o centro - n.º 70 – 26.06.2009

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DIRECTOR JORGE CASTILHO | Taxa Paga | Devesas – 4400 V. N. Gaia | Autorizado a circular em invólucro de plástico fechado (DE53742006MPC) ANO IV N.º 70 (II série) 26 de Junho de 2009 1 euro (iva incluído) Telef.: 309 801 277 Rua da Sofia, 95 - 3.º - 3000-390 COIMBRA Plataforma exige explicações sobre viaduto CHOUPAL PÁG. 10 CIC’09 LITERATURA PÁG. 2 e 19 PÁG. 12 e 13 Novas obras de M.ª Helena Teixeira e J. H. Dias Indústria e comércio mostram-se em Coimbra PÁG. 11 FOTOGRAFIA Imagens aéreas de Varela Pècurto PÁG. 5 TERÇA-FEIRA (DIA 30), ÁS 18 HORAS O fascínio das estrelas em Coimbra com Gil Vicente, Camões Vieira, Pessoa e “jazz”

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Versão integral da edição n.º 70 do quinzenário “O Centro”, que se publica em Coimbra. Director: Jorge Castilho. 26.06.2009. Visite-nos em www.ismt.pt, www.youtube.com/youtorga, http://torgaemsms.blogspot.com, http://diarioxii.blogspot.com, http://torgaemsms2.blogspot.com, http://mapastorga.blogspot.com/ ~~~~~~~~~ Site oficial de Dinis Manuel Alves: www.mediatico.com.pt Encontre-nos no twitter (www.witter.com/dmpa) e no facebook (www.facebook.com/dinis.alves). Outros sítios de DMA: www.youtube.com/mediapolisxxi, www.youtube.com/fotographarte, www.youtube.com/tiremmedestefilme, www.youtube.com/camarafixa, http://videos.sapo.pt/lapisazul/playview/2, http://videos.sapo.pt/lapisazul/playview/3 e em www.mogulus.com/otalcanal Ainda: www.mediatico.com.pt/diasdecoimbra/ , www.mediatico.com.pt/redor/ , www.mediatico.com.pt/fe/ , www.mediatico.com.pt/fitas/ , www.mediatico.com.pt/redor2/, www.mediatico.com.pt/foto/yr2.htm, www.mediatico.com.pt/manchete/index.htm , www.mediatico.com.pt/nimas/ www.mediatico.com.pt/foto/index.htm , www.mediatico.com.pt/luanda/, www.slideshare.net/dmpa , www.panoramio.com/user/765637

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Page 1: O Centro - n.º 70 – 26.06.2009

DIRECTOR JORGE CASTILHO

| Taxa Paga | Devesas – 4400 V. N. Gaia |Autorizado a circular em invólucrode plástico fechado (DE53742006MPC)

ANO IV N.º 70 (II série) 26 de Junho de 2009 � 1 euro (iva incluído)

Telef.: 309 801 277Rua da Sofia, 95 - 3.º - 3000-390 COIMBRA

Plataformaexigeexplicaçõessobre viaduto

CHOUPAL

PÁG. 10

CIC’09 LITERATURA

PÁG. 2 e 19PÁG. 12 e 13

Novas obrasde M.ª HelenaTeixeirae J. H. Dias

Indústriae comérciomostram-seem Coimbra

PÁG. 11

FOTOGRAFIA

Imagensaéreasde VarelaPècurto

PÁG. 5

TERÇA-FEIRA (DIA 30), ÁS 18 HORAS

O fascínio das estrelasem Coimbra

com Gil Vicente, CamõesVieira, Pessoa e “jazz”

Page 2: O Centro - n.º 70 – 26.06.2009

2 26 DE JUNHO DE 2009COIMBRA

Director: Jorge Castilho(Carteira Profissional n.º 99)

Editor/Propriedade: AudimprensaNIF: 501 863 109

Sócios: Jorge Castilho e Irene Castilho

ISSN: 1647-0540

Inscrito na DGCS sob o n.º 120 930

Composição e montagem: AudimprensaRua da Sofia, 95, 2.º e 3.º - 3000-390 Coimbra

Telefone: 309 801 277 - Fax: 309 819 913

e-mail: [email protected]

Impressão: CORAZEOliveira de Azeméis

Depósito legal n.º 250930/06

Tiragem média: 5.000 exemplares

Aos Assinantes do “Centro”Como tem sido bem evidente nas notícias vindas a público, o sector da comunicação socialé um dos mais afectados pela crise que se abateu sobre toda a sociedade, sobretudo pelo brutaldecréscimo nos investimentos publicitários.Perante isto, até os grandes grupos de comunicação social estão a fazer despedimentosem massa, para além de haver muitos jornais regionais que se viram já obrigadosa suspender a publicação.Aqui no “Centro” estamos a fazer um enorme esforço para superar as dificuldades.Mas esse esforço só será bem sucedido se conseguirmos receitas de publicidade e se os nossosAssinantes tiverem a gentileza de proceder ao pagamento da respectiva assinatura anual- que se mantém em 20 euros desde o início do jornal.Se quer que esta tribuna livre possa manter-se, muito agradecemos que nos envie o pagamentoda sua assinatura - uma verba que representa apenas o equivalente a cerca de 5 cêntimos por dia,menos de 40 cêntimos por semana!Outra forma de ajudar este projecto independente é conseguir-nos novos Assinantes,por exemplo entre os seus familiares e amigos (veja a página ao lado).

Contamos consigo!

No próximo dia 8 de Julho (quarta-fei-ra), pelas 18 horas, na Casa Municipal daCultura de Coimbra, decorre a sessão delançamento do livro de crónicas intitulado“A Outra face do Espelho”. O autor éJosé Henrique Dias, e a apresentação seráfeita por Cristina Robalo Cordeiro, Vice-Reitora da Universidade de Coimbra.

Com edição de “Campo da Comunica-ção”, a obra de José Henrique Dias écomposta pelas crónicas que o professoruniversitário publicou, nos anos mais re-centes, nos jornais de Coimbra “O Des-pertar” e “Centro”.

Inclui desenhos inéditos de Nadir Afon-so e prefácio do romancista FernandoCampos.

“Os lugares são sobretudo Coimbra eLisboa, uma fugidia referência a Chavese à Figueira e pouco mais. O tempo re-cua para trás da vida do Autor, memóriadas memórias dos mais velhos, e vem atéaos nossos dias. Se se fizesse um índicede pessoas e factos referidos, que acervode riqueza de cultura, humanismo e hu-manidade, desde o nomear de escritores,artistas, cientistas, actores, médicos, ad-vogados, professores, músicos, políticos,saltimbancos, contorcionistas, trapezistas,que sei eu!...” – escreve Fernando Cam-pos no prefácio, acrescentando:

“O antes e depois do 25 de Abril nãopodia deixar de ter especial lugar… comnomes, factos e rememorações…e, se severrinam os tempos da “outra senhora”,não se deixa de lançar olhar crítico aosgrafitti que maculam tudo quanto é pare-de (“…a arte e os equívocos…”), as flo-restas de cimento que desfiguram, nascidades, o que era écloga…

Notável a “capacidade de lidar com aspalavras e as imagens”, diz uma persona-gem, mas nós sentimos que, por detrás

NO PRÓXIMO DIA 8, NA CASA DA CULTURA DE COIMBRA

Livro de crónicas de José Henrique Diasapresentado por Cristina Robalo Cordeiro

dela, está o Autor e este sentimento deeco autobiográfico mais de uma vez nosacode ao espírito…O médico (que nãoquis ser) está presente e o filósofo e opoeta, além, claro, do jornalista… .”.

UM CONIMBRICENSEILUSTRE

José Henrique Dias nasceu em Coim-bra, em 1934. Licenciado em História, fezMestrado em História Cultural e Políticana UNL e é doutorado pela mesma uni-versidade em História e Teoria das Idei-as, com especialidade em História das

Ideias Sociais. Depois de uma longa car-reira no ensino público, leccionou na Uni-versidade Nova de Lisboa, depois de apo-sentado no ISCEM e actualmente é pre-sidente do Conselho Científico do Institu-to Superior Miguel Torga.

Desde os verdes anos ligado à escrita,integrou em Coimbra tertúlias de que en-tre outros faziam parte Zeca Afonso, Lou-zã Henriques, Manuel Alegre, AntónioPortugal e Levi Baptista. A partir de fi-nais dos anos cinquenta e primeiros anosda década de sessenta do século passa-do, integra o grupo polarizado por Edmun-do de Bettencourt, no Café Restauração,

junto à estação do Rossio, frequentada pornomes cimeiros da literatura e da arte por-tuguesas, publicando entre 1956 e 1969,ininterruptamente, séries de crónicas se-manais. Tendo-se dedicado ao ensino e àactividade teatral como encenador, o seutrabalho centrou-se mais na investigaçãosobre o século XIX, primeiro no domíniodas ideias políticas, depois na sociocomu-nicação teatral.

Instado por colegas, regressou às cró-nicas em jornais de Coimbra, primeiro em“O Despertar”, depois no “Centro”, reto-mando um dos seus velhos títulos, “A ou-tra face do espelho”. É uma colectâneadessas crónicas que agora se apresentamneste livro, onde, ficcionadas, passammomentos de vidas marcadamente noespaço e tempos de uma Coimbra sem-pre mítica e evocações de figuras da mú-sica coimbrã, de que também foi, aindavai sendo, cultor.

José Henrique Dias

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326 DE JUNHO DE 2009 COIMBRA

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Neste trabalho, Zé Penicheiro,com o seu traço peculiar e a incon-fundível utilização de uma invulgarpaleta de cores, criou uma obra quealia grande qualidade artística a umprofundo simbolismo.

De facto, o artista, para represen-tar a Região Centro, concebeu umaflor, composta pelos seis distritos queintegram esta zona do País: Aveiro,Castelo Branco, Coimbra, Guarda,Leiria e Viseu.

Cada um destes distritos é repre-sentado por um elemento (remeten-do para o respectivo património his-tórico, arquitectónico ou natural).

A flor, assim composta desta for-

ma tão original, está a desabrochar,simbolizando o crescente desenvolvi-mento desta Região Centro de Portu-gal, tão rica de potencialidades, de His-tória, de Cultura, de património arqui-tectónico, de deslumbrantes paisagens(desde as praias magníficas até às ser-ras imponentes) e, ainda, de gente hos-pitaleira e trabalhadora.

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Poderá também dirigir-nos o seu pe-dido de assinatura através de:

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O seu apoio é imprescindível paraque o “Centro” cresça e se desen-volva, dando voz a esta Região.

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NA PRÓXIMA SEXTA-FEIRA, NO MUSEU DA ÁGUA

Francisco Bandeira em debate promovidopelo Clube de Empresários de Coimbra

Na próxima sexta-feira (dia 3 de Ju-lho) o Clube de Empresários de Coim-bra promove o primeiro de uma série dejantares-debate do Museu da Água des-tinados “a dinamizar o tecido empresari-al da região” e em que trarão a esta ci-dade “figuras de relevo do panoramaeconómico e financeiro”

Neste primeiro debate, o convidado éFrancisco Bandeira, Vice-Presidente daCaixa Geral de Depósitos (CGD). Nojantar-debate, para o qual foram convi-dados todos os sócios do Clube, Francis-co Bandeira deverá explicar aos empre-sários como é que a Caixa Geral de De-pósitos os pode ajudar a conquistar no-vos mercados, abrindo assim novas pers-pectivas para o desenvolvimento econó-mico da região.

“Tivemos a preocupação de convidaro vice-presidente da CGD por duas ra-

zões: é um cidadão de Coimbra e ocupa,neste momento, funções de grande res-ponsabilidade na maior instituição finan-ceira portuguesa, com grandes e direc-tas repercussões no meio empresarial”,explica o Presidente do Clube de Em-

presários, Pedro Vaz Serra. “Por outrolado, a pertinência do tema é indiscutí-vel, pois a conquista de novos mercadosé algo de incontornável para a esmaga-dora maioria das empresas portuguesas”,sublinha.

De resto, nem a escolha do próprioespaço onde decorrerá o debate foi dei-xada ao acaso. “Queremos, mais umavez, efectuar a ponte entre o meio em-presarial e o património cultural que te-mos em Coimbra, razão pela qual resol-vermos promover este jantar-palestra noMuseu da Água que, desta forma e pelaprimeira vez desde a sua inauguração,recebe uma iniciativa deste género”, fri-sa. Recorde-se que já a tomada de pos-se dos actuais órgãos sociais, a 5 deMaio, teve como palco um dos princi-pais pólos culturais da região e do país, orecém-reinaugurado Museu Nacional

Machado de Castro.Francisco Marques Bandeira é Vice-

Presidente do Conselho de Administra-ção da CGD desde Janeiro de 2008.Entre outros cargos, integra os conse-lhos de administração do Grupo PestanaPousadas, da AdP - Águas de Portugale da Visabeira. É ainda presidente doBanco Caixa Geral, presidente do Con-selho Directivo da Caixa Geral de Apo-sentações e presidente dos conselhos deadministração da Locarent - CompanhiaPortuguesa de Aluguer de Viaturas e daCaixa Leasing e Factoring - InstituiçãoFinanceira de Crédito.

Licenciado em Economia pela Univer-sidade de Coimbra, Francisco Bandeirafoi agraciado pelo Presidente da Repú-blica, Jorge Sampaio, com o grau deComendador da Ordem do Infante D.Henrique em Julho de 1999.

Francisco Bandeira

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4 26 DE JUNHO DE 2009INTERNACIONAL

Fiodor Lukyanov *

* in revista A Rússia na Política Global

Um forte abraço de concorrência

As duas cimeiras, decorridas em me-ados de Junho em Ekaterinburgo, nocoração dos Urais – da Organização deCooperação de Xangai e de BRIC (Bra-sil, Rússia, Índia e China) – tiveram porobjectivo demonstrar uma maior diver-sificação política externa da Rússia.

Do encontro dos dirigentes do Brasil,da Rússia, da Índia e da China pode-setirar uma conclusão parodoxal: os seusparticipantes, vistos neste formato, nãotêm praticamente nada em comum.

De facto, os 4 países têm diferentessistemas políticos, tipos de identifiicaçãonacional, modelos económicos, priorida-des de desenvolvimento e relações comos maiores jogadores na arena interna-cional. O formato de BRIC é como ummundo não ocidental em miniatura, e asdiscussões travadas no quadro da novaorganização reflectem toda a multicida-de dos problemas globais. Já que os pon-tos de vista ocidentais sobre os proces-sos internacionais predominam no mun-do, pode, aliás, ser útil escutar as opini-ões destes quatro Estados importantes.

No caso de BRIC não se pode falarsobre qualquer tipo de bloco, aliança ouorganização formal a tomar decisõespráticas. A concordância tem apenas umcarácter geral. Qualquer tentativa deconcretizar algo embaterá numa insupe-rável diferença de interesses contradi-tórios. No caso de BRIC, é difícil falarnuma concorrência interna. Esta estru-tura dificilmente adquirirá um grau dematuridade quando as divergências dosparticipantes impedem a fazer algo.

Na Organização de Cooperação deXangai a situação é muito diferente. Osinteresses dos países membros entrela-çam-se de modo tão estreito que surge

uma combinação de interacção e con-corrência.

O facto da China e da Rússia faze-rem parte da OCX já é mais que sufici-ente para a organização estar em

foco.Nos últimos anos os políticos oci-dentais receavam uma nova e verdadei-ra aliança entre Moscovo e Pequim. Naprimeira metade dos anos 2000, a forçamotora da aproximação política no qua-dro da OCX foi o desejo de mostrar aos«forasteiros» (leia os EUA) os limites dopermissível na região cujos «donos» sãoa Rússia e a China.

Um exempo desta audácia foi o ulti-mato para Washington definir os prazosda estadia das forças armadas norte-americanas na Ásia Central, assim comoo convite para o Irão ocupar na OCXum lugar de observador.

A importância da OCX não pára decrescer. Até agora, os EUA e a NATOtêm evitado uma interacção com estaestrutura na solução dos sérios proble-mas que enfrentam no Afeganistão e no

Paquistão.Hoje em dia, Washington tenta, sem

sucesso, activizar os seus aliados euro-peios que não querem afastar-se muitodas zonas tradicionais da responsabilida-

de da Organização do Tratado do Atlân-tico Norte. Entretanto, tanto Moscovo,como Pequim e os países da Ásia Cen-tral, percebem a importância vital do nóafegão-paquistanês. No caso paquista-nês, já não se pode fazer nada sem Pe-quim: a influência da China sobre a elitemilitar paquistanesa começa a superar ainfluência norte-americana.

Claro que os pontos de vista e as pri-oridades da OCX e da coligação ociden-tal ainda divergem bastante. Mas o mun-do em rápida mudança e as capacidadeslimitadas dos EUA obrigam a alterar astáticas e estratégias ocidentais.

Nos últimos meses surgiram sintomasde uma atitude mais prática de Washing-ton para com a OCX. Mas. Os impulsosnão partem dos políticos, que continuama recear alianças concorrentes, mas sim

dos militares empenhados em tarefas«práticas e concretas» nos campos decombate no Afeganistão e no Paquistão.Portanto, o papel da OCX na arena glo-bal irá crescer gradualmente, o que cor-responde aos interesses de Moscovo ePequim.

