o centro - n.º 24 – 04.04.2007

24
DIRECTOR JOR JOR JOR JOR JORGE CASTILHO GE CASTILHO GE CASTILHO GE CASTILHO GE CASTILHO | Taxa Paga | Devesas – 4400 V. N. Gaia | Autorizado a circular em invólucro de plástico fechado (DE53742006MPC) ANO I N.º 24 (II série) De 4 a 17 de Abril de 2007 1 euro (iva incluído) Ofereça uma assinatura do “Centro” e ganhe uma obra de arte PÁG. 3 UMA PRENDA ORIGINAL ESTUDANTES DE 13 PAÍSES COZINHAM EM COIMBRA Poucos dias antes da Revolução de Abril de 1974 saiu das Caldas da Rainha uma coluna militar com o intuito de depor o Governo em Lisboa. Os revoltosos depressa viram que tinham fracassado e regressaram ao quartel, onde seriam detidos (como a imagem documenta). Ainda hoje se discute o que foi, de facto, esse movimento – sobre o qual publicamos reportagem nesta edição. Para tentar esclarecer o mistério, vai decorrer em Coimbra um debate, onde participam alguns dos protagonistas do golpe militar. ABRIL EM PORTUGAL A ousadia dos estudantes de Coimbra PÁG. 4 a 7 PÁG. 10

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Versão integral da edição n.º 24 do quinzenário “O Centro”, que se publica em Coimbra. Director: Jorge Castilho. 04.04.2007. Site do Instituto Superior Miguel Torga: www.ismt.pt Visite outros sítios de Dinis Manuel Alves em www.mediatico.com.pt , www.slideshare.net/dmpa, www.youtube.com/mediapolisxxi, www.youtube.com/fotographarte, www.youtube.com/tiremmedestefilme, www.youtube.com/discover747 , http://www.youtube.com/camarafixa, , http://videos.sapo.pt/lapisazul/playview/2 e em www.mogulus.com/otalcanal Ainda: http://www.mediatico.com.pt/diasdecoimbra/ , http://www.mediatico.com.pt/redor/ , http://www.mediatico.com.pt/fe/ , http://www.mediatico.com.pt/fitas/ , http://www.mediatico.com.pt/redor2/, http://www.mediatico.com.pt/foto/yr2.htm , http://www.mediatico.com.pt/manchete/index.htm , http://www.mediatico.com.pt/foto/index.htm , http://www.mediatico.com.pt/luanda/ , http://www.biblioteca2.fcpages.com/nimas/intro.html

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DIRECTOR JORJORJORJORJORGE CASTILHOGE CASTILHOGE CASTILHOGE CASTILHOGE CASTILHO

| Taxa Paga | Devesas – 4400 V. N. Gaia |Autorizado a circular em invólucrode plástico fechado (DE53742006MPC)

ANO I N.º 24 (II série) De 4 a 17 de Abril de 2007 1 euro (iva incluído)

Ofereçauma assinaturado “Centro”e ganhe umaobra de arte

PÁG. 3

UMA PRENDA ORIGINAL ESTUDANTES DE 13 PAÍSES COZINHAM EM COIMBRA

Poucos dias antes da Revoluçãode Abril de 1974 saiu das Caldasda Rainha uma coluna militar com ointuito de depor o Governo em Lisboa.Os revoltosos depressa viram quetinham fracassado e regressaram aoquartel, onde seriam detidos(como a imagem documenta). Aindahoje se discute o que foi, de facto, essemovimento – sobre o qual publicamosreportagem nesta edição.Para tentar esclarecer o mistério, vaidecorrer em Coimbra um debate, ondeparticipam alguns dos protagonistasdo golpe militar.

ABRIL EM PORTUGAL

A ousadiados estudantesde Coimbra

PÁG. 4 a 7

PÁG. 10

2 DE 04 A 17 DE ABRIL DE 2007

No sentido de proporcionar mais al-guns benefícios aos assinantes destejornal, o “Centro” estabeleceu umacordo com a livraria on line“livrosnet.com”.

Para além do desconto de 10%, oassinante do “Centro” pode ainda fa-zer a encomenda dos livros de formamuito cómoda, sem sair de casa, enada terá a pagar de custos de enviodos livros encomendados.

Os livros são sempre uma excelenteoferta para cada um de nós ou para ofertaa gente de todas as idades, pelo que estedesconto que proporcionamos aos assi-

nantes do “Centro” assume grande rele-vância.

Mas este desconto não se cinge aos li-vros, antes abrange todos os produtos con-géneres que estão à disposição na livrariaon line “livrosnet.com”.

Aproveite esta oportunidade, se já é as-sinante do “Centro”.

Caso ainda não seja, preencha o bole-tim que publicamos na página seguinte eenvie-o para a morada que se indica.

Se não quiser ter esse trabalho, bastaráligar para o 239 854 150 para fazer a suaassinatura, ou solicitá-la através do [email protected].

Depois, para encomendar os seus livros,bastará ir ao site www.livrosnet.com e fa-zer o seu registo e a respectiva encomen-da, que lhe será entregue directamente.

São apenas 20 euros por uma assina-tura anual – uma importância que certa-mente recuperará logo na primeira en-comenda de livros. E, para além disso,como ao lado se indica, receberá ainda,de forma automática e completamentegratuita, uma valiosa obra de arte de ZéPenicheiro – trabalho original simboli-zando os seis distritos da Região Centro,especialmente concebido para este jor-nal pelo consagrado artista.

Adquira livros com 10% de descontoDirector: Jorge Castilho

(Carteira Profissional n.º 99)

Propriedade: Audimprensa

Nif: 501 863 109

Sócios: Jorge Castilho e Irene Castilho

Inscrito na DGCS sob o n.º 120 930

Composição e montagem: Audimprensa

Rua da Sofia, 95, 3.º - 3000-390 Coimbra

Telefone: 239 854 150 - Fax: 239 854 154

e-mail: [email protected]

Impressão: CIC - CORAZE

Oliveira de Azeméis

Depósito legal n.º 250930/06

Tiragem: 10.000 exemplares

1 — De acordo com o estipu-

lado pela Lei de Imprensa, o

“CENTRO” define-se como uma

publicação periódica informativa

que privilegiará a informação geral,

sem abdicar da informação espe-

cializada nas áreas em que tal se

justifique — e salvaguardando sem-

pre um cariz não doutrinário.

2 — O “CENTRO” obedece-

rá a critérios de verdadeiro plura-

lismo, completa insenção e total

apartidarismo, mantendo intransi-

gente independência relativamente a

poderes ou grupos políticos, eco-

nómicos, religiosos ou quaisquer

outros.

3 — O “CENTRO” pugnará

pela dignificação da profissão, obe-

decendo aos princípios éticos e

deontológicos que a regem e com-

prometendo-se a respeitar, sob a

responsabilidade do seu Director, a

legislação que lhe é aplicável.

4 — O “CENTRO” tem como

objectivo fundamental satisfazer o

direito dos cidadãos a serem infor-

mados, procurando que o conteú-

do de cada uma das suas edições

se paute pela honestidade, pelo

equilíbrio e pela possível objecti-

vidade.

5 — O “CENTRO” procurará

também não descurar a função for-

mativa que à Imprensa compete,

propondo-se veicular a cultura nas

suas diversas formas e promover o

debate de ideias que considera sa-

lutar para o enriquecimento da

opinião pública.

EDITORIAL

Jorge Castilho

[email protected]

Estatuto

Editorial

No próximo dia 12 completa-se um anosobre a publicação do primeiro número dojornal “Centro” nesta renovada série.

Atendendo à periodicidade quinzenalque adoptámos, decidimos assinalar esteprimeiro aniversário nas duas edições deAbril – uma vez que o presente númerofica a oito dias de distância e o próximosó sairá seis dias depois da data festiva(a 18 de Abril).

Refiro que a data de 12 de Abril é fes-tiva porque, nos tempos que correm, con-seguir que um jornal com as caracterís-ticas deste tenha logrado vencer os pri-meiros 12 meses de existência, quan-do, muito vulnerável como todos os nas-cituros, dá os passos iniciais, é motivopara congratulação e celebração.

É verdade que as dificuldades têm sidomuitas, que o esforço necessário parahonrar este compromisso com os Leito-res atinge, dia após dia, níveis muito des-gastantes, por razões várias.

Logo à partida a conjuntura do País,que leva a restrições de toda a ordem,com as autarquias, os serviços públicose as empresas privadas a cortarem dras-ticamente nos investimentos publicitá-rios – que são a principal fonte de re-ceita dos jornais e dos outros meios decomunicação social – ao mesmo tempoque os custos de produção do jornal nãocessam de aumentar.

Depois, a circunstância de um novojornal ter de enfrentar um mercado ondea concorrência é muito intensa e aguer-rida, disputando as fatias de um bolo quetem vindo a diminuir – o que, infeliz-mente, leva a que não raro haja quemutilize métodos pouco consentâneos como que as regras do bom senso (para jánão falar de outras...) aconselhariam.

Como nos orgulhamos de não recor-rer a esses métodos, de não fazer ce-dências ao que entendemos incorrecto,

somos muitas vezes penalizados, até porquem menos devia fazê-lo – ou seja, pelosresponsáveis de algumas entidades que, porutilizarem dinheiros públicos, tinham obri-gação de se pautar por princípios de equi-dade, o que não acontece, preferindo an-tes beneficiar quem é mais permeável aosseus interesses e aos seus recados...

Por isso, repito (e perdoem-me o queparece imodéstia, mas é apenas orgulhodo dever cumprido) acho que temos ra-zões para festejar – eu e todos quantoscontribuem para que o “Centro” nãofalte a este encontro quinzenal com osseus Leitores.

É que estamos numa altura em quehá prestigiados jornais nacionais a fechar(veja-se, por exemplo, o caso do “Inde-pendente”), em que outros se transfor-maram em meras “máquinas de fazer di-nheiro”, onde a busca do lucro conduz alógicas que se preocupam muito maiscom o volume de vendas do que com aqualidade dos conteúdos.

Daí que se assista hoje a uma compe-tição quase “futebolística”em alguns sec-tores da comunicação social portugue-sa, incluindo aqueles que se arrogam aauto-denominação “de referência” –coisa que sempre me pareceu algo pre-sunçosa e, pior que isso, muitas vezesinjustificada, pois para se ser “de refe-rência” deveria haver o cumprimento ri-goroso de algumas regras elementares,começando logo pelo dever de bem in-formar, correspondendo ao direito quetem o público de ser bem informado.

E não se pense que são os jornais quemmais “peca” nesse domínio. Pelo con-trário, julgo que as televisões (incluindoaquela que todos nós suportamos paraque desempenhe um alegado “serviçopúblico”) constituem, de cada vez mais(e com raras e muito honrosas excep-ções de alguns programas de qualidade),veículos de intoxicação popular, onde seprivilegia o facilitismo, o escândalo, ondeas telenovelas roubam espaço à cultura

(como se esta esteja condenada a sercoisa que apenas agrada a meia dúziade intelectuais, na opinião de alguns “ilu-minados” que entendem que o povo éestúpido e por isso só gosta de pontapéna bola, de histórias de faca e alguidar,de sangue a escorrer dos ecrãs, de con-cursos mais ou menos imbecis, da ex-ploração das desgraças, e por aí fora!...).

Mas basta de maledicência.O que quero hoje deixar aqui sublinha-

do é que, apesar das dificuldades, o“Centro” tem honrado os compromissosque aqui foram assumidos em 12 de Abrilde 2006 – e que estão plasmados no Esta-tuto Editorial que ao lado se reproduz, semque lhe tenhamos alterado uma vírgula.

O mesmo Estatuto, aliás, que norteou,durante cerca de duas décadas, o sema-nário “Jornal de Coimbra” (que mehonro de ter fundado e dirigido) de que o“Centro” se assumiu, desde o primeiromomento, como sucessor.

Isso mesmo tem sido reconhecido pelocrescente número de leitores que temos vin-do a conquistar, muitos dos quais nos fazemchegar estimulantes mensagens de elogio.

A verdade é que necessitamos de quetambém o tecido empresarial e as enti-dades públicas e privadas da RegiãoCentro se lembrem mais de que existi-mos, pois só assim poderemos não sósobreviver, mas sobretudo melhorar aqualidade dos nossos conteúdos.

A todos os nossos Leitores, Assinan-tes e Anunciantes, uma mensagem deagradecimento.

Aos nossos Colaboradores, uma pa-lavra muito sincera: obrigado!

Primeiro aniversário

Luís de Miranda Rocha, nosso Co-laborador desde o início do “Jornal de

Coimbra” e do “Centro”, faleceu su-bitamente na passada semana.

A ele nos referimos na página 19.Lembrando-o aqui, com emoção,

apresentamos sentidas condolências asua Família.

3DE 04 A 17 DE ABRIL DE 2007 COIMBRA

O jornal “Centro” tem uma alician-

te proposta para si.

De facto, basta subscrever uma as-

sinatura anual, por apenas 20 euros,

para automaticamente ganhar uma va-

liosa obra de arte.

Trata-se de um belíssimo trabalho

da autoria de Zé Penicheiro, expressa-

mente concebido para o jornal “Cen-

tro”, com o cunho bem característico

deste artista plástico – um dos mais

prestigiados pintores portugueses, com

reconhecimento mesmo a nível inter-

nacional, estando representado em co-

lecções espalhadas por vários pontos

do Mundo.

Neste trabalho, Zé Penicheiro, com

o seu traço peculiar e a inconfundível

utilização de uma invulgar paleta de

cores, criou uma obra que alia grande

qualidade artística a um profundo sim-

bolismo.

De facto, o artista, para representar

a Região Centro, concebeu uma flor,

composta pelos seis distritos que inte-

gram esta zona do País: Aveiro, Caste-

lo Branco, Coimbra, Guarda, Leiria e

Viseu.

Cada um destes distritos é represen-

tado por um elemento (remetendo para

respectivo património histórico, arqui-

tectónico ou natural).

A flor, assim composta desta forma

tão original, está a desabrochar, sim-

bolizando o crescente desenvolvimen-

to desta Região Centro de Portugal, tão

rica de potencialidades, de História, de

Cultura, de património arquitectónico, de

deslumbrantes paisagens (desde as prai-

as magníficas até às serras verdejantes)

e, ainda, de gente hospitaleira e traba-

lhadora.

Não perca, pois, a oportunidade de

receber já, GRATUITAMENTE, esta

magnífica obra de arte, que está repro-

duzida na primeira página, mas que tem

dimensões bem maiores do que aquelas

que ali apresenta (mais exactamente 50

cm x 34 cm).

Para além desta oferta, passará a rece-

ber directamente em sua casa (ou no local

que nos indicar), o jornal “Centro”, que o

manterá sempre bem informado sobre o

que de mais importante vai acontecendo

nesta Região, no País e no Mundo.

Tudo isto, voltamos a sublinhá-lo, por

APENAS 20 EUROS!

Não perca esta campanha promocio-

nal, e ASSINE JÁ o “Centro”.

Para tanto, basta cortar e preencher o

cupão que abaixo publicamos, e enviá-

lo, acompanhado do valor de 20 euros

(de preferência em cheque passado em

nome de AUDIMPRENSA), para a se-

guinte morada:

Jornal “Centro”

Rua da Sofia. 95 - 3.º

3000–390 COIMBRA

Poderá também dirigir-nos o seu pe-

dido de assinatura através de:

� telefone 239 854 156

� fax 239 854 154

� ou para o seguinte endereço

de e-mail:

[email protected]

Para além da obra de arte que desde

já lhe oferecemos, estamos a preparar

muitas outras regalias para os nossos

assinantes, pelo que os 20 euros da as-

sinatura serão um excelente investi-

mento.

O seu apoio é imprescindível para

que o “Centro” cresça e se desenvol-

va, dando voz a esta Região.

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EXCELENTE OPORTUNIDADE POR APENAS 20 EUROS

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Decorreu ontem (terça-feira, dia 3 de

Abril), na Quinta das Lágrimas, uma pa-

lestra de apresentação da “ViniPortugal”,

proferida por Vasco d’Avillez, Presiden-

te daquela Associação.

A “ViniPortugal – Associação Inter-

profissional para a Promoção dos Vinhos

Portugueses” tem como objectivo a pro-

moção dos vinhos portugueses nos mer-

cados nacional e internacional.

