o centro - n.º 62 – 19.11.2008

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DIRECTOR JORGE CASTILHO | Taxa Paga | Devesas – 4400 V. N. Gaia | Autorizado a circular em invólucro de plástico fechado (DE53742006MPC) ANO III N.º 62 (II série) 19 de Novembro a 2 de Dezembro de 2008 1 euro (iva incluído) Telef.: 309 801 277 Rua da Sofia, 95 - 3.º - 3000-390 COIMBRA Homenagem ao maior dador de sangue SAÚDE PÁG. 14 SANTA CLARA EDUCAÇÃO PÁG. 9 PÁG. 11 Sócrates afirma querer dialogar Orgulho e queixas do Presidente da Junta PÁG. 5 OLIVAIS Os 154 anos da maior freguesia de Coimbra ACONTECEU HÁ 100 ANOS NA UNIVERSIDADE DE COIMBRA O jovem estudante Bissaya-Barreto ousou recusar prémio que o Rei queria entregar-lhe No dia 20 de Novembro de 1908, na abertura solene das aulas na Universidade de Coimbra, um jovem estudante republicano, de seu nome Fernando Bissaya-Barreto, recusou receber o prémio de mérito que o Rei D. Manuel II ia entregar-lhe. “Não conheço o Rei!” - afirmou o jovem, que viria a tornar-se numa das mais extraordinárias figuras do Portugal contemporâneo, onde desenvolveu uma obra ímpar. Este e outros aspectos da vida e dos múltiplos empreendimentos de Bissaya-Barreto, estão no suplemento especial incluído nesta edição, com o qual pretendemos homenagear o Homem e a Fundação que criou há precisamente meio século

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Versão integral da edição n.º 62 do quinzenário “O Centro”, que se publica em Coimbra. Director: Jorge Castilho. 19.11.2008. Site do Instituto Superior Miguel Torga: www.ismt.pt Visite outros sítios de Dinis Manuel Alves em www.mediatico.com.pt , www.slideshare.net/dmpa, www.youtube.com/mediapolisxxi, www.youtube.com/fotographarte, www.youtube.com/tiremmedestefilme, www.youtube.com/discover747 , http://www.youtube.com/camarafixa, , http://videos.sapo.pt/lapisazul/playview/2 e em www.mogulus.com/otalcanal Ainda: http://www.mediatico.com.pt/diasdecoimbra/ , http://www.mediatico.com.pt/redor/ , http://www.mediatico.com.pt/fe/ , http://www.mediatico.com.pt/fitas/ , http://www.mediatico.com.pt/redor2/, http://www.mediatico.com.pt/foto/yr2.htm , http://www.mediatico.com.pt/manchete/index.htm , http://www.mediatico.com.pt/foto/index.htm , http://www.mediatico.com.pt/luanda/ , http://www.biblioteca2.fcpages.com/nimas/intro.html

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DIRECTOR JORGE CASTILHO

| Taxa Paga | Devesas – 4400 V. N. Gaia |Autorizado a circular em invólucrode plástico fechado (DE53742006MPC)

ANO III N.º 62 (II série) 19 de Novembro a 2 de Dezembro de 2008 � 1 euro (iva incluído)

Telef.: 309 801 277Rua da Sofia, 95 - 3.º - 3000-390 COIMBRA

Homenagemao maiordadorde sangue

SAÚDE

PÁG. 14

SANTA CLARA EDUCAÇÃO

PÁG. 9PÁG. 11

Sócratesafirmaquererdialogar

Orgulhoe queixasdo Presidenteda Junta

PÁG. 5

OLIVAIS

Os 154 anosda maiorfreguesiade Coimbra

ACONTECEU HÁ 100 ANOSNA UNIVERSIDADE DE COIMBRA

O jovem estudanteBissaya-Barretoousourecusar prémioque o Reiqueriaentregar-lheNo dia 20 de Novembro de 1908, na abertura solene das aulasna Universidade de Coimbra, um jovem estudante republicano,de seu nome Fernando Bissaya-Barreto, recusou recebero prémio de mérito que o Rei D. Manuel II ia entregar-lhe.“Não conheço o Rei!” - afirmou o jovem, que viria a tornar-senuma das mais extraordinárias figuras do Portugalcontemporâneo, onde desenvolveu uma obra ímpar.Este e outros aspectos da vida e dos múltiplos empreendimentosde Bissaya-Barreto, estão no suplemento especial incluídonesta edição, com o qual pretendemos homenagear o Homeme a Fundação que criou há precisamente meio século

2 19 DE NOVEMBRO A 2 DE DEZEMBRO DE 2008CULTURA

Director: Jorge Castilho(Carteira Profissional n.º 99)

Propriedade: AudimprensaNIF: 501 863 109

Sócios: Jorge Castilho e Irene Castilho

ISSN: 1647-0540

Inscrito na DGCS sob o n.º 120 930

Composição e montagem: AudimprensaRua da Sofia, 95, 2.º e 3.º - 3000-390 Coimbra

Telefone: 309 801 277 - Fax: 309 819 913

e-mail: [email protected]

Impressão: CIC - CORAZEOliveira de Azeméis

Depósito legal n.º 250930/06

Tiragem: 10.000 exemplares

car car car car car toontoontoontoontoon

Acaba de chegar às livrarias um precioso livro sobre TerezaCortez e a sua obra de ceramista. Designadamente os seus tãobelos quanto surpreendentes painéis murais, que enriquecem fa-chadas exteriores assim como interiores de vários edifícios de vá-rias localidades do nosso país. É fácil reconhecê-los pela marca deoriginalidade, nas cores como no modelado, no traço como noselementos, das flores e frutos aos animais, em composições ondese sentem as leis da harmonia, a força criativa, uma sensibilidaderara que nos reconduz ao imaginário da artista como apela à inte-rioridade de cada um de nós, porque Contam histórias, estimu-lam, requerem, reconduzem o leitor a uma convivência com o Belonuma expressão maior de rigor e claridade.

São vários os textos que interceptam e são interceptados porreproduções da obra da Artista (onde igualmente emergem algu-mas de pequenas dimensões, onde percutem retratos, toques deNatureza, movimento geométrico), reflexões de especialistas queajudam à compreensão e sobretudo nos tornam interrogantes nafruição do multiforme talento de uma ceramista que se distinguepelas técnicas, que vão do azulejo ao modelado.

Cada objecto, sente-se na qualidade deste livro, tem a mão e oolhar da sua Autora. O livro contém um CD que o enriquece subs-tantivamente, pelo que nos conta e nos envolve.

Estamos perante um objecto editorial que, no seu conjunto, sejapela qualidade dos textos, pela possibilidade de “ter à mão” algunsdos surpreendentes painéis como outras obras de Teresa Cortez,ainda pela qualidade da edição, se recomenda e será uma preciosaprenda na época que se aproxima.

A todos os títulos indispensável.

José Henrique Dias

Um belo livropara uma grande artista– Teresa Cortez

Esta semana, chegou às sa-las “Ensaio sobre a Cegueira”,adaptação ao cinema do famo-so livro de José Saramago, queficou a cargo do realizador bra-sileiro Fernando Meirelles (“Ci-dade de Deus”, “O Fiel Jardi-neiro”). O filme, que retrata umasociedade devastada por umaepidemia instantânea de ceguei-ra, é um trabalho caracteristica-mente poderoso e por vezesmuito pesado. Tal deve-se so-bretudo ao trabalho de câmarade Meirelles, que conseguetransmitir para o grande ecrã anatureza assustadora da “ce-gueira branca” e a crueza danatureza humana. Destaque-seigualmente o trabalho de todo o

elenco, sobretudo da actriz prin-cipal Julianne Moore, que inter-preta uma mulher cuja visão nãoé afectada pela epidemia e queacaba por se tornar testemunhaúnica desta “sociedade de ce-gos”, onde se tornam claros osdesejos e as fraquezas da raçahumana.

Continua nas salas “Quantumof Solace”, o novo filme de Ja-mes Bond, continuação directado anterior “Casino Royale”(algo inédito na história da sagacinematográfica). Daniel Craig,apesar de ter mudado a imagemfísica e psicológica do famosoespião, continua a interpretar umBond mais humano, ideal parauma nova geração (com menos

gadgets e muito mais acção),embora não se esqueçam os fil-mes anteriores (neste filme,nota-se uma pequena homena-gem ao clássico “Goldfinger”).Recomendável a todos os fãs dasérie, sobretudo aos que gosta-ram de “Casino Royale”.

Por último, destaco o filme “ATurma”, vencedor da Palma deOuro de Cannes deste ano, umtestemunho sincero (injustamen-te classificado como um docu-mentário) sobre o ambiente es-colar e as pessoas que coabi-tam nesse mundo diariamente.Uma obra poderosa porque ver-dadeira.

Pedro Nora

C I N E M A

CADC homenageia Manoel de OliveiraCinco filmes de temática

religiosa de Manoel de Oliveiravão ser projectados em Janeiro emCoimbra num ciclo com a presen-ça do realizador, organizado peloCentro Académico da Democra-cia Cristã (CADC).

O presidente da direcção doCADC de Coimbra, João Caeta-no, disse à agência Lusa que o ci-clo compreende seis sessões coma exibição dos filmes do cineasta,que completa 100 anos em De-zembro, e a discussão em tornodas obras por vários especialistas.

“O Pão”, “O Acto de Prima-vera”, “Benilde ou a VirgemMãe”, “O Meu Caso” e “Palavrae Utopia” são as películas, queabrangem o período entre as dé-cadas de cinquenta e noventa, aprojectar, em princípio ao longo deduas semanas em Janeiro, no au-ditório do CADC.

O vice-director da Cinemate-

ca Portuguesa, o crítico Pedro Me-xia, o investigador e professor daFaculdade de Letras da Universi-dade de Coimbra Fausto Cruchi-nho, especialista na obra de Ma-noel de Oliveira, e o docente jubi-lado da Faculdade de Letras doPorto João Francisco Marques(consultor e colaborador do cine-asta) são alguns dos especialistasque participam nas sessões.

De acordo com João Caetano,Manoel de Oliveira estará presen-te na sexta sessão, para “uma dis-cussão livre” em torno da sua obra,a par com Fausto Cruchinho ePedro Mexia.

“O CADC associa-se às come-morações do centenário do nasci-mento de Manoel de Oliveira, ho-menageando-o com a projecção decinco filmes com temática religio-sa. Achou-se que seria interessan-te perspectivar deste modo a obravasta e notável” do realizador,

adiantou o presidente do CADC.Foi “escolhido o critério “religi-

oso”, como podia ter sido escolhi-do outro. De facto, na sua longa eprestigiada história, o CADC deumuita atenção à questão do cine-ma em geral, através da sua Sec-ção de Cinema. Na revista Estu-dos do CADC foram publicadasmuitas críticas a filmes, nomeada-mente nas décadas de cinquentae sessenta”, referiu.

“Manoel de Oliveira manifes-tou a sua disponibilidade para es-tar presente. Será um regresso aoCADC, onde já esteve presente epor quem nutre simpatia”, disseainda João Caetano.

O CADC “é uma associaçãode estudantes, professores e inves-tigadores católicos, que actua nomeio universitário e que promovea discussão das grandes questõesda actualidade” - refere o presi-dente da instituição.

319 DE NOVEMBRO A 2 DE DEZEMBRO DE 2008 NACIONAL

Temos uma excelente sugestãopara uma oferta a um Amigo, a umFamiliar ou mesmo para si próprio:uma assinatura anual do jornal“Centro”

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Trata-se de um belíssimo trabalhoda autoria de Zé Penicheiro, expres-samente concebido para o jornal“Centro”, com o cunho bem carac-terístico deste artista plástico – umdos mais prestigiados pintores portu-gueses, com reconhecimento mesmoa nível internacional, estando repre-sentado em colecções espalhadas porvários pontos do Mundo.

Neste trabalho, Zé Penicheiro,com o seu traço peculiar e a incon-fundível utilização de uma invulgarpaleta de cores, criou uma obra quealia grande qualidade artística a umprofundo simbolismo.

De facto, o artista, para represen-tar a Região Centro, concebeu umaflor, composta pelos seis distritos queintegram esta zona do País: Aveiro,Castelo Branco, Coimbra, Guarda,Leiria e Viseu.

Cada um destes distritos é repre-sentado por um elemento (remeten-do para o respectivo património his-tórico, arquitectónico ou natural).

A flor, assim composta desta for-

ma tão original, está a desabrochar,simbolizando o crescente desenvolvi-mento desta Região Centro de Portu-gal, tão rica de potencialidades, de His-tória, de Cultura, de património arqui-tectónico, de deslumbrantes paisagens(desde as praias magníficas até às ser-ras imponentes) e, ainda, de gente hos-pitaleira e trabalhadora.

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Para além desta oferta, o beneficiá-rio passará a receber directamente em

sua casa (ou no local que nos indicar),o jornal “Centro”, que o manterásempre bem informado sobre o que demais importante vai acontecendo nes-ta Região, no País e no Mundo.

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O presidente Conselho Científicopara a Avaliação dos Professores ape-lou ontem (terça-feira) à “serenida-de”, sublinhando que o Ministério daEducação está a ouvir agentes edu-cativos para “alicerçar” uma tomadade posição em relação ao processo deavaliação de desempenho.

“O ingrediente que mais falta fazneste momento no processo de avali-ação de desempenho dos professoresé a serenidade, é a calma necessáriapara debater de forma civilizada”, dis-se Alexandre Ventura aos jornalistas.

O Ministério da Educação começouontem a receber “representantes de to-dos os sectores ligados ao problema daavaliação dos professores” para ouviraquilo que pensam sobre o processo e

quais as suas sugestões, segundo o se-cretário de Estado Valter Lemos.

O actual e a anterior presidente doConselho Científico para a Avaliaçãodos Professores, Alexandre Venturae Conceição Castro Ramos, e docen-tes premiados foram recebidos ontemde manhã no Ministério.

À tarde foram ouvidos o Conselhodas Escolas, o Conselho Nacional deEducação, a Confederação Nacionaldas Associações de Pais (CONFAP)e a Federação Nacional de Educação(FNE). Hoje (quarta-feira) será rece-bida a Fenprof, a maior federação desindicatos da Educação.

“Penso que a senhora ministra estáa ouvir um conjunto alargado de pes-soas e entidades no sentido de alicer-

çar a sua tomada de posição a estepropósito”, disse Alexandre Ventura.

O presidente do Conselho Científicopara a Avaliação dos Professores co-mentou ainda a sugestão feita segun-da-feira na RTP pelo socialista AntónioVitorino no sentido de o Governo equa-cionar a criação de uma comissão desábios para alcançar um acordo sobreo processo de avaliação de docentes.

“Não vejo que seja uma ideia nega-tiva. Acho que pode eventualmente serconsiderada neste processo”, afirmou.

Alexandre Ventura anunciou aindaque durante iria convocar a próximareunião do órgão a que preside, quenão se reúne desde Julho passado.

Arsélio Martins, vencedor do Pré-mio Nacional de Professores, recebi-

do também ontem pelo ministério daEducação, disse à saída do encontrover “com preocupação” a conturba-ção registada nos últimos dias entreprofessores e Governo.

“Também sou professor e vejo compreocupação” o processo de avalia-ção em curso, afirmou à Lusa, escu-sando pronunciar-se sobre qual o me-lhor modelo de avaliação mas salien-tando que “toda a gente defende queo actual sistema deve ser melhorado”.

Questionado sobre a necessidadede o ministério da Educação suspen-der o processo de avaliação, face àcontestação dos professores, o docen-te de matemática afirmou: “Tudo de-pende das duas partes, mas o proces-so ainda está em negociação”.

Presidente do Conselho Científicopara a Avaliação dos Professoresapela à “serenidade”

4 19 DE NOVEMBRO A 2 DE DEZEMBRO DE 2008SICTAÇÕES

A NOITE AMERICANA

Como tanta gente, vivi entre amigos anoite americana. Uma poltrona, um copoà mão e um cinzeiro que começa imacu-lado, mas sobre o qual chovem beatas aoritmo do apuramento dos votos. Em vol-ta, vozes familiares, risos conhecidos,exaltações antigas - ou seja, idiossincra-sias da minha colecção pessoal. Não que-ro chocar ninguém, mas nem JamesBond, nem Indiana Jones, nem Rambo:as grandes emoções são sedentárias.

Vivida a festa, porém, logo na manhãseguinte vemos alguns, dos que era lícitopensar que a celebravam, falando agoi-ros em nome da prudência, com carassoturnas e olhar sombrio. É deprimentea militância no cinzento. É a recusa doencanto em nome de qualquer desencan-to que aí venha. É a recusa dos afectosporque amanhã estaremos todos mortos.Nós sabemos que os valores iluminam osentido da História e os interesses fazema gestão do cruzeiro da vida. Mas os va-lores libertam muitos condenados e as-sustam muitos carcereiros. Devemos-lhesa literatura, a música, a pintura. Já os in-teresses, esses, são contas em papel par-do, sem as quais o merceeiro não nos fia.Depende deles o nosso dia. Nós sabe-mos. E creio que Obama, o “meninomagricela com um nome esquisito”, sa-berá que quase sempre os valores desa-guam nos interesses e dissolvem-se ne-les. Mas, que raio!, isto avança por ma-rés. Sigamos esta por agora. Se e quan-do esmorecer e sobrevier o desencanto,pois também esse é finito e precário -como nós e como o encanto que ele ma-tou. Mas então sobrevirá outra maré altade valores, trazida por outro alguém queousou e que subirá um pouco mais noareal dos interesses. (...)

Nuno Brederode SantosDN 9/Novembro/08

DEUS CONTRA DARWIN

(...) A teoria da evolução constituiuuma daquelas humilhações do Homem deque falou Freud. Embora o Homem nãodescenda do macaco, ele e o macacodescendem de um antepassado comum,o que não constituiu uma descoberta par-ticularmente exaltante. Desde então anossa visão da natureza, do Homem e deDeus modificou-se.

Significativamente, já na altura, mui-tos religiosos britânicos declararam que

não havia incompatibilidade com a fé. Ohistoriador das ciências D. Lecourt es-creveu: “A figura mais importante daIgreja escocesa declarou-se evolucionis-ta e, num curso, em 1874, aconselhou osteólogos a sentirem-se ‘perfeitamente àvontade com Darwin’.” Darwin, sepul-tado com pompa, em 1882, na abadia deWestminster, a alguns passos do túmulode Newton, nunca foi oficialmente con-denado pela Igreja católica e A Origemdas Espécies nunca esteve no Índex.

