o centro - n.º 52 – 04.06.2008

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DIRECTOR JORGE CASTILHO | Taxa Paga | Devesas – 4400 V. N. Gaia | Autorizado a circular em invólucro de plástico fechado (DE53742006MPC) ANO III N.º 52 (II série) De 4 a 17 de Junho de 2008 1 euro (iva incluído) Telef.: 239 854 150 Rua da Sofia, 95 - 3.º - 3000-390 COIMBRA Ministro promete mais 2 mil agentes SEGURANÇA PÁG. 2 MÚSICA BISSAYA-BARRETO PÁG. 11 PÁG.19 Programa muito variado nos 50 anos da Fundação Coimbra transformada em “capital do jazz” Homenagens pluralistas em Coimbra e na AR PÁG. 2 PÁG. 3 PÁG. 11 a 15 Liderança dolorosa... PÁG. 3 LUCAS PIRES Adivinhar que Manuela Ferreira Leite vai ter uma liderança nada fácil, muitas vezes dolorosa, no fracturado PSD, qualquer um podia fazê-lo (ontem mesmo já se notaram divergências quanto à eleição dos novos dirigentes da bancada parlamentar). Mas o que a terá surpreendido é que as dores começassem logo no momento da vitória, com este “esmagador” abraço de Miguel Beleza...

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Versão integral da edição n.º 52 do quinzenário “O Centro”, que se publica em Coimbra. Director: Jorge Castilho. 04.06.2008. Visite outros sítios de Dinis Manuel Alves em www.mediatico.com.pt , www.slideshare.net/dmpa, www.youtube.com/mediapolisxxi, www.youtube.com/fotographarte, www.youtube.com/tiremmedestefilme, www.youtube.com/discover747 , http://www.youtube.com/camarafixa, , http://videos.sapo.pt/lapisazul/playview/2 e em www.mogulus.com/otalcanal Ainda: http://www.mediatico.com.pt/diasdecoimbra/ , http://www.mediatico.com.pt/redor/ , http://www.mediatico.com.pt/fe/ , http://www.mediatico.com.pt/fitas/ , http://www.mediatico.com.pt/redor2/, http://www.mediatico.com.pt/foto/yr2.htm , http://www.mediatico.com.pt/manchete/index.htm , http://www.mediatico.com.pt/foto/index.htm , http://www.mediatico.com.pt/luanda/ , http://www.biblioteca2.fcpages.com/nimas/intro.html

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Page 1: O Centro - n.º 52 – 04.06.2008

DIRECTOR JORGE CASTILHO

| Taxa Paga | Devesas – 4400 V. N. Gaia |Autorizado a circular em invólucrode plástico fechado (DE53742006MPC)

ANO III N.º 52 (II série) De 4 a 17 de Junho de 2008 � 1 euro (iva incluído)

Telef.: 239 854 150Rua da Sofia, 95 - 3.º - 3000-390 COIMBRA

Ministroprometemais 2 milagentes

SEGURANÇA

PÁG. 2

MÚSICA BISSAYA-BARRETO

PÁG. 11PÁG.19

Programamuito variadonos 50 anosda Fundação

Coimbratransformadaem “capitaldo jazz”

Homenagenspluralistasem Coimbrae na AR

PÁG. 2

PÁG. 3

PÁG. 11 a 15

Liderança dolorosa...

PÁG. 3

LUCAS PIRES

Adivinhar que Manuela Ferreira Leite vai ter uma liderança nada fácil, muitas vezes dolorosa, no fracturado PSD, qualquer um podiafazê-lo (ontem mesmo já se notaram divergências quanto à eleição dos novos dirigentes da bancada parlamentar). Mas o que a terásurpreendido é que as dores começassem logo no momento da vitória, com este “esmagador” abraço de Miguel Beleza...

Page 2: O Centro - n.º 52 – 04.06.2008

2 DE 4 A 17 DE JUNHO DE 2008NACIONAL

Director: Jorge Castilho(Carteira Profissional n.º 99)

Propriedade: AudimprensaNif: 501 863 109

Sócios: Jorge Castilho e Irene Castilho

Inscrito na DGCS sob o n.º 120 930

Composição e montagem: AudimprensaRua da Sofia, 95, 3.º - 3000-390 CoimbraTelefone: 239 854 150 - Fax: 239 854 154

e-mail: [email protected]

Impressão: CIC - CORAZEOliveira de AzeméisDepósito legal n.º 250930/06

Tiragem: 10.000 exemplares

O Ministro da Administração Internareiterou ontem (terça-feira) no Parlamen-to que PSP e GNR terão cada uma maismil elementos prontos no próximo ano,além de sete novas carreiras de tiro paratreino dos agentes.

Numa audição na Comissão Parla-

RUI PEREIRA PROMETE MAIS 2 MIL AGENTES DE SEGURANÇA

Novas carreiras de tiro em AveiroCastelo Branco, Coimbra e Viseu

mentar de Assuntos Constitucionais, Di-reitos, Liberdades e Garantias, Rui Pe-reira afirmou que a fase de candidatu-ras para a PSP e GNR terminou no dia20 de Maio e revelou que, no âmbito doprograma de formação e treino, serãoinstaladas ainda este ano novas carrei-ras de tiro no Porto, Faro, Aveiro, Cas-telo Branco, Coimbra, Viseu e Évora.

Estas sete localidades são as previs-tas para já, mas, “se for possível, far-se-ão” mais instalações de treino do tiro,afirmou.

Num balanço da actividade das for-ças de segurança, Rui Pereira destacouque as Equipas de Reacção Táctica cri-adas para agir em “zonas problemáticas”apreenderam de Janeiro a Abril cerca de2.200 armas ilegais, afirmando que estenúmero significa “uma actividade muitosignificativa” das equipas.

Quanto ao projecto AbastecimentoSeguro, que incide sobre os postos devenda de combustível, Rui Pereira afir-mou que cem postos já aderiram e queaté fim de 2008 mais 135 postos deve-rão aderir.

O Governo pediu à Procuradoria-Ge-

ral da República um parecer no âmbitoda reforma do regime das polícias mu-nicipais, no sentido de “não haver con-fusão” com as forças de segurança e“simplificar o processo de criação depolícias municipais, para encorajar as au-tarquias” a constituírem as suas própri-as unidades.

Questionado por Nuno Magalhães, doCDS-PP, e por António Filipe, do PCP,sobre a taxa de execução da Lei de Pro-gramação das Forças de Segurança, RuiPereira comprometeu-se a fornecer aoParlamento dados exactos sobre os in-vestimentos já feitos.

Em declarações à Lusa, o Ministrogarantiu que a lei está com uma taxa deexecução “satisfatória” e reiterou que irá“colaborar com a Assembleia da Repú-blica, com respostas que não sejam abs-tractas” sobre a execução dos investi-mentos programados para as forças desegurança.

Fernando Negrão, do PSD, questio-nou o ministro sobre o alegado fim docontrato com a empresa que fornece emantém os radares da Brigada de Trân-sito da GNR, afirmando que notícias sa-

ídas nos últimos dias dão conta dos mili-tares a “levarem os radares desactiva-dos no colo como medida de dissuasãodos condutores”.

Rui Pereira garantiu que “nenhum con-trato está caducado” e que “só quatroradares estiveram avariados durante al-guns dias, mas já estão todos arranjados”.

Questionado ainda sobre uma notíciado jornal Público que afirma que o Siste-ma Integrado de Redes de Emergênciae Segurança de Portugal (SIRESP) écontrolado por apenas uma pessoa, oministro negou.

O secretário de Estado adjunto e daAdministração Interna, José Magalhães,afirmou que o SIRESP é gerido por umaentidade com três membros nomeadospor despacho, sedeada por enquanto noMinistério e que recorre “ao trabalho deuma vasta equipa”.

Rui Pereira rejeitou também que oSIRESP tenho custado mais do que ovalor estimado do sistema, afirmando queo que está em funcionamento custou “12por cento abaixo do previsto em 2001”,quando foi feito um estudo para a cria-ção da rede de comunicações.

O Parlamento evocou ontem (terça-feira) a memória do “grande parlamen-tar e grande político” Francisco LucasPires, numa sessão que juntou sociais-democratas, democratas-cristãos, soci-alistas e o deputado comunista AntónioFilipe.

“Era um grande parlamentar, umgrande político”, lembrou o antigo lí-der da bancada do CDS-PP Nogueirade Brito.

Os elogios a Francisco Lucas Pi-res foram, aliás, constantes nos discur-sos na sessão evocativa organizada peloCDS-PP e pelo PSD e que juntou ao fi-nal da tarde na biblioteca da Assembleiada Repúblcia dezenas de democratas-cristãos, sociais-democratas e socialis-tas, além do deputado do PCP AntónioFilipe e da recém-eleita líder do PSD, Ma-nuela Ferreira Leite.

Em representação dos sociais-demo-cratas, o antigo deputado Carlos Encar-nação lembrou também a “pedagogia pelaconstrução da Europa” que Lucas Piressempre fez, enquanto o parlamentar so-cialista Jorge Strecht sublinhou a suacaracterística de “desalinhado”, ou seja,“alguém que não se conformava com asideias feitas”.

“Viveu num tempo mental que muitasvezes divergia do tempo real, antecipan-

DEPOIS DE COIMBRA, ONTEM NA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA

Homenagem a Francisco Lucas Pires

do o que muitos só viram décadas de-pois”, sublinhou ainda o antigo líder doPSD Marcelo Rebelo de Sousa.

“Tinha uma grande vocação interna-cional”, recordou também o presidenteda Assembleia da República, JaimeGama.

O actual líder do CDS-PP, Paulo Por-tas, e os socialistas José Lello e JoséLamego, entre outros, marcaram tam-bém presença na sessão evocativa da

memória de Lucas Pires.Recorde-se que na passada quinta-

feira Lucas Pires foi evocado na Facul-dade de Direito da Universidade de Co-imbra numa tocante cerimónia que con-tou com a presença do Presidente daRepública e do Presidente do Parlamen-to Europeu, para além de muitas outraspersonalidades nacionais, de variadossectores.

Licenciado em Direito pela Universi-

dade de Coimbra, Lucas Pires, que mor-reu a 22 de Maio de 1998, iniciou o seupercurso político em 1975 quando aderiuao CDS, e foi eleito deputado entre 1976e 1991, ano em que saiu o partido.

Filiou-se em 1997 no PSD pela mãode Marcelo Rebelo de Sousa e foi umdos precursores da Aliança Democráti-ca da qual foi coordenador-geral em1979. Chegou a ser ministro da Culturaconvidado por Pinto Balsemão, cargo queocupou entre 1982 e 1983.

Entre 83 e 85, Lucas Pires, líder doCDS, dedica-se a promover o Grupo deOfir, de reflexão sobre a Direita.

No Parlamento Europeu, FranciscoLuas Pires pertenceu ao grupo PPEquando foi eurodeputado, tendo sido oprimeiro vice-presidente português do PE(1986-1987), no ano em que Portugaladeriu à então CEE.

Na legislatura 1994-1999 regressou aoPE, mas já não pela mão do CDS, deque foi presidente (1983-1985), mas eleitocomo independente pelo PSD, tendo-lhesido atribuída, a título póstumo a meda-lha Robert Schuman.

Algumas das suas reflexões sobre aEuropa estão expressas na obra “Por-tugal e o futuro da União Europeia -sobre a revisão do Tratado de Maastri-cht em 1996”.

Um dos momentos mais tocantes da evocação de Francisco Lucas Piresna Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, foi a intervençãode seu filho, Jacinto Lucas Pires

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3DE 4 A 17 DE JUNHO DE 2008 NACIONAL

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Neste trabalho, Zé Penicheiro,com o seu traço peculiar e a incon-fundível utilização de uma invulgarpaleta de cores, criou uma obra quealia grande qualidade artística a umprofundo simbolismo.

De facto, o artista, para represen-tar a Região Centro, concebeu umaflor, composta pelos seis distritos queintegram esta zona do País: Aveiro,Castelo Branco, Coimbra, Guarda,Leiria e Viseu.

Cada um destes distritos é repre-sentado por um elemento (remeten-do para o respectivo património his-tórico, arquitectónico ou natural).

A flor, assim composta desta for-

ma tão original, está a desabrochar,simbolizando o crescente desenvolvi-mento desta Região Centro de Portu-gal, tão rica de potencialidades, de His-tória, de Cultura, de património arqui-tectónico, de deslumbrantes paisagens(desde as praias magníficas até às ser-ras imponentes) e, ainda, de gente hos-pitaleira e trabalhadora.

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MANUELA FERREIRA LEITE E SANTANA LOPES JÁ EM CONFLITO

Nova líder pretende eleições no grupo parlamentarsó depois do Congresso

Os previstos conflitos entre Manuela Fer-reira Leite e Pedro Santana Lopes pareceque já se iniciaram, em termos objectivos,nomeadamente por causa do momento daeleição do novo líder do grupo parlamentardo PSD, que Santana pretendia já para apróxima semana, mas a nova líder só querfazer após o Congresso de Guimarães.

De facto, a recém-eleita líder do PSD,Manuela Ferreira Leite, admitiu ontem (ter-ça-feira) que pretende que a eleição da novadirecção parlamentar do partido decorradepois do Congresso, recordando “que sem-pre foi assim”.

“Sempre foi assim, não há razões paraser de outra forma”, afirmou Manuela Fer-reira Leite, em declarações aos jornalistasna Assembleia da República, à saída de umacerimónia evocativa da memória do antigodeputado Francisco Lucas Pires, naquele quefoi o seu primeiro acto público depois da elei-ção para a presidência dos sociais-demo-cratas, no passado domingo.

Manuela Ferreira Leite adiantou ain-da que voltará ao Parlamento amanhã(quinta-feira) para “falar com o grupoparlamentar”.

Numa nota a que a Lusa teve aces-so, o líder parlamentar demissionário,Pedro Santana Lopes, comunicou on-tem aos 75 deputados do PSD que arecém-eleita presidente do PSD reúne-se com a bancada na quinta-feira.

Na nota, Santana Lopes refere aindaque o primeiro ponto da ordem de tra-balhos da reunião de amanhã será aeleição da nova direcção do grupo par-lamentar e o segundo ponto outros as-suntos.

Pedro Santana Lopes, que está de-missionário desde sábado, dia em queperdeu as eleições directas para a pre-sidência do PSD, convocou anteontem(segunda-feira), para o próximo dia 11de Junho, a eleição do seu sucessor àfrente da bancada social-democrata.

Questionada sobre as razões por que pre-fere que a eleição da nova direcção parla-mentar decorra só depois do XXI Congres-so do PSD (que elegerá, nos dias 20, 21 e

22 de Junho, em Guimarães, os novos ór-gãos nacionais do partido), a líder social-de-mocrata disse apenas que é para “cumpriro que tem sido costume”.

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4 DE 4 A 17 DE JUNHO DE 2008ANÁLISE POLÍTICA

ponto . por . ponto

Por Sertório Pinho Martins Nada como dantes

Manuela Ferreira Leite fotografada após a breve comunicação que fez (sem direito a perguntas dos jornalistas...), depois de conhecidos os resultadosque lhe deram a vitória como líder do PSD e como a primeira mulher a dirigir um dos maiores partidos portugueses (Foto Lusa)

Acabou a trapalhada dentro do PSD.Acabou também o sono de José Sócrates.E acabou o sonho de Luís Filipe Menezes.Acabou a carreira política (imaginada) deSantana Lopes. Acabaram as dúvidas deMário Soares sobre o que espera este go-verno se não puser as barbas de molho.Acabou a ilusão dos portugueses que ain-da acreditam em milagres, porque a pestenegra da economia e da agitação social estáaí e veio para ficar, colada à nossa pele eao nosso futuro colectivo. E acabou – oupelo menos amainou – o pesadelo de Ca-vaco Silva, que vê de novo alguma luz aofundo do túnel. A partir de agora, nada serácomo dantes! A corda esticou até ao limi-te, o nosso nacional-porreirismo alimentou,desde há uma dúzia de anos a esta parte,decisões políticas e desvarios que não cons-tam de nenhum tratado de governação, epor mais caricato que pareça nada acon-teceu aos actores que se atascaram até àsorelhas nessa bagunça de anos a fio, sui-cida e impune, à excepção de um murrona mesa com que Jorge Sampaio deu porfindas as aventuras da parelha Santana-Portas, e mesmo assim sem conseguirdemonstrar que não o fez para inaugu-rar a época de todos os ovos no mesmocesto. Mas porque nestas borrascas omexilhão é que se lixa sempre, vai so-brar para o Zé o amargo do fel e a tra-vessia desértica onde só ficarão vacasesqueléticas a pastar pedregulhos.

José Sócrates tinha se calhar outros pla-nos. Mas, para além de supor que estavavacinado contra todas as maleitas, deixouà rédea-solta um conjunto de cromos queno início de 2007 poderia ter espalhado poresses consulados de além-mar, longe q. b.

para não lhe atrapalharem a vida, e chega-va à presidência portuguesa da UE comum naipe de gente capaz de completar ummandato que poderia ter feito com umaperna às costas. Preferiu assim – e aca-bou-se-lhe o sono a partir de agora. A jun-tar à crise económica (a confiança dos con-sumidores continua a descer, a situação fi-nanceira das famílias atinge mínimos his-tóricos, as poupanças caem a pique – enão vale a pena dourar a pílula), e à agita-ção social que cresce exponencialmente(pese embora ter naquela pasta o melhorministro do seu gabinete), o nosso primeirovai ter uma nova dor-de-cabeça política:Manuela Ferreira Leite sabe mais do queele sobre ‘como’ tratar os principais temasque neste momento são a areia da nossaengrenagem, e José Sócrates não temfront-office nessas áreas com pedaladapara o proteger da tempestade que aí vem.Nem se preveniu!

Entretanto o dossier social engorda aolhos vistos: o desfile de 200.000 descami-sados que a CGTP já pôs na rua, mais de100.000 professores num buzinão sem fimpara a ministra da educação ouvir e nãoligar peva, os pescadores ancorados nummolhe onde o desespero dos combuAstí-veis dá as mãos à fúria contra o peixe imi-grante que lhes tira o pão de cada dia, oaviso de novas manifes da CGTP/PCPcontra a revisão da lei do trabalho – atéque o paredão rebente e a enxurrada arra-se o pouco que resta de pé. E, but not theleast, o tsunami das barrigas vazias e daclasse média reduzida a cinzas por incom-petências impunes dos cromos do costu-me e de alguma imprudente cobertura donosso primeiro, vai fazer tábua rasa de uma

madrugada de esperança que há trinta equatro anos levantou de novo o esplendorde Portugal.