Esta sessão foi promovida pela ACIC

– Associação Comercial e Industrial de

Coimbra, no âmbito das iniciativas que

vai continuar a desenvolver em prol da

promoção e divulgação dos excelentes

vinhos portugueses.

Assim, foi anunciado que vai realizar-

se já no próximo mês de Maio, entre os

dias 17 e 20, uma “Mostra de Vinhos

VINIPORTUGAL APRESENTADAONTEM NA QUINTA DAS LÁGRIMAS

ACIC promoveMostra e Concursode vinhos em Coimbra

ACIC/Cidade de Coimbra, que decorre-

rá na Igreja do Convento de S. Francis-

co. Esta Mostra incluirá um Curso de

Iniciação à Prova de Vinhos.

Entretanto, está já marcado para os

dias 19 a 21 do próximo mês de Junho, o

IX Concurso de Vinhos ACIC/Cidade de

Coimbra.

Aberto a todas as Regiões Vinícolas

do País, espera-se que este concurso

venha a alcançar grande êxito, uma vez,

segundo os seus organizadores, terá um

programa aliciante.

Os interessados em mais informa-

ções poderão contactar a ACIC – De-

partamento de Estudos e Projectos e

Apoio Empresarial, através do telefo-

ne 239 852 480 ou do e-mail

[email protected]

CDS-PP CONGRATULA-SE

Co-incineração suspensaem Souselas

O líder do CDS-PP saudou ontem

(terça-feira) o indeferimento do re-

curso do Ministério do Ambiente re-

lativo à co-incineração em Souselas,

sublinhando que “era altamente ne-

gativo e ilegal” que pudesse haver

co-incineração sem novo estudo de

impacto ambiental.

O Tribunal Central Administrati-

vo do Norte indeferiu segunda-feira

o recurso do Ministério do Ambien-

te, mantendo a decisão do Tribunal

de Coimbra que impede que a quei-

ma de resíduos avance em Souselas

sem novo estudo de impacte ambi-

ental.

“Como dizemos há meses, o estu-

do já feito foi realizado num contex-

to completamente diferente, com

premissas diferentes e legislação di-

ferente”, sublinhou o líder do CDS-

PP, José Ribeiro e Castro, em decla-

rações à Lusa.

Por essa razão, acrescentou, “es-

tes tropeções judiciais do Governo são

excelentes notícias do ponto de vista

político e ambiental”.

“Quer quanto a Souselas, quer

quanto ao Outão, reafirmamos a nos-

sa oposição a esta teimosia do Go-

verno de avançar à pressa para a co-

incineração sem aguardar que esteja

em pleno funcionamento a solução

dos CIRVER (centros integrados de

tratamentos de resíduos)”, frisou.

A decisão do Tribunal Central Ad-

ministrativo do Norte (TCAN) surge

na sequência do recurso interposto

pelo Ministério do Ambiente para ten-

tar desbloquear o processo da co-in-

cineração depois de, em Novembro

passado, o Tribunal Administrativo e

Fiscal de Coimbra (TAFC) ter deci-

dido que esta só poderia avançar de-

pois de realizada uma avaliação de

impacte ambiental.

.

4 DE 04 A 17 DE ABRIL DE 2007REPORTAGEM

A 17 de Abril de 1969 era inaugurado

o edifício do Departamento de Matemá-

tica da Universidade de Coimbra.

O então Presidente da AAC, Alberto

Martins (actual líder da bancada socia-

lista na Assembleia da República), ape-

sar de ver rejeitado, dias antes, o pedido

ao Reitor para intervir na sessão, ousou

levantar-se e pedir a palavra.

O Presidente da República, Américo

Tomás, levantou-se, perplexo com a ou-

sadia do Presidente da AAC, e depois

de sepulcral silêncio que durou largos

segundos, balbuciou: “Está bem. Mas

antes fala o sr. Ministro…”.

Mal o Ministro acabou o discurso, o

Chefe do Estado abandonou a sala, fu-

gindo ao que prometera, e sendo por isso

vaiado pelos estudantes – coisa nunca

antes vista!...

Os estudantes da UC fizeram a sua

CRISE ACADÉMICA DE 1969

Movimento do “17 de Abril” foi há 38 anos e

própria cerimónia inaugural, manifestan-

do a discordância com a política do Go-

verno de então (que tinha como Ministro

da Educação o historiador, e posterior-

mente apresentador de televisão, José

Hermano Saraiva).

Nesse mesmo dia a PIDE (polícia

política) prendia os dirigentes da AAC.

Em sinal de protesto contra as medi-

das repressivas do regime, a Academia

de Coimbra (então composta por cerca

de 8 mil alunos) decidiu, em Assembleia

Magna em que participaram mais de 5

mil estudantes, fazer greve geral aos

exames.

O Governo tentou boicotar essa gre-

ve, e no dia 1 de Junho de 1969 (data

do início dos exames nas diversas Fa-

culdades) a cidade de Coimbra foi in-

vadida por grandes contingentes de for-

ças especiais da GNR (em viaturas mi-

litares e a cavalo) e pela “Polícia de

Choque” da PSP, que cercaram toda a

zona da Universidade com dois objecti-

vos: destroçar, pela força, os piquetes

de greve feitos pelos estudantes; e es-

coltar os alunos que decidiram “furar”

a greve geral (uma percentagem muito

reduzida).

Assim se agudizou o processo que

ficou conhecido como “Crise Acadé-

mica de 69”, com o movimento estu-

dantil de Coimbra a assumir tamanhas

proporções que foi impossível o regi-

me abafar o que estava a passar-se,

pese embora as violentas cargas poli-

ciais que se repetiram contra os estu-

dantes – e de que a própria popula-

ção não raro foi também vítima. A

censura prévia impedia as notícias nos

órgãos de comunicação social nacio-

nais, que tentavam dar conta da situ-

ação nas entrelinhas… Mas as rádios

e os jornais estrangeiros deram gran-

de destaque a esse movimento que

acabaria por forçar Marcelo Caetano

a substituir o Ministro da Educação e

a permitir reformas no sector.

Apesar disso, os líderes estudantis,

depois da prisão, foram forçados a in-

terromper os seus cursos e a ingres-

sar nas Forças Armadas, e espalha-

dos por vários quartéis do País. Aí

encetaram um trabalho de sensibiliza-

ção e politização de muitos dos mili-

tares do quadro, pelo que, desta for-

ma, tiveram importante contributo para

o Movimento das Forças Armadas que

viria a depor o regime cinco anos mais

tarde, a 25 de Abril de 1974, através

de um golpe militar que devolveria a

Liberdade ao País, que de então para

cá vive em Democracia.

Alberto Martins (de pé, em primeiro plano), ousa levantar-se

e pedir para falar na cerimónia, em nome dos estudantes de Coimbra,

sabendo os riscos que lhe podia custar (e custou!...) o atrevimento

Tomás levanta-se e depois de longos momentos de hesitação diz que sim, mas só

depois de ter usado da palavra o Ministro. Ao lado do Presidente está o então

Ministro da Educação, José Hermano Saraiva

Tomás abandona a sala, com os estudantes a chamarem-lhe mentiroso, por não ter

cumprido a promessa de deixar falae o Presidente da AACAlberto Martins dicursa após o Presidente da República ter abandonado a sala,

e alude às reivindicações dos estudantes

5DE 04 A 17 DE ABRIL DE 2007 REPORTAGEM

viria a contribuir para a Revolução de 1974

Uma exposição sobre a crise académi-

ca de 1969, a inaugurar no próximo dia 17,

é um dos pontos altos deste mês do pro-

grama das comemorações dos 120 anos

da Associação Académica de Coimbra

(AAC), que decorre até Novembro.

A exposição estará patente no Museu

Académico e mostrará, por exemplo,

panfletos originais distribuídos durante

aquela crise estudantil, e alguns dos apa-

relhos usados na sua impressão.

“Queremos revitalizar este espaço [o

Museu Académico] e dar a conhecer aos

AAC comemora 120 anosestudantes a história da Academia”, dis-

se hoje à agência Lusa o presidente da

assembleia magna da AAC, Joel Vascon-

celos, responsável pelas comemorações.

Iniciados a 24 de Março, Dia do Estu-

dante, os festejos dos 120 anos da AAC

anunciam ainda, para 17 de Abril, o lan-

çamento de uma revista comemorativa

desta data histórica, que marcou o início

da crise académica de 1969, e a apre-

sentação dos cerca de 120 nomes que

integram a comissão de honra das co-

memorações.

Para o dia em que se comemora o 33º

aniversário da “Revolução dos Cravos” es-

tão previstas, entre outras acções, um de-

bate sobre “A Academia de Coimbra e o 25

de Abril” e um sarau de poemas e canções

na Biblioteca Joanina da Universidade.

Entre 22 e 26 de Maio, os estudantes

de Coimbra evocam o centenário da pri-

meira grande greve académica (em

1907), com exposições, colóquios, deba-

tes, lançamento de livros.

A 23 de Maio, um “Canto Livre” no Pátio

das Escolas homenageia Zeca Afonso na

passagem dos 20 anos da sua morte.

O programa das comemorações dos

120 anos da AAC prolonga-se até 03 de

Novembro, dia do aniversário, com uma

gala comemorativa, realizando-se, até

esta data, várias outras iniciativas, entre

as quais se conta, nomeadamente, a apre-

sentação, a 20 de Outubro, de uma pu-

blicação sobre a luta contra as propinas.

“Queremos comemorar a história da

AAC, mas sempre com o intuito de abrir

novos caminhos para a AAC e de discutir

o seu futuro”, sublinhou Joel Vasconcelos.

Multidão de estudantes manifesta-se à porta do novo Departamento de Matemática Cartazes exigindo a democratização do ensino, enquanto a tropa desfila

Assembleia Magna nos jardins da AAC decreta greve geral aos examesManifestação estudantil desce as Escadas Monumentais a 17 de Abril de 1969

6 DE 04 A 17 DE ABRIL DE 2007REPORTAGEM

Em 25 de Novembro de 1920,

um grupo de estudantes

de Coimbra tomou de assalto, em

plena Alta da cidade, a Casa dos

Lentes, fazendo dela a sede da

Associação Académica.

Tal façanha, que ficou conhecida

como Tomada da Bastilha, é todos

os anos comemorada, nessa data e

no Casino do Estoril, pela

Associação dos Antigos

Estudantes de Coimbra

em Lisboa.

Acontece que em 4 de Abril de

1954, faz agora 53 anos, outro

grupo de estudantes, entendendo

serem acanhadas as instalações

da sua sede tomou, igualmente de

assalto, na rua da Ilha,

as instalações do Instituto de

Coimbra, com a intenção de forçar

a construção duma sede digna

para a Academia de Coimbra.

Em 2004, durante as comemorações

da Tomada da Bastilha, no Casino do

Estoril, lembrando que 50 anos tinham

passado sobre este último aconteci-

mento, a 2.a Tomada da Bastilha, tive-

mos oportunidade de, na sequência

dumas palavras, em prosa rimada, que

declamámos a propósito duma injusta

homenagem que nos prestaram, dizer

o seguinte:

Dado o Evento que estamos a come-

morar,

Que esta nobre Associação

Nunca esquece

COMPLETAM-SE HOJE 53 ANOS

A segunda “Tomada da Bastilha” deu origem à nova O mês de Abril parece ser propício a

ousados actos, que conduzem a grandes

transformações.

Nas páginas anteriores damos conta

do que sucedeu em Coimbra a 17 de

Abril de 1969, iniciando a chamada “Crise

Académica” - que, como se refere, viria

a ter influência indirecta na Revolução

de 25 de Abril de 1974.

A verdade é que muitos anos an-

tes Coimbra fora cenário de uma ou-

tra arrojada acção estudantil, por pou-

cos conhecida, mas que teria uma

enorme importância, já que ela este-

ve na origem da construção da nova

sede da Associaçã Académica de

Coimbra, numa série de peripécias

que chegaram mesmo a incluir a in-

tervenção de Salazar.

Foi precisamente no dia 4 de Abril

de 1954 (ou seja, exactamente há 53

anos), que se desenrolou o que ficou

conhecido como a “Segunda Tomada

da Bastilha”.

Um movimento que hoje poucos co-

nhecem, razão pela qual o “Centro” foi

recolher depoimentos de dois dos seus

protagonistas, os irmãos Júlio Serra e

Silva e Polybio Serra e Silva.

Ambos estiveram na origem desta ac-

ção complexa, juntamente com o então

Presidente da AAC, Fernando Mendes

Silva (que mais tarde viria a ser Presi-

dente da Câmara Municipal de Coimbra

e também da Académica-OAF, tendo

tido morte trágica num acidente de via-

ção quando se dirigia para um jogo da

sua Briosa).

Mas comecemos por ler o saboroso

relato de Polybio Serra e Silva (hoje Pro-

fessor jubilado da Faculdade de Medici-

na de Coimbra e Presidente da Delega-

ção do Centro da Fundação Portuguesa

de Cardiologia):

A TOMADA DA BASTILHAE que bem merece

Ser recordado

Pelo seu alto significado,

Por ter dado

Guarida

A uma Academia desvalida,

Quero então também recordar

Ou informar

Que, na Rua da Ilha,

Com Moura Guedes

Mendes Silva e meu irmão

Fui cabecilha

Duma idêntica” Revolução”

A 2ª Tomada da Bastilha

Com um exército de Artistas:

Os Antigos, Tunos e Orfeonistas.

Foi em quatro

Do quatro

De cinquenta e quatro!

Dez lustros são passados

E de olhos voltados

Para o passado

Acho que valeu a pena, porque deu

resultado

Pois foi também o embrião

Depois de grande polémica

Da nova sede da Associação

Académica.

Parece-me, pois, merecido

Que meio século volvido

Este facto esquecido

Da nossa memória

Seja recordado

E comemorado

Com euforia

Passando à História

Da nossa Academia.

Polybio Serra e Silva

Polybio Serra e Silva depois do “rasganço”, no dia em que concluiu a licenciatura

pela Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra

7DE 04 A 17 DE ABRIL DE 2007 REPORTAGEM

sede da AAC e até teve a intervenção de Salazar

A Direcção da Tuna Académica em 1949/50, vendo-se Polybio Serra e Silva

(o primeiro da esquerda) e Viriato Namora (ao centro)

Júlio Serra e Silva foi um dos autores do “plano conspirativo” que viria a ter

como desfecho a construção da sede da AAC

Uma imagem histórica, tirada à porta do Palácio dos Grilos (onde então funcionava, de forma muito precária, a sede da AAC) e

onde se vêem alguns dos protagonistas da segunda “Tomada da Bastilha”. Na 1.ª fila, da direira para a esquerda: Joaquim

Teixeira Santos, Justino Moura Guedes, (...), Júlio Serra e Silva, (...), o Reitor Maximino Correia, eng. Francisco Alves Ferreira,

Mateus, José Leitão e Arnaldo Caldas (as reticências representam aqueles cujos nomes não conseguimos apurar). Na segunda

fila: António Costa Lobo, Manuel Costa Lobo, Fernando Mendes Silva (que era então o Presidente da AAC), Gralheiro, Polybio Serra

e Silva, Farnando Oliveira e Manuel Horta.

Júlio Serra e Silva fez um detalhado

historial do movimento que acabaria por

ter como desfecho a construção da nova

sede da AAC (o excelente edifício onde

ainda hoje funciona a Associação e o

TAGV).

No essencial, foi simulada uma segun-

da “Tomada da Bastilha”, em 4 de Abril,

por um grupo de estudantes de que fazia

parte o seu irmão Polybio.

A polícia interveio, como se esperava,

e a Direcção da AAC (tal como fora

previamente acordado) surgiu a apresen-

tar-se como intermediária entre os “re-

voltosos” e o Reitor Maximino Correia,

que exigia a retirada dos estudantes.

O estratagema acabaria por resultar,

e embora sem o apoio do Reitor, os estu-

dantes conseguiram ir dando passos po-

sitivos, com imaginação e irreverência.

Segundo relata Júlio Serra e Silva, che-

garam mesmo a ser recebidos por Sala-

zar, em Lisboa, que terá dado instruções

ao então Ministro das Obras Públicas,

Arantes e Oliveira, para que as obras do

novo edifício avançassem

E assim surgiu, após várias peripéci-

as, o actual edifício-sede da AAC.

