o centro - n.º 5

24
DIRECTOR JORGE CASTILHO ANO I N.º 5 (II série) De 7 a 20 de Junho de 2006 1 euro (iva incluído) RECONHECIMENTO DE COMPETÊNCIAS Governo quer qualificar um milhão de pessoas PÁG. 8 LIGA DOS AMIGOS DE CONIMBRIGA Notável trabalho de associação invulgar PÁG. 11 «HOSPITAL DE DIA» EXEMPLAR 14 mil consultas e 12 mil tratamentos em 2005 PÁG. 10 ASSINE O CENTRO E GANHE OBRA DE ARTE PÁG. 3 | Taxa Paga | Devesas – 4400 V. N. Gaia | Autorizado a circular em invólucro de plástico fechado ENTREVISTA COM MANUEL SÉRGIO O homem que mais marcou José Mourinho Uma conversa sobre alta competição, o futebol português, José Mourinho, a função dos clubes, a Académica e o Belenenses, José Maria Pedroto, os mitos da prática desportiva, a final da Taça de Portugal de 1969, as igrejas e os estádios, Mário Campos, Scolari e... onde também se fala de Jesus Cristo PÁGINAS 4 a 6 CAMPEONATO DO MUNDO DE GINÁSTICA ACROBÁTICA Coimbra recebe 800 atletas de 28 países PÁGINA 15 Carlos Carranca João Caetano José dEncarnação Monteiro Valente Renato Ávila PÁGINAS 14 e 21 OPINIÃO ÉPOCA BALNEAR Novas regras a partir de hoje PÁGINA 2 AMANHÃ EM 40 HOSPITAIS DE TODO O PAÍS Rastreio gratuito de cancro da pele PÁGINA 11

Upload: manchete

Post on 27-May-2015

2.373 views

Category:

Technology


47 download

DESCRIPTION

Versão integral da edição n.º 5 do quinzenário “O Centro”, que se publica em Coimbra. 07.06.2006. Para além de poderem ser úteis para o público em geral, estes documentos destinam-se a apoio dos alunos que frequentam as unidades curriculares de “Arte e Técnicas de Titular”, “Laboratório de Imprensa I” e “Laboratório de Imprensa II”, leccionadas por Dinis Manuel Alves no Instituto Superior Miguel Torga (www.ismt.pt). Para saber mais sobre a arte e as técnicas de titular na imprensa, assim como sobre a “Intertextualidade”, visite http://www.mediatico.com.pt/manchete/index.htm (necessita de ter instalado o Java Runtime Environment), e www.youtube.com/discover747 Visite outros sítios de Dinis Manuel Alves em www.mediatico.com.pt , www.slideshare.net/dmpa, www.youtube.com/mediapolisxxi, www.youtube.com/fotographarte, www.youtube.com/tiremmedestefilme, www.youtube.com/discover747 , http://www.youtube.com/camarafixa, , http://videos.sapo.pt/lapisazul/playview/2 e em www.mogulus.com/otalcanal Ainda: http://www.mediatico.com.pt/diasdecoimbra/ , http://www.mediatico.com.pt/redor/ , http://www.mediatico.com.pt/fe/ , http://www.mediatico.com.pt/fitas/ , http://www.mediatico.com.pt/redor2/, http://www.mediatico.com.pt/foto/yr2.htm , http://www.mediatico.com.pt/manchete/index.htm , http://www.mediatico.com.pt/foto/index.htm , http://www.mediatico.com.pt/luanda/ , http://www.biblioteca2.fcpages.com/nimas/intro.html

TRANSCRIPT

Page 1: O Centro - n.º 5

DIRECTOR JJOORRGGEE CCAASSTTIILLHHOO

ANO I N.º 5 (II série) De 7 a 20 de Junho de 2006 € 1 euro (iva incluído)

RECONHECIMENTODE COMPETÊNCIAS

Governoquerqualificarum milhãode pessoas

PÁG. 8

LIGA DOS AMIGOSDE CONIMBRIGA

Notáveltrabalhodeassociaçãoinvulgar

PÁG. 11

«HOSPITAL DE DIA»EXEMPLAR

14 milconsultase 12 miltratamentosem 2005

PÁG. 10

ASSINE O “CENTRO”E GANHE OBRA DE ARTE

PÁG. 3

| Taxa Paga | Devesas – 4400 V. N. Gaia |Autorizado a circularem invólucro de plástico fechado

ENTREVISTA COM MANUEL SÉRGIO

O homemque maismarcouJosé MourinhoUma conversa sobre alta competição, o futebol português,José Mourinho, a função dos clubes, a Académica e oBelenenses, José Maria Pedroto, os mitos da práticadesportiva, a final da Taça de Portugal de 1969, as igrejase os estádios, Mário Campos, Scolari e... onde tambémse fala de Jesus Cristo PÁGINAS 4 a 6

CAMPEONATO DO MUNDODE GINÁSTICA ACROBÁTICA

Coimbrarecebe800 atletasde 28países

PÁGINA 15

nn Carlos Carrancann João Caetanonn José d’Encarnaçãonn Monteiro Valentenn Renato Ávila

PÁGINAS 14 e 21

OPINIÃO

ÉPOCA BALNEAR

Novas regrasa partir de hoje

PÁGINA 2

AMANHÃ EM 40 HOSPITAISDE TODO O PAÍS

Rastreio gratuitode cancro da pele

PÁGINA 11

Page 2: O Centro - n.º 5

As novas regras para as praias, que inclu-em multas para quem tome banho no marcom bandeira vermelha, vão ser aplicadas aa partir de hoje (quarta-feira, dia 7) emPortugal continental, disse à Lusa o Co-mandante Brás de Oliveira, da Armada Por-tuguesa.

Segundo o oficial da Armada Portuguesa,a aplicação do decreto-lei que foi publicadoem Diário da República, obedece ao regimejurídico geral que dita a sua aplicação cincodias após a publicação.

Nas regiões autónomas da Madeira e dosAçores o período é de 15 dias, ou seja, as re-gras passam a ser aplicadas apenas no próxi-mo dia 17 de Junho.

"Este é um período que deve servir para ainformação e sensibilização das populações,nadadores e concessionários", disse Brás deOliveira.

As novas regras foram aprovadas emConselho de Ministros há três semanas "paraentrar em vigor já nesta época balnear", afir-mou à Lusa em finais de Maio o secretário deEstado da Defesa, Lobo Antunes.

O diploma enumera várias ilicitudes quepodem ser cometidas por banhistas, conces-sionários das praias e nadadores-salvadores, aquem podem ser aplicadas coimas que vão de55 até mil euros.

O novo diploma define cerca de 20 infrac-ções em zonas balneares e praias fluviais quesão sujeitas à aplicação de coimas pela PolíciaMarítima.

Quem entrar no mar com bandeira verme-lha (que proíbe a entrada na água) e quem

nadar com bandeira amarela (que permite aentrada na água mas proíbe nadar) vai pagarpelo menos 55 euros de multa.

Por outro lado, quem utilizar material dedesporto náutico, como motas de água, foradas zonas permitidas pela lei, também fica su-jeito a multa.

Além dos banhistas, as novas regras apli-cam-se aos nadadores-salvadores e aos con-cessionários das praias (normalmente os pro-prietários de restaurantes e bares que, paraobterem licença, pagam ao nadador-salvadore suportam os custos das infra-estruturas deapoio à praia).

Para os nadadores-salvadores, as multasvão ser aplicadas aos que não estiverem nos

locais e horas para que foram contratados, osque se afastarem da área de socorro, os que ti-verem comportamentos negligentes naszonas de banhos e os que não cumprirem asinstruções sobre o estado do mar fornecidaspela autoridade marítima.

Os concessionários das praias tambémpodem ser multados se procederem à abertu-ra ou encerramento da zona balnear antes oudepois do período para que foram autoriza-dos, se usarem as infra-estruturas para fins di-ferentes do acordado e se não tiverem a visto-ria necessária para a abertura da zona balnear.

As multas vão dos 55 aos mil euros, vari-ando consoante quem pratica a ilicitude e se ainfracção é um acto repetido.

É bem conhecida a anedota do jovemcandidato a ingressar na Marinha que, che-gada a altura dos testes, quando lhe pergun-tam se sabe nadar, comenta: “Essa agora!Para que é preciso saber nadar? Entãovocês não têm cá barcos?!”.

Invoco este tirada humorística para alu-dir a uma outra situação que não é nada en-graçada, mas que se vem repetindo, nos úl-timos anos, ciclicamente: sempre que há ne-cessidade de uma intervenção por parte dasnossas forças militares ou militarizadas,logo vem um clamor de que pode haver ris-cos, de que não está afastada a hipótese dehaver “baixas” (que é como quem diz mor-tos ou feridos), chegando-se ao cúmulo de,previamente, entidades responsáveis avan-çarem com a percentagem de baixas previs-ta!

Ora quem ingressa nas forças militaresou militarizadas, deve estar consciente deque por alguma razão se designam por“forças armadas”, isto é, que usam armas.E se aprendem a manejá-las, seguramenteque não é para que sirvam de adorno, masantes para as utilizar sempre que tal se mos-tre necessário.

É, pois, com alguma surpresa que vejo asnossas estações de televisão a fazerem “te-lenovelas” das partidas dos nossos militarespara o Afeganistão, para a Bósnia, para oIraque, agora para Timor, e uma perguntaque alguns jornalistas para aí destacados

costumam fazer aos familiares: “Está a re-ceber apoio psicológico?”.

A surpresa decorre de que este País ig-nora, quase em absoluto, muitas dezenas demilhares de homens que, desde 1961 e até1974 foram obrigados a ir para Angola,Guiné e Moçambique, combater por umacausa com que muitos deles se não identifi-cavam, e aí tinham de ficar no mínimo doisanos (depois de, pelo menos, seis meses depreparação em Portugal), comunicandocom as famílias apenas através de correio(os célebres aerogramas), pelo que se esco-avam longas semanas, até meses, sem queas famílias soubessem o que com eles sepassava. E essas centenas de milhar de pes-soas nunca receberam qualquer apoio psi-cológico, mesmo aquelas a quem chegava anotícia de que o filho, o marido, o pai, oirmão, tinham morrido em combate.

(Aliás, lembro-me que, tal como todosos outros militares que estiveram na “guer-ra colonial”, no próprio dia em que embar-quei no Vera Cruz, rumo a Angola, tive depreencher um documento indicando quemdeveria ser avisado em caso da minhamorte. Muito animador!...).

Pior do que isso, aos próprios militaresque, ao longo de quase década e meiaforam regressando das ex-colónias, mais oumenos traumatizados, nunca ninguém lhesperguntou se precisavam de apoio psicoló-gico. E muitos deles bem que precisavam (eprecisam ainda!) depois de terem passadolongos períodos em situações de isolamen-to, de combate, de emboscadas, com me-mórias de minas e armadilhas a fazerem embocados o amigo que avançava a poucos

metros, com o pesadelo de recordarem osseres humanos a que eles próprios tiraram avida. Muitos desses ex-militares tornaram-se em farrapos humanos, refugiando-se noálcool, encharcando-se em drogas, com di-ficuldades de integração social a prejudica-rem-nos no emprego, a destruírem-lhes avida familiar. Esses continuam esquecidos,com o Estado a querer dar-lhes “pensões”que mais parecem esmola insultuosa. Semquerer fazer demagogia, não posso deixarde estabelecer a comparação com o que sepassa relativamente às pensões a que ficamcom direito os detentores de cargos políti-cos, após escassos anos de actividade (emalguns casos mais adequado seria dizerinactividade…), durante os quais, para alémde tudo, tiveram benesses e remuneraçõesmuito acima das que aufere a esmagadoramaioria da população portuguesa.

Actualmente, os militares que partemnestas missões são quase sempre voluntá-rios, vão por períodos relativamente curtos(normalmente um máximo de seis meses),com remunerações substancialmente au-mentadas e tendo ao seu dispor meios decomunicação que lhes permitem contactaras famílias diariamente, através de telemó-veis e da Internet, que associa o som e aimagem.

Não quero desvalorizar a acção desseshomens e mulheres, mas custa-me ver a co-municação social a fazer deles heróis aindaantes de terem posto o pé no avião que há-de levá-los ao destino.

Apesar de tudo, estes homens vão, efec-tivamente, enfrentar situações de maior ou

menor risco (para isso se alistaram, para talforam treinados e para tanto são pagos).Ora a verdade é que esta ânsia de “fabricar”heróis começa a ser, entre nós, quase pato-lógica. De tal modo que, a par com osGNR’s que agora “foram projectados paraTimor” (Ministro António Costa dixit),também já receberam esse estatuto os rapa-zes que o “mister” Scolari decidiu “projec-tar” para a Alemanha, com escala técnicano Luxemburgo.

Estes “guerreiros” do pontapé na bola (efrequentemente também na gramática…)são equiparados aos conquistadores queoutrora alargaram o império (mais do que afé…), sendo que deles se espera que recau-chutem, chutando (para as redes…), anossa auto-estima - que, tal como a econo-mia, está nas lonas…

A partir de agora, e durante alguns dias, asgrandes preocupações deste País e da maio-ria dos seus autóctones vão ser os “comba-tes” travados sobre a relva germânica.

Oxalá o desempenho dos seniores sejamais reconfortante do que o dos sub-21,para que os vejamos muitas vezes (se possí-vel até ao jogo final) a mexer os lábios aosom da “Portuguesa”, provavelmente “afintar” a letra que ainda não decoraram.

Assim, enquanto nas brumas da memó-ria se vão afogando os “Heróis do Mar”, daespuma das ansiadas vitórias emergem, mi-lionários, os novos “heróis” desta nossasanta terrinha…

Pois que surjam, ao menos, golos quemitiguem a sede de felicidade, já que de pe-naltis injustos estamos (quase) todos fartos!

22 DE 7 a 20 DE JUNHO DE 2006

Director: Jorge Castilho(Carteira Profissional n.º 99)

Propriedade: AudimprensaNif: 501 863 109

Sócios: Jorge Castilho e Irene Castilho

Inscrito na DGCS sob o n.º 120 930

Composição e montagem: Audimprensa -Rua da Sofia, 95, 3.º3000-390 Coimbra - Telefone: 239 854 150Fax: 239 854 154e-mail: [email protected]

Impressão: CIC - CORAZEOliveira de Azeméis

Tiragem: 10.000 exemplares

Heróis da terraJorge Castilho

EEDDIITTOORRIIAALL

ÉPOCA BALNEAR

Novas regras a partir de hoje

Page 3: O Centro - n.º 5

CCOOIIMMBBRRAA 33DE 7 a 20 DE JUNHO DE 2006

Nesta campanha de lançamento do jor-nal “Centro” temos uma aliciante propos-ta para os nossos leitores.

De facto, basta subscreverem uma assi-natura anual, por apenas 20 euros, para au-tomaticamente ganharem uma valiosa obrade arte.

Trata-se de um belíssimo trabalho daautoria de Zé Penicheiro, expressamenteconcebido para o jornal “Centro”, com ocunho bem característico deste artista plás-tico – um dos mais prestigiados pintoresportugueses, com reconhecimento mesmoa nível internacional, estando representadoem colecções espalhadas por vários pontosdo Mundo.

Neste trabalho, Zé Penicheiro, com oseu traço peculiar e a inconfundível utiliza-ção de uma invulgar paleta de cores, criouuma obra que alia grande qualidade artísti-ca a um profundo simbolismo.

De facto, o artista, para representar aRegião Centro, concebeu uma flor, com-posta pelos seis distritos que integram estazona do País: Aveiro, Castelo Branco,Coimbra, Guarda, Leiria e Viseu.

Cada um destes distritos é representadopor um elemento (remetendo para respec-tivo património histórico, arquitectónicoou natural).

A flor, assim composta desta forma tãooriginal, está a desabrochar, simbolizandoo crescente desenvolvimento desta RegiãoCentro de Portugal, tão rica de potenciali-dades, de História, de Cultura, de patrimó-

nio arquitectónico, de deslumbrantes pai-sagens (desde as praias magníficas até àsserras verdejantes) e, ainda, de gente hos-pitaleira e trabalhadora.

Não perca, pois, a oportunidade de rece-ber já, GRATUITAMENTE, esta magní-fica obra de arte, que está reproduzida naprimeira página, mas que tem dimensõesbem maiores do que aquelas que ali apre-senta (mais exactamente 50 cm x 34 cm).

Para além desta oferta, passará a receberdirectamente em sua casa (ou no local quenos indicar), o jornal “Centro”, que o man-

terá sempre bem informado sobre o quede mais importante vai acontecendo nestaRegião, no País e no Mundo.

Tudo isto, voltamos a sublinhá-lo, porAPENAS 20 EUROS!

Não perca esta campanha promocional,e ASSINE JÁ o “Centro”.

Para tanto, basta cortar e preencher ocupão que abaixo publicamos, e enviá-lo,acompanhado do valor de 20 euros (depreferência em cheque passado em nomede AUDIMPRENSA), para a seguintemorada:

Jornal “CENTRO”Rua da Sofia. 95 - 3.º3000–390 COIMBRA

Poderá também dirigir-nos o seu pedi-do de assinatura através de:

n telefone 239 854 156n fax 239 854 154n ou para o seguinte endereçode e-mail:[email protected]

Para além da obra de arte que desde já lheoferecemos, estamos a preparar muitas ou-tras regalias para os nossos assinantes, peloque os 20 euros da assinatura serão um ex-celente investimento.

O seu apoio é imprescindível para que o“Centro” cresça e se desenvolva, dandovoz a esta Região.

CONTAMOS CONSIGO!

APENAS 20 EUROS POR UMA ASSINATURA ANUAL!

Assine o jornal ìCentroîe ganhe valiosa obra de arte

Nome:

Morada:

Localidade: Cód. Postal: Telefone:

Profissão: e-mail:

q Desejo receber recibo na volta do correio

Assinatura:

N.º de contribuinte:

Desejo receber uma assinatura do jornal CENTRO (26 edições).

Para tal envio: q cheque q vale de correio no valor de 20 euros.

#

«MIC» lança núcleoem Coimbra e cria blogue

Foi criado, na passada sexta-feira (dia 2)o Núcleo de Coimbra do MIC – Movimen-to de Intervenção e Cidadania.

Em reunião que contou com cerca detrês dezenas de participantes, foi debatido olançamento do Movimento no distrito deCoimbra, dando sequência aos princípiosorientadores da candidatura presidencial deManuel Alegre, debateram-se “preocupa-ções comuns, estabelecendo-se algumas li-nhas de acção para o futuro próximo”,como referiu um dos responsáveis do MIC,que especificou:

“Assinalou-se a situação deprimente quetem marcado a Cidade e a região de Coim-bra nos últimos anos em diferentes domí-nios, o refluxo das iniciativas cívicas e polí-ticas do país, bem como o défice de pesopolítico de Coimbra junto do poder central.Tal situação é preocupante, exigindo porisso respostas adequadas dos cidadãos e dasforças vivas da sociedade civil. É portantofundamental dar sequência à vontade ex-pressa de muitos cidadãos e cidadãs, filia-dos ou não em partidos políticos, que seidentificam com as preocupações cívicas epolíticas do MIC”.

Quanto às iniciativas a promover, foi de-cidido programar as actividades do Movi-mento em duas fases:

“Num primeiro momento, promover-se-á um grande debate de âmbito nacional, pa-trocinado pelo próprio Manuel Alegre, emque serão discutidos problemas cruciais dopaís na actualidade – o papel do Estado e acrise da democracia, a corrupção, o empre-go, a exclusão e as desigualdades, o desen-volvimento do interior e o combate à deser-tificação – com a presença de diversos con-vidados e nomes prestigiados nas referidasáreas. Numa segunda fase, o MIC/Coimbraorganizará um conjunto diversificado deacções a nível local”.

Para além disso, “o MIC/Coimbra privi-legiará a atenção aos novos meios informá-ticos de comunicação, dinamizando redesde acção através do chamado ciberespaço”.Foi decidido criar de imediato um blogue,que pode ser acedido desde já, e cujo ende-reço é micporcoimbra.blogspot.com.

Foi ainda eleita uma Comissão Coor-denadora, assim constituída: Alda Salgado,Ana Catarina Aidos, Alice Castro, ElísioEstanque, Fernando Rodrigues, HenriqueReis, Ilya Semionoff, José Ricardo Nóbre-ga, Luís Martinho do Rosário, MarianaDias, Pedro Monteiro, Rosa Pita, RuiRoque e Teresa Portugal.

Curso Médicocelebrou55.º aniversário

Decorreu no passado fim-de-semana areunião comemorativa 55.º aniversário deformatura do Curso Médico de 1945 a1951 da Universidade de Coimbra.

Inicialmente constituído por 92 médi-cos, este grupo conta actualmente com 52,que exerceram (e alguns ainda exercem) arespectiva actividade em diversos pontosdo País e também nas antigas colónias.

Entre os médicos de Coimbra que fazi-am parte deste Curso contam-se PachecoMendes, Alípio Rocha, José Dias, SeabraSantos (pai do actual Reitor), Teles das Ne-ves, Chorão de Aguiar, Cardeira Severo eMoura Relvas.

Foram professores universitários Lucia-no dos Reis (em Angola e no CHC), Raulda Bernarda (em Moçambique e na Facul-dade de Medicina de Coimbra), Ismael Pra-tas Ferreira (na Faculdade de Medicina deLisboa) e Poiares Baptista (na Faculdade deMedicina da UC, de que foi também Vice-Reitor).

Os participantes neste reencontro deconvívio e saudade estiveram na Univer-sidade a assistir à celebração de missa eapresentaram cumprimentos ao Reitor, co-mo é tradicional. Depois confraternizaramem almoço servido na Escola de Hotelaria.

