solidariedade – n.º 62 – junho 2004

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Junho 2004 2.ª Série N.º 62 Mensal Padre Francisco Crespo Director No encerramento do seminário A família face à exclusão, o Presidente da CNIS lembrou não estarem as soluções pa- ra os momentosos pro- blemas invocados, to- dos "do lado de lá do Estado": "Nós também temos uma quota parte de responsabilidade, a mudança passa por ca- da um de nós". E vontade não falta, segundo o Padre Fran- cisco Crespo. Mas não é tudo: "Ainda há dias, em conversa com o Sr. Mi- nistro, o avisei - Cuida- do! Se este governo não se volta para o social, é capaz de perder as pró- ximas eleições. Pode haver outras preocupa- ções, como baixar o dé- fice, mas isso já é uma frase feita. No meio disto tudo, quem perde são sempre os pobres". O Presidente da CNIS deixa outro aviso ao go- vernante: “Assinámos um protocolo que nos custou imenso a nego- ciar. Deus nos livre de pensar que assinámos um papel sem que depois aconteça nada". Apesar de se manifes- tar esperançado em "dias melhores", o Padre Cres- po foi categórico: "Se as verbas prometidas não chegarem até Junho, nós temos que fazer ba- rulho. Para evitar mais exclusões, porque nós queremos trabalhar, e já trabalhamos, para a in- clusão...". Na entrevista que pu- blicamos nas páginas centrais, o Presidente da CNIS aprofunda o rela- cionamento mantido com o Ministério da Seguran- ça Social e do Trabalho, abordando também ou- tros assuntos de actuali- dade para o futuro das Instituições. PRESIDENTE DA CNIS EM ENTREVISTA Evgen Bavcar A surpreendente história de um fotógrafo cego Página 16 Em Fátima discutiu-se A fa- mília face à exclusão. A ini- ciativa da CNIS trouxe ao debate um sem-número de desafios que os dias de hoje colocam aos agregados fa- miliares portugueses. Entre as exigências acresci- das e os apoios que faltam, a Família, esse Sítio da Fe- licidade, resiste por vezes com denodo, soçobrando noutras situações, e aqui cada vez com maior fre- quência. Nas páginas interiores da- mos amplo destaque a este encontro. Páginas 3 a 6 Nas Instituições, é tempo de separar o trigo do joio Ânimas intervém com animais de ajuda social Utentes da SCM de Chaves expõem artesanato ADFP pede livros para a sua Biblioteca Itinerante UDIPSS de Santarém aposta na formação Associação de Moradores das Lameiras (Famalicão) comemora 20 anos ao serviço da comunidade Espaço de Opinião José Leirião Manuel Antunes da Lomba Padre José Maia Paulo Eduardo Correia Autorizado pelos CTT a circular em invólucro fechado de plástico. Autorização DEO/415/204004/DCN Preço: 0,50 euros Mensário da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade CNIS

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Versão integral da edição n.º 62 (2.ª Série), do mensário “Solidariedade”, órgão oficial da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNIS). Director: Padre Francisco Crespo. Porto, Portugal, Junho 2004. Não se esqueça de que pode ver o documento em ecrã inteiro, bastando para tal clicar na opção “full” que se encontra no canto inferior direito do ecrã onde visualiza os slides. Também pode descarregar o documento original. Deve clicar em “Download file”. É necessário que se registe primeiro no slideshare. O registo é gratuito. Para além de poderem ser úteis para o público em geral, estes documentos destinam-se a apoio dos alunos que frequentam as unidades curriculares de “Arte e Técnicas de Titular”, “Laboratório de Imprensa I” e “Laboratório de Imprensa II”, leccionadas por Dinis Manuel Alves no Instituto Superior Miguel Torga (www.ismt.pt). Para saber mais sobre a arte e as técnicas de titular na imprensa, assim como sobre a “Intertextualidade”, visite http://www.mediatico.com.pt/manchete/index.htm (necessita de ter instalado o Java Runtime Environment), e www.youtube.com/discover747 Visite outros sítios de Dinis Manuel Alves em www.mediatico.com.pt , www.slideshare.net/dmpa, www.youtube.com/mediapolisxxi, www.youtube.com/fotographarte, www.youtube.com/tiremmedestefilme, www.youtube.com/discover747 , http://www.youtube.com/camarafixa, , http://videos.sapo.pt/lapisazul/playview/2 e em www.mogulus.com/otalcanal Ainda: http://www.mediatico.com.pt/diasdecoimbra/ , http://www.mediatico.com.pt/redor/ , http://www.mediatico.com.pt/fe/ , http://www.mediatico.com.pt/fitas/ , http://www.mediatico.com.pt/redor2/, http://www.mediatico.com.pt/foto/yr2.htm , http://www.mediatico.com.pt/manchete/index.htm , http://www.mediatico.com.pt/foto/index.htm , http://www.mediatico.com.pt/luanda/ , http://www.biblioteca2.fcpages.com/nimas/intro.html

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Page 1: SOLIDARIEDADE – N.º 62 – JUNHO 2004

Junho 20042.ª Série N.º 62Mensal

Padre Francisco CrespoDirector

No encerramento doseminário A família faceà exclusão, o Presidenteda CNIS lembrou nãoestarem as soluções pa-ra os momentosos pro-blemas invocados, to-dos "do lado de lá doEstado": "Nós tambémtemos uma quota partede responsabilidade, amudança passa por ca-da um de nós".

E vontade não falta,segundo o Padre Fran-cisco Crespo. Mas não étudo:

"Ainda há dias, emconversa com o Sr. Mi-nistro, o avisei - Cuida-do! Se este governo nãose volta para o social, écapaz de perder as pró-ximas eleições. Podehaver outras preocupa-ções, como baixar o dé-fice, mas isso já é umafrase feita. No meiodisto tudo, quem perdesão sempre os pobres".

O Presidente da CNIS

deixa outro aviso ao go-vernante: “Assinámosum protocolo que noscustou imenso a nego-ciar. Deus nos livre depensar que assinámosum papel sem que depoisaconteça nada".

Apesar de se manifes-tar esperançado em "diasmelhores", o Padre Cres-po foi categórico: "Se asverbas prometidas nãochegarem até Junho,nós temos que fazer ba-rulho. Para evitar maisexclusões, porque nósqueremos trabalhar, e játrabalhamos, para a in-clusão...".

Na entrevista que pu-blicamos nas páginascentrais, o Presidenteda CNIS aprofunda o rela-cionamento mantido como Ministério da Seguran-ça Social e do Trabalho,abordando também ou-tros assuntos de actuali-dade para o futuro dasInstituições.

PRESIDENTE DA CNIS EM ENTREVISTA

Evgen Bavcar

A surpreendente históriade um fotógrafo cego

Página 16

Em Fátima discutiu-se A fa-mília face à exclusão. A ini-ciativa da CNIS trouxe aodebate um sem-número dedesafios que os dias de hojecolocam aos agregados fa-miliares portugueses.Entre as exigências acresci-das e os apoios que faltam,a Família, esse Sítio da Fe-licidade, resiste por vezescom denodo, soçobrandonoutras situações, e aquicada vez com maior fre-quência.Nas páginas interiores da-mos amplo destaque a esteencontro.

Páginas 3 a 6

Nas Instituições, é tempo de separaro trigo do joio

Ânimas intervém com animais de ajuda social Utentes da SCM de Chaves expõem artesanato

ADFP pede livros para a sua Biblioteca Itinerante UDIPSS de Santarém aposta na formação

Associação de Moradores das Lameiras (Famalicão) comemora 20 anos ao serviço da comunidade

Espaço deOpinião

José LeiriãoManuel Antunes da LombaPadre José Maia Paulo Eduardo Correia

Autorizado pelos CTT a circular em invólucro fechado de plástico. Autorização DEO/415/204004/DCN

Preço: 0,50 euros

Mensário da

Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade

CNIS

Page 2: SOLIDARIEDADE – N.º 62 – JUNHO 2004

Em jeito de balanço ao muito quese tem dito e feito no domínio daSolidariedade em Portugal, a CNIS,Confederação Nacional das Institui-ções de Solidariedade, também elasujeito e destinatário de muitastransformações na sua forma de seorganizar para melhor servir a Cau-sa da Solidariedade, em estreita li-gação com as aproximadamente 4mil IPSS que asseguram diaria-mente respostas sociais e de soli-dariedade a mais de meio milhão deportugueses, vem partilhar com osleitores do seu renovado jornalSOLIDARIEDADE algumas infor-mações sobre a forma como está adecorrer o novo ciclo da vida daConfederação, onde a reestrutura-ção da ex-UIPSS se vislumbrou co-mo uma conveniência e urgência,capaz de melhor assegurar o quehoje é uma evidência, a saber: A"territorialização" das políticassociais.

A classe política há muito queclama por uma maior descentraliza-ção do Poder, tendo mesmo sidorealizado um referendo para a re-gionalização, como expressão dedescentralização. O povo não foipor aí!

Entretanto, quem lida com as po-pulações no seu dia-a-dia, aper-cebe-se que há uma grande distân-cia entre a urgência na satisfaçãode muitas necessidades e a lenti-dão na sua resolução, configuradana praga da burocracia.

Se, nalgumas matérias, certosatrasos podem não afectar muitoprocessos em curso, noutras, e,designadamente, no domínio social,a demora pode comprometer vidase famílias inteiras. O desemprego,

situações de doença, de famíliasem ruptura, de crianças abandona-das, solidão de pessoas idosas,deficientes sem retaguarda familiar,são bem a demonstração de casosem que as respostas devam estarmais próximas, razão pela qual aSegurança Social regressou à basedistrital, num sinal inteligente deque percebeu o valor da dimensãolocal das políticas sociais.

É motivo de muita preocupação ademora, por exemplo, na atribuiçãode subsídio de desemprego a pes-soas e famílias que dele dependem,às vezes, para colocar o pão namesa da família!

Em boa hora ( já lá vão uns bonsanos), as IPSS se organizaram emUnião de base nacional, mas semnunca terem prescindido de secre-tariados distritais que acompanhas-sem as associadas no seu percursolocal de busca e serviço de res-postas sociais adequadas e à di-mensão de cada comunidade.

Com o evoluir da cooperação en-tre a então UIPSS e o Estado, en-tendeu-se que, sem se perder a o-portunidade de manter uma Estru-tura de diálogo e negociação com oPoder Político na concepção e con-figuração de políticas sociais e edu-cativas que possam ser viabilizadaspor Instituições de SolidariedadeSocial, conviria dar autonomia, emprincípio, às associadas de cadadistrito, dando-lhes a possibilidadede se constituírem em Uniões Dis-tritais de IPSS.

Convém continuarmos alerta paranão nos deixarmos descaracterizar,

permitindo que façam de nós aquiloque nós não somos: Uma espéciede extensão das Administrações doEstado que continuam a pensar quesobre nós exercem "tutela" pelofacto de haver uma comparticipaçãofinanceira pública no financiamentodos acordos de cooperação.

À nossa legítima "autonomia" e"identidade" (princípios que todosdevemos preservar) deve corres-ponder por parte do Estado o princí-pio da "confiança" e "boa fé nego-cial".

Se às IPSS compete cumprir comrigor técnico e qualidade os com-promissos assumidos nos acordosde cooperação celebrado com oEstado, como condição essencialpara poder afirmar a sua autono-mia, também o Estado se deveinterrogar se prefere uma coopera-ção na base da "confiança" ouadmite, por via administrativa (atra-vés de circulares internas dos seusServiços), dar mais valor à letra doque ao "espírito" da cooperação,desvirtuando algumas vezes uma eoutro!

O apelo à "inquietude" que o Se-nhor Ministro Bagão Félix nos faz,através da entrevista que concedeuao SOLIDARIEDADE deve passartambém por aqui!

Passados alguns meses sobre aorganização da CNIS e da definiçãodas competências do seu ConselhoDirectivo, negociado que foi o Pro-tocolo de Cooperação para 2004,está agora na prioridade da agendados dirigentes da CNIS, através deum núcleo onde eu mesmo me inte-gro, na qualidade de Presidente--Adjunto, dinamizar e acompanharas UDIPSS de cada distrito, onde

elas se constituírem ou as Dele-gações da CNIS nos distritos ondee enquanto não se constituírem emUniões!

É um novo ciclo em que todos que-remos apostar numa maior respon-sabilização das Uniões Distritais naprossecução dos seus objectivosestatutários e na sua capacidade deinterlocução com as várias Admi-nistrações Regionais do Estado edas próprias Autarquias do seu dis-trito, de forma a, junto de todos es-tes parceiros, por um lado, seremgarantes da autonomia e identidadedas IPSS associadas face ao Es-tado e, por outro, junto das associa-das e das comunidades onde pres-tam acção social e solidariedade,serem instâncias de mobilização nabusca de mais inovação no seu tra-balho social, maior esforço no tra-balho em rede, mais participação naconcepção e operacionalização denovas políticas para novas formasde exclusão e pobreza.

Os ventos sopram no sentido dainovação de políticas sociais e nabusca de renovadas respostas desolidariedade na sociedade por-tuguesa.

Temos de ser dignos da confiançaque o País tem depositado em nós,esperando que continuemos a ter eser consciência social capaz detravar alguns ímpetos liberalóides etecnicistas de alguns servidores doEstado, às vezes mais papistas queo Papa!

O momento grave que o Paísatravessa, a vários níveis, requerde nós a maior unidade e articula-ção na forma de interpretar, conce-ber e organizar o nosso fazersocial.

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Abertura

EditorialPresidente-Adjunto da CNIS

Por Eugénio da Fonseca

Ventos de mudança

A PT Multimédia vai disponibilizar, a títulogratuito, "equipamento de escritórios usado,nomeadamente mobiliário e material infor-mático, proveniente de substituições no uni-verso das respectivas empresas e serviços,para oferta a indicar pela CNIS, de acordocom critérios de adequação e utilidade".

Esta é uma parte do teor do Protocolo assi-nado entre a CNIS, Confederação Nacional

de Instituições de Solidariedade, e a PTMultimédia, S.A., no mês passado.

A PT Multimédia compromete-se, sempreque se justifique, a "enviar à CNIS a relaçãoe características dos bens disponíveis" paraque possa ser feita uma melhor e mais efi-ciente gestão de disponibilidades.

No mesmo Protocolo, assinado pelo presi-dente da CNIS, Padre Francisco Crespo, e o

Presidente da Comissão Executiva da PTMultimédia, engenheiro Zeinal Abedin Maho-med Bava, ficou esclarecido que a PTMaceitará, normalmente, as sugestões daCNIS quanto às instituições que virão a ben-eficiar do equipamento e material informáti-co, podendo, no entanto, recusar se enten-der que "os beneficiários não têm capaci-dade de recolha dos bens nos locais onde

eles venham a ser disponibilizados" O Protocolo entrou em vigor no mês pas-

sado e tem a duração de um ano, renovávelautomaticamente.

Para o Presidente da CNIS, este acordorepresenta um "salto importante para ofuturo", dado que "muitas das instituições abeneficiar não têm capacidade financeirapara se equiparem informaticamente."

Material informático e de escritório fornecido gratuitamente às instituiçõesPT MULTIMÉDIA E CNIS ASSINAM PROTOCOLO

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Actualidade

Não houve unanimidade no diagnós-tico. Quem está mais perto do governo(com ele trabalhando ou colaborando),traçou cenário mais optimista. Quemestá no terreno não vê adubar as 100medidas prometidas pelo actual exe-cutivo. Não se contrapôs centena deriscos, mas elencou-se número bas-tante para nos preocupar a todos.

Falamos do seminário subordinadoao tema "A família face à exclusão",encontro promovido pela CNIS, emFátima, no passado dia 29 de Maio.

A abrir o encontro, o Presidente daCNIS deixava o alerta. Sendo a famíliauma "questão decisiva", o "assunto doséculo XXI", os políticos andarão dis-traídos, descuidando colocá-la no topodas suas prioridades. Ao catálogo de100 medidas anunciadas pelo actualgoverno, o Cónego Francisco Crespochamou-lhe "100 puros desejos" queurge levar à prática "com a maiorurgência possível".

