o centro - n.º 48 – 09.04.2008

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DIRECTOR JORGE CASTILHO | Taxa Paga | Devesas – 4400 V. N. Gaia | Autorizado a circular em invólucro de plástico fechado (DE53742006MPC) ANO III N.º 48 (II série) De 9 a 22 de Abril de 2008 1 euro (iva incluído) Telef.: 239 854 150 Rua da Sofia, 95 - 3.º - 3000-390 COIMBRA Estudantes estrangeiros cozinharam em Coimbra MULTICULTURALISMO 17 DE ABRIL DE 1969 PÁG. 14 VIOLÊNCIA ESCOLAR EM DEBATE NA AR PÁG. 20 PÁG. 7 (des)Acordo Ortográfico continua polémico Ministro rejeita intervenções policiais A “lenda” de José Hermano Saraiva... PÁG. 4 PÁG. 3 PÁG. 3 O “Centro” completa agora o segundo aniversário. Tal como o Manel, cuja imagem nos enche esta página, nasceu em Abril e nasceu em Coimbra, tornando-se a feliz concretização de um sonho. Com o sorriso franco do Manel queremos simbolizar a esperança no futuro e a gratidão a quantos nos apoiam nesta caminhada

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Versão integral da edição n.º 48 do quinzenário “O Centro”, que se publica em Coimbra. Director: Jorge Castilho. 09.04.2008. Visite outros sítios de Dinis Manuel Alves em www.mediatico.com.pt , www.slideshare.net/dmpa, www.youtube.com/mediapolisxxi, www.youtube.com/fotographarte, www.youtube.com/tiremmedestefilme, www.youtube.com/discover747 , http://www.youtube.com/camarafixa, , http://videos.sapo.pt/lapisazul/playview/2 e em www.mogulus.com/otalcanal Ainda: http://www.mediatico.com.pt/diasdecoimbra/ , http://www.mediatico.com.pt/redor/ , http://www.mediatico.com.pt/fe/ , http://www.mediatico.com.pt/fitas/ , http://www.mediatico.com.pt/redor2/, http://www.mediatico.com.pt/foto/yr2.htm , http://www.mediatico.com.pt/manchete/index.htm , http://www.mediatico.com.pt/foto/index.htm , http://www.mediatico.com.pt/luanda/ , http://www.biblioteca2.fcpages.com/nimas/intro.html

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Page 1: O Centro - n.º 48 – 09.04.2008

DIRECTOR JORGE CASTILHO

| Taxa Paga | Devesas – 4400 V. N. Gaia |Autorizado a circular em invólucrode plástico fechado (DE53742006MPC)

ANO III N.º 48 (II série) De 9 a 22 de Abril de 2008 � 1 euro (iva incluído)

Telef.: 239 854 150Rua da Sofia, 95 - 3.º - 3000-390 COIMBRA

Estudantesestrangeiroscozinharamem Coimbra

MULTICULTURALISMO 17 DE ABRIL DE 1969

PÁG. 14

VIOLÊNCIA ESCOLAR EM DEBATE NA AR

PÁG. 20PÁG. 7

(des)AcordoOrtográficocontinuapolémico

Ministrorejeitaintervençõespoliciais

A “lenda”de JoséHermanoSaraiva...

PÁG. 4

PÁG. 3

PÁG. 3

O “Centro” completa agora o segundo aniversário. Tal como o Manel, cuja imagem nos enche esta página, nasceu em Abrile nasceu em Coimbra, tornando-se a feliz concretização de um sonho. Com o sorriso franco do Manel queremos simbolizara esperança no futuro e a gratidão a quantos nos apoiam nesta caminhada

Page 2: O Centro - n.º 48 – 09.04.2008

2 DE 9 A 22 DE ABRIL DE 2008PUBLICIDADE

Page 3: O Centro - n.º 48 – 09.04.2008

3DE 9 A 22 DE ABRIL DE 2008 EDITORIAL

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Neste trabalho, Zé Penicheiro,com o seu traço peculiar e a incon-fundível utilização de uma invulgarpaleta de cores, criou uma obra quealia grande qualidade artística a umprofundo simbolismo.

De facto, o artista, para represen-tar a Região Centro, concebeu umaflor, composta pelos seis distritos queintegram esta zona do País: Aveiro,Castelo Branco, Coimbra, Guarda,Leiria e Viseu.

Cada um destes distritos é repre-sentado por um elemento (remeten-do para o respectivo património his-tórico, arquitectónico ou natural).

A flor, assim composta desta for-

ma tão original, está a desabrochar,simbolizando o crescente desenvolvi-mento desta Região Centro de Portu-gal, tão rica de potencialidades, de His-tória, de Cultura, de património arqui-tectónico, de deslumbrantes paisagens(desde as praias magníficas até às ser-ras imponentes) e, ainda, de gente hos-pitaleira e trabalhadora.

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Jorge [email protected]

(Re)nascer em Abril

O “Centro” completa dois anos nestemês de Abril.

Por isso, a primeira página desta edi-ção é diferente. Em vez de uma qual-quer manchete bombástica, e numa op-ção que desejo repleta de simbolismo,escolhi uma imagem do Manel.

Porque o Manel também nasceu emAbril e também nasceu em Coimbra.

Mas não se esgotam aí as coincidên-cias e os aspectos simbólicos.

O Manel é fruto de um acto de gran-de amor, de invulgar persistência, deenorme sacrifício.

Obra prima de um casal que nunca de-sistiu do sonho de ter filhos, mesmo quepara isso a Mãe se tivesse sujeitado a do-lorosos tratamentos e com o Pai partilhas-se angústias indescritíveis numa sequên-cia de sofridos fracassos ao longo de anos.

Foi na Quinta das Lágrimas, quando

se preparava o caminho para a chegadade uma outra linda Inês (que saudades!),que desafiei aquele casal a vir do Norteaté Coimbra, pois muitos outros aqui ti-nham encontrado a concretização dosonho através da ciência do Prof. Agos-tinho Almeida Santos.

Eles aceitaram o desafio e o Mestrefez mais um “milagre”!

A Mãe Ana acreditou, abdicou dasua intensa actividade profissional, su-jeitou-se a todas as imposições, nomea-damente a de ficar meses internada,em repouso absoluto, para que não sevoltasse a gorar a esperança. O PaiPaulo conduziu muitos milhares dequilómetros, vindo quase todos os diasdo Minho até Coimbra, para dar apoio(aliás, toda a Família se organizou e mo-bilizou para que a Ana, aqui “desterra-da”, nunca se sentisse só).

Este invulgar empenhamento teve amerecida recompensa quando o Manelnasceu. E sei que para os Pais é uma fe-licidade enormíssima, insuperável, abra-çá-lo, beijá-lo, vê-lo crescer e ajudá-lo a

tornar-se num ser humano exemplar.

Que fique claro que não quero esta-belecer comparações insensatas entrecoisas incomparáveis.

Mas devo confessar que o processoque levou ao nascimento do Manel foiuma eloquente lição de vida que metransformou alguns conceitos e me temajudado a não desistir em ocasiões demaior desânimo.

Daí a relação do Manel com o apare-cimento deste jornal – que surgiu tam-bém, justo é aqui referi-lo, mercê doapoio, da colaboração e do estímulo dealguns Familiares e Amigos, aos quaissempre estarei muito grato.

Além do já dito, outras razões justifi-cam eleger o Manel como um símbolo(e espero que os Pais me perdoem esteabuso!). É que ele nasceu a 17 de Abril,uma data que é marcante para Coimbrae para uma geração inconformada, poisfoi neste dia, em 1969 (há já tanto tem-po?!), que a Academia aqui ousou en-

frentar um regime despótico, assim lan-çando as sementes de liberdade que vi-riam a germinar cinco anos mais tarde.

E é bom que se não esqueça a gene-rosidade de quem tanto arriscou nessalongínqua Primavera.

Sobretudo quando há quem tenha odesplante de dizer que o “17 de Abril de1969” não passa “de uma lenda” – comohá dias (re)afirmou José Hermano Sarai-va, despudoramente, já que era então eleo Ministro da Educação da ditadura, e foiele quem esteve na origem (ou, pelo me-nos, pactuou) com a vaga de violência lan-çada sobre os estudantes de Coimbra.

A essa “lenda” se alude mais à frente,nesta edição, para combater os “historia-dores” que pretendem apagar a memória...

E porque também de memória se cons-trói o futuro, essa evocação da “CriseAcadémica de 1969” é um testemunhoque fica para o Manel, para a Inês e paratantos outros que se preparam para a vidae merecem que lhes leguemos um mun-do melhor, mais justo e mais solidário.

Page 4: O Centro - n.º 48 – 09.04.2008

4 DE 9 A 22 DE ABRIL DE 2008HISTÓRIA

Há dias, numa entrevista ao jornal“A Cabra” (órgão da Associação Aca-démica de Coimbra), José HermanoSaraiva afirmou que a Crise Académi-ca desencadeada em 17 de Abril de

prometera, e sendo por isso vaiado pelosestudantes – coisa nunca antes vista!...

Os estudantes da UC fizeram a suaprópria cerimónia inaugural, manifestan-do a discordância com a política do Go-verno de então (que tinha como Ministroda Educação o historiador, e posterior-mente apresentador de televisão, JoséHermano Saraiva).

Nesse mesmo dia a PIDE/DGS (polí-cia política) prendia dezenas de dirigen-tes da AAC e outros estudantes.

Em sinal de protesto contra as medidasrepressivas do regime, a Academia deCoimbra (então composta por cerca de 8mil alunos) decidiu, em Assembleia Mag-na em que participaram mais de 5 mil es-tudantes, fazer greve geral aos exames.

O Governo tentou boicotar essa gre-ve, e no dia 1 de Junho de 1969 (data doinício dos exames nas diversas Faculda-des) a cidade de Coimbra foi invadidapor grandes contingentes de forças es-peciais da GNR (em viaturas militares ea cavalo) e pela “Polícia de Choque” daPSP, que cercaram toda a zona da Uni-versidade com dois objectivos: destroçar,pela força, os piquetes de greve feitospelos estudantes; e escoltar os alunos quedecidiram “furar” a greve geral (umapercentagem muito reduzida).

Assim se agudizou o processo queficou conhecido como “Crise Acadé-mica de 69”, com o movimento estu-dantil de Coimbra a assumir tamanhasproporções que foi impossível o regi-me abafar o que estava a passar-se,pese embora as violentas cargas poli-ciais que se repetiram contra os estu-dantes – e de que a própria popula-ção não raro foi também vítima. Acensura prévia impedia as notícias nosórgãos de comunicação social nacio-nais, que tentavam dar conta da situa-ção nas entrelinhas… Mas as rádiose os jornais estrangeiros deram gran-de destaque a esse movimento queacabaria por forçar Marcelo Caetanoa substituir o Ministro da Educação e

Alberto Martins (de pé, em primeiro plano), ousa levantar-see pedir para falar na cerimónia, em nome dos estudantes de Coimbra,sabendo os riscos que lhe podia custar (e custou!...) o atrevimento

Tomás levanta-se e depois de longos momentos de hesitação diz que sim, mas sódepois de ter usado da palavra o Ministro. Ao lado do Presidente está o entãoMinistro da Educação, José Hermano Saraiva (o segundo do lado direito da foto)

Tomás abandona a sala,com os estudantes a chamar-lhementiroso, por não ter cumprido apromessa feita ao Presidente da AAC

Alberto Martins dicursa após o Presidente da República ter abandonado a sala.Pouco depois era preso pela PIDE/DGS (policia política do regime) juntamente comdezenas de outros dirigentes estudantisz

Após a “fuga” de Tomás, estudantes manifestam-se à porta do novo Departamentode Matemática. Estava iniciada a Crise Académica de 1969, que iria mudar o País.

17 de Abril de 1969 - ou a “lenda”do ex-Ministro José Hermano Saraiva

1969 não passava “de uma lenda”. Umdesrespeito à verdade, tanto mais gra-ve quanto vem de alguém que se inti-tula historiador e que, ainda por cima,era, na época, o Ministro da Educa-ção, tendo sido um dos responsáveispelo que então se passou.

Para os que não sabem o que acon-teceu, aqui fica um relato sintético, demolde a fazer justiça a quantos forampresos, agredidos e viram o seu futu-ro prejudicado:

A 17 de Abril de 1969 era inauguradoo edifício do Departamento de Matemá-tica da Universidade de Coimbra.

O então Presidente da AAC, AlbertoMartins (actual líder da bancada socia-lista na Assembleia da República), ape-sar de ver rejeitado, dias antes, o pedidoao Reitor para intervir na sessão, ousoulevantar-se e pedir a palavra.

O Presidente da República, AméricoTomás, levantou-se, perplexo com a ou-sadia do Presidente da AAC, e depoisde sepulcral silêncio que durou largossegundos, balbuciou: “Está bem. Masantes fala o sr. Ministro…”.

Mal o Ministro acabou o discurso, o Chefedo Estado abandonou a sala, fugindo ao que

a permitir reformas no sector.Apesar disso, os líderes estudantis,

depois da prisão, foram forçados a in-terromper os seus cursos e a ingres-sar nas Forças Armadas, tendo sidoespalhados por vários quartéis do País.

Aí encetaram um trabalho de sensibi-lização e politização de muitos dos mi-litares do quadro, pelo que, desta for-ma, tiveram importante contributo parao Movimento das Forças Armadas queviria a depor o regime cinco anos maistarde, a 25 de Abril de 1974, através

de um golpe militar que devolveria aLiberdade ao País, que de então paracá vive em Democracia.