Ao nível global, os interesses da Chi-na e da Rússia são, em princípio, conci-dentes. Mas ao nível regional, estes paí-ses são, e cada vez serão mais, fortesrivais.

Pequim vê na OCX um instrumentode reforço da sua presença nos merca-dos da Ásia Central e de acesso ao re-cursos energéticos da região. Moscovopretende o mesmo. Percebe-se que odomínio económico da China na OCX éinegável. Assim, na cimeira de Ekaterin-burgo, Pequim prometeu 10 mil milhõesde dólares de ajuda para financiar pro-jectos no quadro da organização. Masas capitais dos países da Ásia Centralconhecem muito bem o pragmatismochinês: Pequim não concede ajudas masapenas financia projectos que lhe sãovantajosas economica e politicamente.

O trunfo russo é a cooperação políti-co-militar, já que a China, devido à suafilosofia política externa, não dá garanti-as de segurança a ninguém. E os peque-nos vizinhos da China preferem não usá-las, pois têm mais medo do domínio dePequim de que do de Moscovo.

À medida que a OCX, de uma organi-zação simbólica a censurar o expansio-nismo norte-americano transforma-senuma estrutura com importantes objec-tivos concretos a alcançar ao nível regi-onal, a tarefa de Moscovo complica-se.Exige-se um árduo e consequente tra-balho com os vizinhos e uma estratégiaacertada de relações com o «amigo-con-corrente» chinês.

UM EXEMPLO QUE VEM DO BRASIL

Supermercados suspendem compras a empresasenvolvidas na desflorestação da Amazónia

A Wal-Mart, o Carrefour e o Pão deAçúcar, as três maiores redes de super-mercados do Brasil, suspenderam ascompras de produtos bovinos de fazen-das envolvidas na desflorestação daAmazónia.

Numa reunião realizada este mês naAssociação Brasileira de Supermercados(Abras), o Carrefour, Wal-Mart e o Pãode Açúcar tomaram esta medida em re-púdio de práticas denunciadas pela orga-nização não-governamental Greenpeace.

Segundo um comunicado da Abras, “osector de supermercados não irá compac-tuar com as acções denunciadas e reagi-rá energicamente”.

A posição definida pelas empresas, de

acordo com a associação de supermer-cados, inclui notificar as empresas de pro-cessamento de carne, exigir delas as gui-as de trânsito animal junto às notas fis-cais, e suspender compras das fazendasdenunciadas pelo Ministério Público Fe-deral (MPF) do Pará.

“Como medida adicional, as três redessolicitarão, ainda, um plano de auditoriaindependente e de reconhecimento inter-nacional que assegure que os produtos quecomercializam não são procedentes deáreas de devastação da Amazónia”, des-tacou o comunicado.

Entre as empresas processadas estáuma das maiores do sector no Brasil, aBertin S.A, que, segundo a Greenpeace,

comprou gado de fazendas multadas peloInstituto Brasileiro do Meio Ambiente edos Recursos Naturais Renováveis (Iba-ma) e de outra que fica dentro de umareserva indígena.

A ONG informa que foram propostas21 acções ao Ministério Público do Parápedindo o pagamento de 2,1 mil milhõesde reais (770 milhões euros) em indemni-zações pelos danos ambientais à socieda-de brasileira. A área total desflorestada,diz o Greenpeace, corresponde à superfí-cie da cidade de São Paulo.

A decisão foi tomada pelas três maio-res redes de supermercados por não ha-ver “garantias de que a carne não vem deáreas desmatadas na Amazónia”.

A decisão foi resultado da acção civilpública do Ministério Público Federal queencaminhou, na última semana, uma re-comendação às grandes redes de super-mercados e outros 72 compradores deprodutos bovinos para que parem de ad-quirir carne proveniente da destruição dafloresta.

O desrespeito do pedido poderá resul-tar em multa de 500 reais (180 euros) porquilo de produto comercializado.

O Ministério Público Federal pretendeainda ampliar estas acções de combate àdesflorestação com responsabilização dacadeia produtiva da pecuária para outrosestados da chamada Amazónia Legal,como Mato Grosso e Rondónia.

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526 DE JUNHO DE 2009 COIMBRA

Sabia que a música também deu ori-gem a uma teoria astronómica? E que oPadre António Vieira estava atento àsinovações da Astronomia? E o que teráele dito sobre a revolução iniciada porCopérnico, também jesuíta, mas comuma teoria que abalaria as crenças daIgreja? O dramaturgo Mário Montene-gro, a matemática Carlota Simões e ofísico José António Paixão dão a conhe-cer em Coimbra cruzamentos inespera-dos entre a Arte e a Astronomia.

Acompanharam de perto as revoluçõesna Astronomia e as suas obras estão re-pletas de referências rigorosas a fenóme-nos celestes: o fascínio pelas estrelas con-tagiou alguns dos expoentes da arte emPortugal, e não só. O dramaturgo MárioMontenegro, a matemática Carlota Si-mões e o físico José António Paixão vãodar a conhecer em Coimbra o lado este-lar do teatro, da literatura e da música. Asessão terá lugar no dia 30 de Junho (ter-ça-feira) às 18 horas na livraria AlmedinaEstádio, em Coimbra. A entrada é livre.

Carlota Simões, professora e investi-gadora do Departamento de Matemáti-ca da Universidade de Coimbra, irá re-velar uma face menos conhecida de al-guns dos nomes maiores da escrita emportuguês: a sua relação com os céus.Pela mão da investigadora da Faculdadede Ciências e Tecnologia, os participan-tes poderão conhecer o lado astronómi-co de Leão Hebreu, Gil Vicente, Luís deCamões, Padre António Vieira, Fernan-do Pessoa e Alberto Pimenta.

Algumas das descobertas mais impor-tantes da Astronomia foram imortaliza-das por incontornáveis da literatura. Asobras do tempo da expansão marítima,como ‘Os Lusíadas’, são, de resto, fon-tes ricas sobre a evolução da Ciência,explica Carlota Simões. “A publicaçãode ‘Diálogos de Amor’ de Leão Hebreu

TERÇA-FEIRA (DIA 30), ÁS 18 HORAS

O fascínio das estrelas em Coimbracom Gil Vicente, Camões, Vieira, Pessoa e “jazz”

e ‘Os Lusíadas’ de Camões coincidemcom a época áurea dos Descobrimentos,quando as caravelas cruzaram a linha doequador e tiveram finalmente acesso aocéu do hemisfério Sul, desconhecido atéentão”, lembra a investigadora.

Na Almedina, Carlota Simões irá ain-da mostrar como em alguns autores, comoCamões e Alberto Pimenta, é possíveldescobrir ou confirmar a data de aconte-cimentos associados na escrita a eventosastronómicos. A investigadora irá, por fim,revelar o que é que Padre António Vieiraachou do sistema heliocêntrico do tam-bém jesuíta Nicolau Copérnico, que, aosugerir que o Sol (e não a Terra) era ocentro do Sistema Solar, abalaria uma dasprincipais convicções da Igreja.

Já Mário Montenegro, director artísti-co da companhia de teatro Marionet, vaidebruçar-se sobre a forma como a As-tronomia tem influenciado o universo tea-tral. Doutorando na Faculdade de Letras

da Universidade de Coimbra, onde inves-tiga a relação entre o teatro e a ciência, odramaturgo irá ainda dar a conhecer o tra-balho da Marionet na área da divulgaçãodas temáticas astronómicas.

A MÚSICA TAMBÉMINFLUENCIOU AS ESTRELAS

Mas se o Universo inspirou a litera-tura e o teatro, a Astronomia influen-ciou também a música. E, não menosimportante, deixou-se influenciar porela, explica o professor do Departa-mento de Física da UC José AntónioPaixão.

“As regularidades que se observamnos movimentos dos astros e nos sonsmusicais levaram os primeiros astróno-mos a intuir a existência de uma relaçãoentre a harmonia cósmica e a musical –como a proposta na ‘música das esfe-ras’ de Kepler, uma teoria para o movi-mento planetário inspirada na música”,

avança José António Paixão.Mas, acrescenta, os astros foram tam-

bém uma importante fonte de inspiraçãopara a música e, em particular, para o jazz.“Já na obra dos ‘veteranos’ Duke Elling-ton e Charlie Parker encontramos temasque remetem directamente para os astros.Com o advento do free jazz e do jazz defusão, nas década de 60 e 70, muitos sãoos artistas que gravaram composições ins-piradas na aventura espacial. E são mui-tas as referências ao cosmos na músicacontemporânea, do “Big Bang” aos bura-cos negros”, revela o também responsá-vel pelo projecto ‘Quark!’, uma escolaolímpica da Universidade de Coimbra des-tinada a jovens pré-universitários e ondea Física e o Jazz se entrecruzam.

A sessão na Almedina, subordinada aotema “A Astronomia e as Artes” é a ter-ceira do ciclo “O Universo da Astrono-mia”, organizado pela Almedina e pelaIdeias Concertadas no âmbito das come-morações do Ano Internacional da As-tronomia (AIA 2009).

Depois de sessões dedicadas a Gali-leu, às observações astronómicas e, ago-ra, às Artes, o “Universo da Astronomia”termina a 9 de Julho às 18 horas comuma conferência sobre o ensino da As-tronomia. Os convidados serão RosaDoran, do NUCLIO - Núcleo Interacti-vo de Astronomia, Joana Marques, doMuseu da Ciência da Universidade deCoimbra, e Victor Gil, presidente da di-recção do Exploratório - Centro CiênciaViva de Coimbra.

O Ano Internacional da Astronomia écoordenado em Portugal pela SociedadePortuguesa de Astronomia, com o apoioda Fundação para a Ciência e Tecnolo-gia, da Agência Nacional Ciência Viva,do Museu da Ciência da Universidadede Coimbra e da Fundação CalousteGulbenkian.

:Intervenientes da última sessão do ciclo “O Universo da Astronomia” deramdicas preciosas para que todos possam desfrutar ao máximo das estrelas

Realiza-se no próximo dia 6 de Julho,pelas 21,30 horas (no Hotel Tryp de Co-imbra), uma Assembleia Geral do RotaryClub de Coimbra / Olivais, onde acaba dedecorrer a transmissão de poderes.

Assim, a presidente cessante, MariaHelena Goulão, passou o cargo a Alber-tino de Reis e Sousa.

O novo Presidente constituiu o seuConselho Director com os seguintes ele-mentos: Rodrigo Santiago (Vice-Presi-dente), António José Gala (Secretário),

Rotary Club de Coimbra/Olivaistem novo Conselho Director

Jorge Humberto (Tesoureiro). Os restan-tes lugares passam a ser ocupados porJorge Corte-Real, Amílcar Carvalho, Jor-ge Castilho, Santos Cabral, Ernesto Viei-ra, Isolina Mesquita e António Pato.

Na cerimónia de transmissão de po-deres, Albertino de Sousa elogiou o tra-balho desenvolvido por Helena Goulão esaudou também Agostinho Almeida San-tos, já designado para assumir a Presi-dência do Club no próximo ano.

Albertino de Sousa revelou ainda que

no decorrer do seu mandato irá promovero debate sobre diversos temas de grandeactualidade, dos quais salientou “Coimbrae o seu Património”, “Nutrição e Saúde”e “Água e Recuros Hídricos”.

No âmbito do primeiro tema, vão serorganizadas visitas guiadas a monumen-tos de Coimbra e da Região, alargando aparticipação nessas iniciativas aos ele-mentos dos outros Clubes Rotários.

Para abordar os outros temas irão sen-do convidadas personalidades de reco-

nhecida reputação em cada uma das áre-as focadas.

RIBEIRO FERREIRA PRESIDEAO CLUBE DE COIMBRA

Também no Rotary Clube de Coim-bra se procedeu à cerimónia detransmis-são de poderes.

O novo Presidente é José Ribeiro Fer-reira, que referiu que a sua aposta vai sersobretudo na Cultura.

Page 6: O Centro - n.º 70 – 26.06.2009

6 26 DE JUNHO DE 2009CRÓNICA

A OUTRA FACEDO ESPELHO

José Henrique Dias*

[email protected]

* Professor universitário

Parque Verde

Podemos dar uma volta no Parque Verde. Foi as-sim que começou a conversa, quando a tarde se ex-tinguia na sala onde acabara a conferência, sobreaquelas coisas que às vezes nos pedem e a que nãopodemos dizer não, por dever de ofício. Nem sem-pre os temas nos agradam, quantas vezes nos obri-gam a trabalho suplementar, leituras apressadas, umasnótulas securitárias para não corrermos risco de aba-far, mas sempre esta obrigação de estar ali, a funci-onar no funcionalismo gratuito da contribuição cul-tural, porque nunca ninguém se lembra de quantovale o que sabemos e podemos disponibilizar, paga-se ao médico, ao advogado, ao arquitecto, paga-seao pintor, ao carpinteiro, ao canalizador, mas ao tra-balhador intelectual faz-se o favor de convidar parauma mesa-redonda, uma palestra, conferência, seilá o quê, venha daí em viagem à sua própria custa,que fará parte do adorno ou servirá para compor ocurrículo.

Quando me disse podemos dar uma volta no Par-que Verde, senti que era a compensação de que dis-punha para me colocar no limbo dos bons momen-tos. O certo é que eu não sabia o que era o ParqueVerde. Aprendi depois que é um lugar aprazível, àbeira de um Mondego que é outro naquele passearde horas mais ou menos lânguidas, onde as mãos sepodem encontrar, os sorrisos adormecerem, os olha-res multiplicarem cumplicidades e, quem sabe, tal-vez um regato nascente para um rio de ternura, quea ternura é sempre o esperável que vale a pena es-perar. Ai de quem não sabe isto, quem apenas seprende nas realizações de futuros organizados, arru-madinhos, muito conseguidos para. Quem funciona-liza o amor ou isso a que é costume chamar amor,como querem sempre funcionalizar a inteligência arecibos verdes ou contratos a termo certo, que é sem-pre termo sabido, amar com horário e relógio de pon-to, que horror, disse-me ela no Parque Verde, quan-do isto tudo me saía torrencial para expurgar a re-volta, que horror, senhor engenheiro, nem sei se hei-de chamar-lhe engenheiro ou economista, repetia,mas não se chama a ninguém senhor economista,reparo agora, disse com ar gaiato, diz-se sempre se-nhor doutor, também serve para tudo, mas senhoreconomista também soa mal, não acha?

Divertia-me ouvi-la e pensei no curso de enge-nharia do Técnico e depois nos estudos de econo-mia, o doutoramento em Boston, os conselhos de ad-ministração e as aulas, os convites das televisõesem programas para dizer o que se quer ouvir, penseiem tudo, julgo que pensei, porque na verdade apenasandava à solta nos canteiros dos seus olhares dedesafio, penso que eram de desafio, que a madurezada minha idade talvez abrisse alguma especial curio-sidade, como será na cama este tipo tido por sábioem questões económicas, ora ora, são todos iguais,mas talvez haja alguma coisa que a gente não sabe,um qualquer viciozito privado, qualquer surpresa, istoandava vagamente na cabeça dela, ou talvez apenasna minha cabeça, eu é que estava a pensar o quequeria que ela pensasse, faltava-me coragem paraverbalizar um convite.

Aquela coragem com que era capaz de demoliras grandes opções de um qualquer plano de um qual-quer governo. Interfiro agora na história, mudo apessoa, a conjugação neutraliza o que pode.

A mulher já não tinha muita paciência para aturaros pequenos caprichos do senhor administrador, gos-tava das festas sociais e sair nas revistas ao ladodele, mas era bem mais interessante o motorista, queum dia a levou ao Algarve para uma festa de notá-veis a que ele não podia ir.

Depois, bem, passado o embaraço da timidez foitudo o jogo da glória e nem uma pitada de remorso,ele também mas faz, logo estamos quites, penso quenão disse assim, o motorista é que ficou sem sabercomo tratá-la, também para que interessa a maneiracomo as pessoas se tratam na intimidade, há sempre

as formas ridículas que afinal são as que valem apena, pronto, o Parque Verde está visto e agora, se-nhor engenheiro, vou levá-lo ao hotel.

Foi então que ele olhou e viu um pequeno cartazque falava numa homenagem ao António Portugal.Lembrou então os idos de finais dos anos quarenta,todos os anos cinquenta do século passado, a Coim-bra dos preparatórios de engenharia, que então nãohavia licenciatura, os encontros com o António e aTeresa, todos os daquela tertúlia depois de almoço,que se espreguiçava pela tarde, se repetia depois dejantar até horas mortas.

O António Portugal ficará como um símbolo, nãode uma geração, mas de um esforço renovador. Queé muito mais do que marcar um tempo, é ser o pró-prio tempo. A partir daquela noite em que Artur Pa-redes, com o filho Carlos, Arménio Silva e FerreiraAlves, no Avenida, nas comemorações das Bodasde Diamante do Orfeon trouxeram uma outra sono-ridade à guitarra, o António Portugal ficou depositá-rio da responsabilidade de mudar tudo no espaçocoimbrão. Assumiu com tranquilidade exaltante. Coma guitarra e uma maneira de se dobrar com ela. Ar-rebatado. Como em tudo. Até o coração aguentar.

