o centro - n.º 63 – 03.12.2008

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DIRECTOR JORGE CASTILHO | Taxa Paga | Devesas – 4400 V. N. Gaia | Autorizado a circular em invólucro de plástico fechado (DE53742006MPC) ANO III N.º 63 (II série) 3 a 16 de Dezembro de 2008 1 euro (iva incluído) Telef.: 309 801 277 Rua da Sofia, 95 - 3.º - 3000-390 COIMBRA Indignação já começou a extravasar dos quartéis MILITARES PÁG. 11 BISSAYA-BARRETO ANIMAL PÁG. 4 e 5 PÁG. 2 Adopte um amigo no Canil Municipal Fundação com 50 anos tem honrado o Patrono PÁG. 14 FUTURO DE COIMBRA Júdice defende novas estratégias PÁG. 12 e 13 Campeão de Coimbra só soube pelos jornais!... JOVEM MÉDICO E PRATICANTE DE TÉNIS DE MESA CONSIDERADO” “PERSONALIDADE DO ANO” PÁG. 3 NO RENOVADO CAMPO DE JOGOS DE SANTA CRUZ (COIMBRA) Sapos-parteiros vencem o mais importante dos desafios Um exemplar de sapo-parteiro, assim chamado porque o macho (como se vê na imagem) carrega os ovos sobre as costas São uma espécie em vias de extinção. Uma colónia vive há décadas no Campo de Santa Cruz (Coimbra), onde a boa vontade de muitas pessoas se conjugou para que sobrevivessem durante e após as profundas obras que ali decorreram

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Versão integral da edição n.º 63 do quinzenário “O Centro”, que se publica em Coimbra. Director: Jorge Castilho. 03.12.2008. Visite-nos em www.ismt.pt, www.youtube.com/youtorga, http://torgaemsms.blogspot.com, http://diarioxii.blogspot.com, http://torgaemsms2.blogspot.com, http://mapastorga.blogspot.com/ ~~~~~~~~~ Site oficial de Dinis Manuel Alves: www.mediatico.com.pt Encontre-nos no twitter (www.witter.com/dmpa) e no facebook (www.facebook.com/dinis.alves). Outros sítios de DMA: www.youtube.com/mediapolisxxi, www.youtube.com/fotographarte, www.youtube.com/tiremmedestefilme, www.youtube.com/camarafixa, http://videos.sapo.pt/lapisazul/playview/2, http://videos.sapo.pt/lapisazul/playview/3 e em www.mogulus.com/otalcanal Ainda: www.mediatico.com.pt/diasdecoimbra/ , www.mediatico.com.pt/redor/ , www.mediatico.com.pt/fe/ , www.mediatico.com.pt/fitas/ , www.mediatico.com.pt/redor2/, www.mediatico.com.pt/foto/yr2.htm, www.mediatico.com.pt/manchete/index.htm , www.mediatico.com.pt/nimas/ www.mediatico.com.pt/foto/index.htm , www.mediatico.com.pt/luanda/, www.slideshare.net/dmpa , www.panoramio.com/user/765637

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Page 1: O Centro - n.º 63 – 03.12.2008

DIRECTOR JORGE CASTILHO

| Taxa Paga | Devesas – 4400 V. N. Gaia |Autorizado a circular em invólucrode plástico fechado (DE53742006MPC)

ANO III N.º 63 (II série) 3 a 16 de Dezembro de 2008 � 1 euro (iva incluído)

Telef.: 309 801 277Rua da Sofia, 95 - 3.º - 3000-390 COIMBRA

Indignaçãojá começoua extravasardos quartéis

MILITARES

PÁG. 11

BISSAYA-BARRETO ANIMAL

PÁG. 4 e 5PÁG. 2

Adopteum amigono CanilMunicipal

Fundaçãocom 50 anostem honradoo Patrono

PÁG. 14

FUTURO DE COIMBRA

Júdicedefendenovasestratégias

PÁG. 12 e 13

Campeão de Coimbrasó soube pelos jornais!...

JOVEM MÉDICOE PRATICANTE DE TÉNIS DE MESACONSIDERADO”“PERSONALIDADE DO ANO” PÁG. 3

NO RENOVADO CAMPO DE JOGOS DE SANTA CRUZ (COIMBRA)

Sapos-parteirosvencemo maisimportantedos desafios

Um exemplar de sapo-parteiro, assim chamado porque o macho(como se vê na imagem) carrega os ovos sobre as costas

São uma espécie em vias de extinção. Uma colónia vive hádécadas no Campo de Santa Cruz (Coimbra), onde a boavontade de muitas pessoas se conjugou para que sobrevivessemdurante e após as profundas obras que ali decorreram

Page 2: O Centro - n.º 63 – 03.12.2008

2 3 A 16 DE DEZEMBRO DE 2008NACIONAL

Director: Jorge Castilho(Carteira Profissional n.º 99)

Propriedade: AudimprensaNIF: 501 863 109

Sócios: Jorge Castilho e Irene Castilho

ISSN: 1647-0540

Inscrito na DGCS sob o n.º 120 930

Composição e montagem: AudimprensaRua da Sofia, 95, 2.º e 3.º - 3000-390 Coimbra

Telefone: 309 801 277 - Fax: 309 819 913

e-mail: [email protected]

Impressão: CIC - CORAZEOliveira de Azeméis

Depósito legal n.º 250930/06

Tiragem: 10.000 exemplares

O Claustro da Manga, a Capela do Sa-cramento da Sé Velha e a Biblioteca Jo-anina são algumas das mais importantesobras de arte da cidade, na opinião dePedro Dias, autor do livro “100 Obrasde Arte de Coimbra”.

O luxuosos livro foi apresentado emsessão realizada no Salão Nobre da Câ-mara Municipal de Coimbra, com a pre-sença de diversas entidades, entre asquais a Presidente da Fundação BissayaBarreto, Patrícia Viegas Nascimento, querecordou ter sido aquela obra uma von-tade se seu marido, Nuno Viegas Nasci-mento (falecido no passado mês de Ju-lho), que entendeu ser essa uma formade legar à cidade uma obra de elevadaqualidade, ao mesmo tempo que enrique-cia o programa comemorativo dos 50anos da Fundação Bissaya Barreto eprestava homenagem ao seu patrono,atendendo a que Bissaya Barreto tinharara sensibilidade artística e reuniu umconjunto muito valioso de obras de arte.

O Prsidente da Câmara Municipal,Carlos Encarnação, congratulou-se coma qualidade da obra e felicitou a Funda-

O primeiro-ministro José Sócratesafirmou em Coimbra, na passada sema-na (dia 26) que a obra social desenvolvi-da pela Fundação Bissaya Barreto(FBB) nos últimos 50 anos tem a marcado “amor aos outros e à Pátria” do seupatrono.

“Essa obra, que não tem parado decrescer e se expandir nos últimos anos,releva do espírito do seu fundador”, re-

SUBLINHOU JOSÉ SÓCRATES EM COIMBRA

Fundação Bissaya Barreto reflecteamor à Pátria do fundador

feriu José Sócrates, ao intervir na ses-são de encerramento das comemoraçõesdo 50º aniversário da Fundação BissayaBarreto.

O primeiro-ministro salientou que aobra de “amor aos outros” do professorde Medicina Bissaya Barreto, falecidoem 1974, reflectia o que pensava sobrea sociedade do seu tempo: “não pode-mos ser felizes com tanta gente infeliz à

nossa volta”.José Sócrates sublinhou que a acção

social de Bissaya Barreto, natural daCastanheira de Pera, que foi maçon edeputado da Assembleia Constituinte de1911, tornando-se mais tarde amigo doditador Salazar, evidenciou o seu “amorà educação e ao conhecimento”, além dasaúde.

“Isto não se faz sem amor à Pátria”,acentuou, questionando por que razãoessa dedicação à Pátria tem estado afas-tada dos discursos políticos em geral.

Considerando que a actividade socialda FBB merece uma “justa homenagemnacional”, José Sócrates fez votos paraque “os próximos 50 anos estejam à altu-ra dos 50 que passaram”.

A presidente da Fundação, PatríciaViegas Nascimento, anunciou que a ins-tituição decidiu criar o Prémio Nuno Vi-egas Nascimento (seu marido e Presi-dente do Conselho de Administração daFundação durante mais de duas décadas,até ao seu prematuro falecimento, vítima

de doença prolongada, no passado mêsde Julho).

“Será um prémio a atribuir anualmen-te e que visa distinguir o mérito daquelesque nas diferentes áreas de actuação daFundação Bissaya Barreto – educação,cultura saúde e solidariedade - se distin-gam pela excelência”, disse.

Interveio também na sessão o antigopresidente da Assembleia da República,António Almeida Santos, na qualidade dePresidente do Grande Conselho da FBB,que teve palavras de rasgado elogio paraa obra da Fundação, para Nuno ViegasNascimento e para a forma como Patrí-cia Viegas Nascimento tem sabido con-tinuar a sua obra.

A cerimónia de encerramento das co-memorações dos 50 anos da instituição,que decorreu no auditório do Campus doConhecimento e da Cidadania, incluiu aapresentação da fotobiografia “BissayaBarreto - Um Homem de Causas” e aabertura de uma exposição alusiva à efe-méride.

LIVRO DE PEDRO DIAS REÚNEMELHORES OBRAS DE ARTE DE COIMBRA

ção, tendo palavras de homenagem parao falecido Presidente Viegas Nascimen-to, e de elogio para a forma como os des-tinos da Fundação continuam a ser diri-gidos pela actual Presidente.

Quanto a Predo Dias, eespecialista emHistória de Arte, destaca “a modernida-de, do ponto de vista estético”, tendo emconta a época, e a “grande carga simbó-lica e erudita” que os três monumentoscitados no início apresentam.

O livro, de 300 páginas, é uma “apre-ciação pessoal” das “extraordináriasobras” que a cidade possui, disse.

“Coimbra é uma cidade, ao contráriodo que muita gente diz, com uma produ-ção artística extraordinária, particular-mente ao nível da arquitectura. É umareferência nacional e internacional pelasobras que possui”, considerou.

Pedro Dias colaborou em projectos derestauro de inúmeros monumentos, en-tre os quais o Mosteiro de Santa Cruz deCoimbra, o Palácio da Vila de Sintra e oMosteiro dos Jerónimos.

O primeiro monumento referenciadono livro é o Criptopórtico de Coimbra,importante obra de engenharia romanaem Portugal. A mais recente obra pre-sente no livro é a recente Ponte PedonalPedro e Inês.

O Claustro da Manga (Jardim da Man-ga) e a Capela do Sacramento da Sé Ve-lha, realçou, apresentam uma simbolo-gia ligada à religião, associando-se a Fon-te da Manga (fonte da vida) à maneiracomo o Cristianismo se espalhava nomundo e a Capela do Sacramento da SéVelha à reforma da Igreja após o Concí-lio de Trento.

O livro, considerou Pedro Dias, é tam-bém “uma espécie de agradecimento” àCidade pela Medalha de Ouro que o au-tor recebeu este ano da autarquia. Masé ainda, sublinhou o historiador, o cum-primento de um compromisso assumidocom um grande amigo, Nuno Viegas Nas-cimento, e uma homenagem à obra poreste levada a cabo na Fundação BissayaBarreto.

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33 A 16 DE DEZEMBRO DE 2008 NACIONAL

Temos uma excelente sugestãopara uma oferta a um Amigo, a umFamiliar ou mesmo para si próprio:uma assinatura anual do jornal“Centro”

Custa apenas 20 euros e ainda re-cebe de imediato, completamentegrátis, uma valiosa obra de arte.

Trata-se de um belíssimo trabalhoda autoria de Zé Penicheiro, expres-samente concebido para o jornal“Centro”, com o cunho bem carac-terístico deste artista plástico – umdos mais prestigiados pintores portu-gueses, com reconhecimento mesmoa nível internacional, estando repre-sentado em colecções espalhadas porvários pontos do Mundo.

Neste trabalho, Zé Penicheiro,com o seu traço peculiar e a incon-fundível utilização de uma invulgarpaleta de cores, criou uma obra quealia grande qualidade artística a umprofundo simbolismo.

De facto, o artista, para represen-tar a Região Centro, concebeu umaflor, composta pelos seis distritos queintegram esta zona do País: Aveiro,Castelo Branco, Coimbra, Guarda,Leiria e Viseu.

Cada um destes distritos é repre-sentado por um elemento (remeten-do para o respectivo património his-tórico, arquitectónico ou natural).

A flor, assim composta desta for-

ma tão original, está a desabrochar,simbolizando o crescente desenvolvi-mento desta Região Centro de Portu-gal, tão rica de potencialidades, de His-tória, de Cultura, de património arqui-tectónico, de deslumbrantes paisagens(desde as praias magníficas até às ser-ras imponentes) e, ainda, de gente hos-pitaleira e trabalhadora.

Não perca, pois, a oportunidade dereceber já, GRATUITAMENTE ,esta magnífica obra de arte (cujas di-mensões são 50 cm x 34 cm).

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sua casa (ou no local que nos indicar),o jornal “Centro”, que o manterásempre bem informado sobre o que demais importante vai acontecendo nes-ta Região, no País e no Mundo.

Tudo isto, voltamos a sublinhá-lo,por APENAS 20 EUROS!

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AUDIMPRENSAJornal “Centro”

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Poderá também dirigir-nos o seu pe-dido de assinatura através de:

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Gonçalo Castanheira, jovem médicode Coimbra e um dos mais destacadospraticantes de ténis de mesa do País, foidistinguido como “Personalidade do Anode 2008” naquela modalidade, e deveriater ido receber este justo galardão nacerimónia que decorreu no passado dia20 de Novembro no Casino Estoril.

E dizemos deveria porque GonçaloCastanheira não esteve presente, umavez que só tomou conhecimento de queesta distinção lhe havia sido atribuídaquando, no dia seguinte, leu os jornais!...

Ou seja, a Federação Portuguesa deTénis de Mesa indigitou-o como “Perso-nalidade do Ano”, mas esqueceu-se delhe comunicar o facto, pelo que foi pelosjornais publicados após a cerimónia queGonçalo Castanheira teve a alegria desaber-se distinguido, mas também a de-cepção por não ter estado presente noCasino Estoril para receber o galardão.

Nascido em Coimbra em Julho de1977, Gonçalo Nuno Coimbra Casta-nheira iniciou a prática da modalidade:

Campeão de Coimbra soube pelo jornalque fora considerado “Personalidade do Ano”

na Associação Cristã da Mocidade(ACM) de Coimbra em 1985, por inici-ativa de seu pai, o advogado José Cas-tanheira, que é também Director da

Secção de Ténis de Mesa da ACM,ecom o acompanhamento do técnicoJoão Paulo Costa.

Conquistou o primeiro título nacional

em 1990 (campeão nacional de inicia-dos), ingressando em 1991 na Alta Com-petição e na Selecção Nacional.

Em 1999 iníciou funções Associativas– Presidente da Direcção da Associa-ção de Ténis de Mesa de Coimbra, queainda hoje ocupa, sendo o responsávelmáximo pela modalidade no Distrito deCoimbra.

Actualmente é membro da Direcçãoda ACM de Coimbra (presidida peloProf. Norberto Canha), como Directordo Departamento de Desporto. É tam-bém Presidente da Direcção da Associa-ção da Juventude Acemista.

Continua a ser jogador da 1ª DivisãoNacional de Ténis de Mesa ao serviçoda ACM de Coimbra.

De salientar que acumula as funçõesde jogador e dirigente por amor à moda-lidade, uma vez que se licenciou emMedicina, estando actualmente a finali-zar o internato médico para iniciar emJaneiro a especialidade de Medicina Le-gal em Coimbra.

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4 3 A 16 DE DEZEMBRO DE 2008MUNDO ANIMAL

Salvador St.AubynMascarenhasMédico Veteriná[email protected]

CAMPANHA “COIMBRA ADOPCÃO”

A troco de nada ganhe um grande amigoO Canil/Gatil Municipal de Coimbra pros-

segue uma campanha intitulada “Adop-Cão”, com o seguinte lema: “Adoptemum animal no Canil Municipal”.

Trata-se de uma iniciativa muito meritó-ria, que permite que pessoas que gostam deanimais ali possam ir buscar um fiel compa-nheiro, sem nada pagarem por isso.

São muitos os cães (e também algunsgatos) que esperam que gente com bomcoração os vá adoptar, tendo como recom-pensa conquistarem um amigo para toda avida, já que estes animais rapidamente seadaptam aos seus novos donos (que, paraalém do mais, os estarão a poupar a um fim

nas custam uns minutos na deslocação, paraescolher um companheiro (ou companhei-ra) para a vida, que será sempre fiel e deuma enorme dedicação e em troca apenaspede um pouco de atenção e de carinho.

O Canil/Gatil Municipal fica no Campodo Bolão, Mata do Choupal, onde os ani-mais esperam, ansiosos, por uma nova casae uma nova família.

Os interessados em obter mais informa-ções podem ligar para o telemóvel 927 441888 (a qualquer hora), ou para o Canil/Gatl(das 9 às 17h30 dos dias úteis) através dotelefone 239 493 200.

Podem também enviar um e-mail para

muito triste e tremendamente injusto).Aproxima-se a época de Natal, e é sabi-

do como os tempos de crise que se atraves-sam tornam mais complicada a aquisiçãode prendas, sobretudo para a miudagem.

Ora a verdade é que um cão ou um gatoé sempre um presente bem recebido, desdeque a pessoa a quem ele se oferece gostede animais, não os encare como um brin-quedo ou um objecto e tenha condições mí-nimas para deles tratar convenientemente.

Se for o caso, está encontrada uma ex-celente forma de dar prendas de Natal deenomre valor (basta ver os preços nas lojasde animais!...), mas que no Canil/Gatil ape-

Hoje vou falar sobre a castração dosgatos e a esterilização das gatas e daconfusão que isto faz na cabeça de mui-ta gente.

Penso que há uma grande desinfor-mação sobre isso. Algumas pessoas pen-sam que castrar um animal não é bompara ele, que é uma mutilação, um actoirreversível que o vai tornar num felinoinfeliz e de certo modo diminuído.

Contudo, castrar ou esterilizar previ-ne muito mais do que evitar crias inde-sejadas. Ajuda também o seu felino amanter-se mais saudável e a viver maistempo e com mais qualidade.

De acordo com as estatísticas da As-sociação dos Hospitais VeterináriosAmericanos, mais de 80 por cento doscães e gatos são castrados ou esteriliza-dos. O que é que eles sabem e que nósnão sabemos?

Devo começar por dizer que a cas-tração dos machos ou esterilização dasfêmeas dos felinos é o mais simples pro-cedimento cirúrgico da medicina veteri-nária. A única preocupação do dono an-tes da cirurgia é que o gato faça jejumdurante a noite para que a anestesia sejafeita num animal com estômago vazio.

A castração nos machos é a remoçãodos testículos, retirando assim a fonte deesperma e também da hormona sexual,a testosterona, que é responsável pelocomportamento sexual do gato. Sob anes-tesia geral, depila-se o escroto. Uma(que é como eu faço) ou duas pequenasincisões são feitas na pele do escroto eambos os testículos são removidos. Nor-malmente não se dão pontos, em virtudedo corte ser muito pequeno e fechar ra-pidamente em 3 dias. O dono só terá denão deixar o gato sair para poder vigiá-lo durante esses 3 dias, e aplicar Betadi-ne na zona da incisão. O gato vai para acasa logo que acordar da anestesia e

recupera a sua actividade normal nessemesmo dia.

A esterilização das gatas consiste naremoção cirúrgica do útero e dos ováriosdo abdómen.Uma área da barriga é depi-lada. Ambos os ovários e o útero são re-movidos por uma incisão muito pequenaque pode ser de 2 centímetros. A cirurgia émuito rápida. Normalmente a gata vai paracasa ao fim do dia ou no dia seguinte, efica a agir normalmente em dois dias. Tráde ser medicada com antibióticos e anal-gésicos por poucos dias.

Usualmente recomendamos a castraçãoou esterilização aos seis meses, antes dogato atingir a sua maturidade sexual,masnalguns países é incrivelmente comum cas-trar os gatos em idades muito precoces,por vezes às oito semanas.

Isso porque depois da puberdade,aproximadamente aos 6-8 meses de ida-de, os gatos desenvolvem um sem nú-mero de características comportamen-tais indesejáveis. Tornam-se territoriais,começam a marcar o território, muitasvezes dentro de casa, esguichando uri-na, que nessa altura, por acção das hor-monas, tem um cheiro particularmenteforte, que é difícil de eliminar. E tambémcomeçam por alargar o seu território fa-zendo passeios cada vez maiores e maisdistantes da casa, particularmente à noi-te. Por esta razão, muitos dos gatos quesão atropelados são gatos não castrados.Na época da reprodução ambos, gatos egatas, fazem imenso barulho com os seusvagidos (vocalizações aflitivas que ouvi-mos pelas madrugadas nos nossos telha-dos). E se o seu gato estiver dentro decasa e cheirar a presença de uma gatano cio (o que pode fazer a distância con-siderável) não conseguirá dormir enquan-to ele praticar a sua cantoria.

