o centro - n.º 23 – 21.03.2007

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DIRECTOR JORGE CASTILHO | Taxa Paga | Devesas – 4400 V. N. Gaia | Autorizado a circular em invólucro de plástico fechado (DE53742006MPC) ANO I N.º 23 (II série) De 21 de Março a 3 de Abril de 2007 1 euro (iva incluído) Ofereça uma assinatura do “Centro” e ganhe uma obra de arte PÁG. 3 UMA PRENDA ORIGINAL Universidade de Coimbra e Conimbriga em foco Quando ser amador é mesmo amar a Arte AS 7 MARAVILHAS DIA DO TEATRO Exposição Colectiva de Pintura A. Mamede, Marina Ribeiro e Ânia Sinara Coimbra à tona da água Amanhã, Dia Mundial da Água, é inaugurado em Coimbra um Museu que lhe é dedicado. Fica no Parque Dr. Manuel Braga, entra pelo Rio Mondego e promete um vasto e diversificado programa de cultura e lazer, que certamente vai assumir-se como mais um elemento de atracção para os habitantes e para os turistas. PÁG. 10 e 11 PÁG. 14 e 15 PÁG. 7

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Versão integral da edição n.º 23 do quinzenário “O Centro”, que se publica em Coimbra. Director: Jorge Castilho. 21.03.2007. Visite outros sítios de Dinis Manuel Alves em www.mediatico.com.pt , www.slideshare.net/dmpa, www.youtube.com/mediapolisxxi, www.youtube.com/fotographarte, www.youtube.com/tiremmedestefilme, www.youtube.com/discover747 , http://www.youtube.com/camarafixa, , http://videos.sapo.pt/lapisazul/playview/2 e em www.mogulus.com/otalcanal Ainda: http://www.mediatico.com.pt/diasdecoimbra/ , http://www.mediatico.com.pt/redor/ , http://www.mediatico.com.pt/fe/ , http://www.mediatico.com.pt/fitas/ , http://www.mediatico.com.pt/redor2/, http://www.mediatico.com.pt/foto/yr2.htm , http://www.mediatico.com.pt/manchete/index.htm , http://www.mediatico.com.pt/foto/index.htm , http://www.mediatico.com.pt/luanda/ , http://www.biblioteca2.fcpages.com/nimas/intro.html

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Page 1: O Centro - n.º 23 – 21.03.2007

DIRECTOR JORGE CASTILHO

| Taxa Paga | Devesas – 4400 V. N. Gaia |

Autorizado a circular em invólucro

de plástico fechado (DE53742006MPC)

ANO I N.º 23 (II série) De 21 de Março a 3 de Abril de 2007 �� 1 euro (iva incluído)

Ofereçauma assinaturado “Centro”e ganhe umaobra de arte

PÁG. 3

UMA PRENDA ORIGINAL

Universidadede CoimbraeConimbrigaem foco

Quandoser amadoré mesmoamara Arte

AS 7 MARAVILHAS DIA DO TEATRO

Exposição Colectiva de PinturaA. Mamede, Marina Ribeiro e Ânia Sinara

Coimbra à tona da águaAmanhã, Dia Mundial da Água, é inaugurado em Coimbra um Museu que lhe é dedicado. Fica no Parque Dr. Manuel Braga, entra pelo Rio Mondego e promete um vasto ediversificado programa de cultura e lazer, que certamente vai assumir-se como mais um elemento de atracção para os habitantes e para os turistas. PÁG. 10 e 11

PÁG. 14 e 15 PÁG. 7

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10 DE 21 DE MARÇO A 3 DE ABRIL DE 2007REPORTAGEM

Celebra-se amanhã, 22 de Março, oDia Mundial da Água. E em Coimbranão haveria forma mais feliz de assina-lar esta data do que aquela que vai con-cretizar-se: a inauguração do Museu daÁgua.

Trata-se do segundo museu do Paíscom esta temática. Mas o de Coimbratem diversas características originais.Em primeiro lugar está situado no edifí-cio da antiga estação elevatória de água,a primeira que funcionou no País. NoParque Dr. Manuel Braga, na margem

direita do Mondego e por ele entrando,através das obras de ampliação que cri-aram uma plataforma sobre o rio.

Verdadeiramente, esta nova estrutu-ra pouco tem a ver com os tradicionaismuseus, antes podendo considerar-secomo um centro de cultura, de lazer e

de informação sobre os mais variadosaspectos relacionados com a água-“É um espaço natural para a em-

presa municipal Águas de Coimbra co-municar com a cidade” – como nosrefere o Presidente desta empresa,Paulo Canha.

A ASSINALAR O DIA MUNDIAL DA ÁGUA

Coimbra inaugura “Museu da Água” O PROJECTO CULTURAL

Sobre o programa cultural, Paulo Ca-nha não quis adiantar muito, deixando assurpresas para a cerimónia inauguralmarcada para amanhã.

Mas Nina Figueiredo, assessora daempresa, afirmou:

“A empresa Águas de Coimbra pre-tende criar uma estrutura viva, que este-ja em permanente diálogo com a comu-nidade, porque é essa a missão de qual-

quer museu do século XXI. Há muito queos museus deixaram de ser lugares pro-tectores de peças valiosas em que ape-nas de entrava para contemplar. Nosnossos dias, os Museus são obrigatoria-mente espaços abertos, dinâmicos, cria-tivos, que a cada visita ensinam e enri-

quecem gente de todas as idades.O programa de actividades deste novo

Museu da Água está já definido e agen-dado até ao final do ano de 2007. A Águaé o elemento inspirador e ponto de parti-da para todas as actividades que ali vãodecorrer. Mas, essencialmente, existe um

conceito de educação ambiental e deentretenimento que atravessa toda a pro-

gramação”.E acrescentou:“As exposições temporárias prometem

trazer ao Museu as mais diversas for-mas de arte – do rasgo das instalações

artísticas à fotografia, à pintura e à es-cultura –, de autores de Coimbra, do paíse de além-fronteiras. Ao mesmo tempo,as acções pedagógicas e lúdicas, a mú-sica e o carácter experimental de algu-mas actividades tornarão a programaçãodeste museu mais atractiva para o gran-de público”.

Anunciou ainda que amanhã o Museuda Água de Coimbra irá já disponibilizarum desdobrável com todo o programa atéDezembro de 2007.

O PÚBLICO ESCOLAR

Outra das preocupações de PauloCanha é que aquele espaço seja tambémum instrumento de pedagogia, essenci-almente voltado para as escolas:

“A educação e sensibilização am-

biental são, naturalmente, parte es-sencial da missão da empresa Águas

de Coimbra. Nesse sentido, a comu-nidade escolar assume-se como pú-blico privilegiado da sua estratégia decomunicação e cidadania. O Museuda Água está a preparar-se para re-

ceber a visita das muitas escolas doconcelho de Coimbra e lhes proporci-onar uma experiência enriquecedora.As visitas serão acompanhadas, ex-plicadas e seguidas de um atelier/ofi-cina de trabalho, em que as criançaspoderão desenvolver actividades queajudem a consolidar o que aprende-ram”.

Segundo Nina Figueiredo, foi já en-viado convite a todas as escolas parase inscreverem nas visitas, a partir de22 de Março, e receberam de imedia-to inscrições de algumas escolas.

A PRESERVAÇÃODO PATRIMÓNIO INDUSTRIAL

O segundo Museu da Água do país

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11DE 21 DE MARÇO A 3 DE ABRIL DE 2007 REPORTAGEM

que é espaço de cultura e lazer

nasce da recuperação de uma EstaçãoElevatória, localizada no histórico Par-que da cidade, levada a efeito pela Soci-edade CoimbraPolis. Datada de 1922, aestrutura que até aqui era vulgarmenteconhecida como a “casinha do Parque”ou “casa do rio” – sem que a maioriadas pessoas soubesse a função a que sehavia destinado aquele espaço –, desem-penhou um papel crucial na história doabastecimento de água a Coimbra.

A respeito da história do abastecimen-to de água a Coimbra, de que este edifí-cio foi elemento central, será publicadoem breve, com o apoio do Museu daÁgua de Coimbra, um livro da autoria deJosé Amado Mendes, (professor da Fa-culdade de Letras de Coimbra) que mui-

to se tem dedicado à investigação dopatrimónio industrial.

CORETO RECUPERA VIDA

Numa perspectiva de valorização doespaço público em que se insere esteMuseu, a empresa Águas de Coimbradecidiu avançar para o restauro do míticoCoreto do Parque Dr. Manuel Braga. Tra-ta-se de um dos mais belos Coretos dopaís, que se encontrava em avançado es-tado de degradação e abandono, e queagora entra numa nova fase de utilização.

Será palco de muitos concertos que oMuseu da Água de Coimbra irá ofere-cer à cidade, a partir da parceria já for-malizada com a Orquestra Clássica do

Centro.A recuperação deste pequeno monu-

mento respeitou a estrutura original, deque existe muito pouca documentação.Sabe-se, porém, que o Parque Dr. Ma-nuel Braga não foi a primeira localiza-ção do coreto, que originalmente foi ins-talada junto ao Hotel Astória.

Depois de uma longa viagem nos tem-pos, que alternou momentos de grande

festividade com outros de maior aban-dono, o Coreto inicia finalmente umafase de ocupação que promete contri-buir para a dinamização do centro dacidade.

Enfim, Coimbra está de parabéns comesta nova estrutura, que enriquece nãosó o património da cidade, como o daRegião e do País.

Paulo Canha (aqui sobre a plataforma que liga o Museu ao Mondego)espera que o Museu da Água tenha intensa actividade

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12 DE 21 DE MARÇO A 3 DE ABRIL DE 2007PUBLICIDADE

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13DE 21 DE MARÇO A 3 DE ABRIL DE 2007 PUBLICIDADE

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14 DE 21 DE MARÇO A 3 DE ABRIL DE 2007REPORTAGEM

“ROAD SHOW” DAS “7 MARAVILHAS DE PORTUGAL” CHEGA À REGIÃO CENTRO

Coimbra e Conimbriga no A Universidade de Coimbra e as Ru-

ínas Romanas de Conimbriga vão estarno centro das atenções, nos próximosdias, no que respeita à escolha das “7Maravilhas de Portugal”.

Como se sabe, no âmbito desta inicia-tiva foram eleitos, por votação, 21 locaiscandidatos a ostentar esse título a nívelnacional.

A organização põs em marcha um“road show”, com um camiãoa visitartodos esses 21 locais eleitos.

O camião do “Tour Nacional das 7Maravilhas de Portugal” está a percor-

rer o país apresentando uma exposiçãoitinerante não só sobre os 21 finalistasnacionais, mas também sobre os 21 fi-nalistas mundiais.

Um dia diferente e de festa junto acada um dos 21 monumentos nacio-nais finalistas, onde todos terão aoportunidade de os conhecer melhore, ainda, de conhecer os finalistasmundiais.

Em cada monumento será realizada acerimónia de entrega do Certificado deFinalista ao representante local. E juntoa cada um ficarão quiosques multimédia

com informação sobre os 21 finalistas eonde todas as pessoas poderão votar nosseus favoritos.

É ainda uma excelente oportunidadepara ver o balão de ar quente das “7 Ma-ravilhas de Portugal” que acompanhaesta “Volta a Portugal”

Ou seja, diversos atractivos para umavisita aos locais em apreço, que será cer-tamente uma jornada de cultura e de di-versão.

Esta “Volta às Maravilhas de Portu-gal” começou em Lisboa, no passadomês de Janeiro, estando a chegar agora

à Região CentroAssim, estará na Universidade de

Coimbra nos dias 24 e 25 de Março (ospróximos sábado e domingo) e nas Ruí-nas Roamanas de Conimbriga nos dias31 de Março e 1 de Abril.

Noutro local publicamos uma sínte-se sobre estes dois locais da Regiaõ Cen-tro candidatos a vir a ser uma das“7 Maravilhas de Portugal”. Mas omelhor será ir mesmo visitar os re-feridos locais, aproveitando os mo-mentos festivos que esta iniciativaestá a proporcionar.

UNIVERSIDADE DE COIMBRA

A Universidade de Coimbra (tambémconhecida por Paço das Escolas) situa--se na parte alta de Coimbra, na zona daantiga alcáçova, dominando a cidade. OsPaços da Universidade de Coimbra, quecomeçaram a ser construídos no séculoXIII, albergam hoje a Reitoria e algunsserviços académicos, a Faculdade de Di-reito, a Biblioteca Joanina da Univer-sidade e uma Capela com notáveis pe-ças de Arte Sacra. Trata-se de umaarquitectura civil residencial, educati-va e científica, onde predominam osestilos Gótico, Manuelino, Renascen-tista, Maneirista, Barroco, Pombalinoe Neoclássico.

A Universidade de Coimbra é umadas mais antigas da Europa. Fundada emLisboa em 1290, foi transferida definiti-

vamente para Coimbra no século XVI,instalando-se no Paço Real. O edifícioapenas passou a pertencer à Universi-dade em 1597, data em que esta institui-ção o adquiriu durante o domínio filipino,ao Monarca Filipe II, I de Portugal.

Dentro do complexo, destaque paraa Biblioteca Joanina, construída em1717, no reinado de D. João V. Temum portal nobre de estilo Barroco, en-cimado por um escudo nacional. O in-terior é formado por três salas comu-nicantes por arcos de estrutura idênti-ca à do portal. As paredes são cober-tas de estantes de dois andares, emmadeiras exóticas, douradas e policro-madas, executadas pelo pintor régioManuel da Silva. Sublinhe-se ainda aCapela de São Miguel, com a fachada

de estilo Manuelino, mandada construirentre 1517 e 1522, com remodelaçõesnos séculos XVII e XVIII. Tem portalprincipal manuelino, da autoria de Mar-cos Pires e Diogo de Castilho, porta deacesso Neoclássica, de 1780, retábuloprincipal de talha dourada onde se des-tacam pinturas maneiristas sobre a vidade Cristo atribuídas a Simão Rodriguese Domingos Vieira Serrão: obra-prima doManeirismo português. A Sala dos Ca-pelos, antiga sala do trono, é, hoje emdia, palco da mais importantes cerimóni-as académicas. Data de meados do sé-culo XVII, da autoria do mestre AntónioTavares. Tem tecto de madeira com pin-tura de grotescos da autoria de Jacintoda Costa, azulejos tipo “tapete” de fabri-co lisboeta e telas régias da autoria de

Carlos Falch, João Baptista Ribeiro eColumbano.

Destaque-se ainda para a torre (ex-libris da cidade), em estilo Barroco ma-frense, da Escola do arquitecto Ludo-vice, erigida em 1728-1733. A Via La-tina é uma colunata neoclássica, edifi-cada no século XVIII, no centro daqual existe um conjunto escultóricoexecutado por Laprade em 1700, aoqual se juntou o busto de D. José I eduas figuras alegóricas.

Referência merece também a PortaFérrea, entrada nobre do edifício princi-pal da Universidade. Data de 1634, emestilo maneirista de corrente popular, oque a partir de 1570 é típico da arte deCoimbra.

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15DE 21 DE MARÇO A 3 DE ABRIL DE 2007 REPORTAGEM

Enquadrada numa zona rural e assen-

te num planalto em forma de esporão, a

zona posta a descoberto desde finais do

século XIX, vulgarmente designada por

“Ruínas Romanas de Conímbriga”, pos-

sui, com a cinta muralhada, cerca de 1500

m de extensão. Contudo, quando foi con-

quistada em 136 a. C. durante as cam-

panhas dirigidas por Decimo Junio Bru-

to, há muito que esta zona era alvo de

ocupação humana, que remontaria, pelo

menos, até ao Bronze Final. Chegaria a

ocupar um lugar central em pleno perío-

do orientalizante do Baixo Mondego,

constituindo um dos principais oppida do

centro do país ao longo de toda a Idade

do Ferro.

Firmada a conquista romana, a cida-

de beneficiou de um notório renovamen-

to urbanístico de cariz vitruviano no tem-

po de Augusto, que desenvolver-se-ia

sensivelmente até finais do século I d.

C. Datarão, precisamente, desta época

centro das atenções

Castelo de AlmourolCastelo de GuimarãesCastelo de MarvãoCastelo de ÓbidosConvento de Cristo TomarConvento e Basílica de Mafra

Fortaleza de SagresFortificações de MonsarazIgreja de São Francisco PortoIgreja e Torre dos ClérigosMosteiro da BatalhaMosteiro de Alcobaça

Os 21 FinalistasSÃO OS SEGUINTES OS 21 FINALISTAS PARA AS “7 MARAVILHAS DE PORTUGAL”:

Mosteiro dos JerónimosPaço Ducal de Vila ViçosaUniversidade de CoimbraPalácio de MateusPalácio Nacional da PenaPalácio Nacional de Queluz

Ruínas de ConímbrigaTemplo Romano de ÉvoraTorre de Belém

Informações mais detalhadas po-

dem ser obtidas em

http://www.7maravilhas.sapo.pt

RUÍNAS DE CONÍMBRIGA

estruturas tão importantes quanto carac-

terísticas da vivência do quotidiano cita-

dino romano, como as termas públicas, o

anfiteatro e o forum, posteriormente

ampliado com a edificação de uma basí-

lica de três naves no período Júlio-Clau-

diano.