8 DE 04 A 17 DE ABRIL DE 2007OPINIÃO

O TRIUNFO PÓSTUMODOS VENCIDOS

Não se devia brincar com coisas sé-rias. Mas se com elas se não brincasse,morreríamos de pasmo. E numa socie-dade de espectáculo absoluto, de purodesemprego, não era preciso ser nenhu-ma Cassandra em pânico para saber queo mero concurso mediático sobre os nos-sos “grandes homens”, no país que so-mos, daria este previsível resultado.

Previsível e lógico. Durante mais demeio século, com excepção de uma mi-noria, o nosso país viveu-se política, ide-ológica e, sobretudo, culturalmente, di-vidido entre duas opções, não só signifi-cativas no plano interior, mas de âmbitoquase universal: a de uma sociedadeburguesa particularmente conservadora,pelo seu atraso histórico em relação aosparadigmas anglo-saxónicos e o de umaoposição ultraminoritária, mas militante,coerente e corajosa, alinhada e susten-tada de corpo e alma pelo exemplo lon-gínquo da União Soviética. (…)

Eduardo Lourenço (ensaísta)Visão 29/MARÇO/07

CONTRASTES

Nesta semana, o País agitou-se com oresultado de um concurso televisivo des-tinado pomposamente a escolher “o mai-or português de sempre”... A “escolha”recaiu em Oliveira Salazar, depois de al-gumas semanas em que sabiamente foialimentada a disputa com Álvaro Cunhal.

Nas sociedades contemporâneas le-mos e treslemos sondagens, resultadosde focus groups, inquéritos de opiniãoe tudo o mais quanto possa fazer perce-ber o que pensamos como colectivo apartir de amostras. Diz-nos a experiên-cia que nestes exercícios mais do queresultados exactos obtemos quanto muitotendências e mesmo assim num dadomomento, naquele “instante fotográfico”que reproduz o estado de espírito dosinquiridos ao responderem e que só muitodificilmente pode ser entendido como

tendo condições para perdurar ao longodo tempo.

A “arte” da amostra escolhida e damaneira como a questão é colocada já foisobejamente estudada e até experimen-talmente já se provou como o mesmo uni-verso de pessoas pode responder de for-ma contraditória à mesma questão, desdeque formulada de maneira diferente.

A “ciência das sondagens” tem, aliás,o bom senso de não reivindicar para siprópria a natureza da exactidão... (…)

António Vitorino (jurista)DN 30/MARÇO/07

SALAZAR E CUNHAL

A vitória de Salazar no programa da RTP“Os grandes portugueses” tem provocadoalguma incomodidade. Por si só, sem gran-de fundamento, convém que se diga.

Em primeiro lugar, porque não resultade uma escolha do povo português; ébom termos presente que apenas “vota-ram” dois por cento dos portugueses.Trata-se, portanto, de uma amostra ale-atória e não representativa do sentir doscidadãos.

Em segundo lugar, porque é a vitóriade um fantasma, que ficará a dever-se,sobretudo, ao empenhamento de um in-significante “clube de fãs”, com reduzi-da influência na marcha dos destinos dasociedade portuguesa. Isso mesmo éconfirmado pelo estudo da Eurosonda-gem, feito para a RTP e que mostra duascoisas que a generalidade dos portugue-ses não participaram no concurso; quese o tivessem feito, Salazar não passariados 6,6 por cento.

Exactamente o mesmo se poderá di-zer do segundo lugar obtido por ÁlvaroCunhal. (…)

Mário Contumélias

(docente universitário)JN 30/MARÇO/07

SALAZAR:O PAPA-CONCURSOS

(…) O programa de Maria Elisa, tãofustigado pela crítica, teve, pelo menos,um grande mérito: conseguiu pôr um vas-to número de velhinhos a aprender o queé uma SMS. Neste momento, há gentemais instruída por causa do concurso.Serviço público, para mim, é isto.

Mas a verdade é que ninguém ficoucontente com os resultados do concur-so. Os comunistas, como é evidente, nãogostaram que Salazar tivesse vencido; osfascistas desconfiam da credibilidade deum concurso que coloca Álvaro Cunhal

em segundo lugar. Duvido que o próprioSalazar tivesse apreciado o concurso.Não sei se iria gostar de saber que hou-ve milhares de pessoas a gastar 60 cên-timos numa chamada telefónica. (…)

Ricardo Araújo Pereira (humorista)Visão 29/MARÇO/07

A OTA E O IRAQUE

(…) De súbito, todos querem trans-mitir a ideia de que nunca ninguém de-fendeu a Ota. Nem Durão Barroso, nemSantana Lopes, nem Marques Mendes,nem Paulo Portas e respectivos partidosem governos anteriores pensaram nisso.Só Sócrates e Mário Lino e o seu Go-verno é que sonharam fazer da Ota umprojecto nacional. Lendo os jornais deontem, chega-se à conclusão de que, afi-nal, cada partido tem o seu aeroportoOta, Rio Frio, Montijo, Poceirão e Faias.É óbvio que o actual Governo deve deci-dir fundamentalmente a partir de razõestécnicas. O que parece é que já serámuito difícil separar os argumentos téc-nicos dos políticos e, sobretudo, dos par-tidários. E, assim sendo, não haverá de-sígnio, mas talvez nova Alcácer Quibir.

É impressionante como os políticos seesquecem tão depressa daquilo que opúblico não se esquece. Aliás, esta é amesma sensação que, também agora, setem a propósito da invasão do Iraque.Ninguém quis. Todos correm a lavar asmãos do sangue imenso que espirra to-dos os dias nas ruas daquela indefesapopulação. (…)

Paquete de Oliveira (sociólogo)JN 29/MARÇO/07

SOBRE A OTA

Há, finalmente, uma discussão públi-ca sobre a Ota! Bom seria que ela nãofosse reduzida a um combate dominadopor lógicas partidárias que, para além doobjectivo já parcialmente atingido de serprova de vida para a oposição, viesse acondicionar, por essa razão, as conclu-sões. Neste sentido, saúdo a posiçãoequilibrada assumida pelo Primeiro-Mi-nistro no último debate parlamentar aoreconhecer a existência de “dúvidas le-gítimas” sobre o projecto e considero quese deve valorizar o contributo do Presi-dente da República num dossier para cujaapreciação possui, para além de legiti-midade constitucional, especial experiên-cia e capacidade de análise. (…)

Elias Ferreira (eurodeputada)JN 25/MARÇO/07

AGENDA DO DESESPERO

Alguns dos temas em debate no actualmomento político em Portugal fazem partede uma espécie de agenda de desespero.Há uma clara ansiedade para quem, sen-do oposição, não apresenta soluções degovernação construtivas. Mas este fenó-meno também representa, no arco da go-vernação, uma inquietante ausência depolíticas públicas alternativas.

Só assim se pode perceber que se po-nha agora em causa a opção do Governopela construção do novo aeroporto de in-ternacional na Ota. Depois de o PSD ede o PS terem assumido a sua constru-ção como uma prioridade, diversas van-tagens reais têm sido apresentadas paraa construção desta infra-estrutura. O fu-turo aeroporto da Ota terá capacidadepara receber os aviões A380, enquanto oactual aeroporto de Lisboa não tem; acapacidade da Ota será de aproximada-mente 70 movimentos de aeronaves, con-tra os 34 da Portela; e a futura linha deAlta Velocidade (conhecida como TGV)vai passar pela Ota, ligando-a à Capitalem apenas 17 minutos (e também ao Por-to). Mais todos os anos a ANA (Aero-portos de Portugal, SA, empresa que tu-tela o nosso espaço aéreo) recusa maisde 2000 (dois mil) voos que pretendematerrar em Lisboa, por razões de limita-ção e de congestionamento do Aeroportoda Portela. (…)

Paulo Pereira de Almeida

(professor do ISCTE)JN 21/MAR/ÇO/07

NOVOS DESAFIOSDA SEGURANÇA

Obnubilada pela polémica da Ota (quetambém tem um contorno militar), dosimpostos, do futebol e de ninharias, adefesa e segurança nacionais possuemsérios problemas emergentes, que nãopodem ignorar-se.

Se quiséssemos uma lista, inscrevería-mos na mesma meios, funções, estruturas,problemas laborais e de disciplina, justiçaaplicável, relações entre polícia e seguran-ça militarizada, novos modelos “holísticos”de protecção da comunidade. (…)

Nuno Rogeiro (comentador político)JN 23/MARÇO/07

SAP PERVERTERAMCUIDADOS PRIMÁRIOS

O Serviço de Atendimento Permanen-te (SAP) nunca foi, nem poderia ser, umdispositivo de uma rede de urgências,

9DE 04 A 17 DE ABRIL DE 2007 OPINIÃO

apesar de muitos, erroneamente, assim odesignarem.

Este tipo de serviços nasceu ao longodos anos oitenta, com o objectivo de as-segurar acesso a uma consulta de cuida-dos primários para quem não a podia ob-ter durante o dia, por falta de vaga nomédico de família. Acessoriamente, per-mitia o encaminhamento para um serviçode urgência.

Os 79 SAP a funcionarem ainda emregime de 24 horas diárias estão dotadosde apenas um médico e um enfermeiro,sem formação especializada para situa-ções urgentes ou emergentes, e um fun-cionário administrativo.

Sem meios de diagnóstico químico ouradiológico e desligados da rede de trans-porte de doentes, limitam-se a realizar, forade horas, as consultas que deveriam serprestadas pelo médico de família no ho-rário regular. Durante a noite, conferemuma ilusão de segurança que tem sidocausa de muitos contratempos. (…)

Correia de Campos

(Ministro da Saúde)JN 25/MARÇO/07

DE COMO SE VAI PERDENDOA CIDADANIA

É confrangedora a situação de deter-minadas actividades subterrâneas emque nós portugueses provavelmente nosvamos tornando campeões. A divulgaçãoatravés dos media dos resultados do di-agnóstico que a Entidade Reguladora daSaúde (ERS) realizou sobre as unidadesprestadoras de serviço de saúde em Por-tugal deveria estarrecer o país. Diz orelatório da ERS que, em cada cincodessas unidades, quatro não estão licen-ciadas. Operam sem licença. Em termosbrutais, dever-se-ia dizer fazem parte deactividades subterrâneas, clandestinas.Funcionam sem licenciamento ou tãopouco sem qualquer controlo de fiscali-zação técnica e regulamentar.

Lê-se e ouve-se e não se deveriaacreditar. Nestas coisas, isso sim, o paísé de brandos costumes. Por motivos deconsequências sociais menos graves,fazem-se logo manifestações de rua eagitam-se as vozes dos representantesdo povo. (…)

Paquete de Oliveira (sociólogo)JN 22/MARÇO/07

A UTOPIA EUROPEIA

(…) Cinquenta anos depois, a Europavai seguramente ultrapassar o marasmoem que tem permanecido. A gente que

hoje se reclama de Esquerda tem de per-ceber que, no mundo globalizado e injus-to em que vivemos, a Europa é a grandeutopia do séc. XXI. Sem uma Europaunida e actuante não podemos resolveros problemas da paz , no nosso Conti-nente, e dar um contributo sério para osresolver no Mundo, bem como os pro-blemas ecológicos que hoje tanto nos afli-gem. Também sem uma Europa Políticanão poderemos conservar o nosso mode-lo social, nem seremos capazes de lutar,eficazmente, contra a criminalidade inter-nacional organizada, introduzindo regraséticas indispensáveis na globalização, deforma a acabar com a pobreza e com asgrandes desigualdades que tanto afectamos Povos e as Nações.

Mário Soares

(ex-Presidente da República)Visão 29/MARÇO/07

UNIÃO OU COMUNIDADEEUROPEIA?

Cinquenta anos depois do Tratado deRoma, a CEE é mais uma comunidadefinanceira que uma União de Cidadãosou mesmo uma Comunidade Económica.

De facto, as relações entre os cida-dãos europeus estão condicionadas pelaausência de uma verdadeira cidadaniaque nos identificasse pelos valores quenos permitissem uma identidade comume anulasse a competitividade crescenteque determina o desequilíbrio económi-co e que impede a construção de umaverdadeira União.

A economia de mercado que dominaas relações entre os estados europeusassenta na filosofia do lucro pelo lucro, oque põe em causa os valores da solidari-edade responsável e interventora que écaracterística da atitude democráticaeuropeia. (…)

Nuno Grande

(médico e professor universitário)JN 28/MARÇO/07

O SACRAMENTO DO AMOR

(…) Um ano depois da publicação dasua primeira Encíclica Deus é amor,Bento XVI publicou, com a data de 22de Fevereiro, uma Exortação Apostólicasobre a Eucaristia enquanto “sacramen-to do amor”, que deveria ser eco da XIAssembleia Geral Ordinária do Sínododos Bispos, que decorreu em Outubro de2005 no Vaticano. (…)

Quanto à celebração, faz-se um ne-cessário apelo à beleza. Mas é precisoperguntar: ao contrário do que pede a

Exortação, não haverá coisas mais im-portantes para os futuros padres do quea preparação, “desde o seminário, paracompreender e celebrar a Santa Missaem latim, bem como usar textos latinos eentoar o canto gregoriano”?

Ao restringir a presidência da celebra-ção da Missa aos padres celibatários, aExortação faz com que comunidades in-teiras de cristãos fiquem sem Eucaristia.

Depois, por um lado, insiste-se justa-mente em que a Eucaristia é nuclear navida cristã, mas, por outro, impede-se acomunhão aos católicos divorciados erecasados, a não ser que sigam o enco-rajamento da Igreja no sentido de se es-forçarem por “viver a sua relação se-gundo as exigências da lei de Deus, comoamigos, como irmão e irmã”. Será com-patível com a celebração do amor con-vidar para o banquete eucarístico aque-les a quem se nega a comunhão? E nãoimplicaria o amor a hospitalidade euca-rística, isto é, acolher na comunhão oscristãos de outras confissões cristãs nãocatólicas? Aliás, neste domínio, é umgesto pouco ecuménico voltar às indul-gências, mesmo no quadro de “uma prá-tica equilibrada e conscienciosa”. (…)

Anselmo Borges

(padre e professor de Filosofia)DN 01/ABRIL/07

DEMOCRACIAE NEOCOLONIALISMO

Os políticos africanos e os seus men-tores intelectuais no Ocidente protesta-ram durante décadas contra o neocolo-nialismo. Acusavam a exploração eco-nómica de que os seus países, agora in-dependentes, seriam vítimas por parte deempresas estrangeiras, sobretudo pelasmultinacionais.

Entretanto, tornou-se claro que um dosproblemas de África é... não ser “colo-nizada” por multinacionais. Poucos nomundo empresarial se interessam porinvestir em países africanos. Ora, comoum dia disse a economista britânica JoanRobinson, pior do que sofrer a explora-ção capitalista é não a sofrer.

Mas este desinteresse pelo investimen-to em projectos africanos tem hoje umanotável excepção: a China. Com o seuvertiginoso crescimento económico e asua imensa população, a China precisade garantir o abastecimento em matéri-as-primas, a começar pelo petróleo.

Por isso virou-se para África. EmAngola, por exemplo, a China já tem umapresença significativa no sector petrolí-fero. E foi criado um fórum para a coo-peração entre a China e os países afri-

canos lusófonos (...)

Francisco Sarsfield Cabral

DN 31/MARÇO/07

UMA CERTAEUROFRUSTRAÇÃO

Que o balanço de 50 anos de UniãoEuropeia é largamente positivo é umaevidência. Que, para os nostálgicos dototalitarismo soviético (ainda os há), essebalanço representa uma terrível derrota,não carece de alegação nem de prova.Que, para os europeístas convictos, en-tre os quais me conto, algumas coisas jádevessem ter começado a correr melhor,causa uma certa eurofrustração.

Olhar o passado da União nos últimos 50anos, registar a era de paz, de democracia,de aperfeiçoamento do Estado de Direito,de bem-estar, de qualidade de vida, de pro-gresso que ela proporcionou, organizando-se, inicialmente, como área económica e, apouco e pouco, como espaço europeu ali-cerçado numa comunidade civilizacional devalores hoje partilhados por 27 países, é umexercício salutar e gratificante, mesmo nãosendo ainda líquido o desfecho de questõescomo a da preservação do modelo socialeuropeu e a sua articulação com outras di-mensões da construção europeia, como ada energia, a do ambiente, a da imigração e,sobretudo, a da competitividade com o res-to do mundo. (…)

Vasco Graça Moura (escritor)DN 21/MARÇO/07)

A MARCA PJ

(…) A marca PJ vende o mais impor-tante dos produtos: segurança e confi-ança no sistema constitucional. Umamarca que levou décadas a construir eque se afirmou num quadro de memóri-as de combate ao crime feito de muitasgerações de polícias, de vidas perdidas,de determinação combativa. Desde avelha PIC, Polícia de Investigação Cri-minal, criada por Sidónio Pais, que qua-se um século de trabalho fez emergir aPJ como a polícia cuja credibilidade éproporcional à consciência dos níveis desegurança que existem na comunidade.

