o centro - n.º 56 – 18.06.2008

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DIRECTOR JORGE CASTILHO | Taxa Paga | Devesas – 4400 V. N. Gaia | Autorizado a circular em invólucro de plástico fechado (DE53742006MPC) ANO III N.º 53 (II série) De 18 de Junho a 1 de Julho de 2008 1 euro (iva incluído) Telef.: 239 854 150 Rua da Sofia, 95 - 3.º - 3000-390 COIMBRA Sessão de defesa contra fogos florestais HOJE NA LOUSÃ PÁG. 5 ÁGUA VIOLÊNCIA PÁG. 2 PÁG. 2 PGR preocupado com idosos e hospitais Presidente da ANMP quer melhor gestão Forum Nacional sobre o Álcool PÁG. 11 PÁG. 3 PÁG. 11 a 15 PÁG. 13 DIA 25 EM COIMBRA É já no próximo sábado, dia 21, que abre a CIC 2008 - Feira Comercial e Industrial de Coimbra. Este ano a comemorar o seu 30.º aniversário, a CIC 2008 vai funcionar na margem esquerda do Mondego, no recinto do Choupalinho recentemente requalificado e que agora oferece excelentes condições também para o lazer FEIRA COMERCIAL E INDUSTRIAL DE COIMBRA ABRE NO PRÓXIMO SÁBADO CIC 2008 no Choupalinho

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Versão integral da edição n.º 56 do quinzenário “O Centro”, que se publica em Coimbra. Director: Jorge Castilho. 18.06.2008. Para saber mais sobre a arte e as técnicas de titular na imprensa, assim como sobre a “Intertextualidade”, visite http://www.mediatico.com.pt/manchete/index.htm (necessita de ter instalado o Java Runtime Environment), e www.youtube.com/discover747 Visite outros sítios de Dinis Manuel Alves em www.mediatico.com.pt , www.slideshare.net/dmpa, www.youtube.com/mediapolisxxi, www.youtube.com/fotographarte, www.youtube.com/tiremmedestefilme, www.youtube.com/discover747 , http://www.youtube.com/camarafixa, , http://videos.sapo.pt/lapisazul/playview/2 e em www.mogulus.com/otalcanal Ainda: http://www.mediatico.com.pt/diasdecoimbra/ , http://www.mediatico.com.pt/redor/ , http://www.mediatico.com.pt/fe/ , http://www.mediatico.com.pt/fitas/ , http://www.mediatico.com.pt/redor2/, http://www.mediatico.com.pt/foto/yr2.htm , http://www.mediatico.com.pt/manchete/index.htm , http://www.mediatico.com.pt/foto/index.htm , http://www.mediatico.com.pt/luanda/ , http://www.biblioteca2.fcpages.com/nimas/intro.html

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Page 1: O Centro - n.º 56 – 18.06.2008

DIRECTOR JORGE CASTILHO

| Taxa Paga | Devesas – 4400 V. N. Gaia |Autorizado a circular em invólucrode plástico fechado (DE53742006MPC)

ANO III N.º 53 (II série) De 18 de Junho a 1 de Julho de 2008 � 1 euro (iva incluído)

Telef.: 239 854 150Rua da Sofia, 95 - 3.º - 3000-390 COIMBRA

Sessãode defesacontra fogosflorestais

HOJE NA LOUSÃ

PÁG. 5

ÁGUA VIOLÊNCIA

PÁG. 2PÁG. 2

PGRpreocupadocom idosose hospitais

Presidenteda ANMPquer melhorgestão

ForumNacionalsobreo Álcool

PÁG. 11

PÁG. 3

PÁG. 11 a 15PÁG. 13

DIA 25 EM COIMBRA

É já no próximo sábado, dia 21, que abre a CIC 2008 - Feira Comercial e Industrial de Coimbra.Este ano a comemorar o seu 30.º aniversário, a CIC 2008 vai funcionar na margem esquerda do Mondego, no recintodo Choupalinho recentemente requalificado e que agora oferece excelentes condições também para o lazer

FEIRA COMERCIAL E INDUSTRIAL DE COIMBRA ABRE NO PRÓXIMO SÁBADO

CIC 2008 no Choupalinho

Page 2: O Centro - n.º 56 – 18.06.2008

2 DE 18 JUNHO A 1 DE JULHO DE 2008NACIONAL

Director: Jorge Castilho(Carteira Profissional n.º 99)

Propriedade: AudimprensaNif: 501 863 109

Sócios: Jorge Castilho e Irene Castilho

Inscrito na DGCS sob o n.º 120 930

Composição e montagem: AudimprensaRua da Sofia, 95, 3.º - 3000-390 CoimbraTelefone: 239 854 150 - Fax: 239 854 154

e-mail: [email protected]

Impressão: CIC - CORAZEOliveira de AzeméisDepósito legal n.º 250930/06

Tiragem: 10.000 exemplares

D. Beatriz de Almeida CoelhoFerreira de Oliveira

Faleceu ontem, em Coimbra, a Sr.ª D. Beatriz de Almeida Coelho Ferreira de Oliveira.Era Viúva do médico Dr. Germano de Oliveira e Mãe da Prof.ª Dr.ª Ana Maria de Oliveira Brett (Professora da

Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra) e da Dr.ª Maria Beatriz de Oliveira Goumaz(Chefe de Unidade do Parlamento Europeu, em Bruxelas).

O funeral realiza-se hoje (quarta-feira, dia 19), pelas 15,30 horas, da Igreja de S. José para jazigo de família nocemitério da Conchada.

À Família enlutada apresenta o “Centro” sentidas condolências.

FALECEU

Cerca de 400 milhões de pessoas vivemem regiões onde a água é um bem escasso,número que poderá chegar aos quatro bili-ões em 2025, alertou ontem o PresidenteAda Associação Nacional de Municípios, ape-lando para medidas nacionais.

“Acredita-se que a falta de água seja omais grave desastre da natureza de que hámemória”, afirma Fernando Ruas, com baseem previsões das Nações Unidas, no dis-curso de abertura do seminário que a Asso-ciação Nacional de Municípios Portugue-ses (ANMP) está a promover, ontem e hoje,em Vilamoura, subordinado ao tema “Uso eGestão Eficiente da Água”.

No Dia Mundial do Combate à Seca e àDesertificação, os autarcas lembram que aágua é um bem esgotável e que, apesar deser necessário o envolvimento de todos oscidadãos na poupança, é essencial que opoder público e político tome medidas.

Ruas adverte que a gestão equilibradada água requer “a partilha de responsabili-dades entre os distintos níveis de governa-ção” e que após vários estudos, grupos de

ÁGUA: Fernando Ruas pede medidaspara uso e gestão eficiente

trabalho e metodologias identificadas é ne-cessário passar à acção.

Desde Setembro de 2001, altura em queo Laboratório Nacional de Engenharia Civilelaborou uma versão preliminar do Progra-ma Nacional para o Uso Eficiente da Água,poucos ou nenhuns foram os avanços em

considerando que a criação de mais institu-tos, agências e administrações acarreta ne-cessariamente um acréscimo de custos asuportar “pelo já sobrecarregado contribu-inte”.

“O país tem estudos e organismos quecheguem. Utilizemos de forma eficienteestes recursos pagos pelo contribuinte epassemos à fase de execução das medidashá anos identificadas como essenciais”,exorta o líder da ANMP, dirigindo-se aoGoverno e manifestando a disponibilidadeda associação nesse sentido.

As diferentes realidades sócio-económi-cas do país e a recente polémica em tornodo fim do aluguer dos contadores da água eas tarifas de disponibilidade constam tam-bém do discurso de Fernando Ruas, peran-te uma audiência em que estava, entre ou-tras entidades, o Ministro do Ambiente,Nunes Correia.

“Perante as necessidades ao nível da re-abilitação de redes antigas, especialmenteas que se localizam em centros históricos,ao nível da sensibilização ambiental, da mo-dernização da gestão face às novas tecno-logias que diariamente são disponibilizadas -sabendo-se que as verbas do QREN serãoinsuficientes para financiar todas as medi-das (…), sabendo-se do actual quadro emque os recursos municipais são parcos e orecurso à banca condicionado, a adminis-tração central terá de assumir, ao nível dofinanciamento, um papel essencial, directa-mente ou em sintonia com o sector priva-do”, defende.

O seminário conta com a presença dovice-presidente da associação ambientalis-ta Quercus, Francisco Ferreira, dos presi-dentes da Águas de Portugal, Pedro Serra,do Instituto da Água, Orlando Borges, doInstituto Regulador de Águas e Resíduos,Jaime Melo Baptista e da EPAL, João Fi-dalgo, entre autarcas, académicos, represen-tantes dos consumidores, dos agricultores eindústria.

PGR preocupado com violênciacontra idosos e nos hospitais

termos práticos, recorda o autarca.Passados sete anos, “o país continua sem

conhecer o Programa para o Uso Eficienteda Água de forma a que todos possamoscumprir, no quadro das nossas responsabili-dades, os desígnios ambientais, económicose sociais que constam de documentos es-tratégicos como a Lei da Água, a Directi-va-Quadro da Água ou o Plano Nacionalda Água”, diz Fernando Ruas.

Ruas afirma que os municípios por si só“pouco podem contribuir para um efectivoconsumo eficiente”, já que – segundo osdados que apresenta – o abastecimento ur-bano apenas representa oito por cento doconsumo nacional de água.

Apela por isso ao envolvimento da indús-tria e sobretudo da agricultura, “responsá-vel por 87 por cento do consumo total”, semo qual o país “não conseguirá nunca utilizarde forma eficiente a água”.

Fernando Ruas afirma que a ANMP foiconsultada sobre a criação de mais umaestrutura pública para “dinamizar” o usoeficiente da água, “a Agência Água qb”,

Fernando Ruas

O Procurador-Geral da República,Pinto Monteiro, manifestou-se ontem,na Assembleia da República, preocu-pado com a violência contra idosos enos hospitais, crimes que ainda não sãodenunciados.

“Tenho poucos dados sobre a vio-lência contra idosos e isso preocupa-me bastante porque os idosos não têmvoz”, disse Pinto Monteiro, que ontemà tarde esteve na Comissão Parlamen-tar da Educação e Ciência para falarsobre violência escolar.

O Procurador-Geral da República(PGR) sublinhou que estabeleceu

como “prioridades” de investigação “ogrande problema dos pequenos ilícitos”,como a violência escolar, doméstica, con-tra idosos, menores e abusos sexuais.

“Está tudo no mesmo grupo de priori-dades, mas a violência escolar foi a maismediatizada”, afirmou, mostrando-se“preocupado” com a violência contra osidosos e, como tal, já pediu ajuda às jun-tas de freguesia, que se prontificaram emcolaborar.

Pinto Monteiro adiantou que teve co-nhecimento que “existiam queixas sobremédicos, enfermeiros e pessoal auxiliar”,mas na violência hospitalar “há mais re-

sistência em apresentar queixas”.No entanto, o PGR destacou as

queixas e as cartas que tem recebidode pais, professores e alunos que sãovítimas de violência escolar desde quelançou o apelo para que estes casosfossem denunciados.

“Este tipo de crime deve ser parti-cipado ao Ministério Público. Comoneste momento as participações au-mentaram e começa haver averigua-ções o problema da violência escolardiminuiu”, sublinhou Pinto Monteiro,que não dispõe de dados sobre estamatéria.

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3DE 18 DE JUNHO A 1 DE JULHO DE 2008 NACIONAL

Temos uma excelente sugestãopara uma oferta a um Amigo, a umFamiliar ou mesmo para si próprio:uma assinatura anual do jornal“Centro”

Custa apenas 20 euros e ainda re-cebe de imediato, completamentegrátis, uma valiosa obra de arte.

Trata-se de um belíssimo trabalhoda autoria de Zé Penicheiro, expres-samente concebido para o jornal“Centro”, com o cunho bem carac-terístico deste artista plástico – umdos mais prestigiados pintores portu-gueses, com reconhecimento mesmoa nível internacional, estando repre-sentado em colecções espalhadas porvários pontos do Mundo.

Neste trabalho, Zé Penicheiro,com o seu traço peculiar e a incon-fundível utilização de uma invulgarpaleta de cores, criou uma obra quealia grande qualidade artística a umprofundo simbolismo.

De facto, o artista, para represen-tar a Região Centro, concebeu umaflor, composta pelos seis distritos queintegram esta zona do País: Aveiro,Castelo Branco, Coimbra, Guarda,Leiria e Viseu.

Cada um destes distritos é repre-sentado por um elemento (remeten-do para o respectivo património his-tórico, arquitectónico ou natural).

A flor, assim composta desta for-

ma tão original, está a desabrochar,simbolizando o crescente desenvolvi-mento desta Região Centro de Portu-gal, tão rica de potencialidades, de His-tória, de Cultura, de património arqui-tectónico, de deslumbrantes paisagens(desde as praias magníficas até às ser-ras imponentes) e, ainda, de gente hos-pitaleira e trabalhadora.

Não perca, pois, a oportunidade dereceber já, GRATUITAMENTE ,esta magnífica obra de arte (cujas di-mensões são 50 cm x 34 cm).

Para além desta oferta, o beneficiá-rio passará a receber directamente em

sua casa (ou no local que nos indicar),o jornal “Centro”, que o manterásempre bem informado sobre o que demais importante vai acontecendo nes-ta Região, no País e no Mundo.

Tudo isto, voltamos a sublinhá-lo,por APENAS 20 EUROS!

Não perca esta campanha promo-cional e ASSINE JÁ o “Centro”.

Para tanto, basta cortar e preen-cher o cupão que abaixo publicamos,e enviá-lo, acompanhado do valor de20 euros (de preferência em chequepassado em nome de AUDIMPREN-SA), para a seguinte morada:

AUDIMPRENSAJornal “Centro”

Rua da Sofia. 95 - 3.º3000–390 COIMBRA

Poderá também dirigir-nos o seu pe-dido de assinatura através de:

� telefone 239 854 150� fax 239 854 154� ou para o seguinte endereço

de e-mail:[email protected]

Para além da obra de arte que desdejá lhe oferecemos, estamos a prepararmuitas outras regalias para os nossosassinantes, pelo que os 20 euros da as-sinatura serão um excelente investi-mento.

O seu apoio é imprescindível paraque o “Centro” cresça e se desen-volva, dando voz a esta Região.

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Sob o lema: “Fundações e o diálogointer-cultural”, realiza-se sexta-feira(dia20) no Auditório Bissaya Barreto, Cam-pus do Conhecimento e Cidadania, emBencanta, Coimbra, o X Encontro Naci-onal de Fundações, numa organização doCentro Português de Fundações, com oapoio da Fundação Bissaya Barreto.

Do programa desta realização, inseri-da nas comemorações do 50.º aniversá-rio desta importante instituição de Coim-bra, destacamos, na sexta-feira, pelas9,15 horas, a sessão de abertura, quecontará com a presença de Pedro SilvaPereira, Ministro da Presidência, e inter-venções de Nuno Viegas Nascimento,Presidente da Fundação Bissaya Barre-to, e Rui Vilar, Presidente da FundaçãoCalouste Gulbenkian e do Centro Portu-guês de Fundações. Às 11h30, um pai-nel dedicado ao tema: “O diálogo inter-religioso”, tendo como oradores AbdoolKarim Vakil, da Comunidade Islâmica deLisboa, José Oulman Carp, da Comuni-dade Israelita de Lisboa e D. Albino Cle-

NA SEXTA-FEIRA EM COIMBRA

X Encontro Nacional de Fundações

to, Bispo da Diocese de Coimbra. Esteprimeiro painel será presidido por RuiMachete, da Fundação Luso-America-na para o Desenvolvimento.

Ao início da tarde, pelas 15h00, reali-za-se o segundo painel, desta feita sob otema: “O diálogo inter-étnico”, presididopor Carlos Monjardino, da Fundação

Oriente, que terá como oradores, Hél-der Jorge Vaz Gomes Lopes, da Comu-nidade dos Países de Língua Portugue-sa, Rosário Farmhouse, Alto Comissá-rio para a Imigração e Diálogo Intercul-tural, Gerry Salole, European Foundati-on Center e Rostyslav Tronenko, Em-baixador da Ucrânia em Portugal.

Pelas 16h45, o último painel, dedicadoao tema: “O diálogo inter-cultural”, cujapresidência do painel estará a cargo deMaria do Céu Ramos, da Fundação Eu-génio de Almeida, e que terá como ora-dores António Gomes da Costa, do RealGabinete Português de Leitura (Brasil),Marta Cumbi, Fundação para o Desen-volvimento da Comunidade (Moçambi-que), António Pinto Ribeiro e SikanderJamal, Fundação Aga Khan.

Este X Encontro Nacional de Funda-ções concluir-se-á pelas 18h00, com asessão de encerramento que contarácom a presença de Emílio Rui Vilar, Fun-dação Calouste Gulbenkian, Nuno Vie-gas do Nascimento, Fundação BissayaBarreto, Eugénia Aguiar-Branco Figuei-redo, Fundação Eng. António de Almei-da, estando estas Instituições na Direc-ção do Centro Português de Fundações,do presidente da Câmara Municipal deCoimbra, Carlos Encarnação e do Mi-nistro da Cultura, José António Pinto Ri-beiro.

Campus do Conhecimento e Cidadania da Fundação Bissaya Barreto, em Bencanta

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4 DE 18 JUNHO A 1 DE JULHO DE 2008ANÁLISE POLÍTICA

ponto . por . ponto

Por Sertório Pinho Martins

É claro que sim, vamos ter fogos, masprovavelmente vai ser um Verão relativa-mente sossegado.

Tivemos um princípio do ano e uma Pri-mavera frescos. Chuva em Maio, foi umtempo excelente para a floresta que o Ou-tono tinha sido desgraça, nem pinga de água!

Mesmo quando chegar a época dos fo-gos, teremos sempre a vantagem de todosaqueles que têm a profissão ou a missão deproteger as florestas e combater os fogos

E este ano, vamos ter fogos?

Vasco Paiva

Logo a seguir ao acordo ferroviário fir-mado com os espanhóis na Cimeira Ibéricade 2003 devíamos ter dado uma altíssimaprioridade à construção de linha de bitolaibérica (para velocidades não muito altas)de Vilar Formoso a Aveiro. O problema doscamionista impedidos de entrar em Espa-nha, em Vilar Formoso, vem chamar a aten-ção para a importância nacional desta linha.

A recente crise dos transportes veiomostrar, com toda a evidência, que a ques-tão prioritária dos nossos Caminhos de

António BrotasProfessor CatedráticoJubilado do InstitutoSuperior Técnico

A crise nos transportesFerro é a da necessidade da bitola euro-peia para o transporte internacional dasmercadorias, e não o dos comboios TGVde alta velocidade.

A construção a curto prazo da linha debitola europeia de Caia até ao Poceirão (quepode amanhã salvar a Auto-Europa e ou-tras indústrias de Setúbal) é um primeiropasso importante.

Temos, urgentemente, de suspender pro-jectos magalómanos, mal pensados e des-garrados, como é o caso da linha pelo valedo Trancão para os futuros TGV que sai-am de Lisboa para o Porto. O que precisa-mos, agora, é de estudar convenientemen-te projectos não muito caros, integráveis

em planos de conjunto, que sirvam para ofuturo e que possam a curto prazo melho-rar a nossa situação.

É o caso, por exemplo, da linha de VilarFormoso a Aveiro e de uma linha de bitolaeuropeia pela margem esquerda do Tejo(que poderá, depois, servir para o TGV parao Porto) que pode dispensar a construçãodo anunciado desvio de bitola ibérica para alinha do Norte a Oeste de Santarém, quetem impactos muito negativos e não temqualquer interesse para o futuro.