Foi, no entanto, durante as épocas

antoniniana e severiana que se desenro-

lou toda uma renovação da denominada

“arquitectura doméstica”, notabilizada,

entre outros elementos, pela presença de

insulae e de luxuosas domus com peris-

tilum, das quais as mais impressionantes

seriam, certamente, as casas dos Repu-

xos e de Cantaber. Todas estas edifica-

ções sobressaiam pela riqueza e profu-

são dos elementos decorativos perfeitos

de abundantes pinturas murais, mosaicos

e escultura.

Com o tempo, a evolução política do

próprio Império Romano e as pretensões

manifestadas por alguns povos indígenas

e recém chegados, houve a necessidade

de dotar a urbe de uma faustosa mura-

lha no século III d. C., que lhe reduziu

consideravelmente o perímetro. Porém,

a cidade sofreria diversas incursões su-

évicas ao longo do século V, cuja ocupa-

ção parece estar registada pelos indícios

de uma basílica paleocristã, para a qual

ter-se-á adaptado uma antiga domus.

Finalmente, por volta do século IX, a

cidade acabaria por ser totalmente aban-

donada.

Como o “Centro” noticiou em desen-

volvida reportagem publicada em anteri-

or edição, as Ruínas Romanas de Co-

nimbriga foram alvo de uma profunda

intervenção, de tal modo que duplicou a

área aberta ao público e foram recupe-

rados alguns locais de enorme importân-

cia para se conhecer como era Conim-

briga quando habitada.

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16 DE 21 DE MARÇO A 3 DE ABRIL DE 2007DESPORTO

Iniciou-se no passado dia 6 o XI Tor-neio de Futsal Feminino dos Tribunais,em que participam seis equipas: Estabe-lecimento Prisional, Faculdade de Direi-to, Associação Integrar, Cabo Verde,

FUTSAL FEMININO

Decorre XI Torneio dos Tribunais

Advogadas e Tribunal.Os jogos decorrem no Pavilhão da

Palmeira, às terças-feiras, quartas-feirase quintas-feiras, pelas 18 horas.

Um exemplo de como o desporto, nes-

te caso o futsal feminino, pode ser, paraalém de benéfico exercício físico, umnotável instrumento de convívio entregrupos muito variados, que assim dão àsociedade uma lição que deveria ser se-

guida noutros sectores.As imagens mostram a equipa de

Cabo Verde, vencedora do Torneio quese disputou o ano passado, e a equipa doEstabelecimento Prisional.

A selecção portuguesa de futebol ini-ciou a preparação para os decisivos jo-gos com a Bélgica e a Sérvia, do grupoA de qualificação para o Euro2008, con-centrando-se sem a presença de Deco,operado segunda-feira à mão direita.

O médio do FC Barcelona lesionou-se sábado num encontro do campeonatoespanhol e, apesar de a intervenção ci-rúrgica ter sido considerada um suces-so, Deco vai ficar afastado dos relvadosdurante uma semana, o que o impede dealinhar na dupla ronda de apuramento.

Além de Deco, o seleccionador LuizFelipe Scolari não pode contar com Si-mão (suspenso) para o jogo com a Bél-gica, marcado para sábado, no Estádiode Alvalade, mas o capitão do Benficajá poderá alinhar em Belgrado, a 28 deMarço, frente à Sérvia.

Na lista de convocados destacam-se osregressos dos avançados Nani (Sporting)e Hugo Almeida (Werder Bremen), bemcomo a inclusão do guarda-redes DanielFernandes (PAOK) e do defesa central

Portugal rumo ao Euro 2008Manuel das Costa (PSV), estes últimos embusca da primeira internacionalização.

Portugal está obrigado a obter bonsresultados nos dois jogos, pois ocupa ape-nas o quarto lugar do grupo, em igualda-de com a Bélgica, com menos três pon-tos que a Polónia (3ª) e a Sérvia (2ª) emenos quatro em relação à Finlândia,mas a líder e os polacos têm mais umencontro disputado.

BORLAS PARA SEM ABRIGO

A Federação Portuguesa de Futebol(FPF) anunciou que vai convidar 500 “sem-abrigo” para assistirem sábado, gratuita-mente, ao Portugal-Bélgica, do Grupo Ade qualificação para o Europeu de 2008.

“A iniciativa, que conta com a colabo-ração da câmara municipal de Lisboa(CML), da Santa Casa da Misericórdiae da Associação CAIS, enquadra-se nasvárias acções de solidariedade social nasquais o organismo que tutela o futebolportuguês se tem empenhado”, refere aFPF num comunicado.

Nadadores portuguesesconquistam 7 medalhas

A atleta paralímpica portuguesa LeilaMarques conquistou no passado fim-de-semana uma medalha de ouro e três deprata no Campeonato Nacional de Na-tação Adaptada de Inverno de Espanha,que decorreu em Placência.

Leila Marques averbou o ouro nos 100metros bruços e a prata nos 400 metros

livres, 200 metros estilos e 50 metros li-vres, resultados que lhe garantiram o apu-ramento para a Taça da Europa, em Maio.

Nelson Lopes conquistou na mesmaprova três medalhas de prata, nomeada-mente nos 50 e 100 metros livres e aindanos 50 metros costas, com recordes pes-soais nas três provas.

DESPORTO PARALÍMPICO O piloto português André Couto ini-ciou de forma azarada a nova tempora-da japonesa de carros de Grand Turis-mo, depois da sua equipa ter sido obriga-da a desistir logo no início da corrida re-alizada domingo no circuito de Suzuka,no Japão.

“Nem cheguei a entrar no carro por-que desta vez coube ao meu companheiroHiranaka iniciar a prova. Um acidentelogo na primeira curva da pista colocou-nos fora de prova”, disse o piloto AndréCouto à agência Lusa.

Numa prova em que os motores Hon-

O Secretário de Estado da Juventudee do Desporto, Laurentino Dias, encon-tra-se desde domingo na capital cubanapara concretizar, entre outras iniciativas,a assinatura de um acordo de coopera-ção desportiva entre Portugal e Cuba.

Durante a sua visita oficial de cincodias a Cuba, o governante português temagendados encontros com os mais altosrepresentantes do desporto cubano e vi-sitas ao Laboratório de Controlo Antido-pagem e a duas escolas de formação deatletas de alto rendimento.

SECRETÁRO DE ESTADO EM HAVANA

Cooperação desportivaentre Portugal e Cuba

Além de um encontro de trabalho comJimenez Molina, o presidente do Institutocubano de Educação Física e Lazer (IN-DER), o Secretário de Estado portuguêsterá ainda a oportunidade de visitar a Es-cola Nacional de futebol “Mário Lopez”e de assistir a um jogo de basebol do cam-peonato cubano da modalidade.

A comitiva de Laurentino Dias inte-gra, entre outros, os presidentes do Ins-tituto do Desporto de Portugal (IDP) edas federações portuguesas de voleibole de basebol.

AUTOMOBILISMO NO JAPÃO

Piloto português nemchegou a entrar no carro

da pareciam melhores do que os Toyota,a dupla Yuji Tachikawa/ToranosukeTakagi acabou por vencer, ao volante deum Lexus, com que a Toyota se apre-senta este ano no campeonato de GrandTurismo.

Para a próxima corrida, que será dis-putada no circuito de Okayama a 08 deAbril, o piloto português espera “um pou-co mais de sorte” e que a sua equipanão se veja “envolvida novamente numacidente que determine o abandono”.

André Couto está a disputar a quartatemporada de Grand Turismo no Japão.

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17DE 21 DE MARÇO A 3 DE ABRIL DE 2007 SAÚDE

Santos Cardoso

Os utentes do Serviço Nacional de Saú-

de, na maioria dos casos, não têm resposta

imediata, ou em prazo aceitável, para ob-

ter consultas programadas do seu Médico

de Família no respectivo Centro de Saúde,

e a causa principal dessa falta de resposta

dever-se-á ao facto da diminuição da pro-

dutividade desse tipo de consultas, gerada

pela abertura de Serviços de Atendimento

Permanente (SAP) – os Médicos de Fa-

mília passaram a atender aí utentes de ou-

tros colegas e também em serviços de ur-

gência hospitalares que, por sua vez, au-

mentaram a oferta para satisfazer a pro-

cura inapropriada recorrendo, igualmente,

a contratação de Médicos de Família.

Em toda esta evolução, os Médicos de

Família em vez de se concentrarem na

actividade dos Centros de Saúde e com

os utentes inscritos nos seus ficheiros, pas-

saram a reparti-la pelos SAP, pelas ur-

gências hospitalares e pela clínica priva-

da (medicina do trabalho e consultas em

regime liberal).

Em entrevista recente ao Jornal de Ne-

gócios, a Enfermeira Maria Augusta de Sou-

sa sintetizou da forma seguinte as discor-

dâncias da Ordem dos Enfermeiros, de que

é a actual Bastonária, sobre as reformas em

curso no Serviço Nacional de Saúde:

«A não clarificação de um modelo de

gestão do conjunto dos recursos loco-re-

gionais, com efectiva responsabilização

pelas respostas às necessidades da res-

pectiva população; a não inteligibilidade

da interligação entre as várias vertentes

do sistema objecto de reestruturação:

Cuidados de Saúde Primários (CS’s/USF/

Outras unidades funcionais), Cuidados

Continuados, Urgências, Redes de Refe-

renciação Hospitalar; a reduzida inteligi-

bilidade na relação directa destas verten-

tes com a implementação do Plano Naci-

onal de Saúde; uma ausência de instru-

mentos de gestão de recursos humanos,

nomeadamente no recrutamento e manu-

HAJA SAÚDE Sobre a reformado Serviço Nacional de Saúdetenção dos profissionais nas organizações

(tipos de contratos), mantendo-se uma

concepção fortemente burocrático-admi-

nistrativa que dificulta que se assegure,

de forma consistente, as respostas per-

manentes às necessidades e os necessá-

rios espaços de motivação e desenvolvi-

mento dos profissionais; um atraso evi-

dente na implementação e desenvolvimen-

to do Sistema de Informação na Saúde,

uma vertente determinante para a inte-

gração dos cuidados e combate aos des-

perdícios. Também a execução de refor-

mas que, caso não sejam acautelados pa-

drões de elevada exigência técnica e ci-

entífica, poderão, por pressão da conten-

ção económica, introduzir factores de res-

postas menos qualificadas, com conse-

quências para os ganhos em saúde de

médio e longos prazos, bem como pode-

rão gerar falsas economias».

A reportagem do jornalista João Paulo

Costa, publicada no Jornal de Notícias no

passado dia cinco, exemplifica a não inte-

ligibilidade da interligação entre as várias

vertentes do sistema objecto de reestru-

turação: Cuidados de Saúde Primários

(CS’s/USF/Outras unidades funcionais),

Cuidados Continuados, Urgências, Redes

de Referenciação Hospitalar, apontada

pela Bastonária:

«O número de atendimentos no servi-

ço de Urgência no Hospital de Aveiro, dis-

parou nos últimos quatro meses, em con-

sequência do fecho parcial dos Serviços

de Atendimento Permanente (SAP) em

Aveiro, Albergaria-a-Velha e Vagos, en-

cerrados durante a noite e aos fins-de-

semana desde Outubro.

Em Janeiro, a Urgência de Aveiro

(UA) atendeu 13067 pessoas, mais 19,9%

do que em igual período de 2006. O di-

rector da UA, António Isidoro, admite que

o serviço não está preparado para rece-

ber tanta gente, reconhecendo que o aten-

dimento perdeu qualidade. “Há atrasos no

atendimento, o que provoca a insatisfa-

ção dos utentes, o aumento do stress dos

profissionais e, por consequência, a pro-

babilidade de erro”, refere o director da

Urgência. Não é por acaso que aumenta-

ram as queixas dos doentes no livro branco

do hospital, “mas a maioria dizem respeito

ao relacionamento interpessoal entre médi-

co e paciente, o que se compreende porque

o clínico não pode estar o tempo que estava

com o queixoso”, explica Isidoro.

Tudo isto é fruto da falta de resposta

da Urgência. “Os recursos humanos ac-

tuais estão preparados para atender, no

máximo, 340 doentes por dia. Em 2007,

até 7 de Fevereiro, a média ia em 435”,

pormenoriza o médico. O resultado é que

há cada vez há mais doentes a esperar

mais tempo na Urgência. Desde a admis-

são à triagem, que passou de uma média

de 8 minutos em 2006 para 12 em 2007,

até ao tempo de estadia na Urgência. Em

2007, 26,6% das pessoas que vão à UA

ficam no serviço entre duas a quatro ho-

ras. O ano passado eram 23,9%”.

Entre quatro e seis horas, a percenta-

gem aumentou de 9,8 para 11,5 e de 6 a 12

horas de 7,7 para 9. No entanto, a maioria

(49%) está agora, no máximo, duas horas

na Urgência. Em 2006, eram 54,6%.

António Isidoro não tem dúvidas que

as enchentes na UA se devem ao fecho

dos SAP. A estatística não engana. “Des-

de Outubro, mês em que encerraram par-

cialmente o SAP, até final de Fevereiro, a

percentagem dos utentes provenientes das

áreas que eram servidas pelo SAP au-

mentou 68% no caso de Aveiro, 14% re-

lativamente a Albergaria e 13% em rela-

ção a Vagos”. Na Murtosa, devido às

obras do SAP, também se registou um

aumento de 3%.

Não fossem os novos horários dos SAP

e a Urgência de Aveiro, revela o médico,

“teria, provavelmente, em 2006, menos

utentes que em 2005”. Até final de Se-

tembro de 2006, especifica, “havia uma

diminuição de 1,1% de utentes relativa-

mente ao mesmo período do ano anteri-

or”. Com o fecho nocturno dos três SAP

vizinhos, tudo mudou. De tal forma, que

os meses de Outubro, Novembro, Dezem-

bro e Janeiro foram responsáveis por 81%

do total de doentes do ano.

Feitas as contas, de Janeiro de 2005 a

2006, houve um aumento médio de 3,7%

na UA. Mas se analisarmos unicamente

o período de Outubro a Janeiro, o aumen-

to médio foi de 13,8%, atingindo o pico

em Janeiro, os tais 19,9% que referimos

na abertura do texto.

Perante este quadro, a nova directora

clínica, Lurdes Sá, e o restante Conselho

de Administração, “decidiram reforçar as

equipas, de forma a satisfazer de forma

mais eficaz as necessidades da Urgência”,

revela António Isidoro. O reforço, adianta,

“passará de imediato por conseguir mais

clínicos gerais e internistas”. O director

da Urgência acredita que nas próximas

semanas já contará com mais médicos.

“A Urgência do Hospital de Aveiro

não tem, actualmente, capacidade para

receber os doentes que actualmente são

atendidos na Urgência do Hospital de

Estarreja”. A frase de António Isidoro

não deixa dúvidas quanto ao quadro que

se avizinha no caso de encerramento da

Urgência de Estarreja, como defendem

os peritos responsáveis pelo estudo da

reorganização da rede nacional. Antó-

nio Isidoro até considera que a propos-

ta dos peritos “está tecnicamente bem

elaborada”, mas é “politicamente ino-

portuna”. “Deveria ser precedida pela

efectiva reforma das Unidades Famili-

ares de Saúde, organização do trans-

porte prioritário e secundário de doen-

tes por parte do INEM/Serviço Nacio-

nal de Bombeiros e Protecção Civil e

da rede de cuidados continuados”, re-

fere o director da Urgência de Aveiro.

Para o médico, “a reforma das unida-

des de saúde familiares deveria ter im-

plementação nacional com prioridade

nas zonas em que iriam fechar os

SAP”. O fecho da Urgência de Estar-

reja, que serve igualmente a população

da Murtosa e S. Jacinto, “levaria sem-

pre mais umas dezenas de doentes por

dia à Urgência de Aveiro”, perspectiva

Isidoro. Se tal acontecer, e para o ser-

viço não entrar em ruptura, “é obriga-

tório reforçar todas as valências da

Urgência de Aveiro”.

Perigos da “pílula do dia seguinte”Farmacêuticos e médicos voltaram hoje

a alertar para os riscos do consumo regu-

lar da Contracepção Oral de Emergência

(COE), no dia em que se assinalam seis

anos sobre o início da comercialização da

denominada pílula do dia seguinte.

Daniel Pereira da Silva, da direcção da

Sociedade Portuguesa de Ginecologia,

sublinhou que o uso “abusivo” da COE

poderá aumentar os riscos de cancro da

mama e de problema de vasoconstrição.

Apesar da impossibilidade ética de re-

alização de testes em mulheres sobre os

efeitos de toma recorrente, os receios

multiplicam-se devido à ingestão de pro-

gesterona, uma hormona encontrada na

génese do cancro da mama em algumas

raças de cadelas.

“O consumo esporádico da pílula do dia

seguinte não traz mal ao mundo, tal como

um dia de consumo excessivo de álcool,

mas beber duas doses diárias de bebidas

alcoólicas aumenta o risco de cancro da

mama”, comparou o também secretário-

geral das associações de ginecologia e

obstetrícia.

