/SP, Rel. Ministro RUY ROSADO DE AGUIAR, QUARTA TURMA, julgado em 04/06/1996, DJ 12/08/1996, p. 27488)

Questão 43 – XI Exame da OAB

Questão 43 Pedro, engenheiro elétrico, mora na cidade do Rio de Janeiro e trabalha na Concessionária Iluminação S.A.. Ele é viúvo e pai de Bruno, de sete anos de idade, que estuda no colégio particular Amarelinho. Há três meses, Pedro celebrou contrato de financiamento para aquisição de um veículo importado, o que comprometeu bastante seu orçamento e, a partir de então, deixou de arcar com o pagamento das mensalidades escolares de Bruno. Por razões de trabalho, Pedro será transferido para uma cidade serrana, no interior do Estado e solicitou ao estabelecimento de ensino o histórico escolar de seu filho, a fim de transferi-lo para outra escola. Contudo, teve seu pedido negado pelo Colégio Amarelinho, sendo a negativa justificada pelo colégio como consequência da sua inadimplência com o pagamento das mensalidades escolares. Para surpresa de Pedro, na mesma semana da negativa, é informado pela diretora do Colégio Amarelinho que seu filho não mais participaria das atividades recreativas diuturnas do colégio, enquanto Pedro não quitar o débito das mensalidades vencidas e não pagas. Com base no caso narrado, assinale a afirmativa correta.

A) O Colégio Amarelinho atua no exercício regular do seu direito de cobrança e, portanto, não age com abuso de direito ao reter o histórico escolar de Bruno, haja vista a comprovada e imotivada inadimplência de Pedro.

B) As condutas adotadas pelo Colégio Amarelinho configuram abuso de direito, pois são eticamente reprováveis, mas não configuram atos ilícitos indenizáveis.

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C) Tanto a retenção do histórico escolar de Bruno, quanto a negativa de participação do aluno nas atividades recreativas do colégio, configuram atos ilícitos objetivos e abusivos, independente da necessidade de provar a intenção dolosa ou culposa na conduta adotada pela diretora do Colégio Amarelinho.

D) Para existir obrigação de indenizar do Colégio Amarelinho, com fundamento no abuso de direito, é imprescindível a presença de dolo ou culpa, requisito necessário para caracterizar o comportamento abusivo e o ilícito indenizável.

Comentários

A alternativa A está incorreta, pois a retenção do histórico escolar e a vedação à participação nas atividades cotidianas, por parte do aluno, é abusiva, não se caracterizando o exercício regular de direito.

A alternativa B está incorreta, dado que, se se configurou o abuso de direito, está configurado o ato ilícito.

A alternativa C está correta, dado que a responsabilidade da instituição de ensino é objetiva, independentemente de culpa.

A alternativa D está incorreta, conforme a alternativa C.

3. Estado de necessidade (art. 188, II)

Nem sempre o estado de necessidade exclui a ilicitude, pois ele está bem delimitado pelas hipóteses do art. 188, em seu caput e parágrafo único. Deve haver deterioração/destruição de coisa alheia para remover perigo iminente, restringindo-se aos casos absolutamente necessários, e desde que não haja excesso.

Segundo o art. 929 do CC/2002, se o dono da coisa ou a pessoa lesada não forem culpados por causar o perigo, fica-lhes garantido o direito à

indenização pelos danos a ser pago por quem os causou. Porém, há direito de regresso do autor do dano contra quem causou o perigo a ser evitado, nos

termos do art. 930. Consequentemente, se o perigo foi causado pelo próprio dono da coisa ou pessoa lesada, está afastado o dever de indenizar.

O estado de necessidade enseja dever de indenizar, mesmo que não seja ato ilícito e mesmo que o ato tenha salvado os interesses de outrem. É caso de responsabilidade objetiva, pois não é justo que a vítima suporte os prejuízos sob a escusa de que o autor tinha direito de praticar o dano.

Questão 12 – III Exame da OAB

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Ricardo, buscando evitar um atropelamento, realiza uma manobra e atinge o muro de uma casa, causando um grave prejuízo. Em relação à situação acima, é correto afirmar que Ricardo

(A) não responderá pela reparação do dano, pois agiu em estado de necessidade.

(B) responderá pela reparação do dano, apesar de ter agido em estado de necessidade.

(C) responderá pela reparação do dano, apesar de ter agido em legítima defesa.

(D) praticou um ato ilícito e deverá reparar o dano.

Comentários

A alternativa A está incorreta, pois, segundo o art. 929, se o dono da coisa ou pessoa lesada não for responsável pelo perigo, deve ser indenizado.

A alternativa B está correta, porque, segundo o art. 929, se o dono da coisa ou pessoa lesada não for responsável pelo perigo, deve ser indenizado.

A alternativa C está incorreta, já que não houve ameaça ou lesão de direito passível de defesa legitimante.

A alternativa D está incorreta, dado que Ricardo não praticou ato ilícito, pelo excludente de juridicização, mas, ainda assim, deve indenizar.

4. Caso fortuito/força maior (art. 393) Tratados no art. 393 do CC/2002, que diz que o devedor não responde pelos

prejuízos resultantes do caso fortuito ou da força maior se não se houver responsabilizado expressamente.

Porém, como já vimos nas aulas anteriores, essa regra é sujeita a exceções, como, por exemplo, nos casos de mora do devedor, antes da tradição da coisa incerta; no comodato, quando o comodatário salva as coisas próprias primeiro.

5. Culpa exclusiva da vítima (art. 945)

O fato da vítima é o fato gerador do evento danoso, ou seja, a gravidade da sua culpa, em confronto com a do autor, é de 100%. Como o art. 945 estabelece que a indenização é fixada tomando-se em conta as “culpas” do autor e do réu, se o próprio autor tem 100% de responsabilidade, ele terá 0% de danos indenizados.

É o que ocorre, por exemplo, no condutor de um veículo que, notoriamente embriagado, sonolento ou desatento que bate o carro em um poste, sem que a via, o veículo ou outros elementos tenham turvado suas condições ao dirigir.

Em realidade, nesse caso, inexiste o nexo causal entre o dano e a conduta do autor; a própria vítima é a causadora do dano. Isso não impede, contudo, a

cobertura de danos por seguro que estabelece reparação independentemente de culpa ou tão-somente com a verificação do dano.

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Questão 39 – VIII Exame da OAB

João dirigia seu veículo respeitando todas as normas de trânsito, com velocidade inferior à permitida para o local, quando um bêbado atravessou a rua, sem observar as condições de tráfego. João não teve condições de frear o veículo ou desviar!se dele, atingindo!o e causando!lhe graves ferimentos. A partir do caso apresentado, assinale a afirmativa correta.

A) Houve responsabilidade civil, devendo João ser considerado culpado por sua conduta.

B) Faltou um dos elementos da responsabilidade civil, qual seja, a conduta humana, não ficando configurada a responsabilidade civil.

C) Inexistiu um dos requisitos essenciais para caracterizar a responsabilidade civil: o dano indenizável e, por isso, não deve ser responsabilizado.

D) Houve rompimento do nexo de causalidade, em razão da conduta da vítima, não restando configurada a responsabilidade civil.

