o centro - n.º 65 – 31.12.2008

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DIRECTOR JORGE CASTILHO | Taxa Paga | Devesas – 4400 V. N. Gaia | Autorizado a circular em invólucro de plástico fechado (DE53742006MPC) ANO III N.º 65 (II série) 31 Dezembro de 2008 a 13 de Janeiro de 2009 1 euro (iva incluído) Telef.: 309 801 277 Rua da Sofia, 95 - 3.º - 3000-390 COIMBRA Prémio internacional entregue em Coimbra ROBALO CORDEIRO PÁG. 17 CURSO EM COIMBRA TELEVISÃO PÁG. 24 PÁG. 16 O melhor e o pior dos canais portugueses Mel e larvas para tratamento de feridas PÁG. 11 CASTELO BRANCO Câmara compra convento por 5 milhões PÁG. 12 e 13 Sem palavras Nas páginas centrais publicamos algumas das imagens mais curiosas do ano que finda. Sem palavras...

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Versão integral da edição n.º 65 do quinzenário “O Centro”, que se publica em Coimbra. Director: Jorge Castilho. 31.12.2008. Visite-nos em www.ismt.pt, www.youtube.com/youtorga, http://torgaemsms.blogspot.com, http://diarioxii.blogspot.com, http://torgaemsms2.blogspot.com, http://mapastorga.blogspot.com/ ~~~~~~~~~ Site oficial de Dinis Manuel Alves: www.mediatico.com.pt Encontre-nos no twitter (www.witter.com/dmpa) e no facebook (www.facebook.com/dinis.alves). Outros sítios de DMA: www.youtube.com/mediapolisxxi, www.youtube.com/fotographarte, www.youtube.com/tiremmedestefilme, www.youtube.com/camarafixa, http://videos.sapo.pt/lapisazul/playview/2, http://videos.sapo.pt/lapisazul/playview/3 e em www.mogulus.com/otalcanal Ainda: www.mediatico.com.pt/diasdecoimbra/ , www.mediatico.com.pt/redor/ , www.mediatico.com.pt/fe/ , www.mediatico.com.pt/fitas/ , www.mediatico.com.pt/redor2/, www.mediatico.com.pt/foto/yr2.htm, www.mediatico.com.pt/manchete/index.htm , www.mediatico.com.pt/nimas/ www.mediatico.com.pt/foto/index.htm , www.mediatico.com.pt/luanda/, www.slideshare.net/dmpa , www.panoramio.com/user/765637

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Page 1: O Centro - n.º 65 – 31.12.2008

DIRECTOR JORGE CASTILHO

| Taxa Paga | Devesas – 4400 V. N. Gaia |Autorizado a circular em invólucrode plástico fechado (DE53742006MPC)

ANO III N.º 65 (II série) 31 Dezembro de 2008 a 13 de Janeiro de 2009 � 1 euro (iva incluído)

Telef.: 309 801 277Rua da Sofia, 95 - 3.º - 3000-390 COIMBRA

Prémiointernacionalentregueem Coimbra

ROBALO CORDEIRO

PÁG. 17

CURSO EM COIMBRA TELEVISÃO

PÁG. 24PÁG. 16

O melhore o piordos canaisportugueses

Mel e larvasparatratamentode feridas

PÁG. 11

CASTELO BRANCO

Câmaracompraconventopor 5 milhões

PÁG. 12 e 13

Sem palavras

Nas páginas centrais publicamos algumas das imagens mais curiosas do ano que finda. Sem palavras...

Page 2: O Centro - n.º 65 – 31.12.2008

2 31 DE DEZEMBRO DE 2008 A 9 DE JANEIRO DE 2009NACIONAL

Director: Jorge Castilho(Carteira Profissional n.º 99)

Propriedade: AudimprensaNIF: 501 863 109

Sócios: Jorge Castilho e Irene Castilho

ISSN: 1647-0540

Inscrito na DGCS sob o n.º 120 930

Composição e montagem: AudimprensaRua da Sofia, 95, 2.º e 3.º - 3000-390 Coimbra

Telefone: 309 801 277 - Fax: 309 819 913

e-mail: [email protected]

Impressão: CORAZEOliveira de Azeméis

Depósito legal n.º 250930/06

Tiragem: 10.000 exemplares

Campanha apoiada pelo jornal

O aumento do número de feridos gra-ves na Operação Natal da Brigada deTrânsito da GNR em relação ao ano pas-sado é uma “preocupação e apreensão”desta autoridade, disse hoje à agência Lusafonte da BT.

“Os 49 feridos graves resultantes dos1.304 acidentes registados este ano, mais17 do que em igual período do ano passa-do, é um número que nos deixa muito apre-ensivos e pouco satisfeitos, já que contra-ria a tendência a que temos assistido dehá algum tempo a esta parte”, disse omajor Lourenço da Silva.

Para o responsável, apesar de seis dias“ser um período muito curto que não dápara fazer grandes análises, os númerosem relação aos feridos graves vão contraa corrente do que tem acontecido nos últi-mos tempos e do que seria de esperar”.

BT “PREOCUPADA” E “APREENSIVA” COM AUMENTO DE FERIDOS GRAVES

Por si e pelos outrosconduza com cuidado!

“Os números mostram uma inadequa-ção de comportamentos”, disse Lourençoda Silva, apelando “à mudança de com-portamentos na estrada, nomeadamentemaior civismo, redução da velocidade, au-mento da distância de segurança e uso dosmédios”, já que, sustentou, “a estrada deveser um local de prazer e não de morte”.

Acrescentou que nos seis dias que du-rou a Operação Natal - que começou às00:00 da passada terça-feira e terminou às24.00 de domingo - a BT da GNR contabi-lizou 1304 acidentes, menos 122 do que em2007, dos quais resultou um morto (menosum do que em 2007), 49 feridos graves e378 feridos ligeiros (menos 54 do que em2007).

Sublinhando tratarem-se de números“provisórios”, relativos apenas à área deactuação da GNR e reportarem-se a um

período de tempo “curto que não dá parafazer grandes análises ou extrapolações”,o responsável da BT acrescentou ter havi-do “uma diminuição significativa do núme-ro de acidentes com consequências me-nos graves e menos um morto”.

Lourenço da Silva apelou aos automo-bilistas para que na passagem de ano cum-pram as regras de segurança “tanto maisque as previsões meteorológicas apontampara a existência de chuva e esta é inimigada condução”, conduzam de forma “tran-quila” e “não bebam”.

Durante os seis dias da Operação Natal,a BT da GNR registou ainda 3.500 casosde condução em excesso de velocidade,foram autuadas 4.911 pessoas, foram levan-tados 157 autos por falta do uso do cinto desegurança e 136 pessoas foram apanhadasa conduzir com excesso de álcool.

Destes 136 condutores com excesso deálcool, 41 foram detidos e presentes a tri-bunal por apresentarem taxas de alcoole-mia igual ou superior a 1,20 gramas de ál-cool por litro de sangue, o que constitui cri-me, acrescentou Lourenço da Silva.

Foram ainda detectados 112 conduto-res em infracção por o seguro da viaturanão estar em dia e foi prestado auxílio a1.243 condutores em dificuldades, referiu.

A Operação Natal da BT mobilizou umamédia diária de 2.300 militares das briga-das de trânsito, territoriais e fiscal que inte-graram “uma média diária de 1.100 patru-lhas”, disse o major da BT.

Os meios disponíveis durante a Opera-ção Natal são os mesmos mobilizados paraa de Ano Novo, que começou às 00:00 deontem (terça-feira) e termina às 24:00 dedomingo.

Três pessoas foram detidas duranteuma operação no âmbito do “Natal emSegurança” da PSP, que decorreu du-rante a madrugada na região de Coim-bra, revelou à Agência Lusa o comis-sário Dinis.

Uma pessoa foi detida por apresen-tar excesso de álcool no sangue, outrapor não possuir carta de condução eum terceiro indivíduo foi encaminhadopara o Estabelecimento Prisional deCoimbra por ser alvo de um mandadode captura pendente, o que ditou a suaprisão efectiva.

Coimbra: 3 detidos em operação da PSPa que assistiu o Governador Civil

Na operação, que pretendeu essenci-almente fiscalizar “as situações de trân-sito”, foram controlados 206 condutores,80 no posto de fiscalização da AvenidaSá da Bandeira e 126 na Avenida Men-des Silva, onde estava montado um radarde controlo de excesso de velocidade.

No total, a PSP multou três conduto-res por conduzirem sob o efeito do álco-ol, cinco por falta de documentação apro-priada e dois por desobediência ao sinalde paragem dos agentes no local.

Relativamente ao excesso de veloci-dade, a PSP contabilizou duas contra-

ordenações muito graves, oito graves e10 leves.

Numa operação em que participaram45 elementos, apoiados por 10 viaturas,a PSP efectuou ainda uma fiscalizaçãoa oito estabelecimentos de diversão noc-turna, destacando-se um deles que fun-cionava sem alvará.

A operação foi acompanhada pelogovernador civil de Coimbra, HenriqueFernandes, segundo o qual o “balançofoi positivo”, numa altura em que a “ci-dade funciona a meio gás devido às féri-as dos estudantes”.

“Penso que acções como esta sãoimportantes pois controlam os factoresque mais acidentes causam, como o ex-cesso de velocidade ou a ingestão de ál-cool”, afirmou o governador civil de Co-imbra.

Henrique Fernandes sublinhou queapesar desta ser uma operação de fis-calização acabou por ter um carácter“preventivo” e “pedagógico” e assina-lou, em tom de brincadeira, o caso deduas transeuntes que mesmo deslocan-do-se a pé pretendiam submeter-se aoteste de alcoolemia.

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331 DE DEZEMBRO DE 2008 A 9 DE JANEIRO DE 2009 NACIONAL

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Neste trabalho, Zé Penicheiro,com o seu traço peculiar e a incon-fundível utilização de uma invulgarpaleta de cores, criou uma obra quealia grande qualidade artística a umprofundo simbolismo.

De facto, o artista, para represen-tar a Região Centro, concebeu umaflor, composta pelos seis distritos queintegram esta zona do País: Aveiro,Castelo Branco, Coimbra, Guarda,Leiria e Viseu.

Cada um destes distritos é repre-sentado por um elemento (remeten-do para o respectivo património his-tórico, arquitectónico ou natural).

A flor, assim composta desta for-

ma tão original, está a desabrochar,simbolizando o crescente desenvolvi-mento desta Região Centro de Portu-gal, tão rica de potencialidades, de His-tória, de Cultura, de património arqui-tectónico, de deslumbrantes paisagens(desde as praias magníficas até às ser-ras imponentes) e, ainda, de gente hos-pitaleira e trabalhadora.

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Passagem de ano: rituais para trazer boa sorteUns têm origens seculares, ou-

tros ninguém sabe como surgiram,mas todos visam trazer boa sortepara o ano que começa. Dos maiscrentes aos mais cépticos, na noi-te do réveillon poucos são os quedispensam rituais que prometemdinheiro, saúde e amor.

“Cumprir alguns rituais dá umcerto conforto psicológico. Mes-mo quem não acredita em supers-tições, acaba muitas vezes porperpetuá-las, considerando quenão custa nada e, pelo sim, pelonão, é melhor cumpri-las, não vádar-se o caso de até funcionarem”,explica o sociólogo e professor daUniversidade Nova de LisboaMoisés Espírito Santo.

Para este especialista, o peso da tra-dição acaba por gerar uma pressão co-lectiva e até alguma “coacção social” nosentido de se cumprirem estes rituais: “setoda a gente faz, por que razão não hei-de fazer também?”, é a pergunta, porvezes inconsciente, que muitos se colo-cam.

Segundo um inquérito realizado pela

Marktest em 2006, só 30 por cento dosinquiridos afirmaram não ter nenhuma su-perstição associada ao réveillon. Comer12 passas nos segundos finais do últimodia do ano e, por cada uma, pedir umdesejo é, de longe, a tradição mais popu-lar entre os portugueses.

“Há uma visão mágica associada aesta data, que faz com que as pessoas

acreditem que tudo pode mudar de31 de Dezembro para 1 de Janei-ro. Por isso, acham que a probabi-lidade de se cumprirem os desejosé maior se eles forem pedidos nes-se momento de transição”, afirmaMoisés Espírito Santo.

Também por essa razão, esteé, frequentemente, o momento es-colhido para tomar decisões im-portantes e até mudar de vida:fazer dieta, deixar de fumar, pas-sar mais tempo com a família oucasar, por exemplo, são resolu-ções com que muitos se compro-metem para o ano que está pres-tes a começar.

Até porque virar a última folhado calendário é como “começar

tudo de novo”, mas com esperanças for-talecidas numa vida mais feliz. O con-ceito de renovação é, aliás, um dos maisfortemente associados a esta época, es-tando subjacente a quase todas as tradi-ções da passagem de ano.

Estrear uma peça de roupa interior oufazer a cama com lençóis nunca antesusados, que a crendice assegura traze-

rem boa sorte para o amor, são supersti-ções ligadas a esta ideia de novo come-ço, assim como a ancestral tradição dedeitar fora objectos velhos que perderama utilidade.

Fazer barulho é igualmente um dosmais antigos, mas também mais enraiza-dos rituais associados ao reveillon, umpouco por todo o mundo. Seja gritar, lan-çar foguetes ou bater em panelas, a ideia,adianta o sociólogo, “é espantar os mausespíritos, os demónios e os velhos fan-tasmas que possam ter atormentado ouperturbado o ano que passou”.

Entre as superstições que prometembons augúrios para o futuro, subir a umacadeira à meia-noite é, supostamente,sinónimo de prosperidade, assim comoter uma nota no bolso ou atirar moedasao ar, no momento em que soar a últimabadalada.

Numa altura de crise económica, éprovável que muitos não se esqueçamde os cumprir. Até porque estes rituaisda passagem de ano são como as bru-xas: ninguém acredita, mas…

Joana Bastos (Lusa)

Page 4: O Centro - n.º 65 – 31.12.2008

4 31 DE DEZEMBRO DE 2008 A 9 DE JANEIRO DE 2009REPORTAGEM

O filho do marinheiro portuguêsAdelino Mendes, que participou naRevolução Cubana, recordou ontem(terça-feira, dia 30 de Dezembro) aentrada dos guerrilheiros em Havana,há 50 anos, considerando que a “acer-tada liderança de Fidel” foi decisivapara a vitória.

Ismael Mendes Boulet disse à agên-cia Lusa que Fidel Castro e seus com-panheiros da Sierra Maestra, onde co-meçou a luta armada, em 1956, con-seguiram imprimir ao Exército Rebel-de “um alto nível combativo” que as-segurou a derrota das tropas de Ful-gêncio Baptista.

“A vitória da Revolução, no primei-ro de Janeiro de 1959, foi possível, ain-da, devido à greve geral revolucioná-ria decretada por Fidel, a qual eviden-ciou o apoio do povo e a sua unidadeem torno do Exército Rebelde”, de-clarou, a partir de Havana, aquelemajor reformado da Força Aérea Cu-bana.

Adolescente quando as tropas de Fi-del Castro, Che Guevara, Camilo Ci-enfuegos e Raul Castro entraram nacapital de Cuba, Ismael fez um relatoemotivo dos acontecimentos político-militares que marcaram para semprea vida da família.

FILHO EVOCA A VITÓRIA DA GUERRILHA CUBANA HÁ 50 ANOS

Marinheiro da Lousã participou na

O português Adelino Mendes, con-decorado por Fidel Castro pela sua par-ticipação na Revolução Cubana, inte-grou em 1936 a Revolta dos Marinhei-ros contra Salazar, em Lisboa, tendo-se refugiado em Cuba durante a IIGuerra Mundial.

Filho de humildes camponeses daSerra da Lousã, Adelino Mendes, queapascentara ovelhas e cabras antes deingressar na Armada, juntou-se aos co-munistas do Partido Socialista Popular(PSP, marxista-leninista), em 1941, eveio a participar activamente na Revo-lução Cubana.

Em Havana, onde chegou a bordo donavio “Guiné”, foi recebido pelo secre-tário-geral dos comunistas cubanos,Blas Roca.

Rejubilou, em 1959, com a entrada doExército Rebelde em Havana, após terintegrado a rede clandestina de apoio àinsurreição da Sierra Maestra, coman-dada por Fidel Castro, Che Guevara,Camilo Cienfuegos e Raul Castro.

Adelino Mendes participouna “Revolta dos Marinheiros” contra Salazar

filha mais velha, Arminda, deu o nomede uma vizinha da Lousã por quem nu-triu especial simpatia.

Ao segundo filho, oficial reformadodas Forças Armadas Revolucionárias,chamou Ismael, em homenagem ao seucompanheiro Ismael Fernandes “Leitei-ro”, morto na Revolta dos Marinheiros.

Lusitânia, a mais nova, exaltava apátria lusa onde sonhou regressar em1975, ano em que morreu de ataquecardíaco, em Havana.

Dos três filhos de Adelino e da cos-tureira havanesa Maria del CármenBoulet Rovira, Ismael é o único so-brevivente.

Nos últimos anos, os descendentescubanos do revolucionário da Serra daLousã adquiriram a nacionalidade por-tuguesa.

Fechando a diáspora encetada peloavô há 67 anos, vários netos e bisne-tos têm vindo a fixar-se em Portugale Espanha.

Em 1979, no 20º aniversário do triun-fo da Revolução, o líder cubano distin-guiu-o, a título póstumo, com a medalha

de Combatente da Luta Clandestina.Adelino Mendes trabalhou no Minis-

tério do Interior de Cuba, após 1959. À

Familiares do português Adelino Mendes (da esquerda para a direita da imagem):Liber (neto), Elizabeth (bisneta), Lídice (neta), Sofia (bisneta) e Tamara Mendes (neta)que residem em Portugal, na Lousã

Ao lado, o cartão de sócio da Confederação do Trabalhadoresde Cuba de Adelino Mendes, que foi condecorado por FidelCastro pela sua participação na Revolução Cubana (fotoacima). Adelino Mendes já antes, em 1936, participara naRevolta dos Marinheiros contra Salazar, em Lisboa, tendo-serefugiado em Cuba durante a II Guerra Mundial

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531 DE DEZEMBRO DE 2008 A 9 DE JANEIRO DE 2009 REPORTAGEM

luta ao lado de Fidel de Castro

Texto de Casimiro Simões Fotos de Paulo Novais (Lusa) e arquivo

Exilado em Cuba desde 1941, Ade-lino Mendes, natural da Lousã, era ca-sado com a costureira comunista Ma-ria del Cármen Boulet Rovira e tor-nou-se, como ela, militante activo doPartido Socialista Popular (PSP), emHavana, onde morreu, em 1975.