Quando não há trunfos na mesa, nemna manga, e o bluff das palavras vaziasperdeu ouvintes, a fruta da governaçãoestá pronta para ser colhida. E, ou muitome engano, ou a rataria em breve vaicomeçar a abandonar o barco do poderinstalado, disputando à unhada os luga-res secos que lhes permitam atravessaro longo oceano sem portos de arrimo quevão ter pela frente, e onde não haveránenhum ‘mar morto’ para passar a vau.E a oposição interna no PS vai ter – aocontrário do que se pensaria – que fazercontas à vida: ou cerra fileiras e dentes,e engole sapos, para manter unida umafrente de esquerda (mesmo que paguedízimos ao BE e ao PCP) e vencer aslegislativas de 2009, ou pode preparar-se para que o regresso ao poder dos su-cedâneos de José Sócrates só veja a luzdo dia lá para 2017. Tão simples quantoisto: se Manuela Ferreira Leite ganhar(ainda que por maioria relativa) as pró-ximas legislativas, Cavaco Silva renova-rá o mandato em 2011, e o PSD repetirásem ondas a vitória em 2013 (até porqueteve os biliões do QREN para fazer fi-gura). Ou seja: o actual PR em Belématé 2016 e os sociais-democratas em S.Bento até 2017!

O PSD pode ter assim achado a solu-ção de regresso ao poder. E ao contráriodos que acham que isso já poderia terocorrido há mais tempo, permito-me dis-cordar, tão só porque era politicamentepreciso (mas o preço a pagar tem sidomuito alto) deixar apodrecer a ilusão de

toda a romaria que levou José Sócratesà primeira maioria absoluta do PS. Eagora é só esperar sentado pelo inevitá-vel cair da folha, mas cuidando da(re)união interna das suas fracturas.

E Cavaco Silva? Obviamente está fartode puxar as orelhas ao primeiro-ministropor conta dos cromos que se enrodilhamem aeroportos no meio do deserto, em apoi-os comunitários ao diospiro e à baga-de-sabugueiro, em encerramento selvagemdas últimas esperanças de saúde para osmais desfavorecidos, ou em ausência deacção e de simples presença por parte deuns tantos ministros que só são notícia quan-do dizem asneiras ou aparecem na foto-grafia das excursões com empresários avender ilusões a países do terceiro mundoque já só nos aturam porque ainda somosuma porta fácil de franquear no acesso aossalões da União Europeia.

E como não temos matérias-primasapetecidas, os melhores cérebros do nos-so orgulho universitário há muito que pro-curaram outras rotas, já demonstrámosque não sabemos tomar conta da nossaprópria casa, o país deixou de ser pes-soa de bem (não tarda nada os credoresda nossa balança comercial começam apenhorar o futuro dos nossos bisnetos, ePortugal já é o segundo país mais endivi-dado da Zona Euro) – tudo vai ter quemudar, para que nada fique como dan-tes. E se assim não acontecer, resta-nossó o leilão do orgulho dos portuguesesde quinhentos, a quem bastava dar comopenhor as próprias barbas e ter o mundoa seus pés. Como vai longe esse tempo,e como o Portugal de hoje é pasto deincendiários imberbes!

Page 5: O Centro - n.º 52 – 04.06.2008

5DE 4 A 17 DE JUNHO DE 2008 OPINIÃO

MAIO 68, QUARENTA ANOS

Os meios de comunicação têm vindo aassinalar o quadragésimo aniversário dastumultuosas manifestações estudantis queem Maio de 1968 ocorreram em Paris eque alastraram pela França e por outrospaíses da Europa, contestando o conserva-dorismo político e social de então, com in-fluência do movimento “hippie”, envolven-do oposição à guerra do Vietnam (“Façamamor, não façam guerra”).

O nível de contestação ficou bem tradu-zido pelo extremismo dos slogans gritados,tais como o utópico “Interdit d’interdire”(proibido proibir), “A imaginação ao poder”e a célebre declaração “Nós somos razoá-veis, só exigimos o impossível”.

Aos excessos de muitos contestatá-rios correspondeu uma violenta reacçãodas forças policiais, tendo os estudan-tes recebido a adesão da generalidadedos trabalhadores e de uma grande parteda sociedade civil, num crescendo queculmina em greve geral, considerada amaior ocorrida em França.

Tais ocorrências, ainda que não consubs-tanciassem uma revolução (quase que foi),constituíram, no entanto, uma explosão dedescontentamentos vários, como que o re-bentar de uma panela sob pressão, uma con-vulsão que teve assinaláveis repercussõestanto no âmbito político como nos compor-tamentos familiares e sociais.

Embora, por cá, a censura contrariasse aampla divulgação desses acontecimentos, e

a informação oficial apresentasse versõesdistorcidas, atribuindo-lhes como de costu-me origem comunista, esse Maio francêsdeu-nos contentamento, assumindo-o comotambém nosso. Isto porque se ocorreu emFrança, com um regime democrático, muitomais se justificaria em Portugal com umregime autocrático. Como se fosse umaestocada na situação, uma advertência àditadura que nos oprime.

Os Maios do nosso contentamentoPor Viriato Macedo

MAIO 58, CINQUENTA ANOS

Nos dez anos antes desse Maio francês,nós também tivemos em Portugal em Maioquase revolucionário, o de 1958, que foi oda candidatura do General Humberto Del-gado à Presidência da República, propostopela oposição democrática, contra o Almi-rante Américo Tomaz, apresentado pelaUnião Nacional sob indicação de Salazar.

A campanha eleitoral do General Delga-

do animou o país, após trinta anos de regi-me ditatorial salazarista de “partido” único.

As diversas sessões de propaganda daoposição e as concorridas manifestaçõespopulares de apoio, nas quais o general pro-nunciou discursos fortes que encontravameco no sentimento das populações, empol-garam o país. Teve especial impacto a jor-nada vivida na cidade do Porto em 14 deMaio de 1958, que teve uma participaçãoavaliada em duzentas mil pessoas, onde ogalvanizante discurso de Delgado foi arra-sador para o regime (... “Pois foi esta terraaquela que, ao escolher-me para CandidatoIndependente nesta hora de perturbação ede discórdia, quando reina a mentira e omedo, quis assumir perante a Nação a res-ponsabilidade de traçar o caminho legal epacífico da libertação nacional”... “E por todaa parte o problema é o mesmo, do Minho aoAlgarve a miséria impera, em contraste como luxo dos privilegiados”...)

Estando na ocasião a trabalhar na Guiné,não acompanhei a campanha, cujos ecoschegavam esbatidos àquela colónia, mas tiveo privilégio de sobre ela vir a ser bem infor-mado pelo meu sogro, José Castilho, escri-tor e jornalista de profissão, natural de Ar-cos de Valdevez, ao tempo chefe da redac-ção do “Diário de Coimbra”, o qual não sóacompanhou profissionalmente como seempenhou pessoalmente na campanha, emconsonância com os seus ideais republica-nos e democráticos. Tenho muita pena queJosé Castilho, assim como aconteceu commuitos outros corajosos oposicionistas, com-batentes da Liberdade, não tivesse vivido o

suficiente para assistir ao 25 de Abril de1974. Resta-me a satisfação de a sua meri-tória actividade cívica ter sido devidamentereconhecida pela Câmara Municipal deCoimbra, com a atribuição do seu nome auma importante rua da cidade em que cedose radicou e que tanto amou.

Pelo que José Castilho me contou e pe-las imagens entretanto publicitadas da aflu-ência às urnas, é de presumir que o verda-deiro vencedor foi o General Delgado, ten-do sido mentirosos os resultados oficialmenteapresentados.

Como testemunho pessoal, posso referiro que se passou em Bissau, capital da Gui-né, onde não houve campanha da oposição,tendo havido apenas uma sessão de propa-ganda promovida pela União Nacional afavor do Almirante Américo Tomaz, na salade cinema da UDIB (União Desportiva eInternacional de Bissau). Uns tantos oposi-cionistas, alguns revelados na ocasião, com-binaram acompanhar, do princípio ao fim, aúnica mesa eleitoral, revesando-se por for-ma a reduzir a possibilidade de fraude. Oresultado, já não me lembro dos númerosexactos, foi próximo de um empate, o quefoi notável, tratando-se de um eleitorado con-dicionado pelos poderes públicos.

Quando, pouco depois fui trabalhar emAngola, soube que na quatro vezes cente-nária cidade de Benguela, em que haviaoposição organizada, o resultado expressofoi esmagadoramente da ordem de noventapor cento a favor do General Delgado.

Pergunto-me quão diferente teria sidoPortugal, após 1958, se o General Humber-to Delgado tivesse sido proclamado vence-dor. Salazar teria sido afastado, em cumpri-mento da célebre declaração de Delgado(“Obviamente demito-o”) que constituiu odetonador da explosão de entusiasmo vi-vido na campanha eleitoral. Teria sido im-plantado então um regime democráticopluri-partidário, antecipando dezasseisanos o que só acabou por ocorrer com o25 de Abril 1974, naturalmente sem osexageros revolucionários que se seguirama essa data e que tão prejudiciais forampara a economia do país.

É de admitir que a questão colonial ti-vesse sido resolvida inteligentemente, semas desgraçadas guerras coloniais com assuas funestas consequências. Ter-nos-ía-mos integrado mais cedo na ComunidadeEconómica Europeia, com todos os seubenéficos efeitos. Enfim, teríamos hoje umpaís mais desenvolvido.

MAIO 1974

Finalmente, o primeiro 1.º de Maio emliberdade, em que os portugueses feste-jaram alegremente a dignidade recon-quistada a 25 de Abril, poucos dias an-tes. Foi a grande festa da fraternidade,em que todos os sonhos pareciam possí-veis, muitos por alcançar.

MAIO 2008

Mês em que o Tratado de Lisboa, o tra-tado refundador da União Europeia (U.E.),foi ratificado pelo Parlamento e promulga-do pelo Presidente da República.

Já está, em Portugal. Mas ainda não estáem todos os 27 países que integram a U.E..Esperamos que não ocorra algum azar aatrapalhar a aplicação do Tratado a partirde 1 Janeiro 2009.

Teria sido preferível que a ratificaçãofosse por via referendária. Seria uma boaoportunidade para o debate do Tratado anível nacional. As decisões são tantomais aceitáveis quanto mais participadasforam. Mas as circunstâncias foram nosentido verificado.

Grande nota positiva para o Primeiro-Ministro José Sócrates e para o seu (nosso)Governo, pela forma brilhante como o pro-cesso foi conduzido pela presidência portu-guesa durante o segundo semestre de 2007,com a assinatura do tratado em Dezembro.Vimos uma máquina bem oleado a traba-lhar na perfeição.

Demos conta do recado. Fomos ópti-mos. Aliás, somos bons em muitas coisas.Ou, para usar de modéstia, somos pelomenos reconhecidamente bons em algu-mas coisas. Registo, a propósito, a obser-vação da euro-deputada Elisa Ferreira, dePortugal ser referido como um país ondeimpera a arte da diplomacia – ou, comoexplicar de outro modo que uma nação,média e excêntrica em relação ao coraçãoda Europa, tenha conseguido colocar onome da sua capital nos dois dossiers maisemblemáticos da actualidade comunitária,a “Estratégia de Lisboa” (da presidênciaGuterres) e o “Tratado de Lisboa” (da pre-sidência Sócrates) – acrescentando saberbem sentir reforçada a certeza de que, porvezes, de tanto olharmos para o chão, nosesquecemos de que não temos necessaria-mente de optar por rastejar.

Podemos orgulhar-nos e dizer: parabénsSócrates, parabéns Portugal!

Já agora, dizer: já fomos os maiores,podemos ser dos melhores.

Paris, Maio de 1968

Humberto Delgado saúdaa multidão de apoiantes

Ao lado, desfile no 1.º de Maio de 1974

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6 DE 4 A 17 DE JUNHO DE 2008INTERNACIONAL

Fiodor Lukyanov *

* in revista A Rússia na Política Global

Em 5 de Junho o novo presidente russoaterra na Alemanha que, dentre os paísesda UE, é o maior parceiro comercial deMoscovo (com um volume de comércio bi-lateral de cerca de 50 mil milhões de euros).Para Dmitri Medvedev esta será a terceiravisita oficial ao estrangeiro. De 22 a 24 deMaio, escassas duas semanas após a suainaguração em 7 de Maio, visitou o Caza-quistão e a China. O périplo suscitou umaavalanche de comentários, sugerindo que aEuropa e os EUA já não seriam tão impres-cindíveis para a Rússia.

Quanto à viagem ao Cazaquistão, tudoestá claro: Dmitri Medvedev prometera fa-zer a primeira visita a um dos Estados Inde-pendentes no espaço pós-soviético. A es-colha caiu sobre este país, considerado umparceiro próximo de Moscovo e, ao mesmotempo, bastante independente. Até agora oseu líder, Nursultan Nazarbaev, a zigueza-guear por entre os interesses da Rússia, dosEUA, da UE e da China, tem conseguidousar plenamente os seus trunfos energéti-cos e geoestratégicos. A propósito, a pri-meira visita oficial de Vladimir Putin, emMaio de 2000, foi ao Uzbequistão.

A viagem à China fornece mais substân-cia para especulações políticas sobre umaeventual “mensagem” enviada para o Oci-dente. No entanto, é um evidente reconhe-cimento de maior papel desempenhado ago-ra pela China e de mudanças gerais nas re-lações internacionais.

Em comparação com o ano de 2000,quando começou a presidência de Putin, asituação no mundo alterou radicalmente. Aviragem ocorreu em 2003. Uma imparávelalta dos preços das matérias-primas abriunovas possibilidades qualitativas aos paísesexportadores e fez com que os importado-res agissem de modo mais impetuoso emesmo agressivo. Os EUA invadiram o Ira-que.

Agora aprecebe-se que a aventura ira-quiana foi um erro à escala estratégica, fa-zendo enfraquecer o potencial de liderança

Moscovo diversifica alianças

dos EUA praticamente em todas as esfe-ras. Também a solidariedade transatlânticasofreu um golpe, já que muitos aliados deWashington não concordaram com a ope-ração iraquiana.

Durante todos estes anos, e sobretudono último quinquénio, a China tem aumen-tado a actividade com vista ao seu cresci-mento económico, agindo neste sentido portoda a parte – Austrália, Ásia Sudeste, Áfri-ca, América Latina e Médio Oriente.

Foi exactamente em 2003 que veio à luzum relatório da companhia para investimen-tos “Goldman Sachs”, oferecendo ao mun-do o termo BRIC (Brasil, Rússia, Índia eChina) como símbolo de liderança mundialpara os meados do século XXI. A propósi-to, há três semanas os chefes de diplomaciadestes Estados reuniram-se na cidade rus-sa de Ekaterinburg, nos Urais. (Ao que cons-

ta, Moscovo e Brasília pretendem abolir, numfuturo próximo, o regime de vistos nas via-gens dos seus cidadãos).

Para encetar as relações institucionais istonão chega, pois é preciso um estímulo mai-or. Para a Rússia, este tem sido a degrada-ção dos contactos e do diálogo com o Oci-dente. A causa da actual crise ideológica epsicológica entre Moscovo e a comunidadetransatlântica pode ter várias interpretações.Mas o facto é que um dos favoritos da corri-da presidencial nos EUA proclama ofici-almente, como um dos seus objectivos pri-oritários, a intenção de expulsar a Rússiado “G8” e criar uma “Liga de democraci-as”. Esta não vai admitir a Rússia, a Chi-na e ainda meia centena de outros paísesdo mundo.

Nestas circunstâncias não surpreende avontade de Moscovo de diversificar “a filia-

ção em clubes”. Por outras palavras, dar aentender que no nosso planeta podem sur-gir várias alianças, inclusive de configura-ção inusitada.

Os países do BRIC têm diferentes prio-ridades, agendas e relações com as gran-des potências ocidentais. Mas, em comumtêm a aspiração de reforçar as suas posi-ções neste mundo fragmentado do início doséculo XXI, caracterizado por um declíniodas instituições internacionis e uma crise dasnormas do direito internacional.

Em cada passo da aproximação de Mos-covo à China o Ocidente vê intuito de lan-çar desafios e criar problemas. No entanto,a situação é muito mais complexa.

A Rússia procura edificar um complexosistema de equilíbrio dinâmico, interligandoos contactos com o Ocidente e o Oriente.Por exemplo, quanto maior for a pressão nalinha de alargamento da NATO, mais inten-sos serão os esforços com vista a entendi-mento com os parceiros no outro lado daEurásia. Doravante, isto poderá funcionarna direcção oposta: se a China começar aaumentar o seu peso político, a sua influên-cia, a Rússia precisará também de contra-peso ocidental. O esquema, aliás, exige pos-suir uma sensação apurada do equilíbrio euma táctica extrememente fina.

Convém acrescentar que a Rússia severá obrigada a prestar muito mais atençãoaos acontecimentos na região asiático-pa-cífica, não devendo estes esforços prejudi-car a direcção ocidental.

Em rigor, relações bilaterais, no sentidousual desta palavra, agora praticamente nãoexistem. Sobretudo quando se trata dos con-tactos entre as grandes potências. Todos equaisquer contactos desenvolvem-se numcontexto global e devem ser avaliados doponto de vista da interdependência geral eda concorrência simultaneamente. Esque-mas simples, tais como uma “Liga de de-mocracias”, ou uma “Aliança de não de-mocracias”, só podem fazer piorar a situa-ção no mundo.

Dmitri Medvedev visita a Alemanha

Luís Amado em Paris em reuniãosobre alterações climáticas

O Ministro dos Negócios Estran-geiros, Luís Amado, está desde on-tem (terça-feira) e até amanhã emParis para participar numa reuniãoministerial do Conselho da Organi-zação para a Cooperação e Desen-volvimento Económico (OCDE) so-bre alterações climáticas.

O chefe da diplomacia portugue-

sa aproveitou a deslocação à capitalfrancesa para ter ontem um jantar-trabalho com o seu homólogo fran-cês, Bernard Kouchner, a propósitoda preparação da Presidência Fran-cesa da União Europeia, que ocor-rerá no segundo semestre deste ano– segundo revelou o Ministério dosNegócios Estrangeiros em comuni-

cado.Ainda ontem Luís Amado visitou

o Consulado Geral em Paris.Hoje e amanhã, o Ministro dos

Negócios Estrangeiros participará nareunião ministerial do Conselho daOCDE sobre o tema “Abertura, Re-formas e Economia das AlteraçõesClimáticas”.

