o centro - n.º 64 – 17.12.2008

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DIRECTOR JORGE CASTILHO | Taxa Paga | Devesas – 4400 V. N. Gaia | Autorizado a circular em invólucro de plástico fechado (DE53742006MPC) ANO III N.º 64 (II série) 17 a 30 de Dezembro de 2008 1 euro (iva incluído) Telef.: 309 801 277 Rua da Sofia, 95 - 3.º - 3000-390 COIMBRA Entrega do “Prémio Robalo Cordeiro” NA SEXTA-FEIRA PÁG. 17 JÓIA DE COIMBRA PRENDA DE NATAL PÁG. 4 PÁG. 5 Adopte um amigo no Canil Municipal Museu Machado de Castro vai reabrir PÁG. 11 PGR INVESTIGA Venda de prédio dos CTT de Coimbra O “novo” Mosteiro de Santa Clara-a-Velha Reabre hoje ao público o Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, um dos mais importantes monumentos de Coimbra, inundado pelo Mondego durante séculos, o que o viria a preservar de forma notável, como poderá ser apreciado pelos visitantes PÁG. 3

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Versão integral da edição n.º 64 do quinzenário “O Centro”, que se publica em Coimbra. Director: Jorge Castilho. 17.12.2008. Visite-nos em www.ismt.pt, www.youtube.com/youtorga, http://torgaemsms.blogspot.com, http://diarioxii.blogspot.com, http://torgaemsms2.blogspot.com, http://mapastorga.blogspot.com/ ~~~~~~~~~ Site oficial de Dinis Manuel Alves: www.mediatico.com.pt Encontre-nos no twitter (www.witter.com/dmpa) e no facebook (www.facebook.com/dinis.alves). Outros sítios de DMA: www.youtube.com/mediapolisxxi, www.youtube.com/fotographarte, www.youtube.com/tiremmedestefilme, www.youtube.com/camarafixa, http://videos.sapo.pt/lapisazul/playview/2, http://videos.sapo.pt/lapisazul/playview/3 e em www.mogulus.com/otalcanal Ainda: www.mediatico.com.pt/diasdecoimbra/ , www.mediatico.com.pt/redor/ , www.mediatico.com.pt/fe/ , www.mediatico.com.pt/fitas/ , www.mediatico.com.pt/redor2/, www.mediatico.com.pt/foto/yr2.htm, www.mediatico.com.pt/manchete/index.htm , www.mediatico.com.pt/nimas/ www.mediatico.com.pt/foto/index.htm , www.mediatico.com.pt/luanda/, www.slideshare.net/dmpa , www.panoramio.com/user/765637

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Page 1: O Centro - n.º 64 – 17.12.2008

DIRECTOR JORGE CASTILHO

| Taxa Paga | Devesas – 4400 V. N. Gaia |Autorizado a circular em invólucrode plástico fechado (DE53742006MPC)

ANO III N.º 64 (II série) 17 a 30 de Dezembro de 2008 � 1 euro (iva incluído)

Telef.: 309 801 277Rua da Sofia, 95 - 3.º - 3000-390 COIMBRA

Entregado “PrémioRobaloCordeiro”

NA SEXTA-FEIRA

PÁG. 17

JÓIA DE COIMBRA PRENDA DE NATAL

PÁG. 4PÁG. 5

Adopteum amigono CanilMunicipal

MuseuMachadode Castrovai reabrir

PÁG. 11

PGR INVESTIGA

Vendade prédiodos CTTde Coimbra

O “novo” Mosteiro de Santa Clara-a-Velha

Reabre hoje ao público o Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, um dos mais importantes monumentos de Coimbra,inundado pelo Mondego durante séculos, o que o viria a preservar de forma notável, como poderá ser apreciado pelos visitantes

PÁG. 3

Page 2: O Centro - n.º 64 – 17.12.2008

2 17 A 30 DE DEZEMBRO DE 2008NACIONAL

Director: Jorge Castilho(Carteira Profissional n.º 99)

Propriedade: AudimprensaNIF: 501 863 109

Sócios: Jorge Castilho e Irene Castilho

ISSN: 1647-0540

Inscrito na DGCS sob o n.º 120 930

Composição e montagem: AudimprensaRua da Sofia, 95, 2.º e 3.º - 3000-390 Coimbra

Telefone: 309 801 277 - Fax: 309 819 913

e-mail: [email protected]

Impressão: CORAZEOliveira de Azeméis

Depósito legal n.º 250930/06

Tiragem: 10.000 exemplares

Rotary Club de Coimbra/Olivaisrecebeu visita do Governador

Maria Helena Goulão, Presidente do Rotary Club de Coimbra/Olivais, José RibeiroFerreira, do Rotary Club de Coimbra, Henrique Maria Alves, do Rotary Clube dasAntas-Porto e Governador do Distrito Rotário 1970, e Albertino Sousa, do RotaryClub de Coimbra/Olivais, na cerimónia de saudação às bandeiras

O Rotary Club de Coimbra/Olivais re-cebeu anteontem (segunda-feira), a visi-ta do Governador do Distrito Rotário aque pertence, Henrique Maria Alves.

Durante a visita foram tratadas diver-sas questões relacionadas com o movi-mento rotário e, especificamente, com asacções de solidariedade que têm vindo aser desenvolvidas, e outras que estão pla-neadas, pelo Rotary Club de Coimbra/Oli-vais, presidido por Maria Helena Goulão.

A encerrar a visita, efectuou-se o jan-tar de confraternização alusivo ao Na-tal, em que participou também o Gover-nador e elementos de outros clubes ro-tários.

Depois do ritual de saudação às ban-deiras (Nacional, de Coimbra e do Clu-be anfitrião), a Presidente Maria HelenaGoulão saudou os presentes, com desta-que para o Governador e sua Mulher,referindo a acção de solidariedade queesta última tem em curso, destinada aangariar fundos para apoiar obras meri-tórias em países africanos.

O Governador Henrique Maria Alvesusou depois da palavra para manifestaro seu regozijo por se encontrar em Co-

imbra, agradecendo a recepção caloro-sa que lhe fora feita.

Recordou depois os objectivos domovimento rotário internacional, cujolema manda que se pense primeiro noseu semelhante, e aludiu à obra que temsido levada a cabo em todo o Mundo,nomeadamente nos campos da saúde, docombate à fome, na defesa dos direitosda criança. Destacou, como exemplo, ocombate à poliomielite, referindo, comocuriosidade, que a comunidade muçulma-na, ao contrário do que antes sucedia, jáestá a aceitar vacinas provenientes dosEstados Unidos da América.

Henrique Maria Alves congratulou-sedepois com a intensa actividade solidá-ria que o Rotary Club de Coimbra/Oli-vais tem em curso, citando, como exem-plo, os casos do apoio à Casa dos Po-bres, à Escola da Pedrulha, ao Centrode Apoio à Terceira Idade de S. Marti-nho do Bispo.

Sublinhou, por último, que os membrosdo movimento rotário devem fazer o im-possível para realizar os sonhos do seusemelhante, para assim concretizarem osseus próprios sonhos.

Governo concedetolerância de pontoa 24 de Dezembro

O Governo deliberou conceder tole-rância de ponto a 24 de Dezembro e, emalternativa, a 26 de Dezembro e 2 deJaneiro, aos funcionários e agentes doEstado, dos institutos públicos e dos ser-viços desconcentrados da AdministraçãoCentral.

A tolerância de ponto consta num des-

pacho do primeiro-ministro, José Sócra-tes, ontem divulgado.

No despacho, o chefe do Governojustifica que “é tradicional a deslocaçãode muitas pessoas para fora dos seuslocais de residência no período natalí-cio, tendo em vista a realização de reu-niões familiares”.

“É concedida tolerância de ponto nopróximo dia 24 de Dezembro e, em al-ternativa, nos dias 26 de Dezembro ou02 de Janeiro, aos funcionários e agen-tes do Estado, dos institutos públicos edos serviços desconcentrados da admi-nistração central”, refere o despacho doprimeiro-ministro.

Ficam excluídos da tolerância de pon-to “os serviços e organismos que, porrazões de interesse público, devam man-ter-se em funcionamento naquele perío-do em termos a definir pelo membro doGoverno competente”.

No entanto, os funcionários que terãode estar a trabalhar nos dias de tolerân-cia de ponto poderão beneficiar posteri-ormente de uma “equivalente dispensado dever de assiduidade (...) em dia oudias a fixar oportunamente” pelos res-pectivos “dirigentes máximos dos servi-ços e organismos”.

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317 A 30 DE DEZEMBRO DE 2008 NACIONAL

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Neste trabalho, Zé Penicheiro,com o seu traço peculiar e a incon-fundível utilização de uma invulgarpaleta de cores, criou uma obra quealia grande qualidade artística a umprofundo simbolismo.

De facto, o artista, para represen-tar a Região Centro, concebeu umaflor, composta pelos seis distritos queintegram esta zona do País: Aveiro,Castelo Branco, Coimbra, Guarda,Leiria e Viseu.

Cada um destes distritos é repre-sentado por um elemento (remeten-do para o respectivo património his-tórico, arquitectónico ou natural).

A flor, assim composta desta for-

ma tão original, está a desabrochar,simbolizando o crescente desenvolvi-mento desta Região Centro de Portu-gal, tão rica de potencialidades, de His-tória, de Cultura, de património arqui-tectónico, de deslumbrantes paisagens(desde as praias magníficas até às ser-ras imponentes) e, ainda, de gente hos-pitaleira e trabalhadora.

Não perca, pois, a oportunidade dereceber já, GRATUITAMENTE ,esta magnífica obra de arte (cujas di-mensões são 50 cm x 34 cm).

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Esquecido durante séculos, em ruínasdevido à invasão das águas do Monde-go, o Mosteiro de Santa Clara-a-Velha,em Coimbra, agora requalificado, vai serhoje (quarta-feira) devolvido à cidade,recriando o universo das monjas que ohabitaram ao longo da história.

Iniciado no final do Século XIII paraacolher as freiras clarissas, o conventofeminino fundado pela Rainha Isabel deAragão, que o escolheu para passar oresto da vida, travou ao longo dos sécu-los uma batalha inglória com o alagamen-to provocado pelas cheias do Rio Mon-dego, que o arruinaram e levaram ao seuabandono.

Objecto, desde 1991, de um ambicio-so projecto de recuperação e valoriza-ção da ordem dos 7,5 milhões de euros,o Mosteiro abre hoje parcialmente aopúblico, dotado com um moderno centrointerpretativo – como revelou hoje àagência Lusa o coordenador da interven-ção, Artur Côrte-Real.

Segundo este responsável, a partir

UM IMPONENTE MONUMENTO QUE O RIO MONDEGO SACRIFICOU

Mosteiro de Santa Clara-a-Velha reabre hojedesta altura já será possível uma visita àruína e assistir à projecção do filme “Me-morial à Água”, ocorrendo a aberturaoficial em data a anunciar mais tarde.

Proporcionando uma viagem ao pas-sado, ao universo das monjas que lá vi-veram, o Mosteiro, agora devolvido à ci-dade no âmbito do projecto da Direcção-Regional de Cultura do Centro, vai cons-tituir mais um importante pólo de anima-ção cultural e atracção turística.

Face à importância da ruína e dos “es-pólios riquíssimos” nela colectados poruma vasta equipa de especialistas de di-versas áreas e resolvido o problema doalagamento com a construção de umacortina periférica (uma estrutura enter-rada que permite proteger todo o recintoe a área de reserva arqueológica), foidecidido edificar um centro interpretati-vo que vai acolher a “história do sítio” –explicou Artur Côrte-Real.

“Para além do olhar sobre a belezaplástica do monumento, queremos queos visitantes conheçam este universo

riquíssimo associado a Isabel de Ara-gão e a Inês de Castro”, sublinhou oarqueólogo.

Contar a história do mosteiro e dasfreiras que nele viveram, numa perspec-tiva que não será apenas religiosa, é pos-sível graças aos imensos materiais reco-lhidos das escavações arqueológicas,num trabalho que envolveu especialistasdas áreas da antropologia, arqueologia,história de arte, biologia, engenharia egeologia, entre outras.

Mas os espólios recolhidos permitemreproduzir também a origem das freiras,oriundas da nobreza, através, nomeada-mente, das campainhas de serviçais en-contradas, entre vários objectos, numaviagem à vida mundana da época.

“Este projecto faz parte de um per-curso de persistência, exigência e muitapaixão. Foi alterado constantemente faceàs especificidades do sítio. O objectivofoi não danificar a ruína, minimizar osefeitos da empreitada”, disse Artur Côr-te-Real, ao realçar que a potência arque-

ológica do espaço se mantém intacta.A nível paisagístico, com o enquadra-

mento do Polis, a intervenção “foi trans-versal”, proporcionando sempre um olharsobre o mosteiro.

Pensado para público e investiga-dores, o centro interpretativo consis-te num edifício de mil metros quadra-dos, com funções museológicas, do-tado de um auditório, salas de exposi-ções, uma loja e uma cafetaria volta-da para o monumento (que será ex-plorada pelo Hotel Quinta das Lágri-mas), num espaço onde o elementoágua está sempre presente.

“O centro pretende acolher as pesso-as numa perspectiva de acolhimento di-ferente, conjugando o passado e o pre-sente numa harmonia sumptuosa. Ten-tou-se personificar os actores deste uni-verso monástico, saber o que comiam, oque bebiam, dando a vivência da comu-nidade e não centrando toda a históriana figura da Rainha Santa Isabel”, disseainda Artur Côrte-Real.

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4 17 A 30 DE DEZEMBRO DE 2008MUNDO ANIMAL

A Cookie é uma cadelinha com cerca de1 ano, de porte pequeno, muito meiga ecalminha. Tem a particularidade de terum olho castanho e outro azul clarinho

O Dominó é um cãozinho doce, de portepequeno, abandonado pelo dono noCanil, e que provavelmente deve ter sidovítima de maus-tratos, pois está quasesempre triste e escondido. No entanto, ésuper meigo, e quando ganha confiançacom as pessoas é muito brincalhão.Precisa urgentemente de uma famíliaque tenha paciência com ele e que lhedê muito carinho

A Guapa é uma cadelinha muito, muitopequenina, que teve bebés e que jáforam adoptados. Ela ainda espera quealguém a adopte! È uma ternura, muitomeiga e adora saltar para o nosso colo!Cativa qualquer pessoa

A Flay foi entregue no Canil pela dona.Tem dois bebes muito bonitos e é umaexcelente mãe. È também muito meiga etem um olhar muito doce. È calminha edeve ser uma boa cadela para ter emapartamento

O BOB é um Dalmata adulto, com 8 anos,castrado, que foi entregue no canil pelodono. Como todos os cães entregues nocanil pelos donos é um pouco triste.Mas que voltará a alegrar-se quandotiver novo dono

O MURPHY tem cerca de 2 anos de idadefoi encontrado abandonado e é muitomeigo

O RALPH foi encontrado abandonado eestava muito magro, condição que aindamantêm embora já tenha melhorado.Tem cerca de 2 anos e é muito meigo

O SPEEDY é um podengo, estavaabandonadoe tem 8 meses.É muito brincalhão e muito atentoa tudo o que se passa à sua volta

O TOMMY também foi abandonadoé um cão muito engraçado, tem unsolhosmuito bonitos e tem cerca de 1 ano deidade

CAMPANHA “COIMBRA ADOPCÃO”

Um grande amigo como prenda de NatalO Canil/Gatil Municipal de Coimbra pros-

segue uma campanha intitulada “Adop-Cão”, com o seguinte lema: “Adoptemum animal no Canil Municipal”.

Trata-se de uma iniciativa muito meritó-ria, que permite que pessoas que gostam deanimais ali possam ir buscar um fiel compa-nheiro, sem nada pagarem por isso.

São muitos os cães (e também algunsgatos) que esperam que gente com bomcoração os vá adoptar, tendo como recom-pensa conquistarem um amigo para toda avida, já que estes animais rapidamente seadaptam aos seus novos donos (que, paraalém do mais, os estarão a poupar a um fim

nas custam uns minutos na deslocação, paraescolher um companheiro (ou companhei-ra) para a vida, que será sempre fiel e deuma enorme dedicação e em troca apenaspede um pouco de atenção e de carinho.

O Canil/Gatil Municipal fica no Campodo Bolão, Mata do Choupal, onde os ani-mais esperam, ansiosos, por uma nova casae uma nova família.

Os interessados em obter mais informa-ções podem ligar para o telemóvel 927 441888 (a qualquer hora), ou para o Canil/Gatl(das 9 às 17h30 dos dias úteis) através dotelefone 239 493 200.

Podem também enviar um e-mail para

muito triste e tremendamente injusto).Aproxima-se a época de Natal, e é sabi-

do como os tempos de crise que se atraves-sam tornam mais complicada a aquisiçãode prendas, sobretudo para a miudagem.