Uma toma da pílula do dia seguinte

equivale ao consumo de 15 comprimidos

de uma pílula convencional, tendo em con-

ta a ingestão do princípio activo levonor-

gestrel.

O presidente da região Norte da Or-

dem dos Farmacêuticos (OF), José Min-

gocho, também recordou os grandes de-

sequilíbrios hormonais e a necessidade de

tomar a pílula do dia seguinte apenas em

situações de emergência.

Os farmacêuticos garantiram que ape-

nas com dispensa activa (aconselhamen-

to por parte dos profissionais) da COE se

evitam problemas maiores, uma vez que

a venda poderá ser recusada em caso de

risco para a saúde da mulher ou indícios

de consumo repetido.

“Pelo seu historial, a pílula do dia se-

guinte é um caso muito especial e é um

contra-senso poder estar a ser cedida sem

dispensa activa”, defendeu Mingocho.

Page 10: O Centro - n.º 23 – 21.03.2007

18 DE 21 DE MARÇO A 3 DE ABRIL DE 2007EDUCAÇÃO / ENSINO

Penalizados por mortede um familiar?

Na sequência da publicação do tene-

broso Estatuto de Carreira que o Gover-

no impôs aos professores e educadores

portugueses, decorre ainda a regulamen-

tação do primeiro concurso de acesso de

acesso à categoria de “professor titular”.

Lembremos que a carreira foi fractura-

da em duas, tendo o Ministério da Edu-

cação (ME) forjado uma categoria de

“professor titular” que, não correspon-

dendo a qualquer necessidade ou carac-

terística natural ou intrínseca do exercí-

cio da profissão docente, serve de for-

ma decisiva um dos objectivos ocultos

mas centrais do Governo na área da

Educação: pagar muito, mas mesmo

muito menos aos milhares de professo-

res de que o país necessita. Central e

também revelado através das propostas

do ME para esta regulamentação, é o

favorecimento de regras que ajudem o

Governo a “dispensar” muitos e muitos

de nós, professores e educadores.

De tais propostas gostaríamos de sa-

lientar dois aspectos, sem perder de vis-

ta que a artificial fractura da carreira que

referimos é mesmo a intolerável origem

dos males a que nos vamos referir.

Um primeiro aspecto é que o ME pre-

tende que a passagem à categoria de ti-

tular dos professores que já estavam no

topo ou perto do topo da carreira, decor-

ra através de um processo onde a maior

parte do trabalho desenvolvido ao longo

da sua vida profissional é simplesmente

ignorado. Na verdade, a intenção de só

ter em conta a actividade desenvolvida

nos últimos sete anos deita fora, de for-

ma arbitrária, tudo o que foi realizado ao

longo de muitos mais anos. Vale a pena

acrescentar que, para além disto, o ME

desvaloriza grosseiramente o que é o nú-

cleo fundamental da profissão, a prática

lectiva, e impede, logo à partida, que

muitos professores e educadores com

trajectos profissionais de grande valor

possam sequer candidatar-se a aceder

ao topo da carreira.

Um segundo aspecto resultará talvez

da insanidade persecutória ostentada

demasiadas vezes pela equipa que está

na 5 de Outubro. O ME acha(!) que qual-

quer professor ou educador que se veja

obrigado a faltar passa a ser alguém que

não cumpre zelosamente os seus deve-

res. Em busca de expedientes para eli-

minar candidatos, resolveu que as faltas,

mesmo que correspondendo a necessi-

dades incontestáveis e legalmente justi-

ficadas, se deveriam reflectir em penali-

zações para quem, no passado(!), as te-

nha dado. Lá percebeu que não poderia

penalizar as professoras que tenham dado

à luz nos últimos anos ou que não poderia

contrariar a Constituição e penalizar quem

tivesse feito alguma greve (ao que isto

chegou!)… Mas mantém a ideia de esta-

belecer penalizações por tudo o resto.

Para Lurdes Rodrigues, Valter Lemos

e Jorge Pedreira, que sabemos não te-

rem rédea solta do primeiro-ministro, um

cumpridor menos zeloso dos seus deve-

res é aquele que esteve doente, por

exemplo sujeito a tratamentos oncológi-

cos: deve ser penalizado. Menos zeloso

é aquele que, tendo enfrentado a morte

de um familiar próximo, talvez um filho,

faltou para o acompanhar no seu fune-

ral: deve ser penalizado. Penalizado, tam-

bém, aquele que acompanhou filhos em

situação de doença: mostrou-se menos

zeloso dos seus deveres profissionais.

Aquele que foi chamado a depor em tri-

bunal e que não recusou comparecer foi

pouco zeloso mas, se recusasse a ida a

tribunal, também acabaria pouco por não

ser zeloso, logo que fosse detido pelas

forças de segurança. Deficiente zelo, o

daqueles que deixaram de dar alguma

aula para fazerem formação, certamen-

te um “horroroso” direito que têm mas

também um dever: não interessa, penali-

zem-se também esses! Nada zelosos os

que o próprio ME nomeou para serviços

como os dos exames nacionais ou ou-

tros: um tipo que se deixa subtrair assim

ao seus deveres merece punição!...

Há sinais de insanidade nestas propos-

tas que o ME apresentou. O problema

está a montante delas, na criação da ca-

tegoria de titular. Os objectivos ocultos

desta criação potenciam a insanidade

revelada. Os sindicatos exigiram que as

negociações prosseguissem sobre esta

matéria com a presença da ministra, de

acordo com o previsto na Lei. Por inca-

pacidade, desconhecimento ou cobardia

a sr.ª ministra parece que vai voltar a

faltar às negociações, empurrando para

lá um substituto. A sr.ª ministra não cum-

pre zelosamente os deveres que a Lei

lhe impõe: penalize-se a sr.ª ministra!

João Louceiro *

* Dirigente do SPRC (Sindicato

dos Professores da Região Centro

A primeira fase dos exames nacionais

do ensino secundário realiza-se este ano

de 18 a 26 de Junho, sendo as classifica-

ções afixadas a 6 de Julho, de acordo

com um despacho publicado na passada

quarta-feira em Diário da República.

Na primeira fase realizam-se 38 exa-

mes, sendo que as nove disciplinas em

que coexistem programas novos e pro-

gramas antigos, devido à reforma curri-

cular introduzida em 2004, têm este ano

enunciados comuns.

Os alunos que concluírem todas as

provas na primeira fase poderão concor-

rer ao ensino superior público entre 9 e

13 de Julho, conhecendo o resultado da

candidatura a 17 de Setembro.

A segunda fase de exames decorre

de 12 a 17 de Julho, com afixação das

pautas de classificações a 27 de Julho.

Os alunos que só concluírem provas

nesta fase concorrem ao ensino superi-

or de 27 de Julho a 3 de Agosto, excepto

os que tenham feito melhoria de nota ou

que repitam os exames para aprovação

e que, por isso, são remetidos para a se-

gunda fase de acesso à universidade, de

17 a 21 de Setembro, onde há menos

vagas disponíveis.

Relativamente aos exames nacionais

do 9º ano, a primeira chamada é a 19 de

Junho para a prova de Língua Portugue-

sa e a 21 para Matemática, com afixa-

ção dos resultados a 11 de Julho.

Quanto à segunda chamada, decorre a

25 e 26 de Junho, a Língua Portuguesa e

Matemática, respectivamente, com afixa-

ção das pautas igualmente a 11 de Julho.

PUBLICADO O CALENDÁRIO DE EXAMES

NACIONAIS DO ENSINO SECUNDÁRIO

Primeira fasede 18 a 26 de Junhoe resultados a 6 de Julho

O Governo aprovou na passada quin-

ta-feira o novo regime jurídico da avalia-

ção do Ensino Superior, bem como os

decretos de alteração aos regimes de

título académico agregado e de graus

académicos superiores estrangeiros.

A proposta de lei sobre avaliação foi

apenas aprovada na generalidade e a

sua versão final terá ainda de seguir

para apreciação da Assembleia da Re-

pública.

Segundo o Governo, o novo sistema

de avaliação prevê a “participação de

peritos estrangeiros” no processo, a

intervenção dos estudantes e uma

“orientação tendo como fins a interna-

cionalização e a implantação das insti-

tuições na vida da comunidade e no mer-

cado de trabalho”.

A proposta refere também que o

novo sistema de avaliação será “mar-

cado pela universalidade, obrigatorieda-

de e periodicidade e por uma exigência

de adopção de políticas de qualidade no

interior das próprias instituições do En-

sino Superior”.

Avaliação

do ensino superior

Page 11: O Centro - n.º 23 – 21.03.2007

19DE 21 DE MARÇO A 3 DE ABRIL DE 2007 CULTURA

João Paulo

Simões

FILATELICAMENTE

Para que houvesse um aproveita-mento dos selos retirados de circula-ção, cujos saldos ainda existiam naCasa da Moeda, foi determinado queos mesmos voltariam a circular de-pois de sobretaxados com 2,5 reis.Chegando-se à conclusão de que nãoseriam precisos tantos selos dessataxa, mantiveram-se os valores faci-ais, determinando-se a sobrecarga“PROVISÓRIA” e que a Casa daMoeda passou para “PROVISÓ-RIO” referindo-se Foram sobrecar-regados 3 176 725 selos de 5 reis pre-to, e 1 682 000 selos de 10 reis verdecom a sobrecarga “PROVISÓRIO”,sendo horizontal nos selos a preto ediagonal a vermelho.

Com a sobrecarga na diagonal, fi-caram os selos de cor vermelha, preta,

1892-1893– Selosde 1871 a 1887com sobrecarga“PROVISÓRIO”

verde e azul. A preto nos restantes.Note-se que esta emissão é de D. Luís,

de que já falei em artigos anteriores.Por uma questão de aproveitamen-

to dos selos, voltaram a entrar em cir-culação nas datas referidas no título.

Aqui se reproduz o selo de 10 reisverde, com sobrecarga a vermelho.

“Saúda-se a volta de Silva Duarte. Aartista plástica, natural da Beira Alta, re-gressa mais madura mas também maispoética”. Assim caracteriza Valdemar Sil-va a exposição de Silva Duarte patentena Galeria Minerva até ao próximo dia 12de Abril. E de tal forma a obra de Silva

Duarte é poética que os quadros que in-tegram a presente exposição serviram demote para que Rui Jorge os passasse àescrita, em forma de poemas.

“Luz e Sombras”, continua ainda o crí-tico, “traduz o caminho da pintora, queainda assim continua fiel a temas pictóri-cos tão do seu agrado como são as paisa-gens e as gentes do campo”. Mas se a

Luz e Sombras em Silva Duarteluz é bela, a sombra acaba por atrair pelomistério e nesta exposição voltam os te-mas nocturnos de bares, misturados commúsica. Uma recaída de Silva Duarte quetinha já brindado o seu público com a fasedos músicos, composição de imagens ne-gras em movimento nos fundos de cores

fortes e luminosas onde quase se podiaouvir o som dos instrumentos.

Também o vereador da Cultura, MárioNunes, refere que em Silva Duarte “aspaisagens alardeiam um encantamentopoético que ressalta nos seus quadros,enquanto a figura popular exibe as parti-cularidades inerentes à criatividade ex-pressa numa vivência humanizada, num

campo de trabalho e sobrevivência”. Se-gundo afirma, “desenha-se na pintura deSilva Duarte um processo de maturação,uma pesquisa acentuada da cor, um ali-cerce mental, que procura agarrar — econsegue — uma essência espiritual quetransparece na matéria e a identifica coma realidade estudada e apreendida”.

Por seu turno, o crítico de arte Sérgio

Mourão considera que “as modulaçõescromáticas na obra de Silva Duarte defi-nem uma ampla objectividade, reportávelao quotidiano humanístico e paisagístico,como um espaço levitante das belezas in-trínsecas, que fazem da natureza e reali-

dade sugerida de pequenos universos quehabitam na alma do homem como parteintegrante da imagem de um universo maissublime e perfeito”.

Silva Duarte, Margarida Maria DuarteHenriques da Silva Pereira, tem realizadoexposições individuais de pintura e partici-pado em diversas colectivas e a sua obraestá representada em colecções particula-

res e museus, em Portugal e no estrangeiro.A exposição estará patente até 12 de

Abril de 2007, de segunda a sábado, das10h00 às 13h00 e das 14h30 às 20h00 naGaleria Minerva (Rua de Macau, 52 -Bairro Norton de Matos), em Coimbra.

Uma das pinturas expostas

Silva Pereira, Silva Duarte (Margarida Silva Pereira), Isabel e José Garcia

A Associação dos Antigos Alunos daARCA-EUAC (AAA) promoveu na Li-vraria Minerva, no âmbito das “Terças-Feiras de Minerva”, o lançamento do li-vro “Rota das Artes. Encontros de artecontemporânea. Exposição itinerante#2_06”. A apresentação contou com apresença de António Pedro Pita, Dele-gado Regional da Cultura do Centro.

“Rota das Artes” na Minerva

Este livro é um registo que conjuga,de uma forma muito sintética, a segundaedição do projecto Rota das Artes de-senvolvido pela AAA. O projecto é ummodelo de actuação que implica e bene-ficia todos os agentes e sectores que in-tervêm de forma directa ou indirectaneste entrosamento que é a arte contem-porânea no centro do país.

António Azenha e António Pedro Pita

Page 12: O Centro - n.º 23 – 21.03.2007

2 DE 21 DE MARÇO A 3 DE ABRIL DE 2007OPINIÃO

No sentido de proporcionar mais al-

guns benefícios aos assinantes deste

jornal, o “Centro” estabeleceu um

acordo com a livraria on line

“livrosnet.com”.

Para além do desconto de 10%, o

assinante do “Centro” pode ainda fa-

zer a encomenda dos livros de forma

muito cómoda, sem sair de casa, e

nada terá a pagar de custos de envio

dos livros encomendados.

Os livros são sempre uma excelente

oferta para cada um de nós ou para oferta

a gente de todas as idades, pelo que este

desconto que proporcionamos aos assi-

nantes do “Centro” assume grande rele-

vância.

Mas este desconto não se cinge aos li-

vros, antes abrange todos os produtos con-

géneres que estão à disposição na livraria

on line “livrosnet.com”.

Aproveite esta oportunidade, se já é as-

sinante do “Centro”.

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tim que publicamos na página seguinte e

envie-o para a morada que se indica.

Se não quiser ter esse trabalho, bastará

ligar para o 239 854 150 para fazer a sua

assinatura, ou solicitá-la através do e-mail

[email protected].

Depois, para encomendar os seus livros,

bastará ir ao site www.livrosnet.com e fa-

zer o seu registo e a respectiva encomen-

da, que lhe será entregue directamente.

São apenas 20 euros por uma assina-

tura anual – uma importância que certa-

mente recuperará logo na primeira en-

comenda de livros. E, para além disso,

como ao lado se indica, receberá ainda,

de forma automática e completamente

gratuita, uma valiosa obra de arte de Zé

Penicheiro – trabalho original simboli-

zando os seis distritos da Região Centro,

especialmente concebido para este jor-

nal pelo consagrado artista.

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(Carteira Profissional n.º 99)

Propriedade: Audimprensa

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Sócios: Jorge Castilho e Irene Castilho

Inscrito na DGCS sob o n.º 120 930

Composição e montagem: Audimprensa

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Telefone: 239 854 150 - Fax: 239 854 154

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Impressão: CIC - CORAZE

Oliveira de Azeméis

Depósito legal n.º 250930/06

Tiragem: 10.000 exemplares

EDITORIAL

Jorge Castilho

[email protected]

Apetecia-me escrever uma carta

aberta (open letter), ao Minister Tony

Pine (Ministro António Pinho), a propó-

sito da medida que acaba de anunciar

para o desenvolvimento turístico do País.

Mas deixo isso para as “Produções

Fictícias” e para os “Gatos Fedoren-

tos”, que certamente tratarão do tema

de forma mais adequada do que eu con-

seguiria.

Redijo apenas um bilhete, como mo-

desto contributo para a insuperável cam-

panha de marketing agora anunciada, que

decerto vai aumentar exponencialmente

os fluxos turísticos para Pohtchugol (ou

PortugALL?), pois serão aos milhões os

cidadãos do Mundo a desejar conhecer

o País que inventou este genial método

de promoção. Aqui vão, pois, duas su-

gestões para juntar a ALLgarve (e sem

por elas cobrar nem um cêntimo dos dois

milhões de euros gastos na campanha):

GOODuarda e COOLimbra – que é

como quem diz que a Guarda é boa e

Coimbra é fixe...

Já imagino os “camones” a entrar por

aí aos magotes, assim resolvendo os pro-

blemas da nossa economia. Big Ministro

da Inovation!

***

Passando a coisas mais sérias, mas

igualmente tristes.

Acabam de ser anunciadas as deci-

sões do Papa Bento XVI relativamente

a alguns aspectos relevantes para a Igreja

Católica e para os seus fiéis.

E os que temiam um papado conser-

vador começam a ver concretizados os

seus receios.