Este um relato objectivo dos factos,tal como os testemunhei, e que demons-tram que a “lenda” de Saraiva é um con-

denável desrespeito pela verdade e pelocorajoso acto de muitos jovens que ou-saram enfrentar o regime ditatorial.

Quase 40 anos volvidos, José Herma-no Saraiva continua, lamentavelmente, aquerer iludir a História!...

Jorge Castilho

Page 5: O Centro - n.º 48 – 09.04.2008

5DE 9 A 22 DE ABRIL DE 2008 CENTRO

Director: Jorge Castilho(Carteira Profissional n.º 99)

Propriedade: AudimprensaNif: 501 863 109

Sócios: Jorge Castilho e Irene Castilho

Inscrito na DGCS sob o n.º 120 930

Composição e montagem: AudimprensaRua da Sofia, 95, 3.º - 3000-390 CoimbraTelefone: 239 854 150 - Fax: 239 854 154

e-mail: [email protected]

Impressão: CIC - CORAZEOliveira de AzeméisDepósito legal n.º 250930/06

Tiragem: 10.000 exemplares

1 — De acordo com o estipu-lado pela Lei de Imprensa, o“CENTRO” define-se como umapublicação periódica informativaque privilegiará a informação geral,sem abdicar da informação espe-cializada nas áreas em que tal sejustifique — e salvaguardando sem-pre um cariz não doutrinário.

2 — O “CENTRO” obedece-rá a critérios de verdadeiro plura-lismo, completa insenção e totalapartidarismo, mantendo intransi-gente independência relativamente apoderes ou grupos políticos, eco-nómicos, religiosos ou quaisqueroutros.

3 — O “CENTRO” pugnarápela dignificação do jornalismo,obedecendo aos princípios éticos edeontológicos que regem esta pro-fissão e comprometendo-se a res-peitar, sob a responsabilidade doseu Director, a legislação que lhe éaplicável.

4 — O “CENTRO” tem comoobjectivo fundamental satisfazer odireito dos cidadãos a serem in-formados, procurando que o con-teúdo de cada uma das suas edi-ções se paute pela honestidade,pelo equilíbrio e pela objectivida-de possível.

5 — O “CENTRO” procurarátambém não descurar a função for-mativa que à Imprensa compete,propondo-se veicular a cultura nassuas diversas formas e promover odebate de ideias que considera sa-lutar para o enriquecimento daopinião pública.

EstatutoEditorial

Um agradecimento e um apeloComo atrás se refere, o “Centro” co-

memora, com esta edição e a que serápublicada no próximo dia 23 de Abril, oseu segundo aniversário.

A caminhada não tem sido fácil, numaaltura em que a crise afecta toda a eco-nomia, e com particular incidência o sec-tor da comunicação social (o que temlevado ao encerramento de diversos jor-

nais, alguns deles com grande implanta-ção – como, por exemplo, “O Indepen-dente” e o “Tal & Qual”).

Para conseguirmos ir em frente, temsido determinante o apoio dos nossosLeitores, Assinantes e Anunciantes –apoio esse que aqui agradecemos, deforma muito sincera.

Mas para conseguirmos ir palmilhan-

do o futuro é imperioso que esse apoiose mantenha e intensifique.

Por isso apelamos aos nossos Assinan-tes para que nos enviem o pagamento darenovação da respectiva assinatura, quemantemos em apenas 20 euros. Do mes-mo modo que lhes pedimos que nos indi-quem outros assinantes, pois só assim po-deremos sobreviver, crescer e melhorar.

Page 6: O Centro - n.º 48 – 09.04.2008

6 DE 9 A 22 DE ABRIL DE 2008INTERNACIONAL

Os líderes norte-americano e russo en-contraram um formato ideal para terminaras suas relações oficiais. Em 5-6 de Abril,eles irão juntar-se na residência de Verãodo presidente russo na costa do Mar Ne-gro, situada perto da cidade balnear de So-tchi. Neste seu 22.º encontro debaterão de-talhadamente os planos de Washington deinstalar, na Europa de Leste, o sistema dedefesa antimíssil norte-americano.

Segundo fontes do Kremlin, os Presiden-tes ainda poderão aprovar um «road map»(um mapa de caminhada) para determinar,embora em linhas gerais, as relações Rús-sia-EUA «no período transitório, e tambéma curto e médio prazo».

Um «road map» é um documento espan-toso: soa solidamente, simboliza um dinamis-mo e um progresso, tem um estatuto oficiale não obriga a mexer um dedo sequer.

Assim, em 2005, a Rússia e a UE acor-daram um «road map» de avanço para «osquatro espaços comuns». Hoje em dia, jáninguém se lembra daquela «cartografia».A Rússia está estreitamente ligada à UEem termos económicos e essa interdepen-dência cresce de ano para ano.

O «road map» com os EUA promete sermeramente simbólico, quase virtual, já que,segundo o economista Clifford Gaddy, nabalança comercial norte-americana a Rús-sia pesa tanto como, por exemplo, a Repú-blica Dominicana.

Bush e Putin despedem-se em Sotchi

Se se estudar a lista das prioridades dorecém-eleito presidente russo, Dmitri Med-vedev (que se juntará a Putin e Bush emSotchi), saltam à vista três principais vecto-res diplomáticos. Em primeiro lugar, as rela-ções com os novos Estados Independentes.Nos últimos 8 anos a política de Moscovono espaço pós-soviético mudou da ilusãointegralista para uma actuação pragmática,de preferência comercial.

Em segundo lugar, a tarefa de melhoraras relações com a UE, que são, na essên-

cia, a permanente procura de um equilíbriodos interesses dos fornecedores e dos con-sumidores de recursos energéticos (petró-leo e gás natural). Se, por acaso, este equi-líbrio for encontrado (o que é bastante duvi-doso), será um modelo a seguir pelo restodo mundo.

Em terceiro lugar, a manutenção de umaparidade política com a China, que, aliás,pode vir a ser muito problemática já nos pró-ximos anos. Até agora, e graças a uma po-lítica internacional mais activa, a Rússia con-seguia manter as relações políticas de igualpara igual com a China, um Estado incom-paravelmente mais potente do ponto de vis-ta económico. Mas a situação já começa amudar em favor da China.

Quanto aos EUA, a dificuldade consisteem que Moscovo e Washington jogam, porassim dizer, em diferentes «ligas» da políti-ca mundial. A Rússia jamais conseguirá umaparceria estratégica em pé de igualdade (apolítica norte-americana nunca admite talsituação), nem pode oferecer uma válidaresistência. Numa palavra, a Rússia é de-masiado fraca para fazer uma forte con-corrência aos EUA, mas demasiado gran-de para se submeter a Washington.

Será, então, possível ver Moscovo eWashington fecharem acordos com base emsérios compromissos das duas partes? Épouco provável. O sistema de defesa anti-míssil dos EUA é um exemplo clarificador.

Para Moscovo, o sistema norte-americanoé um projecto provocatório, perigoso e diri-gido antes de mais contra a Rússia. Portan-to, o Kremlin ver-se-á obrigado a tomarmedidas adequadas, na tentativa de fazerabortar o projecto.

Para os EUA, o sistema de defesa anti-míssil é uma iniciativa multifuncional, comvários objectivos em vista. Trata-se de criarum escudo, capaz de defender os EUA depotenciais ameaças, de onde quer que vies-sem. É também um esforço com vista a con-solidar a sua influência na Europa do séc.XXI, algo enfraquecida depois do desvane-cer da ameaça soviética. Visa também acu-mular as possibilidades para um sério avan-ço tecnológico.

Por outro lado, a política global de Wa-shington determina em grande medida aqueleambiente em que Moscovo pretende reali-zar as suas prioridades políticas: os novosEstados Independentes, a UE e a China.

A responsabilidade pela estabilidade es-tratégica no mundo é o único tema ao qualtanto a Rússia como os EUA não poderãofugir: os dois países possuem os maioresarsenais nucleares e não poderão evitarmanter conversações bilaterais sobre o pro-blema de controlo dos armamentos. Esteassunto constará obrigatoriamente do pro-metido «road map» de Sotchi.

Fiodor Lukyanovin revista A Rússia na Política Global

Page 7: O Centro - n.º 48 – 09.04.2008

7DE 9 A 22 DE ABRIL DE 2008 NACIONAL

EXPLICAÇÕESDE MATEMÁTICALicenciada em Matemática

com experiênciadá explicaçõesa todos os anosTelemóvel: 962 449 286

O Ministro da Administração Interna,Rui Pereira, alertou ontem (terça-feira)para a necessidade de distinguir proble-mas de indisciplina escolar e criminali-dade, considerando que as forças de se-gurança não podem imiscuir-se nos pro-blemas de disciplina nas escolas.

“A criminalidade não se deve con-fundir com indisciplina escolar”, afir-mou Rui Pereira, perante os deputa-dos da comissão parlamentar de As-suntos Constitucionais, Direitos, Liber-dades e Garantias.

Em resposta a uma pergunta da de-putada do Bloco de Esquerda, HelenaPinto, sobre se defendia uma maior in-tervenção policial nas escolas, o minis-tro da Administração Interna começoupor alertar para a necessidade de sedistinguir a indisciplina nos estabeleci-mentos escolares da criminalidade, su-blinhando que “a indisciplina tem de sertratada pela comunidade escolar”.

“Às forças de segurança apenas caberesponder pelos factos criminais. Nãopodem ser as forças de segurança aimiscuir-se nas questões de indisciplinaescolar”, defendeu, insistindo que osproblemas disciplinares nos estabeleci-mentos de ensino “não são competên-cia das forças de segurança”.

Contudo, acrescentou, deverá exis-tir “uma articulação entre as forças desegurança e a comunidade escolar”.

Questionado pelos jornalistas no fi-nal da reunião da comissão parlamen-tar de Assuntos Constitucionais se aofazer estas declarações estava a de-marcar-se do Procurador-Geral daRepública, o ministro da Administra-ção Interna escusou-se a responder.

“Não me compete comentar as de-clarações do Procurador-Geral da Re-pública”, afirmou, reiterando que ape-nas alertou para a necessidade de dis-tinguir indisciplina de criminalidade.

INDISCIPLINA NAS ESCOLAS

Ministro Rui Pereira rejeita intervençãodas forças de segurança

“As forças de segurança não sãocompetentes nas questões de indisci-plina escolar, apenas na prevenção einvestigação criminal”, salientou.

Na semana passada, no final de umaaudiência com o Presidente da Repú-blica, o Procurador-Geral da Repúbli-ca, Pinto Monteiro revelou que “há alu-nos que levam pistolas de 6,35 e 9 mmpara as escolas... para não falar de fa-cas, que essas são às centenas”.

“Quando não são os pais que dizemaos filhos para levarem a sua pistolapara a escola para se defenderem”,contou o Procurador, manifestando-sepreocupado com a “impunidade” quese vive nas escolas e no país.

Na altura, Pinto Monteiro apelouainda aos conselhos executivos das

escolas e aos professores para quedenunciem todos os casos de agres-sões praticadas dentro dos estabele-cimentos de ensino, actos que confi-guram um crime público.

Ainda durante a sua audição na co-missão parlamentar de AssuntosConstitucionais, realizada ao abrigo donovo regimento da Assembleia da Re-pública, que estabelece que os mem-bros do Governo têm de ser ouvidosperiodicamente no Parlamento, RuiPereira elogiou o programa “EscolaSegura”, classificando-o como “o ex-libris dos programas de proximidade”.

Ao longo das mais de três horas emque esteve na comissão parlamentar,Rui Pereira abordou muitas outrasquestões, como a vídeo-vigilância, su-

blinhando que se trata de um sistemaque tem “uma eficácia preventiva”.

“Não devemos recusar a tecnolo-gia em beneficio da segurança”, dis-se, reiterando que o ministério da Ad-ministração Interna não irá instalareste sistema “contra a vontade dasautarquias”.

A este propósito, Rui Pereira recor-dou a recusa da Câmara do Porto eminstalar o sistema na Baixa da cidade,considerando que seria “desfasado” oministério “entrar em confronto” coma autarquia.

Sobre os “contratos locais de segu-rança” que o ministério da Adminis-tração Interna irá estabelecer com ascâmaras municipais, Rui Pereira adi-antou que “não obedecem a um figu-rino único e serão feitos de acordocom a especificidades de cada local”.

Relativamente aos sistemas de aler-ta dos postos de combustível, o minis-tro da Administração Interna revelouque 110 já tem o sistema, mas disseesperar que mais 600 adiram.

Quanto ao patrulhamento especial,Rui Pereira defendeu que “quando exis-te um crime grave deve haver um re-forço do policiamento”, nomeadamente“para repor os níveis de confiança doscidadãos em relação ao Estado”.

Logo na sua intervenção inicial nacomissão, o ministro da Administra-ção Interna anunciou que o comando-geral da PSP já definiu os comandosdistritais onde vão ser construídas assete novas carreiras de tiro: Porto,Faro, Aveiro, Castelo Branco, Viseu,Évora e Coimbra.

Ainda segundo Rui Pereira, estascarreiras de tiro, que serão construí-das ao longo deste ano, poderão serutilizadas por outras forças de segu-rança além da PSP, “para ser maxi-mizadas”.

Page 8: O Centro - n.º 48 – 09.04.2008

8 DE 9 A 22 DE ABRIL DE 2008OPINIÃO

DO TRANSCENDERAO TRANSCENDENTE

O Homem tem uma constituição pa-radoxal. Por vezes, constatamos que fi-zemos aquilo de que nos espantamosnegativamente, erguendo, perplexos, apergunta: como foi possível eu ter feitoisso? – aí, não era eu. Há, pois, o “isso”em nós sem nós, de tal modo que faze-mos a experiência do infra ou extra-pes-soal em nós. Talvez fosse a isso que SãoPaulo se referia quando escreveu: “Aide mim que sou um homem desgraçado,pois faço o mal que não quero e deixo defazer o bem que quero!”