ONTEM REUNIU COM O CHEFE DA DIPLOMACIA FRANCESA

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7DE 4 A 17 DE JUNHO DE 2008 COIMBRA

EXPLICAÇÕESDE MATEMÁTICALicenciada em Matemática

com experiênciadá explicaçõesa todos os anosTelemóvel: 962 449 286

René Tapia(Professor universitário)

“É mais fácil escrever acerca do di-nheiro do que obtê-lo, e quem sabe obtê-lo ri-se muitíssimo de quem só sabe es-crever acerca dele”.

(Voltaire)

Praças offshore são territórios que co-mercializam soberania oferecendo condi-ções fiscais favoráveis, imunidade judicial esegredo bancário. Foram criadas para sim-plificar a actividade empresarial e a trans-ferência de pagamentos, não necessariamen-te para actividades ilícitas. Aumentaram ra-pidamente nos finais do último milénio comos petro-dólares, a corrupção, o dinheiro dadroga e outras actividades ilegais e ultima-mente a reciclagem dos fundos de pensões.Não é um fenómeno marginal, mas umadas componentes do sistema, jogando umrol essencial na mundialização das activi-

“Financiarização” offshoredades financeiras.

A privatização de empresas, junto com adesregulamentação, liberalização e integra-ção de mercados, cria fluxos financeirosprivados crescentes. Esta globalização finan-ceira aumenta o peso do sector financeirono PIB mundial, criando novos actores enovos instrumentos financeiros. Entre estesactores encontram-se os “investidores ins-titucionais” (fundos de pensões, companhi-as de seguros e outras organizações de co-locação colectiva de valores) que captamos recursos, investindo e diversificando ins-trumentos financeiros.

Em 2003, as solicitações de créditoao sistema bancário internacional aumen-taram em 304 biliões de dólares, corres-pondendo 104 biliões entre bancos do Rei-no Unido e a maioria destes no interior dogrupo entre Alemanha, Japão, França, Su-íça e os Estados Unidos. Do aumento em37 biliões de dólares dos créditos entre ban-cos dos EU, 26 biliões foram canalizadospara centros offshore. As solicitações de

crédito em centros offshore representa-ram 12% do total mundial (1,8 triliões dedólares no 2º trimestre de 2003, um terçodos quais nos EU).

O Reino Unido continua a ter um papellíder na finança europeia e mundial. A Rai-nha de Inglaterra nomeia os governadoresem dúzia e meia de territórios que possuemlegislação offshore, entre eles Bahamas,Bermudas, Ilhas Caimão, Ilhas Virgens, Gi-braltar. O liberalismo de Chipre era utiliza-do pelas mafias dos países de leste para otráfico de armas1.

Os governos portugueses têm tido umaincapacidade secular para gerir a riquezado país e não criar desenvolvimento social2:financiaram a revolução industrial inglesaconsumindo com ostentação o dinheiro dotráfico de escravos até aos acordos de Ber-lim; colonizaram os continentes, na impossi-bilidade de alimentar a sua população e, nosfinais do século XX, exportaram trabalha-dores para a reconstrução da Europa, inca-pazes de desenvolver a sua própria indús-

tria. Vivem a mais de vinte anos do FundoSocial Europeu3 e da venda das empresasestatais. Perante este astigmatismo históri-co, a fonte básica de investimentos é o Es-tado, cuja principal fonte de poupança sãoos fundos da segurança social… vendidaao maior banco internacional. Neste mundo“financiarizado”, um ministro doutorado emeconomia no Estados Unidos entrega a ala-vanca fundamental do crescimento do paísao capital especulativo internacional.

1 Para citar praças financeiras que receberam odinheiro dos contribuintes portugueses por decisãogovernamental. Chipre foi colónia inglesa até 1960 e aInglaterra permaneceu como potencia administradoraaté a entrada na União Europeia em 2004 da estratégi-ca terceira maior ilha do Mediterrâneo, excluindo aRepublica Turca de Chipre do Norte.

2 Genialmente retratado por Eça de Queirós em“Os Maias”, onde Jacinto vive na zona nobre de Parissem nunca ter conhecido a sua propriedade de Trás-os-Montes.

3 Que algum dia há que pagar, para financiar aexpansão ao leste europeu … aumentando os im-postos.

No próximo dia 14, no Largo da SéVelha, em Coimbra, realiza-se a 17.ªreconstituição da Feira Medieval,numa organização do Inatel, Turismode Coimbra e da Associação para oDesenvolvimento e Defesa da Alta deCoimbra.

A edição deste ano conta com oapoio das Câmaras Municipais deMira e de Penacova, Freguesia daAbrunheira, Polícia de Segurança Pú-blica, Guarda Nacional Republicana eda Paróquia da Sé Velha de Coimbra,e ainda da CP.

Do programa consta, pelas 9h15,uma missa na Igreja da Sé Velha comCanto Gregoriano e Polifonia Medie-val, pelo Grupo Vocal e Instrumentalda Academia Martiniana; pelas 10h00,a benção e leitura da Carta da Feiracom toque de trombetas; pelas 16h00,

NO PRÓXIMO DIA 14, NO LARGO DA SÉ VELHA

Feira Medieval volta a Coimbrano Salão Paroquial da Sé Velha, sob otema “Lendas da Sé Velha”, uma pa-lestra por José Carlos Seabra Pereira(Professor da Faculdade de Letras deCoimbra); das 10h00 às 19h00, a ha-bitual recriação da Feira no recinto daSé Velha, com animação circense eteatral, com músicos, malabaristas,cavaleiros, mostra de armas, ilusionis-tas e personagens diversas.

Participam neste evento grupos deteatro amador (Abrunheira, Ateneu deCoimbra, Casconha – Condeixa, Con-deixa-a-Nova, Covões – Cantanhede,Loureiro, Moinho da Mata, Portela deTentúgal, Seixo de Mira, Saltimbancosde Ceira, Sobral de Ceira, São Frutuo-so, Taveiro e Vila Nova de Outil) e pro-fissionais (Viv’Arte, Animamundi, Sca-labitanus, Tutiscatraputis, Bailias e Fo-lias, Hai-Luz, Andarilhos, Encantador

de serpentes, 5 Bailarinas de “Dançado Ventre”, Falcoaria; Cetraria – de-monstração de Aves de Rapina).

Os 14 grupos de teatro amador es-tarão presentes com as suas tendas,devidamente trajados à época, haven-do ainda a comercializarão dos mais di-versos produtos: de aves ao azeite, deenchidos aos frutos secos.

De salientar, também, a realizaçãono dia 13, pelas 18h00, de uma Confe-rência subordinada ao tema “Isabel deAragão – Rainha, Santa e Empreen-dedora”, por Paulino Mota Tavares,com apresentação da historiadora Ma-ria José Azevedo Santos.

Nos dias que a antecedem, a Feiraserá anunciada na cidade e seu “ter-mo” por pregoeiros, em mais uma répli-ca dos hábitos medievais, esperando aorganização atrair milhares de pessoas.

Coimbra vai ter mais de um cente-na de actividades culturais até Se-tembro, de acordo com o programaapresentado pelo Vereador MárioNunes.

Destaque para a música de varia-dos géneros, mas também para asartes plásticas, para a dança e o fol-clore, entre outras acções.

No Dia da Cidade (4 de Julho),será apresentado o “Coro MunicipalCarlos Seixas”, composto por 60 fun-cionários da autarquia.

O Mercado de Flores e Plantas, aMostra de Arte na Rua, as Noites daCanção de Coimbra, a biblioteca aoar livre no Parque Verde do Monde-go, são alguns outros aspectos refe-ridos pelo Verador da Cultura.

Culturaem Coimbra

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8 DE 4 A 17 DE JUNHO DE 2008OPINIÃO

5 ML DE GASOLINA A SEGUIRÀS REFEIÇÕES

A gatunagem apanhou-me, amigo lei-tor. Assaltaram-me o carro. E eram pro-fissionais, os bandidos: deixaram o auto-rádio onde estava, desdenharam a minha

carteira, mal escondida no porta-luvas, enão tocaram no GPS.

Levaram-me só os sete litros e meiode gasóleo que tinha no depósito. Esper-talhões. Isto da carestia dos combustí-veis também tinha de ter os seus incon-venientes.

Felizmente, as vantagens são inúme-ras: há menos engarrafamentos, menosacidentes na estrada e menos carja-cking. Com a gasolina a este preço, ne-nhum bandido no seu juízo perfeito rou-ba um carro. É meter-se em despesas.Por cada três Multibancos que assalta,dois são para pagar a gasolina necessá-ria para as deslocações. É evidente quenão compensa.

(...) Actualmente, é possível começara encher o depósito e o preço do com-bustível aumentar duas ou três vezesenquanto se abastece. Uma pessoa pen-sa que tem dinheiro para atestar e no fimverifica que afinal tem de vender o carro

para pagar a conta da gasolina. É possí-vel, aliás, que o barril de crude tenha ba-tido sete novos recordes desde que o lei-tor começou a ler isto. O melhor é ir en-cher o depósito antes que as estaçõesde serviço comecem a vender gasolinaem frasquinhos de perfume. Não devefaltar muito.

Ricardo Araújo PereiraVisão 29/Maio/08

ONDE ESTÁ O LADO CERTO?

(...) Vivemos, desde a década de 80,um novo período de sufocação, que semanifesta em vários sectores: desempre-go, emigração, esvaziamento ideológicoe ausência da política, economia, justiça,cultura, educação. Há, hoje, dificuldadeem escolher o que se julga ser o ladocerto onde se deve estar. E essa dificul-

dade serve de pretexto para as mais visrenúncias, e de condescendência paracom sórdidas traições.

Inculcaram-nos a ideia de que Portu-gal é inviável e de que somos um povode madraços. Como já poucos lêem oque deve ser lido, a afirmação fez fé.Mas não corresponde à verdade. Reco-mendo aos meus dilectos alguns auto-res antagonistas da absurda tese: Vitori-no de Magalhães Godinho, José Matto-so, Luís de Albuquerque, António Bor-ges Coelho e, até, António José Saraiva.Todos interpelam o País, criticam-no por-que o amam, e ensinam-nos que o pas-sado altera-se de todas as vezes que olemos e interrogamos.

O lado certo está, creio-o bem, quan-do recusamos a indiferença e não admi-timos a resignação.

Baptista-BastosDN 21/Maio/08

PÔR A EUROPA À PROVA

O que inquieta na actual crise nacionale internacional é que enquanto alguns res-ponsáveis parecem viver o momento comum misto de indiferença e de ignorância,como se se tratasse de um infantil “fazerde conta” a ver se a coisa passa, outrososcilam entre a estupefacção e o temor,dando uma penosa impressão de impotên-cia. Todos contribuem para o sentimentode desamparo que se generaliza.

Enfrentamos uma situação inédita, pelasua dimensão e pelas suas (im)previsíveisconsequências. O que se deve à multi-plicidade dos seus factores, uma vez que,na verdade, estamos perante a conver-gência de várias crises quase simultâne-as, todas elas potencialmente devasta-doras: são as crises financeira, monetá-ria e económica, mas são também ascrises alimentar, energética e ecológica.

Face a isto, há que saudar a corageme a lucidez do “manifesto” que váriosantigos primeiros-ministros e ministrosdas Finanças e da Economia europeus,encabeçados pelo antigo presidente daComissão Europeia Jacques Delors, tor-naram público há dias.

É um documento que coloca a Euro-pa à prova, face às suas responsabili-dades. Por um lado, lembrando as raí-zes da crise actual, por outro lado, apre-sentando diversas propostas e subli-nhando o imperativo de agir. Nas cir-cunstâncias em que vivemos, uma Eu-ropa sem um plano de acção para en-frentar a crise é uma Europa sem cre-dibilidade nem futuro. (...)

Manuel Maria CarrilhoDN 31/Maio/08

O SERMÃO AOS PEIXES

No quarto centenário do nascimentodo Padre António Vieira, presto home-nagem ao missionário, ao orador, ao es-critor, ao patriota, ao diplomata, ao per-seguido pela Inquisição, ao defensor dosíndios e dos negros, puxando a atençãopara a actualidade pavorosa do seu ser-mão aos peixes. Sermão de invulgar co-ragem frente aos colonos do Brasil. Nãotinha Cristo chamado aos pregadores osal da terra? Ora, “o efeito do sal é im-pedir a corrupção”.

É preciso ouvir as repreensões, que,se não servirem de “emenda”, servirãoao menos de “confusão”. E qual é a con-fusão? É que os peixes como os homensse comem uns aos outros. O escândaloé grande, mas a circunstância fá-lo mai-or. “Não só vos comeis uns aos outros,senão que os grandes comem os peque-nos. Se fora pelo contrário, era menosmal. Se os pequenos comeram os gran-des, bastara um grande para muitos pe-quenos; mas como os grandes comemos pequenos, não bastam cem pequenos,nem mil, para um só grande.”

Quando Portugal é apontado como opaís da União Europeia com maior desi-gualdade na repartição dos rendimentose a corrupção campeia e os ricos se tor-nam cada vez mais ricos e os pobres cada

vez mais pobres e se anuncia uma con-flitualidade social iminente, que diria oPadre António Vieira? Perguntaria: “Quemaldade é esta, à qual Deus singular-mente chama maldade, como se não hou-vera outra no mundo?” E responderia:“A maldade é comerem-se os homensuns aos outros, e os que a cometem sãoos maiores, que comem os pequenos.”“Diz Deus que comem os homens nãosó o seu povo, senão declaradamente asua plebe; porque a plebe e os plebeus,que são os mais pequenos, os que me-nos podem e os que menos avultam narepública, estes são os comidos. E nãosó diz que os comem de qualquer modo,senão que os engolem e devoram.” (...)

Anselmo Borges(padre e professor de Filosofia)

DN 31/Maio/08

A APATIA DA FORTE GENTE

(...) O País que fundou o mais longo evasto império colonial da História, quedefrontou com sucesso a EFTA, a CEEe o mercado único, conhece bem o ve-neno que corroeu os sucessos iniciaisnessas realizações. Não é difícil compre-ender porque os dois trunfos do nossodesenvolvimento, flexibilidade e impro-visação, não têm hoje os resultados deoutros tempos. Contra eles conspirammúltiplas forças paralisadoras, as mes-mas que nos bloquearam no passado.Enorme camada de parasitas suga oprogresso.

Os portugueses, que se excedem nosmomentos de dificuldade, costumam cairnuma modorra quando tudo corre bem.Após o obstáculo, onde revelámos o nos-so melhor, deslizamos para a complacên-cia e cumplicidade, pela instalação dosinteresses, bloqueio das corporações,paralisação das burocracias. A economiaportuguesa continua tão dinâmica e fle-xível como sempre. A globalização im-põe hoje, como no passado, uma rees-truturação, que se verifica. Mas muitolentamente. O motor está atrelado a umpeso morto que tem de arrastar: regula-mentos e portarias, burocratas e manda-rins, impostos e multas, fiscais e inspec-tores, directivas e diuturnidades, direitosadquiridos e justas reivindicações.

Nos reinado de D. Fernando, D. JoãoIII e D. João V, nos consulados do Du-que de Loulé, António José de Almeidae desde António Guterres, “um fraco reifaz fraca a forte gente” (Os LusíadasIII, 138). Porque a forte gente se deixouadormecer na apatia das repartições.

João César das NevesDN 2/Junho/08

MUDAR O PARTIDOPARA MUDAR O PAÍS

Autenticidade é uma palavra que ocor-re imediatamente a propósito de Manu-ela Ferreira Leite.

Basta ouvir ou ler as suas interven-ções.

Esta imagem, que reflecte o direito à indignação, circulou pela internetnos últimos dias, apelando ao boicote ao abastecimento de combustíveis

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9DE 4 A 17 DE JUNHO DE 2008 OPINIÃO

Em cada declaração que faz, ela estáali, inteira e transparente, na franquezae na dignidade com que se expõe, semdisfarces, subterfúgios ou jogos, semdesculpas, pretextos ou calculismos maisou menos elaborados.

O PSD está de rastos e ela pode im-pedir a desagregação do PSD.

Toda a gente percebe que o seu propósi-to é mudar o partido para mudar o País. (...)

Vasco Graça MouraDN 21/Maio/08

E AS FEMINISTASNÃO FESTEJAM?

Pelos vistos, as “bases” (ou um pe-daço das “bases”) estavam com a can-didata das “elites”. E depois? Para con-sumo externo, a parca vitória de Manu-ela Ferreira Leite talvez componha, porum período indeterminado, a imagem dotal partido “sério” e, à superfície, vaga-mente coeso. Para consumo interno, aseriedade e a coesão não vêm ao caso.Fora do Parlamento, Santana nuncadeixará de “andar por aí”. Menezes, ocolérico sentimental de Gaia, já jurou“andar por aí”. E Passos Coelho, ama-durecido pelos estímulos da campanha,arranjou argumentos para desatar a “an-dar por aí” sem parança. “Aí”, escusa-do dizer, é aquele lugar nebuloso ondeos ímpetos conspirativos do PSD sevoltam contra si mesmo. E que apenasas perspectivas de poder tornam poucofrequentado.

Acontece que o PSD não tem pers-pectivas de poder. Bem espremida (comtodo o respeito), na prática a dra. Fer-reira Leite distingue-se do eng. Sócra-tes apenas na medida em que não pro-mete salvar o país. E o facto de o paísaspirar a ser salvo, ainda que pela ata-rantada impotência do primeiro-minis-tro, é um problema, uma bênção e umafatalidade. Um problema para a presi-dente do PSD, que não terá grande des-canso. Uma bênção para o eng. Sócra-

tes, que continuará sem grande oposi-ção. E uma fatalidade para o país, à noracomo sempre.

Alberto Gonçalves (sociólogo)DN 1/Junho/08

A GESTÃO DOS RISCOS

(...) Talvez estejamos numa circunstân-cia em que os riscos globais, que vão seme-ando catástrofes nas diversas regiões domundo, e que durante longos anos foramconsiderados entregues aos cuidados da dis-creta competência dos técnicos e cientis-tas, apontem agora para uma governançamundial orientada pelo menos pelo princípioda precaução que vai ganhando presençanos sistemas jurídicos nacionais e internaci-onais. É reconhecida a urgência de criar umsentimento geral de aliança que une gover-nos, pessoas, e autoridades da sociedadecivil, contra um risco partilhado globalmenteem situação de incerteza.

O projecto de aliança das civilizações éuma tentativa séria de lidar com fracturasde compreensão entre diferentes, mas a ali-ança contra o risco da agressão global, ge-rado pela gestão tecnológica não moderadapelo princípio da precaução, requer umaexigentíssima frente defensiva contra umaagressão em progresso, indiferente às dife-renças culturais, que secundariza os restan-tes desafios e confrontações. Uma situa-ção que conduz à urgente necessidade decriar uma opinião pública mundial, gerandoum debate que secundarize a espécie de si-lencioso monopólio dos técnicos das váriasartes que definiram e governaram os pro-cedimentos que conduziram à situação dealarme crescente em que se encontra a hu-manidade. (...)

