o centro - n.º 68 – 24.04.2009

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DIRECTOR JORGE CASTILHO | Taxa Paga | Devesas – 4400 V. N. Gaia | Autorizado a circular em invólucro de plástico fechado (DE53742006MPC) ANO III N.º 68 (II série) 24 de Abril de 2009 1 euro (iva incluído) Telef.: 309 801 277 Rua da Sofia, 95 - 3.º - 3000-390 COIMBRA Cantores da Justiça lançam CD em Coimbra “FADADVOCAL” PÁG. 19 ATÉ 2 DE MAIO COMEÇA A 1 DE MAIO PÁG. 3 PÁG. 5 “Queima das Fitas” põe Coimbra a “escaldar” Atractiva “Feira do Livro” em Coimbra PÁG. 4 FOGOS FLORESTAIS Portugal está em ano de grande risco PÁG. 11 a 13 FOI O PRINCIPAL RESPONSÁVEL PELA REVOLUÇÃO DE 25 DE ABRIL DE 1974 Otelo favorável à Praça Salazar em Santa Comba Dão Otelo Saraiva de Carvalho surpreendeu ontem, em Coimbra, ao afirmar-se favorável à Praça Salazar em Santa Comba Dão. Este um dos aspectos das comemorações do 25 de Abril a que nos referimos nesta edição

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Versão integral da edição n.º 68 do quinzenário “O Centro”, que se publica em Coimbra. Director: Jorge Castilho. 24.04.2009. Visite-nos em www.ismt.pt, www.youtube.com/youtorga, http://torgaemsms.blogspot.com, http://diarioxii.blogspot.com, http://torgaemsms2.blogspot.com, http://mapastorga.blogspot.com/ ~~~~~~~~~ Site oficial de Dinis Manuel Alves: www.mediatico.com.pt Encontre-nos no twitter (www.witter.com/dmpa) e no facebook (www.facebook.com/dinis.alves). Outros sítios de DMA: www.youtube.com/mediapolisxxi, www.youtube.com/fotographarte, www.youtube.com/tiremmedestefilme, www.youtube.com/camarafixa, http://videos.sapo.pt/lapisazul/playview/2, http://videos.sapo.pt/lapisazul/playview/3 e em www.mogulus.com/otalcanal Ainda: www.mediatico.com.pt/diasdecoimbra/ , www.mediatico.com.pt/redor/ , www.mediatico.com.pt/fe/ , www.mediatico.com.pt/fitas/ , www.mediatico.com.pt/redor2/, www.mediatico.com.pt/foto/yr2.htm, www.mediatico.com.pt/manchete/index.htm , www.mediatico.com.pt/nimas/ www.mediatico.com.pt/foto/index.htm , www.mediatico.com.pt/luanda/, www.slideshare.net/dmpa , www.panoramio.com/user/765637

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Page 1: O Centro - n.º 68 – 24.04.2009

DIRECTOR JORGE CASTILHO

| Taxa Paga | Devesas – 4400 V. N. Gaia |Autorizado a circular em invólucrode plástico fechado (DE53742006MPC)

ANO III N.º 68 (II série) 24 de Abril de 2009 � 1 euro (iva incluído)

Telef.: 309 801 277Rua da Sofia, 95 - 3.º - 3000-390 COIMBRA

Cantoresda Justiçalançam CDem Coimbra

“FADADVOCAL”

PÁG. 19

ATÉ 2 DE MAIO COMEÇA A 1 DE MAIO

PÁG. 3PÁG. 5

“Queimadas Fitas”põe Coimbraa “escaldar”

Atractiva“Feirado Livro”em Coimbra

PÁG. 4

FOGOS FLORESTAIS

Portugalestá em anode granderisco

PÁG. 11 a 13

FOI O PRINCIPAL RESPONSÁVEL PELA REVOLUÇÃO DE 25 DE ABRIL DE 1974

Otelo favorável à Praça Salazarem Santa Comba Dão

Otelo Saraiva de Carvalho surpreendeu ontem, em Coimbra, ao afirmar-se favorável à Praça Salazar em Santa Comba Dão.Este um dos aspectos das comemorações do 25 de Abril a que nos referimos nesta edição

Page 2: O Centro - n.º 68 – 24.04.2009

2 24 DE ABRIL DE 2009EDITORIAL

Director: Jorge Castilho(Carteira Profissional n.º 99)

Editor/Propriedade: AudimprensaNIF: 501 863 109

Sócios: Jorge Castilho e Irene Castilho

ISSN: 1647-0540

Inscrito na DGCS sob o n.º 120 930

Composição e montagem: AudimprensaRua da Sofia, 95, 2.º e 3.º - 3000-390 Coimbra

Telefone: 309 801 277 - Fax: 309 819 913

e-mail: [email protected]

Impressão: CORAZEOliveira de Azeméis

Depósito legal n.º 250930/06

Tiragem média: 5.000 exemplares

Aos Assinantes do “Centro”Como tem sido bem evidente nas notícias vindas a público, o sector da comunicação socialé um dos mais afectados pela crise que se abateu sobre toda a sociedade, sobretudo pelo brutaldecréscimo nos investimentos publicitários.Perante isto, até os grandes grupos de comunicação social estão a fazer despedimentosem massa, para além de haver muitos jornais regionais que se viram já obrigadosa suspender a publicação.Aqui no “Centro” estamos a fazer um enorme esforço para superar as dificuldades.Mas esse esforço só será bem sucedido se conseguirmos receitas de publicidade e se os nossosAssinantes tiverem a gentileza de proceder ao pagamento da respectiva assinatura anual- que se mantém em 20 euros desde o início do jornal.Se quer que esta tribuna livre possa manter-se, muito agradecemos que nos envie o pagamentoda sua assinatura - uma verba que representa apenas o equivalente a cerca de 5 cêntimos por dia,menos de 40 cêntimos por semana!Outra forma de ajudar este projecto independente é conseguir-nos novos Assinantes,por exemplo entre os seus familiares e amigos (veja a página ao lado).

Contamos consigo!

O “Centro” assinala, com esta edi-ção, o seu 3.º aniversário (na II Série).

Um aniversário em Abril, mês comgrande simbolismo, já que nele se ce-lebram os 40 anos da Crise Académi-ca de 1969 e os 35 anos da “Revolu-ção dos Cravos” – dois acontecimen-tos marcantes na luta pela Liberdadee pela Democracia.

Ainda por cima dois acontecimen-tos que eu vivi intensamente, enquan-to cidadão e enquanto jornalista.

O aniversário do “Centro”impele--me a fazer algumas confidências pes-soais aos Leitores deste meu jornal,esperando que não as entendam comoum reprovável exercício de narcisismo,mas antes como um desabafo que équase um balanço de vida, uma pres-tação de contas a quem sinto que te-nho obrigação de o fazer.

Porque este ano de 2009 tem paramim particular importância.

Por um lado, será aquele em queentrarei no clube dos sexagenários(em meados de Julho próximo, se láchegar...) – uma designação extrema-mente antipática, criada pelo estilo jor-nalístico de há umas décadas para de-signar os velhos. Até aos 59 (que é omeu caso, no momento), o indivíduoainda tinha direito à menção da idade– não há referência a qualquer “cin-quentenário atropelado”... Mas mal secai nos 60, passa-se a sexagenário,depois, se tudo correr bem, vem a“promoção” a septuagenário, com sor-te a octogenário, e já vão abundandoos (e as) nonagenários (para não fa-lar naqueles que ultrapassam a bar-reira dos 100, longevidade que aindadá direito a cobertura televisiva, masque tende a ser coisa banal).

Porém, a importância que este ano

Jorge [email protected]

de 2009 para mim representa reside,sobretudo, no facto de nele ter com-pletado (no dia 1 de Março que pas-sou) exactamente quatro décadascomo jornalista profissional (actual-mente com a carteira n.º 99, num uni-verso que engloba hoje muitos milha-res de jornalistas).

Ou seja, já lá vão mais de 40 anos(porque já antes ia escrevinhando umascoisas para jornais, em regime de ama-dorismo) dedicados a esta profissãoapaixonante, que me tem trazido mo-mentos de grande regozijo, mas tam-bém (como é apanágio das paixões...)muitas horas de enorme sofrimento ede amargas decepções.

Têm sido 40 anos muito intensos,pois esta profissão só com intensida-de se pode assumir em plenitude. Eextremamente diversificados: traba-lhei em jornais diários e semanários,em matutinos e vespertinos; numaagência noticiosa nacional (a ANI,hoje LUSA), noutra estrangeira (aReuters); fui um dos fundadores e di-rector-geral da Rádio Jornal do Cen-tro (TSF/Coimbra); fui um dos funda-dores de uma produtora que, quandoapareceram os canais privados de te-levisão, para eles fazia a cobertura no-ticiosa da Região Centro; fui um dosfundadores do canal de televisão TVSaúde; tenho colaborado em estaçõesde rádio, jornais e revistas.

Comecei no diário da minha cidade(o “Diário de Coimbra”, de que meu Paifoi Chefe de Redacção durante déca-das e até ter falecido, em Fevereiro de1969). Passei depois para o que já eraentão o maior jornal diário do País (o“Jornal de Notícias”), onde trabalheimais de 20 anos, e de onde saí, quandoocupava uma estável posição de che-fia, para me lançar na arriscada aven-tura de criar o meu próprio jornal regio-

nal: o semanário “Jornal de Coimbra”.Tenho um enorme orgulho no papel

que esse jornal desempenhou duranteos 17 anos em que foi publicado, querenquanto órgão difusor de cultura, deinformação isenta e de opinião plural,quer como escola de formação ondese iniciaram alguns dos que hoje sãodos mais reputados jornalistas portu-gueses (e também repórteres fotográfi-cos, paginadores e excelentes profissio-nais de outras áreas, que no “Jornal deCoimbra” se iniciaram e fizeram a suaaprendizagem).

Por razões que aqui me não apete-ce hoje evocar, o “Jornal de Coimbra”deixou de me pertencer e cessou a suapublicação...

Mas como sempre entendi que ti-nha obrigação de continuar a lutarpelos meus ideais, pelas boas práticasdo jornalismo, pela minha cidade epela minha Região, há três anos reco-mecei do zero, relançando o “Centro”.

Devo confessar que tem sido umcombate muito difícil, especialmentenos últimos tempos, quando a crisemundial começou a fazer-se sentir.

E tenho o dever de aqui manifestaro meu agradecimento, muito sincero,a tantos e tão excelentes Colabora-dores que, de forma totalmente desin-teressada, vêm dando o seu contribu-to para valorizar os conteúdos destejornal. Do mesmo modo que é minhaobrigação referir o consolador apoio,material e moral, de alguns Familiares,que têm permitido manter este projecto.

Contudo, este duríssimo combate sópoderá ser vencido com o apoio dosLeitores, dos Assinantes e dos Anun-ciantes, tamanhas são as dificuldadesque a comunicação social enfrentanesta época de crise.

Dificuldades redobradas para umjornal pluralista e não alinhado com

quaisquer grupos ou interesses, a nãoser o interesse público. E que,exactamente por isso, muitas ve-zes é esquecido ou deliberadamen-te ignorado por alguns que nãoaceitam a independência, antespretendem impor a subserviência.

O “Centro” quer continuar a pu-blicar-se, quer manter-se como umespaço de liberdade, uma tribunapara o debate pluralista, um veícu-lo difusor de boa informação e decultura, um defensor e promotor daRegião Centro, cujo nome adoptouexactamente com esse propósito.

Oxalá os responsáveis das ins-tituições desta Região entendama importância de um jornal comestas características e tratem o“Centro” de forma semelhante àque concedem aos outros órgãosde comunicação social.

Não queremos privilégios. Ape-nas reivindicamos o direito a quereconheçam a nossa existência enão nos impeçam de prosseguir onosso caminho. Um caminho nor-teado pelos valores morais e pe-los princípios éticos e deontológi-cos que trilhamos há mais de 40anos. Por respeito pelos Leitores,por nós próprios e pela Profissãoque abraçámos quando a sua prá-tica era mais penosa e com maio-res riscos, porque condicionadapela Censura do regime derruba-do em Abril de 1974.

Coimbra e a Região Centro pre-cisam, talvez mais do que nunca,de vozes que contrariem o seugradual apagamento e contribuampara que se reforce a sua impor-tância e o seu prestígio.

O “Centro” quer continuar aser uma tribuna de Liberdade ondeessas vozes se façam ouvir!

Aniversários...

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324 DE ABRIL DE 2009 COIMBRA

Temos uma excelente sugestãopara uma oferta a um Amigo, a umFamiliar ou mesmo para si próprio:uma assinatura anual do jornal“Centro”

Custa apenas 20 euros e ainda re-cebe de imediato, completamentegrátis, uma valiosa obra de arte.

Trata-se de um belíssimo trabalhoda autoria de Zé Penicheiro, expres-samente concebido para o jornal“Centro”, com o cunho bem carac-terístico deste artista plástico – umdos mais prestigiados pintores portu-gueses, com reconhecimento mesmoa nível internacional, estando repre-sentado em colecções espalhadas porvários pontos do Mundo.

Neste trabalho, Zé Penicheiro,com o seu traço peculiar e a incon-fundível utilização de uma invulgarpaleta de cores, criou uma obra quealia grande qualidade artística a umprofundo simbolismo.

De facto, o artista, para represen-tar a Região Centro, concebeu umaflor, composta pelos seis distritos queintegram esta zona do País: Aveiro,Castelo Branco, Coimbra, Guarda,Leiria e Viseu.

Cada um destes distritos é repre-sentado por um elemento (remeten-do para o respectivo património his-tórico, arquitectónico ou natural).

A flor, assim composta desta for-

ma tão original, está a desabrochar,simbolizando o crescente desenvolvi-mento desta Região Centro de Portu-gal, tão rica de potencialidades, de His-tória, de Cultura, de património arqui-tectónico, de deslumbrantes paisagens(desde as praias magníficas até às ser-ras imponentes) e, ainda, de gente hos-pitaleira e trabalhadora.

Não perca, pois, a oportunidade dereceber já, GRATUITAMENTE ,esta magnífica obra de arte (cujas di-mensões são 50 cm x 34 cm).

Para além desta oferta, o beneficiá-rio passará a receber directamente em

sua casa (ou no local que nos indicar),o jornal “Centro”, que o manterásempre bem informado sobre o que demais importante vai acontecendo nes-ta Região, no País e no Mundo.

Tudo isto, voltamos a sublinhá-lo,por APENAS 20 EUROS!

Não perca esta campanha promo-cional e ASSINE JÁ o “Centro”.

Para tanto, basta cortar e preen-cher o cupão que abaixo publicamos,e enviá-lo, acompanhado do valor de20 euros (de preferência em chequepassado em nome de AUDIMPREN-SA), para a seguinte morada:

AUDIMPRENSAJornal “Centro”

Rua da Sofia. 95 - 3.º3000–390 COIMBRA

Poderá também dirigir-nos o seu pe-dido de assinatura através de:

� telefone 309 801 277� fax 309 819 913� ou para o seguinte endereço

de e-mail:[email protected]

Para além da obra de arte que des-de já lhe oferecemos, estamos a pre-parar muitas outras regalias para osnossos assinantes, pelo que os 20 eu-ros da assinatura serão um excelenteinvestimento.

O seu apoio é imprescindível paraque o “Centro” cresça e se desen-volva, dando voz a esta Região.

CONTAMOS CONSIGO!

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A Queima das Fitas, considerada poralguns como “a maior e mais animadafesta de estudantes do Mundo”, volta aanimar a cidade entre os dias 1 e 8 deMaio próximos.

Embora se mantenham as manifesta-ções tradicionais, volta assim a existir umamudança nos dias da semana que eramhabiruais a cada uma das realizações.

No que toca aos espectáculos, a res-pectiva Comissão considera que “o pro-grama das noites de parque é o mais equi-librado dos últimos tempos, tendo os me-lhores nomes a nível nacional, de que sedestacam os “Xutos & Pontapés”, “QuimBarreiros”,”Blasted Mechanism” e Bu-raka Som Sistema”. A nível Internacionalvão actuar algumas das bandas mais emfoco do momento, como “Morcheeba”,“Brandi Carlile”, “Patrice” e “Cansei deSer Sexy”.

“Queimadas Fitas”animaCoimbra

A Câmara Municipal de Coimbra, através do De-partamento de Cultura / Divisão de Museologia, apre-senta hoje (sexta-feira, dia 24), às 18h00, o I Volume“Telo de Morais – Colecção”, de autoria de LeonorOliveira, Raquel Henriques da Silva e Virgínia Gomes.

A apresentação da obra/catálogo estará a cargo deRaquel Henriques da Silva, uma das autoras do estudocientífico.

Desde a inauguração do primeiro pólo do MuseuMunicipal – Colecção Telo de Morais – que está pre-visto a elaboração de um livro/catálogo de todo o acer-vo da Colecção, com o objectivo de divulgar o tão va-riado espólio e permitir uma melhor compreensão dasobras expostas, integrando-as nos movimentos artísti-cos correspondentes.

A publicação está dividida em dois volumes: o pri-meiro, a ser lançado hoje, destinado ao núcleo de Pin-tura e Desenho; o segundo, com o restante acervo,repartido por diferentes núcleos: Cerâmica, Escultura,Mobiliário, Prata, entre outros.

O lançamento do primeiro volume do Catálogo daColecção Telo de Morais assinala o arranque de umasérie de iniciativas que decorrerão no decurso de 2009/2010, no âmbito das Comemorações do Centenário doEdifício Chiado.

