solidariedade – n.º 63 – julho 2004

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Julho 2004 2.ª Série N.º 63 Mensal Cónego Francisco Crespo Director Dom Manuel Martins é uma personalidade invulgar da vida democrática portuguesa. Foi o primeiro Bispo de Setúbal, durante 23 anos, e nessa qualidade ganhou o respeito dos dioce- sanos locais, dos políticos do país e da Igreja em geral. Defendeu sempre os mais fracos, carentes, marginalizados e nunca se calou perante as in- justiças. Ouviu, muitas vezes, chamaram-lhe "vermelho", de comunista, e considerou a alcu- nha como o melhor elogio que pode ser dado a um pastor da Igreja Católica. Hoje, com 77 anos, é um Bispo Resignatário que não abdica da evangelização. Presidente da Fundação SPES, anda de autocarro para fugir ao trânsito e sentir o povo. Durante mais de duas horas de conversa com o jornal Solidariedade Dom Manuel Martins mos- trou a sua jovialidade, inteligência, simpatia e a irreverência que sempre o caracterizou. Critica Durão Barroso por ter abandonado a barca da governação e diz que o Euro 2004 foi uma espé- cie de bebedeira colectiva. Afirma que o neo-li- beralismo é uma religião fundamentalista. Das IPSS garante que só podem singrar e desenvolver-se porque este modelo de socie- dade promove a solidariedade organizada. Na entrevista confirmou o que se escreveu na capa de um dos cinco livros sobre a sua vida: Dom Manuel Martins é um Bispo Resignatário mas não Resignado. DOM MANUEL MARTINS EM ENTREVISTA Foram os pobres que encheram os estádios do Euro 2004 Novos Rostos... Novos Desafios 75 anos da Misericórdia de Gaia Avós e netos em são convívio A nova família UDIPSS de Aveiro em destaque Do apetite para a municipalização das IPSS O Modelo Social Europeu Preço: 0,50 euros Mensário da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade CNIS Autorizado pelos CTT a circular em invólucro fechado de plástico. Autorização DEO/415/204004/DCN

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Versão integral da edição n.º 63 (2.ª Série), do mensário “Solidariedade”, órgão oficial da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNIS). Director: Cónego Francisco Crespo. Porto, Portugal, Julho 2004. Não se esqueça de que pode ver o documento em ecrã inteiro, bastando para tal clicar na opção “full” que se encontra no canto inferior direito do ecrã onde visualiza os slides. Também pode descarregar o documento original. Deve clicar em “Download file”. É necessário que se registe primeiro no slideshare. O registo é gratuito. Para além de poderem ser úteis para o público em geral, estes documentos destinam-se a apoio dos alunos que frequentam as unidades curriculares de “Arte e Técnicas de Titular”, “Laboratório de Imprensa I” e “Laboratório de Imprensa II”, leccionadas por Dinis Manuel Alves no Instituto Superior Miguel Torga (www.ismt.pt). Para saber mais sobre a arte e as técnicas de titular na imprensa, assim como sobre a “Intertextualidade”, visite http://www.mediatico.com.pt/manchete/index.htm (necessita de ter instalado o Java Runtime Environment), e www.youtube.com/discover747 Visite outros sítios de Dinis Manuel Alves em www.mediatico.com.pt , www.slideshare.net/dmpa, www.youtube.com/mediapolisxxi, www.youtube.com/fotographarte, www.youtube.com/tiremmedestefilme, www.youtube.com/discover747 , http://www.youtube.com/camarafixa, , http://videos.sapo.pt/lapisazul/playview/2 e em www.mogulus.com/otalcanal Ainda: http://www.mediatico.com.pt/diasdecoimbra/ , http://www.mediatico.com.pt/redor/ , http://www.mediatico.com.pt/fe/ , http://www.mediatico.com.pt/fitas/ , http://www.mediatico.com.pt/redor2/, http://www.mediatico.com.pt/foto/yr2.htm , http://www.mediatico.com.pt/manchete/index.htm , http://www.mediatico.com.pt/foto/index.htm , http://www.mediatico.com.pt/luanda/ , http://www.biblioteca2.fcpages.com/nimas/intro.html

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Page 1: SOLIDARIEDADE – N.º 63 – JULHO 2004

Julho 20042.ª Série N.º 63Mensal

Cónego Francisco CrespoDirector

Dom Manuel Martins é uma personalidadeinvulgar da vida democrática portuguesa. Foi oprimeiro Bispo de Setúbal, durante 23 anos, enessa qualidade ganhou o respeito dos dioce-sanos locais, dos políticos do país e da Igreja emgeral. Defendeu sempre os mais fracos, carentes,

marginalizados e nunca se calou perante as in-justiças. Ouviu, muitas vezes, chamaram-lhe"vermelho", de comunista, e considerou a alcu-nha como o melhor elogio que pode ser dado aum pastor da Igreja Católica. Hoje, com 77 anos, é um Bispo Resignatário

que não abdica da evangelização. Presidente daFundação SPES, anda de autocarro para fugirao trânsito e sentir o povo.Durante mais de duas horas de conversa com o

jornal Solidariedade Dom Manuel Martins mos-trou a sua jovialidade, inteligência, simpatia e airreverência que sempre o caracterizou. CriticaDurão Barroso por ter abandonado a barca dagovernação e diz que o Euro 2004 foi uma espé-cie de bebedeira colectiva. Afirma que o neo-li-beralismo é uma religião fundamentalista. Das IPSS garante que só podem singrar e

desenvolver-se porque este modelo de socie-dade promove a solidariedade organizada. Na entrevista confirmou o que se escreveu na

capa de um dos cinco livros sobre a sua vida:Dom Manuel Martins é um Bispo Resignatáriomas não Resignado.

DOM MANUEL MARTINS EM ENTREVISTA

Foram os pobres que encheramos estádios do Euro 2004

Novos Rostos... Novos Desafios 75 anos da Misericórdia de Gaia

Avós e netos em são convívio A nova família UDIPSS de Aveiro em destaque

Do apetite para a municipalização das IPSS O Modelo Social Europeu

Preço: 0,50 euros

Mensário da

Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade

CNIS

Autorizado pelos CTT a circular em invólucro fechado de plástico. Autorização DEO/415/204004/DCN

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...Mas também promovê-la, esti-mulá-la e desenvolvê-la. Quando osventos da mudança sopram, uns le-vantam barreiras, outros constroemmoinhos de vento.

Parafraseando Robert Kennedy, ofuturo não pertence àqueles queestão conformados com o presente,apáticos em relação aos problemascomuns aos outros homens, tímidose receosos perante projectos au-dazes e novas ideias. Pertence,sim, àqueles que podem misturarpaixão, razão e coragem num en-volvimento pessoal com os ideaisdesta sociedade a que pertencemose da qual recebemos um mandatoclaro e inequívoco: deixá-la umpouco melhor do que a encon-tramos. (Baden Powel)

"Combater a exclusão promovendoo desenvolvimento" constitui objec-tivo prioritário do programa estra-tégico da União Europeia e de cadaum dos seus Estados Membros.

A este desafio responderemos atrês dimensões, todas elas interli-gadas e interdependentes: Cresci-mento económico; Mais e melhor

emprego; Mais coesão social.Inclusão, escola/instituição inclusi-

va, educação inclusiva, comunida-des inclusivas, são expressões epráticas cada vez mais presentesno nosso vocabulário corrente epráticas que lhes estão subja-centes.

Não se trata de devolver alguémou um grupo a um ambiente/comu-nidade donde por qualquer motivofoi excluído. Trata-se, outrossim, ena verdadeira acepção da palavra,de impedir que alguém saia; poroutras palavras, importa que acomunidade, enquanto tal, encontredentro de si respostas e programasadequados, apropriados e ajusta-dos a todos sem excepção, quais-quer que sejam as suas capaci-dades.

A Inclusão constitui-se como ati-tude, sistema de valores; pressupõe"ser parte integrante de...", "formarparte do todo...". Não é uma acção;tão pouco um conjunto de acções.Defende e promove o direito de par-ticipar e ser membro activo dacomunidade; ancora-se na esferados direitos humanos; é condiçãofundamental para a promoção damelhoria da qualidade de vida detodos e cada um.

Defender e promover os reais inte-resses e a satisfação das necessi-

dades das PESSOAS nas Institui-ções, no trabalho, no lar e na socie-dade constitui, penso, pedra detoque - mesmo estatutária - detodas e cada uma das IPSS. Noentanto, e a este propósito, convémnão esquecermos que as Institui-ções são realidades abstractas quese revêem nas pessoas que asservem. É, antes e acima de tudo,uma atitude pessoal e uma questãocultural.

"Ninguém pode convencer nin-guém a mudar. Cada um de nóspermanece de guarda a uma portada mudança que só pode ser abertapelo lado de dentro", refere, com apropósito, a escritora MarilynFerguson.

O Plano Nacional de Acção para aInclusão (PNAI), estribando a suaacção em quatro grandes eixosdesafia-nos e congrega-nos para:Promover a participação no empre-go e o acesso de todos aos recur-sos, aos direitos, aos bens e ser-viços; Prevenir os riscos de exclu-são; Actuar em favor dos mais vul-neráveis; Mobilizar o conjunto dosintervenientes.

Responderemos, criando e mobi-lizando as sinergias necessáriasque nos permitam, entre outros,criar estruturas que de forma per-sonalizada e inclusiva acolham

aqueles que dos nossos serviçosnecessitam e a nós recorram; imple-mentando programas e agilizandoprojectos diversificados e ajustadosàs necessidades do momento esempre interactivos; promoveremosa formação e apoio de todos quan-tos, ao serviço das IPSS's, dão omelhor de si próprios: "O seupróprio projecto de vida".

Em jeito e à guisa de conclusão,preocupar-nos-emos mais com odesenvolvimento das capacidadesde todos e cada um dos desti-natários das nossas acções (... nóspróprios também!) de forma a que apartilha permanente de lugares co-muns estimule e permita um contí-nuo e consciente "fazer escolhas"de que resulte serem tratados comrespeito e terem um papel social-mente valorizado com vista a umlegítimo e digno crescer nas rela-ções.

E se deixássemos de olhar aexclusão social como um problema evíssemos antes nela uma oportu-nidade de desenvolvimento?

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Abertura

EditorialDirecção da CNIS

Por Prof. Manuel Domingos

E se deixássemos de olhar a exclusão socialcomo um problema e víssemos antes nela uma

oportunidade de desenvolvimento?

"Encontrar uma boa fórmula nãobasta;trata-se de a não abandonar"

André Gide

"Se alguém deseja uma mudança,tem de adaptar-se a ela, antes queela seja possível."

Gita Bellini

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Actualidade

A União Distrital de Braga das InstituiçõesParticulares de Solidariedade Social encon-tra-se a analisar os termos do acordo assi-nado, em Maio, pelo Ministério do Trabalho eda Solidariedade Social e a ConfederaçãoNacional das IPSS.

Para esta análise, a UDIPSS desencadeou,desde o início de Junho, uma série de reu-

niões com as instituições suas associadas. A primeira teve lugar nas instalaçõesdo Centro Social e Cultural de Sto. Adrião, em Braga. A 7 de Julho, a UDIPSSpromove uma reunião no Lar de Sta. Estefânia, em Guimarães e, no dia 14, nasinstalações da Associação de Moradores das Lameiras, em Famalicão.Segundo a UDIPSS, para além da discussão do acordo assinado com oGoverno, é objectivo destes encontros recolher informações sobre o grau deexecução do mesmo documento.

Na reunião ocorrida em Braga, para além da análise daquele instrumento decooperação e do esclarecimento das dúvidas que foram surgindo, foi apreciado,de forma crítica, a forma de cumprimento do conjunto de obrigações assumidaspor cada uma das partes envolvidas.

UDIPSS de Braga analisa acordo

A Câmara Municipal de Oliveira deAzeméis formalizou, em Junho, a suaadesão à Rede Nacional de Cidadese Vilas com Mobilidade para Todos.

O compromisso do município ficouconsagrado num contrato-programaassinado entre a autarquia e a As-sociação Portuguesa de Planeadoresdo Território (APPLA).

Ao abrigo do acordo, com a duraçãode três anos, a Câmara compromete--se a desenvolver medidas visando minorar as barreiras arquitectónicas eurbanísticas.

Segundo o contrato-programa, a autarquia terá de cumprir pelo menos 70%das acções propostas pela APPLA para manter a bandeira da mobilidade paratodos.

Oliveira de Azeméis adere à Mobilidade para todos

Para saber mais, visite:http://appla.web.pt/inicio.htmhttp://www.cm-oaz.pt/

A Câmara Municipal de Seia convocou asInstituições Particulares de Solidariedade Sociale as Juntas de Freguesia do concelho para doisencontros, distintos, mas para abordar o mesmoassunto: as questões sociais, às quais o execu-tivo municipal pretende dar um novo fôlego. Oautarca Eduardo Brito considera que existe "anecessidade de olhar para estes problemascom outra dimensão e preocupação, resolvidosque estão grande parte das questões relacionadas com os esgotos, as estradase outros".

“O plano de intervenção passa pela criação de uma espécie de comissõessociais locais em cada uma das freguesias, que temporariamente, vai fazendoa fotografia destas situações, envolvendo os presidentes de junta e as respecti-vas instituições, que permitam, com alguma regularidade, termos informaçõesdetalhadas e precisas sobre as situações que ocorrem” - acrescentou o presi-dente da edilidade serrana.

Seia no combate à pobreza

No âmbito do Programa da RedeSocial, o Instituto de Solidariedade eSegurança Social decidiu elaborar oGuia de Recursos para o Desen-volvimento Social.

