o centro - n.º 61 – 05.11.2008

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DIRECTOR JORGE CASTILHO | Taxa Paga | Devesas – 4400 V. N. Gaia | Autorizado a circular em invólucro de plástico fechado (DE53742006MPC) ANO III N.º 61 (II série) 5 a 18 de Novembro de 2008 1 euro (iva incluído) Telef.: 309 801 277 Rua da Sofia, 95 - 3.º - 3000-390 COIMBRA Mário Silva faz revelações em entrevista ao “Centro” PINTOR DISTINGUIDO PÁG. 12 BISSAYA-BARRETO CAMPANHA ADOP CÃO PÁG. 4 e 5 PÁG. 2 “Escolha um animal no Canil Municipal” Aniversário da Fundação e do Homem que a criou PÁG. 11 TOPONÍMIA I Congresso nacional decorre em Coimbra PÁG. 13 Dois irmãos de Coimbra reafirmam inocência JULGAMENTO DE HOMICÍDIO DE ARTISTA OCORRIDO HÁ 15 ANOS ESTÁ A DECORRER EM MADRID PÁG. 3 CICLO DE CONFERÊNCIAS NA CASA-MUSEU MIGUEL TORGA Clara Rocha veio a Coimbra revelar facetas da vida e obra de seus Pais Clara Rocha regressou à sua antiga residência em Coimbra (imagem ao lado), agora transformada em Casa-Museu Miguel Torga, para abrir um Ciclo de Conferências sobre o grande escritor e poeta, tendo evocado alguns aspectos muito interessantes da vida e da obra de Torga. O próximo conferencista, ainda este mês, será Mário Soares

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Versão integral da edição n.º 61 do quinzenário “O Centro”, que se publica em Coimbra. Director: Jorge Castilho. 05.11.2008. Site do Instituto Superior Miguel Torga: www.ismt.pt Visite outros sítios de Dinis Manuel Alves em www.mediatico.com.pt , www.slideshare.net/dmpa, www.youtube.com/mediapolisxxi, www.youtube.com/fotographarte, www.youtube.com/tiremmedestefilme, www.youtube.com/discover747 , http://www.youtube.com/camarafixa, , http://videos.sapo.pt/lapisazul/playview/2 e em www.mogulus.com/otalcanal Ainda: http://www.mediatico.com.pt/diasdecoimbra/ , http://www.mediatico.com.pt/redor/ , http://www.mediatico.com.pt/fe/ , http://www.mediatico.com.pt/fitas/ , http://www.mediatico.com.pt/redor2/, http://www.mediatico.com.pt/foto/yr2.htm , http://www.mediatico.com.pt/manchete/index.htm , http://www.mediatico.com.pt/foto/index.htm , http://www.mediatico.com.pt/luanda/ , http://www.biblioteca2.fcpages.com/nimas/intro.html

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DIRECTOR JORGE CASTILHO

| Taxa Paga | Devesas – 4400 V. N. Gaia |Autorizado a circular em invólucrode plástico fechado (DE53742006MPC)

ANO III N.º 61 (II série) 5 a 18 de Novembro de 2008 � 1 euro (iva incluído)

Telef.: 309 801 277Rua da Sofia, 95 - 3.º - 3000-390 COIMBRA

Mário Silvafaz revelaçõesem entrevistaao “Centro”

PINTOR DISTINGUIDO

PÁG. 12

BISSAYA-BARRETO CAMPANHA ADOPCÃO

PÁG. 4 e 5PÁG. 2

“Escolhaum animalno CanilMunicipal”

Aniversárioda Fundaçãoe do Homemque a criou

PÁG. 11

TOPONÍMIA

I Congressonacionaldecorreem Coimbra

PÁG. 13

Dois irmãos de Coimbrareafirmam inocência

JULGAMENTO DE HOMICÍDIO DE ARTISTA OCORRIDO HÁ 15 ANOSESTÁ A DECORRER EM MADRID

PÁG. 3

CICLO DE CONFERÊNCIAS NA CASA-MUSEU MIGUEL TORGA

Clara Rochaveio a Coimbrarevelar facetasda vida e obrade seus PaisClara Rocha regressou à sua antiga residência em Coimbra (imagem ao lado),agora transformada em Casa-Museu Miguel Torga, para abrir um Ciclode Conferências sobre o grande escritor e poeta, tendo evocado alguns aspectosmuito interessantes da vida e da obra de Torga. O próximo conferencista,ainda este mês, será Mário Soares

2 5 A 18 DE NOVEMBRO DE 2008NACIONAL

Director: Jorge Castilho(Carteira Profissional n.º 99)

Propriedade: AudimprensaNIF: 501 863 109

Sócios: Jorge Castilho e Irene Castilho

ISSN: 1647-0540

Inscrito na DGCS sob o n.º 120 930

Composição e montagem: AudimprensaRua da Sofia, 95, 2.º e 3.º - 3000-390 Coimbra

Telefone: 309 801 277 - Fax: 309 819 913

e-mail: [email protected]

Impressão: CIC - CORAZEOliveira de Azeméis

Depósito legal n.º 250930/06

Tiragem: 10.000 exemplares

A Fundação Bissaya Barreto, comsede em Coimbra, uma das mais presti-giadas e actuantes fundações portugue-sas, tem vindo a comemorar este anomeio século de existência com um pro-grama muito rico e diversificado – à se-melhança, aliás, da imagem da institui-ção.

Na passada semana, a Fundaçãoassinalou também o aniversário donascimento do seu patrono. Maisexactamente 102 anos, já que Fernan-do Baeta Bissaya Barreto Rosa nasceuem Castanheira de Pêra, no dia 29 deOutubro de 1886, fruto do casamento deAlbino Inácio Rosa, farmacêutico de pro-fissão, com Joaquina da Conceição Bar-reto. A 27 de Dezembro, recebeu o bap-tismo na Igreja Paroquial de S. Domin-gos da Castanheira, tendo como padri-nhos Abílio Barreto, médico cirurgião doExército, e Leopoldina Rosa da Concei-ção.

Fernando foi o segundo de quatro fi-lhos, todos nascidos em Castanheira dePêra. (A irmã mais velha recebeu o nomede Sofia quando nasceu, em 1885. Asduas irmãs mais novas chamavam-seAura nascida em 1889, e Berta, nascidaem 1891).

Em 1903 Bissaya Barreto matricula-se na Universidade de Coimbra, conclu-indo em 1909 o bacharelato em Filosofiacom 18 valores.

A 19 de Junho de 1911 toma partecomo deputado eleito na 1ª sessão daAssembleia Nacional Constituinte, quedecretou a abolição da Monarquia. Ain-da neste ano, Bissaya Barreto termina oCurso de Medicina com 19 valores, e emNovembro é nomeado 2º Assistente Pro-visório da Faculdade de Medicina de

Fundação Bissaya Barretocomemora meio séculoe assinala aniversário do seu fundador

Coimbra.Sempre com a ânsia de aprender mais

e mais, em 1912 conclui o 4º ano do Cur-so do Magistério Secundário, na recém-criada Faculdade de Letras de Coimbra.

Em 1914 chega a ser nomeado pro-fessor do Liceu de Coimbra, lugar de quenão chega a tomar posse. A 4 de Julhodesse ano discursa na sua terra natal, porocasião da tomada de posse da Comis-são Instaladora do concelho de Casta-nheira de Pêra.

Em 1915 apresenta a dissertação “OSol: em Cirurgia”, no âmbito das pro-vas de concurso a um lugar de 1º Assis-tente da Faculdade de Medicina da Uni-versidade de Coimbra.

Logo no ano seguinte, em Março,é nomeado Professor Extraordinário daFaculdade de Medicina de Coimbra, vin-

do a assumir as funções de Director daClínica Terapêutica e Técnica Operató-ria, dos Hospitais da Universidade deCoimbra.

Em de Julho de 1918 é nomeado Pro-fessor Ordinário da Faculdade de Medi-cina. E em 1942 atinge o cume da suacarreira académica, sendo nomeado Pro-fessor catedrático de Clínica Cirúrgica,da Faculdade de Medicina da Universi-dade de Coimbra, de que se viria a jubi-lar em 1956.

SURGE A FUNDAÇÃO

Dois anos depois, em 1958, institui, emCoimbra, a Fundação Bissaya Barreto,vocacionada para prestar e desenvolverassistência – nas suas mais diversas

modalidades – em toda a Beira Litoral.Nessa altura ninguém conseguiria ima-ginar a obra extraordinária que a Funda-ção viria a desenvolver ao longo das dé-cadas seguintes.

Após o 25 de Abril de 1974, BissayaBarreto tem de vagar o gabinete queocupava nos Hospitais da Universidadede Coimbra (por inerência das funçõescomo professor jubilado de cirurgia).

É em Lisboa e no Hotel Metrópole,ao Rossio, que encontra a morte no dia16 de Setembro desse ano. O funeralcatólico que lhe foi prestado, sai de Lis-boa em direcção à sua terra natal, ondeestá sepultado.

Por vontade testamentária fez herdeirauniversal a Fundação Bissaya Barreto.

UMA OBRAEXTRAORDINÁRIA

A vida longa do Professor BissayaBarreto é marcada por um enorme po-der de realização no campo da assistên-cia pública.

Da sua vasta obra podem salientar asseguintes realizações:

· 3 Sanatórios anti-tuberculose· 1 preventório· 2 Hospitais Psiquiátricos· 1 Colónia Agrícola Psiquiátrica· 1 Leprosaria· 1 Creche/Preventório para filhos

de leprosos· 1 Centro de Reabilitação para ex-

leprosos· 1 Hospital Geral Central· 1 Hospital Pediátrico· 1 instituto Materno Infantil· Casa da Mãe (Figueira da Foz)· 1 Centro de Surdos· 1 Instituto de Cegos· 26 Casas da Criança· 3 Colónias de Férias· 2 Bairros Sociais· Escola de Enfermagem “Bissaya

Barreto”· Escola Normal Social· Escola de Enfermeiras Puericul-

toras· Escola Profissional de Agricultu-

ra, Artes e Ofícios - em Semide· Dispensários, Brigadas móveis,

Portos rurais· Aeródromo de Coimbra (Aeródro-

mo Municipal “Bissaya Barreto”)Destaque ainda para a criação da

Sede da Associação Académica de Co-imbra e da Obra de Assitência Materno-Infantil, para além de muitas outras acti-vidades a que faremos referência maisdetalhada na próxima edição.

O Pof. Bissaya Barreto (na imagem rodeado por crianças) foi, seguramente, umadas personalidades que desenvolveu obra mais notável e pioneira na assistênciamaterno-infantil na História de Portugal

35 A 18 DE NOVEMBRO DE 2008 NACIONAL

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Neste trabalho, Zé Penicheiro,com o seu traço peculiar e a incon-fundível utilização de uma invulgarpaleta de cores, criou uma obra quealia grande qualidade artística a umprofundo simbolismo.

De facto, o artista, para represen-tar a Região Centro, concebeu umaflor, composta pelos seis distritos queintegram esta zona do País: Aveiro,Castelo Branco, Coimbra, Guarda,Leiria e Viseu.

Cada um destes distritos é repre-sentado por um elemento (remeten-do para o respectivo património his-tórico, arquitectónico ou natural).

A flor, assim composta desta for-

ma tão original, está a desabrochar,simbolizando o crescente desenvolvi-mento desta Região Centro de Portu-gal, tão rica de potencialidades, de His-tória, de Cultura, de património arqui-tectónico, de deslumbrantes paisagens(desde as praias magníficas até às ser-ras imponentes) e, ainda, de gente hos-pitaleira e trabalhadora.

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Dois irmãos portugueses naturais de Co-imbra acusados do homicídio, ocorrido há15 anos, do artista espanhol Abel Martin,declararam-se ontem inocentes no início dojulgamento, que decorre em Madrid e seespera termine amanhã (quinta-feira).

Gonçalo Manuel Montezuma e ManuelFranco Montezuma, de 44 e 40 anos, sãoacusados de no dia 6 de Agosto de 1993terem morto Martin para roubar várias obrasde arte.

Depois de declarações iniciais de inocên-cia, ambos foram questionados pelo procu-rador e pelo advogado da acusação parti-cular, Eduardo Pera Casado.

Hoje serão ouvidas as testemunhas deacusação e de defesa e amanhã as alega-ções finais. A sentença deverá ser conheci-da daqui a uma semanal.

A pena máxima pelos crimes de que sãoacusados pode atingir os 20 anos de cadeia.

Sem provas forenses que relacionemqualquer dos dois arguidos com a morte deAbel Martin, a acusação assenta, no essen-cial, em relatos policiais e testemunhos querelacionam os dois portugueses com o artis-

ACUSADOS DE HOMICÍDIO COMETIDO HÁ 15 ANOS

Dois irmãos de de Coimbra declaram-se inocentesta e alegadamente com obras de arte queterão sido roubadas da sua casa.

A defesa – explicou à Lusa CarmenMerino, advogada de Conçalo – insiste quenenhum dos arguidos estava em Madrid naaltura dos factos e que os testemunhos são“débeis” e sem qualquer documento com-provativo.

“Eles disseram a verdade. Não estavamaqui em Madrid, mantêm a inocência. Nãotêm nada a ver com os quadros, não há qual-quer prova de transacção”, disse.

“É importante recordar que a Justiça por-tuguesa, que se declarou competente parainvestigar este caso, arquivou o processo em1994, por considerar que não havia indícios.E tomou essa decisão exactamente com asmesmas provas”, afirmou.

Anos depois, 2005 no caso de ManuelFranco e 2007 no de Gonçalo, a Justiçaespanhola reabriu o caso, detendo os doisirmãos, que têm estado em prisão pre-ventiva.

Desde o arquivamento do processo emPortugal, a que se refere Carmen Merino,já foi junto ao processo um outro elemento

essencial da defesa, nomeadamente um tes-temunho que coloca Gonçalo num banco emCoimbra no dia do crime.

A advogada insiste na fraqueza dos tes-temunhos da acusação, afirmando que, alémde não haver qualquer prova forense querelacione os dois arguidos com o lugar docrime, “nunca ninguém os viu” na casa deAbel Martin e os seus supostos vínculos comos quadros roubados “são ténues”.

“Parecem teorias de ficção científica.Nunca se investigou os outros cenários. Nãose investigou se podia ser um crime passio-nal, não se investigou o ‘marchant’ quemontava as exposições. Não se investigounada mais”, sublinha.

“Na casa havia 100 e tal quadros. HaviaPicassos e Miró e só desapareceram ale-gadamente os de que se fala neste proces-so? Se esse fosse o mobil do crime, nãoteriam roubado os outros todos?”

Ao mesmo tempo recorda que o crimeocorreu há 15 anos, frisando que o atrasono julgamento não de deveu à intervençãode qualquer dos irmãos, que “sempre esti-veram em Portugal e que pensavam, depois

do arquivamento em Portugal, que o casoestava fechado”.Posições rejeitadas porEduardo Pera Casado, advogado de acusa-ção particular, que garantiu à Lusa haver“mais do que indícios” que relacionem osdois arguidos com o crime.

Casado alega que os dois irmãos estive-ram mais de 12 anos “em fuga das autori-dades”, sob um mandado de captura inter-nacional, e acusa a defesa de atrasos pro-cessuais ao longo de mais de 18 meses.

“Mantemos a nossa acusação. Eles hojeratificaram as suas declarações, que já ti-nham prestado anteriormente, mas onde jáexistiam contradições”, disse, frisando quea acusação apresentará 15 testemunhos depessoas que alegam ter recebido ofertas dosarguidos para comprar os quadros rouba-dos na casa de Abel Martin.

Questionado sobre se há provas foren-ses que relacionem os arguidos com o cri-me, o advogado admitiu que não, e ques-tionado sobre se os quadros tinham sidorecuperados foi mais evasivo, responden-do: “Sobre isso não posso dizer nada nes-te momento”.

4 5 A 18 DE NOVEMBRO DE 2008MUNDO ANIMAL

Salvador St.AubynMascarenhasMédico Veteriná[email protected]

Ao longo da nossa prática clínica, muitasvezes um dono preocupado chega à consul-ta desesperado com a queixa de que o cãoou o gato está cheio de pulgas, e que já es-gotou toda a parafernália de sprays e colei-ras e não consegue controlar a infestação.A primeira pergunta que normalmente faço,é se tem observado muitas pulgas, e nãopoucas vezes a resposta é: não, mas elecoça-se desesperadamente. E após obser-vação cuidada não observo nenhuma pulganem os excrementos característicos.

O que se passa é que animal tem umsintoma que na gíria médica se chama pru-rido que é o termo que designa comichão, eessa sensação provoca o desejo de coçar,esfregar, morder ou lamber as zonas afec-tadas, que muitas vezes apresentam verme-lhidão ou mesmo perda de pêlo. E pulgasnão são nem de perto nem de longe a únicacausa dessa comichão desesperante.

O prurido é a indicação da pele inflama-da, que devemos investigar para chegar aodiagnóstico da sua causa.

As causas são inúmeras e podem ir des-de parasitas como as pulgas, ácaros queparasitam o folículo piloso, os ácaro dos ou-vidos, piolhos, e mesmo a migração cutâ-nea de parasitas internos.

Também alergias causadas pelos parasi-

Prurido nos cães- causas e tratamento

tas, como é o caso da dermatite alérgicapela picada das pulgas, a atopia (uma doen-ça em que o animal é sensível ou alérgico adeterminadas substâncias que se encontramno seu meio ambiente, como o pólen, quenormalmente não causam nenhum proble-ma); a alergia à comida, alergia de contac-to, alergia aos medicamentos e alergia àsbactérias, conhecida por hipersensibilidadebacteriana.

Outras causas da comichão também po-dem ser infecções bacterianas, tipicamenteo Staphylococcus, ou fúngicas, como aMallassezia.

Ainda algumas origens do prurido podemestar ligadas a uma excessiva descamaçãoda pele, conhecida por seborreia, deposição

de cálcio ou tumores da pele. Além disso,algumas doenças imunomediadas, hormo-nais e psicogénicas, podem causar prurido.

Várias doenças podem contribuir aomesmo tempo para o prurido. Por isso, quan-do identificamos uma causa, tratamo-la.Mas se o animal continua com comichão,devemos considerar a coexistência de umaoutra razão.

A utilização de um colar isabelino podeajudar, mas normalmente não é prático paraum tratamento a longo prazo.

Geralmente não precisamos mudar a ali-mentação, a não ser que haja suspeita dealergia à comida.

Por vezes teremos de realizar biopsiasda pele para se poder chegar a um diag-nóstico preciso, sendo um procedimentofácil e seguro, dando-nos óptimas informa-ções para solucionar o problema.

Os medicamentos utilizados devem serespecíficos para cada situação, ou seja, nãoexiste um medicamento para todas as co-michões, como às vezes nos solicitam.

Alguns medicamentos são de aplicaçãodirecta na pele, ou seja, terapia tópica, e es-ses são normalmente usados nas comichõesmenos graves, sendo os sprays, loções ecremes usados nas áreas mais localiza-das.Mas quando são áreas extensas é pre-ferível usar um champô, mas alguns cham-

pôs antibacterianos contendo peróxido debenzoílo podem aumentar o prurido.

Certos animais não toleram nenhum pro-duto na sua pele, incluindo água morna, pio-rando a comichão, mas a água fria normal-mente alivia.

Os medicamentos que são administradospela boca ou injectados (terapia sistémica)têm uma acção mais eficaz, como os este-róides, na diminuição da inflamação e logodo prurido. Ácidos gordos polinsaturadospara administração oral podem ajudar, mastêm de ser usados durante 6 a 8 semanas,também auxiliam no controle da pele seca,que igualmente pode ser origem de prurido.Alguns medicamentos que diminuem a an-siedade, conhecidos como drogas psico-génicas, podem controlar o prurido nal-guns casos, como a fluoxetina (o conhe-cido prozac), a amitriptilina e o diazepam(valium).

Os animais deverão ser avaliados perio-dicamente pelo veterinário para verificar aresposta ao tratamento.

Devemos prevenir a infestação do nossoamigo por parasitas externos porque estespotenciam qualquer causa subjacente, tor-nando frustrante o tratamento tanto para odono como para o veterinário.