Em 1979, no 20º aniversário da Re-volução, foi agraciado por Fidel a tí-tulo póstumo, com a medalha de Com-batente da Luta Clandestina.

Adelino ganhava a vida a produzir

“tamales” (comida popular de Cuba,à base de milho moído e carne de por-co, embrulhada nas folhas do própriocereal), os quais chegou a vender aoColégio de Belém, a instituição religi-osa onde o jovem Fidel Castro Ruz es-tudou antes de ingressar na Faculda-de de Direito.

“Muitos revolucionários que esta-vam presos foram libertados, o júbiloda população foi imenso e este senti-mento reflectiu-se amplamente na mi-

nha família”, disse Ismael Mendes.O filho de Adelino Mendes recor-

dou “a entrada dos barbudos em Ha-vana, o que confirmou o triunfo da Re-volução”, designadamente a tomadado quartel de Columbia, por Camilo, edas fortalezas da Cabaña e do Morro,por Che, bem como a conquista deSantiago de Cuba, por Fidel, que en-trou na capital a 08 de Janeiro.

Neste dia, “toda a família Mendesassistiu e ouviu, no polígono de Co-lumbia, o histórico discurso de FidelCastro”.

“Nos primeiros dias de 1959, nãose trabalhou na pequena fábrica de‘tamales’. Foi mais intenso o trabalhode propaganda, a imprimir proclama-ções e comunicados. Família, vizinhose amigos, estávamos todos unidospara consolidar a vitória”, contou.

Em casa dos Mendes, em Maria-nao, reuniam-se com frequência cú-pulas do Movimento 26 de Julho (M26-7) e ali existia um policopiador comque reproduziam a propaganda clan-destina, que integrou mais tarde o es-pólio do Museu da Revolução.

“Em meados de Dezembro de 1958,a família estava perfeitamente a parda situação política que se vivia emCuba, graças à informação da RádioRebelde [que emitia da Sierra Maes-tra, sob a direcção de Carlos Franqui,

que mais tarde se exilou, rompendocom Fidel], que sintonizávamos emcasa”, relatou Ismael Mendes.

Na madrugada de 1 de Janeiro, osMendes souberam da fuga de Fulgên-cio Baptista através de Damián Alfon-so, líder do M 26-7 na zona de Maria-nao.

“Bateu à porta às 02:00 da manhã.

O português Adelino Mendes (à direita na imagem) foi um revolucionárioem Portugal e em Cuba, mas também um trabalhador incansável,que se especializou a cozinhar “tamales” (especialidade da gastronomia cubana)

Vinha anunciar que o tirano Fulgên-cio Baptista fugira de avião para SãoDomingo”, lembrou o engenheiro deaeronaves.

Mais tarde, Damián Alfonso será oresponsável máximo do Partido Co-munista Cubano na província deGranma.

Ernesto Che Guevara (em cima, à esquerda, com Fidel), foi um dos maiscarismáticos e famosos combatentes da Revolução Cubana. Mas esta sótriunfou porque outros combatentes anónimos, como o português AdelinoMendes, nela arriscaram a vida

Fidel Castro partiu da Sierra Maestra com um punhado de combatentes mal armadose mal preparados, mas o movimento foi engrossando e conquistando terreno atéentrar em Havana e instaurar o regime revolucionário que se mantém até hoje

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6 31 DE DEZEMBRO DE 2008 A 9 DE JANEIRO DE 2009INTERNACIONAL

Fiodor Lukyanov *

* in revista A Rússia na Política Global

Fazer agora o balanço da política ex-terna russa e internacional em 2008 é umtrabalho pouco grato: há imenso materi-al para análise, mas ainda está cedo earriscado tirar conclusões definitivas. Osprocessos que têm decorrido no mundonos últimos 12 meses irão ter, sem dúvi-da, uma continuação.

Com certeza só se pode afirmar quepara a Rússia a crise no Cáucaso, no mêsde Agosto, se tornou no mais importanteacontecimento do ano. A sua influênciasobre a política externa de Moscovo con-tinua por avaliar.

Também merece toda a atenção o sis-tema de relações que se constrói actual-mente no espaço pós-soviético. Os go-vernantes de todos os Estados Indepen-dentes debatem-se com a questão ful-cral: como garantir a sua segurança? Poragora não existe uma resposta clara nempara os países da Comunidade de Esta-dos Independentes (CEI), nem para aNATO, os EUA e a Rússia, que poderi-am, em princípio, apresentar-se comogarantes da segurança destes Estados.

A crise financeira mundial tem contri-buído para complicar ainda mais a situa-ção na CEI. Segundo mostra a experiên-cia de 1998, quando Moscovo estava lite-ralmente à beira de falência financeira, umarecessão económica na Rússia reflecte-sedolorosamente nos países vizinhos. Esta veza situação está ainda mais grave. A crise,

2008: um ano de fortes emoçõesque avança como uma avalanche, reduziudrasticamente as remessas dos imigrantespara a Moldova, a Arménia, a Geórgia, aUcrânia, o Azerbaijão, a Quirguísia, o Tad-jiquistão e o Uzbequistão, que estão a serenviadas não apenas a partir da Rússia (comcerca de 30 milhões de estrangeiros legaise clandestinos), como também da Europae dos EUA.

Em teoria, isto abre boas perspecti-vas para Moscovo tentar reforçar as suasposições na CEI. Mas, na prática, tudodependerá da capacidade da própria Rús-sia de resistir eficazmente à crise que jácomeçou a afectar a sua economia, for-temente dependente dos preços do pe-tróleo e do gás natural.

OS PROBLEMAS DA NATO

O ano de 2008 criou inúmeros proble-mas para a NATO. Por um lado, o conflitomilitar entre a Geórgia e a Rússia no Cáu-caso ajudou a Aliança a voltar à agenda desegurança colectiva no seu padrão tradicio-nal, isto é, a segurança contra Moscovo.

O fantasma de expansionismo russo ani-mou os partidários do velho atlantismo e da«guerra fria» finda. Mas muitos na NATO,mesmo entre os inclinados para ver na Rús-sia uma ameaça real, não estão prontos aassumir as obrigações de defender, a qual-quer preço, os seus parceiros.

Por outro lado, a NATO cumpre assuas tarefas militares reais longe do es-paço euroatlântico, principalmente no Afe-ganistão, onde a situação não pára de pi-orar. Para restabelecer a antiga unidadeda NATO a questão crucial será a pronti-

dão da Europa de assumir mais ónus noPróximo e Médio Oriente. Claro, futura-mente, recusar pedidos formulados porBarack Obama, quase deificado pela Eu-ropa Ocidental, será muito mais difícil quedeclinar as repetidas súplicas de GeorgeW.Bush. A julgar pela recente tragédia emBombaim, também o nó afegão-paquis-tanês promete desenvolvimentos comconsequências imprevisíveis.

AS ESPERANÇASDIFICILMENTE REALIZÁVEIS

A crise financeira e os sapatos gastosde um jornalista iraquiano puseram pon-to final na presidência de George W.Bush. O seu balanço é visto como de-sastroso em todas as esferas.

As eleições presidenciais nos EUAtêm demonstrado claramente a vontadeda sociedade de ver mudanças reais nopaís, embora seja difícil prever agora asua dimensão e alcance.

As esperanças, que não apenas a so-ciedade norte-americana, como tambémo mundo inteiro, depositam sobre Bara-ck Obama, são, ao que parece, dificil-mente realizáveis. O novo Presidente teráindubitavelmente uns 6-12 meses paramostrar os seus verdadeiros desígnios eo talento real. Passado este estado degraça, poderá facilmente tornar-se refémda sua, já amplamente difundida, imagemde milagreiro.

Isto diz respeito também às relaçõesEUA-Rússia, que são, regra geral, de sumaimportância para as administrações norte-americanas. Como escreve no último nú-

mero da revista «A Rússia na Política Glo-bal» o Prof. S. K. Dubinin: «O maior pro-blema, diria eu, o problema existencialista,que divide a Rússia e os EUA, é o desejode Washington de privar Moscovo da pari-dade no domínio de armas nucleares e mís-seis balísticos, herdada da época soviética.Este desejo é explicável. A Rússia é a úni-ca potência no mundo capaz de destruir,em sentido directo, os EUA».

OS DILEMAS DE MOSCOVO

A futura correlação das forças nomundo dependerá em muito da resistên-cia revelada nas condições da recessãoque alastra. Moscovo terá que empre-ender sérios esforços para manter fir-mes as suas posições entre aquelas po-tências que vão liderar a ordem mundial.

Para a Rússia o ano de 2008 era cheiode fortes emoções: com os preços dopetróleo a subirem vertiginosamente noprimeiro semestre, um inesperado con-flito militar no Cáucaso em Agosto, e ospreços do petróleo a cairem perigosa-mente nos últimos meses.

Por enquanto, a inércia das expectati-vas iniciais de bons ritmos de desenvol-vimento e de altos preços do petróleo temimpedido Moscovo de definir uma hie-rarquia de prioridades, a fim de pôr delado o secundário e canalizar os recur-sos para o mais necessário. Colocar osdesejos e as esperanças em conformi-dade com as possibilidades reais do paísserá, para Moscovo, uma das tarefasinadiáveis em 2009.

A violência na Somália, a desloca-ção forçada de civis no leste do Con-go e as emergências médicas negli-genciadas em Myanmar e Zimbabuéfiguram entre as dez maiores criseshumanitárias de 2008, segundo a or-ganização Médicos Sem Fronteiras.

“Com a divulgação desta lista anu-al esperamos centrar a atenção sobreos milhões de pessoas que estão pre-sas em situações de conflito e guerra,afectadas por crises médicas, cujasnecessidades imediatas e essenciaisde saúde são negligenciados, e cujasituação muitas vezes passa desper-cebida”, afirmou o presidente do Con-selho Internacional do grupo, Cristo-phe Fournier, numa declaração a pro-pósito da divulgação desta lista.

Os Médicos Sem Fronteiras (MSF)começaram a divulgar este documentoanualmente em 1998, quando uma de-vastadora fome no sul do Sudão passoudespercebida a grande parte dos meiosde comunicação social norte-america-

Crises humanitárias em vários pontos do Globonos. Esta lista tem como objectivo pro-mover uma maior sensibilização para ascrises que podem não receber a devidaatenção da imprensa.

A organização humanitária afirmaque a Somália viveu este ano uma daspiores crises de violência da última dé-cada, agravada pela deterioração dossistemas de saúde. Actualmente, umaem cada dez mulheres daquele paísmorre durante o parto e uma em cin-co crianças não atinge os cinco anosde idade.

No leste do Congo, os novos com-bates entre o governo e os grupos ar-mados obrigaram centenas de milha-res de pessoas a refugiarem-se na sel-va, deixando-as com pouco ou nenhumacesso a cuidados de saúde, água, ali-mentos e abrigo.

O ciclone Nargis, que provocou cer-ca de 130 mil mortos e desapareci-dos, levou uma torrente de ajuda in-ternacional a Myanmar (antiga Birmâ-nia), mas doenças como a SIDA, a tu-

berculose e a malária foram ignora-das pelo governo militar, apesar deserem responsáveis pela morte dedezenas de milhares de pessoas todosos anos, afirma a MSF.

No Zimbabué, o grupo sublinha ocolapso económico de longo prazo noâmbito da presidência de Robert Mu-gabe. Segundo a organização interna-cional, uma taxa de inflação de 231por cento deixou muitas pessoas semdinheiro até para pagar o bilhete deautocarro para se deslocarem a umaclínica. Neste país, dois milhões depessoas estão infectadas com o vírusda SIDA e a esperança média de vidaé de 34 anos.

Já no Iraque, os esforços humani-tários são frustrados pela politizaçãoda distribuição da ajuda, pelas forçasmilitares e políticos, tornando as or-ganizações alvo de ataques violentos,num país onde cerca de quatro milhõesde pessoas foram deslocadas pelaguerra, acrescenta o relatório.

“Em alguns destes locais é extre-mamente difícil aos grupos de ajudaaceder às populações. Quando somoscapazes de prestar assistência temosuma responsabilidade especial de tes-temunhar e divulgar este intolerávelsofrimento, bem como chamar a aten-ção para as necessidades humanitári-as básicas”, afirmou Fournier.

Os confrontos nas zonas tribais do Pa-quistão, a continuação da crise no Darfur,a guerra civil no Sudão e a desnutrição,que mata cinco milhões de crianças e jo-vens todos anos, além da tuberculose li-gada ao vírus HIV – que mata 1,7 mi-lhões de pessoas por ano – integram ain-da a lista da organização.

A lista não configura um rankingdas crises mais graves, mas apenas oenumerar das que são consideradasmais devastadoras.

A Médicos Sem Fronteiras é umaorganização humanitária de emergên-cia que presta assistência médica àspopulações em risco em 70 países.

ALERTA DOS “MÉDICOS SEM FRONTEIRAS”

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731 DE DEZEMBRO DE 2008 A 9 DE JANEIRO DE 2009 NACIONAL

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O ano de 2008 foi de “altos e baixos”na cooperação estratégica entre o Gover-no e o Presidente da República, com apolémica sobre o Estatuto dos Açores aabalar o relacionamento entre CavacoSilva e José Sócrates.

Se dúvidas houvesse sobre a quebrada cordialidade institucional, elas ficaramcompletamente dissipadas com a comu-nicação ao País feita anteontem (segun-da-feira) por Cavaco Silva, de novo emdirecto nos telejornais da hora do jantar(os que atingem maior número de portu-gueses), onde o Presidente da República,sem disfarçar a sua contrariedade, deu aentender que considerava ter sido alvo deuma afronta no caso do Estatuto dos Aço-res. O tom e o conteúdo da comunicaçãoforam de tal modo crispados, que a gene-ralidade dos comentadores referiu quepara haver coerência com a sua interven-ção, o Presidente deveria dissolver a As-sembleia da República.

Os ‘avisos’ de Cavaco Silva começa-ram logo na tradicional mensagem de AnoNovo, com o Presidente da República adar conta da sua insatisfação com os re-sultados obtidos no ano anterior na eco-nomia, educação e justiça e a apelar aodiálogo do Governo para reduzir as con-flitualidade e tensões.

Aliás, os apelos à serenidade, primeirono sector da Saúde, ainda antes da de-missão do então ministro Correia de Cam-pos, depois no sector da Educação e, maistarde em relação às Forças Armadas, fo-ram uma constante no discurso do Presi-dente da República ao longo dos 12 me-ses de 2008.

Contudo, acabou por ser o Estatuto Po-lítico-Adminstrativo dos Açores o pontode maior ‘tensão’ entre o Governo demaioria socialista e o chefe de Estado, quejá manifestou a sua “objecção de fundo”ao diploma que vetou considerando queestão “em sério risco os equilíbrios políti-co-institucionais”. Como acima se refe-re, Cavaco viu-se obrigado a promulgar odiploma, depois da sua reconfirmação por

2008 põe termo à “cooperação estratégica”entre Cavaco e Sócrates

dois terços dos deputados na Assembleiada República, na semana anterior. Mas,de uma foprma como antes nunca suce-dera, deixou claro que se sentia ofendido,pelo que, implicitamente, a tensão com oGoverno deverá agora aumentar.

Ainda no Verão, a nova Lei do Divórciomereceu igualmente um veto político deCavaco Silva, que acabou por promulgar odiploma depois das alterações introduzidasna Assembleia da República, sem, contu-do, deixar de alertar para as situações de“profunda injustiça” a que vai conduzir, emparticular para os mais vulneráveis.

Mais recentemente, há poucos dias, o

chefe de Estado enviou para o TribunalConstitucional o diploma de revisão do Có-digo do Trabalho, requerendo a fiscaliza-ção preventiva da norma que alarga para180 dias a duração do período experimentalda generalidade dos trabalhadores.

Esta decisão de Cavaco Silva irá, as-sim inviabilizar a entrada em vigor do novoCódigo do Trabalho em Janeiro de 2009,tal como o Governo pretendia.

Não obstante os vetos, avisos e aler-tas, o chefe de Estado tem sempre recu-sado a tese de ‘arrefecimento’ nas boasrelações entre Belém e São Bento, ga-rantindo que quer “manter a boa relação

institucional existente entre os diversosórgãos de soberania até ao último dia domandato”.

“Eu disse logo no primeiro dia em queassumi funções que essa seria a minhaconduta e assim deverá ser até ao últimodia do meu mandato”, afirmou há poucomais de um mês.

“Eu terei sempre uma atitude constru-tiva e, quando falo ou tenho intervenções,o objectivo é sempre tentar ajudar a re-solver os problemas de Portugal”, disseainda o Presidente da República, que tam-bém já repetiu mais do que uma vez quepretende ser um “factor de estabilidade”.

À margem destas questões, o Chefede Estado prosseguiu em 2008 os seusroteiros para o Património e para a Ju-ventude, iniciativas onde faz sempre ques-tão de mostrar “os bons exemplos” do quese faz em Portugal.

Ao longo de 2008, Cavaco Silva cum-priu igualmente uma intensa agenda in-ternacional, com quatro viagens inter-con-tinentais, que o levaram a Espanha, Jor-dânia, Brasil, Moçambique, Estados Uni-dos da América, Polónia e Eslováquia.

Esta “agenda internacional muito inten-sa” do Presidente da República foi, aliás,a justificação avançada por Belém paraCavaco Silva não participar na XVIII Ci-meira Ibero-Americana, que teve lugar nofinal de Outubro, em El Salvador.

Para 2009, Cavaco Silva, que já asse-gurar falar sempre “verdade” aos portu-gueses e exortou todos os agentes políti-cos a seguirem a sua conduta, as pers-pectivas parecem não ser as melhores.

“Os portugueses, falando verdade, de-vem estar preparados para um 2009 quenão será nada fácil”, afirmou há cerca detrês semanas, apelando, uma vez mais àunião de todos.

“Não será um ano fácil, mas não podeser um ano de baixar braços, de desistir”,insistiu o chefe de Estado, considerandoque há que “deixar de lado tudo o quepossa dividir os portugueses”, porque “otempo exige união”.