E agora, em nome do falso argumen-to do despesismo, da fúria concentracio-nária e jacobina que confunde controlode poder com eficácia, assistimos, aindaque com grandes indignações e profis-sões de fé de que não é nada disto, àlenta agonia do melhor que temos. (…)

Francisco Moita Flores

CM 26/MARÇO/07

10 DE 04 A 17 DE ABRIL DE 2007REPORTAGEM

NA ESCOLA DE HOTELARIA DE COIMBRA

Estudantes de vários países

cozinharam e confraternizaram

Estudantes de diversas nacionalida-des, oriundos de vários continentes, reu-niram na passada semana na Escola deHotelaria e Turismo de Coimbra(EHTC), para cozinhar pratos típicos dosrespectivos países.

Já o ano passado a EHTC promove-ra iniciativa semelhante, então voltadapara os alunos dos PALOP a estudarem Coimbra - e que se saldou por umêxito.

Desta feita, e em colaboração com oDepartamento de Relações Internacio-

nais da Universidade de Coimbra, foi avez de se convidarem alguns das cente-nas de estudantes estrangeiros que es-tão a frequentar a Universidade de Co-imbra, muitos deles ao abrigo do Progra-ma Erasmus.

Seleccionados os “cozinheiros” decada País, estes foram convidados a irconfeccionar algumas especialidades dassuas terras em conjunto com os alunosda EHTC, sob a orientação do chefe LuísLavrador.

O Director da Escola, José Luís Mar-

ques, convidou algumas entidades exter-nas à Escola, bem como a Universidadede Coimbra e representantes da Acade-mia, e promoveu um invulgar almoçomulticultural.

Ali se puderam saborear especialida-des dos seguintes países, confecciona-das por estudantes deles oriundos: Chi-na, Grécia, Brasil, Irão, Roménia, Rús-sia, Polónia, Alemanha, Índia, Espanha,Japão, Turquia e França.

Treze países diferentes, dezenas depetiscos exóticos, desde as sopas às so-

bremesas, passando por pratos de car-ne, de peixe, de marisco, de cereais.

A verdade é que o almoço foi um êxi-to, com os estudantes a saírem-se bemdo desafio, tendo ensinado algumas coi-sas aos estudantes da EHTC mas, so-bretudo, tendo aprendido com eles nãosó muitas técnicas de cozinha, mas so-bretudo a arte de bem receber.

Uma jornada de confraternização in-ternacional que todos os participantessublinharam ir ficar guardada na memó-ria. A repetir!

O Director da EHTC com a delegação da Universidade de Coimbra

que participou na organização da iniciativaRelações internacionais

11DE 04 A 17 DE ABRIL DE 2007 REGIÃO CENTRO

CUIDADOS DOMICILIÁRIOSDE IDOSOS, CONVALESCENTESE DOENTES CRÓNICOS

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A ideia de que “um condutor inteligen-te tem uma condução defensiva” é umamensagem que a Cruz Vermelha Portu-guesa (CVP) pretende passar numacampanha contra a sinistralidade rodo-viária, a lançar depois de amanhã (sex-ta-feira) na Figueira da Foz.

“Se vamos numa auto-estrada e pas-sa um carro por nós a 200 quilómetrospor hora, não é caso para admirar o con-dutor, mas sim para lamentar a sua atitu-de”, afirmou à agência Lusa Luís Bar-bosa, presidente nacional da CVP.

Durante a campanha - com a qual aCVP se associa às suas congéneres eu-ropeias na luta contra a sinistralidade eque durará até Junho de 2008 -, será rei-terada a importância da condução defen-siva, até porque, adiantou Luís Barbosa,“a personalidade de uma pessoa não édefinida pela máquina que conduz”, maspela gestão correcta que faz dela.

Luís Barbosa disse que, quer as segu-radoras, quer as autoridades, têm a no-ção de que “há um número restrito decondutores, que provocam muitos aci-dentes”.

“Quer no passado, quer actualmente,

NA PRÓXIMA SEXTA-FEIRA NA FIGUEIRA DA FOZ

Cruz Vermelha lança campanha

de segurança rodoviáriaas estatísticas dizem que 25 por centodos condutores provocam 75 por centodos acidentes”, lamentou.

Em Portugal, e apesar de campanhasfeitas no passado com o objectivo de di-minuir a sinistralidade, o número de aci-dentes continua superior à média euro-peia, tendo em 2006 provocado a mortea 850 pessoas e ferimentos a 46.574.

A campanha europeia de segurançarodoviária, à qual a CVP decidiu associ-ar-se, visa precisamente contribuir paraa redução do número de mortos e feri-dos nas estradas, através da criação deum ambiente favorável à segurança ro-doviária, primeiros socorros e prevençãode acidentes.

Irina Vicente, coordenadora nacionalda campanha, explicou à Lusa que, já emAbril, haverá iniciativas por todo o país(à excepção dos distritos de Guarda ede Beja), em espaços diversos comoparques de estacionamento de hipermer-cados, áreas de serviço ou avenidas cen-trais, e para todos os públicos.

Gincanas de bicicleta, demonstraçõesde primeiros socorros e jogos rodoviári-os para os mais novos, questionários e

sessões de esclarecimento para os adul-tos e também para os idosos são algu-mas das actividades programadas.

“Haverá actividades nos lares, para queos idosos saibam como atravessar as es-tradas e percebam a interacção dos me-dicamentos na condução”, exemplificou.

A CVP tem também a preocupaçãode adequar as iniciativas às característi-cas da zona do país onde são realizadas,nomeadamente explicando, nas zonasrurais, os cuidados a ter quando se ca-minha numa estrada, ainda que tenhapouco trânsito.

“É uma iniciativa europeia, mas quevai descendo e sendo adaptada a cadaregião”, frisou Irina Vicente.

Luís Barbosa defendeu também a ne-cessidade de se continuar a eliminar os“pontos negros”, tanto fora como dentrodas localidades.

“Em Lisboa, o estacionamento emcima dos passeios retira visibilidade noscruzamentos. E na auto-estrada entreLisboa e Vila Franca a velocidade máxi-ma permitida deveria ser inferior a 120quilómetros por hora quando há muitotráfego”, exemplificou.

Uma nova plataforma de internet per-mite a qualquer pessoa oferecer e adju-dicar trabalho por todo o mundo, disse àagência Lusa Paulo Cunha Velho, coor-denador nacional do projecto.

Lançada em Dezembro, e depois detrês meses de período experimental, estaplataforma (www.pajamanation.com)“arrancou recentemente com uma pági-na frontal em português, de forma a fa-cilitar o utilizador nacional”, disse o mes-mo responsável, que opera a partir daMarinha Grande.

O sítio surge como centro de ofertasvia internet, onde empreendedores e em-presas podem colocar as suas ofertas epedidos, esclareceu Paulo Cunha Velho.

“Uma empresa inglesa, por exemplo,quer fazer uma tradução e inscreve o pe-dido no site, podendo apresentar prazosde entrega e até mesmo valores-referên-cia de pagamento”, disse o coordenadorportuguês da Pajamanation.

“O trabalho é então licitado por quemestiver habilitado, que dá a conhecer cur-rículo, portofólio ou outros pormenoresrelevantes, podendo apresentar inclusiva-mente o preço do trabalho”, acrescentou.

O sistema, que está em fase experi-mental desde Dezembro, quer tornar-sena maior rede mundial de micro- empre-endedores domésticos, disse Paulo Cu-nha Velho, adiantando que, “na fase ex-perimental, a plataforma foi muito visita-da”, tendo-se registado “algumas deze-nas de pessoas”.

A adesão ao portal, para as empre-sas, custa 100 euros, sem limite para ofe-recer ou recrutar “pajama- trabalhado-res”, disse, precisando que “os trabalha-dores, por sua vez, podem fazer a suainscrição a partir de 25 euros”.

“Só em Portugal temos 50 mil licencia-dos desempregados, que podem trabalhare ganhar dinheiro, fazendo o seu própriohorário”, justifica o empreendedor, queconsidera estes como um dos públicos-alvo.

“Com a crise, as pessoas podem as-sim tornar-se micro-empreendedoras pornecessidade”, acrescentou.

A ideia do desenvolvimento deste cen-tro de trabalho é dos belgas Walter DeBrouwer e Luc De Vos, disse PauloCunha Velho, adiantando que “actual-mente existem 53 coordenadores empaíses diferentes”.

A PARTIR DA MARINHA GRANDE

Plataforma de internetoferece trabalhoem todo o Mundo

DO CARAMULO

PARA LISBOA

Carros

de Salazar

em exposiçãoDois carros que estiveram ao servi-

ço de Salazar, um Chrysler Imperial eum Cadillac 75, vão estar em exposiçãono salão internacional Motorclássico,numa altura em que o nome do ditadorvolta a ocupar páginas dos jornais.

Os dois carros - o primeiro de 1937e o segundo de 1947 - fazem parte dacolecção do Museu do Caramulo, noconcelho de Tondela, que promovemais uma edição do Motorclássico -Salão Internacional de Automóveis eMotociclos Clássicos, nos dias 27, 28 e29 de Abril, na FIL, em Lisboa.

“O Chrysler (blindado) foi o primei-ro comprado pela PIDE para Salazar,após o atentado que sofreu, para eleusar até que chegasse o Mercedes 770Grosser”, explicou à Agência Lusa Ti-ago Patrício Gouveia, do Museu doCaramulo.

O Mercedes blindado, que tambémpertence à colecção do Museu do Ca-ramulo, chegou, mas o Presidente doConselho de Ministros raramente o teráusado, ou mesmo nunca.

12 DE 04 A 17 DE ABRIL DE 2007IMAGENS

Na Praça 8 de Maio, em Coimbra, há um muro que é banco onde muitos depositam os

seus cansaços...

Quando o dono não faz. é a Câmara que lança mãos à obra

(Rua Corpo de Deus, em Coimbra)

13DE 04 A 17 DE ABRIL DE 2007 IMAGENS

Na frontaria dos Paços do Concelho de Coimbra, no topo a bandeira nacional,

mais abaixo a verde bandeira ecológica

14 DE 04 A 17 DE ABRIL DE 2007EDUCAÇÃO / ENSINO

Para os professores e educadores,Abril reforça-se com a realização do9º Congresso Nacional, nos dias 19, 20e 21. É o Congresso da FENPROF, amaior e mais forte organização sindi-cal dos docentes portugueses e vaiacontecer sob o violentíssimo ataquede que estes têm sido um dos alvosprincipais. No pós-25 de Abril, nuncaum governo levou tão longe a destrui-ção da imagem social, das condiçõesde trabalho e dos direitos legitimamen-te conquistados pelos professores. Nãoé uma questão de “coragem” dos ac-tuais governantes mas de objectivos eprioridades que passam pelo efectivoesmagamento de uma vasta e decisi-va classe profissional. Não só desta,como está à vista! Mas, de forma muitovisível, os professores e educadorestêm estado na primeira linha da ofen-siva do governo de Sócrates.

Num processo tão duro e prolongado,o Congresso tem um significado muitoespecial. Há episódios de desânimo en-tre alguns professores e o Governo apos-ta nisto. A dimensão do que está a serforjado contra eles, o desprezo e a arro-gância com que são tratados - quantosdeles com longos e empenhados trajec-tos profissionais - provocam uma sufo-cante sensação de aviltamento. O Con-gresso deve contribuir para reforçar oque tem de ser a atitude de todos: o com-bate frontal, corajoso e ainda mais fir-

O próximo Secretário-Geral

da FENPROFJoão Louceiro * me, às políticas erradas que liquidam o

futuro.O segundo aspecto que faz do Con-

gresso um momento importantíssimo, éa escolha da Direcção da FENPROFpara o próximo triénio. Com o prosse-guimento das políticas de Sócrates, é tre-menda a responsabilidade na continua-ção e aprofundamento da luta dos pro-fessores. Sem equívocos, sem hesitações,dependendo sempre da vontade real dosprofessores mas contribuindo decisiva-mente na sua construção e expressão, aFENPROF terá de continuar a dirigir eorganizar a intervenção dos docentesportugueses num contexto muito difícil.É preciso ir ainda mais longe!

Aos olhos dos professores e de ou-tros intervenientes, na escolha assumeparticular destaque o Secretário-Geral daFederação. Ele acaba por ser um rostomais visível. A discussão de quem pode-ria ser a melhor solução para futuro Se-cretário-Geral da FENPROF, levou oSPRC a avançar com o nome do seucoordenador, Mário Nogueira. A propostafoi integrada pelas direcções da maioriados sindicatos da Federação (SPM,SPRA e SPZS).

Na apresentação pública da candida-tura, na semana passada, Mário Nogueiradestacou cinco tónicas que a marcam:ser nacional, ser aberta, ser assente emcritérios exclusivamente sindicais, seruma candidatura que não dispensará nin-guém e ser uma candidatura séria quenão engana os professores.

Há inúmeras razões de ordem sindi-cal para que esta candidatura se afirmeno Congresso. Talvez a maior seja o quesabemos do contacto directo com os pro-fessores e educadores: a generalidaderevê-se no Mário Nogueira e consideraque ele é, na FENPROF, o rosto certopara que se saiba, com toda a clareza,que a luta dos professores vai mesmoprosseguir! Mário Nogueira é quem osprofessores querem ver como Secretá-rio-Geral da FENPROF.

Estamos convictos que os delegadosao Congresso traduzirão precisamenteeste sentimento. Eleita a nova Direcçãoda FENPROF, os professores e o paíssaberão, sem margem para dúvidas ouindecisões, que não haverá tibiezas: a lutados professores vai mesmo continuar!

O Governo também sabe isto… Atal não será alheio o fabrico de algu-mas “notícias”(?) que já aparecerampor aí. Especulativas caldeiradas, ondese instigam desconfianças e obscurosmotivos contra a candidatura de Má-rio Nogueira. Não admira que o Go-verno e os seus aliados solícitos nãovejam com bons olhos que este seja ofuturo Secretário-Geral da FENPROF… Mas um bom Secretário-Geral daFederação Nacional dos Professoresserá aquele em quem os professoresse revejam e nunca alguém que o Go-verno lá gostasse de ver…

* Dirigente do SPRC (Sindicato

dos Professores da Região Centro)

ENCONTRO NO INSTITUTO SUPERIOR MIGUEL TORGA

O presente já é MultimédiaA licenciatura em Multimédia do

Instituto Superior Miguel Torga

(ISMT) promoveu, no passado dia 28

de Março, o seu primeiro Encontro.

A iniciativa decorreu na Casa da

Cultura de Coimbra e reuniu profis-

sionais da área para um debate de

ideias orientado ao futuro.

Na sessão de abertura do I EncontroMultimédia o director do ISMT, CarlosAmaral Dias, deu o mote para o evento:«o futuro pertence-vos». Depois da ses-são de abertura, os primeiros finalistasda licenciatura em Multimédia apresen-taram uma mostra de trabalhos, reunin-do exercícios que desenvolveram ao lon-go do curso em áreas como design grá-fico, vídeo, animação 2D e 3D, fotogra-fia e produção multimédia interactiva.

O primeiro painel, subordinado ao tema“O mercado do multimédia”, contou coma presença dos representantes das em-presas Flor de Utopia e Media Primer,Pedro Andrade e José Carlos Teixeira.Como pano de fundo, ficou a ideia de

que o multimédia não será o futuro masjá o presente e de que é preciso concen-trar esforços para o reconhecimento dosprofissionais da área.