De qualquer modo, segundo o reve-rendo Malcom Brown, director dos ser-viços de relações públicas da Igreja An-glicana, a sua Igreja deveria agora pedirdesculpa pela má interpretação de Da-rwin e algum fervor anti-evolucionista.

Hoje, os equívocos beligerantes pro-vêm essencialmente do “criacionismo”americano e do chamado “desígnio inte-ligente”. Mas o “criacionismo” assentanuma leitura literal do mito da criação doGénesis, esquecendo que o Génesis éum livro religioso e não de ciência e quesó uma leitura simbólica é adequada.Quanto ao “desígnio inteligente”, o seuequívoco provém da ambição de demons-trar Deus pela ciência.

De facto, como é evidente, a exis-tência de Deus não é nem pode ser ob-jecto de ciência. Mas afirmar taxati-vamente que a evolução é mero pro-duto do acaso não deixa de ser tam-bém uma posição dogmática. A ciên-cia vai respondendo ao “como” da evo-lução, mas não responde ao “porquê”,concretamente ao porquê e para quêda existência do Homem e de tudo:“Porque há algo e não pura e simples-mente nada?”

Como escreveu o cientista Francis-co J. Ayala, na conclusão da sua obraDarwin e o Desígnio Inteligente, “aevolução e a fé religiosa não são in-compatíveis. Os crentes podem ver apresença de Deus no poder criativo doprocesso de selecção natural descober-to por Darwin”.

Anselmo BorgesDN 8/Novembro/08

(...) João Paulo II reconheceu, em1996, numa intervenção na AcademiaPontifícia das Ciências, que novos co-nhecimentos levam a considerar a te-oria da evolução como mais do queuma simples hipótese.

Há evolucionistas materialistas.Mas também há evolucionistas que sãocrentes. Não há incompatibilidade en-tre a fé e o evolucionismo, que, se-gundo a obra célebre do padre e cien-tista Teilhard de Chardin, podem mes-mo harmonizar-se. Depois de se es-clarecer o “como” do processo evo-lutivo que leva ao aparecimento doHomem, ainda se não calou a pergun-ta pelo “porquê” da evolução desem-bocando num ser humano que conti-nua a perguntar pelo sentido da suaexistência e de tudo.(...)

Anselmo BorgesDN 15/Novembro/08

CRISE E COELHOS

Imagine uma empresa de pomboscorreios com uma epidemia de gripedas aves; perante a catástrofe a ad-ministração decide passar a enviar asmensagens por... coelhos. Esta esco-lha insólita seria paralela ao que seprepara na actual crise financeira,com políticos a manipular o complexosistema económico. Tal tolice, mesmose recorrente de anteriores turbulên-cias, é mesmo muito estúpida.

A crise nasceu por graves erros ecrimes de economistas, gestores e fi-nanceiros. Embriagados de sucesso,caíram em euforias que agora amea-çam o mundo. Eles têm, sem dúvida,a responsabilidade principal na catás-trofe, pelo que é necessário e urgentepunir e substituir esses especialistasinfectados. Mas têm de ser trocadospor outros financeiros, os únicos quepercebem alguma coisa do complexosistema. Se um médico mata, por erroou negligência, não se confia o trata-mento a contabilistas ou ministros.Com políticos tratando destes assun-tos, a única certeza é desastre. Coe-lhos voam menos que pombos doen-tes. (...)

João César das NevesDN 10/Novembro/08

OS DESILUDIDOS

(...) A eleição de Obama tem umsignificado simbólico incontornável,tratando-se do primeiro Presidenteproveniente da comunidade de origemafricana. Nesse significado vai ummundo de sentimentos e de esperan-ças que apela ao imaginário colectivonão apenas nos EUA mas também àescala planetária. Mas por muito im-portante que seja a eleição de um Pre-sidente de raça negra, não seria justopara o próprio Obama que a sua elei-ção se reconduzisse apenas a essadimensão histórica e simbólica. Aliása forma como Obama calibrou a ques-tão racial durante os dois anos da suacampanha pode ser considerada ma-gistral e a sua eleição premiou essa cla-rividência e esse sentido de equilíbrio.

A eleição de Obama representatambém uma janela de oportunidadede relançamento da relação transa-tlântica, essencial tanto para os EUAcomo para a Europa. Perante a mag-nitude dos problemas com que esta-mos confrontados, o sucesso desta re-aproximação dependerá tanto da for-ma como Obama a liderar como daresposta conjunta que os europeusestiverem dispostos a dar-lhe.

Cabe agora ao resto do mundo apro-veitar o espaço aberto pela eleição deObama. Até porque a maior desilusãoé sempre aquela que vem de não fa-zermos aquilo que nos compete a nóspróprios fazer.

António VitorinoDN 7/Novembro/08

A MÃO NA MASSA

A recente crise financeira, que seabateu sobre o Banco Português deNegócios é, antes de tudo, um verda-deiro caso de polícia, em que o Direi-to e a Justiça têm de ser chamados apronunciar-se. Para isso é necessárioque os factos noticiados, de uma ges-tão com uma prática de “legalidadeduvidosa”, como disse o ministro dasFinanças, cheguem aos tribunais.

A vontade política vai ser o farolque irá fazer despoletar e orientar essadenúncia, para bem da transparênciae da credibilização do sector financei-ro, que ficou beliscado na sua imagemcom esta gestão doméstica dos dinhei-ros dos contribuintes.

Rui RangelCorreio da Manhã

BANCO PORTUGUÊSDE NEGÓCIOS ESQUISITOS

Qual é, hoje em dia, a profissãomais rentável? Jogador de futebol?Advogado? Namorada de jogador defutebol?

Não. Creio que o ramo de activida-de mais atraente para quem querconstruir uma carreira de sucesso éser proprietário de um banco falido.Enquanto o banco não vai àfalência, retiram-se todos os benefí-cios que ser banqueiro oferece; quan-do vai à falência, não se suporta ne-nhuma das desvantagens - o Estadotoma conta de tudo.

Quem deve 700 euros pode terproblemas:intimações,tribunais, pe-nhoras.

Quem deve 700 milhões, em princí-pio, está mais à vontade. Se contrairempréstimos, já sabe: aponte paracima. No que toca a devedo-res, aplica-se o mesmo princípio demérito que rege o resto da sociedade:os maiores e mais talentosos têm maisdinheiro e prestígio.

Levando tudo isto em consideração,não se percebe por que razão nãohá programas de auxílio à criação debancos falidos. É certo que, no mo-mento em que vão à falência, os apoi-os não faltam. Mas, tendo em contaque se trata de uma actividade tão pro-veitosa, não deveria ser incentivadadesde cedo?

Como toda a gente, teria todo o gos-to em fundar um banco fali-do. Desgraçadamente, contudo, nãotenho curso de economia ou gestão, etemo que a minha falta de preparaçãotécnica me levasse a criar um bancobem sucedido e próspero, o que nãointeressa a ninguém. Só os mais con-ceituados e bem pagos gestores pa-recem ter a capacidade para condu-zir um banco estrondosamente à ban-carrota. (...)

Ricardo Araújo PereiraVisão

519 DE NOVEMBRO A 2 DE DEZEMBRO DE 2008 SANTO ANTÓNIO DOS OLIVAIS

NA PRÓXIMA SEGUNDA -FEIRA (DIA 24)

Freguesia de Santo António dos Olivaiscomemora 154 anos- É A MAIOR DE COIMBRA E UMA DAS MAIORES DO PAÍS

Santo António dos Olivais, a maiorfreguesia de Coimbra e uma das mai-ores do País, comemora 154 anos napróxima segunda-feira.

Presidida por Francisco Andradedesde há alguns anos, a Junta de Fre-guesia tem vindo a levar a cabo umexemplar trabalho de apoio às popu-lações, com iniciativas muito diversasnas áreas da cultura, do desporto e dolazer, dando particular importância àpopulação mais idosa.

A efeméride vai ser devidamenteassinalada, com o programa variadoque se divulga nesta página.

ORIGENS DA FREGUESIA

Nos princípios do século XIII, cer-ca do ano 1210, a infanta D. Sanchafunda o Real Mosteiro de Santa Ma-ria de Celas, de Guimarães, da Ordemde S. Bernardo, e à sua roda vai cres-cendo o burgo de Celas.

Poucos anos passados, em 1217/18,junto à capelinha de Santo Antão, osprimeiros franciscanos chegados aPortugal fundam um humilde eremi-tério. E em 1220, depois de nessemesmo ano ter tomado ordens sacer-dotais em Santa Cruz, aqui se vemacolher Frei António, preferindo estenome ao de Fernando e trocando o

rico hábito e a murça branca de có-nego regrante de Santo Agostinho pelahumilde estamenha franciscana. Onovo nome foi-o buscar ao patrono domodesto cenóbio, visto que do latino“Antonius” veio Antão e veio Antó-nio.

Frei António morreu em 1231 e,após a sua canonização, que ocorreulogo no ano seguinte, o convento fran-ciscano dos Olivas de Coimbra mu-dou a invocação de Santo Antão paraSanto António. Assim nascia SantoAntónio dos Olivais, cuja povoação sefoi desenvolvendo nas imediações dacolina sagrada.

Refere José Manuel Azevedo Sil-va, em “Criação da Freguesia de SantoAntónio dos Olivais”:

“Cerca de 1247, os menoritas fo-ram para o seu novo convento de S.Francisco da Ponte e, nos finais doséculo XV, em virtude do crescenteculto antonino, o cabido catedralíciomandou reformular o templo dos Oli-vais, ficando a igreja com as dimen-sões que hoje tem, à excepção de umpequeno aumento da capela-mor, fei-to no século XVIII, pela mesma altu-ra em que foi constituída a vistosa es-cadaria.

No século XVI são ampliadas asinstalações conventuais, no espaço

que hoje é ocupado pelo adro e pelocemitério, para albergar a comunida-de dos franciscanos capuchos. Pelamesma época, também o Mosteiro deCelas sofria grandes obras de ampli-ação e beneficiação.

Entretanto, a paisagem humaniza-da do espaço hoje adstrito a Santo An-tónio dos Olivais vai-se alterando.Lentamente, quase imperceptivelmen-te, mas vai-se modificando. Vão cres-cendo os velhos povoados e outros vãonascendo.

Para tomarmos um ponto de refe-rência, diremos que, em 1700, o bur-go de Celas contava 48 fogos, o queperfazia cerca de 200 habitantes. E opovoado de Santo António dos Olivaisteria, então, um pouco mais.

Por outro lado, pelos dados colhi-dos nos livros paroquiais, vemos queCelas representava, em relação a toda

a freguesia da Sé, de que fazia parte,cerca de 14% dos baptizados, 10%dos casamentos e 17% dos óbitos”.

FREGUESIA CRIADA EM 1854

Corria o ano de 1854 e nos meioseclesiásticos e civis amadurecia a ideiade redimensionar as freguesias da ci-dade de Coimbra. Uma comissão ela-borou o “Plano de Redução, Supres-são de Paróquias na Cidade de Coim-bra e Seus Subúrbios”, que foi aprova-do e convertido em lei.

Com a publicação do decreto, em 25de Novembro de 1854, estava criada afreguesia de Santo António dos Olivais,desde logo a maior de Coimbra. Dis-punha já de 749 fogos, que abrigavam3.000 habitantes, tomando a maior par-te das povoações de que se compunhaa freguesia de S. Pedro.

Francisco Andrade, Presidente da Junta de Freguesia

6 19 DE NOVEMBRO A 2 DE DEZEMBRO DE 2008INTERNACIONAL

Fiodor Lukyanov *

Em 14 de Novembro decorreu em Nicea 22.ª cimeira UE-Rússia. O Presidente daComissão Europeia, José Manuel Barroso,confirmou a decisão de Bruxelas de «reco-meçar as conversações com Moscovo so-bre um novo acordo base», interrompidasem Agosto devido ao conflito militar no Cáu-caso. «Sendo vizinhas próximas, a UE e aRússia têm, naturalmente, muitos interessese preocupações comuns», acrescentou Xa-vier Solana.

Ao intervir no encontro, o Presidente rus-so declarou: «Procuramos um desenvolvi-mento dinâmico dos contactos com os ho-mens de negócios, várias regiões, numero-sos Estados e a sociedade civil da UE. Amaioria esmagadora dos países da UE ageda mesma maneira». Dmitri Medvedev ga-rantiu que em 2008 o PIB do seu país «cres-cerá cerca de 7%».

Os dois actos, a suspensão e o reiníciodo diálogo Bruxelas-Moscovo, tiveram umcarácter meramente simbólico. De facto,antes do conflito militar russo-georgiano asconsultas bilaterais ainda não começaram,nem se pode esperar agora um “boom” di-plomático. No entanto, os acontecimentosdo Verão de 2008 influíram consideravel-mente na situação na Europa.

A APROXIMAÇÃOE AS DIVERGÊNCIAS

A UE chegou a avisar que depois do con-flito militar com a Geórgia «seria impossí-vel» manter com a Rússia «os negócioscomo sempre». O que até pode ser consi-derado positivo. O formato das relaçõesBruxelas-Moscovo tem sido, nos últimos

UE-Rússia: os negócios como sempre

anos, uma imitação de progresso da inte-gração nas condições de uma crescente ir-ritação mútua.

Muitos dos princípios básicos da aproxi-mação russo-europeia no início dos anos 90esgotaram-se devido à mudança radical dascircunstâncias. Naquela altura, acreditava-se que a Rússia podia integrar o sistema daEuropa Unida, adoptando as normas e asregras então vigentes, sem pretender serpaís membro da UE. Na Rússia, o objectivode aproximação paulatina à Europa a qual-quer custo, era partilhado pela elite russa evisto positivamente pela sociedade civil. Masas prioridades russas alteraram-se e a UEviu-se numa situação difícil.

A Rússia foi considerada um país parcei-ro civilizado e vizinho próximo. O formatodas relações da UE com semelhantes paí-ses prevê um paradigma integracional. Ouseja, uma entrada gradual no espaço políti-co e jurídico da UE, quer com uma pers-pectiva de ser admitido nela como país mem-bro, quer como um país com dependênciaestreita e preferências especiais.

Moscovo recusou este formato e Bru-xelas nada podia propor. Além disso, a pró-pria Rússia nem sempre entende o que con-cretamente quer. As relações meramentemercantis, tais como existem entre a UE ea China, não agradam a Moscovo, já quepretende (dadas a proximidade cultural e oentrelaçamento económico) um estatutoúnico. Como resultado, no momento da ex-piração do Acordo sobre Parceria e Coo-peração, assinado em 1994 e ratificado em1997, ou seja, noutro período histórico, asduas partes perderam a noção do objectivoestratégico das suas relações.

Hoje em dia salta à vista a discordânciaquanto aos valores básicos do Estado mo-derno. As divergências entre Moscovo e

Bruxelas são agravadas também devido àpolarização interna na UE, entre a «nova» ea «velha Europa», quanto à questão russa.

A INTEGRAÇÃOÉ INSEPARÁVELDA SEGURANÇA

Os acontecimentos na Geórgia fizeramsubir à tona os problemas latentes e permi-tiram avaliar melhor a disposição geral.

Em primeiro lugar, existe uma relaçãomuito estreita entre todos os aspectos daexistência da Europa Unida. Assim, umaconversa sobre a integração económica ésimplesmente inseparável do problema dasegurança. Os receios e os medos transpi-ram cedo ou tarde, o que se tornou maisque evidente na esfera energética. A politi-zação de qualquer tipo de debates sobre ofornecimento do gás natural russo é resul-tado do facto da arquitectura da segurançaeuropeia geral não fornecer garantias a cer-tos países.

É um fenómeno que se revela nos doislados. A Rússia, por exemplo, tem dificulda-des de manter um diálogo económico nor-mal com a Ucrânia, tendo esta atrás de siuma sombra da NATO e todo um conjuntode problemas e emoções daí decorrentes.Por outro lado, a Polónia e os países doBáltico, ao temerem o alegado expansionis-mo russo, não acreditam nas garantias daNATO e da UE. Isto significa que sem cri-ar um credível sistema da segurança euro-peia, a progressão económica é praticamenteimpossível.

Em segundo lugar, os processos de auto-determinação geopolítica continuam quer naRússia, quer na UE. Moscovo procura oseu papel na política mundial e gostaria deser um poderoso e independente polo de in-

fluência. Também não pode integrar um blo-co por ser um país demasiado grande e in-dependente.

Também na UE nem tudo está claro.As reformas institucionais, chamadas adar mais um passo na direcção a umaunião política consolidada, de novo estãoemperradas. O Tratado de Lisboa, mes-mo se for rapidamente ratificado, nãomudará, em princípio, muita coisa. Al-guns países da UE procuram aumentara importância política e a independênciada UE. O papel desempenhado pelaFrança durante o conflito militar no Cáu-caso animou muitas pessoas na Europa.

De uma forma ou de outra, as actuaismudanças na arena internacional, rela-cionadas com um certo enfraquecimen-to das posições políticas e financeiro-eco-nómicas dos EUA, abrem novas pers-pectivas para todos.

As conversações sobre um novo acordode parceria entre a UE e a Rússia serãolongas e difíceis. Não se trata de elaborarum documento base para muitos anos, massim um acordo intercalar, capaz de fixar umcompromisso situacionista e tornar mais efi-caz a actual cooperação.

Numa perspectiva histórica, a UE e aRússia estão fadadas a uma parceria euma interacção caso ambicionem desem-penhar um papel importante no século XXI.Mas, para elaborar um modelo desta inte-racção é preciso apresentar novas abor-dagens e desistir dos estereótipos herda-dos do século passado. A edificação, nabase da UE e da Rússia, de uma nova«grande Europa», é uma tarefa compará-vel apenas à assumida pelos arquitectosda integração europeia após a II GrandeGuerra. Naquela altura, poucos acredita-vam no seu êxito.

AMÉRICA: NOVO CICLO

(...) Assim se fecha um longo ciclode hegemonia conservadora na políti-ca americana – apoiado a partir deReagan em 1980 na aliança Sul-Mi-ddle West, blue-collars, evangélicose republicanos tradicionais, que mes-mo na era Clinton manteve o Con-gresso. A gestão de George W. Bushe Dick Cheney deu cabo dessa alian-ça. Como no Congresso e nos gover-

nos estaduais, a vitória dos democra-tas foi muito significativa, começa umnovo ciclo político.

