o centro - n.º 58 – 24.09.2008

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DIRECTOR JORGE CASTILHO | Taxa Paga | Devesas – 4400 V. N. Gaia | Autorizado a circular em invólucro de plástico fechado (DE53742006MPC) ANO III N.º 58 (II série) 24 de Setembro a 7 de Outubro de 2008 1 euro (iva incluído) Telef.: 239 854 150 Rua da Sofia, 95 - 3.º - 3000-390 COIMBRA Dia Mundial celebra-se no próximo sábado TURISMO PÁG. 13 SAÚDE MUNDO ANIMAL PÁG. 4 PÁG. 3 Muitos argumentos contra as touradas Correia de Campos lança livro em Coimbra PÁG. 17 EM CONÍMBRIGA PÁG. 22 Encontro internacional sobre os idosos PÁG. 2 Porca insuflável é originalidade em Alcobaça... JORNADAS DO PATRIMÓNIO DEFENDEU GOMES CANOTILHO NO ROTARY CLUB DE COIMBRA / OLIVAIS Para que haja melhor cidadania cidadãos têm de ser mais exigentes

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Versão integral da edição n.º 4 do quinzenário “O Centro”, que se publica em Coimbra. Director: Jorge Castilho. 24.09.2008. Site do Instituto Superior Miguel Torga: www.ismt.pt Visite outros sítios de Dinis Manuel Alves em www.mediatico.com.pt , www.slideshare.net/dmpa, www.youtube.com/mediapolisxxi, www.youtube.com/fotographarte, www.youtube.com/tiremmedestefilme, www.youtube.com/discover747 , http://www.youtube.com/camarafixa, , http://videos.sapo.pt/lapisazul/playview/2 e em www.mogulus.com/otalcanal Ainda: http://www.mediatico.com.pt/diasdecoimbra/ , http://www.mediatico.com.pt/redor/ , http://www.mediatico.com.pt/fe/ , http://www.mediatico.com.pt/fitas/ , http://www.mediatico.com.pt/redor2/, http://www.mediatico.com.pt/foto/yr2.htm , http://www.mediatico.com.pt/manchete/index.htm , http://www.mediatico.com.pt/foto/index.htm , http://www.mediatico.com.pt/luanda/ , http://www.biblioteca2.fcpages.com/nimas/intro.html

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Page 1: O Centro - n.º 58 – 24.09.2008

DIRECTOR JORGE CASTILHO

| Taxa Paga | Devesas – 4400 V. N. Gaia |Autorizado a circular em invólucrode plástico fechado (DE53742006MPC)

ANO III N.º 58 (II série) 24 de Setembro a 7 de Outubro de 2008 � 1 euro (iva incluído)

Telef.: 239 854 150Rua da Sofia, 95 - 3.º - 3000-390 COIMBRA

Dia Mundialcelebra-seno próximosábado

TURISMO

PÁG. 13

SAÚDE MUNDO ANIMAL

PÁG. 4PÁG. 3

Muitosargumentoscontraas touradas

Correiade Camposlança livroem Coimbra

PÁG. 17

EM CONÍMBRIGA

PÁG. 22

Encontrointernacionalsobreos idosos

PÁG. 2

Porca insuflávelé originalidadeem Alcobaça...

JORNADAS DO PATRIMÓNIO

DEFENDEU GOMES CANOTILHO NO ROTARY CLUB DE COIMBRA / OLIVAIS

Para que hajamelhor cidadaniacidadãostêm de sermais exigentes

Page 2: O Centro - n.º 58 – 24.09.2008

2 24 DE SETEMBRO A 7 DE OUTUBRO DE 2008COIMBRA

Director: Jorge Castilho(Carteira Profissional n.º 99)

Propriedade: AudimprensaNif: 501 863 109

Sócios: Jorge Castilho e Irene Castilho

ISSN: 1647-0540

Inscrito na DGCS sob o n.º 120 930

Composição e montagem: AudimprensaRua da Sofia, 95, 2.º e 3.º - 3000-390 Coimbra

Telefone: 309 801 277 - Fax: 309 819 913

e-mail: [email protected]

Impressão: CIC - CORAZEOliveira de AzeméisDepósito legal n.º 250930/06

Tiragem: 10.000 exemplares

A Lexus, prestigiada marca de auto-móveis de luxo, já chegou a Coimbra. Oevento de abertura decorreu no passado

Lexus abriu espaço em Coimbra

INFORMAÇÃO COMERCIAL

fim-de-semana, dando a conhecer umespaço que prima pelo requinte e confor-to, seguindo a mais recente expressão damarca em identidade corporativa.

O novo espaço proporciona um con-tacto directo com o universo Lexus, con-tando para isso com a gama completapara exposição e para realização de “testdrive”, incluindo a novidade mais recen-te da marca, o superdesportivo IS-F do-tado do motor V8 com 423 cavalos; e otopo de gama LS600h, que incorpora tec-nologia híbrida, Lexus Hybrid Drive, quepermite combinações únicas de desem-penho, economia e ecologia, sendo amesma tecnologia que equipa também osmodelos RX 400h e GS 450h.

Este é já o 3.º Centro Lexus no Paíse, de acordo com os seus responsáveis,“insere-se na estratégia de crescimentoqualitativo e sustentável da marca aliadaao compromisso de continuamente dis-ponibilizar os melhores serviços de Ven-da e Após Venda aos seus clientes”.

E acrescentaram:

“A Lexus destaca-se também pelasua liderança nos principais estudosde Satisfação de Clientes. O estudo‘J.D. Power and Associates’ decla-rou, pela oitava vez consecutiva, aLexus como líder de satisfação de cli-entes no Reino Unido em 2008. Tra-ta-se de um feito jamais igualado porqualquer outra marca. Esta liderança

na satisfação de clientes aliada à ele-vada qualidade de construção e maisavançada tecnologia colocam a mar-ca Lexus numa referência entre asmarcas Premium, cuja assinatura –Busca da Perfeição – é assumida,também, como um compromisso inter-no de toda a equipa que constitui onovo Centro Lexus Coimbra”.

A frente do superdesportivo IS-F dotado do motor V8 com 423 cavalos

DEFENDEU GOMES CANOTILHO NO ROTARY CLUB DE COIMBRA / OLIVAIS

“Cidadania e cidadãos difíceis” foio tema escolhido por Joaquim GomesCanotilho para a comunicação queapresentou anteontem à noite (segun-da-feira), durante um jantar promovi-do pelo Rotary Clube de Coimbra /Olivais.

Saudado pela Presidente do Clube,Helena Goulão (Professora da Facul-dade de Medicina de Coimbra), o ca-tedrático de Direito foi apresentadopelo Vice-Presidente do Clube, Antó-nio Santos Cabral (juiz conselheiro doSupremo Tribual de Justiça).

Gomes Canotilho começou por re-velar que está a ultimar um livro inti-tulado “As normas jurídicas não sãodeclarações de amor”, para justificar,logo de seguida, a designação que deraà sua intervenção.

De acordo com o mestre de Direi-to, a cidadania e a política são difí-ceis, porque os cidadãos também sãodifíceis.

Sustentando as suas afirmações emanálises filosóficas sobre o Mundo esobre os problemas que o afectam, Go-mes Canotilho aludiu a “formas de de-mocracia parlante e dançante”, dizen-do que se fala muito mas pouco se dis-cutem os problemas concretos dos ci-

Para que haja melhor cidadaniacidadãos têm de ser mais exigentes

dadãos.O professor de Direito defendeu

que os cidadãos têm de ser mais par-ticipativos e mais exigentes com os po-líticos.

Citou, como exemplo, o que sucedecom os Orçamentos de Estado, quesão elaborados sem ouvir nunguém e

que quase ninguém conhece, muitoembora sejam determinantes para aconcretização das políticas e o desen-volvimento da sociedade.

Sustentou que para alterar este es-tado de coisas o cidadão tem de sermuito mais difícil, no sentido de sermais exigente, mais vigilante, mais par-

ticipativo.Numa sessão muito concorrida, o

convidado respondeu depois a diver-sas questões colocadas por elemen-tos da assistência, entre os quais o seucolega de curso na Faculdade de Di-reito de Coimbra, o juiz conselheiroÁlvaro Laborinho Lúcio, que teve pa-lavras muito elogiosas para o pales-trante.

O juiz conselheiro Santos Cabral, Joaquim Gomes Canotilho e HelenaGoulão, Presidente do Rotary Club de Coimbra / Olivais

Começou ontem e decorre atésábado, em Coimbra (Faculdade deLetras e Instituto Justiça e Paz)o 8º congresso da InternationalPlutarch Society, sobre o tema“Symposion e philanthropia emPlutarco”.

O evento reúne quase 70 con-ferencistas, provenientes de 14países.

Durante o encontro, serão lan-çados três volumes relacionadoscom a temática do banquete noMundo Antigo.

CONGRESSOINTERNACIONALSOBRE PLUTARCO

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324 DE SETEMBRO A 7 DE OUTUBRO DE 2008 NACIONAL

Temos uma excelente sugestãopara uma oferta a um Amigo, a umFamiliar ou mesmo para si próprio:uma assinatura anual do jornal“Centro”

Custa apenas 20 euros e ainda re-cebe de imediato, completamentegrátis, uma valiosa obra de arte.

Trata-se de um belíssimo trabalhoda autoria de Zé Penicheiro, expres-samente concebido para o jornal“Centro”, com o cunho bem carac-terístico deste artista plástico – umdos mais prestigiados pintores portu-gueses, com reconhecimento mesmoa nível internacional, estando repre-sentado em colecções espalhadas porvários pontos do Mundo.

Neste trabalho, Zé Penicheiro,com o seu traço peculiar e a incon-fundível utilização de uma invulgarpaleta de cores, criou uma obra quealia grande qualidade artística a umprofundo simbolismo.

De facto, o artista, para represen-tar a Região Centro, concebeu umaflor, composta pelos seis distritos queintegram esta zona do País: Aveiro,Castelo Branco, Coimbra, Guarda,Leiria e Viseu.

Cada um destes distritos é repre-sentado por um elemento (remeten-do para o respectivo património his-tórico, arquitectónico ou natural).

A flor, assim composta desta for-

ma tão original, está a desabrochar,simbolizando o crescente desenvolvi-mento desta Região Centro de Portu-gal, tão rica de potencialidades, de His-tória, de Cultura, de património arqui-tectónico, de deslumbrantes paisagens(desde as praias magníficas até às ser-ras imponentes) e, ainda, de gente hos-pitaleira e trabalhadora.

Não perca, pois, a oportunidade dereceber já, GRATUITAMENTE ,esta magnífica obra de arte (cujas di-mensões são 50 cm x 34 cm).

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Poderá também dirigir-nos o seu pe-dido de assinatura através de:

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O ex-ministro da saúde, António Correiade Campos, apresenta hoje (quarta-feira, dia24), pelas 18h30, na livraria Almedina Está-dio, em Coimbra, o seu novo livro intitulado“Reformas da Saúde – O Fio Condutor”,em que faz o balanço das várias políticas dosector adoptadas durante os três anos doseu mandato.Na sessão de lançamento, oautor e o constitucionalista Vital Moreiraconversam sobre as diferentes medidas po-lémicas e controvérsias que levaram à saí-da antecipada de Correia de Campos do Go-verno, em Janeiro de 2008.

“A razão mais importante para o alar-gamento das taxas moderadoras ao inter-namento e à cirurgia do ambulatório nãofoi nem o objectivo moderador, nem o ob-jectivo financiador, mas sim uma prepa-ração da opinião pública para a eventuali-dade de todo o sistema de financiamentoter de ser alterado, caso as medidas deboa gestão que tínhamos adoptado no SNSnão se revelassem suficientes para ga-rantir a sustentabilidade financeira do sis-

HOJE EM COIMBRA, LANÇAMENTO DE LIVRO DO EX-MINISTRO DA SAÚDE

Correia de Campos e Vital Moreiradebatem “Reformas da Saúde”

tema”, revela António Correia de Cam-pos, nas páginas do livro, sobre uma dassuas decisões mais criticadas.

Publicada pelas Edições Almedina, nacolecção “Olhares Sobre a Saúde”, “Re-formas da Saúde – O Fio Condutor” assu-me-se claramente como uma obra política,uma vez que corresponde a escolhas dife-renciadas e por vezes “a opostas vias deacção”, mas que, segundo o seu autor, res-pondem sempre a “uma escolha que deveser ditada pelo interesse público”.

Da contratação de médicos como tare-feiros à hora, da empresarialização dos hos-pitais públicos, da sustentabilidade financei-ra do actual modelo de Serviço Nacionalde Saúde (SNS), ao encerramento dos blo-cos de parto e das urgências e à criaçãoem 2006 de novas taxas moderadoras parao internamento e o ambulatório, o anteces-sor da actual ministra Ana Jorge esclareceao longo de 310 páginas as “decisões difí-ceis, impopulares, mas necessárias” queteve de tomar.

“Concentrar maternidades, requalificarserviços de urgência em locais previamen-te seleccionados e encerrar Serviços deAtendimento Permanente (SAP) no perío-

do nocturno, em troca da abertura de novasUnidades de Saúde Familiar (USF) não foitarefa fácil”, sublinha Correia de Campos,defendendo que optou por “reformas neces-sárias para que as políticas correspondamàs aspirações da maioria dos portugueses”.

“Escolher implica risco, sacrifício e im-popularidade temporária e localizada; impli-ca coragem em seguir um rumo, em lançaro fio condutor que una as reformas”, escre-ve Correia de Campos no seu livro, em jeitode conclusão. A análise e as conclusões doex-ministro da saúde, oito meses após a suademissão, contribuem para o debate de gran-de actualidade que envolve o funcionamen-to do sistema nacional de saúde pública.

Licenciado em Direito pela Universida-de de Coimbra, António Correia de Cam-pos fez da Economia da Saúde, da Políticade Saúde e da equidade, da Segurança So-cial e da Administração Pública, a sua espe-cialidade, sendo, nestas áreas, autor de cin-co livros e de cerca de cem artigos científi-cos em revistas nacionais e estrangeiras.

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4 24 DE SETEMBRO A 7 DE OUTUBRO DE 2008MUNDO ANIMAL

Salvador St.AubynMascarenhasMédico Veteriná[email protected]

É óbvio que os touros sofrem querantes, quer durante, quer após as toura-das. A deslocação do animal do seu ha-bitat, a sua introdução num caixote mi-núsculo em que ele se não pode mover eonde fica 24 horas ou mais, o corte doschifres e as agressões de que é vitimapara o enfurecer; ao que se segue a per-furação do seu corpo pelas bandarilhasque são arpões que lhe dilaceram as en-tranhas e lhe provocam profundas e do-lorosas hemorragias; e finalmente, natourada à portuguesa, o arranque brutaldos ferros; e tudo isto, já sem se referira tortura das varas e do estoque na tou-rada à espanhola – representa, semquaisquer dúvidas, sofrimento intenso einsuportável para um animal tão sensívelque não tolera as picadas das moscas eas enxota constantemente com a caudaquando pasta em liberdade.

As touradas do nossodescontentamento

Uma televisão em Portugal exibiu hátempos um documentário sobre o que sepassa na retaguarda das touradas. Quan-do chegou à fase final do arranque dasfarpas o funcionário da praça não permi-tiu a filmagem por a considerar demasia-do impressionante. Mas ouviam-se oshorrendos uivos de dor que o animal emi-tia dos seu caixote exíguo e que eram defazer gelar o sangue dos telespectadores.

E tudo isto para gáudio de uma multi-dão que a cada novo ferro cravado e acada nova e mais profunda perfuraçãoda vara, vibra com um gozo em que acomponente sádica é óbvia.

Perante a evidência de que o tourosofre – e sofre intensamente – ao sertoureado, os aficcionados desdobram- seem atabalhoadas tentativas de justifica-ção que não obedecem a um mínimo derazoabilidade, atingindo alguma vezes as

raias do surrealismo.É o que faz um médico veterinário,

aficcionado, num artigo publicado noBoletim da Ordem dos Advogados aoafirmar que “só se pode pronunciar so-bre os aspectos éticos da tourada quemconhece o espectáculo”. Conclusão que,salvo o devido respeito, é completamen-te absurda, certo como é que os aspec-tos cruéis acima referidos são óbviospara quem quer que os presencie, nãosendo necessário estudar tauromaquiapara chegar à conclusão de que o touroé objecto de grande sofrimento ao serfarpeado e estoqueado.

Durante muito tempo afirmou-se que ostouros não sofriam nas arenas, porque aolibertarem a adrenalina durante a corridaficavam anestesiados. Nada mais falso.

As touradas, quer sejam de praça ou àcorda, provocam sofrimento nos touros.

É de facto difícil afirmar o que é queum Touro sente numa tourada. No en-tanto, os estudos científicos feitos atéagora apontam no sentido de que asagressões sofridas antes e durante ascorridas sejam não só dolorosas mas in-capacitantes. O touro fica com nervos emúsculos rasgados, e a quantidade desangue que perde continuamente enfra-quece-o. Não parece ser sensato pen-sar que isto pode ser agradável para oTouro, ou mesmo indiferente.

O touro, tal como os outros mamífe-ros, ao ter um sistema nervoso centraltem capacidade para sentir dor, ansieda-de, medo e sofrimento. E os sinais exte-riores que demonstra na arena denunci-am essas emoções. Não é, portanto, ra-zoável aceitar a ideia de que os Tourossofrem pouco numa tourada.

No artigo 10º da Declaração Univer-sal dos Direitos dos Animais lê-se quenenhum animal deve de ser explorado

De acordo com notícia divulgada pela agência LUSA, um touro foi abatidoilegalmente. no passado dia 13, na vila medieval de Monsaraz, no Alentejo, nofinal de uma novilhada popular, alegadamente “cumprindo uma tradição reivin-dicada pela população local”.

De acordo com a notícia “o golpe fatal foi desferido cerca das 19:45, depoisde o touro ter sido laçado e preso ao muro da arena, na antiga praça de armasdo castelo de Monsaraz, histórica povoação localizada nas margens da albu-feira de Alqueva”.