Quando se esperava que o Vaticano

soubesse acompanhar a evolução do

Mundo, eis que se assiste a um retro-

cesso incompreensível, a uma intolerân-

cia injustificável, que certamente irá es-

timular o afastamento dos praticantes e

acentuar a crise de vocações e de devo-

ções, em benefício de outros credos e

de algumas seitas oportunistas.

Mesmo para os que não são pratican-

tes ou sequer crentes, esta atitude do

Papa é lastimável, pois denota uma vi-

são retrógrada por parte de um líder de

milhões de pessoas, a maioria das quais,

naturalmente, desejaria que a atitude do

Sumo Pontífice fosse a oposta.

***

E continuemos no registo das tristezas.

Como se noticia noutro local desta

edição, na passada sexta-feira decorreu

em Coimbra um debate sobre a chama-

Bom dia PortugALL...

Page 13: O Centro - n.º 23 – 21.03.2007

20 DE 21 DE MARÇO A 3 DE ABRIL DE 2007OPINIÃO

O aperto orçamental e a competitivida-de trouxeram à ribalta um dos mais impor-tantes e delicados problemas da nossa so-ciedade – avaliar.

No país dos mil e um expedientes não éfácil fazer vingar o valor do saber e da com-petência, do trabalho e do mérito. Têm va-lido muito mais a cunha, o compadrio e ne-potismo, o carreirismo e subserviência par-tidária, a sabujice.

Foi assim, por esta estranha porta, queo aparelho de Estado engordou e é assimque perdemos a competição com o mundoonde impera o saber, o esforço e o zelo, aexigência e o rigor e cada um vale pelomérito que tem.

Daí que a avaliação se imponha como oinstrumento que há-de colocar as coisasno seu devido lugar e empurrar o país paraos patamares superiores do desenvolvimen-

Renato Ávila

Luís de [email protected]

Avaliar, a grande questão

Vimos aqui Mário Silva com uma retros-pectiva no Museu do Vinho da Bairrada até30 de Abril. Será importante (releve-se olugar comum) ver esta exposição, justamen-te porque é uma retrospectiva, mostra pin-tura feita há quarenta e cinquenta anos, muitosubstancial e de conhecimento imprescindí-vel para que se tenha da obra, do percursoe da carreira do pintor, uma ideia criteriosae assente, uma imagem focada e alargadae uma visão abrangente e justa.

E foi dito que Mário Silva é dos (talvezdois) artistas mais conhecidos (e de algummodo reconhecidos) do Centro. O outroserá Zé Penicheiro.

Zé Penicheiro, que está nos oitenta devida e com cerca de sessenta de activida-de pública como artista criador, foi recen-temente notícia nos jornais (alguns) locais-regionais (e só nesses, creio), curiosamen-te por causas, não da pintura, sim de livros,e pelo menos um deles ligado a jornais:“Peixes …do Nosso Mar”, uma série detrabalhos nos domínios da caricatura saí-dos no semanário “O Figueirense”, da Fi-gueira da Foz, Outro, um catálogo, em pre-paração – com pedido, a possuidores detrabalhos do autor, para que se manifes-tem (e manifestem o que têm) com vista àelaboração desse catálogo.

É esse catálogo que aqui especialmentenos suscita, pelo que, ligado a aniversários,ele sugere de balanço e retrospectiva. Asnotícias não falam de retrospectiva, mas aassociação parece inevitável.

REFERÊNCIAS Nota breve sobre Zé PenicheiroSem especial interesse, talvez, o livro das

caricaturas. Ocorre, no entanto, que foi nosdomínios do desenho que Pcnicheiro co-meçou há mais de meio século, o seu per-curso como artista criador, e a construçãode uma obra hoje numerosa e grande, mui-to própria, muito radicada no meio ambi-ente da susa experiência de vida, muitomarcada pela procura constante de umadefinição pessoal, por uma exigência deci-siva de qualidade, rigor e profissionalismo– e sobretudo por um saber-fazer novo ediferente, mas bem, com clássica boa téc-nica, destreza artesanal, bom gosto inquie-to e sóbrio.

O domínio mais importante desta obra édecerto a pintura, até porque é aí que temhavido mais trabalho, mais permanência emais investimento de experimentação, maisapuramento de procedimentos, um maisvisível processo de demarcação de ascen-dentes (o neo-realismo, por exemplo, ideá-rio e estética), ou de facilidades sugeridas,insinuadas ou consentidas pela recepção,pelo êxito junto dela e das suas expectati-vas, num meio ambiente culturalmente pou-co exigente, desde logo no campo da pro-dução artística (gosto tradicional, paisagens,sobretudo com barcos, realismo ou natu-ralismo até nas preferências cromáticas eoutros gostos menos informados e escla-recidos).

Conheceremos pouco e mal o que Pe-nicheiro fez nos primeiros tempo de car-reira, mas, do que vimos, ao vivo e em re-produções, fica a ideia de uma pintura for-te, densa, espessa, investindo já na huma-nidade, na presença humana em sofridatensão com um meio agreste, referencialserrano, ainda, mas cedo mais radicadonuma ligação ao mar e aos trabalhos rela-cionados com o mar, com uma presençahumana porventura ainda mais forte (tanto

mais forte, talvez, quanto sem rosto – vul-tos, contornos corporais com acentos deexcesso na relação com o meio), um geo-metrismo estratégico no desenho das figu-ras, um cromatismo muito subtil, mas a quenão é alheia a ideia de violência (do traba-lho, das condições de vida), progredindo dosverdes e azuis realistas / naturalistas paraos castanhos e outros tons mais escuros,algo insólitos, mas exprimindo com grandevigor certa visão do mundo porventuramenos festiva.

Na produção mais recente (dos últimosvinte anos, a que mais temos visto), isto émuito mais nítido. Mas há-de estar já nostrabalhos menos recentes, embora menosdeliberado e com menos vigor. Uma re-trospectiva (se a selecção acertar nos qua-dros mais representativos), poderá mostrarmelhor o que na pintura de Penicheiro semantém, o que mudou, que sentidos dife-rentes dos iniciais foram entretanto cria-dos, talvez nem tanto por mudanças (frac-turas, rupturas) mas apenas ligado a umaevolução – processada melhor do que nin-guém saberá Penicheiro com que tranqui-lidades e sobressaltos, e sobretudo com quefacilidades e dificuldades, avanços e recu-os, meios, expedientes, escolhas, resoluções.

Voltando ao princípio – para repetir quePenicheiro é uma referência de topo, dasartes, no Centro, e que uma retrospectiva éimportante, pelo pretexto dos aniversários,pelo que representa de consagração (ideiado reconhecimento aí investida), mas sobre-tudo pela oportunidade de um mais amplo epormenorizado conhecimento da obra, porparte de quem a conhece menos bem).

E só mais duas ou três anotações:- Uma, a lembrar que Penicheiro vem

do interior serrano do distrito de Coimbra(Candosa, Tábua) e viveu e trabalhou emLisboa e Aveiro, até fixar-se nos arredores

da Figueira da Foz., onde viveu anos lar-gos, voltando depois à zona de Aveiro,onde actualmente reside.

- Outra é que esses espaços do percur-so de vida são referências presentes e muitofortes da sua obra, embora predominemos motivos do mar e dos trabalhos do mar.

- Outra ainda, é que Penicheiro já fezdezenas e dezenas de exposições (algu-mas até no estrangeiro) mas a identifica-ção mais forte da sua obra é com o meio(natural, cultural) onde mais tem vivido etrabalhado – o Litoral Centro.

- Mais uma, relacionada com esta, aquestão da dimensão desta obra. O re-gional pode ser redutor, e a obra (pelaoriginalidade, pelo rigor profissional)transcende-o largamente. Mas o nacio-nal é uma questão que não lhe competeresolver. Deveria ser o próprio meio lo-cal-regional (sem esperar que estas coi-sas passem por Lisboa). E o meio, maisdo que provavelmente, não tem capaci-dade para isso. (Resta saber se tem von-tade, ou se tem a percepção de que issoé importante. Tanto, porém, é já outraquestão, e não cabe falar dela aqui.)

- E só mais esta, relacionada ainda coma anterior. Uma retrospectiva? Onde? NaFigueira? E porque não, também, e aomenos, em Aveiro e em Coimbra (parareferirmos apenas aquele que é o maiorcentro urbano da região, e outro, que, an-tes e depois de ser o segundo, é uma cida-de com que Penicheiro e a sua obra têmtambém, ou tiveram, uma relação muitoforte, que perdura e vai ficar como aspec-to valorizador do legado da obra)?

Dada a importância do que se trata, pa-rece que, se é uma sugestão, está nela in-vestida uma questão de bom senso.

Veremos depois se esse bom senso seimpõe.

to sócio-económico e cultural.Avaliar é comparar, confrontar, aferir,

medir, se possível, um comportamento, umestado, uma situação, o resultado duma ac-ção... com padrões objectivos devidamenteestruturados e entendidos como razoáveis.

Se o conceito, em si, é pacífico, reves-te-se contudo de extrema complexidade edelicadeza quanto à sua aplicabilidade, emespecial na definição dos critérios, parâ-metros e estratégias avaliativas e do perfildo avaliador.

Este problema adquire acrescida gravi-dade quando dessa avaliação resultam gan-hos ou perdas e o seu resultado é suscep-tível de condicionar o futuro do sujeito.

O Estado precisa de dispensar mais deuma centena de milhar de servidores. Pa-rece um dado adquirido que tal alívio pas-sará, também, pela avaliação classificati-va, a nível departamental, e tudo leva a crerque os excedentes a transitar para o res-pectivo quadro ou a despedir serão encon-trados naqueles que ficarem no fundo databela.

Impor-se-ia, por conseguinte, uma ava-liação objectiva e isenta. Configurá-la, sen-do difícil, não será controverso se o espíri-to democrático a tal presidir.

Quanto a nós, o problema coloca-se noplano dos avaliadores. É que instalou-se emPortugal, nos mais diversos sectores da vidapública e privada, a tónica da subjectivida-de na avaliação. É mais fácil avaliar porcritérios de fidelidade e de submissa acei-tação de códigos de gestão do que seguin-do critérios e parâmetros objectivos e in-terpretáveis, democraticamente assumidos.Por outro lado, é também prática comum aavaliação hierárquica, a avaliação das che-fias, a qual, geralmente assente em nor-mas estabelecidos pelos patamares supe-riores, goza de margens confortáveis paraa intervenção do livre arbítrio do julgador.Cria-se, assim, uma subterrânea cadeia defidelidades avessas à avaliação objectivaporque, subalternizando o mérito real decada um, dá primazia às respostas que oavaliando proporciona no relacionamentohierárquico. É a avaliação que protege os

“yes men”, os “yes boys”, as “yes girl”...A avaliação subjectiva mais assente em

juízos de valor, emergentes de pressupos-tos tantas vezes falíveis e tendenciosos, temcriado cadeias inconcebíveis de dependên-cias desde os patamares da política aos daadministração e proporcionado situaçõesde verdadeiro escândalo como são as es-tranhas nomeações para os altos cargos,os grandes “tachos”.

Esta avaliação não privilegia o mérito.É injusta. É disfuncional. É responsável peloatraso em que vivemos.

Se não houver um terramoto em todoeste pantanal, a reforma da administraçãopública será um fracasso, correndo-se orisco de a justiça ficar pelo caminho.

Se não enveredarmos por uma avalia-ção objectiva, rigorosa e isenta, que pre-meie o mérito e penalize a incompetênciae a fraude, jamais sairemos de cepa torta.

Jamais seremos dos melhores.Nesta encruzilhada em que nos encon-

tramos, avaliar será, de facto, a grandequestão.

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21DE 21 DE MARÇO A 3 DE ABRIL DE 2007 OPINIÃO

Alto, mãos calejadas, nunca viroua cara ao trabalho, ao investimento.Teve dezenas de trabalhadores, aquem sempre pagou a tempo, comos subsídios correspondentes. Umtrabalho duro, mas garantido. Hoje,nas barracas outrora cheias de vidaà hora do almoço, vivem três famíli-as de kosovares; e três homensgarantem os serviços mínimos e ofuncionamento das máquinas.

– Olha, confidenciou-me há dias.– Parece que me vou mudar paraEspanha. Tenho lá muito mais pos-sibilidades, menos impostos, os tra-balhadores rendem, boa clientela…

62 anos tem! E vai emigrar, de ar-mas e bagagens!

Joséd’Encarnação

POIS...POIS...POIS...POIS...POIS...

Há dias, no meu bairro, na Arregaça,por puro vandalismo, a meio da tarde(pasmem-se!) incendiaram o vidrão e ocontentor do lixo.

Na mesma data, à noite, quando faziaa minha corrida pelo parque atravessan-do a ponte pedonal (gosto de correr demadrugada, porque é quando a cidadeestá mais tranquila, menos poluída e te-nho mais tempo) um bando de jovensmunidos de garrafas de cerveja, à minhapassagem atiraram algumas bocas agres-sivas e tive de reagir, com tranquilidade,mas o suficiente para que respeitassemo cidadão que atravessava a ponte noseu jogging. Quando saí da ponte inter-pelei um segurança das docas e ele dis-se-me simplesmente que a ponte pedonalnão pertencia à sua responsabilidade.

Estes dois incidentes no mesmo diafizeram-me pensar sobre a insegurança.Parece-me que dois vectores poderiamcontribuir para sanar este estado de coi-sas: Repor o policiamento de proximida-de na cidade, nomeadamente dos par-ques e dos jardins públicos e por outrolado combater a pequena criminalidadeque está a gerar um ambiente de insegu-rança entre os conimbricenses, situaçãode que não há memória nesta cidade detradição tão pacífica.

Raramente se vê um polícia a pé nes-tes locais e quando os agentes de autori-dade passam de carro dificilmente de-tectam alguma anormalidade que estejamais afastado da rota do carro patrulha.

A política de Tolerância Zero, implan-tada pelo governador de Nova Iorque,Rudolph Giulliani, inibiu o crime e trou-xe, novamente, segurança à cidade. Elecombateu fortemente o crime organiza-do, mas também e com ênfase, a peque-na criminalidade, o que foi muito impor-tante porque além de impedir que muitos“pequenos criminosos” se tornassem em“grandes criminosos”, criou a sensaçãode segurança aos cidadãos e tornou oslocais públicos frequentados de novo,

Contribuiçãopara a segurançada cidade de Coimbra

tornando-os mais seguros ainda. É frustrante verificar que a insegu-

rança e o desrespeito pelos cidadãos,principalmente aos mais idosos, crescee nenhuma medida importante está a sertomada (se houve alguma alteração estaainda não está em prática ou não está aser eficaz, e não se notou portanto ne-nhuma alteração para melhor, mas sim ocontrário), o que pensamos ser um errocrasso, porque quanto mais avançadaestiver a desordem urbana, mais difícilserá restabelecer a segurança perdida.Entendemos que a polícia carece demeios, e por isso se fosse necessário,creio que uma boa parte da populaçãoestaria disposta a contribuir de algummodo para reforçar a capacidade da po-licia, seja contribuindo para melhorar oseu equipamento, seja mesmo apoiandonas acções de vigilância, à semelhançado que acontece nos Estados Unidos emque os moradores dos bairros organizam-se para a vigilância da sua zona, em co-nexão com as autoridades.

Apesar de pagarmos impostos e ter-mos o direito de exigir eficácia do esta-

do, penso que também é nosso dever aler-tar e colaborar para que a pesada má-quina da administração das nossas coi-sas (demasiadamente burocratizada, de-masiadamente longe da realidade, dema-siadamente corrupta) funcione e bem!

SalvadorMascarenhasMédico Veterinário

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22 DE 21 DE MARÇO A 3 DE ABRIL DE 2007MÚSICA

Distorções

José Miguel Nora

[email protected]

Continuam a suceder-se as confirma-ções de concertos para o nosso país, so-bretudo para a 13.ª edição do Super BockSuper Rock. Assim, teremos as actua-ções dos Máximo Park e LCD Soundsys-tem no dia 4 de Julho, e dos Underworld,Scissor Sisters e Interpol no dia seguin-te. Mas as novidades não se ficam poraqui, havendo, também, que destacar oregresso a Portugal dos belgas 2 ManyDj´s a 19 de Maio, integrados no Crea-mfields – Parque da Bela Vista, Lisboa– e a actuação dos My Chemical Ro-mance a 24 de Junho no Coliseu de Lis-boa. Por fim, está confirmado o regres-so dos Rolling Stones, que, depois de te-rem actuado em Agosto último no Está-dio do Dragão, no Porto, voltam a Portu-gal para um concerto no dia 25 de Junho,

no Estádio Alvalade XX1, em Lisboa.Nesta quinzena há dois discos que

merecem destaque aqui no “Distorções”:

o primeiro é “Neon Bible”, dos canadia-nos Arcade Fire, e o segundo “A Stran-ge Education”, dos The Cinematics.

Este segundo longa duração dos Ar-cade Fire mostra-nos uma banda igual asi mesma, com uma sonoridade em mui-to semelhante à apresentada em “Fune-ral”, o seu antecessor, até no facto de agenialidade dos novos temas passar com-pletamente despercebida na primeiraaudição, e só à terceira ou quarta audi-ção é que nos conseguimos aperceberdisso mesmo. Gosto bastante do “single”de apresentação, “Intervention”, mas anova versão para “No Cars Go”, que já

tinha sido incluída no EP de estreia, “Ar-cade Fire”, é soberba e chega mesmo asuperar a versão original.