“e-Conteúdos na Web 2.0” foi a te-mática discutida por Rui Gomes, direc-tor editorial do Sapo, e Paulo Querido,jornalista do Expresso especialista emtecnologia. Neste debate, Rui Gomessublinhou a ideia de que a rede é um «bu-raco negro» e a necessidade de «reutili-zar conteúdos». Para o director editorialdo Sapo, a Web 2.0 e os seus conteúdoscaracterizam-se pela valorização dosconteúdos multimédia e da ideia de co-munidade. Rui Gomes fez ainda a auto-crítica do Sapo e adiantou que o portalvai ser renovado. Paulo Querido subli-nhou que «a rede é o princípio e o fim dacriação» e que vivemos a era dos «pro-du-consumidores». Para o jornalista, «arede é meio ambiente» já que «é lá quevivemos».

O I Encontro Multimédia encerroucom o painel “Desafios do Design parao Ecrã”, que contou com a presença da

directora criativa da Breathewords, Adri-ana de Barros, e um representante daAssociação Nacional de Designers, odesigner gráfico José Paulo Teixeira.“Avisos à navegação” e conselhos paraproduzir design criativo dominaram aconversa sobre o desenho numa alturaem que múltiplas plataformas tendem aconvergir.

No Encontro foi ainda anunciado umprotocolo entre o ISMT e a Associaçãopara a Promoção do Multimédia e daSociedade Digital, que vai promover es-tágios profissionais e incentivos à cria-ção das próprias empresas e de empre-go para os recém-licenciados em Mul-timédia. A licenciatura do ISMT come-çou em 2003 e adequou-se ao Proces-so de Bolonha no presente ano lectivo,sendo agora um curso de três anos. Nofinal deste ano lectivo vai sair a primei-ra “fornada” de licenciados em Multi-média, com competências em váriasáreas como o design, animação 2D e3D, produção multimédia, fotografia,vídeo, som e programação.

15DE 04 A 17 DE ABRIL DE 2007 DESPORTO

O relvado natural do Estádio Sérgio

Conceição, em Taveiro, vai dar lugar a

um sintético, revelou anteontem (se-

gunda-feira) à Agência Lusa o verea-

dor do Desporto da Câmara Municipal

ESTÁDIO SÉRGIO CONCEIÇÃO VAI TER RELVADO SINTÉTICO

Sobrevivência do União de Coimbra

dependente também do poder central

O vereador do Desporto, Luís Providência Estádio Sérgio Conceição vai ter relvado sintético

de Coimbra, Luís Providência.

“O relvado natural está saturado, su-

jeito a limitações, e desta forma permiti-

rá a sua utilização, durante 12 horas por

dia, para duas modalidades: o râguebi e

o futebol. O projecto está a ser estudado

e temos condições financeiras para o pôr

em prática”, adiantou o autarca.

O autarca reconheceu que a realida-

de actual do Estádio Sérgio Conceição

não é a mesma para a qual foi concebi-

do: a sua utilização pela Académica du-

rante a remodelação do Estádio Cidade

de Coimbra com vista à utilização para o

Euro2004 de futebol.

Com treinos diários de vários clubes

da cidade, quer no futebol, quer no râ-

guebi, e com jogos ao fim-de-semana de

vários escalões, sobretudo de futebol, o

relvado do Estádio Sérgio Conceição está

em estado deplorável e a necessitar de

uma profunda modificação para respon-

der a todos com equidade.

O responsável pelo Desporto respon-

deu assim à falta de condições de treino

e de transporte que o União de Coimbra

alegou, no passado sábado, através do

presidente da Comissão Administrativa,

Carlos Balteiro. Este afirmou que esta-

va em risco a viabilidade do segundo

maior clube de Coimbra, criticando a

Câmara Municipal de Coimbra de não o

ajudar como o fazia em relação à Aca-

démica.

VEREADOR CRITICA GESTÃO

DO UNIÃO DE COIMBRA

“A situação do União de Coimbra não

é nova e neste mandato autárquico

temos ajudado regularmente o clube,

quer na vertente de instalações, quer

na vertente de transportes, partindo

de um regulamento da câmara que

assenta em factores de equilíbrio. O

União de Coimbra não tem soluções

fáceis, partindo desde logo pela sua

gestão que não tem sido a melhor

nestes últimos anos”, continuou Luís

Providência.

O vereador salientou ainda que a

solução do União de Coimbra passa

pela aprovação do Plano de Porme-

nor da Arregaça e que “a Câmara tudo

fez para que ele fosse aprovado, o que

garantiria a liquidação das dívidas da

colectividade” que, segundo o seu pre-

sidente, ascendem a cerca de 700.000

euros.

“Se dependesse de nós já estaria apro-

vado. Agora é Lisboa que tem de dar luz

verde ao Projecto”, concluiu o respon-

sável do desporto.

O Projecto da Arregaça consiste na

construção de uma área desportiva e

outra imobiliária numa zona nobre da ci-

dade de Coimbra.

Se for aprovado, o lucro com a venda

dos imóveis permitirá a resolução dos

problemas financeiros do clube, bem

como o problema de instalações despor-

tivas do local que contém apenas um

campo pelado.

Rali de Portugal

Começou com um acidente, acabou com queixas da GNR...

O Rali de Portugal voltou, mas com falhas na organização e desrespeito

do público às normas de segurança.

Quanto à vitória, foi para o francês Sebastien Loeb em Citroen C4, que na imagem

festeja com o seu navegador Daniel Elena.

16 DE 04 A 17 DE ABRIL DE 2007SAÚDE

Massano

Cardoso

O sector da saúde privado está numcrescendo imparável. O negócio da saú-de é uma mina de ouro e, como tal, éobjecto de investimentos muito signifi-cativos. Nada a opor ao papel do pri-vado que pode ter um papel supletivo efavorecer a competição entre os dife-rentes sectores.

As novas instituições começam a de-finir regras de funcionamento que me-recem algumas considerações. As uni-dades de saúde do grupo Mello, porexemplo, não permitem a prática de vá-rios actos, tais como os relacionadoscom a procriação medicamente assisti-da, laqueação de trompas, esterilizaçãodefinitiva do homem e uso da pílula dodia seguinte.

Deduz-se facilmente que abortamen-tos nem pensar, como é óbvio. Realçadesta posição condutas e formas de es-tar facilmente identificáveis. Muitos di-rão, mas qual o problema? Só procuraestas unidades quem quer. Claro, equem pode, mas isso é outra conversa.

O recrutamento de pessoal para es-tas instituições deverá ser feito de for-ma muito selectiva. Nos tempos quecorrem, os que não estão de acordocom estes princípios, e que necessitamde concorrer a um posto de trabalho,deverão “estar calados” a fim de nãocomprometerem as suas posições

É aceitável, e perfeitamente compre-ensível, que um profissional de saúdeseja objector de consciência, mas, mes-mo assim, tem que conduzir o seu do-ente para um outro serviço ou colegade modo a que o seu problema seja

Códigos de Ética

resolvido. O facto de uma instituição co-locar restrições é um pouco mais deli-cado, embora tenha legitimidade para tal.

Os códigos de ética destas unidadestêm como objectivo não executar cer-tas práticas que, embora permitidas porlei, não se encaixam em determinadascorrentes de pensamento.

Os responsáveis pela criação destasinstituições fazem negócios de vulto, no-meadamente no sector bancário. Seriainteressante saber se põem em causa,por exemplo, depósitos provenientes denegócios menos “éticos”, alguns relaci-onados com a venda da “pílula do diaseguinte” ou com actividades de procri-ação medicamente assistida! Claro quese pode levantar algumas dúvidas ao fi-nanciamento destas actividades, e daitalvez não, já que o dinheiro não temcheiro, não é verdade? Mesmo assim,poderão invocar, caso conheçam as suas“origens”, que têm a “obrigação” detransformar dinheiro impuro em activi-dades “puras”, contribuindo para a er-radicação do “pecado”.

Ponho-me a imaginar outras institui-ções de saúde, cada uma elaborando oseu código, umas vezes mais restritivo,outras menos, cobrindo variados aspec-tos, que não se limitam aos já enuncia-dos, susceptíveis de desencadearem oupoderem desencadear reflexões ou pre-ocupações éticas, as quais estão empermanente ebulição.

A publicidade das diferentes institui-ções deverá ser acompanhada do res-pectivo “manual ético” sobre o que fa-zem ou deixam de fazer. O pior quepode acontecer a alguém é enganar-sena atrapalhação da escolha...

Ligação entre SIDA e tuberculoseé “verdadeiro tsunami”

ALERTA JORGE SAMPAIO EM MOÇAMBIQUE

O enviado especial do secretário-ge-ral das Nações Unidas para o comba-te à tuberculose, Jorge Sampaio, aler-tou anteontem (segunda-feira) para o“verdadeiro tsunami” que está gerar-se à escala global pela “crescente li-gação” entre doenças como a SIDA ea tuberculose.

“A ligação HIV/SIDA-tuberculose éum verdadeiro tsunami que, se não forparado, vai ter consequências mortaissignificativas”, alertou o ex-Presidenteportuguês, numa conferência na Facul-dade de Medicina da UniversidadeEduardo Mondlane (em Maputo, capitalde Moçambique), subordinada ao tema“Globalização dos problemas de saúde e

da sua solução”.A ligação cada vez maior entre as duas

doenças foi, de resto, tema recorrentena palestra com que Jorge Sampaio ter-minou o primeiro de três dias a Moçam-bique na qualidade de enviado especialda ONU.

à plateia, onde estava o ministro daSaúde moçambicano, Ivo Garrido, o ex-Presidente português lembrou que “umaelevada percentagem de doentes de HIV/SIDA morre por causa da tuberculose”,ligação que dá origem a um “um ciclocomplexo” de nefastas consequências.

E desfiou números em defesa da suatese: “em relação do HIV- SIDA, conti-nuam a aumentar não só a taxa de inci-

dência (em 2005 registaram-se 4,1 mi-lhões de novos casos de infecção), mastambém o número de pessoas que vivecom o HIV, o qual passou de 36,2 mi-lhões em 2003 para 38,6 em 2005”.

Quanto à tuberculose, indicou, “a si-tuação é idêntica”: “o número de casoscontinua a aumentar cerca de um porcento por ano, tendo-se registado cercade nove milhões de casos novos em 2004,80 por cento dos quais concentrados em22 países”.

“Agora a questão central é que estesnúmeros não são independentes pois es-

tas pandemias alimentam-se uma da ou-tra. De facto, a conjugação HIV/SIDAe da tuberculose produz uma sinergianociva que tem conduzido à explosão decasos de tuberculose em regiões de altaprevalência do HIV”, disse.

Em muitas regiões da África, “cercade 77 por cento dos pacientes com tu-berculose também estão infectados peloHIV”.

Nesta viagem a África, que tambémincluiu o Malaui e a África do Sul, JorgeSampaio fica três dias em Moçambique,terminando a visita hoje (quarta-feira).

Jorge Sampaio proferindo a conferência na Universidade Eduardo Mondlane,

em Maputo (Moçambique)

NOVO HOSPITAL PEDIÁTRICO DE COIMBRA

MUS exigecumprimento de prazos

O Movimento de Utentes da Saúde(MUS) exigiu anteontem (segunda-fei-ra) o “cumprimento integral” dos prazosprevistos para a construção das novasinstalações do Hospital Pediátrico deCoimbra (HPC).

“A reconhecida qualidade dos cuida-dos prestados e a prestar às nossas cri-anças exigem e impõem desde há muito

a rápida conclusão das obras do novoedifício do hospital, pelo que cada dia deatraso na sua conclusão (Ó) implica ele-vados prejuízos para a saúde e o bem-estar das crianças e dos seus familiares,bem como custos incalculáveis para oerário público”, sustenta o MUS.

Divulgada em Coimbra, a moção de-fende ainda que o projecto inicial da ma-nutenção e desenvolvimento do HPCcomo hospital geral e de último recursopara crianças doentes não deve ser, “porrazões economicistas, ou outras, amputa-do ou submetido a alterações que, atra-vés de novos programas ou planos funci-onais, o descaracterizem ou desvirtuem”.

O director clínico do Pediátrico, RuiBatista, apontou à Agência Lusa o ano2010 como “a data provável” para a con-clusão da nova unidade.

17DE 04 A 17 DE ABRIL DE 2007 OPINIÃO

Renato Ávila

O recente pedido de demissão de Al-berto João Jardim revela, segundo o líderdo nacional do PSD, um apurado e sisudosentido de estado.

Sem dúvida. Do estado da Madeira. Quepolíticos como Marques Mendes, Barroso,Guterres e outros que tais ajudaram a criar.

Mas o que se entenderá por sentido deestado à luz do direito e da justiça, do con-ceito de democracia universalmente con-sagrado? Autocracia, o sistemático afron-tamento institucional, o tratamento insul-tuoso das oposições, a ostensiva falta derespeito para com os órgãos de sobera-

Sentido de Estadonia, a solene declaração de incumprimen-to das leis da república, a ausência de so-lidariedade na reivindicação e utilizaçãodos dinheiros públicos... ?

Para quem vai acompanhando os dis-lates do Dr. Jardim através duma comu-nicação social sadicamente sensaciona-lista, é este o panorama que nos é dado apre-ciar acerca do sentido de estado de tão con-troversa como insolente figura política.

A Madeira, hoje, está transformadanum estado autocrático completamente àsmãos do poder pessoal do Presidente doGoverno Regional, onde a soberania na-cional é ostensiva e continuamente mal-tratada por soezes invectivas, pelas ca-seiras e autocráticas práticas políticas egovernativas, pelo arbitrário condiciona-

mento da aplicação das leis da república.O PSD encontrou em Francisco Bal-

semão, Fernando Nogueira e SantanaLopes soluções de continuidade quandoos seus líderes tiveram de partir. No Jardimdo Atlântico é suposto dever existir única eexclusivamente Jardim. Ab aeternum.

Os madeirenses irão a votos constran-gidos por um poder omnipresente nosolhos e no estômago de muitos e no bem-estar de alguns, compelidos por uma ma-niqueísta e demagógica mensagem mar-telada sem decoro e sem substância polí-tica, seduzidos pela deslocada permanên-cia de um regabofe inaugurativo que o país,em apuros, não pode continuar a custear.Maioritariamente continuarão, pois, a ali-mentar o cavalo para as desenfreadas

galopadas de Alberto João.Em vez da masoquista sabujce com que

o trazem nas palminhas, enquanto ele lhescarrega forte e feio, seria bem melhor queos políticos da nossa se portassem comhonra e pundonor na defesa das leis e dadignidade da nação.

É, porém, aí que o Presidente do Go-verno Regional tem carradas de razão.De facto, se tivéssemos políticos à al-tura, há muito que ele teria aprendidoqual o conteúdo dum verdadeiro senti-do de Estado.

O Povo da Madeira tem o direito deviver e praticar a democracia em plenaliberdade, de, efectivamente, tutelar o seufuturo à sombra da gloriosa bandeira queagasalha todos nós.

Portugal invertebrado

Carlos Carranca

PRAÇADAREPÚBLICA

À MEMÓRIA

DE MIGUEL TORGA

No pátio do Pavilhão de Portugal, alijunto ao Mondego, assisti, numa noite deAgosto, à projecção de breves imagensque vieram reforçar a minha compreen-são do País, e em particular da cidadede Coimbra, nas primeiras décadas daDitadura e de alguns males de que aindahoje enferma.

Vi a procissão da Rainha Santa do anode 1946, a inauguração da Ponte de San-ta Clara (1954), com o senhor Arcebis-po-Bispo-Conde, a homenagem a Bis-saya Barreto (1956) e algumas visitas doContra-Almirante Américo de Deus To-maz a Coimbra; as Bodas de Ouro doCADC e manifestações anticomunistasno ano de 1936, a visita dos catedráticosda Universidade à residência oficial doSenhor Presidente do Conselho e, porfim, um documentário que pretendia darrealce às belezas de Portugal, onde Co-imbra, capital da sabedoria (para não di-zer do conhecimento) mostrava essa jóiaque foi o Largo da Feira, antes da demo-lição, apelidado na reportagem de Largoda Sé Nova – o filme era de 1930.

O invertebrado que serve de título aesta despretensiosa reflexão tem raízesem Ortega e Gasset, no seu livro “Espa-nha invertebrada” (publicada em 1922)e que mais adiante tentarei justificar.

O conjunto de imagem, espelho dePortugal de então, levou-me a outro gran-de pensador espanhol, Miguel de Una-muno, pela sua expressão “fascismo decátedra” aplicada ao Estado Novo aju-dando-me a sintetizar tudo quanto tinhavisto projectado numa parede do Pavi-lhão de Portugal em Coimbra.

