o centro - n.º 15 – 29.11.2006

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DIRECTOR JORGE CASTILHO LIVROS LIVRARIAS CADA VEZ MAIS AMPLAS E DINÂMICAS Coimbra estimula a leitura PÁG. 8 a 12 BAIXA DE COIMBRA EM MARCHA A REABILITAÇÃO Apenas 1.300 habitantes em 14 hectares PÁG. 24 ASSINE O “CENTRO” E GANHE OBRA DE ARTE | Taxa Paga | Devesas – 4400 V. N. Gaia | Autorizado a circular em invólucro de plástico fechado (DE53742006MPC) ANO I N.º 15 (II série) De 29 de Novembro a 12 de Dezembro de 2006 € 1 euro (iva incluído) Assinantes do “Centro” com 10% de desconto na compra de livros PÁG. 2 e 3 João Araújo, D.O. OSTEOPATA Figueira da Foz – Consultas à 6.ª feira Marcações pelo telefone: 965 096 849 Rua Joaquim Sotto Mayor, 120 - Lj. 3 PÁG. 4 a 6 Livraria Minerva Galeria Edições Minerva Coimbra Rua de Macau, 52 – Telefone: 239 716 204 Rua dos Gatos, 10 – Telefone: 239 826 259 email: [email protected] Coimbra BISPO DE COIMBRA EM ENTREVISTA AO CENTRO As mulheres não devem ser padres, tal como os homens não podem ser madres Inscreva-se em: Atelier de Pintura Iniciação em Artes Plásticas Conferências de Anatomia Artística Visite-nos em www.aelima.com ou Rua Gil Vicente, 86-A – Coimbra Telefone: 239 781 486 – Telemóvel: 917 766 093 Exposição de fotografia de João Igor e de pintura de Luís Sargento até 21 de Dezembro Mais de 250 obras de arte em catálogo DEFENDEU CAVACO SILVA EM COIMBRA, AO INAUGURAR OBRAS DO POLIS É urgente requalificar as nossas cidades PÁG. 2 SOBRETUDO POR CAUSA DO MAU ORDENAMENTO Coimbra exposta a vários riscos naturais PÁG. 3 Poluição rodoviária mata milhares de pessoas PÁG. 3

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Versão integral da edição n.º 15 do quinzenário “O Centro”, que se publica em Coimbra. Director: Jorge Castilho. 29.11.2006. Não se esqueça de que pode ver o documento em ecrã inteiro, bastando para tal clicar na opção “full” que se encontra no canto inferior direito do ecrã onde visualiza os slides. Também pode descarregar o documento original. Deve clicar em “Download file”. É necessário que se registe primeiro no slideshare. O registo é gratuito. Para além de poderem ser úteis para o público em geral, estes documentos destinam-se a apoio dos alunos que frequentam as unidades curriculares de “Arte e Técnicas de Titular”, “Laboratório de Imprensa I” e “Laboratório de Imprensa II”, leccionadas por Dinis Manuel Alves no Instituto Superior Miguel Torga (www.ismt.pt). Para saber mais sobre a arte e as técnicas de titular na imprensa, assim como sobre a “Intertextualidade”, visite http://www.mediatico.com.pt/manchete/index.htm (necessita de ter instalado o Java Runtime Environment), e www.youtube.com/discover747 Visite outros sítios de Dinis Manuel Alves em www.mediatico.com.pt , www.slideshare.net/dmpa, www.youtube.com/mediapolisxxi, www.youtube.com/fotographarte, www.youtube.com/tiremmedestefilme, www.youtube.com/discover747 , http://www.youtube.com/camarafixa, , http://videos.sapo.pt/lapisazul/playview/2 e em www.mogulus.com/otalcanal Ainda: http://www.mediatico.com.pt/diasdecoimbra/ , http://www.mediatico.com.pt/redor/ , http://www.mediatico.com.pt/fe/ , http://www.mediatico.com.pt/fitas/ , http://www.mediatico.com.pt/redor2/, http://www.mediatico.com.pt/foto/yr2.htm , http://www.mediatico.com.pt/manchete/index.htm , http://www.mediatico.com.pt/foto/index.htm , http://www.mediatico.com.pt/luanda/ , http://www.biblioteca2.fcpages.com/nimas/intro.html

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Page 1: O Centro - n.º 15 – 29.11.2006

DIRECTOR JJOORRGGEE CCAASSTTIILLHHOO

LIVROS

LIVRARIAS CADA VEZ MAISAMPLAS E DINÂMICAS

Coimbraestimulaa leitura

PÁG. 8 a 12

BAIXA DE COIMBRA

EM MARCHA A REABILITAÇÃO

Apenas1.300habitantesem 14hectares

PÁG. 24

ASSINE O “CENTRO”E GANHE OBRA DE ARTE

| Taxa Paga | Devesas – 4400 V. N. Gaia |Autorizado a circular em invólucrode plástico fechado (DE53742006MPC)

ANO I N.º 15 (II série) De 29 de Novembro a 12 de Dezembro de 2006 € 1 euro (iva incluído)

Assinantesdo “Centro”com 10%de descontona comprade livros

PÁG. 2 e 3

João Araújo,D.O.

OSTEOPATA

Figueira da Foz – Consultas à 6.ª feiraMarcações pelo telefone: 965 096 849Rua Joaquim Sotto Mayor, 120 - Lj. 3

PÁG. 4 a 6

LLiivvrraarriiaa MMiinneerrvvaa GGaalleerriiaaEEddiiççõõeess MMiinneerrvvaa CCooiimmbbrraa

Rua de Macau, 52 – Telefone: 239 716 204Rua dos Gatos, 10 – Telefone: 239 826 259

email: [email protected]

BISPO DE COIMBRA EM ENTREVISTA AO CENTRO

As mulheres nãodevem ser padres,tal como os homensnão podem ser madres

Inscreva-se em: Atelier de Pintura nn Iniciação em Artes Plásticas nn Conferências de Anatomia Artística

Visite-nosem www.aelima.com ou Rua Gil Vicente, 86-A – CoimbraTelefone: 239 781 486 – Telemóvel: 917 766 093Exposição de fotografia de João Igor

e de pintura de Luís Sargento até 21 de DezembroMais de 250 obras de arte em catálogo

DEFENDEU CAVACO SILVA EM COIMBRA, AO INAUGURAR OBRAS DO POLIS

É urgente requalificaras nossas cidades

PÁG. 2

SOBRETUDO POR CAUSADO MAU ORDENAMENTO

Coimbra expostaa váriosriscos naturais

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Poluição rodoviáriamata milharesde pessoas

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Page 2: O Centro - n.º 15 – 29.11.2006

22 CCOOIIMMBBRRAA DE 29 DE NOVEMBRO A 12 DE DEZEMBRO DE 2006

Director: Jorge Castilho(Carteira Profissional n.º 99)

Propriedade: AudimprensaNif: 501 863 109

Sócios: Jorge Castilho e Irene Castilho

Inscrito na DGCS sob o n.º 120 930

Composição e montagem: Audimprensa– Rua da Sofia, 95, 3.º3000-390 Coimbra - Telefone: 239 854 150Fax: 239 854 154e-mail: [email protected]

Impressão: CIC - CORAZEOliveira de AzeméisDepósito legal n.º 250930/06

Tiragem: 10.000 exemplares

No sentido de proporcionar mais algunsbenefícios aos assinantes deste jornal, o“Centro” acaba de estabelecer um acordocom a livraria on line “livrosnet.com” (verrodapé na última página desta edição).

Para além do desconto de 10%, o assi-nante do “Centro” pode ainda fazer a enco-menda dos livros de forma muito cómoda,sem sair de casa, e nada terá a pagar de cus-tos de envio dos livros encomendados.

Numa altura em que se aproxima oinício de um novo ano lectivo, e em queas famílias gastam, em média, 200 eurosem material escolar por cada filho, este

desconto que proporcionamos aos assi-nantes do “Centro” assume especial sig-nificado (isto é, só com o que poupa porum filho fica pago o valor anual da assi-natura).

Mas este desconto não se cinge aos ma-nuais escolares. Antes abrange todos oslivros e produtos congéneres que estão àdisposição na livraria on line “livrosnet”.

Aproveite esta oportunidade, se já é assi-nante do “Centro”.

Caso ainda não seja, preencha o boletimque publicamos na página seguinte e envie-o para a morada que se indica.

Se não quiser ter esse trabalho, bastaráligar para o 239 854 150 para fazer a suaassinatura, ou solicitá-la através do [email protected].

São apenas 20 euros por uma assinaturaanual – uma importância que certamente recu-perará logo na primeira encomenda de livros.

E, para além disso, como ao lado se indi-ca, receberá ainda, de forma automática ecompletamente gratuita, uma valiosa obrade arte de Zé Penicheiro – trabalho originalsimbolizando os seis distritos da RegiãoCentro, especialmente concebido para estejornal pelo consagrado artista.

Assinantes do “Centro” com 10% de descontona compra de livros

DEFENDEU CAVACO SILVA EM COIMBRA, AO INAUGURAR OBRAS DO POLIS

É urgente requalificar as cidadesO Presidente da República afirmou

no passado domingo, em Coimbra, serurgente avançar com a requalificaçãodas cidades, frisando que a qualidade devida nestes espaços urbanos pode cons-tituir “um factor de competitividade” dePortugal no mundo global.

“Acredito que a qualidade de vida dascidades portuguesas pode ser um impor-tante factor de competitividade de Por-tugal no quadro da globalização. É urgen-te avançar na requalificação das cidadesportuguesas”, afirmou Aníbal CavacoSilva, que presidiu à inauguração de trêsobras do programa Polis em Coimbra .

Na sua perspectiva, “a melhoria da qua-lidade de vida nas cidades deve constitu-ir um objectivo cimeiro da administraçãocentral, local e dos cidadãos”.

“As cidades, pelas suas capacidadese recursos, são decisivas para o desen-volvimento da nossa economia”, vincouo Chefe de Estado.

Classificando a intervenção Polis emCoimbra como “um bom exemplo derequalificação urbana”, Cavaco Silvaobservou, contudo, que “apesar dos es-forços das últimas décadas nos domí-nios das infra-estruturas de transportese de energia , dos equipamentos sociaise da habitação”, Portugal está confron-tado com “novos fenómenos de degra-dação do ambiente urbano e, mais emgeral, de perda da qualidade de vida nascidades”.

“À degradação do ambiente urbanojuntou-se o alargamento das periferiasdas grandes e médias cidades portugue-sas e o surgimento de novos fenómenosde exclusão social. Face a esta situação,é necessário agir com eficiência e deter-minação”, defendeu.

No seu discurso, o Presidente da Re-pública preconizou também “uma novaatitude em matéria de energia nas cida-des”, sublinhando que Portugal “enfren-ta um desafio crucial neste domínio: re-duzir as emissões de gases com efeitode estufa, cumprir as metas europeias

para as energias renováveis e reduzir asua dependência energética do exterior,em especial do petróleo”.

“Temos de tirar mais partido dos nos-sos recursos naturais e de apostar numamaior produção de energia a partir defontes renováveis. Mas temos, igual-mente de melhorar a eficiência no con-sumo de energia. É necessário apostarnuma maior eficiência energética nosedifícios, na indústria e nos transpor-tes”, sublinhou.

Pela importância das questões am-bientais e energéticas, Cavaco Silva dis-se ter decidido que a próxima jornadado Roteiro para a Ciência será dedicadaàs tecnologias limpas.

Ao intervir na sessão, o Presidente daCâmara de Coimbra, Carlos Encarna-ção, defendeu “uma mudança radical napolítica das cidades” e a conclusão dasobras previstas no âmbito do Polis, la-mentando ainda a escassez de progra-mas para recuperar os centros das urbes.

O Ministro do Ambiente, Ordena-mento do Território e do Desenvolvime-nto Regional, Nunes Correia, afirmou,em resposta ao autarca social-democra-ta, que os programas Polis “nunca pre-tenderam resolver todos os problemasdas cidades”.

“A maior responsabilidade na resolu-ção desses problemas cabe ao poderlocal, às câmaras municipais. O Estadotem um papel supletivo”, referiu omembro do governo.

No âmbito do Polis de Coimbra, fo-ram inaugurados no domingo a PontePedonal Pedro e Inês, o Centro de Inter-pretação Ambiental e a entrada poentedo Parque Verde do Mondego.

Após a travessia da ponte pedonal damargem esquerda para a direita, CavacoSilva era esperado por centenas de po-pulares, sendo visíveis na frente da mul-tidão dois cartazes onde se liam os dize-res “Despenalizar é aceitar o crime” e“Não à interrupção voluntária da gravi-dez”, tendo-se escutado também algu-

mas palavras de ordem como “Sim àvida” e “Ajude aqueles que não se po-dem defender”.

PRESIDENTE APELAAO DINAMISMODA SOCIEDADE CIVIL

Antes de Coimbra, o Presidente daRepública, esteve em Arganil, ondeapelou ao dinamismo da sociedadecivil, considerando que quanto maisactiva ela for, mais legitimidade tempara reclamar o apoio do Estado.

“O país só tem a beneficiar com umasociedade civil forte e dinâmica. Quan-to maior dinamismo revelar, mais asociedade civil dispõe de legitimidadepar a reclamar o apoio do Estado. Éjusto ajudar aqueles que mais ajudam”,frisou o Chefe de Estado.

O Presidente da República discursa-va na cerimónia de inauguração doHospital de Cuidados Continuados Dr.Fernando Valle, da Santa Casa da Mi-sericórdia de Arganil.

Ao referir que o equipamento hoje

inaugurado vai ser inserido na Rede deCuidados Continuados Integrados, Aní-bal Cavaco Silva louvou esta forma,“especialmente meritória, de aproveita-mentos dos recursos” existentes no con-celho, assente na articulação entre aSanta Casa da Misericórdia e as estrutu-ras públicas do Serviço Nacional deSaúde.

“Por meio desta salutar articulação, aMisericórdia e o Estado consegue mfacilmente realizar aquilo que é o seuobjectivo comum: promover o bem--estar dos portugueses e contribuir paraa melhoria da qualidade de vida doscidadãos, em especial dos mais carenci-ados, daqueles com maiores necessida-des de saúde, dos mais idosos em parti-cular”, salientou.

Para o Presidente da República, “a cria-ção de unidades descentralizadas paracuidados continuados responde, assim,aos desígnios de permitir a prestaçãodesses cuidados em meio apropriado ede fazê-lo mais próximo do local da resi-dência, das pessoas e do ambiente que émais familiar aos doentes”.

O Bispo de Coimbra benzendo a nova ponte pedonal “Pedro e Inês”

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CCOOIIMMBBRRAA 33DE 29 DE NOVEMBRO A 12 DE DEZEMBRO DE 2006

Nesta campanha de lançamento do jornal“Centro” temos uma aliciante proposta paraos nossos leitores.

De facto, basta subscreverem uma assina-tura anual, por apenas 20 euros, para automa-ticamente ganharem uma valiosa obra de arte.

Trata-se de um belíssimo trabalho da auto-ria de Zé Penicheiro, expressamente concebi-do para o jornal “Centro”, com o cunho bemcaracterístico deste artista plástico – um dosmais prestigiados pintores portugueses, comreconhecimento mesmo a nível internacional,estando representado em colecções espalha-das por vários pontos do Mundo.

Neste trabalho, Zé Penicheiro, com o seutraço peculiar e a inconfundível utilização deuma invulgar paleta de cores, criou uma obraque alia grande qualidade artística a um pro-fundo simbolismo.

De facto, o artista, para representar a RegiãoCentro, concebeu uma flor, composta pelos seisdistritos que integram esta zona do País: Aveiro,Castelo Branco, Coimbra, Guarda, Leiria e Viseu.

Cada um destes distritos é representado porum elemento (remetendo para respectivo patri-mónio histórico, arquitectónico ou natural).

A flor, assim composta desta forma tão ori-ginal, está a desabrochar, simbolizando ocrescente desenvolvimento desta Região Cen-tro de Portugal, tão rica de potencialidades, deHistória, de Cultura, de património arquitec-tónico, de deslumbrantes paisagens (desde as

praias magníficas até às serras verdejantes) e,ainda, de gente hospitaleira e trabalhadora.

Não perca, pois, a oportunidade de receberjá, GRATUITAMENTE, esta magnífica obrade arte, que está reproduzida na primeira pági-na, mas que tem dimensões bem maiores doque aquelas que ali apresenta (mais exacta-mente 50 cm x 34 cm).

Para além desta oferta, passará a receberdirectamente em sua casa (ou no local que nosindicar), o jornal “Centro”, que o manterásempre bem informado sobre o que de mais

importante vai acontecendo nesta Região, noPaís e no Mundo.

Tudo isto, voltamos a sublinhá-lo, porAPENAS 20 EUROS!

Não perca esta campanha promocional, eASSINE JÁ o “Centro”.

Para tanto, basta cortar e preencher ocupão que abaixo publicamos, e enviá-lo,acompanhado do valor de 20 euros (de prefe-rência em cheque passado em nome deAUDIMPRENSA), para a seguinte morada:

Jornal “Centro”

Rua da Sofia. 95 - 3.º3000–390 COIMBRA

Poderá também dirigir-nos o seu pedido deassinatura através de:

n telefone 239 854 156n fax 239 854 154n ou para o seguinte endereço de e-mail:[email protected]

Para além da obra de arte que desde já lheoferecemos, estamos a preparar muitas outrasregalias para os nossos assinantes, pelo que os20 euros da assinatura serão um excelenteinvestimento.

O seu apoio é imprescindível para que o“Centro” cresça e se desenvolva, dando voz aesta Região.

CONTAMOS CONSIGO!

APENAS 20 EUROS POR UMA ASSINATURA ANUAL!

Assine o jornal “Centro”e ganhe valiosa obra de arte

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SOBRETUDO POR CAUSA DO MAU ORDENAMENTO

Coimbra exposta a váriosriscos naturais

Coimbra é uma cidade exposta a váriosriscos naturais, mas a maior parte delesresulta do mau ordenamento do território,concluiu um debate realizado na passadaquinta-feira, por iniciativa da Pró-Urbe.

Intervindo no debate “Incêndios, inun-dações e outros riscos na cidade: que pre-venção”, Alexandre Tavares afirmou quehoje se assiste “a um reflexo do que foi aocupação da cidade” a partir da décadade 70.

“De 1985 até 2000, a expressão doespaço transformado, que era de 42 quiló-metros quadrados, passou para 90 quiló-metros quadrados, quebrando relaçõescom o meio físico e provocando alteraçõesem todo o concelho”, sublinhou o enge-nheiro geólogo, que criticou também asgrandes movimentações de terras provoca-das recentemente pela construção de duasgrandes superfícies na cidade, e a sua colo-cação “em locais não naturais”.

Para o geógrafo Lúcio Cunha, da Fa-culdade de Letras da UC, os principais pro-blemas que se têm registado em Coimbra –inundações, incêndios, aluimentos – “estãono crescimento da cidade para áreas de

risco e no abandono das áreas rurais e dospequenos espaços agrícolas”.

Segundo o catedrático, as questões dasinundações “resolvem-se facilmente” seforem respeitados os leitos de cheias, man-tidos os espaços verdes na cidade, e limpasas ruas e as sarjetas.

O problema dos incêndios é, para LúcioCunha, “uma questão muito difícil de re-solver a curto e médio prazo”, apontando afalta de capacidade das autarquias e dospequenos proprietários para limpar asmatas como um dos entraves à resoluçãodaquele flagelo.

“A nova legislação sobre defesa da flo-resta é óptima, mas está desfasada do paísreal”, concluiu.

Por seu turno, o professor José ManuelMendes apelou a um maior envolvimentodos cidadãos nas questões de segurança edefendeu a criação de uma estrutura deprotecção civil mais integrada, através de“um sistema mais democratizado e orien-tado para a prevenção, em vez do socorro”.

“Não há desastres naturais, existem édesastres políticos, morais e culturais”,sublinhou o catedrático.

AFIRMADO EM DEBATE DO CONSELHO DA CIDADE

Poluição rodoviáriamata milhares de pessoas

- vai aumentar o estacionamento pago e a fiscalizaçãoA poluição provocada pelas emissões

dos escapes dos veículos automóveis matamilhares de pessoas todos os anos. Este oalerta lançado por Massano Cardoso, Pro-vedor do Ambiente e Qualidade de Vida,em debate promovido anteontem à noite(segunda-feira) pelo Conselho da Cidadede Coimbra, na Casa Municipal da Cul-tura.

Segundo Massano Cardoso, à medidaque a Ciência evolui mais se descobrem osterríveis malefícios da poluição do ar querespiramos, pelo que importa tomar medi-das para condicionar o trânsito automóvelnos centro urbanos.