Comentários

A alternativa A está incorreta, pois, neste caso, se verifica a situação de culpa exclusiva da vítima, já que o bêbado atravessou inadvertidamente a rua, sem dar chance a João conseguir desviar.

A alternativa B está incorreta, já que a conduta humana existiu, mas a responsabilidade não se configurará pela quebra do nexo de causalidade em razão da culpa exclusiva da vítima.

A alternativa C está incorreta, dado que o dano igualmente se verificou (graves ferimentos).

A alternativa D está correta, pela razão exposta na alternativa B.

Porém, tome cuidado, pois o estrito cumprimento do dever legal, mesmo que reconhecido no juízo penal, não obsta seu conhecimento também no juízo cível, a fim de aferir a extensão da conduta lesiva e o grau de culpa. É excludente de ilicitude, mas não do dever de indenizar.

Igualmente, a absolvição criminal, segundo o art. 66 do CPP, não impede a responsabilização civil se não houve sido reconhecida a inexistência material do fato. Ou seja, se o sujeito é absolvido por falta de provas,

por exemplo, não há afastamento do dever de indenizar; tal só ocorreria se o juiz, no crime, reconhecesse, na sentença, que não houve conduta do lesador.

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Excludentes de responsabilidade

10.2.5 – Responsabilidade por fato de outrem Vê-se aqui a possibilidade de não causar dano a outrem e, ainda assim, ser responsabilizado. A lei, em situações especiais, remete a responsabilidade por um dano a terceiro, que não o causador do dano. Mas

isso pode acontecer a qualquer um, de qualquer modo, a qualquer tempo? Não.

Via de regra, o fundamento é um dever de guarda, controle, vigilância ou proteção. Em regra, se verifica a responsabilidade por fato de outrem em relações de submissão ou autoridade, como no caso do patrão e empregado ou do pai e filho, por exemplo.

Juridicamente falando, responsabiliza-se um terceiro porque ele omitiu-se no seu dever, ou seja, há responsabilidade pela omissão (o pai que deixa de punir

o filho, o patrão que não exerce sua autoridade sobre o funcionário).

Há, em algum sentido, desleixo, descaso, falta de vigilância. Isso porque quem tem alguém sob seu comando, controle, autoridade ou submissão, deve zelar tanto pelo agente quanto pelas pessoas e coisas com as quais o agente entra em contato.

Quais são essas hipóteses? Elas estão presentes no art. 932 do CC/2002:

I - os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia;

II - o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas condições;

III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele;

IV - os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se albergue por dinheiro, mesmo para fins de educação, pelos seus hóspedes, moradores e educandos;

V - os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime, até a concorrente quantia.

Legítima defesa

Exercício regular de direito

Estado de necessidade

Caso fortuito/força maior

Culpa exclusiva da vítima

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Mas a responsabilidade é objetiva ou subjetiva? Segundo o art. 933 do CC-2002, a responsabilidade é objetiva, sequer existindo espaço para que o terceiro prove que tomou todas as medidas que lhe competiam para evitar o dano:

As pessoas indicadas no artigo antecedente, ainda que não haja culpa de sua parte, responderão pelos atos praticados pelos terceiros ali referidos.

Ou seja, nem que o responsabilizado prove que não teve culpa alguma e não podia ter evitado o dano, responderá.

Mas o responsável legal arca com o prejuízo? Sim, mas há a possibilidade de ação regressiva contra o causador do dano, nos termos do art. 934, que esclarece que aquele que ressarcir o dano causado por outrem pode reaver o que houver pago daquele por quem pagou, salvo se o causador do dano for descendente seu, absoluta ou relativamente incapaz.

Em todos os casos, a responsabilidade é solidária, por previsão expressa do art. 942, parágrafo único do CC/2002.

Curiosamente, se há responsabilidade civil por dano causado por incapaz, quem responde são responsáveis legais. Porém, se os responsáveis legais não tiverem a obrigação de indenizar (não estiver o menor sob a autoridade, p.ex.) ou quando estes não possuírem meios para adimplir com a indenização, segundo o art. 928 do CC/2002, os próprios incapazes responderão. Nesse caso, no entanto, há limitação da responsabilidade dos incapazes para não privar do necessário o incapaz ou as pessoas que dele dependem, atentando-se ao mínimo existencial, nos termos do parágrafo único desse artigo.

Vejamos cada uma dessas situações detalhadamente.

2.5.1. Responsabilidade dos pais

Em regra, os filhos não exercem atividades que possibilitem auferir renda, não possuem patrimônio e não terão como arcar com a indenização, se devida, ao contrário dos pais, que, também geralmente, possuem melhores condições para tanto. Mesmo que inexista capacidade, o dano causado pelo menor deve ser indenizado, já que o direito civil pretende uma tutela da vítima; mesmo que o menor não tenha causado ato ilícito, pois incapaz, há responsabilidade civil.

Cuidado em relação às expressões “sob sua autoridade” e “em sua companhia”. A autoridade liga-se ao poder familiar; se um ou ambos ou genitores não detém poder familiar sobre o menor, não responde pelo dano, como, por exemplo, no caso do filho sob a guarda de um dos pais, ou sob a guarda dos avós. A companhia não remete apenas à companhia momentânea, mas duradoura, ou seja, se o menor sai, à noite, e causa um dano, os pais são responsáveis, ainda que não na companhia efetiva do

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menor; veja-se que se o filho não está na companhia dos pais por desídia destes, não se afasta a responsabilidade.

A emancipação legal concedida pelos pais excluiria sua responsabilidade, mas a jurisprudência do STJ a

mantém. Ao contrário, nos demais casos em que adquire a maioridade (como nos casos de casamento, exercício efetivo de emprego público, existência de economia própria decorrente de emprego e estabelecimento de empresa), a responsabilidade dos pais cessa.

Questão 41 – XII Exame da OAB

Pedro, dezessete anos de idade, mora com seus pais no edifício Clareira do Bosque e, certa manhã, se desentendeu com seu vizinho Manoel, dezoito anos. O desentendimento ocorreu logo após Manoel, por equívoco do porteiro, ter recebido e lido o jornal pertencente aos pais do adolescente. Manoel, percebido o equívoco, promoveu a imediata devolução do periódico, momento no qual foi surpreendido com atitude inesperada de Pedro que, revoltado com o desalinho das páginas, o agrediu com um soco no rosto, provocando a quebra de três dentes. Como Manoel é modelo profissional, pretende ser indenizado pelos custos com implantes dentários, bem como pelo cancelamento de sua participação em um comercial de televisão. Tendo em conta o regramento da responsabilidade civil por fato de outrem, assinale a afirmativa correta.

A) Pedro responderá solidariamente com seus pais pelos danos causados a Manoel, inclusive com indenização pela perda de uma chance, decorrente do cancelamento da participação da vítima no comercial de televisão.

B) Somente os pais de Pedro terão responsabilidade objetiva pelos danos causados pelo filho, mas detêm o direito de reaver de Pedro, posteriormente, os danos indenizáveis a Manoel.

C) Se os pais de Pedro não dispuserem de recursos suficientes para pagar a indenização, e Pedro tiver recursos, este responderá subsidiária e equitativamente pelos danos causados a Manoel.

D) Os pais de Pedro terão responsabilidade subjetiva pelos danos causados pelo filho a Manoel, devendo, para tanto, ser comprovada a culpa in vigilando dos genitores.