Um dos filmes mostrava um autocar-

ro num cortejo nacionalista pela Baixade Coimbra, onde se podia ler em letrasgarrafais, as palavras Deus, Pátria e

Família, e ver presas à parte dianteirado veículo duas bandeiras: uma com acruz suástica, outra com o escudo naci-onal. Muito povo rodeava o cortejo e in-tegrava-se nele saudando sem saber oquê nem para quê, dando a entender quenão havia divisões entre as elites e a genteanónima.

Uma das películas fixava a visita docorpo docente da Universidade de Co-imbra que, de borla e capelo, se desloca-ra a Lisboa com os elevados propósitosde felicitar o Senhor Presidente do Con-selho – era o fascismo de cátedra a queUnamuno outrora se referira.

Regresso, agora, à “Espanha inverte-brada”, e cito um dos males que o autordiagnosticou na sua pátria: as elites diri-gentes haviam criado a partir de cimaum sentimento como de pertença, de in-dividualidade nacional ao contrário dassociedades anglo-saxónicas em que aintegração política se faz a partir de bai-xo por empenho da sociedade civil.

Hoje, no Portugal do séc. XXI, não seestimula a participação dos cidadãos –somos todos consumidores – nem se criaum sentimento de integração e de per-tença. Somos todos duma coisa vaga aque chamam Europa.

Miguel Torga num dos seus últimostextos do Diário, alerta-nos para a tra-

gédia que alegremente estamos a viver:

31 de Outubro de 1993

Estamos irremediavelmente perdi-dos. E já ninguém o ignora e cala. Éum clamor uníssono que vai do Mi-nho ao Algarve. Um dobre a finadosde uma pátria sem esperança, que opoder não o ouve ou finge não ouvir,a fazer-lhe discursos e a descerrarlápides, num desprezo olímpico pelopovo que em má hora o elegeu.”

Falta aqui uma grande razão, uma von-tade colectiva capaz de se ter a si mes-ma como destino.

18 DE 04 A 17 DE ABRIL DE 2007OPINIÃO

Deixei de acreditar no Portugal de cá.Com mágoa o digo. Acredito no Portu-gal de lá de fora. O Portugal dos emi-grantes com quem tenho contactado poresses Mundo fora e que são exemplo detrabalho, empenho, dedicação. Esses,brilham, são exemplo e bem quistos. Alei do “desenrascanço”, do “furar”, con-tra tudo e contra todos, é o seu lema.Outros povos emigrantes não conseguemuma tal versatilidade e capacidade deadaptação. Nós, os Portugueses, adap-tamo-nos como ninguém, criamos raízes,inter ajudamo-nos, inventamos soluções,forçamos a vontade, vivemos a sauda-de… e somos sucesso. Exemplos? Bra-sil, Canadá, Alemanha, França, Suiça,Angola, Moçambique… etc, etc. e mui-tos mais que poderia ilustrar.

Os que por cá ficaram, salvo rarasexcepções, querem empregos… masnão muito trabalho. Alimentei a últimaesperança de que Portugal desse a volta“por cima” com a entrada na EU e nasoportunidades e desafios que se nos de-paravam. Continuamos na mesma. Sem-pre na cauda e de mão estendida à Eu-ropa! Somos ultrapassados até pelos re-cém entrados Países de Leste! O País“encalhou” e assim vai continuar. Que-rem exemplos? Vamos a eles.

Alguns factos da história recente destaPátria com quase 900 anos, em que jáme não revejo, fundamentaram-me estadesilusão. Deixei de acreditar na Justiçae no seu sistema. Vivi a Justiça “por den-tro” – enquanto Magistrado – e desiludi-me. Agora vejo-a por fora, como Advo-gado, e continuo na mesma. Não vamosa lado nenhum, salvo raras excepções.

Vem aí mais uma nova reforma doCódigo Penal (CP). Fico apreensivo, es-tupefacto e indignado com o que se pre-para para consagrar em letra de Lei. Asvítimas de pequenos furtos vão ter depagar 192• para o caso ir a Tribunal!...Quem for apanhado a roubar um tele-móvel, um produto de supermercado,uma carteira, até 96• já não poderá serdetido pela Polícia! Será apenas identifi-

O Portugal em que deixei de acreditar!Nuno Carvalho * cado e só vai a Tribunal se a vítima apre-

sentar queixa e pagar uma taxa de192•!... Ouviu bem? Isso mesmo.

O Senhor Ministro da Justiça e osSenhores Deputados nem as pensam!Depois, não querem Justiça de Fafe,motins, justiça popular, etc. Mas queremos Tribunais limpos de processos, seja aque preço for, nem que para tal se deixe

de acreditar na Justiça e o Estado deixede ser pessoa de bem. Isto é brincarcom coisas sérias. Quando os drogadose os “moedinhas” souberem disto tudo éque vai ser um aviar de carteiras, car-ros, telemóveis, etc.!... e o Zé Povoaguenta, conforma-se, e vai a Fátimarezar!...

Mas há mais. Alguns exemplos recen-tes que ilustram da leveza com que semexe em pedras basilares da sociedade,sem se medirem as consequências, numapolítica do vale tudo. Os alicerces daFamília têm vindo a ser profundamenteabalados. A “política de morte” campeia– aí está o aborto livre! Faz-se um divór-cio, como se bebe um copo de água! Vemaí a “normalização” de mais uma aber-ração – a eutanásia e o “casamento”entre homossexuais! Para a legalizaçãodo consumo de drogas e a adopção decrianças por homossexuais não demoramuito! A corrupção começa a ser aceitecomo normal! No caso do fax de Ma-cau, a Justiça chegou à brilhante conclu-são – houve corrompidos, mas não hou-ve corruptores!... A amnistia – melhor“anestesia” – do caso das FP 25, paraos crimes de sangue e as solidariedadesmaçónicas o Dr. Mário Soares/ Presi-

dente da República com Otelo Saraivade Carvalho, foi a esponja a “lavar” aconsciência de todos nós! Quem se tra-mou? Os arrependidos que falaram, ar-riscaram, viram e têm as suas vidas emperigo (alguns até foram assassinadospela própria “organização”) e como nãopodia deixar de ser, acabaram por sercondenados!... O caso Casa Pia vai aca-

bar da mesma maneira – haverá viola-dos, mas sem violadores! E o “coitado”Bibi é que se vai tramar e “malhar” lácom os ossos! Bem poderá mostrar-searrependido, colaborante com a Justiça,mas não escapará à Justiça “exemplar”sobre os mais fracos! Descriminalizaram-se na prática as burlas dos cheques semcobertura, em nome da limpeza e “desa-fogo” dos Tribunais! Deixaram-se pres-

crever – melhor “morrer de velhice” –os principais crimes do “colarinho bran-co”. Isto para já não falar nos processosdas facturas falsas, corrupção de autar-cas, Partex, Caixa Económica Açorea-na, UGT, Aquaparque, terrorismo das FP,entre outros, que são outras tantas ver-gonhas que a nossa Justiça “lavou”, en-quanto as prisões continuam sobrelota-das com a “arraia miúda”! As custas ju-diciais são sinónimo de “Justiça para ri-cos” em que o apoio judiciário existe sópara os indigentes e “moedinhas”! E vêmaí novos aumentos!... Somos um País de“tesos”, que não quer trabalhar, mas compretensões a grandes feitos de milhões– vide Estádios de Futebol do campeo-nato do Mundo, agora todos “às mos-cas”!... A OTA e TGV aí estão para fa-zer ver a nossa “grandeza”, nem queempenhemos o nosso futuro.

Quando revi na televisão parte da nos-sa História com os “Grandes Portugue-ses”, senti um misto de orgulho e desilu-são. Somos um dos Países mais antigosda Europa, com fronteiras definidas. Mascom tudo isto, já nada me admira… etudo me espanta! Compreendi, só então,que Salazar tenha ganho largamente navotação dos “Grandes Portugueses”.

* Advogado

Vem aí mais uma nova reforma do Código Penal (CP).

Fico apreensivo, estupefacto e indignado com o que se

prepara para consagrar em letra de Lei. As vítimas de

pequenos furtos vão ter de pagar 192• para o caso ir a

Tribunal!... Quem for apanhado a roubar um telemó-

vel, um produto de supermercado, uma carteira, até

96• já não poderá ser detido pela Polícia! Será apenas

identificado e só vai a Tribunal se a vítima apresentar

queixa e pagar uma taxa de 192•!...

José

d’Encarnação

POIS...POIS...POIS...POIS...POIS...

O que se passa em Portugal, começa aser demasiado preocupante.

Se virmos um noticiário de um qualquerpaís das bananas e compararmos com onosso, as notícias são semelhantes; even-tualmente, a côr de pele dos protagonistasé diferente.

É verdade que neste “mundo virtual”fartamo-nos de gozar com isso.

Porque temos um mundo livre e demo-crático que não tem correspondência no“mundo real”.

As “maiorias silenciosas” que não apare-cem no seu mundo, vão aparecendo por aqui,

E nós, livres e democratas, estamos-lhea dar voz e a ampliá-la.

Com isso temo que estejamos a matar anossa própria liberdade.

Creio que temos que reflectir sobre osnossos próprios limites para a chacota.

Podemos, com a publicidade, estar aaumentar a audiência dos vermes que an-dam por aí!

Suponho que temos que aperfeiçoar asnossas armas, para preservar a nossa li-berdade.

Vamos reler “As Farpas”!

O LEITOR A ESCREVER

Rui Lucas

O que se passa em Portugal

Sente uma dor no peito e acaba porir ao hospital.

– É uma dor nervosa – diagnosti-cam.

Medicam-na minimamente e man-dam-na para casa.

É Dia da Mãe (7 de Maio de 2006),

vai ao restaurante, sente-se cansa-da após o almoço, encosta-se nacama.

O filho, já depois das cinco, vaiacordar… «a dorminhoca».

Encontrou-a morta. Na sequên-cia de um AVC.

19DE 04 A 17 DE ABRIL DE 2007 HOMENAGEM

Luís de Miranda

Rocha

REFERÊNCIAS

O espaço acima está em branco, numa

homenagem singela ao autor da secção

“Referências”, Luís de Miranda Rocha

– que, sem aviso, foi levado pela morte,

subitamente, inesperadamente, quando

dormia na sua casa, em Coimbra.

Foi sepultado na passada quinta-fei-

ra, no cemitério de Mira, deixando uma

enorme saudade nos seus familiares,

mas também nos seus muitos amigos e

admiradores.

Jornalista, escritor, poeta, crítico lite-

rário, professor, Luís de Miranda Rocha

era alguém que conhecia, de forma con-

sequente (coisa que vai rareando…), o

significado de Amizade.

Foi um dos que, de forma empenhada

e desinteressada, comigo colaborou no

“Jornal de Coimbra”, desde a criação

desse meu semanário – já lá vão 20 anos!

E foi ainda ele que agora, quando re-

lancei este jornal “Centro”, teve o gene-

roso gesto (sem que eu nada lhe tivesse

pedido), de me vir oferecer colaboração

– uma vez mais de forma empenhada e

desinteressada – aqui mantendo uma sec-

ção regular chamada “Referências”, onde

pretendia divulgar as mais diversas ma-

nifestações culturais da Região Centro (as

duas últimas crónicas versaram os artis-

tas Mário Silva e Zé Penicheiro).

Se fosse mais ambicioso, se pelo me-

nos tirasse maior partido do que sabia e

valia, Luís de Miranda Rocha seria hoje,

seguramente, uma das mais

(re)conhecidas figuras das nossas letras.

Bastar-lhe-ia ter ficado pela capital,

onde trabalhou mais de uma década,

como jornalista, no “Diário de Lisboa”

(colaborando ainda noutras publicações,

como o “Observador”), e onde manteve

também um programa radiofónico sobre

livros, revelando-se como um dos mais

atentos e mais informados observadores

da actividade editorial e um dos mais

competentes críticos literários portugueses.

Mas Luís de Miranda Rocha tinha uma

maneira de ser muito especial, que nada

se adaptava às “capelinhas literárias” e

aos grupos da intelectualidade lisboeta.

Por isso regressou às origens, veio para

Coimbra e para a sua Mira (onde nasce-

ra em 1947), onde dirigia, desde 1983, o

jornal “Voz de Mira”, sendo também Di-

rector-Adjunto, desde 1998, da revista

cultural “Gandarena”.

Para além disso, dava aulas, lia muito,

escrevia prosa e poesia. E regularmente

redigia, para o “Centro”, a crónica que

enriquecia estas páginas.

Curvando-me perante a sua memória,

aqui lhe deixo o meu testemunho de gra-

tidão, de admiração e de saudade.

Jorge Castilho

NOTA BIOGRÁFICA

Luís de Miranda Rocha foi autor de

dezenas de obras prosa e de poesia, de

ensaio e de crítica. Entre elas «O Corpo

e o Muro» (1968), «Os Sextos Sentidos»

(1982) «Os arredores do Mar, os Subúr-

bios da Noite» (1993), «Nocturnos Lito-

rais» (2003), “Fingimento e Escrita - Fer-

nando Pessoa numa perspectiva da co-

municação e dos meios” (2005).

Actualmente leccionava no ITAP -

Instituto Técnico Artístico e Profissional

de Coimbra.

Como ensaísta e crítico literário es-

creveu em diversas publicações, nome-

adamente na Colóquio/Letras e em vári-

os suplementos culturais.

«Foi, sobretudo, um poeta não ca-

nónico, de alguma forma marginal aos

centros do poder cultural», conside-

rou um dos seus maiores amigos, Pires

Laranjeira, professor da Faculdade de

Letras da Universidade de Coimbra..

Segundo ele, Luís de Miranda Rocha

«é um dos raros poetas do Século

XX que não usa o sentimentalismo,

a retórica empolada de um discurso

da tradição portuguesa, mas, pelo

contrário, uma linguagem muito se-

melhante à música experimental».

«Foi um crítico de poesia de invul-

gar qualidade», disse à Lusa o director-

regional da Cultura do Centro, António

Pedro Pita, também amigo do autor.

Para António Pedro Pita, professor do

Instituto de Estudos Filosóficos da Fa-

culdade de Letras de Coimbra, «foi mar-

cante o modo como Luís de Miran-

da Rocha acompanhou a produção

poética dos anos setenta».

«Numa época em que a actividade

crítica era muito intensa e até polé-

mica, Luís de Miranda Rocha foi um

dos críticos mais influentes», frisou.

Era sócio da Associação Portuguesa

de Escritores e da Associação Interna-

cional de Críticos Literários, as quais que

representou em júris de diversos prémi-

os literários.

Frequentou o Instituto de Estudos So-

ciais, em Lisboa, licenciou-se em Estu-

dos Portugueses pela Universidade de

Coimbra e fez a parte curricular de um

mestrado na mesma área, na Universi-

dade de Aveiro. Deixou colaboração li-

terária (poética, crítica e ensaística) e

jornalística por diversos jornais e revis-

tas culturais portuguesas e estrangeiras,

desde finais dos anos sessenta.

Sobre um dos seus últimos livros, A

luz da noite, o som do mundo, deveras

importante no panorama da nossa poe-

sia contemporânea, escreveu, em 2000,

Cristina Mello (professora da Faculdade

de Letras de Coimbra), um longo texto

de interpretação do qual se transcreve

um breve parágrafo:

«Numa tentativa de compreender o

imaginário do canto grave de A luz da

noite, o som do mundo, canto (fala, voz)

que recusa as amenidades, as harmoni-

as eufónicas, mas também a sua tradu-

ção semântica, ocorre que nele se alude,

de um modo muito subtil (quase como

uma natural decorrência da selecção dos

significantes verbais), a um mundo em

que não há lugar para a harmonia, para

a unidade».

Desse livro, esférico e orquestral, aqui

se deixa o seu último fragmento:

66

A voz que fala, a quem a ouve, o som

durante

Esse rumor a noite canta, o som ruído

Devastador, imenso cresce, o mundo

anda

A vida anda, essa deriva, a vaga

incerta

Nocturno tão, esse som grave, o

mundo triste

A percepção, que litoral, de noite o mar

Imenso o som, que grave canta, o

mundo ouvido

A percepção, de que a vida, sensação

A sensação, de que no ar, o som de que

(Mira, Coimbra – 1995-2000)

20 DE 04 A 17 DE ABRIL DE 2007A PÁGINA DO MÁRIOwww.apaginadomario.blogspot.com

[email protected]

Mário Martins

TREINADOR IRRITADO

Manuel Machado, há instantes, naconferência de Imprensa após o Acadé-mica-U. Leiria (0-0), afirmou que os can-didatos à presidência do clube deveriamestar calados (num recado directo paraJaime Soares, que hoje é notícia no “Di-ário de Coimbra”) e abandonou a sala,irritado, depois de lembrar que fez a 4.ªclasse há muito tempo.