Prolongada pela linha da Beira Baixa(com a bitola mudada para a europeia)esta linha (pela margem esquerda do Tejo)pode vir a ser muito importante para a

nossa economia por evitar que as merca-dorias do Sul do país passem por Madrid.As cerejas da Beira Baixa poderão, igual-mente, seguir directamente de comboiopara toda a Europa.

Algumas medidas de bom planeamentopodem poupar dinheiro mais do que sufici-ente para ajudar as pequenas empresas decamionagem que lutam pela sobrevivência(e que alguns economistas parece quere-rem votar ao desaparecimento).

Nesta mini-crise, em paralelo com algunsincómodos que causaram, deve-lhes ser cre-ditado o mérito de chamarem a atenção dopaís para problemas de fundo que não po-dem continuar a ser ignorados.

Eram demasiados os ‘sinais’ no palcosocial desde o Verão passado (após ser co-nhecido o negrume do Orçamento para2008), e não deviam ter sido varridos paradebaixo do tapete da arrogância política: obraço de ferro no encerramento dos cen-tros de saúde, a descidas à rua da CGTP edos professores em desfiles nunca vistosdesde o PREC, os pescadores em terra aespatifar lotas, a carestia dos produtos ali-mentares, a escalada dos combustíveis, otsunami das taxas de juro e do mercado decapitais, as quedas em cadeia das economi-as de um velho mundo (EUA incluídos)amarrado a compromissos sociais puramenteeleitorais, e a cereja no bolo com uma Espa-nha aqui tão perto e a meter-nos uma mãodesesperada pela casa dentro (exportaçõese mão-de-obra sazonal em queda livre) en-quanto acena com a outra os preços apete-cidos de bens de primeira necessidade. E –but not the least – a falta de liquidez nacio-nal visível a olho nu: venda de imóveis doEstado, antecipação de receitas das con-cessões dos casinos, evaporação discretadas reservas de ouro, retenção ilegal de ver-bas da União Europeia destinadas aos em-presários e desnatadas de juros gratuitos àpala do contribuinte a quem o mesmo Esta-

O Plano Bdo obriga a cumprir regras (com custos pe-sados de implementação) nos projectos aque são destinadas essas verbas pela EU ea quem vão sendo entretanto sacados aolongo de todo o ano outros impostos das for-mas mais artificiosas possível. É um perfei-to dois-em-um, e está na cara que o rei vaiem pelota e que pouco falta para a turbagritar “isto é um assalto”! E nesse dia, quempõe a corda ao pescoço e vai junto de el-reioferecer a cabeça como penhor?

E esta é HOJE a voz do homem da rua,que não pára de gritar às paredes moucasde alguns responsáveis políticos que, na suaconfiança ilimitada nos resultados eleitoraisde há três anos, não têm afinal um Plano Bpara os tempos magros que aí vêm, nem elefaz parte das suas preocupações(ir)responsáveis.

José Sócrates não quis cortar a direito noGoverno nos inícios de 2007, varrendo paralonge a tal colecção de abéculas que lhe temfeito a vida negra, e já concluiu que não che-ga para as encomendas. A recente históriados camionistas a fechar o cerco a um paíssem combustíveis nem víveres frescos, coma GNR a tresmalhar e o Ministro da tutelaem terras brasileiras a debitar loas ao dia deCamões, só comprova que proliferam oserros de casting num governo que tinha to-

das as condições para mudar a pasmaceirado sistema político e a mandar pela bordafora os cancros que o minaram. O primei-ro-ministro continua sem Plano B, num lu-gar onde foi posto pelo voto secreto dos queacreditaram nele – não foi no PS, foi nele, etire o cavalo da chuva quem pensar ou qui-ser fazer crer o contrário: o homem tinhapoder convincente e foi ele que carregou opartido para os cadeirões de S. Bento.

E a crise internacional é só um prego maisno caixão do nosso futuro de trazer por casa.O tal velho mundo, que foi honra e glória decivilizações, está empobrecido, hirto, sembrécage para as guinadas do século XXI.Os salários na zona euro crescem como nãoacontecia desde há cinco anos, num dosmomentos mais graves da economia euro-peia – o que quer tão só dizer que os sindi-catos estão ao leme, impávidos ante a cer-teza de que as taxas de juro voltarão a subire de que a inflação há-de atingir níveis aque já treparam por exemplo o preço dopetróleo e dos bens alimentares. E neste paísde marinheiros de água doce, o almirantadonão se preveniu com botes e bóias salva-vidas! Pior que isso: nem carta de marearlevou para bordo.

No outro lado do mundo, as economiasemergentes preparam já o assalto ao car-

gueiro enferrujado que delas fez ‘novosmundos’ de espanto e de pompa. E no diaem que se entenderem e remarem para omesmo estibordo, o arco poente do Pacífi-co (Rússia, Japão, China, Coreia do Sul, Sin-gapura, Indonésia), com a Índia a protegero flanco sudoeste e o mundo árabe a cortarao meio as rotas tradicionais do comérciodo século XX, estará consumado o novocentro do poder económico mundial. Com ocrescimento na casa dos dois dígitos, quempára o formigueiro gigante?

A Europa geme suores frios e treme depavor ante a ameaça da recessão. E nãovale a pena esconder evidências, nem mas-carar realidades desfiguradas, quando aslojas de penhores voltaram a florescer poresse país fora, e os salários da classe médiacada vez acabam mais antes do fim do mês.A nomenklatura política (de todos os qua-drantes) reveza-se entre o poder e a oposi-ção conveniente, debita baboseiras em as-sembleias ensonadas, e prepara com afã ofuturo que lhe escorre pelos dedos a cadadespacho vertido na folha oficial.

E para aqui estamos, deitados ao sol deuma jangada de pedra a adornar para o fun-do, sem um Plano B que sirva ao menos deflutuador da nossa esperança. Será quemerecíamos melhor sorte?

não estarão tão cansados e estarão maisdisponíveis para essa tarefa. A experiênciatem mostrado que o final de Julho é a piorépoca.

O que determina? Naturalmente que oclima!

Assim, esperemos que não venham ou-tra vez à procura de bodes expiatórios e fa-lar num bando de incendiários espalhadospor todo o País.

Esperemos que a comunicação social sejaresponsável e entenda que não pode fazera propaganda do mal.

Esperemos que não surjam por aí, res-ponsáveis daqui ou dali anunciar méritos quenão existem e que todos devem ser come-didos para não deitar foguetes antes do tem-

po, já para não falar dos que deitam fogue-tes quando o tempo está demasiado seco.

Naturalmente que para todos os que têmcomo profissão a floresta, a ameaça do fogoestá sempre presente, embora com uma si-tuação deste tipo se possa ter outra tranqui-lidade.

O maior risco é pensar-se que o proble-ma está resolvido e que se encontrou ummodelo de organização e de intervenção queassegura a boa prevenção e o eficaz com-bate.

A experiência também ensina que a se-guir a uns anos de poucos fogos, ou de me-nor expressão, vêm as grandes catástrofesporque se acumulou combustível, lenha ematos, e esfriou a atenção.

Será preciso continuar de uma forma sis-temática a procurar as causas ou as condi-ções que proporcionam o deflagrar e a pro-gressão dos fogos, sem medos, sem pre-conceitos.

E agora que todos reconhecem que aPolítica Agrícola Comum tem sido um de-sastre (pasme-se!) e que o abandono dasterras agrícolas foi um erro com consequên-cias drásticas nas carências e dependênci-as alimentares, também podem olhar comoutros olhos que essas parcelas de terra cul-tivadas, o minifúndio, eram excelentes bar-reiras naturais para evitar o alastramentodos fogos.

E por aqui ficamos hoje que muito maishaveria para contar!

Page 5: O Centro - n.º 56 – 18.06.2008

5DE 18 DE JUNHO A 1 DE JULHO DE 2008 NACIONAL

Sabe-se que a Pátria está crivada dedívidas para com os seus benfeitores, fi-lantropos ávidos de veneras, cachaços àespera do aconchego de um colar, peitosinsuflados para aguentarem o impacto damedalha.

Os agraciados estão em minoria. Hámuitos a quem nunca a venera lhe bateráno peito, que não possuem títulos acadé-micos, militares, eclesiásticos ou nobiliár-quicos, meros Pereiras, Silvas, Videiras ouOliveiras, sem brasão que lhes orne a portaou um laço de banda de qualquer colarpara porem na lapela em festas onde se

acotovelam comendadores.É divertido ver o ar dos agraciados e

a forma eficiente como os embrulham,com mais esmero do que as meninas dasourivesarias a atarem a caixinhas dasalianças dos noivos, mas dói a manuten-ção da data e da simbologia, até na ter-minologia xenófoba, da data da morte deCamões, de quem devia celebrar-se avida já que do nascimento ninguém sabe.

O 10 de Junho é um dia que remetepara o passado sombrio da ditadura, paraa memória de mulheres de negro a rece-berem medalhas pelos filhos ou maridosmortos, crianças amestradas, a portarem-se bem, ao pé de Américo Tomás paraperceberem que deviam estar gratos pelaorfandade que os atingira.

A liturgia mantém-se no Portugal deAbril, com o presidente livremente eleitoa repetir gestos de antigamente num pa-

lanque onde sobem atentos e venerado-res os agraciados com ar de quem vaicobrar a renda da casa ou os juros deprestamista.

Não simpatizo com o dia, apesar doamor ao poeta e aos dez cantos d’ Os

Lusíadas. Não vejo televisão nem oiçorádio. Recuso-me a ver as cerimóniasdo passado em playback.

Prefiro esquecer o épico cosmopolitade que a ditadura se apropriou para exal-tação de uma suposta raça, quiçá ideiados panegiristas de má raça que adula-ram o ditador.

Vou redimir-me na leitura do lírico:

Sôbolos rios que vãopor Babilónia, me achei,Onde sentado choreias lembranças de Siãoe quanto nela passei.Ali, o rio correntede meus olhos foi manado,e, tudo bem comparado,Babilónia ao mal presente,Sião ao tempo passado.

Ainda o dia 10 de Junho

[email protected]

CarlosEsperança

ponte europa

O Secretário de Estado da ProtecçãoCivil, José Miguel Medeiros, desloca-sehoje (quarta-feira, dia 18) ao Distrito deCoimbra, onde visita o Centro de MeiosAéreos da Lousã e participa na SemanaDistrital da Defesa da Floresta ContraIncêndios, organizada pelo Governo Ci-vil de Coimbra, de acordo com o progra-ma que à frente se divulga.

Assim, o Governo Civil do Distrito deCoimbra promove, em colaboração como Centro Distrital de Operações de So-corro (CDOS) a terceira e última ses-são Distrital de Defesa da Floresta Con-tra Incêndios, contando com o apoio dasAutarquias e seus Gabinetes TécnicoFlorestais, da GNR e da Direcção Geralde Recursos Florestais (DGRF).

Segundo o Governador Civil, Henri-que Fernandes, a iniciativa visa “a sensi-bilização para a necessidade de coorde-nação intermunicipal e a troca de infor-mação entre agentes de Protecção Civile Entidades com responsabilidade nes-tas áreas, de municípios vizinhos, conse-guindo sinergias e potenciando meios”.E sublinha que “alguns dos Concelhosparticipantes nesta sessão têm em co-mum homogeneidades estruturais e in-terligações naturais, considerando o ris-co de incêndio, as manchas florestais in-termunicipais e as necessidades logísti-cas de resposta”.

O programa é o seguinte:10H30 – Chegada do Secretário de

Estado da Protecção Civil ao aeródro-

HOJE NA LOUSÃ, COM A PRESENÇADO SECRETÁRIO DE ESTADO DA PROTECÇÃO CIVIL

Mais uma sessão de defesada floresta contra incêndios

mo da Lousã, com cumprimentos às for-ças em parada: Equipas de IntervençãoPermanente, dos Corpos de BombeirosVoluntários, Grupo de Intervenção Per-manente, da Guarda Nacional Republi-cana e Equipas de Sapadores Florestais,da Direcção Geral de Florestas;

10H40 – Visita aos meios aéreos es-tacionados no aeródromo;

10H45 – Simulação de saída para in-tervenção pelo Grupo de IntervençãoPermanente da Guarda Nacional Repu-blicana (GIP):

11H00 – Sessão de apresentação doDirectiva Operacional Distrital de De-fesa da Floresta Contra Incêndios, paraas fases Charlie e Delta, no Centro deOperações de Técnicas Florestais

(COTF), com a participação das seguin-tes entidades: Direcção geral dos Re-cursos Florestais, Guarda Nacional Re-publicana e Comando Operacional Dis-trital de Operações de Socorro;

12H00 – Início da apresentação dosPlanos Operacionais Municipais, peloGabinete Técnico Florestal da CâmaraMunicipal de Lousã;

12H30 – Intervenções do Presiden-te da Câmara Municipal de Lousã, doGovernador Civil do Distrito de Coim-bra e do Secretário de Estado da Pro-tecção Civil;

12H45 – Almoço14H45 – Continuação da apresen-

tação dos Planos Operacionais Munici-pais, pelos Gabinetes Técnicos Flores-tais das Câmara Municipais de Arganil,Figueira da Foz, Góis, Mira, Oliveira doHospital, Pampilhosa da Serra e Tábua;

17H00 – Encerramento dos traba-lhos

Segundo o Governo Civil, nestasessão participam “entidades com es-pecial dever de cooperação nos ter-mos da Lei de Bases da ProtecçãoCivil”, bem como outros convidados,nomeadamente epresentantes Institu-cionais (Direcções Distritais e Regi-onais), Federação Distrital de Bom-beiros Voluntários, Associações Hu-manitárias de Bombeiros Voluntários,Associações de Produtores Florestais,Câmaras Municipais, Juntas de Fre-guesia e INEM.

Governo retira32 praiasda lista oficial

A lista oficial das zonas balnea-res onde se pode tomar banho foiontem publicada em Diário da Re-pública, tendo o Governo designado324 praias, menos 32 do que no anopassado.

Esta redução está relacionadacom “o maior rigor” em termos desegurança balnear, segundo disse àLusa fonte do Ministério do Ambi-ente.

Os critérios para a inclusão deuma praia na lista oficial são sem-pre a vigilância e a qualidade daságuas, mas este ano o governo de-cidiu ser “mais rigoroso” com aqueleprimeiro requisito.

“Este ano considerámos a segu-rança como um critério de elimina-ção. Algumas praias com boa quali-dade acabaram por ser excluídas pornão terem vigilância”, adiantouaquela fonte.

O problema, adiantou a mesmafonte, é que os banhistas ignoramos avisos colocados nas praias, in-cluindo até quando a qualidade daágua é má e a praia está interdita.

Comparando com 2007, este anosão excluídas daquela lista nove zo-nas balneares da região Norte, oitodo Centro e 15 do Algarve.

Mas se diminuem as zonas bal-neares designadas, aumentam esteano para 54 as praias de banhos flu-viais designadas, mais 13 do que em2007, segundo a mesma portaria.

Henrique Fernandes quer evitar quehaja nova vaga de fogos florestais

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6 DE 18 JUNHO A 1 DE JULHO DE 2008INTERNACIONAL

Fiodor Lukyanov *

* in revista A Rússia na Política Global

A Comunidade dos Estados Indepen-dentes (CEI) foi tantas vezes proclama-da defunta que ninguém reparou numanova função desta organização surgidano espaço pós-soviético no início dosanos 90. Na verdade, a Comunidadetransformou-se num fórum único, ondeos actuais líderes das antigas repúblicassoviéticas podem manter contactos semrecearem provocar especulações políti-cas indesejáveis.

Digamos, um encontro especialmenteorganizado entre os presidentes da Rús-sia e da Geórgia engendraria logo espe-culações de toda a espécia: de quempartiu a iniciativa?, e quem cedeu?, equem venceu? A participação nas cimei-ras faz baixar a escala dos acontecimen-tos e, respectativamente, eventuais des-gastes políticos.

Uma situação afim também entreMoscovo e Kiev: para a primeiro-minis-tro ucraniana, Iúlia Timoshenko, seriadifícil conseguir um encontro de traba-lho com o primeiro-ministro russo, Vla-dimir Putin, se não fosse o conselho doschefes de governo realizado no âmbitoda CEI em Minsk.

A importância de encontros cimeirosda CEI vai crescer ainda mais, já que apolítica no espaço pós-soviético tende acomplicar-se. Anteriormente, pensavamque para um «pequeno» Estado da CEIbastava optar por uma escolha «acerta-da», e depois tudo iria evoluir como deveser. No entanto, o sistema de coordena-

A CEI ressuscitada

das bidimensional – «pela Rússia ou pelademocracia» – já não esgota a multipli-cidade dos processos em curso.

Hoje em dia, a luta pelos recursos na-turais e pela influência no espaço pós-soviético agudiza-se e torna-se multifor-me devido ao envolvimento da China. Emcontrapartida, as possibilidades tanto deMoscovo como das capitais ocidentaisem relação aos Estados Independentes,ficam cada vez mais limitadas. Por exem-plo, a Rússia dificilmente poderá conti-nuar a manter o monopólio sobre o gáseuroasiático, dada a enorme pressão ex-

terna, desenvolvida sobretudo por parteda UE e dos EUA.

Por outro lado, a Europa Ocidental,que procura aumentar a sua presença noterritório da ex-URSS, não está prepa-rada para integrar novos países. Mas,sem dar a estes uma esperança de setornarem membros integrantes da UE,os instrumentos desta última são muitolimitados e inconvincentes.

A situação nos países da CEI está lon-ge de ser estabilizada, tanto nos que en-veredaram por uma via autoritária, comonos que «escolheram a liberdade». As

duras lutas internas pelo poder, agrava-das pela concorrência geopolítica exter-na, fazem com que o desfecho seja im-previsível.

Nestas condições cresce a necessida-de de diálogo: é preciso acordar as posi-ções sobre diferentes questões, ou, pelomenos, levá-las ao conhecimento dos par-ceiros. Não é por acaso que às cimeirasda Comunidade, antes pouco frequenta-das, acorrem agora (como foi o caso dacimeira realizada em 6 de Maio em Mos-covo) todos os líderes dos países mem-bros. E os seus presidentes, qualquer queseja a sua atitude para com a Rússia, nãoconsideram positivo faltar às cimeiras,tanto formais, como informais.

Nos dias de hoje, os processos de in-tegração nesta parte do mundo – tantode união em torno da Rússia, como soboutras variantes – são pouco prováveis.As tentativas de formar «clubes alterna-tivos», como, por exemplo, a GUAM(Geórgia, Ucrânia, Azerbaijão e Moldo-va), têm tido exíguos resultados.

Uma ideia nova é formar uma «Uniãodo Leste Europeu». Uma espécie decompensação e consolação para os paí-ses da região, dada a incapacidade daUE de lhes propor algo melhor. Mas esta,tal como toda e qualquer inicitiva com oobjectivo de fugir a uma decisão clara,também não tem perspectiva

Pelos vistos, a CEI, como tal, pode nãorecear uma concorrência, já que não seráum protótipo de uma nova organização etão-pouco será enterrada. Isto seria sim-plesmente irracional.

Iúlia Timoshenko, Primeira-Ministra da Ucrânia

O Ministro dos Negócios Estrangeiros,Luís Amado, afirmou anteontem (segunda-feira) no Luxemburgo que um segundo re-ferendo será “o caminho mais natural” parasuperar o impasse criado pela rejeição doTratado de Lisboa na consulta popular dapassada semana na Irlanda.

Luís Amado falava após uma reunião doschefes de diplomacia da União Europeia(UE) no Luxemburgo, o primeiro encontroentre os 27 desde a rejeição do Tratado deLisboa no referendo realizado na passadaquinta-feira na Irlanda.