100 COMPROMISSOS, EM VEZ DECEM MEDIDAS

Margarida Neto, Coordenadora Na-cional para os Assuntos da Família(CNAFA), preferiu chamar-lhe "100compromissos", sendo "alguns da res-ponsabilidade do Estado e outros dacomunidade". Pediu ajuda para a im-plementação da centena, alertou paraa necessidade de todos disponibi-lizarmos mais tempo às nossas fa-mílias: "Se é verdade que a família éhoje mais democrática, verificamos

que a disponibilidade émenor, porque não hátempo. E este é umgrande dilema. Não épor acaso que o divór-cio sobe, que o recursoàs drogas disparou denovo, que o abandonoescolar tem aumenta-do" - afirmou Margari-da Neto.

Dulce Rocha (Presi-dente da ComissãoNacional de Protecção

de Crianças e Jovens em Risco -CNPCJR), enfatizou a necessi-dade de se promoverem mais

políticas de inclusão, desiderato compotenciação viabilizadora através daparticipação das IPSS: "Neste capítu-lo, a contribuição das IPSS é muitoimportante. Defendo uma colaboraçãoinstitucional entre as instituições e asComissões de Protecção de Criançase Jovens, cujo número já ronda as 250no nosso país".

"Não há outra via que não seja a dacooperação" - acrescentou a oradora,para quem "em vez de intervirmos pa-ra remediar, devemos intervir por ante-cipação, e sempre promovendo a in-clusão na família": "Procuremos sem-pre a medida de apoio junto da fa-mília" - pediu Dulce Rocha.

Antes de entrar, com profundidadebastante aplaudida, no âmago daquestão em debate, Maria do RosárioCarneiro pregou alfinete na contendadenominatória "100 medidas? - 100Compromissos?": "Pelo que vejo sãointenções. Espero sinceramente queestas intenções não sejam aquelas

que fazem o inferno estar tão cheio!" -ironizou a deputada independente,eleita nas listas do PS.

Para a parlamentar, a família é "o pri-meiro grupo inclusivo, a primeira dasestratégias para a inclusão, o sítio dafelicidade, onde realizamos o nossoprojecto de vida de sermos felizescom outros": "É o sítio da confiança,onde todos nos conhecemos. O sítiodo capital social, o sítio da sustentabi-lidade social".

Maria do Rosário Carneiro lembrouas "alterações fantásticas" que se veri-ficaram no tecido social, nas últimasdécadas. A conquista da igualdade dedireitos entre homens e mulheres sur-ge à cabeça do rol, conquista de sedi-mentação "irreversível", que "nuncapode ser colocada em causa em nomede nada": "A democratização da fa-mília, a paridade entre o homem e amulher na gestão da casa é uma revo-lução notável. Nós é que revelamos,muitas vezes, incapacidade para gerir-mos esta articulação".

“A DENSIDADE HORÁRIATERRÍVEL DAS MULHERES TRABALHADORAS"

Notou a crescente participação dasmulheres no mercado de trabalho, ra-tio de 54,8% para os homens e 42%para o sector feminino. Mulheres com40,7 horas de tempo de trabalho mé-dio, a que há que somar os dispêndiosnos transportes, mais duas horas diá-rias nas tarefas do lar. Tudo somado,às mulheres exigem-se 54,7 horas se-manais de trabalho, cifra pesada se

atentarmos no facto de 93% das mu-lheres que trabalham o fazerem a tem-po inteiro. Há mais dados. Por exem-plo, 68% das mulheres que trabalhamnão interromperam a sua actividadepara dar apoio à família, porque "amaioria das famílias não pode dispen-sar um dos salários". À "densidadehorária terrível", Maria do Rosário Car-neiro anexa as "crescentes dificul-dades económicas das famílias", lem-bra o "meio milhão de desemprega-dos" actualmente existente em Por-tugal.

A este "contexto nacional de empo-brecimento", acresce o facto de 26%das mulheres trabalhadoras terem osfilhos à sua guarda: "Outros 26%estão confiados às redes informais dafamília alargada. Ou seja, temos 52%de crianças à guarda da rede informal,com apenas 33% sob a responsabili-dade da rede formal. Número interes-sante, este!" - pontua a deputada, li-bertando explicação dramática: "Istoacontece porque o recurso à rede for-mal não é acessível à maioria dasfamílias".

No capítulo dos idosos - números in-dexados a famílias trabalhadoras enão ao universo global da populaçãoportuguesa, a exemplo dos anterior-mente carreados -, "2,6% estão emlares, havendo 52,6% a viver com assuas famílias e 44,8% nas suas

A Família dos sem-tempoSEMINÁRIO PROMOVIDO PELA CNIS, EM FÁTIMA

O cartaz do encontro não podia ser mais premonitório. A árvore que metaforizava a Família medrou nos discursos e reflexões da maioria dospalestrantes. Se bem que congregados no desejo de ver florir mais Família, mais famílias felizes, a maioria dos oradores não se coibiu de alertar para amole imensa de pragas que vão corroendo a árvore, extirpando-a do verde viçoso e florido, deixando negros e esqueléticos galhos como herança paraos vindouros.

Margarida Neto (ao centro), ladeada pelo PadreFrancisco Crespo e por Maria do Rosário Carneiro

Dulce Rocha e Padre José Maia

Maria do Rosário Carneiro

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Actualidade

CNIS debate, em Fátima, os perigospróprias casas".

Também aqui, segundo a deputada,"os que estão nas instituições são osque têm maior capacidade económi-ca".

É tendo por base estes dados es-tatísticos que Maria do RosárioCarneiro sustenta estarem, hoje emdia "as famílias mais pobres": "As fa-mílias empobreceram, são pobres.Temos meio milhão de desemprega-dos, e todos sabemos que, sem tra-balho não há construção familiar. Odesemprego é factor de ruptura fami-liar, os maiores índices de violênciafamiliar têm o desemprego na suagénese. Isto para não falar da políticade habitação, que dificulta significati-vamente a progressão das famílias".

Maria do Rosário Carneiro reparte asculpas do actual estado de coisas: "Asfamílias têm culpas, porque perderamcompetências. A comunidade tam-bém, basta olharmos para o facto desermos o país europeu com menoscapital social. E temos a responsabili-dade do Estado, seja a nível das políti-cas universais, seja das compen-satórias".

O negro do lado direito do cartaz vai--se adensando. O diagnóstico serenode Paulo Delgado confere mais crue-za aos ramos vazios, escancarada-mente abandonados pelo verde--Esperança.

O professor universitário lembrouque as crianças a nascer por estestempos, ou nascidas nos últimosanos, têm mais probabilidade que ospais se divorciem do que serem acom-panhadas por um irmão. Alertou paraa necessidade de não nos atermos a-penas às estatísticas oficiais, porexemplo as que medem o número dedivórcios. Há outras cifras negras a ter

em conta: "A ruptura familiar nãopassa apenas pelo divórcio. Lembro oabandono familiar, considerado odivórcio dos pobres".

Não havendo projecções similarespara Portugal, o director do IFCOOP(Instituto de Formação e CooperaçãoInternacional), lançou para o debatenúmeros de um estudo francês,recentemente publicado pelo Le Mon-de. Projecção para 2050 indica queum em cada três franceses terão maisde 60 anos nessa data, e que os ido-sos serão duas vezes mais que osjovens até aos 20 anos.

AUMENTO SIGNIFICATIVO DAS"CRIANÇAS-CHAVEIRO"

Paulo Delgado detalhou leque defactores de risco pairando sobre a fa-mília: o individualismo reinante, "noseu lado mais sombrio"; uma cres-cente "fragilidade do casal" e o conse-quente "aumento de rupturas", a pardo "consumismo" e da "perda de valo-res".

A falta de tempo para a família nãofoi esquecida pelo docente univer-

sitário, constatandoa existência de umnúmero cada vezmais significativo de"crianças-chaveiro":"Refiro-me às cri-anças que saem decasa já com os paisno trabalho, regres-sam da escola paraaquecerem a comidano micro-ondas edepois ligarem a TV.Têm chave de casa,mas vão perdendo

os pais de vista. Muitas vezes vãopara a cama antes dos progenitoresterem regressado do trabalho".

No capítulo específico das famíliascom crianças deficientes, CristinaLouro considerou fundamental que aestes agregados familiares se prestea ajuda necessária, de molde a formaruma identidade própria em tais cri-anças:

"Apostemos num trabalho para aautonomia, em vez da campânula pro-tectora que muitas famílias erguemem torno da criança com deficiência" -pediu a Secretária Nacional para aReabilitação e Integração dasPessoas com Deficiência".

"Se queremos trabalhar para aautonomia, temos que ajudar à habili-tação dos deficientes, ajudar asfamílias a franquear os espaços públi-cos, a enfrentarem os olhares curio-sos que tanto magoam" - sublinhouCristina Louro, lembrando que a ina-daptação ao social é muito complexa,pedindo por isso o esforço de volun-tários que se disponibilizem a visi-tarem regularmente tais famílias, pres-tando-lhes o apoio e o conforto de quetanto carecem.

Joaquina Madeira denunciou os "trêsequívocos" que moldam o percursogeracional dos seres humanos. À faseprévia à produção (infância e juven-tude), associamos sempre a escola. Aetapa da produção surge indissocia-velmente ligada à empresa. Por últi-mo, a fase da pós-produção, do "des-canso e desinvestimento do trabalho",imageticamente lapada ao lar.

"Temos que descontruir este sistematão segmentado, tão sincopado dasidades" - pediu a Vogal do ConselhoDirectivo do Instituto de Solidariedadee Segurança Social (ISSS).

Outro equívoco reside no facto de,quando falamos de utentes dos lares,nos referirmos apenas às suas neces-sidades, "desvalorizando assim assuas capacidades e as suas com-petências próprias".

"O terceiro equívoco traduz-se naideia de massificação induzida pelaexpressão terceira idade. A terceiraidade não tem um carácter identitário,do género um monte de gente queestá ali e não produz. Ser velho não éum defeito, é uma qualidade. A vida éum contínuo de transformações e de

adequação à mudança" - sublinhouJoaquina Madeira, defensora de "umenvelhecer activo", "a forma futuraincontornável de envelhecer".

TERCEIRA IDADE SÓ A PARTIRDOS 75 ANOS

Para fintar as estatísticas, que nosassustam com a chegada da "marécinzenta", o grosso grupo dos cabelosgrisalhos, Joaquina Madeira propõesubir em 15 anos a fasquia que sepa-ra a chamada vida activa da fase emque entramos na terceira idade. Comohoje em dia se trabalha até mais tar-de, como trabalhamos durante maisanos, a Vogal do ISSS defende que aterceira idade comece oficialmenteaos 75 anos: "Dessa forma teremosmuito menos idosos!"

Atendendo às funções que exerce,Joaquina Madeira foi muito interpela-da pelos assistentes, alguns delesnão se coibindo de criticar o desem-penho do actual governo no que con-cerne ao apoio às IPSS. Responden-do às críticas, a oradora sugeriu um"ovo de Colombo", já descoberto eposto em prática pelos espanhóis, nosmais diversos domínios: "Temos quetrabalhar em rede, uns com os outros.Rentabilizar o que temos no local, enão fazermos tudo de costas voltadas.Os nossos recursos são insuficientes,razão pela qual devemos adoptarrespostas colectivas para suprir taiscarências".

A última intervenção esteve a cargode Paula Guimarães, que abordou otema "A Família Cais e a FamíliaGaiola". A Vice-Presidente do Instituto

de Reinserção Socialconsiderou preocupan-te o "processo de de-serção da família en-quanto prestação de a-poio" aos elementosque dele necessitam.

Criticou, com vee-mência, as famílias au-sentes durante meiavida, mas pressurosasem aparecerem na al-tura de herdar o pa-trimónio do ente faleci-do: "Devemos lembrara todos que somos fa-mília sempre!" Críticas também para

aqueles que colocam

Paulo Delgado

Joaquina Madeira trocando impressões com o Dr. EleutérioManuel Alves

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Actualidade

que ameaçam as famílias portuguesasnas mãos do Estado toda a responsa-bilidade no apoio aos idosos: "Choca--me bastante que, quando se encerraum lar, se venha dizer que a respon-sabilidade é toda do Estado e nuncada família. Família que nunca fiscali-zou o serviço prestado pelo lar, quenunca vai buscar as pessoas ao fimde semana ou nas férias, que nuncatratou de fazer as perguntas préviasnecessárias para aquilatar das quali-dades do serviço prestado pela insti-tuição".

CONTRA O SUFOCO DA"FAMÍLIA-GAIOLA"

Para Paula Guimarães, a família nãose deve transformar numa prisão parao idoso, tornando-se num espaço su-focante, numa "família-gaiola". A famí-lia deve ser envolvida nas decisõesque reportam ao futuro e ao bem-estardo idoso, mas respeitando sempre asua autonomia, o seu poder de deci-são. A "família-cais" surge como con-traponto: "Aqui entende-se o idosocomo um elemento útil da família".

Paula Guimarães defendeu a neces-sidade dos poderes públicos legis-larem no sentido da instituição de uma

"licença para apoio no fim de vida":"Não critico a dilatação da licença dematernidade, mas constato que, paranós, a família são só os pais e os fi-lhos. Esquecemo-nos que, para haverpais e filhos, houve uma geração an-tes, também houve avós".

Considerou "triste" não serem dadosincentivos às instituições de acolhi-mento temporário: "Neste quadro, deapoio apenas ao acolhimento perma-nente, estamos a estimular a deser-ção da família!"

A síntese conclusiva dos trabalhosficou a cargo do Prof. Manuel Do-mingos. O Secretário da Direcção daCNIS aproveitou a metáfora da árvorepara lembrar que a mesma simbolizaum contrato de gerações, contrato deresponsabilidades partilhadas portodos os ramos da família, dos maisjovens aos mais idosos.

"Independentemente do conceitoque tenhamos de família, a subsistên-cia e a felicidade da mesma esbarramfrequentemente em dificuldades denatureza económica, também na faltade tempo e de disponibilidade para oacompanhamento dos vários elemen-tos de um agregado familiar" - subli-nhou aquele responsável da CNIS.

Para Manuel Domingos, os escolhoselencados no encontro de Fátima nãosão "mera utopia", antes "problemasreais que urge resolver, nomeada-

mente através de políticas sociais pro-movidas pelo Estado".

"Isto passa, necessariamente, porpolíticas de sustentabilidade económi-ca, facilitando o enquadramento labo-ral, flexibilizando horários - nomeada-mente das mulheres trabalhadoras -,criando também estruturas que permi-tam aliviar e apoiar o núcleo familiar".

A promoção da habitação condigna,a aposta na formação humana, cívicae moral dos cidadãos, uma atençãoespecial às famílias com crianças por-tadoras de deficiência e às famíliasalbergando idosos no seu seio, foramoutras das propostas resultantes des-te encontro. Para que, num próximoseminário, o Verde-Esperança da es-querda do cartaz abafe, com a sua ge-nerosa e acolhedora ramagem, o ne-gro austero e cruel da margem direita.

Manuel Domigos teceu ainda pa-lavras de elogio à organização doevento, a cargo da empresa MargemC.C.E. Lda.

Padre Maia e as “inquietudes” de Bagão FélixEvidenciando a boa disposição que lhe é peculiar, o Padre Maia exibiu, a certa altura, a

todos os presentes, a primeira página do Solidariedade. Em causa estava a manchete donúmero anterior: "Como vêem, o Sr. Ministro diz aqui que quer gerar alguma inquietude nasinstituições. E nós respondemos, dizendo que podemos gerar muita inquietude no nossoministro".

Quando Maria do Rosário Carneiro se referiu à revolução traduzida na conquista da igual-dade de direitos entre homens e mulheres, Padre Maia, na ocasião moderando o debate, ounão ouviu bem, ou fez que não ouviu. A verdade é que pediu à oradora que esclarecesse setinha falado em "revolução" ou em "evolução".

A deputada sublinhou o "r" inicial, perante os sorrisos da assistência, bem lembrada, esta,da recente polémica em torno das comemorações dos 30 anos do 25 de Abril.

Padre Maia que deixou ainda um aviso a Maria do Rosário Carneiro, tudo a propósito dosnúmeros crescentes de homens gozando licença de paternidade:

"Não se esqueça de que, nos bairros sociais, há muitos homens que ficam em casa e mandam as mulheres trabalhar.São um perigo…!".

Generoso no tempo disponibilizado à deputada, cuja prestação classificou de "brilhante", Padre Maia não seguiu omesmo critério com o representante do Governo Civil de Santarém.