Quanto aos Cinematics, são uma ban-da que, nos últimos tempos, tem rodadocom alguma insistência nas rádios naci-onais, sobretudo o tema “Brake”. Gosteitanto do que ouvi, que acabei por adqui-rir o disco no iTunes e, desde aí, tenho-oouvido com alguma insistência, sobretu-do o tema “Chase”, que é absolutamen-te fenomenal.

Outra das minhas sugestões para estasemana é “Elevator Love Song” dos Starse o EP dos Punks Jump Up, “Dance ToOur Disco”, que além do original, incluitrês fantásticas remisturas, duas delas da

autoria de Headman e a outra da autoriados Nightmoves, que eu adoro, e faz par-te dos meus últimos “dj sets”.

Por fim, os meus parabéns ao docu-mentário “Brava Dança” realizado porJorge Pereirinha Pires e José FranciscoPinheiro, já em exibição nas salas de ci-nema, que com base na história de umamais notáveis bandas portuguesas dos“80´s”, os Heróis do Mar, faz uma re-trospectiva da evolução da sociedadeportuguesa nos últimos trinta anos.

PARA SABER MAIS:

www.musicanocoracao.ptwww.everythingisnew.ptwww.arcadefire.comwww.thecinematics.comwww.punksjumpup.co.uk

ou

Arcade Fire “Neon Bible” (Arcade FireMusic LLC)The Cinematics “A Strange Education”(TVT Europe)Stars “Heart” (Setanta)Punks Jump Up “Dance To Our Disco”(Kitsuné)

“Canções pelo Iraque”

“Canções pelo Iraque” é a designa-ção do espectáculo que vai reunir depoisde amanhã (sexta-feira, dia 23), em Lis-boa, um grupo de destacados artistas por-tugueses.

No palco do cinema S. Jorge vão ac-tuar José Mário Branco, Fausto, JorgePalma, Paulo de Carvalho, Pedro Abru-nhosa, Luís Represas, Camané e Pac-man, dos Da Weasel.

Artur Ribeiro

em tese de doutoramento

O percurso de Artur Ribeiro, autor demais de um milhar de letras de fados ecanções, entre as quais “Nem às pare-des confesso”, foi objecto de uma tesede doutoramento defendida na Universi-dade Nova de Lisboa.

A tese, de autoria de Regina Gonçal-ves, intitula-se “Fiz leilão de mim: A car-reira de Artur Ribeiro no Portugal doEstado Novo”, um título que recupera umpoema de sua autoria e que Max popu-larizou.

Novo álbum dos Da Weasel

Os Da Weasel editam a 2 de Abril oálbum “Amor, Escárnio e Maldizer”, umtrabalho “conceptual” que mistura váriosestilos sem desvirtuar o som do grupo.

“Amor, Escárnio e Maldizer” sucedea “Re-Definições”, um dos mais bem su-cedidos álbuns dos Da Weasel, e apre-senta colaborações artísticas que vão dosGato Fedorento à Orquestra Sinfónica dePraga.

NOTAS SOLTAS

O cantor e compositor de música deCoimbra, Fernando Machado Soares, ac-tuou sexta-feira e sábado no Instituto doMundo Árabe, em Paris, acompanhadopor Ricardo Rocha (guitarra portuguesa)e Mário Estorninho (viola).

Os espectáculos de Fernando Macha-do Soares, inserem-se no ciclo “La Medi-terranée des musiques” que decorre na-quele instituto até Junho e que inclui, dias30 e 31, a fadista Maria da Fé.

Fernando Machado Soares, de 76 anos,é o artista português com maior número

Coimbra em Paris com Machado Soaresde actuações em palcos franceses.

Natural da ilha do Pico (Açores), Fer-nando Machado Soares licenciou-se emDireito em finais da década de 1950, ten-do exercido a magistratura paralelamen-te com a vida artística.

Cantor, compositor e poeta, gravou em1957 um disco apontado como um dosmais marcantes na história da cançãocoimbrã, o LP “Coimbra Quintet”.

O disco foi gravado em Madrid e, alémde Machado Soares, participaram neleAntónio Portugal e Jorge Godinho (guitar-

ra), Manuel Pepe e Levy Baptista (viola).É com a sua colocação como juiz no

Tribunal de Almada que o cantor se tornafrequentador assíduo das casas de fados,nomeadamente do Restaurante TípicoSenhor Vinho, em Lisboa, onde ainda can-ta regularmente.

A sua discografia é vasta, tendo edita-do recentemente em França um álbumpara a etiqueta Orfeon.

No ano passado o artista recebeu o Pré-mio Amália Rodrigues “pela excelência dacarreira artística e dedicação aos outros”.

Festival Itinerante de Jazzcomeça em 4 de Maio

DO CENTRO PARA TODO O PAÍS

A organização do Portugal Jazz - Fes-tival Itinerante de Jazz, cuja primeira edi-ção começa com um concerto a 4 de Maio,em Felgueiras, pretende divulgar o jazznacional em todo o país com a colabora-ção dos municípios.

O projecto foi apresentado em Lis-boa, no Centro Cultural de Belém(CCB), entidade que concedeu apoio àiniciativa e onde decorrerá a festa deencerramento da primeira edição, nofinal deste ano.

Pedro Rocha Santos, presidente do Jazzao Centro Clube (JACC) e director dofestival, sublinhou que o projecto arran-cou no ano passado com o objectivo demostrar o jazz criado por grupos portu-gueses e músicos estrangeiros a residirem Portugal, acompanhando os concer-tos com acções pedagógicas.

“Queremos democratizar o jazz, levá-lo ao máximo de população possível, lan-çar novas formações de jazz em Portu-gal, paralelamente a uma acção didácticasobretudo dirigida aos jovens”, disse so-bre o projecto, que foi concebido para serlevado em parceria com as 278 câmarasmunicipais do continente.

Felgueiras, Soure, Ansião, Penela, Fi-gueira da Foz, Montemor-o-Velho, Coim-bra, Vizela, Penacova e Almeirim são asCâmaras que já aderiram ao festival, cujocusto médio ascende a 3.800 euros porconcerto.

O valor pago pelas autarquias inclui arealização de um concerto de jazz à noite,com a respectiva divulgação, e uma ac-ção pedagógica à tarde, com explicaçõessobre a história deste género musical e osinstrumentos que habitualmente utiliza.

Nesta apresentação em Lisboa parti-cipou também o Delegado Regional daCultura do Centro, António Pedro Pita, quereferiu que o apoio da entidade “repre-senta uma parte do envolvimento que o Mi-nistério da Cultura quer ter neste projecto”.

“A credibilidade da organização, queteve a capacidade de se afirmar em ter-mos regionais e nacionais, e a identidadedeste festival à escala nacional, com avertente da divulgação da música e asacções pedagógicas, justificam plenamen-te o apoio”, salientou.

Criada em Coimbra, em 2003, a JACCtem vindo a realizar nesta cidade o Festi-val Internacional de Jazz, actualmente em5.ª edição, e lançou em 2005 a revista bi-mestral deste género musical Jazz.pt, queserá distribuída gratuitamente ao públicodurante os concertos do novo evento.

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23DE 21 DE MARÇO A 3 DE ABRIL DE 2007 INTERNET

IDEIAS DIGITAIS

Inês Amaral

Docente do Instituto Superior Miguel Torga

AEIOUDEZ

ETSY

O portal AEIOU nasceu a 13 de Janeiro de 1996.Foi durante os primeiros tempos o mais importante motorde busca português, até ser ultrapassado pelo SAPO –que criado por estudantes universitários, logo depoiscomprado pela PT e se assume como o centro da redeportuguesa. Durante os últimos 11 anos o AEIOU pas-sou por fases menos boas, mas esteve sempre presen-te na rede. Acreditou nas comunidades virtuais antesde ser moda. Manteve a Cultura como ponto centraldos conteúdos. Foi sempre dos únicos sites portugue-ses a não ter medo da lógica dos links e a apresentarhiperligações externas.

Mas durante anos, a diferença não foi suficiente. Odesign era demasiado restrito para os utilizadores co-muns. A lógica dos links externos, em particular na in-formação, desabituava os visitantes. A progressiva fal-ta de conteúdos próprios afastava as atenções paraoutros espaços da web. Quase 11 anos depois de ternascido, o AEIOU é comprado pelo grupo Impresa.Talvez tenha sido este o grande impulso. Ou não. Maso AEIOU mudou. E para muito melhor. Mais conteú-dos informativos próprios, espaços de opinião da equi-pa, possibilidade de personalizar a forma da página,design estruturalmente funcional, aposta contínua nodirectório, listagem de links interessantes (externos),identificação dos ícones gráficos dos sites da redeAEIOU. Está diferente. Para já, o novo site está mui-to melhor e claramente destacado dos restantes por-tais portugueses. Há algum excesso de informação napágina, mas o ruído é equilibrado com o design funcio-nal. Era também interessante uniformizar o registo atodos os sites da rede, permitindo convergir as váriastribos que navegam por este espaço. Falta saber queimpacto terá a agregação de conteúdos editoriais e deopinião. E esperar pelas novidades, já que o presidentedo grupo Impresa, Francisco Pinto Balsemão, já anun-ciou que na empresa este é o «ano multimédia».

AEIOUendereço: http://www.aeiou.pt / | categoria:

portais

PELA DIVERSIDADE,CONTRA A DISCRIMINAÇÃO

A Comissão Europeia lançou uma campanha em todaa UE com o mote “Pela diversidade. Contra a discri-minação”. No âmbito desta iniciativa, está a ser pro-movido um concurso de fotografia que pretende daroportunidade aos jovens de ajudarem a combater o pro-blema numa Europa a 27.

O desafio prolonga-se até 30 de Junho e dirige-se aestudantes do espaço europeu. O prémio é de nove mileuros. Mas neste concurso há três vencedores a rece-ber o mesmo prémio. Também este valor será atribuí-do à instituição de ensino do primeiro classificado. Os35 finalistas também vão ser premiados com uma vistaàs cidades dos três vencedores.

PELA DIVERSIDADE.CONTRA A DISCRIMINAÇÃOendereço: http://www.stop-discrimination.info/ |

categoria: fotografia, concurso

FACE2FACEPROJECT

O fotógrafo activista JR e Ladj Ly, habitante de umgueto francês, actor e realizador do colectivo Kourtra-jmé começaram a trabalhar juntos no projecto foi “28milímetros”, que registava imagens de rostos de jovensfranceses de uma zona problemática dos subúrbios dacidade de Paris. As fotografias foram afixadas nas ruasdo lado oriental da capital francesa, zona de preferên-cia dos boémios burgueses. A ideia era provocar ostranseuntes com imagens de pessoas que se queriam àdistância.

Com base nesta ideia, nasceu o Face2FaceProject.Esta iniciativa pretende retratar o conflito no MédioOriente de uma forma diferente. Retratos de cada umdos lados, no lado oposto. O fotógrafo JR sintetiza oprojecto da seguinte forma: «decidimos ir juntos para oMédio Oriente, para perceber porque os palestinianos

e israelitas não arranjavam uma maneira de se darembem. Este é um espaço sagrado para Judaísmo, Cristi-anismo e Islamismo. Esta é área pequena onde se podever montanhas, mar, deserto e lagos, amor e ódio, es-perança e desespero juntos. Depois de uma semana,chegámos à conclusão com as mesmas palavras: estaspessoas são parecidas, falam quase a mesma língua.Como irmãos gémeos educados por famílias diferen-tes. Uma mulher com um véu religioso tem a sua irmãgémea do outro lado. Um agricultor, um condutor detaxi, uma professora, tem o seu irmão gémeo à suafrente. E está continuamente a lutar com ele. É óbviomas eles não o vêm. Temos que os colocar cara-a-cara. Eles perceberão.»

FACE2FACEPROJECTendereço: http://face2faceproject.com/ | categoria:

documentário

O Dez é um projecto de origem independente que seinsere «numa estratégia para criar novos públicos». Oobjectivo é criar uma plataforma convergente de vári-os suportes – cinema, televisão, digital e Internet. Masafinal o que é? Cá fica a resposta: «Dez é aparente-mente uma desconexa teia de estórias contadas ao lon-go de 100 minutos. São Dez estórias de Dez realizado-res. O encontro de gerações é uma constante ao longodo projecto, num misto de juventude e experiência quese reflecte na composição da toda a equipa».

As dez curta-metragens que fazem parte do projec-to têm todas como base uma lenda com mil anos quesurgiu na Aldeia das Dez. Apostando na web, este pro-jecto tem como objectivo desenvolver-se e lançar-senuma longa-metragem, para a qual já existe guião.Online está a curta-metragem “DezBeta” e, dependendoda aceitação, vai ser delineada uma estratégia paramaterializar oDez.

DEZendereço: http://www.odez.net/ | categoria:

cinema

O Etsy é uma espécie de centro comercial onlinepara produtos feitos à mão. Neste espaço é possível

comprar e vender peças originais e únicas, construídascom criatividade e materiais que combinam o tradicio-nal e o urbano.

Há acessórios, roupa, objectos decorativos, mobília,velas e muitos outros produtos. Neste espaço são tam-bém vendidos materiais e moldes, para quem quer pro-duzir handmade. A navegação no site é muito intuiti-va. É possível encontrar produtos por cor, categorias,produtos mais vistos, produtos mais baratos, localiza-ção do produtor… Neste centro comercial online háartesãos de todo o mundo, com trabalhos interessan-tes. Um espaço a visitar.

ETSYendereço: http://www.etsy.com/ | categoria: lojas,artesanato urbano

Page 17: O Centro - n.º 23 – 21.03.2007

24 DE 21 DE MARÇO A 3 DE ABRIL DE 2007TELEVISÃO

PÚBLICA FRACÇÃO

Francisco Amaral

[email protected]

A BELA E O MESTRE

A TVI já não sabe o que inventar.Como tal, compra. Manda vir as refei-ções de fora e entrega a ementa e a con-fecção a cozinheiros estranhos. Estra-nhos em todos os sentidos.

O novo “reality-show” pretendido porQueluz, foi cozinhado pela eterna cria-dora do vazio – Endemol – (sim, aindasobrevive a tal Era do Vazio, de Lipo-vetsky) e é servido em restaurante ras-

ca cheio de efeitos visuais lá para asbandas da Venda do Pinheiro.

Em A Bela e o Mestre, mais uma vez,a realidade é hiperventilada, descontro-lada, subvertida, mas faz-se passar ain-da mais uma vez pela... “realidade”. Oprograma parte apoiado numa banalida-

de, daquelas efectivamente de base, emque as mulheres, particularmente as maisbonitas, são estúpidas e ignorantes, en-

quanto os homens, se inteligentes e sa-bedores, têm que ser desinteressantes.

O Lipovetsky da Era do Vazio, temaqui mais uma achega para a sua ideiade se viver na Hipermodernidade. Estaépoca, segundo ele, é caracterizada poruma cultura do excesso, do sempre mais.Assim sendo, como era necessário criarum “reality-show” ainda mais absurdodo que os anteriores, nada melhor doque recuperar a mulher de cabeça oca.O excesso também se pode fazer emmarcha-atrás.

As meninas, bonitas, sentam-se deperna cruzada sobre uma secretária atrásda qual está o rapaz sabedor. Projecta-se a imagem de Fidel de Castro. Quemé? Uhmmm... Deixa cá ver. Parece-meser um militar... O rapaz, lá atrás, estábanzado. Não pode ser verdade. Estanão conhece o Fidel? É o ponto de parti-da. A menina irá aprender, durante o pro-grama, muita coisa com o sabichão (?).

No entanto, e disto o público nem se-quer suspeita, tudo o que ali acontecepode ser ficcionado. Quer dizer, pagopara que seja assim. Paga-se à “bela”para fazer de ignorante e ao “mestre”para ser erudito.

Aliás, tudo pode ser pago na televi-são. Com dinheiro, géneros ou visibilida-de. Pois se até lá estão, no “júri” (?!), aDoutora Clara Pinto Correia e o DoutorRui Zink!

CUIDADO COM A LÍNGUA

Ora aqui está um programa de servi-ço público na RTP 1.

É um espaço didáctico e ao mesmotempo informativo e lúdico, com algumhumor q.b.. Com seis temas por emis-são, que não dura mais do que 10 ou 12minutos, mas com a flexibilidade de setratar um só assunto, sempre que a im-portância, as necessidades de abordagemou a actualidade assim o aconselham.

“Cuidado com a língua” é transmiti-do às sextas-feiras, logo após o Telejor-nal e é, obviamente sobre a língua portu-guesa. Apresentado pelo actor DiogoInfante, que não raro participa em cenasrecriadas do ponto de vista cénico, re-corre ainda a textos em “off” ou com-

plementares, lidos pela jornalista MariaFlor Pedroso, uma voz de ouro que vemda rádio.