A notícia diz ainda: “O abate do touro não foi presenciado pela assistênciaque enchia o castelo (mais de 1.500 pessoas, segundo a organização), por oanimal ter sido coberto com um pano negro.

Apesar de o abate ser ilegal, por não lhe ter sido reconhecido o carácter deexcepção previsto na legislação, a população de Monsaraz voltou a cumprir apromessa de manter a tradição que reivindica matar um touro no final danovilhada”.

Touro abatidoilegalmente em Monsaraz

para divertimento do homem e que asexibições de animais e os espectáculosque utilizem animais são incompatíveiscom a dignidade do animal.

A Tourada ocorre mundialmente emapenas 9 países. Um número considerá-vel de países já baniu a tourada por lei,como, por exemplo,. Argentina, Canadá,Cuba, Dinamarca, Alemanha, Itália, Ho-landa, Nova Zelândia e Reino Unido. Empaíses onde se realizam touradas exis-tem inclusivamente certas regiões que asaboliram, como por exemplo as IlhasCanárias e a cidade de Barcelona, emEspanha e grande parte da França.

As touradas mantêm-se em Portugalporque muitas das pessoas que estão nopoder são aficionados. No entanto, felizmen-te, a tendência, na Europa, é para que osdireitos dos animais acabem por vencer.

As touradas foram proibidas em Por-tugal por Decreto de 1836, da iniciativado então l.º Ministro Passos Manuel, porjá então, conforme se lê no Decreto, “se-rem consideradas um divertimento bár-baro e impróprio das nações civilizadas,que serve unicamente para habituar oshomens ao crime e à ferocidade”.

De então para cá, e apesar do re-torno das touradas, o certo é que cadavez mais se acentua a repulsa dos paí-ses civilizados por esse barbarismo me-dieval. Em Portugal, segundo sonda-gem recente, a percentagem de portu-gueses que não gosta de touradas é de74,5 % contra 24,7 que ainda gosta (Vd.“Público” de 26.08.02).

Mesmo acreditando que a tourada étradição ou cultura, isso nunca poderájustificar a crueldade com os animais:crueldade é crueldade, independente-mente do sítio no mundo onde ocorre. Acrueldade com os animais não tem lugarnuma sociedade moderna.

A imagem da esquerda é, naturalmente, uma encenação, que pretende alertar para a realidade chocantemente documentada na fotografia da direita.E essa, sim, é bem elucidativa do bárbaro sofrimento a que os animais são submetidos nas touradas

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524 DE SETEMBRO A 7 DE OUTUBRO DE 2008 MUNDO ANIMAL

O jovem lobo Fojo não sabe, mas ocolar com GPS que tem no pescoço per-mite aos investigadores do Projecto deInvestigação e Conservação do Lobo noNoroeste conhecer todos os seus pas-sos na Serra do Soajo.

“Este pode ser um dos animais queajuda a alimentar as crias, uma espéciede ‘baby-sitter’ da alcateia, já que re-gressa sempre ao local onde estão ascrias”, afirmou a bióloga Helena RioMaior, que tem monitorizado as deslo-cações do lobo desde que lhe colocou ocolar, na manhã de 20 de Agosto.

O Fojo, um macho entre um e doisanos de idade, pertence à alcateia doSoajo, que tem oito elementos confirma-dos, entre crias, adultos e sub-adultos,tendo sido apanhado numa armadilhacolocada na serra, junto ao local onde osinvestigadores tinham detectado a pre-sença de crias na noite anterior.

Durante cerca de uma hora, depois deanestesiado, o animal foi medido e pesa-do, tendo-lhe sido ainda retiradas amos-tras de sangue e de pêlo para análise,após o que foi libertado, já com um colarcom GPS colocado no pescoço.

“O colar começou logo a emitir, mas,nos primeiros dois dias, ele não se deslo-cou muito, talvez por estar ainda a recu-perar da anestesia”, salientou a investi-gadora, acrescentando, no entanto, queo centro de actividade do Fojo “foi rapi-damente identificado, é o local onde seencontram as crias”.

Trata-se de um comportamento nor-mal entre os lobos, que são animais so-ciais e se juntam para alimentar as cri-as, que, nesta altura do ano, com poucomais de três meses de idade, já não de-pendem exclusivamente do leite mater-no, mas ainda não saem do local ondenasceram.

O sistema está programado para de-terminar a posição do animal de duas emduas horas, enviando uma mensagemquando totaliza sete localizações, sendoos dados convertidos através de um pro-grama especial que projecta as localiza-ções num mapa, no computador.

“As incursões que ele tem feito parafora daquela zona são sempre para ca-çar e se alimentar”, frisou Helena RioMaior, destacando que esta situaçãopermite que os investigadores conhe-çam rapidamente os locais onde ocor-rem ataques de lobos.

Desde que tem o colar, há precisa-mente um mês, já ocorreram dois ata-ques em que o Fojo esteve envolvido,dos quais os investigadores tiveram co-nhecimento antes de ser levantado o

INVESTIGADORES COLOCAM COLEIRA COM GPS EM ANIMAIS AMEAÇADOS

“Dança” com lobosna Serra do Soajo

respectivo auto para efeitos de paga-mento de indemnização.

A rápida localização dos locais ondeocorreram ataques é apenas uma dasvantagens do colar com GPS, que tam-bém permite apurar se um determinadoanimal foi mesmo morto por lobos, o queé fundamental para efeitos do pagamen-to de indemnizações.

Por outro lado, o acompanhamentodas deslocações do Fojo pela Serra doSoajo já permitiu a identificação de doiseventuais ‘pontos de encontro’ dos lo-bos, locais onde permanecem durantealgum tempo depois de um ataque.

“Normalmente, o Fojo passa uma se-mana nas imediações do local do ataquee depois regressa à área onde estão ascrias, até precisar novamente de se ali-

mentar”, salientou Helena Rio Maior.Se tudo correr conforme o previsto,

o colar que o Fojo tem no pescoço vaicair, de forma automática, às 04:00 de12 de Outubro de 2010, altura em queos investigadores esperam conhecermuito melhor os hábitos da alcateia doSoajo.

O recurso à telemetria GPS é umanovidade do Projecto de Investigação eConservação do Lobo no Noroeste dePortugal, financiado pela empresa deenergias renováveis Vento Minho.

Este projecto de estudo do último gran-de predador da fauna nacional está a serexecutado pela Associação para a Con-servação e Divulgação do Património deMontanha (VERANDA) e pelo Centrode Investigação em Biodiversidade e

Recursos Genéticos da Universidade doPorto (CIBIO).

Os investigadores esperam que as in-formações recolhidas com este projectopermitam melhorar as relações entre oshomens e os lobos, tornando mais fácil aprotecção dos rebanhos na montanha porse saber onde estão os predadores, mastambém a identificação dos ataques pro-vocados pelos lobos e o consequentepagamento das indemnizações.

O lobo é actualmente o último grandepredador da fauna portuguesa, sendoconsiderada uma espécie ‘em perigo’ hámais de uma década.

O mais recente censo nacional, reali-zado em 2002 e 2003, revelou a existên-cia de 65 alcateias, num total de cercade 300 indivíduos.

O jovem lobo “Fojo” vive no Minho com a sua alcateia, mais concretamente na Serra do Soajo. A fotografia foi-lhe tirada poucosminutos após ter acordado da anestesia que permitiu a um grupo de biólogos colocar-lhe ao pescoço a coleira que se vê naimagem. O que ele não sabe é que essa coleira tem um dispositivo de GPS que permite seguir todos os seus passos.Mas este método de “big brother” tem aqui um papel meritório, já que representa mais um contributo para o êxitodo Projecto de Investigação e Conservação do Lobo no Noroeste

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6 24 DE SETEMBRO A 7 DE OUTUBRO DE 2008INTERNACIONAL

Fiodor Lukyanov *

* in revista A Rússia na Política Global

O conflito militar no Cáucaso e o re-conhecimento da independência, em 26de Agosto, da Ossétia do Sul e da Abcá-sia, assinalaram o início de uma nova fasena luta pela influência no espaço pós-soviético. Antes da «guerra de cincodias» entre a Geórgia e a Rússia, os par-ticipantes desta pugna geopolítica nuncasublinhavam o seu carácter de concor-rência. Mas agora deixaram de fazersalamaleques.

Moscovo formulou de modo claro eindubitável a sua atitude em relação aospaíses vizinhos como «uma zona de inte-resses privilegiados» russos. A pretensãoa uma esfera de influência própria é arealização na prática da ideia de mundomultipolar, que até agora tinha um carác-ter abstracto e meramente conceptual.

Num mundo competitivo, cada póloreforça e amplia as suas possibilidades.Um elemento obrigatório é a existênciade «zona tampão», onde os interesses deoutros participantes do jogo podem, emprincípio, ter lugar, mas não são domi-nantes. O que, naturalmente, pressupõeuma confrontação, já que os interessesprivilegiados nunca são reconhecidospelos parceiros que vêm de fora.

PRINCÍPIOS DO SÉC. XIXNO SÉC. XXI

Os políticos ocidentais não param debater na mesma tecla: é inadmissível, nonosso século XXI, tentar pôr em práticaos princípios do século XIX. Ainda noinício da crise no Cáucaso, a secretáriade Estado Condoleezza Rice declarouque Washington tudo fará para impedir

Cresce a concorrência geopolíticaMoscovo de realizar os seus objectivosestratégicos. Para os EUA, os seus pró-prios objectivos estratégicos não são umregresso ao século XIX. De facto, Wa-shington não tem esferas de influênciaregionais, já que os seus interesses seestendem a todo o mundo, sem qualquerexcepção.

A União Europeia rejeita toda e qual-quer retórica referente à época do «gran-de jogo», insistindo que as relações in-ternacionais no século XXI têm umabase muito diferente. Isto, porém, não aimpede de estender, passo a passo, assuas regras e normas aos países vizinhos,colocando «os padrões» delineadores dasua própria zona privilegiada.

O terceiro participante da pugna geo-política no espaço pós-soviético é a Chi-na. Pequim nunca recorre à retórica usa-da pelos EUA, pela Rússia ou por algu-mas potências europeias.

Do ponto de vista da China, todas equaisquer conversas sobre as zonas deinfluência são uma prerrogativa do colo-nialismo ocidental, acostumado a tratarcom desdém e arrogância todos os ou-tros povos. Isto não significa que paraPequim não existam «zonas de influên-cia». Mas elas não são referidas aberta-mente e descrevem-se apenas em ter-mos de «aspiração a uma harmonia uni-versal». Na prática, isto reduz-se a umavanço paulatino dos interesses econó-micos da China sempre e onde seja pos-sível. Por exemplo, nos Estados Indepen-dentes da Ásia Central.

FOCOS DA LUTAGEOPOLÍTICA

Não é difícil adivinhar os futuros fo-cos da luta geopolítica no espaço pós-

soviético.A Pridniestrovie (a república na mar-

gem leste do rio Dniestre, com a capitalem Tiraspol, que se autoproclamou inde-pendente em 1991) na Moldova, onde aRússia empreende agora esforços diplo-máticos. O Kremlin está interessado emdemonstrar a sua capacidade de resol-ver as crises existentes não apenas porvia militar, mas também política. A julgarpelas últimas notícias, Moscovo, Kishi-neu e Tiraspol estão perto de concreti-zar um plano de solução concebido há 5anos e abortado então pelos EUA e UE.

A regularização do conflito congeladoprevê uma neutralização da Moldova(assumindo a obrigação de não entrar naNATO) e uma presença militar russaneste país. É difícil supor que Washing-ton fique de braços cruzados, se a pers-pectiva de semelhante solução do con-flito for real. Isto não agradou aos EUAe à UE em 2003, e dificilmente concor-darão com este plano agora, nas condi-ções da concorrência estratégica aber-ta. Mas inviabilizar esta solução na Prid-niestrovie significa reconhecer que osEUA e a UE prezam não a integridadeterritorial da Moldova, e querem apenasimpedir que Kishineu fique na órbita deMoscovo. Neste caso, a possibilidade deresolver o conflito congelado tornar-se-á puramente teórica.

Nas condições do actual conflito geo-político, cresce o papel da Bielorrússia.Para a Rússia, é a única brecha no cer-co dos adversários a oeste das suas fron-teiras. Para Washington e Bruxelas, éuma chance de afastar de Moscovo oseu único aliado institucional. O presiden-te Alexander Lukashenko é um mestrede tirar vantagens de qualquer situaçãoe tem agora inúmeras oportunidades. O

OS FUTUROS FOCOS DE LUTA NO ESPAÇO PÓS-SOVIÉTICO

líder bielorrusso quer que o Ocidente re-conheça a legitimidade das eleições par-lamentares, a terem lugar brevemente,que sejam descongeladas as relaçõespolíticas com os EUA e reactivadas asrelações com a UE. De Moscovo querobter condições vantajosas de forneci-mento de gás natural russo e outras pre-ferências económicas.

O terceiro palco do conflito serão os vi-zinhos da Geórgia no Cáucaso do Sul. A«guerra de cinco dias» colocou a Arménianuma situação difícil, dado que o gasodutocom gás natural russo passa pelo territóriogeorgiano. Em Erevan receiam que Mos-covo possa exigir do seu aliado caucasia-no um apoio mais concreto. Estragar asrelações com a Geórgia, um importanteparceiro económico, onde vive uma nume-rosa minoria arménia, vai agravar a situa-ção económica da Arménia. Mas desiludira Rússia é ainda mais perigoso, pois deMoscovo depende muito, inclusive a situa-ção na Nagorny-Karabakh.

A Turquia, caso sejam restabelecidasas relações diplomáticas entre Erevan eAnkara, pode transformar-se numa po-tência regional, cujos interesses nemsempre coincidirão com os dos EUA eda UE. Para a Rússia, isto abre novasoportunidades, mas também promete umaconcorrência acrescida.

Mas o principal palco para um verda-deiro embate geopolítico, agora aberta-mente referido tanto nos EUA como naRússia, será, sem dúvida, a Ucrânia. Asituação neste Estado Independente nãopára de agravar-se. Mas mesmo sem estabatalha, que se adivinha próxima, o espa-ço pós-soviético parece cada vez mais umcampo de minas, onde cada movimentobrusco é prenhe de uma explosão.

Barroso pede à UE mil milhões de eurospara os países pobres

O presidente da Comissão Europeia, JoséManuel Durão Barroso, exortou anteontem(segunda-feira) os europeus a vencerem assuas reticências e desbloquearem mil mi-lhões de euros para os países pobres atingi-dos pela crise alimentar.

“É um teste muito importante: somos ounão sérios quando se trata de cumprir osnossos compromissos?”, questionou Barro-so perante os jornalistas durante uma con-ferência de imprensa em Nova Iorque aolado de cantores de rock e de militantescomo Bono e Bob Geldof.

Barroso lembrou que “os Estados mem-bros” tinham saudado durante o ConselhoEuropeu de Junho “a intenção da Comissãode fazer uma proposta” sobre a crise ali-mentar.

“Mas agora discutimos pormenores equando se chega aos pormenores, as coisasficam mais difíceis”, disse.

“O mais vergonhoso é que alguns dospaíses que lá estão esta semana tentam pa-rar a coisa”, denunciou Bob Geldof numareferência à Assembleia-Geral da ONU.“Alguns países europeus estimam que estapequena soma deve voltar para as suas al-gibeiras”, denunciou.

O cantor reconheceu que “muitas pes-soas vivem situações horríveis por causa doque se passa nos mercados financeiros”.Mas, acrescentou, “isso não é praticamen-te nada ao lado do que vivem mil milhões depobres”.

Questionado para nomear os países quefaziam esse bloqueio no seio da UE, Bob

Geldof respondeu: “Não ainda. Voltem sex-ta-feira!”, apelou, numa referência ao finaldo debate entre chefes de Estado na ONU.

Já Bono disse que não podia acreditarque “possam ser os alemães”.

“Eles foram heróicos nos últimos anospara tentar cumprir as promessas feitas emGleneagles” (Reino Unido) durante a cimeirado G8, assegurou o cantor do grupo U2. Achanceler “Angela Merkel sente verdadei-ramente qualquer coisa por África “, disse.

O executivo europeu pretende retirarmil milhões de de euros de fundos nãoutilizados da Política Agrícola Comum(PAC) para ajudar os países em desen-volvimento a aumentarem a sua produ-ção agrícola, nomeadamente financiandosementes e adubos.

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724 DE SETEMBRO A 7 DE OUTUBRO DE 2008 COIMBRA

Varela Pècurto

Os conturbados tempos que se vivem àescala global afligem milhões de seres hu-manos, crise económica que os elementosda Natureza se encarregam de agravar. Asdesgraças chegam a toda a parte, grandesou pequenas localidades, alterando a vidade cada um. Tudo se modifica e o equilíbriodá lugar ao desabar da estabilidade.

Os comércios e as indústrias vão à fa-lência. O cidadão que viveu durante anossem inquietações ou desajustamentos, numápice vê-se confuso no seu meio, ao perdervalores e referências em que sempre seapoiou. As mutações propiciam a desesta-bilização. As ruas têm agora ambiente des-conhecido. No íntimo de cada um entra umdesconforto que altera o comportamento.

O que é hoje uma espécie de percursoda saudade para os mais idosos, foi háanos a mais movimentada e importantezona da cidade de Coimbra.

Ninguém era apressado, os cafés encer-ravam tarde e na Calçada a conversa pro-longava-se para além da meia-noite.

O meu amigo Silvano é um saudosistae a crise também o afecta. Mas, comotive ocasião de constatar, está decidido apôr-lhe fim. Num destes domingos encon-trámo-nos, descia ela do 4, à PSP, e eu aescadaria que o dr. Mendes Silva para alimudou - em boa hora, diga-se.