Por outro lado, damos connosco comosendo mais do que o que somos: aindanão somos o que queremos e havemosde ser. Ainda não sou o que serei. Umadas raízes da pergunta pelo Homem de-riva precisamente desta experiência: eusou eu, portanto, idêntico a mim, mas nãocompletamente idêntico, porque ainda nãosou totalmente eu. Então, o que sou?, oque somos?, o que é o Homem?

O Homem não se contenta com o dado.Quer mais, ser mais, numa abertura semfim. Exprimindo esta abertura ilimitada, háuma série de expressões famosas: citius,altius, fortius (mais rápido, mais alto,mais forte), que é o lema olímpico; o Ho-mem é bestia cupidissima rerum nova-rum (animal ansiosíssimo por coisas no-vas), dizia Santo Agostinho; Max Schelerdefiniu-o como “o eterno Fausto”, e Niet-zsche, como “o único animal que podeprometer”; Unamuno escreveu: “Mais,mais e cada vez mais; quero ser eu e, semdeixar de sê-lo, ser também os outros.”Mesmo na morte, o Homem não está aca-bado, pois é o animal do transcendimentoe sempre inconcluído. Precisamente a in-conclusão mostra que a sua temporalida-de e o seu ser têm uma estrutura essenci-almente aberta.

O Homem não pode não transcender.Mas, como escreveu Leonardo Boff, háo bom e o mau transcender. Exemplos domau transcender e má transcendência sãoa droga, o álcool em excesso, a religiãoenquanto superstição alienante. (...)

Anselmo Borges(padre e professor de Filosofia)

DN 6/Abril/08

METAFÍSICAE PRAGMATISMO

O ministro da Cultura afirmou que “a

internacionalização e afirmação do por-tuguês só pode realizar-se através de umacordo ortográfico”. É uma enormidadeque vai contra tudo o que a História, maisrecuada ou mais recente, nos ensina.

Então o português não é a terceira lín-gua da União Europeia mais falada nomundo?

Seria bem mais importante se preo-cupasse com o estado de aviltamento edegradação a que ela chegou. Veja-se oensaio arrasador de Vitorino MagalhãesGodinho no J/L de 26.3.08. Devia saberque o português só pode impor-se atra-vés da valorização exigente do seu ensi-no e do trato intensivo com os grandesautores e com os clássicos.

Esse é, juntamente com o ensino dasHumanidades, o factor essencial para odesenvolvimento intelectual, a qualifica-ção, a competitividade e a criatividade,inclusivamente nas ciências exactas enas áreas da inovação, para a realizaçãopessoal e para a cidadania. (...)

Vasco Graça Moura (escritor)DN 2/Abril/08

A CHINA E O MAL DO MUNDO

Se tivesse vinte anos, eu (...) andariacertamente a manifestar-me em frente

à embaixada da China, e a pedir o boico-te aos Jogos Olímpicos. Quando ouvi opresidente do Comité Olímpico Portuguêsdizer, tranquilamente, que desporto é des-porto e que não temos nada que interfe-rir nos "assuntos internos de outros paí-ses", os vinte e cinco anos que os meusvinte anos já levam em cima apagaram-se e uma fúria humana, demasiado hu-mana, ferveu-me no sangue. As aspasde que não consigop abdicar quando oiçoo manifesto de indiferença à dor das ou-

tras pessoas que se sintetiza na expres-são "assuntos internos de outros países"demonstram-me que algo dos meus vin-te anos ainda sobrevive.(...)

Inês PedrosaRevista "Única" (Expresso) 6/Abril/

08Onde o pobre escritor começa

(...) O meu pai costumava citar Her-culano que dizia a propósito de Garrett

– Por meia dúzia de moedas o Garretté capaz de todas as porcarias menos deuma fase mal escrita.

Para Herculano e para o meu pai essaera a pior das porcarias e eu concordocom eles. Estou seguro que nos sete ouoito últimos livros que fiz não há uma fra-se mal escrita, e as patetices que encon-tro nos primeiros e não me sinto no direi-to de emendar indignam-me como umpecado sem remédio. Não me sinto nodireito de emendar dado que a pessoaresponsável por elas não sou eu: ao fazê-las era um outro, um espécie de ante-passado em que me reconheço mal e meescapa. Quer dizer a vida dele foi a mi-nha, a obra dele não e, no entanto, ne-cessitei de ter sido outro para ser eu ago-ra. Este. Movo-me hoje numa região in-terior que finalmente me pertence e naqual espero habitar mais uns quantos li-

vros. Estava a precisar de fazer esta cró-nica para dar fé do peso da mão, embo-ra a textura da crónica seja muito dife-rente. Não padeço o que padeço nos ro-mances que não são romances nenhuns,são tudo. Pelo menos quero que sejamtudo. Não: exijo que sejam tudo. E nãodevem nada a ninguém: não existe umasó voz alheia na minha voz, não devo sejao que for seja a quem for hoje em dia.Eis-me sozinho sem dedos alheios naminha massa. Isto nem sequer é orgulho

visto que sou humilde: é verdade. Nãopasso de um pobre homem a contar comuma criação que o excede, de um esca-ravelho empurrando a sua bola. Paraonde? Na direcção dos leitores, se ca-lhar, na direcção de onde estamos todos,espero eu. Na nossa direcção. Não façoideia do que vai ser de mim. Um diamorro. Paro. Metem-me num buraco,fechado numa caixa. Mas, e isso é aminha salvação, hão-de ficar uns quan-tos tijolos de palavras a abrigarem a cha-mazinha frágil do meu nome. E são ostijolos, não o nome, o que realmente im-porta. Obrigado, vida, por me teres dadotempo de os construir. Foi tudo o quepretendi, desde que me conheço. E, ditoisto, posso começar. (...)

António Lobo Antunes (escritor)Visão

IKEA: ENLOUQUEÇAVOCÊ MESMO

(...) Não digo que os móveis do IKEAnão sejam baratos. O que digo é que nãosão móveis. Na altura em que os com-pramos, são um puzzle. A questão, por-tanto, é saber se o IKEA vende móveisbaratos ou puzzles caros. Há dias, com-prei no IKEA um móvel chamado Bes-ta. Achei que combinava bem com aminha personalidade. Todo o material deque eu precisava e que tinha de levaraté à caixa de pagamento pesava seis-centos quilos. Percebi melhor o nome domóvel. É preciso vir ao IKEA com umabesta de carga para carregar a tralha todaaté à registadora. Este é um dos meusconselhos aos clientes do IKEA: não vápara lá sem duas ou três mulas. Eu alom-bei com a meia tonelada. O que poupeinos móveis, gastei no ortopedista. Nestemomento, tenho doze estantes e três hér-nias.

É claro que há aspectos positivos: astábuas já vêm cortadas, o que é melhordo que nada. O IKEA não obriga os cli-entes a irem para a floresta cortar asárvores, embora por vezes se sinta quenão faltará muito para que isso aconte-ça. Num futuro próximo, é possível que,ao comprar um móvel, o cliente recebaum machado, um serrote e um mapa dedeterminado bosque na Suécia onde oIKEA tem dois ou três carvalhos debai-xo de olho que considera terem potenci-al para se transformarem numa mesa-de-cabeceira engraçada. (...)

Ricardo Araújo Pereira (humorista)Visão

VIOLÊNCIA

(...) Chegou-se a um ponto em que aescola sem violência é comparável àpossibilidade de um peixe viver fora daágua. Não há um factor único para ex-plicar a violência na escola. As causassão variadas: a situação familiar, as con-dições sócio-económicas, o estilo peda-gógico, a convivência, no mesmo espa-ço, entre alunos de barriga cheia e ou-tros menos afortunados e com angústi-

O simbólico cartaz elaborado pela organização de jornalistas “Repórteressem Fronteiras, em que o símbolo olímpico é apresentado como algemas,pretendendo simbolizar o desrespeito da China pelos direitos humanos

Page 9: O Centro - n.º 48 – 09.04.2008

9DE 9 A 22 DE ABRIL DE 2008 OPINIÃO

as, sem ninguém que os ajude.Só se consegue combater a violência

escolar se este fenómeno for o alvo pri-oritário das políticas públicas e se foremdados passos seguros na criação de umaescola solidária, amiga e humana, man-tendo, obviamente, critérios de rigor e deexigência na aprendizagem e na avalia-ção dos conhecimentos. Políticas facili-tistas e pouco exigentes no ensino de-vem ser combatidas. Também se com-bate a violência, que na maioria das ve-zes é crime, com estudos científicos emedidas preventivas, do género das queforam apontadas por Pinto Monteiro, la-mentavelmente mal compreendidas pormuito boa gente. (...)

Rui Rangel (juiz)Correio da Manhã 5/Abril/08

O ACTUAL PSD

(...) O (actual) PSD quer aproveitartodos e, com isso, acaba desvalorizandotodos. Cavalga ondas que não previu enão gerou. Solidariza-se com quem nãopode senão recusar-lhe a solidariedade(mesmo que ao preço de pedir aos diri-gentes do PCP que não passem do um-bral do Hotel Vitória). Desorienta umapoio social que acredita na insuficiênciado anticomunismo do PS e aceitou me-lhor as mocas de Rio Maior. Subestima –por desespero, e não por cálculo – o “Deusnos livre do que a gente aguenta” e acre-dita que a cor certa na gravata, mais oefeito Carla Bruni, se conjugados comuma presença obsessiva na televisão, unsfotogramas de matraquilhos num “bairroproblemático” e umas visitas à terceiraidade, facturam votos a granel. É o efeitoplacebo a ganhar esporas, quando o ca-valo nunca foi ouvido. (...)

Nuno Brederode Santos (jurista)DN 6/Abril/08

UMA CAMPANHA CHOROSA

Até há pouco, pelo menos a julgar pelasaparências, os sucessivos “momentoshistóricos” do eng. Sócrates caracteri-zavam-se pela participação do primeiro-ministro neles. Agora, a História é feitapelos cidadãos anónimos com que o eng.Sócrates tem a sorte de privar.

Antes de almoço, o nosso homem en-trega uns prémios a uns empresários deViseu e confessa: “Não há melhor for-ma de passar uma manhã de domingodo que com aqueles que querem cons-truir um país melhor.” Por acaso, consi-go imaginar cerca de oitocentas formaspreferíveis de passar as manhãs de do-mingo, algumas envolvendo gente quenem sonha que o país existe. Mas eu nãosou estadista. (...)

Alberto Gonçalves (sociólogo)DN 8/Abril/08

O PRESIDENTE FRANCÊS

O Presidente francês é um político

errático, que parece incapaz de estarquieto, para reflectir, e que muda de lo-cal com a mesma facilidade com quemuda de ideias ou de estratégias.

Por outro lado, parece gostar mais deter à sua volta a comunicação social - eos seus amigos multimilionários - do queos políticos, quer sejam seus pares, acomeçar pelo primeiro-ministro, querseus conselheiros. Os seus conterrâne-os, imbuídos ainda hoje do que resta doespírito cartesiano, lógico, racionalista -e da ideia “de la grandeur de la France”e de Paris, como o centro do mundo (quejá não é) - estão a ficar cada vez maischocados com a falta de autocontrolo,devido ao seu estatuto e ao respeito pelafunção de Chefe do Estado. As sonda-gens não enganam e não param de des-cer. (...)

Mário SoaresDN 1/Abril/08

A ASAE

(...) Como os selvagens, a ASAE ce-lebra contando escalpes. Entretanto osverdadeiros criminosos continuam a ope-rar e a criar problemas sanitários e am-bientais. O mais trágico nesta tolicemonstruosa é que, enquanto anda a per-der tempo a perseguir os pobres, a ASAEdescura a sua verdadeira missão, que émesmo muito importante.

Será que alguém pode ser tão estúpi-do, insensível e maldoso? Esta hipótesenunca deve ser descartada, sobretudonos tempos que correm. Mas a explica-ção é capaz de ser outra. Só um ilumina-do pode fazer erros tão crassos. O querealmente se passa é que a ASAE nãose considera uma polícia nem se vê a

perseguir malfeitores. A sua missão su-prema é educar o povo para a seguran-ça alimentar. A finalidade é mudar omundo. O seu objecto são, não os crimi-

nosos, mas toda a população. O que te-mos aqui é um conjunto de fanáticos commeios para impor às gentes ignaras o quejulga ser o seu verdadeiro bem. Destaatitude saíram as maiores catástrofes dahistória.

Mas a culpa última não é da ASAE.Ela é responsável pela arrogância, to-lice e insensibilidade com que aplica alei. Mas a origem está nas autoridadesportuguesas e europeias que criaramum tal emaranhado de ordens, regrase regulamentos que impedem a vida co-mum. A incongruência e irresponsabi-lidade da legislação, nas mãos de fa-náticos, criam inevitáveis desgraças. Alei anula-se a si mesma. Ao promovero consumidor esquece o produtor, aofavorecer o investimento ignora o am-biente, ao cuidar do mercado desequi-libra a saúde. (...)

João César das Neves(professor universitário)

DN 31/Março/08

CONCERTO DE PANDEIRETA

É costume ouvir dizer que o PSD éo partido mais português de Portugal.Para o bem e para o mal. Quando estána mó de cima a governar com maiori-as absolutas, ou quando está pelas ruasda amargura, afundado em questiún-culas internas intermináveis, depois devárias temporadas na Oposição. (...)