Este instrumento visa compilar umconjunto de medidas e programas,disponíveis a nível nacional, quepodem constituir-se como respostas àsnecessidades dos seus mais directosdestinatários, tornando-se um instru-mento de suporte à actividade detodos aqueles que, localmente, têm aresponsabilidade de trabalhar com as populações e que, muitas vezes, desco-nhecem os recursos disponíveis para este exercício.

O Guia de Recursos para o Desenvolvimento Social está disponível no sitehttp://www.seg-social.pt/

Guia de Recursos para o Desenvolvimento Social

Fernando Gonçalves, o inventor fundanensecom três criações premiadas no último Salão In-ternacional de Invenções de Genebra, ofereceu apatente do Fisiocar - um veículo de transporte eterapia para deficientes ou traumatizados moto-res, à APPACDM do Fundão, que o irá fabricar.

O projecto envolverá os utentes da instituiçãoe, provavelmente, uma empresa com quem aAPPACDM trabalhará em parceria.

O Fisiocar está vocacionado para substituir ascadeiras de rodas e os andarilhos, podendo reve-lar-se de grande utilidade para pessoas com difi-culdades motoras.

Para João Ribeiro, Presidente da Direcção daAPPACDM, trata-se de "uma criação de grandeutilidade e alcance social, podendo vir a ajudarmuita gente".

Em declarações ao Jornal do Fundão, JoãoRibeiro garante tudo fazer "para divulgar este

veículo concebido para facilitar a vida a deficientes etraumatizados".

A APPACDM fundanense tenciona criar, nas suasinstalações, uma serralharia cuja incumbência inau-gural se traduzirá na produção do invento de Fer-nando Gonçalves.

APPACDM do Fundão constrói FISIOCAR

Inventor Fernando Gonçalves (à esquerda), e João Ribeiro,Presidente da Direcção da APPACDM do Fundão

APPACDM do Fundão

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Em destaque

IPSS de Aveiro com grande vitalidade

Solidariedade - A direcção daUDIPSS de Aveiro considera-se satis-feita com o grau de adesão das insti-tuições à vossa União?

Lacerda Pais - Não temos razões dequeixa, bem pelo contrário. Contamoscom 175 instituições associadas, paraum total de 210 existentes no distrito.Note-se que, entre as não inscritas, seencontram algumas instituições deâmbito nacional. Isto significa que adiferença entre o total de instituições afuncionar no distrito e as aderentes àUDIPSS é menor que o que possaparecer. Posso dizer, com satisfação,que a cobertura no distrito é superior àmédia nacional.

Solidariedade - E vão registandonovas adesões?

Lacerda Pais - Numa cadência re-gular, à volta de duas, três por mês. Éum bom sinal, um indicador de queprestamos um bom serviço às institui-ções, um apoio eficiente, de norte asul do distrito. Sinal também de que,atenta a crescente complexidade dastarefas a que as instituições são cha-madas, uma estrutura como a nossaUnião é cada vez mais necessária.

Solidariedade - Aveiro é um distritosolidário?

Lacerda Pais - Não tenho a menordúvida. Nota-se uma grande força dovoluntariado. Como se regista umgrande apoio dos empresários. Aveiroé o terceiro distrito do país em rendi-mentos, temos áreas com nível devida muito próximo do europeu, e aclasse empresarial tem sabido ajudaros mais necessitados. Digo-o sempestanejar: há associações que con-seguiriam sobreviver sem as compar-

ticipações da Segurança Social.Solidariedade - Um distrito prós-

pero, mas com os seus problemasespecíficos…

Lacerda Pais - Sem dúvida. Há sec-tores que sofreram bastante com acrise, como o sector das pescas, como abate dos barcos. Nos concelhos deÍlhavo, Vagos e Aveiro, as instituiçõestêm estado atentas e apoiado bastan-te os pescadores que ficaram desem-pregados, tentando dotá-los dosmeios de subsistência necessários emterra. É também um distrito muitoapetecível para a imigração. Há mui-tas instituições a trabalharem com imi-grantes. O que noto, no geral, é queas nossas instituições não pararam notempo, souberam adaptar-se às ne-cessidades mais recentes da comu-nidade envolvente, criando novasvalências, umas típicas, outras atípi-cas. Demonstram uma vitalidademuito grande, facto que nos deixaorgulhosos.

Solidariedade - A crise que se viveno país também se tem feito sentir navida das vossas associadas?

Lacerda Pais - Fundamentalmenteno congelamento de alguns projectos.Ou seja, o crescimento tem sido re-duzido, como reflexo da crise. Há umavontade muito grande de fazer coisasnovas, de apostar em áreas dife-rentes, de diversificar, no nosso distri-to. Apresentam-se inúmeros projectos

que vão ficando na gaveta, por abso-luta carência de verbas. O governoque agora finda funções mostrou quetinha muita vontade mas pouco din-heiro.

Solidariedade - Que desafios pres-sente para o futuro das IPSS?

Lacerda Pais - São bastantes.Desde logo a formação dos dirigentes.A cadência legislativa é de tal ordemque nos obriga a todos a encarar a

direcção e a gestão de umainstituição de solidariedadecom outros olhos, com outradinâmica. Hoje em dia agestão das instituições nãose compadece com o imo-bilismo. Pela nossa partetemos promovido váriasacções de formação noâmbito do POEFDS, acçõesessas a cargo da UNAVE,um instituto de formação daUniversidade de Aveiro mui-to prestigiado. Outro desafioé o da informática. Temosfeito um esforço muito gran-de, de sensibilização dasinstituições para se iremadaptando a esta nova erada informática. Dou umexemplo: já sugerimos aoCentro Distrital de Segu-rança Social que os mapasmensais que entregamospossam ser enviados via in-

ternet. Entrámos no programa AveiroDigital, o que permitirá às instituiçõeslocalizadas nos concelhos servidospor este programa - os municípios daRia -, a formação adequada neste do-mínio, isto para além da implantaçãode postos de acesso. É que, apesarde haver quem esteja atento a estasnovas realidades, e se esforce poracompanhar os novos tempos, tam-bém encontramos várias instituições

O Solidariedade inicia, nestaedição, uma ronda pelas UDIPSS,auscultando os seus responsáveisquanto à vitalidade, anseios e dificul-dades de cada União. Começamoseste percurso conversando com oPresidente da União Distrital dasIPSS de Aveiro, Dr. Lacerda Pais, aquem agradecemos a colaboraçãoprestada e a simpatia manifestada.Licenciado em Auditoria Contabi-lística, Lacerda Pais é administradorde empresas, sobretudo na área dacerâmica. Com 57 anos, já cumpriu17 à frente do Secretariado e agorada UDIPSS de Aveiro.

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Em destaqueque ainda não dispõem de um com-putador que seja. A direcção daUDIPSS de Aveiro é muito sensível aesta área. Pela nossa parte tudo fare-mos para incentivar e apoiar as insti-tuições a vencerem esta batalha dainformatização, modernizando-se, do-tando-se de uma ferramenta impres-cindível nos tempos que correm. Paraalém do interesse em toda a área desecretaria, importa utilizar a informáti-ca noutros sectores, por exemplo nasfichas sociais, nos programas deapoio, nas fisioterapias, etc.

Solidariedade - Quanto à UDIPSSque dirige, o que falta fazer?

Lacerda Pais - Há sempre muitopara fazer, trabalho não nos falta.Olhando para o nosso programa deacção, verificamos com satisfaçãoque o temos respeitado. Há, no entan-to, uma promessa por cumprir: nãoconseguimos fazer as visitas às insti-tuições que tínhamos prometido. Eranossa intenção proceder a visitas re-gulares, por entendermos que, sem-pre que visitamos uma instituição,aprendemos bastante, em todas elashá coisas novas, situações peculiares,relatos de experiências vividas quenos são muito úteis. Diria mesmo úteispara todos. No distrito temos institui-ções que são emblemáticas a nívelnacional.

Solidariedade - É recorrente olamento de alguns dirigentes associa-tivos, de que são sempre os mesmos.Em Aveiro isso também acontece, ouhá renovação de quadros?

Lacerda Pais - Encaro essa situação

de duas formas. Por um lado, como jáafirmei, é preciso assegurar que osdirigentes que estão em funções nãoparem no tempo, não se deixemenquistar, não se deixem vencer peloimobilismo. Se muitas das instituiçõesdo distrito continuam hoje abertas,sendo várias modelares a nível na-cional, isso só aconteceu porquehouve um desejo grande de apren-dizagem por parte dos dirigentes. Foi

um esforço titânico, com muito boa--vontade de muitos de nós. Quanto àrenovação ela também se vai fazendosentir, notamos uma vitalidade e umamotivação cada vez maior para a sem-pre inacabada tarefa de auxiliar o pró-ximo, para ajudar os mais desfavoreci-dos. A maior parte das instituições foicriando condições para a entrada degente mais nova, de molde a que essarenovação se fizesse paulatinamente

e não de forma brusca. Apostaram narenovação, mas ao mesmo tempo naestabilidade. Faz-se uma salutar reno-vação, sem sobressaltos. E, importafrisá-lo, temos a dinâmica dos doisprincipais bispos do distrito. Refiro-meaos Bispos do Porto e de Aveiro. D.António Marcelino sempre esteve aolado das instituições, o que, como secompreenderá facilmente, é um apoiomuito reconfortante para todos nós.

Aveiro nas objectivas de João Carlos Estêvão e Maria Manuel Azevedo

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Europa

A Comunicação da Comissão COM (2003) 840-final pretende aplicar princí-pios para a "circulação das boas ideias".

A primeira fase da iniciativa EQUAL, que teve lugar em 2001, oferece jáexemplos de práticas prometedoras relativamente a novas formas de luta con-tra a discriminação e desigualdade relativamente às pessoas com deficiência,ao prolongamento da vida activa dos trabalhadores, à criação de empresaspor pessoas desempregadas ou inactivas, à contribuição dos imigrantes parao emprego e o crescimento económico, à promoção da adaptabilidade nomercado de trabalho, à construção das estratégias de aprendizagem ao longoda vida, à segregação sectorial e profissional entre os géneros, à partilha deresponsa-bilidades familiares e de prestação de cuidados, à responsabilidadesocial das empresas, à reinserção como forma de luta contra a exclusão e àcriação de empregos e melhoria da sua qualidade através da economiasocial.

A Segunda Fase, que se pretende iniciar, além de continuar os apoios à lutacontra/promoção das actividades acima mencionadas, pretende abordar novosdesafios, como a questão das pessoas de etnia cigana e as vítimas do tráficode seres humanos.

A cooperação entre os Estados Membros tem-se revelado como uma facetafundamental da iniciativa EQUAL. Em nosso entender funciona bem, manifes-tando-se ao nível de parcerias de desenvolvimento e entre redes temáticas.

A comissão, através da Comunicação(2003) 657 final - 2003/0247 CNS criou, nasequência de outras directivas (2000/78/CEe 2000/43/CE), enquadramento para combatera discriminação em razão do sexo no acesso abens e serviços e seu fornecimento, visandoconcretizar, nos Estados Membros, o princípioda igualdade de tratamento entre homens emulheres.

Através da Directiva 1999/62/CE,a União Europeia pretende aplicardeterminadas imposições aosveículos pesados de mercadorias(com mais de 3,5 toneladas) pelautilização de certas infraestruturas,isto no âmbito do princípio do uti-lizador/pagador. O objectivo destamedida, que se traduzirá, porexemplo, no pagamento de umvalor mais elevado nas portagens,

é o financiamento do investimento em novas infraestruturas de transportes comgrande interesse europeu, desde que situa-das no mesmo corredor, na mesmazona de transporte, ou na mesma região.

Além do aumento de portagens, a Comissão inclui na sua proposta elementostais como os custos associados aos congestionamento de trânsito, custos dosacidentes de viação e custos ambientais.

Confirma-se a intenção da ComissãoEuropeia de propor a liberalização da organi-zação das lotarias. Esta intenção é muitopreo-cupante para as Instituições deSolidariedade Social, pois sabemos que emmuitos casos (a nossa Santa Casa daMisericórdia de Lisboa), os apoios a outrasinstituições e à protecção social são compar-ticipados pela Santa Casa. Se este projectofor avante, pode pôr em cau-sa o futuro demuitas instituições e a protecção social nofuturo (a partir de 2010).

Igualdade de tratamento entre homens e mulheresSoltas sobre o pulsar da Europa, da autoria de José Leirião

Liberalização das Lotarias

Segunda fase da Iniciativa Equal relativa à cooperaçãotransnacional para a promoção de novas práticas de lutacontra a discriminação e desigualdades no mercadode trabalho

Veículos pesados vão pagar taxa

O artigo 141.º do Tratado que instituia Comunidade Europeia consagra,desde 1957, a igualdade de remune-ração entre homens e mulheres portrabalho igual ou de valor igual. A par-tir de 1975, a aplicação deste princípiofoi alargada por várias directivas àigualdade de tratamento no que res-peita ao acesso ao emprego, à forma-ção e à promoção profissional, de mo-do a eliminar qualquer discriminaçãono meio laboral.

Subsequentemente, a igualdade detratamento estendeu-se a questõesem matéria de segurança social e deregimes legais, bem como nosregimes profissionais. O reconhe-cimento deste princípio levou, nosanos 80, à promoção da igualdade deoportunidades através de programasplurianuais.

O Tratado de Amesterdão procuracompletar o alcance limitado do artigo141.° (que se refere apenas à igualda-

de de remuneração) incluindo a pro-moção da igualdade entre homens emulheres no artigo 2.º do Tratado CE,que enumera as missões atribuídas àComunidade neste domínio.

A Carta dos Direitos Fundamentais(Dezembro de 2000), contém umcapítulo intitulado Igualdade, que rei-tera os princípios de igualdade entrehomens e mulheres.

Declara-se que “deve ser garantida aigualdade entre homens e mulheresem todos os domínios, incluindo em

matéria de emprego, trabalho e remu-neração”.