Vinha à baixa, hábito semanal que lheconheço desde sempre. Mas, com os esta-belecimentos fechados é óbvio que se tra-tava da passeata costumeira para lembrarum passado ainda não distante. No Verão,a Calçada e imediações tem alguma anima-ção com festas sonoras e coloridas. Masno Inverno?

Voltamos à estaca zero, responde oSilvano.

Passando a semana atrás de um balcão,longe da baixa e atendendo clientela paraquem já é sacrifício comprar o indispensá-vel, é de calcular que mantenha o hábito devir até à Calçada para rever locais da suapreferência. Um ritual.

Na Praça 8 de Maio, nome que rejeitaparta lhe chamar apenas Sansão, parámose o Silvano parecia tirar medidas às novasparedes, qual fiscal da Câmara, mas comóculos porque o meu amigo tem falta de vista.

Esboçou um sorriso para os repuxos quenem sempre esguicham água certinhos.Subimos a rampinha que não lhe mereceucomentários porque nunca ali escorregou,tal como acontece com o corrimão croma-do a que jamais se apoiou.

Na esplanada acolhedora do Santa Cruzparámos com dupla finalidade: continuar aconversa e tomar a bica.

O Silvano sentou-se de costas para oedifício que foi igreja e depois restaurante,onde se podia comer nas capelinhas que ti-veram santos. Proporcionavam intimidadeporque se mastigava sem estar à vista darestante clientela.

Passear na Baixa a recordar...

Aquele modo de se posicionar foi inten-cional. Logo após o primeiro gole retomou aconversa para me falar da loja do Seco, norés-do-chão da praça. Na esquina deste ladohouve uma Havaneza, antiguidades ondeesteve o Mizarela que tão cedo nos deixou,depois o Ribeiro dos perfumes na sua Gale-ra. Do que lá está agora nada disse, porquesão sapatos, mercadoria sem história, a nãoser que lembremos o Pombo da “Elegan-te”, que sempre teve um gato na loja, tradi-ção que se manteve. Mais reconfortadoscom tantas evocações, levantámo-nos e con-tinuámos rua acima, agora sem trânsito deviaturas, ausência que se lamenta por tercontribuído para a desertificação.

Fomos observando o que está inalterado,aceitando as modernidades porque afinal oque falta é gente a comprar.

Mas a nostalgia apoquentava-o. A ausên-cia de velhos amigos e conhecidos causa-va-lhe tristeza.

Citou o delicado Lopes da Casa das Lãse, do lado contrário, o Neves dos vidros, umdos criadores da cerveja de Coimbra, radio-amador e fotógrafo com câmara-escura tãobem equipada que fazia inveja a qualquerprofissional. Lembrou-se da Farmácia Do-nato, onde comprava remédios pagos a pres-tações. Ao virar-se para a Central, querodizer, onde esteve a Central, começou asorrir, numa fugaz descontracção.

Lembras-te, disse-me, quando era horade fechar, o dono voltava atrás para dar umempurrãozinho na porta para ter a certezaque estava fechada?

A graça não estava no procedimento massim nas três ou quatro vezes que o repetia.

O Nicola mantém-se. Falta-lhe é o Abe-lha. Tinha um cliente que ali almoçava comfrequência mas era um tanto ou quanto dis-traído. Um dia, já depois de ter almoçado,deu umas voltas e regressou ao Nicola.

Oh Abelha eu já almocei hoje?Não senhor doutor, ainda não subiu ao

restaurante, respondeu o malandro, anteven-do uma boa partida a tanta distracção.

Depois de ter almoçado segunda vez, ajei-tando o monóculo, diz o cliente: oh Abelha!não sei que tenho hoje. Faltou-me o apetite.Comi pouco!

Continuámos. Adeus Singer; Jacinto Sil-va de nariz afilado de tanto lhe passar o indi-cador direito, em gesto frenético, incontá-veis vezes; delegação de “O Primeiro deJaneiro”, onde um grupo de notáveis batiacartas em pano verde todos os serões; Li-

vraria Atlântida, que me dizia respeito porser o responsável pela minha vinda para Co-imbra; Amado dos Cortinados, o homem quefumava de manhã à noite, acendendo cadacigarro na ponta do que ía deitar fora e quetinha um ódio de morte à Pide, não por tê-loprendido mas por lhe ter confiscado o seumuito estimado Citroen, modelo “arrastadei-ra” e que nunca mais viu porque alguémrodava nele noutras paragens.

Recordar as bicas e os companheiros quealternadamente frequentavam a Brasileirae o Arcádia causava sempre grande abaloao Silvino. Quando chegámos ao largo Mi-guel Bombarda (ou Portagem?) travou-meo passo bruscamente e diz-me convicto.Vou deixar de vir à baixa!

Com tudo o que me é necessário na zonaonde moro, porque hei-de mortificar-mesemanalmente com estas recordações?

Antes de nos despedirmos foi a minhavez. Contei-lhe que certo dia fotografei opatriarca da família Moura Marques na suaprimeira livraria (depois mudou para ondeestá hoje a Bertrand). Fiz uma grande am-pliação, coloquei-a na montra da Hilda nodia do seu aniversário, em jeito de homena-gem. O simpático e barbudo senhor era en-tão o mais velho livreiro de Coimbra e nun-ca tinha sido lembrado assim. Na sua livra-ria, um seu filho também reunia ao serãoum grupo de amigos que entre conversasamenas jogavam até à meia-noite. Dessegrupo fazia parte um oficial da GNR, pai defamoso jogador que foi da AAC.

Vês? diz-me o Silvino. Estás tão tomadopor estas recordações como eu.

Vou apanhar o 4 na Estação Nova, fi-nalizou.

Dando um passo atrás, segurou-meum braço e desabafou: O Astória e o Bra-gança vão ajudar-me a passar na Zara.Estavam ali o Internacional e os seus vi-zinhos, irmãos Cunha Pinto que vendiampara “matar o tempo” e por isso pratica-vam o preço de custo.

Adeus, até não sei quando!E lá regressou aos Olivais, onde o

meu amigo Andrade, num dia qualquer,vai proclamar a independência e ele-var a cidade a maior freguesia deCoimbra!...

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8 24 DE SETEMBRO A 7 DE OUTUBRO DE 2008OPINIÃO

A TIA MANUELA

O discurso de Manuela Ferreira Leitena rentrée do PSD foi um completa de-silusão. Dizem que Pacheco Pereira foio autor ou o inspirador desse texto políti-co. Não sei se foi, mas se sim é obvioque a minha desilusão também o atinge,apesar da enorme admiração e respeitointelectual que tenho por ele.

Sumariamente, Manuela Ferreira Leitefoi ao cardápio das críticas irresponsá-veis, das insinuações soezes, e fez desfi-lar, da primeira à ultima palavra, os ar-gumentos repetidos até ao vómito de quea maior parte das obras anunciadas peloGoverno são disparatadas, a inseguran-ça de agora é culpa inteira do Governo,a economia está de rastos, o TGV vaiser um desastre, o novo aeroporto nãose justifica, as reformas do ensino estãotodas mal feitas etc, etc. (...)

Emídio RangelCorreio da Manhã (13/Setembro/08)

O ENTERTAINER

Se Sócrates é o rei do virtual, Mene-zes persiste em não perceber que o pro-blema dele é ele próprio. Cada vez quediz alguma coisa – ou o seu contrário, doque nem se deve dar conta – um senti-mento de descrédito percorre a socieda-de portuguesa. A coisa não seria grave

se não contribuísse para desprestigiar omaior partido da Oposição, cuja imagemdeixou muito maltratada, como é sabido.

Falar em Congresso antecipado a umano das eleições é de quem quer ‘estoi-rar’, como é evidente. O primeiro-mi-nistro agradece. Espectáculo à margemda governação é sempre óptimo para oGoverno. Politicamente, entendamo-nos,por muitos carros de cilindrada que alu-gue, por muitos fatos que vista, Mene-zes é Menezes, a bengala, a caução,uma carta sempre boa para o primeiro-ministro e o Partido Socialista. É só pô-lo a correr e dar-lhe algum eco. Bemamparado. Ao primeiro-ministro con-vém que Menezes fale muito e muitasvezes. Ora, não há nada pior do que al-guém utilizável, dependendo, claro, doponto de vista (para Sócrates é exce-lente, para o PSD é péssimo). Menezesnão entende que entre ele e ManuelaFerreira Leite – concorde-se ou discor-de-se – há toda uma diferença entre oestável e a mais completa esquizofre-nia política de que aliás deu prova quan-do teve oportunidade.

De cada vez que Menezes fala, o Par-tido Socialista respira aliviado e agrade-ce embevecido.

Menezes deveria percorrer um cami-nho de autocrítica, mas continua semperceber que apesar de tudo não valetudo. Mas faz hoje como fez no passa-do: vale tudo. A todo o custo.

Não compreende nem compreenderáque não basta ‘comprar’ o que está àvolta ou tecer uma teia de cumplicida-des. Menezes não vive sem um qualquerpoder e exposição e as pessoas que nãovivem sem um qualquer poder não segovernam a si próprias, quanto mais aosoutros: destroem.

Cada vez mais Menezes se assemelhaa um entertainer ao serviço de Sócrates.

Paula Teixeira da CruzCorreio da Manhã (11/Setembro/08)

A ENTERTAINER

Fui uma das 75 mil almas que assisti-ram ao espectáculo grandioso que foi oconcerto da Madonna. Durante duashoras ficámos presos a uma encenaçãohipnotizante e coreografias estonteantespara 25 anos de músicas que todos sa-bemos trautear. Pouco importa que arainha cante em playback: ela é, sobre-tudo, uma entertainer que se sabe rein-ventar como nenhuma outra. E fá-lo naperfeição.

Mas duvido que os 75 mil espectado-res se tenham apercebido de quão privi-legiados são. Duvido que tenham valori-zado o facto de poderem assistir a esteespectáculo por vivermos num espaço deLiberdades a que chamamos o MundoOcidental. Madonna pode andar aos pu-los em pelota porque vivemos numa so-ciedade em que as mulheres não têm deandar de burca; ela pode achincalhar aIgreja Católica porque esta não decretasentenças de morte sobre os infiéis; elapode brincar às boazinhas-que—vão-sal-var-os-coitadinhos-a-África, indo lá umavez e adoptando um indígena, porque fezuma fortuna colossal numa economia demercado que tanto está na moda desde-nhar. Porque não foi ela fazer carreira noIrão, no Afeganistão ou… em África?! (...)

Teresa CaeiroCorreio da Manhã (16/Setembro/08)

A BELEZA DO CAPITALISMO

(...) A beleza do capitalismo especulati-vo na sua versão selvagem e neoliberal éque, quando um especulador global espir-ra, nós, os mal agasalhados, apanhamos umapneumonia. E quando, como eles tambémdizem, “a economia real arrefece” nós éque tiritamos de frio. Parafraseando o Papa,“o amor (deles) ao dinheiro é a raiz de to-dos os (nossos) males”. Fosse eu dado acoisas “new age” e veria nesta tumultuosaespécie de neo-Grande Depressão umamão astral. Não é que, algures além-tú-mulo (e, pelos vistos, aquém-túmulo) os ma-léficos utopistas Marx e Engels estão nes-ta altura a comemorar os 160 anos do Ma-nifesto Comunista?

Manuel António PinaJornal de Notícias (17/Setembro/08)

DE CÉSAR E DE DEUS

(...) Hoje temos, por um lado, um Esta-do que regulamenta em excesso, financiaabaixo dos custos e fiscaliza como e quan-do lhe convém, e por outro, um elevadonúmero de organizações que ao abrigo deuma subcontratação sofrem os solavancosdos ciclos políticos, a descontinuidade daspolíticas públicas, os ónus da contrataçãolaboral, a responsabilidade de milhares emilhares de cidadãos que o Estado lhestransfere, ao mesmo tempo que as subfi-nancia, impedindo qualquer sustentabilida-de e lhes vai tolhendo, pouco a pouco, asua identidade e liberdade de agentes so-ciais caritativos e desinteressados.

É que, ao contrário do Estado, a Igrejadesde sempre cuidou dos pobres, dos do-entes, dos desamparados, por motivos quese prendem com os próprios fundamentosdo cristianismo, com a missão evangélica,com a caridade, maior virtude teóloga.

(...) Ao contrário do que sucede no Rei-no de Deus onde o despudor e a impunida-de não são aceitáveis, no reino de Césaros governos podem ser despudorados e fi-carem impunes... E assim se vai andando,com os responsáveis puxando os cordeli-nhos nos momentos mais tácticos, comoos períodos pré-eleitorais, ou quando a po-breza se torna mediática.

Maria José Nogueira PintoDiário de Notícias (18/Setembro/08)

CIÊNCIA E RELIGIÃO

(...) a ciência não é crente nem é ateia.É pura e simplesmente ciência e, portan-to, quer crentes quer não crentes vão paraa ciência em pé de igualdade, com méto-dos científicos. A ciência não demonstraa existência de Deus nem a sua não exis-tência. A razão é simples: Deus não éobjecto de ciência, pois não é da ordemdo verificável empiricamente.

Há cientistas crentes e cientistas ateusou agnósticos. O que se passa é que, nolimite, há uma pergunta que transcende aciência: porque há algo e não nada? Por-que houve o Big Bang? Qual o sentido detudo?

Aqui, já não se trata de ciência, pois éuma questão filosófica e religiosa: o mun-do cria-se a si mesmo e explica-se por simesmo ou há um Deus transcendente epessoal, criador? Face a esta pergunta,crentes, ateus e agnósticos não interpre-tam o mundo de uma determinada ma-neira pelo facto de o serem; o que se pas-sa é o contrário: uns são crentes e outrosateus ou agnósticos, porque a interpreta-ção religiosa e a interpretação ateia ouagnóstica lhes parece, respectivamente,mais adequada, consistente e razoável.

Há fé, mas com razões. A ciência nosentido positivista não detém o monopólioda razão. A razão tem múltiplas dimen-sões e não se esgota nas ciências lógico-empíricas. Como disse Bento XVI, nasemana passada, no Colégio dos Bernar-dinos, em Paris, na presença de grandenúmero de intelectuais, é próprio da razãoperguntar por Deus e “uma cultura pura-mente positivista, que remetesse para odomínio subjectivo, como não científica, apergunta por Deus, seria a capitulação darazão, a renúncia às suas possibilidadesmais elevadas e, portanto, um fracasso dohumanismo”.

Quanto ao Génesis, primeiro livro daBíblia, que agora seria definitivamentearrumado, é preciso dizer que se trata deum livro religioso e não de ciência: utilizalinguagem mítico-simbólica para falar deDeus criador. Os crentes há muito deve-riam saber isso. Quem quiser lê-lo à letrahabita ainda o universo do ridículo

Anselmo BorgesDiário de Notícias (20/Setembro/08)

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924 DE SETEMBRO A 7 DE OUTUBRO DE 2008 OPINIÃO

OBAMA E A EUROPA

(...) Mas deve perguntar-se o que é quepode significar para a Europa a eleição deObama. Ele acabará com os benefícios fis-cais para as empresas que criem empregofora dos Estados Unidos, isto é, bloquearáas deslocalizações americanas para a Eu-ropa e a Ásia, e procurará repatriar o inves-timento americano no estrangeiro. Refor-çará as barreiras aduaneiras. Defenderá oproteccionismo e a guerra económica. Que-rerá renegociar as condições de existênciada NAFTA, impedir a entrada nos EstadosUnidos de produtos dos países emergentese também dificultar a concorrência europeia.

Diferentemente, McCain, que fala demercados estrangeiros abertos para os agri-cultores norte-americanos, defende esfor-ços multilaterais, regionais e bilaterais quepermitam reduzir as barreiras ao comércioe conseguir o cumprimento “fair” das re-gras de comércio global. Tudo isto vem aoencontro de interesses europeus numa mun-dialização a que nenhum país escapa.

Quanto ao Irão, ao Iraque, a Israel e ou-tras questões da mesma natureza, Obamatem sido sucessivamente contraditório, nãohavendo uma ideia clara quanto às suasverdadeiras intenções... O ponto em que temsido mais afirmativo respeita a uma retiradadas tropas americanas do Iraque sem aten-der às consequências, matérias em que Mc-Cain defende soluções mais moduladas,mais realistas e mais sensatas.

A eleição de Obama poderá sair muitocara a uma Europa em crise múltipla, pate-ticamente destituída de qualquer capacida-de militar digna desse nome e cronicamen-te dependente do parceiro americano paraa segurança dos seus cidadãos e do seu ter-ritório. Sabe-o a esquerda, e por isso exulta.Sabe-o a direita, mas só agora começa adizer alguma coisa. Enfim, afigura-se queMcCain vai ganhar. Felizmente.

Vasco Graça MouraDiário de Notícias (17/Setembro/08)

BUSH DESESTABILIZAO MUNDO

A diplomacia agressiva dos Estados Uni-dos, no final do mandato Bush, está a de-sestabilizar o mundo e a criar conflitos emdiferentes regiões. Na semana passada es-crevi, nesta mesma coluna, sobre o Cáuca-so, o conflito entre a Geórgia e a Rússia(estimulado pela NATO, braço armado dosEstados Unidos) aplacado in extremis pelaUnião Europeia, que percebeu o perigo emque incorria se concretizasse as ameaçasfeitas. Invocar o regresso à “guerra fria” éum disparate, num mundo de novo multila-teral e com diversos centros de poder...

Mais recentemente, Bush permitiu queas forças especiais americanas fizessemincursões no Paquistão, intervindo a partirdo Afeganistão, sem sequer avisar o Go-verno “aliado” do Paquistão. O objectivo eracapturar os terroristas da Al-Qaeda e ostalibãs nos seus santuários. O que, claro, nãoaconteceu. A NATO declarou – vá lá! –que as suas tropas não atravessariam a fron-teira do Afeganistão, tanto mais que o chefe

do Estado-Maior paquistanês, avisou, entre-tanto, que “o Exército defenderá toda a áreada sua soberania”...