O moderador ouviu atentamente as palavras de cortesia do orador, gentil na parabenização da iniciativa. Mas quando oconvidado mudou a rota do discurso e começou a elogiar as medidas de prevenção rodoviária recentemente adoptadaspelo governo, já estão mesmo a adivinhar. O representante do governo teve mesmo que se apressar no discurso, deixan-do a sinistralidade das estradas portuguesas para outros debates…

Os presságios cifrados deMaria do Rosário Carneiro

Maria do Rosário Carneiro deixouno ar uma preocupação, aventada deforma um tanto cifrada. Quando liber-tava números referentes ao tempoexigido às mulheres que trabalhamfora de casa, não se cansou de enfa-tizar, repetidamente e com denodo,que a chegada do sector feminino aomercado de trabalho era, a par de ou-tras conquistas, um processo irrever-sível, sem marcha-atrás. Disse pres-sentir, no ar, algo que teria dificuldadeem aceitar. E por aqui se ficou.Consultando os oráculos do Soli-dariedade, naturalmente falíveis (osoráculos já não são o que eram!),quase arriscávamos que a deputadareceia medidas ou incentivos tenden-tes a fazer regressar, de novo, a mu-lher ao lar, doce lar…

À margem do seminário

Paula Guimarães

Reportagem de D. Pedro Alves

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Actualidade

O ministério da Segurança Social edo Trabalho prepara-se para introduziralgumas alterações ao regime de re-formas antecipadas. "As pessoas com40 anos de carreira contributiva nãoterão qualquer tipo de penalização",independentemente da idade, garan-tiu Bagão Félix depois de mais umareunião de Concertação Social. Quemtiver menos anos de descontos e nãotiver 65 anos, a idade legal de refor-

ma, será penalizado. Actualmente apenalização em vigor é de 4,5 porcento, por ano, para todos aquelesque, tendo 30 anos de contribuições,se aposentem antes dos 65 anos deidade.

Uma das alterações que está a serdiscutida em sede de ConcertaçãoSocial é a actualização dessa taxa depenalização anual. Pelas declaraçõescruzadas entre os sindicatos e o

próprio ministro tudo leva a crer quevenha a ser fixada nos 5 por cento.Bagão Félix já tem argumentado comos números de um estudo feito peloMinistério que tutela, que dá contaque os 5 por cento representam umvalor neutro, sem perdas nem ganhospara a Segurança Social.

O projecto de lei está a ser ultimadoe vai regulamentar situações de refor-ma antecipada, tendo em conta ques-tões relacionadas com o desemprego,profissões de desgaste rápido eralações entre a idade e a carreiracontributiva.

SINDICATOS PREOCUPADOS

Os sindicatos estão preocupadoscom as reformas antecipadas que po-dem esconder algumas fraudes leva-das a cabo por várias empresas.Concretamente aquelas que refor-mam funcionários e depois os con-tratam ilegalmente para fazerem omesmo trabalho, ganhando menos.

O ministro Bagão Félix está tambéma preparar alterações no subsídio dedesemprego. Conforme afirmou aoSolidariedade, a nova legislação "vaifacilitar o acesso das pessoas aosubsídio de desemprego. Agora sãoprecisos descontos de 540 dias nosúltimos dois anos e apenas vão serprecisos descontos de nove meses noúltimo ano. O acesso é maior. Não sevai diminuir o valor, mas o número demeses que se vai receber - que hoje écalculado em função da idade -, vaipassar a ser calculado em função daidade mas também do número deanos de descontos. É uma questão dejustiça. Não pode ser tratada da

mesma maneira uma pessoa que com40 anos teve três anos de descontosde outra que trabalhou 20 anos. Isto éum seguro contributivo. Também temque haver um prémio à contributivi-dade. Vamos reforçar a exigência.Quem recusar uma oferta de empregodo Centro de Emprego para as suashabilitações, na mesma área deresidência, vai perder o direito aosubsídio. Temos que ser mais exi-gentes e mais generosos."

O ministro tem sido criticado pelossindicatos e associações patronais ejá admitiu fazer algumas correcçõesao novo projecto de lei. A distância daresidência a que o desempregadoestá obrigado a aceitar trabalho pro-posto pelos centros de emprego podebaixar dos 40 quilómetros, que es-tavam a ser considerados.

INDEMNIZAÇÕES E DESEMPREGO

O projecto de lei que vai alterar oregime de subsídio de desempregoprevê uma penalização para aquelesque, no âmbito de uma rescisão pormútuo acordo, sejam despedidos erecebam uma indemnização superiora 1,5 salários por cada ano de traba-lho. Ficará abrangido 50 por cento domontante que está acima desse nível,com a penalização a repercutir-se nonúmero de dias de subsídio a que otrabalhador desempregado normal-mente tem direito. Esse excesso serátributado no IRS. Esta dupla tributaçãocamuflada está a ser denunciada pe-los sindicatos, que afirmam tratar-sede uma afronta sobretudo aos traba-lhadores mais antigos.

40 anos de descontos dão reforma por inteiroNOVA LEGISLAÇÃO NA FORJA

Já ouviu falar do Centro de Divul-gação das Tecnologias de Informação(CDTI) Móvel? É um espaço interacti-vo de divulgação das Tecnologias deInformação, que dispõe de 12 compu-tadores, Impressoras, Scaner, Tele-visores, Vídeo e serviços como a In-ternet, Vídeo Conferência e Multimé-dia assistidos por monitores devida-mente habilitados na prestação detodas informações inerentes à apreen-são de conhecimentos na área da

informática.Este projecto, criado pela Fundação

para a Divulgação das Tecnologias deInformação, tem como principais obje-ctivos a divulgação e sensibilizaçãodos jovens para as tecnologias de in-formação, proporcionando um contac-to directo com a nova era digital.

O camião fantástico, como lhe cha-mam os jovens, percorre várias locali-dades do país mediante solicitaçõesde entidades, permanecendo em ex-

posições, feiras e eventos que justi-fiquem a sua presença.

Entre 20 e 22 de Maio esteve naEscola Secundária da Ramada, emOdivelas. Passou depois por Tires,sendo aguardado na Figueira da Fozentre 23 e 26 de Junho.

Já pensou levá-lo até à sua IPSS?Nada mais simples. Contacte a FDTI,através do e-mail [email protected]. Depoisconte-nos a experiência. Vai ver quevaleu a pena.

Camião dos computadores

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Respigos

Arcebispo do Lubangodenuncia violação dosDireitos Humanos

O Arcebispo do Lubango denunciou na Huíla aocupação ilegal de terras em alguns Municípios daprovíncia. Dom Zacarias Camuenho caracterizoude profundas as violações dos direitos humanosnesta vertente.

O prelado fez a denúncia à Rádio Ecclesia numaaltura em que disse estar a receber muitas queixasde camponeses e das comunidades, que estão aperder as suas terras tradicionais. Segundo DomZacarias, uma das razões que concorre para issoé o desconhecimento por parte das populaçõesdos direitos do cidadão.

As declarações do prémio Sakarov 2001 coincidi-ram com notícias de usurpação de terras no Município da Umpata. Segundo aimprensa angolana e organizações não governamentais, centenas de cam-poneses e pastores perderam as suas terras para novos fazendeiros. De acor-do com as mesmas fontes, estes gozam do apoio das autoridades.

O Apostolado (Luanda)

Famílias Portuguesas: entre a crise e a esperança

Portugal viu aumentar o número de famílias residentes nos últimos anos, masas famílias portuguesas estão mais pequenas, com menos filhos, menos casa-mentos e mais divórcios. A média de pessoas por família baixou, nos últimosanos, de 3,1 para 2,8 pessoas.

Estes dados fazem parte da "breve caracterização estatística da família por-tuguesa" que o Instituto Nacional de Estatística (INE) apresentou por ocasiãoDia Internacional da Família, e do X aniversário do Ano Internacional da Famíliainstituído pela ONU em 1994.

Para Margarida Neto, Coordenadora Nacional para os Assuntos da Família,“apesar dos indicadores serem muito negativos em relação à família, e justa-mente por isso, ela é cada vez mais o núcleo que responde às inquietações quea sociedade nos coloca hoje”.

“A sociedade à nossa volta tem de se organizar em torno da família e não ocontrário”.

O INE apresenta ainda alterações nos padrões de nupcialidade, divorcialidadee da fecundidade, bem como o aumento da esperança de vida, com o conse-quente envelhecimento da população portuguesa.

A taxa de nupcialidade diminuiu de 7,2 casamentos por mil habitantes em 1991para 5,7 em 2001 (5,4 em 2002). Paralelamente assistiu-se ao aumento da taxade divorcialidade, cujo valor passou de 1,1 divórcios por mil habitantes em 1991para 1,8 em 2001 (2,7 em 2002).

Para além da redução do número de casamentos assistiu-se, no mesmo perío-do, ao retardar da idade do primeiro casamento (legal), alterando-se de 26,3anos nos homens e de 24,4 anos nas mulheres, em 1991, para os 27,8 anos e26,1 anos, respectivamente, em 2001 (28,0 e 26,4, respectivamente, em 2002).

“A sociedade também não ajuda: ao núcleo estável de pai, mãe e filhos cha-mamos família tradicional, com um teor pejorativo”, acusa Margarida Neto, paraquem a família biparental continua a ser que dá melhores garantias para a cria-ção e educação dos filhos.

Outro dado significativo tem a ver com o aumento da proporção de casais semfilhos, que passou de 29,1% para 43% do total.

Agência Ecclesia

Política SocialA crise económica e as suas consequências em termos de desemprego, situa-

ções de 'stress' e depressão psicológica, tensão e desagregação familiarexigem especial atenção à política social. É nestas circunstâncias que mais sepede que a sua acção seja efectiva e eficaz.

Com a meticulosidade da formiga, a política social desenha-se nos tempos decrescimento para aguentar o embate das crises. Os subsídios de desemprego,doença ou rendimento mínimo constituem meios para a sociedade se defenderda miséria e do desespero. São um factor de estabilidade, um travão à guerracivil nas ruas pelo pão de cada dia. É erro grave se alguém os confundir comoum prémio por ter nascido ou um incentivo a não trabalhar. Ou até como re-compensa de um seguro.Torna-se, por isso, inquietante que seja exactamenteagora que mais se fale de mudar, controlar e modernizar. É verdade que depoisde décadas quase sem nada, as traves de um Estado Social numa EuropaSocial se edificaram nos últimos 30 anos com equívocos, erros e descontrolos.Nada se ganhará,contudo, para além de descofiança e descrédito, se a opçãodos responsáveis das políticas sociais for persistir em pôr tudo em questão oua mudar de sistema informático. É que assim não vai haver política social queaguente a crise.

João Vaz. Director-Adjunto do Correio da Manhã, 15.05.2004

EmpowermentÉ preciso mencionar o que significa viver em situações de extrema exclusão,

onde a opacidade, por vezes, é a condição da sobrevivência, dado que rara-mente ocorrem agregações dentro da desintegração. Ou seja, nestes extremosas pessoas têm muita dificuldade em se agruparem, organizarem e fazeremouvir a sua voz. Isso faz com que hoje se fale cada vez mais de empowerment.Por vezes, estes dados nem chegam a constar das estatísticas oficiais nemdos inquéritos convencionais, porque não questionam os prisioneiros e pri-sioneiras, os camponeses e camponesas isolados, as pessoas idosas depen-dentes e isoladas, os vagabundos, os que sofrem de uma doença crónica, osjovens que andam à deriva.

CIARIS, http://ciaris.ilo.org/

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Publicidade

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Vida Associativa

A Ânimas – Associação Portuguesapara a Intervenção com Animais deAjuda Social -, é uma Associação semfins lucrativos que visa promover a uti-lização de cães de assistência porpessoas com incapacidades, comoseja o caso de indivíduos utilizadoresde cadeiras de rodas e indivíduos sur-dos. Neste sentido desenvolve activi-dades de formação de técnicos, treinode cães e o relacionamento destescom os respectivos utentes com vistaà sua maior independência, integra-ção social e comunitária.

“A nossa associação desenvolveactividades de treino específico decães e de formação de técnicos quefaçam a ligação do utente ao seu ani-mal. Estes cães são cedidos gratuita-mente às pessoas com incapacidadesque necessitem dos seus serviços.Pretende-se, assim, disponibilizar aestas pessoas a posse de um animalque se demonstrou ser de grande utili-dade, não só em termos psicológicose motivacionais no momento de supe-rar uma incapacidade mas, do mesmomodo, no que reporta à reabilitação.As pessoas que possuem um cão deassistência aumentam o seu nível deindependência de forma notável, umavez que esses animais actuam emáreas nas quais o utente está total ouparcialmente incapacitado, como se-jam o abrir portas, recolher objectosdo chão ou de locais inacessíveis,acender luzes, despir certas peças devestuário ou, no caso de indivíduoscom deficiência auditiva, alertar para otoque de uma campainha, para o cho-ro de um recém-nascido, para oalarme de incêndio” – afirmou aoSolidariedade a presidente da institui-ção, Prof. Doutora Liliana de Sousa.

Para esta docente do ICBAS(Instituto de Ciências Biomédicas AbelSalazar), responsável também doDepartamento de Neurocomporta-

portamento do IBMC (Instituto deBiologia Molecular e Celular), o pro-jecto de que lançou mãos em Maio de2002 “pretende promover, à luz do quetem sido realizado com êxito noutrospaíses e já em Portugal, a integraçãosocial e laboral de muitas pessoas,dando um passo no sentido de elimi-nar barreiras e sensibilizar a socieda-de para estes problemas”.

O cão de assistência é treinado du-rante dez a doze meses, sendo maistarde submetido a um período de liga-ção ao seu futuro dono, de acordocom os seus problemas, completandoa formação aproximadamente ao fimde um ano.

As raças mais utilizadas para cãesde assistência são o Labrador Re-triever e o Golden Retriever, pelo seucarácter afável, dócil e agradável. Es-tas raças são mundialmente as maisusadas, quer se trate de cães--guia para cegos, cães para auxiliarindivíduos com deficiência motora oucães no âmbito da Terapia Assistidapor Animais.

Os cães cedidos pela Ânimasentregam-se com coletes, com cader-neta de direitos dos cães de assistên-cia, apólice de seguro de responsabili-dade civil, certificado de treino do cãocredenciado pela associação, boletimde vacinas e de análises ao sangue,

que deverá ser renovado cada 6meses, e que o utente deverá trazerconsigo sempre que se desloque emlocais públicos acompanhado do seucão.

Em todo este processo, a associaçãotem como princípio salvaguardar obem-estar dos animais durante o seuciclo de vida. Para isso cria condiçõesde forma a que, tanto durante o perío-do de desenvolvimento dos cachorros,como durante as diversas fases detreino, e mesmo depois de serem ce-didos aos utentes, os cães sejam tra-tados com todos os cuidados que ne-cessitem, obedecendo a todas asregras de ética referentes ao uso deanimais de trabalho.

Em colaboração com a Escola EB 1da Bajouca, os técnicos de saúde daÂnimas realizaram um programa deintervenção no âmbito da TerapiaAssistida por Animais, com os alunosque mostravam dificuldades de apren-dizagem. Neste programa foram uti-lizados dois cães como intermediáriosentre as crianças e os terapeutas,facilitando a aproximação e a comuni-cação entre ambos. No final do anolectivo, os alunos que participarammostraram mudanças positivas no seudesempenho escolar.

Em Maio de 2002, esta IPSS organi-zou um Seminário com o objectivo desensibilizar os técnicos de saúde e opúblico em geral para a utilidade doscães de assistência. Este evento, rea-lizado em colaboração com a Funda-ción Bocalán, de Madrid, incluiu váriascomunicações proferidas por interve-nientes com vasta experiência, tantono treino de cães como na aplicaçãode programas para pessoas com inca-pacidades.

Os cães são cedidos gratuitamente apessoas de associações que mani-festem necessidade de recorrer aosprestimosos serviços dos animais.