Naquele rés-do-chão da Avenida Afonso Henri-ques. Corria o ano de 1955. Eu sei que isto podeincomodar alguns, não sou evidentemente especia-lista. Tenho memória. Sei que semeava a diferença.Que construiu a diferença.

O António, que então tocava com o Jorge Godi-nho, o Manuel Pepe e o Levi Baptista, percebeu bemo que eram cromáticos, é assim que se diz?, agarrouna guitarra e meteu-se a fazer a Aguarela Portu-guesa. Seguiu-se um salto enorme, com os poemasdo Alegre, a voz do Goes e do Adriano, quantas mais.

A resistência activa mas acima de tudo um toquede qualidade que repercutiu em tantos dos que vie-ram depois, e não vou nomeá-los, que agora já nemme importam os olhos da mulher que acaba de dizeré altura de ir para o hotel…

Valeu a pena saber o que é o Parque Verde. Parapoder marcar este encontro com o António Portugal.

António Portugal

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726 DE JUNHO DE 2009 OPINIÃO

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Por Sertório Pinho Martins

E depois de 27 de Setembro? Ninguém vaisobreviver sozinho, e os ‘fiéis-de-balança’(CDS e BE), emergentes de um desnorteque atacou os indecisos e os desalentados,voltam a ser (Deus nos acuda!) os decisoresdo equilíbrio político que nos é necessáriocomo pão para a boca!

Há cerca de um ano, esta colunadava à luz um texto cujo título balan-çava entre o real e o jocoso: “a cor-da e o circo”. E passo a citar doisexcertos, que parece terem parado notempo.

“Cada um faz o seu número decirco, a corda vai esticando debai-xo das nossas desilusões e não nosdemos conta que já estamos a tra-balhar sem rede! Numa conjunturaeconómico-social sem precedentesdesde há décadas, o que passa avaler é o chorrilho de asneiras, asurdez à voz do bom-senso, a com-petição pela maior parvoíce políti-ca – porque no fim alguém há-deapagar as luzes! ... Qualquer even-to (por mais insignificante) servepara tocar a rebate e a lançar re-cados que não têm segunda leitu-ra, cruzam-se ameaças por cima dasnossas cabeças atarantadas comtanto despudor político, e o hori-zonte continua nublado a perder devista. Cheira cada vez mais a quei-mado e ninguém repara na direc-ção do vento!”

“José Sócrates tem nas mãos umamaioria absoluta, base primeirapara a estabilidade política que ou-tros vão ter que conquistar, esgri-mindo argumentos que levem a darum passo atrás aos que em 2005votaram claramente no PS. Dir-se-á que nessa altura já havia no aruma ‘dinâmica de mudança’ ; maschegar à maioria absoluta foi umfeito indiscutível. Porém, ao primei-ro-ministro falta-lhe dominar es-pontaneidades, dosear ímpetos, si-mular contrições e sacrificar peõespara chegar ao pleno em 2009. Orasacrificar peões é algo que Sócra-tes ainda não absorveu e interiori-zou do mundo da política, a pontode ir remodelar tão só para as elei-ções de 2009. Senão, que outrostrunfos ou actos de propaganda lherestam, numa altura em que a bar-

mata-mata!riga vazia dos contribuintes batemais forte do que a vozearia dosdebates sobre o estado da nação ?Remodelando agora, terá no míni-mo o benefício da dúvida de quemfoi solidário até ao limite do tole-rável, mas que não hesitou em daro passo patriótico quando esgotoutodas as esperanças em homens queafinal desapontaram o país real. E

se ele tem por onde escolher!”.Escrevi isto em Julho de 2008, an-

tes do big-bang do suprime america-no que já corroía a economia ameri-cana e que os gurus europeus acha-vam que não se atreveria a passar oAtlântico a vau, e antes das catástro-fes universais em cadeia que se lheseguiram. Mas também nunca tiveveleidades (há que dizê-lo) de que al-guém ligasse a mais uma voz perdidano deserto. Diz-se tanta coisa que nãopassa do ‘diz-se-diz-se’…

E fico perplexo com o que mudounum ano! E fico doente com o que sevai passar nos próximos três meses!E fico em pânico com a eventual in-governabilidade que se desenha no ho-rizonte descalcificado das nossasenergias nacionais.

As eleições europeias foram umaagradável surpresa para alguns, umaalegria esfusiante para outros, uma

derrocada de sonhos para uns tantosque nada fizeram para merecer outrodestino, e um quebra-cabeças para mi-lhões de portugueses que só queremapostar certo e garantir que não lhestiram o resto da pele que já deixaramnos desfiles de rua, na dobradiça dasportas do emprego fechadas com es-trondo, nos salários em atraso, nas fi-las de espera de uma esperança cada

vez mais ténue. E quando em 27 deSetembro e 11 de Outubro chegar omomento de fazer escolhas, receiomuito que o “mata-mata” assassino esem discernimento se sobreponha aorazoável de uma realidade que deixoude ter esperança.

E depois de 27 de Setembro? Nin-guém vai sobreviver sozinho, e os ‘fi-éis-de-balança’ (CDS e BE), emer-gentes de um desnorte que atacou osindecisos e os desalentados, voltam aser (Deus nos acuda!) os decisoresdo equilíbrio político que nos é neces-sário como pão para a boca! Cenári-os? Todos eles são de cedências fei-tos: PSD + CDS (natural, até ondeManuela Ferreira Leite tiver paciên-cia para segurar Paulo Portas), PS +CDS (em que o primeiro dá ao segun-do dois ou três ministérios — Defesa,Assuntos Sociais, Negócios Estrangei-ros?– para usar como quiser os votos

do parceiro a contra-gosto) e PS + BE(que vai durar o tempo de um sopro,porque os tempos não são de nacio-nalizar sectores de que o BE quer atodo o transe pôr-e-dispor).

E um governo minoritário, comofará passar o seu ‘programa’? Se fordo PS, o PCP não lhe dará mais que obenefício da ‘abstenção’, e o BE podenão chegar para que passe rés-véscontra a aliança parlamentar PSD-CDS, – sendo certo que, se for umBE-fiel-de-balança, fará duras exi-gências que lhe continuem a dar visi-bilidade e protagonismo. Mas o mun-do que Francisco Louçã sonha não éo que aí vem, feito de consensos aocentro, de privatização da economia,de liberalização das leis laborais e deesbatimento do Estado como golden-share dos sectores-chave do séculoXXI. Se for do PSD, o CDS ajudarámas quererá também contrapartidas,e com toda a certeza que o PCP, PS eBE votarão contra – e aí, adeus pro-grama de governo!

Conclusão? A batata pode voltar àsmãos de Cavaco Silva, que decertonão hesitará em pôr ordem na bagun-ça. E ai de quem lhe apontar que nãofoi um gajo-porreiro-pá e deu aos par-tidos todas as oportunidades de se en-tenderem em nome da paz política queo país (que os sustenta!) exige, e quejá está assegurada noutros parceiroseuropeus que vão dar as mãos parachegar ao lado de lá do terramoto quevarre o mundo desde há um ano a estaparte.

Quem não enxergar isto, não me-rece mais que o “mata-mata” adivi-nhado dos próximos actos eleitoraisque decidirão o nosso futuro colecti-vo. Muita cabeça vai rolar e algumaspromissoras carreiras cairão sob a gui-lhotina inexorável do voto popular.Mas não merecem outra coisa, por-que a esperança de um amanhã me-lhor vale por todos os pessimismos dohoje.

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8 26 DE JUNHO DE 2009OPINIÃO

UM ÚLTIMO OLHARSOBRE AS EUROPEIAS

(...) As sondagens das eleições europeiasportuguesas eram, afinal, quase tão fanta-siosas como os resultados das eleiçõesnacionais iranianas. Há que dizer, contudo,que não era fácil a tarefa de quem sonda.Boa parte dos resultados eleitorais era qua-se impossível de prever. A vitória do PSD,por exemplo, acaba por ser surpreenden-te, sobretudo se tivermos em conta quePaulo Rangel teve de superar algumas di-ficuldades sérias: a falta de apoio de mui-tos dos principais militantes do partido, asua relativa inexperiência política e umaperturbadora semelhança física com oManelinho, da Mafalda, poderiam ter dei-tado tudo a perder.

Outra surpresa: o candidato ideal doPS, percebemo-lo agora, era BasílioHorta. Recordo que, segundo o ministroManuel Pinho, Paulo Rangel teria decomer muita papa Maizena para chegaraos calcanhares de Basílio Horta. Noentanto, e mantendo a metáfora da fari-nha láctea, que é realmente elegante,Rangel comeu as papas na cabeça deVital Moreira. Imaginem agora a quanti-dade de papa Maizena que Vital Morei-ra teria de comer para chegar aos cal-canhares de Basílio Horta. (...)

Ricardo Araújo PereiraVisão

QUE NOS ESPERA?

(...) O Homem vem ao mundo porfazer e quer queira quer não tem essatarefa constitutiva: fazer-se a si mesmo.E tanto podemos fazer de nós uma obrade arte como fracassar.

Einstein constatou que quem sente avida vazia de sentido não é feliz e sobre-vive mal. O Homem não pode viver semsentido. Aliás, a existência humana estábaseada na convicção do sentido. A suaprópria negação ainda o afirma. No limi-te, não é possível o “suicídio lógico”, poisquem pegasse numa arma para suicidar-se, porque tudo é absurdo, negaria o ab-surdo e afirmaria o sentido.

O famoso psiquiatra Viktor Frankl,fundador da logoterapia, mostrou, a par-tir dos estudos que realizou com base nasua terrível experiência nos campos deconcentração nazis, que a exigência maisradical do ser humano é o sentido, ra-zões para viver. Contra Freud e Adler,no mais fundo de nós, mais do que a exi-

gência de prazer e de poder está a von-tade de sentido. (...)

Anselmo BorgesDiário de Notícias

EMERGÊNCIADO PODER PIRATA

O muito jovem Partido Pirata suecofez uma entrada assinalável no Parla-mento Europeu, tendo obtido 7,1% dosvotos na eleição de 7 de Junho de 2009.Para Estrasburgo vai enviar dois depu-tados. (...)

É preciso levar a sério a emergênciadesta nova oferta política. Depois deapenas três anos de existência, o Pira-tpartiet reúne cerca de 50.000 aderen-tes e é a terceira força militante da polí-tica sueca, logo atrás dos Moderados.(Os adversários do Partido Pirata subli-nham que a adesão ali é gratuita.) Em2009, houve uma adesão maciça dos jo-vens entre os 18 e os 30 anos – na gran-de maioria, homens – a um programafundado na legalização da partilha de fi-cheiros. O principal detonador destemovimento foi o processo «The PirateBay», do nome de um sítio sueco na In-ternet que propunha um motor de buscaespecializado nos ficheiros torrents, quepermitem descarregar e partilhar, entreutilizadores, filmes, música, programasinformáticos, etc (...)

Philippe RivièreLe Monde Diplomatique

A CRISE DA JUSTIÇA

Custa-me abordar este assunto, peloseu especial melindre. Mas, em consci-ência, não posso deixar de o fazer. A cri-se da Justiça está aí, é uma evidênciaincontornável. Não pode deixar de preo-cupar os cidadãos responsáveis.

A Justiça, em demasiados casos, nãofunciona, nomeadamente quando envol-ve políticos mediáticos ou desportistasigualmente mediáticos. Os juízes não seentendem com os procuradores e estesnão se entendem com os responsáveisda Polícia Judiciária. Há a sensação deque disputam, entre si, para apareceremnas televisões, como vedetas. Não re-sistem a responder a perguntas dispara-tadas ou mal intencionadas e nem sem-pre o fazem com o bom senso que seriade esperar.

Assim sendo, perdem a distância - tãonecessária à profissão que exercem - edesacreditam as magistraturas. Parecenão perceberem que o silêncio é de ouroe a palavra, em certas circunstâncias,lhes é bastante inconveniente. O quecontribui, com alguma frequência, parao descrédito da Justiça, nos espíritos dostelespectadores, que nas suas casas, numcontexto diferente, os vêem, escutam,avaliam. E não gostam... (...)

Mário SoaresVisão

OBAMA ANTICRISTO?

(...) Quando, há dias, Obama foi ao

Egipto fazer um discurso que agradoutanto a judeus como a muçulmanos, atese de que o Presidente americano éSatanás ganhou força. Talvez este ho-mem seja, de facto, o Anticristo respon-sável pelo Apocalipse, na medida emque parece capaz de acabar com omundo tal como o conhecemos. Apa-

rentemente, está interessado em trocá-lo por outro melhor, mas não deixa dedestruir o nosso. Obama já tinha torna-do claro que o nosso sistema de pre-conceitos, que era tão fiável e seguro,estava pervertido. Um respeitável se-nhor branco de alguma idade como Ber-nard Madoff roubou-nos a todos e deucabo da economia, e um negro relativa-mente jovem deseja endireitá-la outravez. Confesso que já não sei quem hei-de temer, quando passo por um becoescuro. (...)

Ricardo Araújo PereiraVisão

NORMAL OU SUPER?

(...) Quando os carros andavam aNormal, os dos remediados cujos pais sedeslocavam a pé ou de carroça no senti-do de dar estudos e educação aos filhos,o gasóleo era para quem trabalhava e setinha que fazer à estrada; os do normaltiravam o coberto ao carro, limpavam-lhe pó e iam ali até à praia ou à ribeiramais próxima ouvir o relato enquanto sefazia um croché e as crianças suspira-vam pela sumol e pelos bolos de coco.

Nesse Mesozóico, também houve umagravíssima crise de combustíveis porcausa dos ayatollas que contestavam asmodernices do xá da Pérsia. As viaturastinham só um depósito com que se haveraos fins-de- semana, de matrículas parou ímpar para circular e o Júlio Isidroaproveitou para inventar a Música na TV,como o Bernstein cá do burgo.

Mais avisados, os do Norte da Euro-pa desataram a andar de bicicleta e adescobrir o charme de compartilhar odo-res e sabores a próximo nos transportespúblicos. (...)

Rui ReininhoJornal de Notícias

“NÃO ABRACE TÁXI,JUNTE COM CAMBITO”

Rio Branco (Acre) – Se alguém pe-dir: por favor, pode me destentar este che-que, e você souber que o sujeito é fari-nha de cruzeiro, destente. Se tiver dinhei-ro, tudo bem, é tarefa que você pode re-alizar sem abraçar táxi. Vai ser comojuntar com cambito. E se avistar um ho-mem usando bosoroca não estranhe, eleé homem mesmo. Ao ouvir “cuida, me-nina”, não se preocupe. Agora, saindopor ai, cuidado com as peremas. Grandee vasto é o Brasil, digo sempre, semmedo do clichê. Porque é mesmo.

Felizmente, viajar por causa da litera-tura tem me ajudado a conhecer o paíse, principalmente, descobrir as múltiplasvariações de nossa língua. Vou incorpo-rando aos meus caderninhos os vocabu-lários locais, além de trazer dicionáriosregionais. Destentar é descontar. Abra-çar táxi é trabalho difícil (diga tachi e nãotáxi), é sofrer. Bosoroca é uma bolsinhaonde se carregam cartuchos. Cuida,menina significa se apresse, avie-se!Farinha de cruzeiro é gente boa, confiá-vel, enquanto juntar com cambito é coi-sa fácil de fazer. Peremas são mulheresdadas, oferecidas, assanhadas e até maisdo que isso.

Aos dicionários de gauchês e de per-nambucanês, já acrescentei o baianês eo cearês. Agora tenho o acreano, do Gil-berto Braga de Mello, delicioso. Gilber-to, como todo acreano, firma pé. Apesarda reforma ortográfica, os acreanos, com

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926 DE JUNHO DE 2009 OPINIÃO

E, se recusam a se tornar acrianos, comI. Que se mantenha o E, clamam, indig-nados. Ouçamos, minha gente, essasvozes distantes, elas não estão separa-das do Brasil. (...)

Ignácio de Loyola Brandão“O Estado de São Paulo”

PENSAR NO FUTURO

(...) Quando a crise chegou, Portugal jáera outro país, apesar das raivas que late-javam em muitos sectores e que foramampliados pelas traições internas e acçõesinusitadas como as de Manuel Alegre. SeSócrates resistiu a tudo, até chegar a criseque devastou todos os países do mundo,não teve força para o ‘tsunami’ que apare-ceu. Apesar dos erros cometidos pelo Go-verno, foi nessa altura precisa que Sócra-tes começou a desfalecer.

A maior acção de contra-informaçãodesencadeada no sentido de afirmar que oculpado da crise era o governo produziu osefeitos desejados. Sócrates não soube tra-var mais esta investida, ainda por cima comporta-vozes, como Santos Silva, que em vezde mudarem a onda agravaram os seusefeitos, com tantas baboseiras. Foi por tudoisto que Sócrates perdeu. Agora é hora derenovar a estratégia para novos desafiosque aí vêm.