Se há pessoal que nunca se dá porsatisfeito, que quer sempre bagunça

quando reina a paz, que quer sempreum novo líder, quando acaba de en-tronizar um líder novo, que gosta deinventar defeitos privados quando são

públicas as próprias virtudes, esse pes-soal está em grande percentagem noPSD. (...)

Manuel Serrão (empresário)JN 2/Abril/08

EDUCAÇÃO

As pessoas interrogam-se sobre asrazões que presidem ao aumento da in-disciplina nas nossas escolas. Os esquer-distas de serviço correm a dizer que esseé um problema europeu e não apenasnacional. E é verdade: só que, ao con-trário dos nossos esquerdistas de servi-ço, vários países europeus – como a In-glaterra e a Suécia – estão a rnfrentar oproblema. (...)

João Carlos EspadaExpresso 5/Abril/08

O “MAL-ESTAR” NACIONAL

Tirando pequenos períodos de entusi-asmo e de auto-estima, a nossa opiniãosobre o estado do país é quase semprepior do que os factos. Isso faz parte do“carácter” nacional. Porventura, o “mal-estar difuso” de que alguns agora falam,embora sem cuidarem de identificar osrespectivos indicadores objectivos, per-tence também a essa síndroma autode-preciativa em que nos comprazemos. (...)

Vital MoreiraPúblico 25/Março/08

O Presidente Sarkozy e sua Mulher Carla Bruni entre a Rainha de Inglaterra e o Príncipe Filipe,na recente visita à Grã-Bretanha, onde ex-modelo exibiu o seu “charme”

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10 DE 9 A 22 DE ABRIL DE 2008CRÓNICA

A OUTRA FACEDO ESPELHO

José Henrique Dias*

[email protected]

* Professor universitário

LOUSÃ - Nelson Fernandes

Dizem, não sei se foi a ti que ouvi pela primeira vez,que no pão dos pobres, quando cai ao chão, a manteigafica sempre para baixo. Confesso-te que por mais quepense não encontro nenhuma razão, digamos de leis daFísica, para que tal aconteça. Mas não é que acontecemesmo?! Olha que com muito sofrimento fiz a experiên-cia. Peguei num daqueles pães, pão pequeno, era assimque dizíamos quando íamos à padaria do sr. Salvador, aminha mãe manda dizer que são seis pães pequenos… Opior vinha a seguir, a embrulhar os dedos, a ‘nha mãe dizque vem pagar amanhã. Custava, custava muito dizeraquilo, e entre o rosto carregado e se calhar uma réstia decompaixão… (curioso, penso agora que nunca me lem-bro de ouvir falar em solidariedade social), o homem ba-rafustava por cima da gola da bata branca, leva lá, masdiz à tua mãe que já são três vezes.

O pão, ainda quente, tentava as salivares. Mas nãoia ser barrado com manteiga, ia assim, aos pedacinhosbem contados, para a tigelinha do café com leite, mir-rada de açúcar, para sopinhas sorvidas com gula e des-lumbramento.

Ó mãezinha, as sopas estão mal trimpadas.Era assim que saía a corruptela de temperadas. Apete-

ciam mais docinhas. O açúcar, como tudo, era racionado.Por isso não havia tempo de manteiga nos dentes, como

no poema Aniversário de Pessoa. Também não me lem-bro de fazer anos. Se calhar fazia, talvez estreasse umasbotas cardadas, ou seriam alpergatas?, eu sei lá, o pão commanteiga não podia cair com a manteiga para baixo, por-que não havia manteiga.

Um dia houve. O padre Américo passou, chamou-mediscretamente a um vão de porta e deu-me um pão commanteiga. Devia ter ar de quem passava fome, mas naverdade não passava. Acho que já contei isto.

Não imaginas quanto me custou a experiência dedeixar cair o pão com manteiga. Tive o cuidado de vi-rar para cima e largar. Deu a volta. Caiu mesmo parabaixo, a manteiga mudou de cor, sorveu a poeira. Deium beijo no pão e foi para o lixo. Dantes dava um beijo,soprava e depois comia. Para o lixo. Pecado mortal.

Vim vitorioso para o largo, com sorriso de manteiganos dentes.

Ó Carlitos, dá-me um bocadinho, disse-me o Mos-quito, com os olhos rasos de fome. Raiva de não ter acerteza se lhe dei.

O Mosquito, chamávamos-lhe assim, não era por serfranzino, escanzelado, sempre com frieiras nas orelhas malentrava o Inverno, a cabeça rapada por causa da tinha. Eraporque ninguém como ele fazia cinema na janelinha abertanuma caixa de sapatos, onde passava a tira longa das vi-nhetas que ele desenhava com uma mestria que nem osautores da revista aos quadradinhos, que se glorificou comoobjecto de culto e se chamava Mosquito.

Ele era Zé, José da Silva, tinha mãos de príncipe. Tal-vez de Ingres. Fazia o que queria com o lápis. Por isso as

Enfarte de core ingrato…

histórias, que enrolavam e desenrolavam na manivela dearame, acompanhadas pela sua narração, eram absoluta-mente imbatíveis, superavam as do Mosquito que só ofilho do Dr. Prates podia comprar, e que nos deixava ler atroco de o deixarmos jogar com a bola de trapos, nos con-frontos do terreiro.

O Zé da Silva morreu menino, foi desenhar nuvens eventos pensantes para o lugar imaginado, quando olháva-mos aflitos para cima.

Lembrei-me de tudo isto quando hoje me telefonaste aconvidar para um jantar em tua casa.

Bem sabes como preciso de estar contigo, disseste, istono ministério está cada vez mais impossível, o país está atornar-se ingovernável.

Quando me dizes essas coisas, sei que não é para meouvires falar de política. A opinião do Dr. Carlos Ferreiraperdeu validade na última remodelação de comentado-res políticos. Entrei nesta espécie de sabática forçada eocupo-me agora a informatizar a biblioteca que está nacasa do Vale Porteiro.

Sei que o que se torna absolutamente invejável é quan-do me vais dizer, depois do whisky e da tua soberba dan-ça de cruzares e descruzares as pernas, mais gloriosa-mente de que a Rita Hayworth em Gilda, com olhos decomeço de viagem…

Pões a girar aquela música, na voz de Beniamino Gigli:

Core, core ‘ngrato...T’hê pigliato ‘a vita mia!Tutto è passato...e nun ce pienze cchiù.

É evidente que nada acabou, porque nada começou. Porisso não penso em ti. E não te roubei a vida. Porquê ingratoo coração?

…Ficas comigo, não ficas, querido?Hoje não posso. Por esta coisa impensável de me

ter lembrado que o pão dos pobres cai mesmo com amanteiga para baixo. É absurdo.

Catarina, minha querida, será que estou condenadoa reviver pedaços que me reenviam para o realismosocialista? Tutto è passato...

Esta dor no peito sufoca-me. Catari’ Catari’… pec-ché me parle e ‘o core me turmiente…falas-me e aper-ta-se-me o coração…

Hoje não há visitas, minha senhora. O Dr. Carlos Ferrei-ra está nos cuidados intensivos. Tem de falar com o médicoassistente... realmente não está nada bem…O coração…

Ingrato! Podia ter ficado comigo.

... mais gloriosamente de que a Rita Hayworth em Gilda, com olhos de começo de viagem…

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11DE 9 A 22 DE ABRIL DE 2008 COIMBRA

“Chá com Rosas” é o título da ses-são que decorre amanhã (quinta-fei-ra), na Quinta das Lágrimas, em Co-imbra, no âmbito do ciclo “Chá comLágrimas”.

Durante a sessão, a Prof.ª MariaJosé Azevedo Santos falará sobre“Saber ler e escrever no século daRainha Santa Isabel”. Seguidamente,Maria Manuel Almeida lerá poesia,terminando o programa com músicamedieval.

A sessão realiza-se na Sala Jardimdo Hotel Quinta das Lágrimas, pelas17h30.

O “Chá com Lágrimas” é a mais re-cente criação da Fundação Inês de Cas-tro, em parceria com as Edições Miner-vaCoimbra e o Hotel Quinta das Lágri-mas, e tem por objectivo relembrar aambiência das velhas tertúlias coimbrãs,razão que explica o espaço dado ao di-álogo artístico e cultural, num clima damaior informalidade. A iniciativa contaainda com o apoio da Empresa Munici-pal de Turismo de Coimbra.

O tema do próximo “Chá com Lágri-mas” é a Música, em Maio, encerrandoa primeira temporada da iniciativa.

As inscrições para o “Chá com Ro-sas” poderão ser feitas na recepção

AMANHÃ À TARDE, NA QUINTA DAS LÁGRIMAS

“Chá com rosas”

do hotel ou por telefone, através do239 802 380.

A anterior sessão foi subordinadaao tema da “Imaginação” e integradana X Semana Cultural da Universida-de de Coimbra.

A intervenção esteve a cargo de

António Filipe Pimentel, Pró-Reitor daUniversidade de Coimbra, que abor-dou o tema “Da razão dos imaginári-os” a propósito do colóquio “Os He-terónimos da Imagem: arte e imagi-nação”, organizado pelo Instituto deHistória da Arte da Faculdade de Le-

tras, ao qual preside.À volta da concepção de imagem,

António Filipe Pimentel falou da suarelação com a imaginação, sendo estaúltima, afirmou, “ponto angular da nos-sa própria razão de existência”. Noentanto, toda a civilização tem sidoconstruída com o objectivo de siste-matizar o conhecimento ao arrepio daimaginação, procurando-se reduzirtudo cientificamente a matéria com-pendiável.

Abordando ainda a noção de patri-mónio artístico, bem como a nossa re-lação com esse património, AntónioFilipe Pimentel recordou também im-portância do imaterial e a necessida-de da sua preservação.

Ainda a propósito do colóquio rea-lizado pelo IHA, o Pró-Reitor desa-fiou os presentes a visitarem, no Jar-dim Botânico, as esculturas de RuiChafes, exposição inaugurada no âm-bito da iniciativa e que ficará patentedurante os próximos meses.

Durante o chá houve ainda leiturade poemas de Fernando Pessoa porJoão Rasteiro e Rita Grácio, da Ofi-cina de Poesia, e música com guitar-ra de Coimbra pela mão de Paulo Soa-res e Luís Marques.

Teresa Lopes, Directora do Hotel Quinta das Lágrimas, o Pró-ReitorAntónio Filipe Pimentel e Isabel Garcia, das Edições Minerva Coimbra

“Olh’ó balão...”

Passou há dias por Coimbra uma competição de balões de ar quente que proporcionou belas imagens- como esta, registada pela objectiva sempre atenta do nosso colaborador Varela Pècurto

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12 DE 9 A 22 DE ABRIL DE 2008TELEVISÃO

PÚBLICA FRACÇÃO

[email protected]

AINDA O RELATÓRIODO PROVEDORDO TELESPECTADORDA RTP (2007)

Regresso ao Relatório do Provedor doTelespectador da RTP referente ao ano

de 2007. Depois de ler mais uma vez,não só o relatório, mas também várioscomentários ao dito, há ainda duas ou trêsconclusões que não podem passar em

claro.Uma delas, embora evidente, mesmo

assim peca por suave. Diz o Provedor:“os eventos desportivos continuam ater um destaque desmesurado. O fu-tebol é continuamente privilegiado emrelação aos outros desportos, com in-cidência especial na actividade dostrês clubes Porto, Benfica, Sporting.”

É verdade e repugnante. Não há jor-nalistas especialistas em temas de Edu-

cação? Onde está o problema? Tambémnão há jornalistas que se dediquem a sé-rio à Cultura? Natural. Temos um País

pouco educado e muito pouco culto…Logo… Não se julgue que estas afirma-ções são descabidas. Lendo um poucomais do Relatório encontra-se a justifi-cação: “Não obstante toda a actuaçãoque tenho desempenhado tendo pre-sente os compromissos da RTP serdefinida como detentora do «estatutode serviço público» e das exigênciasque tal estatuto comporta, não deixode ficar perplexo na sua execução

prática quando me deparo com a rea-lidade de que o programa de maior emais constante audiência é o «PRE-ÇO CERTO». E essa perplexidade eluta interior no próprio exercício dafunção e missão de Provedor não sesimplifica quando me lembro das pa-lavras que, um certo dia, o anteriorPresidente do Conselho de Adminis-tração da RTP, S.A., o Dr. AlmerindoMarques me dizia: «Não se esqueçaque temos um compromisso: fazer te-levisão adequada à população quetemos”.

Ora aqui temos uma inesperada(será?) afirmação do anterior presiden-

te da RTP. Acontece que não é nova.Proença de Carvalho, enquanto também

Paquete de Oliveira, Provedordo Telespectador da RTP

Almerindo Marques

Proença de Carvalho

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13DE 9 A 22 DE ABRIL DE 2008 TELEVISÃO

Façaumaassinaturado “Centro”e recebavaliosaobra de arteAPENAS 20 • POR ANO- LEIA NA PÁG. 3

Esta é a reprodução da obra de ZéPenicheiro que será sua gratuitamente

presidente da RTP, achava que “se o paísera medíocre, à televisão não se podiaexigir muito mais”... Há coisas que nãomudam na televisão pública.

Mas há mais e igualmente grave. Orelatório do Provedor admite, embora nãoo diga directamente, que a RTP Áfricanão é um verdadeiro órgão de comuni-cação social, respondendo apenas porcritérios jornalísticos: “os conteúdos daRTP África não podem, em momentoalgum, comprometer politicamente asrazões que justificam Portugal ter umcanal direccionado para a lusofo-nia.”. Uma afirmação que deixa a re-dacção da RTP-África verdadeiramen-te bloqueada.