Não me preocupa a vitória de Oba-ma; só vai incomodar um bocadinho obarulho que a “esquerda festiva”, porcá, vai fazer à sua volta. Até come-çar, daqui a seis meses, a manifestara sua desilusão com o novo Presiden-te americano

Porque Obama é um político e es-tratega consumado no modo comoapareceu, ganhou a nomeação demo-crática à todo-poderosa Hillary Clin-ton, captou as forças do capital - deWarren Buffet a Paul Volcker - e partedo establishment conservador ame-ricano e internacional.

Por isso teve 600 milhões de dóla-res para a campanha. Que não podi-am vir de “pequenas” contribuições de50 dólares na Internet, num país de300 milhões de habitantes! E acabouendossado por toda a gente, incluindointelectuais conservadores – como oincontornável Fukuyama, do “fim da

História” – e uma série de personali-dades que na semana final se junta-ram ao carro do vencedor.

Obama vai ter uma das mais difí-ceis presidências da história america-na: duas frentes de guerra – Iraque,difícil e vital para a política do MédioOriente, e o Afeganistão, que nemsequer é um país, mas um conglome-rado tribal, de “senhores da guerra” efanáticos, que serviu de cemitério, su-

cessivamente a ingleses e soviéticos.O risco de recessão, com o acréscimo dadívida pública para a cobertura de Ban-cos e Seguradoras falidos. A questão domacroterrorismo. E os problemas de quefez bandeira – a saúde, a educação, ascidades, a pobreza.

E também, a necessidade de rede-finir o papel dos Estados Unidos pe-rante um mundo que mudou muito. Eonde não é possível, ao mesmo tem-po, enfrentar o islamismo radical, hos-tilizar a Rússia e inquietar a China, eter a política externa condicionada porlobbies de interesses e agendas ideo-lógicas.

Mas Obama tem, com um Congres-so da sua cor e uma grande dose deexpectativa favorável interna e exter-na, uma oportunidade de refazer, emface a face com o resto do mundo,uma ordem internacional estável eequilibrada. Deus o ajude, e a nós tam-bém.

Maria José Nogueira PintoDiário de Notícias

719 DE NOVEMBRO A 2 DE DEZEMBRO DE 2008 NACIONAL

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Por Sertório Pinho Martins

… nos perdoe, mas o país deixou de acre-ditar nela, e os órgãos directivos das escolasvão ter que responder à letra à boutade deque “não me passa pela cabeça que asescolas desobedeçam”! Porquê, se já nãoé a primeira vez? Ou já se esqueceu, Sra.Ministra, da visita da PSP a algumas das“suas” escolas, à procura de textos e faixasde incentivo à contestação de rua que seavizinhava, e como houve então que dobrara cerviz? E vir um porta-voz afirmar agoraum peremptório “não há 1% de possibili-dades de a ministra da Educação sair”,pode ser frase a engolir a curto prazo. Nes-ta altura já se contabiliza um segundo desfi-le-gigante dos professores (e mais concor-rido que o anterior), já correm o país men-sagens de telemóvel a incitar ‘alunos’ à gre-ve (veja onde isto já vai!), voam ovos e to-mates pelo ar – o que não chegou a aconte-cer a Correia de Campos, e veja o tempoque ele durou a seguir à pressão da rua,mesmo não estando então no horizonte pró-ximo um calendário eleitoral escaldante ondevão pesar os votos dos professores, dos alu-nos, dos pais, e do povinho que está farto dearrogâncias e parvoíces políticas. Nem terámais eco, a seguir à saída da notícia nospasquins do costume, o boca-a-boca de queSócrates mandou calar o PS sobre nomesde social-democratas envolvidos na derro-cada do BPN; porque se isto é real, então orecado vai direitinho para Cavaco Silva,numa altura em que se diz serem precisosbem mais de 1.000 milhões para tapar o rom-bo no banco e o Governo meteu nas mãosdo Presidente o “assine aí” da nacionaliza-ção, interferindo-se desse modo (goste-seou não da verdade) no funcionamento livredo mercado – e perguntar-se-á porque nãoé assim para o mundo empresarial que co-lapsa, quando as Finanças e os credores osempurram para a declaração de falência.Mas Dias Loureiro já disse que quer serouvido pela Assembleia da República sobreo tema-BPN, e que quer limpar o nome deuma lista que mais tarde ou mais cedo vaicair na praça pública. E será que podem vira lume alguns tições acesos que podem cha-muscar muito boa gente de outros partidos?E como ele é um dos que deve saber p’ra

Nossa Senhora de Lurdes…

burro do que lá se passou, o PS já inviabili-zou a audição. Comentários para quê, sesão tudo ‘artistas portugueses’?

Mas do lado governamental da trinchei-ra e no PS, as coisas começam a ir de mal apior, senão mesmo a ameaçar ruína: a equi-pa da Saúde não sabe o tamanho da dívidado Ministério (Ana Jorge diz num dia quenão sabe, no outro que a coisa vai chegar aum milhão de euros – e só se esqueceu deque são realmente mil milhões, menos queo rolhão que o BPN precisa para não der-ramar mais óleo no pavimento); MarianoGago anda a ‘empurrar’ os reitores e vaiter à perna uma das mais respeitadas insti-tuições de todo o país – a Universidade;Maria de Lurdes Rodrigues e os seus “ad-juntos” contradizem-se, ela não vai onde pro-mete e os ovos e os tomates sobram paraeles; o responsável governamental pelaCultura diz sem papas na língua que “nãoestá satisfeito com o Orçamento” que lhederam, e pergunta se “investir é só fazê-lo

onde for economicamente eficiente”;Manuel Pinho, depois do mar-de-rosas daeconomia portuguesa, logo seguido da ca-tástrofe anunciada de que “nada será comodantes”, deixa-se agora embrulhar na polé-mica cobertura que dá a um amigo pessoal(o presidente da Autoridade da Concorrên-cia, que é uma entidade-chave de supervi-são em temas efervescentes como o preçodos combustíveis); Mário Lino coleccionaas incontinências verbais do costume; aDefesa desafia a instituição militar (come-ça a dar no goto dos membros do governo,afrontar as ‘instituições’ sem medir conse-quências), e tem de vir o tandem presidente+ primeiro-ministro salvar a situação.

Manuel Alegre parte a loiça dentro decasa, diz sem rebuço o que pensa de minis-tras sem cultura democrática, junta-se a umcomício do B.E. onde o Governo leva nacabeça, quebra a disciplina de voto e apoiapropostas do BE e do PEV, vota contra oCódigo do Trabalho, deixa epítetos nada

audíveis politicamente para Maria de Lur-des Rodrigues, e continua a ter os 49% gan-hos na 2ª volta das presidenciais. E JoséSócrates cai na esparrela ingénua – porquenão pode ser ameaça, de certeza! – de orepreender em público, afirmando que opoeta nunca apoia o PS e as medidas doGoverno (não dá para crer!). AntónioCosta diz alto e bom som que o braço-de-ferro da ministra da Educação podemandar às urtigas a próxima maioria ab-soluta. António José Seguro afina pelomesmo diapasão e lança a escada à su-cessão de Sócrates. E este trata os seuscríticos domésticos… chutando-os paracima: Carrilho na UNESCO, João Cra-vinho no BERD, Ferro Rodrigues naOCDE – e Alegre deve ter também àespera um lago inspirador e recheado demusas, porque já avisou a navegação que“não pensem despachar-me para oparlamento europeu” (e a este alertadirecto, o primeiro-ministo disse nada,nadinha).

Ora Sócrates começa a ter nas mãosum batatal a ferver! A minha humilde opi-nião de nada vale, mas já aqui a escrevimais de uma vez: remodele, enquanto étempo! Quantas insónias não teria pou-pado e quantas asneiras do tamanho domundo não passariam hoje de monólogosressabiados e caseiros de ministros já forada carroça do poder? Se o tem feito noinício de 2007, a alguns meses da presi-dência europeia, estava hoje a lidar comgente fresca e quase com dois anos deexperiência governativa (e nessa alturatinha muito por onde escolher), para ata-car 2009 com os olhos postos na novamaioria absoluta. Mas termino como naúltima crónica: Vossa Excelência manda,Vossa Excelência é que sabe !!! Mas…e se o Presidente se lembra de que estáem causa o regular funcionamento de ‘ins-tituições’ debaixo de fogo, Sr. Primeiro-Ministro? Santana Lopes também fez umacara de espanto (de que ainda não saiu)quando, por muito menos, Jorge Sampaioo mandou de volta às bases. Parece-lheque alguns cromos que tem no Governomerecem esse risco? Repare que 2009 éjá amanhã!

8 19 DE NOVEMBRO A 2 DE DEZEMBRO DE 2008CRÓNICA

A OUTRA FACEDO ESPELHO

José Henrique Dias*

[email protected]

Tinha nos olhos um brilho que ainda me cintila na memó-ria. Conhecemo-nos no acaso do lançamento de um livro,não, foi no bengaleiro de um teatro, vão lá não sei quantoanos, na estreia de Seis Personagens em Busca de Autor,de Luigi Pirandello. Na altura, sei lá bem, andava eu pelosvinte e poucos anos, entrara no internato e fazia bancos àsexta-feira, na equipa de um experimentadíssimo cirurgião,também coronel, que se repartia entre o decrépito S. José eo Hospital da Estrela.

Acolhia-nos a todos com bonomia e rapidamente nospunha de agulha e catgut no costuredo dos coros cabelu-dos, bom território para a superação das naturais dificulda-des. Um dia entrou um homenzarrão um tanto cianosado,que se sentira subitamente mal depois de uma injecção depenicilina. Sem pulso e sem respiração. Os internos, volun-tariosos, massajavam como podiam, na tentativa da ressur-reição (não me lembro de ouvir falar em desfibrilhadores) erequereram autorização para uma massagem directa. Pre-paravam-se para abrir caminho, bisturis em riste. Pávi-do, o chefe de equipa limitou-se a dizer façam se quise-rem, mas não serve de nada. Está morto. Tratou-se deum shock anafiláctico traduzido no dia seguinte na im-prensa em tremendista local titulada de ”injecção maldada mata comerciante”.

Todos pensámos que estávamos numa espécie de mo-mento histórico, a primeira anafilaxia conhecida numa apli-cação da prodigiosa penicilina.

Mas eu estava a lembrar-me daquele encontro no tea-tro. Não consigo fazer contas exactas, talvez mil novecen-tos e cinquenta e nove, tinham arrancado as obras do me-tropolitano e os acidentados entravam ao minuto, ambulân-cia atrás de ambulância.

Aumentara a vigilância por causa das eleições do anoanterior, Humberto Delgado sacudira o país. Apanhado emLisboa, nos redemoinhos da chegada a Santa Apolónia euns panfletos a distribuir, fui levado para a António MariaCardoso. Anoitecia. No início do interrogatório, quando meperguntaram o nome, saiu-me sei lá porquê, não falo comindivíduos como vocês.

Custou-me caro, o arremedo de heroicidade. Duranteuma eternidade jogaram futebol comigo. Os pontapés acer-taram em tudo onde já não valia a pena doer. É incomen-surável a capacidade do ser humano. Eu que sempre tivemedo de levar uma injecção. És uma maricas, é o mínimoque ouço, quando vejo uma agulha à procura da minhapele. Não tens vergonha?! Não, não tenho, isto não foifeito para ser furado.

Não deu para muito tempo a passagem na pide. Doisdias depois, punham-me na rua, a rosnarem ameaças, comequimoses por todo o corpo e a raiva multiplicada.

O Sol na ementa, por favor…

Disseram-me depois que foi a bênção de um tio bispo.Pior a emenda do que o soneto. Berrei com a família enunca mais parei de conspirar.

A rapariga do bengaleiro, ia a esquecer, deixava ficar umagasalho que foi junto com o meu sobretudo, levado pelaempregada, que nos devolveu uma rodela de lata com umnúmero. Ficámos a olhar um para o outro. Qual de nós…

A mulher notou e disse estão juntos não estão? Não es-queço a suave gargalhada da rapariga ao dizer não. Des-culpem, disse a mulher, voltou dentro e deu uma rodinha acada um. O meu sobretudo ficou com certeza ao lado docasaco dela. Reparei na camisola de gola alta e na saia atémeio da perna. Não sei se ela reparou em alguma coisa,aterrava-me que reparasse na falha do incisivo que ficaracuspido na sala do interrogatório.

Ouvia-se uma canção que dizia que o destino bate àporta. Bateu mesmo, por coincidência ficámos lado a ladona plateia do Avenida, não, do D. Maria, não sei, já nãoconsigo lembrar. Sei que perdi muito da peça ao olhar deesguelha o seu perfil atento ao movimento das persona-gens, como pensamentos à espera de pensador, sufocadona tentação de poisar a minha mão sobre a dela.

À saída disse-lhe uma frase banal. Eu também só eracapaz de frases banais. Pelo visto ela não sabia, tomou-a por grande frase. Acho que disse, conheço-a da peça,não conheço? Juntei-lhe o nome para apresentação:Octávio. Mariana, respondeu num vago aceno de olhos.Ficámos a conversar. Sobre as reincarnações no palco.Personagens e actores.

Estudava Histórico-Filosóficas, como aluna voluntá-ria, trabalhava numa livraria do Campo Grande, vivia numquarto alugado lá para Sete Rios.

Ficámos juntos para sempre. Naquela longa tarde de umdomingo, o primeiro de tantos passeios, fiquei a saber a suahistória. Personagem em busca de autor. Como em Piran-dello, Sei personaggi in cerca d’autore. Também ela aban-donada, em busca de uma vida. Personagem e intérprete.Em reencontro.

Crescera num orfanato. Falou-me do frio que passara,da comida horrível, o arroz de espinhas de peixe, as ora-ções, os banhos gelados, os castigos das freiras. A sua mai-or ambição, contou-me, fora sempre poder comer um ovoestrelado, como os que vira comer às freiras. A molhar opão. A lamber os lábios.

Quando começou a trabalhar e lhe entregaram o primei-ro salário, disse-me como se falasse de um imperativo kan-tiano, foi a um restaurantezinho do bairro e pediu um ovoestrelado. Nada lhe soubera tão bem na vida. Comeu lento,demorou as migalhitas de pão, cortou pedacinhos da claratisnada. Feliz. Ainda se via nos olhos.

Tudo isto me revisitou hoje, ao olhá-la. Ainda tão bonita,o cabelo platinado, o rosto luminoso e os gestos brandos, tãoelegante naquele fato de veludo preto, no peito a pregadeiraque lhe ofereci nas bodas de prata do casamento. Nemesperámos pelo fim dos cursos. Com a minha mesada e oseu salário, fizemo-nos à vida. Vieram os filhos.

O reitor acabou de lhe tecer os maiores elogios. A suaobra foi comentada, a sala cheia de alunos, antigos alunos.A faculdade revia-se na última lição. A claridade do pensa-mento, a profundidade leve da erudição. Ia jubilar-se. Nomesmo dia foi apresentado um número da Revista da Fa-culdade, em sua homenagem, com artigos de alguns dosmaiores nomes da filosofia europeia.

Fomos jantar à beira do rio. Entrou um jovem com umcone de rosas, sotaque sul-americano. Aproximou-se eesperou que eu escolhesse. Antes que eu pudesse decidir,antecipou, apenas uma. Estava cansada. Tudo naqueledia fora cumprir obrigações académicas. Sentia-se o ru-bor da nostalgia. Custava-lhe muito deixar as aulas, conti-nuaria no centro de investigação. A sorrir, disse-me tenhoos netos para cuidar.

Quando veio a ementa, percorreu-a com olhos de umaindizível ternura e perguntou:

Será possível arranjar-me um ovo estrelado?Dois, outro para mim, disse com os olhos presos nos

seus olhos e os dedos enlaçados na haste da rosa poisadana toalha. Ficaram a olhar para nós. Não interessa o quepensaram. Coisas de velhos, certamente.

Estamos agora no jardim. Vai lá um ano. É o fim de umdia de Outono, o sol esconde-se na lonjura do Guincho.

Os pequenos correm atrás dos patos. A Mariana é amais pequenina, encontrou uma flor silvestre, corola ama-rela. Estendeu a mãozita e disse Avó. Ficámos frente afrente. Com uma flor do tamanho do Sol. Tomei-a pelosombros e beijei-a como naquela tarde longínqua em queficámos sós.

Com exactidão suspensa, ao olhar o poente e a flor ama-rela, senti que no horizonte de um beijo acordava a gulodice.De um ovo estrelado.

* Professor universitário

10 NOVEMBRO DE 2008BISSAYA-BARRETO

Prof. Bissaya-Barreto:

um Homem do futuro

s u p l e m e n t o d o j o r n a lNovembro / 2008

O Prof. Bissaya-Barreto, para além de prestigiado cirurgião e ilustre mestre de Medicina, destacou-se

por ter levado a cabo uma extraordinária obra social, nas mais diversas áreas, mas também uma relevante

actividade cívica e uma notável acção em termos de empreendedorismo e desenvolvimento do território.

Algumas das suas iniciativas vão citadas nas páginas seguintes, e por elas se pode ficar com uma ideia

do que foi o incansável labor deste Homem em prol do seu semelhante, antes de tudo, mas também do seu País.

Este suplemento pretende ser uma homenagem singela a Bissaya-Barreto e à Fundação com o seu nome,

criada há precisamente 50 anos, e que tem sabido ser digna continuadora dos ideais do seu Patrono

2 NOVEMBRO DE 2008BISSAYA-BARRETOarte em caféII

O Prof. Bissaya-Barreto é uma figura

notável, seja qual for o ângulo de análi-

se da sua multifacetada actividade.

Uso o verbo, deliberadamente, no pre-

sente (é, e não foi), para significar que

ele continua a ser, nos tempos que cor-

rem, uma personalidade não apenas

rara, mas verdadeiramente ímpar!

Isso está eloquentemente demonstrado

na obra, tão vasta quanto valiosa e diversifi-

cada, que concretizou no passado, muitas

vezes com métodos precursores (alguns que

ainda hoje estão espantosamente actuais)

e que, graças a dignos continuadores, per-

manece bem viva e pujante.