Manuel Alegre

Page 4: O Centro - n.º 5

44 EENNTTRREEVVIISSTTAA DE 7 a 20 DE JUNHO DE 2006

Conversar com Manuel Sérgio éum prazer. O filósofo esteve emCoimbra há dois meses e conce-deu a entrevista que hoje publica-mos. No ambiente tranquilo deuma sala do Hotel Quinta dasLágrimas, em fim de tarde chuvo-so, falámos de muitas facetas doDesporto.Volta e meia, a conversa derivoupara a Académica. É notório ofascínio que a Briosa desperta noProfessor.Foi por isso que decidimos publi-car a entrevista só depois do cam-peonato ter terminado – para evi-tar eventuais “más interpretações”.

Mário Martins

Manuel Sérgio, pessoa simples, já tem onome gravado na História. Ele criou umnovo paradigma do conhecimento: a Mo-tricidade Humana. As suas ideias vão, a pou-co e pouco, fazendo caminho pelo mundofora: já são várias as universidade que têm fa-culdades de Motricidade Humana.

Há meses, José Mourinho surpreendeutudo e todos ao afirmar que Manuel Sérgioera a pessoa que mais o tinha marcado –nem Van Gaal, nem Bobby Robson... O“mestre” principal era o pensador que, aos22 anos, tendo como habilitações a 4.ª clas-se, trabalhava no Arsenal do Alfeite.

Foi com este mesmo homem, hoje pro-fessor universitário, sempre afável, que esti-vemos à conversa.

Como vamos de Desporto em Portu-gal?

Com a profissionalização, o desportoportuguês melhorou. Há um apoio à altacompetição que antigamente não existia.Há dinheiro, agora temos campeões olímpi-cos. Não são muitos, mas já temos alguns...No futebol, permanece uma mentira: assi-nam-se grandes contratos, mas depois nãose paga.

Continuamos a ser o país do fute-bol...

Continuamos a ser porque já o éramosantes do 25 de Abril. Não mudou nada.

E continuamos a ser um país de des-portistas de café e da televisão...

O Desporto não entrou na vida das pes-soas, porque não é apresentado como ele é.O Desporto continua a servir para muitacoisa... O Desporto é um espectáculo aolado de outros espectáculos. Há um econo-micismo que domina toda a vida em socie-dade e que também está presente noDesporto. Veja bem que as campanhas apromover o Desporto-Saúde, com a ideiade que o Desporto dá saúde, são promovi-das pelas grandes multinacionais de materi-al desportivo.

Felicidade é o primeirofactor de saúde

Depois há quem siga o conselho eacabe por morrer a praticar Desporto...

É verdade. Há quem não possa ser umhomem-máquina. A Fundação Portuguesade Cardiologia só diz mexa-se, não dizcorra. Só diz mexa-se!... O problema é este:a saúde é um fenómeno social, político. Asaúde não se obtém unicamente porque secorre, a saúde decorre de um país diferente,de uma sociedade diferente. Há uma frase

elucidativa, de um médico chamado VictorFranco: “Nós, médicos, passamos a vida adizer aos doentes que façam exercício físi-co, não comam açúcar, não comam sal, etc.,e esquecemos de lhes dizer que o primeirofactor de saúde é que a vida tenha sentido”.A felicidade pessoal é o primeiro factor desaúde. E depois vêm os outros factores.Como a sociedade não dá saúde, põem-seas pessoas a correr. Embebedam-se as pes-soas com essas tretas. A saúde tem de seobter através de uma sociedade diferente.

E quanto ao espectáculo desportivo?O espectáculo desportivo não está mal.

É o espectáculo de maior magia no mundocontemporâneo, as pessoas querem-no.Mas não se pode dar só espectáculos des-portivos às pessoas, não se pode apenasembebedar as pessoas com espectáculosdesportivos. As pessoas têm de ler, têm desaber. Não se pode apenas publicitar aquiloque as adormece, aquilo que anestesia.

Os grandes jogos, por exemplo...Os grandes jogos não estão mal, mas não

chegam. O Desporto não é mau, o que temde mal o Desporto são as taras da socieda-de – porque o Desporto actual reproduz emultiplica as taras da sociedade. Não é con-trapoder ao poder das taras dominantes.

Continua a pensar isso?...Continuo.Portanto, valores no Desporto...Os valores tradicionais do Desporto –

camaradagem, generosidade... – encontramoutros valores quando se chega à alta com-petição. Mas estes ‘outros valores’ estão noDesporto como estão na vida. O Desportode Alta Competição é um dos produtos dasociedade altamente competitiva em que vi-vemos.

Pequenos clubes tentamimitar os grandes

O seu Belenenses está na alta com-petição?

Está, então não havia de estar?... Até aAcadémica!... Todos estes clubes estão emalta competição. Exige-se tudo dos jogado-res, não sei é se se lhes paga sempre...Existe dedicação completa, profissionalis-

mo. Mas não sei como é que os jogadoresactuais estarão, do ponto de vista da saúde,quando chegarem aos 50 anos...

Se calhar, em piores condições físicasque o cidadão comum...

Não sei. Eles chamam-lhes ‘suplementosvitamínicos’, mas desconfia-se que sejaoutra coisa. Não sei... O Desporto de AltaCompetição, no fundo, está a substituir osagrado – este amor ao clube é uma coisainteressante. Enquanto os nossos avós (emais atrás, até desde a Idade Média) nosdeixaram igrejas, catedrais, nós vamos dei-xar campos de futebol, estádios... E a al-guns até já lhes chamam catedrais.

Foi a única coisa que o Euro 2004 nosdeixou?

Já ouvi altas figuras dizer que foi muitobom para o turismo.

Mas nós, adeptos, ficámos namesma...

Na mesma, na mesma. É verdade que oespectáculo desportivo pode servir para oreforço da identidade nacional. Há umcerto patriotismo que se está a perder e odesporto de alta competição pode servirpara combater essa situação. Os jogadoressentem, quando entram em campo diz-se-lhes que vão cumprir algo ao serviço daPátria.

E a nível local, o clube ainda é umaforma de identificação? Benfica, FCPorto e Sporting têm legiões de adep-tos. E os pequenos clubes?... Estão con-denados?

Os pequenos clubes pretendem imitar osgrandes, mas esquecem-se de que estes,como têm muita gente, sempre conseguemir vivendo. Mas o Sporting já quer venderquase todo o património, o Benfica pratica-mente não tem património... Os pequenostentam imitar os grandes, mas têm muitasdificuldades. Nunca serão equipas para ga-nhar o campeonato nacional, talvez uma“Taça”...

Académica perdeu ligaçãoà Universidade

Socialmente, os clubes distinguem-se? Por exemplo, a Académica ainda fazsentido como “clube diferente”? Hálugar no futebol profissional para umaequipa com uma filosofia própria?

Ainda há. A Académica, que já foi umclube com alma, comete um grave erro se aperde, porque a alma não pode estar sujeitaàs contigências. Eu sou do Belenenses,mas... a Académica entrava nos campos emLisboa e era uma coisa diferente. Porque éque há-de perder isso?

Diferente porque vestia de preto?Não, porque era diferente. Falava às pes-

Uma conversa-entrevista-conversa sobre alta competição, o futebol português, José Mourinho,a função dos clubes, a Académica e o Belenenses, José Maria Pedroto, os mitos da prática

desportiva, a final da Taça de Portugal de 1969, as igrejas e os estádios, Mário Campos,Scolari e... onde também se fala de Jesus Cristo

Homem de vários mundosConheci o Professor Manuel Sérgio há cerca de 15 anos, por altura do I (e único)

Curso de Auditores de Informação Desportiva. Durante vários meses, o Centro deEstágo da Cruz Quebrada era o destino, dois dias por semana.

Manuel Sérgio coordenava o curso e as noites de segunda-feira constituíam uma“oportunidade de ouro” de formação extra-curricular para quem, como eu, estava alo-jado no Jamor. Por vezes, ser da Província é uma vantagem em Lisboa...

Ficámos longas horas naqueles sofás. Um dia, deu-me boleia para Lisboa. O desti-no era Santa Apolónia. A certa altura, o convite: “Venha conhecer uma amiga minha!”.

Entrámos no Hotel Tivoli, na Avenida da Liberdade. À espera, para o chá da tarde,estava Beatriz Costa.

Feitas as apresentações, começaram os dois a conversar. Foram duas horas inesque-cíveis - um diálogo ao mesmo tempo simples e profundo, entre duas pessoas simples,verdadeiras e cultas, deslumbradas com o mundo e a vida, um diálogo sem formalis-mos bacocos, a provar que todos temos algo para ensinar e para aprender.

Nunca mais esqueci aquele fim de tarde. Devo-lhe esse momento mágico.

MM..MM..

À CONVERSA COM MANUEL SÉRGIO, O “CATEDRÁTICO DO DESPORTO”

Académica já foi um clube com alma

A Académica foi das equipas,em todo o mundo, que melhorsoube reproduzir a ideia de queno futebol é possível existir umideal. Esta Académica perdeu-se porquê?

Page 5: O Centro - n.º 5

EENNTTRREEVVIISSTTAA 55DE 7 a 20 DE JUNHO DE 2006

soas de valores que as outras equipas indis-cutivelmente não tinham. Até o futebol quejogava era diferente, era um futebol pensa-do, e via-se que havia qualquer coisa de di-ferente que unia os jogadores. A Académicaperdeu isso e é mau para a Académica terperdido muitos dos valores, quase que diriaestupidamente. A Académica de hoje nãopode ser igual à de 40 ou 50. Mas há umaalma, há valores que ainda hoje se podemmanter, independentemente do tempo.

Como é que, estando em Lisboa, vêesse perder da alma?

Eu vejo isso porque a equipa já não apa-rece da mesma forma. A linguagem é outra,vê-se que os valores não são os mesmosatravés do discurso das pessoas.Antigamente, os jogadores reflectiam aUniversidade de Coimbra, quase todos tira-vam o seu curso. E havia qualquer coisa dediferente. É evidente que me é difícil, quevia as coisas de fora, concretizar mais estaideia. Mas, olhe!, naquela final da Taça dePortugal, em 1969, a que assisti no Jamor, aAcadémica reflectia, mais do que uma equi-pa de futebol, uma contestação aoGoverno. Mais nenhuma equipa poderiafazer isso!

E ainda há espaço para uma equipadessas no desporto profissional?

Claro que há. A Académica pode fazerisso. Aquilo que fez em 1969, assumindouma atitude, pode continuar a fazê-lo.

Se calhar, deveria estar mais ligada àUniversidade, aos estudantes...

Talvez. Não é por acaso que o ProfessorQueiró, que era um mestre eminente deDireito, era um homem que andava semprecom a Académica. Eu acho que nenhummestre eminente de Direito anda hoje com aequipa da Associação Académica. Havia umaligação à Universidade que hoje não existe.

Manuel António, Maló...eram todos bons!

Portanto, como pensador do Despor-to, acha que ainda há lugar para umaAcadémica assim...

Sem dúvida. É claro que a Académicanão pode jogar com botas de traves, porquea tecnologia avançou... O que digo é que oespírito que distinguia a Académica, atéuma certa consciência política, pode conti-nuar a existir.

Tem pena que não exista?Tenho pena, logicamente. Não vou dizer

nomes, mas hoje a Académica está consti-tuída por um grupo de jogadores que nãosão Académica. A Académica foi das equi-pas, em todo o mundo, que melhor soubereproduzir a ideia de que no futebol é pos-sível existir um ideal. Esta Académica per-deu-se porquê?

Poderia continuar?Absolutamente. Pode ser continuada. A

Associação Académica de Coimbra tem aobrigação de fazer do futebol um espaçodiferente. Não pode ter claques a tentarimitar as claques do FC Porto, do Benficaou do Sporting. Isso é uma vergonha, é ni-velar por baixo.

A claque da Académica considera-sediferente...

Não sei. Não parece.O Professor é um belenense que tem

como segundo clube a Académica, talcomo acontece com muita gente?

Eu digo-lhe com toda a franqueza: eunasci em Belém, em frente do campo doBelenenses e, por isso, sou do Belenenses.Agora, eu olhava (muita gente olhava) paraa Académica como portadora de um con-ceito diferente, que reflectia cultura, que re-flectia política. Perdeu-se porquê? É umcaso para os homens da Académica pensa-rem.

Dava uma boa tese...Sim, sim. Dava uma grande tese de dou-

toramento. Uma coisa deste tipo: “Futebolda Académica – reflexo e projecto de umaUniversidade”. Qualquer coisa assim, é umcaso para pensar. Não faz sentido que aAcadémica tenha perdido essa dimensão.E... estou a lembrar-me... esses jo-gadores nem sequer eram infe-riores aos outros. Eu nãoestou a dizer isto para

que a Académica, coitadinha, acabe a jogarnos campeonatos distritais. Não...

O Manuel António era “Bola de Pra-ta”...

Sim... O Maló era um dos grandes guarda-redes... Eram todos bons! Está provado:Florentino Pérez fez uma equipa de milhõese não ganhou mais por isso; é uma equipa quenão é equipa, são “primas-donas”, são pesso-

as que andam a olhar para o próprio umbigo.Com narcisismo não se faz uma equipa.

José Mourinho tem sidosimpático

Por isso é que o seu discípulo JoséMourinho não quer “estrelas” na equipa...

Pois, ele é esperto.Mas eu nunca ensineifutebol a ninguém,ensinei outras coisasque ele diz que se apli-cam ao futebol.

Continua a falarcom ele todas a sema-nas?

Agora não, já nãofalo com ele háalgum tempo.Ele tem asua vida, eutenho a mi-nha... Ve-nho ago-ra dos

Açores, ando de um lado para o outro...Mas de vez em quando falamos.

Ele tem sido muito simpático consi-go: considera-o a pessoa que mais o in-fluenciou na sua formação como técni-co de futebol.

Ele tem sido muito simpático comigo.Ou melhor, tem sido justo.Não sei, não sei. Eu procuro não [apare-

cer muito]. Vou fazer 73 anos, já não tenhoidade para exibicionismos pueris. Já nãofica bem.

Já tem o nome da sua teoria gravadona fachada de diversas faculdades, temum dos melhores treinadores do mundoa dizer que a pessoa que mais o marcoufoi o Professor...

Há um outro que também tem muitocontacto comigo, o Mariano Barreto. Estáno Dínamo de Moscovo. Eu acredito muitonele. É uma pena ainda não lhe terem aber-to portas, porque ele vai longe... Há aindaum outro, que foi meu assistente, que é umdos melhores escritores portugueses – oGonçalo M. Tavares – que se doutorou hápouco na Faculdade de MotricidadeHumana e fui o orientador da tese dele.

Vai ser também treinador de futebol?Não, não tem nada a ver.São os seus três “delfins”?Dois no futebol e um na escrita. Mas há

mais...

Académica pode ser um espaçodiferente

Como vamos de Motricidade Hu-mana pelo mundo fora?

As ideias que eu defendo aparecemcomo novas: o passar do físico à motricida-de humana, à pessoa em movimento inten-cional. No Brasil há várias faculdades, emPortugal há vários cursos, em Espanhaestão agora a nascer. E estão a começar atraduzir alguns textos meus para inglês,porque é fundamental. Há ideias que eu de-fendi há anos que agora se concretizammesmo. Por exemplo, quando eu digo quenão há educação física, mas sim educaçãode pessoas em movimento, queria acabarcom a noção do homem-máquina.

O homem integral...O homem integral em movimento. Eu

julgo que a Académica, mesmo aquelaAcadémica que começou com o Cândidode Oliveira (que não era bem um treinadorde futebol e era treinador de futebol)...

... nos anos 50...

... nos anos 50, o Cândido que falavacom os jogadores de vários aspectos de cul-tura, julgo que a Académica poderia voltara ser assim. E criar um outro clima. Casocontrário, a Académica não tem razão paraexistir com o nome de Académica. Há uma

m clube com alma

Continua na página seguinte ››

O treinador triunfa se é, ou nãoé, homem. Isso é a força doJosé Mourinho. O líder é ogrande treinador. Na alta com-petição, o líder é uma espéciede general; é evidente que temde saber qualquer coisa de fu-tebol...

Page 6: O Centro - n.º 5

66 EENNTTRREEVVIISSTTAA DE 7 a 20 DE JUNHO DE 2006

tradição, a Académica nasceu de uma deter-minada maneira, embora eu não conheçabem a história. A Académica podia ser umanúncio de um novo futebol.

Novo comportamento, novos valores?Novos valores. E eu, nisso, entrava. Era

apaixonante. A Académica pode ser um es-paço como não há. Mas... “não temos oRonaldinho?”... Também aparecia!

Aos 73 anos, sente-se realizado? Jáfez muita coisa...

Já fiz muita coisa. Mas não me sinto rea-lizado. Há sempre hipóteses de fazer mais.Com as minhas fraquezas humanas (tenhoa toda a hora a noção dos meus limites),nasci de gente muito pobre, trabalhei e es-tudei com gosto.

Aos 20 anos tinha a 4.ª classe...Aos 22 anos tinha a 4.ª classe, depois co-

mecei a estudar. Já trabalhava no Arsenaldo Alfeite.

E foi por aí acima...Fui por aí acima, a trabalhar, a estudar e

na companhia da minha mulher, que foiuma grande companheira que eu nunca es-quecerei. A vida familiar é fundamental.

José Maria Pedrotoconvidava-me para os estágios

Tem projectos?Projectos há sempre. Eu penso como se

tivesse 20 anos. Sinto isso.Sente mesmo ou está a usar uma

“frase feita”?Sinto, sinto. Claro que do ponto de vista

fisiológico, uma pessoa sente que a prósta-

ta não está boa, a gente tem doenças...[sorri] Uma pessoa chega à minha idade esente que não é a mesma pessoa. Agora,quero escrever isto, fazer aquilo... continuona mesma.

Então qual é o projecto que fervilhaagora na sua cabeça?

Agora estou a escrever “MotricidadeHumana – itinerários de um projecto”. Euquero fazer a história da MotricidadeHumana. Aquilo que pensei... Mas sou,acima do mais, um ensaísta e, como tal,estou sempre a escrever coisas, recebo mui-tos convites para ir aqui, ir ali...

Convite para Stamford Bridge, paraver jogar o Chelsea?...

Já tive, já tive, mas...Não gosta do ambiente dos estádios

ingleses?Sim, mas não calhou ainda. O meu

mundo é outro, sabe? Eu gosto muito dever os jogos do meu Belenenses.

O seu mundo é o Restelo?O meu mundo é o Restelo. Mas não é só

isso... Eu sou presidente da parte universi-tária do Insituto Piaget, não tenho a vidatão livre como parece. Tenho obrigações.

Para ir às conferências que me pedem, de-pois também não posso sair assim para darum “salto” a Inglaterra.

O futebol nunca o chamou?Não, não, não. A única pessoa que mais

falou comigo, e que me deu a impressão degostar de falar comigo, foi o José MariaPedroto. É uma coisa interessante.Falávamos muito ao telefone. E até chegueia ir para o estágio dos jogadores do FCPorto, cheguei a levar a minha mulher, oPedroto levava a mulher dele, e eu falavacom ele.

Qual era a sua função: aconselhá-lo?Não, não. Eu nunca ensinei futebol a

ninguém. O Pedroto, coisa curiosa, era umhomem que sabia que não sabia. Uma coisainteressante... Era uma pessoa cursiosíssi-ma, um indivíduo que gostava de saber e,então, gostava de me ouvir falar e levantavaperguntas.

Sobre tudo?Sim, sobre política, mesmo futebol. O

Pedroto era muito interessante. Eu não seise terá havido mais alguém no futebol comaquela curiosidade. Eu não conheci oCândido de Oliveira, quem escreveu sobreele foi o Homero Serpa...

Jogador tem de sentirque serve um ideal

O Homero chegou a ser treinador doBelenenses...

É uma situação curiosa. O Belenensesestava para descer de divisão e o AcácioRosa, aí por 1969 ou 1970, foi buscar o paido José Mourinho, que era nosso guarda-redes [Félix Mourinho], e o Homero Serpa,um jornalista, para orientarem a equipa. E oBelenenses não desceu de divisão! Isto deu-me muito que pensar, muito que pensar... Éo homem que triunfa no treinador. O trei-nador triunfa se é, ou não é, homem. Isso éa força do José Mourinho. O líder é o gran-de treinador. Na alta competição, o líder éuma espécie de general; é evidente que temde saber qualquer coisa de futebol... Tem deser perspicaz, conhecer bem os seus joga-dores. Mas isso quase todos sabem fazer,mas depois falta-lhes o resto: formar umgrupo que saiba entrar em campo e ter ob-jectivos. O jogador, acima de tudo, tem deentrar em campo e sentir que está a servirum ideal em que acredita.

O dinheiro?...Não sei. Talvez até qualquer coisa de

transcendente, mais do que o dinheiro. Ojogador tem de entrar em campo sem pen-sar no dinheiro. É evidente que ele tem deviver com dinheiro, mas tem de ter maisqualquer coisa: o orgulho, o “vamos ga-nhar!”, o “tu és jogador de futebol e quan-to melhor jogares mais serás conhecido”...É a transcendência, é a superação. O joga-dor tem de entrar em campo convencidoque o faz ao serviço de um valor transcen-dente.

Será por isso que Scolari reza com osjogadores antes dos jogos?

No Brasil usa-se muito isso. No Brasil, o ca-tolicismo entra no balneário. Ele [Scolari] pra-tica o catolicismo à sua maneira. Vai à missa.