O programa combina cenas ficciona-das, com imagens de actualidade e ou-tras de arquivo, grafismos, animações,diagramas e efeitos sonoros apropriados,misturados com imagens de depoimen-tos de especialistas ou em inquéritosde rua. A montagem acentua a vivaci-dade de uma língua tão variada comoa nossa.

“Cuidado com a língua” funciona bem.Cumpre a sua função com rigor, sem cairna tentação de se tornar deslocadamen-te didáctico. Isto é, ensina, mas não fazcair sobre o espectador o peso do traba-lho de aprender. O programa conta, comoprincipal colaboradora, com uma profes-sora de Coimbra – a Dra. Regina Rocha.

E se este é um belo exemplo do quepode, e deve, ser o serviço público detelevisão, o espírito do programa devia

estender-se ao canal público. É neces-sário que alguém cuide, com muita aten-ção e rigor, da forma como a nossa lín-gua é por lá tratada. Em particular nosnoticiários. É de interesse público nãodeixar que uma jornalista (Sandra Fel-gueiras) apareça numa peça a fazer um“vivo” frenético em que diz (e repete)...o “chqueiro”. Pois não é “chqueiro” quese deve dizer. Claro que é “isqueiro”.

Simplesmente, ouvindo bem, há pela RTP1 um problema com os “i”s. Rodriguesdos Santos, que até já foi director, tam-bém não gosta deles. Para ele há “pre-sedentes” e não presidentes, o que, nãosendo um lapso, que não foi, já que pro-nuncia sempre assim a palavra, é desa-conselhado que se diga perante o milhãoe tal de espectadores do Telejornal.

PENIM NÃO DORME

Não fui por certo o único a ler. “Fran-cisco Penim, director de programas daSIC, não dorme há um ano”. Isto mes-mo terá sido dito por ele, segundo umaentrevista há tempos publicada. E por-que não dorme Penim? Porque não pode,pelo menos enquanto não recuperar a li-derança das audiências para a SIC. Eleaté tem a receita: “três novelas produzi-das pela SIC e três pela Globo” e a SICvolta à liderança.

Assim, com seis (seis !!!) telenovelasdiárias, a estação de Carnaxide estaráno bom caminho. Penim deve saber comque público conta. E se não sabe cienti-ficamente, sabe-o por intuição. Metadeda população portuguesa continua anal-fabeta funcional. Mais de metade nãosabe mexer num computador. Peranteisto, Penim, por favor, não deve ser difí-cil recuperar o sono!

Page 18: O Centro - n.º 23 – 21.03.2007

3DE 21 DE MARÇO A 3 DE ABRIL DE 2007 OPINIÃO

O jornal “Centro” tem uma alician-te proposta para si.

De facto, basta subscrever uma as-sinatura anual, por apenas 20 euros,para automaticamente ganhar uma va-liosa obra de arte.

Trata-se de um belíssimo trabalhoda autoria de Zé Penicheiro, expressa-mente concebido para o jornal “Cen-tro”, com o cunho bem característicodeste artista plástico – um dos maisprestigiados pintores portugueses, comreconhecimento mesmo a nível inter-nacional, estando representado em co-lecções espalhadas por vários pontosdo Mundo.

Neste trabalho, Zé Penicheiro, como seu traço peculiar e a inconfundívelutilização de uma invulgar paleta decores, criou uma obra que alia grandequalidade artística a um profundo sim-bolismo.

De facto, o artista, para representara Região Centro, concebeu uma flor,composta pelos seis distritos que inte-gram esta zona do País: Aveiro, Caste-lo Branco, Coimbra, Guarda, Leiria eViseu.

Cada um destes distritos é represen-tado por um elemento (remetendo pararespectivo património histórico, arqui-tectónico ou natural).

A flor, assim composta desta formatão original, está a desabrochar, sim-bolizando o crescente desenvolvimen-

to desta Região Centro de Portugal, tãorica de potencialidades, de História, deCultura, de património arquitectónico, dedeslumbrantes paisagens (desde as prai-as magníficas até às serras verdejantes)e, ainda, de gente hospitaleira e traba-lhadora.

Não perca, pois, a oportunidade dereceber já, GRATUITAMENTE, estamagnífica obra de arte, que está repro-duzida na primeira página, mas que temdimensões bem maiores do que aquelasque ali apresenta (mais exactamente 50cm x 34 cm).

Para além desta oferta, passará a rece-

ber directamente em sua casa (ou no localque nos indicar), o jornal “Centro”, que omanterá sempre bem informado sobre oque de mais importante vai acontecendonesta Região, no País e no Mundo.

Tudo isto, voltamos a sublinhá-lo, porAPENAS 20 EUROS!

Não perca esta campanha promocio-nal, e ASSINE JÁ o “Centro”.

Para tanto, basta cortar e preencher ocupão que abaixo publicamos, e enviá-lo, acompanhado do valor de 20 euros(de preferência em cheque passado emnome de AUDIMPRENSA), para a se-guinte morada:

Jornal “Centro”

Rua da Sofia. 95 - 3.º3000–390 COIMBRA

Poderá também dirigir-nos o seu pe-dido de assinatura através de:

� telefone 239 854 156� fax 239 854 154� ou para o seguinte endereço

de e-mail:[email protected]

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da “Revolta das Caldas”, em que parti-ciparam alguns dos seus protagonistas,bem como duas das principais figuras daRevolução do 25 de Abril de 1974: OteloSaraiva de Carvalho e Vasco Lourenço.

Pois a sala da Casa da Cultura, ape-sar de não ser muito grande, não encheu,e a maioria dos assistentes eram milita-res ou ex-militares.

Um ou outro professor de História,dois ou três jornalistas, e para contar osjovens estudantes que por ali passaramsobravam os dedos de uma mão. Istonuma cidade dita do Conhecimento, comuma população estudantil composta pordezenas de milhar de jovens e por mui-tas centenas de professores, que assimperderam uma oportunidade (talvez ir-repetível) de ouvir e questionar algumasdas mais destacadas figuras da nossaHistória recente, a quem se deve a ins-tauração da Liberdade e da Democra-cia no nosso País, ao cabo de quase meioséculo de Ditadura.

Mas, em contrapartida, e como preo-cupante sinal de garotice e falta de ci-vismo, houve quem, pela calada da noi-te, se tivesse dedicado a pintar paredes,junto à Casa da Cultura, com frases ofen-sivas para os palestrantes e para a Re-volução de Abril.

Perante estes factos, é menos surpre-

endente que Salazar continue na lideran-ça da votação do insólito concurso “Me-lhores Portugueses”…

***Devo confessar que tenho simpatia por

Maria José Nogueira Pinto. Tanta queme decepcionei quando, há uns anos,numa campanha eleitoral, a vi aos salti-nhos, em fila indiana, a cantar “É o bi-cho, é o bicho, vou ti dêvorá…”

O calor do eleitoralismo provoca, àsvezes, estas manifestações de mau gos-to e de falta de discernimento. Mas issologo se releva, quando se vêem as posi-ções corajosas em defesa de ideais, so-brelevando interesses partidários.

Confesso também que dei comigo apensar, ao ver as imagens do início doConselho Nacional do CDS, que a Di-reita estava a dar uma lição de civismo,quando Paulo Portas e Ribeiro e Castrose cumprimentaram como grandes ca-valheiros (ver a foto que publicamos napágina 9), contrastando com o que suce-deu entre Manuel Maria Carrilho e Car-mona Rodrigues no termo de um céle-bre debate televisivo.

A verdade é que quanto maior é acamada do verniz, mais se nota quandoele estala. E parece que estalou mesmoem sentido próprio, pois Maria José No-

gueira Pinto afirma ter sido não só insul-tada, como fisicamente agredida – porum deputado do seu partido, em pleno

Conselho Nacional!Se isto é Democracia Cristã, afinal o

Papa talvez tenha alguma razão…

***Longe de tudo isto, há um cidadão

português, de 78 anos, que vive na fre-guesia de Seixo da Beira (Oliveira do

Hospital) e que dizem ser maluco. Oancião alimenta-se de milho e centeio queesmaga com uma pedra, e recusa-se ter-minantemente a receber a pensão socialque lhe foi concedida. E como justificaele esta estranha atitude? Reproduzo assuas razões: “Se eu nunca descontei parao Estado, o Estado não tem de me darnada a mim!”.

E ninguém consegue demovê-lo.Logo me vêm à memória nomes de

muitos outros cidadãos, alguns dos quaisse serviram do Estado mais do que ser-viram o Estado, e que no termo de es-casso tempo de função receberam cho-rudas indemnizações e recebem princi-pescas reformas (assim mesmo, no plu-ral!).

O sr. Manuel Maria Dias (nome des-te cidadão exemplar único), poderá sermaluco, mas também é honesto comopoucos!

***E por aqui me fico, porque hoje chega

a Primavera, porque é Dia Mundial daÁrvore e da Floresta, porque é Dia Mun-dial da Poesia – tudo coisas que devemdespertar o melhor que há dentro de nós,para tentar descobrir o melhor do quenos rodeia...

Bom Dia!

Page 19: O Centro - n.º 23 – 21.03.2007

4 DE 21 DE MARÇO A 3 DE ABRIL DE 2007COMBRA

É absolutamente necessário investirem inovação para que a economia por-tuguesa se desenvolva. Esta uma dasmensagens que o ex-Ministro Mira Ama-ral deixou na conferência que proferiuem Coimbra na passada sexta-feira (dia16), na ACIC (Associação Comercial eIndustrial de Coimbra).

“A Competitividade Portuguesa naEconomia do Conhecimento” foi o temada conferência que trouxe a Coimbra,numa iniciativa da ACIC, aquele que foi,no Governo de Cavaco Silva, responsá-vel pelas pastas da Indústria e Energia,do Trabalho e Segurança Social.

Um dos melhores Ministros da Eco-nomia de Portugal, segundo referiu, naapresentação, o dirigente da ACIC JoséCarlos Martins.

Dirigindo-se ao elevado número de

AFIRMOU MIRA AMARAL EM CONFERÊNCIA NA ACIC

Inovação é fundamental

para a economia portuguesanomia portuguesa, sustentou Mira Ama-ral, lembrando que os recursos humanosnecessitam, nas nossas empresas, deferramentas para tirar o melhor proveitodas infra-estruturas que possuem. De-fendeu ainda que Portugal tem de criarcondições para atrair competências.

O debate prosseguiu depois, de manei-ra informal, no decorrer do jantar que reu-niu Mira Amaral, os dirigentes da ACIC emuitos empresários no Hotel D. Luís.

O Presidente da ACIC, Paulo Canha,considerou que este tipo de iniciativas éimportante para a dinamização empresa-rial da Região Centro, promovendo o de-bate entre agentes económicos, pelo quea Associação deseja, desta e de outrasformas, contribuir para a competitividadedo tecido empresarial da Região e do País.

empresários da Região Centro que en-cheram o Salão Nobre da ACIC, MiraAmaral abordou a competitividade emPortugal, a captação de investimentoestrangeiro e a importância da afirma-ção de uma economia do conhecimento.Sublinhou que produtividade e competi-tividade são conceitos imprescindíveis nanossa economia, onde o conhecimento éum factor essencial para o sucesso.

Alertando os empresários para queinformação e conhecimento substituem,no século XXI, capital e energia, MiraAmaral defendeu ser de cada vez maisnecessário investir em inovação.

A esse propósito, deixou mesmo umrecado a Manuel Pinho, indagando, comironia, se ele é realmente Ministro daEconomia e Inovação.

A inovação é fundamental para a eco-

Paulo Canha, José Carlos Martins e Mira Amaral

Mira Amaral e Adolfo Roque (em cima) e

aspecto da assistência (em baixo)

DEBATE EM COIMBRA NÃO ESCLARECEU TODAS AS DÚVIDAS

Falta de consenso sobre a “Revolta de 16 de Março”

Otelo Saraiva de Carvalho falando num dos painéis do debate que se prolongou

por várias horas e onde se levantaram diversas dúvidas

O Movimento dos oficiais das ForçasArmadas, nas vésperas de 16 de Marçode 1974 estava consciente da necessi-dade de derrubar o regime através deum golpe de Estado. Aliás, isso tinha sidodecidido em reunião efectuada dias an-tes (a 5 de Março. em Cascais). Estetalvez o único aspecto consensual sobraa revolta frustrada de uma coluna militarque saiu das Caldas da Rainha, mas queteve de regressar por nãpo ter sido se-guida por mais nenhuma outra unidade.

Quanto ao resto, muitas dúvidas sub-sistiram no debate que na Casa da Cul-tura de Coimbra juntou muitos dos prota-gonistas dessa revolta e também dirigen-tes do movimento que 40 dias depois seriabem sucedido, a 25 de Abril, como Otelo

Saraiva de Carvalho e Vasco Lourenço.Do muito que sde ouviu, ficou a ideia

de que dentro do movimento que acaba-ria por derrubar o regime existiam duastendências, sendo uma delas afecta aogeneral Spínola - e terá sido essa que,precipitadamente, terá decidido sair dasCaldas da Rainha, sem um plano de ope-rações bem gizado, noconvenmcimentode que muitas outras unidades a seguiri-am - o que não aconteceu.

Os revoltosos foram presos, espalha-dos depois por várias unidades, o que aca-baria por contribuir para facilitar o êxitodas operações a 25 de Abril de 1974.

Mas muitas são ainda as dúvidas so-bre esta acção militar que continuma poresclarecer.

Page 20: O Centro - n.º 23 – 21.03.2007

5DE 21 DE MARÇO A 3 DE ABRIL DE 2007 REPORTAGEM

A LUZE PORTUGUESA (LEILOEIRA) tem ao seu dispor na sua sede social, na Rua da

Palmeira, Lote 3, 3040-792 Cernache, mobiliário diverso com salas de jantar, quartos

completos, candeeiros, mesas, cadeiras, credenciais e outros. Electrodomésticos

diversos, televisões, máquinas de lavar, máquinas de secar, frigoríficos e fogões,

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ços de jantar completos e muitos outros artigos. Lotes de material escolar, papelaria

e livraria.

Estamos abertos de segunda a sexta das 9h00 às 13h00 e das 14h00 às 17h00 e aos

sábados das 9h00 às 13h00. Na sua filial em Santana - Santiago do Litém, a 8 Km de

Pombal, poderá encontrar roupas, calçado de senhora, homem, criança e bebé, em

estado semi-novo a partir de 50 cêntimos a peça.

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Aberto todos os sábados e domingos das 9h00 às 13h00 e brevemente leilões

on-line.

Faça-nos uma visita e poderá encontrar o artigo que procura.

Seja bem-vindo!

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INICIATIVA DO CONSELHO DA CIDADE DE COIMBRA E DA “MARGEM ESQUERDA”

Passeio pelas zonas verdes de Coimbra

desvendou património muito valiosoNuma iniciativa conjunta do Conselho

da Cidade de Coimbra e da Associação“AME - Amigos da Margem Esquerda”,decorreu no passado sábado um passeio/visita de estudo, subordinado à temática“Dos verdes da Sereia aos da Quinta dasLágrimas”.

Dezenas de pessoas participaram nes-ta iniciativa, que se iniciou no Parque deSanta Cruz (Jardim da Sereia), onde oVereador João Rebelo deu conta dosmelhoramentos que ali estão a ser intro-duzidos, para recuperar aquele belo es-paço e o tornar mais atractivo.

João Rebelo, aliás, acompanhou o res-to do percurso feito a pé, que dali seguiuaté ao Jardim dos Patos (junto aos Ar-cos do Jardim), entrando depois no Jar-dim Botânico.

A Directora daquele magnífico jardim(o mais importante do País e um dos maisricos do Mundo pela variedade das suasespécies), Helena Freitas, serviu de ci-cerone, dando conta das dificuldades comque luta, mas também da criatividade quetem permitido manter o Jardim em fun-cionamento.

Os participantes tiveram o privilégio

de descer pela Mata, que não está aces-sível ao público, saindo pelo portão quedá para a Rua da Alegria, frente ao Par-que Dr. Manuel Braga.

Ali ouviram algumas explicaçºões so-bre o que vai ser o Museu da Água (aque aludimos nas páginas 10 e 11), se-

guindo depois para a zona do ParqueVerde do Programa Polis.

Atravessaram depois a belíssima pon-te pedonal “Pedro e Inês”, a meio da qualforam recebidos pelo Presidente da Juntade Freguesia de Santa Clara.

Depois do almoço na Escola D. Duar-te )confeccionado por alunos do CursoProfissional de Cozinha ministrado naque-la escola, sob a orientação do chefe LuísLavrador), os participantes continuaramo passeio até à Quinta das Lágrimas, umazona que tem também uma rica diversi-dade de espécies botànicas, para alémde uma vertente histórica e românticabem conhecida em todo o Mundo.

A concluir o passeio, e agora já emautocarro, os participantes foram conhe-cer diversos pontos do planalto de SantaClara, para onde a cidade tem crescidode forma nem sempre equilibrada.