Dizer isto, aqui e agora, numa altura

em que se celebram os 50 anos da Fun-

dação que criou, poderia ser interpreta-

do como elogio fácil e sem outra consis-

tência que não a de juntar a voz ao coro

de loas que, muito justamente, dos mais

ilustres aos mais humildes, se tem er-

guido ao longo de 2008 – ano em que

tem vindo a ser concretizado rico progra-

ma comemorativo, recheado de momen-

tos de grande elevação em diversos do-

mínios (apesar de ter sido também um

ano de profunda tristeza, pela morte, tão

prematura, do Eng. Nuno Viegas Nasci-

mento, que durante décadas presidiu à

Fundação Bissaya-Barreto).

Sucede, porém, que as afirmações que

aqui deixo agora escritas, são apenas a

repetição das que publiquei há três dé-

cadas no “Jornal de Notícias”, numa al-

tura em que os “ventos revolucionários”

varreram, finalmente, muitas prepotên-

cias, mas também sopraram, de forma

lamentável, várias injustiças.

(Nesse período conturbado e pouco to-

lerante, era ousadia elogiar qualquer fi-

gura que, mesmo levianamente, fosse

conotada com o regime deposto. Por isso

tive a grata satisfação de ver esse meu

gesto, e outros semelhantes que assumi

ao longo dos anos, serem gentilmente

reconhecidos e agradecidos pelo Presi-

dente da Fundação, Viegas Nascimento).

Ora o Prof. Bissaya-Barreto, mais pela

sua amizade por Salazar do que pelos

cargos políticos que ocupou, foi uma das

figuras injustiçadas nessa época em que

a Democracia dava os primeiros passos.

Aliás, não só injustiçado, mas esquecido

e, pior, até mesmo atacado por muitos

daqueles que tanto ajudou!...

Sei do que falo, porque, ainda criança,

tive o privilégio de conhecer Bissaya-Bar-

reto.

Foi num dia em que entrei, com meu

Pai, no comboio “rápido” que nos leva-

ria de Coimbra a Lisboa. Embora a CP não

primasse pela pontualidade, certo é que

já passavam vários minutos para além

do horário, mas a composição mantinha-

-se muda e queda nos carris. Meu Pai, o

jornalista José Castilho, talvez impelido

por curiosidade profissional, saiu da car-

ruagem, comigo pela mão, para indagar

o que motivava a estranha demora. O

Chefe da Estação esclareceu, em voz

baixa e tom respeitoso: “Estamos à es-

pera do senhor Professor Bissaya-Bar-

reto...”.

Vi o meu Pai sorrir, o que me tranquili-

zou, e enquanto voltávamos a entrar na

carruagem perguntei-lhe quem era esse

senhor tão importante que até o comboio

esperava por ele.

“É um grande homem e um grande ami-

go! Daqui a pouco vais conhecê-lo”.

Lá fiquei de nariz encostado à janela

do “rápido”, à espera de ver surgir um ho-

mem grande, alto. Mas apenas apareceu

um senhor de baixa estatura e andar

apressado que entrou para uma carrua-

gem de 1.ª classe, enquanto o chefe da

Estação o cumprimentava, tirando o

boné, para logo de seguida tocar a cor-

neta de metal amarelo, reluzente, que

dava ordem de marcha ao maquinista.

Alguns minutos depois, quando o revi-

sor veio picar, com um alicate, os peque-

nos bilhetes cinzentos, de cartão gros-

so, meu Pai perguntou-lhe onde se en-

contrava o Prof. Bissaya.

Obtida a resposta, lá me levou corre-

dores adiante, a mão protectora no meu

ombro, a amparar-me dos balanços do

comboio, mais apertada quando era pre-

ciso passar de uma carruagem para a se-

guinte, sobre chão de ferros assustado-

ramente movediços e rajadas de vento

ruidoso.

Depressa chegámos à porta de um dos

compartimentos numerados, a que meu

Pai nem chegou a bater, pois o Prof. Bis-

saya, quando o viu pelo vidro, fez-lhe um

cordial aceno para que entrasse.

“Então é este o seu herdeiro?” – inda-

gou com um sorriso, enquanto me fazia

uma festa na cabeça e convidava meu

Pai a sentar-se frente a ele, no banco de

três lugares forrado de vermelho

Começaram a conversar, não sei de

quê. Aliás, nem ouvia o que diziam, ocu-

pado que estava a olhar aquele senhor

que acabara de conhecer, intimidado,

mas que afinal não era grande e depressa

se me tornou simpático, pelo sorriso e

pelo tom de voz. Numa prateleira, junto

à janela, uma bandeja com uma cháve-

na, ao lado de um objecto estranho (que

pouco depois verifiquei ser um bule com

chá, tapado com uma “carapuça” de fel-

tro, para que não arrefecesse).

Lembro-me de meu Pai me dizer de-

pois que o Prof. Bissaya ia a Lisboa, de

comboio, todas as semanas, alojando-

-se no Hotel Métropole (recordo achar

estranha a fonética, pois pensava que

se devia dizer metrópole...), que perten-

cia a outro amigo comum, Alexandre de

Almeida (um príncipe da hotelaria portu-

guesa).

E igualmente aprendi de meu Pai, nessa

inesquecível viagem (quando o questionei

sobre o facto do Prof. Bissaya, ao contrário

do que ele afirmara, não ser um homem

grande...), que a grandeza dos homens se

não mede aos palmos, pelo tamanho, pela

envergadura física, mas antes se determi-

na pela estatura moral, pela forma como

passam pela vida.

Depois tornei a ver o Prof. Bissaya-Bar-

reto por diversas vezes, e muitas mais

ouvi meu Pai a falar com ele por telefo-

ne. Lembro-me, particularmente, de uma

acesa polémica escrita que manteve com

outro amigo de meu Pai, o Prof. Ibérico

Nogueira, nas páginas do “Diário de

Coimbra” (de que meu Pai era Chefe de

Redacção), numa série de artigos que,

O Prof. Bissaya-Barretoera um homem de acção,como o demonstra a espantosaobra que legou, mas era tambémum intelectual de inteligência rarae grande sensibilidade, semprea pensar em novos empreendimentosque pudessem ajudaros mais desfavorecidos

Um grande Homem,

3NOVEMBRO DE 2008 BISSAYA-BARRETO III

se a memória me não falha, tinham por

título “Coimbra precisa de um Hos-

pital-Universidade, Coimbra preci-

sa de um Hospital-Cidade”. E, efec-

tivamente, o Hospital-Geral da Colónia

Portuguesa do Brasil (que Bissaya-Bar-

reto criara inicialmente para tratamento

da tuberculose) viria a tornar-se num

modelar Hospital civil de Coimbra, hoje

designado por Centro Hospitalar de

Coimbra (vulgarmente conhecido como

Hospital dos Covões, por caussa da sua

localização).

Se evoco esta experiência pessoal, é

para referir algo que me parece impor-

tante para definir a personalidade do

Prof. Bissaya-Barreto.

Meu Pai foi sempre um homem “de es-

querda”, no sentido mais nobre da ex-

pressão – isto é, lutando toda a sua vida

por uma sociedade mais justa e mais fra-

terna e pela liberdade de expressão que

tanto prezava e que a Censura do regi-

me impedia (faleceu em 1969, sem ter

visto concretizado o sonho de mudança

que só chegaria 5 anos depois, com a

Revolução de 25 de Abril).

Usava a caneta como esgrimista exí-

mio, belas palavras em golpes geniais,

corajosos e contundentes, que acaba-

riam por valer-lhe a prisão, pois a Dita-

dura não admitia tais atrevimentos.

Só anos mais tarde, já adolescente,

soube que foi graças à intervenção do

Prof. Bissaya-Barreto que o libertaram.

Do mesmo modo que vim a saber que a

muitos outros opositores do regime ti-

nha valido uma palavra de Bissaya-Bar-

reto ao seu grande amigo Salazar, para

que saíssem das masmorras do regime.

Soube também que a amizade de Bis-

saya-Barreto por Salazar se forjara nos

bancos da Universidade de Coimbra,

onde foram condiscípulos, e que havia

de manter-se pela vida fora, apesar de

defenderem ideais bem diversos.

Desde logo, enquanto Salazar era mo-

nárquico, Bissaya-Barreto foi sempre,

desde muito jovem, um apaixonado Re-

publicano, que chegou mesmo a afron-

tar o Rei D. Manuel II, em cerimónia so-

lene na Universidade de Coimbra (epi-

sódio que ficou famoso e que se relata

mais à frente, noutra página deste suple-

mento).

Bissaya-Barreto foi igualmente um

destacado membro da Maçonaria – so-

ciedade secreta (agora preferem classifi-

cá-la como discreta...) que Salazar detes-

tava.

E muitas outras divergências de con-

vicções e de práticas existiam entre os

dois antigos condiscípulos.

A verdade é que isso nunca afectou a

amizade recíproca.

Uma amizade que Bissaya-Barreto

sempre aproveitou para conseguir levar

a cabo, mais facilmente, os seus pionei-

ros projectos de intervenção e desenvol-

vimento social (até mesmo a nível do Go-

verno do País, como sucedeu com a cria-

ção do Ministério da Saúde), ao mesmo

tempo que igualmente ia intercedendo

junto do Ditador para livrar muitas pes-

soas das perseguições da PIDE (a polí-

cia política do regime salazarista).

Porque outra das características de

Bissaya-Barreto era o humanismo, a sua

constante preocupação com os mais

desfavorecidos e vulneráveis.

A obra que desenvolveu em prol das

crianças é absolutamente pioneira e ex-

traordinária, mesmo se avaliada pelos

parâmetros actuais. Dos “Ninhos” dos

pequenitos às Casas da Criança, passan-

do pela assistência materno-infantil (o

Instituto Maternal, hoje Maternidade

Bissaya-Barreto, foi uma instituição al-

tamente inovadora na época), e o espan-

toso “Portugal dos Pequenitos” (que con-

tinua a atrair e a deslumbrar, anualmen-

te, centenas de milhar de miúdos e graú-

dos, nacionais e estrangeiros).

Mas as preocupações de Bissaya Bar-

reto não se quedavam pela assistência

às crianças e às mães, antes se esten-

diam a outros seres humanos que a Na-

tureza penalizara – como os cegos, os

surdos, os tuberculosos e os leprosos,

tendo criado instituições de grande qua-

lidade no apoio a pessoas afectadas por

estas deficiências e patologias.

Antes de erguer estas instituições, Bis-

saya-Barreto procurava saber o que ha-

via de mais avançado, a nível mundial,

em cada uma das áreas em que preten-

dia intervir, adoptando os métodos e os

equipamentos mais modernos, que me-

lhorava com adaptações ditadas pela

sua inteligência e pela sua capacidade

inventiva.

A relevantíssima acção de Bissaya Bar-

reto não se quedou pelas áreas da saú-

de e da assistência (e, dentro destas,

pelas diversas instituições de ensino que

criou e fomentou, e pelas políticas que

influenciou)

A sua sensibilidade estética levou-o a

reunir uma valiosíssima colecção de

obras de arte, hoje espalhadas por di-

versos edifícios da Fundação, com es-

pecial destaque para o magnífico recheio

da sua residência principal em Coimbra,

o palacete junto aos Arcos do Jardim,

transformado em Casa-Museu Bissaya-

-Barreto (e que acolhe uma actividade

cultural intensa, incluindo a sua galeria

de arte).

Mas importa sublinhar que Bissaya-

Barreto desenvolveu, em simultâneo,

uma outra obra de importância equiva-

lente à que concretizou no plano social.

Estou a referir-me ao seu trabalho na

área do desenvolvimento económico, so-

bretudo de Coimbra e de outras zonas

da Região Centro.

As suas iniciativas foram muitas e di-

versificadas, desde a instalação dos Es-

taleiros Navais do Mondego, na Figueira

da Foz, até à criação do Aeródromo de

Coimbra (que merece referência alarga-

da noutro local deste suplemento), pas-

sando pelo lançamento e pelo apoio a

muitas outras empresas e instituições

dos mais variados sectores, desde o ter-

malismo ao ensino (nomeadamente da

enfermagem e do serviço social).

Por tudo isto afirmo, ciente de que não

exagero, que Bissaya-Barreto foi, na sua

época, e pode considerar-se ainda hoje,

para além de cultor da solidariedade, um

pioneiro, um visionário, um empreen-

dedor – enfim, um Homem do futuro!

Jorge Castilho

António de Oliveira Salazare Bissaya-Barreto: uma amizade forjadanos bancos da Universidade de Coimbra,que se prolongou pela vida fora,e que não raro Bissaya-Barreto utilizoupara proteger opositores do regimee para facilitar o lançamento de obrasde importância para Coimbra,para a Região Centroe para o próprio País

uma Obra enorme

4 NOVEMBRO DE 2008BISSAYA-BARRETOIV

Escrever ou falar sobre o Aeródromo de

Coimbra é referir as várias etapas da sua

evolução, o percurso da aviação civil em

Coimbra e os nomes dos que lhe estão

ligados.

São partes de um mesmo corpo que não

se devem separar.

Como tudo tem um começo há que lem-

brar a génese, o mentor, a acção do ilustre

Homem que foi Bissaya Barreto.

Com vasta e pioneira actividade que ul-

trapassou o nosso distrito, foi em Coimbra

que mais tempo viveu, estudou e planeou

as suas obras, avançadas para a época, das

quais as mais emblemáticas estão nesta

cidade.

Uma delas é o Aeródromo de Coimbra,

que muito justamente tem o seu nome.

Contudo, é de estranhar que este espaço

seja citado por vezes como de Cernache.

Se tal pudesse dizer-se, muito mais racio-

nal seria chamar-lhe de Antanhol porque a

área que ocupa pertence maioritariamente

a esta freguesia.

É minha convicção que tal confusão te-

nha origem no facto de todos os proprietá-

rios dos terrenos adquiridos para neles se

construir o campo de aviação, ao tempo

moravam em Cernache.

O aeródromo serve Coimbra e a sua re-

gião, mas nunca Cernache ou Antanhol em

particular.

(Embora aquela seja uma bela e simpáti-

ca localidade, com um passado de que se

deve orgulhar, no escrito de hoje inclinar-

me-ei para Antanhol, onde existiu o solar

dos Cunhas, família que mais tarde se mu-

dou para Maiorca, Figueira da Foz.

Documentos antigos chamam-lhe “Cava-

leiros de Antanhol”, designação que nessa

época era uma honraria.

A primeira igreja foi edificada em local

PERPERPERPERPERANTE O EMBARGO JUDICIAL, BISANTE O EMBARGO JUDICIAL, BISANTE O EMBARGO JUDICIAL, BISANTE O EMBARGO JUDICIAL, BISANTE O EMBARGO JUDICIAL, BISSAYSAYSAYSAYSAYA-BARRETO MANDOU AA-BARRETO MANDOU AA-BARRETO MANDOU AA-BARRETO MANDOU AA-BARRETO MANDOU AVVVVVANANANANAN

Aeródromo de Coimbra c

diferente da actual, situando-se perto do

cruzeiro que, de antigo, só tem a coluna

dórica. Para o templo hoje existente pas-

sou parte do recheio antigo. Podem ver-se

nele várias esculturas em pedra e madeira.

Destas, duas do século XVIII, barrocas, vie-

ram de Coimbra: S. Bernardo, vestido de

branco e, contrastando, S. Roberto, vestido

de negro).

Voltando ao Aeródromo: cedo se formou

o grupo de entusiastas que se bateu tam-

bém por um aeródromo em Coimbra. Bapti-

zei-os de “bons guerreiros” porque a sua

ambição era nobre e pacífica: voar e, logi-

camente, um campo de aviação.

A ideia de dotar a cidade com uma pista e

escola de pilotos era mais uma das várias

que Bissaya Barreto concretizou durante a

sua vida, sempre a favor de Coimbra.

A primeira vez que manifestou publica-

mente esse desejo foi em 1939, bem antes

que qualquer outra localidade se adiantas-

se com a mesma intenção.

Formou-se uma comissão constituída

pelo Professor Bissaya, representando a

Junta Distrital, com esta a comprar o terre-

no, o piloto Carlos Galo e o major Humberto

Pais, da Força Aérea Portuguesa (FAP). A

compra dos terrenos arrastar-se-ia e só vi-

ria a ser concluída vários anos mais tarde.

Entretanto a pista foi ganhando forma e

com tal incremento que em 10 de Março de

1940 aterrou nela o Tiger n.º 146 da FAP,

pilotado pelo major Humberto Pais, em ex-

periência de operacionalidade.

Logo em 15 de Julho seguinte, o que exis-

tia do campo de aviação foi inaugurado.

Posteriormente outras inaugurações tive-

ram lugar, enquanto as obras decorriam.

O grupo de entusiastas também não de-

sistia dos seus esforços, o que levou à cria-

ção de uma Secção Aeronáutica na Associ-

ação Académica de Coimbra, garantida que

estava a pista adequada às necessidades

de maior autonomia. À Secção sucedeu o

Centro de Aeronáutica (e mais tarde, em 14

de Janeiro de 1976, o Aero Clube de Coim-

bra). Este incremento, com a Escola Bissaya

Barreto a formar pilotos que incluíam se-

nhoras, coincidiu com a direcção de José

Varela dos Reis.

Dos contactos para a compra das 11 par-

celas de terreno que constituíam a deseja-

da área para uma pista, que se pretendia

com 1.000 metros, tratou o dr. José Pimenta

(que foi responsável pelo Turismo de Coim-

bra). A apoiar a administração lembro Filipi-

no Martins (um rádio-amador de prestígio

internacional), cujo nome também está gra-

vado no memorial levantado em frente às

instalações do aeródromo. Três nomes a

não esquecer.

As terraplanagens tiveram que vencer

desníveis nos terrenos e não se livraram de

burocracias por causa da existência de um

duplo declive, com fosso também duplo. A

zona era conhecida por Mata Velha ou Ci-

dade Velha, sendo este nome mais apro-

priado por haver ali uma “fortificação” ro-

mana, que se julga ter pertencido à época

que medeia entre o avanço de Décimus Ju-

nius Brutus – Callaicos (138-135 A.C.) e o

protectorado da Ulterior de Júlio César

(61 A.C.)”, segundo o Inventário Artístico

– Coimbra, de Vergílio Correia e Noguei-

ra Gonçalves.

