o centro - n.º 47 – 26.03.2008

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DIRECTOR JORGE CASTILHO | Taxa Paga | Devesas – 4400 V. N. Gaia | Autorizado a circular em invólucro de plástico fechado (DE53742006MPC) ANO II N.º 47 (II série) De 26 de Março a 8 de Abril de 2008 1 euro (iva incluído) Telef.: 239 854 150 Rua da Sofia, 95 - 3.º - 3000-390 COIMBRA O lamentável caso do telemóvel em escola ENSINO MÚSICA PÁG. 14 e 24 INTERNET NO FIM-DE-SEMANA PÁG. 2 PÁG. 22 e 23 Relógios devem ser adiantados uma hora Algumas das mais recentes novidades Bob Dylan e Leonard Cohen em Lisboa PÁG. 19 PÁG. 3 PÁG. 20 Diz-se que uma imagem vale mais do que mil palavras. Mas também há imagens, como esta, que dispensam palavras. O seu autor é Varela Pècurto, um dos mais conceituados fotógrafos portugueses. Com a publicação desta imagem queremos assinalar a chegada da Primavera e a esperança no futuro. Mas queremos também prestar homenagem a este nosso colaborador, que agora passou a estar reprsentado em mais um Museu: o do Neo-Realismo, em Vila Franca de Xira

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Versão integral da edição n.º 47 do quinzenário “O Centro”, que se publica em Coimbra. Director: Jorge Castilho. 26.03.2008. Visite outros sítios de Dinis Manuel Alves em www.mediatico.com.pt , www.slideshare.net/dmpa, www.youtube.com/mediapolisxxi, www.youtube.com/fotographarte, www.youtube.com/tiremmedestefilme, www.youtube.com/discover747 , http://www.youtube.com/camarafixa, , http://videos.sapo.pt/lapisazul/playview/2 e em www.mogulus.com/otalcanal Ainda: http://www.mediatico.com.pt/diasdecoimbra/ , http://www.mediatico.com.pt/redor/ , http://www.mediatico.com.pt/fe/ , http://www.mediatico.com.pt/fitas/ , http://www.mediatico.com.pt/redor2/, http://www.mediatico.com.pt/foto/yr2.htm , http://www.mediatico.com.pt/manchete/index.htm , http://www.mediatico.com.pt/foto/index.htm , http://www.mediatico.com.pt/luanda/ , http://www.biblioteca2.fcpages.com/nimas/intro.html

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Page 1: O Centro - n.º 47 – 26.03.2008

DIRECTOR JORGE CASTILHO

| Taxa Paga | Devesas – 4400 V. N. Gaia |Autorizado a circular em invólucrode plástico fechado (DE53742006MPC)

ANO II N.º 47 (II série) De 26 de Março a 8 de Abril de 2008 � 1 euro (iva incluído)

Telef.: 239 854 150Rua da Sofia, 95 - 3.º - 3000-390 COIMBRA

O lamentávelcasodo telemóvelem escola

ENSINO MÚSICA

PÁG. 14 e 24

INTERNET NO FIM-DE-SEMANA

PÁG. 2PÁG. 22 e 23

Relógiosdevem seradiantadosuma hora

Algumasdas maisrecentesnovidades

Bob Dylane LeonardCohenem Lisboa

PÁG. 19

PÁG. 3

PÁG. 20

Diz-se que uma imagem vale mais do que mil palavras. Mas também há imagens, como esta, que dispensam palavras. O seu autor é Varela Pècurto, um dos maisconceituados fotógrafos portugueses. Com a publicação desta imagem queremos assinalar a chegada da Primavera e a esperança no futuro. Mas queremos tambémprestar homenagem a este nosso colaborador, que agora passou a estar reprsentado em mais um Museu: o do Neo-Realismo, em Vila Franca de Xira

Page 2: O Centro - n.º 47 – 26.03.2008

2 DE 26 DE MARÇO A 8 DE ABRIL DE 2008

Director: Jorge Castilho(Carteira Profissional n.º 99)

Propriedade: AudimprensaNif: 501 863 109

Sócios: Jorge Castilho e Irene Castilho

Inscrito na DGCS sob o n.º 120 930

Composição e montagem: AudimprensaRua da Sofia, 95, 3.º - 3000-390 CoimbraTelefone: 239 854 150 - Fax: 239 854 154e-mail: [email protected]

Impressão: CORAZE - Oliveira de Azeméis

Depósito legal n.º 250930/06

Tiragem: 10.000 exemplares

COIMBRA

No sentido de proporcionar mais al-guns benefícios aos assinantes destejornal, o “Centro” estabeleceu umacordo com a livraria on line“livrosnet.com”.

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Os ponteiros dos relógios serãoadiantados uma hora na madrugada dopróximo domingo em Portugal Conti-nental e na Região Autónoma da Ma-deira, passando a vigorar a hora legalde Verão.

De acordo com o Observatório As-tronómico de Lisboa, quando for 1:00de Domingo (30 de Março), os relógi-os serão adiantados 60 minutos, pas-sando para as 2:00 horas da manhã.

Na Região Autónoma dos Açores amudança será feita à 00:00 de Domin-go, adiantando o relógio uma hora, pas-sando para a 01:00 da manhã.

Este ajuste efectuado no começo daPrimavera vem adicionar 60 minutosao tempo de Greenwich, sendo umaforma de poupar recursos, pois o diacomeça mais cedo, o que permite ummelhor aproveitamento da luz da ma-nhã e também do final do dia, encur-tando o tempo de utilização da ilumina-ção artificial.

A ideia dos relógios serem adianta-do para permitir aproveitar melhor ashoras de sol foi do inventor BenjaminFranklin, em 1784 nos Estados Unidosda América.

A denominada “hora de Verão” foiadoptada em 1916 por alguns paíseseuropeus, inclusive Portugal, durante operíodo em que os dias são maiores.

De acordo com o Diário da Repú-blica de 1996, dando cumprimento àSétima Directiva n.o 94/21/CE, do Par-lamento Europeu e do Conselho, de30 de Maio de 1994, a fixação da datae a hora comuns para o início e o fimdo período da hora de Verão surgecomo forma de “facilitar os transpor-tes e as comunicações e assim contri-buir para o pleno funcionamento domercado interno”.

Relógiosadiantamna madrugadade domingo

O Conselho da Cidade de Coimbra(CCC) vai promover no próximo dia 2de Abril (quarta-feira), nas instalaçõesda Associação Comercial e Industrial deCoimbra (ACIC), pelas 21,15 horas, umdebate subordinado ao tema “Que cida-danias para a cidade?”, aberto a todosos interessados.

Nesta sessão, e antes do referido de-bate, será assinalado o 32.º aniversárioda Constituição da República, e igualmen-te evocados os 145 anos da ACIC (cu-jas comemorações estão a decorrer).

Haverá intervenções de José Augus-

CONSELHO DA CIDADE DE COIMBRA PROMOVE DEBATE

“Que cidadanias para a cidade?”to Ferreira da Silva, Presidente da As-sembleia Geral do CCC, de Magda Al-ves, autora de uma tese de licenciaturasobre o CCC, e de Elísio Estanque, do-cente da Universidade de Coimbra e so-ciólogo que orientou a referida tese.

De acordo com a Comissão Executi-va do CCC, a citada tese de licenciatura(que o CCC editou e que estará à vendano local, a preço simbólico), “ofereceuma oportunidade para se reflectir so-bre democracia representativa e sobre oConselho como instrumento da nossa so-ciedade”. E acrescenta:

“É, provavelmente, uma oportunidadepara compreendermos melhor o que sepoderá esperar de nós e como tirar par-tido do Conselho, animando os associa-dos colectivos e os individuais para umaparticipação mais activa e mais realistadas nossas possibilidades”.

Recorde-se que o CCC, criado há seteanos, foi a primeira associação do géne-ro em Portugal, sendo actualmente cons-tituído por cerca de meia centena de as-sociações e de duas dezenas de mem-bros individuais eleitos no “II Congressoda Cidade”.

O Centro foi a região que mais cres-ceu em dormidas de turistas estrangei-ros em 2007, com um aumento de 16por cento, representando o mercado es-panhol quase um terço do fluxo dessesvisitantes.

Os dados, divulgados na passada se-mana em conferência de imprensa, re-portam-se a uma recolha do InstitutoNacional de Estatística (INE) entre Ja-neiro e Novembro de 2007, com um to-tal de 1.355.377 dormidas de estrangei-ros, com os espanhóis a contribuíremcom 416.003.

A região Norte, com um crescimen-to de 12,9 por cento em dormidas deestrangeiros figura a seguir ao Centro,que no conjunto das dormidas (de es-trangeiros e nacionais) apresentou umcrescimento de 7,1 por cento em igualperíodo.

Pedro Machado, presidente da Agên-cia Regional de Promoção TurísticaCentro de Portugal, referiu que a estra-tégia para o ano de 2008 é consolidar ocrescimento e os mercados, e se no fi-nal do ano “o crescimento for homólo-go já será uma grande vitória”.

O mercado espanhol continuará a ser

Centro foi a região que mais cresceuem dormidas de estrangeiros em 2007

a grande aposta, e para esse mercadoserão investidos cerca de 70 por centodos 600 mil euros que a agência orça-mentou para promoção externa em2008.

Deparando-se com um constrangi-mento em relação a outras regiões, em

virtude de não dispor de um aeroporto,o Centro aposta no mercado de proxi-midade, e no potencial de crescimentoque este representa, induzido pelas aces-sibilidades terrestres, explicou PedroMachado.

Em termos de proveitos dos estabe-lecimentos hoteleiros, o Centro de Por-tugal no mesmo período de 2007 atingiuvalores a rondar os 169 milhões de eu-ros, mais 12 por cento do que em 2006,segundo os dados divulgados.

Com os cerca de 173 mil dormidasos italianos figuram no segundo lugarentre os estrangeiros que pernoitaramna região centro, seguidos pelos fran-ceses, alemães, ingleses e america-nos. Com os 65 mil originários dosEUA, que aumentaram 17 por centorelativamente a 2006, o Centro supe-rou em 10.500 dormidas o Porto e re-gião norte.

Na região centro em 2007, emborasem grande expressão em termos glo-bais, registaram um elevado crescimen-to os visitantes da Polónia (mais 106 porcento), Noruega (mais 84 por cento),Finlândia (mais 70 por cento) e Rússia(61 por e cento).

Pedro Machado

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3DE 26 DE MARÇO A 8 DE ABRIL DE 2008 NACIONAL

Leonor Beleza é a convidada da pri-meira sessão dos “Almoços na Quinta”,que decorre amanhã (quinta-feira), pe-las 13 horas, na Quinta das Lágrimas,em Coimbra. A Presidente da FundaçãoChampalimaud e ex-Ministra da Saúdevai debater, durante o almoço, “O esta-do do País: o Relatório da Sedes”. A ini-ciativa, promovida pela Fundação Inêsde Castro, conta ainda com a modera-ção de Rui Alarcão, antigo Reitor daUniversidade de Coimbra.

O “difuso mal estar na sociedade por-tuguesa que alastra e mina a confiançaessencial à coesão nacional” é o moteda intervenção de Leonor Beleza, figurade relevo do panorama político portugu-ês, mas que não presta declarações pú-blicas há mais de um ano.

Os “Almoços na Quinta”, última cria-

AMANHÃ NA QUINTA DAS LÁGRIMAS

Leonor Beleza debateactualidade política nacional

ção da Fundação Inês de Castro, decor-rem na última quinta-feira de cada mês. Oevento procura que figuras de primeiro pla-no da vida nacional exprimam a sua opi-nião e dialoguem, no ambiente informal deum almoço, sobre questões de grande ac-tualidade e relevantes para os mais diver-sos sectores de actividade do país.

A ideia, segundo José Miguel Júdice,da direcção da Fundação, “é criar um es-paço em que sejam debatidos alguns dosgrandes temas do nosso tempo”. Em Abrile Maio, Gomes Canotilho e Freitas doAmaral, respectivamente, são presençasconfirmadas nos “Almoços na Quinta”.

Para mais informações e inscrições,os interessados deverão dirigir-se à re-cepção da Quinta das Lágrimas ou en-trar em contacto com o Hotel, atravésdo telefone (239 802 380).

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Trata-se de um belíssimo trabalhoda autoria de Zé Penicheiro, expres-samente concebido para o jornal“Centro”, com o cunho bem carac-terístico deste artista plástico – umdos mais prestigiados pintores portu-gueses, com reconhecimento mesmoa nível internacional, estando repre-sentado em colecções espalhadas porvários pontos do Mundo.

Neste trabalho, Zé Penicheiro,com o seu traço peculiar e a incon-fundível utilização de uma invulgarpaleta de cores, criou uma obra quealia grande qualidade artística a umprofundo simbolismo.

De facto, o artista, para represen-tar a Região Centro, concebeu umaflor, composta pelos seis distritos queintegram esta zona do País: Aveiro,Castelo Branco, Coimbra, Guarda,Leiria e Viseu.

Cada um destes distritos é repre-sentado por um elemento (remeten-do para respectivo património his-tórico, arquitectónico ou natural).

A flor, assim composta desta for-

ma tão original, está a desabrochar,simbolizando o crescente desenvolvi-mento desta Região Centro de Portu-gal, tão rica de potencialidades, de His-tória, de Cultura, de património arqui-tectónico, de deslumbrantes paisagens(desde as praias magníficas até às ser-ras verdejantes) e, ainda, de gente hos-pitaleira e trabalhadora.

Não perca, pois, a oportunidade dereceber já, GRATUITAMENTE ,esta magnífica obra de arte (cujas di-mensões são 50 cm x 34 cm).

Para além desta oferta, o benefici-ário passará a receber directamente

em sua casa (ou no local que nos in-dicar), o jornal “Centro”, que o man-terá sempre bem informado sobre oque de mais importante vai acontecen-do nesta Região, no País e no Mundo.

Tudo isto, voltamos a sublinhá-lo,por APENAS 20 EUROS!

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4 DE 26 DE MARÇO A 8 DE ABRIL DE 2008COIMBRA

ponto . por . ponto

Por Sertório Pinho MartinsAmêndoas amargas

Em Portalegre, cidade / do AltoAlentejo, cercada / de serras, ven-tos, penhascos, / oliveiras e sobrei-ros, / morei numa casa velha, / àqual quis como se fora / feita paraeu morar nela ......... / cheia dosmaus e bons cheiros, das casas quetêm história /……E por aqui se es-tendia a poesia chã de um José Régioque jamais supôs ver a sua cidade deadopção (onde deu aulas, desde 1928e por mais de trinta anos) atirada àsgarras bacocas da ASAE por causade umas amêndoas que o Sr. Vintémteimosamente cozinhava à maneiraantiga no tempo pascal, e tratadascomo farrapo político pelo mau-gostode um líder partidário reciclado e es-quecido de que herdou de senadoresde primeira água alguns pergaminhosque ajudaram a que os alvores da de-mocracia não caíssem aos pés da tá-bua-rasa do PREC. E até Pedro San-tana Lopes, que tem tantas ambiçõesserôdias de poder, quanto de telhadosde vidro por consertar, caiu no lugar-comum das amêndoas. Triste espec-táculo gratuito, encenado e dito porquem tem em mãos (ou diz vir a ter) onosso futuro colectivo. Triste, quantonos faz voltar ao texto de Régio “…lávem o vento suão, / que enche osono de pavores, / faz febre, esfa-

rela os ossos / e atira aos desespe-rados / a corda com que se enfor-cam / na trave de algum desvão”.O ‘debate parlamentar das amêndo-as’ foi um espelho riscado onde a ima-gem desfocada da nossa democraciagemeu como o vento suão de Régio,que hoje não nos traz mais nada alémde ’cravos sem vida / de uma cepacansada’ , que (direi eu) é filha des-naturada da política parida pela mor-te anunciada.

O país está a ficar à mercê dos bra-ços-de-ferro da avaliação dos profes-sores, da comadrice de mão-na-ancaem que a Assembleia da República setornou, da procissão de centros-de-saú-de a volatilizar-se da noite para o dia,dos pesadelos de aeroportos e pontese TGVs sugadores da medula vital quepoderia alimentar-nos a educação, arede de PMES produtivas, a estabili-zação do emprego e a equidade social.O país está a mergulhar num torpor deorgia romana, que hoje crucifica a eitopara amanhã trautear loas de prospe-ridade a contraciclo dos números quea propaganda não pode manipular. E amultidão de descamisados vai crescera olhos vistos, com a queda da econo-mia todos os dias recordada pelas pre-visões dos gurus da era global, enquan-to neste recanto do rabo-da-Europa ga-

nha actualidade o triste presságio deAntónio Aleixo: ‘não vejo senão ca-nalha, / de banquete p’ra banque-te; / quem produz e quem trabalha, /come açorda sem azête’.

Ontem foi Páscoa, mas não de res-surreição: o ano de 2008 vai fazer-

nos gemer e encher-nos a noite de pa-vores, e esfarelar os ossos debaixo dobetão dos impostos, da cobiça cegados partidos e da parolice de uns tan-tos que não merecem sequer pronun-ciar os nomes de um punhado de se-

nadores que, da esquerda à direita donosso leque político, reconstruíram umpaís quase a partir do zero, como sehouvessem ‘feito um poema, ou seum filho lhes nascera’. Supunha-seque fosse para honrar, o voto de con-fiança dado a quem nos prometeu (poralma dos que lá estão) um país quenos soubesse à “casa velha, à qualqueremos como se fora / feita paramorarmos nela”. Mas vamos conti-nuar à espera da promessa por pagar,até que Deus queira : já começou acaça ao voto para 2009, e a partir da-qui as comadres desavindas vão vol-tar a unir-se para não lhes faltar o pão-para-a-boca no quadriénio seguinte erecheado com a fatia que a UE já con-firmou como derradeira. Ser poder apartir de 2013 não vai atrair ninguém,porque os políticos desta fornada nãosabem viver do pêlo do cão : são pa-rasitas profissionais e subsidiodepen-dentes desde que nasceram. E alimen-tá-los a pão-de-ló vai ser a nossa sina– ou, no mínimo, a amêndoas de Por-talegre, que ainda hão-de ser a côdeadura de alguns novos-pobres que aorgia romana vai deixar em pelota, eque o Sr. Vintém há-de ensinar a co-zinhar à maneira antiga, recheando de‘maus e bons cheiros, as casas quetêm história’.