Além disso, em Junho de 2000, aComissão adoptou uma comunicação,na qual expõe as linhas de orientaçãode uma estratégia da Comunidade(2001-2005) para a igualdade entrehomens e mulheres. Pretende assimdefinir um quadro de acção em quetodas as actividades comunitáriaspossam contribuir para o objectivo deeliminar as desigualdades e promovera igualdade entre os sexos.

Igualdade de tratamento entre homens e mulheres

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Vida Associativa

A Santa Casa da Misericórdia deGaia acaba de encerrar as comemo-rações dos seus 75 anos. O vasto pro-grama concebido para assinalar aefeméride teve início a 26 de Junho,com uma Missa de Acção de Graçasna Igreja Paroquial de Mafamude.Nesse mesmo dia teve lugar um jantarde confraternização dos Irmãos e ami-gos da instituição.

A 29 procedeu-se ao passeio anualdos utentes dos lares; a 30 de Junhorealizou-se uma homenagem aos tra-balhadores que completaram 25 anos

de serviço. Para 2 de Julho, cumprido o passeio

anual das crianças da Creche e Jardimde Infância D. Emília de Jesus Costa edo Centro de Acolhimento N.ª Srª. daMisericórdia, estava prevista uma re-cepção, em sessão solene, no SalãoNobre da Santa Casa, ao ministro daSegurança Social e do Trabalho.Seguir-se-ia a inauguração do NúcleoMuseológico e das novas instalaçõesdos Serviços de Segurança, Higiene eSaúde no Trabalho.

No entanto, Bagão Félix cancelou a

sua visita, razão pela qual foi suspen-so o programa relativo ao dia 2 deJulho.

3 de Julho ficou assinalado pelapalestra do Prof. Doutor EugénioFrancisco dos Santos, seguida daapresentação de brochura de suaautoria, sobre a figura do beneméritoSalvador Ferreira Brandão.

As comemorações encerraram a 4 deJulho, com missas de sufrágio poralma dos Benfeitores, Irmãos, Utentese Trabalhadores da Misericórdia, nasCapelas dos Lares da Santa Casa.

UM POUCO DE HISTÓRIA

Foi a 26 de Junho de 1929 que umgrupo de homens bons e arrojados, li-derados pela figura ilustre do notáriogaiense, Dr. Miguel Leal da SilvaJúnior, decidiu com todo o entusiasmofundar a "Misericórdia de Gaia".

A primeira obra, a mais sentida naépoca, foi a instalação do Hospital deV. N. Gaia e de uma Farmácia, no pré-dio onde ainda hoje funciona a suasede.

A partir de 1933 e até aos tempos dehoje, surgiram as actividades de apoioà Criança e à Terceira Idade, graças àgenerosidade de vários doadores: LarSalvador Brandão, Lar António Al-meida Costa, Lar José Tavares Bastos,Lar Residencial Conde das Devezas,

Creche e Jardim de Infância D. Emíliade Jesus Costa e Centro de Aco-lhimento Temporário Nª. Srª. da Mise-ricórdia.

A 23 de Junho de 1966 era inaugura-do o novo e modelar Hospital daMisericórdia de V. N. Gaia, que veio aser nacionalizado em 1974.

Nos últimos tempos, a Misericórdiavoltou à área da saúde, através dumaClínica Fisiátrica e de um Centro deHemodiálise, este em vias de entrarem funcionamento.

Em Assembleia Geral Extraordináriade 30 de Março de 2001, foi delibera-do alterar a sua denominação para"Santa Casa da Misericórdia de VilaNova de Gaia".

Misericórdia de Gaia celebra 75 anos de amor ao próximo

O Complexo Social SalvadorBrandão está situado na freguesia deGulpilhares, sendo constituído por:

- Lar Salvador Brandão, com 100camas de internamento e comcapacidade para atender 30 idososem Centro de Dia e 35 em ApoioDomiciliário;

- Clínica Fisiátrica, com capacidadepara 600 doentes/dia;

- Clínica de Hemodiálise, comcapacidade para 102 doentes;

- Oficinas Gerais (Conservação doPatrimónio)

- Exploração Agro-Pecuária.

A Associação de Moradores das Lameiras também esteve em festa, programarecheado que se prolongou por quase três meses (de 11 de Abril a 26 deJunho). Os festejos encerraram com um arraial popular, seguido da festa dofecho do ano lectivo.

O programa dividiu-se em três partes. A primeira foi dirigida às crianças ejovens que diariamente frequentam as diferentes valências do Centro Social eComunitário. A segunda foi dedicada aos sabores, tendo sido colocados ao dis-por dos presentes diversos petiscos regionais e bebidas, a preços acessíveis.As receitas apuradas ajudarão a combater a dívida existente com a construçãodas novas instalações do Centro Social e Comunitário.

A terceira parte foi preenchida com música tradicional portuguesa, a cargo doGrupo Musical Ramo de Oliveira, de Santa Maria de Oliveira.

Bagão Félix associou-se às comemorações dos 20 anos desta associação.Recorde-se que o Bairro das Lameiras, sito em Famalicão, é constituído por290 casas, albergando cerca de 1.500 pessoas.

Entretanto, prossegue a nova campanha de angariação de fundos, destinadaa conseguir as verbas necessárias para abater à dívida resultante da cons-trução do Centro Social e Comunitário. Os donativos podem ser despositadosna conta da AML – Centro Social e Comunitário com o n.º 2112 031993 930 eo NIB 003521120003199393069 - Caixa Geral de Depósitos.

Lameiras três meses em festaA Comissão de Protecção de Crianças e Jovens de Coimbra está a desen-

volver todos os esforços para que as crianças apoiadas por esta Comissão te-nham oportunidade de integrar Campos de Férias.

O Instituto de Apoio à Criança, Núcleo de Coimbra, em parceria com a CPCJde Coimbra está a desenvolver uma "Campanha de Angariação de ObjectosPessoais para Campos de Férias".

Para ajudar, contacte: Instituto de Apoio à Criança - Núcleo deCoimbra. Telefone: 239 821 280

Objectos pessoais para campos de férias

Na sequência de uma candidatura apresentada ao Instituto do Emprego eFormação Profissional, a CERCIFAF foi reconhecida e autorizada a ser umCentro Financiador de Ajudas Técnicas.

Através desta medida, a CERCIFAF passa a dispor de mais um serviço quevisa melhorar e aumentar as possibilidades reais de acesso à formação profis-sional e ao emprego, bem como a manutenção dos empregos.

Pessoas com deficiência ou familiares, podem dirigir-se à CERCIFAF a fim deserem avaliadas as situações, caso a caso, para se proceder ao processo deprescrição médica e de financiamento.

CERCIFAF - Centro Financiador de Ajudas Técnicas

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Actualidade

O apoio aos idosos continuamuito dependente das famíliasno concelho de Aveiro.Especialmente nas freguesiasrurais, onde faltam equipamentospara a terceira idade. A ajudafamiliar é a opção mais frequentepara quase 60 por cento doscasos.

A conclusão surge num estudoelaborado pelo Observatório Per-

manente para o Desenvolvimento Social da Universidade de Aveiro, citado peloNotícias de Aveiro.

Parte dos dados foram recolhidos junto de 130 técnicos ligados a instituiçõescom desempenho na área social. 78 por centro dos inquiridos atribuiu os cuida-dos aos idosos como o problema social com maior importância.

No tocante a apoios institucionais, as freguesias de Aradas e Requeixo sur-gem referenciados pela negativa, visto não possuírem qualquer equipamentode apoio aos idosos.

13 por cento da população do concelho tem mais de 60 anos. Um panoramamenos preocupante que noutras regiões. Entre 1991 e 2001, o número de ido-sos cresceu 40 por cento em Aveiro. Mesmo assim, começa a notar-se falta derespostas ao progressivo envelhecimento da população.

Ajuda familiar a idosos maioritária em Aveiro

O ano de 2003 registou um decréscimode 16,6% nas viagens turísticas realizadaspelos residentes e de 11,6% nas dormi-das, em relação ao ano de 2002. Apesardo decréscimo no total de viagens, adiminuição foi mais acentuada nas deslo-cações em Portugal (17,0%) do que nasviagens ao estrangeiro (12,4%).

Segundo estudo do Instituto Nacional deEstatística, o Algarve foi a região escolhi-da pelo maior número de turistas, registando 33,7% das dormidas por motivosde lazer, recreio e férias realizadas em território nacional.

Do total de dormidas efectuadas fora da residência principal, 66,7%realizaram-se em alojamento privado gratuito e apenas 16,2% em estabeleci-mentos hoteleiros.

Por tuguesessem dinheiropara férias

34 instituições da região centro do paísreuniram-se em Coimbra para partilharsolidariedade entre elas e também com oColégio dos Órfãos, propriedade da SantaCasa da Misericórdia de Coimbra.

A iniciativa, intitulada Feira da So-lidariedade e da Partilha, insere-se nascomemorações do bicentenário da SCMC.

Para Mário Nunes, vereador do pelouroda Cultura da Câmara de Coimbra, esta é uma "realização inédita: "Consideroque uma das melhores formas de comemorar o bicentenário do Colégio é umacto de fraternidade como este".

Na feira, as diversas instituições têm a possibilidade de apresentar as suasvalências, mostrando e vendendo os diferentes tipos de trabalhos executadospelos jovens que as integram.

As receitas reverterão a favor de cada uma das instituições, sendo uma per-centagem doada ao Colégio. Mas o vereador espera, dado o espírito da inicia-tiva, que surjam também donativos da parte dos visitantes. Depois desta pri-meira experiência, Mário Nunes espera que a feira se autonomize nos próximosanos.

A Feira da Solidariedade e da Partilha, que integra a exposição da CIC 2004 -Coimbra Industrial e Comercial, a ter lugar no Parque Verde do Mondego, ter-mina no próximo dia 13 de Julho.

Feira da Solidariedadee da Partilha

Esposende SolidárioA Associação Esposende Solidário tem já em fase de adjudicação a cons-

trução da "Comunidade de Inserção Social", um equipamento preparado paraacolher alcoólicos em fase de recuperação.

Esta nova infra-estrutura, a construir em Goios, freguesia de Marinhas, serápioneira a nível nacional, um espaço aberto aos utentes de ambos os sexos,já em processo de recuperação alcoólica. Ali se desenvolverão um conjunto deajudas que vão desde o apoio psicológico, social, familiar, até à integraçãoprofissional.

O Movimento Teresiano de Apostolado (MTA) está a organizar a Semana deSolidariedade 2004. Esta iniciativa, a ter lugar no Centro João Paulo II, emFátima, estender-se-á de 5 a 12 de Agosto. Pretende-se apoiar crianças,jovens e adultos deficientes mentais e motores sem retaguarda familiar ouqualquer apoio institucional.

Actividades propostas: serviço de voluntariado, convívio, cine-forum, debate,formação, oração, passeio.

Para mais pormenores, contacte pelo e-mail [email protected].

Semana da Solidariedade 2004

Equipa de voluntários 2003 com alguns meninos

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Respigos

Mansão de Chissano custa1,6 milhões de euros

A Presidência da República de Moçambique con-firmou notícias da imprensa de Maputo segundoas quais está a ser construída uma residênciaespecial para o chefe de Estado, JoaquimChissano, onde ele irá viver quando, dentro de umano, entregar a pasta ao seu sucessor. A mansãoserá erguida na Catembe.

O equivalente a 1,6 milhões de euros é quantodeverá custar a casa que o Estado decidiu colocarà disposição do segundo dos seus Presidentes,depois de Chissano ter exercido o cargo durante18 anos,

Segundo alguma imprensa moçambicana, estaresidência especial para a reforma de Chissano é uma espécie de retribuiçãopor ele ter concordado em não se recandidatar, quando em finais deste ano serealizarem eleições presidenciais.

PNN - agencianoticias.com

Falta de apoios comprometecrescimento das famílias

Ao contrário do que é comum afirmar-se, a grande maioria das famílias por-tuguesas não tem qualquer apoio frequente da rede familiar. Este é um dosdados já perceptíveis do inquérito "Famílias do Portugal Contemporâneo", umainiciativa conjunta do Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade deLisboa e do Centro de Investigação e Estudos em Sociologia (CIES) do ISCTE.Se é verdade que, de acordo com o estudo, apenas 10 por cento dos inquiri-dos afirma nunca ter tido qualquer apoio das suas relações de parentesco,mais de metade diz não receber actualmente qualquer tipo de apoio e só 4,4por cento refere que esse apoio é frequente.

"Se olharmos para um determinado momento da vida das famílias, a maiorparte não tem qualquer apoio", sustenta Pedro Vasconcelos, do CIES, um dosinvestigadores envolvidos no projecto coordenado por Karin Wall (investigado-ra do ICS), que será publicado em livro ainda este ano. "O apoio, quandoexiste, acontece apenas algumas vezes e não num fluxo permanente de bense serviços". Um quadro, sustenta o sociólogo, ainda assim longe do anuncia-do "isolamento da família nuclear em relação à parentela" defendido pelasteses clássicas sobre as transformações da instituição familiar nas sociedadesmodernas.

Um outro estudo recente, coordenado por Anália Torres, também do CIESe editado em Maio, chega a conclusões semelhantes. Em relação aosapoios relacionados com os cuidados a prestar às crianças, as soluções detipo familiar, como o recurso a avós, "não são tão dominantes como seesperava". O dado mais relevante diz respeito ao elevado número de entre-vistados que diz ser a própria mãe a principal solução de guarda dos filhosenquanto, simultaneamente, trabalha. Uma percentagem que atinge os 30por cento nos casos das crianças até dois anos e 26 por cento nas de idadeinferior a 10.