Comentários

A alternativa A está incorreta, porque apesar de o art. 942, parágrafo único estabelecer que “São solidariamente responsáveis com os autores os co-autores e as pessoas designadas no art. 932”, a indenização por perda de uma chance só seria arbitrada se fosse realmente séria, e não eventual.

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A alternativa B está incorreta, pois o art. 934 prevê que “Aquele que ressarcir o dano causado por outrem pode reaver o que houver pago daquele por quem pagou, salvo se o causador do dano for descendente seu, absoluta ou relativamente incapaz.”

A alternativa C está correta, de acordo com a previsão expressa do art. 928: “O incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas por ele responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de meios suficientes.”

A alternativa D está incorreta, já que o art. 933 prevê que “As pessoas indicadas nos incisos I a V do artigo antecedente, ainda que não haja culpa de sua parte, responderão pelos atos praticados pelos terceiros ali referidos.” O inc. I do artigo antecedente trata da responsabilidade dos pais pelos atos praticados pelos filhos menores.

2.5.2. Responsabilidade do tutor/curador

Em regra, os próprios pais são os tutores e curadores, mas nem sempre. Há grande crítica à responsabilidade objetiva, especialmente em relação à curatela, que é, em geral, ato de altruísmo e gratuito.

2.5.3. Responsabilidade do empregador/comitente

O conceito de empregador não está contido na legislação civil, mas no art. 2º da CLT:

Considera-se empregador a empresa, individual ou coletiva, que, assumindo os riscos da atividade econômica, admite, assalaria e dirige a prestação pessoal de serviço.

Esse artigo, no § 1º, equipara determinadas figuras ao empregador:

Equiparam-se ao empregador, para os efeitos exclusivos da relação de emprego, os profissionais liberais, as instituições de beneficência, as associações recreativas ou outras instituições sem fins lucrativos, que admitirem trabalhadores como empregados.

Ou seja, em resumo, todo aquele que contrata alguém e se utiliza de seu trabalho, mediante remuneração, para auferir algum benefício, mediante estabelecimento de uma relação hierárquica de subordinação, é empregador, ao menos para os fins

desse artigo do CC/2002.

Questão 43 – IX Exame da OAB

No dia 23 de junho de 2012, Alfredo, produtor rural, contratou a sociedade Simões Aviação Agrícola Ltda., com a finalidade de pulverizar, por via aérea, sua plantação de soja. Ocorre que a pulverização se deu de forma incorreta, ocasionando a perda integral da safra de abóbora pertencente a Nilson, vizinho lindeiro de Alfredo. Considerando a situação hipotética e as regras de responsabilidade civil, assinale a afirmativa correta.

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A) Com base no direito brasileiro, Alfredo responderá subjetivamente pelos danos causados a Nilson e a sociedade Simões Aviação Agrícola Ltda. será responsabilizada de forma subsidiária.

B) Alfredo e a sociedade Simões Aviação Agrícola Ltda. responderão objetiva e solidariamente pelos danos causados a Nilson.

C) Não há lugar para a responsabilidade civil solidária entre Alfredo e a sociedade Simões Aviação Agrícola Ltda. pelos danos causados a Nilson, dada a inexistência da relação de preposição.

D) Trata-se de responsabilidade civil objetiva, em que a sociedade Simões Aviação Agrícola Ltda. é o responsável principal pela reparação dos danos, enquanto Alfredo é responsável subsidiário.

Comentários

Em realidade, a resposta a essa questão fica mais simples se analisarmos a noção de fornecedor por equiparação, prevista no CDC. No entanto, fiquemos com as noções gerais aqui do CC/2002. Sugiro que você, depois que vir essa figura lá no Direito do Consumidor, volte e tente resolver novamente essa questão!

A alternativa A está incorreta, já que nesse caso a responsabilidade é objetiva, não subjetiva.

A alternativa B está correta, dado que a responsabilidade civil daquele que contrata outrem para prestar-lhe serviços é objetiva e solidária.

A alternativa C está incorreta, pois a relação da responsabilidade civil entre Alfredo e a sociedade é solidária.

A alternativa D está incorreta, pela razão mencionada na alternativa C.

Por outro lado, a noção de comitente está no art. 693 do CC/2002:

O contrato de comissão tem por objeto a aquisição ou a venda de bens pelo comissário, em seu próprio nome, à conta do comitente.

Ou seja, o comitente é o “favorecido” pelos negócios.

Essa responsabilização ocorre, em regra, apenas durante a execução da atividade subordinada, ou seja, durante o “expediente”. Porém, com base na Teoria da Aparência, há exceções, eis que aquele que sofre o dano “acredita” que o causador do dano o fez em razão do emprego e, por isso, deve ser indenizado.

Questão 46 – XIV Exame da OAB

Um homem foi submetido a cirurgia para remoção de cálculos renais em hospital privado. A intervenção foi realizada por equipe médica não integrante dos quadros de funcionários do referido hospital, apesar de ter sido indicada por esse mesmo hospital. Durante o procedimento, houve perfuração do fígado do paciente, verificada somente três dias após a

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cirurgia, motivo pelo qual o homem teve que se submeter a novo procedimento cirúrgico, que lhe deixou uma grande cicatriz na região abdominal. O paciente ingressou com ação judicial em face do hospital, visando a indenização por danos morais e estéticos. Partindo dessa narrativa, assinale a opção correta.

A) O hospital responde objetivamente pelos danos morais e estéticos decorrentes do erro médico, tendo em vista que ele indicou a equipe médica.

B) O hospital responderá pelos danos, mas de forma alternativa, não se acumulando os danos morais e estéticos, sob pena de enriquecimento ilícito do autor.

C) O hospital não responderá pelos danos, uma vez que se trata de responsabilidade objetiva da equipe médica, sendo o hospital parte ilegítima na ação porque apenas prestou serviço de instalações e hospedagem do paciente.

D) O hospital não responderá pelos danos, tendo em vista que não se aplica a norma consumerista à relação entre médico e paciente, mas, sim, o Código Civil, embora a responsabilidade civil dos profissionais liberais seja objetiva.

Comentários

A alternativa A está correta, pois, por aplicação da “teoria da aparência”, ainda que não fosse funcionário do hospital, a equipe médica foi por ela indicada.

A alternativa B está incorreta, já que, como vimos, a indenização pode abranger danos materiais e morais, sendo que nestes é possível cumular danos morais, estéticos e outros danos morais em sentido amplo.

A alternativa C está incorreta, pelo mesmo motivo da alternativa A.

A alternativa D está incorreta, pelo mesmo motivo da alternativa A.

2.5.4. Responsabilidade dos estabelecimentos de albergue

A amplitude desse artigo abrange todo tipo de estabelecimento de albergue remunerado: creche, escola, hotel, motel, SPA, asilo, hospital, sanatório, centros de recuperação de dependentes etc. Sublinhe-se a necessidade de contraprestação para haver responsabilidade objetiva.

Essa responsabilidade abrange os danos causados pelos hóspedes a terceiros e pelo estabelecimento aos hóspedes. No mesmo sentido, o art. 14 do CDC estabelece

a responsabilidade objetiva na prestação de serviços. Mesmo danos causados fora da instituição são passíveis de indenização por ela, como, por exemplo, no caso de uma excursão de alunos organizada pela escola.