Estamos bem entregues, com Scolari?Não sei. Ele não faz menos do que ou-

tros têm feito. Não sei... Não conheço ver-dadeiramente o trabalho dele. Veja bem afacilidade com que chegámos à fase final doCampeonato do Mundo.

E vai correr bem?Pode correr bem porque nós temos

grandes jogadores de futebol.Velhotes já, alguns...O Figo é que é velho, o Cristiano tem 21.

Mário Campos foi dos maiores“extremos” de sempre

Frequenta os estádios?Às vezes. Quando o meu amigo João

Santos era vivo, ele costumava receber doisbilhetes e eu ia com ele, porque a mulhernunca ia. E houve outra fase da minha vidaem que, de 15 em 15 dias, ia ao futebol.Olhe, há um rapaz, o Mário Campos, quefoi dos maiores extremos-direitos que eu vino futebol português, de sempre! Vi-o fazerexibições que nunca mais esqueci.

Bem, estamos a chegar ao fim daconversa...

Sabe uma coisa?... Gostava muito que ofutebol pudesse ser um motor de transfor-mação da sociedade. Com a força que tem,ser o gérmen de qualquer coisa...

Mas diz o contrário...É verdade, o futebol actual reproduz e

multiplica as taras da sociedade. Julgo que aAcadémica tinha condições invulgares paraser esse motor...

Mas o discurso mais ouvido é de queos tempos são outros e que é precisoganhar jogos...

Ninguém está a dizer que não é precisoganhar jogos. O jogador tem que se sentirhomem de um tempo e tem de lutar paratransformar esse tempo. Ele é jogador defutebol, com certeza. Mas mesmo como jo-gador de futebol pode fazer isso.

Isso supõe uma formação cultural dojogador...

Mais do que isso: toda a organização doclube tem de estar orientada nesse sentido.Tem de haver uma nova cultura, um novodiscurso, tem de haver objectivos. Partindodaquilo que o clube é, transformá-lo, visan-do a transformação da própria sociedade.Os clubes devem preparar-se para não faze-rem só bestas esplêndidas, mas para faze-rem pessooas de bem. Acho que isto não ésó retórica.

O que é que isso tem a ver com o fu-tebol e os clubes...

Há valores sem os quais se torna impos-sível viver. Mesmo hoje, esses valores têmde enformar a sociedade. Dizem: “Ai issoera antigamente...”. Então nós, hoje, só de-vemos consumir, não podemos pensar?

Há meia dúzia de anos, a Académicaentrou em Alvalade com uma tarja aafirmar “Não à co-incineração”. É estetipo de comportamentos que defende?

Claro, claro. É evidente que se eu estiverdentro de um clube que pensa de determi-nada maneira, eu também começo a pensar.Quando entramos numa igreja, sentimosqualquer coisa de diferente, agimos de ma-neira diferente.

E é um não-crente que está a falar...Não, não. Eu sou cristão, profundamen-

te cristão. A figura que eu mais admiro naHistória é Cristo. Jesus Cristo trouxe umamensagem que põe Deus perto de nós. Éesta a grande novidade do cristianismo, queS. Francisco de Assis interpretou de formaadmirável. Onde está Deus?... No outro. Agrande mensagem é esta: Deus está nonosso semelhante.

Entrevista a Manuel Sérgio›› Continuado da página anterior

Enquanto os nossos avós(desde a Idade Média...) nosdeixaram igrejas, catedrais, nósvamos deixar campos de fute-bol, estádios. E a alguns até jálhes chamam catedrais.

Page 7: O Centro - n.º 5

CCIITTAAÇÇÕÕEESS 77DE 7 a 20 DE JUNHO DE 2006

VARREDELADO SISTEMA

“O choque de que o nosso país preci-sa nessa matéria reconduz-se à varredela:é preciso varrer radicalmente do sistema amaior parte dos actuais programas, ma-nuais, livros de estudo, métodos de ensi-no, teorias pedagógicas, talvez mesmo aspróprias bases em que funcionam as es-colas superiores de educação, formandoprofessores cuja actuação, a despeito deboas classificações, de empenhamentossinceros, das maiores boas vontades e de-dicações, redunda globalmente nos fami-gerados resultados referidos.

Se tudo falha, é preciso recomeçartudo desde o princípio, é preciso mudaros materiais didácticos, é preciso inscre-ver os professores e demais responsáveispela educação numa reciclagem vigorosae completa, hoje que a palavra de ordemé a formação ao longo da vida. O que seaprendeu com o objectivo de ensinar e oque se ensina com o objectivo de educarnão presta para nada e a melhor provadisso é o que está a acontecer”.

uu VVaassccoo GGrraaççaa MMoouurraaDN 31/05/06

PROFESSORESVÍTIMAS

“Há uma tendência, em muitas dasopiniões publicadas ultimamente, paraacusar os professores de todas as malda-des cometidas na escola - e elas são mui-tas, mas não lhes cabem inteiramente.Acontece que a maioria dos professoressão, à sua maneira, vítimas de um sistemamuniciado (através do próprio Ministé-rio) por uma burocracia que se aproprioudo ensino público para impedir a avalia-ção, o trabalho e a excelência. Tem sidoessa burocracia, geralmente ignorante echeia de poder e prerrogativas, que temvindo a dificultar o trabalho dos profes-sores e a alimentar uma terrível forma decorrupção no interior da escola, a quepremeia os próprios burocratas que nãotêm nada a ver com a escola”.

uu FFrraanncciissccoo JJoosséé VViieeggaassJN 29/05//06

DESLIGUEM OSCOMPLICÓMETROS

“À frente das portas das casas de ba-nho de um centro comercial, hesito. Umaparece-me ter desenhada a figura de umamulher. Vou pela outra.

A senhora da limpeza expulsa-me: erapara crianças. Mostra-me o laçarote sobrea cabeça de uma figura (meninas) e umlaço sob a cabeça da outra figura (meni-nos). Lógico... para ela que trabalha látodos os dias. Mas para gente comum,como eu, um Sudoku difícil em momen-to em que não me apetece jogar.

De que vos falo aqui? Falo-vos doPlano Nacional de Leitura – o tema dodia. Eu tenho uma proposta: sejam sim-ples com a língua (e os sinais nas portas).Acabem com a Faculdade de MotricidadeHumana. E com a empregabilidade. E asustentabilidade. Digam ‘recebi’, não ‘re-cepcionei’. Isto que fiz é uma lista. Nãouma listagem.”

uu FFeerrrreeiirraa FFeerrnnaannddeessCM 02/06/06

GERAÇÕESCOBAIAS

“Nos últimos 30 anos, a educação temsido campo de experiências sucessivas,com leis e meias reformas, tornando cadageração uma grande cobaia, na qual setestam teorias e teimosias. Simultanea-mente caíram intramuros escolares novose agudos problemas sociais que deviamter resposta a montante e a jusante, masnão têm.

A escola transformou-se num espaçomultifunções, exigindo-se que faça tudomenos ensinar: intervenção social, psico-logia, tratamento da pré-deliquência, sub-stituição da rede familiar, prevenção daviolência doméstica, remédio para oabandono, a subnutrição, a doença e ain-da o esforço diário de contrariar uma cul-tura de irresponsabilidade e laxismo.

A classe dos professores é tida comouma das mais relevantes socialmente e,paradoxalmente, é uma das mais desres-peitadas. Para o que se lhes pede, são es-cassos os instrumentos de que dispõempara, com autoridade e eficácia, respon-der aos problemas daquele quotidiano”.

uu MMaarriiaa JJoosséé NNoogguueeiirraa PPiinnttooDN 02/06/06

PAZ EM ALTO RISCO“O exercício da política, sobretudo na

área das relações internacionais, não éuma actividade que se espera regida emfunção da santidade, mas talvez seja ad-missível exigir que não se afaste da decên-cia, e designadamente que a clássica men-tira real, que a longa tradição liga às ne-cessidades do segredo de Estado, não ul-trapasse os limites do razoável.

A situação de alto risco em que se en-contra a paz, entre mais razões relaciona-das com interesses traduzíveis em espéci-es raras, financeiramente especuláveis, eestrategicamente indispensáveis, é resul-tado de uma difícil conciliação da razoa-bilidade com as intervenções sancionató-rias adoptadas, desde a guerra aos condi-cionamentos das relações de mercado,passando pela pregação de directivas con-dicionantes da liberdade de governo dospaíses em causa”.

uu AAddrriiaannoo MMoorreeiirraaDN 30/05/06

GUERRAE ECONOMIA

“Se olharmos só para o século XX, dascampanhas na Flandres (em 14-18) à pri-meira missão de paz na Bósnia Herze-govina (em 1993-94), passando pelasguerras de África, em nenhuma altura es-tivemos verdadeiramente preparados pa-ra as emergências, mas adaptámo-nos de-pressa, e improvisámos melhor (comosempre).

Isto pode mostrar que a falta de equi-pamento adequado e estruturas, é cróni-ca, nas nossas forças armadas, ou que umpaís pacífico e não imperial tem (ou julgater) menos obrigações do que as superpo-tências, que vivem literalmente da guerra,e aprenderam a fazer reverter a mesmapara o crescimento das suas economias”.

uu NNuunnoo RRooggeeiirrooJN 02/06/06

PAÍS VIVEDO ESTADO

“É inquestionável que o emagrecimen-to da "máquina" do Estado terá de acon-tecer. Em serviços e pessoas. Não podeporém esse emagrecimento ser feito atra-vés de "dietas cegas" como aquelas que,para obter beleza, provocam indesejáveisanorexias. Mexer na "máquina" do Esta-do requer tacto, coragem, inteligência.Parece um dos tais casos em que pode-mos não morrer da doença, mas da cura.

Portugal é ainda um país que vive doEstado. Esta "verdade" é uma constata-ção muito iludida pelo discurso dos em-presários. Feitas as contas à contribuiçãoem impostos directos e indirectos porparte dos cidadãos trabalhadores depen-dentes, essa fatia está desproporcionadarelativamente àquela que deveria ser acontribuição das empresas. Num Estadomoderno terão de ser as empresas o gran-de motor da sua economia.”

uu PPaaqquueettee ddee OOlliivveeiirraaJN 01/06/06

A INFLUÊNCIADA DIREITA

“Mas, afinal, de que forma é que a di-reita a pensar influencia a direita nas ins-tituições, hoje?

Em relação aos partidos de direita, nãose vê grande impacto. Nos anos 80, OIndependente serviu como viveiro deideias políticas para reformular o CDSem CDS/PP. Primeiro com o líder Ma-nuel Monteiro, e numa segunda fasecomo trampolim para Paulo Portas che-gar a líder do partido. Neste momento,não se vislumbra reorientação liberal noCDS/PP, pelo contrário.

E qual a influência efectiva na direitano poder, isto é em Cavaco Silva? Para jápodemos dizer que é nula. A primeira"presidência aberta" de Cavaco Silva foidedicada à inclusão social. Esta semanaesteve no interior do Alentejo para mos-trar o que as instituições políticas públi-cas, nomeadamente as câmaras municipa-is, têm estado a fazer pelos excluídos.Pelas entrevistas que tem dado, o queCavaco advoga não é claramente uma di-minuição do papel do Estado. É, pelo

contrário, uma reorientação, do betãopara os recursos humanos, do investi-mento na infra-estrutura física para o in-vestimento social.”

uu MMaarriinnaa CCoossttaa LLoobbooDN 03/06/06

PROBLEMASDA IMIGRAÇÃO

“Para tomar a situação mais recente re-cordemos que, em 1986, quando o Con-gresso americano reformou a lei de imigra-ção, estimava-se que existissem naquelepaís cerca de cinco milhões de imigrantesilegais, razão pela qual a decisão daAdministração passou então por um pro-cesso de regularização de grande dimensão.

Nestes 20 anos estima-se que tenhamentrado nos EUA cerca de 11 a 12 mi-lhões de imigrantes ilegais, a par dos queentraram legalmente, seja a título de reu-nificação familiar, seja a título de imigra-ção para fins económicos. A título com-parativo refira-se que na Europa, inexis-tindo um sistema coordenado de regulari-zações, é difícil fazer sequer uma estima-tiva do número de imigrantes ilegais, masavalia-se em cerca de 500 mil os que anual-mente entram ou permanecem irregular-mente, dos quais cerca de 120 mil serãomulheres e crianças, integrando, pois, ogrupo de maior risco em termos de tráfi-co para fins de exploração económica esexual”.

uu AAnnttóónniioo VViittoorriinnooDN 02/06/06

COMPRESSÃODE SÉCULOS

“De facto, qual é o sentido de acabarassim de repente, e à bruta, com umacompressão de séculos? Até pode preju-dicar as mulheres, coitadas, aquele ror deespaço nas listas para encher. Felizmente,o Presidente está atento: "Mecanismossancionatórios e proibicionistas" como oda lei vetada "concedem" às mulheres"que assim acedam a cargos públicos uminadmissível estatuto de menoridade".Suspeitar-se-á de que foram lá postaspelos chefões do partido, por simpatia,bairrismo ou até competência, ao contrá-rio do que sucede com os homens. Já es-tamos a imaginar: passa uma deputada etoda a gente comenta: "Olha, lá vai maisuma. Que vergonha. O que é que ela fezpara ir parar a São Bento?" Coisa assusta-dora, que como se sabe não se passa nosnossos dias.”

uu FFeerrnnaannddaa CCâânncciiooDN 03/06/06

RECICLAGEM“Nos festivais somos como bandos de

pardais à solta, uns putos; somos filhos deuma mãe drogada na terra da fraternidadesomos tribos futebol, somos parolos e bemmesmo sem olhar a quem. Há bar e mar, háir e voltagem; na natureza nada se perde,tudo se transtorna, tudo é recliclagem.”

uu RRuuii RReeiinniinnhhooJN 03/06/06

itações

Page 8: O Centro - n.º 5

88 SSOOCCIIEEDDAADDEE DE 7 a 20 DE JUNHO DE 2006

Joana Martins

Foram cerca de 100 os certificados en-tregues, no passado dia 16 de Maio, peloCentro de Reconhecimento Validação eCertificação de Competências (CRVCC) naEscola de Hotelaria e Turismo de Coimbra.Foi a última de três sessões onde um totalde 250 pessoas viram reconhecidas e certi-ficadas as competências adquiridas fora daescola, terminando assim uma formaçãoque, pelas mais variadas razões, não haviamcompletado através do ensino formal.

Tutelado pelo Ministério da Educação, oprojecto do CRVCC, pretende que pessoasde qualquer sector profissional possam de-monstrar as suas competências em quatroáreas chave: matemática para a vida, cidada-nia e empregabilidade, linguagem e comuni-cação e tecnologias da informação e da co-municação. Assim, tal como explicou JoséLuís Marques, Director da Escola de Tu-rismo e Hotelaria de Coimbra, o desafio é acriação de um “dossier pessoal que deve es-pelhar as competências de cada um”. Numasegunda fase este dossier é aprovado pelaequipa de validação do processo, que certi-fica que os formandos possuem tais compe-tências. É-lhes assim dada a equivalência aoano escolar que pretendem completar.

O projecto começou em Novembro de2001 e desde aí o número de inscritos jáchegou aos 2400, sendo que, destes, cercade 900 já foram certificados, sobretudocom o 9º ano de escolaridade. Tal comoJosé Luís Marques confessou ao “Centro”,a importância deste projecto reside em “vero trabalho concluído com qualidade e ver,sobretudo, a satisfação das pessoas”. ParaJosé Nobre, um dos formandos presentes,esta certificação é “uma mais-valia, sobretu-

do ao nível da satisfação pessoal” e tambémno sentido de “abrir portas no futuro parauma formação adicional”.

Adjectivado pelo Director da Escola co-mo um “projecto educacional e de forma-ção”, o CRVCC contou, no seu desenvolvi-mento, com parcerias que se revelaram deextrema importância. Assim, registou-se acolaboração de várias Juntas de Freguesia,centros de formação, associações e sindica-tos, “cada uma com a sua intervenção para

construir um projecto de sucesso”, talcomo referiu José Luís Marques.

Horácio Pina Prata, Vice-Presidente daCâmara Municipal de Coimbra, também es-teve presente na cerimónia e deixou umamensagem de encorajamento aos forman-dos. Salientou a importância de “validar ascompetências”, sublinhando que esta é umaoportunidade de “gerar competências e au-mentar o nível de inovação” do país.

Apesar de as portas do projecto ainda nãoestarem ainda abertas para aqueles que queremfinalizar o 12º ano de escolaridade, a certifica-ção da escolaridade obrigatória através doCRVCC não deixa de ser um impulso e umamotivação para os formandos prosseguirem osestudos. Adelaide Claro, representante daDirecção Regional de Educação do Centro ,encorajou todos os presentes na sessão a pro-curarem novos caminhos para continuar a suaformação. Segundo a representante da DREC,“o Ministério da Educação tem muita vontadede fazer sair Portugal da cauda de UniãoEuropeia”. Adelaide Claro apresentou, por isso,uma pluralidade de saídas escolares para todosaqueles que quiserem continuar os estudos.

Três em cada quatro trabalhadores por-tugueses não têm o ensino secundário, umnúmero que o Governo quer diminuir,tendo para isso lançado na passada semana(dia 31 de Maio) 122 novos Centros de Re-conhecimento, Validação e Certificação deCompetências (CRVCC).

Os CRVCC destinam-se a reconhecer asaprendizagens que os adultos desenvolvemao longo da vida nos vários contextos pro-fissionais, permitindo-lhes complementaressa formação e obter habilitações reconhe-cidas equivalentes ao 9º e 12º anos de esco-laridade.

A intenção de combater a escolaridadereduzida dos portugueses foi reafirmadapelo Governo durante a cerimónia de lan-çamento dos 122 novos centros, que con-tou com a presença do Primeiro-Ministro,José Sócrates, e dos Ministros da Educação,Maria de Lurdes Rodrigues, e do Trabalho e

Solidariedade, Vieira da Silva. Segundo aMinistra da Educação, actualmente o siste-ma RVCC destina-se apenas a adultos semo 4º, 6º ou 9º ano de escolaridade, pois oscentros só dispõem de instrumentos técni-cos para fazer a formação até ao 9º ano.

Contudo, afirmou que o 12º ano estaráabrangido nestes centros já a partir do pró-ximo ano lectivo.

“Terminámos agora a fase de homologa-ção para criar os instrumentos técnicos ne-cessários para o 12º ano. Esperamos queantes do Verão estejam homologados e queno próximo ano estejamos em condiçõesde arrancar”, disse.

REGIÃO CENTROCOM MAIS 25 CRVCC

Dos 122 centros agora lançados, 43 vãoabrir na Região Norte, 25 no Centro, 31 em

Lisboa e Vale do Tejo, 19 no Alentejo, doisno Algarve e dois na região Autónoma daMadeira.

O lançamento destes novos Centros per-mitirá tornar operacionais, até ao final desteano, 220 centros, uma vez que já se encon-tram 98 em funcionamento.

Vieira da Silva destacou a “ambição deenorme grandeza” do Governo ao preten-der “multiplicar por cinco” (até 2010) osCentros já existentes, sublinhando que“tem que ser assim”.

“Há ainda quem questione a importânciaestratégica deste investimento. Gostava delembrar os números actuais”, disse oMinistro, acrescentando:

“No primeiro trimestre deste ano, e com-parativamente ao mesmo período do anopassado, foram criados 32.500 postos de tra-balho, cresceram em 34.100 os trabalhadorescom o secundário e 31.500 com o ensino su-

perior. Os trabalhadores com menos do queo secundário diminuíram em 33.200”.

Contudo, o peso, no total do emprego,de trabalhadores com formação equivalen-te ao secundário cresceu “apenas 0,9 porcento”, razão por que este programa é“fundamental”.

Relativamente ao calendário de aberturados 122 centros, 30 serão inauguradosainda no primeiro semestre deste ano, 50até Setembro e os restantes 42 até ao finaldo ano.

Com este projecto, o executivo pretendeaté 2010 qualificar um milhão de pessoasem 500 “Centros Novas Oportunidades”(Centros de Reconhecimento, Validação eCertificação de Competências) e combatera baixa escolaridade da população activaportuguesa – 75 por cento com menos doque o 12º ano e metade com menos do queo 9º ano.

RECONHECIMENTO, VALIDAÇÃO E CERTIFICAÇÃO DE COMPETÊNCIAS

Governo cria 122 novos Centrose quer qualificar um milhão de pessoas

NA ESCOLA DE HOTELARIA E TURISMO DE COIMBRA

Certificados 250 formandos

HorÆcio Pina Prata, JosØ Luís Marques e Adelaide Claro

Page 9: O Centro - n.º 5

RREEPPOORRTTAAGGEEMM 99DE 7 a 20 DE JUNHO DE 2006

Auto-LuzELECTRICIDADE AUTO

António Afonso Barbosa66 anos de actividade ao serviço do automobilismo

SERVI˙O PERMANENTE:912 332 204 / 239 823 436 / 239 712 864

Morada: Terreiro da Erva 1-A 3000-355 COIMBRA

LIGA DOS AMIGOS DE CONIMBRIGA

Notável trabalho de associação multidisciplinarNa anterior edição do “Centro” publicá-

mos detalhada reportagem sobre as ruínas ro-manas de Conimbriga, focando as inovaçõesque ali têm sido introduzidas e que permiti-ram duplicar agora a área aberta ao público.

Hoje é a vez de aludirmos à Liga dosAmigos de Conimbriga (LAC), uma asso-ciação que há muitos anos desenvolve umaactividade tão diversificada como meritória,e que se não cinge ao espaço físico das ruí-nas nem à zona geográfica onde estas se si-tuam, antes se estende a diversos pontos doPaís e do estrangeiro.

Para melhor conhecer a LAC, o “Cen-tro” foi ouvir o respectivo Presidente,António Queirós.