Na pequena praça que fica no meio da ponte Pedro e Inês o vereador

João Rebelo dá explicações sobre o Programa Polis

Início da visita ao Jardim Botânico, orientada por Helena Freitas

O passeioo principiou no Jardim da Sereia

A equipa de jovens estudantes de cozinha da Escola D. Duarte, dirigida pelo chefe

Luís Lavrador, foi uma agradável surpresa pela qualidade demonstrada

Page 21: O Centro - n.º 23 – 21.03.2007

6 DE 21 DE MARÇO A 3 DE ABRIL DE 2007A PÁGINA DO MÁRIOwww.apaginadomario.blogspot.com

[email protected]

Mário Martins

O ABORTO, O CRIMEE A PENA

Segundo a Imprensa, um anteprojec-to de lei prevê, para o crime de abortoapós as dez semanas, a substituição dapena de prisão pela suspensão provisó-ria do processo.

Se vier a confirmar-se tal proposta,estaremos perante um facto de enormegravidade.

Não se trata, apenas, de uma falta derespeito pelo recente referendo.

Aí prevaleceu a despenalização doaborto até às dez semanas.

Agora, despenaliza-se também depoisdas dez semanas.

Mais grave ainda, antes do referendosurgiram várias propostas para, continu-ando a considerar o aborto um crime,evitar a prisão das mulheres. Por exem-plo, através da suspensão provisória doprocesso.

A reacção de muitos a tais ideias foiclassificá-las de hipócritas, pois – diziam– não pode haver crime sem pena.

Pois são essas ideias que, agora, con-sideram boas para o aborto após as dezsemanas.

Há que perguntar: afinal, quem éhipócrita?

A confirmar-se esta enormidade, se-ria uma brincadeira de mau gosto se nãofosse uma séria falta de honestidade po-lítica. (“Nota de Abertura” da RádioRenascença)

COMENTÁRIO: Nunca pensei quePortugal se transformasse num sítio tãomal frequentado...

(publicado no blogue em 19 de Março)

EDP X 8

Nas últimas duas horas, oito cortes nofornecimento de electricidade!

Oito vezes que foi necessário desligare reiniciar os computadores.

Oito vezes que foi interrompido o ser-viço telefónico e o acesso à Internet.

Estamos em Portugal, no século XXI.

EDP + 1

Outra interrupção no fornecimento deenergia eléctrica.

(Desta vez, sempre consegui trabalharuns 20 minutos...)

EDP + 2

Mais dois cortes, no espaço de meiahora.

Desisto.Vou para casa.(publicados no blogue em 19 de Março)

AÍ ESTÁ ELE!

Nem de propósito...Tinha acabado de publicar o “post” an-

terior e Santana Lopes entra em minhacasa, via SIC Notícias, a lembrar que numcongresso social-democrata, em Pombal,prometeu “andar por aí”.

Deixem-no andar, por favor.Deixem-no andar.(publicado no blogue em 19 de Março)

TELENOVELA NO CDS

Tem “ares” de telenovela mexicana oPREC (Processo Renovador Em Cur-so) no CDS.

Há pouco, na televisão, Telmo Cor-reia afirmava que Maria José NogueiraPinto (que falou ao princípio da tarde)

demorou 24 horas a dizer que tinha sidoagredida fisicamente por um deputado.

24 horas??? Que relógio usará TelmoCorreia?

Agora vejo uma conselheira a lamen-tar que Pires de Lima tenha usado linua-gem injuriosa.

Entretanto, anuncia-se para as 20h00uma comunicação televisiva de Ribeiroe Castro.

Para o folhetim estar concluído só faltaSantana Lopes imitar Paulo Portas...

(Será que ninguém lhes consegue fa-zer ver que o tempo deles já passou?)

(publicado no blogue em 19 de Março)

CARLOS CARRANCA

O meu amigo Carlos Carranca tempostado hoje incessantemente comentá-rios em vários blogues ligados à Acadé-mica/OAF.

Transcrevo um deles, como forma dehomenagem a alguém que - como eu -se sente cada vez mais “desalinhado”com os vários poderes.

******

A Académica já não existe e estessenhores foram os seus coveiros.

Agora é tarde.Não vejo ninguém que queira ir para

a direcção que não seja para tirar parti-do da situação. Políticos salvadores, au-tarcas ex-ministros, palradores do auto-elogio (nunca me esquecerei de umahomenagem a Falcão e Cunha organiza-da pela Casa da Académica em Lisboaem que o tal autarca esteve meia hora afalar dele para homegear o outro).

Pensem na refundação da Académi-ca.

(publicado no blogue em 12 de Março)

AH “LEÕES”!...

Liguei agora mesmo o televisor. Na“4”, para ver o futebol.

Joga-se na Madeira há 24 minutos.A primeira imagem que vejo é a de

um defensor da FC Porto a empurrar ojogador do Marítimo, dentro da área, pe-rante a total passividade do árbitro.

“Ah leão!”.

***

Há muito que “já dei” para este cam-peonato.

Desde que vi os portistas, em duasjornadas seguidas, vencer a Académicae o Belenenses, desde que vi a formacomo dois empates se transformaram emduas vitórias, desde que vi os portistasconseguirem aqueles 4 pontos, o cam-peonato - para mim - “fechou paraobras”.

Nem lá ponho os pés.(Para rir, como é natural, prefiro o circo.)(publicado no blogue em 11 de Março)

PERGUNTA... POLÍTICA

O “Paulinho das feiras” terá evoluído,depois da passagem pelo Governo, para“Paulo dos hipermercados”?

(publicado no blogue em 10 de Março)

RETRATO DO PAÍS

Mais de 40 mil alunos desistem duranteas férias da Páscoa – Entre 18 e 20 milalunos do 7.º ano abandonam os estudostodos os anos por altura das férias da Pás-coa.

Na mesma época, entre 20 e 25 mil quefrequentam o 10.º ano deixam a escola.

Contas feitas, quase 20% dos jovens quese matricula nesses dois níveis de ensinodesiste.

Para contrariar o cenário traçado on-tem pela ministra Maria de Lurdes Rodri-gues, o Ministério da Educação vai lançaruma campanha publicitária com o objecti-vo de valorizar o processo de aprendiza-gem, estimular a procura de formação pro-fissional e mobilizar a sociedade para o pro-jecto da Escola. (in “Jornal de Negóci-

os”)(publicado no blogue em 8 de Março)

JULGAMENTO:SIM OU NÃO?

Major à beira de um ataque de nervos– Valentim Loureiro ficou furioso quandosoube que, juntamente com mais 23 ar-guidos, terá de sentar-se no banco dosréus. Pouco passava das 18 horas de on-tem e no Tribunal de Gondomar já eracerto que as escutas telefónicas do pro-cesso Apito Dourado não seriam decla-radas nulas, o decreto-lei que pune a cor-rupção no desporto não seria declaradoinconstitucional, assim como também jáhavia a certeza de que Pinto de Sousa,enquanto líder do Conselho de Arbitragemda Federação de Futebol, pode ser consi-derado funcionário público.

Na Câmara de Gondomar, o autarca eum dos principais arguidos do processoficou à beira de um ataque de nervos, faceao frustrar da expectativa de o caso nãochegar a julgamento. Afinal, a fase de ins-trução só serviu para lhe ser retirada acu-sação por um crime de prevaricação, re-lacionada com um processo de licencia-mento de uma moradia particular em Gon-domar. A acalmia só regressou parcial-mente quando os advogados Amílcar Fer-nandes e Artur Marques foram reconfor-tar o major e o seu vice-presidente, JoséLuís Oliveira.

De resto, os árbitros Rui Mendes (oprincipal denunciante do processo), Aní-bal Gonçalves e Sérgio Pereira foram osúnicos ilibados. Terão, no entanto, de de-por como testemunhas arroladas pela acu-sação no julgamento que se seguirá. Tes-temunha também será Carolina Salgado,a ex-companheira de Jorge Nuno Pintoda Costa, que depôs, na instrução, sobreas relações de amizade de Pinto de Sou-sa com o presidente do F. C. Porto e Va-lentim.

Por outro lado, para manter as acusa-ções contra o autarca por crimes de cor-rupção activa sob a forma de cumplicida-de, o juiz manteve a ideia defendida peloprocurador-adjunto do Ministério Públicode Gondomar, Carlos Teixeira. (excerto

de texto de Nuno Miguel Maia, publi-

cado hoje no “Jornal de Notícias”)

COMENTÁRIO: E eu que pensava terouvido noutro dia Valentim Loureiro a dizerque queria ser absolvido em tribunal, para quenão restassem dúvidas a ninguém sobre asua conduta... Claro que posso ter ouvido mal.Ou a notícia vir a ser desmentida.

(publicado no blogue em 7 de Março)

A PROVA

Pauleta, o melhor marcador de sem-pre da selecção portuguesa, voltou hojea provar duas coisas:

1. É um avançado “à moda antiga”,com instinto do golo, terrivelmente eficaz;

2. Vai terminar a carreira sem alinharna 1.ª divisão portuguesa, uma prova daqualidade de Pintos, Loureiros, Macha-dos, etecetera-e-tal.

(publicado no blogue em 15 de Março)

Page 22: O Centro - n.º 23 – 21.03.2007

7DE 21 DE MARÇO A 3 DE ABRIL DE 2007 ENTREVISTA

Há várias formas de contar histórias.Algumas são escritas em livros e jornais.Outras são representadas pela bandadesenhada. Mas na televisão, no cinemae no Teatro são os actores que recriama história. No Teatro, em particular, estarecriação ocorre ao vivo. O actor está ànossa frente, no palco. O palco é umespaço onde um actor representa a vidade uma personagem, inventada ou real.

Mas é possível viver do teatro? Ouisso é só para profissionais? E qual é adiferença entre o teatro profissional e odito teatro amador?

Segundo Raquel Cajão, enfermeira eactriz, a diferença está no dinheiro: “Noteatro profissional há remuneração, en-quanto no amador há dedicação”. E asua dedicação começou numa personifi-cação da “Droga”. Uma história escritapela irmã Rute, no decurso do sétimo anode escolaridade. Com o avançar dos es-tudos, e já no 12º ano, frequentou umacadeira de Expressão Dramática.

Na entrada para o ensino superiorconheceu o teatro universitário. Mas as

RAQUEL CAJÃO, ENFERMEIRA E ACTRIZ

“Após um dia de trabalhoo teatro é uma terapia”Hugo Anes

Assinala-se amanhã (quinta-feira,

dia 22), o Dia Internacional do

Teatro Amador. O “Centro” foi

ouvir uma jovem que, de alguma

forma, pode simbolizar os largos

milhares de pessoas que ocupam

os seus tempos livres dedicando-

se a esta Arte, apenas pelo amor

que lhe têm.

TEUC 69 ANOS

Através da acção de Paulo Quintelaà frente do TEUC (Teatro de Estudan-tes da Universidade de Coimbra), fun-dado em 1938, a Faculdade de Letras daUniversidade de Coimbra esteve pionei-ramente associada à tradição do teatrouniversitário em Portugal.

A criação posterior do CITAC (Cír-culo de Iniciação Teatral da Academiade Coimbra), em 1954, introduziu umavertente experimental e formativa, no-meadamente através do Curso de Inici-ação ao Teatro, constituído por ateliersde Preparação de Actor, MovimentoContemporâneo, Voz, Improvisação, Lu-minotecnia, Sonoplastia, Cenografia,Concepção Figurinista, Produção e Ad-ministração e Exercício Final, a ser apre-

A PROPÓSITO DO DIA INTERNACIONAL DO TEATRO AMADORO que é e como surgiu o teatro?

Inspiração dos deuses? Obra dos

homens? Sabe-se hoje que é a arte

mais antiga da Humanidade, por-

que sendo a arte do diálogo, nasceu

quando um Homem começou a

comunicar com outro Homem,

utilizando o corpo, o gesto, as

palavras. Em Coimbra há diversos

grupos de teatro, a maior parte

deles amadores. Como seria im-

possível referir todos, optámos por

fazer referência ao mais antigo

grupo de teatro universitário, com

grandes tradições, que ao longo de

décadas tem vindo a despertar o

gosto por esta arte e a formar

jovens actores, muitos dos quais se

tornaram depois profissionais.

sentado ao público. Paralelamente a es-tas actividades, o CITAC mantém a rea-lização de performances de rua, intervin-do pontualmente em eventos que ocorramna cidade. Em conjunto com o TEUC, oCITAC organiza ainda o Actus (Festivalde Teatro Universitário).

A primeira apresentação pública doTEUC realizou-se em 27 de Julho de1938, ainda com a designação de grupoCénico da Secção de Fado Académicode Coimbra. Durante os seus primeirostrinta anos de existência, a actividade doTEUC foi marcada pela direcção artísti-ca do Professor Paulo Quintela, tendodurante esse período sido encenadosautores do Teatro Clássico Grego, comoEurípedes, Sófocles e Ésquilo, clássicos

do Teatro Mundial como Molière, Goe-the e Calderon de la Barca, autores mo-dernos como Tchekov e Garcia Lorca,e, finalmente, autores portugueses, des-de Gil Vicente e Luís de Camões a auto-res contemporâneos como Miguel Tor-ga, Raúl Brandão e José Régio.

Hoje, o TEUC sente a necessidade deafirmar o Teatro Universitário como te-atro de valor social e crítico. No âmbitoda IX Semana Cultural da Universidadede Coimbra, que decorreu de 1 a 10 deMarço, o TEUC apresentou o “ProjectoMuller”, encenado por Ricardo Correia,e com um elenco de três actores, AnaBeirão, Marlise Silva e Nuno Geraldo.Na operação de luz colaboraram RuiCapitão e Raquel Cajão.

exigências do curso de enfermagem, como horário sobrecarregado de aulas e ossucessivos estágios, impediram-na deavançar e de se inscrever no teatro aca-démico. Contudo, no decurso do tercei-ro ano de enfermagem descobriu o tea-tro de rua. Gostou, e arriscou ao inscre-

ver-se. Raquel Cajão recorda ainda hoje,com perplexidade e risos, a sua primeiratarefa no teatro de rua: “Mandaram-mepara a baixa de Coimbra observar aspessoas, os seus movimentos, os gestose até os olhares”. A passagem pelo tea-tro de rua apaixonou-a de tal modo que

se envolveu na produção e realização dosespectáculos.

Durante o ano de 2005 conclui o cur-so de enfermagem e em Setembro co-meça a trabalhar. Em simultâneo sabeda abertura de um curso de formaçãoteatral no TEUC (Teatro de Estudantes

da Universidade de Coimbra) e volta aarriscar, inscreve-se. O dia-a-dia é as-sim repartido entre o trabalho no hospi-tal e a formação teatral. Raquel Cajãodescreve o frenesim desses dias: “Nes-se momento ia a tudo, inclusiveworkshops ao fim-de-semana. Queria

saber tudo sobre o teatro.”O curso de formação teatral no TEUC

culminou com um exercício final, em queRaquel Cajão interpretou o papel de “An-tígona”, da obra de Sófocles. Na plateiaestiveram os pais da Raquel que, segun-do ela, não perceberam muito bem o sig-nificado da actuação: “Os meus pais nofinal estavam um pouco confusos, mas oencenador sossegou-os dizendo que porvezes é mais importante sentir do queperceber”.

Hoje, Raquel Cajão está a conhecer ea aprender a componente técnica do te-atro. O TEUC exibe actualmente o Pro-jecto “Muller” e a actriz colabora na ope-ração de luz. E adianta que não quer fi-car por aqui, tem já em vista a produção,que descreve como uma actividade “ex-tenuante”.

Extenuante e gratificante é também oexercício da enfermagem, uma profissãoque Raquel Cajão diz gostar imenso eexplica porquê: “Cuidar não é tratar.Cuidar é ter tempo para me sentar e con-versar com uma pessoa. Este é o me-lhor cuidado que podemos dar a alguém.”

Page 23: O Centro - n.º 23 – 21.03.2007

8 DE 21 DE MARÇO A 3 DE ABRIL DE 2007OPINIÃO

EXCELENTE DECISÃO

O Governo português acaba de assu-mir a decisão de excluir a energia nucle-ar como fonte energética para o desen-volvimento económico e social do país.

A Associação dos Médicos Portugue-ses para a Prevenção da Guerra Nucle-ar tem vindo a alertar os órgãos estataispara os riscos potenciais que a produçãode energia nuclear traz, pelo que se afir-ma contrária a essa circunstância. Defacto, são bem conhecidos os efeitosmorfológicos, funcionais e genéticos, dasradiações ionizantes, que tiveram nasexplosões em Hiroshima e Nagasaki umtrágico modelo experimental que nãopodemos esquecer em nome de qualquerlógica economicista.

As consequências do acidente da es-tação nuclear de Chernobil vieram aler-tar a Humanidade para os riscos que autilização desta energia pode desenca-dear, se houver um acidente nuclear,morte imediata, morte no prazo máximode 10 dias, fome, traumatismos e quei-maduras, degenerescências malignas,alterações genéricas e alterações psico-neurológicas.