ZAPPING

· O líder do PSD propôs o fim dapublicidade na RTP. Dentro daquele par-tido há quem insista na ideia do Estadose retirar da televisão (Pedro PassosCoelho).

· Jorge Coelho, destacado militantesocialista e ex-ministro das Obras Públi-cas, retira-se da “Quadratura do Círcu-lo” (SIC-Notícias). Vai presidir à maiorempresa de construção do País. Serásubstituído por António Costa, presiden-te da Câmara Municipal de Lisboa. Nãoé novidade na nossa Comunicação Soci-al a participação de políticos no activocomo comentadores. É no mínimo pecu-

liar esta forma de participação. O seumaior expoente foi conseguido por Emí-dio Rangel, enquanto director da RTP.Os comentadores do Telejornal dos do-mingos eram José Sócrates e SantanaLopes. Ambos se tornaram primeiros-ministros.

· “O eixo do mal” (SIC-Notícias)continua a prender-me ao écran nas noi-

tes de sábado. Polémico, com algum sen-tido de humor, tem apenas um defeito:tirando Clara Ferreira Alves, todos osrestantes comentadores gaguejam dema-siadas vezes. Uma pena, já que se assim

não fosse, ganharíamos muito tempo paraque a discussão não tivesse que ser abre-viada.

· A RTP-1 comemorou o Dia Mun-dial do Teatro com a transmissão directade uma peça de teatro em palco. Boaideia, fraco resultado. Inspirada em duascomédias de Almeida Garrett, a peçarecriou, no palco do Teatro da Trindade,as intrigas originais, transpondo-as parao século XX. A adaptação não funcio-nou. Houve momentos quase confran-gedores. O debate que se seguiu sobre oTeatro em Portugal já quase não tinhaespectadores.

· A campanha publicitária à Meo,da PT, criou grande expectativa. À mes-ma hora, em todos os canais generalis-tas, os “Gato Fedorento” falaram à na-

Jorge Coelho

ção. Terá funcionado uma vez. Receioque os Gatos se estejam a pendurar emfrases-bordão. Agora é o “chiú… cala-te !”. O quarteto está a defrontar umdesgaste desleal provocado pelas repe-tições dos seus programas que a RTPestá a fazer. Não previram isto no con-tracto ou esqueceram-se quando saírampara a SIC?

· Desde que o caso se tornou co-nhecido, durante mais de uma semanaquase não houve dia em que as imagensdo episódio do telemóvel não voltassem

a ser exibidas. O assunto banalizou-se.O “ruído” criado fez desaparecer a ver-dadeira natureza das questões que selevantaram. “Educação: O Fim da Auto-ridade” foi o (estranho) título dado ao“Prós e contras” (RTP) motivado peloassunto. A saturação levou a que o pú-blico não quisesse saber do debate (4.4de rating contra os quase 20.0 da novelada TVI). Afinal havia… A Outra. Nãoestará na altura de pensar também so-bre este outro lado da questão?

António Costa

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14 DE 9 A 22 DE ABRIL DE 2008EDUCAÇÃO/ENSINO

NA ESCOLA DE HOTELARIA E TURISMO DE COIMBRA

Os bons sabores do multiculturalismo

O exotismo oriental marcou presença O trajo tradicional e a alegria da confraternização

O grupo de estudantes brasileiros foi dos mais animados A representante de Moçambique cozinha com um aluno da EHTC

O Presidente da Região de Turismo do Centro, Pedro Machado, e aDirectora da EHTC, Ana Paula Pais

O Sub-Director da EHTC, José Luís Marques, entusiasta destainiciativa, e o Chefe Luís Lavrador, que orientou os “cozinheiros”

A Escola de Hotelaria e Turis-mo de Coimbra (EHTC) promo-veu mais uma jornada de multi-culturalismo, juntando estudantesde diversos países que frequen-tam a Universidade de Coimbra(cujo Departamento de RelaçõesInternacionais apoiou esta inicia-tiva).

Sob a orientação do chefe LuísLavrador, os “cozinheiros” oriun-dos das mais longínquas paragens(desde o Brasil à Ásia, passandopor diversos países africanos),confeccionaram pratos típicos dasrespectivas origens, em parceriacom estudantes de cozinha daEHTC.

E a verdade é que os variadosmanjares mereceram elogios dosconvidados e dos “cozinheiros”durante um almoço onde imperoualegre e fraterno convívio.

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15DE 9 A 22 DE ABRIL DE 2008 EDUCAÇÃO/ENSINO

* Professor e Dirigente do SPRC/FENPROF

Luís Lobo *

O Ministério da Educação é reinciden-te na chantagem de que a contagem dotempo de serviço e a recondução dosprofessores contratados está dependen-te da sua avaliação de desempenho.

Afirmar que os docentes contratadosperdem tempo de serviço, nestas condi-ções, é falso, pois nem na legislação deconcursos, nem no Estatuto da CarreiraDocente, tal se encontra inscrito. Aliás,por esse motivo, em 2006/2007, os do-centes contratados não tiveram avalia-ção e viram o seu tempo contado e, em2007/2008, professores há que, concluí-dos já os seus contratos, terão o seu tem-po contado sem terem sido objecto dequalquer avaliação.

Também é falso afirmar que os profes-sores e educadores contratados não pode-rão ser reconduzidos nas escolas em quese encontram, caso não sejam avaliados.

Como sabemos, há três condições fun-damentais para que um docente possaser reconduzido no mesmo lugar: 1) Terobtido uma colocação por um ano lecti-vo (entre Setembro de 2007 e 31 deAgosto de 2008; 2) Ter o aval do conse-lho executivo, o qual só o garante casofaça uma análise positiva do seu traba-lho; 3) Ter uma classificação, no míni-mo, de Bom no âmbito da sua avaliaçãodo desempenho. Porém esta só pode seratribuída caso o processo tenha sido de-sencadeado pelo conselho pedagógico.

AVALIAÇÃO DOS PROFESSORES:

Recondução dos contratadossó dependeda vontade política do GovernoAfirmar que um docente contratado ficaimpedido de ser reconduzido porque, pormotivos que não podem ser-lhe imputa-dos, não foi avaliado, revela grande faltade seriedade politica e clarifica a chan-tagem que sobre estes docentes está aser realizada.

O Ministério da Educação, que é cau-sador da precária situação profissional

dos docentes sem lugar de quadro, por-tanto, com contrato, utiliza-os agoracomo reféns dessa chantagem, dessapressão sobre os órgãos das escolas.Esta visa a realização, ainda este anolectivo, de um processo de avaliação cujaburocracia, horários e número de reuni-ões implicarão, num tão curto prazo, umagrande perturbação no funcionamentodas escolas, desviando-as da satisfaçãodo seu papel principal.

É relevante o esclarecimento revela-do e o sentido de responsabilidade (aocontrário do que demonstra este minis-tério), bem como a coragem das esco-las, dos seus órgãos, dos professores e

educadores e de muitas associações depais, que ousaram afrontar um podercego e surdo perante os alertas, críticase propostas.

São, pois, ilegítimas as pressões doMinistério da Educação sobre as esco-las e os seus órgãos de gestão, até por-que a ministra e os secretários de Esta-do sabem ser ilegais quaisquer procedi-mentos que decorram de meras informa-ções de reuniões, realizadas com o Con-selho das Escolas, ou das palavras trans-mitidas nas acções, por si realizadas, queocorrem por todo o país.

Nas Regiões Autónomas dos Açorese da Madeira, os seus governos regio-nais tomaram a decisão política de nãoavaliar este ano, sem que, de tal decisão,decorra qualquer prejuízo para qualquerprofessor.

Teimosia, incapacidade política, desres-peito pela Lei e pelos Tribunais são os con-dimentos de um Ministério que tem os pro-fessores, hoje mais do que nunca, comoadversários da sua política e do seu com-portamento anti-negocial e antidemocrático.

Porque assim não se pode ser profes-sor, não restará aos professores, nas suasescolas, como os seus órgãos de gestãopedagógica, fazer valer as suas justas elúcidas posições.

... é falso afirmar que os profes-sores e educadores contratadosnão poderão ser reconduzidosnas escolas em que se encon-tram, caso não sejam avaliados...

René Tapia(Professor universitário)

“Autoridade é o direito de dirigir”Jacques Maritain

Poder e autoridadena escola

Parecera que um vídeo difundido pelaInternet sobre cenas no meio escolar vinhade propósito à ministra de educação paraque a “opinião pública” esquecera a braçode ferro que mantém com os sindicatos1.Tanto um como outro caso inserem-se noquadro da crise que vive a sociedade portu-guesa e o seu reflexo no sistema de ensinoe nas condições de vida. O caso da ministraé uma questão de poder e o da professorade autoridade. O poder é a capacidade desubmeter a conduta. A autoridade é o meiopara dirigir a conduta. Autoridade é obterobediência pelo lugar legítimo na hierarquiaou pelo reconhecimento de qualidades ex-cepcionais2.

Não se pode resumir a crise da socieda-de portuguesa ou a do sistema de ensinoem poucas linhas – o sobrepovoamento de

alunos por turma ao invés do aumento daeficácia pedagógica, com a diminuição donúmero de alunos por professor e maioresinvestimentos em infra-estruturas educati-vas. Também tem a ver com as condiçõesde vida dos alunos, sem esquecer o grau desatisfação e condições de trabalho dos pro-fessores.

Portugal possui um recorde europeu detelefones celulares por habitante e de aci-dentes de viação. Da mesma maneira queo automóvel é uma aspiração de muitos jo-vens portugueses, a necessidade de comu-nicar também se faz sentir como premente.Acrescentemos os consumos massificados,o efeito imitação, etc. Porquê empolgar ocaso condenável de uma aluna que agride aprofessora? Há questões técnicas (o apa-relho é para estar desligado na sala de aula);sócio-psicológicas (o aluno X vive em con-dições Y, tem um história pessoal e escolarZ, a professora A tem uma preparação eexperiência B e nesse dia vivia as suas cir-cunstancias C3); estruturais (o sistema deensino, as condições, a tradição portuguesade “bater”, etc.) e pessoais. Porquê então

“culpar” alguém? Não existem culpas, exis-tem causas4 e todas as causas económicase sóciais se remetem à causa política. Isto éuma questão pedagógica, não uma questãopolicial, que se resolve com uma inteligên-cia politica que proteja as inteligências pes-soais para um projecto de engrandecimentoda inteligência social. Não está em causacastigar a conduta da aluna ou analisar aatitude da professora, está em causa a uni-lateralidade e a hipertrofia que se incutiu aoassunto.

1 A historiadora norte-americana Barbara Tuch-man (1912-1989) publicou em 1984 o livro

The March of Folly: From Troy to Vietnam, onderelata as guerras de Tróia e a do Vietname para exem-plificar a obsessão como fonte do fracasso político.Persistir, não reconhecer o erro, não mudar de opi-nião, consome energias e conduz ao desastre.

2 Argumentar para ser aceite é persuadir, usar asrelações afectivas ou sociais é influenciar.

3 Ortega e Gasset diz “Eu sou eu e as minhascircunstâncias”, mas acrescenta “Se não salvo as mi-nhas circunstâncias não me salvo a mim”.

4 A culpa foi uma criação de Santo Agostinho quan-do inventou o “pecado original”, condenando a cadarecém-nascido a redimir essa “culpa”.

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16 DE 9 A 22 DE ABRIL DE 2008SAÚDE

MassanoCardoso

Confunde-se com o próprio nasci-mento do homem o desejo de ultra-passar determinadas limitações a fimde melhor poder usufruir a vida. Aotomar consciência da sua existência,e precariedade, deverá ter pensadocomo ultrapassá-las.

É muito provável que a cirurgia te-nha sido a primeira técnica utilizadapelo homem. De facto, já foram des-critas técnicas cirúrgicas e ortopédi-cas de correcção no Paleolítico.

Mais recentemente, no Antigo Egip-to, foi utilizada uma prótese para subs-tituir o dedo grande do pé numa mu-lher, o que lhe permitia caminhar nor-malmente.

Na Índia, por volta de 1500 a. C.,já se faziam reconstruções dos nari-zes. A mutilação constituía uma práti-ca comum de vingança, de tal formaque o nariz era considerado o órgãode respeito e de reputação. Esta prá-tica continuou durante o período co-lonial, e até nos nossos dias, sendo oadultério um dos principais motivos.Deste modo, é compreensível a ele-vada capacidade técnica utilizada des-de há 3.500 anos, contribuindo para omelhoramento humano.

É fácil demonstrar que desde osconfins do tempo o homem procurousempre “melhorar-se”, em termos téc-nicos, já que no restante mantém vi-vas chamas atávicas, prontas a mani-festarem-se com violência, resisten-tes à evolução e aos diversos códigosde conduta entretanto produzidos.

Os três exemplos apontados repre-sentam, simbolicamente, o desejo deresolver alguns problemas funcionaisem fases precoces da nossa existên-cia. Desde então, nunca mais pará-mos, ao ponto das descobertas cientí-ficas e conquistas técnicas adquiriremuma velocidade exponencial que faz

Melhoramento Humano

inveja ao efeito da energia escura naexpansão do Universo.

A medicina surpreende-nos cadadia que passa. O desenvolvimento e ainovação tecnológica são notáveis,abrindo perspectivas jamais pensadas,mesmo há poucos anos. Técnicas deexploração imagiológica capazes demostrar o funcionamento dos tecidos,diversos tipos de implantes, prótesescada vez mais sofisticadas, cirurgiasmenos “cirúrgicas”, “regeneração detecidos”, entre muitos outros, não fa-lando das potencialidades nanotecno-lógicas e da emergência do futuro ho-mem biónico, obrigam-nos a reflectirsobre o princípio da transhumanidade.