Ora a verdade é que um cão ou um gatoé sempre um presente bem recebido, desdeque a pessoa a quem ele se oferece gostede animais, não os encare como um brin-quedo ou um objecto e tenha condições mí-nimas para deles tratar convenientemente.

Se for o caso, está encontrada uma ex-celente forma de dar prendas de Natal deenorme valor (basta ver os preços nas lojasde animais!...), mas que no Canil/Gatil ape-

[email protected] consultar o sitewww.cm-coimbra.pt/741.htmOs dias e horas especificamente desti-

nados às adopções são os seguintes:- segundas-feiras, das 14h30 às 16h30;- quintas-feiras, das 10 às 12 horas.Excepcionalmente, também este

sábado, das 14 às 18 horas.Abaixo vêem-se alguns dos bons aami-

gos de 4 patas que estão à espera de quealguém queira aproveitar todo o carinho quetêm para dar.

Se gosta de animais, não hesite! Faça felizum destes que esperam por si.

Page 5: O Centro - n.º 64 – 17.12.2008

517 A 30 DE DEZEMBRO DE 2008 COIMBRA

Escavações no Museu Nacional deMachado de Castro desvendaram novosdados sobre a Coimbra romana, de há2.000 anos atrás, que em Janeiro próxi-mo serão mostrados ao público.

As pessoas vão poder passear pelasextensas galerias dos dois pisos do crip-topórtico romano, que há dois miléniosos cidadãos da Aeminium também utili-zariam, para aproveitar da sua frescuraem dias muito calor.

Escavações realizadas no âmbito dasobras de requalificação e ampliação domuseu, ao longo dos últimos dois anos,permitem agora reconstituir virtualmen-te – e pela primeira vez – o que foi oantigo fórum da época de Claudio, e re-velar a sua monumentalidade.

“Finalmente o criptopórtico vai ter aprojecção que merece, porque é um edi-fício notável. Esta é sem dúvida umadas mais notáveis obras da arquitectu-ra romana em Portugal que subsis-tem”, declarou à agência Lusa o ar-queólogo Pedro Carvalho, coordenadordas escavações.

De grande monumentalidade, comdois pisos e uma área de implantação decerca de 2.800 metros quadrados, o crip-topórtico serviu para superar o decliveda zona onde foi implantado o Fórum deAeminium, em meados do século I A.C., assumindo-se como o centro social,político e cultural da civitas romana.

“Foi possível encontrar mais estru-turas do criptopórtico e do Fórum deAeminium, que nos permitem agora,pela primeira vez, propor uma imagemvirtual do que seria o edifício romanohá dois mil anos atrás”, revelou o ar-queólogo, igualmente docente da Uni-

Escavações no Museu Machado de Castrotrazem nova luz sobre período romano

VAI REABRIR EM JANEIRO

versidade de Coimbra.Segundo o especialista, trata-se da

obra de um arquitecto, presumivelmentede Caius Sevius Lupus, muito engenho-so, na forma de conceber o espaço. Asduas galerias sobrepostas foram implan-tadas no terreno submetendo-se a um de-senho geométrico, com medidas muitocertas, articulando formas e volumes,“aliando as principais características daarquitectura romana, de edifícios muitorobustos, muito funcionais, e ao mesmo

tempo muito belos”.Os trabalhos arqueológicos aí realiza-

dos no âmbito do projecto de requalifi-cação e ampliação do arquitecto Gonça-lo Byrne, possibilitaram um melhor co-nhecimento do edifício e das suas muta-ções ao longo do século, bem como da

malha urbana da “Alta” da cidade.Uma zona escavada revelou a parte

externa do Fórum e permitiu aprofundaro conhecimento as redes de água e deesgotos romanas, com um condutor degrandes dimensões, “muito bem conser-vada e articulada”, no qual uma pessoapode circular no seu interior, e para o qualainda vazavam algumas habitações dasimediações do criptopórtico.

A conduta de água iria entroncar noantigo aqueduto romano, junto ao Jardim

Botânico, que o rei D. Sebasti-ão mandou reconstruir e hoje épopularmente conhecido como“Arcos do Jardim”.

Foi ainda descoberta umafonte monumental que estariaimplantada na fachada do Fó-rum, e seria ladeada por umapraça. Este e outros achados doperíodo claudiano, em resulta-do do projecto de requalificaçãodo museu, vão estar visíveis aquem circular na rua.

Com a abertura do cripto-pórtico romano, em Janeiro,será também inaugurada a ex-posição “De Fórum a Museu.Permanências”, que se man-terá visitável até à reaberturatotal do museu, a dar conta dostrabalhos arqueológicos reali-zados e a explicar as obras derequalificação e ampliação aírealizadas.

A requalificação do Museu Nacionalde Machado de Castro, iniciada em Ou-tubro de 2006, englobou novas edifica-ções em zonas anexas, onde antigamen-te existiam casas de habitação, que aolongo dos anos foram sendo expropria-das para desenvolver trabalhos arqueo-

lógicos, e aprofundar o conhecimento doFórum claudiano e malha urbana envol-vente.

O projecto de arquitectura, da autoriade Gonçalo Byrne, além de procurar umacoerência entre o edifício do museu comas novas construções, procurou articu-lar entre si um conjunto de preexistênci-as arquitectónicas, desde o criptopórticoromano até ao paço episcopal, passandopelos vestígios românicos da igreja de SãoJoão de Almedina e do seu claustro.

O novo espaço edificado, que dupli-cará a área do museu, albergará galeri-as de exposições, as reservas, uma ca-fetaria-restaurante panorâmica, comacesso independente, e os serviços ad-ministrativos, estes ligados por uma pas-sagem sob uma rua.

Um dos espaços emblemáticos do“novo” museu, além do criptopórtico ro-mano, será a Capela do Tesoureiro, daautoria de João de Ruão (século XVI),que foi trasladada nos anos 60 da antigaigreja de S. Domingos, na Rua da Sofia,onde hoje existe um centro comercial.

Segundo a Directora do museu, AnaAlcoforado, a nave da capela será exibi-da como uma peça de exposição, e comoespaço onde serão mostrados os retábu-los da renascença. A capela será envol-vida pela escultura em pedra pré-româ-nica, românica e gótica.

Quando reabrir, o público poderá ain-da aceder a um conjunto de recursosbaseados em novas tecnologias, parauma compreensão global do espólio domuseu, e para fomentar a interacção comescolas.

Haverá audio-guias, para orientar osvisitantes nos percursos pelas exposi-ções, a possibilidade de visita virtual eum conjunto de informação em folhetose publicações para mostrar a dimensãodo espólio, que a directora considera sero segundo a nível nacional.

Após a reabertura parcial em Janeiro,ao longo de 2009 será executado o pro-jecto museológico, com vista à reabertu-ra da totalidade dos espaços expositivos.Em 2010 deverá ficar concluído o audi-tório do museu, na Igreja de S. João deAlmedina.

Para 2011 já está a ser preparada umaprogramação especial evocativa do cen-tenário da fundação do Museu Nacionalde Machado de Castro.

Ana Alcoforado quer que o “novo”museu seja “um espaço público de cida-dania, arte e cultura”, recriando as fun-ções de fórum da Aeminium, de há 2000anos atrás.

Texto de Francisco Fontese fotos de Paulo Novais (Lusa)

Ana Alcoforado num dos locais do Museu onde decorrem as obras

Aspecto parcial do magnífico criptopórtico romano

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6 17 A 30 DE DEZEMBRO DE 2008INTERNACIONAL

Fiodor Lukyanov *

* in revista A Rússia na Política Global

Em 10 de Dezembro o Prémio Nobelde Paz foi entregue a Martti Ahtisaari. Oex-primeiro-ministro finlandês recebeu emOslo este maior galardão político pelo seuempenho na solução de conflitos locais emvários recantos do planeta. Mas, a opiniãopública mundial entendeu o acto como umprémio especial pelo contributo do finlan-dês para o caso do Kosovo.

O Prémio Nobel de Paz é sempre umindicador da pulsação do sistema interna-cional. A escolha deste ano é um sintomamuito característico: foi distinguido o planode solução que nunca chegou a ser aceite,ou seja, falhou, contribuindo para acçõesvioladoras do direito internacional. Tambémcriou um precedente prenhe de gravesconsequências. O ano de 2008 decorreusob o signo de reconhecimentos de inde-pendência ilegais: primeiro do Kosovo, edepois da Abcásia e da Ossétia do Sul. Istoé, foi violada a integridade territorial res-pectivamente da Sérvia e da Geórgia.

ENTRE A LETRAE O ESPÍRITO

Um traço distintivo dos últimos anos temsido a crescente contradição entre as re-gras internacionais, à primeira vista nãocontestadas, e os novos princípios usadospor alguns países nas suas acções reais.Depois da «guerra fria», as instituições –as organizações internacionais e as normaslegais – quase não sofreram mudanças.Mas, estando formalmente em vigor, en-contram-se deformadas. Diluíram-se con-ceitos básicos tais como a soberania, a in-tegridade territorial, os critérios de uso deforça.

Apareceram, embora não consagradospelo direito nternacional, novos conceitos– intervenção humanitária, força suave(soft force) – que passaram a ser usadospelos grandes países. A maioria dos Esta-dos continuava a contestar a revisão daprática das relações internacionais, apro-

A Casa Europeia 40 anos depoisveitada amiúde pela parte que se conside-ra vencedora da «guerra fria». Era impos-sível alterar formalmente as regras do jogo,e o fosso entre a letra e o espírito continu-ava a aumentar.

HELSÍNQUIA-2

Moscovo encontra-se numa situaçãocomplexa. Depois da queda da URSS, aRússia defendia o status quo, pois queriareter algo do património geopolítico. Via deregra, os mais activos defensores do direi-to internacional são os países que não po-dem alcançar os seus objectivos por meiode força, e vice-versa.

Nos últmos dois anos, a Rússia, comose vê, evoluiu para o revisionismo: come-çou a alterar as regras vigentes. Moscovocritica duramente a OSCE, anunciou umamoratória sobre a participação no Tratadosobre as Forças Convencionais na Euro-pa, recusou-se a ratificar o acordo para aCarta Energética e reconheceu unilateral-mente a independência de duas repúblicascaucasianas. Moscovo insiste em alteraras regras do jogo e renovar a arquitecturada segurança europeia.

No entanto, uma análise atenta da polí-tica russa leva-nos a uma conclusão paro-doxal. Apesar dos gestos bruscos, Mosco-vo continua a ser (a Abcásia e a Ossétiado Sul são apenas uma excepção) fieladepto do status quo, mas daquele que jánão existe. Na verdade, a Rússia tentavoltar aos princípios revistos de facto apósa «guerra fria».

Pode-se afirmar que as ideias do Presi-dente Medvedev, avançadas este Verão emBerlim, são, de facto, uma repetição doconteúdo da Acta Final da Conferência deHelsínquia de1975. É verdade, porém, quedevido às divergências entre a base legal epolítica real, estes princípios precisam deuma nova legitimação. Nos anos decorri-dos desde então, o Velho Mundo mudouirreconhecivelmente, sendo necessário res-tituir inteiramente o famoso espírito de Hel-sínquia. Ou seja, encher com conteúdo ostrês cestos – o político-militar, o económi-co e o humanitário. A Europa precisa de

uma confirmação abalizada dos acordosconseguidos há quase 40 anos.

A VELHA NOVA AGENDA

Em primeiro lugar, trata-se do equilíbrioe da confiança na esfera da segurança.No ano passado fracassou a tentativa daRússia de promover um debate, no quadroda OSCE, sobre o problema do Tratadosobre as Forças Convencionais na Euro-pa. Os parceiros recusaram-se a fazê-lopois a OSCE perdeu, faz muito, este as-pecto da sua actividade. Desde os anos90, as grandes potências da Europa e osEUA afirmam que a NATO é a melhorgarante da segurança do Velho Mundo.

Um outro problema são as fronteiras.De novo é precisa a sua confirmação,poiso mapa europeu mudou por mais de umavez desde a Acta de Helsínquia. Entre ospaíses no espaço pós-soviético não há ne-nhum (a Rússia inclusive) que possa afir-mar que as suas fronteiras «são garanti-das, naturais e historicamente justificadas».

Em segundo lugar, a atmosfera político-económica na Grande Europa constitui umfenómeno complexo: assiste-se a uma cons-

tante politização da economia, reflectindoum baixo nível de confiança geral.

Em terceiro lugar, a defesa da demo-cracia e dos direitos do homem é uma gran-de conquista do processo europeu. Para amaioria dos países membros da OSCE, in-cluindo a Rússia, seria útil reafirmar o seuapego a estes princípios. Mas a ideia de-mocrática deve ser protegida não apenasde atentados autoritários, mas também dasua instrumentalização em nome de objec-tivos geopolíticos, o que acontece nomea-damente sob a capa de «avanço da demo-cracia».

Do ponto de vista do bem-estar geral, ainiciativa de Moscovo mereceria ser apoi-ada. Mas surge a pergunta: será vantajosopara a Rússia iniciar o processo Helsín-quia-2? Aliás, o processo que levou para aActa Final da Conferência sobre Seguran-ça e Cooperação na Europa, assinada em1975, foi longo e atormentado.

O OCIDENTE NÃO ESTÁPRONTO A DIALOGAR

A Rússia de hoje tem muito menos ins-trumentos políticos que a ex-URSS. Mos-covo tem falta de aliados e a sua depen-dência dos factores externos é grande. Aeficácia do aparelho de gestão estatal e arectaguarda socioeconómica deixam mui-to a desejar.

Vale a pena, nesta situação, lutar por umarevisão cardinal das regras do jogo, cor-rendo um risco de piorar, em vez de me-lhorar, o status quo?

Que o planeta precisa de «uma novaordem mundial», nunca surgida após aguerra fria, não há dúvidas. Mas existemdúvidas de que as grandes potências, no-meadamente as ocidentais, têm a consci-ência disso e estarão prontas a encetar umsério diálogo. Sem esta consciência é difí-cil, ou quase impossível, perspectivar ob-jectivos a longo prazo. Embora isto não devaservir de obstáculo para fazer pequenasobras no sistema ainda existente, a fim deevitar o seu desmoronamento descontro-lado.

Martti Ahtisaari

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717 A 30 DE DEZEMBRO DE 2008 NACIONAL

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Por Sertório Pinho Martins

A cada parangona de mau-olhado so-bre a nossa desgraça colectiva, que aspitonisas e cartomantes da política dão àluz nos pasquins do costume e nas tele-visões de maus costumes, tremo só depensar em quatro tipos de leitores ououvintes basbaques: os distraídos pornatureza, os incrédulos por hábito, osdesconfiados por sistema e os desenten-didos do que lhes é metido pelos olhosdentro. E todos juntos perfazem a maio-ria das vítimas inocentes da crise queaterrou sobre todos nós, ainda por cimavítimas sem hipótese de escapar à pragavinda de nenhures. Porque bem vistasas coisas, a falta de confiança no siste-ma financeiro, os off-shores montadose usados subterraneamente, as irrespon-sáveis aventuras bolsistas de particula-res e públicos (públicos impunes), os in-vestimentos milionários em empresasfalidas ou inexistentes, a cavalgada doscombustíveis e respectiva cartelizaçãodos preços (politicamente consentida), asfalências fraudulentas, o salvar do afo-gamento (com o dinheiro dos contribuin-tes!) alguns bancos afundados pelos pró-prios timoneiros, os projectos megalóma-nos, as habilidades orçamentais para tra-vestir uma tragédia com cores de espe-rança em que ninguém já acredita, osbraços-de-ferro apenas para salvar fa-ces retalhadas pela teimosia fora-da-re-alidade, o preço a pagar pela suprema-cia de vaidades políticas sobre a tristenudez do nosso quotidiano atolado embecos sem saída, e tanto, tanto mar-chãoiludido de oceano sem fundo – todo esteror de desgraças é obra (e que obra!) demeia dúzia de protegidos do sistema quese riem da impunidade que têm por se-gura. Porque a tempestade só há-de de-sabar sobre os distraídos, os incrédulos,os desconfiados e os desentendidos!