O gato inteiro protege o seu terri-tório e ataca todos os gatos que apa-

recem e, durante a época de reprodu-ção, os machos lutam para ganharemas fêmeas. Essas batalhas causamdentadas e arranhões, principalmentena cabeça e nas patas, que frequen-temente se transformam em abcessose requerem uma visita ao veterinário.Por vezes, há arranhões nos olhos quetêm de ser tratados com urgência.Também contraem infecções viraissem cura e fatais como a leucose fe-lina (que felizmente tem uma vacina)e a sida dos gatos (que não se trans-mite aos humanos), esta sem vacinaainda. Já perdi a conta dos gatos quevão à clínica e voltam várias vezestodos os anos cheios de abcessos ecom os donos a resistirem à castra-ção, até que um dia é tarde demais, enão são poucos os casos. Tenho re-parado que é muito mais fácil conven-cê-los a esterilizarem as fêmeas, masisso já seria assunto para o Dr.Freud...

As estatísticas indicam que os machoscastrados tendem a viver mais tempo queos machos não castrados.

A castração reduz enormemente aspossibilidades do gato marcar o territó-rio dentro de casa, arranhar e esguicharurina nos móveis e nos ângulos das pa-redes e logo reduz o stress que isso cau-sa aos donos, aumentando a possibilida-de do gato ser amado e querido comomembro da família. Os gatos castradoscontinuam a ser territoriais mas em mui-to menor escala, reduzindo-se o territó-rio normalmente ao jardim da casa.

A esterilização da gata, por seu lado,elimina por completo o cio, que normal-mente ocorre várias vezes por ano, e ocomportamento associado ao cio comomiados lancinantes, agitação, rebolarconstante pelo chão, esguichar urina elutas com outras gatas pelos machos. Os

riscos de tumores mamários são gran-demente reduzidos se a esterilizaçãoocorrer antes do primeiro cio e tambémgatas esterilizadas nunca desenvolverãoinfecções uterinas.

Uma gata castrada é muito mais amo-rosa, porque a sua energia já não seráconstantemente direccionada para a pro-cura de um macho.

Além de tudo isso, tanto a castra-ção como a esterilização vão impedirque as gatas fiquem grávidas, por issoesses animais nunca produzirão gati-nhos indesejados que serão abandona-dos ou mortos por afogamento como éusual.

Alguns gatos ganham peso com acastração ou com a esterilização. Ani-mais não castrados normalmente têmum forte desejo para a cópula e po-dem despender imensa energia na pro-cura de um parceiro. Sem esse dese-jo o seu gato pode continuar a comera mesma quantidade de comida masnão queima tantas calorias como an-teriormente, por isso pode engordar senão reduzir a sua ingestão de caloriasatravés de uma dieta adequada ou es-timulando exercícios e brincadeirasonde gaste energia.

Ninhadas indesejadas contribuem paraa existência de excesso populacional degatos. Isto é um problema porque os fe-linos, se deixados à sua vontade, conse-guem reproduzir-se em números assom-brosos num curto espaço. Para teremuma ideia, basta uma ninhada de 4 ga-tos, sendo dois machos e duas fêmeas,ser deixada à vontade para que no prazode um ano dê origem a cerca de cemgatos.

Termino dizendo que é dever de qual-quer proprietário responsável mandaresterilizar ou castrar o seu felino – a nãoser, claro, que zqueria reproduzir gatos.

[email protected] consultar o sitewww.cm-coimbra.pt/741.htmOs dias e horas especificamente desti-

nados às adopções são os seguintes:- segundas-feiras, das 14h30 às 16h30;- quintas-feiras, das 10 às 12 horas.

Na página seguinte publicamos imagensde alguns dos bons aamigos de 4 patas queestão à espera de que alguém queira apro-veitar todo o carinho que têm para dar.

Se gosta de animais, não hesite! Faça felizum destes que esperam por si e não se ar-rependerá!

Castração dos gatosé fácil e recomendável

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53 A 16 DE DEZEMBRO DE 2008 MUNDO ANIMAL

A Cookie é uma cadelinha com cerca de 1 ano, de portepequeno, muito meiga e calminha. Tem a particularidadede ter um olho castanho e outro azul clarinho

O Dominó é um cãozinho doce, de porte pequeno,abandonado pelo dono no Canil, e que provavelmentedeve ter sido vítima de maus-tratos, pois está quasesempre triste e escondido. No entanto, é super meigo,e quando ganha confiança com as pessoas é muitobrincalhão. Precisa urgentemente de uma família quetenha paciência com ele e que lhe dê muito carinho

A Guapa é uma cadelinha muito, muito pequenina, queteve bebés e que já foram adoptados. Ela ainda esperaque alguém a adopte! È uma ternura, muito meiga eadora saltar para o nosso colo! Cativa qualquer pessoa

A Flay foi entregue no Canil pela dona. Tem dois bebesmuito bonitos e é uma excelente mãe. È também muitomeiga e tem um olhar muito doce. È calminha e deveser uma boa cadela para ter em apartamento

Para quem prefere gatos, o Canil/Gatil Municipaltem vários destes felinos à espera de um dono ou umadona a quem retribuma mimos com um suave ronronare muitas marradinhas.Esta bonita gata tricolor chama-se Tareca, e é um dosgatos que esperam por um amigo que os adopte

O BOB é um Dalmata adulto, com 8 anos, castrado, quefoi entregue no canil pelo dono. Como todos os cãesentregues no canil pelos donos é um pouco triste.Mas que voltará a alegrar-se quando tiver novo dono

O MURPHY tem cerca de 2 anos de idadefoi encontrado abandonado e é muito meigo

O RALPH foi encontrado abandonado e estava muitomagro, condição que ainda mantêm embora já tenhamelhorado. Tem cerca de 2 anos e é muito meigo

O SPEEDY é um podengo, estava abandonadoe tem 8 meses.É muito brincalhão e muito atentoa tudo o que se passa à sua volta

O TOMMY também foi abandonadoé um cão muito engraçado, tem uns olhosmuito bonitos e tem cerca de 1 ano de idade

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6 3 A 16 DE DEZEMBRO DE 2008INTERNACIONAL

Fiodor Lukyanov *

* in revista A Rússia na Política Global

«Meus caros compatriotas! Hoje avan-çamos uma iniciativa que promete alterar acurso da História!». Foi deste modo queRonald Reagan apresentou ao país, na Pri-mavera de 1983, a SDI (Stratigic DefenseInitiative – Iniciativa de Defesa Estratégi-ca), mais conhecida como «a guerra dasestrelas».

Nos 25 anos desde então decorridos, aideia de criar um escudo antimíssil univer-sal transformou-se do belo sonho num pro-jecto geoestratégico, que não pára de en-venenar as relações entre Washington eMoscovo.

Depois da eleição de Barack Obamapara a presidência, os representantes dafutura administração norte-americana evi-tam opinar sobre a Defesa Antimíssil. Noentanto, a resolução deste problema seriacapaz de fornecer uma chave para a solu-ção de toda uma série das contradições es-tratégicas existentes.

O tema da Defesa Antimíssil contém, ali-ás, uma contradição conceptual: o proble-ma possui um carácter global e exige umasolução coordenada, mas desde o início osEUA preferem acções individuais.

Em 2001, os EUA saíram unilateralmen-te do Tratado de Defesa Antimíssil, assi-nado em 1972 e que restringia as acçõesde Washington e Moscovo a duas regiõesposicionais. O Presidente George W. Bushfundamentou esta decisão, afirmando que«para garantir a sua defesa, os EUA pre-cisavam de liberdade e flexibilidade de ac-ção». Mas a posterior actuação de Wa-shington neste sentido apenas agravou o

O escudo inox de Ronald Reaganproblema.

Instalar os elementos da Defesa Antimís-sil na Europa Central foi uma decisão unila-teral de Washington, tomada sem consultasprévias com os seus aliados. A Europa foisimplesmente informada de que os EUA lhefornecerão um escudo antimíssil. A aprova-ção formal do projecto pelos países mem-bros da NATO ocorreu apenas na cimeirade Bucareste, realizada em Abril de 2008, esob uma fortíssima pressão da administra-ção norte-americana.

Entretanto, a Defesa Antimíssil continuaa ser um problema de carácter global. OsEUA não se cansam de repetir que «umradar na República Checa e 10 mísseis in-terceptores na Polónia em nada afectam aeficácia do poderio nuclear russo». Há mui-ta verdade nestas declarações. Mas, colo-car assim a questão não passa de uma ma-nha com objectivo de destrair a atenção geralapenas para um aspecto do problema.

A terceira região posicional da DefesaAntimíssil não é o fim, mas só o início dacriação dum sistema antimíssil global. Se-guir-se-ão a quarta região, a quinta região, eassim por diante. Sem isso, o projecto nãotem qualquer sentido. Insistir resolutamenteneste projecto, politicamente provocador, sótem sentido na perspectiva de algo grandio-so, capaz de mudar o curso da História. Istoé, aquele mesmo escudo antimíssil univer-sal que defenderá os EUA de todas as ame-aças: as iranianas, as chinesas, as russas, aspaquistanesas, etc.

Ainda não se sabe se o projecto é real-mente viável. Mas, se assim for, a situaçãoestratégica no mundo alterar-se-á radical-mente, pois desaparece o princípio base daestabilidade dos nossos dias – uma destrui-ção recíproca garantida.

O sistema da Defesa Antimíssil pode serum instrumento de estabilidade mundial ape-nas em caso de abranger todos os grandesjogadores e formar um espaço comum desegurança. Se um destes jogadores for ex-cluído, por exemplo, a Rússia ou a China,surgirá uma fonte de atritos à escala estra-tégica. Os excluídos farão tudo ao seu al-cance para abortar esta iniciativa.

A propósito, Ronald Reagan, ao assina-lar o carácter defensivo da sua iniciativa,admitia que esta «pode criar certos proble-mas e mesmo uma interpretação dúbia. Secomeçar a desenvolver-se a par dos siste-mas ofensivos, pode ser visto como um es-tímulo à política agressiva».

Sem uma solução mutuamente aceitáveldo problema da Defesa Antimíssil, dificil-mente haverá conversações construtivassobre o controlo de armamentos. A Rússiapor mais de uma vez apelava à administra-ção de George W. Bush no sentido de vol-tar à agenda de redução dos arsenais nu-cleares, já que o Tratado sobre os Arma-

mentos Ofensivos Estratégicos (SALT-1)termina em 2009.

Hoje em dia, há nos EUA mais partidári-os influentes de desarmamento nuclear. Noentanto, se, ao mesmo tempo, Washingtoncontinuar a intensificar a criação do escudoantimíssil universal, a situação tornar-se-ámais contraditória. Ao conversar sobre a re-dução dos arsenais nucleares, Moscovo, naverdade, acabará por facilitar a tarefa dosEUA de criar este escudo: a possibilidadede intercepção de mísseis depende directa-mente do seu número.

Numa palavra, a discussão do problemada Defesa Antimíssil deve decorrer num for-mato internacional. Há uma chance de en-contrar um interlocutor interessado em Wa-shington logo depois de 20 de Janeiro de2009. Os democratas sempre eram menosentusiastas «da guerra das estrelas». Alémdisso, a nova administração ver-se-á obri-gada a poupar os recursos. A Casa Brancae o Congresso terão que precisar as suasprioridades.

A situação geral no mundo está a evoluircontra a iniciativa da Defesa Antimíssil. AEuropa permite-se duvidar das razões apre-sentadas pelos militares norte-americanos.O Presidente Nicolas Sarkozy muda comfrequência a opinião, dependendo do audi-tório. Mas quer ele, quer alguns outros polí-ticos europeus não são grandes adeptos dainiciativa . Na República Checa cresce, de-pois do recente êxito da oposição nas elei-ções, o número de adversários do radar. NaPolónia, para muitos, a Defesa Antimíssil éapenas um assunto secundário, decorrentedo principlal – modernizar o exército comajuda financeira dos EUA.

O Presidente eleito norte-america-no, Barack Obama, afirmou que de-seja retirar as tropas do Iraque em 16meses e que confiou ao futuro secre-tário da Defesa, Robert Gates, a mis-são de acabar a guerra “de forma res-ponsável”.

“Como disse durante a minha cam-panha, vou confiar ao secretário daDefesa (Robert) Gates e às nossasforças armadas uma nova missão, as-sim que assumir funções”, afirmou emconferência de imprensa realizada an-teontem, depois de anunciar que man-tém no cargo o actual chefe do Pen-tágono.

Obama reafirmou que deseja reali-zar a retirada do Iraque de todas asbrigadas de combate norte-america-nas, no espaço de 16 meses, e garan-

Obama quer acabar a guerra no Iraque“de forma responsável” em 16 meses

tiu que vai ouvir o conselho dos mili-tares.

“Penso que 16 meses é um períodoacertado. Mas como já disse, muitasvezes, escutarei as recomendaçõesdos meus comandantes”, garantiu.

“Poderá ser necessário manter umaforça residual para treinar (as forçasde segurança iraquianas) e protegero povo iraquiano”, disse.

“Vamos garantir também que temosos meios e a estratégia necessáriaspara vencer a Al-Qaida e os talibãs”no Afeganistão, sublinhou o Presiden-te eleito, comprometendo-se a enviarreforços para a zona.

“O Afeganistão é o local onde co-meçou a guerra contra o terrorismo,e deve ser o sítio onde acaba”, de-fendeu.

Obama comprometeu-se ainda a fa-zer com que as forças armadas nor-te-americanas continuem a ser “asmais fortes do Planeta”.

“Todos partilhamos da convicção deque é preciso continuarmos a ter asforças armadas mais fortes do Plane-ta”, por isso, “continuaremos a fazeros investimentos necessários para re-forçar as nossas forças armadas eaumentar as nossas forças terrestres”.

“Estamos igualmente de acordo so-bre o facto de o poder das nossas for-ças armadas dever estar aliado à sa-bedoria e ao poder da diplomacia. Ecomprometemo-nos a reconstruir e areforçar as alianças no mundo no in-tuito de defender os interesses e a se-gurança dos Estados Unidos”, afir-mou.Obama quer acabar a guerra no Iraque

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73 A 16 DE DEZEMBRO DE 2008 NACIONAL

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Por Sertório Pinho Martins

As notícias sobre a banca portuguesa quevivia de milagres de alguns santos com pésde barro, vieram para ficar. E ninguém pa-rece estar a salvo, com o que já se sabe,mais o que está por saber, e mais o que al-gum poder instalado vai querer que não sesaiba. Miguel Cadilhe, ao apresentar queixados atropelos de gestão no BPN, abriu uma‘caixa de pandora’ cuja dimensão está poravaliar e ele próprio não teve a percepçãode quantas porcelanas iria partir com os seuspés elefantinos: podia ter ‘apenas’ alertadoo Ministro das Finanças (sairia igualmentebem na fotografia) e deixava o custo do ter-ramoto para quem o desencadeasse. Mos-trou nervosismo, inépcia, e disse alto e bomsom que não tinha a mínima noção daquiloem que estava a mexer, que não tem faropolítico, e que numa situação de emergên-cia nacional não saberá segurar um país – oque quer dizer também que a sua possibili-dade de ser candidato a primeiro-ministro,numa saída airosa de Manuela Ferreira Lei-te, já foi chão de uvas. E quem lhe voltará aconfiar pântanos desta dimensão? Felizmen-te que o homem se lembrou (gato escalda-do…) de impor ao BPN, antes de aceitar opapel de messias, um PPR de dez milhões.Até dói!

E aí está também o BPP com os dias de‘estado de graça’ contados, a saída discretade João Rendeiro pela porta dos fundos e

A “Caixa de Pandora”as primeiras queixas de clientes à procurados seus fundos evaporados. Isto não estápara cardíacos! A procissão ainda vai noadro, e que o diga a responsável pela Ope-ração Furacão, quando vem a público desa-bafar que a PJ foi afastada do processo porrazões anormais. Pudera!

O novelo é tamanho, que agora são (parajá!) 18 importantes empresas públicas eoutras instituições do Estado (do Estado!),que desde 2004 foram ‘ajudadas’ pelo BPN/EFISA em operações que atingem 2,3 milmilhões de euros. Até engasga que se andepor aí a falar com ligeireza em tantos milha-res de milhões, depois da guerra acesa quefoi, tão só há alguns meses, o esbanjamentoanunciado com o novo aeroporto de Alco-chete e o TGV. Onde isso já vai, depois dosvinte mil milhões postos aos pés da bancafalida? Ah, e com tanto aval a quem andoua brincar aos offshores, ao desvio fraudu-lento de depósitos (e o que está por saber?!)e à especulação de pés de barro com o di-nheiro dos outros, o mesmo Estado aindateima em manter na agenda as obras deAlcochete e do comboio de alta velocida-de??? Bem se vê que o dinheiro continua anão ser do Estado, mas do eu-tu-ele-nós-vós-eles a quem não é dado gritar “alto aí,que isso é um assalto!”, e assiste inerme adecisões tomadas por uma vintena de go-vernantes, mais centena e meia de deputa-dos a ver o seu ganha-pão ir à vida em quais-quer eleições antecipadas. E daqui até o

pânico se instalar, pode ser um rastilho, por-que a classe política que temos já mostrouque não sabe lidar com ‘serviços de urgên-cia’: esta crise veio dizer preto-no-brancoque os ministros da área económico-finan-ceira, depois de todas as gabarolices sobreo défice, a recessão, as previsões da OCDEe os balões vazios que atulham (e entulham)o Orçamento de 2009, andam desde o inícioa reboque dos acontecimentos, sem estra-tégia, sem sentido de antecipação e – o queé mais grave! – sem a noção do tempo exac-to para mudar as pedras do xadrez que lhestravam o caminho para o xeque-mate elei-toral a uma oposição que cresce pela es-querda do Governo e que nada garante quenão cresça pelo centro (basta Manuela Fer-reira Leite dar o palco a um samurai frio elimpo de pecado). E, tal como Cadilhe, hámais elefantes a pastar na coutada nacio-nal: e Vítor Constâncio é apenas um deles,porventura o mais responsável!

Mas a coisa também não está de feição,mas mesmo nada, para o lado do Governoou de figuras gradas da oposição. Dois exem-plos, entre muitos, que ainda vão fazer cor-rer tinta grossa (a menos que se decidamtambém pela porta dos fundos): Maria deLurdes Rodrigues e Manuel Dias Loureiro.O que já fizeram e o que não se decidem afazer para estancar danos colaterais, só temum nome: sobrevivência à custa n’importequoi! Enquanto José Sócrates e CavacoSilva não mandarem emissários impositivos

(fica bem a discrição distanciada, vestidada confiança que já foi) dizer a uma e aoutro que saiam pelo seu pé, para não em-baraçar quem lhes cobre a retaguarda, e acoisa pode ficar feia: os professores nãodesarmam na rua, e a esquerda em ascen-são não vai deixar morrer solteira a derro-cada do BPN. A passividade de S.Bento ede Belém valerão o risco de uma perda damaioria absoluta e de espaço para um novomandato presidencial? Só um cego é quenão vê!

E a chicana vai continuar, porque o PSencontrou farta matéria eleitoral no casoBPN. O poder judicial já compreendeu queo segredo é a alma do negócio (Cadilhe pre-feriu o ‘concurso público’ e estendeu-se aocomprido); mas o partido do Governo, o PCPe o BE querem centrar a discussão na As-sembleia da República, onde mandam calaras minorias e onde a comadrice e as vin-ganças políticas vão falar mais alto. E en-quanto Maria de Lurdes Rodrigues e Ma-nuel Dias Loureiro continuarem dentro dobarco, Belém e S. Bento dançarão ao sabordas marchas na avenida e do zurzir sem dónem piedade no cavaquismo de cujo ventrepoderiam sair nomes para um governo deamanhã e de certeza a base eleitoral deCavaco Silva em 2011. O tempo não vai defeição para falhas de marinhagem, e as ‘cai-xas de pandora’ ameaçam multiplicar-se.Quem não se aviar em terra, afunda-se-áno primeiro golpe de mar.

A campanha do Banco Alimentar Con-tra a Fome (BA) realizada no último fim-de-semana em Portugal bateu recordes coma recolha de 1.905 toneladas de alimentos.

A campanha decorreu em estabelecimen-tos comerciais de norte a sul do país e osalimentos recolhidos vão ser distribuídos apartir de terça-feira, através de 1.618 inti-tuições, com destino a 245 mil pessoas ca-renciadas.