(publicado no blogue em 1/4)

O MUNDO ESTÁ DIFERENTE

No “Diário As Beiras” de hoje, Luís Vi-lar - responsável concelhio do PS - escrevesobre “Urbanismo e Construção Civil”.

No “Jornal de Negócios” leio que a“CGTP pede suspensão de ‘A Bela e oMestre’”.

Há qualquer coisa de diferente, não há?...(publicado no blogue em 29/3)

QUE RAIO DE PAÍS É ESTE?

“Uma criança nasceu numa garagemem Buarcos enquanto a mãe aguardavaa chegada de uma ambulância que atransportasse para a maternidade emCoimbra”.

Acabo de ouvir na SIC Notícias e sin-to vergonha.

(publicado no blogue em 29/3)

RECORDAÇÕES DA EMPC

Em 1976 fechámos a Escola do Magis-tério Primário de Coimbra (EMPC) duran-te umas boas semanas, até que a “norma-lidade docente” fosse restabelecida.

Quando os professores decidiram aca-tar as recomendações do Ministério daEducação, os alunos terminaram com oboicote e a escola retomou as activida-des com inteira normalidade.

Aquele grupo de alunos (do qual sintoorgulho de ter feito parte) já teria resol-vido os “problemas” na UniversidadeIndependente.

Não tenho quaisquer dúvidas.(publicado no blogue em 28/3)

CAMARADAS

Onde mais se ouve “dizer mal” de al-

gum político é no próprio partido. Esta éuma verdade que tenho há muito poradquirida.

Os recortes que aqui trago podem serconsiderados como apenas mais umaprova.

Victor Baptista “beliscou” João Silvanuma entrevista ao “Diário As Beiras”;João Silva “respondeu” a Victor Baptis-ta no “Diário de Coimbra”.

O título é elucidativo. João Silva de-veria estar com dúvidas quanto à exis-tência (política, certamente...) de VictorBaptista. Por isso, quando desfez as dú-vidas tratou de escrever um artigo e dar-lhe como título, precisamente, a conclu-são a que chegara: “O dr. Victor Baptis-ta existe”.

(NOTA: trata-se de um excerto; no blo-

gue encontra o texto completo, bem como

outros textos sobre a polémica entre João

Silva, Pereira da Silva e Victor Baptista;

publicado no blogue em 28/3)

GENTE COM TEMPO

Anda muita gente “assanhada” nas rá-dios e nas televisões por causa de um con-curso televisivo que terminou ontem naRTP.

Logo de manhã, ainda não eram 8 ho-ras, comecei a ser bombardeado com re-acções. Continuou durante a tarde. Estoua ver o “Jornal das 9”, na SIC Notícias, elá estão dois convidados a comentar o tema.

Peço desculpa de não poder emitir opi-nião; não vi sequer um dos tais programas.

Aliás, invejo quem tem tempo para vertanta televisão. E tal “género de televisão”.

(Eu prefiro perder algum tempo com aNet - e com este blogue, naturalmente...).

(publicado no blogue em 26/3)

SIC: O BOM E O MAU

Acabei de assistir a alguns minutos degrande qualidade televisiva.

O espaço chama-se “Livro de recla-mações” e apareceu no final do “Jornalda Noite”.

O facto de ter contado com a presen-ça do Professor Eduardo Sá foi “meiocaminho andado” para o sucesso. Mas aprópria ideia da rubrica e o tema aborda-do (as saídas dos jovens à noite) mere-cem elogios; isto, sim, é serviço públicode televisão.

Já agora, uma confissão de cariz dife-rente: há um programa da SIC que meprovoca grande alergia. Azia. Mal-estar.

Às vezes, durante a tarde, ligo o televi-sor e “apanho-o” sem querer. Desde quesei o que aquilo é, mudo logo de canal.

Chama-se “Contacto”. Intragável parao meu gosto.

(publicado no blogue em 26/3)

OS JOGOS DA SELECÇÃO

Facto n.º 1 : a grande maioria dos jogosque se disputam em Portugal é de má qua-lidade.

Facto n.º 2: os melhores futebolistas por-tugueses jogam no estrangeiro.

Conjugando estas duas realidades, per-cebe-se com facilidade que quem gostaverdadeiramente de futebol não deve per-der um jogo da selecção nacional.

Por um lado, porque é uma oportunida-de de ver os melhores jogadores portugue-ses; por outro, porque é elevada a probabi-lidade de assistir a um bom espectáculo.

Há anos que tento assistir a todos osjogos da selecção em Portugal.

E o saldo é francamente positivo. Nãome lembro de um jogo mau e recordoalgumas exibições memoráveis, caso doPortugal-Inglaterra, no Estádio da Luz (Euro2004), e do Portugal, 7 – Rússia, 1 no Está-dio de Alvalade.

Ontem, novamente em Alvalade, a se-lecção portuguesa brindou os 49.007 espec-tadores com 45 minutos de grande brilho,que levaram o estádio quase à loucura.

Compreendo que o clubismo de algunsadeptos (ou, se o preferirem, o fanatismoclubístico) os leve a acompanhar os jogosdos seus emblemas preferidos, mesmo quan-do esses jogos são maus espectáculos - umdomingo atrás do outro, uma época atrás daoutra.

Eu não tenho essa capacidade. Tentoperceber o valor sócio-desportivo dos clu-bes, reconheço nalguns o papel de “embai-xadores” disto ou daquilo, mas não sou adep-to indefectível de nenhum.

É por isso que já por mais de uma vezescrevi que as minhas equipas são duas:aquela onde joga o meu filho e a selecçãonacional.

Tento ter um olhar racional sobre o fute-bol. É verdade que o jogo é emoção, pai-xão. Mas o adepto não deve ser parvo. Eu,pelo menos, tento não o ser. E utilizo a únicaarma que tenho: entro nuns estádios, nou-tros… não.

(Ou por outras palavras: com o meu di-nheiro só “brinca” quem eu quero. Mas issosão histórias para contar um dia destes).

CORRER COM 31 GRAUS

Por acaso, encontrei numa cadeia detelevisão árabe a transmissão em direc-to do Campeonato do Mundo de Cross.

A prova disputa-se em Mombaça(Quénia). Lá são mais três horas do queem Portugal.

(Acabam de partir os seniores mas-culinos, são lá 17h20)

Já são vários os casos de atletas quedesmaiam logo depois de ultrapassar ameta.

Há pouco, um júnior caiu a 10 metrosdo fim, tentou levantar-se uma e outravez, mas não o conseguiu - imagens im-pressionantes.

Fui consultar um “site” de informaçãometeorológica e constatei que a tempe-ratura em Mombaça é de 31 graus (“pa-recem ser 36”, refere a informação), com60% de humidade.

Mais uma situação em que os inte-resses (e a saúde) dos atletas não sãoacautelados.

Em nome de quê? Talvez de umatransmissão a “horas decentes” para aEuropa e os Estados Unidos.

(publicado no blogue em 24/3)

EMPRESAS MUNICIPAIS

O Tribunal de Contas fez uma audito-ria a este estranho universo das empre-sas municipais e descobriu pormenoresescabrosos da forma como o dinheiro doscontribuintes é gasto.

(Armando Esteves Pereira,

director-adjunto

do “Correio da Manhã”;

publicado no blogue em 24/3)

VALENTIM NA RTP

O dirigente continua muito palavroso,mas vê-se que está cansado.

Sobre o conteúdo da entrevista, acheiinteressante o modo como Valentim Lou-reiro se referiu aos árbitros, sobretudoaos “coitados” que lhe telefonavam, por-que não faziam parte de nenhum grupo.

Como se prova, anda lindo o futebolem Portugal, com árbitros a telefonarema dirigentes de clubes - e tudo na maiordas normalidades!

(publicado no blogue em 22/3)

FALHAS NO DOSSIERDE JOSÉ SÓCRATESNA UNIVERSIDADEINDEPENDENTE

O dossier relativo à licenciatura deJosé Sócrates na Universidade Indepen-dente tem várias falhas. Há alguns do-cumentos por assinar, ou sem data, tim-bre ou carimbo, tal como há elementoscontraditórios, nomeadamente os relati-vos às notas atribuídas a José Sócrates.

(texto de apresentação de reporta-

gem de Ricardo Dias Felner, licencia-

do em Jornalismo na Universidade de

Coimbra, no “Público” de hoje -

publicado no blogue em 22/3)

21DE 04 A 17 DE ABRIL DE 2007 TELEVISÃO

PÚBLICA FRACÇÃO

Francisco Amaral

[email protected]

Meu caro Nuno (Santos).

Não escrevo para te dizer que fiqueimuito desiludido com aquela ideia de teresavançado com o concurso, passatempo, ouo que quiseres chamar, do “Melhor portu-guês de sempre”... ou era o “maior”?

Perdi há muito as ilusões com os bonsprofissionais como tu. Sei do que és capaze, fundamentalmente, tu és capaz (e muito)de vender bem qualquer produto mediático.

Recordo-me das reuniões na torre 6das Amoreiras, quando, terias no máxi-mo uns 23 anos, já davas mostra das tuascapacidades.

Nessa altura cuidavas de ajudar a ga-rantir um produto que, talvez fruto dotempo, era uma rádio (TSF) que se des-tacava de todas as outras, a maior partedas vezes por boas razões. O EmídioRangel confiava em ti. Nessa altura, esteera já um bom prenúncio.

Passados dois anos estavas a lançar outrarádio – a Energia. Para os mesmos pa-trões e com a mesma sabedoria com quehavias trabalhado na TSF. Os conteúdoseram, no entanto, completamente diferen-tes. Fiquei assim com a ideia de que seriascapaz de vender fosse o que fosse, embo-ra tivesse a ideia de que não te movimen-tarias tão bem em áreas que se destinas-sem às chamadas classes C e D.

Tenho a certeza de que conversámos

sobre o lançamento da Energia em Coim-bra. Lembro-me agora, perfeitamente, deque almoçámos no Nacional. Querias en-contrar jovens “opinion makers” que mar-cassem o quotidiano das escolas secundári-as. E estivemos de acordo sobre a escolhados James para o concerto de lançamentono Universitário. Funcionou. Se funcionou!

Agora, meu caro Nuno, não só ajudas adesenterrar o Salazar, como enches as noi-tes de fim-de-semana da “tua” RTP-1 comTony Carreira, Emanuel e Marco Paulo!

Sei que não te envergonhas disto porquetu fazes parte daqueles que estão mesmoconvencidos de que estão a fazer as coisasbem. Desempenhas correctamente o papelpara que foste contratado. Por isso, as cita-ções que se seguem nada te dirão. Nem a ti,director de programas da RTP 1, nem ao Dr.Almerindo Marques, presidente da Adminis-tração, rigoroso gestor que nada tem com osconteúdos da estação que administra...

Haverá então alguém mais “acima”? Há.E esses foram eleitos por nós e é a nós quetêm que dar explicações.

É provável que os diversos assessores jálhes tenham feito chegar estes recortes. Dequalquer forma, mais vale prevenir do queremediar e seria bom que reflectissem so-bre as opiniões que chegam de lados tãodiversos. Saber ouvir é importante. Obsti-nação é muito diferente de persistência e aarrogância, quando, inevitavelmente, um diapassa a soberba, acaba por ser sempre fatal.

Poucos dias depois da morte de JoãoSoares Louro, o presidente da RTP entre1978 e 80, época em que o segundo canalfoi relançado, concorrendo com o primeiro,em que a cor substituiu o preto e branco, eem que foi feito o redimensionamento, ree-quipamento e equilíbrio financeiro da em-

presa, era o momento ideal para acreditarque um outro serviço público é possível.

Então leiam...

El País online (26.3.07): “Los teles-pectadores de Portugal eligen al dictadorSalazar como la figura histórica más im-portante del país – 160.000 personas par-ticiparon en la polémica votación popularde la Radio Televisión Portuguesa”.

Emídio Rangel (24 Horas, 27.3.07):“Aquilo é uma vergonha para o serviçopúblico. É estupidez. Nem o serviço pú-blico nem as televisões privadas se devi-am sujeitar a estas burlas. Só por idioticeé que é possível escolher o melhor portu-guês assim”. Ficamos assim a saber que

Rangel acredita que é possível “eleger

o melhor português” ... assim é que não.

Diana Andringa (24 Horas, 27.3.07):“esta eleição é ‘o resultado provável domau jornalismo feito por nós nos últimosanos, deixámos apagar a memória dofascismo. Demitimo-nos de ser os histo-riadores que os jornalistas também têmde ser’.” Talvez porque dificilmente se

faz História no Snob ...

José Medeiros Ferreira, “O anozero do neo-salazarismo” (DN, 27.3.07):“(...) Estes últimos meses assistiram aum curioso plurimovimento de culto des-sa personalidade que ligou, numa linhainvisível, o casticismo de Santa CombaDão à RTP sediada em Lisboa na Ave-nida Marechal Gomes da Costa – esteum nome bem apropriado para anuncia-ções salazaristas, como se verifica”.

José Vitor Malheiros, A única elei-ção que Salazar ganhou (Público,27.3.07): «Diga-se que há algo no forma-to do concurso que é desagradável em si

e é lamentável que a estação pública detelevisão tenha querido ser o seu promo-tor. O formato dos Grandes Portuguesese a eleição do “maior” de todos eles (como repugnante slogan “Só há lugar paraum!”, à maneira da pior cultura popularamericana), não se pode considerar queexalte os valores da cidadania.»

Mário Negreiros, Os grandes e osportugueses (Jornal de Negócios,27.3.07): “O melhor disto tudo? A cons-tatação de que há mesmo uma enor-me distância entre o povo portuguêse aquilo que a televisão apresentacomo tal. Há muito que a televisãopara mim não passa de um aparelhotransmissor de jogos de futebol. Foradisso está desligada, caladinha, paranão fazer barulho. Na última vez emque vi um telenoticiário (já lá vão unsdois meses), a última notícia, dada emtom de “olha só que engraçado”, erao nascimento, algures na AméricaLatina, de um desgraçado de um be-zerro com cinco patas e dois sexos,uma deformação horrível, um animalem sofrimento, atracção engraçada deum circo de horrores. (...)”.

Estes “recortes” já devem ter sido li-dos pelo 1º ministro (ou já alguém o fezpor ele). O ministro Santos Silva deveter igualmente lido isto e muito mais.Mas talvez haja um ministério onde nadadisto deu que falar, para além dos co-mentários distraídos do “viste aquilo on-tem?”. Refiro-me ao Ministério da Edu-cação. Maria de Lurdes Rodrigues temaqui matéria com que se preocupar.Mais do que a maioria dos seus compa-nheiros de governação. Fá-lo-á?

No texto acima Francisco Amaral, emcarta aberta a Nuno Santos (de quem fo-mos ambos companheiros de trabalho naTSF), faz oportuna e pertinente crítica àRTP. Desta vez também eu não resisti adenunciar, através de facto concreto, oque são hoje os critérios editoriais das te-levisões em Portugal.

Assim, a seguir se dá conta do que foi oconteúdo do jornal das 14 horas da SICNotícias no passado domingo, dia 1 de Abril(e garanto que não foi, nem é, mentira!).

Os primeiro 17 minutos (dezassete mi-nutos!) foram integralmente consagradosao jogo de futebol entre Benfica e Portoque iria disputar-se horas depois.

Os 3 minutos seguintes (dos 17 aos 20)foram ocupados com uma reportagemsobre a inauguração da Casa do Benficaem Santa Comba Dão, com imagens doPresidente do clube, Luís Filipe Vieira, aser recebido com pompa e circunstânciae depois numa sessão de autógrafos.

Seguiram-se 2 minutos sobre o jogo defutebol Guimarães.

Ou seja, os primeiros 22 minutos (vintee dois minutos!) de um dos jornais commaior audiência num domingo, num canaldito de notícias, foram integralmente con-sagrados ao futebol, como se nada deimportante tivesse acontecido em Portu-

A “informação” televisivagal e no estrangeiro.