Nem tudo têm sido rosas na vida daassociação. Liliana de Sousa refere asdificuldades com que se vão deparan-do: “As exigências e o rigor que têmde existir para este tipo de trabalholevam a que a Associação, única noPaís e recentemente formada, sedepare com inúmeras dificuldades, es-pecialmente de ordem financeira. AÂnimas, que está a iniciar as suasactividades, confronta-se ainda com afalta de sensibilização e informaçãoda sociedade em geral, o que dificultaa obtenção de ajudas financeiras e,consequentemente, a viabilidade dosobjectivos a que se propõe. Assim,estamos a desenvolver esforços como fim de angariar o maior número pos-sível de apoios que permitam a imple-mentação deste projecto, cuja acçãotem vastos benefícios quotidianos epsico-sociais”.

Intervenção com animais de ajuda socialÂnimas

Scooby ajudando a descalçar os sapatos ao dono

Scooby (cão treinado pela Ânimas),abrindo uma porta

Contactos:Av. Sidónio Pais, 392, r/c Dto.4100-466 PORTOTelefones: 22 606 7600, 91 815 7456 ou 93 321 [email protected]

Cãopanhia do riso e da brincadeira

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Vida Associativa

Mais de meia centena de trabalhosmanuais elaborados pelos idosos doslares e centros de dia da Santa Casada Misericórdia de Chaves estiveramexpostos ao público, no EspaçoADRAT, em Chaves, no passado mêsde Maio. Entre objectos de decoraçãorealizados através do emprego de va-riadíssimos materiais, a imaginaçãodos mais velhos foi posta à prova.

A iniciativa insere-se na componentede animação sócio-cultural de que osidosos dispõem na instituição. Destemodo, ao longo do ano são muitas asactividades que realizam dentro e forados lares. Como lembrou o vice prove-dor da Santa Casa da Misericórdia deChaves, para além da prática de tra-balhos manuais existem outras ver-tentes, "toda a envolvente da ani-mação como a ginástica, exercícios demanutenção, teatro, ou o programa de

rádio traduzem aforma de estar daSanta Casa, se elesentram activos é im-portante mantê-los omais tempo possívelactivos".

Contrariando a i-deia de que teridade é sinónimo desedentarismo, JorgeFernandes acres-centou que "a insti-tuição não tem sópessoas incapacita-das, na maioria são

pessoas totalmente independentes. Éclaro que com o tempo e com a idadepassam a estar um pouco mais limi-tadas, mas isso não as impede derealizar actividades".

A mostra convida os visitantes detodas as idades a apreciarem aquiloque eles sabem e gostam de fazer etambém a desvendarem os segredosdo aproveitamento de alguns mate-riais de uso diário na confecção deobjectos de adorno e não só.

Talentos que pelos vistos ainda sãocapazes de surpreender. Que o digaum dos alunos do segundo ano de umjardim-escola local que ao visitar a ex-posição perguntou a uma das autorasde alguns dos trabalhos expostos"como teve tanta imaginação?". Aresposta foi simples: "criei uma espé-cie de molde, agarrei na agulha e naslinhas e fui fazendo sempre, conforme

o gosto. No final, como gostei, deixeiestar", disse Maria Alves.

Imprimir dinamismo ao dia a dia dosidosos não só através da prática detrabalhos manuais mas também deoutras realizações, constitui umaspecto fundamental na qualidade devida dos utentes.

APROVEITAMENTO DE MATERIAIS

"Combater a solidão mantendo osidosos ocupados e aproveitar a mobili-dade que eles ainda vão tendo da me-lhor maneira, fazendo com que eles sesintam úteis e porque deveras ainda osão" constitui o principal desafio deLuísa Teixeira, técnica de animaçãosócio-cultural da Misericórdia deChaves.

Apesar dos trabalhos dos idosos játerem estado expostos na últimaedição da Feira dos Santos, uma feiraanual que conta com expositoresnacionais e internacionais, mas sob opropósito de venda. Desta vez, a ideiada exposição tem a finalidade de "pro-porcionar à comunidade um contactomais próximo com o dia-a-dia dosutentes", referiu.

O projecto tem para a responsávelpela organização do evento, umaperspectiva muito prática: "pretendia--se trabalhar com materiais de uso fre-quente que são facilmente manuseá-veis, acessíveis em termos económi-cos e, a partir daí, criar formas e tex-turas".

Molas, massa de uso culinário, teci-dos, colas, tintas, esferovite, gesso,ráfia, foram alguns dos materiais uti-lizados no processo de elaboraçãodos trabalhos.

INTERCÂMBIO DE ACTIVIDADES

Para Amélia Perfeito, que no mês deJulho completa cinco anos comoutente daquela instituição, não foi tare-fa difícil fazer as meias e as peúgas delã. "Durante muito tempo teci e fizcamisolas e nunca levei dinheiro aninguém por isso", disse.

E porque não perdeu o engenho e aarte, "se estiver com disposição soucapaz de fazer as meias num dia",acrescentou.

De entre as várias actividades que osidosos desenvolvem ao longo do ano,abrangendo visitas a museus, san-tuários e exposições, intercâmbio deactividades com as crianças, atravésdo conto de histórias, participação emactividades culturais do municípioflaviense, como o desfile de Carnavale a Feira dos Santos são alguns dosexemplos que podem ser vistos pelosvários registos fotográficos espalha-dos pela exposição.

A iniciativa teve ao longo de umasemana muita adesão, o que podeservir de pretexto para aguçar acuriosidade do público mantendo-oexpectante por ver o muito que estesimaginativos artistas ainda têm paramostrar.

PRIMEIRA MOSTRA AO PÚBLICO CONQUISTOU ADEPTOS EM CHAVES

Utentes da Sta. Casa da Misericórdia expõem trabalhos

Tendo consciência de que a toxi-codependência alastra no concelho, aCâmara Municipal de Albergariadecidiu elaborar o Plano Municipal dePrevenção Primária das Toxicodepen-dências, documento que apresentouaos parceiros sociais no passado dia11 de Maio.

Sob o slogan "Intervir por uma gera-ção clean", este plano pretende inter-vir ao nível da prevenção em meioescolar (do pré-escolar ao se-cundário), promovendo estilos de vidasaudáveis, melhorando a qualidade

das relações interpessoais e minimi-zando os factores de risco relaciona-dos com o uso e abuso de substân-cias lícitas e ilícitas.

As linhas gerais de intervenção doPlano Municipal de Prevenção Primá-ria das Toxicodependências assentamem quatro grandes objectivos:

- Aprofundar o conhecimento da rea-lidade concelhia ao nível do fenómenoda toxicodependência, permitindouma melhor análise e avaliação dosfactores de risco e factores de pro-tecção;

- Planear e executar projectos deprevenção primária adequados à rea-lidade concelhia;

- Contribuir para o desenvolvimentointegral da personalidade das crian-ças e jovens, assente em valores quelhes permitam desenvolver a suacapacidade de resiliência;

- Reduzir o número de casos de in-sucesso escolar, abandono escolar,iniciação precoce dos consumos desubstâncias lícitas e ilícitas e de delin-quência.

Definidas as linhas orientadoras,

este projecto será implementado, noterreno, por duas instituições de soli-dariedade social: a Probranca e aAssociação de Solidariedade Socialde Alquerubim (ASSA). A primeiraentidade intervirá nas freguesias daBranca, Ribeira de Fráguas, ValeMaior e Albergaria-a-Velha, abrangen-do um universo de 1 451 alunos. Porseu lado, a ASSA terá sob a suaresponsabilidade as freguesias deAlquerubim, S. João de Loure,Frossos e Angeja, aqui com umgrupo-alvo de 1 520 alunos.

Intervir por uma geração cleanCÂMARA DE ALBERGARIA E IPSS DE MÃOS DADAS CONTRA A DROGA

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Solidariedade – Em entrevista aonosso jornal, o Ministro da SegurançaSocial e do Trabalho, afirma que quergerar alguma inquietude nas institui-ções. Como é que caracteriza asrelações com o Ministério de BagãoFélix?

Cón. Francisco Crespo - Devo dizerque houve altos e baixos. Estivemosmuito tempo sem fazermos umareunião do Pacto de Cooperação paraa Solidariedade Social. O Pacto é uminstrumento, a nível ministerial, quepermite abordar todos os problemasdo país, onde nós estamos represen-tados, a CNIS, com as Mutualidades,com as Misericórdias, com as Au-tarquias, com os Sindicatos e os ser-viços.

Mensalmente costumávamos ter es-sa reunião do Pacto, onde se discuti-am problemas de fundo. Infelizmente,essas reuniões pararam, não sei por-quê. Desde Outubro até Fevereiro nãoobtínhamos qualquer hipótese de res-posta, nem tão pouco para começar-mos a tratar a questão do Protocolo.Anualmente procuramos dialogar como Ministério sobre a avaliação danossa cooperação com o Estado, rela-tivamente às respostas sociais que as

IPSS estão a garantir no país inteiro,daí tirando as consequências pararevisão de tais políticas ou inovaçãoem relação a novas formas de garan-tir a acção social e a solidariedade aosmais carenciados.

Por fim, e depois de bastantepressão, o Senhor Ministro acabou pormarcar duas reuniões que foram ful-crais para começarmos a avançar como Protocolo. Devo dizer que neste anohouve, portanto, um interregno bas-tante prolongado. A partir dessemomento, passou a existir um diálogomais próximo, sobretudo com osserviços técnicos da Direcção-Geralde Acção Social.

Foi trabalhar noite e dia para dar porconcluído o clausulado do Protocolode Cooperação para o ano de 2004.Não sendo o texto desejado, acaboupor ser o clausulado possível, tanto anível dos princípios e regras de coope-ração como dos valores de compartici-pação financeira para o ano em curso.Não posso deixar de referir que o tra-balho negocial da CNIS na elaboraçãodo texto do Protocolo, para além daintervenção sempre importante dosdirigentes, se ficou a dever aos nego-ciadores técnicos da CNIS, pessoas

que merecem junto das equipas nego-ciadoras do Governo de um grandeprestígio e respeito pela sua compe-tência. Trabalhou-se até à última hora.Já na sala nobre do MSST, antesmesmo da assinatura do Protocolo,tornou-se necessário clarificar algunspontos que não repercutiam comodesejávamos aspectos essenciais dasreuniões negociais.

Com a assinatura do Protocolo, eapesar de nos preocuparem algumasinovações introduzidas, sobretudo aonível de algumas obrigações que indi-ciam alguma atitude de menos confi-ança do Estado nas IPSS, há con-dições de mais paz social para a pros-secução do nosso trabalho em benefí-cio das centenas de milhar de pes-soas que diariamente solicitam osnossos serviços de solidariedade.

Solidariedade - Essas dificuldadesnegociais ficam a dever-se a mudan-ças de políticas de cooperação ou têma ver com a personalidade deste Mi-nistro? O facto, por exemplo, deBagão Félix ser um assumido católiconão podia trazer vantagens ao rela-

cionamento com a CNIS?Cón. Francisco Crespo - Penso que

o facto de Bagão Félix se assumircomo católico, praticante - aliás, foipresidente da Comissão de Justiça ePaz -, não contribui nem prejudica arelação com a CNIS. Ele sabe separaras águas. Não mistura o que é políticacom religião. Da nossa parte, e falan-do da minha experiência, não comopresidente mas como vogal e comomembro da antiga direcção da União,devo dizer que, do contacto com ou-tros ministros e outros secretários deestado, por vezes, era mais fácil anegociação... Os tempos eram dife-rentes...

Solidariedade - Reconhece que esteé um Ministro difícil..

Cón. Francisco Crespo - Nós esta-mos a viver num país em crise eandamos todos a contar os cêntimos.Talvez seja por causa disso... Quandolemos as entrevistas, e conhecemosas opiniões dele, sabemos que elevive aquilo que o país está a viver. Éum momento de crise que não aconte-cia há uns anos. As dificuldades nas

negociações espelhamessa crise económica. Nóstemos a haver muito deanos anteriores e dos go-vernos anteriores, porcausa da inflação e do quefoi negociado.

Estas questões foramsalvaguardadas, nos Pro-tocolos de 2002, 2003,para que dentro da medidado possível, este ano jácomeçássemos a recuperaro que estava consignadoem Protocolos anteriores.Temos a expectativa deque no ano de 2005 tudoestará saldado.

Solidariedade - Há alte-rações consideráveis naspolíticas deste governo edeste ministro para aAcção Social?

Cón. Francisco Crespo -Penso que o Ministro Ba-gão Félix segue aquilo queé a política do governo.

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Grande Entrevista

Nas Instituições de Solidariedade, é tempo de separarmos o trigo do joio

Cónego Francisco Crespo, Presidente da CNIS

Onde se sente como peixe na água é no CentroSocial e Paroquial de S. Vicente de Paulo, um oásismesmo no meio do degradado bairro da Serafina, emLisboa. O cónego Francisco Crespo conhece bemtodos os cantos da enorme casa que foi crescendo,à custa de muito trabalho, dedicação e vontade.Foram 27 anos de missão com resultados bem evi-dentes: A instituição tem 150 trabalhadores e mais de700 utentes. "É uma das instituições-piloto a nívelnacional. É onde me sinto realizado no trabalho quefaço, sobretudo como padre. É um bairro extrema-mente complicado, onde existem todos os problemasdos bairros marginais. Quando eu cheguei cá em 1977 a Igreja não tinha sinais. Haviauns barracos. Agora tem um forte testemunho."

Em reconhecimento deste trabalho o Patriarca de Lisboa nomeou-o Cónego. "OCónego é conselheiro do Bispo, está mais relacionado com os problemas da diocese,neste caso o Patriarcado de Lisboa. É uma atitude de serviço. Por mim, gostava de sersempre pároco de aldeia ou do bairro."

Cultiva esta simplicidade e discrição. Por isso, foi com enorme sacrifício que aceitouser Presidente da CNIS, em 2003. Como marca pessoal fica ligado à reforma da estru-tura e à constituição das Uniões Distritais, praticamente concluída. Esta entrevista aoSolidariedade é um balanço a meio do mandato.

“O facto de Bagão Félix se assumir como católico praticantenão contribui nem prejudica a relação com a CNIS”

Por V. M. Pinto

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Uma das grandes reformas que o mi-nistro pretende efectuar é o apoio serdado às famílias e não directamenteàs instituições. É uma das grandeslutas que estamos a travar e é precisodefinir o caminho que é preciso traçar.

No Protocolo que assinámos destavez apenas ficou uma pequenacláusula, uma experiência no que serefere ao apoio domiciliário. Pensoque as instituições e as nossas famí-lias ainda não estão preparadas paraesta mudança assim tão radical. Istonão quer dizer que sejamos contra oua favor. O que precisamos é de saberbem com que linhas nos vamos coser;saber o que é que isso significa; o queé que a isso corresponde.

Se verificarmos que essa mudança éo melhor para que a família se sintaresponsável não sou eu, como Pre-sidente da CNIS, que me oponho a es-sa política. Convém, no entanto, nãoesquecer que as mais de 4 mil institui-ções portuguesas sobrevivem, namaior parte dos casos, dos 70 a 75 porcento do subsídio que vem do Estado.As instituições têm esse acordo comogarantia. Elas têm que ter a certeza deque aquilo que lhes chega ao final domês chega mesmo. Quando se tratadas famílias nós sabemos que muitasvezes elas não cumprem escrupulosa-mente os seus deveres para com ainstituição que as serve. Daí que sejanecessário salvaguardar os interessesdas instituições.

Solidariedade - O Ministro BagãoFélix também tem essa noção...

Cón. Francisco Crespo - Acho quesim. Por isso é que ele vai devagar.Ele próprio tem recomendado paraque se façam pequenas experiências.Penso que por aí estamos bem. Nãofazer uma mudança radical mas irmos,como se costuma dizer, fazer caminhoandando. Em conjunto devemos estu-dar os prós e os contras, o positivo e onegativo, ver o que é que podemosfazer e até onde podemos ir, ensaian-do naquelas valências que sejam maisfáceis.

Solidariedade - Financiamento àsfamílias... As instituições começam apensar nisso? O ministro ainda dizque a procura é maior do que a oferta.Tem também essa ideia?

Cón. Francisco Crespo - Tenho. Nósainda não colocámos o problema defrente, mas tememos que venha aacontecer de um momento para ooutro. Assusta-nos o facto de essasituação não ser bem ponderada eprovocar o caos. A política é positiva, a

família pode e deve escolher a institui-ção que melhor serve os seus interes-ses, provocando uma subida de nívele qualidade das instituições. Temosque estar satisfeitos e orgulharmo-nospor fazermos melhor e mais barato.