Sublinhando que seria “um erro graveque a União Europeia pagaria caro” igno-rar o que se passou e não respeitar “a de-cisão livre do povo irlandês, num processodemocrático”, Amado afirmou que é von-tade dos 27 encontrar uma saída para acrise e admitiu que um novo referendo,como aconteceu após a rejeição do Trata-do de Maastricht pela Dinamarca (1992) edo Tratado de Nice pela Irlanda (2001), “éum dos caminhos, eventualmente é o ca-minho mais natural”.

PERANTE O “NÃO” DA IRLANDA

Luís Amado defende novo referendo

“Foi assim que se ultrapassaram crisessemelhantes a esta”, afirmou o chefe dadiplomacia portuguesa, fazendo contudoquestão de vincar que “neste momento nãohá nada de concreto sobre a mesa” e os27 estão “ainda num trabalho de avaliaçãoda situação”.

“É preciso que o governo irlandês con-tinue a trabalhar nesse processo, e será

muito importante a intervenção do primei-ro-ministro irlandês (Brian Cowen) napróxima quinta-feira (na Cimeira de Bru-xelas) para perspectivar a forma como oConselho no seu conjunto vai fazer facea esta situação”, disse.

“Vamos ouvir o governo irlandês e de-pois vamos ver qual é a metodologia quedeve ser seguida para ultrapassar a situa-ção de crise criada”, acrescentou.

Por outro lado, Luís Amado admitiu queseria mais fácil encontrar uma solução eavançar para um nova consulta se houveruma percepção clara das razões por que53,4 por cento dos irlandeses rejeitaram oTratado de Lisboa.

“Não há um problema específico queidentifique a razão pela qual o povo irlandêsdisse maioritariamente que não a este tra-tado. Se houvesse, seria mais fácil”, disse.

Luís Amado indicou que, para já, a únicacerteza é a vontade expressa pelos 27 deprosseguir o processo de ratificação do Tra-tado de Lisboa, apesar do revés da últimasemana, lembrando que 18 países já ratifi-

caram o documento, e os oito que ainda nãose pronunciaram têm tanta legitimidade parao fazer como os irlandeses tiveram de o re-jeitar em referendo.

“Seria um erro, e mais do que isso umaresponsabilidade, abandonar à primeira difi-culdade um processo que tem oito anos detrabalho político”, disse.

O Tratado de Lisboa, acordado duran-te a presidência portuguesa da UE, nosegundo semestre de 2007, e assinadono Mosteiro dos Jerónimos a 13 de De-zembro passado, conheceu um forte re-vés na passada semana, com a vitóriado “não” no referendo irlandês (com 53,4por cento dos votos, contra 46,6 por centopara o “sim”).

Previsto para entrar em vigor a 01 deJaneiro de 2009, o Tratado de Lisboa foi járatificado, por via parlamentar, por 18 Esta-dos-membros, entre os quais Portugal, masa rejeição pela Irlanda mergulhou o proces-so num impasse, que se tornou o principalponto da agenda da Cimeira de chefes deEstado e de Governo que se realiza quinta esexta-feira em Bruxelas.

“A Europa vive de crise em crise evai sair desta. É mais uma”, concluiuLuís Amado.

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7DE 18 DE JUNHO A 1 DE JULHO DE 2008 COIMBRA

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NO PRÓXIMO DIA 28 DE JUNHO, EM COIMBRA

“Festa da Música” no “Dolce Vita”Coimbra é uma das centenas de cida-

des de vários pontos do Mundo que vãoser palco, no próximo dia 28 do correntemês de Junho (sábado da próxima se-mana), da “Festa da Música”.

É o terceiro ano consecutivo em quea “Festa da Música” decorre também emCoimbra, mas desta vez em moldes di-ferentes.

Assim, para proporcionar esta originalfesta a um maior número de espectadores,ela vai decorrer no átrio do Centro Comer-cial “Dolce Vita” de Coimbra, entre as 15e as 19 horas do referido sábado.

Com sublinha o Director da AllianceFrançaise de Coimbra (entidade promo-tora da festa), “este evento não é umfestival, mas sim uma manifestação po-pular, gratuita, aberta a participantesamadores e profissionais”. E Paul Zim-merlin acrescenta que a “Festa” se diri-ge a todos os públicos, uma vez que nelaparticipam dezenas de agrupamentosexecutantes dos mais diversos génerosmusicais.

Na próxima segunda-feira (dia 23), aAlliance Française de Coimbra promo-ve uma conferência de imprensa para

divulgar pormenores sobre esta “mara-tona musical”, que promete deliciar mi-lhares de pessoas. Nessa apresentaçãodo programa deverão participar, paraalém dos representantesda Alliance Fran-çaise, diversas entidades que apoiam ainiciativa, entre as quais o Vereador daCultura da Câmara Municipal de Coim-bra, Mário Nunes, o Pró-Reitor para a

Cultura da Universidade de Coimbra,José António Bandeirinha, e o Directordo Centro Comercial Dolce Vita, PauloRuivo e Silva.

Entretanto, recorde-se que a “Festada Música” foi criada em França, em1982, para assinalar o solstício de Ve-rão. Eis a curiosa descrição que a Alli-ance Françiase faz sobre esta iniciativa:

“Nesse dia escapa das ruas de todasas cidades de França um formidável zun-zum. Trompetistas de jazz, corais, pia-nistas de bar, percussionistas africanos,orquestras clássicas, guitarristas de rock,adeptos da tecno, acordeonistas... entre-gam-se à música. Profissional ou ama-dor, nos pátios dos palácios nacionais, noshalls das estações, cafés, igrejas, praças,jardins, centros comerciais, até nos hos-pitais, cada um apresenta o seu repertó-rio, a sua interpretação, a sua improvisa-ção: É a festa! A da música”.

De então para cá, ao longo destes 26anos, a Festa vem ganhando uma ampli-tude de cada vez maior. Em 2007, forammais de 10 mil eventos, aos quais seacrescentam diversas manifestaçõesespontâneas. E isso apenas em França.

Mas neste momento ela já decorre emcerca de uma centena de países (esteano estão previstas realizações em 98países dos diversos continentes).

Como refere Jean-François Millier,principal responsável da “Festa da Músi-ca” a nível internacional, a ideia foi “sus-citar verdadeiras manifestações locais enão apenas puramente francesas”. Daí oenvolvimento das mais diversas entidadeslocais com as Delegações da AllianceFrançaise espalhadas pelo Mundo, e coma colaboração da rede diplomática fran-cesa e também de muitas empresas.

O Director da Alliance Française deCoimbra, Paul Zimmerlin, afrima-se con-victo de que a festa deste ano vai ser umêxito em Coimbra, não só pela quantida-de e qualidade dos grupos musicais par-ticipantes, mas também porque, “paraatrair mais espectadores e fomentarmaior confraternização, escolhemos esteespaço central e de convívio na cidadede Coimbra que é o Centro ComercialDolce Vita”.

A não perder, esta “Festa da Músi-ca”, no sábado da próxima semana, dia28 de Junho, ao longo de toda a tarde.

Paul Zimmerlin

ALMOÇO-DEBATE NA QUINTA DAS LÁGRIMAS

Marcelo Rebelo de Sousa discute PortugalMarcelo Rebelo de Sousa é o próxi-

mo orador do ciclo de almoços-debateintitulado “Quintas na Quinta” (que estemês, excepcionalmente, será na sexta-feira, dia 27).

O analista e comentador político vema Coimbra, à Quinta das Lágrimas, falarda crise dos combustíveis e da subida depreço dos bens alimentares devendo ain-da focar os grandes momentos políticosdos seis primeiros meses do ano, numaintervenção intitulada “Portugal 2008”.

A convite da Fundação Inês de Cas-tro, que organiza a iniciativa, o professorcatedrático da Faculdade de Direito daUniversidade de Lisboa anima tambémo debate que se segue ao almoço, res-

pondendo aos comentários e perguntasda assistência.

Marcelo Rebelo de Sousa acompa-nhou sempre a actualidade portuguesa,quer enquanto actor (desenvolveu umaintensa actividade política em Portugal,sendo hoje Membro do Conselho de Es-tado), quer enquanto jornalista e analista(foi um dos fundadores do semanário“Expresso” e elaborou mais tarde a Leide Imprensa).

Este profundo conhecimento da rea-lidade portuguesa e a sua forma de aná-lise contundente e muito peculiar, per-mitem antever um animado debate emCoimbra.

(Os interessadas em participar podem

fazer a sua reserva junto da equipa doHotel, presencialmente ou pelo telefone239 802 380. O custo da inscrição é de20 euros por pessoa, almoço incluído).

Licenciado e doutorado em Direito pelaFaculdade de Direito da Universidade deLisboa, Marcelo Rebelo de Sousa é autorde várias obras científicas e membro dediversas associações jurídicas nacionaise internacionais. O seu trabalho acadé-mico centra-se nos diferentes ramos dodireito, mas também nas ciências políti-cas, na economia e nas finanças.

Os almoços “Quintas na Quinta” járeceberam Leonor Beleza (Março), Go-mes Canotilho (Abril) e Adriano Morei-ra (Maio).

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8 DE 18 JUNHO A 1 DE JULHO DE 2008OPINIÃO

MÁRIO CLÁUDIOE FERNANDO PESSOA

(...) Aquilo de que eu menos gosto emPessoa é o próprio Pessoa. Mas tudo o queele faz por interposta… pessoa, acho muitointeressante. O próprio Pessoa é uma figu-ra que me deixa crispado, porque represen-ta um cinzentismo completo. Só sendo um

cinzento é que poderia criar aquelas figurastodas, ele é apenas uma cruzeta onde todasaquelas figuras, vestimentas, se vão suspen-dendo. E essa cruzeta é uma figura triste,desolada, sem vida.

(...) A heteronímia de Pessoa tem tidoinúmeras interpretações, mas é raro vê-laabordada dessa maneira: provavelmente,esta questão da heteronímia tem, sobretu-do, a ver com a criação de personagens porparte de um ficcionista falhado. O Pessoanunca escreveu um romance, por isso é umficcionista que falhou. Mas viveu-os, criougrandes personagens romanescas e pô-las

a escrever o que ele sabia escrever, que erapoesia. Estas figuras são figuras de roman-ce. O Álvaro de Campos, por exemplo, temvários lances possíveis na vida. (...)

Mário Cláudio (escritor)Visão

HERÓIS DO AR

(...) O país está cheio de heróis instituci-onais, que só por loucura alguém se atreve-ria a arredar do seu pedestal. Poucos paí-ses do mundo terão tantos generais e almi-rantes cobertos de medalhas de feitos he-róicos e tantos comendadores de mérito dasociedade civil. Por estes dias até, o país láestá outra vez repleto de bandeirinhas naci-onais e devastado de patriotismo por 23 ‘he-róis do mar’ que, a troco de muito bom di-nheiro, dão chutos na bola e representam omelhor da nação, segundo nos garantem.Como pode alguém não se comover com aonda de patriotismo incontrolável que trans-porta ao colo aqueles nobres rapazes da

Selecção, a quem o Presidente convidou acontemplarem por uma última vez o Tejo,antes de se lançarem na empreitada herói-ca da descoberta do caminho marítimo paraa Suíça? Eles que voltem com a taça e tudoficará esquecido.

Miguel Sousa TavaresExpresso 7/Junho/2008

PRESIDENTE BARACKHUSSEIN OBAMA?

(...) Entre as chaves de sucesso do can-didato democrata à Casa Branca está estepatriotismo “inesperado” (para alguns), a boa

escolha de temas e palavras, a capacidadepara se adaptar ao instinto político, e o seuaspecto atípico. Barack é branco para mui-tos negros, negro para muitos brancos, ou“um negro que não assusta os brancos”,na expressão cínica de um cronista britâni-co. Ou ainda, como talvez seja mais justodizer, um candidato “sem cor”, que expres-samente explicou querer uma América“pós-racial.

A campanha derrotada de Hillary Clin-ton e os seus seguidores pelo mundo da ve-lha política perceberam isto tarde de mais.Quando descobriram que Obama era o can-didato de muitas pessoas com poder e su-cesso, de muitas pessoas fartas dos bonzostradicionais, de muitos desgostados dos par-tidos, de muitos ex-democratas e ex-repu-blicanos, subitamente reinteressados pelaluta presidencial, os estrategos de Clintonpreferiram zombar de Obama, dizendo queatraía só “os sorvedores de capuccino e osestados-boutique”.

O azedume do “clintonismo”, o seu mauperder, podem ainda ser reparados? Talvez.Embora uma aliança Clinton-Obama (comum posto vice-presidencial, ou outra fórmu-la) pareça contranatural, e possa expor-sea remoques sobre pequenos crimes entreamigos, a verdade é que, para alguns, é ine-vitável. A senhora Clinton ganhou mais vo-tos populares e os maiores estados, emboraObama tenha ganho mais delegados e cer-ca de 65% dos estados. Os dois juntos con-seguiram trazer para um processo de mero“concurso de beleza” interno dos democra-tas, e não de eleição nacional, mais de 50%do eleitorado final de John Kerry. (...)

Nuno RogeiroJN 6/Junho/2008

REFLEXÃO IMPÕE-SE

(...) “Impõe-se uma reflexão por partedo Governo para verificar até que ponto éque poderá corresponder às expectativase às pretensões, mas também do outro lado[...] há que parar e discernir caminhos no-vos. Sei que não é fácil mas, ao mesmotempo, parece-me que é necessário”. (...)“Todos nós, também, habituamo-nos a umtipo de vida um pouco para além das nos-sas reais capacidades. Hoje talvez tenha-mos que caminhar um pouco mais numacerta austeridade. A crise não é apenasportuguesa, mas há coisas que são essen-ciais e que todo e qualquer ser humano nãopode prescindir delas” (...)

D. Jorge Ortiga (arcebispo de Braga)Entrevista à Rádio Renascença

DEBILIDADE DO ESTADO

(...) “desde o primeiro dia se verificou aausência de autoridade do Estado. Nós te-mos que reconhecer que as pessoas podemfazer as manifestações que quiserem, nãopodem é proibir o uso e o direito ao trabalhode outras. Como em questões essenciaiscomo questões de saúde, questões de ali-mentação, produtos básicos e transporte decombustíveis era obrigação do Estado ga-rantir através das forças policiais que tudoisso se processava normalmente. Ao não

fazê-lo, o Governo cometeu um erro gra-víssimo, que é demonstrar a própria debi-lidade do Estado”. Assim, “o ministro RuiPereira era obrigado a responder e a fa-zer intervir as forças de segurança. Senão o fez, seguramente foi por causa doPrimeiroministro. Mas se assim foi, euacho que se eu fosse ministro da Admi-nistração Interna, eu tinha que pedir ademissão ao Primeiro ministro. Porque ti-nha de dizer ao Primeiro ministro e expli-car publicamente que a acção do Primei-ro ministro estava errada”.

Ângelo CorreiaEntrevista à Rádio Renascença

FINANCIAMENTODOS PASTÉIS DE TENTÚGAL

De Verões malditos está o meu Invernocheio. Contudo, vivemos cada um deles como pasmo de um apocalipse sem causas, umapraga de rãs, um ajuste de contas com deu-ses que não são nossos.

Reconheçamos, porém, que poucas ve-zes o destino e a sorte colectivos foram tes-tados nos limites como agora. Porque a con-vergência dos factores também foi rara.

Primeiro, instalou-se a ideia de que o cons-trangimento do défice externo estava supe-rado. E, portanto, havia “folga” (designa-ção folgazã de um país entristecido paradesignar o dinheiro comum que, se não for,desde já, por uns apropriado, ainda corre orisco de ir parar ao bolso de outros). Estefenómeno tem como emblema mais recen-te uma senhora a movimentar-se numa co-zinha industrial primária, confeccionandopastéis de Tentúgal, e a revelar a um canalde televisão que não recebia qualquer apoiodo Estado. Um amigo meu, que nem rezaao liberalismo económico, comentava, es-tupefacto: “Mas por que raio havia o Esta-do, o nosso Estado, de financiar os pastéisde Tentúgal?” Nunca lhe consegui dar res-posta. (...)

Nuno Brederode Santos (jurista)DN 15/Junho/08

RAÇA MALDITA

O povo é que faz a língua? Não exacta-mente. Há um comité tácito a determinar alíngua que o povo deve ou não deve fazer. Aúltima vítima do comité foi o próprio Presi-dente da República, que mencionou o Dezde Junho como o “dia da raça” e viu-se logotorpedeado por protestos do BE e do PCP.“Raça” não se diz.

Por acaso, há quem discorde. E não, nãoé um skinhead. É, por exemplo, um cientis-ta chamado Mark Pagel, que no correntenúmero da revista britânica Prospect recu-pera o conceito com intenções sérias. Re-sumindo imenso, Pagel defende que o usogrotesco do termo ao longo da História nãoo invalida: não sendo “superiores” ou “infe-riores”, as raças existem e traduzem-se nasmúltiplas diferenças (genéticas, culturais) en-tre os grupos humanos. O ponto de Pagel éque, a partir da biologia, cada grupo (ou raça)tende a distinguir-se pela partilha de valo-res. Porém, todos os grupos se distinguemdos restantes animais por, juntamente comos valores, partilharem expectativas de co-operação, ou seja, a faculdade de nos rela-

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9DE 18 DE JUNHO A 1 DE JULHO DE 2008 OPINIÃO

cionarmos com outrem sem esperarmosretribuição imediata. Se a cooperação é fa-vorecida dentro de um determinado grupo,não está, graças ao egoísmo da espécie,restrita a tais fronteiras: as pessoas enten-dem-se com as pessoas que aceitam en-tender-se com elas. Dito de outra maneira,as particularidades desenvolvidas no interi-or de uma raça são o instrumento que per-mite ultrapassar as respectivas barreiras. (...)

Alberto Gonçalves (sociólogo)DN 15/Junho/08

O PAPEL DAS RELIGIÕES

(...) Por mim, não gosto de “ismos”, por-que não gosto de totalizações. É assim que,felizmente, a nível religioso, mesmo que sediga cristianismo e catolicismo, não há “cris-tianistas” nem “catolicistas”, mas cristãos ecatólicos. Também chamo a atenção dosestudantes para que distingam islão e isla-mismo, islâmicos e islamistas.

Penso que problema mais complexo ecom enorme futuro, não directamente tra-tado, mas que esteve na base do famosodebate entre o então cardeal Ratzinger e ofilósofo Jürgen Habermas, na AcademiaCatólica da Baviera, em 2004, é o do papelpúblico das religiões sobretudo nas socieda-des liberais democráticas.

A(s) Igreja(s) não precisam de peque-nos e reles privilégios, que deviam evitar.Mas, garantidos os direitos humanos e noquadro do respeito pela autonomia dos indi-víduos e pelo pluralismo democrático, asreligiões podem dar, como escreveu J. Ha-bermas, ontributos significativos mediante osseus recursos simbólicos e a sua capacida-de superior de “articular a nossa sensibilida-de moral”.

Anselmo Borges(padre e professor de filosofia)

DN 14/Junho/08

A VERGONHA DA AUTÊNTICACRISE SOCIAL

(...) Uma parte importante da popula-ção portuguesa, que tinha algumas pos-ses e muitas ambições, acreditou nos dis-cursos que os governantes andam a pro-duzir há dez anos. Apostou na educação,comprou casa e carro, endividou-se aobanco. Depois veio o desemprego, do-ença, trabalho precário, prestações cres-centes. Em vez de subir, caiu em gran-des dificuldades. Normalmente ainda tempatrimónio, a casa hipotecada, carro ve-lho, mas não sabe o que porá no pratoesta noite. É uma pobreza envergonha-da, desiludida, revoltada. Este é o verda-deiro rosto da nossa crise social.