Lançamento do I Volumede “TELO DE MORAIS| COLECÇÃO”

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4 24 DE ABRIL DE 2009OPINIÃO

Todos os anos, quando chega a Pri-mavera, costumo reflectir sobre o Ve-rão que nos espera e o risco de fogosflorestais que temos pela frente. Comfrequência tenho partilhado essa re-flexão com os leitores. Feliz ou infe-lizmente essas reflexões, previsões,não têm andado longe da verdade.

E não têm andado longe do que re-almente vem a acontecer, não por ne-nhum acto de adivinhação ou qualquertipo de ciência oculta. É fundamen-talmente o clima que determina essasocorrências e a dimensão que pode-rão vir a alcançar.

No ano passado, afirmei nas pági-nas deste jornal que teríamos um Ve-rão fresco, que teríamos poucos fo-gos, de reduzida dimensão. E que issoera sobretudo resultado das condiçõesde clima e não de uma melhoria signi-ficativa do esquema de prevenção ecombate, e muito menos do facto deexistirem mais ou menos incendiári-os. Foi o que aconteceu.

Este ano tudo se conjuga para ter-mos um ano difícil. Tem chovido pou-

Um ano de maior riscode fogos florestais

Vasco [email protected] co, a vegetação herbácea e arbustiva

começa a secar, e ou se verifica umainversão significativa no clima que te-mos nas próximas semanas, meses, ouiremos ter pela frente muitos fogos flo-

restais com os incontroláveis prejuí-zos. As primeiras ocorrências, já ve-

rificadas, estão a comprová-lo.Acresce que os dois, três, últimos

anos foram mais frescos e com pou-ca intensidade de fogos. Não se to-maram as medidas adequadas para a

limpeza de matos. Não houve finan-ciamentos e apoios eficazes para oefeito. Acumulou-se carga combustí-vel, matos mais extensos e de maio-res dimensões.

Em circunstâncias destas, são neces-sárias medidas de emergência. É neces-sário evitar as ignições, é necessárioprevenir, controlar os matos, vigilânciae detecção eficazes, rapidez na actua-ção, meios de combate quando já nãopuderem ser evitados os fogos.

As questões fundamentais, enquan-to ainda estamos a tempo, residem nalimpeza de matos em locais estratégi-cos, criar faixas de contenção. Resi-dem ainda no evitar de ignições que,descontroladas, podem provocar fogosde grandes dimensões.

Há poucos dias assisti a uma sessãode sensibilização numa freguesia ruraldo Oeste, perto de uma zona fortemen-

te fustigada por fogos florestais.Duas questões retive.Uma delas é que sendo um facto

comprovado que o lançamento de fo-guetes nas festas e romarias tem pro-vocado muitos fogos, apesar disso al-guns líderes (?) das aldeias teimavamem defender esse hábito, porque opovo precisa de festas e… “limpemos matos e deixem o foguetório acon-tecer”. Cabe às autoridades licenci-ar, ou não, esse tipo de festejos. Es-peremos que esses licenciamentosnão ocorram e que o desejo de agra-dar, de colher votos num ano com tan-

tas eleições, não leve a que as autori-dades civis e policiais facilitem.

A outra foi o facto de que, perante aproibição de queimadas e a ameaça demultas, as pessoas no meio rural estãoa fazê-las a coberto da noite e de umaforma descontrolada, fugindo do localpara não serem apanhadas pela GNR.Será bem melhor uma acção pedagó-gica e ajudar, quem precisa, a fazer es-sas queimadas com a presença dosbombeiros e em segurança.

Esperemos que o bom senso pre-valeça e que não venha por aí, peran-te desgraças incontroladas, a esfar-rapada desculpa de que são mãos cri-minosas e incendiários loucos.

É uma desculpa habitual e fácil, masnão resolve problema nenhum e só ser-ve para esconder as responsabilidades.

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Page 5: O Centro - n.º 68 – 24.04.2009

524 DE ABRIL DE 2009 COIMBRA

Quem lê livros é mais capaz de adoptarestilos de vida saudável, de gerir as doençase de compreender a mensagem do médico,conclui um estudo sobre os hábitos de leitu-ra realizado em centros de saúde.

“Há uma relação positiva entre os níveisde literacia dos cidadãos e o nível de saúdede uma população”, afirmam os médicosRosa Costa e Rui Macedo, num trabalhoapresentado ontem (quinta-feira) na Feirado Livro de Coimbra, no âmbito das come-morações do Dia Mundial do Livro.

O trabalho, sobre hábitos de leitura e com-pra de livros, jornais e revistas, foi realizadoatravés de questionário, entre 2 e 11 deMarço último a utentes de dois centros desaúde de Coimbra onde estes médicos de-senvolvem a actividade clínica, o da Fernãode Magalhães, e o de S. Martinho do Bispo.

Nessa amostra constituída por 342 uten-tes (68 por cento mulheres) os melhores lei-tores são... as leitoras, principalmente as maisjovens e as mais escolarizadas. Não foramconsiderados os cidadãos analfabetos e osjovens abaixo dos 15 anos.

No estudo, 74 por cento dos inquiridosdizem-se leitores de livros e 70 por centolêem jornais/revistas. Setenta e dois por cen-to dedicam aos livros três horas por semanae 75 por cento dizem ocupar duas horas porsemana com jornais e revistas.

REFERE ESTUDO APRESENTADO NA FEIRA DO LIVRO DE COIMBRA

Quem mais lê melhor cuida da sua saúde

Quem lê, lê por gosto (94 por cento), eem 76 por cento dos casos escolhe livrosque não são escolares nem técnicosescola-res. Os livros com maior presença nos laressão de literatura em geral, enciclopédias/di-cionários e os escolares.

Cerca de 67 por cento costuma comprarde um a seis livros por ano e 4 por centomais de 21. Um pouco mais de 15 por centodos inquiridos declarou não saber quandoadquiriu o último livro, ou não respondeu àquestão.

Nesta amostra perto de 2 por cento dosutentes possuíam mestrado ou doutoramen-to, 26 por cento formação superior, e ape-nas 17 por cento possuía o primeiro ciclo.Dos leitores de livros 59 por cento tinha for-mação superior ou secundária.

Na investigação realizada por Rosa Costae Rui Macedo no âmbito do Plano Nacionalde Leitura “Ler+ dá Saúde”, conclui-se quequando os profissionais de saúde se envol-vem no aconselhamento da leitura em fa-mília melhoram-se os níveis de literacia e oshábitos de leitura das crianças.

No entendimento de Rosa Costa, estesdados reforçam a necessidade de criar “can-tinhos de leitura” nos centros de saúde, ondeos utentes os possam manusear enquantoaguardam a consulta.

“Quando os livros estão presentes, commaior facilidade o médico abordará o temada leitura com o seu utente, e este revelarámenor estranheza pelo assunto”, afirmou àagência Lusa.

Na sua perspectiva, “era importante quenas consultas se falasse da leitura”, mesmonas de saúde infantil, antes mesmo de ascrianças aprenderem a ler.

O convívio com livros e a leitura em fa-mília, entre adultos e crianças com menosde seis meses, são determinantes na apren-dizagem da leitura e no desenvolvimento da

Carlos Carranca

PRAÇADAREPÚBLICA

Sou de mil acordes o sustentoDos que sofrem e suspiram.Afagam-me nos ventres engelhadosEscravos do meu corpo enlouquecido.

Rasgam-me doem-me sonhandoO som que os enleva e acompanha.Levitação; deuses pequeninos.A música a nascer-me das entranhas.

Quem me tange me incendeia– dedos da vida solidários.O sonho os ilumina

Seiva – chão de amor e terra.E o meu corpo – guerraDe amor e mar que se franteia.

Sonetode umaguitarraportuguesaa Jorge Gomes

FEIRA FUNCIONAATÉ 2 DE MAIO

Com um diversificado programa deanimação cultural, a Feira do Livro deCoimbra tem, acima de tudo, o enormeatractivo de proporcionar a aquisição delivros de todos os géneros (são muitosmilhares de títulos de editoras nacionaise estrangeiras) a preços muito mais aces-síveis.

Mas outros aspectos há que bem jus-tificam uma visita à tenda gigante insta-lada na Praça da República.

Entre eles uma exposição fotográficaalusiva à Crise Académica de 1969, or-ganizada pela Secção Fotográfica daAssociação Académica de Coimbra.

Para além disso, todos os dias há ses-sões de autógrafos com a presença deescritores, que ali dialogam com os seusleitores.

literacia, afirmam os clínicos.“A adopção de comportamentos desti-

nados a promover hábitos saudáveis, a parda educação, resulta numa maior literaciaem saúde, numa acrescida capacidade decompreensão das mensagens de saúde enuma maior capacidade em gerir doençascrónicas”, concluem.

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6 24 DE ABRIL DE 2009NACIONAL

ponto . por . ponto

Por Sertório Pinho Martins

Tudo de repente passou de moda e ficousensaborão : a ‘crise’ é a estrela do mo-mento! Crise à bordalesa ou de fricassé,crise de trazer por casa ou de faz-de-conta,crise de valores e de princípios, crise de pa-ciência para ouvir falar de mais crise. Insta-lou-se a diarreia mental e a soltura do verbosó soletra ‘crise’. Só balbucia ‘crise’. A clas-se média geme só de ouvir falar em crise,as pequenas e médias empresas asfixiamna lama da crise, os pobretanas fazem ummanguito à crise, a gatunagem chama umfigo à crise. A Justiça não tem mãos a medircom a crise, as benesses sociais navegamna crista da onda da crise, a Educação jus-tifica disparates a esmo com o fantasma dacrise. Cavaco Silva está farto de ouvir falarem crise e clama no deserto pelo fim da ditacuja. O Governo, fixado no umbigo e des-lumbrado com o espelho mágico das maio-rias absolutas, caiu subitamente na real eanda numa sarabanda de medidas contra acrise que até há pouco tempo jurava a pésjuntos ser pura invenção das oposições enão passar de maleita circunscrita ao sub-prime americano. O TGV, a quarta traves-sia do Tejo e o novo aeroporto, andam nasnuvens e não são definitivamente parte as-sumida desta crise. As exportações e asimportações nunca se viram num carrosseltão empinado e de enjoo permanente comoo desta crise. Os ministros (à excepção deVieira da Silva) não sabem para onde sevirar, porque a crise não fez parte dos currí-

A c r i s eculos que os empurrou para os cadeirõesdo poder. Até os sem-abrigo perceberamque algo mudou, porque a torneira das es-molas alimentares começou a jorrar maisgrosso. E até Deus parece que entrou emcrise de bondade, e na sua surpresa divinasó repete “perdoai-lhes, que não sabem oque fazem”.

Portas adentro, a crise é filha de mãesolteira e de pai incógnito, como convém: acriança tornou-se um impecilho incómodo efoi entregue aos cuidados adoptivos da soli-dariedade social. Os banqueiros, habituadosà velha confiança que a impunidade dá, com-praram camarotes de luxo nos cruzeiros denegócios aos paraísos fiscais, e não abdi-cam da minguada jorna mensal que lhes re-tribui a dedicação às instituições que come-çaram por parasitar as poupanças do Zé-povinho e a seguir sugaram prazenteiramen-te os milhões caídos do céu e dos bolsos dequalquer calmeirão da negociata escura.Com a crise, os contribuintes anónimos aper-tam o cinto, e os governantes, gestores degrandes empresas (públicas e privadas), au-

tarcas despudorados e demais in-circles dopoder, alargam os cós das calças com tantafalta de cuidado na alimentação – e sabembem que, com este ou com outro governo,vão depender e respirar a generosidade dagota-a-gota de quem detém a decisão final.Quem se mete com o poder político – esteou outro de antes ou depois – já sabe que

mais tarde ou mais cedo “leva”! E as bar-bas de molho ainda são uma mezinha eficaznos grandes momentos de aflição.

E chegamos ao cerne do busílis: a pro-miscuidade entre o poder económico e opoder político, não deixa espaço suficientepara gerir com mão firme uma crise queameaça levar-nos ao fundo. E se CavacoSilva não estiver para engolir sapos que lhecompliquem a digestão dos poderes presi-denciais, a coisa ainda vai fiar mais fino. Osdesfiles de rua não se comoverão com maispromessas eleitorais, quando a barriga va-zia discute acaloradamente com a razão. Osremendos à esquerda (sigilo bancário, ca-samento gay, aborto, e por aí fora) e os pis-car-de-olhos à direita (IRC bancário, pron-

to-socorro às falências dos grandes grupos,compra de acções acima do preço de mer-cado,…), não vão durar senão o tempo bre-ve das escolhas eleitorais : porque depoistudo volta ao mesmo fado da crise. E osreitores das universidades já o perceberam,a CGTP e a UGT também, os professoresnem se fala, os novos reformados já sabemque vão entrar para o rol dos pagadores depromessas, – e se calhar o povo anónimonão vai encarneirar muito mais tempo, por-que tem filhos para alimentar, prestações acumprir num quadro de spreads galopante,e com a esperança a diluir-se pelo esgotoabaixo.

Os partido políticos, que deviam ser oespelho da boa-conduta, é o que se vê: acrise serve-lhes às mil maravilhas para en-cobrir incompetências, ganâncias, uniõesde facto e arranjinhos de vão-de-escada,vingançazinhas, limpeza de balneários,compadrios, subida de umas décimas nassondagens. E o povoléu que se amanhe,com a ajuda de Deus e da solidariedadedos que ainda se vão condoendo da des-graça alheia.

E para a história ficarão apenas assombras e as memórias de que houveuma crise de morrer e de matar, a pior emais arrasadora (dizem) no pós-25 deAbril. Pelo meu lado – e esta vai, do fun-do do coração, para o Jorge Castilho –gostaria que o CENTRO não fosse umadas vítimas inocentes da matança cegada nossa esperança colectiva.

(...) a crise é filha de mãe solteira e de pai incógnito,como convém: a criança tornou-se um impecilhoincómodo e foi entregue aos cuidados adoptivosda solidariedade social. Os banqueiros, habituadosà velha confiança que a impunidade dá, compraramcamarotes de luxo nos cruzeiros de negóciosaos paraísos fiscais (...)

Cerca de duas centenas de pequenosempresários concentraram-se ontem (quin-ta-feira) junto à residência oficial do primei-ro-ministro para pedir o desagramento fis-cal e medidas efectivas de apoio às micro epequenas empresas que enfrentam o riscode encerramento.

“Viemos aqui, com algum apoio, paramostrar ao primeiro-ministro a razão do nos-so descontentamento pois os contactos quejá tivemos com secretarias de Estado nãocontribuiram em nada para a resolução dosnosso problemas”, disse à agência LusaQuintino Aguiar, presidente da Confedera-ção Portuguesa das Micro, Pequenas eMédias Empresas (CPPME).

Quintino Aguiar chefiou a delegação queentregou no gabinete de José Socrates osdocumentos reivindicativos em que os pe-quenos empresários expuseram as suas

Pequenos empresários pedem apoiosqueixas e anseios.

“O assessor do primeiro ministro para osassuntos laborais recebeu-nos e garantiu-nos que as secretarias de Estado da tutelairiam dar a devida atenção às nossas reinvi-dicações, mas isso é de todo insatisfatório”,disse o dirigente da CPPME depois de sairda residência oficial de S.Bento.

Quintino Aguiar afirmou, no entanto, quea estrutura a que preside irá esperar pornovas reuniões com a secretaria de Estadodos Assuntos Fiscais e com a secretaria deEstado do Comércio e depois, dependendodos resultados, decidirá o que fazer.

Os pequenos empresários que vieram devários pontos do país queixam-se de que aSecretaria de Estado dos Assuntos Fiscaisnão deu resposta aos seus pedidos de de-gravamento fiscal, nomeadamente a elimi-nação do PEC, a redução do IVA para os

17 por cento e a sua redução para 7 porcento no sector da restauração.

Ao nível da secretaria de Estado do Co-mércio, pretendem a garantia de que nãosejam licenciadas novas grandes superfíci-es comerciais e que estas encerrem ao do-mingo para permitirem a sobrevivência dopequeno comércio.

“Todas estas medidas e o acesso efecti-vo a fundos do QREN são fundamentaispara salvaguardar o que resta das micro epequenas empresas”, disse à Lusa José LuisSilva, dirignete da CPPME e presidente daAssociação de micro e pequenas empresasde Setúbal e do Alentejo.

Este pequeno empresário (taxista) con-siderou que o Governo “está a cometer umerro gravíssimo ao colocar nas mãos dabanca a distribuição de fundos para as mi-cro e pequenas empresas”.

“Ninguem sabe quantas micro e pe-quenas empresas foram beneficiadas”,afirmou José Luis Silva acrescentandoque “os empréstimos bancários são umafraude porque armadilham o que restada vida dos pequenos empresários, exi-gindo-lhes como garantias as respecti-vas lojas e habitações”.

Muitos dos pequenos empresários que seconcentraram em S.Bento eram fotógrafos,que fizeram questão de participar de má-quina ao ombro e mascarinha preta, parasimbolizar a solidariedade para com os co-legas que se têm retirados da profissão de-vido a dificuldades de subsistência.

Estes profissionais também entregaramum documento ao primeiro-ministro em quepedem a regulamentação da profissão e aactuação da Autoridade da Concorrênciapara evitar a concorrência desleal.

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724 DE ABRIL DE 2009 NACIONAL

Varela Pècurto

Nem por estar a escassa distância dacapital do País, Vila Franca de Xira sequeda na indiferença, quando confron-tada com a importância de Lisboa.