“Isto significa que cerca de 2,5 por centoda população portuguesa de alguma formaé ajudada pelos produtos entregues pelosbancos alimentares contra a fome”, consta-

tou Isabel Jonet, Presidente do BA.A campanha realizada no sábado e no

domingo em 1.119 superfícies comerciais re-presentou um aumento de 19 por cento emrelação à iniciativa de Dezembro de 2007.

Segundo Isabel Jonet, tem havido maiorreceptividade porque as pessoas receiamque um dia também elas próprias possamprecisar de auxílio.

“Não se pretende que estes alimentossejam um fim em si mesmo ou que queiramcriar dependências. Os alimentos são, con-soante o caso e cada pessoa a quem é en-tregue, muitas vezes uma ajuda pontual” -

treferiu Isabel Jonet.A distribuição dos alimentos decorrerá

atráves dos 14 bancos alimentares, tendoestes uma acção local.

“Todos os bens são distribuídos onde sãorecolhidos. Isto permite aproximar quem dáde quem recebe e sobretudo permite umgrande controlo sobre os produtos que sãodistribuídos”, explicou a presidente do BA.

A campanha deste fim-de-semana con-tou com a colaboração de cerca de vintemil voluntários, o que representa, segundoIsabel Jonet, a maior acção de voluntariadoem Portugal.

A campanha decorreu em estabele-cimentos comerciais das zonas de Lis-boa, Porto, Coimbra, Évora, Beja, Avei-ro, Abrantes, São Miguel, Setúbal, Covada Beira, Leiria, Fátima, Oeste, Algar-ve, Portalegre e Braga.

Até ao próximo domingo, dia 7, continua-rá a iniciativa “Ajuda Vale”, que permite quecada pessoa contribua para o Banco Ali-mentar através de cupões disponíveis emlojas, nos quais é identificado o produto doa-do e mencionado que se trata de uma en-trega para os Bancos Alimentares Contra aFome.

Portugueses generosos para o “Banco Alimentar ”

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8 3 A 16 DE DEZEMBRO DE 2008OPINIÃO

EDUCAÇÃO

A educação é um dos mais interes-santes laboratórios da democracia con-temporânea, tanto das suas melhoresambições como dos seus mais persisten-tes impasses. É por isso necessário e útil,para compreender a actual crise do sec-tor, ter presente alguns parâmetros quedefinem o cerne dos seus problemas.Parâmetros que qualquer política da edu-cação tem de, reflectida e estrategica-mente, incorporar nas suas propostas enas suas decisões.

O primeiro é o das relações entre afamília e a escola. A tradicional cumpli-cidade entre a família e a escola esbo-roou-se nas últimas décadas, com a pri-meira a transferir para a segunda as suasfunções de socialização das crianças edos jovens. E com esta transformaçãoaumentou também a contestação dasfunções mais tradicionais da escola, so-bretudo em nome dos valores afectivosde uma infância e de uma adolescênciafortemente idealizadas. Idealização quecresceu em paralelo com a ignorânciadas efectivas condições de vida infantile juvenil, marcadas pelo empobrecimen-to da sua experiência e do seu ambientesimbólico. Criou-se assim uma situaçãocomplexa, em que as expectativas dasfamílias e as finalidades da escola ten-dem a divergir profundamente. (...)

Um último ponto, de que se fala me-nos do que dos anteriores mas que é igual-mente decisivo, é o da formação cultu-ral, no sentido lato do termo, dos profes-sores. Aqui, é preciso olhar para o esta-do do nosso ensino universitário, que emgeral não propicia como devia aos futu-ros professores a solidez do conhecimen-to, a autonomia intelectual, o sentido pe-dagógico e a abertura ao mundo.

Manuel Maria CarrilhoDN 29/Novembro/08

IGREJA E SEXUALIDADE

No lançamento do livro A Sexualida-de, a Igreja e a Bioética. 40 anos deHumanae Vitae, de Miguel Oliveira daSilva, procurei reflectir sobre o parado-xo de, sendo o cristianismo uma religiãodo corpo - não diz a Bíblia que Deus criouos seres humanos em corpo e viu queera muito bom e não confessa a fé cristãque Deus assumiu em Jesus a corporei-dade humana e que ela está presente,

pela ressurreição, no seio da Trindade? -, em boa parte a má vontade contra aIgreja radicar na sua relação com o sexo.Como admitir, por exemplo, mesmo quan-do a saúde e a própria vida ficam amea-çadas, a proibição do preservativo?

O que envenenou a relação da Igrejacom a sexualidade foi o choque entre opoder e o prazer, porque o prazer podeabalar o poder.

Concretamente, há a doutrina do pe-cado original, entendido não como o pri-meiro de todos os pecados - todos pe-cam -, mas como um pecado herdado deAdão e transmitido por geração, portan-to, no acto sexual.

Depois, com a reforma gregoriana,século XI, foram-se erguendo as trêscolunas sobre as quais assenta, segundoHans Küng, o paradigma católico-roma-no: papismo (poder centrado no Papa),celibatismo (celibato obrigatório por leipara os padres), marianismo (devoção aNossa Senhora como compensação).

Como se determinou que tudo o que serefere ao sexo é por princípio matéria gra-ve e como, por outro lado, não há ninguémque não tenha pelo menos pensamentos re-lacionados com o sexo e só o sacerdote ouo bispo podem perdoar os pecados, a con-fissão acabou por tornar-se não um espa-ço de reconciliação e paz, mas tantas ve-zes de opressão, e raramente uma institui-ção acabou por deter tanto poder sobre asconsciências, criando infindos complexosde culpabilização. Quando se lê os manu-ais dos confessores e todos aqueles inter-rogatórios inquisitoriais, quase reduzidos aocampo sexual, percebe-se que muitos te-nham começado a abandonar a Igreja porcausa da confissão, considerada ofensivados direitos humanos. (...)

Anselmo Borges(padre e professor universitário)

DN 29/Novembro/08

“MAGALHÃES”

(...) O esquema é simples. Pega-seno Magalhães, entrega-se, filma-se paraa televisão, recolhe-se e leva-se paraoutro lado. Faz-se uma negaça à oposi-ção, poupa-se na aquisição de novas uni-dades, reforça-se a capacidade de ex-portação para a Venezuela, e assegura-se, numa implícita concessão às vozescríticas, que os meninos e as meninas fi-carão a aprender muito melhor sem oaparelho.

O efeito multiplicador da propagandaé notoriamente acrescido. Na propagan-da do Governo é que não se pode falarem estagnação e também já não é preci-so concentrar a informação no desem-prego nos Açores. Chama-se a isto fa-zer mais com menos. E reconheçamosque, independentemente de se tratar deuma questão de bateria ou de uma qual-quer exigência burocrática, seria com-pletamente estúpido e sobretudo desca-bido em termos de economia nacional ede opinião pública que o primeiro-minis-tro andasse por aí a entregar-se à dissi-pação e à liberalidade.

Arriscava-se não apenas a favorecersem critério famílias em situação desafo-gada como até a dar azo à prática de per-niciosos jogos de computador durante ohorário escolar, agora que tantos profes-sores ameaçam com tantos e tão omino-sos tresmalhamentos do serviço. (...)

Vasco Graça MouraDN 26/Novembro/08

OBAMA (I)

(...) É evidente que responder ao con-junto de problemas em que se destacamo Iraque e o Afeganistão, mas que inclu-em por exemplo o Paquistão em crise,ou o Irão em crescimento de ambiçãointernacional, não é questão para resol-ver em velocidade de cruzeiro. Não po-dem esperar-se milagres, por muito ca-paz, eficiente e credível que seja o grupode talentos chamados a apoiar a Presi-dência.

O discurso da mudança conseguiuconvencer o eleitorado doméstico, emuitos governos inevitavelmente envol-

vidos pelos efeitos directos ou colateraisdas decisões americanas: à confiança naautenticidade dos propósitos tem de cor-responder a paciência de quem não podeser dispensado da cooperação e da es-pera. O que significa que a restaura-ção do crédito moral da Administraçãoamericana parece a plataforma a par-tir da qual a combinação da esperançae da paciência deverá assegurar a re-cuperação dos aliados, convencidos deque as invocadas ideias do fim da his-tória não são o corolário de uma su-premacia militar.

Factos como Guantánamo não podemmanter-se, nem repetir-se. Os EUA fo-ram indispensáveis em duas guerras mun-diais, para dominarem os demónios interi-ores dos europeus: continuam a ser indis-pensáveis para redefinir a governançamundial, desta vez ajudando a dominar osdemónios interiores do globalismo. (...)

Adriano MoreiraDN 25/Novembro/08

OBAMA (II)

A magia e o simbolismo da eleição doPresidente Obama varreram o mundocomo um cometa. O clarão da esperan-ça, da vitória contra o racismo, da opor-tunidade da paz foi tão intenso que, pormomentos, o mundo pareceu reconcilia-do consigo mesmo. Foram momentosbreves, mas deram para imaginar a uto-pia de uma sociedade mais democrática,sem preconceitos raciais, centrada nabusca da paz e da justiça social. Comotodas as luzes muito fortes, o clarão ce-gou-nos para a realidade que estava sen-

tada ao lado da imaginação em pose tãosedutora. No preciso momento em queo mundo assistia comovido ao discursode aceitação de Obama, na noite de 4 deNovembro, uma festa de casamento, noNorte do Afeganistão, era destruída pe-los bombardeiros não tripulados dosEUA, deixando no solo de sangue e rou-pa de festa 40 cadáveres. Foi o sextocasamento destruído assim, desde a in-vasão do Iraque. (...)

Boaventura Sousa SantosVisão

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93 A 16 DE DEZEMBRO DE 2008 OPINIÃO

A CRISE

A crise alastra-se e aprofunda-se emtoda a parte sem ninguém saber, ao certo,onde nos leva e quando será possível ven-cê-la. Em todo o caso varia e tem contor-nos diferentes de país para país. Relati-vamente ao Ocidente há grandes diferen-ças entre os Estados Unidos, epicentro dacrise, e a União Europeia. Enquanto osEstados Unidos se tornaram, após a vitó-ria de Barack Obama e do Partido De-mocrático, “a terra onde tudo pode voltara acontecer”, a Europa continua parali-sada e sem rumo à vista, não podendoabstrair-se da ameaça de alguma dege-neração. Situação perigosíssima.

A um mês do fim da presidência fran-cesa, que não será exagerado dizer queteve muita parra e pouca uva, e em vés-peras da passagem da presidência paraa República Checa, cheia de preconcei-tos e dúvidas quanto ao futuro da União,não parece provável que o Tratado deLisboa seja ratificado pelos 27 Estadosmembros, como se previa há meses. Aliás,o Tratado perdeu importância e signifi-cado, devido ao desastre do neoliberalis-mo e à perspectiva de se entrar num novociclo político-económico. Tudo está amudar aceleradamente. Ora as soluçõespara a grande crise passam, obviamen-te, por novos caminhos... (...)

Mário SoaresDN 25/Novembro/08

ELEIÇÕES

Vivemos o período mais longo semeleições nacionais da democracia. Pas-saram mais de mil dias desde as presi-denciais de 22 de Janeiro de 2006, aci-ma do máximo anterior de 916 dias en-tre as legislativas de 10 de Junho de 1991e autárquicas de 12 de Dezembro de1993. Em maioria absoluta, está na altu-ra de balanço desta inaudita estabilida-de. O sr. primeiro-ministro declarou hápouco não pensar nas consequênciaseleitorais da sua política (Rádio Renas-cença, dia 14, às 13.12), sinal de que nãopensa noutra coisa e a campanha já co-meçou. (...)

João César das NevesDN 24/Novembro/08

DEMOCRACIA

“Eu não acredito em reformas, quandose está em democracia”: eis a frase queantecedeu e contextualizou o verdadeirodetonador da escandaleira. E este foi: “Aténão sei se a certa altura não é bom haverseis meses sem democracia, mete-se tudona ordem e depois então venha a democra-cia.” Manuela Ferreira Leite falou estes dezsegundos e, durante três dias, a balbúrdiadas indignações chutou para canto os re-mansos da razão. Indignaram-se à esquer-da com o apelo à suspensão da democra-cia. Aproveitou o CDS para também se in-dignar um bocadinho. Indignaram-se o se-cretário-geral e o líder parlamentar do PSDcom a indignação de todos os indignados.

Sempre achei que a indignação é um pe-dregulho atravessado no caminho da inteli-gência. Mas o facto é que ela foi arvoradaem direito e eu sou pró: se a criação de umdireito não vier prejudicar outros mais im-portantes, sou sempre a favor. Mas umacoisa é tê-lo e outra usá-lo. O direito à indig-nação deve ser usado com grande e sábiaparcimónia, senão só atrapalha quem o exer-ce. Eu gostaria até de reservá-lo para osseis meses sem democracia. (...)

Nuno Brederode SantosDN 23/Novembro/08

BANCO PORTUGUÊSDE NÚPCIAS

É impressão minha ou o caso BPN ficamais enternecedor a cada dia que passa?Tem sido comovente desde o início, masestes últimos episódios foram mais emoci-onantes que o fim de Casablanca. À se-melhança do que costuma acontecer nashistórias tristes, esta também tem um in-válido, como o Tiny Tim, do Dickens. Ocaso BPN tem, aliás, vários inválidos, e cu-riosamente são todos ceguinhos: o Bancode Portugal não viu que havia falcatruas,os administradores do banco não repara-ram que o presidente praticava um tipo degestão que a lei, ao que parece, proíbe…

E agora estamos no ponto em que entraem cena a injustiça: Oliveira e Costa foiacusado de burla agravada, falsificação dedocumentos, fraude fiscal e branqueamentode capitais. Quem o acusa de enriqueci-mento ilícito só pode desconhecer o seudesarmante altruísmo. Segundo o Correioda Manhã, em Março deste ano, Oliveirae Costa divorciou-se da mulher com quemera casado havia 42 anos, e passou os benspara o nome da senhora. Muito embora odivórcio se tenha realizado por mútuo con-sentimento, não deixa de ser admirável queum homem premeie a mulher de forma tãogenerosa na hora da separação. Trata-sedo rigoroso oposto do «golpe do baú»: oobjectivo não é casar para ficar rico, é di-vorciar-se para enriquecer o cônjuge. Queum homem tão desprendido dos bens ma-teriais seja acusado daqueles crimes é sim-plesmente revoltante. (...)

Ricardo Araújo PereiraVisão

SOFRIMENTO

(...) As pessoas que me lêem como-vem-me: fiz um livro diferente para cadauma delas, com palavras diferentes, domesmo jeito que um alfaiate trabalha pormedida, porque a vida de cada um é úni-ca, nunca existiu ninguém antes. As ex-periências podem ser parecidas, a ma-neira de vivê-las diversa: somos mundossem fim. Guardo olhos, sorrisos, vozes,dedos que apertaram os meus, uma co-munhão indizível. São eu e eu sou elas,falando para elas, por elas. Tanto sofri-mento também, algumas alegrias, umimenso, impartilhável silêncio que dese-ja, com toda a força da alma, ser escuta-do. Durante os autógrafos oiço muitomais do que digo, escuto expressões,

olhares, gestos, o som de um sorriso. (...)

António Lobo AntunesVisão

CAVACO E A HISTÓRIA

(...) O dr. Cavaco é responsável por muitode mau e de mal que incutiu no País. Acasopor incompetência política e fundas lacunasculturais. Podemos acusá-lo de uma sériede amolgadelas na democracia; porém, dedesonestidade, creio que nunca.

Há uma coisa assustadora que se exigede nós: conhecermo-nos; por isso, fazemospor esquecê-la. Conhecermo-nos, e manteressa memória, pode ser mau ou bom, mas ésempre perigoso. Sei do que falo. A atonia

da sociedade portuguesa, o explícito conú-bio entre zonas seculares, antagónicas poressência, resultou na irremediável fatalida-de de os dirigentes não estarem à altura dasnossas urgências e necessidades. Repug-nam-me os dez anos “cavaquistas”, duran-te os quais tudo parecia moldado à seme-lhança do maioral. O que ocorreu nas re-dacções dos jornais, das rádios e das televi-sões, com a imposição de uma nova ordemque principiava pela substituição das chefi-as e a remoção de jornalistas qualificados,mas desafectos ou mesmo dissentes - é umahistória sórdida, e esquecida por muitos. (...)

Baptista-BastosDN 26/Novembro/08

A PRISÃO DE BANQUEIROS

Diziam os jornais este fim-de-semana quefora preso o primeiro banqueiro em Portu-gal. Não é verdade. É o segundo. A primei-ra foi a banqueira do povo, a D. Branca,que lançou na rua manifestações de milha-res de pessoas, atónicas, sem perceberemcomo um sistema financeiro tão rentável,tão feito ao jeito dos pobrezinhos, desapare-

cia num ápice. Depois da prisão da ban-queira dos pobres, chegou a hora do ban-queiro dos ricos.

Embora não se saiba a extensão dos da-nos causados pela gestão do BPN, a verda-de é que os ricos não saíram à rua em ma-nifestações de pesar e de protesto. Cala-ram-se. E o Governo com pena dos ricosnacionalizou o BPN e agora vamos nós pa-gar as dezenas de milhares de euros dasmoedas do euro, das colecções de pintura,das negociatas do banco insular. Mas oGoverno tem razão, os nossos ricos metemdó. A maioria deles foi forjada nos mean-dros mais escuros da política, cresceu à custade um subsídio e do financiamento público,sem nunca ter produzido um cêntimo para ariqueza do País. E agora que o banqueiro

dos ricos foi preso, ficam quietos, escondi-dos, à espera da piedade do Estado.

Francisco Moita FloresCorreio da Manhã 23/Novembro/08

A ÉTICA DOS JUÍZES

O ‘Compromisso Ético’ que a Asso-ciação Sindical dos Juízes fez aprovar norecente congresso é inepto e insano. Nãotem qualquer validade jurídico-constitu-cional ou força para vincular os juízesassociados e, por maioria de razão, mui-to menos os não associados. A ASJP pro-duziu um documento para o museu le-gislativo dos seus arquivos. É um enun-ciado de princípios gerais, de vacuida-des e pretensioso nos seus propósitos.Nem como instrumento de auto-regula-ção pode valer, porque os juízes, consti-tucionalmente, não se podem auto-regu-lar em matérias que têm que ver com aforma como exercem a profissão. (...)

Rui Rangel(juiz-desembargador)

Correio da Manhã 26/Novembro/08

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10 3 A 16 DE DEZEMBRO DE 2008CRÓNICA

A OUTRA FACEDO ESPELHO

José Henrique Dias*

[email protected]

arte em café

* Professor universitário

Começa a fazer-se tarde. Quero eu dizer que anoitecetão cedo que não chego a prover bem os meus dias da luzque necessito. Já não bastava o que a natureza administra,na sucessão dos dias e das noites, ainda mexem nos relógi-os e tudo fica adulterado. Não posso nem consigo gover-nar-me neste interim do levantar-me e deitar-me, descom-passado daquilo que acho ser chamado de ritmo biológico.Será? Ontem, claro que há sempre um ontem em relaçãoao dia seguinte, este em que estou… será mesmo que há?Às vezes penso que há uma enorme confusão entre tempoe duração. O Pessoa, pela inteligência de Álvaro de Cam-pos, diz isto de uma maneira curiosa, creio ser assim, Hojenão faço anos. Duro. Não tenho o poema à mão, mastodo o Pessoa anda sempre por dentro da minha cabeça. Everdadeiramente, interessa-me agora confundi-lo na minhaideia de não-tempo em favor da ideia de duração.

Quando uso a lupa para tentar ler, amplio quatro vezes aescrita mas confronto-me com a distorção das palavras.Em absoluto. As palavras ondeiam e simplificam-se em le-tras tortuosas que me levam a pensar outras palavras.

Quando era pequeno, minha Mãe, às vezes, sentava-seperto de mim na soleira da porta e apontava-me as letras edizia os nomes. Sempre achei as letras coisas esquisitas.Aqueles desenhos falavam. Sonorizavam a minha cabeça.Quando aprendi a palavra Mãe tinha um i. Mãi. E pai tinhaum e, Pae. E funcionava tudo na mesma. Havia as duasformas para os dois casos, só que minha Mãe nasceu noséculo dezanove, e era assim que vinha no velho Morais ouno velho Faria. Experimentem percorrer estes velhos dicio-nários. Uma delícia. Sabem ao tempo dos que antes de nósforam construindo o que somos com palavras exactas. Têmo gosto dos velhos jornais das bibliotecas, das hemerotecas,ensinava-me o meu professor do tempo em que se ensina-vam coisas, gazetas em que podemos ver a intensidade dasgrandes ideias que mudaram o mundo e hoje achamos pe-quenas coisas, nem sequer pensamos nelas.

