o centro - n.º 67 – 06.03.2009

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DIRECTOR JORGE CASTILHO | Taxa Paga | Devesas – 4400 V. N. Gaia | Autorizado a circular em invólucro de plástico fechado (DE53742006MPC) ANO III N.º 67 (II série) 6 de Março de 2009 1 euro (iva incluído) Telef.: 309 801 277 Rua da Sofia, 95 - 3.º - 3000-390 COIMBRA Deputadas do PS votam contra taxas moderadoras SAÚDE PÁG. 17 DE 7 A 14 DE MARÇO A 19 DE MARÇO PÁG. 7 PÁG. 24 Dia do Pai é pretexto para lembrar progenitores Raridades na “Feira do Disco” em Coimbra PÁG. 5 COIMBRA Universidade inaugura edifício invulgar Menina da Roça Monte Café, São Tomé e Príncipe (Setembro de 2008, foto JC) Dia Internacional da Mulher CELEBRA-SE A 8 DE MARÇO PÁG. 11 a 13 “Mulheres e homens unidos para pôr termo à violência contra Mulheres e Meninas”. Este é o tema escolhido pelas Nações Unidas para as comemorações do “Dia Internacional da Mulher 2009”, que se celebra no próximo domingo, 8 de Março. Atendendo à relevância desta efeméride e ao seu significado, o “Centro” dedica-lhe um trabalho simbólico, onde presta homenagem às Mulheres do passado (na pessoa de uma pioneira que vive em Coimbra, prestes a completar 110 anos de idade), às do presente e a todas de quem depende o futuro

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Versão integral da edição n.º 67 do quinzenário “O Centro”, que se publica em Coimbra. Director: Jorge Castilho. 06.03.2009. Visite-nos em www.ismt.pt, www.youtube.com/youtorga, http://torgaemsms.blogspot.com, http://diarioxii.blogspot.com, http://torgaemsms2.blogspot.com, http://mapastorga.blogspot.com/ ~~~~~~~~~ Site oficial de Dinis Manuel Alves: www.mediatico.com.pt Encontre-nos no twitter (www.witter.com/dmpa) e no facebook (www.facebook.com/dinis.alves). Outros sítios de DMA: www.youtube.com/mediapolisxxi, www.youtube.com/fotographarte, www.youtube.com/tiremmedestefilme, www.youtube.com/camarafixa, http://videos.sapo.pt/lapisazul/playview/2, http://videos.sapo.pt/lapisazul/playview/3 e em www.mogulus.com/otalcanal Ainda: www.mediatico.com.pt/diasdecoimbra/ , www.mediatico.com.pt/redor/ , www.mediatico.com.pt/fe/ , www.mediatico.com.pt/fitas/ , www.mediatico.com.pt/redor2/, www.mediatico.com.pt/foto/yr2.htm, www.mediatico.com.pt/manchete/index.htm , www.mediatico.com.pt/nimas/ www.mediatico.com.pt/foto/index.htm , www.mediatico.com.pt/luanda/, www.slideshare.net/dmpa , www.panoramio.com/user/765637

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DIRECTOR JORGE CASTILHO

| Taxa Paga | Devesas – 4400 V. N. Gaia |Autorizado a circular em invólucrode plástico fechado (DE53742006MPC)

ANO III N.º 67 (II série) 6 de Março de 2009 � 1 euro (iva incluído)

Telef.: 309 801 277Rua da Sofia, 95 - 3.º - 3000-390 COIMBRA

Deputadasdo PS votamcontra taxasmoderadoras

SAÚDE

PÁG. 17

DE 7 A 14 DE MARÇO A 19 DE MARÇO

PÁG. 7PÁG. 24

Dia do Paié pretextopara lembrarprogenitores

Raridadesna “Feirado Disco”em Coimbra

PÁG. 5

COIMBRA

Universidadeinauguraedifícioinvulgar

Menina da Roça Monte Café, São Tomé e Príncipe (Setembro de 2008, foto JC)

DiaInternacional

daMulher

CELEBRA-SE A 8 DE MARÇO

PÁG. 11 a 13

“Mulheres e homens unidos para pôr termoà violência contra Mulheres e Meninas”.Este é o tema escolhido pelas Nações Unidaspara as comemorações do “Dia Internacionalda Mulher 2009”, que se celebrano próximo domingo, 8 de Março.Atendendo à relevância desta efeméridee ao seu significado, o “Centro” dedica-lheum trabalho simbólico, onde presta homenagemàs Mulheres do passado (na pessoa de uma pioneiraque vive em Coimbra, prestes a completar 110 anosde idade), às do presente e a todasde quem depende o futuro

2 6 DE MARÇO DE 2009COIMBRA

Director: Jorge Castilho(Carteira Profissional n.º 99)

Propriedade: AudimprensaNIF: 501 863 109

Sócios: Jorge Castilho e Irene Castilho

ISSN: 1647-0540

Inscrito na DGCS sob o n.º 120 930

Composição e montagem: AudimprensaRua da Sofia, 95, 2.º e 3.º - 3000-390 Coimbra

Telefone: 309 801 277 - Fax: 309 819 913

e-mail: [email protected]

Impressão: CORAZEOliveira de Azeméis

Depósito legal n.º 250930/06

Tiragem: 10.000 exemplares

Aos Assinantes do “Centro”Como tem sido bem evidente nas notícias vindas a público, o sector da comunicação socialé um dos mais afectados pela crise que se abateu sobre toda a sociedade, sobretudo pelo brutaldecréscimo nos investimentos publicitários.Perante isto, até os grandes grupos de comunicação social estão a fazer despedimentosem massa, para além de haver muitos jornais regionais que se viram obrigadosa suspender a publicação.Aqui no “Centro” estamos a fazer um enorme esforço para superar as dificuldades.Mas esse esforço só será bem sucedido se conseguirmos receitas de publicidade e se os nossosAssinantes tiverem a gentileza de proceder ao pagamento da respectiva assinatura anual- que se mantém em 20 euros desde o início do jornal.Se quer que esta tribuna livre possa manter-se, muito agradecemos que nos envie o pagamentoda sua assinatura - uma verba que representa apenas o equivalente a cerca de 5 cêntimos por dia,menos de 40 cêntimos por semana!Outra forma de ajudar este projecto independente é conseguir-nos novos Assinantes,por exemplo entre os seus familiares e amigos (veja a página ao lado).

Contamos consigo!

O biólogo Jorge Paiva acaba de lançaro alerta público de que a mata do Chou-pal, em Coimbra, corre o risco de desa-parecer neste século, recordando que nosúltimos anos sucessivas obras públicasdestruíram 20 por cento da sua área.

“O Choupal tinha 89 hectares e ficamapenas 73”, declarou à agência Lusa oprofessor e investigador da Universidadede Coimbra, que tem participado nas ini-ciativas da Plataforma do Choupal, movi-mento cívico que contesta a construçãodo novo troço do IC2, que prevê um via-duto sobre aquele espaço florestal.

Jorge Paiva explicava, numa visita gui-ada, a importância ambiental da mata doChoupal, de que ele próprio é frequenta-dor assíduo.

“Temos aqui uma elevada biodiversida-de e uma biomassa vegetal enorme”, dis-se, numa alusão à existência de milharesde árvores de diferentes espécies, sendo

ALERTA DE JORGE PAIVA SOBRE LOCAL EMBLEMÁTICO DE COIMBRA

CAMPANHA “COIMBRA ADOPCÃO”

A troco de nada ganhe um grande amigo

Mata do Choupalpode desaparecer este século

“muitas centenárias e de grande porte”.O Choupal “é a maior fábrica de oxi-

génio natural que Coimbra tem”, onde “háanimais protegidos por lei”, como a lontrae a raposa, além de águias e outras aves.

“Ainda por cima, está a Ocidente dacidade e os ventos marítimos empurramesse oxigénio para dentro da cidade”, sa-lientou o ambientalista.

Jorge Paiva lamentou que, em três dé-cadas, diversas obras públicas tenhamsubtraído 16 dos 89 hectares que consti-tuíam o Choupal.

Em causa, recordou, estão a regulari-zação do Mondego, o canal de rega, es-tradas junto ao rio, o sistema municipal detratamento de esgotos, as condutas do gásnatural e a Ponte-Açude, a que se juntaagora a passagem do IC2.

A área já destruída, “com 5000 árvo-res perdidas, é superior aos 13,5 hectaresque tem o Jardim Botânico e a sua mata

juntos”, disse.“A Câmara nunca se preocupou em

integrar o Choupal na cidade. Dizem quevão agora requalificar a mata, mas nãoacredito nisso”, adiantou.

Para o botânico, se a destruição desteespaço mítico continuar ao ritmo dos últi-mos 30 anos, “não haverá Choupal” nofim do século XXI.

Deixará então de fazer sentido a céle-bre canção interpretada por José Afonso:“Do Choupal até à Lapa, foi Coimbra osmeus amores…”

“Passa a ser do betão até à Lapa”, iro-nizou. No entanto, a Câmara Municipaltem uma visão mais optimista.

“Qualquer solução que se adopte deveser a que tenha os menores impactosambientais e sobre as pessoas. Tem queser uma oportunidade determinante e de-cisiva para a requalificação do Choupal,da zona envolvente e do Vale de Cose-

lhas”, disse há dias o vice-presidente daCâmara, João Rebelo.

Entretanto, a deputada Teresa Portu-gal, do PS, pediu esclarecimentos ao Go-verno sobre o impacto ambiental da cons-trução de uma ponte no rio Mondego e deum viaduto sobre o Choupal, no âmbitodo “Projecto IP3 - Coimbra (Trouxemil)Mealhada, IC2 Coimbra/Oliveira de Aze-méis (A32/IC3) e IC3 Coimbra /IP3”.

A passagem do IC2, com um total deseis faixas, produzirá “perturbações nabiodiversidade”, afugentando os animaisda zona, alertou João Melo, da Platafor-ma do Choupal

Entretanto, o movimento cívico aciamcitado promoveu um “cordão humano” emque participaram centenas de pessoas,para reclamar a suspensão do concursopúblico e alternativas ao traçado.

Aguardam-se agora os reflexos queestas posições poderão vir a ter.

O Canil/Gatil Municipal de Coimbra pros-segue uma campanha intitulada “Adop-Cão”, com o seguinte lema: “Adoptemum animal no Canil Municipal”.

Trata-se de uma iniciativa muito me-ritória, que permite que pessoas que gos-tam de animais ali possam ir buscar umfiel companheiro, sem nada pagarempor isso.

São muitos os cães (e também algunsgatos) que esperam que gente com bomcoração os vá adoptar, tendo como re-compensa conquistarem um amigo paratoda a vida, já que estes animais rapi-

apenas custam uns minutos na deslocação,para escolher um companheiro (ou compa-nheira) para a vida, que será sempre fiel e deuma enorme dedicação e em troca apenaspede um pouco de atenção e de carinho.

O Canil/Gatil Municipal fica no Campodo Bolão, Mata do Choupal, onde os ani-mais esperam, ansiosos, por uma nova casae uma nova família.

Os interessados em obter mais informa-ções podem ligar para o telemóvel 927 441888 (a qualquer hora), ou para o Canil/Gatl(das 9 às 17h30 dos dias úteis) através dotelefone 239 493 200.

damente se adaptam aos seus novosdonos (que, para além do mais, os esta-rão a poupar a um fim muito triste e tre-mendamente injusto).

Um cão ou um gato é sempre um pre-sente bem recebido, desde que a pessoa aquem ele se oferece goste de animais, nãoos encare como um brinquedo ou um objec-to e tenha condições mínimas para deles tra-tar convenientemente.

Se for o caso, não hesite em ir buscarum destes amigos muito valiosos em ter-mos materiais (basta ver os preços nas lo-jas de animais!...), mas que no Canil/Gatil

Podem também enviar um e-mail para

[email protected] consultar o sitewww.cm-coimbra.pt/741.htmOs dias e horas especificamente desti-

nados às adopções são os seguintes:- segundas-feiras, das 14h30 às 16h30;- quintas-feiras, das 10 às 12 horas.

Muitos animais estão à espera de quealguém queira aproveitar todo o carinho quetêm para dar.

Vai ver que não se arrependerá!

36 DE MARÇO DE 2009 NACIONAL

Temos uma excelente sugestãopara uma oferta a um Amigo, a umFamiliar ou mesmo para si próprio:uma assinatura anual do jornal“Centro”

Custa apenas 20 euros e ainda re-cebe de imediato, completamentegrátis, uma valiosa obra de arte.

Trata-se de um belíssimo trabalhoda autoria de Zé Penicheiro, expres-samente concebido para o jornal“Centro”, com o cunho bem carac-terístico deste artista plástico – umdos mais prestigiados pintores portu-gueses, com reconhecimento mesmoa nível internacional, estando repre-sentado em colecções espalhadas porvários pontos do Mundo.

Neste trabalho, Zé Penicheiro,com o seu traço peculiar e a incon-fundível utilização de uma invulgarpaleta de cores, criou uma obra quealia grande qualidade artística a umprofundo simbolismo.

De facto, o artista, para represen-tar a Região Centro, concebeu umaflor, composta pelos seis distritos queintegram esta zona do País: Aveiro,Castelo Branco, Coimbra, Guarda,Leiria e Viseu.

Cada um destes distritos é repre-sentado por um elemento (remeten-do para o respectivo património his-tórico, arquitectónico ou natural).

A flor, assim composta desta for-

ma tão original, está a desabrochar,simbolizando o crescente desenvolvi-mento desta Região Centro de Portu-gal, tão rica de potencialidades, de His-tória, de Cultura, de património arqui-tectónico, de deslumbrantes paisagens(desde as praias magníficas até às ser-ras imponentes) e, ainda, de gente hos-pitaleira e trabalhadora.

Não perca, pois, a oportunidade dereceber já, GRATUITAMENTE ,esta magnífica obra de arte (cujas di-mensões são 50 cm x 34 cm).

Para além desta oferta, o beneficiá-rio passará a receber directamente em

sua casa (ou no local que nos indicar),o jornal “Centro”, que o manterásempre bem informado sobre o que demais importante vai acontecendo nes-ta Região, no País e no Mundo.

Tudo isto, voltamos a sublinhá-lo,por APENAS 20 EUROS!

Não perca esta campanha promo-cional e ASSINE JÁ o “Centro”.

Para tanto, basta cortar e preen-cher o cupão que abaixo publicamos,e enviá-lo, acompanhado do valor de20 euros (de preferência em chequepassado em nome de AUDIMPREN-SA), para a seguinte morada:

AUDIMPRENSAJornal “Centro”

Rua da Sofia. 95 - 3.º3000–390 COIMBRA

Poderá também dirigir-nos o seu pe-dido de assinatura através de:

� telefone 309 801 277� fax 309 819 913� ou para o seguinte endereço

de e-mail:[email protected]

Para além da obra de arte que des-de já lhe oferecemos, estamos a pre-parar muitas outras regalias para osnossos assinantes, pelo que os 20 eu-ros da assinatura serão um excelenteinvestimento.

O seu apoio é imprescindível paraque o “Centro” cresça e se desen-volva, dando voz a esta Região.

CONTAMOS CONSIGO!

ORIGINAL PRESENTE POR APENAS 20 EUROS

Ofereça uma assinatura do “Centro”e ganhe valiosa obra de arte

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Sob a forma de um testamento político,o advogado Celso Cruzeiro realiza na obra“A Nova Esquerda: raízes teóricas e hori-zonte político” uma viagem ao interior domarxismo, com o intuito de definir o actualrumo da esquerda portuguesa. Na próxi-ma segunda-feira (dia 9 de Março) pelas18 horas, na livraria Almedina Estádio emCoimbra, Jorge Leite e José Luís Pio Abreuapresentam e discutem os diferentes tópi-cos abordados no livro. A entrada é livre.

“O essencial da resposta a dar por umaesquerda nova, na difícil hora que atraves-samos, passa pois pela questão de saberler os sinais que a realidade de hoje lheaponta: a urgência da construção de umprograma emancipatório que constitui a suaidentidade matricial, mas agora despido dacerteza, do determinismo e da universali-dade, tão só passível de ser desenhado noquadro da probabilidade, da contingência eda historicidade”, lê-se na contracapa de

A PROPÓSITO DE NOVO LIVRO DE CELSO CRUZEIRO

Jorge Leite e Pio Abreu debatem“A Nova Esquerda” em Coimbra

“A Nova Esquerda”.Editado pela editora Campo das Letras,

o livro de Celso Cruzeiro foi lançado emLisboa no passado mês de Novembro,numa sessão que contou com a participa-ção do líder do Bloco de Esquerda, Fran-cisco Louçã, do deputado socialista PauloPedroso e do membro da Comissão Políti-ca Nacional do PCP, Paulo Fidalgo.

Licenciado em Direito pela Universi-dade de Coimbra, Celso Cruzeiro é actu-almente advogado em Aveiro. Ao longoda sua carreira, interveio em várias cau-sas de repercussão social, tendo sido oadvogado de Paulo Pedroso no mediático“Caso Casa Pia”.

Durante os anos passados em Coimbra,integrou várias estruturas estudantis de lutapela conquista democrática da AssociaçãoAcadémica de Coimbra. Foi um dos prin-cipais dirigentes da “Crise Académica de1969”, da qual escreveu, vinte anos maistarde, a história e a interpretação política,num livro intitulado «Coimbra, 1969»(Afrontamento, 1989).

A apresentação em Coimbra da obra“A Nova Esquerda: raízes teóricas e ho-rizonte político” é organizada pela livrariaAlmedina, em colaboração com a “Asso-ciação 25 de Abril” e a empresa “IdeiasConcertadas”.

Celso Cruzeiro aos ombros de colegas, à porta do Departamento de Matemáticada FCTUC (com a mão na cabeça), a 17 de Abril de 1969, dia em que começouo movimento estudantil que esteve na origem da famosa “Crise Académica de 69”

4 6 DE MARÇO DE 2009OPINIÃO

Nuno Carvalho *

O “Cunha da Bandeirinha” tinha umgrave problema em tribunal – um processocrime que lhe tolhia a vida! Queria emigrar…mas não podia fazê-lo, com aquele raio deprocesso em Tribunal! O seu cadastro cri-minal estava sujo. Tinha que o limpar. Ho-mem determinado e decidido, se bem pen-sou, melhor o fez – há que fazer desapare-cer o processo. Roubá-lo era complicado earriscado!... Não há problema. Queima-seo processo. Se necessário incendeia-se oTribunal, e lá vai o processo. E aquele boni-to edifício secular dos Paços do Concelhode V. N. de Famalicão, Tribunal, CâmaraMunicipal, Notário, Conservatórias, etc.,ardeu longamente naquela noite!... Qual bra-seiro!... O maior incêndio de sempre na mi-nha Terra. Azar dos azares… por meroacaso o processo estava em casa do Juiz!Muda-se o Tribunal à pressa para instala-ções provisórias, nas Escolas que ali fica-vam perto… e oito dias depois, o “novo Tri-bunal” volta a arder!... O azar perseguia-o… o processo safou-se mais uma vez dasbrasas, em casa do Juiz! E o “Cunha daBandeirinha” homem persistente, lá aca-bou por ser julgado no tal processo que es-capara ao braseiro… e pior do que isso,condenado a prisão efectiva!... Desanima-do, revoltado, desabafa com o “Raul Cris-

Repensar o CITIUStina” companheiro de cela – “…e o raiodo processo que não haveria de ir para oinferno naqueles braseiros!...”. Senhor“Lima Carcereiro” – “tenho um segredomuito importante para lhe contar… se metirar daqui”. Dias depois, perante o Dele-gado do Procurador da República, os mis-teriosos incêndios em Famalicão estavamdesvendados… e o “Cunha da Bandei-rinha” lá malhou com os ossos na pri-são por mais uns anos, com direito a de-gredo e tudo. Ainda há poucos anos sepasseava por esta terra, já velho e po-bre, condenado em milhões de custas emprocessos reformados.