A verdade de hoje, é mentira amanhã.A esperança de agora, é desencanto maislogo. As balelas dos políticos, são o ca-dafalso das ilusões dos pobres de espíri-to que vêem luz em cada porta que seabre-e-fecha no lapso de todas as ver-dades desmentidas. O défice de 2,2%,

Pão com manteigadito como para manter em 2009 dê poronde der, pode passar a 3% no breveespaço de uma entrevista de Teixeira dosSantos – e lá vai para o cesto dos papéisum Orçamento que há 15 dias era into-cável e foi aprovado com gritos de júbilopela maioria parlamentar. O apoio àsempresas agora decidido em conselho deministros de afogadilho, é desmentido naimprensa do dia seguinte com o títulobombástico de que esse apoio está reti-do às ordens de quem o tem à sua guar-da – mas no minuto seguinte decerto vai

aparecer um desmentido de fonte ´pró-xima’ ou ‘autorizada’ a denunciar a ca-bala. O ministro da Agricultura afirma apés juntos que este ano pagará até aofim do ano os subsídios de 2008 (os mes-mos que no anterior só viram a luz do diaseis meses depois), e os agricultores ge-lados até aos ossos estão numa de ver-para-crer o que vai suceder por exem-plo com o RPU de 2008, quando reco-meçarem as desculpas de que primeirohá verificações a fazer no terreno (à úl-tima hora, claro!). E a José Sócrates nãobasta esfolar-se a tapar os rombos dobarco, a correr o convés da popa à proa,porque a marinhagem que tem à sua voltaenjoa com as ondas e já viaja amarradaaos mastros. E como Cavaco não deixa-rá ir o bote ao fundo, e Manuel Alegre jáavisou que pode ir a votos por uma ‘novaesquerda’, está na cara que 2009 não é

para cardíacos!A coisa vai ficar feia no ano que aí

vem e no que depois dele virá! Todas asinstâncias responsáveis além-fronteiraso afirmam sem rebuço e com a cábulabem decorada. Mas no nosso quintaldoméstico mora a ilusão fugaz, e as gran-des decisões começam a ser feitas comos empurrões do poder que caiu na rua,da pressão retesada das corporaçõesprofissionais deixadas de fora do bodooferecido à banca falida, e do ‘salve-sequem puder’ enquanto há avales dispo-

níveis e luz verde para fartar-vilanagem.Ninguém “avalia” banqueiros e empre-sários mal-sucedidos (nem pede contasa supervisores que não supervisam coi-sa-nenhuma), empunhando a mesma bi-tola vesga e de freio apertado que osprofessores vão ser obrigados a morderaté ao aço frio da rendição. Como disse-mos uma vez nesta coluna, o Estado andapor maus pisos e nós vamos ter de andarpor pisos em mau estado durante pelomenos dois anos.

A casa portuguesa não é farta quebaste para se dar ao luxo de ficar sem opão de cada dia, porque a cairmos nessaravina, o passo seguinte é o inevitávelcasa-sem-pão-todos-ralham-e-ninguém-tem-razão. E daí à revolta de rua vai outropasso – e a Grécia aqui tão perto a di-zer-nos de que migalha insignificante sefaz outro Maio-de-68 quarenta anos de-

pois. Porque uma vez acesos os rasti-lhos (professores, polícias, juízes, milita-res, estudantes, desempregados já semnada a perder), o incêndio só vai pararnas escadas da Assembleia da Repúbli-ca ou no largo fronteiro ao palácio deBelém. E o saber lidar com uma situa-ção que em 2009 vai piorar ainda mais,não é tarefa fácil, muito menos para in-continentes verbais e oportunistas dapolítica: faltam profissionais a sério, esobram amadores de opereta. E do ladodas oposições o fala-baratismo é igual,com um CDS à espera de boleia numgoverno onde o PS precise de novos“queijos limianos”, e o PSD se tornounuma casa-sem-mão-onde-todos-ra-lham-e-nenhum-põe-travão. E, pasme-se,ninguém manda ninguém para casa, paranão perder a face! E esta, hein? Um paísjá vale menos que um par de faces fora-de-catálogo, ou mesmo que uma qual-quer cara de parvo que se preze e exibaemblema na lapela!

Muito provavelmente vão ter que es-perar por dias melhores as grandes bo-das do TGV, do novo aeroporto e de ou-tras aventuras que jamais estariam emdúvida na agenda de ilusões de cada bocaque se abre-e-fecha ao sabor da viração– porque saber esperar também tem decaber no léxico político dos mais capa-zes e dos menos apressados. Mas essamudança de prioridades também irá comcerteza (e por fatalidade nossa) ser ditaà ralé com o mesmo ar compungido dequem mudou o aeroporto da Ota paraAlcochete com um simples estalar defalangetas. Ou talvez mesmo nem o seja,e bastará tão só deixar cair o assunto noesquecimento. Se no parlapié político hátanta coisa que morre sem sequer che-gar a viver, mais uma menos uma nãodeve trazer melhoras ao défice das pro-messas esquecidas. Porque se assim nãofosse, que sentido tinha a nossa vidamonocórdica de pobres distraídos, incré-dulos, desconfiados e desentendidos doque está mesmo diante dos nossos olhos?Que vai doer, lá isso vai! E há-de serdoloroso para aqueles a quem o pão caisempre com a manteiga para baixo!

... a falta de confiança no sistema financeiro, os off-shoresmontados e usados subterraneamente, as irresponsáveisaventuras bolsistas de particulares e públicos (públicosimpunes), os investimentos milionários em empresasfalidas ou inexistentes, a cavalgada dos combustíveise respectiva cartelização dos preços (politicamenteconsentida), as falências fraudulentas, o salvardo afogamento (com o dinheiro dos contribuintes!) algunsbancos afundados pelos próprios timoneiros, os projectosmegalómanos, as habilidades orçamentais para travestiruma tragédia com cores de esperançaem que ninguém já acredita...

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8 17 A 30 DE DEZEMBRO DE 2008OPINIÃO

A “COMPONENTE HUMANA”

A ideia de Guilherme Silva, do PSD, pararesolver o problema das faltas dos deputa-dos que, às sextas-feiras, assinam o ponto evão de fim-de-semana prolongado, estan-do-se nas tintas para a AR e para o que alise discute e decide, é de apoiar: passaria ahaver plenários só às terças, quartas ou quin-tas (pois que as segundas ainda são fim-de-semana).

A explicação de Guilherme Silva é queos deputados têm família, pelo que há nocaso “uma componente humana (…) res-peitável”. O PSD é um partido respeitadornão só da família como das tradições. Osdeputados pirarem-se às sextas-feiras é umatradição parlamentar, e o PSD não poderiater no caso posição diferente da que teveem relação a Barrancos. O problema é que,sabendo-se o que a casa gasta, o mais certoé que os deputados comecem, depois, a bal-dar-se às quintas, e quando deixar de haverplenários também às quintas, às quartas, edepois às terças, e acabem ficando a sema-na inteira em casa com a família, coisa comuma “componente humana” inteiramenterespeitável, até porque a maior parte delesnão faz falta nenhuma na AR e em casadecerto faz.

Manuel António PinaJN 12/Dezembro/08

CÓLERA E PROSTITUIÇÃO

Robert Mugabe disse esta semana: “Es-tou feliz por ter acabado com a cólera.” Aomesmo tempo, a ONU fez outro balanço: acólera continua, já fez quase 800 mortos e16 mil pessoas estão na lista de espera. Asduas declarações são produto de duas con-cepções filosóficas diferentes. Há os ho-mens de pouca fé, demasiado agarrados àditadura dos factos – infelizmente a maisalta instância internacional está cheia des-ses cínicos. E, depois, há os visionários queacreditam que o fim da cólera é quando ohomem quiser. Mugabe é um desses.

A direcção de um país dá a certos políti-cos o exercício de um poder que os aparen-ta a deuses: o decreto. Nos anos 60, Salazaraboliu a prostituição. Os homens de poucafé de então também sorriram, a pretexto dasuposta ineficácia da medida. Mas, na ver-dade, Salazar acabou com a prostituição:tendo decretado que as prostitutas acaba-ram, elas acabaram. Talvez tenha continua-do a haver mulheres nas esquinas do Mar-tim Moniz, que subiam aos quartos das pen-sões manhosas com homens desconheci-dos, talvez tivessem relações sexuais a tro-

co de uma nota de 50 escudos, talvez, maso facto era inquestionável: as prostitutas ti-nham deixado de existir. Como prova, haviao tal decreto. (...)

Ferreira FernandesDN 14/Dezembro/08

DIREITOS HUMANOS

O Mundo celebrou o 60.° aniversário daDeclaração Universal dos Direitos Huma-nos, um dos textos internacionais, segura-mente, mais importantes do século XX. Foivotado, com a abstenção dos países comu-nistas, em 10 de Dezembro de 1948, depoisda Mensagem ao Congresso, enviada porFranklin Delano Roosevelt, em 6 de Janeirode 1941, no auge da II Guerra Mundial –intitulada Quatro Liberdades (liberdade deexpressão do pensamento, liberdade de re-ligião, liberdade contra a miséria e liberdadecontra o medo) – e da Carta das Nações,assinada em 6 de Junho de 1945, na cidadede S. Francisco.

A Declaração Universal dos DireitosHumanos tem apenas 30 artigos mas é umtexto de uma concisão e clareza de concei-tos extraordinárias, que marcou a culturapolítica da segunda metade do século XX eque, no dizer de Robert Badinter, ex-presi-dente do Tribunal Constitucional francês,senador e membro do Comité de Apoio aosHuman Rights Watch, de Paris, exprime «adimensão moral do nosso tempo».

Houve, no entanto, desde início, dois pon-tos críticos relativamente à Declaração: oprimeiro, o facto de não ser vinculativa(como é hoje a Carta de Direitos insita noTratado de Lisboa, se chegar a ser ratifica-do); o segundo, a prioridade dada pelo en-tão Bloco Soviético aos Direitos Económi-cos e Sociais, enquanto os americanos pri-vilegiaram sempre os Direitos Cívicos ePolíticos, o Direito à Propriedade e ao LivreMercado...

Mário SoaresVisão

SITUAÇÃO MARAVILHOSA

(...) No Verão, o primeiro-ministro acha-va a subida do preço dos combustíveis um“incentivo” ao uso dos transportes públicos.Agora, acha que a descida representa umamelhoria nos rendimentos dos portugueses,que elegeram o eng. Sócrates e se vêemgovernados pelo Pangloss de Voltaire, esseincurável optimista para quem tudo o queacontece é, por definição, benéfico. O exem-plo do petróleo é apenas um indício da ma-ravilhosa situação em que nos encontramose da ainda mais maravilhosa situação a quenos arriscamos em breve. A economia eu-ropeia entrou oficialmente em recessão?Óptimo, pois mostra que os portugueses sãotão europeus quanto os restantes. O eurocai face ao dólar? É bom para as exporta-ções nacionais. As exportações não saemda cepa torta? Excelente: os portuguesespodem prosperar através do investimentopúblico. As obras públicas são sinónimo de“derrapagem” e prejuízo calado? Não im-porta, visto que estimulam a economia. Oestímulo restringe-se, quando muito, à cons-trução civil? Perfeito, já que assim os portu-

gueses dos demais sectores, da banca aoscarros, das minas aos têxteis, mendigammilhões ao Estado e exibem a suprema pu-jança deste. O Estado está falido? Eis umaoportunidade para os contribuintes portugue-ses que não integram grupos de pressão apli-carem devidamente as poupanças realiza-das com a descida dos combustíveis. (...)

Alberto Gonçalves (sociólogo)DN 7/Dezembro/08

A IMAGEM DE CAVACO

(...) Ao aceitar que lhe vedassem oacesso à Assembleia Legislativa da Ma-deira – ainda por cima com explicaçõespúblicas de Jardim que resultavam numinsulto soez a toda a oposição regional –e ao vergar-se a convidar para um jan-tar de consolação os partidos preteridos,Cavaco Silva não representou os portu-gueses, mas apenas o chefe local, os seus

incondicionais e a sua própria fraque-za. Ao proferir, neste mesmo contex-to, um ditirambo incontido sobre as ex-celências da governação local, reinci-diu, já não por encobrimento, mas porcumplicidade. Ao omitir qualquer de-claração sobre esse carnaval da de-mocracia que foi a suspensão dos ple-nários parlamentares da Madeira e ainterdição física, levada a cabo por se-guranças privados, do acesso de umdeputado eleito, sob a alegação de queestas coisas se resolvem melhor no si-lêncio das chancelarias, ele entrou emcontradição insanável com as ruidosasmensagens ao país sobre as questõesdo estatuto açoriano. Depois de tudoisso, o Presidente já não está a defen-der o regime, mas a sua própria ima-gem pública. Ora o regime é que é onosso problema. A defesa da imagem,sendo embora um direito, é com quemjulga precisar dela. (...)

Nuno Brederode SantosDN 7/Dezembro/08

PERGUNTAS SOBRE A CRISE

1. Onde é que se traça a divisória entreempresas a salvar pelo tesouro público, paraprotecção “da imagem do Estado” (antesdizia-se “a bem da Nação”), e aquelas que,tristemente, morrerão sozinhas, sufocadaspor credores impacientes e trabalhadoresdesesperados?

2. Que critérios fundamentam essa sal-vação ou perda? O número de assalaria-dos? A antiguidade da instituição? O impac-te social da sua existência, para indivíduos,famílias, regiões? A facturação? Os resul-tados de exploração? A importância fiscal?

3. Quando falamos das perdas e prejuí-zos, há ou não que distinguir entre quantida-de e qualidade, ou, se quisermos, entre valo-res financeiros e circunstâncias? É que háum abismo entre a má gestão e a forçamaior. Ou entre a infidelidade administrati-va (art.º 244 do Código Penal), que se tra-duz em prejuízo sério e violação grave e

consciente de deveres de disposição, admi-nistração e fiscalização de coisa alheia, e amera consequência financeira de circuns-tâncias externas alteradas. Ou ainda entreerros administrativos, deficiências contabi-lísticas, imputáveis à impreparação, e deli-tos, derivados do dolo em acção.

4. Por outras palavras, nem todas asempresas falidas possuem o crime comoorigem do desastre. Não deve, assim, exis-tir um saco único para colocar todos os ca-sos de degenerescência. (...)

Nuno RogeiroJN 5/Dezembro/08

LIÇÃO INDIANA

(...) Neste caso tudo leva a crer que adezena de terroristas que perpetrou os aten-tados de Bombaim eram originários do Pun-jab paquistanês e visavam desestabilizar asociedade indiana a poucos meses de umimportante acto eleitoral naquele país.

O que é inovador nestes atentados é ofacto de eles se terem prolongado por maisde dois dias, assim contrastando com a na-

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917 A 30 DE DEZEMBRO DE 2008 OPINIÃO

tureza instantânea da generalidade dos aten-tados terroristas suicidários. Os seus agen-tes não parecem ter sido uma célula agre-gada ocasionalmente, mas antes um grupobem treinado, que se dedicou ao seu plane-amento durante bastante tempo, que con-duziu as operações complexas (ataques qua-se simultâneos em sete pontos distintos deBombaim) com uma disciplina e uma preci-são militares.

No mais a matriz destes atentados re-produz algumas das consignas do terroris-mo global conotado com a Al-Qaeda: tenta-tiva de provocar o maior número possívelde vítimas (falava-se de que almejavam cincomil vítimas), destruição de símbolos da soci-edade atacada (estação de caminhos-de-ferrro, hotéis, hospitais, um centro judaico),escolha de alvos plurinacionais (dos 200mortos há 30 estrangeiros de 13 nacionali-dades distintas) e o maior impacto mediáti-co possível. (...)

António VitorinoDN 5/Dezembro/08

ELEIÇÃO DOS DEPUTADOS

Por entre o ruído provocado pelas faltasdos deputados à sessão parlamentar de sex-ta-feira passada, quase passou despercebi-do o colóquio promovido pelo grupo parla-mentar do PS em torno de um estudo aca-démico sobre possíveis alterações a intro-duzir na lei eleitoral para a Assembleia daRepública.

(...) Pelo tom do debate naquele colóquio,a fazer fé nos parcos relatos vindos na im-prensa, ainda não será nesta Legislatura quetal objectivo será atingido.

(...) Continuo a pensar que a melhor for-ma de personalização do voto passa pelacriação de círculos uninominais de candida-tura, compatibilizando-os com círculos pro-porcionais de apuramento, com base nosquais se faria a distribuição dos mandatospelos partidos, desta forma reconhecendo aprevalência do princípio da representaçãoproporcional como determina a Constitui-ção. Reconheço, contudo, que o desenhode um tal modelo não seria isento de algu-ma complexidade e que tal exigiria um es-forço de explicação do novo sistema aoseleitores que poderia tornar mais imprevisí-vel o seu resultado final. (...)

António VitorinoDN 12/Dezembro/08

TEXTO INDIGNO

A propósito do falecimento do grandeeditor Joaquim Figueiredo de Magalhães, oapenas concebível Vasco Pulido Valenteescreveu, no Público, um texto mais indig-no do que lhe é habitual. Entre omissões,mentiras e pequenas velhacarias, insulta amemória de Augusto Abelaira, intelectualrespeitado e admirado, de quem diz ter tidoa alcunha de “A Velha”. O Vasco PV de-veria examinar a gravação das suas inter-venções, na TVI, medonha encarnação doapodo que atribui ao grande romancista deA Cidade das Flores. Quanto à revista Al-manaque, de que fui redactor a partir de

1962 (vencimento mensal: 800$00), nuncao vi, por exemplo, nas reuniões em casa deJoão Abel Manta, onde se discutia (Cardo-so Pires, Sttau Monteiro, Abelaira, Cutilei-ro) o tema da revista seguinte. Aliás, nosúltimos 40 anos, apenas por quatro ou cincovezes enxerguei a cara desagradável docavalheiro – que parece suscitar um temorreverencial, para mim inexplicável, porqueo não receio, em nenhuma circunstância ousituação. Desejo, ainda, referir que AugustoAbelaira possuía grande coragem moral efísica, o que o levou a enfrentar a PIDE,com rara valentia. Do que nem todos sepodem ufanar. Ponto final. Mas voltarei aoassunto, acaso seja chamado à colação.