O pouco que restava desta posição mili-

tar, que os romanos terão utilizado por fi-

car entre Conímbriga e Aeminium (Coimbra),

nunca foi explorado pelos especialistas,

O Prof. Bissaya-Barreto, no banco de trás do helicóptero, no Aeródromo que tem o seu nome

Para além das aeronaves civis, o Aeródromo de Coimbra tem servido tambémpara aterragem de aviões militares, como a imagem documenta

5NOVEMBRO DE 2008 BISSAYA-BARRETO V

NÇAR ANÇAR ANÇAR ANÇAR ANÇAR AS MÁQUINAS MÁQUINAS MÁQUINAS MÁQUINAS MÁQUINAS PS PS PS PS PARARARARARA RA RA RA RA RAAAAASGSGSGSGSGAR A PISTAR A PISTAR A PISTAR A PISTAR A PISTA DURA DURA DURA DURA DURANTE A NOITEANTE A NOITEANTE A NOITEANTE A NOITEANTE A NOITE

onstruído à luz do luar!...

deduzindo-se que até os arqueólogos não

lhe atribuíram importância. Constava de um

entricheiramento de campanha. Na verda-

de, mesmo que em escavações se encon-

trasse algo como uma fivela de centurião,

moedas, lanças ou punhais, que valia tudo

isso comparado com a existência de uma

escola de aviadores apoiada numa pista,

às portas de Coimbra?

Em 22 de Fevereiro de 1958, após reu-

nião de altas individualidades, foi decidi-

do nivelar parte do terreno, deixando uma

outra com vista a futuras escavações ar-

queológicas.

O general Santos Costa, então Ministro da

Defesa Nacional, participante da citada reu-

nião, determinou destacar um Serviço de

Engenharia Militar, com máquinas pesadas

e pessoal para iniciar os trabalhos. Mas eis

que surge um embargo judicial , suspenden-

do toda a actividade, com regresso dos mili-

tares ao quartel, mas ficando no terreno toda

a maquinaria. José Varela tinha estudado o

seu funcionamento antes desta paragem, o

que foi utilíssimo quando o Prof. Bissaya to-

mou a grande decisão de sugerir a retoma-

da dos trabalhos, entusiasmando quem a

aguardava: “Numa destas lindas noi-

tes de luar pode-se fazer uma linda

obra. Avancem!”. E foi numa azáfama in-

descritível, com José Varela manobrando um

bulldozer à luz dos faróis dos automóveis da

“muralha”, que se fez o que tinha de ser

feito, ao que a cidade correspondeu com

brita e areia em quantidade. Chegara a vez

do alcatrão.

A Escola tem formado dezenas de pilo-

tos, sob a responsabilidade de sucessivos

e credenciados instrutores, tendo chegado

a formar num só ano mais pilotos que to-

das as outras escolas do País.

É justo também lembrar que, nos tempos

iniciais, esta instrução se ficou a dever à

Força Aérea, com envio de dois aviões, pilo-

tos instrutores e um mecânico.

Na sala de recepção do edifício está um

busto do Prof. Bissaya Barreto, ali coloca-

do aquando de uma home-

nagem que lhe foi prestada

em 4de Junho de 1997, por

iniciativa da Câmara Munici-

pal e do Aero Clube.

A propriedade do conjun-

to das instalações ficou

para a Junta Distrital de Co-

imbra, que em 1984 celebrou

um protocolo de cedência

com a Câmara Municipal de

Coimbra.

Esta, por sua vez, assinou

outro protocolo com o Aero

Clube, respeitante à explo-

ração por este da parte des-

portiva e técnica, conservan-

do, porém, a exploração comercial.

Vai longe a caricata situação de perso-

nalidades dos governos português e fran-

cês, acabadas de aterrar em Coimbra, que

ante a falta de instalações sanitárias tive-

ram de se encostar aos pinheiros para alí-

vio das suas necessidades fisiológicas. Pre-

sidia então ao Aero Clube o eng. Teles de

Oliveira, que de imediato aplicou os seus

conhecimentos técnicos na elaboração do

projecto no qual saiu o edifício base do

aeródromo.

As formações de pilotos continuam, au-

mentando a pleíade com estatuto próprio,

como é timbre dos pilotos de máquinas voa-

doras, nas quais fazem os seus primeiros

vôos a pensar – quem sabe? – subir mais

além, agora em máquinas que podem levá-

-los a outros mundos.

Apesar das melhorias rodoviárias, o inte-

resse deste aeródromo mantém-se, integra-

do que está na rede nacional interna e até

para aeronaves de média capacidade, in-

cluindo as internacionais, para o que está

devidamente equipado.

O actual presidente da direcção do Aero

Clube é o coronel José Oliveira, que assu-

miu o cargo em 30 de Setembro de 2006,

com o entusiasmo dos que sobem mais alto.

Das melhorias que conseguiu para o aeró-

dromo, saliento a que levou ao desapareci-

mento dos bidons de gasolina dos terrenos

marginais do parque de estacionamento.

O combustível está agora num carro-tan-

que, cedido pela FAP.

Num esforço final, espera-se que o arma-

zenamento venha a ser subterrâneo.

Em aberto continua um outro plano regio-

nal para receber aeronaves maiores, como

o 747 da Boeing e o A380 da Airbus, que já

suplantou tecnicamente aquele seu rival.

No perímetro do aeródromo está uma

oficina especializada, empresa particu-

lar intitulada “Indústrias Aeronáuticas

de Coimbra”.

Trabalha de acordo com a legislação eu-

ropeia, dando apoio a aeronaves ligeiras

e os seus clientes vêm do País, de norte a

sul, e da Europa, especialmente Espanha

e França.

Numa altura em que se presta homena-

gem ao Prof. Bissaya Barreto, era obrigató-

rio falar de mais este arrojado empreendi-

mento que Coimbra e o País lhe devem. Por

isso aqui evoco as minhas recordações dos

vôos que fiz há anos, principalmente com o

dr. Viriato Namora, que é sócio efectivo n.º

1 da Secção Aeronáutica da AAC, data em

que já pertencia ao grupo de entusiastas

que tanto se esforçaram para que o Aeró-

dromo Bissaya Barreto se tornasse numa

realidade de enorme importância para o

desenvolvimento desta Região.

(Naquele tempo voava e fotografava, o

que me proporcionou alguns bons prémios,

incluindo a publicação em livros, dos quais

destaco “Coimbra vista do céu”, do arqui-

tecto Filipe Jorge, e texto do seu colega José

António Bandeirinha).

E se este escrito já vai longo, o “culpado”

é o dr. Viriato Namora, que fez o favor de

me facultar alguns dados, o que muito lhe

agradeço.

Varela Pècurto

6 NOVEMBRO DE 2008BISSAYA-BARRETOVI

que o carac

· 3 Sanatórios

anti-tuberculose

· 1 preventório

· 2 Hospitais

Psiquiátricos

· 1 Colónia Agrícola

Psiquiátrica

· 1 Leprosaria

· 1 Creche/Preventório

para filhos de leprosos

· 1 Centro de Reabilitação

para ex-leprosos

· 1 Hospital Geral Central

· 1 Hospital Pediátrico

· 1 instituto Materno Infantil

· Casa da Mãe

(Figueira da Foz)

· 1 Centro de Neurocirurgia

· 1 Centro Hospitalar

· 1 Instituto de Surdos

· 1 Instituto de Cegos

· 26 Casas da Criança

· 3 Colónias de Férias

· 2 Bairros Sociais

· Escola de Enfermagem

“Bissaya Barreto”

· Escola Normal Social

· Escola de Enfermeiras

Puericultoras

· Escola Profissional de

Agricultura, Artes e Ofícios -

em Semide

· Dispensários, Brigadas

móveis, Postos rurais

· Portugal dos Pequenitos

· Aeródromo de Coimbra

· Estaleiros Navais

do Mondego

· etc ... ... ... ... ... ... ... ... ...

A eloquência das realizações

Ao centro, em cerimónia de “bota-abaixo” de um novo barco nos Estaleiros Navaisdo Mondego, na Figueira da Foz, um dos seus grandes empreendimentos na áreaempresarial, que muito contribuiu para o desenvolvimento do País

Com um grupo de seus alunos finalistas de Medicina, no Hospital dos Covões

Bissaya-Barreto foi um homem de acção, que conseguiu concretizar uma obra ímpar,

quer pela quantidade e diversidade, quer pela qualidade de todos os seus empreendi-

mentos. A relação de alguns deles, que nesta página se publica, é mais eloquente do que

quaisquer palavras.

Mas importa também salientar a sua dedicação ao ensino e à prática da Medicina,

bem como o entusiasmo pelos grandes projectos empresariais que lançou, numa

polivalência que estas imagens pretendem simbolizar.

Bissaya-Barreto “escrevia poemas” com o bisturi(assim salvando muitas vidas),

e fazia “intervenções cirúrgicas” com a caneta,em textos polémicos em que defendia os seus ideais

e tudo aquilo que achava poder contribuirpara melhorar a sociedade,

sempre com os olhos postos no futuro

7NOVEMBRO DE 2008 BISSAYA-BARRETO VII

O jovem estudante republicano

que rejeitou prémio do Rei

Bissaya Barreto desde muito cedo se revelou um apaixonado lutador

pelos princípios republicanos, numa altura em que Portugal era ainda

uma Monarquia.

Foi um activista corajoso e consequente, enquanto aluno da Universi-

dade de Coimbra, vindo mesmo a fazer parte do grupo de 160 estudan-

tes republicanos que receberam a designação de “Os Intransigentes”,

durante a greve académica de 1907. Essa militância levou a que tivesse

sido escolhido como delegado ao Congresso do Partido Republicano.

Mas seria no ano seguinte que o jovem Fernando Bissaya-Barreto

viria a protagonizar um episódio que ficou para a História.

Foi no dia 20 de Novembro de 1908 (há precisamente cem anos),

quando o Rei D. Manuel II se deslocou à Universidade de Coimbra para,

como era tradição, entregar os prémios aos melhores alunos das diver-

sas Faculdades (aqueles que haviam conseguido obter nota igual ou

superior a 18 valores).

A cerimónia pomposa decorria na Sala Grande dos Actos, e o Rei lá ia

entregando os prémios aos alunos laureados.

Bissaya-Barreto conquistara o direito às distinções pelas elevadas classificações

que obtivera nos cursos de Medicina, mas também de Matemática e de Filosofia.

A verdade é que proferido o seu nome por três vezes, para receber, das maõs do Rei,

os prémios a que fazia jus, o jovem Fernando ousou manifestar o seu republicanismo,

ignorando ostensivamente as chamadas, apesar de estar mesmo nas filas da frente.

Na Sala Grande dos Actos, repleta de professores, estudantes e autoridades, fez-se

um silêncio sepulcral. O Rei D. Manuel II, de diplomas nas mãos, aguardava que o

estudante premiado se levantasse e se lhe dirigisse para receber a honraria.

Em vez disso, porém, Bissaya-Barreto manteve-se sentado no seu lugar, impassí-

vel. E enquanto todos os olhos nele se fixavam, o jovem exclamou, num desabafo de

alma:

“Eu não conheço o Rei!”.

A ousadia teve ecos nos jornais da época, e fez dele um herói entre os republicanos

que, dois anos mais tarde, a 5 de Outubro de 1910, viriam a derrubar a Monarquia.

Bissaya-Barreto (em cima, ao centro) com algunsoutros estudantes do grupo “Os Intransigentes”

O Rei D. Manuel II (imagem ao lado) ficou atónito e vexado quando Fernando Bissaya-Barreto(foto abaixo) se recusou a ir receber, das mãos do também jovem monarca, os prémiosque este pretendia entregar-lhe. “Eu não conheço o Rei!”. Esta foi a ousada afirmaçãodo estudante republicano, que ficou para História

HÁ PRECISAMENTE UM SÉCULO (A 20 DE NOVEMBRO DE 1908)

8 NOVEMBRO DE 2008BISSAYA-BARRETOVIII

s u p l e m e n t o d o j o r n a lNovembro / 2008

No próximo dia 26 (quarta-feira) a Fun-

dação Bissaya-Barreto completa meio

século de intensa e diversificada activi-

dade.

Ao longo de 2008, têm sido muitas e

variadas as iniciativas para assinalar,

condignamente, os 50 anos de existên-

cia da Fundação, num programa vasto e

de grande qualidade.

Como refere o Comissário das Come-

morações, Dr. Carlos Páscoa, “neste ano

de cinquentenário da Fundação que Bis-

saya Barreto criou, relembra-se o Homem

cuja memória se respeita e acentua-se

o muito que tem sido feito para dar se-

quência à sua obra”.

Desde 1981, a responsabilidade de di-

rigir a Fundação esteve confiada eo Eng.

Nuno Viegas Nascimento, que a esse di-

fícil papel se dedicou de forma apaixo-

nada ao longo de 27 anos, até que a

morte o levou, prematuramente, no pas-

sado dia 29 de Julho.

O testemunho foi passado a sua Mu-

lher, Dr.ª Patrícia Viegas Nascimento, que

assumiu a Presidência da Fundação e lhe

manteve o rumo e o dinamismo.

ORIGENS DA FUNDAÇÃO

Foi a 26 de Novembro de 1958 que o

Governo de então oficializou a criação

da Fundação, através de um despacho

que publicava também os respectivos

Estatutos.

Como fundadores, um grupo de notá-

veis. amigos e admiradores de Bissaya-

Barreto: D. Ernesto Sena de Oliveira (Ar-

cebispo Bispo-Conde de Coimbra); Coro-

nel Ernesto Nogueira Pestana (então Go-

vernador Civil de Coimbra); Juiz Conse-

lheiro José Perestrelo Botelheiro (na épo-

ca Presidente do Tribunal da Relação de

Coimbra); Dr. Joaquim Moura Relvas (mé-

dico radiologista, e na altura Presidente

da Câmara Municipal de Coimbra); Dr.

José dos Santos Bessa (médico pedia-

tra, colaborador muito próximo de Bis-

saya-Barreto e então deputado da As-

sembleia Nacional); Eng. José Horácio de

Moura (que viria a ser Governador Civil

de Coimbra de 1959 a 1970); e Dr. Lino

Cardoso de Oliveira (advogado e então

Presidente da Câmara Municipal de Can-

tanhede).

NO DIA 26 DE NOVEMBRO (QUARTA-FEIRA)

Fundação Bissaya Barreto

completa meio século

Na origem da Fundação estava, natu-

ralmente, a vontade do Prof. Bissaya-

Barreto de arranjar forma de incremen-

tar a sua acção social diversificada, ga-

rantindo, ao mesmo tempo, que ela iria

perdurar para além da sua morte.

Nos Estatutos referia-se, a dado pas-

so do Artigo 10.º:

“(...) Os signatários constituem, na ci-

dade de Coimbra, uma instituição parti-

cular de utilidade pública e fins de as-

sistência, ao abrigo (...) destinada a con-

tinuar a obra criada e mantida durante

mais de meio século pelo Prof. Doutor

Bissaya Barreto, quer como cidadão quer

como orientador de organismos assis-

tenciais”.

E acrescentava-se:

“Como justa homenagem e devida gra-

tidão às altas qualidades e serviços pres-

tados à sociedade no vastíssimo campo

da sua actividade, a Fundação adoptou

o nome daquele iminente professor mé-

dico-cirurgião. (...)”.

27 SERÁ O PRIMEIRO DIADO PRÓXIMO MEIO SÉCULO

Nascido em Castanheira de Pêra a 29

de Outubro de 1886, Fernando Bissaya-

Barreto viria a ter uma carreira académi-

ca brilhante, quer enquanto aluno, quer

depois, como Professor da Faculdade de

Medicina, de que viria a ser catedrático.

Notável foi igualmente a sua acção

como médico, invulgar a sua actividade

política (iniciada ainda enquanto aluno

da Universidade de Coimbra, em prol dos

ideais republicanos).

Mas os aspectos mais relevantes da

sua vida (faleceu a 16 de Setembro de

1974, em Lisboa, poucos dias antes de

completar 88 anos e poucos meses após

a Revolução de 25 de Abril) foram, sem

dúvida, as múltiplas iniciativas de carác-

ter social e assistencial que promoveu,

a par com outras que muito contribuíram

para o progresso de Coimbra, da Região

Centro e do País.

Daí que se não estranhe que algumas

das mais destacadas personalidades da

vida nacional tenham vindo a participar

neste relevante programa comemorati-

vo que agora chega ao fim.

Porque, disso estamos certos, 27 de

Novembro será o primeiro dia do próxi-

mo meio século de existência da Funda-

ção, que saberá ir encontrando, como até

aqui, os que melhor conseguirem dar

continuidade à extraordinária obra de

Bissaya-Barreto.

O CENTRO agradece à Fundação Bissaya-Barretoa cedência das imagens que ilustram este suplemento

Bissaya-Barreto, com o seu exemplo,continuará, certamente, a apontaro rumo do futuro da sua Fundação

919 DE NOVEMBRO A 2 DE DEZEMBRO DE 2008 EDUCAÇÃO / ENSINO

MenteMente sempreProvavelmente?Não…Mente sempre.

O professor de Filosofia, entra na sala efruto de uma aula muito bem planificada,encara os seus alunos pensando num bri-lharete. Puxa de uma cadeira coloca-a emcima de uma mesa e diz: “Provem que estacadeira não existe”.

Azáfama infernal de quase todos; escre-veram páginas até lhes doerem os dedos eos neurónios se esgotarem, para provaremque tal cadeira, bem visível, não existia. Umaluno num minuto, se tanto, entrega a folhitacom duas palavras: “Qual cadeira?”.

Face à dimensão da indignação de 145mil professores, 120 mil vieram para a rua,fora os que gostariam e não puderam;Maria de Lurdes, que se pensa ministra,pergunta: “Professores?” “Qual manifes-tação?”.

A cegueira já não é compreensível…até usa óculos! “O maior cego é quemnão quer ver”.

Que fique bem claro que não é uma re-* Professor

e Dirigente do SPRC/FENPROF

José Neves da Costa*

Revoltascusa à avaliação de desempenho que estáem causa. Então o Estatuto? Com todas assuas implicações: fractura na carreira, ho-rários loucos, avaliação impossível…

É caso para dizer: já que perdendo osprofessores ganhou a opinião pública a ditaque “dê aulas”. Opinião pública, claro. Atão proclamada “opinião pública” felizmen-te já começou a perceber de que lado estáa razão.

Um tal primeiro, penso eu que ministro,mandou boca fora que vinte mil já foramavaliados! Os dentes não são tantos paracontar as mentiras. Só os contratados o fo-ram e num processo simplificado. Eram paraaí sete mil… faltam treze mil. Treze mil!

Numa escola houve, que face aos crité-rios “simplex” conquistados pela Platafor-ma de Sindicatos, os contratados foram cor-ridos a “EXCELENTE”, para, na semanaseguinte serem desqualificados (ia para di-zer descidos, parei a tempo) para “BOM”.Por ordem da Ministra.