Não… não estou a inventar esta his-tória! São factos reais e históricos, aténos nomes, passados na minha Terra em1951.(1)

“Mutatis… mutantis”… Imaginemosque eu e a minha “equipa” estamos meti-dos até ao tutano numa gravíssima “alha-da” com os “grandes” deste País – varia-díssimos processos de alta corrupção, trá-fico de droga, armas, espionagem e outros,espalhados por esse Portugal!.. Temos quenos safar disto a qualquer preço… custe oque custar. Dinheiro não é problema… éuma fartura dele. Temos que encontrar ra-pidamente aquele puto, craque na inter-net, que até conseguiu entrar nos compu-tadores do Pentágono aqui há uns anos e

quase conseguiu colocar o mundo todo aobarulho!... Se ele o conseguiu naquele bunkerde segurança informática americano, muitomais facilmente conseguirá neste “compu-tadorsito” no Ministério da Justiça. Isto paraele é canja… e mais vírus menos vírus, odito Citius vai “arder” num repente… e pelomenos durante largos meses ou anos, os Tri-bunais deste País ficam na “pancadaria” eaos tiros uns com os outros. O Ministro daJustiça multiplica-se em justificações e ex-plicações… enquanto a “virtualidade” dosprocessos é refeita em anos de confusãosocial e do sistema. Depois, é só esperarque a prescrição faça o resto do trabalho! Edesta nos safamos mais uma vez!... Objec-tivo conseguido. Missão cumprida. Só es-pero que todos os nossos muitos processosnão estejam nas casas dos Juízes… e aindano velho papel!...

Tem carradas de razão o despacho daSenhora Juiz do Tribunal de Família eMenores de Lisboa, que tanta celeumatem dado recentemente nos meios judi-ciais. As possibilidades de espionageme controlo a um órgão de soberania quesão os Tribunais, não são uma ficção. Ésó questão de encontrar o “tal” puto queconsegue penetrar no sistema! Tudo évirtual e está lá concentrado no tal megacomputador do MJ. É só lá entrar e pe-gar fogo à casa. Esqueceu-se porém a

Srª Juiz no seu despacho, dos experts,dos craques, dos piratas, dos vírus, dos“fogos” intencionalmente criminosos,apostados na confusão e no caos total,que não olham a meios para atingiremos seus fins, seja a que preço for. Maslogo vem a lume, com justificações apres-sadas, o nosso Ministro da Justiça – “quetudo está bem protegido e em segu-rança máxima”. E os “bunkers” infor-máticos do Pentágono não estavam mui-to mais protegidos?!... Nesta matériacomo noutras (registos on line, empre-sa na hora, etc.) o grave erro do Legis-lador e do Senhor Ministro da Justiça emparticular, é pensar que todos somos“bons rapazes”! Não é assim no mundoperverso do crime, que se move apenaspor critérios de eficácia.

É este o erro desta política, de impor porvia administrativa uma virtualização total eforçada na Justiça, que se quer concreta,real e humana. Mas, azar…azar, teve o meuconterrâneo “Cunha da Bandeirinha”!...

(1) – O meu bom Amigo Manuel Sam-paio – “Manuelzinho do Azevinheiro” –o Homem que mais histórias sabe sobreFamalicão e grande conversador, conhe-ceu e conviveu de perto com os protogo-nistas desta história.

* Advogado em Vila Nova de Famalicão

[email protected]

CarlosEsperança

ponte europa

www.ponteeuropa.blogspot.com/

NOTAS SOLTAS - FEVEREIRO

Al-Qaeda – A rede terrorista persiste naviolência contra os infiéis. Há quem a atri-bua a fanáticos, não querendo ver que o ódioreside nos versículos do Corão que alega-damente o arcanjo Gabriel ditou a Maomé.Basta lê-los.

Vaticano – A reabilitação e promoção debispos anti-semitas confirmou a natureza deBento XVI. Só a laicidade evitará as guer-ras que, no passado, dilaceraram a Europa.

PR – O veto à lei que abolia o voto porcorrespondência nos círculos eleitorais daemigração confirma o alinhamento presiden-cial com a direita mas, neste caso, legítimo,apesar das fraudes a que o actual quadrolegal se presta.

Tribunal Europeu dos Direitos Huma-nos – A condenação do governo portuguêspela obstrução ao ‘barco do aborto’ repro-vou a conduta de Paulo Portas que deslo-

cou um vaso de guerra para a Figueira daFoz para defender a pátria… da pílula.

Guantánamo – É a nódoa indelével ajuntar à tragédia do Iraque. A civilização deque nos reclamamos, ferida nos Açores,cobriu-se de opróbrio com a suspensão dedireitos e as atrocidades com que torturouos presos.

Eutanásia – Há situações que atentamcontra a dignidade humana e obrigam a pen-sar que há limites para condenar alguém àvida. Viver é um direito e não a obrigaçãoimplacável de manter viva uma mulher emcoma há 17 anos.

Freeport – Parece que o masoquismonos conduz ao ódio, que substitui os factos,numa vertigem suicidária que agrava a cri-se e lança o desânimo no seio dos portugue-ses.

EUA – A imposição de limite aos rendi-mentos dos gestores não é só uma medidahigiénica, é o gesto de moralização impostopor Obama ao capitalismo selvagem queandou à solta.

Israel – A vitória da direita e o cresci-mento da extrema-direita são um obstáculoà paz, um desafio à administração america-na e fonte de preocupação para todo o mun-do. Os falcões judeus e o Hamas saíramvitoriosos das últimas eleições.

Segredo bancário – O fim deste sagradoprincípio, para quem manifeste rápido enri-quecimento sem causa, é uma medida sau-dável que, desde há anos, se reclama nesteespaço. Mais vale tarde do que nunca.

Salazar – De acordo com a SIC em

«Vida privada de Salazar» o biltre fascistaera um homem com cio a saltitar de fendaem fenda até sucumbir na reentrância deuma banheira onde serenou os desejos eafogou quarenta anos de ditador.

Emprego – O desespero aumenta comfalências fraudulentas, salários em atraso econtratos falsos com que patrões sem es-crúpulos recorrem ao terror e a todo o tipode torpezas, contra os trabalhadores, a pre-texto da crise.

Venezuela – Com 54,36% dos votos, aemenda constitucional permite a reeleiçãoilimitada para todos os cargos públicos. Chá-vez abriu a porta ao despotismo em elei-ções livres enquanto a oposição pretende omesmo através do golpe de Estado.

Iraque – A maior fraude em todo o mun-do, em todos os tempos, com o dinheiro dosamericanos, para a reconstrução de um paíspelos que o destruíram, é a herança da últi-ma administração dos EUA. Torpe e incom-petente.

Inglaterra – A xenofobia contra traba-lhadores portugueses foi a nódoa que sujouos sindicatos, o Governo e a democracia dopaís com notáveis tradições no campo dadefesa dos direitos humanos. Perigoso pre-núncio dos tempos que se avizinham.

Santo Pereira – A santidade de NunoÁlvares, herói de Aljubarrota, obtida comum milagre obrado no olho esquerdo da D.Guilhermina de Jesus – cura da queimade-la, com óleo de fritar peixe –, desmerece oseu prestígio.

Carnaval – A procuradora-adjunta do

Ministério Público de Torres Vedras, Cristi-na Anjos, proibiu uma sátira ao computadorMagalhães e recuou perante o ridículo. Acensura da magistrada antecipou os feste-jos e acordou medos.

Suíça – O fim do segredo bancário é aexigência dos países europeus do G-20, comrepresálias contra os paraísos fiscais que nãoaceitem cooperar em investigações de frau-des e evasões fiscais. A soberania não podeimpedir o combate ao banditismo.

Itália – Na sequência de crimes sexu-ais, a legalização de milícias populares peloexótico primeiro-ministro Sílvio Berlusconié mais uma excentricidade de contornospreocupantes, a recordarem o advento dofascismo italiano.

Bragaparques – A condenação de umadministrador é um prémio para a coragemde José Sá Fernandes e um aviso à corrup-ção. Pela primeira vez houve sanção con-tra um corruptor, apesar da vergonha de umapena tão branda.

Bancos – Perante o drama das pessoas,sem trabalho e sem salários, parece umaheresia socorrer os bancos mas, ironicamen-te, sem a recuperação da saúde financeiranão há economia que resista nem empre-gos que perdurem.

Madeira – A falha de regras de equi-líbrio orçamental, declarada pelo Tribu-nal de Contas, é anterior à crise e revelagrave e persistente abuso que a Repú-blica não pode continuar a tolerar. A de-magogia e o populismo têm custos insu-portáveis.

56 DE MARÇO DE 2009 COIMBRA

O Prémio Universidade de Coimbra2009 vai ser entregue ao artista plásticoJulião Sarmento, na próxima segunda-feira, dia 9 de Março, pelas 15H00, norenovado espaço da “Casa das Caldei-ras”, que nessa data será oficialmenteinaugurado.

Assim, e a culminar a “Semana Cul-tural da Universidade”, aliar-se-á a ho-menagem a uma das grandes figurasportuguesas das Artes à reabertura deum espaço histórico de Coimbra, conver-tido, de forma muito original, em local depromoção de actividades artísticas.

Sublinhe-se que o “Prémio Universi-dade de Coimbra” (no valor de 25 mileuros) é uma das mais importantes dis-tinções nacionais nas áreas da Ciência eda Cultura.

Julião Sarmento foi anunciado comoo vencedor da edição deste ano do Pré-mio Universidade de Coimbra no passa-do mês de Janeiro.

O galardão pretende destacar a sua

JULIÃO SARMENTO RECEBE PRÉMIO UNIVERSIDADE DE COIMBRA

“Casa das Caldeiras”reconvertida para centro de Artesvai ser inaugurada na segunda-feira

senta actualmente um dos mais signi-ficativos embaixadores da cultura por-tuguesa no mundo, expondo, publican-do e leccionando nos mais importan-tes locais das artes plásticas interna-cionais.

O Reitor Fernando Seabra Santos en-tregará o Prémio Universidade de Co-imbra a Julião Sarmento na mesma ceri-mónia que marcará a inauguração daCasa das Caldeiras.

Este edifício, antiga Central Térmicados Hospitais da Universidade de Coim-bra, foi restaurado e ampliado de acordocom um projecto arquitectónico muitointeressante e original, da autoria de JoãoMendes Ribeiro em parceria com Cristi-na Guedes.

Ali irá agora funcionar como sede dalicenciatura em Estudos Artísticos daFaculdade de Letras, com salas de au-las, mas dispondo também de espaçospara exposições e outras iniciativas cul-turais.

obra enquanto expressão máxima dacontemporaneidade no panorama das

artes plásticas em Portugal.Na opinião do júri, o artista repre-

Julião Sarmento

Na próxima terça-feira (dia 10),pelas 21 horas, realiza-se a tomada deposse dos novos corpos sociais da“Associação dos Antigos Alunos, Pro-fessores e Funcionários do Liceu D.João III / Escola SecundáriaJosé Fal-cão”.

A cerimónia decorre durante a As-sembleia Geral a realizar num dos an-fiteatros da referida Escola.

Os novos corpos sociais, recente-mente eleitos, têm a seguinte consti-tuição:

ASSEMBLEIA GERAL: Rui Alar-cão (Presidente), Jorge Veiga (Vice-

ASSOCIAÇÃO DE ANTIGOS ALUNOS,PROFESSORES E FUNCIONÁRIOSDO LICEU D. JOÃO III/ ESCOLA JOSÉ FALCÃO

Novos dirigentestomam possena terça-feira

Presidente), Jorge Castilho (Secretá-rio), Maria Augusta Reis (Suplente).

DIRECÇÃO: Reinaldo Elói Olivei-ra (Presidente), Victoriano Nazaré(Vice-Presidente), Maria Natália Cruz(Secretária), Augusto Valente (Tsou-reiro), Nuno Manso Ribeiro (Vogal),Palmira Albuquerque (sócia nº 1 e an-tiga Presidente, agora Suplente) e Jor-ge Ferreira de Carvalho (Suplente).

CONSELHO FISCAL: AlfredoCastanheira Neves (Presidente), JoséAlfredo Campos (Vice-Presidente),Maria Fernanda Fonseca (Secretária)e Jorge Côrte-Real (suplente).

A Câmara Municipal de Coimbra aprovou, por unanimidade, a abertura deum concurso para instalação de 17 câmaras de vídeovigilância no centro histó-rico da cidade.

Na sua reunião quinzenal, o executivo liderado pelo social-democrata CarlosEncarnação decidiu avançar com o denominado Sistema de Vídeovigilância noCentro Histórico de Coimbra, sendo o preço base do concurso de 148.356euros mais IVA.

A aprovação do concurso, quase no fim da reunião, não suscitou quaisquerreservas aos diferentes partidos com assento no órgão - PSD, CDS, PS eCDU - cujos eleitos votaram prontamente a favor.

“Não sei se repararam que acabámos de aprovar o sistema de vídeovigilân-cia”, comentou Carlos Encarnação, ao verificar a facilidade com que todosapoiaram a medida.

Os serviços da autarquia consideraram ser esta “a melhor solução” para“colmatar questões da segurança de pessoas e bens” na zona antiga da cidade,propondo nesse sentido a realização de um concurso limitado por prévia quali-ficação.

A colocação das 17 câmaras insere-se na acção “Reabilitação urbana doscentros históricos - aquisição de equipamento/instalação”, prevista nas Gran-des Opções do Plano e Orçamento de 2009.

O prazo de execução da obra é de 60 dias.

Câmara de Coimbraabre concursopara videovigilânciano centro histórico

6 6 DE MARÇO DE 2009NACIONAL

num dos melhores locais de Coimbra(Rua Pinheiro Chagas,

junto à Avenida Afonso Henriques)

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Por Sertório Pinho Martins

a tenazNo meio da borrasca é que se mede a

capacidade de sobreviver. E esbracejar nosremoinhos de uma corrente que nos sub-merge as margens, acaba quase sempre naexaustão que precede a ida ao fundo. Nes-te momento, o país real é uma tábua à deri-va, carregada de náufragos que apenas sa-bem o porto de onde saíram há escassosmeses, mas poucos vislumbram o ponto dechegada. Na correnteza vertiginosa vaguei-am destroços dos outlets, dos BPNs, dasQimondas, dos lay-off empresariais, dasquedas em cascata das Bolsas, dos balõesde oxigénio da segurança social. E emer-gem já – perdido que foi o pudor da pobrezaenvergonhada – o desespero de milharesde famílias sem poder pagar água, luz, gaz eoutras necessidades básicas. Ao lado, mes-mo ali ao lado, numa patética exibição demiopia política, ainda há quem brade pelamanutenção de projectos faraónicos numtempo de vacas esqueléticas em pasto ralo,ignorando os biliões que o Estado decidiupriorizar como garantia de sobrevivência àbanca falida (porque reincidente na pilha-gem impune das poupanças e no uso abusi-vo do dinheiro alheio), e deixando vazio oporquinho que iria financiar as obras do re-gime: o TGV, o novo aeroporto em Alco-chete e a nova travessia do Tejo. E a estagente inútil e acorrentada aos botes partidá-

rios, não acontece nada! O Presidente dizalto e bom som que a “supervisão” falhou eo Banco de Portugal continua a assobiar paraa lateral, enquanto a pobre banca reduziupara escassas dezenas de milhões os lucrosque antes eram centenas e que mantem umIRC muito abaixo do de um reles depósito-a-prazo da minha avó Leontina. O envolvi-mento de figuras gradas do PS e do PSDnas maiores escandaleiras de que há me-mória (nem no tempo do ‘dr. botas’!), sócimenta cumplicidades num centrão ávidoe voraz que já não consegue viver fora doguarda-chuva do Estado. Não são suspei-ções – Deus nos livre – trata-se antes defactos reais, com datas e coincidências queconfundem o comum dos mortais!

Já disse nestas linhas da minha total con-cordância com a ‘estabilidade’ que nestaaltura é pão-para-a-boca de um país que,para além de batido pela ressaca da ondula-ção vinda do mar exterior, irá pagar caro afactura do deixa-andar geral de alguns anosde uma segurança que tem medrado à som-bra da impunidade. Mas entrámos (e nãofoi ontem!) num ciclo fatal de “crises”, aque ninguém ligou peva e que até há sema-nas atrás os arautos do poder olhavam deesguelha e sacudiam do sudário das suaspreocupações, como mera chatice das opo-sições empenhadas em inventar nuvens dadesgraça onde só brilha o sol radioso da pros-

peridade. Mas serão as chatas das oposi-ções regateiras que ensombram a modorranacional? Pobres e moribundas oposições!

A ‘crise do subprime‘ foi tratada comopraga que não ia atravessar o Atlântico: viu-se! Logo, logo a seguir foi a ‘crise de confi-ança’ no sistema financeiro internacional, acorroer as bolsas de todo o mundo e a dei-tar abaixo, em duas passadas, os preços lou-cos do crude e alguns gigantes americanosindestrutíveis: mas nós por cá todos bem!Num ápice, era a real ‘crise financeira’ amandar países para a falência (olhe-se a Is-lândia, como foi possível!) e a fazer ruir im-périos empresariais: mas Portugal mantevea sua fé inabalável na Senhora de Fátima!E naturalmente depois veio a ‘crise econó-mica’, filha do colapso financeiro, a alastrarmeteoricamente: mas para já encontrou-seum Oliveira e Costa, um Dias Loureiro eum João Rendeiro para explicar toda a nos-sa desgraça colectiva! E atrás da crise eco-nómica, que vai derretendo empresas aosmilhares, aí está na rua a pavorosa ‘crisesocial’, com a sua procissão de desempre-go galopante, (in)segurança social, novaspobrezas, nova emigração forçada, e todo oséquito de réplicas soturnas que desde asegunda guerra mundial estavam quase ba-nidas do nosso imaginário. E um cenáriodestes não é apenas catastrófico: é aterro-rizante!

E chegaremos muito em breve a um tem-po em que a rua e a arruaça tomarão denovo e definitivamente conta do nosso futu-ro. As greves e os desfiles vão regressarem força, e o povo anónimo (que já fez oseu julgamento, mais perigoso a prazo que omelífluo e transitório julgamento mediático)entrou em vigília atenta e ditará depois nasurnas o seu veredicto. E esse povo, em cadamês que sucessivamente vai tendo mais diassem salário, ficará também mais sensível q.b.para não deixar passar em claro o simpleszumbido de um moscardo!

Os ministros da propaganda, responsá-veis pela imagem dos governos, devem tertento na língua e estar hoje mais despertosdo que nunca, para não deixar sair à ruafrases assassinas e politicamente inimputá-veis, ou permitir que se instale a ideia de queCarlos Silvino há-de ser o único pedófiloportas-adentro, que o futebol vai seguramen-te ser inocentado de todos os erros de arbi-tragem pagos com noitadas a abarrotar demeninas-de-alterne, ou que os offshoreshão-de continuar a ser o PPR de refúgio dequantos ganham o pão-de-cada-dia com osuor do seu rosto. A “mudança” está emmarcha, mas pode não ser a que o governomais deseja e apregoa! Neste tempo dequaresma social e de jejum forçado, vai ha-ver manhãs em que um homem de tardenão pode sair à noite! E nesses dias, os paisda desbunda nacional de certeza que irãofingir de mortos! Cá estaremos para ver!!!

A região Norte do país terá a mai-or fatia de investimento dos oito mi-lhões de euros (ME) de fundos euro-peus destinados a apoiar actividadesculturais, no âmbito do Quadro deReferência Estratégico Nacional(QREN).

O concurso para as autarquias, as-sociações, fundações e outras entida-des públicas se candidatarem a umapoio financeiro do QREN para fa-

AO CENTRO CABEM 2 MILHÕES

QREN: Oito milhões de euros destinadosà promoção de actividades culturais em rede

zerem programações culturais termi-na no final de Março.

No total serão distribuídos oito mi-lhões de euros de fundos estruturaispor cinco regiões do país: Norte, Cen-tro, Alentejo, Lisboa e Algarve.