A primeira intervenção coube a ÁlvaroSeco, professor da Faculdade de Ciênciasda Universidade de Coimbra e especialistaem transportes, que defendeu ser quaseescandaloso que existam milhares de luga-res de estacionamento na cidade deCoimbra, nomeadamente na zona central,que são gratuitos, o que representa um con-vite para que as pessoas tragam os carrospara o centro urbano.

Defendeu que é urgente rasgar a Ave-

nida Central, com ou sem metro, fechar arua da Sofia ao trânsito, e criar mais luga-res de estacionamento pagos, em que asduas primeiras horas teriam preço simbóli-co, e as restantes teriam custos substancial-mente mais elevados, para desincentivar oestacionamento na área urbana.

O outro palestrante foi o Presidente daCâmara de Coimbra, que revelou que vãoser, efectivamente criados, mais de millugares de estacionamento pagos e que afiscalização vai ser intensificada.

Relativamente à polémica supressão daEcovia, Carlos Encarnação referiu que oserviço vai continuar, só que em novosmoldes, com o recurso aos autocarros nor-mais, ficando os pequenos actualmenteusados pela Ecovia para as carreiras commenos passageiros, nomeadamente as noc-turnas.

Carlos Encarnação referiu ainda a enor-me injustiça que constituem as avultadíssi-mas “indemnizações compensatórias”pagas aos transportes colectivos de Lisboae do Porto, enquanto os de Coimbra nadarecebem.

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44 EENNTTRREEVVIISSTTAA DE 29 DE NOVEMBRO A 12 DE DEZEMBRO DE 2006

BISPO DE COIMBRA EM ENTREVISTA AO CENTRO

As mulheres não devem ser padres, tal como os homens não devem ser madresHomem de uma invulgarsimplicidade e simpatiaque normalmente conduz o carroe aparece nos locais de formadiscreta, D. Albino Cletoé o actual Bispo de Coimbra.Nasceu em Manteigas, em plenaSerra da Estrela, em 1935.

Foi ordenado padre em 1959e colocado no Semináriode Almada, onde esteve 19 anos.Assume-se como beirão, emboratenha vivido quase meio séculona capital. Foi na UniversidadeClássica de Lisboa que selicenciou, em Filologia Românica.Em 1978 foi colocado como priorna Basílica da Estrela. Tornou-sebispo em 1983 e durante 15 anosfoi Auxiliar do Cardeal PatriarcaD. António Ribeiro. Nuncaimaginou ser colocadoem Coimbra, mas confessaque rapidamente se adaptoue gosta de aqui estar, tendo-secriado uma empatia natural.Na entrevista que nos concedeunenhuma pergunta ficousem resposta. Aqui fica o essencialdessa conversa informal.

Jorge Castilho

CASAMENTO DE PADRESE DE HOMOSSEUXUAIS

Notícia recentes davam conta deque o Papa iria convocar a Cúria paratratar do problema do celibato…

Uma questão como a do celibatonunca o Papa a resolveria apenas comos cardeais da Cúria. O Papa quis dialo-gar sobre questões atinentes, como, porexemplo, o pedido de dispensa de pa-dres que pensam seguir outro caminho,ou o reingresso de padres que, por viu-vez ou qualquer outro motivo, gostariamde ser reintegrados. É ainda o caso demuitos vindos de outras confissões cris-tãs. Aliás, em Outubro do ano passado,no Sínodo em que participei (e onde ha-via quase trezentos bispos de todo oMundo), o Papa ouviu uma posiçãoque, tendo embora bastantes votos nosentido de lhe pedir que a questão sejareconsiderada, a maioria foi no sentidode manter o celibato.

E a sua opinião sobre o assunto?Sou nitidamente favorável à manu-

tenção do celibato, e explico por quê:julgo que o que nós precisamos, antesde termos bastantes padres, é termos pa-dres verdadeiramente apaixonados. Eunão critico outras confissões cristãs – emesmo na Igreja há um sector na regiãoda Síria, Palestina e parte da Turquia,onde os padres católicos são casados.Como até em Lisboa há um, de quem

sou amigo, que obteve essa dispensapor ter vindo da Igreja Protestante. Por-tanto não critico essa atitude, mas nãome abro à preocupação de termos mui-tos padres, porque correríamos o riscode estarmos a garantir a função, em vezde conseguirmos a paixão. Evidente-mente que o padre realiza funções, masnão queremos que ela seja um funcioná-rio. Por isso é preferível termos menospadres, mas que sejam verdadeiramenteapaixonados, que não discutam a nome-ação para esta ou aquela terra, que nãotenham preocupações primariamente defamília. Por outro lado, hoje posso dizerestas coisas mais à vontade, pois muitascoisas que eu via fazer o meu velhoprior, hoje são feitas por leigos na dioce-se e isso tranquiliza-me. Para concluir estaquestão: queira Deus que haja muitospadres e que eles sejam apaixonados;mas se amanhã houver uma mudança nalegislação da Igreja, isso não me pertur-ba nada.

E o que pensa dos casamentos en-tre homossexuais?

Lamento-os. Respeito a situaçãodessas pessoas que considero umaexcepção naquilo que é a norma daHumanidade. E não gosto de lhe cha-mar casamento, embora reconheça nes-te sentido que há países que aceitamessa situação a que eu chamo uma ami-zade. Porque o conceito que eu tenho ecasamento pressupõe a diferença desexos. Não sou capaz de definir casa-mento a não ser como a união de pesso-as de sexo diferente que se complemen-

tam e entre si estão abertas generosa-mente à fecundidade – quer ela sejafísica, com a geração de um filho, querde outra ordem.

O PAPEL DA MULHERNA IGREJA

E quanto ao papel da Mulher no seioda Igreja?

Respeito a posição tomada pelo PapaJoão Paulo II, que a considerou umaquestão, para ele, definitivamente estu-dada. Respeito os motivos que ele adian-tou. O facto de a Igreja, durante séculose desde o seu início, ter ligado o sacerdó-cio apenas a homens, torna essa questãodo âmbito teológico. No âmbito pastoralpenso que a Igreja ainda vai caminharmuito, confiando às Mulheres trabalhosimportantes, não só no campo da cate-quização, da acção caritativa, como tam-bém no campo da liturgia e até da admi-nistração dos sacramentos. Penso que aIgreja ainda irá confiar às mulheres tare-fas que agora ainda lhe estão vedadas.

Mas essa posição não é rígida,atendendo ao papel de igualdade quea mulher tem vindo a conquistar?

Nós temos ainda uma carga muitogrande, vinda de séculos, que identificaigualdade com missão. Ora eu creio queigualdade deve ser na dignidade, no pesona construção da família e do Mundo.Mas não significa necessariamente iden-tidade de tarefas. Deixe-me dar-lhe umexemplo: às vezes um pai pega no filhobebé e não se apercebe que ele tem febre,

mas a mãe nem precisa de pegar nelepara dizer que a criança está doente, poisa mulher tem uma intuição que o homemnunca terá. Por isso, no campo da educa-ção cristã para a Fé, a mulher na Igreja édecisiva como mãe, como catequista,como líder de aprendizagem. Já vejo queo homem, pela sua constituição psicoló-gica, está muito mais dotado, e as mulhe-res pedem-lho, para enfrentar situaçõesdiscordantes. Infelizmente identificamoshomem com força e mulher com senti-mento. Está errado isso.

Contudo, nestes últimos tempos asmulheres têm vindo a conquistar lu-gares em profissões que sempre fo-ram exclusivamente masculinas. Aliás,desde há séculos que as mulheres seentregam também à Religião, ingres-sam em ordens, fazem votos… O queé que entende que as impede de pode-rem exercer o munus sacerdotal?

Olhe, quando raparigas me fazemessa pergunta, eu respondo-lhes: “Sim,tu poderás ser padre quando eu puderser madre!...”. Elas ficam irritadíssi-mas! Mas eu explico-lhes: “Aí estãoduas funções que nunca serão confundí-veis. Agora pensa o que tu, como rapa-riga, poderás fazer como Madre, que eununca poderei fazer, porque Madre éMãe. E eu garanto-te que tu gostarásque um homem se assuma sempre comoPai”. Agora a questão é que a Igrejaidentifique sacerdócio com paternidade.Então eu digo-lhes: “Pergunta a NossoSenhor Jesus Cristo e aos teólogos seisto tem mesmo de ser assim. João

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DE 29 DE NOVEMBRO A 12 DE DEZEMBRO DE 2006 EENNTTRREEVVIISSTTAA 55

l como os homens não devem ser madresPaulo II disse que sim. Se daqui a ama-nhã a igreja identificar sacerdócio commaternidade, então tu serás Madre sa-cerdotisa, mas nunca Padre”.

PAPA NÃO É CONSERVADOR

Não acha o actual Papa mais con-servador do que João Paulo II?

Não, de maneira nenhuma!…Mas é essa a imagem que ele trans-

mite…Olhe que ela está a evoluir. Repare que,

apesar do que recentemente se disse, de aMissa poder voltar ao missal anterior aoConcílio, o Papa acaba de ter um gestoque não leva a antever isso, ao nomearcomo responsável por essa área o cardealbrasileiro de São Paulo, que não defendeessa perspectiva. Também a nomeação doseu novo Secretário de Estado, mostraque o Papa quer janelas abertas. Não éque o anterior as fechasse, mas este talveztenha maior abertura. O que eu sinto é queeste Papa é antes do mais um intelectual,nesse aspecto bastante diferente de JoãoPaulo II, que também era um universitá-rio, mas um homem muito mais vivencial.Por isso, na sua maneira de intervir, estePapa pensa e repensa as coisas, e os seusgestos são a conta-gotas. No campo daabertura às mulheres, o Papa tem de termuita atenção a uma riqueza da Igreja queé a unidade. Ora, como ele é um apaixo-nado pelos caminhos ecuménicos e tenta,a todo transe, a unidade com a IgrejaOrtodoxa, o Papa encontra aí um obstácu-lo, pois para os ortodoxos a hipótese deum sacerdócio feminino seria pior do queo assalto a Constantinopla.

Mas se o Papa pensa e repensa, signi-fica que a afirmação que ele fez recente-mente sobre o islamismo, e que levan-tou esta onda mundial de protestos, foibem pensada…

Não sei. Há quem o pense… Mas euadmito que não, porque tenho verificadoque o Papa, quando está no meio univer-sitário, quase se esquece de que é Papa.Pude verificá-lo durante breves minutosno Sínodo dos Bispos, o ano passado.Durante três semanas, raro foi o dia emque o Papa não esteve no Sínodo.Habitualmente calado, sempre muitoatento aos textos e às afirmações. Mashouve um dia em que uma questão secun-dária, relacionada com a “Última Ceia,Primeira Missa ou não?”, o Papa tomou apalavra, dizendo: “Não me ouçam comoPapa, vou falar-vos como professor!”.Ora eu estou convencido de que naAlemanha, o seu País, ele preparou muitobem uma lição e fez uma citação…

O sr. Bispo conheceu-o antes de eleser Papa?

Sim, estive com ele variadíssimasvezes, e sempre de passagem. Encon-trei-me com ele quando estava com umgrupo de peregrinos portugueses na Ba-sílica de São Paulo. Reparámos num

bispo muito simpático e eu dirige-me aele, que me disse que estava ali a presi-dir a uma peregrinação de alemães e seapresentou como Ratzinger. Ora o nomedele já era então muito falado. Passadosanos, fui recebido por ele, já então Car-deal para a Congregação da Fé, sempremuito simpático, nunca inquisidor.

SACERDOTESFUNCIONÁRIOS

O sr. Bispo não receia que, com acrise de vocações a que se assiste, coma falta de padres, haja jovens que (talcomo sucede noutras áreas, como noensino), enveredem pelo sacerdócionão por convicção mas por oportunis-mo, para tentarem assegurar o futuro?

Não receio isso porque o crivo hojeestá muito mais apertado. Desde o cha-mado pré-Seminário, que é o acompa-nhamento do adolescente ou do jovemantes de ingressar no Seminário, comodepois, ao longo de pelo menos seteanos de Seminário, há um diálogo muitogrande, quer quanto à motivação querquanto às capacidades do candidato.

Por outro lado, os próprios candida-tos, se porventura se deixassem fascinarpor esse tipo de vida a que o povo chama“uma vida limpinha”, estão bem consci-encializados de outras exigências e limi-tações que de cada vez são maiores. Opovo hoje é muito mais exigente do queem tempos idos. A situação económicado padre, que é desafogada, já não écomo a do antigo prior da aldeia, que erao único senhor que tinha carro e que nãotinha que dar contas ao povo sobre osdinheiros gastos ou a hora da missa.

Hoje já não é assim. Quer a partir doseducadores, quer a partir dos próprios.há uma situação séria.

Mas para esclarecer melhor o quedisse atrás, não significa que eu tenhadesprezo por qualquer funcionário. Aminha preocupação não é tanto peloscandidatos, mas antes com o povo.Porque o povo cristão não tolera aindahoje um padre que seja meramente fun-cionário, mas no fundo é isso que porvezes está a pedir. Quando diz “Que-remos um padre, mesmo que seja casa-do, o que o povo por vezes quer é osserviços a horas – a missa todos os dias,o funeral como o povo entende. Masdepois de servido, corre-se o risco de opovo dizer: “Não gostamos destepadre”.

NÚMERO DE SEMINARISTASESTÁ A AUMENTAR

A verdade é que os seminários es-tão quase vazios…

Permita que o corrija: não têm osaltos números que tinham há 30 anos,mas estão em lento crescimento. Aliás,eu acompanhei toda a crise dos seminá-

rios em Portugal. Era responsável porum Seminário em Almada, quando eleatingiu o auge: 173 alunos. Acompanheio decréscimo até bater no número míni-mo: apenas 11 alunos. Mas ainda tive aalegria de ver crescer o número e, sobre-tudo, mudar aquilo a que podemos cha-mar a qualidade. É que os 20 que eu dei-xei quando passei essa responsabilidadea outro padre, eram rapazes amadureci-dos, alguns dos quais com a tropa jáfeita, vindos de liceus e universidades.

E no Seminário de Coimbra?No Seminário de Coimbra temos 26

– um número que não é tranquilizanteporque vêm de 5 Dioceses. Somos dosque tem menos gente em Portugal. Dequalquer modo o número está a crescer.

Mas deixe-me dizer-lhe que esta cri-se sacerdotal é tipicamente da Europa eda América do Norte, do mundo ociden-tal. Porque no mundo oriental e naAmérica Latina (com excepção do Bra-sil) está a crescer imenso.

CRISE DE VOCAÇÕES MAIORENTRE AS MULHERES

E o que se passa quanto às ordensreligiosa femininas?

Preocupa-me muito, a mim e a outrosbispos, o decréscimo das vocações fe-mininas. Paradoxalmente, em Coimbra,a congregação feminina que tem mais emelhores vocações é a das Carmelitas,provavelmente por ser a mais exigente,pela radicalidade da consagração.

Mas congregações femininas têmmuito poucas candidatas, porque au-mentou o número de congregações. Eacontece um outro fenómeno: são muitomais questionadas as raparigas na suadecisão, do que os rapazes. A um rapazque decida ingressar no Seminário,dizem “Isso é lá contigo”. Uma raparigaque diga em sua casa, ou no seu grupode amigas, que quer ser freira, é terri-velmente cercada, tentando dissuadi-la.

Voltando aos padres, o seu númeroreduzido estará a provocar que sequebre a ligação estreita que antiga-mente existia entre eles e o povo…

Temos paróquias em Portugal commenos de cem habitantes, pelo que lhenão daríamos um pároco, mesmo que otivéssemos. E entre 100 e 500 habitantes,um número incontável. Mas, de facto, háum empobrecimento de uma das maioresriquezas culturais e religiosas dePortugal, que era a familiaridade entre opastor e os paroquianos. Hoje há casosde um só padre que cuida de duas ou trêsparóquias, ou então um grupo de padresque cuida de todo um concelho (porexemplo, o de Tábua, que tem 13 paró-quias, está entregue a dois padres).Interessante é que os paroquianos per-guntam sempre: “Mas quem é o nosso?”.

Temos pedido aos padres que culti-vem os laços de proximidade e de fami-

liaridade – lá está, que sejam mais paise pastores do que funcionários.

IGREJA EM PORTUGALPOUCO AFECTADAPELA CRISE

Perante a crise generalizada que sevive e o decréscimo dos católicos pra-ticantes, qual é a situação da IgrejaCatólica?

Não temos sentido problemas, emPortugal. Primeiramente porque, graçasa Deus, os cristãos têm consciência dasua obrigação, sejam eles da cidade oude aldeia. Hoje já não há a velha côn-grua, que se pedia uma vez por ano, mashá o contributo mensal de quem, sentin-do-se “sócio do clube”, sente-se tam-bém membro de uma comunidade. Eassim contribui mensalmente, por vezessemanalmente, para a sua comunidade.

Em segundo lugar, porque continuafuncionar muito o brio “de ter bem tra-tado o nosso prior, porque gostamosdele, não o queremos perder” – o queleva muita gente a ser generosa, àsvezes até mais para o prior do que paraa igreja paroquial.

Por último, se diminuem os párocos,é maior o número de contribuintes parauma mesma caixa. Isto tem equilibradoas coisas.

Volta meia volta surgem casos depessoas que se queixam de que opároco não quis fazer o funeral de umfamiliar, o baptizado do filho, por nãose estar perante católicos praticantes.Não lhe parece que e Igreja deveriaser mais tolerante?

Tolerante a Igreja deve ser. Agora nãoconfundamos tolerância com laxismo.Efectivamente, muitos dos serviços reli-giosos que nos são pedidos, nós olha-mos para eles como actos sagrados,enquanto quem os pede por vezes vêapenas neles um gesto tradicional, decivilidade. Por exemplo, numa missa defuneral, verificamos muitas vezes queas pessoas não participam, pelo quefacilmente se conclui que não são prati-cantes, não estão ali por um acto de fé,mas apenas por um acto protocolar quea família do defunto gostou de fazer.

Outro exemplo: baptismos que nossão pedidos por famílias que não têm amínima prática cristã. E outras situa-ções: casamentos que não têm funda-mento de estabilidade…

Mas isso não é uma atitude prepo-tente e arbitrária da Igreja?

Não! Para que, por exemplo, o casa-mento seja efectivamente um sacramen-to, portanto um acto sagrado no qual opróprio Deus garante que se comprome-te, supõe-se que nós também nos com-prometemos a fazer o acto como deveser. Se eu tenho noivos que não se com-prometem a ser generosos tendo filhos,

(Continua na página seguinte)

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66 EENNTTRREEVVIISSTTAA DE 29 DE NOVEMBRO A 12 DE DEZEMBRO DE 2006

ou a serem fiéis a quem agora dizemque sim, eu duvido muito que esteja afazer um acto como Deus o quer.

Quando eu baptizo uma criança cujospais me não garantem que a vão educarcristãmente, tenho a sensação de que eupróprio estou a faltar ao respeito a umacto religioso que, por natureza, é oingresso na Igreja.

Por isso, o que eu lamento é que al-guns padres não saibam ser, delicada-mente, exigentes, e sejam, porventura,funcionários, apresentando simples-mente a regra e condenando, sem mais,a pessoa que vem pedir. O que se devefazer sempre é, com paciência e delica-deza, explicar às pessoas a exigência deuma acto sagrado.

Não lhe parece que há muitos cató-licos que encaram a confissão comouma espécie de “lavandaria das al-mas”, onde vão regularmente redi-mir-se de actos condenáveis que pra-ticam no seu quotidiano?

Admito que haja alguns que o façam.Mas eu costumo dizer que a confissãonão é limpar o pó do móvel, mas antesdar ao móvel um tónico para que elemelhore. Se só limpo o pó do móvel, elefica exactamente igual. Quando aplicoum tónico, é para melhorar, para ama-nhã ser mais forte.

O FENÓMENO DAS SEITASE A PRÁTICA CATÓLICA

As seitas proliferam em Portugal epor esse mundo fora. Não terá isso aver com o facto de a Igreja Católicase não ter actualizado, a ida à missaser encarada como um ritual desacrifício, enquanto as sessões das sei-tas são uma festa (embora quase sem-pre com um ingresso bem caro…), deonde as pessoas saem mais alegres?