Senhor Carlos, são horas de se deitar. Sempre aí nessalida com os seus papéis. Ai, ai, o médico já disse que o quersossegado, não pode…

Estou farto de ouvir isto. Senhor Carlos já é tarde, se-nhor Carlos toca a levantar, senhor Carlos temos de fazer openso, senhor Carlos vamos para a mesa, senhor Carlostem de ter cuidado quando come, senhor Carlos sujou aroupa toda, senhor Carlos não faça, não queira, não pode,não vai…

Eu acho que não me chamo Carlos, porque lhes deu porme chamarem assim? Eu sempre fui Carlitos. Minha Mãe,com e ou com i, mas infinitamente minha Mãe, semprechamava quando eu andava a brincar no Largo da Feira:Carliiiitos! Anda lanchar.

Contrariado largava a malha, media os palmos, fazia umamarca, estou à frente, dá cá, não dou, quem dá e torna atirar ao inferno vai parar, aprazava com os companheiros acontinuação para daí a um bocado, corria para o tempo deuma caneca de café com leite e uma rodela de pão commanteiga, agora tens de fazer os deveres, ó Mãe só maisum bocadinho, é só acabar o jogo, também é só uma cópia,faço num instante…

Quando pensei que começava a fazer-se tarde, quandoestava a pensar no tempo, lembrei-me muito do Camilo.Desse mesmo. Do Camilo Castelo Branco. Sempre tiveum grande fascínio por uma cena ali para a rua da minhaescola primária, a Rua do Loureiro, quase lá para o pé da-quele arco e da casa onde viveu a família Cochofel. O JoãoJosé Cochofel. Aquela gente do Novo Cancioneiro pas-sava toda por lá. O Namora, os irmãos Namorado, Joaquim

Ortografias…

e Egídio, Políbio Gomes dos Santos, Mário Sacramento,Carlos de Oliveira, Manuel da Fonseca, Álvaro Feijó, ou-tros mais, aquela casa e aquela rua, Coimbra no sufoco daditadura mas na respiração dos jovens transgressores. Épreciso voltar a eles. Perceber melhor algumas coisas. Sempreconceitos.

O que me fascinava, ia dizer, na cena daquela rua, eraGuilherme Lira, aquele estudante que varreu a varapau opérfido D. Alexandre de Aguilar e o Airão, criado e mata-dor contratado para acabarem com o bom do Casimiro deBettancourt, suposto plebeu, preferido pela doce Cristinade Nelas, parente do fidalgo rejeitado, fugitivos e casadosna auspiciosa resolução de amores em O Bem e o Malonde embrenhei as verduras de meus anos.

Ficam-nos sempre memórias dos lugares e das leituras,mas o Camilo deve ter sido para aqui chamado por causadaquele dia em que o sábio Gama Pinto lhe disse que nãohavia nada a fazer. Houve ainda aquela visita de EdmundoMachado, oftalmologista de Aveiro, que lhe aconselhou re-

Não costume preocupar-me com as “gralhas” que pos-sam debicar os meus textos. Conto com a inteligência dosleitores. Mas algumas são especialmente divertidas. Na mi-nha última crónica, o couro cabeludo virou coro cabelu-do. O que pode dar para que pensemos naqueles rapazes deLiverpool, que viraram a música e os hábitos capilares mas-culinos. Que de resto apareceram, mais coisa menos coisa,pelo tempo diegético daquela minha estória.

pouso no Gerês. Pois sim, irei, terá dito. Depois o pátio dacasa de S. Miguel de Ceide quando se ouviu o estalido secoà espera dos gritos de Ana Plácido.

Quando minha Mãe chamava Carlitos, o i prolongadopara o nome durar, brincava por ali perto uma outra Ana.Tinha um bibe de riscado cinzento e dois lacinhos brancosnas trancitas negras. Dava ares de ciganita. Sempre quejogava a malha e ficava perto, olhava para ela à espera deum sorriso. Perdemo-nos. Perdemo-nos sempre das coisasbelas que descobrimos, do que amamos, porque a idadegasta-nos, os dias tornam-se cada vez mais pequenos, a luzescoa-se nos olhos, Carlitos, anda lanchar.

Agora já não posso, Mãe, mudou a ortografia nos meusolhos, com um e ou com um i, tanto faz, se não posso lerpara que quero eu lanchar?

A cadeira de balanço. Estamos a dançar. Olhos nos olhos.Foi há tanto tempo. O rosto moreno e o lume no olhar. Semmuros. Sem estarmos emparedados. Como eu agora. Nes-te desconforto de julgarem que me dão tudo. Tão indizivel-mente só. Tanta gente. Tanta gente a querer cuidar de mim.Nunca saberão nada. Como se um adeus.

Porque andam aqui estas bruxas à minha volta, senhorCarlos isto, senhor Carlos aquilo, se começa a fazer-se tar-de, ia eu a dizer, quando comecei a falar mas sempre meperco? Sempre no espaço labiríntico da duração.

“Sabe-se a tortura contínua em que vivia por causa dosseus padecimentos. Hoje, pelas seis horas da tarde, nummomento de desespero…”. Telegrama publicado pelo Sé-culo, em 1 de Junho de 1890.

Carliiiitos!Já estou a ir, Mãe. Queria brincar só mais um

bocadinho…

Largo da Feira antes da destruição da Alta de Coimbra

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113 A 16 DE DEZEMBRO DE 2008 NACIONAL

Há alguns dias atrás, os cidadãos me-nos atentos às questões militares foram sur-preendidos e sobressaltados com um arti-go publicado em o “Público” pelo generalLoureiro dos Santos, alertando para os “si-nais preocupantes com origem nos milita-res”, de “profunda indignação”, “desde osmais baixos aos mais elevados graus dahierarquia”, que, “poderá conduzir a actosde desespero, capazes de gerar consequên-cias de gravidade”, e prevenindo os maisaltos responsáveis políticos a lerem “comatenção os sinais que saem da instituiçãomilitar” e a não insistirem em “pensar que«acontecimentos (funestos) do passadonão voltam a acontecer»”.

A reacção do Governo não tardou, re-correndo às habituais técnicas da deslegi-timação, da transferência de responsabili-dades e do silêncio, negando ao autor qua-lidade para representar as Forças Arma-das, alegando desconhecer o mal-estarentre os militares e lembrando a estes asregras da hierarquia e da disciplina a queestão obrigados. Porém, confrontado coma realidade e amplitude do descontentamen-to de que o artigo fazia eco – do qual assucessivas manifestações promovidas pe-las associações profissionais também nãodeixavam já quaisquer dúvidas –, com asconsequências negativas do enfraqueci-mento da autoridade dos chefes dos esta-dos-maiores e com o reconhecido prestí-gio do general Loureiro dos Santos, o mi-nistro da Defesa Nacional acabaria por re-

A indignação dos militares- RELAÇÃO POLÍTICO-MILITAR EM CRISE?

Monteiro Valente

(Major-General na reforma)

As reacções dos vários governos perante os problemasdas Forças Armadas têm sido sistematicamente as mesmas,arrastando indefinidamente as situações, procurando iludira realidade com empolgantes discursos de circunstânciae sucessivos anúncios de profundas reorganizações,continuamente adiadas, refugiando-se, habitualmente,nos argumentos da autoridade do Estado e da condição militarquando as tensões internas extravasam as paredes dos quartéis

conhecer estar informado por aqueles so-bre os problemas socioprofissionais dosmilitares, acrescentando estarem os mes-mos em vias de resolução. Curiosamente, oactual ministro da Defesa Nacional é amesma pessoa que em 2004 afirmou que arelação civil-militar “foi um dos problemasmais bem resolvidos do actual regime”!

As reacções dos vários governos peran-te os problemas das Forças Armadas têm

sido sistematicamente as mesmas, arrastan-do indefinidamente as situações, procuran-do iludir a realidade com empolgantes dis-cursos de circunstância e sucessivos anún-cios de profundas reorganizações, continu-amente adiadas, refugiando-se, habitualmen-te, nos argumentos da autoridade do Estadoe da condição militar quando as tensões in-ternas extravasam as paredes dos quartéis.Nesta matéria, as posições políticas têm al-ternado entre o discurso laudatório, mais ca-racterístico dos governos de direita, e a ati-tude displicente que tem marcado sobretu-do a postura dos socialistas, num e noutrocaso à mistura com muito desconhecimen-to e muita falta de visão estratégica, limitan-do-se, por regra, a mudanças mínimas, pu-

blicamente transformadas em grandes re-formas. “Todos os políticos, eleitos ou no-meados, têm legitimidade própria, mas aum elevado número falta cultura de Esta-do e do sistema internacional ou tem inten-ções escondidas, evitando assumir respon-sabilidades claras e, quando o fazem, emmuitos casos, não as cumprem. Este com-portamento é inaceitável para os militares.Se há algo que o bom militar não aceita é a

mentira sistemática” – escreveria algunsdias depois no Expresso o general GarciaLeandro.

Mas, ao longo dos anos, os chefes milita-res, na sua maioria, também pouco contri-buíram para reverter a situação, com o imo-bilismo corporativo em que, por regra, sefecharam, o irrealismo de vários projectosde reorganização e reequipamento, a inde-finição ou incoerência de objectivos de pla-neamento e da acção de comando, as ilusó-rias expectativas que alimentaram junto dossubordinados e a relação difícil que manti-veram com o poder político, tendo sido ra-ros os que não terminaram o mandato emsituação de conflito com o mesmo. Absor-vidos numa aparência profissional de tal

modo interiorizada que chega a ser vividacomo realidade, e cultivando um isolamentoda sociedade institucionalmente e politica-mente alimentado, os militares dos quadrospermanentes começaram, entretanto, a to-mar consciência da degradação do estatutoda condição militar e das consequênciaspara o seu futuro da transformação ope-rada com a profissionalização das For-ças Armadas – um novo modelo que ten-derá a dispensar bastantes graduados so-bretudo nos escalões superiores, frus-trando naturais expectativas de progres-são nas carreiras de muitos deles e exa-cerbando tensões internas.

“Os militares passaram a desconfiardos políticos e a ficar de pé atrás faceaos chefes”, escrevia o general Loureirodos Santos no “Público”, em 3 Maio de2004, posição então corroborada porAntónio José Telo, historiador e profes-sor civil da Academia Militar, dando con-ta de “um acumular de críticas e mal-entendidos entre militares e o poder po-lítico, numa tendência para aumentar”.Ora, sendo as críticas dos militares emrelação ao poder político uma constantena nossa história contemporânea, facil-mente absorvidas numa situação de es-tabilidade, com alguma frequência aca-baram por desembocar em rupturas deregime quando à agitação nos quartéisse associou uma crise nacional grave. Enem sempre as rupturas foram no mes-mo sentido que em 25 de Abril de 1974!Continuará, no futuro, a União Europeiaa ser o «guarda-chuva da democracia»?

Desde ontem (terça-feira) e até ao próximo sá-bado (dia 6), a Junta de Freguesia dos Olivais e o“Dolce Vita Coimbra” associam-se para divulgarjunto do público uma mostra das múltiplas activi-dades desenvolvidas, em diversas áreas, pela refe-rida Junta de Freguesia.

O programa completo será divulgado hoje, emconferência de imprensa em que participam o Pre-sidente da Junta de Freguesia dos Olivais, Francis-co Andrade, e a Directora do “Dolce Vita Coim-bra”, Solange Rocha.

De qualquer forma, o “Centro” pode já adiantaralguns aspectos do referido programa (que vão des-de as aulas para seniores até aos coros e espectá-culos de ilusionismo), e que permitem mostrar aosmilhares de visitantes do centro comercial “DolceVita”, o dinamismo e o espírito de serviço da Juntade Freguesia dos Olivais (a maior de Coimbra euma das maiores do País).

Assim, ontem já houve aula de Chi Kung e deTai Chi (com muitos praticantes seniores da Fre-

Junta de Freguesia dos Olivaismostra-se no “Dolce Vita Coimbra”

guesia) e a projecção de um filme sobre a Fregue-sia e a Vida de Santo António.

O programa para hoje é o seguinte:16h00 - Aula de Yoga (seniores da Freguesia)17h - Aula de Chi Kung (seniores da Freguesia)18h - Aula de Dança de Salão19h - Ilusionismo- Mágico Telmo20h30 - Actuação do Coro de Professores de Coimbra Amanhã (quinta-feira, 4 de Dezembro)19h30- Actuação do Coro Coral da Casa de Pes-

soal dos Hospitais da Universidade de Coimbra Sexta-feira, 5 de Dezembro20h30- Actuação do Coro “Carlos Seixas” da Câ-

mara Municipal de Coimbra Sábado, 6 de Dezembro15h- Exibição das pequenas ginastas do Centro

Norton de Matos18h- Danças de Salão da Casa do Pessoal dos

Hospitais da Universidade de Coimbra.Enfim, mais uma meritória iniciativa da Junta de Fre-

guesia dos Olivais, que decerto surpreenderá.

ATÉ AO PRÓXIMO SÁBADO

Francisco Andrade

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12 3 A 16 DE DEZEMBRO DE 2008REPORTAGEM

Começámos por tentar satisfazer acuriosidade da maioria das pessoas:

Como é que os sapos-parteirossurgiram no Campo de Santa Cruz?Eis a resposta dos biólogos:

“A pergunta deve ser colocada aocontrário: como é que o campo de Santa

Cruz surgiu no habitat dos sapos? Elesjá deveriam existir no Jardim da Sereia eum pouco por toda esta zona da Alta deCoimbra, antes da urbanização. Sabemos

UM CASO EXEMPLAR EM QUE VÁRIAS ENTIDADES CONJUGARAM ESFORÇO

Sapos-parteiros vencem desano renovado Campo de Santa

Ao cabo de alguns anos, as obras no velho Campo de Santa Cruz terminaram no Verão passado,tendo surgido um novo campo, com vistosa relva e modernas infra-estruturas, inauguradocom pompa e circunstância. Longe ficaram os tempos do terreno “pelado” em que se viveramalguns momentos históricos da Académica, onde treinaram muitos dos “craques” que na Briosa jogaramao longo dos anos, mas que serviu também como local de lazer para largos milhares de jovens de sucessivasgerações, que ali iam divertir-se com a prática do futebol e de outros desportos.O que a maior parte das pessoas desconhecerá é que um dos mais complexos problemas desta obrafoi a preservação de uma preciosa colónia de sapos-parteiros, uma espécie em vias de extinção,que sobreviveu graças a um trabalho de cooperação de uma equipa multidisciplinar e ao exemplar cuidado detodos quantos estiveram envolvidos nas obras, desde os técnicos aos operários da construtora Ramos Catarino,passando por biólogos muito empenhados no estudo e preservação desta e de outras espécies.O “Centro” foi ouvir dois elementos dessa equipa, os biólogos Maria José Castro e José Miguel Oliveira,que nos desvendam alguns aspectos curiosos dessa bem sucedida operação que permitiu salvar os sapos-parteiros

que até ao início do séc. XIX esta zonatinha muita vegetação. Mas a partir des-sa altura, com a urbanização, o Parqudede Santa Cruz acabou por ser uma “ilhaverde” entre as casas. Assim, provavel-mente, os sapos que existiam na cidadeforam desaparecendo, ficando esta pe-

quena população isolada neste Parque.Depois, dentro do próprio Parque de San-ta Cruz, esta população acabou por ficarisolada, curiosamente, na área do cam-

po de futebol, por ser a única zona quemanteve água à superfície.

Registe-se que houve observações desapos-parteiros noutro local de Coimbra,na Av. Elísio de Moura, porque lá tam-bém passava água. Mas com o avanço

da urbanização desapareceram”.

NO PORTOJÁ SE EXTINGUIRAMTAL COMO EM OUTROSLOCAIS DO MUNDO

Mas existem noutras zonas dePortugal e em outros países?

“No Porto havia uma população desapos-parteiros no parque urbano, masque acabou por se extinguir. É um poucoo que se está a passar em todos os lo-cais onde ainda existem – e isso é preo-cupante. Os sítios onde os sapos-partei-ros vivem requerem algumas condiçõesparticulares de humidade e de boa quali-dade da água. Ora essas condições têmvindo a desaparecer por vários factores,como a destruição do habitat, as altera-ções da humidade, a drenagem da água– e este é o problema principal. A ten-dência desta espécie, mesmo em outrospaíses, é a extinção. Em Espanha, Fran-ça, em alguns países da Europa Central,

existem várias populações dos sapos-parteiro. Mas se já em 1997 a tendênciaera de regressão acentuada, a situaçãoagora será bastante pior: em alguns paí-ses estão praticamente extintos. Estaquestão do declínio a que estamos a as-sistir acaba por só poder ser travada,apesar de ser um problema global, comactos locais, como nós tentámos fazeraqui no Campo de Santa Cruz. Nós emPortugal temos condições muito especi-ais, se comparadas com as da Alema-nha ou com outros países da EuropaCentral. Nnão é porque nos preocupe-mos mais com o ambiente, é porque nãoassistimos a um tão acelerado desenvol-vimento económico do país, pois aqui aindustrialização foi mais lenta. Mas ago-ra, em Portugal anada a fazer-se a cons-trução de estradas, a drenagem, a entu-bar as linhas de água, portanto qualquer

sítio onde se construa uma urbanização,uma linha de água, em vez de se fazer avalorização dessa linha de água – que éum sítio onde muitos anfíbios de repro-duzem, onde as aves vão buscar águaou alimento –, a tendência é fazer ater-ros, e a linha de água desaparece com-pletamente de um dia para o outro. Ouentão as famosas manilhas, para facili-tar as passagem das pessoas, muitasvezes sem qualquer necessidade de fa-zer isso, pois podia perfeitamente cons-truir-se uma ponte ou ter-se o cuidadode manter a ribeira, pois estamos a falarde um recurso muito importante que é aágua. E não é só para os anfíbios! Mas ofacto de estes estarem a desaparecerindica que nós estamos a fazer algo queé errado! O seu desaparecimento é umsinal, é um indicador de que as coisasestão a correr muito mal. E é isso queestamos a assistir a nível mundial, aochamado declínio global dos anfíbios.Isso prova que não estamos a saber li-dar com os recursos dos habitats. Ora,na maioria dos casos seria possível com-

Aspecto do Campo de Santa Cruz antes e depois das obras

O Presidente da AAC, André Oliveira, o Secretário de Estado Laurentino Dias,o Governador Civil de Coimbra, Henrique Fernandes, e o Reitor da Universidadede Coimbra, Seabra Santos, na cerimónia de inauguração do renovado Campo

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133 A 16 DE DEZEMBRO DE 2008 REPORTAGEM

ÇOS PARA PRESERVAR ESPÉCIE EM VIAS DE EXTINÇÃO

safio da sobrevivêncianta Cruz

patibilizar as habitações das pessoas, ououtro tipo de infra-estruturas, e manteras linhas de água em bom estado. Masnão, resolve-se tudo a colocar manilhas,em vez de deixar a água correr a céuaberto”.

COIMBRA VOLTOU A SERUMA LIÇÃO EXEMPLAR

Que medidas foram tomadas aquiem Coimbra para preservar a coló-nia dos sapos enquanto decorriam asobras do Campo de Sanra Cruz?

“É uma história muito longa. Antes dasobras começarem, durante um ano e tal,fizemos um estudo bastante pormenori-zado da população dos sapos-parteiros,para perceber onde viviam, qual a suaactividade, onde é que se reproduziam,quais eram as condições básicas essen-

ciais para eles se manterem no local.Ainda antes do início das obras, tivemosde os tirar, em 2003, do campo de SantaCruz. A nossa preocupação foi transfe-rir aquela colónia de sapos para outrosítio, colocando-os fora do campo de jo-gos, mas ali perto, no Parque de SantaCruz. Mas foi uma tarefa muito compli-cada, porque tivemos de criar uma linhade água artificial, com locais para refú-gio, numa zona vedada, porque na altura

da reprodução eles têm a tendência devoltar ao sítio onde nasceram. Não mu-dámos a população toda até porque,como salvaguarda, fomos aconselhadospor outros investigadores a não o fazerporque o local artificial podia não ser bompara eles”.