À região Norte estão afectos trêsmilhões de euros, seguindo-se a regiãoCentro com dois ME, Lisboa com1.500 ME, Alentejo com um milhão deeuros e, por último, a região do Algar-

ve com 500 mil euros.De acordo com o Ministério da Cul-

tura, este concurso representa umaaposta “na promoção de uma progra-mação cultural de elevada qualidadee descentralizada a todo o território”e destina-se a apoiar, por exemplo, co-produções em rede.

O concurso está aberto a entidadescomo municípios, fundações e asso-ciações sem fins lucrativos, que se-

jam proprietários ou gestores de tea-tros e cineteatros e tenham por ob-jectivo desenvolver actividades cultu-rais.

O QREN referente a 2007/2013foi aprovado pelo governo em Janei-ro de 2007 e envolverá no total cer-ca de 21,5 mil milhões de euros emfundos comunitários, a investir emáreas como economia e recursos hu-manos.

76 DE MARÇO DE 2009 DIA DO PAI

Há pessoas e acontecimentos que nosmarcam para a vida inteira.

Muitos de nós retemos, entre as pri-meiras lembranças, o momento em que,amorosamente arrancados do colo acon-chegado da Mãe, fomos erguidos ao altopelos braços fortes do Pai que, nessegesto repetido, nos fazia olhar de umponto mais elevado, o mundo em que nosera dado viver. Outros guardamos naretina da memória o quadro de umacriança sentada nos joelhos do Pai, aca-bado de regressar do trabalho, tentandocomparar a nossa pequena mão com agrandeza da sua, que nos envolvia, cale-jada e firme, como um voto de seguran-ça no futuro.

A marca destas gostosas lembrançastrazemo-las sempre connosco, mas sãoavivadas na celebração anual do Dia doPai, a 19 de Março, festa litúrgica do pa-triarca S. José, o carpinteiro de Nazaré,

Dia do Pai celebra-se a 19 de MarçoÉ já no próximo dia 19 de Março (uma quinta-feira)

que se celebra o Dia do Pai.Para as origens desta celebração há versões diver-

sas, do mesmo modo que também o dia dedicado aoPai varia muito, havendo datas diferentes em muitospaíses de todo o Mundo.

Em Portugal (tal como em Itália) convencionou-seque o Dia do Pai seria a 19 de Março, que é também,em termos religiosos, o Dia de S. José.

Independentemente das datas e das motivações,e até do aspecto comercial que esta efeméride en-cerra (aliás tal como o “Dia da Mãe” e tantos outros

dias disto e daquilo), parece meritório que, ao menosnum dia do ano, os filhos prestem tributo de gratidãoao seu progenitor, demonstrando como o Pai é, paracada um de nós, uma figura marcante e a quem muitodevemos.

Embora se viva uma altura de crise (de que muitosPais acabam por ser grandes vítimas...), a verdade éque em Coimbra, e na Região Centro, há um leque muitovariado de ofertas para os Pais.

Entre estas, e cumprindo uma tradição muito louvá-vel, em que concilia a Cultura e a Arte, a MedalhísticaLUSATENAS editou uma Medalha Comemorativa da

efeméride.Trata-se de um belo trabalho em bronze, da autoria

do escultor Jorge Coelho (a medalha , que nesta páginareproduzimos, tem um diâmetro de 90 mm).

Para além de ser uma oferta acessível e que perdu-rará pelos tempos fora, a Medalha constitui tambémuma significativa homenagem ao Pai, reforçada pelotexto que acompanha cada exemplar, da autoria de A.Jesus Ramos (Director do Instituto Superior de Estu-dos Teológicos).

É esse bonito texto que, com a devida vénia, abaixoreproduzimos:

O maior e o melhor de todos os amigos

apontado como modelo de todos os paisque se assumem como educadores quevelam pelo crescimento físico, intelectual,social e espiritual dos seus filhos.

Esta celebração pode apresentar, na-turalmente, vários sentidos, tendo emconta as circunstâncias, a idade e a for-ça da relação que, ainda agora, nos ligaàquele que as crianças continuam a vercomo o seu herói, os adolescentes e osjovens como um modelo de vida, e osadultos como um seguro ponto de refe-rência, ou mesmo como uma estrela cin-tilante que continua a servir-nos de guiano firmamento da saudade. De qualquermodo, pequenos e grandes, jovens e adul-tos, todos fazemos deste Dia do Pai afesta de gratidão e do reconhecimentoàquele que é o nosso maior amigo, comquem podemos contar nas horas de êxi-to ou nos momento de interrogação, sem-pre pronto a dar a mão e a apontar ca-

minhos de dedicação ao trabalho e à fa-mília, de seriedade e de honradez na pra-ça das relações sociais.

No Dia do Pai, muitos de nós vamosfazer ainda a celebração do reconheci-mento pelo esforço e pelos sacrifícios queos pais fizeram e continuam a fazer, sem-pre de olhos postos no futuro dos filhos,tentando concretizar neles muitos dossonhos que, pelas andanças da vida, elesmesmo não conseguiram realizar. As nos-sas famílias, felizmente, estão cheias deexemplos de pais que trabalham de sol asol, privando-se muitas vezes do essen-cial ou mesmo do merecido descanso,para que os filhos possam frequentar umcurso superior, ou tenham meios até parase especializarem no estrangeiro emmatéria que façam deles homens de re-conhecido valimento na sociedade donosso tempo.

São todos esses que, neste Dia do Pai,

estão presentes na celebração festiva dosfilhos, que reconhecem e agradecem asua capacidade de doação, a sua pre-sença constante, mesmo que silenciosa,e o seu espírito de renúncia em favordaqueles que se orgulham de, tal como opatriarca S. José em relação a Jesus, vercrescer “em sabedoria, em estatura e emgraça, diante de Deus e dos homens”(Lc.2,52).

Com a edição da presente medalha,obra do escultor Jorge Coelho, a Meda-lhística Lusatenas pretende contribuirpara que nasça continuamente no cora-ção dos mais jovens um sentimento deverdadeira admiração e um espírito degratidão por aquele que será sempre, paracada filho, o maior e o melhor de todosos amigos.

A. Jesus RamosDirector do Instituto Superior

de Estudos Teológicos

8 6 DE MARÇO DE 2009OPINIÃO

CRÍTICAS TARDIAS

Com a presente e grave crise finan-ceira, económica e social, chovem ascríticas ao chamado neo-liberalismo. Osórfãos do comunismo têm aí uma peque-na desforra e os partidos de centro-es-querda (que entretanto se converteramao mercado) aproveitam para atacar adireita. O capitalismo foi bombo de festano Congresso

do PS em Espinho.As actuais críticas vêm um pouco tar-

de. Uma das pessoas mais influentespara a derrocada do colectivismo mar-xista, o Papa João Paulo II, há vinte anosjá alertava para que muita coisa teria deser corrigida no capitalismo, condenan-do a sacralização do mercado.

A doutrina social da Igreja é pioneirano combate por uma globalização soli-dária, politicamente enquadrada, contrauma globalização selvagem. E no apeloà eliminação da pobreza e da fome nomundo. (...)

Francisco Sarsfield CabralPágina 1 RR 2/Março/09

RECONQUISTA CRISTÃDO CASAMENTO

Mais de um milénio depois, os mourosestão de volta a Portugal e desta vezquerem casar connosco. Em 711 vierampara lutar; agora vêm para contrair ma-trimónio o que, pensando bem, é quase amesma coisa, se não for mais sangren-to. Por sorte, os cruzados continuam deatalaia e, depois de terem rechaçado ainvasão da Península Ibérica, parecemprontos a impedir esta nova e igualmen-te perniciosa invasão das conservatóri-as.

Pessoalmente, confesso que não deipor nada. Só sei que os mouros voltaramporque, no espaço de pouco mais de ummês, dois cardeais foram ao Casino daFigueira precatar as moças católicascontra os perigos do casamento commuçulmanos. Eu não conheço uma úni-ca senhora que pretenda desposar ummuçulmano, nem imagino a razão pelaqual os mouros, aparentemente, prefe-rem noivas católicas frequentadoras decasinos. Mas a verdade é que, tendo emconta a frequência dos avisos e o localem que eles são emitidos, o que não fal-ta na Figueira da Foz são donzelas cris-tãs que, após uma tarde de apostas na

roleta, desejam unir-se em casamentocom um seguidor do islamismo. (...)

Ricardo Araújo PereiraVisão

DESCOMPOSTURAAO MEU AMIGO LÁ DE CIMA

Deus, estou zangado contigo. Supo-nho que já Te habituaste às minhas zan-gas como Te habituaste às minhas dúvi-das, aos meus afastamentos, aos meusregressos a fingir que não venho, aosmomentos de harmonia que de vez emquando existem entre nós, à minha in-compreensão de tanta coisa que fazesou não fazes, aos meus ralhetes, aosmeus amuos, ao que considero as Tuasinjustiças, a Tua crueldade e se calharnão é injustiça, se calhar não é cruelda-de, sou parvo, não ligues, não consigoentender as Tuas profundezas e os Teuscaminhos, o significado dos Teus gestos.Só que ultimamente tens exagerado: oano ainda mal começou e já desataste adespovoar o mundo à minha roda, eu quenunca fui próximo de muita gente, bichodo mato a fechar-me, a fechar-me. Co-meçaste pelo Zé Manel Rodrigues daSilva, não sei se Te lembras dele, era jor-nalista, morava na Rua Azedo Gneco,usava óculos, acho que Te lembras por-que se vestia de uma maneira única, fu-mava cachimbo, tinha brinquedos emcasa, bebia chá, os olhos desapareciama sorrir, era muito generoso e muito bom,usava cabelo comprido com risca aomeio, barba, um anel de prata no mindi-nho, houve uma altura em que fumou ci-garros de mortalha, se procurares achasfotografias da gente os dois no Teu ar-quivo. Tiraste o Zé Manel sem razão, nãofazia mal a ninguém, fez bem a muitaspessoas a começar por mim que estouaqui a jeito

(estou sempre aqui a jeito)segurava os óculos com um fio. O Zé

Manel, desculpa lá, não perdoo, quer di-zer não digo que daqui a uns tempos nãoperdoe mas para já não perdoo. E a se-guir, pumba, a Tereza. Dessa recordas-Te, não mintas, foi a semana passada,perdão, o funeral foi domingo passado,fresco ainda, não franzas a testa a pen-sar, não Te escapes, é impossível que nãoTe recordes, a mulher do Rui, a mãe doHenrique e da Sara, pertencíamos àmesma editora, a Tereza tomava contade mim, foste tão duro para ela nos últi-mos tempos e a Tereza sempre corajo-sa, digna, sem uma queixa. (...)

António Lobo AntunesVisão

FORUM SOCIAL MUNDIAL

O IX Fórum Social Mundial (FSM)realizado no Brasil, em Belém, foi umêxito: 133 mil participantes de 142 paí-ses; 489 organizações de África, 119 daAmérica Central, 155 da América doNorte, 4193 da América do Sul, 334 daÁsia, 491 da Europa, 27 da Oceânia. As

participações mais marcantes foram asdos jovens (15 mil) e dos povos indíge-nas (1300 vindos de 50 países). Para osque vêem no FSM uma plataforma mun-dial de discussão sobre os problemas queafligem o mundo a partir da perspectivados que mais sofrem com eles, o êxitofoi incondicional. Para os que esperari-am do FSM a formulação de políticasmundiais a serem levadas a cabo pelosmovimentos e organizações que o inte-gram, o êxito do IX FSM não conseguedisfarçar a exaustão do seu modelo or-ganizativo.(...)

Boaventua Sousa SantosVisão

A UNIÃO EUROPEIAE A CRISE

É verdade que a Europa, no seu con-junto, está a ser fustigada de forma mui-to violenta pela crise global, nos seusmúltiplos aspectos. Muito mais do quese pensava há poucos meses. E para aqual ainda não encontrou uma respostaconcertada e eficaz. Como seria de es-perar, está a reagir, em ordem dispersa,cada um por si, egoisticamente. O con-trário do que seria necessário e desejá-vel, tratando-se de uma União que re-presenta um projecto político de paz, desolidariedade e de unidade entre os paí-ses membros, pelo menos no plano eco-nómico, uma vez que nunca foi possível,infelizmente, constituir-se numa uniãopolítica, como sempre foi a ideia dos PaisFundadores. Não obstante o espaçoSchengen (que levou à abolição das fron-teiras), a Zona Euro, com a constituiçãode uma moeda única, e alguns passosdados no plano de uma defesa comum ede uma legislação e uma justiça, em cer-tas matérias, também comuns.

Ora a crise não pode ser vencida senão for encontrada para ela uma respostacomum. É verdade que a crise apanhoua União numa fase de longa paralisia,desde, pelo menos, o final da presidên-cia portuguesa, quando foi subscrito pe-los 27 membros o Tratado de Lisboa, que,aliás, ficou também em banho-maria de-pois do veto do referendo irlandês, paísconsiderado então o “melhor aluno” doespaço económico europeu. Curiosa-mente, foi o primeiro país europeu a su-cumbir à crise, seguido pela Islândia, aInglaterra (quem tal diria), a Espanha eagora, com especial força, alguns paísesdo Leste, os últimos a entrar na União.E até, embora em menor dose, os nórdi-cos.

O presidente da Comissão Europeia,Durão Barroso, segue os grandes paísesque têm contradições fundas entre eles,hesitando porém entre eles, com o pro-pósito principal de ser reeleito. Mas comose trata de um dos amigos de Bush, oinesquecível anfitrião da minicimeira dosAçores - onde estiveram também, alémde Bush, Blair, Aznar e Berlusconi -, ena qual se decidiu unilateralmente e nascostas do “motor” franco- -alemão, a“Velha Europa”, invadir o Iraque, donde

resultou a primeira divisão séria da Eu-ropa?

Ora o que se tem visto, nos últimosmeses, são reuniões sectoriais do “direc-tório dos grandes”, de má memória, muitoegoísmo de tipo proteccionista ou nacio-nalista e bastante esquecimento dos gran-des valores comunitários: a unidade, asolidariedade, a igualdade entre Estados,grandes e pequenos, objectivos comuns,políticas concertadas. Justamente o quemais falta faz à União Europeia. (...)

Mário SoaresDN 3/Março/09

HOLOCAUSTO, PASSADOE FUTURO

O Governo argentino serviu-se de umpormenor burocrático para expulsar dopaís o bispo inglês Richard Williamson.A burocracia não passou de pretexto. Averdadeira razão da expulsão prendeu-

se com as declarações do sujeito a umatelevisão sueca em Janeiro último, nasquais negou que o Holocausto tivesseeliminado seis milhões de judeus. Segun-do Williamson, entretanto erguido a curi-osa celebridade, os nazis mataram so-mente 300 mil, um número que o bispopresumirá irrisório. É, também, um nú-mero falso. A evidência histórica confir-ma amplamente a existência dos cam-pos de concentração e de extermínio, dascâmaras de gás e, claro, de uma quanti-dade de vítimas judias próxima dos taisseis milhões. Ao rejeitar um facto com-provado, Williamson não está a cometerum crime: está a fazer uma figura triste,no fundo semelhante à dos que recusamo 11 de Setembro ou a importância dapenicilina. (...)

Alberto GonçalvesDN 1/Março/09

O bispo inglês Richard Williamson

96 DE MARÇO DE 2009 OPINIÃO

ÚLTIMA OPORTUNIDADE

O problema do futuro não é tanto ode saber como será, mas de como láchegar. Em cada dia que passa senti-mos mais os efeitos da crise no nossoquotidiano, pesando a incerteza sobrea sua duração. Alguns discursos en-cantatórios tentam convencer-nos deque existe uma qualquer solução má-gica que nos faça emergir ao virar dapróxima esquina.

Mas a realidade encarrega-se de de-monstrar que não só levará tempo areinverter a crise de confiança e a re-criar as condições da retoma econó-mica, como entrementes há que cui-dar dos efeitos nefastos que se vãoproduzindo.

A primeira lição da crise é a de queos países, mesmo os mais poderososeconómica e militarmente, não terãoêxito se actuarem sozinhos. A viagemda secretária de Estado americana, Hi-llary Clinton, a Pequim, pedindo que aChina continue a adquirir títulos da dí-vida americana, não podia ser mais elo-quente.

O exemplo europeu de Outubro pas-sado aponta no mesmo sentido: sóquando os 27 Estados da União acor-daram numa acção conjunta e numaestratégia comum para estancar a de-riva do sistema financeiro é que foipossível fazer a diferença e começara pensar em limitar os estragos da cri-se nos mercados bolsistas e no siste-ma bancário.

Infelizmente, desde então para cá,a União Europeia voltou a dar uma ima-gem de incerteza e de insegurançaquanto ao rumo a seguir, cada país cor-rendo na sua própria pista para fazerface à recessão, sendo inúmeros ossinais de desentendimento quanto aocurso a seguir para limitar os efeitosdo desemprego galopante e relançar ocrescimento da economia. (...)

António VitorinoDN 27/Fevereiro/09

MEDIAÇÃO E PODER

O poder tribunício dos media cons-titui uma das suas mais importantes fun-ções, embora isso seja frequentemen-te esquecido: vemos, ouvimos e lemospara saber o que se passa. Em temposconturbados, em que prepondera a in-certeza e se adensa a dúvida, umaconsciência generalizada de que essafunção está entregue e é cumprida tor-na-se essencial. É o que se passa nes-te ano de 2009, em que a notícia cor-recta dos factos e uma opinião clara elivre serão decisivas para a formaçãodas muitas decisões que os portugue-ses vão ter de tomar.

A opinião pública, entendida como aacção que se opunha a uma prática desegredo própria do Estado absolutistae a consagração do princípio da críticacomo um direito dos cidadãos a deba-terem as decisões políticas, constituiu

uma das mais importantes formas co-municacionais. Era o debate da cida-dania, enquanto espaço de articulaçãoentre sociedade civil e sociedade polí-tica, entre conflito e consenso, o “pú-blico” entendido como o que é comum,o mundo próprio de todos (H. Arendt)que devia ser o “difundido”, o “publici-tado” entre a maioria.

Mas as novas tecnologias criaram,entretanto, uma sociedade descentra-da e estruturalmente mediada atravésde fluxos incessantes de discursos eimagens da esfera do “público”. E associedades de comunicação tornaramdifícil a gestão da palavra e a gestãodo silêncio. Esta dificuldade transfor-mou em excepção o que devia ser aregra: a verdade dos factos e a isen-ção da opinião. É este o sentimento tãobem expresso na exclamação de Gar-cía Márquez: “Temos tanta informação,mas não sabemos a verdade!” Ouaquela outra que fala das saudades de“ler notícias”. (...)

Maria José Nogueira PintoDN 26/Fevereiro/09

QUARTA-FEIRA DE CINZAS

Não estão definidas quaisquer meto-dologias de aplicação do Acordo Orto-gráfico nas escolas. Ninguém sabe quaisas propostas concretas que terão sidoelaboradas para se fazer a transição doactual sistema ortográfico para o próxi-mo. Não há, que se saiba, qualquer estu-do realizado por serviços competentes doMinistério da Educação. Não há tambémqualquer estudo sobre as consequênciaspráticas da aplicação do Acordo no quediz respeito ao ensino de português e dasdoutras disciplinas. E a ministra da Edu-cação nunca abriu a boca em públicosobre estas coisas.

A Assembleia da República aprovouum prazo de seis anos para a entradaem vigor do Acordo. É evidente que nãopode improvisar-se nesta matéria. Teriade haver especialistas a estudar, a pro-gramar e a fasear uma transição. Nãoconsta que tenham sido nomeados. Eteria de ser previsto um dispositivo deavaliação cuidadosa e frequente. Nãoparece que exista.

E, todavia, para as luminárias de doisministérios, o da Cultura e o da Educa-ção, parece que basta a existência de umcorrector ortográfico da Priberam parao Acordo Ortográfico começar a seraplicado no ensino! Não em seis anos,mas em menos de seis meses! Com esteGoverno é assim: faz-se tudo sobre o jo-elho e o princípio é sempre o mesmo:“Zás! Meia bola e força!” (...)