Além disso, cláusulas que atenuam ou isentam a responsabilidade do estabelecimento são nulas, mesmo que existam avisos ostensivos, conforme regra do art. 51, inc. I do CDC.

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2.5.5. Responsabilidade pela participação em produto de crime

Primeiro, não confunda com a coautoria. Na coautoria o sujeito participa do evento, aqui, apenas recebe o produto do crime (o que, em realidade, configura o tipo de receptação do art. 180 do CP). Neste caso, responde apenas pelo dano até o valor que recebeu, na coautoria, responde integralmente pelo dano.

2.5.6. Responsabilidade das locadoras de veículos

A Súmula 492 do STF já definia, desde 1969, que a empresa que loca veículos responde pelos danos causados pelo locatário. Essa responsabilidade, inclusive, é solidária:

A emprêsa locadora de veículos responde, civil e solidariamente com o locatário, pelos danos por este causados a terceiro, no uso do carro locado.

10.2.6 – Responsabilidade por fato de coisa Segundo Arnaldo Rizzardo:

O dono de uma coisa inanimada é responsável pelos danos que a mesa causar

A responsabilidade por fato de coisa abrange tanto o proprietário quanto aquele que exerce sua guarda (detentor). No CC/2002 adotou-se a responsabilidade objetiva, ou seja, o lesado deve apenas provar o dano

e o nexo causal com a conduta, sendo desnecessário questionar a culpa do dono da coisa. Ainda assim, o agente poderá eximir-se da responsabilidade se conseguir comprovar o caso fortuito/força maior ou a culpa exclusiva da vítima. Não há um dispositivo legal próprio para essa espécie de responsabilidade, aplicando-se o art. 927, pois se entende a responsabilidade por fato da coisa como espécie da responsabilidade objetiva por risco de atividade.

A responsabilidade por fato da coisa diferencia-se das demais espécies porque não requer uma conduta direta do autor do dano com a coisa em relação ao dano. Basta a posse, propriedade ou detenção da coisa e o dano para configurar-se a responsabilidade. Duas espécies têm grande importância:

A. Responsabilidade pela ruína de edifício

Caso especial de responsabilidade for fato de coisa está presente no art. 937 do CC/2002, que estipula que:

O dono do edifício ou construção responde pelos danos que resultarem de sua ruína, se esta provier de falta de reparos, cuja necessidade fosse manifesta.

A responsabilidade do dono da obra é objetiva, pois se entende que não agiu com o devido cuidado, seja falta de reparos, seja por falha construtiva.

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Contudo, o art. 937 abre amplas possibilidades de defesa do dono da obra, pois lhe permite provar que agiu com o devido cuidado, inexistindo falta de reparos. Além disso, o artigo menciona a manifesta necessidade dos reparos para configurar a responsabilidade.

Nada obstante, aqui surge um caso curioso, pois, em regra, um edifício não desaba se estiver em perfeitas condições, cai apenas quando há necessidade de algum reparo ou há uma falha na construção. Assim, presume-se a necessidade de reparos se o edifício desaba. Apesar de objetiva, há uma mínima chance de o autor se desincumbir da indenização.

A responsabilidade pela ruína estende-se a todo tipo de imóvel, não apenas às construções ou imóveis novos, incluindo-se aí a responsabilidade do proprietário que adquire imóvel já com muitos anos de uso, pois se entende que deveria tê-lo vistoriado adequadamente. Abrange, em verdade, todo tipo de edificação: pontes, canalizações (gás canalizado), andaimes (de prédios em obras), arquibancadas (de estádios), marquises (eventos em geral), escadas rolantes (de shopping center).

O único modo de afastar a responsabilização é comprovar a ocorrência de um caso fortuito ou de culpa exclusiva da vítima.

B. Responsabilidade pela queda ou lançamento de coisas de edifícios

Outro caso especial de responsabilidade for fato de coisa está presente no art. 938 do CC/2002, que aduz que aquele que habitar prédio, ou parte dele, responde pelo dano proveniente das coisas que dele caírem ou forem lançadas em lugar indevido.

O termo “prédio” é entendido de maneira bastante larga, compreendendo, além do condomínio edilício vertical, casas, hotéis, estações, escritórios, templos, escolas, clínicas, ou seja, todo local em que as pessoas ficam, permanecem, “habitarem” (também em sentido largo, e não apenas “morar”)

O termo “coisa” é também genérico, abrangendo lixo, placas, pequenos objetos, vasos de plantas e mesmo água (que cai sobre um equipamento eletrônico em funcionamento, por exemplo).

A responsabilidade do dono da obra é objetiva, pois se entende que não agiu com o devido cuidado ao deixar que coisas fossem lançadas ou caíssem do edifício. Não importa quem lançou o objeto para a vítima, acionando-se todos os proprietários.

Se condomínio edilício, geralmente aciona-se o próprio condomínio, pois é difícil, ou mesmo impossível, precisar o autor. Porém, se possível for fixar quem foi o autor do dano, não pode a vítima pretender obter a indenização do condomínio, pois manifesta sua ilegitimidade passiva.

Mesmo que o lançamento ou queda sejam efetuados por terceiro (um parente que visita em casa, criança na escola, hóspede do hotel), o proprietário responde, com vistas na teoria do risco.

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Questão 36 – VI Exame da OAB

Mirtes gosta de decorar a janela de sua sala com vasos de plantas. A síndica do prédio em que Mirtes mora já advertiu a moradora do risco de queda dos vasos e de possível dano aos transeuntes e moradores do prédio. Num dia de forte ventania, os vasos de Mirtes caíram sobre os carros estacionados na rua, causando sérios prejuízos. Nesse caso, é correto afirmar que Mirtes

(A) poderá alegar motivo de força maior e não deverá indenizar os lesados.

(B) está isenta de responsabilidade, pois não teve a intenção de causar prejuízo.

(C) somente deverá indenizar os lesados se tiver agido dolosamente.

(D) deverá indenizar os lesados, pois é responsável pelo dano causado.

Comentários

A alternativa A está incorreta, pois a força maior não tem o condão de afastar a responsabilidade do dono do edifício, que é objetiva, em relação à falta de cuidado e consequente dano.

A alternativa B está incorreta, já que por se tratar de responsabilidade objetiva, ela se verifica independentemente de culpa ou dolo.

A alternativa C está incorreta, pela mesma razão da alternativa B.

A alternativa D está correta, já que o art. 938 é claro ao dispor sobre a responsabilidade civil do causador de danos em virtude de lançamento ou queda de coisas de edifício.

10.2.7 – Responsabilidade por fato de animais Mesmo na vigência do CC/1916 havia presunção de culpa do proprietário do animal que causa dano, pela presunção de falta de cuidado e diligência do dono.

O CC/2002 exclui a responsabilidade apenas nos casos de culpa exclusiva da vítima ou de força maior, segundo art. 936.

A fuga do animal, ou sua permanência em local inapropriado, portanto, importam em presunção de culpa do dono (animal pula o muro; animal morde a pessoa através de uma grade ou ataca alguém durante uma festa de rua: deveria estar bem guardado/não deveria estar lá), e a vítima deve apenas apontar o dano e o nexo causal com a conduta. Cumprirá ao dono provar a existência de culpa exclusiva da vítima ou de força maior.