Começou por nos referir que a LAC foifundada em 18 de Março de 1992, “comoassociação cultural e científica, desenvol-vendo nos anos seguintes novas valênciasenquanto associação ambientalista de âmbi-to nacional, juvenil e de desenvolvimentolocal e regional”.

Segundo referiu, a LAC (que é reconhe-cida como Instituição de Utilidade Pública),tem vindo a crescer “na ordem das cente-nas de associados por ano, atingindo hoje3.200 sócios, distribuídos por todo o país etambém pela Europa, das mais diversascondições sociais e com uma forte compo-nente juvenil”.

QUATRO ÁREASDE INTERVENÇÃO

De acordo com António Queirós, a LACdesenvolve as suas actividades a partir de qua-tro grandes áreas organizadas por outros tan-tos departamentos: “Educação, Investigação,Formação e Divulgação”; “Animação Cultu-ral”; “Iniciativas Empresariais, Emprego eDesenvolvimento Sustentável”; e “Edições.

No que concerne à primeira área, mere-ce destaque o Centro de Formação de Pro-fessores (CEFOP) de Conimbriga, de âm-bito nacional, “com um Programa anualque pode ir até mais de 100 acções, 70 tur-mas, 1.400 professores formandos, 40.820horas de formação”, como salienta An-tónio Queirós, acrescentando:

“O CEFOP.Conimbriga evoluiu parale-lamente como Centro de Formação Profis-sional, acreditado pelo IQF e, mais recente-mente, como Centro de Verificação eCertificação de Competências, para todasas áreas e domínios científicos, possuindoum corpo de mais de uma centena de for-madores, mais de um terço doutorados eoriundos das principais universidades, mu-seus, associações científicas. A partir de2003, em parceria com a CCDRC e Asso-ciações locais de desenvolvimento, desen-volveu-se a formação de activos e desem-

pregados, em torno de temas como a Ges-tão do Património, o Turismo Ambiental eo Desenvolvimento Sustentável, sendo desalientar a empregabilidade de mais de cen-tena e meia de desempregados de longa du-ração, jovens em risco e licenciados”.

Referência merecem também, para além deprojectos de impacto local, regional e mesmotransfronteiriço, as acções de divulgação cien-tífica no âmbito da “Astronomia no Verão”,assim como sessões de Biologia e Geologia.

CONGRESSOS E PROJECTOSINTERNACIONAIS

Em 1998, a LAC organizou o I EncontroInternacional de Plantas Aromáticas e Medi-cinais Mediterrânicas, que contou com a pre-sença de 300 congressistas, oriundos de 21países, e onde foram apresentadas 136 comu-nicações. Promoveu, em paralelo, a 1ª FeiraInternacional de Plantas Aromáticas e Medi-cinais e Outros Produtos Naturais – FIPAM98, onde estiveram representadas empresas li-gadas a diversos ramos de produtos naturais.

No ano de 1999 organizou o I Congressodas Plantas Aromáticas e Medicinais dosPALOP – Países de Língua Oficial Portugue-sa, que contou com a presença de 200 delega-dos dos referidos países e onde foram apre-sentadas 50 comunicações científicas. Em pa-ralelo, promoveu e organizou a FIPAM 99.

Em 2002 e 2003, o CEFOP foi o parcei-ro nacional, juntamente com a DGEMN,do projecto NOMAD, de reinserção socialde jovens através da descoberta e do traba-lho com o Património Arquitectónico,apoiado pelo programa Leonardo e peloConselho da Europa, e que se desenvolveuem Portugal, França e Itália.

LITERACIA CIENTÍFICAE ANIMAÇÃO CULTURAL

António Queirós lembra que desde 2004,o CEFOP integrou a Comissão Instaladorada MC2P - Museus e Centros de Ciência dePortugal, que representa os principais mu-seus e centros de ciência do nosso país. Eacrescenta: “Cerca de quatro dezenas de ins-tituições aderiram à novel associação, oriun-das do sector empresarial, das universida-des, da iniciativa da administração pública eda sociedade civil. O seu programa e objec-tivos estão orientados para a promoção daliteracia científica e técnica, o ensino experi-mental das ciências, a promoção do turismocientífico e o desenvolvimento da cultura ci-entífica nas actividades económicas e nosprocessos de desenvolvimento”.

No que toca ao Departamento de Ani-mação Cultural, o Presidente da LAC refere-nos que desde 1992 promove as mais diver-

sas acções, focando temas que vão desde “areligião local, a sociologia e geografia dosdesportos radicais até à cultura clássica, a as-tronomia, a arqueologia”. Em colaboraçãocom o Museu de Conimbriga, desenvolve ac-tividades de animação das ruínas e do seu ter-ritório (os seis Concelhos do Maciço Calcáriode Sicó), desde a reconstituição histórica, atéespectáculos de teatro, música e ópera”.

GRUPO DE MICRO-EMPRESAS

António Queirós refere que a LAC criouum grupo de micro-empresas que visam,sobretudo, dar oportunidade a jovens queprocuram o 1º emprego, a desempregados

de longa duração e a grupos de risco. Estasempresas actuam a nível regional, nacionale com extensão a Espanha no turismo cul-tural e de Natureza. A LAC tem aindavindo a editar, desde 1993, diversos livros,brochuras, cadernos, roteiros, filmes vídeo,etc., com fins científico-didácticos, numtotal de mais de meia centena de títulos.

De realçar, por último, a participaçãomuito activa da LAC, em conjunto com ou-tras entidades, na criação de Parques Ecoló-gicos e do Circuito da Romanização – umnotável percurso histórico, de invulgar ri-queza natural e cultural, a que o “Centro”irá dedicar desenvolvida reportagem napróxima edição.

António Queirós

Licenciado em Estudos Portugueses, História e Arte e Design. Pós-graduado emCiências da Educação, mestre em Filosofia da Natureza e do Ambiente e mestre emTeorias da Arte. Doutorado em Filosofia das Ciências, pela Universidade de Lisboa.Autor de cerca de duas centenas de trabalhos científicos, técnicos e didácticos, particu-larmente nas áreas do Património e do Ambiente, Formação e Turismo.

Membro do Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa, Presidente da Liga deAmigos de Conimbriga e do Conselho Científico-Pedagógico do Centro de Formaçãode Professores (Profissional) de Conimbriga. Formador acreditado pelo CCPFC deprofessores para uma dezena de áreas científicas. Membro fundador de diversas asso-ciações e federações das áreas do ambiente e do património cultural e promotor da suainternacionalização. Coordenador de vários programas integrados no Mercado Socialde Emprego. Coordenador de alguns projectos de reabilitação da paisagem e desenvol-vimento sustentável. Gestor e administrador empresarial nestes sectores.

Page 10: O Centro - n.º 5

1100 SSAAÚÚDDEE DE 7 a 20 DE JUNHO DE 2006

Joana Martins

Em funcionamento há pouco mais dequatro anos enquanto unidade independen-te, o Hospital de Dia de Oncologia dosHospitais da Universidade de Coimbra(HUC) é a unidade de saúde que alberga etrata os doentes de oncologia. Médicos, far-macêuticos, enfermeiros, técnicos e auxilia-res compõem a equipa que, todos os dias,se empenha neste trabalho.

A criação do Hospital de Dia foi umprocesso gradual. Desde a sua abertura, emMarço de 2002, que vários serviços foramdesenvolvendo o espaço para as suas espe-cialidades. Assim, constituem esta unidadeextensões dos Serviços de Ginecologia e deMedicina III, projectados para o espaço doHospital de Dia desde o início e, ainda, de

Pneumologia, Dermatologia, Urologia eHematologia, os quais foram sendo transfe-ridos gradualmente. Entretanto, iniciou-seo tratamento de doentes com tumores dosistema nervosos central.

Tal como define Anabela Sá, Directorado Hospital de Dia, esta unidade “não éexactamente um serviço”, mas sim o espa-ço onde pessoas de diversas áreas médicasprestam atendimento durante várias horaspor semana. A Directora da unidade salien-ta que houve algumas dificuldades de adap-tação, na medida em que muitos tiveram dese adaptar ao novo espaço e a uma nova or-ganização de trabalho em equipa.

Os números do primeiro trimestre desteano apontam para um total de 2800 trata-mentos realizados no Hospital. Trata-se deuma unidade que, apesar de não ter listas de

espera, realizou, aproximadamente, 14 milconsultas e 12 mil tratamentos no ano de2005. Falamos, no entanto, de custos tera-pêuticos muito elevados. Tal como refereAnabela Sá, “é uma área muito cara” o queresulta não só do aumento do número dedoentes como, também, do surgimento denovas terapêuticas nas várias áreas, que setornam bastante dispendiosas. São, no en-tanto, custos suportados pelo Hospital,sendo que, inclusivamente, o doente estáisento de taxas moderadoras.

Não falamos, apenas, das terapêuticas di-rectas, denominadas citostáticos, mas, tam-bém, de terapêuticas de suporte, medicamen-tos que não só “melhoram a qualidade devida”, como muitas vezes são elas que permi-tem “manter os doentes em tratamento”, talcomo esclarece a Directora do Hospital de

Dia. A unidade administra, ainda, as terapêu-ticas para a dor e fornece consultas deNutrição Clínica e Consulta de Risco.

Anabela Sá considera como “um bomgrupo de profissionais” a equipa que aacompanha na rotina do Hospital de Dia.Salienta que os custos são a maior dificulda-de que enfrentam, sendo que “a falta depessoal, nomeadamente de enfermagem” éoutro dos pontos críticos de que a unidadepadece. Por outro lado, sublinha aDirectora do Hospital de Dia, apesar da di-ficuldade que advém da proximidade queos profissionais estabelecem com os doen-tes, e que se torna dolorosa face a casos emque eles padecem da adversidade da doen-ça, Anabela Sá considera que se torna “gra-tificante dar alta aos doentes e ver quandoas coisas correm bem”.

14 MIL CONSULTAS E 12 MIL TRATAMENTOS EM 2005

«Hospital de Dia» dos HUCpresta serviço exemplar

Entrada do Hospital de Dia Anabela SÆ

Joana Martins

Os Hospitais da Universidade de Coimbra (HUC) assinalaram, no passado dia 31 deMaio, o Dia Mundial do Não Fumador com a apresentação do projecto “HUC semTabaco”, inserido na Rede Europeia dos Serviços de Saúde sem Tabaco. Aprovado a 15de Março de 2006 pelo Conselho de Administração dos HUC, este projecto visa promo-ver uma unidade hospitalar sem fumo.

Assim, foram lançadas diversas iniciativas, de entre as quais se salientam a realização deum inquérito entre os trabalhadores do hospital visando conhecer os seus hábitos de ta-bagismo. Foi ainda feita uma acção de rastreio de dependência tabágica e da Doença Pul-monar Obstrutiva Crónica que durou todo o dia.

Do inquérito realizado, ao qual responderam 2200 funcionários, resultam dados quemostram que mais de 80% dos trabalhadores acham que não se deve fumar no hospital,visto este ser um local de tratamento de doentes.

O Presidente do Conselho de Administração dos HUC, Agostinho Almeida Santos,reiterou o “êxito do programa” que deixa assim os hospitais “mais isentos de monóxi-do de carbono”. A acção de sensibilização não fica por aqui, e entrará em funcionamen-to uma consulta de desabituação tabágica para os funcionários do hospital.

Hospitais sem tabaco

Agostinho Almeida Santos presidiu à sessªo no Dia do Nªo Fumador

Page 11: O Centro - n.º 5

SSAAÚÚDDEE 1111DE 7 a 20 DE JUNHO DE 2006

Joana Martins

Entre os próximos dias 17 e 19 de Ju-nho, a Quinta das Lágrimas recebe a Con-ferência Internacional de Lavagem Bron-coalveolar. O evento acontece de dois emdois anos e, apesar de ser a sua décima edi-ção, pela primeira vez terá lugar emPortugal. A reunião, para a qual se esperamcerca de 200 participantes, é baseada na téc-nica de estudo do pulmão profundo, desen-volvida nos anos 80 e rampa de lançamen-to para a evolução do conhecimento naárea da pneumologia.

O alvo da Conferência, em termos cien-tíficos, é a patologia do interstício pulmo-nar, cujas causas, quando identificadas,podem estar relacionadas com a actividadeprofissional, ocupação de tempos livres econsumo de tabaco, aliados à inalação deagentes nocivos. Apesar de ser uma reuniãoque interessa sobretudo ao campo da pneu-mologia, engloba profissionais de outrasáreas, tais como a imunologia, a biologia, agenética, a infecciologia, a hematologia emesmo algumas áreas laboratoriais. Sãovinte e seis os países que estarão presentesno evento, com “uma forte representaçãoda Europa de Leste”, tal como refereCarlos Robalo Cordeiro, Presidente da Con-ferência.

Da reunião não constam apenas confe-rências e painéis, mas também um simpósio“onde serão divulgados os resultados maisrecentes de ensaios clínicos internacionaissobre novas terapêuticas” na área da pato-logia do interstício pulmonar, explica Car-los Robalo Cordeiro (Professor de Pneu-mologia da Faculdade de Medicina deCoimbra e do Departamento de CiênciasPneumológicas e Alergológicas dos Hos-pitais da Universidade de Coimbra). Cons-tam ainda do programa sessões de apresen-

tação livre, discussão de casos clínicos e de“posters”. Falamos de mais de meia cente-na de trabalhos, cerca de metade dos quaisde conferencistas estrangeiros, oriundos de15 países.

Uma das conferências que constituem areunião irá incidir sobre a técnica de lava-

gem broncoalveolar para o acompanha-mento do transplante pulmonar, “área fra-gilizada em Portugal”, tal como refereCarlos Robalo Cordeiro, visto que o nossopaís não tem ainda “a técnica de transplan-tação pulmonar feita de uma forma estan-dardizada”. Existe apenas um centro em

Lisboa que pratica esta técnica, de umaforma não continuada, sendo que os doen-tes que necessitam de transplante pulmonarsão recebidos por centros em Espanha ouem outros países.

Apesar do encerramento ser no dia 19de Junho, no dia 20, nos Hospitais daUniversidade de Coimbra, irá decorrer um“workshop” prático sobre a técnica de es-pectoração induzida, leccionado por umdos maiores especialistas nesta área,Elisabeth Fireman. Carlos Robalo Cordeirosalienta que houve muitos pedidos paraparticipar no curso prático mas apenas pu-deram receber 35 participantes.

A reunião conta com o patrocínio cientí-fico da Sociedade Europeia de Pneumo-logia, facto relevante visto ser esta a primei-ra vez que este organismo patrocina umaconferência de pneumologia em Portugal.Acresce ainda o apoio de cerca de 15 labo-ratórios da indústria farmacêutica.

Duas novidades farão parte do decorrerda Conferência. Em termos técnicos será aprimeira vez que numa reunião de pneumo-logia serão discutidos “posters” em forma-to electrónico, com a respectiva projecçãotemporizada durante os intervalos. Doponto de vista social, Carlos Robalo Cor-deiro revela que teve a preocupação demostrar “algumas particularidades da atmos-fera cultural” de Portugal e de Coimbra.Assim, a abertura da Conferência terá lugarna Biblioteca Joanina com uma conferênciade História da Arte, seguida de uma provade vinhos portugueses. No dia 18 será ofe-recido aos conferencistas um jantar noJardim da Sereia, acompanhado de um es-pectáculo de Jazz. O encerramento terálugar no Jardim Botânico com uma festapopular, animada por ranchos folclóricos, eonde será servida gastronomia regionalportuguesa.

DE 17 A 19 DE JUNHO, EM COIMBRA

Conferência Internacional de Pneumologiacom especialistas de 26 países

Carlos Robalo Cordeiro

AMANHÃ EM 40 HOSPITAIS DE TODO O PAÍS

Rastreio gratuito de cancro da peleDermatologistas de quarenta hospitais

de todo o país vão fazer amanhã (quinta-feira, dia 8) exames gratuitos do cancro depele, numa campanha de prevenção para oVerão que abrangerá ainda as escolas e osutentes das praias. Segundo Joel Amaro, doInstituto Português de Oncologia (IPO) deLisboa, deverão recorrer ao rastreio sobre-tudo as pessoas de pele clara ou com difi-culdade em bronzear, com muitas sardas,que tenham antecedentes de várias queima-duras solares ou antecedentes pessoais oufamiliares de cancro de pele.

“Está ainda indicado nas pessoas quepossuem múltiplos sinais, em particular si-nais que são assimétricos, de bordo irregu-lar, cor heterogénea ou muito escura, de di-âmetro maior que seis milímetros e sobre-tudo se tiveram evolução ou modificaçãorecente”, adiantou Osvaldo Correia, secre-tário-geral da Associação Portuguesa deCancro de Pele (APCP), uma das entidadespromotoras do rastreio.

As consultas gratuitas com os dermato-logistas devem ser previamente mar cadas,estando disponível no site www. apcc.on-line.pt a lista de aderentes ao rastreio e res-pectivos contactos.

A incidência dos cancros de pele está aaumentar em Portugal e em mais de 90 porcento dos casos a doença está relacionadacom um passado de exposição exagerada aosol.

“Os inquéritos que têm sido feito nos úl-timos ano mostram que a maioria dos jo-vens não coloca protector solar, não usachapéu e está na praia ou noutro local aosol nas horas proibidas, entre as 12 e as 16horas. Provavelmente isto vai justificar oaumento da curva do cancro da pele nospróximos anos”, adiantou Osvaldo Correia,na conferência de imprensa de apresenta-ção da campanha de rastreio.

Actualmente estima-se que em Portugala incidência de melanoma – cancro de pelemais temível – seja de oito novos casos por

100 mil habitantes por ano (cerca de 800casos por ano).

Os dermatologistas defendem que a ex-posição ao sol deve ser lenta e progressivae sempre acompanhada de cremes de pro-tecção solar e chapéu.

“É errada a ideia de pôr protector solarenquanto a pele está branca e deixar de pôrquando está bronzeada. Os malefícios dosol são sempre iguais, quer a pele esteja jáqueimada ou não”, explicou FernandoRibas dos Santos, do IPO do Porto.

A campanha sobre o cancro de pele, quecomeça no Dia Nacional e Europeu daPrevenção do Cancro da Pele/Eurome-lanoma (8 de Junho), inclui ainda acções desensibilização das crianças nas escolas atravésda distribuição de livros adaptados aos maispequenos sobre os cuidados a ter com o sol.

“Explicamos nesses livros nomeadamen-te a regra da sombra, uma vez que muitascrianças não sabem ainda ver as horas:quanto maior for a nossa sombra mais segu-

ra é a hora para brincadeiras ou exposiçãosolar”, adiantou o secretário-geral da APCP.

Os dermatologistas aconselham o uso deum creme com factor de protecção igual ousuperior a 30 e que se evite a exposição di-recta ao sol dos bebés e das crianças commenos de três anos.

A campanha de prevenção do cancro depele vai estender-se também aos banhistasdurante o Verão.

A praia da Falésia, em Vilamoura (Al-garve), é a primeira onde vários dermatolo-gistas vão começar a fazer a partir de 15 deJulho, campanhas de sensibilização aos ba-nhistas e distribuir informação sobre oauto-exame que deve ser feito à pele, paradetectar indícios de um cancro de pele.

Quando precocemente detectado, a mai-oria dos cancros de pele tem cura radical.

“O sol é como o vinho, em quantidademoderada é bom e faz bem, em excesso fazmal e é feio”, concluiu Fernando Ribas dosSantos.

Page 12: O Centro - n.º 5

O Hotel Astória, de Coimbra, e a Con-fraria Gastronómica “Panela ao Lume”,promoveram, na passada sexta-feira, maisum jantar do ciclo intitulado “Pratos comHistória no Hotel Astória”.

Desta feita o jantar contou com a partic-ipação do restaurante “Cerca Nova” doHotel da Cartuxa, de Évora, sendo a emen-ta “Sopa de Cação”, seguida de “Migas comLombinhos de Porco Preto”, e doçaria vari-ada como sobremesa, tudo acompanhadopor vinhos da Bairrada “Casa de Saima”.

Como é hábito, o Presidente da Confraria,Gonçalo Reis Torgal, fez saborosos comen-tários sobre a história daqueles pratos, sublin-

hando a diferença que existe entre migas eaçorda (que muitos confundem), e destacan-do a riqueza criativa da gastronomia doAlentejo, onde a escassez aguçou o engenho.

Para além do convívio e da divulgação daboa gastronomia portuguesa, estes jantarestêm ainda uma vertente de beneficência,que desta feita distinguiu a “Liga dosAmigos da Cardiotoráxica dos Hospitais daUniversidade de Coimbra”.

No decorrer do jantar foi ainda feita aentrega do diploma e donativo à instituiçãobeneficiada no jantar anterior: a APPACDMde Coimbra (Associação Portuguesa de Paise Amigos do Cidadão Deficiente Mental).

A Escola Superior de Educaçãode Coimbra é, desde o passadodia 2 de Junho, a única instituiçãode ensino superior da ZonaCentro, e a segunda em todo oPaís, que pode hastear à porta abandeira da Qualidade.

Numa cerimónia que contou com a pre-sença, em representação do Ministro Ma-riano Gago, do Secretário de Estado da Ciên-cia, Tecnologia e Ensino Superior, ManuelHeitor, a Escola Superior de Educação deCoimbra (ESEC) recebeu a Certificação deGestão da Qualidade. Esta certificação con-cedida à ESEC refere-se ao conjunto da pres-tação dos serviços da Escola - formação/in-vestigação e gestão técnica/administração.