Pelo contrário. Reage e prossegue oseu desenvolvimento em todas as fren-tes, de que é exemplo a Cultura.

E a prová-lo basta conhecer a activi-dade que se tem verificado no Museu doNeo-Realismo, entidade que muito hon-ra o Município e a cidade.

Sedeado num belo edifício que muitaslocalidades desejariam, visitámo-lo há unsmeses para assistir à inauguração da ex-posição “Batalha de Sombras” que serácomplementada com dois encontros, em30 de Maio e 6 de Junho próximos.

Em finais de 2007, o Museu do Neo-Realismo, acabada a remodelação dassuas instalações, foi centro da grande ex-posição “Batalha pelo Conteúdo no neo-

Vila Franca de Xira também é uma Liçãorealismo português”, cujo catálogo, de ex-celente apresentação gráfica , 496 pági-nas com recheio excepcional, envolve oque ao neo-realismo português diz respeito.

Agora o Museu volta a surpreendercom a apresentação de outra exposição,cuja organização mobilizou mais de umavintena de especialistas, credores do nos-so elogio, todos, sem excepção. No en-tanto, pela intervenção tão vincada na ex-posição, a começar pela pesquisa e pas-sando pela organização documental, justo

será citar a doutora EmíliaTavares, do Museu Nacio-nal de Arte Contemporânea– Museu Chiado, Lisboa,base da colecção de foto-grafias dos anos 50, dirigidodesde finais de 90 pelo dou-tor Pedro Lapa que se es-forçou na promoção destaexposição e que foi o inicia-dor da colecção de fotogra-fias que o Museu já possui.

Emília Tavares, que naexposição “Batalha peloConteúdo” apresentou o quepode ser considerado o pri-meiro estudo “sobre a rela-ção da disciplina de fotogra-fia com o neo-realismo, ocruzamento entre as práticassalonistas e o novo «huma-nismo» desenvolvido pelacultura oposicionista”, ago-ra, na exposição “Batalha deSombras” aborda a historio-grafia da fotografia portu-guesa, escalpelizando-a ao

longo de mais de cinquenta páginas.Não tem lugar neste pequeno e mo-

desto espaço comentar, melhor diria dis-cutir, o conteúdo do seu texto, até por-que, na generalidade, estou de acordocom ele.

Importa, sim, referir que, mais uma vez,Vila Franca de Xira está de parabéns poresta iniciativa e que Coimbra sai dignifi-cada com a sua representação (até gra-ças ao extinto Grupo Câmara).

Das 90 fotografias expostas, de diver-sas tendências, do doutor Franklim de Fi-gueiredo – já falecido – são duas e mi-

“Viúva da Nazaré”: uma das fotografias de VarelaPècurto exposta no Museu do Neo-Realismo,em Vila Franca de Xira

nhas são dez, uma delas repetida em for-mato gigante – talvez mais de 3 metros.

Estão igualmente abertas ao públicomais duas exposições, uma de MiguelPalma, representado em numerosas co-lecções nacionais e estrangeiras, públi-cas e privadas; a outra mostra as obrasdo escritor doutor Mário Braga, que vi-veu nos arredores de Coimbra, expon-do-se ainda documentos vários, cartas,fotografias e a condecoração que rece-

beu do Estado Português.As exposições, reveladoras da capa-

cidade do Museu do Neo-Realismo, sãomotivo justificado para uma visita, o queaconselho vivamente.

Tal como aconteceu na “Batalha peloConteúdo”, também na “Batalha de Som-bras”, travadas em Vila Franca de Xira,a Vitória foi indiscutível.

Parabéns a quantos batalharam paraque fosse alcançada.

A internet possibilita coisas extraordinárias! E aqui relatamos uma, queserá uma boa surpresa para Varela Pècurto, por demonstrar que, mesmolonge, no tempo e no espaço, há quem continue a considerá-lo como um Mes-tre e a exprimir-lhe gratidão.

Eis um comentário que colhemos na net, assinado por Francisco Forjaz deSampaio, um fotógrafo com reputação internacional, que assim se refere aVarela Pècurto:.

“A este homem extraordinario, que teve a paciência de me suportar horase horas na câmara escura da Hilda e mesmo no Fotoclub , devo todo o entu-siasmo e a técnica que fez de mim mais tarde, na Alemanha, um bom fotógra-fo. Recordo que citei num workshop do Willy Flekaus (mestre do preto ebranco e um dos criadores da “Photokina”) esta afirmação do querido Varela:‘Não preciso de célula fotoeléctrica para tirar fotografias a preto e bran-co, nunca me engano’.

Um só desejo: que esteja vivo e de boa saúde (...) A minha gratidão”.

CIRCULA NA INTERNET

Homenagem a Varela Pècurto

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8 24 DE ABRIL DE 2009INTERNACIONAL

Fiodor Lukyanov *

* in revista A Rússia na Política Global

Há uns dois anos e picos, o chefe do Ins-tituto de Economia Mundial em Washing-ton, Fred Bergsten, começou a propagan-dear a ideia de «dois grandes». No ano pas-sado, o mecanismo da «Chimérica» – umconglomerado sino-americano de produto-res-credores e consumidores-devedores –foi descrito pelo historiador económico NialFerguson. O tema de «destino comum» daChina e dos EUA no séc. XXI foi apanhadoe desenvolvido por Henry Kissinger e Zbig-new Bzezincki, tornando-se num lugar co-mum nos debates sobre a arquitectura domundo. No entanto, a dependência mútuasino-americana não parece uma parceria li-vremente escolhida, apresentando-se maiscomo a consciencialização da situação deaniquilamento mútuo, surgida na era nucle-ar entre os EUA e a URSS.

Na verdade, um passo brusco de umadas partes com o intuito de abandonar o sta-tus quo acarreta inevitavelmente um preju-ízo mutuamente inaceitável. Há 30 anos, oinstrumento para o fazer era a arma nucle-ar. Hoje em dia é a vulnerabilidade dos mer-cados: do chinês face a uma queda da pro-cura da sua mercadoria, e do americano facea uma recusa de Pequim de financiar o dé-fice dos EUA.

Durante a «guerra fria», o frente-a-fren-te nuclear obrigava as partes a conterem-

Mitos e realidades do “Grande Duo”se. O «abraço financeiro-económico» temo mesmo efeito. Mas dele não emana auto-maticamente o desejo de reforçar as rela-ções existentes. Bem ao contrário. Assim,na China põe-se em dúvida o antigo modelode crescimento económico, baseado quaseexclusivamente nas exportações, isto é, de-pendente inteiramente da conjuntura eco-nómica externa.

Sabe-se que anunciar os planos de de-senvolvimento do mercado interno é muitomais fácil de que os pôr em prática. Mas ésignificatico o próprio desejo de semelhan-tes mudanças, tendo em conta que Pequim,uma vez escolhida uma meta, sempre pro-cura alcançá-la. Se a China pelo menospercebe em que direcção deve avançar,então a situação dos EUA torna-se maiscomplicada.

Por um lado, para Washington é critica-mente importante que a China continue acomprar as obrigações norte-americanas.Deste ponto de vista, a intenção do governochinês de encaminhar os recursos para in-vestimentos internos não agrada aos EUA.

Por outro, nos EUA, como sempre acon-tece em situações de crise, surgem políticasproteccionistas, e o seu alvo principal, porrazões óbvias, é exactamente a China. Osprodutores norte-americanos querem que osprodutos chineses fiquem no mercado in-terno chinês.

Como conciliar as duas aspirações con-trárias, ainda não está inteiramente claro enos EUA multiplicam-se os debates sobreesta contradição dificilmente solúvel.

A principal tarefa de Barack Obama –

procurar novos métodos de garantir a lide-rança norte-americana no mundo depois dorotundo fracasso do ex-presidente GeorgeW. Bush de a impor à força. Por enquanto,

a nova administração avança com muita di-plomacia e habilidade, procurando ouvir aopinião dos parceiros externos.

Obrigar Pequim a mudar o seu rumo(tanto político, como monetário) a favor dosEUA é praticamente impossível. Isto sig-nifica que é preciso propor à China umgrande projecto para que, sob a capa des-te, tais acções favoráveis a Washingtonpossam ser vistas não como cedências,mas sim como passos no sentido de edifi-cação de uma ordem mundial conjunta.Compreende-se que a ideia da liderançanorte-americana permanece intacta e nemse põe em dúvida.

Em Pequim dão-se conta deste proble-ma e a ideia de condomínio sino-americanoé tratada com muita cautela. Muitos chine-

ses vêem nela uma espécie de armadilha,destinada a amarrar mais a China e torná-lamais dependente dos EUA.

Pelos vistos, a saída da actiual situaçãoconsistirá em tentar superar, embora comtodo o cuidado, o actual sistema das rela-ções. E não se trata da sua consolidação.Contudo, existe uma questão mais geral. Aofim e ao cabo, a actual recessão global deve-se ao surgimento da «Chimérica».

A prontidão da China de adquirir e acu-mular as obrigações e os dólares norte-ame-ricanos, ganhos à custa das exportações paraos EUA, permitia manter o sistema de cré-dito baratíssimo nos EUA, o que estimulouo consumo dos norte-americanos – com-prar novas casas e novos produtos chine-ses. Em contrapartida, a China recebia agarantia para um mais elevado nível de vidada sua população sem nunca realizar as ne-cessárias reformas internas. Como assina-lou Thomas Friedman, esta parceria de 30anos de duração esgotou-se e dificilmentesobreviverá à actual crise económica. Pe-los vistos, não vale a pena recuperar estemodelo que serviu de base para o apareci-meto da actual bolha gigante. Mas, sem estemodelo nada ou pouco restará do «destinocomum» da China e dos EUA.

Claro que na Rússia os debates sobre otema de «duopólio» de Washington e Pe-quim (dado o poderio económico dos EUAe da China) têm um significado especial, poiso seu aparecimento hipotético ameaça em-purrar Moscovo para a periferia mundial.

Obrigar Pequima mudar o seu rumo(tanto político,como monetário)a favor dos EUAé praticamenteimpossível

O Parlamento Europeu (PE) aprovouontem (quinta-feira) a primeira legisla-ção sobre agências de notação de crédi-to, definindo regras e obrigações que vi-sam trazer maior transparência a umaactividade que esteve em foco, pela ne-gativa, com o despertar da crise global.

“Integridade, transparência, responsa-bilidade e boa governação são as pala-vras de ordem da primeira legislaçãoeuropeia sobre as agências de notaçãode crédito”, informou o PE.

Estas agências passam a ter que res-peitar um conjunto de obrigações adicio-nais em relação às notações de produtosfinanceiros estruturados, medidas relativasaos conflitos de interesses, à qualidade dasnotações, à transparência das agências eà supervisão das suas actividades.

A elaboração deste regulamento tor-nou-se necessária devido às insuficiên-cias ou falhas constatadas aquando daemissão ou seguimento das notaçõesemitidas pelas agências de notação.

“É claro que estas insuficiências oufalhas contribuíram, em parte, para a

Parlamento Europeu aprova legislaçãosobre agências de ‘rating’

actual crise financeira mundial”, reconhe-ce o relator da Comissão dos AssuntosEconómicos e Monetários do PE, Jean-Paul Gauzès.

Estas agências “não reflectiam nassuas notações de crédito, numa fase su-ficientemente precoce, a deterioração

das condições do mercado, por um lado”,e “não conseguiram ajustar atempada-mente as suas notações de crédito nasequência do agravamento da crise dosmercados, por outro”, lê-se no documen-to hoje aprovado.

A legislação europeia introduz um pro-

cedimento de registo das agências denotação de crédito, de modo a que pos-sam ser controladas as actividades dasagências cujas notações são utilizadaspelas instituições de crédito, sociedadesde investimento, empresas de seguros ede resseguros, organismos de investimen-to colectivo e fundos de pensões daUnião Europeia. Actualmente, existeapenas um código de conduta voluntá-rio.

O registo das agências de notação peloComité das Autoridades de Regulamen-tação dos Mercados Europeus de Valo-res Mobiliários (CARMEVM), o refor-ço da transparência, da informação e daprotecção dos investidores, o regime deresponsabilidade, um mecanismo de ro-tação dos analistas e a garantia de queas notações não sejam afectadas poreventuais conflitos de interesse são al-guns dos pontos sobre os quais o Parla-mento Europeu e o Conselho - que co-legislam nesta matéria - chegaram aacordo, aprovado em plenário por 569votos a favor, 47 contra e 4 abstenções.

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924 DE ABRIL DE 2009 OPINIÃO

AS SOBRANCELHASDE DURÃO BARROSO

(...) Ainda no âmbito da visita de Ba-rack Obama à Europa, uma última notasobre o papel desempenhado por DurãoBarroso, que foi nenhum. Devo confes-sar, no entanto, que estou preocupadocom o estado de saúde de Durão Barro-so. Primeiro, porque Durão Barroso estáa ficar sem sobrancelhas. Não se tratade uma metáfora política, estou a ser li-teral: neste momento, Barroso tem ape-nas três ou quatro pêlos em cima de cadaolho, o que é razoavelmente inquietante.Segundo, temo pelas costas do nossoantigo primeiro-ministro. Obama veio la-mentar a política internacional seguidapor Bush e prometeu um novo rumo.Barroso, que na cimeira dos Açores aju-dou Bush a concretizar a política queObama critica, disse agora estar mara-vilhado com a mudança prometida pelonovo presidente. São pinotes que devemfazer mal à coluna.

Ricardo Araújo PereiraVisão

AS GRANDES ILUSÕES

(...) Qualquer cidadão sabe que, comexcepção das vacinas, nenhuma substân-cia perigosa pode curar os males que cau-sa. Ora, o que se decidiu em Londres foigarantir ao capital financeiro continuar aagir como tem agido nos últimos 30 anos,depois de se ter libertado dos controlosestritos a que antes estava sujeito. Ou seja,acumular lucros fabulosos nas épocas deprosperidade e contar, nas épocas de cri-se, com a generosidade dos contribuintes,desempregados, pensionistas roubados,famílias sem casa, garantida pelo Estadodo Seu Bem Estar. Aqui reside a euforiade Wall Street. Nada disto é surpreen-dente se tivermos em mente que os ver-dadeiros artífices das soluções - os con-selheiros económicos de Obama, Timo-thy Geithner e Larry Summers - são ho-mens de Wall Street e que esta, ao longodas últimas décadas, financiou a classepolítica norte—americana em troca dasubstituição da regulamentação estatal porauto-regulação. Há mesmo quem fale deum golpe de Estado de Wall Street sobreWashington, cuja verdadeira dimensão serevela agora.(...)

Boaventura de Sousa SantosVisão

BARACK OBAMA

Barack Obama tem vindo a mudar mui-to, em pouco tempo, quer a América quer,psicologicamente, o resto do mundo, exce-dendo as expectativas dos mais optimistas.Internamente, com um plano consequentede ataque à crise que, sendo posto em ac-ção, apesar dos cépticos e dos republicanosmais cavernícolas, tem sido saudado porgrandes economistas. Evitou a falênciaanunciada de grandes instituições financei-ras, bancos e companhias seguradoras, masnão deixou de exigir rigor e moralidade aosgestores das empresas beneficiadas.

A justiça americana também ajudou:punindo exemplarmente e com enormerapidez o grande escroque internacionalBernard Madoff. Está na cadeia, con-denado praticamente à vida e a mulherfoi obrigada a restituir quadros e precio-sidades, para indemnizar os lesados.Outros se seguirão.

Tem estado a valer aos mais pobres,tentando incutir-lhes confiança e espe-rança no futuro. São fundamentais. Estáa procurar reanimar os investimentos nasáreas mais depressivas. É certo que aactual crise é bem mais complexa do queno tempo do new deal. Mas Obama estáatento. Tem dado sinais disso mesmo: emmatéria de saúde, educação, segurançasocial, protecção aos mais pobres e aosdiscriminados. (...)

Mário SoaresVisão

TRETAS

Há uns anos que o Governo acha porbem divulgar uma coisa a que pomposa-mente chamam prioridades da políticacriminal. Uma espécie de boletim mete-orológico do crime através do qual osministros informam o povo das priorida-des que vão ter no combate ao crimedurante o próximo ano. Uma tontice. Umexpediente para arranjar algum tempo deantena e, simultaneamente, induzir os in-crédulos de que aquela lista de priorida-de é para levar a sério. Então, a listadeste ano é uma verdadeira ementa deum restaurante chinês. (...)

Francisco Moita FloresCorreio da Manhã (12/Abril/09)

OVOS DA PÁSCOA

(...) O meu primeiro ovo de chocolatevai para o rato de sacristia que comandaa ERC e para o senhor Silva, com carade menino Tonecas, que trata da Assem-bleia da República, da comunicação so-cial e agora, nos tempos livres, faz algu-mas horas nos bombeiros voluntários aoserviço do Governo.

Aparece a falar de tudo, a respondera todos e ainda debate com Morais Sar-mento na TVI 24.

Uns dizem que está a fazer tirocíniopara um dia substituir Sócrates, outrosque a sua ânsia de protagonista não temlimites. Por enquanto, só consegue es-palhar o ridículo com as suas actuações.

A comunicação social, que está ao seu

cuidado e do profeta Arons, tem pioradobastante, em tudo. Julgam que vão contro-lar toda a comunicação social. O resultadonão pode ser mais catastrófico. (...)