Vasco Graça MouraDN 25/Fevereiro/09

CRIME E CASTIGO

Noticia o JN que está marcado para odia 20 de Abril, no Tribunal da Maia, ojulgamento de um homem que, em 2007,

terá arrombado um galinheiro e furtadoduas galinhas no valor de 50 euros.

A Justiça tarda, mas chega. O crimi-noso andou mal e merece justa punição,quer pela mediocridade de fins quer pelaruralidade de meios. Gente como ele, quepilha galinhas em vez de fundar um ban-co e pilhar as contas dos depositantes,ou como aquela septuagenária que nãopagou uma pasta de dentes num super-mercado em vez de pedir uns milhões àCaixa, comprar o supermercado na bol-sa e igualmente não o pagar, vendendo-o depois à Caixa através de um “offsho-re” pelo dobro do preço (ou vendendo-lho mesmo antes de o ter comprado), nãotem lugar no Portugal moderno e empre-endedor. Ainda por cima, deixou-se apa-nhar. Se calhar, até confessou, em vezde invocar lapsos de memória. E apostoque nem se lembrou de se divorciar an-tes de ser preso, pondo os 50 euros asalvo na partilha de bens. Não queriaestar na pele do seu advogado, não háCódigo de Processo Penal que valha aum caso destes. É condenação mais quecerta.

Manuel António PinaJN 3/Março/09

GRAU ZERO

As campanhas eleitorais que se apro-ximam começam a desnudar o que depior, de mais perverso, de mais repug-nante existe no debate político. Costa, oeterno delfim sem futuro, subiu ao púlpi-to do Congresso do seu partido para cha-mar ao Bloco de Esquerda, entre outrosmimos, de ‘parasita’, ao que Louçã res-pondeu que o outro militava num partidode ‘ratices e ratazanas’. É apenas umexemplo. Multiplicam-se os discursosdeste teor, carregado de insultos, de in-tenções malévolas, denunciando a mor-te rápida daquilo que há muito estavadoente: o debate ideológico foi pelo es-goto e o esgoto devolveu, agoniado, aenxúndia dos insultos. (...)

Francisco Moita FloresCM 1/Março/09

OUTRA VEZ, NÃO!

Os concursos públicos para atribuiçãode frequências de rádio ou de televisão,em Portugal, não têm passado de merasformalidades, com muita batota pelomeio. Têm sido puros actos de desones-tidade do Estado e dos governos de cadaocasião, com vencedores antecipados edesculpas esfarrapadas para justificar oque por vezes é injustificável.

Recordo-me bem do processo para acriação das rádios locais e regionais. Adesvergonha chegou ao ponto de incluirno júri de decisão candidatos que “mila-grosamente” viriam a ganhar as frequên-cias mais potentes para Lisboa e para oPorto. A cena repetiu-se mais tarde coma atribuição das redes regionais. Adivi-nhem quem venceu. Exactamente, osmesmos membros do júri. A TSF, que eu

então dirigia, candidatou-se a todos osconcursos e, apesar de ser o melhor pro-jecto, como veio a verificar-se, perdeutodas as batalhas. Foi-lhe atribuída a se-gunda frequência para Lisboa. (...)

Emídio RangelCM 28/Fevereiro/09

DISPARATES

Épreocupante que a agenda do Go-verno ande tão permanentemente des-fasada das necessidades ditadas pelarealidade. Desta vez tocou à Juventude,que tanto precisa de ensino de qualidadee perspectivas profissionais de futuro.

No dia 18 de Fevereiro foi publicadaa Lei nº 8/2009, que cria o Regime Jurí-dico dos Conselhos Municipais de Juven-tude. A juventude, o futuro, merece-metodo o respeito e empenho. A sua ‘utili-zação’ politiqueira, não. A Lei nº 8/2009é um exemplo descarado de politiquice.

Apesar da má qualidade das nossasleis e da sua profusão, raras vezes mefoi dado a observar um regime – peçodesculpa pela brutalidade – tão poucointeligente, da composição às competên-cias. Está tudo feito para que nada fun-cione nem permita funcionar: os conse-lhos municipais de juventude são com-postos, entre outras entidades, por umrepresentante de cada associação juve-nil com sede no município, inscrita noRegisto Nacional de Associações Jo-vens, um representante de cada associ-ação de estudantes do ensino Básico eSecundário com sede no município ins-crita no RNAJ (exacto, é verdade) e,ainda, um representante de cada associ-ação jovem equiparada a associação ju-venil... (...)

Paula Teixeira da CruzCM 26/Fevereiro/09

PARA MENORES DE CINCO

Num congresso de encenação, queabjurou qualquer ideia, venham os slo-gans. Primeiro, era ‘A Força da Mudan-ça’. Como, se o único projecto do PS émanter o poder? Alguém acredita quemelhorámos desde 2005?

Se o primeiro slogan é ficção, o se-gundo choca. Escolheram ‘Vencer2009’, ganhar eleições, enquanto o Paísagoniza. É por isso que se ataca o Blo-co. O objectivo não é vencer a crise.É bater (n)as esquerdas. E estar à de-fesa. Na socratolândia, as eleições jánão escolhem o melhor para governar,mas o combatente de eventuais cam-panhas negras. Para isso mostrou-seo líder pronto. E não para enfrentar acrise, colocando-se ao nível de certosautarcas... Sócrates pressupõe mesmoque a Democracia está em perigoquando o primeiro-ministro é investi-gado? Se é assim em Democracia, ima-gine-se em ditadura! (...)

Joana Amaral DiasCM 2/Março/09

10 6 DE MARÇO DE 2009CRÓNICA

A OUTRA FACEDO ESPELHO

José Henrique Dias*

[email protected]

arte em café

* Professor universitário

O que somos, verdadeiramente? Porque temos de res-guardar sentimentos, ocultar paixões, comungar silêncios?Quem sabe alguma coisa de nós?

Às vezes é preciso morrer para que os nossos amoresamadureçam nos pomares da memória. Há recordações,momentos de resguardo que tantas vezes passam a solitári-as confissões que só os papéis podem guardar. No acasode descobertas, anos mais tarde, desaparecidos, reapare-cem, quando já não restam memórias que não sejam do diaem que nascemos e do dia em que morremos. Como lem-brava Pessoa. No fundo de uma caixa esquecida, no forrode uma divisão, na cómoda de segredo, sei lá, naquelessítios que inventamos e que julgamos mausoléu inviolável,alguém acaba por encontrar. Como em Madison County.Saber, saber, não, apenas espreitar, o que valeu um tempo,mesmo breve, de um amor intenso. Aqueles amores quesabem a eternidade. Porque silenciam. Andam por dentrode quem os vive. Amarguram. Na hora do amor, é assimque se diz?, fecham-se os olhos a pensar noutra pessoa. Naque não está. Não estará mais. Todos nós, será que todos?,guardamos em nós uma pessoa especial. Que queremosintocável. Esse é o verdadeiro amor. Tudo o resto são ade-reços. Retoques de alma. O que toleramos. Às vezes ape-nas para fazermos outros felizes. Migalhas que deixamos.Que alguém apanha pensando que lhe deram o pão de to-das as fomes. Não é hipocrisia. É defesa. Tantas vezestambém generosidade.

Pode existir, em cada um de nós, um segredo tamanho,ciosamente guardado, seja em relato de diário, seja em fo-lhas soltas ou breves apontamentos para repartir a memóriae a alma no desabafo insano da escrita. Felizes os que po-dem escrever. Bem-aventurados os que um dia chegam àrevelação, num acaso qualquer da vida.

Dúmia guardou um segredo. Nunca soube porque lhechamaram assim. O nome. Todos os nomes naquela pala-vra estranha, que leva à perplexidade ascensional. Dúmia.

Quando perguntou aos pais, disseram-lhe, foi o pai quemrevelou, que quando ia para a registar, a caminho da Con-servatória, encontrou um velho cego, parecia Tirésias, quelhe perguntou que nome ia pôr. Disse: Genoveva, como aminha Mãe, que Deus a tenha em descanso. Destinada aser Bebinha toda a vida. Com subtónica no e. Bèbinha.

Ponha-lhe Dúmia, disse o profeta. Talvez calhasse me-lhor Antígona. Que Dúmia seja. Assim ficou. Que quer di-zer? Na escola era conhecida por Beta, creio que de Alber-ta, ninguém lhe chamava Dúmia. Era para todos Beta. Dúmiaera no momento de assinar a cópia ou o ditado. DúmiaAlberta e mais aquela qualquer outra coisa dos apelidos defamília, metade do lado da mãe, o fim do lado do pai.

Quando entrou na faculdade e aprendeu como investi-gar, não houve fonte que não percorresse para saber a ori-gem. Andou por tudo quanto era dicionário onomástico. Viuróis de outras eras. Percorreu o teatro grego. Personagema personagem. Nada. Dúmia também dá para personagemde tragédia. A suave tragédia que a esperava.

Estranhamente, gostava do nome. Pensava que mais nin-guém no mundo se chamava assim. E devia ser verdade,porque também me dei a essa tarefa e foi em vão.

Ao longo da vida tornou-se escritora. As suas novelas,com pseudónimo, acabaram famosas. Construiu vagarosa-mente a história do seu próprio amor. Do seu segredo. Comsabor a pecado. Apetecido. Guardado. Esquecido.

Nos papéis que os filhos encontraram, muitos anos de-pois, quando mal se refazia o tempo da memória nas reuni-ões de família, a avó Dúmia, a avó Alberta, era como calha-va, quando o Natal se exasperava na espera do dia seguinte

Como em Madison County

e todos irem para suas casas, a sua história, história de umamor breve, paixão intensa, vibração afinal sem mácula,emergem das folhas acauteladas de ternas recordações.Numa caixa de lata de chocolates belgas, que tinha ao ladoum postal com renda de Bruges.

Sei que estão a pensar no filme de Clint Eastwood, TheBridges of Madison County, com Meryl Streep e o pró-prio Eastwood, produzido, creio, em 1995, a partir do ro-mance de Robert Waller.

Confesso que também não escapei à comparação, quandome chegou a narrativa. Lembram-se certamente daquelefotógrafo da National Geographic que atravessou DesMoines, virou para Iowa à procura das pontes cobertas deMadison County. Encontrou as primeiras seis, pensa planospara as fotografar, mas faltava a sétima, de um lugar cha-mado Roseman Bridge.

Estava um calor sufocante. Robert, às voltas na sua car-rinha numa estrada de gravilha que parecia levar a nenhu-res, acaba por chegar a uma mulher solitária naquele fim detodas as coisas. Francesca. O marido e os filhos tinhamsaído para uma feira.

Terei muito prazer em lha mostrar, se quiser, foram aspalavras que abriram as portas da inquietação.

Quem não leu o romance, quem não viu este filme, deveapressar-se. Penetrar a maravilha daquelas sequências, osolhares, os silêncios, o sorriso, o perscrutar do tempo e dasdistâncias, leva a perceber porque Meryl ganhou o Óscar.Imperdível.

Mas não foi por causa do filme que aqui me sentei. FoiDúmia. A sua imagem tinha ficado para sempre impressa,como direi? (porque não esta banalidade), impressa no co-ração de Roberto. Coincidência forçada, dirão, mas elechamava-se mesmo Roberto. Que passa na história de umencontro. Jornalista de profissão, à procura de um lugarpara espaço de reportagem imaginada. Ficaram fascina-dos. Porém contidos.

Só que entre ele e Dúmia não havia pontes cobertas.Nem ele era fotógrafo. Nem estavam em Iowa. Estavamem Coimbra. No espaço entre duas pontes. Uma apenaspedonal. De madeira. Chamavam-lhe a ponte do Modesto.Aconteceu a força insuperável desse encontro. Imperecí-vel. Vitorioso. Ninguém podia matar, por mais que ousasse,a suave e terna recordação daquele olhar, vivido quase notempo breve de um adeus. Quando do encontro, havia ape-nas a velha ponte, com três tabuleiros. Separados por gra-des de ferro, losangos levantados para dificultar a transpo-sição. Para o lado da corrente uma simples grade de pru-mos paralelos. O tabuleiro do meio, mais largo, para os car-ros. À passagem as travessas vibravam. Som a desembo-car na Portagem. A outra, de madeira, oscilante, era precá-ria, armava-se entre o tempo da chegada das cheias.

Entre eles ficou uma ponte, de natureza, diria, insólita.Mais do que simbólica, para além das metáforas, materiali-

zada de uma maneira tão forte que ainda agora, quandorecordo, preso à narrativa, trespassa-me um arrepio deemoção, porque nela, nessa história, se guarda um amorpara além da própria vida.

Foi no momento da separação que a ponte se ergueu.Ponte de ternura, dádiva, ponte absoluta, com a duração demuitos anos e cinzelada a afecto.

Não sei como explicar.Quando Roberto acabou o curso e decidiu ir para longe,

correr mundo, contou em sobressalto, a mãe entregou-lheuma caneta. Uma caneta de prata. Teria vindo, pensava,de alguém antes dela. Nunca ficou esclarecido. Apenas sesabia que fora feita no prateiro da casa real. Às vezes a rir,o pai contava uma história curiosa. Quando casou, foi viverpara as terras da mulher. As pessoas recebiam. Não houvecasa onde entrasse que não lhe dissessem, num determina-do quarto, nesta cama, por acaso, dormiu o rei D. Carlos.Toda a gente blasonava de ter tido por hóspede o rei. O paide Roberto, republicano jacobino, se recebia alguém e mos-trava a casa, ao chegar a um quarto, dizia sempre com o armais sério que lhe era possível, nesta cama, por acaso, nun-ca dormiu o rei D. Carlos.

O rei D. Carlos, dizia-lhe a Mãe, que se lembrava do diado regicídio, usava uma cigarreira cinzelada por aquela ar-gêntica oficina centenária. A caneta era uma jóia.

Roberto sentiu que tinha de lhe dar uma dimensão dotamanho do amor que sentia e iria ficar esquecido, como senuma ponte qualquer de um sítio distante, Iowa do seu de-sassossego, trepidante de angústia e ao mesmo tempo deuma indizível paz interior.

No filme, lembro agora, Robert disse:Só tenho uma coisa a dizer, apenas uma; nunca voltarei a

dizê-la a ninguém, e peço-te que te lembres dela: num uni-verso de ambiguidades, este tipo de certezas só existe umavez, e nunca mais, não importa quantas vidas se vivam.

Há palavras que só se dizem a alguém uma vez na vida.Palavras que pairam acima e além de todas as ambiguida-des, sejam quais forem as vidas que se vivam. Dúmia me-recia ter ouvido a palavra. Guardou essa palavra.

Roberto tivera essa certeza. Na última tarde, com olhoslímpidos, na brevidade de um encontro que soube a despe-dida, entregou a Dúmia um embrulhito de papel dourado.Sempre fora desajeitado para fazer embrulhos, aquele nãoescapava à regra.

Dúmia, é para ti. Guarda-a bem.Dúmia rasgou o papel com algum nervosismo. Do interi-

or de um estojo esguio, surgiu a caneta de prata. Ficou derespiração suspensa. Não sabia que dizer. A tarde esgota-va-se em mondegos de poentes arroxeados. Iriam regres-sar ao mundo das convenções. Das ambiguidades. Cadaum em seu lado. Ela com um companheiro que não podiaamar, porque Roberto existia no suave encontro da memó-ria. Recordava.

Roberto segredou-lhe, tomando-lhe as mãos:Foi minha Mãe que me ofereceu, há muitos anos, no

dia da minha formatura. Guarda-a. Quando quiseres,ou puderes, lembrar-te de mim, aperta-a em tuas mãos.

Dúmia sorriu. Não havia, não há sorriso como o seu.Dúmia-Francesca-Dúmia.

É a ponte entre as duas mulheres que mais amei navida, disse Roberto. E partiu sem se voltar.

Suponho que os papéis de Dúmia, que os filhos encon-traram, foram escritos com essa caneta. Nunca ninguémpoderá ter a certeza. Como jamais se saberá quando foramescritos. Nem data, nem lugar.

Quando leram a última folha, os filhos souberam que nãose tratava do manuscrito de um romance inédito. Percebe-ram o que é amor e pensaram nos seus próprios casamen-tos.

Aqui tudo igual. Como em Madison County.

116 DE MARÇO DE 2009 DIA INTERNACIONAL DA MULHER

Dia Internacionalda Mulher

De acordo com um trabalho de investigação da autoria da historiadoraMaria Luísa Paiva Boléo, é uma lenda referir o Dia Internacional da Mulhercomo tendo surgido na sequência de uma greve, realizada em 8 de Março de1857, por trabalhadoras de uma fábrica de fiação ou por costureiras de calça-do.

Refere aquela investigadora que essa versão (que continua a ser veicu-lada pela generalidade dos órgãos de comunicação social) “não tem qual-quer rigor histórico, embora seja uma história de sacrifício e morte que caibem como mito”.

E acrescenta:“Em 1982, duas investigadoras, Liliane Kandel e Françoise Picq, demonstra-

ram que a famosa greve feminina de 1857, que estaria na origem do 8 de Março,pura e simplesmente não aconteceu (1), não vem noticiada nem mencionada emqualquer jornal norte-americano, mas todos os anos milhares de orgãos de comu-nicação social contam a história como sendo verdadeira («Uma mentira constan-temente repetida acaba por se tornar verdade»).

Verdade é que em 1909, um grupo de mulheres socialistas norte-americanasse reuniu num “party’, numa jornada pela igualdade dos direitos cívicos, que esta-beleceu criar um dia especial para a mulher, que nesse ano aconteceu a 28 deFevereiro. Ficou então acordado comemorar-se este dia no último domingo deFevereiro de cada ano, o que nem sempre foi cumprido.

A fixação do dia 8 de Março apenas ocorreu depois da 3ª InternacionalComunista, com mulheres como Alexandra Kollontai e Clara Zetkin. A dataescolhida foi a do dia da manifestação das mulheres de São Petersburgo, quereclamaram pão e o regresso dos soldados. Esta manifestação ocorreu no dia23 de Fevereiro de 1917, que, no Calendário Gregoriano (o nosso), é o dia 8 deMarço. Só a partir daqui, se pode falar em 8 de Março, embora apenas depoisda II Guerra Mundial esse dia tenha tomado a dimensão que foi crescendo atéà importância que hoje lhe damos.

A partir de 1960, essa tradição recomeçou como grande acontecimento in-ternacional, desprovido, pouco e pouco, da sua origem socialista”.

(1) Se consultarmos o calendário perpétuo e digitarmos o ano de 1857, poderemosverificar que o 8 de Março calhou a um domingo, pelo que nunca poderia ter ocorridouma greve nesse dia de descanso semanal.

As origens

Vai assinalar-se no próximo domingo,8 de Março próximo, o “Dia Internacionalda Mulher”.

Este ano, a Organização das NaçõesUnidas escolheu o seguinte lema para ascomemorações: “Mulheres e homensunidos para pôr fim à violência contra asMulheres e as Meninas”.

Por isso o “Centro” decidiu assinalara data prestando homenagem (nas duaspáginas centrais) a uma Mulher pioneira(que vive em Coimbra e completa 110anos no próximo dia 3 de Abril), mas tam-bém a Meninas que em África cedo sevêem forçadas a assumir responsabili-dades de Mulheres, ajudando no traba-lho e cuidando dos irmãos mais novos.

Como vem sucedendo desde há déca-das, a data é aproveitada para prestar ho-menagem ao multifacetado papel que asmulheres desempenham na sociedade, en-quanto esposas, companheiras, mães e, de

cada vez mais, figuras destacadas nos maisdiversos domínios, desde o mundo do tra-balho ao da política.

Mas é também, e sobretudo, um mo-mento para lembrar os direitos das Mulhe-res, tantas vezes ainda esquecidos e viola-dos em diversos pontos do Mundo.