"Ou as crianças ficam sozinhas em casa ou acompanham as mães para osseus locais de trabalho. De uma maneira ou de outra, estaremos sempre pe-rante más soluções", concluem os investigadores, referindo que a maioriados casos diz respeito a mulheres que trabalham em actividades precáriasnão qualificadas. Dados que vêm reafirmar a urgência de "equipamentossocioeducativos que respondam satisfatoriamente às necessidades dasfamílias" e que, segundo os investigadores, além de insuficientes, encon-tram-se mal distribuídos pelo território nacional, sendo mais escassos ondesão mais precisos.

Nelson Marques, Público

Bispos criticam sistema fiscal“desfavorável à promoção da família”

A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) critica, em carta pastoral sobre afamília, o sistema fiscal existente e a falta de "qualidade de vida" urbana, quetorna difícil as famílias "crescerem numa atmosfera de equilíbrio, harmonia,tranquilidade e serenidade", e que acaba por ter "custos incalculáveis no que dizrespeito à estabilidade familiar".

"A expansão económica" das últimas décadas "foi acompanhada por uma forteespeculação imobiliária que encareceu significativamente o preço dahabitação", ao mesmo tempo que se reduziu o espaço oferecido em muitascasas, "o que dificulta a família ampla e a presença das pessoas mais idosas naconvivência do lar".

O documento condena a "injustiça fiscal" vigente, que "ignora a centralidade dafamília na sociedade" e é "desfavorável à promoção da família", além de de-sencorajar a natalidade e penalizar "as famílias numerosas, constituindo umincentivo a que os casais limitem, por razões económicas, o número de filhos".

As críticas dos bispos estendem-se ainda ao facto de o sistema fiscal "tributarmais gravosamente o cidadão enquanto membro de uma família do que o seriafora dela". Falta uma política que "privilegie o tratamento fiscal dos rendimentosintegrados num agregado familiar" e que incentive as "empresas que desen-volvam uma política de apoio às famílias dos seus trabalhadores, nomeada-mente através de creches, infantários e prestação de cuidados de saúde".

Neste texto, intitulado "A Família, esperança da Igreja e do mundo", os bisposapontam também o desemprego e o trabalho precário como "das mais sériasameaças à família", com frequência responsáveis "pelo endividamento dasfamílias, provocando situações verdadeiramente dramáticas de miséria e dedependência". E criticam ainda a "pouca atenção dada à maternidade".

(...) A instituição está em crise, mesmo se muitas famílias não o estão, admitemos bispos. Os cônjuges recasados devem ser acolhidos pelas estruturas daIgreja, mesmo se os bispos mantêm, também aqui, a posição oficial de recusara comunhão na missa a quem está nessa situação.

António Marujo, Público

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Grande Entrevista

Solidariedade - No momento emque estamos a fazer esta entrevista opaís atravessa uma convulsão políticacom a anunciada partida do Primeiro--Ministro para Bruxelas, onde vai pre-sidir à Comissão Europeia. Como éque analisa este período político?

Dom Manuel Martins - Tenho umapena enorme que o Primeiro-Ministroabandone o país. A meu ver, nestaaltura em que o país está doente, doPM, que tinha criado um esquema, umprograma, que com tanta determi-nação estava a impor ao país, obri-gando-nos a uma montanha de sacrifí-cios, só se esperava que de dia paradia anunciasse uma descompressão.Lamento profundamente que o PMtenha abandonado o país. Apesar detodos os argumentos a favor dadecisão que tomou, não há prestígiopessoal ou prestígio nacional que jus-tifique um abandono nesta altura porparte de Durão Barroso. Oxalá que eume engane mas vamos cair numa de-sordem cujas consequências, nestemomento, não é possível avaliar. Vaiser uma revolução, uma luta pelo po-der que vai causar descontentamen-tos, confrontações e afastamentos. Eutenho muita pena que o PM abandoneo país neste momento. Por outro lado,considero uma deslealdade, não sóque ele deixe a barca, mas tambémque deixe os pescadores que com elelutavam na barca. Ele deixou estagente toda numa situação quaseenvergonhada. Os ministros que bem

ou mal estavam com ele, lutavam comele, que se sujeitavam com ele ao seuprograma, se calhar, muitas vezes nãoconcordando, estavam a sa-crificar-se. De um momentopara o outro ficam dependu-rados. É quase como o em-presário que, sem mais nemporquê, fecha a fábrica e fi-ca tudo na rua.

Solidariedade - Em seuentender a solução menosdramática para o país é aconvocação de eleições le-gislativas antecipadas?

Dom Manuel Martins - Secalhar é o que vai aconte-cer. Eu não queria que fosseassim porque as eleiçõessão sempre uma pertur-bação e vamos ficar para-dos dois ou três meses comum governo de gestão. Paranós que temos estadoquase parados ou então sóa sofrer, pararmos e ficar-mos à espera de eleiçõesnão é o mais aconselhável.Aliás, há ministros que pe-rante a crise começaram adesmarcar compromissosque tinham assumido. Eu não percebonada disso, mas se a sucessão pu-desse acontecer instantaneamente,saindo um e entrando outro eu prefe-ria. Mas alguém que nos desse algu-ma garantia. Ouvi falar de DiasLoureiro. Eu, que me zanguei com ele

quando ele era ministro daAdministração Interna, acho que seriamelhor opção do que a que parece

mais evidente. É uma pessoa quesabe o quer e é determinado. Eupreferia que o problema se resolvessesem perturbações. Mas duvido muito etenho muito medo. A convocação deeleições leva à paralisação do paísdurante quatro meses. E nós estamos

já tão fragilizados, tão doentes, esta-mos em tais condições que nãopodemos sofrer mais.

Solidariedade - Neste contextosocial, económico e político que inter-pretação faz do Euro2004?

Dom Manuel Martins - A gente vê eouve tanta coisa que às vezes até temmedo de dizer o que pensa. Não é omeu caso. Vamos lá ser optimistas: hámuita coisa boa que o Euro trouxe.Mas a mim parece-me que contribuiupara um adormecimento, uma aliena-ção. Nós criámos durante este espaçoum país virtual, um país alienado, quenão tem os pés na terra. Andou toda agente embebedada, embriagada. To-da a gente se alienou das compli-cações, dos problemas, da vidanacional. E há uma pergunta que eufaço muitas vezes... Eu ainda gostavade saber... Nós temos em Portugal 2milhões de portugueses que vivemabaixo do nível de pobreza, quem odiz são os técnicos, não sou eu que osinvento; há 200 mil portugueses quepassam fome, segundo estatísticascredíveis. Agora a tal pergunta: Quemé que encheu o campo de futebol naAlemanha, na final que o Porto ga-nhou? Quem é que lá foi para alémdos deputados? Quem eram os mi-lhares de pessoas portuguesas que láestiveram? Quem é que encheu oscampos de futebol agora durante oEuro? A resposta que está dentro demim é que muita dessa gente que estádesempregada, que anda aí em mani-

A Solidariedade é o novo nome da paz Dom Manuel Martins

Muita gente se refere ainda a DomManuel Martins como "Bispo vermelho".Só quem não conhece o percurso de vidadeste homem de 77 anos, natural de Leçado Balio, é que pode pensar que se tratade uma expressão insultuosa e pejorativa.E "vermelho" é mesmo de comunista.Dom Manuel Martins ri-se do epíteto eexplica porque se trata de um elogio: "Os

marxistas apenas tomaram conta do ter-reno da defesa dos subjugados, explo-rados e oprimidos, da reclamação e lutapela dignidade das pessoas humanas,que secularmente pertencia à Igreja.Sempre que alguém toma consciência queé sua missão voltar a esse campo quenunca devia ter abandonado é designadode comunista. Quando alguém da Igrejatenta recuperar essa parcela fica da cordaqueles que lá estão". Foi o que fez emSetúbal, durante 23 anos, onde foi oprimeiro Bispo. Adoptou e foi adoptado pelacomunidade e tomou como suas as dores eo sofrimento daquele povo. Mário Soares,então primeiro-ministro, acusou-o de inven-tar a fome em Setúbal. Nunca se calou.

Desde 1998 Dom Manuel Martins éBispo Resignatário. Ele prefere substituir adesignação: Afirma-se Bispo "biscateiro".Faz um pouco de tudo. É presidente da

Fundação SPES, no Porto, um centro decultura católica; faz conferências; presidea cerimónias religiosas; faz atendimento,consulta e aconselhamento pastoral; dáapoio aos párocos, mas queixa-se que osolicitam pouco: "não faço enterrosporque, infelizmente, os padres não mepedem"; faz, sobretudo, evangelização àmedida dos tempos que correm.

Todos as manhãs, bem cedo, DomManuel Martins apanha o autocarro ("o 71,o 87 ou o 57") para se deslocar de Leça doBalio até à Fundação SPES, no centro doPorto. Diz que é por causa do trânsito,mas não deve ser alheio ao facto de,assim, poder andar por dentro do povo."Um dia destes no banco de trás do 87 iasentado um cavalheiro de Moreira daMaia. O senhor, que me reconheceu, láganhou coragem para falar comigo edisse-me: Sabe, nunca pensei na minha

vida ter um bispo sentado ao meu lado no

autocarro. Mas eu fico muito triste, sr.

Bispo, com as pessoas que quando o

vêm entrar no autocarro não se levantam

para o cumprimentar. Havia de serengraçado."

Sobre Dom Manuel Martins já seescreveram cinco livros; em Setúbal háuma Escola Secundária com o seunome; tem uma estátua em Almada; temum busto junto ao Mosteiro de Leça doBalio; deu nome a uma rua e a umaalameda em Matosinhos; quando fez 25anos o Expresso escolheu-o como a per-sonalidade da Igreja; é cidadão hono-rário de uma série de câmaras. "Como éque é possível toda esta gente enganar--se tanto a meu respeito? Eu já nem façocaso...".

Nesta entrevista falou das relações comas IPSS. Abertamente, como é seu timbre.

Por V. M. Pinto

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Grande Entrevistafestações a exigir trabalho, faz partedos 2 milhões ou até mesmo dos 200mil das estatísticas que referi. Decerteza que também terá contribuídopara as enchentes nos estádios defutebol. Não sei, eu não me respondo.Isto serve só para reforçar o quepenso: o Euro alienou o país, queanda esquecido, atordoado. Aqui hádias - isto é só um pequeno aparte -recebi uma carta que começavaassim: "Espero que o Neura 2004 nãolhe tenha feito mal." O Neura...é umpouco isso.

Solidariedade - Ligando uma coisa àoutra, fica ainda um pouco maisestranha esta decisão de DurãoBarroso, durante o Euro.

Dom Manuel Martins - Sincera-mente, custa-me muito, muito, muitoaceitar. Há muitos argumentos a favor,inclusivamente que se vai ouvir mais oportuguês nessas instâncias euro-peias. Para a minha sensibilidade eatendendo à situação em que nosencontramos, atendendo ao rumo queele deu àquilo que ele chama de recu-peração da situação económica por-tuguesa, eu acho que nesta altura nãodevia ter ido.

Solidariedade - De facto, estava aanunciar-se uma retoma económica.Imagine que, de repente, o país eraSetúbal e o Dom Manuel Martins era oBispo de Portugal. Haveria razõespara fazer o fazer o que fez na décadade oitenta denunciando a existênciade fome?

Dom Manuel Martins - Quanto aSetúbal não quero pronunciar-me.Está lá um Bispo. Mas se a situaçãofosse igual a minha actuação eraigual, não tenha dúvidas. Eu conside-rava isso como uma exigência naturalda minha missão episcopal. Faz parteda missão episcopal denunciar as situ-ações que agridam a dignidade hu-mana e os direitos fundamentais dapessoa humana.

Solidariedade - Nos últimos anoshouve situações que lhe fizeram lem-brar esses tempos de Setúbal, desig-nadamente o encerramento de fábri-cas e o aumento do desemprego?

Dom Manuel Martins - Com certeza.Em Setúbal era uma situação genera-lizada. Aqui e agora são coisas maisrepartidas. Eu já o tenho escrito - eusei que agora o meu púlpito temmenos ouvintes - tenho escrito ereferido nas minhas intervenções, nasconferências. Nunca deixo de falarneste país que temos. Normalmenteeu começo por ir aos artigos daConstituição. A Igreja tem o dever dedenunciar as situações de injustiça.Aliás, foi este Papa que o lembrou enem sequer era preciso lembrar que àIgreja compete proclamar, em toda aparte, a dignidade da pessoa humana,compete ajudar as pessoas a desco-

brirem a sua dignidade, competedenunciar as situações de injustiçaque agridem a dignidade humana e osvalores humanos. A gente pode per-guntar: "Mas afinal quais são essesdireitos humanos em que a dignidadepode estar a ser ofendida?" A gentepara os denunciar tem que os co-nhecer e eu convido as pessoas aconsultarem a Constituição do artigo24 ao 79. São 55 artigos onde estãoos direitos, liberdades e garantias docidadão. Esses 55 artigos são ver-

dadeiramente evangélicos, são umaleitura actual do Evangelho que cantaa dignidade, o valor, a grandeza e aimportância do Homem. Portanto,sempre que os cidadãos não têmcasa, não têm trabalho, não são con-siderados em plano de igualdade, nãotêm os direitos fundamentais quedizem respeito à educação, nadoença... Sempre que isto não é sis-tematicamente cumprido, vivido, pro-curado, está-se a criar uma situaçãode agressão à dignidade da pessoahumana, aos direitos fundamentais dapessoa humana. Nós temos o deverde o reclamar. Denunciar. Nesta ques-tão de encerramento de fábricas, nós

sabemos à partida que muitas empre-sas não tinham outra solução. Estejogo da concorrência e dos mercadosleva à falência de muitas empresas.Mas há outras que criaram estas situa-ções fraudulentamente e nós temosque chamar atenção para isso.

Solidariedade - Quando diz "nós"está a dizer a Igreja?

