solidariedade – n.º 64 – agosto 2004

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Agosto 2004 2.ª Série N.º 64 Mensal Cónego Francisco Crespo Director JOAQUINA MADEIRA EM ENTREVISTA Queremos reduzir para metade o tempo médio de atribuição do RSI Espaço de Opinião Cónego Francisco Crespo: Será que o Presidente da República se enganou? Padre José Maia: Governo esqueceu políticas sociais Crónicas de: Henrique Rodrigues José Leirião Mafalda Santos Paulo Eduardo Correia Preço: 0,50 euros Mensário da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade CNIS Autorizado pelos CTT a circular em invólucro fechado de plástico. Autorização DEO/415/204004/DCN Acordos assinados com 18 Câmaras do distrito Centro Social e Paroquial de Bobadela denuncia: Em Portugal morre - se à fome! Dia histórico para a UDIPSS do Porto Entrevista com o Presidente da UDIPSS de Braga

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Versão integral da edição n.º 64 (2.ª Série), do mensário “Solidariedade”, órgão oficial da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNIS). Director: Cónego Francisco Crespo. Porto, Portugal, Agosto 2004. Não se esqueça de que pode ver o documento em ecrã inteiro, bastando para tal clicar na opção “full” que se encontra no canto inferior direito do ecrã onde visualiza os slides. Também pode descarregar o documento original. Deve clicar em “Download file”. É necessário que se registe primeiro no slideshare. O registo é gratuito. Para além de poderem ser úteis para o público em geral, estes documentos destinam-se a apoio dos alunos que frequentam as unidades curriculares de “Arte e Técnicas de Titular”, “Laboratório de Imprensa I” e “Laboratório de Imprensa II”, leccionadas por Dinis Manuel Alves no Instituto Superior Miguel Torga (www.ismt.pt). Para saber mais sobre a arte e as técnicas de titular na imprensa, assim como sobre a “Intertextualidade”, visite http://www.mediatico.com.pt/manchete/index.htm (necessita de ter instalado o Java Runtime Environment), e www.youtube.com/discover747 Visite outros sítios de Dinis Manuel Alves em www.mediatico.com.pt , www.slideshare.net/dmpa, www.youtube.com/mediapolisxxi, www.youtube.com/fotographarte, www.youtube.com/tiremmedestefilme, www.youtube.com/discover747 , http://www.youtube.com/camarafixa, , http://videos.sapo.pt/lapisazul/playview/2 e em www.mogulus.com/otalcanal Ainda: http://www.mediatico.com.pt/diasdecoimbra/ , http://www.mediatico.com.pt/redor/ , http://www.mediatico.com.pt/fe/ , http://www.mediatico.com.pt/fitas/ , http://www.mediatico.com.pt/redor2/, http://www.mediatico.com.pt/foto/yr2.htm , http://www.mediatico.com.pt/manchete/index.htm , http://www.mediatico.com.pt/foto/index.htm , http://www.mediatico.com.pt/luanda/ , http://www.biblioteca2.fcpages.com/nimas/intro.html

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Page 1: SOLIDARIEDADE – N.º 64 – AGOSTO 2004

Agosto 20042.ª Série N.º 64Mensal

Cónego Francisco CrespoDirector

JOAQUINA MADEIRA EM ENTREVISTA

Queremos reduzir parametade o tempo médiode atribuição do RSI

Espaço deOpinião

Cónego Francisco Crespo:

Será que o Presidente

da República se

enganou?

Padre José Maia:

Governo esqueceu

políticas sociais

Crónicas de:

Henrique Rodrigues

José Leirião

Mafalda Santos

Paulo Eduardo Correia

Preço: 0,50 euros

Mensário da

Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade

CNIS

Autorizado pelos CTT a circular em invólucro fechado de plástico. Autorização DEO/415/204004/DCN

Acordos assinados com 18 Câmaras do distrito

Centro Social eParoquial de Bobadela denuncia:Em Portugal morre-sse à fome!