A certificação (segundo a norma euro-peia ISO-NP EN:2000) é uma garantia parao mercado empregador da competência ecredibilidade da ESEC para desenvolver aformação que oferece aos seus alunos.

O processo de certificação é muito exi-

gente, compreendendo-se assim que apenas aESEC e o Instituto Superior de Engenhariado Porto, em todo o País, tenham até ao mo-mento conseguido obter a distinção.

Na cerimónia de entrega da certificação,o Presidente do Conselho Directivo daESEC, João Orvalho, sublinhou que a cer-tificação constitui “um ponto de partida enão de chegada”.

A ESEC, que durante muito tempo sededicou quase em exclusivo à formação deprofessores, desde a década de 90 que veioa alargar a suas áreas de formação. Assim,neste momento, são mais os alunos que fre-quentam licenciaturas noutras áreas do queaqueles que fazem a sua formação com oobjectivo de seguir a docência.

A ESEC ministra cursos superiores deArte e Design, Animação Sócio-Educativa,Comunicação e Design Multimédia, Comu-nicação Social, Comunicação Organizacio-nal, Desporto e Lazer, Educação de In-fância, Ensino Básico – 1º ciclo, LínguaGestual Portuguesa, Educação Musical,Teatro e Turismo.

1122 RREEPPOORRTTAAGGEEMM DE 7 a 20 DE JUNHO DE 2006

Urbanização da Quinta das Lágrimas, lote 24 R/CSanta Clara, 3020-092 CoimbraTelf. 239 440 395-Fax. 239 440 396Telm. 919 992 020 / 964 566 954 / 933 573 579

TROPA DE SOUSAClínica Geral

Medicina EstéticaAcupuntura

VIRGÍLIO CARDOSOGinecologia / Obstetrícia

LUÍSA MARTINSKromoterapia

Florais de Bach

RENATA MARGALHOPsicologia Clínica

LUÍS MIGUEL PIRESTerapia Ocupacional

Osteopatia

NUNO CARVALHOHipnoterapeuta

JOÃO CALHAUNutricionista

CRISTINA FERREIRAGINECOLOGIA / OBSTETRÍCIA

Laser Yag Vascular (Varizes)

Laser de Depilação definitiva

Laser de Luz Pulsada (Trat. Estética)

Endermologia (LPG)

Pressoterapia

Ozonoterapia (Trat. por Ozono)

Dermo Abrasão (Limpeza de Pele)

Mesoterapia

Implantes para Rugas (Biopolímeros)

Tratamentos por Esteticista

PEDRO SERRAPODOLOGISTA

MARIA TERESA PAISMEDICINA DENTÁRIA

TÂNIA SOUSAESTETICISTA

PAULO SOUSAMASSAGISTA

FERNANDO KUNZOPERADOR LASER

A SEGUNDA EM TODO O PAÍS

ESEC conquista bandeira da Qualidade

“PANELA AO LUME” NO HOTEL ASTÓRIA

Pratos com História

Page 13: O Centro - n.º 5

PPUUBBLLIICCIIDDAADDEE 1133DE 7 a 20 DE JUNHO DE 2006

Page 14: O Centro - n.º 5

1144 OOPPIINNIIÃÃOO DE 7 a 20 DE JUNHO DE 2006

João PauloSimões

FILATELICAMENTE

“Um erro, em gramática, é um solecismo; em teo-logia pode chegar a ser uma heresia; em poesiachama-se “pé-quebrado”; em música é uma desa-finação ou fífia; em pintura é causa de riso; em ar-quitectura, de ruína; no comércio pode invalidarum contrato; em filatelia pode valer uma fortuna.”

Autor desconhecido

IntroduçãoA Filatelia, não é só um hobby em que

o Coleccionador agrupa os selos por paí-ses ou temáticas.

A Filatelia é também e sobretudo ummeio de cultura vastíssimo.

Através de um selo, podemos desco-brir coisas interessantíssimas acerca donosso país, da nossa cultura, dos nossoshábitos, dos nossos costumes, do nossovastíssimo património.

Coleccionar selos, é uma tarefa árduaque, por vezes, para podermos ter algumconhecimento daquele rectângulo depapel e antes de o pôr no nosso álbum,implica uma consulta a manuais, enciclo-pédias e outros livros para darmos a infor-mação exacta daquele selo. Isto aplica-semais aos Coleccionadores que queremapresentar álbuns com as histórias dosselos. Por outro lado, há também a com-ponente artística do Coleccionador que,ao elaborar o seu álbum, desenha temasalusivos àquela série, o que torna o álbummuito mais rico e agradável à vista.

Nestes artigos, vão ser abordadostodos estes pontos. O Leitor vai entrar nomundo da Filatelia, mesmo que seja umleigo nesta matéria.

Ao falar do selo, não vou fazer umaanálise exaustiva de cada um, mas descre-ver aquilo que representa e para o que foielaborado.

Avaliar os professores

Todo o bom profissional entende a ava-liação como processo fundamental no de-senvolvimento do seu trabalho.

Será ela o reconhecimento público doseu mérito, do seu empenho e factor deaperfeiçoamento na medida em que o levaa reflectir e a superar as suas insuficiênciase a estabelecer novas metas de progressão.

Daí que a avaliação deva ser um actosério, rigoroso e interactivo no qual avalia-dor e avaliando, nos respectivos estatutos,dão corpo a um projecto cujo objectivo ul-trapassa a dimensão individual do sujeitopara se reflectir no interesse colectivo.

Por outro lado, avaliar será muito maisdo que um periódico prestar de contas

uma vez que, mais que o produto, o queestá em jogo é o processo, todo o conjuntode procedimentos, competências e respecti-vas concretizações postas à prova susceptí-veis de serem testadas a cada momento naprossecução do projecto em apreço. Esteaquilatar contínuo e solidário da prestaçãoprofissional é, no nosso modesto entender,a vertente mais importante porque, no diá-logo entre a auto e a hétero avaliação, su-bentende a autocrítica, o autoajustamento eautosuperação do avaliando.

Avaliar jamais poderá ser um processoeminentemente subjectivo e sazonal noqual os avaliadores se perfilam para emiti-rem displicente e infundadmente meros ju-ízos de valor.

Avaliar implica dominar a filosofia queconsubstancia o acto, conhecer as respec-tivas coordenadas, as estratégias e técnicasde recolha de dados, seu tratamento e in-terpretação e sua utilização, não propria-mente como elemento classificativo mas,essencialmente, como factor de aperfeiçoa-mento.

O bom profissional também sabe co-

mo se avalia. É por isso que duvida detudo o que, de marginal, tendenciosamen-te se apresenta num processo tão sério erigoroso.

Num país que se notabiliza pela iliteraciae por um clamoroso défice de desenvolvi-mento social e cultural, incluir indiscrimi-nadamente o universo parental na avalia-ção dos professores é um acto de pura de-magogia e de clamorosa ignorância da rea-lidade e da verdade educativas.

O caso é, para nós, tanto mais gravequando precedido de toda uma campanhade descrédito da classe levada a efeito poralguns altos responsáveis governativosdesde a preparação do ano lectivo corrente.

O ónus da falência do sistema deve, issosim, ser assacado à inépcia e incompetênciadas sucessivas governações, totalmente in-capazes de definir e fazer executar um pro-jecto educativo - escolar coerente e realistapara o país.

Pensamos ter chegado a altura de levaristo muito a sério.

Pelo que vemos, não será propriamenteo que está a acontecer.

Renato Ávila

POIS...

Raciocínio: Tínhamos de pagar quatroanos de estudos; se passarmos a pagar sótrês, poupa-se uma pipa de massa, estávisto! E – vai daí! – optamos pelos três, já!

Dantes, porém, ao fim dos estudos,havia fortíssimas probabilidades de em-prego (e trabalho) compatível. Agora…desemprego, o andar por aí, vamos auma “bejeca”, eh! pá, o que é que amalta há-de fazer?!...

Poupa-se?E os centros de recuperação, os sub-

sídios de desemprego, as consultas mé-dico-psiquiátricas?

Joséd’Encarnação

Memória e cidadania

Segundo uma notícia publicada pelo“Público”, em 6 de Maio último, ao comen-tar o relatório “Power to the People” (Po-der ao Povo), divulgado no passado mês deFevereiro, o jornal The Independent con-cluía que a democracia no Reino Unido es-tava doente.

O relatório chamava a atenção para osnúmeros crescentes da abstenção nos actoseleitorais e a diminuição das inscrições nospartidos políticos, reflectindo o desencantopela política por parte do público em geral,particularmente preocupante nas camadasjovens. Na origem da situação estava o sen-timento generalizado de que o voto não faza diferença, que os deputados representammais o partido do que os constituintes, queo poder está demasiado centralizado no go-verno, e que tudo se joga entre dois parti-dos entre os quais, progressivamente, só seencontram diferenças à lupa.

Se idêntico estudo tivesse sido feito emPortugal, as suas conclusões teriam sido, se-guramente, ainda mais inquietantes, pois astaxas de mobilização cívica dos portugues-es são bastante inferiores às corresponden-tes no Reino Unido, e noutros países euro-peus, com percentagens de participação dosjovens nos actos eleitorais significativamen-te abaixo da média nacional. As razõesserão, provavelmente, muito idênticas às doReino Unido, agravadas por uma longa tra-dição de autoritarismo e pela escassa tradi-

ção de democracia participativa em Por-tugal, exceptuando alguns raros momentosaltos, de que foram exemplos a explosão decidadania no 25 de Abril e a grandiosa mo-bilização cívica em torno causa de Timor-Leste.

Passados trinta e dois anos sobre a dataem que «emergimos da noite e do silên-cio», regressou a desilusão, a angústia e odesespero, a falta de confiança e de espe-rança no futuro, a par do descrédito do sis-tema político, da crise de identidade colec-tiva e do reaparecimento do «sebastianis-mo» na vida política nacional. Será queEduardo Lourenço terá razão quando falada descentragem permanente dos portu-gueses e da sua total ausência de interessepela «ideia de Portugal» que tenha qual-quer conteúdo além do da sua representa-ção? Ou não será esta situação resultado,mais propriamente, de um propósito deli-berado por parte de uma certa classe polí-tica, mais interessada em reduzir a demo-cracia à sua componente representativa eem esquecer o valor da cidadania enquan-to princípio fundamental legitimador daacção política?

Perante este cenário sombrio, parecepertinente perguntar até que ponto é queo passado será um peso morto para osportugueses. É que a crise nacional assen-ta, na sua génese, numa preocupante faltade memória sobre o que foi a longa dita-dura salazarista: quarenta e oito anos detotalitarismo, assassínio, degredo, prisãoarbitrária e tortura dos opositores políti-cos, repressão violenta, privação de direi-tos fundamentais, miséria em larga escala,analfabetismo generalizado, emigraçãoclandestina e uma guerra colonial onde seexauriram, durante treze anos, geraçõessucessivas de jovens portugueses e africa-nos. Mas assenta, igualmente, numa idên-tica falta de memória sobre as circunstân-

cias que favoreceram a emergência doEstado Novo.

A desgraça da I República residiu, pri-meiramente, no próprio Partido Republi-cano. Os seus dirigentes não promoveremas transformações económicas e sociais doPaís nem o alargamento das bases popula-res de apoio ao novo regime e foram alie-nando progressivamente a simpatia que ha-viam conseguido no 5 de Outubro. A suaactuação política, especialmente a partirdos anos vinte, falha de grandeza nos ob-jectivos e excessivamente corruptora, seriaditada, sobretudo, por uma ânsia desmedi-da de poder, que lhes valeria uma hostilida-de crescente. Apesar de uma retórica demo-crática, acabariam por se quedar numa po-lítica de imobilismo, a qual, renegando ahistórica feição progressista do PartidoRepublicano, conduziria ao seu fracciona-mento sucessivo, ao isolamento da socieda-de e à transferência do apoio da populaçãopara o lado dos conspiradores.

Num momento em que passou mais umaniversário do pronunciamento militar de28 de Maio de 1926, é oportuno lembrarque, naquela altura, a maioria republicanaesquecera já os ideais da liberdade e da ci-dadania que haviam sido a sua bandeira.Sonhando com uma «nova ordem de coi-sas», acreditava então mais nas virtudes deuma «ditadura de reformas». Quase todosqueriam ordem pública, estabilidade políti-ca, equilíbrio financeiro, eficiência econó-mica, governo de competência, numa lógi-ca proclamada de salvação nacional - omesmo, precisamente, que pedia toda aoposição anti-republicana.

Estará o regime democrático fundadoem 25 de Abril a seguir os passos da IRepública?

Mais memória e cidadania, precisa-se!Para que o relógio da História não volte aandar para trás.

MonteiroValente

Page 15: O Centro - n.º 5

DDEESSPPOORRTTOO 1155DE 7 a 20 DE JUNHO DE 2006

CAMPEONATO DO MUNDO DE GINÁSTICA ACROBÁTICA

FRANCISCOANDRADEAUTARCA

“Honra-me sobremaneira quea Freguesia de Santo Antóniodos Olivais receba esteCampeonato Mundial, nonovo ‘ex-libris’ que é o

Pavilhão Multidesportos. Coimbra precisa que este tipode manifestações desportivas se realizem mais amiúde emuito nos apraz que tenham lugar na área da nossa fre-guesia”.

ANA PAULADIRIGENTE DO SPORT

“É importante para a cidade,porque vai envolver muitagente. E vai, de alguma manei-ra, entusiasmar os ’pequenitos’que vão ver e incutir-lhes o’bichinho’ da ginástica.Finalmente, a nivel financeiro,

também é bom para a cidade, uma vez que vai receberpessoas de vários pontos do Mundo”.

CARLOS EN-CARNAÇÃOPRESIDENTE DA CMC

“Recebemos esta competiçãograças às infra-estruturas quetemos. Todos os campeonatosque conseguirmos recebervirão, até porque este já não é

o primeiro. Já temos tido vários certames do género, to-davia este Campeonato Mundial de Ginástica será omais significativo“.

O Pavilhão Multidesportos deCoimbra vai ser palco doCampeonato do Mundo deGinástica Acrobática. JorgeAbrantes, Vice-Presidente daComissão Organizadora, revelouao “Centro” alguns aspectos rela-cionados com a grande “máquina”que está por detrás do evento,mostrando-se convicto do êxito daprova e da afluência de público

António José Ferreira

A organização de um Campeonatodo Mundo exige naturalmente uma“máquina” muito bem montada…

É obviamente uma organização comple-xa, tutelada pela Federação Portuguesa deTrampolins e Desportos Acrobáticos e su-portada em Coimbra por um conjunto de25/30 pessoas, que têm as suas profissõesmas que de há um tempo para cá se têm de-dicado a organizar este campeonato. Hátodo um trabalho relacionado com aloja-mento, transportes, alimentação, pavilhão,programa técnico, etc. Neste momentotemos montada toda a estrutura organizati-va, todos os pormenores pensados, de modoa que a partir do dia 14 possamos assistir aum grande evento desportivo, de ginástica, anível internacional. E acima de tudo, a umgrande espectáculo, porque este Cam-peonato do Mundo vai ser sobretudo isso,mesmo para quem não aprecia muito a gi-nástica.

A cidade e a região corresponderamcom os apoios que um evento destagrandiosidade justifica?

Se me pergunta se os apoios oficiais e pú-blicos são os que eu esperava, eu digo que oapoio nacional, através do IDP, é um bomapoio, mas que os locais, através da CâmaraMunicipal, não são. Limitam-se à cedência dopavilhão e a um apoio reduzido para um even-to como este, embora significativo face ao queé habitual. Por outro lado, temos que perceberque se trata de um apoio que está dentro daspossibilidades do próprio Município. Mas nóssabíamos isso desde o início e nunca pensá-mos que fosse de outra forma.

O que espera em termos de público?

Espero casa cheia! Mas é uma das grandesincógnitas. Primeiro porque vamos ter umespectáculo de ginástica pago, tal comoacontece com os espectáculos de cinema, te-atro ou ballet. Portanto, também aqui a en-trada não é gratuita. E, ao contrário do quese faz noutras modalidades, não vamos terbilhetes baratos para encher a casa. Temosos bilhetes ao preço que achamos que o pró-prio espectáculo merece. Se tivermos cincopessoas, são as cinco pessoas que quiseramver o Campeonato do Mundo. Mas pensa-mos que vamos ter casa cheia, ou seja, cercade duas mil pessoas, na sessão de abertura,nas sessões nocturnas e nas finais. Nas ses-sões da manhã e da tarde já ficaremos con-tentes com meia casa. No total esperamosentre 30 a 35 mil pessoas a assistir a espectá-culos de ginástica, a pagar, o que é extraordi-nário e diz bem do valor do evento.

Em termos técnicos o que podemosesperar deste Campeonato do Mundo?E em relação aos ginastas portugueses?

Vai ser do melhor que se pode ver a nívelde ginástica. São os pretendentes a campe-ões do mundo que cá vão estar, oriundos deum conjunto de países fortíssimos na moda-lidade, como a Rússia, a Ucrânia e a Grã-Bretanha. A nível pontual, vamos ver, a dis-putar as medalhas, a China, os Estados

Unidos e a Bulgária. Em algumas especiali-dades vamos ter uma luta titânica. Em rela-ção aos portugueses, como é típico nas mo-dalidades gímnicas, penso que não há pers-pectivas de lutar por uma medalha. Maspode vir a acontecer, até porque já obtive-mos quartos e quintos lugares, portantomuito próximo do pódio. Mas, de umaforma mais sincera, penso que a entrada nasfinais será o grande objectivo dos portu-gueses. Espero que corra tudo bem aos gi-nastas portugueses e que algum possa con-seguir uma medalha.

JORGE ABRANTES ANTEVÊ ÊXITO

«Espero casa cheia»Mundial de Ginástica

Dia 11 - Começam a chegar as dele-gações

Dia 12 - Início dos treinos com horá-rios pré-definidos

Dia 13 - Prosseguem os treinos comhorários pré-definidos

Dia 14 - Cerimónia de Abertura (21horas)

Dia 15 - Início das competições (10horas)

Dia 16 - Prosseguem as competi-ções, a partir das 9 horas; Cerimónia deentrega de medalhas por equipas(21h45)

Dia 17 - Finais, a partir das 15 horas;Cerimónia de entrega de medalhas(16h55 e 21h05); Cerimónia de encerra-mento (21h25); Convívio final na “BeiraRio“ (22h30)

Dia 18 - Partida das delegações

Competição por Grupos de Idade

Dia 19 - Começam a chegar as dele-gações

Dia 20 - Início dos treinos com horá-rios pré-definidos

Dia 21 - Cerimónia de abertura(noite)

Dia 22 - Qualificações (todo o dia)Dia 23 - Qualificações e Finais (todo

o dia)Dia 24 - Finais e Cerimónia de En-

cerramento (todo o dia)Dia 25 - Partida das delegações

O Campeonato do Mundo de Ginás-tica Acrobática vai ter por palco oPavilhão Multidesportos de Coimbra,inaugurado em 26 de Abril de 2005.Trata-se de um espaço que apresenta trêsbancadas com capacidade para 2.300 es-pectadores e que delimitam uma área de50x30 metros, com 14 metros de altura.

O certame divide-se em duas partes: pri-meiro, de 14 a 17 de Junho, decorre o XXCampeonato do Mundo de Ginástica

Acrobática; depois, entre os dias 21 e 24,tem lugar a 4ª Competição Internacional deGinástica Por Grupos de Idade. Em provavão estar cerca de 800 ginastas de 28 países.

Os bilhetes variam entre 5 e 10 euros,consoante a fase das provas, mas têmdesconto se comprados por famílias ougrupos. Podem ser adquiridos na bilhetei-ra do Pavilhão, na FNAC e nas LojasViagens Abreu, ou por reserva através donúmero 707 234 234.

O Mundo em Coimbra

RESUMO DO PROGRAMA

Jorge Abrantes não tem dúvidas de que Coimbra vai assistir a um grande espectáculo de gi-nástica

Page 16: O Centro - n.º 5

1166 DDEESSPPOORRTTOO DE 7 a 20 DE JUNHO DE 2006

NA ALEMANHA PARA MELHORAR OU REPETIR 1966

Quartos são objectivo primárioPortugal entrará em campo, nopróximo dia 11 de Junho, com es-perança de fazer uma boa cam-panha, embalado pelo Euro 2004e pela tranquila fase de qualifi-cação que realizou. Depois de1966, a Selecção de todos nós nãovoltou a ter nenhuma participaçãode monta nos Campeonatos doMundo em que participou

Bruno Garrido

A Selecção Nacional somará, na Alema-nha, a sua quarta participação em Mundiais,depois de ter tido o seu expoente nestacompetição em 1966, com Eusébio e com-panhia a alcançarem o terceiro lugar, emInglaterra. Nos Campeonatos de 1986 e2002, Portugal não logrou ultrapassar aprimeira fase.

A invulgar tranquilidade com que Portu-gal garantiu a qualificação para o Cam-peonato do Mundo contrastou com as tradi-cionais contas de última hora a que os por-

tugueses se habituaram. De facto, a fase de a-puramento acabou por ser quase um passeiopara a turma das quinas, que se classificou noprimeiro lugar do grupo, com nove vitórias eapenas três empates, sem uma única derrotano pecúlio. Os dois golos sem resposta, noprimeiro jogo de apuramento face à Letónia,foram o início de uma série quase cem porcento vitoriosa. Seguiu-se a vitória em casa,por 4--0, ante a Estónia, antes daquele quefoi o resultado menos conseguido nesta fase:empate fora a 2 bolas, com a mo-destaSelecção do Liechtenstein. Quem “pagou”foi a Rússia, que saiu de Portugal vergada auma copiosa e humilhante derrota, por 7-1.O restante percurso, além de um periclitante2-1 ante o Liechtenstein, não registou sobres-saltos. Decorrente disso, é com inusitadatranquilidade que a Selecção de todos nóschega agora à Alemanha, sendo apontadapor muitos (crítica e adversários), como can-didata ao lugar mais alto do pódio.