Adriano MoreiraDN 27/Maio/08

POBREZAE DESIGUALDADES

Não posso dizer que tenha ficado sur-preendido com o Relatório da União Euro-

peia (Eurostat) e o trabalho, coordenado peloProf. Alfredo Bruto da Costa, do Centro deEstudos para a Intervenção Social (CESIS),intitulado “Um olhar para a pobreza emPortugal”, divulgados há dias, que coincidemem alertar para o facto de a “pobreza e asdesigualdades sociais se estarem a agravarem Portugal”. Surpreendido não fiquei. Maschocado e entristecido, isso sim, por Portu-gal aparecer na cauda dos 25 países euro-peus - a Roménia e a Bulgária ainda nãofazem parte da lista - nos índices dos dife-rentes países, quanto à pobreza e às desi-gualdades sociais e, sobretudo, quanto à in-suficiência das políticas em curso para ascombater. (...)

Em Portugal, permito-me sugerir ao PS– e aos seus responsáveis – que têm defazer uma reflexão profunda sobre as ques-tões que hoje nos afligem mais: a pobreza;as desigualdades sociais; o descontentamen-to das classes médias; e as questões priori-tárias, com elas relacionadas, como: a saú-de, a educação, o desemprego, a previdên-cia social, o trabalho. Essas são questõesverdadeiramente prioritárias, sobre as quaisimporta actuar com políticas eficazes, ur-gentes e bem compreensíveis para as po-pulações. Ainda durante este ano crítico de2008 e no seguinte, se não quiserem pôrem causa tudo o que fizeram, e bem, in-discutivelmente, para reduzir o deficit dascontas públicas e tentar modernizar a so-ciedade. Urge, igualmente, fortalecer oEstado, para os tempos que aí vêm, e nãoentregar a riqueza aos privados. Não se-rão, seguramente, eles que irão lutar, se-riamente, contra a pobreza e reduzir dras-ticamente as desigualdades.

Já uma vez, nestes últimos anos, escrevie agora repito: “Quem vos avisa vosso ami-go é.” Há que avançar rapidamente – e comacerto – na resolução destas questões es-senciais, que tanto afectam a maioria dosportugueses. Se o não fizerem, o PCP e oBloco de Esquerda – e os seus lideres –continuarão a subir nas sondagens. Inevi-tavelmente. É o voto de protesto, que tantafalta fará ao PS em tempo de eleições. Emais sintomático ainda: no debate televi-sivo da SIC que fizeram os quatro candi-datos a Presidentes do PPD/PSD, pelomenos dois deles só falaram nas desigual-dades sociais e na pobreza, que importacombater eficazmente. Poderá isso rele-var – dirão alguns – da pura demagogia.Mas é significativo. Do que sentem os por-tugueses. Não lhes parece?...

Mário SoaresDN 27/Maio/08

A FOME INFAME

O escândalo, finalmente, estalou na opi-nião pública: a substituição da agriculturafamiliar, camponesa, orientada para a auto-suficiência alimentar e os mercados locais,pela grande agro-indústria, orientada para amonocultura de produtos de exportação (flo-res ou tomates), longe de resolver o proble-ma alimentar do mundo, agravou-o. Cercade um sexto da humanidade passa fome;segundo o Banco Mundial, 33 países estãoà beira de uma crise alimentar grave; mes-mo nos países mais desenvolvidos, os ban-

cos alimentares estão a perder as suas re-servas; e voltaram as revoltas da fome.

A opinião pública está a ser desinforma-da sobre esta matéria, para que se não dêconta do que se está a passar. Porque éexplosivo: a fome do mundo é a nova gran-de fonte de lucros do grande capital finan-ceiro e os lucros aumentam na mesma pro-porção que a fome. A fome no mundo não éum fenómeno novo. Ficaram famosas naEuropa as revoltas da fome, desde a IdadeMédia até ao século XIX. O que é novo sãoas suas causas e o modo como as principaissão ocultadas.

A opinião pública tem sido informa-da de que o surto da fome está ligado àescassez de produtos agrícolas (e que estase deve às más colheitas provocadas pelasalterações climáticas); ao aumento de con-sumo de cereais na Índia e na China; aoaumento dos custos dos transportes devidoà subida do petróleo; à crescente reservade terra agrícola para produção dos agro-combustíveis. Todas estas causas têm con-tribuído para o problema, mas não são sufi-cientes para explicar que o preço da tonela-da do arroz tenha triplicado desde o iníciode 2007. Estes aumentos especulativos, talcomo os do preço do petróleo, resultam deo capital financeiro (fundos de pensões, fun-dos hedge, de alto risco e rendimento) tercomeçado a investir fortemente nos mer-cados internacionais de produtos agrícolas,depois da crise do investimento no sectorimobiliário.

(...) O escândalo do enriquecimentode alguns à custa da fome e subnutrição demilhões já não pode ser disfarçado com as«generosas» ajudas alimentares. Tais aju-das são uma fraude que encobre outra mai-or: as políticas económicas neoliberais quehá 30 anos têm vindo a forçar os países doTerceiro Mundo a deixar de produzir os pro-dutos agrícolas necessários para alimentaras suas próprias populações e a concentrar-se em produtos de exportação, com os quaisganharão divisas que lhes permitirão impor-tar produtos agrícolas... dos países maisdesenvolvidos. Quem tenha dúvidas sobreesta fraude que compare a recente «gene-rosidade» dos EUA na ajuda alimentar como seu consistente voto na ONU contra odireito à alimentação, votado por todos osoutros países.

A revolta contra a fome é mais um avi-so contra as consequências da destruiçãodo bem-estar dos povos para benefícioexclusivo de um pequeno grupo de paí-ses. Para lhes responder eficazmente serápreciso pôr termo à globalização neolibe-ral. O capitalismo global tem de voltar asujeitar-se a regras que não as que elepróprio estabelece para seu benefício. Oscidadãos têm de começar a privilegiar osmercados locais, recusar nos supermer-cados os produtos que vêm de longe, exi-gir do Estado e dos municípios que criemincentivos à produção agrícola local, exi-gir da UE e das agências nacionais paraa segurança alimentar que entendam quea agricultura e a alimentação industriaisnão são o remédio contra a insegurançaalimentar. Bem pelo contrário.

Boaventura Sous SantosVisão 29/Maio/08

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10 DE 4 A 17 DE JUNHO DE 2008CRÓNICA

A OUTRA FACEDO ESPELHO

José Henrique Dias*

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LOUSÃ - Nelson Fernandes

arte em café

* Professor universitário

Até que a morte nos separe. Fizeram o juramentocom ar alvoroçado, flores brancas e grinaldas e sonsépicos de celebração, os convidados alinhados de um eoutro lado, a saber-se quem são os dela, quem são osdele, tantos e tão festivos, e eles sem saberem que na-quele instante em que disseram exactamente na cabe-ça as palavras e as soletraram na repetição de quemcelebra, no altar de todos os mistérios da fé, até que amorte nos separe, naquele momento, naquele exactoinstante em que falaram, estavam mortos.

Juradas palavras convencionais para emoções con-vencionais, ensaiado o nervosismo para a hora teatralda posse, saída de braço dado e sorrisos,

que linda está, como ele a olha, que bonito é o amor,ouviu-se murmurante ao longo da passagem na pas-

sadeira vermelha, mas é tão tarde, reparo agora, foiassim que o Gonçalo saiu da igreja, com o peso de to-das as gerações para trás, heráldicas e macilentas, coma hemofilia na passagem do tempo, tão aristocráticaaquela coagulação difícil que os genes foram garantin-do, maldito alelo recessivo, cromossoma xis para o dia-bo, aquilo quase como segredo na família, é tão elegan-te, ouvia-se, tão distinto, murmurava-se, e no órgão osenhor míope teclava a marcha da saída, muito Men-delssohn e nupcial, com o envolvimento das grandessalas de Áustria ou S. Petersburgo, que digo eu, com oarrebatamento de castelo da Baviera, Luís de todas asfantasias, todos os recortes, todos mais de nós, mais

Fidelidadee outros doces conventuais…

palácio da pena e D. Fernando de Saxe-Coburgo-Gotae a condessa de D’Edla, Elisa Hensler, cantora de ópe-ra, para os mexericos, cada um faz as aproximaçõesque pode, recordava-se a um canto a ajeitar as abas dofraque nas cadeiras, até que a morte nos separe e juroser-te fiel, a ti Gonçalo, a ti Maria Bárbara, onde estãoas alianças?, vá, meninos muito pajens, a segurar cau-das e tropeços, as harmonias sentidas do senhor míope,nada como um órgão, em Mafra é que sim, agora étarde, menino Gonçalo, senhor engenheiro, a velha Ge-noveva que o ajudou a criar está lá para trás envergo-nhada, com uma lágrima, admitida no fim da fila porpaparicos de protectorado, agora é tarde, Maria Bár-bara, nem toca piano nem fala francês, é sempre tardemesmo quando parece que o dia vai nascer, porque apartir desse dia, cada um para seu lado, na quinta dafamília ou na empresa dos vinhos, no cabeleireiro ou nochá com scones das reuniões das quintas-feiras, cadaum está perante si sem saber que bússola, que alavan-ca, que navegação, foram estas as palavras do monse-nhor, que bem falou monsenhor, com aquele sorriso gra-ve, solidário e atento de guardador de rebanhos, comcarta de preparação e curso para noivos, até que amorte nos separe, eu, Gonçalo, eu, Maria Bárbara, juroser-te fiel…

Depois a fidelidade é um castigo, o monsenhor disseque a fidelidade não pode ser um castigo, e não tem deser, se soubermos ser, a única coisa que devemos ser,fiéis a nós próprios, digo eu, que tenho de resolver oproblema para além dos códigos, comunhão de adquiri-dos, quem havia de dizer, tão feitos um para o outro,um casal tão bonito, tão boas famílias, tão cumpridoresde todos os mandamentos, tão regulares nas presençaseucarísticas, mas na primeira viagem em que não fo-ram juntos, as sms às cinco da manhã, o controlo re-moto que a tecnologia dispõe, porque não respondes-te?, com quem estavas? onde a liberdade, aquela noitedas palavras murmuradas?

Instalada a secura, o hábito de estar ali, a funciona-lidade do amor, com entradas e saídas a horas certas ea grosseria de assinar o ponto, sem metáfora, commetáfora, até que a morte nos separe por causa dasconveniências, pode lá ser, aos homens são dadas umasliberdades que a menina não pode ter, disse a sogra

para apaziguar, disse a mãe à hora de rezar o terço,ainda bem que só nasceram raparigas, ao menos nãopassou a hemofilia, acaso do alelo recessivo, prudênciado cromossoma xis, tudo parecia ir tão bem, ele funcio-nava regularmente como no poema de Vinicius, ela es-tava tão voltada para as suas obrigações, as meninasaos cuidados das criadas, o biberão sempre a horas, asroupas tão bem escolhidas, com os bordados das mar-cas no sítio certo, parecem umas bonecas, dizia aquelaamiga das confidências, umas princesinhas, teimava aavó materna, e sem mais aquelas, foi assim que se di-zia nos corredores da empresa, ele descobre…

A fidelidade é um castigo? perguntou monsenhormuito sorrisos nos paramentos brancos e oiro, e dentrode todos as palavras ecoaram na certeza de que a fide-lidade não é um castigo, é bom ser fiel, deve-se ser fiel,andava nas cabeças dos convidados, alguns a olharemoutras direcções como o quadro de Renoir e as perso-nagens no camarote, porque há o encantamento, a pa-lavra gasta que explica que não somos um animal mo-nogâmico e já vi isto escrito e se repito, é bom de ver,bom dia, Maria Bárbara, minha senhora, bom dia se-nhor engenheiro, Gonçalo para os amigos, não há nadaa fazer, é mesmo isso que querem?

Sempre uma coisa defronte da outra,Sempre uma coisa tão inútil como a outra,Sempre o impossível tão estúpido como o real,Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono

de mistério da superfície,Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma

coisa nem outra.

Quando a morte nos separa somos inevitavelmentefiéis.

Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pelaestrada de nada.

Estavam mortos, quando disseram até que a mortenos separe. Só que não sabiam.

Adeus ó Esteves !Eu sei, pá, Fernando Pessoa /Álvaro de Campos,

Tabacaria. Só não percebo a que veio isso agora.Olha que nem eu…

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11DE 4 A 17 DE JUNHO DE 2008 COIMBRA

José Soares

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No passado dia 31 de Maio, realizou-seno Pavilhão Engº Augusto Correia a IX Galado Olivais Futebol Clube. A família oliva-nense voltou a juntar-se, com mais de trêscentenas de participantes.

O Olivais continua a ser um dos clubescom mais praticantes de basquetebol, o queé sempre de realçar. A juntar à quantidade,este clube de Coimbra também possui mui-ta qualidade. Só este ano, conseguiu o títulode Campeão Distrital de Sub-16 Femininos,Campeão Distrital de Sub-20 Masculinos econquistou ainda o difícil título de CampeãoNacional da Liga Feminina, título esse queo Olivais tinha conseguido há 10 anos, pre-cisamente no mesmo dia e no mesmo mês.Uma feliz coincidência.

Apesar de todas as dificuldades finan-ceiras, sempre referidas nos discursos dospresidentes, o clube conseguiu realizar maisuma gala para um reconhecimento públicoàqueles que mais se destacaram na épocaanterior. Este ano foram distinguidos: Tro-féu Olivais – Câmara Municipal de Coim-

IX Gala do Olivais Futebol Clube

bra e Junta de Freguesia dos Olivais; Tro-féu Amigos do Clube: Freitas & Sobral Lda,Chamagás, Nocamil, Jorge Mendes Lda,Horto Mondego, Escola Secundária JoséFalcão, Alficonta, Salgado & Bento e Ban-da Larga; Prémio Especial ComunicaçãoSocial – Carlos Gonçalves e o Espaço“BasketCoimbra” do Diário de Coimbra;Quadro de Honra dos melhores alunos; Tro-féu Sócio de Mérito – José Castro; Galeriade Honra de atletas e treinadores das se-lecções nacionais e distritais: José Araújo,Leonor Silva e Cristina Viegas; Troféu De-dicação: João Cortez Vaz e Maria JoãoBranco. Por apoio diverso ao clube, fo-ram ainda agraciados os seguintes oliva-nenses: Leonor Silva, Fernando Melo e

João Paulo Morujo.Este ano, o Troféu “Prestígio Nacional”

foi atribuído à equipa da Selecção Nacionalde Basquetebol em cadeira de rodas.

No decorrer da Gala e de entre os 24nomeados, foram eleitos: Atletas de Com-petição: Feminino – Pauline Nsimbo e Mas-culino – Luís Carlos; Atletas de Formação:Feminino – Carsidália Silva e Masculino –André Godinho; Treinador de Competição– José Araújo; Treinador de Formação –Cristina Viegas; Seccionista do Ano –José Mingocho e Dirigente do Ano –Carlos Ângelo.

Apesar de toda esta dinâmica do Oli-vais, a verdade é que este encontro dodesporto não contou com a presença do

Governador Civil, Presidente da Câma-ra ou vereador do Desporto. Dada a im-portância deste evento, seria importan-te para o clube e para os jovens bas-quetebolistas, contarem com a presen-ça destas individualidades. Foi pena quea Gala do Olivais não estivesse na prio-ridade das suas agendas. A importân-cia do clube foi reconhecida este anocom a Medalha de Ouro da cidade deCoimbra e o Clube do Ano na I Gala doDesporto em Coimbra.

A noite foi ainda abrilhantada pelo gru-po “Danças do Ventre” do Olivais, pelomágico Telmo Melo, pelo “Momento dosMinis” e pelo conjunto de fados de Coim-bra “Alma Mater”.

No âmbito das comemorações do 50.ºaniversário da Fundação Bissaya Barreto,e depois das diversas e variadas acções jálevadas a cabo nos primeiros meses do cor-rente ano, está elaborado um vasto progra-ma de actividades a realizar entre 1 de Ju-nho e 26 de Novembro.

Assim, ainda neste mês de Junho, até aopróximo dia 8, no Campus do Conhecimen-to e da Cidadania, decorre o “5th Africa-Europe Training Course for Youth Organi-zations”, que pretende ser um espaço dereflexão sobre a interculturidade como umdesafio lançado pela glçobalização e as suasimplicações sociais e culturais. No dia 13,pelas 21h30, o Castelo de Montemor-o-Ve-lho será o palco para a peça “Balada dePedro e Inês”, uma das mais conhecidashistórias de amor recriada por pequenos ac-tores do Grupo de Teatro do Colégio Bis-saya Barreto, numa interacção entre a dra-matização de uma paixão lendária e a mo-numentalidade de um espaço histórico. A19, nos jardins da Casa Museu BissayaBarreto, pelas 22h00, pode-se visitar e as-sistir a uma performance de pintura, músicae dança.. Dias 19 e 20, no Auditório Bis-saya Barreto, decorre o X Encontro de Fun-dações Portuguesas, uma iniciativa do Cen-tro Português de Fundações organizada coma Fundação Bissaya Barreto.

No decorrer de Julho, logo no dia 6, oPortugal dos Pequenitos é o local escolhido

50 ANOS DA FUNDAÇÃO BISSAYA-BARRETO

Um programa notávelpara homenagear figura ímpar

para a inauguração da exposição: “Achan-do o Brasil”. Portugal e o Brasil em contí-nua rota de mútuo conhecimento. Da Des-coberta histórica às histórias do quotidianode ambas as nações. No dia 10, na sede daFundação Bissaya Barreto, pelas 22h00,decorre um concerto ao ar livre intitulado:“De Viena à Broadway”, com o Coro doTeatro Nacional de São Carlos, que inter-pretará obras de Jacques Offenbach, Au-gusto Machado, Johann Strauss II, JohannStrauss I, Franz Lehár, Hoagy Carmichael,Cole Porter, Richard Rodgers e John Kan-der. A direcção musical será de GiovanniAndreoli, tendo ao piano Kodo Yamagishi.Os comentários ao programa serão efectu-ados por Jorge Rodrigues.