Baptista-BastosDN 4/Dezembro/08

CONTO DE NATAL

O eng.º Sócrates resolveu antecipar-se ao Pai Natal e presentear-nos comum anúncio: afinal, 2009 vai ser um anopróspero e afortunado para todos nós.Diz ele, que as famílias portuguesas vãoter melhores condições de vida. Comolhe diria o humorista Jô Soares, “só con-

taram p’ra você!”A acreditar no primeiro-ministro, dir-se-

ia que vai sair a Lotaria de Natal às famí-lias portuguesas, que, e cito, “podem es-perar, em 2009, ganhar poder de compra”.Isto porque “podem esperar um melhorrendimento disponível em 2009 que advi-rá da baixa da Euribor” e “ver as suasdespesas reduzidas com a gasolina, frutoda baixa do preço do petróleo”.

Atendendo à quadra, gostaria de pe-dir ao eng.º Sócrates o obséquio de nãotratar “as famílias portuguesas” como in-capazes e de começar a falar-lhes comseriedade. (...)

Teresa CaeiroCorreio da Manhã 9/Dezembro/08

FILHOS DA NAÇÃO

Do que venho hoje falar é de justiçasocial e de igualdade, é de justiça de umPai, que distribui de forma desigual e ina-dequada a sua bênção aos filhos.

De um Pai, que se chama Estado (...)Pode ou não este Pai ter preferênciaspelos seus filhos, tratando uns como fi-lhos e outros como enteados? Pode ounão este Estado-Pai tratar de forma de-sigual os seus filhos, ajudando uns comgarantias, que, se correrem mal, são pagaspor todos os enteados e não pelo consór-cio bancário? Ou seja por todos os cida-dãos que morrem lentamente asfixiadoscom a carga brutal de impostos que pa-gam e por empresas que este Pai não aju-dou e que estão em situação de falência.

Aos enteados (reformados, pensionistase funcionários públicos) pede-se sacrifícioe que apertem o cinto. Aos filhos banquei-ros dá-se prémios pela gestão danosa.

Embora a situação destes filhos endia-brados seja diferente, o caso do BPP, ban-co privado, sem expressão na economiareal do País, que se limitava a especular ea gerir fortunas, é escandaloso.

Se querem ajudar ajudem mas falema verdade e não inventem a desculpa dorisco sistémico. Qualquer pessoa de beme com a Instrução Primária sabe que afalência do BPP não comporta risco sis-témico de contaminação do restante sec-tor financeiro.

O que fica contaminado é a honra,a ética e a honestidade dos homens.

Então os gestores e accionistas doBPP não têm direito a fugir com osseus dividendos e a continuar a morarna quinta do patinho ‘feio’?

Claro que sim, esta gente mereceque o Estado proteja as suas fortunasprivadas.

O povo ‘invejoso e ingrato’ é queassim não pensa. Só com escárnio seentende este golpe de mestre.

Rui Rangel (juiz)Correio da Manhã 10/Dezembro/08

DUPLICIDADE

Há uma enorme duplicidade das televi-sões quando exibem imagens de tumultos:há guerrilhas boas e guerrilhas más. Depen-de. Para a generalidade da Imprensa, osmeninos que andam a destruir Atenas sãojovens e anarquistas em protesto.

Lá vem a ladainha habitual: desemprego

jovem, blá-blá, adolescentes coitados, blá-blá. Os desempregados que assaltam lojasem países africanos ‘progressistas’ ou emTimor, esses, são ‘desordeiros’. Há um gla-mour do protesto consoante os desordeirosusam lencinho palestiniano ou exibem ma-les pouco fotogénicos. No primeiro caso,podem apedrejar os carros da polícia en-quanto bebem umas cervejas; no segundo,são apenas instrumentalizados pela miséria,o que é pouco cool para as novas gerações.A televisão gosta de promover o turismo dodesacato. (...)

Francisco José ViegasCorreio da Manhã 10/Dezembro/08

OS PATRIOTAS DO PSD

(...) Há no PSD um núcleo de patrio-tas indefectíveis disposto a fazer tudopara impedir que o partido leve a me-lhor nas eleições. Basta ouvi-los na te-levisão ou na rádio durante alguns se-gundos, ou lê-los nos jornais ao longode escassas linhas. É uma gente comalma de criada de servir que só sabedizer mal da patroa nas lojas da vizi-nhança. Aposta muito mais venenosa-mente na desagregação da imagem deManuela Ferreira Leite e do PSD do queo próprio PS. Está desesperada e dis-posta a tudo. Todas as semanas se ma-nifesta, sob os pretextos mais idiotas enas formulações mais ranhosas e rastei-ras. E todas as semanas dispõe de largacobertura de uma comunicação social tãoprazenteira a anunciar as suas leituras,quanto superficial e leviana a passar àmargem do que é realmente importanteou a analisar o fundo das questões. (...)

Vasco Graça MouraDN 10/Dezembro/08

A CRISE

(...) A verdade é que, tirando aque-les seis meses da década de 90 em quechegaram uns milhões valentes vindosda União Europeia, eu não me lembrode Portugal não estar em crise. Porisso, acredito que a crise do ano quevem seja violenta. Mas creio que, seuma crise quiser mesmo impressionaros portugueses, vai ter de trabalhar asério. Um crescimento zero, para nós,é amendoins. Pequenas recessões co-mem os portugueses ao pequeno-almo-ço. 2009 só assusta esses maricas daEuropa que têm andado a crescer aci-ma dos 7 por cento. Quem nunca foialém dos 2%, não está preocupado.

É tempo de reconhecer o mérito eagradecer a governos atrás de gover-nos que fizeram tudo o que era possívelpara não habituar mal os portugueses.A todos os executivos que mantiveramPortugal em crise desde 1143 até hoje,muito obrigado. Agora, somos o povoda Europa que está mais bem prepara-do para fazer face às dificuldades.

Ricardo Araújo PereiraVisão

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10 17 A 30 DE DEZEMBRO DE 2008CRÓNICA

A OUTRA FACEDO ESPELHO

José Henrique Dias*

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arte em café

O senhor tenha a bondade de me dar uma ajuda. Nãotenho ar de precisar? Isso diz o senhor. Olhe bem. Não souum caso de pobreza envergonhada, bem vê, está até algoexposta, é mesmo extrema necessidade. Ouça-me, por fa-vor. Como? Desculpe, pedi-lhe ajuda, o favor de me ouvir,não lhe pedi opiniões sobre a minha aparência. Apresenta-mo-nos como podemos. Como queremos, no meu caso.Para que hei-de fazer a barba e cortar o cabelo? Não, nãosou desleixado. Se quer saber, fui até bem elegante, diziam.Caprichava no vestir. Como caprichava no meu piano. Senão tenho casa? Claro que tenho casa. Até muito confortá-vel. Mas pense bem, meu senhor, se não for abusar da suapaciência: acha mesmo que isto de estar na rua e pedir paraser ouvido, é despautério? Não, não se espante com aspalavras. Tenho algumas fragilidades e este aspecto, esta-rei algo perturbado, mas sempre trabalhei com um vocabu-lário vasto e diversificado. Sei pensar e conheço as pala-vras. Conheço-as por dentro. Despi muitas. Enrosquei-meem outras tantas. Deixe-me dizer assim, se não ferir osseus ouvidos: fiz amor com elas. Não gosto da expressãofazer amor. Gostava de poder dizer de outra maneira. Maisforte. As palavras foram sempre minhas companheiras.Minhas amantes. Como o meu piano. Mas o piano, coitado,teve um triste fim. Lancei-o ao mar. Onde ela gostava deprender o olhar. Fez-se barco e viagem. Diluiu-se como osvincos dos seus pés na areia da praia. Nem o senhor imagi-na como conheço as palavras e como tocava piano. O so-nho da minha vida, depois que a conheci, foi compor umaobra para quatro mãos. As nossas. Com ela, naturalmente.Conseguimos. Uma bela peça. Celebrada por quem a ou-via. Chamava-lhe, quando a sentia a meu lado, com os de-dos na carícia do cabelo, a minha jói… ó que disparate, elaé que me chamava jóia rara. Durante algum tempo. Essascoisas passam. São como o sarampo, em criança. Esque-cem. Só que sou mesmo um sem-abrigo. Tornei-me semdar por isso um sem-abrigo. Durmo em pedaços de cartãoda memória nas arcadas do tempo que passa. Como umatrova. Sem que o esperasse, perdi a essência de sentir-mevivo. Amava. Não se ria. Percebe-se quando falei no piano.Já observou bem um piano? Não, não: por dentro. As cor-das tensas. À espera de serem percutidas. Com leveza ouintensidade. Soarem música. Até ao grito. Até à raiz donome. Miriam! A minha discípula judia.

Acho que não percebeu a metáfora e está a pensar queestou a ser ridículo. O senhor é mais ou menos jovem epensa que na minha idade não se ama. Como se engana.Ainda amo. Talvez fosse, talvez seja um tanto possessivo.Era. Quem ama de verdade é assim. Absorve tudo Amar éter alguém dentro de nós. Arde. Ninguém apaga esse lume.A faca não corta o fogo. Claro que leio Herberto Helder.Está a perceber porque sou um sem-abrigo? Não é porcausa de não ter casa, expliquei-lhe, é o que estou a sentir.É um outro tecto que me falta. É a abóbada daquele sorriso.As pessoas passam, vêem-me com este aspecto e, claro,não me dão nada. Também não tenho pedido. Acha que sepode dizer a alguém, tragam de volta a vida?

O senhor é a primeira pessoa a quem peço. Apenasporque pensei juntar a minha solidão à possível solidarieda-de que deambula. Não é como no Deus Lhe Pague doJoracy Camargo. Ser rico de noite e mendigo de dia. Eunão tenho absolutamente nada. Deixei tudo. Perdi tudo. Aminha alma esvaziou-se. Nem lágrimas tenho. Secaram.Estou condenado a estar vivo mais algum tempo e estouaqui também para vê-la passar sem que me reconheça.

Quando tudo era belo e havia a obra a quatro mãos,chamava-me meu poeta. Dizia meu poeta à solta. Creio

Secam rosas no olhar…

que aprendeu a dizer isso com Agostinho da Silva. Vivemosbelos momentos. Um encantamento sinfónico revertido lou-cura nos encontros nocturnos. Sabe o que resta de mim,meu senhor? Ainda aí está? Já foi embora. De mim restauma rosa seca dentro de um livro e talvez uma florita silves-tre que um dia apanhei para lhe dar e não havia mais nadana natureza que valesse o gesto da dádiva. Suspeito que asguardou.

Tem graça, primeiro a língua fugiu para dávida. Cá estoueu a torcer o pescoço às palavras. Se estivesse a escreversaía dávida pela certa. Depois emendava para o que se tempor correcto. Se estivesse com ela começava o jogo daspalavras na construção do poema. Dádiva-dá-vida-vidra-da-irada-virada-iridiada-íris-adiada-ondeada-vida-irisada--enraizada-em-risada. Brincávamos. As palavras servempara pensarmos. Também para doerem. Às vezes rir. Oumorrer. Os esquizofrénicos inventam palavras. Ângelo deLima um dia escreveu dorte. Onde há dor e morte. Erapoeta. Dizem que louco. Coisas dos médicos. Coletes deforças nas palavras com neuroléticos na sintaxe. Assim seadormece a criatividade Assim se atormenta a poesia. Emparedes sujas de hospícios e auspícios.

Ia falar dela. Pensei-a como a mais brilhante das mulhe-res. A mais bela era com certeza, a meus olhos, é evidente.Mas… moldar com jeito todas as potencialidades que a suainteligência abria, elevá-la ao plano da criação, ensinar-lhetodos os mistérios das palavras, das mãos sobre o teclado, osoltar dos sons como se ouve o mar, o longe, os voos dasgaivotas, as canções do vento, os mistérios dos búzios, ospassos lentos na praia, o soltar das túnicas, como se ouve anudez e o deslumbramento…

Pois é, imagine que foi exactamente pelas palavras queacabei por perdê-la. Pela música das palavras que foi ab-sorvendo. Pelas palavras da minha música. Alguém as viuou as ouviu, aproximou-se e a verdade é que eu já não erapreciso. Estava gasto. Tudo já mais ou menos feito. E eunão podia. O médico disse-me que era pouco o tempo, outodo o que teria estava infiltrado de sofrimento. Passei portudo o que era máquinas. Injectaram-me substâncias radio-activas e mandaram-me para dentro de espécies de batís-cafos individuais. Nuclear não, obrigado. Cantigas. Can-tigas, não positrões. Ficava queimado. Por dentro. De mimsaía um odor verde. Quando o médico me chamou, procu-rou ser amável, mas tinha um ar severo. Notei a prega dofranzir da testa e algum embaraço. Depois falou com algu-ma pressa como para se livrar da derrota. Do turbilhão daspalavras retive metástases nos ossos. Já tinha lido o sufi-ciente para perceber o que estava a dizer-me. Foi nesse diaque pensei nela de uma outra maneira. Não podia condená-la a viver a minha tragédia. Não tive coragem para lhefazer mal, cheguei a pensar em fazer com que me odiasse,mas não fui capaz. Pequenas patifarias apenas. Que ela foigerindo por amor. Mas na verdade eu já não tinha lugar.Quem vai ao mar perde o lugar. Por isso, meu senhor, que

pena, já não está aí, lhe disse que sou um sem-abrigo. Quemperde o amor, e o amor acontece apenas uma vez quandoacontece, fica desabrigado. Podemos arranjar imitações.Se formos simples, podemos viver mesmo com algumaharmonia. Mas não é, não pode ser aquilo que agora meestá a queimar as palavras, me deixa a boca colada comouma mordaça.

O senhor já foi embora mas eu preciso de continuar afalar, senão rebento, ou então mato, sim, eu agora já percebimuito desvario de que as pessoas depois se arrependem.Há um tigre dentro de todos nós. Matar é fácil. Difícil ésobreviver à ideia de que alguém toca no que é o ar querespiramos e ficamos sem ar. Digam-me senhores, todosos que estão agora a passar diante dos meus olhos, nestarua infinitamente branca como têm sido as minhas noites,digam se sabem responder…

Então, não pode estar a fazer esse barulho. Vamos láembora daqui. Tem família, homenzinho?

Homenzinho?! Homem. Escrevi livros, sou pianista, aminha casa é um palácio que todos invejam, tenho umabiblioteca com mais de trinta mil volumes, falo quatro lín-guas e sei latim e grego, fiz conferências em universidadesdo mundo, concertos em todos os palcos, tenho uma co-menda pela exemplaridade do meu exercício cívico e o se-nhor, só porque tenho estas barbas e falo sozinho, acha queme pode chamar homenzinho? Não há homenzinhos, nessetom, senhor guarda: há pessoas. Está a ouvir? Pessoas! Euapenas fiquei sem-abrigo porque escolhi que fosse assim.Perdi de repente todo o jeito para viver.

Vamos lá acabar com a conversa e saia daqui.Coitado, é maluquinho. Se calhar ficou assim por causa

de algum desgosto.Fala de mim? Não, minha senhora, fiquei assim por cau-

sa de uma rosa seca dentro de um livro. Primeiro secam asflores, olham para elas e choram de emoção. Depois se-cam-nos a nós, olham, não nos vêem e voltam ao riso dasnovas descobertas. De mão dada.

Até o tempo inexorável de soltar as mãos e voltar tudoao princípio.

* Professor universitário

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1117 A 30 DE DEZEMBRO DE 2008 NACIONAL

PÚBLICA FRACÇÃO

Francisco [email protected]

TELENOVELASBRASILEIRAS EM QUEDA

Renata Pallottini, professora de Dra-maturgia, da Escola de Comunicação eArtes, da Universidade de São Paulo, que

esteve em Coimbra, na ESEC, ainda hápoucos meses, afirmou num artigo publi-cado na última edição da revista Veja,que nos últimos dez anos, a cada novelalançada, sobretudo pela TV Globo, uma

nova queda de audiências é anunciada,sobretudo no último ano.

Renata defende que “as novelas bra-sileiras insistem numa fórmula de suces-so dos anos 70, 80 e 90, não se aperce-bendo que os padrões de ética da socie-dade mudaram. Os textos são fracos eos bons actores envelheceram, não sen-do substituídos.”

Em Portugal esta queda de audiênciasdas telenovelas brasileiras já se nota des-de o início da década. Como consequên-cia mais evidente, a queda de audiênciasda SIC. Queda que parece não dar sinaisde inversão. Nem agora, com o regressode Nuno Santos, a “estação de Carnaxi-de” mostra capacidade para recuperar.Está tudo na mesma. Quero dizer que aSIC parece não ter sabido libertar-se dosmodelos que criou e no campo dos quaisfoi ultrapassada. Criar uma alternativa àTVI na área da televisão “popular” é umamissão complicada.