Curiosamente, esse período de tempofoi exactamente metade da duração totaldesse jornal das 14 horas da SIC Notíciasa que estamos a referir-nos. De facto, ojornal demorou 44 minutos – uma dura-ção excessiva, que é um perfeito dispara-te em televisão, mesmo num canal de no-tícias (embora haja outros canais genera-listas cujos noticiários principais se arras-tam por uma hora – sessenta penososminutos que quase ninguém consegueaguentar, pois ainda por cima são preen-chidos, muitas das vezes, por reportagensjá emitidas em diversos noticiários anteri-ores, as que têm alguma relevância, oupor peças cujo interesse é quase nulo).

Mas continuemos a descrever o alinha-mento do dito “noticiário”:

Dos 23 aos 25 minutos, reportagemsobre o Conselho Nacional do CDS-PP.

Dos 25 aos 26 minutos, informaçõessobre a “tragicomédia” da UniversidadeIndependente.

Dos 26 aos 28 minutos um directo, viatelefone (!), com o repórter que cobria oRali de Portugal, a partir do Estádio doAlgarve. E nesse espaço de tempo quasesó se conseguiu ouvir o barulho das “má-quinas” a acelerar, abafando o que o re-pórter ia dizendo, de forma absolutamen-

te imperceptível! (Há umas décadas já arádio e a própria televisão conseguiamfazer bem melhor, com meios tecnológi-cos muito menos sofisticados do que aque-les que hoje estão acessíveis a qualquercidadão…).

Dos 28 aos 31 minutos uma reporta-gem sobre as novas taxas moderadorasdo Serviço Nacional de Saúde, que nessedia entravam em vigor.

Depois um minuto (até aos 32), paraaludir à visita do líder do PSD, MarquesMendes, ao Centro de Saúde de Oleiros.

Aos 32 minutos uma breve notícia so-bre mais um acidente de um carro emcontra-mão na A-8, na zona de Óbidos,cujo condutor perdeu a vida ao embaternoutro veículo, tendo os ocupantes desteficado feridos.

Breve pausa para um espaço publici-tário - que começou com quê? Referên-cia à “emissão especial” que a SIC Notí-cias iria dedicar, durante a tarde, ao jogoBenfica-Porto!…

Aos 34 minutos aí está a primeira (eúnica!) notícia internacional: o Presiden-te Bush, desengravatado, a exigir a li-bertação dos soldados britânicos detidospelo Irão.

Dos 36 aos 39 minutos uma reporta-gem, com enviados especiais a Itália, so-

bre uma questão “importantíssima”: a ori-gem da “pasta”, que é como quem diz damassa (daquela que se come…). Ficá-mos a saber que os italianos comem 3milhões de toneladas de “pasta” por ano.É muita massa!...

A encerrar, mais uma reportagem degrande “actualidade”: cerca de 5 minutosa mostrar imagens das aldeias de xisto edos poucos que nelas ainda habitam.

“Assim vai o País e o Mundo” – cos-tumava ouvir-se, há uns tempos, no ter-mo dos noticiários, quando eles eram,de facto, serviços noticiosos, quando in-formavam.

Agora, perante este conteúdo, maisadequado seria afirmar:

“Fiquem-se com estas preciosas notí-cias que carinhosamente escolhemos paravos oferecer, porque não queremos maçá-los com o que se passa na nossa santaterrinha e no resto do Planeta”.

Assim vão os critérios editoriais nasnossas televisões, onde parece ter-se per-dido a noção do que é o dever de infor-mar e do que é o direito dos cidadãos aserem informados.

Quanto ao que se passa no País e noMundo, isso pouco importa…

Jorge Castilho

22 DE 04 A 17 DE ABRIL DE 2007MÚSICA

Distorções

José Miguel Nora

[email protected]

Estão aí mais seis nomes confirma-dos para a edição deste ano do FestivalSuper Bock Super Rock. São eles: ClapYour Hands Say Yeah, Linda Martini, TheJesus & Mary Chain, Mundo Cão, TheRapture (dia 4 de Julho), e X-Wife (dia 5de Julho). Enquanto aguardamos pormais novidades dos cartazes referentesaos restante festivais de Verão – comosejam o Festival do Sudoeste TMN, oumesmo, Festival Heineken Paredes deCoura –, e apenas temos informaçõesrelativas ao programa quer do SuperBock, Super Rock, quer do CreamfieldsLisboa, quer do Alive!, o Super BockSuper Rock assume-se como o fortecandidato a melhor festival de 2007, nãosó pela qualidade do cartaz, mas, sobre-tudo, pelos nomes que se estreiam emPortugal no âmbito deste evento.

Depois de na 1.ª edição deste espaçoter dado destaque a um dj e produtor dereconhecido mérito na cena musicalmundial – tal como também fiz com os 2

Many Dj´s e, na última edição, com o DjVibe – hoje é tempo de destacar doisnovos valores, não só no que toca ao

“djiing”, mas, sobretudo, enquanto pro-dutores e “remisturadores”. O primeiroé de nome próprio Dylan, mas é por LeCastle Vania que é conhecido nestasandanças, e muito me tem surpreendido,sobretudo de há uns meses para cá, comas suas excelentes remisturas, quer parao original dos Snowden, “Black Eyes”(Le Castle Vania Remix), quer para“Come Out” dos 120 Days, do qual re-

sultaram as fenomenais “Le CastleVania´s Electric Rock Mix” e “Le Cas-tle Vania´s Electric Disco Mix”. Depoisde estar rendido às misturas, foi tempode procurar alguns originais da sua auto-ria e descobri “Tigertron” e “Trouble inDaylight”, ambos com a colaboração deFactory Aire, dos quais há uma série deremisturas, entre as quais destaco a “Ti-gertron (Toxic Avenger Remix).

Fenómeno semelhante se passou comos Digitalism, que já tive oportunidade dever ao vivo no Palco After Hours na úl-tima edição do Festival Heineken Pare-

des de Coura, e que já conhecia sobre-tudo pelas suas “mixes” de originais debandas como os Cut Copy (“Going No-where”), Depeche Mode (“Never LetMe Down Again”), The Futureheads(“Skip To The End”), The Presets(“Down Down Down”), Test Icicles(“What´s Your Damage”), ou mesmo, docanadiano Tiga – “(Far From) Home”.Mas, recentemente, descobri temas como“Idealistic”, “Zdarlight”, ou os mais re-centes “Pogo” ou “TVTV”, nos quaisando absolutamente viciado.

Para adquirirem alguns destes temasmarcadamente “electro-rock” reco-mendo a visita à loja portuguesa do iTu-nes, ou terão de aguardar pela ediçãodo álbum de estreia dos Digitalism, “Ide-alism”, com edição marcada para 4 deJunho, ou, mesmo, ir procurando nosdiversos “blogs” onde estes artistas dis-ponibilizam gratuitamente estes temas,sabendo que muitos deles estão já edi-tados em vinyl ou em vias disso. Valembem o sacrifício.

Resta-nos esperar a visita destes no-vos “fenómenos” das pistas de dança.

PARA SABER MAIS:

www.musicanocoracao.ptwww.creamfields.sapo.ptwww.paredesdecoura.comwww.myspace.com/digitalismwww.myspace.com/castlevaniadiscowww.lecastlevania.com

Le Castle Vania

Digitalism

O compositor, pedagogo e poetaJoel Canhão foi homenageado no pas-sado sábado pela Câmara Municipalde Coimbra, com a entrega da Me-dalha de Mérito Cultural, numa ses-são que incluiu também um concertopor grupos que foram regidos pelomaestro.

A homenagem decorreu sábado ànoite na Capela da Universidade deCoimbra, e incluiu actuações do Or-feon Académico e do Coro dos Anti-gos Orfeonistas da Universidade deCoimbra, que o maestro dirigiu.

Actualmente organista titular daUniversidade de Coimbra, Joel Ca-nhão foi ainda brindado neste con-certo com uma interpretação porPaulo Bernardino (seu antigo aluno)do díptico da autoria do homenagea-do “Ecos nas Flautas e Diálogo”,numa primeira audição.

No mesmo espectáculo, o Quarte-to Ethos apresentou repertório clás-sico, integrando a obra “Quatro Can-ções natalícias infantis”, igualmentecomposta pelo homenageado.

Foram ainda declamados váriospoemas de Joel Canhão, alguns de-

Trovadores urbanos, os portugueses DaWeasel cantam “Amor, Escárnio e Maldi-zer”, o sexto álbum de originais editado napassada segunda-feira.

Entre interlúdios e canções, o alinhamen-to sugere vários géneros musicais, da bos-sa-nova de “Toque-Toque” ao hip hop maispesado de “Sistema do Sistema”, à medidaque passam do Amor para o Escárnio e da-qui para o Maldizer.

Essa evolução sonora é adensada pe-los artistas que os Da Weasel convoca-ram para o novo álbum, uma experiênciaque só foi possível, segundo João Nobre,graças ao amadurecimento da banda, for-

DISTINGUIDO COM A MEDALHA

DE MÉRITO CULTURAL

Joel Canhão homenageado

les inéditos.Mário Nunes, Vereador da Cultu-

ra da autarquia de Coimbra (que pro-pôs a atribuição da Medalha), consi-derou Joel Canhão como “um reco-nhecido compositor”, alguém quemarca a cultura musical coimbrã,mas, mais do que isso. “uma figurade relevo nacional e internacional

Destacou-se na composição e exe-cução para vozes mistas, para órgão,piano e vários outros instrumentos.

Na escrita, dedicou-se à produçãopoética, sob o pseudónimo de MouroSerpa, e à publicação de livros sobreeducação musical, de carácter didác-tico, para a infância.

É autor também de escritos musi-cológicos sobre órgãos de tubos co-nimbricenses, designadamente os de-dicados ao órgão do Seminário Mai-or (cuja divulgação conduziu ao seurestauro) e ao órgão barroco da Ca-pela da Universidade de Coimbra.

Joel Canhão, que dirigiu igualmen-te o Orfeon Escalabitano e o GrupoCoral Alfredo Keil, foi também pro-fessor em vários estabelecimentos deensino.

mada em 1993, em Almada.Convidaram, por exemplo, o pianista Ber-

nardo Sassetti para o tema intimista “A pa-lavra”, os Gato Fedorento para um interlú-dio humorado e o maestro Rui Massena,que fez arranjos orquestrais para três te-mas.

O jamaico-americano Atiba partilha coma banda o tema “International Luv” e o es-critor José Luís Peixoto escreveu para “Ne-gócios Estrangeiros”.

A presença mais internacional será a daOrquestra Sinfónica de Praga, com a qualos Da Weasel gravaram três temas na Re-pública Checa.

Novo álbum dos “Da Weasel”

23DE 04 A 17 DE ABRIL DE 2007 INTERNET

IDEIAS DIGITAIS

Inês AmaralDocente do Instituto Superior Miguel Torga

VIRTUAL TOURIST

REUTERS PHOTOGRAPHERS

TUBARAOESQUILO

NETVIBES

JANELA URBANA

VINICIUS DE MORAES

A ideia de partilha na rede é hoje uma realidade daInternet, com a progressiva passagem para a Web 2.0.O VirtualTourist integra este fenómeno e é uma maisvalia a quem gosta de viajar ou quer programar as pró-ximas férias de Páscoa e/ou Verão.

No VirtualTourist os membros da comunidade con-tribuem com informação relevante, permitindo fazer edisponibilizar online verdadeiros guias de viagem. Ac-tualmente há cerca de 1,5 dicas sobre restaurantes,hotéis, coisas para fazer, perigos, transportes, vida noc-turna e outros tópicos de interesse para quem viaja pelasprincipais cidades mundiais. Há ainda quase três mi-lhões de fotografias que ilustram as viagens dos utiliza-dores do site. O site tem também outras áreas, comofóruns, negócios de última hora, recursos para viajan-tes ou um espaço para a planificar viagens.

VIRTUALTOURISTendereço: http://www.virtualtourist.com/categoria: turismo

Os amantes da fotografia e do fotojornalismo têmum ponto de visita obrigatório na web: o photoblogReuters Photographers. Trata-se de um espaço ondesão publicadas as melhores imagens dos fotógrafos daagência noticiosa. O objectivo deste blog foi a criaçãode um ponto de encontro, de «um sítio onde possa-mos discutir, falar sobre as nossas imagens, enco-rajar a qualidade fotográfica e trocar ideia».

No Reuters Photographers estão prometidos acada passo instantâneos ditos de luxo, assim como di-cas dos fotojornalistas e editores da agência sobre comocaptar boas imagens. Todos os posts permitem deixarcomentários, o que torna o espaço bastante interactivocom a troca de ideias entre autores e utilizadores. Den-tro de pouco tempo, o Reuters Photographers deve-rá ainda publicar e discutir imagens que os utilizadorespodem enviar para o You Witness News – espaço dejornalismo do cidadão que nasceu de uma parceria en-tre a Reuters e o portal Yahoo.

Links relacionados:http://news.yahoo.com/you-witness-news– You Witness News

REUTERS PHOTOGRAPHERSendereço: http://blogs.reuters.com/photocategoria: fotografia

TubarãoEsquilo é o nome da primeira rede edito-rial de weblogs em Portugal

Sem qualquer pretensão de «constituir-se comouma alternativa aos meios» jornalísticos, a Tubarão-Esquilo é um «projecto editorial profissionalizan-te» em que os autores são remunerados em funçãodos resultados alcançados.

TUBARÃOESQUILOendereço: http://tubaraoesquilo.pt/categoria: weblogs

O autor da “Garota de Ipanema” tem um espaçoque vale a pena visitar na web. O site foi criado paracomemorar os 90 anos do nascimento de Vinicius deMoraes e permite que o utilizador crie a sua própriaantologia de textos, músicas e sonetos. As obras reali-zadas pelos cibernautas ainda se habilitam a serem des-tacadas no site.

O site apresenta vários tópicos entre os quais se des-taca a poesia, prosa, letras de músicas, críticas cine-matográficas. Há ainda espaço para a biografia e foto-grafias de Vinicius de Moraes, ficheiros áudio de al-gumas das suas canções, capas de livros e discos. Es-tão também disponíveis textos que foram sendo publi-cados na imprensa brasileira sobre o poeta. Há novida-des relacionadas com a obra do autor e um espaço paraos admiradores deixarem o seu testemunho. Porque a

poesia não tem fim, Vinicius continua presente quase27 anos depois.

VINICIUS DE MORAESendereço: http://www.viniciusdemoraes.com.br/categoria: poesia

A Janela Urbana é uma porta para os sentidos.Trata-se de um site que se dedica a manifestaçõesculturais alternativas. Aqui é possível encontrar in-formações e links para exposições, cursos, forma-ções, concursos, mostras artísticas online, entre ou-tras funcionalidades.

No site há um espaço dedicado ao artista do mês,onde é apresentado um perfil, uma entrevista, umaauto-biografia e imagens de um profissional das ar-tes. É possível ainda encontrar uma selecção de ví-deos do You Tube sobre arte, notícias, uma rádioonline, entre outras funcionalidades. Há também lu-gar para um mural, onde os utilizadores podem dei-xar os seus testemunhos. Uma janela de diversidadecultural a visitar.

JANELA URBANAendereço: http://www.netvibes.com/categoria: cultura

O Netvibes é um desktop online que se baseia natecnologia Ajax – que permite maior interacção entreo utilizador e o browser, e é o pleno da denominadaWeb 2.0. Este espaço permite que, mediante um re-gisto, o utilizador possa configurar a página para con-centrar conteúdos numa única página. É uma espéciede homepage inicial, à semelhança de outros serviçoscomo o PageFlakes ou o desktop do Google.

O site permite um grande nível de personalizaçãopor parte do receptor, que pode alterar o título da pági-na, adicionar, mover e remover conteúdos muito varia-dos. É possível ter janelas com feeds rss dos sites fa-voritos, receber as últimas notícias dos principais jor-nais, estar sempre informado das condições meteoro-lógicas na nossa cidade, actualizar uma “to do list”,pesquisar imagens no Flickr, localizar weblogs ou posts,verificar os últimos emails recebidos, entre outros wid-gets e gadgets para desktops online.

NETVIBESendereço: http://www.netvibes.com/categoria: tecnologia, web 2.0

24 DE 04 A 17 DE ABRIL DE 2007PUBLICIDADE