O futuro passa pela formação dosdirigentes, pela formação dos técni-cos, qualidade dos serviços, qualidadedos equipamentos e saber aproveitarbem os dinheiros públicos que recebe-mos. Há muitas instituições que têmmedo das inspecções, das fiscaliza-ções e eu penso que quem não devenão teme. Se recebemos dinheirospúblicos temos que nos deixar inspec-cionar. De forma pedagógica, semdúvida, mas sem receios. Há muitagente que não deveria estar neste tipode trabalho social, há muita gente quenão serve mas apenas se serve. Nãotenho nenhum caso concreto mas se-guramente que isso acontece.

Solidariedade - Há boas e más Ins-tituições...

Cón. Francisco Crespo - Claro. Háboas e más instituições, há bons emaus serviços, há bons e maus diri-gentes.

Solidariedade - Este é então umtempo de depuração. Um tempo emque se vai separar o trigo do joio?

Cón. Francisco Crespo - Eu pensoque sim. O governo tem vindo a pas-sar esta ideia e nós concordamos. Eudeixei ao Ministro um guião para asinspecções às instituições. Queremoscriar uma carta de compromisso emque propomos uma inspecção interna.Isto é, uma inspecção a nós próprios.Para nos sentirmos à vontade e per-mitir depois as outras inspecçõesexternas. Está previsto também noProtocolo, é uma novidade de que oministro gostou e mostra que não te-mos medo de reconhecer que, infeliz-mente, nem tudo corre bem naquiloque fazemos e temos que nos reverpermanentemente.

Solidariedade - Refere-se aos re-centes casos de inspecções e algunsencerramentos?

Cón. Francisco Crespo - Nas IPSSnão tem havido problemas. Depois, osdirigentes das instituições alteram oque está mal, na sua grande maioria.Por isso é que defendemos que asinspecções devam ter um carácterpedagógico. Nós precisamos de sabero resultado dessas inspecções. Muitasvezes eles entram por ali sem modosadequados, amedrontam as IPSS edepois nem sequer comunicam osresultados. Tem que haver inspecções

pedagógicas que tenham como con-sequência a preocupação da quali-dade.

“NO RENDIMENTO SOCIAL DEINSERÇÃO HÁ MUITOS VÍCIOSIMPREGNADOS NA NOSSASOCIEDADE”

Solidariedade - O Ministério daSegurança Social e do Trabalho temdado muitos sinais de mudança.Desde logo através da Lei da Bases,do Código de Trabalho e das sucessi-vas tentativas para alterar apoios esubsídios tradicionais, nas acções defiscalização... Até que ponto essessinais influenciam as relações entre asinstituições e os utentes?

Cón. Francisco Crespo - Ainda nãoexistem grandes mudanças. Os dese-jos de alterações são muitos, mas aaplicação à realidade é complicada.No que se refere à nova legislação dotrabalho nós estamos de acordo eavançamos. No que diz respeito àsbaixas fraudulentas eu estou perfeita-mente de acordo com ele e só lhe digoque actue o mais rapidamente possí-vel. No Rendimento Social de Inser-ção há muitos vícios impregnados nanossa sociedade, que me levam apensar que não vai ser fácil. A políticaé boa mas com tanta possibilidade defuga ao fisco, também esta gente, quenão está habituada a trabalhar, ensaiaa fuga ao trabalho. Como diz o dr.Bruto da Costa, numa grande entre-vista sobre a pobreza: há determinadagente que é pobre e há-de ficar sem-pre pobre. Porque não se trata de

pobreza material mas pobreza cultu-ral, mental. Não querem sair dali, aocontrário daqueles que lutam para der-rotarem a sua condição de miséria. Amudança desta atitude não estádirectamente na política. Os políticospodem ser bons, as políticas podemser boas e as leis podem ser justas,mas a formação cultural das pessoasé determinante. Nas grandes perife-rias das nossas grandes cidades oque falta é a formação cultural danossa gente. Há quem se tenha habi-tuado a viver em barracos uma vidainteira e se vê uma porta a cair, tendocapacidade para pregar dois pregos,não o faz. Está à espera que a autar-quia lhe resolva o problema. Isto, eutambém o sinto, aqui no meu própriobairro. Mete-me impressão como éque há tanta gente que não tem capa-cidade para sair daquela situação demiséria cultural. A nível nacional é oque mais me incomoda, a falta de cul-tura. Isso torna-se evidente quando sefala de insucesso escolar e abandonoescolar. A maneira como os adoles-centes, as crianças e os jovens hojese relacionam com a escola. A ligaçãoentre a escola, a família e a instituiçãonão existe. Cada um julga fazer o seudever desligado do outro.

“A REFORMA ESCOLAR EM MARCHA NÃO ME AGRADA”

Solidariedade - Em seu entender,tem havido algumas áreas em que ogoverno tem prestado menos aten-ção? Que medidas é que deveriam sertomadas?

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Grande Entrevista

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Cón. Francisco Crespo - Em primeirolugar, temos que dar uma atençãomais concreta à educação e à forma-ção. Estamos num país de muitosanalfabetos e com níveis de abandonoescolar elevados. Dever-se-ia, naminha modesta opinião, atender-se àárea da escola, educação e formação.Mas deve-se definir uma política con-junta, de integração. A reforma escolarem marcha não me agrada. A escola éainda demasiado virada para um tipode formação que vai promover oaumento dos desempregados. Temque se estudar outra maneira de darformação, tendo em conta o futuromercado do emprego. A parte daacção social é sempre aquela quemais aparece. O governo, neste mo-mento, não obstante toda a preocu-pação - verdade seja dita, muito valorse deve dar a este Ministro -, não temdado a atenção que merece. A acçãosocial está bastante por baixo naquiloque é a preocupação primeira dos nos-sos governantes. Houve, e continua ahaver, demasiada preocupação embaixar o défice em vez olhar para a so-lidariedade social. Como diz o ministroa questão demográfica é fundamental.O envelhecimento está a galopar deuma forma tremenda e nós não esta-mos preparados para enfrentar eresponder ao que já existe e aí vem.Não são só os velhos de 60, 65 anosmas sobretudo aqueles dependentes,que são abandonados pelas famílias epor todas as instituições, aos milhares.Diz-se que só na cidade de Lisboa há40 mil que são abandonados à suasolidão; outros são entregues nos hos-

pitais e deixados ali pelos familiares.Nós não estamos preparados paraenfrentar este envelhecimento queaumenta cada vez mais. Temos queestar preparados para isso.

Solidariedade - O envelhecimento porum lado e pelo outro a baixa natali-dade. São implicações fortes nasestruturas e no modo de funcionamen-to de muitas IPSS.

Cón. Francisco Crespo - Muitas insti-tuições estão a queixar-se já nestemomento por dois motivos: Falta deutentes crianças e outros, pior ainda,falta de capacidade de resposta dasinstituições porque as famílias não têmdinheiro para poderem pagar o seucontributo à instituição para manter láos filhos. Optam por ficar com as cri-anças em casa ou porque há desem-prego ou porque o rendimento familiarnão consegue abarcar o pagamento àsinstituições. Portanto, isto tem impli-cações muito directas.

Por outro lado, existe uma falta deresposta para a primeira infância.Parece uma pescadinha de rabo naboca. Não há resposta para as cre-ches; não se incentiva eficazmente anatalidade; não se combate o egoísmodas famílias... Toda a política está erra-da, nesse aspecto do incentivo à nata-lidade.

Eu sou o décimo terceiro filho, tenhouma experiência completamente dife-rente daquilo que é uma família moder-na de hoje, que tem um ou dois filhos,que faz os cálculos ao que tem quepagar pelo empréstimo da casa, docarro e só depois pondera a hipótesede ter mais um ou dois filhos.

“ENTRE A CNIS E AS UNIÕES AS LIGAÇÕES FUNCIONAM E A CONFIANÇA EXISTE”

Solidariedade - O que é que consigomudou na CNIS? Representa amudança ou é uma aposta na con-tinuidade?

Cón. Francisco Crespo - Aposta nacontinuidade não. Não quer dizer queantes não estava tudo bem. Isto é umamáquina muito pesada. Levou muitotempo para constituir e criar as Uniões,para que tivessem a sua própriaautonomia, tivessem a sua própria di-nâmica. Demorámos quase dois anose ainda não existem em todo o lado.Algumas mantiveram os mesmo diri-gentes que estavam nos secretariadosanteriores, quase todos, não con-seguiram encontrar outros. É umamáquina complicada. No entanto, devodizer que aquelas que conseguiramformar-se como Uniões estão a fun-cionar bastante bem. Há aqui já muitotrabalho feito que me deixa tambémmuito feliz e tranquilo, uma vez que eunão posso ser o pastor de um rebanhotão grande. Tenho muito que fazer anível nacional. É bom que as pessoasassumam a sua própria responsabili-dade. A constituição dos CentrosDistritais de Segurança Social veiotambém acelerar esta transformação.Há um relacionamento mais próximo.

Solidariedade - Esta reforma é a suamarca principal?

Cón. Francisco Crespo - Foi decididapelo Congresso. Foi um parto difícil,mas um marco decisivo. Já muitasvezes houve a tentação de voltar atráse pôr tudo na mesma. Quando senti-mos as dificuldades na constituiçãodas Uniões chegou a dar-nos vontadede fazer um congresso e manter tudona mesma. Felizmente com um poucode coragem e muita boa vontade con-seguimos que as coisas avançassem.

Solidariedade - Esta reforma nãoabalou a coesão?

Cón. Francisco Crespo - A unidadeperdura, o respeito das Uniões pelaCNIS também é preponderante e efec-tivo. São as Uniões que elegem aDirecção Nacional da CNIS e por issonão podia ser de outra maneira. AsUniões sempre que têm algum proble-ma podem e devem dirigir-se directa-mente à Direcção Nacional. As liga-ções funcionam e a confiança existe.

Solidariedade - Como se sente napele de presidente?

Cón. Francisco Crespo - Ainda bemque me faz essa pergunta. Eu não

ando à procura de protagonismo.Nunca o quis. Devo dizer que omomento em que aceitei este cargo foium dos momentos mais difíceis daminha vida. Não imaginava a respon-sabilidade que este trabalho acarreta anível nacional, em todos os sentidos.Procurei fugir por todas as formas. Porcaridade e amizade ao padre Maia,que estava numa situação pessoal difí-cil, eu aceitei e prometi que transitoria-mente eu assumiria esta responsabili-dade. Custou-me aquela noite e, prati-camente, nunca mais dormi em paz.

Solidariedade - Até quando?Cón. Francisco Crespo - Até 2006

aguento. Foi o meu compromisso. Foio que eu prometi. Já tive tentações deabandonar, mas só se de todo me forimpossível. Até 2006 aguento. A partirdaí se verá. O meu futuro a Deus per-tence.

Junho 2004

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Grande Entrevista

Solidariedade - Ao cabo de quaseum ano de inactividade voltou a sur-gir o jornal Solidariedade, o orgãooficial da CNIS. Até que ponto aressurreição do Solidariedade é umsinal de vitalidade da CNIS?Cónego Francisco Crespo - Eu achoque há muito tempo que se deseja-va este ressurgimento. A CNIS, umaconfederação, com a envergaduraque tem, abarcando tantas institui-ções, e com a vitalidade que tem,não podia dar-se ao luxo de não terum veículo de comunicação socialcomo este. Seria de todo absurdo estarmos aaguardar mais tempo o surgimentodo Solidariedade. É um meio de liga-ção entre todas as instituições,todas as nossas filiadas e os nossosutentes. Estávamos todos com umagrande ansiedade, aguardando achegada do novo jornal Solidarie-dade. O que existia, anteriormente, estavajá um bocado cansativo. As pessoascomeçaram a ver ali muito mercanti-lismo e viam pouco a vida dasinstituições. Não se reviam no jornal.Este tempo de paragem, quase umano, acabou por ser positivo paraque se fizesse um jornal de umaforma mais "nossa", muito mais aonosso alcance. Estou convencidoque vai corresponder àquilo que asinstituições esperam. Que seja bem-vindo. Desejo que tenha umaressurreição feliz. Este é, efectiva-mente, o jornal da CNIS.

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Textos e desenhos da autoria de crianças que usufruem daleitura proporcionada pela biblioteca com rodas da Associaçãode Desenvolvimento e Formação Profissional de Miranda doCorvo

Iniciativas

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Junho 2004

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Iniciativas

A Associação para o Desenvol-vimento e Formação Profissional deMiranda do Corvo (ADFP), tem emcurso uma campanha denominadaDê-nos Um Livro. Pretende, com estaacção, reforçar o fundo bibliográficodas bibliotecas itinerante e fixa da ins-tituição.

A campanha Dê-nos Um Livro dirige--se a todos os cidadãos residentesnos concelhos visitados pela bibliote-ca itinerante, a quem se pede que ofe-reçam livros para usufruto de leitoresmais carenciados, nomeadamente osjovens e os idosos.

Actualmente, esta biblioteca com ro-das visita localidades dos concelhosde Coimbra, Góis, Lousã, Miranda doCorvo, Penacova e Penela.

O primeiro dia da campanha foipreenchido com visitas às editoras daregião, solicitando a oferta dos seusexcedentes.

FUNDO SOLIDÁRIO

Ao mesmo tempo, responsáveis daIPSS que sustenta a biblioteca lan-çaram um alvitre a todas as editorasnacionais para, à semelhança do quefazem com o Fundo Legal, passarema doar um exemplar de cada ediçãopara o Fundo Solidário da ADFP. Estefundo destinar-se-á a ajudar pequenasbibliotecas de instituições ou escolasque não disponham de verbas para aaquisição de livros.

44 ANOS AO SERVIÇODA LEITURA

Em 1958 a Fundação Calouste Gul-benkian fundou o Serviço de Biblio-tecas Itinerantes e Fixas, dirigido peloescritor Branquinho da Fonseca.

No início, e face ao atraso do País,apostou-se na criação de uma rede deunidades móveis, capazes de levar olivro às populações isoladas, que comele de outro modo não teriam qualquercontacto.

De forma pioneira se praticou o livreacesso às estantes e o empréstimodomiciliário, princípios que não exis-tiam em nenhuma outra biblioteca por-tuguesa.

A partir de 1961 e quando já existiam62 unidades móveis, constatou-se asua exiguidade, tendo então surgido

as unidades fixas, que atingiram asquase duas centenas.

Este incremento foi determinadopelas modificações no panoramasócio-cultural do País, com maior con-centração populacional em sedes deconcelho, aumento da escolaridadeobrigatória, implantação dos massmedia, melhoria da rede viária(reduzindo distâncias outrora imensase quase intransponíveis) e, por fim, aresponsabilização por parte do Estadoe das Autarquias no domínio da leiturapública.

Mais tarde, no âmbito de umareestruturação da Fundação CalousteGulbenkian, optou-se pela reduçãodas unidades móveis em favor de umamaior aposta nas bibliotecas fixas.

Em 1993, as unidades móveisresumiam-se a apenas 14, tendo asrestantes sido transferidas medianteprotocolo para as Autarquias onde es-tavam sedeadas. Nos anos seguinteso mesmo sucedeu às restantes, tendoa IPSS mirandense assumido o encar-go de manter a biblioteca itineranteem funcionamento, recebendo um fun-do bibliográfico de cerca de 30 millivros e a viatura.

62 LOCALIDADES VISITADAS

Actualmente, através de protocolosestabelecidos com as Câmaras Muni-

cipais de Coimbra, Góis, Miranda doCorvo, Penacova e Penela, e aindacom as Juntas de Freguesia de Casalde Ermio e Serpins, a ADFP continuaa permitir que as populações de 62localidades possam ter acesso gratui-to ao livro.

Esta IPSS abriu ainda no seu edifí-cio-sede uma biblioteca fixa que fun-ciona de 2.ª a 6.ª feira, servindofuncionários, formandos e utentes dainstituição, bem como a população emgeral.

ANO ZERO DA LEITURA

As duas unidades têm actualmentecerca de 1200 leitores inscritos e es-tão a implementar um programa desi-gnado Ano Zero da Leitura. Pretende--se, com este programa, levar o livro atodos os Jardins de Infância do con-celho de Miranda do Corvo, projectoque será brevemente alargado a maisautarquias.