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8 31 DE DEZEMBRO DE 2008 A 9 DE JANEIRO DE 2009OPINIÃO

FERREIRA LEITE E SANTANA

Se conseguíssemos parar de contaranedotas sobre Santana Lopes, era inte-ressante reparar que o homem, sozinho,expia todo o ridículo da política portugue-sa. Não é que, comparados com ele, osrestantes políticos constituam um mode-lo de elevação: é que, entretidos com elee com o riso que ele nos suscita, tende-mos a não ligar à miséria vigente. Dirigiras atenções para o embaraço que San-tana de facto é permite ignorar os em-baraços que abundam na classe e fazê-la parecer digna, ou quase. E se é com-preensível que a classe alinhe na farsa,surpreende que boa parte do país públi-co também não lhe escape. Tratar San-tana com irrisão e galhofa é vital a 85%das crónicas ou comentários esclareci-dos. O vírus atinge mesmo humoristastelevisivos, os quais, com a originalidadeque o ofício exige, parodiam semanal-mente Santana como se o dr. Louçã nãoestivesse disponível.

Dito isto, é óbvio que a candidaturade Santana Lopes à Câmara de Lisboarepresenta a abdicação definitiva da dra.Ferreira Leite. Embora os alegados “prin-cípios” que a conduziram à presidênciado PSD não garantissem por si um can-didato “melhor” que Santana, a verdadeé que admitiam qualquer candidato ex-cepto Santana. Até na política a flexibili-dade tem limites: de agora em diante, adra. Ferreira Leite deixa oficialmente deser levada a sério, pelo eleitorado e porela própria. Não sendo previsível que umterço de Lisboa imite Pacheco Pereirae, a fim de evitar o voto em Santana,mude de município, é de esperar que umcerto partido mude de líder - quando che-gar o momento adequado aos que nãoreconhecem no partido líder nenhum.

Alberto GonçalvesDN 21/Dezembro/08

SANTANA LOPES EM LISBOA

(...) É óbvio que a direcção do PSD nãopodia fingir que Santana Lopes não existia.

E, nesta perspectiva, a missão para queele parecia mais talhado era mesmo a can-didatura à Câmara de Lisboa.

Não seria boa ideia uma candidatura adeputado.

A sua presença no Parlamento tornar-se-ia incómoda para os outros membros dabancada – e a sua participação na campa-nha das legislativas não seria confortável

para Ferreira Leite.‘Mandá-lo’ para a Europa seria visto

como um exílio – e pô-lo a concorrer parauma Câmara pequena seria uma humilha-ção.

Assim, o que fazia mais sentido era mes-mo uma candidatura à Câmara de Lisboa –que, diga-se, constitui uma batalha difícil eque exige brilho e capacidade combativa.

Sucede, ainda, que Santana Lopes foi hásete anos um excelente candidato a essaCâmara, tendo sido dele as ideias mais cria-tivas para a capital.

A saber:A recuperação dos prédios degradados

e o regresso da habitação ao centro da ci-dade, oferecendo casas aos jovens em con-dições vantajosas.

A revitalização do Terreiro do Paço, ocu-pando as arcadas por lojas e esplanadas.

O túnel do Marquês – o famigerado tú-nel do Marquês – de que tanta gente dissemal e que hoje utiliza com proveito.

A recuperação do Parque Mayer, viabili-zada financeiramente pela construção de umcasino.

Talvez Santana não tivesse conseguidofazer tudo o que prometeu.

É muito provável.Mas não é menos verdade que os seus

sucessores não fizeram nada. (...)

José António SaraivaSol 20/Dezembro/08

A CARREIRA DE PORTAS

(...) Mas quando se analisa, caso a caso,os aspectos fortes e fracos desta sua dúpli-ce carreira, é muito fácil encontrar situa-ções que nos suscitam enorme perplexida-de. No jornalismo, Portas distorceu a talponto a informação e a ética que é muitodifícil reconhecer mérito nessa caminhada.‘O Independente’, nas suas mãos, vendeubem mas é completamente claro que Por-tas não hesitou em usar o seu jornal comoarma de arremesso para atingir os seus finspolíticos. Mentiu quando foi preciso mentir,sonegou quando foi preciso sonegar, mani-pulou quando foi preciso manipular, caluniouquando foi preciso caluniar.

Fê-lo sempre com enorme inteligência e...habilidade. A mesma inteligência e habilida-de que se podem reconhecer a um grandeburlão. Na política pulou todas as cercas.Feriu os amigos sempre que isso lhe eraconveniente. Quando esteve no Governousou a mesma estratégia. A princípio pare-cia uma coisa mas depois percebeu-se queera outra. O apregoado rigor, a badaladadefesa dos mais idosos, por exemplo, eraminstrumentos oratórios de época eleitoral enada mais. De novo Portas a atingir fins semolhar a meios. Pelo caminho ficaram mui-tos ‘cadáveres’ e ‘moribundos’ que ele foitriturando sem dó nem piedade. Como sem-pre a perspicácia e a argúcia que fazem deleum personagem astuto, mas em regra, umapraxis sem princípios nem valores. Portas éum ambicioso compulsivo e pisa quem seatravessar na sua frente. (...)

Emídio RangelCorreio da Manhã 27/Dezembro/08

“ATENTADO” CONTRA BUSH

(...) O caso do jornalista iraquiano queatirou os sapatos a George W. Bush éum desses momentos que, por muito queseja excluído dos livros, nos faz compre-ender melhor o mundo em que vivemos.

Em primeiro lugar, percebemos finalmen-te onde é que os iraquianos tinham es-condido as armas. Andavam em cimadelas, os dissimulados. É possível que,nas suas visitas ao Iraque, Hans Blixnunca tenha reparado que os nativos ti-nham os pés enfiados nos projécteis. Tra-ta-se de um daqueles estratagemas ge-nialmente simples que enganam toda agente, mesmo exibindo descaradamentea prova do crime.

Em segundo lugar, nesta altura os al-vos dos americanos estão definidos comuma clareza inultrapassável. A localiza-ção dos arsenais de guerra iraquianos foi,finalmente, revelada: há que atacar aForeva da baixa de Bagdade, a PabloFuster de Karbala e a Hush Puppies deTikrit.

Em terceiro lugar, tornou-se eviden-te para todos que Bush tem, de facto,estofo de estadista. Não é qualquer pes-soa que se esquiva de um sapato arre-messado àquela velocidade e volta a en-carar o agressor com a nonchalancede quem pergunta: «Gosto do modelo,mas tem isto em 42?» Talvez seja im-portante não esquecer que, sendo texa-no, Bush está, provavelmente, habitua-do a que lhe atirem botas esporadas,consideravelmente maiores e mais pe-rigosas do que os vulgaríssimos sapa-tos que o jornalista iraquiano optou porarremessar.

Em quarto lugar, ficou claro mais umavez que um homem agredido reúne asimpatia de toda a gente. Mesmo sendoo presidente mais impopular de sempre,Bush recebeu votos de apoio de váriaspersonalidades internacionais. Sarkozyqualificou o incidente de «inadmissível»,Angela Merkel telefonou a Bush para

lhe exprimir solidariedade e ImeldaMarcos mandou um telegrama a dizer«Sortudo!». (...)

Ricardo Araújo PereiraVisão

ABAIXO DE CÃO

BARNEY É O CÃO DOS BUSHe foi o protagonista da mensagem filma-da de Boas Festas deste último Natal queaquela família passa na Casa Brancadepois de infernizar o Mundo e deixar oplaneta na maior crise de que há memó-ria na Idade Moderna, incluindo os doisconflitos mundiais.

Compreende-se que o “marketing”político tenha utilizado o cão para nos daruma mensagem de amor e de esperan-ça. Era o único capaz disso, lá em casa.Foi quem menos prejudicou a humanida-de e quem merece um sorriso de simpa-tia. O resto é abaixo de cão. (…)

Joaquim Letria24 Horas 24/Dezembro/08Sem

MEMÓRIA

O Governo prepara-se para encerraro Tribunal Criminal da Boa-Hora, encla-usurando a memória de 165 anos de Jus-tiça feita neste convento, fundado em1633. É pena porque pretende transfor-mar este palácio, de acordo com o planopara a zona ribeirinha, em mais um hotelde charme, ‘vendendo’ a memória co-lectiva aos interesses das grandes oligar-quias financeiras. A memória colectivafica mais pobre e alguém fica mais rico.

O Governo Sócrates não tem ideolo-gia que o ampare e trave: a única ideolo-gia é o capital, não o do Marx, mas o dosgrandes interesses. Vivemos numa erade vazio ideológico. A Boa-Hora é o Tri-bunal mais emblemático da Justiça por-tuguesa. As suas paredes, as escadari-as, os corredores e as salas de audiênciatransportam estórias de vida, de dor, delágrimas e de sofrimento que não podemser apagadas da nossa memória. Na salada 6ª Vara Criminal até o silêncio fala, aítodos nós fomos julgados e nos sentimosmagoados, porque foi aí que acontece-ram julgamentos históricos: os tristemen-te célebres tribunais plenários, onde ospresos políticos já estavam condenadosantes de entrar na sala de audiências.Só nesta sala é possível fazer a históriapolítica do salazarismo. (...)

Rui RangelCorreio da Manhã 24/Dezembro/08

CAPITALISMO E ÉTICA

Há milhares de empresas, grandes,pequenas e gigantes, espalhadas por essemundo fora, onde a gestão é bem feita, otrabalho é sério, a produção é de quali-dade e a cometcialização é adequada.E, todavia, estão à beira da falência, sus-pendendo a produção, fechando paraférias não desejadas nem previstas ou

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931 DE DEZEMBRO DE 2008 A 9 DE JANEIRO DE 2009 OPINIÃO

suplicando a ajuda dos governos. E, por-quê? Porque o mercado não quer os seusprodutos, porque não são concorrenci-ais? Nºao, porque o mercado não temdinheiro para comprar o que produzem.E não tem, porque as poupanças médiasforam sorvidas, melhor dizendo, rouba-das, pelo sector financeiro especulativo.Não há dinheiro na mão dos consumido-res porque os Oliveira Costa, os Rendei-ros, os Madoff deste mundo agarraramnas poupanças que lhes confiaram e des-barataram-nas de duas maneiras: ou apli-cando-as em pura especulação, sem qual-quer critério de prudência e boa gestão;ou, pura e simplemente, roubando-as, embenefício próprio (...)

Miguel Sousa TavaresExpresso 27/Dezembro/08

A INTERVENÇÃO DO VERBO

Sem pôr em causa o esforço, e a dig-nidade com que é feito, dos responsá-veis pela gestão da ONU, parece inqui-etante o facto de a intervenção dos ape-los ganhar, por vezes, um relevo superi-or às intervenções efectivas na área deresponsabilidade que pertence à organi-zação. Não se trata de pôr em dúvida aimportância do discurso, e influência daspalavras, sobretudo se vierem de perso-nalidades autorizadas pela história da vidadedicada aos interesses gerais dos po-vos, e apoiados no prestígio das institui-ções que servem, quando esse é o caso.Mas a ineficácia dos apelos tem um efei-to demolidor da autoridade pessoal e ins-titucional, porque lhes falta o mais signi-ficativo dos resultados, que é a implan-tação da esperança nas áreas mais sa-crificadas do globo. (...)

Adriano MoreiraDN 23/Dezembro/08

VIVER MAL

Porque carga de água vivemos tãomal? E, se vivemos tão mal, porque car-ga de água o medo de morrer é tão gran-de? Quantas pessoas felizes conheço?Porque será que para quase toda a gen-te o amor é uma questão de prazeresbreves e localizados, como dizia, eu quedetesto citações, a grande escritora Co-lette? Ontem, no restaurante onde jan-tei, uma mesa grande cheia de mulherese homens: falavam, comiam, riam-se eestavam todos defuntos. Vontade de per-guntar-lhes

– Sabem que faleceram?Quando digo que falavam refiro-me a

que falavam de outros defuntos que nãoestavam ali, criticavam cadáveres enquan-to se decompunham. O mundo dos mor-tos está cheio de ressentimento e inveja,de crueldade desnecessária. Para quê?Tanta agitação, despeito, rivalidades, emo-ções minúsculas. No meio disto tudo souum homem sentado a escrever, com osmeus fantasmas em torno, vozes que mesegredam, me gritam. E tenho pena daspessoas, acho que o meu sentimento mais

fundo é ter pena das pessoas. (...)

António Lobo AntunesVisão

CULTURA INCULTA

Um ano depois de ter tomado posse,não é hoje difícil perceber que o ministroda Cultura defraudou muitas expectativasna concretização de uma política públicapara a cultura. E por outro lado permiteperceber quem é e o que está (ou não!) afazer o titular desta pasta no Governo. Naforma e no conteúdo, percebemos que oministro da Cultura ainda não desinchouda vaidade que ganhou ao ter entrado parao Governo da Nação. Ainda vive lá porcima, no meio do céu e das nuvens dopoder (efémero!), crente de que a roupa-gem do lugar políticolhe confere automa-ticamente a impunidade perante a falta depolítica, dinheiro e resultados, ao fim dequase um ano. (...)

Feliciano Barreiras DuarteExpresso 27/Dezembro/08

PASMO

(...) As declarações do ministro dasFinanças de que os governos foram apa-nhados desprevenidos com a crise é ver-dadeiramente espantosa e tanto mais es-pantosa quanto basta percorrer a opiniãopublicada – e já não falo da especializa-da – há pelo menos dois anos, para veros sinais dados – gritantes – e a respec-tiva análise. Aqui mesmo, nestas pági-nas, pedi, insistentemente, até à náusea,uma agenda para a crise, mas enfim, omarketing e o tanto pior para a realida-de falaram mais alto, como se Portugalpudesse passar imune à tempestade quepercorria o Globo. Já se sentia o ventodo tufão e o Governo prometia que oPaís estava impermeável àcrise, envolto em qual virtualgabardina. O problema é quea realidade às vezes é mes-mo bruta e destelha tudo, por-tanto não há impermeável quelhe valha. (...)

Paula Teixeira da CruzCorreio da Manhã 18/

Dezembro/08

SÓCRATES E A RUA

(...) Os dias que aí vêm vãoser duros e José Sócrates e oseu Governo navegam à vis-ta, sem se perceber o rumo.Injectam milhões atrás de mi-lhões em instituições que nãogarantem retorno, e que não ovão dar. E de caminho explo-ram o contribuinte que nãopode fugir ao fisco. O descon-tentamento ainda mal come-çou e Sócrates não percebe osarilho em que está metido aosalvar os ricos em detrimentodos pobres e sobretudo dos re-

mediados, a velha e pobre classe média,ameaçada com mais descontos, taxas,juros de empréstimo da habitação quenão descem, aumentos brutais da elec-tricidade, preços da gasolinae do gasó-leo que não descem, e uma companhiaaérea nacional que ptarica preços exor-bitantes, muito mais altos do que os davizinha Iberia, que os portugueses come-çam a usar para não se sentirem tão ex-plorados. (...)

Clara Ferreira AlvesExpresso 17/Dezembro/08

INCÓGNITA

Em Portugal, o ano de 2009, com oseu triplo momento eleitoral (europeu, au-tárquico e legislativo) em contexto decrise aguda, é ainda uma enorme incóg-nita. Continuamos hoje a enfrentar osmesmos problemas de há dez, 15 anos:deficiências gravíssimas de qualificação,múltiplas fragilidades no domínio da com-petitividade, desvitalização da nossa de-mocracia, pobreza persistente e muitasdesigualdades. Alguns destes problemaspõem- -se, é certo, numa escala e emcontextos diferentes, mas não se altera-ram quanto à sua natureza e causas maisprofundas.

Um ano eleitoral como o que aí vem éum ano de incontornável balanço. E desteponto de vista, há no essencial duas ten-dências que neste momento parecem jáestar bem identificadas e consolidadas:uma parte importante da direita está con-tente demais com o Governo do PS paraarriscar outras apostas. E uma parte sig-nificativa da esquerda está zangada de-mais com o Governo do PS para não asarriscar.

O que se irá passar? Seria bom que, noque diz respeito ao PS, o próximo Con-gresso de Fevereiro fosse de clarificação

política e ideológica, nomeadamente quan-to ao peso das suas diversas sensibilida-des internas e ao significado dos seus va-lores nucleares. Que ele fosse o momen-to de um exigente e responsável balançoquanto ao cumprimento das promessaseleitorais feitas ao País em 2005. E queele fosse também de verdadeira inova-ção quanto às propostas políticas que de-veriam responder com sentido de futuroaos problemas do País, assumindo a “mu-dança de paradigma” que a crise actualtornou tão necessária como urgente.

É uma oportunidade, em todos estesplanos, que não se deve perder.

Manuel Maria CarrilhoDN 27/Dezembro/08

O LONGO 2008

Tudo leva a crer que o ano de 2008não termine em 31 de Dezembro. O tem-po inerte do calendário cederá o passoao tempo incerto das transformaçõessociais. Muito do que se desencadeou em2008 vai continuar, sem qualquer solu-ção de continuidade, em 2009 e maisalém. Analisemos algumas das principaiscontinuidades.

Crise financeira ou o «baile de gala»da finança? Os últimos quatro mesesforam muito reveladores dos dois mun-dos em que o mundo está dividido, omundo dos ricos e o mundo dos pobres,separados mas unidos para que o mundodos pobres continue a financiar o mundodos ricos. Dois exemplos. Fala-se de crisehoje porque atingiu o centro do sistemacapitalista. Há 30 anos que os países dochamado Terceiro Mundo têm estado emcrise financeira, solicitando, em vão, paraa resolver, medidas muito semelhantesàs que agora são generosamente adop-tadas nos EUA e na UE.

Por outro lado, os 700 biliões de dóla-res de bail-out estão a ser en-tregues aos bancos sem qual-quer restrição e não chegam àsfamílias que não podem pagara hipoteca da casa ou o cartãode crédito, que perdem o em-prego e estão a congestionar osbancos alimentares e a «sopados pobres». No país mais ricodo mundo, um dos grandes ban-cos resgatado, o Glodman Sa-chs, acaba de declarar no seurelatório que neste ano fiscal pa-gou apenas 1% de impostos.Entretanto, foi apoiado com di-nheiro dos cidadãos que pagamentre 30 e 40% de impostos. Àluz disto, os cidadãos de todo omundo devem saber que a cri-se financeira não está a ser re-solvida para seu benefício e queisso se tornará patente em 2009.Na Europa, os jovens gregosforam os primeiros a dar-seconta. É de prever que não se-jam um caso isolado. (...)