A 12 de Julho, na Casa da Criança Rai-nha Santa Isabel, é efectuada a apresenta-ção de “Casa da Criança do séc. XXI”, quetem por objectivo mostrar a evolução dostempos, das pedagogias e das Casas daCriança numa perspectiva que acompanhao evoluir da sociedade. A 19, no CentroGeriátrico Luís Viegas Nascimento, pela15h00, “Vidas”, percursos por processos dehumanização, de histórias de vida e de vidascom história. Finalmente, a 26 de Julho, noCentro de Artes e Espectáculos da Figueirada Foz, pelas 22h00, a Companhia Nacionalde Bailado leva ao palco “Frontline / Lentopara quarteto de cordas / Cantata”, espec-táculo cujas receitas reverterão a favor da

Associação Portuguesa Contra a Leucemia.Em Agosto, de 16 a 31, no Portugal dos

Pequenitos, “Mostra Portugal”, uma mos-tra temática das várias regiões do País numaassociação com as temáticas de habitaçãoe património histórico que aí estão patentes,em escala reduzida.

No decorrer do mês de Setembro, de 11a 30, na Casa Museu Bissaya Barreto, es-tará patente uma exposição de pintura inti-tulada “Afectos”. Dias 18 e 19, no Campusdo Conhecimento e da Cidadania, decorreo Encontro “A Qualidade no Contexto Ins-titucional – Crianças e Jovens”. A 23, noSalão Nobre dos Paços do Município deCoimbra, ocorre o lançamento da obra “100Obras de Arte de Coimbra”, de 25 a 30, noPortugal dos Pequenitos, decorrerá um Fes-tival de Música Infantil, iniciativa intitulada:“Música – Momentos – Monumentos”.

Já em Outubro, no dia 15, no Campus doConhecimento e da Cidadania, uma exposi-ção de peças escultóricas de escolas debelas-artes portuguesas, evento sob a de-signação de 3 Peças – 3 Escolas – Escultu-ra, “Justiça – Conhecimento – Cidadania”.Também no mesmo local, dia 18, realiza-seo congresso “(Re)pensar a escola numaperspectiva inclusiva” e de 21 a 23, “En-contros de Cidadania”. No dia 29, a CasaMuseu Bissaya Barreto acolhe “O conta-dor de histórias – A História de Bissaya Bar-reto”.

Novembro, último mês das comemora-ções do 50.º aniversário da Fundação, dias6 e 7, no Campus do Conhecimento e daCidadania, realiza-se um Seminário Ibéricosob o tema: “Registo e Segurança Contra-tual” e a 24 e 25, outro intitulado “TerceiroSector: Um parceiro Activo na Regulaçãoda Política Económica e Social”. A 26, os50 anos da Fundação retratados numa ex-posição que divulga igualmente a actualida-de da Instituição, que poderá ser visitada naCasa Museu Bissaya Barreto e Galeria Jo-aquina Barreto Rosa. Também nesse dia, a26 de Novembro, decorrerá a Sessão Sole-ne de Encerramento das Comemoraçõesdo 50.º Aniversário da Fundação BissayaBarreto.

Este vasto e diversificado programa foidivulgado pelo Comissário das Comemora-ções, Carlos Páscoa, que assim estáa con-seguir desenvolver um notável programa decelebrações, à altura da figura ímpar que foiBissaya-Barreto.

Prof. Bissaya-Barreto

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12 DE 4 A 17 DE JUNHO DE 2008PUBLICIDADE

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13DE 4 A 17 DE JUNHO DE 2008 CRIANÇA E AMBIENTE

DIA MUNDIAL DA CRIANÇA CELEBRADO A PENSAR NO AMBIENTE

Miudagem deu asas à imaginaçãoe aprendeu a importância da água

Para assinalar o Dia Mundial da Crian-ça, celebrado a 1 de Junho, as empresas“Águas do Mondego” e “Águas de Co-imbra” promoveram diversas iniciativasno parque da cidade de Coimbra e noMuseu da Água.

A primeira acção decorreu na passadasexta-feira (dia 30 de Maio), em conjuntocom a iniciativa da Câmara Municipal deCoimbra que antecipou as comemorações.

As duas empresas estiveram presentes,levando a cabo muitas e curiosas experiên-cias com água, promovendo as boas práti-cas ambientais, e exibindo episódios sérieEcoman (o herói ambiental) e do PLIM (amascote do Museu da Água).

De todo o programa é de salientar umainiciativa, pelo seu carácter inédito e peloentusiasmo que despertou. De facto, o Mu-seu da Água de Coimbra abriu as portasaos pequenos artistas para uma actividademuito aliciante para a miudagem: pintar al-gumas das paredes do belo edifício do Mu-seu (que, como se sabe, foi adaptado das

antigas instalações de bombagem e trata-mento de água captada no rio Mondego, ese situa no Parque Dr. Manuel Braga).

Mais de uma centena de crianças aderi-ram ás diversas acções, tendo os mais cres-cidos participado na Gincana de Água.

De sublinhar que neste Dia Mundial daCriança, as duas empresas, numa acçãoconjunta, prepararam actividades para to-das as idades. Além de assistir a mais epi-sódios do Ecoman e do PLIM, os maiscrescidos participaram na referida Gin-cana de Água, enquanto os mais peque-nos deram asas à imaginação, pintandoparedes do Museu da Água.

Carolina, Pedro e Laura foram os ven-cedores das três Gincanas de Água reali-zadas, levando para casa um MP4. Masoutros participantes (como a Eva, a Joa-na, o Diogo, o Miguel, a Alexandra e oAlexandre) tiveram direito a várias pren-das, levando também o seu certificado departicipação.

Por outro lado, aos pequenos artistas

que pintaram as duas paredes do Museuda Água, a Águas de Coimbra e a Águasdo Mondego ofereceram lembranças ori-ginais: um “yo-yo” e um “freesbee” (dis-co voador).

Durante os dois dias, o PLIM tambémmarcou presença, para alegria dos maispequenos, passeando pelo parque e convi-dando todas as crianças a participarem nasactividades.

Enfim, uma comemoração bem diverti-da, que assinalou o Dia Mundial da Criançada melhor forma, já que a brincar se sensi-

bilizaram as crianças (e também os adultos)para a importância da água, lançando-seainda alertas para a necessidade de preser-var o Ambiente.

Aliás, amanhã (quinta-feira, 5 de Junho),assinala-se o Dia Mundial do Ambiente, peloque uma boa forma de comemorar estaefeméride, tão importante para a Huma-nidade e para o futuro da Terra, será vi-sitar o Museu da Água, um local ondenão só se valorizam as questões ambien-tais, mas que é também um agradávelespaço lúdico para miúdos e graúdos.

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14 DE 4 A 17 DE JUNHO DE 2008OPINIÃO

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CarlosEsperança

ponte europa

A estatística é como um biquini, o maisimportante é o que ela esconde…

Com esta frase, iniciava a aula um meuprofessor quando dava aulas de inventárioflorestal.

A par desta, podemos encontrar frasesmais ou menos populares com o mesmosentido, tais como: “Se um individuo tiver acabeça no forno e os pés no frigorífico podeestar na temperatura ideal, mas certamenteestá morto”. Ou ainda numa expressão maiscorriqueira: se eu comer 2 bifes e o meuvizinho não comer nenhum, eu estarei debarriga cheia e o meu vizinho de barrigavazia, e a estatística dirá que ambos esta-mos bem alimentados!

Ora vem isto a propósito dos númerosque empresários e governantes, e outros queo desejam ser, sistematicamente debitam emfavor das suas decisões ou propostas.

Não poucas vezes, afirmam que a pro-dutividade dos portugueses é baixa e que

A estatística é como um biquini…

Vasco Paiva o Estado gasta uma elevada percentagemdo PIB na educação, na saúde ou na se-gurança social.

A questão principal que esses númerosescondem, é que o PIB está mal calculado.O PIB (Produto Interno Bruto) reflecte ascontas “confessadas” pelas empresas, se-jam pequenas, médias ou grandes, não re-flecte realmente o que se produz no País.

Se olharmos para as contas de muitaspequenas empresas ou comércios pergun-tar-nos-iamos porque é que existem e comoexistem. Com tais resultados, já teriam ido àfalência. Dirão alguns que as pessoas nãofazem contas ao trabalho familiar, etc. etc.A verdade é que sendo os impostos, no ge-ral, tão elevados, a maior parte das empre-sas ou comércios não “confessam” tudoaquilo que vendem, não facturam.

Se olharmos para um restaurante com 2empregados de mesa e um na cozinha tudodepende do volume de refeições que servepara determinar se esses trabalhadores sãoou não produtivos, provavelmente o núme-ro de refeições facturadas, “confessadas”

às Finanças iria demonstrar que aquele res-taurante não é viável…

Numa visão macro, de toda a economia,não deixaria de surpreender fosse quemfosse o enorme volume de empresas que“estatisticamente” e para efeitos fiscais, nãodão lucros!

É claro que até o papel higiénico que segasta em casa pode entrar nas contas daempresa, assim como uma excepcional via-gem de férias pode surgir como uma via-gem de prospecção de negócios.

E o PIB faz-se destes somatórios.Assim como não se compreende que

as Petrolíferas, as grandes multinacionaisdistribuidoras de gasolina apresentem lu-cros surpreendentes, ao mesmo tempoque se fala numa “crise do petróleo” eos preços dos combustíveis subam qua-se diariamente.

Assim, como também não se compre-ende que os Bancos apresentem resul-tados excepcionais quando ninguém viuum acto sexual ou do tipo reprodutivo emque as notas e as moedas em contacto

umas com as outras, parissem outrasnotas e moedas. Se tal acontece é por-que os resultados das actividades produ-tivas, dos trabalhadores e das empresasem que se inserem, estão a ser “transfe-ridos”, captados pela Banca.

Não basta apregoar o combate à fraudefiscal, à fuga aos impostos. Qualquer pes-soa podendo pagar mais barato, se o con-trário não lhe trouxer nenhuma vantagem, éclaro que procura gastar o menos possível ese a factura não lhe serve para nada, nem apede! Ora se todas as facturas, desde a ali-mentação ao mero café que se toma numaesplanada, pudesse servir para descontar noIRS, toda a gente iria pedir facturas e a fugaao fisco seria mais difícil.

Dir-me-ão que se cobraria menos de IRS,bem… mas cobrava-se mais do IVA e doIRC. Reduziam-se os impostos de quem tra-balha, aumentavam a cobrança dos impos-tos das transacções e os lucros que hojeescapam por baixo e por cima da mesa!

Naturalmente que há mais coisas impor-tantes por baixo do biquini!

Senhor Ministro da Defesa NacionalDr. Nuno Severiano Teixeira

Assunto:A peregrinação militar a Lourdes

«Portugal (?) levou 700 peregrinos[militares] ao Santuário de Lourdes(França) para participarem numa Pere-grinação Militar Internacional», segundoinformou a Agência Ecclesia.

Tratou-se de «um grande aconteci-mento do mundo militar» segundo o ma-jor-general Januário Torgal Ferreira, Bis-po das Forças Armadas e de Segurança,comandante-chefe dos católicos farda-dos portugueses com legitimidade duvi-dosa, mas é intolerável que um Estadolaico possa envolver-se em escaramu-ças litúrgicas e participar em manobraseucarísticas.

Portugal já teve um ministro da De-fesa, muito devoto da Senhora de Fá-tima, que lhe agradeceu a intercessãopor ter desviado o crude do naufrágiodo navio Prestige para as praias daGaliza e poupado as do Minho, nãopode condicionar o actual ministro a

pagar o favor divino, com a agravan-te de o Batalhão reforçado (700 mili-tares) se ter enganado no santuário,ao agradecer em Lourdes os alega-dos favores de Fátima;

4 – O facto de um cardeal austríacoter presidido à peregrinação e dado ins-truções aos militares portugueses confi-gura uma grave interferência na sobera-nia de um país laico e uma usurpação defunções que cabem ao MDN ou, pordelegação, aos CEMGs.

Assim, em nome da laicidade doEstado e da moralidade pública, soli-cito a V. Ex.ª que se digne esclarecero seguinte:

1 – Os militares peregrinos viajarama título particular ou oficial?

2 – Usaram as férias normais ou tive-ram uma semana suplementar para cui-dar da alma?

3 – As Forças Armadas colaboraramna despesa da expedição eucarística?

4 – No caso de ter havido custo parao Erário, qual a disposição legal apli-cada?

5 – Por se tratar de uma missão mili-tar no estrangeiro, foi autorizada peloComandante Supremo das Forças Arma-das, o senhor Presidente da República?

Aguardando que se digne esclarecero cidadão apresento a V. Ex.ª os meus

melhores cumprimentos.

a) Carlos Esperança

A VITÓRIA DE MANUELAFERREIRA LEITE

Pode dizer-se que Cavaco ganhou masficou em minoria, no PSD. Entre SantanaLopes, com provas dadas de absoluta in-competência para governar, e PassosCoelho, sem uma única prova, só não ga-nhou um deles porque os populistas têmmedo do que julgam que o PR pensa.

A boa notícia é, pois, a derrota de San-ta Lopes e Passos Coelho. A má notíciaa vitória de Manuela Ferreira Leite. Éuma mulher séria, com notável sentidode serviço público e apta rodear-se degente competente mas não tem, em re-lação a Sócrates, qualquer mais-valiaque a recomende.

Ora, a ruína das condições económi-cas e sociais nos EUA, Europa e, natu-ralmente, em Portugal, torna movediçoo terreno eleitoral e ninguém pode pre-ver o nível de crispação popular e dedesespero que atingirá as classes maispobres. Nenhum partido está em condi-ções de capitalizar o descontentamentoe, ao mesmo tempo, ter a solução. MFLensaiou um discurso de vitória à esquer-

da do PS mas não tem espaço para omanter.

Para já, foi bom ver ficar pelo cami-nho, a rangerem os dentes e a rumina-rem vingança, numerosos caciques pa-roquiais acompanhados de Alberto JoãoJardim, Fernando Ruas, Luís Filipe Me-neses e Santana Lopes, com Paulo Por-tas à espera de entrar no terreno do PSDe Ângelo Correia a regressar aos negó-cios a tempo inteiro.

A dificuldade em pôr de acordo Pas-sos Coelho com Manuela Ferreira Lei-te não existe pois este, como não tinhaideias, nada sacrifica e apenas esperaum lugar no Parlamento para que o fu-turo lhe possa satisfazer as ambições.O que perdeu Santana Lopes foi tercurrículo e o que salvou Passos Coelhofoi não ter.

A vitória de MFL não traz rios de mel ea paz celestial ao PSD. A guerrilha co-meça amanhã. Os ultraliberais podem sertentados a medir forças e a arriscar umnovo partido. O Menino Guerreiro não vaiandar por aí, já está no terreno disposto anão dar tréguas a quem o derrotou.

Só Luís Filipe Meneses perdeu emtoda a linha, sem honra nem glória, semcompostura, a chamar «canalhas» a com-panheiros do PSD, partido sem o qual apolítica seria muito mais aborrecida.

Carta Aberta ao Ministroda Defesa Nacional

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15DE 4 A 17 DE JUNHO DE 2008 EDUCAÇÃO/ENSINO

* Professor e Dirigente do SPRC/FENPROF

Provavelmentemente,mente.Menteprovavelmente.Não…Simplesmentemente.

A propósito de Sócrates e análogos.

Claramentemente.Menteclaramente.

A propósito dos análogose de Sócrates.

Este Governo ou Desgoverno tem fei-to passar que trinta anos há sem avalia-ção dos professores, como se tivessehavido alguma antes e depois interrom-pida… coisas do “Vinte Cinco de Abril”.Puxa-lhe o pé para a chinela. Não é ver-dade, avaliação do desempenho dos pro-fessores sempre houve, antes e depoisdo “Vinte Cinco”, quanto mais não fosseatravés da Inspecção Geral de Ensino.

(DES)GOVERNOSe houve classe profissional, chame-lheSócrates corporação, que lutou por umestatuto digno com avaliação de desem-penho incorporada, foi esta.

Não está em causa a avaliação dosprofessores, a esmagadora maioria achaque deve ser feita. O que está em causaé: para quê? E como?

Esta Ministra sinistra e seus acólitossinistros também, mais não querem quepunir num ódio cego e incompreensível,a reboque e com cobertura de um “Pri-meiro Nacional Socialista”, para, numaperspectiva economicista, pasme-se, emnome da Educação, privatizar.

Avaliação? Sim, sempre com sentidoformativo, não para eliminar os mais ve-lhos, porque são caros ao sistema, muitomenos para impedir os mais novos deprogredir na carreira.

O medo está instalado na escola. Oque era feito com prazer e cooperação,é feito em função da possível avaliaçãoque aí venha…

Ainda sou do tempo em que se discu-tia o processo de “ensino-aprendizagem”as “pedagogias”, isto é… os alunos. Ago-ra discute-se, conversa-se sobre o tem-po que falta para a reforma, independen-temente das penalizações económicas asofrer: “quero é ir embora”. O que eraprazer, ir todos os dias para a escola,transformou-se em pesadelo.

Tudo em nome da Economia, que nãoconheço mas desconfio que deve ser cáuma “boazona”… toda a gente, dita im-portante, fala dela. Não percebo a omis-são do nome completo. Ou se chamaMaria Economia Castanheira de Azeve-do ou Economia Maria da Fonseca eAmorim ou Economia Joaquina de Espí-rito Santo ou Antonieta Economia e Meloou, ainda, Economia Antoniete de Cham-palimaud ou… qualquer coisa de ou e.

Não posso acreditar que um partido,dito Socialista, não ligue às pessoas, aoshomens e mulheres deste país. Ligar,liga… mas a poucos.

Mostremos a nossa indignação de bra-ço-dado com todos os trabalhadores daAdministração Pública, com todos os tra-balhadores deste País, contra horários detrabalho à medida dos patrões, precarie-dade absoluta, trabalho nocturno só apartir das 22 horas, redução do salário,eliminação dos quadros, limitação da pro-gressão na carreira, despedimento porinadaptação, facilitação dos despedimen-tos e limitações à negociação colectiva.

Isto toca a todos!Portanto todos não seremos demais,

no dia 5 de Junho, em Lisboa, mas ossuficientes para desmascarar a hipocri-sia, a arrogância deste governo-desgo-verno, dito socialista.

José Neves da Costa*

Joaquim Gomes Canotilho (profes-sor catedrático da Faculdade de Di-reito da Universidade de Coimbra) vaipresidir ao Conselho de Curadores daAgência de Avaliação e Acreditaçãodo Ensino Superior, por decisão toma-da em Conselho de Ministros.

A decisão do Conselho de Ministrosbaseou-se em proposta do ministro daCiência, Tecnologia e Ensino Superi-or e os curadores designados são, paraalém do constitucionalista Gomes Ca-notilho (que preside), os professoresAlfredo Jorge Silva, António de Almei-da Costa, Irene Fonseca e João LoboAntunes.

“Trata-se de personalidades de in-discutível mérito e experiência, tantoacadémica como profissional, caben-do-lhes designar o conselho de admi-nistração da Agência e apreciar ge-nericamente a sua actuação, velandopela observância das melhores práti-cas internacionais de avaliação e acre-ditação”, refere uma nota oficial.