Talvez, comparando com o que sepassa com as telenovelas brasileiras, seja

Renata Pallottini

necessário reconhecer que as fórmulasenvelheceram e que é necessário umaoutra televisão.

RTP-VISEUSEM TER QUE FAZER

A jornalista Maria João Barros, tra-balhadora da RTP na delegação de Vi-seu, desde finais de Agosto que não temquaisquer tarefas profissionais atribuídas.

Segundo o Sindicato dos Jornalistas, ocomportamento da delegação de Viseuda RTP indicia a tentativa de levar a jor-nalista a “romper a sua relação de tra-balho” com a empresa, e alimenta legíti-mas suspeitas de que “a jornalista MariaJoão Barros está a ser alvo de retalia-ção por parte da empresa pelo facto deser dirigente sindical”.

Maria João Barros foi jornalista naRTP em Coimbra há largos anos. Quema conheceu sabe que tem “nervo” e édas que preferem quebrar do que torcer.

Intervinha muito e com persistência noseu papel de sindicalista? Não é, até ver,nenhum crime. Incómoda? Talvez. Master opiniões diferentes não pode consti-tuir um factor de estigmatização.

A Direcção de Informação da RTPtem destacado sistematicamente equipasda delegação de Coimbra, “mantendo ajornalista desocupada, o que representauma humilhação inaceitável e uma afron-ta ao seu profissionalismo.”

O Sindicato dos Jornalistas refere ain-da: “A forma como a DI e o próprio Con-selho de Administração da Empresa têmtratado este assunto indicia uma inten-ção de beneficiar o infractor e de afec-tar a dignidade da jornalista e de lhe cri-ar um ambiente humilhante e desestabi-lizador que a levem a romper a sua rela-ção de trabalho com a RTP.”

Que se esclareça esta situação é omínimo que se pode esperar. O que sepassa faz lembrar algumas situações quese viveram já em Democracia, mas queparece terem deixado sementes.

Sónia Braga em “Gabriela, Cravo e Canela”

A Procuradoria-Geral da República(PGR) informou ontem (terça-feira) que sófoi aberto um processo em relação aos CTT-Correios de Portugal e que continua em in-vestigação.

“O processo relativo aos CTT continuaem investigação, havendo um único proces-so. Estão a ser investigadas, entre outras,as situações que foram descritas nas audi-torias realizadas”, refere a PGR numa in-formação transmitida à Agência Lusa, semadiantar mais detalhes.

De acordo com notícias publicadas,

PRÉDIO DOS CTT DE COIMBRAÉ UM DOS CASOS EM ANÁLISE

PGR diz que continuaa investigação

este processo CTT prende-se com sus-peitas da prática de crimes de adminis-tração danosa, infidelidade e corrupçãopassiva.

Um dos casos em investigação prende-se com a venda de um edifício dos CTT emCoimbra, a 20 de Março de 2003, por 14,8milhões de euros, a uma empresa, que orevendeu no mesmo dia por 20 milhões.

As suspeitas em causa incidem sobre aadministração dos CTT quando era presidi-da por Carlos Horta e Costa, que já rejeitouqualquer acusação de má gestão.

Municípios prescindemde 555 milhões de eurosOs municípios portugueses vão prescindir no próximo ano de 555 milhões de

euros de receitas de impostos para minimizar os efeitos da crise financeira mun-dial, foi ontem (terça-feira) anunciado.

Em conferência de imprensa, o Presidente da Associação Nacional de Municí-pios Portugueses (ANMP), Fernando Ruas, adiantou que a este valor acrescem“uns milhões largos de euros de respostas autónomas que cada município dá”.

Aqueles montantes advêm da diminuição do IMI - Imposto Municipal sobreImóveis (150 milhões de euros), IMT - Imposto Municipal sobre a TransmissãoOnerosa de Imóveis (160 milhões), da Derrama e do IRS (ambos em montantesde 15 milhões).

A estas verbas acrescem 200 milhões de euros de perda de receitas de taxase licenças devido ao adiamento da entrada em vigor da nova Lei das TaxasMunicipais, solicitada pelos municípios ao Governo, e do contributo de 15 mi-lhões de euros para o não aumento das tarifas de electricidade, explicou Fernan-do Ruas, no final de uma reunião do Conselho Directivo da Associação.

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12 17 A 30 DE DEZEMBRO DE 2008NATAL

Dando continuidade a uma tradiçãonatalícia já com muitos anos, FernandoSimões Ribeiro e a sua MedalhísticaLusatenas, de Coimbra (a mais concei-tuada editora portuguesa de medalhas,com prestígio internacional), acaba deeditar a sua Medalha Comemorativa doNatal de 2008.

Trata-de de um belo trabalho de auto-ria do escultor Jorge Coelho, numa me-dalha cunhada em bronze (com o diâ-metro de 90 mm).

Ou seja, uma excelente oferta de Na-tal, que certamente agradará a quantoscom ela forem distinguidos, e que perdu-rará pelos anos fora como inesquecívele palpável recordação.

A Medalha deste ano vem acompanha-da (como também é habitual) por um belotexto da autoria do padre A. Jesus Ramos,Professor de História da Igreja no InstitutoSuperior de Teologia de Coimbra.

É esse texto que a seguir se transcre-ve, com a devida vénia:

COMO O POVOCANTA O NATAL

O nascimento de Jesus é um dos acon-tecimentos que marca mais profunda-mente a cultura popular portuguesa. Nãoesquecendo os grandes presépios que seerguem em quase todas as igrejas, feitospelas mãos do povo, como fruto da suaimaginária e da sua devoção, ou os au-tos de Natal, que se representam nostemplos e nas praças, a forma cultural

Tradições de Natal assinaladas

mais comum é o canto natalício.Do Minho ao Algarve, da Madeira aos

Açores, não há vila nem aldeia onde,nesta noite santa, o povo não faça ouviros seus cânticos tradicionais, muitos de-les com origem desconhecida e a per-der-se na bruma do nosso passado co-lectivo. De tantos que se cantam, nemsabemos qual é o mais popular, nem qualé o mais antigo. Na Beira Baixa e noAlto Alentejo, por exemplo, não há quemdesconheça este refrão:

Olhei para o céu,Estava estrelado;Vi o Deus MeninoEm palhas deitado.Em palhas deitado,Em palhas estendido,Filho de uma rosa,Dum cravo nascido!

Também na Beira, todos, dos maisvelhos aos mais jovens, cantam quadras

saborosas como esta:

Ó meu Menino Jesus,Vinde ao meio da Igreja,Que eu vos quero adorarOnde toda a gente veja.

Um pouco por todo o lado, em Trás--os-Montes, nas Beiras e na Estrema-dura, os grupos de crianças e de jovens,nas escolas e nas lições de catequese,entoam:

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1317 A 30 DE DEZEMBRO DE 2008 NATAL

s em medalhaAlegrem-se os céus e a terra,Cantemos com alegria,Já nasceu o Deus Menino,Filho da Virgem Maria.

Mais a sul, no Algarve, é costume con-tar-se a história do nascimento de Jesuscom quadras cantadas ao gosto popular:

Linda noite de Natal,Noite de grande alegria,Caminhava S. JoséMai-la sagrada Maria.

Bateram a muitas portas,Mas ninguém lhes acudia,Foram dar a uma choupanaOnde o boi bento dormia.

Como estas, muitas são as canções comque o povo celebra o Natal, afirmando as-sim a sua fé, no mistérioa da vinda do Filhode Deus, que vem habitar no meio de nós.A cultura e a fé andam aqui, como quaseem tudo, de mãos juntas. É, de resto, emsintonia com a fé e a cultura do nosso povo,que a Medalhística Lusatenas edita estaartística medalha de Natal.

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14 17 A 30 DE DEZEMBRO DE 2008RETRATO

Há muitos anos que, para GeorginaFigueiredo, o dia começa às seis e meiada manhã. O que tem veio com dificul-dade, do trabalho e do próprio suor. “Nãoherdámos e não temos pais ricos”. Dopai herdou o lema de que é preciso arre-gaçar as mangas para saber o que custaa vida.

A infância de Gina foi feliz, passadasozinha com a mãe na pequena aldeia emque viviam, perto de Penacova. Toda aatenção e os mimos dos progenitores iampara a pequena Gina, menina tímida epouco dada a travessuras, uma perfeitamulherzinha. Aos sete anos, para seu de-leite, nasce o irmão. As atenções passama ser divididas, mas o amor chega para osdois. Eram unha com carne e ainda hojeo são. A aldeia onde Gina vivia com a mãee o irmão só tinha Escola Primária; quemaspirasse à escolaridade obrigatória ou,quem sabe, um pouco mais, tinha que irestudar para a vila, Penacova. A durezados três quilómetros percorridos todos osdias, por vezes debaixo de sol, outras tan-tas à chuva, era amaciada pela certezado banho quente à espera e do jantar pron-to na mesa. A mãe era assim, extremosa.Sem rancor, Gina assume: “Não possofalar em pais porque foi mais mãe”. Opai estava emigrado.

Corria o ano de 1986. Nem só o bomfilho a casa torna, também o bom pai ofaz. Após trinta anos em França e ou-tros tantos dias de trabalho árduo, erahora de regressar. As visitas no Natal,Páscoa e o costumeiro mês de Agostocom a família, momentos preciosos sa-boreados avidamente por milhares deemigrantes, eram coisa do passado. Afamília Oliveira estava, novamente, reu-nida. O pai sempre foi um homem seve-ro e autoritário, mas foi do marido querecebeu o maior ultimato da sua vida:“Chegou ao pé de mim e disse: Ou aca-bamos o namoro, ou casamos. Não es-tou para aturar o teu pai!”. Aos dezoitoanos, o coração falou mais alto e Ginadisse que sim. O casamento, à boa tradi-ção da aldeia, foi de mesa farta e copocheio. E muitos envelopes recheados comos ilustres Antero de Quental e AntónioSérgio. Foi o início de uma nova vida paraambos e o fim dos estudos para ela, bemcomo das conversas e beijinhos ao por-tão debaixo do olhar atento do pai. Osonho de ser um dia advogada ficava por

GEORGINA FIGUEIREDO

“Do sonho, nasce… mais sonho”ali, a dois anos de completar o Liceu.

Outros sonhos, então, ganharam for-ma. Os filhos que desejava e os desafiosprofissionais na cidade, Coimbra. Pena-cova ficava para trás, uma doce lem-brança dos anos felizes passados com amãe e o irmão. À sua frente, um mundo

para descobrir e explorar. A nova aven-tura começou no café “Montanha” nolargo da Portagem. Com o marido aindaa concluir o serviço militar, Gina viu-seforçada a abandonar, definitivamente, apele de adolescente e a vestir uma nova:a de empresária. “Eu nunca tinha feitonada, fui atirada às feras. Não estavahabituada à vida”, confessa. Contudo,depressa se habituou. Como ela própriaassume, sempre foi uma mulher de ar-mas, pronta para a guerra. Após algunsanos surgiu a oportunidade de explora-rem um estabelecimento próprio. O nomeera auspicioso, escolhido quiçá em jeitode mote; Dreams, sonhos, assim se cha-mava. O primeiro negócio do casal, oprimeiro passo para a concretização de

um outro sonho que vinha criando raízesna mente de ambos: abrir um restaurante.E hoje já são três. Vinte anos volvidos emuita dedicação depois, Gina contempla aobra e sorri. “Foram vinte e um anos detrabalho, tantos quanto de casamento”.

O trabalho deu frutos e o casamento

também. Inês, dezasseis anos, e Gonça-lo, quatro, com quem tenta passar o má-ximo de tempo possível. Por vezes não éfácil, tantas são as exigências de umavida dedicada à restauração. Com qua-tro estabelecimentos para gerir e outrastantas dezenas de famílias dependentesdessa gestão, sobra pouco mais que otempo suficiente para lhes incutir os va-lores que considera fundamentais: hones-tidade, sinceridade e humildade. Estessão, para a empresária, os pilares de umaboa educação. Isso e amor, claro está.

Gina não tem pudor em assumir-seuma “fanática das limpezas”. Talvez porisso, espelha nas casas que gere essafaceta. Já teve inúmeras visitas da Au-toridade para a Segurança Alimentar eEconómica e nenhuma delas resultou euauto. Cumpre as normas à risca e, ape-sar de achar a actuação da ASAE umpouco inconsistente, considera a entida-de indispensável. “Às vezes são muitorigorosos numas casas e nem tanto nou-tras… Há casas por esta cidade que sãouma vergonha!”. Se juntarmos à fiscali-zação apertada a crise que se vive actu-almente, é fácil perceber que este não éum bom momento para começar um ne-

Filipa Gameiro do Carmo *

* Aluna finalista da Licenciaturaem Comunicação Social

do Instituto Superior Miguel Torga

Nome: Georgina FigueiredoIdade: 40Área: RestauraçãoPrato: Sardinha AssadaBebida: Vinho Tintoou CaipirinhaPaís: BrasilVício: FumarUm dia quis ser: Advogada

gócio na área da restauração. Nos res-taurantes sente-se a crise das mais di-versas formas, desde a quebra no nú-mero de refeições servidas, passandopela redução dos gastos por parte dosclientes. “Antigamente os pais que vi-nham com os filhos almoçar no dia daBênção das Pastas, traziam quase todaa família e pediam de tudo, desde entra-das até às sobremesas e aos digestivos.Isso não acontece actualmente. Bebe-se o vinho da casa e dividem-se as do-ses. A crise existe mas não acredito emmetade das coisas que oiço nas notícias.Penso que alguém está a exagerar e alucrar com esta crise”.

Por Coimbra, a crise vai sendo disfar-çada, pelo menos em tempo de festaacadémica, com os restaurantes a seremreservados a meses do evento. “Apesarde alguns episódios menos felizes envol-vendo estudantes, eles continuam a serum dos principais motores da cidade. Osjantares e almoços académicos são sem-pre bem-vindos”. Com os três restauran-tes que possui, o mal sempre pode serdistribuído pelas aldeias, apesar de “OSerenata” ser o predilecto da comunida-de estudantil por ser o mais informal,dedicado à cozinha típica Portuguesa. O“D. Espeto” é o local ideal para quemnão resiste a uma espetada, das mais tra-

dicionais a algumas combinações auda-ciosas. O mais recente desafio, “Praçado Marisco”, aposta nos produtos fres-cos do mar, bem como no cabrito con-feccionado de forma tradicional. A estestrês estabelecimentos, junta-se o café“Cristal”, com horário alargado a fim desaciar apetites tardios. Com maior oumenor sofisticação nos menus, não deixade ser interessante descobrir que o pratofavorito de Gina é… sardinha assada. Aacompanhar: um bom vinho tinto.

Após tantas conquistas, continua a so-nhar. Gostaria de abrir um Hotel de Char-me em Coimbra e, um desejo que lhe vemdesde os vinte anos, tirar um curso de De-coração numa prestigiada escola em Lon-dres. Como diria um dos maiores vultos daLiteratura Francesa, Victor Hugo, não hánada como o sonho para criar o futuro.“Utopia hoje, carne e osso amanhã”.

Georgina Figueiredo

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1517 A 30 DE DEZEMBRO DE 2008 EDUCAÇÃO/ENSINO

* Professora e dirigente do SPRC

Maria IsabelLemos *

Quando eu era menina e depois moça,quando os pais falavam com os filhos enão descansavam só na escola, seja pú-blica ou privada, as aprendizagens, o de-senvolvimento de competências, o reco-nhecimento de atitudes e valores, sempreque eu chegava a casa, inquieta e revol-tada, por ter sido vítima, real ou imagina-da, de qualquer picardia ou perversidadede amigas ou colegas e eu vociferavacontra elas, a minha mãe, com sábia tran-quilidade, dizia-me mais ou menos isto:“Quem não se julga bem, não é bem jul-gado”. Entendia ela e ensinou-me entãoa não julgar mal os outros, a ter boa-fé.

Vem tudo isto a propósito das últimas pseu-do-negociações entre o Ministério da Edu-cação e a Plataforma Sindical. É importan-te denunciar a má-fé de Maria de LurdesRodrigues e da sua equipa. Por duas vezes,e quando estavam aprazadas reuniões en-

Boa-fé versus Má-fétre os representantes dos professores e aministra, para, dizia ela, se negociar, se en-contrar possibilidades de entendimento, de-corriam ao mesmo tempo reuniões com osresponsáveis das escolas, pressionando-osa continuar e a realizar os procedimentosde avaliação. Mais, quando se encontrou apossibilidade de realizar uma reunião de“agenda aberta”, em que tudo poderia estarem discussão, quando a Plataforma Sindi-cal, usando de boa-fé, aceitou, alguns mo-mentos depois já estava o Secretário de Es-tado a afirmar que “tudo” não incluía a sus-pensão do modelo de avaliação.