Boaventura Sousa-SantosVisão

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10 31 DE DEZEMBRO DE 2008 A 9 DE JANEIRO DE 2009CRÓNICA

A OUTRA FACEDO ESPELHO

José Henrique Dias*

[email protected]

arte em café

* Professor universitário

Azeitonas verdes…

Não gosto de azeitonas verdes, disse. Só daquelaspretas, sabes quais são?

És uma catedral, mas só eu tenho a chave da abóba-da. Se retiro aquela pedra, o fecho, tudo vai ruir.

As frases foram ditas em momentos diferentes deum longo momento. Lado a lado, ao fim de um longotempo de ausência e alguma dor.

Os amantes dizem coisas assim para se poderemolhar, quando a noite afaga os sorrisos nos jantares. Osamantes infelizes, como num fado. Há anéis que setrocam nos dedos. Que se tocam. O mesmo anel pas-sa, ora em um, ora em outro, do dedo dela ao dedo dele,o anel dela de talvez ónix a dizer simbolicamente so-mos definitivamente prisioneiros da memória, cerimó-nia nupcial laica entre a multidão, os ruídos, o pensa-mento distante em outras pessoas, em outros lugares,gestos clandestinos, nunca mais clandestinos, odeio apalavra clandestinidade, disse ela, com outra clandesti-nidade em torno do olhar e na ansiedade dos sms, ou-trora era ao contrário, lia avidamente os sms dele, avida é feita de nadas, como diria Torga, para poderfalar do pai a podar uma videira, como as mães fazemtranças às filhas. Será que as mães ainda fazem tran-ças às filhas? Onde as tranças? Não me lembro de ver

a não ser na exaltante criação de uma história, comoagora, deitado ao lado de mim próprio, na indizível soli-dão, porque este tempo de recordações é tempo deausências e perdas, minha filha diz não gosto de despe-didas e de Natais, dá-me um beijo marejado e parte acorrer, na tentação de olhar para trás como um últimoadeus, mas a resistir, também eu não gosto de despedi-das, porque sabem sempre a missas de requiem, ma-tam-nos com palavras doces para terem a certeza deque sobrevivem, hoje vou-me enfrascar, disse ela, nun-ca bebo álcool, mas hoje…

Cada hoje é um ontem que irá enaltecer mentiras,recuperar o passado recente com facas nas costas, trai-ções nos olhares, ajustes de contas, com a vida, com osfracassos, com memórias turvas, adeus, há entre nósum pássaro morto, disse-lhe um dia, restos de um velhopoema, restos de um velho de mim, disse ele, bebo peloseu copo um suave licor, última partilha, também nãogosto de azeitonas verdes, sabem a noite de grito, sal-

va-me, socorro, palavras de sms, para se diluírem emorrerem definitivamente antes da chegada do INEMda ternura ausente, depressa a maca, o desfribilhador,suporte mínimo de vida, todas as técnicas, tem de che-gar ao hospital, porque partiste?

A pergunta é retórica, ainda estou aqui, só que nãome vês, mudaste a direcção do olhar, é preciso sairlimpa das histórias, nada como mensagens subtextuais,espécie de comprimido debaixo da língua, nitroglicerinanas esquinas do adeus quando a respiração aprendeque tudo é mentira. Afinal…

Esperem um nadinha, se me fa-zem o favor, caros leitores, eu te-nho de ter maneira de deslindaresta história. Talvez reconstruiruma perturbação natalícia, mesmoque vaga, é dia de sermos todosbons, dizia-se, amanhã vou visitaro presépio da Sé Nova, será queainda montam o presépio da SéNova?, com as casinhas ilumina-das e as figuras tão próximas denós, mais distantes só Maria e José,com trajes de outras eras, palavrasde outros tempos, e os reis magoscom os presentes, ouro, incenso emirra, entre a glória e a finitude,que simpático e humanizado o bafono estábulo, estás a ver o burrinhoe a vaquinha que aqueceram o Me-nino Jesus?, dizia minha mãe.

Não gosto de azeitonas verdes, têm o gosto da men-tira e sabem a traição, insistia dentro de si a caminhodo hospital, a ambulância corre, as azeitonas verdessão como aqueles rectângulos que se põem nos livros,para se saber a página que suspendeu a leitura, elachamou-lhe separador, ele marcador, não é preciso serFreud para perceber a diferença.

Tem forma de seta. Apenas as palavras ficaram comouma homilia no altar dos resíduos flutuantes. Princesadas águas. Vislumbres do que foram antes de ela seroutra. Teimosamente, ele retém a que criou dentro desi, bela e luminosa, quando dizia estamos a dançar, que-rido, depois só aquela dor insana da separação, mas aspalavras sempre renovadas e o amor exaltante, no pre-sépio alguém está a dizer não gosto de azeitonas ver-des, parece-me que é aquela mulher do manto azul,tem uma auréola na cabeça, um arame doirado, res-plendor de luz simulada, a verdade afinal está nos sím-bolos porque a realidade não existe, insisto nisto, se os

leitores me permitem que esta históriapossa ir até ao fim, segredada por umamigo que me bateu à porta, era noitee não havia no céu nenhuma estrelapara guiar os magos, dois a cavalo, umnum camelo, um preto também dásempre jeito para esconjurar os tumul-tos, um rei preto resolve-se com umbocado de cortiça a carbonizar nasbrasas do fogareiro, depois é só en-farruscar a cara, a encenação ficaquase perfeita, também não é neces-sário que fique mesmo perfeita, o queimporta, dizia o ensaiador, é que pare-çam, não tinha ideia do que fosse mi-metismo, isso podia ser lá com Aristó-teles, mas sabia, sabia da memória co-lectiva, tu levas uma colcha amarela aservir de manto, a senhora Piedade diz

que tem uma que lhe deram de prenda de casamento enunca usou, o turbante é fácil, ajeita-se um cachené,como aqueles que usava o Alfredo Marceneiro, adeuscabecita louca/ hei-de esquecer tua boca/ na bocadoutra mulher, as coroas dos outros já estão prontas,são de papelão, agora é só pintar a dourado, desculpemlá mas não vou à Missa do Galo, hoje está muito frio,gelei por dentro, preciso de uma canja e o galo faz fal-ta, porque ela foi embora para sempre, no prato ficouuma azeitona verde, que culpa tenho que haja azeito-nas verdes?, ela só gosta das pretas, como gosta de

provar azeitonas e deixar os caro-ços na borda dos pratos, como aspessoas nas bordas da vida, descar-táveis, disse-me aquele homem navisita nocturna.

Estou farto de tentar perceberporque me contou assim esta histó-ria que parece desconexa, que guar-dei como pude na memória para de-pois tentar reescrevê-la. Só percebique agora sabe que passou de heróia vilão e que tudo quanto diz é hedi-ondo. Disse-me com lábios frios.Com suicídios de estrelas a apo-drecerem nos olhos. Como no po-ema de Gomes Ferreira.

Com uma lágrima, como se diz,tão vulgarmente, rebelde, lágrimarebelde, não consegue esquecer olicor que beberam pelo mesmo copo

e aquele beijo leve e rápido no momento da partida. EmCoimbra. Era Dezembro. Estava frio.

Disseram-me há pouco que o meu amigo enlouque-ceu. Ao fim da tarde. Não sei bem o que é isso de estarlouco. Quem arrisca? Deve haver uma definição daOrganização Mundial de Saúde. Haverá uma Organi-zação Mundial dos Loucos? Gostava de saber a defini-ção. “A querela dos direitos”: loucos, doentes mentaise portadores de transtornos e sofrimentos mentais”.Deve ser interessante.

Entrem na nave. O Stanley Kramer faz o resto. Ouentão o Hieronymus Bosch.

O meu amigo está numa clínica em cura de sono. Aver se arranjo maneira de o visitar. Levo-lhe uma caixade azeitonas pretas. Para quando acordar e voltar aoque sempre foi.

Deliciosamente louco. A comer azeitonas verdes.

Pormenor da pintura de Hieronymus Bosch

Cartaz do filme de Stanley Kramer

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1131 DE DEZEMBRO DE 2008 A 9 DE JANEIRO DE 2009 NACIONAL

Varela Pècurto

Com a técnica a atingir numa só dis-ciplina um vasto leque de especialidadesnão é de admirar que sejam muitos ostítulos dados aos que trabalham tendocomo base o mesmo tema.

Veja-se o caso da Medicina que temdezenas de especialidades.

Também a fotografia que dá origem aumas quantas variantes sem as quais omundo não avançaria tão bem e relati-vamente depressa, prova que hoje nãopoderíamos dispensá-la bem como assuas variantes.

Faleceu há pouco tempo um suecoque, não tendo graus académicos, aindaem vida recebeu do seu governo uma dassuas maios importantes condecorações.

De seu nome Victor Hasselblad, pla-neou durante 7 anos uma máquina foto-gráfica (que ficou baptizada com o seuapelido) e acessórios tão variados que éraro um só fotógrafo adquiri-los todosporque também é raro um só fotógrafodominar todas as especialidades que elespossibilitam. Um repórter, por exemplo,não vai adquirir o que é destinado a mé-dicos e estes por sua vez não trabalhamcom material destinado a mergulhadorese assim por diante.

Destas máquinas uma ficou na Lua eno regresso o seu peso foi preenchido porpedras, para estudo. Da máquina só vol-tou o porta-filme, sendo abandonadas nosolo lunar a óptica e a câmara-escura (amáquina desmonta-se em quatro partesem quatro segundos). A famosa fotogra-fia que mostra em primeiro plano um pou-co da Lua e a Terra ao longe no espaçofoi tirada por uma máquina destas.

Vão sendo poucos os fotógrafos que,trabalhando com filme, o são por inteiro,isto é, que fotografem, revelem, ampli-

Conversa morna

em e retoquem. Agora o digital acaba poranular estas operações facilitando tantoque, tirada a fotografia, vamos para casafazer cópias ou gravar as fotos em discopara depois visionar. Não há filmes ourevelação no processo.

Fotógrafo mediano que sejamos sãoindispensáveis uns quantos atributos. Pa-ciência e persistência são dois deles. Con-vém também uma pitada de ousadia.

Quem fotografa em estúdio sabe queé uma “tragédia” enfrentar uma criançaem fase de birra, muito teimosa ou maleducada. Se houver possibilidade, o me-lhor é deixar a sessão para mais tardeou esperar que a criança se ambiente.

No exterior recordo as 3 horas de pa-ciência à espera de um elemento huma-no que considerei indispensável à com-posição, uma estrada com choupos. Umpouco mais além dessa espera e a foto-grafia teria sido adiada por a luz já nãoser a conveniente.

Noutra ocasião, na evocativa cidade

que é Atenas, vista e fotografada a Acró-pole, já na descida, passei por Teseion, otemplo de Hefesto (Vulcano deus dametalurgia) e decidi “bater mais umachapa” àquele significativo monumento.Seria a última foto na capital, pois namanhã seguinte partia para outras emo-cionantes visitas. Mas tive um contra: orecinto já tinha encerrado. Com a ideiafixa no motivo a fotografar, saltei a ve-dação e disparei a máquina; depois sur-giu um guarda furioso com a minha que-bra das regras. Fugi a sete pés e nãoaconselho estes comportamentos, embo-ra pessoalmente esteja sempre dispostoa riscos maiores para obter fotos queconsidere valiosas.

Já fotografei em museus sem flash de-pois de tirar o número de fotos permitidas.

Em igrejas onde é proibido fotografar,disfarçadamente monto a máquina notripé, diagramo bastante, o suficiente paranão gravar luz a mais, enquanto ouço osprotestos do vigilante. Como já tinha

aberto o disparador antes, volto a fechá-lo premindo a pose T com que trabalhei(a T abre com um disparo e fecha comoutro). O guarda nem sonhará que, en-quanto ralhou comigo eu estava tirandoa fotografia.

Apelando à paciência passei uma tar-de no açude-ponte fotografando peixesa saltar para um dos patamares que an-tecedem as comportas – de jusante paramontante. Escolhida a área a focar, cadapeixe que dali saltasse era fotografado.Como desejava um bom exemplar e naboa posição, fotografei umas dezenasdeles; entre todas havia uma que me sa-tisfazia. Mas estavam gastos 6.000$00de slides...

Menos morosa foi uma tentativa noBrasil para fotografar um colibri, delica-da ave que sempre me atraiu e via aonatural pela primeira vez. Quem não ado-rará um passarinho destes?

Com mais de 300 espécies, vivem naAmérica do Sul mas 1 delas vai anual-mente ao Alasca, viagem de ida e voltaincrível para uma ave tão frágil. Na maispequena espécie, pesa dois gramas e dobico à cauda tem 5 cm. Um outro parenteconsegue voar até aos 6.300 metros dealtitude, outra grande proeza. Com penasiridiscentes, pode pairar graças a doismovimentos exclusivos das suas asas eos seus batimentos por segundo vão dos50 aos 80 em voo e a 200 nos rituais deacasalamento, sendo também a única avecapaz de voar em “marcha-atrás”.

Na minha paixão por esta maravilhavoadora devo ter parecido maluquinho naperseguição que fiz, o que foi observadopor dezenas de pessoas, felizmente des-conhecidas.

Como a avezinha não me deu confi-ança alguma, voou para longe destinan-do-me um fracasso total e fazendo comque o final deste escrito seja pouco feliz.

A Assembleia Municipal de Caste-lo Branco aprovou ontem, por unani-midade, a compra do Convento deSanto António, onde actualmente estáinstalado o Estabelecimento Prisional.

A decisão verifica-se no dia em queo Conselho de Ministros autorizou oMinistério da Justiça a promover acontratação para a concepção e cons-trução do novo Estabelecimento Pri-sional da cidade.

Para o presidente da Câmara deCastelo Branco, Joaquim Morão, aaquisição do convento é a concretiza-ção de um “anseio antigo” da autar-quia e da população do concelho, “que

Castelo Branco: Câmara compra Conventode Santo António por mais de 5 milhões de euros

há muito gostava que esse mo-numento fosse da cidade”.

A Câmara vai pagar pelo imó-vel cinco milhões e 81 mil euros.

Na assinatura do contrato decompra e venda, pagará 81 mileuros, enquanto os restantes cin-co milhões serão liquidados emquatro prestações anuais, a par-tir do momento em que o conventofique livre.

“Só para 2001 se prevê que onovo Estabelecimento Prisionalesteja pronto. Portanto, só entãoa Câmara começará a pagar, durantequatro anos, os cinco milhões de eu-

ros”, esclareceu hoje Joaquim Morão,na reunião da Assembleia Municipal.

Todas as forças politicas repre-sentadas na Assembleia se con-gratularam com a aquisição doimovél, onde em tempos esteveinstalado o ex-Regimento de In-fantaria de Castelo Branco(RICB) e que, desde 1996, aco-lhe o Estabelecimento Prisional.

João Carlos Marcelo, da ban-cada socialista, destacou o factode a autarquia adquirir o conven-to e, ao mesmo tempo, ter criadocondições para que seja construidoo novo Estabelecimento Prisional,

com a criação e manutenção de postosde trabalho que isso representa.

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12 31 DE DEZEMBRO DE 2008 A 9 DE JANEIRO DE 2009SEM PALAVRAS

Em vez das figuras do ano, escolhemos algumasdas imagens do ano (todas elas da Agência LUSA),tão curiosas que dispensam palavras...

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1331 DE DEZEMBRO DE 2008 A 9 DE JANEIRO DE 2009 SEM PALAVRAS

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14 31 DE DEZEMBRO DE 2008 A 9 DE JANEIRO DE 2009EDUCAÇÃO/ENSINO

No sector da Educação, 2008 terminapraticamente como começou: protestos,manifestações e pedidos de suspensão,tudo em torno do processo de avaliaçãodos professores, que motivou um dosmaiores braços-de-ferro de sempre en-

tre sindicatos e Governo.Às críticas, o Governo respondeu sem-

pre estar a trabalhar para a melhoria daescola pública e das condições de traba-lho de alunos e professores, invocando“êxitos” como a mais baixa taxa de chum-bos no básico e secundário da última dé-cada, registada este ano, e medidas comoo maior alargamento de sempre da Ac-ção Social Escolar (ASE).

Mas apesar das medidas, foi a con-testação que quase sempre dominou osholofotes mediáticos: por duas vezes, osdocentes saíram à rua contra o modelode avaliação de desempenho definidopelo Ministério da Educação (ME). Porduas vezes, pediram a suspensão do pro-cesso, tal como todos os partidos da opo-sição, mas tudo o que conseguiram foi asua simplificação.

2008: o ano em que a avaliaçãolevou os professores para a rua

A 8 de Novembro, 120 mil dos cercade 140 mil professores encheram as ruasde Lisboa, naquela que, segundo os sin-dicatos, ficou para a história como a mai-or manifestação de sempre de uma sóclasse profissional em Portugal.

Poucos dias depois, a Ministra anun-ciou um conjunto de medidas de simplifi-cação do modelo, deixando cair critérioscomo os resultados dos alunos e a ob-servação de aulas.

Ainda assim, os docentes voltaram aosprotestos logo a 3 de Dezembro, destavez numa greve que levou ao encerra-mento de cerca de um terço das escolasdo país, contando com uma adesão “his-tórica”, segundo os sindicatos, e que oGoverno classificou de “significativa”.

Já oito meses antes, os portuguesestinham assistido a um “filme” muito se-melhante: a uma manifestação que reu-niu cerca de 100 mil pessoas, a ministraMaria de Lurdes Rodrigues respondeucom uma versão “simplex” do modelode avaliação, que acabou por ser aplica-do no passado ano lectivo a cerca de 12

mil professores.Na altura, as medidas de simplificação

contaram com o aval dos sindicatos, queassinaram com o ME um memorando deentendimento. O mesmo não foi possívelagora, pelo que os professores prometem

manter a luta em 2009, estando agendadanova greve para 19 de Janeiro.