José Régio

A Câmara de Coimbra vai organi-zar, a partir do início de Abril, visitasguiadas acerca da Irmã Lúcia, noMemorial que lhe é dedicado no Car-melo de Santa Teresa, e um percursotemático sobre a “Coimbra Contem-porânea”.

Apresentadas ontem (terça-feira)em conferência de imprensa no Me-morial da Irmã Lúcia, as visitas guia-das a este espaço museológico come-çam a 1 de Abril, terão uma periodi-cidade quinzenal (às terças-feiras) eserão orientadas por uma guia-inté-prete da autarquia.

“Durante a visita serão dadas ex-plicações sobre a biografia da IrmãLúcia e sobre o Carmelo”, disse on-tem o vereador da Cultura da autar-quia, Mário Nunes, ao referir que ainiciativa constitui uma oportunidadepara conhecer esta figura “importan-te a nível mundial e o seu espólio”.

Mário Nunes destacou que a con-ferência de imprensa de ontem decor-reu precisamente no dia em que pas-

Câmara de Coimbra lança visitas temáticassobre Irmã Lúcia e “Arte Contemporânea”

saram 60 anos sobre a entrada de Lú-cia de Jesus no Carmelo de Santa Te-resa.

Projectado pelo arquitecto FlorindoBelo Marques, o Memorial da IrmãLúcia reproduz a cela onde a videntede Fátima viveu 57 anos da sua vida,cabendo a responsabilidade do projec-to museológico a Berta Duarte.

O espaço mostrado ontem aos jor-nalistas por Mário Nunes e por BertaDuarte - chefe de divisão de Museo-logia do Departamento de Cultura daCâmara de Coimbra - foi inauguradoa 31 de Maio de 2007, tendo sido visi-tado, entre essa data e o final do ano,por cerca de 12 mil pessoas.

“Este local é um circuito obrigató-rio, sobretudo no turismo religioso”,referiu ainda Mário Nunes.

A cela com o mobiliário original usa-do pela vidente e a máquina de escre-ver que utilizava na resposta aos mi-lhares de cartas que recebia de todoo mundo podem ser apreciadas noMemorial.

No espaço estão também expostasalgumas dessas missivas, álbuns defotografias e de selos e manuscritosda vidente e alguns dos seus objectospessoais, como o primeiro hábito queusou ou as sandálias feitas com res-tos de tecido, e ainda trabalhos feitospor ela, como relicários, terços oubordados.

Batinas que foram ofertas do PapaJoão Paulo II ou um paramento doa-do a Lúcia pelo rei Humberto (Itália)e a coroa de orquídeas feita pelas ir-mãs quando morreu integram o espó-lio que é exibido no Memorial.

“Nem um terço do espólio da IrmãLúcia se encontra aqui”, disse BertaDuarte.

Na sessão foi também apresentadoo projecto “Coimbra Contemporânea”,um ciclo de visitas guiadas com inícioa 4 de Abril que será acompanhadopor uma técnica licenciada em Histó-ria de Arte.

As pontes de Santa Clara e Pedroe Inês, o pavilhão Centro de Portugal,

os Parques Verde do Mondego e Ma-nuel Braga e a intervenção no Mos-teiro de Santa-Clara-a-Velha são ospontos compreendidos neste itinerário.

“Trata-se de um percurso temáticoque pretende diversificar a oferta cul-tural da cidade de Coimbra. O objec-tivo é ir ao encontro não só dos inte-resses dos turistas que procuram o pa-trimónio histórico ancestral, mas, e so-bretudo, o que de mais inovador e con-temporâneo se vai inscrevendo na ma-lha urbana da cidade”, lê-se numa notasobre a iniciativa.

Com uma cadência quinzenal (àssextas-feiras), o percurso “CoimbraContemporânea” é gratuito e exige, talcomo as visitas ao Memorial (nasquais é pedido o valor simbólico de umeuro, que reverte para as Carmelitas),inscrição prévia.

A Câmara tem já em curso visitasguiadas ao Panteão Nacional - Igrejade Santa Cruz, Santo António dos Oli-vais e Convento de Santa-Clara-a-Nova.

PROGRAMA FOI ONTEM ANUNCIADO

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5DE 26 DE MARÇO A 8 DE ABRIL DE 2008 NACIONAL

Um estudo apresentado pela Associa-ção Comercial e Industrial de Coimbra(ACIC) conclui que as empresas portugue-sas têm muito potencial na área da logísti-ca e mobilidade, se aproveitarem “as auto-estradas de mar”.

As conclusões referem que “é neces-sário promover projectos de investigaçãoe desenvolvimento tecnológico para me-lhorar a qualidade, a segurança e o desem-penho ambiental do transporte marítimo”.

O estudo, elaborado em colaboraçãocom a Agência para o Investimento e Co-

ESTUDO PROMOVIDO PELA ACIC

Portugal com potencialidades na logística e mobilidade

Campanha apoiada pelo jornal

As divergências entre o PS e PSDcontinuam a “ameaçar” as mudanças àlei eleitoral autárquica, apesar do adia-mento, ontem (terça-feira), da votaçãona especialidade do diploma e de os so-ciais-democratas terem apresentado pro-postas de alteração.

O adiamento para 2 de Abril da vota-ção na especialidade da lei, resultado deum acordo entre os dois maiores parti-dos, pode permitir “mais uma semana”de conversas, como o PSD não exclui,mas o PS sublinha que o diploma já foiacordado com os sociais-democratas.

O vice-presidente da bancada social-democrata Luís Montenegro disse aosjornalistas que o PSD está disposto a umentendimento com o PS sobre a lei, “comboa fé negocial”.

PERSISTEM DIVERGÊNCIAS ENTRE PS E PSD

Lei eleitoral autárquica continua “ameaçada”apesar de adiamento de votação

Esse entendimento com o PSD, ad-mitiu o deputado do PS Mota Andradeaos jornalistas, “é difícil”, considerando“inaceitável” que os sociais-democratas“rompam” um acordo com o PS “quedemorou meses a ser negociado” e foiconfirmado pelos órgãos máximos dosdois partidos.

Ontem, no início da reunião da Comis-são de Assuntos Constitucionais, Direi-tos, Liberdades e Garantias a bancadado PSD entregou duas propostas de al-teração de última hora.

Uma, a “questão mais importante”, éa manutenção do voto dos presidentesde junta nos planos e orçamentos e asegunda é um sistema misto para a dis-tribuição dos lugares de vereadores.

Por outras palavras, segundo explicou

Luís Montenegro, se um partido obtivera maioria absoluta numa câmara, a ve-reação respeita os resultados e a repre-sentatividade.

Só se um partido ou coligação nãoobtivesse a maioria absoluta é que seri-am aplicados os princípios acordadosentre o PS e o PSD para a distribuiçãode vereadores no executivo.

Se o voto dos presidentes de junta “éa questão mais importante”, já este sis-tema misto na distribuição de vereado-res “não é nenhum dogma”, segundo LuísMontenegro, abrindo a porta, neste pon-to, a uma cedência ao PS se pudesseexistir algum acordo.

Para Luís Montenegro, retirar o po-der de voto aos presidentes das juntas“criaria uma instabilidade injustificável”,

dado que as associações de freguesias ede municípios se manifestaram contraesta alteração.

O deputado socialista Mota Andradesublinhou, porém, que um acordo - “de-pois de o PSD dar o dito por não ditonuma lei já aprovada na generalidade” -será difícil.

“O PS sempre disse estar disponívela apreciar propostas dos outros partidos,desde que não ponham em causa o acor-dado” para a lei que foi aprovada na ge-neralidade, em Janeiro, pelas bancadasdos dois maiores partidos.

O social-democrata Luís Montenegro,por seu turno, desdramatiza a apresen-tação de propostas de última hora, afir-mando que “isso é possível” durante odebate na especialidade.

mércio Externo Português (AICEP), ana-lisou os mercados da Dinarmarca, Holan-da, Finlândia e Suécia, ao abrigo do projec-to comunitário “Fileira Inovação”, paracomparar o posicionamento de Portugalface àqueles países.

O objectivo é analisar e detectar asvantagens competitivas e eventuaisoportunidades de mercado para as em-presas nacionais, nas áreas de “e-go-vernment, saúde, logística e mobilidadee comunicação”.

Rute Marinho, secretária-geral da ACIC,

disse à agência Lusa que o estudo é “prá-tico” e permite às empresas nacionais sa-ber quais sãos as “principais entidades epotenciais parceiros empresariais nos sec-tores em estudo naqueles mercados”, asáreas e os níveis de actuação.

Colocando a tónica na inovação, o estu-do apresenta um plano de oportunidadespara as empresas portuguesas, nomeada-mente as de software, telecomunicações,electrónica, aeronáutica, energias renová-veis e saúde.

“Em cada um destes sectores verifi-

camos que existem oportunidades eameaças para as empresas nacionais”,sublinhou Rute Marinho, adiantando queo estudo está acessível a todas as em-presas portuguesas que o solicitarem àACIC.

O documento refere que “Portugal, ape-sar das debilidades, tem percorrido um tra-jecto consistente no desenvolvimento desoluções integradas e de base tecnológicaavançada nos sectores analisados, estan-do em inúmeras aplicações ao nível dospaíses de referência”.

Page 6: O Centro - n.º 47 – 26.03.2008

6 DE 26 DE MARÇO A 8 DE ABRIL DE 2008INTERNACIONAL

“O TERRORISMO”COMO FENÓMENO POLÍTICO

Como fenómeno político, o “terrorismo”tem causas e objectivos políticos. O fenóme-no político do “terrorismo” é o uso da violên-cia política por decisão táctica (um momentoespecífico combinando outras formas de lutapolítica1) ou estratégica, para atingir um ob-jectivo político. As acções terroristas estraté-gicas são uma concentração de violência porquem não pode fazer guerra e podem ser decarácter ofensivo ou de carácter defensivo.As estratégias terroristas de carácter ofensi-vo são acções desesperadas de grupelhos ilu-didos e, por isso, condenadas ao fracasso (noséculo XIX a Carbonária ou os Populistasrussos, etc.). As acções terroristas defensi-vas correspondem às estratégias dos Esta-dos em situação de crise, motivo pelo qualtêm um sucesso momentâneo.

O terrorismo defensivo do Estado podeser exercido de maneira directa contra a po-pulação (acções da polícia, do exército, dosserviços especiais, etc.), ou de maneira indi-recta contra o próprio Estado. O terrorismode Estado indirecto pode traduzir-se em aten-tados dos serviços especiais (“de inteligên-cia”, “secretos”, “de segurança”) contra opróprio Estado, que não podem, nem devem,ser reivindicados. Para dar credibilidade aosactos terroristas dos serviços especiais, estessão imputados a grupos fantasmas de carác-ter clandestino (reais ou imaginários, “Briga-das tal ou qual”, “Frente para...” e algunsoutros ultra revolucionários). Quando sãogrupos clandestinos reais, estes são previa-mente infiltrados pelos serviços especiais, quevão pouco a pouco eliminando e substituindoa cúpula que domina a base iludida graças aosecretismo e à disciplina do trabalho clandes-

René Tapia(Professor universitário)

Há droga na Atocha?

“Terror is the calculated useof violence”

US Army Manual

tino, transformando assim o grupelho numapêndice do Estado.

Ante a impossibilidade de desencadear umaguerra contra a população ou contra um ini-migo potencial ou imaginário2, o Estado poderecorrer ao terrorismo como sucedâneo, ten-do os meios para isso. É a sobrevivência doEstado em crise que está em jogo. Um dosprimeiros exemplos de “terrorismo de Esta-do” na Europa é oferecido por Nero, quemanda incendiar Roma para acusar os cris-tãos e poder persegui-los, pois estavam a ga-nhar adeptos no exército e até no Senado,como ficou demonstrado depois com o as-censão de Diocleciano.

As acções terroristas transformam o “ter-rorismo” em inimigo comum do Estado e dapopulação, logo, interesses comuns entre oEstado e a população, que em situações ditas“normais” é submetida ao império da lei. Pe-rante o “inimigo” comum, o Estado defendea população e esta reconhece e legitima oEstado; o Estado legitimado pode defenderos interesses “comuns”... mediante a guerra.A guerra é uma acção militar. Em situação deguerra e ante um inimigo poderoso cria-seuma “situação de emergência” e as situaçõesde emergência têm que ser enfrentadas e re-solvidas pelo “Estado de emergência”. O Es-tado de emergência justifica esquecer as rei-vindicações da população e ainda lutar peladefesa do Estado…

“TERRORISMO”, GUERRAE DROGAS

Entre 1862 e 1893, as tropas francesastomaram posse da Península de Indochina(Vietname, Laos, Cambodja) e o territórioconverteu-se em produtor e refinador de ópio(25% das remessas). Durante a SegundaGuerra Mundial a produção aumentou oitovezes, ultrapassando as 60 toneladas. Quan-do a França perdeu a guerra contra os VietMinh, em 1954, soube-se que os serviços se-cretos franceses tinham apoiado tribos anti-guerrilheiras na produção de ópio para finan-ciar o combate aos rebeldes. Com a partici-pação dos piratas do rio Mekong, a droga eratransportada para Hong Kong e depois as

máfias da Córsega e da Sicília levavam-napara Marselha e Canadá. O dinheiro resultan-te da venda da droga era utilizado para treinaras tribos. A CIA utilizou o mesmo método naguerra que se seguiu no Vietname, assim comona então Birmânia (Myanmar), para deter astropas do exército vermelho chinês. Um dosresultados foi a onda de toxicomania nas tro-pas norte-americanas nos anos 60, mas ain-da assim a receita continuou a ser aplicada,desta vez na América Latina, para travar osmovimentos independentistas que nasciam àluz da Revolução Cubana3.

O ATENTADO DE MADRIDE AS CONDENAÇÕES

Vinte e nove pessoas foram acusadas doatentado que matou outras 191 em Março2004. A maioria tinha cadastro por crimesmenores e alguns até alegaram ser informa-dores da polícia e ter avisado do ataque; setedeles, incluindo o chefe, foram ilibados porfalta de provas. Quase todos tinham relaçõescom o principal suspeito, Serhane Ben Ab-delmajid, sobre o qual a Corte de Madrid fezrecair a responsabilidade da organização doatentado e de ser a ligação com a Al-Qaeda,mas que se tinha suicidado três semanas apósa sua realização. As maiores condenações re-caem sobre três dos detidos, acusados de per-tencer a uma célula islamita terrorista influen-ciada pela Al-Qaeda, mas não pertencendodirectamente a esta. Na prática, não foramapresentadas provas de que a Al-Qaeda tenhaordenado ou financiado o atentado. O queficou provado foi que as bombas foram fi-nanciadas por traficantes locais, sendo quevários dos acusados eram “dealers” de pe-queno calibre, conhecidos da polícia e até seusinformadores. Um conhecido traficante dedrogas, Jamal Ahmidan, foi descrito como aforça motriz. O mineiro asturiano que pro-porcionou os explosivos, José Emílio Sua-rez, recebeu a maior condenação, 34.715anos, pois foi-lhe também imputada a mortede um polícia com a explosão. Nenhum des-tes três principais condenados foi acusadode planear ou de levar a cabo o atentado!Quase metade dos sentenciados foi-o pela

única acusação de “pertencer a uma organi-zação terrorista”. O pequeno delinquente Zou-hier, que transportou a dinamite, alegou terinformado a polícia, mas esta respondeu que“foi demasiado tarde”.

O líder do Partido Popular, Mariano Ra-joy, declarou que “o caso não está totalmenteencerrado” até que os que “incitaram ou ins-piraram” o ataque sejam condenados e que“apoiará sem limites toda e qualquer investi-gação que sirva a causa da justiça”. A “Asso-ciação das Vítimas do Terror”, considerouestas sentenças apenas “um passo para che-gar à verdade”.

1 Golpe de Estado, sublevação, guerra de guerrilha,levantamento popular, etc.

2 Na mesma época da invasão das Ilhas Malvinaspela ditadura argentina, esta tinha recuperado um su-posto antigo conflito de limites com a ditadura dePinochet. As respostas populares em ambas naçõesforam a de “vamos ás armas”.... Não para combater,mas para derrubar as respectivas ditaduras. O conflitofoi submetido ao arbítrio do Vaticano.

3 No Afeganistão produzia-se 72% da oferta mun-dial ilegal de ópio no momento da criação dos Talibanem 1986. Os Taliban começaram por cobrar o impos-to islâmico na produção de ópio (zakat, 20-25%) etaxaram depois a produção e exportação de heroína.Em Outubro de 1994 deram inicio à guerra e em 1996entraram em Cabul, enquanto as tropas da Aliança doNorte ficavam no noroeste e continuaram o tráfico dedrogas por armas.

Até o “El Pais” começou por respon-sabilizar a ETA pelos atentados

Washington e Moscovo continuam a divergirA 18 de Março, em Moscovo, decorre-

ram as conversações Rússia-EUA em for-mato «2+2». Os responsáveis pelas pastasda Diplomacia e da Defesa das duas maio-res potências nucleares reuniram-se numamansão bem guardada do MNE russo, situ-ada na Rua Spiridonovka. Mas os resulta-dos deste frente-a-frente de seis horas aca-baram por ser muito exíguos.