Emídio RangelCorreio da Manhã (11/Abril/09)

PAÍS FEIO

(...) Francamente, com lavagem depersonagens não vamos a lado nenhum.Tem de terminar o tempo em que as tei-as de influências políticas, económicas emediáticas permitem manter uma ima-gem de seriedade de quem o não é oumesmo da sustentabilidade eterna dedúvidas, sejam elas de que sector forem(económico, político, judicial). Este qua-dro de fundo da Sociedade Portuguesanão permite que nos centremos no es-sencial. Estou a falar mesmo do essen-cial, isto é, da nossa viabilidade social.

A guerra ao Ministério Público nãoterá nada a ver com o branqueamentoque anda por aí?

Paula Teixeira da CruzCorreio da Manhã (09/Abril/09)

DEMASIADO ESTÚPIDO

(...) Se o presidente do Eurojust, ohomem que assegura a ligação entre ainvestigação portuguesa e a investigaçãoinglesa, no caso Freeport, andou por aí,em conversinhas dúbias, saltitando ale-

gremente do gabinete do dr. Alberto Cos-ta para a mesa dos magistrados respon-sáveis pelo processo, então, das duasuma: ou o dr. Lopes da Mota se demite;ou o dr. Lopes da Mota é demitido. In-dependentemente de se saber se foimandatado para o efeito ou se, como dizo procurador—geral da República, gos-ta apenas de “brincadeiras estúpidas” –o que, diga-se de passagem, parece de-masiado estúpido.

Constança Cunha e SáCorreio da Manhã (07/Abril/09)

NACIONALIZAR OS BANCOS

O mal que corrói a finança está agoraa devorar a economia mundial, de que afinança extraiu a sua substância. Quan-do um banco se desmorona, é compradopor outro banco, o qual garante assim queo Estado deva salvá-lo, visto ele se tor-nar «too big to fail» («demasiado grandepara falir»). Um pouco por toda a parte,com precipitação e encurralados, os con-tribuintes pagam biliões de dólares parasocorrer as maiores instituições financei-ras. Ora, ninguém sabe quantos «acti-vos tóxicos» continuam a estar nas en-tranhas de tais instituições nem quantovai ser ainda necessário pagar para ad-quirir a crescente rima dos seus créditosdeteriorados. Eis o balanço da desregu-lamentação financeira. (...)

Serge HalimiLe Monde Diplomatique

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10 24 DE ABRIL DE 2009CRÓNICA

A OUTRA FACEDO ESPELHO

José Henrique Dias*

[email protected]

arte em café

* Professor universitário

Como são os dias a que chamamos radiosos? Há sem-pre, penso agora, porque tudo é pensável, um motivoforte para além dos imperativos ou determinismos mete-orológicos. Os dias só são o que forem dentro de nós.Aquele podia ter sido, foi ao menos num pedaço de noi-te, radioso, iluminado, sei agora, pela luz baça do começode um adeus. Digo tudo isto com a insegurança que ulti-mamente me assalta, depois que me notifiquei para par-tir para longe, cumprir obrigações de político profissio-nal. Desempenhar o cargo. Dar sinais de eficácia. Le-vantar bandeiras para os votos futuros.

Ter de decidir sobre a vida das pessoas, com umasimples assinatura, mandar homens, e agora também mu-lheres, para lugares pouco seguros, num quadro de guer-ra semeado de armadilhas, não convencional, ideologi-zada na dimensão religiosa, logo marcada pela violênciasem limites e a intolerância sem tréguas, não é um actomecânico que uma caneta resolve. Um despacho. Quese emoldure num qualquer dia do Diário oficial. Ter decomandar é pedir a um homem, sossegado neste beira-tarde em que recordo todo o tempo de antes, é pedir aum homem, estava a dizer, a entrar no ocaso da vida,que se demarque de algumas das traves-mestras de queou a partir das quais foi alimentando o Ser.

Ia destravar-se-me a língua para imperativo ético, nãofosse estar aqui preso no dedilhar da viola a que semprevolto nos momentos de angústia. Tem braço-abraço e cor-po de mulher. E sabe responder ao suave toque dos dedos.E faz das carícias música. Libertação. Levei-a para a Gui-né na primeira comissão, à socapa trauteava na negruradas noites de medo umas baladas do Zeca e havia semprequem chorasse, não pelas palavras, pelos protestos que sol-tavam, mas porque traziam a distância, amplificavam a sau-dade, sopravam para longe o cheiro da morte, calavam porinstantes o trepidar das armas e o terror das minas semea-das nos calcanhares de cada incauto passo, ao longo daspicadas, no bordejar dos rios.

Quando mais tarde, afoito na experiência e exponenci-almente revoltado com o impasse, rumei para Angola, emcumprimento de castigo por querer ser livre e pensar li-vremente, ainda hesitei, mas irresistivelmente lá foi comi-go e animou sôfregos intervalos entre aerogramas e notí-cias de Mara. Ficou grávida e relatava-me com muitosdias de atraso o que se passava dentro de si e no à volta,entre impotências e raivas. Então já eu sonhava lonjurasoutras e cantava a Canção de Embalar

Dorme meu menino que a estrela d’ alva…Procurava o tom que servisse o abaixamento da voz,

porém atinava uma a uma com as posições no braço daviola. A mão direita, sem hesitações, harpejava dolên-cias que desatavam as fontes dos olhos daqueles ho-mens endurecidos pela guerra, sobretudo os que havi-am deixado filhos e em outros a quem os filhos nasce-ram já eles estavam no mato, estirados no chão, dedo apressionar a pulsão da morte.

Eu deixara esperanças. Mara tinha sido o que eu costu-mava chamar a grande descoberta da minha vida, num co-meço de noite depois de uma reunião na Associação emque decidíamos o que fazer no desencadear da crise. Tãoinocentes quanto generosos. Tanto tempo já. Quão longe.

Mara era desenvolta e livre. Vinte anos. Livre e de-senvolta como se podia ser naqueles tempos. Eu tinhapassado por uma primeira vinculação ao Partido, apren-dera algumas regras para todas as eventualidades, sónão podia contar com a traição.

O que sempre mais me custou na vida foi lidar com a

Que mil flores…

traição. Sinto-me capaz de compreender todas as fragilida-des humanas, aceito como posso algumas misérias morais,mas o figurino da traição leva-me sempre ao desespero deser capaz de tudo, mesmo do impensável, para que aqueleveneno se solte da possibilidade da mordedura, da angústiade viajar o sangue.

Para mim, enquanto pudemos andar de mão dada naconspiração, Coimbra-noite, vigiada, escura, subitamenteliberta nas viagens clandestinas a Lisboa, preparação detodas as confrontações e das jornadas que trouxeram paraprimeiro plano das conversas a luta juvenil, como geroutensões no ditador, Mara era o sopro de respiração onde ofuturo sonhado se desenhava no terno encantamento doprimeiro beijo, mais tarde no desenrolar nocturno dos cor-pos adormecidos como se um, melodia sempre inacabadade plena dádiva e dia seguinte.

Foi decidida a clandestinidade. Mudámos de nome. En-tregaram-nos os documentos das novas identidades. Parti-mos em diferentes direcções.

È a razão de ir agora para longe, cumprir uma missãoespecial, responsável por umas dezenas de homens e algu-mas mulheres, e penso em tudo o que ficou para trás nestaespera em Figo Maduro, onde a aeronave já ronca a ânsiado voo e há lenços de adeus no lá mais para trás, comoantigamente, no cais de Alcântara.

Abandonara o partido por causa dos acontecimentos dePraga. Mara ficou e afastou-se absolutamente de mim,como se tivesse uma nova lepra, medievalização de novosdeterminismos que aprisionam a inteligência.

Lembro agora como tudo então se passou. A notícia che-gou ao fim da manhã, via telégrafo. Ecoou nas copas dosimbondeiros, salpicou o vermelho do poente no planalto,saltitou depois nas cordas da viola em ritmo de fado.

– Nasceu. É uma menina.Não era a voz de Mara mas reproduzia o texto do tele-

grama. Corria a Primavera e eu nem sabia que dizer. Quemme dera em Abril, pensei, transpondo o poema de uma ba-lada. Mas não sabia que outro Abril estava a despontar.Acabou por florir. Em mil flores…

Só que tudo ficou longe e a memória dói agora como nãosei dizer. Tenho na boca este gosto de perda. Nem sei se éamargo. Eu sei que ninguém trai ninguém que não seja a sipróprio. É um lugar-comum e qualquer aprendiz de adulto,adulto a sério, é capaz de dizer. Mas é insuportável.

A menina que nasceu, que era nosso envolvimento epartilha, moldada em palavras e deslumbramento, sabe-selá bem porquê, em vez de nos unir, dir-se-ia que foi o fim dosonho e o começo do corte silencioso com a vida. Encontreiisto mais ou menos assim num caderno de apontamentos.Retalhos de passado.

O leitor certamente já percebeu que esta história estárecheada de contradições. Claro que está. É construída assimpara que possa ser possível como história e verdadeira como

experiência de uma qualquer vida, talvez tantas vidas, vivi-das ou a viver. Este o milagre da criação. Ainda quandopossa parecer percorrido por algum hermetismo. Mesmoque supostamente inverosímil.

A verdade, agora que uma nova Primavera se desenhae há raios tardios a mergulhar na lonjura marítima, quandorubros os cravos aprendem o esmaecer da esperança, es-perança traída, lutos por resolver, quanto Abril não vindomas com o sabor imbatível da liberdade substantiva quealguns tentam roubar, a verdade, é óbvio e reconhecível, éque o narrador não está de partida que não seja para fora desi mesmo, bem dentro do pensável, que imaginar é viver.

Mara realmente não existiu assim. Mara nunca existiu.É pura invenção. Uma espécie de delírio. A materializaçãode um desejo. Ou apenas a transfiguração de uma realida-de que se escapou como areia entre dedos abertos parauma interrogação. Uma mulher entra sempre bem nestashistórias. Faz muita falta. Respiramos a mensagem fero-mónica das suas promessas de primavera. Talvez algumdia Mara tenha escrito, em momento de raiva ou no impas-se do amor, não te amo nem nunca te amei. Com maiús-culas. Como um grito. Como quem foge. Como quem mor-re. A verbalizar um interdito. Guardado ciosamente. Ao lon-go de anos. A verdade. Só é verdade o que imaginamos. Avida é ficção. Ou um palco, como diria Shakespeare.

A menina nascida não podia ouvir canções de embalar.Não era de carne. Era de palavras. De palavras feitas car-ne. Como no Genesis.

Significante paralisado na espera do significado. Parare-significar. Re-presentar. Tornar presente. Metáfora. Naprocura do Tempo. Na ânsia da Duração. Da aventura dalinguagem em movimento perpétuo.

Deve estar algures escondida em anonimato de lomba-da. Numa qualquer biblioteca. Ou num arquivo morto. Tempobreve de uma ilusão. Consta que era Abril. Não aparecenas gavetas do catálogo. Nunca chegou. Se calhar nuncafoi feita. Como por cumprir ficaram tantas promessas. De-sapareceu na trepidação postal. Talvez roubada. Foi o quedisse a bibliotecária. Quem?

Impossível saber dela. Ninguém conhece o título. Pare-ce que nunca teve autor. E isso que importa? Se há poesia.E fraternidade. E possibilidade de recordar.

Lembrei agora, com indizível saudade, o António Ber-nardino. O nosso Berna.

Flores para Coimbra.

Que mil flores desabrochem. Que mil flores(outras nenhumas) onde amores fenecemque mil flores floresçam onde só doresflorescem.

Que mil flores desabrochem. Que mil espadas(outras nenhumas não)onde mil flores com espadas são cortadasque mil espadas floresçam em cada mão.

Que mil flores floresçamonde só penas são.Antes que amores feneçamque mil flores desabrochem. E outras nenhumas não.

(Música de Joaquim Fernandes, que, dizem-me,lecciona actualmente na Universidade Fernando Pessoa,

poema de Manuel Alegre, com a guitarra de António Portugal).

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1124 DE ABRIL DE 2009 25 DE ABRIL

O militar de Abril Otelo Saraiva de Carvalho encaracom naturalidade a inauguração da requalificação do Lar-go Dr. Salazar, em Santa Comba Dão, amanhã (dia 25),por entender que iniciativas do género podem até ter umpapel didáctico.

“Acho que Santa Comba Dão tem orgulho de um ho-mem que ali nasceu e não vejo mal que isso aconteça, atéporque pode servir didacticamente para dizer às pessoas‘este homem viveu de tantos a tantos, morreu com 81 anose foi um ditador que fez o que fez ao país’ e explicar porquê.Acho que é sempre didático”, considerou.

Otelo Saraiva de Carvalho falava à Lusa no Instituto deAlmalaguês, em Coimbra, onde participou num debate comalunos sobre os 35 anos do 25 de Abril.

Questionado sobre o polémico Centro de Estudos e Museudo Estado Novo, projectado pela Câmara de Santa CombaDão e encarado por alguns como uma homenagem a Sala-zar, o capitão de Abril afirma que “as pessoas têm direito ater opinião e a não ter razão”.

“Salazar é um homem que pertence à História, ape-sar de todo o ódio que muita gente do nosso país, feliz-mente a maior parte, terá a um ditador que colocou opaís de rastos, apesar do muito bem que muitos possamdizer dele”, afirmou.

Otelo Saraiva de Carvalho não se opõe à construção doreferido museu, por entender que isso “não significa fazerincitamento, de forma inconstitucional, a formações nazis”.

“São os saudosistas do Salazar, que acham que ele foio maior português de sempre. Não ponho entraves aisso. Se isso fizesse recrudescer ou renascer o espíritonazi, a coisa devia ter sido mais bem pensada, mas julgoque não”, afirmou.

RECUSA DE PROMOÇÃO

Otelo Saraiva de Carvalho afirmou ontem sentir-se in-justiçado com a promoção a coronel ao abrigo da reconsti-tuição das carreiras e admitiu recusar o distinção e pôr oEstado em tribunal.

“Para já, estou a pensar seriamente em recusar estapromoção e os 48 mil euros. Recuso, assim não, não que-ro”, declarou Otelo à Agência Lusa, em Almalaguês, à mar-gem do acima referido.

Otelo Saraiva de Carvalho recusa o que classifica de“aparente benesse política” e frisa que o seu caso “não seaplica à reconstituição de carreiras”.

A INESPERADA OPINIÃO DO LÍDER DA REVOLUÇÃODE ABRIL MANIFESTADA ONTEM EM COIMBRA

Largo em memória de Salazarpode ser didáctico- considerou Otelo Saraiva de Carvalhoa propósito da iniciativa em Santa Comba Dão

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12 24 DE ABRIL DE 200925 DE ABRIL

A forma “descoordenada” como foi lan-çada a acção e o “recuo” do PCP face àsdificuldades de “fazer o pronunciamento”foram factores determinantes para travar atentativa de assalto ao poder pela extrema-esquerda a 25 de Novembro de 1975.

A opinião é expressa por Vasco Louren-ço, uma das figuras mais destacadas do 25de Abril de 1974 e do período subsequente,no livro “Do interior da revolução” (livro queresulta de uma entrevista de quase 600 pá-ginas à investigadora Maria Manuela Cru-zeiro, do Centro de Documentação 25 deAbril da Universidade de Coimbra).

No livro (lançado ontem, quinta-feira, emLisboa) lança farpas aos que se “passeiamnas diversas ´passerelles´” à sua custa, e onome do ex-Chefe de Estado (1976-1986)Ramalho Eanes é um dos que mais surge.

“Há uma coisa que eu não compreendo:como pode o Ramalho Eanes falar do 25 deNovembro, da sua importante e decisivaacção, dizendo sempre que não actuou so-zinho, indicando vários nomes e nunca pro-nunciando o nome de Vasco Lourenço ?”,questiona.

“O Eanes respondia perante mim (…)após a sua indigitação para Chefe de Esta-

AFIRMA VASCO LOURENÇO EM ENTREVISTA A MANUELA CRUZEIRO

“Descoordenação” e “recuo” do PCPimpediram golpe de Novembro de 1975

do-Maior do Exército, autonomiza-se emrelação a mim e começa a ter iniciativasfora da cadeia de comando (…) por issome considero, então, enganado por ele. Aindaque só mais tarde me aperceba do que efec-tivamente se passou”, refere.

Sobre o falhanço da tentativa de contra-golpe à Revolução de Abril, Vasco Louren-ço avança a sua explicação.

“O 25 de Novembro não é um golpe pla-neado e executado de forma bem pensada,mas sim acções dispersas desencadeadas,por um lado, por forças políticas que preten-dem alterar a correlação de forças dentrodo poder e, por outro, pela extrema-esquer-da que tenta aproveitar para fazer efectiva-mente o golpe. Como é tudo descoordena-do e nós (…) actuámos de forma organiza-da e disciplinada, conseguimos rentabilizaras poucas forças que tínhamos”, descreveuVasco Lourenço.

Para o militar, as movimentações milita-res de 25 de Novembro de 1975 tiverampor objectivo “uma tentativa de ocupar opoder”.

“E nisso, estou plenamente convencidoque o PCP esteve envolvido, directa e indi-rectamente”, assegura.

E prossegue: “com toda a sua capacida-de e competência, os dirigentes do PCP rá-pido se aperceberam de que não era fácilfazer o pronunciamento. E o golpe, aindamais complicado e custoso seria. Por issorecuam. Procurando perder o menos possí-vel, e apagando de seguida os vestígios dasua intervenção (…) se quisessem fazer umgolpe, tê-lo-iam planeado cuidadosamentee teriam garantido a intervenção das diver-

sas forças que, à partida eram vistas comosuas apoiantes. E, se o conseguissem, nazona de Lisboa estavam em maioria, tinhammais força que nós. E, talvez tivessem mes-mo criado a ´Comuna de Lisboa´”.