Este foi também um ano em que osestudantes saíram à rua contra o Estatu-to do Aluno, em dezenas de pequenasmanifestações um pouco por todo o país,que culminaram com um incidente emFafe, onde Maria de Lurdes Rodriguesfoi recebida com ovos.

O Governo invocou sempre os “pro-gressos” alcançados na Educação, no-meadamente no que diz respeito à me-lhoria das notas nos exames nacionais eà redução da taxa de chumbos.

Outra aposta do ME este ano foi oalargamento da Acção Social Escolar,tendo triplicado o número de alunos a be-neficiar de refeições e manuais escola-res gratuitos. Foi ainda criado o passeescolar, com preços reduzidos nos trans-

portes públicos para os estudantes entreos 4 e os 18 anos.

No âmbito do Plano Tecnológico daEducação, uma das bandeiras do Exe-cutivo de José Sócrates, a tutela alargouaos alunos do 3º ciclo o programa de dis-

tribuição de portáteis com ligação à In-ternet em banda larga, lançando ainda o“pequeno” e famoso Magalhães para ascrianças da antiga primária.

Nas escolas, as mudanças tambémsão visíveis: a ardósia e o giz estão a darlugar aos quadros interactivos, enquan-to nos conselhos executivos os actuaispresidentes começam a ser substituídospelos novos directores, um cargo commais competências instituído com a re-forma da gestão e autonomia escolar.

Sempre atento ao que se ia passandona Educação, o Presidente da Repúbli-ca apelou mais do que uma vez à sere-nidade no sector, criticando a “tensão”vivida nas escolas. Mas já perto do finaldo ano, Cavaco Silva lamentou que osseus pedidos não tivessem, “infelizmen-te”, surtido efeito.

A Ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, apesar de garantirque o Governo não recuaria, foi fazendo algumas cedências...

... cedências essas que os professores continuam a considerar insuficientes,como sublinha o Presidente da FENPROF, Mário Nogueira

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1531 DE DEZEMBRO DE 2008 A 9 DE JANEIRO DE 2009 EDUCAÇÃO/ENSINO

Os inflexíveis

É cada vez mais evidente! A formacomo o Governo e, particularmente, oprimeiro-ministro conduzem certas ques-tões de política educativa já pouco tem aver com os seus conteúdos em concre-to. Entre elas, o destaque vai para o dos-sier “avaliação de desempenho”.

A questão está infectada por inflexi-bilidades estranhas à própria necessida-de e modos de avaliação do desempe-nho docente. O primeiro-ministro procu-ra aqui mais do que a imposição do im-praticável e pernicioso modelo que quer.Procura aqui uma derrota exemplar dossindicatos que pretende subjugar. Umaderrota que seria exemplar porque, aacontecer, seguir-se-ia às maiores mo-bilizações jamais vistas de uma classeprofissional.

Deixemo-nos de tretas! É a liquida-ção dos sindicatos, tacticamente centra-da nos dos professores, que, combinadacom a arrogância e destempero pesso-ais face à contestação, ainda dão vidaao modelo de avaliação de desempenhoque Sócrates quer impor nas escolaspúblicas. É mesmo o primeiro-ministroque cavalga, enraivecido e cego, contraa generalizada e qualificada contestaçãodos professores. Atrás dele, aos baldões,a cinzenta ministra e os dois inenarrá-veis secretários de Estado.

A imagem feita na comunicação soci-al de que Ministério e Sindicatos dos Pro-fessores seriam dois marretas igualmenteinflexíveis é uma errada simplificação da

Professor e dirigente do SPRC

João Louceirorealidade. Foi fabricada com referência,apenas, a um dado: os Sindicatos exigema suspensão do modelo de avaliação e oMinistério recusa admitir essa suspen-são. Mas de fora deixa muitos outrosdados…

Para começar, a forma como decor-reram as “negociações”. A leitura cui-dada das versões de documentos confir-mará que os governantes que, recente-mente, passaram a invocar o diálogo e aflexibilidade, chegaram às mesas nego-ciais com um modelo que impuseram, daprimeira à última reunião, sem qualqueralteração digna desse nome. Nem uma,sublinhamos!

Outro dado é que os Sindicatos apre-sentaram e defenderam, em devido tem-po, propostas suas. Ao contrário da cari-catura e do que, já agora, dá jeito aosque têm o poder de legislar e o usamimpondo, apenas impondo, os Sindicatosjá então tinham ideias e propostas paracontrapor às do Governo. E ainda é im-prescindível lembrar que, frustradas asprimeiras fases do “diálogo”, os diferen-tes Sindicatos da Plataforma chegarammesmo a consensualizar propostas debeneficiação do próprio modelo que oMinistério arrastou até ao fim, por meraformalidade, nas negociações. Forampropostas que, partindo do modelo con-testado, teriam permitido reduzir algunsdos seus aspectos mais gravosos. E oMinistério, o que disse?... “Nem pensar”,claro!

Mas há mais dados esquecidos pelacaricatura dos “dois marretas”. O maiordeles é a dimensão e o significado dacontestação. Quando se caricatura uma

perrice entre Sindicatos e Ministério,omitem-se os 100 mil professores deMarço, os 120 mil em Novembro, os 94%na greve de Dezembro, as mais de qua-trocentas escolas em que já foram assu-midas decisões de suspensão e todas asoutras em que o processo está, na práti-ca, parado, as cerca de 70 mil assinatu-ras pela suspensão recolhidas só numasemana…

Outro dado, ainda, a contrapor à insi-diosa caricatura é mesmo o da desesta-bilização, desorganização e disfunciona-mentos provocados pela implementaçãodo que o Ministério pretende a todo ocusto. Em risco esteve e está o funcio-namento das escolas. Para o disfarçar, oMinistério vai tentando remendos… To-dos, desde que Sócrates consiga impor,exemplarmente, o seu modelo a toda umaclasse em luta.

Quando no dia 22 a Plataforma de Sin-dicatos dos Professores entregou maisde 70 mil assinaturas, recolhidas numasemana, em defesa da suspensão da apli-cação do modelo de avaliação do Minis-tério, o secretário de Estado Jorge Pe-dreira não teve melhor abordagem, coma comunicação social, do que pôr emdúvida a seriedade das subscrições. Umavez mais, como é timbre do Governo eda equipa ministerial que integra, insul-tou os professores e os Sindicatos. Nãoo fez por inabilidade; fê-lo por seremestes os seus argumentos.

Depois da denúncia terá a devida res-posta. Mas reconheça-se que, pelo menos,teve a virtude de voltar a mostrar ondeestão os marretas… E olhem que não é desemelhanças físicas que falamos!

A Faculdade de Ciências e Tecnologiada Universidade de Coimbra (FCTUC)anunciou a criação da primeira Academiade Informática on-line do país, dirigida es-sencialmente a alunos do Ensino Secundá-rio.

“A DEI Academy destina-se aos jovensque tenham interesse em iniciar ou desen-volver as suas capacidades na área da In-formática ou que, estando indecisos sobre oseu futuro, queiram conhecer melhor o queenvolve esta área e o nível de exigência docurso de Informática na FCTUC”, realça ocoordenador da Academia, Francisco Câ-mara Pereira.

No entanto, está aberta à participação detodos os interessados, desde o simples curi-oso, que pretende aprender os conceitosbásicos, até aos docentes e investigadoresque queiram partilhar experiências.

Em declarações à Lusa, o docente da

FCTUC considerou que se trata de “umaferramenta muito útil para quem pretendeingressar na área de estudo da Informáticae também para que o corpo docente do de-partamento conheça os alunos que pode vira ter”.

A Academia de Informática ensina a cri-ar jogos, programar um computador, conhe-cer e aprofundar as tecnologias para a In-ternet ou participar em projectos de investi-gação, dividida por vários níveis de partici-pação, funcionando on-line e presencial.

Segundo Francisco Câmara Pereira, osinteressados inscrevem-se no site do depar-tamento de Engenharia Informática da FC-TUC, onde podem aceder a conteúdos quevão experimentando e a desafios que vãosendo avaliados, podendo assim “ir progre-dindo”.

“É uma espécie de ensino à distância”,sintetiza o investigador.

Os alunos com melhor participação on-line serão convidados para as actividadespresenciais no departamento de Engenha-ria Informática, cuja primeira acção será um“Curso de Inverno em Programação”, emFevereiro, com atribuição de diplomas e pré-mios aos melhores.

Francisco Câmara Pereira considera que“os alunos que frequentarem a Academiade forma regular, participando nos desafios,seguramente que vão sair bem preparadospara entrarem num curso superior de Infor-mática”.

A participação e inscrição na Academiade Informática da FCTUC é gratuita.

A comunidade dos utilizadores tem aindaao seu dispor um fórum para colocar asdúvidas e dificuldades na resolução dos de-safios propostos e partilhar ideias e concei-tos, contando sempre com o apoio de do-centes e investigadores.

Faculdade de Ciências e Tecnologiade Coimbra cria a primeiraAcademia de Informática on-line do país

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16 31 DE DEZEMBRO DE 2008 A 9 DE JANEIRO DE 2009SAÚDE

MassanoCardoso

A mentira está para a alma como oar para o corpo. Mentimos tão natu-ralmente como respiramos. Ninguémconsegue viver sem respirar e semmentir! Mas, tal como o ar, que podeser puro, limpo, não poluído, cheio defragrâncias e, até, dotado de efeitosterapêuticos, também a mentira sepode revestir de aspectos em que aternura, a beleza, a esperança, a con-fiança e o alívio do sofrimento nãodeixam de estar presentes.

Mentimos para nos sentirmos me-lhores, para esconder as nossas fra-quezas, para ajudar os outros, paranos livrarmos de perigos, por pura di-versão, por estranhas perversões, de-vido a certas patologias, para aumen-tar os ganhos e para ascender nasescalas social e política. Há que dis-tinguir nestas razões, as mentirasequivalentes ao ar poluído, cheio desubstâncias tóxicas e de partículas pe-rigosas, mal cheiroso, empestado queprovoca doenças e morte. Estas sim,são nefastas.

Kant considerava “a mentira como

“Mentira branca”

a maior violação que um ser humano– enquanto ser moral – pode cometercontra si mesmo”, chegando inclusi-ve a afirmar que nenhuma falsidadeintencional é desculpável. Bom, nesteaspecto, apesar da simpatia que nutropor certos princípios, parece-me serum pouco exagerado.

Um doente procura-me e “sabe”instintivamente que não está bem. Dis-cursa e denota esperança no trata-mento. “As coisas estão a correr me-lhor e vai ficar tudo bem”. Ao mesmotempo que faz esta afirmação lança-me um sorriso na esperança de que osecunde. No meu íntimo, sei que não

é bem assim, que as coisas,afinal, vão ter um cursomuito diferente do deseja-do. Não é legítimo dizer averdade, porque o doentequer que lhe minta. E min-to. No fundo, estou certode que sabe que estou amentir. Mas sente-se bem.Vê-se noolhar. Nãose trata deuma menti-ra piedosa,mas sim jus-

tificar a necessidadede viver e de fugir àmorte. Não é dar es-peranças vãs. Não épropriamente um casode fé, até porque a féé “biológica” e corres-ponde a uma força queactua dentro de limitesbem definidos, fora de-les não existe.

Também gosto da verdade, mas nãodeixo de reconhecer que a humanida-de também precisa, talvez ainda mais,de mentiras, sobretudo das que con-solem, que sejam fontes de esperan-

ças infinitas. De outro modo, e para-fraseando Anatole France, “Sem amentira, a humanidade pereceria dedesespero e de tédio”.

As mentiras que emergem no âm-bito da política, do social, da religião,da publicidade e dos negócios sãomuito perigosas e difíceis de contro-lar. No fundo acabam por provocar de-

sespero. Mas não há maior desespe-ro quando se sente o fim a aproximar-se. A verdade pode ser uma ilha emer-sa num oceano de incertezas, que, emcertos momentos, acaba por se afun-dar na certeza da verdade.

INICIATIVA DA ESCOLA DE ENFERMAGEM DE COIMBRA

Utilização de mel e larvasem “Encontro sobre Feridas”

A Escola Superior de Enfermagem deCoimbra (ESEnfC ) promove, no próximodia 5 de Janeiro, uma iniciativa intitulada“Encontro sobre Feridas… da prevençãoao tratamento!”.

“A importância da prestação de cuida-dos no tratamento de feridas”, “Feridas cró-nicas – abordagem multidisciplinar na pre-venção e tratamento”, “A cirurgia de am-bulatório: uma realidade emergente” e “Mé-todos naturais para o tratamento de feri-das” (em que serão apresentados comoexemplos, entre outros, a aplicação de mele o uso de larvas) – são os temas dos pai-néis propostos neste Encontro, marcado parao pólo A da ESEnfC, em Celas (ver progra-ma em anexo).

De acordo com a comissão organizado-

ra do evento, a diversidade de novos mate-riais no mercado, que podem ser utilizadosna prevenção e no tratamento de feridas,exige um olhar atento de todos os profissio-nais que prestam cuidados de saúde.

De acordo com os organizadores, “comeste Encontro pretende-se proporcionar ointercâmbio de conhecimentos e de boaspráticas entre os interessados pela área daprevenção e do tratamento de feridas, queexige ao enfermeiro constante actualização”.

A sessão de abertura, às 9h00, estará acargo da presidente do Conselho Directivoda ESEnfC, professora Maria da Concei-ção Bento, e a da coordenadora da Unida-de Científico-Pedagógica de EnfermagemMédico-Cirúrgica, professora Luísa PintoCoelho.

Marcação electrónicade consultas avança

Trinta por centro dos utentes dos centrosde saúde e unidades de saúde familiar po-derão, em Março, marcar consultas elec-tronicamente e receber confirmação pelotelemóvel ou mail, segundo fonte do Minis-tério da Saúde.

O sistema E-Agenda esteve em testedurante os últimos quatro meses em quatroUnidades de Saúde Familiar (USF) das zo-nas Centro e Norte e “vai começar agora aser alargado ao universo das unidades decuidados de saúde primários”, afirmou amesma fonte.

“O processo começará pelas USF edeve abranger todos os Centros de Saúdeaté final do primeiro semestre de 2009”,acrescentou.

À medida que o sistema for avançando,também se irá possibilitar a renovação dereceitas para doentes crónicos por via elec-

trónica, acrescentou.No portal oficial na Internet do Pro-

grama de Simplificação Administrativa eLegislativa é indicado que a medida sur-ge no “seguimento do objectivo de des-materialização das marcações da primei-ra consulta de especialidade hospitalar,iniciado com o Projecto Consulta a Tem-po e Horas”.

O sistema E-Agenda visa possibilitarmarcar “outro tipo de consultas e de meioscomplementares de diagnóstico e de tera-pêutica, por meios não presenciais, com re-curso a plataformas tecnológicas multi-ca-nal (Internet, telefone, sms, etc.)”.

Essa marcação envolverá “os diferentesserviços de saúde (hospitais e centros desaúde, nomeadamente as unidades de saú-de familiares - USF)”, acrescenta o textono portal.

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1731 DE DEZEMBRO DE 2008 A 9 DE JANEIRO DE 2009 SAÚDE

António José Robalo Cordeiro, um dosmais prestigiados catedráticos portugue-ses de Medicina, recebeu palavras invul-garmente elogiosas na cerimónia de en-trega do Prémio internacional a que foidado o seu nome, e que decorreu no pas-sado dia 19 na Biblioteca Joanina daUniversidade de Coimbra.

O “Prémio Robalo Cordeiro – AER/GSK” (Associação de Estudos Respira-tórios/Glaxo Smith Kline), é uma das maisimportantes distinções internacionais naárea da investigação científica, não sópelo seu valor (25 mil euros), mas sobre-tudo pelo prestígio que lhe é reconheci-do. Prestígio esse que decorre tambémdo nome que lhe foi atribuído, em home-nagem a um dos mais destacados vultosda Medicina portuguesa.

O Prémio foi atribuído a um equipamultidisciplinar, constituída por elemen-tos das Universidades de Coimbra e deAveiro, por um trabalho que constituiuma nova abordagem ao diagnóstico etratamento de doenças pulmonares, atra-vés de nano-transportadores de fárma-cos. A equipa, liderada por FilomenaBotelho, professora da Faculdade deMedicina da Universidade de Coimbra,integra ainda Alcides Marques, AnteroAbrunhosa, Célia Gomes, Ferreira daSilva, Pedroso de Lima, Santos Rosa eVasco Bairos.

Ausente da cerimónia, por razões desaúde, o Prof. António José Robalo Cor-deiro (catedrático jubilado da Faculdadede Medicina da Universidade de Coim-bra) foi alvo de rasgados elogios por partede todos os oradores, que destacaram assuas notáveis qualidades em termos cien-tíficos e pedagógicos, mas também soba perspectiva humanista.

Fontes Baganha, professor da Facul-dade de Medicina de Coimbra, fez umretrato muito interessante de RobaloCordeiro, de quem foi dicípulo, eviden-ciando a sua personalidade rara sob os

ENTREGA DO “PRÉMIO ROBALO CORDEIRO – AER/GSK”

Rasgados elogios ao patronoe conferência por Almeida Santos

mais diversos aspectos. Sublinhou, no-meadamente, que ele “tentou dar almaà medicina e uma consciência à ciên-cia”, inaugurando no seu tempo “umanova era no ensino, investigação e naprática clínica”.

Muito elogiosas foram também as re-ferências do Reitor da Universidade deCoimbra, Seabra Santos, que consideroudepois que este prémio valoriza a cultu-ra científica e a actividade científica emPortugal. E salientou: “Os investigado-res não trabalham para receber prémi-os, mas a relevância da sua actividadetambém se expressa desta maneira”.

O Reitor afirmou ainda o profundoreconhecimento da instituição que dirigepela “qualidade do trabalho” da equipavencedora, que “espelha o que se faz naUniversidade de Coimbra e na comuni-dade universitária nacional”.

“Nanoradioliposomas modulados mo-lecularmente para estudar a drenagemlinfática profunda pulmonar” consistenum novo método desenvolvido para vi-sualizar especificamente a rede de va-sos linfáticos pulmonares profundos atra-vés de nanoradioliposomas administradospor via respiratória.

No que se reporta às doenças pulmo-nares, particularmente tumorais, estemétodo possibilita a abordagem aos ní-veis de diagnóstico e tratamento. Ao ní-vel do tratamento pode transportar osmedicamentos de forma a que estes ac-tuem no local das lesões, aumentado as-sim a eficácia terapêutica e diminuindoos efeitos secundários.