Podem agora, em teoria, os EUA e aRússia superar as divergências? Claro quenão. E antes de mais devido à situação polí-tica vivida nos dois países.

A administração de George Bush é umadas mais fracas na História. E mesmo setentasse coroar o fim do seu mandato comuns feitos históricos – não teria para tal re-cursos políticos suficientes: o mundo inteiroestá, de modo aberto e mesmo cínico, a pre-para-se para a mudança do poder em Wa-

shington. Existem também grandes dúvidasquanto à capacidade dos EUA de estabili-zar os mercados financeiros mundiais.

Em Moscovo, mudou-se «de facto» osistema do poder. Há que esperar uma com-plexa afinação do novo mecanismo. Napolítica externa, a actuação russa será mui-to ponderada, já que é necessário manterum equilibrio cuidadoso entre a herança e ainovação. Os dois dirigentes russos terão deagir em comum, e dependerão de muitosfactores de carácter externo e interno. Istonão favorece uma tomada de iniciativas re-volucionárias e aumenta suspeitas em rela-ção às acções dos parceiros.

O objectivo máximo para os próximosmeses consiste em evitar um conflito aber-to. A situação no Kosovo, a cimeira daNATO em Bucareste em Abril, o sistemade defesa antimissil norte-americana a ins-

talar brevemente na República Checa e naPolónia, a situação nalguns Estados pós-so-viéticos, e mesmo a situação na China à luzdos conflitos étnicos no Tibete – tudo istopode, de um momento para o outro, fazerpiorar a atmosfera política no mundo.

Hoje em dia, entre Washington e Mos-covo existem numerosas divergências. Maso problema principal não é este. A nível dasconsiderações gerais, ninguém contesta afacto de vivermos num mundo global, ondetodos os processos estão interligados e to-dos os países interdependentes. Mas, quan-do se trata das relações bilaterais, de repen-te esquece-se da globalização e da realida-de que nos circunda.

Entretanto, se se virem as coisas sobum ângulo global, a situação tanto nosEUA, como na Rússia, apresenta-se mui-to particular.

A questão que se coloca a Washington écomo assegurar a liderança neste mundoem mudança e com novos poderosos cen-tros de carácter económico e político. Já quea atracção ideológica dos EUA é agoramuito mais fraca do que anteriormente, e asinstituições mundiais se encontram minadaspelos esforços conjuntos.

Em Moscovo, oproblema é mais ou me-nos parecido – como consolidar as posi-ções internacionais no mesmo mundo emmudança, onde nada garante a continuaçãodo sucesso da Rússia, um país com umapopulação diminuta e uma economia base-ada principalmente na exportação de recur-sos naturais.

Fiodor Lukyanovin revista “A Rússia na Política Global”

(18.03.08)

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7DE 26 DE MARÇO A 8 DE ABRIL DE 2008 CULTURA

EXPLICAÇÕESDE MATEMÁTICALicenciada em Matemática

com experiênciadá explicaçõesa todos os anosTelemóvel: 962 449 286

A ex-ministra da Cultura Isabel Pi-res de Lima profere sexta-feira, emMontemor-o-Velho, a conferênciainaugural de um curso avançado depós-graduação em Gestão Cultural,que vai ser leccionado na BibliotecaMunicipal em regime pós-laboral.

A pós-graduação resulta de umaparceria entre a Câmara Municipal deMontemor-o-Velho e o Instituto Supe-rior de Ciências da Informação e daAdministração (ISCIA), de Aveiro.

Estruturada em 60 ECTS (SistemaEuropeu de Transferência e Acumu-lação de Créditos), a pós-graduaçãoem Gestão Cultural procura respon-der a “uma clara carência do tema naformação superior em Portugal”, se-gundo uma nota acerca do curso.

“Há falta de formação nesta área.A maioria das pessoas que dirigem es-tabelecimentos culturais, geralmentetêm grande nível de cultura, mas pou-ca experiência de gestão aplicada”,disse à agência Lusa Armando Car-neiro, director do ISCIA.

Conceitos de arte e cultura, gestãoda cultura, indústrias culturais, consu-mo de bens culturais, gestão financeirade actividades culturais, organizaçãoe gestão de eventos culturais, progra-mação, empreendedorismo e marke-ting cultural são algumas das unida-des curriculares previstas, que serãoacompanhadas de análise de casos ede visitas de estudo.

Armando Carneiro disse ainda queos docentes da pós-graduação sãooriundos de várias instituições do en-sino superior e culturais de todo o país,reunindo teóricos e pessoas com ex-periência no domínio da cultura, lec-cionando neste curso a título pessoal.

Entre os docentes e conferencistasfiguram, entre outros, o historiador dearte e catedrático da Faculdade de Le-tras de Coimbra (FLUC) Pedro Dias,

SEXTA-FEIRA, EM MONTEMOR-O-VELHO

Pós-graduação em Gestão Cultural arrancacom conferência por Isabel Pires de Lima

o director regional da Cultura do Cen-tro, Pedro Pita (também professor daFLUC), o professor da UniversidadeCatólica Rogério Santos e o directordo Museu Marítimo de Ílhavo e do-cente da Faculdade de Economia deCoimbra (FEUC) Álvaro Garrido.

O sociólogo e professor da FEUCClaudino Ferreira, o vereador da Cul-tura da Câmara de Montemor-o-Ve-lho Pedro Machado, Cristina Passos(Fundação de Serralves), Fantina Pe-drosa (Universidade do Porto) e JoséBastos (presidente do Centro Cultu-ral Vila Flor) são outros dos docen-tes.

O antigo secretário de Estado JoséAmaral Lopes integra também o cor-

po docente da pós-graduação, caben-do a conferência de encerramento docurso à antiga ministra da CulturaMaria João Burstoff.

José Carlos Vasconcelos falará so-bre a gestão de um jornal de arte (oJornal de Letras), Carlos Pinto Coe-lho acerca de “Uma Intervenção Cul-tural Televisiva”, Manuel FernandesThomaz sobre o “O Caso do CAE”(Centro de Artes e Espectáculos, Fi-gueira da Foz) e Júlio César sobre“Técnicas de Palco”.

Para falar dos respectivos percur-sos culturais e experiências participamno curso Simone de Oliveira, Paulo deCarvalho, José Niza, Mário Silva, Ruyde Carvalho, João de Carvalho, José

Sacramento e Edgardo Xavier.Obter uma visão integrada da cul-

tura e das artes e das suas interfacescom a economia, o direito, a gestão, omarketing e a comunicação, reconhe-cer, consolidar e promover o sectordas actividades culturais e “gerar vi-sões de criatividade e inovação” sãoalguns dos objectivos do curso.

“Não é curso de cultura, é muito vi-rado para os gestores de museus, cen-tros de arte, gestores de todas as ins-tituições que tenham de criar e gerircultura ‘latu sensu’”, adiantou o direc-tor do ISCIA.

Segundo Armando Carneiro, tam-bém os recém-licenciados que preten-dam formação técnica no domínio dagestão para ingressar em museus oucentros de cultura, e os próprios au-tarcas da área da cultura são poten-ciais destinatários desta oferta forma-tiva.

O curso vai ser ministrado às sex-tas-feiras à tarde e aos sábados demanhã, a partir do final de Abril e du-rante dez meses.

“Achámos que devíamos deslocali-zar alguns cursos do ISCIA. Consi-deramos que Montemor-o-Velho é omunicípio que, na região Centro, maisse tem preocupado com as questõesda cultura”, disse ainda Armando Car-neiro, adiantando que, nesta zona dopaís, não existia até agora oferta nes-te domínio.

De acordo com o vereador da Cul-tura da Câmara de Montemor-o-Ve-lho, Pedro Machado, contribuindopara a valorização de todo o conce-lho, o curso “assume um papel de de-senvolvimento local e regional”.

O ISCIA é um estabelecimento pri-vado do ensino superior politécnico,sendo tutelado pela Fundação para oEstudo e Desenvolvimento da Regiãode Aveiro (FEDRAVE).

Isabel Pires de Lima

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8 DE 26 DE MARÇO A 8 DE ABRIL DE 2008OPINIÃO

CONTRA O COMER E CALAR

Ainda sobre o vídeo (por estes diassó há um), João Grancho, coordenadorda linha SOS Professor, disse: “Este foium acto condenável, mas recorrente.”Na quinta-feira, assustei-me com o ví-deo. Ontem, assustei-me porque o queme dá sustos é, afinal, banal. A sério?Um professor ser arrastado por um alu-no durante longos minutos, ser tratadopor tu e aos gritos, ser gozado pela tur-ma inteira (e não à socapa), ter toda acena filmada, e ter como solução fugir,porta fora, é “recorrente”. Isto é, acon-tece aqui e ali e a tantos que é normalna sala dos professores o encolher deombros: “Lá me aconteceu, levei nastrombas. Passas-me o jornal?” A sério?Com risco de passar por ingénuo, ga-ranto: não fazia ideia. Não tenho solu-ções para os males do mundo, exceptoa recusa de achar natural o que não é.Se a escola é aquilo que vi, pergunto:como é que uma classe que se reveloutão mobilizada ainda há dias suporta ofascismo recorrente que lhe é infligidopor miúdos?

Ferreira Fernandes (jornalista)DN 22/MAR/08

CINCO ANOS DEPOIS

O tempo passa a correr. Voa, comose costuma dizer. Há cinco anos, con-tados dia por dia, a partir de 16 de Mar-ço de 2003, um dia triste, que por si-nal também foi um domingo, realizou--se nos Açores a chamada Cimeira daVergonha, em que um Presidente daRepública, George W. Bush, então o“homem mais poderoso da Terra”, etrês primeiros-ministros europeus,Tony Blair, José Maria Aznar e JoséManuel Durão Barroso, o anfitrião,decidiram, unilateralmente, com falsosargumentos, intencionalmente forja-dos, invadir o Iraque e, em consequên-cia, destruir o precário equilíbrio e atéincendiar, em boa parte, o PróximoOriente.

Fizeram-no, ignorando deliberada-mente a ONU – e o necessário avaldo Conselho de Segurança –, desres-peitando, assim, a Carta das NaçõesUnidas, a que estavam obrigados, osapelos repetidos e angustiados doPapa, João Paulo II, e, quanto aos trêseuropeus, dividindo, objectivamente, a

União Europeia e esquecendo-se, ob-viamente, de ouvir os partidos, os par-lamentos e a respectivas opiniões pú-blicas.

Por que razão – ou razões – o fize-ram? A história, nesse aspecto, estápor fazer. Mas será feita, não tenha-mos dúvidas, à saciedade, sobretudoapós o fim político de Bush, sem hon-

ra nem glória, deixando atrás de simortes, sofrimentos, destruições, cri-ses políticas, financeiras e económi-cas... Um balanço trágico! Uma divi-são de águas profundíssima na opiniãopública mundial.

Quanto aos europeus, o que os mo-veu foi principalmente a subserviên-cia perante o “patrão americano” e odeslumbramento – ou cálculo, que serevelou falso – em relação à força mi-litar, sem paralelo, de que Bush se van-gloriava. Mas para que lhe serviu?Que respondam os mortos, no seu si-lêncio - com o rasto de memórias quedeixaram, e que está a contaminar aAmérica - e os vivos que aí estão paracontar, os crimes, os assassínios, a tor-tura, as destruições, as pilhagens, osatentados aos Direitos Humanos, quese fizeram à sombra da arrogância eda ganância de uma falsa elite neo-con, fanática e ultra-reaccionária, quepensou dominar o mundo... Talvez umdia – quem sabe? – o Tribunal PenalInternacional se lembre de os julgar,pelo mal que fizeram à Humanidade.

Mário SoaresDN 18/Mar/08

O DINHEIRO DA INFÂMIA

São imagens deprimentes, recorda-das pelas televisões. Bush sai do aviãonas Lajes, acena, ignora-se paraquem, gesto maquinal, sorriso leve-mente tolo. Aparece, face escanca-rada, comovida de efusão, o inevitá-vel Durão Barroso. Bush, paternal-mente, coloca-lhe a mão no ombro eestugam os passos. Depois, os abra-ços entre Blair, magnífico socialista;

Aznar, piedoso membro da Direitonaespanhola; e o Imperador impante.Durão indica o caminho para lá, e ficaà porta de cá. Enquanto os outros con-versam amenamente sobre mortos eferidos, danos colaterais e outras tri-vialidades, Durão Barroso, numa es-planada, toma uma bica.

Fez cinco anos que, em território

português, três cavalheiros premedi-taram a invasão do Iraque, cujas trá-gicas consequências adquiriram inau-dita extensão. Para nosso escarmen-to, o então primeiro-ministro de Por-tugal desempenhou o papel de portei-ro. O cortejo de misérias, ainda hojeininterrupto, não recusou a tortura e acondenação à morte, justificadascomo resposta ao terrorismo pelaconsciência doente de articulistas es-tipendiados e de políticos abjectos. (...)

Baptista-BastosDN 19/Mar/08

O SÉCULO DA ÁSIA

(...) É evidente que também no vas-tíssimo espaço asiático existam diver-gências, memórias e capitais de quei-xa, mas é visível um esforço no senti-do de ultrapassar as diferenças e dereduzir as tensões políticas e de se-gurança: são factos que a populaçãoglobal da região crescerá 50% nesteperíodo de meio século, crescimentoacompanhado pela população daUnião Indiana, que a busca de fontesde energia, designadamente em Áfri-ca e na América Latina se intensifi-cará, que a ambição de saber domes-ticar a energia nuclear crescerá, quea resistência ao protocolo de Quiototerá exemplos equivalentes à de oci-dentais, e assim por diante.

A perspectiva de desastre vai ga-nhando terreno e intensificando o de-sânimo das populações frente à inca-pacidade de encontrar uma via parti-cipada e segura de lideranças anima-das pelo interesse geral prioritário, enão pelas questões menores inspira-

das em grandezas políticas perdidas esobrevivência de projectos de futurosem horizonte.

Que o século XXI venha a ser o sé-culo da Ásia, com mais ou menos re-ferências a um poder específico des-sa área, é uma visão radicada numaperspectiva de conflito, possivelmen-te armado, para decidir hegemonias.

Mas uma perspectiva que, se tiverem conta as capacidades de destrui-ção recíproca instaladas, não podeconcluir senão pela previsão de um de-sastre geral.

Talvez o maior risco esteja na se-menteira de divergências, rivalidadese conflitos internos que absorvem asenergias dos ocidentais, debilitando acapacidade do relacionamento cons-trutivo, racional, e conclusivo, com aÁsia do século XXI, visando uma re-alidade diferente de um século XXIda Ásia.

Adriano MoreiraDN 18/MAR/08

O PERMANENTESOBRESSALTO

(...) A ideia de um pacto de sanguecom as bases e contra os barões tam-bém não promete trazer-lhe muitas ale-grias, sobretudo quando ele próprio sepriva do instrumento que é o desafiopara “directas”. Se os barões são essagente tenebrosa que só quer uma vidaregalada e não frequenta a happyhour das bases, então o que mais ospõe em respeito é o risco de ter deassumir as suas críticas na expressãoúltima do confronto eleitoral. Poucoso fazem, como Menezes aprendeu comMarques Mendes. Por isso, se foi umerro ameaçar fazê-las a eito, outro,bem pior, é fechar-se no torreão edeclarar, sem condições ou nuances,recusá-las. Isto é entregar as mura-lhas a um sitiante sem pressa. Por-que, fora das conjunturas eleitorais (in-ternas ou externas), os barões fazemo rosto do partido no quotidiano dopaís que avança. E têm vida e mundopara criar os piores embaraços aos de-sasados pretorianos da direcção par-tidária. A leviana grosseria com queCapucho foi tratado levou a mais hu-milhante resposta: é pelas regras ba-sistas de Menezes que ele se fez Cas-cais na resistência. O disparatado epi-sódio do chamamento de Rui Rio aoConselho de Jurisdição (com Mene-zes, Ribau e o próprio presidente doórgão a anteciparem uma “sanção éti-ca”) parece culminar agora com aolímpica recusa do visado em se su-jeitar a tão insólita liturgia.

Tudo isto comprova o pior da cos-mogonia suburbana em que assentama cultura e a vocação política de Me-nezes: o império da táctica sobre a es-tratégia, da manchete sobre o ciclopolítico, da cor da gravata sobre oenunciado de medidas (ou, no futebo-lês de que ele gosta, o primado da fin-

Barroso, Blair, Bush e Aznar na “Cimeira dos Açores” em Março de 2003

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9DE 26 DE MARÇO A 8 DE ABRIL DE 2008 OPINIÃO

ta sobre o remate). Nas suas mãos, opoder esboroa-se. Quer um estatutocomo um fim pessoal e não como uminstrumento para a realização de ob-jectivos políticos. Chamem-lhe tudo,mas ambicioso não.

Nuno Brederode Santos (jurista)DN 16/MAR/08

AS VÍTIMAS INOCENTES:TRISTEZA METAFÍSICA

Na encíclica sobre a esperança Sal-vos em Esperança, Bento XVI debru-ça-se sobre uma pergunta decisiva –“a pergunta fundamental da filosofia”(Max Horkheimer): o que podem es-perar as incontáveis vítimas inocen-tes da História? Quem lhes fará justi-ça? As vítimas inocentes clamam, umgrito sem fim e ensurdecedor percor-re a História.

No mundo moderno, conduzido emgrande parte pela ideia de progresso,ergueu-se, nos séculos XIX e XX, umateísmo moral por causa das injusti-ças do mundo e da História. “Ummundo no qual há tanta injustiça, tan-to sofrimento dos inocentes e tantocinismo do poder, não pode ser obrade um Deus bom.”