De facto, embora nos países mais de-senvolvidos e evoluídos a igualdade de di-reitos e deveres entre homens e mulheresseja, de cada vez mais, uma realidade, háEstados (e não só no chamado “TerceiroMundo”) onde as Mulheres são ainda víti-mas de discriminação, de exclusão, de ex-ploração, e até mesmo de actos de violên-cia absolutamente inaceitáveis, por maisque quem os pratique invoque, como justi-ficação, as tradições e direitos ancestrais.É o caso, por exemplo, da excisão (prati-cada sobretudo em alguns países africa-nos) ou do apedrejamento e da pena demorte para as mulheres acusadas de adul-

NO PRÓXIMO DOMINGO, 8 DE MARÇO

tério, que ainda existe em pleno século XXI!Mas, repita-se, casos de infracção aos

direitos das mulheres não sucedem ape-nas entre os povos considerados menosevoluídos.

Pelo contrário, na generalidade dos paí-ses mais avançados existem situações de-ploráveis de exploração da Mulher (nomea-damente através da prostituição forçada,da violação e violência doméstica), a que asociedade fecha os olhos.

Daí que, pese embora a emancipaçãoda Mulher seja já uma consoladora rea-lidade em muitas zonas deste nosso Mun-do, há ainda necessidade de alertar paraanomalias várias que persistem e que im-porta corrigir de imediato.

É verdade que a Mulher está a assumir,por mérito próprio, uma posição de pre-ponderância (que se revela, por exemplo,na muito maior percentagem de Mulheresnas Universidades, na Justiça, mas tam-bém em áreas que até há pouco lhe eramquase interditas, como, por exemplo, as For-ças Armadas, as Engenharias, os Trans-portes Públicos, as Forças de Segurança).

Apesar disso, na política continuam a termuito maiores dificuldades do que os ho-mens para singrar, como se pode ver mes-mo em Portugal, onde o número de mulhe-res a ocupar cargos políticos de destaqueé muito reduzido.

Nunca houve uma Presidente da Re-pública ou da Assembleia da República,até hoje só tivemos uma chefe de Gover-no (Maria de Lourdes Pintasilgo), só re-centemente uma Mulher ascendeu à li-derança de um dos principais partidos(Manuela Ferreira Leite, actual líder doPSD). Nos sucessivos Governos têm tidouma participação reduzidíssima (o actualcontinua a ter apenas duas Ministras, poisembora tenha saído Isabel Pires de Limada Cultura, entrou Ana Jorge para a Saú-de e mantém-se Maria de Lurdes Rodri-gues na Educação). O número de depu-tadas é também muito escasso.

Enfim, as coisas estão a mudar, mascertamente muito mais vagarosamente doque desejaria a maioria das Mulheres.

O certo é que, no futuro, a situação sópode melhorar.

Daí que, em termos simbólicos, o“Centro” tenha escolhido, para ilustrar,nesta página, a efeméride, a pequenaMariana, bisneta de um jornalista quemuito lutou pela liberdade, mas faleceusem a ver concretizada; neta de um dosoficiais do Exército que fizeram o 25 deAbril, filha de dois jovens nascidos de-pois da Revolução.

O futuro será, certamente, muitodaquilo que as Mulheres, como a Ma-riana, quiserem que ele seja!

12 6 DE MARÇO DE 2009DIA INTERNACIONAL DA MULHER

Virgínia Pestana: a mais antiga alunada Universidade de Coimbraestá prestes a completar110 anos de vida

Maria Virgínia Pestana é a mais anti-ga aluna viva da Universidade de Coim-bra (cidade onde habita há muitas déca-das) e uma das mais idosas cidadãs por-tuguesas.

De facto, completará a magnífica ida-de de 110 anos no próximo dia 3 de Abril.

Nascida no Porto (a 3 de Abril de1899), Maria Virgínia de Abreu Ferreira

de Almeida ficou sem Mãe com apenas5 anos. Seu pai, médico, ficou residênciaem S. Pedro do Sul, e Maria Virgínia teveaí uma educação esmerada: aprende mú-sica e francês, mas também joga ténis(então com vestido comprido...), anda acavalo, nada no rio Vouga.

Concluído o curso liceal em Viseupede a seu pai para prosseguir os estu-dos em Londres, onde tinha uma tia. Maso máximo que consegue é que ele a dei-xe vir para Coimbra.

Ingressou na Universidade de Coim-bra em 1917 (ano das Aparições de Fá-tima e do começo da Revolução Russa),sendo uma das 70 mulheres entre os cer-ca de 1.200 alunos que a Universidadede Coimbra tinha então inscritos.

Nessa época as Mulheres eram tra-tadas na Universidade por “Vossa Ex-celência”, mas não podiam usar capa ebatina e nem sequer lhes era admitida aentrada na Associação Académica.

Maria Virgínia insurge-se contra estadiscriminação e funda aquela que pode

considerar-se como a primeira “repúbli-ca” feminina: a “Casa Independente dasRaparigas”. Cria, pouco depois, o Cír-culo Académico Feminino Católico.

Fez os 5 anos do Curso de Físico-Quí-micas e mais dois da Escola Normal Su-perior. Iniciou a carreira docente em Lis-boa, mas depressa regressou a Coimbra,tendo sido colocada no Liceu Infanta D.

Maria, onde leccionouaté se reformar, aos 75anos.

Aos 32 anos casoucom o então capitãoErnesto Pestana(combatente na IGuerra Mundial), quepor ela se apaixonou

quando a ouviu cantar (e que viria a serGovernador Civil de Coimbra).

Foi uma cidadã pioneira em muitosaspectos, assistiu a acontecimentos re-levantes em 3 séculos diferentes, e con-tinua a ser hoje uma Mulher interessadapor quanto se passa à sua volta.

Por isso bem merece a singela home-nagem que aqui lhe prestamos!

Virgínia Pestana em foto relativamente recente. Em cima duas imagens onde aparece com colegas da Universidade

136 DE MARÇO DE 2009 DIA INTERNACIONAL DA MULHER

Meninas-Mulheres: o futuro de África

Em África, fascinante Continente de contrastes, asMulheres são ainda vítimas, em algumas zonas, de con-denáveis hábitos ancestrais, mas também assumem já,em muitos países, exemplares papéis de liderança nosmais diversos domínios.

A Mulher africana é, de uma forma geral, um exem-plo de trabalho, de coragem, de sacrifício, de abnega-ção, enquanto Mãe, enquanto Esposa, trave-mestra daFamília, mas igualmente trabalhadora incansável.

E é também uma das mais valiosas riquezas dessefabuloso Continente, que agora começa a ser encaradocom o respeito que lhe é devido e onde o progresso e odesenvolvimento vão fazendo o seu caminho, ainda con-turbado por lutas fratricidas, mas também por muitascarências, pelo atraso em termos de Saúde e de Educa-ção, e por tentações ditatoriais e/ou neocolonialistas.

Esta página pretende ser uma homenagem à Mu-lher de África, símbolo da força de todas as Mulheres.

Por isso a preenchemos com Mulheres-Meninas deum País irmão (São Tomé e Príncipe), de uma terradeslumbrante, de um povo muito afável e hospitaleiro,onde a infância e a juventude são uma esperançosamaioria para um futuro mais risonho.

14 6 DE MARÇO DE 2009CULTURA

Vai realizar-se no próximo domin-go (dia 8), pelas 16 horas, no SalãoNobre da Câmara Municipal de Mon-temor-o-Velho, uma sessão para lan-çamento do livro “A Magia do Tour”,da autoria de Alves Barbosa (uma das“velhas glórias” do ciclismo nacional)e de José Magalhães Castela

No mesmo dia, na Galeria Munici-pal, será inaugurada uma exposiçãoalusiva à Volta a França em bicicleta.

O livro pretende dar a conhecer,com algum pormenor, a participaçãodos vinte e cinco corredores portugue-ses que tiveram o privilégio de alinharnas diversas edições da Volta a Fran-ça em bicicleta, indiscutivelmente umdos maiores acontecimentos despor-tivos a nível mundial.

Acontecimento mediático, só com-parável aos Jogos Olímpicos ou aosCampeonatos do Mundo e da Europade Futebol, e fortemente caracteriza-do pelo grande envolvimento da pró-pria sociedade francesa, a Volta aFrança em bicicleta (na gíria veloci-pédica mundial designada por Le Tourou La Grand Boucle) constitui sem dú-vida a mais exigente prova de ciclis-mo do mundo, tornando-se o objecti-vo mais ou menos distante, quandonão mesmo uma mera utopia, paraqualquer corredor de bicicleta.

Falar da participação dos 25 corre-dores portugueses no Tour implicouuma análise aprofundada das suas vá-rias edições, desde 1956, ano em queum dos autores do presente trabalho,Alves Barbosa, se constituiu como oprimeiro português a alinhar na pro-va, obtendo um excelente 10.º lugarda classificação geral individual, até

DOMINGO, EM MONTEMOR-O-VELHO, “A MAGIA DO TOUR”

Livro e exposiçãosobre a participação portuguesana mais importante prova de ciclismo mundial

francesa, em muito ajudaram à com-preensão e ao enquadramento das su-cessivas edições do Tour. O mais po-deroso instrumento de pesquisa actu-al, a internet, foi fundamental, e o re-curso a sítios especializados, sobretu-do de origem francesa, uma constan-te, permitindo assim, Volta a Volta, eetapa a etapa, a reconstituição do per-curso de todos os corredores portu-gueses nas sucessivas edições doTour em que participaram.

Foram muitos os contributos pesso-ais que enriqueceram o presente pro-jecto, destacando-se os de JoaquimAndrade (pai), Herculano de Olivei-ra, José Martins, Bernard Hinault edÓscar Pereiro, antigos vencedores doTour, Jens Voight da equipa da CSC eBjorn Schroder da equipa MILRAN,actuais corredores do pelotão interna-cional, Fédèrico Bahamontes, vence-dor da Volta a França de 1959, Mar-co Chagas, Orlando Rodrigues, JoséAzevedo e Francisco Araújo.

OS AUTORES

Alves Barbosa é uma figura incon-tornável no panorama do ciclismo por-tuguês. Enquanto praticante partici-pou em algumas das mais famosasprovas internacionais, nomeadamen-te, na Volta a França, Volta a Espa-nha, Volta a Marrocos, Paris-Nice,Paris-Roubaix, Seis Dias de Nova Ior-que e Quatro Dias de Dunkerque, en-tre outros. A nível nacional, obtevenove títulos de Campeão Nacional,venceu por três vezes a Volta a Por-tugal – tendo conquistado 34 vitóriasem etapas, recorde que ainda não foiultrapassado – e muitas das provasclássicas portuguesas. Foi ainda trei-nador, formador, seleccionador e téc-nico federativo.

José Magalhães Castela é autor devários trabalhos já publicados no âm-bito da ficção e da poesia, mantendouma colaboração esporádica em jornaise revistas especializadas, tendo igual-mente produzido alguns programas ra-diofónicos na RDP Centro. Tendo pu-blicado alguns títulos relativos à histó-ria do ciclismo português, A Magia doTour, de que é co-autor, pretende dar aconhecer a participação dos corredo-res portugueses que tiveram o privilé-gio de alinhar nas diversas edições daVolta a França, indiscutivelmente umdos maiores acontecimentos desporti-vos a nível mundial.

2007, ano em que Sérgio Paulinho, ali- nhando pela equipa americana DiscoveryChannel, subiu ao pódium nos ChampsElysées, em Paris, mercê da vitória co-lectiva da sua equipa, na prova.

Com as suas treze participações noTour, de 1969 a 1973, Joaquim Agos-tinho, o maior ciclista português de to-dos os tempos, ocupa um lugar de justoe natural destaque na análise efectu-ada.

E por razões de óbvio enquadra-mento, os autores igualmente aprovei-taram para referenciar muitos dosgrandes nomes do ciclismo mundial devárias épocas, transformando o pre-sente projecto numa aliciante viagempelas diferentes épocas da velocipe-dia mundial. Entrevistas publicadas etrabalhos de reportagem, bem como ovisionamento de alguns filmes dispo-níveis sobre a Volta a França, comnatural destaque para os de origem

A expressiva capa do livro editado pela Minerva Coimbra

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156 DE MARÇO DE 2009 EDUCAÇÃO/ENSINO

* Professor e dirigente do SPRC

Professor e dirigente do SPRC

João Louceiro

… A isso obrigam os becos sem saídaforçados pelo Ministério da Educação (ME)em reuniões que deveriam ser de diálogo ede negociação; a isso obriga também as suaspressão e chantagem diárias, numa desvai-rada teimosia de imposição. A alternativaseria deixar as coisas irem por onde teima aequipa apadrinhada por Sócrates. E isto nãopode acontecer, em nome da dignidade e dofuturo da profissão docente e em nome daEscola Pública.

A 7 de Março, professores de todo o país,em cordão humano, vão unir as principaissedes do poder que os apontou como umdos alvos destacados das políticas erradasque governam o país. Do Ministério, à As-sembleia da República, acabando na resi-dência oficial do primeiro-ministro… Umavez mais, os professores escolhem o sába-do para organizar o seu justo protesto. Oque terão de passar a fazer para serem ou-vidos de verdade e com responsabilidade?

O modelo de avaliação do desempenhoengendrado pelo Governo para reduzir ven-cimentos e subjugar a classe profissional,não tem meio de arrancar... Aos seus pró-prios tumores e entorses junta-se a corajo-sa resistência de milhares de docentes namaioria das escolas. Se o Governo pusesseem marcha o inenarrável modelo de avalia-ção, ficaria a profissão docente definitiva-mente de joelhos; mas seria também umperigoso passo para que a Escola Pública

A luta volta à rua!Tem de ser!se tornasse um mísero local de “domestica-ção”, em primeiro lugar dos que lá traba-lham e, por via deles, dos que lá se formama aprendem. Não se iludam os que aindaacham que os professores lutam para nãoser avaliados!

No pesado e ameaçador enredo delinea-do pelo ME para avaliar desempenhos, foiprevisto um truque para condicionar e en-volver os professores na avaliação que, comlucidez, rejeitam: a formulação de uma pro-posta de objectivos individuais. Porque es-tão em frontal desacordo com a perigosavia de avaliação que o ME quer pôr emmarcha, largas dezenas de milhar de docen-tes declinaram a entrega da referida pro-posta. O ME queria que o fizessem para ospoder capturar na sua teimosia; queria parapoder anunciar o triunfo político sobre osprofessores e as escolas. Milhares e milha-res de professores, enfrentando pressões,chantagens, mentiras, perseguições, mos-tram-se dignos e verticais: o ME que nãolhes peça uma ajudinha para pôr em mar-cha mais este instrumento de liquidação dacarreira docente e de degradação da Esco-la Pública!

Mas a pressão para que o Governo re-solva a questão não pode ficar só dentrodas escolas. É na rua que se criam dificul-dades maiores à via do autoritarismo e dateimosia. Dia 7 de Março, milhares de pro-fessores realizam mais uma importante jor-nada de luta. Pode ser que o ME/Governoouça de vez os professores portugueses. Aaproximação de eleições também pode aju-

dar… E é que estão a acabar as oportuni-dades de o fazer antes do terceiro períododo ano lectivo, período de intenso trabalho ede especial delicadeza. Ou estarão à espe-ra que os professores desistam?!

A 7 de Março, são precisos milhares deprofessores. Tenham ou não entregado umaproposta de objectivos individuais, os quediscordam do modelo de avaliação do ME,prosseguem a luta no próximo sábado! Poreste e por outros motivos tão importantescomo este!

Há outra dimensão da luta dos pro-fessores que é verdadeiramente decisi-va: a da compreensão consequente deque muito daquilo contra que têm lutadoé expressão particular, próxima, do rumopolítico e das opções do governo de JoséSócrates. Esta compreensão, esta cons-ciência política, é indispensável para queos professores não se isolem na sua luta,sem dúvida justa, e para que, de formainteligente, juntem e reforcem as suasrazões com as razões dos outros. É emconjunto que alteraremos a correlaçãode forças, obrigando à mudança do rumoque o Governo tem seguido.

A seguir ao próximo sábado, o prosse-guimento da luta faz-se na ManifestaçãoNacional convocada pela CGTP-IN. A 13de Março, a luta dos professores volta à rua,em Lisboa, em conjunto com os outros tra-balhadores portugueses.

É a luta que volta à rua! Tem de ser!

Ministério espera pareceresda OCDE e Conselho Científico

O Ministério da Educação (ME) aguar-da pareceres do Conselho Científico paraa Avaliação dos Professores (CCAP) eda OCDE para propor alterações ao mo-delo de avaliação docente, que os sindi-catos do sector continuam a rejeitar.

Numa reunião negocial para a revisãodo Estatuto da Carreira Docente, o ME ea Federação Nacional dos Sindicatos daEducação (FNE) discutiram na passadaterça-feira (dia 3) também o modelo deavaliação para os próximos anos lectivos,num encontro que não trouxe novidades eno qual os sindicalistas reiteraram a neces-sidade de acabar com as quotas para atri-buição das classificações mais elevadas.

O Secretário de Estado Adjunto e daEducação, Jorge Pedreira, lembrou que omemorando de entendimento assinadocom os sindicatos no ano passado apre-sentava um calendário de negociação queapontava que o essencial do regime deavaliação para os próximos anos deveria

AVALIAÇÃO DOS PROFESSORES

estar pronto no final deste ano lectivo.“Sem prejuízo deste calendário, que

aponta para a existência de propostas fi-nais no final do ano lectivo, entendemosque deveremos trabalhar desde já com ossindicatos sobre uma matéria que é de op-ção política e que implica naturalmente adefinição de um quadro em que as propos-tas técnicas se vão estabelecer”, disse.

No entanto, Jorge Pedreira destacouque o esboço da avaliação de desempe-nho para os próximos anos espera aindaa contribuição de um parecer do Conse-lho Científico que acompanha a aplicaçãodo processo este ano, porque “o governopretende colher a experiência da aplica-ção do actual regime de avaliação de de-sempenho”, e de outro parecer que o mi-nistério pediu à OCDE (Organização paraa Cooperação e Desenvolvimento Eco-nómico).

“Naturalmente, pedimos os parecerespara que eles pudessem influenciar a de-

cisão que o ministério vai tomar”, afirmou,realçando que “os pareceres não são so-bre a estrutura da carreira, mas sim so-bre a avaliação de desempenho”.

“Provavelmente, teremos esses pare-ceres em finais de Maio, no caso do Con-selho Científico, e durante o mês de Ju-nho, no caso da OCDE”, adiantou.

No entanto, enquanto o ministério“continua a considerar que é necessáriouma responsabilidade individual pelo actode avaliação, responsabilidade do avali-ado e do avaliador”, a existência de umahierarquia na carreira e diferenciaçãoatravés de quotas, a FNE quer outro es-tatuto de carreira docente, “sem duas ca-tegorias hierarquizadas, sem quotas esem vagas”.

Depois desta reunião, a FNE disse irpôr ainda à consideração dos seus ór-gãos a participação no cordão humanomarcado pela Fenprof para amanhã (sá-bado, dia 7).

16 6 DE MARÇO DE 2009SAÚDE

MassanoCardoso

O frio intenso de um final de tardede Inverno, que gelava os ossos aoponto de sentir dores, não me impediude pensar que a minha “forma de pen-sar” era o fruto do “pensar de outros”,que revolucionaram o mundo ao des-locarem as nossas mundividências cápara baixo, para um plano mais terres-tre. Aguardava o momento de assistira uma conferência sobre Darwin.

Entrei numa pequena sala. Apósbreve conversa com a conferencista,historiadora e filósofa, uma amiga delonga data que já não via há algumtempo, sentei-me ao lado dos restan-tes seis ouvintes.

– Bom, vou falar de Darwin, ou me-lhor de Sir Darwin. Sir?! Penso quenão era Sir, os sobrinhos e neto é quechegaram a ser, mas ele não! Excla-mou, perscrutando o meu olhar, o queme obrigou, dada a informalidade emque nos encontrávamos a afirmar –Pois não! Nem podia ter sido. – Não?Porquê? – Então! As suas descober-tas e escritos foram de tal modo re-volucionários que abalaram a socie-dade. E queria que ainda lhe atribuís-sem o título de Sir!

Após esta informalidade, a estudio-sa fez a sua intervenção, finda a qualhouve um debate.