Dia histórico para a UDIPSS do Porto

Entrevista com oPresidente da UDIPSS de Braga

Page 2: SOLIDARIEDADE – N.º 64 – AGOSTO 2004

Depois de vários dias de expecta-tiva, ansiedade, suspeitas, apostas,correrias de altas personalidades domundo da política, do social, da e-conomia, depois de ouvir o Conse-lho de Estado, o Senhor Presidenteda República anunciou, finalmente,no dia 9 de Julho, a sua decisãosobre o futuro de Portugal.

Escolheu a continuidade da coli-gação PSD/CDS, resultado daseleições de 2002, não obstante oPrimeiro-Ministro ter abandonado oGoverno para se candidatar ao ter-ceiro lugar mais importante domundo, como novo Presidente daComissão Europeia.

As reacções pró e contra não sefizeram esperar, oriundas de todosos quadrantes e, cada um livremen-te exprimiu a sua sentença. Seráque o Presidente da República seenganou?

Agora que a sua decisão está to-mada é o mesmo Presidente a dizeralto e em bom som: "O Governoestá constituído, o programa estáaprovado, que governe. A oposiçãoque faça o seu papel."

Claro que não é nossa intençãoestarmos aqui a tecer juízos de

valor sobre esta decisão nem sobreos actuais membros que compõemo XVI Governo Constitucional, nemtão pouco daqueles que mais direc-tamente nos dizem respeito, no quese refere ao nosso trabalho concre-to de IPSS, que se orgulha de asse-gurar mais de 70% das políticas deacção social no nosso País. Paranós o Governo foi e é sempre aque-le que temos, venha donde vier. János habituámos há muito a traba-lhar com todos.

Queremos é sim, vermos respeita-dos os nossos direitos constitucio-nais e garantida a estabilidade donosso trabalho que nos ocupa quo-tidianamente em prol dos maiscarenciados.

Mudar é sinal de vida. Quandoessa mudança implica também compessoas a expectativa cresce, comoé o caso. Vamos ver se não ficamosdesiludidos.

O Sr. D. Manuel Martins, na entre-vista que nos concedeu no últimonúmero do Solidariedade afirma emdeterminada altura: "Oxalá que meengane mas vamos cair numa de-sordem cujas consequências, nestemomento, não é possível avaliar…".

E o Padre Maia no seu estilo pecu-liar lançou esta semana um repto:"Governo esqueceu políticassociais", solicitando ao novo Exe-cutivo que garanta aos portuguesesem situação de pobreza e exclusãosocial, condições de acesso ao di-reito de igualdade de oportunidadese inserção social, deixando claro oque é devido pela Segurança Sociale o que deve ser assegurado pelaacção social e solidariedade.

É preciso não esquecer que, emrecente estudo vindo a público, afir-ma-se que mais de 22% dos por-tugueses vivem em estado depobreza.

Nestes últimos dias, a propósito donovo Governo, ao ouvirmos os dis-cursos oriundos de todos os quad-rantes, as palavras "social" e os"pobres" aparecem com muita fre-quência, ao contrário daquela outraque nos dá vigor e entusiasmo nonosso trabalho quotidiano: a "soli-dariedade", embora, saibamos, elaseja não só uma obrigação antes demais de natureza moral, mas tam-bém jurídica e política, que sealarga tanto às pessoas individuais,como aos povos.

O Papa João Paulo II, na suaEncíclica Solicitudo rei Socialis,avisa-nos que os povos são, emdignidade, como as pessoas, todosiguais, e assim devem ser tratadosnas suas mútuas relações.

Contra o abuso de certas práticas,avisa o Pontífice: "a solidariedadeajuda-nos a ver o "outro" - pessoa,povo ou nação - não como uminstrumento qualquer, que se explo-ra, a baixo preço, para o abandonarquando já não serve; mas sim comoum nosso "semelhante", um auxílioque se há-de tornar participante,como nós, no banquete de vida parao qual todos os homens são igual-mente convidados por Deus".

No meu papel de Presidente daCNIS, que engloba muitos milharesde dirigentes, voluntários, funcio-nários, amigos e utentes de algu-mas milhares de IPSS deste país,quero augurar ao novo executivo asmelhores felicitações para uma go-vernação justa e saudável em todosos domínios em prol de um Portugalmais solidário e que contem sempreconnosco como parceiros para aju-dar à resolução dos gravíssimosproblemas sociais do nosso país.