EXEMPLAR COLABORAÇÃODE TODOS OS ENVOLVIDOSNAS OBRAS DO CAMPO

Os biólogos sublinham depois umfacto exemplar – e, infelizmente, rarona maior parte das obras:

“A colaboração e a sensibilidade dadirecção da obra foram cruciais na pre-

servação destes animais. Muitas vezeseram os próprios trabalhadores que sepreocupavam com os animais, isto é,quando necessitavam de intervir na linhade água, eles criavam outra linha de águae chegaram a mudar eles próprios osanimais. As linhas de água estavam si-nalizadas, sendo que não podiam passarmáquinas em determinados locais. Fo-ram sendo criadas linhas de água e lo-cais de refúgio no próprio campo, paraque os sapos pudessem utilizar esses sí-tios. Andámos constantemente com ostrabalhadores da obra, com o empreitei-ro, com o director de obra, a transportaros animais de um lado para o outro e issofoi essencial para que os sapos não fos-sem muito afectados. A equipa multidis-ciplinar envolvida no processo foi igual-mente fundamental, pois durante as obrasera importante que não houvesse umgrande impacto sobre os sapos adultos esobre os girinos. Daí a preocupação dese andar sempre a criar linhas de água erefúgios para aqueles que estavam lá vi-vos. Foi um trabalho complexo, pois osresponsáveis da obra tinham de execu-

Os biólogos Maria José Castroe José Miguel Oliveira

tar um projecto de arquitectura qque foraelaborado antes de se detectar a exis-tência, naquele local, da importante po-pulação dos sapos-parteiros. Assim, foinecessário trabalhar com uma equipa dearquitectos paisagistas para se fazer aligação com os arquitectos responsáveisdo projecto para pormenores como, porexemplo, a manutenção de valas, a pre-servação de uma mina de água. Essacooperação foi essencial”.

ESTRUTURAS ARTIFICIAISCRIADAS PARA ACOLHEROS SAPOS

Que tipo de estruturas foram cri-adas, no âmbito das obras, para pro-tecção da colónia dos sapos?

“Criou-se uma mina artificial, o perfilda vala também foi estudado, a sua incli-nação e a ligação entre a vala e o pró-prio campo. Para evitar que os animaisfossem para a área do campo, coloca-ram-se lajes, também para os sapos nãose afogarem e se defenderem dos pre-dadores. Tivemos de garantir que os ani-mais se pudessem movimentar por todoo lado, estávamos sempre a ver se exis-tiam obstáculos ou armadilhas, comoburacos onde eles caíssem e não conse-guissem sair. Mas o maior desafio foimanter a linha de água e isso devemosprincipalmente ao director de obra, quefez um esforço excepcional, e tambémao engenheiro geólogo.”

“COLÓNIA” DE SANTA CRUZCOM CERCA DE 1.500 SAPOS

Quantos sapos existiam no Cam-po de Sanra Cruz antes das obras equantos ali vivem agora?

“No início e no fim das obras foi feitoum recenseamento. Antes das obras con-tabilizámos uma população de cerca de1.500 sapos-parteiros. Houve um decrés-cimo da colónia durante as obras, masdepois recuperado. O número que regis-támos após as obras foi de cerca de1.200, mas a tendência é para que a po-pulação volte aos níveis anteriores”.

ESFORÇOPARA PRESERVAÇÃOTEM DE PROSSEGUIR

Quais os riscos que podem correros sapos no seu novo habitat?

“O desaparecimento da água, se forfeita alguma intervenção que impeça quea água venha para o campo – como, por

exemplo, a obra do metro de superfícieque está anunciada. A qualidade da águatambém não pode ser afectada. Devedizer-se que a Associação Académica deCoimbra tem agora um campo de fute-bol idêntico ao que tinha antes, mas emtermos de manutenção, a limpeza dasvalas é fundamental. Se não houver lim-peza das valas o campo vai inundar eisso é também prejudicial para os ani-mais. Deve fazer-se uma manutençãosemelhante à que existia com o Sr Frei-xo, o antigo responsável do campo, quedesempenhou, ao longo de muitos anos,um notável trabalho que muitas vezes éesquecido”.

Não é possível criar novas colóni-as desta espécie de sapos noutroslocais da Região onde possam estarmais protegidos?

“Para isso teria de se saber em que lo-cais eles existiram e por que é que daí desa-pareceram. Teria de se fazer um estudo edepois decidir-se uma reintrodução, feitacom os devidos cuidados. Isso implicaria umestudo ao longo de vários anos, que acabatambém por estar dependente do financia-mento, que é essencial. Não é possível sim-plesmente pegar nas espécies e colocá-lasnoutro sítio, até porque estas estão potegi-das por lei. Este tipo de trabalhos carece

sempre de uma licença por parte das enti-dades competentes, neste caso o ICN (Ins-tituto de Conservação da Natureza), e estádependente de financiamentos. Mas os cus-tos são muito elevados, como sucede tam-bém, por exmplo, com o lince-ibérico, queestá em cativeiro e está a ser reintroduzido.O mais fácil é evitar que as populações de-sapareçam. É mais barato manter e preser-var do que reintroduzir, até porque em ter-mos de sucesso também é mais fácil man-ter os animais onde eles existem.”

Um comentário bem avisado, quese espera encontre eco junto de to-dos quantos podem contribuir paraa preservação das espécies.

Um dos girinos nascidos no Campode Santa Cruz que assegurama sobrevivência da espécie

Alytes obstetricans é a designaçãocientífica do sapo-parteiro

O sapo-parteiro carregando os ovos,numa curiosa prática que justificao nome dado a esta espécie

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14 3 A 16 DE DEZEMBRO DE 2008COIMBRA

José Miguel Júdice esteve em Coim-bra na passada semana, para abrir umainiciativa do “Conselho da Cidade” inti-tulada “Coimbra Vista de Fora”.

A sessão decorreu na ACIC, tendo oPresidente do Conselho da Cidade, JoséDias, saudado o convidado e explicadoem que consiste esta realização, que visaque personalidades que vivem fora deCoimbra possam ter uma visão maisabrangente e mais objectiva sobre o de-clínio da cidade, trazendo propostas esugestões para inverter essa tendência.

José Miguel Júdice sublinhou, a dadopasso, que no “no Mundo moderno asCidades são como as empresas: preci-sam de ter uma estratégia, um plano denegócios, recursos e métodos”. E justifi-cou:

“Coimbra tem um problema estratégi-co. Como acontece com os impérios de-pois da descolonização, com os Estadosdepois das privatizações, com as Famíli-as depois da saída dos filhos de casa.Novos caminhos e novos modelos de or-ganização têm de ser encontrados”.

Referiu depois que seria totalmenteerrado continuar a mesma estratégia queseguiu até aqui, depois da realidade seter alterado. E explicitou alguns aspec-tos:

“Coimbra era a Cidade Universitária,a incubadora das elites, o centro do nos-so (pequeno) universo, a “Lusa Atenas”.Era essa a estratégia. Resultou duranteséculos. Com algum prejuízo para Portu-gal (monopólios são sempre a prazo ne-gativos). Ora a verdade é que há déca-das que – sem prejuízo da excelência dealguma universidade – deixou de ser tudoisso. A proliferação das Universidades, adesvalorização social do saber, entre ou-tros factores, criou uma situação de ris-co: Coimbra pode tornar-se numa Cida-de de segunda linha com uma Universi-dade regional”.

E continuou:“Uma forma de reagir a isso seria ten-

tar que Coimbra mantivesse o paradig-ma de uma cidade universitária apenas.Tentarmos que fosse a Oxford de Portu-gal. Mas o “modelo de negócio” da suaUniversidade destruiu essa possibilidade,em que aliás eu não acredito muito. Pros-seguir por essa via viabiliza uma cidadede província, com alguma qualidade devida, mas que perde influência e poder,que não gera elites e que não fixa talen-to. Já é tarde para esta opção”.

O advogado e empresário passou en-tão a aludir ao que considera ser “Umaestratégia para Coimbra”, dizendo:

“Coimbra tem algumas vantagens efactores diferenciadores: uma Universi-dade com excelência, uma elevada con-

centração de matéria cinzenta, grandequalidade de prestadores de serviços denível universitário, estruturas de descen-tralização estatal, centralidade em Por-tugal, tradições, monumentos, paisagense realidades ambientais favoráveis.

Nenhuma outra Cidade, entre Lisboae Porto, pode aspirar a competir comCoimbra... se esta lutar, não tiver refle-xos de velha fidalguia arruinada, se nãofor arrogante”.

E acrescentou:“Coimbra tem tudo a ganhar com a

descentralização política. Deve liderar omovimento pela regionalização, pela cri-ação de uma Região Centro, pela cen-tralidade regional, A regionalização é ofuturo de Coimbra. Para isso tem de li-derar a Região Centro”.

José Miguel Júdice (que nasceu e es-tudou em Coimbra, onde chegou a daraulas na Faculdade de Direito), reconhe-ceu depois que “o maior activo de Coim-bra é a sua Universidade, mas tem deser um activo produtivo”.

Assim, considerou que “tem um po-tencial grande para gerar indústrias doSéculo XXI ligadas às tecnologias da in-formação, ao ambiente, às energias lim-pas (agua, sol e vento), à cultura e aoturismo”.

José Miguel Júdice centrou-se nestesector do turismo, que classificou como“uma indústria mal vista, mal amada e

mal valorizada”, para sublinhar:“Coimbra é a Cidade portuguesa com

maior potencial (para além de Lisboa ePorto) para ser um activo centro de tu-rismo cultural e de eventos. O Turismoestará no futuro de Coimbra, como aUniversidade esteve no seu passado.Para isso é necessário que entre a Uni-versidade e o Turismo haja uma fusãode interesses. Coimbra tem de ter umrendimento superior ao seu produto.Deve ser um magneto para consumo. Aaposta no turismo é essencial para talefeito. A Universidade deve continuar aser uma aposta decisiva. AproveitandoBolonha para manter o (agora) inevitá-vel ensino de massas e potenciar o ensi-no de elites”. E apontou como exemplo,que o modelo de Coimbra deveria ser aUniversidade de Boston, com áreas deexcelência.

DEFESADA REGIONALIZAÇÃO

Prosseguindo a sua intervenção, Júdi-ce aludiu ao que classificou como “omodelo de negócio de Coimbra”, eque assentaria nas seguintes bases:criar um consenso político interno favo-rável à criação da Região Centro; lide-rar o movimento da regionalização a ní-vel nacional; criar uma forte Área Me-tropolitana, com políticas activas (“não

“COIMBRA VISTA DE FORA” POR INICIATIVA DO “CONSELHO DA CIDADE”

José Miguel Júdice fez algumas críticase deixou muitas sugestões e optimismo

há capitalidade sem massa crítica”, su-blinhou); criar a Marca Coimbra; articu-lar com capitais sub-regionais (Aveiro,Águeda/Mealhada, Viseu, Guarda, Pom-bal, Leiria, Tomar) com base numa es-tratégia a médio prazo e estruturada deforma profissional, como missão das for-ças sociais conimbricenses.

FUSÃO DE UNIVERSIDADESFOI “UMA PROVOCAÇÃO”

De seguida, José Miguel Júdice vol-tou a falar da Universidade, defendendoque Coimbra tem de “investir numa Uni-versidade de excelência como alavancaessencial da relação interactiva entrevillage et chateau”, e que seria desejá-vel transformar esta região (nomeada-mente Coimbra e Aveiro) “na capital doensino universitário tecnológico, cultural,turístico, ambiental e das energias”.

Acrescentou, sublinhando que o faziacomo “uma provocação”, que até se po-deria encarar uma eventual fusão entre asduas Universidades. Mais adiante, no de-bate, especificou que com isso pretendiadizer que deveria haver o aproveitamentode sinergias entre as duas Universidades,e até outras, de molde a concretizar, porexemplo, doutoramentos conjuntos.

Defendeu ainda a necessidade de “re-forçar a investigação científica aplicada,a incubação de empresas e a transfe-rência de tecnologias da Universidadepara o tecido empresarial” e de “dar aoTurismo a característica de segunda pri-oridade no modelo de negócio, após aUniversidade virada para a Cidade”.Reforçou também a necessidade de Co-imbra “criar infra-estruturas turísticas(Centro de Congressos) e eventos cul-turais potenciadores da geração de pú-blicos e de turistas motivados que aquiafluam em épocas especiais (festivais demúsica clássica, cinema, jazz, fado, tea-tro, artes plásticas, fotografia) em Co-imbra e sua Área Metropolitana, bemcomo criar grupos artísticos profissionaise dar-lhe apoio por objectivos. Defen-deu ainda que se deveria “potenciar osespaços museológicos em Coimbra earredores (Universidade, Machado deCastro, Santa Clara-Velha, Santa Clara-Nova, Quinta das Lágrimas, Igrejas,etc)” bem como apostar no turismo cul-tural, no turismo religioso, ambiental e denatureza, mas também no turismo des-portivo e no gastronómico, no turismo desaúde e no turismo jovem, bem comoarticular a acção, em termos de políticaturística, com as cidades vizinhas”.

Seguiu-se animado debate, tendo JoséMiguel Júdice afirmado, na intervençãofinal, que saía muito mais optimista rela-tivamente ao futuro de Coimbra.

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153 A 16 DE DEZEMBRO DE 2008 EDUCAÇÃO/ENSINO

* Professora e dirigente do SPRC

Isabel Dias *

Há duas personalidades públicas dequem tenho particular pena: o treinador doSporting e Manuela Ferreira Leite (MFL).

A razão desse sentimento é, paradoxal-mente, semelhante. No caso de Paulo Ben-to, o sentimento advém do ar perdido a cadanova derrota, que me leva a desejar, embo-ra não goste de futebol, que o Sporting ga-nhe; quanto a MFL, é fácil, de cada vez quea vejo sinto a empatia que nos invade quan-do vemos alguém incumbido de uma mis-são que, para além de ingrata, é impossível.Coitada, pedem-lhe oposição, mas comoopor-se a algo que apoia? Pedem-lhe críti-cas às políticas governamentais, mas como,se correspondem aos seus mais secretos an-seios? Pedem-lhe alternativa. Mas a queme a quê, se a identificação é perfeita?

Conheço até alguns simpatizantes doPSD que também me enchem de compai-xão, coitados. Têm a sensação de que nãotêm líder, de que nada sobrou da diferençacom o PS e, pior que tudo, recusam, estoi-camente, assumir que as duas proposiçõessão verdadeiras: nem têm líder, nem são di-ferentes do PS, porque os líderes do PS edo PSD são almas gémeas.

Desconfio mesmo que estas afinidadeselectivas vão mais longe e que o famosoexercício que MFL fez ao supor como tudoseria mais fácil se não houvesse democra-cia durante uns meses (como é difícil fazerreformas a sério em pouco tempo, uns ani-tos é que davam um jeitão) e ao defenderque não deveriam ser os jornalistas a esco-lher as notícias, resulta de uma estranha

Coitados de nósosmose com José Sócrates.

Penso mesmo que ambos acham demuito mau tom esta coisa da democra-cia; pressinto uma comum tendênciabcbg no ideário de MFL, nos fatos Bi-jan de José Sócrates e nalguns dos seusesgares agastados.

Há algum tempo, um senhor, de seu nomeSalazar, permitia a crítica controlada de leise políticas, se tal servisse para preparar aopinião pública para as reformas. Defendiaa liberdade, mas considerava que a liberda-de de pensamento deveria ser regulada eque a censura impediria a perversão da opi-nião pública, defendendo-a dos factores quea desorientassem contra a verdade, a justi-ça, a moral, a boa administração e o bemcomum. O mesmo senhor determinava oque era justo, o que era moral, o que era boaadministração e o que era bem comum, sobpretexto de que só ele tudo via à luz do inte-resse de todos.

Não duvido de que José Sócrates achamuita graça a esta filosofia política e de queestes princípios lhe são úteis para justificarmuitos dos seus tiques autoritários; paraimpedir a polícia de fornecer números, quan-do os mesmos lhe resultam insuportáveis;para apresentar as manifestações comochantagem; para justificar uma propagandacomparável à das ditaduras; para criar aper-tadíssimos sistemas de controlo e estreitasinterdependências.

Os trabalhadores estão no mesmo pla-no? Hierarquize-se! Os presidentes são elei-tos pelos seus pares profissionais? Externa-lize-se! Não obedecem porque lhes é im-possível implementar certas políticas? Osdirectores que avaliem! Os directores nãoconcordam com a tutela? Naaa... não valea pena perder tempo com utopias!

Na democracia de José Sócrates, os tra-balhadores são perigosos e o fundamental édividi-los: uns contra os outros, chefias con-tra chefias, classes profissionais contra apopulação em geral. Na democracia de JoséSócrates, divide-se para melhor governar ecoisas tão simples como direitos iguais parafunções iguais não existem. A liberdade, aigualdade e a fraternidade são-lhe estranhos– também já cá andavam desde 1789 e co-meçam a ser ideais incompatíveis com ou-tras revoluções...

O único anseio passadista é o de que ademocracia se realize apenas em salõesaristocráticos, no conforto da alta burguesiae da fina-flor social, uma democracia semeste cheiro a povo, uma democracia semgritos nas ruas a recusar o absurdo.

MFL teve uma ideia brilhante, os seusapoiantes e os de José Sócrates é que ain-da não perceberam: acaba-se de vez coma democracia e pronto! Depois, como jánão há democracia, deixa de fazer senti-do haver um partido social democrata –PSD – e passa a haver apenas um parti-do social – PS –, igual ao outro, o tal queera socialista. Dois PS num só represen-tam uma poupança fenomenal em cam-panhas eleitorais e em serviços de saúde– sim, que conheço muitos simpatizantesdo PSD e do PS que já só se livram dasangústias recorrendo ao sistema nacionalde saúde...

Por outro lado, para mim, é óptimo. Dei-xo de ir ao médico tratar a insónia que amissão impossível de MFL me causa, passoa só ter pena de Paulo Bento, durmo me-lhor, pago menos impostos – que baixamgraças à tal poupança – e, com esse dinhei-rito extra, filio-me no Sporting.

Ministra satisfeitacom apoio do Governo e da JS

A Ministra da Educação admitiu no pas-sado domingo (dia 30) ser “muito impor-tante” o apoio que recebeu na véspera(sábado) do Governo de Sócrates e nes-se mesmo dia da Juventude Socialista(JS), em Faro, e revelou estar “tranquila”sobre a greve dos professores agendadapara hoje (quarta-feira).

“É muito importante. É muito importan-te”, insistiu Maria de Lurdes Rodrigues, aoinício da tarde de domingo, em Faro, à saídade uma reunião da Comissão Nacional daJuventude Socialista, onde cerca de 100 ele-mentos da JS debateram o tema da PolíticaEducativa, com especial enfoque para oEstatuto do Aluno.

Maria de Lurdes Rodrigues escusou-secomentar a hipótese de ainda haver acordocom os sindicatos antes da greve nacionalmarcada para hoje (quarta-feira), mas dis-se estar tranquila.

“Estou sempre tranquila. Uma coisa queme caracteriza é a tranquilidade”, referiu,

afirmando que “nunca lhe faltou apoio dasestruturas do Partido Socialista.

No final do encontro, Maria de LurdesRodrigues disse aos jornalistas que foi feitauma “clarificação” sobre o Estatuto do Alu-no e acrescentou que o passo seguinte éinformar e divulgar sobre a política e asmedidas tomadas pelo Governo sobre esseassunto.

“Sem prejudicar a autonomia das esco-las na aplicação e na transposição para osregulamentos internos, é necessário ter al-guma vigilância e alguma intervenção nosentido de que aquilo que é o espírito da leise cumpra. Porque o objectivo não é pena-lizar os alunos quando as faltas não sejamda sua responsabilidade”, disse a ministrada Educação.

A clarificação e a divulgação do Estatutodo Aluno vai ser feita em forma de desdo-brável, distribuído já na próxima semana àsescolas, garantiu, por seu turno, Duarte Cor-deiro, secretário-geral da Juventude Socia-

lista, à margem da reunião que teve com aMinistra da Educação.

“Houve problemas de informação” e “hámuita desinformação”, admitiu Duarte Cor-deiro, mas a partir desta semana a JS vai àsescolas e vai ajudar os estudantes a perce-ber quais são os seus direitos.

“Vamos distribuir um flyer onde diz tuestás em primeiro lugar e explica de umaponta à outra o Estatuto do Aluno”, nomea-damente sobre a prova de recuperação eas consequências, mencionou.

Sobre a questão da suspensão daavaliação dos professores, a JS apoiaa Ministra.

“Parar a avaliação não é uma alternati-va. Houve um passo da parte do Ministério,que apresentou uma proposta inicial de ne-gociação aos professores, mas da parte dosprofessores não houve ainda uma respostaem relação a isto”, lamentou Duarte Cor-deiro, referindo que ouviu uma Ministra dis-ponível para simplificar.

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16 3 A 16 DE DEZEMBRO DE 2008SAÚDE

Uma equipa de investigadores de Co-imbra está a desenvolver um “robô den-tista”, com o objectivo de tornar os im-plantes dentários mais baratos, mais re-sistentes e com maior conforto para ospacientes.

“Os implantes dentários são muitocaros - dois dentes podem chegar aosdez mil euros -, e morosos, e a pós-instalação é muito longa e dolorosa, opaciente pode demorar mais de umano a ‘largar’ o dentista”, disse à LusaNorberto Pires, um dos investigado-res envolvidos.