No entanto, se recuarmos no tempo,constatamos que Portugal nunca foi um“habitué” nestas andanças, pois só por qua-tro vezes chegou a esta fase da competição.Em 1966, a Selecção Nacional ficou no

grupo do todo poderoso Brasil, juntamentecom Hungria e Bulgária, que na altura eramselecções com um poderio bastante maiorque o da actualidade. De forma inesperada,Eusébio levou a melhor sobre Pelé, tendoapontado os dois golos com que Portugaltriunfou. A extraordinária campanha, le-vada a cabo em terras de Sua Majestade,terminaria, somente, nas meias-finais com aselecção da casa a superar o conjunto luso,depois de uma “trapalhada” que envolveuuma troca do local da partida, à última hora.

Em 1986, foi a vez do México receber amaior competição de selecções. As lem-branças deste mundial, para os portugueses,são muito poucas, pois à parte da vitória napartida inaugural, face à Inglaterra, aSelecção contou por derrotas as restantespartidas que disputou. Polónia e Marrocosforam os algozes que confirmaram o afas-tamento de Portugal de prova, sem honranem glória.

O Mundial de 2002, na Coreia, trouxe oepisódio do soco que João Vieira Pinto deuao árbitro, no último jogo da primeira fase,frente à Selecção da casa. Depois da entra-

da desastrosa em prova, com Portugal aaverbar uma surpreendente derrota na par-tida com os Estados Unidos, por 3-2, osquatro golos sem resposta com quePortugal despachou a Polónia na segundajornada do grupo deixaram tudo em aberto.No último e decisivo jogo, a Coreia venceupela margem mínima e afastou a Selecçãolusa da prova, numa partida marcada porvárias incidências. Os cartões vermelhoscom que Beto e João Vieira Pinto (este, de-pois de ter sido expulso, resolveu presen-tear o árbitro da partida com um soco)foram admoestados retiraram ao conjuntonacional a possibilidade de seguir emfrente.

Na Alemanha espera-se que Portugal ul-trapasse a primeira fase, em virtude dosorteio ter sido algo favorável às cores na-cionais. Sabendo-se de antemão queAngola, Irão e México vão dar tudo portudo, Scolari aponta como meta mínima osquartos-de-final. A competição terá início a9 de Junho e decorrerá, em territórioalemão, até 9 de Julho, dia da final que terálugar em Berlim.

CAMPEONATO DO MUNDO DE FUTEBOL

CARMO REBE-LODIRIGENTE DA AAC

“Espero que a prestação daselecção de todos nós sejaigual ou melhor do que a doúltimo Euro. Espero que comhumildade, trabalho e espírito

de equipa consigam os objectivos que todos os portu-gueses desejam alcançar”.

LUÍS SANTARI-NOTREINADORDE BASQUETEBOL

“Desta Selecção espera-se aida à final e a vitória, porquemais que a Selecção Nacionalesta é a selecção de Scolari.

Logo, este terá que justificar as escolhas que fez. Emcaso de derrota, terá que sair“.

PEDRO BAS-TOSTREINADOR DA AAC

“O grupo é acessível, portan-to se houver união e humilda-de não haverá dificuldades emchegar à segunda fase. A par-tir daí é difícil porque a selec-

ção que calhar virá de um grupo fortíssimo. Se ultrapas-sarmos essa eliminatória, podemos chegar à final“.

Bruno [email protected]

O fantástico exemplo que Portugaldeu no Euro 2004, durante o qual oapoio à nossa Selecção foi incessante edemonstrado de várias maneiras, parecenão ter esmorecido, muito pelo contrário.A nação volta a estar unida em torno deuma selecção, de um sonho, de uma am-bição de chegar muito longe naAlemanha, ou seja, sair do Olímpico deBerlim, no dia 9 de Julho, com a coroa delouros. Uma ambição justificada pelo se-gundo lugar alcançado no pretéritoCampeonato da Europa, no qual, pormérito próprio, a Selecção mereciamais…

As bandeiras nas janelas humaniza-ram-se, tomaram uma dimensão digna doGuiness Book of Records, encarnada re-centemente por mais de 18 mil mulheres,em pleno relvado do Jamor. Movimentoscomo este traduzem a crença de umanação na capacidade dos 23 heróis deScolari trazerem a taça da Alemanha. Nãoserá uma exigência, antes uma esperançanuma boa campanha, em solo germânico,que todos esperam ter o seu epílogo dia9, em Berlim. Esperam-no os muitosemigrantes que apoiarão Portugal naAlemanha e espera-o também todo o paísque, mesmo à distância, não deixará demostrar que está ao lado da sua equipa.Afinal, sonhar não é crime e o céu está,apenas, à distância de sete partidas…

Nação unidaOPINIˆO

O optimismo da Selecçªo Portuguesa durante o treino no Luxembugo

Page 17: O Centro - n.º 5

O Pavilhão Augusto Correia engalanou-se para receber a VII Gala do Olivais.Contando com cerca de três centenas departicipantes, a edição deste ano voltou acorresponder às expectativas e deu mostracabal da vitalidade do clube, apesar das difi-culdades reconhecidas pelos dirigentes.Foram vários os homenageados da noite:Treinador de Competição - Cristina Viegas;Treinador de Formação - João Cortez Vaz;Dirigente do Ano - Carlos Ângelo; Seccio-nista do Ano - Carlos Gonçalves; Atleta deCompetição Feminino - Filipa Freitas; Atle-ta de Competição Masculino - João Rosado;Atleta de Formação Feminino - Maria JoãoAndrade; Atleta da Formação Masculino -

Moura Branco; Título Olivanense de Ouro -Carlos Gonçalves; Troféu PrestígioNacional - San Payo Araújo; Troféu Amigodo Clube - Nocamil, Chamagás, Automó-veis do Mondego, Horto Mondego, EscolaSecundária José Falcão, Diário As Beiras,Diário de Coimbra, Junta de Freguesia deSanto António dos Olivais e CâmaraMunicipal de Coimbra; Troféu Sócios deMérito - Alfredo Silva, António Figueiredoe Jaime Ribeiro; Troféu Dedicação -Mafalda Jesus, Joana Lobo, João Correia,José Figueiredo, Alberto Moreira, TiagoOliveira, Fabíola Gomes, Oriana Nogueira,André Nogueira, Paulo Cortesão e CarlosMartins

DDEESSPPOORRTTOO 1177DE 7 a 20 DE JUNHO DE 2006

CARLOSGONÇALVESDIRIGENTE DO OLIVAIS

“Desejo os melhores êxitos.Não peço o título, apenas quesuem a camisola e quePortugal saia dignificado. E

que sirva de estímulo para os emigrantes que vivem cadadia da selecção. Finalmente que a Selecção Nacionalsirva, para ‘acordar’ o país para o desporto em geral, quevai muito para além do futebol…”

JOSÉ LAPAPRESIDENTEDO CERNACHE

“Seria bom chegar às meias-fi-nais. Mais do que isso já seráum feito excepcional, poisestão em competição selecçõesmuito superiores à nossa, em

vários capítulos“.

ISABEL LEMOSDIRECTORA TÉCNICADA ABC

“Portugal pode ir até à finalou mesmo ser campeão doMundo. Há selecções commuito valor e a carreira danossa equipa dependerá de

muitos factores, no entanto temos capacidade para láchegar”.

LUÍS GONÇALVES É O COORDENADOR DA FORMAÇÃO DO OLIVAIS

ìO futuro passa por aquiîO treinador Luís Gonçalves assu-me novo desafio na sua carreira,ocupando agora o cargo deDirector Técnico do basquetebolde formação do Olivais FutebolClube. O novo coordenador jáestá a trabalhar e, em conversacom o “Centro”, deu conta dosprincipais objectivos que pretendeconcretizar

António José Ferreira

Que principais metas estabelece parao novo trabalho que vai realizar noOlivais?

Melhorar os níveis de trabalho, aumentaro número de atletas nas selecções e conse-guir ir o mais longe nos diversos campeo-natos em que iremos participar. Aumentaro número de crianças no Minibasquetebol,principalmente no feminino, que nos últi-mos anos tem vindo a diminuir de umaforma muito visível. Isto sem descurar aparte que considero de ouro, que é o apro-veitamento escolar.

O Olivais é um dos maiores clubesdo basquetebol português. De queforma pensa relacionar a quantidadecom a qualidade, tendo em conta os di-versos factores, nomeadamente espaçosde treino?

O Olivais é, há dois anos consecutivos, omaior clube português, em atletas e equipasinscritas na Federação Portuguesa deBasquetebol. O dia-a-dia é muito difícil,mas com o esforço de todos vamos alcan-çar melhores resultados. Irei tentar uma co-

ordenação de treinos, cooperando com ostreinadores de cada equipa, uniformizandoo sistema de aprendizagem e de jogo. Afalta de espaço é um assunto que aDirecção vai tentar resolver. A formaçãocontinua a dar os seus frutos e o futuro doOlivais passa por aqui.

No basquetebol conimbricense, deuma forma geral, há alguma falta deexigência no trabalho realizado. Nesteaspecto, o que pretende para o basque-tebol no Olivais?

Discordo que haja falta de exigência. Oque na realidade se passa é que se trabalhadiariamente com muitas dificuldades, comoanteriormente disse. Existe uma enormefalta de competição em Coimbra. Digo istoporque se vê a evolução que os atletas apre-sentam após a realização dos Nacionais eTorneios Inter-Associações, onde compe-tem com as equipas de Aveiro, do Porto eoutras regiões, que chegam a estas fasescom o dobro de jogos. Para isso vamos ten-tar estar sempre em competição, nem queseja organizando torneios. O basquetebolnacional está a precisar de se organizar me-lhor, está a precisar de ser discutido e de en-contrar soluções para esta fase menos visí-vel. Será que os escalões, no masculino e fe-minino, não serão de mais? O Olivais, háuns anos a esta parte que ocupa um lugarde destaque no basquetebol regional e naci-onal. Gostaria que as entidades máximasolhassem para o clube como ele merece!

Luís Gonçalves promete trabalho

JosØ Pina foi homenageado pelos colegasde equipa

VII GALA CONTOU COM CERCA DE 300 PARTICIPANTES

Olivais em festa

FALTA UMA VITÓRIAAO SAMPAENSE

Perto do triFalta uma vitória! O Sampaense es-

tá a um passo de se sagrar tricampeãoda Proliga. Nos dois primeiros jogosda final, disputados em S. Paio deGramaços, a turma de Jorge Dias levoua melhor sobre o Esgueira (88-76 e 76-65) e ficou muito perto de fazer opleno no palmarés da Proliga. No sába-do, às 18 horas, desta vez em Aveiro, asduas equipas voltam a medir forças po-dendo a contenda ficar resolvida emcaso de triunfo do conjunto sampaen-se. Se vencerem os esgueirenses, a dis-cussão prossegue no domingo, tam-bém às 18 horas no Pavilhão do Es-gueira, havendo ainda a possibilidadede um quinto jogo caso os dois conten-dores cheguem empatados ao fim doquarto jogo.

ORGANIZADO PELA ABC

Campo de treinoCom o principal objectivo de aper-

feiçoar as capacidades dos participan-tes, a Associação de Basquetebol deCoimbra (ABC) leva a efeito entre ospróximos dias 3 e 8 de Julho o 2ºCampo de Treino de Basquetebol, parajovens nascidos em 1990, 1991, 1992,1993 e 1994. Trata-se de uma iniciativaque tem por parceiros a CâmaraMunicipal de Coimbra e o DesportoEscolar.

Os treinadores têm igualmente algo aganhar, pois um dos objectivos docampo é o desenvolvimento do espíritocrítico na escolha e orientação dos exer-cícios e actividades do treino, visando amelhoria da capacidade de intervençãojunto dos atletas.

Em cada dia estará presente umagente desportivo diferente, que vempartilhar os seus conhecimentos e opi-niões com os participantes.

Além do basquetebol, a modalidade“forte” do evento, os participantesterão também contacto com as compo-nentes lúdica e social, através de activi-dades como piscina, capoeira, hip-hop,cinema, actividades náuticas, activida-des na natureza e actividades de anima-ção.

Para mais informações, contactar aAssociação de Basquetebol de Coimbraatravés da morada Urb. Quinta D. João,lote 2 E/P, 3000-014 Coimbra, ou doscontactos telefónicos 239 701297 (tele-fone fixo), 968124405/3 (telemóvel) ou239404770 (fax).

Page 18: O Centro - n.º 5

1188 DDEESSPPOORRTTOO DE 7 a 20 DE JUNHO DE 2006

VÍTORMANUELTREINADOR DE FUTEBOL

“O primeiro objectivo é o depassar a fase de grupos. A par-tir daí será uma questão desorte, pois vamos encontrarpela frente grandes selecções.

Passada a primeira fase ficam apenas as melhores dasmelhores. Se chegarmos aos quartos é óptimo, mas atéaos oitavos temos que ir”

FÁBIOPEREIRAJOGADOR DO UNIÃO

“Portugal tem boas hipótesesde ganhar o Mundial. Pelomenos tem equipa para chegarmuito longe. Terá que haver hu-mildade, para que tal aconteça“.

MAFALDANOGUEIRAGINASTA DO ACM

“É um bom meio para mostrarao mundo um pequeno paíscom orgulho na sua bandeira!Aqui se vê o peso do futebol.Entristece-me que este povo

apenas se una para apoiar os ‘quinas’ e ‘ignore’ tantos atle-tas que lutam pelo mesmo sonho e que muitas vezes, semqualquer apoio, seja ele financeiro ou meramente moral,acabam por alcançá-lo".

JORGE MANUEL MENDES ORGULHA-SE DA SUA ACÇÃO ENQUANTO AGENTE DESPORTIVO

«Estou orgulhoso do meu caminho»Jorge Manuel Mendes é um dosagentes de jogadores mais mediá-ticos do nosso país. É de Coimbra,cidade pela qual demonstra grandeafeição, bem patente ao longodesta entrevista. Sobre o futebol dacidade, lamenta que “a Académicanão seja tão grande como desejarí-amos” e adianta que “se fosse rico,o União era um clube que gostavade ajudar”

António José Ferreirae Bruno Garrido

Há quem veja os agentes de jogadorescomo os “mal amados” do futebol…

Há bons e maus empresários. Aceito ple-namente essa crítica, porque no fundo éuma constatação. Efectivamente há gentemenos boa, mas isso faz parte da sociedadee acontece em todos os sectores. É umapena que assim seja. Modéstia à parte, epermitam-me dizer isto, reconheço algummérito no meu trabalho porque quando setem um determinado comportamento,quando se é correcto e se procura fazer ascoisas de uma forma séria e honesta, quercom os jogadores, quer com os outros co-legas, quer com os dirigentes, dificilmentese tem problemas. Eu reconheço que tenhouma excelente imagem no mercado, porquesou uma pessoa competente e séria. Issotambém tem os seus custos, porque o fute-bol é um mundo à parte, mas o importanteé que sigamos o nosso caminho. E eu estouorgulhoso do meu, sobretudo pela formacomo as pessoas me olham e me fazemsentir bem.

Hoje os jogadores começam a terempresário ainda muito jovens…

Houve uma altura em que ninguém sepreocupava com os jovens. Agora é demasia-do e há “miúdos” com 14 e 15 anos que játêm empresário, o que eu acho um crime.Porque, nessas idades, o melhor empresário éo pai e a mãe. Eu recuso-me a ser empresá-rio de gente tão jovem. O mercado está tãoatacado que, qualquer dia, vai-se à maternida-de à procura de jogadores. Eu patrocinei amim próprio um caminho diferente, ou sejatenho cada vez menos jogadores mas traba-lho com muitos clubes perante os quais, nes-tes cerca de oito anos de actividade, fui crian-do uma boa imagem. Nunca fiz muitas trans-

ferências porque tenho uma actuação maistranquila, diversa, até porque continuei sem-pre a viver em Coimbra, que tem umaAcadémica que, afinal, não é tão grandecomo desejaríamos. Mas cada um vai no seupasso. Neste momento há empresários quetêm imensa gente a trabalhar, observadores,“olheiros”, etc. Eu continuo sozinho.

Quando tem um jogador pretendidopor vários clubes qual é o critério queutiliza? O melhor contrato?

Eu comecei pelos jovens, como já disse,e felizmente lancei muitos que acabarampor se solidificar, crescer e ter um desenvol-vimento normal. Nunca me preocupei coma transferência imediata, ou pelo dinheiro,ou porque me dava protagonismo, ou por-que tinha medo de perder o jogador no fu-turo próximo. O importante é termos anoção de que num determinado momentoestamos a conduzir bem o processo e aconseguir ser bons conselheiros dos joga-dores, porque no fundo é o que eles preci-sam, nomeadamente os mais novos. Elesquerem ter um bom carro, uma boa casa,vestir bem, ter uma grande aparelhagem,etc, e isso consegue-se com dinheiro. Mastudo tem o seu tempo e é preciso ter emconta que, por vezes, a carreira não começalogo aos 20 anos. Às vezes acaba…

Temos assistido à saída precoce dealguns jovens talentos para o futebol es-

trangeiro. No seu entender os agentesterão, portanto, alguma quota-parte deresponsabilidade nessa situação?

Têm seguramente. Muitas vezes ir para oestrangeiro é uma ilusão. Há imensos joga-dores que vão e logo regressam e outrosentretanto desaparecem. Dou o exemplodo Simão. O contrato que havia com oInter era nesta base: custava 14 milhões deeuros e ia ganhar 2 milhões de euros, maisdo que ganha agora. Eu e o Inter combiná-mos que o jogador ficaria mais um ano noSporting e havia uma série de factores queassim o aconselhavam de modo a que o jo-gador ganhasse estatuto e experiência:Portugal tinha estado no Campeonato daEuropa de Inglaterra, onde fez boa figura, eo Sporting foi campeão, o que já não acon-tecia há 18 anos. Portanto o Simão ia jogarum ano no Sporting campeão, ganhava oestatuto que até então ainda não tinha, poisera apenas internacional sub-21. E era im-portante ter ido para o estrangeiro já comesse estatuto e de forma que as pessoasolhassem para ele como um homem e umjogador ganhador e não como um“miúdo”. O estatuto é fundamental.Depois a classe do jogador faz o resto.Veja-se que o próprio Cristiano Ronaldo,que é grandíssimo, também teve momentoscomplicados em Inglaterra e teve quemudar muito. O mesmo se passou com o

Quaresma. E há muitos, com menos classe,que acabam por ficar pelo caminho.Portanto o empresário tem muita responsa-bilidade na boa ou má carreira de um joga-dor e o bom empresário não é o que ganhadinheiro no imediato, mas sim aquele queconsegue rentabilizar a carreira de um joga-dor durante vários anos.

Feito o contrato e colocado o joga-dor, o acompanhamento do agentemantém-se?

É a parte mais difícil. Porque tem a vercom o sucesso ou não. Se há sucesso, tudo setorna fácil porque os jogadores, naturalmen-te, querem melhorar os contratos. Existindoo inverso é complicado, porque por vezes osclubes pagaram muito e, por exemplo, que-rem emprestar o jogador ou rescindir. E nóstemos que acompanhar tudo isto. O verda-deiro agente é aquele que está presente nosbons e nos maus momentos.

Também trabalha com treinadores?Muitas vezes há treinadores que me

ligam, mesmo estrangeiros, e já tentei colo-car alguns nos grandes clubes portugueses.Mas não sou muito apologista de que ostreinadores tenham empresários. E se fossedirigente de um clube, não queria um treina-dor com empresário. Porque depois issoquase que “obriga” a que esse treinadormeta lá alguns jogadores desse empresário,que podem ser bons ou menos bons. Paraos treinadores devia haver uma bolsa detreinadores, que os dirigentes consultavampara tomarem as decisões. Eu tenho umaexcelente relação com os treinadores, masnão gosto de ser empresário deles poisgosto de ter alguma independência. Quandoofereço um jogador, não o impinjo ou im-ponho. Promovo-o, mostro-o. Esta é aminha forma de trabalhar. Ganho menos di-nheiro e faço menos negócios, mas quandoos faço estão mais ou menos garantidos.

Neste momento representa algum jo-gador estrangeiro?

Não. Sempre portugueses. Essa tambémé uma ideia que eu tenho, diferente em re-lação a outros. Não tenho nada contra osestrangeiros, antes pelo contrário. Eu co-mecei com os jovens, foram eles que me fi-zeram de certa forma, e eu fiz alguns. Anível de formação somos dos melhores doMundo, temos imensos jovens e eu conti-nuo a acreditar neles. Portanto há que apos-tar nesses jovens e não concordo que os es-trangeiros venham para cá só por virem. Oúnico jogador que fui buscar ao estrangeirofoi o Mantorras. Descobri-o com 16 anos e

Jorge Manuel Mendes

Page 19: O Centro - n.º 5

DDEESSPPOORRTTOO 1199DE 7 a 20 DE JUNHO DE 2006

CARLA COU-CEIROPRESIDENTE SECÇÃOGINÁSTICA AAC

“Vai ser um espectáculo fabu-loso, que reúne ginastas detopo de todo o Mundo. Émuito bom para a divulgação

da Ginástica Acrobática e da cidade de Coimbra aosolhos de todo o Mundo”.