O prurido na maior parte das vezes nãomata mas mói

Kaká é este bichinho adorávelque espera que alguém o adopte

CAMPANHA “COIMBRA ADOPCÃO”

A troco de nada ganhe um grande amigoO Canil/Gatil Municipal de Coimbra tem em marcha

uma campanha intitulada “AdopCão”, com o seguintelema: “Adoptem um animal no Canil Municipal”.

Trata-se de uma iniciativa muito meritória, que per-mite que pessoas que gostam de animais ali possam irbuscar um fiel companheiro, sem nada pagarem porisso.

São muitos os cães (e também alguns gatos) que aliesperam que gente com bom coração os vá adoptar,tendo como recompensa conquistarem um amigo paratoda a vida, já que estes animais rapidamente se adap-tam aos seus novos donos (que, para além do mais, osestarão a poupar a um fim muito triste e tremendamen-te injusto).

O Canil/Gatil Municipal fica no Campo do Bolão,Mata do Choupal, onde os animais esperam, ansiosos,por uma nova casa e uma nova família.

Os interessados em obter mais informações podemligar para o telemóvel 927 441 888 (a qualquer hora),ou para o Canil/Gatl (das 9 às 17h30 dos dias úteis)através do telefone 239 493 200.

Podem também enviar um e-mail [email protected] consultar o sitewww.cm-coimbra.pt/741.htmOs dias e horas especificamente destinados às adop-

ções são os seguintes:segundas-feiras, das 14h30 às 16h30; quintas-feiras,

das 10 às 12 horas.

Nesta página e na seguinte publicamos imagens dealguns dos bons aamigos de 4 patas que estão à esperade que alguém queira aproveitar todo o carinho quetêm para dar.

Se gosta de animais, não hesite! Faça feliz um des-tes que esperam por si e não se arrependerá!

A cantora Inês Santos dá o exemplo,acarinhando um dos cães recolhidos no Canil/GatilMunicipal de Coimbra

55 A 18 DE NOVEMBRO DE 2008 MUNDO ANIMAL

O Black adora festas! É um bem disposto, brincalhãoe muito fotogénico! É de porte médio/grande, tem umpelo preto lustroso e é muito bonito!

A Cookie é uma cadelinha com cerca de 1 ano, de portepequeno, muito meiga e calminha. Tem a particularidadede ter um olho castanho e outro azul clarinho

O Dominó é um cãozinho doce, de porte pequeno,abandonado pelo dono no Canil, e que provavelmentedeve ter sido vítima de maus-tratos, pois está quasesempre triste e escondido. No entanto, é super meigo,e quando ganha confiança com as pessoas é muitobrincalhão. Precisa urgentemente de uma família quetenha paciência com ele e que lhe dê muito carinho

A Guapa é uma cadelinha muito, muito pequenina, queteve bebés e que já foram adoptados. Ela ainda esperaque alguém a adopte! È uma ternura, muito meiga eadora saltar para o nosso colo! Cativa qualquer pessoa

A Fiona é uma menina pequenina, com uns olhos muitobonitos! De porte pequeno e altivo, esta jovemcadelinha espera por fazer uma família muito feliz!

A Flay foi entregue no Canil pela dona. Tem dois bebesmuito bonitos e é uma excelente mãe. È também muitomeiga e tem um olhar muito doce. È calminha e deveser uma boa cadela para ter em apartamento

A Nina é um amor de cadela! Tem cerca de 1 anoe é meiguíssima. Adora festinhas e que lhe cocema barriga! Tem uns bigodes muito engraçadose é de porte grande

Facilmente nos apaixonamos pela Esmeralda! Ela émuito dócil, super simpática e tem uns lindos olhosverdes

A Kéké é uma cachorrinha muito ternurenta. Tem cercade 2 meses e espera por uma família que lhe dê muitosmiminhos

A Pipoca é uma cadelinha muito bonita, de portepequeno, com cerca de 1 ano de idade e que foiabandonada à porta do Canil no Dia do Animal! É muitomeiga e atenta

A Shakira é uma cadelinha pequenina, muito espertae extremamente meiga e simpática

Este cãozinho branquinho, muito pequenino,muito simpático e meigo é o Snow

Para quem prefere gatos, este é um dos vários queestá à espera de quem o adopte

6 5 A 18 DE NOVEMBRO DE 2008INTERNACIONAL

Fiodor Lukyanov *

* in revista A Rússia na Política Global

A crise financeira mundial prometealterar fortemente a política interna-cional.

A instabilidade financeira, queavança pelo mundo, tem demonstra-do à Rússia e a vários outros países,beneficiados pelo bume de matérias-primas do último decénio, o grau dadependência mútua geral, assim comoos limites das suas possibilidades eco-nómicas e geopolíticas. Graças àsconsideráveis reservas de divisas (cer-ca de 600 mil milhões de dólares), acu-muladas durante os anos de rápidocrescimento económico, a Rússiapode combater os efeitos negativos dacrise, mas é duvidoso que tenha re-cursos suficientes para levar a caboos seus sonhos geopolíticos.

Com a nova conjuntura mundial, aimportância dos principais activos rus-sos – as matérias-primas – está a di-minuir. Claro, a médio e a longo pra-zos a procura de petróleo, gás naturale metais vai crescer imparavelmente.Mas, num futuro próximo, a agiotagemem torno dos recursos energéticos vaiparar, o que vai mudar a atmosferageral no mundo.

Este efeito da crise pode ser consi-derado positivo, já que com a bolhafinanceira mundial vai desaparecen-do também a bolha de ambições e ex-pectativas exageradas. A ameaça derecessão obriga a definir melhor asprioridades, graduar as intenções e de-sistir de objectivos secundários emfavor dos mais importantes. Isto dizrespeito a todos os governos, inclusi-

Efeitos salutares da criseve o norte-americano.

A CIMEIRA MUNDIALSERÁ IMPRODUTIVA

À luz do enorme défice orçamental, her-dado pelo Presidente (que acaba de ser eleito,a 4 de Novembro), e da situação geral dosistema financeiro dos EUA, o novo inquili-no da Casa Branca terá que fazer uma re-visão dos seus objectivos na política exter-na. Hoje em dia, Washington considera pri-mordiais – o que também é uma herança deGeorge W. Bush – todas as prioridades po-líticas: elas não podem ser sacrificadas ouser objecto de cedência.

Um aspecto positivo da crise financeiratem sido a reanimação do debate internaci-onal sobre a necessidade de renovar as ins-tituições de gestão global. Convém assina-lar que a Rússia fala há muito sobre a deca-dência das estruturas existentes, mas a suavoz não foi ouvida. Por exemplo, há um anoe meio Moscovo apelou para a reforma doFMI (Fundo Monetário Internacional), e atéavançou uma candidatura alternativa parao posto de director do Fundo. Agora é maisque evidente que nem o FMI, nem o seudirigente máximo cumprem devidamente assuas funções.

Outra ideia russa consiste em encetar umamplo diálogo sobre a segurança euroatlân-tica, que por várias razões – tanto subjecti-vas, como objectivas – não teve uma devi-da repercussão no Ocidente. Entretanto, émais que legítimo pôr em foco este proble-ma. Todas as instituições chamadas a tratara questão de segurança têm as suas raízesmergulhadas na guerra fria e foram criadaspara uma realidade bem diferente. Após aguerra fria, em vez de criar novas institui-ções capazes de apoiar a «nova ordem

mundial», enveredaram para alargar a in-fluência das instituições «verncedoras», ouseja, as ocidentais. Os resultados estão àvista: estas falham na tomada de decisõespolíticas globais, na esfera de segurança ena economia.

Numa perspectiva ideal, a crise financei-ra é capaz de fazer com que as potênciaismundiais, inclusive a Rússia, tomem consci-ência dos interesses colectivos e da neces-sidade de acções multilaterias, desistindo doegoísmo inerente a todos os sujeitos das re-lações internacionais.

Para que tal aconteça, a percepção deuma inevitável catástrofe deve ser verda-deiramente profunda. O que, por enquanto,não existe. Daí ser inútil ter a expectativade um êxito da cimeira mundial, a realizarem 15 de Novembro em Washington, pelaadministração cuja saída é esperada porgrande maioria da população do planeta.

DUPLA EUA-CHINA

Entretanto, o conceito de «multipluralis-mo antiamericano», que a Rússia tem de-fendido nos dois últimos anos e continua afazê-lo agora, poderá perder a sua actuali-dade.

Em primeiro lugar, os EUA ver-se-ãoobrigados a corrigir o seu comportamento:passarão a agir com mais delicadeza e atéescutar, embora formalmente, os parceiros.Depois das rudes maneiras da administra-ção de George W. Bush, mesmo pequenasmudanças positivas na política externa dosEUA são capazes de produzir grande im-pacto.

Em segundo lugar, a crise mostrou nãoapenas a fraqueza da liderança norte-ame-ricana, mas também a dependência do res-to do mundo, inclusive os paísese com cres-

centes ambições, do estado das coisas naúnica superpotência.

A interdependência económica dita a li-nha política. Independentemente das anti-patias pelos EUA, Pequim está vitalmenteinteressado em ver os norte-americanossaírem mais rápido da crise. Sem o merca-do norte-americano, a China não pode so-nhar continuar a trajectória de desenvolvi-mento dos últimos dez anos.

A revista norte-americana «ForeignAffairs» publicou recentemente um artigodo economista Fred Bergsten, propondo for-mar «uma dupla invencível EUA-China»para dirigir a economia mundial. Para obri-gar a China a assumir a responsabilidadepela estabilidade global no quadro do siste-ma supervisionado actualmente pelos EUA,Washington terá que partilhar com Pequimos direitos e as obrigações. Nesta fase deluta contra a crise financeira mundial a du-pla EUA-China até poderá ganhar terreno.

No seu artigo, Fred Bergsten reconheceque doravante os EUA dificilmente pode-rão dar muita atenção à Europa, pois a rea-lidade demográfica e económica faz dimi-nuir a importância do Velho Mundo. Estaperspectiva trará sérios problemas à UE eà Rússia, que mantêm relações em muitoparecidas com as existentes entre os EUAe a China: uma ligação económica forte, massem simpatias políticas.

A Europa tende a ser independente emrelação ao Novo Mundo, mas, ao mesmotempo, receia uma independência comple-ta. E não está pronta para considerar sériosprojectos de integração com Moscovo. Tam-bém a Rússia se vê como um pólo indepen-dente num futuro mundo multipolar, emboranão tenha fundamentos objectivos para isto.

A senadora por Nova Iorque e ex-ri-val de Barack Obama nas primárias doPartido Democrata, Hillary Clinton, as-segurou ontem (terça-feira) que o can-didato do seu partido à Casa Branca “ser-virá bem” os norte-americanos.

Hillary Clinton, que votou na localida-de nova-iorquina de Chappaqua, reiterouo seu apoio a Obama e sublinhou que naúltima fase da campanha eleitoral parti-cipou “em mais de 75 eventos” de apoioao seu ex-rival.

Em declarações à imprensa depois devotar, a mulher do ex-presidente Bill Clin-ton vincou que os norte-americanos “sa-bem que os EUA precisam de um presi-dente sério”, uma qualidade que reco-nheceu em Obama.

A senadora por Nova Iorque chegou

Hillary Clinton diz que Obama“servirá bem” os norte-americanos

à assembleia de voto de Chappaquaacompanhada pelo marido, o ex-presiden-te Bill clinton, e, quando questionada so-bre como se sentia por não ver o seunome nos boletins de voto, respondeu quetinha sido “uma honra” ter aspirado àcandidatura.

“Ter estado tão perto é algo de queestarei para sempre orgulhosa”, decla-rou Hillary Clinton.

As última sondagens, segundo o siteRealClearPolitics.com, dão a Obama apreferência de 52 por cento dos eleito-res e ao candidato do Partido Republi-cano, John McCain, 44,2 por cento.

Obama e o seu rival McCain continu-aram no dia da votação a fazer acçõesde campanha e a apelar para o voto doseleitores.

Em Nova Iorque, “feudo” do PartidoDemocrata, os votantes acudiram em

massa às 1.351 assembleias eleitorais,onde tiveram de esperar várias horas emfilas para poderem votar.

Alguns dos colégios eleitorais de NovaIorque abriram mais tarde do que a horaprevista porque faltavam as máquinaspara contabilizar os votos.

A cidade de Nova Iorque, com maisde 8,2 milhões de habitantes, tem regis-tados 4,6 milhões de eleitores, dos quais724.000 de origem hispânica, de acordocom dados da Associação Nacional deFuncionários Latinos.

Em Nova Jersey também se regista-ram grande filas de espera para votar eaté mesmo o governador daquele esta-do, o democrata Jon Corzine, “teve deesperar mais de uma hora e meia paravotar”, segundo o seu porta-voz.

75 A 18 DE NOVEMBRO DE 2008 NACIONAL

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Por Sertório Pinho Martins

Maneiras de verA crise tantas vezes negada, tal como S.

Pedro antes do galo cantar três vezes, es-toirou na cara dos políticos julgados imunesà desgraça alheia (pensamos sempre queas misérias só nos atingem depois de teremvergastado todos os outros pecadores douniverso). E não vale a pena avivar o pesa-delo dos que têm entre mãos o destino domundo, porque a grande maioria ignorou ossinais inequívocos da derrocada, e continuoualegremente a atafulhar os off-shores dedinheiro fácil, a ensopar a camada de ozonocom gases de estufa, a dizimar baleias peloprazer mórbido de saborear uma bifalhadade alcatra de cachalote, a temperar as cor-rentes marítimas com água de lavar depósi-tos de petroleiros, a brincar aos ensaios ató-micos desde o Irão à Coreia do Norte – eisto sem contabilizar os triliões que mantive-ram vivas as guerras no Afeganistão, no Ira-que, nos Balcãs, no Médio Oriente, na anti-ga URSS e na nova Rússia, mais as redesterroristas de cariz religioso e separatista.Tudo isto enquanto na África e na Ásia semorre aos milhões por falta de algo tão sim-ples como a ração de comida diária quemantém vivo o ser humano.

A crise chegou, mas não é de hoje: é detodos estes anos em que se carregou noacelerador sem ligar à fraca cavalagem decada país e ao tamanho do depósito de com-bustível de cada consumidor. Foi só ‘produ-zir’ bens de consumo, guerras longe da por-

ta, luxos dispensáveis, modelos económicosassentes em falcatruas, chefes políticos àmedida dos interesses de cada clã.

E nós não fomos excepção, porque tam-bém – como lá fora – vamos em rebanhoatrás de qualquer slogan, de qualquer es-tandarte levantado por políticos que se pre-zam e são iguais em todos os quadrantes,guiando-se por um cardápio de valores domais variado que imaginar se possa: man-drião, chico-esperto, venal, vira-casacas, ti-ranete, seguro da sua impunidade, e nãoraras vezes propenso para a actuação embando que defende com unhas e dentes osseus interesses comuns – doa a quem doer!É capaz de ser melífluo, camaleão, insinu-ante, traiçoeiro, vingativo, pedante, lambe-botas, e no final assistir contrito à missa do-minical na igreja chique do bairro exclusivoonde coabita com os seus semelhantes.

Portugal não foi excepção! Basta olharem volta e ler os textos e as entrelinhas danossa história recente, que está lá tudo, legí-vel à vista desarmada: nem é preciso fazerzoom de consciência e de boa vontade! Epara a classe política instalada, a crise fi-nanceira internacional vai servindo para la-var as asneiras de alguns cromos que subi-ram ao palanque governamental, e aí ser-vem as suas clientelas e preparam o futuro,que isto de vacas gordas dura o que dura. OEstado dá uma mão amiga a quem não sou-be gerir o seu ganha-pão, mesmo com lu-cros fabulosos a saltitar anualmente dos

Relatórios e Contas de gerência (a banca),usando dinheiro dos contribuintes para sa-far negócios privados e deixando para se-gundas núpcias as novas escolas, hospitais,vias de comunicação indispensáveis, infra-estruturas sociais e outras carências de umpaís que continua alegremente na cauda deuma Europa cada vez mais densa de nacio-nalidades e de apetência por fundos que lhesalimentem a escada por onde hão-de che-gar aos patamares de desenvolvimento dosseus parceiros de União Europeia.

E assim se esvai a esperança de um povoentalado entre a sobrevivência e o direito aomínimo de dignidade humana. Cá pelo bur-go, esperava-se que (a necessidade aguçao engenho) uma ‘remodelação’ pusesse fimà carreira de alguns actores de série B econtribuísse para uma esperançazinha doportuguês anónimo que continua a sofrer napele a incontinência verbal e a imprepara-ção técnica de muitos afilhados do regime.Mas, pasme-se, a crise do sistema financei-ro vai afinal servindo para alimentar a pão-de-ló alguns que já tinham guia de marchapara o vale das almas penadas de onde vie-ram! Porquê? Pois se em ambiente de fes-ta e de exaltação clubista, era o que se via –numa conjuntura de arrepiar e sem mar-gem para a mínima asneira, que sentido fazmanter gente que nem no meio da farturaapregoada sabia cuidar do quintal que lhestinha sido confiado? Agora, Sr. Primeiro-Ministro, é que a remodelação é vital! Ou

continua a confiar um país, perdido no meioda borrasca, a uma turma de noviços quenão sabe para que lado fica o nascer dosol? E o que eu temia (recordas-te, JorgeCastilho?), está aí sem dó nem piedade: aUE acaba de anunciar, alto e bom som, quePortugal entrou já em recessão técnica no3º trimestre do ano e assim vai continuar noseguinte. Ninguém ouve os sinos a dobrar?Vossa Excelência ainda tem um Vieira daSilva que sabe o que faz, um Teixeira dosSantos que faz o que lhe manda, tem maisum ou outro com boa-vontade e carinhalaroca – e tem depois uma correnteza degente que não sabe o que é, nem comoboiar, numa crise séria como a que se vaiestender e submergir o mundo nos anosmais próximos: os da ‘crise’, que nas opi-niões mais optimistas durará ainda no bi-énio 2009-2010, e depois – Deus nos acu-da – os da ‘saída da crise’ até regressar-mos à tona. Já pensou?

Bem sei que são ‘maneiras de ver’,mas esta até um cego lá chega: quemnão sabe gerir a fartura, os biliões paraaeroportos e TGVs, e o clima de euforiaeconómica que ainda no início deste anoera cartilha de qualquer ministro que seprezasse, como vai saber guiar um bar-co no meio do lamaçal que até há poucofoi lagoa de serenidade virtual e julgadacom fundo para todas as loucuras denavegação? Vossa Excelência manda,Vossa Excelência é que sabe!

Pedro Machado deseja adesãode Coimbra, Figueira e Cantanhede

O presidente da Entidade Regional deTurismo do Centro Portugal, Pedro Ma-chado, manifestou anteontem o seu em-penho em que os municípios de Coim-bra, Cantanhede e Figueira da Foz adi-ram ao novo organismo.

Em declarações aos jornalistas no fi-nal da tomada de posse dos órgãos danova entidade, que decorreu em Coim-bra, Pedro Machado disse estar “forte-mente empenhado e disponível para tudo

o que estiver ao seu alcance” no sentidode que aqueles municípios adiram.

Entre as “consequências práticas” danão adesão ao novo organismo, PedroMachado enunciou, para os municípios,o “afastamento da capacidade de aces-so ao programa de investimentos para oturismo e a outros programas nacionais”e o facto de a região deixar de contarcom a contrapartida financeira corres-pondente à participação desses municí-

pios no Turismo do Centro Portugal.A posse dos órgãos da nova Entidade,

que vai ter sede em Aveiro e engloba 55dos 58 municípios da região, decorreu nohotel da Quinta das Lágrimas, suceden-do a uma sessão de trabalho, eventos pre-sididos pelo Secretário de Estado do Tu-rismo, Bernardo Trindade.

“O caminho faz-se caminhando. Senum primeiro momento não foi possívele na medida em que estão a ser disponi-

bilizados recursos financeiros pela admi-nistração central para que esta entidadepossa promover todos estes territórios,do meu ponto de vista não faz sentidoque estes municípios não estejam pre-sentes”, declarou o membro do governoaos jornalistas ao comentar a não ade-são daqueles municípios.