Noutra região do mundo – a AméricaLatina –, os conflitos com os Estados Uni-dos também têm vindo a agudizar-se. Des-de, pelo menos, o princípio do séc. XX quea América do Norte considera os seus vizi-nhos do Sul, incluindo os mexicanos, comoseus tutelados, para não dizer “economica-mente colonizados”. Por isso, após a Se-gunda Guerra Mundial, a América do Norteinterveio militarmente - e sem complexos -em inúmeros países das Caraíbas, da Amé-rica Central e do Sul. Para tanto, instigadapelos teóricos da “escola de Chicago”, pro-moveu por toda a região ditaduras militares,derrubando, directa ou indirectamente, asdemocracias existentes. Os casos da Re-pública Dominicana, da Guatemala, do Chi-le, da Argentina, da Nicarágua, pós-Somo-za, do Brasil, para não falar da invasão dabaía dos Porcos, em Cuba, e do bloqueio aoregime de Fidel Castro, ficaram tristementecélebres.

Mário SoaresDiário de Notícias (16/Setembro/08)

O SABER DE SEMPRE

A grave situação causada pela interven-ção da Rússia na Geórgia teve um primeiroefeito desanimador que foi o de fazer re-cordar todo o dramatismo da guerra fria, oslongos anos de inquietação sobre a quebraeventual da paz, as previsões de então so-bre as consequências de um eventual re-curso às armas de destruição maciça.

A retórica de uma resposta musculadados ocidentais perpassou pelas declaraçõesmais ou menos oficiais dos governos euro-peus e americano, que rapidamente regres-saram à moderação que uma linguagemcuidada chama prudência, e que, com maistransparência, tem que ver com a relaçãode poderes, não necessariamente a que ava-lia as capacidades militares, apenas a queavalia as dependências externas em que oseuropeus se encontram.

(...) A narrativa que vai acompanhando asucessão de violações, ao mesmo tempo dapaz e da justiça, também vai demonstrandoque a lógica dos apelos anda por caminhosmuito diferentes dos da lógica da interven-ção: a insegurança no Chade não diminuiu,e impede mesmo a entrada da ajuda huma-nitária; no Zimbabwe, os representantes dacomunidade internacional avisam o Conse-lho de Segurança de que a situação é “umdesafio para o mundo”; o erro cometido noKosovo não animou de resultados a inter-venção da Missão da ONU; no Corno deÁfrica, a seca e a subida de preços dos gé-neros terá deixado mais de 14 milhões depessoas, que vivem em seis países, na mai-or carência alimentar. De tantas e longasdramáticas narrações, de tão dispendiosasintervenções em recursos materiais e hu-manos, de tanta inútil intervenção militar, detantas perdas de vidas, de futuros, e de es-peranças, a conclusão que parece abran-gente de todos os casos é que a paz conti-nua a ser um processo estritamente político,apoiado na concentração dos esforços in-

ternacionais. A UNESCO avisou, desdesempre, que a guerra começa no coraçãodos homens, e a longa história de desastresnão conseguiu inspirar melhor sabedoria.

Adriano MoreiraDiário de Notícias (16/Setembro/08)

O MISTÉRIO DO GÉNIO

(...) A arte sempre foi exigente. A maiorparte das obras de Aristóteles ou Praxítelesperdeu-se, Maquiavel só foi publicado de-pois de morto e Camões teve de salvar ooriginal de Os Lusíadas de um naufrágio.Muitos génios morreram jovens de doençashoje banais, Beethoven foi amargurado poruma surdez evitável e Bach ficou cego aopassar noites a compor à luz da vela. Hoje,pelo contrário, qualquer criança, sem custoou esforço, tem nas mãos uma tipografiamais universal que Cervantes, uma paletamais rica que Rafael, um estúdio mais so-fisticado que Chaplin. No entanto não ve-mos por cá génios como Cervantes ou Ra-fael. Nem sequer Chaplin. Temos cópias erepetição, poucos originais.

A incrível redução de custos da era dainformação revolucionou o mundo material.Deveria ter revolucionado o espiritual. Namúsica, literatura, poesia, pintura, arquitec-tura, desenho, filosofia, sobretudo na foto-grafia e cinema, os avanços modernos alar-garam enormemente o acesso e abriramnovos campos de criatividade. É verdadeque não facilitam algumas artes, como es-cultura, ourivesaria, teatro ou dança. Masmesmo nessas aumentaram a divulgação.No entanto os efeitos de tudo isto foramambíguos. Verificou-se, como seria de es-perar, uma explosão de boçalidade e dispa-rate, de obscenidade e malícia. O que fal-tou, e também se esperava, foi o aumentodas maravilhas de beleza, elevação, refle-xão e criação. (...)

João César das NevesDiário de Notícias (15/Setembro/08)

CAVACO “ACTIVISTA”

(...) É manifesto que Cavaco Silva temum entendimento “activista” da função pre-sidencial, explorando uma interpretação pos-sível da Constituição (embora eu seja adep-

to de uma maior contenção presidencial).Considero, porém, que uma intervençãopública demasiado frequente e dispersa,como tem sucedido por vezes, corre o riscoda banalização da função presidencial.

Há também alguns casos em que Cava-co Silva se tem pronunciado em termos con-cretos sobre assuntos específicos da esferagovernamental, o que me parece de evitar.

No que respeita ao exercício do seu po-der de veto político, só no caso da lei dodivórcio é que se manifesta um entendimen-to menos pacífico desse poder, já que emtodos os demais estavam em causa diplo-mas que tinham a ver com o Estado, directaou indirectamente, pelo que caem na esferade actuação do seu papel de supervisão dosistema político (...)

Vital MoreiraDiário Económico (12/Setembro/08)

TODA A VERDADE

(...) Confesso que, quando a SIC estreouo programa Momento da Verdade, temi opior. Julguei tratar-se de mais um produtotelevisivo aviltante, o que me colocaria umproblema difícil. Eu vejo pouca televisão,mas nunca perco um produto aviltante. Atelevisão tem uma capacidade de aviltar quenão é ultrapassada por qualquer outro meiode comunicação e por isso constitui, paramim, a principal fonte de aviltamento. Setomo conhecimento de que há produtos avil-tantes nas grelhas, pego nas pipocas e voupara o sofá ser aviltado. Imaginem o meualívio quando constatei que o Momento daVerdade é, afinal, serviço público, e o pro-grama mais interessante da televisão portu-guesa, quer do ponto de vista ético quer doponto de vista filosófico. Como é óbvio, umproduto com estas características não meinteressa. Para isso, vou ler livros.

O que o Momento da Verdade vem de-monstrar, e de forma fulgurante, é que, mes-mo a troco de dinheiro, dizer a verdade nun-ca é boa ideia. Toma lá esta, Platão. Se hou-vesse televisão na Grécia Antiga, um certoe determinado senhor teria uns aditamentosa fazer a certas e determinadas obras, nãoera? Era. (...)

Ricardo Araújo PereiraVisão (18/Setembro/08)

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10 24 DE SETEMBRO A 7 DE OUTUBRO DE 2008CRÓNICA

A OUTRA FACEDO ESPELHO

José Henrique Dias*

[email protected]

arte em café

* Professor universitário

É tarde. Consome-se a hora como se alguém ti-vesse de vir bater à porta. É assim desde o princí-pio, não me habituo a esta inevitável solidão. Dis-parate. Estamos sempre sós. Como morremos sem-pre sós. Às vezes parece outra coisa porque nãopercebemos tudo até ao fim. A distracção assalta-nos. A inquietude impacienta-nos. A realidade des-faz-nos. Somos uma espinha de peixe entre um gatoe um esgoto. Recolhi um dia de um poema e depoisfalei disto, mas não sei onde nem quando. Há pou-co tempo uma pessoa de quem gosto muito con-frontou-me com a tirania que há dentro de mim.Perguntava com voz alterada: julgas-te deus? Nãosei exactamente o que é isso, sei seguramente oque muitos julgam saber. Desde os primórdios dogrande desamparo. Como Freud explica em O nas-cimento de uma ilusão. Para mim não era absolu-tamente preciso. Tinha pensado nisso, embora demaneira incipiente, era ainda um rapazinho. Passoua interessar-me cedo o problema da individuação.Ancorei-me a partir da Urvertrauen, a “confiançaprimordial” que articula a conceptualização de au-

tonomia em Erik Erikson.Não sei porque estou assim. Que raio de coisa

leva a que permaneça no labirinto de mim no à sol-ta em Creta da traição do Eu? Já perceberam.

“A vida é intrinsecamente um naufrágio cons-tante. Mas ser náufrago não significa morrer afo-gado. […] A própria situação de naufrágio já é asalvação, uma vez que é essa a verdade da vida Épor isso que já não acredito em pensamentos quenão sejam de náufragos”.

Coisas de Ortega y Gasset a propósito de Goe-the. A verdade é que ninguém se importa com oque verdadeiramente somos. Só conta o sucessoque temos. A advertência vem-me de Arno Gruen,a espremer os miolos sobre a Desumanização do

Arco da traição

Homem e a Opressão da Mulher, com que estiveàs voltas para ver se saía do labirinto.

É tarde, estava a dizer. Consome-se a hora comose alguém tivesse de vir bater à porta. Comeceipor pensar. Quando se apertava o cerco em queme comprometi. As tarefas da profissão esgotam-me. Pensar é penoso para quem se obriga à exce-lência. Lembrei-me agora que foi qualquer coisaassim que ela me disse a propósito de artes perfor-

mativas na cama. Julgo que as palavras foram: paracertos momentos exijo a excelência. Era a últimahipótese que tinha para humilhar. As traições docorpo soltam a língua às oprimidas que se queremopressoras. Quando menos se espera atiram pe-dradas aos vidros da intimidade. Com a palavraamor diluída em baton.

Guardei tudo isto em mim quando a vi passar aporta a renovar, naquela sua maneira de olhar paratrás, o sorriso do até à próxima sessão. Terá sidoum sonho. A narrativa foi de um sonho. Começouexactamente assim: esta noite tive um sonho muitoestranho. Não era a primeira vez que se reconsti-tuía em sonhos que apelidava de estranhos. Nuncachego a saber se lhe interessam as possíveis inter-

pretações. Algumas são fáceis demais. Como sedizia no meu tempo de estudante, nas discussõesfilosofantes a um canto de A Brasileira, são daprimeira folha da Sebenta. Um módico de inteli-gência decifra tudo.

A Emerenciana tinha-me avisado. Já ali estáaquela paciente muito especial. Mando entrar? Tra-balha para mim há tantos anos que sei o que cadacoisa quer dizer. Fica com alguma inquietação sem-pre que recebo uma mulher bonita. O que se acen-tuou desde que fiquei viúvo. Não passou muito tem-po, parece que foi ontem, e no entanto correramcinco anos, sentenciou com algum atrevimento osenhor doutor depressa refaz a sua vida e bemmerece. Sei o que estava a reverenciar.

O relato começou ainda mal respirava do emba-te da aparição. Não posso negar que me perturba eapelo mais à disciplina interior do que ao aperto dadeontologia. Os colegas das outras especialidadeusam bata branca. Como diz algures o Torga, écomo a cortiça de castidade. Que põem aos car-neiros como um avental. Barreira de crueldade parao salto do desejo. A bata aspira funcionar no terri-tório subjectivo dos impulsos. Talvez alguns desa-marrem o avental da metáfora.

O sonho, doutor, foi assim: eu andava com ele demão dada por ruas muito estreitas. Becos, um labi-rinto. E ele dizia-me olha como definho, pareço umcadáver. Vê como estou magro e pálido. Eu olhavae não me parecia, mas ele insistia, insistia, fazia-me sentir que ia morrer. Depois saiu não sei dondeum enorme rato. Preto. Do tamanho de um cão.Odeio ratos e cães. Um terror. E eu gritava fora demim. Depois insultei-o, humilhei quanto pude, des-pi-o até à ínfima nudez da impotência disfarçada,que eu finjo que não é. Transporto-me em memó-rias passadas…

Não continuo. É tarde. Em verdade, nem sei háquanto tempo me contou o sonho. O desejo secretode morte era sobreviver a um amor sem futuro.Quando diminui a autonomia cresce a agressivida-de. Ainda sinto a sua sombra além da porta. Guar-do o rasto do perfume e retenho a produção a ver-melho e negro dessa tarde. A blusa intensa Cor desangue. O lento arfar do peito. O fato negro. Oolhar onde só cabe a excelência.

Sou fraco como os demais mas domino o possí-vel. Não sei se é por isso que me elegeram para acomissão de ética.

Desde que fiquei viúvo que a Emerenciana vigiaos meus odores. Sabe que não passará pela minhacama. Traições do Eu.

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1124 DE SETEMBRO A 7 DE OUTUBRO DE 2008 COIMBRA

Fotos de Carina Martins

A magia dos EncontrosCoimbra foi palco de mais uma edição dos “Encontros Mágicos”, uma iniciativa de Luís de Matos apoiadapela Câmara Municipal, e que tem trazido até ao nosso País alguns dos mais famosos artistas do ilusionismo,que maravilham miúdos e graúdos. Este ano assim voltou a acontecer, como documentam as imagens.

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12 24 DE SETEMBRO A 7 DE OUTUBRO DE 2008FOTOGRAPHARTE

REGATA DOS GRANDES VELEIROS - PORTO DE AVEIRO, 20.09.2008 Fotos de Dinis Manuel Alves

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1324 DE SETEMBRO A 7 DE OUTUBRO DE 2008 TURISMO

Celebra-se no próximo sábado (27de Setembro) o Dia Mundial do Tu-rismo.

Para assinalar a efeméride, a enti-dade responsável pelo Turismo emCoimbra (a Empresa Municipal Turis-mo de Coimbra), elaborou um conjun-to de actividades muito diversas, demolde a satisfazer os gostos de quan-tos estiverem em Coimbra nessa data.

Assim, e começando pela animação,o programa é o seguinte:

– Mercadinho do Botânico, das9h00 às 13h00, no Jardim Botânico,onde podem ser adquiridos produtosbiológicos, plantas, flores e outros ar-tios naturais.

– Feira das Velharias, das 9h00 às19h00, na Praça do Comércio (PraçaVelha). Uma mostra onde há de tudo,para todos os gostos e todos os preços.

– Actuação dos Saltimbancos do Gru-po de Teatro de Sobral de Ceira, das10h00 às 12h30, na Baixa da cidade.

NO PRÓXIMO SÁBADO

Diversas realizações em Coimbraassinalam Dia Mundial do Turismo

– Actuação do grupo “Roncos eCoriscos” (grupo de gaiteiros da Aca-demia de Música de Ançã), das 14h30às 18h00, no Centro Histórico e Bai-xa de Coimbra

– Espectáculo de Fado de Coimbra,às 19h30, junto ao Arco de Almedina.

Destaque ainda para uma exposi-ção da tradicional e artística Cerâmi-ca de Coimbra, com peças do séc.

XVI ao séc. XX.

PERCURSOS TURÍSTICOS

Para além das realizações atrás re-feridas, destaque para os seguintespercursos turísticos proporcionadosaos visitantes:

– 10h00 às 12h00 – Visitas ao con-junto monumental da Universidade deCoimbra (local de encontro: Posto deTurismo da Universidade)

– 10h00-19h00 – Autocarro Pano-râmico Fun(tastic)ª

– 11h00 – Da Alta à Baixa (localde encontro: Posto de Turismo da Uni-versidade)

– 15h00 – Parque Verde do Mon-dego (local de encontro: Posto de Tu-rismo da Portagem)

De sublinhar que neste o acesso atodas estas iniciativas é gratuito, es-perando-se grande adesão por parte dosvisitantes nacionais e estrangeiros.

Para além da Universidade, Coimbra tem muito mais para mostrar

À descoberta de BuarcosNa Figueira da Foz foi apresentada uma curiosa ini-

ciativa, intitulada “À descoberta de Buarcos”, promo-vida pela FGT (Figueira Grande Turismo).

Trata-se de um percurso urbano pela tradicional praiapiscatória de Buarcos, mas em versão de “pedipaper”.

Na apresentação à imprensa ficou a saber-se que atodos os participantes é fornecido um “jogo de pistas”

com a rota urbana, com o objectivo de dar a conhecerBuarcos numa perspectiva cultural e reveladora dastradições locais.

Assim, é também incentivado o contacto com a po-pulação local, através de um jogo que não se limita aoaspecto lúdico, mas pretende ser também pedagógico,com os participantes a terem de ir preenchendo o ques-

tionário que lhes é proposto.A descoberta inicia-se no Núcleo Museológico do

Mar, com a projecção de um filme sobre as pescas e asgentes do mar.

Segue-se o passeio pedonal, que pode ou não seracompanhado por um guia (depende da vontade dosparticipantes), e que demora cerca de duas horas.

Enfim, uma iniciativa muito interessante, que certa-mente vai ter grande adesão.

“À descoberta de Buarcos”, alguns jovens visitantes conversam com um pescador, frente ao mar

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14 24 DE SETEMBRO A 7 DE OUTUBRO DE 2008EDUCAÇÃO/ENSINO

A Federação Nacional dos Professo-res (Fenprof) lança a 1 de Outubro umabaixo-assinado a favor da revogação doEstatuto da Carreira Docente, uma dasvárias iniciativas que a estrutura sindicalpromove no âmbito do Dia Mundial dosProfessores.

“Sem professores respeitados, dig-nificados e valorizados não há escola,nem ensino de qualidade. E essa é a

Fenprof lança abaixo-assinadopela revogação do Estatuto da Carreira Docente

questão que não pode continuar a serignorada, sendo esse o mote da cam-panha em torno do Dia Mundial dosProfessores”, afirma a federação, emcomunicado.

Além desta iniciativa, será apresenta-da a 8 de Outubro uma proposta sobreavaliação de desempenho para discus-são pública nas escolas, que decorreráaté ao final do ano.

Após o contributo dos estabeleci-mentos de ensino, será definido o do-cumento final que o sindicato apresen-tará no período já definido pela tutelapara alterações ao modelo de avalia-ção de desempenho actualmente emvigor, que deverá decorrer em Junhoe Julho do próximo ano.