“Tenhamos presente o envolvimento doSDCI (Serviço de Detecção e Controle deInformação) onde os gonçalvistas recusa-ram a entrada, nesse dia 25, a militares queaí prestaram serviço, apenas porque eramdos Nove. Recordo, nomeadamente, o LuísArruda, militar de Abril com importante ac-ção no 25 de Abril; recordo a acção da In-tersindical na Amadora, com tentativa debloquear as saídas dos Comandos; recordoa acção de vários gonçalvistas, nomeada-mente o Dinis de Almeida, que envolveu oRALIS na tentativa de golpe”, elencou.

Na longa entrevista, em que reconstituiao pormenor a sucessão de episódios emque participou antes e depois da revoluçãode Abril, Vasco Lourenço considera mes-mo que, “se tivesse havido coordenação edeterminação” por parte dos insurrectos, aunidade de Comandos chefiados por JaimeNeves - que acabaram por impedir o assal-to ao poder pela extrema-esquerda - “aca-bariam vencidos”.

Manuela Cruzeiro com o livroontem lançado em Lisboa

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1324 DE ABRIL DE 2009 25 DE ABRIL

Trinta e cinco anos depois da Revolução de Abril, hámais dois milhões de portugueses. Apesar de terem me-nos filhos, vivem mais tempo, e a chegada dos imigrantesajudou a população a crescer.

Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística(INE), em 1970 existiam 8,6 milhões de portugueses. Em2007 esse número tinha aumentado para 10,6 milhões.

Apesar do aumento populacional, actualmente há me-nos crianças até aos 10 anos do que havia em 1970 (cer-ca de um milhão, contra 1,6 milhões, respectivamente).

Em contrapartida, o número de pessoas com mais de70 anos duplicou, passando de 560 mil para 1,2 milhões,resultado do aumento da esperança de vida, que deu mais13 anos aos homens e 15 às mulheres.

Portugal passou também a ser um país com maiordiversidade populacional: enquanto em 1975 residiam noterritório nacional cerca de 32 mil estrangeiros, segundodados do Serviço Estrangeiros e Fronteiras (SEF), em2007 esse valor subiu para 435 mil, sem contar com osimigrantes ilegais.

Segundo o estudo “As Regionalidades Demográficasdo Portugal Contemporâneo”, de Maria João GuardadoMoreira e Teresa Ferreira Rodrigues, houve um “decrés-cimo da população portuguesa entre 1960 e 1974”.

A década de 70 começou com um recorde de saídas:173.300 emigrantes, dos quais 107 mil ilegais procurarammelhores condições de vida fora de Portugal.

Entre 1960 e 1974 registaram-se os valores mais ele-vados da emigração no país: mais de 1,5 milhões de por-tugueses, ou seja, 100 mil por ano, saíram de Portugal, deacordo com o Atlas de Portugal do Instituto GeográficoPortuguês.

A inversão desta tendência só aconteceu em 1974 esurgiu ligada à Revolução de Abril. Nesse ano, o aumen-to demográfico foi de 2,6 por cento, segundo as duasinvestigadoras do CEPESE (Centro de Estudos de Eco-nomia e Sociedade).

O número de emigrantes baixou a partir de 1973 devi-do à crise económica internacional, à mudança do regi-me político em Portugal e ao processo de independênciadas colónias.

Em 1974 emigraram apenas cerca de 43 mil portu-gueses, número que baixou para os 24 mil em 1975.

O regresso de portugueses residentes nas ex-colónias- mais de meio milhão - traduziu-se num aumento popula-cional expressivo, estimando-se que a população tenhaaumentado 14 por cento, na década de 70, sobretudo en-tre 1974 e 1976, devido ao processo de descolonização.

Uma estimativa feita pelas investigadoras do CEPE-SE apontava para 8,3 milhões de residentes em Portugalem 1974, contra nove milhões dois anos depois.

Nos últimos 30 anos, a população portuguesa envelhe-ceu: nascem cada vez menos crianças e morre-se cadavez mais tarde.

Segundo o estudo do CEPESE, “entre 1960 e 2006,a proporção de jovens desceu de 29 por cento para16 por cento e os idosos aumentaram de oito para 17por cento”.

Em 2007, pela primeira vez em mais de um século, onúmero de mortos superou os nascimentos: morreram103.727 pessoas e nasceram apenas 102.213.

Ainda assim, nesse ano, a população residente em Por-tugal cresceu ligeiramente, graças a um saldo imigratóriopositivo de 19.500 pessoas.

Contudo, verificou-se um decréscimo da taxa de nata-lidade e um aumento da taxa de mortalidade, mas a ma-nutenção da taxa de mortalidade infantil em valores abai-xo dos 3,5 óbitos de crianças com menos de 1 ano por milnados vivos.

Números bem diferentes dos que estavam reflectidos

Como são os portugueses35 anos após a Revolução dos Cravos

nas estatísticas de 1970, quando morriam 58 criançascom menos de um ano por cada mil nados vivos.

Nesta altura, a taxa de mortalidade infantil em Por-tugal situava-se 137,2 por cento acima do valor daUnião Europeia (15 países).

A atestar o contributo dos imigrantes para o au-mento da população residente em Portugal refira-seque, em 2007, nasceram em Portugal cerca de 10 milbebés cuja mãe tem nacionalidade estrangeira.

São quase 10 por cento do total de bebés nascidosno país.

Vasco Lourenço e Pezarat Correia, dois dos militares de Abril

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14 24 DE ABRIL DE 2009EDUCAÇÃO/ENSINO

Foram entregues na passada terça-fei-ra, no Salão Nobre do Governo Civil de Co-imbra, os prémios distritais do Concurso“Escola Alerta 2008/2009”.

No início da cerimónia, Governador Civilde Coimbra, Henrique Fernandes, cumpri-mentou as escolas e os alunos pela partici-pação neste concurso, considerando ser umexercício de cidadania, tendo depois alerta-do para as questões relativas à importânciadas acessibilidades para os cidadãos porta-dores de algumas deficiências.

Estiveram também presentes na sessãoa Directora Adjunta da Direcção Regionalde Educação do Centro, o Director Adjun-to do Centro Distrital de Segurança Social,o Presidente da Câmara Municipal da Lou-sã e a professora e membro do júri Mariado Rosário Pimentel.

Os premiados do Concurso “EscolaAlerta 2008/2009” foram os seguintes:

NO GOVERNO CIVIL DE COIMBRA

Entregues os prémios distritaisdo Concurso “Escola Alerta”

– Na Categoria 1 (1.º Ciclo do EnsinoBásico): Agrupamento de Escolas Álva-ro Viana de Lemos, Escola EB1 de San-ta Rita, Concelho da Lousã. O trabalhoapresentado assenta no diagnóstico das si-tuações de barreiras arquitectónicas exis-tentes numa instituição local – a ARCIL –propondo algumas correcções.

– Na Categoria 2 (3.º Ciclo e Ensino Se-cundário): Escola EB 2,3 Carlos de Oli-veira – Agrupamento de Escolas “Fi-nisterra” – Febres. O trabalho assentano diagnóstico de situações, propondo solu-ções e acções concretas a promover, con-tribuindo para a eliminação das mesmas, noque respeita às barreiras sociais, barreirasde informação e comunicação e barreirasurbanísticas e arquitectónicas.

– Foram também entregues três Men-ções Honrosas: na Categoria 1 (1.º Ciclo doEnsino Básico), a Escola EB2,3 Pintor Má-

rio Augusto Lemos, Agrupamento de Esco-las de Alhadas, Figueira da Foz; com o tra-balho intitulado “Desporto Sem Limites”; ena Categoria 2 (3.º Ciclo e Ensino Secundá-rio) a Escola EB 2,3 Lousã, Agrupamentode Escolas da Lousã; com o trabalho intitu-lado “Caminhos (des)encantados” e a Es-cola Secundária da Lousã, com o trabalhointitulado “Espaços Acessíveis”.

O concurso “Escola Alerta” é subordi-nado ao lema “Acessibilidade a todos” edesenvolvido pelo Instituto Nacional para a

Reabilitação, contando com a colaboraçãodos Governos Civis, das Direcções-Regio-nais de Educação, de Câmaras Municipaise, essencialmente, com a participação dire-cta das Escolas e Agrupamentos de Esco-las. De acordo com o Regulamento, o Con-curso visa sensibilizar e mobilizar os alunosdos ensinos básico e secundário para as ques-tões da deficiência, para o que os alunos,sob a orientação de docentes, são estimula-dos a apresentar trabalhos relacionados comesta problemática.

Alguns dos premiados da Escola EB 2,3 Carlos de Oliveira – Agrupamentode Escolas “Finisterra” – Febres, com o Governador Civil

A representante do grupamento de Escolas Álvaro Viana de Lemos, EscolaEB1 de Santa Rita, Concelho da Lousã, recebe o Prémio conquistado

A Minerva Coimbra tem vindo a promo-ver um meritório ciclo de palestras subordi-nado ao título genérico “O Dever de Edu-car”. Nas anteriores sessões, dedicadas àscapacidades cognitivas e à motivação, en-veredou-se por uma abordagem genéricada aprendizagem, que legitima a afirmaçãoda igualdade. Esta requer, porém, uma ou-tra que lhe é complementar: a abordagemda diferença. De facto, se é certo que todosdispomos de uma estrutura cognitiva, tam-bém é certo que ela só existe e se desenvol-ve num certo contexto cultural.

Joaquim Pires Valentim (professor daUniversidade de Coimbra, doutorado empsicologia social, e convidado da última ses-são deste ciclo) abordou o tema “Escola,

MINERVA COIMBRA PROMOVE CICLO SOBRE “O DEVER DE EDUCAR”

Escola, igualdade e diferençae de ter contribuído para a redução de desi-gualdades, nomeadamente, desigualdadesde cariz social, quando a democratizaçãopermitiu que todos frequentassem o ensi-no, assiste-se agora à consciencialização deque, afinal, se se quiser pensar em termosde um sistema educativo igualitário, nãobasta oferecer a todos o mesmo.

“Se sentarmos ricos e pobres lado a lado,aqueles que estão em desvantagem acen-tuarão a sua desvantagem”, frisou o espe-cialista, acrescentando que no sentido maisutópico, o que se pretende é tentar que “osresultados escolares não sejam desiguais emfunção das diferenças de classe social, decultura ou de sexo”, mas numa versão maispragmática “é tentar assegurar que pelo

menos ao nível das competências básicastodos, de facto, atingem essa igualdade emtermos de resultados”.

As funções da escola em torno da igual-dade, acrescentou ainda, são cada vez me-nos vistas como uma corrida pelos melho-res postos profissionais na sociedade, mascomo uma igualdade de oportunidades nodesenvolvimento de potencialidades dos in-divíduos. “Essas potencialidades são neces-sariamente diferentes entre os indivíduos”,provocando abertura ao reconhecimento dadiferença e da especificidade.

A escola deve assim reconhecer a espe-cificidade e a diferença e é nessa especifi-cidade e nessa diferença que se deve apoi-ar para fazer o trabalho pedagógico.

Maria Helena Damião, Joaquim PiresValentim e Isabel de Carvalho Garcia

igualdade e diferença”, salientando que de-pois de durante várias décadas a escola terapostado na homogeneização da educação

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1524 DE ABRIL DE 2009 EDUCAÇÃO/ENSINO

* Professora e dirigente do SPRC

Maria IsabelLemos *

Chega de tanta arrogância!

Foi com estupefacção que ouvi, hádias, o Secretário de Estado da Educa-ção, Jorge Pedreira, dizer, em plena As-sembleia da República, aos deputadosque questionavam a Ministra da Edu-cação acerca dos famigerados objecti-vos individuais na avaliação de desem-penho docente e da (i)legalidade come-tida pelos docentes que não os apre-sentaram: “Está na lei… Leia, senhordeputado, leia”. Do espanto passei ra-pidamente à indignação. Então não éobrigação de uma equipa ministerialprestar contas e informação aos legíti-mos representantes dos cidadãos, elei-tos, eles sim…? Então é assim que umdirigente político respeita a democracia?Parecia um garoto birrento; como quemdiz: eu sei, mas não digo…

A questão é exactamente essa: seráque sabe mesmo? Será que está estatu-ída, no enquadramento legal em vigor, aobrigatoriedade, por parte dos docentes,de definir objectivos individuais para asua acção profissional? É que só o se-nhor Secretário de Estado da Educaçãoencontra tal imposição legislativa! Nemos professores, nem os deputados!!! Eentão volta-se à imagem de marca destegoverno: a arrogância. Lamentável, nomínimo, este exemplo de prepotência, defalta de sentido de cidadania e respeitodemocrático.

E passemos então ao fulcro da ques-tão: a apresentação de objectivos indivi-duais por parte dos professores. É que oacto educativo tem uma especificidade:é eminentemente cooperativo. Tanta im-portância se dá às reuniões de Conse-lhos de Turma, à definição colectiva deum Projecto Curricular de Turma, à con-

cepção participada por todos os interve-nientes no acto educativo (pais, encar-regados de educação, autarcas, técnicosnão-docentes, alunos) do Projecto Edu-cativo, para depois se vir exigir aos do-centes a definição dos seus objectivosindividuais?! Parece francamente absur-do e paradoxal.

Os professores devem comprome-ter-se, pelo contrário, como sempre ofizeram, na construção dum modelo deescola em que o desempenho indivi-dual de cada um não seja um fim emsi mesmo, nem sirva para gerar cas-tas dentro da profissão, mas contri-bua, em ambiente de forte empenha-mento cívico e de exigente valoriza-ção profissional de todos, para a rea-lização dos objectivos educacionaisdescritos na Lei de Bases do SistemaEducativo, desde 1986.

A Federação Nacional dos Professo-res (Fenprof) considerou que o alarga-mento da escolaridade obrigatória só se-ria uma surpresa se não fosse decretadopelo Governo e alertou para a necessi-dade de medidas de combate ao aban-dono e insucesso escolar.

“O que seria novidade, surpreendentee inaceitável, era o Governo não cum-prir este compromisso”, afirmou o Se-cretário-Geral da Fenprof, Mário No-gueira, em declarações à Agência Lusa,lembrando que o alargamento de novepara 12 anos já estava previsto no pro-grama de Governo.

O Primeiro-Ministro, José Sócrates,anunciou durante o debate quinzenal no

AFIRMA O SECRETÁRIO-GERAL DA FENPROF

Surpresa seria se o Governonão decretasse o alargamentoda escolaridade obrigatória

Parlamento que o Governo vai apresen-tar uma proposta de lei para alargar denove para 12 anos a escolaridade obri-gatória, ou seja, os jovens até aos 18 anosterão de frequentar a escola ou um cen-tro de formação profissional.

Segundo José Sócrates, a regra legalde extensão da escolaridade obrigatóriaserá para aplicar “aos alunos que se vãoinscrever no 7.º ano de escolaridade”.

O chefe do Executivo anunciou igual-mente que, a partir do próximo ano lecti-vo, todos os alunos com aproveitamentoescolar no ensino secundário beneficiá-rios dos dois primeiros escalões do abo-no de família terão direito a bolsa de es-tudos, sendo que o valor da bolsa será

igual a duas vezes o abono.Para Mário Nogueira, “não basta de-

cretar a obrigatoriedade”, são necessá-rias medidas de política educativa parareduzir significativamente as taxas deabandono e insucesso escolar, “mas nãoadministrativamente”.

“Se isso não acontecer teremos umaobrigatoriedade no secundário com ele-vadas taxas de abandono e insucesso”,acrescentou.

Além de uma reestruturação do ensi-no básico e secundário, Mário Nogueiradefende reforços “significativos” da ac-ção social escolar e medidas para con-trariar problemas exteriores à escola,como o desemprego.

FNE considera alargamento positivoA Federação Nacional dos Sindicatos

da Educação (FNE) considerou “positi-va” a passagem da escolaridade obriga-tória de nove para 12 anos, mas subli-nhou a necessidade de medidas que tor-nem o alargamento eficaz e promotor desucesso educativo.

“Esta medida, que foi sendo adiadasistematicamente, é uma medida positi-va, mas é necessário criar condições paraque este alargamento seja eficaz e dereal sucesso educativo”, afirmou Armin-

da Bragança, dirigente da FNE, em de-clarações à Agência Lusa.

A sindicalista sublinhou que a taxade abandono escolar ao nível do ensi-no obrigatório tem vindo a diminuir,mas mantém-se ainda com valores ele-vados, defendendo, por isso, mecanis-mos de controlo de abandono e novasmedidas de promoção do sucessoescolar.”O facto de os alunos não con-tinuarem a estudar, no secundário, nãotem só a ver com dificuldades econó-

micas. Não vamos dizer que uma bol-sa vai resolver o problema do acessoe da continuidade dos estudantes noensino secundário”, acrescentou Ar-minda Bragança, exigindo um alrga-mento “de qualidade”.

Para a FNE, terá de ser tomado umconjunto de medidas, em articulação,como a revisão “profunda” de progra-mas e currículos, assim como apostar naformação de professores, para atenderao multi-culturalismo dos alunos.