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Abertura

EditorialPor Cónego Francisco Crespo

Será que o Presidente daRepública se enganou?

Encontram-se à disposição das UDIPSS e IPSS,desde o início do mês de Agosto de 2004, no siteda Estrutura Técnico Administrativa do AcordoCNIS-IEFP os seguintes consultórios: Estudos eProjectos; Formação Profissional; Contabilidadee Fiscalidade; Higiene e Segurança no Trabalho;Qualidade.

Informamos ainda que, a partir do dia 1 deAgosto, as novas instalações da EstruturaTécnico Administrativa do Acordo CNIS-IEFPpassam a funcionar na seguinte direcção:Avenida D. João I, n.º 692 - 4435 Rio Tinto.

Telefone e Fax: 224 881 958

Gabinete de Apoio da CNIS

A Associação Famílias, com sede em Braga, saudou, em nota enviada à comunicação socialque a seguir transcrevemos, a passagem do Dia Nacional dos Avós:

"Os Avós, voz e presença do passado, são hoje esperança que deve alimentar o futuro!Verdadeiras raízes das árvores familiares, nem sempre respeitados e acolhidos, os Avós sãoelementos fundamentais de uma Família.

A memória familiar passa por eles, mantendo presente o património espiritual e moral de cadafamília. São âncoras do presente, podendo evitar derivas perigosas, exercendo a pedagogia dadisponibilidade, da escuta e da tolerância.

Os Avós são, pela sua experiência e vivência pessoais, manuais que se não devem impor, maspropor às novas gerações.

Livros de experiências com êxitos e fracassos, os Avós podem, se forem discretos, sugerirleituras mais serenas do mundo contemporâneo que também é o deles!

Os Avós são páginas, algumas já delidas pelo tempo e rasgadas pela usura de Cronos; mere-cem carinho e atenção, o carinho e a atenção que se deve prestar, por justiça e gratidão, aosaber e dedicação que transmitiram e ainda transmitem.

É dia de celebrarmos os Avós. Com alegria. Muita gratidão. Muita ternura. Para os crentes, éo dia de dar graças a Deus pelos Avós que tivemos, temos e somos.

No 10.º aniversário do Ano Internacional da Família, faz, mais do que nunca, sentido celebrareste Dia Nacional dos Avós.

Dia Nacional dos Avós

[email protected] da CNIS

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Actualidade

O Presidente da Câmara de Aveirogarantiu aos responsáveis do BancoAlimentar contra a Fome que não fi-carão sem instalações, compromissodado na sequência de notícias queapontam a construção de uma aveni-da e equipamentos ligados a um sis-

tema de transportes na zona onde seencontra instalada aquela instituição.Martinho Pereira, presidente do Ban-co, afirmou estar "sossegado, maspreocupado", preocupação residentena necessidade de garantir uma alter-nativa para o banco não deixar de fun-cionar.

Caso tal se verificasse, criar--se-ia "um problema social para 166instituições" que recebem, com regu-laridade, os donativos do BancoAlimentar contra a Fome, dádivas quesão posteriormente distribuídas porum universo de 26 mil pessoas caren-ciadas.

Banco Alimentar de pedra e cal em Aveiro Florival Candeias, conhecido como o

"artista da Cercibeja", foi seleccionadopara participar no concurso de arteeuropeu, o 3.º Euward 2004, destina-do a pessoas com deficiência mental,tendo também sido nomeado para aatribuição do 3.º Prémio Europeu dePintura e Artes Gráficas.

O concurso, realizado em Munique,na Alemanha, seleccionou, em cercade 1000, os 27 melhores trabalhos,estando Florival Candeias incluídoneste restrito lote de artistas.

Florival representará o nosso país naexposição europeia que terá lugar noHaus der Kunst de Munique, no próxi-mo mês de Setembro.