Estou de acordo. O fenómeno de mi-gração de católicos para as seitas (quefelizmente em Portugal não é tão acen-tuado como no Brasil e outros países),tem várias causas, algumas situadas naigreja de onde saem, outras nas seitaspara onde vão. Mas, de facto, tenho dereconhecer que a Igreja Católica, sobre-tudo nos países onde é tradicionalmentemaioritária, tornou-se pesada. Há umrito que para ser universal está muitomarcado, as missas têm de ser iguais,porque o país era tradicionalmente fielnão houve desenvolvimento e criativi-dade litúrgica, fazem-se as coisas hojecomo se faziam há cem anos. Outro fac-tor é que, com a idade, as pessoas con-tinuam como anónimas. Entram namissa e saem da missa sem ninguémlhes dizer “Olá! Como é que se chama?Como está?”. Por outro lado, as seitassão mais flexíveis, as pessoas sentem-semais acarinhadas. E também não possonegar que há um factor que consideropositivo, mas que nos está a levar muitagente. Na Igreja Católica temo-nos pre-

ocupado pouco com a formação, a co-meçar pela instrução religiosa. Na seita,com meia dúzia de verdades o crenteconsidera-se esclarecido.

A OPULÊNCIA DE FÁTIMA

Pregando a Igreja Católica a fruga-lidade, a temperança, a modéstia, co-mo se compreende que esteja a erigirem Fátima uma basílica “faraónica?

Uma das condicionantes que a Igrejatem é o respeito pela vontade dos doa-dores. Poderá dizer-me: “Mas os bispostêm a liberdade de a alterar”. Ora procu-ramos não o fazer. Portanto, compreen-do que haja muita gente que em Fátimadá boas ofertas com a condição deserem gastas em Fátima, porque seforem, por exemplo, para a Universi-dade Católica, já não dão. Nós respeita-mos isso, de maneira que os dinheirosque são para sustentação do clero, opovo ainda hoje faz uma diferençaenorme. Por exemplo, se der o dinheiropara Santo António, ele não pode serutilizado na festa de Nossa Senhora deFátima. Daí que, na mentalidade portu-guesa, há determinados sectores quepara nós são fundamentais, mas que nopensar do povo não têm grande peso.Um deles é a comunicação social. Nós

temos o termómetro nos chamadosofertórios nacionais, um dos quais, emMaio, é sempre para a comunicaçãosocial da Igreja. O resultado é mínimo!Em contrapartida, em tudo o que é sen-timento, o povo é generoso: os seminá-rios, porque lhes dão padres, asMissões, porque “coitadinhos dos preti-nhos”. Se pedir dinheiro ao povo paraconstruir a sua igreja ou capelinha, estápaga a construção, porque aí entra obrio local.

VALORIZAÇÃODO PATRIMÓNIO DA IGREJA

Entre outras responsabilidades, osr. D. Albino Cleto é responsável pelopatrimónio artístico da Igreja…

Não! Sou coordenador de acções devalorização do património, porque cadadiocese é absolutamente autónomaquanto ao seu património, tal comocada paróquia o é. A minha intervençãoé a de coordenar esse trabalho nas vári-as dioceses. Em muitas dioceses oinventário está feito, em outras está emcurso. E já mesmo informatizado.

Por outro lado, às vezes há umaexposição, até no estrangeiro, que pedealgumas peças para uma exposição –

como ainda há pouco sucedeu comCiudad Rodrigo, em Espanha, sendochamado a pronunciar-me. Promovercursos, dialogar com a senhora Ministrada Cultura, conversar com a PolíciaJudiciária sobre a segurança das igrejase dos seus conteúdos – eis algumas dasminhas tarefas.

POSIÇÃO SOBRE O ABORTO

Outro tema incontornável, pelasua actualidade, é o do aborto. Qual éa posição do sr. D. Albino Cleto?

Fiel à vida! Portanto, não concordocom a facilitação que a lei prevê, pelasrazões que a Conferência Episcopal temaduzido, e que são, fundamentalmente,o princípio da dignidade do embriãocomo vida humana. O conceito de pes-soa é discutível, porque entra na áreajurídica, mas eu entendo que não podedepender de qualquer conceito jurídicode pessoa o respeito que eu tenho obri-gação de ter por uma vida em embrião.Aquilo que tem sido publicado pelaConferência Episcopal, eu partilhointeiramente. Acrescento apenas umacoisa: faço isto não como um jogo quevamos ter para ver quem ganha, mascomo um serviço à vida em toda a suaamplitude. O que significa que, depoisdo referendo, seja o resultado qual for,eu sei que, como bispo, vou continuarcom esta luta, que vai ser uma luta dedécadas. Porque sinto, muito sincera-mente, a vida ferida e ameaçada.

PRINCIPAL PREOCUPAÇÃOÉ MANTER A IGREJA VIVA

Qual é a sua maior preocupaçãocomo Bispo de Coimbra?

É uma preocupação que tenho parti-lhado com padres e leigos, e que é esta:construir, para que a Igreja, no futuropróximo, se mantenha viva e nãodependa das estruturas que estão a desa-parecer. Daí a necessidade de formaçãona Fé, nomeadamente dos leigos. Porisso temos uma escola de leigos e cur-sos destinados a aprofundar a mensa-gem cristã.

Por outro lado, preocupa-me a prepa-ração de muitos desses leigos para cola-borarem com os respectivos párocos narealização de tarefas de várias ordem:da administração e também da celebra-ção da fé, sendo eles próprios a presidira momentos de oração e a realizar actossagrados, como presidir a funerais, pre-parar baptismo e casamentos, celebrar odomingo quando não é possível o padreestar presente.

E aqui já as mulheres têm tambémum importante papel. Aliás, enquantoos homens serão melhores na parteadministrativa, para orientar obras, naparte da educação das crianças e jovensacho as mulheres com prioridade, poistêm muito melhores qualidades paraesse efeito.

(Continuado da página anterior)

Bispo de Coimbra em entrevista ao “Centro”

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OOPPIINNIIÃÃOO 77DE 29 DE NOVEMBRO A 12 DE DEZEMBRO DE 2006

CÓDIGO DE SILÊNCIO(…) Na tropa como na bola e no seminário,

enfim em sítios onde os homens tinhamumas certas cumplicidades e davam asvidas uns pelos outros, estabelecia-se umcódigo de silêncio em que nenhum bufa-va o companheiro, amigo camarada epalhaço.

Até na mafia ou no supremo havia, ehá ah!, um código de honra em quebufar era pior do que trair. Assim sefizeram grandes scorceses, puzzos e tí-tulos nacionais mais de metade do jazz,do rock e da construção civil se erigiu àvolta de princípios tão firmes como osde um aperto de mão. Qualquer gajaminimamente inteligente, e olhem queelas não nos ficam atrás por gosto, co-nhece o valor do silêncio, em cadaamante, em cada esquina.

Quando a diáspora inclemente nosobrigou a emigrar, porque éramos po-bres, desditosos ou politicamente incor-rectos, houve os que fizeram pela vida,nos seus desgraçados factos caros pormedida, nos seus poemas estrangeira-dos por encomenda, nos seus tiquespolitiqueiros de serviço, nas nossasprostituições travestidas de charmes evícios. (…)

u Rui ReininhoJN 25/11/06

UMA TV ANACRÓNICAOs rumores sobre o conteúdo do

anteprojecto de proposta de Lei da Te-levisão, que já tem a bênção do PSD,não auguram nada de bom. Parece umamaldição dos governos socialistas queao longo destes anos de Democraciadificilmente conseguiram acertar opasso com as experiências comunica-cionais mais bem sucedidas na Europa enos EUA.

O PS resistiu até ao limite ao apareci-mento de novas estações de rádio equando a situação se tornou insustentá-vel lá aceitou a criação de rádios locais,sem a dimensão necessária para servi-rem com qualidade os seus públicos.

O PS evitou até onde pôde a quebrado monopólio do Estado na televisão ea abertura de novas estações de televi-são no País. O PS foi ‘pivô’ de quasetodas as estratégias de ‘regulamenta-ção’ de conteúdos nos meios de Co-municação Social e de tentativas decontrolo, sob as capas mais diversas,dos órgãos do Estado. O passado do PSna área da Comunicação Social não érecomendável.

É um facto que ninguém tem as mãoslimpas nem está em condições de atirara primeira pedra... mas o PS estevesempre acantonado em modelos anacró-nicos. Sócrates, que representa o PSmodernizado a lutar por um país de pro-gresso, é também uma esperança demudança e revitalização do sector co-municacional. Mas os rumores... sãomau presságio. Obrigar os operadoresde televisão a manter as grelhas de pro-gramação a 48 horas da sua emissão éum absurdo, um anacronismo e umatentado aos interesses dos espectado-res, ainda que tudo apareça sob o res-guardo do argumento esfarrapado deque “é preciso avisar o público das alte-rações da programação com 48 horas deantecedência”. (…)

u Emídio RangelCM 25/11/06

O FARDO DAS FARDAS(…) Não vale a pena discutir mais

sobre se foi “passeio” de amigos e ca-maradas, ou “manifestação ilegal”.

Não vale a pena zangarmo-nos maiscom a questão de confundir as fardas(símbolo da especificidade militar) comas reivindicações (sinal daquilo que, nodomínio militar, se aproxima da esferacivil, da segurança social às retribuições).

Não vale sequer a pena olhar paratrás.

O que importa é ver, com muita cla-reza e realismo, o que poderão ser asnossas forças armadas, num país semguerras, sem meios, com ameaças nãoconvencionais e prioridades de desen-volvimento civil, que não passam pelacompra de equipamento bélico.

Cada governo fica, nesta área, prisio-neiro de opções que foram tomadas aprazo, por outros, e que originam laçosnem sempre desejados, mas que devemser cumpridos.

Cada governo que se constituiu de-pois das guerras de África, sabe que pre-cisa de reformar o sistema de forças, asua doutrina e as suas armas, mas tam-bém conhece a necessidade de, nummeio que necessita de tranquilidade, nãocriar revoluções, quebras bruscas, ouprojectos que seriam óptimos, em teoria,mas difíceis de aplicar, na prática.

Não é diferente com a actual equipa.(…)

u Nuno RogeiroJN 24/11/06

A IGNÓBIL GUERRAPREVENTIVA

A noção de guerra preventiva, desen-volvida pela Administração Norte--Americana para justificar a invasão doIraque. teve a anuência dos países quese reuniram nos Açores para apoiar ejustificar essa decisão.

(…)Em Junho do ano corrente a revista

Science revelava que há uma lista deinvestigadores universitários iraquianoscondenados a serem clandestinamenteexecutados pela circunstância de seremiraquianos e universitários.

Estas execuções inscrevem-se no

propósito de eliminar alunos e docentesdo ensino superior iraquianos de formaa impedir o desenvolvimento daquelepovo e impor o predomínio da indústriamilitar sem qualquer oposição ou obstá-culo mobilizador da opinião pública nadefesa da paz e que justifica os assassi-natos dos universitários como forma deos intimidar perante tal postura.

(…) Esta denúncia foi negada poralguns dos órgãos de comunicação so-cial do mundo ocidental. Contudo, em23 de Maio do presente ano, o ProfessorJasim Fiadh al-Shammari do Departa-mento de Psicologia da Faculdade deLetras da Universidade Al- Mustansi-riya, em Bagdad foi assassinado na pro-ximidade do campus universitário, semdesencadear uma pesquisa policial sis-tematizada.

(…) A guerra preventiva é uma dasmais ignóbeis formas de guerra.

u Nuno Grande(médico e professor universitário)

JN 23/11/06

MORTE NAS ESTRADAS(…) Ao longo do séc. XX as estradas

europeias fizeram mais de vinte e cincomilhões de mortos. Uma verdadeira car-nificina para a qual Portugal contribuiugenerosamente.

E se é verdade que a sinistralidadetem muitas causas, não duvido que, noconjunto, reproduzem práticas e atitu-des que dizem muito sobre a nossa cul-tura cívica, o exercício dos nossos direi-tos de cidadania e sobre a nossa relaçãocom os outros. Não é por acaso que asinistralidade rodoviária acompanha deperto o desenvolvimento social e cultu-ral de cada país.

Por tudo isto, julgo que a redução damorte na estrada não é vitória de umgoverno, de uma polícia, de uma insti-tuição. Mas uma vitória de todos. Depais, de professores, dos vários agentesculturais e formadores. E também doGoverno e das Polícias.

Talvez nunca houvesse uma guerraonde fosse tão necessária a participaçãode todos. E deve ser a única que nãotem oposição interna. A não ser nós pró-prios, enquanto condutores. A começarlogo na atitude perante as histórias trá-gicas que se contam. É sempre a irres-ponsabilidade dos outros, a inconsciên-cia dos outros, a bebedeira dos outros.Se conseguirmos dar um passo em fren-te e percebermos de forma definitivaque não são os outros, mas somos nós, acoisa muda de figura.

Ganharemos a consciência que nesteesforço não existem inocentes e nãoentregaremos aos outros a nossa própriaresponsabilidade na prevenção e con-trolo dos nossos quotidianos para que aestrada não seja o primeiro passo para abrutalidade e o sofrimento.

Na luta contra a sinistralidade rodovi-ária não há inocentes. Vamos ser todos,mas todos, a responder moral e civica-mente se para o próximo ano o númerode mortos voltar a ultrapassar o milhar.

u Francisco Moita FloresCM 20/11/06

O INFERIOR ENSINO SUPERIOR(…) As escassas informações ontem

tornadas públicas sobre os resultados daavaliação realizada pela ENQA (siglaque dá por identificada, a Rede Europeiapara a Garantia da Qualidade no EnsinoSuperior) despertam-me imensa curiosi-dade para ler o documento integral. Nãoposso crer que a síntese das conclusõesdivulgadas corresponda à substância dotrabalho levado a cabo pelos peritosinternacionais. A serem apenas estas,estaríamos mais uma vez, sob o mantodaquele adágio que parece ser um cartãode certificado que tanto reconforta osportugueses “o que é internacional, ébom”. Exactamente, o contrário do slo-gan que os produtores industriais ecomerciais portugueses fazem defesa dehonra:”o que é português, é bom”.

Tudo somado, a grande conclusão é es-ta Dez anos de avaliação nacional dasdiferentes unidades de ensino superior ede centenas de cursos realizadas pelasdiversas CAEs (Comissões de AvaliaçãoExterna), nomeadas pela CNAVES – oConselho Nacional de Avaliação doEnsino Superior, pouco ou nada acrescen-taram à qualidade do ensino. Mas serianecessário uma comissão internacional deperitos para chegar a esta conclusão?

Sem discutir o conteúdo de muitos dosmil e quinhentos relatórios de avaliação so-bre outros tantos cursos de instituições pú-blicas e privadas, não bastaria uma súmulade alguns, para extrair essa conclusão?

Nesse espaço de dez anos há cursosque foram repetidamente avaliados.Algumas comissões deixavam de formabem patente a fraca evolução entre a pri-meira e segunda avaliação. E, sobretudo,registavam, por outras palavras, “a passi-vidade dos vários governos” na avalia-ção que ao ministério da tutela teria decompetir quanto à tomada de medidas eexigência pelo seu cumprimento. Váriosaspectos não eram competência dasCAEs, mas de equipas de fiscalização,porventura, nunca accionadas. Por outrolado, sempre os vários governos se recu-saram a aplicar as sanções que obvia-mente deveriam ser executadas. (…)

u Paquete de Oliveira(sociólogo e professor universitário)

JN 23/11/06

COISAS FIXES(…) Estavas numa manifestação de

estudantes e nos ombros de uns amigos,segurando um cartaz que dizia: “Queremostipo coisas fixes.” Quero dizer-te, miúdocom ar esperto, que é a coisa mais inteli-gente (aliás, a única) que veio dessas mani-festações. Espero que sigas por aí: quequeiras trabalhar muito e bem, a coisa fixeque mais tipo de coisas fixes te pode trazer.

Espero que continues na onda do“queremos”, no sentido mais fixe quetem: as coisas chegam-nos porque“queremos” fazê-las, nunca nos são da-das. De ti só me desagradou que esti-vesses aos ombros de colegas. Permite-me um conselho: vai sempre por teu pé.Se for preciso, manifesta-te por isso.

u Ferreira FernandesCM 24/11/06

itações

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88 LLIIVVRROOSS DE 29 DE NOVEMBRO A 12 DE DEZEMBRO DE 2006

NUM PAÍS COM POUCOS LEITORES SAEM 14 MIL TÍTULOS POR ANO

Editam-se em Portugalmais de mil títulos por mês

A falta de estatísticas sobre o merca-do livreiro português é um dos proble-mas que os editores enfrentam actual-mente, afirmou à agência Lusa MárioMoura, presidente do segundo Con-gresso de Editores que decorreu há diasem Lisboa.

Mário Moura referiu que se está a edi-tar em Portugal sem haver qualquer dadoestatístico credível sobre o mercado.

“Há oito anos que não temos dadosestatísticos sobre o sector.

Baseamo-nos apenas em palpites econversas”, lamentou Mário Moura,também editor da Pergaminho.

O presidente da União de EditoresPortugueses (UEP), Carlos da VeigaFerreira, também referiu à agência Lusao mesmo problema: “Há falta de estatís-ticas em Portugal que nos permitam tra-balhar”.

Referindo que se editam em médiacerca de 14 mil novos títulos por ano – oque dá mais de mil livros por mês –, oresponsável da UEP afirmou que essesdados estatísticos permitiriam conhecer,por exemplo, “o estado da concorrência”.

“A falta de informação é tão graveque corremos o risco de um editor

publicar um livro que já saiu há cincoanos”, constatou Carlos Ferreira, subli-nhando que actualmente os editoresfuncionam “de forma impressionista”.

“É preciso ter uma ideia precisa dosector para se saber o que se vai editar”,rematou.

O presidente da UEP recordou aindaque a ministra da Cultura, Isabel Piresde Lima, já assumiu publicamente ocompromisso de reunir dados sobre osector, numa parceria com o INE, aUEP, a Associação Portuguesa de Edi-tores e Livreiros (APEL) e o InstitutoPortuguês do Livro e das Bibliotecas(IPLB).

A falta de formação dos livreiros, aausência de apoios do Governo, aausência de espaço nas livrarias queresponda à quantidade de novos livrosque são editados, assim como a questãoda lei do preço fixo, que já tem dezanos, foram outros problemas aponta-dos pelos dois responsáveis.

O segundo Congresso de Editores,que decorreu na Fundação CalousteGulbenkian, foi dedicado ao “livro e ofuturo”, e contou com a participação decerca de 70 editores portugueses.

Poemas de autores portugueses fo-ram publicados numa antologia multi-lingue agora editada na Galiza e quecontempla as cinco línguas e tradiçõespoéticas ibéricas, a par da poesia criadana América latina em castelhano e emportuguês.

A obra, intitulada “El otro mediosiglo (1950-2000). Antologia incomple-ta de poesia iberoamericana”, tem chan-cela da editora galega Espiral Maior efoi apresentada na passada semana emSantiago de Compostela.

Trata-se de uma iniciativa da Asso-ciación de Amigos da UniversidadeLibre Iberoamericana na Galiza (AULI-GA) inserida no âmbito do VII Semi-nário de Tradução e Poética que decor-reu em Rianxo (Corunha).

Os autores portugueses selecciona-dos para a obra foram Carlos de Oli-veira, Eugénio de Andrade, Mário Ce-sariny, António Ramos Rosa, AlexandreO’Neill, David Mourão-Ferreira, Fer-nando Guimarães, Ana Hatherly, Fer-nando Echevarría, Herberto Hélder,Albano Martins, António Osório, RuyBelo, Pedro Tamen, Casimiro de Brito,

Fiama Hasse Pais Brandão e Nuno Jú-dice.

Miguel Anxo Fernán-Vello, directorda editora, destacou na cerimónia deapresentação o facto de ser esta “a pri-meira vez que se publica uma antologiamultilingue com as cinco línguas ibéri-cas em pé de igualdade com o castelha-no e o português-brasileiro” da AméricaLatina.

A antologia, assinalou, reproduz “umpanorama simultaneamente completo eincompleto”, com a novidade de “repre-sentar todos os territórios de poéticas ibé-ricas – o basco, o catalão, o galego, o por-tuguês e o castelhano –, conjuntamentecom os poetas ibero-americanos de ex-pressão portuguesa e castelhana” de paí-ses como a Argentina, Cuba, Venezuela,Uruguai, Colômbia, México, Nicarágua,Chile, Honduras, Costa Rica e Equador.

É uma publicação “rica, não apenasna quantidade de poemas e textos deexpressão poética que incorpora, mastambém pelos ensaios e estudos que osacompanham”, realçou.

Por seu lado, o presidente da AULI-GA e director do VII Seminário In-

ternacional de Tradução e Poética,Antonio Dominguez Rey, referiu que aobra tem “mais de 500 páginas nascinco línguas iberoamericanas”, sendo46 os autores galegos, portugueses ebrasileiros antologiados.

Justificando o título da antologia,explicou que os autores da primeirametade do século XX “são mais conhe-cidos” e entre 1950 e 2000 há muitosque “merecem sê-lo”.

Entre os poetas brasileiros seleccio-nados figuram Affonso Ávila, FerreiraGullar, Augusto de Campos, AdéliaPrado, Wally Salomão, António Cíceroe Alexei Bueno.