Bernardo Trindade manifestou-se con-victo, porém, que a sua inclusão “seráuma realidade a breve prazo”.

EMPOSSADO PRESIDENTE DA ENTIDADE REGIONAL DE TURISMO DO CENTRO PORTUGAL

8 5 A 18 DE NOVEMBRO DE 2008OPINIÃO

CASA BRANCA NEGRA

(...) A eleição de Obama, a ocorrer, é oresultado da revolta dos norte-americanosante a grave crise económica e a estrondo-sa derrota no Iraque, apesar de declaradacomo vitória até ao último momento, comojá aconteceu no Vietname. O fenómenoObama revela a força e a fragilidade dademocracia nos EUA. A força, porque acor da sua pele simboliza um acto dramáti-co de inclusão e de reparação: à Casa Bran-ca dos senhores chega um descendente deescravos, mesmo que ele pessoalmente onão seja. A fragilidade, porque dois temo-res assolam os que o apoiam: que sejaassassinado por racistas extremistas e quea sua vitória eleitoral, se não for muito ex-pressiva, seja negada por fraude eleitoral,o que não sendo novo (o W. Bush foi «elei-to» pelo Supremo Tribunal) representaagora uma ocorrência ainda mais sinis-tra. Se nada disto ocorrer, um jovem ne-gro, filho de um emigrante queniano e deuma norte-americana, terá o papel histó-rico de presidir ao fim do longo século XX,o século americano. (...)

Boaventura Sousa SantosVisão

BRECHA NA MURALHADA CIVILIZAÇÃO

O casamento é uma coisa impossível. Asimples descrição chega para o constatar.Duas pessoas unidas para toda a vida e de-dicadas às mais difíceis tarefas da humani-dade – educar crianças, aturar jovens, as-sistir a idosos – é uma clara impossibilidade.Quem tentar a experiência imediatamenteconfirma os enormes obstáculos que se le-vantam ao que inicialmente parecia um doceromance. Não existem casais sem proble-mas. Há os que os ultrapassam e os quenão os ultrapassam. Todo o verdadeiro amorpassa pela cruz.

Essa impossibilidade, no entanto, tornou-se há séculos comum e habitual graças auma das mais extraordinárias forças do pla-neta, a civilização. Controlando e elevandoos instintos básicos do ser humano, a civili-zação consegue maravilhas, realizando atéimpossibilidades práticas, como o casamento,democracia, matemática, ópera ou doçariaregional.

Infelizmente de vez em quando apare-cem uns políticos que, descobrindo com sur-presa aquilo que toda a gente sempre sou-be, decidem usar a lei para atacar a civiliza-

ção. Aconteceu recentemente entre nóscom as iniciativas legislativas sobre o di-vórcio. (...)

João César da NevesDN 27/Out/08

OS QUE HÃO-DE GUIAR-TEÀ VITÓRIA

O CDS não cuida dos seus maiores, nemrega a sua árvore genealógica. Recusou ocentrismo de Freitas do Amaral, desautori-zou o institucionalismo que Adriano Morei-ra nem teve tempo para fixar na mira, des-prezou o neoliberalismo de Lucas Pires, para– sempre empurrado pelos ventos eleitorais– vir aterrar nas mãos de Manuel Monteiroe Paulo Portas. Este acabaria por escorra-çar aquele, em espasmos intestinais onde,vistos os factos de fora, a ideologia nãometeu prego nem estopa. Nenhum dos idosé saudoso nessa casa da Família Adams sitano Largo do Caldas.

(...) E o CDS lá se vai afunilando, comum discurso triunfal sobre o bom resultadonos Açores (que ignora a Madeira e sobre-tudo a catástrofe de Lisboa) a justificar maisum assalto de viela escura, que é surpreen-der qualquer hipotética oposição interna comuma antecipação mais de 4 meses do seucalendário interno (com um pré-aviso de 15dias), que obriga a apresentar candidaturasaté 7 de Novembro e moções de estratégiaaté 10. Cego, surdo e mudo, o CDS avançaaos tropeções por um corredor cada vez maisestreito e mais escuro. Um dia, Paulo Por-tas recordará melancolicamente o que foimandar cada vez mais num partido que eracada vez menos.

Nuno Brederode SantosDN 26/Out/08

INVESTIMENTOS E SUBSÍDIOS

Quando se torna público que a Seguran-ça Social já perdeu 200 milhões de euros nasua carteira de investimentos, pareceria nor-mal que o ministro Vieira da Silva explicas-se, sentisse mesmo necessidade de expli-car, como é que este fundo é gerido, quemdecide das aplicações, que decisões foramessas, porque é que 500 milhões de eurosforam aplicados no BPN (um banco de vidaatribulada...), etc. Quanto mais não fossepara não tornar ridículas as lições de moralsobre o capitalismo e o mercado que o pri-meiro-ministro nos prodigou, se o motivomaior – o de este fundo dizer respeito aosdescontos e às reformas de cada um de nós– não relevar para o Governo.

Isto porque o sistema de Segurança So-cial assenta numa base contratual: de umaparte, os activos que efectuam os seus des-contos; da outra, o Estado que os recebe,assumindo a obrigação de garantir as suasreformas, bem como todas as outras pres-tações legalmente previstas e que fazemparte integrante deste contrato. Ora estasobrigações que o Estado assume deviamser sagradas e qualquer incúria ou tenta-ção de risco severamente censurados,quer por pôr em causa o financiamentoem situações como doença, invalidez ouvelhice, nas quais já não são possíveis ren-dimentos do trabalho, quer porque o Es-

tado não pode, por definição, quebrar estarelação de confiança. (...)

Maria José Nogueira PintoDN 23/Out/08

MANOBRAS DE OUTONO

Há várias lições possíveis a retirar danovela Manuela Ferreira Leite-SantanaLopes, a propósito da fatal candidatura do‘menino guerreiro’ à Câmara de Lisboa. Sóque em nenhuma delas Manuela FerreiraLeite sai bem na fotografia e eu lamento,porque, em acordo ou em desacordo, sem-pre achei que ela fazia parte do número res-trito dos que estão na política para servir enão para se servir dela.

Mas acontece, primeiro que tudo, que eunão tenho dúvida de que ela tem por Santa-na Lopes a mesma consideração política queeu tenho – isto é, nenhuma. As razões pelasquais Ferreira Leite aceitou a presidênciado PSD, como antes aceitara funções go-vernativas, são exactamente as opostas quelevam Santana Lopes a habitar eternamen-te na política. Por isso, ambos se confronta-ram há poucos meses e toda a gente perce-beu que o confronto era, não só entre duasformas radicalmente opostas de fazer polí-tica, mas, sobretudo, entre duas atitudes éti-cas radicalmente opostas de estar na políti-ca. Além disso, que já não é pouco, FerreiraLeite não ignora o desastre que Santana pro-tagonizou em Lisboa, sabe o estado de ruí-na em que ele deixou as finanças de Lisboa– como já antes deixara as da Figueira daFoz e as do próprio país. Ela sabe que o‘menino guerreiro’ serve, às vezes, para ga-nhar eleições ou animar debates, mas nãoserve para ser levado a sério e governarnem que seja uma paróquia de Trás-os-Mon-tes. Mas aceitou a candidatura de Santana,primeiro porque isso lhe resolve o problemade se ver livre dele, bem à maneira sibilinade Durão Barroso: se ganhar Lisboa, a vitó-ria poderá também ser reivindicada por ela;se perder, é de esperar que ele entre empousio mais uns tempos, embora necessari-amente curtos, como todos sabemos. (...)

Miguel Sousa TavaresExpresso 27/Out/08

ORDEM INTERNACIONALDESFASADA

A ordem internacional de que hoje dispo-mos está desfasada, porque os centros depoder são diversifi cados.

Isto já não é mais os cinco países quetêm direito de veto no Conselho de Segu-rança – uma coisa do fim da II Guerra quecumpriram todos, a organização da socie-dade internacional cumpriu o seu papel pre-cisamente no pós-guerra e por causa do pós-guerra.

Hoje percebemos que isto tudo está aprecisar de reforma ou de alternativas e éum mundo, digamos assim, onde se espe-ram resultados. Não me parece que se pos-sa acudir aos novos problemas com as mes-mas estruturas, tendo nós hoje uma tão di-versa maneira de olhar para os poderesmúltiplos e novos que surgiram entretanto.

Jorge SampaioRádio Renascença

DIREITO À PRIVACIDADE

É arrepiante ouvir dizer, com grande se-renidade, que a Inspecção das Finançasdeste País democrático, leu e-mails de cen-tenas de funcionários, sem o consentimentodestes, só para averiguar eventuais fugasde informação. E tudo fez sem qualquerconsequência.

(...) Diz a Lei, nos arts. 80º do CódigoCivil e 26º da Constituição, que todos de-vem guardar dever de reserva quanto à in-timidade da vida privada. O carácter uni-versal destes direitos vincula todas as enti-dades públicas e privadas que estão sujeitasa critérios de ponderação proporcional e deconcordância prática, em caso de conflito,com outros direitos fundamentais. São di-reitos jurídico-constitucionalmente protegi-dos. Não podem ser violados de forma gra-tuita, nem escancarados para averiguar fu-gas de informação. Os e-mails dos funcio-nários das Finanças só poderiam ser aber-tos e lidos de duas maneiras: por via de uminquérito e através de prévia autorização ju-dicial, como sucede nas escutas telefónicas,ou através de autorização do lesado queprescinda desse direito e que consinta essainvasão.

(...) De facto as nossas vidas (virtuais)estão ao sabor de um qualquer clique. Amesquinhez do argumento, para a devassae o abuso cometido, exige uma investiga-ção para que a Inspecção das Finançasaprenda a lição.

Rui RangelCorreio da Manhã 29/Out/08

KIT PARA REFLECTIR

(...) Tenho diante de mim o Kit Autonó-mico dos Açores. Peço ao leitor que refreiea inveja, que é dos sentimentos mais feiosque se pode ter, logo a seguir ao sportinguis-mo. Uma leitora amiga fez o favor de meenviar o kit, cuidando que eu gostaria de opossuir e de reflectir sobre ele. Tinha razão.Possuí-lo é uma honra, reflectir sobre ele éuma empreitada de tal monta que está forado âmbito das minhas capacidades. Reflec-tir, como bem sabe quem me lê habitual-mente, não é o meu forte. Também não seráo forte de quem me lê habitualmente, casocontrário não o faria. Cogito moderadamentebem, raciocino sofrivelmente, mas sou fra-co a reflectir – e o caso exige reflexão. Porsorte, o facto de não saber fazer qualquercoisa nunca me impediu de tentar. (...)

Ricardo Araújo PereiraVisão

ORÇAMENTO DE ESTADO

O Orçamento de Estado de 2009 provo-cou nas pessoas as reacções do costume.Trata-se de um documento fascinante, cujoarticulado, evidentemente, excita as emo-ções de todos. Algumas pessoas ficaram in-dignadas, outras ficaram desiludidas, outrasficaram receosas. Até agora, julgo ser oúnico a ter ficado comovido. Creio que épor isto que a VISÃO me paga: por ser oúnico cidadão suficientemente sensível parase emocionar com documentos oficiais doEstado. E a verdade é que, este ano, embo-

95 A 18 DE NOVEMBRO DE 2008 OPINIÃO

ra as Grandes Opções do Plano não me te-nham tocado como é habitual, o Orçamentofalou-me ao coração como nunca. (...)

Ricardo Araújo PereiraVisão

VÁCUO

(...) Hoje de manhã a televisão holande-sa a entrevistar-me: deve ser uma estuchapara os jornalistas porque não falo da minhavida e muito menos dos meus livros, elesque se defendam sozinhos. A certa alturasilêncio e a produtora a perguntar-me o quepensava eu. Não respondi. Para quê?

É que se respondesse dizia-lhe que nãopensava em nada, pensava no vácuo.

António Lobo AntunesVisão

A GOLPADA

(...) O clima de suspeição que recai so-bre tudo o que tenha a ver com sistema par-tidário é perigoso, mas lá que há razões paraisso há: das leis-medida ao recuo na trans-parência do sistema.

No último acto eleitoral, o percentual deabstenção foi de 50%, o que dá muito quepensar. Diga-se o que se disser e por maisrebuscadas análises que se queiram fazer, averdade é simples: 50% das pessoas não sereviram, pura e simplesmente, no espectropolítico-partidário. E isto é muito preocupan-te porque, quer se queira quer não, deslegi-tima e enfraquece a democracia.

Com um sistema a dar os piores sinais,os cidadãos não sabem quem é quem napolítica: quem está lá por interesse seu oude terceiros, quem está lá em regime de vo-luntariado. (...)

Paula Teixeira da CruzCorreio da Manhã 23/Out/08

A DEPRESSÃO PORTUGUESA

A consciência de que terminou um ciclodo capitalismo tem passado ao lado daque-les eventualmente mais apetrechados paradescodificar e proceder à reformulação dasgrandes categorias económicas. Gritar porKeynes e omitir Marx não é intelectual nemeticamente sério: é revulsivo. Há algo dedoentio em apagar a evidência do conheci-mento, tornando-o unilateral. As relaçõesculturais não são meramente conflitivas: re-presentam o espaço mais amplo da liberda-de. Leio textos editados na Imprensa portu-guesa acerca da crise financeira mundial enenhum dos que li incita à reflexão - sim àdepressão.

Portugal, aliás, é um concentrado dedeprimidos. Leia-se Manuel Laranjeira.Mas também Antero, Eça (que escondiao acabrunhamento com a zombaria e ocinismo) e, sobretudo, o imenso OliveiraMartins, cujo Portugal Contemporâneofundamenta um magno tratado do que fo-mos e do que somos. Além do mais, Mar-tins escrevia num idioma admirável, noqual a clareza se associava ao mais ele-gante sainete. Mas se quiserem uma ex-celente introdução a essa época, a essa gen-te e ao espírito de uma fascinante aventuracultural, estética e ética leiam, com mão diur-na e mão nocturna, A Tertúlia Ocidental,

de António José Saraiva, outro dos grandesesquecidos.

Baptista-BastosDN 29/Out/08

CONFIANÇA

(...) Não se entende como pode o PMpensar que os projectos de construção degrandes infra-estruturas continuam viáveis,questão que alguém tão insus-peito como o seu ex-ministrodas Finanças, Campos e Cu-nha, escalpelizou há poucosdias num artigo notável do Pú-blico.

A relação custo-benefícioenvolvida por esses projectosdeve ser cuidadosamente ana-lisada, como Manuela Ferrei-ra Leite tem reclamado repe-tidas vezes sem que o Gover-no se explique. E agora, pormaioria de razão, não pode dei-xar de se considerar uma aná-lise muito rigorosa das condi-ções efectivas de organização,no presente contexto mundial,de consórcios internacionaispara os avultadíssimos e one-rosíssimos financiamentos ne-cessários.

Afinal, sobre estes aspec-tos, e ao responder com cha-vões de estouvada e banal de-magogia a questões sobre oTGV, o novo aeroporto, asauto-estradas e as barragens,é o PM quem tem a impru-dência de laborar num cenáriopuramente hipotético e mani-festamente irreal. Se fosseatingido o crescimento de 0,6%que ele anuncia (e não vai ser),provavelmente não chegariapara os juros... (...)

Vasco Graça-MouraDN 29/Out/08

PORTO-LISBOA

(...) Depois da falência estrepitosa daFórmula Um e do autódromo do Estoril, da-quela empresa que ainda hoje está a contascom o Estado e das exéquias daquele Ralide Portugal, que enchia as matas de Sintracom vândalos, incendiários em potência ebêbados com tendências suicidas, que seatravessavam à frente dos faróis de cadabólide que se aproximava, tudo o que emPortugal se faz com competência e dimen-são no mundo motorizado passou para oPorto.

Circuito da Boavista e Red Bull Air Racedão “baile”, na terra e no ar, a qualquer ini-ciativa do género com que Lisboa sonhe.(...)

Manuel SerrãoJN 28/Out/08

AMBIÇÃO

À primeira vista, a ideia pode parecer nãosó megalómana mas também estranha, dadaa difícil situação que a Universidade portu-guesa atravessa. Mas na verdade a suges-tão de Paulo Teixeira Pinto, que defendeuhá dias que Portugal deveria apostar em

colocar uma Universidade portuguesa notopo dos rankings internacionais das me-lhores instituições do ensino superior, é umaexcelente ideia, que há muito defendo. Tra-ta-se justamente, a meu ver, do tipo de de-safio e de ambição de que Portugal urgen-temente precisa. Que, com um investimen-to insignificante (e peso bem a palavra!) secomparado com o que se tem feito em auto-

estradas, estádios de futebol e outras inutili-dades do género, pode ajudar o País a mu-dar de paradigma abrindo novas vias para oseu desenvolvimento, atraindo e fixando ta-lentos e competências de primeiro plano emPortugal.

Manuel Maria CarrilhoDN 2/Novembro/08

ELEIÇÕES USA

Tendo manifestado há muito tempo (logono começo das próprias primárias) a minhapreferência por Obama, fi-lo sempre na cer-teza de que Obama seria eleito Presidentedos EUA... para defender os interessesamericanos, claro está! E esses interesses,em vários momentos, não coincidirão comos interesses europeus.

Mas a diferença da eleição de Obamavirá dos valores, não dos interesses. E é essereencontro com valores que mais facilmen-te partilharão americanos e europeus queme motivam neste momento. Valores queuma certa retórica neoconservadora espe-zinhou e depreciou nestes últimos oito anose em relação aos quais os europeus, na suaesmagadora maioria, permaneceram afec-tos.

É que para os europeus em geral, e para

a esquerda europeia em particular, será sem-pre preferível que o Presidente dos EUA sejaalguém que sabe que a América precisa domundo. Já que a esquerda europeia que acre-dita na liberdade, no multilateralismo e natolerância, por seu turno, é a esquerda quesabe que o mundo precisa de uma Américapredisposta ao diálogo e liderada por quemsente na sua própria condição humana o va-

lor do respeito das diferen-ças!

Porque esse será, semdúvida, um mundo melhor!

António VitorinoDN 31/Out/08

VIRTUDESENLOUQUECIDAS

(...) É que apesar de as-pectos simpáticos como oseu optimismo e determina-ção – o que num país ten-dencialmente bisonho e con-formado não deixa de serassinalável – o primeiro-mi-nistro já mal disfarça a suapropensão para um autorita-rismo crescente, uma intole-rância relativamente a tudoo que o contraria. A sua im-paciência por não perceber-mos essa ideia de Portugal edos portugueses, que elecriou e o norteia, esse desíg-nio, uma espécie de Escan-dinávia sulista, de não ver-mos o nosso próprio interes-se, do qual ele se assumecomo principal representan-te, transmitindo a ideia da dis-pensabilidade das outras ins-tâncias: os partidos são irres-ponsáveis uns, requentadosoutros; os corpos intermédi-

os e as corporações, interesseiras; os críti-cos, pessimistas e mesquinhos.

Este voluntarismo visionário, aliado à pro-gressiva ocupação do espaço político, vai as-sumindo os contornos de um perigoso ates-tado de menoridade à sociedade no seu con-junto e de uma desvalorização das formas efórmulas de qualquer democracia para a le-gítima manifestação das diferenças. E abu-sos de autoridade, como o recente caso dadevassa mandada fazer pela Inspecção-Ge-ral das Finanças a milhares de e-mails, ou asatitudes persecutórias a funcionários públi-cos, ou ainda os “lapsos” como o da altera-ção da Lei do Financiamento dos Partidospela enviesada via da Lei do Orçamento,numa crescente impunidade.

Dá que pensar ser este o mesmo primei-ro-ministro que capitulou frente aos camio-nistas que ocuparam um eixo rodoviário es-tratégico e confessou que “... sentiu o Esta-do vulnerável...” não percebendo que o Es-tado nunca é vulnerável; ele, Sócrates, é queo foi. O mesmo que teve medo da rua aquandoda megamanifestação dos professores. Omesmo que remodelou o Governo depressae mal para pôr termo à mediatização do des-contentamento. (...)