A Cercibeja é uma Cooperativa deEducação e Reabilitação de CidadãosInadaptados, fundada em 1978 com o

intuito de prestar assistência educativaa crianças que, por dificuldades ex-pressas de aprendizagem ou por apre-sentarem deficiências (motoras, sen-soriais e/ou psicológicas), não con-seguem integrar-se no ensino regular.

Artista da Cercibeja conquista a Europa

A Câmara Municipal de Famalicãoacaba de investir um milhão e setentae dois mil euros na compra de ter-renos para realojamento de trêsdezenas de famílias de etnia ciganaque, desde 1974, vivem no degradadoBairro da Estação.

O presidente da edilidade conside-rou esta decisão camarária como ummomento histórico, atendendo às de-zenas de anos que levava sem reso-lução à vista.

A aquisição dos terrenos, com 2.366metros quadrados, permitirá libertar aárea actual para a construção do inter-face rodo-ferroviário, obra integradana modernização da Linha do Minho,entre Lousado e Braga.

A construção das habitações pararealojamento das trinta famílias ciga-nas fica a cargo da REFER.

Em Julho, a autarquia famalicenseapresentou também o Plano de De-senvolvimento Social do Concelho

para o biénio 2004/2005.“Fazer de Vila Nova de Famalicão

um concelho com menores níveis depobreza, maior integração social emaiores níveis de emprego” é, para opresidente da edilidade, o principalobjectivo do plano.

Armindo Costa definiu o Plano deDesenvolvimento Social como “umprojecto gigantesco, rumo a uma cul-tura social de partilha, que deriva deuma conjugação de esforços entre aCâmara Municipal e as diversas insti-tuições nacionais, regionais e locaiscom responsabilidades na área so-cial”.

Trata-se de um guia de acção com-posto por 150 páginas, discutido eaprovado em sede do Conselho Localde Acção Social, que começou a serdesenvolvido no início deste ano eque se prolongará até final de 2005.

O abandono escolar, a toxicode-pendência, os idosos dependentes edesintegrados, as famílias em situa-ção de pobreza e exclusão, o desem-prego e as crianças e jovens em situa-ção de risco, foram as principais preo-cupações apontadas pelo diagnósticosocial concelhio entretanto realizado,para os quais, o Plano de Desen-volvimento Social aponta várias medi-das de intervenção.

Ciganos realojados em Famalicão

Vinte jovens de várias ilhas dos Açores, inte-grados num projecto de Ocupação de TemposLivres (OTL), vão colaborar com a PSP na reali-zação de um estudo sociológico sobre asdependências no arquipélago e a sua relaçãocom casos de violência.

Na primeira fase, um sociólogo da PSP minis-trará aos jovens formação sobre as causas e consequências das dependênciasmais frequentes nas ilhas.

Numa segunda fase, os jovens tratarão de recolher inquéritos que pretendemapurar quais as dependências mais comuns, a dimensão e caracterização dofenómeno, assim como a sua ligação às questões de violência. A amostra doestudo abrange as nove ilhas dos Açores e inclui cerca de três mil inquiridoscom mais de 11 anos.

Jovens dos Açores colaboram com a PSP

Um dos trabalhospremiados em 2002

Haus der Kunst, em Munique

A Fundação Assistência MédicaInternacional (AMI) anunciou que vaidisponibilizar ajuda económica de 80mil dólares para acções sociais dacomunidade portuguesa nos Estadosvenezuelanos de Vargas e Arágua eno Distrito de Caracas.

Segundo Fernando Nobre, presi-dente da AMI, 30 mil dólares destinam-

-se à Beneficência de Damas Por-tuguesas de Caracas, para apoios naárea de saúde no Lar da Terceira Ida-de Padre Joaquim Ferreira e igualquantia a trabalhos de construção do"Geriátrico Lusovenezolano de Mara-cay" (lar de idosos), no Estado deArágua.