Autores de língua castelhana antolo-giados foram, de Espanha, José ÁngelValente, Cláudio Rodriguez e ArturoMaccanti, e, da América Latina, JuanGelman, Olga Orozco e Roberto Juar-roz, entre muitos outros.

Da língua catalã, dois dos representa-dos são Josep M. Llompart e Pere Gim-ferrer, do basco Juan Maria Lekuona eKoldo Aguirre e do galego Manuel Ma-ria, Uxío Novoneira e Xosé Luís Mén-dez Ferrin.

ACABA DE SER LANÇA NA GALIZA

Autores portugueses em antologia multilingue“Oficina do Livro”muda de donos

A editora Oficina dos Livros, que temum volume de negócios de 10 milhõesde euros, acaba de ver adquiridos 75por cento do seu capital pela empresaportuguesa Explorer Investments.

Em comunicado, a editora e distribu-idora anunciou que a Explorer Invest-ments, uma sociedade gestora de fun-dos, adquiriu 75 por cento do capital,ficando os restantes 25 por cento nasmãos de António Lobato Faria, quemantém a direcção da Oficina do Livro.

A Oficina do Livro, responsável pelaschancelas Casa das Letras, Oficina doLivro e Estrela Polar, edita autores comoMiguel Sousa Tavares, Margarida RebeloPinto, Gunter Grass e Herman Hesse.

Além de deter agora a maioria docapital da editora, a Explorer Invest-ments adquiriu participações em dife-rentes sectores, como a Alfasom, naárea de comunicação audiovisual, e arede de ginásios Holmes Place.

Os novos accionistas, em parceriacom a actual gestão, “apostam no surgi-mento de novas oportunidades de negó-cio num sector em crescimento e trans-formação”, refere ainda o comunicado.

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LLIIVVRROOSS 99DE 29 DE NOVEMBRO A 12 DE DEZEMBRO DE 2006

Longe vai o tempo em queas livrarias eram um local de meraaquisição de livros. O habitualconceito de livraria tem vindoa modificar-se gradualmente,fruto da emergência de uma novatendência, onde as livrariasse alargam para dar origema espaços mais agradáveis,lúdicos e pedagógicos.O cliente-leitor tem, assim,a oportunidade não sóde comprar uma obra,mas também de a desfolharcalmamente no local de venda,e de participar noutras actividadesde âmbito cultural nele promovidas.Coimbra viu nascer, num curtoespaço de tempo, vários espaçoscomo estes, de grandes dimensões,onde se alia o prazer de tomarum café ao de ler um livro.A iniciativa, porém, parecenão ser nova nem ser exclusivadas grandes superfícies livreiras.

Flávia Diniz

Ler um livro num café ou tomar cafénuma livraria? Eis um dilema com quequalquer amante das letras certamentejá se confrontou. Isto, porque, hoje emdia, já existem livrarias com cafetaria,um espaço onde as pessoas podem sen-tar-se e tomar um café, ao mesmotempo que se colocam a par da actuali-

dade, lêem a contracapa de um livro oumesmo o seu interior.

É o caso, por exemplo, da LivrariaAlmedina, no Estádio Cidade de Coim-bra, da FNAC (Fórum Coimbra) ou daBertrand (Dolce Vita). O objectivo é“fugir ao conceito tradicional de livraria”e “criar um espaço onde as pessoas sesintam bem”, como nos afirma EvaMoutinho, gerente da Almedina. Paraela, “a cafetaria é mais um motivo paraas pessoas virem à loja” e é também“uma forma de as cativar”. “Tanto acon-tece as pessoas virem tomar um café aca-bando por levar um livro, como o contrá-rio, virem comprar um livro e aproveita-rem para tomar um café”, continua. Notopo das vendas estão, no entanto, oslivros, como nos garante André Serrão,funcionário da loja, ou não fosse aAlmedina uma livraria por excelência.

Além da cafetaria, a Almedina dispõede um auditório onde se realizam apre-sentações de obras, exposições de pin-tura, ciclos de conferências ou eventospara crianças. A título de exemplo, osmuseus foram tema de discussão nesteespaço até bem pouco tempo e agorafala-se sobre arquitectura. De recordartambém o forte pilar jurídico sobre oqual sempre assentou esta livraria, e aoqual dedica um espaço considerável.Procura-se, desta forma, abordar diver-sos tipos de públicos, não subestiman-do, no entanto, o atendimento persona-lizado, como ressalva a gerente.

São espaços inovadores que exploramas várias vertentes da cultura, atraindo as

pessoas pela oferta variada, mas tambémpelos momentos de conforto, pausa edescontracção que proporcionam. Aliás,poder-se-á afirmar que o novo conceitode livraria surge precisamente neste con-texto, ou seja, da necessidade de evasãoao stress quotidiano e de aliciar as pesso-as para a leitura, numa era em que a ima-gem e a televisão predominam.

Tânia, 23 anos, conhece a Almedinado Estádio Cidade de Coimbra há poucotempo e já o considera muito bom. “Éfantástico”, exclama, acrescentando quetenciona voltar “para ler e tomar café”.Como estudante de Arquitectura, mos-tra-se impressionada com o aproveita-mento do espaço. Por sua vez, AndréSerrão, funcionário da loja, parece serda mesma opinião, quando afirma, satis-feito, que gosta de ali trabalhar e que “amodernização é um estímulo”.

Mas toda esta dinâmica cultural não éapenas privilégio das novas livrarias,que se enquadram no conceito de “gran-de dimensão”. Existem livrarias, comoa Minerva Coimbra, situada na Rua deMacau (Bairro de Norton de Matos),que, num espaço bem mais reduzido,conseguem ser tão polivalentes e dili-gentes quanto as outras.

TAMBÉM AS LIVRARIAS NÃOSE MEDEM PELO TAMANHO

Em algumas livrarias mais tradicio-nais, que gozam de uma área menor,existe também lugar para a criatividadee a proactividade. Foi na Minerva Coim-

bra que surgiu a ideia de oferecer caféaos clientes – de notar que o café, aqui,é mesmo gratuito –, convidando-os asentarem-se e, confortavelmente, con-sultarem obras do seu interesse. Foitambém esta a primeira livraria de Coim-bra a começar com tertúlias. Romance,poesia, ficção, ciências sociais e huma-nas, arte e temas da actualidade são dis-cutidos regularmente desde há cincoanos. Além disto, fazem-se sessões deleitura pedagógicas com as Escolas(existe, inclusive, na livraria, um espaçoinfantil para as crianças), lançamentosde livros, palestras e conferências, ondese debatem temas que “são preocupaçãoda cidade”, como refere Isabel Garcia,gestora da livraria. “Interessa-nos que acidade venha até nós”, continua, “por-que é com as pessoas que uma livrariase mantém viva”.

Há também que “manter viva a cultu-ra, partilhar experiências e conhecimen-tos”, conclui. E porque o leque de alter-nativas culturais da livraria é vasto,importa ainda fazer referência às ses-sões de música ao vivo e às exposiçõesde pintura e escultura.

Relativamente à recente abertura denovas livrarias de grandes dimensõesem Coimbra, Isabel Garcia consideraque é uma mais-valia para todos: “Acidade só tem a ganhar com isso”, afir-ma, acrescentando que ninguém fica aperder porque “como editores, tambémpodemos pôr lá os nossos livros” e“todos temos os nossos públicos e fre-quentadores habituais”.

Remonta a 1970 a presença da Li-vraria Bertrand em Coimbra, contando,actualmente, com cerca de 30 colabora-dores nas suas quatro livrarias. EmOutubro desse ano, esta centenária redelivreira inaugura a sua primeira livrarianesta cidade, num dos seus locais deeleição: o Largo da Portagem.

No entanto, com o surgimento naurbe conimbricense das grandes su-perfícies, facultando a criação decentros comerciais capazes de gerargrandes fluxos de público, dá-se umaforte aposta, como forma de acompa-nhamento do desenvolvimento dascidades onde se encontra, com aabertura, no final da década de 90, daloja situada no CoimbraShopping.

Na sequência desta sua políticacomercial, recentemente, em 2005 e2006, reforçou a sua presença e visi-bilidade em Coimbra, investindo no

Dolce Vita e no Forum Coimbra. Háa assinalar o facto da loja localizadano centro comercial Dolce Vita tra-zer para esta cidade um conceito di-ferente: a Mega Store, onde, paraalém do comércio livreiro, recuperaa tradição das tertúlias, onde nomescomo Alexandre Herculano ou Eçade Queirós outrora pontificaram,com a existência de um café, assimcomo de um auditório.

Sob o lema “desde 1732 que oconvidamos a ler”, a Livraria Ber-trand é uma das principais referên-cias em redes livreiras cuja históriase confunde com a das próprias livra-rias em Portugal.

Para a Livraria Bertrand, Coimbraé uma cidade e região de enorme im-portância e, por esse facto, onde pre-tende cimentar a sua presença e re-forçar a sua imagem.

LIVRARIAS CADA VEZ MAIS AMPLAS E DINÂMICAS

Coimbra convida à leitura

PRESENTE EM COIMBRA DESDE 1970

Livraria BertrandUm manual académico sobre progra-

mação de robôs industriais, da autoria dodocente de Coimbra Norberto Pires, cominúmeras aplicações na indústria e outrasainda em fase laboratorial, é apresentadodepois de amanhã (dia 1 Dezembro), naUniversidade de Estugarda (Alemanha).

O autor é o responsável pelo Laborató-rio de Robótica Industrial do Departa-mento de Engenharia Mecânica da Univer-sidade de Coimbra, e a obra (escrita eminglês), intitula-se “Industrial Robots Pro-gramming – Building Applications for theFactories of the Future” (Programação deRobôs Industriais – Construir Aplicaçõespar a as Fábricas do Futuro). Já à venda,desde Outubro, na América e em algunspaíses da Europa, onde foi publicado pelaeditora internacional de obras científicasSpringer, o livro foi lançado na passada se-mana em Coimbra, na Livraria Almedina-Estádio.

“É um livro de ponta, de um cientistaque trabalha com a indústria”, disse à

agência Lusa o físico Carlos Fiolhais, queinterveio na sessão de lançamento emCoimbra, a par com o Autor e Joana Teles(Matemática), Luís Menezes (vice-presi-dente do Conselho Científico da Facul-dade de Ciências e Tecnologia (FCTUC),e Fernando Guerra (Pró-Reitor da UC).

O professor da FCTUC apresenta tam-bém, entre outros, sistemas de controlo derobôs pela voz ou através de um PDA oude canetas digitais, que ainda se encon-tram em fase laboratorial.

“Os exemplos estão todos documenta-dos. O livro encontra-se associado a umsítio na web com o software que usamos eque pode ser descarregado”, disse ainda oengenheiro físico, ao frisar que a obra “éutilizável em qualquer parte do mundo evai manter-se actualizada”.

Segundo Carlos Fiolhais – galardoadorecentemente com o Prémio Rómulo deCarvalho, instituído este ano pela Uni-versidade de Évora – o livro “tem interes-se e amplitude e público internacional”.

AUTOR É PROFESSOR DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA

Livro sobre robôs industriais lançadonos Estados Unidos e na Europa

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O escritor português António LoboAntunes confessou, na passada sexta-feira, que nunca fez um livro sobre aguerra que viveu de perto em Angola,vivência que o marcou para sempre masde que é incapaz de falar.

“O mais importante da guerra paramim, e para além de continuar com osmeus mortos no meu sangue (…) foi adescoberta da camaradagem”, confes-sou, numa conferência de imprensa oescritor que está a participar, com out-

ros 350, na feira Internacional do Livrode Guadalajara (FIL), no México.

“Eu todos os meses almoço com osoficiais da companhia. Somos poucos,quatro, e nunca falamos da guerra.Falamos de outras coisas mas nãodisso”, assinalou Lobo Antunes.

“Ainda hoje, quando estou com eles -os soldados, os oficiais, os sargentos -existe entre nós uma ligação tão forteque nada pode destruir. Não é amizade,não é amor, é uma coisa muito mais

forte porque vivemos juntos os momen-tos mais horríveis das nossas vidas. Istodeu-nos uma ligação muito forte”, asse-gurou o escritor.

Lobo Antunes estudou Medicina epor tradição familiar optou pela Psi-quiatria, profissão que compatibilizoucom a escrita. Em Fevereiro de 1961,começou a guerra da independência deAngola e o escritor foi chamado para oExército português como médico decampanha. Naquela guerra, ficou feridocom gravidade e regressou a Lisboa.

Já curado dedicou-se à Psiquiatria,profissão que só durante uma curta eta-pa da sua vida considerou interessante eque abandonou em 1986 para dedicar-seplenamente à Literatura.

“A primeira vez que entrei num hospi-tal psiquiátrico tinha a impressão de estarnum filme de Fellini e na casa da minhaavó”, declarou o escritor português.

Sobre a guerra assinalou que “não háninguém que tenha passado por uma eque volte igual. (É) o absurdo, a injusti-ça, ninguém ganha a guerra, todos per-dem, todos”. Considera que dos conflitosbélicos “é impossível falar devido à cru-eza das experiências que neles se vive”.

“Jamais fiz um livro sobre a guerra.Poderia fazer-se um ensaio, um docu-mento mas, por respeito para com os

mortos, penso que não tenho esse direi-to. Mas, evidentemente, que isso mudoumuito em mim”, acrescentou.

Assinala que tem prazer na leitura,não acontecendo o mesmo com a escri-ta, a actividade pela qual foi reconheci-do internacionalmente.

“A primeira parte dos livros é muitodifícil e nunca se está seguro do que seestá a fazer. Fica-se cheio de dúvidas.Ficaria encantado de estar cheio deluminosas certezas mas não o estou. Es-tou cheio de dúvidas”, assegura.

“Creio que a única coisa que aprendicom os anos é que tudo o que a vida tedá é um certo conhecimento dela, quechega sempre demasiado tarde. E escre-ver e viver necessita de toda uma vidapara aprendê-lo. Eu ainda estou a apren-der uma coisa e outra”, acrescenta.

A sua trajectória literária foi reconheci-da com numerosas distinções como osprémios Rosália de Castro, concedido em1998 pelo Círculo de Escritores Pen Clubda Galiza, o Grande Prémio de Romanceoutorgado em Junho de 2000 pela As-sociação Portuguesa de Escritores pela“Exortação aos Crocodilos” e Prémio deLiteratura Europeia do Estado Austríaco2000. Os seus romances foram traduzi-dos para numerosos idiomas, inclusiveo coreano.

1100 LLIIVVRROOSS DE 29 DE NOVEMBRO A 12 DE DEZEMBRO DE 2006

Manuel dos Santos acaba de lançar oseu primeiro livro de poesias, intitulado“Algumas coisas com importância”, eeditado pela MinervaCoimbra.

A apresentação, que decorreu noanfiteatro da Escola Superior Agrária deCoimbra, esteve a cargo de AlfredoMaia, Presidente do Sindicato dosJornalistas, que aludiu à obra no sse-guintes termos:

“Este «Algumas coisas com impor-tância» interpela-nos acerca do modocomo cada um de nós rege os seus diasnessa marcha do tempo – incessante,complexa, armadilhada com contradi-ções, animada por avanços e conquistase angustiada por retrocessos”.

De acordo com Alfredo Maia, Ma-nuel dos Santos faz do seu livro “ummanifesto de exortação e de resistên-cia”, levando os leitores ao ‘questiona-mento’ e ao “combate, aqui e ali polvi-lhado com estrofes de esperança e deamizade”, sempre “animado pela con-vicção de que cada um de nós tem odever irrenunciável de sonhar, de pro-por, de agir, de resistir”.

A escrita de Manuel dos Santos suge-re, segundo Alfredo Maia, uma “rotura

deliberada com certos modos de pensare de fazer poesia”, na qual o poeta mer-gulha, lançando mão de metáforas erepudiando “a inutilidade ofensiva dapalavra que não germina, que não pro-duz, que não transforma, mas que ludi-bria, que atraiçoa”.

Manuel Ferreira dos Santos nasceuem Coimbra em 1950 e reside em Eira

Pedrinha, Condeixa-a-Nova. Possui ocurso de Regente Agrícola pela EscolaAgrícola de Coimbra e a licenciaturaem Biologia pela Universidade deCoimbra. Foi técnico do Ministérioda Agricultura até 1989 e, desdeentão, tem sido responsável peloInstituto da Conservação da Natu-reza na região Centro.

Lançado primeiro livro de poesiade Manuel dos Santos

CONFESSA O ESCRITOR NO MÉXICO

Lobo Antunes incapaz de falar da guerra de Angola

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LLIIVVRROOSS 1111DE 29 DE NOVEMBRO A 12 DE DEZEMBRO DE 2006

Albino Aroso, médico que já foi Secre-tário de Estado da Saúde, deixou há dias,em Coimbra, um preocupante alerta rela-tivamente ao decréscimo da natalidade.

Sublinhando que “uma mulher quetenha um filho é uma heroína” e que “onascimento de uma criança num país daEuropa é um enorme benefício paraesse País e para a Europa”, o especialis-ta referiu que se os índices de natalida-de continuarem a baixar ao ritmo a quese vem assistindo, dentro de dois sécu-los a população europeia terá pratica-mente desaparecido.

Este alerta foi deixado na interven-ção que fez na Biblioteca Joanina daUniversidade de Coimbra, ao apresen-tar um livro intitulado “Contracepção”,da autoria do especialista francês DavidSerfaty, editado pela Fundação Calous-te Gulbenkian e traduzido por Agos-tinho Almeida Santos, catedrático daFaculdade de Medicina e Director dosHospitais da Universidade de Coimbra.

Ao usar da palavra, Agostinho Al-meida Santos lembrou que há 42 anosse vem empenhando na investigação ena prática de novos métodos para con-seguir o nascimento de crianças, peloque poderia parecer estranho apareceragora como tradutor de uma obra sobrecontracepção. Contudo, aceitou o con-vite da Gulbenkian por reconhecer a

importância científica da obra de umcolega que conhece há muitos anos emuito preza, e que constitui um traba-lho de referência para a aprendizagemuniversitária e para o ensino pós-uni-versitário. Lembrou que a medicina dareprodução é um dos aspectos da Saúdeda Mulher, sector pelo qual ele muito setem batido. Manifestou também grandepreocupação pelo declínio demográficoa que se está a assistir em Portugal, esublinhou que em França, apesar dapopulação estar mais esclarecida do queem Portugal sobre os métodos de con-tracepção, a taxa de natalidade está aaumentar, o que significa que necessá-rio é que os cidadãos sejam mais con-scientes e tenham condições adequadaspara inverter essa tendência.

A encerrar a cerimónia (que contouainda com a interpretação de algumaspeças musicais por elementos daOrquestra Clássica do Centro), o Reitorda Universidade, Fernando Seabra San-tos, disse da sua satisfação por ali estar adecorrer o lançamento de uma obra degrande actualidade e importância.

Sublinhou que o poder hoje deveráser o do conhecimento e da sabedoria,congratulando-se com o facto de emCoimbra, no cimo da colina, não haveruma catedral, um castelo, um palácio,mas sim uma Universidade.

TRADUZIDO POR AGOSTINHO ALMEIDA SANTOS

Alerta preocupanteem lançamento de livrosobre contracepção

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Existe em Portugal uma editorainvulgar, ou mesmo única, que surgiuquase por brincadeira para se transfor-mar numa coisa muito a sério.

Chama-se “Apenas” e a sua criadora éFernanda Frazão, que depois de ter traba-lhado muitos anos na área da edição(nomeadamente na Dom Quixote), seapercebeu de que havia muitos autorescujos trabalhos não eram acolhidos pelaseditoras, por serem pouco conhecidos,pelos temas abordados não serem muitovendáveis – enfim, por razões diversasque os impediam de editar as obras, já quetambém não tinham meios para o fazer.

Fernanda Frazão pensou que talvezhouvesse uma forma de concretizar asaspirações dos autores de muitos dessestrabalhos a que reconhecia mérito: rea-bilitar os chamados “livros de cordel”.E avançou com a experiência.

Ela própria pagina os livrinhos, quesão impressos sem luxos, com uma capade papel pardo.

E é também ela que, quase sem aju-das, agrupa as páginas e as ata com otradicional cordel, um a um.

E é ainda ela que procede à respecti-va distribuição, de forma directa.

Um amigo engenheiro engendrou-lheum escaparate adequado para penduraros livrinhos, e eis que eles começaram aser colocados em livrarias de Lisboa, pri-meiro, e depois, perante o êxito alcança-do, em muitos outros pontos do País.Hoje estão em cidades de Norte a Sul.

A verdade é que, como nos confessaa própria Fernanda Frazão, o que princi-piou quase a brincar foi crescendo deforma surpreendente, de tal modo que,em poucos anos, a “Apenas” editou jácerca de duas centenas de obras de di-versos géneros, distribuídas por 16colecções!