Maria José Nogueira PintoDN 30/Out/08

10 5 A 18 DE NOVEMBRO DE 2008CRÓNICA

A OUTRA FACEDO ESPELHO

José Henrique Dias*

[email protected]

arte em café

* Professor universitário

Tão tarde. Sabes?, acendi a lareira. Pela primeira vezneste ainda não Inverno, quando Outubro se despe nas fo-lhas dos plátanos do jardim. Amanhã, Novembro vai entrarna memória dos meus mortos ainda mais viva, pousareiolhares de crisântemos na janela dos retratos e vou deixarcorrer aquela música de que tanto te falei. Fazes-me falta,fazes-me imensa falta. Estive a pensar, com os olhos mo-lhados nas labaredas que fui atiçando com os gestos lentosde que costumavas rir, a tenaz está a ficar desarticulada e ofole, que decoraste em pinceladas breves de miosótis, res-pira quase tão mal quanto eu, aquele meu primo que vempor aqui às vezes e de que gostavas pouco, nunca percebiporquê, mas dizias mal se ia embora “não é flor que secheire”, aquele meu primo, coitado do Agostinho, não émau homem, um pouco ingénuo, um tanto inculto, tenhopensado se não teria havido qualquer coisa que te disse deque não gostaste, algum galanteio que tomaste por atrevi-mento, ou quem sabe alguma palavra sobre mim que nãoperdoaste, mas eras injusta, fosse pelo que fosseeras injusta, como foste com o João Rui só por-que desajeitado como era teve a triste ideia de tedizer que gostava de um dia almoçar contigo asós, que tinha uma coisa importante para te dizer,a eterna dificuldade que tinhas de lidar com arealidade, sempre tão segura, tão perfeita, inte-lectual de esquerda com dizias e eu nunca per-cebi em que se traduzia, porque ao mesmo tem-po achavas que o mundo devia ser conduzido,governado por elites, parecias o Comte, lembro-me que um dia me disseste o homem tem mes-mo razão e eu lembrava-te o povo, só para teprovocar, para te ouvir, logo dizias claro que mepreocupo com o povo o pior é o cheiro, era a tuacostela aristocrata a saltar do barro do génesis,mas o meu primo, ia a dizer-te, apareceu ontemà noite, já eu tinha acendido a lareira e lia entre-cortado pelas recordações dos meus mortos umlivro perturbador do Júlio Cortázar, Rayuela, que significajogo da macaca, que se joga ao pé-coxinho atrás do bodre-lho que se lança, o bodrelho, palavra linda, aprendi-a quan-do fui para Chaves fazer a tropa, caçadores especiais, an-tes do embarque para Angola, alferes médico, contigo nocais em lenços de lágrimas, o João Rui a teu lado com arcompungido e a pôr-te a mão no ombro como a amparar-te, que eu vi lá da amurada quando silvou o ronco das amarrassoltas, adeus meu amor, dizia cá para dentro, e a tua mãocada vez mais longe, até ficares um ponto negro, dois pon-tos negros, que o João não te largou e no primeiro aerogra-ma já estavas a dizer-me que o palerma do João Rui anda-va armado em protector. Estava embrenhado na leitura,“Estou a atar os sapatos, contente, a assobiar, e de repentea infelicidade. Mas desta vez apanhei-te angústia, senti-teantes de qualquer organização mental, no primeiro instanteda negação”. Antes, em itálico, porque não há tempo, ape-nas duração, para um depois. Rayuela. Como foi possíveldemorar quase meio século a ser traduzido para portugu-ês?! Lembro agora que tenho a leitura cristalizada nas bo-lachas do chá deste fim de tarde, que foste exactamente tu,claro que foste tu, que me ofereceste o livro num dia emque resolvi fazer anos. Tu sabes que eu não faço anoscomo toda a gente, nunca me lembro do que está no bilhetede identidade, de resto esse é o dia do meu registo, pois eusei que nasci em outro dia e outro mês, mais recuado, meupai era um preguiçoso, tinha mais que fazer que ir a tempoe horas ao Registo Civil para dizer tenho mais um filho, umrapaz, quero que se chame Horácio. Rebelo com dois eles

O jogo da macacada mãe, Almeida e Silva cá do meu lado. Horácio RebelloAlmeida e Silva. Presente!. Era assim todos os dias na cha-mada no liceu, mal o senhor Saul tocava a sineta e vínha-mos a correr, falhado o último golo da bola de trapos nocampo de cima. Mas eu sempre escolhi um dia diferentepara fazer anos. Dizia assim: amanhã faço anos. Quantos?Não sei nem me interessa, amanhã faço os anos que querofazer, talvez, deixa ver, oitenta e sete, tinha para aí uns vintee quatro e as pessoas diziam, não eram as pessoas, era aminha Mãe, este rapaz está cada vez mais maluco, não seia quem sai, a mim não é, e ficava a rir, porque eu acho queera mesmo a Ela que saíra e Ela sabia isso muito bem egostava. Tenho de pôr mais uma acha na lareira, davamjeito uns guicitos para arder mais depressa, mas não tenho,o fole está meio rasgado, já te disse, arfa mais do que sopra,assim estou eu, o AVC deixou sequelas e nunca arribeidaquela pneumopatia que nunca se esclareceu, sindromade Loefller, disseram à falta de melhor explicação para ahemoptise, o internamento e a tomografia que então come-çava a fazer-se, a cultura bacteriológica e nem sinais dobacilo, mas a mancha lá estava no pulmão e o médico do

Caramulo disse-me não tenhas receio, rapaz, que se corrermal tira-se o pulmão. Como ficaste aflita! Afinal as coisasnão foram assim tão más, mas qualquer coisita me abalava,fumava como um cavalo, ficou a bronquite, o enfisema,sempre passei mal sobretudo deitado. Felizmente não che-gaste a ver-me assim. O Agostinho é que veio aqui e traziaa notícia. Puxou duma folha de jornal, dobrada no bolso,disse-me queres ver, Horácio, o que aqui vem? Estendeu-me o jornal e vinha a tua fotografia e o teu nome numrectângulo tarjado a negro, onde se cumpria o doloroso de-ver de se informar que foi Deus servido chamar à sua Divi-na Presença… Apesar dos anos, o teu rosto mantinha-sebelo e tinhas aquele mesmo olhar, que eu levei comigo noVera Cruz e me aconchegava as noites de insónia quandoas metralhadoras cantavam a canção da morte, comono poema do Alegre, tão daquela nossa realidade e revolta,o tempo a secar-nos os verdes anos e a esperança, comoos aerogramas que foram escasseando, e as palavras fo-ram mudando de sentido, e a verdade foi espreitando pordetrás de cada letra, Rayuela, jogar este jogo da vida ao pé-coxinho atrás do bodrelho que se lança para o sítio certo,

numerado, percorrer até acertar e mudar os in-tervalos do salto, sempre ao pé-coxinho, para láe para cá, que frio que agora está, a lareira pare-ce um círio e o teu rosto ainda me devolveu araiva quando o Agostinho me foi esperar ao caise me disse, Horácio, o que acontece é que ela eo João Rui…

Nunca soube mais nada, nunca quis saber maisnada. Trabalhei incessantemente até ao dia doAVC. Passei o consultório ao filho mais velho erecuso ir para um lar, como eles querem. Aqui,entre os meus livros, mesmo quando há frio e alareira esmorece, com as minhas recordações,consigo lembrar que tudo foi mentira, em boaverdade fui eu que te roubei ao João quando elepartiu para a guerra, porque já antes, quando con-versávamos no café da Praça da República, sa-bíamos ambos que ia ser inevitavelmente assim.Foi inevitavelmente assim. Só que não eras tu,

ou será que se agravou a confusão na minha cabeça? Quan-do me sento à braseira, na mesa de camilha, penso semprecomo era bom ter uma lareira. Tinhas razão, sou um ro-mântico incorrigível. Dava-me jeito ter um AVC e ter feito aguerra de África. E ter mesmo saído à minha Mãe, que eraarrumada, tudo certo, a horas. Mas fui logo sair ao Pai.Anarquista e diletante. Se ao menos soubesse ao certo odia em que nasci, sabia ao certo o dia em que vou fazeroitenta e sete. O bilhete de identidade diz que é amanhã.Só que amanhã estou em Lisboa, vai haver um terramo-to, e o padre Malagrida vai dizer que é castigo de Deus,por causa dos Gatos Fedorentos, que andaram a fazercelebrações eucarísticas com discos de instalação do Ma-galhães que, ao contrário do navegador da homenagem,é estrangeiro ao serviço do rei de Portugal. Este ano de1755 está insuportável. Era melhor ser Outubro, 1929,Terça-feira, 29. Para voar do meu arranha-céus de NovaIorque. O banco faliu. Não comprei o televisor de plas-ma. Em quarenta e oito prestações. Ao pé-coxinho. Comona macaca. Com o padre Malagrida a fazer de gato fe-dorento. A ver se não brincam com coisas sérias. E seescutam as lições da Senhora Palin e lhe oferecem umMagalhães. Sem disco de instalação. E uma caixa depastéis de Belém. O sítio do presépio. Para rezar a cadadentada de nata pelas almas de todos os embriões. Comcanela e a efígie de Charles Darwin com uma parra nosexo.

– É melhor dar-lhe Haldol. Injectável. Está a repetir acrise.

115 A 18 DE NOVEMBRO DE 2008 COIMBRA

Por iniciativa do Pelouro da Cultura daCâmara Municipal de Coimbra vai reali-zar-se nesta cidade, no próximo sábado (dia8), o I Encontro Nacional de Toponímia deCoimbra.

Este Encontro decorre na Casa Munici-pal da Cultura, com o seguinte programa:

09H00 – Recepção dos participantes09H30 – Sessão de abertura pelo Presi-

dente da Câmara Municipal de Coim-bra. Documentário sobre Coimbra e Re-gião. Apresentação do Livro Novos Topó-nimos - Coimbra 2002-2008

10H15 – A Importância da Toponímianos Centros Históricos – Dr. José No-ras, Secretário Geral da Associação deMunicípios com Centro Histórico.

10H45 – Da Toponímia tradicional àToponímia actual – Prof. Doutor Joséd’ Encarnação, Universidade de Coimbra.

Moderador: Dr. José Francisco Rodei-ro, Advogado, membro da Comissão de To-ponímia de 2002 a 2006.

11H30 – A Toponímia como AgenteCultural – Dr. João Mendes Rosa, Di-rector do Museu Arqueológico MunicipalJosé Monteiro (Fundão)

12H00 – Descerramento de Placa deHomenagem ao Dr. Alberto Vilaça. Cola-boração do Coro Municipal Carlos Seixas

14H30 – O topónimo, a Autarquia e osServiços – A Toponímia e a Comunidade– Eng.º Carlos Inácio Fonseca, Directorde Serviços nos CTT em Lisboa, membroda Comissão de Toponímia de 2002 a 2006.

Moderador: Prof. Doutor Manuel Au-gusto Rodrigues, Universidade de Coimbra

15H15 – Numeração de Polícia – EngºOctávio Alexandrino, Chefe da Divisãode Informação Geográfica e Solos da Câ-mara Municipal de Coimbra

16H00 – As vantagens de uma Comis-são de Toponímia plural; Critérios e Com-petências para atribuição de topónimos– Dr. Mário Nunes, Vereador da Culturada Câmara Municipal de Coimbra e Presi-dente da Comissão de Toponímia

16H30 – A Maçonaria na Toponímiade Coimbra – Prof. Doutor Lusitano dosSantos. Moderador: Dr. Pedro ManuelMonteiro Machado, Presidente da Regiãode Turismo do Centro, Vereador do Pelouroda Cultura da Câmara Municipal de Mon-temor-o-Velho.

17H00 - Debate17H30 – Encerramento com Momento

Musical, seguido de Porto de Honra

NO PRÓXIMO SÁBADO, EM COIMBRA

I Encontro Nacional de Toponímiaas vivas”, entendendo-se, neste pressupos-to, individualidades falecidas há menos detrês anos. Verifica-se, contudo, uma tendên-cia para a diminuição do período que decor-re entre a morte de uma figura a homena-gear e a atribuição do topónimo, sobretudo,se se tratar de uma personalidade marcan-te na cidade e ou no país.

Constitui, também, um princípio, que, ge-ralmente, é respeitado, de não modificar osnomes de topónimos já deliberados e colo-cados. Somente, em casos muito excepcio-nais se alterará a regra.

Na distribuição dos topónimos, aplica-se,por vezes, o critério de limitar a área temá-tica que importa identificar, como é o casodas Cidades Geminadas com Coimbra, quese distribuíram por um espaço físico, previa-mente reconhecido.

Atribuição de topónimos, não apenas, apersonalidades da cidade, mas, também, aacontecimentos e figuras do País, e a ou-tras de relevância internacional, de que sesublinham: Aristides Sousa Mendes, SantoAntónio, Fernando Lopes Graça, ÁlvaroCunhal, Albert Einstein e Paul Harris, Rua1º de Dezembro, Rua 25 de Abril, que peloseu simbolismo, pela sua acção, mérito, pres-tígio e outras qualidades e capacidades sediferenciaram e se distinguiram no contextogeral da comunidade e da sociedade.

Nesta regra de aplicação de topónimos,privilegia-se quer o Professor Universitário,o Médico, o Cientista, o Advogado, o Políti-co, e, também, o Comerciante, o Industrial,o Mandador de Fogueiras, o Desportista, oJornalista, o Ardina, o Artesão, a Imprensa(exemplo de “O Conimbricense”), e de ou-tros valores de referência.

Para melhor identificar a malha urbanada cidade e do concelho e orientar os Cida-dãos, a Comissão de Toponímia adoptou, apar da atribuição dos topónimos, forneceros números de polícia em áreas de urbani-zação, com aprovação do licenciamento,com alvará de loteamento e autorização deedificação.

A apoiar este trabalho, existe a DivisãoGeográfica e Solos da Câmara Municipalde Coimbra que colabora com a Comissãode Toponímia e fornece um imprescindívelcontributo na identificação cartográfica.

A par do indispensável registo dos topó-nimos e sua actualização a nível cartográfi-co procede-se, em breve tempo, à coloca-ção definitiva das placas toponímicas, quevalidam os topónimos atribuídos.

TOPONÍMIA

A palavra Toponímia, derivada do Gregotopos, “lugar” e ónyma, por ónoma“nome”+ ia, é um registo de informações eeventos memoráveis, que acompanham odesenvolvimento urbanístico e populacional,acusando as alterações havidas no viver dascomunidades, reflectindo os costumes, astradições, as movimentações das activida-des económica, social e cultural, as tendên-cias de ordem política e religiosa, as modifi-cações educacionais, os ciclos de história ea evolução ou retrocesso da sociedade.

COMISSÃO DE TOPONÍMIA

Estabelecendo a lei que compete às Câ-maras Municipais “estabelecer a denomi-nação das ruas e praças das povoações”, aComissão de Toponímia de Coimbra, queesteve 14 anos inactiva, foi reactivada porproposta de Mário Nunes, Vereador da Cul-tura .

A Comissão de Toponímia de Coimbra éuma das mais democráticas do País, por-quanto é composta por personalidades cre-denciadas, que representam instituições cul-turais, artísticas, empresariais, sindicais, cí-vicas, religiosas, académicas, e os partidospolíticos com assento na Assembleia Muni-cipal.

O Município preside, na pessoa do Verea-dor da Cultura, Mário Nunes, acompanha-do por representantes das seguintes entida-

des: Universidade de Coimbra – o Pró-Reitor José António Bandeirinha (desdeFevereiro de 2007); Conselho da Cida-de – Jorge Castilho (desde Março de2003); CTT – Correios de Portugal –Fernando Marques (desde Junho de 2007);União dos Sindicatos de Coimbra –Aníbal Alves Fortunato (desde 2002);Movimento Artístico de Coimbra(MAC) – Augusto Alfaiate (desde Junhode 2006); Diocese de Coimbra – Cóne-go Aurélio Campos (desde Outubro de2003); Associação Comercial e Indus-trial de Coimbra (ACIC) – Franciscoda Silva Paiva (desde 2002); Grupo deArqueologia e Arte do Centro (GAAC)– Alvarino Carmo Barata (desde Junhode 2006); Associação para o Desenvol-vimento da Alta de Coimbra (AD-DAC) – Luís Alte da Veiga (desde Junhode 2006).

Integram ainda a Comissão de Toponí-mia os seguintes representantes dos parti-dos com assento na Assembleia Munici-pal:

- Coligação por Coimbra (PSD/CDS-PP/PPM) – Hélder Abreu (desde 2002) eJoão Serpa Oliva (desde 2006)

- Partido Socialista (PS) – Isabel No-bre Vargues (desde Junho de 2005)

- Coligação Democrática Unitária(CDU) – José Alberto Gabriel (desde 2006)

- Bloco de Esquerda (BE) – Serafimdos Santos Duarte (desde 2006)

Um total de 15 elementos efectivos,acompanhados, nas reuniões pelo Presidenteda Junta de Freguesia em que são atribuí-dos os novos topónimos. Logo, uma plurali-dade democrática que analisa, opina, suge-re, adia, esclarece, aprova, ratifica e/ou in-defere a designação proposta para rua, lar-go, instituição, praça, via, travessa, acessibi-lidade, equipamento público e outros benssociais, e adequa o topónimo do motivo aoevento ou à actividade principal, que melhordefine e enquadra o distinguido.

OBJECTIVOS

Preservar a memória de lugares tradicio-nais e naturais, de costumes, de aconteci-mentos, de actividades, de profissões, deinstituições, de pessoas e outros - eis umdos objectivos da Comissão de Toponí-mia.

É consensual, no seio da Comissão deToponímia, não atribuir topónimos a “pesso-

12 5 A 18 DE NOVEMBRO DE 2008ENTREVISTA

O ESQUELETO DA PIDEE QUADROS PREFERIDOS

CENTRO – Quando sentiu vocaçãopara a pintura?

Mário Silva (MS) – Quando eu tinhacinco anos, o meu pai estava emParis(onde trabalhou com Madame Cu-rie) e num dos Natais que veio, em 1935,trouxe-me o dicionário Petit Larousse acores. Na altura era tudo a preto e bran-co e este tinha as bandeiras coloridas. Éclaro que desapareceu o Petit Larousse enasceu o artista: fiz a minha primeira co-lagem com as bandeiras do dicionário!...

CENTRO – Quais os artistas quemais o influenciaram?

MS – Picasso e Vieira da Silva.CENTRO – Se não fosse pintor, que

outra profissão gostaria de ter?MS – Se na altura existisse Arquitec-

tura em Coimbra eu teria sido arquitecto.Mas não existia, também não havia Pin-tura, não havia nada nessa área. Fui paraa Universidade e iniciei o curso de Geó-grafo e depois fui para Lisboa com umacadeira que faltava. Depois mudei paraMatemática para ver se acabava o curso,porque também só me faltava uma cadei-ra. Entretanto casei e já não acabei. Omeu pai nunca se chateou e ajudava-me.Até me fez um atelier na nossa casa (queainda existe ao pé da de Bissaya Barre-to). Essa casa tinha um lado, onde existiauma porta, que era muito húmido, pelo quecriava bolor quase com um palmo. Resol-vi pegar num esqueleto que a minha irmãtinha (para estudar Anatomia, pois ela for-mou-se em Medicina), e coloquei-o nes-se local. Rapidamente esqueleto ficoutodo coberto de bolor, parecendo que láestava uma pessoa morta. Assim, quandoaparecia alguém que eu queria assustar,abria a porta e dizia que aquilo era umgajo da PIDE que lá tinha ido a casa eque tive de o matar antes que me levas-sem. O meu pai é que não achou graça,ficou lixado com essa brincadeira...

CENTRO – Há algum dos quadrosque pintou de que não tenha conse-guido separar-se, que não venderiapor dinheiro algum?