O homem não se preocupa apenasem melhorar as suas capacidades gra-ças às novas tecnologias, procura algomais profundo, a imortalidade. Mas asua procura pode esbarrar em algunsproblemas tão bem traduzidos no mitode Titonus. A procura da fonte da lon-

gevidade ou o elixir da vida é uma ob-sessão a que não é alheio o medo damorte, empurrando-o à procura de umlugar próprio dos deuses.

Pensar o futuro é projectar o pre-sente, satisfazendo os nossos anseiose desejos. Talvez a Humanidade nun-ca tenha produzido tanto e ido tão lon-ge como hoje, ao ponto de muitos so-nhos se materializarem na própria ge-ração, o que estimula e reforça maisa necessidade e a esperança de ir maislonge, cada vez mais longe, ao pontode não saber se haverá um limite.

A criação de um aparelho de diáli-se portátil, recentemente publicitado,traduz uma evolução tecnológica faceao universo de cerca de 1,3 milhõesde doentes cujas vidas estão bastantelimitadas e condicionadas pelas tera-pêuticas actuais. Obviamente que atransplantação constitui a melhor dassoluções e, por si, já reflecte uma áreamuito importante que tem contribuído

para o “melhoramento humano”, masque já não consegue resolver os pro-blemas, não obstante todas as medidasque propiciam a colheita de órgãos decadáveres e de dadores vivos, sendopor sua vez responsável pelo apareci-mento de novas dificuldades que põemem causa valores éticos, como é o casodo tráfico de órgãos.

As recentes notícias sobre a possi-bilidade de, em breve, obtermos asnossas próprias bexigas constitui umaconquista das mais revolucionárias re-lacionadas com o fabrico de órgãos,criando expectativas muito fortes paraa produção de outros, caso da cria-ção de “novo” de um coração de rati-nho pela equipa de Doris Taylor que,

Aurora, Deusa da Manhã, e Titonus, Príncipe de Tróia, que por ela quis ser imortal,mas se esqueceu de pedir para não envelhecer... (Museu de Capodimonte, Nápoles)

Jesse Sullivan, com as próteses quesubstituíram os braços perdidos emacidente de trabalho, e a quem algunschamam “o primeiro homem biónico”

apesar da sua “fraquita” potência bom-beadora, permite franquear com mui-ta confiança as portas de uma moder-nidade inimaginável, mesmo para asmentes mais “delirantes” em termosde antecipação do futuro e de um ho-mem muito diferente do actual.

Uma equipa de investigadores da Uni-versidade de Coimbra lidera um projectointernacional que desenvolve um dispositi-vo para ser usado por doentes epilépticos,capaz de alertar para uma nova crise comalgum tempo de antecipação.

António Dourado, líder da equipa de in-vestigação iniciada há três meses, disse àagência Lusa que espera poder alcançar um“tempo de antecipação mínimo de 15 minu-tos”, entre o alerta e a ocorrência da criseepiléptica.

Para o docente da área da informática,

Epilepsia: investigadores de Coimbradesenvolvem dispositivo que alerta para crises

quanto maior for o tempo de antecipaçãomelhor, mas os 15 minutos já permitem aopaciente imobilizar a viatura se vai a con-duzir, parar o seu trabalho e evitar eventu-ais acidentes e resguardar-se socialmentedos aspectos negativos que comporta essadoença.

“O doente epiléptico tem grandes limita-ções de integração social” e, através destedispositivo de alerta, isso poderá ficar esba-tido, observou.

O Sistema de Alarme Inteligente Trans-portável para Pacientes com Epilepsia, indi-

cado para aqueles que não podem ser tra-tados com fármacos, consiste num conjun-to de eléctrodos que são colados no courocabeludo do paciente, ligados a um disposi-tivo de aquisição e emissão de sinal, a trans-mitir para um computador portátil que o pro-cessa. Se se está perante sinais de uma cri-se epiléptica é emitido um alerta sonoro aopaciente.

Este será o dispositivo que dentro de doisanos e meio será testado em pacientes dePortugal, França e Alemanha, cinco por país,mas António Dourado admite que tecnolo-

gicamente será possível que o dispositivo derecepção e processamento do sinal tenha adimensão de um maço de tabaco, ou que osinal seja transmitido por comunicação mó-vel para um computador que o processa, eaté para um centro de apoio, para mobiliza-ção de ajuda.

Com um orçamento global de 4 milhõesde euros, o projecto, denominado EPILEP-SIAE - Evolving Platform for Improving Li-ving Expectations of Patients Suffering fromIctal Events, é financiado pela União Euro-peia em 3 milhões de euros.

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17DE 9 A 22 DE ABRIL DE 2008 SAÚDE

A fotografia mostra David com pou-co mais de seis meses, inchado e comuma impressionante cor amarela, bemdiferente da criança que hoje, com 21meses, corre pela sala com um ar tra-quina e feliz.

Na sua casa em Alqueidão de San-to Amaro, aldeia do concelho de Fer-reira do Zêzere, distrito de Santarém,Ana Antunes mostra à agência Lusaas fotografias tiradas no Hospital Pe-diátrico de Coimbra, onde, fez no pas-sado sábado (dia 5 de Abril) um ano,deu parte do seu fígado ao filho quan-do se tornou evidente que nada trava-va a cirrose hepática de que Davidsofria.

Passado um ano sobre o dia em queos dois estiveram 15 horas no blocooperatório, Ana encara com mais tran-quilidade o futuro, embora mantenhacautelas porque tem a noção de queDavid pode ainda rejeitar o fígadotransplantado.

Contudo, longe estão os tempos emque tinha de controlar quem podia che-gar-se perto do filho – “não podiamestar constipados e tinham de passaras mãos por álcool, não fossem pas-sar-lhe algum vírus” – e em que Da-vid tinha de tomar 15 medicamentenum só dia.

“Agora toma dois”, um dos quais, oque custa 200 euros a caixa, é dadopelo hospital.

Ana, operária de uma fábrica deaquecimentos centrais, caldeiras e ci-lindros, está de baixa médica até Maio,altura em que irá a uma junta médicaque determinará ou não o regresso aotrabalho.

A família vive do seu salário redu-zido, do ordenado do marido, Nuno, edo abono dado ao filho, cujo valor (80euros) sofreu um corte em Janeiro úl-timo.

Por isso, Ana confessa que a contabancária criada quando o caso de Da-vid se tornou público “tem sido umagrande ajuda”.

“Ainda há quem lá ponha dinheiro”,disse Ana à Lusa, não escondendo aenorme curiosidade que tem em sa-ber quem é o “senhor Ruben”, quetodos os meses continua a depositaruma soma em dinheiro para ajudar afamília.

TRANSPLANTES PEDIÁTRICOS EM COIMBRA

Um ano após receberparte do fígado da mãeDavid corre traquina e feliz

Ana já procurou saber quem é estebenemérito – “para lhe agradecer epara perceber por que razão nos aju-da” –, mas o senhor Ruben persisteem manter-se incógnito.

O fígado de Ana recuperou um mêsapós a operação – este órgão tem ca-pacidade para se regenerar, tendo, de-pois de amputado, capacidade paracrescer até ao tamanho normal emambos os pacientes - e apenas Davidvai de dois em dois meses ao hospitalpara controlo médico.

Ana confessa que a passagem deum ano após a operação não é para si

motivo de comemoração, porque fo-ram tempos “muito complicados”, eDavid terá a sua festa de aniversário,a segunda, dia 20 de Junho.

A festa do primeiro aniversário deDavid deu-se ainda no meio de mui-tas cautelas, pois tinha tido alta háapenas 20 dias, e só agora começa ater contacto gradual com outras cri-anças, “o que o deixa muito feliz”.

O que inicialmente foi diagnostica-do como uma simples icterícia, tão vul-gar nos recém-nascidos, depressa pas-sou a suspeita de hepatite, peranteuma cor amarela que persistia e umaabrupta perda de peso.

Com apenas duas semanas, Davidteve o seu primeiro internamento du-rante um mês e sete dias em Coim-bra, a que se seguiram outros, com pe-quenas permanências em casa, até lheser diagnosticada a cirrose hepática.

“Em Janeiro (2007) começou a in-char muito, a ponto de os pequenosvasos sanguíneos na barriga rebenta-rem”, conta Ana com a fotografia namão.

Foi então que a médica Isabel Gon-çalves – da equipa de Emanuel Fur-tado, que lidera a unidade de trans-plantes hepáticos dos Hospitais daUniversidade de Coimbra, onde fun-ciona o único centro de transplanteshepáticos pediátricos do país –, lhedisse que o filho estava a piorar e iaentrar para lista de espera para trans-plante.

Ana, então com 23 anos, fez os exa-mes que mostraram que era dadoracompatível para o filho e a operaçãofoi marcada para 5 de Abril, tornan-do-se a décima oitava dadora viva afazer uma operação deste tipo emPortugal.

Textode Maria de Lurdes Lopes,

fotode Paulo Novais

(Lusa)

Ana Antunes e o filho David, a quem doou há uma ano parte do fígado. Graçasà complexa intervenção cirúrgica feita em Coimbra (e que demorou 15 horas),o David é agora um miúdo alegre e feliz, para quem o segundo aniversário,a comemorar dentro de dias, vais ser uma festa

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18 DE 9 A 22 DE ABRIL DE 2008A PÁGINA DO MÁ[email protected]

Mário Martins

Realizam-se na próxima segunda-feira as eleições para os órgãos sociaisda Académica/OAF.

Um exercício fácil é o de somar o número de sócio dos diversos candida-tos, para se concluir da respectiva antiguidade no clube.

(A antiguidade é um dos valores mais importantes numa estrutura associa-tiva e, daí, os “problemas” que por vezes surgem quando alguém tenta subirna “escala”, obtendo um número mais baixo do que aquele a que teria direitopelos anos de filiação).

Olhando para as listas concorrentes, verifica-se o seguinte:

DIRECÇÃO – A lista A, encabeçada por José Eduardo Simões, soma22.339; a lista D, liderada por João Francisco Campos, soma 11.677.

ASSEMBLEIA GERAL – A lista A, que tem Paulo Mota Pinto à cabeça,soma 8.020; a lista E, com José Ferreira da Silva a presidente, soma 5.406.

CONSELHO FISCAL – A lista A, encabeçada por António Preto, soma15.909; a lista C, com Américo Santos à frente, soma 4.003.

CONSELHO ACADÉMICO – A lista A, liderada por Jaime Dória Cor-tesão, soma 30.485; a lista B, com José Campos Coroa como “n.º 1”, soma55.742.

Ou seja: contrariando a ideia generalizada de que a lista apresentada porJoão Campos é formada por um “grupo de miúdos”, verifica-se que eles sãomuito mais antigos no clube do que aqueles que formam a lista do actualpresidente. Afinal, os “novatos” são os que integram a lista A!

E o mesmo sucede nas listas para a Assembleia Geral e o Conselho Fiscal:a oposição tem mais anos de clube do que aqueles que se “recandidatam”!

Apenas no Conselho Académico, órgão consultivo de que se desconhecemquaisquer tomadas de posição nos últimos anos, é que a “lista da situação”tem sócios mais antigos do que a “lista da oposição”.

Escrevi acima a palavra recandidatam entre aspas por uma razão simples:é que a recandidatura não é tão grande como isso. Com efeito, comparandoas listas de 2004 e as de 2008, verifica-se que a taxa de continuidade é deapenas 26%! Isto é: a lista A tem 74% de candidatos que apenas agora secandidatam.

Explicando melhor: na Direcção mantêm-se três e saem seis; na Assem-bleia Geral mantém-se um e saem quatro; no Conselho Fiscal mantém-se ume saem cinco; no Conselho Académico mantêm-se sete e saem 13.

Números são números.

(publicado em 08/04)

ELEIÇÕES NA ACADÉMICA/OAFOLHADAS PELO LADO DOS NÚMEROS

DEMOCRACIA PODREA SIC acaba de noticiar algo que acon-

tece no Partido Socialista na Guarda(não, não é no Zimbawué; é na Guarda– Portugal): há “resmas” de militantescom a mesma morada.

A democracia apodrece.Portugal está (muito) doente.

(publicado em 7/04)

VIGOR CAMPEÃOUm golo de Hugo Amado foi sufi-

ciente para o Vigor da Mocidade ven-cer em Vinha da Rainha e conquistaro título de campeão distrital de Coim-bra a cinco jornadas do fim do cam-peonato.

(publicado em 6/04)

SAUDADE

Partiu há três anos.(publicado em 2/04)

DE PERNAS PARA O ARPor vezes, parece-me que o mundo

está virado de pernas para o ar.O lógico é-me apresentado como iló-

gico, enquanto me querem convencerque o erro é que está certo.

Como a idade já vai pesando (e comonunca tive a ideia de ser o detentor daverdade), questiono-me se quem estaráerrado não serei eu.

É um confronto - quase permanente -com uma sociedade que me é cada vezmais estranha.

Integrar a direcção de qualquer coisae não fazer nada durante anos não é nor-mal... pois não?

Mudar um filtro de 10.000 em 10.000kms quando o manual do veículo refereque a mudança deve ser feita a interva-los de 30.000 ou 40.000 kms não é nor-

mal... pois não?Ter direito a receber um cheque que

necessita de duas assinaturas e só haveruma pessoa para o assinar, nas horasnormais de expediente, não é normal...pois não?

Querer comprar um veículo a gasoli-na e só haver veículos a gasóleo parafazer o “test drive” não é normal... poisnão?