Por exemplo, a colecção “ora e ou-trora – curiosidades da cultura portu-guesa” (dirigida por Margarida Leme),já tem quase duas dezenas de títulos,de autores como Sousa Viterbo atéJúlio Dantas, passando por AlbertoPimentel.

O preço dos livros varia em funçãodo número de páginas. Alguns delescustam apenas 2 euros!

Também acontece haver patrocinado-res para algumas obras – patrocínio esseque se traduz, normalmente, pela aqui-sição de determinado número de exem-plares.

“Estrepes”de José d’Encarnação

A edição mais recente foi o livro decomentários intitulado “Estrepes”, daautoria de José d’Encarnação, que temjá outras obras editadas pela “Apenas”– como “Sintra, a sedução e o misté-rio…”, na colecção “ora e outrora”,“Pelas veredas da História… em SãoBrás de Alportel” e “Cecília Marina,Ossonobense”, na colecção “ofiusa”.

Quanto a “Estrepes”, inclui umaselecção dos comentários que Joséd’Encarnação (Professor da Faculdadede Letras da Universidade de Coimbra ereputado arqueólogo), publicou sob otítulo genérico de “Pois” numa secçãoregular que manteve no “Jornal deCoimbra”, e que agora prossegue nojornal “Centro”. Uma secção com leito-res fiéis, já que em comentários muitocurtos, sobre cenas do quotidiano, Joséd’Encarnação consegue fazer uma inte-ligente e mordaz crítica social, denunci-ando situações anómalas, mas tambémfazendo pedagogia.

Quem quiser saber mais sobre a edi-tora “Apenas” pode procurar na internetem www.apenas-livros.com.

1122 LLIIVVRROOSS DE 29 DE NOVEMBRO A 12 DE DEZEMBRO DE 2006

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O poeta e deputado socialista ManuelAlegre apresentou, na passada semana,“sem complexos”, uma biografia de D.Duarte, pretendente ao trono, por havervalores que partilham e que “estão acimada monarquia ou da república”, comopatriotismo.

“Há ideias expressas por D. Duarte comas quais concordo. Portugal precisa de por-tugueses patriotas”, afirmou ManuelAlegre, republicano, momentos antes deapresentar o livro “D. Duarte a Democracia– uma biografia portuguesa”, no Cine-Teatro Gymnasio, no Chiado, em Lisboa.

Para Manuel Alegre, a defesa dos “va-lores da identidade portuguesa nummundo global”, as “liberdades nacionais, ajustiça social são preocupações quedevem unir os portugueses, quer sejammonárquicos ou republicanos”.

Embora existam valores que o unem aD. Duarte, há uma divergência muito real:Manuel Alegre vão vê motivos para semudar de regime e, num hipotético refe-

rendo sobre a questão, que não defende,“iria votar pela continuação da Re-pública”.

O ex-candidato presidencial, que teveum avô monárquico e outro que foi chefeda Carbonária e fundador da República,defendeu a importância dos valores comoforma “de afirmar Portugal” na UniãoEuropeia e no mundo.

Na Europa, Portugal deve lutar “semarrogância nem subserviência”, contra “odéfice democrático e social, por umamaior responsabilização dos parlamentosnacionais” e fez a defesa do Estado para“diminuir assimetrias e desigualdade s”.

D. Duarte Pio defendeu também osvalores da identidade e “uma nação soli-dária” com os países africanos e Timor-Leste.

O pretendente ao trono questionouainda se valerá a pena, no quadro da UniãoEuropeia, uma “dissolução” de valores“em troca de magros benefícios económi-cos”.

Manuel Alegre apresentoubiografia de D. Duarte

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PPUUBBLLIICCIIDDAADDEE 1133DE 29 DE NOVEMBRO A 12 DE DEZEMBRO DE 2006

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1144 DDEESSPPOORRTTOO DE 29 DE NOVEMBRO A 12 DE DEZEMBRO DE 2006

JOÃO PEDRO GONÇALVES FALA DO TRABALHO REALIZADO COM JOVENS BASQUETEBOLISTAS

Formar Passo a PassoJoão Pedro Gonçalves é umdos treinadores responsáveispelo Programa Passo a Passo,romovido pela direcção técnicada Associação de Basquetebolde Coimbra e dirigido a atletas,de ambos os sexos, nascidosem 1993 e 1994. Em conversacom o “Centro” deu contadas principais linhas orientadorasdo trabalho que está a serdesenvolvido

António José Ferreira

Quais os principais objectivos ge-rais a perseguir com o Programa Pas-so a Passo?

O Programa Passo a Passo é uma dasvertentes do trabalho do Centro deAperfeiçoamento Técnico Distrital(CATD). O trabalho é orientado para osatletas com maior potencial dos escalõesde Iniciados (Sub-14), como comple-mento do trabalho dos clubes e das selec-ções dos respectivos escalões. Acre-

ditamos que é fundamental orientar aformação dos atletas para os conteúdosda táctica individual, apostando no treinodo processo de tomada de decisão. Aideia chave que procuramos apresentar éa de “jogo inteligente”. Assim, propomo-nos estimular os atletas para uma partici-

pação activa e empenhada no processode ensino, que lhes permita alcançar ummelhor nível de jogo. Pretendemos, tam-bém, contribuir para a definição dos con-teúdos essenciais a abordar nestes esca-lões, bem como para a reflexão sobre osmodelos e estratégias de treino.

Descreva sucintamente o trabalhoa realizar e em que principais aspec-tos técnico/tácticos incide.

Partindo da definição de objectivos aalcançar em cada momento do jogo(marcar pontos, por exemplo) procura-mos que os jogadores identifiquem assoluções mais eficazes, dentro do lequede soluções possíveis, num processopedagógico de descoberta orientado pelotreinador. Esta orientação é feita dandopistas que identifiquem os elementos queo atleta deve ter em conta quando tomauma decisão. Assim, trabalhamos os ele-mentos da técnica individual e da tácticaindividual em exercícios com estruturaspróximas com a estrutura do jogo. Todosos elementos que nos propomos traba-lhar, como o drible, o passe, as fintas, omovimento sem bola, são escolhidos e

trabalhados com base em duas grandesideias: criar vantagem (quer seja em dri-ble ou passe, com ou sem bola); saberaproveitar a vantagem criada (trabalhode finalização).

Tendo como válida a divisão entretreino físico, treino técnico, treino

táctico e treino teórico, qual destes émais privilegiado nas sessões doPasso a Passo?

É difícil apontar de uma forma sim-ples o que é mais privilegiado no nossotrabalho. Damos grande relevo ao treinoda táctica individual, ou seja da leituradas situações e da tomada de decisão.Mas não faria sentido trabalhar estacomponente do treino se não fossemtrabalhados os argumentos técnicos quedão resposta à situação proposta. Tam-bém o treino teórico está presente aocontextualizar todas as situações traba-

lhadas. Sem que este tenha nenhumexercício específico, o treino físico épara nós imprescindível. Não com oobjectivo de ganhos imediatos da formafísica, mas com o objectivo de criar umpadrão de exigência fundamental paraos atletas atingirem o alto nível. Osexercícios são construídos de forma aserem executados sempre com a máxi-ma intensidade. Apenas o treino da tác-tica colectiva é deixado para o trabalhodas selecções.

Como se processa a ligação desteprograma com as selecções distritais?

Ambos os núcleos fazem parte dotrabalho realizado pelo CATD e, assimsendo, partem de um corpo de princí-pios e filosofia de trabalho comuns. Noentanto, enquanto no “Passo a Passo” éprivilegiada a táctica individual, nocontexto das selecções é privilegiada atáctica colectiva, através de um trabalhoorientado para a equipa. Por outro lado,como o primeiro contacto com os atle-tas é feito no “Passo a Passo”, esteacaba também por ser um momento deavaliação do seu trabalho, permitindo-nos escolher os atletas para as selecçõescom mais certezas do que seria possível

apenas com observações de jogos outreinos e contactos com os treinadoresdos clubes.

É recorrente o “divórcio” entre asselecções distritais (e neste caso o “Pas-so a Passo”) e os treinadores/coorde-nadores dos clubes. Este ano comoestão as coisas neste aspecto? No seuentender a que se deve este “divór-cio”? Tendo como certo que umamaior aproximação entre todos ostreinadores seria benéfica para amodalidade, o que vai fazer a As-sociação/equipa técnica distrital paraquebrar esse afastamento?

Acho que caímos num erro ao generali-zar uma questão como esta. Durante osanos de experiência como seleccionadortenho vivido as mais diversas situações:treinadores que me pedem para filmar trei-nos, treinadores que nos dão relatóriosindividuais dos seus jogadores, e treinado-res ausentes. Depende das pessoas. Masdevo dizer que este ano a colaboração coma esmagadora maioria dos treinadores temsido muito boa. É claro que não podemosobrigar os treinadores a estarem sempre

presentes. Gostávamos, mas sabemos quenão é possível. O que verifico é que hápouca disponibilidade para dar mais aobasquetebol em várias áreas do nosso tra-balho como treinadores. Se verificar-moso número de treinadores que vão às acçõesde formação, ou quantas reuniões técnicassão feitas dentro do clube, percebemosque o problema não é com as selecções. Émaior do que isso. O que me parece é que,quer seja por motivos profissionais, fami-liares ou outros, o basquetebol não é mui-tas vezes a prioridade. Mas como já dissegostaríamos de ter todos sempre presentes.As nossas portas estão sempre abertas.Parece-me que a reunião com os treinado-res, onde apresentámos o nosso trabalho efornecemos o documento orientador donosso trabalho, abriu portas pois foi muitoparticipada. As nossas acções do “Passo ePasso” são abertas, onde também fornece-mos os planos de treino e, no final, esta-mos disponíveis a conversar sobre os mes-mos. Esta proximidade também é visívelnas convocatórias, onde a maioria dosjogadores foram indicados pelos seus trei-nadores. As portas para a colaboraçãoestarão sempre abertas. Acredito que todosganhamos com isso.

A segunda sessão do “Passo a Pas-so”, versão 2006/2007, decorreu nopassado dia 18 de Novembro no pavi-lhão do Colégio S. Teotónio. O grupomasculino trabalhou sob as “ordens” deJoão Pedro Gonçalves e Leonor Silva econtou com a participação dos seguin-tes atletas: Filipe Amaro, Pedro Fidalgo,Guilherme Silva e Manuel Costa (Aca-démica); André Ferreira (Cantanhede);Gonçalo Neto, Ricardo Neto, GonçaloArgel e Pedro Nunes (Ginásio); AndréGodinho, André Rei, Pedro Lopes, JoãoDionísio e João David Costa (Olivais);Gustavo Martins e Jaime Fernandes(PT); Diogo Cardoso (Poiares).

João Lourenço e Filipe Rama lidera-ram a sessão de treino do conjunto fe-minino, com a presença de CarolinaLeite e Ana Margarida Santos (Acadé-mica); Daniela Fernandes e MarianaArgel (Infante de Montemor); VâniaFilipe (Lousanense); Andreia Diniz,Francisca Silva, Jéssica Almeida, JoanaAlmeida e Maria Correia (Olivais);Bruna Cunha e Francisca Lima (PT);Diana Olivença, Filipa Belo, BeatrizRodrigues e Susana Moreira (SportingFigueirense).

A próxima acção está agendada parao dia 20 de Janeiro, igualmente no Co-légio S. Teotónio.

SESSÃO DE TREINO DECORREU NO COLÉGIO S. TEOTÓNIO

Trinta e três atletas envolvidos

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DDEESSPPOORRTTOO 1155DE 29 DE NOVEMBRO A 12 DE DEZEMBRO DE 2006

U. Coimbra derrotou bancáriosCaixa Geral Depósitos, 0

Reis, Jorge Conceição, Zé Manel,Alexandre Costa, Ermindo Dias, PauloTomás, Paulo Carvalho, Carlos Mes-quita, Miguel, Paulo Henriques e HugoSousa.

Jogaram ainda: Rui Fonseca e Pe-dro Grama.

Treinador: João Morais.

União de Coimbra, 1Pedro, Carlos Manuel, Xico Sousa,

Vítor Oliveira, Monteiro, Fernandes,Pinto, Amado, Toninho, Trindade eMurta.

Jogaram ainda: Miranda, PedroMaria, Capim e Marcelino.

Treinador: Fernando Regêncio.

Complexo Desportivo do Luso.Árbitro: Ramiro Santiago.Auxiliares: Novais e Carlos.Ao intervalo: 0-0.Marcador: Pinto.

No relvado do Complexo Desportivodo Luso a equipa de futebol da CGD eas velhas guardas do U. Coimbrarealizaram um convívio desportivo quese saldou pela vitória dos veteranosunionistas pela margem mínima. Sur-preendidos pelo “Verão de S. Martinho”as duas formações “suaram as estopin-has” ao longo da partida, mas conse-guiram realizar exibições de bom nível.

Conhecedores do tipo de futebolpraticado pelos unionistas, os bancários

apostaram numa forte defensiva, nãodando espaço de manobra aos jogadoresmais criativos. Assim, apesar do maiordomínio de jogo, os pupilos de Re-gêncio não conseguiam criar perigopara as redes contrárias.

O jogo foi muito repartido na zona domeio-campo, já que as defesas, exi-bindo-se em bom nível, não davam hi-póteses aos homens mais adiantados noterreno. As situações de golo rarearam efoi até a equipa da CGD a beneficiar

primeiro de uma clara oportunidade degolo.

O segundo tempo manteve as mes-mas características mas a partidatornou-se mais aberta, com mais espa-ços e as oportunidades de golo aumen-taram. E foi num lance com a defesa daCGD adiantada que Pinto surgiu isoladopara fazer o único golo da partida.

A reacção “bancária” não se fezesperar mas Miranda, em duas ocasiões,evitou a igualdade.

FUTEBOL – VETERANOS

PORTUGAL-CAZAQUISTÃO NO ESTÁDIO CIDADE DE COIMBRA

Casa Cheia

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1166 AA PPÁÁGGIINNAA DDOO MMÁÁRRIIOO DE 29 DE NOVEMBRO A 12 DE DEZEMBRO DE 2006

NEGÓCIOS(MAS NÃO DE DROGA)

Há coisas que não entendo.Logo a seguir ao “25 de Abril”, o

bacalhau tornou-se num produto proibi-do. Não estava à venda.

Lembro-me de, quando era árbitro,aproveitar as idas à Madeira para com-prar bacalhau. Lá havia, aqui não.

Mas mesmo no Funchal, não era fáciladquirir uns quilos do “fiel amigo”. Àsexta-feira, os comerciantes retiravam oproduto das montras, para evitar vendê-lo aos “continentais”.

“Não vendemos bacalhau a cuba-nos!”, ouvi eu no Funchal. Mas nóssempre conseguíamos comprar uns qui-litos, porque havia amigos que nosacompanhavam às lojas.

Cá em Coimbra, arranjava-se baca-lhau – quase clandestinamente – num2.º andar de Montarroio, que era onde aminha mãe ia comprá-lo. Numa casaparticular!

****Mais tarde, nos anos 80, quis com-

prar um automóvel. Esperei, esperei. Aminha vez nunca mais chegava.

Um dia, entrei no “stand” mal dis-posto. (Por vezes fico mal disposto enessas ocasiões sou difícil de aturar...).O proprietário, vendo o meu estado deespírito, disse-me que ele nada podiafazer e aconselhou-me a ir falar com ovendedor, numa terra nos arredores deCoimbra.

Lá fui. E o vendedor não foi de meiaspalavras: eu só teria o automóvel se lhedesse 50 ou 60 contos. Era a altura dasimportações contigentadas e, pelo quepercebi, o mercado funcionava assim.Não aceitei a proposta do vendedor.

Um dia, um amigo informou-me queos carros da tal marca tinham chegado eestavam “escondidos” em determinadolugar. Era sexta-feira. Fui ao tal sítio ecomprovei que havia carros iguaizinhosao que eu queria comprar.

Voltei ao “stand” e disse ao proprie-tário que, se havia carros, era chegada aaltura de um ser para mim. Ao preço detabela. E acrescentei que não saía daliaté ter o carro, ele se quisesse que cha-masse a polícia. Eram umas 4 da tarde,lá para as 7 da noite venderam-me ocarro. Ao preço justo.

(Nunca mais comprei um automóveldaquela marca. Aqui há uns cinco anos,telefonaram-me do tal “stand” paracasa, a perguntar se estava interessadonum determinado modelo. Marquei umavisita ao stand, fui, pedi catálogos, pre-ços, as informações mais detalhadas queera possível e... saí. Telefonaram- -meuma, duas, três vezes, a perguntar se játinha decidido. Cansei-me da brincadei-

ra e disse que não estava interessado.Ou seja, fiz-lhes perder algumas horas,porque eu não queria – nunca maisquero – um carro daquela marca. Foi aminha “vingançazinha do chinês”).

***Ali por 1983/1984, quando nasceu a

minha filha, não havia bananas! Con-seguir comprá-las era um feito quasesobrehumano. Mas o médico dizia-nosquera importante dar bananas moídas àcriança. Havia que encontrá-las!

Um dia, a minha mulher descobriuque uma pequena loja, na zona do Tea-tro Avenida, vendia-as ao fim-de-sema-na, desde que os clientes lá comprassemoutros géneros.

***Estas são algumas das “estórias” que

já vivi com o sector comercial, o que meleva a dizer – quando confrontado comsituações anómalas – que é capaz de serparecido com a compra e venda de droga.

(Hoje em dia, comprar moedas decolecção num banco que eu cá sei é quaseo mesmo. Vou lá e não têm moedas, aindanão chegaram. Passadas semanas, voltolá e ... já chegaram e já acabaram!).

Agora, estou para comprar um auto-móvel. Escolhida a marca e o modelo,tratei de encontrar as melhores condi-ções para o negócio. Visitei alguns con-cessionários e telefonei a outros.

Qual não é o meu espanto quando

num desses telefonemas, tendo dito arazão do contacto, a voz do outro ladome respondeu o seguinte:

– Não damos preços por telefone.Sinceramente, não compreendo. Até

parece que – em vez de um automóvel –eu estava a tentar comprar um estupefa-ciente qualquer.

(publicado no blogueem 25 de Novembro)

NEGÓCIOS(MAS NÃO DE DROGA) – II

Ontem, quando me dirigia para oAcadémica-Beira Mar, entrei numa pas-telaria ao lado da passagem-de-nível doCalhabé.

Pedi que me trocassem uma nota de 5euros, em moedas, para poder comprartabaco na máquina existente no estabe-lecimento.

O funcionário que estava na caixa foiperemptório:

– Nós não trocamos dinheiro paracomprar tabaco.

Saí, depois de um comentário “enpassant”.

***No final do jogo, tinha de comprar

pão para levar para casa.Como é óbvio, passei ao lado da tal

pastelaria e fui comprá-lo à padaria daFonte da Cheira.

Até nem foi incómodo, porque oautomóvel estava estacionado lá perto.

***Hoje tenho um jantar de amigos e

comprometi-me a levar um bolo.Como é natural, não vou à tal paste-

laria. Podiam não ter trocos e era umsarilho.

(publicado no blogueem 27 de Novembro)

BENTES: O “RATO ATÓMICO”

António Romão decidiu hoje prestarum “Tributo ao Professor Bentes” noblogue “Denúncias e Opiniões”.

Mário Martins

[email protected]

UM “DERBY” (MESMO) A SÉRIO

A minha equipa venceu hoje o U. Coimbra, por 3-1, noCampo da Pedrulha. Foi um “derby” com todos os ingre-dientes: emoção, penaltis, expulsões e muitos golos.

A 1.ª parte decorreu em toada de bola cá-bola lá, com asequipas a jogarem com muitos cuidados. Como a bolaandava sempre longe das balizas, as oportunidades de golonão surgiam.

Estava o jogo nesta “pasmaceira” quando Peixinhodecidiu animar as coisas. No flanco esquerdo, já no enfia-mento da grande área, recebeu a bola, ladeou um adversá-rio, entrou na área, fintou outro, rematou e... golaço!

Até ao intervalo, o jogo voltou à toada morna, sem lan-ces de especial interesse. As maiores emoções estavamguardadas para depois do descanso. Aí sim, houve “derby”a sério.

Pouco depois do recomeço, o árbitro assinalou “penal-ty” contra a Académica por mão na bola (voluntária? invo-luntária?... eu estava longe...) dentro da área. Na marcaçãodo castigo, o guarda-redes Francisco defendeu o remate eo resultado manteve-se em 1-0.