As políticas contra a pobreza não vãoaliviar as dificuldades. Como os respon-sáveis, que criaram a situação, ainda nãoa perceberam, conceberão medidas com-plexas, mas ao lado dos sofrimentos. Al-voroçados, não pelo problema, mas peloataque político, proporão programas quecalem os críticos, sem resolver o drama.

João César das Neves(professor universitário)

DN 16/Junho/08

E AGORA?

A crise aí está, acompanhada por um in-desmentível sentimento de apreensão noPaís. E a sua dimensão e característicasameaçam boa parte dos objectivos assumi-dos pelo Governo para esta legislatura. Con-vém pois olhar não só para trás, para perce-ber o que se passou, mas sobretudo para afrente, para definir uma estratégia capaz deultrapassar as actuais dificuldades.

Olhando para trás, verifica-se que parao sentimento de crise contribuíram diver-sos factores. Por um lado - ainda antesdos protestos dos camionistas e das suasconsequências -, foi a divulgação do do-cumento da União Europeia sobre as de-sigualdades em Portugal, foi o estudo deBruto da Costa sobre a pobreza, foi a re-velação do brutal nível de endividamentodos portugueses (76% do PIB nacional),foi ainda o relatório da OCDE sobre asnuvens que pairam sobre as perspectivaeconómicas do País.

Por outro lado, enquanto o PSD pare-cia finalmente encontrar a liderança queprocurava há três anos, o CDS fazia asua prova de vida apresentando no Parla-mento uma moção de censura ao Gover-no, o Bloco de Esquerda promovia noTeatro da Trindade um comício que con-tava com a inusitada participação de Ma-nuel Alegre, o PCP e a CGTP voltavam àrua fazendo desfilar em Lisboa mais de200 mil pessoas. (...)

Manuel Maria CarrilhoDN 14/Junho/08

SOCIEDADE PERTURBADA

(...) Até hoje, não tivemos dirigentes àaltura das expectativas dos portugueses. Ascrises, acumuladas umas nas outras, atingi-ram um estádio insuportável. A agitaçãosocial dos últimos meses não culmina coma questão dos combustíveis e a revolta doscamionistas. E estabelece uma relação decontinuidade, cujas origens estão no desfa-samento de quem dirige com a realidade cir-cundante, e na recusa obstinada em selarum novo pacto social, que não coloque nolimbo o mundo do trabalho. Pescadores pa-rados, milhares de camiões estacionados,duzentas mil pessoas em desfile protestatá-rio, a Igreja a dar inequívocos sinais de inco-modidade, através de declarações veemen-tes de D. Manuel Clemente e de D. Manu-el Martins, pronunciamentos políticos de di-versos sectores - eis a representação de umasociedade perturbada.

Sócrates não conseguiu dar resposta aosproblemas mais rudimentares. Um homemnovo, incapaz de proceder à evicção do queé antigo, cediço, bafiento, praticante da car-tilha de Milton Friedman, experimentada noChile de Pinochet e um pouco por todo omundo - com sangrentos rastos de miséria,morte e desespero. Não tenhamos receiodas analogias. A História é uma compara-ção permanente. E aqueles que a não co-nhecem estão condenados a repeti-la. (...)

Baptista-BastosDN 11/Junho/08

ACORDO ORTOGRÁFICO

Sendo a língua portuguesa um bemconstitucionalmente protegido, quer no seupapel identitário quer no que toca ao pa-trimónio cultural do nosso país (art.º 9.º,e) e f) e 78.º, c) e d) da Constituição), oAcordo Ortográfico (AO) virá a causar-lhe lesões profundas, afectando-a de ma-neira decisiva, irreversível e inaceitável emPortugal, com a consequente violação dalei fundamental, do interesse geral e dosdireitos dos cidadãos.

É chocante o desfasamento entre o pla-no científico, cujas críticas e objecções nãoforam atendidas com posições devidamen-te fundamentadas por parte das autorida-des competentes, e o plano político em queforam feitas, tanto a aprovação do Protoco-lo Modificativo de 2004, como a aprovaçãoe ratificação em 1991 do próprio AO. Este,aliás, decorridos 18 anos, nunca entrou emvigor por razões de inadequação, desinte-resse manifesto de vários dos Estados subs-critores e, entretanto, de obsolescência.

Sendo a língua portuguesa um bemconstitucionalmente protegido, quer no seupapel identitário quer no que toca ao pa-trimónio cultural do nosso país (art.º 9.º,e) e f) e 78.º, c) e d) da Constituição), oAcordo Ortográfico (AO) virá a causar-lhe lesões profundas, afectando-a de ma-neira decisiva, irreversível e inaceitável emPortugal, com a consequente violação dalei fundamental, do interesse geral e dosdireitos dos cidadãos.

É chocante o desfasamento entre o pla-no científico, cujas críticas e objecções nãoforam atendidas com posições devidamen-te fundamentadas por parte das autorida-des competentes, e o plano político em queforam feitas, tanto a aprovação do Protoco-lo Modificativo de 2004, como a aprovaçãoe ratificação em 1991 do próprio AO. Este,aliás, decorridos 18 anos, nunca entrou emvigor por razões de inadequação, desinte-resse manifesto de vários dos Estados subs-critores e, entretanto, de obsolescência. (...)

Vasco Graça MouraDN 11/Junho/08

A CULTURA DO LUDÍBRIO

O ex-secretário de imprensa do Presi-dente Bush, Scott McClellan, acaba de pu-blicar um livro: O que Aconteceu: Dentroda Casa Branca de Bush e a Cultura doLudíbrio em Washington. O furor políticoque causou decorre de duas revelações:quando ordenou a invasão do Iraque, Bushsabia que o Iraque não tinha armas de des-truição maciça (ADM) e montou uma po-derosa «campanha de propaganda» paralevar a opinião pública norte-americana emundial a aceitar uma «guerra desnecessá-ria»; os grandes meios de comunicação fo-ram «cúmplices activos» dessa campanha,não só porque não questionaram as fontesgovernamentais, como porque incendiaramo fervor patriótico e censuraram as posi-ções cépticas ou contrárias à guerra.

É surpreendente o escândalo causado,pois as revelações não trazem nada de novo.As informações eram conhecidas na alturada invasão a partir de fontes independen-

tes. Nelas me baseei para justificar nestacoluna a minha total oposição à guerra que,além de «desnecessária», era injusta e ile-gal. Isto significa que as vozes independen-tes foram estigmatizadas como sendo ideo-lógicas e antipatrióticas, tal como hoje criti-car Israel equivale a ser considerado anti-semita. Em 2001, antes da máquina de pro-paganda ter começado a devorar a verda-de, o próprio Colin Powell dissera não havernenhuma informação sólida de que o Ira-que tivesse ADMs. (...)

Boaventura Sousa SantosVisão

EM LOUVORDE AMY WINEHOUSE

(...) Nesta edição do festival [Rock inRio], acompanhei, com especial interesse,o concerto de Amy Winehouse. Devo dizerque qualquer expectativa que eu pudesseter foi superada. Além de lutar por um Mun-do melhor, Winehouse lutou, e muito, parase manter de pé. São dois combates em vezde um. Nem sempre conseguiu, é certo, masfez um esforço heróico. À primeira vista,

dir-se-ia que Amy Winehouse entrou empalco sob a influência de mais que uma subs-tância, sendo que o álcool talvez tomasse adianteira. Tratando-se de um festival famili-ar, a actuação de Amy proporcionou diver-timento para toda a família. «Eu acho queela está bêbada. E tu, papá?» «Creio quenão, filho. Repara como ela cambaleia. Istoé chinesa, e da boa.»

Acima de tudo, foi um concerto quesublinhou, uma vez mais, a diferença queexiste entre um bêbado deprimente e umgrande artista. Ambos balbuciam coisassem sentido e cantam, mas o que está àfrente de um baterista e dois guitarristasé o grande artista. (...)

Ricardo Araújo PereiraVisão

Page 10: O Centro - n.º 56 – 18.06.2008

10 DE 18 JUNHO A 1 DE JULHO DE 2008CRÓNICA

A OUTRA FACEDO ESPELHO

José Henrique Dias*

[email protected]

LOUSÃ - Nelson Fernandes

arte em café

* Professor universitário

Desço a avenida com os olhos suspensos nos jacaran-dás. Respiro o violeta das flores que guardam a luz do fimde tarde. Não é bem violeta, nem anil, nem. Não sei dizer.É a cor das flores de jacarandá. Solidários no dia e hora deflorirem. Onde quer que estejam. Guardam aquela luz comonão há outra. Coalhada no ser Lisboa. Com o Tejo aofundo e o outro lado. A outra banda, como se diz. Agitadade quietude na distância de um adeus. No cais das colu-nas. Salpicado de voo das gaivotas.

A rapariguita que passou e sorriu o traço anilado doslábios sabe dos jacarandás o aroma da tarde que leva noolhar. Lembro Neruda. Muchacha portuguesa/ pasascomo bailando/por las calles

rosadas de Lisboa…sabes/ que existe/ una isla,/ laisla de la Sal,/ y Tarrafal en ella/ vierte sombra?

Não sabia. Nenhuma sabia. Soletravam alegrias fuga-zes de concursos de vestidos de chita e casavam sem

saberem que tinham sido jovens. Noivas de Santo Antó-nio. Brancas e radiosas. Sossegadas na segurança de fa-das do lar. Eficazes. Felizes, cantavam. Não venhas tar-de. Amordaçadas.

Lava a roupa/ passa a ferro/ põe a mesa/ abre as per-nas/ assoa o filho/ olha a sogra/ come a sopa/ faz açorda/puxa a corda/ acorda agora/ acorda a horas/ abre as per-nas/ agarra a corda/ tira a roupa/ grasna e ora/ borda atarde/ arde e chora/ fez-se noite/ vai embora/ hora a hora/deus melhora/ essa agora/ ataranta/ ora essa/ tanta pres-sa/ tanta reza/ tanta-tanta …

Salto no tempo. Saiu-me lenga-lenga dum passado pró-ximo igual ao tempo nos passos da rapariga que vai fazera noite ao balcão do bar no Bairro Alto. Dos seus encan-tos. Como um fado. Só tem olhos para o rapaz que vestede negro. Diz-lhe coisas que gosta de ouvir. O tempo daavó já não é. Ela pode ser livre como diz. Não tanto comopensa. Bem vistas as coisas não é assim tanta. A liberda-de. Ou há ou não há. Disse o rapaz. O rapaz de negroencolhe-se a um canto.

Aqueles senhores de trinta ou quarenta anos de fatosàs riscas como se uma farda ditam discursos e fazemavisos por causa da moral. São da banca, das empresas,da política. Aqueles senhores estão ali à espreita. Pronti-nhos para reporem o tempo no tempo em que mandavamas raparigas cedinho para a cama e passeavam ao domin-go as castíssimas esposas. Ouviam missa e liam O Sécu-lo. Todo ele negro como os dias em cristalização de silên-cio. Visado pela Comissão de Censura.

Correm ardinas do Bairro Alto para a chegada ao Ros-

Lisboa e o sol,Lisboa com lágrimas...sio. Calçada da Glória. O peso da saca. Quem vende pri-meiro os diários da tarde? Lisboa. Popular. República.Rapazitos. A rapariga do balcão do bar não sabe dessacorrida. Quem ainda sabe dessa corrida? Parece tudoesquecido. Humberto Delgado chega a Coimbra. Largoda Portagem. Chega a Lisboa. Santa Apolónia. Chega aoPorto. Praça do Município. Chega a Chaves. Largo doArrabalde. São pequenos os largos para tanta alegria. Sãopequenas alegrias para tanta esperança. Milhares de olhosa acenderem a mudança. Obviamente, demito-o. Demi-to-o, obviamente. Terá sido assim, o mito diz como querque foi. A morte à espera na cilada da raia. À pancada,sabe-se agora. Rapidamente e em força para Alcácer--Quibir.

Há mar e mar, há ir e voltar, escreveu o O’Neill paraa segurança das praias. Há mar e ultramar, há ir e ficar,glosava-se no lamber das feridas da guerra que não que-ria chamar-se colonial.

Canção com Lágrimas. Manuel Alegre. AdrianoCorreia de Oliveira.

Eu canto para ti um mês de giestasO jacarandá da rapariga esgota Lisboa no fim da tarde.Um mês de morte e crescimento ó meu amigoLisboa nas olheiras das raparigas sentadas ao balcão

dos bares.Como um cristal partindo-se plangenteBares sentados nas olheiras das raparigas de Lisboa.No fundo da memória perturbada.Fez-se noite e o rapaz de negro não vem.Porque tu me disseste quem me dera em Lisboa/

Quem me dera em Maio.Num murmúrio alguém disse que. A rapariga não ouviu

e ainda bem.Histórias de todos os dias quando passam ambulâncias

com sirenes de jacarandás. Roxas, violeta, aniladas, comoé?. Deve haver uma maneira de dizer isto. Ficar tudocerto antes da rapariga saber.

Ela vai mesmo acabar por saber. Caiu do sexto andar eficou à espera coberto por um pano branco.

Depois morresteCaiu, como? Ninguém cai dum sexto andar, dizia o ho-

mem do talho ao lado do bar da rapariga de olhos roxoscomo as flores de jacarandá. Atirou-se, mas é, sentenciouenquanto cortava bifes da alcatra. É menos um, disse delado a viúva dum sargento. Droga por todos os lados. Nãoquerem trabalhar e depois é isto. Repetem e acenam ascabeças. Faz cá falta um Salazar. Um.

Com Lisboa tão longe ó meu irmão tão breveOs senhores dos fatos às riscas também acenam a

cabeça e dizem coisas sinistras nos discursos televisivos.Também gostavam de fazer falta. Ser um.

Têm menos de quarenta anos e vestem como os pais eavós que há quarenta anos vestiam fatos às riscas e ouvi-am conversas em família acenando com a cabeça. A di-zerem sim. Guiados pelas conversas do Chefe. Tudo tãocerto como o voo do rapaz de negro que está coberto comum pano branco à espera que chegue o delegado. Paradizer que ele está morto. O que o rapaz já sabia. Mesmoantes de ensaiar o voo.

Que nunca mais acenderás no meu o teu cigarro.Não foi por causa de droga nenhuma. Foi porque

andava muito triste e não reparou que os jacarandásfloriram nas ruas de Lisboa, disse um amigo que anda-va no Conservatório. Tinha os gestos leves da dança ediziam que era…Não era, apenas sabia sentir. E sefosse? Sabia sentir.

O rapaz de negro escrevia poemas mas não mostravaa ninguém. Um dia ainda leu um à rapariga do balcão do

bar. Ela sorriu e fez que não deu conta que falava dela.Para ela. O médico dissera que não podia parar a medica-ção, mas ele tinha mais em que pensar. Em quem pensar.E depois aquela ideia não lhe saía da cabeça. Doía terri-velmente aquela ideia. Uma dor impensável. Dor sem lu-gar. No pensamento. Insuportável como as dores dosjacarandás quando se despedem das flores.

A rapariga do balcão do bar desce a Rua do Alecrim evai para o Cais do Sodré.

Apanha o primeiro barco para casa no Fogueteiro.Baloiça no Tejo de canoas ausentes. Dormita sem saber oque aconteceu ao rapaz de negro.

Eu canto para ti, Lisboa, à tua esperaChega o formigueiro dos barcos para Lisboa acordar.

Mulheres de limpeza e homens apressados.Teu nome escrito com ternura sobre as águas Apanham o metro e apinham autocarros. Cruzam-se

com a rapariga do bar. A rapariga do barco. Não a vêem.Ninguém olha os jacarandás floridos.

E o teu retrato em cada rua onde não passasTrazendo no sorriso a flor do mês de Maio.Apetece-me dizer-lhes para olharem os jacarandás.

Enquanto é tempo. Por causa da luz.Do amanhecer. Do fim da tarde. Quando anoitece.

Lisboa.

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11DE 18 DE JUNHO A 1 DE JULHO DE 2008 COIMBRA

Varela Pècurto

Não têm conta as construções com interesse públi-co que, ao longo dos tempos, mercê das obras a quevão estando sujeitas, acabam por adquirir aspectos nadasemelhantes aos primitivos.

Exemplos destes também os temos e são de lamen-tar quando a traça inicial fica adulterada gravemente.Se as alterações pouco alteram, o mais que pode acon-tecer é estranharmos o novo visual por uns tempos.

Não se torna necessário ir muito longe do centrode Coimbra para encontramos uma raridade numaigreja mas também , na mesma localidade, uma radi-cal mudança de aspecto numa capela. Basta irmos a

Curiosidadesàs portas de Coimbra

Assafarge.Vejamos:1) Esta localidade já é referida no séc. XII e em

1228 recebeu carta de povoação. A sua igreja, dedica-da a N.ª Sr.ª da Conceição foi ampliada mais do queuma vez, o que aconteceu até quase aos nossos dias. Asua fachada é do séc. XVIII mas crê-se que, entretan-to, as obras avançaram-na uns metros. O que tornaeste templo curioso centra-se na torre: se bem que ane-xa, está isolada, o que a torna rara mas igrejas ruraisdo distrito.

2) Não longe desta encontra-se a capela de Santo

Amaro, em cujo terreiro tem lugar uma grande romariano 1.º sábado de Agosto. A construção é do séc. XVImas reedificaram-na no séc. XVIII. Aqui não só le-vantaram um terraço sobre a capela, no séc. XIX, comolhe colocaram uma escultura do Sagrado Coração deJesus, virada a nascente sendo a entrada da capelavirada a poente.

Aproveite o dia da romaria. Pode comprar um porcomorto ou parte dele e deliciar-se com as curiosidadeque preenchem o escrito de hoje.

Igreja de Nª Srª da Conceição, em Assafarge

A Capela de Santo Amaro

No âmbito do programa das comemo-rações dos seus 145 anos, a AssociaçãoComercial e Industrial de Coimbra (ACIC)promove na próxima sexta-feira, dia 20 docorrente, pelas 15 horas, na respectiva sede(Avenida Sá da Bandeira) uma sessão-de-bate subordinada ao tema “O comércio eo futuro da Baixa de Coimbra”.

Trata-se de uma questão muito rele-vante para Coimbra, como referem osorganizadores, pois “a Baixa, centro his-tórico, patrimonial e comercial de Coim-bra, corre o risco de, a não serem toma-das, no curto prazo, as medidas adequa-das, se descaracterizar completamente,deixando de ocupar, em termos de vivên-cia, aquela que foi sempre a sua ima-

DEBATE NA SEXTA-FEIRA NA ACIC

“O comércio e o futuroda Baixa de Coimbra”

gem: a de local de recepção ao visitante,o ponto de encontro de gerações e o lu-gar privilegiado de compras”.

Depois das palavras de abertura acargo da Direcção da ACIC, haverá in-tervenções dos seguintes participantes:Matilde Sousa Franco (deputada na As-sembleia da República eleita pelo Círcu-lo de Coimbra), Sidónio Simões (respon-sável pelo Gabinete do Centro Históricode Coimbra), e João Paulo Craveiro(Presidente do Conselho de Administra-ção da CoimbraVIVA-Sociedade deReabilitação Urbana).

No que se refere a Matilde SousaFranco, a ACIC recorda que, para a lémde antiga Directora do Museu Nacional

de Machado de Castro, “é uma perso-nalidade que tem demonstrado, publica-mente, a sua preocupação com a situa-ção dos centros históricos das cidades”.

Foram ainda convidados para intervirrepresentantes das Juntas de Freguesiade Almedina, de S. Bartolomeu e de San-ta Cruz, do Conselho da Cidade de Co-imbra e dos partidos com assento noExecutivo e/ou Assembleia Municipal(PSD, PS, PCP, CDS e BE).