Não, não estou “passado”.Pelo menos, por enquanto.

(publicado em 31/03)

ENCONTRO EM ALMEIRIMHoje, por duplo mero acaso, encon-

trei Carlos Arsénio em Almeirim.Primeiro, só cheguei a Almeirim por-

que me enganei no caminho (o que évulgar na minha pessoa...). Queria iràs Portas do Sol, onde se tem uma vi-são magnífica sobre o Tejo, não acer-tei com a rua dentro de Santarém e,pouco depois, estava em Almeirim.

[Pensei: «Paciência, já que aqui che-guei, é inevitável ir comer uma Sopada Pedra ao “Toucinho”»].

Como ainda não eram horas de al-moço, fui à procura de uma esplanadaonde pudesse ler o “Expresso” e o“DN”. Dei voltas e mais voltas, nãoencontrei... e decidi parar à porta deum café com “bom aspecto” e fácil es-tacionamento.

Preparo-me para entrar e quem vema sair?... Carlos Arsénio, um dos jor-nalistas portugueses que melhor conhe-ce as leis do futebol e os regulamentosda arbitragem, que durante décadas foiconceituado redactor do “Record”.

Já não nos víamos há mais de 10anos mas reconhecemo-nos de imedi-ato.

E, sempre à porta do café, pusemosalguma “conversa em dia”. Falámos dejornais e de jornalistas, de treinadorese jogadores de futebol, de árbitros edos projectos actuais de cada um denós. Mais de meia hora, ali parados,em pé, a confrontar informações ememórias.

Foi muito agradável.E assim voltará a ser, certamente,

quando um dia destes nos encontrar-mos ao almoço. Eu prometi levar co-migo (a pedido do Carlos Arsénio) oFrancisco Andrade, ele vai aparecercom o Mário Wilson e o Rui Rodrigues.

O futebol, assim, é bonito.(publicado em 29/03)

SÓCRATES: O PIOR«Sócrates é considerado o pior primei-

ro-ministro de sempre, em Portugal, se-gundo a sondagem realizada para a Exa-me pelo Gemeo - Gabinete de Estudosde Mercado e Opinião, do IPAM. Cava-co Silva foi escolhido como o melhor pri-meiro-ministro.»

(in “Jornal de Negócios”)

COMENTÁRIO: Afinal há muita gen-te a pensar como eu.

(publicado em 27/03)

SELECÇÃO NACIONAL:A FRASE

«Agora que Scolari já experimentouos jogadores que queria, está na alturados jogadores poderem experimentaroutro seleccionador.»

Autor: Bruno Sena Martins.(publicado em 27/03)

20 MILDesde que foi instalado o contador de

acessos, em Setembro de 2006, já houve20 mil “clicks” para esta “Página”.

Olhando a imagem, percebe-se que o“visitante 20.000” chegou há momentosdo Porto ou de... Porto Salvo.

(publicado em 26/03)

PERGUNTA PERTINENTEDO DIA

«Se as caixas multibanco operamnuma lógica de publicidade, vendendo osespaços, isto não desautoriza o seu ope-rador de querer cobrar duas vezes aosconsumidores?»

(publicado em 26/03)

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19DE 9 A 22 DE ABRIL DE 2008 MÚSICA

Distorções

José Miguel [email protected]

Os mais recentes sucessos de bilheteira dos ci-nemas, estão longe de ser uma obra-prima de Ste-ven Spielberg ou de George Lucas, nem são mais

um filme candidato a Óscar dirigido por James Ca-meron, mas sim dois documentários que reúnem umpouco do que é um concerto ao vivo dos dois maio-res fenómenos do rock n’roll do planeta, que há já

muito tempo se batem pelo trono do rock mundial.Como é óbvio, escrevo-vos sobre os U2 e os Ro-lling Stones. O primeiro desses dois documentáriosintitula-se “U2 3D” e já chegou às salas de cinemaportuguesas, sendo um retrato de algumas actuaçõesao vivo da banda de Bono Vox e The Edge, na pas-sagem da “Vertigo Tour” pela América do Sul. Aopasso que “Shine a Light” é uma reportagem sobreos Rolling Stones, que, sob a direcção de MartinScorsese, reúne uma série de imagens da banda,aquando das míticas actuações no Beacon Theatrede Nova Iorque em Outubro de 2006, que contoucom diversas participações – como sejam as de:Christina Aguilera, Jack White (dos White Stripes eRacounters) e Buddy Guy. São dois documentáriosa não perder.

Já saiu, nos Estados Unidos e na Oceania, “InGhost Colours”, o mais recente e muito aguardadonovo trabalho dos Cut Copy, apesar de na Europasó ser editado no dia 6 de Maio. Com as lojas digi-tais podemos ultrapassar este tipo de obstáculos eouvir, desde já, este disco fenomenal, não só pelaqualidade das novas músicas – aliás já presumidapelos “singles”: “Hearts On Fire”, “So Haunted” ou“Lights & Music” –, mas, também, pelo facto de

nada ser deixado ao acaso, nem mesmo os temposmortos, como são as passagens entre cada uma dasfaixas.

Para o fim, a sugestão de outro grande disco edita-do recentemente, “Midnight Boom” dos The Kills,que é, quanto a mim, o seu melhor trabalho de origi-nais, com destaque para “U.R.A. Fever”, “Cheap andCheerful”, “Tape Song” ou “Last Day Of Magic”.Banda esta que vai estar, no próximo sábado, em maisuma noite “Clubbing”, na Casa da Música (Porto),com os The Whip na primeira parte.

PARA SABER MAIS:www.u2.com/www.shinealightmovie.co.uk/

www.cutcopy.netwww.thekills.tv/www.casadamusica.pt

The Rolling Stones “Shine a Light” (Universal)Cut Copy “In Ghost Colours” (Modular)The Kills “Midnight Boom” (Domino)

NOTAS SOLTAS

– O cantor e compositor britânicoGary Brooker, fundador do ProcolHarum, um grupo rock dos anos 60, ven-ceu na passada semana uma batalha le-gal pelos direitos da canção “A whitershade of pale”, da qual se venderam 10milhões de cópias em todo o mundo.

O Tribunal de Apelação britânico deli-berou que o músico Matthew Fisher, quecolaborou com uma peça de órgão no temaoriginal de 1967, tem direito a reclamar aautoria partilhada, mas não as “royalties”.

Brooker, de 62 anos, recorreu àqueletribunal em Outubro do ano passado de-pois de Fisher, de 60, ter ganho a acçãojudicial que apresentara em 2006 no Su-premo Tribunal de Londres para recla-mar – 40 anos depois da gravação dotema – a autoria partilhada deste.

– O cantor britânico Bryan Ferryapresenta no Salão Atlântico do Casino

Espinho, no próximo dia 17 de Maio, oseu mais recente trabalho “Dylanesque”,que lançou em 2007, dedicado a temasde Bob Dylan.

Neste CD, o ex-líder dos Roxy Mu-sic reinterpreta onze canções de BobDylan, que apresentará ao vivo numconcerto único em Portugal.

Com 28 discos editados (14 dos RoxyMusic e outros tantos em nome pró-prio), Ferry conta com uma carreira de35 anos de sucesso com duas verten-tes, uma à frente dos Roxy Music eoutra a solo.

– A artista norte-americana Mere-dith Monk e o Vocal Ensemble ini-ciam no próximo dia 26 de Abril, noCentro Cultural de Belém (CCB), umadigressão de três espectáculos em Por-tugal que reúne vários momentos dasua carreira de 40 anos.

A digressão de Meredith Monk &Vocal Ensemble – com Katie Geis-

singer, Allison Sniffin e Theo Bleck-mann a acompanhar a compositora empalco – tem ainda agendados espectá-culos em Torres Vedras, no Teatro-Cine, a 30 de Abril, e em Portalegre,no Centro Artes e Espectáculos, a 1de Maio.

Compositora, cantora, coreógrafa,autora da chamada nova ópera e deinstalações, realizadora de cinema,Meredith Monk destacou-se nosanos 60 pelas suas performances in-terdisciplinares e pelas experiências emtécnicas vocais.

– O grupo Quinta do Bill celebra 20anos de existência com a edição do seuprimeiro DVD que regista o espectácu-lo gravado, no ano passado, em Tomar, asua cidade natal.

A primeira sala de ensaios da bandafoi na Quinta do Senhor Guilherme, co-nhecido em Tomar por Bill, facto quedeterminou o nome da banda, recordou

à Lusa Carlos Moisés.O DVD, editado pela Espacial, regis-

ta o espectáculo efectuado a 04 de Ou-tubro de 2007, no Pavilhão Municipal doJardim do Mouchão, em Tomar, apresen-tando 26 canções.

“Procurámos fazer uma retrospectiva dogrupo, cantando pelo menos duas cançõesde cada álbum editado, desde ‘Rumo’ atéao ‘Hora da Colmeia’ saído em 2006".

A formação actual do grupo inclui,além de Carlos Moisés (voz, guitarraacústica e flauta) e Paulo Bizarro (bai-xo), dois dos fundadores, Dalila Mar-ques (violino), Cató (guitarra), JorgeCosta (bateria) e Miguel Urbano(acordeão).

– O grupo português de música anti-ga Il Dolcimelo, que está a cumprir 15anos de actividade, edita este mês o pri-meiro trabalho discográfico, intitulado“Vilancicos do século XVI”, um reper-tório raro dedicado à natividade.

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20 DE 9 A 22 DE ABRIL DE 2008NACIONAL

A deputada socialista Teresa Portu-gal declarou-se anteontem (segunda-feira) favorável a um Acordo Ortográ-fico que “tivesse em conta os parece-res de linguistas”, numa audição par-lamentar sobre a matéria, realizada naAssembleia da República.

“O Acordo Ortográfico tem uma lon-ga e atribulada história, é um dos capí-tulos mais atormentados da história lin-guística portuguesa (…) Gostava deque a solução encontrada tivesse emconta os pareceres de linguistas, comoIvo de Castro”, afirmou Teresa Portu-gal, também vice-presidente da Comis-são de Ética, Sociedade e Cultura.

“Refazer para melhorar a versãoconseguida poderia ter sido o caminho– e poderia ser ainda o caminho”, de-fendeu.

A ratificação por Portugal do Acor-do Ortográfico, cujo texto data de 1990,está iminente, depois de uma propostade resolução do Governo nesse senti-

DEFENDE DEPUTADA TERESA PORTUGAL

Acordo Ortográfico devia ter contadocom pareceres de linguistas

do ter já dado entrada na Assembleiada República (AR) e ter baixado a duascomissões: a dos Negócios Estrangei-ros e de Ética, Sociedade e Cultura.

De acordo com a deputada socialis-ta, esta proposta de resolução “tem omérito de salvaguardar uma transiçãosem rupturas”.

Sublinhando “o valor histórico inco-mensurável” da língua portuguesa - enão só passado, também futuro - a re-presentante do PSD na comissão par-lamentar, Ana Zita Gomes, recordou,por sua vez, que a última vez que a ARdiscutiu esta matéria foi em 1999.

“A AR está a fazer hoje – e bem – oque o Governo não fez: ouvir os espe-cialistas”, comentou.

O deputado Pedro Mota Soares, re-presentante do CDS-PP, lamentou tam-bém o facto de o processo de adopçãodo Acordo Ortográfico se “arrastar háquase cem anos” e salientou que este“é um instrumento, um meio, e não um

fim em si”.Ou “como disse o professor Adria-

no Moreira” – citou – “a língua é nos-sa mas não é só nossa”.

“O português, como língua univer-sal, só se pode de facto internacionali-zar se houver acordo entre todos osEstados em que é língua oficial”, sus-tentou, acrescentando que o seu parti-do vai apresentar um projecto de reso-lução sobre a matéria.

Já João Oliveira, deputado do PCP,defendeu “a necessidade de tomar de-cisões, mesmo quando elas não sãounânimes”, referindo, no entanto, que“se coloca a questão de saber por queé que, depois de terem negociado eassinado o texto do acordo, nem todosos países o ratificaram”.

Desde a última vez que o tema foidebatido na AR, “há uma crítica do PCPque se mantém”, indicou o represen-tante comunista.

“O Acordo Ortográfico não está en-

quadrado numa verdadeira política dalíngua que o Estado português assu-ma”, observou.

Essa é, na opinião, do deputado,“uma reflexão mais profunda que ficapor fazer”.

O representante bloquista na Comis-são de Ética, Sociedade e Cultura, LuísFazenda, declarou que “a posição doBloco de Esquerda (BE) é de grandeabertura a este Acordo Ortográfico, auma aproximação ortográfica”.

O deputado do BE exortou ainda àrápida adopção do texto, que não im-plica alterações profundas na formaescrita da língua portuguesa, apenasaquelas que estão relacionadas com “oser da coisa e sua circunstância”.

“Temos de andar rapidamente [naadopção do Acordo], sempre com aideia de que não há decisões finais, coma ideia de que haverá outros acordos,com a ideia de que tudo é dinâmico”,defendeu.

Uma segurança mais próxima dos cidadãos e a confiança destes nas forçaspoliciais do Distrito foi a ideia central que resultou dos dois dias de fórum quedecorreu na passada semana em Coimbra sobre a temática da segurança. Nasessão de encerramento, Henrique Fernandes, Governador Civil de Coimbra,realçou a preocupação com a qualidade de vida dos cidadãos e do papel dasegurança no dia-a-dia, e defendeu a importância de fomentar junto dos maisjovens as práticas de cidadania, atitudes preventivas e as regras de segurança.O responsável felicitou também as forças policiais pelo trabalho desempenhadono combate à criminalidade e na promoção de uma maior segurança a todos osníveis junto dos cidadãos.