A 5 de Outubro, Dia Mundial doProfessor, será distribuído nas capi-

tais de distrito e em outras cidades umfolheto às populações sobre “a impor-tância da profissão de professor”. Osecretário-geral da Federação, MárioNogueira, participará nas actividadesprevistas para o Funchal.

Por outro lado, foi enviado a todosos grupos parlamentares um apelo aosdeputados para que aprovem uma“Saudação aos Professores”.

O primeiro-ministro anunciou ontem,em Matosinhos, o alargamento do pro-grama governamental de acesso a com-putadores e Internet aos alunos do 5º e6º anos de escolaridade.

Segundo José Sócrates, os alunos po-dem optar pelo “Magalhães”, disponíveldesde ontem para os alunos do 1º ao 4ºano de escolaridade, ou pelo programae-escolas destinado aos alunos do 7º ao12º anos de escolaridade.

“Podem optar pelo programa que maislhes convêm nas mesmas circunstânciaque os restantes alunos”, sublinhou JoséSócrates, que falava na escola EB1 Pa-dre Manuel de Castro, em S. MamedeInfesta, Matosinhos.

Nesta escola, o primeiro-ministro as-sinalou o início da distribuição dos cercade três mil computadores portáteis “Ma-galhães” aos alunos do primeiro ciclo.

“O dever de um governo, hoje, já nãoé apenas proporcionar formalmente odireito à educação. O dever de um go-verno é proporcionar uma boa educação.Foi por isso que avançámos com esteprojecto”, disse José Sócrates.

O primeiro-ministro lembrou que “estáprovado que o uso de ferramentas infor-máticas proporciona melhores índices deaprendizagem e melhora os resultados”.

“Estamos hoje a formar uma novageração de portugueses que domina oinglês e as tecnologias de informação ecomunicação. Será uma geração maisbem preparada e em melhores condiçõespara servir o objectivo do desenvolvimen-to do nosso país”, frisou.

O primeiro-ministro realçou que esteprograma e-escolinha, “além de melho-rar a educação, vai fazer chegar um com-putador a muitas casas onde isso aindanão tinha sido possível, funcionando as-sim, também, como uma oportunidade deinfoinclusão”.

Programa de acesso a computadoresalargado aos 5º e 6º anos

ANUNCIOU ONTEM JOSÉ SÓCRATES

“O Estado esteve na origem e liderouo projecto, mas este não é um programado Governo, é sim o resultado de umaparceria entre o Estado, a escola, os ope-radores e as autarquias”, vincou.

O primeiro-ministro criticou quem seempenha em desvalorizar o “Maga-lhães”, considerando que essa é “umaatitude de quem não precisa, porquequem precisa da ajuda do Estado ficasatisfeito por finalmente dispor de umprograma capaz de responder a dois de-

safios: melhorar a educação e melhoraros índices de utilização de computado-res”.

José Sócrates congratulou-se com ofacto de, em Portugal, todos os alunosdo 1º ao 12º anos de escolaridade terema partir de ontem acesso a um computa-dor em condições “muito vantajosas”,referindo, em relação à Internet, que to-das as escolas do país terão “uma velo-cidade de banda larga superior à queexistia”.

No total, serão entregues este ano lec-tivo 500 mil exemplares do “Magalhães”,que terão um custo máximo de 50 euros,sendo gratuitos para os alunos que be-neficiam do primeiro escalão da AcçãoSocial Escolar.

À semelhança do programa e.escola,que envolveu os estudantes do terceirociclo e do ensino secundário, os portá-teis “Magalhães” terão acesso à Inter-net de Banda Larga a custos reduzidos,mas a opção de ligação é facultativa.

José Sócrates e a Ministra da Educação andaram a distribuir computadores “Magalhães”por algumas escolas

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1524 DE SETEMBRO A 7 DE OUTUBRO DE 2008 EDUCAÇÃO/ENSINO

* Professora e dirigente do SPRC

Premiar… premiados

Há dias que não deviam acontecer.Há memórias bem recentes, da justezadesta afirmação. Mas aqui ela vem apropósito do passado dia 12 de Setem-bro, denominado pelo governo do primei-ro-ministro José Sócrates como “Dia doDiploma”. Tratou-se evidentemente demais um dia de propaganda e auto-elo-gio. Mas em democracia isso é aceitá-vel como também é necessário fazer adenúncia de tais factos e desmistificaractos de pura demagogia.

Que se celebre o fim de um ciclo dacaminhada escolar, “nada de ressenti-mentos”, para usar a expressão de Jor-ge de Sousa Braga no seu magníficopoema “Portugal”; que se reconheçapublicamente o mérito de raparigas erapazes que se esforçaram, que tenta-ram ir mais longe e mais alto, “nada deressentimentos”. Mas, atribuir prémiospecuniários, já nos parece uma medidano mínimo desavisada e que parece quetem como único intuito, “cegar” os por-

tugueses para outras realidades tristes einaceitáveis.

Vejamos então: salvo poucas e conhe-cidas excepções, os jovens agora premi-ados são oriundos da classe média emédia-alta. Na verdade, o que fez maisnotícia foram as excepções. Vimos atéà exaustão, as declarações dos premia-dos que não pertenciam a uma reduzidaelite. Esses é que chamaram a atenção.Evidentemente porque dos outros já seesperava. Então decidiu este governoentregar quinhentos euros a jovens quetêm pais mais ou menos cultos e infor-mados, a alunos que podem ver mais ci-nema e escutar música mais sofisticada,que contactam com revistas de especia-lidade, que viajam mais. E fazem tudoisto porque a família tem capacidadesfinanceiras, até para lhes proporcionarapoios pedagógicos e didácticos que osajudam exactamente a ser os melhores.

Assistimos assim a uma reproduçãoque aprofunda as desigualdades de opor-tunidades.

Reafirmo: que se reconheça o mérito,

o empenho, o entusiasmo de alunas e alu-nos. É bom sentir-se que valeu a pena oesforço. Vão lembrar-se pela vida inteiradesses momentos e fazer deles faróis queiluminem outros desafios. Agora, prémiosdo tipo quinhentos euros e festinha, não.

Há poucos dias confidenciava-me umamigo que fez com grandes dificuldadeseconómicas, nos anos sessenta, o então“liceu”, para o qual se deslocava cercade dez quilómetros, numa bicicleta demenina (humilhação máxima…, mas nãohavia dinheiro para outra), embrulhadoem plásticos nos dias de chuva: “ Aindame lembro do prémio que me deram porter sido o melhor aluno no quinto ano (hojenono ano): “Terras do Demo” de Aquili-no Ribeiro e com dedicatória e tudo” …

Se o que interessa é reconhecer, dei-xe-se o dinheiro para estabelecer maisbolsas para quem efectivamente preci-sa… e esses são cada vez mais.

Que não volte a acontecer, assim, estedia que foi triste e de revolta para muitos.

Maria IsabelLemos *

O ministério do Ensino Superior di-vulgou ontem (terça-feira) as vagasdisponíveis para a segunda fase decandidaturas ao ensino superior, quecompreendem quase 11.800 lugaresem cursos em Universidades e poli-técnicos de todo o país.

Ao todo são quase 11.800 vagas,compreendendo as 5.917 vagas quesobraram da primeira fase de candi-daturas e aquelas em que não se con-cretizou a matrícula e inscrição, ape-sar de terem sido ocupadas na primei-ra fase do concurso, assim como asvagas que sobraram dos concursosespeciais e da recolocação de estu-dantes colocados na primeira fase.

As vagas agora divulgadas emwww.dges.mctes.pt/DGES/pt/Estu-dantes/Acesso dirigem-se às mais va-riadas áreas de estudo, tendo inclusi-ve sido libertadas vagas para Medici-na e Arquitectura, cursos que na pri-meira fase tinham esgotado as vagas.

Medicina tem mais quatro vagas naUniversidade da Beira Interior, duasna Universidade de Coimbra, uma naFaculdade de Medicina de Lisboa eduas na Universidade Nova de Lisboa.

Quem quer tirar Arquitectura podecandidatar-se a 11 vagas na Univer-sidade de Évora, a um total de 12 naUniversidade Técnica de Lisboa, oito

Quase 11.800 vagas disponíveisna 2ª fase de candidaturas

no Instituto Superior Técnico, três naUniversidade do Minho e cinco na Fa-culdade de Arquitectura do Porto.

A esta 2ª fase puderam candidata-ram-se até sexta-feira quem não fi-cou colocado na 1ª fase, quem ficoucolocado na 1.ª fase mas escolheu con-correr de novo, os candidatos já colo-cados, mas que não se matricularamnem inscreveram, quem não se can-didatou na primeira fase apesar deestar em condições de o fazer e quemreuniu condições de candidatura apóso fim do prazo de apresentação dascandidaturas à 1ª fase.

Na sequência da divulgação destasvagas, até quinta-feira pode candida-tar-se ao ensino superior quem não ofez no prazo regulamentar de candi-daturas à 2ª fase (entre 15 e 19 deSetembro).

Os candidatos que já apresentaramcandidatura podem também procederà sua alteração.

Segundo informa a Direcção-geraldo Ensino Superior, se o aluno se can-didatar e obtiver colocação na 2ª fasedo concurso, “perde automaticamen-te a vaga da 1ª fase, que é libertadapara a colocação de outro candidato”,pelo que só deve candidatar-se a cur-sos que prefira em relação à coloca-ção obtida na 1ª fase do concurso.

“Se não obtiver nova colocação,mantém-se a colocação anterior, nãohavendo qualquer implicação na ins-crição e matrícula já efectuada”,acrescenta.

Segundo o ministério, na primeirafase do concurso nacional de acessoforam disponibilizados 50.219 lugarese admitidos 44.336 novos alunos noensino superior público, mais 2.398 es-tudantes que em 2007, corresponden-do a um aumento de 06 por cento, como aumento das colocações a fazer-sesentir, sobretudo, no ensino politécni-co.

No total, ficaram colocados nestaprimeira fase 84 por cento dos 53.062candidatos, não tendo conseguido co-locação 8.726 alunos.

Da primeira fase sobraram entãopara a segunda fase 5.917 vagas.

Por área de formação, os cursos emque se registou um maior aumento delugares foram os de Ciências e Tec-nologias (mais 635, o que os colocana liderança com um total superior a17 mil vagas) e os de Ciências Soci-ais, seguindo-se, a larga distância, osde Saúde e Protecção Social.

Já a queda no número de vagas re-gistou-se sobretudo nas Humanidades(com menos 169), seguindo-se as Ci-ências Veterinárias e a Educação.

ENSINO SUPERIOR

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16 24 DE SETEMBRO A 7 DE OUTUBRO DE 2008SAÚDE

MassanoCardoso

Afirmar que a fruta é um produto indis-pensável e que faz bem à saúde é um lugarcomum que dispensa mais comentários. Avariedade é imensa e, de um modo geral,partilham de características idênticas aindaque em concentrações diferentes.

Presumo que qualquer um terá a sua frutapreferida. É natural. A minha é a maçã.Desde que me conheço que adoro maçãs.Além das suas qualidades sápidas, há ou-tras que me levaram a preferi-la. Rija, fácilde transportar, resistente ao choque e brin-cadeiras de crianças, não largava sumo, nãose desfazia nos bolsitos, ao contrário do pês-sego, da pêra, da ameixa, não ficava trau-matizada com “hematomas”, como as ba-nanas, e não deixava cheiro nos dedos, comoas laranjas. Gostava, igualmente, das for-mas, dos diferentes tamanhos, das cores, dastexturas, dos sabores e, sobretudo, de dardentadas e comer a casca. Em contraparti-da, detestava o ritual civilizacional, que meera imposto às refeições, de descascá-lasou cortá-las com faca e garfo. Para ummiúdo, ansioso por se libertar do altar damesa, o momento da sobremesa era ummartírio, porque manejar a faca e o garfopara a cortar em pedaços exigia uma des-treza própria de um cirurgião. Um tormen-to, um esforço “hercúleo”, demorava tem-pos infinitos, estragava mais do que comia ea gula em a saborear ficava sempre insatis-feita e tinha que a matar aos bochechos, oque não me satisfazia mesmo nada. Habi-tualmente, pedia licença para me ausentarantes desse momento, mas perguntavamlogo: – E a fruta? A maçã? Respondia quenão fazia mal, levava-a no bolso e depois

“Combater o colesterol à dentada”!...

comia-a. Fazia este espectáculo, para evi-tar aquele ritual e, sobretudo, para ter o pra-zer de a comer à dentada, o que fazia deimediato, às escondidas, logo que me au-sentava. Um alivio! Um prazer!

Claro que naquela altura, comer umamaçã à dentada era fácil, o pior veio maistarde, quando os dentes começaram a mos-trar fragilidades.

Recordo-me que há poucos anos, na vés-pera de uma conferência que ia realizar emLisboa, sobre “Colesterol e Doenças Car-diovasculares”, fiquei num simpático hotel,daqueles que têm o hábito de ofertar umcestinho de fruta. Como cheguei um poucotarde e o jantar já tinha sido esmoído, aoentrar no quarto, ressaltou, com uma belezadigno de registo, um cesto contendo belaspeças de fruta, entre as quais se destaca-vam duas sedutoras maçãs. Lindas, redon-das, avermelhadas, brilhando com um en-canto especial do género: dá-me uma den-tada! Pensei logo que só uma maçã poderia

ter o efeito que teve na Eva. Nem o pêsse-go, nem a banana, nem a laranja, nem a pêra,nem o kiwi, nem a ameixa poderia seduzirquem quer que fosse. De facto, só a maçã!Vai daí e retirei a primeira, esfreguei-a comose estivesse a retirar um pó imaginário edei-lhe uma valente dentada. Foi então queum dos incisivos claudicou, ficando reduzi-do a metade. Irra! Parti o dente! Estou tra-mado! Amanhã vou fazer uma conferênciasobre o “Colesterol e as Doenças Cardio-vasculares” meio desdentado. Além desteaspecto, o raio da língua, curiosa, lambia,estupidamente, o rebordo do dente fractu-rado, ficando dorida. Olhei para o pedaçoque faltava na maçã, uma sugestiva crate-ra, que não teve tempo de acastanhar-se, àqual perdoei o mal que me tinha feito e em-balei no seu sensual convite, agora comomais cuidado e utilizando os caninos, atéchegar ao caroço. Olhei para a irmã gémeae dei-lhe o mesmo destino. Mesmo assim,confesso, soube-me bem.

No dia seguinte, lá fiz a minha confe-rência, explicando os vários factores derisco, a evolução das doenças, a formade reduzir a hipercolesterolemia, sem fa-zer afirmações do género: “combata o co-lesterol à dentada”, tal como agora esta-mos a assistir, por parte de uma associa-ção de produtores de maçãs!

Esta coisa de usar o “mal”, neste casopersonificado pelo colesterol, como fontede promoção de certos produtos, começaa ser uma perigosa mania, que não se res-tringe apenas ao consumo de maçãs, jáque inclui iogurtes, manteigas com “me-tade de gorduras” (!), leites modificados,sardinhas de conserva, “tintitos”, pão semcolesterol (!), alhos, beringelas e muito maisprodutos. Qualquer dia, ainda aparece umaassociação de frutos de pilriteiros a afir-mar que os pilritos são do melhor que hápara combater o colesterol, ou então os pro-dutores de ginjas a proclamarem alto e embom som que o melhor são as ginjas. –Com ou sem “elas”? – Com “elas” devemser muito mais eficazes!

No caso dos pilritos e das ginjas não énecessário dar dentadas. Mas, quandotiverem que as dar, caso das maçãs, cui-dado com os dentes! Vejam lá se os inci-sivos aguentam com as trincadelas no fru-to “proibido”. Trincadelas sem dúvida sa-borosas, mas é preciso ter dentes! Se ti-verem dúvidas, usem faca e garfo oumesmo uma navalhita. Quanto às denta-das dos promotores comerciais não háperigo nenhum de ficarem sem os den-tes, porque são postiços e sabem mor-der à maneira!

Quanto ao colesterol, se a “dentada”não der resultado, não fiquem preocu-pados, porque o prazer de comer umamaçã é superior a qualquer redução docolesterol...

A Fundação Inês de Castro acolheamanhã (dia 25), para a quinta ediçãodos almoços-debates na Quinta das Lá-grimas, pelas 12h45, o cirurgião ManuelAntunes, que vai analisar a actual ges-tão das unidades públicas de saúde.

O professor catedrático da Faculda-de de Medicina da Universidade deCoimbra e actual director do Centro de

Cirurgia Cardiotorácica dos Hospitais daUniversidade de Coimbra, dedica a suaintervenção ao tema “Serviço Nacionalde Saúde: Quo Vadis?”.

O preço para assistir à conferência eao debate que seguirá é de 20 euros porpessoa, sendo o almoço já incluído nes-se valor..

O ciclo “Quintas na Quinta” foi lan-

çado no mês de Março, com a participa-ção de Leonor Beleza, antiga ministra daSaúde. Pretende dar voz a personalida-des de relevo em Portugal, para que, numambiente informal, sejam discutidos te-mas de actualidade no país.

A Quinta às Quintas recebeu até agorao constitucionalista Gomes Canotilho, Adri-ano Moreira e Marcelo Rebelo Sousa.

Manuel Antunes questionaServiço Nacional de Saúde

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1724 DE SETEMBRO A 7 DE OUTUBRO DE 2008 SAÚDE

“EXPOVITA SÉNIOR” EM CONÍMBRIGA A PARTIR DE AMANHÃ E ATÉ SÁBADO

Debate internacional sobre problemas dos idosos“Expovita Sénior” é a designação da

iniciativa internacional que vai decorrerem Conímbriga a partir de amanhã (quin-ta-feira, dia 25) e até ao próximo sábado(dia 27), com o objectivo de analisar edebater diversas vertentes da problemá-tica da população mais idosa.