Para além disso, como refere a ACIC,quer os comerciantes da Baixa de Coim-bra, quer os que nela habitam ou quaisqueroutros cidadãos interessados, terão tambémoportunidade de se pronunciar sobre estetema de grande importância para a cidade.

Forum Nacionalsobre o Álcool

Vai decorrer em Coimbra, no pró-ximo dia 25 (quarta-feira), o FórumNacional sobre o Álcool numa orga-nização conjunta do Instituto da Dro-ga e Toxicodependência (IDT) e doGoverno Civil de Coimbra. Esteevento contará com a participaçãodos mais variados parceiros nacio-nais, com vista a recolher os seuscontributos na elaboração das dife-rentes etapas respeitantes à concep-ção de um Plano Nacional para aminimização dos efeitos nocivos doálcool.

A apresentação do programa seráfeita hoe (quarta-feira), em confe-rência de imprensa a realizar no Go-verno Civil de Coimbra, com a pre-sença do Governador Civil e do Pre-sidente do IDT:

Page 12: O Centro - n.º 56 – 18.06.2008

12 DE 18 JUNHO A 1 DE JULHO DE 2008REPORTAGEM

Façaumaassinaturado “Centro”e recebavaliosaobra de arteAPENAS 20 euros POR ANO- LEIA NA PÁG. 3

Esta é a reprodução da obra de ZéPenicheiro que será sua gratuitamente

José Soares

[email protected]

Feira medieval recriadano Largo da Sé Velha

POR ALGUMAS HORAS COIMBRA RECUOU UNS SÉCULOS

Organizada pelo Inatel e pela As-sociação para o Desenvolvimento eDefesa da Alta de Coimbra, e com oapoio das Câmaras Municipais deCoimbra e de Penacova, realizou-seno passado sábado (dia 14 de Junho)a 17ª Feira Medieval de Coimbra.

Como sempre, os visitantes conta-ram-se aos milhares. É uma oportuni-dade única para mergulhar na Histó-ria e ver pedintes, vendedores, saltim-bancos, mágicos, bruxas e muitas ou-tras personagens da época.

Este ano houve duas novidades: um

lio interpretou a personagem do andra-joso “Basilius” e arrepiou quem dele seaproximava. Em nenhuma circunstân-cia abandonou o papel de mendigo.Como sempre, as pessoas são genero-sas nas esmolas. É que elas têm sem-pre um nobre destino. Este ano, a re-ceita das esmolas destinava-se à Asso-ciação Portuguesa Contra a Leucemia.

grupo de danças do ventre, cujas bai-larinas deram outra sedução à festa;e, para surpresa de muitos e medo deoutros, dois encantadores de serpen-tes. Uma mistura de medo e curiosi-dade permitiu a muitos serem fotogra-fados ao lado daqueles fascinantes etemidos répteis, com a ajuda simpáti-ca dos encantadores. Tornaram fácil,aquilo que para muitos parecia impos-sível – tocar em serpentes. Eu pró-prio não resisti à tentação de tocar na-queles extraordinários e belos animais.

Mais uma vez, o actor Joaquim Basí-

Registei com agrado a presença deJoão Fernandes, há muitos anos De-legado do INATEL. Continua a seruma presença assídua neste evento,que durante anos ajudou a promover.

Aliás, quando se fala em operado-res culturais de Coimbra, é justo queo nome de João Fernandes surja naprimeira linha.

Apesar de mendigo, “Basilius” também precisou dos cuidadosdo barbeiro

Com a ajuda dos “encantadores”, muitos visitantes tiraram fotografiascom as serpentes “para mostrarem coragem”

As danças do ventre seduziram os muitos turistas, nacionais e estrangeiros

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13DE 18 DE JUNHO A 1 DE JULHO DE 2008 REPORTAGEM

De 21 a 29 de Junho, a CIC regressa.Esta edição da Feira Comercial e Indus-trial de Coimbra, organizada pela Asso-ciação Comercial e Industrial de Coim-bra (ACIC), realiza-se no Choupalinho,na margem esquerda do Mondego.

A CIC é uma realização fundamen-talmente de cariz económico, que pro-pocia a realização de negócios, assimcomo o reforço de imagem das em-

presas. Mas desde a sua primeira edi-ção teve sempre também uma vertentelúdica, que a transformou numa Fei-ra-Festa muito peculiar, atraindo a po-pulação da cidade e muitos visitantesvindos de outras paragens.

E este ano, tal como ocorreu em edi-ções anteriores, essa vertente nãoserá esquecida, incluindo, para alémde outras atracções, um espaço dedi-cado à gastronomia regional, sendoque a animação será desenvolvidapela Empresa Municipal Turismo deCoimbra.

CIC ASSINALA30º ANIVERSÁRIO

A edição 2008 da Feira Comerciale Industrial de Coimbra tem ainda umsignificado especial, já que este anose assinala o 30.º aniversário do cer-tame (que se realizou pela primeiravez em 1978, na Praça Heróis do Ul-tramar, à Solum).

Em 1994, a CIC mudou-se para oAlto da Relvinha, onde foi realizado

CIC 2008 COMEÇA NO PRÓXIMO SÁBADO

Feira Comercial e Industrial de Coimbracomemora 30 anosno requalificado recinto do Choupalinho

na antiga fábrica da Termec, passan-do, posteriormente, para o Choupali-nho (também chamado Praça da Can-ção), na margem esquerda do Mon-dego, para onde agora regressa, apóspassagem pelo Estádio Cidade deCoimbra, na última edição (realizadaem 2006).

No seu historial, contam-se dois in-terregnos, em 2005 e em 2007, pelo

que este ano é a 28.ª edição.Os horários deste certame são os

seguintes: aos sábados e domingos,das 15 às 24 horas e aos dias úteis,das 19 às 24 horas, sendo que a áreade restauração funcionará até às 2horas da madrugada.

Tudo se conjuga, pois, para que a aedição de 2008 da CIC - Feira Co-mercial e Industrial de Coimbra, ve-nha a alcançar o êxito que os seus or-ganizadores desejam e a cidade e aRegião merecem. Não só como mos-tra do tecido empresarial – e, por essavia, local para divulgar produtos e po-tencialidades e celebrar bons negóci-os – mas ainda como um espaço mui-to agradável para momentos de lazer,agora requalificado no âmbito do Pro-grama Polis.

Para além do mais, poderá aceder-se ao recinto de forma mais fácil e maissaudável, desde o Parque Verde namargem direita, através da magníficaponte pedonal “Pedro e Inês”, que setransformou já, mesmo internacional-mente, num dos ícones de Coimbra.

Uma das aprazíveis zonas criadas na margem esquerda junto ao recintoonde vai decorrer a CIC 2008

A ponte pedonal “Pedro e Inês” facilita o acesso ao recinto da CIC 2008

Fotos de Mário Afonso (incluindo a da primeira página desta edição)

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14 DE 18 JUNHO A 1 DE JULHO DE 2008EDUCAÇÃO/ENSINO

O Primeiro-Ministro José Sócratesanunciou anteontem (segunda-feira) oobjectivo de colocar a escola pública por-tuguesa na “linha da frente” tecnológica,já com resultados a partir do próximo ano,graças a um investimento global de 400milhões de euros.”No desenvolvimentotecnológico de Portugal, a escola ficousempre um pouco para trás e só se de-senvolveu mais tarde. Pois eu quero, comeste Plano Tecnológico da Educação(PTE), que a escola pública em Portugalesteja na linha da frente do desenvolvi-mento tecnológico”, assegurou.

José Sócrates falava em Évora, naEscola Secundária André de Gouveia (queconta mais de 600 alunos e que é um dosestabelecimentos de ensino nacionais comprojectos-piloto no âmbito do PTE).

Depois de verificar a concretização devários desses projectos, como a utiliza-ção de mapas digitais num quadro inte-ractivo, numa aula de geografia, JoséSócrates apontou a André de Gouveiacomo um exemplo do que o Governo pre-tende, para as 1.200 escolas do país, naárea das novas tecnologias da informa-ção e comunicação.

“Viemos apresentar o vosso exemplocomo um exemplo que vai ser replicadoem todas as escolas”, disse, enumeran-do os projectos que vão ser implementa-dos, alguns deles já a partir do “início dopróximo ano lectivo” e os restantes noinício de 2009.

“O nosso objectivo é que, em 2009,todas as escola portuguesas tenham car-tão electrónico do aluno”, referiu, con-siderando-o como um instrumento quevai permitir aos estudantes fazeremtransacções sem dinheiro e uma melhor

JÁ A PARTIR DO PRÓXIMO ANO

Sócrates anuncia investimento de 400 milhões de eurospara pôr escola pública na “linha da frente” tecnológica

gestão da escola.A videovigilância em todo o espaço

escolar foi outro dos passos apontadospelo primeiro-ministro como capaz deproporcionar “mais segurança e, portan-to, mais liberdade”.

Outro dos objectivos do PTE passa porinstalar ligação à Internet em todos osespaços da escola, “desde as salas deaula aos espaços exteriores”, com umavelocidade de 48 megabytes por segun-do (Mbps).

Além disso, todas as escolas públicasdeverão ter um computador por cada cin-co alunos, um videoprojector em todasas salas de aula e um quadro interactivopor cada três salas de aula.

“Queremos, naturalmente, um PlanoTecnológico que permita uma maior di-

fusão das tecnologias de informação ecomunicação na nossa sociedade e quemelhore a inovação e o conhecimento,mas queremos o Plano Tecnológicodentro da escola pública portuguesa”,salientou.

O Primeiro-Ministro lembrou que es-tão a decorrer seis concursos públicos,que devem ser adjudicados “até final deJulho”, envolvendo 400 milhões de eu-ros, o que representa, “porventura, omaior investimento público em tecnolo-gias de informação e comunicação”.

“Justamente para que a escola estejana linha da frente tecnológica, para quenão fique, como ficou no passado, maisuma vez para trás”, acrescentou.

Na escola alentejana, onde já existeo cartão electrónico do aluno, o siste-

ma de videovilgância, acesso à Inter-net em todos os espaços, um computa-dor com ligação à Internet por cada2,57 alunos, um quadro interactivo porcada duas salas de aula e um video-projector em todas elas, José Sócrateslembrou ainda o cenário que existia nasescolas portuguesas em 2005, quandotomou posse.

“O rácio era de um computador para16 alunos, muito pouco. Mas vai ser já,no próximo ano lectivo, de um para cin-co e não vamos ficar por aqui”, disse,insistindo que as escolas vão ser equipa-das com um videoprojector em todas assalas de aula e um quadro interactivo porcada três salas de aula.

José Sócrates, que foi recebido comassobios no exterior do estabelecimentopor mais de duas dezenas de manifes-tantes, alguns do Sindicato dos Profes-sores da Zona Sul, lembrou que o seuGoverno tem feito “muitas mudanças”na escola pública nos últimos anos e con-gratulou-se por, “pela primeira vez nosúltimos 15 anos”, o número de alunos teraumentado.

“Aumentou, no ano passado e esteano, porque fomos capazes de atrair osalunos à escola. Muitos deles já estavamfora da escola e atraímo-los modernizan-do a nossa escola”, realçou, aludindo aoscursos de educação e formação, capa-zes de dar aos estudantes “equivalênciaacadémica”, mas também “apetrecha-mento profissional”.

Lançado há quase um ano, o PTE pre-tende colocar Portugal entre os cincopaíses europeus mais avançados na mo-dernização tecnológica dos estabeleci-mentos de ensino.

José Sócrates, acompanhado pela Ministra da Educação,durante a visita á escola de Évora

Mais de 70 mil alunos responderam on-tem (terça-feira) à prova de português do12º ano, dando início à época de examesnacionais obrigatórios para a conclusão doensino básico e secundário, a decorrer até18 de Julho.

A época de exames nacionais do bá-sico e secundário abriu ontem com a pro-va de Português para o 12º ano, a quese juntaram as provas de Língua Portu-guesa Não Materna dos 12º e 9º anos,movimentando um total de 71.135 alu-nos inscritos.

Segundo dados oficiais do Ministérioda Educação (ME), entre os 326.245exames nacionais a realizar, os que re-gistam mais inscrições são os de Portu-guês, ontem (71.135), Biologia e Geo-logia, hoje (58.040), Física e Química

Mais de 70 mil alunos iniciaram ontemépoca de exames

na sexta-feira (54.910) e Matemática a23 de Junho (48.427).

No básico haverá duas chamadas paraos 99.930 alunos inscritos (menos 7.201 doque no ano passado) mostrarem o que sa-bem de Língua Portuguesa e Matemáticaao nível do 9º ano, a primeira na quarta ena sexta-feira, e a segunda na próximasemana, a 26 e 27 de Junho.

Os alunos disporão de 90 minutos paraporem à prova os seus conhecimentos, sen-do as pautas das classificações em ambasas chamadas afixadas a 11 de Julho.

Quanto ao secundário, estão inscritospara exame 157.718 alunos (menos 11.849do que em 2007), dos quais 96.953 sãocandidatos ao Ensino Superior.

Para estes exames haverá uma únicachamada em duas fases, a primeira des-

de ontem e até 23 de Junho e a segundaentre 14 e 18 de Julho, sendo as classifi-cações anunciadas a 7 e a 30 de Julho,respectivamente.

Seguindo uma tendência recorrente nosanos anteriores, inscreveram-se nos exa-mes do secundário mais quase 20 mil ra-parigas (19.956) do que rapazes, situan-do-se a média etária geral nos 17,97 anos.

De acordo com o Ministério da Educa-ção, vão realizar-se 340.273 exames, numamédia de 2,16 por aluno.

Em comparação com os exames na-cionais do básico e secundário de 2007,inscreveram-se este anos menos 19.050alunos.

A tarefa de proteger, guardar, entregare recolher nas escolas os enunciados e osexames do básico e secundário mobiliza

até 18 de Julho, último dia dos exames,cerca de sete mil militares da GNR em todoo país, naquela que é considerada uma dasmaiores operações policiais montadas anu-almente em Portugal.

Para a “missão exames nacionais2008” também está mobilizada a PSP,que terá a seu cargo principalmente asescolas das áreas metropolitanas de Lis-boa e do Porto, mas que considerou ino-portuno divulgar dados sobre o númerode agentes envolvidos.

O peso da responsabilidade dos examesdo 9.º, 11.º e 12.º anos sente-se nas pala-vras de vários estudantes contactados pelaagência Lusa, que consideram que sãodeterminantes para o seu futuro académi-co e que, portanto, esta “é uma época demuitos nervos”.

Page 15: O Centro - n.º 56 – 18.06.2008

15DE 18 DE JUNHO A 1 DE JULHO DE 2008 EDUCAÇÃO/ENSINO

* Professora e Dirigente do SPRC/FENPROF

Na sequência do referendo ao Tratadode Lisboa na Irlanda, o ministro da justiçairlandês, Dermot Ahern, foi o primeiro a re-agir publicamente, afirmando que tudo pa-recia apontar para um voto Não e que, poruma miríade de razões, o povo falara.

Simultaneamente, o presidente da Comis-são Europeia, Durão Barroso, apelava a queos diversos estados continuassem com osrespectivos processos de ratificação, e in-formava que este resultado não seria umimpeditivo, apenas obrigava a procurar umasolução.

Não sendo já surpreendente, continua aser interpelante este sobranceiro desprezopela fala do povo e por aquilo que diz.

Se um referendo é a essência da demo-cracia, não se pode ignorá-lo, alegando,como vem sendo hábito, que é ignorância edesconhecimento do que está em causa,como se não houvesse no povo capacidadejudicativa. Senhores que nos governais: ape-tece-me dizer, em tom parlamentar, quequando nos explicais devagar, percebemosdepressa. Poderá é suceder que o vagar aquiem causa seja pouco compatível com a ur-gência da vossa agenda pessoal de suces-

O imperativo éticosos – Porreiro, pá – que impõe a pressacomo regra.

Durão Barroso, o outro lado do porrei-rismo e portuguesmente socrático, não seincomoda com quem lhe diz Não e vai decontinuar a empurrar os que faltam, a coa-gi-los ao procedimento parlamentar deratificação, como se tal não fosse apenasuma anedotazeca, em países à imagem donosso, onde os parlamentos são habitadospor uma oposição que apenas não foi silen-ciada e por uma maioria maioritariamenteacéfala e em permanente vassalagem a umprimeiro-ministro caceteiro.

Serão talvez miasmas transatlânticos quechegam até nós e contagiam os nossos diri-gentes com a ideia de que quem não estáconnosco, está contra nós, conduzindo aeste medo da voz dos outros e, por conse-guinte, à necessidade de a calar. Um poucocomo se os processos eleitorais apenas ser-vissem de instrumento aos príncipes, paralhes dar legitimidade, devendo depois o elei-tor ficar cordeiramente sentado, ordeiramen-te assistindo ao espectáculo do rasgar dosprogramas e da desgovernação com que oquiserem presentear.

Não, cada voto é uma voz, não uma mãoa depositar um papel numa caixa, mas umaescolha; é o exercício da liberdade.

Talvez na Irlanda haja um povo a dizerNão, aqui não impõem; aqui ainda existe

uma constituição que preserva a nossa li-berdade de dizer Não; aqui está um povo aperguntar que Europa é esta que, promovi-da a conceito político, configura tanta arro-gância e cegueira? Por uma miríade de ra-zões, cognitivamente construídas e existen-cialmente sentidas, o povo disse Não.

Foi porventura uma ética de liberdade afalar mais alto, uma ética de recusa de im-perativos cegos, vassalos de uma economiapor objectivos que esqueceram os cidadãos.

Algures, nalgum momento, ter-se-á devoltar a perceber que se pode sitiar uma ci-dade e retirar a liberdade aos que nela habi-tam, mas apenas temporariamente, e quesempre que a democracia é desrespeitada,seja na ratificação forçada de tratados in-ternacionais, no abandalhar de programaseleitorais e de assembleias parlamentares,ou na decapitação da gestão democráticadas escolas ou outras instituições, vozes seerguerão por ela.

Há tempos, alguém me dizia que “já éuma forma do verbo agora, no imperati-vo”. Quem o dizia não percebia nada degramática. Contudo, conseguiu perceber que,na vida, já é muito mais urgente que agorae poderia concluir dizendo que não é ama-nhã nem agora que a democracia tem deser respeitada, é já! E isso é imperativo.

Isabel Dias *

A CGTP anunciou anteontem (segunda-fei-ra), em conferência de imprensa, que vai pro-mover o “Manifesto em Defesa da Escola Pú-blica”, para exigir do Governo e da Assembleiada República “uma mudança de rumo na políti-ca educativa”.

O objectivo é instalar “um debate político noPaís” e exigir do Governo e da Assembleia daRepública “uma mudança de rumo na políticaeducativa”, disse o secretário-geral da CGTP,Carvalho da Silva, na conferência de imprensa.

As principais críticas do manifesto são o de-sinvestimento na educação, “nos últimos anos”,as alterações à legislação sobre ensino especial,a burocratização do exercício da profissão do-cente, a alteração da forma de gestão das esco-las e a estagnação da acção social escolar.

“É igualmente inaceitável que, para as famílias,os custos da educação tenham aumentado maisde 30 por cento nos últimos seis anos”, lê-se nodocumento.

O manifesto será divulgado por todo o Paíspara ser subscrito e será criado um espaço pró-prio no sítio da intersindical para a recolha deassinaturas.

Segundo Carvalho da Silva, a CGTP desen-volverá também vários plenários e reuniões so-bre a matéria e estará na rua no dia oficial deabertura do ano lectivo 2008/2009 a recolherabaixo-assinados.