Pouco depois, um lance inesperado: o guarda-redes doU. Coimbra bloca o esférico, prepara-se para chutar para afrente, é agarrado por um jogador da Académica, solta-see dá uma cotovelada no adversário. O árbitro não hesita:explusão do unionista e “penalty”. É o que dizem as re-

gras, para uma agressão dentro da área e com a bola emjogo. Peixinho não desperdiça o castigo e faz o 2-0.

Quem pensava que o jogo tinha acabado ali, enganou--se. Logo a seguir, num lance rápido, o U. Coimbra reduzpara 2-1. Continuava a emoção.

Apesar de jogar com menos um elemento, o U. Coimbranão se entregou, mas o desafio entrou numa fase de ascen-dente da Académica. E surgiu o 3-1, na sequência de umajogada individual, muito rápida, por Rodolfo, que tinha aca-bado de entrar.

Estava feito o resultado – um resultado de acordo comaquilo que se passou em campo.

Uma referência para o árbitro: conseguiu que, duranteos 80 minutos, os massagistas não andassem a entrar e asair do campo, como se vê (em Portugal...) em quase todosos jogos. Os jogadores ficavam caídos, ele chegava perto,dizia-lhes qualquer coisa, batia-lhes com a mão nas costase – milagre! – os jovens punham-se em pé, completamenterecuperados.

Nota final para referir que, ao almoço, o grupo habitualjuntou jovens que, momentos antes, tinham jogado comemblemas diferentes. Já foram todos da “minha equipa”,agora uns estão de um lado, outros de outro. Mas não é porisso que se quebra um hábito de oito anos (!): almoçarmosjuntos no final dos jogos. E esta é a melhor parte dos cam-peonatos.

(publicado no blogue em 26 de Novembro)

Emblemas diferentes à mesma mesa:dois da Académica, dois do União e

um do Instituto D. João V (futsal)

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AA PPÁÁGGIINNAA DDOO MMÁÁRRIIOO 1177DE 29 DE NOVEMBRO A 12 DE DEZEMBRO DE 2006

Ao encontrar o texto, foram muitasas imagens (talvez melhor, as sensa-ções) que percorreram a minha mente.

O prof. Bentes foi o meu professorprimário, da 1.ª à 4.ª classe, na Escolade S. Bartolomeu, ali a dois passos dacasa onde nasci e onde vivia, na Ruadas Padeiras.

Soube que ele era alguém importanteno desporto porque um colega de salade aula levava o pão para comer nointervalo embrulhado numa bolsa quetinha bordado o emblema da Briosa e aspalavras “Bentes rato atómico”. Lá emcasa, a família disse-me que ele tinhasido um grande jogador.

Ajudou-me ainda a preparar o“exame de admissão”, nas explicaçõescolectivas que decorriam depois dasaulas na própria escola. Outros tem-pos...

Foi com ele, também, que entrei pelaprimeira vez no Campo de Santa Cruz,num fim de tarde, para ver o treino dosjuvenis, que ele orientava. Em 1964?Em 1965?

Mais tarde, fomos “colegas de ofí-cio” e encontrámo-nos várias vezes naDelegação Escolar de Coimbra, quefuncionava na escola primária da Ave-nida Sá da Bandeira, ao lado da Ma-nutenção Militar. Era lá que trabalhava.

Um dia, pedi-lhe uma entrevista.Recusou, recusou... até que aceitou.Marcado o encontro, disse-lhe que

era para o “O Jogo”.– É um jornal novo?, perguntou.– É. É um jornal diário desportivo,

respondi.– Diário???! E há notícias para fazer

um jornal desportivo todos os dias?!...,comentou.

Foi aí por 1986 ou 1987. Era o iníciodo jornalismo desportivo diário emPortugal. Hoje é o que se sabe.

(Tenho de ir à procura da entrevista,nunca guardei os meus trabalhos, porvezes aparecem uns por aqui, outrospor ali...)

Homem simples e bom, o professorBentes é das pessoas a quem devo algodo que sou.

(Outro é o padre Nunes Pereira que,se fosse vivo, faria 100 anos no próximodia 3 de Dezembro. Vou tentar não meesquecer dele nessa data.)

(publicado no blogueem 24 de Novembro)

GOES: A VOZ DE COIMBRA

Luiz Goes é homenageado no sábadoO Casino Estoril é o cenário da gala

que junta a comemoração do aniversá-

rio dos 86 anos da Tomada da Bastilha,a homenagem nacional a Luiz Goes e afesta dos 25 anos da Associação dosAntigos Orfeonistas da Universidade deCoimbra.

O programa, apresentado por SansãoCoelho, começa às 19H00, com um“Coimbra de honra”.

À meia-noite, o Teatro dos Estu-dantes da Universidade de Coimbra(TEUC) subirá ao palco para o tributo aLuiz Goes, numa homenagem que inte-gra a actuação de Jorge Tuna e a suaguitarra, acompanhado por DurvalMoreirinhas, à viola, e pela voz deCarlos Carranca.

Depois da uma da manhã será canta-da a “Balada da despedida”.

***Identifico a voz tonitruante de Goes

desde muito novo. Comecei a ouvi-lona rádio, nos discos de 78 rotações queo dr. Providência ofereceu ao meu pai,na fita gravada do Coelho e depois emcassetes.

Mas não o conhecia pessoalmente.Há uma meia dúzia de anos, por

intermédio do comum amigo CarlosCarranca, fiquei a conhecer a pessoa dequem só reconhecia a voz.

Temo-nos encontrado algumas vezes.Permitam-me o desabafo: é uma pessoaespectacular (um tipo porreiro!), que –apesar de viver a 200 quilómetros – amamais Coimbra do que muitos que cávivem.

Luiz Goes é um dos meus ídolos.(publicado no blogueem 23 de Novembro)

A PRIMEIRA CASADE DESPORTO DE COIMBRA

Os corpos gerentes da AssociaçãoCristã da Mocidade (ACM) de Coimbrareuniram-se ontem em jantar.

A conversa foi variada. Recordou-se,por exemplo, que a ACM foi o primeiroginásio de Coimbra e que foi ali quemodalidades como o basquetebol e ovoleibol, entre outras, deram os primei-ros passos na cidade.

“A primeira Casa de Desporto deCoimbra” pode ser um “slogan” a apro-veitar.

(publicado no blogueem 21 de Novembro)

CITAÇÃO

“Pedro Santana Lopes está para o jor-nalismo político como Elsa Raposo está

para as revistas sociais: a todos serve omesmo prato, e todos se servem domesmo prato. No fim, os consumidoresaplaudem. Mesmo quando as três partessabem que há algo de podre nesta rela-ção ocasional, feita de traições, conspi-rações, romances e muita areia atiradapara os olhos de todos. Mas o povo gos-ta – e isso é que interessa, não é?”(Pedro Rolo Duarte, hoje, no “Diário deNotícias”)

(publicado no blogueem 22 de Novembro)

CAPA

São capas destas que ajudam a ven-der uma publicação.

Está bem feita. Tem classe.(publicado no blogueem 20 de Novembro)

MUDANÇAS NO BLOGUEEste blogue surgiu em Abril passado.Em meados de Setembro juntei-lhe

um contador de visitas.Hoje apareceu o relógio.O blogue é um meio de comunica-

ção, mas é também uma forma de me iraperfeiçoando, para que não fique infor-maticamente analfabeto...

Qualquer dia vou tentar que o blogueseja mais agradável graficamente, tentaraprender a mexer no layout (as cores, ascolunas, a arrumação do espaço, etc).

E vou começar a tentar cumprir aque-le que foi o objectivo primeiro: colec-cionar as memórias de uma vida de 33(neste momento...) anos de jornalismo.(Está para breve o início da publicaçãodesses textos.)

Surpreende-me que os comentáriossejam escassos – pensava que haveriamais. Mesmo assim, alguns dos comen-tários que me chegam não aparecem noblogue: vão direitinhos para o caixotedo lixo, porque aqui não escrevemcobardes, nem se publicam insultos.

Mas já que estou a escrever sobre oblogue, deixem que vos informe queontem foi o dia com maior número devisitas comprovadas.

Muitas destas visitas, penso eu, sãode elementos da “minha equipa”. Mas

há mais gente que se vai habituando apassar por aqui.

Ainda bem. Este é um espaço de en-contro.

(publicado no blogueem 20 de Novembro)

ÁRBITROS VÊEM MAL

Ontem, o FC Porto marcou um goloirregular à Académica e o árbitro vali-dou-o.

Hoje, o defesa do Sporting derrubouo jogador do Marítimo fora da área e oárbitro assinalou grande penalidade.

(publicado no blogueem 19 de Novembro)

RECORDE

17 minutos: o tempo que os comenta-dores da SportTV demoraram a ver queo 1.º golo do FC Porto foi obtido emfora-de-jogo!!!

Deve ser recorde mundial.(E nunca viram que, nesse mesmo

lance, Litos foi impedido de disputar abola, porque é agarrado pelo braço!!!)

(publicado no blogueem 18 de Novembro)

SARAMAGO

Opiniões de José Saramago, ementrevista hoje publicada no “Sol”:

“Espero que o comunismo venha ater uma segunda oportunidade e quenão cometa os mesmos erros e crimes”.

“Nunca houve comunismo no mun-do”.

[Em Cuba o regime não é comunis-ta?] “Não. É um regime que estaria nocaminho do comunismo mas...”.

[O regime soviético não foi comu-nista?] “Não, que ideia! Era o chamadocapitalismo do Estado”.

[Não houve nenhum regime comu-nista?] “Não”.

Não gosto deste homem.(publicado no blogueem 18 de Novembro)

TRAPALHADAS

A vida política portuguesa ganhouum conceito novo aquando da passa-gem de Santana Lopes pelo Governo: atrapalhada.

E o conceito parece ter pegado de raiz.O actual Governo já conta algumas, a

mais famosa das quais talvez seja adaquele ministro que anunciou, solene-mente, que a crise tinha acabado.

Hoje, outra trapalhada: em entrevistaao “Diário de Notícias”, o secretário deEstado do Tesouro e Finanças, CarlosCosta Pina, afirma que não exclui a pos-sibilidade de acabar com os certificadosde aforro

Ao princípio da tarde, o Ministériodas Finanças esclarece, em comunica-do, que não tem intenção de eliminareste produto de poupança.

Quando será a próxima... trapalhada?(publicado no blogueem 17 de Novembro)

[email protected]

Com Luiz Goes e José Belo na “taberna”de “A Democrática”

Page 18: O Centro - n.º 15 – 29.11.2006

1188 CCUULLTTUURRAA DE 29 DE NOVEMBRO A 12 DE DEZEMBRO DE 2006

Exposição de pinturana Galeria Almedina

“Coimbra, capital da pintura” é o te-ma genérico de uma exposição que foiontem à tarde inaugurada na GaleriaAlmedina (Chiado), numa iniciativado Clube da Comunicação Social.

Trata-se de uma exposição co-lectiva, em que, segundo a organiza-ção, “estão representados os nomesmais consagrados das artes plásticasem Portugal”.

O certame poderá ser visitado atépróximo dia 15 de Dezembro.

Na Galeria Minerva está patente aopúblico, até ao próximo dia 5 de De-zembro, uma exposição de Pintura deLena Gal. Lena Gal nasceu em S.Miguel, Açores e participou em nume-rosas actividades pedagógicas das quaissalienta a animação em expressão plás-tica em escolas do ensino básico e ateli-ers de tempo livre.

Foi monitora no programa “Artes eOfícios”, no Projecto Sócio-Educativodo Departamento de Educação da Câ-

mara Municipal de Lisboa. Foi convida-da para apoiar acções pedagógicas sobrea Arte, no Liceu Durfee, na BishopConrelly High School, na University ofSouth Carolina, Spartanburg, e na Tau-ton High Scholl, ambas nos EUA.

Tem já no seu currículo várias expo-sições individuais e colectivas, quer emPortugal quer no estrangeiro.

A mostra pode ser visitada, de segun-da a sábado, das 10 às 13 e das 14.30 às20 horas.

Uma curiosa exposição intitulada“Brinquedos?... Física!”, oode ainda serapreciada até amanhã (quinta-feira, dia30), no Museu da Física da Universi-dade de Coimbra.

Ali se podem observar brinquedosque recorrem aos mesmos princípiosdos mecanismos que fazem mover osaviões a jacto e foguetões ou as leis queexplicam o funcionamento dos periscó-pios usados nos submarinos.

“Brincar é uma coisa séria” – eis omote desta exposição de brinquedoscientíficos que pretende explicar as leis

da Física que fazem, por exemplo, comque o “iô-iô” balance ou que o pião rodesem cair.

A exposição inclui uma dezena debrinquedos gigantes, réplicas de algunsjá existentes no mercado, e ainda cercade duas dezenas de objectos lúdicos depequenas dimensões, como iô-iôs ecaleidoscópios, entre outros.

Ao espreitar no periscópio, o visitan-te da exposição – que não se destina sóa crianças mas a “todos aqueles que têmcuriosidade” – pode ler um pequenotexto que acompanha o aparelho sobre a

lei de reflexão da luz. Um “palhaçosobe e desce” recorre ao mesmo meca-nismo do “iô-iô”, baseado no princípiode conservação da energia mecânica,enquanto a “tartaruga leva a bola”exemplifica o conceito das forças deatrito, com a bola em cima do animal agirar em sentido contrário ao das bolasque fazem de patas.

O pássaro que bebe horas a fio, oboneco “sempre em pé”, a ave equilibris-ta, o elefante na rampa – eis outros dosbrinquedos que demonstram, de formaacessível, as leis básicas da Física.

“São afinal as mesmas leis que defi-nem a evolução do universo em quevivemos que explicam o funcionamentodaqueles brinquedos que entretêm umacriança (ou um adulto) horas sem fim”,refere um folheto editado para este ori-ginal certame que bem merece umavisita.

ENCERRA AMANHÃ NO MUSEU DA FÍSICA DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA

Brinquedo científico em exposição

LANÇADO MAIS UM NÚMERO DA REVISTA

“Media & Jornalismo”aborda História da Imprensa

As Edições MinervaCoimbra acabamde lançar o número 9 da Media & Jor-nalismo, Revista do Centro de Inves-tigação Media e Jornalismo, desta vez su-bordinada ao tema “O jornalismo e aHistória”.

Este número de Media & Jornalismo éespecialmente dedicado à História da Im-prensa. Trata-se de uma área de saber quetem sido pouca valorizada, tanto na in-vestigação histórica, como nas diversasabordagens que os estudos de Comuni-cação têm vindo a privilegiar. Ainda as-sim, mais recentemente diversos estudosao nível de Pós-graduações, Mestrados eDoutoramentos têm contribuído para umconhecimento mais detalhado dos jornais,dos jornalistas, das leis da Imprensa e dojornalismo do século XIX e XX.

Nesse sentido, Ana Cabrera, Doutoradaem História Política e InstitucionalContemporânea, organizou este número,justamente com o duplo objectivo de dar aconhecer, valorizar e estimular a investi-gação na área da história dos media e dojornalismo.

Em “Os jornalistas no marcelismo –dinâmicas sociais e reivindicativas”, Ana

Cabrera analisa as alterações na profissãoque se avolumaram nos finais dos anossessenta.

No artigo “Anos 60: um período deviragem no jornalismo português” CarlaBaptista e Fernando Correia apresentamalguns resultados de uma investigação,intitulada “Memórias do Jornalismo”, queconsistiu na recolha e tratamento de teste-munhos orais de profissionais – jornalistase tipógrafos. Os contributos das entrevis-tas são analisados em função dos percur-sos profissionais e do contexto históricoem que ocorreram.

Em “Revistas políticas no EstadoNovo: uma primeira aproximação his-tórica ao problema”, Álvaro Matos partede uma selecção de seis revistas publi-cadas durante o Estado Novo. Numprimeiro grupo as revistas são claramentepolíticas como é o caso do “IntegralismoLusitano”, “Tempo Presente” e o “Tempoe o Modo”; num segundo conjunto aselecção recaiu em revistas literárias eeconómicas, que naturalmente não deixamde ser políticas, como é o caso de “OOcidente” a “Vértice” e a “Revista deEconomia”. Cada revista é apresentada

segundo as linhas ideológicas, os conteú-dos e os seus colaboradores.

Joaquim Cardoso Gomes no artigo“Álvaro Salvação Barreto: oficial e cen-sor do salazarismo”, é uma biografia dotenente-coronel de artilharia que foiresponsável pela edificação da máquinada censura em Portugal. A acção destemilitar faz-se sentir entre o 1928 até1944. Rogério Santos em “O jornalismona transição do século XIX para o XX.O caso do diário Novidades (1885-1913)”,apresenta a primeira série deste periódicosegundo três eixos de análise: linha ide-ológica; secções e géneros jornalísticos osjornalistas e a sua actividade profissional.

Esta secção do número 9 dedicada àHistória da Imprensa, fecha com umaentrevista a Peter M. Herford conduzidapor Eduardo Cintra Torres, investigador ecrítico de televisão. A sua leitura ofereceum enorme manancial de informação nãosó sobre o seu percurso profissional quecontempla mais de 30 anos, como tambémacerca da cobertura de acontecimentosque mudaram a televisão americana comofoi o caso do assassínio do PresidenteKennedy. A propósito deste acontecimen-

to a CBS manteve, pela primeira vez nahistória das transmissões televisivas, umacontecimento no ar durante quatro dias,com vários directos, apesar das restriçõestecnológicas que se colocavam nos anossessenta.

Fora do tema deste número apresenta-se um estudo de Hermenegildo Borgessobre a “Publicidade erótica e a sua prob-lemática regulação”. Neste trabalho oautor analisa o enquadramento jurídico doassunto e problematiza se deve ou não exi-stir uma maior regulamentação sobre estasmatérias, disponibilizando argumentos afavor e contra e propondo uma hipótese deresposta.

NA GALERIA MINERVACOIMBRA

Exposição de pintura de Lena Gal

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OOPPIINNIIÃÃOO 1199DE 29 DE NOVEMBRO A 12 DE DEZEMBRO DE 2006

«A língua não corresponde a um pen-samento, é o próprio pensamento» – dis-se Heidegger. Da mesma maneira, pode-ríamos afirmar que o modo de tocar gui-tarra, mais do que uma técnica, necessá-ria todavia, é um estado de alma, e almaportuguesa, apesar do nosso instrumen-to, em forma de coração, descender docistro inglês! Ao que parece, só aquipoderia ter vida. Instrumento musicalimigrante, naturalizado português, trans-formado completamente, criámo-lo ànossa sensibilidade, e hoje não se lem-bra do país de origem! Que melhor aco-lhimento poderá haver?

“Coimbra à Guitarra” é o mais recen-te livro de Carlos Carranca. E o poetade quem falamos hoje é um portador dapoesia plasmada na sua palavra e no seugesto, onde quer que se encontre, ondequer que vá; um trovador, um peregri-no, um viajante.

Poderíamos dizer, no caso de CarlosCarranca, se antes da cidade dos estu-dantes à guitarra, não haveria, secreta-mente, uma “Lousã à guitarra”...

A imagem não é descabida, pois asimpressões poéticas, são-no não só pelaainda incompreensível alquimia dointeiro acto criador, como por essemágico espírito de lugar, que bem osabia o filósofo português José Marinho.Os lugares eternamente recriados.

O poeta viu, sentiu e registou Coim-bra. E quanto à indelével fixação dosacordes do vento da serra, dos acordes doestranho silêncio que bem pode ser agénese da palavra poética em todo o seufulgor? Também Pascoaes ouviu o Marãoantes do cantar das tricanas do Mondego;também Régio ouviu as guitarras dosmarinheiros de Vila do Conde antes quetivesse escutado a de Artur Paredes; e opróprio Pessoa, nas redondezas do Teatrode S. Carlos, imaginava a aldeia ideal quenunca teve, e escrevia: «O sino da minhaaldeia/dolente na tarde calma/cada tuabadalada/ soa dentro da minha alma».

O título “Coimbra à Guitarra” tantopode querer dizer que é a cidade, qualvulto feminino, que, cantando, é acom-panhada pelo instrumento de cordas, oua própria cidade que dedilha a guitarra.Seja como for, não me é difícil ver,antes de mais, uma “Lousã à guitarra”,uma guitarra rústica, a Lousã em meni-no do Carlos Carranca. Pese embora oporte hierático e extenso da serra, esta é,tal como a guitarra, uma figura femini-na de formas arredondadas, que nosdedilha os sentimentos pela surpresa epelo sedutor apelo.

Apesar de tudo isto, ainda que asimagens originais permaneçam, o ho-mem aventureiro, o poeta na demandada ilha ideal, move-se inevitavelmente.E o destino, o fatum latino ou o maktub,herança árabe que também nos cabe,

encaminharia Carlos Carranca emdirecção a Coimbra, que, para o poeta,só poderia ser acompanhada à guitarra,e não por outro instrumento. Ritual lusi-tano por excelência, altar céltico nopanteísmo da terra; dessa terra, semlucro, hoje escassa e que já quase nãoexiste, e das águas cadentes e cristalinassem pagar imposto.