Há uma que não me entra na cabeça,transformar um entendimento de salvaçãodo final do ano lectivo, num “ACORDO”que agora os sindicatos não respeitam?Acordo em relação ao modelo de avaliaçãode desempenho de professores, sejamos cla-ros, nunca houve. Disposição para negoci-ar, sempre. Disponibilidade do ME nunca.

É pública a proposta, em construção de-

mocrática convenhamos, sobre avaliação dodesempenho de professores da mais repre-sentativa central sindical de professores(FENPROF). Como é possível, Sócrates,Maria de Lurdes e anexos dizerem que nin-guém propõe nada.

Os grandes defensores do tão proclama-do “choque tecnológico” ainda morrem elec-trocutados. Não perceberam, ou queremconfundir, que basta um qualquer alunomediano mandar uma mensagem a meiadúzia de amigos para gerar a confusão? In-sinuar instrumentalizações é, no mínimo, umadesonestidade que qualquer pessoa de bemreconhece.

Agora estes pequenos “deuses caseiros”donos de toda a razão, são “vítimas” de mi-lhares e milhares de professores, alunos eencarregados de educação que, estúpidos,não entendem a bondade das suas inten-ções; “A BEM DA NAÇÃO”.

E a propósito deste louco decreto de ges-tão que mata qualquer intenção democráti-ca nas escolas só me apetece dizer:

O senhor todo-poderoso erguendo asmãos ao céu dirá: “Fazei o que eu mando ede vós será o reino de Deus. Obedecei etereis a recompensa”.

Indignação já é pouco… Para não sairpalavrão, mais não digo.

O primeiro-ministro declarou ontem (ter-ça-feira) que a avaliação dos professores épara manter, mas que será “sensível às crí-ticas” sobre burocracia e carga de trabalhoinerente ao sistema, procurando melhorá-loatravés do diálogo com “todos os sectores”.

Sócrates assumiu esta posição após tervisitado a exposição “Portugal Tecnológico2008”, no Parque das Nações.

Em declarações aos jornalistas, José Só-crates frisou que “a ministra da Educação[Maria de Lurdes Rodrigues] está nestemomento num processo de diálogo são comvárias individualidades ligadas ao sector edu-cativo - pessoas que estão a fazer a avalia-ção no terreno (nas escolas), para identifi-car os problemas e para tentarmos minoraresses mesmos problemas”, disse.

O primeiro-ministro garantiu depois queo objectivo do Governo é melhorar “os as-pectos que porventura estejam a corrermenos bem” no processo de avaliação.

“Somos sensíveis às críticas que fomosouvindo sobre burocracia, mas também noque diz respeito ao trabalho nas escolas.Vamos procurar ouvir todos os sectores paramelhorarmos tudo aquilo que possa ser me-lhorado, mas a avaliação é para continuar etem de ser feita”, frisou.

Sócrates diz que Governo é “sensível”às críticas e quer dialogar

Reagindo à ideia de alguns docentes queconsideram já ter sido avaliados no passa-do, ao longo da sua carreira profissional,Sócrates soltou um sonoro “francamente!”.

“O que existia no passado não era pro-priamente uma avaliação, sendo antes, naprática, uma progressão automática nascarreiras. Esse sistema tem de ser posto delado. Temos de ter um sistema que distingaos professores, porque essa é a melhor ga-rantia que podemos dar às famílias no sen-tido de que valorizamos os melhores pro-fessores”, argumentou.

Interrogado sobre a actual situação deruptura de diálogo entre sindicatos e Gover-no, o primeiro-ministro responsabilizou ossindicatos.

“Essa conversa acabou por parte dos sin-dicatos, não pela nossa parte. Esse é umjulgamento que os portugueses farão”, ad-vertiu.

Neste contexto, Sócrates disse que, apósa manifestação nacional de professores deMarço, o Governo se disponibilizou para di-alogar e negociar, processo que se concluiu“com um acordo, um memorando de en-tendimento”.

“A expectativa é que o memorando deentendimento fosse cumprido, mas, infeliz-

mente, os sindicatos rasgaram-no e disse-ram que não o pretendiam cumprir”, sus-tentou, antes de deixar novo aviso:

“Se os sindicatos agora também dizemque não querem negociar, isso é com os sin-dicatos. A disponibilidade do Governo é paradialogar, para ouvir e para melhorar o quedeve ser melhorado”, sublinhou.

Nas declarações aos jornalistas, o primei-ro-ministro também se referiu à ideia avan-çada segunda-feira pelo dirigente socialistaAntónio Vitorino, na RTP, em que sugeriu acriação de um conselho de sábios para seaferir a experiência resultante do processode avaliação.

António Vitorino, segundo a interpreta-ção de José Sócrates, “sugeriu aquilo que jáestava no memorando de entendimento”assinado entre o Governo e os sindicatosdos professores em relação ao sistema deavaliação.

“Após a aplicação do processo de avali-ação, deveria haver uma aferição da pró-pria avaliação, tendo em vista melhorar osaspectos que correram menos bem. Esserelatório feito por especialistas pode e de-verá ser feito”, frisou o primeiro-ministro,ainda em referência à ideia avançada porAntónio Vitorino.

10 19 DE NOVEMBRO A 2 DE DEZEMBRO DE 2008arte em caféA PÁGINA DO MÁRIO

[email protected]

Mário MartinsCartão do Contribuinteno país do “Simplex”:

9 meses de espera!O cidadão que pediu o Cartão do Contribuinte em Fevereiro ainda continua à

espera que as Finanças lho enviem.

Gasolina: não se deixe enganarNão se deixe enganar com as notícias que “pingam” diariamente sobre a des-

cida do preço dos combustíveis: hoje é uma empresa a descer os preços, amanhãé outra, e assim sucessivamente.

Mas os preços, no seu conjunto, pouco baixam!

A CEPSA anunciou hoje que passa a praticar os seguintes preços: gasolinasem chumbo, 1,225; gasóleo, 1,146.

Aqui ao lado, em Fuentes de Oñoro, os preços são hoje os seguintes: gasolinasem chumbo, 0,959; gasóleo, 0,979.

A diferença, no caso da gasolina, é de 53 escudos (por litro) na moeda antiga!!!

Até os departamentos da União Europeia assinalam que algo está errado:«Segundo dados da Direcção-Geral de Energia e Transportes da União Euro-

peia, a 27 de Outubro [em Portugal] o litro de gasolina 95 octanas, sem impostos,era 4 cêntimos mais caro do que em Espanha e 3 cêntimos mais caro que a médiaeuropeia.» (Jornal de Notícias)

PS - No sábado, enchi o depósito nas Caldas da Rainha, num posto do “PingoDoce”. Paguei por cada litro de gasolina sem chumbo 1,179.

(publicado em 12/11)

A IMPORTÂNCIA DA VÍRGULA

Vírgula pode ser uma pausa... ou não.Não, espere.Não espere.

Ela pode sumir com o seu dinheiro.23,4.2,34.

Pode ser autoritária.Aceito, obrigado.Aceito obrigado.

Pode criar heróis.Isso só, ele resolve.Isso só ele resolve.

E vilões.Esse, juiz, é corrupto.Esse juiz é corrupto.

Ela pode ser a solução.Vamos perder, nada foi resolvido.Vamos perder nada, foi resolvido.

A vírgula muda uma opinião.Não queremos saber.Não, queremos saber.

Uma vírgula muda tudo.ABI: 100 anos lutando para que nin-

guém mude uma vírgula da sua infor-mação.

Mensagem adicional:Se o Homem soubesse o valor que

tem a Muher andaria de quatro à suaprocura.

– Se você for mulher, certamente co-locou a vírgula depois de MULHER.

– Se você for homem, colocou a vír-gula depois de TEM.

(Campanha dos 100 anosda Associação Brasileira de Imprensa;

publicado em 18/11)

OS IMPOLUTOS (*)

O sítio anda muito agitado e mesmoentusiasmado com o escândalo BPN eespera a todo o momento grandes notí-cias sobre os principais figurões que an-daram anos e anos, nas barbas de regu-ladores e de supervisores, a manobrarmilhões e milhões de um lado para o ou-tro, milhões vindos sabe-se lá de onde eque ainda não se sabe a que bolsos fo-ram parar.

É evidente que nestas coisas de ban-cos e banquetas os rumores valem o quevalem e ninguém sabe ao certo até queponto, nas barbas das autoridades super-visoras, dirigidas obviamente por gentecompletamente impoluta,se desenrolaram

monumentais operações de branquea-mento de muitos milhões. Os rumores,neste sítio manhoso, hipócrita, invejoso,pobre e cada vez mais mal frequentado,valem o que valem e não interessa an-dar por aí a desconfiar da imensa legiãode impolutos, senadores desta Repúbli-ca comandada nestes 34 anos de De-mocracia por grandes figurões do PS edo PSD, os verdadeiros donos do sítio,para o mal e para o bem. Particularmen-te para o mal se tivermos em conta osresultados obtidos em matéria de desen-volvimento económico, bem-estar sociale nível de vida dos indígenas, que paci-entemente vão alimentando tal gente apão-de-ló com o dinheiro dos impostosque são obrigados a pagar e a vão man-tendo no poder com os generosos votosnas muitas eleições autárquicas, legisla-tivas e presidenciais.

A falência do BPN, que o queridoEstado abraçou a tempo e horas paraevitar males maiores, está a provocarmuita excitação no espírito de muitos ci-dadãos, convencidos na sua eterna boa-fé de que desta vez os figurões que an-daram a jogar com muitos milhões de umlado para o outro vão mesmo ser apa-nhados pela chamada Justiça e que averdade vai ser, por uma vez na vida,totalmente conhecida. Cidadãos que an-dam obviamente iludidos com o espec-táculo montado e com as declaraçõessolenes dos responsáveis do costume.

Cidadãos que obviamente ainda acre-ditam no Pai Natal e que passam a vidaa pensar que um dia destes ainda vãoser testemunhas de um qualquer mila-gre. Mas desenganem-se. Os figurõesimpolutos do sítio não estão apenas nospartidos políticos do Bloco Central, naadministração central e local. Os figu-rões impolutos estão em todo lado. Osfigurões impolutos do sítio também es-tão na Polícia e na Justiça. Os figurõesimpolutos do sítio, acreditem, comemtudo e não deixam mesmo nada. E en-ganam os tolos com papas e bolos.

(*) António Ribeiro Ferreira, no“Correio da Manhã” de hoje

(publicado em 17/11)

VIA VERDE E AMBIENTE

A Via Verde enviou-me uma mensa-gem de correio electrónico, sugerindo aadesão à “factura electrónica” porquedesse modo estaria a ajudar o Ambien-te.

Como toda a mensagem merece res-posta, enviei o seguinte texto à Via Ver-de:

«Exmos. Senhores,Muito bom dia.Agradeço a vossa mensagem.Fiquei sensibilizado quanto às vanta-

gens que V. Exas. me oferecem se ade-rir ao extracto electrónico.

No entanto, e embora não o refiramna vossa mensagem, V. Exas. tambémbeneficiam de várias vantagens:

1. Rapidez - evitam todo o processa-mento do correio

2. Comodidade - é mais fácil enviarum e-mail do que uma carta

3. Facilidade - evitam deslocações aosCTT, bastando um clique para o efeito

4. Apoiam o meio ambiente5. Poupam em recursos humanos6. Poupam em papel7. Poupam em envelopes8. Poupam em impressão9. Poupam em despesas postaisDado que os vossos benefícios são

muito superiores aos meus, permito-mesugerir que me atribuam um desconto novalor da factura se eu resolver aderir aoextracto electrónico.

Enquanto isso não suceder, prefirocontinuar a receber a habitual factura,até porque já gastei algum dinheiro nacompra das pastas arquivadoras.

Com os melhores cumprimentos,Mário Martins»

(publicado em 13/11)

AO LADODOS PROFESSORES

Antigo professor efectivo (abandoneia profissão há 17 felizes anos, porque jánessa altura pensava que o Estado metratava mal) e casado com uma profes-sora (que trabalha na mesma escola há28 anos!), sei bem como os sucessivosgovernos têm espezinhado a classe do-cente.

[Aliás, cada vez reforço mais a mi-

nha convicção de há muito que a Edu-cação só conhecerá melhores diasquando o ministro - ou a ministra - forum professor primário. Estamos far-tos de ver o que dá ter como minis-tros professores do Ensino Secundá-rio ou do Ensino Superior...]

Por isso, em homenagem aos pro-fessores de Portugal, sobretudo aos120.000 (!!!) que se manifestaram nosábado em Lisboa, publico no blogueum video retirado do “site” do meugrande amigo Carlos Carranca - tam-bém ele um professor que no sábadodesfilou nas ruas da capital. E um ver-dadeiro socialista.

(publicado em 10/11)

SÓCRATESE A BANHA DA COBRA

SINTO-ME ENVERGONHADOao ver o primeiro-ministro do meu paísa desempenhar o papel de vendedorde banha da cobra numa cimeira dechefes de Estado e de Governo. Decada vez que a cena passa na televi-são, sinto vontade de me enfiar numburaco. A cena revela falta de senti-do de Estado, falta de bom senso efalta de vergonha. (Alfredo Barroso)

(Pode ler o texto na íntegrano “Sorumbático”;publicado em 5/11)

SERVIÇO PÚBLICO

1119 DE NOVEMBRO A 2 DE DEZEMBRO DE 2008 SANTA CLARA

A Freguesia de Santa Clara está prestesa completar 154 anos de existência, embo-ra este ano não haja quaisquer eventos paraassinalar a efeméride. No entanto, tratan-do-se de uma das mais emblemáticas fre-guesias do concelho de Coimbra, entende-mos pertinente auscultar o seu presidente,José Simão, sobretudo porque Santa Claratem sobressaído em termos de desenvolvi-mento. A margem esquerda do Mondego,frente à cidade de Coimbra, cada vez émenos miradouro desta, antes retribui e par-tilha essa função.

Questionado sobre o retrato que faz hojeda sua freguesia, José Simão é peremptórioao afirmar que”o retrato é bom”, acrescen-tando que “pode ser bom, mas não porquehaja grandes investimentos municipais emSanta Clara. Santa Clara desenvolve-se atra-vés do Estado, do Parque Verde do Mon-dego, através do Ministério da Cultura, como Convento de Santa-Clara-a-Velha, o novoMuseu e, também, através da acção da Juntade Freguesia. A Câmara não tem investidograndemente em Santa Clara até hoje. Sa-bemos que também a Piscina do ParqueVerde do Mondego está para ser inaugura-da, talvez ainda este ano ou no princípio dopróximo. Por isso é que eu disse antes atéhoje, porque algumas coisas vão ser apre-sentadas”.

Como exemplo, José Simão lembra que“há uma verba definida pessoalmente peloPresidente da Câmara para o alargamentodo Cemitério” e que tal obra “está bem en-caminhada. Já vai em mais de 50%. O piorestá feito, que é a anulação da conduta deágua que passa por baixo do Cemitério eque fornece o Hospital dos Covões, que nosimpedia e nos impede ainda hoje de fazer-mos obras, mas as Águas de Coimbra vãofazer ali um grande investimento.”

Outro dos projectos que a breve trechose tornará realidade é o Museu da RainhaSanta, propriedade da Junta de Freguesiade Santa Clara. O seu acervo será constitu-ído por “um património na ordem das cinco,seis mil peças, entre as da Rainha Santa eas de Inês de Castro.” Este valioso espólioé “oferecido à Junta de Freguesia e ao seupresidente, porque o doador faz questão queseja a mim e, inclusivamente, uma das con-dições para oferecer essas peças é a deque eu seja presidente vitalício do Museu. Éuma questão que eu não entendo, mas é aproposta de Alfredo Bastos, o doador, parao presidente da Junta de Freguesia de San-ta Clara. Portanto, não posso escusar-me aser presidente vitalício desse Museu”.

Sobre esta sua futura missão, José Si-mão diz que “não é que me agrade a situa-ção, mas em nome da Junta de Freguesiasinto-me obrigado. Não sei se será um sa-crifício ou um prazer porque nunca fui e nãosei o que é ser director de um Museu e tê-loem actividade porque um Museu não é umarmazém de peças. Eu sou um homem demovimento e gostava que o Museu tivesseessa característica.”

A área desportiva também assume pa-pel de relevo nas preocupação do líder do

executivo santaclarense: “Temos um com-promisso, infelizmente nunca cumprido pelaSecção de Desporto da Câmara Municipalde Coimbra, que é o do Parque Desportivono Vale Rosal, que já nos foi prometido hátrês anos. E há três anos que nos dizem queé este ano, que é este ano e que nunca acon-teceu até agora. Não temos em Santa Cla-ra nenhuma obra desportiva e isto tambémse prende muito com o ordenamento do ter-ritório. Apesar de Santa Clara não ter ne-nhum Parque Desportivo próprio para oscidadãos no ordenamento do território, te-mos centenas de atletas e uma quantidadede pavilhões desportivos que é o caso doEstádio Universitário, que é contabilizadoerradamente em benefício de Santa Clara.Apesar de Santa Clara não ter, acaba porparecer que tem. E isso cria-nos alguns pro-blemas. Imagine, apesar de não ter piscina,que as piscinas privadas eram contabiliza-das à freguesia.”

Outros dos pontos que leva José Simão adizer que “Santa Clara é uma freguesia quenão tem nada”, é o apoio aos idosos. “Nãotem um Lar de Idoso. Nós demos agora umterreno à Casa do Pai para que aí se cons-trua essa importante estrutura. Estamos,com a Escola das Lajes e com o apoio daIntegrar, a trabalhar para que se faça aí umaespécie de Centro de Dia ou um Centro quesirva de plataforma para o auxílio às pesso-as, não só em alimentação, mas tambémaos acamados.”

José Simão considera que a sua fregue-sia “está a rejuvenescer porque a quantida-de de edifícios, que foram e se estão a fa-zer, estão a ser ocupados por casais jovens,em início de vida,pois embora a freguesiatenha 40 ou 50 por cento de pessoas acimados 60 anos, neste momento estamos a ver,pelos recenseados, que a população está,de facto, a rejuvenescer. Ora essa popula-ção dentro em breve terá filhos. A preocu-pação da Junta é precisamente o que va-mos fazer para os filhos dessas pessoas.Com certeza que já não será no meu tem-po, mas temos de preparar o futuro. E éessa a nossa grande preocupação: que apessoas venham para Santa Clara e não sesintam defraudadas, tenham uma boa casa,tenham até um bom jardim, mas, depois, nãotenham parques desportivos, não tenhamapoio aos idosos.”