Os restantes 20 mil dólares serão

canalizados para a Junta de Bene-ficência Portuguesa de Vargas, paraassistência social a emigrantes, ondeaquele responsável referiu ter encon-trado "uma comunidade que estámuito carente", na sequência das trá-gicas inundações de Dezembro de1999 que provocaram milhares demortos e afectaram centenas de

famílias portuguesas. Nobre referiu existir na nossa comu-

nidade "uma descrença" nas autori-dades portuguesas, na sequência de"promessas que não terão sido cum-pridas, apoios que não terão sidodados e uma falta de atenção por partedas autoridades para os seus proble-mas reais".

AMI disponibiliza ajuda económica para portugueses abandonados na Venezuela

Uma em cada mil crianças sofre de reumatismo em Portugal, de acordo comprojecções baseadas em estudos internacionais.

Um terço desses doentes fica a sofrer da doença para o resto da vida. Febre,manchas na pele, dores e inflamações articulares são alguns dos sintomasdessas doenças.

Segundo Melo Gomes, presidente da Associação Nacional de Doentes comArtrites e Reumatismos da Infância, os avanços ao nível de novos fármacosabrem novas perspectivas ao tratamento, mas muitos deles ficam extrema-mente caros para as famílias e para o Serviço Nacional de Saúde.

Reumatismo atinge uma em cada mil crianças

Agosto 2004

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Em destaque

Falta gente jovem nas direcções das IPSS

Solidariedade - Esteve à volta de 15anos na Segurança Social, viu o fun-cionamento das IPSS do outro lado...

Manuel A. Lomba - É verdade. Essalonga e profícua experiência serviu--me, entre outras coisas, para com-provar a falta que as IPSS fazem.Norteámos sempre a nossa actuaçãode molde a que as instituições nosconsiderassem seus parceiros, atémesmo motivadores do arranque dasinstituições.

Solidariedade - Em artigo de opi-nião publicado há meses atrás no So-lidariedade, alertava para algum ex-cesso de zelo inspectivo por parte daSegurança Social. Alerta baseado emfactos concretos, presume-se…

Manuel A. Lomba - Confrontamo--nos, hoje em dia, com um facto novo,residente na grande mediatização danossa sociedade, instituições de soli-dariedade incluídas. Há uma mediati-zação excessiva, ninguém está hojeimune à interacção dos órgãos decomunicação social. Se aliarmos estefacto à tentação, que sempre surge,de passar o macaco para as costas dealguém, está tudo dito. É verdade queouvi queixas de dirigentes de algumasinstituições. Lamentavam o facto dequase serem tratados como respon-sáveis de associações de malfeitores!

Solidariedade - Quanto à UDIPSSde Braga…

Manuel A. Lomba - Creio que deno-tamos um grande dinamismo. No dis-trito existem 313 IPSS, nós já temos192 filiadas, número que vai crescen-

do paulatinamente. Quando iniciámosfunções eram apenas 173.

Solidariedade - Mesmo assim aindaficam 121 de fora…

Manuel A. Lomba - Quinze sãoMisericórdias. Outras, pela sua dimen-são nacional, acham que não necessi-tam de se filiarem na União. No pólooposto acontece o mesmo. Há algu-mas instituições de dimensão muitopequena, e por esse facto julgamdesnecessária a sua filiação.

Solidariedade - As instituições dodistrito têm sabido acompanhar osnovos tempos?

Manuel A. Lomba - Prestamserviços de inegável e ímpar valor,têm um conjunto de valências impres-sionante. Constatamos, no entanto,que as chamadas instituições tradi-cionais revelam alguma dificuldadeem modernizar-se, apostando emnovas valências. Quanto a mim de-viam arriscar nessas apostas, aten-dendo ao saber de experiência feitodurante muitos e muitos anos.

Solidariedade - E quanto à dis-tribuição pelos vários concelhos dodistrito, ela é efectiva ou nota-segrande concentração na capital?

Manuel A. Lomba - Há anos atrás

poderíamos encontrar algum déficenessa cobertura, hoje em dia não.Com uma particularidade muito vinca-da nos meios rurais, a de se sentircom mais acuidade o espírito deentreajuda. São hábitos que vêm delonge, muito enraizados, são laços devizinhança muito fortes, as pessoasestão habituadas a socorrer os vizi-nhos nos momentos de maior aflição.