Tendo como presidente da comissãoorganizadora Salvador Massano Cardo-so, Professor da Faculdade de Medici-na da Universidade de Coimbra, a “Ex-povita Sénior”, segundo os seus promo-tores, “será dedicada às problemáticasdo envelhecimento da população eapresentará tripla dimensão: formativa,científica e empresarial”.

As sessões decorrerão no auditóriodo Museu Monográfico de Conímbri-ga, e os organizadores afirmam espe-rar “a participação, entre outras enti-dades, do Ministro do Trabalho e Soli-dariedade, do Alto Comissariado paraa Saúde, da presidente da Comissão deSaúde da Assembleia da República,além dos principais representantes daadministração pública, IPSSs, gruposempresariais, etc. ligadas ao sector doscuidados continuados e do apoio aos

idosos”.Ainda de acordo com a organização,

“o objectivo é marcar a actualidadeinformativa, promovendo a discussãodeste tema a nível nacional, nas suasmúltiplas valências”.

Assim, o programa da “ExpovitaSénior” é composto por uma confe-rência internacional sobre telemedici-na, uma mostra empresarial e institu-cional e mesas redondas.

O primeiro dia, 25 de Setembro, serádedicado à referida conferência cientí-fica internacional, focando a telemedi-cina e a sua importância e desenvolvi-mento, estando previstas intervençõesquer presenciais quer por videoconfe-rência, envolvendo representantes deautoridades de saúde de Inglaterra, Itá-lia, França, Suécia e EUA, para alémde especialistas portugueses.

Quanto à realização especificamentecentrada nos problemas da populaçãosénior, o primeiro painel, a decorrer namanhã de sexta-feira (dia 26), pelas 9horas, terá como tema “Envelhecer comÉtica” e contará com a participação deAgostinho Almeida Santos, Alfredo

Reis, Anabela Mota Pinto, FernandaCravidão, Kalidás Barreto Mário Ruivoe Rui Nunes. A moderação está a car-go do jornalista Jorge Castilho.

“Arte de Envelhecer” é o título dosegundo painel do dia 26 e terá comoparticipantes convidados: Adília Alarcão,António Arnaut, Agustin Casales, JoséRibeiro Ferreira, Maria Pedroso Limae Mário Silva. O moderador será o jor-nalista Lino Vinhal.

No sábado, dia 27, o debate continuacom mais duas mesas redondas. Da parteda manhã, também a partir das 9 horas,o tema em discussão será “Envelheci-mento activo - Turismo de Saúde/Turis-mo Ambiental”. José Leitão Ferreira,padre Idalino Simões, João Fernandes,Joel Almeida, Luísa Cunha Vaz, PedroMachado, Polybio Serra e Silva e LuísOliveira serão os intervenientes. A mo-deração será assegurada pelo jornalistaSoares Rebelo.

À tarde o tema em debate será “Polí-tica para o Envelhecimento” e contarácom a participação de Helena Saldanha,Henrique Fernandes, Jaime Ramos, InêsGuerreiro, Manuel Lemos, Vasco Costa

e Hernâni Caniço. A moderação caberáao jornalista João Luís Campos.

A “Expovita Sénior” é uma organiza-ção conjunta da ANAI – AssociaçãoNacional de Apoio ao Idoso, ASP – As-sociação Saúde em Português, CEFOP-LAC – Centro de Formação e Liga deAmigos de Conimbriga, EUTAP – Eu-ropean Telemedecine Project Commit-tee, EUTAP Industry Council StrategicBusiness Series, Fundação Bissaya Bar-reto, Hospital da Misericórdia da Mea-lhada, INATEL, INVESVITA, e Speci-al Interest Groups & Chapters Teleme-dicine, a que poderão ainda juntar-seoutras instituições.

De acordo com os organizadores,“concluídos os trabalhos, a Expovita Sé-nior pretende apresentar um documen-to, que designa por Declaração de Co-nimbriga, síntese dos temas debatidos,avançando com propostas concretascom vista a aumentar a qualidade devida da população nesta faixa etária eos serviços prestados pela administra-ção pública e as empresas, promoven-do ainda o empreendorismo e novasbolsas de emprego”.

À semelhança do que tem sucedidonos últimos anos, a Fundação Portugue-sa de Cardiologia assinala o Dia Mundialdo Coração na Região Centro, com di-versas iniciativas.

Em Coimbra, e para além das iniciati-vas para domingo que no programa queao lado se publica estão enumeradas, ascelebrações começam mo sábado, dia 27,com uma iniciativa designada “Nade peloCoração”.

Com entrada livre, funcionará das 8às 18 horas nos seguintes locais:

– Piscina Municipal COP (Solum)– Piscina Municipal Rui Abreu (Pe-

drulha)– Piscina Municipal Luis Lopes da

Conceição (S. Martinho do Bispo).

CoimbraassinalaDia Mundialdo Coração

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18 24 DE SETEMBRO A 7 DE OUTUBRO DE 2008A PÁGINA DO MÁ[email protected]

Mário Martins

ORGULHO DE PAI

Um blogue é algo de pessoal – eis umadefinição básica.

Neste blogue, que até tem no título opróprio nome do autor, procuro dar con-ta da minha forma de olhar o mundo e avida, a par daquilo que poderei denomi-nar de “referências familiares”.

Entre estas, a actividade político-as-sociativa da minha filha tem merecidoalgumas linhas, devido essencialmente areuniões com personalidades de primei-ro plano da política europeia.

***

Hoje, depois de viver “momentos to-cantes” no Colégio de S. Teotónio, tragoaqui uma imagem que me permite con-fessar que, ao ver o João Afonso (para-béns, filhote!) concluir o “Secundário” ecumprir o sonho de estudar Medicina, mesinto muito feliz.

E grato – a quem com ele trabalhouao longo de todos estes anos e, sobre-tudo, a Deus, pela graça dos filhos queme deu.

***

Há várias formas de realização.Uns realizam-se com o dinheiro, ou-

tros com casas e carros, outros aindacom as vaidades da vida.

Ao ver os filhos crescer deste modo– e porque este sempre foi o grande ob-jectivo da minha (nossa) vida – sinto-merealizado.

(publicado em 19/09)

GASOLINA: O ESCÂNDALO

O Governo decidiu liberalizar o comér-cio dos combustíveis, apostando na con-corrência, mas “esqueceu-se” que emPortugal existe apenas uma empresa re-finadora.

Estranha liberalização...

***

Este Verão, ao viajar pela Europa,notei que os preços do gasóleo e da ga-solina 95 sem chumbo eram praticamenteidênticos. Nalguns casos, o gasóleo eramesmo mais caro.

Aqui, em Portugal, a gasolina 95 con-tinua muito mais cara que o gasóleo – ea diferença parece querer até aumentar.

***

Hoje, em Coimbra, os preços maisbaixos são os da Galp no Fórum:

Gasolina 95 sem chumbo - 1,398; Ga-

sóleo - 1,249. Diferença entre os doispreços: 0,149 (30 escudos, na moedaantiga).

Aqui ao lado, em Fuentes de Oñoro,os preços praticados hoje são os se-guintes:

Gasolina 95 sem chumbo - 1,160; Ga-sóleo - 1,156. Diferença entre os doispreços: 0,004 (menos de 1 escudo, namoeda antiga).

Alguém consegue explicar isto?Mas, por favor, expliquem-me como

se eu fosse muito burro.(publicado em 18/09)

FUTEBOL JOVEM“BY” MOURINHOE... MARTINS

José Mourinho fez ainda questão dedeixar um apelo aos pais dos jovens jo-gadores, no sentido de não pressionaremos filhos a serem grandes estrelas.

«Nem todos eles serão jogadores detopo, mas todos serão homens. Muitospais querem viver uma segunda vida napele dos filhos. Muitos quiseram ou so-nharam ser estrelas de futebol e não oconseguiram, e agora pressionam os fi-lhos para que o sejam. Mas não pode-mos contribuir para, com essa pressão,criar futuros adultos frustrados».

(José Mourinho, na apresentaçãodo DVD “Football for Kids by José

Mourinho”; in “Bola na Área”)

Peço desculpa pela imodéstia, mas éisto que penso – e repetidamente tenhodito (por outras palavras, naturalmente)nos últimos 12 anos, enquanto acompa-nho a “carreira futebolística” do meu fi-lho.

(publicado em 18/09)

MENOS CADEIA, MAIS CRIME

Mais crime e menos presos. Este éo principal balanço das alterações pe-nais que entraram em vigor há um ano.Em apenas um ano, as cadeias têmmenos 2.038 presos, a maior queda desempre, a qual foi acompanhada poruma onda de criminalidade sem pre-cedentes.

(adaptado do “Correio da Ma-nhã” de ontem; publicado em 16/09)

“MAMMA MIA!”

Está classificado para “maiores de 6anos” mas bem poderia ser classificado“para maiores de 3 anos”.

Ingénuo. Fotografia de grande quali-dade, “historieta” assim-assim, cenáriosnaturais belíssimos, Meryl Streep emgrande.

Duas horas bem passadas, que até dãopara chorar a rir com algumas cenasperfeitamente absurdas.

Ah!!!... e a música daquela que foiem tempos a maior empresa exportado-ra da economia sueca, ultrapassandomesmo a Volvo – os “Abba”.

Vale a pena.(publicado em 14/09)

A DERROTA DA SELECÇÃO

Um ano depois, voltei ao Estádio de Alvalade, para ver jogar a selecção.Estive lá em 12 de Setembro do ano passado, num triste embate com a

Sérvia (1-1), no fim do qual Scolari teve o gesto lamentável que correu mundoe foi punido com 4 jogos de suspensão e 12 mil euros de multa. Agora, o adver-sário foi a Dinamarca e Carlos Queirós sentou-se no lugar de Scolari.

«Solicita-se aos adeptos da Dinamarca que permaneçam sentados nos seuslugares até 20 minutos após o final do jogo, por razões de segurança».

O aviso, em inglês, foi feito a cerca de 5 minutos do final do desafio, numaaltura em que Portugal vencia por 1-0.

A equipa portuguesa estava na frente, a selecção dinamarquesa parecia ador-mecida e os adeptos nórdicos não tinham grandes razões para festejar. Numinstante, porém, tudo mudou... E nenhum dinamarquês respeitou o pedido feitopela instalação sonora do estádio.

Gostei da selecção portuguesa. Sem Quaresma, sem Ronaldo (a “estrela dacompanhia”), a equipa mostrou um futebol que já não lhe via há muito. Talveztenha sido no Portugal-Inglaterra, do “Euro 2004”, no Estádio da Luz, que as-sisti a uma exibição tão boa como a de ontem. Nem mesmo a vitória frente àRepública Checa, em Junho passado, em Genebra, me deu tanto prazer comoalguns momentos vividos ontem em Alvalade.

Continua a notar-se, no entanto, que falta um “patrão” à equipa portuguesa,problema visível desde que Figo deixou de ter tempo para envergar a camisoladas quinas.

Ontem, um jornalista bem conhecedor dos meandros da selecção explicou-me assim a situação:

– Antes havia Figo, Pauleta e Costinha, que eram jogadores que se impu-nham. Gritavam alto e os outros ouviam-nos. Saíram todos, agora não há umlíder natural na equipa.

– Então... e o Deco? – perguntei.– O Deco fala baixinho, muito bai...xi...nho. Não é líder de coisa nenhuma.Fiquei esclarecido.É por estas e por outras que vale a pena ir assistir aos jogos da selecção.

Estive em Aveiro, na goleada às Ilhas Faroé, e não gostei da selecção.Vi a 2.ª parte do jogo em Malta, pela televisão, e já gostei um bocadinho mais

da equipa; mas não fiquei convencido.Agora, apesar da derrota, gostei bastante da exibição da selecção, apesar

dos recorrentes erros defensivos. Não temos um guarda-redes que mande naárea (nunca tivemos...) e aquela dupla de “centrais” não transmite a mínimaconfiança.

No “Euro 2004” fui ver alguns jogos graças a bilhetes ganhos no sorteio deum cartão de crédito. Sorte pura.

No “Mundial 2006”, na Alemanha, só consegui bilhete para um jogo, apesarde me ter inscrito nas vendas da FIFA e da FPF. Fui ver o Portugal-Inglaterra,o tal do desempate por “penaltis”.

Este ano, no “Euro 2008”, voltei a inscrever-me na venda de bilhetes daUEFA e da FPF. Não tive sorte. Acabei por ver dois jogos porque um familiarganhou bilhetes num concurso promovido por um jornal e porque, à última dahora, um amigo me cedeu bilhetes para outro jogo.

Tento não falhar um jogo da selecção, “a minha (outra) equipa”, em Portu-gal. E o público que comparece a estes jogos é muito diferente do outro queaparece nas fases-finais de “Europeus” e “Mundiais”. Cá é o “povo do fute-bol” que se desloca aos estádios, lá fora surgem os “senhores da bola”, algunsdos quais devem gostar tanto de futebol como eu gosto de boxe. (Esclareço quedetesto boxe...).

A má educação (ou falta de cultura, se preferirem) dos portugueses vê-seem pormenores simples.

Nunca percebi o motivo dos guarda-redes adversários serem brindados como coro de «filho da p...» sempre que pontapeiam a bola.

Também não entendo a razão dos portugueses tentarem calar os adeptos doclube adversário com uma assobiadela monumental sempre que estes come-çam a gritar pela sua equipa. Não seria mais bonito tentar calá-los com um gritode apoio à equipa portuguesa?

Está instalada a moda de fazer cachecóis alusivos a cada jogo da selecção,com a data e os nomes do estádio e do adversário.

Aplaudo. A colecção vai crescendo.(publicado em 11/09)

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1924 DE SETEMBRO A 7 DE OUTUBRO DE 2008 MÚSICA

Distorções

José Miguel [email protected]

Se bem se recordam, há 15 dias es-crevi sobre a possibilidade dos australia-nos Cut Copy voltarem ao nosso país abreve trecho. Dito e feito, porque aca-bam de ser confirmadas duas datas emPortugal. A primeira a 13 de Novembrono Lux (Lisboa) e a segunda a 14 de

Novembro na Casa da Música (Porto),em mais uma noite do Optimus Clubbing,a que se juntam os Boys Noize. Eu vou,de certeza, resta saber se apenas a umaou às duas noites com que estes rapazesde Melbourne nos vão brindar.

Mas foi de Madonna de quem maisse falou na semana passada, sobretudoda sua actuação no passado dia 14 deSetembro no Parque da Bela Vista. Eufui e gostei bastante do concerto, apesarde não ser muito sensível a coreagrafi-as, que constituem um elemento fulcralem toda a actuação da cantora, há, tam-bém, uma imensidão de outros pontos deinteresse para mim. Antes de mais, nãoposso deixar de elogiar a excelente qua-lidade de som, mas, também, a coerên-cia de todo o alinhamento do espectácu-lo, em que o denominador comum foi o

hip hop e a música de dança, a que acantora soube aliar, e bem, temas como“Borderline” ou mesmo “Hung Up”, emversões bem diferentes das originais,mas que mostram que Madonna, alémdas sessões diárias de trabalho físico,também ensaia bastante os seus temas.

Por fim, não posso deixar de referir oexcelente regresso dos Metallica como muito aguardado “Death Magnetic”,que, em apenas uma semana, atingiu o1.º posto das tabelas dos álbuns maisvendidos no Estados Unidos, em Ingla-terra e, também, em Portugal.

PARA SABER MAIS:

Cut Copy “In Ghost Colours” (ModularRecords)Madonna “Hard Candy” (Warner Bros.)Metallica “Death Magnetic” (Universal)

www.myspace.com/cutcopywww.cutcopy.netwww.madonna.comwww.metallica.comDuas expressivas imagens do concerto de Madonna em Lisboa

É sobre a HEPATURIX que recai apróxima homenagem no âmbito dos“Concertos Prestígio”, que o Departa-mento de Cultura da Câmara Municipalde Coimbra organiza em conjunto com aOrquestra Clássica do Centro.

O concerto realiza-se amanhã (quin-ta-feira), a partir das 21h30, no PavilhãoCentro de Portugal, em benefício da As-sociação de Crianças e Jovens Trans-plantados ou com Doenças Hepáticas.

O acesso ao concerto implica o paga-mento de um ingresso no valor de 5 eu-ros, com descontos de 20%, aplicáveis a“Amigos da Orquestra” e a grupos de,no mínimo, três pessoas. Os bilhetes es-tão à venda no Pavilhão Centro de Por-tugal, diariamente, das 14h00 às 20h00.

A receita de bilheteira reverte inte-gralmente a favor da Hepaturix, umaAssociação que foi buscar à bandaDesenhada alguns dos motivos que lheserviram de inspiração, como é o caso

CONCERTOS NO PAVILHÃO CENTRO PORTUGAL

Orquestra Clássicado Centroa favor da “Hepaturix”

de personagens como o Astérix, oObélix e a “poção mágica”.

Sobre a associação, dizem os pro-motores do concerto:

“A Hepaturix é uma associaçãosem fins lucrativos, cuja missão é re-presentar os interesses de todas ascrianças e jovens com doenças hepá-ticas crónicas. Nasceu da necessida-de que um grupo de pais sentiu em seassociar para, em conjunto, encontrarsoluções com vista à melhoria da qua-lidade de vida dos seus filhos.

O cumprimento dos objectivos daHepaturix passa por, junto dos diver-sos poderes de decisão, conseguir quenenhuma criança ou jovem se sintadesfavoravelmente discriminado, com-parativamente a outras situações queo Estado discrimina positivamente, nadoença, no processo de recuperaçãoe no seu dia a dia, enquanto doentescrónicos”.

No Governo Civil de Coimbra foramapresentadas ontem (terça-feira) as pró-ximas iniciativas a desenvolver em parce-ria com a Orquestra Clássica do Centro,no âmbito do Ano Europeu do Diálogo In-tercultural. Destaque para o concerto co-mentado que decorre depois de amanhã(sexta-feira, dia 26), pelas 21H30, no Pa-vilhão Centro de Portugal, em Coimbra, quecontará com a participação do trio alemãoÁbaco e o comentário de José ManuelConde Rodrigues, Secretário de EstadoAdjunto e da Justiça (e ex-Secretário deEstado da Cultura).