Que me perdoe a minha mãe, mascomeço a achar que não posso continu-ar a ter boa-fé, pelo menos para com estaequipa ministerial. Estou definitivamen-te zangada.

A minha zanga aumenta ao ouvir o ardisplicente da Srª Ministra a falar da pro-posta levada pelos sindicatos para a reu-nião de 11 de Dezembro: “uma proposta

que caberia… numa folha A4”. Primei-ro não foi “finalmente” que tomou co-nhecimento das propostas; já lhe haviamsido entregues. Segundo, tratava-se deum modelo transitório para este ano lec-tivo, até se chegar ao modelo desejávelpara o futuro. Terceiro, constituía umponto de partida, que poderia e deveriaser negociado, melhorado, de acordo comos acordos que fossem surgindo. Masisso, se houvesse boa-fé.

Para finalizar, aquilo que mais me cho-cou, me deixou perplexa, foi a Srª Minis-tra, com um ar irónico (pelo menos eusenti ironia e quase desprezo…), falarda extensão da proposta. Ah! Já perce-bi: para a Srª Ministra, tudo tem que sercomplexo, longo, difícil, obscuro.

E aqui está como, de pessoa de boa-fé, passei a nunca mais acreditar, sobre-tudo naqueles que me habituaram à suamá-fé.

As 7 medidas de incentivo ao investi-mento custarão 800 milhões de euros, ondese destaca a modernização de mais umacentena de escolas já no próximo ano, cujoinvestimento global chega aos 500 milhões.

As contas constam do documento en-tregue aos jornalistas na conferência deimprensa que se seguiu ao Conselho deMinistros, que aprovou o plano de com-bate à crise e que prevê um total de 29medidas para incentivar o investimento eo emprego.

Do total de investimento no valor de800 milhões de euros, 600 milhões serãofinanciados pelo Orçamento do Estado eo restante virá dos fundos comunitários.

Além da modernização de 100 esco-

Modernização de mais 100 escolascustará 500 milhões de euros

las, que vai além das “26 já previstas” paraeste ano, segundo disse o primeiro-minis-tro, e que custará 500 milhões de euros,está ainda previsto um reforço do investi-mento em energia sustentável e na mo-dernização das infra-estruturas tecnoló-gicas das redes de banda larga de novageração.

No caso da energia, o Governo decidiudar um “apoio extraordinário à instalação,durante o ano de 2009, de painéis solarese de unidades de microgeração, designa-damente mini-eólicas”.

Está prevista ainda a “antecipação deinvestimento em infra-estrutura de trans-porte de energia”, adiantou o ministro daEconomia, Manuel Pinho, e a melhoria da

eficiência energética dos edifícios públi-cos (hospitais, universidades, tribunais, re-partições públicas, etc).

O investimento em redes de teleconta-gem de energia está também contempla-do no plano de combate à crise. As medi-das na área da energia vão custar 250milhões de euros, segundo contas apre-sentadas pelo Governo.

Na área da modernização da infra-es-trutura tecnológica, o Governo avançacom o apoio na realização de investimen-tos nas redes de banda larga de nova ge-ração e a promoção da utilização domés-tica e institucional das redes. Medidas cujadespesa fiscal ascenderá a 50 milhões deeuros.

O Presidente da República, CavacoSilva, manifestou-se na passada sema-na esperançado em que “o novo espa-ço negocial” aberto entre sindicatosdos professores e Ministério da Edu-cação tenha “resultados positivos”.

“Quero crer que esse novo espaçoconduzirá a resultados positivos”, dis-se Cavaco Silva durante uma visita aCoimbra.

Na sua opinião, “as negociações es-tão a decorrer nAo fórum adequado”.

A Plataforma Sindical dos Profes-

sores, que reúne os 11 sindicatos dosector, reuniram quinta-feira com aministra da Educação, Maria de Lur-des Rodrigues, para lhe apresentaremuma proposta alternativa ao actualmodelo de avaliação.

O encontro terminou, porém, semacordo, pelo que Governo anunciou queavançará com a avaliação de desem-penho dos professores já este ano lec-tivo, embora de forma simplificada.

Quanto aos sindicatos, reforçaramo apelo aos docentes para que conti-

nuem a lutar, nas escolas, pela sus-pensão do processo de avaliação,subscrevendo um manifesto que seráentregue ao ME no próximo dia 22 eque virá a ser “o maior abaixo-assina-do alguma vez realizado” no sector.

A greve nacional agendada para 19de Janeiro vai igualmente manter-se,não estando excluída a possibilidadede serem ainda retomadas, no segun-do período de aulas, as paralisaçõesregionais que a plataforma suspendeuna semana passada.

Cavaco deseja que negociaçõessejam bem sucedidas

DIFERENDO ENTRE SINDICATOS E GOVERNO

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16 17 A 30 DE DEZEMBRO DE 2008SAÚDE

MassanoCardoso

Um amigo, das bandas de Alenquer,mimoseou-me com uma obra muito inte-ressante e que desconhecia: “Portugue-se Costumes” de HenryL’Évêque. O livro, publicado emLondres, em 1814, descreve deuma forma sublime os costumesportugueses da época. As descri-ções, em inglês e em francês, sãomuito sugestivas e enriquecidaspor cinquenta magníficas gravu-ras a cores. Trata-se, quase quediria de um “elo perdido” que per-mite conhecer-nos um pouco me-lhor, até porque o que está relata-do não está tão longe de nós comoisso, apenas duzentos anos.

Comecei a ler e não conseguiparar. Após a primeira descrição,“A audiência do Príncipe” em quesão relatadas as formas comoabordar e como fazer as petições,junto do mais alto representantede então, surge a “Sopa dos Pri-sioneiros”. Neste texto chama aatenção alguns parágrafos. “EmPortugal não se prende ninguém por dí-vidas; e como se praticam proporcional-mente muito menos crimes que na maiorparte dos estados europeus, como é ocaso da Inglaterra, por exemplo, sería-mos tentados a crer que as prisões estãopraticamente vazias. Entretanto as de

“Costumes Portugueses”Lisboa encerram um grande número dedetidos. As razões têm a ver com a len-tidão do procedimento criminal, o nãorespeito pelas leis, à compaixão e talveztambém à negligência dos magistrados;numa palavra, a uma espécie de laisser-aller que é a marca de todos os sectores

da administração pública”.Évêque descreve em seguida que os

prisioneiros são raramente maltratados,devido às máximas de uma religião cari-dosa e à doçura do carácter nacional. Opior é sustentar os prisioneiros, o que levaalgumas ordens religiosas a obter esmo-

las e alimentos de todos os tipos a fim deos alimentar com o mínimo de dignida-de. O orçamento para este fim era mui-to reduzido nesse tempo. Depois conti-nua a descrever as iniciativas de carác-ter misericordioso para minimizar a es-tadia nos presídios.

Na parte final, após o elogio à “cle-mência hereditária” da casa de Bragan-ça, o autor cita o seguinte: “Encontramsempre em Lisboa, e hoje mais do quenunca, delatores prontos a denunciar, umintendente-geral da polícia para deter osacusados, tribunais para os julgar. Mas

aquele que perdoa, aquele que tem o po-der, e que tem o desejo de o aplicar, po-dem-no procurar, mas nunca o encontram”.

Ponho-me a pensar o que diria hojeÉvêque se pudesse retratar-nos nova-mente. Para já, não falaria da “sopa dosprisioneiros”, mas da sopa que alguns pri-

sioneiros nos dão. Continuariaa ficar espantado por não ha-ver portugueses na prisão pordívidas, que a justiça continuano mesmo ritmo, lenta, no mí-nimo, que o laisser-aller é a defacto a marca nacional, nãoobstante todas as reformas,enfim, que em Lisboa, e tam-bém no resto do país, os dela-tores continuam a fazer dassuas, muitas vezes com o ob-jectivo de denegrir a imagemdos cidadãos. De facto a ca-lúnia tornou-se numa das ar-mas mais perigosas capaz dedestruir em muito pouco tem-po toda uma existência. E,mesmo que se venha a provara inocência do acusado, per-manecem sempre alguns efei-tos devastadores da imagem docidadão. João Chagas, na sua

interessante obra, “Posta-restante (car-tas a toda a gente)”, escreveu a seguin-te frase a propósito das iniciativas e ar-dor do apostolado de um cidadão: “Ca-tequise, catequise. Da catequese, comoda calúnia, sempre fica alguma coisa”.

Pois fica!

Bem dormir para bem conduzirNeste mês de Dezembro, as festas

de Natal e de Fim-de-Ano levam a quemuitos milhares de pessoas se desloquemde automóvel. Aos condutores recomen-da-se, sobretudo, que não consumamálcool, o que é bem avisado. E tambémque não ingiram substâncias tóxicas, nemmedicamentos que provoquem sonolên-cia. Mas importa ter em atenção, igual-mente, que um condutor muito cansadoou ensonado é um perigo na estrada, paraele próprio e quem o acompanha, mastambém para as outras pessoas que cir-culam nas estradas.

“Em Portugal, tal como se faz hámuitos anos EUA, é preciso começar a

tratar, aquilo que os americanos chamam,o drowsy driving – a condução sob oefeito do sono. O drowsy driving podeser devido a não ter dormido ou dormidomuito menos do que devia para repou-sar, mas também pode acontecer empessoas que dormem as horas normais,mas cujo sono não foi reparador”, expli-ca António Atalaia, neurologista e mem-bro da Associação Portuguesa do Sono.O especialista sublinha que é fundamen-tal que as pessoas estejam alertadas parareconhecer os sintomas do sono e nãoterem demasiada confiança na sua ca-pacidade de o controlar.

Após 10 anos de ausência de novida-

des terapêuticas com indicação precisapara a insónia, surge no mercado portu-guês um medicamento – melatonina delibertação prolongada – que ajudará aresolver o distúrbio de sono mais comuma muitos doentes.

“Há muito tempo que não havia novi-dades terapêuticas para as insónias. Porisso este novo medicamento é uma boanotícia para os que diariamente tratamestes casos”, diz, sublinhando que estemedicamento tem a vantagem de ter in-dicação específica para determinadasinsónias e ajudará muitas outras.

Dormir pouco ou mal afecta a saúdefísica e psicológica. O stress e os pro-blemas no trabalho são os principais cul-pados pelas noites mal passadas dos por-tugueses, resultando “num excesso desonolência, em depressões, dificuldade deconcentração, fraco desempenho nastarefas quotidianas e pequenos lapsos dememória”. Resumindo, “a dificuldade deaguentar a pressão diária que se traduznuma baixa qualidade de vida”, explicaLucília Bravo, psiquiatra.

As necessidades de sono são iguaispara a grande maioria dos adultos, em-bora haja quem pense que precisa depoucas horas de sono para ter qualidadede vida no dia seguinte. A verdade é quea insónia afecta cerca de 30 a 45 porcento da população mundial. Em Portu-gal os distúrbios do sono afectam 30 porcento da população, sendo, de uma ma-neira geral, mais afectadas as mulherese os idosos.

Segundo a psiquiatra, “o tratamentodas insónias pode até passar pela sim-ples aprendizagem de técnicas de rela-xamento, embora a maioria dos casosimplique uma terapêutica com medica-mentos”. Segundo os especialistas, a in-sónia é tratável ou controlável em 95 porcento dos casos. Os sedativos, indutoresdo sono e os tranquilizantes são os medi-camentos mais utilizados para tratar ainsónia, ainda que não tenham essa pri-meira indicação.

De qualquer modo, se tiver sono, nãoconduza!

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1717 A 30 DE DEZEMBRO DE 2008 SAÚDE

Carlos Robalo Cordeiro, Professor da Faculdade de Me-dicina da Universidade de Coimbra, acaba de ser distin-guido, durante o Congresso Anual da Sociedade Portugue-sa de Pneumologia (SPP), que decorreu no Porto no iníciodo corrente mês de Dezembro, com o prestigiado PrémioSPP/Fundação AstraZeneca.

A distinção agora concedida a Carlos Robalo Cordeiro,que é também Chefe de Serviço de Pneumologia dos Hos-pitais da Universidade de Coimbra, destina-se a premiar omelhor trabalho nacional de investigação na área respira-tória publicado em revista indexada, no ano de 2007.

Carlos Robalo Cordeiro conquistou o referido Prémiocom a publicação “Bronchoalveolar Lavage in Occupatio-nal Lung Diseases”, nos Seminars in Respiratory and Cri-tical Care Medicine.

EM CERIMÓNIA NA BIBLIOTECA JOANINA DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA

“Prémio Robalo Cordeiro - AER/GSK”vai ser entregue na sexta-feira

Decorre depois de amanhã (sexta-feira, dia 19), pelas 11 horas, na Bibliote-ca Joanina da Universidade de Coimbra, a cerimónia solene da entrega do“Prémio Robalo Cordeiro - AER/GSK”.

A sessão, promovida pela Associação Portuguesa de Estudos Respiratórios(AER) e pela Glako SmithKline (GSK), contará com a presença de destaca-das individualidades, entre as quais o antigo Presidente da Assembleia da Re-pública, Almeida Santos, e o próprio António José Robalo Cordeiro, em home-nagem a quem foi criado este prémio com o seu nome.

Recorde-se que o Prof. António José Robalo Cordeiro foi um dos mais pres-tigiados Catedráticos da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbrae um dos mais destacados especialistas em Pneumologia, não só em termosnacionais, mas mesmo além-fronteiras.

Apesar de se ter jubilado há alguns anos, o Prof. Robalo Cordeiro continuaa ser uma referência na área da Pneumologia, a ele se devendo a importânciaque esta especialidade veio a ter nos Hospitais da Universidade de Coimbra,em serviço por ele dirigido ao longo de muitos anos.

Este “Prémio Robalo Cordeiro - AER/GSK” é atribuído de dois em doisanos, destinando-se a galardoar trabalhos de investigação científica, originaise inéditos, efectuados no âmbito do tema “Pulmão Profundo – Do Ambiente àGenética”.

Trata-se de um prémio que para além do seu significativo valor pecuniário(25 mil euros), assume um grande valor simbólico, pois muito prestigia os quecom ele são distinguidos.

Na imagem ao lado o Prof. Dr. António José Robalo Cordeiro, cujo nome foi atribuídoa este prestigiado galardão como forma de homenagear a sua notável obrano campo da Pneumologia

Carlos Robalo Cordeiro distinguidocom o prestigiadoPrémio SPP/Fundação AstraZeneca

Carlos Robalo Cordeiro

A Delegação Centro da Fundação Por-tuguesa de Cardiologia (FPC) vai visitar,no próximo dia 22, a Casa dos Pobres deCoimbra

Esta visita será iniciada com um ras-treio feito aos Residentes, para apurar oseu estado de saúde no que respeita a ris-cos cardio-vasculares.

Segue-se um almoço de confraternização.Nesta acção, a FPC conta com a cola-

boração do Lions Clube de Coimbra e deenfermeiros voluntários.

Fundação Portuguesade Cardiologiavisitaa Casa dos Pobres(Coimbra)

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18 17 A 30 DE DEZEMBRO DE 2008OPINIÃO

Varela Pècurto

Embora se comecem a verificar re-trocessos na proliferação de universi-dades do País, a existência das quecontinuam em actividade sempre tiramestudantes a Coimbra.

Já lá vai o tempo em que os candi-datos abdicavam da universidade quelhes ficava mais perto para rumarema esta cidade, no centro de Portugal.

Grande mas sossegada e com umaUniversidade a ter um belo historial,os motivos eram suficientes para atra-ir os jovens. E não têm conta os quepor ela têm passado desde então e senotabilizaram depois nos mais varia-dos quadrantes do mundo do Traba-lho. As tradições académicas tambémcativam, com a Queima das Fitas àcabeça. Mas viver numa “República”é ambição de muitos caloiros.

Não vou desenvolver este tema,apesar de quem nunca passou peloambiente que nelas se vive tenha difi-culdade em compreender a preferên-cia de tantos estudantes em se insta-larem nas “Repúblicas” da cidade. Eas que vão desaparecendo logo sãosubstituídas, agora com a novidade deserem mistas.

No distante Janeiro de 1920 surgiua primeira residência feminina univer-sitária que se pode considerar uma “re-pública”, fundada por Virgínia AbreuPestana, nos Palácios Confusos. Asactividades extra-escolares eram pou-cas, nem participando nas actividadesda Associação Académica de Coim-bra em cuja sede não entravam. Nãousavam capa, embora pudessem usarfitas, vendo o cortejo de longe. Parase ter uma ideia como era primitiva asituação da mulher na Academia, bas-ta lembrar que a primeira só entrou naUniversidade depois do Reitor, queestava indeciso, ter consultado o Mi-nistro da Educação.