Por outro lado, há que contar, nosmeios rurais, com a capacidade mobi-lizadora dos próprios párocos. Naszonas urbanas nota-se mais um pen-dor reivindicativo, muita lamentação,muita crítica em relação aos poderesinstituídos.

Solidariedade - No distrito tambémse sente o peso do progressivo enve-lhecimento da população?

O Solidariedade prossegue, nestaedição, a ronda pelas UDIPSS ini-ciada no passado mês de Julho.Convidado deste mês o Dr. ManuelAntunes Lomba, Presidente daUDIPSS de Braga. Licenciado emDireito, exerceu grande parte da suaactividade profissional servindo aadministração pública, tendo presidi-do aos Conselhos Directivos dosCentros Regionais da SegurançaSocial de Castelo Branco, Braga eVila Real.

Recentemente reformado, man-tém-se no activo, dividindo o seutempo pelo apoio às IPSS e peloexercício do que apelida de advoca-cia ocupacional. Tem 66 anos.

Presidente da UDIPSS de Braga:

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Aproximar a população toxicodepen-dente, intervindo ao nível da reduçãode riscos, apoio sanitário e psico--social, é o objectivo primacial do pro-jecto Aproximar, levado a cabo peladelegação de Braga da Cruz VermelhaPortuguesa.

Este projecto, iniciado em Outubrodo ano passado, presta apoio a cercade 120 toxicodependentes do distritode Braga.

Para dar mais eficácia a esta louvá-vel iniciativa, a CVP conta, desde opassado mês de Julho, com um posto

móvel, unidade que funcionará comouma peça fundamental no processo derecuperação e integração dos toxi-codependentes.

Para além do atendimento e encami-nhamento para as instituições e ser-viços adequados, o posto móvel fun-cionará como local adequado para atroca de seringas e distribuição de pre-servativos. Isto para além das impor-tantes acções de informação e sensi-bilização.

Em declarações ao Correio doMinho, o Presidente da delegação de

Braga da CVP considera que este pos-to móvel representará uma melhoriasignificativa no serviço prestado aostoxicodependentes:

"Esta viatura, comparticipada peloprojecto Aproximar, teve custos relati-vamente elevados para a delegação,mas não duvido que será uma mais--valia para a nossa missão de ajudaraqueles que de nós necessitam,porque nos oferece condições paraefectuar rondas nocturnas, o que per-mite um alargamento da população eum maior conhecimento da dinâmica

dos indivíduos", referiu FernandoAlvim.

O veículo importou num custo totalde 50 mil euros, com 20% de compar-ticipação do Instituto da Droga e daToxicodependência (IDT).

Intervirá em bairros sociais degrada-dos, onde se verifica grande afluênciade tráfico e consumo de drogas e ondehabitam famílias com um ou maismembros toxicodependentes.

Percorrerá ainda as zonas frequen-tadas por consumidores que se ocu-pam da arrumação de carros.

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Em destaqueManuel A. Lomba - Sente-se sobre-

tudo nas zonas rurais, e aí não sere-mos excepção em relação a outraszonas do país. O panorama nos meiosrurais é assustador. Costumo dar esteexemplo: eu tenho uma casa na al-deia, com um pequeno quintal. Poisnem a fruta me roubam, queixo-meeu! E isto porque já quase por lá nãohá crianças. A escola da aldeia ficaperto de minha casa, mas quando lávou as laranjas estão intactas. A esco-la é frequentada apenas por cincoalunos.

Há outra faceta para encararmos oenvelhecimento da população. Nor-malmente, quando falamos nisto, pen-samos apenas nos idosos que neces-sitam de apoio. Mas há bastantesreformados plenos de pujança, commuita vontade, muita energia para umsem número de projectos. Nós vemosmuitas pessoas que, atingida a refor-ma, passam a dedicar-se à pintura, auma vasta série de actividades paraocuparem os seus tempos livres.Porque não, então, sensibilizarmosesta camada da população para o vo-luntariado? Estou certo que, semprescindirem das actividades queguardaram para a reforma, consegui-riam algum tempo para dedicar ao seusemelhante, não tenho a menor dúvi-da disso. Cabe-nos a nós, às institui-ções e à UDIPSS, ir ao encontrodessas pessoas, motivando-as, apre-sentando-lhes propostas. Uma das ini-ciativas que a União vai lançar, e queservirá também para reflexão destatemática, é um seminário sobre o vo-luntariado, a ter lugar já no próximomês de Outubro, mais propriamenteno dia 23.