Quase se poderia dizer que se éateu ad majorem Dei gloriam, paraa maior glória de Deus, como se, pe-rante o horror do mundo, a justifica-ção de Deus fosse não existir. É-seateu por causa de Deus, que é preci-so recusar por causa da moral.

Afastado Deus, deve ser o Homem aestabelecer a justiça no mundo. Mas nãoserá esta uma pretensão arrogante e in-trinsecamente falsa? “Um mundo quetem de criar a sua justiça por si mesmo éum mundo sem esperança. Ninguém nemnada responde pelo sofrimento dos sé-culos”, escreve o Papa. (...)

Anselmo Borges(padre e professor de filosofia)

DN 15/MAR/08

É MENTIRA!

Se há domínio em que a referênciaà mentira é uma constante, é o da po-lítica – que é também, curiosamente,aquele em que ela menos se prova,como se a denúncia da mentira fosseapenas o instrumento de um jogo, e nãoo contraponto de uma qualquer verda-de. É lamentável, mas é assim.

Tempos houve em que se pensouque era fácil opor verdade e mentiraem política, como se de uma simplesoposição moral se tratasse. Mas a mo-dernidade começou quando Maquiavelpôs esta evidência em causa, e não sóseparou a política da moral como ligoua mentira à eficácia da acção.

A política tornou-se então um do-mínio cada vez mais autónomo, emque a atenção às circunstâncias reaisda conquista, do exercício e da manu-tenção do poder, se passou a sobre-por a qualquer tipo de idealização dos

seus objectivos. A mentira ganhou aquios seus galões estratégicos – e tam-bém uma infinidade de máscaras, quesó o tempo foi revelando.

Foi isso que levou, já no séc. XVIII,o inspirado autor de “A arte da menti-ra política” (que durante muito tempose pensou ser J. Swift, mas é de J.Arbuthnot) a apontar a existência de“falsidades salutares” no governo doshomens, recusando ao povo qualquerdireito à verdade ao mesmo tempoque lhe reconhecia uma panóplia dedireitos à mentira.

O importante, dizia, é que elas se-jam sempre verosímeis, isto é, quepossam passar fácil e naturalmentepelo que não são - e, depois, que seorganizem “sociedades de mentiro-sos”, de modo a dispor de massas depessoas crédulas, tão prontas a repe-tir e a espalhar essas aldrabices comoa desconfiar – como se da peste setratasse – das pessoas sinceras oumais autênticas. (...)

Manuel Maria CarrilhoDN 15/MAR/08

TUDO PARTIDOSOCIAL-DEMOCRATA

(...) No PSD, que é um partido que secaracteriza por não ter ideologia nenhu-ma, a harmonia é rara e difícil. Veja-se oque sucede agora: o António Capucho nãoconcorda com o Luís Filipe Menezes; oLuís Filipe Menezes não concorda com oRui Rio; o Rui Rio não concorda com oPacheco Pereira, e o Pacheco Pereira nãoconcorda com ninguém. O caso compli-ca-se quando constatamos que Luís Fili-pe Menezes, na ânsia de agradar a toda agente, diz com frequência uma coisa e oseu exacto inverso, o que faz com que,muitas vezes, o presidente do PSD nemconsigo mesmo concorde. E o trágico éque há quem diga que esta é a sua melhorqualidade. Faz sentido: Luís Filipe Mene-zes não é uma alternativa a José Sócra-tes. É várias. Menezes tem opiniões paratodos os gostos. Há propostas capazes deagradar a todos os sectores da sociedadeportuguesa, e ainda a alguns sectores decertas sociedades estrangeiras. As úni-cas pessoas a quem Menezes não conse-gue agradar, por mais que tente, são osmilitantes do PSD. (...)

Ricardo Araújo PereiraVisão

ENTRE ESCREVER E SERESCRITOR...

Ser escritor é a profissão mais an-tiga do Mundo? Está na moda escre-ver livros? Esta é a pergunta que hojefatalmente se faz quando esbarramoscom a notícia que nos conta que maisuma pessoa que não conhecemos, ounão conhecemos da escrita, vai lan-çar um livro.

Sem cuidar de saber se está namoda ou não está, porque me parece

irrelevante para o caso, acho que umcerto boom na edição de livros resul-ta da conjugação de vários factores.

Primeiro. É inegável que a ilitera-cia em Portugal recuou muito nos úl-timos anos. Isso não significa forço-samente que existam pessoas a escre-ver melhor ou leitores mais cultos, masimplica obrigatoriamente que há maispessoas que sabem exprimir-se dessa

forma e há muito mais pessoas quesão capazes de as ler. O mercadocresceu.

Segundo. Apesar do último movi-mento de concentração de editoras emPortugal levado a cabo por MiguelPais do Amaral, o antigo patrão daTVI, há cada vez mais empresas emais pessoas a editarem livros. Porum lado, as novas tecnologias e, poroutro, uma certa redução dos custosoperacionais, até para pequenas tira-gens, tornaram a edição de livros muitomais barata. O mercado ficou maisacessível.

Terceiro e nem por isso o menosimportante. A evolução da vida em so-ciedade nos últimos tempos favoreceuprocessos de isolamento (ou exacta-mente por isso), mas também fez ger-minar fortes vontades de partilhar avida com o seu semelhante. Dizendotalvez de outro modo, aumentou mui-to nos últimos tempos o número de pes-soas que acha que o resto do mundopode morrer estúpido se não tiveroportunidade de saber o que ela pen-sa ou o que essa pessoa fez.

Durante anos, julgou-se que só de-viam ter o estatuto de livro os escritosde alguém com reconhecido talentopara tal e quase só tinha direito a essapresunção quem fosse profissional doramo. Era, provavelmente, um exage-ro, mas hoje somos capazes de ter ca-ído no exagero inverso. Com a vanta-gem de que este exagero inverso omercado se encarregará de o corrigirenquanto o diabo esfrega um olho.

Ou, então, os factos com indubitá-vel interesse histórico. Existia a ideiaque o livro funcionava como uma es-pécie de museu das ideias ou das es-tórias e só aquelas que merecessemser recordadas no século seguinte éque se deviam eternizar através do li-vro. Hoje o livro moderno está para olivro tal como era concebido antes,como o gratuito está para o jornal tra-

dicional se alguém ler e o deitar foralogo a seguir, ninguém estranha. (...)

Manuel SerrãoJN 15/MAR/08

CHAMAI A POLÍCIA

Assim mesmo, que nem um padre,António ou Vieira diria melhor. É umapeninha que esse português antigo dearcaico se esboroe ante um linguajar dereferência telemóvel em que os íconespublicitários se confundem com as tira-das anódinas da imprensa desportiva.Mas é sobretudo cruel não deixarmosum rasto de língua de vaca por mais lou-ca ou azul que seja, no Universo.

A nossa missão, meninas e meni-nos, não é obedecer, cegamente, àsordens superiores ou aos maus fíga-dos sindicais. Ser mestre, professor oupedagogo deve (de) ser a coisa maislinda que existe depois da sagrada con-cepção tal como se duvida que umavirgem possa ter dado à luz, hoje nemsequer ponderamos a inseminação ar-tificial. Ser discípula, aprendiz ou ape-nas lente perante a suprema luz da sa-bedoria é uma condição inerente àsesferas mais roliças da Humanidade;não estais contentes, chamai as auto-ridades e cronometrai o tempo de in-tervenção e interpelai-as no sentidoem que devem proteger e servir: aomesmo tempo. (...)

Rui ReininhoJN 15/MAR/08

Carolina Salgado fez capas de jornais e revistas e há dias, em Tribunal,quando questionada sobre a profissão, afirmou ser “escritora”...

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10 DE 26 DE MARÇO A 8 DE ABRIL DE 2008PHOTOGRAFARTE

NOTAS EPIDEMOLÓGICAS

Portugal, Portugal, Portugal! Fotos de Dinis Manuel Alves

Portugal SAD Fotos de Dinis Manuel Alves

LOUSÃ - Nelson Fernandes

VARADERO, CUBA

Praia dos pobres

e das bicicletas

Fotos: Dinis Manuel Alves

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11DE 26 DE MARÇO A 8 DE ABRIL DE 2008 OPINIÃO

Jogos de salão...A OUTRA FACEDO ESPELHO

José Henrique Dias*

[email protected]

[email protected]

CarlosEsperança

ponte europa

* Professor universitário

Parecia que o chão lhe fugia debaixo dos pés. Era ma-nhã. Cedo. Bem cedo, ainda. Caminhava no quarto comoum bicho enjaulado. Com ritos que se fossem olhados deuma certa maneira manifestavam traços obsessivos. Nãoencontrava ninguém para uma palavra. Desde a separaçãoque ficara assim. Voltada para a criança. Tudo se processa-va em torno da Mariana. Que diabo, o pai ao menos poderiatrazer uma palavra de alento. Uma coisa eram os seus de-sentendimentos, outra era a criança. Mas qual quê, dir-se-iaresolver todos os problemas com o cheque ao fim do mêspara a pensão de alimentos. Vou telefonar-lhe, pensou, voudizer-lhe que é preciso que venha a casa para tomaremuma decisão. Mas para quê?, virão sempre as mesmasacusações, que se estão assim foi ela que quis, por ele aindahoje estavam juntos…

Nunca teve vergonha. Sempre a amesquinhou e quase adestruía, com aquela ideia da incapacidade para fazer amais simples das tarefas. Ela que abdicou de tudo para queele pudesse fazer a carreira. Que estúpida. De início aindapensou que já que não ia pela advocacia ao menos talvezpudesse aspirar a um notariado, uma conservatória, mascomo, se ele logo foi para o lugar na ONU. A primeiragrande porta, dizia ele, e assim foi, nunca mais parou atéchegar a embaixador. Ela sempre a fazer o lugar de mulherde. Nas recepções tinha de ser irrepreensível, saber lidarcom todo aquele pessoal subalterno, os adidos disto e daqui-lo e as suas mulheres, todas umas pataratas provincianasno xadrez da sedução, que ela topava, que a faziam rir pordentro mas no fundo foi descobrindo o que mudava na suarelação com o Alberto.

Já nada era igual, evidentemente, apesar de ele semprevoltar a querer provar-lhe que as suas manifestações eramuma inferioridade, que pessoas como eles não se davam àpossidoneira do ciúme. Tudo não passava de jogos de salão.A verdade é que já não tinha dúvidas sobre a relação com amulher do colega holandês, aquela espécie de avião loiro,como eles diziam, nos finais das conversas no momento do

café e do cálice de Porto. Ouvia sem um estremecimento.Fazia parte.

Ainda falou com os pais numa vinda a Lisboa, deixou--lhes cair a ideia do divórcio, mas logo o patriarca se saiucom aquele nem pensar peremptório, a menina bem sabeque nunca na nossa família houve um caso de divórcio, eracoisa para suburbanos a que a universidade não poliu asmarcas de origem.

Quando nasceu a Mariana, ainda pensou que as coisasmudariam. De início ele pareceu mais atento, gostava debrincar com a filha, claro que não era, nunca foi, muito ex-pansivo, mas ainda assim dispensou-lhe atenção que nuncativera para mais nada ou ninguém, fora das rotinas das de-cisões diplomáticas e do correio normal de e para Lisboa.

Pouco a pouco foi ficando assim uma espécie de funcio-nário parental, esgotava rapidamente o seu capital de ternu-ra e mostrava alguma impaciência com os choros noctur-

nos. Quando de repente lhe veio falar na separação, ela já oesperava, nem sabia bem porquê mas esperava, por issoficou sem saber que dizer de início. Apenas perguntou por-quê, em que é que tinha falhado, essas coisas que se dizempara dizer alguma coisa, se era por causa da doença. Co-meçou a arranjar os seus objectos pessoais, pegou na filhaao colo, ainda foi passar água pela cara.

Ficou a olhar para ele hirto no meio da sala, penduradono charuto cubano, sem uma palavra, uma nova palavra,qualquer explicação para além daquele entre pessoas comonós as coisas fazem-se civilizadamente…

Pois que também agora civilizadamente ele viesse en-frentar com ela a insuficiência renal da Mariana. Vai ter defazer diálise até se encontrar um dador, coisa para demorar,disse o médico. Logo a ela é que aquilo havia de acontecer,não ter o pai para partilhar a angústia, o medo, a criançasujeita a muitas horas diárias a lavar o sangue, que horror,coitadinha da minha filha, e ele que era tão preciso nãoestava, andava pelas chancelarias a passear o charme deque toda a gente falava, um homem fabuloso, diziam, fabu-loso o diabo que o carregue, haviam de o conhecer na inti-midade, no dia a dia, os seus caprichos, aquele ressonarsilvado que ela suportou durante anos, o galã dos salões tãodado a falar de Pessoa e que sabia de cor quase todo oSermão da Sexagésima do Vieira, que falava de todas ascoisas de forma tão irrepreensível como sustentava o pen-teado ao longo do dia, esse adónis de casaca que luzia nasrecepções e nas cerimónias protocolares, não deixava dor-mir ninguém com a roncadeira para não falar noutros des-cuidos, sobretudo aquela mania da prótese dentro do copode água na mesa de cabeceira.

Alberto, a Mariana tem que fazer diálise e precisa de umtransplante, precisa de um rim, onde diabo estás que nãovens aqui dizer-me…

Senhora doutora, o senhor embaixador manda dizer queo vestido já chegou. A cabeleireira está marcada para ascinco…

Obrigada, João. Diga ao meu marido que está tudo bem.Diga-lhe que o médico acha…

Vai-me desculpar, minha Senhora. Mas eu acho que essacoisa dos nervos melhorava se tivessem filhos. Um casaltão bonito…

O CDS-PP exigiu, na passada sex-ta-feira, explicações ao Governo so-bre a agressão a uma professora edisse que o novo Estatuto do Alunovai contra a autoridade dos docentes.Caso as explicações não sejam con-vincentes, o partido vai levar o casoao Parlamento.

Comentários:1 – O vídeo é chocante, embora me

pareça que a professora lidou da piormaneira com os marginais que lhe cou-beram em sorte;

2 – Não vejo razão para chamar a

ministra ao Parlamento, a menos queseja para fazer esquecer os escânda-los que pendem sobre o CDS;

3 – Paulo Portas pode aproveitarpara dar explicações sobre os 60 mildocumentos fotocopiados do ministé-rio da Defesa.

4 – Quando houver uma agressãoa um guarda florestal, por coerência,o CDS chama o ministro da Agricul-tura ao Parlamento.

*****

Já muito se disse sobre a agressãode uma adolescente à sua professorae sobre a boçal atitude dos colegasque deliraram com a cena, a filmaram,exibiram e guardaram como troféu.

Psicólogos, pedagogos, políticos ecidadãos comuns indignam-se legiti-mamente com a má-criação, agressi-

vidade e falta de respeito de uma alu-na que os órgãos directivos da escolanão podem deixar de sancionar de for-ma adequada. Adequada, não exem-plar, muito menos vingativa, porque arecuperação de jovens faz parte doprocesso educativo.

Ao ouvir os gritos selvagens e ulu-lantes de uma turma em delírio não

Escola e educaçãopodemos deixar de reflectir como foipossível chegar aqui, sabendo-se quenão se trata de um acto isolado masde manifestações reiteradas de vio-lência juvenil nas escolas, violênciaque não teve a terapêutica adequadapela impossibilidade de educar os pais.

Perante a gravidade da situaçãonão podemos deixar de recordar ocaso recente de um professor que sereferia ao primeiro-ministro com osmais reles insultos e com a mais bai-xa educação. Foi promovido a heróinacional tal como os desordeiros da-quela turma se tornaram referênciapara os adolescentes sem valores dasua geração.

O País, a sua comunicação social,os dirigentes políticos e os portugue-ses em geral terão de decidir se que-rem um país de charruas ou um paísde cidadãos

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12 DE 26 DE MARÇO A 8 DE ABRIL DE 2008PUBLICIDADE

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13DE 26 DE MARÇO A 8 DE ABRIL DE 2008 DIA MUNDIAL DA ÁGUA

A assembleia-geral da Águas do Mondego decidiu distribuir pelos accionistas,pela primeira vez, os dividendos de 2005 e parte de 2006, que rondam um milhãode euros.

Em comunicado, a empresa refere que aquele montante vai ser repartido pelaÁguas de Portugal (grupo a que pertence a Águas do Mondego) e pelos municí-pios de Ansião, Arganil, Coimbra, Condeixa-a-Nova, Góis, Leiria, Lousã, Mea-lhada, Miranda do Corvo, Penacova, Penela e Vila Nova de Poiares.

Reunido no passado dia 12 em Taveiro (Coimbra), o plenário de accionistasaprovou também o relatório e contas de 2007 e a aplicação de resultados.

Águas do Mondegodistribui dividendos

A Águas do Mondego e a Águas de Coimbra prosseguem as comemorações do DiaMundial da Água, desde hoje (quarta-feira, dia 26) até depois de amanhã (sexta-feira), noMuseu do Água, em Coimbra.

Durante os três dias, o Museu da Água recebe mais de 100 crianças para uma acção deeducação ambiental sobre a temática da água.

Nesta acção conjunta, as duas empresas prepararam uma iniciativa que pretende sensibi-lizar os mais jovens para a importância da água.

No espaço do Museu da Água, a Águas de Coimbra organiza jogos educativos subor-dinados a este tema. A Águas do Mondego apresenta o 8º episódio da série Ecoman,

Comemorações em Coimbrado Dia Mundial da Água

com o título “Não devemos desperdiçar água!”. Arrojada e divertida, a série Ecoman,resultante de uma parceria entre a Águas de Portugal e a RTP, tem uma forte vertentepedagógica, transmitindo os mais simples conceitos de preservação ambiental ao públicoinfanto-juvenil.