Concluiu-se que “há vários Dar-wins”, dependendo da esfera em quenos movimentamos e da forma comoutilizamos o seu pensar e escritos. Omundo do Fixismo foi abalado com asua teoria que designou de “Descen-dência com modificações por seleçãonatural”. É curioso o facto de nuncater utilizado a palavra evolução. Nãoquis ofender os seguidores do Fixis-mo e das teorias catastrofistas.

O seu percurso académico – fre-quentou medicina e teve formação teo-lógica –, aliado a leituras, dentro dasquais se destaca Malthus, que muitoprovavelmente terá desencadeado oclique do “struggle for life,” utilizadonas suas análises, à viagem no Bea-gle e a longuíssima reflexão antes dapublicação da obra, revelam que es-

Dois séculos apóso nascimento de Darwin

tamos perante um homem que é umverdadeiro “modelo de espírito cientí-fico”. Para Darwin o que contavaeram factos, factos, factos, argumen-tos, argumentos, argumentos e nadade especulação.

As suas preocupações, que já ti-nham sido alvo de atenção por partede mais de uma larga centena de in-vestigadores que o precederam, ma-terializaram-se numa forma nova dever e de estar no mundo. A sua visão,estudo e interpretação dos factos, pos-sibilitou o nascimento de uma nova ló-gica da vida, permitindo pensar que “omundo atual é apenas um dentre mui-tos outros possíveis ou mesmo a sua

não existência”.Darwin, ou melhor, a sua teoria,

continua a ser objeto de contestação,tal como há duzentos anos, agora nasvertentes modernas, apesar da evolu-ção da ciência – nascimento e desen-volvimento da genética e da biologiamolecular –, não a pôr em causa, an-tes pelo contrário. O seu pensamentoe filosofia transformaram-se em Zeit-geist, espírito do tempo ou espírito deépoca, que continua nos nossos dias.Nasceu no século XIX, passou peloséculo XX, entrou no século XXI e irácontinuar nos séculos seguintes. Nadado que veio depois pôs em causa aessência do pensamento darwiniano.

É lamentável que os detratores deum homem pacífico, burguês, inimigoda escravatura, chegassem a conotá--lo com os genocídios verificados du-rante a II Grande Guerra. Darwin nãoficaria nada satisfeito que invocassema “evolução” para justificar os crimes.Estamos perante aquilo a que se podechamar de “crime hermenêutico” aocolocarem “na boca de Darwin pala-vras que nunca disse”.

Quando saí da conferência, o ar es-tava ainda mais gelado do que quan-do entrei, mas o facto de pensar emDarwin e no que ele representa paraa Humanidade fez com que não sen-tisse dores nos ossos…

Charles Darwin e o seu famoso manuscrito sobre a origem das espécies

176 DE MARÇO DE 2009 SAÚDE

A deputada socialista Teresa Portu-gal anunciou que vai votar hoje (sexta-feira, dia 6 de Março) a favor dos pro-jectos da oposição que propõem a sus-pensão das taxas moderadoras, dizen-do fazê-lo “em nome da sua consciên-cia e do Serviço Nacional de Saúde”.

“Eu vou votar pela suspensão dastaxas moderadoras no contexto emque são colocadas: aplicadas ao inter-namento e à cirurgia”, afirmou Tere-sa Portugal, em declarações aos jor-nalistas no Parlamento.

Questionada sobre os motivos porque votará contra a orientação da suabancada, Teresa Portugal salientouque o faz “em nome do Serviço Naci-onal de Saúde, para honrar o dr. An-tónio Arnaut” e para “não ir contra asua consciência”.

Também a deputada independente,eleita nas listas do PS, Matilde SousaFranco, disse que deverá votar a fa-vor dos projectos do PSD e CDS quedefendem a suspensão das taxas mo-deradoras.

“As taxas nem são moderadorasnem vão financiar muito a saúde”, jus-tificou.

Já a deputada socialista Júlia Carédisse que irá votar a favor do projec-to do Bloco de Esquerda, estando ain-da a ponderar o sentido de voto no pro-jecto do CDS.

“Tenho dificuldade em compreen-der que haja taxas nos internamentose cirurgias porque são decisões quenão dependem do desejo do doente”,afirmou.

Depois de ter estado marcada para

HOJE NA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA

Teresa Portugal e Matilde Sousa Franco votama favor da suspensão das taxas moderadoras

19 de Fevereiro, a votação dos pro-jectos da oposição sobre taxas mode-radoras - isenção total de taxas mo-deradoras nas cirurgias de ambulató-rio (CDS-PP e PSD) e revogação dastaxas moderadoras (Bloco de Esquer-da e PCP) - ficou marcada para hoje(sexta-feira, dia 6).

Se Manuel Alegre e Eugénia Alhose juntarem a estes votos dissonantesna bancada do PS, a maioria absolutasocialista pode encurtar-se de 121para 116 deputados, num total de 230.

Idêntico cenário enfrentou a maio-ria do PS no mês passado em relaçãoa um projecto de lei do CDS-PP quepretendeu suspender o modelo de ava-liação dos professores.

Nessa altura, perante a possibilida-de de o diploma do CDS-PP passar, opresidente do Grupo Parlamentar doPS, Alberto Martins, admitiu abando-nar o cargo se isso acontecesse.

Também o Governo, sobretudo porvia do Ministro dos Assuntos Parla-mentares, Augusto Santos Silva, adi-antou que o Governo retiraria todasas consequências se a Assembleia daRepública deixasse de apoiar “uma dasreformas mais emblemáticas” do exe-cutivo.

Na última reunião da bancada doPS, a 19 de Fevereiro, o líder parla-mentar Alberto Martins admitiu a ne-cessidade de um “aprofundamento”na questão das taxas moderadoras,apesar de classificar os diplomas daoposição para a sua revogação comomedidas políticas para criar dificulda-des ao Governo.

Teresa Portugal (na imagem acima) assume uma posição corajosa e que demonstraindependência, ao assumir que votará contra o seu partido, o PS, no que respeita àstaxas moderadoras. Aliás, posição semelhante à assumida também por MatildeSousa Franco, com a diferença de que esta última é independente, enquanto queTeresa Portugal é uma destacada militante do PS desde há décadas

A revitalização das Termas do Luso,através da associação ao termalismode um centro médico, fisioterapia espa, arranca este mês e deverá estarconcluída em Outubro de 2010, dissefonte da sociedade proprietária.

“As obras arrancam este mês. Ocaderno de encargos foi segunda-fei-ra (dia 2 de Março) lançado e as em-presas consultadas têm agora dez diaspara se pronunciarem”, disse à agên-cia Lusa fonte da Sociedade Águasdo Luso (SAL).

A intervenção, orçada em três mi-lhões de euros, tem um prazo de im-plementação de 18 meses e decorreda criação de uma empresa detida em51 por cento pela Malo Clinic e 49 porcento pela SAL, que visa a explora-

INVESTIMENTO DE 3 MILHÕES DE EUROS PARA REVITALIZAÇÃO

Obras nas termas do Luso arrancam este mêsção e gestão do complexo termal, as-sociando os cuidados médicos e debem-estar ao termalismo.

Um estudo elaborado pela SAL paraa revitalização das Termas do Lusoconcluiu pelo potencial turístico docomplexo termal no segmento da saú-de e bem-estar, associado à localiza-ção estratégica no centro do país.

Apresentado publicamente em Mar-ço do ano passado, o projecto “vaialém do conceito tradicional de ter-mas”, disse, na altura, Nuno Pinto daMagalhães, assessor da administraçãoda Sociedade Águas do Luso.

Presente na sessão de apresentação,Alberto da Ponte, administrador daSAL, afirmou que a concessionária pre-tende “oferecer maior qualidade de

vida à comunidade do Luso” atravésda revitalização do destino históricoque aquelas termas representam.

Já Paulo Maló, presidente da MaloClinic, destacou o “conceito revolu-cionário” ao nível da gestão da saú-de, associando o termalismo a umcentro médico e spa.

Propriedade da Central de Cerve-

jas, a Sociedade da Água de Luso, se-deada naquela vila do concelho da Me-alhada, comemorou, em 2002, 150anos de existência e tem como activi-dade principal a exploração e engar-rafamento de água mineral natural,água de nascente e de consumo hu-mano e a exploração da actividadetermal através das Termas de Luso.

18 6 DE MARÇO DE 2009A PÁGINA DO MÁ[email protected]

Mário Martins

O discursode José Sócrates

CHEIRA A ELEIÇÕES

Uma pessoa sai à rua e não pode dei-xar de perceber que há qualquer coisade novo no ar.

É verdade, já cheira a eleições.Há quem, por motivos vários, não se

aperceba do odor.Alguns sofrerão de rinite e, assim, têm

o olfacto reduzido.Outros terão dificuldades de concen-

tração e, devido a isso, nem sequer pen-sam no assunto.

Mas é fácil perceber quando cheira aeleições. Há comportamentos novos.

Deixo aqui três “dicas” para os maisdesatentos.

1. Ver um político às compras, ao sá-bado à tarde, num hipermercado. (E seolhar com atenção, verá que o carrinhode compras está praticamente vazio).

2. Ver um político na missa de domin-go de manhã.

3. Ver um político (normalmente, nes-te caso, até são os “candidatos a políti-cos”) a escrever textos de opinião numjornal.

A partir de agora será mais fácil parasi, caro leitor, comprovar que as eleiçõesestão à porta.

(publicado em 3 de Março)

SERÁ AGORA, CÂMARA?

A Câmara Municipal de Coimbra apro-vou ontem a contracção de um emprés-timo de 12,5 milhões de euros, pagávelem 20 anos.

Será desta que os varredores vão co-meçar a limpar a rua onde moro?

(publicado em 3 de Março)

PESADELO LEONINO

Na quinta-feira de manhã, como éhabitual na casa do treinador do Spor-ting, a mulher de Paulo Bento disse--lhe:

- Acorda, Paulo, que já são 6.- O quê?... Ainda marcaram outro?

(publicado em 27 de Fevereiro)

SÓ... (MAS FELIZ)

Não tenho, nem nunca tive, conta noBPN. Nem no BPP.

Frequentei uma universidade que ain-da existe.

Nunca tive um “tacho”.Fiz 21 cadeiras na licenciatura e cin-

co no mestrado e tive 26 professores di-ferentes.

Fui funcionário público durante 13anos, depois de concurso público e na-cional.

Saí da Função Pública há 18 anos e

não mantenho qualquer lugar ou vínculo.O meu pai era contínuo e eu sou jor-

nalista.Tenho uma filha licenciada em Direi-

to e um filho a estudar Medicina.Nunca assinei um texto que eu pró-

prio não tivesse redigido.Nunca fui “boy”.Nem sequer nunca estive filiado em

qualquer partido.Comprei um apartamento que custou

o mesmo que custaram os dos meus vi-zinhos.

Nunca me candidatei a qualquer lu-gar político.

Só exerci, por eleição, “lugares de ser-viço” (associação de estudantes, sindi-catos dos professores e dos jornalistas,associação de jornalistas desportivos,estruturas do futebol, Academia Olímpi-ca, ACM, etc.), nos quais nunca recebiqualquer compensação monetária, nemsequer as famosas “senhas de presen-ça”. Na maioria deles, nem as despesasde deslocação.

Nunca meti uma “cunha”.Não tenho nenhum amigo que seja

membro de qualquer força policial, dasmagistraturas ou dirigente de partido po-lítico.

Nutro profundo desprezo por quemsobe na vida à custa do erário público,de “esquemas” e “negociatas”.

Evito relacionar-me com tais pes-soas, tentando mesmo não frequentarespaços públicos onde seja previsívelque as possa encontrar.

Sou contra a corrupção.Nunca paguei “luvas” ou “suplemen-

tos” de qualquer espécie, nem mesmoquando só se compravam automóveisnovos com “donativos” ao vendedor.

Ao fim de quase 35 anos como jorna-lista, não há ninguém com quem me te-nha relacionado profissionalmente quepossa dizer que me pagou qualquer coi-sa - nem um almoço, nem sequer umcafé.

Cumpro as leis, mas acredito que osvalores morais se sobrepõem à legisla-ção. E tento agir em conformidade.

Recuso o “chico-espertismo” e o “sal-ve-se quem puder”.

Não sou perfeito. Cometo erros - de-masiados, para o meu gosto.

E como digo repetidamente, «não nas-ci para ser simpático».

Talvez por isso tenha escrito este tex-to num domingo à tarde, quando poderiaestar calmamente num dos vários Car-navais da região. (Não, não gosto doCarnaval...)

Acredito que o futuro só será melhorse as vozes livres, descomprometidas, sefizerem ouvir.

Quando abro os jornais e vejo que - apropósito de tudo e de nada - Portugal éuma terra de “primos e primas”, em queas vidas pessoais, profissionais e políti-cas se entrelaçam num rendilhado demalha fina, finíssima, sinto-me um ho-mem só.

Felizmente.

(publicado em 22 de Fevereiro)

Fiz o sacrifício de assistir, na íntegra, ao discurso de José Sócrates na aberturado Congresso do Partido Socialista.

Foram 51 minutos que quase me apetece definir numa palavra: vazio. Mas háoutra que talvez se aplique melhor: demagogia.

A primeira parte da intervenção, cerca de um quarto de hora, foi o “discurso donada”.

Depois, retive algumas ideias.

José Sócrates falou da baixa do IMI e eu não a senti. Continuo a pagar umvalor que julgo exorbitante para viver num modesto apartamento numa das zonasmais humildes de Coimbra. Muitas centenas de euros que me levam a pensar,sempre que sou obrigado a pagá-las, que estou a ser alvo de autêntico roubo.

José Sócrates criticou a comunicação social (falou de «director de jornal» e de«estação de televisão»), mas eu não dispenso as informações da Imprensa epasso bem sem o discurso dos políticos. Aliás, ainda esta semana se ficou a saberque a credibilidade dos políticos políticos anda pelas ruas da amargura - só 1% dosportugueses acredita neles.

José Sócrates falou das Novas Oportunidades e lembrei-me da dona do quios-que onde compro jornais. Quando, depois de ter obtido a certificação do 9.º ano, atentei motivar para obter o 12.º ano, disse-me com convicção: «Não, não vou tirar.Não se aprende nada...».

José Sócrates falou do aumento dos salários dos Função Pública e eu só tenhovisto diminuir, ano após ano, o salário da minha mulher, que é funcionária pública.

José Sócrates falou da aposta na educação e eu sei bem o que isso é, com umfilho a estudar na Universidade em Lisboa. As propinas, a renda do quarto, asviagens, as refeições, os livros; cerca de 1.000 euros por mês. E qual é o apoio doEstado? Nada. Zero.

José Sócrates falou da reforma da Administração Pública e eu pensei logo nomeu familiar que continua à espera (há quase um ano!!!) que as Finanças enviemo cartão de contribuinte.

Ou seja, em resumo: José Sócrates falou de um país e eu vivo noutro, comple-tamente diferente.

Quanto pude ver, só houve um momento de entusiasmo durante o discurso:quando José Sócrates falou de nova maioria absoluta. Aí levantou-se quase todaa gente, braço no ar, a gritar «PS, PS, PS».

(Nessa altura, tive uma ideia: com a tecnologia hoje disponível, seria possível àstelevisões colocarem junto a cada rosto a profissão que desempenha, ficando-seassim a saber quais os que vivem das verbas do Estado - do nosso dinheiro colec-tivo, portanto - e quais os que não vivem. Seria esclarecedor, creio.)

Nos restantes 48 minutos da intervenção de José Sócrates, os (poucos) gran-des planos da RTP mostraram rostos desinteressados, tristes, desiludidos, semponta de entusiasmo visível.

Se a isso juntarmos o tom do discurso, uma mão-cheia de lugares-comuns,proclamados sem chama e sem emoção, tive a sensação de estar numa cerimóniacom algo de fúnebre - o “requiem” por esta maioria, quem sabe.

Nem mesmo o rosto de José Sócrates (que me pareceu cansado e sentir algu-mas dificuldades com o “teleponto”) conseguiu desfazer a ideia que, a pouco epouco, se foi formando no meu espírito.

Vão longe os tempos em que a Política era algo de empolgante em Portugal.

(publicado em 27 de Fevereiro)

JESUALDO VIU OUTRO JOGO

Não sei se Jesualdo Ferreira é bomou mau treinador.

Faltam-me conhecimentos para oavaliar.

Mas parece-me que não é grande coi-sa a gerir plantéis.

Na quarta-feira foi “aviado” com 4-1em Alvalade e hoje só não perdeu o jogoporque o árbitro viu algo que mais nin-guém viu - nem conseguirá ver.

Do que não tenho dúvidas é que Je-sualdo Ferreira é péssimo a analisar umjogo de futebol.

Afirmar, depois do FC Porto-Benfi-ca de hoje, que os “azuis” foram muitosuperiores e mereciam vencer o desa-fio é um conclusão só ao alcance dequem... viu outro jogo, bem diferentedaquele que eu vi.

PS 1 - Continuo a afirmar que amaioria dos actuais árbitros da Super-liga são maus árbitros.

PS 2 - É por estas e por outras quedecidi não gastar nem mais um cêntimocom o futebol que temos. Ah... e depoisdo folhetim do “goal-average” na TaçaCarlsberg passei a beber Sagres...

(publicado em 8 de Fevereiro)

196 DE MARÇO DE 2009 MÚSICA

Distorções

José Miguel [email protected]

O cantor José Cid vai estar emCoimbra no dia 7 de Março (sábado)para homenagear a tradição académi-ca na III Gala dos Antigos Estudan-tes da Universidade de Coimbra (UC).O espectáculo terá lugar às 21 horasno Teatro Académico de Gil Vicente(TAGV).

Depois de em 2008 ter esgotado porcompleto a lotação do TAGV, a galavolta a reunir um elenco de luxo. Paraalém de José Cid, actuará um dos mai-ores nomes da canção de Coimbra,Luiz Goes; mas também o guitarristaPaulo Soares e Bruno Aleixo (do“Programa do Aleixo”, da Sic Radi-cal). Em palco estarão ainda actuaise antigos elementos da Orxestra Pi-tagórica, associações de antigos es-tudantes da UC de todo o país e alu-nos do Jardim Escola João de Deus.A apresentação estará a cargo de Fá-tima Araújo, da RTP.

O guarda-redes da Académica--OAF Pedro Roma e a Real Repúbli-ca dos Lysos são os homenageadosdesta III Gala dos Antigos Estudan-

SÁBADO (DIA 7 DE MARÇO) NO TAGV

José Cid e Luiz Goesna III Gala dos AntigosEstudantes de Coimbra

tes da Universidade de Coimbra.Pedo Roma é considerado como um

dos atletas mais emblemáticos da Aca-démica, clube em que viveu os mo-mentos mais altos da sua carreira. Li-cenciado em Educação Física pelaUniversidade de Coimbra, é actual-mente guarda-redes e capitão da equi-pa de futebol principal da Académica.

A Real República dos Lysos, queeste ano comemora meio século deexistência, foi formada em 1959 por 13estudantes (entre os quais AugustoCarmona da Mota e Jorge Anjinho),que na impossibilidade de então termi-narem os seus cursos na Universidadede Coimbra resolveram criar no Portouma “República” à imagem das exis-tentes na “Cidade dos Estudantes”.

Esta III Gala dos Antigos Estudan-tes da UC, que tem como tema “Co-imbra, ainda és capital?”, é organiza-da pela Rede de Antigos Estudantesda UC (que conta já com cerca de 15mil membros) e conta com a parceriada Empresa Municipal “Turismo deCoimbra”.

Por fim, acabamos hoje de destacar oque de melhor se fez em 2008, em pri-meiro lugar vamos eleger o melhor dis-co nacional de 2008. A dúvida recaíaentre “Are You Ready For The Bal-ckout?” dos X-Wife e “Black Dia-mond” dos Buraka Som Sistema, masa opção acaba por recair no segundo,tendo em conta o excelente trabalho quea banda tem feito além fronteiras, sobre-tudo nos Estados Unidos, Inglaterra e naEuropa Central.