FERNANDOALVESTREINADOR DO ACM

“A Ginástica Acrobática está aassumir um papel importanteno nosso país e a realizaçãodeste Mundial é extremamente

favorável para a divulgação da modalidade também nanossa cidade e para que os pais se entusiasmem etragam os filhos para praticar Ginástica”

PATRÍCIA A-MENDOEIRATREINADORA AAC

“A nossa expectativa é quetoda a cidade de Coimbracompareça nesta iniciativa.Vão cá estar os melhores gi-

nastas do Mundo e é uma boa oportunidade para assis-tir a espectáculos de grande nível nas vários sessões quevão decorrer no Pavilhão Multidesportos”.

caminho»PEQUENOS ATLETAS

Grupo fantásticoComo e quando entraste para o Remo? Um dia fui experimentar e gostei.Que importância ocupa o Remo no teu

dia-a-dia? É importante porque consigo esquecer

todos os problemas da vida.Fala um pouco sobre a tua equipa e

sobre o ambiente vivido em torno do Remoda Académica.

A AAC tem um grupo fantástico pois malentrei consegui logo adaptar-me, com a ajudade todos.

O Remo é uma modalidade muito exigente? É, porque exige muito de nós e também porque os nossos treina-

dores querem que façamos o nosso melhor.Consegues conciliar o remo com os estudos? Sim.Este ano foste campeão nacional com a tua equipa. Que sen-

sações viveram com esse momento? Foi absolutamente fantástico pois ainda não tinha nem um ano na

modalidade e já tinha conseguido alcançar grandes objectivos. Realçoa ajuda da minha equipa pois sem eles não tinha conseguido.

Qual a função do timoneiro? É o que “manda” nos outros? De certa maneira sim. O timoneiro é por assim dizer o homem do

leme e tem também como função manter o ritmo dos remadores e dobarco.

Vem aí o Mundial de Futebol. O que esperas da nossa selec-ção e como vais viver o campeonato?

Espero que a selecção consiga um bom lugar. Vou viver o Mundialcomo vivo o futebol, não muito eufórico mas contente quando a equi-pa ganha.

Mensagem que gostarias de deixar para os leitores do jornalCentro?

Ainda não conheço muito bem o jornal mas acho que é importan-te porque alerta de certa forma para o “mundo” no centro.

EQUIPA DA AAC VENCEU O CAMPEONATO NACIONAL

Inverno de campeões

Manuel Pita é o timoneiro da equipa júnior de Shell 8 ComTimoneiro da Associação Académica de Coimbra que esta épocavenceu o Campeonato Nacional de Inverno. Orientado pelo trei-nador Rui Coimbra, o grupo de campeões é composto pelos re-madores João Simões, João Catarro, Alexandre Almeida, MiguelAlfaiate, João Santos, André Ferreira, Hugo Gonçalves e DiogoTomé.

Manuel Pita14 anos

AAC - Remo9” ano

revelou-se um grande jogador, infelizmen-te vítima de lesões gravíssimas.

Tem algum jovem que esteja paraaparecer “em grande“?

Ao ponto de ser um Simão, ou umMantorras ou um Cristiano Ronaldo nãohá. E os poucos que há já têm representan-tes. Eu tenho um ou outro jovem, e vamosver o que vai acontecer. Mas como já disse,é uma área em que estou menos activo por-que existe alguma concorrência desleal. Jáaconteceu chegar para falar com um jovem,para fazermos um bom trabalho, comcalma, mas já ter havido gente que ofereceucoisas que eu recuso oferecer. Não entropor aí. Não dou carros, nem apartamentos,nem vídeos, nem plasmas…

E há jogadores e dirigentes que sedeixam ir por aí?

Se calhar há. Os jogadores têm muitíssi-ma culpa. Por exemplo, é costume as pesso-as atirarem-se aos empresários, mas não hánenhum empresário que assine um contrato.Quem o faz são os dirigentes. Ou seja, se oempresário é mau, o dirigente que é coni-vente é bem pior.

Mantém uma boa relação com os ou-tros dois empresários de Coimbra,Nuno Patrão e Nuno Rolo?

Há uma relação de amizade, desde o iní-cio. Aliás eu não os conhecia muito bem,mas eles quando começaram procuraram-me para lhes dar alguma ajuda, o que fizdentro do possível. Temos tentado algumasparcerias e feito algumas tentativas de ne-gócios em conjunto. Damo-nos bem,somos amigos, eles fazem o trabalho deles,eu faço o meu. Não há inimizade e nãosomos adversários. Somos concorrentes.

Que consequências pensa que pode-rá trazer o “Apito Dourado” ao futebolportuguês?

Ainda bem que os empresários de fute-bol não apareceram nesse processo, o queé coisa rara. É habitual serem acusados detudo e na maior parte das vezes não têmtanta culpa assim. O “Apito Dourado” nãotomou em Portugal as mesmas proporçõesque tomou noutros países, por exemplo emItália. O mais importante, porque muitagente se tem afastado do futebol, era levaristo até às últimas instâncias, até por umaquestão de credibilidade da própria justiça.Depois se forem só tres culpados, são sótres; se forem 150, são 150. Sobretudo eraimportante não arquivar, não perdoar.Senão qualquer dia temos todos passapor-te para fazer o que nos dá na gana.

Do oito ao oitentaPortugal e Angola estreiam-se no Mundial da Alemanha

à mesma hora e no mesmo local. Frente a frente vão estarPetit e Mantorras, ambos jogadores de Jorge Manuel Men-des. Que conselho lhes vai dar: “São muito amigos e respei-tam-se muito. Eles que se safem. No final darei os parabénsa ambos”.

Sobre a participação de Portugal lembra que a nossa selec-ção lembra “é boa, mas muitas vezes vamos do oito ao oiten-ta. O meu sentir é esse. E neste caso acho que ou vamos poraí fora e vamos ‘partir a louça toda’, ou então acontece-noscomo em Saltilho. Somos um pouco assim. Espero que a pri-meira seja a verdadeira e que a nossa selecção seja o expoen-te máximo do nosso país”

O outro estádioJorge Manuel Mendes recebeu o “Centro” no seu café, em

Coimbra. Trata-se de um espaço muito frequentado por des-portistas e que surgiu porque “adoro a minha cidade. Sou umapaixonado por Coimbra. Sempre que levo observadores deLisboa ao Porto, trago-os cá. Um dos motivos que me levoua criar este espaço foi precisamente a ideia de trazer aqui al-guns jogadores, o que tem acontecido frequentemente.Coimbra tem o clube mais eclético do Mundo, que é aAssociação Académica de Coimbra, com 23 modalidades, epensei que seria interessante haver um ponto de encontropara todos estes atletas”.

Nos jogos grandes, o bar de Jorge Manuel Mendes chegaa ter “mais de 300 entusiastas do futebol. O ambiente criado,como se estivessem em redor das quatro linhas“, levou a quechamem ao café “o outro estádio”.

Se fosse rico…A dada altura confrontámos Jorge Manuel Mendes

com a situação do União de Coimbra, que se debate comalguns problemas financeiros: “Se eu fosse rico, gostavade ajudar o União e de ser presidente do clube. A minhapaixão por Coimbra é enorme e o União é um clube dacidade, que tem adeptos e que representa muito. Fico atorcer pelo clube, para que consiga dar a volta à situação,e que as entidades oficiais façam o que devem e podem.Em Coimbra cabem perfeitamente dois clubes”.

PerfilJorge Manuel Mendes tem 44 anos e uma vida ligada ao futebol. O

gosto pela modalidade foi ganho muito novo, quando ingressou nascamadas jovens da Associação Académica de Coimbra. Foi jogador etreinador, em ambos os casos primeiro amador e depois profissional,pelo meio com uma experiência de “olheiro” do Sporting Clube dePortugal. Em 1998 assumiu novo desafio, abraçando a função deagente desportivo de jogadores de futebol: “Um dia, conhecedor domeu percurso enquanto jogador, treinador e ‘olheiro’, o Dr. HélderForte lançou-me o repto para ser agente de jogadores. A oportunida-de surgiu e cá ando até hoje na minha luta diária”.

Page 20: O Centro - n.º 5

2200 DDEESSPPOORRTTOO DE 7 a 20 DE JUNHO DE 2006

TIAGOALMEIDAJORNALISTA

“Se Portugal não passar a pri-meira fase é um fracasso.Temos as mesmas possibilida-des que outras seis ou sete se-

lecções e tudo vai depender muito dos adversários queencontrarmos“.

ANTÓNIOCARDOSOPRESIDENTEDO EIRENSE

“Portugal tem todas as condi-ções para passar a fase de gru-pos, apesar de todos os adver-

sários serem difíceis. Depois dependerá da sorte e dasequipas que defrontar. Espero que Portugal vença acompetição. ”.

ANDREIAMADEIRAASSESSORA DEIMPRENSA DA AAC/OAF

“O limite é sempre a vitória.Portugal tem individualidades,capacidade, qualidade e um

bom colectivo, além de uma das melhores claques desteMundial. Esta equipa já vem amadurecida do Euro 2004,uma vez que o seleccionador é o mesmo bem como amaioria dos jogadores“.

ANDRÉ ROQUE EXPLICA SUCESSO DO MIRO

Esforço e dedicaçãoA equipa de Futsal do Miro(Penacova) venceu o CampeonatoDistrital da 1ª Divisão e garantiu asubida à Divisão de Honra. Emconversa com o “Centro”, o joga-dor André Roque atribui grandeimportância a estes feitos e antevêboas perspectivas para os novosdesafios que se avizinham

António José Ferreira

Que balanço faz da época que está aterminar?

Embora tenha sido difícil, no meu pontode vista esta época foi extremamente posi-tiva, pois mesmo sendo humildes entrámosem todos jogos com uma enorme vontadede vencer, que veio a ser recompensadacom o título da 1ª Divisão Distrital.

A que principais factores se deveramos êxitos alcançados?

Na conquista deste título importa salien-tar o trabalho que a Direcção desenvolveu,com esforço e uma enorme dedicação emprol da equipa, e sobretudo a união dogrupo para a qual me faltam palavras paraqualificar. Não esquecendo também oapoio das gentes de Miro!

Que importância atribui ao título e àsubida de divisão para o Futsal emMiro?

Esta conquista é de grande importância,porque além de recompensar o bom traba-lho desenvolvido pela Direcção e pelos jo-gadores ao longo destes anos de Futsal,penso que demonstrou que o Miro não per-tence à 1ª Distrital.

O que espera da próxima época, emtermos colectivos e individuais?

A época que se avizinha assevera-se bas-tante trabalhosa e difícil, embora considereque a nossa equipa tem condições para fazerboa figura. A nível individual vou trabalharbastante para conseguir adaptar-me aoFutsal, e assim contribuir positivamente emprol da equipa.

MIRO REGRESSA À DIVISÃO DE HONRA

Época vitoriosa

O Miro chegou ao fim do “Distrital” com 21 vitórias, 4 empates e 3 derrotas. Os 67 pon-tos amealhados, mas dois em relação ao segundo classificado, o Centro Social dos Covões,foram suficientes para a equipa se sagrar campeã distrital e garantir o regresso à Divisão deHonra, que havia deixado na época passada. O grupo de novos campeões (na foto) é cons-tituído por Vítor Silva, Vasco Melo, Sérgio Mesquita, Álvaro Melo, Arménio Nogueira (Cap),Paulo Pina, Pedro Antunes, Marco Líbio, Thierry Oliveira, Ricardo Roque, AntónioNogueira, Marcelo, André Roque, Fábio e Rui (jogadores); Manuel Nogueira (treinador epresidente); António Nogueira(ex-presidente); Eduardo Pinto (delegado); Emília (massagis-ta). Para fazer face aos compromissos inerentes a uma época, a Direcção do clube contoucom vários apoios, dos quais destaca os facultados pelos restaurantes Napolitano e Quintada Nora.

André Roque destaca a união existente

no grupo de trabalho

ACADÉMICA/OAF RENOVATÍTULO DISTRITAL

Escolasdo futuroA Associação Académica de Coimbra/

/Organismo Autónomo de Futebol revalidou o

título distrital de Escolas. Os “estudantes”,

comandos por José Morgado, concluíram a

prova com 9 vitórias e apenas uma derrota,

no campo da Naval 1º de Maio. O primeiro

lugar foi consumado na penúltima jornada,

mas a festa prolongou-se até ao jogo der-

radeiro, que teve lugar no Campo da Granja

de Ançã e reuniu todos aqueles que, de uma

forma ou de outra, acompanharam o percurso

dos novos campeões

Page 21: O Centro - n.º 5

Os portugueses arriscam muito nos pró-ximos anos. O cenário de um empobreci-mento relativo é verosímil. Como é que sedeve conceber o desafio, no plano das rela-ções do trabalho? Creio que como umexame.

Já alguém imaginou um estudante a fazerbarulho, quando realiza o exame? Pelo con-trário, se for bom estudante, está concen-trado no que vai escrever ou no que lhe diza pessoa que o está a interrogar. Não sepreocupa com o que vai fazer a seguir oucom a classificação que vai ter. Isso ser-lhe-á dado por acréscimo. O que sobressai e odistingue são o seu trabalho e o seu méto-do, tão grande é a sua curiosidade parasaber mais sobre a vida e o mundo. A curi-osidade é a cereja saborosa no cimo dobolo, que desperta a atenção de quem passae lhe aspira o perfume. Mas é também ofruto silencioso de uma obra de glória, quefaz o seu caminho e, naturalmente, se há-deimpor pelo seu próprio mérito. Por causada curiosidade, o estudante torna-se maior,sensibilizando até o mais exigente e ásperodos professores, a ponto de, com profundoagrado de ambos, comerem à mesma mesa.

O trabalho é o que lhe dará o sustento e, nomeio da babel de vozes, a liberdade de dizero que pensa.

É bem elucidativo desta situação o quese passou na universidade portuguesa du-rante o Estado Novo. Enquanto o Go-verno, com um claro intuito vexatório, pro-curava demitir os seus opositores políticosdo exercício de funções académicas, nasuniversidades, algumas das vozes mais res-peitadas do regime, com todas as suas ener-gias, defendiam os discípulos que tinhamideias políticas diferentes das suas. A defesapassou sempre pela preservação, acima detudo, do lugar de trabalho das pessoas per-seguidas. É de registar a forma como tal foi,invariavelmente, feito: através da prestaçãode informações sobre a capacidade intelec-tual, o nível de cultura e as faculdades detrabalho dos visados. É que não há imagi-nação que se sobreponha à realidade deumas mãos carregadas de trabalho. Quem éo mestre que, conhecendo a capacidade detrabalho e a honestidade do discípulo, lhefecha as portas da sua amizade?

Numa época em que a luta por um em-prego chega a atingir o paroxismo de ofilho substituir o pai ou a mãe, contra avontade destes, destruindo a ordem das fa-mílias e do Estado, é um aspecto da maiorimportância quando uma pessoa não temque se preocupar com o que vai fazer nodia seguinte. Não só é o que lhe permiteviver plenamente o presente, estando dis-ponível para os outros, como é também oque lhe dá a liberdade para, na comunidade

política, sem prejuízo das diferenças de es-tatuto ou posição hierárquica, falar de igualpara igual com todas as outras pessoas. Estaé a situação para a qual remete a justiça dasrelações de trabalho, na qual o trabalhadorassume a dignidade de cidadão. Mas não sechega lá com a aprovação de códigos, comojá e viu com a rejeição da ConstituiçãoEuropeia, que englobava a Carta Europeiados Direitos Fundamentais.

Acima da política pura, é através do tra-balho que as pessoas se reconhecem umasàs outras. Daí até à aceitação da igualdadecomo um facto vai um pequeno mas deci-sivo passo. Só quem se sente igual é capazde falar de igual para igual, sem medo deerrar ou de escandalizar os outros comquem se relaciona. Só quem se sente igual écapaz de assumir os seus erros e as suas li-mitações e, sempre que necessário, os dosoutros. Mais ainda: só quem é igual podeser premiado pelo que efectivamente faz, enão pelo que os outros lhe emprestam.

Nos países onde, não no plano ideológi-co mas no plano ético, se valoriza o traba-lho como um espaço de encontro, osmuros invisíveis de separação têm menorexpressão e a capacidade de regeneração ede superação das crises é maior. Como con-sequência positiva, tende a não existir sepa-ração entre a sociedade política e a socieda-de civil. Esta é também a doença grave(porventura crónica, mas não necessaria-mente incurável) de que sofre Portugal.

Por onde passa o futuro? Quem passaráo exame?

OOPPIINNIIÃÃOO 2211DE 7 a 20 DE JUNHO DE 2006

JORGE MENDES IRMÃO & C.A, LDA

Atoalhados . Camisaria . Fardas . Malhas . Roupa Interior

FORNECEDORES DE: HOSPITAIS,CLÍNICAS, CÂMARAS,ESCOLAS, HOTÉIS, FORÇAS ARMADAS, INFANTÁRIOS,MUSEUS, ETC.

Praça do Comércio, 97 - 99 101 - 103 3000 - 116 CoimbraTelef. 239 824 284 Fax 239 841 709

Os nossos trabalhos

João [email protected]

PRAÇA DAREPÚBLICA

CarlosCarranca

Carta a Anto

Anto! anda ver o meu país de banquei-ros, o meu país de pederastas e políticos.

Ai o mar que é nosso!...Um lindo mar, eu sei.De empresários, desportistas radicais, de

jovens executivos e doutores.(Não, já não é dos pescadores!)É um mar de vender em pacotes aos tu-

ristas.Ai o mar que é nosso!...Um brando mar de agentes imobiliários

crescidos entre cifrões, a noite, pó-branco epatos-bravos.

Anto! Anda ver o meu país de banquei-ros, de bancários, de vendedores, vendidose gerentes.

Anto! Anda ver o meu pobre país dosdetergentes.

A astrologia científica

Dos muitos passatempos que cultivo,considero que um dos mais interessantes ésem dúvida a astrologia científica. Pelo usoperverso que lhe tem vindo a ser dado, mui-tos de vós interrogar-se-ão se a astrologiapoderá ou deverá ser considerada uma ciên-cia enquanto tal.

Com a intenção de esclarecer os leitores,aqui ficam algumas notas, fruto de uma in-vestigação iniciada em 1988, com o objecti-vo de clarificar o que é, como funciona equal o alcance da astrologia como ciência.

Podemos defini-la como a ciência que

estuda as posições relativas dos corpos ce-lestes e a sua influência no homem e nomundo que o rodeia.

A definição tradicional de ciência é oconjunto organizado de conhecimentoscom objecto e método próprios. Ora a as-trologia tem por objecto o estudo integraldo homem através das influências cósmicasque o cercam. É uma ciência do espírito,uma ciência positiva, já que estuda o ho-mem tal como ele é. O objecto é, pois, aHumanidade.

Baseia-se na observação das posições re-lativas dos corpos celestes e na influênciadestas no homem.

O método consiste na Observação –Análise estatística – Indução da lei.

Não se trata de uma ciência exacta nemexperimental, porque não há dois homensiguais. Tal como sucede na história, na socio-logia, na psicologia e no diagnóstico médico.

Importa salientar que actualmente exis-

tem várias espécies ou modalidades de as-trologia: Mundial, Psicológica, Sociológicaou Política, Geológica, Sinástrica ou dasCompatibilidades, Médica, etc.

É uma ciência tão antiga como o homem,e não é difícil entender porque assim é.

O horizonte do homem primitivo era océu e a terra. Desde muito cedo a sua sobre-vivência foi condicionada pelo Fogo do sol eo resultante dos relâmpagos das trovoadas,pelo Ar que observava quando ocorriamventos mais rigorosos e a própria respiraçãocomo sinal de vida, pela Agua indispensávelao seu sustento, marés de pesca e inunda-ções, e pela Terra de onde extraia a sua ali-mentação base: Animais, frutas, vegetais emais tarde os minerais que transformou emadornos, ferramentas e armas para caçar.

Para sobreviver às dificuldades naturais,teve que se empenhar na observação dos fe-nómenos naturais, até conseguir elaborarum calendário de onde constassem pelo

menos as seguintes noções: duração do diae da noite ao longo de um ano, conhecer asestações do ano, para, segundo o clima, es-colher o momento certo para pescar, caçar,semear, tratar, colher e guardar. Hoje temoso relógio e o calendário que mais não sãoque conhecimentos astrológicos desenvolvi-dos e vulgarizados. O homem primitivo nãodispunha destes meios e o caminho para láchegar não terá sido nem rápido nem fácil,como iremos verificar oportunamente.

Para traçarmos o perfil psicológico de al-guém é necessário conhecer, além do diamês e ano, o local de nascimento e a horaem que ocorreu o nascimento (com umerro máximo de dez minutos).

Com estes dados é levantada uma cartaastrológica, que mais não é que uma foto-grafia do céu no momento do nascimentopara a pessoa considerada.

Voltaremos ao assunto em próxima edi-ção.

JorgeCôrte-Real

Page 22: O Centro - n.º 5

Depois de já ter marcado presença naedição de 2004 do Rock In Rio Lisboa, fui, mais uma vez, a este prestigiado festival. Oatractivo principal eram, tal como na ediçãoanterior, os Guns N´Roses, apesar de hádois anos terem cancelado a sua actuaçãocom algum tempo de antecedência, tendosido muito bem substituídos pelos FooFighters do ex-Nirvana, Dave Grohl.

De facto os Guns N´Roses foram umdas grupos que fez parte da banda sonorada minha adolescência e, só por isso, já valiaa pena a deslocação à “cidade do rock” –Parque da Bela Vista, Chelas. Ainda melembro dos tempos em que as paredes domeu quarto e os meus cadernos eram forra-dos com imagens desta banda.