MS – Há. Por exemplo, a minha pri-meira pintura abstracta - S/título, 1955. ANatureza Morta, 1970 é uma história desaber pintar. O Cristo acabado de morrere a primeira Ceia que eu fiz com a Mada-

MÁRIO SILVA CONTA HISTÓRIAS EM ENTREVISTA AO “CENTRO”

Das prisões pela PIDE ao ingresso na Maçonariapassando pela audiência com o Rei da SuéciaMário Silva é uma figura que não deixa ninguém indiferente. Quase acompletar oito décadas de vida, com mais de meio século de actividadeartística (sobretudo como pintor e escultor), representado em colecçõese museus de todo o Mundo, continua a ser uma figura polémica, assumi-damente anarquista, provocador, mas também solidário e com umalegião de amigos. A propósito da distinção que acaba de lhe ser concedi-da pela Câmara Municipal da Figueira da Foz, o “Centro” foi fazer-lheuma entrevista, onde revela episódios curiosos.

lena, muito antes de falarem nisso. Foi há20 anos que o pintei e pus o peixe espada,símbolo da Igreja Católica, eles comeramo peixe e beberam vinho – tem lá o Deusa comandar o Cristo.

DAS ARMAS QUE NÃO TINHAÀ ENTRADA NA MAÇONARIA

CENTRO – A perseguição políticade que seu Pai foi alvo influenciou assuas ideias nessa área?

MS – A minha primeira manifestaçãopolítica foi quando o Norton de Matos apa-receu nos jornais com um avental e euperguntei ao meu pai quem era aquele Se-nhor, respondendo-me ele que era o grão-mestre da maçonaria portuguesa. No diaseguinte (eu tinha cerca de 17 anos) es-crevi com tinta, em frente a casa do meupai: Norton. O meu pai ficou lixado. Maistarde, engatei uma garota muito gira, elatinha carro e fomos os dois para Lisboa,ela era filha do Krupp, dono das fábricasonde se faziam os canhões e armas doHitler. Ora a menina veio vender materialaqui e a PIDE soube quem ela era comoeu andava com ela prenderam-me. Esti-ve lá 3 meses até ser interrogado. A pri-meira pergunta que o inspector da PIDEme faz é onde foi: “Onde é que estão asarmas?”. E eu respondi: “Mas quais ar-mas?”. E ele insistiu: “Aquela senhoracom quem você anda, quais são as rela-ções que tem com ela, onde é que estão

as armas que vieram para os comunis-tas?”. Eu expliquei-lhe que as minhas re-lações com ela eram sexuais, mais nada!E assim acabou a conversa, mandou-melogo embora e não me bateu, até achoupiada à minha brincadeira, que até eraverdade,

CENTRO – Ser assumidamenteanarquista não é um pouco contradi-

tório com o facto de pertencer à Ma-çonaria, com todos aqueles rituais?

MS – Não! uma coisa é Maçonaria,outra coisa é anarquismo. Anarquismo épara a pintura e para o meu modo de vida,sou anarca porque gosto de estar semprecontra todos e contra tudo, por isso é queeu nunca fui para nenhum partido. Che-guei a ser convidado, há muitos anos, paraPresidente de Turismo na Figueira da Foz,mas não aceitei. Entrei para a Maçonariaem Coja, tinha eu 20 anos. Agora estouadormecido mas continuo maçon.

REI DA SUÉCIAPERMITIU EXPOSIÇÃO

CENTRO – Tendo vivido e traba-lhado em diversos países, qual foiaquele de que mais gostou?

MS – A Suécia. Em 1958 tinha feitouma exposição, vendido uns quadros e fuipara lá de boleia. A PIDE não sabia queeu tinha ido embora. Levei uns quadros equando lá cheguei quis fazer uma exposi-ção. Nessa altura uma galeria levava 30contos por semana, o que era muito di-nheiro! Pedi então uma audiência ao Rei,disse-lhe o que pretendia, ele achou piadae deu autorização para que o pintor Má-rio Silva fizesse uma exposição nas insta-lações da Rádio Sueca, e porque tinha pro-paganda muita gente foi visitá-la.

CENTRO – Quais são os pintores,portugueses que mais aprecia?

MS – A Vieira da Silva, claro, o JúlioPomar e o Júlio Resende.

CENTRO – Que significado tem,para si, a distinção que a Figueira daFoz acaba de conceder-lhe?

MS – Penso que foi uma bonita acçãodeste Presidente da Câmara, na medidaem que eu já fiz centenas de quadros so-bre a Figueira. A propósito, uma das coi-sas que ninguém sabe é que eu fiz dezquadros, 3 metros por 3, que era tipo “a xkm Figueira da Foz espera por si”, paraserem colocados na estrada Lisboa-Por-to, que passava por Coimbra. Isto já foidepois da Revolução, estávamos em 1978,e eu gostava de saber onde estão essesquadros que foram feitos para o turismoda Figueira da Foz. É uma pergunta queeu aqui deixo: onde estão esses quadrosa,bem como uma escultura que eu tambémfiz nessa altura e que igualmente desapa-receu.

CENTRO – O que pensa da situa-ção em que está o Museu Nacionalda Ciência e da Técnica, criado porseu Pai, o Prof. Mário Silva, expulsoda Universidade pelo regime salaza-rista?

MS –Aquilo era um Museu Nacional,agora é o museu de Coimbra. O meu painunca quis que o museu fosse da Univer-sidade. Passou a ser um Museu local, oque foi um disparate, quanto a mim, por-que há sempre muito menos dinheiro nasUniversidades. Quando era Nacional, o

dinheiro vinha directamente do Ministé-rio. Enfim, penso que o museu não existe,infelizmente acabaram ele!

Texto e fotos de Carina Martins

Com a distinção que lhe foiconcedida pela Câmara Municipalda Figueira da Foz

135 A 18 DE NOVEMBRO DE 2008 REPORTAGEM

NA CASA-MUSEU MIGUEL TORGA

Clara Rocha veio a Coimbra falarsobre a vida e obra de seus Pais

Clara Rocha, Professora catedrá-tica de Literatura na UniversidadeNova de Lisboa, voltou na passadasexta-feira a Coimbra, à casa de seusPais, agora transformada em Casa-Museu Miguel Torga.

Veio proferir a primeira conferên-cia de um ciclo intitulado “Identida-des”, promovido pela Direcção daCasa-Museu, a que preside CristinaRobalo Cordeiro, Vice-Reitora daUniversidade de Coimbra.

Presentes diversos amigos e admi-radores de Miguel Torga, alguns de-les frequentadores da casa quandonela residia Clara Rocha com seusPais – com ela própria viria a subli-nhar na palestra que proferiu.

Antes, Cristina Robalo Cordeiro,agradeceu a presença de todos e, emespecial, a disponibilidade de ClaraRocha para vir abrir esta série de En-contros que se prolongará, com umaconferência mensal, até Junho do pró-ximo ano, altura em que se efectuaum Colóquio para abordar diversas in-terrogações suscitadas pela vida eobra do poeta.

Clara Rocha começou por lembrarque foi em 1940 que Torga abriu con-

sultório em Coimbra e se casou comAndrée Crabbé (uma jovem belga quefora aluna de Vitorino Nemésio na Uni-versidade Livre de Bruxelas e que em1938 viera a Portugal frequentar umcurso de férias, aqui conhecendo omédico Adolfo Rocha, verdadeironome do poeta).

A PRIMEIRA CASANA ESTRADA DA BEIRA

Nessa altura o casal instalou-seperto do Largo da Portagem, numa

pequena casa na Estrada da Beira,“com vista das traseiras para o Mon-dego”, onde viriam a receber muitosintelectuais e amigos, entre os quaisEugénio de Andrade, Paulo Quintela,o escritor brasileiro Ribeiro Couto eRuben Andresen Leitão. Foi, aliás,Ruben A. que em 1950 encenou em

Londres a peça Mar, no King’s Col-lege onde era leitor de Português, ten-do sido essa primeira representaçãono estrangeiro do texto de Torga.

Só em 1953 Miguel Torga e suaMulher se mudaram para a casa darua Fernando Pessoa, nº 3, onde mo-raram até ao fim das suas vidas. Epor esta casa, como Clara Rocha re-cordou, igualmente passaram muitaspersonalidades – desde Presidentesda República, Primeiros-Ministros eoutros políticos, até embaixadores, in-telectuais, editores estrangeiros e so-bretudo muitos amigos.

Clara Rocha citou, entre outros,João Villaret, Murilo Mendes, Lucia-na Stegagno Picchio, GuilherminoCésar, Jean-Baptiste Aquarone (o pro-fessor da Universidade de Montpelli-er que em 1960 lançou a primeira pro-positura de Torga ao Prémio Nobel),António José Saraiva, Jacinto do Pra-do Coelho, Lindley Cintra, Sophia deMello Breyner Andresen, AlexandreO’Neill, Günter Grass, os tradutoresDenis Brass (que em 1950 publicaraem Inglaterra uma tradução de Bi-chos com o título Farrusco the Bla-ckbird and Other Stories from thePortuguese), Claire Cayron e EloísaAlvarez, e ainda figuras da vida polí-tica portuguesa como Fernando Vale,Ramalho Eanes, António Barreto,Mário Soares, Manuel Alegre, Antó-nio Campos, Fausto Correia e Antó-nio Arnaut.

Como Clara Rocha sublinhou, “Tor-ga tinha o gosto e a arte da conversa,e os seus interlocutores sabiam tam-

bém que a intimidade propicia uma so-ciabilidade mais intensa e mais calo-rosa, que na casa do poeta costuma-va ser ritualmente assinalada”, quercom vinho fino servido aos amigos,quer com almoços ou jantares de ani-mado convívio edebate de ideias

Clara Rocha referiu-se depois à ori-gem e à história de alguns dos móveise objectos da casa (pertencentes aoespólio por ela oferecido à CâmaraMunicipal de Coimbra), revelando queTorga gostava de visitar antiquários eapreciava o mobiliário rústico dos sé-culos XVII e XVIII, a arte sacra e acerâmica espanhola. E aludiu tambémao valioso espólio literário que doou àCasa-Museu.

O LUGAR DE TORGA ERAA PRÓPRIA ESCRITA

“De tudo isto – vivências, memóri-as, objectos – é feita a casa de meuspais, que foi também a minha durantemais de quarenta anos” – referiu Cla-ra Rocha, para, mais adiante, concluir:

“Durante muitos anos vi aqui meupai escrever, emendar textos manus-critos e provas tipográficas, e muitasvezes o ouvi de noite dizer em voz altapoemas acabados de compor, para pôrà prova a sua harmonia e a justezados seus ritmos. Mas verdadeiramen-te o lugar de Miguel Torga era a pró-pria escrita, era dentro dela que o po-eta vivia em certas horas, ao mesmotempo alheado e inteiro. E era na es-crita que gostava que os seus leitoreso procurassem, o compreendessem eo amassem. Por isso a casa-museuMiguel Torga não é mais do que umapeça dum conjunto biográfico, convi-dando à leitura e à fruição da suaobra, a melhor forma de homenagemque podemos prestar a um escritor”.

Depois da conferência, estabele-ceu-se um animado diálogo, com epi-sódios do convívio com Miguel Torgaa serem evocados por alguns dos pre-sentes, como Tello de Morais, Sá Fur-tado e Karl Delille.

Como acima se refere, este Ciclode conferências na Casa-Museu Mi-guel Torga vai prolongar-se até Maio,estando prevista para o corrente mêsde Novembro a intervenção de MárioSoares. Os outros conferencistas con-vidados são Almeida Faria (Dezem-bro), Maria Alzira Seixo (Janeiro),António Arnaut (Fevereiro), José Car-los Seabra Pereira (Março), José LuísPeixoto (Abril), José Augusto Bernar-des (Maio).

Clara Rocha voltou à sua antiga casa para falar da vida e obra de seus Pais,Miguel Torga e Andrée Crabbé Rocha

Na assistência vários amigos de Miguel Torga, que evocaram episódiosda sua convivência com o poeta

- MÁRIO SOARES DEVERÁ SER O PRÓXIMO CONFERENCISTA, AINDA ESTE MÊS

14 5 A 18 DE NOVEMBRO DE 2008FESTA DAS LATAS

Fotos de Dinis Manuel Alves

Na passada semana Coimbra voltoua viver a tradição da Festa das Latas,que, para além dos espectáculose de outras iniciativas culturais,desportivas e recreativas, tevecomo ponto alto o cortejovulgarmente conhecido por “Latada”.É dessa manifestação estudantil(que este ano teve o ineditismode abrir com o Presidente da AACa conduzir duas vacas,alegadamente magras...)que aqui deixamos algumas imagens

155 A 18 DE NOVEMBRO DE 2008 EDUCAÇÃO/ENSINO

* Professora e dirigente do SPRC

Isabel Dias *

A luta travada pelos professores contraas políticas educativas seguidas pelo actualgoverno tem sido pretexto para uma espé-cie de deriva discursiva, atacando-se com omesmo vigor o ministério da educação etodos os sindicatos que, agregados na plata-forma, teriam traído os docentes ao assina-rem o memorando de entendimento.

O que me causa alguma perplexidade nãoé que se questione a assinatura do memo-rando, facto mais que legítimo em qualquerdemocracia que se preze; o que me surpre-ende é a representação social dos sindica-tos, dos sindicalizados e dos sindicalistas queaí se foi perfilando. Com efeito, os sindica-tos foram apresentados, nalguns discursos,como organizações de insondáveis desígni-os e inconfessáveis motivações; os sindica-lizados, como manso e adormecido rebanho,pouco dado ao escrutínio crítico da realida-de; e os sindicalistas como bando de dúbiospastores, vendidos e subservientes em rela-ção a um sistema político e partidário! Nadatendo contra a simplificação, parece-mecontudo ser de questionar a quem serve ta-manho simplismo esquematizador, tamanhoressurgir de estereótipos próprios de outrostempos.

Será que é difícil de perceber que se estáa mandar fora o bebé com a água do ba-nho? Que se desviam e desconcentram asatenções daquilo que é primordial e que émanifestar publicamente que as medidas

A 8 de Novembrovamos todosvamos juntos!

tomadas pela tutela da educação estão aesboroar completamente o que ainda resta-va da escola pública, subvertendo o quedeveria ser a essência do trabalho docente,afastando as últimas réstias de democraciada gestão escolar e abrindo o caminho àproliferação de atitudes discricionárias e dedespudorado clientelismo? Que se perde, acada dia que passa, a dignidade da própriaprofissão, lançada nas garras da opiniãopública, que a senhora ministra da educa-ção ganhou quando perdeu os professores?

Reivindicar direitos é legítimo e até dese-jável, na condição de não pôr a perder ou-tros já conquistados e porventura tão ou maisimportantes! A existência de sindicatos é umdireito inquestionável de todos os trabalha-dores, activamente reivindicado e exercidopor tantos e tantos, sobretudo quando a le-gislação laboral e a prática do mundo em-presarial apontam para uma vulnerabiliza-ção dos vínculos contratuais e para uma fra-gilização dos direitos. Esta não é altura paratentar a divisão, a atomização da força rei-vindicativa que detemos; mas é o momentode nos unirmos e de nos fazermos repre-sentar e ouvir nas estruturas que têm efec-tivo poder para nos defender, no sentido decombater aquilo que de facto está mal.

Na hora de nos defendermos, não pode-mos ignorar de onde vem o ataque e o alvoque pretendemos atingir - neste caso, o alu-vião de decretos e decretinhos, circulares e

despachinhos, ofícios e rectificativos, gre-lhas, descritores e indicadores que nos im-pedem tão-somente de dar aulas.

Seria bom que se entendesse que umcerto discurso maniqueísta contra as orga-nizações sindicais poderá ter custos pesa-díssimos para todos nós, pelo esvaziamento,pela indignidade que vai sendo associada àsua representação social e pela óptima aju-da que presta aos progenitores das políticasque combatemos. A continuar assim, quasese poderá perguntar se o que se pretende éperder os sindicatos, para ganhar a ministrada educação!

Estou certa que não e que nos cabe anós, professores, cidadãos críticos e exi-gentes, manifestar publicamente o repú-dio pelo desmando que sobre nós tem im-pendido, passando o testemunho aos nos-sos alunos, que também educamos, de quea dignidade é um bem precioso, que temde ser acautelado e preservado, sob penade nos metamorfosearmos, de facto, emseres rastejantes.

Dia oito de Novembro vamos ser aindamais, activos e participativos; com os sindi-catos, alguns, muitos, mesmo muitos, nãoserão só sindicalizados mas sindicalistas - oque é uma belíssima forma de passar davoz passiva para a voz activa; contudo, omais importante é que vamos muitos, va-mos todos, vamos juntos.

ADVERTE A MINISTRA DA EDUCAÇÃO

Professores sem avaliaçãonão progridem na carreira

A Ministra da Educação, Maria de Lur-des Rodrigues, advertiu na passada sexta-feira que os professores que não se sub-meterem ao processo de avaliação “nãoreunirão condições para progredir na car-reira, como qualquer funcionário público”.

A Ministra, que falava aos jornalistas àmargem do 2º Encontro de Educação deAnadia, disse que não há escolas a rejeitara avaliação, mas sim alguns professores, eque a maioria dos estabelecimentos de en-sino e dos docentes está a fazer um esfor-ço, no quadro da autonomia das escolas,para implantar o sistema de avaliação.

“Há professores que não querem seravaliados e já o sabemos há muito tempo,mas o país não entenderá que os professo-res sejam uma classe à parte, pelo que te-rão de estar sujeitos a regras de avaliaçãocomo os outros profissionais”, comentou.

Questionada sobre as consequênciaspara aqueles que não aceitarem ser sub-metidos ao modelo de avaliação, Maria deLurdes Rodrigues foi peremptória: “A con-

sequência imediata é que, não sendo avali-ado, o professor não reúne as condiçõespara progredir na carreira, como qualquerfuncionário público”.

A Ministra sublinhou que as escolas pú-blicas “estão a ter mais alunos e melhoresresultados”, de acordo com a avaliaçãofeita pelo Ministério a 300 escolas, que re-vela as várias dinâmicas, para além dosexames.

Maria de Lurdes Rodrigues criticou os“rankings” das escolas feitos com base nosresultados dos exames, dizendo mesmo que“há interesse em desvalorizar o trabalhoda escola pública, porque esses rankingspromovem a comparação entre o que nãoé comparável, numa atitude pouco séria deexaltação dos colégios privados”.

“Misturam escolas que levam dez alu-nos a exame e que os escolhem com es-colas públicas que levam a exame mais demil alunos, e reduzir a avaliação de umaescola à nota média dos exames é insufici-ente”, criticou.

Quanto à possibilidade de acabar comreprovações no ensino público básico, aministra afirmou que não teve qualquer ini-ciativa nesse sentido, havendo apenas umparecer do Conselho Nacional de Educa-ção que ainda não conhece e sobre o qual,a seu tempo, se irá pronunciar.

Já quanto a casos que têm sido rela-tados em alguns meios de comunicaçãosocial, de alunos que reprovam por fal-tas dadas por motivo de doença, Mariade Lurdes Rodrigues disse que “têm deser corrigidas as situações anómalas eexcessivas”, mas devolveu o problemaàs escolas.

“O Estatuto do Aluno é uma lei gerale é importante que, na sua transposiçãopara os regulamentos das escolas, seencontrem soluções equilibradas, ouvin-do os pais e os próprios alunos se já ti-verem idade para se pronunciar. Umacriança doente tem de ter, por parte daescola, a consideração da sua situação”,concluiu.

16 5 A 18 DE NOVEMBRO DE 2008OPINIÃO

Seria importante que no âmbito deuma universidade, pública ou privada,fosse feita e depois publicada em li-vro uma tese sobre a evolução da no-ção de casamento em Portugal. Se taljá tivesse sucedido, eu teria ido com-prar esse livro e tê-lo-ia lido com cui-dado antes de escrever este artigo.Mas nada encontrei nas livrarias e te-nho, assim, de abordar o tema com osconhecimentos de um cidadão comum,não especialista na matéria.