O autarca santaclarense afirma que “San-ta Clara, apesar de estar num bom cami-nho, num processo de evolução, em muitascoisas, ainda não consegue chegar aos cal-canhares de muitas freguesias periféricasque têm mil habitantes. Por exemplo, veja-se agora a questão das sedes. Vejo a Câ-mara gastar muito dinheiro em sedes de fre-guesia que não têm três mil habitantes, quan-do aqui em Santa Clara nós estamos emquase ruptura. Já tivemos de abrir o sótãopara guardar coisas, estamos com uma bi-blioteca, com computadores à disposição dopúblico, atendemos centenas ou milhares depessoas mensalmente. Só em desemprega-dos são mais de 400 visitas que fazem àJunta. Oferecemos uma quantidade de ser-

viços às pessoas que precisávamos de maisespaço. Ora a Junta vive de receitas própri-as, até nos protocolos com a Câmara Muni-cipal de Coimbra estamos em 28.º lugar,quando estamos em 3.º, e estamos muitoperto de atingir o 2.º lugar a nível de popula-ção das freguesias de Coimbra.”

As limitações orçamentais, levam-no aafirmar não compreender “como uma jun-ta, que tem mais problemas, que tem umtrabalho maior do que certos municípios aquià volta e, depois, vemos que só os ordena-dos de certos autarcas de Câmaras, que sãomais pequenas que esta freguesia, são mai-ores ao fim do ano, a vereação e a presi-dência tem mais dinheiro do que a junta parafazer tudo. É isso que não está certo!”.

Questionado sobre a tendência de se vo-tar na pessoa, mais do que no partido naseleições autárquicas, José Simão afirma: “Háessa tendência, mas numa pessoa que pos-sa tirar vantagens, agora se não traz nenhu-ma vantagem, às vezes até tenho algumafrustração. Com esta Junta de Freguesiaonde dois terços do nosso orçamento é dereceitas próprias a coisa ameniza, dilui masse vivêssemos como a maioria das fregue-sias dos apoios do Estado e dos apoios daCâmara se calhar Santa Clara nem podiater presidente. Não fazia aqui nada! E de-pois há outra situação: por exemplo, pas-sam meio milhão de carros por dia em San-ta Clara. O que quer dizer o meio milhão decarros? Muita poluição, lixo, degradação dasestradas.”

A acrescentar a este cenário, José Si-mão concretiza: “Santa Clara é um estalei-ro há 6 anos. É o IC2, todas as obras doFórum. Estas obras são feitas à custa dasestradas que nós temos. Neste momentotemos estas infraestruturas todas depaupe-radas. Camiões de 40, 50 e 60 toneladasem cima de 6 cm de alcatrão, sem protec-ção à canalização, hoje é diário o rebenta-mento de canos das águas, quando antesera raro. Fizeram todas estas obras às cus-tas das estradas feitas pela Junta, atravésdos protocolos de competência com a Câ-mara. Estamos a ser destruídos e depois nãohá ninguém que compense. Posso mostrar

que a Estradas de Portugal tem destruídopatrimónio sem dar cavaco a ninguém. De-pois todos os compromissos que têm con-nosco, não cumprem um!”

E exemplifica: “A estrada que vai dar aosCarvalhais trouxe-me dez vezes mais pro-blemas que benefícios. Não beneficiou emnada Coimbra. Gastou-se ali milhões e mi-lhões e só veio prejudicar todos os morado-res. Hoje não têm transporte público de re-gresso à cidade, não têm acesso às suascasas. Mesmo as empresas, que é uma coi-sa ridícula, há pessoas que para irem paraas empresas da Rua dos Leitões que vêm àJunta procurar como é que lá vão. Muitasvezes os donos das empresas têm de virbuscar os clientes à estrada que andam per-didos. A Junta fez um painel autorizado pelaCâmara de Coimbra com indicação dasempresas para as pessoas não se perderemem terrenos da Câmara Municipal de Co-imbra. A Estradas de Portugal simplesmen-te arrancou à revelia.”

Para reforço desta ideia, diz José Simão“neste momento, o nosso Aqueduto classi-ficado vai ser tapado em mais de 5 metros,quem é que responde por isso? As minas deágua que havia ao fundo do Vale Rosal, mi-nas com campânulas, mães de água, queabasteciam um sistema hídrico fenomenalda Escola Agrícola, pois a Estradas de Por-tugal vieram e acabaram com tudo” Aliás,sobre o vasto património edificado existen-te na freguesia, o olhar crítico de José Si-mão leva-o a afirmar: “Tirando Conventode Santa Clara-a-Velha, tudo o resto estámais ou menos ao abandono.”

Apesar de não haver um programa paraas comemorações deste aniversário, a fre-guesia de Santa Clara prepara-se para re-ceber dois importantes dois eventos: “Esta-mos a preparar uma exposição de galeris-tas no Convento de São Francisco, numaorganização de Santiago Ribeiro, com a co-laboração da Junta de Freguesia de SantaClara e Turismo de Coimbra. Deve ser inau-gurada a 5 de Dezembro e terminará a 21ou 22 do mesmo mês. É uma exposiçãoquase de âmbito internacional.”.

Sendo a cultura uma importante valên-cia, acrescenta que “As instituições deveri-am apoiar os artistas, não é só contribuirpara o catálogo, não é só ceder as instala-ções, mas é adquirindo arte, essa é a parteprincipal porque, veja, eu estou rodeado dearte na Junta de Freguesia. Temos apoiado,comprando. A freguesia de Santa Clara temhoje um belo património artístico, um bomacervo graças a essa nossa atitude.” Dei-xando também a vontade de reforçar esseconceito, dizendo: “Quero que Santa Claraseja uma marca dentro de Coimbra, umamarca cultural, que já está a ser. Nós apoia-mos a cultura. Uma junta não é só alca-trão.”

Sobre a Feira Popular de Inverno, que seirá realizar em Santa Clara, José Simão re-mete-nos para uma conferência de impren-sa que ocorrerá hoje. Iniciativa que é parti-lhada com a Turismo de Coimbra.

José Simão

As queixas e o orgulho de uma freguesia com 154 anos

12 19 DE NOVEMBRO A 2 DE DEZEMBRO DE 2008CRÓNICA

AO CORRER DA PENA...

Maria Pinto*[email protected]

“Por favor, Senhora! Leve estespensos rápidos! É só um euro...”

Não levei os pensos. Também nãodei o euro. Convidei aquele menino deolhos fundos – que olhos tão profun-dos! – a sentar-se para almoçar.

Chamava-se António, segundo medisse, mas lá em casa era conhecidopor Totó. O pai achava-o “apanhado”da cabeça porque lhe encontrara unsrabiscos escritos em papéis soltos.Depois disso, sovara António e alcu-nhara-o de Totó, o que fizera as delí-cias da restante “família”, em especi-al dos irmãos mais pequenos, vivendotodos amontoados, num ambiente mi-serável e degradante, lá para os ladosda Pedrulha.

Olhei para António e fiquei perple-xa com a desenvoltura e com a inteli-gência daquele menino obrigado a serhomem. António de olhar doce. De umolhar imenso. Intenso. De sonho. En-quanto sorvia gulosamente o spaghet-ti à bolonhesa, revelou que o seu gran-de sonho era ser escritor. Mas o pairoubara-lho, obrigando-o a trabalhardesde os seis anos. Tinha agora qua-se dez...

Não me cansava daquele olhar mei-go e inteligente de ver o longe. De verlonge. De querer ir além... estávamosnuma esplanada à beira-rio e Antóniodizia que queria ser levado pela cor-rente para um mundo que tivesse ou-tras cores... onde não fosse... totó.

O correr do rio e António transpor-taram-me para Toto.. . Salvatore .Para a pequena jóia de Cinema Para-íso, em cujas olheiras nos afundamose nos morremos de ternura.

A história deste filme-maravilha éessencialmente o longo flashback deSalvatore di Vitto , conhecido porToto, desenrolando as memórias deinfância e adolescência passadas naSicília pobre e rural do pós-guerra, napequena cidade de Giancaldo, lugaronde todos se conheciam e onde to-dos partilhavam a atracção pelo ve-lho Cinema Paraíso.

Toto vive num lar atormentado pelapouca abastança e pelo sofrimento desua mãe, eterna Penélope, esperandodesesperadamente pelo marido que nun-ca chegará a regressar. É no cinemaque o pequeno Salvatore se conseguealhear dos problemas da sua vida.

Cinema Paraíso é um filme invul-gar, pois consegue evitar o tradicionalestereotipo do binómio homem-mulherpara narrar com mestria um drama

Em busca da nossaGiancaldo perdida...

sentimental e romântico. Fala funda-mentalmente de dois grandes amores:o amor entre um mestre e o seuaprendiz e o amor de toda a vida deum homem pelo cinema. A relaçãocentral entre o projeccionista-filósofoAlfredo (um talentoso Philippe Noi-ret) sem filhos e o menino sem paiToto/Salvatore não se confina a ummero formalismo de interesse mútuo.Ao invés, vai mais longe ao tocar em

pontos sensíveis de uma amizade quetransborda de cumplicidade, brincadei-ra e... amor. Semelhante ao envolvi-mento indizível e terno que existe en-tre pai e filho.

E onde está a mãe de Toto, paraalém do sofrimento? No outro amor,o amor pelo cinema, que se traduz notributo caloroso de Tornatore pelosmitos sagrados e os géneros clássi-cos de Hollywood, nomeadamenteJohn Wayne e os westerns, ClarkGable e os épicos e Charlie Chap-lin e os cómicos. Oferecendo ainda,de bandeja, o encanto desfocado apreto e branco dos filmes antigos deRenoir, Visconti, Lang, Stroheim ouFord e a beleza etérea de ícones docinema como Silvana Mangano adançar o mambo ou a jovem BrigitteBardot ousadamente despida. O olharfascinado de admiração e espanto dopequeno Toto descobre e revela emCinema Paraíso essa magia estranhae única da imagem e som projectadosno grande écran da sala escura.

Tudo acontece quando se olha agrande tela. O cinema é fonte de vida.E naqueles tempos difíceis, a sala decinema era o espaço onde as pessoaspodiam sonhar e, por breves momen-tos, ser felizes. O Cinema Paraísotransforma-se em local de convívio

(bebe-se vinho, fumam-se cigarros,dá-se de mamar!) e de reunião (e deculto!) da comunidade local, com assuas personagens caricatas ou pito-rescas, loucas ou excêntricas, a lem-brar Fellini.

Este filme retrata também o amor doadolescer. A descoberta do amor. A che-gada de Elena. “Simpática, magra, ca-belo comprido castanho, olhos grandes,azuis... um olhar franco e directo...e um

pequeno sinal no lábio. Muito pequeno,só se vê de perto. Quando sorri, faz-mesentir... não sei”...

É impossível ficarmos indiferentesno momento em que Salvatore-apai-xonado, durante cem noites à chuva eao relento, espera um breve sinal dajanela de Elena. “Todas as noites de-pois do trabalho passarei debaixo datua janela. Quando gostares de mim,abre-a. Só isso e eu perceberei”... Ajanela não se abriu, mas Salvatore eElena amaram-se... e separaram-se...

A relação sábia e profunda entreAlfredo e o jovem Toto e a partidadeste da terra natal para Roma –“cada um tem de seguir a sua estrela!Agora que perdi a vista, vejo melhor.Vejo tudo o que antes não via...vai-teembora, Salvatore! És jovem! Nãoquero mais ouvir-te falar. Quero ou-vir outros falarem de ti!” – , bem comoa decadência e morte do Cinema Pa-raíso, tornam-se metáforas da própriavida. É a passagem voraz do tempo, aimplacável ordem natural das coisasque sensibiliza até às lágrimas o es-pectador comum.

Passam-se trinta anos. Salvatorede Vitto é um realizador de sucessoem Roma. Numa noite, recebe a notí-

cia da morte do seu amigo Alfredo.Nesse momento relembra tudo o quepensava estar esquecido. A infânciaassombrada pelo pós-guerra e a ima-gem de um pai nunca regressado. Aadolescência. Elena. Alfredo. O gran-de amigo da vida do palco... e do pal-co da vida.

O regresso a Giancaldo. Às ori-gens. Aos objectos seus. O regressoa si próprio. Aos amigos embranque-cidos pela voragem do tempo. À re-cordação do Cinema Paraíso, agoraem ruínas, devorado pela televisão epelo vídeo. Elena. O encontro fugaz– “em todas as mulheres que conheciera a ti que procurava”...

Antes de morrer, Alfredo deixa umpresente a Toto. Uma fita. Salvatorevê-a quando regressa a Roma. É en-tão que se emociona e nos emocionaquando se apercebe que aquela fitatinha sido o seu sonho de infância: asequência de beijos cortada pelo pa-dre-censor (que não gostava de ce-nas carnais, mas adorava cinema!).No fundo, os beijos mais famosos docinema, majestosamente montadosnuma sequência verdadeiramenteemocionante e inesquecível.

O que me toca e perturba em Cine-ma Paraíso tem a ver com a eternademanda das nossas mais profundasraízes e com a laboriosa procura deuma identidade própria. Um processoem constante mutação mas sempreinacabado, que nos faz mergulhar nosmais íntimos recantos da naturezahumana. É por isso que, às vezes, nosilêncio da noite, me viro para o outrolado na cama e sinto uma súbita e ir-reprimível lágrima deslizar melancoli-camente pela almofada, quando mevem à memória o pequeno Toto so-nhador que fui, a velha Giancaldo quedeixei e a doce inocência que definiti-vamente perdi.

Durante o almoço, contei a históriade Toto Salvatore a Totó António. Nofinal, este menino que não esqueço dis-se apenas “obrigado pelo bocadinhode vida bela” e eu respondi “vais serescritor, António”.

Em casa, dias mais tarde, vi umasequência de imagens enviada por umamigo. Fixei-me naquela que mostra-va um rosto de criança. Maravilhoso.Tal Toto Salvatore. Tal António. Quisescrever. Quis muito escrever. Sintoque fiz tão pouco... que irá ser de ti,António?...

* Docente do ensino superior

1319 DE NOVEMBRO A 2 DE DEZEMBRO DE 2008 OPINIÃO

Renato Ávila

POIS...POIS...POIS...POIS...POIS...

Joséd’Encarnação

João PauloSimões

FILATELICAMENTE

Quando os ovos voam

1935 - 1ª ExposiçãoFilatélica Portuguesa

A Organização da 1ª Exposição Fi-latélica Portuguesa pediu aos CTT quelançasse uma emissão comemorativada efeméride. A ideia era apresentartrês selos desta emissão, mas não hou-ve tempo para tanto. Então, optou-sepor um só selo, com legenda desenha-da por Almada Negreiros e gravurade Arnaldo Fragoso.

Foi feita a reprodução do selo de 5reis de D. Maria II, com a efígie daMonarca em relevo (o primeiro seloportuguês deste tipo). Utilizou-se paraisso o cunho existente na Casa daMoeda, de onde saíram folhas de 100selos denteados 11,5 sobre papel lisoespesso. Foram emitidos 9.972.000selos de 40 centavos, vermelho. Cir-cularam de 1 de Junho de 1935 a 30de Setembro de 1945.

BREVE HISTÓRA

A 1ª Exposição Filatélica Portugue-sa foi uma iniciativa de um notável co-leccionador e comerciante, Luís de SáNogueira, que constituiu uma comis-são para levar a cabo esta exposição– a primeira realizada em Portugal.Presidida pelo Conde de Folgosa ecomposta por individualidades de des-taque no meio filatélico, a ComissãoOrganizadora obteve o patrocínio daComissão das Festas da Cidade deLisboa, que incluiu a “Exposição” noprograma dos festejos de Junho des-se ano. Em 1 de Junho foi solenemen-te inaugurada pelo Presidente da Re-pública General Carmona, nos salõesda Câmara Municipal de Lisboa, ondese manteve aberta até ao dia 15 domesmo mês.

(Esta breve história foi baseada emLivros electrónicos de Carlos Kull-berg, Álbum II)

Reprodução (muito aumentadae a preto e branco, já que a cororiginal é o vermelho),do primeiro selo em relevoemitido em Portugal,comemorativo da I ExposiçãoFilatélica Portuguesa

Português é assim mesmo.Como o brasileiro que “criámos”.Sabe sempre dar a volta porcima!

Não dá o Governo verbas paracontratar docentes em substitui-ção dos muitos que optaram pelaaposentação ou mesmo dos quese jubilaram? Que problema hánisso? Nenhum! Não há por i tan-ta gente desejosa de ser docenteuniversitário e que até paga porisso? Vamos nessa: contratamosa custo zero! Você quer? Com-preende: ganha currículo e sem-pre tem a possibilidade de invo-car a qualidade de “professor uni-versitário”, está a ver?

Está a escola pública a braços com umadas suas piores crises.

O que se passou nestes dias em Fafe eem Chelas é bem a imagem duma perigosadeterioração de comportamentos e atitudesque, com inusitada virulência, está a avas-salar a instituição.

À escola convergem a grande maioriados problemas sociais. A fragilização doslaços familiares, a incultura cívica, as ca-rências físicas, afectivas e intelectuais, apobreza, a violência doméstica e da rua, asquestões de saúde, o abandono… tudo vemali desaguar como os afluentes num rio.

Durante décadas e décadas foram osprofessores quem procurou responder.Criou-se uma mística única que foi moldan-do o carácter e a postura docente.

Não chegava ensinar. Era preciso am-parar. Amar, se possível.

Os problemas hoje são bem mais com-plicados, mercê da vertiginosa mutação devalores e dos novos desafios com os quaisse defronta a sociedade e, mais restritamen-te, a família.

O hedonismo egoísta que caracteriza acivilização hodierna, a subalternização doesforço, da disciplina e da autoridade colo-cam à educação novos e sérios desafios paraos quais encontra sérias dificuldades em cor-responder com acerto e eficácia.

Há uma angústia latente no ânimo dos

professores que ainda não foi minimamen-te compreendida.

É por isso que, quando os governantesvêem a escola apenas pelos prismas daeconomia e da administração e, perante aopinião pública, tecem sobre aqueles depre-ciativas considerações à luz duma gestãonumérica e geometricamente configurada,sabe a injustiça. A malfeitoria.