Dom Manuel Martins - Sim, a Igrejatem que chamar a atenção para isso.Sem medo. Às vezes temos umareacção de menos apreço, ou até uma

certa repulsa pelas manifestações quese fazem. Sei que muitas são o resul-tado de aproveitamentos políticos. Dequalquer maneira, por detrás daquilo,na maior parte dos casos, há situa-ções de desemprego. E eu nunca meatrevo a julgar um protesto, seja dequem for, sobretudo desses grupos,pelas reacções menos próprias quepossam ter. Procuro meter-me na peledeles. Imagino-me sentado à mesa, ànoite, e a seguir ir deitar-me sob aperspectiva de que amanhã terei quepedir trabalho. Deve ser uma coisadesesperante. O trabalho precário...

Solidariedade - Na sua opinião estegoverno, nessa matéria, tem agravado

a situação de precaridade laboral?Dom Manuel Martins - Eu tenho

uma pena imensa da existência detantos pontos constantes no Códigodo Trabalho... Uma pena imensa. Aminha pena ainda é maior porquequem elabora o Código do Trabalho equem o aponta à população e aomundo do trabalho vem dizer que ébom. Podia aplicar outro discurso secalhar politicamente mais correcto. Dotipo: "A gente sabe que isto não é bommas não há outra maneira...É isto ounada." Nós sabemos que a filosofiaeconómica vai por aí. Hoje, o homem,o trabalhador, não conta para nada.Há muita empresa em que o traba-lhador é um verdadeiro escravo. Háditaduras estabelecidas nas empresasque fazem dos operários e fun-cionários verdadeiros escravos. Nãovale a pena estar a citar nomes masconheço algumas. Hoje são muitopoucos os trabalhadores que têm acerteza que amanhã têm trabalho. Osproblemas que isso levanta! Acomeçar pela insegurança psicológicaque provoca, por exemplo, num casaljovem. Casam, compram uma casa,contam com o dinheiro dos ordenadosdos dois, ordenados baixos, se calharcom trabalho precário. De um momen-to para o outro ficam sem emprego. Edepois? Já viu quantas casas têm oletreiro "vende-se" depois de teremsido habitadas durante algum tempo?Eu acho que é uma situação dramáti-ca. Esta gente não pode sonhar, nãopode ter filhos, estes casais nãopodem passear, têm que renunciar atudo. Muitos não casam, optam pelasuniões de facto, retardam o casamen-to. Tudo anda envolvido. Sempre quesei de algum caso e posso ajudar nãoconsigo ficar de fora.

Solidariedade - Neste governo PSD-CDS/PP o rosto das grandes transfor-mações em matéria social é o ministroBagão Félix, um homem assumida-mente católico...

Dom Manuel Martins - Eu não que-ria ir por aí... Continuo a julgar que eleé um católico assumido, consciente,bem intencionado e julga que faz omelhor. Só recordo este pormenor. Éum julgamento político... Tenho pena...Ele era presidente da ComissãoNacional de Justiça e Paz e nós quasetodas as semanas recebíamos comu-nicados dele por coisas destas queeram praticadas por outros governos.Coisas destas ou até menos impor-tantes. A vida é difícil... Como dizia oCavaco e dizem outros... A vida políti-ca é tremenda. As pessoas vão comas melhores das intenções e ficamlogo cerceadas pelos interesses detantos e de tantos que estão à voltadas células do poder. Ouço dizer, porexemplo, e já não é de agora, que oMinistério da Educação é dos mi-

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Grande Entrevistanistérios menos livres, que aquilo estátudo minado. Às vezes as coisas nemchegam ao ministro.

Solidariedade - Quais são os pioresaspectos do Código do Trabalho?

Dom Manuel Martins - Sãomuitos...Tem matéria de sobra parapreocupação. No que diz respeito àshoras extraordinárias, das oito às dezda noite ainda é considerado temponormal? E a flexibilidade? O novo es-quema de horários? E o trabalho noc-turno? E a deslocalização obrigatóriados trabalhadores até 40 quilómetrosda sua residência? O aumento doscontratos a prazo, a precaridade dotrabalho? Eu nem me atrevo, des-graçadamente, a dizer que nestas cir-cunstâncias não fosse preciso.Infelizmente tem que ser assim. Masnão é preciso defender a bondadedestas medidas. Era necessário dizerque estas situações são fruto de umafilosofia económica neo-liberal, quefunciona como uma religião funda-mentalista que cada vez se vai impormais. Eu, às vezes, comparo o sis-tema económico que estamos a vivere a criar a uma pirâmide, um bolo denoivos. A pirâmide vai-se afunilando.Vamos imaginar que está a meio. Háuma dúzia de figurões que mandamnisto tudo, mas o cone vai apertandoe, quando tal, ficam lá só... os noivos.Tem que haver uma solução. Qual-quer dia há uma revolução das basespara que venha tudo à normalidade.Quando as pessoas começarem adescobrir, por inteiro, que são gente,com direitos e deveres, isto não se vaiaguentar. A história está cheia destasrevoltas. E tudo por causa destareligião neo-liberal, o capitalismo sel-vagem. É por isso que o Papa diz queé preciso desenvolvimento, para quehaja produção e distribuição, etc..Mas, que esta filosofia seja marcadapela solidariedade. Já não é o desen-volvimento que é o novo nome da paz.O novo nome da paz é a soli-dariedade. Que o homem venha parao seu lugar, ele é o centro do mundo.

Solidariedade - Acha que estamosem tempo de menor solidariedade?

Dom Manuel Martins - Há muitosgestos solidários a todos os níveis, depessoas e instituições. Essas Ong's,essa gente que vai para as missõestrabalhar, pessoas que suspendemcursos e até carreiras para se dedi-carem a causas. É fantástico. Agora, asolidariedade ser considerada comoum valor, um elemento constante nafilosofia da vida, isso é que falta.

Solidariedade - O papel das Ins-tituições de Solidariedade Social écada vez mais importante no tipo desociedade que estamos a viver e aconstruir?

Dom Manuel Martins - Com aevolução deste modelo de sociedade

mal disposta, individualista, sem refe-rências, sem valores, sem alma, estasInstituições irão ser cada vez maisnecessárias. Era o que o Papa PauloVI dizia. A cada desdobramento, acada passo da história, aparecerãonovos pobres. Com todo este desen-volvimento, com o acesso das pes-soas à cidade ou às periferias, com aspessoas a viverem nos andares, a

deixaram os pais, a deixarem os filhospara, ele e ela, irem trabalhar. Quantomais se vai desenvolvendo a socie-dade marcada pela técnica mais friovai ficando o mundo e, por con-seguinte, mais solitárias vão ficandoas pessoas. Nesse contexto haverámaior necessidade de estruturassolidárias para acompanhar estagente. Não sei se feliz ou infelizmenteas Instituições vão ter que crescer edesempenhar papéis cada vez maisimportantes.

DÃO-ME MUITO DINHEIRO PARA EU AJUDAR PESSOAS

Solidariedade - Sabemos que con-tinua a receber muitas cartas e aenviarem-lhe muito dinheiro.

Dom Manuel Martins - Dão-memuito dinheiro. É verdade.

Solidariedade - Espontaneamente?Dom Manuel Martins - Sim, claro.

Eu não vou pedir a ninguém. Dão-memilhares de contos.

Solidariedade - Milhares de contos?Porquê?

Dom Manuel Martins - Milhares decontos. Chegam em cheques nas car-

tas que me mandam. Muitas vezesacompanhados por informação a justi-ficar o gesto. "Olhe, eu quero dar poristo ou por aquilo...." O pensamento éeste: Há muitas pessoas que não têmconfiança nas Instituições ou enti-dades a quem dão. Daí que quandocriam a certeza moral de que sederem a este ele entrega... Não ima-gina os milhares de contos que têmpassado pela minha mão. Já houveum ano que foram mesmo muitos mi-lhares porque de uma só pessoa, umanónimo, foram 30 mil.

Solidariedade - E o Sr. Bispo nor-malmente sabe quem são essas pes-soas ou não?

Dom Manuel Martins - Podia infor-mar-me. São cheques e trazem infor-mação. Tenho um senhor que me dá

habitualmente umas quantias avul-tadas, eu não sei quem é, mas assina,claro. Manda-me a cartinha com ocheque e escreve "por favor não meagradeça porque este dinheiro não émeu." Ora isto pode significar uma deduas coisas: ou é dinheiro que lhedão, coisa em que não acreditoporque se trata de uma pessoa refor-mada; ou pode significar que aqueledinheiro que lhe sobra não é dele édoutro que precisa mais do que ele.Esta é a doutrina que nós defen-demos. Eu quando tenho dinheiro deque não necessito ele sobra. Se juntode mim está alguém a passar fome ouprecisa para uma necessidade qual-quer, como pagar a renda de casa,comprar alguma coisa, esse dinheiroque me cresce não é meu. Eu sou sóum administrador. Eu não ganhonada. Graças a Deus está à vista quenasci pobre, vivo pobre e mesmo quequisesse viver rico eu não podiaporque eu não tenho. Fui bispo 23anos e nunca ganhei um tostão. Nãodigo isto para me vangloriar. É umasituação normal de Bispo. A minhareforma é de 42 contos por mês etenho uma ajuda da Diocese que mevai permitindo equilibrar a minha vida.Eu digo sempre às pessoas a quemajudo: por favor não me agradeçanada porque este dinheiro não é meu,é dinheiro que me dão para eu dar.Tenho ajudado alguns casais e tenta-do ajudar a resolver algumas situa-ções que chegam ao meu conheci-mento. Houve um casal de cegos aquem dei 5 mil contos por causa deum problema de casa. Eu não dei,apenas fiz circular o dinheiro que pas-sou pelas minhas mãos. Tenho coisasmuito lindas mas não vou contar.Casos incríveis de pessoas que sedesfazem de bens e valores queestavam a guardar e chegam à con-clusão de que, afinal, não precisamdeles. Olham para o lado e acabampor ver tanta gente que passa fome,tanta gente que tem necessidadesprimárias. Não conto nada porqueessas pessoas estão vivas. Há gestosque até me comovem e envergonham.Como é possível que haja gentecapaz de nos dar este exemplo!

Solidariedade - Deve ter imensoscasos para contar...

D. Manuel Martins - Nunca guardeinada... Uma vez recebi uma carta deum padre que estava com uns refu-giados de Moçambique no Malawi.Esse padre escreveu-me e dizia:"você que se bate por tantas causasnunca se lembrou de um milhão derefugiados de Moçambique que estãoaqui no Malawi, sujeitos a todas asnecessidades, a passar a fome”.Passei a ideia dessa carta e foi uminstante. Algum tempo depois fui aoMalawi levar trinta e tal mil contos.

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Actualidade

Sistema Privado de Pensões em vigor no próximo anoA partir de Janeiro de 2005 os tra-

balhadores com menos de 35 anos ede 10 anos de descontos podem vir ater a possibilidade de optarem portransferir parte das contribuiçõespara um sistema privado de pen-sões. O ministro da SegurançaSocial e do Trabalho apresentou asnovas regras do sistema comple-mentar de segurança social que,entre outras medidas, abre essa pos-sibilidade.

Os trabalhadores têm que ter umordenado mensal entre seis e dezSalários Mínimos Nacionais ou seja,entre 2.193 e 3.656 euros. O ministroBagão Félix apresentou aos jornalis-tas apenas parte da regulamentaçãodo sistema complementar de segu-rança social, pois o decreto-lei sóserá divulgado depois do ConselhoNacional da Segurança Social dar oseu parecer sobre a matéria.

O conceito está definido na Lei deBases da Segurança Social deDezembro de 2002, embora a ideiajá estivesse na anterior Lei de Bases

de 2000. A regulamentação do sis-tema complementar de segurançasocial estabelece, para os trabal-hadores que podem optar, que ape-nas seja descontado para a entidadeprivada dois terços da taxa social

única (a parte que corresponde àcobertura das pensões). O trabal-hador continuará a descontar umterço da Taxa Social Única para asegurança social, o que correspondeà parte que cobre as restantesprestações sociais (subsídio dedoença, de desemprego, abono defamília e outras).

O novo sistema é de contribuiçãodefinida e gerido em regime de capi-talização, assegura a igualdade detratamento fiscal e garante os dire-itos adquiridos e em formação.

Segundo as previsões de BagãoFélix, em 2005, apenas devem aderircerca de 10 por cento dos trabal-hadores (2.000 pessoas). O ministroadmitiu que de início a segurançasocial vai perder receitas, mas poste-riormente vai poupar dinheiro naspensões de reforma. As previsões doGoverno são de que o equilíbrio dascontas seja conseguido em 2035 eque em 2047 o sistema público reg-iste um excedente.

Este anúncio provocou de imediatoa reacção das centrais sindicais. A

CGTP critica o facto dos trabal-hadores verem a sua protecção navelhice, invalidez e sobrevivênciaenfraquecida, pois o sistema propos-to é de contribuição definida e não deprestação definida. "As pessoas vãoser lesadas porque descontam partedo salário para fora do sistema desegurança social, mas nunca sabemquanto é que vão receber na alturada reforma", explicou Maria doCarmo Tavares. "Quem vai bater pal-mas a este novo sistema são asseguradoras e os grandes gruposfinanceiros".

De acordo com a regulamentação,o desconto parcial para um sistemaprivado de pensões passa a ser obri-gatório para quem ganhe acima de10 Salários Mínimos Nacionais. "ACGTP denuncia esta medida destru-idora do sistema público de segu-rança social, em benefício do sectorprivado, e está disposta a tudo fazerpara derrotar esta proposta tão lesivapara a protecção social dos trabal-hadores", referiu a CGTP em comu-nicado.

A Organização Mundial de Saúdepromoveu um estudo pioneiro queevidencia serem os acidentesresponsáveis por mais de 75 milmortes de crianças e adolescentesaté aos 19 anos, por ano, na Europa.