“Manifesto em Defesada Escola Pública”

INICIATIVA DA CGTP

A iniciativa “Café entre Torgas”, promovida em Miranda do Corvoe que lembrou histórias do médico e escritor pelo testemunho de ami-gos próximos, está agora disponível na Internet através de 21 vídeoscolocados no You Tube.

“Funciona como homenagem ao poeta e possibilita a partilha [dainiciativa] com um auditório potencial de muitos milhões de pessoas.As potencialidades são imensas”, disse à agência Lusa Dinis Alves,jornalista e professor universitário, responsável pelo projecto.

Promovido pelos alunos do 4º ano da licenciatura em Ciênciasda Informação do Instituto Superior Miguel Torga (ISMT), o pro-jecto “Café com Torgas” juntou, em Abril de 2007, personalidadesque relataram “episódios marcantes do contacto que mantiveramcom o escritor”.

“São um conjunto de histórias contadas por amigos de uma pes-soa que, como se sabe, não tinha um feitio fácil”, acrescentouDinis Alves.

Destacou, a título de exemplo, “algumas gravações inéditas” per-tença do espólio pessoal de Álvaro Perdigão, que trabalhou na RádioDifusão Portuguesa.

O leque de convidados incluiu, entre outros, Aníbal Duarte deAlmeida, António Campos, João Fernandes, Paulino Mota Tava-res e Valentim Marques, cujas intervenções podem agora ser vis-tas em www.youtube.com/youtorga, o canal do You Tube dedica-do ao patrono do ISMT.

Na iniciativa, registada na íntegra em vídeo, José Machado Lopesleu um poema de Miguel Torga e a Associação Cultural de Música eTeatro à Parte interpretou trechos da ópera “Bichus”, baseada naobra do escritor.

“Café com Torgas” inseriu-se nas comemorações dos 70 anos doISMT e também nas festividades alusivas ao centenário do nasci-mento de Miguel Torga.

Miguel Torga evocadoem vídeo no You Tube

Page 16: O Centro - n.º 56 – 18.06.2008

16 DE 18 JUNHO A 1 DE JULHO DE 2008SAÚDE

MassanoCardoso

Há cerca de três anos a agência nor-te-americana FDA (Food and Drug Ad-ministration) aprovou pela primeira vezum medicamento com a indicação for-mal de que é útil apenas para negros comgrave insuficiência cardíaca. Este factoresulta da existência de diferenças ge-néticas que ocorrem naturalmente emdiferentes etnias. Compreende-se que ainteracção entre o património genético eo meio ambiente possa explicar as ra-zões da maior ou menor prevalência dealgumas doenças em certas comunida-des. No entanto, esta indicação formal é

perigosa porque constitui um argumentoque pode servir a movimentos racistase, por outro lado, pode ser muito incon-veniente caso venham, no futuro, a apa-recer mais medicamentos “raciais”, por-que nada impede que muitas pessoas lou-ras e de olhos azuis não tenham também“genes africanos”!

Um dos mais graves problemas que

“Escravidão e hipertensão arterial”...aflige os portugueses são as doençascerebrovasculares relacionadas com ahipertensão arterial. Sabemos que exis-tem “genes africanos” que proporcionammaior propensão à hipertensão arterial.A sensibilidade ao sódio terá ocorrido hácerca de dois milhões de anos, no Pleis-toceno. Até é compreensível esta selec-ção genética, porque caçar e perder só-dio em zonas quentes e num continentepobre em sal não é lá uma grande ideia!

Muitos estudos, realizados em negros,americanos e brasileiros, demonstramque os tais genes (relacionados com ahipertensão) são muito mais prevalentesnestes grupos, correndo riscos muitoacrescidos de morte súbita e acidentes

cardiovasculares.Perante a nossa situação, bastante

desconfortável, não será estranho o fac-to de termos iniciado em 1441 o tráficode escravos negros. Nessa altura, An-tão Gonçalves, capitão do Infante D.Henrique, trouxe o primeiro lote, quecomprou em Arguim (actual Mauritânia),para o nosso país. O que é certo é que

entre 1450 e 1500 chegaram a Lisboacerca de 150.000 escravos e que emmeados do século XVI 10% da popula-ção da capital era negra.

Não era a primeira vez que ocorriauma migração de “genes africanos”. Aprimeira foi há cerca de seis mil anos,devido à desertificação do Saara; e asegunda foi há 1300 anos, com a inva-são magrebina.

O que é certo é que o país deveriaestar cheio de negros. A este propósito,Nicolau Clenardo, humanista e teólogoflamengo que andou pela Europa, ao che-gar a Évora ficou atónito, ao ponto deafirmar: Portugal está cheio de negros!E para testemunhar esta afirmação, nadamelhor do que este breve texto: “...Sem-pre que um senhor sai a cavalo, saemdois negros à sua frente; um terceirotransporta-lhe o chapéu; um quartoo manto; um quinto segura as rédeasdo cavalo; um sexto transporta aspantufas de seda; um sétimo apresen-ta a escova para o vestuário; um oi-tavo seca o suor do cavalo; um nonoentrega o pente ao seu senhor; umdécimo supervisiona todo este exérci-to. Eu apenas falo do que vi...”

Como os filhos das escravas erammuito bem tolerados entre nós, os “ge-nes africanos” acabaram por disseminar-se pela população portuguesa. De facto,

e agora num contexto mais amplo, a ori-gem dos portugueses é bastante interes-sante. Quem leu o livro da jornalista bra-sileira Ângela Dutra de Menezes, “OPortuguês que nos Pariu”, ficou a sa-ber quais os ingredientes necessáriospara cozinhar um português. Os ingredi-entes são vários: “homens pré-históricosdo vale do Tejo e do Sado; um punhadode povos indígenas, principalmente lusi-tanos; celtas – apenas para polvilhar;bárbaros, alanos caucasianos, vândalosgermânicos e escandinavos, suevos evisigodos, estes últimos dissolvidos nacivilização romana; mouros (tribos isla-mizadas de Marrocos e da Mauritânia);judeus sefarditas (coloque um punhadoentre um ingrediente e outro e reserve aporção maior para o final da receita).Quanto a cristãos... a gosto”. Curiosa-mente esqueceu-se dos negros.

Quanto à forma de cozinhar, o melhoré ler o livro!

Deste modo, talvez consigamos expli-car, pelo menos em parte, as grandesvariações que se observam no tocanteaos famosos acidentes vasculares cere-brais, um problema muito sério que noscoloca numa situação cimeira face aoutros povos.

Andam por aí tantas pessoas, até lou-ras e de olhos azuis, a transportar, semsaber, velhos “genes africanos”...

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17DE 18 DE JUNHO A 1 DE JULHO DE 2008 SAÚDE

A Secção Regional de Coimbra daOrdem dos Farmacêuticos promove hoje(quarta-feira, dia 18 de Junho), mais um“Painel Debate 2008” subordinado aotema “A Responsabilidade Civil Profis-sional dos Farmacêuticos”

Segundo os organizadores, “a questãoda responsabilidade civil (profissional)dos Farmacêuticos é uma matéria can-dente, mercê quer do objecto do seuexercício profissional – o doente – querdas alterações legislativas já produzidas,quer ainda das que se antecipam, desig-

DEBATE HOJE EM COIMBRA

Ordem dos Farmacêuticos discute“Responsabilidade Civil Profissional”

nadamente a legislação sobre o exercí-cio profissional”.

A sessão (com início marcado para as21 horas, na Sede Regional de Coimbrada Ordem dos Farmacêuticos) realiza-se por ocasião da apresentação públicado Seguro de Responsabilidade Civil Pro-fissional, recentemente contratado pelaSecção Regional de Coimbra para osseus membros, e ao qual, segundo a re-ferida Secção, “mais de um terço já ade-riu até à data”.

O painel abre com uma apresentação

por Francisco Batel Marques, Professorda Faculdade de Farmácia da Universi-dade de Coimbra e actual Presidente daDirecção Regional de Coimbra da Or-dem dos Farmacêuticos, seguindo-se umdebate, moderado por Amílcar Celta Fal-cão, igualmente Professor da referidaFaculdade (e actual Presidente do Con-selho Jurisdicional Regional de Coimbrada Ordem dos Farmacêuticos), com osseguintes convidados: Licínio LopesMartins (assistente da Faculdade de Di-reito da Universidade de Coimbra), Ma-

nuel Matos e Ângela Frota (jurisconsul-tos da Secção Regional de Coimbra daOrdem dos Farmacêuticos), HelenaMartins (farmacêutica hospitalar) e Ma-ria Helena Correia Amado, (farmacêuti-ca comunitária).

Os organizadores afirmam-se convic-tos de que “a importância e a necessida-de de a classe reflectir sobre um temaque será, num futuro próximo, objecto dadecisão política e de consequente produ-ção legislativa, não deixará de merecer amelhor atenção dos farmacêuticos”.

Os pais portugueses ainda estão “pou-co atentos” aos malefícios do telemóvel,que está a causar situações de “profun-da dependência” entre os jovens, masestão extremamente preocupados comvício da Internet fazendo aumentar onúmero de consultas hospitalares, segun-do uma especialista.

Vinte cientistas de vários países aler-taram no passado domingo contra os pe-rigos do uso de telemóveis, particularmen-te por crianças com menos de 12 anos.

Dois dias antes, o jornal “El Mundo”noticiava que 20 jovens estão a recebertratamento num centro de saúde mentalem Espanha devido à dependência douso do telemóvel e das mensagens ime-diatas através da Internet (como é o casodo messenger).

Contactada pela agência Lusa, a coor-denadora da consulta de adolescentes doserviço de Pediatria do Hospital SantaMaria, Helena Fonseca, afirmou que “hásituações profundas de dependência” en-tre os adolescentes e alertou para os even-tuais malefícios do telemóvel por crian-ças até aos 12 anos por “o cérebro aindanão estar totalmente desenvolvido”.

“Tal como se pode falar da dependên-cia de determinados fármacos, tambémpodemos falar da dependência deste tipode tecnologia”, adiantou a pediatra.

Helena Fonseca identificou duas áre-as de problemas: a dificuldade dos ado-lescentes em “desligar da dependênciatão grande do telemóvel” e a sua inter-ferência no sono.

“Para todo o lado que vão levam otelemóvel. Põem-no no silêncio, enviammensagens. Até nas consultas estão afazer isso e tenho de pedir que o desli-guem para darem um pouco de atenção”,contou.

ESPECIALISTAS ALERTAM PARA DEPENDÊNCIAS

Pais pouco atentos aos malefícios do telemóvelmas muito preocupados com Internet

Para combater este problema, a pedi-atra defende que os professores, as famí-lias e os profissionais de saúde deviamestabelecer “regras muito claras”, porque“as pessoas têm de perceber que há tem-pos e espaço para tudo e isso não querdizer que não se utilize o telemóvel”.

Por outro lado, o facto dos jovens nãodesligarem o telemóvel durante a noitetambém constitui uma “preocupaçãocrescente” para a pediatra.

“Miúdos que têm problemas de sonoficam muito mais desassossegados e issotem consequências graves a nível dosono”, sustentou, considerando que “ospais ainda estão pouco atentos e desper-tos para os malefícios que o telemóvelpode causar”.

Helena Fonseca alertou ainda para osriscos do uso excessivo da Internet e dosjogos interactivos, que, afirmou, “sãoextraordinariamente aditivos”.

“Miúdos que tenham alguma propen-

são para comportamentos aditivos essescomportamentos também se manifestamaqui”, disse a pediatra à Lusa.

Estas situações têm causado uma pre-ocupação crescente nos pais que pedemajuda aos médicos.

“No último ano senti uma subida tre-menda de pedidos na consulta de ado-lescência por causa desta problemáticae não pelo telemóvel porque os pais co-mungam e abusam” desta situação, fri-sou Helena Fonseca.

Os pais estão muito mais preocupa-

dos em relação à Internet porque, mui-tos deles, não a dominam. “O que nãoconhece assusta mais”, comentou.

“Há miúdos que desenvolvem profun-das dependências, que passam 10 a 12horas em frente ao computador a jogar.É preciso perceber o que está por detrásdisso”, sublinhou.

Helena Fonseca explicou que o Mes-senger acaba por ser “bastante mais pro-blemático” porque é muito utilizado porjovens que têm dificuldades em estabe-lecer contactos directos por serem mui-to tímidos, terem poucos amigos ou sesentirem fragilizados.

“É uma maneira de socialização emque não há necessidade de contacto di-recto”, justificou, acrescentando que épreciso entender o motivo que leva oadolescente a esconder-se atrás do ecrã,ver a sua personalidade, o perfil psicoló-gico para arranjar estratégias para con-seguir controlar a situação.

Para a especialista, “os pais têm umpapel verdadeiramente essencial” paraajudar os jovens, um trabalho que temde ser feito de “mãos dadas com os pro-fissionais de saúde”.

“Temos de fazer um grande esforçopara que os jovens encontrem prazer emactividades de grupo e retirá-los do iso-lamento em que vivem”, acrescentou.

Page 18: O Centro - n.º 56 – 18.06.2008

18 DE 18 JUNHO A 1 DE JULHO DE 2008A PÁGINA DO MÁ[email protected]

Mário Martins

O meu amigo Eduardo Nunes ofereceu-me no sábado a foto queabaixo reproduzo.

No verso, a seguinte anotação: «144/99 - Baile Gala Semana Aca-démica».

A foto é de 1979 (ai que saudades, ai, ai!...) e foi tirada no Pavi-lhão dos Olivais.

Eu encontrava-me em serviço de reportagem, creio que para o“Correio de Coimbra”.

Obrigado, Nunes!E aquele abraço.

PS – Alguém me ajuda a identificar as duas pessoas do lado es-querdo?

(publicado em 9/6)

Ribeira dos Milagres (Leiria)

EURO 2008:OS JOGOS QUE VI

Suíça-Portugal, 2-0Jogo triste com a “equipa B” de Por-

tugal. Festa suíça no estádio. Nos jor-nais, de França e Portugal, li que se tra-tou de um “roubo” do árbitro.

Portugal-Rep. Checa, 3-1Vitória da equipa mais positiva, tem-

perada com alguns sustos junto à balizade Ricardo. Uma (grande) festa portu-guesa.

Holanda-Itália, 3-0Vi as repetições dos golos e pouco

mais. A “laranja mecânica” está de vol-ta. Arrasadora.

França-Roménia, 0-0Vi apenas a 2.ª parte. O nulo de “es-

trelas” em campo reflectiu-se no resul-tado.

Portugal-Turquia, 2-0Vitória da única equipa que quis ven-

cer. E fê-lo de forma categórica.Suíça-Rep. Checa, 0-1Jogo sem grande sabor, de qualidade

mediana. Venceu quem não o merecia.(em actualização permanente;

publicado em 17/6)

A SELECÇÃO E OS JORNAIS

Hoje não vi nenhum dos jogos do Euro2008.

Tive um (longo) dia de trabalho.No entanto, ainda houve tempo para

dar uma olhadela aos jornais.Estou espantado!Todos falam em três bolas nos ferros

da baliza turca: duas de Nuno Gomes euma de Cristiano Ronaldo.

Peço desculpa, mas vi quatro.Bosingwa também centrou-rematou

ao poste. Mais concretamente ao posteesquerdo da baliza da Turquia.

Foi assim ou... vi mal?PS - Entrei na área de serviço e esco-

Semana Académica de 1979

Imagens de Portugal

(in “Público” de 17/6)

lhi o “Público”. Cheguei à caixa e pa-guei. Ia a virar costas quando a funcio-nária me diz: «Só um momento. Levetambém este. É oferta». Aceitei. Saí tam-bém com o «Diário de Notícias» debai-xo do braço. Sinal dos tempos...

(publicado em 8/6)

RETRATO PORTUGUÊS

Ela:– O Modelo está praticamente vazio.

E as poucas pessoas que lá vi andavama comprar amendoins e champanhe...

São 6 da tarde de sábado.A estreia de Portugal no Euro 2008 é

já a seguir.(publicado em 7/6)

SÓCRATES:INCIDENTE DE PERCURSO

«Dizem-me que José Sócrates andamuito irritado. Não é importante. O im-portante é cada vez haver mais pessoasdesenganadas; Portugal estar num becosem saída; e a “alternativa” ser assusta-dora. Sócrates não consegue, por inép-cia, dar resposta aos problemas que selhe apresentam. E não consegue porque,como acentuou Joaquim Aguiar, anteon-tem, na SIC-Notícias, não está prepara-do para dirigir o País. Ele foi um inciden-te de percurso. Sem deixar de ser de-sastroso.»

(Baptista-Bastos, in “Jornal deNegócios”; publicado em 6/6)

A PERGUNTA DE SCOLARI

Pergunta Scolari, num anúncio televi-sivo:

– Às vezes, penso: e se eu me dedi-casse à vinicultura? Quem me apoiaria?

Resposta pronta de um amigo meu,simpatizante do FC Porto:

– Eu apoio. Podes ir embora.(publicado em 5/6)

CRITÉRIOS EDITORIAIS

Aquando da visita de Cavaco Silva àMadeira, a SIC repetiu várias vezes afrase de Jardim a classificar de loucosos deputados da Oposição.

Ontem, quando foi anunciada a en-

trevista de Pinto da Costa, julguei quea SIC iria repetir as declarações do pre-sidente portista sobre o facto do clubenão recorrer do castigo e ainda conti-nuar com 14, 16 e 17 de avanço sobreos classificados a seguir.

Mas não, o critério foi outro.Quanto à entrevista, deveria ser es-

tudada nos cursos de Jornalismo comoexemplo da mais perfeita inutilidade(informativa).

Houve corrupção ou tentativa de cor-rupção?

É normal um árbitro ir a casa do pre-sidente do clube que vai “apitar” dali adias?

E as prostitutas?Não, não se falou disto.Falou-se de pareceres de professo-

res de Direito, como se o estúdio detelevisão fosse um qualquer tribunal derecurso.

(publicado em 5/6)

«FASCISMO MODERNO»

Luiz Carvalho, imparável, como sem-pre:

«Eu trabalho, pago impostos, tenhode ter o direito de me deslocar comoachar que é para mim mais cómodo.Tenho esse direito, mais: tenho muitomais direito em me deslocar no meuMercedes do que um director geral

qualquer; paguei-o com o meu traba-lho, pago os meus impostos e tenhoesse direito. Enquanto esse director-geral anda de Mercedes à nossa realcusta.»

«Acho que as liberdades em Portu-gal começam a estar seriamente emcausa. Estamos a mergulhar num fas-cismo moderno, cínico, disfarçado emuito mesquinho.»

(publicado em 29/5)

RIR É O MELHOR REMÉDIO

Um menino regressa da escola can-sado e faminto e pergunta à mãe:

– Mamã, que há de comer?– Nada, meu filho.O menino olha para o papagaio, que

têm na gaiola, e pergunta:– Mamã, porque não há papagaio

com arroz?– Porque não há arroz.– E papagaio no forno?– Não há gás.– E papagaio no grelhador eléctrico?– Não há electricidade.– E papagaio frito?– Não há azeite.E o papagaio contentíssimo gritava:– Viva Sócrates! Viva Sócrates!