Todas estas acções decorrem, como acima se refere, no Museu da Água, situado noParque Dr. Manuel Braga, na margem direita ao Rio Mondego (um espaço muito interes-sante, que bem merece visita pois tem motivos de interesse para gente de todas as idades).

O horário de início das sessões acima referidas é o seguinte: hoje e amanhã, às 14h30,depois de amanhã (sexta-feira) às 10h30.

PROSSEGUEM DESDE HOJE ATÉ SEXTA-FEIRA

NOVE ESCOLAS PARTICIPARAM NA INICIATIVA

Concurso “A Água e a Música” termina em festa

O Parque Dr. Manuel de Braga aco-lheu na passada semana a festa de en-cerramento do concurso escolar A Águae a Música, organizado em parceria peloMuseu da Água de Coimbra e pela Or-

musicais, letras de música, poemas, co-reografias e apresentações várias, quedepois apresentaram no Parque Dr.Manuel de Braga. Os trabalhos foramavaliados por um júri e os vencedoreslevaram para a sua escola uma pequenabiblioteca sobre a água e o ambiente. Aentrega do prémio ao melhor trabalhodecorreu no dia 22 de Março, no Museuda Água de Coimbra.

Aliás, a festa deste concurso pedagó-gico inseriu-se no programa de comemo-rações do 1.º aniversário do Museu daÁgua de Coimbra, que se celebrou exac-tamente no passado dia 22 de Março, DiaMundial da Água.

questra Clássica do Centro.Cerca de duas centenas de alunos, de

nove escolas do concelho de Coimbra,aderiram ao projecto, que foi apresenta-do publicamente no Dia Nacional da

Água, dia 1 de Outubro. As escolas par-ticipantes foram as seguintes: EB1 - So-lum, EB1 Vendas de Ceira, EB1 MontesClaros, Externato João XXIII, EscolaCruz de Morouços, Colégio Bom Jesusde Cernache, Escola Eugénio de Castro,Escola EB S.Silvestre e Escola Secun-dária Jaime Cortesão.

Sob a coordenação do Maestro Virgí-lio Caseiro, que ao longo destes mesesacompanhou a elaboração dos trabalhosdas escolas, a iniciativa teve por objecti-vo desafiar os alunos a criarem traba-lhos originais inspirados nos temas Águae Música.

Os alunos construíram instrumentos

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14 DE 26 DE MARÇO A 8 DE ABRIL DE 2008EDUCAÇÃO/ENSINO

José Soares

[email protected]

O que se passou recentemente comuma aluna de 15 anos na Escola Secun-dária Carolina Michaelis, no Porto, devemerecer a reflexão de todos: alunos, pro-fessores, pais e sociedade em geral. To-dos somos culpados por aquilo que estáa acontecer nas nossas escolas.

Durante um minuto e quarenta e oitosegundos, o país viu estupefacto ao quechegou o comportamento de alguns alu-nos nas escolas. Acredito que aquiloque vimos não é, seguramente, o piorque se passa nas escolas portuguesas.O problema, desta vez, é que atravésdo site YouTube, o caso ganhou dimen-são nacional. As imagens têm maisforça que as palavras. Apesar de serproibido, o uso de telemóveis vulgari-zou-se de tal maneira que parece nãohaver forma de pôr fim a este flagelo.Uma autêntica praga.

Não se pode dizer que a aluna tenha

Um mau exemplode formação e educaçãoagredido violentamente a professora.Se calhar nem agressão houve. O quese viu, isso sim, foi uma professora serhumilhada na sua dignidade e auto-es-tima, para gáudio de toda uma turma,que havia de conseguir mais um vídeopróprio no YouTube. Era preocupaçãodo aluno/realizador que tornou públicoeste caso, que ninguém interferisse naactuação das “suas” duas protagonis-tas: professora e aluna.

O comportamento da aluna, repro-vável, tem de ser exemplarmente pu-nido. É preciso salvaguardar a vidaduma jovem que seguramente estará aprecisar de ajuda, mas que não poderáser transformada numa heroína. Todos,alunos, professores e pais, terão desaber que estes comportamentos se-rão banidos e censuráveis no meio es-colar. Há que reforçar a autoridade dosprofessores, para bem deles, dos alu-nos e da sociedade que estamos a cons-

truir. Não é admissível que uma jovemde 15 anos ache normal tratar uma pro-fessora com 60 anos por tu, gritando-lhe perante uma turma inteira: “Dá-meo telemóvel jáaa!!!...Eh pá, dá-me otelemóvel!”.

O comportamento da professoratambém não parece isento de erros.Será que incumbe a um professor im-por a sua autoridade pela força? Será

correcto querer fazer justiça pelas pró-prias mãos, retirando aos alunos objec-tos proibidos nas salas de aula? Peloque se viu, não me pareceu ter dadouma grande lição.

A vida não está fácil para ninguém.Mas isso não pode servir de desculpapara nos desresponsabilizarmos dasnossas obrigações. Os pais cada veztêm menos tempo para acompanhar osseus filhos, por isso vêem com satisfa-ção que eles passem o maior númerode horas na escola. Mas será isso bompara os próprios filhos?

Há princípios de que a sociedadenão pode abdicar: aos professores exi-ge-se que formem os nossos jovens,mas aos pais exige-se que eduquem osseus filhos. E educar é dar amor, aten-ção, mas também disciplina. Se uns eoutros fizerem o seu papel, talvez seconsiga estabelecer uma melhor rela-ção entre alunos e professores.

Imagem do video que saltou do YouTubepara todas as televisões,chocando o País

A Direcção Regional de Edu-cação do Norte (DREN) esperaque a Escola Secundária CarolinaMichaelis (Porto) conclua, aindaesta semana, o inquérito ao casodo telemóvel.

O director adjunto da DREN,António Leite, assegurou que a es-trutura desconcentrada do Minis-tério da Educação vai aguardar,“sem comentários”, a conclusãodesse inquérito.

“Entendemos que, neste caso,o silêncio deve ser levado quaseao limite”, sublinhou o director ad-junto, considerando que “a pres-são é prejudicial” ao trabalho deapuramento dos factos.

A Escola Secundária CarolinaMichaelis tem cinco dias úteis, con-tados desde a última quinta-feira,para concluir o inquérito, mas podepedir a prorrogação do prazo.

Apesar do período de fériaspascal, e do elevado número depessoas a ouvir, o director adjuntoda DREN, António Leite, crê queos cinco dias serão suficientes.

No âmbito do inquérito serãoouvidos os principais protagonistas(professora alegadamente agredi-da, aluna agressora e aluno que fil-mou a cena), bem como restantes

A LAMENTÁVEL CENA DO TELEMÓVELEM SALA DE AULA DE ESCOLA DO PORTO

Inquérito deve ficarconcluído ainda esta semana

alunos da turma, que tem um totalde 28 educandos.

António Leite disse que o queocorreu “não se resume a um mi-nuto e quarenta segundos [tempodo vídeo sobre o incidente, quepassou no Youtube], sendo inques-tionável a necessidade de perce-ber muito bem o antes e o depois,com o testemunho de todos os in-tervenientes”.

“Sem desvalorizar a gravidade”do sucedido, António Leite garan-tiu que o caso da Escola Secundá-ria Carolina Michaelis “não reflec-te a realidade escolar na área daDREN”, correspondente a 40 porcento do território português.

A professora da “Carolina Mi-chaelis” foi vítima de uma cena deviolência física e verbal por partede uma aluna, depois de lhe retirarum telemóvel, cujo uso é proibidodurante as aulas.

A cena foi gravada por um alu-no da mesma turma e o vídeo foicolocado no site YouTube, mos-trando a aluna em causa a gritare a empurrar a professora quan-do a docente lhe procura tirar otelemóvel.

Um professor que seja víti-ma de uma situação semelhan-

te deve, segundo António Leite,participá-la ao conselho execu-tivo da sua escola, entidade res-ponsável por dar conhecimentoda situação ao Gabinete de Se-gurança da DREN.

“Esta participação à DREN faz-se on-line”, disse à Lusa uma pro-fessora conhecedora dos trâmiteslegais de situações destas.

A par desta participação feitapelo presidente do conselho exe-cutivo à DREN, a própria escolaabre um inquérito para apurar oque, de facto, se passou e apurarresponsabilidades.

A mesma fonte adiantou que ésempre nomeado um instrutor queseja “alheio à situação” para coor-denar o inquérito.

Quando é sugerida a transfe-rência do aluno para outra escola,que é o castigo máximo para umasituação considerada grave e quesó pode ser aplicado a estudantescom mais de 10 anos, este é sem-pre decidido “com conhecimentoe autorização” da DREN.

Os pais podem sempre recor-rer da decisão, após serem notifi-cados pelo conselho executivo, ten-do um prazo de dois dias para ofazer.

A Confederação Nacional das Associações de Pais con-denou a agressão de uma aluna a uma professora numa es-cola do Porto, apelando aos pais para que eduquem os filhospara o comportamento que devem ter nas aulas.

Em comunicado enviado à Lusa, a CONFAP “condenatodos os actos de indisciplina praticados por alunos nas es-colas”, tal como o que foi dado a conhecer quinta-feira elança um “apelo a todos os pais para que exerçam o seupoder paternal junto dos seus filhos, educando-os no sentidoda responsabilidade e do comportamento que devem ter emsala de aula”.

Apela ainda aos pais “para que imponham regras muitofirmes quanto ao uso de telemóveis pelos seus filhos”.

Para a CONFAP, muitos dos conflitos hoje existentes nointerior das escolas devem-se ao uso indiscriminado do tele-móvel.

A confederação acrescenta ainda que “este caso não podeser visto de forma isolada”, porque a “disciplina deve serentendida no sentido da partilha da responsabilidade de apren-der, dos fins que justificam a existência da escola numa soci-edade moderna e democrática”.

Considerando que a sociedade se debate com uma “crisede autoridade” e uma “crise da educação”, a CONFAP de-fende que a resolução para estes problemas não pode pas-sar pela restauração da autoridade perdida.

Lembrando uma afirmação de Daniel Sampaio, a CON-FAP refere que, “na escola, a participação deve ser a regra,pois é a base da autoridade: só respeitamos quem nos res-peita, nos ouve e tem interesse por aquilo que pensamos esentimos”.

“A autoridade é sustentada na relação de confiança e derespeito mútuo que caracteriza a interacção saudável entrealuno e mestre”, acrescenta.

CONFAP fazapelo aos pais

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15DE 26 DE MARÇO A 8 DE ABRIL DE 2008 EDUCAÇÃO/ENSINO

* Professor e Dirigente do SPRC/FENPROF

Notíciasna Sexta-feira Santa

João Louceiro *

O país esbugalhou o espanto com a“reportagem” em telemóvel, dentro deuma sala de aula. Mais um episódio dedesrespeito, desautorização e violênciasobre uma docente. Mais um dos que asr.ª ministra da Educação insiste em mi-nimizar, agora com filme no YouTube, nosnoticiários e fotogramas nos jornais.

Muito há a dizer, desde a constantedesvalorização da escola, até às condi-ções de vida dos portugueses, bem maisdeterminantes na definição do clima detrabalho e de convivência nas escolas doque os abnegados esforços de organiza-ção e combate à indisciplina que estasfazem, remando contra a corrente. Mui-to há a dizer, mas há algo que não pode-mos esquecer: a atitude, a actuação e asopções do Governo Sócrates/PS e, emespecial, da sua equipa para a Educa-ção, têm sido um perigoso estímulo àdesvalorização dos professores. Insultos,ofensas, desconfiança instilada, depreci-ação, menorização, são táctica e opçõesde quem governa. Na fúria descontrola-da para atingir objectivos como o da re-dução do défice, começaram por tentarisolar os docentes do resto da socieda-de, tratando-os como incompetentes,madraços, ignorantes, retrógrados. Tudoserviu, irresponsáveis formas de actua-ção que, no momento-chave, favorecema resposta física, violenta, da aluna, ouas manifestações de gáudio da horda em

delírio perante a fragilidade em que fi-cou a docente.

Nas leituras de sexta-feira, encontrá-mos um sentido completamente diferen-te. Sérgio Vilarigues questionava: “E senão existissem professores?”. Ficcionouum mundo sem sentido para as palavrase sem palavras escritas, sem livros lidos,sem entendimento, sem poesia ou músi-ca, sem letras, sequer, sem números esem contas; um mundo sem leis; ummundo onde o trabalho seria um desco-nhecido; onde a fala não produziria sig-nificados. E desafiava: “imagine um mun-do sem professores”…

Há poucos dias, cem mil professoresdiscordaram e contestaram, em manifes-tação, o que o Governo lhes impõe. Oprimeiro-ministro não conseguiu mais doque registar que eram muitos (mais dedois terços da profissão são mais do quemuitos, sr. primeiro-ministro!), mas queera ele, sempre ele, o Sócrates deste país,quem tinha razão… Confiança néscia?Trauma de outras governações?

Um dos destaques da indignação é aavaliação com que o ME quer manietardocentes e escolas, não porque os pro-fessores rejeitem ser avaliados, mas por-que não vão aceitar esta coisa torpe queo ME concebeu. Os terríveis da 5 deOutubro desaustinam, desnorteiam; in-vestem, cegos de raiva até pelos entra-ves de que são responsáveis directos.Para eles já não há tribunais, pondera-ção e, ainda menos, reflexão. Chanta-

geiam, ameaçam, manipulam, mentem,vociferam. Espumam de ódio. Tudo valepara não “ceder”, reconhecer ou admitirerros cometidos.

No combate que se trava, há os ser-ventuários do costume, os bajuladoreshabituais a fungar diligente obediência aquem manda, mesmo que desmandemais do que manda. Mas há outros e bemmais nobres exemplos: na sexta foi notí-cia que a quase totalidade dos docentesdo Agrupamento de Escolas de Monte-mor-o-Velho aprovou uma moção decla-rando a suspensão dos atabalhoamentosque o ME quer empurrar a qualquer cus-to. Posição corajosa e digna, a somar amuitas outras que emergem de escolasem que não pegou o medo com que osdiscípulos de Sócrates querem impor.

A encerrar notícias na sexta-feira,setas que viram para cima e outras quetombam a pique. Avaliam protagonistas.Longe vai o tempo em que o astral dasr.ª ministra da Educação a colocava nospíncaros da excelência governativa deSócrates e do PS. A seta de Lurdes Ro-drigues perdeu o vigor de outrora. Per-turbada, jaz na horizontal. Percebemosa sugestão: é que a governação da sr.ªministra arrastou a tal abismo as escolase a situação profissional dos docentes queparece impossível pôr a seta a descerainda mais...

E assim chegámos à Páscoa.

A Universidade Aberta vai organizar nopróximo mês de Outubro o I Simpósio deEducação à Distância dos Países de Lín-gua Oficial Portuguesa para saber quais sãoas expectativas desses países e debatermétodos de ensino.

“É sempre importante, uma vez que so-mos no ensino à distância o grande forne-cedor do ensino superior a esses países,conhecer melhor as suas expectativas”, disseà Agência Lusa o reitor da UniversidadeAberta, Carlos Reis.

Relativamente ao Brasil, onde o ensino àdistância também está em desenvolvimen-to, o reitor defendeu a importância de “co-nhecer melhor a sua experiência e partilharconhecimento”.

Carlos Reis disse ainda que a Universi-dade Aberta tem responsabilidade na orga-nização de simpósios, na medida em que “acomunicação à distância envolve uma par-te política e as universidades fazem política

NO PRÓXIMO MÊS DE OUTUBRO

Universidade Aberta promovesimpósio sobre Ensino à Distâncianos Países de Língua Portuguesa

do ensino”.“É importante que os conteúdos sejam

cada vez melhores e mais abrangentes”,afirmou o reitor, acrescentando que esseserá também um dos temas a ser debatidono simpósio.

Outro assunto a ser abordado é a experi-ência europeia do processo de Bolonha, disseo responsável.

A tecnologia também estará em deba-te, uma vez que o ensino e a aprendiza-gem on-line é comum em Portugal e noBrasil, mas em África o processo aindaestá “atrasado”.

“Temos de arranjar contributos paraque adiram a estas tecnologias”, disseCarlos Reis.

O I Simpósio de Educação à Distânciados Países de Língua Oficial Portuguesavai decorrer nos dias 30 e 31 de Outubro,na Fundação Calouste Gulbenkian, emLisboa.

Organizado com o apoio do SecretariadoExecutivo da Comunidade dos Países deLíngua Portuguesa (CPLP), o simpósio vaiacolher conferências, painéis, workshops eexposições.

O objectivo é promover “uma reflexãoalargada, que congrace instituições de ensi-no, agentes políticos, professores e investi-gadores em torno da educação a distância,no seio da CPLP”, indica a UniversidadeAberta em comunicado.

A Universidade Aberta é o único es-tabelecimento universitário português es-pecificamente consagrado ao ensino adistância.

A Comunidade dos Países de LínguaPortuguesa (CPLP) é uma organizaçãopolítica assinada entre países lusófonos -Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau,Portugal, Moçambique, São Tomé e Prínci-pe e Timor-Leste - que instiga a aliança e aamizade entre os signatários.

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16 DE 26 DE MARÇO A 8 DE ABRIL DE 2008SAÚDE

MassanoCardoso

O desenvolvimento extraordinário dagenética abriu novas áreas com interes-se prático que vão desde um melhor co-nhecimento das patologias até ao refor-ço da teoria da evolução.

Em 1976, Richard Dawkins, que tem

protagonizado uma luta sem tréguas con-tra os detractores do darwinismo, escre-veu um livro, “O Gene Egoísta”, ondeafirma que a selecção se faz entre osgenes. Não há genes bons nem genesmaus, apenas genes mais ou menos “ap-tos”, desejando propagar-se o máximopossível. Se os analisarmos, na perspec-tiva actual, podemos afirmar que certosgenes, considerados “negativos”, foram,

“Memética”em tempos, indispensáveis à sobrevivên-cia, contribuindo para a evolução das di-ferentes espécies.