“Repúblicas” de Coimbra

Das normas rígidas que estas pionei-ras estabeleceram para uso internoconstava a proibição de entrada de ho-mens na residência. No entanto, segun-

do o diário que escreviam, tal proibiçãofoi quebrada duas vezes: por um irmãoda fundadora e por um estrangeiro quefazia parte duma tuna espanhola.

O tempo sempre chegou para estu-dar e para grandes farras e noitadasem que participam convidados impor-tantes.

A simplici-dade das insta-lações nãoafectam os uti-lizadores. Osquartos guar-dam muitas re-cordações dequem por alipassa ou toma-das em “mis-sões secretas”um pouco portoda a cidade.São frequentesas pinturas

murais satíricas.Um belo cinzeiro de pé alto que

existiu na “Hilda” (estabelecimento defotografia no Largo da Portagem) edesapareceu “misteriosamente”, pelaaltura que tinha, só podia ter sido le-vado a coberto de uma capa...

Também se aconselha aos visitan-tes das “repúblicas” que leiam a listadas calinadas registadas durante asconversas, principalmente às refei-ções. Ficam apontadas ad vitam ae-ternam. Pouco há a dizer da arqui-tectura dos edifícios ocupados por “re-públicas”, salvo o que acolhe a “Pra-Kys-Tão”, nome que está pintadonuma tabuleta pendurada na fachada,como é hábito de todas.

O edifício é referido nos livros de-dicados à Coimbra monumental. Situ-ado na Rua do Correio ou Joaquim An-tónio de Aguiar, onde forma um ângu-lo com a Rua das Esteirinhas, é o maistípico da cidade, da época do primei-ro renascimento.

Quem o olha, vindo da Sé Velha, logodá conta da semelhança que tem comum navio ou nau, daí lhe vindo o nome:casa do navio ou da nau. Existem jane-las de arco e relevos. Sobressai o va-randim triangular com colunelo no topo.O sub-beiral tem interesse, sendo mui-to decorativo, com modilhões que su-portam a cornija onde se cravam gár-gulas. Do lado poente a fachada temjanelas com colunelos e balaústres.

Mantém-se o hábito de enfeitar asfachadas das “repúblicas” com asmais desencontradas velharias e ob-jectos insólitos durante festas acadé-micas, aniversários etc. Nos temposem que houve Legião Portuguesa oseu quartel situava-se em frente dafachada poente da “Pra-Kys-Tão”.Os legionários colocaram sobre o arcode acesso à escadaria, no átrio, umafaixa onde se lia “Aqui não reside otemor”. De imediato os estudantesdesta “república” colocaram umacomprida tira de pano na fachada vi-rada para o quartel, na qual pintarama frase “Aqui também não”.

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1917 A 30 DE DEZEMBRO DE 2008 MÚSICA

Distorções

José Miguel [email protected]

Governo Civil de Coimbra promoveuconcerto inédito

No passado fimde semana, tive aoportunidade de irver o primeiro “djset” dos “Bons Ra-pazes” – um pro-grama da autoria deÁlvaro Costa e Mi-guel Quintão, que vai para o ar na Ante-na 3, de segunda a quinta-feira, das 20às 22 horas, definido pelos próprios como

“um talkshow de música com conversapelo meio” – integrado num evento de-nominado “Discopólis” que teve lugarnum dos pisos do parque de estaciona-mento do Cinema City. O mesmo inte-grava, também, Nuno Gonçalves dos The

Gift – que, aliás, estava a actuar quandocheguei. Mas, de facto, foram os Rapa-zes que cativaram a minha atenção comum “set” de duas horas, mas bastantedirecto e a cativar todos os que ali seencontravam, nunca esquecendo que aessa animação só estavam aliados temasque tivessem passado pelo programa.Facto que, como ouvinte assíduo, possocomprovar. Temas como: “Kelly (Lifeli-ke Remix)”dos Van She, “Golden Cage

(Fred Falke Remix)” de The Whitest BoyAlive, “So Haunted (Knightlife Remix)”dos Cut Copy, “Big Weekend (DeloreanRemix)” dos Lemonade, “Shadows (Kni-ghtlife Remix)” dos Midnight Juggernautsforam alguns dos temas que por ali “des-filaram”. Gostei imenso e espero reverem breve, porque de facto este é o meuprograma preferido da rádio portuguesa,sobretudo porque alia o enorme talentode Miguel Quintão, enquanto divulgadormusical, ao excelente comunicador queé Álvaro Costa, sempre atento ao quese escreve na imprensa especializada,não esquecendo as séries e os filmes quevão dando que falar do outro lado doAtlântico. Se já ouviram é só não perde-rem pitada, se não o fizeram ainda, é tem-po de o fazerem quanto antes.

PARA SABER MAIS:

http://ww1.rtp.pt/icmblogs/rtp/bonsrapazes

Midnight Juggernauts

The Whitest Boy Alive

Por iniciativa do Governo Civil deCoimbra, realizou-se no Pavilhão Cen-tro de Portugal, em Coimbra, um con-certo alusivo ao Dia Internacional dasPessoas com Deficiência (3 de Dezem-bro), em que participaram a OrquestraClássica do Centro (OCC) e os grupos5.ª Punkada (da APPC) e Cãoboys (daAPPACDM).

Os grupos musicais da APPC e daAPPACDM mostraram o trabalho quedesenvolvem ao longo do ano, com asrespectivas actuações muito aplaudidas.Seguiu-se o concerto pela OrquestraClássica do Centro que, sob a direcçãodo Maestro Virgílio Caseiro, apresentouno final dois temas em conjunto com ogrupo 5.ª Punkada, calorosamente aplau-didos.

Ponto alto da noite foi a homenagemprestada pelo Governo Civil de Coimbraao atleta paralímpico António Marques,natural do Concelho de Penacova, que,entre muitos prémios antes alcançados,

PARA ASSINALAR DIA INTERNACIONAL DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA

seus limites físicos, dando o exemplopara as pessoas que são portadorasde deficiência, mas também mostran-do a todos como vencer os desafiosque a vida nos coloca.

De tarde, igualmente no PavilhãoCentro de Portugal, foi inauguradauma exposição de trabalhos realiza-dos pelos utentes da APPC e daAPPACDM.

Recorde-se que na sequência daResolução da ONU de 1998, 3 de De-zembro passou a ser o Dia Internacio-nal das Pessoas com Deficiência. Estedia é celebrado por todas as organiza-ções internacionais e nacionais sob umlema definido anualmente. Este ano, aUnião Europeia definiu como tema“Agir Localmente para uma Socieda-de para todos” e as Nações Unidas“Dignidade e Justiça para Todas aspessoas”. A nível nacional, as come-morações deste ano decorreram sob oslogan “Não Discrimines, Integra!”.

obteve este ano, nos Jogos Paralímpicosde Pequim, o 2.º lugar em Individual eEquipas na modalidade de Boccia.

Henrique Fernandes realçou o su-cesso atingido por este atleta, que con-seguiu superar, da melhor forma, os

Henrique Fernandes prestando homenagem a António Marques

Aspecto da inauguração da exposição O maestro Virgílio Caseiro dirigindo a OCC e o grupo 5.ª Punkada

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20 17 A 30 DE DEZEMBRO DE 2008CRÓNICA

* Docente do ensino superior

AO CORRER DA PENA...

Maria Pinto*[email protected]

Agora que é quase Natal, o teu ros-to e o teu corpo avolumam-se. A voz...a tua voz... a rosa que me trazias sem-pre nesse dia, no dia de Natal e a for-ma como a despetalavas e comemo-ravas em mim. Robustos como árvo-res. Como árvores de Natal. Sinto tan-

to a tua falta!...Eras o meu sopro de vida. Lembras-

te quando dizias que eu era a nature-za da tua alma? Momentos antes dequereres “morrer”, choravas... “já nãotenho alma! Acho que vais desapare-cer! Contigo vai o canteiro onde re-gava as minhas flores, o livro ondeescrevia os meus poemas, o livro ondete escrevia. Onde te esculpia”...

Sinto-me tão só! Também eu mevejo sem alma, porque ela se desfezem pedaços espalhados pelas recor-dações de ti. Pelas lembranças de umamor sem tempo. De um querer paraalém do tempo.

Será que pensaste em mim quandodecidiste “desaparecer”? Enquanto tefoste afastando... desvanecendo... es-fumando?

Olho para o céu das gaivotas e en-contro o teu voo. O teu rasto. O teurasgo. Revejo o mar e revejo-te. “Sóo teu riso dura. Mostrei-te o mar. Mos-trei-to antes e depois de morreres”.Fazes-me tanta falta! Os passeios àbeira-mar naqueles pores-do-sol infin-dáveis, as nossas pegadas bem vin-cadas, traçadas para a eternidade do

Sinto tanto a tua falta!...nosso amor.

Mãos nas mãos. Cabelos soltos aovento. Final de tarde de Inverno. Tar-de de Natal.

– Tens rosto de macaca chinesa,querida!”

– És a minha jóia, amor. A minhajóia rara.

Depois corríamos, lembras-te?Fala, amor, lembras-te? Corríamos jánão na praia mas pelos montes fora

como dois potros selvagens... comodois cabritos monteses. O rebolar porentre a areia, por entre os pequenosdeclives campestres... o rebolar feitode palavras doces, de palavras soltasque iam e vinham com o vento em tur-bilhões de imaginação e criatividade...ao som das melodias de Chopin, emritmo de dança... de valsa.

Vem-me à memória, agora que mesinto tão de dentro, tão sem-abrigo, omomento em que planeámos e fize-mos a nossa filha: “com açúcar, comafecto, fiz meu doce predilecto”, en-toava-te. A nossa filha, meu amor.Margarida. Nome de flor. Prenhe depalavras. Das palavras doces com quea fomos envolvendo ao longo da suagestação. Enchia-la da tua inteligên-cia rara. Colocavas as tuas mãos so-bre o meu ventre e embalavas Mar-garida, que cresceu bonita até nascerem tempo de Primavera, em mês derevolução. Margarida. Flor linda. Florlida. Linda flor. Flor em forma de co-ração: Margarida tal livro aberto embusca de sonhos, de ideias. De vida.

Fazes-me falta no olhar. É Natal

agora. Queria-te ainda mais. Fazes-me falta no tom de voz. A serenataque me fizeste, recordas-te? Emocio-naste-me pela surpresa. Sorrimos decumplicidade mais tarde. Dormia euplacidamente no sofá em sonho rosae tu irrompeste pelo telefone entoan-do a “Canção de Embalar” do Zeca.Pareceu-me estar numa outra dimen-são. Senti que vivia um sonho. Um so-nho real. De embalar. Faz-me faltaesse amar que não sei se sonhei, quenão sei se alguma vez encontrei.

Porquê? Por que razão foste em-bora assim tão bruscamente? O quete ensinei, afinal? O que ficou de mimem ti?

Um pouco antes de “partires”, dizi-as-me: “tens uma grande força, mi-nha querida. Tens poder. És ao mes-mo tempo mulher e personagem detragédia. Estarei sempre ligado a ti.São estes momentos de eternidade queficarão... são estes momentos de umahistória bela – tão bela, meu Deus! –mas tão trágica”...

Sabíamo-nos de cor. Estávamosmisturados um no outro, quase que dis-solvidos. A certa altura já não sabía-mos onde cada um de nós se iniciava

e terminava. Trocávamos poesia, ini-bições, fortalezas. Percebíamos osnossos pavores... depois ríamos delese prendíamoA-nos nos braços. Nosteus braços. Nos meus. Com sabor afelicidade. Com saber de finitude. Mo-mentos de intemporalidade...

Faz-me falta o silêncio. As falas tra-

zidas pelo teu olhar. Esse olhar escu-ro e profundo que me envolvia. Ashoras passadas assim, em silêncio,ouvindo apenas o crepitar da foguei-ra. Enlaçados. Pensativos. Inspirados.

Não consigo conformar-me. Conti-nuo a ouvir-te, amor. Continuo a ver-te, a ler-te, a perceber as tuas entreli-nhas, a tentar interpretar-te. A mágoapersiste, permanece a revolta. Tenhodificuldade em concentrar-me Maspercebo o porquê do teu afastamen-to. Tu és romance! Onde quer que es-tejas neste momento – agora e sem-pre – tu és poesia, és uma forma dealtar simbólico do culto da amizade edo amor. Percebi-te melhor há pou-cos dias, quando sorvi o soberbo fil-me francês “Deux Jours à Touer” ete senti o protagonista.

Estejas onde estiveres – onde es-tás? – continuarás ligado à vida e àspessoas que deixaste. Sei que estásaqui, bem perto de mim. Sinto a melo-dia do teu respirar. Virás neste Na-tal? Traz a rosa vermelha, sim?

Fazes-me tanta falta, meu amor!Não me deixes sem cor, sem perfu-me, sem rosa... sem nada.

Nota: com este pequeno texto, porcerto triste, quis homenagear todosaqueles que de algum modo tiveramde partir, mas que continuam bem ace-sos dentro de nós. Em particular nes-ta época em que se diz ser Natal, ape-sar de profundamente desvirtuada pe-los devaneios consumistas...

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2117 A 30 DE DEZEMBRO DE 2008 OPINIÃO

Renato Ávila

POIS...POIS...POIS...POIS...POIS...

Joséd’Encarnação

João PauloSimões

FILATELICAMENTE

Vítor, desta feita, saboreou maisdemoradamente o café. «É o últimocafé que tomas», anunciara-lhe aTeresa. «Fechamos amanhã. Umchinês comprou-nos isto».

Sabor amargo.Dizem que, no momento da mor-

te, a vida inteirinha passa diante denós num ápice. Assim para o Vítor.As cavaqueiras, o dominó, as cos-cuvilhices, a vizinhança, a comuni-dade, o copito de medronho…

Em seu lugar, depressa se insta-lariam cores, loiças, plásticos, bugi-gangas, plásticos… de todos os con-tinentes!

Estão abertas as trincheiras.Como em todas guerras, as justificações

proclamadas raramente coincidem com asrazões essenciais.

Será por isso que sabemos quando prin-cipiam e desconhecemos como e quandoacabam.

Ao lançar o grito de guerra, é mister queo contendor tenha bem presente não só onúmero de espingardas de cada lado mastambém a correspondente capacidade deresistência.

Foi assim que vencemos em Aljubarro-ta. Foi assim que nos perdemos em Alcá-cer Quibir.

Dum lado estarão uns cento e cinquen-ta mil professores feridos na sua dignida-de, curvados ao peso ciclópico duma buro-cracia inconsequente e impiedosa e dumapolítica sem sólidos princípios de coerên-cia pedagógica; do outro, a máquina doestado controlada por uma maioria arro-gante e autista, de corporativos interessese obscuras motivações a qual, pressionan-do significativa parcela da comunicaçãosocial, age negativamente sobre a opiniãopública no sentido de a virar contra aque-les. O fulcro de toda uma estratégia quevisa nivelar por baixo e controlar adminis-trativamente todos os grupos profissionaisque, pela sua função cívica e social, pos-sam pôr em causa e em perigo a abusivaascendência que os políticos exercem so-bre os cidadãos. Esse receio é tanto maiorquando a política partidária, reflectindo-senos órgãos do Estado, e exibindo-se tãonegativamente no Parlamento e na praça

Entre a guerra e o bom sensopública, provoca crescente animosidade noseio dos cidadãos.

Com efeito, desde que esta executivotomou posse, tem sido sistemática, osten-siva, e obsessiva a campanha no sentidode voltar a opinião pública contra aquilo aque o PM entende por “corporações” ecriar o ambiente para o processo que eleclassificou de “reformas” mas que, nametodologia, mais não é do que uma espé-cie de ajuste de contas, o claro aviltamentoda dignidade própria de quem exerce ummúnus especial e específico na comunida-de: educar, julgar, defender… missões comentranhada e respeitosa consideração nasociedade e credoras de seculares prerro-gativas socialmente aceites e consuetudi-nariamente consagradas.

A recente votação na AR dum projectode lei apresentado por partido da oposição,no sentido de suspender o vigente e uni-versalmente contestado processo de avali-ação docente, foi bem a imagem daquiloque é a nossa classe política, da qualidadee da seriedade dos eleitos do povo. Umacomprometida maioria, enfeudada à insóli-ta teimosia dum governo, a votar contra;uma oposição contestante, todavia, ausen-te; meia dúzia de professores da bancadasocialista que, com desassombro e assu-mindo-se como tal, teve a solidariedade, ahonra, a coragem de ignorar a disciplinapartidária e votar a favor do projecto coma correspondente e a amarga decepção dero ver rejeitado.

Ninguém nos pode proibir de pensar emconluios não só “interpares” mas também“extrapares” para alguns deputados salva-rem a face. É que as posições de certaoposição contra o modelo de avaliação se-riam tão somente cavalgada na onda. Puroaproveitamento político. De concluir, pois,

que, na AR, não será apenas a bancadasocialista que está contra os professores.

Contrariamente ao que afirma o Sr. Se-cretário de Estado Pedreira, a guerra foiestrondosamente declarada pelo governologo que entrou em funções. Vieram de-pois as batalhas do ECD, dos Concursos,dos Horários e, agora, a da Avaliação.