(publicado em 29/5)

Page 19: O Centro - n.º 56 – 18.06.2008

19DE 18 DE JUNHO A 1 DE JULHO DE 2008 MÚSICA

Distorções

José Miguel [email protected]

Está aí a primeira colectânea dos mai-ores êxitos da carreira dos Radiohead,intitulado (simplesmente) “The Best ofRadiohead”, reúne temas de todos osdiscos da banda editados com a etiquetada EMi. Assim, ficou de fora o mais re-cente “In Rainbows”, uma edição deautor, que a banda de Oxford disponibili-zou, numa primeira fase, gratuitamentena internet e só mais tarde foi possíveladquiri-lo em suporte físico e digital. Estacolectânea aparece no mercado em trêsversões, uma composta de apenas umdisco, uma segunda com um segundo dis-co de bónus e ainda um dvd cheio devídeos da banda. Não sendo um grandefã da banda, gosto imenso da primeirafase da sua carreira, em que o pop/rockera sonoridade dominante nos seus te-mas, ou seja, até “Ok Computer”, que éconsiderado de forma unânime como umdos melhores discos do século XX. Ao

invés, é “The Bends”, o seu segundo dis-co de originais, sem margem para dúvi-das, o meu disco preferido da banda, aoponto de não conseguir eleger um dosseus doze temas como meu preferido.Lembro-me que recebi este disco comoprenda de do meu 17.º aniversário, numaaltura em que comecei a ter Tv Caboem casa e que na MTV rodava com al-guma insistência o vídeo de “Just”. Numasegunda fase, marcada essencialmentepela utilização da electrónica, não deixode reconhecer o enorme brilhantismo dabanda, assim como a sua criatividade,quer na inovação da sua música, quer nofacto de arriscar sem medo das conse-

quências que daí podiam advir e há mes-mo temas dos quais gosto bastante, comosejam: “Idioteque” ou “Pyramid Song”.É um disco essencial! Humildade é coi-sa que também não lhes falta. Prova dis-so mesmo é o comentário do vocalistada banda, Thom Yorke” referindo nãocompreender a edição da colectânea“The Best of Radiohead”, uma vez queconsidera que a sua banda nunca editougrandes êxitos.

Para o fim, tenho para partilhar comtodos vós que, no passado dia 5 de Ju-nho, aquando da sua passagem pela áreaelectrónica do Rock In Rio´08, tive opor-tunidade de trocar breves palavras com

os 2 Many Dj’s que, como já aqui es-crevi diversas vezes, são os meus dj’sde eleição. No fim de uma curta conver-sa, dado que os rapazes após a sua actu-ação em Lisboa ainda tinham de seguirviagem para Ibiza, onde iriam actuar namesma noite, fui brindado com o autó-grafo de ambos, com uma dedicatóriaespecial: “José Miguel You Have GoodTaste”. Indescritível!

PARA SABER MAIS:

Radiohead “The Best of Radiohead”(EMI)

www.radiohead.com

www.myspace.com/radiohead

A Empresa Municipal de Turismoe o Coro Alma de Coimbra promo-vem, a 27 de Junho, um concerto noJardim da Sereia, cuja receita rever-te na íntegra para a construção deduas clínicas dentárias em Timor-Leste.

O espectáculo, que terá como temacentral a guitarra de Coimbra, mar-ca o início das Festas da Cidade, con-tando com a participação de Vitori-no, Janita Salomé, Filipa Pais e a Bri-gada Vítor Jara, entre outros.

Durante a apresentação pública dainiciativa, na Câmara de Coimbra, oantigo bispo timorense D. Ximenes

Concerto a favor de construçãode duas clínicas em Timor-Leste

NO PRÓXIMO DIA 27, EM COIMBRA

Belo adiantou que a receita se desti-na a comparticipar a construção deduas clínicas dentárias, uma na Dio-cese de Díli e outra em Baucau, or-çadas em 210 mil euros.

Denominado “A Guitarra de Coim-bra por Timor”, o concerto integra-seno projecto Timor-Leste Saúde, da res-ponsabilidade da Associação de Apoioà Diocese de Baucau, que tem emmarcha um outro programa na áreada educação para dotar as escolas dematerial didáctico.

O espectáculo realiza-se no Jardimda Sereia, pelas 21:30 horas, e custa10 euros.

CÂMARA DE COIMBRA CEDEUPAVILHÃO “CENTRO DE PORTUGAL”

Orquestra Clássicado Centro já tem“Casa da Música”

A Orquestra Clássica doCentro (OCC), a única daRegião com actividade regu-lar e uma das mais dinâmi-cas do País, acaba de verreconhecido o seu méritopela Câmara Municipal deCoimbra, cidade onde temsede mas onde lhe faltavaminstalações adequadas.

Assim, a autarquia deci-diu ceder à OCC a utiliza-ção do Pavilhão Centro dePortugal (uma bela obra ar-quitectónica da autoria deSiza Vieira), situado na mar-gem do Mondego, junto aoParque Verde, que a partirde agora será não só localde ensaios e concertos daOCC, mas também se trans-forma em autêntica “Casada Música” de Coimbra.

Uma justa distinção paraa OCC, cujo notável traba-lho tem conseguido vencerdificuldades de toda a ordem.

Emília Martins (ao fundo, à direita), a Directora da OCCe sua grande dinamizadora

O maestro Virgílio Caseiro assegura ainvulgarqualidade artística da OCC

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20 DE 18 JUNHO A 1 DE JULHO DE 2008CULTURA

Maria Barroso começou por saudaros presentes (cerca de uma centenade pessoas): “A gente olha para a as-sistência e vê que são todos velhosamigos”. Leu depois alguns dos poe-mas que constam do livro, sublinhan-do que “as palavras mágicas de Car-los Carranca vão-nos revelando a be-leza do mar, velho poeta sem rosas”.E acrescentou:

“Há nesta obra os lugares por ondeo poeta passou e as pessoas que neledeixaram um rasto de saudade... e há,ainda, sobretudo, uma reflexão sobreo tempo presente, sobre a sociedade.Frátria é um lugar de memória, umahomenagem aos que se bateram pelaliberdade em Portugal (...) sobretudoo retorno da Pátria ao fundo da suaalma. É o lugar onde o poema irmanaa humanidade”.

Maria Barroso disse ainda:“Nesta obra há dois planos da His-

tória: o plano em que o país é perso-nagem perdida de si mesmo e outroem que o poeta, como Dante, desceao Inferno, ao fundo da sua animapara se conhecer e regressar, reen-contrado, de novo à superfície - a Frá-tria.”

E terminou lendo o poema FRÁ-TRIA (poema publicado pela primei-ra vez no nº 1 deste jornal CENTRO).

Maria Barroso declamandoo poema “FRÁTRIA

LIVRO DE CARLOS CARRANCA APRESENTADO EM LISBOA

Maria Barroso e José d’Encarnaçãoelogiaram “Frátria” e o seu autor

José d’Encarnação fez o elogio de Carlos Carranca e da sua obra

Decorreu há dias, em Lisboa, o lan-çamento do livro “Frátria”, da autoria deCarlos Carranca.

Perante cerca de uma centena de pes-soas (entre as quais Vasco Lourenço,Luiz Goes, a Presidente da Sociedadede Língua Portuguesa e a Presidente daAssociação dos Antigos Estudantes deCoimbra em Lisboa), usaram da pala-vra José d’Encarnação, Professor daFaculdade de Letras da Universidade deCoimbra, e Maria Barroso.

José d’Encarnação referiu-se assima Carlos Carranca:

“Ainda não perdeu – apesar de tudo!– a capacidade enorme de sonhar gran-de. Para si, para os seus, para os seusestudantes, para o seu (e ainda nosso!)País!

Desde muito cedo que «o sonho lhecomanda a vida» e esse entusiasmo in-cute no dia-a-dia através da palavra – apalavra escrita e, sobretudo, a palavrafalada/cantada, declamada.

Não foi, pois, sem emoção, sem grandeemoção, que o ouvimos no recente se-rão evocativo de um 25 de Abril que pa-rece fenecer e nós todos não queremos– de modo nenhum! – dele lavrar o epi-táfio! Resistir foi a palavra de ordem queCarlos Carranca ali nos deixou, embora,como professor, tivesse querido que amensagem tivesse ido para o ar na ínte-gra – pois que há que resistir, ainda quea madeira dos nossos sonhos sejatambém a nossa cruz.

Sonhos que, da serra da Lousã, agres-te e fria; duma Coimbra antiga que, pou-co a pouco, parece querer definhar e es-quecer a década de 60 – Amor é umapalavra com saudade dentro… Sonhosque, vindos desses horizontes terrestres,aqui se espraiam no voo marítimo com-passado e sereno das gaivotas, indife-rentes à brisa cortante ou ao espedaçardas ondas no Mar do Inferno. Mar degaivotas, mar de pescadores: tempo in-grato / o do pescador que se pesca /no engodo mais barato…

Casamento fecundo entre a Lusa Ate-nas e a vida cascalense. Entre uma Uni-versidade vetusta e uma Escola de Tea-tro. Entre o Torga – De vez em quando/ viam-no passar… / Com o seu olharde bruxo / e o seu andar / de andas –, o seu e o nosso Torga, de gabardinacoçada e caneta arguta («A pátria vistado cimo de um poema feito de pedras:xisto urze e vento»… O Tossan, o Car-los Paredes, o António Toscano, o JorgeCastilho (também ele um sonhador!) –exacto, Carlos, «Peregrinos»!... Resis-tentes!

Casamento entre esses e os que porcá se estabeleceram. O Fernando Lo-

pes Graça, o Goes – «só a voz do Goescontinuou perdida […] a lutar como sealguém a tivesse aprisionado»… Com vi-sitações frequentes e imprescindíveis aMiguel de Unamuno, Agostinho da Sil-va, Pablo Neruda…

É uma comunhão, Carlos. Entreteci-da de afectos, cumplicidades, lutas –muitas lutas!...

E a sua Escola de Teatro!Há, claro, a universidade em Lisboa;

mas é com estes jovens da Escola deTeatro de Cascais que Carlos Carranca– sem necessidade de livros de ponto,de inquisições, de rigidez programática– dá livre curso à sua arte de ensinar apensar. Através da precisão da palavra.Pensar! – um exercício que os novosventos até gostariam de ver arredado dasescolas e da Vida – e que Carlos Car-ranca teima (e muito bem!) a não deixarperder.

Já nem sei quando conheci CarlosCarranca. E confesso que nem quis dar-me ao trabalho de ir pesquisar arquivospara o saber. Há 15 anos? Há 20?... Aimpressão que tenho é que o conheçodesde sempre! Porque desde logo nosirmanámos nos mesmos ideais, nos mes-mos sonhos (cá está de novo a palavra,é irresistível), na mesma forma de enca-rar a docência, a vida e, até, a poesia,quer a dita «popular» (e o Carlos sem-pre me apoiou nessas lides) quer a maiselaborada mas nem por isso mais des-garrada do quotidiano.

E esta vontade de pegarmos na juven-tude e a atirarmos para a frente: apren-dam a nadar, meninos! Procurem a es-sência das coisas!...

E «é trágico para quem vive em cons-tante procura da essência das coisas, as-sistir, impotente, à dura realidade de umaPátria a afastar-se da essência e a per-der-se na imitação e na vulgaridade utili-

tárias. Porque não há nada que mais nosdegrade do que esta entrega à idolatriada técnica e ao consumismo de massas,onde a preocupação dominante do ne-gócio e a intensidade frenética da Vidaaniquilam toda a inquietação espiritual»– lê-se na «Pré-face» desta Fratria, quequase parece testamento e eu prefirochamar-lhe um testemunho gritante.

Pela palavra. Eterna! «No princípio erao Verbo»! No princípio, agora e sempre,Amigos!

A palavra que – como a Poesia – deveagitarinquietarlibertar.Precisamos que, com sonoridades for-

tes, a palavra e os discursos voltem anão soar a oco.

Não queremos múltiplas «palavrassem sentido, usadas nos comércios diá-rios dos interesses; utilizadas e deitadasfora, sem peso específico, sem leveza,sem valor».

Sentamo-nos num rochedo deste mardo Inferno, a orla marítima cascalense,Cabo da Roca, ao fundo, a apontar hori-zontes, aquele a cuja magia os próprioslegados imperiais romanos não ousaramresistir e ali ergueram templo ao Sol e àLua.

Ouvimos, no vaivém das ondas e nopiar descompassado das gaivotas, ecosde palavras outras… Coimbra, Lousã,Marão, Sintra, Cascais, terra e mar, ci-dade e montanha – no mesmo abraçofraternal. Porque, com as palavras doCarlos, com o olhar do Carranca, ousa-mos sonhar, ousamos resistir, ousamosser… Humanidade!

Bem hajas, Amigo! O nosso aplauso,Professor!”.

Foi depois a vez de Maria Barroso usarda palavra.

No final da sessão, para além do pró-prio Carlos Carranca ter declamado al-guns dos seus poemas, houve ainda tempopara momentos mágicos de canção deCoimbra, com a inconfundível voz de LuizGoes.

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21DE 18 DE JUNHO A 1 DE JULHO DE 2008 OPINIÃO

Renato Ávila

POIS...POIS...POIS...POIS...POIS...

João PauloSimões

FILATELICAMENTE

Joséd’Encarnação

O Francisco precisava urgente-mente daquele medicamento. Pa-rou o carro a trouxe-mouxe, iriademorar-se pouco na farmácia.Foram apenas 7 minutos; quandochegou, já tinha as rodas bloquea-das e teve de pagar a multa.

Divertiu-se um grupo de jovensa arrancar o corrimão do lanço su-perior da escadaria frente à Fa-culdade de Farmácia. Ficou emcima, transversal, em plena pas-sagem, com os apoios em riste,num perigo para quem se distraís-se, para os inúmeros grupos de tu-ristas (sobretudo da chamada «3ªidade») que fazem diariamenteaquele percurso. Passaram-se diassem que fosse arredado do cami-nho; foi depois colocado junto aomuro das Letras. Passada mais deuma semana, ainda não tinha ha-vido tempo para o repor.

A nova liderança do Partido SocialDemocrata encontra o país em acentua-da crise económica e social.

Ao eleger Manuela Ferreira Leite, osmilitantes não se terão abstraído dessefacto. Estamos mesmo em crer que oseu voto terá correspondido mais a intui-tiva comunhão dum sentimento nacionalde insegurança e de premente necessi-dade duma alternativa credível do queduma pragmática e imediatista estraté-gia de acesso ao poder.

Pelo caminho, teriam ficado, pois, aspropostas que, generosamente irrealistasou dolosamente demagógicas, procura-ram ignorar a verdadeira dimensão daprofundidade dos problemas.

Ainda o choque petrolífero ensaiavao actual e devastador tsunami, já os eco-nomistas mais abalizados de diferentesquadrantes ideológicos punham em cau-sa o confiante optimismo do governo nainterpretação das estatísticas e dos indi-cadores económicos internos e das aná-lises dos competentes organismos inter-nacionais, subestimando, de certo modo,os prelúdios e os potenciais efeitos dacrise face às debilidades da nossa eco-

Casa onde não há pão...nomia e do nosso tecido empresarial.

A contas com a pesada factura deBruxelas e com a premência das refor-mas de fundo que se impõem para mo-dernizar o país e agilizar o Estado, o exe-cutivo não terá conseguido criar desen-volvimento económico e saúde financei-ra susceptíveis de amortecer a gigantes-ca força do embate.

O ónus da crise arrisca-se, assim, acair sobre os impostos, no ecletismo dasua dureza e na paroxística inclemênciaduma máquina fiscal cada vez mais efi-ciente, ainda que injusta e insaciável.

A menos que o Europa dos vinte e sete, enão só, resolva fazer qualquer coisa de im-portante – por onde andará o Dr. Barroso?– teremos uma crise para ficar e cujos efei-tos começam a ser muito preocupantes.

A acrescer ao espectro da carestia dosalimentos, os agricultores ameaçamabandonar as terras e as máquinas e ospescadores dispõem-se a amarrar osbarcos nas docas. Como se não bastas-se, os transportadores, lá do alto das ca-bines dos poderosos camiões, apertamcom os buzinões, entopem as estradas ebloqueiam as entradas das grandes ci-dades, levando o país à paralização.

Todos exigem aquilo que o depaupe-rado orçamento do Estado não pode dar:

ajuda, subsídios, isenções.Com a factura do défice eternamente

à cabeça (menos meio por cento em cadaano) e o “laissez faire” duma Europanascida para o social e hoje transforma-da em joguete nas mãos do capitalismoselvagem, não há esperança que resistanem tratado de Lisboa que nos valha.

Quem pensar que dois mil e nove, coma proclamada onda de actos eleitorais,poderá trazer-nos novos horizontes, comeste quadro que os entendidos apelidamde macroeconómico ou qualquer coisaparecida, as soluções são muito poucaspara uma casa onde o pão irá continuara não chegar para tudo.

As demagogias quedar-se-ão no balofodas suas concepções enquanto a durezada penúria estrangular os bolsos moribun-dos da grande maioria dos portugueses.

No nosso modesto entender, é misterque esta crise comece por ser enqua-drada em Bruxelas e Estrasburgo. Ou aEuropa se comporta como um universode cidadãos em demanda da solidarie-dade, da justiça social e de um compatí-vel lugar no mundo e toma as iniciativasadequadas na contenção desta desesta-bilizadora selvajaria capitalista, ávida demais valias a qualquer preço, ou o sonhoeuropeu, vegetando em nebulosa mira-

gem, esfumar-se-á nos egoísmos e nadescrença.

Nesta ilustre casa lusitana todos de-vemos ter a coragem e o pundonor deser honestos, de não ultrapassar os limi-tes do razoável. Da prudência.

A debilidade do país não suporta situa-ções de rotura. Exige consenso. Diálogo.

Tudo se conjuga para que os vence-dores de dois mil e nove pouco ou nadapossam fazer sem a patriótica coopera-ção dos vencidos.

É tempo de nos sentarmos todos àmesma mesa e, em vez de exigirmos ouprometermos os nacos de pão que nãoexistem, nos dispormos, sem preconcei-tos, a partir toda a pedra que, em trintaanos de regabofe político, foi ficando pelocaminho. Pedras soltas, peregrinas; pe-dras angulosas, viperinas; pedras voado-ras, sibilinas; calhaus rolados duma demo-cracia ainda em busca da essência e daverdade, da transparência e da justiça.

A seriedade, o patriotismo, o sensopolítico e o rigor da nova líder social de-mocrata são uma promessa de esperan-ça na fecunda congregação de boas von-tades para, todos juntos e com sucesso,enfrentarmos a crise.

Assim o entendam os que protagoni-zam a vontade dos portugueses.

Decorreu de 17 a 30 de Maio passado,nas instalações da Biblioteca da Pampilho-sa, a 16ª Mostra Filatélica organizada peloNúcleo Filatélico e Numismático do conce-lho de Mealhada.

Houve a edição de carimbo comemora-tivo dos CTT e sobrescrito emitido para oefeito. Do catálogo desta Mostra, pode sa-ber-se que os dinossauros também povoa-ram a Terra há muitos milhões de anos, eque, filatelicamente, esta temática está poucorepresentada em Portugal. Este carimbo,emitido pelos CTT a partir de uma propostado Núcleo, vem contribuir para o desenvol-vimento desta temática em Portugal. De

16ª Mostra Filatélicado Núcleo de Filatelia e Numismáticada Pampilhosa

autoria do Biólogo, Ilustrador científico, De-signer, Fernando Correia, natural daquelavila, representa o lagarto alarmante.

É enorme a importância deste carim-bo, pois deverá ser o único emitido nonosso país.

De salientar também a importância des-tas Mostras Filatélicas, nomeadamente jun-to das camadas mais jovens, pois hoje emdia são poucos os coleccionadores de se-los. A Internet e o correio electrónico vie-ram, em parte, aniquilar o Selo. É muitomais rápido enviar um e-mail do que es-crever uma carta, colocar-lhe um selo epô-la no Correio.

Há que incentivar os jovens ao Coleccio-nismo através destas Mostras, para que oSelo não caia em desuso.

Por proposta do Museu Nacional de Arquelogia (MNA), o Governoaprovou a emissão, pelos CTT, de um Inteiro Postal (postal ilustrado, jáselado) alusivo à comemoração dos 150 anos do nascimento de José Leitede Vasconcelos, notável arqueólogo que foi o primeiro Director do MNA.