Não é de todo necessário, para sentira guitarra de Coimbra ou Coimbra àguitarra, penetrar num outro espaçoritualístico que poderia ser as águas doTejo beijando as colinas de Lisboa deressaibos de guitarras mouriscas, ou osantigos salões das modinhas luso-brasi-leiras. Mas pelo facto da guitarra ter assuas origens nas zonas marítimas, nozarpar e no atracar dos barcos, nasondulações da incerteza, talvez isso nosajude a uma exegese mais convenienteda Guitarra do Mondego.

Paulo Alexandre Esteves Borges em«Do finistérreo pensar», referindo-se aofado, na equivalente guitarra, diz-nosque «O trágico perdura. A irracionalcisão entre o indivíduo e o Absoluto,que faz com que relativamente hajaDestino, Fatum a impessoal Moira queos gregos sabiam superior aos própriosdeuses –, desafia todo o dogma religio-so e as derivadas metafísicas. Por isso

os portugueses a cantam, na saturninaironia de quem contempla como vãostodos os artifícios da razão. Sabem, semjamais terem pensado nisso, que só ador, a extrema dor da identificação domal do mundo, dele nos liberta».

Estas palavras encaminham-nos agoraa outro ritual. Uma complementaridadetão estranha como real, uma sensibilida-de coimbrã. Aqui nos deteremos no livrode Carlos Carranca, talvez compreen-dendo melhor que a guitarra de Carlos

Paredes vem do fundo do tempo e de umlugar tão mítico como real. Vem e acres-centa Coimbra de fora; também a guitar-ra de um João Bagão empresta à cidadeo fraseado do mar da sua terra natal, e avoz de um Luiz Goes, acorda Coimbraquando esta parece não querer acordar. Eneste acordar de Coimbra, a que muitosjá se têm referido, está incubada umaoutra problemática mais profunda que éda memória de Coimbra, e da qual fala-remos, ao de leve, em seguida.

Mas convenhamos que terá de haversempre academia e académicos, os anosintocáveis da mocidade, quando senti-mos, sem pensar, o cheiro das tílias quevem do Botânico, o luar medievo dasruas de Coimbra, os rouxinóis nos sal-gueiros que hoje são mais reais porqueexistem só quase na memória que noscorta latejante.

E ainda a propósito do que é ou não éreal, diga-se que todo o sonho, no seumundo, para os verdadeiros sonhadoresé tão real como uma estrada de asfaltopara os olhos que a vêem. A fantasia, oacto morno, o desalento, esses é que sãoas manchas doentias da vida, enquantoque pelo sonho «uma constante davida», como lhe chamou Gedeão, omundo pula e avança.

E o fadista de Lisboa, Vicente daCâmara, que nos canta: «Guitarra, mi-nha guitarra,/ Conforme o teu som des-garras/ Em riso, dor ou saudade,/ Atra-vés das tuas cordas/ Nas minhas mãostu acordas/ Diversa realidade».

É curioso lermos que é a guitarra queacorda em nós a realidade que interior-mente possa existir. Ora, é toda umarealidade académica, futrica e mítica,que Carlos Carranca nos oferece no seulivro, ainda que o autor nos dê tambémuma guitarra ideal, isto é, uma linha deforça lusíada que caracteriza Coimbra.

(Continua na próxima edição)

Eduardo Aroso

A PROPÓSITO DE “COIMBRA À GUITARRA” DE CARLOS CARRANCA

Trovador, peregrino, viajante

Estrepes...O mais recente livrode José d’Encarnação

Editado pela “Apenas”

Pedidos a

[email protected]

ou

jornal “Centro”Telef. 239 854 150

Preço: 4,20 euros

Page 20: O Centro - n.º 15 – 29.11.2006

2200 OOPPIINNIIÃÃOO DE 29 DE NOVEMBRO A 12 DE DEZEMBRO DE 2006

“Quando se coloca o carimbo de umtabelião em um documento, além da fépública de que este documento é legítimoe verdadeiro, agrega-se a responsabili-dade do tabelião. Funciona como umseguro, se não for verdade o que o carim-bo afirma ser, o tabelião indemniza”.

Com esta convicção escolhi há quase30 anos ser Notária.

Hoje sinto o vazio e a frustração deter exercido uma profissão que se teimaa todo o custo fazer crer que é inútil, étoda uma vida de trabalho, sacrifício eempenhamento que fica sem sentido.

Esse sabor amargo nada nem nin-guém vai conseguir adoçar!

Procurava há dias numa disqueteonde guardo actos menos comuns, umaescritura de “Reversão de parcela deterreno a favor do Município”, quandome deparei com esta “escritura” que aseguir transcrevo, de que já nem melembrava haver guardado, pois em seisanos tanta água correu debaixo daponte…

“LEGADOS EM SUBSTITUIÇÃODA LEGÍTIMA

No dia vinte de Outubro de dois mil,perante nós, Notários da Comarca doPorto e arredores, compareceu comooutorgante:

DR. ÁLVARO MENDES DA COS-TA, bem casado, natural de Alavarenga,Arouca, residente nesta cidade, emlocal fino, nos Pinhais da Foz.

Verificamos a sua identidade por oconhecermos de gingeira.

O outorgante declarou:Que durante anos e anos a fio nota-

riou de acordo com as leis do Reino e ascirculares da D.G.

Fez partilhas, locações, vendas, hipo-tecas, permutas, propriedades horizon-tais;

Constituiu sociedades, alterou-as,aumentou-lhes o capital, dissolveu-as,fundiu-as, cindiu-as, etc, etc;

Certificou e declarou a conformida-de dos escritos com o original, valendocomo lei a sua palavra.

Que neste ano da graça de dois mil, o

preclaro legislador português, conscien-te das pesadas cargas que incidem sobreos ombros dos frágeis notários do país,resolveu aliviar o seu fardo e conferirpoderes para certificar documentos,como se notário fosse, aos doutos Pre-sidentes de Junta, aos sábios operadoresdos CTT e aos profissionais mais inde-pendentes que actuam no mercado.

Que, porém, continua pesado o fardonotarial, o qual terá forçosamente queser mais partilhado por outras entidadesidóneas, a fim de aliviar os seus frágeistrabalhadores, tão bem quistos doPoder.

Que, nestes termos, usando da facul-dade idêntica à dos Presidentes deJunta, de delegar poderes, delega:

Nos TLP, Telecel, TMN e Optimus,poderes para certificar documentos querautênticos, quer autenticados ou parti-culares;

Nos Centros de “Tricot” toda a maça-dora “formalidade” – disse formalidade –de constituir empresas, dissolvê-las,fundi-las, cindi-las transformá-las, alterá-las e tudo o mais com elas relacionado;

Nas Lojas do “Povo” ou do “Cida-dão”, os de fazer justificações, servi-dões, doações e todo o tipo de reconhe-cimentos;

Nas Juntas de Freguesia, PSP e GNR,poderes para fazer procurações e termosde autenticação, sem esquecer as parti-lhas e os testamentos;

Nas Agências de Contribuintes –Trespasses e Cessões de Exploração deestabelecimento comercial;

Nos Bancos – todas as escrituras decompra e venda com hipoteca oumesmo sem ela.

Que, atendendo ao facto de nestacoisa da Nota, ter como seus únicossucessores forçados, os futuros Notá-rios que tiverem a coragem de abraçaresta profissão, lega-lhes em substitui-ção da sua legítima, o direito de:

a)- Abrir diariamente o correio;b)- Abrir e ler diariamente o Diário

da República;c)- Ler atentamente as circulares da

Direcção Geral;d)- Fazer rectificações e uma ou

outra convenção antenupcial;e)- Devolver os emolumentos recla-

mados pelos que têm direitos às isen-ções; e

f)- Abrir e fechar diariamente a portado Cartório às 9 e 17 horas, respectiva-mente.

Declarou ainda o outorgante:Que, com excepção das funções pre-

vistas na alínea f), não poderão as out-ras ser delegadas em qualquer Ajudantedo Cartório.

Assim o disse e outorgou.

Nós, Notários, dispensamos a inter-venção de testemunhas dado haverurgência na feitura deste acto e dificul-dade em as obter.

Este acto foi lido ao outorgante e aomesmo explicado o seu conteúdo emvoz alta e na presença simultânea detodos.”

Como dizia a minha avó, “guarda oque não presta, acharás o que te é preci-so”. Pensei: “Aí está – vamos levar istocom um sorriso (amarelo) nos lábios,com sentido de humor!... É um bommote para vencer esta mágoa, esta des-motivação que me silenciou desde o diaem que tive de fazer a penosa opção dedeixar de ser Notária, o que está paramuito, muito breve, decisão, aliás daqual não me arrependo, só sinto revoltapor ter sido obrigada e empurrada paraesta escolha!

Esta premonitória “escritura”, queentão circulou pela classe – de tão sau-dosa memória – e que agora divulgo,não podia estar mais actual (no sentido,porque na forma já foi ultrapassada poroutras desformalizações…). Os factossão por demais evidentes para que eume escuse a salientá-los a qualquer lei-tor mais distraído. Também não é tempode fazer mais análises, muito menosbalanços das opções governamentaisnesta matéria, se calhar até foram as quea União Europeia ditou, as que a evolu-ção da vida jurídica impôs…

Mas não posso evitar, não eu que tan-tas vezes ousei pôr o dedo na ferida, dara cara e dar voz aos lamentos, às preo-cupações, aos anseios de uma pequenaclasse de trezentos e poucos notáriosque sempre esteve dividida e oprimida!Não posso, não quero, nem devo calar omeu legítimo testemunho nestas derra-deiras palavras como Notária, peloServiço Público que defendi, que exercicom paixão, que prestei com o máximosentido de dever, de isenção, de hones-tidade, como não posso, não quero, nemdevo esquecer todos os colegas queexerceram esta profissão com a mesmadignidade e dimensão – a quem presto aminha homenagem – e todos os utentesque me dignificaram, me distinguiramcom a sua escolha, e me ajudaram acrescer como Profissional e como SerHumano - a quem deixo o meu muitosentido OBRIGADO!

Ser ou não ser… Notário

Maria MargaridaLoureiro Cardoso(Ainda) Notáriaem Vila Nova de Poiares

POIS... – Desculpe, tem a portinhola…– Sim? E depois? Tem alguma coisa

com isso?Ficara danado o senhor. Bem posto,

casaco de marca, gravata italiana...E lembrei-me da frase do professor

de Filosofia:«Se eu, num ambiente formal, disser

a uma pessoa que tem uma nódoa na

camisa, ela irá levar a mal. Fica ofen-dida. Se eu digo isso é para a ajudar,para que possa disfarçar a nódoa e nãofazer má figura. Mas ela fica zangadacomigo só porque eu vi a nódoa, sabeque eu sei que tem a nódoa e porqueassumi perante ela que sei que tem anódoa e que sei que ela sabe que eusei».

Joséd’Encarnação

João PauloSimões

FILATELICAMENTE

D. LUIZ I

1862-1864Impressãoem relevo

Os selos deste monarca foramdesenhados por Francisco Borja deFreire, que também abriu os cun-hos, e impressos um a um em folhasde vinte e quatro exemplares, dis-postos regularmente e não dentea-dos. O papel é liso, fino, médio eespesso. Foi este o último trabalhodo artista, autor de todos os selosaté aqui emitidos. De notar que estegravador de moedas, respeitou sem-pre a regra da numismática nos seusselos, de virar a efígie do monarcapara o lado contrário ao do seu ante-cessor. Em qualquer catálogo de se-los, podemos observar isso.

Foram utilizados dois cunhos decinco reis castanho, para uma tira-gem de 18 621 600 selos, um cunhocom o de dez reis amarelo laranjapara uma tiragem de 2 192 400selos, sete cunhos, com o vinte cin-co reis carmim rosa para uma tira-gem de 32 833 200 selos, um cunhocom cinquenta reis verde azul, parauma tiragem de 411 600 selos e umcunho com o cem reis lilás parauma tiragem de 451 200 selos.

Os cunhos de cinco reis, identifi-cam-se pelo afastamento do “5” emrelação a “reis” e os de vinte cincoreis identificam-se por diferençasno entrançado da burilagem.

(Baseado em selos de PortugalÁlbum 1 (1853/1910)

de Carlos Kulberg)

[São estes os primeiros selos deD. Luiz I. Outras séries se seguirão,com novas taxas e novas cores. Sãoextensas. Por isso, continuarei nospróximos números a falar da partefilatélica deste monarca e, no últi-mo artigo, a sua biografia].

Page 21: O Centro - n.º 15 – 29.11.2006

Muito complicados têm sido estesúltimos dias. Para os professores e paraa escola. Sob a capa duma simples rei-vindicação – que está profundamentebanalizada – escancarou-se perante osnossos olhos e o nosso entendimentoum quadro degradante da escola e dosistema que a enforma.

A discussão e aprovação do estatuto dacarreira docente, a concepção e organiza-ção da estrutura escolar e das escolas emsi mesmas, do seu funcionamento, dascondições e factores de disciplina e segu-rança... estão, como nunca, em causa.

Nem queremos pensar na aparente esibilada manipulação dos educandospor parte dos professores quando nassuas escolas recebem a Ministra comapupos ou se associam às manifestaçõesfrente ao Ministério da Educação.Francamente, não acreditamos! É quetal promiscuidade se afiguraria alta-mente perniciosa na preservação do res-peito pela hierarquia, essencial ao bomfuncionamento das instituições e, con-cretamente, na manutenção das condi-ções de disciplina.

Também entendemos que a discussãodo estatuto da carreira docente se temrevelado um negócio desintegrado dasrealidades e das necessidades da escola.Por um lado, o Ministério com o OGEna mão; pelo outro, os Sindicatos na

defesa cerrada das suas mais emblemá-ticas conquistas consignadas no diplomavigente. Um braço de ferro num diálogode surdos. Com a escola à distância.

Enquanto o Ministério da Educação aconceber como um lugar onde um grupoorçamentado de professores dá aulas aum universo elasticamente calculado dealunos; enquanto os professores enten-derem a escola como um local onde sedá um rigoroso número de aulas a horascertas para obter vencimento e seguiruma carreira, não vamos a lado algum.

Continuamos e assim continuaremosagarrados a uma escolástica de primas ematinas onde se debita e credita pura esimplesmente a informação. O resto, oprincipal, fica por fazer.

Esta é a escola das substituições, daindisciplina, do desinteresse, do insuces-so formativo e educativo... do abandono.Será, porventura a mais fácil de gerir, amais barata, a que menos quebra-cabe-ças dá em termos de organização e exi-gência pedagógica. Não é, de certeza, aque o país urgentemente precisa.

Isto não aparece sobre a mesa denegociações porque não está nos limita-dos horizontes do sistema onde osnúmeros falam mais alto, nem na men-talidade da maioria dos professores por-que a carreira não é motivante e a cons-trução duma escola diferente requer,sem dúvida, muito mais trabalho e dedi-cação.

O ensino privado navega excelente-mente nestas águas. Criou um paradig-ma assente no facilidade de recrutamen-to de docentes, na eficácia face ao siste-ma oficial de avaliação e na respostaadequada às necessidades dos quepodem pagar e.. factura. Para ganhar.

O ensino público naufraga porquedeixa agitar as águas sem saber marear.Para não gastar.

Temos de construir uma escola deprojecto na qual a informação não sejao mais importante mas apenas e tãosomente uma parte do processo.Sabemos quão estafada anda esta pala-vra projecto. Todavia, ela encerra em sio segredo duma nova escola necessaria-mente paradigmática e determinante nosistema educativo.

Essa escola requer saber, audácia, de-dicação e recursos. Saber para concebere desenvolver, audácia para ultrapassarpráticas anquilosadas de séculos e modi-ficar estratégias e atitudes, dedicação eempenho para dispor da vontade e dotempo na prossecução duma causa,recursos humanos e materiais (espaciais,equipamentos...) adequados para con-cretizar com sucesso os projectos.

Ao pensar na reclassificação dos pro-fessores com horário zero com vista anovas e diferenciadas carreiras dentrodo sistema, o Ministério deu um primei-ro sinal de abertura para esta problemá-tica. Compete aos Sindicatos, em vezduma atitude hostil que parece quereraflorar, com espírito de abertura, bemmeditar no assunto. É que, tal como está

hoje, o professor, na escola é, grossomodo, um mero agente de informação.

No nosso modesto entender, ao abri-rem-se novas perspectivas, a funçãodocente fica muito mais enriquecidacom diferentes e mais aliciantes propos-tas de trabalho.

Os professores deveriam assumirdesde logo a condução do processo coma apresentação de propostas inovadoras.É demasiado redutor para educadorescentrar a discussão apenas ao nível dasrelações laborais.

A hora é de mudança. Urge recriar aescola e isso compete, fundamental-mente, aos docentes. De modo algumpodem delegar em outrem esse papel Ademagogia de todos ao molho não favo-rece a transformação que se deseja.

Numa escola de competências, os furose as substituições, os horários de hora emeia, as aulas de débito de matéria...serão anacronismos. Todos os alunos têm,fundamentalmente, projectos de enrique-cimento pessoal para desenvolver. Nestaescola o empenhamento de cada um é fac-tor de disciplina e de sucesso.

A uma escola de sapiência é misterque se sobreponha uma escola de com-petências.

Impõe-se, pois, que recriemos a escola.

OOPPIINNIIÃÃOO 2211DE 29 DE NOVEMBRO A 12 DE DEZEMBRO DE 2006

Esta medida do Fisco lembrou-meuma história antiga, de quase 40 anos,quando entrei para o Banco.

Existia um financiamento, de carác-ter social, em que o Banco disponibili-zava 6 meses de ordenado, sem juros, apagar em 2 anos, para que o seu empre-gado fizesse frente a despesas com o seuagregado familiar: mudança de casa,compra de fogão ou frigorífico, mobí-lias novas, doenças inesperadas, etc.

Uma série de colegas meus aprovei-tou essa facilidade para constituir umDepósito a Prazo, no próprio Banco.

Estamos a falar de uma época emque um belíssimo andar, em Benfica,custava 80 contos; em que o máximodos máximos, um BMW 2002 ti, tam-bém andava pelos 80 contos.

Claro que, face aos abusos, o Bancoacabou com essa medida para todos,começando por congelar os tais De-

pósitos a Prazo. Conclusão: foram apa-nhados os chicuespertos, mas pagaramtodos. Os grandes devedores, nem tive-ram nada a ver com isto.

Com os Certificados de Aforro, a his-tória é semelhante: cerca de 1.500devedores do Fisco investiram emCertificados de Aforro.

Tudo indica, perante tal investimen-to, que nada tenham a ver com grandesdevedores.

Mas a central de informação funcio-na e o povinho bate palmas.

Enquanto isso, os grandes devedorescontinuam a dever e o Estado mantém oseu nível de despesa.

Até parece que está tudo bem.Desta vez, quando os vampiros des-

ceram na calçada, já não terão sanguefresco nem manada para sugar.

Rui Lucas

Recriar a Escola

Renato Ávila

OO LL EE II TT OO RR aa EE SS CC RR EE VV EE RR

Certificados de Aforro

Page 22: O Centro - n.º 15 – 29.11.2006

Está aí a época natalícia e com issosurge no mercado uma imensidão decolectâneas de “Grea-test Hits” das maisdiversas bandas, co-mo sejam os U2, osBeatles, etc. e, ten-tando alargar o le-que de escolhas pa-ra as compras deNatal, hoje vou es-crever sobre algunsdos melhores dis-cos feitos em Por-tugal durante o anode 2006, numa cla-ra antecipação do inevitável balanço de2006 que surgirá lá mais para a frente.

O primeiro destaque cabe a “Mas-querade” da autoria do”one man band”

e conimbricense, The Legendary TigerMan, apesar de pouco conhecedor dasua obra, decidi comprar este disco logoà saída, e, as expectativas não saíramgoradas. As primeiras músicas a entra-rem no ouvido são a “cover” de “Route66” e “Honey You´re Too Much”, masquer a primeira faixa do disco, “So-meone Burned Down This Town”, quera seguinte, “The Whole World´s GotThe Eyes On You”, mostram um PauloFurtado ao seu melhor nível, mas,ainda, com uma enorme margem de

progressão, e, aomesmo tempo,coerente com asua atitude, querseja com os Wray-gunn, quer mes-mo com os TédioBoys. Se tivesseque eleger o mel-hor disco portu-guês de 2006 se-ria, certamente,este “Masquera-de”, que conta com

a colaborações dos Dead Combo, de DjNell Assassin (Micro, Bullet), JoãoDoce (Wraygunn) e de Mário Barreiroscomo produtor e músico.