Quem ler nas linhas e entrelinhas de al-guma imprensa, nas palavras e meias pa-lavras de alguns espíritos tidos por ilumina-dos; quem se der ao cuidado de, na NET,visitar certos blogues ou analisar os comen-tários aduzidos a algumas notícias ligadasà escola e aos professores, constatará quea campanha atingiu os seus objectivos emlargos estratos da sociedade portuguesa.

O malandro, o incompetente, o privile-giado, o pobre diabo, o “manga de alpa-ca”… estão lá, assim como as diatribescontra os sindicalistas, especialmente osmais mediáticos.

Se era isso que o Governo pretendiapara a classe que há-de formar os portu-gueses de hoje e do futuro, tê-lo-á, de cer-to modo, conseguido. Serão, por assim di-zer, as sombras mais negras da radiografiado seu burocrático e deseducativo projec-to de educação e de escola para Portugal.

Esta guerra de trincheiras não vai a ladoalgum. Sejamos realistas!

Está, todavia, na mão dos professoresquerer vencê-la. É decisiva essa vitória.Não propriamente por uma questão dehonra mas, sobretudo, pela defesa da dig-nidade da escola e da educação. Pelasnossas crianças. Pelos nossos jovens.

O problema de fundo nem será propri-amente a avaliação nem mesmo a exis-tência de duas categorias de professores.O problema é de postura, de política, deincapacidade pedagógica, de miopia do

governo.A nossa luta deverá ser a da excelên-

cia contra a mediocridade, da dignidadecontra a mesquinhez, da competência con-tra a ignorância, do rigor e exigência con-tra a balda das pseudo avaliações, dospseudo sucessos, da oca e capciosa ari-dez dos esquemas e das estatísticas.

O folclore, o soez da linguagem, a in-sensatez das atitudes, em nada nos dig-nifica, nos ajuda. É entrar no jogo, no re-gisto do opositor, nas coordenadas da suaactuação.

As centenas de milhar em Lisboa, nocalor da sua generosidade e da sua revol-ta, deram azo a interpretações abusivas dosnossos naturais comportamentos. Quemestá ressabiado, malevolamente motivado,é incapaz de estar de boa fé.

Nesta crucial fase da luta, o grito deguerra não nos ilustra, mas sim a persona-lidade, a firmeza, o bom senso, o espíritode “construção”.

Personalidade bem fundamentada nasverdadeiras razões da nossa luta; firmezapara as defender; bom senso e clareza nasnegociações e nas mensagens para a opi-nião pública, nas atitudes em relação à hie-rarquia e à comunidade escolar; realismoe espírito construtivo no sentido de não iralém do razoável mas à frente do positivo.

Ao puxar pela corda, saibamos encon-trar o equilíbrio entre os nossos interes-ses e os da escola, entre a força das nos-sas razões e a razão da força dum estadosem razão.

O nosso campo de batalha é a escola etemos de defendê-la como lugar de paz,de sabedoria e de dignidade.

O nosso inimigo é a ignara arrogânciade quem teima em desconhecer a sua pró-pria ignorância.

Segundo a Enciclopédia Verbo Luso-Brasileira de Cultura, Edição Século XXIvol. 20, página 997, Nação, é uma “co-munidade histórica de cultura. Funda-senuma história comum, em afinidade deespírito e instituições (mentalidade, edu-cação, estilo de vida e relações sociais,valores éticos, maneira de estar no mun-do, inserção na natureza). (...) Cada na-ção distingue-se ainda pelas condições

1935 – Tudo pela Nação

Era um PaísPara onde se ia adormecendo

E se caminhava no repousoComo um adeus invertido

Ou uma folha enroladaNo seu próprio silêncio

António Ramos Rosa de que surge (diferenciação linguística,étnica, religiosa, geográfica, política) eque ficam a marcar o seu carácter. (...)”

No nosso país, em 1935, vivía-se emplena ditadura Salazarista. Foi a mais lon-ga da Europa Ocidental.

Nessa data, surgem os primeiros selosligados ao Estado Novo: Tudo pela Na-ção – frase usada muita vez por Salazar“tudo pela Nação, nada contra a Nação”,frase de que se aproveitou a primeira partepara colocar na emissão de 1935, dese-

nhada por Almada Negreiros, simbolizan-do os valores e forças da Nação unidosnum movimento único – a Pátria. Junta-mente com os selos, emitiram-se tambémpostais iguais à emissão. A gravura dosselos é de Arnaldo Fragoso e entraramem circulação a 26 de Agosto, 20 de No-vembro, 26 de Dezembrode 1941, tendosaído de circulação a 1 de Outubro de1945. O papel é liso e denteado 12 ½.

Foram impressos na Imprensa Nacio-nal Casa da Moeda.

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22 17 A 30 DE DEZEMBRO DE 2008OPINIÃO

J.A. Alves Ambrósio

OPINIÃO Angola em Saragoça (V)

Que a visita ao pavilhão de Angola foium encanto para mim, é algo que nãocarece de reiteração.

Hoje, todavia, vamos descer à terra –bem à terra – em contraste, digamos, coma espiritualidade que enformou o últimoartigo. Já agora é conveniente dizer que,até no facto de não ter recebido nenhu-ma herança islâmica, Angola transbordade sorte. Essa religião (?) arábica que,na sua génese, tem pastores e guerrei-ros, mostra hodiernamente, no quotidia-no, digamos, de que é capaz. E – semmais detenças – baste lembrar o casoda Nigéria.

…Vamos descer à terra. Opulentapelos seus recursos petrolíferos e dia-mantíferos, Angola afirmava-o. Arrola-va o conjunto de companhias petrolífe-ras a actuar no seu território, de entre asquais mencionava a Galp e a Petrogal.

Angola e o leitor vão desculpar-me acrueza, mas a Galp mete-me nojo. Dou

apenas quatro exemplos. Há década emeia, quando frequentava o Mestrado,costumava atestar na posição de Nelas,cujo horário de abertura estava indicadoàs 7. De facto a abertura era às 8, comomo declarou, dentre mais, o empregado.Foi um transtorno tremendo para mim.Mas, ao queixar-me aos Serviços Cen-trais por escrito, não obtive qualquer res-posta – e a placa a indicar o horário, anosdepois, ainda não tinha sido mudada. Dou-tra vez decidi atestar em Coimbra, à Casado Sal. Precisava urgentemente de umacasa de banho – mas o posto de abasteci-mento não tinha. Foi tremendo para mimter que aguentar até c. Penacova.

Em Espanha, em Chaharrero (Ávila),há muitos anos, a casa de banho era tãorepugnante por imunda, que – sem qual-quer exagero – me fez lembrar uma la-trina de guerra (o pessoal, diga-se, é deum tocante acolhimento). E em SantCarles de Ia Rapita (à entrada da Cata-lunha ido do Sul) as casas de banho são

também uma incúria. Paro sempre aquipara lavar a auto-vivenda e, com a “pão-de-fôrma”, comprava aqui sempre emba-lagens de óleo, porque o mesmo produtoa 1000 quilómetros de distância do lugarde fabrico, era mais barato três, quatroou cinco vezes (já não me lembro bem,mas era uma diferença abissal). Ao terexplicado isso ao revendedor amigo, aquem antes o adquiria, ele respondeu-meque o inspector da Galp o informava, apóster-lhe apresentado o facto, disto: «O toponão nos liga importância nenhuma».

Sem me alongar, e repetindo descul-pas, tanto a Angola como aos leitores, pormencionar estes factos, a minha intençãoé muito simples: faço os mais ardentesvotos para que a Galp tenha em Angolauma postura nos antípodas dos exemplosque dei – que não foram exaustivos. AGalp tem que considerar que a Angola édevido, da parte dos portugueses e dePortugal – e, de algum modo, a petrolífe-ra é, também, uma embaixadora –, é de-

vido, dizia, o máximo de deferência.Deferência pelo espírito que nos une:

o espírito do sangue que, diuturnamente,se cruzou entre nós e os angolanos dasmais diversas regiões e condições; o es-pírito do tempo multi-secular! – há quecontactamos; o espírito do perdão pelasviolências e extorsões do colonialismo; oespírito do afecto tão inerente ao nossocomum idioma; o espírito de gratidão pelariqueza que Angola continua a represen-tar, bem patente no facto de que, nestemomento, está na moda, digamos, os lu-sos emigrarem para lá e ser ocioso falardos investimentos das empresas portu-guesas.

Tendo como timoneiro, digamos, umhomem que se converteu ao Catolicis-mo – nunca é demais lembrá-lo – Ango-la apagará, por sua vez, todo o ressenti-mento para com Portugal. Aí está a suasólida – única – garantia de futuro.

Guarda, 7-XII-2008

[email protected]

CarlosEsperança

ponte europa

www.ponteeuropa.blogspot.com/

É difícil dizer se a ausênciados deputados que faltaram àvotação sobre a avaliação dosprofessores, que transformou apossível derrota do PS em es-cândalo do PSD, se deveu àharmonia com intuitos do Gover-no ou às saudades dos «deputa-dos que [deslocados de casa]regressam às suas famílias maiscedo», como alegou o deputadoGuilherme Silva.

Não há democracia sem Par-lamento e muitas críticas fazemparte da herança salazarista,mas é chocante alegar sauda-des da família quando muitosportugueses trabalham longe decasa para ganharem o sustentoe não pensam no regresso àquinta-feira.

Pode haver razões plausíveispara reduzir os plenários a trêsdias, pois o trabalho parlamen-

tar não se esgota aí, mas afigu-ra-se infeliz a proposta de osrealizar às terças, quartas equintas-feiras, na sequência deum escândalo e da inaceitáveldesculpa. Não gostei de ver Al-meida Santos, o mais brilhanteparlamentar e legislador da se-gunda República, a corroborara posição do assessor jurídico daRegião Autónoma da Madeira,bem remunerado em funçõesque um deputado não devia acei-tar por pudor republicano.

É a vida, mas essa de retirara sexta-feira à semana de tra-balho, por saudades da família,lembra a decisão de um admi-nistrador da CP que, face a umrelatório que referia ser a últi-ma carruagem a mais afectadapelos sinistros, mandou que atodos os comboios fosse retira-da… a última carruagem.

Os deputadose a últimacarruagem

Pedro Nora

c i n e m ac i n e m ac i n e m ac i n e m ac i n e m a

Um dos maiores aconteci-mentos do cinema nacional de2008, o filme “Amália”, já umsucesso (50 mil espectadores nasua primeira semana de exibi-ção), retrata a vida da famosacantora de fado Amália Rodri-gues, desde a sua juventude atémeados dos anos 80. Com a re-alização a cargo de Carlos Co-elho da Silva (que melhoroumuito desde “O Crime do Pa-dre Amaro”), é um filme quevale muito pelos seus valores deprodução e pelo trabalho da ac-triz Sandra Barata Belo, queconsegue transpor fielmente afigura da cantora para o grandeecrã, num esforço a par com osdesempenhos de Jamie Foxx em

“Ray” eMarion Co-tillard em“La Vie enRose”. Ou-tro pontopositivo é ofilme nãocair muitopara o mun-do político(embora tal

não seja ignorado). Embora pe-que um pouco devido a algunsexageros (claramente inspiradosem outros filmes biográficos defiguras musi-cais) e aofacto de, emcertas (maspoucas) ce-nas, os de-sempenhosserem de ní-vel fraco,“Amália” éum filme só-lido e reco-mendáve l ,uma carta de amor cinemato-gráfica dirigida à cantora, aofado e, sobretudo, a Portugal.

“Amália”e “O diaem que a Terra parou”

Estreou esta última semana“O Dia Em Que a Terra Parou”,o aguardado remake do homó-nimo clássico de ficção científi-ca de 1951. Se bem que a tra-ma do filme merecia há já mui-to tempo um recontar passadonum ambiente mais moderno (e,em tal aspecto, o filme é triun-fante), considero a versão clás-sica superior, pois este remakecai um pouco no erro de ser umépico forçoso (à semelhança defilmes como “O Dia da Indepen-dência”), com personagens eelementos desnecessários. Des-taque-se, porém, o trabalho deKeanu Reeves no papel deKlaatu, que lhe assenta perfei-

tamente. Apesar de não ser umaobra-prima como o original, éum filme recomendável.

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2317 A 30 DE DEZEMBRO DE 2008 INTERNET

IDEIAS DIGITAIS

Inês AmaralDocente do Instituto Superior Miguel Torga

APRENDA E JOGUE COM A EA

SEARCHWIKI

ARKIVA

PODE FICAR COM

O PORTUGA DE A A Z

A Electronic Arts lançou um site no contexto dasua estratégia de responsabilidade corporativa. As-sumindo uma componente predominantemente pe-dagógica, o site Aprenda e Jogue com a EA aju-da pais, filhos e educadores a utilizarem os jogosda empresa e fornece informações variadas.

Estão disponíveis informações sobre o modo declassificação dos jogos, tempos e idades aconse-lhados, tipo de plataforma e formas de jogar. Háainda informação sobre cada um dos jogos da em-presa e uma secção “consulte o especialista”, ondeo utilizador pode contactar directamente uma equi-pa especializada.

APRENDA E JOGUE COM EA

endereço: http://www.aprendaejoguecomaea.comcategoria: jogos

O Google lançou uma nova ferramenta que per-mite aos seus utilizadores participar na forma comoos resultados das pesquisas são apresentados. Umaideia muito Web 2.0 e diferente, integrando o utili-zador num processo antes autónomo.

O SearchWiki permite que se reclassifique, adi-cione, comente ou apgue os resultados das pesqui-sas. O utilizador pode colocar um site nos primei-ros resultados orgânicos (primeira página de resul-tados) ou adicionar um link que não aparecia. Paratal, os utilizadores têm de fazer login na sua conta

Google e podem guardar as alterações feitas paramais tarde as recuperarem. A vertente comunitáriatambém está presente, sendo que os utilizadorespodem consultar as alterações e comentários dosrestantes membros, desde que adicionados à suaconta.

SEARCHWIKI

endereço: http://googleblog.blogspot.com/2008/11/se-archwiki-make-search-your-own.htmlcategoria: pesquisa

Promover a solidariedade social e o respeito peloAmbiente são os objectivos que dão o mote ao por-tal Pode Ficar Com. Trata-se de uma espécie deFreecycle, permitindo que as pessoas ofereçam bensa outros utilizadores.

«A filosofia do portal é a seguinte: imagineque comprou um frigorífico novo e não sabe oque fazer com o anterior ainda funcional. Visitao portal e insere um anúncio dele com respecti-vas fotos e aguarda interessados. Com ajuda doGoogle Maps, o comprador pode saber no pró-prio anúncio qual a localização da oferta, faci-litando o seu levantamento. Desta forma o elec-trodoméstico não vai parar ao lixo, o tempo devida vê-se prolongado e o Ambiente agradece»,referiu um dos criadores do site ao Cibéria. Á pri-meira vista parece um site de classificados masdepois de se explorar as potencialidades do PodeFicar Com são evidentes.

PODE FICAR COM

endereço: http://podeficar.comcategoria: comunidade

Mais um serviço de armazenamento gratuito ondese podem alojar ficheiros de variados formatos, se-jam de áudio ou vídeo, fotografias ou texto. O uplo-ad necessita de registo e cada utilizador tem dispo-nível 1 GB.

É possível partilhar os arquivos com outros utili-zadores através de uma página inicial que assumeuma estrutura muito próxima das redes sociais e na

qual os conteúdos estão disponíveis para downlo-ad. E como os outros serviços deste género, é umaplataforma gratuita.

ARKIVA

endereço: http://www.arkiva.comcategoria: tecnologia

Já são conhecidos os vencedores do concursode fotografia lançado pela Nikon e intitulado SmallWorld. A iniciativa existe desde 1974 e este anorecebeu cerca de duas mil candidaturas.

Os trabalhos premiados estão online e é obriga-tória uma visita. O vencedor deste ano fotografouuma alga marinha e ampliou-a 200 vezes, criandoum efeito extraordinário. Para além da edição des-te ano, estão disponíveis todas as fotografias ven-cedoras desde 1974.

SMALL WORLD

endereço: http://www.nikonsmallworld.com/gallery.phpcategoria: fotografia

MEET MY CV

Conhecer o português de A a Z é a proposta dequatro estudantes da Universidade do Porto. É umaespécie de enciclopédia do cidadão português có-mica. À entrada há um aviso: «o conteúdo destedocumento não é aconselhável a pessoas maissensíveis».

Uma aplicação multimédia divertida, sem grandeciência, mas com muito humor. Para aliviar o stressou para descansar numa pausa do trabalho.

O PORTUGA DE A A Z

endereço: http://eos.fe.up.pt/exlibris/dtl/d3_1/apache_media/web/7640/index.htmlcategoria: curiosidades

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24 17 A 30 DE DEZEMBRO DE 2008PUBLICIDADE