Os interessados poderão obter este espécime filatélico, com carim-bo de primeiro dia, no MNA, no dia 7 de Julho, entre as 18 e a 20 horas(por ocasião da inauguração da exposição IMPRESSÕES DO ORIEN-TE, de Eça de Queirós a Leite de Vasconcelos) ou no dia 8 de Julho,durante o horário normal de abertura ao público.

Inteiro postal homenageiaJosé Leite de Vasconcelos

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22 DE 18 JUNHO A 1 DE JULHO DE 2008MEDIA

Quando alguém fala acerca de media nos dia que cor-rem fala-se facilmente da convergência dos meios de co-municação social. Parece que a convergência será a solu-ção para todos os problemas que caracterizam a actualida-de de consumo e produção de conteúdos mediáticos. Masserá esta a solução final? É claro que não! Nunca ao longoda história da humanidade houve uma solução que satisfi-zesse todos os desejos em relação a qualquer realidade. Porexemplo, as soluções IPTV – como acontece com os servi-ços da MEO (PT) – têm tido algum sucesso porque sefundiram três serviços numa só conta – este serviço define-se como Triple Play. Aqui, através de um cabo, temos In-ternet, Telefone e Televisão... Para o consumidor que nor-malmente não quer pagar mais por um acrescento de servi-ços trata-se de uma solução mais confortável. No entanto,em termos empresariais, esta solução ainda não é confortá-vel porque a empresa acaba por receber menos receitas doque as que recebia quando os serviços estavam separados.No entanto, ainda se vive em tempos de “muita parra epouca uva”. Mas convém não esquecer que, tal como acon-teceu com a época dos Descobrimentos, estamos a viveruma fase onde já estão também a acontecer alterações pro-fundas na nossa cultura... Hoje, tal como ontem, os pensa-mentos têm que ser feitos numa perspectiva horizontal emdetrimento de uma massificada pelo verticalismo das indús-trias das massas. Por exemplo, com a Web 2.0 – a InternetSocial – a possibilidade de contacto com figuras ilustres éextremamente tangível porque, aqui, os hiatos do distancia-mento tradicional entre as classes é fulminado. Veja-se ocaso dos fóruns ou então do Second Life.

No entanto, quando se fala de convergência podemos

Destino final:convergência? Por Luís Miguel Pato*

[email protected]

ver que é um processo em constante alteração onde háintersecções de tecnologias e empresas mediáticas (multi-plexes); não se encontrou ainda um estado final. Jamaishaverá apenas uma solução mediática... Uma espécie decaixa negra dos media que nela tudo inclui, como afirmaHenry Jenkins. Com a ideia de consumo de conteúdos sem-pre e em todo o sítio que se vive actualmente, observa-seque só esta proliferação de assuntos fará da realidade deuma só convergência uma mera visão utópica. Hoje vive-mos numa fase em que a procura de uma identidade paraestes meios convergentes é a palavra de ordem. Aliás, his-toricamente, podemos ver que um medium pode ser criado,os géneros podem ser adaptados e até gerados, mas após asua implementação ficam a constituir a realidade mediáticaque compõe o nosso mundo. Nunca haverá um medium

que se imponha através de um arrastamento das massaspopulares sobre os outros. Cada um terá sempre o seu lu-gar assegurado! Nunca, ao longo da historia, houve ummedium que tenha conseguido destruir outro por completo.Cada medium, com mais ou menos dificuldades, tem con-seguido sobreviver mantendo o seu espaço existencial e osseus públicos específicos.

Hoje as confusões em torno da realidade da convergên-cia devem-se a três aspectos fundamentais Convergênciade Aparelhos (iPOD, PDA’s, PSP, Telemóveis etc.), Con-vergência de Realidades Empresariais (Google, Micro-soft (EUA) Impreza, Prisa (Península Ibérica) e Conver-gência de Conteúdos (reportagens e conteúdos imersi-vos). Estas realidades fazem de nós cidadãos de um mun-do globalizado.

Em suma, tal como aconteceu na época dos Descobri-mentos, actualmente também vivemos numa fase de “de-senvolvimentos manuelinos”. Só que aqui a mediação é di-gital! Hoje vemos que a navegação, antes feita ao sabordos ventos e das coordenados dadas por um astrolábio, sebaseia num GPS em mutação constante porque, por exem-plo, agora funciona a pilhas, amanhã poderá trabalhar atra-vés de energia solar, e o mapeamento passa a ser real emdetrimento da digitalização de mapas, etc. Enfim, tecnocra-cias que provêm de uma necessidade constante de entrete-nimento por parte do homem, que estão a transformar dia-riamente a nossa sociedade. Se historicamente vimos queas inovações que aconteceram durante os Descobrimentostiveram implicações políticas e sociais em momentos deinstabilidade; hoje há uma sensação de esperança que con-fere à convergência mediática sintomas de uma soluçãoglobal... * docente do ensino superior

O jornalista Joaquim Furtado foi dis-tinguido com o Grande Prémio Gazeta2007, atribuído pelo Clube dos Jorna-listas, pela série de reportagens sob otítulo genérico “A Guerra”, transmiti-das pela RTP, foi ontem divulgado.

Na opinião do Júri, a série docu-mental de Joaquim Furtado assume-se “de forma incontroversa como umtrabalho jornalístico de excepcionalqualidade”.

“Estamos perante uma investigaçãobaseada numa cuidadosa e criteriosapesquisa de arquivo, mas cuja cons-trução narrativa, ao cruzar génerosjornalísticos diferenciados, possibilitauma reconstituição de grande signifi-cado documental que, simultaneamen-te, permite uma melhor compreensãoe abre novas perspectivas de aborda-gem sobre um período e acontecimen-

“Grande Prémio Gazeta”para Joaquim Furtadopela série sobre a Guerra Colonial

tos de importância fundamental nanossa História recente”, afirma o júriem comunicado, justificando a atribui-ção do prémio.

O Clube dos Jornalistas consideraque o trabalho foi feito com “rigor eisenção” e sem recorrer à utilizaçãosensacionalista de imagens chocantesmas também sem iludir a crueza trági-ca dos factos.

Trata-se, além disso, de um trabalhoque, tanto pelo tema como pelo valorjornalístico, constitui “um inestimávelcontributo para a recuperação da nos-sa memória colectiva, num tempo emque vários factores e vontades se con-jugam para a tentativa do seu apaga-mento”, acrescenta o júri.

O jornalista João Luz, colaboradorda revista “Visão”, foi contempladocom o Prémio Gazeta Revelação pelo

conjunto de trabalhos apresentado aconcurso: “Eu, vegetariano”, “Quantocusta criar um filho”, “Incríveis viagensde Inverno” e “À descoberta de Mi-nas Gerais”.

Neste caso, o júri afirma ter reco-nhecido a qualidade jornalística das re-portagens e a versatilidade do repórterna abordagem de diferentes temas.

O Prémio Gazeta Imprensa Regio-nal foi atribuído ao semanário “O Mi-rante”, um jornal regional “graficamen-te cuidado” que edita semanalmenteuma “extensa e diversificada informa-ção plural da vida ribatejana nas áreasda sociedade, cultura, economia, polí-tica e desporto”.

Criada há 21 anos, esta publicaçãoé dirigida por Alberto Bastos e tem re-dacções em Santarém, Chamusca eVila Franca de Xira e uma delegação

em Alpiarça.O troféu Gazeta de Mérito foi atri-

buído a Eduardo Gageiro, uma “figuraimpar do fotojornalismo português”, queem mais de 50 anos de actividade pro-fissional obteve várias distinções naci-onais e internacionais, sublinha o júri,lembrando que alguns dos trabalhosdeste fotógrafo são registos históricosde repercussão mundial, como os acon-tecimentos dos Jogos Olímpicos de Mu-nique (1972) e do 25 de Abril de 1974.

Com o intuito de prestigiar o primei-ro jornal português, a Gazeta, cuja pu-blicação se iniciou em 1641, os Prémi-os Gazeta são atribuídos desde 1984pelo Clube de Jornalistas.

A valorização dos jornalistas portu-gueses e o estímulo da qualidade do jor-nalismo talento e criatividade são osprincipais objectivos desta iniciativa.

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23DE 18 DE JUNHO A 1 DE JULHO DE 2008 INTERNET

IDEIAS DIGITAIS

Inês AmaralDocente do Instituto Superior Miguel Torga

EASYSHARE

BADONGO

FILEDROPPER

FILE FACTORY

MYFREEFILEHOSTING

A necessidade de ter espaço na rede, no sentido lite-ral da palavra, começa a ser uma constante dos utiliza-dores. Chegou a era dos uploads. Claro que o down-load continua, mas numa altura em que é o próprio uti-lizador a disponibilizar conteúdos, é preciso haver es-paço de disco. Gratuito, de preferência.

As Ideias Digitais desta semana são uma compila-ção de alguns serviços que lhe podem ser úteis paraguardar conteúdos online.

O Easyshare é um serviço que lhe permite, semqualquer custo, registar-se e fazer uploads de uma for-ma rápida. Para além diso, disponibiliza aos seus utili-zadores contas que permitem vários downloads aomesmo tempo. Existem várias formas de acesso FTP,permitindo a adaptação aos softwares de cada um.

Mas o que torna este serviço realmente diferente éo facto do Easyshare pagar aos utilizadores pelos seusuploads. Se o ficheiro que colocar online for descarre-gado dez mil vezes, o utilizador recebe 20 dólares. Tam-bém a utilização de barras personalizáveis nos websi-tes podem garantir mais uns trocos a quem utiliza oserviço. Nas contas gratuitas, o tamanho máximo porficheiro é 100MB.

EASYSHARE

endereço: http://www.easy-share.comcategoria: serviços

Este serviço é um dos melhores. Um utilizador quenão esteja registado pode fazer upload de 4,8GB pordia, de forma gratuita. Quem tenha uma conta temdisponíveis 12GB de disco. O tamanho máximo por

ficheiro é de 1GB, o que é significativamente satis-fatório.

As contas no Badongo permitem alojar qualquertipo de ficheiro e têm algumas inovações: é possívelcriar álbuns de fotografias, colocar um player MP3 nossites dos utilizadores com ligação às músicas alojadasno Badongo, a possibilidade de criar slideshows comas fotografias e adicionar-lhe vários efeitos, uma apli-cação que permite fazer upload directo da desktop doutilizador, entre outras funcionalidades.

BADONGO

endereço: http://www.badongo.comcategoria: serviços

Mais um interessante serviço de alojamento. O Fi-leFactory tem uma vantagem adicional: permite envi-ar notificações por email de ficheiros enviados. Ou seja,permite fazer recomendações a outros utilizadores.

As contas gratuitas têm uma grande quantidade deanúncios, ao contrário (evidentemente) das pagas. Otamanho máximo por ficheiro é de 300MB. Tambémsegue a filosofia do Easyshare, pagando aos utilizado-res pelos downloads que recebem de os ficheiros quecolocaram online.

FILEFACTORY

endereço: http://www.filefactory.comcategoria: serviços

Mais um serviço com funcionalidades muito idênti-cas às dos que já foram apresentados nesta página.Mas acrescente-se nas características do Filedropperuma muito interessante: a facilidade de utilização. Aúnica coisa que é necessário fazer é clicar no botãoUpload e seleccionar o ficheiro que se quer colocaronline.

Há ainda duas outras características a destacar que,de facto, fazem do Filedropper um serviço exemplar:o tamanho máximo de ficheiro a enviar é 5 GB (o que éalgo praticamente imbatível em serviços gratuitos) e o

código fonte do link é disponibilizado para promover odownload nos sites pessoais dos utilizadores.

FILEDROPPER

endereço: http://www.filedropper.comcategoria: serviços

Com uma interface simples de utilizar, o MyFreeFi-leHosting é um serviço muito semelhante aos restan-tes. Na prática, trata-se de mais uma opção. A desta-car o facto de ser possível categorizar os ficheiros quese enviam através de tags, o que permite uma pesquisamais eficiente e, nesse sentido, downloads mais asser-tivos.

É possível enviar uma notificação via email a outroutilizador e receber o código fonte para distribuir (ouseja, para promover o download do ficheiro que se en-viou). O tamanho máximo por ficheiro é de 100MB.

MYFREEFILEHOSTING

endereço: http://myfreefilehosting.comcategoria: serviços

O Fileden é outro dos serviços de alojamento deconteúdos muito conhecido. Sem ter uma conta, qual-quer utilizador pode fazer upload de ficheiros, sem qual-quer tipo de custo. O tamanho máximo permitido é de100MB.

Os utilizadores que optem por ter uma conta regista-da (mas gratuita) têm à sua disposição espaço ilimita-do, largura de banda ilimitada, a opção de criar projec-tos, a possibilidade de substituir ficheiros, ver as esta-tísticas dos ficheiros e dos projectos, entre outras fun-cionalidades.

FILEDEN

endereço: http://www.fileden.comcategoria: serviços

FILEDEN

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24 DE 18 JUNHO A 1 DE JULHO DE 2008CRÓNICA

Adormeci com o último Diário doTorga. “Temos tudo. E falta-nos oessencial”, ainda me lembro de terlido...

A partir daí, formas pouco nítidas,gelatinosas. A imagem distorcida deum gramofone que tocava SmallTown de Lou Reed: “a única certe-za que temos numa cidade pequenaé querermos sair dela”...

Chovia por dentro. A solidão, a difi-culdade em respirar, a sensação do“déjà vu”. Desenhavam-se contornosde partida. Desejos de parar... em ou-tras paragens.

Instalei-me docemente na sala de ci-

nema da memória, cruzei as pernas e videsenrolar-se uma sessão a dois tempos.Um documentário de actualidades, porentre acordes de viola, com o lábio a tre-mer, a voz sumida, a desorientação deum amor perdido.

A seguir, no filme de fundo, a películamudara de tom, de registo e de velocida-de. Uma janela que se abria, ampla earejada, para deixar entrar, a jorros, a luzda felicidade. O tropeçar em alguém quese assemelhava ao brilho solar que inun-da a poesia de Eugénio de Andrade:

“Escalar-te lábio a lábio, percor-rer-te

Os olhos na pedra fresca dos teusolhos”...

Subitamente, deixei de me ver, mascontinuei a sentir-me. Agora na pele deKaren Blixen e com o rosto de MerylStreep. A esmagadora paisagem africa-na. A grandeza das montanhas. Os nati-vos. A comunhão plena com a Nature-za. De repente, um enorme estrondo. Umavião que se despenhava. Acordei gri-tando “he was not mine”...

Recuperada a serenidade, senti-meimpelida para a minha estante, onde abra-cei um dos filmes da minha vida. Out ofAfrica. África Minha.

Há momentos únicos. Livros únicos.Filmes também únicos. África Minha

A MINHA ESTANTE

Maria Pinto*[email protected]

“He was not mine”...

desperta em mim a vertigem da fanta-sia, a emoção do sonho, a comoção, acerteza de ser sensível.

Este excelente filme, realizado em1985 por Sidney Pollack (recentementefalecido), retrata a história verídica deuma baronesa oriunda da Dinamarca que,nos primeiros anos do século XX, vai

morar numa fazendade café no Quénia,acompanhada de seumarido.

Tratando-se de umcasamento de conve-niência, como tantosoutros, Karen Blixene Bror separam-se.Karen permanece emÁfrica.

No fundo, Out ofAfrica é a história deuma mulher e da suaempatia com um mun-do diverso do seu.

Com povos nativos que mantêm uma me-mória há muito esquecida pelos povosditos civilizados. Somalis, Massai e Ki-kuyus surgem como seres humanos quevivem em plena comunhão com a Natu-reza e África Minha é também o relatoda aprendizagem, por parte de Karen,das tradições e da cultura destes nativosque para ela trabalhavam. De facto, aÁfrica Oriental continha, para os coloni-

zadores europeus, uma forte dimensãoexótica e também erótica: era o lugaronde, com a aprovação da Natureza, asinibições da civilização se conseguiam li-bertar.

É neste contexto de fortes emoções ecomoções que Karen conhece Denys

Finch Hatton (brilhantemente interpreta-do por Robert Redford), um aventureiroe aristocrata inglês, com quem mantémum forte envolvimento, tornando-se eleo grande amor da sua vida.

Esta intensa história de amor desen-rola-se na fazenda deKaren, nas monta-nhas Ngongo. A casaestava situada numplanalto fértil e tem-perado, de onde seavistava com des-lumbramento a paisa-gem grandiosa, a les-te, e as húmidas ter-ras baixas, a oeste.

Tudo se conjuga-va, de facto, para umfilme de excelência,cujo enredo se organizou à volta dosgrandes espaços. Sidney Pollack ex-plorou a paisagem selvagem de Áfri-ca, fazendo dela a imagem da sereni-dade face ao buliçoso mundo europeu.Ela ganhou uma individualidade própria,assumindo os valores da liberdade e tor-nando privilegiados aqueles que a pu-dessem observar.

Daí aquele passeio de avião num finalde tarde. Cena inesquecível e que vi erevi naquela noite. As cores douradas dasavana, a luz brilhante e suave do cairdo dia, o horizonte a perder de vista, asmanadas de animais selvagens que cor-riam pelos campos, assustados e pertur-bados com o forte ruído do “pássaro” dacivilização.

Dois europeus. Karen e Denys. Meryle Robert. Dois europeus que aprofun-dam a sua relação à medida que se vãoembrenhando e misturando na vivênciamágica do continente africano. Um amor.Único. De tela de cinema. Vivido entreum homem e uma mulher também úni-cos. Um amor que não se compadececom gestos, tempos e lugares comuns.Todo um amor envolto na paisagem im-pressionante e na prodigiosa melodia deJohn Barry. O choro de Karen por ummomento que foi de êxtase. A minha co-moção. A sua mão que enlaça e abraçaa mão de Denys... cena de uma felicida-de indizível.

No entanto, à medida que a acçãoavança, a Natureza e a paisagem vãoadquirindo outras tonalidades. As gran-

des chuvas acompanhadas de trovoa-da adivinham e antecipam a tempesta-de que se irá desencadear no interiorde Karen.

Out of Africa, que é uma das maisbelas narrativas sobre África, termina,porém, com uma enorme sensação deperda. Todo um clima de magia é brutal-mente interrompido pela morte de Denysnum acidente de avião.

É a prova de que a felicidade não éeterna. Não existe no sempre. No parasempre. Ela é momento de cascata, deembondeiros e Lago Vitória. Ela é mon-tes e planaltos. Natureza em bruto. Po-trinhos selvagens. Cabritos monteses. Éum não-dizer dizendo, um rol de rimasque não rima. Um sentir que se sente.Momentos.

Entendi a razão de ser do meu sonho.

Entendi a cena final de África Minha.Denys é sepultado. Por entre uma sé-rie de convidados de circunstância,Karen lê a “oração ao atleta”. Pega numpunhado de terra, mas não o lança so-

bre o caixão. Fica com ele. Simbolica-mente ela não enterrou Denys, levandona mão a terra e caminhando em direc-ção ao mar, ao mesmo tempo que sentee diz “he was not mine”...

Nesse momento, todos os outros con-vidados se tornam dispensáveis e vãodesaparecendo. Novamente África. Apaisagem esmagadora a que Denyspertence.

Karen continuou o seu caminho, re-gressando à Dinamarca. O livro queescreveu depois e o filme que muitosanos mais tarde foi magistralmente re-alizado por Sidney Pollack foram con-tados em flashback. Karen Blixennunca mais regressou a África, prefe-rindo recordá-la. Sabia que nada maisseria como antes. Entendi o sonho. Osobressalto. Faltava o essencial...

* Docente do ensino superior