Publicado na revista Lancet o estu-do intitulado "Peso da doença e aci-dentes atribuídos a factores ambien-tais nas crianças e adolescentes da

Europa", indica ainda que, em cadaano, morrem 100 mil crianças e ado-lescentes até aos 19 anos naEuropa, quer devido à poluição do ar,quer pela utilização de água im-própria e contaminação por chumbo.

Nas conclusões do trabalho, reali-zado pelo Instituto de Higiene eEpidemiologia da Universidade deUdine e pelo Instituto Burlo Garofalo

para a Saúde Infantil, em Trieste, éreferido que nos 51 países da regiãoeuropeia, os problemas ambientaissão também responsáveis pelaperda anual de seis milhões de anosde vida saudável nas crianças e ado-lescentes. Os ferimentos provocadospor acidentes de trânsito, quedas,afogamento, envenenamento, violên-cia e guerra representam 22,6 porcento das causas de morte entre osjovens com idades entre os 15 e os19 anos.

Já a poluição do ar e o envenena-mento por chumbo (devido à sua uti-lização como combustível) são osprincipais responsáveis pela mortede crianças entre os zero e os quatroanos, matando, respectivamente,cerca de 13 mil e dez mil crianças. Oconsumo de água imprópria e a faltade saneamento básico são tambémfactores negativos na saúde infantil,sendo responsáveis pela morte de13 mil crianças até aos 14 anos, emcada ano.

Acidentes matam 75 mil crianças por anoEUROPA

O jornal das IPSSO jornal das IPSS

Para todas as IPSS

Queremos divulgar as vossasiniciativas,

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Opinião

Inquietude?...Vamos a isso!

Por Padre José Maia

Por interpelação do Ministro BagãoFélix, que confessou em entrevista aoSOLIDARIEDADE, fazer parte da suapedagogia política e governativa"semear inquietude" nas IPSS, aquiestou, como representante e militantede uma dessas mais de 4 mil Ins-tituições, a aceitar este desafio, atra-vés desta coluna mensal.

Após o gravíssimo problema do"abandono escolar" aqui trazido nacoluna anterior e que constitui"inquietude" tanto para as famílias,como para a escola, as instituiçõesde solidariedade e do próprio gover-no, proponho agora o "escandalosonegócio dos medicamentos" paratema da nossa mútua inquietude!

Está ainda por desvendar o mistérioque permitiu, durante tanto tempo,que em Portugal não existissem oschamados "genéricos", sendo, tantoos doentes como o próprio Estado,obrigados a pagar medicamentospela "marca" quando o poderiamfazer pelo "princípio activo", a preçosmuito mais económicos!

O actual Governo marcou pontos aoavançar com a pressão possível quetem conduzido a uma progressivaexpansão dos "genéricos", tendo sidojá atingida uma média aproximada de6%, ainda muito baixa em relação aoutros países europeus.

Tudo isto passa por um triângulo deinteresses cruzados, nem semprecoincidentes com os interesses dequem está doente.

São os médicos a prescrever (ounão prescrever), os laboratórios aproduzir (ou não produzir) e as far-mácias a comercializar (ou não com-ercializar) medicamentos pelo princí-pio activo semelhante, que poderãoviabilizar ou inviabilizar uma novapolítica do medicamento!

É claro que existem riscos! A ten-tação do "mais barato" pode conduzirà administração do menos eficaz,com riscos para a saúde de quemprecisa do medicamento como dopão para a boca.

Porém... temos de conceder aosprofissionais que actuam neste mer-

cado

cado um voto de confiança na suatécnica, ética profissional e cons-ciência solidária!

E se os "genéricos" poderão aliviara "bolsa" de muitas pessoas maispobres e sobretudo quem estádependente de certas medicações,ainda é muito grande o esforço finan-ceiro para quem gasta em remédios,por mês, cerca de metade da suaparca reforma, apesar da compartici-pação do Estado.

Admito que o senhor MinistroBagão Félix nos queira inquietar coma forma como às vezes os idososque se acolhem nas IPSS são trata-dos.

Talvez nem sempre lhes sejamgarantidos o acolhimento humano eos serviços sociais a que têm direitonos equipamentos sociais que lhesservem de verdadeira família alterna-tiva! Há sempre muito a melhorar.

Aliás, muita comunicação social, àsvezes tendo como preciosas aliadascertas "fugas de informação" daInspecção-Geral de Segurança So-cial tem-se encarregado de mostrar o"lado negro" do que às vezes estámal (e às vezes está mesmo mal e épreciso mudar!).

E que tal, se o Ministro Bagão Félix,em articulação com o Ministro deSaúde, se batesse pela activaçãodas "farmácias hospitalares" abertasà comunidade, onde pessoas pro-vadamente carenciadas, sobretudoidosos e pessoas com doenças cróni-cas e sem recursos financeiros, pos-sam adquirir a sua medicação apreços sociais?!

É possível. Basta vontade política!Conhecida a costela reformista do

Ministro da Segurança Social e doTrabalho, sobram-nos razões paraacreditar que será pessoa capaz deaceitar esta "partilha de inquietudes".

A sugestão aqui fica. Vamos a isso!

[email protected]

Aos confins da serra, vindos lá dos lados da Covilhã, chegou aquela estra-nha família.

De então para cá a povoação não falava de outra coisa.Apesar das idades das 6 crianças (a mais velha ia já em 12 anos), nunca

nenhum deles frequentara a escola.O mais novo, com quase um ano de idade, nem sequer estava registado.Dizia-se mesmo que nenhuma das crianças tinha sido vacinada.O chão da casa, atapetado com alguns cobertores, servia de quarto para

todos.Nenhum deles comia carne, não porque faltasse o dinheiro, mas porque os

pais afirmavam com evidente paixão que a carne era “a fonte de toda a dege-neração humana”.

Durante o dia ele trabalhava nas obras. Fazia qualquer serviço e bem feito.A mulher ficava a tomar conta dos filhos.

As crianças quase não falavam com ninguém e pareciam até que nem eramcapazes de falar.

Mas, o mais estranho de tudo era mesmo a conversa dos pais dessas crian-ças. Ah ... as conversas, de vida e de morte, de Deus e do Papa (a quematribuíam todos os males do mundo), de poder e ambição.

Era certo que quase ninguém os entendia mas todos reconheciam que elesfalavam bem.

Porém, naquele dia, chegaram os funcionários do tribunal, acompanhadosda GNR da vila e de duas senhoras da Segurança Social. Traziam uns man-dados para levarem as crianças para uma instituição.

Dizia-se na sentença que aquelas crianças estavam em perigo, devido àinsanidade mental dos pais.

Estranhamente, os pais não protestaram nem deitaram fora uma única lágri-ma, apesar do desespero das crianças que clamavam pelo seu auxílioenquanto a custo eram obrigadas a entrar dentro do jipe.

Em voz baixa, os pais limitavam-se a sussurrar que era tudo uma questão depoder, tudo uma questão de poder...

* Juiz do Tribunal de Família e Menores de Coimbra

Vidas na Justiça

A novafamíliaPor Paulo Eduardo Correia*

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Opinião

Ao iniciar o tema que me proponhofocar este mês é importante fazer umabreve comparação entre a constitu-ição dos EUA e a constituição dospaíses europeus, membros da EU (25países) e também a constituiçãocomum a todos os Estados Membrosque ainda se encontra em debate.

Existe uma diferença muito singularque ilustra a diferença de atitude entreamericanos e europeus em váriosaspectos.

A constituição dos EUA refere basi-camente o que os cidadãos, empresase instituições NÃO devem fazer tendo,por isso, subjacente o primado daliberdade total.

A constituição europeia, referindobasicamente os direitos e deveres doscidadãos, empresas e instituições,tem subjacente o primado da igual-dade, aliás no seguimento dos trêselementos fundamentais da Revo-lução Francesa: Liberdade, Igualdadee Fraternidade.

Esta diferença é fundamental e decerto modo explica todas as difer-enças nas relações de trabalho, naprodutividade do trabalho, no em-preendedorismo, no domínio que osEUA exercem a nível global. Nóseuropeus costumamos dizer: Eles tra-balham mais e melhor que nós? Podeser…, mas nós temos e queremoscontinuar a manter o nosso ModeloSocial Europeu, em que predominamos direitos de protecção e da coesãoeconómica e social e do dever de soli-dariedade entre gerações.

Passo a citar o conteúdo do textoemitido em Maio passado, página 14,

pelo Comité Económico e SocialEuropeu, sobre o Modelo Social Eu-ropeu.

Início da citação:

"A maioria dos cidadãos europeusaspira a uma modelo europeu desociedade que seja tipificado pela lutacontra a pobreza e exclusão social eum melhor uso do potencial dasregiões menos desenvolvidas. O Mo-delo Social Europeu e a EconomiaSocial de Mercado permanecem oselementos centrais na organizaçãoeconómica e social da União Euro-peia.

Ao promover a participação de todosos actores no processo de decisãoeconómica e social, este dispositivoserve e é o meio eficaz de poderemavançar os princípios da solidariedadee da inclusão social entre os cidadãosda U.E.

Decisivamente, o Modelo Social Eu-ropeu é o principal enquadramentopara a luta contra a pobreza e ex-clusão social nos Estados-Membros.Quaisquer tentativas para alterar radi-calmente estes dispositivos corremsérios riscos de deteriorar a política decoesão e sobrecarregar as acções deoutros fundos estruturais da EU.

Ao mesmo tempo, é importante queos elementos do Modelo SocialEuropeu continuem a balizar a activi-dade nos mercados de trabalhoeuropeus através do encorajamentode uma 'cultura de empresa' que énecessária para servir de carburanteao processo de crescimento económi-co. O emprego e o investimento públi-co e privado permanecem como aarma mais eficaz de combate à ex-clusão social e pobreza, especial-mente entre os grupos da sociedadeque tradicionalmente enfrentam maio-res dificuldades em encontrar em-prego, particularmente as mulheres,os jovens, os desempregados delonga duração e outros grupos desfa-vorecidos e marginalizados. As políti-cas do mercado de trabalho na EUdevem continuar a desenvolver, deuma maneira consistente, umavibrante economia baseada no merca-do e com capacidade de responderaos desafios da intensa competição

internacional.Portanto, é importante que, onde for

necessário, continue a reforma depráticas no mercado de trabalho eu-ropeu, onde estas contribuam para acriação de elevados níveis de em-prego e adicionem substância paraatingir o objectivo da coesão económi-ca e social. Finalmente, estas acçõesestruturais na EU permitirão concen-trar totalmente os apoios nas regiõesque mais deles necessitem. Estavisão é consistente com as conclu-sões do Conselho Europeu de Lisboa,em Março de 2000, em que os gover-nos europeus se comprometeram emmodernizar o Modelo Social Europeu".

Fim de citação.

Ao referir, na citação anterior, anecessidade da modernização e apro-fundamento do Modelo Social Eu-ropeu, não se pode deixar de referir osperigos, que já são presentes, para asua manutenção no futuro e quederivam da perda de competitividadeda Europa no mercado global emrelação aos EUA, agravados aindapelas reestruturações industriais edeslocações de empresas multina-cionais para o exterior da UniãoEuropeia, que conduzem ao aumentodo desemprego e perda de actividadeeconómica em várias regiões euro-peias, até há pouco tempo comíndices elevados de poder de comprae de coesão económica e social.

A globalização trouxe consigo con-sequências positivas: promoveu maiorabertura nas sociedades, o incremen-to da economia de mercado, encora-jando também uma maior circulaçãode bens, capitais, conhecimento epessoas, aumento das trocas comer-ciais, do investimento estrangeiro e dariqueza mundial. No entanto, as con-sequências positivas não foram paratodos, dado que a redução ao nívelmundial das barreiras comerciais, aexistência de dumping social e fiscalem várias regiões do mundo vieramcriar um impacto preocupante na vidados trabalhadores na Europa e nasustentabilidade financeira dos sis-temas de protecção social.

O recente alargamento da EU para25 países é uma oportunidade que a

Europa tem para conseguir reorgani-zar a cadeia de valor no seu interior efomentar a procura interna dos seus460 milhões de cidadãos, com políti-cas macro-económicas orientadaspara o crescimento e emprego, refor-mas económicas (mercado, produtointerno, laboral e serviços) para elevaro seu potencial de crescimento e forta-lecimento da sustentabilidade doModelo Social Europeu.

Paralelamente, é necessário umgrande esforço na melhoria da edu-cação e motivação dos cidadãos paraa aprendizagem ao longo da vida einvestimentos em inovação, investi-gação e desenvolvimento das infra--estruturas.

Para o conseguir é crucial procurarser muito mais eficaz, através de umamelhor coordenação na aplicação dasvárias políticas e instrumentos exis-tentes na União Europeia. O princípioda Subsidiaridade transfere para osEstados Membros a responsabilidadede implementar essas políticas einstrumentos. Neste aspecto, Portugaltem sido mau aluno, existe um grandeatraso do nosso país, na introduçãodestas políticas. Verdade se diga quenão estamos sós nesta ineficácia, masnós, atendendo à nossa dimensão elocalização periférica, temos de sermuito mais eficazes e melhores doque os nossos parceiros para con-seguirmos manter o nosso desenvolvi-mento.

* Economista. Representante da CNIS noComité Económico e Social Europeu

O Modelo Social EuropeuPor José Leirião*

Ao iniciar o temaque me proponhofocar este mês éimportante fazeruma breve com-paração entre aconstituição dosEUA e a constitui-

ção dos países europeus, membrosda EU (25 países) e também a cons-tituição comum a todos os EstadosMembros que ainda se encontra emdebate.