Na conferência de imprensa de ontem,o Governador Civil de Coimbra sublinhou

Grupo alemão promovediálogo inter-cultural

a importância da discussão da temática dodiálogo intercultural no contexto europeu,referindo que “a Europa é ela própria ummosaico de culturas e de povos. É umagrande realidade em construção, que nãoprecisa de esmagar a cultura de nenhumpovo” para cada um afirmar a sua própriacultura.

Na mesma tónica, Henrique Fernandesafirmou que o objectivo deste debate é con-tribuir para que esta se torne “uma Europaagradável de convívio entre os povos”, onde“somos todos diferentes mas todos iguais”,adiantando ainda que estes princípios se in-serem no contexto da própria Estratégia deLisboa.

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20 24 DE SETEMBRO A 7 DE OUTUBRO DE 2008OPINIÃO

A MINHA ESTANTE

Maria Pinto*[email protected]

* Docente do ensino superior

Alfa pendular com destino a Lisboa. Uma breve pas-sagem pelo quarto de hotel. Os últimos retoques na ma-quilhagem. Corpo esbelto. Longos cabelos em tons deamêndoa. Perfume de flor. Maria Flor. Assim se cha-mava esta jovem mulher-escritora, que impressionavapelo seu olhar fundo e cintilante.

A uma hora de lançar o seu segundo livro, MariaFlor debatia-se entre o apelo interior de se fechar aomundo e a inevitabilidade de ter de sorrir... e aparecer.

“Foi nesse dia que percebiNada mais por nós havia a fazerA minha paixão por ti era um lumeQue não tinha mais lenha por onde arder”

(A Paixão, Rui Veloso, Carlos Tê)

Olhou para trás. Para um ano atrás Reviu-se na suaestreia como escritora. Os aplausos. A sessão de autó-grafos. O deslumbramento de não se deixar deslum-brar por ser figura pública.

Foi neste contexto que “conheceu” Tomás. Umanoite, ao sentar-se tranquilamente em frente ao com-putador para dar resposta a uma invasão de e-mails,deparou-se com uma mensagem diferente. Tomásdizia ter ficado profundamente tocado por uma foto-grafia de Flor estampada num jornal. Adquirira o seulivro – “Pedaços de Natureza Humana” – que sor-vera num ápice. Citou alguns excertos com os quaisse identificara.

Maria Flor respondeu-lhe, como fazia com todos osseus leitores. A partir desse momento passou a receberde Tomás uma correspondência assídua, sempre de umpolimento inexcedível.

Aos poucos, este homem ia-lhe contando pormeno-res da sua vida. Descendente de uma família aristocrá-tica e com um percurso todo ele ligado à Banca e aoalto mundo dos negócios, Tomás... degenerara. Diziaviver para os outros, dedicando-se a grandes causas.Dava a ideia de se tratar de uma espécie de desbrava-dor, de um homem que conseguia sentir-se em casa emqualquer canto do mundo.

Há poucos anos teria estado em Timor, onde tudofizera para melhorar as condições médicas e sanitáriasdaquele povo em sol nascente. Neste momento, o seuquotidiano no hospital, onde era tido como médico re-putado, não o preenchia. Precisava de iniciar uma ou-tra fase da sua vida. Sim, iria ter de partir e começartudo de novo.

Desta vez, projectara sulcar certas regiões do conti-nente africano, criando uma unidade hospitalar móvel,com uma vasta equipa de médicos, que permitisse cui-dar e levar alento às aldeias mais pobres e isoladas. Aomesmo tempo que confidenciava a Maria Flor os seusplanos profissionais, tentava incluí-la neles, apelandoincessantemente à mensagem humanitária contida nolivro que ela acabara de publicar.

Maria ia-lhe respondendo de forma cordial, massem grande profundidade. Algo naqueles contactoslhe causava estranheza, em especial quando lhe fa-zia sentir que era uma mulher incapaz de encetarcontactos virtuais e que, como tal, Tomás deveriamostrar-se. Nesses momentos ele retrocedia ou re-feria achar dispensável um contacto pessoal imedia-to para que dois seres humanos se encontrassem ese identificassem. Escudava-se também numa es-

“A História de Maria Flor,despenteada pelo tempo...”

pécie de timidez natural e numa série de recalca-mentos da sua vida passada. Insistia na beleza donome de Maria, nome de flor, mostrando como an-siava que um dia a flor pudesse dar fruto.

Maria Flor deixou de dar seguimento a estas mis-sivas electrónicas. Abalava-a a contradição quepressentia naquele homem. Aliás, esta situação erapara ela perfeitamente inusitada, ainda que, com osucesso da sua recente publicação, se tivesse ha-bituado a ser abordada com frequência. Mas nãodeste modo estranho. Por isso, sentia uma intensacuriosidade em desvendar o véu de mistério queenvolvia este caso. Tinha sido apenas por isso quefora respondendo a alguns dos mails que lhe iamsendo enviados. Flor, mulher de uma forte interiori-dade, teimava em afastar o que cada vez mais pres-sentia. De facto, algumas frases de Tomás, algu-mas expressões pontuais, eram-lhe familiares.

Numa nebulosa de perturbação, Maria preferia queeste homem-escondido fosse um homem-real e não umapersonagem inteligentemente forjada por alguém.

Maria Flor vivia com Guilherme, intelectual de gran-de talento que dizia amá--la como nunca amara nin-guém. Esta ligação parecia, por vezes, oriunda das pro-fundezas da terra. Vulcânica. Tanto dança embaladoracomo tormenta. Guilherme abraçava a sua Flor de amor.

“Morena FlorMe dê um cheirinho cheinho de amor.Depois tambémMe dê todo esse denguinhoQue só você tem.”

(Morena Flor, Vinicius)

Ao mesmo tempo, de forma subtil, controlava o seuespaço de liberdade. Nos momentos de tempestade,acusava--a de o não amar. Flor adorava-o. Partilharacom ele a história de Tomás e a reacção de Guilhermeera sempre de uma estranha ambiguidade.

“Ai o que eu passei, só por te amarA saliva que eu gastei para te mudarMas esse teu mundo era mais forte do que euE nem com a força da música ele se moveu”

(A Paixão, Rui Veloso, Carlos Tê)

Começava a cair a tardia noite de Julho. Guilhermetelefonara a Maria Flor para que fossem jantar. Queriaum momento íntimo, a dois, no qual pudessem anteciparo sucesso que se adivinhava para o dia seguinte: o lança-mento do segundo livro de Maria. Precisava de estarcom ela fora de casa, num restaurante calmo, com mú-sica ambiente. Por entre um copo de bom vinho, olha-ram-se. Miraram-se. Apeteceram-se.

Durante o jantar, a conversa desenrolou-se des-contraidamente e de forma animada. SubitamenteMaria viu-se perpassada por uma torrente de friointerior. A expressão de Guilherme continuava, noentanto, a mesma. Sorridente. Mas num repente,ele lançou-se numa espécie de voragem de frasesdesconexas. Maria Flor reconheceu nelas muitasdas palavras de Tomás. E também de amigas eamigos que com ela se correspondiam. Esta súbitamanifestação de poder causou-lhe uma enorme rai-va. Uma raiva verdadeira, brutal. Ao mesmo tem-po, a sensação de ter sido esmagada, violada, pri-vada daquilo por que sempre se batera: o valor daliberdade.

“Desafiaste-me”, disse ele. Nunca o desafiara.Amara-o para além de todos os limites.

Maria Flor Levantou-se e saiu. A leve brisa daquelanoite de luar fez dissipar um pouco da revolta. Masdeixou de se sentir flor. Os seus olhos haviam perdido ofundo e o brilho. Apenas se lembrava de seus pais, jáfalecidos. Enorme saudade. Entrou no carro e rumou,noite dentro, em direcção às suas origens. Entrou nabela quinta, na magnífica região do Douro. Foi aí queobservou, ao amanhecer, o horizonte a perder de vista.O despontar do sol.

Mais tarde, chegada ao Porto, deixou o carro per-to da estação e optou pelo Alfa pendular para areconduzir a Lisboa. Passou em casa apenas paraapanhar uma peça de roupa. Encaminhou-se parao hotel, onde alugou um quarto. Por uma questãode fidelidade a si mesma, pelos seus ideais e pelorespeito para com os seus leitores, Flor dirigiu-se àsala de conferências. Sorriu. Conversou com a as-sistência. Guilherme ouvia-a atentamente na primei-ra fila. Impassível. Com ou sem ela, percebeu Ma-ria, Guilherme teria sido o mesmo. Um rei, um ocu-pante. Um controlador que se amava essencialmentea si próprio e que iria seguir o seu caminho sem sevoltar para trás.

Maria Flor regressou a casa. Abatera-se sobre elaaquela capa do não sentimento que resulta da vivên-cia de grandes decepções. Revisitou a sua vida, oseu adolescer, os seus sonhos. Sentiu-se Maria-Flor-em-projecto. Iria necessitar de um logo período desilêncio e de solidão para se encontrar e reinventar.Dirigiu-se ao seu quarto, viu-se ao espelho. Achouque teria de cortar o cabelo bem curto. Abriu a portado armário, agarrou numa pequena mala e desatou aenchê-la...

Acabei de abrir mais um espaço na minha estantepara colocar a história desta mulher, lembrando-lheapenas...

“Contigo aprendi uma grande liçãoNão se ama alguém que não ouve a mesma canção...”

(A Paixão, Rui Veloso, Carlos Tê)

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2124 DE SETEMBRO A 7 DE OUTUBRO DE 2008 OPINIÃO

Renato Ávila

POIS...POIS...POIS...POIS...POIS...

Joséd’Encarnação

João PauloSimões

FILATELICAMENTE

Fictícia Liberdade

Alertara o arqueólogo: «Atenção!Por aí passa a estrada romana quelevava de Mérida para Astorga! Im-porta preservar o troço ainda exis-tente!».

Que sim, responderam. Teriam ematenção.

Volvidas algumas semanas, o ar-queólogo voltou ao terreno (isto pas-sa-se aí pelos anos 60 do século XX)e… tudo fora levado adiante!

– Então, amigos, eu não disseque…

– Sim, a via romana? Não se preo-cupe: eu mandei guardar as pedras!...

Paira qualquer coisa de estranho, deparadoxal neste país de tão proclama-das liberdades.

Parece que estamos a chegar ao mo-mento em que a liberdade de cada umpermite fazer aquilo que lhe dá na realgana como, por exemplo: roubar, matar.Corromper. Dar o golpe.

Teremos atingido, porventura, o pontocrucial da liberdade absoluta tal o desa-foro, o abuso dos executores. A perfídiados mentores.

Aquela velha máxima de “a liberdadede um cessa quando põe em causa a liber-dade do outro” é chão que deu uvas.

Hoje, liberdade pode entender-se comoprivilégio do mais forte: dos que usam e abu-sam das armas, dos que usam e abusamdas lacunas da lei e dos difusos contornosdo direito e os moldam e exercem segundoos seus interesses, dos que privam a socie-dade do direito e dos meios de se defender,de usufruir das prerrogativas democráticasda própria liberdade.

Hoje, liberdade poderá tomar-se por anar-quia condicionada, melhor, por grupocracia:o poder vadio dos grupos, dos “lobbies”. Dasquadrilhas. Das máfias.

Quando Sócrates declara guerra às “cor-porações”, está, em nosso modesto enten-der, a embrenhar-se num conflito entre osgrupos e, subalternizando o papel arbitral eregulador do estado, a enfileirar ao lado deuns para combater outros.

O Chefe do Governo, ao afirmar-se aolado dum suposto ou virtual estado para com-bater os interesses restritos dos “lobbies” –

médicos, farmacêuticos, enfermeiros, ma-gistrados, militares, professores…, esque-ce-se de que também tem pactuado comos grupos dos políticos (eleitos e arvorados)que se congregam nas organizações parti-dárias, nas autarquias, na máquina estatal,para e circum estatal, e com os interessesconfusos e difusos, confessos e inconfes-sos dos que lhes estão subjacentes. Como,por exemplo, os do capital.

Por experiência própria, todos temos anoção de que, sob a formal fachada da de-fesa dos interesses colectivos, e salvo omeritório exemplo de algumas individualida-des que se agigantam pela probidade e com-petência, tais grupos estão mais apostadosna prossecução de interesses particulares,vassalos do poder económico.

Falam por eles os abusos do singulare restrito direito de fazer e aplicar as leis.Abusos que se traduzem na moldagemdaquelas no sentido da continuidade noscargos, da fixação e distribuição de re-munerações e prebendas, no favoreci-mento de interesses particulares em pre-juízo dos colectivos, da impunidade ou re-lativa imunidade à sanção.

A classe política, pela sua interesseirapostura face ao estado e aos cidadãos, cons-titui actualmente uma poderosíssima “cor-poração” cada vez mais distante dos natu-rais desígnios da colectividade nacional.

Mau grado as zelosas procuradorias, ocidadão encontra-se desprotegido, manie-tado perante as camufladas ou explícitasarbitrariedades dos grupos que detêm o po-der político e, por arrastamento, dos outrosque, por demérito ou conivência daqueles,condicionam esse mesmo poder.

Ao cidadão eleitor jamais foi dada a pos-sibilidade real de sancionar os políticos por

não cumprirem o que, através dos progra-mas eleitorais, publicamente prometeram epor cuja concretização se responsabilizaram, outrossim por implementarem e prossegui-rem políticas e práticas à revelia dessesmesmos programas, isto é, nas costas doseleitores. Jamais lhe foi dada oportunida-de efectiva de julgar e sancionar a arbi-trariedade com que intervêm nos actoslegislativos e executivos.

A pouco e pouco, o estado foi perden-do competências, definhando e hoje maisnão é do que um ente moribundo, mantarota onde se albergam os que dele se ser-vem em nome da nação.

O emagrecimento do estado tem sido apalavra de ordem nesta estulta campanhados grupos contra o esteio do colectivo.

Ao processo de mercantilização de al-gumas das suas funções sociais – saúde,educação, previdência – deve aliar-se asubalternização, para não dizer precari-zação, uma espécie de pré-anulação dassuas atribuições fundamentais: a defesa,a segurança e a justiça.

É bastante elucidativo o que se tem pas-sado relativamente às forças armadas, des-de a radical extinção do serviço militar obri-gatório ao empobrecimento do material eao quase compulsivo emagrecimento dosquadros, à massiva alienação de instalações,sem qualquer preocupação de reconvertere de racionalizar a utilização de recursos al-tamente qualificados para o desempenho denovas missões ao serviço do desenvolvimen-to técnico e cultural do país. Parece mesmonão convir aos detentores do poder políticoque exista uma reserva moral da nação su-ficientemente forte ao lado dos cidadãos.Quantos dos que gritaram e se aproveita-ram de Abril não murmurarão lá no seu

íntimo – Abril, nunca mais!A justiça está ao serviço dos poderosos.

Dos que podem pagar as custas processu-ais cada vez mais selectivas, daqueles quepodem contratar os serviços dos advoga-dos mais famosos, mais mediáticos e comreconhecido peso forense. As leis tornam-se cada vez mais insidiosas, eivadas demeandros por onde se escapam os “pode-rosos”. Os exemplos estão aí à vista.

A justiça, hoje, tal como é enquadrada eexercida, não está ao serviço do estado masdos grupos. Não defende a liberdade de-mocrática mas a grupocracia.

As forças de segurança, desacredita-das, desautorizadas, sub-equipadas, subal-ternizadas na mobilização dos cabedaispara que todos contribuímos, são, ainda,pelo sacrifício e elevada consciência dacausa pública dos seus servidores, o úni-co e significativo lampejo da presença doestado. Dá-nos a impressão de que ospolíticos não as querem deixar fortalecercomo a situação exige. Não se afiguramuito difícil descortinar a razão.

Liberdade segura, liberdade democráti-ca não será bem aquilo de que usufruímos.Até esta liberdade de dizermos em voz altado que nos vai na alma de cidadãos afigura-se arriscado. É que vozes loucas, quandosão poucas, encontram orelhas moucas.Porém, quando o rio engrossa, a força dodesassossego e da angústia invadem o ar-raial, o brado poderá tornar-se descomunal.

Vêm aí eleições. Muitas eleições!É nosso dever desmistificar esta estra-

nha liberdade que nos oferecem. Impõe-sea construção duma outra. Séria. Digna.Democrática.

É nosso dever votar por ela. Pela verda-de da democracia.

1934 - General Carmona

General Óscar Carmona. Postalilustrado com a sua efígie, editadopela Agência Geral da Ocogravura,com selo de 40 ctvs violeta da emissãoGeneral Carmona CE560, obliteradoscom carimbo de Chaves (24.11.34)

Desde que iniciei esta rubrica nojornal Centro, o Leitor atento tem ob-servado que os selos apresentadostêm, até aqui, um aspecto desagradá-vel. Este aspecto nota-se mais nasemissões dos “Lusíadas”.

Para se fazerem selos diferentes,em determinada época foi programa-da numa emissão base, com temas di-ferentes, representando monumentose vultos célebres da História.

Assim, foram escolhidos: Templo deDiana, Infante D. Henrique, Chefe deEstado, Sé Velha de Coimbra, PedroNunes e Torre dos Clérigos.

Mas este projecto foi abandonado,aproveitando-se, no entanto, algunsdesenhos.

A efígie do Chefe de Estado de en-

tão, o general Óscar Carmona (maistarde promovido a marechal), foi tiradade uma fotografia da época, sendo odesenho e gravura de Arnaldo Frago-so. Tipografados pela Casa da Moe-da em folhas de 100 selos de papelporcelana e papel liso, com denteado11,5. Foram emitidos 34 930 600 se-los de 40 centavos violeta e retiradosdo mercado em Outubro de 1945.