Forum Distrital de Segurançadecorreu em Coimbra

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21DE 9 A 22 DE ABRIL DE 2008 OPINIÃO

Renato Ávila

Joséd’Encarnação

POIS...POIS...POIS...POIS...POIS...

João PauloSimões

FILATELICAMENTE

A história da nossa independência remon-ta aos tempos em que a Península estavaocupada pelos Mouros e Visigodos. Queminiciou a luta pela posse dessas terras foi oConde Vímara Peres e os lugares a quehoje chamamos Porto, foram os primeiros aser conquistados.

A neta de Vímara instalou-se em Vima-raes, hoje Guimarães, tendo aí construídoum mosteiro e um castelo que ainda hojepode ser visto e visitado. Ficou então Gui-marães conhecida como o Berço da Naci-onalidade.

Portucale começou a ser conhecido.Portucale deriva das palavras Portus – lo-cal de paragem dos barcos – e Calle, alipara os lados de Vila Nova de Gaia. Eramtodas as terras existentes entre Douro eMinho. Com o tempo, o nome Portucaleevoluiu para Portugal. Era um território quegozava de alguma autonomia em relaçãoaos reinos de Leão e Castela. Mas os Mou-ros atacavam e D. Afonso VI pediu auxílioaos reinos europeus. Surgem então dois fi-

As imagens recentemente divulgadasna INTERN ET sobre um conflito entreprofessora e aluna, ocorrido em concei-tuada escola nortenha, lançaram perple-xidades e inquietações na comunidadeeducativa nacional.

Trazem elas à evidência uma situaçãode indisciplina e violência semelhante amuitas outras mais ou menos gravosasque, com preocupante frequência, vãoacontecendo nas nossas escolas.

Tão inusitado impacto terá derivadonão propriamente do insólito da ocorrên-cia mas por mostrar ao grande públicoum pouco daquilo que, quase diariamen-te, vai corroendo a instituição, no silên-cio do medo e à sombra das esburaca-das malhas da lei e da cúmplice indife-rença dos governantes.

A pouco e pouco, a escola tem idoperdendo a atmosfera de dignidade erespeito que potenciam a autoridade e adisciplina num preocupante abastarda-mento do seu ministério e na soez des-classificação e esvaziamento do papeldos professores.

De instrumento educativo e formati-vo por excelência, a instituição escolartem ido resvalando para uma situação deisolamento e subalternidade, de meracustódia dos educandos e de formal for-necedora de diplomas.

Dá-nos a impressão de que as famí-

Uma Escola de Pazlias estarão mais interessadas em que aescola ature estoicamente as rebeldestravessuras de seus filhos e os ponha àporta da universidade em vez lhes pro-picionar a criação de atitudes de civis-mo e hábitos de trabalho e de estudo.

Só assim se explica que os pais e en-carregados de educação, institucional-mente, se tenham mantido na penumbraquando a instituição escolar enfrenta apior onda de indisciplina, de agressivida-de e falta de respeito para com os pro-fessores.

O que está a passar-se é bem o refle-xo da sociedade em que vivemos. A umaclamorosa falta de civismo e gratuita vi-olência verbal, escrita e falada, dema-gogicamente empolados nos grandesmeios de comunicação social, à apolo-gia duma cultura do facilitismo minima-lista, do prazer absoluto, do desrespeito,da anarquia e do “chiquespertismo” gol-pista, associa-se a fragilização da insti-tuição familiar, não só pela generalizadafractura dos laços parentais e geracio-nais mas pela incapacidade de propiciaraos educandos o sólido desenvolvimen-to dum claro espírito crítico e são senti-do cívico e a apropriação de valores fun-damentais como sejam o respeito pelaautoridade, a disciplina, o trabalho e oesforço.

A escola pouco poderá fazer se ospais e encarregados de educação nãoassumirem a sua parte na educação dosfilhos.

A escola terá muita dificuldade emintervir cívica e socialmente enquanto osmedia e outros difusores de cultura fize-rem a apologia do desrespeito, da liberti-nagem na confrangedora mediocridadedas suas intervenções.

A escola muito dificilmente se afirmaráenquanto for descaracterizada e maltra-tada pelo paternalismo das leis que, pro-tegendo sobretudo os educandos e o po-der familiar, a deixa desarmada comovítima de tantas atitudes de insolência,rebeldia, indisciplina e violência.

A descabelada ofensiva levada a efei-to pelo governo contra os professoresdeixou marcas profundas na sua auto-estima e na sua respeitabilidade social,fragilizando de sobremaneira o seu ma-gistério.

A própria Ministra tinha consciênciadesse facto quando afirmou “ter perdidoos professores mas ganho os pais e en-carregados de educação”.

O que está a acontecer, resulta preci-samente da política de gabinete que im-plementou ao hostilizar os docentes e aodesprezar a sua experiência na imple-mentação das políticas e na feitura dosdiplomas que, directa ou indirectamente,vêm potenciando as situações de violên-cia e indisciplina.

Foram estulta e ingloriamente semea-dos demasiados equívocos, demasiadasconfusões, demasiados conflitos; estultaserá ainda a atitude de negar o óbvio emestranha contradição com o Ministério

Público.Urge fazer da escola um lugar de paz,

uma paz construída de dentro, uma pazpositiva.

No nosso modesto entender, há quereconstruir o “edifício” pela recriaçãodum ambiente de entendimento e acal-mia. É preciso, é urgente, desencadearo diálogo multilateral e a todos empenharnas grandes tarefas da criação e da ges-tão da disciplina na escola.

Há que empreender uma campanhade sensibilização da opinião pública paraos problemas da educação e da escola esensibilizar os grandes meios de comu-nicação social para a seriedade do seupapel como agentes educativos.

É necessário, é urgente dotar a esco-la dos meios humanos especializados quecoadjuvem as respectivas direcções naanálise sociológica dos acontecimentos,na intervenção psico-pedagógica sobrea delinquência e que as aconselhe a pro-jectar e executar as medidas adequadas.É que, equacionar apenas medidas desegurança e de intervenção disciplinar, émuito pouco e os efeitos, por meramen-te dissuasores, serão sempre provisóri-os. É prioritário diagnosticar para con-vencer e prevenir.

Não irá longe uma escola de políciase burocratas.

Impõe-se uma escola de alunos e pro-fessores.

Uma escola para educar.Uma escola de paz.

A conhecida escritora ia àescola falar. A professora inci-tou os estudantes a pesquisa-rem dados sobre a vida e obrada convidada.

E um deles trouxe o depoi-mento: «A senhora nascera em1143, era cega de nascen-ça…».

A escritora ainda perguntou:– E tu achas que essa senho-

ra sou eu?– Ó sotôra, era assim que

estava lá!“Lá” era, já se sabe, o sítio

da Internet.

1926 – Independênciade Portugal – 1ª emissão

dalgos franceses, de uma distinta família deBorgonha, D. Raimundo e D. Henrique queprestam tão importantes serviços ao rei deLeão e Castela, que este oferece as suasfilhas D. Teresa e D. Urraca em casamen-to bem como terras. A D. Henrique e D.Teresa, cedeu o rei as terras de Portucale,como Condado.

Desta união nasce um filho a que puse-ram o nome de Afonso Henriques. Rece-beu a sua formação em armas e, após amorte do pai, decidiu expandir o Condado etorná-lo independente. Luta contra sua mãepela independência do Condado ao saberque um segundo casamento da sua proge-

nitora poderia pôr em causa Portucale. Estaera também a opinião de alguns nobres que,em 1128 na batalha de S. Mamede, derro-tam D. Teresa.

Sempre avançando sobre os Mouros, D.Afonso Henriques conquista terras paraPortugal. Em 1143, no Tratado de Zamora,D. Afonso Henriques é reconhecido comorei de Portucale pagando uma espécie deimposto a seu primo e ao Papa para assimassegurar o reconhecimento do território queagora compreendia as cidades de Braga, Gui-marães, Porto e Coimbra.

(Baseado em “Nasce Portugal”, Colecção “Anossa história” de Crisóstomo Alberto, vol. 5)

(continua)

Esta emissão, tem por base dez selos.Foram desenhados por Eduardo AvelinoRamos da Costa. A gravura é de talha docede George Harrisson e Norman Broad, naThomas de la Rue, de Londres.

A emissão foi feita em folhas de 10x10selos que circularam de 13 de Agosto a 1 deDezembro de 1926 em papel pontinhado emlosangos denteado 14 de linha. As cores destaemissão são centro a preto e molduras comose segue na imagem do selo de D. AfonsoHenriques de 4 centavos.

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22 DE 9 A 22 DE ABRIL DE 2008INTERNET

IDEIAS DIGITAIS

Inês AmaralDocente do Instituto Superior Miguel Torga

MAIS GASOLINA

PRIMEIRO A SEGURANÇA

FUTEBOL SAPO VIDEOS

CARPOOLMISTÉRIO JUVENIL

MUSEU VIRTUAL ARISTIDES S MENDES

Os preços dos combustíveis em Portugal são umassunto que faz parte do dia a dia dos portugueses. Osite Mais Gasolina é um directório que permite aosutilizadores encontrarem postos de abastecimento emtodos os concelhos do distrito, assim como compararos preços.

O site é actualizado pela comunidade de utilizadorese traz muitas informações úteis aos automobilistas.Mediante um registo, os visitantes podem personalizara homepage para mostrar os postos de abastecimentofavoritos, assim como colaborar na manutenção e ac-tualização do precioso directório do Mais Gasolina.

MAIS GASOLINAendereço: http://www.maisgasolina.comcategoria: economia

A Brisa – Auto-Estradas de Portugal desenvolveuum programa educativo intitulado Primeiro a Segu-rança, com o objectivo de formar e educar com vista àcidadania, assim como promover uma cultura de segu-rança rodoviária.

No site do Primeiro a Segurança estão disponíveisos vídeos do Brisinha, que tentam passar aos cidadãosuma mensagem positiva de responsabilidade e aindainformação sobre os centros operacionais – espaçoscriados pela Brisa direccionados à informação da co-munidade escolar sobre segurança rodoviária. Um sitesimples mas que vale a pena visitar, atendendo às esta-tísticas dos acidentes rodoviários em Portugal.

PRIMEIRO A SEGURANÇAendereço: http://www.primeiro-a-seguranca.comcategoria: sociedade

As décadas de 70 e 80 foram os anos da televi-são por excelência, com as séries literárias a culti-varem o gosto pela leitura. O site Mistério Juve-nil recupera os livros, séries e anúncios televisivosque marcaram gerações.

À distância de um clique estão os livros de EnidBlyton, episódios da Abelha Maia e as Aventurasdo Tom Sayer. Há também um fórum e uma áreade links, para além das secções temáticas. Em des-taque está um site associado, ainda em fase expe-rimental, que promete mostrar os vídeos. Um sitepara andar uns anos para trás e relembrar outrostempos.

MISTÉRIO JUVENILendereço: http://www.misteriojuvenil.comcategoria: juvenil

Está online o Museu Virtual Aristides de SousaMendes, para lembrar o corajoso e honroso côn-sul português em Bordéus que salvou muitos judeusda perseguição nazi. O site está organizado emduas partes: Exposição Virtual e Base de Conheci-mento.

A Exposição Virtual apresenta três tópicos: Guer-ra, Fuga e Liberdade, e permite uma experiênciaaudiovisual interactiva e imersiva. O pano de fun-do são filmes da época, mapas e testemunhos re-ais. Os utilizadores que visitarem o site à procurade informação mais específica podem consultar aárea Base de Conhecimento, onde encontram umdirectório com informação relevante, bem catalo-gada e interligada. Um site indispensável para quea memória de Aristides de Sousa Mendes se man-tenha viva.

MUSEU VIRTUAL ARISTIDESDE SOUSA MENDES

endereço: http://mvasm.sapo.ptcategoria: História

O Carpool é uma espécie do De Boleia, masmais sofisticado. Trata-se de um site que pensa naeconomia e no meio ambiente e promove a partilhade viagens, fornecendo ferramentas importantespara quem viaja muito de carro e quer poupar acarteira, a par do ambiente.

Mediante um registo, os utilizadores têm acessoa um conjunto de funcionalidades que permitem tra-çar trajectos e calcular valores de poupança finan-ceira e ambiental. Para além disso, o Carpool im-plementou um sistema que reduz significativamen-te as falsificações e claro, o lixo electrónico. Car-pooling é uma nova palavra para acrescentar aoseu léxico se as viagens fazem parte do seu quoti-diano e a economia (financeira e ambiental) é umadas suas preocupações.

CARPOOL

endereço: http://www.carpool.com.ptcategoria: sociedade

O portal Sapo tem um espaço na rede para osamantes do futebol. Apesar do campeonato nacio-nal estar a terminar (e o primeiro lugar estar já de-cidido), vem aí o Euro 2008 e este site será indis-pensável para quem gosta de rever os melhoresmomentos dos jogos.

Aqui é possível rever as melhores jogadas e osmelhores golos, acompanhar as classificações, con-sultar os vídeos mais vistos, os mais recentes e osmais votados. Está online ainda a listagem dos pró-ximos jogos, dos melhores marcadores e uma se-lecção de destaques. Porque em Junho chega o Eu-ropeu, vale a pena adicionar este site aos seus fa-voritos ou, em linguagem Web 2.0, aos seus servi-ços de social bookmarking e de agregadores defeeds rss.

FUTEBOL SAPO VÍDEOS

endereço: http://futebol.videos.sapo.ptcategoria: Desporto

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