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Opinião

Do apetite para a municipalização das IPSSPor Henrique Rodrigues*

Depois, quero ainda agradecer oconvite para colaborar neste jornalcom regularidade, nele deixando algu-mas impressões sobre o que me vaina alma. (Ainda pensei se devia es-crever alma, conceito que se me afi-gurava fracturante, mas depois deouvir o Bloco de Esquerda, na euforiada vitória eleitoral nas europeias, falarnela, figuro que estarei caucionado.)

Vou, pois, mensalmente deixar aquiuma coluna, umas notas, sobre ascoisas como as vejo cá do Porto.(Bem sei que a afirmação portuensecomo lugar de observação e modo deprodução do discurso é hoje vista comreservas por alguns poderes instituí-dos na área politica, que a levam àconta de bairrismo depressivo eprimário. Mas foi jeito que me ficou depequeno, e não me apetece mudar.)

Por falar em poderes, vamos aotema: cá pelo Porto tem sido muitodiscutida a mudança da Adminis-tração do Hospital S. João, que os jor-nais levam à conta de a recém-demiti-da administração não se prestar aostermos de um negócio que a anterioradministração celebrara com umaempresa privada para esta construirnos terrenos públicos do Hospital umparque de estacionamento, um hotel eum centro comercial privado - e, evi-dentemente, ganhar dinheiro comisso.

Esta colocação no mercado, pelosserviços públicos, de bens públicos,para negócios privados é, aliás, recei-ta da moda - neste, como em anterio-res governos.

Percebo pouco de doutrinas eco-

nómicas, mas parece que essa priva-tização sem medida é uma das mar-cas do chamado neo-liberalismo -que, ao que deduzo do discurso doseconomistas, se distingue do liberalis-mo antigo porque neste os capitalistas- empreendedores, como hoje se diz -investiam e arriscavam o dinheirodeles; e no neo-liberalismo arriscam onosso.

E a moda vai tão a galope que embreve já não será uma ironia a pre-visão que há uns anos fazia osaudoso Dr. Victor Cunha Rego - quenão tardaria a vez de privatizar oscemitérios. (Aliás, no Iraque e emGuantanamo, como há pouco soube-mos, os norte-americanos já entre-garam a empresas privadas de segu-rança - como aquelas que temos nasnossas discotecas - os interrogatóriosdos arguidos; já os privatizaram.Pelas notícias sobre o modo comoesses interrogatórios eram efectua-dos, não estamos longe doscemitérios).

Ora, percebe-se mal, nesta euforiaprivatizadora, o que deu a algumasboas almas que pretendem munici-palizar - isto é, colocar na esfera públi-ca - a gestão, a coordenação e o exer-

cício da acção social. É que não setrata só de virar do avesso a tradiçãodemocrática que, em Portugal, con-sagrou as I.P.S.S. como instância depromoção do desenvolvimento sociale de melhoria das condições de vidados cidadãos mais vulneráveis.

Trata-se igualmente de uma posiçãoao arrepio dos princípios organi-zadores das políticas públicas aosmais diversos domínios no nossopaís. Bem sei que o poder autárquicoé uma vaca sagrada, pouco amiga dacrítica e pouco sujeita a ela. Masninguém ignora o peso que os autar-cas têm, por exemplo, no controlo dascomissões concelhias dos grandespartidos - isto é, no chamado "apare-lho" -, mantendo como reféns dosseus interesses os governos e aspolíticas.

É mais frequente que o desejável -todos conhecemos exemplos - osautarcas controlarem, para além daCâmara respectiva, o jornal da terra, arádio local, os bombeiros, o clube defutebol.

Vamos deixar as I.P.S.S. fora desseapetite.

* Presidente da Direcção do CentroSocial de Ermesinde

A CNIS pretende promover o desen-volvimento de "condições operacio-nais das suas associadas, particular-

mente no âmbito da gestão dos res-pectivos equipamentos sócio-educa-tivos."

A TRIVALOR é uma sociedade "hol-ding" de um grupo de empresas queassume uma posição de liderançanacional no âmbito da prestação deserviços, designadamente nos ticketssociais com a Ticket Restaurant dePortugal - Sociedade Emissora deTítulos de Refeição, S.A.; na restaura-ção social com a Itau - InstitutoTécnico de Alimentação Humana,S.A.; na limpeza com a Iberlim -Sociedade Técnica de Limpezas, S.A.;na segurança com a Strong - ServiçosOperacionais de Protecção e Se-gurança Privada, S.A.; na exploraçãode máquinas de venda automáticacom a Supersnack - Máquinas de

Venda Automática, S.A.; na gestãodocumental com a Papiro - Empresade Gestão de Arquivo, S.A.; e no ca-baz de produtos de primeira necessi-dade com a Sogenave - SociedadeGeral de Abastecimentos à Nave-gação e Indústria Hoteleira, S.A..

No âmbito deste Protocolo, assinadoem Junho de 2004, a CNIS facilitaráos contactos individuais ou colectivosque as empresas da TRIVALOR pre-tendam desenvolver.

Por seu turno a TRIVALOR compro-mete-se a "acordar com a CNIS umconjunto de acções de formação, nasprincipais áreas de negócio a que sededica e que possam ter interesse pa-ra as suas associadas" e ainda a "es-tabelecer preços preferenciais relati-vamente aos praticados pelo restante

mercado."O Protocolo, válido por um ano e re-

novável automaticamente, foi assina-do pelo Presidente da CNIS, cónegoFrancisco Crespo e pelos adminis-tradores da TRIVALOR Sofia QuintinSilveira e Joaquim Cabaço. Os acor-dos que venham a resultar desteProtocolo serão acompanhado poruma Comissão mista que integrarádois elementos de cada uma daspartes.

Esta iniciativa, sublinha-se, é o reco-nhecimento por parte da CNIS da im-portância de "adopção de medidas ino-vadoras no âmbito da prestação deserviços por parte dos equipamentossócio-educativos das Instituições, re-conhecendo como alternativa válida acontratação dos mesmos ao exterior."

CNIS e Trivalor celebram protocolo de cooperação

Quero, antes demais, saudar a re-organização dasestruturas repre-sentativas das ins-tituições, com acriação da CNIS edas Uniões Distri-

tais; a sua progressiva implantação -ou, como agora se diz, de modoafrancesado, implementação - no ter-ritório nacional; e o renascimento deum órgão de comunicação para forae para dentro, como é o Solidarie-dade, capaz de representar, obrigadoa representar, sempre, o ponto deconvergência das instituições e desaber empunhar as suas bandeiras -não as do Euro 2004, mas as dacidadania.

Notícias da CNIS

A CNIS - Confederação Nacionaldas Instituições de Solidariedade,celebrou com a TRIVALOR - So-ciedade Gestora de ParticipaçõesSociais, S.A., um Protocolo deCooperação que tem por objecti-vo "enquadrar a celebração de a-cordos específicos de coopera-ção entre empresas participadasda TRIVALOR e as instituiçõesassociadas da CNIS, no âmbito deaquisição no exterior de serviçosintegrados na respectiva estrutu-ra de produção."

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Reflexões

Uma nova cultura do voluntariadoPara as pessoas, excluir e incluir

faz parte de um duplo movimentovital. Por um lado, para se afirmarcomo alguém diferente dos outros e,por outro, por não poder viver semeles. É por isso que a história dahumanidade pode ser interpretada apartir desta dialéctica que dificilmen-te pode ser objecto de uma síntese,porque os dois extremos absolutossão teoricamente quase inconcebí-veis, o paraíso inclusivo ou o totalaniquilamento, e praticamente irreali-záveis e até certo ponto indesejá-veis. No entanto, isso não impede deconstatar que tenha havido tentati-vas sistemáticas para os materiali-zar.

O que aqui interessa é destacar asmotivações dos que se situam entreos dois extremos, tentando construiruma atitude mais inclusiva e uma so-ciedade menos excludente. Isso tal-vez permita ajudar a compreender ointrincado mundo das estratégias.

Se todas as culturas e civilizaçõestiveram e têm tendências para a suaprópria afirmação e mesmo para anegação dos outros, em todas elastambém se levantaram e levantamvozes e consciências que iam e vãocontra os excessos ou simplesmentecontra as derivações negativas queafectavam a vida humana, a sua dig-nidade, o sofrimento e humilhaçõesque provocavam. Daí que a matrizmais originária das motivações paralutar contra a exclusão seja um certosentido de implicação partilhada norespeito pelos outros e da sua vidaque poderia sintetizar-se na frase:“não faças aos outros o que nãoqueres que te façam a ti”, ou namáxima kantiana "actua individual-mente como se o teu comportamentose pudesse converter numa regrageral". Este respeito e implicaçõesmútuas podem ter raízes filosóficas,religiosas, políticas, sociais e cultu-rais, podendo adoptar expressõesque vão da fraternidade à solida-riedade, da compaixão ao amor, daresponsabilidade ao altruísmo, etc.

A caridade, a assistência, afilantropia, têm sido e são grandesmotores nos comportamentos indivi-duais de ajuda nas situações de po-breza e de exclusão. De facto, assuas raízes perdem-se no tempo e

atravessam mares e continentes. Epode-se afirmar, sem muito risco,que nos últimos trinta anos, se assis-te a um ressurgimento e a uma novadinâmica das múltiplas formas que ovoluntariado individual tem adoptado,cada vez mais consciente de que osproblemas da pobreza e da exclusãosão também mundiais, não se con-tentando com uma actividade limita-

da ao âmbito local, empregando oseu tempo, as suas capacidades e oseu dinheiro em ajuda da fragilidade,natural ou provocada, e da segre-gação à escala internacional. O cres-cimento de redes, organizações,plataformas, federações, cuja voca-ção é não ter fronteiras, tem vindo aser bastante considerável nos últi-mos tempos. Citá-las a todas seriaquase impossível e despropositado.

Em simultâneo com esta crescentedimensão internacional, muitos estu-dos destacam as alterações signi-ficativas que foram sentidas nasmotivações individuais e colectivasdo voluntariado.

Mesmo enfrentando o risco de umcerto simplismo, pode-se dizer que,muitas vezes, as motivações do vo-luntariado de há uns anos atrásencontravam a sua razão de ser nu-ma fidelidade religiosa ou de umaclasse. Em qualquer dos casos aforça provinha da crença numa futu-ra salvação, mais espiritual nuns emais terrena noutros, mas sempre

com a mesma projecção. Era precisoajudar e este dever dirigia-se aosmais inválidos ou os menos cons-cientes. O objectivo era atenuar osefeitos materiais ou ideológicos maisnegativos e, por isso, relativamentemarginais do sistema. A caridade in-dividual, a beneficência, a reparação,a indulgência, ou ainda a dedicação,a generosidade, o compromisso ou amoralização dos costumes eram asexpressões mais utilizadas para ex-plicar ou justificar algumas inter-venções vividas como exemplares,embora frequentemente pouco quali-ficadas. Geralmente, as organiza-ções estavam fechadas sobre si pró-prias, repetiam internamente osmodelos imperantes em termos deverticalidade, hierarquia, adesão eopacidade económica. Raramente seintroduziam critérios empresariais deprogramação, acompanhamento eavaliação. A política e a economiaeram outros mundos com tendênciaa serem ignorados e até mesmo des-prezados. As relações com o sectorpúblico eram esporádicas, de mútuadesconfiança e por vezes baseadasem termos de concorrência e atémesmo de antagonismo.

É evidente que nem todas as pes-soas, nem todas as organizações,nem todos os países partilhavameste tipo de comportamento. Algunsdestes comportamentos ainda con-tinuam presentes, mas ocorreramalgumas alterações em direcção aoutras características que vão con-formando uma nova cultura do volun-tariado na Europa ocidental e foradela.

As motivações menos cristalizadas,ideologicamente mais pragmáticas,rompem com as antigas polariza-ções: laico/religioso, espiritual/terre-no, conservador/progressista. Sãomais pontuais e específicas, inclusi-ve no processo de adesão e perma-nência nas organizações. A soli-dariedade, a paz, a tolerância, o di-reito à diferença e até o prazer e aamizade são as expressões quemais se utilizam. A relação com aspessoas excluídas toma outro senti-do. Não se trata de salvá-las, massim do descobrimento conjunto dascausas, de procurar a sua autono-mia, de tentar uma inserção e nãotanto a sua integração. Reivindica-se

o acesso aos direitos e denuncia-sea discriminação, ao mesmo tempoque se criam organizações prestado-ras de serviços, através das quais sepretendem obter resultados concre-tos. Nestas organizações dedicam--se esforços à formação e à capaci-tação e assiste-se a um processoimportante de profissionalização. Onovo estilo interno varia entre aprocura da eficácia, com critériosempresariais, a exigência participati-va e a horizontalidade das decisões.Modifica-se a relação com o mundoempresarial e não se recusa a di-mensão política, embora se descon-fie dos partidos políticos, aumentan-do a consciência da cidadania social.Efectua-se também uma aproxi-mação ao sector público, tentandoencontrar papéis mais ou menoscomplementares e, assim, a preser-vação dos bens públicos e colectivos(meio ambiente, património cultural,protecção civil, a paz, ...) deixa deser património exclusivo de uns ououtros. Em geral, as organizaçõesvoluntárias tendem a quebrar o seuisolamento, a sua desagregação,unindo-se com outras, constituindofederações, foros, redes e platafor-mas, que encontram a sua força noâmbito local, mas com uma pro-jecção cada vez maior à escala inter-nacional.

Texto extraído do site do Centro Infor-mático de Aprendizagem e de Recursos pa-ra a Inclusão Social (CIARIS).

Este e outros textos de grande interessepara todos os que se preocupam com estaproblemática, encontram-se disponíveis noendereço http://ciaris.ilo.org/

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Julho 2004

Vida associativa

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A Associação “Novos Rostos…Novos Desafios” é uma InstituiçãoParticular de Solidariedade Social deâmbito Nacional, sem fins lucrativos.Os horizontes desta IPSS estão volta-dos para a participação na resoluçãode questões sociais, educativas, desaúde e culturais da população, espe-cialmente das crianças, adolescentese, sobretudo, no que se refere a toxi-codependentes e sem-abrigo.