Mas, muitos foram os discos portu-gueses de que gostei no ano que está aterminar, a começar pelo “Side Effects”dos X-Wife, e acabando em “Beat Riot”dos Loto, mas não esquecendo a agra-dável surpresa que foi “Propaganda”dos Orangotang. Os Orangotang sãouma banda de Mondim de Basto, quecomecei a ouvir com alguma insistênciavia Best Rock Fm, sobretudo o tema“Só”, mas, após comprar o “Propa-ganda” tive a certeza de que não se tra-tava daquelas bandas que só têm umtema interessante, mas sim um conjuntode bons temas a ouvir vezes sem contaaté à exaustão como: “Lâmpada Azul” e“Prazer”.

Para o fim, fica a sugestão de dois dosdiscos que mais ouvi nas últimas semanas,o primeiro pertence aos Sparklehorse,“Dreamt for Light Years In The Belly of aMountain”, que adorei ver ao vivo noFestival Para Gente Sentada, e ainda“Home” de Thomas Schumacher, que re-centemente esteve no Lux (Lisboa) e quecomeçou a fazer parte dos meus “dj-sets”.

PARA SABER MAIS:

- http://www.legendarytigerman.com/- http://www.x-wiferocks.com/- http://www.loto.cc/- http://www.myspace.com/orangotang/- http://orangotang.hi5.com/- http://www.sparklehorse.com/- http://www.thomasschumacher.com/- The Legendary Tiger Man – “FuckThe Christmas, I Got The Blues” (Nor-tesul)- The Legendary Tiger Man – “Mas-querade” (Nortesul)- X-Wife – “Side Effects” (Nortesul)- Loto – “Beat Riot” (Som Livre)- Orangotang – “Propaganda” (No Rec)- Sparklehorse – “Dreamt for LightYears In The Belly of a Mountain” (Par-lophone)- Thomas Schumacher – “Home” (Bush)

2222 MMÚÚSSIICCAA DE 29 DE NOVEMBRO A 12 DE DEZEMBRO DE 2006

Distorções

José Miguel [email protected]

“A Hora do Vinyl” é o tema da sessãoque decorre hoje (quarta-feira, dia 29) naFnac Coimbra, a partir das 21h30.

A girar desde 1948, o disco de vinyl foio suporte de reprodução áudio mais utiliza-do até ao advento do disco compacto nofinal dos anos 1980. Numa altura em que oCD perde terreno para os novos mediadigitais, cresce também o culto em tornodo coleccionismo do vinyl. À volta de umamesa redonda, Afonso Macedo (dj cosanostra), Paulo Fernando (compact records)e Rui Ferreira (subotnick / lux records) dis-cutem o passado, o presente e o futuro dovinyl. Numa conversa informal, irá falar-sede rituais e da pertinência deste revivalis-mo, questionando o espaço hoje reservadoa este objecto nas lojas e no meio editorial,bem como as suas vantagens perante out-ros suportes. A sessão será moderada porNuno Gomes (Fnac Coimbra).

AMANHÃ, NA FNAC COIMBRA

Música ao vivo até de madrugadaCoimbra recebe amanhã (quinta--feira, dia 30), pela primeira vez um “dia e

noite aderente”.Trata-se de uma iniciativa que a FNAC organiza duas vezes por ano: um dia

com descontos especiais e espectáculos ao vivo em todas as suas lojas. Assm,amanhã, entre as 10 e as 3 horas da manhã, são muitas as propostas de animaçãocultural na Fnac Coimbra.

A estreia desta iniciativa conta com um cartaz de luxo. O grupo Verdes Anosapresenta fados e guitarradas durante a tarde. Ao início da noite, é a vez do pre-miado escritor Gonçalo M. Tavares dar a palavra a mais uma personagem dasua colecção “Bairro”. A Brigada Victor Jara chega às 23 horas para servir aCeia Louca. As honras de encerramento do dia cabem a Armando Teixeira querevela A Grande Mentira, o último registo do projecto Balla.

HOJE À NOITE, NA FNAC COIMBRA

A Hora do VinylCURTA-METRAGEM DE PAULO ABRANTES

“Íntima Fracção”no Festival de Zagreb

A curta-metragem vídeo “IntimaFracção”, da autoria de Paulo Abrantes,foi um dos 10 filmes seleccionados peloFestival Black & White para a suaextensão ao One Take Film Festival2006, que decorreu em Zagreb – Croá-cia, de 17 a 19 do corrente mês. Estevídeo, que foi visionado no TheatreGric, é inspirado no programa de rádio“Íntima Fracção”, da autoria de Fran-cisco Amaral. Segundo as palavrasdeste criador e locutor do mais antigoprograma da rádio portuguesa, “o vídeorecorre a fotos feitas pelo PauloAbrantes nos estúdios da TSF emCoimbra, algures no ano de 1990, acres-cidas de muitas outras que, segundo oPaulo, prolongam nas imagens a emo-ção construída pelos sons da IF”.

E Francisco Amaral acrescenta:”Este vídeo comoveu-me, que é amaneira eufemista de dizer que me fezchorar. O trabalho de imagem que sedesenrola sobre pouco mais de 3 minu-tos de sons da IF, é uma visualizaçãofragmentada, intensa, mas que toca noque posso chamar a “alma da ÍntimaFracção” – ou será o coração? A ligaçãoentre o estúdio e as paisagens sonoras,finalmente transformadas em imagens(destino sempre procurado desde a edi-ção 1 da IF), podia ter sido feita pormim. Mas não foi! O facto da sensibili-dade do Paulo Abrantes ter encontradoos caminhos, tantas vezes cobertos de

bruma, ofereceu-me a paz e o confortode me reconhecer não sozinho. Devoacrescentar que o Paulo Abrantes aolongo de todos estes anos de ÍntimaFracção, teve acesso apenas duas vezesao estúdio onde se realizava a IF: umana RDP, em 1989, outra na TSF, em1990. Toda a experiência que o Pauloadquiriu sobre a IF foi, assim, sonora. Oque me comoveu (conjecturo! ...) terásido o retrato fiel da ambiência de reco-lhimento e isolamento que sempre vivino estúdio, cruzada com os grandesvoos sonoros que de lá partem.”

MAIS INFORMAÇÕES EM:h t tp : / /www.one take f i lmfes t i -

val.com/program.htmlwww.artes.ucp.pt/b&whttp://intima.blogspot.com/

Page 23: O Centro - n.º 15 – 29.11.2006

IINNTTEERRNNEETT 2233DE 29 DE NOVEMBRO A 12 DE DEZEMBRO DE 2006

Os diários de Ernesto Guevara de la Serna, o revo-lucionário argentino conhecido por Che Guevara, es-tão disponíveis na rede. Os textos foram escritos du-rante os seus tempos de guerrelheiro na Bolívia e onli-ne está o dia-a-dia do “comandante Che”. O projectoé uma parceria entre o Centro de Estudos Che Gueva-ra e o portal Cuba Sí.

O diário online reproduz os dias de luta na Bolíviadescritos pelo próprio Che Guevara e disponibilizaainda os cadernos e testemunhos de outros combaten-tes, documentos da guerilha, biografias, mapas, recor-tes da imprensa boliviana, infografias, os discursos docomandante, uma galeria de fotografias. Online desde7 de Novembro – exactamente 40 anos depois das pri-meiras anotações do guerrelheiro – este site é um vali-oso e histórico documento multimédia interactivo.

Links relacionados:http://cheguevara.cubasi.cu/ – Centro de Estudos

Che Guevarahttp://www.cubasi.cu/ – Portal Cuba Sí

Bolívia, Diário De Lutaendereço: http://www.diariochebolivia.cubasi.cu/categoria: história

Numa altura em que o Google vence a declaradaguerra na web, o Yahoo tenta resistir. Recentementelançou um site dedicado a comida e esta nova apostaé um interessante espaço de passagem. O Yahoo Foodinclui várias áreas como receitas, restaurantes, vídeostutorais e entrevistas a celebridades norte-americanas.

A estrela da companhia é a prendada apresentadorade televisão Martha Stewart, que apresenta receitaspráticas para o dia-a-dia, ideias para pratos mais sofis-ticados e dicas variadas para fazer refeições diferentes

e construir ambientes de lazer em casa. O principaltrunfo do site é a inclusão do vídeo, associado à pos-sibilidade de votação das peças, comentar e respondera desafios lançados pela apresentadora.

Yahoo Foodendereço: http://food.yahoo.com/ |categoria: culinária

O jornal espanhol El Mundo abriu o seu arquivo naInternet. Os utilizadores podem consultar na He-meroteca todos os textos publicados no jornal impres-so de 1994 a 2006, ou aceder aos arquivos da ediçãoonline – disponíveis a partir de 2002.

A possibilidade de gratuitamente aceder aos arqui-vos de um dos maiores diários europeus é uma novi-dade no novo contexto jornalístico online, onde osserviços para assinantes são cada vez mais uma cons-tante. A nova política do El Mundo já provocou alte-rações, nomeadamente no concorrente El País. Estediário espanhol lançou recentemente uma nova páginana web com um novo layout, conteúdos dinâmicos einteractivos e mais informação de acesso gratuito.Sinais dos tempos. Ou talvez não.

Link relacionado: http://www.elpais.com - site renovado do jornal El País

Hemeroteca do El Mundo endereço: http://www.elmundo.es/hemeroteca/categoria: informação

O novo site da escritora JK Rowling, autora dos famo-sos livros de Harry Potter, é um espaço de interactivida-de e animação que permite aos utilizadores navegar porum mundo de mistério. Nesta página dinâmica, a ficçãoe a realidade confundem-se. O universo de Harry Potteré, afinal, o da própria escritora. O espaço tem um designapelativo e eficaz. Para além do site estar traduzido emvárias línguas, há ainda uma versão que foi construídacom base em regras de usabilidade e que permitem oacesso a cidadãos com necessidades especiais.

JK Rowlingendereço: http://www.jkrowling.com/categoria: juvenil

A European Citizen’s Initiative é um movimento dasociedade civil europeia que tem como objectivo queos cidadãos europeus possam propor sugestões e alte-rações à legislação europeia.

A proposta tem como objectivo dar voz aos cidadãosnuma Europa a 25 onde as instituições têm um podercada vez mais incontestável. A campanha está em fasede angariação de assinaturas e de divulgação. No site daEuropean Citizen’s Initiative é possível consultar osobjectivos do movimento, os eventos da campanha, asorganizações patrocinadoras e aceder ao formuláriopara assinara petição. O mote está lançado: «Nós, abai-xo-assinados, queremos que a União Europeia dê forçalegal à Iniciativa dos Cidadãos Europeus, que prevê queum milhão de cidadãos Europeus possa propôr àComissão Europeia alterações da legislação europeia».

European Citizen’s Initiativeendereço: http://www.citizens-initiative.eu/categoria: cidadania

O site do Observatório da Imprensa está na rede pa-ra promover o debate sobre os conteúdos dos media.Depois de uma fase testes, o site está finalmente dis-ponível e conta com uma área destinada a debates pro-postos por cidadãos comuns. Em destaque uma áreasobre jornalismo e cinema. Trata-se de uma excelentecompilação com links interessantes, elaborada pelojornalista Joaquim Vieira – actual presidente da Di-recção do Observatório da Imprensa.

Para consultar também há uma secção de Clippingsobre a imprensa nos weblogs nacionais, uma área comnotas interessantes, espaços dedicados a debates e anún-cio de eventos, um arquivo (ainda em construção) deperiódicos portugueses, links úteis e um jornal do incrí-vel que apresenta um levantamento do que de mais ina-creditável foi publicado. Nesta última secção encontram-se “pérolas” publicadas em jornais portugueses como «Osuicídio precede algumas vezes a fuga». Criado em1994, o Observatório da Imprensa é uma associação pri-vada sem fins lucrativos, constituída por um grupo deprofissionais ligados à actividade jornalística

Observatório da Imprensaendereço: http://observatoriodaimprensa.pt/|categoria: jornalismo

IDEIAS DIGITAIS

Inês AmaralDocente do InstitutoSuperior Miguel Torga

BOLÍVIA, DIÁRIO DE LUTA

JK ROWLING

OBSERVATÓRIO DA IMPRENSA

HEMEROTECA DO EL MUNDO

EUROPEAN CITIZEN’S INITIATIVE

YAHOO FOOD

Page 24: O Centro - n.º 15 – 29.11.2006

O ministro dos Assuntos Parlamenta-res, Augusto Santos Silva, esteve emCoimbra no colóquio “Cultura e Comu-nicação”.

O que afirmou o senhor ministro de re-levante? Que “a lei da televisão deveprescrever e densificar obrigações cultu-rais”. Esta lei da televisão será a futura leida televisão. Essa mesma que agora foianunciada e já foi tratada pelos operado-res privados da forma que se esperava:prescrevam o que quiserem que esse me-dicamento não tomamos.

José Eduardo Moniz, director-geral daTVI já veio garantir ser “contra tudo oque interfira com a liberdade do jornalis-mo e a liberdade da programação, bemcomo a cedência a lobbies que se revelemautênticos parasitas da televisão”. Ao es-tilo bem português do “vocês sabem dequem é que eu estou a falar”, Monizdeixa no ar a ideia de que os parasitas datelevisão serão, eventualmente, os produ-tores de conteúdos culturais. Nada quenão soubéssemos que ele assim o imagi-nasse.

De alguma forma, esta ideia defendidapelo ministro Santos Silva não deixa deser uma ideia “peregrina”. Ele consideraque há “obrigações evidentes” no serviçopúblico de televisão, mas quer estender

estas obrigações, nem que sejam os servi-ços mínimos, aos operadores privados.Ora o que é peregrino é considerar sequerpossível que as coisas se venham a passarcomo a proposta de lei apregoa. Depoisde quinze anos de televisão privada, emque supostamente a actividade das esta-ções de televisão devia ter sido analisadaà luz do cumprimento, ou não, dos seuscompromissos em função do bem que lhetinha sido entregue, das duas uma, ou aintenção é boa, mas inocente, ou é fortís-sima demagogia.

Ninguém acreditaque o actual “Estadode direito” em quevivemos, consigaimpor seja o que foràs estações privadasde televisão. E quan-do falo em impor,falo em regras. Regras que têm a ver como respeito pelo público. A actividade pri-vada, seja qual for, não pode servir-se dopúblico a todo o custo. Um restauranteque tenha géneros alimentícios em mauestado, não pode continuar de porta aber-ta. O problema é que, habitualmente, ne-nhum espectador aparece nas urgênciashospitalares depois de uma ingestão demaus produtos televisivos e torna-semuito difícil comprovar que eles eramnocivos à saúde.

O ministro Santos Silva recordouainda que a “lei portuguesa e a directivaeuropeia, são claras”, ao impor a difusãode obras criativas em língua portuguesa,bem como de produção europeia. Claras!Como se também aqui, o ser claro fossesinónimo de coisa a cumprir! Ainda porcima, nesta matéria, os canais estatais quedeviam dar o exemplo, fazem perigosas

derivas. Veja-se o caso extremo da Dois,que não dispensa no seu prime-time, apóso Jornal das 22, de um bloco de sériesnorte-americanas a que resolveram cha-mar de “culto” para assim se justificarem.

Ainda no colóquio sobre “Cultura eComunicação”, o mesmo ministro refe-riu-se à inclusão, na nova lei, da educa-ção para os media. Será o serviço públicoa ter a seu cargo esta função. Nada demais correcto, embora muito tardio. Oproblema, enorme, está em saber como se

poderá fazer, hoje,“educação para osmedia” sem beliscaros canais privadosde televisão e o pró-prio serviço público.

Anunciou ainda oministro que a con-tra-programação vai

acabar. Mas não vai. Da forma como éproposto o combate à contra-programa-ção, tudo, ou quase tudo, ficará namesma.

Parece que finalmente a situação, es-candalosa, mereceu a atenção do poder.Mereceu, mas o fundamental foi garantirque se passe a ideia de que “agora isto vaiacabar”... desde que não acabe. Assim,veja-se que estão desde logo garantidasas “situações excepcionais que impli-quem um prolongamento do telejornal”.Como não deve haver país europeualgum que consiga prolongar tanto os te-lejornais como o nosso, as circunstânciasexcepcionais vão passar a acontecertodos os dias. Para além disto, verifica-mos que as multas a aplicar, no contextotelevisivo, são apenas simbólicas: de7500 a 35000 euros.

Mas o mais espantoso é a antecedência

a que as estações de televisão ficam obri-gadas para, a partir daí, não poderemfazer qualquer alteração à sua programa-ção. 48 horas!

Dois dias! Para quê? Em Espanha, desde 1999 que a progra-

mação diária dos canais televisivos temque ser divulgada com 11 (onze) dias deantecedência. Dois dias não servem paranada, a não ser para dar a ideia de que seestá a evitar a contra-programação.

Em dois dias não há quase tempo paraos diários corrigirem a sua informação...Como é que os leitores das revistas de te-levisão e dos semanários e seus suple-mentos terão dessa maneira acesso rigo-roso às grelhas de programação dos ca-nais? Não terão.

Francisco Rui Cádima interrogou, apropósito: “Que ética de antena, que res-ponsabilidade social, que coerência econsistência se pode reconhecer a umcanal que anuncia o que mexe e remexenas suas grelhas com dois dias de antece-dência face ao horário de emissão? Háque ser rigoroso também nesta matéria. Esobretudo há que respeitar o público.Autorizar contra-programação até 48horas antes da emissão, na prática, redun-da numa autorização da contra-progra-mação e na manutenção da ‘selva televi-siva’que prolifera por aí sem qualquer in-tervenção da ERC nessa matéria em par-ticular.”

Como José Eduardo Moniz já anteci-pou, esta disposição vai ser consideradauma ingerência, um crime contra a liber-dade de programação. Pois então aguar-demos para ver a força que este governo,tão musculado para uns, conseguirá terpara defrontar os “adamastores da comu-nicação portuguesa”.

2244 TTEELLEEVVIISS ÃÃOO DE 29 DE NOVEMBRO A 12 DE DEZEMBRO DE 2006

PÚBLICA FRACÇÃO

Francisco [email protected]

EM MARCHA A REABILITAÇÃO DA BAIXA DE COIMBRA

Apenas 1.300 habitantes em 14 hectares da cidadeA Baixa de Coimbra é a zona conside-

rada prioritária pela Câmara Municipalno âmbito da reabilitação urbana emcurso. Isso mesmo foi afirmado peloVice-Presidente da autarquia, João Re-belo, no decorrer de um debate que de-correu na passada semana na LivrariaMinerva.

A sessão contou ainda com a presençade João Paulo Craveiro (Presidente daSociedade de Reabilitação UrbanaCoimbra Viva) e de Rui Mealha, arqui-tecto responsável pela solução urbanísti-ca da 1ª unidade de intervenção de recu-peração da Baixa de Coimbra. JoãoRebelo justificou as razões que levaram aque a Câmara tivesse escolhido a Baixa

como zona prioritária: “Porque é a zonaque está mais degradada e porque é aque-la onde é mais importante a renovação ecolocação de pessoas”, afirmou.

Num documento elaborado pela autar-quia foram identificadas 8 subzonas prio-ritárias, das quais a primeira correspondeà área de atravessamento do eléctrico rá-pido de superfície. “Sendo algo quedesde há 20 anos se falava na cidade, dei-xou de haver naquela área investimentona manutenção e conservação do edifica-do”, referiu João Rebelo, pelo que é umazona que “está em profunda degradação eruína”, sendo necessário, “por razões desegurança, demolir devido ao risco evi-dente”.

João Paulo Craveiro recordou o posi-cionamento estratégico da Baixa na dinâ-mica da cidade e revelou que a área a serintervencionada tem cerca de 14 hectarese uma população de 1.300 habitantes.

O Presidente da SRU salientou a ne-cessidade da “criação de condições deatractividade de acordo com padrões demodernidade e conforto”, referindo que areconstrução dos edifícios “deverá pre-servar a forma arquitectónica, mantendoo exterior das edificações e renovando ointerior”. Deverá ainda ser dada atençãoespecial ao estacionamento para residen-tes. A manutenção e incremento de activi-dades económicas estratégicas é outradas preocupações.

“Temos que ter projectos de altíssimaqualidade e, por outro lado, temos queconseguir que a intervenção se faça semvir a originar custos de manutenção de talordem que o projecto não tenha sustenta-bilidade económica”, referiu ainda JoãoPaulo Craveiro.

“Coimbra, como cidade histórica queé, não pode continuar a ‘dar-se ao luxo’de ter o centro histórico e a baixa, nome-adamente, naquele estado. Temos quecriar condições para atrair novos morado-res que gostem de lá viver e para tal tere-mos que garantir actividades âncora.Garantir vida intensa quer durante o dia,com as lojas abertas, quer durante o fimda tarde e a noite”, defendeu.