O projecto encontra-se em fase deconclusão e foi trabalhado durante trêsanos por cientistas da Faculdade de Ci-ências e Tecnologia da Universidade deCoimbra (FCTUC) e do Instituto Biomé-dico de Investigação da Luz e da Ima-gem - Faculdade de Medicina da Uni-

Investigadores de Coimbra criam “robô dentista”para tornar implantes mais baratos e resistentes

versidade de Coimbra (IBILI-FMUC).O objectivo, acrescentou o docente

da FCTUC, não é um robô que substi-tua o dentista, mas “tornar os implan-tes dentários mais acessíveis” à popu-lação em geral e “reduzir o desconfor-to no paciente”.

Os investigadores acreditam que, aooptimizarem o processo de colocação dosimplantes dentários, os custos possam serreduzidos para metade.

O sistema robótico simula e monitori-za todo o processo, ao imitar os procedi-mentos do médico-dentista, de forma aencontrar a optimização dos modelos.

“Ganha-se em custos, em tempo e, setivermos de fazer quatro furos em vezde seis, a recuperação é também menosdolorosa”, considerou Maria FilomenaBotelho, do IBILI-FMUC, outra das in-vestigadoras envolvidas no projecto.

Em fase de utilização experimental,no Departamento de Engenharia Me-cânica da Universidade de Coimbra, o“robô” realizou testes em peças anató-micas (de cadáveres) e num modelo deuma mandíbula em material equivalen-te ao osso, criado a partir de um TAC apeças reais.

O “robô dentista” está dotado de sen-sores de força e utiliza um mecanismoóptico (foto-elastómetro) que regista osmovimentos e esforços utilizados namastigação, antecipando o desconfortonos pacientes, as tensões provocadas nomaterial, a vida útil do implante e os da-nos originados.

“Não há intervenção humana nenhu-ma, são seleccionadas as melhores geo-metrias, colocam-se os dentes e simula-se a mastigação”, disse Norberto Pires,sublinhando tratar-se de “um processo

total de simulação de geometrias” quepode revelar-se numa “boa indicaçãopara os médicos-dentistas”.

Norberto Pires afirma que é a primei-ra vez que se realiza em Portugal umestudo sistemático de colocação de im-plantes dentários.

“O que os médicos-dentistas fazemé testar com os pacientes, não arris-cando muito, e, dessa forma, vão ven-do o que corre mal, partilhando depoisas ideias técnicas em congressos”, re-feriu o investigador da FCTUC.

Os cientistas esperam concluir a in-vestigação em Maio do próximo ano,com a elaboração de um Guia de BoasPráticas para a Aplicação de Implan-tes Dentários.

A investigação conta com o apoiode dois médicos-dentistas, alunos demestrado.

Ratos submetidos a uma dieta rica emgordura, açúcar e colesterol durante novemeses desenvolveram uma fase prelimi-nar das alterações que se formam no cé-rebro dos pacientes com Alzheimer, indicaum novo estudo.

As conclusões desta investigação, pu-blicadas pelo Instituto Karolinska, de Es-tocolmo, fornecem pistas sobre como umdia se poderá prevenir esta doença aindasem cura.

A doença de Alzheimer, a forma maiscomum de demência, afecta mais de 70mil pacientes em Portugal. Embora as suascausas sejam ainda misteriosas, são co-nhecidos vários factores de risco, um dosquais é uma variante de um gene que re-gula a produção da apolipoproteina E e que

SUSTENTA ESTUDO FEITO EM ESTOCOLMO

“Fast food” é factor de risco potencialpara doença de Alzheimer

tem entre as suas funções o transporte docolesterol.

A variante deste gene, chamada apoE4,existe em 15 a 20 por cento da população.

Neste estudo, que constituiu a sua tesede doutoramento, a investigadora SusanneAkterin estudou ratos geneticamente mo-dificados para reproduzirem os efeitos daapoE4 e que foram alimentados durantenove meses com uma dieta rica em gordu-ra, açúcar e colesterol, o conteúdo nutrici-onal da maioria da “fast food”.

“Ao examinarmos os cérebros dessesratos encontrámos uma alteração químicaindistinta da que se observa no cérebro dedoentes com Alzheimer”, explica a inves-tigadora num comunicado do Instituto Ka-rolinska citado pelo site de informação ci-

entífica AlphaGalileo.A alteração consiste num aumento de

grupos fosfatados ligados ao tau, uma subs-tância que forma o emaranhado neurofi-brilar observado nos doentes de Alzheimer.

Esses emaranhados impedem as célu-las de funcionar normalmente, o que even-tualmente conduz à sua morte.

A investigadora também observou queo colesterol nos alimentos reduz os níveisde outra substância presente no cérebro, aArc, uma proteína envolvida no armaze-namento de memória.

“Suspeitamos que uma elevada inges-tão de gordura e colesterol em combina-ção com factores genéticos, como a apoE4,pode afectar adversamente várias substân-cias cerebrais, o que pode ser um factor

contributivo para o desenvolvimento deAlzheimer”, afirma Susanne Akterin.

Investigações anteriores deram contaque um fenómeno conhecido como stressoxidativo no cérebro e uma relativamentebaixa ingestão de antioxidantes podem tam-bém aumentar o risco de Alzheimer.

Agora, Susanne Akterin demonstra nasua tese que dois antioxidantes são disfun-cionais no cérebro dos doentes de Alzhei-mer, o que pode levar à morte da célulanervosa.

“No fundo, os resultados dão algumasindicações sobre como se poderá prevenira doença de Alzheimer, mas há ainda mui-ta investigação a fazer nesta via antes dese poder dar um conselho adequado aopúblico em geral”, afirmou.

Os portugueses que acedem à In-ternet a nível particular fazem-no so-bretudo em busca de informação so-bre saúde, sendo dos europeus quemenos utilizam os serviços bancáriosem linha, revela um estudo divulgadoontem (terça-feira) pela ComissãoEuropeia.

O estudo do gabinete oficial de es-tatísticas da União Europeia, Euros-

Portugueses procuram na internetsobretudo informações sobre Saúde

tat, revela que no primeiro trimestrede 2008 quase metade dos lares emPortugal tinha acesso à Internet (46por cento, contra 40 por cento em 2007e 35 por cento em 2006), um valor ain-da assim aquém da média comunitá-ria, de 60 por cento.

A análise das actividades efectuadasna Internet com fins privados demons-tra que 22 por cento dos utilizadores por-

tugueses procuram informações sobresaúde, sendo o segundo tópico de mai-or interesse a consulta de edições “online” de jornais e revistas (20 por cen-to), seguindo-se contactos com admi-nistrações públicas (18 por cento).

Apenas 14 por cento dos “internau-tas” portugueses recorrem à “net”para realizar operações bancárias “on-line”, contrariando a tendência na UE,

onde esta é a segunda actividade maiscomum entre os utilizadores de Inter-net com fins privados (32 por cento).Oestudo revela que os portugueses tam-bém não são particularmente adeptosdo recurso à Internet para marcar vi-agens e alojamento, sendo a percen-tagem de portugueses que o fazem (12por cento) das mais baixas da UE a27, onde a média é de 32 por cento.

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173 A 16 DE DEZEMBRO DE 2008 SAÚDE

MassanoCardoso

“Até um dia destes!”

O que é uma metáfora? A “metáfo-ra”, escreveu Aristóteles, “consiste emdar a uma coisa um nome que perten-ce a outra coisa”.

Susan Sontag, uma escritora que mui-to admiro, e que sofreu três doençasmalignas, no seu ensaio sobre a “Sida eas suas metáforas”, afirmou que “di-zer que uma coisa é ou semelha uma-coisa-que-não-é traduz-se numa ope-ração mental tão antiga como a filo-sofia, a poesia e o terreno gerador damaior parte dos modos de expressãoe de pensamento”.

Se olharmos para as diferentes for-mas de arte podemos verificar que são,indiscutivelmente, metafóricas. O queleva alguém a “ouvir cores” ou a “verfragrâncias”? Os comportamentos “si-nestésicos” podem ser meras mentiras,ser frutos de drogas alucinatórias, reve-lar anomalias do funcionamento mentalou traduzir verdadeiros curto-circuitoscerebrais.

Alguns neurocientistas explicam queeste fenómeno, sinestesia, teve vanta-gens selectivas ao contribuir para subiràs arvores! Para subir às arvores é pre-ciso uma boa visão, desenhar previamen-te um mapa mental dos ramos e ter in-formação da posição dos nossos mem-bros e depois correlacioná-los! Logo, ametáfora seria apenas uma abreviaçãoconveniente para a ligação dos fenóme-nos cognitivos não relacionados! Imagi-nem se os nossos antepassados não ti-

vessem subido às arvores. Nunca con-seguiríamos desenvolver o nosso senti-do artístico! Deu uma grande ajuda parafugir aos tigres dentes de sabre e, aomesmo tempo, propiciar o sentido da artee da representação. Nos dias actuais jánão subimos às arvores, até porque éperigoso, mas muitos sobem a árvoresimaginárias através do álcool, do café,de drogas, da contemplação, do silêncioabsoluto, de forma a encontrar a magiade uma metáfora que simplifique rela-ções complexas. E ouvem cores, vêemaromas e cheiram sentimentos! E delici-am-nos com as suas construções. Mas,às vezes, não é preciso usar estes meiospara metaforizar. Basta, por exemplo,sentar, novamente, numa esplanada aofim de alguns anos, na mesma mesa, namesma cadeira de ferro, ver a mesmabrisa, tocar o mesmo sol e ouvir as mes-

mas sombras. Convidado para beberuma água, enquanto aguardava o trans-fer para o aeroporto, subitamente subs-tituí o pedido por uma cerveja. E, comoque por magia, senti transportar-me unsanos atrás em que na companhia de umamigo, entretanto falecido com cancro,conversávamos pachorrentamente. Maisnovo, colega de campanhas eleitorais eno Parlamento, tinha um enorme apegoà vida e à família. Defendia-a com den-tes e garras. Indignava-se facilmentecom as injustiças ou quaisquer ameaçase, logo de seguida, querendo mostrar quetambém era capaz de ser violento, usa-va, metaforicamente, as suas armas –era um caçador –, para matar tudo e to-dos! Nesses momentos, o seu timbreagudizava-se e subia mais uns tons, comoa querer demonstrar a sua agressivida-de. Era a altura – mais do que esperada–, em que me enchia de risos interiores,ao ponto de lhe sugerir que usasse a dacaça grossa que tinha mira e tudo. As-sim não falharia o alvo. Indiferente àminha suposta ironia, lá ia desfiando assuas soluções “mortíferas”.

Falava dos filhos e da mulher com umaternura impossível de transmitir, a não seratravés de metáforas. Não encontro ne-nhuma à sua altura. Sei que fui desperta-do deste pensamento quando me disse-ram que o carro estava à espera. Bebi oúltimo golo da cerveja, já amornada, amesma que tinha bebido anos antes como meu amigo, e, numa estranha sensação“sinestésica”, ao dar-lhe uma palmada nascostas, saiu-me: “Até um dia destes”!

Testes de sida vão ser gratuitospara todos os utentes do SNS

A ministra da Saúde, Ana Jorge, anun-ciou anteontem (segunda-feira) na Ama-dora que os testes da Sida (VIH1 eVIH2) vão passar a ser gratuitos paratodos os utentes do Serviço Nacional deSaúde (SNS).

Em Portugal realizam-se já cerca deum milhão de testes por ano.

Ana Jorge anunciou também o refor-ço da capacidade de diagnóstico preco-ce do vírus, particularmente junto dosgrupos mais vulneráveis.

Para tal, revelou a ministra, vão serdisponibilizadas cinco unidades móveis– uma por cada administração regio-nal de saúde –, que pretendem asse-gurar um acesso universal ao diagnós-tico da infecção, além de proporcio-narem informação e aconselhamento.

Ana Jorge fez estas revelações no Dia

Mundial da Sida, durante uma sessão pro-movida pela Associação de Jovens Pro-motores da Amadora Saudável, que desen-volve há 10 anos o projecto “Viver com oVIH”, actualmente financiado pelo progra-ma ADIS/SIDA, do Ministério da Saúde.

Na sua intervenção, a ministraanunciou igualmente que os cheques-dentista do SNS, no âmbito do Pro-grama Nacional de Promoção da Saú-de Oral, vão alargar-se aos doentesinfectados pelo VIH.

Outra medida revelada por Ana Jor-ge prende-se com o lançamento de cen-tros de terapêutica combinada, abran-gendo os diferentes programas para in-fectados com o vírus que, em simultâ-neo, são utilizadores de drogas em subs-tituição opiácea.

O Ministério da Saúde perspectiva,

por outro lado, que os bancos de leitea criar nos hospitais públicos assegu-rem o leite de forma gratuita às mãesportadoras da infecção pelo VIH.

“O fornecimento contínuo da fór-mula láctea deverá ser também asse-gurado gratuitamente, no mínimo por12 meses, pelas farmácias hospitala-res, através de prescrição médica”,

acrescentou Ana Jorge.O pacote revelado pela titular da

pasta da Saúde inclui a abertura deum concurso específico para projec-tos de investigação em infecção VIH/Sida, com um orçamento de um mi-lhão de euros.

Desde 1983, a infecção atingiu jámais de 33 mil portugueses.

ANUNCIA A MINISTRA DA SAÚDE

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18 3 A 16 DE DEZEMBRO DE 2008A PÁGINA DO MÁ[email protected]

Mário Martins

NO PAÍS DO “SIMPLEX”

CARTÃO DO CONTRIBUINTE10 MESES DE ESPERA!REELEIÇÃO

A Ana Filipa Janine foi reeleita directorado Gabinete de Relações Internacionais daJSD, durante o congresso da organizaçãoque hoje terminou em Penafiel.

Integrou a lista de Pedro Rodrigues, ree-leito presidente com 308 votos. A lista opo-sitora, liderada por Bruno Ventura, obteve245 votos.

A Ana Filipa Janine foi ainda a relatorado grupo de trabalho que apresentou ao con-gresso a moção “Portugal no mundo”, apro-vada por unanimidade.

Parabéns, filha!(publicado em 30/11)

ISTO ESTÁ LINDO...Não passa um dia sem um novo es-

cândalo.Portugal parece ser, cada vez mais, um

sítio mal frequentado.(publicado em 24/11)

A VERDADESOBRE O PREÇODA GASOLINA

As petrolíferas portuguesas continuam aseguir a política de baixar “às pinguinhas” opreço dos combustíveis. Hoje, uma; ama-nhã, outra. E o “Zé” convence-se que o pre-ço está sempre a baixar...

Entretanto, em Espanha os preços conti-nuam a baixar em ritmo acelerado, estandojá abaixo de 1 euro.

E com uma característica que deveriamerecer explicação dos responsáveis por-tugueses: a gasolina é mais barata do que ogasóleo.

(Não são esses mesmos responsáveisque, volta e meia, falam do «mercado ibé-rico de combustíveis»? Ainda não ouvi/liqualquer referência a esta evidente dis-paridade.)

Por outro lado, o Governo português, doSimplex e do Magalhães, continua a mos-trar-se incapaz de publicitar os preços quese praticam no país. Aqui ao lado, há anos

que o Ministerio de Industria, Turismo yComercio divulga na internet os preços pra-ticados em toda a Espanha.

(publicado em 26/11)A CRISE

«Há uma crise recente que é financeira,mas há uma crise crónica instalada em Por-tugal há dez anos. É a crise dos valores, acorrupção no sentido mais entranhado naestrutura do regime, a promiscuidade dosinteresses do Bloco Central, a vida dupla demuitas figuras públicas que dão a cara paraganhar votos e manter poleiros, e a outraque é a dos negócios, do poder do dinheiro.

O que hoje se dá a ver é que, afinal, acrise financeira está a destapar o lençol amuitas figuras que estiveram a fingir de ca-dáveres políticos, mas que continuavam atrabalhar pela calada nas maiores obscuri-dades.

E se o BPN foi a Dona Branca dos nos-sos colarinhos brancos, ainda vamos sabermais, muito mais.»

Luiz Carvalho, no “Instante fatal”.(publicado em 21/11)

O RECUO DA MINISTRA(E DO GOVERNO)

Estou a acompanhar “on-line”, na SICNotícias, a declaração da ministra da Edu-cação, após a reunião extraordinária doGoverno, esta tarde.

(...)É estranho que só agora o Ministério

da Educação tome conhecimento do ex-cesso de burocracia, da possibilidade deum professor ser avaliado por um cole-ga de outra área de conhecimento, daexcessiva carga horária que o processoexige aos professores e da avaliação doprofessor depender do sucesso dos alu-nos, entre outros aspectos.

(Por falar em sucesso dos alunos: o queaconteceria se este critério fosse aplicadoaos professores universitários, sobretudo aosque leccionam “cadeiras” nas quais as ta-xas de insucesso chegam aos 70%-80%?...)

Parece-me tratar-se apenas de remen-dos, provando que a avaliação em curso nãofoi pensada (programada) com o rigor ne-cessário - condição-base de qualquer pro-cesso de avaliação.

Também não me parece que os profes-sores alterem, agora, as posições que vêmdefendendo.

(publicado em 20/11)

VITÓRIA NA FIGUEIRA DA FOZA minha equipa (os juniores do Vigor, na foto) venceu no sábado a

Naval, por 2-1, na Figueira da Foz, no primeiro jogo da 2.ª volta docampeonato.

Depois do triunfo em Alverca, também por 2-1, a minha equipa foiagora vencer a casa de outro candidato à subida de divisão. E já somajá quatro vitórias em terrenos alheios, em sete deslocações.

O desafio de sábado foi disputado num recinto em péssimas condi-ções. A Naval, o único clube - desta Série C do campeonato de juniores- que em seniores disputa a 1.ª divisão nacional, é também o único queapresenta um campo em terra batida! Todos os outros clubes jogamem campos relvados. Triste ironia.

A minha equipa ocupa o 5.º lugar na tabela classificativa (12 equi-pas), a par do Fátima, com 20 pontos conquistados na dúzia de jornadasjá disputadas.

No próximo sábado, a minha equipa recebe em Fala, às 15h00, oOdivelas, líder do campeonato.

(publicado em 30/11)

SERVIÇO PÚBLICO

IMAGEM DA QUINZENA

O cidadão que pediu o Cartão do Contribuinte em Fevereiro ainda conti-nua à espera que as Finanças lho enviem.

O PREÇO DA GASOLINAPara que não se perca a tradição, aqui se divulga o preçodos combustíveis, ontem, 2 de Dezembro, em Portugal e Espanha.

GASOLINA 95 SEM CHUMBO1,159 (COIMBRA) E 0,861 (FUENTES DE OÑORO)

GASÓLEO1,089 (COIMBRA) E 0,929 (FUENTES DE OÑORO)

(recebida por e-mail; publicada em 1/12/2008)

MANIFESTAÇÃO DAS GALINHAS

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193 A 16 DE DEZEMBRO DE 2008 MÚSICA

Distorções

José Miguel [email protected]

No passado dia 14 de Novembrovoltei ao “Clubbing” da Casa da Músi-ca, um evento que não pára de crescerde edição para edição, sobretudo desde

a última vez que lá fui, mais propriamen-te a 1 de Junho de 2007. E quando afir-mo que não pára de crescer, digo-o, so-bretudo, porque em 2007 ainda não ha-via o apoio da Optimus, o que, claramente,catapultou o evento para outros públicos

que não só o portuense. Como nesse dia1 de Junho de 2007 e até aí, os artistas eas bandas que por ali passavam erammenos conhecidas do público, nomeada-mente Jay Jay Johansson. Aparecendo,nessa edição, os Klaxons, por força deuma parceria celebrada com o “FestivalPrimavera Sound” de Barcelona. E daípara cá, sobretudo desde o início de 2008,que o cartaz do “Clubbing” tem estado

ao “rubro”, com nomes fortes da músicaactual e a esgotar quase sempre e comalguma antecedência. Einsturzende Neu-baten, The Whip, Vitalic, The Kills, fo-ram alguns dos nomes que por lá passa-ram nos últimos meses. Mas, desta vez,consegui mesmo ir, sobretudo porque malvi que os cabeças de cartaz eram umadas minhas bandas preferidas, Cut Copy,apressei-me a arranjar os bilhetes, o quese veio a revelar uma boa opção porque,

no dia, a Casa da Música rebentava pe-las costuras e nem um bilhete disponí-vel.

A actuação dos Cut Copy foi, comose esperava, verdadeiramente arrebata-dora e irrepreensível, sobretudo se tiver-mos em conta que estes rapazes deMelbourne estão fora de casa desde Ja-neiro e nem uma mostra de cansaço.Para o fim da noite estava reservado um“dj set” de Boys Noize.