O programa Ano Zero da Leitura estájá a ser desenvolvido com êxito noJardim de Infância da ADFP, que évisitado semanalmente pelo Bibliomó-vel. As crianças começam aqui a gati-nhar para o livro, reforçando esta liga-ção durante o ensino primário, nãomais a perdendo, seja através das bi-bliotecas itinerante e fixa ou das biblio-tecas municipais.

Dê-nos um livro!BIBLIOTECA ITINERANTE PEDE AJUDA

O agricultor que devora PlatãoActualmente, a Biblioteca Itinerante da

ADFP visita 62 localidades, distribuídas por17 itinerários, com visita mensal, tendo cercade 1100 leitores inscritos, distribuídos por to-das as faixas etárias (o mais novo com 3 me-ses e o mais velho com 100 anos). 65% dosleitores são do sexo feminino.

“Os nossos leitores dispõem das mais varia-das opções. E se os mais novos - até aos11anos -, que são cerca de 65%, preferem ashistórias mais simples e com ilustrações, afaixa dos 12 aos 17 anos - 25% dos leitores -opta pelos livros de aventura, pelas enci-clopédias ilustradas, que lhes permitem aconsulta para trabalhos escolares. Os que jáfrequentam o ensino secundário preferem osautores portugueses, para além de obras re-lacionadas com as suas áreas específicas deestudo” - revela ao Solidariedade o respon-sável pelas bibliotecas.

O Dr. Carlos Marta frisa o facto de, ao longodestes 44 anos, várias gerações terem passa-do pela biblioteca itinerante, sendo hoje pos-sível “ver avós e netos entrarem na carrinha,ou pais a inscreverem os filhos com apenasalguns meses de idade”: “Isto reflecte, de for-ma evidente, a ligação estreita que muitossentem pelo local mágico que lhes permitiu oacesso à leitura” - sustenta Marta, adiantandooutros pormenores curiosos:

“Por exemplo, o agricultor que leu todos osnossos livros de Platão; o reformado que, ten-do apenas a 4.ª classe, não perde um livro deJosé Saramago, ou ainda os textos e dese-nhos dos nossos leitores sobre a Biblioteca.

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Opinião

Inquietudes?...Vamos a isso! Por Padre José Maia

Em entrevista publicada no anteriornúmero do SOLIDARIEDADE, o Mi-nistro Bagão Félix confessou ser suaintenção pedagógica semear inquie-tude nas IPSS e nas suas práticas deacção social e solidariedade.

Do que conheço deste Ministro, assuas palavras são para levar a sério,apesar de pronunciadas num tom a-parentemente simbólico e sereno.

Fez sempre parte da cultura dasIPSS aceitar os desafios, reconhecererros ou omissões quando acontecemno seu "fazer social", propor com fran-queza e de forma construtiva os seuspontos de vista, apoiar políticas, quan-do com elas concordam, manifestardiscordância quando elas existem.

É por isso de saudar o Dr. BagãoFélix e aceitarmos o seu desafio paraum "debate sobre inquietudes", na es-perança de podermos, desta forma,promover neste jornal da CNIS, umalargado debate social sobre o país eas políticas sociais do Governo

Para começar: "abandono escolar".Há muito tempo que a comunicação

social tem confrontado a sociedadeportuguesa com o drama do aban-dono escolar, por parte de adoles-centes e jovens, em números assusta-dores!

Com efeito, ao sentirmo-nos todosinterpelados por uma percentagem deabandono escolar na ordem dos 45%,é caso para nos interrogarmos: seesses jovens em casa não ficam, àescola não vão, onde é que elesestão?

Esta inquietude é para nós social-mente interpeladora, na medida emque revela que a pedagogia da "in-clusão" que deveria conduzir à "inser-ção social", está a servir de "viveiro"de exclusões e caminho para tentado-ras marginalidades e comportamentosdesviantes que retiram ao "capital hu-mano mais jovem do país" a oportu-nidade de se preparar para viver eajudar a construir o nosso futuro co-lectivo!.

Em recente visita presidencialpelo país, o Dr. Jorge Sampaio fezsuas estas preocupações, tornan-do-se eco desta interpelação dosjovens de Portugal à Pátria que os

tem como cidadãos e que tem o deverde lhes garantir o acesso ao direito deigualdade de oportunidades, a partirda sua diferença, uma vez que não ésupostamente normal que tanta genteabandone a escola, a não ser por faltade adaptação a um lugar que, por vo-cação, deveria merecer uma melhorimagem e ser considerado como umespaço de aprendizagem, de con-vivência com os amigos, de felicidade.

Há muito que se deveria ter com-preendido que urge dar o salto, pas-sando-se de uma pedagogia centra-da na "transmissão do saber" parauma pedagogia de "ensinar a apren-der"!

Ficamos apreensivos ao ver que oMinistério da Educação, em vez deprivilegiar um diálogo político com ospartidos da oposição para verter numanova lei de bases do sistema educati-vo uma nova "filosofia para a escolado século XXI", se tem deixadoenvolver em questões menores quelhe têm retirado campo de manobrapara grandes e ousadas reformaspolíticas.

Claro que, para haver diálogo, é pre-ciso que a oposição se preste a isso...O que não parece fácil! E é pena, atéporque o actual Ministro da Educaçãotem revelado uma percepção ajustadados problemas da educação!

Falando em "abandono escolar", ainquietude aqui manifestada relativa-mente às responsabilidades do Minis-tério da Educação, é extensiva aoMinistério da Segurança Social eTrabalho, uma vez que da articulaçãoentre os dois Ministérios, desde a cre-che e educação pré-escolar até aostempos livres, à falta de ensino profis-sionalizante e ao desemprego demais de 12 mil licenciados, depende-ria uma inversão que urge ir fazendonas práticas sócio-educativas junto dainfância e juventude.

Pensando bem, a pedagogia dainquietude pode ser uma rica oportu-nidade para o diálogo social com oGoverno. Vamos a isso!

[email protected]

Entrou no gabinete como animal no matadouro.Tinha faltado às aulas naquela manhã para poder estar no tribunal.

Paciência, o Inglês e a História também não eram as suas disciplinasfavoritas. Ultimamente, já quase não tinha disciplinas favoritas.

Depois de a terem feito esperar no hall cerca de meia hora debaixo daquelecalor infernal, o juiz cumprimentou-a com um olhar e um sorriso como se jásoubesse tudo o que se tinha passado. Se calhar a St´ora Andreia não tinhacumprido a promessa que lhe havia feito. Ela tinha dito que não iria contartudo, só o suficiente para impedirem o Sr. António de voltar lá de casa.

Era ele o único culpado por a mãe já não gostar tanto dela como antiga-mente.

Desde a altura em que foi levantar o postal aos correios, a mãe não maisparou de lhe dizer que, se fosse contar mentiras ao tribunal, lhe havia de daruma coça que a punha numa cadeira de rodas.

Mas que coisa, durante tanto tempo, mesmo após a morte do pai, a mãe forasempre tão carinhosa com ela. Eram unha e carne, como costumava dizer oprofessor de EVT.

Mas agora, desde que o Sr. António passou a ir todas as noites lá para casa,tudo parecia diferente. A mãe só tinha olhos para ele. Ainda por cima, umhomem casado. Que vergonha...

O raio da cadeira que ali tinham colocado no gabinete era tão alta... Afinal,aquilo era ou não um tribunal de menores?

Com o passar do tempo e o decorrer da conversa, foi ficando mais calma. ASt’ora Andreia tinha mesmo faltado à promessa.

Acabou por ser mais fácil do que parecia, ninguém teve pressa, deixaram-nachorar quando teve que ser e explicaram-lhe que não era ela quem tinha quese sentir culpada. O Sr. juiz chegou mesmo a chamar monstro ao Sr. António.Nunca antes tinha pensado nisso...

Contou tudo... andar de cuecas pela casa, o Sr. António à procura da mãecom uma factura na mão, que ela não estava, tinha ido ao "Continente", a con-versa das maminhas a crescerem, o quarto escuro, o nojo das mãos grandesdele e das calças sujas do óleo e do sangue que era dela mas que ele quislimpar no final.

Quando saiu, sentia-se mais aliviada. Sabia que a mãe continuaria a nãoacreditar nela e que o Sr. António havia de estar ao fundo das escadas, fin-gindo-se desinteressado. Iria a interrogatório no café da esquina, também jásabia.

Apesar de tudo, desde que parassem os pesadelos, desde que voltasse asentir-se de novo limpa, uma cadeira de rodas nem era uma coisa assim tãomá...

* Juiz do Tribunal de Família e Menores de Coimbra

Vidas na Justiça

A cadeirade rodasPor Paulo Eduardo Correia*

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Perspectiva

Também se encontravam alguns por-tugueses representando alguns minis-térios e das regiões autónomas daMadeira e Açores. Gostei particular-mente da única intervenção dos repre-sentantes portugueses, representanteda região dos Açores, o qual focou asproblemáticas relacionadas com odesenvolvimento das regiões ultrape-riféricas, as quais necessitam de mui-to mais apoio do que têm conseguidoe justificando com argumentos sólidosas suas propostas.

Na mesma qualidade participei nofórum económico, nos dias 27 e 28 deAbril, em que estiveram presentesgovernadores e ministros das Finan-ças de vários Estados Membros, doFMI e OCDE, e em que esteve onosso governador do Banco dePortugal, Dr. Vitor Constâncio, o qualfez uma apresentação muito aplaudi-da, aconselhando os novos estadosmembros a não cometerem determi-nados erros de política económica e,por outro lado, a implementarem asboas práticas de sucesso experimen-tadas por Portugal.

Portugal é exemplo de sucessodesde o ano da adesão, 1986, até aoano 2000; depois, com o descalabrodas contas públicas, a partir de 2001,é exemplo de insucesso e portantodaquilo que os novos Estados Mem-bros não devem fazer em termos depolítica económica, em particular oaspecto do descontrole das contaspúblicas.

O 3.° Relatório da Coesão económi-ca, social e territorial que foi publicadoem 17 de Fevereiro passado segueuma arquitectura nova e organizadaem torno de três prioridades:

1. Convergência (apoiar o cresci-mento e a criação de emprego nosEstados Membros e nas regiõesmenos desenvolvidas)

Este objectivo aplica-se em primeirolugar às regiões cujo PIB per capita éinferior a 75% da média europeia.

Entretanto as regiões que ultrapas-saram esta média devido ao alarga-mento (pois a média europeia baixou15%) e do chamado efeito estatístico,e que passaram a atingir até 90% damédia também serão contempladoscom os apoios no âmbito desta priori-dade, principalmente nos domíniosdas redes de transportes e do am-biente.

2. Competitividade regional e em-prego (antecipar e promover a mu-dança principalmente ao nível das re-estruturações e mutações industriais)

Estes apoios destinam-se aosEstado Membros e Regiões que en-contrando-se fora das menos favoreci-das necessitam de ajuda para enfren-tarem as mudanças impostas pelaconcorrência internacional e terá umaajuda dupla, que será: ao nível regio-nal ajudando as regiões a antecipa-rem e promoverem a mutação econó-mica nas zonas industriais, urbanas erurais, reforçando a sua adaptabilida-de e a sua atractibilidade à instalaçãode novas indústrias e empresas.

A nível nacional a política de coesãoajudará as pessoas a preparar-se eadaptar-se à evolução económica eem conformidade com as estratégiaseuropeias de emprego, tendo em vistao pleno emprego, a qualidade e a pro-dutividade do trabalho, bem como ainclusão social.

3. Cooperação territorial (promoverum desenvolvimento harmonioso eequilibrado do território europeu)

O objectivo desta prioridade é o depromover uma integração harmoniosa

apoiando a cooperação transfronteiri-ça e transnacional. Pretende-se es-sencialmente promover soluções co-muns para problemas comuns, graçasà cooperação entre as autoridadesvizinhas.

As conclusões do fórum, sintética-mente, foram as seguintes:

1. Maior responsabilidade das re-giões através de mais descentraliza-ção e envolvimento mais efectivo dascidades e regiões.

2. Recursos financeiros de origemúnica (um financiamento/um projecto)e gestão do financiamento mais sim-plificada.

3. Inverter o deficit europeu, no querespeita à capacidade competitiva,em relação aos EUA, através do estí-mulo ao investimento em recursos hu-manos, investigação, inovação e for-mação ao longo da vida.

Além destas três conclusões gerais,foram focados os os seguintes e rele-vantes aspectos:

a) a necessidade de maior coerênciae aproveitamento de sinergias entre apolítica de concorrência e as ajudasestatais como forma de responder àsdeslocalizações das empresas - te-mos vários exemplos em Portugal deempresas têxteis e outras como aBombardier, etc. -, e minimizar esteproblema de forma a evitar malesmaiores em termos de emprego.

Os dez novos Estados Membros,devido às suas três grandes vanta-gens sobre todos os outros e principal-mente sobre Portugal, têm condiçõesexcepcionais de atracção à deslocali-zação de empresas:

- pessoas altamente qualificadas (denotar que estes novos países vieramsubir a média europeia em termos dequalificação ao nível dos ensinossecundário e superior e formaçãoprofissional). Infelizmente Portugalcontinua a ser o último da lista dos 25países da União Europeia.

- salários muito baixos- baixos impostos sobre as empresasEstes países através de dumping

social e fiscal representam um riscopara os países mais antigos da comu-

nidade e vão provocar um grandemovimento de deslocalização. Princi-palmente a nível fiscal existe a inten-ção de uma iniciativa europeia no sen-tido de harmonizar os impostos sobreas empresas.

b) o aspecto crucial é o financiamen-to da política de coesão para a qual aComissão Europeia pretende elaborarum orçamento, para o período 2007-2013, de 1,14 % do PIB de todos ospaíses membros, tendo este valor pa-ra já o desacordo de seis EstadosMembros, entre eles a Alemanha e aFrança, que pretendem reduzir a con-tribuição para 1%. Note-se que aAlemanha, por cada 1 Euro querecebe contribui com 1.6 Euros para oorçamento da comunidade.

c) O comissário da política de con-corrência Mário Monti afirmou aimportância de uma reflexão sobre osaspectos da política de concorrência eas ajudas estatais considerando oambiente económico que se vive anível internacional. Note-se que ofacto de a União Europeia cumprirtodas as regras da OIT (OrganizaçãoInternacional do Trabalho) e da OMC(Organização Mundial do Comércio)ligadas às relações de trabalho,comércio e do ambiente leva à perdade competitividade, devido ao facto deos grandes países concorrentes(EUA, China, Índia e os chamadostigres asiáticos) não serem alegada-mente tão exigentes quanto ao cum-primento desses requisitos pelas em-presas e deste modo tornando-seestas mais competitivas.

d) Outro comentário importante foi odo comissário do Emprego e AssuntosSociais, que solicitou o reforço do fi-nanciamento do Fundo Social Euro-peu, como instrumento para financiaras políticas de emprego.

Durante a realização do fórum fizuma recomendação para que sejacriada uma nova matriz de critérios deavaliação das regiões, de modo a pro-duzir um renovado mapa da coesãosocial, e com a argumentação de quea eligibilidade das regiões aos fundos

A Política Europeia de Coesão Económica,PERÍODO DE 2007 A 2013

Por José Leirião*

Na qualidade derepresentante doComité Económi-co e Social Euro-peu estive pre-sente, nos dias 10e 11 de Maio, emBruxelas, no fó-

rum da Coesão Económica e Socialpara debater as propostas do comis-sário Barnier para o período de 2007a 2013; vários membros dos gover-nos dos actuais e novos EstadosMembros apresentaram os seuspontos de vista e entre eles a nossaMinistra das Finanças, Dra. Manue-la Ferreira Leite.

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Peregrinos de Santiago caminham pela serenidade interior

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Perspectiva

Social e Territorial

Em ano santo jubilar, a Associaçãode Caminheiros Aquae Flaviae daSanta Casa da Misericórdia de Cha-ves peregrinou a pé rumo a Santiagode Compostela nos dias que ante-cederam a Páscoa.

Apesar de já terem realizado muitasoutras caminhadas, embora utilizan-do outros itinerários, cada peregrina-ção "tem um significado especial". Apaisagem "ajuda a descontrair e aencontrar um pouco de serenidadeinterior", mas a viagem espiritual, derenovação de fé, é uma experiênciaindividual forte e marcante que a cadaum toca de forma diferente.