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16 24 DE ABRIL DE 2009SAÚDE

MassanoCardoso

Steve Jones, reputado geneticista e autorde várias obras, fez, recentemente, uma in-teressante declaração: “A evolução huma-na está paralisada”, ao apontar para “a faltade progenitores de idade avançada”. Defacto, quanto mais idosos forem os pais, so-bretudo o pai, maior é a probabilidade deocorrência de mutações e de estas serem

transmitidas aos filhos. Tenho algumas dú-vidas quanto a este argumento, porque, atu-almente, os pais têm filhos cada vez maistarde. Mas ao decréscimo das mutaçõeshumanas, devido a alterações dos padrõesreprodutivos, Jones descreve os comporta-mentos sociais, como o casamento e a con-traceção, como sendo igualmente respon-sáveis por este “fenómeno” de paralisia evo-lutiva. As suas explicações, interessantes,sem sombra de dúvida, alargam-se ao en-fraquecimento da seleção natural, na qual

o acaso perde importância. E aqui entraem jogo um conceito importante. Haven-do “dez mil vezes mais seres humanos do

Deixámos de evoluirque ditariam as regras do reino animal,por causa da agricultura” – ou seja, nãodeveríamos ser mais do que 600.000 ter-ráqueos –, o acaso vai ter dificuldade emimpor-se, e a globalização, que tambémirá manifestar-se nesta área, originará umamistura de tal ordem com redução da pro-babilidade de haver mudanças casuais.

Modificações na pressão da seleçãonatural aliadas à diminuição das mutaçõese das alterações devido ao acaso estãona base da afirmação do geneticista bri-

tânico, segundo o qual o ser humano dei-xou de evoluir.

Mas terá mesmo?Será que os vírus poderão dar respostas

a perguntas que ainda não questionámos?O papel dos vírus na evolução começa a

ser entendido. Os seus efeitos e consequên-cias são bem conhecidos. Mais mortíferosdo que a própria peste. Febre amarela, sa-rampo, varíola, para citar apenas três, pro-vocaram mortandades terríveis ao longo danossa Hstória. Basta recordar que só a va-ríola, doença extinta, matou no decurso doséculo XX 500 milhões de pessoas! Apesarde tudo, e não obstante os seus efeitos nal-gumas características fisiológicas, não teve,tal como muitas outras doenças infecciosas,capacidade para influenciar os seres huma-nos como espécie. Para tal é preciso quealterem as células germinativas. Os únicoscapazes de mudar a estrutura genética sãoos retrovírus. Como é do conhecimento ge-ral, neste momento lidamos com retrovírusterríveis, caso dos vírus da sida. No entanto,estes não têm capacidade de infetar um es-permatozoide ou um óvulo, condição neces-sária para provocar mudanças genéticas.Mas já aconteceu que uma célula germina-tiva fosse contaminada por um retrovírus?Já! É raro e ainda mais raro que o embriãoresultante sobreviva. Mas já aconteceu? Já!

Quem diria que o nosso genoma estives-

se “cheiinho” de retrovírus? De facto, oi-tenta por cento é composto de restos destesvírus, que, há muitos milhões de anos se in-troduziram nos nossos antepassados. Sãodesignados retrovírus endógenos, porquetornaram-se parte da nossa espécie. Ver-dadeiros fósseis da nossa evolução.

Agora imaginem o que é que poderáacontecer se “sacarem” algumas dessaspartículas, juntá-las e porem em atividaderetrovírus adormecidos! Ótima sugestão parabioterroristas.

Foi à custa destas curiosas partículas queocorreu um dos mais importantes fenóme-nos: a formação da placenta, característicados mamíferos, e nossa, claro está, e do su-cesso da superioridade sobre pássaros, rép-teis e peixes. Houve quem, em jeito de brin-cadeira, tenha feito a seguinte afirmação:“Sem estes vírus era muito possível que osseres humanos andassem ainda a pôr ovos”!Afinal acabamos por descender não só dos

“macacos”, mas, também, dos vírus. Sendoassim, com base nos velhos retrovírus quefazem parte do nosso genoma, não podere-mos excluir que outros possam vir a incor-porar-se nas nossas células germinativasprovocando alterações genéticas suscetíveisde provocarem mudanças estruturais e fun-cionais significativas.

O aparecimento dos HIV é um exemplodos “esforços”, ou melhor, da interação en-tre os seres vivos e a natureza numa per-manente experimentação para ver o que éque vai sair desta feita. O nosso passadoestá repleto de “agressões” deste géneroao ponto do agressor acabar por fazer partedo próprio indivíduo. Quem sabe se no futu-ro, não possam surgir novos retrovírus gulo-sos das nossas células, sobretudo das ger-minativas, e capazes de originar novas es-pécies a partir da nossa? Ao menos que saiauma “coisita” melhor, no bom sentido domesmo! Sem ofensa para o Homo sapienssapiens…

Termino com a frase de Villarreal, queMichael Specter citou no seu excelente en-saio, “Darwin´s Surprise”, publicado noNew Yorker (3 de Dezembro de 2007): “Vi-ruses may well be the unseen creator thatmost likely did contribute to making ushuman.”

Nota da Redacção: Como os leitores se terãoapercebido, o nosso colaborador Salvador MassanoCardoso (ilustre Professor da Faculdade de Medici-na da Universidade de Coimbra), redigiu este texto já

seguindo as normas do novo Acordo Ortográfico.

Steve Jones

O Instituto Português de Acreditação, como organismo nacional de acredi-tação, reconheceu recentemente que o Laboratório de Microbiologia deÁguas do Instituto de Higiene e Medicina Social da Faculdade deMedicina de Coimbra, cumpre com os critérios de acreditação para Labo-ratório de Ensaio estabelecido na NP EN ISO/IEC 17025:2005 - Requisitosgerais de competência para laboratórios de ensaio e calibração.

Desta feita, passa a constituir o primeiro laboratório acreditado da Faculda-de de Medicina de Coimbra, facto que constitui uma honra, premiando o es-forço e a dedicação dos seus colaboradores, e “para o que foi determinantetodo o apoio e entusiasmo demonstrado pela direção da Faculdade, a qual estáde parabéns por mais esta distinção e reconhecimento” - como salienta oDirector daquele Laboratório, Prof. Massano Cardoso.

Acreditação de Laboratórioda Faculdade de Medicinada Universidade de Coimbra

Page 17: O Centro - n.º 68 – 24.04.2009

1724 DE ABRIL DE 2009 SAÚDE

As unidades de saúde vão propor àsfamílias menus saudáveis e baratos paraprevenir a má alimentação das criançasdevido à crise e as autoridades ponderammesmo alargar o horário das cantinas es-colares, revelou o director-geral da Saúde.

Em entrevista à agência Lusa, Francis-co George avançou que estão previstas“medidas de contingência” para responderaos efeitos da crise económica na saúdedos portugueses.

As preocupações das autoridades desaúde situam-se sobretudo a três níveis:alimentação das famílias, em particulardas crianças, saúde mental (ansiedade,stress, depressão e doenças do foro psi-

Médicos vão propor menus saudáveis e baratospara evitar má alimentação

quiátrico) e acesso igualitário aos servi-ços de saúde.

O “primeiro eixo de alerta” diz res-peito às questões ligadas à alimentação,disse Francisco George. “É preciso as-segurar que os portugueses comam bem,de forma equilibrada e com menos cus-tos”, acrescentou.

Nesse sentido, a Direcção-Geral deSaúde (DGS) solicitou à Plataforma con-tra a Obesidade, que reúne especialistasem nutrição, que preparasse “um conjuntode menus saudáveis, equilibrados e de bai-xo custo que pudessem ser utilizados pelasfamílias com mais dificuldades”.

Francisco George revelou que os me-

nus vão estar disponíveis em todas as uni-dades de saúde pública, nos serviços deaconselhamento nesta área e através detodos os médicos, principalmente os de fa-mília, que vão poder aconselhar os utentessobre medidas simples que assegurem umaalimentação adequada.

Para prevenir situações de má alimen-tação nas crianças, sobretudo as que es-tão em idade escolar, a DGS já contactouo Ministério da Educação para, no caso deser necessário, as cantinas das escolasestarem abertas mais tempo, incluindo nasférias, “servindo refeições de uma formaequilibrada”.

Questionado sobre a existência de cri-

anças com fome devido à crise, FranciscoGeorge admitiu que já surgiram casos pon-tuais, mas “ainda não constituem um pro-blema de dimensão preocupante”.

O director-geral da Saúde adiantou ain-da que a crise financeira levou à criaçãode unidades de alerta em 68 localidades dopaís, que já estão operacionais.

“Este dispositivo vai acautelar e per-mitir que sejam tomadas medidas a tem-po, a fim dos programas de saúde nãoserem prejudicados”, sublinhou Fran-cisco George.

Helena Neves e Sandra Moutinho(Lusa)

O Centro de Medicina de Reabilitaçãoda Região Centro (CMRRC) de RoviscoPais deverá estar apetrechado em 2010com uma unidade de cuidados continuadosde convalescença, dotada de 60 camas, re-velou fonte hospitalar.

Manuel Teixeira Veríssimo, Presidente doConselho de Administração e Director Clí-nico do CMRRC, situado na Tocha, Canta-nhede, disse à agência Lusa que a novaunidade deverá ser adjudicada na segundaquinzena de Maio, prevendo-se que estejaconcluída dentro de um ano a ano e meio.

Segundo o médico, a unidade está orien-tada para dois tipos de patologias, em queexistem “grandes necessidades na RegiãoCentro”: a recuperação de doentes no pós-agudo de acidentes vasculares cerebrais ede pacientes em convalescença de cirurgi-as ao aparelho locomotor.

Para cada uma das situações, serão afec-tadas 30 camas, adiantou Manuel TeixeiraVeríssimo.

“É uma unidade muito importante por-que se oferece um serviço de qualidade nareabilitação de pessoas que sofreram AVCou foram operadas a cirurgia do aparelholocomotor, facilitando a sua recuperação etentando desenvolver ao máximo as suascapacidades”, frisou o Presidente do Con-selho de Administração do Rovisco Pais.

Por outro lado, a nova unidade vai permi-tir retirar “mais cedo os doentes dos hospi-tais dos agudos, onde a estadia é mais carae não está tão direccionada para a reabilita-ção”, referiu o Presidente do Conselho deAdministração do CMRRC - Rovisco Pais.

Estes cuidados continuados de curta du-ração ou de convalescença compreendemum internamento até um mês, período apóso qual os doentes têm alta ou, caso necessi-tem, são encaminhados para o centro dife-renciado de reabilitação do CMRRC.

A unidade vai funcionar num dos pavi-lhões da antiga leprosaria Rovisco Pais, que

Centro de Medicina de Reabilitação da Tochavai ter unidade de cuidados continuados

vai ser recuperado para o efeito, num in-vestimento de três milhões de euros, reve-lou ainda o Director Clínico daquela unida-de, que já foi no passado uma leprosaria.

Vai ser inserida na Rede Nacional deCuidados Continuados Integrados, emboraseja uma resposta dirigida à recuperação depessoas que sofreram AVC ou que foramsubmetidas a intervenções do aparelho lo-comotor, nomeadamente colocação de pró-teses da anca ou joelho, explicou o respon-sável.

O CMRRC - Rovisco Pais é “um esta-belecimento de nível central, que exerce

actividade de interesse público nas áreas decuidados de saúde, ensino e investigação nasaúde, nomeadamente no âmbito dos cui-dados diferenciados de reabilitação, em pri-

vilegiada articulação com os restantes ser-viços de saúde da Região Centro e promo-ve a readaptação e reintegração sócio-pro-fissional das pessoas com deficiência”.

Vista parcial do Hospital Rovisco Pais, na Tocha

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18 24 DE ABRIL DE 2009A PÁGINA DO MÁ[email protected]

Mário Martins

ELEIÇÕES EUROPEIASNA RTP

Duas conclusões sobre a 2.ª parte (sóvi a 2.ª parte) do “Prós e Contras” quehá pouco terminou:

1. Paulo Rangel muito seguro, apesarda alegada juventude.

2. Não vai ser nada fácil a tarefa deVital Moreira.

(PS - Não me admirava nada que, nestemomento, já estivessem a tocar as “cam-painhas de alarme” no gabinete eleitoralsocialista...)

(publicado em 21 de Abril)

O IMI BAIXOU?Vital Moreira acaba de afirmar na

RTP1 que o IMI baixou nos últimos anos.Lá estou eu a viver noutro país: o meu

IMI não baixou.(publicado em 21 de Abril)

DIA SEGUINTEGuilherme Aguiar a tentar explicar

porque é que Olegário Benquerença nãomarcou grande-penalidade contra o FCPorto ontem em Coimbra.

Lapidar.(Se a mão de Raul Meireles não é mo-

tivo para marcar “penalty”... acabaramos “penaltis” nos jogos disputados emPortugal.)

(publicado em 20 de Abril)

OUTRA “TRAPALHADA”O secretário de Estado da Justiça [Ti-

ago Silveira] considerou hoje “muito gra-ve” a Ordem dos Notários pedir aos car-tórios notariais a relação das escriturasfeitas pelo primeiro-ministro e outraspessoas para facultar a um jornalista, noâmbito do caso Freeport. (Público)

Ouço na televisão a bastonária da Or-dem dos Notários (e o bastonário anterior)dizer o óbvio: as escrituras são públicas e,portanto, acessíveis a qualquer cidadão.

Em que é que ficamos: o secretáriode Estado da Justiça já se demitiu? Oujá foi demitido?

(publicado em 20 de Abril)

FUTEBOL PORTUGUÊS:UM NOJO

O jogador abre os braços e joga a bolacom a mão dentro da área.

Penalty!Seria, seria... mas se o jogo fosse nou-

tro lado que não em Portugal.

Acaba de acontecer em Coimbra, noAcadémica-FC Porto.

Árbitro: Olegário Benquerença.

O futebol português é um nojo.(publicado em 19 de Abril)

SÓCRATES “ESCONDE-SE”DO PAÍS

Na segunda-feira, José Sócrates visi-tou uma escola... em férias.

Ontem foi a Viseu. Segundo ouvi numtelejornal, a visita esteve marcada paraas 17h00, depois para as 14h30 e o pri-meiro-ministro acabou por aparecer àhora do almoço. No final, abandonou olocal pela porta das traseiras.

Hoje, José Sócrates veio a Coimbra àabertura do mosteiro de Santa Clara-a-Velha, mas nenhum dos dois diários deCoimbra sabia do facto.

Parece que o primeiro-ministro queresconder-se do país e dos portugueses.

(De qualquer modo, com visitas anun-ciadas ou não, Sócrates não consegueevitar as manifestações de protesto.)

(publicado em 18 de Abril)

CRISE CÁ E LÁNão há nada como dar uma saltada a

Espanha e comprar alguns jornais e re-vistas para tomar consciência da reali-dade portuguesa.

Antes da crise, Portugal crescia me-nos do que a Espanha.

Agora, em plena crise, Portugal des-ce mais do que a Espanha.

Isto é tão simples que não compreen-do como é que há quem não perceba.

(publicado em 18 de Abril)

O GOLO DE RONALDONo jogo da semana passada, Cristia-

no Ronaldo foi assobiado sempre quetocava na bola.

Ontem, no Porto, a situação repetiu-se, sobretudo durante a 1.ª parte.

Aos 6 minutos de jogo, Ronaldo “en-cheu o pé” e marcou um golo sensacio-nal. Um “golaço”!

Para aqueles que afirmam que osadeptos de qualquer clube devem apoiarsempre as equipas portuguesas num jogointernacional, creio que será consoladorver que o FC Porto foi afastado por umjogador português.

PS - Já agora: qual a razão dos asso-bios a Ronaldo, “capitão” da selecçãoportuguesa, num estádio português?

Deve existir um motivo qualquer quenão consigo alcançar.

(publicado em 16 de Abril)

PORTUGAL ESTÁ PODREAssistir actualmente aos noticiários

televisivos é confirmar a ideia de que opaís está podre.

Começa a ser tempo de acabar comeste estado de coisas.

Como? Prendendo quem deve ser pre-so, punindo quem deve ser punido, afas-tando quem deve ser afastado, correr coma “malta” que desde a década de 70 sesentou à “mesa do Orçamento” e não querlargar os “tachos”, chamar outros prota-gonistas, dar lugar aos jovens e definir pa-drões ético-legais muito mais exigentes.

Ao mesmo tempo, é tempo de acabarcom nomeações de amigalhaços, concur-sos à medida, gastos sem controlo, salá-rios escandalosos, obras sumptuosas,despesas de representação, empresaspúblicas e municipais sem justificação,repartição familiar de cargos públicos,projectos faraónicos, e..., e..., e....

Estou farto disto. E desta gente.(publicado em 4 de Abril)

SÓCRATES:UM HOMEM INOCENTE

«Calúnia, intriga, inveja e mal-dizer», foramhoje palavras usadas por Mário Soares e Al-berto Martins em defesa de José Sócrates.Ontem, foi Jorge Coelho a tirar o capacete dasobras e a vestir o seu ex-fato de político paradizer que o Caso Freeport estava a pôr em cau-sa o Estado de Direito. E até João Cravinho, umanti-Sócrates assumido e que se tem notabili-zado como um arauto da anti-corrupção veio apúblico defender o seu rival. Portanto, Sócra-tes não está nada só neste imbróglio que pare-ce não ter fim.Pelo contrário: o ex-bombeiro deserviço do PS voltou a ligar a sirene e Soaresaté foi buscar a imprensa como mãe de todosos males de Sócrates.