O excludente de culpa exclusiva da vítima limita-se à culpa exclusiva; se a vítima concorre com o dano, responde o dono. Por exemplo, se vítima que provoca o

animal, que vem a pular o muro e atacá-la, há culpa concorrente, já que se estivesse bem preso, o animal provocado não causaria dano; a vaca que

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atravessa a rodovia rapidamente numa curva ocasiona culpa concorrente; se ela estava parada numa longa reta, e vai invadindo a pista lentamente, é culpa exclusiva, já que o motorista tinha de reduzir, prudentemente.

Questão 41 – XVI Exame da OAB

Daniel, morador do Condomínio Raio de Luz, após consultar a convenção do condomínio e constatar a permissão de animais de estimação, realizou um sonho antigo e adquiriu um cachorro da raça Beagle. Ocorre que o animal, muito travesso, precisou dos serviços de um adestrador, pois estava destruindo móveis e sapatos do dono. Assim, Daniel contratou Cleber, adestrador renomado, para um pacote de seis meses de sessões. Findo o período do treinamento, Daniel, satisfeito com o resultado, resolve levar o cachorro para se exercitar na área de lazer do condomínio e, encontrando-a vazia, solta a coleira e a guia para que o Beagle possa correr livremente. Minutos depois, a moradora Diana, com 80 (oitenta) anos de idade, chega à área de lazer com seu neto Theo. Ao perceber presença da octogenária, o cachorro pula em suas pernas, Diana perde o equilíbrio, cai e fratura o fêmur. Diana pretende ser indenizada pelos danos materiais e compensada pelos danos estéticos. Com base no caso narrado, assinale a opção correta.

A) Há responsabilidade civil valorada pelo critério subjetivo e solidária de Daniel e Cleber, aquele por culpa na vigilância do animal e este por imperícia no adestramento do Beagle pelo fato de não evitarem que o cachorro avançasse em terceiros.

B) Há responsabilidade civil valorada pelo critério objetivo e extracontratual de Daniel, havendo obrigação de indenizar e compensar os danos causados, haja vista a ausência de prova de alguma das causas legais excludentes do nexo causal, quais sejam, força maior ou culpa exclusiva da vítima.

C) Não há responsabilidade civil de Daniel valorada pelo critério subjetivo, em razão da ocorrência de força maior, isto é, da chegada inesperada da moradora Diana, caracterizando a inevitabilidade do ocorrido, com rompimento do nexo de causalidade.

D) Há responsabilidade valorada pelo critério subjetivo e contratual apenas de Daniel em relação aos danos sofridos por Diana; subjetiva, em razão da evidente culpa na custódia do animal; e contratual, por serem ambos moradores do Condomínio Raio de Luz.

Comentários

A alternativa A está incorreta, de acordo com o art. 936 (“O dono, ou detentor, do animal ressarcirá o dano por este causado, se não provar culpa da vítima ou força maior.”), que prevê a responsabilidade objetiva.

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A alternativa B está correta, conforme prevê o art. 936: “O dono, ou detentor, do animal ressarcirá o dano por este causado, se não provar culpa da vítima ou força maior.”

A alternativa C está incorreta, pois a presença de uma pessoa não caracteriza força maior, mas situação comum, ordinária, na área de lazer do condomínio.

A alternativa D está duplamente incorreta, pois a responsabilização, neste caso, é extracontratual e não contratual (por contato social), e é objetiva, como dito, e não subjetiva.

Os animais selvagens ou sem dono não geram dever de indenizar a ninguém, eis que não há “alguém” propriamente dito para responsabilizar. Se para evitar uma colisão o sujeito causa dano a outrem, responsabiliza-se o causador do dano, que tem direito de regresso contra o proprietário ou, se animal selvagem ou sem dono, arca o agente sozinho.

Questão 36 – VII Exame da OAB

Em relação à responsabilidade civil, assinale a alternativa correta.

A) A responsabilidade civil objetiva indireta é aquela decorrente de ato praticado por animais.

B) O Código Civil prevê expressamente como excludente do dever de indenizar os danos causados por animais, a culpa exclusiva da vítima e a força maior.

C) Empresa locadora de veículos responde, civil e subsidiariamente, com o locatário, pelos danos por este causados a terceiro, no uso do carro alugado.

D) Na ação de indenização por dano moral, a condenação em montante inferior ao postulado na inicial implica em sucumbência recíproca.

Comentários

A alternativa A está incorreta, pois a causação do dano é indireta, mas a responsabilidade civil é direta, nesse caso, pois se deu diretamente a partir do evento danoso.

A alternativa B está correta, de acordo com o art. 936, que estabelece que esses são os dois únicos excludentes.

A alternativa C está incorreta, dado que a responsabilidade é solidária e não subsidiária.

A alternativa D está incorreta, já que, como dissemos, não há sucumbência nesses casos, exatamente porque não há um montante fixo a indenizar o prejuízo moral.

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10.3. RESPONSABILIDADE CIVIL-PENAL O art. 935 do CC/2002, como dito, aduz existir independência do juízo cível e criminal, porém não se pode discutir mais a autoria e existência do fato quando já há decisão na esfera criminal. Os

julgamentos cíveis e criminais são independentes, mas não devem ser contraditórios. A ideia de que o julgamento criminal faz coisa julgada para o cível é visto com muitas ressalvas.

Há a concorrência da responsabilidade civil-criminal. Um atropelamento gera responsabilidade civil e criminal, ou seja, pode o ofensor ser punido em ambas as esferas ou em apenas uma delas, seja no cível, seja no criminal.

O problema é que há atipicidade da responsabilidade civil e tipicidade da responsabilidade criminal; nesta impera o subjetivismo, naquela, caminha-se para a objetividade. O crime visa punir o agressor; o cível visa tutelar a vítima.

Por isso, a atuação do juiz criminal não limita a do juiz cível. Como pode haver concorrência de responsabilidades, pode um delito ser julgado pelo juiz cível e pelo criminal ao mesmo tempo. A coisa julgada cível é influenciada pela criminal, mas não o inverso. O juiz criminal, de certo modo, guia a instrução quanto à autoria e ao ato/fato criminoso.

Feita coisa julgada no cível, em pendência de processo criminal, a sentença criminal não poderá reverter a sentença cível, já transitada em julgado.

Apenas quando há uma sentença condenatória cível e, em fase de execução cível, o juízo criminal não encontra autoria no fato, o executado cível pode, se ainda pendente a execução, impugnar a sentença, alegando a ausência de autoria. Se, no entanto, a execução cível já está terminada, ou seja, o executado já adimpliu com a sentença, nada mais há para se fazer.

Logicamente, a autoria e a materialidade do fato deveriam ser apuradas primeiro no Juízo criminal, mas, por vezes, a esfera cível acaba por resolver essa questão antes.

O art. 91, inc. I, do CP coloca que a função da sentença criminal é tornar certa a obrigação de indenizar, mas não diz qual é a extensão do dano, nem mesmo se houve dano. O art. 387, inc. IV do CPP, porém, estabeleceu a possibilidade de o juiz criminal fixar um valor mínimo de indenização, que servirá de piso ao juiz cível na hora da liquidação, que se dá na forma vista mais abaixo. Outra inovação importante foi feita pela Lei 12.403/2011, que alterou o art. 336 do CPP, colocando que a fiança criminal poderá ser usada para o pagamento de indenização, no caso de o réu ser condenado. Já o art. 63 do CPP fala que transitada em julgado a sentença condenatória, pode-se promover o cumprimento da sentença para reparação do dano.