Mas as mudanças não ficam por aqui,há ainda a salientar que na altura em quelá tinha estado antes, o acesso às salas,que não a Sala 2 (como a Cibermúsicaou a zona do Bar, que também tem actu-ações de djs) era inteiramente gratuito,o que agora não acontece, havendo simuma redução no preço do bilhete.

Por fim, gostava de destacar uma úl-tima novidade do “Clubbing”, que acon-tece na Sala Roxa, onde o radialista Ál-varo Costa comenta uma série de fil-mes, concertos, entrevistas, etc. de umdeterminado músico. Desta vez, o eleitoera Bob Dylan e o tema “When BobDylan Speeks”. Foi a inovação que maiselogiei e que mais me entreteve, enquantonão chegavam os Cut Copy.

Mas o fenómeno que tomou conta detodos os “media” foi o regresso dos GunsN´Roses, com mais um disco de origi-

nais, “Chinese Democracy”, que já es-tava a ser preparado há mais de 14 anos,o que faz dele o disco mais aguardadode sempre da história do rock. Desde aedição de “Spaghetti Incident” em 1993,apenas resta Axl Rose, mas, apesar dis-so, o novo álbum mostra que a banda ain-da tem algo a mostrar. Prova disso mes-mo é o facto de terem atingido os pri-meiros lugares do top de vendas em todoo mundo, incluindo em Portugal, e aindao facto de na véspera de o disco chegaraos escaparates poder ser ouvido inte-gralmente no MySpace da banda, o quelevou a um novo record mundial de utili-zadores desta plataforma.

Para o fim e já que falamos de GunsN´Roses, sugiro a autobiografia do ex-guitarrista desta banda, Slash, com o tí-tulo homónimo.

PARA SABER MAIS:

www.casadamusica.ptwww.gunsnroses.comGuns N´Roses “Chinese Democracy”(Universal)Slash e Anthony Bozza “Slash”(Quinta Essência)

Cut Copy

Álvaro Costa

Boys Noize

Guns N´Roses

A famosa London PhilharmonicOrchestra poderá ser ouvida no próxi-mo dia 16, no CAE (Centro de Artes eEspectáculos) da Figueira da Foz, emconcerto com entrada gratuita.

Este concerto contará, ainda, com apresença do conceituado pianista norte--americano Nicholas Angelich.

Trata-se do Concerto de Natal daCaixa Geral de Depósitos, e o ingressogratuito está condicionado a dois bilhe-tes por pessoa, a levantar nas bilheteirasdo CAE.

Registe-se que a London Philhar-monic Orchestra celebra o seu 75ºaniversário na época 2007/08, tendocomo seu principal maestro VladimirJurowski.

Actualmente considerada como umadas melhores orquestras do mundo, astournées são parte significativa da suaactividade, com uma agenda constan-

No contexto do Dia Internacional dasPessoas com Deficiência, o Governo Civildo Distrito de Coimbra promove hoje (quar-ta-feira, dia 3) um Concerto alusivo, em queparticipam, para além da Orquestra Clássi-ca do Centro, od grupos 5.ª Punkada (daAssociação Portuguesa de Paralisia Cere-bral - APPC) e Cãoboys (da AssociaçãoPortuguesa de Pais e Amigos do CidadãoDeficiente Mental - APPACDM).

O concerto efectua-se no Pavilhão Cen-tro de Portugal, em Coimbra, com inícioàs21,30 horas.

A Orquestra Clássica do Centro, sob adirecção do Maestro Virgílio Caseiro, iráapresentar também, com o grupo 5.ª Punka-da , os temas : Blues e Reis.

Antes, pelas 18 horas, e também no mes-mo espaço (Paviçhão Centro de Portugal,em Coimbra), será inaugurada uma exposi-

HOJE À NOITE; PARA ASSINALARDIA DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA

Governo Civil de CoimbrapromoveConcerto inédito

ção subordinada ao tema celebrado mun-dialmente neste dia, e que estará paten-te ao público até ao próximo sábado (6de Dezembro).

Na sequência da Resolução da ONUde 1998, o dia 3 de Dezembro passou aassinalar a comemoração do Dia Inter-nacional das Pessoas com Deficiência.Este dia é celebrado por todas as orga-nizações internacionais e nacionais sobum lema definido anualmente. Este ano,a União Europeia definiu como tema “Agir Localmente para uma Sociedadepara todos” e as Nações Unidas “Digni-dade e Justiça para Todas as pessoas”.

A nível nacional, as comemoraçõesdeste ano terão uma forte componentede sensibilização, mantendo-se o slogando ano passado: “Não Discrimines, In-tegra!”

NO DIA 16, COM ENTRADA GRATUITA

Orquestra Filarmónicade Londres em concertona Figueira da Foz

te de concertos nos Estados Unidos,Europa e Países de Leste, figurandocomo cabeça de cartaz em grandesfestivais. Como contraponto às suasviagens, a orquestra tem incluído nassuas fileiras músicos de enorme talen-to de diversas nacionalidades desde oBrasil até à Hungria.

Outra das suas actividades maismarcantes tem sido a gravação de dis-cos, incluindo a de bandas sonoraspara filmes de grande sucesso comoa trilogia de “O Senhor dos Anéis”(pela qual recebeu o Óscar de Me-lhor Banda Sonora). Tem participado,igualmente, em inúmeros programasde rádio e televisão, e conta com umextensivo programa educacional, di-reccionado quer para a comunidade,quer para o público escolar que incluios aclamados ensembles Renga e aOpen Ear Orchestra.

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20 3 A 16 DE DEZEMBRO DE 2008CRÓNICA

* Docente do ensino superior

AO CORRER DA PENA...

Maria Pinto*[email protected]

– Está tudo bem consigo, Drª!E numa expressão risonha: “Lamento

ainda não poder passar-lhe a declaração debaixa antecipada... vamos só perceber seouve bem?”

Sorri pela boa disposição daquele médi-co experiente, que sabia entender os seuspacientes para além do olhar.

– Como se chama?Recordei-lhe o meu nome.– É do Porto ou do Benfica?Confidenciei ser da Académica... ques-

tões de afinidade familiar...– É feliz ou infeliz?Fiquei suspensa. Não porque não tivesse

escutado a pergunta. Mas porque não tinharesposta. “Não sei, Dr., penso que não so-mos felizes... existem bons momentos. Mo-mentos do para sempre... apenas.

– Muito bem, Drª, como lhe disse, estátudo bem. Mas há uma névoa nesse olhar.Pense nisto: tente conseguir tempo para si.Tempo de qualidade. Irá gostar-se cada vezmais. Comece por ir ver as montras. Vaiver que se sente bem.

Ao entrar no carro, sorri de novo. Tem-po. Tempo de qualidade. Quando teria sidoa última vez?...

Fiz deslizar mecanicamente o automóvelaté junto do mar. Desta vez com o propósitode ir atrás do tempo. Sem tempo. Olhando--me para dentro. Durante o percurso senti

a falta do maravilhoso livro de Richard Bach,“Não há longe nem distância”, que re-centemente perdi. Livro a que recorro emmomentos de introspecção e de análise domundo e dos sentimentos. Um pequeno li-vro pleno de emoção. Quando o folheio eleio, acontece-me sempre um doce soluço.Talvez por certas escritas tocarem ao deleve, ou melhor, acariciarem as fronteiras

Que nunca caiam as pontes entre nós...delicadas e ténues da poesia, e esta ser oque de mais íntimo, sensível e humano noscaracteriza.

“Não há longe nem distância” trans-porta-me para um tempo sem tempo. Por-

que os sentimentos vogam muito para alémdas horas, dos dias e das idades. É para mimuma leitura de liberdade e da possibilidadeque temos de estar sempre no interior dequem gostamos. Mesmo que longe. Aindaque à distância.

Deste voo por entre as palavras de Ri-chard Bach – tenho mesmo de readquirir olivro! – e por entre as indefinições dos céus,desci gradualmente e planei na areia daquelapraia. Na areia que fiz deslizar por entre osdedos. Foi assim que dei comigo a pensarna pouca firmeza da realidade em que vive-mos. E também na sua dureza. No mundoque criámos, baseado na competição, noafastamento das emoções, num avolumarde tensões. No lugar onde o homem se foitransformando progressivamente numa en-grenagem e num ser cada vez mais solitárioe ansioso. A ideia de sucesso fácil e rápidoenraizou-se de forma profunda e foi até àsentranhas do ser humano, o que provocouuma enorme quebra dos tradicionais laçosde solidariedade.

O próprio processo de globalização temtestemunhado a enorme carência da alteri-dade e dos afectos. A “aldeia” em que vive-mos é quase exclusivamente direccionadapara os mecanismos económicos e de po-der. O longe e a distância acentuaram-seneste mundo que se diz global.

“Construímos muros demais e pontesde menos”. Sábia, esta frase de IsaacNewton! De facto, o mundo e a correriadesenfreada (não se sabe bem com quedestino), fecha-nos completamente em nóspróprios. Enconcha-nos. Tolda-nos a visãodo outro. Torna-nos quase autistas em rela-ção ao que nos circunda. Impedindo-nos deolhar e de sentir a beleza. De olhar e desentir a pobreza. De ajudar. De perceberque o mundo oferece tantas possibilidades!...

Apeteceu-me fugir. Nestes momentos,apetece-me fugir e afundar-me e proteger-me no abraço carinhoso e envolvente daNatureza. Do mar que me acalma e revigo-ra e me dá força para lutar e agir.

Foi em direcção ao mar que caminhei efui prosseguindo sem destino, saboreando o

odor vindo das ondas, escutando o grito dasgaivotas. Peguei num pequeno pau que seencontrava à deriva e desenhei um sol naareia. “Numa folha qualquer eu desenhoum sol amarelo/ e com cinco ou seis rec-

tas é fácil fazer um castelo (...).O lápis (opau), a folha branca (a areia), o pincel e atela. Objectos simples, de todos os dias etão ali. À mão. Do poeta, do músico ou dopintor. De todos nós. À espera de um dese-nho animado, dirigido para norte ou para sul,para a esquerda ou para a direita, num voocriativo, sem fim... Quem conduz? A imagi-nação, a loucura e o sonho.

“Aquarela!” Poema maravilhoso deToquinho. Cantado por ele próprio e porVinicius – vou ouvi-lo logo que regressar acasa, pensei na altura. Uma pérola. Um coralde que me recordei ao rabiscar à toa um solna praia. Naquela praia então quase deser-ta. Apenas dois vultos ainda ao longe. Tal-vez de um pai e de um filho ainda pequeno.Talvez.

Dizia eu, “Aquarela”! Uma metáforasobre a vida e sobre a forma mais coloridae aprazível de a percorrer... até descolorir.A partir desta bolinha bonita e frágil que sechama Terra, subindo ao azul do céu, e pro-curando mais além o mistério desconheci-do, num beijo eterno de todas as cores. Novídeo desta deliciosa canção, somos condu-zidos por uma criança. Ao largo, navega umbarquinho à vela branco, à deriva ou comrumo certo, e lá no alto, um lindo avião rosae grená sulca as nuvens, piscando as asasluminosas da liberdade e do desejo. Maisuma vez me senti fora do tempo. Tecendocom Vinicius e Toquinho e também com omenino uma realidade que não existe paratantos meninos. Ali estava aquele, agora bempróximo. E o adulto? Seria mesmo o pai?...O menino caiu... uma onda um pouco mai-or estatelara-o na areia. Um adulto – seriamesmo o pai?! – que lhe ralhou. Que lhebateu...

Esta imagem de “uma bola colorida en-tre as mãos de uma criança” continua a seruma utopia. A prática mostra-nos a viola-ção contínua dos seus direitos. E o mais pre-ocupante é que esta situação, ainda que comalgumas nuances, abrange países desen-volvidos e países em vias de desenvolvimen-to. Milhares de crianças são exploradas di-ariamente, vítimas da fome de lucro provo-

cado por formas cada vez mais patológicasde capitalismo selvagem. É ainda mais per-turbador apreciar o drama dos países po-bres, parcamente industrializados, onde afome é uma constante e os níveis de ilitera-cia são absolutamente gritantes. Nestas re-giões, a palavra “infância” continua a nãofazer grande sentido. Aqui, a criança é umadulto-jovem, a quem não sobra espaço nemtempo para brincar e para se recrear. Paradeixar cair “um pinguinho de tinta numpedacinho azul de um papel”... e de numinstante “imaginar uma linda gaivota avoar no céu”. E de viajar com ela “con-tornando a imensa curva norte e sul...tanto céu e mar num beijo azul”...

Voltando à realidade. A minha gaivotaleva-me a certos países da Ásia, onde con-tacto com crianças outras, extenuadas.Aquelas que fabricam os brinquedos quenunca serão seus e que irão ser desfrutadose logo depois abandonados por meninos emeninas cujos direitos são, na prática, asse-gurados. Estas crianças já não são o meni-no nosso avô, mas sim o menino nosso ir-mão, que continua a sofrer na pele o resul-tado das enormes disparidades existentes nanossa “aldeia global” Sofre na pele o longee a distância... que não deveriam de todoexistir. Em África, meninos esqueléticos, derostos apáticos e olhar vago. Eles sabem oque é a FOME. Não conhecem o lazer. Um

brinquedo. Manuseiam uma arma com a pe-rícia de um adulto, estes pequenos-meninosda guerra. Deveriam “com um simplescompasso” fazer girar o mundo e girar nelecomo se de carrossel se tratasse.

Foi bom não ir ver as montras. Foi me-lhor estar ao pé do mar. Questões de op-ção. Todos sabemos que podemos optar. Aquestão está na diferença entre uma boa ouuma má opção. Tirar um pouco do nossotempo para podermos pensar nos outrosparece-me ser um caminhar para a cons-trução de pontes cada vez maiores e maisabrangentes. Para o derrube dos muros quesempre separaram os seres humanos.

De facto, como diz Toquinho, a “aquare-la” um dia descolorirá. Não deixemos con-tudo cair o borrão do desespero e do alhea-mento nesta linda “aquarela”. Juntemo-nose agarremos todas as cores separadas parareconstruir o branco. O branco apazigua-dor. O branco do sorriso. O branco do amor.Apesar dos escolhos, a viagem nunca ter-minará... em especial se percebermos que“para estar junto não é preciso estar per-to e sim... do lado de dentro” (Leonardoda Vinci).

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213 A 16 DE DEZEMBRO DE 2008 OPINIÃO

Renato Ávila

POIS...POIS...POIS...POIS...POIS...

Joséd’Encarnação

João PauloSimões

FILATELICAMENTE

“Avestrução”

Templo de Diana

A eleição da Drª Manuela Ferreira Leitepara a presidência do Partido Social Demo-crata trouxe consigo a esperança duma al-ternativa fiável e consistente ao monolitis-mo autista da maioria dominante.

A sua seriedade e experiência políticasconstituíam confiável garantia duma lideran-ça respeitável, granjeadora dos consensosnecessários à constituição duma equipa forte,enformadora dum projecto novo, pragmáti-co e credível de resposta às imensas dificul-dades que o país enfrenta.

Não têm sido fáceis, todavia, estes pri-meiros meses do seu mandato. Tal comoaconteceu aos seus antecessores mais re-centes, vem encontrando um partido mina-do por quezílias e ácidos ressentimentos,povoado de figuras despeitadas, carentes desenso político, ávidas de palco e de poder eque fazem da demagogia a estratégia parase imporem e as quais, estultamente, vãocorroendo a boa-fé das bases do partido eda grande maioria dos cidadãos.

Por outro lado, o seu perfil comunicacio-nal, chão e directo, torna-se estranho numuniverso cada vez mais subtil e enigmáticoonde as mensagens predominam no feéricoe nos silêncios, nas meias palavras e nasentrelinhas.

Acresce ainda o facto de Ferreira Leite,qual jogador de cartas, optar por esconderos trunfos das grandes coordenadas do seuprojecto político e por intervir ao nível do

factual, do circunstancial, do conjuntural,terreno demasiado escorregadio para avan-çar opiniões com sensatez e consistência,especialmente quando os media estão maisbalanceados para as mensagens situacionis-tas e governamentais.

Todas as palavras da líder social demo-crata são avaliadas, capciosamente escal-pelizadas pela situação e pela oposição, pelaesquerda e pela direita, por gente de boa ede má fé, alguma dela de dentro do seu pró-prio partido.

Sempre de cutelo na mão, espreitam umdeslize de discurso, um lapso de memória,uma falha de substância ou de rigor, os si-lêncios e as palavras a mais ou a menospara atacarem, para denegrirem a sua ima-gem, a fim de abrirem caminho para a pros-secução dos seus projectos pessoais e degrupo.

Há como que um “complot” germinandodentro do próprio Partido mas que encontraeco positivo em todos aqueles que, instala-dos nas esferas do poder, não estão nadainteressados em que se fortaleça uma alter-nativa susceptível de atravancar o seu pre-sumido sucesso eleitoral a meados de 2009.

No nosso modesto entender de cidadãocomum, livre e independente, não é dissoque os portugueses precisam.

O abúlico funcionamento da Assembleiada República tem facilitado de sobrema-neira os desígnios do executivo e da maio-ria que o apoia quer na proposição e feitu-ra das leis quer na fiscalização dos actosdo governo e, além disso, primado pela inér-

cia e por um confrangedor alheamento dosgrandes problemas do país, nomeadamen-te na segurança e defesa, na justiça e naeducação.

Se o voto dos cidadãos pouca eficáciateve na qualidade da prestação parlamen-tar, é mister que o debate que precede osactos eleitorais seja aberto, pluralista e es-clarecedor e isso só se consegue pelo con-fronto de projectos diferentes em que o valordas soluções em apreço e dos seus defen-sores permite ao cidadão fazer, em consci-ência, as suas escolhas.

Não havendo alternativa forte e credí-vel, ficam comprometidos o debate sério epedagógico e a presença duma segunda outerceira solução em confronto. Ter-se-á,quando muito, o habitual monólogo do autopanegírico e arriscamo-nos a carregar commais do mesmo na próxima legislatura.

O Partido Social Democrata não é a for-

ça política pela qual habitualmente alinha-mos. Todavia, entendemos que, como mai-or partido da oposição, concita a esperançade centenas de milhar de cidadãos numasolução diferente para o país, susceptível deultrapassar os bloqueios que a arrogante in-sensibilidade duma hermética maioria foicriando na sociedade portuguesa.

Será que esses cidadãos não merecemalgo mais que esta triqueira mesquinhice eessa execranda autofagia partidária prota-gonizada por notáveis (pelas melhores epelas piores razões) figuras sociais demo-cratas?

Será que essa gente não se sente capazde subordinar os seus interesses à disciplinademocrática e colaborar com esforço e se-riedade num projecto protagonizado pela lí-der do seu partido?

A leveza das palavras que vamos ouvin-do, as manobras pouco escorreitas que va-mos perscrutando de uns tantos emproadosque falam sem nexo e se movimentam semrebuço por obscuras teias conspirativas, dão-nos a medida da mesquinhez da sua estatu-ra, a radiografia paupérrima do seu projectoe a desoladora prova do seu patriotismo, dasua vontade de servir o povo.

Apetece-nos aplicar um neologismo – aavestrução.

A oposição dos que, só pensando em si,obstruem, enfiando a cabeça na areia paranão se sentirem responsáveis pela gritanterealidade dos factos.

É mister que também a esses se venhaa pedir contas.

Os três selos que constituem a EmissãoO Templo de Diana, está localizadona cidade de Évora, em Portugal. Fazparte do centro histórico da cidade, e foiclassificado como Património Mundialpela UNESCO. É um dos mais famososmarcos da cidade, e um símbolo da pre-sença romana em território português.

Embora o templo romano de Évoraseja frequentemente chamado de Tem-plo de Diana, sabe-se que a associaçãocom a deusa romana da caça teve ori-gem numa lenda criada no século XVII.Na realidade, o templo provavelmente foiconstruído em homenagem ao impera-dor Augusto, que era venerado como umdeus durante e após o seu reinado. Otemplo foi construído no século I d.C. napraça principal (fórum) de Évora – en-tão chamada de Liberatias Iulia – emodificado nos séculos II e III. Évorafoi invadida pelos povos germânicos noséculo V, e foi nesta época em que o tem-plo foi destruído; hoje em dia, as suas

ruínas são os únicos vestígios do fórumromano na cidade.

As ruínas do templo foram incorpora-das a uma torre do Castelo de Évoradurante a Idade Média. A sua base, co-lunas e arquitraves continuaram incrus-tadas nas paredes do prédio medieval, eo templo (transformado em torre) foiusado como um matadouro do século XIVaté 1836. Esta utilização da estrutura dotemplo ajudou a preservar seus restos deuma maior destruição. Finalmente, de-pois de 1871, as adições medievais fo-ram removidas, e o trabalho de restau-ração foi coordenado pelo arquitecto ita-liano Giuseppe Cinatti.