Na mesma altura, criou um novo con-ceito: “meme” e a respectiva ciência,memética. O seu objectivo foi estendero paradigma da evolução darwiniana àcultura, ilustrando que os memes (unida-des de informação básica portadoras de

comportamentos e influenciadoras deacontecimentos) pretendem disseminar-se fazendo cópias de si próprios noutrasmentes. Assim, os memes estão para amemética, como os genes estão para agenética. Raciocinando de modo seme-lhante ao que já fizemos para os genes,também podemos afirmar que não hámemes bons e memes maus, mas me-mes mais ou menos aptos.

Acontece que certos memes maisaptos estão, actualmente, na base devários e graves problemas, embora ou-tros sejam benéficos, caso de memes doaltruísmo, da solidariedade, da beneficên-cia, da honestidade, da cultura, da arte.Os memes prejudiciais são os mais viru-lentos, parasitando as nossas mentes,acabando por nos controlar.

As duas áreas com mais apetênciapara utilizar a memética são a publicida-de e a política. No primeiro caso, colo-ca-se, por exemplo, na boca de uma ex-desportista memes da área alimentar oubancária com o objectivo de os dissemi-nar pelo máximo número de mentes, es-perando que se repliquem depois pormais mentes.

Na área política, os memes são o pra-to nosso de cada dia, alimentando asmentes receptivas de muitos que aufe-rem posição, segurança e mordomiascompatíveis com a sobrevivência, não abiológica, que se faz a outros níveis, masa cultural, essência da humanidade. Mul-tiplicam-se e propagam-se com uma vi-rulência tal que faz pensar se não esta-remos perante uma “imunodeficiênciasocial” propiciadora da propagação dememes menos benéficos!

Na politica os memes chegam a sermais virulentos e perigosos do que osvírus da gripe. Propagam-se com mui-ta rapidez e com tal intensidade que sópodem ser explicados em função damodulação dos comportamentos indu-zidos nos seus seguidores, já que aju-dam os hospedeiros que os recebem asobreviver nos seus cargos e tarefas.Pudera!

Este fenómeno tem o seu paralelis-mo no reino animal. Para exemplifi-

car socorremo-nos de um parasitachamado toxoplasma, que é particu-larmente perigoso para as grávidas.Este parasita necessita dos gatos parase multiplicar (aqui está a razão paraas grávidas não se aproximarem dosgatos). Este parasita provoca nos ra-tos retardamento das suas reacções,face ao seu eterno inimigo, o gato, pro-vavelmente impedindo-o de “cheirar”o seu odor típico. Claro que ao nãomanifestar qualquer medo o gatopapa-o num abrir e fechar de olhos.O toxoplasma agradece, porque assimalcança o seu objectivo. Os memes,sejam eles quais forem, políticos ououtros, comportam-se da mesma ma-neira que o parasita toxoplasma, aoinduzirem nos seus hospedeiros com-portamentos que os levam para a es-fera dos “entendidos”. E há tantos en-tendidos por aí a “papá-los”...

O toxoplasma é um parasita que necessita de gatos para se multiplicar,o que não significa que todos os gatos dele sejam portadores

Richard Dawkins, autor do livrointitulado “O Gene Egoísta”

Uma equipa de cientistas suecosidentificou uma rede de genes que aju-dam a combater a aterosclerose atra-vés da redução dos níveis do “mau”colesterol, segundo um estudo publi-cado na revista norte-americanaPLoS Genetics.

Os investigadores do Instituto Ka-rolinska, de Estocolmo, constataramem ratinhos que a acumulação da pla-ca responsável pelo enfarte de mio-cárdio e a doença cerebrovascularpode ser evitada se os níveis do “mau”colesterol, ou LDL, baixarem antes daplaca aterosclerótica progredir para

Identificada rede de genes protectorescontra a aterosclerose

além de determinado ponto.Isso pode ser conseguido graças a

uma rede de 37 genes que medeia o pro-cesso, afirmam os cientistas. A desco-berta poderá abrir caminho ao desen-volvimento de novas terapias contra aaterosclerose, responsável por quasemetade de todas as mortes nos paísesocidentais.

“Anteriormente, muita da investiga-ção sobre a aterosclerose incidiu naidentificação de meios de estabilizar asplacas mais perigosas, para evitar quese rompessem e causassem enfarte”,escreve Johan Björkegren, principal

autor do estudo.“A nossa descoberta significa que po-

demos agora debruçar-nos sobre o de-senvolvimento das placas perigosas”.

A identificação destes genes e daforma como interagem entre si foi pos-sível graças a anos de desenvolvimen-to de redes de algoritmos, sob a di-recção de Jesper Tegnér, professor debiologia computacional, e poderá abrircaminho ao desenvolvimento de no-vas terapias contra a aterosclerose.

“Já passou o tempo em que se pen-sava que genes individuais podiam ex-plicar o desenvolvimento de doenças

complexas comuns, como a ateroscle-rose”, considera Björkegren. “Dispo-mos agora de ferramentas e de co-nhecimentos suficientes de biologia desistemas para enfrentar a complexi-dade total destas doenças”.

Em Portugal, a aterosclerose con-tinua a ser uma das principais causasde doença e morte. Segundo a Socie-dade Portuguesa de Aterosclerose, em2002, mais de 41.000 portugueses fo-ram vítimas de doenças vasculares,cerca de 9.500 morreram de enfartedo miocárdio e 18.900 por doença ce-rebrovascular.

ESTUDO DE CIENTISTAS SUECOS

Page 17: O Centro - n.º 47 – 26.03.2008

17DE 26 DE MARÇO A 8 DE ABRIL DE 2008 SAÚDE

“Luta Titânica – Eu e o Cancro” éo título do tocante livro da autoria dePaula Amorim, editado pela Palima-ge, de Coimbra.

A sessão de lançamento decorreuno passado dia 7, na Biblioteca Gar-ret do Palácio de Cristal, no Porto,onde cerca de três centenas de pes-soas ouviram a apresentação feita porVítor de Amorim Castilho, advogadoem Ponte de Lima e primo da autora.

No livro, cujo título é eloquente,Paula Amorim relata o corajoso com-bate que vem travando desde que lhefoi diagnosticado um cancro.

A esse combate aludiu Vítor deCastilho, que foi analisando o percur-

DA AUTORIA DE PAULA AMORIM

“Luta Titânica – Eu e o Cancro...”:um livro autobiográficoque é uma lição de vida

so de vida da autora com a leitura depassagens da obra, numa intervençãomuito sentida e comovente, que sen-sibilizou a vasta audiência, que no fi-nal o apaludiu de forma vibrante.

O livro, prefaciado por Alberto Lima(tio da autora), inclui também depoi-mentos de médicos do Instituto Por-tuguês de Oncologia (IPO) do Portoe do hospital da Prelada, onde é real-çada a coragem indispensável para en-frentar esta grave doença, perante aqual “desistir é morrer

Ora desistir foi coisa que PaulaAmorim nunca fez. Bem pelo contrá-rio, enfrentou o infortúnio com umabravura e uma persistência exempla-

res, como se depreende da leitura dolivro.

De registar também o exemplo daPalimage Editora, dirigida por JorgeFragoso, que decidiu avançar comuma obra deste tipo, da autoria de umajovem desconhecida, mas que consti-tui uma lição de vida que pode apro-

veitar a muitos que, infelizmente, sãoafectados por doenças graves.

Não baixar os braços, substituir aresignação pela vontade de lutar, en-frentar todos os desaires com redo-brada determinação – eis algumas daslições contidas nesta obra invulgar.

Sublinhe-se que o livro está a ter

grande aceitação, de tal forma que vaijá na segunda edição.

Foi já agendado o respecivo lança-mento em Arcos de Valdevez, no pró-ximo dia 4 de Abril, estando a ser pro-gramadas sessões de apresentaçãoem Ponte da Barca e em Lisboa, emdatas a anunciar oportunamente.

Paula Amorim (ao centro) autografando o seu comovente livro

A capa do livro agora lançado

Vítor de Castilho fazendo a tocante apresentação da obra

Iniciativa da “Saúde em Português”“Caminhar pela saúde, continuar solidá-

rio”, é a designação da iniciativa que a “Saú-de em Português” promove no próximo dia6 de Abril, pelas 10 horas, no Parque Verdedo Mondego e no Choupal, em Coimbra.

Aberta a todos quantos queiram ser so-lidários, ao mesmo tempo que contribuempara a sua própria saúde, esta iniciativa éfeita em parceria com o Clube de Vetera-

nos de Coimbra e a Associação de Despor-to para Todos.

Recorde-se que a “Saúde em Português”,com sede em Coimbra, desde há vários anosvem desenvolvendo uma meritória acçãopor todo o mundo lusófono, e não só, ondehá desigualdade, sofrimento e necessidadede cuidados de saúde.

Espera-se, por isso, que esta iniciativavenha a ter uma grande adesão, pois seráuma forma de promover a saúde e de sersolidário.

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18 DE 26 DE MARÇO A 8 DE ABRIL DE 2008A PÁGINA DO MÁ[email protected]

Mário Martins

São 10 da manhã.Há 14 anos, a esta hora, o primeiro número do “Diário As Beiras” deba-

tia-se ainda com a teimosia da máquina rotativa, apostada em frustrar asexpectativas do cada vez mais reduzido número de pessoas que esperaratoda a noite pelo aguardado nascimento.

A esta mesma hora, o director do jornal chegava aos estúdios da RTP noMonte da Virgem (Vila Nova de Gaia) para falar sobre o novo jornal. Nasmãos, um exemplar para as câmaras mostrarem - só tinha capa e poucomais.

A decisão de fazer sair o jornal no dia 15 de Março tinha sido tomada navéspera, cerca das 6 da tarde!!! Depois de sucessivos adiamentos por parteda “estrutura dirigente-operacional” (que argumentava necessitar de maistempo para um lançamento correcto), os investidores decidiram não esperarmais. Era chegada a hora.

Quando me vieram dar a ordem, nem queria acreditar. Era tarde (mesmopara um jornal, as 18h00 são uma “hora tardia”), não se tinha impressoqualquer “n.º 0”, não se experimentara uma vez sequer o processo produti-vo. Os riscos eram grandes; enormes.

No que me diz respeito, preparei algumas notícias e escrevi o “Pontapéde saída”, uma espécie de editorial, muito sucinto, da secção de Desporto, aárea que me estava confiada.

O texto não está assinado porque ainda me encontrava vinculado (atéfinal desse mês de Março) ao “Jornal de Notícias” e fiz questão de respeitarestritamente a legalidade. Eticamente a questão não se colocava, porque adirecção do “JN” me tinha dado inteira liberdade para começar a trabalharno novo jornal.

Foi assim, em linhas muito gerais, que surgiu o “Diário As Beiras”.Por volta do meio-dia.

(Nas imagens, a primeira e a última páginas do “n.º 1” do “DiárioAs Beiras”, rubricadaspor quem se encontra-va a trabalhar na tardedesse dia 15 de Marçode 1994.)

* * *

PS - Fazer parte daequipa que lançou o “Di-ário As Beiras” é algo deque me orgulho. E que metraz gratas recordações.Foi um tempo vivido comextraordinário entusias-mo, contra muita genteque apostava no falhan-ço, com muita gente queacreditava no futuro. Hátantas “estórias” paracontar!

FILME

Assisti ontem à ante-estreia de “Amorem tempo de cólera”.

Recomendo.(publicado em 19/03)

CITAÇÃO«Quando se fazem balanços é, cer-

tamente, para realçar aquilo que se fezbem. E foram tantas as coisas que fi-zemos bem, que não temos de perdertempo com o que fizemos mal.»

A frase acima podia ter sido profe-rida por um qualquer louco no augedo Terceiro Reich, não foi. Podia tersido dita por Pol Pot himself - tam-bém não foi. Podia até ter sido profe-rida por Oliveira Salazar, mas tambémnão foi. A frase acima foi proferidapor Vitalino Canas, simplesmente por-ta-voz do Partido Socialista.

É, porventura, a frase que melhorretrata o estado de espírito, a formade fazer política, e a ‘moral’ (whate-ver it takes) deste governo, e desteregime.

(in “Grande Loja do QueijoLimiano”; publicado em 18/03)

ELEIÇÕES FRANCESASA derrota da Direita nas eleições

municipais fran-cesas, na capade ontem do “Li-bération”.

Tr a d u z i n d opor palavras: Sa-rkozy levou umagrande “marre-tada”!

PERGUNTA:Algum jornal

português seria capaz de publicar uma1.ª página como esta?

(publicado em 18/03)

SOCIALISMOÀ PORTUGUESA

Ouvi esta tarde, na SIC Notícias, ogovernador do Banco de Portugal afir-mar que o ordenado que aufere (250.000euros anuais) deveria ser reduzido, masque essa decisão não depende dele.

O jornalista recordou a Victor Cons-tâncio que o presidente da Reserva Fe-deral norte-americana ganha menos doque o seu “colega” português.

Victor Constâncio afirmou que os ou-tros reguladores do mercado portuguêstêm salários semelhantes, mas que a co-municação social apenas fala do gover-nador do banco central.

Perante isto, o que faz o Governo?Nada.(NOTA: Para os mais desatentos, es-

clarece-se que Victor Constâncio é so-cialista e o Governo da República tam-bém é socialista.)

(publicado em 14/03)

OUTRO SEM PAPASNA LÍNGUA!

«O sr. Canas, eterno e infeliz porta-voz do PS, no fim da comissão políticada seita destinada a “comemorar” trêsanos disto, referiu que o balanço é tãobom, tão bom que nem vale a pena falarem coisas más. Digamos que Canas eRibau se complementam. O primeiro éligeiramente mais sofisticado que o se-gundo (sempre andou por Macau). Deresto, é a mesma pulsão primitiva que osmove. Não há melhor do que isto?»

João Gonçalves, no “Portugal dos Pe-queninos”, também de leitura diária obri-gatória.

(publicado em 12/03)

UMA ENTRE 100.000

FOI HÁ 14 ANOS...

(publicado em 15/03)

Um facto está a “agitar” a Net desdeontem: a presença da esposa de AntónioCosta, presidente da Câmara Municipalde Lisboa, na manifestação dos profes-sores, no sábado passado.

Hoje, o próprio “Diário de Notícias”dá honras de 1.ª página à presença daprofessora na “manif” anti-ministra daEducação e anti-Governo.

(Luiz Carvalho vai mais longe e lem-bra as críticas de Maria Antónia Palla,mãe de António Costa, à decisão do Go-verno de encerrar a Caixa de Previdên-cia dos Jornalistas).

Foto do “Fotografia sempre”, onde hámais imagens da manifestação de pro-fessores.

(publicado em 11/03)

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19DE 26 DE MARÇO A 8 DE ABRIL DE 2008 MÚSICA

Distorções

José Miguel [email protected]

Já está nas lojas, a compilação queréune o melhores momentos da carreirada banda de Presto, Ace e Serial, os

Mind Da Gap, banda portuense quecelebra este ano o seu décimo aniversá-rio de carreira. São dezoito os temas quecompõem “Matéria Prima (1997-2007)”,entre os quais se incluem os êxitos: “Ba-

zamos ou Ficamos”, “Todos Gordos”,“Não Stresses”. De destacar, ainda, aparticipação da ex-vocalista dos BlackOut, Kika Santos, em “Dar o Máximo”,numa justa homenagem a uma das pri-meiras bandas de hip hop do nosso país.

Quem está de regresso às edições dis-cográficas são os Rádio Macau, masdesenganem-se todos os que pensavamque o novo registo discográfico de Xanae Alex, seria marcado pela electrónica epelo experimentalismo, muito por forçadas aventuras do guitarrista Flak na suaoutra banda, os Micro Audio Waves(multi-premiados internacionalmente).“Oito” encerra um regresso aos discosanteriores e exemplo disso mesmo é o

single de apresentação, “Cantiga deAmor”, já a rodar nas rádios com algu-ma insistência desde os finais do mês deJaneiro. Para quem optar pela pré-com-pra o disco (que só será editado a 31 deMarço) nas lojas FNAC, irá receber umbilhete para o concerto de apresentaçãodo disco a ter lugar no Maxime em Lis-boa, no próximo dia 3 de Abril às 21 ho-ras e 30 minutos.

Para o fim, fica o destaque para umabanda de Coimbra, os Fitacola,que es-tão em vias de editar o seu primeiro lon-ga duração da banda. O disco de estreiada banda de Diogo, Libelinha, Xico eBesugo chegará às lojas no início deMaio, mas no “my space” da banda já

PARA SABER MAIS:www.minddagap.info/www.myspace.com/radiomacauwww.fnac.pt/ptwww.myspace.com/fitacolaMind Da Gap “Matéria Prima (1997-2007)” (Nortesul)Rádio Macau “Oito” (Som Livre)Fitacola “Mundo Ideal” (Sons Urbanos)

podemos ir ouvindo alguns dos temas aincluir em “Mundo Ideal”, tais como“Miúdo” ou “Desafio Principal”. Assim,

enquanto não chega o disco, é só estaratento aos aperitivos que a banda vaiservindo no seu “my space”.

Bob Dylan vai actuar a 11 deJulho no Festival ‘Optimus Ali-ve!08’, que irá decorrer durantetrês dias no Passeio Marítimo deAlgés, em Oeiras.

O compositor norte-america-no irá actuar no mesmo dia queChris Cornell e os Within Temp-tation.

O autor de músicas como“Blowin´in the wind” e “The ti-mes they are a-changin” voltaassim a Portugal, depois de terpassado por Vilar de Mouros em2004.