Emídio RangelCorreio da Manhã

A MATAMORFOSE

(...) Embora o País tenha dito nas ur-nas que já chega ao actual primeiro-mi-nistro, convém não o subestimar. Sócra-tes transformar-se-á no que os guerrei-ros do marketing político lho ditarem. Ecomo agora tantos falam em humildade,o primeiro-ministro será humilde. Talvezaté sereno e simpático para com os seusadversários. Nem que tenha de ensaiar ametamorfose mil vezes, só aparentemen-te contrariando a sua natureza (o que queré o mesmo). E agradece a moção de cen-sura. Não nos iludamos, será o mesmo.

Paula Teixeira da CruzCorreio da Manhã

OFERTA CULTURAL

O primeiro-ministro admitiu que oGoverno errou (aqui está uma novidade)por não ter investido muito na cultura elamentou a falta de oferta cultural. Se éverdade que José Sócrates quer ‘arrepi-ar caminho’ e aparecer com um imagemdiferente, convém que saiba do que fala.A oferta cultural só é diminuta para quemanda distraído; há bastantes coisas aacontecer todos os dias e o Governo nãofez falta, a não ser para quem quer teremprego fácil. (...)

Francisco José ViegasCorreio da Manhã

MUDAR DE RUMO

(...) Por oposição à dra. Ferreira Leite,capaz de comunicar apenas a sua própriaincapacidade, o eng. Sócrates distinguia-

se pela “eficácia” do discurso e pela “for-ça” da sua imagem. Ao ponto de a linha derumo, de que tantos falam agora, ter sido,nos últimos dois anos, substituída por umasucessão ininterrupta de momentos de pro-paganda ao longo dos quais o Governo sal-tava de anúncio em anúncio, de promessaem promessa, de inauguração em inaugu-ração como se o país fosse um palco, imu-ne às contingências da realidade.

Daí que os apelos que se fazem sentir,no interior do PS, a uma mudança de estilonão deixem de ser um retrato fiel da deso-rientação que existe hoje em todo o parti-do: porque o estilo é a única marca de umamaioria que privilegiou a forma ao conteú-do, a ficção à realidade e a propaganda aqualquer linha de rumo. Mudar o que podeparecer acessório é, neste caso, mudar oessencial. É que por trás do acessório, exis-te apenas um imenso vazio.

Constança Cunha e SáCorreio da Manhã

AIRBUS SAI DO SILÊNCIO

Doze dias depois do acidente com oA330-200 do voo AF 447 onde morrem228 pessoas o fabricante Airbus aban-dona o silêncio costumeiro para defen-der sua cria. “O A330 é um dos melho-res e está entre os mais seguros aviõesconstruídos até hoje”, disse o alemãoThomas Enders, presidente da compa-nhia européia. Ele se baseia na fichacorrida do A330-200. Desde que o aviãofoi brevetado, em 1996, houve apenas umacidente com vítimas fatais: o vôo AF447 do 1 junho que fazia o trajeto Rio-Paris. “Um avião Airbus decola a cadadois segundos no mundo, a aviação civilcontinua sendo o meio de transporte maisseguro do planeta.”

O pronunciamento inédito de diretoralto graduado da Airbus depois de umacidente envolvendo uma de suas aero-naves não acontece por acaso. Nuncahouve uma pressão tão grande da opi-nião pública mundial para saber as cau-sas de um acidente de avião. (...)

António RibeiroVeja

A DECADÊNCIADO SOCIALISMO

(...) Olhamos para o PS e que vemos?As caras e aproveitadores do costume. Alarga testa do dr. Vitorino, o único ‘inteli-gente’ do partido, que tem um think tank sópara ele. A oportunista testa do dr. Carri-lho, sentado na sinecura da UNESCO.Vemos alegristas e guterristas, senhoras docostume, apparatchiks obsoletos, luta pelasobrevivência e confrangedora ausência dediscussão e de temas. Vemos que umacerta intelligentsia que votaria no PS pas-sou a votar no Bloco de Esquerda, por ra-zões éticas e estéticas, ou porque o Blocoé uma ‘vanguarda’ não ‘corrompida’. Etem o poder de não ser poder. O Bloco fezdo PS o seu inimigo principal. E o PS dei-xou. A hemorragia do PS é culpa do PS.Tal como o PCP, foi derrotado. Sócratestem a vantagem do voluntarismo e da re-sistência. Voluntarismo não chega e pode

ser prejudicial (veja-se a Educação). Só-crates gosta de governar sozinho. Ideias,precisam-se. E coerência. Não basta co-piar a música e o slogan de Obama. Por-que ao PSD basta-lhe uma ideia: estar nopoder. E querer estar no poder. Ser o balu-arte contra o avanço da esquerda.

Clara Ferreira AlvesExpresso

O CAMINHO DE DURÃO

Aos costumes digo que sou amigo efui colega de Durão Barroso. Conheci-o, era ele um dirigente do MRPP já commuitas dúvidas, em trânsito para uma si-

tuação de independência, primeiro, e parao PPD, depois.

Não nos aproximava nem a doutrina,nem a história, nem as “opções políticas”,nem sequer a formação intelectual, maspenso que nos juntava a curiosidade decompreensão dos motivos, pensamentoe expressão dos aparentes “inimigos”, ea previsão dessa era que hoje se chamade “pós-ideológica”. Teremos tambémtido uma certa cumplicidade no entendi-mento dos rumos, nem sempre fáceis ouexplicáveis, do “interesse nacional”.

O seu projecto de governo, depois demuitas peripécias de saúde, de muitasnegociações e subidas a pulso, de mui-tos caminhos solitários, ou incompreen-didos, acabou na coligação “pragmática”com um ex-aliado, ex-adversário, ex-po-lemista, Paulo Portas. Apesar das previ-sões de catástrofe, conseguiu rumar pe-los escolhos complicados do “país de tan-ga”, manteve unidas facções díspares, eentrou no Campeonato Europeu de Fu-tebol, feito em estádios que não tinhaprevisto nem aprovado, com altos níveisde confiança.

A saída para Bruxelas fracturou a suaprópria base de apoio.

Achei-a, na altura, incompreensível,prejudicial, má para Portugal, para a es-tabilidade, para a confiança nos políti-cos. Com a opção comissarial abriu-seuma crise de legitimidade, cujos efeitosainda sentimos, obrigando Santana Lo-pes a um sacrifício de emergência, Jor-ge Sampaio a um bizarro presidencia-lismo de tutela e vigilância, e à recria-ção do PS pós-Ferro Rodrigues em no-

vas bases: continuando o barrosismosem Barroso, assim como Guterres inau-gurara um cavaquismo de “rosto huma-no”.

Durão Barroso revelou-se, no entan-to, um excelente presidente da Comis-são Europeia. Reabilitou a imagem da“coisa”, depois dos desastres de Santere Prodi, tratou dos assuntos essenciais,e sobretudo antecipou estratégias, numaUnião sonâmbula e pouco atenta. Foium dos primeiros a advertir para a cri-se energética e a hiperdependência daEuropa face ao ex-Leste. E a agir aí. (...)

Nuno RogeiroJornal de Notícias

O NOSSO FADO

Não, nunca iremos tornar-nos umimenso Portugal. O nosso fado está tra-çado e, após oportunidades e mais opor-tunidades desperdiçadas, vamos ser ape-nas um Portugal dos pequeninos, umPortugal pequenino.

Vamos ser o Portugal onde os melho-res já não querem governar porque nãoaguentam a eterna maledicência da rua.Onde o povo tanto lhe faz ser mal oubem governado porque é sempre con-tra. Onde ninguém - pessoa, corporação,empresa, sindicato - deixa de achar sem-pre que tudo lhe é devido e nada lhe éexigível. Onde as grandes construtorasvivem quase todas de sacar ao Estadoobras inúteis, porque de outro modo nãosabem viver. Onde ninguém pensa a pra-zo porque há sempre uma eleição pelomeio que não se pode perder, mesmo queseja a feijões, como as europeias queacabamos de atravessar. (...)

A mediocridade há-de sempre que-rer que o nivelamento se faça por bai-xo. Há-de sempre querer afastar cri-térios que assentem no mérito, no tra-balho, no talento, na honestidade, nosvalores. O que distingue um país comfuturo de outro que o não tem é justa-mente o desfecho desse embate. EmPortugal premeia-se o absentismo e arotina; desculpa-se a incompetência eaceita-se resignadamente a burocraciae o autoritarismo imbecil; perdoa-se aausência de valores éticos a todos osníveis e trata-se socialmente por se-nhores os que nada mais são do quebandidos; condecora-se o triunfo em-presarial por favor político; perdoam-se os impostos e os crimes fiscais aosgrandes vigaristas, enquanto se perse-gue implacavelmente o pequeno e ho-nesto devedor ou aqueles que mais im-postos pagam e que não fogem ao fis-co; arquivam-se os crimes que são di-fíceis de investigar e tortura-se a mãeda Joana, transformando os responsá-veis em vedetas mediáticas; consen-te-se o indecoroso tráfico de influên-cias entre o poder político e a advoca-cia de negócios e pretende-se calar obastonário dos advogados que, à reve-lia dos bons costumes, denuncia o quetodos sabem ser verdade. (...)

Miguel Sousa TavaresExpresso

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10 26 DE JUNHO DE 2009COIMBRA arte em café

O Presidente da Câmara de Coimbraafirmou há dias que o Estado “continuadistraído” no que respeita a questõessociais, tendo as autarquias de assumiressas competências para minimizar osproblemas.

“O que mais me ofende é que o Es-tado faça de conta que não sabe dos pro-blemas. Que seja distraído”, declarouCarlos Encarnação, ao encerrar, emCoimbra, um debate nacional sobre apopulação cigana em situação de preca-riedade habitacional”.

Na sessão, que contou com o envolvi-mento da Associação Nacional de Mu-nicípios Portugueses (ANMP), a Câma-ra de Coimbra apresentou aos técnicosde várias autarquias do país um projectopioneiro de intervenção junto da popula-ção cigana, que já está a ser adoptadopela Câmara Municipal de Ovar.

“Não fico bem com a minha consci-ência quando vejo cidadãos a degradara sua situação, e abandonados a si pró-prios a viver na cidade. Causa-me tam-

CARLOS ENCARNAÇÃO ACUSA ESTADO DE SE DISTRAIR DAS QUESTÕES SOCIAIS

Coimbra é uma lição em projecto integradorde comunidade cigana

bém impressão que as comunidades nãocompreendam estes problemas”, afirmouo autarca.

Reportando-se ao projecto “CoimbraCidade de Todos”, que a sua autarquialançou em 2004 para intervir junto dacomunidade cigana a viver em barracas,Carlos Encarnação disse tratar-se “dasmelhores coisas” que a Câmara Munici-

pal lançou do ponto de vista humano esocial.

“Esta é uma missão insubstituível doEstado, que continua distraído das ques-tões sociais. É obrigação do Estado fa-zer isto. É uma questão nacional que temcambiantes locais”, observou.

Para Carlos Encarnação, “não vai serpossível ao Estado deixar de ter atençãoa estas soluções” que o projecto pionei-ro de Coimbra apresenta ao nível da in-tegração da comunidade cigana.

Também Artur Trindade, secretário-geral da ANMP criticou o Estado pordeixar nas mãos dos municípios a reso-lução de problemas sociais sem lhestransferir essa competência, e sem asdotar de meios financeiros para tal.

“Tenho orgulho pela Câmara Muni-cipal de Coimbra que, em representaçãodo poder local, tenha tido esta iniciati-va”, afirmou o dirigente, desejando quea experiência seja adaptada e transpor-tada para outros municípios.

Na perspectiva de Artur Trindade, esta

experiência poderá ser alargada a cida-dãos não ciganos, a outras comunidadesque também vivem em situação de ex-clusão social.

“Portugal devia adoptar o lema “Por-tugal País de Todos”, disse, em adapta-ção do lema escolhido por Coimbra parao projecto, que contempla o acompanha-mento multisectorial de famílias ciganasnum centro de estágio habitacional; umespaço de conquista de competênciaspara a sua integração em bairros da ci-dade.

Sara Carvalhal, responsável por essecentro de estágio habitacional da Câma-ra de Coimbra, por onde passam as fa-mílias ciganas, afirmou que o seu perfilnão difere de qualquer família multipro-blemática pobre, isolada, que não tiveacesso a oportunidades.

Também a Alta Comissária para aImigração e Diálogo Intercultural, Rosá-rio Farmhouse, defendeu na sessão queo projecto de Coimbra seja aplicado nou-tros municípios.

Carlos Encarnação

O movimento Plataforma do Chou-pal considerou ontem (dia 25) que aCâmara Municipal de Coimbra “deveexplicações” sobre a necessidade dese construir uma nova ponte na cida-de, na zona da Mata do Choupal.

O movimento, que contesta a cons-trução de um viaduto rodoviário com40 metros de largura e que atraves-sa o Choupal numa extensão de 150metros, no âmbito do novo IC2, re-velou hoje, em conferência de im-prensa, que o município “está desdeo primeiro momento por detrás destasolução”.

Luís Sousa, do movimento, disse àAgência Lusa que, na contestação doMinistério do Ambiente e das Estra-das de Portugal à acção popular in-terposta no tribunal por sete cidadãos,foi requerida por este último organis-

“Plataforma do Choupal” quer Câmaraa dar explicações sobre projecto de novo viaduto

mo que a Câmara de Coimbra “tenhoo mesmo estatuto no processo, com oargumento de que estão a defender osinteresses do município”.

“Parece-nos haver vontade das Es-tradas de Portugal de não deixar defora uma parte interessada no proces-so”, referiu.

A Plataforma do Choupal conside-rou ainda “extremamente positiva” ainiciativa designada por “Desafio Elec-trónico à População!, que procuroumostrar “a total ausência de entupi-mentos ou engarrafamentos” de trân-sito na Ponte Açude, junto à Mata doChoupal, onde o Governo pretendeconstruir o viaduto rodoviário.

Através de uma câmara, o movi-mento disponibilizou durante uma se-mana imagens permanentes em direc-to da Ponte Açude para que os inte-

ressados observassem a circulaçãorodoviária.

“Ficou comprovado que não há si-tuações de entupimento, apenas situ-ações pontuais de dificuldades no es-coamento”, disse Luís de Sousa, re-ferindo que a Plataforma do Choupalestá contra o “desperdício de dinhei-ros públicos num troço sem necessi-dade”.

No âmbito do processo de contes-tação à construção do viaduto sobrea Mata do Choupal, iniciado em Fe-vereiro deste ano, o movimento pro-move entre os dias 26 e 28 de Junhomais uma iniciativa desportiva, que sedesigna “Uma espécie de corrida”.

“Trata-se de uma espécie de corri-da desportiva sem regras, em que to-dos os participantes podem praticar aactividade que quiserem durante o tem-

po que entenderem”, explicou o bió-logo Miguel Dias, que integra o movi-mento.

A iniciativa começa hoje (sexta-fei-ra) às 18:00 e, durante 48 horas, osparticipantes podem “correr, andar debicicleta ou caminhar”.

No caso da corrida, os participan-tes devem fazer uma pré-inscriçãoatravés do e-mail

[email protected] Luís Sousa, estão já ins-

critos cerca de 150 participantes.Entre eles os candidatos à autarquia

de Coimbra Pina Prata (independen-te), Francisco Queirós (CDU), Cata-rina Martins (BE) e as deputadas so-cialistas Teresa Portugal e MatildeSousa Franco, para além do provedordo Ambiente de Coimbra, MassanoCardoso.

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1126 DE JUNHO DE 2009 IMAGENS

Na Casa Municipal da Cultura de Co-imbra está patente ao público uma expo-sição fotográfica muito interessante. Tra-ta-se de um valioso conjunto de ima-

gens áereas recolhidas, ao lonfo deanos, por Varela Pècurto, um dos maisprestigiados e premiados fotógrafosportugueses (e colaborador regulardeste jornal).

“Voar sobre Coimbra... há meio sé-culo”, é o curioso título da mostra, quepode ser apreciada na Casa Munici-pal da Cultura até ao próximo ia 16de Julho.

Naquela selecção de belíssimasimagens que Varela Pècurto foi re-colhendo, ao longo de vários anos, apartir de pequenos aviões que sobre-voaram Coimbra, podem ver-se as-pectos muito curiosos dessa Coimbrade há meio século.

EXPOSIÇÃO DE TRABALHOS NA CASA DA CULTURA

Imagens aéreas de Varela Pècurto

UMA CARREIRA NOTÁVEL

Varela Pècurto tem tanto de modesto

como de notável, com uma carreira bri-lhante.

Nasceu em Ervedal do Alentejo, Con-celho de Avis, a 27 de Abril de 1925.

Fez o liceu em Évora, onde se iniciouna arte da fotografia. Trabalhou para acasa Nazareth & Freitas e, posteriormen-te, com Eduardo Nogueira.

Em 1950 veio para Coimbra, tendo di-rigido a Sessão Fotográfica da LivrariaAtlântida e depois a “Hilda” como só-cio-gerente.

Foi sócio fundador do Grupo Câmarade Coimbra e participou em dezenas deconcursos nacionais e internacionais.

Em 1954, por decisão do congressode Barcelona da Féderation Internacio-nal de L’Art Photographique, recebe o

Varela Pècurto numa das avionetas com que sobrevoou Coimbra

título de Excellence, em homenagem aosseus trabalhos e técnica no domínio daarte fotográfica.