No que toca ao melhor disco inter-nacional de 2008, há seis discos quepoderiam aspirar a ganhar esse galar-dão, nomeadamente: “In Ghost Co-lours” dos Cut Copy, “Vampire We-ekend” dos Vampire Weekend, “OnlyBy The Night” dos Kings Of Leon,“Beautiful Future” dos Primal Scre-am, “Saturdays = Youth” dos M83, oumesmo “Midnight Boom” dos TheKills. Mas dado que os Cut Copy são,

no momento, a minha banda deeleição, a decisão recai no seu úl-timo registo de originais, “InGhost Colours”.

Já no campo dos discos revela-ção de 2008, no que toca ao dis-co revelação internacional aminha escolha recai em “RealityCheck” dos The Teenagers, aopasso, que o disco revelação na-cional vai para “E.Seni.A” deSensi MC.

Já o cartaz do Festival Opti-mus Alive foi para mim o me-lhor Festival de 2008, festival duran-te o qual assisti a um dos grandes con-

certos do ano passado, dos RageAgainst The Machine, que em nada

fica atrás das duas magníficas ac-tuações a que assisti dos CutCopy, quer no Festival do Sudoes-te, quer no Clubbing. Fácil seriaeleger o concerto de 2008 ao qualmais me custou não assistir e aí aactuação dos Sigur Rós no Cam-po Pequeno em Novembro passa-do seria indubitavelmente o eleito.

Por fim, gostaria de destacar odesaparecimento de um dos maio-res e mais criativos vultos da mú-sica portuguesa, João Aguardela(e cujo falecimento, no passado dia

18 de Janeiro, foi noticiado na anterioredição do “Centro”).

João Aguardela

O Centro de Artes e Espectáculos(CAE) da Figueira da Foz apresenta,no próximo dia 13 de Março, pelas21h30, um espectáculo com o grupode fados de Coimbra FADVOCAL, noâmbito do Café Concerto do CAE, ecom entrada gratuita.

O FADVOCAL faz parte da Asso-ciação cultural, sem fins lucrativos,denominada ADVOCAL – Associa-ção Artística do Distrito Judicial de

“FADVOCAL”dá espectáculona Figueira da Foz

Coimbra (daqual tambémfaz parte oA D V O C A L ,Coro Misto deAdvogados doConselho Dis-trital de Coim-bra da Ordemdos Advoga-dos) – sendoc o m p o s t om a i o r i t a r i a -mente por Ad-vogados ins-critos no Con-selho Distritalde Coimbra daOrdem dos

Advogados. O FADVOCAL teve asua primeira apresentação pública nodia 30 de Abril de 2005, no Palácio deS. Marcos, na 6ª Reunião do Curso Ju-rídico de 1970/75. O seu repertório éconstituído exclusivamente por Guitar-radas, Fados e Canções de Coimbra.

Este é o terceiro espectáculo donovo conceito de Café Concerto doCAE, este trimestre dedicado aoFado.

20 6 DE MARÇO DE 2009CRÓNICA

* Docente do ensino superior

AO CORRER DA PENA...

Maria Pinto*[email protected]

Vagueava pelo escritório. Como sempre,afundada em livros. Eram eles, sem dúvida,um dos seus grandes amores, a sua fontede liberdade, de evasão, de aventura.

Sentou-se numa pequena poltrona, oseu ninho das horas de leitura e fitou ummaravilhoso livro, recentemente adquiri-do. “Mulheres que lêem são perigosas”.A capa inundada por um rosto sedutor demulher que desafia o mundo, que já seencontrou, que percebeu que a normali-dade não existe.

Essa mulher levou Matilde, por momen-tos, às estórias de sua avó Elvira, que hátantos, tantos anos tecera longos bordadospor entre páginas soltas e gastara os seuslindos olhos lendo. Lendo muito. Apesardas incessantes repreensões do seu médi-co particular que lhe dizia “leve uma vidanormal, Dona Elvira, descanse o cérebro.Desfrute dos prazeres do lar, dos filhos edo marido que tanto a amam. Ah! E sobre-tudo não leia”…”

Querida Matilde, contava a avó, nessaaltura quase entrei em agonia mental. Já nãosuportava o meu destino passivo de esposa.Queria ser escritora, talvez até actriz. Ter omeu próprio mundo. Desejava ser, Matilde,desejava tanto ser!

No rosto de Matilde caíram duas gros-sas lágrimas, aquelas que enxugara nos lin-dos olhos de sua avó tantos anos antes. Aavó Elvira tinha, entretanto, partido, levan-do consigo o muito que aprendera nos li-vros. Mas a sociedade de então encerra-ra-a, presenteara-a com a clausura, comoacontecera a tantas outras mulheres.Quanto ao sonho de se tornar actriz, vi-veu-o no palco da vida, imaginando outrasvidas, outros amores, grandes viagens. Avida no palco fora-lhe vedada. Elvira invi-sível. Eterna fugitiva do excesso e da ri-queza. Com garras de aço, vontade enor-me de ser, de crescer, de viver a plenitude.Mulher de sonhos, mas de uma ardentesolidão. A solidão do silêncio.

Querida avó, são tantas as saudades! Sin-to tanto a falta de tu. Era assim que te diziaem pequenina, lembras-te?

Matilde olhou em volta. Largas dezenasde livros. Um aluvião de material sobremulheres, seu objecto preferencial de estu-do. Longas histórias de outras vidas, de tra-jectos outros. A necessidade de encontraruma espécie de mapa, de caminho que aaliviasse de tanto vazio.

Dirigiu-se ao quarto que recentementeremodelara para conseguir simplesmente…dormir. Deitada de costas, Matilde pensavano mundo, na vida, no seu carácter cadavez mais acidental, mais caótico, mais au-sente de paliativos. Num mundo, numa vidaem que nada é para sempre. “Lembra-tedisto, minha adorada neta! No teu tempo os

O Importante é Voar...

casamentos já não serão para sempre, jánão haverá ideologias nem religiões que or-denem convictamente os teus dias. Encon-tra-te com a liberdade, Matilde. Sei que vaiser tudo muito difícil para ti, minha filha.Para ti, meu tesouro. Porque és mesmoum tesouro. Mas não desesperes, pois oteu dia chegará se souberes esperar… oinesperado”.

De facto, Matilde tinha tudo para triun-far. Era talentosa e de uma sensibilidade rara.A vida fizera dela uma mulher corajosa elivre. Falavam-lhe com frequência da suabeleza. No entanto, estes dons, aparente-mente decisivos para quem caminha parabons momentos de felicidade, não a prote-geram. Matilde estava cada vez mais con-victa, à medida que os anos se desfiavam,que tinha nascido em tempo e lugar erra-dos, num mundo onde os seres humanos sedevastam e destroem em nome de egoís-mos mórbidos.

Viajando pelos amores, sabia ter usufru-ído dos melhores e dos piores momentos.Por ser Matilde. Por ser corajosa e livre.Talvez por ser mulher. Neste flash-backdoloroso, percebeu que em tempos tinhaencontrado O AMOR, aquele que se diz queé para sempre.

Mas a vida é com frequência cruel e nãohá vontade humana que, ainda que podero-sa, seja capaz de resistir “aos desígnios doacaso” Do ocaso. Do inevitável ocaso.

Com o tempo, Matilde e João foram-seafastando, deixando de ser dois corpos comuma só cabeça. Foram-se destruindo mutu-amente pela certeza esmagadora da impos-sibilidade. Pelo mar que não podiam nave-gar. Pelo que não poderiam viver. Pela sau-dade de um futuro que nunca chegaria.

Matilde encolheu-se no leito. Enroscou-se em posição fetal. Gritou por dentro pelasua avó. Naquela solidão tantas vezes ape-tecida, mas agora de uma crueza indizível.

Matilde, plena de amor, mas amputada.Desorientada. Descrente. Desesperandopelo inesperado. Lembrando poemas sol-tos, intensos, imensos. Imarcescíveis. Asvalsas... a sua beleza. A beleza da arte quefica para sempre.

Os passeios à beira-mar, a areia que seescoa por entre os dedos formando pontosde interrogação. A pedra em forma de con-cha, promissora, selando beijos sentidos, semfim. Com um fim iminente...

Matilde chorava agora. Convulsivamen-te. Sabendo que merecia tudo de bom. De-sejando ardentemente ter asas. Lembrandoas palavras intuitivas de sua avó... ”sei quevai ser tudo bem difícil para ti... porque ésum tesouro”...

O mar, as letras formando palavras sol-tas, amo-te, Matilde, és a minha vida, és tuquem eu respiro, gosto tudo de ti... em ti...teu colo, teu colo, eternamente teu colo...

O cenário era agora bem outro. Deze-nas de mulheres saíam dos livros de Matil-de. Mulheres de todas as cores. “Brancascomo o açúcar, amarelas como o sol, pretascomo as estradas, vermelhas como as fo-gueiras, castanhas da cor do chocolate”. Oaroma, a cor e o calor que delas emanavaenchiam o mundo.

Vinham em magotes em busca de vidascom a dignidade a que tinham direito. Oambiente tornara-se magnetizante. Todaselas, com gestos e gritos de socorro, cha-mavam Matilde, traziam-na para a sua luta.Em protesto contra a sua sorte e contra to-das as formas de arbitrariedade. Matildeuniu-as numa espécie de roda gigante e in-tegrou-se na defesa da sua causa.

Talisma e suas meninas haviam sido es-pancadas e violadas na guerra. A violaçãotornara-se uma arma poderosa e o corpodas mulheres fazia parte do saque. Iang, amulher-sol, tinha sido humilhada e obrigada

a divorciar-se por não ter dado à luz um ra-paz. A sua menina-bebé... tinha desapare-cido. Matimba, doce como o chocolate, ha-via sido vítima de mutilação sexual. Por serdoce. Por ser mulher. Elvira...

Matilde acordou subitamente com o somdo telemóvel. Alguém do outro lado lhe di-zia “não vem hoje ao trabalho? Aconteceualguma coisa? Sabe, ficámos preocupa-dos”... Matilde respondeu de forma evasi-va, pouco interessada. Alheada até.

Em seguida, regressou à sua poltrona,estirou-se, espreguiçou-se. Como há muitotempo não fazia. Determinada, entendeu quechegara o momento do inesperado. Daque-le inesperado tão ansiado de que há tantosanos lhe falara Elvira. A sua avó.

Pegou numa pequena mala e encheu-ade poucas roupas e de vários livros. Dospoemas: Da pedra em forma de concha. Epartiu. Partiu, deixando as mesmas pessoasagarradas às mesmas tarefas inodoras eincolores do quotidiano. Sempre agarradasàs folhas em branco. Produzindo brancasfolhas. Matilde sentia-se tranquila, sabendoque dentro em breve iria fazer grandes ro-das de solidariedade com mulheres de to-das as cores, sulcando novos caminhos, no-vas formas de carinho.

Porque é necessário lutar e porque é pos-sível vencer, este pequeno texto é dedicadoa todas aquelas e a todos aqueles que lutamobstinadamente contra a injustiça. A todasas “gaivotas” que sentem um desejo inadiá-vel de voar...

“...Tu tens a liberdade de serestu próprio.

O teu verdadeiro eu.Aqui e agora:

Nada se pode interporno teu caminho”.

“Après le bal”, de Ramon Casas y Carbo (1895)

216 DE MARÇO DE 2009 OPINIÃO

Renato Ávila

POIS...POIS...POIS...POIS...POIS...

Joséd’Encarnação

João PauloSimões

FILATELICAMENTE

Os apagões

Certamente também recebeu e-mail de indignação sobre otema. Experimente, então, ir ao google e busque “aviso nº11 466/2008”, documento dado como publicado na 2ª Série doDiário da República nº 255 (6-11-2008). E pasmará com aquantidade de bem sugestivas exclamações e frases adjecti-vais (mais de 50!...) a que vai ter acesso: «genuinamente lusi-tano», «vota outra vez», «socialismo de plástico», «não eraque às vezes não me tivesse já parecido», «não calarei a mi-nha voz até que o teclado se rompa», «olhar à esquerda»,«coisas da tia: por estas e por outras é que existem coveiroscultos e assessores…»…

Tudo isso porque ali se daria conta da abertura de concursopara um cargo de «assessor» em organismo do Estado e o«método de selecção a utilizar» seria prova pública que apenasconsistiria «na apreciação e discussão do currículo profissionaldo candidato». Em contrapartida, outro anúncio, da Câmara deLisboa, para lugar de coveiro, exigiria «prova de conhecimen-tos globais de natureza teórica e escrita com a duração de 90minutos», sobre deontologia profissional, exumações, traslada-ções, ossários, jazigos, columbários ou cendrários…

Experimente o leitor a procurar esse Diário da Repúbli-ca. Verificará que o desse dia (II série) tem o nº 216. E tam-bém ficará a saber que um aviso com esse número realmenteexiste: só que foi publicado no DR de 14 de Abril de 2008 (p.16 946) e refere-se… à nomeação definitiva de uma docenteda Universidade da Madeira!...

Estranho congresso este que, no últimofim de semana, em Espinho, mobilizou a aten-ção dos portugueses.

Não propriamente pelo apagão o qual, porinsondáveis desígnios e sem qualquer alter-nativa, fez calar a boca de muita gente apos-tada em discursar, mas pelos apagões quese evidenciaram nas mentes dos congres-sistas, especialmente dos dirigentes, e, so-bretudo, no espírito democrático que sem-pre foi apanágio do PS.

Salvo duas ou três excepções, todas asintervenções ter-se-ão pautado por rasga-do panegírico ao “chefe”, algumas vezesroçando as raias da subserviência.

Este, o primeiro apagão – o dos delega-dos eleitos pelos vinte e sete milhares demilitantes. Faltou-lhes a isenção de espíritoe a coragem de, também, dizer o que vaimal na governação. Na justiça, na educa-ção, na saúde, na segurança… Nem umavoz se ouviria a lembrar as angústias e ascarências do meio milhão de desemprega-dos. Nem uma voz se soltaria a condenaras promíscuas negociatas que vêm empes-tando as relações entre o estado e certasfranjas do sector financeiro. Nem uma vozousaria denunciar as prepotências de altos

funcionários, quadros do partido, a causa-rem perplexidades, a revolta, disfunções quesó inquinam, atrasam e emperram a refor-ma da administração.

A consciência crítica e solidária que ca-racteriza um socialista de esquerda, isto é,um não acomodado, parece ter-se esbati-do. Apagado. É, não só o partido, mas opaís que ficam mais pobres. País que, civi-camente, parece condenado a regressar àstrevas de má memória.

O segundo apagão deve ter acontecidona zelosa mente da organização do congres-so. No aparelho. Um curto circuito nos neu-rónios que coordenam o conceito dessemagno conclave, o momento por excelên-cia do debate e da confrontação de ideias ede projectos, o momento do enriquecimentoideológico, transformou-o numa sessão so-lene de consagração do “líder”. Toda a en-cenação, ao milímetro e ao segundo, teriade pôr em evidência máxima o “vencedor”,o “sabedor”, “o condutor”, o “messias”.Tudo se apagou perante o “chefe”. Apa-gou-se o partido. Até a luz da sala!

O terceiro apagão há muito que aconte-ceu no espírito de Sócrates. Um complexoapagão de memória, de clareza de princípi-os e de projectos, de alguns lapsos de cultu-ra democrática. De um especial respeitopelos cidadãos.

Só assim se compreende que, embora

com alguma razão, abuse do disco da “cam-panha negra” para anatemizar a comunica-ção social e denegrir o ministério dos seusprofissionais. É com preocupação que co-meçamos a divisar nesse comportamentoalgumas sombras duma espécie de totalita-rismo e de domesticação da liberdade deinformar. A intervenção corrosiva e sectá-ria, acintosa e ignóbil de alguns órgãos doaudiovisual e da escrita, em parte devido àfalta de clareza, de transparência do socra-tiano percurso cívico e político, não podeconstituir móbil para um ataque tão dema-gógico. Os jornalistas, tal como os magis-trados, os médicos, os professores, os mili-tares… parecem também apresentadoscomo corporação, como alvo a abater.

Só assim se entende a peregrina preocu-pação de trazer a “decência” para a políti-ca, para o estado. Como se a “decência”fosse algo que possuísse em abundância.Deveria começar precisamente por testartal virtude nos diversos órgãos e patamaresdo no seu governo, de algumas esferas dopartido que o sustenta e noutras em que aconcomitância e a promiscuidade não rarotransparecem.

O quarto apagão virá com a campanhaeleitoral. O mote foi dado no congresso.

Sócrates sabe bem que não tem alterna-tiva credível que se lhe oponha. Num mo-mento de crise em que os receios se avolu-

mam, os votos do medo e da carência deconvicções cívicas e políticas vir-lhe-ão teràs mãos. Convém-lhe, por isso, apregoar queé o povo quem mais ordena. No entanto, jálhe vai fazendo a cama ao consignar o ca-samento dos homossexuais, a eutanásia, enão só, no programa que o mesmo povo sesentirá compelido a votar.

O povo é quem, de facto, mais ordenará.Mas só aquilo que Sócrates quiser.

Mão de mestre!E o apagão, qual eléctrica e paralisante

endemia, saído do pavilhão de Espinho, iráentrando na mente de muitos portugueses,os mais desprotegidos, os mais aflitos, osmenos informados, e fará desta ilustre casalusitana um lúgubre e desconfortável lugaronde pensar será de doidos e onde falar tre-sandará a sacrilégio.

O quinto e último apagão será o da con-veniência. Neste deserto de ideias e de pro-jectos consequentes, de desencontrada vo-zearia, agiganta-se de novo o monolitismodo PS como única força capaz de enfrentara crise.

Na hora da verdade, um profundo im-perativo levar-nos-á a desligar as luzesdas nossas convicções e a fazer sumirna secreta escuridão da urna o voto dautilidade.

Sócrates será, de facto, o maior!Triste fado, o da nossa democracia!

A personalidade de Gil Vicente suscita ainda algu-mas dúvidas. Isto porque há um ourives tambémchamado Gil Vicente, cuja vida está documentadaaté 1517, autor da custódia de Belém (obra-prima daourivesaria portuguesa quinhentista) que realizou im-portantes trabalhos para a corte. O principal argu-mento a favor da identificação do poeta com o ouri-ves é um apontamento que alguém escreveu no sé-culo XVI à margem de um documento nomeandoaquele ourives Mestre da Balança da Casa da Moe-da de Lisboa. Diz o apontamernto: Gil Vicente, tro-vador, Mestre da Balança.

O que se sabe de Gil Vicente, pode reduzir-se aoseguinte: nasceu à roda de 1465, encenou a sua pri-meira peça em 1502, foi colaborador do Cancionei-ro Geral de Garcia de Resende. Desempenhou nacorte a importante função de organizar as festas pa-lacianas, como por exemplo, da recepção em Lisboaà terceira mulher de D. Manuel.

Publicou Gil Vicente ainda em vida, alguns dosseus autos, em folhetos de cordel que depois foramreeditados. Destas edições, algumas foram proibidaspela Inquisição. Eis os títulos de algumas das obrasvicentinas: o Auto da Barca do Inferno, a Farsade Inês Pereira, e D. Duardos e o Pranto da Ma-ria Parda.

Estes autos tinham por objectivo satirizar a socie-dade da época. Para além do teatro, Gil Vicente foi

1937– 4º Centenárioda Mortede Gil Vicente

também um grande poeta. A sua obra é vasta e seriaimpossível relatá-la toda aqui.

(Parte deste texto foi baseado na História da Literatu-ra Portuguesa, 12ª edição da Porto Editora de 1982).

Pensa-se que o poeta faleceu em fins de 1536,pouco se sabendo da sua biografia.

Relativamente à Filatelia, foi celebrado nesta emis-são de dois selos: de $40, castanho escuro; e 1$00,carmim. Foram desenhados por Raquel Roque Ga-meiro Ottolini com gravura de Arnaldo Fragoso. Im-pressos na Casa da Moeda em folhas de 100 selos,em papel de porcelana denteado 11 ½, circularam de29 de Julho de 1937 até 30 de Setembro de 1945.