Assim, na primeira dinastia, o Es-tado português (isto é, os reis), nãodecidiam as leis sobre os casamentos.Eles próprios tinham de se casar emconformidade com as leis da IgrejaCatólica – com a qual, aliás, tiveramalgumas dificuldades. Mas havia umaoutra religião minoritária, a religião ju-daica, e os judeus não casavam nasigrejas. Tinham o seu casamento pró-prio nas sinagogas, que não deixavade, como tal, ser considerado, incluin-do pelos próprios reis. Os judeus ca-sados eram os judeus casados nas si-nagogas.

Depois sucederam muitas coisas.Os judeus foram expulsos, as sinago-gas proibidas e os casamentos consi-derados válidos passaram a ser uni-camente os celebrados pela IgrejaCatólica, com a excepção dos estran-geiros casados em igrejas protestan-tes, que não deixavam, por isso, de serconsiderados casados.

Assim chegamos ao liberalismo, emque o Estado passou a legislar sobreo casamento (e sobre o divórcio) porconsiderar que, perante a lei, os cida-dãos deviam estar todos em condiçõesde igualdade, independentemente dassuas convicções, ou não convicções,religiosas. Esta orientação ficou bem

SOBRE A NOÇÃO DE CASAMENTO EM PORTUGAL

António BrotasProfessor CatedráticoJubilado do InstitutoSuperior Técnico

“De cama e pucarinho”...definida com as leis da República. Porvolta dos anos 30, muitas pessoas ca-savam na igreja e depois (ou antes)iam casar-se no Registo Civil paraserem consideradas casadas pelo Es-tado. Obviamente, quem quisesse, po-dia casar-se só pelo Registo Civil.

Com o salazarismo, admitiu-se queos casamentos feitos nas igrejas ca-tólicas teriam também validade civil,devendo os padres transmitir o seu re-gisto ao Registo Civil, onde os recém-casados já não precisavam de passar.

Surgiu, assim, uma situação anóma-la, que só veio a ser resolvida depoisdo 25 de Abril. A Igreja Católica nãoo aceita o divórcio. Ao reconhecer oscasamentos da Igreja Católica, o Es-tado português, que em princípio acei-tava o divórcio, não aceitava o divór-cio dos cidadãos que tivessem sido ca-sados pela Igreja Católica.

Para resolver este problema, foi ne-cessária uma revisão pontual da Con-cordata entre o Estado Português e oVaticano, o que foi feito com bastan-te bom senso de ambas as partes logoa seguir ao 25 de Abril, com as nego-ciações conduzidas, pelo lado portu-guês, pelo ministro Salgado Zenha.

A situação passou a ser a seguinte:quem se casar pela Igreja Católicanunca mais se pode casar pela Igreja(enquanto o cônjuge estiver vivo) maspode divorciar-se perante o Estadoportuguês e voltar a casar civilmente.

Ao longo de todo este processo, ocasamento foi sempre um contrato en-tre pessoas de sexos diferentes.

Nas últimas décadas, começou-sea falar em casamento de pessoas domesmo sexo. Embora militante do PS,tenho, nesta matéria, uma posiçãomais próxima da da Dr.ª Manuela Fer-

reira Leite do que da de alguns diri-gentes da JS.

Aceitar que o casamento pode ser,também, um contrato entre pessoas domesmo sexo, é alterar a natureza docasamento. Há, talvez, três milhões decasais que casaram numa altura emque o casamento era, inequivocamen-te, um contrato entre pessoas de se-xos diferentes. A modificação destasituação só é legítima, a meu ver, sesancionada por referendo nacional. Osdeputados têm legitimidade para pro-por este referendo, mas não para de-cidirem sobre o fundo da questão, so-bretudo quando não definiram previa-mente a sua posição. (A disciplina devoto imposta aos deputados do PS, porexemplo, permitiu-lhes não revelaremagora o modo como pretendem votarna próxima legislatura) .

Mas o mundo evolui e não deixo dereconhecer que é preciso procurar so-luções para um problema que hoje di-vide a sociedade portuguesa.

PROPOSTA

Ouso, assim, apresentar aqui umaproposta que ponho à apreciação dasgerações mais novas e de instituiçõesjá muito antigas, como é o caso dasigrejas.

Esta proposta é a seguinte:- O Estado português deixa de le-

gislar em todas as matérias relacio-nadas com os futuros casamentos e,naturalmente também, com os divór-cios.

- Em contrapartida, legislará sobreo que poderemos chamar um PUC(pacto de união civil) destinado a pes-soas que vivam em economia comume comunhão de afectos.

Estes PUCs, que serão registadosoficialmente, serão caracterizados por:

a) Cada pessoa só poderá partici-par num PUC.

b) Poderá haver PUCs com co-munhão de bens e comunhão de ad-quiridos.

c) Os PUCs poderão ser desfei-tos em qualquer altura por vontade deuma das partes. (Para evitar um usoabusivo, quem desfizer um PUC nãopoderá, por exemplo, integrar um novoPUC durante um ano) .

d) Os PUCs beneficiarão de esta-tutos sociais e financeiros mais ou me-nos semelhantes aos dos actuais ca-sais casados.

e) Os PUCs poderão, naturalmen-te, ser de pessoas do mesmo sexo, oude sexos diferentes.

Penso que uma legislação assim, nofundo não muito diferente da existen-te no início da nacionalidade, é condi-zente com a evolução actual da soci-edade. Com ela, a instituição casa-mento não desparece, pelo contrário.As diferentes Igrejas – católica, pro-testantes, ortodoxa, muçulmana, isra-elita, budista e outras – continuarão acelebrar e a valorizar os casamentosentre os seus fieis. E os diferentesgrupos da sociedade poderão, com osrituais que entenderem, celebrar ca-samentos entre os seus adepto. Só queo Estado não terá nada que ver comisso.

Os pares, casados ou não, que quei-ram ter um estatuto reconhecido peloEstado, só têm que se dirigir a umarepartição e registar um PUC. Parausar uma linguagem corrente: é um es-tatuto adequado a quem tenha “juntoos trapinhos”, ou viva “de cama e pu-carinho”.

Rui Namorado(professor universitário)

http://ograndezoo.blogspot.com

Alguns expoentes dos partidos pre-feridos pela maioria dos banqueiros,acham que a grande culpa das alega-das falcatruas, por alguns desses ban-queiros cometidas, não é de quem re-almente as cometeu, mas dos vigilan-tes que não conseguiram evitar essasviolações da legalidade.

Como usam gravata, fatos de bomcorte e são bem falantes, nem os apu-

Culpas trocadasou o coração da direitapam, nem se desmancham a rir, quan-do os ouvem cantar tão estranhas me-lodias.

E, no entanto, isso não é menos ab-surdo do que aquilo que seria, peran-te um assalto a um banco, qualquervozearia indignada que vituperasse apolícia, por não ter evitado o assalto eabsolvesse os ladrões que, coitados,assaltaram o banco.

É certo, que os desmandos recen-temente ocorridos não se podem con-

siderar como verdadeiros assaltos,mas não deixa de ser verdade que osanunciados episódios de gestão dano-sa, a que nos referimos, causaram,provavelmente, aos respectivos ban-cos mais prejuízos do que todos osefectivos assaltos a bancos perpetra-dos em Portugal, nos últimos dez anos.

Efectivamente, os políticos e os ban-queiros que têm vindo a público bran-quear vigarices e culpar as entidadespúblicas reguladoras, apenas revelam

com isso uma enorme desfaçatez euma grande falta de vergonha.

E esse é um escândalo tanto maior,quanto alguns deles são os mesmos quese indignam veementemente com osmagros desperdícios, que possam exis-tir, nas atribuição do rendimento míni-mo de inserção aos portugueses po-bres, mas que não esboçam agora umsimples esgar de indignação, contra aatitude dos ricaços que delapidarammilhões que não lhes pertenciam.

175 A 18 DE NOVEMBRO DE 2008 SAÚDE

MassanoCardoso

A expressão “Seja o que Deus qui-ser” é frequentemente utilizada quandosomos confrontados com a incerteza dofuturo. De facto, o porvir pode agraciar-nos com alegrias e martirizar-nos cominfelicidades. Não sabemos quais os cri-térios que presidem a este tipo de sor-teio. Mas que existe, existe! Se é porvontade de Deus ou por uma mera ques-tão probabilística, cujas finalidades des-conhecemos, é de somenos importância.Na prática, as pessoas, temerosas do quelhes pode vir a acontecer, lançam para avontade divina os seus destinos.

Quando uma mulher engravida, dese-jamos as maiores felicidades para quetudo corra bem e que a criança a nascerseja sã e escorreita. Mas, às vezes, oinfortúnio, e a infelicidade, batem à por-ta dos pais. Ansiosos por acolher no seuseio o supremo fruto da existência hu-mana, deparam-se com um ser doenteou malformado, não compreendendo por-que é que a vida os traiu. Apesar de nãodiminuir a intensidade do amor, muito pelocontrário – devotam-se de alma e cora-ção ao ser com dificuldades e limitações–, o sofrimento está sempre presente,despertado amiúde por pequenos gestosou actos quotidianos. Mergulham, fre-quentemente, numa tristeza domestica-da, emergindo para respirar forças queos mantenham vivos e lhes permitam

“Seja o que Deus quiser”...

cuidar dos seus filhos.Hoje, graças às conquistas da medici-

na, é possível prevenir, diagnosticar, im-pedir e até tratar muitos males e malfor-mações que a Natureza, ou quem a su-pervisiona, produz com alguma finalida-de, capricho ou intenção desconhecida.O que é certo é que muitos são alvos deatenções que bem dispensavam. Con-frontados com a realidade dolorosa pe-dem ajuda e, até, milagres. Quanto a es-

tes, quase me convenço – no caso deexistirem, claro está –, de verdadeira dis-criminação divina e de selectividade du-vidosa. Face à atitude divina, seja qualfor o Deus, o homem procura substituí-Lo, propiciando os “milagres” para mui-tos males. Lentamente, mas de uma for-ma cada vez mais consistente, vai con-seguindo maravilhas. Tocar num embrião,fruto da conjugação de dois gâmetas,para saber se é ou não portador de uma

grave anomalia genética, evitando destaforma que o novo ser sofra uma gravedoença, é um feito notável e digno deadmiração. À atitude descrita, selecçãode um embrião normal, é possível que onovo ser seleccionado possa, ainda, aju-dar um outro, neste caso um irmão so-fredor que espera desesperado por cé-lulas compatíveis com o seu corpo paraobter a cura. Graças ao diagnóstico ge-nético pré-implantatório é possível resol-ver casos muito graves. Foi o que acon-teceu, na Andaluzia, com o nascimentode Xavier. Criança normal, selecciona-do de forma a ser compatível com o seuirmãozito que sofre de uma grave ano-malia sanguínea. Os pais devem estarmuito felizes por terem tido um filho nor-mal que irá solucionar o grave problemado mais velho. É difícil imaginar a ale-gria da família.

Este caso, que não é o primeiro, le-vanta, em muitas individualidades, preo-cupações sobre os limites da interven-ção humana. Há quem considere queestamos perante “excessos” perigososde manipulação genética, eticamente nãomuito recomendável. Podem apresentarmuitos argumentos, disso não tenho quais-quer dúvidas, balizados em princípios eorientações bem estruturados. De qual-quer modo, as conquistas médicas sãoextraordinárias e conseguem fazer aquiloque Deus não faz, por esquecimento, porexcesso de trabalho ou com intenções quesó Ele sabe. Quem sabe se um dia, a fra-se “Seja o que Deus quiser” não correráo risco de ser substituída por uma em quea vontade desça dos Céus para a Terra.

O Presidente da República, CavacoSilva, homenageou ontem (terça-feira)quatro personalidades portuguesas li-gadas à Bioética, área que considerou“crucial” para o desenvolvimento hu-mano e para o progresso científico.

Daniel Serrão, professor catedráticode Medicina da Universidade do Porto,Jorge Biscaia, médico pediatra, e Wal-ter Osswald, especialista em Farmaco-logia, foram agraciados pelo Chefe deEstado com a Grã-Cruz da Ordem dSant’Iago da Espada por terem sido“pioneiros” na Bioética em Portugal.

Também o especialista em Genéti-ca Luís Archer foi homenageado namesma cerimónia, que decorreu noPalácio de Belém, em Lisboa.

No seu discurso, Cavaco Silva su-blinhou que estas personalidades “tive-ram o mérito” de introduzir a Bioéticaem Portugal e de “a desenvolverem,de estruturarem institucionalmente oseu futuro e de a difundirem na socie-dade”.

“Graças a estas quatro personalida-

Homenagem a quatro especialistas em Bioéticades, a Bioética é hoje um referencialcomum de debate na sociedade portu-guesa, que passou a interpelar e a en-volver todos os cidadãos”, declarou.

“Ser pioneiro da Bioética em Portu-gal significa promover uma cultura ci-entífica no espírito da democratizaçãoda ciência, a par de uma reflexão acer-ca dos valores que devem orientar oprogresso científico-tecnológico, em proldo bem da humanidade”, acrescentou.

O Presidente da República dirigiu-seainda àqueles que recearam que a éti-ca aplicada à vida representasse um en-trave ao progresso científico, conside-rando que é na “intersecção entre a ci-ência e a ética que o conhecimento pro-gride e que o ser humano se dignifica”.

“A Bioética confirma-se cada vezmais como factor de desenvolvimento,ao acompanhar o progresso biotecno-lógico, ao ponderar as suas implicaçõessociais e humanas e ao garantir que osnovos saberes e os novos poderes con-tribuam para a melhoria das condiçõesde vida”, frisou o Chefe de Estado.

Assumindo o papel de porta-voz doshomenageados, Daniel Serrão agrade-ceu ao Presidente da República por“honrar a Bioética séria, independentee responsável”.

“É um sinal de como está preocupa-do com a Bioética, primeira salvaguar-da da dignidade humana”, sublinhou.

Em declarações aos jornalistas no fi-nal da cerimónia, os especialistas agra-ciados escusaram-se falar directamen-te de temas como a clonagem ou a eu-tanásia.

“Os problemas relacionados com ofim da vida, com o princípio da vida,com a manipulação de embriões, todos

são problemas importantes que foramsendo levantados”, disse apenas Da-niel Serrão.

“Não devemos fixar-nos só num ounoutro aspecto. O homem não é parce-lável”, comentou ainda Jorge Biscaia.

Relativamente às principais preocu-pações futuras, este especialista subli-nhou que a Bioética começa a cami-nhar num “aspecto de defesa de vul-nerabilidade dos mais fracos, dos maissusceptíveis de serem ofendidos” e deprotecção de injustiças.

Lembrou ainda que no centro do deba-te da Bioética está sempre a defesa davida humana, que “é sempre inviolável”.

18 5 A 18 DE NOVEMBRO DE 2008A PÁGINA DO MÁ[email protected]

Mário Martins

ARBITRAGEMCONTINUA (MUITO) MAL

Há quem diga que, agora, a arbitra-gem está diferente.

(Ainda noutro dia, num colóquio pro-movido pelo “Núcleo Marques Bom”, deCoimbra, várias vozes me quiseram con-vencer disso.)

Viram o golo anulado ao Leixõesnas Antas?

Viram o golo anulado ontem a Lied-son?

Viram hoje a agressão de um joga-dor vimaranense a Suazo, que passousem qualquer punição?

Viram como, também hoje, o árbi-tro não marcou uma grande penalida-de a favor do V. Setúbal frente ao Tro-fense?

Viram as “invenções” do árbitro no E.Amadora - Belenenses, em prejuízo dosdo Restelo?

A arbitragem portuguesa não mudounada de substancial.

Nem poderia ser de outro modo, já queos “intérpretes” são os mesmos.

(E não estou a referir-me apenas aosárbitros.)

PS - Estou a escrever este texto quan-do vejo na televisão uma grande-penali-dade bárbara ser assinalada a favor doOlhanense.

(publicado em 2/11)

MANUELA E O DESEMPREGO

Não gosto particularmente de Ma-nuela Ferreira Leite.

Pelas recordações que a memóriame disponibiliza, não deixou particu-lares saudades nem como responsá-vel pela Educação (na “agonia” da dé-cada governativa de Cavaco Silva)nem na pasta das Finanças (no tempode Durão Barroso).

No entanto, apreciei a referênciaque ela fez hoje à relação entre obraspúblicas e desemprego, em entrevistaà TSF.

«Interrogada se não consideraque “as obras públicas ajudarão,pelo menos, ao factor desemprego”,a presidente do PSD respondeu:“[Ao] desemprego de Cabo Verde,desemprego da Ucrânia, isso aju-dam. Ao desemprego de Portugal,duvido”.» (in “noticias.rtp.pt”)

Esta é uma das tais “frases assassi-nas”. José Sócrates pode dar as voltasque quiser - a partir de agora, ninguémvai acreditar que o “boom” de obras pú-

O cidadão que pediu o Cartão do Contribuinte em Fevereiro ainda continuaà espera que as Finanças lho enviem.

Primeiro, passaram-lhe uma guia válida por 3 meses.Agora, sempre que precisa de comprovar a sua situação fiscal, é-lhe passa-

da uma guia válida por um mês!

Os prejuízos são evidentes: tempo e dinheiro perdido, incómodos vários, trans-portes até às repartições de Finanças, telefonemas...

E ninguém é responsável?

Há cerca de um mês, contactados os serviços centrais do Ministério dasFinanças, soube-se que não são emitidos cartões de contribuinte desde Mar-ço!!!

Na semana passada, em novo contacto com os mesmos serviços, um dili-gente funcionário sugeriu que o cidadão reclame por escrito e forneceu doisendereços de e-mail para o efeito.

«Vamos a isso, reclame!», repetiu, uma vez e outra, o funcionário.

Este é o Portugal real de 2008.O outro, que anda pelos jornais e televisões, é propaganda.

(publicado em 27/10)

CARTÃO DO CONTRIBUINTENO PAÍS DO “SIMPLEX”: 9 MESESDE ESPERA! UMA VERGONHA!!!

blicas ajudará a diminuir o desemprego.

(A Manuela Ferreira Leite só faltouacrescentar que as obras públicas sãoimportantes é para engordar os lucros dasconstrutoras e não só...)

(publicado em 2/11)

SOCORRO! QUERO EMIGRAR

«Aquela intervenção de Sócratesna Cimeira Ibero-Americana a ven-der a merda do Magalhães como quemvende aspiradores vai ficar como omomento mais ridículo da política por-tuguesa no estrangeiro. Depois do seuamigalhaço Chavez ter dado no anopassado aquela bronca, foi agora ahora e a vez do engenhocas dar umade vendedor de electrodomésticos.

Porque não saiu desta vez em de-fesa da boa educação Juan Carlos ?“Porque não te calas oh aldravi-lhas???”.

A cena triste e ridícula daquele quequer ficar conhecido como o Homem daRegisconta do século XXI, aquela má-quina, levanta ainda por cima várias ques-tões éticas. É legítimo um primeiro mi-nistro e um governo promoverem umamarca de computador? Não há mais nomercado? O Windows é o único sistemaoperativo? Temos de usar todos windo-ws como os governantes de há 20 anosnos queriam pôr a andar todos de Re-nault?

Sócrates tem o seu Trabandt dos com-putadores. Ele deve perceber tanto decomputadores como eu de lagares deazeite... Aliás se perceber tanto de com-putadores como de engenharia e arqui-tectura... ou mesmo de inglês técnico...já agora de finanças...já agora de socia-lismo... uffff!!

Só falta a Maga Patológica, a SantaPadroeira da oposição vir defender oMagalhães para fazer a tabuada...

Socorro!!! Quero emigrar.»(Impedioso como é habitual,Luiz Carvalho escreve sobre«O Homem do Magalhães, aquela

máquina», no “Instante fatal”)

Subscrevo o que escreveu Luiz Car-valho, essencialmente em dois aspectos:

1. Será, certamente, um dos mo-mentos mais ridículos da política ex-terna portuguesa de todos os tempos.(E o Luiz ainda se esqueceu de refe-rir que José Sócrates afirmou que to-dos os seus colaboradores utilizam oMagalhães!!!)

2. Apesar dos meus 51 anos, tambémquero emigrar.

(publicado em 2/11)

BOA PERGUNTA

Um anónimo (mas amigo...) deixouesta mensagem na caixa de comentá-rios:

«Amigo Mário, quando será possivelvisitar o seu Blog sem interferências despam?».