Desde que começou em 1962com o disco homónimo, até 2006,ano em que lançou o último regis-to de originais “Modern Times”,Bob Dylan conseguiu alcançar 14discos de platina e 10 Grammys.

No dia 25 de Março, irá ocor-rer a ante-estreia em Portugal de“I´m not there”, o filme sobre avida de Bob Dylan, realizado porTodd Haynes e que conta com apartipação de Cate Blanchet nopapel do músico. O filme contaainda com Richard Gere e HeathLedger.

No primeiro dia do ‘FestivalOeiras Alive!08’ irão actuar osRage Against the Macinhe, Go-gol Bordello, Cansei de ser Sexy,The National e Spiritualized. O úl-timo dia do festival irá ficar mar-cado pelas actuações de NeilYoung, Ben Harper, DonavonFrankereiter e Gossip.

O bilhete diário custa 45 eu-ros, enquanto que o passe paraos três dias 80 euros.

Bob Dylan em Lisboa

O cantor canadiano LeonardCohen actua a 19 de Julho em Lis-boa, no âmbito de uma digressãomundial, pondo fim a 15 anos deausência nos palcos internacio-nais, anunciou o site oficial domúsico.

De acordo com o sitewww.leonardcohenfiles.com, a de-nominada “World Tour 2008-2009”passará por Lisboa a 19 de Julho eo concerto deverá ser ao ar livre,uma vez que está designado parao Passeio Marítimo, desconhecen-do-se o local exacto.

Desta digressão, destaquepara as actuações de LeonardCohen no festival Glastonbury, noReino Unido, a 29 de Junho, nofestival de jazz de Montreux, naSuíça, a 08 de Julho, no castelode Edimburgo, Escócia, a 16 de

Leonard Cohen vem cantara Portugal

Julho, e no festival de Benicas-sim, em Espanha, a 20 de Julho.

Na estrada, Leonard Cohenestará acompanhado pelos mú-sicos Roscoe Beck, Neil Larsen,Bob Metzger, Javier Mas, Chris-tine Wu, Rafael Gayol e DinoSoldo.

Ainda segundo o mesmo site,esta será a terceira vez que o can-tor e escritor canadiano actua emPortugal, depois de se ter estrea-do em 1985 e ter regressado em1988.

Leonard Cohen, 73 anos, éconsiderado um dos maiores es-critores de canções folk da se-gunda metade do século XX,autor de músicas que versamsobre amor, espiritualidade, reli-gião ou sexo, embrulhadas emsoturnidade, melancolia, cinismo

e provocação.Os álbuns “Songs of Leonard

Cohen” (1967), que inclui os te-mas “So long, Marianne” e “Sis-ters of Mercy”, e “Songs of loveand hate” (1971) são dois dosmais importantes da discografiade Cohen.

Em 2007, a editora Sony/BMGlançou versões remasterizadasdestes álbuns assim como de“Songs of a room” (1969), os trêsprimeiros discos da carreira deCohen.

Em 2001 lançou o álbum “TenNew Songs” e três anos depois“Dear Heather”.

Em 2006 publicou o livro depoemas “Book of longing”, o pri-meiro em 22 anos, para o qual ocompositor Philip Glass gravou umdisco com o mesmo nome.

Em Portugal estão publicadosos livros “Filhos da Neve” e “OJogo preferido”, o primeiro roman-ce de Cohen, escrito em 1963.

Judeu e monge budista, Leo-nard Cohen ingressou segunda-feira no Rock and Roll Hall ofFame, em nova Iorque, numa ce-rimónia apadrinhada por LouReed.

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20 DE 26 DE MARÇO A 8 DE ABRIL DE 2008OPINIÃO

Varela Pècurto

Cheguei ao tempo de esquecer a mi-nha vida passada na câmara escura como seu ambiente característico provoca-do pelos produtos químicos actuando so-bre os papéis durante a revelação à luzvermelha, também ela a criar mistério.Como optei pela carreira fotográfica viviessas horas sem sacrifício. Foram sorti-légios destes que me levaram à decisãode a seguir.

Mas são as exposições, corolário detoda a actividade de quem fotografa, re-vela e amplia, que mais lembramos.

Mostrar fotografias é partilhar emo-ções e transmitir mensagens mas fica-se exposto às críticas. Se estas forempassadas a letra de forma, o que de ne-gativos houver nelas, demorará a ser es-quecido. O necessário é serem isentas.

Ao longo dos anos guardei boa partedo que se escreveu sobre as exposiçõesque realizei e, em auto-avaliação, consi-dero-me satisfeito.

Umas melhores ou mais favoráveis doque outras, decidi hoje incluir neste es-paço um excerto da crítica de Carlos Fer-reira, publicada no jornal “Mirante”, re-ferente a uma exposição realizada emMiranda do Corvo, no já distante Janeirode 1989.

Faço-o em gesto de agradecimento,embora tardio, mas tranquilo pelo sim-ples – e curioso – motivo de não conhe-cer Carlos Ferreira.

Onde quer que este senhor esteja aquiestá o meu obrigado pelo entusiasmo queentão me incutiu, contribuindo para ou-tros agradáveis momentos que continueia viver até hoje.

Quanto ao livro sobre o concelho deMiranda do Corvo, referido na crítica, in-felizmente continua por publicar apesardo texto e gravuras estarem disponíveisda minha parte a custo zero, ressalvan-do o que mais recente se tem realizadono concelho, porque não está fotografa-do.

VARELA PÈCURTOEXPÕE FOTOGRAFIASEM MIRANDA DO CORVO- UM MANUALD’ARTE FOTOGRÁFICA

Esteve patente ao público no salãodos Bombeiros Voluntários uma expo-sição de fotografia de Varela Pècur-to, nome grande na arte fotográfica.

(...)Uma visita à presente exposição

exerce o mesmo efeito didáctico que odesfolhar de um bom manual de artefotográfica, dando mostra da obra deum artista que atinge a perfeição nas

A melhor crítica

técnicas que aborda desde os tons su-aves em «manhã branca», ao alto con-traste em «contraste», «soneca inter-rompida» e «beleza da noite»(*), pas-sando pelo contraluz em «à espera»e «a Sagres», a fotomontagem em «tra-gédia» e os fotogramas em «por ma-res nunca dantes navegados» e «Ma-nolete/Mima», mostrando sempre umperfeito domínio da luz, do enquadra-mento e da profundidade de campoque utiliza com especial mestria em«amarra», «moldura» e «eterna be-leza». A par com o integral domínioda técnica, Varela Pècurto apresentauma rara sensibilidade no modo comoaborda os vários temas, onde se des-taca, o retrato magnificamente execu-tado em «na roda do tempo» e «moci-dade distante», a sensualidade abor-dada de modo tão subtil em «prepa-rativos» a beleza em «o sonho da pe-quena bailarina» e «El toreador», anatureza morta a que consegue darexpressão e vida em «da morte liber-tados», o desporto em «furimotos», ofotojornalismo excelentemente trata-do em «o principal está salvo», o cap-tar quotidiano em «últimas recorda-ções», «viúva da Nazaré»(*), «curio-samente que justifica», «reguila» e«intervalo», o ciclo da vida em «des-tino marcado», a terceira idade em«semana» a mesma expressão capta-da no rosto de uma jovem em «Sílvia»,o grafismo em «Caracol»(*), «cachohumano» e «germinados», a interven-ção social em «Pobreza limpa» e«marginal», espantoso o contraste

entre «Eduardinho» e «Zé Ninguém»,o insólito em «a verdadeira e a falsa»e «diálogos», o movimento em «semparar»(*), bem como o «simples» cap-tar das condições naturais em «ma-nhã de nevoeiro» e «observatório».

Está a Associação para o Desen-volvimento e Formação Profissionalde parabéns por ter trazido até nósVarela Pècurto e uma mostra da suaobra da qual não posso deixar demencionar duas fotografias aindanão referidas e que são um verdadei-ro símbolo da arte fotográfica «ata-

lho»(*) e «o brinquedo dos pobres».

Carlos FerreiraIn Mirante, Fevereiro de 1989

N.A. Os títulos marcados com * fa-zem parte das 15 fotografias que me re-presentam no Museu de Arte Contem-porânea – Museu Chiado, Lisboa.

Este levou recentemente “Viúva daNazaré” à exposição “Batalha pelo Con-teúdo” no Museu do Neo-Realismo emVila Franca de Xira.

“Viúva da Nazaré”,fotografia expostano Museu do Neo-Realismo,em Vila Franca de Xira

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21DE 26 DE MARÇO A 8 DE ABRIL DE 2008 OPINIÃO

Renato Ávila

Joséd’Encarnação

POIS...POIS...POIS...POIS...POIS...

João PauloSimões

FILATELICAMENTE

«O património culturalrepresenta o conjunto de todosos bens, materiais ou imateriais,que, pelo seu valor próprio,devam ser considerados deinteresse relevante para apermanência e a identidade dacultura de um povo, incluindo todosos vestígios de actividade humana noambiente físico».

Perguntei ao estudante (de Mes-trado!...) que assim me entregara otrabalho de casa porque é que subli-nhara certas palavras e as pusera decor diferente.

– Professor, era assim que esta-va lá!

“Lá” era no sítio da Internet, don-de – sem qualquer indicação de pro-veniência – fora copiada ipsis ver-bis esta passagem e, claro, a quasetotalidade do trabalho…

«Era assim que estava lá»…

É sem dúvida, uma das figuras mai-ores da prosa portuguesa do séculoXIX. A sua obra compõe um quadroda vida social portuguesa da regiãoEntre Douro e Minho, abrangendo di-versas camadas, desde o mundo ruralaté à boémia portuense, passando pe-los “brasileiros” endinheirados até àaristocracia arruinada.

Nasceu em Lisboa em 1825. Foi edu-cado por parentes devido à morte pre-matura de seus pais, vivendo em Trás-os-Montes a sua infância e adolescên-cia. É aí que começa a sua vida amo-rosa e parte para o Porto já casado,Coimbra, na tentativa de tirar Medici-na, regressa ao norte raptando umamulher com quem vive por pouco tem-po. Terá participado nas lutas da Patu-leia, até que se fixa no Porto.

Com uma vida difícil, ora com algu-ma ostentação, ora com bastantes di-ficuldades, Camilo Castelo Branco co-meça a escrever para jornais seguindoo romance folhetinesco. A sua obra tem

Centenáriodo Nascimentode Camilo Castelo Branco

um carácter dramático e de intrigas emque a vingança e a violência servemde pano de fundo. Este tipo de narrati-va vai ter o seu expoente com a obraAmor de Perdição onde se misturamtodos os ingredientes da tragédia como clima romântico desencadeado naimpossibilidade final do amor.

Camilo é autor de uma vasta obraque vai da novela ao conto, do roman-ce ao teatro, poesia polémica e cor-respondência.

Devido à sua cegueira e o facto deela o impedir de voltar a escrever, sui-

cida-se em São Miguel de Ceide, a 1de Julho de 1890.

(Baseado na Enciclopédia Larousevol. 5 do Círculo de Leitores)

A criação desta emissão de selos de-veu-se à construção de um monumento aCamilo Castelo Branco cuja receita re-verteria para este fim para comemorar ocentenário do seu nascimento. O primei-ro dia de circulação foi a 16 de Março de1925 mas só circularam nos dias 26, 27 e28 de Março desse ano para fins filatéli-cos. A emissão só voltou a circular em1934 com os valores de $04 $05 $06 $10$15 $20 $25 $30 $40 $50 $80 1$00 1$201$60 2$00 e 4$50, e em 1935 os valoresde $75 10$00 e 20$00.

Estes selos foram impressos por Wa-terlow & Sons Ltd. de Londres,em folhasde 100 selos com denteado 12,5 utilizan-do papel pontinhado em losangos. Toma-ram por base as taxas da anterior sériede Camões. Foram retirados de circula-ção a 1 de Outubro de 1945.

Fica aqui reproduzido o selo de $40 coma figura do escritor.

Chegámos como Cabral. À desco-berta dum mundo novo. Em vésperasde Domingo de Páscoa.

Encontrámos um país quase vir-gem. Úbere.

Encontrámos uma promessa. Umaoferta. Uma imensidão de terra e demar. De céu.

Porventura, um Paraíso.Doces e imensos canaviais balan-

çando à tórrida cadência da brisa tro-pical. Um terno azul de céu e de marbeijando alvíssimas e bonançosas prai-as bordadas de coqueiros. Magotes deesqueléticos casarios sumindo-se pormontes e vales, feitos de tudo e denada, de gente de pouco e de nada –dos neo-escravos da cana, dos “semterra”.

Visitámos o metropolitano Recife.Sonhámos em Olinda, esse preciosorelicário da mais genuína presençaportuguesa.

Vimos tudo isso. Sentimos muitomais.

Aquele olhar das crianças nordes-tinas. Tão longínquo e tão infinitamen-te próximo!

Qualquer coisa de misterioso. De

Novo Mundode vontade, de endémica fragilidadee de telúrica força, de natural doçurae de perpassante mágoa.

Profundas evocações de sertanejosavós, lírica altivez duma liberdade so-frida, radiosa esperança de sombrioshorizontes, fervente vontade de ven-cer a epidémica injustiça da pobreza.

Não vimos violência. Nem margi-nalidade. Vimos, sim, um povo à beirados caminhos duma próspera nação.

Talvez que isso explique o êxodo,os desesperados desmandos das fa-velas e da criminalidade desumana-mente reprimida.

Talvez que isso explique a injustiçaassociada à corrupção e às gritantesassimetrias sociais.

No olhar das crianças do Nordestevimos as límpidas profundezas daalma do Brasil.

Saibam os dirigentes de tão extra-ordinária nação compreendê-lo econstruir, de facto, o país novo.

Na Sé de Olinda, curvámo-nos pe-rante o túmulo de D. Hélder Câmarae com ele sonhámos um Brasil frater-no e solidário.

O Brasil de todas as crianças. De to-dos os sonhos. De todos os brasileiros.

Um verdadeiro novo mundo.inefável.

Um misto de vivacidade e melan-colia, de súplica e altivez, de infelici-dade e de esperança, de submissão e

Olinda

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22 DE 26 DE MARÇO A 8 DE ABRIL DE 2008INFORM@TICA

Por Helena de Sousa Freitas(Lusa)

Ascende, neste momento, aos 85 milmilhões o número de páginas guardadasno sítio do Internet Archive WaybackMachine, que há doze anos arquiva pá-ginas de milhões de espaços digitais, al-gumas delas portuguesas, para mostrara evolução da rede.

Entrando em http://www.archive.org/web/web.php encontra-se uma caixa depesquisa com um local para inserção doendereço cujo “passado se quer visitar”seguida de um botão intitulado “Take MeBack” (“Leva-me de Volta”), onde é ne-cessário carregar para aceder a umabase de dados com as várias versões daspáginas.

Além de possibilitar que os cibernau-tas revisitem versões antigas dos sítios,o Internet Archive permite que sejam es-tabelecidas ligações (“links”) para pági-nas que já não estão disponíveis nas suasantigas localizações, servindo o próprioendereço para mostrar em que data éque as mesmas foram obtidas.

Uma morada digital como http://web.archive.org/web/20000229123340/http://www.yahoo.com/ indica que a páginafoi guardada a 29 de Fevereiro de 2000, às12 horas, 33 minutos e 40 segundos.

A apresentação das páginas ao públicotem sempre um lapso temporal de seis me-ses – o que significa que, neste momento,só estão disponíveis para consulta ficheirosarquivados até meados de Setembro de 2007– mas permite recuar até 1996, ano em quea Internet estava a chegar a Portugal.

No caso do sítio da agência Lusa(www.lusa.pt), só no que respeita a primei-ras páginas há 600 ficheiros arquivados (oano de 2005 lidera, com 284 registos), sen-do o mais antigo datado de 29 de Março de1997, o que permite passar em revista uma

Internet Archive guarda páginas digitais desde 1996

década de destaques que a Lusa teve noseu sítio na Internet.

O mesmo é possível fazer com os es-paços digitais de outros órgãos de co-municação, de diversas instituições e departiculares, sendo de salientar que atéos blogues estão abrangidos por esta ló-gica arquivística.

Os 85 mil milhões de páginas guarda-das ocupam 2,5 petabytes (o equivalente a3,5 milhões de CD) e o arquivo cresce aoritmo mensal de 20 terabytes (o espaço decerca de 30 mil CD).

Em declarações à Agência Lusa a partirde São Francisco, na Califórnia, BrewsterKahle, fundador do Internet Archive, reve-lou ter-se dedicado “a construir uma grandebiblioteca digital em 1980, quando estava naescola de engenharia”.

“A ideia era tentar solucionar um proble-ma: que contributo positivo para o futuropoderíamos dar usando a tecnologia”, con-tou o responsável, que pensou então na pos-sibilidade de “construir uma segunda ver-são da Biblioteca de Alexandria”.

Kahle acredita que, “se o acesso univer-sal a todo o conhecimento for algum dia al-cançado, poderá ser um dos grandes feitosda Humanidade”.

Outros dos objectivos passam por salva-guardar informações divulgadas na Inter-net que, de outra forma, poderiam perder-se ao longo do tempo e permitir que gera-ções futuras analisem como foi evoluindo agrande rede em termos de design, conteú-dos, interactividade, etc.

“A maioria das sociedades preocupa-secom a preservação de artefactos culturaise património e, sem eles, a civilização nãotem memória nem mecanismos para apren-der com os sucessos e falhas” e, como “anossa cultura produz cada vez mais arte-factos digitais”, a missão do Internet Ar-

chive é “ajudar a preservar esses artefac-tos e criar uma biblioteca online para in-vestigadores, historiadores e académicos”,lê-se no sítio.