Foi operador – correspondente da RTPem Coimbra, colaborador de imprensa ede publicações de arte e turismo.

É autor dos livros “PENACOVA” e “ER-

VEDAL”. Através deste último, VarelaPècurto homenageia a sua alentejana ter-ra-natal. Desenvolveu ao longo de décadasum importante levantamento patrimonial,objecto de publicações diversas.

Em 2005 recebeu da Câmara Municipalde Coimbra a Medalha de Mérito Cultural eum diploma de honra do Clube da Comuni-cação Social de Coimbra, pelo serviço pres-tado à cidade.

Encontra-se representado com 15 foto-grafias no Museu Nacional de Arte Con-temporânea – Museu Chiado. Parte dessasimagens estão patentes na exposição “Ba-talha de Sombras” no Museu do Neo-Rea-

lismo em Vila Franca de Xira.“Vidas de Ferro” é o nome da exposi-

ção baseada na sua interpretação sobre oquotidiano Ferroviário que se encontra noMuseu Nacional Ferroviário do Entron-camento.

Homem dotado de um coração imenso,

decidiu destribuir o seu espólio fotográfico,como se de uma devolução se tratasse, adiversas instituições e municípios.

A Coimbra tem doado centenas de foto-grafias e algumas das suas preciosas má-quinas fotográficas.

Um lote específico dessa doação é com-posta por uma série de negativos contendovistas aéreas, onde o fotógrafo nos revelauma cidade muito diferente, em termos ur-banísticos, da que hoje conhecemos.

É precisamente essa Coimbra de outrostempos captada pelo olhar do fotógrafo quefoi pioneiro em imagens aéreas, que se podeapreciar

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12 26 DE JUNHO DE 2009COIMBRA

Vai ser inaugurada amanhã (sá-bado, dia 27), pelas 17 horas, aCIC’09 – Feira Comercial e Indus-trial de Coimbra.

De novo na Praça da Canção (an-tigo Choupalinho), a CIC’09 deveráser o pólo mais atractivo de Coimbraao longo dos próximos dias, uma vezque volta a assumir-se também comouma Feira-Festa.

Apesar da crise que afecta toda a

FEIRA INDUSTRIAL E COMERCIAL DE COIMBRA

CIC’09 na Praça da Canção- MOSTRA COM MUITAS ATRACÇÕES E UM PROGRAMA DE ESPECTÁCULOS DE QUALIDADE

actividade económica, a CIC’09 pre-tende ser uma mostra da pujança dotecido empresarial e da sua determi-nação para enfrentar as dificuldades.

Daí que os responsáveis da Asso-ciação Comercial e Industrial de Co-imbra, e todos os seus colaboradores,tenham trabalhado arduamente paraque o certame atinja os seus objecti-vos e agrade a expositores e a visi-tantes (que se espera afluam aos mi-

lhares em cada dia da CIC’09).Para além da mostra empresarial,

a CIC’09 tem muitos outros atracti-vos, desde a possibilidade de sabore-

ar a boa gastronomia tradicional por-tuguesa, até à de assistir a excelentesespectáculos.

Espera-se, pois, que a população deCoimbra e da Região Centro aprovei-tem estes próximos dias para ir visi-tar um dos mais aprazíveis espaços deCoimbra, à beira do Rio do Mondego,ficando a conhecer as empresas, po-dendo comprar produtos dos mais va-riados tipos e ainda deliciar-se com osexcelentes espectáculos promovidospelos organizadores.

PROGRAMA CIC’09

27-Jun, Sábado

17.00 – AberturaIlha das Competências | Stand

ACIC: Divulgação e Inscrições18.00 – Inauguração da CIC 09 –

Visita ao Recinto19.30 – Espumante de Honra19.45 – Rancho Folclórico C.P. de

São Pedro de Alva22.00 – Uma Canção para Ti | TVI24.00 – Encerramento

28-Jun, Domingo

17.00 – AberturaIlha das Competências | Stand

ACIC: TIC, Curtas de Informática19.45 – Animação *22.00 – Rita RedShoes24.00 – Encerramento

29-Jun, Segunda-Feira

19.00 – AberturaIlha das Competências | Stand

ACIC: CP / CE Reflectir para ser...19.45 – Animação *22.00 – Arraial Popular24.00 – Encerramento

30-Jun, Terça-Feira

15.00 – Seminário LicenciamentoIndustrial:

Novo Regime de Exercício da Ac-tividade Industrial

19.00 - AberturaIlha das Competências | Stand

A nova margem esquerda do Mondego é uma agradável surpresa

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1326 DE JUNHO DE 2009 COIMBRA

ACIC: Sessão de EsclarecimentoCNO

19.45 – Animação *22.00 – Banda Red24.00 – Encerramento

01-Jul, Quarta-Feira

19.00 – AberturaIlha das Competências | CNO, Juri

de Validação B319.45 – Animação *22.00 – Be Flat24.00 – Encerramento

02-Jul, Quinta-Feira

18.00 – Seminário Apresentação doEstudo das Necessidades Formativas

Ilha das Competências | StandACIC: MV, Fazer Contas à Vida

19.00 – Abertura19.45 – Marchas de Brasfemes -

Plastubo22.00 – Angélico24.00 – Encerramento

03-Jul, Sexta-Feira

19.00 – AberturaIlha das Competências | Stand

ACIC: STC, Tempos Modernos19.45 – Animação *22.00 – JIZZ *00.30 – Fogo de Artifício – Festas

da Cidade e da Rainha Santa Isabel01.00 – Encerramento

04-Jul, Sábado

13.00 – Almoço de Entrega de Pré-mios | Concurso de Vinhos ACIC –Cidade de Coimbra

17.00 - AberturaIlha das Competências | Stand

ACIC: CLC, “A minha Pátria é a mi-nha Língua...” FP

18.00 – Lançamento da RenaultMégane Break - LITOCAR

19.45 – Dixie Gringos22.00 – Guys From Caravan01.00 – Encerramento

05-Jul, Domingo

13.00 – Almoço do Expositor17.00 - AberturaIlha das Competências | Stand

ACIC: Entrega de Certificados *17.30 – Comemorações 25 Anos

Plastubo | Animação Diversa22.00 – St. Dominic’s Gospel Choir

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14 26 DE JUNHO DE 2009EDUCAÇÃO/ENSINO

Carlos Ascenso André vai tomarposse como Director da Faculdade deLetras da Universidade de Coimbra(FLUC), no próximo dia 30 (terça-fei-ra), na sequência das eleições recen-temente realizadas em virtude da al-teração estatutárias da Faculdade noâmbito da aplicação do novo RegimeJurídico das Instituições de EnsinoSuperior.

Carlos André toma possecomo Director da FLUC

A posse será conferido pelo Rei-tor, Fernando Seabra Santos, em ce-rimónia a realizar pelas 12 horas, naSala do Senado da Universidade deCoimbra.

Ao Director da FLUC compete, en-tre outras funções, assegurar a presi-dência do Conselho Científico e doConselho Pedagógico, elaborar o or-çamento e o plano de actividades, bem

como o relatório de actividades e ascontas, e dirigir os serviços da Facul-dade. A equipa de Sub-Directoresserá constituída pelos docentes RuiGama (Geografia), Joaquim Ramos deCarvalho (História), Albano Figueire-do (Línguas, Literaturas e Culturas)e Fátima Gil (Línguas, Literaturas eCulturas).

Carlos Ascenso André é Professor

Associado com Agregação na FLUC,onde concluiu o Doutoramento, em1990. Com as Línguas e LiteraturasClássicas, Renascimento e Humanis-mo como principais áreas de investi-gação, tem-se dedicado em particularao estudo da Literatura Latina e aosestudos camonianos. Desempenhou ocargo de Governador Civil do Distritode Leiria entre 1996 e 2002.

CRIADO PORTAL DAS ESCOLAS NA INTERNET

Alunos e professores podem aceder a conteúdosAlunos e professores podem, desde o

passado dia 19, aceder e partilhar con-teúdos informativos digitalizados e divul-gados no Portal das Escolas na Intenet,lançado pela Ministra da Educação.

Considerado um dos projectos-chavedo Plano Tecnológico da Educação, oportal apresenta recursos informativosem formato digital permitindo, segundoa Ministra da Educação, “a melhoria dascondições de ensino e de aprendizagem

para professores e alunos”.Maria de Lurdes Rodrigues salientou

que o portal será baseado num princípiode “diversidade de conteúdos”, da res-ponsabilidade dos que produzem essesconteúdos e na centralidade da escola edos professores.

“Se é relativamente fácil que uma cri-ança com um computador aceda a partirde casa a um mundo e informação, tam-bém é verdade que a presença de um

adulto que a guie nesse acesso é indis-pensável”, afirmou a Ministra da Edu-cação, realçando que o papel da escolacontinua a ser “absolutamente central”,apesar dos conteúdos disponibilizadospelo portal.

“Estes conteúdos não dispensam asescolas da sua dimensão de educar to-dos, em igualdade”, disse.

Além de conteúdos educativos, o por-tal compreenderá ainda informação

relevante sobre todas as escolas dopaís, como a sua história, a sua loca-lização, os seus contactos, os seusórgãos de gestão e a sua oferta edu-cativa.

Na cerimónia de lançamento foramainda assinados dois protocolos de coo-peração do ME com os canais de televi-são RTP e a SIC, que deverão disponibi-lizar conteúdos para acesso através doportal.

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1526 DE JUNHO DE 2009 EDUCAÇÃO/ENSINO

Quando se aproximam eleições tudoé permitido, até o nariz crescer.

Há pensões de miséria a serem au-mentadas miseravelmente. Linhas decrédito, pasme-se, para os funcionáriospúblicos em dificuldade, em vez da re-posição dos salários a que têm direito.Negociações que o não são: nós propo-mos, vocês aceitam. Para o que dizemser negociações abertas, ordenam, im-põem antes e depois simulam “uma es-pécie de magazine”… ai desculpem, dereunião.

Em nome da crise…Perante mais uma grandiosa afirma-

ção de vontade de defesa da escola pú-blica, de um estatuto digno sem fractu-ras e de uma avaliação formativa nãoburocratizada, finalmente a Maria de

Lurdes admite aos professores o direitoà manifestação da sua insatisfação, diriaindignação mas, adiante, inventando con-tra todos um dever para si: seguir as suaspolíticas e as do governo. Já é um passoem frente considerar que os professoresestão insatisfeitos, não instrumentalizadospelos sindicatos, mas como uma pedra dacalçada que não pensa, porque não temnecessidade, persistir na asneira da suanão razão contra todos, menos muito pou-cos. é obra de destruição voluntária.

A Maria de Lurdes afirmou que a ava-liação era uma batalha ganha. Curiosa-mente não disse de que avaliação se tra-tava, embora imaginemos, nem de queguerra. Se é a avaliação de alunos, quedeveria ser a sua grande preocupação,estamos em desacordo. Se é a avalia-ção de professores, que é a sua grandepreocupação, voltamos a estar em desa-cordo. Não é ganha, porque falsa; não éganha porque os professores não se vãodeixar enrodilhar na sua teia de ódio econtinuarão a trabalhar dignamente, de-fendendo a escola pública com um ensi- * Professor e dirigente do SPRC

José Neves da Costa*

Eleições, pensões,avaliações e análogos

“Vamos brincar à caridadezinha/festas, jantares/e boa comidinha…”

José Barata Moura

no de qualidade.Guerra, só na sua sacrossanta cabe-

ça. Ela a quer, ela a cria; dela não fugi-remos, defendendo um estatuto digno queacabe com esta vergonhosa divisão en-tre titulares e suplentes, que promova umaavaliação de desempenho que o valorizepedagogicamente, em nome das apren-dizagens dos alunos, e não contra, emnome do prestígio dos professores, e nãodo seu aviltamento, lutando contra este in-decoroso modelo de gestão que acabadefinitivamente com a democracia nasescolas, imagine-se em nome daautonomia…diria eu: do compadrio, doautoritarismo, do apadrinhamento,enfim…um regabofe pegado. E ainda hágente que alinha nisto?!!! Ah! porque maisvale “este” que é um “gajo porreiro” doque “aquele” que é um “filho da mãe”.

De porreirismo em nacional-porreiris-mo, ainda voltamos ao fascismo commalta…muito porreira.

Cá vamos cantando e rindo… leva-dos não.

Portugal é um dos cinco países fun-dadores de um novo projecto educativode definição de estratégias para ensinare avaliar “as competências do séculoXXI”, fundamentado no uso nas tecno-logias de informação e comunicação.

Coordenado pelo professor BarryMgGaw, da Universidade de Melbourne(Austrália), o plano “Assessment andTeaching of 21st Century Skills” (AT)tem também como fundadores a Austrá-lia, a Finlândia, a Singapura e o ReinoUnido e é apoiado pelas empresas Cis-co, Intel e Microsoft.

Em declarações à Lusa, o coordena-dor do Plano Tecnológico de Educaçãonacional e um dos dois representantesde Portugal no comité executivo, JoãoTrocado da Mata, esta é “uma grandeoportunidade” para o país, porque, en-quanto promotor inicial, poderá influen-ciar a direcção da iniciativa e adoptarmais cedo que outros países novas es-tratégias de ensino, aprendizagem e ava-liação de competências.

“O projecto visa a definição de com-petências para o século XXI: criativida-

Portugal fundaprojecto internacionalpara ensinar aos alunos“competências do século XXI”

de e inovação, pensamento crítico, reso-lução de problemas, comunicação, lite-racia tecnológica”, apontou.

“O que se pretende é identificar estascompetências e definir estratégias paraque sejam transmitidas nos processos deensino e adquiridas pelos alunos de to-dos os níveis escolares e desenvolver me-todologias que permitam avaliá-las. O de-nominador comum é o uso das tecnolo-gias da informação e da comunicação”,explicou.

O comité executivo, onde estão repre-sentados todos os países e empresas par-ceiras, vai começar a trabalhar nos pró-ximos meses, tal como os grupos de tra-balho que serão criados para traçar me-todologias e metas e perceber as impli-cações pedagógicas.

Em termos financeiros, o ATC21S ésuportado pela Organização para a Co-operação e Desenvolvimento Económi-co (OCDE).

João Trocado da Mata sublinhou quea iniciativa vai possibilitar a Portugal aparticipação, já no próximo ano, nas ex-periências-piloto de preparação do PISA

2012, um programa de avaliação de com-petências dos alunos da OCDE.

O responsável destacou o facto dePortugal ter sido convidado para o ar-ranque do programa, o que é entendidocomo um “reconhecimento internacional”da estratégia de modernização tecnoló-gica do ensino, uma ideia partilhada pelaministra da Educação, Maria de LurdesRodrigues.

“Este é o reconhecimento das refor-mas introduzidas na educação em Por-tugal, nomeadamente com o Plano Tec-noógico da Educação, coincidentes comos avanços internacionais nas ciênciasda educação”, refere a ministra, citadanum comunicado do Plano Tecnológicoda Educação.

O documento cita também BarryMcGaw: “Apesar de os países fundado-res diferirem de várias e interessantes for-mas, cada um deles está empenhado nodesenvolvimento de novas formas de ava-liação, no sucesso dos seus sistemas atra-vés da produção de informação de quali-dade e no desenvolvimento das competên-cias do século XXI nos jovens”, refere.

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16 26 DE JUNHO DE 2009SAÚDE

MassanoCardoso

Boca e sujidade

Três senhoras, bem cuidadas, não escon-diam que o cavaqueio era o seu desportofavorito, atendendo ao modo como falavam,alto e em bom som, sem receios da vizi-nhança. Interrompiam os seus comentári-os, por breves momentos, quando levavamas chávenas do chazinho aos lábios, quedeveria estar muito quente, pelo menos erao que dava a entender os estranhos sopros!

O episódio da chupeta de um bebé,que tombou no chão do café, leva-me arelatá-lo e a tecer alguns comentários ereflexões.

O pai da criança, médico, assim queviu a chupeta no chão, apanhou-a, afa-gou-a em seguida com a palma da mão,enfiou-a na própria boca, voltou a afa-gá-la novamente, acabando por a intro-duzir na boca da criancinha, ante o ar“gemelarmente” atónito e escandaliza-do das três da vigairada.

Quando os protagonistas saíram, oepisódio da chupeta passou a ser o temada conversa. Era patente a indignaçãosobre a falta de higiene do pai, ainda porcima médico! A este propósito teceraminúmeros comentários, revelando que,relativamente aos filhos, nunca teriam tidoaquela atitude, já que os primaram como máximo de cuidados higiénicos.

Impossível tal atitude, dizia uma dassenhoras, “imagino o que poderia teracontecido ao meu filho, que sofre deasma e de alergias, se não tivesse cuida-dos higiénicos com ele”! A segunda ri-

postou no mesmo sentido ao revelar quesempre teve com a sua filha adolescen-te, entretanto diagnosticada com umagrave doença inflamatória dos intestinos,cuidados extremos de higiene.

Ouvi com muita atenção a conversa e

apeteceu-me intervir para explicar quenão tinham tanta razão quanto isso, an-tes pelo contrário.