(Baseado em Carlos KulbrergLivros Electrónicos, vol. 3)

O papel esmalte trouxe ao selo por-tuguês um aspecto mais bonito, maiscolorido e mais real.

Durante estes anos, andou em si-multâneo com o papel liso. Depois,adoptou-se de vez o papel esmalte oque fez dos nossos selos uns dos maisbonitos do Mundo.

Voltarei a este assunto na próximaedição, com a biografia do marechalCarmona.

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22 24 DE SETEMBRO A 7 DE OUTUBRO DE 2008CULTURA

Uma porca insuflável deitada juntoao Mosteiro de Alcobaça, para cujoventre as pessoas vão espreitar, como

se fossem leitões a mamar, é segura-mente a mais insólita das centenas deiniciativas da programação das Jorna-das Europeias do Património, que de-correm este fim-de-semana (de sex-ta-feira, dia 26, até domingo, dia 28).

JORNADAS EUROPEIAS DO PATRIMÓNIO NA REGIÃO CENTRO

Da porca insuflável em Alcobaçaaos passeios temáticos em Coimbrae em Montemor-o-Velho

Subordinadas ao tema “no patrimó-nio… Acontece”, estas Jornadas vi-sam “propiciar novas oportunidades dereencontro das pessoas e das comu-nidades com o mundo do património edos monumentos” em toda a Europa.

Cerca de 120 autarquias de todo oPaís aderiram a estas Jornadas, indopromover perto de meio milhar de re-alizações muito diversas.

Na Região Centro são mais de 30os municípios participantes, com mui-

tas dezenas de iniciativasAssim, em Coimbra, ao longo dos

três dias das Jornadas decorrem cin-co percursos pedonais temáticos: “Ra-inha Santa Isabel”, “Santo António”,“Miguel Torga”, “Panteão Nacional”(a Igreja de Santa Cruz, onde está se-pultado D. Afonso Henriques) e “Co-imbra Contemporânea”.

Em Montemor-o-Velho, a autarquiapromove um “peddy paper” (“rali pa-per” a pé) alusivo à obra de Afonso

Em Montemor-o-Velho o tema centralserá a vida e obra de Afonso Duarte

Em Coimbra um dos passeios temáticos passa pela Casa-Museu Miguel Torga

Duarte e integrado nas comemoraçõesdos 50 anos da morte do poeta e es-critor nascido naquele concelho (emEreira, em 1884).

Em Anadia, no domingo, haverá umconcerto acústico com prova de vi-nhos no Museu do Vinho da Bairrada.

No sábado, no Mosteiro da Bata-lha, destaque para uma visita guiadaàs Capelas Imperfeitas, com uma ses-são de fado de Coimbra.

A INSÓLITA PORCADE ALCOBAÇA

Mas voltemos à insólita porca insuflá-vel, deitada ao lado do Mosteiro de Al-cobaça, e que pode ser vista no sábado.

Com nove metros, é uma grandeporca sonolenta, numa pocilga, que vaironcar como as reais suínas – comorefere a companhia britânica de ani-mação de rua responsável por estainvulgar performance.

A convite de um camponês, o pú-blico, prostrado no chão, “tem opor-tunidade de agir como os pequenos lei-tões”, assistindo, através de pequenasjanelas abertas na estrutura insuflá-vel, a um espectáculo de 10 minutosque se desenrola dentro do ventre daporca.

[email protected]

CarlosEsperança

ponte europa

www.ponteeuropa.blogspot.com/

Não apaguema memória

Valorizar a história das lutas pela li-berdade e preservar a memória da re-sistência à opressão do Estado Novo sãofinalidades da associação/movimentocívico “Não Apaguem a Memória!”,cujo núcleo do Porto promove, no de-correr dos meses de Setembro e Outu-bro, as seguintes actividades:

QUARTA-FEIRA,24 DE SETEMBRO DE 2008

17.30 h - Inauguração da exposiçãode fotografias de Orlando Falcão “Tar-rafal, lugar de memória”, no Museu Mi-litar do Porto (edifício da delegação doPorto da PVDE/PIDE/DGS, sito na es-quina da Rua do Heroísmo com o Largode Soares dos Reis)

21.30 h - Plenário regional de sócios,aderentes e activistas do movimento“Não Apaguem a Memória!” no Auditó-rio do Sindicato de Professores do Nor-te, sito na Rua D. Manuel II, 51-C, 2ºandar (Porto)

SÁBADO,25 DE OUTUBRO DE 2008

15.30 h - Conferência pelo Prof.Doutor Manuel Loff: “O Tarrafal e aOpressão Salazarista”, no Museu Mi-litar do Porto.

16.30 h – Debate18 h - Encerramento da exposição

de fotografias “Tarrafal, Lugar deMemória”

As eleiçõespresidenciaisnos EUA

Após dois mandatos de George W.Bush, a eventual eleição de McCain éaterradora. Depois de um presidente queinvadiu o Iraque por ordem divina, indi-ferente à verdade e ao direito internaci-onal, talvez sequelas do alcoolismo, con-viria alguém com cultura e sensibilidadepara usar o imenso poderio militar e eco-nómico dos EUA a favor da paz.

Quando se esperava que a demên-cia dos neoconservadores fosse puni-da nas urnas e os democratas reinici-assem um período civilizado de relaci-onamento com a Europa e de respeitopelos outros povos, sem ameaças àRússia nem apoio incondicional a Isra-el, eis que a América rural e beata viuna inculta Governadora do Alasca aversão feminina de Dick Cheney, parapersistir na tragédia dos republicanosligados ao petróleo e à oração.

Se o senador McCain for eleito e oSenhor servido de o chamar à sua di-vina presença, e se algum azar ou in-teresse particular lhe reservar o desti-no de Kenedy, os EUA terão a primei-ra mulher presidente e o mundo razõespara ter medo.

Já alguém se deu conta do que seriauma apaixonada por armas, a mulherque à leitura de um livro prefere umacaçada, a criacionista convicta e mili-tante, à frente dos EUA?

A entusiasta da pena de morte, con-trária ao aborto nos casos de violaçãoe incesto, pode tornar-se presidente dosEUA por acaso da sorte e vontade doeleitorado que demorou a detestar Bushmas, distraidamente, lhe pode prolon-gar a política.

É difícil prever as consequências docolapso financeiro em curso e dos des-mandos do liberalismo económico naspróximas eleições, mas os ventos repu-blicanos semearam tempestades de efei-tos imprevisíveis. Bush já ultrapassoulargamente Hugo Chávez na dimensãodas nacionalizações a que procedeu. Ecomo as abominava!

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2324 DE SETEMBRO A 7 DE OUTUBRO DE 2008 INTERNET

IDEIAS DIGITAIS

Inês AmaralDocente do Instituto Superior Miguel Torga

EDMODO

CLUBE DOS LIVROS CADA

TOLUU

PONTA DELGADA VIRTUAL TOUR

Setembro é o mês do regresso às aulas e para umaescola interactiva e tecnológica, a primeira propostadesta semana das Ideias Digitais é o Edmodo. Trata-se de um sistema de micro-blogging, do género doTwitter, aplicado a um conceito de ensino-aprendiza-gem adequado ao universo interactivo e participativoda Web 2.0.

Esta plataforma assume as várias funções habituaisem serviços de micro-blogging em ambiente 2.0, per-mitindo a privacidade dos dados. Após o registo do pro-fessor e consoante as permissões dadas, apenas os alu-nos da respectiva turma têm acesso às informaçõesque são expostas naquele espaço. O Edmodo é a pla-taforma ideal para partilhar notas, links e ficheiros, en-viar alertas e enunciados de trabalhos aos alunos.

EDMODO

endereço: http://www.edmodo.comcategoria: Educação

A Educação continua a dominar esta página e a su-gestão que se segue é o Clube dos Livros. Este sitepropõe uma reutilização de livros escolares através doconceito do “Livrão”. É possível vender livros usados(em bom estado) e receber 20% do valor original. Es-ses livros são depois vendidos no site a 50% do valororiginal.

Com as contas atrás apresentadas, quem utilizar este

Quem habitualmente dedica horas a ler feed RSSpode achar interessante esta comunidade. O Toluu éuma plataforma social cujo objectivo é partilhar comoutros utilizadores os sites lidos diariamente através deRSS.

Serve para quê? Para encontrar outros sites que seadequem aos seus interesses e outros utilizadores quepartilham o gosto pelos mesmos assuntos. A interface ésimples de utilizar e permite também a classificação dossites por temas e categorias.

TOLUU

endereço: http://www.toluu.comcategoria: comunidades

Tecnologia, arte e ciência com muita criatividade àmistura = CADA – associação cultural sediada emLisboa cujo objectivo é promover trabalho artístico combase em plataformas tecnológicas.

«O CADA está particularmente interessado napossibilidade de desvendar os padrões escondidosna vida quotidiana», pode ler-se no site da associa-

Conhecer Ponta Delgada sem sair de casa. É esta aproposta da Câmara Municipal de Ponta Delgada quelançou recentemente este site que faz uma visita virtualguiada pela cidade. A partir de panorâmicas retiradas defotografias, o utilizador pode conhecer os espaços no-bres de Ponta Delgada.

Com o objectivo de promover o concelho os respon-sáveis avisam que também os provados podem aderir aoprojecto e incluir os seus espaços nesta virtualização. Opasseio virtual permite caminhar pelas ruas, jardins eedifícios (exterior e interior) da cidade e, brevemente,disponibilizará uma agenda cultural e outros serviçoscamarários. Para quem não conhece, aqui fica uma ex-celente oportunidade de “visitar” Ponta Delgada.

PONTA DELGADA VIRTUAL TOURendereço: http://www.pontadelgadavirtualtour.netcategoria: turismo

O CADERNO DE SARAMAGO

José Saramago também já tem um blog. O prémioNobel lançou o novo espaço no site da sua Fundaçãoassumindo que a «infinita Internet» é uma nova pontepara comunicar com o público.

O Caderno de Saramago é uma redescoberta detextos antigos e um espaço de reflexão e comentáriosobre os acontecimentos. São ainda disponibilizados aoutilizador recursos multimédia e notícias. A escrita, essa,é saramaguiana.

O CADERNO DE SARAMAGO

endereço: http://blog.josesaramago.orgcategoria: blogs

serviço em pleno (vender os livros do ano anterior ecomprar os do ano actual) garante uma poupança de70%, o que é por demais significativo se atendermosaos valores anualmente gastos em compras de livrosescolares. Para além de poupar, quem aderir ao Clubedos Livros está também a ajudar, já que esta iniciativaé uma parceria com a Livraria Bertrand e a Entrajuda,que revertem os valores para missões de solidariedadesocial e apoio ao ambiente.

CLUBE DOS LIVROS

endereço: http://www.clubedoslivros.comcategoria: Educação

ção. Estão disponíveis artigos (textos e imagens) dealguns projectos mas também extensões para brow-sers se centram em comentários gráficos desenhadospelos utilizadores em páginas web e aplicações paratelemóveis que traçam os perfis pessoais da utilizaçãodo equipamento.

CADAendereço: http://www.cada1.netcategoria: tecnologia

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24 24 DE SETEMBRO A 7 DE OUTUBRO DE 2008TELEVISÃO

PÚBLICA FRACÇÃO

Francisco [email protected]

CRISE ECONÓMICA

O mundo construído em torno docapital parece estar em implosão.Grandes empresas privadas de dimen-são mundial vão à falência, ou, ironiadas ironias, são salvas pelo sempre“perigoso” Estado.

Em Portugal os principais órgãos de

Comunicação Social, e também as es-tações de televisão, foram, desde a se-gunda metade dos anos 90, invadidaspor comentadores de Economia defen-sores acérrimos do mercado como pa-naceia de todos os males.

Perante todas as crises económicasa resposta foi sempre a de mais libe-ralismo, mais espaço para a “iniciati-va” privada, menos Estado. Assim, oscomentadores de Economia da tele-visão portuguesa foram sempre, pelomenos por mim, entendidos como ex-tensões dos interesses económicosdominantes e incentivadores de umaatitude de aceitação por parte do co-mum dos cidadãos. Aliás, não forampoucas as vezes que deixaram no ara sugestão de que mais valia entregartoda a nossa vida nas mãos, invisíveis,das grandes empresas. Se tudo fosseprivado o mundo seria muito melhor,sugeriam.

A verdade é que nunca explicaramnada claramente e os jornalistas quecom eles dialogam em frente das câ-maras também pouco sabem pergun-tar. Provavelmente seguem os line-ups propostos pelos ditos comentado-res e não lhes sobra discernimentopara perguntas tão simples como esta:a como estava o litro de gasolina quan-do o barril de crude se encontrava nomercado ao preço a que está agora?

Perante a salvação (pelo Estado)in-extremis de um colosso financeirocomo a AIG, ninguém foi capaz de per-guntar, por exemplo, qual o futuro dos74 milhões de pensionistas que depen-dem da AIG. Não foi nunca abordadaa mais do que pertinente comparaçãocom a ideia, muito desenvolvida hámeia dúzia de anos, de no nosso Paísse enveredar por um sistema de se-gurança social privado.

Os comentadores de Economia dasestações de televisão vendem, indirec-tamente, os produtos financeiros queas mesmas são pagas para anunciar.Num dos “Jornais da Noite” da SICna passada semana, José Gomes Fer-reira, que até nem é dos mais aguer-ridos vendedores da economia “selva-gem” de mercado, quase que pediaaos telespectadores para não acredi-tarem no perigo destas crises. E deuum exemplo com uma aplicação finan-ceira qualquer que estaria sempre ga-rantida até aos 25.000 euros. “Nãocoloquem as economias debaixo docolchão”, gracejou. Valeu a ironia deRodrigo Guedes de Carvalho: “... pelomenos ponham no colchão só o quefor acima deste valor” !

NOTÍCIAS: TELEVISÃOAINDA NA FRENTE

Apesar da Internet assumir uma im-portância cada vez maior, a televisãopermanece, para a maioria dos indiví-duos, a principal fonte de notícias.Esta conclusão resulta de um estudolevado a cabo pelo Pew ResearchCenter for the People and the Press,que visa comparar a importância dosdiferentes suportes noticiosos para osindivíduos. Os dados obtidos permiti-ram assim destacar quatro perfis deconsumo noticioso de acordo com asfontes e suportes utilizados: os inte-grators, os net-newsers, os traditio-nalists e os disengaged. Onde se si-tua o leitor?

O ÓNIBUS 174

A SIC, aproveitando a onda geradapelo Agosto português polvilhado porcriminalidade violenta, exibiu, em duas

partes e em dias consecutivos, o do-cumentário de José Padilha “O óni-bus 174”. No momento em que escre-vo desconheço as audiências, mas es-pero que tenham sido boas. Porquê?

Porque se trata de uma investiga-ção cuidadosa, baseada em imagensde arquivo, entrevistas e documentosoficiais, sobre o sequestro de um au-

tocarro em plena zona sul do Rio deJaneiro. O incidente, que aconteceuem 12 de junho de 2000, foi filmado etransmitido ao vivo durante perto decinco horas, paralisando o Brasil. Nofilme a história do sequestro é conta-da paralelamente à história de vida dosequestrado, intercalando imagens daoperação policial feitas pela televisão.É revelado como um típico “meninode rua” carioca se transforma em ban-dido e as duas narrativas dialogam,formando um discurso que as trans-cende e mostra ao espectador porque

é que o Brasil é um país tão violento.Espero também que o documentá-

rio exibido pela SIC tenha sido vistopor um bom número de espectadorespara que os menos atentos, e serãomuitos, conheçam a realidade brasi-leira que vai muito para além da queeles julgam conhecer através das no-velas que nos envolvem há mais detrinta anos.

O “Ónibus 174” tem muitas virtu-des, mas um perigo – criar o efeito do

“bandido-herói”. Toda a história daterrível vida de Sandro, o sequestra-dor, não pode, não deve, esconder ashistórias das outras vidas, as das víti-mas, em particular a da refém queacabou morta com quatro tiros, um dapolícia e mais três disparados pelopróprio Sandro.

Mas há algo de muito importante

que este documentário deve desenca-dear na nossa actual condição de es-pectadores/cidadãos portugueses emfase pós-Agosto 2008. Será que anotícia provoca comportamentos vio-lentos, ou o facto de a mesma ser va-lorizada muitas vezes não provoca oefeito de satisfação de se ver a si pró-prio como notícia na lógica da cele-brização pessoal nos media - com a

óbvia relativização da reserva, pois ocriminoso não quer que todos saibamque foi ele, quando muito apenas osseus pares.

No entanto, Sandro, o “menino darua” do Rio de Janeiro, o assaltantedo Ónibus 174, dizia à sua mãe adop-tiva que ainda ia ser conhecido nomundo inteiro. E foi.

A criminalidade não é criada pelosmedia, mas sim pelas condições soci-ais onde se desenvolve. Porém, temosde colocar a questão atrás enunciada,porque para ela não temos resposta,temos apenas hipóteses: será quequando insistimos muito em noticiaruma dada temática negativa, esse fac-to pode ter o mesmo efeito que a visi-bilidade do fogo perante o pirómano,ou seja, a satisfação e o envolver umcerto público no seu acto?

Os media não são responsáveis,mas sendo parte da sociedade têm dese interrogar sobre se esse limite vir-tual de insistência perante um dadofenómeno existe ou não. E se queremou não viver com essa interrogação.

Sabendo que os efeitos dos medianão são até agora inequivocamentedemonstráveis, a inquietante possibi-lidade de que eles escondam a reali-dade é um dado, só por si, que me faztomar o partido da absoluta liberdadenoticiosa. Assim, o que está em cau-sa não é a notícia, mas o modo danotícia. Aceitando ainda que existeuma diferença entre cidadãos comunse criminosos, qual teria sido a escolhadas vítimas do “ónibus 174”, ou mes-mo do BES de Campolide? Aceitari-am ou não a transmissão em directodos seus dramas?

Rio de Janeiro, ano 2000: o drama em directo na televisão