Se, para alguns, a experiência jánão era novidade, para outros, oumelhor, para três elementos femini-nos, foi a primeira vez que participa-ram numa grande caminhada.

Entre os 11 caminheiros que partici-param na peregrinação estiverampresentes pessoas provenientes deoutros pontos do país.

O grupo, o mais novo com 26 anose o mais velho com 66, foi de auto-carro até à localidade de Ferrol e jáno posto de turismo foi aposto oprimeiro carimbo na credencial doperegrino, gesto que se repete ao fimde cada etapa.

Recebeu também informação adi-

cional, como guias de caminho quecontêm mapas com pormenores des-critivos do percurso, entre pro-postas de etapas e contactos daprotecção civil e da polícia decada localidade.

A partida ocorreu junto ao portomarítimo de Ferrol. Uma etapa decerca de 19 quilómetros levou-os atéao concelho de Neda.

Os caminhos rurais de passagemribeirinha ou marítima fazem partedos percursos mais frequentementeutilizados, onde é possível avistarem--se igrejas romanas. Já as passagensem alcatrão só eram utilizadas pertodas povoações.

Uma etapa de 38 quilómetros, aoterceiro dia, constituiu para o grupo omomento de maior dificuldade e des-gaste físico, tal como uma subida de

quatro quilómetros que encontrou jáperto de Santiago.

Apesar de algumas paragensobrigatórias para descanso, os cami-nhos que antecediam os últimos qui-lómetros de viagem eram já muito fre-quentados por peregrinos das maisvariadas origens.

À chegada à Catedral, oscaminheiros ainda enfrentaram umafila com mais de 300 pessoas parareceber a Compostela.

O documento, em forma de diplo-ma, assinado pelo secretário capitularda Igreja de Santiago de Compostela,só é entregue ao peregrino que per-correu pelos menos 100 quilómetrosa pé ou 200 em bicicleta, o qualreconhece, inscrevendo o nome dotitular em latim, que o mesmo o con-cluiu por nobres causas.

de coesão devem incluir outroscritérios além do único até aqui usado,o critério da percentagem per capitado PIB, o qual é fonte de disparidadesrelativas na implementação das políti-cas estruturais.

Assim, propus que os critérios de eli-gibilidade passem a ser os seguintes:

- % do PIB per capita- nível de qualificação dos recursos

humanos- deficits infra-estruturais- distância do centro motor da econo-

mia europeia- estrutura demográfica- nível de emprego

O MEU COMENTÁRIO GERALEu sou relator de um parecer que

acabo de finalizar sob o tema “o efeitodas mutações industriais na coesãoeconómica, social e territorial” queserá apresentado na sessão plenáriado Comité em 7 de Junho, no qual sãoformuladas algumas críticas ao rela-tório da coesão e proponho várias re-comendações e devo dizer que existeuma grande preocupação na Europacom o fenómeno das deslocalizaçõesdas empresas que se dirigem parafora da União Europeia; para a China,

Índia e outros países asiáticos emgrande desenvolvimento e deste mo-do causar um processo de desindus-trialização na Europa, e muito gravetambém é o capital humano, além datecnologia, que também se deslocali-za seguindo este processo e enfra-quecendo a economia e o conheci-mento europeu, colocando assimproblemas ao nível da investigação,inovação e desenvolvimento geral eu-ropeu no futuro. Este fenómeno vemagravar ainda mais a situação degrande preocupação com o facto de,dos 14000 investigadores europeus aestudar nos EUA, apenas 3000 pre-tenderem regressar à Europa.

Assim, elevados montantes mone-tários são necessários para investir naeducação, investigação e inovação eformação ao longo da vida de todosos cidadãos europeus e há que pagarmuito bem aos investigadores senãonão regressam à Europa, é verda-deiramente o futuro da Europa queestá em causa neste século XXI.

Quanto a Portugal é imperativo umaatitude diferente e muito mais com-petência na formulação das políticaspúblicas e macro-económicas de

desenvolvimento e prioridade absolutapara a educação rumo à sociedade doconhecimento.

Portugal tem à sua frente talvez omaior desafio de há muitos séculos epara o vencer, o eterno “desenrascan-ço português” não nos vai salvar, poisestamos a falar de conhecimento, no-vas tecnologia, de elevada produtivi-dade, de risco, de mobilidade no tra-balho e elevada complexidade das ta-refas a executar, o que só se con-segue com elevados níveis de qualifi-cação e como todos sabemos, nestescampos, somos os piores da Europa,com a agravante de que 50% dos por-tugueses dizem que não precisam deaprender mais nada..

Portugal tem de fazer um enormeesforço no sentido de obter o máximode apoios financeiros no âmbito daPolítica de coesão no período de 2007a 2013 para ajudar no esforço dabatalha da educação e da produtivi-dade. É tempo de “arregaçar as man-gas” e deixarmo-nos de lamúrias, étempo de cumprir com as obrigaçõese deixarmo-nos de apenas reivindicardireitos, é tempo de sermos mais jus-tos para com os nossos filhos edeixarmo-nos de ser egoístas em

reivindicarmos uma vida melhor àcusta do endividamento público ecolocarmos em risco o futuro dos nos-sos filhos e das nossas reformas, umasociedade que usufrui hoje daquiloque será produzido amanhã não éuma sociedade justa.

Existe, neste momento, uma tarefahercúlea pela frente do governo ePresidente da República em motivaros portugueses para outras atitudes. Éuma tarefa de todos e cada um denós. A nossa contribuição situa-se namelhoria contínua do modo como exe-cutamos as nossas tarefas diaria-mente. É preciso trabalhar mais e,principalmente, é preciso trabalharmuito melhor.

Certamente que as mulheres ehomens que trabalham nos nossosCentros Sociais Paroquiais e institu-ições congéneres são exemplos aseguir em termos de dedicação, dis-ponibilidade, voluntariado, vontade deaprender e qualidade dos serviçosprestados aos utentes, e é disto quePortugal precisa para vencer.

* Economista. Representante da CNIS noComité Económico e Social Europeu

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Opinião

Surgiram, em vagas sucessivas, oscentros regionais de segurança social,de âmbito distrital que integraram ascaixas de previdência, os serviços eequipamentos do Instituto de ObrasSociais, os serviços e equipamentosdo Instituto da Família e Acção Sociale o pessoal e as competências dasdelegações distritais das casas do po-vo cujas atribuições, competências enatureza foram redefinidas.

Defendeu-se, então, a ideia (e legis-lou-se), que caberia aos centros re-gionais de segurança social cobrar eregistar as contribuições e atribuir aostrabalhadores beneficiários as pres-tações regulamentares a que tinhamdireito, gerir os equipamentos sociaisentretanto integrados e, ainda, fisca-lizar, orientar e apoiar técnica e finan-ceiramente as instituições particularesde solidariedade social com inter-venção na área geográfica de cadacentro regional.

Era a “fé” no valor e mérito dadesconcentração e descentralizaçãoadministrativas. E, se a gestão dosregimes de segurança social postulouuma reestruturação inteligente de ser-viços, foi na área social que esta des-centralização mais se fez sentir cominegáveis vantagens para as popu-lações a servir. Todos – Governo,serviços centrais, gestores distritais efuncionários de cada centro regional –

passaram a actuar articuladamentecom um mesmo objectivo: melhorar aeficiência de todos os serviços deSegurança Social em benefício dosseus utentes e beneficiários.

E bastante se conseguiu…A (re)organização dos centro regio-

nais de segurança social suportada naestrutura e pessoal das caixas de pre-vidência de cada distrito implicou, des-de logo, a sua informatização.

Para exemplo, bastará referir que ainformatização do Centro Regional deSegurança Social de Braga foi con-dição sine qua non para se poder inte-grar os contribuintes e beneficiários dodistrito mas inscritos e contribuintesda Caixa da Indústria Têxtil com sedee serviços no Porto.

Diz-se, agora, que o caminho segui-do não foi o melhor pois que a aqui-sição de equipamentos informáticoscom software aplicacional diferenteimpede, ou dificulta, no presente, apretendida centralização nacional detoda a informação.

Mas não é líquido que assim tivessede ser se, atempadamente, se tives-sem criado as condições técnicas quepusessem os diversos sistemas infor-máticos - 3? - a “falar” uns com osoutros.

Mas fez-se mais.Extinguiram-se as caixas de activi-

dade de âmbito nacional; apro-veitaram-se as estruturas e os funcio-nários das casas do povo que não sequiseram, ou não conseguiram “re-converter-se”, para criar as delega-ções concelhias – serviços locais –dos centros regionais de segurançasocial; estimulou-se e apoiou-se aconstituição de instituições particu-lares de solidariedade social, sobretu-do nas localidades e municípios ondenão havia, ou eram insuficientes, asrespostas para enfrentar as carênciasda população residente entretantoinventariadas.

Convirá dizer que, em geral, nadadisto foi feito sem que um levanta-mento social mínimo permitisse aco-lher ou recusar pretensões e, funda-mentar, ou não, tanto a construçãocomo, depois, a celebração de acor-dos de cooperação com base nos

quais o Estado assumia, para alémdas funções fiscalizadora e inspectivaque sempre exerceu, a função nãomenos nobre e mais relevante de par-ceiro da sociedade civil que por toda aparte se organizava em instituições etecia uma relevante malha de equipa-mentos sociais com utilidade socialgarantida à partida.

Os dirigentes das IPSS sentiam queo parceiro “Estado” estava bem den-tro do mesmo barco e a remar nomesmo sentido.

Mas não havia fiscalização? A Ins-pecção-Geral não funcionava?

Certamente que sim.

Só que, atento o espírito dominantenas cúpulas governamentais e, quiçá,porque os responsáveis destes doisserviços, em geral, emanavam dopróprio sistema de segurança social, ocarácter dessas intervenções era maisde apoio e orientação técnica do quede responsabilização por eventuaisdesajustamentos entre as normas e aprática, sobretudo naquelas situaçõesem que o que estava em causa nãoeram o incumprimento doloso ou ne-gligente das regras mas o desconhe-cimento das mesmas por dirigentes(voluntários) que, às vezes, ao lado deuma grande vontade (e coragem) paraservir, revelavam, e reconheciam, anecessidade de formação e informa-ção persistentes e consonantes coma panóplia de regras e recomen-dações que uma gestão de qualidadedos equipamentos sociais cada vezmais exigia.

E os serviços dos centros regionais,há que reconhecê-lo, nem sempre ti-nham, e têm, sobretudo em quanti-dade, os meios necessários a essesapoio e orientação.

E hoje?Vinte e quatro anos passados tem-se

a sensação e a convicção de que oEstado limitou a sua vertente deparceiro na área social e desen-volveu as vertentes fiscalizadora einspectiva. Um pouco por toda a parte,ouvem-se queixas contra interven-ções e atitudes a que os dirigentesdas IPSS que, há que salientá-lo, são

voluntários, têm dificuldade em perce-ber e aceitar, pelo menos nos seusaspectos formais mais agressivos.

Não está em causa o direito e odever do Estado em fiscalizar einspeccionar as IPSS: essas fiscaliza-ção e inspecção sempre se fizeramcom resultados tantas vezes pena-lizadores de comportamentos cen-suráveis de um ou outro dirigente.Todavia, de parte a parte, havia a con-vicção de que, no geral, de um lado edo outro estavam pessoas de bem…

Presentemente, pelo tom e conteúdode algumas intervenções públicas deum ou outro responsável e pelasrepercussões que as mesmas, volun-tária ou acidentalmente, têm na comu-nicação social, vai-se instalando adesconfiança recíproca e, na opiniãopública pode estar a formar-se a ideiade que ser dirigente de uma IPSS éequivalente a ser um provável delin-quente…

Talvez com culpa de parte a parte, aconfiança recíproca e a harmonia rela-cional existente nos anos oitenta que-braram-se…

Se rapidamente se não refizer a Pon-te da Confiança de outros tempospoder-se-à chegar a relações de con-sequências perniciosas, sobretudopara os mais carenciados doscidadãos portugueses.

Inspectiva e fiscalizadora ou de parceria?A TUTELA DAS IPSS:

Por Manuel Antunes da Lomba

No fim da déca-da de setenta einício da de oiten-ta do século pas-sado, ultrapassa-das que foramuma fase e umaestratégia de na-

cionalização disfarçada dos equipa-mentos e serviços dedicados à pro-tecção de crianças, jovens, deficien-tes e idosos carenciados ou margi-nalizados socialmente, os sucessi-vos governos do PS, do Bloco Cen-tral e da AD reconfiguraram por com-pleto a estrutura organizativa e tute-lar dos serviços da área governa-mental gestora da Segurança Sociale dos equipamentos e serviços deAcção social.

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Junho 2004

Vida Associativa

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Sobre o lema “Solidariedade,Criatividade e Inovação”, a AML está acelebrar os seus 20 anos ao serviçoda Comunidade, com um vasto pro-grama de eventos que tiveram iníciono passado dia 11 de Abril – dia dePáscoa, com a celebração de umaEucaristia de acção de graças pelotrabalho realizado e por todos osAssociados vivos e falecidos. Namesma ocasião foi assinalado oAniversário do Edifício das Lameiras,onde esta Associação nasceu ecresceu. Tratou-se de recordar osprimeiros passos dados nesta cami-nhada de 20 anos.

Dia 22 de Maio, nas instalações doCentro Social e Comunitário, tevelugar um jantar comemorativo. Nestedia, o Senhor Ministro da SegurançaSocial e do Trabalho, Dr. Bagão Felix,visitou as novas instalações sociais,inaugurando o espaço “Memórias” epresidindo ao jantar Comemorativo.

A 25 de Maio, dia oficial da fundaçãoda AML, o Senhor Presidente daCâmara, Arq. Armindo Costa, presidiua alguns eventos no Edifício dasLameiras, tendo descerrado umaplaca alusiva ao acontecimento naSede da AML, isto enquanto as crian-ças do Centro Social e Comunitárioentoavam algumas canções infantis.

A 28 de Maio, no Auditório daBiblioteca Municipal, o Presidente da

Câmara presidiu a um Colóquio com otítulo: “Lameiras 20 anos depois – Aqualidade de vida nos grandesAglomerados Habitacionais”, pro-jecção multimédia e intervenções deJorge Faria, Presidente da Direcçãoda AML; Doutora Fátima Lobo, investi-gadora da Universidade do Minho queprepara uma monografia sobre oEdifício das Lameiras; José MariaCosta, Presidente da AssembleiaGeral e sócio mais antigo da AML;Arq. Noé Dinis, autor do projecto doEdifício das Lameiras; Eng.º JoséTeles, Director do IGAPHE no norte, eque acompanhou desde início toda aactividade da AML e, por fim, Dr. JorgePaulo Oliveira, Vice-Presidente daCâmara e Vereador do Pelouro daHabitação e Urbanismo.

A 29 de Maio teve lugar uma tarderecreativa e desportiva, com jogostradicionais, gincana de bicicletas,futebol de Salão, Andebol e outroseventos desportivos. No dia 1 deJunho celebrou-se o “Dia Mundial daCriança”, com diversas iniciativas alu-sivas à data. O encerramento oficialdas comemorações terá lugar a 26 deJunho, com um arraial popular e afesta do fecho do ano lectivo.

PROMOVER A CULTURA,DESPORTO E SOLIDARIEDADESOCIAL

Tentando fazer um resumo do vastohistorial da AML, recorda-se que nosegundo semestre de 1983, já depoisde todas as casas do Edifício dasLameiras estarem habitadas, um Or-ganismo Representativo dos Mora-dores, designado pelas iniciais deORM, eleito por todos, teve por

missão preparar os caminhos do quemais tarde viria a ser a futura Asso-ciação de Moradores das Lameiras,fundada oficialmente em 25 de Maiode 1984.

Ao longo destes vinte anos deexistência a AML tem orientado a suaacção para a promoção da Cultura,Desporto e Solidariedade Social, apartir da infância, juventude, família eterceira idade.

Também tem tido uma voz activa nadefesa dos interesses dos moradoresdas Lameiras e freguesia de Antas, àqual pertence.

Ao longo dos anos criou infra-estru-turas sociais para a promoção da cul-tura, desporto e Solidariedade Social.

Em Maio de 1985 inaugurou umCentro Social e Comunitário com asvalências de Creche, Jardim, ATL eCentro de Animação Juvenil, para queos pais pudessem dispor de espaçosde acolhimento para os seus filhos.Actualmente (já em novas insta-lações), acolhe mais de 270 criançase jovens.