Ninguém contesta que as grandes con-quistas na área da higiene foram determi-nantes para o progresso social, bem-es-tar e saúde das sociedades. Mas – hásempre um mas –, o “excesso” de higie-nização passou a constituir um grave pro-blema. O não contacto precoce com as“sujidades”, nomeadamente as que pro-vocam infeções virusais, bacterianas einfestações parasitárias, estão na base da

não estimulação do sistema imunológico,responsável pela defesa dos nossos orga-nismos, que não se escuda apenas aocombate às infeções, alargando-se aoscampos das agressões físicas e químicase das alterações cancerosas, a que esta-

mos constantemente a ser sujeitos.Temos vindo a assistir, desde há al-

guns anos, a um aumento preocupanteda prevalência de certas doenças quetêm a ver com a falta de estimulação dosistema imunológico, caso da esclerosemúltipla, das alergias, da asma e das do-enças inflamatórias do intestino, só parafalar de algumas.

Precisamos da “sujidade”, e a boca éa via privilegiada para o contacto, comoé óbvio.

Não é por acaso que as crianças con-

tactam com o mundo, e apreciam-no emprimeira mão, através da cavidade bu-cal. Em boa hora o fazem. Mas quandopassam a viver em ambientes asséticos,então, o perigo de virem a sofrer maistarde certas doenças é uma realidade. Asituação é de tal modo caricata que, paraalgumas afeções, já estão a utilizar ex-tratos de parasitas, que outrora provo-cavam infestações, sem grandes conse-quências, para as tratar.

Não me admiraria muito que, um diadestes, comecem a aparecer “extratosde sujidade” à venda para estimular osistema imunológico. Aqui está uma boaárea de negócio: “Proteja a sua saúde!Estimule o seu sistema imunológico.Tome diariamente uma cápsula de ex-tratos de lombrigas”!

Voltando à conversa das senhoras,apeteceu-me explicar-lhes que as aler-gias e a asma do filho de uma delas po-deriam ter sido, eventualmente, evitadasse tivessem tido menos cuidados de higi-ene em criança, e o mesmo para a mãeda jovem com a doença de Crohn.

Nem oito nem oitenta, diz o povo nasua sabedoria. No caso vertente, as do-nas já deviam andar pelos “noventa”!

A boca e a sujidade estão, desde sem-pre, intimamente ligadas, em todos ossentidos. Importa analisar esta relação,“deshigienizando” o suficiente para queas crianças se possam contaminar. Elasagradecem! Por fim, seria, também, con-veniente investir mais alguma coisita na“higienização” do que anda a sair da bocade muitos graúdos, sujidade muito peri-gosa, mortífera nalguns casos...

A endocrinologista Isabel do Carmo aler-tou que os suplementos alimentares, utili-zados para ajudar a emagrecer, podem serperigosos para a saúde e distinguiu-os dossuplementos multivitamínicos, que cum-prem “um papel importante na alimenta-ção equilibrada”.

“As pessoas têm dificuldades em dis-tinguir os suplementos alimentares dos su-plementos vitamínicos porque ambos devendem nas farmácias e têm um nome

Suplementos alimentares podem serprejudiciais para a saúde

muito parecido”, disse à Lusa a directorado Serviço de Endocrinologia do Hospitalde Santa Maria.

No entanto, os suplementos vitamínicos,que também se chamam nutricionais, sãoapenas constituídos por vitaminas e sais mi-nerais, não alterando o funcionamento doorganismo, enquanto os suplementos alimen-tares contêm substâncias que vão alteraressas funções, justificou.

Estes últimos cumprem apenas funções

de emagrecimento e não de complemen-to, dado os componentes laxantes, diuré-ticos e estimulantes que integram a suacomposição e que são prejudiciais, subli-nhou a médica.

Isabel do Carmo adiantou que estes su-plementos, vendidos em lojas de produtosnaturais e farmácias, são muito procuradosnesta altura do ano para emagrecer e porserem naturais.

Mas o “facto de serem naturais não lhes

dá qualidade, porque na natureza tambémhá substâncias prejudiciais”, alertou.

“Se as pessoas querem tomar suplemen-tos, então que tomem suplementos de vita-minas e sais minerais” que são benéficosem casos como idosos e crianças mal nutri-das, grávidas e doentes.

Para quem não tem problemas de saúde,o segredo para a manutenção de um estilode vida saudável é a prática de exercíciofísico regular e uma alimentação equilibra-da, reservando o açúcar e as gorduras sópara ocasiões especiais, aconselhou.

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1726 DE JUNHO DE 2009 SAÚDE

O Centro Hospitalar de Coimbra(CHC, EPE) lançou na passada ter-ça-feira (dia 23 de Junho) uma estra-tégia de prevenção de infecções hos-pitalares que abrange as suas trêsunidades: Hospital Geral (Covões),Hospital Pediátrico e MaternidadeBissaya Barreto. A iniciativa insere-se no projecto da Organização Mun-dial da Saúde (OMS) “Medidas Sim-ples Salvam Vidas” (no original “Cle-an Care is Safer Care”), que procurasensibilizar a comunidade hospitalarpara a importância da higiene dasmãos enquanto factor fundamental naprevenção da infecção.

“A inadequada higiene das mãos deprofissionais, doentes e visitantes, cons-titui no ambiente hospitalar uma amea-ça, que se traduz no aumento do riscode exposição a agentes microbiológi-cos”, explica Ana Garrido, da Comis-são de Controlo de Infecção do CHC,EPE. “Esta estratégia procura melho-rar as estruturas e a facilidade de aces-so às mesmas, a formação contínua e a

HOSPITAL GERAL, PEDIÁTRICO E MATERNIDADE BISSAYA BARRETOLANÇAM ESTRATÉGIA DE PREVENÇÃO DE INFECÇÕES HOSPITALARES

CHC aposta em medidas simplespara salvar vidas

informação a toda a comunidade hospi-talar”, sublinha.

Assim, até ao final de Agosto, as trêsunidades do Centro Hospitalar de Co-imbra vão adoptar um conjunto de me-didas com o objectivo de promover ahigiene das mãos e diminuir, assim, orisco de infecções hospitalares. Paraalém de acções de sensibilização des-tinadas aos profissionais de saúde, aosutentes e visitantes das unidades, dis-tribuição de posters e outros materiaisinformativos, a estratégia prevê aindaa generalização do acesso a soluçõesanti-sépticas de base alcoólica, a rea-lização de acções de formação e a mo-nitorização dos comportamentos adop-tados, nomeadamente, mediante a con-tabilização do consumo mensal dos pro-dutos de higiene.

O evento interno de lançamento daestratégia começou na terça-feira noHospital Pediátrico. Seguem-se o Hos-pital Geral (Covões), a 30 de Junho, e aMaternidade Bissaya Barreto, no dia 1de Julho.

O CHC, EPE, aderiu à estratégia daOrganização Mundial da Saúde – “Me-didas Simples Salvam Vidas” – em De-zembro de 2008. A implementação dasmedidas de prevenção é, assim, a ter-ceira etapa de um trabalho que se pro-longa há meio ano e que requereu uminvestimento do CHC, EPE, na forma-ção de formadores e de observadoresda estratégia, na constituição de umgrupo coordenador da campanha e naconcepção de uma estratégia adequa-da a cada uma das três unidades hos-pitalares.

Depois desta terceira fase, o projec-to “Medidas Simples Salvam Vidas” vai

ser sujeito no CHC a duas etapas deavaliação de resultados, que incluirãoainda a elaboração de um plano de ac-ção a cinco anos.

Segundo os responsáveis, o projecto,para além de contribuir para a preven-ção de infecções associadas aos cuida-dos, irá ainda permitir a curto prazo umaumento da qualidade e da segurança naprestação de cuidados nas três unidadesdo Centro Hospitalar de Coimbra.

O projecto “Medidas Simples SalvamVidas” é apadrinhado pela Direcção-Geral da Saúde, que acompanhará deperto o desempenho das três unidadesdo Centro Hospitalar de Coimbra.

O Verão, com a redução do tamanhoda roupa e o aumento da vida social, podeprecipitar perturbações do comportamen-to ao nível alimentar e da auto-estima,fazendo da praia uma experiência mas-sacrante para algumas pessoas, diz umapsicóloga.

À Lusa, a psicóloga clínica SandraSantos Vilaça afirma que há perturba-ções do comportamento que são “manti-das ou precipitadas” nesta altura do ano,em que “há uma maior exposição do in-divíduo” e “uma maior revelação de sipróprio em relação a outros”

Ao nível alimentar, cita a anorexia e abulimia nervosa, que é normalmente umaperturbação mais “dissimulada”. Outrasperturbações prendem-se com o “auto-conceito e o sentir-se avaliado pelos ou-tros” e com “quadros depressivos agu-dos, que se arrastam no tempo”.

Quando há calor e os dias são maislongos, as pessoas “libertam-se mais,saem de casa e convivem”, mas quemestá deprimido tende a “isolar-se” devi-do às “grandes dificuldades em termosfuncionais de auto-conceito”.

“Por não conseguirem sair, sentem-se

Tempo quente e praia podem precipitarperturbações do comportamento

ainda pior”, diz a também psicoterapeu-ta, lembrando que, por vezes, a estescasos está associada a perturbação depânico.

Quando se trata de ansiedade social,as pessoas com esta perturbação têmuma “hipervigilância em relação a tudo

o que os outros dizem, à forma como sãoolhadas. As atitudes dos outros, mesmoque inocentes, são “interpretadas de for-ma enviesada” pelo paciente, refere apsicóloga.

Sandra Santos Vilaça exemplifica quemuitas vezes os adolescentes recorrem

a desculpas como sentir frio para não des-tapar as “partes do corpo considerammais facilmente criticáveis”.

A ida à praia torna-se então um “mas-sacre, uma experiência fracassada”.

Se estas forem situações esporádicas“acabam por ser superadas transitoria-mente, mas não resolvidas”.

“Quando passa o Verão, passa estanecessidade de exposição e o problematambém passa, teoricamente”, mas sedurante o tempo mais frio as questões nãoficarem resolvidas, as “pessoas tornam-se reincidentes e, por vezes, com um graude patologia muito mais evidente”.

Na psicoterapia, os adolescentes“verbalizam a preocupação” que têmcom a auto-imagem, o que “é mais difí-cil com os jovens adultos e os adultos,que “de uma forma geral têm vergonhaem assumir”, garante ainda Sandra San-tos Vilaça.

Os mais velhos, mesmo quando acom-panhados por psicólogos, “não assumema preocupação com a imagem como umproblema e consideram-na é uma coisanormal”, resultante da idade, conclui apsicoterapeuta.

Page 18: O Centro - n.º 70 – 26.06.2009

18 26 DE JUNHO DE 2009A PÁGINA DO MÁ[email protected]

Mário Martins

PARABÉNS, CAMPEÃO!

O João Afonso ainda não terminou a“época” mas já assegurou o “título”: apassagem para o 2.º ano de Medicina.

Telefonou a meio da manhã a dar anotícia, na altura em que eu via as ima-gens que o António Figueiredo me en-tregou ontem à noite, respeitantes à últi-ma jornada do campeonato – aquele quedeverá ter sido o último jogo oficial doJoão Afonso, após 11 temporadas de fu-tebol federado.

Decidi, por isso, juntar os dois factose escolher algumas imagens para publi-car no blogue: cinco fotos, para um filho“cinco estrelas”.

Parabéns, campeão!(publicado em 25/6)

PS E LOUÇÃ À DERIVAEstava a jantar mas nem isso impediu

que soltasse uma forte gargalhada.Foi quando Louçã apareceu no te-

levisor a falar dos «interesses da Re-pública».

Olha quem fala?!Mas quem é Louçã para falar nos «in-

teresses da República»? É ele quem osdefine? Com os 10% de votos que con-seguiu agora e que nas próximas elei-ções vão necessariamente minguar? Oufoi a República que lhe telefonou a dizerquais eram os interesses?

Só mesmo Louçã para me fazer in-terromper o jantar com uma forte gar-galhada.

* * * * *Já depois do jantar, outra gargalhada.Desta feita, o responsável foi o novo

porta-voz do Partido Socialista, aquelejovem secretário de Estado que disse queas escrituras públicas eram... privadas!(E que noutro país tinha sido demitido deimediato, depois daquela afirmação.)

Ora o novo porta-voz veio com a“cantilena” do costuma, a dizer que oPSD não propõe alternativas, não temum rumo para o país, blá-blá-blá e maisblá-blá-blá.

Ó homem, fale lá com os consultoresde comunicação do seu partido, ou comos “marketeiros” de serviço, e diga-lhesque o Povo já não acredita nessa “canti-ga”!

Então Manuela Ferreira Leite faz umasérie de propostas alternativas e o se-nhor, 10 minutos depois, vem dizer queela não diz nada?!

Vejo que vocês, lá no PS, não apren-deram mesmo nada com os resultadosdas últimas eleições, não perceberam oque aconteceu. Paciência... o problemaé vosso.

Vão ver que a “porrada” em Setem-bro/Outubro vai ser ainda maior. Vai umaapostazinha?

* * * * *Não sou “cliente” nem da PT nem

da TVI. (Só comecei a ver o Jornal Na-cional da Sexta-feira depois da ERC teraberto uma investigação...) Tanto mefaz que a PT compre a TVI como não,tanto me faz que o Moniz seja afastadocomo não.

Uma conclusão, porém, é indiscutível:no tempo de Cavaco como primeiro-mi-nistro a Comunicação Social saíu dasmãos do Estado; no tempo de Guterrese de Sócrates o Estado voltou a “pôr amão” na Comunicação Social.

E se não querem que a gente penseassim, então vendam a “golden share”que o Estado tem na PT. Pois é.

* * * * *A concluir: o PS pensa que a malta é

parva.São parvos, claro.

PS - Será que a PT vai convidar Ri-cardo Costa para a TVI? Levem-no daSIC, que ele não deixa falar ninguém.Depressa.

(publicado em 24/6)

INCÊNDIO :)NOTÍCIA URGENTÍSSIMA - A

Agência France Press, a CNN, os Wa-shington Post, London Times e eu (tb)acabam de anunciar que um terrível in-cêndio destruiu hoje de manhã a biblio-teca pessoal do primeiro-ministro.

As informações do Corpo de Bombei-ros confirmam a perda total de 2 livros.

O porta-voz acaba de declarar que oprimeiro-ministro está inconsolável e in-conformado, já que ainda não tinha aca-bado de colorir o segundo livro.

(recebida por e-mail;publicada em 23/6)

RONALDO PESA 1000 KILOS!Eu não sabia mas afinal o Ronaldo é

muito pesado e fico a pensar como é queo rapaz consegue correr o que ele correcom aquele peso todo em cima das per-nas agora já sei porque é que ele ganhatanto dinheiro porque é um esforço docaraças o que o Ronaldo faz já viram eleter de correr 90 minutos carregando 1000quilos é muito para um homem só porisso têm de pagar bem para ele jogar e épor isso que ele ganha o que ganha há

coisas que a gente não percebe bem eque de um momento para o outro ficamesclarecidas eu agora já sei porque é queo Ronaldo ganha tanto dinheiro.

prima da Guidinha(publicado em 23/6)

O “NOVO” SÓCRATES«Esta coisa da humildade está a dar

resultado. Os comentaristas comentam,os analistas analisam, os entrevistadoresentrevistam e…nem uma palavra sobreo Freeport. (...) Que interessa o Free-port e Lopes da Mota, a licenciatura eas casas compradas a offshore, os pri-mos e o DVD, quando temos em mãoum prodígio que rivaliza com as apari-ções mais miraculosas? Sócrates teveagora a sua epifania. Foi preciso o piorresultado eleitoral na história do PS paraa revelar, mas aí está. Morreu o AnimalFeroz, viva o Animal Domesticado.»

(Mário Crespono “Jornal de Notícias”;

publicado em 22/6)

EU GOSTO MUITODO VERÃO...E DE CONCURSOS

Daqui a pouco por volta das 6 da ma-nhã chega o Verão e eu gosto do Verãoporque é o tempo em que vou mais ve-zes até perto do mar porque o Verão sig-nifica calor e à beira-mar está mais fres-quinho no Verão também é a altura depassear mais porque é quando as pesso-as normalmente têm férias e viajam den-tro e fora do país cá pelos lados de Co-imbra é também a altura em que apare-cem no jornal concursos que abrem numdia para fechar logo a seguir até pareceque nem querem que muitas pessoassaibam que existem os concursos masestes concursos são sempre para insti-tuições públicas porque as empresas pri-vadas não abrem concursos nesta alturado ano porque sabem que há muita gen-te que está fora de casa e não lê os jor-nais e as empresas privadas não costu-mam abrir concursos à sexta-feira e queterminam logo na terça-feira eles costu-mam dar mais tempo às pessoas no anopassado houve um concurso super-rápi-do na Câmara de Coimbra mas que aca-bou por não ser tão rápido assim porqueaquilo só ficou decidido por alturas do

Natal que como vocês sabem é no In-verno e não no Verão mas já vi em doisanos seguidos outra instituição pública deCoimbra a abrir concursos no Verão por-que se calhar quem os abre pensa queos concursos em tempo quente são me-lhores do que os concursos em tempofrio eu não sei se isto é verdade ou nãomas penso que os especialistas destascoisas já deveriam ter dito qualquer coi-sa por tudo isto eu gosto muito do Verãoporque tem calor podemos tomar banhono mar temos tempo para conversar comos amigos podemos levantar da camamais tarde até costuma haver estrelascadentes no céu e depois disto tudo ain-da temos o passatempo de tentar encon-trar os concursos super-rápidos de Ve-rão nas páginas dos jornais por isso oVerão é a minha estação do ano preferi-da e o Verão é muito bom.

prima da Guidinha(publicado em 21/6)

IMPRESSÕESIEmpreiteiros “à rasca” com manifes-

to dos economistasIISantos Silva transfigurado: diz que não

fala!IIIJornais das TVs: RTP abre com re-

gresso de Ronaldo a Portugal; SIC comSócrates; TVI com Gripe (informaçãode Luciano Alvarez)

(publicado em 20/6)

UM GOVERNO... SIMPLEX«O erro que constava na prova de

Biologia e Geologia ontem realizada porcerca de 37 mil alunos foi corrigido hojepelo Ministério da Educação. Conformeo PÚBLICO noticia na sua edição dehoje, no enunciado do exame do 11.º e12.º anos, numa legenda a um perfil deuma caldeira vulcânica, designava-secomo epicentro (ponto à superfície) o quede facto era o hipocentro (a região pro-funda onde os sismos têm origem).» (in“Público.pt”)

Nisto o Governo é bom: em vez depedir desculpa pelo erro, apaga o erro!