Ainda que exista uma sentença criminal absolutória, pode-se ingressar com uma ação cível indenizatória, por: falta de provas e atipicidade de conduta. Isso se dá porque as possibilidades de responsabilização na

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esfera cível são muito mais amplas que no criminal e a atipicidade e falta de provas não faz coisa julgada para o cível, como dissemos antes.

Outra possibilidade de haver indenização cível no criminal existe no art. 72 da Lei 9.099/1995 (Lei dos Juizados Especiais Estaduais). Na audiência preliminar levada a cabo perante o Juizado Especial Criminal, o réu e o autor podem fazer a composição dos danos, evitando-se a persecução criminal.

O juiz cível pode sobrestar o processo civil para aguardar o processo penal, segundo o art. 64 do CPP c/c art. 110 do CPC. Em geral, isso ocorre nos casos de existência de fato delituoso e legítima defesa. Porém, por vezes não ocorre na prática por conta do regramento do parágrafo único do art. 110, que estabelece que se a ação penal não for exercida dentro de 30 dias, contados da intimação do despacho de sobrestamento, cessará o efeito deste, decidindo o juiz cível a questão.

Por fim, você lembra da aula sobre prescrição e decadência? Tínhamos um detalhe importante sobre as regras de prescrição que se aplicam aqui:

Art. 200. Quando a ação se originar de fato que deva ser apurado no juízo criminal, não correrá a prescrição antes da respectiva sentença definitiva.

Assim, se for necessário apurar algo no Juízo Criminal, a prescrição ficará suspensa até que o juiz do crime tenha proferido sentença definitiva, ou seja, não sujeita a recurso (trânsito em julgado).

Juízo Cível

Visa indenizar a vítima

Objetividade (tendência àresponsabilidade objetiva)

Não influencia no outro

Executa a sentençatransitada em julgado noCriminal

Sentença condenatória penalé título executivo judicial

Juízo Criminal

Visa punir o agressor

Subjetividade (tendência àresponsabilidade baseada naculpa)

Influencia na autoria ematerialidade

Pode estabelecer indenizaçãomínima e fiança para o Cível

Juizado Especial Criminal:pode fazer composição cível

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Questão 37 – V Exame da OAB

O decurso do tempo exerce efeitos sobre as relações jurídicas. Com o propósito de suprir uma deficiência apontada pela doutrina em relação ao Código velho, o novo Código Civil, a exemplo do Código Civil italiano e português, define o que é prescrição e institui disciplina específica para a decadência. Tendo em vista os preceitos do Código Civil a respeito da matéria, assinale a alternativa correta.

(D) Quando uma ação se originar de fato que deva ser apurado no juízo criminal, não correrá a prescrição até o despacho do juiz que tenha recebido ou rejeitado a denúncia ou a queixa-crime.

Comentários

A alternativa D está incorreta, pois a prescrição ficará suspensa não até o despacho do juiz, mas até a decisão transitada em julgado.

Lista de Questões da Aula

Questão 12 – III Exame da OAB

Ricardo, buscando evitar um atropelamento, realiza uma manobra e atinge o muro de uma casa, causando um grave prejuízo. Em relação à situação acima, é correto afirmar que Ricardo

(A) não responderá pela reparação do dano, pois agiu em estado de necessidade.

(B) responderá pela reparação do dano, apesar de ter agido em estado de necessidade.

(C) responderá pela reparação do dano, apesar de ter agido em legítima defesa.

(D) praticou um ato ilícito e deverá reparar o dano.

Questão 34 – V Exame da OAB

João trafegava com seu veículo com velocidade incompatível para o local e avançou o sinal vermelho. José, que atravessava normalmente na faixa de pedestre, foi atropelado por João, sofrendo vários ferimentos. Para se recuperar, José, trabalhador autônomo, teve que ficar internado por 10 dias, sem possibilidade de trabalhar, além de ter ficado com várias cicatrizes no corpo. Em virtude do ocorrido, José ajuizou ação, pleiteando danos morais,

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estéticos e materiais. Com base na situação acima, assinale a alternativa correta.

(A) José não poderá receber a indenização na forma pleiteada, já que o dano moral e o dano estético são inacumuláveis. Assim, terá direito apenas ao dano moral, em razão do sofrimento e das cicatrizes, e ao dano material, em razão do tempo que ficou sem trabalhar.

(B) José terá direito apenas ao dano moral, já que o tempo que ficou sem trabalhar é considerado lucros cessantes, os quais não foram expressamente requeridos, e não podem ser concedidos. Quanto ao dano estético, esse é inacumulável com o dano moral, já estando incluído neste.

(C) José terá direito a receber a indenização na forma pleiteada: o dano moral em razão das lesões e do sofrimento por ele sentido, o dano material em virtude do tempo que ficou sem trabalhar e o dano estético em razão das cicatrizes com que ficou.

(D) José terá direito apenas ao dano moral, em razão do sofrimento, e ao dano estético, em razão das cicatrizes. Quanto ao tempo em que ficou sem trabalhar, isso se traduz em lucros cessantes, que não foram pedidos, não podendo ser concedidos.

Questão 37 – V Exame da OAB

O decurso do tempo exerce efeitos sobre as relações jurídicas. Com o propósito de suprir uma deficiência apontada pela doutrina em relação ao Código velho, o novo Código Civil, a exemplo do Código Civil italiano e português, define o que é prescrição e institui disciplina específica para a decadência. Tendo em vista os preceitos do Código Civil a respeito da matéria, assinale a alternativa correta.

(D) Quando uma ação se originar de fato que deva ser apurado no juízo criminal, não correrá a prescrição até o despacho do juiz que tenha recebido ou rejeitado a denúncia ou a queixa-crime.

Questão 36 – VI Exame da OAB

Mirtes gosta de decorar a janela de sua sala com vasos de plantas. A síndica do prédio em que Mirtes mora já advertiu a moradora do risco de queda dos vasos e de possível dano aos transeuntes e moradores do prédio. Num dia de forte ventania, os vasos de Mirtes caíram sobre os carros estacionados na rua, causando sérios prejuízos. Nesse caso, é correto afirmar que Mirtes

(A) poderá alegar motivo de força maior e não deverá indenizar os lesados.

(B) está isenta de responsabilidade, pois não teve a intenção de causar prejuízo.

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(C) somente deverá indenizar os lesados se tiver agido dolosamente.

(D) deverá indenizar os lesados, pois é responsável pelo dano causado.

Questão 36 – VII Exame da OAB

Em relação à responsabilidade civil, assinale a alternativa correta.

A) A responsabilidade civil objetiva indireta é aquela decorrente de ato praticado por animais.

B) O Código Civil prevê expressamente como excludente do dever de indenizar os danos causados por animais, a culpa exclusiva da vítima e a força maior.

C) Empresa locadora de veículos responde, civil e subsidiariamente, com o locatário, pelos danos por este causados a terceiro, no uso do carro alugado.

D) Na ação de indenização por dano moral, a condenação em montante inferior ao postulado na inicial implica em sucumbência recíproca.