A culminar a cerimónia, o ex-Presi-dente da Assembleia da República, An-tónio Almeida Santos, começou porsalientar a personalidade rara do Prof.António José Robalo Cordeiro, e profe-riu de seguida uma notável conferênciasobre o que tem sido a evolução científi-ca e técnica e, a partir daí, o que o futuropoderá trazer à Humanidade.

António Almeida Santos proferindo a sua conferência no magnífico cenárioda Biblioteca Joanina da Universidade de Coimbra

Fontes Baganha fazendo o elogio de António Robalo Cordeiro

Filomena Botelho com Fontes Baganha e o responsável do Laboratório GSK

Os elementos da equipa premiada

Aspecto da assistência

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18 31 DE DEZEMBRO DE 2008 A 9 DE JANEIRO DE 2009A PÁGINA DO MÁ[email protected]

Mário Martins

FESTAS FELIZESO meu computador caseiro, um Asus,

continua no hospital, à espera de umapeça que deverá chegar de Espanha.

Já lá vai mês e meio, porque conse-guir que a Asus venda a peça é quasetão difícil como acertar no Totoloto.

O portátil está com um problema deexcesso de glóbulos vermelhos, que irri-tam mesmo o mais calmo dos utilizado-res.

Como se isto não bastasse o compu-tador profissional teve um “apagão” quefez desaparecer todos os ficheiros dosúltimos dois meses e meio.

Tudo junto é excessivo para um sim-ples cidadão. Por isso, decidi regressarao passado e virar as costas à informáti-ca durante este tempo de festas. Duran-te duas semanas, computador só - mes-mo - para o essencial.

No entanto, não quero iniciar esta tra-vessia do deserto sem desejar a quantosvisitam este espaço Santo Natal e Ópti-mo 2009!

(publicado em 23 de Dezembro)

GALARealizou-se ontem à noite a “Gala do

Desporto”, uma iniciativa da CâmaraMunicipal de Coimbra.

Homenagear os melhores é questãode justiça.

Justíssimo foi o troféu entregue aoCésar Pegado, a distinguir uma vida in-teira dedicada ao desporto – com quali-dade, com alegria e com espírito de vo-luntariado.

Teve mais dinâmica a “Gala” desteano.

Mas nem por isso foram evitadas vá-rias “gaffes”, a principal das quais foi aentrega do prémio da Associação Distri-tal de Judo de Coimbra a um dirigenteda... ACM.

****PS – Ao jantar conversou-se sobre

muita coisa. A certa altura disse da mi-nha convicção quanto a um inevitávelforte “abanão social”, dada a crise emque vivemos. Uma crise profunda, a vá-rios níveis. Como já é habitual, fui acu-sado de “pessimista”. Hoje de manhãvejo que Mário Soares escreve no “Diá-rio de Notícias” o seguinte: «Oiçam-seas pessoas na rua, tome-se o pulso doque se passa nas universidades, nos bair-ros populares, nos transportes públicos,no pequeno comércio, nas fábricas eempresas que ameaçam falir, por toda aparte do País, e compreender-se-á queestamos perante um ingrediente que temdemasiadas componentes prestes a ex-plodir.» Está visto que Mário Soares éum pessimista.

(publicado em 16 de Dezembro)

SESSÃO EM DIRECTODia histórico.Pela primeira vez, um blogue está a

transmitir em directo a sessão do Exe-cutivo municipal.

(publicado em 15 de Dezembro)

CITAÇÕES«O desvairado Lino dispara em todas

direcções e não quer perceber que denada adiantará gastar mais uns valentesmilhões numa auto-estrada para o deser-to de Bragança, onde nem já as brasilei-ras medram.»

(Luiz Carvalho, in “Instante fatal”)

«O país não precisa de alcatifas no-vas nem de halls de entrada com embu-tidos. Infelizmente os nossos ministrospensam como os autarcas: em redondo,em rotunda. Uns rotundos idiotas.»

(idem, idem)

«O Diário As Beiras, em artigo nãoassinado, revela em exclusivo, que a“Académica não pagou telefones do es-tádio”. Depois, ficamos a saber que eraa TBZ que pagava os telefones da divi-são de desporto da Câmara Municipalde Coimbra, que está mais ou menosclandestina no Estádio que é Municipal.A festa dura há 5 anos. Mas ninguémliga!»

(in “O sexo e a cidade”;publicado em 12 de Dezembro)

O (TRISTE) ESTADODA NAÇÃO

Ontem à noite assisti parcialmente àentrevista de Henrique Medina Carrei-ra, ex-ministro das Finanças, à SIC No-tícias.

São palavras dolorosas – mas reais –sobre a sociedade em que vivemos.

Os dados económicos assustadores.O crescente empobrecimento da popu-lação. A insatisfação a aumentar.

Medina Carreira chega a comparar asituação actual com a que existia em1973. Para bom entendedor...

A entrevista está disponível no sítio daSIC Notícias (11/12/2208 - Negócios dasemana).

Vale a pena ver.(publicado em 11 de Dezembro)

POSTAL DE BOAS FESTAS!Para todos aqueles que em 2008 me

passaram correntes dizendo que, se asreenviasse, ia ficar rico ou milionário, in-formo que NÃO FUNCIONOU!

Em 2009 por favor mandem dinheiro,presentes ou vales de gasolina.

Obrigado.PS - NÃO ACEITO ACÇÕES DO

BPN!(recebida por e-mail; publicado

em 10 de Dezembro)

AVALIAÇÃODOS PROFESSORES

Luiz Carvalho escreveu ontem no“Instante fatal” sobre a avaliação dosprofessores.

Transcrevo estas linhas:«A verdade é que durante anos e anos

os nossos sôtores tiveram uma vida ai-rada com três meses de férias grandes,mais 15 dias no Natal, outros na Páscoa,mais meia dúzia no Carnaval.

Outra verdade: durante uma vida pro-fissional muitos professores faltaram aseu belo prazer refugiados em atestadosfantasmas e artigos quartos, viram assuas carreiras automaticamente actuali-zadas e desprezaram a nobre arte deensinar.

Os professores comportavam-secomo ainda hoje a classe dos juízes: acha-vam que eram donos dos alunos, dos pais,e que nada nem ninguém podia interferirnas suas aulas, consideradas coutadasinvioláveis dos professores.»

Concordo no essencial com o que LuizCarvalho escreveu.

Foi, aliás, por não aceitar alguns doscomportamentos descritos que, há 17anos, senti que estava “a mais” no Ensi-no e, em face da oportunidade que mefoi concedida pelo “Jornal de Notícias”,optei por exercer outra profissão.

Tudo somado, porém, continuo a es-tar de acordo com o protesto dos pro-fessores.

Avaliação, sim. Mas com a participa-ção dos directamente interessados. Ecom competência.

(publicado em 10 de Dezembro)

FAÇO PARTE DA MAIORIA«Apenas 30 por cento dos portugue-

ses estão satisfeitos com o funcionamen-to da democracia, o que representa oponto mais baixo de uma análise compa-rativa feita desde 1985. Os dados cons-tam de um estudo (...) coordenado porAndré Freire e José Manuel Viegas, queserá apresentado hoje no ISCTE.»

(hoje, no “Público”; publicadoem 10 de Dezembro)

DEPUTADOSPARA TODO O SERVIÇO

Nenhum deputado faltou na sexta-fei-ra segundo lista no site do Parlamento –“Não espelha o que se passou na sexta-feira”, nas palavras de Fernando SantosPereira, secretário da mesa da presidên-cia da Assembleia da República, mas é oque está online. Segundo uma lista de pre-senças na reunião plenária de sexta-feirapublicada no site da Assembleia da Re-pública, apenas dez deputados estavamausentes “em missão parlamentar”. To-dos os outros estiveram presentes, o queestá longe de corresponder à realidade.

Santos Pereira estranha o caso e dizque na terça-feira vai averiguar. É que,na verdade, foram 48 os deputados quenão votaram a proposta de suspensão daavaliação do desempenho dos professo-res apresentada pelo CDS, porque nãoestavam no plenário para a votação.

(in “Público” de hoje)Quando isto sucede com os “repre-

sentantes da Nação”, conclui-se que aNação está muito doente.

Que vergonha!(publicado em 10 de Dezembro)

PORTUGAL VERGONHOSOAqui está um artigo com conta-peso-

e-medida. Intitula-se “A vergonha de nãoter vergonha na cara” e é da autoria dojornalista João Miguel Tavares.

Foi publicado há três semanas (18de Novembro) no “Diário de Notíci-as”, mas só agora o encontrei.

Eis três excertos, para aguçar o ape-tite.

«Há quatro anos, o administrador doBanco de Portugal Manuel Sebastiãofoi procurador do administrador doBanco Espírito Santo Manuel Pinho nacompra de um prédio em Lisboa. Esseprédio era propriedade do Banco Es-pírito Santo, tendo Manuel Sebastiãoservido de intermediário numa com-pra entre o BES e um administradordo BES.»

«Só que José Sócrates não ficou poraí. E acrescentou também não ter en-contrado “nada que seja criticável doponto de vista ético”. Ora, isto são de-clarações absolutamente vergonhosas, esó mesmo por vivermos num país onde amentira na política é aceite com umaespantosa tolerância é que um primeiro-ministro pode dizer uma barbaridade des-tas e sair de mansinho.»

«Se José Sócrates encontrasse um dosseus ministros a tentar arrombar um co-fre com um berbequim diria aos jornaisque ele estava só a apertar um parafu-so. Afinal, também no caso da sua licen-ciatura o primeiro-ministro não viu nadade eticamente duvidoso nem de moral-mente reprovável.»

(publicado em 4 de Dezembro)

COMITÉ OLÍMPICODE PORTUGAL

O comandante Vicente de Moura quercontinuar como presidente do ComitéOlímpico Português, mesmo contra avontade dos atletas.

Se eu fosse presidente do COP e ou-visse aquilo que Nélson Évora, um cam-peão olímpico, disse ontem em conferên-cia de Imprensa, abandonava de imedia-to a função.

Parece-me que o comandante Vicen-te de Moura já perdeu a oportunidadepara sair pela “porta grande”. Como ain-da recentemente, por exemplo, sucedeucom Jardim Gonçalves no BCP.

* * * *Antóno Boronha, no seu (indispen-

sável) blogue, continua a demonstrarrara capacidade de análise e de críti-ca.

Sob o título “Motim a bordo”, es-creve hoje o seguinte:

«Como é que se pode ser coman-dante de um exército sem soldados?...Apenas acompanhado por meia dúziados chamados ‘senhores’ da guerra,curiosamente, ou talvez não, na suagrande maioria os presidentes das ‘fe-derações’ que não conseguem parti-cipação olímpica?...».

PS - Também concordo com o queAntónio Boronha escreveu sobre Eu-sébio, num texto intitulado “Rei bobo”.

(publicado em 4 de Dezembro)

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1931 DE DEZEMBRO DE 2008 A 9 DE JANEIRO DE 2009 MÚSICA

Distorções

José Miguel [email protected]

Dado que estamos no último dia doano é tempo de olharmos para trás erevermos o que aconteceu para des-tacar o que de mais positivo se fez em2008. Começamos pelo DVD Musi-cal de 2008, que, quanto a mim, é semqualquer margem para dúvida, “Sou-lwax: Part Of The Weekend Ne-ver Dies”, um relato da vida dos ir-mãos Dewaele nas suas três facetas,quer enquanto 2 Many Dj´s, quer en-quanto Soulwax. Um documentárioincrível para quem, como eu, acom-panha o que eles vão editando ou re-misturando.

No que toca à Banda Sonora In-ternacional de 2008 não resta qual-quer dúvida de que se trata de “Shi-ne a Light”, filme no qual o multi-premiado Martin Scorcese documen-ta, através de várias perspectivas, oque é um concerto dos Rolling Sto-nes, que adaptou muitos dos seus te-mas, criando novas versões, descarac-terizando completamente muitos de-les, dando origem a um registo inigua-lável de uma das maiores bandas rock

Cânticos de Natal da Região de Co-imbra, alguns com três séculos, forameditados em CD com interpretação deoito grupos folclóricos, que cumprem atradição de os entoar na época natalíciaaté Dia de Reis.

Com edição da Câmara Municipal deCoimbra, o registo discográfico assume-se como um meio de preservar uma tra-dição e uma herança cultural ancestralda região, afirmou à agência Lusa o ve-reador da Cultura da autarquia.

Mário Nunes, historiador e investiga-dor das tradições populares, adiantou quenesta recolha se inscreve uma tradiçãode mistura do espiritual e do profano.Uma de evocação do divino, de graçasao Menino Deus, e uma outra dirigidaaos grandes senhores para quem traba-lhavam, num acto de gratidão.

“Há neles uma união do espiritual edo profano, em que se testemunha umadualidade/unidade de princípios, de valo-res e de receptividade geral, vincada naexaltação, no humorístico, no satírico eno agradecimento, com votos de felici-dade, de bem-estar, de gratidão, de lou-vor ao Menino e de penhor à pessoa”,refere o autarca num texto introdutório

Cânticos de Natal com 300 anosrecuperados pela Câmara Municipal de Coimbra

no livreto do CD.Segundo Mário Nunes, a distribuição

cronológica da festividade principia noscânticos de alegria e de elevação espiri-tual ao Menino, entoados na noite deNatal e nos dias seguintes. “Noite deNatal”, “Cantar ao Menino”, “Canto dosPastores” e “Roxozinho” são alguns dostemas deste registo discográfico que“traduzem o feliz momento da humani-dade”.

No primeiro de Janeiro – acrescenta– cantam-se nos adros e de porta emporta as “Janeiras”, cantares populares,outrora preparados para os lavradores epessoas ricas e de linhagem, tendo pormotivo agradecer os benefícios recebi-dos ao longo do ano, desejar Ano Novorepleto de alegria e saúde aos proprietá-rios e familiares e pedir, em recompen-sa, alguns bens alimentares para feste-jar o evento.

“São cantores imbuídos de contenta-mento, de gratidão e de votos de felici-dade, augurando voltar no próximo ano”,explica o vereador da Cultura da Câma-ra de Coimbra.

Nos Reis, a 6 de Janeiro, a última fasedo ciclo natalício, cultivam-se os mesmos

sentimentos, emprestando-se o entusias-mo e a saudação, algumas vezes perso-nalizados, ao Senhor da Casa e pessoasqueridas, de que são exemplos “SantosReis” e “Cântico dos Reis”, também re-gistados no CD.

“Na ausência do esperado agradeci-mento, isto é, não correspondido, mate-rialmente, cantam-se quadras, previa-mente escolhidas, em que o humor, asátira e até o brejeiro dirigidos aos do-nos, acompanham as despedidas e for-

malizam o desagrado do grupo aos dis-tinguidos com a saudação”, acrescentao vereador.

Mário Nunes referiu à agência Lusaque esta recolha é um acervo ancestral,transmitido de geração em geração, queagora fica registado. Acompanha o CDum livreto com a reprodução dos cânti-cos e uma curta biografia dos gruposfolclóricos participantes.

De autor anónimo, os cânticos foramrecolhidos mediante criteriosa pesquisapelos grupos folclóricos, recorrendo a tes-temunhos orais e a fontes documentais,em arquivos, adiantou o autarca.

Os 21 Cânticos de Natal da Regiãode Coimbra, registados no CD, foraminterpretados pelos seguintes agrupamen-tos: Grupo Etnográfico Cantares e Dan-ças de Assafarge, Grupo Etnográfico daCasa do Povo de Souselas, Grupo Etno-gráfico da Região de Coimbra, GrupoFolclórico de Coimbra, Grupo Folclóricoe Etnográfico do Brinca-Eiras-Coimbra,Grupo Folclórico da Universidade deCoimbra, Rancho Folclórico e Etnográ-fico de Cavo do Ouro e Serra da Rochae Grupo Folclórico “Os Camponeses deVila Nova”.

Mário Nunes

do planeta.Já quanto à Banda Sonora Nacio-

nal de 2008 a minha escolha recaino duplo cd “Maldoror” dos MãoMorta, que não é apenas uma bandasonora, mas uma adaptação e ence-nação de “Os Contos de Maldoror”publicados no final do séc. XIX peloConde de Lautreamont, pseudónimoliterário de Isidore Lucasse. Aguar-

damos, em 2009, a edição em DVD.Por fim, o Programa Radiofónico

de 2008 é, como aliás já tinha dito naedição anterior, “Bons Rapazes”, daautoria de Álvaro Costa e MiguelQuintão, que vai para o ar na Antena3, de segunda a quinta feira, das 20 às22 horas, definido pelos próprios como“um talkshow de música com conver-sa pelo meio”.

PARA SABER MAIS:

“Soulwax: Part Of The Weekend NeverDies” (Pias)

“Shine A Light “ (Paramount Pictures)

Mão Morta “Maldoror” (Cobra Discos)

http://ww1.rtp.pt/icmblogs/rtp/bonsrapazes

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20 31 DE DEZEMBRO DE 2008 A 9 DE JANEIRO DE 2009CRÓNICA

* Docente do ensino superior

AO CORRER DA PENA...

Maria Pinto*[email protected]

Enjolras, um herói dos Miseráveis deVictor Hugo, dizia aos seus companheiros:

“O século XIX é grande, mas o séculoXX será feliz. Nada semelhante à velhahistória; não haverá que temer, comohoje, uma conquista, uma invasão, umausurpação, uma rivalidade entre na-ções que se defrontam pelas armas(…), um combate frontal entre duasreligiões (…) não haverá que temera fome, a exploração, a prostituição,a miséria, o desemprego, o cadafal-so, o gládio, as lutas e todas as es-caramuças do acaso na floresta dosacontecimentos. Quase poderíamosdizer: já não haverá acontecimen-tos. Seremos felizes. O género huma-no cumprirá a sua lei como o globoterrestre cumpre a sua (…)”.

As certezas deste pequeno textofazem-me sorrir. Não de felicidade,mas de ironia e de amargura.

O século XX constituiu uma aven-tura singularíssima. Foi um períodocheio de esperanças, frustrações, vi-olência, guerras, revoluções e inúme-ras e espantosas realizações.