“Milhões de pessoas que usam a Net nassuas pesquisas encaram a disponibilidade dainformação digital como uma garantia maso ‘tempo médio de vida’ de uma página éde 44 a 75 dias, o que significa que ela podeser retirada do ar ou sofrer alterações en-quanto permanece online (como aconte-ce em metade dos casos)”, alertam os res-ponsáveis do espaço, com vista a expli-car a importância do seu arquivo, que sóem 2007 angariou 2 mil milhões de pági-nas, graças ao apoio da norte-americanaMellon Foundation.

Para manter organizada esta gigantescabiblioteca virtual, o Internet Archive – quetrabalha directamente com “12 bibliotecasnacionais e 30 bibliotecas de universidades”– tem colaboradores em países como “Fran-ça, Itália, Austrália, Japão ou Inglaterra”,afirmou Brewster Kahle à Lusa.

Segundo o fundador do espaço, os cola-boradores são quem “direcciona os craw-lers [robots que procedem a buscas na In-ternet] para obterem materiais importantes”,embora qualquer utilizador possa contribuircom informação digital que considere terinteresse para as gerações futuras.

O programa utilizado para fazer a reco-lha é o Alexa Internet, cujos robots vão cap-turando cópias das páginas, excepto se es-tas tiverem uma indicação para que os ro-bots as evitem ou estiverem protegidas porpalavras-passe.

Caso alguém tenha um sítio na Net queainda não figura no Internet Archive, podevisitar a página “Webmasters” do Alexa emhttp://pages.alexa.com/help/webmasters/index.html#crawl_site e, após submeter orespectivo endereço, a página será visitada

pelos robots no prazo máximo de oito se-manas e passará a figurar no arquivo den-tro de seis meses.

Assim como possibilita adições, o Inter-net Archive também permite que o respon-sável por um sítio solicite a retirada das suaspáginas do arquivo.

O sítio disponibiliza ainda arquivos temá-ticos acerca das eleições de 2000 e de 2002nos Estados Unidos e sobre assuntos muitomediáticos, como o tsunami no Sudeste Asi-ático em 2004, a acção do furacão Katrina,que afectou a região de Nova Orleães nofinal de Agosto de 2005, ou os atentados de11 de Setembro de 2001.

Em relação ao maremoto que afectoupaíses como a Indonésia, o Sri Lanka ou aTailândia em Dezembro de 2004, o InternetArchive coligiu informação de mais de 1.500sítios, tendo uma imagem destas páginas sidocaptada semanalmente desde a primeirasemana de Janeiro de 2005.

No que se refere ao furacão Katrina, oInternet Archive e vários colaboradores in-dividuais reuniram uma vasta lista de sítiospara criar um registo histórico da devasta-ção e do auxílio que se lhe seguiu, dandoorigem a uma colecção com 25 milhões depáginas únicas.

Existe também uma colecção intitulada“pioneiros da Net”, em que estão agrupa-dos sítios que tiveram algum papel de des-taque nos primeiros tempos da rede, poisestes “dão um testemunho da diversidade eingenuidade da Internet” nos seus primórdi-os, segundo os fundadores do arquivo.

A ideia original do Internet Archive Way-back Machine data de 1996 mas o espaçoapenas ficou disponível ao público em 2001,quando o arquivo já tinha mais texto do quemuitas grandes bibliotecas do mundo (in-cluindo a norte-americana Biblioteca doCongresso).

A Associação Nacional deSoftware Livre vai assinalar hoje(quarta-feira, 26 de Março), o Diados Documentos Livres, umadata criada para celebrar, a nívelglobal, “a libertação documental”e para promover o uso de pro-gramas informáticos de códigoaberto.

O convívio, promovido pelaAssociação Nacional de Softwa-re Livre, nos jardins da zona Nor-te do Parque Expo, em Lisboa,insere-se num conjunto de acçõesque terão lugar em vários pontosdo mundo para comemorar o Diados Documentos Livres (Docu-ment Freedom Day), que foi ini-ciado e é apoiado por organiza-ções e companhias como a Fun-

Comemora-se hojeo Dia dos Documentos Livres

dação do Software Livre - Euro-pa, a Aliança do Formato do Do-cumento Aberto, o Fórum Aberto- Europa, a IBM, a Red Hat e aSyn Microsystems.

A data “servirá de ponto glo-bal de reunião para a LibertaçãoDocumental e Standards Aber-tos” e funcionará como mais umaoportunidade para “levantar abandeira” desta causa, afirma aAssociação em comunicado.

De acordo com a AssociaçãoNacional de Software Livre,além do convívio entre entusias-tas dos formatos abertos, o en-contro vai permitir esclarecer acuriosidade das pessoas que de-sejem saber mais, “quer por con-versa quer pela distribuição de

panfletos”.A propósito do dia, a Associa-

ção cita Marino Marcich, direc-tor-geral da Aliança do Formatodo Documento Aberto, paraquem “a libertação documentalsignifica que será possível criar,trocar e preservar documentoselectrónicos sem necessitar decomprar software de um forne-cedor em particular”.

Em Portugal, a 4 de Outubrode 2007 foi aprovada na Assem-bleia da República uma resoluçãoque reconhece a liberdade de es-colha dos cidadãos no acesso àsua documentação e em que esteórgão de soberania se comprome-te a usar normas abertas para osdocumentos que publica.

A visualização a três dimensões de todas as capitais dedistrito portuguesas vai ser possível, graças a uma aplicaçãoapresentada no passado dia 10 e na qual já se pode “visitar”nove cidades nacionais.

A aplicação está disponível ao público através da páginahttp://maps.live.com e resulta de um acordo entre o Governoe a Microsoft para melhorar os conteúdos da plataforma in-formática Vitual Earth no que respeita a Portugal.

Esta aplicação, acessível num computador normal ligado àInternet, já possibilita ver no ecrã o que se pode observarnuma viagem ao longo do país, previamente definida nas fer-ramentas do programa, apresentado numa cerimónia realiza-da no Ministério do Ambiente, em Lisboa.

O sistema desenvolvido em Portugal é considerado dos maisavançados a nível mundial e tem como característica únicacobrir todo o território com uma definição de imagem igual e atrês dimensões, incluindo as regiões autónomas dos Açores eda Madeira.

As nove cidades que podem ser vistas em alta definição,para já, são: Lisboa, Porto, Braga, Guimarães, Aveiro, Coim-bra, Leiria, Setúbal e Faro.

Portugal a 3 D

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23DE 26 DE MARÇO A 8 DE ABRIL DE 2008 INTERNET

IDEIAS DIGITAIS

Inês AmaralDocente do Instituto Superior Miguel Torga

BIBLIOTECA EUROPEIA

SEM PAPEL

WEBNODE

ALLNATIONALANTHEMSFULL READ

ILUSTRAÇÃO PORTUGUESA

O projecto Biblioteca Europeia teve início em 2005e tem como objectivo reunir recursos a nível europeu.No site é possível aceder a recursos de 47 bibliotecasde vários países europeus, em 20 línguas diferentes.

A ideia é permitir o acesso a conteúdos em váriaslínguas, reunindo vários tipos de recursos e arquivosdos diferentes países do Velho Continente. Até ao mo-mento existem cerca de 150 milhões de entradas. Osite está em permanente actualização e apresenta tan-to documentos integrais em formato digital como refe-rências bibliográficas, de conteúdos que ainda não es-tão online. É possível navegar por vários tipos de co-lecções, consultar o nosso histórico de pesquisas e atéfazer uma base de dados de conteúdos favoritos.

BIBLIOTECA EUROPEIAendereço: http://www.theeuropeanlibrary.org/portal/index.htmlcategoria: História

Sem Papel é um site que ajuda o utilizador a encon-trar “o papel”. Podendo ser uma metáfora para váriascoisas, o significante resume um espaço para divulga-ção de emprego. O significado da metáfora será o queo utilizador quiser.

Na realidade, Sem Papel é mais um site de anúnci-os de emprego. Para já, feito por alguém que procuratambém emprego para si. Há também secções de no-tícias e de divulgação de concursos. O design é atrac-tivo, ou não fosse o seu autor um freelancer na área dodesign da comunicação. É mais um site como tantosoutros, sim. Mas vale uma visita.

SEM PAPELendereço: http://www.sempapel.netcategoria: emprego

O conceito é simples: guardar para ler mais tar-de. Mas voltemos ao início: o Fullread é uma inte-ressante aplicação que permite aos seus utilizado-res guardarem informação que encontraram na webe pretendem ler mais tarde. A eterna falta de tempoe a teia imensa que é a rede tornam este serviçoindispensável.

Existem outras aplicações que, aparentemente,contradizem o Fullread. Mas na realidade, nem porisso. O social bookmarking ou os sistemas de agre-gação de conteúdos não são contrários a este ser-viço, já que o Fullread tem a inovação de guardaros conteúdos e ainda interagir com os feeds RSS eAtom. Em conclusão, este serviço permite-nos guar-dar informação que na realidade muitas das vezesfica apenas catalogada em qualquer outro tipo deaplicação ou mesmo nos favoritos do computador.

FULLREAD

endereço: http://fullread.comcategoria: serviços

O weblog Ilustração Portuguesa reproduz re-vistas antigas. Na rede desde 2006, este espaço temcerca de 1850 entradas, todas classificadas com da-tas de publicação e identificação da revista que éreproduzida.

Trata-se de um autêntico arquivo digital e a au-tora avisa que no Ilustração Portuguesa se podeencontrar «scans da revista Fungagá da Bicha-rada, da Gente, da Ilustração, da Ilustração Por-tugueza, do Cinéfilo, do Século Ilustrado, darevista brasileira Fon Fon, da revista venezue-lana Les Enfants». E muito mais.

ILUSTRAÇÃO PORTUGUESA

endereço: http://revistaantigaportuguesa.blogspot.comcategoria: ilustração, arquivo

Este site reúne os hinos de todos os países. Oupelo menos é esse o objectivo. Para já estão regis-tados os hinos de 185 países. Portugal tambémmarca presença.

Clicando num mapa interactivo, o utilizador podeseleccionar o país do qual pretende ouvir o hino. Osite apresenta informações relativas a cada hino epaís, tendo como fonte de informação a Wikipedia.Os hinos remetem directamente para o YouTube.

ALLNATIONALANTHEMS

endereço: http://www.allnationalanthems.comcategoria: História

A Web 2.0 traduz o foco no utilizador e a facili-dade de utilização de ferramentas anteriormente en-tendidas como apenas manuseáveis por “especia-listas”. O Webnode é mais um serviço da novageração da Internet que permite a qualquer pessoaconstruir e alojar gratuitamente um site.

O Webnode é muito simples de utilizar. Atravésde uma barra de ferramentas, o utilizador pode de-finir quais os elementos que pretende dispor no seusite. É possível implementar com grande facilidadegalerias de imagens, sistemas de votação,m fóruns,mapas, vídeos e widgets dos principais serviços daweb (como o Flickr, Paypal e Adsense). O utiliza-dor pode ainda ter o número de secções no seu siteque entender, para além dos conteúdos poderem sercomerciais. Uma excelente aplicação para quemnão tem conhecimentos de software e pretende umsite à sua medida.

WEBNODE

endereço: http://www.webnode.com/encategoria: web development

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24 DE 26 DE MARÇO A 8 DE ABRIL DE 2008TELEVISÃO

PÚBLICA FRACÇÃO

Francisco [email protected]

TELEVISÃOE PROFESSORES

Ainda os professores. Os professoresna televisão.

Depois da gigantesca manifestação deprotesto com cerca de 2/3 do total de

professores existentes em Portugal, atelevisão (as televisões...) não largamos professores. No dia da manifestaçãohouve directos, aliás como se impunha,mas as primeiras reacções que surgi-ram nos écrans, em particular na esta-ção pública, foram abertamente agres-tes para a classe docente. Na RTP-N,ainda os manifestantes estavam peloTerreiro do Paço, já um comentarista,um tal Dr. Amorim, apresentado no orá-culo como jurista, rezingava nos estúdi-os contra “aquela gente” com a qual elenão se identificava, já que também ele

era professor.E qual o motivo de tanta falta de “iden-

tificação”? Primeiro porque o senhor éjurista e só depois deve ser professor.Segundo, e determinante factor: a tele-visão andou todo o tempo à procura defiguras bizarras (mascarados, gente es-tranha, cartazes obtusos, ...), de imagens

de impacto e escondeu a verdade, isto é,a minha irmã, que em trinta e sete anosde trabalho como professora estavanuma manifestação pela primeira vez. Enão ia mascarada...

Há dias, ainda se mantinha o eco damanifestação daquela tarde cinzenta eventosa de um sábado, a SIC-Notíciaslevou a estúdio Maria Filomena Mónica,socióloga, que foi professora da ministrada Educação. A socióloga, que estevenas ruas naquela tarde, contou o que viu.E do que ela viu, pouco as televisõesmostraram. Os professores, seres huma-nos como outros quaisquer, com quemnos cruzamos nas lojas, nos cafés, na

“loja do cidadão” ... , embora com tudoo que se tem passado, não seja de estra-nhar que lhes retirem o direito a entrarem tais sítios.

Finalmente, o fim-de-semana prolon-gado da Páscoa ficou marcado pelo ví-deo divulgado pela SIC mostrando umacena impensável, mas real (!), passadanuma sala de aula da Escola CarolinaMichaelis, no Porto. A “stôra” de Fran-cês do 9.º C tirou um telemóvel a uma“discente” (é bom não esquecer o “edu-quês”) que o tinha indevidamente na sala.A rapariga levanta-se e tenta reaver o

telemóvel. A professora diz-lhe para elase sentar. Não senta. “Dá-me o telemó-vel !”, guincha a discentinha com corpopara cilindrar a “francesa”. A partir da-qui valerá tudo. Empurrões, gritos, a tur-ma ululante. Retenho a imagem da pro-fessora, por duas vezes, a tentar chegarà porta para pedir auxílio. Em vão. Pri-

meiro, e impedida pela discente em cau-sa que, provavelmente, como ficará de-monstrado, agiu legitimamente para ten-tar reaver o telemóvel que, vejam bem,a professora tivera a coragem de lhe re-tirar para não perturbar a aula. Depois,pela turma esbaforida, que tudo empur-

ra, enrodilha a “stôra” e a faz desapare-cer no meio do magote.

O vídeo, captado por outro aluno (?)com outro telemóvel dentro da sala, foicolocado na internet através do YouTu-be. Os comentários, alarves, mostram oque se passa em muitas escolas. “Sai dafrente ... sai da frente” ... “Ó gorda, ópachona ... sai daí” ... “Olha a velha vaicair ...”, “altamente ... ahahahah”. Tudoacompanhado pelos guinchos estridentesda menina que não se calava: “DÁ-MEO TELEMÓVEL!”.

O Expresso online colocou-o na suapágina e vinte e quatro horas depois játinha sido visto por mais de 50.000 pes-soas. A SIC puxou-o para o Jornal daNoite e a Educação em Portugal, feliz-mente, não sai da agenda. Só falta es-clarecer o Dr. Emídio Rangel sobre quemsão os verdadeiros “hooligans”... *

O BALANÇO(OU A BALANÇA ?)DO PROVEDOR

Foi entregue o relatório anual do pro-vedor do Telespectador, Paquete de Oli-veira, documento entregue dirigido àEntidade Reguladora para a Comunica-ção Social (ERC).

Em 2007, o provedor recebeu mais de12 mil mensagens. No total, 250 referi-am-se a temas relacionados com objec-tividade e exactidão. Destas, 190 foramcríticas desfavoráveis e 55 constituíramqueixas.

As queixas estão mais associadas àinformação do que à programação. Osespectadores acusam a parcialidade nainformação. “ A RTP, segundo os teles-pectadores, privilegia um ou outro tema,um ou outro partido político ou clube defutebol. Um “tempo excessivo dedicadoa um assunto” e “incorrecções ou exa-geros na cobertura de notícias em situa-ções de directo” foram outras críticas

apontadas à objectividade, segundo orelatório de Paquete de Oliveira.

O provedor concluiu que o progra-ma Prós e Contras é o mais visadonas considerações. Peca essencialmen-te pela “falta de diversidade na esco-lha do painel de convidados”. É tam-bém evidente que o primeiro canal daRTP é o que mais representa o serviçopúblico, sendo o maior alvo das men-sagens dos telespectadores.

A programação foi o segundo aspec-to mais criticado, depois da informação.Alterações na grelha, horários tardios ea interrupção da emissão de séries e no-velas são acontecimentos que tambémnão agradam aos telespectadores daRTP. Paquete de Oliveira defende ostelespectadores e acrescenta que é“inadmissível” que a RTP seja o opera-dor “que mais transgride o cumprimentode horários”, segundo os dados da ERC.

Outros canais da estação pública tam-

bém foram alvo de reflexão. O provedorlança o aviso de que a RTP1 e a RTP2têm de ter uma articulação “mais explí-cita”, pois “os méritos da RTP2 não apa-gam os deméritos da RTP1”.

A RTPi e RTP África devem ser re-vistas. “Está em causa a imagem dePortugal no mundo e nos países de ex-pressão lusófona”. O provedor defendepara estes canais e para a RTP Memó-ria “uma orçamentação própria”.

A programação da RTP internacionaltem sido alvo de críticas “altamente ne-gativas” por parte dos portugueses es-palhados pelo mundo. A RTP Memória,segundo o relatório, deve fazer “um maisinteligente aproveitamento do preciosotesouro audiovisual que tem acumuladoao longo destes 50 anos”.

Este relatório, será agora discutidona Assembleia da República. O pro-vedor encerra em Abril o seu mandatode dois anos.

* Emídio Rangel, na sua crónica ha-bitual no Correio da Manhã, ainda amanifestação dos professores não ti-nha saído para a rua, já os apelida-va de “hooligans” ...

Paquete de Oliveira