Os professores sempre foram avaliados.Pela hierarquia e, muito especialmente, pe-las comunidades. Era uma avaliação deproximidade, de continuidade. Humaniza-da. Minimamente vertida em números e mui-

to mais em afectos.Temos de reconhecer que os tempos que

se seguiram à revolução dos cravos trouxe-ram à escola a riqueza da abertura, do diá-logo, de novas janelas para o mundo.

Fruto de um sentimento revolucionáriojamais contido nos devidos limites por umpoder político quase sempre frágil e volátil,também trouxeram a minimização do saber,o facilitismo nas aprendizagens e aquisiçõese uma cultura avaliativa muito pouco rigo-rosa e exigente.

Os ensaios levados a cabo no âmbitoduma peregrina teoria de pedagogia por

objectivos desaguaram em complicadosexercícios de árida micro-avaliação, de utó-pico rigor e discutível objectividade.

O professor será, de facto, um técnicoque utiliza instrumentos, técnicas e recursose cujo produto poderá traduzir-se em efei-tos, nem sempre calculáveis. Porém, maisque técnico, ele é educador e, no mundodos afectos, os dados não são mensuráveis,mas constatáveis.

Está a subalternizar-se, estulta e perigo-samente, essa faceta do professor.

Tal como querem fazer funcionar as nos-sas escolas, qualquer docente muito dificil-mente terá hipóteses de ser educador.

Os cento e vinte mil que estiveram emLisboa quiseram dizer isso mesmo. Não osentenderam.

E, enquanto teimarem em que um do-cente é tão somente um funcionário públi-co, como todos os outros obrigado a preen-cher papeis, a fazer trinta e cinco horas deescola, nomeadamente a dar aulas e a ta-par furos, os ovos continuarão a voar sobreas iluminadas cabeças da Senhora Ministrae seus competentíssimos acólitos.

É que os professores não são polícias paraguardar meninos mas educadores para for-mar cidadãos.

E é isso que o Governo não consegueentender.

Construir escolas e distribuir computado-res, não chega. É preciso educar.

Urge formar. Apoiar. Respeitar. Dig-nificar.

Os professores.

14 19 DE NOVEMBRO A 2 DE DEZEMBRO DE 2008SAÚDE

MassanoCardoso

“Número de Dunbar”...

O maior dador de sangue aos Hos-pitais da Universidade de Coimbra, naregião Centro é homenageado depoisde amanhã (sexta-feira), recebendouma medalha do Ministério da Saúdenuma cerimónia que é também “umagradecimento” aos 25 mil dadoresregionais.

“Queremos agradecer-lhe por sero dador com mais dádivas na regiãoCentro. É também um agradecimentodos HUC aos nossos 25 mil dadores,dizendo que são todos importantes”,referiu à agência Lusa a directora doServiço de Imunohemoterapia dos

SEXTA-FEIRA, NOS HOSPITAIS DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA

Homenagem ao maior dador de sangueda Região Centro

Hospitais da Universidade de Coim-bra (HUC), Paula Seiça Neto.

Segundo a médica, a distinção vaiser entregue, sexta-feira de manhã, aocidadão José Paula, que já fez 84 dá-divas de sangue a este hospital.

Registado desde 1984 no arquivo dedadores dos HUC, o dador que agoravai ser homenageado tem 51 anos.

De acordo com a directora do Ser-viço de Imunohemoterapia, o actoconstitui também “um reconhecimen-to a todos os cidadãos que são dado-res anónimos e que salvam vidas to-dos os dias”.

“Temos uma grande adesão dos jo-vens e de toda a cidade”, disse aindaPaula Seiça Neto.

Segundo a responsável, esta ade-são faz com que não se verifiquemproblemas nem rupturas nos “stocks”de sangue dos HUC.

A médica disse anda que os HUCgastam uma média anual de 34 milcomponentes de sangue e que, esteano, se prevê o uso de 36 mil.

“As terapêuticas diferenciadas e alongevidade da população contribuempara o aumento dos gastos de sangue”,adiantou.

A iniciativa do sector de Promoçãoda Dádiva de Sangue do Serviço deImunohemoterapia está marcada paraas 09h30 nos HUC.

“O sangue é um elemento insubsti-tuível, que não se pode fabricar. Dia-riamente muitos doentes necessitamde uma transfusão de sangue para re-solver os seus problemas de saúde,nomeadamente quando se está em ris-co de vida. Dar sangue é um proces-so seguro e indolor”, lê-se na páginana Internet do departamento.

Uma realidade que muitos desconhe-cem, um apelo que merece resposta.

Certas notícias provocam-me umacerto desconforto ao ponto de ficar aruminar dias a fio sem saber como melibertar.

Badaró morreu. Ao ler o relato do fu-neral fiquei a saber que o mesmo “con-

tou com a presença do único filho, deamigos e vizinhos e de só quatro artistas,incrédulos com a falta de solidariedadeda classe”.

O humorista já tinha entrado naquelaidade em que se começa a morrer commais frequência e há muito que devia ter-se libertado da ideia de “imortalidade”

própria das crianças e dos jovens. Tam-bém já devia ter-se esquecido da faseda “intermitência da morte”, quando osavós ou os pais vão desaparecendo. Naúltima fase, a morte começa a ser nor-mal na vida de cadaum. O ponto de vira-gem, que caracterizaesta fase, correspondeao momento em quetodos os anos se espe-ra que morra um fami-liar, um amigo ou pes-soa do nosso círculosocial da mesma idade.Qualquer morte, nesteperíodo, pode provocarum choque terrível einesperado, mas nãopode ser consideradacomo uma surpresa.

Chegou o momento.Qualquer um deve ter,pelo menos, uma cen-tena de pessoas per-tencentes ao círculosocial e familiar as quais “são” convida-das para o funeral! Cem pessoas? Masa capela mortuária não leva tanta gente!Não há problema! Em média metadeestará demasiado ocupada para assistir

à cerimónia. A frase de Max Beerbohm,humorista e caricaturista inglês, na suanovela, Zuleika Dobson, “A morte can-cela todos os compromissos”, faz-mesorrir, porque depende de quem morre,

como é óbvio.Mas poderão questionar: como se che-

ga aos tais putativos cem acompanhan-tes de um funeral? O cálculo não é meu,foi feito por Michael Kinsley, num beloensaio publicado no The New Yorker. Ojornalista norte-americano utilizou o “Nú-mero de Dunbar” e aplicou-lhe dois ter-ços. O “Número de Dunbar” é, segundoo antropólogo do mesmo nome, a quanti-dade de indivíduos com os quais uma pes-soa pode manter uma relação estável. Ocientista teoriza que este número depen-de do tamanho do neocórtex cerebral,que começou a desenvolver-se há 250mil anos. Tudo aponta para que os gru-

pos com um tamanho de 150 pessoas sãoideais para construir tribos. Para que osseus elementos se mantivessem juntosteriam de ter fortes incentivos. De fac-to, despendiam cerca de quarenta por

cento do tempo na so-cialização, o que per-mitia manter o grupocoeso. Aqui está uminteressante fruto quedepende do tamanhodo neocórtex, ima-gem de marca da es-pécie humana. Osdois terços de “con-vidados” para um fu-neral, calculados porKinsley, a partir do“Número de Dun-bar”, correspondemaos que têm umaidade idêntica à domorto.

Poderão argumen-tar que, no caso do

Badaró, o círculo já não seria de 150 e onúmero de “convidados” para o funeral,com a mesma idade que o humorista, nãoatingiria a centena. Hum! Talvez! Masmesmo assim, aos 75 anos, os cálculosmatemáticos apontam para a existênciade cerca de quarenta por cento dos“cem” originais. Apareceram pouco maisde quatro!

As leituras referidas permitiram-melibertar-me do incómodo que relatei noinício desta crónica. Afinal, devemos es-tar perante um problema de “involução”do neocórtex num determinado círculo.Claro! Sem um bom neocórtex não hásolidariedade possível...

Morte de Badaró ignoradapelos seus colegas

1519 DE NOVEMBRO A 2 DE DEZEMBRO DE 2008 IDEIAS DIGITAIS

IDEIAS DIGITAIS

Inês AmaralDocente do Instituto Superior Miguel Torga

THE BOBS 2008

FUNDAÇÃO BATALHA ALJUBARROTA

IDADE NOUTRO PLANETA

TV ENERGIA

CARNE PARA CANHÃO

BOOK COVERS

Decorre até 26 de Novembro a votação para aedição deste ano dos The BOBs, o prémio criadopela empresa de rádio e televisão alemã DeutscheWelle para distinguir os melhores blogs à escalamundial. O “Bibliotecário de Babel”, de José MárioSilva, é o representante português na categoria lín-gua portuguesa.

O júri teve de fazer uma selecção a partir de maisde 8500 candidaturas. Ao todo foram selecciona-dos 176 finalistas. A concurso vão blogs, videoblo-gs e podcasts. Mesmo que não seja para votar, valea pena consultar a lista dos finalistas.

THE BOBS 2008

endereço: http://www.thebobs.comcategoria: weblogs

Saber mais sobre a Batalha de Aljubarrota é omote do site da fundação homónima. Há informa-ção interessante disponível e um vídeo que recria omomento da histórica batalha que permitiu mantera independência nacional.

Estão ainda disponíveis uma galeria de imagens,uma interessante área de Multimédia e um jogo dexadrez alusivo à temática. Um site simples mas bem

estruturado, indispensável para miúdos e graúdos.

FUNDAÇÃO BATALHADE ALJUBARROTA

endereço: http://www.fundacao-aljubarrota.ptcategoria: História

A utilização sustentável da energia é uma das maisimportantes tarefas do Homem, com vista ao futuro.A TV Energia é uma proposta para promover esteuso, através da criação de um canal de televisão naweb que se dirige aos consumidores finais (domésti-cos ou empresariais) de energia eléctrica.

A iniciativa é do IDMEC (Instituto de Investiga-ção em Engenharia Mecânica ligado ao Instituto Su-perior Técnico, de Lisboa, e à Faculdade de Enge-nharia da Universidade do Porto) e centra-se numatripla grelha de programação: Cinema ao ar livre (cur-tas-metragens, documentários ou filmes promocio-nais sobre a temática); Eventos energia (agenda re-lacionada com o tema); iNova energia (informaçãojornalística sobre a temática).

TV ENERGIA

endereço: http://www.toolstochange.net/tvenergiacategoria: ambiente

Que idade tem noutro planeta? Não sabe? Entãoo Núcleo Minerva, da Universidade de Évora, diz-lhe. Basta que consulte a página e preencha a suadata de nascimento.

Em segundos fica a saber que idade tem noutroplaneta e em que dia comemora o seu aniversário.Em Plutão, Néptuno e Úrano somos muito novos,em Mercúrio quadriplica e em Vénus quase dupli-ca. A utilidade não é nenhuma, mas é uma interes-sante curiosidade.

IDADE NOUTRO PLANETA

endereço:http://www.minerva.uevora.pt/ticiencia/es-trelas/idade_noutros_planetascategoria: curiosidades

O que é? «Um projecto de desenvolvimento de con-teúdos audiovisuais para os novos meios de difusão,com a sua génese no Mestrado em Comunicação Mul-timédia da Universidade de Aveiro». Está no Sapo e é«uma série de ficção que não passa na televisão». Masnão é por isso que este projecto é inovador...

Carne para Canhão é sinónimo de inovação nacio-nal porque «a primeira série audiovisual projectada paraa Web totalmente filmada em estúdio com cenários vir-tuais e uma estética bastante estilizada». Se não bastaesta informação para aguçar a curiosidade, sublinhe-seque a acção se centra nas aventuras de um jovem de-tective que tenta deslindar um estranho desaparecimen-to e acaba por se envolver nas teias do tráfico de baca-lhau.

CARNE PARA CANHÃO

endereço: http://videos.sapo.pt/carnepcanhaocategoria: vídeo

A criatividade da capa de um livro não significa, ne-cessariamente, que o conteúdo equivale ao design. Masnão deixa de ser um importante aspecto quando pega-mos num livro perdido, algures, na estante de uma li-vraria.

A última sugestão das Ideias Digitais desta semanaé o BookCovers, um site que se centra na estéticacriativa das capas de livros. O site é da Fwis, umaempresa de design norte-americana, e permite que osutilizadores submetam capas interessantes. Até aomomento estão disponíveis pouco mais de 200, numespaço que reúne autênticas obras de arte.

BOOK COVERS

endereço: http://covers.fwis.comcategoria: criatividade

16 19 DE NOVEMBRO A 2 DE DEZEMBRO DE 2008TELEVISÃO

PÚBLICA FRACÇÃO

Francisco [email protected]

Façaumaassinaturado“Centro”e ganhevaliosaobrade arteAPENAS20 euros POR ANO- LEIA NA PÁG. 3

Esta é a reprodução da valiosa obra originalde Zé Penicheiro, alusiva aos 6 distritos da RegiãoCentro (Aveiro, Castelo Branco, Coimbra, Guarda,Leiria e Viseu) que receberá, gratuitamente,quando fizer a assinatura do jornal CENTRO

Emídio Rangel está a trabalhar para aZon de forma a tentar conquistar o 5º canal.A notícia está confirmada pela própria em-presa. Recorde-se que por trás de tudo estáa Cofina e a Controlinveste.

Rangel, que todos sabemos conseguiu um“case-study” com a rápida ascensão da SICao topo das audiências nos anos 90 (casoúnico na Europa quando a concorrência eraum canal do Estado), foi também o respon-sável pela sua queda.

Embora já tivesse sido o responsável pelaintrodução na programação televisiva naci-onal de programas inclassificáveis – taiscomo “All you need is love”, “Perdoa-me”ou “Não se esqueça da escova de dentes”– a verdade é que recusou o célebre “BigBrother”. Porque achou que era de mais?Porque o programa era caro? Não sei. Nemsei se ele alguma vez o disse, ou se o disse,se contou a verdade.

A verdade é que José Eduardo Moniz(muito deve o povo português a este ho-mem!…) apanhou o BB e a TVI saltou paraa frente das corridinhas televisivas para nun-ca mais de lá sair.

Emídio Rangel lançou-se então numavertiginosa fúria para conseguir algo aindamais rasca do que o Big Brother. E veio o

Bar da TV e todos os abusos que a ele fica-ram associados (lembram-se da miúda alen-tejana?). Já em queda livre, Balsemão des-pachou-o, mas Rangel encontrou rapidamen-te casa: a RTP.

E é esta a maior perplexidade que se sentequando nos lembramos da carreira de Ran-gel. Foi com ele que a RTP enveredou porcaminhos tão baixos que se podiam compa-rar aos das estações privadas. “Gregos eTroianos” (antepassado de Prós e Contras),com Júlia Pinheiro (levada por Rangel paraa RTP) aos guinchos no meio de um palcoonde supostamente devia estar a decorrerum debate, é apenas uma triste memória.

Foi ainda Rangel que introduziu no tele-jornal de domingo a presença de Sócrates eSantana Lopes que ele considerava as mai-ores esperanças políticas para o futuro doPaís. Na realidade foi ele que lhes deu visi-bilidade e, a esta distância, é forçoso con-cordar com Rangel: estava ali o futuro polí-tico do País. Não propriamente a esperan-ça, mas dois dos futuros primeiros-ministrosde Portugal.

Entretanto Guterres cansou-se, bateucom a porta e fomos a votos. O PS saiu eentrou o PSD coligado com o PP. Rangelfoi afastado da RTP. Percorreu a sua tra-vessia do deserto, durante a qual defrontougraves problemas de saúde, tendo regres-sado sem que quase ninguém tivesse dadopor ele. Refiro-me à “remodelação” da TSF,a rádio de que ele fora o principal criador,mas da qual se afastara desde 1992 quandopartiu para a direcção da SIC. Fê-lo na som-bra, traindo muitos dos que com ele estive-ram nessa caminhada fantástica para além

da criação da TSF e que possibilitou a con-solidação do melhor projecto radiofónicoprivado desde a liberalização das ondas.

Para director da TSF empurrou José Fra-goso, desde há muito um religioso seguidorde Rangel (se falarem com Fragoso ao te-lefone dificilmente o distinguem de Rangel!),

que da SIC também tinha seguido para aRTP com o seu “guru”. O curioso é queesta “remodelação” da TSF, feita ao longode 2003, acabou por desaguar mais tardena aquisição daquela estação de rádio pelaControlinveste que, neste momento, é umadas interessadas a pedir de novo os bonsserviços de Rangel para atingir o prometido5º canal.

O trabalho terá que ser rápido. O limite éo dia 21 de Janeiro. Embora os estudos indi-quem que a publicidade em televisão cres-

ceu apenas 5,5 % nos últimos oito anos (!),há ainda quem acredite que será possívelencontrar mercado.

Aliás, o surgimento deste 5º canal em anode eleições é, no mínimo, estranho. Não sónão parece haver investimento publicitáriosuficiente, como o próprio meio “televisão”está a perder espectadores na faixa etáriaque lhe podia garantir o futuro, isto é, aque-les que estão hoje entre os 4 e os 24 anos.

Como o País não cresce (não se esque-çam que a economia estagnou), e a criseinternacional não deixa antever nada deentusiasmante, como irá sobreviver este 5ºcanal?

Emídio Rangel terá que encontrar ummodelo que possa ser alternativo aos mo-delos consolidados da televisão de distribui-ção hertziana. Nos primórdios da TSF, e atéda SIC, ele encontrou a medida exacta parao êxito. Neste momento não sei qual é oRangel que está em funções. O criativo, oagregador de esforços, vontades e talentosmediáticos, referência obrigatória na Histó-ria da Comunicação Social em Portugal, ouo homem político que foi (é?) próximo deSócrates, não está de novo na direcção daRTP por manifesta impossibilidade conjun-tural (mas está lá o seu prolongamento –Fragoso), que proporcionou negócios entregrandes grupos de media, ou ainda aqueleque escreve artigos de opinião inflamados(no Correio da Manhã – Cofina) contra osprofessores, chamando-lhes “de véspera”hooligans?

Para bem do público e até do País, erabom que estivesse de regresso o Rangel dofinal da década de 80 do século passado.Estará já longe demais?

“100 obras de Arte de Coimbra”

“100 Obras de Arte de Coimbra” é o título da obra da autoria do Prof. PedroDias, que vai ser lançada amanhã (dia 20), pelas 19,30 horas, no Salão Nobreda Câmara Municipal de Coimbra. Trata-se de uma edição da FundaçãoBissaya-Barreto no âmbito do programa comemorativo dos seus 50 anos