No início do século, as nações europei-as sentiam-se eufóricas e orgulhosas, em-bora existisse entre elas uma forte rivali-dade. O bem-estar rondava também osEUA e o Japão emergia como principalpoder industrial da Ásia. O optimismo im-perava. Achava-se que a paz e a estabili-dade tinham vindo para ficar…

A Grande Exposição Mundial de Pa-ris, em 1900, simbolizou essa esperança.Contou com mais de 50 milhões de visi-tantes. Era o despontar da era da electri-cidade, da mecanização da indústria e daprodução em massa.

As pessoas acreditavam que as rivali-dades não resultariam em guerras; quetodos teriam acesso à educação; que aciência iria transformar a vida profissio-nal e doméstica.

Tratou-se de um período de desenvolvi-mento económico sem freios. O mundo tor-nou-se incomparavelmente mais rico e ca-paz de produzir cada vez mais e melhoresbens e serviços, o que se repercutiu decisi-vamente numa maior quantidade de pesso-as a poderem viver bem e com uma maiorlongevidade.

Por outro lado, a tecnologia avançou ver-tiginosamente. Assistiu-se a uma revoluçãonos transportes e nas comunicações, o quepermitiu anular o tempo e as distâncias.

Foi o século da chegada à Lua. Deuma luta sem tréguas contra a dor físi-ca. Da revolução informática. Da afir-

Não precisa ser homem,basta ser humano…

mação das mulheres.No entanto, vem-me agora ao pensamen-

to uma estranha recordação, acompanhadade uma não menos estranha sensação.Quando se comemorava, há bem poucosanos atrás, a transição de século… e demilénio, foram vários os programas, as notí-cias de jornal, as reportagens de revistas emque se fazia o balanço do século que estavaprestes a adormecer e em que abundavam

as perspectivas e aspirações para os tem-pos nascentes. E a par das euforias festivaspor parte das populações em geral, eu de-tinha-me nas análises feitas por peritos dasmais diferentes áreas do conhecimento. Eencontrava nelas a angústia, a ansiedade ea inquietação.

De facto, e se nos arriscarmos a envere-dar por uma visão de panorama acerca doséculo XX, veremos, desde logo, que a gran-de caminhada para o desenvolvimento foisimultaneamente uma travessia longa e pe-nosa para a guerra. Para as guerras… paraa bomba atómica… os genocídios…

É triste pensar que muitos dos progres-sos científicos e tecnológicos, que tiverampor detrás muitos Homens, foram canaliza-dos para acabar com a vida de milhares deoutros Homens.

Com efeito, o século XX foi o períodomais assassino da História da Humanidade,se olharmos para as guerras mundiais e paraas catástrofes humanas brutais (incluindonelas os genocídios e, por incrível que pare-ça… as fomes).

Fomos ensinados a pensar, ao longo detodo este percurso secular, que os sereshumanos podem ser capazes do melhor…e do pior. Que a morte agora é massiva eindustrial, pois os mortos já se não con-tam às dezenas, nem às centenas e nemmesmo aos milhares. Contam-se aos mi-lhões! E ainda fomos interiorizando queos alvos das guerras são agora as econo-mias e as populações civis, estratégias

terríveis em termos psicológicos.O século XX foi também o palco dos pro-

cessos de descolonização. A “afirmação”dramática e vergonhosa dos países do ter-ceiro mundo, a mostrar que, na realidade,existem “les uns et les autres”.

O nosso mundo, que logo após a Primei-ra Guerra Mundial deixou de ser eurocên-trico, tornou-se uma realidade operacional

única. Entrou-se definitivamente na erada globalização que, gradualmente, foimodificando a economia e as socieda-des mundiais. Foi unindo conhecimen-tos, tecnologias e formas de comuni-cação. Mas o curioso é que no final doséculo assistia-se a uma enorme ten-são entre o imparável processo de glo-balização e a incapacidade das institui-ções públicas e dos comportamentoscolectivos em se acomodarem a ele.

Há, sem dúvida, que pensar numaboa forma de gestão global. Há quereflectir sobre os desequilíbrios ecoló-gicos. Sobre o crescimento demográ-fico por vezes explosivo. Sobre a pau-perização de certas partes do mundo.Sobre o problema das drogas e do ter-rorismo…

Sem as certezas do texto com queiniciei esta crónica; pelo contrário,cheia de dúvidas, anseio em pergun-

tar: como será o mundo amanhã? Será quepoderemos assistir, pela primeira vez, ao nas-cimento de uma civilização única para todaa humanidade e caminharemos, assim, parauma progressiva unificação? Ou o caminhoserá em direcção a uma perpetuação dasdivisões tradicionais e ao aparecimento denovos antagonismos?

Como profissional da História, não con-sigo responder a esta pergunta de formadecisiva. De facto, a História dos homensnão tem um sentido predeterminado. A His-tória não se programa, pois toda ela estásujeita a um sem número de contingências.É claro que esta ciência consegue estabele-cer uma certa lógica na sucessão dos acon-tecimentos, mas não faz revisões futuroló-gicas. Daí o erro essencial do texto de Vic-tor Hugo. Se tenho uma certeza é que ne-nhuma ideia é mais quimérica do que aque-la que remete para um fim da História. Osacontecimentos fluem. Os homens também,assim como as suas acções.

Que existem factores que actuam nosentido de aproximar os povos, apagar asdiferenças e esboçar convergências, issoparece-me uma realidade. Mas que tam-bém há forças que agem em sentido inver-so, alimentando o conflito e as divisões, tam-bém isso me parece óbvio.

O mundo está e permanece sempre emaberto. Muito provavelmente, ele será umcompromisso precário e tenso entre as as-pirações unitárias e os fermentos de divi-são. Em definitivo, parece-me que ele

será, agora e sempre, o que os homensfizerem dele.

Porque estamos prestes a entrar numnovo ano.

Porque amo a vida.Porque gostaria de a viver num mundo

melhor.Por tudo isto... decidi fazer uma cami-

nhada. Quer acompanhar-me, caro(a)leitor(ra)? Penso que em conjunto podería-mos começar desta forma tão bela a come-morar o ano de 2009...

Procura-se um amigo

Não precisa ser homem, basta ser hu-mano, basta ter sentimentos, basta ter co-ração. Precisa saber falar e calar, so-bretudo saber ouvir. Tem de gostar depoesia, de madrugada, de pássaro, desol, da lua, do canto, dos ventos e dascanções da brisa. Deve ter amor, umgrande amor por alguém, ou então sen-tir falta de não ter esse amor. Deve amaro próximo e respeitar a dor que os pas-santes levam consigo. Deve guardar se-gredo sem se sacrificar. Não é precisoque seja de primeira-mão, nem é impres-cindível que seja de segunda mão. Podejá ter sido enganado, pois todos os ami-gos são enganados. Não é preciso queseja puro, nem que seja todo impuro, masnão deve ser vulgar. Deve ter um ideal emedo de perdê-lo e, no caso de assim nãoser, deve sentir o grande vácuo que issodeixa. Tem de ter ressonâncias humanas,seu principal objectivo deve ser o de ami-go. Deve sentir pena das pessoas tristese compreender o imenso vazio dos soli-tários. Deve gostar de crianças e lasti-mar as que não puderam nascer.

Procura-se um amigo para gostar dosmesmos gostos, que se comova, quandochamado de amigo. Que saiba conver-sar de coisas simples, de orvalhos, degrandes chuvas e das recordações de in-fância. Precisa-se de um amigo para nãose enlouquecer, para contar o que se viude belo e triste durante o dia, dos ansei-os e das realizações, dos sonhos e darealidade. Deve gostar de ruas desertas,de poças de água e de caminhos molha-dos, de beira de estrada, de mato depoisda chuva, de se deitar no capim.

Precisa-se de um amigo que diga quevale a pena viver, não porque a vida ébela, mas porque já se tem um amigo.Precisa-se de um amigo para se pararde chorar. Para não se viver debruçadono passado em busca de memórias per-didas. Que nos bata nos ombros sorrin-do ou chorando, mas que nos chame deamigo, para ter-se a consciência de queainda se vive.

Vinícius de Moraes

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2131 DE DEZEMBRO DE 2008 A 9 DE JANEIRO DE 2009 OPINIÃO

Renato Ávila

POIS...POIS...POIS...POIS...POIS...

Joséd’Encarnação

João PauloSimões

FILATELICAMENTE

O arraial da política

Neste dealbar do novo ano paira por aí umacidulado perfume a eleições.

Os “obamas” e os “Maccaines” do lusorectângulo já mexem no pré-frenesim habitu-al. Galvanizados com a grandiosidade da fes-ta americana e extrapolando os resultados daseleições insulares, os líderes partidários co-meçam a ensaiar os discursos e a engatilharestratégias para as campanhas que hão-deaquecer o próximo ano, no qual a fartura elei-çoeira promete ser a tónica e a dominante danossa vida política.

Aproxima-se, pois, o fim da actual legisla-tura-consulado com o governo em frágil econtroverso estado de graça, dada a crescentepressão da dificílima conjuntura económicae social a nível mundial e à confrangedorainépcia duma oposição que só agora, e muitodificilmente, parece querer assumir-se comocredível alternativa.

Diríamos que o período eleitoral encon-trará o país num deplorável estado de estag-nação política no qual uma maioria confortá-vel e solidamente instalada põe e dispõe a seubel prazer dos destinos de dez milhões de ci-dadãos na presumida certeza de que assimacontecerá por mais cinco ou dez anos.

Se as lideranças estivessem, ao menos,imbuídas dum são espírito democrático nainterpretação da vontade do povo e no parci-monioso e sensato exercício do poder, tudoestaria bem e concitaria a adesão e a activaesperança dos cidadãos, decisivamente essen-ciais no ressurgimento do país.

Surgem, todavia, os habituais indícios dearrogância, de autismo e a velada imposição

dum certo unanimismo ideológico em tornoda verdade oficial, típicos dum poder fecha-do, sonegante, excluente.

Prolifera há muito a maniqueísta doutrinado “quem não está connosco está contra nós”,propiciadora da mordaça e da persecução,fomentadora do clientelismo e da intolerân-cia, mormente em tempo de crise, em que oespírito de sobrevivência se sobrepõe ao deindependência e um plúmbeo silêncio pareceabafar o protesto.

Está, pois, criado o caldo, o pântano ondepululam as demagogias, as prepotências, osgolpes fraudulentos, as injustiças, os ódios,as revoltas, os esbanjamentos, a baixa políti-ca, a impunidade.

Estes últimos tempos têm sido férteis emacontecimentos insólitos e intrigantes a po-rem em causa a a essência e a autoridade doEstado, a denegrirem a própria democracia.

Por um lado, a angústia, o desassossego,a crispação latente nos quartéis, nas esco-las, e não só; por outro, a sucessão de ca-sos em que a justiça tem andado pelas ruasda amargura no combate à criminalidade, aosabusos de poder, ao caciquismo demagógi-co; por outro, ainda, as escandalosas mani-gâncias e falcatruas na área financeira e em-presarial com inquietantes promiscuidadesde natureza política.

O governo, sobranceiro no farto apoio dafolgada maioria saída das últimas legislativas,optou por hostilizar, denegrir perante a opi-nião pública importantes corpos de servido-res da nação, as anatemizadas “corporações”,atribuindo-lhes estulta e injustamente a res-ponsabilidade quase total pela empolada de-masia da despesa pública. Não contente comisso, foi tendenciosamente legislando no sen-tido de, ao cilindrar pretensos privilégios e ao

padronizar práticas através de incongruenteenfoque burocrático, administrativizar osprocedimentos específicos dos diversos or-ganismos do Estado. Aí tem o resultado: adefesa, a segurança, a justiça e a escola…em colapso.

Mesmo com toda a demagogia subja-cente, com todo o aproveitamento políticoverdadeiramente inqualificável, com todasas ameaças, cento e vinte mil professoresna rua, noventa por cento em greve, é muitagente, constituindo demonstração demasi-ado forte para ser subestimada pelo podere abafada pela sua máquina de domestica-ção informativa.

A crise económica está aí. Quase meiomilhão de desempregados. Famílias em de-sespero. Postos de trabalho em perigo. O fis-co numa roda viva a fisgar os impostos “malparados”. E, no entanto, esportulam-se mi-lhões para salvar bancos falidos por inusita-das e escandalosas falcatruas de gente graú-da e protegida, para financiar os vícios me-galómanos das máquinas partidárias.

Toda a gente fala de corrupção. Gizam-sepomposas operações para descobrir e casti-gar os corruptos – “furacão”, “apito final”,“apito dourado”, etc. A pouco e pouco, vai-se tudo desfazendo quais bolas de sabão.

Depois de assistirmos à sentença do “casoFelgueiras” em que uma arguida, durante doisanos foragida à justiça, encontra no regressooficiosa passadeira vermelha, o escandalosoacesso às câmaras da televisão paga por to-dos nós e, mais dez anos passados, ténuecondenação com simbólica pena de efeitossuspensivos, hemos de concluir que, no rei-no municipal, também toda a gente se vai sa-fando num inconcebível cortejo de estranhasprotecções.

O país irá entrar em prolongada campa-nha eleitoral mergulhado num oceano deperplexidades e interrogações. Paira umaplúmbea atmosfera criada por um poderenevoado, selectiva e simultaneamente per-secutor e permissivo. Agiganta-se o espec-tro da impunidade dos habitantes e vizinhosde certas áreas do poder que acintosa, es-candalosamente e perante o cidadão comuma exibem como troféu.

Mesmo ao lado das benesses com que oexecutivo pretende esconjurar a crónica po-breza de alguns, vegetam bolsas de crescen-te miséria económica e social que ainda nãoforam minimamente compreendidas.

A política, que deveria pautar-se pelanobreza de intenções e procedimentos,está a transformar-se num arraial de ma-labaristas e de truões, num lodaçal pesti-lento, numa ameaça ao saudável exercícioda democracia

Os eleitos do povo estão a defraudar assuas esperanças, as suas expectativas. Nãonos parece que, neste momento difícil danossa vida colectiva, estejam à altura das cir-cunstâncias.

A esperança dirige-se para os que hão-devir, aqueles que, com sabedoria e espírito debem servir, sejam capazes de criar o elan paraenfrentar a crise e, efectivamente, promovera mudança com verdade e justiça.

As crescentes dificuldades pelas quais pas-sa mais de metade dos portugueses não secompadecem com esta política de arraial.

É mister que os partidos, em especialaqueles que tradicionalmente acedem aopoder, tenham isso na devida conta quandopropuserem as suas listas ao sufrágio doscidadãos.

Já basta de mediocridades!

O edifício da Sé Velha de Coimbraé compacto, quase militar, encimadopor uma cúpula mais moderna e espi-ritual.

A Sé primitiva foi mandada cons-truir por D. Afonso Henriques sobrefundações romanas, em 1162. Aindatinha a função de último reduto numacidade militar. Entre o século XVII e1893, muitas alterações foram feitasao edifício. A cúpula do século XVIIIsubstituiu um coruchéu muito mais sim-ples. A porta principal, seiscentista, éum dos melhores trabalhos de João deRuão.

Lá dentro, encontramos todas asépocas muito bem representadas nomelhor dos seus estilos. O retábuloprincipal, gótico, flamejante da escolaflamenga, foi encomendado pelo Bis-po D. Jorge de Almeida, em 1498.

1935 - Sé de Coimbra

Existem alguns túmulos medievais.Muito bonito é também o claustro, queserviu de modelo ao de Alcobaça, comum equilíbrio de proporções quase per-feito.

(Baseado no livro”Descubra Portugal: Beira Litoral”

da Ediclube)

Gostei da tranquilidade da pausa,a meio do Quebra-Costas. As ta-mancas tiradas, o chão de calhaurolado típico da cidade antiga…

Em que andanças te vai a vida,tricana? Gostamos de te ver aí, as-sim, numa recordação boa dos tem-pos da serenidade, sabes? E tenho acerteza de que vais ser, doravante, aimagem mais fotografada da nossaCoimbra! Humanizas a cidade, em-prestas-lhe alma, nas tuas vestesd’outrora!

Tricana de CoimbraEscultura de bronze

7.12.2008Junta de Freguesia de Almedina

O desenho e gravura do único seloque compõe esta emissão, foi feito emParis, no Institut de Gravure etd’Impréssion de Papiers-Valeurs deParis.

Foi impresso na Casa da Moeda, emfolhas de cem selos, tendo circuladode 20 de Novembro de 1935 a 30 deSetembro de 1945, em papel liso den-teado 12 x 11 ½.

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22 31 DE DEZEMBRO DE 2008 A 9 DE JANEIRO DE 2009OPINIÃO

Vasco Paiva

2008 foi o ano dos congressos dos Parti-dos em Portugal.

No geral, perderam o espaço de confron-to saudável de ideias, transformando-se emmeros comícios, sem debate de pontos devista ou substanciais propostas. Programa-dos para que as intervenções, proferidas àshoras dos telejornais e cuidadosamente ela-boradas para um público exterior aos Con-gressos, exibam força ideológica e uma uniãode militantes à volta do líder, emitindo destemodo as mensagens para as batalhas elei-torais que se aproximam.

A seguir virão as campanhas em quecada um procura mostrar que vale mais so-zinho que (mal) acompanhado. O PS que-rerá mostrar que pode e deseja a maioriaabsoluta, que sem ela não é possível umgoverno estável “essencial” para uma épo-ca de crise. Uma ou outra figura públicatentará fazer o providencial discurso da al-ternativa ou, antes, da alternância. No geraltodos escolherão como objectivo retirar amaioria absoluta ao PS.

As maiorias absolutas são sempre per-versas, estimulam o autoritarismo e o autis-mo, é a opinião puramente pessoal impostacomo Lei pelo poder oferecido pela demo-cracia formal.

Até às eleições, cada um vai afirmar-se por si. Para o comum eleitor ficará aideia que não se entendem e nunca se en-tenderão. Essa dinâmica também tem oseu quê de perverso, estimula o “voto útil”,generaliza a ideia de que mal por mal, fi-camos assim…

Interessa pensar no dia seguinte.A situação actual favorece o governo,

alicerça a ideia que a culpa não é da política

2009 – Congressos, eleições e depois?do governo, o mal é geral, internacional, é acrise mundial. Algumas medidas que teriama leitura de medidas eleitoralistas no últimoano da legislatura, passam a ser lidas comomedidas sociais e corajosas de um governopreocupado com os males do seu povo e senão faz mais é porque não pode.