Questão 43 – IX Exame da OAB

No dia 23 de junho de 2012, Alfredo, produtor rural, contratou a sociedade Simões Aviação Agrícola Ltda., com a finalidade de pulverizar, por via aérea, sua plantação de soja. Ocorre que a pulverização se deu de forma incorreta, ocasionando a perda integral da safra de abóbora pertencente a Nilson, vizinho lindeiro de Alfredo. Considerando a situação hipotética e as regras de responsabilidade civil, assinale a afirmativa correta.

A) Com base no direito brasileiro, Alfredo responderá subjetivamente pelos danos causados a Nilson e a sociedade Simões Aviação Agrícola Ltda. será responsabilizada de forma subsidiária.

B) Alfredo e a sociedade Simões Aviação Agrícola Ltda. responderão objetiva e solidariamente pelos danos causados a Nilson.

C) Não há lugar para a responsabilidade civil solidária entre Alfredo e a sociedade Simões Aviação Agrícola Ltda. pelos danos causados a Nilson, dada a inexistência da relação de preposição.

D) Trata-se de responsabilidade civil objetiva, em que a sociedade Simões Aviação Agrícola Ltda. é o responsável principal pela reparação dos danos, enquanto Alfredo é responsável subsidiário.

Questão 43 – XI Exame da OAB

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Questão 43 Pedro, engenheiro elétrico, mora na cidade do Rio de Janeiro e trabalha na Concessionária Iluminação S.A.. Ele é viúvo e pai de Bruno, de sete anos de idade, que estuda no colégio particular Amarelinho. Há três meses, Pedro celebrou contrato de financiamento para aquisição de um veículo importado, o que comprometeu bastante seu orçamento e, a partir de então, deixou de arcar com o pagamento das mensalidades escolares de Bruno. Por razões de trabalho, Pedro será transferido para uma cidade serrana, no interior do Estado e solicitou ao estabelecimento de ensino o histórico escolar de seu filho, a fim de transferi-lo para outra escola. Contudo, teve seu pedido negado pelo Colégio Amarelinho, sendo a negativa justificada pelo colégio como consequência da sua inadimplência com o pagamento das mensalidades escolares. Para surpresa de Pedro, na mesma semana da negativa, é informado pela diretora do Colégio Amarelinho que seu filho não mais participaria das atividades recreativas diuturnas do colégio, enquanto Pedro não quitar o débito das mensalidades vencidas e não pagas. Com base no caso narrado, assinale a afirmativa correta.

A) O Colégio Amarelinho atua no exercício regular do seu direito de cobrança e, portanto, não age com abuso de direito ao reter o histórico escolar de Bruno, haja vista a comprovada e imotivada inadimplência de Pedro.

B) As condutas adotadas pelo Colégio Amarelinho configuram abuso de direito, pois são eticamente reprováveis, mas não configuram atos ilícitos indenizáveis.

C) Tanto a retenção do histórico escolar de Bruno, quanto a negativa de participação do aluno nas atividades recreativas do colégio, configuram atos ilícitos objetivos e abusivos, independente da necessidade de provar a intenção dolosa ou culposa na conduta adotada pela diretora do Colégio Amarelinho.

D) Para existir obrigação de indenizar do Colégio Amarelinho, com fundamento no abuso de direito, é imprescindível a presença de dolo ou culpa, requisito necessário para caracterizar o comportamento abusivo e o ilícito indenizável.

Questão 47 – XI Exame da OAB

Carla ajuizou ação de indenização por danos materiais, morais e estéticos em face do dentista Pedro, lastreada em prova pericial que constatou falha, durante um tratamento de canal, na prestação do serviço odontológico. O referido laudo comprovou a inadequação da terapia dentária adotada, o que resultou na necessidade de extração de três dentes da paciente, sendo que na execução da extração ocorreu fratura da mandíbula de Carla, o que gerou redução óssea e sequelas permanentes, que incluíram assimetria facial. Com base no caso concreto, à luz do Código de Defesa do Consumidor, assinale a afirmativa correta.

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A) O dentista Pedro responderá objetivamente pelos danos causados à paciente Carla, em razão do comprovado fato do serviço, no prazo prescricional de cinco anos.

B) Haverá responsabilidade de Pedro, independentemente de dolo ou culpa, diante da constatação do vício do serviço, no prazo decadencial de noventa dias.

C) A obrigação de indenizar por parte de Pedro é subjetiva e fica condicionada à comprovação de dolo ou culpa.

D) Inexiste relação de consumo no caso em questão, pois é uma relação privada, que encerra obrigação de meio pelo profissional liberal, aplicando-se o Código Civil.

Questão 41 – XII Exame da OAB

Pedro, dezessete anos de idade, mora com seus pais no edifício Clareira do Bosque e, certa manhã, se desentendeu com seu vizinho Manoel, dezoito anos. O desentendimento ocorreu logo após Manoel, por equívoco do porteiro, ter recebido e lido o jornal pertencente aos pais do adolescente. Manoel, percebido o equívoco, promoveu a imediata devolução do periódico, momento no qual foi surpreendido com atitude inesperada de Pedro que, revoltado com o desalinho das páginas, o agrediu com um soco no rosto, provocando a quebra de três dentes. Como Manoel é modelo profissional, pretende ser indenizado pelos custos com implantes dentários, bem como pelo cancelamento de sua participação em um comercial de televisão. Tendo em conta o regramento da responsabilidade civil por fato de outrem, assinale a afirmativa correta.

A) Pedro responderá solidariamente com seus pais pelos danos causados a Manoel, inclusive com indenização pela perda de uma chance, decorrente do cancelamento da participação da vítima no comercial de televisão.

B) Somente os pais de Pedro terão responsabilidade objetiva pelos danos causados pelo filho, mas detêm o direito de reaver de Pedro, posteriormente, os danos indenizáveis a Manoel.

C) Se os pais de Pedro não dispuserem de recursos suficientes para pagar a indenização, e Pedro tiver recursos, este responderá subsidiária e equitativamente pelos danos causados a Manoel.

D) Os pais de Pedro terão responsabilidade subjetiva pelos danos causados pelo filho a Manoel, devendo, para tanto, ser comprovada a culpa in vigilando dos genitores.

Questão 39 – VIII Exame da OAB

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João dirigia seu veículo respeitando todas as normas de trânsito, com velocidade inferior à permitida para o local, quando um bêbado atravessou a rua, sem observar as condições de tráfego. João não teve condições de frear o veículo ou desviar!se dele, atingindo!o e causando!lhe graves ferimentos. A partir do caso apresentado, assinale a afirmativa correta.

A) Houve responsabilidade civil, devendo João ser considerado culpado por sua conduta.

B) Faltou um dos elementos da responsabilidade civil, qual seja, a conduta humana, não ficando configurada a responsabilidade civil.

C) Inexistiu um dos requisitos essenciais para caracterizar a responsabilidade civil: o dano indenizável e, por isso, não deve ser responsabilizado.

D) Houve rompimento do nexo de causalidade, em razão da conduta da vítima, não restando configurada a responsabilidade civil.