22 6 DE MARÇO DE 2009OPINIÃO

J.A. Alves Ambrósio

OPINIÃO Angola em Saragoça (VII)

Ao situar-se num espaço próprio que eraa zona dos países europeus (salvo erro oque lhe ficava contíguo era o da Suécia ePortugal e a Alemanha não se encontravamlonge), em vez de incluída no espaço dospaíses africanos e Brasil, quer este espaçopróprio tenha sido opção deliberada, arranjodiplomático ou mero acaso (hipótese estaque não parece nada fácil de aceitar), An-gola afirmou situar-se num mundo de de-senvolvimento e absoluta confiança no fu-turo. Mais. Enquanto, v.g., os pavilhões por-tuguês e alemão se situavam ao nível dosolo, Angola situava-se no primeiro andar.Perfeito!

Do mundo que, oficialmente, se ex-prime em português, Guiné-Bissau, S.Tomé e Príncipe e Timor não estavampresentes em Saragoça; e Cabo Verdee Moçambique tinham as suas explica-ções noutros idiomas, do Francês aoInglês (o Brasil estava em Português,claro). Com a naturalidade de quem res-pira, Angola exprimia-se em Português;e eu não me cansarei de ver no opti-mismo sem mácula e naquela espontâ-nea alegria e contagiante certeza nofuturo, por parte de quem nos recebia –me recebia – uma herança nossa, lusa.Dos abomináveis traços do colonialis-mo já falei – vivi no meio deles. Mastambém não esqueço – melhor: é umaemoção que sempre preservarei – ou-tros aspectos. Quais? É muito meu emo-cionar-me com a Arte, donde mencio-nar, tão--só, alguns exemplos: o altar-mor em mármore e embutidos polícro-mos da capela-mor do templo que per-tenceu aos jesuítas de Luanda, do sé-

culo XVII ou XVIII; as igrejas de N. S.da Nazaré e N. S. do Cabo em Luanda(na ilha, esta); a frontaria da igreja e docolégio que foram, também, dos jesuí-tas; o Hospital Maria Pia; alfaias religio-sas; etc. etc.

Não menos emocionante que este patri-mónio material-espiritual é, para mim, a lín-gua. Por pressão do Brasil avançou-se paraa constituição da CPLP. Sucede é que arealidade linguística do Brasil está enforma-da por uma servidão que lhe ficou na identi-dade. Qual? A de centenas de milhares deportugueses analfabetos que o colonizaram.Depois, concluiu-se que, afinal, o idioma éum PIB; e que, hoje, o Português é 17% doPIB mundial. O espírito e a cultura deviamestar à frente da economia (por a economianão ser tratada como espírito é que esta-mos no momento em que estamos), mas,por um pérfido pragmatismo, antepôs-se aeconomia ao espírito.

Como Angola contém em si potenciali-dades para um protagonismo a nível mundi-al – e como, de resto, está no bom caminhono que toca à preocupação com a afirma-ção do Português intra-muros – deve avan-çar, logo ao nível do Liceu, com o ensino doGrego e do Latim e, depois, na Universida-de, constituir um emérito corpo de classicis-tas. Estou absolutamente certo que, casoassim o decida, de Américo Ramalho aRocha Pereira (ordem alfabética), v.g., es-tes nossos queridos e insignes académicossentir-se-ão muito honrados em colaborar.Estou a dizê-lo transbordante de convicção:um dos nomes maiores da sabedoria africa-na do transacto século foi precisamenteSenghor.

É também emocionante para mim queeste humanista, ao afirmar que «Ouço no

mais íntimo de mim o canto sombrio dassaudades. Será a voz antiga, a gota de san-gue português que ascende do fundo dostempos? O meu nome que remonta às suasfontes [Senghor de Senhor]?(...», ao afir-mar, dizia, a sua ancestralidade portuguesapossa ser uma imarcescível referência paraas autoridades da minha querida Angola. Re-corde-se que Senghor nasceu numa locali-dade chamada Joal-La-Portugaise e queintegrou a Academia francesa. Seria per-feitamente ocioso recordar que os laçosentre Portugal e Angola são também – mul-ti-secularmente – de sangue. Mais. O ma-gistério do Latim e do Grego em Eton é umadas mais absolutas causas da afirmação bri-tânica.

O governo angolano terá, outrossim, aclarividência e a ousadia de proclamar, ci-tando Ondjaki, que «é preciso tirar as pala-vras do dicionário». Esta asserção do poetavibrou tão profundamente em mim que, logo

que possível, emocionado, procurarei Ond-jaki para o abraçar. O altaneiro espírito nãoé entendido por muitos – mas nem há outrocaminho, nem a Angola será difícil segui-lo.... A clarividência e a ousadia, visto que nãoignorará que, ainda no tempo de Diogo Cão,o rei do Congo se convertera ao Cristianis-mo e que as relações com o Congo foramestreitas, absolutamente amistosas e privi-legiadas.

Ora, pelo que agora nos toca, Angoladeve, igualmente, ter presente que para acarta que, em 1526, Dom Afonso dirigiu aD. João III, pedindo-lhe «bons mestres degramática» para elucidar os súbditos emquestões de fé, o soberano congolês estevetrês anos à espera de resposta. O D. JoãoIII que enviou humanistas para o estrangei-ro em cujo reinado se fundou o Colégio dasArtes, em Coimbra, é, aqui, o anti-exemplo.Por um lado ocorre perguntar se, neste pre-ciso momento, Portugal está com horizon-tes, visão suficiente para ajudar Angola –porque em S. Tomé e Príncipe não estámesmo –, por outro afirmar que a socieda-de civil portuguesa, a começar pelos letra-dos, não pode ignorar esta questão. Pesso-almente ajudarei Angola, logo que me sejapossível, com todas as minhas forças.

A pecha portuguesa de não dar à culturao que lhe é estritamente devido tem quesuperar-se; e quando acima falei da acçãodos classicistas urge dizer que a consciên-cia da importância da filologia, da diacroniada filologia, da semântica, da ortoépia e daprosódia, isso é premente obrigação.

Assim Angola se imporá com um prestí-gio ímpar, fomentando o Saber, o Humanis-mo e, ipso facto, estabelecendo os alicer-ces de um imponente edifício. Imaginar,ambicionar, visualizar o futuro.

Rui Namorado(professor universitário)

http://ograndezoo.blogspot.com

Um dos coelhos lançado como le-bre, para fazer correr a Dama de Cin-za, é um exemplar liberal ainda jovem.

Como acontece nas corridas a sério,uma vez ou outra, a lebre entusiasma-se e ganha , ou tenta ganhar, a corrida.

Talvez por isso, o dito coelho vaiaflorando na comunicação social composes cada vez mais graves. É certoque amarrado a uma cartilha, que osúltimos meses envelheceram cemanos, o dito coelho diz por vezes umascoisas, sobre o que diz pensar quedeve ser o país, que parecem tiradasde um filme dos irmãos marx. Mas,justiça lhe seja feita: di-las semprecom ar grave e com uma voz ponde-rada que parece vir directamente deum cérebro atento, diligente e arguto.

O povo olha desconfiado, nem sa-bendo, por vezes, se há-de rir se há--de chorar. Se há-de rir com o humorneoliberal do desfasamento completocom a realidade, se há-de chorar coma angústia ainda que remota de verum tão fogoso coelho destroçar o paíse arruinar-lhes as vidas já tão difíceis.

Angustiado com o que ele pensa sera distracção popular, o azougado coe-lho resolveu respirar um pouco de cul-tura, sorver uns bons tragos de filoso-fia, adornar-se com a patine dos anos60. E se bem o pensou , melhor o fez.Na primeira oportunidade mediática,reuniu algumas frases que lhe pare-ceram inteligentes, salteou-as com al-guns nomes de escritores e com algu-mas discretas alusões a livros, e re-velou-se denso, profundo, complexo.E inebriado pelo perfume chique des-sa suave cultura, resolveu dar o reto-que final, pôr a marca indelével dopatamar da exigência. Na modestaarca do seus filósofos preferidos, bus-

Coelho: à procura do livro perdidocou o que lhe pareceu mais adequadoa um fim de tarde mundano num caféde Paris: Sartre. Sartre, com o seuperfume ousado de um existencialis-mo que a direita pode usar como umretoque de modernidade e ainda porcima com a vantagem de já não estarentre os vivos. E na vertigem da náu-sea sartriana, o jovem coelho feito le-bre inventou para Sartre uma nova

O XVI Congresso do PS foi mediaticamente distorcido, por um lado, talvezcomo resultado do aproveitamento pretendido pela direcção do partido paraefeitos de propaganda, por outro lado, talvez em virtude da miopia política deuma grande parte dos jornalistas, com base em cujas notícias, muitos dos cha-mados fazedores de opinião teceram comentários de uma superficialidade pró-xima do ridículo.

Na verdade, os documentos políticos discutidos e as intervenções feitas nassuas diversas sessões, foram quase totalmente ignorados, perante as duas mo-mentosas questões que afligiam os meios de comunicação social até ao paroxis-mo: Manuel Alegre vai ou não vai ao Congresso? Quem vai ser o cabeça delista do PS para a as eleições europeias?

obra: “Fenomenologia do Ser”.Espantado, o velho Sartre teve um

arrepio na alma e enviou o seu espec-tro ao mundo dos vivos para conhe-cer tão inesperada figura. De regres-so, o espectro sossegou a alma ator-mentada do filósofo.

“Não tem inportância. É só um can-didato a líder do PSD! É como aquelahistória dos violinos e dos tomases”.

O Congresso do PS

236 DE MARÇO DE 2009 CINEMA

Pedro Nora

c i n e m ac i n e m ac i n e m ac i n e m ac i n e m a

Num dos meus mais recentes momen-tos de devaneio, dei por mim a traduzirliteralmente títulos originais de filmes.Dos clássicos infindas vezes elencadosem topes de “Filmes que não pode dei-xar de ver antes de morrer, pintar o ca-belo ou subscrever o canal Benfica”, aosilustres desconhecidos, passando porpelículas de qualidade duvidosa distribu-ídas à laia de brinde, quais palas de solpara o carro, é comum encontrar autên-ticas pérolas. Mais: apercebi-me que seexistem títulos que ao serem traduzidospara Português perdem toda e qualquersemelhança com o original, outros há emque se a tradução fosse literal estavagarantido o fiasco da respectiva obra.

Quem perderia um segundo que fos-se do seu precioso tempo para ir ver “OSilêncio dos Cordeiros” (The Silence ofthe Lambs)? Sim, aquele com a JodieFoster que ganhou Óscares e tudo…Porque se é verdade que o nível de piro-sice e foleirice da capa de um disco éinversamente proporcional ao número de

A comichão dos sete anosPor Filipa do [email protected]

exemplares vendidos, também háum algoritmo qualquer que relacio-na a absurdez do título de um filmecom a sua probabilidade de se tor-nar um êxito (se não há, já alguémdevia ter pensado nisso). Porexemplo, qualquer pessoa que sai-ba dizer o seu nome e idade em in-glês sabe que “Crepúsculo dos Deu-ses” não é a tradução literal deSunset Boulevard, mas soa bemmelhor que “Bulevar do Pôr-do-Sol” (parece nome de bar de alter-ne). O filme até está engraçado,conta com uma dupla de verdadei-ras estrelas (Gloria Swanson e Wi-lliam Holden) mas com um nomeassim não ia longe.

Depois temos as traduções ab-surdas, aquelas que me deixamcom a sensação de que se trata deum filme completamente diferentedo original. Um dos meus clássi-cos favoritos é It’s a WonderfulLife de Frank Capra. Foi com ummisto de incredulidade e horror que des-

relação? Junte-se ao clube. OuGroundhog Day chamar-se “OFeitiço do Tempo”, The WholeNine Yards ser “Falsas Aparên-cias” e a obra-prima dos irmãosMarx, Duck Soup, “Os GrandesAldrabões”. A explicação possí-vel: a tradução é uma arte e acriatividade é um atributo funda-mental no tradutor.

Apesar do cenário catastrófico edistópico, nem tudo está perdido. Ain-da há exemplos de boas traduçõesno mundo da 7ª Arte: Pulp Fiction é“Pulp Fiction”, Casablanca é “Ca-sablanca”, Psycho é “Psycho” eTaxi Driver é “Taxi Driver” (e não“Taxista”, dêmos graças). No meiode toda esta embrulhada bilingue, ain-da sobreviveu intocada uma estrela:Marilyn Monroe. Onde quer que seencontre estará, indubitavelmente,grata por não ter sido protagonista de“A Comichão dos Sete Anos” (“OPecado Mora ao Lado”, no original

The Seven Year Itch).cobri que o título em Português é “DoCéu Caiu uma Estrela”. Não encontra a

Marilyn Monroe e “The Seven Year Itch”

Realizou-se há dias a 81ª Entrega dosÓscares, cobiçados prémios da Acade-mia. A cerimónia decorreu (como é cos-tume) no Teatro Kodak em Los Ange-les, estando a apresentação a cargo do

actor australiano Hugh Jackman. O fil-me vencedor da noite foi “Quem QuerSer Bilionário?”, que conseguiu arreca-dar o total de 10 Óscares, entre os quaisse incluem Melhor Filme, Melhor Reali-zador (para Danny Boyle), Melhor Ban-da Sonora (que esteve a cargo do músi-co indiano A.R. Rahman) e Melhor Ar-gumento Adaptado (Simon Beaufoy, queadaptou o livro da autoria de Vikas Swa-rup).

“O Estranho Caso de Benjamin But-ton”, último trabalho de David Fincher,

não teve tanta sorte. Apesar de ter tido13 nomeações, tal número provou serazarado para o filme, que só conseguiulevar 3 Óscares, todos de natureza téc-nica, sendo o grande perdedor da noite(foi-lhe, porém, justamente atribuído oprémio para Melhores Efeitos Visuais).

No que respeita aos actores, Penélo-pe Cruz recebeu o prémio de MelhorActriz Secundária pelo seu trabalho em“Vicky Cristina Barcelona”, enquanto

Heath Ledger: “Óscar” póstumoKate Winslet, graças ao seu trabalho nofilme “O Leitor”, ganhou finalmente oÓscar de Melhor Actriz (à sua sextanomeação) e uma das maiores ovaçõesda noite. Sean Penn recebeu o Óscar deMelhor Actor pelo seu desempenho em“Milk” (filme que também recebeu oprémio para Melhor Argumento Origi-nal), enquanto Heath Ledger ganhou oÓscar de Melhor Actor Secundário peloseu trabalho como Joker em “O Cava-leiro das Trevas”. Ledger, falecido emJaneiro de 2008, junta-se assim a PeterFinch como actor que ganhou um Ós-13 nomeações mas só 3 Óscares

car a título póstumo.Jerry Lewis, actor e comediante da

era de ouro de Hollywood recebeu oÓscar honorário Jean Horsholt, pelo seutrabalho humanitário. No campo da ani-mação, os estúdios Pixar foram os gran-des vencedores com o seu filme “Wall-E” a ganhar o prémio de Melhor Filmede Animação. “Man on Wire”, docu-mentário realizado por James Marsh queretrata o feito de Phillipe Petit em pas-sar entre as duas torres do World TradeCenter por equilibrismo em 1974, ganhouo Óscar de Melhor Documentário. O fil-me tem estreia prevista para Março. Porsua vez, o filme “Orokubito”, de YoshiroTakita, vencedor do Óscar de MelhorFilme Estrangeiro, ainda não tem data deestreia prevista. Parabéns a todos osvencedores!

Um filme “bilionário” em Óscares: uma dezena deles

Sean Penn: “O Melhor Actor”

Kate Winslet: “A Melhor Actriz”

Penélope Cruz: “Melhor Actriz Secundária”

24 6 DE MARÇO DE 2009FEIRA DO DISCO

DE 7 A 14 DE MARÇO, NA PRAÇA DA REPÚBLICA

Feira do Disco em CoimbraAbre em Coimbra no próximo sábado

(dia 7 de Março), pelas 11 horas, a sétimaedição da “Feira do Disco”, instalada, talcomo nos anos anteriores, numa tenda gi-gante na Praça da República. Para res-ponder aos êxitos precedentes, a Feira des-te ano tem um período mais alargado, es-tando a funcionar durante uma semana (até14 de Março).

Trata-se de um certame com relevo na-cional e muito interessante para todos osapreciadores de música, sejam quais foremos géneros de que gostem, as épocas queprocuram e os suportes que preferem.

De facto, desde os melómanos coleccio-nadores que ali podem descobrir velhos dis-cos em vinil, até aos jovens que apreciam amúsica mais “pesada”, todos terão boas hi-póteses de encontrar, por preços acessíveis,os discos da sua preferência.

De acordo com a organização, “à vendavão estar discos vinil, CD’s e DVD’s detodos os estilos, como música clássica, jazz,étnica, country, blues, pop, rock, hard andheavy, punk, entre outros”.

A Feira é uma iniciativa do Departamen-to de Cultura da Câmara Municipal de Co-imbra, (através da Biblioteca Municipal -Fonoteca), sendo produzida por João Almei-da e Custódio Simão.

Como sublinha o Vereador da Cultura,

Mário Nunes, “é um dos mais importanteseventos de divulgação musical realizadospela Câmara Municipal de Coimbra e dosprincipais do País, neste sector”.

Pela primeira vez encer-ra à hora do jantar, pratican-do um horário de funciona-mento entre as 11h00 e as19h30 e entre as 21h00 e as23h00. No último dia (sába-do, 14) o recinto estará aber-to ao público das 11h00 às20h00, encerrando, por isso,mais cedo que nos dias an-teriores.

De acesso gratuito, pre-vê-se que afluam à Feira doDisco milhares de visitantes,vindos expressamente detodo o País. Participam noevento uma dezena de ex-positores, oriundos de Lis-boa, Porto, Odivelas, Pare-de, Maia e Pinhal Novo, entre armazenistase/ou lojistas da área. O certame tem a par-ticularidade de, pela primeira vez, renovaros stands, que se manterão na Feira apenaspor um período de 3 ou 4 dias cada, e nãono decurso de todo o evento, o que aumen-tará a diversidade da oferta.

Com uma forte aposta nos discos vinil

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(LEIA NA PÁG. 3)Esta é a reprodução da valiosa obra originalde Zé Penicheiro, alusiva aos 6 distritos da RegiãoCentro (Aveiro, Castelo Branco, Coimbra, Guarda,Leiria e Viseu) que receberá, gratuitamente,quando fizer a assinatura do jornal CENTRO

(uma vez estarem em vias de extinção), osmateriais comercializados na Feira, que ul-trapassam as 50 mil unidades, vão desde ovinil (cerca de 7 mil, de 78, 45 e 33 rota-

ções) ao CD (40 mil) e DVD musicais (5mil), passando por outros produtos alusivosà música (como T-shirts, pins, etc.).

Os produtos expostos abrangem, comoatrás se refere, os mais variados génerosmusicais, sobretudo a Música Erudita, Jazz,World, Rock, Música Portuguesa, Funcio-nal, etc. Mas proporciona também a aquisi-

ção de fonogramas-não-musicais, que divul-gam áreas como a Poesia, Depoimentos, oCinema, além de uma mini feira do livro.

O Vereador Mário Nunes afirma, a pro-pósito da Feira:

“O evento constitui umaexcelente oportunidade paraque os cidadãos conimbricen-ses e outros, que se deslocama Coimbra, sobretudo, colec-cionadores (espera-se quevenham mesmo alguns da vi-zinha Espanha), possam ini-ciar ou completar colecçõesdiscográficas ou, ainda, tro-car e/ou vender os velhos dis-cos, que já não ouvem, porCD recentes, a preços maisreduzidos que os praticadosnos estabelecimentos comer-ciais. Na Praça da Repúbli-ca, encontram-se desde an-tiguidades a novidades, edi-

ções especiais ou outras raridades fonográ-ficas”.

E Mário Nunes concluiu:“A Feira do Disco é uma iniciativa que

atinge, pelas suas características, um públi-co há muito fidelizado, resultando em maisum importante evento de dinamização e frui-ção cultural da Região Centro”.