Os serviços de saúde ficam comple-tamente inoperantes pela morte dosprofissionais e com a destruição dosmeios técnicos disponíveis. O exemplode Hiroshima alertou para essa conse-quência, pois mostrou que dos 120médicos existentes sobreviveram ape-nas 30 e dos 1780 enfermeiros sobre-viveram 126. (…)

Nuno GrandeJN 15/03/07

CONGRESSO E DIRECTAS

(...) Paulo Portas bem sabe que, nomomento que escolheu para esta crise,o mecanismo adequado para a resolveré o Congresso do partido, em convoca-ção extraordinária. Não pode querer for-çar o partido a outro método, não institu-ído, nem regulado, querendo sujeitar osmilitantes a uma mudança de normas atrouxe-mouxe, anunciando regras queninguém conhece. Quem é, como PauloPortas disse na sua declaração, contrá-rio a congressos extraordinários, tem deser também contrário a directas extra-ordinárias. E ainda mais contrário aoabsurdo de introduzir a título extraordi-nário eleições extraordinárias para subs-

tituir o Congresso extraordinário adequa-do a responder à crise extraordinária queele decidiu abrir neste momento extra-ordinário. Isso é que seria verdadeira-mente extraordinário! (…)

Ribeiro e CastroJN 15/03/07

SALVEM A PROFESSORINHA

Meninas e meninos, na professoranão se bate nem com uma flor. Nem seatira maçãs ao mestre nem se invectivaou desrespeita os directores de turmanem que eles sejam conspiratórios diri-gentes sindicais de longas barbas ou saiae casacos de saldo. Sabemos que hojeas televisões são as grandes educado-ras das classes A B1 B C que é umamaneira de arrumar a sociedade semgrande classe. Mais antigamente, hou-ve a telescola que era uma forma sinis-tra de levar a educação aos lugares ondeainda se podia nascer e até, pasme-se,viver. Era como se hoje alguém tivessea suficiente pachorra para gravar o ca-nal Parlamento.

Ele havia pastores, cantoneiros e la-vradores e lavadeiras, discutiam-se pa-lavras difíceis como lavoura, monda edebulhada. (…)

Rui ReininhoJN 09/03/07

REFORMA DAS POLÍCIAS

(…) Mais uma vez o Governo esco-lhe atacar os sintomas em vez de se cen-trar na doença. Fica a ideia que não éuma reforma policial mas mais uma ma-nobra economicista de constrangimentode despesa sem um olhar estratégico.

Outra operação de cosmética cujoscustos haveremos todos de pagar e ou-tra oportunidade adiada até que a cora-gem e a lucidez substituam esta políticade noticiário, obcecada com a primeirapágina dos jornais, indiferente aos ver-dadeiros problemas que urge resolver. Éa vida

Francisco Moita FloresCM 12/03/07

SEGURANÇA

Confesso que não partilho das reser-vas e desconfiança que gerou, em algummeio judiciário, a nova arquitectura dasforças policiais desenhada pelo Gover-no. O novo modelo de segurança quecoloca a PSP, a GNR, a PJ e o SEF (Ser-viço de Estrangeiros e Fronteiras) sob ocomando de um secretário-geral para aSegurança Interna, que fica na depen-dência directa do primeiro-ministro, visaagilizar e dar mais eficácia ao modelo deinformação actual, que padece de defi-ciências estruturais graves.

É patente no modelo actual verificar-se falta de coordenação integrada depolícias e serviços de informação, con-flitos de competência que são potencia-

dores de uma competição negativa, dis-persão de informação e desaproveita-mento dos recursos humanos disponíveis.O Governo tem legitimidade democráti-ca para levar a efeito esta reforma, nãohavendo perigo para a Justiça uma vezque esta informação não se reporta aprocessos em concreto.

Rui RangelCM 11/03/07

LIBERAIS À MODA ANTIGA

É impossível falar de liberdade semfalar de gente que, à moda antiga, prezaa liberdade. Não se trata de liberalismo -para não confundir com uma das carti-lhas em voga; trata-se de liberdade e, porisso, tenho falado de “liberais à modaantiga” a propósito de uma série de pes-soas que, geralmente de modo solitário eà revelia do pensamento dominante, sepreocupa com estas questões.

Ora, independentemente do que setem escrito sobre o Sistema Integradode Segurança Interna (SISI) e sobre asua dependência directa do primeiro-ministro, que também supervisiona oSistema de Informações da RepúblicaPortuguesa (SIRP) e os serviços de in-formações (SIS e SIED), há aqui ma-téria para reflexão. Não só sobre as-pectos técnicos mas, também, acercado acesso que uma só pessoa pode tera dados cujo cruzamento pode consti-tuir uma intromissão ilegítima do Esta-do ou de funcionários do Estado na vidados cidadãos.

Há, evidentemente, a posição corren-te que manda dizer que “quem não devenão teme”. Nesta perspectiva, tanto oconhecimento da folha de IRS como oacesso a toda a base de dados do Minis-tério da Justiça ou a elementos sobre avida familiar do cidadão (aproveitamen-to escolar, património, carreira, etc.) po-dem ser públicos, que daí não viria malao mundo. Justamente, vem há dadosque, reunidos, constituem uma ameaçaà esfera privada dos indivíduos e podemsinalizar uma intromissão inadmissível nasua vida familiar. Não pelos dados em simesmo - mas pelo que se pode fazer comeles em circunstâncias que estão paraalém da lei. (…)

Francisco José ViegasJN 12/03/07

O FANTASMA DA LIBERDADE

(…) Em Portugal, a anunciada cria-ção do SISI (Sistema Integrado de Se-gurança Interna) levou alguns comenta-dores a lançar o alarme contra o mons-tro de um Estado policial que poderiagerminar num ovo aparentemente inó-cuo. O exagero é óbvio e assume atéexpressões disparatadas que retiram cre-dibilidade aos alarmistas. Não deixa, po-rém, de ser sintomático que um dos artí-fices do projecto - se não o seu principalinspirador e guardião secreto -, o minis-tro António Costa, pareça inteiramente

insensível aos riscos da concentraçãopolítica, para já sob a tutela do primeiro-ministro, de todo o sistema de informa-ções e polícias.

Em artigo recente neste jornal, Antó-nio Costa enumera com minúcia peda-gógica os objectivos da coordenação deserviços até aqui dispersos e frequente-mente caóticos, funcionando de costasvoltadas uns para os outros, em compe-tição estéril e contraproducente. Tudo issoé pertinente e indiscutível. Só que Antó-nio Costa omite, pura e simplesmente, anecessidade de um controlo parlamen-tar permanente e institucionalizado so-bre uma estrutura politicamente tão sen-sível e com interferências tão óbvias naárea dos direitos, liberdades e garantiasdos cidadãos. Como pode um antigo lí-der parlamentar - e um dos mais brilhan-tes, note-se - reduzir o Parlamento a umatão irrelevante excrescência democráti-ca, uma casa de rituais anódinos que,aparentemente, apenas servirá para ce-lebrar o fantasma da liberdade?

Vicente Jorge SilvaDN 14/03/07

APREÇO OU APREENSÃO?

(...) Depois de uma travessia do de-serto em que parece ter agido só por in-terpostas pessoas a partir da bancadaparlamentar, Portas tenta agora recupe-rar os comandos do CDS, sendo duvido-so que o consiga.

(...)O que interessa discutir é se o even-

tual regresso de Portas representa ou nãoum perigo real para o PSD.

Há quem o pense e até já o tenha dito,prefigurando em Portas uma espécie dearrebatamento caudilhista e unificador daliderança da oposição ao Governo, porparte do centro-esquerda e do centro-direita. Não me parece que isso possaacontecer.

Em primeiro lugar, por serem muitodiscutíveis a credibilidade política e aimagem de eficácia que Portas tem jun-to do eleitorado.

Em segundo lugar, porque o PSD nãoestá órfão de ninguém. O facto de Mar-ques Mendes ter, volta e meia, algumasfricções internas, não altera a legitimi-dade, nem a qualidade, nem a seriedadeamplamente reconhecidas da sua lideran-ça, sendo certo que dessas fricções es-porádicas não tem resultado nada de es-pecial, nem é de prever que resulte. Pelocontrário, nota-se agora uma tendênciapara o cerrar de fileiras à sua volta àmedida que nos aproximamos do hori-zonte de 2009.

Em terceiro lugar, porque as opçõesseguidas por Marques Mendes não sãofogachos retóricos, mas sim opções es-truturantes, destinadas a produzir resul-tados a médio prazo (leia-se em 2009),enquadradas e reforçadas por uma revi-são programática que está em curso. (…)

Vasco Graça MouraDN 14/03/07

Page 24: O Centro - n.º 23 – 21.03.2007

9DE 21 DE MARÇO A 3 DE ABRIL DE 2007 OPINIÃO

ÀS ARMAS

Derrotado o seu PP em 2005, PauloPortas declarou luto e saiu pelo seu pé.Mas, porque a coisa não tinha tanto aver com o brio como com o cálculo, quisdeixar gente sua a gerir o interinato e apromover o esquecimento. Só que, noCongresso, o velho CDS emergiu da le-targia e Ribeiro e Castro, romanticamentesó, surpreendeu tudo e todos: sabedor deque, na derrota, os senhores da guerrasucumbem melancolicamente à vagabun-dagem moral, afirmou princípios, estimu-lou remorsos e venceu Telmo Correia.

Não podendo gerir o interinato, os ven-cidos tinham, porém, os meios para seassegurarem de que ele não passava dis-so mesmo. Com o líder em Bruxelas du-rante a semana, sem poder autárquicopróprio e com muitos dos seus quadrosvoluptuosamente rendidos à vida empre-sarial, o Parlamento é o único palco daexpressão pública do partido. Portas estálá, e tem onze deputados. Ribeiro e Cas-tro não está, e tem um. Os fins-de-se-mana (portugueses) do líder vão-se con-sumindo na remoção das minas que, du-rante a semana, os deputados instalaram.E, por isso, nem um nem outros perde-ram tempo a fazer a oposição possível.(…)

Nuno Brederode SantosDN 11/03/07

SISI, A CONTROLADORA

Uma reforma da segurança interna énecessária. Este sistema carece de ac-tualização, de coordenação e eficácia.Contudo, o modelo proposto por Sócra-tes, que prevê a criação do SISI (Siste-ma Integrado de Segurança Interna),com a função de articular todas as polí-cias (PJ, PSP, GNR e SEF) e que res-ponde a um só secretário-geral que re-porta, directamente, ao primeiro-minis-tro, levanta questões.

Sócrates, pouco depois de ser eleito,passou a tutelar o Serviço de Informa-ções da República Portuguesa, que co-ordena dois serviços secretos: o Serviço

de Informações de Segurança e o Servi-ço de Informações Estratégicas de De-fesa. Com o SISI, que inclui a criaçãode um Conselho Superior de Investiga-ção Criminal, também presidido por Só-crates, com participação do procurador-geral da República, verifica-se uma iné-dita concentração de poderes - executi-vo, de informações, policial e criminal -nas mãos do primeiro-ministro. Sem alar-mismos, o SISI é perigoso para a demo-cracia. É perigoso do ponto de vista dosprincípios, já que há uma excessiva cen-tralização. Mas é também perigoso nocontexto português, onde a gestão dedados, como bem o demonstram casosrecentes, oferece pouca confiança. (…)

Joana Amaral DiasDN 13/03/07

MUNDO DE CARICATURAS

Se considerarmos com cuidado asnossas emoções, se listarmos quem maisgostamos e detestamos, constataremosque algumas das pessoas que nos susci-tam sentimentos mais fortes não as co-nhecemos de todo. A sociedade mediáti-ca em que vivemos leva-nos a admirarou odiar personalidades a quem, de fac-to, nunca falámos. Ben Laden, SantanaLopes ou Bento XVI, Al Gore, MarceloRebelo de Sousa ou Jacques Chirac ocu-pam-nos mais que os nossos vizinhos eamigos. Hoje amamos e desprezamos àdistância. O mais ridículo é que estamosrealmente convencidos de que compre-endemos perfeitamente essas figuras pú-blicas, que sabemos mesmo o que pen-sam ou querem e penetramos inteiramen-te as suas opiniões e raciocínios. Se pen-sarmos um pouco veremos que a únicacoisa que sabemos sobre eles são osapontamentos dos jornais, só vislumbra-mos o que nos diz a televisão, só conjec-turamos com opiniões de comentadores.Mas a verdade é que a sociedade medi-ática nunca nos deixa tempo para pen-sar sequer um pouco. Por isso achamosmesmo que essas ideias enlatadas sãomais que suficientes para nos erigiremem juízes do primeiro-ministro, do trei-nador da selecção nacional, dos estrate-

gos americanos no Iraque.A própria lógica da comunicação gera

mais ódios que admirações. Mas de vezem quando aparecem as pessoas quesomos supostos exaltar. A princesa Dia-na não tinha quaisquer defeitos e toda agente no planeta a amava. Toda a gentemenos os que a conheciam de perto.Nelson Mandela, António Damásio, Ste-ven Spielberg, Figo ou Dalai Lama des-pertam paixões em pessoas que não fa-zem a menor ideia da vida real dos seusheróis. (…)

João César das NevesDN 12/03/07

AVALIAR ESCOLASE PROFESSORES

(…) A educação é, porventura, emPortugal um dos domínios onde melhorse pode observar o contraste entre asduas atitudes: a predominantemente con-servadora e a voluntarista, desejosa demodificar estruturas e hábitos anquilosa-dos, e interesses instalados que procu-ram perpetuar-se a todo o custo.

Mudar é penoso, envolve sacrifícios.É sempre mais cómodo continuar comose tem feito desde há muito, gozar asbenesses que o longo tempo e a habitua-ção fazem sentir como naturais e direi-tos intangíveis.

Para conseguir reformas, mudar, éimprescindível conhecer bem a situação,as deficiências, porque é que as coisasvão mal.

A avaliação das instituições, das suascapacidades de se atingir os objectivos,é, assim, fundamental. A medição dosresultados constitui um ponto essencialdessa avaliação. O ex-governador JeffBush, de visita entre nós, em recenteconferência sobre a reforma educativana sua Florida, dizia enfaticamente:“Quem não mede não se preocupa comas coisas.” A comparação de resultadosentre instituições congéneres represen-ta outro passo essencial nesse processo.

Todos nos recordamos de quão difícilfoi, já nos anos 90 do século passado,convencer o Ministério da Educação,temeroso dos sindicatos, a medir a acti-vidade do ensino das escolas, primeiro, adar a conhecer esses resultados ao pú-blico, depois. Foi necessária uma injun-ção judicial para o conseguir!

Vencida essa primeira etapa, há queir mais longe: alargar e aprofundar essasmedidas e avaliações e, sobretudo, reti-rar daí resultados em termos de carreirados professores e das remunerações, etambém de oportunidades oferecidas àsescolas mais eficientes. E fazê-lo a to-dos os níveis de ensino: primário, secun-dário e superior, mesmo que sejam daregedoria de diversos ministros. (…)

Rui MacheteDN 12/03/07

RELIGIÕES E TEOLOGIA

William Temple, arcebispo anglicano,

definiu o teólogo de modo mordaz: umapessoa muito sensata e sisuda que passatoda uma vida mergulhado em livros eque tem a pretensão de dar respostasexactíssimas e precisas a perguntas queninguém põe.

Quem estudou teologia sabe que, in-felizmente, esta definição nem sempre épuro sarcasmo. (…)

Embora não seja o único, o compro-misso com os direitos humanos e a sal-vaguarda da criação é critério decisivoda verdade de uma religião e das religi-ões. A teologia é teologia das religiõesempenhadas na libertação, portanto, te-ologia libertadora das religiões. O hori-zonte do diálogo inter-religioso é a liber-tação-salvação enquanto experiênciaradical de sentido frente ao sem sentidodos explorados, dos humilhados, das víti-mas e da morte.

Anselmo BorgesDN 12/03/07

FEMINISMO OU QUOTAS

Um dos aspectos enervantes destadiscussão sobre as quotas é a ideia deque, com elas, as mulheres emergem fi-nalmente de trevas milenares. Comoquase tudo o que hoje é atirado para odebate mediático e político, também estetema se afunilou - perdidos os antece-dentes e perspectivas históricas - atéobter aquele grau de “consciência mé-dia” que parece ser o ponto adequadopara empratar e servir à opinião pública.

Mas também calha ser o ponto ade-quado para perder o interesse e recairno esquecimento. E é por isso que pou-co se aproveita destes sobressaltadosdebates. Com efeito, pouco mais do queo maior denominador comum da correc-ção política. (…)

Maria José Nogueira PintoDN 09/03/07

ZECA AFONSO

(…) Nasci em 1974 e talvez por issoesteja mais à vontade para dizer o óbviosobre a obra de Zeca Afonso: é indis-pensável retornar uma e outra vez a estamúsica e a esta voz.

A música e a voz de Canção de Em-balar, Cantigas do Maio, A Morte Saiuà Rua, Senhor Arcanjo. Retornar sem-pre ou, no caso das novas gerações edos mais-que-distraídos, escutar pela pri-meira vez, pela primeira vez arriscar oespanto destas palavras-melodias tãosolitárias e tão populares, tão modernase tão tradicionais, tão revolucionárias etão de todos.

Neste canto acha-se a qualidade doque é para lá do tempo sem ser pesadãode “intemporal”.

O silêncio, a certeza, a ousadia sim-ples e despida destas composições/inter-pretações. (…)

Jacinto Lucas PiresDN 09/03/07