Ora aqui está uma boa pergunta.Também gostaria de saber o que devo

fazer para eliminar essa praga.

Pode alguém ajudar-me?

PS - Uma forma de contornar o pro-blema é utilizar o navegador Firefox eem “Preferências / Conteúdo” activar aopção “Bloquear as janelas de popup”.É um descanso: nunca mais há janelinhasa abrir, quer na “Página” quer em todosos outros “sites”!

(publicado em 30/10)

SE FOSSE ESPANHOL...

Se eu fosse espanhol...Ou se vivesse em Fuentes de Oño-

ro...

... hoje teria abastecido a 1,019 eu-ros/litro (gasolina 95 sem chumbo).

Como vivo em Coimbra, paguei1,299 euros por cada litro.

(publicado em 23/10)

OUTRA “TRAPALHADA”DO GOVERNO

O Orçamento do Estado para 2009(OE 2009) altera a lei de financiamentode partidos e das campanhas eleitorais.As doações passam a poder ser feitasem dinheiro sem ser por cheque ou portransferência bancária. (...)

Esta alteração surge na véspera de umano durante o qual se vão realizar trêsactos eleitorais.

Governo nega alteração da leiO ministro das Finanças veio entre-

tanto desmentir que haja uma alteraçãona Lei do Financiamento dos Partidosatraves do Orçamento do Estado.

Teixeira dos Santos diz que a únicamudança diz respeito ao cálculo dos do-nativos.

(in “SIC on-line”)

Nota: Já perdi a conta às “trapalha-das” do Governo de José Sócrates.

(publicado em 23/10)

NÃO SEJA TROUXA!

Vais ter relações sexuais?O governo dá preservativo.

Já tiveste?O governo dá a pílula do dia seguinte.

Engravidou?O governo dá o aborto.

Teve filho?O governo dá Bolsa Família.

Tá desempregado?O governo dá Bolsa Desemprego.

És viciado e não gostas de trabalhar?O governo dá rendimento mínimo ga-

rantido!

AGORA...Experimenta estudar, trabalhar, produ-

zir e andar na linha para ver o que é quete acontece!!!

VAIS GANHAR UMA BOLSA DEIMPOSTOS NUNCA VISTA EM LU-GAR ALGUM DO MUNDO!

Parabéns, trouxa!(texto recebido por e-mail;

publicado em 21/10)

195 A 18 DE NOVEMBRO DE 2008 MÚSICA

Distorções

José Miguel [email protected]

Já está à venda o disco de estreia deSensi MC, “E.Sensi.A”, e, se bem serecordam, escrevi sobre ele nos início domês de Março, visto que na altura tinhaido assistir a um concerto seu na Fábri-ca da Pólvora, em Barcarena (Lisboa).Para quem não se recorda, os primeirospassos de Sensi foram dados como co-laborador (nas vozes) dos Yellow W Van,que são uma das minhas bandas preferi-das. Depois colaborou, também, comRuas – vocalista dos Yellow W Van –,no seu primeiro trabalho a solo, “Operá-rio do Funk”. E este disco vem confir-mar as expectativas criadas por alturasdo concerto a que assisti, mostrando-nosum hip hop bem mais melódico, menosagressivo do que é normal em registosdeste género, mas que cruza, também,algumas influências quer do rock, querdo funk. No que toca ao disco propria-mente disto, gostei bastante do que ouvi,sobretudo de: “Intervenção”, “Na Ami-zade e no Respeito” e “Sonhos”, que temsido o “single” de apresentação – e se-gundo tenho ouvido falar já é banda so-

tuguesa de que muito se tem falado nosúltimos tempos é o dos Buraka SomSistema, que vão apresentar o seu dis-co de estreia no próximo dia 15 de No-vembro na Voz do Operário em Lisboa.Todo o alarido tem uma única causa:“Black Diamond”, título do registo deestreia da banda de Kalaf, Lil´John, DjRiot e Conductor. Em primeiro lugar, háque salientar a ousadia de deixarem departe todos os temas do EP já editado,nomeadamente “Yah”, que tanto suces-so tem feito por aí, mas, sobretudo, aqualidade dos novos temas como sejam“Kalemba (Wegue Wegue)” – que já foi

remisturado pelos Hot Chip – ou “IC 19”.Apesar de não ter grande afinidade comas sonoridades africanas, sou o primeiroa elogiar esta banda e este disco. É umdisco com o selo de garantia do “Distor-ções”.

PARA SABER MAIS:

- Sensi MC “E.Sensi.A” (IndependentRecords)- Buraka Som Sistema – “Black Dia-mond” (Sony BMG)www.myspace.com/sensimcwww.myspace.com/burakasomsistema

nora de uma das novelas juvenis da tele-visão portuguesa.

Outro dos fenómenos da música por-

O Grande Auditório do CAE (Centrode Artes e Espectáculos da Figueira daFoz) esgotou, na passada semana, como espectáculo de um dos maiores nomesda Música Popular Brasileira, Ney Ma-togrosso. “Inclassificáveis”, o título des-te espectáculo, o mesmo de uma músicade Arnaldo Antunes, é o regresso de Ney,aos 67 anos de idade, ao seu universoexuberante, de que se tinha afastado nosseus últimos trabalhos.

Desta feita Ney surgiu com uma rou-pa justa ao corpo, coberta com 40 millantejoulas douradas, uma criação doestilista Ocimar Versolato. Sensivelmentea meio do espectáculo, Ney, sempre pro-vocador, fez um número de “striptease”,surgindo com um fato transparente commotivos indígenas tatuados, dando a im-pressão de estar nu. Aliás, o cantor mu-dou constantemente de roupa durante aactuação, evidenciando o cuidado céni-co que é seu apanágio.

O repertório foi uma mistura de com-posições novas com clássicos da Músi-ca Popular Brasileira, com uma novaroupagem bastante pop, com direcção

Ney Matogrosso no seu melhorno regresso à Figueira da Foz

musical de Emílio Carrera, ex-elementodo grupo Secos e Molhados. Em palco,Ney fez-se acompanhar por uma bandabastante jovem, constituída por CarlinhosNoronha (baixo), Júnior Meireles (gui-tarra e violão), Sérgio Machado (bate-ria), Emílio Carrera (piano e teclado), DjTubarão (percussão e pick up) e FilipeRoseno (percussão).

A noite começou com “O Tempo NãoPára”, de Cazuza, seguido de “Mal Ne-

cessário”, “Leve”, “Ouça-me”, de Ita-mar Assunção, e “Um Pouco de Calor”,de Dan Nakanawa. Dos outros temasouvidos, destaque para “Ode aos Ratos”,de Edu Lobo e Chico Buarque, “Inclas-sificáveis”, de Arnaldo Antunes, e para“Divino Maravilhoso”, de Caetano Ve-loso, que encerrou o alinhamento. Perantea fortíssima ovação de pé do público pre-sente, Ney e a sua banda regressarammais uma vez ao palco para um “enco-

re” constituído por “Simples Desejo” e“Pro Dia Nascer Feliz”. Após o concer-to, Ney presenteou muitos dos seus fãscom uma sessão de autógrafos, junto aoscamarins.

De referir que antes do concerto, pe-las 17h00, a Comunicação Social teveoportunidade de efectuar uma visita aosbastidores deste espectáculo, num encon-tro com a produção e a direcção técnicado CAE, que revelaram muitos aspectoscuriosos por detrás deste grande acon-tecimento que foi a vinda de Ney Mato-grosso à Figueira da Foz, numa noitecertamente inesquecível para todos aque-les que esgotaram o Grande Auditório.

20 5 A 18 DE NOVEMBRO DE 2008CRÓNICA

AO CORRER DA PENA...

Maria Pinto*[email protected]

* Docente do ensino superior

“Sou mulher...”

“Sou mulher.Nascida aqui, aqui morrerei.Nunca a feliz viagemVirá com a sua asa abrir-me o hori-zonte.Nada conhecerei do mundo de passa-gemPara além do muro que me limita acasa (...)Sou mulher.Permanecerei na minha cerca...Nas idades em que me reste um sulcode memóriaJamais poderei reviver pela história.Não há palavra que fale por mim.Sou mulher”.

(Clémence Robert,Antologia de Poesias, 1839)

Maria, Emília, Luísa, Sofia, Leonor...foram tantas as mulheres que subitamen-te desfilaram perante o meu olhar! Mu-lheres burguesas. Mulheres aristocratas.Mulheres de operários. Meninas-mulhe-res. Cada qual com a sua história. Porvezes, com a sua não-história. Cada umacom os seus silêncios. Muitas com osseus problemas. Todas elas retratadaspor homens. Reflectindo a discussãoexistente em seu redor no decurso deuma grande parte do século XIX: a lutaentre tradição e modernidade. A perma-nência de instrumentos mentais de umpassado que se afirmou longo e que tei-mava em remeter a mulher para os “es-paços de dentro” – do coração e do lar– enquanto que para os homens estavamreservados os espaços de decisão e deracionalidade.

Uma plêiade de mulheres tão bem re-tratada por Chico Buarque, se nos dei-xarmos enlevar ao som de “Mulheres deAtenas”. Deste poema emana o desfiardo ciclo de vida da mulher ateniense, quecorresponde, no fundo, à realidade deséculos infindáveis da história das mu-lheres. Um ciclo iniciado pelo verbo vi-ver e terminado pelo verbo secar... mor-rer.

Durante este trajecto em que a vidalhes passava ao lado, as mulheres des-piam-se para os maridos, com o propó-sito único de gerarem os seus filhos, poiso seu corpo, fonte de pecado e símbolode destruição, deveria permanecer silen-ciado. Fechado. Alienado ao serviço daespécie.

Para além disso... sofriam. Temiam.Sem sonhos. Sem vontades. Com medoapenas. Mulheres naturalmente defor-madas. Inacabadas no corpo e na alma.Defeituosas se comparadas com o mo-delo masculino de perfeição. Mulheresque não falavam, pois a palavra perten-

cia aos homens. Não olhavam. Os ho-mens olhavam por elas. Sentiam e pen-savam em silêncio, não podendo contes-tar os modelos e regras transmitidos pe-los valores masculinos.

“Sou mulher.Nascida aqui, aqui morrerei (...).Não há palavra que fale por mim.Sou mulher”.Esta visão doentia acerca da mulher

atravessou grande parte da nossa histó-

ria e irrompeu pela era de oitocentos. Defacto, segundo alguns intelectuais da épo-ca, como Oliveira Martins, a mulher erauma doente, pelo que necessitava de ummédico –Deus – e não da possibilidadede acesso à instrução. Também MariaAmália Vaz de Carvalho, considerada, aode leve, como feminista, se referia às suaspares deste modo:

“A vida psíquica da mulher é peri-odicamente e crudelissimamente per-turbada pelas crises da sua vida fisi-ológica”. Por isso, “ela nunca será umfuncionário pontual, nem um magis-trado íntegro e inexorável, nem umoperador de execução firme e rápi-do, nem um médico, nem um legisla-dor. Os que pretendem persuadir-lheque exija esses privilégios masculinosdetestam-na”.

Estas teorias pseudo-científicas e, porconsequência, perigosas, visavam a per-manência de uma mulher crédula, exclu-ída da vida pública, confinada à reclusãodo espaço que lhe era destinado: a casa.O seu pequeno mundo feito de peque-nos objectos. Circunscrito ao marido eaos filhos. Um tédio sem fim. Mulher-rio-de-água estagnada, imóvel. Eternaconcha de formato côncavo que abraçae dá colo. Eterno porto de abrigo. Pené-lope... tecendo longos bordados...

No entanto, o demi-siècle começa aesboçar os ventos da mudança. Váriospaíses da Europa estavam a ser tocadospelos ideais de liberdade vindos essenci-almente de França. Em Portugal, defen-

dia-se um país novo, uma nova socieda-de, mais justa, mais equilibrada. Fazia-se a apologia de um homem novo, ilus-trado e feliz. Alertado para as assimetri-as sociais. Preocupado com os mais des-favorecidos.

É neste contexto de convulsão ideoló-gica e de tentativa de trazer ao palco davida aqueles que sempre viveram na som-bra, que vão surgindo novos discursossobre as mulheres. Aos poucos, o velhoditado “burra que faça him e mulherque saiba latim não a quero paramim”, vai deixando de fazer sentido.

Sem dúvida que o século XIX corres-pondeu a um período de avanços no querespeita à condição feminina. Começama existir tentativas de regenerar a ima-gem da mulher, instruindo-a e as neces-sidades provocadas pelo fenómeno indus-trial remetem-na para o mundo do tra-balho extra-familiar. É também no oca-so deste século que os movimentos fe-ministas progridem, lutando por direitosbásicos e fundamentais.

A mulher temerosa, que mal ousa olharatravés da janela com medo dos perigos,vai sendo cada vez mais ultrapassada pelasua companheira interventora. A mulherrecatada, Helena-reclusa, mero espelho-bastidor do seu companheiro, vai dandolugar a uma mulher outra, que povoa sa-lões de dança, que “coquetiza” numaespécie de baile de máscaras.

Por outro lado, e aos poucos, as ruasdas principais cidades europeias tornam-se multicolores porque povoadas por uma

mescla de mulheres ornadas das maisdiferentes maneiras. Mulheres e senho-ras que frequentam os mesmos espaços,fruto dos novos ventos de liberdade e dedemocratização. Não se falando. Entre-olhando-se apenas. A mulher conquistaa rua e a rua conquista-a.

No entanto, cada vez mais sente anecessidade de solidão. Mas de uma so-lidão vivida por si. Para si. Uma solidão

apetecida. Sentida na companhia de umente masculino – o livro – que, neste caso,a liberta. Porque o livro contém mil e umapalavras que a fazem sonhar. De formaousada. Decidida. Em tom dedesafio.Com o olhar no futuro. Num fu-turo que é o de Maria. E também o deJúlia, de Madalena, Inês, Josefina...

De todas as mulheres.No início deste texto, quis partilhar

com os meus leitores o desabafo de umamulher de oitocentos. Gostaria agora que,em conjunto, observássemos a mulherque se segue, pintada em 1891 por Ra-món Casas.

Tons baços. Lusco-fusco. Indefini-ção de contornos. À partida tudo pa-rece convergir para acentuar a soli-dão desta mulher. Tudo parece convi-dá-la a regressar ao lar, de onde, apa-rentemente, não deveria ter ousadosair. Mas também se vislumbram pe-daços de luz: os focos, o chapéu, par-te da blusa. A toalha...

As vozes tradicionais diriam que estamulher sozinha poderia estar à beira deperder a sua honra. Pelo menos estariaa arriscá-la. O seu marido? Teria es-quecido os filhos? Aguardaria alguém?Quem?...

Confesso que me apetece sentar namesa do lado e confraternizar com elapela sua ousadia, pela capacidade de sever, de se refazer e transformar, rumoa um futuro que se adivinha. Quem sabeum caminho solitário e independente,

fora do espaço fechado e em direcçãoà História?

Foi esta a porta que o século XIX dei-xou entreaberta...

Foi este o percurso que quis traçar,não me movendo, para tal, qualquer ra-dicalidade feminista. Antes um olhar as-sumidamente feminino.

Sou mulher...

“Sogni”,pintura de Vittorio Corcos

“Plein air”, pintura de Ramón Casas (1891)

215 A 18 DE NOVEMBRO DE 2008 OPINIÃO

Renato Ávila

POIS...POIS...POIS...POIS...POIS...

Joséd’Encarnação

João PauloSimões

FILATELICAMENTE

Os três selos que compõem a emissão

1934 – Emissão Comemorativada 1ª ExposiçãoColonial Portuguesa

Estávamos sob o regime do EstadoNovo, com um Governo liderado porAntónio de Oliveira Salazar, que preten-dia mostrar ao Mundo que Portugal eraum País unido, que possuía colónias, coma legitimidade histórica adquirida atravésdos Descobrimentos. O Acto Colonial de1930 consagrava, aliás, a natureza orgâ-nica e indivisível do Império.

Essa política colonial dos anos 30era flanqueada por uma propagandaideológica com duplo objectivo. Porum lado, protegia-se. através de ar-gumentos jurídicos, o domínio coloni-al; por outro lado, transmitia-se aosPortugueses a ideia de um Portugalgrande (espalhado pelos cinco Conti-nentes) uno e indivisível.

Durante as décadas de 30 e 40, re-alizaram-se várias iniciativas propa-gandísticas visando mostrar Portugalcomo uma nação colonial e imperial.Assim, surgem eventos desta nature-

za um pouco por todo o mundo e tam-bém em Portugal.

(Baseado em: http://iberystyka-uw.home.pl/pdf/Dialogos-Lusofonia/Coloquio_ISIiI-

UW_22_PINHEIRO-Teresa_Memoria-historica-

no-Portugal-contemporaneo.pdf)

Relativamente ao nosso país, teve lu-gar na cidade do Porto, entre os dias 19de Junho e 30 de Setembro de 1934, a 1ªExposição Colonial Portuguesa, com re-presentação das Colónias de Cabo Ver-de, Timor, São Tomé e Príncipe, Angola,Guiné, Moçambique, Índia e Macau.

Os CTT, entusiasmados por um arti-go do coronel Jaime Ramalho, e tambémpara assim propagandear a Exposição,emitiram uma série de selos a partir deum desenho de Almada Negreiros e comgravura de Arnaldo Fragoso, represen-tando o busto de uma indígena africana.Impressos na Casa da Moeda, em papelliso médio com denteado 11,5, circula-ram até completa extinção em 1 de Ou-tubro de 1945.

(Baseado em Livros Electrónicos vol. II deCarlos Kullberg)

O João teve uma proposta irre-cusável de trabalho no Brasil. Lar-gou tudo, a mulher pediu licença semvencimento, tratou de matricular deimediato os filhotes em escolas ade-quadas e toda a família desarvoroudaqui com muita urgência.

Jantei com ele no Rio de Janeiro,outro dia, exactamente quando eleacabara de regressar de mais umaviagem a Portugal:

– Não percebo – confidenciava-me. – Lá toda a gente anda triste;nas lojas, os empregados são pou-cos e parece que estão sempre afazer um frete!... Já viste como éaqui no Rio?

Eu já vira. Era exactamente oinverso!

O Presidente da República acaboupor assinar a nova Lei do Divórcio. Denada valeu o veto e as pertinentes pre-ocupações com ele manifestadas. Maisuma vez, o Parlamento, arrogando-sede dono e senhor da verdade absolutae do poder dito democrático, não tevecontemplações.

Esta gente da ponta esquerda, nes-tas e em outras questões tidas por van-guardistas, modernaças, com um mis-to de moral-anarquia a puxar a uma es-pécie de humanismo selvagem, pareceser o intelectual supra sumo do Palá-cio das Cortes.

Dá-nos a impressão de que o pessoalse sente bem é a chafurdar nas misériasduma moral de sarjeta, a remeter para olixo valores fundamentais duma socieda-de humanamente civilizada.

Sem peias. Sem regras. Ao sabordo instinto.

Com o máximo de gozo. Com ummínimo de obrigações. Sem um lam-pejo de contemplação. De seriedade.De decência.

Não será esse, certamente, o qua-dro de valores que há-de continuareste país. Que há-de enobrecer estanação quase milenar.

Não foi para isto que votámos. Paratanta insensibilidade. Para tanta baixeza.

A casa-mãe da nossa democracia pa-

Voto em pretorece estar a desvirtuar-se, a perverter, aachincalhar o espírito dum povo honra-do, respeitador da vida e da dignidadehumanas, da instituição familiar.

O Parlamento não é catedral. Certo.A Constituição não é Bíblia. De acordo.A moral não é estanque nem estática.Certamente. Mas é séria e tem de serrocha firme onde se fixam, entre outras,as âncoras fundamentais da origem davida, do seu desenvolvimento e do seu“terminus”. Da sua dignificação.

A esquerda, e não só, entrou a matar.Como se os grandes problemas sociaisse resumissem ao aborto, ao divórcio eao casamento de homossexuais.

Uma pressa, um corrupio, um fer-vor nunca vistos. Como se o país es-tivesse a arder.