É... “simplex”.

ACTUALIZAÇÃO (às 16h55) – Al-terei a citação do “Público”. Desta for-ma, o erro não foi apagado. Foi corrigido.Continua a faltar o pedido de desculpas.

(Já agora: quando é que terminam oserros nos enunciados dos exames, pre-parados com tanta antecedência? E nin-guém é responsável?)

(publicado em 19/6)

SÓCRATES(EM “TOM REMÉDIOS”)NA SIC

José Sócrates (num registo muito pró-ximo do Diácono Remédios) foi entre-vistado na SIC.

Não se passou praticamente nada.(publicado em 176)

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1926 DE JUNHO DE 2009 COIMBRA

CAMPANHA “COIMBRA ADOPCÃO”

A troco de nada ganhe um grande amigoO Canil/Gatil Municipal de Coimbra pros-

segue uma campanha intitulada “Adop-Cão”, com o seguinte lema: “Adoptemum animal no Canil Municipal”.

Trata-se de uma iniciativa muito me-ritória, que permite que pessoas que gos-tam de animais ali possam ir buscar umfiel companheiro, sem nada pagarempor isso.

São muitos os cães (e também algunsgatos) que esperam que gente com bomcoração os vá adoptar, tendo como re-compensa conquistarem um amigo paratoda a vida, já que estes animais rapi-

apenas custam uns minutos na deslocação,para escolher um companheiro (ou compa-nheira) para a vida, que será sempre fiel e deuma enorme dedicação e em troca apenaspede um pouco de atenção e de carinho.

O Canil/Gatil Municipal fica no Campodo Bolão, Mata do Choupal, onde os ani-mais esperam, ansiosos, por uma nova casae uma nova família.

Os interessados em obter mais informa-ções podem ligar para o telemóvel 927 441888 (a qualquer hora), ou para o Canil/Gatl(das 9 às 17h30 dos dias úteis) através dotelefone 239 493 200.

damente se adaptam aos seus novosdonos (que, para além do mais, os esta-rão a poupar a um fim muito triste e tre-mendamente injusto).

Um cão ou um gato é sempre um pre-sente bem recebido, desde que a pessoa aquem ele se oferece goste de animais, nãoos encare como um brinquedo ou um objec-to e tenha condições mínimas para deles tra-tar convenientemente.

Se for o caso, não hesite em ir buscarum destes amigos muito valiosos em ter-mos materiais (basta ver os preços nas lo-jas de animais!...), mas que no Canil/Gatil

Podem também enviar um e-mail para

[email protected] consultar o sitewww.cm-coimbra.pt/741.htmOs dias e horas especificamente desti-

nados às adopções são os seguintes:- segundas-feiras, das 14h30 às 16h30;- quintas-feiras, das 10 às 12 horas.

Muitos animais estão à espera de quealguém queira aproveitar todo o carinho quetêm para dar.

Vai ver que não se arrependerá!

NOVO LIVRO DE POESIA DE MARIA HELENA TEIXEIRA

“Não me ensines a estrada”

Um livro preso ao domínio do sonho erecheado de auto-questionação são algumasdas características apontadas ao novo livrode poesia, o quarto, de Maria Helena Tei-xeira, cuja sessão de lançamento decorreuno Pavilhão Centro de Portugal com apre-sentação de Maria Manuela Gouveia Deli-lle e leitura de poemas por Maria ManuelAlmeida.

Numa sala pequena para tantos amigose familiares da autora, a sessão foi aindaabrilhantada pela actuação de um quartetoda Orquestra Clássica do Centro.

E sobre o livro, “Não me ensines a estra-da”, Maria Manuela Delille referiu que aautora, ou o sujeito poético, “se confessainexplicável mas irremediavelmente presoao domínio do sonho que acaba por desgas-tar a vida”.

“Em horas de intensa desorientação, in-quietude, angústia e/ou funda melancolia,acentuam-se as sensações de frialdade ede vazio em vários poemas”, afirmou numavisita guiada por “Não me ensines a estra-da”, é também “curioso notar que na capta-ção de instantes ou momentos do quotidia-

no o eu lírico, nos relativamente raros poe-mas em que sai para fora da esfera íntima,regra geral [Maria Helena Teixeira] percep-

Imagem da cerimónia de apresentação do livro, vendo-se Zé Penicheiro,sentado, a apresentadora, a editora, a autora e respectivos cônjuges

ciona uma realidade disfórica, feita de ima-gens meramente alinhadas, desconexas, dasquais o sentido parece estar ausente, che-gando a roçar o absurdo”.

Não são, porém, acrescentou, “as ima-

gens (quase sempre disfóricas) do mundoexterior (que, note-se, constituem completanovidade em relação à lírica cerradamenteintimista dos volumes anteriores) que aca-bam por predominar nesta nova colectânea.

A maior parte dos versos diz respeito querao quotidiano rotineiro e manietante do eupoético e às tentativas de auto-questiona-ção de início referidas, quer aos lugares-tem-po ou aos lugares de sonho em que essemesmo eu se refugia ou para os quais tentaevadir-se”. Refúgio esse frequentemente“encontrado na evocação nostálgica domundo perdido da infância, de que o marconstitui parte indissolúvel”.

Em relação a outros livros da autora,Maria Manuela Delille confessou-se impres-sionada pela “estrutura mais coesa destespoemas, a maior densidade e autenticidade

metafórica, a maior atenção ao quotidiano edentro dele também ao momento históricoque atravessamos, e sobretudo a mais con-tida transfiguração poética das vivências ouexperiências do universo real de que faze-

mos parte”.A apresentadora realçou ainda a colabo-

ração de Zé Penicheiro na feitura do livro,“uma colaboração preciosa que, mantendoa tradição dos volumes anteriores, vem ameu ver acentuar, através do seu traço di-nâmico, o já de si forte elemento cinéticodestes versos, os seus múltiplos movimen-tos, ondulações, fugas, evasões, numa as-sociação muito sugestiva entre poesia e de-senho, em plena sintonia com a sensibilida-de estética da autora e com a mensagempor ela intencionada”.

Durante a sessão, presidida por MariaEmília Martins, directora da Orquestra Clás-sica do Centro, usaram ainda da palavra aeditora Isabel de Carvalho Garcia e MariaHelena Teixeira, que agradeceu a todos apresença na sessão.

Maria Helena Teixeira

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20 26 DE JUNHO DE 2009CINEMA

Pedro Nora

c i n e m ac i n e m ac i n e m ac i n e m ac i n e m a

Começo por falar do novo filme daconhecida série de ficção científica “O

Caminho das Estrelas”. Após os últi-mos filmes da série não terem tido gran-

de sucesso, J.J. Abrams (conhecido so-bretudo pelo seu trabalho em televisão,donde se destacam séries como “Per-didos” e “Fringe”) pegou na saga e, àsemelhança do que tem acontecidocom outras figuras, como James Bonde Batman, decidiu começar tudo denovo. De facto, o novo filme “StarTrek” conta os inícios da tripulação danave Enterprise. Abrams, ao voltar

assim às origens da série, fez uma óp-tima jogada, pois captura todo o espíri-to nostálgico da saga, dando-lhe umnovo fôlego. De facto, o filme é aces-sível a todos, mesmo àqueles que nun-ca tenham visto qualquer filme ou sé-

rie da saga. Outro ponto positivo é ofacto de Abrams ter injectado bastan-te mais acção e humor nesta nova ver-

são de “Star Trek”, o que torna o filmebastante mais apelativo. De destacar oelenco perfeito, pois cada actor conse-gue prestar homenagem aos persona-gens da série, sem parecer uma imita-ção barata. Um filme muito bem con-seguido que entretém bastante, reco-mendável a todos.

Também novidade nas salas de ci-nema é “Anjos e Demónios”, adapta-ção do livro de Dan Brown, o autor de“O Código da Vinci”. “Anjos e Demó-nios” conta uma nova aventura de Ro-bert Langdon, desta vez enquanto eletenta impedir uma conspiração contrao Vaticano. Brown não fugiu de con-trovérsias ao usar a religião cristã comopano de fundo para a trama do livro eRon Howard e Tom Hanks, que reto-mam os seus papéis de “O Código daVinci” (como realizador e actor princi-pal interpretando Langdon, respectiva-mente), são fiéis ao espírito do livro, oque torna o filme bastante recomen-dável a todos os fãs do escritor ou dethrillers em geral.

Há já alguns anos que sou grandefã do realizador americano KevinSmith. Assim, foi com grande expec-tativa que fui ver o novo filme dele,intitulado “Zack e Miri Fazem um Por-no” e tal não me desiludiu. Não sendoo seu trabalho mais forte, é uma co-média simpática que proporciona umbom serão. O filme conta a históriade dois amigos (interpretados peloactor Seth Rogen e a actriz ElizabethBanks, que, diga-se já, revelam seruma óptima dupla no ecrã) que, porestarem com muitos problemas finan-ceiros, decidem combater a sua crisefinanceira ao fazer um filme porno-gráfico amador. Claro está, este fil-me não é para todos (sobretudo paraos mais novos), mas a sátira feita àindústria pornográfica está muito bemconseguida, sem ferir susceptibilidades

O outro filme que gostaria de apon-tar é “O Último Condenado à Morte”,de Francisco Manso. A trama do fil-me baseia-se na história verídica de

Francisco de Mattos Lobo, um dos últi-mos portugueses a ser condenado è for-ca, antes de a pena de morte ser abo-

lida no nosso país. O filme vale muitopelos valores de produção (fotogra-fia, banda sonora e cenários e vestu-ário de grande qualidade) e por umelenco de luxo, encabeçado pelos ac-tores Ivo Canelas e Nicolau Breyner.A história é o ponto mais fraco (temtendência a perder-se em certos as-pectos que no final revelam-se fú-teis…) mas é mais um óptimo exem-plo do cinema nacional moderno.

Ainda neste campo (e para finali-zar), dirijo os meus parabéns ao jo-vem realizador João Salaviza, que foipremiado, no Festival de Cannes coma Palme D’ Or de Melhor Curta-Me-tragem pelo seu filme, intitulado “Are-na”. Esta vitória é prova definitiva deque o cinema nacional está vivo e re-comenda-se!

João Salaviza a receber a Palmade Ouro no Festival de Cannes

Auto-Luz completa 44 anos

No próximo dia 4 de Julho (Dia da Cidade de Coimbra), completam-se 44 anosde funcionamento da Auto-Luz.Trata-se de um estabelecimento no Beco do Fanado (mesmo junto ao Terreiroda Erva), fundado no dia 4 de Julho de 1965 por António Afonso Barbosa,que ainda hoje ali continua a vender baterias e a ajudar muitos automobilistascom problemas eléctricos nas respectivas viaturas.António Afonso Barbosa começou ainda miúdo (com apenas 10 anos)a aprender o ofício na Electro-Garagem, na Av. Fernão de Magalhães. Andoudepois por outras empresas e quando era já um técnico experiente decidiu abrira sua “Auto Luz”, no local onde ainda hoje se mantém.Mais de 70 anos de trabalho, mas uma notável forma física, já que ninguémlhe dá os mais de 80 anos que leva de vida. Aliás, afirma que enquanto a saúdeo deixar ali estará todos os dias (às vezes fora de horas e aténos dias de merecido descanso) a satisfazer os seus clientes.Sempre, e de forma invejável, com as baterias bem carregadas!

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2126 DE JUNHO DE 2009 OPINIÃO

Renato Ávila

POIS...POIS...POIS...POIS...POIS...

Joséd’Encarnação

João PauloSimões

FILATELICAMENTE

Os dados estão lançados

1941– Costumes Portugueses.I emissão

Dizem que o povo parece estar des-contente ao penalizar nas urnas a maio-ria socialista.

Apesar de tanto alarido da oposição,parece não existirem projectos alternati-vos consistentes e credíveis e as inten-ções políticas surgem eivadas de dema-gogia e de falta de clareza.

Como cidadãos deste rectangular paísà beira mar pasmado, são as amargasconclusões que podemos retirar dos re-sultados das eleições europeias e do aca-lorado folclore que se lhes seguiu comquase toda a gente a gritar vitória.

Afiguram-se-nos estultos e extempo-râneos estes eufóricos afobos, abusivase deslocadas, pois, as apressadas con-clusões que, na sofreguidão do poder,muitos quiseram retirar dos resultadoseleitorais.

Por mais ensaios e argumentos quese tenham tecido, por forçadas classifi-cações de pré legislativas que se tenhampretendido colar ao acto eleitoral, o povoassim não o entendeu, primando pelaausência.

Os cidadãos, de facto, não correspon-deram em massa, ao invés do que dese-jaria a quase totalidade dos líderes parti-

Os crânios. Que me desculpem osverdadeiros. Saíram agora das facul-dades, impantes de uma licenciatura(de três ou, já mais raro, de quatroanos), numa das muitas «gestões»que andam por i. E ficaram Sábios!E conseguiram lugar no banco, ge-rente ou subgerente, claro, que osvelhadas que ainda lá estão têm umcurso comercial antiguinho, miserá-vel 5º ano à antiga, ou, até talvez, o7º ano à antiga. Que percebem elesdas novas tecnologias, das novas te-orias, do novo marketing? Nadinha!Privilegiam o cliente, cujo nome atéreconhecem? Coisas de outras eras!Agora, o que interessa são os objec-tivos, os números, toca a mexer epouca conversa!...

Aos velhadas – de muito «saberde experiência feito» – só resta en-colher os ombros, calar e… contaros dias para uma aposentação con-digna. Minimamente condigna.

dários, a fim de mostrarem ao executivoe ao partido reinantes o tão almejado“cartão vermelho”.

Dum amarelo claramente esmaecidopela paupérrima participação popular,parece-nos abusivo que alguém ouse re-tirar ao poder socialista a legitimidadepolítica e considerar a derrota do PS umpesado voto negativo ao desempenho dasua acção governativa.

A oposição terá, isso sim, é de reflec-tir na relação que poderá existir entre aelevadíssima abstenção e a falta de for-ça e coerência da sua mensagem, inca-paz de polarizar o descontentamento rei-nante e de motivar os portugueses paraa acrescida importância da qual deseja-va revestir o acto.

O povo tem, de facto, sobejas razõespara estar descontente com a actual so-lução governativa. Terá, todavia, muitasmais razões para desconfiar da bondadedos arremedos de alternativas que, difu-sas e sem consistência política, se dese-nham no horizonte.

Dum lado, existe um projecto, con-testável, é certo, de boas e más práti-cas e de bons e maus resultados, tam-bém é certo, condicionado por uma pro-funda e anómala crise internacional, quesó não vê quem não quer, e por cróni-cos atavismos domésticos que neste úl-timo meio século ninguém conseguiu

neutralizar. Do outro, um fervilhar deideias e apetites avulsos, eivados deimensa demagogia num deserto de pro-jectos sérios, consistentes e coerentes,susceptíveis de nos fazer acreditar ha-ver quem, decididamente, queira e pos-sa fazer melhor.

Até porque muitos daqueles que seperfilam na vanguarda para disputar opoder já lá estiveram e não deixaramsaudades.

O cheque em branco dado a Cavacoe a Sócrates tem deixado marcas pro-fundas na nossa memória política, de talmodo que será de acreditar tal não repe-tir-se uma terceira vez.

O nosso paradigma de convivênciapolítica tem, por conseguinte, de mu-dar, drástica e urgentemente, se nãoquisermos tornar este país numa are-na de maniqueísmos inconfessáveis eincontroláveis.

No final do Verão os portugueses se-rão novamente chamados, agora sim, paraescolherem um novo Parlamento e, comele, uma nova solução governativa.

Se os candidatos passarem este tem-po que falta no soez ataque, na insolentepesporrência de aprazados vencedores,em vez de procurarem o diálogo e osconsensos que a delicadeza da situaçãoexige, se lá chegarem sem o trabalho decasa bem feito, exigível a quem quer pro-

tagonizar novas soluções políticas e go-vernativas, arriscamo-nos a ter mais domesmo ou muito pior.