Não se percebe porque precisa um homeminocente de tantos anjos da guarda à sua voltae logo todos no dia 1 de Abril.» (Luiz Carvalho,no “Instante fatal”)

(publicado em 2 de Abril)

CÂMARA COMPRAPORTÁTEIS A 1.200 EUROS

Ao que parece, a Câmara Municipal deCoimbra comprou computadores portáteispara os vereadores.

Segundo li na blogosfera, trata-se de com-putadores Toshiba, modelo “Portégé M750”,cujo preço ronda os 1.200 euros.

A pergunta: para que é que os vereadoresnecessitam de um computador deste valor?

Eu comprei um Toshiba no último Natal, omodelo “A300-1|4”, por metade daquele preço eposso garantir que é uma “bomba”!

Repito a pergunta: para que é que os ve-readores necessitam de um computador da-quele valor?

E faço outra: é lógico que uma Câmara queainda há pouco tempo teve de aprovar umempréstimo de milhões gaste o dinheiro pú-blico nestes luxos?

Termino com a “tal” pergunta: para que éque os vereadores necessitam de um com-putador daquele valor?

(É tempo de os contribuintes começarema questionar directamente aqueles que ge-rem o nosso dinheiro. Eles têm o poder deaumentar os impostos, mas nós temos o de-ver de questionar como gastam o dinheiro. Onosso dinheiro.)

(publicado em 30 de Março)

ACADÉMICA: NÃO HÁINSUBSTITUÍVEIS...

«Não há ninguém insubstituível!».Esta é uma das frases que mais me

irrita.

Na minha vida profissional já a ouvialgumas vezes, quando pretendi demons-trar a superiores hierárquicos que a saí-da de um colaborador resultaria em pre-juízo para a empresa.

«Não há ninguém insubstituível!».Uma vez, já farto de ouvir esta frase,

respondi assim:- Tem razão, não há insubstituíveis. O

Benfica continua a jogar com 11, só quenão tem Eusébio.

E gostei tanto da resposta que, a par-tir daí, passei a utilizá-la sempre em situ-ações semelhantes.

E vem isto a propósito de quê?, per-guntará que lê este texto.

Explico...

Neste fim-de-semana, o Departamento

de Formação da Académica/OAF organi-zou um seminário sobre Psicologia do Des-porto, que segundo acabo de ler num blo-gue teve cerca de 60 participantes. Come-çou por estar previsto para o Auditório daReitoria da Universidade e acabou por sertransferido para o auditório do Estádio doCalhabé.

Há escassos meses atrás, o mesmo De-partamento de Formação da Académica/OAF organizou um outro seminário, queteve várias centenas de participantes - obri-gando, mesmo, à transferência do local derealização do auditório do Estádio do Ca-lhabé para o Auditório da Reitoria da Uni-versidade. Um sucesso estrondoso!

Claro que ninguém é insubstituível.Mas será que a equipa que organizou

o seminário deste fim-de-semana era ri-gorosamente igual à que organizou o ou-tro seminário?

Se calhar, faltava lá uma pessoa...(publicado em 29 de Março)

PROVEDOR DO AMBIENTEANALISA “LIXO NA RUA”

«Exmo. Sr. Mário Martins,A Provedoria do Ambiente e Qualidade de

Vida Urbana de Coimbra vem, por este meio,informar que, após tomar conhecimento da fal-ta de limpeza da Rua da Liberdade, através doseu blogue pessoal, registou o seu processocom o número mencionado em epígrafe, o qualdeverá ser utilizado sempre que se dirigir aonosso gabinete, solicitando e/ou adicionandoqualquer informação ao processo.

Segundo o artigo 7.º da Designação, Com-petências e Mandato do Provedor, os muní-cipes têm direito de resposta no prazo de 90dias. Esperamos desta forma ir ao encontrodas suas expectativas na resolução do pro-blema apresentado.»

Ainda me parece impossível!Ontem ao princípio da noite, o Provedor

do Ambiente da Câmara Municipal de Coim-bra enviou um comentário para o blogue, apropósito do texto que escrevi ao final datarde sobre a falta de limpeza na rua ondemoro.

Informava que tinha lido o texto e solicita-va informação sobre o assunto.

Na resposta, enviei-lhe cópias das men-sagens que enviei em Junho passado ao pre-sidente da Junta de Freguesia de Eiras, JoséPasseiro (e da respectiva resposta), ao vere-ador Luís Providência em Outubro (que nãoteve resposta) e à Câmara Municipal de Co-imbra há 10 dias (que também não obteveresposta).

Esta tarde, recebi a mensagem que acimatranscrevo.

Ainda me parece impossível!Não é vulgar os serviços públicos funcio-

narem em Portugal com tamanha rapidez.(Apenas um exemplo: um familiar meu con-

tinua à espera, há 11 meses!!!, da chegadado “cartão de contribuinte”.)

Não é vulgar, creio eu, um “provedor” to-mar conhecimento de um assunto por um blo-gue e, em escassa hora e meia, decidir agir.

Felizmente há pessoas da craveira do Prof.Doutor Salvador Massano Cardoso, Prove-dor do Ambiente e da Qualidade de Vida Ur-bana de Coimbra e professor catedrático daFaculdade de Medicina, para (ainda) nos fa-zerem acreditar na qualidade da Democraciaem que vivemos.

Muito obrigado.(publicado em 27 de Março)

Page 19: O Centro - n.º 68 – 24.04.2009

1924 DE ABRIL DE 2009 MÚSICA

Distorções

José Miguel [email protected]

Depois de termos feito, nas anterio-res edições do “Centro”, o balanço de2008, vamos agora referir-nos a novida-des, em termos musicais, do corrente anode 2009. Aproveitando a boleia do se-manário britânico NME, começamos pordestacar três bandas: Empire of The Sun,White Lies, Little Boots.

Os Empire of The Sun, já tinhameditado o seu disco de estreia “WalkingOn A Dream” em Outubro passado, masdeverá ser em 2009 que estes australia-nos vão retirar grande parte do “feedba-ck” desse trabalho. Este dueto, formadopor Luke Steele, dos Sleepy Jackson, eNick Littlemore, dos PNAU, que já nosdeu a conhecer uma série de temas comosejam “Walking On A Dream”, “Stan-ding On The Shore” ou “We Are ThePeople”, surgiu da colaboração do pri-meiro nas vocalizações de “With YouForever” da banda de que faz parte osegundo.

“VelhasMargens NovasPontes” é otítulo do CD gravado pelo Grupo“FADVOCAL”, que vai ser lançado

PARA SABER MAIS:

www.myspace.com/empireofthesunsoundwww.myspace.com/whitelieshttp://www.littlebootsmusic.co.uk/

Relativamente aosWhite Lies são umabanda de Londres, queeditou em Janeiro o seudisco de estreia, “ToLose My Life”, e sãoclaramente o nome deque mais se fala para“next big thing” da mú-sica britânica. Do discode estreia destaco, des-de já, “Death”, To LoseMy Life” e “A Place toHide”, que curiosamen-te são os primeiros trêstemas do disco.

Por fim, vou sugerir-vos os Little Boots ,que em 2008 já nos ti-nham brindado com ostemas “Meddle” e “Stu-ck On Repeat” (tema deque há uma excelentemistura da autoria dosFake Blood), é o novoprojecto da ex-vocalis-ta dos extintos Metric,Victoria Hesketh.

Empire of The Sun

White Lies

Victoria Hesketh

“FADVOCAL” LANÇA CD EM COIMBRA

“VelhasMargensNovasPontes”

no próximo dia 29 de Abril (quarta-feira) em Coimbra, nas instalações daOrdem dos Advogados.

A sessão inicia-se pelas21,30 horas, integrando oprograma as seguintes ac-tuações:

– “Advocal – CoroMisto de Advogados” ,dirigido pelo Maestro Au-gusto Mesquita.

– Aníbal Moreira e Car-los Jesus, com alguns temasdo CD “Outros Mundos”.

– “Fadvocal”, interpre-tando alguns temas do CD“VelhasMargens Novas-Pontes”

O Conselho Distrital de Co-imbra, onde decorrerá o espec-táculo (com entrada livre) si-tua-se na Praça Mestre Pêro,na Quinta de D. João.

Recorde-se que a “Advo-cal” é a Associação Artísti-ca do Distrito Judicial deCoimbra, que engloba advo-gados e outros profissionaisligados à Justiça.

Um espectáculo pelo Russ Lossing’s“Undergroung Trio”, a realizar hoje (sexta-feira, dia 24 de Abril) à noite, no Salão Bra-zil (em Coimbra), assinala o 6.º aniversáriodo JACC (Jazz Ao Centro Club), com sedenesta cidade.

Antes do espectáculo, decorrerá no mes-mo local, pelas 21,30 horas, uma conferên-cia de imprensa para apresentaçãodo programa da VII edição do Jazzao Centro – Encontros Internacio-nais de Jazz de Coimbra 2009.

Quanto ao espectáculo desta noi-te, refira-se que o trio é liderado pelopianista nova-iorquino Russ Lossing,acompanhado pelo contrabaixistanipónico Masa Kamaguchi e pelobaterista Billy Mintz, e apresentará,segundo os organizadores, “uma re-interpretação do clássico formato do‘piano trio’, por parte de músicos quetêm vindo a quebrar as barreiras, ou-trora quase estanques, entre diferen-tes abordagens daquilo a que cha-mamos jazz”. E acrescentam:

“Lossing, o principal responsávelpor este projecto, tem sido ampla-mente elogiado por comentárioscomo aquele que figura no all musicguide: “(...) um passo à frente dePaul Bley e de Keith Jarrett, sem

6.º ANIVERSÁRIO DO “JAZZ AO CENTRO”

“Underground Trio” actua hojeno Salão Brazil (em Coimbra)

ser particularmente derivativo de nenhum de-les.”

E, se juntarmos a um dos renovadores dopiano da actualidade, o talento de dois dosmais imaginativos e, simultaneamente, maissólidos instrumentistas da cena jazz interna-cional, temos a receita para um espectáculoinesquecível”.

Page 20: O Centro - n.º 68 – 24.04.2009

20 24 DE ABRIL DE 2009CRÓNICA

* Docente do ensino superior

AO CORRER DA PENA...

Maria Pinto*[email protected]

De cotovelos apoiados à beirinha damesa e queixo fincado nas mãos fecha-das, Rosinha olhava atentamente o de-senho que acabara de nascer de suaspequeninas mãos e que iria oferecer àsua mãe no dia seguinte. No dia do seuaniversário. Imaginara fazer casinhas,muitas casinhas rodeadas de flores e decores, muitas árvores em volta e um solsorridente. Resplandecente. Com rostoe sorriso de mãe. Com raios em formade abraço.

Entretanto, a noite avançava. E o sonochegava. Rosinha adormeceu, pousan-do serenamente a face na sua obra-pri-ma de afectos.

Num repente, tudo se misturou. Tudo

se deturpou. Rosinha deixara de ver amamã que desenhara em forma de sol,sobressaindo agora a figura de uma mu-lher-espanta-pardais. Bonita, sem dúvi-da. Mas espantalho. Dir-se-ia tratar-sede Rosinha em adulta. Quando o seunome já só seria Rosa. Debatia-se por-que lhe roubavam o “inha” de menini-nha. Da menininha maravilhosa que ha-via sido no meio daqueles lindos cabeloscor de sol e olhinhos de mar, como lhediziam os pais, quando ainda viviam jun-tos, em tom de adoração… ”És tão lin-da, meu-nosso amor! Tão linda! És o sol

Era Abril a chegar…

“ (…) Mãe não tem limite,é tempo sem hora,Luz que não apagaQuando sopra o ventoE chuva desaba (…)Mãe, na sua graçaÉ eternidade (…).”

(Carlos Drummond de Andrade,Antologia Poética)

e o mar. A nossa praia”…Mas agora a Rosinha (ou se-

ria a mãe Rosa?) já não erapraia, sol e mar. Já não era Ro-sinha-liberdade. Não podia maiscorrer. Tinha apenas uma per-na. Uma coisa esquisita feita demadeira e bem cravada na ter-ra. E o mar, que antes coloria oseu olhar, tornara-se seara aperder de vista. Seara de infini-to, amarelecida… empalideci-da… entorpecida.

Naquele enorme espaço deseara, todos cumpriam o seudever, todos obedeciam ao Solque já não tinha rosto nem sorri-so de mãe, mas de um ser todo-poderoso. Os seus raios já nãoabraçavam. Pareciam tentácu-los sempre prontos a comandar.Sem que alguém ousasse sequerripostar.

A linda mulher-espanta-pardais (tudoaponta para que fosse mesmo a mãeRosa) tinha de espantar pardais (porquê,se era tão bonita?!). Os pardais sabiamque tinham de se afastar dela. De fugir.Mas ela era tão bonita – tão linda mes-mo! – que eles atreviam-se a pousar…no seu chapéu de palha… ou nos om-bros… pelos braços fora… e tentavamaté bicar aquele olhar triste. Talvez para

bebericarem a água que dele saía.Mas o Sol de imediato chamava o ven-

to, que soprava e rugia e uivava, deixan-do Rosa-espanta-pardais na sua solidãoforçada, de braços abertos para nadapoder abraçar. E aquela perna! Aquelaperna que não a deixava fugir – semprecom uma pequena ervilha agarrada – ,que lhe travava o sonho de poder andar,andar, correr por estradas longas e lar-gas, por caminhos feitos de verde e delongas fileiras de flores.

Um dia, o Sol mandou vir a chuva for-te num gesto de revolta pela tristeza da

bonita mulher rosa-espantalho.Tanto choveu, tanto tempestou, que

Rosa, cansada (um espantalho cansa--se?!) caiu por terra e bateu com a ca-beça espantada e aturdida numa pedra.Numa pequena pedra. Pareceu-lhe en-tão ouvir o bater de um coração. Seráque as pedras também têm coração, pen-sou Rosa. E um espantalho pensa?

Logo o Sol dourou de novo, desta vezde forma sufocante. Com os seus raios,voltou a colocar Rosa no seu lugar. Ospardais foram, aos poucos, desistindo deRosa, que cumpriu integralmente a suafunção, espantando-os.

Rosa desanimava, definhava. Tãobela! Tão só! Tão sem nada!...

Entretanto, Abril chegou. O extensocampo começava a verdejar. E Rosasonhou (ainda que este sonho fosse o deRosinha, lembram-se?). Sonhou que dei-xara de ser espanta-pardais. Que se tor-nara agora uma bela árvore, alta, fron-dosa. A mais bela árvore daquela flores-ta… por mais que neste sonho se falas-se de uma seara. E Rosa, tão harmonio-sa que era, apaixonou-se por um pássa-ro. Um pequenino pássaro cor de giesta,alegre, luminoso, que cantava todo o dia.Por ele ela se derreteu. A ela ele se deu.E lhe deu alegria e voo. O dia inteiro.Ambos voavam de um lado para o outro,percorrendo quilómetros de ar, de liber-dade, de melodia. Por ser Abril.

No final do dia, voltavam para a flo-resta e o pequeno pássaro voava paraos ramos de Rosa, que ela abria para orecolher e voltava a fechar, bem deva-garinho, para o proteger e abraçar.

Rosa estava finalmente a descobrir omaravilhoso da vida que vinha com a Pri-mavera de Abril. Tudo lhe parecia maisbonito, mais pleno de sons, da naturezaque cada vez mais e melhor sabia escu-tar. Reparara até numa espécie de ar-busto, quase sempre agarrado a ela (sim,talvez fosse uma mistura daquela ervi-

lha em forma de sonho). Era um ar-busto tão feio, tão feio, tão sem jeitopara nada… mas que agora, obser-vando bem, se tornara até bonito… tãomais que bonito que Rosa sentiu quelho haveria de dizer todos os dias…

Mas o Sol…

– Mamã! Mamã!Rosa correu em direcção ao quar-

to de Rosinha.– Mamã! Mostra-me o teu rosto…

a tua perna. Não, as tuas pernas. Nãome fujas, mamã!

– Não é nada, meu amor. Foi ape-nas um pesadelo. Estás encharcada,Rosinha!

– Mamã, eu sonhei contigo… nãosei… penso que foi contigo. E tu erassempre linda, mas eras um espanta-lho muito, muito triste.

– Mas tu dizes que eu sou como osol porque te dou calorzinho e abraços!...

– Mas aquele Sol não eras tu. Estavasempre a castigar-te e a calar-te, mamã.Só te ouvi dizer “estou farta! Estou far-ta!”… e foi aí que veio a Primavera quete transformou numa árvore…

– E mais, meu amor?– Não me lembro, mamã. Podes ficar

comigo até eu adormecer?– A Mamã está aqui. Agora e sem-

pre. Para te ninar.– E aquela ervilha? Aquela que anda-

va sempre colada a ti?– A ervilha é verde, Rosinha. Da cor

do que há-de vir de bom. É Abril, meuamor, minha linda praia. Meu cântico decor e de liberdade.

Rosinha voltara a adormecer. Rosaficou com ela mais um pouco, abraçan-do-a.

Passava já da meia-noite. Era o diado seu aniversário. Ainda se conseguiurecordar que houve tempos em que, nestedia, era acordada com o sussurro lindode um “pássaro”, entoando Vinicius:

“Rosa pra se verPra se admirarRosa pra crescerRosa pra brotarRosa pra viverRosa pra se amarRosa pra colherE despetalarRosa pra dormirRosa pra acordarRosa pra sorrirRosa pra chorarRosa pra partirRosa pra ficarE se ter mais uma rosa mulher”

(Vinicius de Moraes,Samba da Rosa)

Tudo de bom lhe acontecera sempreem Abril…

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2124 DE ABRIL DE 2009 OPINIÃO

Renato Ávila

POIS...POIS...POIS...POIS...POIS...