Nos termos dos Estatutos da Agên-cia, dois dos curadores são individua-lidades propostas conjuntamente peloConselho de Reitores das Universida-des Portuguesas, pelo Conselho Co-

AGÊNCIA DE AVALIAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR

Gomes Canotilho presideordenador dos Institutos SuperioresPolitécnicos e pela Associação Por-tuguesa do Ensino Superior Privado.

A Agência de Avaliação e Acredi-tação do Ensino Superior é uma “fun-dação dotada de regras claras de in-dependência, representatividade ecompetência técnico-científica, é res-ponsável pela avaliação e acreditaçãodas instituições e cursos de ensino su-perior, pelos procedimentos de garan-tia da qualidade desse ensino e pelainserção de Portugal no sistema eu-ropeu de garantia da qualidade do en-sino superior”.

“A sua designação constitui mais umpasso no cumprimento do Programa doGoverno, no sentido da implementaçãode um sistema nacional de garantia dequalidade no ensino superior, indepen-dente, reconhecido internacionalmen-te e que abranja todas as suas institui-ções”, salienta a mesma nota.

O decreto que criou a Agência deAvaliação e Acreditação do Ensino Su-perior foi publicado em Diário da Re-pública 5 de Novembro de 2007.

Com esta entidade, a acreditaçãodos cursos deixa de ser feita pelasvárias ordens profissionais, que a par-

tir de agora deixam de poder recusara inscrição de licenciados pelos cur-sos aprovados pela Agência.

Neste processo de acreditação ca-berá à nova estrutura ouvir as váriasordens, entre outras entidades.

Esta Agência será também respon-sável pela inserção de Portugal no sis-tema europeu de garantia da qualida-de do ensino superior.

De acordo com o diploma publica-do em Diário da República, todas asinstituições do ensino superior e todosos seus ciclos de estudo ficam sujei-tos aos procedimentos de avaliação eacreditação da Agência.

A Agência é composta por cinco ór-gãos: conselho de curadores, conse-lho de administração, conselho fiscal,conselho de revisão e conselho con-sultivo.

A Agência de Avaliação e Acredita-ção do Ensino Superior vem substituiro Conselho Nacional de Avaliação doEnsino Superior (CNAVES), extinto nofinal de 2006, na sequência de um re-latório da Associação Europeia para aGarantia de Qualidade no Ensino Su-perior (ENQA), que criticou a “inde-pendência limitada” do CNAVES.

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16 DE 4 A 17 DE JUNHO DE 2008SAÚDE

MassanoCardoso

Muitas mulheres sofrem e vão so-frer de cancro da mama. Apesar detodas as conquistas terapêuticas, quepossibilitam muitas vezes a cura euma longa sobrevivência não previsí-vel alguns anos atrás, não deixa deconstituir um drama que não se confi-na à doente, alastrando-se a todo oagregado familiar. As medidas de ras-treio têm dado um contributo impor-tante, assim como o facto de muitassenhoras, ao darem generosamente acara, possibilitarem o desmistificar datragédia anunciada.

Esta maleita tem sido alvo de mui-tos estudos com o objectivo de conhe-cer os factores de risco subjacentes.São vários, tendo sido já identificados,até ao momento, muitos, tais como otabaco, o álcool, as terapêuticas hor-monais, desvios alimentares, os fac-tores genéticos e a poluição ambien-tal entre outros. No entanto, há umque merece certo destaque e tem aver com o facto de as mulheres te-rem ou não filhos. Desde há muitosanos que se sabe que as mulheres quenão têm filhos correm mais riscos decancro da mama. Recordo com per-feição, quando era estudante, ter dis-cutido um estudo que revelava essefenómeno. Esse trabalho, que incluíafreiras, permitiu concluir que as reli-giosas apresentavam uma prevalênciasuperior às mulheres que tinham tidofilhos. Discutiu-se muito se o factonão poderia ser explicada em termosde amamentação. As mulheres aoamamentarem dão uso ao órgão e,consequentemente, reduziriam o ris-co. Não esquecer que temos necessi-dade de encontrar explicações plau-síveis para os diferentes fenómenos.Agora, levanta-se uma hipótese mui-to interessante. Durante a gravidezpassam para a mãe células fetais es-taminais que perduram durante déca-das a fio na pele, fígado, cérebro ebaço. Trata-se de um fenómeno de-nominado microquimerismo. As célu-las em questão são dotadas de propri-edades reparadoras. É possível quepossam ajudar na luta contra algunstumores, directa ou indirectamente.

“Criançasgenerosas”...

Este achado tem algum sentido emtermos evolucionários. A criança, aocontribuir para a saúde da mãe, teriamais probabilidade de sobreviver atéchegar à idade reprodutiva. Em ter-mos práticos, e caso se confirme estefenómeno, estaríamos perante umasituação interessante. Ou seja, ter fi-lhos constituiria uma forma natural deprevenir certas doenças e, até, o can-cro da mama, porque o organismo damãe ficaria com células estaminais dosseus filhos durante décadas e déca-das. Uma forma natural de preven-ção utilizando as famosas células fe-tais que estão na base de tantas dis-cussões técnicas e éticas. Delicioso.

Quem sabe se nas campanhas deprevenção no futuro não venhamos aser confrontados com este achado.Rastreio e diagnóstico precoce sãoimportantes? São! É preciso comba-ter o consumo de álcool e do tabaco?Sim. Devem as mulheres evitar a ex-posição a excessos de hormonas e àpoluição ambiental? Claro! Mas quemsabe se o “segredo” não estará em terfilhos e em idades mais jovens! Paraisso é necessário que as mulherespossam procriar mais cedo, que hajauma verdadeira e efectiva protecçãoda maternidade e da paternidade. Asmedidas que pontuam por aí, aumen-tos do abono de família, prémios para“fazer” filhos, povoamentos artificiaistipo Vila de Rei, e outras medidasavulsas não resolvem a carência gra-ve de nascimentos, comprometendo ofuturo dos mais velhos e desestrutu-rando a sociedade. Uma politica ade-quada permitiria resolver o grave pro-blema do défice de fertilidade e con-tribuir para a saúde das mães, já queos filhos deixam nos seus corpos cé-lulas poderosíssimas capazes de asprotegerem de muitos males.

Crianças generosas que retribuemcom saúde a vida que receberam dasmães – e dos pais…

“A Caridade amamentando”, terracota de Gian Lorenzo Bernini (1598-1680)

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17DE 4 A 17 DE JUNHO DE 2008 SAÚDE

O Centro de Cirurgia Cardiotoráci-ca dos Hospitais da Universidade deCoimbra (HUC) assinalou no passadosábado 20 anos de actividade, regis-tando 27 mil intervenções ao coraçãoe aos pulmões a doentes de todo o país.

"Faço um balanço muito positivo donosso trabalho, mas com alguma de-cepção face a um poder cada vezmais centralista", declarou à agênciaLusa o director daquele Centro, Ma-nuel Antunes.

O cirurgião defendeu que Coimbratem condições e deveria afirmar-se"como uma verdadeira capital da saú-de", mas que ele próprio, enquanto res-ponsável do Centro de Cirurgia Car-diotorácica dos HUC, depara com"muitas dificuldades" na relação como poder político.

"Temos que fazer pelo menos 200quilómetros de auto-estrada para re-solver alguma coisa", disse.

Neste contexto, Manuel Antuneslamentou que a presença da ministrada Saúde, Ana Jorge, nas comemora-ções, que incluíram um simpósio in-ternacional, tivesse sido cancelada.

CIRURGIA CARDIOTORÁCICA DE COIMBRA COMPLETOU 20 ANOS

Operadas 27 mil pessoasem Centro de reputação mundial

"Tinha um discurso para ela ouvirque agora vou suavizar um pouco. Es-tamos longe de quem nos ouça", su-

blinhou.O simpósio promovido pela unida-

de dirigida por Manuel Antunes, de-

correu no auditório principal dos Hos-pitais da Universidade, com a partici-pação de cinco especialistas europeus.

Alain Carpentier (França), TomTreasure (Reino Unido), FriederichMohr (Alemanha), Reiner Korfer(Alemanha) e René Prêtre (Suíça)foram os cirurgiões presentes.

Efectuou-se também uma sessãosolene, com a presença da alta comis-sária para a Saúde, Maria do Céu Ma-chado, em substituição da ministra.

O Centro de Cirurgia Cardiotoráci-ca de Coimbra "é actualmente o Cen-tro mais activo de Portugal e da Pe-nínsula Ibérica em ambos os campos(coração e pulmões)", sublinhou Ma-nuel Antunes.

Em 2003, o Centro arrancou com oprograma de transplantação cardíaca,sendo também nesta área "o maiorCentro português", segundo o seu di-rector.

Internacionalmente, "é reconhecidopela sua actividade na área das car-diopatias valvulares e pela especiali-zação na reparação da válvula mitral",acrescentou.

Manuel Antunes: um trabalho notável, reconhecido internacionalmente

A medicina centrada no tratamentode doenças “falhou” e por isso o ca-minho a adoptar terá que ser a pre-venção, defendeu o “pai” do termomedicina anti-envelhecimento, o nor-te-americano Ronald Klatz.

Presente no primeiro CongressoIbérico Anual sobre medicina anti-en-velhecimento, que decorreu na passa-da semana no Estoril, o especialistacontou à Lusa a dificuldade que teveem fundar a Academia Americana deMedicina Anti-Envelhecimento por ospróprios médicos acharem que os efei-tos do tempo eram irreversíveis.

“Os críticos diziam ser uma here-sia tratar a idade como uma doença”,lembrou Klatz, acrescentando quemuitos dos especialistas que colabo-raram inicialmente chegaram a per-der fundos para investigação.

No entanto, 90 por cento das horasda prática médica é gasta em doen-ças provocadas pela idade (diabetes,patologias cardiovasculares ou neuro-lógicas), contra os 10 por cento inves-

AFIRMA O “PAI” DA MEDICINA ANTI-ENVELHECIMENTO

Modelo de tratamento “falhou”o novo caminho é prevenir

tidas em problemas infecciosos e ge-néticos que afectam maioritariamen-te jovens, argumentou.

A própria medicina anti-envelheci-mento acaba por ser exercida por to-dos os médicos: “trata-se de prevenir,detectar e tratar precocemente”.

“A Medicina anti-envelhecimento éum eufemismo para os avanços nasmedicina, como os exames tecnológi-cos, e não é uma molécula que se quermanter ultra-secreta”, assegurou àLusa.

“Não vamos esperar que uma pes-soa sofra um ataque cardíaco quandoos primeiros sinais podem surgir 30anos antes, nem que um cancro se de-senvolva porque se for detectado pre-cocemente é curável em 95 por centodas situações”, exemplificou.

Sobre a ideia que o anti-envelheci-mento se reduz às questões estéticas,o médico responde que apenas 20 porcento da equação desta medicina dizrespeito a essas preocupações.

“O que se quer é que as pessoas

também estejam bem e bonitas pordentro, mas também ninguém quer pa-recer um fóssil”, afirmou.

Klatz sublinhou que “não está nasmãos das pessoas a imortalidade” atéporque a “marcha do relógio não sepode parar”, mas pode-se garantirmaior qualidade de vida através demedicamentos inovadores e do “esti-lo de vida anti-envelhecimento”.

Estudos referem já que a geração“baby-boom” (nascidos na década de1960) poderá viver até aos 100 anos“com grande qualidade de vida” seaproveitar a “revolução” clínica, ser“auto-herói e não esperar pelos médi-cos”, seguir uma boa alimentação

com anti-oxidantes, fazer exercício,dormir bem e mentir sobre a idade.

“Quando se diz que se está velho, éporque se está a desistir e fica-se pron-to para ir para o túmulo”, resumiu.

A “revolução” na medicina passatambém pelo uso das células estami-nais, “que não só tratam, como curam”.

“Não há qualquer argumento váli-do, apenas político, para que não seutilizem. Não se trata de matar bebés,porque podem ser usadas células daplacenta e os embriões usados em tra-tamentos de fertilização, que de outramaneira seriam deitados fora”, disse.

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18 DE 4 A 17 DE JUNHO DE 2008A PÁGINA DO MÁ[email protected]

Mário Martins

Não foi uma grande tarde dentro das quatro linhas, mas houve festa sábado àtarde no Estádio do Fontelo. A exibição cinzenta de Portugal serve para tudo: podeser presságio de um grande “Europeu” ou, por outro lado, dar razão aos que – comoeu – pensam que nem tudo serão rosas nos estádios suíços. O sorteio da FPFatribuiu-me bilhetes para a final, em Viena, mas tenho receio de que, como há doisanos (também tinha bilhetes para a final em Berlim...), a história se repita e acabepor ficar em Coimbra a assistir à final do campeonato pela televisão. Há quem digaque a História não se repete, mas não tenho tanta certeza. Aguardemos.

O lanche da selecção

Conversa ao intervalo

Adeptos do Real Madrid esperaram o “craque” português à porta do estádio

Simão Sabrosa marca de grande-penalidade

Animação antes de um jogo pouco animado

O momento dos hinos nacionais de Portugal e da Geórgia

Ronaldo chega aos balneários

Bruno Alves e Ricardo Carvalho

Page 19: O Centro - n.º 52 – 04.06.2008

19DE 4 A 17 DE JUNHO DE 2008 MÚSICA

Distorções

José Miguel [email protected]

Em plena terceira edição do Rock InRio Lisboa, o tema de hoje não podiaser diferente, mas não no sentido de quea Amy Winehouse foi um fracasso ouapontando mais uma série de aspectosnegativos que os portugueses têm o há-bito de salientar em detrimento de umaimensidão de outras coisas, essas sim,que fazem do Rock In Rio um festival

cartaz deste evento é indiscutível queserá a melhor das três edições – e, comoo algodão, as imagens não enganam.

Na próxima (quinta feira, dia 5), vou à“cidade do rock”, sobretudo pelo que iráacontecer na tenda electrónica, em queirão actuar: Zé Pedro e Miguel Quintão– numa versão pós Zig Zag Warriors –,tal como os Crystal Method e os belgas

A edição deste ano do Jazz ao Cen-tro, que começa segunda-feira em Co-imbra, vai proporcionar algumas das so-noridades do jazz contemporâneo e dascorrentes experimentalistas, sem esque-cer “um certo mainstream” e os músi-cos portugueses.

“Seguindo a linha que o festival man-tém desde 2003, o programa deste anoaposta no jazz contemporâneo, com al-gumas ligações ao free jazz, mas alargao espectro a um certo “mainstream”,como é caso do quarteto de Júlio Resen-de, cativando um público mais alargado”,disse o especialista Rui Paulo Simões àagência Lusa.

Segundo o professor de Jazz e MúsicaUrbana na licenciatura em Estudos Artís-ticos da Faculdade de Letras da Univer-sidade de Coimbra (FLUC), o concertodo ZFP Quartet (com Carlos Zíngaro, Si-mon H. Fell, Márcio Mattos e Mark San-ders), marcado para amanhã (quinta-fei-ra, 5 de Junho) no Ateneu, representa tam-bém “um alargamento do festival a ou-

“Jazz ao Centro” já anima Coimbratros públicos e outras fronteiras”, nomea-damente da música improvisada.

Hélder Bruno Martins, investigador doInstituto de Etnomusicologia e do Cen-tro de Estudos de Jazz da Universidadede Aveiro, louva este “festival de refe-rência no panorama nacional”, que tempermitido apreciar em Coimbra “projec-tos de experimentalismo, na fronteiraentre o jazz e música improvisada”.

Para o autor do livro “Jazz em Portu-gal - 1920-1956”, a edição deste ano re-vela-se “bastante interessante” ao procu-rar envolver também o espaço urbano.

“Enquadra-se no paradigma actual dedesenvolvimento sócio-cultural, promo-vendo a sociabilização das pessoas”, re-feriu o especialista.

Os quatro principais concertos do Jazzao Centro decorrem nas Escadas do Que-bra-Costas e o espectáculo inaugural de-coorreu no Ateneu de Coimbra, estandoainda prevista animação de rua, com ac-tividades pedagógicas, entre outras.

O programa prevê actuações do Júlio

Resende Quarteto, com John Hebert, aformação Agustí Fernández/Barry Guy/Ramón López “Aurora”, o Michaël Atti-as Quintet: Twines of Colesion, RavishMomin’s Trio Tarana, Hélène Labarriè-re Quartet “Les Temps Changent” e Al-berto Pinton & Chant.

Músicos oriundos de Portugal, Brasil,Inglaterra, EUA, Índia, Suécia, Espanha,França, Itália e Alemanha integram ocartaz.

“Em termos de surpresa, apostaria nasingularidade do ZPF Quartet ou na di-ferença e peculiaridade do RavishMomin’s Trio Tarana”, observou RuiPaulo Simões.

O concerto do quinteto de MichaëlAttias é, na óptica do docente do Mes-trado de Estudos Artísticos da FLUC,“um ponto de reunião e de improvisaçãono jazz contemporâneo”.

Rui Paulo Simões destaca também apossibilidade de apreciar no festival amúsica de “um valor emergente”, JúlioResende, que, na sua óptica, se encon-

tra “numa ascensão clara”.Também Hélder Bruno Martins dá

relevo aos concertos da formação deCarlos Zíngaro e de Júlio Resende, “umpianista e compositor bastante promis-sor e de grande maturidade musical”.

“O concerto de Carlos Zíngaro será ar-rojado, tendo em conta a formação e postu-ra do músico”, observou o investigador daUniversidade de Aveiro, ao referir ainda queJúlio Resende “explora bastante os contras-tes entre o som e o silêncio”, podendo-sesentir na sua música “uma certa portugali-dade, uma alma lusa”.

O Jazz ao Centro - Encontros Internaci-onais de Jazz de Coimbra é uma iniciativada Câmara de Coimbra e do Jazz ao CentroClube, que decorre até 15 de Junho.

“É muito importante o festival manter asua linha e manter-se, não é apenas maisum festival, tem um lugar próprio, conquis-tado por mérito próprio. É também um ex-celente cartaz de divulgação e afirmaçãode uma esfera da cultura de vanguarda”,considerou Rui Paulo Simões.

bem diferente dos outros, direi mesmoum evento para toda a família. Não ten-do, ainda, ido a nenhuma das noites doParque da Bela Vista, foi pela televisãoque assisti ao concerto dos Xutos & Pon-tapés, assim como aos pontos altos dasactuações de Joss Stone, Amy Winehou-se, Bon Jovi e Lenny Kravitz. Parece-me que esta edição do Rock In Rio Lis-boa será a melhor de sempre e quanto aisso não deixam dúvidas as lotações es-gotadas – cerca de 90.000 espectadores– de sexta-feira (30 de Maio) e de sába-do (31 de Maio). E a possível lotaçãoesgotada na próxima sexta-feira, dia 6de Junho, último dia do evento. As ima-gens são esclarecedoras das multidõesem frente ao Palco Mundo, interagindocom os artistas ao ponto de os emocio-nar, como aconteceu com Joss Stone.Quer se goste, quer não, dos artistas do

2 Many Dj´s. O cartaz promete umagrande noite, não esquecendo os Metalli-ca e os Moonspell no Palco Mundo.

Como dizem os slogans publicitários:“Eu vou!”.