Um expressivo número de cidadãos nãose reconhece na actual oferta partidária,mas poderá não encontrar facilmente res-postas para as suas angústias.

O PP ou CDS/PP com Paulo Portas sabea comida requentada. E comida requenta-da há pouca que saiba bem, só se não hou-ver outra hipótese. Dizem que as rabana-das são melhores no dia a seguir ao Natal,ou que a feijoada fica mais apurada no diaseguinte e o que é o melhor é a “roupa ve-lha”. São excepções, mas o CDS de PauloPortas, sem ideias e propostas inovadoras,não chega aos calcanhares das rabanadasdo dia seguinte, está a léguas da feijoadaaquecida e já o “farrapo velho” é uma arteda gastronomia de reciclagem dos restos dobacalhau do dia anterior.

O CDS com Paulo Portas está esfran-galhado e não passará de um partido-táxi,com uma votação residual, condenado aser o 5º partido com assento no parlamen-to. Não conseguirá colher muitos votos daárea do PSD e como muleta governamen-tal também já cheira a mofo. É claro quePortas depois de se ter •specializado emnegócios de submarinos, acalenta o sonhode ser pelo menos •specialista em negóci-os de superfície…

O PSD vive um dilema ou “trilema” parao qual não tem saída. 1 - Não consegueapresentar medidas alternativas porque amaior parte delas foram a política deste go-verno PS. Fica a balançar no meio da “sa-bedoria” popular, entre “o silêncio é a almado negócio” e o “quem não aparece, esque-ce”. Situação difícil, de facto. 2 – Com

Manuela Ferreira Leite falta-lhe a alma, achama para uma campanha eleitoral, nãoanima as hostes, assusta o eleitorado, sóserve para obrigar as criancinhas a come-rem a sopa mesmo que azeda. 3 – Comeste líder não vai lá, já mudou muitas ve-zes de líder, e já é tarde para mudar outravez de líder. Depois das eleições MFLdemite-se, se aguentar até lá, e logo se vêo que vem a seguir…

O PS recupera alguma coisa, mas já nãotem muito campo de manobra para recupe-rar votos e eleitores. O PS irá pagar a fac-tura da viragem para a convergência com adireita dos interesses. Há muito (justo) des-contentamento e o protesto social multipli-ca-se. Cansa tanta fanfarronice e sobran-ceria. Os ricos, os banqueiros e grandesempresários até podem não estar muito des-contentes, tementes pelos tempos que cor-rem mas não encontram melhor solução.Mas a maioria dos eleitores, o povo, não sãoricos e passam sérias dificuldades.

As sondagens assim o apontam e tudoindica que com mais ou menos oscilações,o cenário eleitoral que se nos apresenta-rá, será de um CDS residual, um PSD aperder votos e sem grandes aspirações, oPS sem maioria absoluta e o PCP/CDUe o BE em crescimento e somados comcerca de 20% de votos.

Aritmeticamente falando teremos umadeslocação dos votos da direita para a es-querda.

A leitura óbvia será que o eleitoradoquer uma viragem de política, uma vira-gem à esquerda.

Nesse cenário não terá lógica, nem cor-responderá ao sentido das votações um en-tendimento do PS com a direita, com o PSDou a muleta do CDS.

Uma solução do PS governar sozinho emminoria, sujeitando um qualquer programaá Assembleia, na expectativa de umas mu-

letas de votos “limianos”, será frágil, não serásolução para os tempos que se avizinham.

A chamada esquerda terá de se enten-der, o PS com o PCP e o BE, e cada umnão perderá a sua entidade própria. Assimcomo, após o 25 de Abril, o PCP esteve emdiversos governos e não perdeu a sua pró-pria identidade. Não poderão ficar cegos porum qualquer calculismo eleitoralista a pen-sarem nos votos que irão, ou não, colher naseleições seguintes. Terão de se entender combase em acordos programáticos, com solu-ções de compromisso, porque assim o exi-girá o interesse dos trabalhadores, do povoe da sociedade. E nisso residirá o engenhoe a arte de fazer boa política, aí residirá, ounão, a capacidade de entenderem o que éútil para o povo, para a sociedade, para ge-rar de facto uma vida melhor.

A situação económica e social em Por-tugal e no mundo é demasiado grave. Ain-da estamos no princípio da crise, esta-mos longe de alguém poder afirmar quese tocou no fundo.

Se não houver esse entendimento “à es-querda”, corre-se o risco de ressurgiremideias e atitudes fascizantes, um alento paraa extrema-direita, para a suposta necessi-dade de alguém pôr a “casa em ordem”,um “líder forte”, o regresso agora de umneo-fascismo ao poder.

Assim foi no passado e não há vacinamilagrosa que o impeça de o ser num futu-ro. Esperemos que tal não venha a ocorrer.Nos tempos actuais, os que ocupam as di-recções e as primeiras filas partidárias nãotiveram a experiência de viver em fascismoe lutarem pela liberdade e a democracia,provavelmente muitos desses, se hoje fos-sem obrigados a tal, perderiam a fanfarroni-ce, a suposta coragem e coerência e, nomínimo, assustavam-se. Esperemos quepelo menos a memória e o bom senso sirvapara alguma coisa.

[email protected]

CarlosEsperança

ponte europa

www.ponteeuropa.blogspot.com/

O PSD E O ESTATUTODOS AÇORES

A votação do PSD, a respeito deum diploma que poderia ter evitado aCavaco a solidão e ao partido a ver-gonha, foi surrealista. O líder parla-mentar, Paulo Rangel, afirmou na te-levisão (após duas votações por una-nimidade) que o partido tinha uma

posição firme – a abstenção.Recordou-me a história de um pre-

sidente da Câmara que, durante o sa-lazarismo, andava atormentado por umamigo que, a certa altura, lhe virou ascostas. Um dia encontrou-o e não odeixou escapar. Perguntou-lhe a ra-zão por que tinha cortado relações,que lhe teria ele, presidente da Câ-mara, feito para o desfeitear. Respon-deu-lhe o ex-amigo que bem sabia;que não sabia, ripostava o autarca; quelhe negou a construção da casa, re-torquia o outro.

Entre a queixa e a negação dos fac-tos lá se dirigiram os dois à Câmaraonde o presidente mandou que lhe le-vassem ao gabinete o processo deconstrução. Com as fotos de Tomás eSalazar à frente, o ex-amigo apontouo despacho, olha, cá está, Indeferi-do, queres negar, tendo o edil, ao vera palavra indeferido, acrescentadouma vírgula e para que sim. O des-pacho ficou corrigido: Indeferido,para que sim, eliminando a falta de

clareza.Foi o que fez o PSD na terceira vo-

tação do Estatuto dos Açores. PauloRangel e o seu grupo parlamentar, comduas excepções, abstiveram-se comfirmeza... para que não!

ISLÃO E CULTURA

Deus não é certamente um entusias-ta da cultura e, muito menos, do ensi-no obrigatório destinado também aosexo feminino. É antiga a aversão àcultura daquele deus que, há seis mile doze anos criou o mundo em seisdias e, ao sétimo, descansou, aversãoque se agrava quando promove a igual-dade dos sexos.

A comunicação social tem divulga-do as ameaças de morte proferidaspelos talibãs, no Paquistão, contra asraparigas que, a partir de Janeiro, con-tinuem a frequentar a escola.

Os talibãs paquistaneses não sãomuito diferentes dos que noutras reli-

giões alimentam especial animosida-de contra a cultura e, sobretudo, con-tra a liberdade.O Papa Pio IX diziaque o catolicismo era inconciliávelmas, apesar da franqueza de quemamaldiçoou os livres-pensadores, foipossível assegurar a religião e a es-colaridade.

Em 2008, haver quem, em nome davontade divina, se oponha à escolari-zação feminina, é um acto de demên-cia que, em nome da civilização, de-vemos combater.

No Portugal salazarista, a escolari-dade que a República fizera obrigató-ria durante cinco anos, retrocedeupara quatro anos para rapazes e trêspara meninas, mas Salazar era um ta-libã benigno comparado com os fací-noras que se regem por um livrohediondo, ditado pelo arcanjo Gabriela um pastor analfabeto, entre Medinae Meca, durante vinte anos.

Comparados com os trogloditas pa-quistaneses, o Papa parece um com-batente da liberdade.

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2331 DE DEZEMBRO DE 2008 A 9 DE JANEIRO DE 2009 INTERNET

IDEIAS DIGITAIS

Inês AmaralDocente do Instituto Superior Miguel Torga

USERNAME CHECK

MAGNÉTICA MAGAZINE

CONSULTA AOS CIDADÃOS EUROPEUS

CASE CONVERTER RECUVA

MOVIMENTO DOS SEM FIBRA

A maioria dos utilizadores gosta de manter o mes-mo username em todos os serviços em que se re-gista. Mas nem sempre é fácil. Basta relembrar aquantidade de opções que nos são apresentadasquando se pretende criar um email. O UsernameCheck é a solução.

Trata-se de um serviço que permite verificar emdezenas de sites se o username que se pretendeutilizar está disponível ou não. Uma ferramenta útile indispensável na era Web 2.0.

USERNAME CHECK

endereço: http://usernamecheck.com/categoria: Internet

Magnética Magazine é uma revista portuguesa emformato online. A sua primeira edição saiu em Dezem-bro e versa temas ligados à Cultura, Arte, Moda, De-sign, Arquitectura.

Os assuntos abordados remetem para as realidadesnacional e internacional. Visualmente a revista tem omesmo formato que em papel, permitindo que o utiliza-dor folheie as páginas.

MAGNÉTICA MAGAZINE

endereço: http://www.magneticamagazine.comcategoria: revista

Converter os textos pode ser, por vezes, uma ta-refa complicada. O Case Converter é a soluçãoideal para formatar trabalhos. É possível convertertextos de letras minúsculas para maiúsculas, porexemplo.

A ferramenta é muito simples de utilizar: bastacolocar o texto numa caixa, escolher a opção quese pretende e o programa faz a conversão.

CASE CONVERTER

endereço: http://caseconverter.com/categoria: informática

A proposta deste site é promover o debate sobreo futuro económico e social da União Europeia(UE). O Consulta aos Cidadãos Europeus é umainiciativa de cerca de 40 organizações europeias in-dependentes dos 27 Estados-membros da UE e vaiestar online até 27 de Março.

Os utilizadores podem fazer propostas, debatê-las, votar nas que consideram melhores e as dezmais votadas online vão ser apresentadas numa con-ferência nacional, em Março. Para cada Estado-membro foi lançado um site para promover o deba-te. A ideia é promover a participação dos cidadãosda UE e, neste sentido, em Maio vão ser entreguesos resultados na Cimeira dos Cidadãos Europeus.

CONSULTA AOS CIDADÃOS EUROPEUS

endereço: http://www.consulta-aos-cidadaos-europeus.eu/categoria: Europa

Recuperar dados acidentalmente apagados do seucomputador parece quase impossível ou tarefa para umtécnico de informática. Certo? Errado. O Recuva éuma aplicação gratuita que pode instalar no seu pc (des-de que tenha Windows) e através dela recuperar fi-cheiros perdidos.

Ficheiros que foram permanentemente apagados ouque foram eliminados por erro do sistema ou até porum vírus podem ser recuperados com o Recuva.

RECUVA

endereço: http://www.recuva.com/categoria: informática

Um blog para quem quer ter fibra óptica. Os autoresapresentam-se em manifesto: «Nós... Os que sonhamoscom as velocidades de download incríveis que a fibraóptica permite, velocidades reais de 100Mb/s para cima;os que ansiamos por ligações à internet com tráfego ili-mitado; os que sonhamos com as possibilidades incríveisque a fibra óptica abre para a televisão, com canais àsdezenas, gravação digital e pausa de emissão, em todasas televisões das nossas casas; os que – ainda – esta-mos condenados a arrastar-nos pelas estradas secundá-rias do cabo e do ADSL, olhando com inveja para asluzes que nos ultrapassam na autoestrada da fibra».

Nuno Markl é o rosto visível do Movimento dosSem Fibra, grupo que se manifesta num weblog ondevai deixando informação relativa à temática e aos avan-ços que se vão verificando.

MOVIMENTO DOS SEM FIBRA

endereço: http://movimentodossemfibra.org/categoria: Internet

Votos de um bom @no de 2009p@r@ todos os intern@ut@s

Page 24: O Centro - n.º 65 – 31.12.2008

24 31 DE DEZEMBRO DE 2008 A 9 DE JANEIRO DE 2009TELEVISÃO

PÚBLICA FRACÇÃO

Francisco [email protected]

Façaumaassinaturado“Centro”e ganhevaliosaobrade arteAPENAS20 euros POR ANO- LEIA NA PÁG. 3

Esta é a reprodução da valiosa obra originalde Zé Penicheiro, alusiva aos 6 distritos da RegiãoCentro (Aveiro, Castelo Branco, Coimbra, Guarda,Leiria e Viseu) que receberá, gratuitamente,quando fizer a assinatura do jornal CENTRO

Está mais do que anunciado. O anode 2009 vai ser terrível. Visto daqui, jámete medo. E, no entanto, a Terra move-se. A televisão, nem tanto.

Dobrar esse novo Cabo das Tormen-tas (2009), deve ser tarefa complicadapara os responsáveis das estações detelevisão portuguesas. Contra a falta dedinheiro, nem só de produtos estrangei-ros se poderão socorrer e há uma sérieinfindável de truques que funcionam egarantem as audiências. Truques bara-tos. Daqueles em que é o próprio públi-co a garantir conteúdos.

Para além disto, há sempre as reposi-ções. Os cruzamentos pelos diversoscanais do mesmo grupo. A oferta é tantaque facilmente nos escaparam coisas quenos hão-de surgir como novas.

Não adianto previsões. Não conheçosuficientemente o background bancá-rio das empresas de televisão para quenão seja surpreendido com alguma naci-onalização em desespero de salvação.

Restam-me algumas ideias do que fi-cou para trás.

2008

Gostei Muito: “Conta-me como foi”.

Série da RTP-1 agora à espera de novosepisódios. Uma reconstituição exemplardos finais dos anos 60 em Portugal. Semmeios em excesso, de produção a apro-veitar o tempo ao segundo, “Conta-mecomo foi” é das produções nacionais(ideia espanhola!) mais estimulantes dosúltimos tempos.

Exasperado: Com as transmissõesdos jogos de futebol. Interessa tudo me-nos aquilo que o espectador pretende ver.Repetições até à náusea. Comentáriospatéticos.

Gostei: Da continuação da carreirasegura como pivô de Ana Lourenço, res-

ponsável pela condução das notícias das22 horas na SIC- Notícias. Dizem-na“esfíngica”. Não concordo. Mesmo as-sim, é preferível a contenção de que dámostras do que os esgares histriónicosde algumas apresentadoras do canal con-correncial do Estado – RTP-N. Ana Lou-renço acrescenta à sobriedade um bomconhecimento dos temas que aborda emdirecto com os convidados. Cinco diaspor semana, não é fácil.

Desiludido: Não sei o que motivou asaída de José Júdice do “Eixo do Mal”(SIC-Notícias), mas a sua substituiçãopor Pedro Santos Lopes foi um erro. O

novo elemento não está com o espíritodo programa, não tem sentido de humor,e trouxe para a mesa uma certa tensãoe agressividade que não existia. Péssi-ma escolha que poderá ter consequênci-as negativas.

Cansado: Do “Preço certo em eu-ros”. Custa dinheiro à RTP (é dos pro-

gramas mais caros) que não pode terretorno a não ser o tornar as pessoas ain-da mais anestesiadas. É feito abertamen-te com um espírito de “para quem é ba-calhau basta”. Pois. Basta!

Gostei muito mais: Dos episódiosmais recentes dos “Contemporâneos”.

Embora ainda não me entenda totalmen-te com a postura que Bruno Nogueira

em frente ao ecrã, os sketches têm su-bido de qualidade e a crítica, por vezes,é demolidora. Pelo meio, a figura do “cha-to” (primorosa interpretação de NunoLopes), é garantia do rompimento comas tradicionais linhas do humor nacional.Arriscado, mas conseguido.

Contente: Embora com defeitos,como a inclusão de um exagero de sérienorte-americanas supostamente de cul-

to, a RTP-2 continua a disponibilizar osmomentos mais interessantes da televisãoportuguesa. Podia e devia fazer muitomais. Haja quem lhe atribua mais meios.No entanto, não fosse a RTP-2 e nãoteríamos acesso a uma série consi-derável de espectáculos de grandequalidade, bem como a muitas horasde programação infantil que se pautapor critérios de qualidade inatacáveis.Pena é que a produção nacional, nestecampo, seja tão escassa. É ainda naRTP-2 que está incluído o programaESEC-TV, produzido pela Escola Supe-rior de Educação de Coimbra e que se-manalmente disponibiliza muitas repor-tagens sobre a actividade cultural da ci-dade. Uma espécie de “aldeia dos gau-leses” coimbrã no universo televisivoportuguês.

Farto: Dos programas da manhã e datarde que assentam na fórmula da des-graça + concurso + cantoria. Seja o Gou-cha, a Fátima, a Júlia, o Gabriel, … En-fim, venha quem vier, a fórmula é aque-la e não há nada a fazer. Talvez desligaro televisor. A RTP tenta disfarçar tantamediocridade, mas o que fazer se a si-

nopse inicial de “Você na TV” (TVI) in-dica que se trata de uma “Ophra à por-tuguesa”!!!

Expectante: Com a continuidade dos“Gato Fedorento”. Brilhantes a idealizar,deram, aqui e ali, mostras de terem abu-

sado da exposição. O efeito surpresaparece diluir-se. Perigosamente. Osmeses que estiveram oficialmente forados ecrãs não lhes serviram para nada.A RTP tinha os direitos do “Diz que éuma espécie de magazine” e repetiu osprogramas até ao limite. Os Gato aindaacabaram por encher todos os canaiscom a campanha publicitária para a Meo.Arriscado.

Espantado: Com o que disse a Mi-nistra da Saúde: «O quê? O senhor nãosabe o que está combinado? Que hojesó pode fazer perguntas sobre esta ceri-mónia e sobre o plano de combate àSIDA nas escolas? Ainda por cima é aRTP, a televisão pública, a fazer umacoisa destas. E, depois, logo à noite, nãosai a reportagem».