Está suficientemente demonstradoque a dialéctica acusatória já não pega.O comum dos cidadãos sabe na peleaquilo que os políticos, refastelados nascadeiras do poder, nem sonham e que,com leviana obscenidade, parecem que-rer ignorar. Dá-nos, mesmo, a impres-são de que, para muito boa gente mani-puladora dos cordelinhos do poder, a po-lítica serve mesmo para isso – dar tachoà “nomenklatura”.

No fundo, no fundo, foi para isso queserviram as eleições europeias. Voz dopovo!

Se não se enveredar, rápida e consci-enciosamente, por uma dialéctica propo-sitória, privilegiando o diálogo e a con-sertação, apostando na solidariedade emvez da estulta e mesquinha guerrilha par-tidária, centrando exclusivamente toda aacção política no prosseguimento do bempúblico, não iremos longe. Continuar-se-á, ingloriamente, a cavalgar no insuces-so dos outros para cada um mascarar oseu próprio insucesso.

Os dados estão lançados.A sorte depende de todos. Da serie-

dade e competências dos que se propõemassumir o poder e da consciente e parti-cipativa escolha dos cidadãos.

O Administrador Geral dos Correios dePortugal, Engº Couto dos Santos, iniciou umasérie, que seria a apresentação dos pitores-cos e tradicionais costumes e trajos popula-res. Embora já tivessem sido aprovados dezdesenhos, e tendo-se concluído as suas gra-vuras, entendeu a Junta Nacional de Edu-cação recusar este projecto, o que fez parartal emissão.

Protestaram os CTT, invocando o prejuí-zo com as despesas já efectuadas.

Assim, foram autorizados a fazeresta emissão com os dez desenhos jáconcluídos.

Foram impressos na Casa da Moedasobre papel liso, em folhas de dez seloscom denteado 11,5.

A emissão dos selos, foi a seguinte:Dois milhões de selos verde escuro com

o valor facial de $04 representando a mu-lher da Nazaré, cujo desenho é de RoqueGameiro e gravura de Guilherme Santos;3,2 milhões de selos de $05 representando aTricana de Coimbra, com desenho de Ra-quel Roque Gameiro e gravura de Gustavoe Almeida; 2 milhões de selos de $10 lilás

violeta, representando o Saloio de Lisboadesenhados por Raquel Roque Gameiro egravura de Renato Araújo; 6 milhões deselos de $15 verde amarelo, representado aPeixeira de Lisboa, desenhados por RaquelRoque Gameiro e gravura de MarcelinoNorte.

Emitiram-se tembém 2 milhões de selosde $25 lilás violeta representando a Mulherde Olhão, desenhados por Álvaro Duartede Almeida e gravura de Gustavo de Al-meida Araújo; 20 milhões de selos de $40verde claro representando a Mulher de Avei-

ro, desenhados por Álvaro Duartede Almeida e gravura de Guilher-me Santos; 800 mil selos de $80 azulclaro, representando a Mulher daMadeira e desenhados por A. Du-arte de Almeida e gravura de Ar-naldo Fragoso; 800 mil selos de 1$00vermelho, representando a Viane-sa em desenho de Raquel RoqueGameiro e gravura de Arnaldo Fra-goso; e, para terminar, emitiram-se1,4 milhões de selos de 1$75 azulescuro representando o CampinoRibatejano, desenhado por RaquelRoque Gameiro e gravura de Ar-naldo Fragoso. 300 mil selos de 2$00

laranja, é o ultimo selo desta série, repre-sentando a Ceifeira do Alentejo, desenhadopor Raquel Roque Gameiro e gravura deGuilherme Santos.

(Baseado em “Livros Filatélicos”de Carlos Kulberg).

A emissão aqui apresentada, foi reti-rada do site

http://www.filsergiosimoes.com/,casa filatélica a quem compro as minhas

emissões.

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22 26 DE JUNHO DE 2009CRÓNICA

AO CORRER DA PENA...

Maria Pinto*[email protected]

Vivia a um ritmo alucinante. Sem laze-res. Quase sem prazeres. Sem tempo. Otrabalho perseguia-a. Reputada jornalista,tinha sido recentemente distinguida pelassuas reportagens em cenário de guerra.

Marta vivia na zona do Chiado, numacasa antiga recentemente recuperada. Maso tempo não sobrava para a decorar a seugosto. Por isso, a sua casa era tão-só o locala que pontualmente recorria para se abri-gar. Afinal de contas estava sempre fora econtinuamente em situações de alta tensãoe de alto risco. O cansaço dominava-a. Sen-tia-se viver sob o tecto do êxito obrigatório,da corrida ansiosa pelo sucesso. Prémiosque chegavam. Amores que partiam. Sen-tia-se uma sem-abrigo. As suas paredes iam-se desfazendo aos poucos. Não fizera ain-da a reportagem da sua vida.Faltava-lhe o essencial.

Ansiava por fugir para nãoenlouquecer de desalento, nãodesejava voltar a desesperarpor amor... ou por carência deamor... ou por falta de tempopara amar.

Pensou mudar radicalmen-te a sua vida e a sua profis-são. Arranjar talvez um tra-balho mais calmo, menos ex-tenuante e regressar a casa.Abrigar-se. Pensar-se.

Num curto e merecido pe-ríodo de férias logo após o AnoNovo, decidiu ser chegada aaltura de transformar a suacasa num espaço acolhedore confortável. Num lar. Foiassim que passeou pelas ruasde Lisboa, escolhendo meti-culosamente cada objecto,cada peça de mobiliário, cadaobra de arte.

Mas quando menos se espera, surgemoportunidades e momentos únicos, experi-ências que apenas acontecem uma vez navida e que não mais se apagam do nossocorpo. Da nossa alma. São curvas que apa-recem inusitadamente no meio da estradada vida de cada um de nós.

Cerca de três dias após ter iniciado a suabreve semana de férias, Marta recebe umtelefonema do chefe de redacção, alertan-do-a para a premência de uma reportagemsobre os Sem-Abrigo de Lisboa.

Algo se passou nesse instante. Martasentiu um apelo imediato por este trabalho.Percebeu rapidamente que a sua vida seiria alterar profundamente. Marta, mulher-coragem, que sempre se envolvera a fundonos seus projectos, agarrou esta oportuni-dade com um forte abraço.

Largou tudo o que tinha planeado para asua vida. A casa do Chiado era uma vezmais um projecto adiado.

Traz um amigo também...Saiu para a rua. Caiu na rua. Passou a

viver na rua. Com eles. Com os Sem-Abri-go. Como os Sem-Abrigo.

Nos primeiros dias, sentiu que se tinhadespistado nesta curva da vida. Entrara numenorme abismo sem protecção. Só. Com-pletamente só. Nas noites mais frias., sem-pre que procurava um abrigo que a prote-gesse, um canto, um vão de escada, encon-trava um quarto infindável que a cobria coma exclusão social. E sabia que a viagem queencetara iria ser longa. O frio e a sensaçãode abandono iriam permanecer. A solidãoabeirava-se de Marta. E também algummedo...e tanto frio!...

O tempo foi passando e, quase sem seter dado conta, Marta passou a ser mais umdeles. Dos Sem-Abrigo. Com eles partilha-va o que ia conseguindo arranjar, com elessentia frio e fome, como eles percorria asruas da capital, suja e andrajosa. Foi-se aper-cebendo da falta de auto-estima e de confi-ança de muitos destes seres humanos que

já tudo haviam perdido. Passou a fazer par-te deles. Por vocação. Entrando nas suasalmas. No seu coração.

Decorria o período da campanha para aseleições legislativas. Foi nesta altura queMarta melhor conseguiu entender as mar-cas da hipocrisia social e política. Por umlado, a sensação de profunda incomodidadedos líderes dos vários partidos políticos e dassuas comitivas ao sentirem-se obrigados aapertar a mão a estes homens e mulheresenvoltos em caixotes e em papel de jornal,sem eira nem beira, sem destino, mas queos olhavam com frontalidade. Estes aper-tos de mão eram geralmente seguidos deum discurso demagógico e de índole carita-tiva, com promessas de casas para eles. Paraos Sem-Abrigo.

Alguma revolta se ia instalando nesta jor-nalista sem-abrigo, sem casa, sem Chiado.Cada vez mais Marta se afastava destemundo de tecnocratas plenos de juízos de

valor, de apelos à “reintegração”, profunda-mente agarrados às paredes do poder e àangariação de votos.

“Mas que reintegração?”, perguntavapor vezes Jaime, que era conhecido pelopoeta-pintor e que se fora aproximando cadavez mais de Marta. Um sentimento forte osunia. Uma mesma linha de pensamento.

Jaime pertencera a uma família abasta-da do Norte do país, cuja fortuna estava li-gada à indústria automóvel. Mas o seu paiera um perdulário acabando por tudo gastarpor entre amores vários e inquietos. A famí-lia desagregou-se. A mãe enlouqueceu. Opai entregou-se à bebida e Jaime rumou atéà capital onde procurou trabalho. Sem êxi-to. Ninguém o quis, apesar dos seus dotesliterários e artísticos. “Mas quem é que hojeem dia quer saber da leitura?” dizia ele emtom de desabafo. Mas alguns dos seus com-panheiros de rua adoravam ouvi-lo decla-mar muitos dos seus poemas, sentido porele um grande respeito. Marta tornou-se a

sua leitora. A sua musa inspiradora quandoJaime, em pedaços de papel que encontra-va, a desenhava.

“Mas que reintegração?” voltava Jai-me a perguntar. “Ainda há tempos fize-ram uma espécie de camaratas para nosabrigar...e nós continuámos a fugir para arua, para os cartões que fomos espalhan-do pela cidade”...

Marta entendia. O governo dava case-bres e não dava emprego. À boa maneiraliberal, considerava-os adeptos da malandricee da vida fácil, não merecendo, por isso, osucesso. O governo exercia a caridade enão a solidariedade. As autoridades senti-am-se profundamente desassossegadas pelofacto de os Sem-Abrigo também terem sen-sibilidade e gostarem de se sentar e divagarem sítios bonitos, como a Beira-Tejo. Man-davam-nos embora, mas eles regressavamem bando, tal andorinhas em voo de liber-dade. Alheios à repulsa dos cidadãos ditoshonrados. Alheios ao medo que sabiam já

não existir.Marta sentia-se enriquecer (por mais

paradoxal que possa parecer!) a cada diaque passava. Agora percebia melhor a ra-zão por que muitos dos Sem-Abrigo prefe-rem a rua. É que eles são detentores daenorme fortuna de já nada terem para per-der. Eles têm a solidariedade das estrelas,da lua, do sol.

Os que têm a rua como abrigo podemsofrer a fome e o frio e a humilhação daesmola, mas olham as pessoas de frente.Pedindo mas não se vendendo...e tendo alucidez de saber que todos nós, no fundo,em algum momento das nossas vidas so-mos ou podemos vir a ser Sem-Abrigo.

O Chão frio da calçadaÉ onde faço o meu leitoE com fome me deitoToda a madrugada

Ponho-me de mãos estendidasCom os olhos no vazioEnquanto secretamente me rioQuando escandalizam minhas feridas

Sou chaga abertaNem desvies os olhos de minha figuraNão reproves minha falta de com-posturaPois sou o que poderias ter sido”.

(Anónimo... quem sabese da autoria de Jaime?...)

À medida que o seu amor ia crescendo,cada vez mais Marta e Jaime se empenha-vam em denunciar e desmascarar a igno-rância e a indiferença social e política emrelação ao mundo dos Sem-Abrigo. Promo-viam manifestações e campanhas para aobtenção de fundos. Verdadeiras campa-nhas de solidariedade em que se incluíamas equipas de rua que vinham essencial-mente de noite para escutar almas, ouviro bater de corações, para afagar os ros-tos mais doridos. Era um trabalho feito deamor e de carinho. Um trabalho longo,discreto, sem fim.

Nestes momentos preciosos sobrevi-nham, por vezes outras pessoas. Gentecom casa mas sem lar. Gente a desabarpor dentro. Parede a parede. Minuto a mi-nuto: mulheres alvo de violência domésti-ca, jovens sem rumo, reformados privadosdo carinho de familiares...Jaime entoava“traz um amigo também”...

Marta quase se esquecia da sua casa noChiado. Conseguiria voltar a adaptar-se aoestilo de vida que levava antes de vivenciaresta experiência tão dura mas tão incrivel-mente enriquecedora?

Tarde da noite. Jaime e Marta de mãona mão. Ambos carregando um saco atransbordar de amor. Deitando-se sobre astiras de um caixote feito de emoções. Devida. De recordações. Envoltos em jornaisplenos de ternura.

(*docente do ensino superior)

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2326 DE JUNHO DE 2009 CULTURA

Inaugurado em 1910, enquanto agên-cia dos Grandes Armazéns do Chiado lis-boetas, o Edifício Chiado é actualmentesede do Museu Municipal de Coimbra,tutelado pelo Departamento de Cultura

da autarquia. No sentido de comemoraro centenário do edifício, o Museu Muni-cipal planeou a organização de uma sé-rie de eventos nos quais pretendemosenquadrar o momento histórico da suaconstrução e inauguração.

O primeiro acto das comemoraçõesfoi o lançamento do I Volume de umaluxuosa obra sobre a Colecção Telode Morais (uma das mais ricas colec-ções particulares de arte do País, edoada por aquele ilustre médico e suaMulher ao Município de Coimbra, es-tando exposta nos pisos superiores do“Edifício Chiado”.

Numa cerimónia que contou com aparticipação de muitas e destacadas en-

tidades, a apresentação esteve a cargode Raquel Henriques da Silva (que foiDirectora do Instituto Português de Mu-seus) que teve palavras de grande elogiopara o altruísta gesto do casal Telo deMorais e para a qualidade da colecçãopor ele doada a Coimbra.

Centenário do “Edifício Chiado”COMEMORAÇÕES EM COIMBRA PROLOLONGAM-SE POR 2010

As comemorações prosseguem comum Ciclo de Conferências a realizar nosdias 22 e 23 do próximo mês de Outu-bro, com a participação de destacadosespecialistas em diversas áreas.

De acordo com os organizadores, ha-verá comunicações pelos especialistas aseguir indicados, abordando os temas quese referem:

- Rui Ramos (Faculdade de Arquitec-tura da Universidade do Porto) – A mo-dernidade da arquitectura de 1900.

- Raquel Henriques da Silva (Univer-sidade Nova de Lisboa) – “As artes emPortugal em 1910”.

- Julien Bastoen (Université de Pa-ris VIII )– Os Grandes Armazéns Pa-risienses.

- Paulo Peixoto (Faculdade de Eco-nomia da Universidade de Coimbra) – Amassificação do consumo.

- Maria Calado (Faculdade de Arqui-

tectura da Universidade Técnica de Lis-boa) – Grandes Armazéns de Lisboa:Grandella e Chiado.

- Paulo Simões Rodrigues (Universi-dade de Évora) – Arquitectos e Enge-nheiros no século XIX XX.

- José Maria Amado Mendes (Facul-

dade de Letras da Universidade de Co-imbra) - Coimbra – industrialização 1900/1920.

- Regina Anacleto (Faculdade deLetras da Universidade de Coimbra– A arquitectura conimbricense dosfinais do século XIX início do sé-culo XX.

- Raquel Magalhães (Técnica daCMC) – O Edif íc io Chiado emCoimbra.

PROGRAMA ESTENDE-SEPELO PRÓXIMO ANO

As celebrações do centenário do “Edi-fício Chiado” vão prolongar-se por 2010,ano em que verdadeiramente se comple-tam os cem anos após a inauguração.

No início do ano, o edifício será re-qualificado com pequenas obras de me-lhoramento e reabrirá em Abril com umaexposição comemorativa do centenário.

De acordo com os organizadores, “noâmbito desta exposição serão promovi-das acções educativas, nomeadamentevisitas interpretativas ao Edifício Chiadoe ateliers orientados para público esco-

lar, nos quais tentaremos transmitir e re-viver os inícios do século XX, através dacompreensão do sentido estético e daevolução da moda, associada ao fe-nómeno económico dos Grandes Ar-mazéns”.

A Câmara Municipal de Coimbra vaiainda receber duas exposições de artecontemporânea, proporcionadas pelaFundação Arpad Szenes - Vieira da Sil-va, (instituição que tem como objectivo

a divulgação e o estudo da obra dos doisartistas).

Durante 2010 serão publicadas as ac-tas do encontro marcado para Outubropróximo, intituladas “Caminhos e iden-tidades da modernidade: 1910, o Edi-fício Chiado em Coimbra”.

Entretanto, o Museu pretende reco-lher informações e testemunhos sobre oedifício para um estudo a publicar du-rante o ano de 2010. Neste sentido, fezum apelo a quem possa ter informaçõesou espólio (nomeadamente: produtos dosGrandes Armazéns do Chiado, como ca-tálogos, agendas de família, imagens, etc.)que contacte através dos números 239840 754 ou 239833771.

Telo de Morais e Isabel Garcia

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24 26 DE JUNHO DE 2009PUBLICIDADE