Solidariedade - Como encara amunicipalização da assistência social?

Manuel A. Lomba - É um erro políti-co tremendo. E olhe que eu já fuiautarca, pelo que também aí conheçoo funcionamento da máquina por den-tro. As pressões seriam muitas, a ten-tação para partidarizar seria grande.Apesar de tudo, neste campo especí-fico, o poder central é muito mais neu-tro, porque está mais longe.

Solidariedade - As instituições desolidariedade social do distrito deBraga têm sido permeáveis à reno-vação dos seus quadros?

Manuel A. Lomba - No geral é ver-dade que falta gente jovem. Há insti-tuições cujas direcções patenteiammédias etárias bastante elevadas.Encontro uma explicação para talfacto. Aos 30, 40, 50 anos, as pessoasestão na força da vida, muito absorvi-das pelos seus projectos profissionais,pessoais e familiares. Sobra poucotempo para o voluntariado, porque,como sabe, as direcções das IPSSfuncionam todas na base do voluntari-ado. Por outro lado, esta questão darenovação pode constituir-se comoum pau de dois bicos. Temos institui-ções que, para forçar a renovação,incluíram nos seus estatutos os 75anos de idade como limite para o exer-cício de funções directivas. E isto temoriginado que pessoas ainda com bas-tante vontade de trabalhar, econdições físicas e mentais para ofazerem, se vejam arredadas de taisfunções. Não é uma questão de reso-lução simples.

Solidariedade - Como se traduz oapoio da União às instituições do dis-trito?

Manuel A. Lomba - Vamos dando oapoio que podemos dentro das possi-bilidades que temos. Apoio contabilís-tico em duas vertentes - através de

orientações e também através daelaboração da contabilidade das insti-tuições com mais dificuldades; apoiojurídico, através de um jurista quecolabora com a UDIPSS, e apoioadministrativo, prestado através deuma funcionária em tempo parcial.Posso dizer-lhe que as solicitaçõessão constantes, e que não temosmãos a medir.

Solidariedade - As instituições dodistrito vão acompanhando a revo-lução informática, ou estão a ficar paratrás neste capítulo?

Manuel A. Lomba - Há muito a fazernesse aspecto. Mas ainda há dias fizcontas e reparei, com satisfação, quejá temos perto de oitenta instituiçõesdispondo de endereço de correio elec-trónico, o que é bastante bom a todosos níveis, seja na facilitação dascomunicações, como também na pou-pança de custos. Não faz ideia do di-nheiro que gastámos a enviar, empapel, o acordo da CNIS com oMinistério da Solidariedade a todas asinstituições.

Solidariedade - Sabemos, e noticiá-mo-lo na edição anterior, que aUDIPSS de Braga desencadeou umaronda de contactos com as institui-ções do distrito, ronda tendente aanalisar os termos do acordo assina-do, em Maio, pelo Ministério doTrabalho e da Solidariedade Social e aConfederação Nacional das IPSS. Jáhá balanço destes contactos?

Manuel A. Lomba - Terminamosessa ronda amanhã [14 de Julho]. Obalanço é extremamente positivo,desde logo porque proporcionou àdirecção da União uma maior aproxi-mação com as instituições, ficámos aconhecê-las melhor. Quanto ao acor-do propriamente dito, ao seu grau de

execução e dúvidas que pode susci-tar, registámos duas tendências.Nalguns locais, nomeadamente noconcelho de Braga, opiniões maiscríticas. Noutros locais, como emGuimarães, uma maior preocupaçãocom o esclarecimento. No geral, eeste é um ponto negativo que urgecolmatar, verificámos que a infor-mação interna ou não circula, ou cir-cula com deficiências. Encontrámosvários dirigentes que nem sequer ti-nham lido o clausulado do acordo.