O Instituto da Droga e da Toxi-codependência (Ministério da Saúde),certificou o Projecto de Equipa de Rua“Cidade Segura”, tendo em vista aRede Primária Nacional de Reduçãode Riscos e Minimização de Danos.Este projecto encontra-se em fun-cionamento desde 17 de Julho de2003.

A associação pretende abranger,mediante um contacto directo e con-tinuado, a população sem-abrigo e to-xicodependente e as prostitutas dediversas freguesias da Cidade de Lis-boa, nomeadamente aqueles quehabitam em prédios e veículos aban-donados. Contribui-se, desta forma,para a redução de riscos associadosao consumo de drogas, mediante oprograma “Diz Não a Uma Seringa em

2.ª Mão”, para a informação e sensi-bilização tendo em vista a adopção decomportamentos alternativos e ras-treio de saúde, como também se pro-cede a um trabalho de motivação paraa mudança de vida e integração emprogramas de reabilitação, através dodevido encaminhamento e acompa-nhamento para instituições ade-quadas.

Conscientes do estado limite deexclusão social desta população e dasdificuldades inerentes à sua reinte-gração na comunidade, os respon-sáveis desta IPSS consideram essen-cial um trabalho coordenado e rigo-roso entre as diferentes instituiçõesligadas a esta problemática, para quese possam maximizar as respostasexistentes.

Em consequência, estabeleceramparcerias de funcionamento com aCâmara Municipal de Lisboa, integran-do o Plano Municipal de Prevenção eInclusão de Toxicodependentes eSem-Abrigo; com o Governo Civil deLisboa, Centros de Saúde, Centro deDiagnóstico Pneumológico, labora-tórios de análises clínicas, Unidadesde Desabituação, Comunidades Tera-

pêuticas e outras instituições. Estasparcerias cingem-se única e exclusi-vamente ao apoio técnico, não existin-do qualquer apoio financeiro por partedas entidades parceiras.

Numa segunda vertente, o projectovisa ainda alertar e sensibilizar acomunidade em geral para a prob-lemática associada ao abandono dasviaturas e os riscos inerentes para asaúde pública, ao mesmo tempo queprocedem à remoção das mesmas.Para que este trabalho seja eficazestabeleceu-se uma parceria fun-cional com a Polícia de SegurançaPública, Polícia Municipal, EMEL eACP.

“Com este projecto pretendemos daruma nova esperança a quem já não atem, isto para além de ajudarmos atornar a cidade de Lisboa um localmais aprazível para todos nós” - afir-ma a Dra. Bárbara Ramos Dias, presi-dente da instituição, acrescentando:“Dispomos de uma Unidade Móvel,uma carrinha que possibilita a nossadeslocação pela Cidade de Lisboa e otransporte dos utentes para centros detratamento, unidades de saúde e deapoio social, bem como para efectuar

o levantamento e respectiva identifi-cação dos veículos abandonados”.

No seguimento do "Cidade Segura",surgiu entretanto um novo Projecto -Rostos e Máscaras . Trata-se de umgabinete de apoio a prostitutas e toxi-codependentes infectados ou não pe-lo VIH. Funciona no espaço da antigaJunta de Freguesia de S. Paulo. “Temcomo objectivo principal criar umaresposta integrada e global a difer-entes níveis: preventivo, Psicológico,Social, Jurídico e de Saúde, respon-dendo a inúmeras solicitações quenos chegaram por parte de prostitutase de toxicodependentes” - esclareceBárbara Dias.

Novos Rostos... Novos Desafios

Sede: Avenida Gago Coutinho, Lt. 2 – 11º D – 2775-197 Parede

Telefone 214 572 260 Fax 214 572 260

Vodafone 918 216 801 TMN 969 351 164 Optimus 933 203 652

E-mail: [email protected]

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Propriedade: CNIS (Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade) Rua Oliveira Monteiro, 356 ; 4050-439 PortoTelefone: 22 606 59 32 Fax: 22 600 17 74 e-mail: [email protected] Director: Padre Francisco CrespoRedacção: V. M. Pinto; D. Pedro Alves, Rodrigo Ferreira Colaboradores: António Pinto, Evelyne Crespelle, Padre José Maia, Pedro Miguel Ferrão, Sérgio Gomes. Paginação: Media Z Impressão: Unipress - R. Anselmo Braancamp, 220 - Granja 4410-359 Arcozelo - GaiaTiragem: 5.000 exemplares Depósito Legal n.º 11753/86, ICS -111333

Ficha técnica

Vida associativa

O Grupo de Amigos de Avós eNetos da freguesia de Lapas éuma Instituição Particular deSolidariedade Social sem finslucrativos. Fundada a 8 de De-zembro de 2000, tem comofinalidade apoiar e assistir apopulação de Lapas (TorresNovas) nas múltiplas compo-nentes de solidariedade social.

A instituição oferece váriasvalências à comunidade: ATL,Centro de Dia, Centro deConvívio, Apoio Domiciliário.Presta ainda ajuda à popu-lação no âmbito do ProgramaAlimentar, Rendimento Socialde Inserção e Banco deRoupa.

Os Avós e Netos promovem,com regularidade, actividades

de natureza pedagógica e lúdica, des-pertando grande interesse junto dosidosos e das crianças. Segundo osresponsáveis da instituição, tais activi-dades pretendem fomentar o convíviointer-geracional, para além de man-terem vivas as tradições, valores esaberes culturais da região.

Ginástica, trabalhos manuais,culinária, sessões cinematográficas epequenos passeios integram o atelierde animação dedicado aos idosos.Estes beneficiam ainda das comemo-rações das datas festivas, como oNatal, Páscoa e Carnaval. O intercâm-bio de idosos é outra iniciativa levadaa cabo pelos Avós e Netos.

O atelier de animação para criançase jovens compreende actividades si-milares às que são desenvolvidaspara os idosos. Promovem-se activi-

dades várias para ocupar o tempolivre das crianças, realizam-se acçõesde esclarecimento para debater pro-blemáticas inerentes à criança e à fa-mília.

O Campo de Férias 2004 é iniciativaque tem despertado grande interesse.

A equipa técnica dos Avós e Netos,constituída pela Dra. Susana Rodri-gues e pela Dra. Clarisse Casalinho,tem promovido, na instituição, acçõessócio-educativas com os pais, sensibi-lizando-os para alguns dos problemasque as crianças enfrentam actual-mente. Estas acções têm sido desen-volvidas em colaboração com oCentro Comunitário O Rosto.

Por último, de referir que já seencontram abertas as inscrições paraas valências de ATL e de Apoio Domi-ciliário.

Avós e Netos em são convívio

A Comissão de Protecção deCrianças e Jovens de Braga considera"imprescindível" que as políticassociais para a infância e juventudesejam alteradas. Esta reivindicaçãofoi feita em meados de Junho, durantea apresentação da avaliação final doprojecto de Mediação Escolar, que serevelou um sucesso na prevenção doabandono do sistema de ensino.

Segundo noticia o Diário do Minho, apresidente da estrutura bracarenserealçou a necessidade do Governodar uma "atenção maior às famíliasdisfuncionais que, por força dessasdisfunções, tantas vezes maltratam osseus filhos".

Maria de Fátima Soeiro denunciou ofacto das Comissões de Protecção deCrianças e Jovens lutarem com faltade meios, quer humanos, quer logísti-cos, para levar a bom porto processosde promoção e protecção.

"São cada vez mais os casos sina-

lizados e cada vez menos os meios deque dispomos", lamentou.

O primeiro ano do projecto deMediação Escolar envolveu cerca de4.500 alunos, cinco por cento dos quaissinalizados como estando em risco deabandonar o sistema de ensino.

Destes, 4% mantiveram-se na esco-la e 1% dos jovens foram encami-nhados para a Comissão de Pro-tecção de Crianças e Jovens, por setratar de casos de maus tratos gravesou de abandono escolar efectivo.

O tipo de problemáticas mais fre-quentes em todos os estabelecimen-tos de ensino foi o insucesso, o absen-tismo ou abandono e problemas decomportamento. A responsável pelacomissão bracarense refere que,nestes casos, houve uma melhoria naordem dos 70%, devido ao atendimen-to precoce.

Para além do trabalho específico nassituações de risco, foram desenvolvi-

das acções a montante, aonível do grupo/turma, quese traduziram na promo-ção de competências soci-ais, auto-estima, comu-nicação, estilos de vidasaudáveis, entre outrosvalores positivos.

O projecto permitiu tam-bém traçar o perfil dasvárias perspectivas doabandono escolar. Nos alunos, verifi-ca-se insucesso repetido, desmoti-vação e problemas de comportamen-to, falta de ambição, baixa auto-esti-ma, abuso de substâncias e atracçãopelo mundo do trabalho.

Já as famílias apresentam umestatuto sócio-económico e culturalbaixo, irresponsabilidade e desinte-resse pela escola, nível de instruçãoreduzido, disfuncionalidade, não en-volvimento com a escola.

Por seu turno, a escola tem um ele-

vado número de alunos por turma,horários sobrecarregados, inexistên-cia de currículos alternativos, incom-patibilidade entre horários escolares etransportes públicos, e falta de com-preensão de alguns professores.

A falta de exigência de diploma porparte de alguns empregadores, afraca rede de transportes e a ausênciade relacionamento entre a escola e asempresas circundantes são factoresde ordem social determinantes noabandono do sistema de ensino.

Em Braga exige-se alteração das políticas sociais para a infância

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Addis Abeba acaba de anunciar o lançamento de um programa de dis-tribuição gratuita de medicamentos contra a Sida. Este programa terá aduração de cinco anos, abrangendo cerca de 200 mil pessoas.

De acordo com o ministro da Saúde da Etiópia, Kabede Tadesse, parte dosfundos mobilizados para esta acção foram disponibilizados pelos EUA.

Entre outras medidas, a Etiópia vai importar neverapina, uma substânciaque reduz os riscos de transmissão do vírus da Sida de mãe para filho.

A Fechar

Portugal vai contribuir com 250 mil euros de ajuda humanitária para Darfur, noSudão, em resposta ao apelo feito pela Organização das Nações Unidas(ONU) sobre a crise humanitária que ocorre nesta região.

O anúncio foi feito numa reunião de dadores que teve lugar recentemente emGenebra.

A situação em Darfur é considerada a maior catástrofe humanitária dos últi-mos anos, resultando, entre outras causas, de longos anos de conflito. A guer-ra tem obrigado à concentração de dezenas de milhares de pessoas em cam-pos de refugiados que enfrentam gravescarências, nomeadamente ao nível alimentar.

A elevada incidência de doenças infecto-contagiosas, associada aos ataques dasmilícias armadas, veio agravar ainda mais as condições humanitárias naquela região.,

O Governo Português expressou "a sua solidariedade para com as populações víti-mas deste conflito armado”, tendo manifestado "empenho no apoio aos esforços deestabilização na região".

Em 2003 mais de 110 mil sudaneses da região de Darfur procuraram abrigo na zonaocidental do Chade, ali vivendo em condições infra-humanas.

Portugal doa 250 mil euros Ajuda humanitária para o Sudão

Poluição mata 3 milhões de crianças

A Organização Mundial deSaúde (OMS) advertiu, na últi-ma semana de Junho, que acontaminação do ar e água, eoutros perigos ambientais rela-cionados, matam anualmenteem todo o mundo mais de trêsmilhões de crianças commenos de cinco anos.

10% da população do mundocorres-ponde a crianças

menores de cinco anos, grupo que sofre 40% das doenças relacionadas com omeio ambiente, devido em parte à ingestão de maior quantidade de substânciasnocivas em proporção ao seu peso corporal e em parte a terem menos meiospara proteger-se.

A industrialização, o crescimento da população urbana, as mudanças climáti-cas, a utilização crescente de produtos químicos e a degradação do meio ambi-ente expõem as crianças a riscos que à algumas décadas seriam impensáveis,considera a OMS.

As ameaças mais letais continuam a ser, no entanto, a água insalubre, a faltade saneamento, o paludismo e a contaminação do ar em locais fechados.

Em Cabo Verde decorre um inquéri-to tendo em vista recolher dados paraa elaboração da primeira Carta Socialdo país. Esta acção conta com finan-ciamento português, no valor total de73 mil euros.

43 inquiridores e seis supervisoresprocedem ao levantamento dos equi-pamentos e serviços sociais existen-tes no arquipélago, dados que o go-verno cabo-verdiano promete usar namelhoria da gestão das estruturassociais do país.

Primeira Carta Social

Julho 2004

Computadores perdidos e achados

No Brasil, as instituições de ensino de todo opaís vão começar a receber os equipamentos deinformática declarados perdidos em decisãoadministrativa pelo Ministério da Fazenda(Finanças).

A medida está prevista no Projecto de Lei 653/03,da autoria do deputado Luciano Zica (PT-SP),aprovado pela Comissão de Finanças e Tributação.

O texto legal determina que os materiais escolares e os equipamentos deinformática compatíveis com a actividade escolar declarados abandonadosou perdidos sejam entregues ao Ministério da Educação, que ficará respon-sável pela distribuição às instituições de ensino.

Os índices de gravidez na adolescênciacresceram 150% nas duas últimas décadas, noBrasil. Uma entre cada cinco jovens de 15 a 19anos já tiveram um filho, descontando-se, natu-ralmente, as jovens que praticaram aborto.

Segundo o Ministério da Saúde brasileiro, em1999 registaram-se 700.000 partos. De cadacinco, um era de adolescente com menos de 19anos.

Cabo Verde

Etiópia distribui retro-virais

Bras i l

Cresce gravidez na adolescência