Bibliografia:http://pt.wikipedia.org/wiki/

Templo_romano_de_%C3%89vora

Aproveitando os desenhos aprovadospara a emissão, cujo projecto foi aban-donado em 1934, e do qual já se tinhaaproveitado a efígie do Chefe de Esta-do, emitiu-se uma série de três selos, re-presentando o Templo de Diana. O de-senho e a gravura são do artista Guilher-me Augusto Santos, impressos na Casada Moeda sobre papel liso em folhas de100 selos com denteado 11,5 x 12.

Os três selos tinham os valores de 4centavos pretos, 5 centavos azul e 8 cen-tavos chocolate.

Entraram em circulação em 22 de Ju-nho de 1935 e foram retirados em 1 deOutubro de 1945.

Massano Cardoso manifestou‘desconforto’ (Centro nº 62, 19-11-2008, p. 14), ao saber que ofuneral de Badaró contara «coma presença do único filho, de ami-gos e vizinhos e de só quatro ar-tistas, incrédulos com a falta desolidariedade da classe».

Fiquei perplexo, como Massa-no Cardoso.

Mas compreende-se. O humornem sempre é de palmadinhas nascostas, tem o seu quê de bem sa-lutar corrosivo: «Você só compi-lica!»…

E Badaró, além do mais, tiverauma atitude exemplar, digna de umverdadeiro ser humano: legou oseu corpo para estudo.

OS SELOS

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22 3 A 16 DE DEZEMBRO DE 2008OPINIÃO

J.A. Alves Ambrósio

OPINIÃO Angola em Saragoça (IV)

Vasco Paiva

Outra verdadeira admiração no pa-vilhão de Angola foi a qualidade (aarte, o alcance...) da sua filatelia.Estou à vontade para dizê-lo, porquea filatelia portuguesa é de estupendaqualidade (lembre-se, v. g., a recenteemissão de a Procissão em Venezado demiurgo Nadir Afonso para o cor-reio intra-europeu) e porque guardareipara sempre o melhor que me surgequando viajo pela Europa, aqui desta-cando o selo que me foi gentilmente ofe-recido há vários anos, em Bayreuth,para assinalar os 250 anos do teatro daópera na cidade. A filatelia angolana quevi foi produzida pela AFINSA.

Além de ser a emanação da almade um país, a filatelia, repito, é arte. Ea alma de um país retrata-se no quo-tidiano com os seus altos e baixos, naNatureza com as suas maravilhas, noanelo do espiritual e na sua intangívelpreeminência...

Devastada por uma guerra fratrici-da, Angola fez muito bem em mostrarque há um corpo de bombeiros estru-turado e que aos “soldados da paz”se deve toda a gratidão, homenagem;que há uma maravilha única no mun-do cujo habitat é o deserto de Moçâ-medes; e que tem suficiente catego-ria espiritual, para assim me exprimir,para ser visitada por alguém como oPapa (João Paulo II).

A maravilha do deserto de Moçâ-medes é a Welwitschia mirabilis,essa singular planta que é já uma emo-ção em fotografia. Qualquer iniciadoem Alemão intui que a primeira de-signação é germânica – e não se en-gana. Foi Frederico Welwitsch, botâ-nico austríaco que veio para Lisboaem 1839, quem, ao fazer demoradasexplorações em Angola, a encontrou.Já agora: as suas colecções no mu-seu da Faculdade de Ciências de Lis-boa estão devidamente salvaguarda-das? Ou nesta república de sofismas

O colapso financeiro. A especula-ção bancária que bateu (terá batido?)no fundo. O esboroar do mito do mer-cado como regulador. O escândalodas economias de casino. As miséri-as do capitalismo.

O Estado, mais Estado ou menosEstado, conforme convém aos senho-res do poder, do poder económico, po-lítico, militar…

Agora fala-se em refundar o capi-talismo…

Um tempo novo vai nascer?A eleição de Obama com tudo aquilo

que ela representa ou não… não apenasa pessoa, mas sobretudo o que está emmudança na sociedade americana!

E agora Iraque, Guantánamo, Afega-nistão?...

À direita irão tentar minimizar a im-portância dos resultados eleitorais ame-ricanos e da eleição de Obama. A direitasabe muito bem minimizar os estragos.

À esquerda haverá quem desconfie,diz-se que “quando a esmola é grande, opobre desconfia”. Que vai tudo ficar namesma.

Fidel Castro, Chavez, Evo Morales,

observadores atentos e activos interve-nientes do continente americano já to-maram a dianteira e perceberam quealgo será diferente, que é uma oportuni-dade que se abre e convém aproveitarpara a melhoria da situação política eeconómica não só no continente ameri-cano como no mundo.

A energia, as mudanças climáticas, oambiente… há 30 anos quem se preocu-pava com o ambiente? Havia alguns, semdúvida, mas não era assunto que pesas-se muito nas preocupações mundanas emundiais.

São sinais, mas não serão só sinais.Há profundas perturbações e altera-

ções no mundo e ninguém sabe o que iránascer.

São tempos propícios à mudança. Quemudanças? Que alternativas?

Aprender com os erros do passado…As forças progressistas estão debili-

tadas, dispersas… Mas não é assim emtodo o mundo. A reflexão e a interven-ção são necessárias.

Democracia, paz, justiça social, soci-alismo. São ideais, valores, objectivos,pelos quais vale a pena lutar.

Como os construir? É a questão!

e corrupção há dinheiro para estádiosde futebol às moscas, mas não há paramanter – como deve ser – o museu eo jardim da dita Faculdade?

A nível mundial, a potência com omais cabal sistema de informações é...a Igreja Católica Romana. Angolaavantaja-se de tal forma, no conspec-to católico, a nível regional, continen-tal e mundial, que Bento XVI já anun-ciou que a visitará. Chamo apenas aatenção para a profunda diferença idi-ossincrásica entre o actual papa e oseu “populista” antecessor.

O insigne Pedro Dias, a propósitoda publicação da sua colecção de His-tória da Arte a ser editada pelo Pú-blico, dizia há dias que «a publicaçãoda colecção é uma gratidão por ternascido português» (cito de cor). Es-tás cheio de razão, meu caro Pedro,cuja grandeza sempre recordo – e re-cordarei – desde o momento em que,não tendo dinheiro para levar uma malagrande de táxi até à Estação Velha,me levaste tu na tua Peugeot-204 agasóleo. Sim, por mil razões é emoci-onante ser português.

Quando às criancinhas se ensinaque, para D. Henrique, toda a empre-sa das Descobertas fazia parte dascruzadas contra os muçulmanos e queos portugueses expandiam a Fé e oImpério – que Camões assinalaria eainda recentemente o jovem e ilustreegitaniense Marcos Farias Ferreira odisse, do cimo do seu saber, em dis-sertação de doutoramento (Cristãos& Pimenta, Almedina) –, quando àscriancinhas se ensina... que o fixempara todo o sempre.

Claro que a missão teve o hedion-do entrave do comércio de escravos;que os portugueses não têm o exclu-sivo desta hediondez; que o primeiropresente enviado por D. Afonso, reido Congo, ao “rei seu primo” de Por-tugal era, precisamente, constituídopor alguns escravos. Mas o Cristia-

nismo ensina esta coisa excelsa: operdão. E o perdão é a antítese do res-sentimento, a única, absoluta, garan-tia de progresso (recorde-se Obamamais uma vez). É o Amor, absoluto,irrestrito.

Se o mundo em que vivemos nãofosse dominado por uma tão avassa-ladora idiotia, se os políticos não fos-sem os ignorantes e embusteiros quesão, a estas questões era dada maioratenção. Assim...

As fronteiras de Angola são umacriação portuguesa. Os angolanos sãoos nossos irmãos e estes laços afir-mar-se-ão em perenidade. É nossodever, é nosso imperativo. O padreCharles Duparquet, insigne espiritano,fundou em Lisboa (1866) um seminá-rio de padres do Espírito Santo; e, apartir deste, originou-se a provínciaportuguesa dos Espiritanos. Dupar-quet estabeleceu as fundações de doiscentros míssionários no Cubango eCunene. À Huila (Sá da Bandeirapara melhor situar quem precisar), em1882, chegou o primeiro padre portu-guês, José Antunes, ao qual o bispode Luanda, imediatamente, confia oseminário da diocese, transferindo-o

para a cidade do planalto. Precisa-mente o melhor aluno e primeiro pa-dre africano de então foi o padre LuísBarros da Silva, que recebeu ordensem 1895. Tendo-se juntado aos espi-ritanos e trabalhado como genuíno pas-tor no seminário, no orfanato e nas al-deias cristãs em volta, em 1931, quan-do faleceu, o povo chorou-o como sede um santo se tratasse. Às centenasde padres católicos que, em 1955,exerciam o seu múnus em Angola, jun-taram-se, em 1957, os capuchinhos ita-lianos; e o aumento das conversõesera tal que a quantidade de fiéis eracada vez mais desproporcionada re-lativamente ao número de padres. E,em 1970, surge o primeiro bispo ne-gro, monsenhor Eduardo Muaca. Pre-cisamente nesse ano surge o primeiromanifesto da Igreja contra o colonia-lismo e, em 1975, os bispos portugue-ses resignam e são substituídos por bis-pos angolanos.

Dentro do novo espírito também adiocese egitaniense está presente:muito recentemente a Liga dos Ser-vos de Jesus, fundada por D. João deOliveira Matos, estabeleceu-se naGabela (diocese do Sumbe, anterior-mente Novo Redondo).

A longevidade do Cristianismo tor-nou-o elemento integrante da identi-dade nacional angolana, mormente nasua versão católica. Os graves errosdo marxismo superar-se-ão pela con-versão de José Eduardo dos Santos;e a unidade nacional angolana é umcorolário da idiossincrasia portugue-sa (o império espanhol esfrangalhou-se na América do Sul e do Norte, maso Brasil sempre foi e será uno).

Seja-me consentido dizer aqui queespero ver a visita de Bento XVIigualmente consagrada na filatelia.Deus abençoe Angola que, por aqui,também está salva.

Guarda, 9 - XI - 08

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233 A 16 DE DEZEMBRO DE 2008 INTERNET

IDEIAS DIGITAIS

Inês AmaralDocente do Instituto Superior Miguel Torga

GOOGLE WEBMASTER

OPEN ECO.ORG

LISTA VERMELHA DE BOLSO

TRAVELMUSE

APEFI

MEET MY CV

O termo “webmaster” foi desaparecendo aos pou-cos, ao longos dos últimos anos. Muito culpa das apli-cações e serviços da Web 2.0, a nova geração de In-ternet. Mas o Google normalmente não anda alinhadoe não segue modas. Exemplo disso é o título do interes-sante serviço que disponibiliza a que produz e gere pá-ginas na web: o Google Webmasters.

As funcionalidades disponíveis permitem melhorar aindexação dos sites (à pesquisa no Google), gerir tráfe-go, colocar publicidade e inclui gadgets como um MP3player, jogos, tradutor, metereologia, data e hora, ma-pas e um dispositivo que permite criar listas “to do”.

GOOGLE WEBMASTER

endereço: http://www.google.com/webmasterscategoria: Internet

O OpenEco.org é uma iniciativa da Sun e temcomo objectivo criar uma comunidade online, à esca-la global, para promover práticas mais sustentáveis.

A necessidade de racionalizar os gastos energé-ticos é a preocupação central e por isso todos de-vem contribuir. O OpenEco.org propõe medir,acompanhar e comparar gastos energéticos. E pro-

move a partilha de boas práticas.

OPENECO.ORG

endereço: https://www.openeco.org/categoria: ambiente

As férias de Natal estão à porta, mas a crise tam-bém dita que as férias do resto do ano sejam planeadascom grande antecedência. O TravelMuse disponibili-za várias ferramentas que lhe permitem fazer uma pla-nificação detalhada.

Estão disponíveis vários conteúdos como interessan-tes guias de cidade e listagem de destinos por activida-des e temas. É também possível fazer um detalhadoplano de viagem, desde que se esteja registado. O sitetambém permite fazer reservas de avião e hóteis, entreoutras.

TRAVELMUSE

endereço: http://www.travelmuse.comcategoria: lazer

Sabia que há 16 espécies de peixes que são consu-midas em Portugal e que correm risco de extinção?Consulte o site da Greenpeace e leia a Lista Verme-lha de Bolso. Descarregue o ficheiro para o seu com-putador, imprima e leve-o consigo sempre que for àscompras. É a sugestão da organização.

Salmão, atum, peixes vermelhos, peixe espada bran-co e tamboris são algumas das espécies que «corremsérios riscos de serem provenientes de pescas ou deviveiros insustentáveis». No panfleto há ainda informa-ção sobre a situação dos oceanos, a conivência de al-guns supermercados, o que podem as grandes empre-

sas fazer e qual o papel do consumidor.

LISTA VERMELHA DE BOLSO

endereço: http://www.greenpeace.org/portugal/parti-cipa/lista-vermelha-de-bolsocategoria: ambiente

As épocas de crise são propícias a iniciativas deapoio. E é esse precisamente o propósito da Associa-ção Para o Posicionamento Estratégico e Financeiro(APEFI). É uma associação sem fins lucrativos queaconselha pessoas em situação de endividamento fi-nanceiro.

A julgar pelos números que os media nos trazem comregularidade, a APEFI pode ser uma importante ajudapara muitas famílias portuguesas. Para além de aconse-lhamento, a associação promove análises económicasde forma a prevenir e actuar em situações futuras. «Vivauma vida livre de dívidas» é a proposta da APEFI e doseu Portal da Poupança.

APEFI

endereço: http://www.apefipt.org/categoria: economia

Enviar currículos assertivos é hoje uma exigência domercado de trabalho. A proposta da Meet My CV éuma abordagem diferente, criativa e eficaz: criar currí-culos em formato de vídeo e disponibilizá-los numa pla-taforma digital.

A ideia é única em Portugal e estão disponíveis exem-plos de vídeos que comprovam a versatilidade e origi-nalidade da Meet My CV. Por enquanto ainda não épossível fazer upload, mas estão já disponíveis recur-sos que ajudam a criar o CV em formato de vídeo.Está também previsto que seja incluída uma Bolsa deEmprego (base de dados de candidatos) e uma Bolsade Negócios (um directório de serviços e produtos).

MEET MY CV

endereço: http://www.meetmycv.comcategoria: produtividade

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24 3 A 16 DE DEZEMBRO DE 2008TELEVISÃO

PÚBLICA FRACÇÃO

Francisco [email protected]

Façaumaassinaturado“Centro”e ganhevaliosaobrade arteAPENAS20 euros POR ANO- LEIA NA PÁG. 3

Esta é a reprodução da valiosa obra originalde Zé Penicheiro, alusiva aos 6 distritos da RegiãoCentro (Aveiro, Castelo Branco, Coimbra, Guarda,Leiria e Viseu) que receberá, gratuitamente,quando fizer a assinatura do jornal CENTRO

RTP LAVA MAIS BRANCO

A certa altura sentimo-nos confusos:será que os critérios que levaram a RTPa “ouvir”, em cima da hora, a ministrada Educação, o conselheiro de Estado,Dias Loureiro ou o Governador do Ban-co de Portugal, foram critérios jorna-lísticos ou foram momentos de bran-queamento?

Manuel António Pina, em artigo deopinião no JN, dizia tudo no intróito: “ARTP é a lavandaria do regime. Nãohá vítima de cabala que não lave aconsciência naquela espécie de San-ta Casa da Misericórdia dos aflitos.”

Se a entrevista de Judite de Sousa

ao Governador do Banco de Portugal,Vítor Constâncio, pareceu preparadae deu espaço para a pergunta/respos-ta, nas outras duas isso quase nãoaconteceu. Com Maria de Lurdes Ro-drigues, Judite fez apenas as honras dacasa. A ministra tinha um discurso adebitar, e fê-lo. A certa altura pareceunotório que Judite de Sousa desistiu detentar obter respostas da ministra, en-quanto esta se foi distanciando cadavez mais do modelo de uma entrevista,parecendo apenas preocupada emaproveitar o “tempo de antena”.

Com Manuel Dias Loureiro, que veioao estúdio a uma sexta-feira para uma“Grande Entrevista” especial, fora do diahabitual em que é transmitida, a sensa-ção que ficou foi a de que não era agra-dável questionar o conselheiro de Esta-do quando ele se mostrava simplesmen-te espantado com tudo o que se tinhapassado à sua volta.

Claro que estas “entrevistas” tinhama actualidade como base. As coisas es-tavam a acontecer e era bom esclarecê-las. Mas… assim? Fiquei com a sensa-ção de estar perante a recuperação deum velho slogan publicitário “OMO (rtp)lava mais branco”.

MANUELA MOURA GUEDESÀS SEXTAS-FEIRAS

Algo de improvável, para mim, claro,está a acontecer às sextas-feiras à horado jantar. Procuro ver o “Jornal Nacio-

nal” da TVI. Comecei pela curiosidadeem ouvir os comentários de Vasco Puli-do Valente, talvez porque me senti pró-ximo da sua habitual dose de distancia-mento e descrença em relação ao País.No entanto, nunca na derrota: “Umapessoa abre o jornal, ou liga a televi-são e revê, pasmado, a velha propa-ganda antidemocrática de 1930.Umas vezes subtil; outras vezes, mui-to taxativa e franca. Umas vezes me-lancólica, outras vezes, quase triun-fante. A miséria geral e perspectivade uma miséria maior, a fraqueza doregime e uma irritação crescenteanunciam o caos (...)»

Só que Pulido Valente, na televisão, émuito menos cáustico do que na escrita.Tem um comportamento, digamos, frá-gil. Com a voz cada vez mais sumida eas suas habituais indecisões na articula-ção do discurso, ainda tem momentos deironia que valem uma atenção mais cui-dadosa ao comentário que encerra o

“Jornal Nacional” das sextas-feiras, naTVI.

Manuela Moura Guedes, a interlocu-tora, tem dias. Ou antes, semanas.Como só regressa aos ecrãs naquela diada semana, parece ter-se concentradomuito mais na sua postura. Curiosamen-te, desvaneceu-se lentamente o ar ex-cessivo e inquisitório, para dar lugar aum estilo que mantém a possibilidade deum pequeno “à parte” em jeito de roda-pé final, mas sem os ares intempestivosde outros tempos.

Aceito que ela acredite que a sua ima-gem passe pelo exagero dos lábios. Nãofaço ideia se foram ou não “intervencio-nados”, nem me interessa. Quando secala, fica com ar de amuada e isso édesagradável em televisão, particular-mente em pivô de telejornal. Mas Mou-ra Guedes passou a conduzir o JornalNacional de uma forma mais tranquila.Não parece muito preocupada com to-das as estratégias que parecem correrpor trás de um momento importantíssi-mo para as audiências de um canal(como é notório nas noticias da SIC).Ainda bem. Ganhou com isso. Apenastem que dar um pouco mais de tempo aPulido Valente. Na expressão oral ele nãoé tão hábil como na escrita e precisa detempo para concluir os raciocínios. E,pelo menos eu, quero ouvi-lo.

REGRESSAM OS CORTES

Diz-se, “não acredito”, mas as coisasacontecem. Depois já nos habituamos enada de especial parece mesmo aconte-cer. No entanto,baixar os olhosperante certascircunstâncias égrave.

A RTP resol-veu repor (aquiestá mais umaforma de poupardinheiro) a nove-la “Paixões Proi-bidas”, que co-produziu com abrasileira TVBandeirantes .Em 2007 a nove-la não conseguiua adesão do pú-blico, como aliás aconteceu no Brasil. Noentanto, a sua carreira ficou marcada poruma alteração de horário. Foi deslocadapara as 23 horas porque continha cenasmais ousadas.

A reposição é feita agora no horárioapós o almoço. E lá vieram as preocu-pações com a ditas “cenas”. As justifi-cações são as do costume: “público sen-sível” para aquele horário. Se já se sabiaisto, qual o motivo que fez avançar a re-posição para aquela hora?

A RTP, quando anunciou que “PaixõesProibidas” iria ocupar aquele horário, deua informação de que “teve o cuidado deretirar pontualmente algumas cenas quepudessem causar constrangimento”.

Agora, a estação sublinha que as ce-nas retiradas sem aviso prévio foram“poucas”, tendo-se criado um mito mui-to grande sobre estas imagens.

Para mim, o retirar “sem aviso pré-vio” significa censura, e esta não deviaser uma questão menor. Se num canaltelevisivo de um regime não-democráti-co se corta isto ou aquilo, isso é o que seespera nesse contexto. Agora, como dizF.R.Cádima “neste sistema de gover-no democrático, quando um directorde programas manda retalhar uma‘série histórica’, ainda é capaz de re-

ceber um louvor por estar a contri-buir para as boas práticas do reino.O que era censura antes, agora émera ESTATÍSTICA. No pasanada...”.