O Centro de Dia, Lar e ApoioDomiciliário para a terceira idade,presta apoio a mais de 86 utentes.Possui ainda uma Biblioteca dePequena Comunidade, Centro Infor-jovem, Actividades de Ocupação dosTempos Livres dos jovens e um GrupoDesportivo, com diversas modalida-des.

Tem ainda em funcionamento umCentro de Acolhimento para Mulheresem “Situação de Emergência” (vítimasde violência doméstica), aberto a todoo Concelho de Vila Nova de Fama-licão.

Uma UNIVA, para apoio a jovensdesempregados e desempregados de

longa duração, e um Gabinete de A-tendimento Social e Psicossocial com-pletam um vasto conjunto de valên-cias e departamentos de apoio aosmoradores e utentes do Centro Sociale Comunitário.

ACÇÃO FUNDAMENTAL NACRIAÇÃO DE NOVAS ESTRUTURAS E BEM ESTAR DAPOPULAÇÃO

Em 1986, a AML recuperou, por suainiciativa, os pré-fabricados dos anti-gos estaleiros da empresa que cons-truiu o Edifício das Lameiras, paranesse local instalar diversas activi-dades culturais, recreativas e des-portivas, com a finalidade de um bomaproveitamento dos tempos livres dosjovens.

Conseguiu, junto do Governo, a rea-bilitação do Edifício das Lameiras,entre 1989 e 1990. As suas acçõeslevaram a que se construísse umanova escola primária para as criançasdas Lameiras e zona nascente dacidade (inaugurada em 07.05.93), eum novo pavilhão municipal construí-do junto à Escola das Lameiras (inau-gurado em 13.03.99).

A reformulação, em 2002, do lo-gradouro das Lameiras, foi outra dasacções desenvolvida junto doIGAPHE. Finalmente a construção donovo Centro Social e Comunitário, afuncionar desde Março de 2003.

Jorge Manuel Ribeiro Faria

Presidente da Direcção da AML

20 anos ao serviço da ComunidadeASSOCIAÇÃO DE MORADORES DAS LAMEIRAS

A UDIPSS deSantarém pro-m o v e u , n o sp a s s a d o smeses de Mar-

ço e Abril, três acções de formação,totalmente gratuitas, sobre Seguran-ça, Higiene e Ergonomia nas IPSS,

acções destinadas a dirigentes etécnicos das Instituições associadas.

Estas acções, promovidas em parce-ria com o Gabinete de Apoio da CNIS,foram frequentadas por 52 formandosvindos de diversas Instituições do dis-trito, na sua grande maioria directo-res/as técnicos/as e alguns (poucos)

dirigentes.As acções de formação foram dirigi-

das por técnicos contratados peloGabinete de Apoio da CNIS, com oapoio do Dr. José Queirós, tendodecorrido no auditório da Casa MadreAndaluz, em Santarém.

"Registamos o bom acolhimento

destas iniciativas. A opinião geral éque as acções de formação são sem-pre bem vindas e que pecam porescassas, tendo-nos dado força paracontinuarmos cursos noutras áreas,nomeadamente na formação de diri-gentes" - afirmou ao Solidariedade umresponsável da UDIPSS de Santarém.

UDIPSS de Santarém

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Imagens

Propriedade: CNIS (Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade) Rua Oliveira Monteiro, 356 ; 4050-439 PortoTelefone: 22 606 59 32 Fax: 22 600 17 74 e-mail: [email protected] Director: Padre Francisco CrespoRedacção: V. M. Pinto; D. Pedro Alves, Rodrigo Ferreira Colaboradores: António Pinto, Evelyne Crespelle, Padre José Maia, Pedro Miguel Ferrão, Sérgio Gomes. Paginação: Media Z Impressão: Unipress - R. Anselmo Braancamp, 220 - Granja 4410-359 Arcozelo - GaiaTiragem: 5.000 exemplares Depósito Legal n.º 11753/86, ICS -111333

Ficha técnica

Como pode um cego fotografar?Como pode alguém que vive nomundo das sombras escrever com aluz? – estas as perguntas que todosfazem antes de conhecerem a obra deEvgen Bavcar. Depois de visionaremos seus trabalhos, as pessoas sãounânimes: o facto de não ver permite--lhe chegar melhor ao âmago dascoisas.

Este fotógrafo esloveno deixou dever do olho esquerdo, tinha apenasdez anos de idade. Ao acidente resul-tante de uma brincadeira infantil com o

galho de uma árvore sucedeu um ou-tro, e logo no ano seguinte. Cegoucompletamente na sequência do re-bentamento de uma mina.

Quando um homem fica cego passaa ver com a alma. Evgen Bavcar foto-grafa a própria memória.

“Imagem é um trabalho de memória”,afirma. “Os originais estão na minhacabeça. Quando nós imaginamos,existimos.”

Vive em França, e conta com a ajudados amigos mais chegados, que oacompanham e lhe descrevem as pai-sagens, os objectos, os rostos, pon-tuando as zonas de luz e as zonas desombra.

Bavcar diz que é cego como osastrónomos, que nada vêem à vistadesarmada, precisando de potentestelescópios para alcançarem as estre-las.

“Não nos podemos ver com os nos-sos próprios olhos. Por isso somostodos um pouco cegos. Só nos vemosatravés do olhar do outro, mesmo queo outro seja um espelho” – esclareceBavcar aos que o abordam, intrigadoscom a desenvoltura patenteada poreste artista que já conquistou famamundial. Com efeito, o fotógrafo eslo-veno conta no seu palmarés comexposições em dezenas de países.

Só conhece a Eslovénia, só guarda

imagens do seu país, e principalmentede Lokavec, onde nasceu, em 1946.As cores e as imagens que conhecetêm nas Eslovénia as suas raízes.

Para os admiradores, o carácter es-pecial da sua obra consiste na criaçãode uma atmosfera, de um espaço desombra onde vive a luz.

Para além das exposições de fo-tografia (cujo número já ultrapassa assetenta), a vida e obra de Bavcar jádeu origem a oito produções audiovi-suais, repartidas pelo cinema, tele-visão e novelas. Participou ainda numfilme sobre Gaudí e num documen-tário sobre o Louvre.

A luz que irradia das sombrasEVGEN BAVCAR, FOTÓGRAFO CEGO

A mística alemã Anne KatherineEmmerich, autora do livro A dolorosapaixão de Nosso Senhor Jesus Cristo,obra em que Mel Gibson se baseoupara realizar o seu último filme, vai serbeatificada no Vaticano a 3 de Ou-tubro de 2004.

Emmerich nasceu em Flamske(Vestefália, Alemanha)a 8 de Setembro de1774, e ingressou nasAgostinhas de Dul-men, fazendo votos a13 de Novembro de1803. Ao longo da sua

vida associou-se à Paixão de Cristo,sentindo no seu corpo essas dores.Em 1813 os seus estigmas foram ana-lisados por uma comissão episcopal,que se pronunciou positivamente.

Em Setembro de 1818 visitou o poe-ta e escritor convertido ClementeBrentano (1778-1842), que foi pas-sando depois a escrito as revelaçõesda vidente sobre a vida de Cristo.

Assim, publicou-se em 1833 A do-lorosa paixão de Nosso Senhor JesusCristo, segundo as meditações deAnne Katherine Emmerich.

Sobre Anne Katherine, Brentano

haveria de es-crever: “Ela éa mãe do gé-nero humano,a nova Eva. Mas ela é também suafilha”.

Com os manuscritos deixados peloautor, o redentorista Schmöger publi-cou, entre 1858 e 1880, os três tomosda Vida e morte do Nosso Senhor eSalvador Jesus Cristo segundo asvisões da bem-aventurada AnaCatarina Emmerich.

A vidente faleceu em Dulmen, a 9 deFevereiro de 1824.

Anne, de A Dolorosa Paixão, beatificada em Outubro

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Miscelânea

As grandes urbes já se conformaram, coexistindo resig-nadamente com as borradelas da autoria dos grafiteiros. Porde borradelas se tratar, os grafittis são amaldiçoados portodos, ou quase todos.

As coisas podiam ser bem diferentes, como se pode com-provar pela amostra junta. São casas da Sardenha, alindadasgraças à inspiração e à criatividade de grafiteiros que, semsombra de dúvida, manifestam perante a comunidade posiçãoque situamos nos antípodas dos seus colegas portugueses.

Grafittis criativosNA SARDENHA

JovensVoluntários Verdes emSetúbal

Jovens voluntários vão ajudar a pre-venir incêndios na região de Setúbal.A iniciativa pertence ao Centro dePromoção Ambiental e Conservaçãoda Natureza (CPACN), integrando-seno projecto Portugal Verde.

Estes voluntários vão participar emacções de vigilância, prevenção ecombate de incêndios. Com esta lou-vável acção, pretende-se que osfogos florestais não atinjam este ano

as proporções calamitosas de 2003.As principais áreas cobertas serão o Parque Natural da Arrábida e a Península

de Tróia até Melides. Os jovensenvolvidos participarão também emacções de sensibilização da popu-lação.

As inscrições para o trabalho volun-tário ainda estão abertas e são feitasna sede do CPACN, em Setúbal.

Consultas em Psicologia daSaúde

A Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade doPorto, sob responsabilidade da coordenação da área de Psicologia e Saúde,anunciou a abertura de consultas ao público relacionadas com determinadaspatologias cuja intervenção psicológica se tem relevado eficaz, quer na quali-dade de vida, quer no prognóstico e ou adesão terapêutica.

Estão abertas marcações para Intervenção Psicológica destinada a pessoascom doença cardíaca (pós enfarte); com doença oncológica; com distúrbios ali-mentares (anorexia e obesidade); pessoas portadoras de diabetes, comdependência tabágica e cidadãos portadores de vírus VIH.

Adicionalmente as consultas estão também abertas aos familiares próximoscuja função de cuidador tem um papel importante.

As consultas são asseguradas por licenciados em Psicologia com experiêncianas respectivas áreas e sob a supervisão de professor doutorado coadjuvadopor assistentes.

A intervenção é meramente psicológica, proporcionando um suporte emo-cional, alteração de estilos de vida, técnicas de redução de stress/ansiedade edepressão, fomentando a adesão terapêutica, não dispensando em caso algumo acompanhamento médico inerente às doenças. Estas consultas são pagas,custando 25 euros as individuais ou 100 euros as realizadas em grupo. Nesteúltimo caso, o preço refere-se a dez sessões.

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SEGUNDO ESTUDO DA OIT

Eliminação do trabalho infantil beneficiará países pobres

A eliminação do trabalho infantil e oregresso das crianças à escola poderágerar a longo prazo benefícios naordem dos 5,1 triliões de dólares paraos países pobres. Esta uma das con-clusões de um estudo da OrganizaçãoInternacional do Trabalho (OIT). Pio-neiro no seu género, este estudodefende que o trabalho infantil poderá

ser eliminado mediante o desenvolvimento de um programa de educação uni-versal a realizar até 2020, com um custo de 760 mil milhões de dólares.

No mundo existem cerca de 246 milhões de crianças exploradas. No total, 179milhões de menores estão expostos a terríveis condições de trabalho, pondoem risco a própria vida e colocando em perigo a saúde física, mental e moral.

De acordo com o documento divulgado pela OIT, se durante os cinco pri-meiros anos de eliminação do trabalho infantil os custos seriam maiores do queos benefícios, ao final de 16 anos a tendência recuaria, com os proventosatingindo os 60 mil milhões de dólares por ano.

Os benefícios seriam maiores do que os custos numa proporção de 6,7 para1, isto apesar de algumas regiões poderem vir a ser mais beneficiadas do queoutras. No norte do continente africano e no Médio Oriente a relação seria de8,4 para 1, enquanto que na África subsaariana a estimativa baixa de 5,2 para1. Na Ásia seria de 7,2 para 1 e na América Latina de 5,3 para 1.

As famílias pobres que vivem do rendimento dos filhos sofreriam a curto prazoos efeitos deste programa, mas a longo prazo a maioria delas beneficiaria, jáque uma criança com acesso à escola terá maior potencial para ganhar a vidado que um jovem analfabeto. Segundo a OIT, cada ano de escolaridade paraum adolescente até aos 14 anos representa 11% de salário acrescido no seufuturo emprego.

A Fechar

Este ano, o Dia Internacional das Famílias assume um significado especial,porque em 2004 se assinala o décimo aniversário do Ano Internacional da Família.Assim, o Dia Internacional das Famílias é uma oportunidade para recordarmos aimportância dos princípios e objectivos originais do Ano, a nível nacional, regionale mundial.

Durante os últimos 10 anos, registaram-se progressos. Muitos Estados Membrosestão a instituir um programa de acção nacional. Envidam-se esforços para que asperspectivas das famílias sejam integradas na legislação de cada país, na formu-lação de políticas inovadoras e na elaboração de programas. A investigação sobretemas relacionados com a família está a enriquecer e a influenciar políticas e pro-gramas, ao mesmo tempo que a colaboração no seio do sistema das NaçõesUnidas contribui para a criação de um quadro para a acção mundial. A sociedadecivil mobiliza e coordena programas e acções de apoio às famílias. Na realidade, ointeresse, empenhamento e determinação evidenciados por todos os actores, atodos os níveis, mostram que o bem-estar das famílias se tornou um alvo prioritárioda atenção de todas as partes interessadas no desenvolvimento nacional e na

erradicação da pobreza.Contudo, muito há ainda a fazer. Neste Dia Internacional das Famílias, exorto os Governos, a sociedade civil e os indi-

víduos a continuarem a trabalhar em prol de políticas e programas que reconheçam e apoiem os contributos de cadafamília para os membros da mesma, para a sua comunidade e para a sociedade em que se insere.

Reafirmemos o nosso empenhamento em assegurar um ambiente susceptível de apoiar as famílias, para benefício dasgerações vindouras.

Mensagem de Kofi AnnanDIA INTERNACIONAL DAS FAMÍLIAS

Solidão aumentaEm Portugal, há cada vez mais pes-

soas a viver sós. Mais de meio milhãode portugueses vivem sozinhos.Apesar de ainda não serem tantoscomo no resto da Europa, aumentaram44,1 por cento de 1991 para 2001.

Há 12 anos, os Censos assinalavam397.372 pessoas a viver sozinhas. Em2001, o número subiu para 572.620.Olhando à representatividade no seioda população portuguesa, eram quatropor cento em 1991 e passaram a cor-responder, dez anos depois, a 5,5 porcento dos residentes no país.

- 67,5 por cento dos portugueses quevivem sós são mulheres;

- 8,4 por cento das pessoas quemoram sozinhas têm menos de 30anos de idade;

- 17,3 por cento estão entre os 30 e os49 anos (aqui, a proporção de mu-lheres é inferior à dos homens);

- 19,8 por cento têm idades compreendidas entre os 50 e os 64 anos; - 54,4 por cento têm mais de 65 anos (neste grupo, a proporção de mulheres

é praticamente o quádruplo dos homens); - 36,7 por cento encontram-se na faixa etária dos 65-79 anos; - 14,7 por cento têm mais de 80 anos (as mulheres representam 11,4 por

cento); - 24,4 por cento das pessoas que vivem sós concentram-se na Grande Lisboa

e 10,2 por cento no Grande Porto; seguem-se a Península de Setúbal (7,4 porcento) e o Algarve (4,8 por cento).

Dados do Instituto Nacional de Estatística, relativos aos Censos 2001

Acidentes de trabalho

No ano passado morreram 181 pes-soas vítimas de acidentes nos locaisde trabalho, segundo dados de umrelatório da Inspecção Geral doTrabalho (IGT), apresentado em Maio.Regista-se uma diminuição de 17%em relação a 2002.

Na construção civil morreram 88pessoas, menos 15% que em 2002.Para o Inspector-Geral do Trabalho,este número demonstra que "na cons-trução em Portugal é possível traba-lhar com segurança". Ataíde dasNeves realçou o facto de não ter ocor-rido nenhum acidente mortal nasobras dos 10 estádios para o EURO2004.

Ainda segundo Ataíde das Neves,estes números serão tanto mais signi-ficativos se atentarmos no aumentode 19% do número de visitas inspecti-vas realizadas em todos os sectores.

181 mortos em 2003

Junho 2004