Joséd’Encarnação

João PauloSimões

FILATELICAMENTE

O pior

1938 – Emissão comemorativado Congresso do Vinho

O grupo excursionista japonêsdescia o Quebra-Costas com más-caras na boca. Eu nem queria acre-ditar no que estava a ver! Como erapossível confundir a cidade do Mon-dego com a poluidíssima Tóquio? E aguia não lhes teria explicado que a tri-cana por eles tão fotografada estavadescalça, não tinha máscara e o len-ço na cabeça era mais uma moda queuma necessidade?!...

Se calhar, explicou – e a máscara,afinal, visava era evitar que poluiçõesoutras, de um género mais refinado emortífero, como as que andam no ar,os contaminasse agora.

Como a poluição que nos obriga,quiçá, a que seja este o último «pois»desta série. É que, de facto, máscara,aqui, nós não estamos habituados a pôr!

Dizem por aí que o pior está para vir.Ninguém, todavia, teve ainda a coragem

e a sabedoria de nos explicar o que se en-tende por “o pior”

Acenam-nos com um pano negro mas nãonos informam do que nele vem escrito.

Teremos nós, cidadãos, leigos nestas ma-térias das economias, de deduzir a partir dasinquietantes palavras daqueles que, lá do alto,fazem gala em nos amedrontar (confere-lhesuma certa importância mediática, uma certa su-perioridade intelectual!!!) e do avolumar dassituações de carência.

Ora vejamos:O pior não será para todos. Haverá sempre

uma classe que continuará a viver à grande eà francesa e à qual pertencerão, decerto, mui-tos dos pregadores da desgraça (dos outros,claro está!). Os automóveis topo de gama con-tinuarão a vender-se, as mansões terão asse-gurados os compradores e, como já é hábito,prenhes de nababos, os aviões voarão paraas Caraíbas ou para as Maldivas.

O pior rondará a porta de muitos que, ape-sar dos rendimentos lhes permitirem uma vidasem grandes sobressaltos, terão de geri-loscom cauteloso rigor. É que é preciso contarcom os enrascanços de um familiar e nunca sesabe aonde chega o fundo do abismo.

O pior esgueirar-se-á com punhos de ren-da pelas casas de muitos cidadãos em situa-ção de precariedade de emprego cujos rendi-mentos, não chegando para as despesas bá-sicas, os obrigarão a recorrer à ajuda das famí-lias, a desdobrar-se em acumulações de tare-fas ou a entrar no infernal ciclo do crédito.

O pior entrará sem contemplações pelaporta de dezenas de milhar de portugueses,pô-los-á no olho da rua e poderá mesmonegar-lhes o pão nosso de cada dia.

Não sabemos se algum governante, al-gum empresário, algum abornalado gestorse deram ao trabalho de reflectir sobre o queserá a vida, de se meter na pele, dum cida-dão forçado ao desemprego. Talvez fosseum bom exercício de cidadania.

Sentir as angústias de não ter um rendimen-to seguro que lhes permita planear a sua vidapessoal e familiar, fazer face aos encargos dodia a dia; amarfanhar-se com as frustrações denão se sentir compensado do investimento quefez na sua qualificação e formação profissio-nal; revoltar-se pela ausência de justiça na mo-bilização dos lucros das empresas e pela tibie-za da solidariedade social.

Nesta sociedade consumista e egoísta deestranhas e perversas dependências, o de-semprego é a face hedionda dum sistema quese recusa a prevenir o futuro e a repartir comjusta equidade os lucros que o próprio con-sumo proporciona.

Soam ainda, aos nossos ouvidos, as ufa-nas palavras do então primeiro ministro, hojepresidente da comissão europeia – a segu-rança no emprego e o emprego para toda avida acabaram.

Está mais que visto que, neste conformis-mo, neste displicente e pactuante baixar debraços dos governos e das instâncias su-pranacionais, face às dolosas estratégias doliberalismo selvagem, são os trabalhadoresos destinatários do pior.

É tremendamente injusto.Continuar a apostar no reinado do consumo,

procurar recuperá-lo sem qualquer adaptaçãoaos novos tempos em que o ambiente reclama

prudência e contenção e os bens não renová-veis têm horizontes limitados, parece-nos um errode enormes proporções e o caminho escorrega-dio para crises futuras ainda mais profundas.

Mais do que nunca, os Estados têm deassumir em plenitude e com eficácia a disci-plina dos mercados, especialmente os finan-ceiros, e o enquadramento e mobilização so-cial das mais-valias.

As empresas balanceadas para a elevada pro-dução não poderão, entendemos nós, continu-ar a pensar em expansionismos desregrados. Nanossa modesta opinião, esta crise irá deixar mar-cas profundas em termos psicológicos. A previ-dência e a sobriedade andarão mais presentesno espírito de cada consumidor, especialmentedaqueles que tiverem experimentado “o pior”. Ébem possível que o sentido consumista se alte-re por uma nova filosofia de vida – o consumirpara viver. Daí a premência duma nova concep-ção de “marketing”.

O futuro duma economia tremendamentevulnerável como a nossa, facilmente contagiadapelas pandemias de além fronteiras, assente empequenas e médias empresas e nas esporádicasbenesses do investimento estrangeiro, nem sem-pre de boa-fé, tem de ser repensado em funçãodas nossas potencialidades e das nossas capa-cidades. Os parâmetros do nosso consumo e donosso nível de vida não podem continuar desfa-sados daquilo que temos e somos capazes deproduzir. O povo diz e bem que não devemos termais olhos que barriga.

O liberalismo selvagem, apoderando-se daglobalização, fez dela a galinha dos ovos de ouro,esquecendo-se de lhe dar o “milho” de que elacarecia. Até que estoirou. Certos gestores e osespeculadores manipularam a massa, as empre-sas, desprovidas de recursos financeiros, entra-ram em falência e os trabalhadores, pendurados,

aguentam com a crise.Seria perigoso voltarmos a correr esse risco.A nossa laicidade de muitos janeiros diz-nos

que precisamos de dar mais valor à prata dacasa, produzindo mais e melhor muito do queimportamos. Em tempos de carência, ninguémpoderá impedir-nos de encontrar no sábio apro-veitamento dos nossos recursos naturais e hu-manos o que lá fora temos de comprar. Impõe-se, por outro lado, um entendimento mais críticoda fronteira entre o necessário e o supérfluo.

Teremos de procurar vender com preços eatitudes concorrenciais as excelências dos nos-sos produtos endógenos, as nossas manufac-turas, o nosso sol, a nossa paisagem e a nossahospitalidade. A nossa técnica e a nossa ciên-cia. A nossa criatividade.

É preciso reconstruir um país desleixado,desestruturado, albardado, na busca de me-lhor ambiente, de melhores condições de ha-bitabilidade, de melhor paisagem urbana, demelhores equipamentos e serviços de apoiosocial e cultural.

Há tanto trabalho para fazer e andamos a gas-tar o nosso dinheiro, a endividar-nos em projec-tos megalómanos e a tapar os buracos que, nés-cia e impunemente os maus gestores abriram.

Os tempos que aí vêm são de contenção. Apenúria não a sentirão, decerto, os empresáriosque abornalaram os lucros em tempo de vacasgordas, nem muito boa gente principesca e es-candalosamente remunerada. Tê-la-ão, sem dú-vida, os que, na falência das empresas, viram oseu futuro volatilizar-se nas bolandas do siste-ma financeiro, na sinistra opacidade das bolsase na tenebrosa fuga para os paraísos fiscais.

Que os nossos governantes e demais polí-ticos o não esqueçam e, pondo de lado asestéreis quezílias partidárias, se congreguemnum projecto nacional de combate à crise, pro-tegendo, sobretudo, aqueles que mais a sen-tem – os trabalhadores, os desempregados.Os mais desprotegidos.

Esta emissão foi feita a pedido doPresidente da Comissão Executiva do 5°

Congresso Internacional da Vinha e doVinho. Desenho alegórico de José daRocha Pereira, e gravura de Gustavo deAlmeida Araújo. Imprimidos na Impren-sa Nacional Casa da Moeda, foram emi-tidos em folhas de cem selos com as se-guintes cores e valores: $15 violeta, $25castanho, $40 lilás e 1$75 azul escuro. Odenteado é de 11,5.

Este Congresso foi realizado em Lis-boa, de 15 a 23 de Outubro de 1938. Odesenho da emissão representa uma vi-deira no meio de um cacho de uvas. Estedesenho foi muito criticado na época, pornão fazer qualquer alusão ao Congressoe representar umas uvas tão grandes quequase pareciam ovos ou amêndoas daPáscoa.

(Baseado em Livros Electrónicosde Carlos Kulberg)

UM POUCO DE HISTÓRIA...

As últimas investigações arqueológicas, per-mitem admitir terem sido os Fenícios quem trou-xe o vinho pela primeira vez para o território queé hoje Portugal. Segundo a historiografia portu-guesa moderna, estes navegadores, oriundosdo Médio Oriente, utilizavam o vinho para tro-cas comerciais desde o século VIII a.C. e, sobre-tudo, no século seguinte.

Portugal é um pequeno território peninsu-lar sulcado por dezenas de rios de norte a suldo país. Alguns destes rios foram entrada dospovos da Fenícia e da Grécia. Estes navega-dores pretendiam obter metais, em troca dovinho, manufacturas e azeite.

Assim, foram trazidas para a Península Ibéri-ca novas castas e a arte de bem fazer o vinho.

Depois, os Romanos, aquando da inva-

são, contribuíram para a modernização e cul-tura da vinha. Com a queda do Império Ro-mano, o vinho continuou a ser produzido poroutros povos.

Com a fundação de Portugal, o vinho pas-sou a ser o produto mais exportado, sobretu-do na segunda metade do século XIV, com aExpansão Portuguesa. Mais tarde, no séculoXVII, o vinho do Porto passou a ser reconhe-cido internacionalmente.

Mas nem tudo eram boas notícias. No sé-culo XIX, a filoxera dizimou muitas vinhas esó no fim deste século é que a vinha recome-çou a ressurgir. No século XX foram criadasas diversas Regiões Demarcadas.

(Baseado em “Portugal vinhos culturae tradição” do Círculo de Leitores e http:/

/www.portugalweb.pt/historia-vinho-portugal.html

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22 24 DE ABRIL DE 2009OPINIÃO

J.A. Alves Ambrósio

OPINIÃO Angola em Saragoça (VIII)

http://ograndezoo.blogspot.com

Foi na cosmopolita – e europeia – Bru-xelas, ali mesmo a “dois passos” do PalácioReal e desse opulento templo que são osReais Museus de Belas-Artes da Bélgica,que, pela primeira vez (e única), vi hasteadaa bandeira de Angola. Compreendi perfei-tamente o seu conteúdo, o seu alcance, ocontexto em que surgiu, tudo, mas o meuamor por Angola – reitero que não sou filhode colonos e fui apenas um oficial milicianoa fazer uma comissão –, o meu amor poraquela abençoada terra (o leitor não se es-pante com a força desta vibração, porque écomo a nossa emoção que alcançamos)postula, como um imperativo, que diga algoa esse respeito.

Com uma redundância penosamente su-portável a bandeira afirma desde logo a suafiliação soviética (marxista, se quisermos) eo letal erro do ressentimento. Angola e osseus Presidentes da República e Governopermitir-me-ão as palavras que seguem, quemais não são que ditadas por amor. (Desdeque lhes agradeço a atenção com que vãoler este pudico e pundonoroso texto).

Seria excessivamente fácil dizer que omarxismo foi uma hecatombe porque “aárvore se vê pelos frutos” – mas eu passoao lado dessa facilidade. Que a doutrina cris-tã seja perfeita, digamos, isso não inibe oserros e as monstruosidades que, invocan-do-a, foram cometidos. Sem me alongarbasta lembrar a Inquisição e a catastróficavisão, interpretação, sobre o dinheiro («É

mais fácil um camelo passar pelo fundo deuma agulha…»).

Acontece é que o marxismo é uma he-resia do Cristianismo. Mais. O considerarque um conjunto de condições exógenas éo motor do progresso social (o desenvolvi-mento da indústria e do comércio,v.g.), em vez de considerar que é aelevação aristocrática pessoal – ela,antes de mais nada – o motor doprogresso, o marxismo opta por umcritério de acção – para já não men-cionar outros – cujos hediondos re-sultados não carecem de menção.Lembre-se, v.g. e apenas. O Zeroe o Infinito de Arthur Koestler e,ainda por cima, os próprios suicídi-os de Koestler e de sua mulher.Quanto à elevação aristocráticapessoal lembre-se Obama.

Se muitas universidades não fossem es-ses inenarráveis centros de embuste que defacto são; se muitos que se consideram fi-nos intelectuais se dessem conta do pérfidologro em que vivem, se esses centros – quepassam por ser de saber – fossem menospermeáveis a modas; se fossem menos pe-tulantes, se a percentagem de espíritos pro-fundos, capazes de desmascarar e apontarcaminhos mais genuínos, não fosse tão irri-sória como é, se…

Como José Eduardo dos Santos se con-verteu ao Catolicismo, escrever este textoé uma obrigação ética e moral. A categoriade Angola não tem que ficar tão fragilizada

com uma bandeira de estilo soviético, e oressentimento que nela se expõe também jánão existe. A este respeito, além da conver-são, basta lembrar a legislação sobre pro-priedade, de há anos a esta parte publicada,o modo como capitais lusos e angolanos se

entrosam, num e noutro pais, e – sobretudo– casamentos que continuam a fazer-seentre pessoas do mais alto nível social dosnossos dois países.

… Não existe – e não pode existir – oressentimento, porque este é uma mutila-ção Senhor presidente José Eduardo dosSantos: apoie-se na Igreja a que se conver-teu e operará milagres. Mais. A kalashni-kov representada na bandeira de Moçam-bique lá está a afirmar as sérias dificulda-des que se deparam ao país irmão do Índi-co. E com os sentimento e sentido de fra-ternidade a que é obrigado, não faltarão nemclarividência nem energia para resolver os

problemas, desde logo os da elevação cul-tural e do bem-estar pessoal e social. E ummilhão de pobres à volta de Luanda? – Issoresolver-se-á.

Que bandeira então escolher? Não é amim que incumbe opinar, Excelência. Sei, isso

sim, é que, dentre os presentes que,em Saragoça, eram ofertados aosvisitantes um dos bonés me pareceumuito melhor. O conjunto de azul, ver-melho, branco e amarelo pareceu--me esteticamente muito consegui-do. O azul é a tranquilidade e o con-tentamento; o vermelho a energia, obranco, a paz, o amarelo a alegria einteligência. Todavia, a população énegra quase em exclusivo – e paraela vai o primeiro respeito.

Um pais tão jovem que afirma jáa sua arte, quer implantar uma ar-

quitectura sua e, neste momento, com a Ex-posição de Arte Contemporânea que, na ca-pital, se realizará em Março, enfileirará Lu-anda entre as mais importantes cidades domundo, um país assim saberá encontrar con-sultores que lhe indiquem o magnetismo detodas as cores, os quais aliados a estetas deprimeira plana, criarão uma bandeira que sejauma apetência de afago e uma funda emo-ção, bandeira que emanará do topos e dasgentes e seja uma concreção do perfeitoprospectivo. Os modelos de bandeira suce-dem-se aqui e além. É natural, é a evolu-ção, a vida cada vez melhor. Afinal, umabandeira não tem de ser perene.

Pedro Nora

c i n e m ac i n e m ac i n e m ac i n e m ac i n e m a

Esta semana, começo por recomen-dar “Che – Guerrilha” a segunda partedo projecto a cargo de Steven Soden-

bergh sobre a famosa figura revolucio-nária Che Guevara. Apesar de este novofilme dar seguimento ao filme “Che – OArgentino” (ainda em exibição nas sa-las), Sodenbergh, afastando-se do seuplano original (apresentar os dois filmescomo um só, o que resultaria num filmede 5 horas…) conseguiu criar dois fil-mes que podem ser apreciados tanto in-

dividualmente como em con-junto. Tendo visto ou não o pri-meiro filme, este “Che – Guer-rilha”, que retrata os últimosanos do revolucionário na Bo-lívia, é acessível a todos. Des-taco, mais uma vez, o trabalhoestupendo do actor principal,Benicio del Toro, que re-trata destemidamente nogrande ecrã uma figurahistórica, sem fugir decontrovérsias, sendo umdos melhores desempe-nhos da sua carreira.

Para os mais novos (ouapreciadores de anima-ção), recomendo “Mons-tros vs. Aliens”, o novo fil-me dos estúdios de ani-mação Dreamworks.Um filme simpático, re-cheado de comédia e ac-ção, que presta homena-gem aos filmes da com-petidora Pixar (nomeada-

mente, “Monstros e Companhia”),contando, no seu elenco de vozes,com nomes prestigiados comoHugh Laurie, Reese Witherspoone Seth Rogen. O filme pode tam-bém ser visto em 3D e em versãoportuguesa, que conta com a parti-cipação de Catarina Furtado e José Wal-lenstein.

Por último, merece referência a co-média romântica “Ele Não Está AssimTão Interessado”. Destacando-se por terum elenco de luxo (que conta com no-mes sonantes, como Jennifer Aniston,Ben Affleck e Scarlett Johansson) e comum argumento capaz, é um bom filme,recomendável sobretudo a apreciadores

de obras como “O Amor Acontece” e“Não Digas Nada”.

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