PARA SABER MAIS:

http://rockinrio-lisboa.sapo.pt/

Page 20: O Centro - n.º 52 – 04.06.2008

20 DE 4 A 17 DE JUNHO DE 2008CULTURA

A MINHA ESTANTE

Maria Pinto*[email protected]

*docente do ensino superior

“(...) E então ela se fez bonita/ comohá muito tempo não queria ousar/ com oseu vestido decotado /cheirando a guar-dado de tanto esperar/ E então os doisderam-se os braços/ como há muito tem-po não se usava dar/ E cheios de ternu-ra e graça/ foram para a praça e come-çaram a se abraçar(...)”.

Era assim sempre que nos encontrá-vamos. A alegria de dançar a Valsinhafazia-nos esquecer a angústia do dia se-guinte. E ali dançávamos tanta dança, tãosem parança, sem vizinhança... a nossadança.

Partias ao raiar do dia, quando o salão debaile encerrava as suas portas. Partias sem-pre. Como se cada vez fosse a única. Aúltima.

Desta vez, depois de te deixar, corri emdirecção a casa. Ansiosa por chegar. Comolhos de mar. Lancei-me num gesto de de-sespero sobre a estante, a grande cúmplicedos bons e dos maus momentos. Ali estavao disco de vinil que me acompanhava desdeo adolescer. Aquele sorriso... os olhos deágua. Chico Buarque. Mais um gosto quetínhamos em comum.

Guardei sempre os discos do Chico comoquem guarda um tesouro. É a minha músi-ca. Uma parte da minha história. Este ho-mem, verdadeiro escultor de palavras, temo dom único de descrever sentimentos comoquem vive cada dor ou cada alegria. Comose estivesse dentro de cada um de nós. Nointerior da nossa alma pelo menos uma vezna vida. Chico descreve o indescritível. Écomo se fosse ao mesmo tempo ele e o ou-tro... ou a outra.

“Morena dos olhos d’água/ tire osseus olhos do mar/ vem ver...”

Foi esta a música que ouvi quando par-

“A vida ainda vale o sorrisoque eu tenho pra te dar”...

tiste. Era a melodia que naquele momentose me colava ao rosto e ao dentro de mim.

Lembras-te de te dizer o quanto aprecioo teu lado feminino? Tu ris, mas eu sei queme entendes. É a capacidade de te coloca-res e de te mesclares no tu e no eu, no teueu e no tu dos doutros. Tal como Chico. Opoeta que retrata como ninguém a alma damulher. O que é e o que quer a mulher sãoperguntas que ressoam na sua poética, mes-mo que sem resposta. Aliás, não é CaetanoVeloso que diz que “ninguém sabe mesmo oque quer uma mulher?”

Na poesia de Chico e na sua música, amulher é, de facto, a eterna musa. Ele viajapor ela, abarcando-a como a ingénua oucomo a amante e a guerrilheira; retrata-acomo a prisioneira de um inescapável papelde serva em Mulheres de Atenas; escul-pe-a em tonalidades líricas ou sulca-a com

pungentes relatos de separações e de dor.

Num espaço de minutos, enquanto ou-via a música de Chico Buarque, passoupor mim uma galeria de mulheres: dassuas Mulheres.

A mulher submissa, dos espaços de den-tro, que chora ao seu amor quando lhe dizque “com açúcar, com afeto/ fiz seu docepredileto/ pra você parar em casa”.Mas... “qual o quê/ no caminho da ofici-na/ há um bar em cada esquina/ pra vocêcomemorar”.

Ou a mulher alvo do ciúme e do controlodo seu amante, que lhe pergunta “pra quemvocê tem olhos azuis/ e com as manhãsremoça/ e à noite, pra quem você é umaluz/ (...) que horas, me diga que horas,me diga/ que horas você volta?”

A mulher desassombrada, sedutora que,de forma provocante, fala “o meu amor/

tem um jeito manso que é só seu/ de medeixar maluca/ quando me roça a nuca/e quase me machuca/ com a barba malfeita (...)”...

Chico Buarque, o homem-afecto, escre-ve sobre vivências de relações plenas e fe-lizes, mas também penetra na dor da sepa-ração que mutila e desfaz os ritmos de umquotidiano em comum, dor essa tão bemrelatada em “trocando em miúdos podeguardar/ as sobras de tudo o que cha-mam lar/ as sombras de tudo o que fo-mos nós/ as marcas do amor nos nossoslençóis/ as nossas melhores lembranças/aquela esperança de tudo se ajeitar/pode esquecer/ aquela aliança você podeempenhar/ ou derreter”...

Trata-se de um relato sofrido mas simul-taneamente pragmático de uma separação,que fala de “sobras” e de “sombras”, deum património material e espiritual que seesvai na aliança, na ausência de esperança.

Este grito de desespero é ainda mais pun-gente no maravilhoso poema Eu te Amo:“Ah, se já perdemos a noção da hora/ sejuntos já jogámos tudo fora/ me contaagora como hei-de partir/ se nós, nas tra-vessuras das noites eternas/ já confun-dimos tanto as nossas pernas/ diz comque pernas eu devo seguir”.

Foi esta música que me despertou de novopara a realidade. Para a tua partida.

Tinhas partido. Penso que sem retorno.Sinto que para sempre. Percebi-o no teuolhar. Adivinhei-o no desespero do momen-to em que as tuas costas se voltaram paramim. Foi o teu grito de adeus.

“Morena dos olhos d’águatire os seus olhos do marvem verque a vida ainda valeo sorriso que eu tenhopra te dar”...

prosas breves“Volare – prosas breves” é o título do livro de Joaquim Feio, recentemente

publicado pela editora “Calendário”.É nestes termos que o livro se apresenta:

Quatro monólogos, cinco contos, dois textos de um autor inédito, emboragrande leitor e, além do mais, editor: prosas breves- Volare...

Com uma advertência fundamental: estamos a falar de uma natureza huma-na que pode mudar, sem a mínima dúvida, mas que, no essencial, nos escapa.Mesmo que nos esforcemos nunca a iremos entender. Como diz o adágio queserve de epígrafe a esta colectânea de prosas breves: só diabo conhece ocoração do homem... Contudo: ... do mal, o menos! Como reza outro adágio– talvez castelhano, talvez universal...

EDITADO PELA “CALENDÁRIO”

Volare

Page 21: O Centro - n.º 52 – 04.06.2008

21DE 4 A 17 DE JUNHO DE 2008 OPINIÃO

Renato Ávila

POIS...POIS...POIS...POIS...POIS...

João PauloSimões

FILATELICAMENTE Ceres- Emissãode Londres

Eram apenas cinco tostões por ano quan-to se gastava de gasolina em casa do meuavô. Comprava-a num frasquinho de “Co-ramina” para a lançar, gota a gota, sobre oalgodão que empachava o bojo do isqueiro.

O tabaco para a torcida medrava cari-nhosamente na horta e as mortalhas, as ca-misas mais finas das maçarocas, eram sa-biamente escolhidas na desfolhada e religi-osamente guardadas em caixa de madeiradebaixo da cama.

Naqueles fabulosos e depauperados tem-pos, fumar só tinha um problema: acender ocigarro. Os fósforos eram caros e a licençade acendedor muito pior. Nem o pobre dofuzil escapava ao assalto dos fiscais do selo.Chegavam a esconder-se por detrás dasparedes das courelas para, impiedosamen-te, assaltarem o incauto fumador e aplica-rem a multa. Houve quem, à pressa, tivessede vender terras para arranjar os trezentosescudos da maquia fiscal.

O fuzil era um canudo de cana com ummorrão feito de pano queimado o qual seincendiava com as faíscas produzidos porum ferrinho a bater num bocado de pedrade ferir (sílex). O artesanal antepassado dosisqueiros dos automóveis.

A gasolina, assim como o petróleo (que-rosene), o vinho, o algodão, o álcool e o iodo,os pratos, os pregos, o sabão, o café e oarroz aviavam-se na loja da aldeia.

PetroleodependênciaO petróleo vendia-se ao quartilho e ao

meio quartilho e a ele apenas tinha direito alamparina da sala de fora. As duas candei-as ambulantes que iluminavam o resto dacasa eram abastecidas com óleo de gata oude albafar cujas gorduras eram derretidasem velho latão ajoujado sobre generosa fo-gueira ao fundo do quintal.

Carro, só o da mala, de manhã e à tardi-nha, a gasogénio, com fornalha a lenha àtraseira, e ao empurrão de volta a cima.

Hoje, o petróleo é rei a comandar as nos-sas vidas. Tornámo-nos em crónicos petro-leodependentes de tal maneira que, sem ele,não somos capazes de conceber o mundo egizar a vida. A sociedade de consumo quenos subordina, dele faz sacralização, tecen-do diabólicas cadeias de insólita indigênciadas quais, por mais que teimemos, jamaisconseguimos sair.

Todos temos consciência da insubstituí-vel dependência dos transportes públicos nodia a dia dos populações que enxameiamnos periféricos dormitórios das grandesmetrópoles; do idolatrado uso e abuso doautomóvel, objecto de conforto e de prazer,de status, de liberdade, de vertigem, de adre-nalina; da democratização dos meios aére-os que, a velocidades inimagináveis, noscolocam em dois tempos em qualquer can-to do mundo, com o decorrente “boom” dainternacionalização do turismo de massas;das apocalípticas máquinas de guerra dasgrandes potências e da sua importância es-tratégica.

A vertiginosa subida do preço do petró-leo veio pôr a nu as fragilidades do sistema

económico assente no consumo.E, quando grande parte desse consumo

depende dum bem exaurível que, sendo pro-priedade de alguns e vital e exponencialmenterequestado por todos, se torna em valiosamercadoria ciosamente guardada e sobre-valorizada pelos detentores, estrategicamen-te jugulada pelas potências dominantes, ci-nicamente manipulada pelos especuladorese dolosamente cartelizada pelas petrolífe-ras, não há regulação que funcione, consu-midor que resista à chantagem, ao escân-dalo da fixação dos preços.

As dependências atingem neste momentopatamares muito mais elevados. Hoje, opetróleo e os capitais que ele gera torna-ram-se numa arma poderosíssima capaz defazer submergir as economias mais fragili-zadas e os sistemas sócio-económicos quegarantem a paz e a estabilidade dos respec-tivos países e de criar novas e pérfidas su-seranias no concerto das nações. O proble-ma é tanto mais grave quando grande partedas jazidas petrolíferas estão situadas em zo-nas politicamente instáveis do globo ou sãotuteladas por classes políticas de reconheci-da falta de dignidade humana e democrática,ambiências propícias ao reinado dos finan-ceiros e especuladores menos escrupulosos.

Esta diabólica espiral jamais será neutra-lizada enquanto as nações tecnologicamen-te mais apetrechadas não tiverem o bomsenso, o altruísmo e a vontade de investirforte e decisivamente no desenvolvimentode novas energias a partir de elementos maisabundantes e renováveis da Natureza e noaperfeiçoamento, na optimização tecnoló-

gica do consumo da energia; enquanto cadaum de nós não fizer um esforço de conten-ção e racionalização do consumo.

Não podemos continuar a assistir impo-tentes a este ataque inconcebível do capita-lismo selvagem que vê no petróleo um des-mesurado caudal de riqueza e jamais umavital fonte de energia essencial ao bem-es-tar e progresso da Humanidade.

Não regressaremos, certamente, aos tem-pos do óleo de gata e de albafar, nem dofuzil para acender o cigarro. Mas não deve-mos esquecer-nos de que os desenfreadosventos lançados pelo consumismo podemempurrar-nos para estádios vizinhos das jálongínquas sociedades de sobrevivência.Aqui, aquela gente, na sua penúria e na suafrugal visão do mundo e da vida, talvez ti-vesse qualquer coisa a ensinar-nos.

Este círculo infernal do consumir para tertrabalho e do trabalhar para consumir estáa alienar a nossa civilização, a tornar muitomais infelizes as sociedades imersas na suaalienante dinâmica.

É mister que se substitua o viver paraconsumir pelo viver para enriquecimentopessoal pela racionalização do consumo edo trabalho, nunca em função do lucro e dacapacidade de aquisição de bens mas a fa-vor da disponibilidade de contribuir para odesenvolvimento individual e para melhoriadas relações sociais.

Bom seria que esta crise, a qual prometeprolongar-se por tempo indefinido, nos le-vasse a repensar toda a arquitectura filosó-fica deste sistema sócio-económico que nosespartilha em alienantes interdependências,que nos coloca à mercê de tenebrosos de-sígnios e que apenas nos concede efémerose caros lampejos duma virtual felicidade.

«O elixir da serra», reportagem de José Fialho Gouveia,com sugestivas fotos de Vasco Célio, inserta na edição de 25de Abril (p. 48-57) da revista Tabu nº 85. Explicitava, tintimpor tintim, a situação da produção da aguardente de medro-nho, seguramente uma das tradições mais arreigadas na ser-ra algarvia, património garantido pelas condições artesanaisem que se processava. Desde tempos imemoriais!...

E escreveu-se:– «Assustados com a fiscalização, muitos deixaram de pro-

duzir (…)».– «Já apareceram em casa de pessoas de madrugada, ar-

mados, acordaram mulheres e crianças e até foram ver se ha-via medronho debaixo das camas».

E explicou-se:– «Ninguém quer andar no mato todo molhado a apanhar

medronho. Isto é uma actividade para velhos e analfabetos».– «Se isso passasse para produto artesanal em vez de estar

classificado como actividade industrial, as coisas ficavam maisfáceis».

Uma reportagem – como muitas que, feliz ou infelizmente,cada vez se fazem mais por esse País… – a explicar o que écivilização, cultura, tradição e património. Oxalá as compreen-desse quem unicamente sabe ler – e com antolhos! – pela “Bí-blia do Fundamentalismo Autoritário”, fechado em torres demarfim, arredado das realidades concretas…

Como já referi num artigo ante-rior, as guerras têm grande impac-to na Filatelia.

Em relação ao tema de hoje, asemissões de Ceres, devido à IGuerra Mundial, eram imperfeitas,de má qualidade, por parte da Casada Moeda. A má qualidade do pa-pel e das tintas contribuíam parafalsificações dos selos, tal como odesgaste das máquinas que nãoeram arranjadas por razões eco-nómicas. Foi então estudado umnovo tipo de selo base (Lusíadas)mais trabalhado, sendo mais demo-rada a sua execução, tendo sidamandada fazer no estrangeiro.

Foi escolhida a firma Thomasde La Rue & C.ª Ltd. de Londres,que entregou esta ao desenhadore gravador Eugénio Carlo AlbertoMeronti, com o objectivo de tra-balhar e transformar o anteriordesenho de Constantino Fernan-

des, de modo a que desenho e gra-vura melhor se pudessem adaptarà litografia. O papel utilizado é pon-tinhado em losangos, sendo os se-los tipografados em folhas de 100selos com denteado 13,5x14, emcores nítidas mas com diferençasde tonalidade entre as 13 tiragensa que tiveram de recorrer, por nãoautorizar o Ministério das Finan-ças uma encomenda do valor con-siderado necessário, devido a difi-

culdades financeiras. Foram emi-tidos 8.245.000 selos de $02 cho-colate, 8.125.000 selos de $03 azul,21.055.000 selos $04 amarelo la-ranja, 20.195.000 selos de $05 sé-pia, 4.500.000 selos de $06 casta-nho claro, 23.000.000 selos de $10carmim, 27.400.000 selos de $15preto, 3.200.000 selos de $16 ul-tramar, 15.750.000 selos de $25cinzento, 1.920.000 selos de $32verde escuro, 111.200.000 selos de$40 verde esmeralda, 1.170.000selos de $48 rosa escuro.

(baseado em Livros Electró-nicos de Carlos Kulberg)

Nota-se na imagem do selo, umtrabalho mais perfeito, com dese-nho e serrinhas muito mais certase cores mais vivas. Todo o selo éhomogéneo, completamente dife-rente das anteriores séries de Ce-res já aqui tratadas.

Joséd’Encarnação

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22 DE 4 A 17 DE JUNHO DE 2008MEDIA

Quem fotografa durante décadas acaba sempre porviver tantos e variados momentos que, deles, sempreficam alguns dignos de memória escrita.

Do que acontece, as reacções podem ser divertidasou com final desagradável.

Trago hoje aqui três peripécias que vivi, pressionadoque fui para certas situações, em consequência de es-tar decidido a não faltar a compromissos assumidos.

Somos levados a atravessar rios sem barco nemponte, sofrer calor, frio, fome, sede e enfrentar feras –homens e cães – chegando a correr risco de vida.

Não são propriamente histórias tristes, mas talvezcontribuam para a manutenção do sorriso, apesar dasagruras da vida de hoje.

A primeira demonstra quanto é decisivo agirmos semvacilar na hora certa.

Era necessário fotografar uma pintura existente numescritório de um conhecido professor universitário.Conseguida a autorização, não foi assim tão fácil tirar afotografia.

O quadro estava pendurado alto. Teria de ser foto-grafado do fundo da sala, com teleobjectiva. Só que oavantajado candeeiro do tecto era obstáculo impeditivodesta solução.

Como o professor me tinha deixado só, avaliei a si-tuação e a solução estava no que acabei por fazer. Puxeia secretária mais para a frente, descalcei os sapatos,saltei para ele, onde montei a câmara no tripé.

Foi canja! A operação não teria corrido melhor setivesse planeado antecipadamente.

Desci da mesa e arrumei o material.Foi então que surgiu o nosso professor, indignado:

“Então? Já está?”.O epílogo é que saiu pela culatra: a fotografia aca-

bou por ser capa de livro mas como sendo de outroautor.

Mais um atropelo aos direitos de autor!Quantos mais?

Varela Pècurto

Atribulações de fotógrafo

KODAK SALVADOR

Quando o senhor Estman Kodak popularizou a suamáquina fotográfica o êxito foi tal que ainda hoje seouve dizer “eu tenho um Kodak” e afinal a marca éoutra. A palavra passou a ser sinónimo de máquina fo-tográfica.