E a maioria socialista foi na onda.Protagonizou o filme. À revelia doguião eleitoral.

Aborto. Sim senhor. Vamos a isto!Basta apenas que a mulher queira.

Que nada contrarie a sua vontade!Nem um conselho. Uma informação. Umtempo de reflexão. A vontade da mulheré soberana. Muito mais importante quea vida indefesa do filho.

Os cidadãos intra-uterinos não gritam,não protestam. Não votam!

O divórcio na hora. Basta que umdos cônjuges se queira pôr ao fresco.Sem contemplações. Apenas um ne-gócio de números. A frio. À laia dumdespedimento sem direito a recurso.Como se a família, as crianças fossem

pró-formas. Trapos.Mais uma acha para a fogueira da

crescente e preocupante fragilização daorganização nuclear da sociedade.

Casamento entre homossexuais. En-fiar no mesmo saco casais configuradospela complementação sexual e paresassumidos segundo a mesma tendência.Uma aberração! A família organicamenteprocriadora, baseada na complementa-ridade física e psicológica dos seus cons-tituintes não pode ser confundida, muitomenos abastardada num mesmo institu-to. Casamento pouco ou nada tem a vercom emparceiramento homossexual.

A sociedade não pode negar prerro-gativas jurídicas do género familiar epatrimonial nem recusar o aval a um con-trato de união entre duas pessoas domesmo sexo. Sem dúvida. Todavia, nin-guém, nenhuma lei pode impor que oemparceiramento homossexual seja físi-ca e psicologicamente o mesmo que ocasamento tradicional e consuetudinari-amente entendido.

Há direitos, condicionantes sociológi-cas, referências culturais e civilizacionaisque identificam o casamento e que nãopodem ser menosprezados, descaracte-rizados, só porque um grupo que, nãoreunindo essas condições, pretende usu-fruir do mesmo status social. As pesso-as, quando fazem as suas opções, sabemde antemão quais são as normas vigen-tes e socialmente consagradas.

Nós, cidadão comum, não entendemoso que se está a passar no Parlamento.

Há por ali qualquer coisa de cruel, desinistro, de doentio a roçar as raias dainsensatez e, até, da irresponsabilidade.

A prosseguir neste caminho de laxis-mo moral, neste aviltamento de valoresfundamentais da vida e da organizaçãosocial, mais dia menos dia, talvez numfuturo não muito longínquo, teremos ins-titucionalizada a “saudável” e “suaviza-da” eliminação dos velhos, deficientes eoutros fardos sociais. Assim à laia de“beatífica eutanásia”.

A mulher não quer ter o filho. Mata-se o filho.

Um dos cônjuges não quer mais o ou-tro nem a prole. Abandonam-se.

Os homossexuais querem juntar-se econstituir família. Casa-se e adopta-se.

As famílias não querem mais o fardonem o cheiro dos velhos e dos deficien-tes. “Eutanasiam-se” (por este andar, láchegaremos).

Este mundo está doente. Onde é queisto vai parar?

Será que os eleitos do povo goza-rão, ainda, do seu perfeito juízo?

Loucos, decerto, estaríamos nós selhes continuássemos a dar o nossovoto. Seria, por assim dizer, “um votoem preto”!

É que, nas mãos desta gente, o po-der está a tornar-se num perigo imi-nente!

Renato Macedo de ÁvilaCidadão Nacional

BI nº 103102

22 5 A 18 DE NOVEMBRO DE 2008OPINIÃO

J.A. Alves Ambrósio

OPINIÃO Angola em Saragoça (III)

É inerente a um certame como Sarago-ça que a ele se associe a afirmação de umpaís. A própria polissemia da palavra “cer-tame” é elucidativa a esse respeito: exposi-ção, concurso, desafio, combate... Desdelogo é uma montra, digamos. E o arranjo deuma montra requer atenção, ambição, ima-ginação, visualização, criatividade, seguran-ça..., tudo a fim de que, no conspecto dospaíses presentes, quem decidiu acorrer aocertame se afirme.

Ao lado da arte – afirmação no presentee para o porvir – Angola remetia para a suaruralidade e, ipso facto, para as suas raí-zes. É absolutamente pertinente que assimseja. Aos meninos deve – desde o início –dizer-se que uma das mais emocionantesculturas que já se afirmou nos milénios daHistória foi de negros. Refiro-me ao Egipto,claro; e estudar o Egipto é, de uma penada,derrubar a monstruosidade do racismo.

Lutar contra o racismo é um comba-te que nos cinge a todos. “Contra a es-tupidez os próprios deuses lutaram emvão”, disse Schiller, mas eu não partilhodesta radicalidade.

E a razão é que a interioridade humanasuperará, em dado momento, sempre, asmelhores perspicácia e alteridade. Lutarpois – absolutamente certos da vitória. Cla-ro que Hegel falava dos “negros selva-gens”. Mas o filósofo da dialéctica, que

julgava África um continente sem Histó-ria, a esse respeito sabia tanto como osmais ignorantes dos seus contemporâne-os. (Já agora e sem desprimor: alguns dosembusteiros maiores que se nos deparamao longo de uma vida são filósofos, acadé-micos, clérigos, políticos, jornalistas...).

A África é devido respeito. À medida quea arqueologia e a investigação histórica avan-çam – e apenas desde há muito escassasdécadas – sabe-se que, v.g., nas margensdo rio Senegal, aos arqueólogos se deve oterem concluído por notáveis culturas pré-islâmicas: Qual eurocentrismo, qual treta??!!Neste preciso momento que nos baste essesurpreendente magnetismo de Obama, emquem, evidentemente, “voto”.

O exemplo do rio Senegal pode esten-der-se à Mauritânia, Costa do Marfim, Gana,Camarões... e fico-me por aqui.

Já agora é absolutamente obrigatório de-clarar que o pioneiro da investigação arque-ológica pré-histórica em Angola é o nossoquerido egitaniense Dr. Adriano Vasco Ro-drigues. Trabalhou, juntamente com sua fi-níssima Mulher, no então Instituto de Inves-tigação Científica de Angola, entre 1965 e1970, tendo, ambos, sido autores da primei-ra Carta Arqueológica de Angola e da cria-ção da Secção de Pré-História do Museude Angola (Luanda). Mais. Além da obraneste âmbito publicada, baseada, claro, emprospecções e escavações, acresce a loca-lização de um navio do século XVII, no de-

serto da Namíbia (área do deserto de Mo-çâmedes). Saliente-se que, na altura, a maisreputada imprensa mundial mencionou talachado.

Opulenta nos seus recursos hídricos,Angola declarava-o também. Lembrem-seapenas as pluviosas e bem drenadas encos-tas em que o café (variedade robusta) me-dra. Mas declare-se, igualmente, como An-gola afirmava a qualidade de uma incontá-vel, digamos, quantidade de hectares comaptidão agrícola, assim se abrindo ao maisqualificado investimento estrangeiro na área.Como quem diz: sou a mãe ubérrima e nadamais pretendo que os mais vigorosos fertili-zadores. Ainda de outro modo: o solo agrí-

cola valorizar-se-á crescentemente e, a talrespeito, ninguém atento poderá ficar indi-ferente. Para nós, portugueses, que desde o25 de Abril, nesta república de muita treta,sofisma e retórica, nesta atribulada repúbli-ca, vemos uma crescente desvalorização dosolo agrícola, cotejar atitudes dos dois go-vernos é imperativo.

Assim, por estas e outras, é que Angolase tornou, para uma inumerável quantidadede dignos compatriotas nossos, um motivode insuperável amor. Na sua admirável pu-jança artística, a Espanha avançou, há vári-os anos, com uma impressionante exposi-ção subordinada ao título “As Idades doHomem”. Vi-a na Catedral de Segóvia,onde tive que esperar meia-hora. Como épróprio destas situações, conversa-se comquem está ao lado. E, então, foi um casalsalamantino. O marido, engenheiro com ho-rizontes, disse-me a dada altura: “Sou ami-go de um patrício seu que veio de Angolapor altura da independência. A ligação da-quele senhor àquela terra é tão profunda queme leva a reflectir”.

A menção deste encontro serve paraassegurar à Presidência da República eao Governo de Angola que, em Portugal,há, ao seu dispor, um capital de amor porparte de gente digna, altamente qualifica-da. Certo que o farão render. Voltarei aeste tópico.

Guarda, 25-X-08

Estreou esta semana “Em Bruges”,primeira longa-metragem de MartinMcDonagh, um dos mais famosos econceituados directores de teatro, que,após se ter estreado com a curta-me-tragem “Six Shooter” (que ganhou oÓscar de Melhor Curta-Metragem em2006), regressa em grande às lides ci-nematográficas. A história do filmesegue dois assassinos profissionais(protagonizados por Colin Farrell eBrendan Gleeson) que, após ter corri-do mal um dos seus trabalhos, são obri-gados a esconderem-se em Bruges,cidade belga que serve como o palcoperfeito para um conto que aborda te-mas tão díspares como o turismo, a vi-olência, a amizade e o suicídio.

Com um elenco conciso, que repre-senta com uma naturalidade inata atrama da autoria de McDonagh, o re-sultado acaba por ser um filme decariz muito humano, com traços decomédia negra, recomendado a fãs de

Pedro Nora

c i n e m ac i n e m ac i n e m ac i n e m ac i n e m a

filmes dos irmãos Cohen ou de GuyRitchie. Destaca-se o papel de RalphFiennes, que mais uma vez prova queé dos melhores actores a protagoni-zar vilões no grande ecrã, sem nuncase tornar cansativo. Tendo já visitadoBruges, com grande agrado apreciocomo o filme captura o espírito e am-

biente da cidade na perfeição (à se-melhança de que Sophia Coppola fezem “Lost in Translation”).

Uma outra sugestão é o filme“Taken-Busca Implacável”, escrito eproduzido pelo cineasta francês LucBesson e realizado por um dos seusprotegidos, Pierre Morel. Apesar de

este filme não ser tão bom como o trai-ler (dos melhores que já vi), é um óp-timo filme, com uma história frenéti-ca e cativante e uma interpretaçãomuito poderosa do actor principal LiamNeeson. Recomendável a quem gos-ta de filmes de acção como “Homemem Fúria”.

235 A 18 DE NOVEMBRO DE 2008 INTERNET

IDEIAS DIGITAIS

Inês AmaralDocente do Instituto Superior Miguel Torga

KERODOWNLOAD

VIDEOSURF

GRIPENET

KITCHENET

YAMMER

GOOGLE STREET VIEW

Tem publicidade a mais, é verdade. Mas vale a penavisitar. O KeroDownload é um site que disponibilizasoftware gratuito para descarregar. Está escrito emportuguês e apresenta recomendações.

Há ainda o Programa da Semana e todos estão or-ganizados por pastas. Há aplicações disponíveis paravários dispositivos como computador, PDA e telemó-vel. Os vários sistemas operativos são também con-templados.

KERODOWNLOAD

endereço: http://www.kerodownload.com/categoria: software

Já começou a Web Semântica? O VideoSurf achaque sim e nós achamos óptima ideia acompanhá-lo.Este site permite a identificação de tags nas frames decada vídeo. Ou seja, mediante uma pesquisa é possívelaceder directamente a uma parte específica de um ví-deo, em vez de ter de visionar o total.

A vantagem é evidente: filtrar os milhões de conteú-dos vídeo que existem na web. Outro aspecto muitointeressante desta ferramenta é o facto de, depois decriada uma conta, ser possível associar ao nosso perfilalgumas palavras-chave. Sempre que estas forem in-seridas recebemos um alerta. Claro que ainda há ele-mentos a melhorar, mas para já o VideoSurf é a me-

lhor ferramenta deste género.

VIDEOSURF

endereço: http://www.videosurf.com/categoria: vídeo

O site de receitas do AEIOU não é novo, mas foireformulado e está agora muito mais funcional. O Ki-tchenet tem uma nova imagem e funcionalidades Web2.0. Trata-se de uma espécie de livro de receitas onli-ne, onde cada utilizador pode participar.

Diariamente há uma sugestão e é possível escolherreceitas pela sua facilidade ou consoante os ingredientesque tem na dispensa. Cada utilizador é pontuado pelonúmero de receitas que envia e há uma lista dos chefesde cozinha com mais pontos, das receitas mais comenta-das e favoritas, dos últimos utilizadores registados e ain-da das receitas mais enviadas e das mais recentes.

KITCHENET

endereço: http://kitchenet.aeiou.pt/categoria: culinária

O frio veio para ficar e as gripes começam a apare-cer. O site Gripenet tem como objectivo «monitori-zar a epidemia sazonal de gripe, utilizando a Inter-net e com base na participação voluntária dos ci-dadãos». A ideia começou na Holanda e rapidamentese expandiu a vários países.

Qualquer pessoa pode participar, desde que se re-giste. Semanalmente os utilizadores recebem uma news-letter com informações sobre a gripe e um pequenoquestionário sobre a sua saúde (e os sintomas gripais)da semana anterior. Assim é possível monitorizar, emtempo real, a epidemia.

GRIPENET

endereço: http://www.gripenet.pt/categoria: saúde

As redes de colaboração estão na moda e o site Yam-mer é uma óptima solução para a sua empresa. A ideiaé melhorar a comunicação nos grupos de trabalho atra-vés do browser, mas há também aplicações para ou-tros dispositivos móveis.

As empresas registam-se e permitem o acesso aendereços de email dos seus funcionários. Depois dese responder à questão “em que está a trabalhar?” écriado um feed através do qual é possível discutir idei-as, partilhar informação e links. A privacidade da redede colaboração pode ser garantida através de um en-dereço criado no servidor das empresas.

YAMMER

endereço: http://www.yammer.comcategoria: redes

O Google Street View faz parte do Google Maps epermite visualizar ruas em 360º. A sua utilidade temsido muito discutida e o software passou a desfocarautomaticamente as caras e as matrículas que apare-cem nas imagens.

Na Europa só França e Espanha estão no GoogleStreet View, mas a curto prazo o número de cidadeseuropeias deverá aumentar significativamente. O ser-viço disponibiliza imagens panorâmicas de ruas ao ní-vel de visão de um condutor e pode ajudar a traçarpercursos de viagens ou ajudar a conhecer as cidades.Com todos os inconvenientes que um serviço destesacarreta.

GOOGLE STREET VIEW

endereço: http://maps.google.com/help/maps/streetview/categoria: utilidades

24 5 A 18 DE NOVEMBRO DE 2008TELEVISÃO

PÚBLICA FRACÇÃO

Francisco [email protected]

Façaumaassinaturado“Centro”e ganhevaliosaobrade arteAPENAS20 euros POR ANO- LEIA NA PÁG. 3

Esta é a reprodução da valiosa obra originalde Zé Penicheiro, alusiva aos 6 distritos da RegiãoCentro (Aveiro, Castelo Branco, Coimbra, Guarda,Leiria e Viseu) que receberá, gratuitamente,quando fizer a assinatura do jornal CENTRO

HUMOR – 1 - GATOS

O regresso dos “Gato Fedorento” àSIC, já teve o número suficiente de epi-sódios para se chegar à conclusão de queo Gato está cansado. O formato do pro-

grama dos domingos à noite é semelhanteao que tinha na RTP. Entre sketches, osquatro aclamados humoristas têm umasconversas pouco estimulantes sentadosno meio do público. Em tudo idêntica àsque aconteciam na RTP, esta troca depalavras parece pouco ou nada prepara-da, esperando que surja assim no mo-mento a inspiração salvadora. Só que nãosurge. Ou não tem surgido.

Mesmos os sketches estão mais fra-

cos. Já houve, é claro, bons momentos,coisas bem achadas, mas os Gato Fedo-rento lutam permanentemente contra

uma dificuldade: eles são humoristas, masnão actores. O tipo de programa low-cost que caracterizou, desde o início, asua presença na televisão, foi uma solu-ção para ultrapassar a impossibilidade decontratar actores (entre outros constran-gimentos). Acontece que os rapazes sesaíram relativamente bem, especialmenteRicardo Araújo Pereira, e foram ficandoe fazendo a imagem de marca dos GatoFedorento.

O final dos programas, que se carac-terizava por umas inesperadíssimas e di-vertidas versões de músicas conhecidas,entregue a variados nomes (também ines-perados) da música portuguesa, está ago-ra meio desactivado, desconchavado emostrando que a SIC investiu nos Gato,mas poupou nos meios.

Seja como for, os Gato Fedorento con-seguem ainda arrancar alguns momen-tos únicos do novo humor em Portugal.Foram já (mais uma vez?) processados.Desta vez porque num sketch transfor-

maram uma missa num acto de adora-ção ao computador Magalhães, a que nãofaltou sequer cânticos espirituais comletra a condizer.

Estão mais brandos? Não. Menos cri-ativos? Sim. Mas seria difícil, depois detanta exposição pública (onde se incluium excesso de participação em publici-dade), continuar sem vacilações o tra-

jecto de sucesso dos últimos (para elesos primeiros!) anos.

HUMOR – 2 – BOLA E RUEFF

Humor na televisão portuguesa hámuito. Mais do que se pensa. Mesmo forados momentos que se convencionou cha-mar “de humor”.

Uma grande maioria dos programas erubricas humorísticas são fracos, popu-laruchos e até de mau gosto. Até Her-man José está inócuo. Diria até mais: tris-te. Tal revela que o passar do tempo éimplacável, sobretudo para aqueles quesubiram muito e não adquiriram a humil-dade dos sábios nas alturas…

Há um outro conjunto de espaços hu-morísticos que tentam avançar alternati-

vamente. Refiro-me aos “novos humo-ristas” que aproveitam o espaço da TVCabo, em particular (exclusivamente?)na SIC-Radical., onde uma série de jo-vens tentam (a maior parte pagos ao pre-ço da chuva, ou mesmo gratuitamente)reeditar o sucesso dos Gato Fedorento.

Para além deste panorama, registe-seo regresso de Ana Bola e Maria Rueffque, na SIC, passaram para o ecrã a ru-brica que tinham já há algum tempo naTSF. “Dénise de Magalhães” e “MariaDelfina” vivem momentos hilariantes noseu “corner de nails” – VIP Manicure –que funciona, como não podia deixar deser no Portugal 2008, num Fórum.

A fórmula que Ana Bola desenhou nãose afasta muito dos seus habituais “bo-necos”. Gente emergente, ou aspirante

a isso, suburbana, com raízes fora da ci-dade, mas deslumbrada com o mundodas revistas cor-de-rosa. A relação en-tre as duas recupera a já experimentadana “Mulher do sr. Ministro” (RTP – anos90), onde Rueff se tornou conhecidacomo a afilhada protegida e ao mesmotempo explorada pela madrinha.

Às terças-feiras, coladas ao Jornalda Noite, elas surgem com as peripé-cias ligadas a uma proprietária de um“cantinho para arranjar as unhas” e àsua empregada, também explorada,mas absolutamente dependente da pa-troa Dénise.

O humor é frequentemente brejeiro,mas não ordinário. Como a própria AnaBola diz, o seu humor não é masculino,como é, por exemplo, o dos Gato Fedo-rento. Mas as personagens estão de talmaneira bem desenhadas, e nisto Bola émestre, que, a cada programa, nos pa-recem mais familiares. Descobrimos até,sem grande admiração, que o quartitoalugado por Maria Delfina num prédiodormitório dos arredores, tem vista parao saguão.

Dénise, magnânima, em noites de tem-poral, deixa que a empregada durma nasua flat acanhada, mas onde pelo me-nos não chove. Lá vêem televisão e fa-zem jantares de pizza onde participa comfrequência a empregada africana do bal-cão das sopas.

Toda aquela gente parece não ter fa-mília por perto. Há solidão cheia portransportes públicos e muita conversaem centro comercial. Simboliza a pobre-za maquiada do consumismo nacional, aignorância, o equívoco e, em última aná-lise, o conformismo.

Leve, “VIP Manicure” não deixa deser um programa de humor crítico, ondehá momentos bem desenhados – comoaquele em que o segurança do Fórum,Carlão (outro achado), perante qualquersituação menos clara, aparece a pergun-tar: “Há espiga?”. Há quanto tempo nãoouvia eu esta frase!…

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