Questão 40 – XIII Exame da OAB

Felipe, atrasado para um compromisso profissional, guia seu veículo particular de passeio acima da velocidade permitida e, falando ao celular, desatento, não observa a sinalização de trânsito para redução da velocidade em razão da proximidade da creche Arca de Noé. Pedro, divorciado, pai de Júlia e Bruno, com cinco e sete anos de idade respectivamente, alunos da creche, atravessava a faixa de pedestres para buscar os filhos, quando é atropelado pelo carro de Felipe. Pedro fica gravemente ferido e vem a falecer, em decorrência das lesões, um mês depois. Maria, mãe de Júlia e Bruno, agora privados do sustento antes pago pelo genitor falecido, ajuíza demanda reparatória em face de Felipe, que está sendo processado no âmbito criminal por homicídio culposo no trânsito. Com base no caso em questão, assinale a opção correta.

A) Felipe indenizará as despesas comprovadamente gastas com o mês de internação para tratamento de Pedro, alimentos indenizatórios a Júlia e Bruno tendo em conta a duração provável da vida do genitor, sem excluir outras reparações, a exemplo das despesas com sepultamento e luto da família.

B) Felipe deverá indenizar as despesas efetuadas com a tentativa de restabelecimento da saúde de Pedro, sendo incabível a pretensão de alimentos para seus filhos, diante de ausência de previsão legal.

C) Felipe fora absolvido por falta de provas do delito de trânsito na esfera criminal e, como a responsabilidade civil e a criminal não são independentes, essa sentença fará coisa julgada no cível, inviabilizando a pretensão reparatória proposta por Maria.

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D) Felipe, como a legislação civil prevê em caso de homicídio, deve arcar com as despesas do tratamento da vítima, seu funeral, luto da família, bem como dos alimentos aos dependentes enquanto viverem, excluindo-se quaisquer outras reparações.

Questão 46 – XIV Exame da OAB

Um homem foi submetido a cirurgia para remoção de cálculos renais em hospital privado. A intervenção foi realizada por equipe médica não integrante dos quadros de funcionários do referido hospital, apesar de ter sido indicada por esse mesmo hospital. Durante o procedimento, houve perfuração do fígado do paciente, verificada somente três dias após a cirurgia, motivo pelo qual o homem teve que se submeter a novo procedimento cirúrgico, que lhe deixou uma grande cicatriz na região abdominal. O paciente ingressou com ação judicial em face do hospital, visando a indenização por danos morais e estéticos. Partindo dessa narrativa, assinale a opção correta.

A) O hospital responde objetivamente pelos danos morais e estéticos decorrentes do erro médico, tendo em vista que ele indicou a equipe médica.

B) O hospital responderá pelos danos, mas de forma alternativa, não se acumulando os danos morais e estéticos, sob pena de enriquecimento ilícito do autor.

C) O hospital não responderá pelos danos, uma vez que se trata de responsabilidade objetiva da equipe médica, sendo o hospital parte ilegítima na ação porque apenas prestou serviço de instalações e hospedagem do paciente.

D) O hospital não responderá pelos danos, tendo em vista que não se aplica a norma consumerista à relação entre médico e paciente, mas, sim, o Código Civil, embora a responsabilidade civil dos profissionais liberais seja objetiva.

Questão 38 – XV Exame da OAB

Devido à indicação de luz vermelha do sinal de trânsito, Ricardo parou seu veículo pouco antes da faixa de pedestres. Sandro, que vinha logo atrás de Ricardo, também parou, guardando razoável distância entre eles. Entretanto, Tatiana, que trafegava na mesma faixa de rolamento, mais atrás, distraiu-se ao redigir mensagem no celular enquanto conduzia seu veículo, vindo a colidir com o veículo de Sandro, o qual, em seguida, atingiu o carro de Ricardo. Diante disso, à luz das normas que disciplinam a responsabilidade civil, assinale a afirmativa correta.

A) Cada um arcará com seu próprio prejuízo, visto que a responsabilidade pelos danos causados deve ser repartida entre todos os envolvidos.

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B) Caberá a Tatiana indenizar os prejuízos causados ao veículo de Sandro, e este deverá indenizar os prejuízos causados ao veículo de Ricardo.

C) Caberá a Tatiana indenizar os prejuízos causados aos veículos de Sandro e Ricardo.

D) Tatiana e Sandro têm o dever de indenizar Ricardo, na medida de sua culpa.

Questão 41 – XVI Exame da OAB

Daniel, morador do Condomínio Raio de Luz, após consultar a convenção do condomínio e constatar a permissão de animais de estimação, realizou um sonho antigo e adquiriu um cachorro da raça Beagle. Ocorre que o animal, muito travesso, precisou dos serviços de um adestrador, pois estava destruindo móveis e sapatos do dono. Assim, Daniel contratou Cleber, adestrador renomado, para um pacote de seis meses de sessões. Findo o período do treinamento, Daniel, satisfeito com o resultado, resolve levar o cachorro para se exercitar na área de lazer do condomínio e, encontrando-a vazia, solta a coleira e a guia para que o Beagle possa correr livremente. Minutos depois, a moradora Diana, com 80 (oitenta) anos de idade, chega à área de lazer com seu neto Theo. Ao perceber presença da octogenária, o cachorro pula em suas pernas, Diana perde o equilíbrio, cai e fratura o fêmur. Diana pretende ser indenizada pelos danos materiais e compensada pelos danos estéticos. Com base no caso narrado, assinale a opção correta.

A) Há responsabilidade civil valorada pelo critério subjetivo e solidária de Daniel e Cleber, aquele por culpa na vigilância do animal e este por imperícia no adestramento do Beagle pelo fato de não evitarem que o cachorro avançasse em terceiros.

B) Há responsabilidade civil valorada pelo critério objetivo e extracontratual de Daniel, havendo obrigação de indenizar e compensar os danos causados, haja vista a ausência de prova de alguma das causas legais excludentes do nexo causal, quais sejam, força maior ou culpa exclusiva da vítima.

C) Não há responsabilidade civil de Daniel valorada pelo critério subjetivo, em razão da ocorrência de força maior, isto é, da chegada inesperada da moradora Diana, caracterizando a inevitabilidade do ocorrido, com rompimento do nexo de causalidade.

D) Há responsabilidade valorada pelo critério subjetivo e contratual apenas de Daniel em relação aos danos sofridos por Diana; subjetiva, em razão da evidente culpa na custódia do animal; e contratual, por serem ambos moradores do Condomínio Raio de Luz.

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Considerações Finais Com isso, finalizamos a última parte do primeiro Livro da Parte Especial do CC/2002, relativamente à Responsabilidade Civil. Como eu disse, apesar da incidência mais baixa dessas questões nas provas de 1ª Fase do Exame da OAB, todo o conteúdo foi condensado em apenas uma aula. Ou seja, só na aula de hoje tratamos de 14 das questões dos últimos 19 Exames, por isso, atenção!

Na aula que vem, daremos início a um novo Livro da Parte Especial do CC/2002, tratando do Direito das Coisas. O conteúdo do Direito das Coisas será dividido, em vista da quantidade de elementos que teremos de ver, conforme o Edital da OAB.

Foco no estudo!

Quaisquer dúvidas, sugestões ou críticas entrem em contato conosco. Estou disponível no fórum no Curso, por e-mail e, inclusive, pelo Facebook.

Aguardo vocês na próxima aula. Até lá!

Paulo H M Sousa

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