Estava num casamento rural e a cena aconteceu vaipara setenta anos, quando ainda eram raros os amado-res de fotografia.

Após os primeiros instantâneos a minha máquinarecusou-se continuar a sua missão.

Não havia tempo a perder e ante a minha atrapalha-

ção eis que um convidado, um dos tais raros amadores,exclama: “Se quiser posso emprestar-lhe o meu Ko-dak!”.

A oferta era irrecusável, pois não havia alternativa.E foi assim que consegui terminar a minha reportagem,que, por ser no exterior, dispensava o flash.

A maquineta que usei vendia-se por 45 escudos com3 filmes incluídos no preço...

ENTRE A ESPADA E A PAREDE

Vinha a Coimbra o general Humberto Delgado e arecepção estava marcada para a zona da Portagem /Av. Navarro.

Quase à hora da chegada um elemento da comissãode recepção contratou-me para fazer uma fotografiaque desejava em pouco tempo, desde a janela do Astó-ria, ao povo que viria a encher este espaço.

Carreguei imediatamente um chassi 9 x12, o que mepermitia fazer uma revelação individual. Corri para ajanela virada a sul e, zás! tirei a foto. Dirigi-me à Câ-mara escura para a revelação e, oh horror dos horro-res! a chapa estava vedada. O chassi deixara entrarluz. Misturado que estava com os bons, acabou por sera minha desgraça.

Terminada a manifestação, logo surgiu o cliente queme contratara.

Algo desconfiado com a minha explicação, mal hu-morado e pronunciando meias palavras, levou-me a crerque não acreditou em mim.

Pouco tempo depois, ainda não refeito do meu fra-casso, eis que me surge outro cliente, também interes-sado na fotografia, argumentando que sabia que eu atinha porque me vira na janela do hotel a fotografar.

Contristado, repeti a minha honesta explicação deque não havia fotografia alguma e porquê.

O sorriso, gestos e súbita mudança na atitude destecliente intimidaram-me, mas a verdade era só uma: nãohavia fotografia.

Mais tarde acabei por saber que este segundo inte-ressado mais não era do que um agente da PIDE.

Hoje não fora a pitada de humor que o caso tem, asituação que vivi, decerto continuaria a atormentar-me.

A Sojormedia, do Grupo Lena (Leiria), adquiriu a maio-ria da empresa que gere o diário As Beiras e uma gráficaem Coimbra, no âmbito de um acordo empresarial anteon-tem (segunda-feira) anunciado.

Segundo fonte do processo, o capital da nova sociedadeserá dividido equitativamente pela Sojormedia e pelos atéagora proprietários do jornal, contando ainda com a partici-pação de uma editora do grupo de Leiria, que terá assim amaioria das quotas.

Sem querer especificar a distribuição das participaçõessociais, Francisco Santos, Director do jornal Região de Lei-ria e administrador da Sojormedia, confirmou que caberá aeste grupo a presidência do conselho de administração danova empresa Sojormedia Beiras SA, responsável pela ges-tão do título de Coimbra e da gráfica Grafimondego.

Francisco Santos justificou o investimento do grupo emCoimbra com a “certeza dos excelentes parceiros” nas Bei-ras, que conta com “uma equipa de bons profissionais”.

“São pessoas abertas à mudança, à inovação e ao dese-jo de abraçar novos desafios”, disse Francisco Santos, sali-entando que este investimento faz parte de uma estratégiamais global do grupo que quer estar presente “nas principaiscidades portuguesas”.

Grupo Lena (de Leiria) adquire Diário As Beiras“Não pensávamos vir tão cedo para Coimbra” mas “fo-

mos incentivados a vir para cá”, com investimento num“projecto muito bem estruturado” visto que as Beiras sãoum “diário com um grande futuro” e o “único jornal de todoo centro do país”, com presença não apenas em Coimbra,mas também em Aveiro, Viseu, Leiria, Castelo Branco eGuarda.

Para o Director das Beiras, António Abrantes, que semanterá no cargo, este acordo empresarial visa tambémaumentar a capacidade competitiva do jornal, que é diáriohá 14 anos.

“Os projectos estão cada vez mais competitivos e hojeninguém consegue viver sozinho” pelo que é necessário“estabelecer parcerias” que são “mais-valias para o futu-ro”, disse, rejeitando que este negócio reduza a área deimplantação do título, circunscrevendo-o a Coimbra.

“A nossa ambição foi precisamente fazer um alarga-mento regional”, cumprindo o desígnio do próprio título jáque as “Beiras são a região centro”, justificou.

Nos últimos anos, “já começámos a sentir o retorno edi-torial e comercial deste alargamento”, acrescentou AntónioAbrantes.

Os dois empresários garantem também que o “quadro

de colaboradores e dirigentes mantém-se inalterado.A Sojormedia, que faz parte do Grupo Lena, passa a

deter um dos principais diários regionais do país, somando-o aos semanários que possui nos distritos de Leiria (Regiãode Leiria e O Eco), de Santarém (O Ribatejo), de Aveiro (OAveiro e Jornal da Bairrada) e Viseu (Jornal do Centro).

Quanto ao futuro, Francisco Santos quer alargar as par-cerias com rádios regionais, reforçando as valências do gruponesta área, que possui uma estação em Abrantes.

Até final do ano, é objectivo da Sojormedia avançar comdois novos semanários, no Porto e no Algarve, revelou ain-da Francisco Santos, que não quis comentar o eventual in-teresse do grupo nos títulos Semanário e Diário Económico.

“Só falamos sobre as coisas quando elas já aconteceramou temos a certeza que vão acontecer”, justificou, masconfirmou o desinteresse do grupo no Comércio do Porto,apesar de terem sido noticiadas negociações nesse sentido.

“Não nos parece que seja atractivo”, limitou-se a dizer.Além dos títulos e da rádio, o universo Sojormedia inte-

gra ainda a editora Imagens & Letras e a agência Meiore-gional, com sede em Lisboa especializada na gestão, com-pra e venda de espaços publicitários no segmento da im-prensa regional.

Page 23: O Centro - n.º 52 – 04.06.2008

23DE 4 A 17 DE JUNHO DE 2008 INTERNET

IDEIAS DIGITAIS

Inês AmaralDocente do Instituto Superior Miguel Torga

CASA FERNANDO PESSOA

THE STAR TRACKER

QUENTES E BOAS

TRIPLO EXPRESSO

WHRRL

REMEMBER THE MILK

O site da Casa Fernando Pessoa vai disponibili-zar online, a partir do dia 13 de Junho, obras do autor.Vão ser cerca de duas centenas e o acesso será gra-tuito. É a equipa do Centro de Linguística Portuguesada Universidade de Lisboa que está a digitalizar as obras.

Esta iniciativa prevê que sejam digitalizadas 1200 tí-tulos de Fernando Pessoa, entre livros, revistas e jor-nais. Dos trabalhos digitalizados, cerca de 200 vão es-tar disponíveis e gratuitos no site da Casa FernandoPessoa. A data de 13 de Junho cumpre o simbolismode assinalar 120 anos sobre o nascimento do autor por-tuguês.

CASA FERNANDO PESSOA

endereço: http://www.casafernandopessoa.com/categoria: literatura

The Star Tracker é mais uma rede social. O moti-vo de a destacarmos nesta página é o facto de ser por-tuguesa. Tal como outros sites, o objectivo é reunir uti-lizadores que partilhem interesses, mas no The StarTracker o outro requisito é ter a nacionalidade portu-guesa ou pelo menos origem no nosso país, estar a vi-ver no estrangeiro (pelo menos há seis meses) e assu-mir-se como um talento...

O acesso a esta rede faz-se por convite, o que lheconfere o estatuto de rede privada. Para entrar no clu-be ou se tem convite ou se preenche um formulário.Na “candidatura”, o utilizadror tem de preencher trêsrequisitos: ser cidadão português ou ter nascido no país,

viver no estrangeiro e mostrar que é um “talento”. Ora,se por um lado a rede tem interesse já que pretendereunir portugueses fora, por outro deixa tirar muitasoutras ilações... Mas vale a pena a visita ao site, paraver afinal que “clube” é este.

THE STAR TRACKER

Endereço: http://www.thestartracker.com/

categoria: redes sociais

Mais um site de social media. O pior é o nome,estranhíssimo e difícil de pronunciar. A ideia não énova, mas promete. O objectivo é mostrar no mapaa localização de uma rede de amigos e contactosque querem partilhar expeirências.

O acesso pode ser feito via Internet ou telemó-vel. Cada utilizador tem também um perfil. Trata-se de um site de partilha de localização (Big Bro-ther?!) ao estilo Web 2.0. Há também um calendá-rio para programar acontecimentos. A organizaçãodas localizações é feita por espaços e eventos. Faltadizer que o nome do serviço é Whrrl – para ler-mos como bem entendermos. Ou não.

WHRRL

endereço: http://www.whrrl.com/categoria: serviços

Sim, isso mesmo: Remember the milk. Semtraduzir à letra, mas quase. Este é um site paraquem é desorganizado e precisa de uma espéciede assistente virtual. Um serviço interessante e bemestruturado.

No Remember the milk os utilizadores podemcriar listas de tarefas e organizar a agenda. Atéaqui nada de novo. A grande vantagem é que esteserviço lhe envia alertas para o telemóvel, emailou serviço de mensagens instantâneas, conformepreferir, para não se esquecer das tarefas. Tam-bém é possível partilhar com outros utilizadores aslistas, para ter mesmo a certeza de Rememberthe milk.

REMEMBER THE MILK

endereço: http://www.rememberthemilk.com/categoria: utilidades

Vai um Triplo Expresso? Então subscreva opodcast e descarregue para ouvir as conversas atrês de David Rodrigues, Phil e Maria João Valen-te. Mas há também posts, na estrutura de weblognormal.

Uma ideia interessante, com conversas que pro-metem não desiludir sobre Internet, Blogs e o uni-verso da Blogosfera. Muito interessante este Tri-plo Expresso. Som do computador.

TRIPLO EXPRESSO

endereço: http://triploexpresso.com/categoria: podcast

Com o “patrocínio” de Fernando Alvim, as Pági-nas Amarelas lançaram na net o desafio Quentes eBoas. Até 27 de Outubro os utilizadores da rede sãoconvidados a criar vídeos e a disponibilizá-los no site.

Os trabalhos devem ser sobre situações do dia-a-dia e envolver um produto Páginas Amarelas. Ostrês primeiros lugares vão receber, respectivamen-te, 15 mil, 10 mil e 5 mil euros. Haverá ainda lugarpara prémios que vão distinguir a melhor realiza-ção, banda sonora, adereços e efeitos especiais.

QUENTES E BOAS

endereço: http://www.quenteseboas.pt/categoria: concurso

Page 24: O Centro - n.º 52 – 04.06.2008

24 DE 4 A 17 DE JUNHO DE 2008TELEVISÃO

PÚBLICA FRACÇÃO

Francisco [email protected]

Façaumaassinaturado “Centro”e recebavaliosaobra de arteAPENAS 20 euros POR ANO- LEIA NA PÁG. 3

Esta é a reprodução da obra de ZéPenicheiro que será sua gratuitamente

RTP, SIC E TVINÃO CUMPREM LEI

O relatório de Regulação de 2007 daERC concluiu que a RTP, SIC e TVI nãocumprem a lei da televisão e contrato deconcessão.

O texto é enorme. A própria ERC já oreconheceu. Com difícil leitura, também.

Resumidamente, eis o que mais me cha-mou a atenção.

RTP-1

Quanto às obrigações constantes do Con-trato de Concessão Geral do Serviço Públi-co de Televisão, na RTP-1 foram identifica-das algumas insuficiências claras:

– O baixo índice de programas de índolepredominantemente formativa;

– A quase ausência de programas dirigi-dos ao público jovem e infantil nos dias úteis;

A quase ausência, e os horários de fra-ca audiência escolhidos para a sua exibi-ção, de programas especificamente vo-cacionados para as problemáticas de gru-pos minoritários, associados em especiala minorias étnicas, religiosas e sociais, queespelhem a diversidade cultural do País,o que representa um défice no cumpri-mento desta obrigação por parte da RTP1.

Quanto à obrigatoriedade de difusão deobras audiovisuais:

– No que respeita à obrigatoriedade dedifusão de pelo menos 20% de difusão deobras criativas de produção originária emlíngua portuguesa, e mesmo tomando emconsideração uma assinalável subida des-de a entrada em vigor da nova Lei da Te-levisão, a RTP1 não cumpriu, tendo re-gistado uma descida relevante relativa-mente a 2006.

RTP-2

As repetições na grelha de programaçãoda RTP2 representam mais de um quartoda programação deste serviço de progra-mas, o que corresponde à maior percenta-gem verificada entre os operadores objectode análise. Esta circunstância justifica cla-ramente um reparo crítico.

No que respeita à obrigatoriedade de di-fusão de pelo menos 20% de difusão de obrascriativas de produção originária em línguaportuguesa, e mesmo tomando em conside-ração uma assinalável subida desde a en-trada em vigor da nova Lei da Televisão, aRTP2 não cumpriu, tendo registado umadescida ligeira relativamente a 2006.

SIC

A SIC só parcialmente cumpriu a obri-gação de transmitir programas de natu-reza cultural e formativa em horários de

audiência não reduzida e com periodici-dade regular.

A SIC só parcialmente cumpriu a obri-gação de apresentar uma oferta diversi-ficada de géneros de programação nodesignado “horário nobre”.

A SIC não cumpre a obrigação de emi-tir programas informativos de debate eentrevista autónomos e com periodicida-de semanal.

A SIC Radical não cumpriu, continu-ando, tal como em 2006, a obter valoresinsuficientes de obras criativas de pro-dução originária em língua portuguesa.

TVI

A TVI só parcialmente cumpre a obri-gação de diversificar os géneros da pro-gramação no horário nobre.

A TVI só parcialmente cumpre a obri-gação de transmitir programas de nature-za cultural e formativa.

A TVI não cumpre a obrigação de emi-tir programas de debate e entrevista au-tónomos com uma periodicidade semanal.

A TVI não cumpre a obrigação de emi-tir diariamente programas dirigidos ao pú-blico juvenil/infantil, no período da manhãou da tarde.

DESVIOS HORÁRIOS

De entre os três serviços de programasgeneralistas em sinal aberto, a RTP1 foi oque teve maior número de desvios aos ho-rários anunciados, em atrasos e avanços,independentemente dos diversos intervalosde tempo analisados. 48% dos atrasos veri-ficados na RTP1 no último trimestre tive-ram durações superiores a três minutos.

Relativamente à exibição de programasnão anunciados, a maioria ocorreu na RTP1.Relativamente a programas não exibidos, aRTP1 foi o serviço em que se registou omaior número de casos de programas anun-ciados não exibidos.

Considerando os quatro serviços de pro-gramas generalistas, a RTP2 foi o canal queapresentou um maior volume de desvios dehorários, sendo a maioria nos intervalos en-tre 0 e cinco minutos. O maior número dedesvios, quer nos atrasos quer nos avanços,regista-se na faixa até aos 3 minutos, faixaem que apresenta um número superior aosrestantes operadores.

INTERRUPÇÕES PARAPUBLICIDADE E PATROCÍNIO

Os quatro canais preencheram 6739 ho-ras com intervalos em 35.040 horas de emis-sões. O serviço de programas com mais in-terrupções foi a TVI, ocupando 27,1% daemissão, seguindo-se a SIC, com 26,5% e,finalmente, os canais de serviço público,RTP1 e RTP2, respectivamente, com 20%e 3,4% (neste caso, publicidade institucionalapenas).

Nas interrupções dedicadas às autopro-moções e patrocínios, a SIC foi o serviçoque reservou mais tempo dos seus interva-los, seguida da TVI, RTP1 e RTP2.

No entanto, analisando o peso relativo dasautopromoções e dos patrocínios, verifica-

se que a RTP2 é o canal que maior percen-tagem dos seus intervalos ocupa com estetipo de mensagens, seguindo-se a RTP1, SICe a TVI.

Na emissão de publicidade comercial,foram detectadas na RTP1 onze ultrapas-sagens ao limite de 6 minutos por hora deemissão (imposto pelo respectivo contratode concessão de serviço público). A SICultrapassou uma vez e a TVI duas vezes olimite legal de 12 minutos por hora (que re-sulta da Lei da Televisão).

FUTEBOL

A omnipresença do futebol, que aliás tam-bém é assinalada no relatório da ERC que oindica como segundo tema mais frequentena informação da RTP1, entrou como umtsunami nas três estações generalistas.

A aproximação do Euro-08 fez comque a Selecção Nacional se transformas-

se no centro absoluto das atenções. Nohabitual ritual que nos confirma como oBrasil da Europa, lá foram as câmaras eos repórteres atrás da Selecção, numrodopio frenético, mas a maior parte dasvezes feito sem pés nem cabeça.

Não faltaram meios. De Viseu a Gene-bra e daí até Neuchatel, a Selecção foi se-guida passo a passo, numa tentativa de-sesperada para criar aquela onda de entu-siasmo que se verificou em 2004 e em 2006.

A maioria dos repórteres não diz maisdo que banalidades. O óbvio. Os própri-os operadores de câmara nada mais con-seguem do que fixar-se nas bandeirasque se agitam e nos esgares dos adep-tos. No entanto, há sempre algo que ul-

trapassa a imaginação. Foi o que acon-teceu com a “transmissão directa” dedentro do avião da TAP que transporta-va a Selecção. Enquanto o avião nãopartiu, Nuno Luz, repórter da SIC, en-treteve-se a utilizar um telemóvel paramostrar os jogadores e restante comiti-va a arrumar as bagagens de mão e oscasacos. “Exclusivo SIC!”, dizia ele todocontente. Pena foi que ninguém lhe ti-vesse dito para não utilizar o telemóvelcomo uma câmara normal. O tal exclu-sivo ficou-se por imagens quase sempreinelegíveis, pois de cada vez que NunoLuz utilizava o zoom, o écran ficava des-feito em quadrados.

O certo é que vamos ter futebol pormais um mês. Ou talvez não… Basta

que a Selecção fique pelo caminho paraque o Euro-08 se esvazie por completo.Dez anos depois da Expo-98, do petró-leo a 20$ o barril, das auto-estradas dainformação e da era Clinton, nada me-lhor para apaziguar a crise do que umEuropeu de feição. Mas, parece não es-tarmos em maré de boas notícias. Seassim for, o senhor Presidente da Repú-blica, que recebeu a Selecção no Palá-cio de Belém antes da partida para aSuíça, também deverá chamar os res-ponsáveis e lamentar que não tenhamsido tomados em linha de conta “os su-periores interesses da Nação”, que foiexactamente isto que disse aos pesca-dores de Matosinhos em greve.