Sem editarem qualquer disco de originaisdesde 1991 - as duas partes de “Use YourIllusion” -, nos últimos anos, a banda deAxl Rose limitou-se a rentabilizar o suces-so alcançado até aí, tendo editado um disco

de “covers” de outros artistas, “The Spa-ghetti Incident” (1993), um disco ao vivo,“Live Era 1987-1993” (1999) e uma colec-tânea de “Greatest Hits” (2004). Mas aausência dos palcos e dos escaparates, nãoera obra do acaso, pois os Guns N´Roses a-travessavam uma crise de identidade, muitopor força das “birras” do vocalista AxlRose, que juntamente com o teclista DizzyRead, são os únicos sobreviventes da for-mação que elevou esta banda ao estatutoque ostenta actualmente. E, de há algunsanos para cá, que se fala com alguma in-sistência na saída de um novo trabalho deoriginais dos Guns N´Roses, intitulado“The Chinese Democracy”, cujo custo járonda os 13 milhões de dólares, que jáchegou a ter como produtor Moby, mas quenão há meio de chegar aos escaparates, po-dendo, muito bem, ser rotulado como odisco mais aguardado de sempre.

Por tudo isto, a ida ao concerto dos

“lendários” Guns N´Roses reunia em mimsentimentos ambivalentes, pois, tanto po-deria ser uma excelente recordação daminha adolescência, como uma grande de-silusão e desmistificar toda a admiração quetinha por esta banda. Mas quando entraramem palco entoando os primeiros acordes de“Welcome To The Jungle”, logo se per-cebeu que iria ser uma grande noite e“Sweet Child O´Mine” confirmou essamesma expectativa.

Foi um bom concerto, em que os temasmais antigos (“November Rain”, “Patien-

ce”, “Knockin´On Heaven´s Door”, “LiveAnd Let Die”, “You Could Be Mine” e“Paradise City”), aliados ao colorido con-ferido pelos inúmeros efeitos pirotécnicos,fizeram vibrar os cerca de 50.000 presentes,apesar dos solos de guitarra e os improvisosse terem tornado excessivos e terem criadoalguma inconsistência na actuação.

PARA SABER MAIS:

- http://rockinrio-lisboa.sapo.pt/- http://www.gnronline.com/

2222 MMÚÚSSIICCAA DE 7 a 20 DE JUNHO DE 2006

Distorções

José Miguel [email protected]

Guns N´Roses

A terra do dixie…Francisco Neves

O nome Dixie vem da cidade de NovaOrleães. Após a fundação, a cidade cresceurapidamente, tornando-se no maior centrocomercial e financeiro da região. Nessaépoca grande parte dos bancos emitia assuas próprias notas. Devido ao elevado nú-mero de colonos de origem francófona,eram impressas em francês e inglês e umadas mais comuns era a de dez dólares. Dezem francês é “dix” e assim estava impressoem grandes caracteres numa das faces. Apósa expansão para os territórios de Louisianaem 1803 e enquanto cada vez mais america-nos chegavam a essas terras, as notas come-çaram a ser conhecidas por dixies. E porqueuma nota só é válida se o banco a aceitar eos bancos mais fiáveis da época eram os deNova Orleães, as notas de dez dólares ou di-xies, tornaram-se as preferidas e toda essaregião passou a ser conhecida como a terrado dixie ou Dixieland.

O termo jazz começou a ser usado no finaldos anos 10 para descrever um tipo de músi-ca que surgia nessa época em Nova Orleães.

O jazz começou a fazer ondas emChicago por volta de 1915. Músicos e pro-motores provenientes da terra do dixie usa-ram o termo para evidenciar as suas origense a palavra Dixieland – graças a músicoscomo Louis Armstrong, Bix Beiderbecke,King Oliver, Jelly Roll Morton, etc... – per-manece até hoje no nosso espírito associa-da a esse novo e irresistiível género musical.

COIMBRA E CANTANHEDERECRIAM NOVA ORLEÃES

Entre os dias 8 e 11 de Junho próximos, oconcelho de Cantanhede receberá o IIIFestival Internacional de Dixieland. Orga-

nizado pelo Município de Cantanhede e pelaINOVA-EM, o festival realiza-se no ParqueExpo-Desportivo de S. Mateus e contarácom a participação de nove prestigiadas ban-das nacionais e internacionais de dixieland,designadamente: Tito Martino Jazz Band(Brasil), Lalo’s Dixielanders (Itália), The ScatCats (Holanda), Pixi Dixi Jazz Band (Espa-nha), The Sheiks of Europe (Dinamarca,Espanha, Itália, Inglaterra e Portugal), TheGood Time Jazz Band (Banda Internacional)e das bandas portuguesas Dixie Gang,Desbundixie e Dixie Gringos.

Mas antes, hoje mesmo (quarta-feira, dia7 de Junho) a noite no Parque Verde doMondego, em Coimbra, será marcada porum acontecimento único. Uma Jam Sessioncom o Dixie Gang acompanhado por diver-sos (20 a 30) músicos estrangeiros e nacio-nais, que vieram para o Festival de Can-tanhede. No interior do Quebra Club, nopasseio, ou na esplanada poderemos assistirà reconstituição do alegre ambiente tipico deNova Orleães onde era comum os músicosdesfilarem pelas ruas em pequenos combos,em cima de carros ou a pé. Quando duasformações por acaso se encontravam, haviaum “duelo de improvisos”, conferindoimensa originalidade ao som.

Este jazz surpreende na forma como é fa-miliar e simples, a melodia cantável, o ritmoque convida á dança, a harmonia frequente,previsível e o ambiente de leveza e despreo-cupação. Numa segunda análise, esta músicarevela-se rica, subtil e complexa nos arran-jos, nas variações de ritmo, nas progressõesharmónicas e na inspirada improvisação. Sóassim se compreende que esta música, toca-da desde o princípio do século XX, tenhalançado bases para uma linguagem musicalcom temas e sonoridades que ainda hoje nosmobilizam e emocionam.

Page 23: O Centro - n.º 5

A época balnear começou oficialmente a 1 de Junho e osite Infopraias apresenta toda a informação necessáriasobre as praias de Portugal. O Infopraias é um serviço es-pecializado na informação do tempo e da ondulação naspraias do nosso país, fornecendo também outros conteú-dos associados a esta temática. É o espaço ideal para plane-ar uma ida à praia ou escolher a praia com melhores condi-ções para praticar desportos náuticos.

Previsão do tempo e da ondulação, as condições diáriasnas praias (para surf, windsurf e para estar na praia), regrasde segurança, as praias com bandeira azul, power cams(possibilidade de ver em vídeo algumas praias) e classifica-dos (bens e serviços associados a desportos náuticos) sãoos tópicos dos serviços deste portal informativo sobrepraias.

Links relacionados:http://www.abae.pt/ - Associação da Bandeira Azul da

Europa (site português)

Infopraiasendereço: http://www.infopraias.com | categoria: lazer,

utilidades

O FIFAworldcup.com – site oficial do Mundial deFutebol Alemanha 2006 – vai permitir aos cibernautasacompanhar o campeonato em tempo real. Em nove lín-guas (a versão em língua portuguesa tem sotaque brasilei-ro), este site foi produzido em parceria com o Portal Yahooe vai acompanhar o Mundial 2006 ao segundo com notíciasde última hora, vídeos, entrevistas e resultados em temporeal.

O site apresenta vários menus e secções principais –cada uma delas apresentando notícias, resultados em temporeal, galerias de fotografias e vídeos dos arquivos da FIFA.No menu de topo é possível aceder a links com informa-ções detalhadas sobre o campeonato, vídeos de arquivo daFIFA (outros campeonatos do mundo, estádios, treinado-res e jogadores, jogos históricos), entretenimento (jogos in-teractivos, as mascotes oficias e downloads) e informaçõessobre a Alemanha. Nos vários menus encontram-se os ha-bituais links de informação sobre bilhetes, voluntariado, as

equipas, fotografias, o calendário, os fãs e uma loja online.O Mundial de Futebol 2006 começa já a 9 de Junho e vaiprolongar-se por um mês. Portugal estreia-se a 11 deJunho, frente a Angola.

Links relacionados:http://infordesporto.sapo.pt/PDF/ /Mundial2006.pdf

- calendário do Mundial 2006 do Sapo Infordesporto

FIFAworldcup.com endereço: http://fifaworldcup.yahoo.com |categoria:

futebol

Com o calendário escolar a avançar, o site ExamesNacionais e Acesso ao Ensino Superior é uma importantefonte de informação para os alunos do 12º ano de escola-ridade. Há ainda informação para os alunos que fazem exa-mes no Ensino Básico, no 9º ano de escolaridade.

O site tem informação variada sobre os exames como oarquivo de provas nacionais (desde 1997, data em que entra-ram em vigor), critérios de classificação e propostas de cor-recção; os conteúdos dos planos curriculares, objectivos,tipo de estrutura dos exames; material autorizado; calendá-rio; a correspondência entre as provas de ingresso e os exa-mes nacionais; a lista das disciplinas com exames nacionaise respectivos códigos; normas e documentos vários; tabelascom as médias das classificações das provas de exame naci-onal de 2002 a 2005. A página disponibiliza também infor-mação detalhada para os exames do Ensino Básico (examese provas modelo; informações detalhadas, calendário e nor-mas e documentos); acesso ao Ensino Superior (médias,candidaturas, pré-requisitos, vagas, colocações de 2003 a2005); apontamentos; um fórum; calendários para 2006; cal-culadores (documentos Excel que ajudam a simular as mé-dias para as candidaturas); e links vários.

Links relacionados:http://www.acessoensinosuperior.pt – Acesso ao

Ensino Superiorhttp://www.gave.pt/ – Gabinete de Avaliação

Educacional

Exames nacionais e acessoao Ensino Superior

endereço: http://www.exames.org |categoria: educação

O site Artesãos tem como objectivo dar a conhecer o ar-tesanato urbano de língua portuguesa. Lançado recente-mente, o projecto é pioneiro e permite o registo gratuito ea criação de uma loja online, com um endereço próprio e

uma ferramenta de gestão. O Artesão pretende ser uma co-munidade global de artesãos de língua portuguesa.Apresenta um directório de artesãos, com possibilidade depesquisa por país, categoria, produtos, preços e até cor.Diariamente há um destaque e actualizações nas feiras eeventos relacionados com a área. Estão também listadas asúltimas peças inseridas, bem como as mais populares. Osite conta já com cerca de 140 artesãos inscritos.

Artesãosendereço: http://www.artesaos.com | categoria: arte,

lazer

De Braga a Nova Iorque, a história de António Va-riações contada em disco. A colectânea apresenta temasinéditos do cantor português e o site permite saber maissobre o duplo álbum.

António Variações é um nome incontornável no pano-rama musical português e, 22 anos depois da sua morte, asua música continua viva. Depois de inúmeras homena-gens, este duplo álbum traz inéditos de Variações que esta-vam religiosamente guardados pela família. No site há umtexto de Nuno Galopim com uma resenha da vida do mú-sico, wallpapers e screensavers, e excertos das músicas quefiguram no duplo álbum.

António Variaçõesendereço: http://www.variacoes.com | categoria: música

A cidade dos brinquedos está na Internet. O site doNoddy (versão portuguesa) tem jogos e actividades paraos mais pequenos, a descrição dos personagens da sérieque moram no país dos brinquedos, um guia de aprendi-zagem para os pais e educadores, links para espectáculos emerchandising da marca, e a inscrição dos utilizadoresmais pequenos num cartão de pontuação que permiteacompanhar o seu progresso nos jogos e actividades dosite.

O pequeno Noddy é um boneco de Madeira que morano país dos brinquedos e faz as alegrias dos miúdos naRTP. A série é baseada nas clássicas personagens infantiscriadas pela escritora Enid Blyton e recorre à tecnologia,criando um envolvente cenário onde se desenrolam acçõesem torno de Noody e os seus amigos. A série foi já premi-ada com um Emmy.

Links relacionados:http://www.rtp.pt – RTP

Noddyendereço: http://www.noddy.com | categoria: infantil

IINNTTEERRNNEETT 2233DE 7 a 20 DE JUNHO DE 2006

IDEIAS DIGITAIS

Inês AmaralDocente do InstitutoSuperior Miguel Torga

INFO

PRA

IAS

FIFA

WO

RL

DC

UP.

CO

M

EX

AM

ES

NA

CIO

NA

IS

NO

DD

Y

AR

TESÃ

OS

AN

TÓN

IO V

AR

IAÇ

ÕES

Page 24: O Centro - n.º 5

1. Que fazer com a Dois:?

Depois do governo de Durão Barrosoter pegado no canal 2 da RTP e de o ter de-positado à porta, o canal alternativo da es-tação estatal parecia ter o destino traçado.Juridicamente, ao fim de uns tantos anos,seria entregue à sociedade civil, o que muitoprovavelmente significaria a sua venda aquem mais desse por ele. Entretanto, a di-recção de Manuel Falcão foi assinando pro-tocolos com dezenas de associações e asmais diversas organizações e instituições.

A intenção foi criar parcerias para cola-borações diversas, de forma a tornar ocanal mais próximo da designada “socieda-de civil”. Para que a programação não setornasse numa manta de retalhos, Falcãoteve pela frente um trabalho complicado,mas no final de 2005, a Dois: (como se pas-sou a chamar) tinha conseguido recuperar oshare médio de audiência para os 5 pontospercentuais. Aspirar a mais era difícil, tendoem conta a natureza do canal e do País.Uma programação infantil cuidada, toda elacom a preocupação de ser falada em portu-guês, embora quase totalmente produzidafora, serviu de grande âncora à 2:. A “soci-edade civil” passou a contribuir para o de-senvolvimento da totalidade de dois pro-gramas diários com uma hora cada, paraalém do Espaço Universidades, que marca-va presença também diária no final do ho-rário “late night”.

Para lá destes períodos da programação,a 2: manteve um magazine diário de infor-mação cultural que substituiu o conhecido

Acontece, de Carlos Pinto Coelho. Umconjunto de séries de “culto” garantiam anoite do canal. Outros programas, como aentrevista de fundo “Diga lá Excelência”,em colaboração com o jornal Público e aRádio Renascença, para além do Clube dosJornalistas, ajudaram a fixar audiências.

Ora acontece que no final de 2005,Manuel Falcão abandonou a 2:. Para o seulugar entrou um dos jornalistas fundadoresdo jornal “Público” – Jorge Wemans, que seencontrava na Fundação Gulbenkian. Ao

mesmo tempo, o governo alterou o regimejurídico de forma a que a 2: não pudessesair do universo da RTP. Na altura, o minis-tro Santos Silva reafirmou a intenção deprosseguir a relação da 2: com a “sociedadecivil”, afirmando mesmo que ela se apro-fundaria.

Passados apenas quatro meses, o que severifica ? Wemans compactou os dois pro-gramas da “sociedade civil” num só, trans-ferindo-o para o horário das donas-de-casa,isto é, imediatamente a seguir ao almoço.Passou também a controlá-lo editorialmen-te. Escondeu o Espaço Universidades numhorário absolutamente insultuoso, por voltadas duas da manhã, após a repetição deprogramas da série National Geographicque são transmitidos à tarde e que, pelosseus temas – caçadores de cobras, crocodi-los, ..., interessarão apenas a um punhadode telespectadores. Acabou com o Ma-gazine Cultural diário, substituindo-o porum semanal transmitido à sexta à noite.Levou o programa “Parlamento” para ahora da emissão infantil. Provocou a demis-são da produtora Teresa Sousa, responsávelpela ligação da RTP aos parceiros da 2:,facto não irrelevante já que esta profissionaltrabalhava há 22 anos para a estação públi-ca. Provocou ainda um boicote total dosgrupos parlamentares, de uma ponta a ou-tra do hemiciclo, que se recusaram a com-parecer na gravação do programa “Parla-mento”, depois de saberem da alteraçãohorária sem qualquer tipo de diálogo.

Por outro lado, semeou séries atrás de sé-ries, a maioria estrangeiras e de gosto e qua-lidade muito duvidosa. Tornou a programa-ção da 2: num mosaico mais ou menos caó-tico, onde nunca se sabe o que se pode en-contrar. Publica a programação, mas o horá-rio não corresponde às transmissões, o quenum canal público sem publicidade e quasesem directos, é inadmissível.

Ainda duas referências para o regressoda “Revolta dos pastéis de nata” e de PaulaMoura Pinheiro. Quanto aos “pastéis”, oprograma de entretenimento conduzidopelo antigo companheiro de blog de We-mans – Luís Filipe Borges – conseguiu sercontemplado numa área que teve de se de-frontar com um corte de 70% no orçamen-to, o que não deixa de ser admirável, aten-dendo ao facto do programa ser um perfei-to exemplo da infatilização que a sociedadeportuguesa enfrenta desde os anos 80. Oque distingue Borges é uma boina ao con-trário e uma mal contida tendência paraaquilo a que se pode chamar “soft brejeiri-ce”. Paula Moura Pinheiro, uma inegávelpresença marcante no écran, veio ocuparum cargo que não existia na 2:, o de sub-di-rectora. Talvez o cargo seja motivado porWemans ser homem dos jornais e Paula M.Pinheiro ter um percurso mais acentuadonos audiovisuais, o que é aceitável e prova-velmente necessário. Só não se compreendeo facto dos canais de televisão terem de serdirigidos por jornalistas. Existe uma direc-ção de informação onde são bem necessá-rios. É pena que em Portugal se continue aignorar a importância da figura do produ-tor, confundindo-a com a dos produtores-executivos.

Depois do que foi dito, a pergunta “oque fazer com a Dois?” tem todo o sentido.Será que Jorge Wemans está a “despachar”material comprado pelo anterior director?Terá já uma ideia concreta para a essênciado canal? Mas a Dois não tinha já um per-fil definido? A ligação à “sociedade civil”sempre vai ser reforçada, como afirmou o

ministro Santos Silva, ou passou a ser umaincomodidade? É necessário encontrar ra-pidamente respostas para estas questões. ADois é o único espaço na televisão portu-guesa que resiste, e tem obrigação disso, aotsunami da banalização da mediocridadeembrulhada a cores.

2. Agora é que vão ser elas(ou eles?)

Huxley sublinhou o poder cativador dossons que têm ligação com a emotividade.“Nenhum homem, por mais civilizado queseja, pode escutar durante muito tempo umtambor africano ou alguns cânticos indíge-nas, ... , e conservar intacta a sua personali-dade crítica e auto-consciente”. Contras-tando a força vital destas experiências coma racionalidade dos mais eminentes filóso-fos, diz ainda: “Se os cânticos ou o ruídodos tam-tans durasse o suficiente, todos osfilósofos acabariam a saltar e a uivar comoselvagens”.

Com o Campeonato do Mundo de Fute-bol a começar, todos os treinadores de ban-cada e outros (alguns mesmo treinadores debanco), já saltam e uivam. Numa fase inici-al muito timidamente, mas lá se chegará aomomento do descontrolo.

As televisões iniciaram já as suas progra-mações especiais. Improváveis e esquecidoshomens do futebol, como o Prof. Neca, re-gressaram aos écrans para traçar previsões,lançar críticas, mas principalmente para ohabitual jogo que lhes é querido : o toca efoge.

Ciclicamente, Pelé tenta regressar aos es-tádios disfarçado de outro jogador. Eusébiotambém. Umas vezes dá-se por ele, outrasnem tanto. A televisão suspira por estes fe-nómenos. Há uma inquietação óbvia queantecede não o pénalti, mas a estreia.

Falta pouco para que de manhã à noite,mesmo nos canais generalistas, o futebol seinfiltre de uma forma gradual que se espa-lhará ou não, na medida exacta dos resulta-dos da nossa selecção.

Quando a bola começar a saltar, os estádi-os a gritar, as redes a abanar, a televisão por-tuguesa precisará das imagens para se alimen-tar. Mas em que medida a imagem é energia?Que papel desempenha no diálogo entreequilíbrio e tensão? Em alguns casos pertur-ba o equilíbrio, já que gera necessidades, de-sejos ou receios. Noutros, é simplesmente oespelho onde o espectador vê reflectidos eactivados os seus desejos e receios.

A imagem é sempre, ao mesmo tempo,energia orientada, canalizada numa direc-

ção previamente estabelecida. Tanto quan-do a liberta ou quando a reflecte, canaliza-a.Assim sendo, socializa. E é aqui que o es-

pectáculo do futebol é o perfeito enquadra-mento para a imagem televisiva.

As lojas chinesas já encomendaram asbandeiras. Em algumas janelas elas já volta-ram, depois de substituídas as esfarrapadasde 2004. As televisões criaram hinos à se-lecção. Todos diferentes, todos iguais. Peri-gosamente optimistas. Irrealistas. “Portugalé campeão!”. A emoção está pronta. Os te-lespectadores serão (ou não) atingidos. Osdirectores e as administrações esperam quesim. Os anunciantes já têm as estratégiasdefinidas. Todos imploram ao deus da bola,para que Portugal vá o mais longe possível.A cada vitória, correspondem muitos eurosnos negócios paralelos. Os fantasmas daCoreia estão no quarto ao lado. O portu-guês médio ainda não está conquistado.Pelo contrário. A televisão mostra-lhe umaselecção imprevisível, com um treinadorprevisível. E, no entanto, os emigrantesportugueses na Alemanha não ficaram a vertelevisão. Finalmente, o que viram há doisanos (pela televisão, claro), está-lhes à portade casa.

A todos, lá e cá, a televisão não permi-te a sabedoria popular do “longe da vista,longe do coração”. Impõe-nos uma rela-ção que pode ser duradoura ou fugaz e de-cepcionante.

2244 TTEELLEEVVIISSÃÃOO DE 7 a 20 DE JUNHO DE 2006

PÚBLICA FRACÇÃO

Francisco AmaralDocente da ESEC