Solidariedade - No último númerodo Solidariedade, demos conta deoutra notícia de Braga. A Presidenteda Comissão de Protecção deCrianças e Jovens denunciava o factodestas estruturas lutarem com falta demeios, quer humanos, quer logísticos,para levarem a bom porto processosde promoção e protecção. Maria deFátima Soeiro tem razão?

Manuel A. Lomba - Eu creio queestas comissões foram criadas con-tando servir-se dos meios dos outros,dos meios de terceiros, e isso compli-ca bastante as coisas. Houve umainstituição que disponibilizou um psi-cólogo para trabalhar com a Co-missão. Acontece que o trabalho émuito intenso, e o referido quadro viu--se ocupado a tempo inteiro nas novastarefas. Ora, a instituição também pre-cisa da sua colaboração, doutra formanão o teria contratado. Resultado:passado um ano de colaboração,houve necessidade que o dito psicólo-go regressasse à instituição deorigem. É a isto que me refiro quandofalo da utilização dos meios de ou-trém.

Entrevista de D. Pedro Alves

Agosto 2004

“Aproximar” conta com posto móvel

Page 6: SOLIDARIEDADE – N.º 64 – AGOSTO 2004

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Vida Associativa

A Comissão propôs um trabalho dereorganização técnica das várias dis-posições sobre o IVA existentes aolongo dos anos, de forma a tornar otexto mais compreensível, sem toda-via alterar o significado e o alcancedas disposições COM(2004) 246 final.

Já desde 1996 que se fala de que apolítica fiscal da UE tem como objecti-vo declarado a harmonização dascondições de funcionamento do mer-cado interno, com a intenção de que oimposto IVA seja neutro, isto é, sejaigual em toda a UE.

A existência de taxas de IVA dife-rentes é apontada como um dosobstáculos ainda existentes para arealização do mercado interno eu-ropeu. Este objectivo tem muitasoposições, mas está de novo naordem do dia.

A Política Fiscal é um dos elementosque provoca a deslocalização dasempresas no interior da UniãoEuropeia, principalmente para osnovos países aderentes, além de ou-tros elementos.

A Comunicação da ComissãoCOM(2004) 101 final apresen-ta a sua visão da UE e dofuturo quadro financeiro para operíodo 2007-2013.

Com vista a colher integral-mente os benefícios do alarga-mento e de contribuir para aposteridade da Europa sãopropostas três grandes priori-dades: o desenvolvimento sus-tentável; dar pleno sentido àcidadania europeia; reforçar o papel da UE enquanto parceiro mundial.

Existe um ponto polémico que tem a ver com o montante da con-tribuição dos países: a Comissão pretende que seja pelo menos 1,24%do PIB de cada país e os grandes países ricos (França, Alemanha eInglaterra) pretendem contribuir apenas com 1%, o que é manifesta-mente insuficiente para cumprir o programa de coesão económica esocial na Europa a 25 membros ou 27 a partir de 2007.

As negociações continuam e prolongar-se-ão pelos próximos doisanos.

Desafios políticos e recursos orçamentais da UniãoAlargada 2007-2013

Sistema Comum de Imposto Valor Acrescentado

Soltas sobre o pulsar da Europa, por José Leirião

A exemplo do que aconteceu no Dia Mundial da Criança, as Instituições Particulares de Soli-dariedade Social da área do concelho de Baião - CECAJUVI (Centro de Convívio e Apoio àJuventude e Idosos de Santa Leocádia), OBER (Obra do Bem Estar Rural de Baião), Santa Casada Misericórdia de Baião e Centro Social de Santa Cruz do Douro, reuniram-se para mais umevento no passado dia 21 de Julho, desta feita dedicado à população idosa.

A iniciativa, que congregou mais de cem participantes, insere-se num movimento de parceria ecooperação que tem vindo a ser implementado no decurso do corrente ano, indo ao encontro daestratégia definida pelas direcções das respectivas instituições que, desta forma, encontram respos-tas concretas e objectivas para problemas e iniciativas de natureza social.

O encontro iniciou-se com a concentração dos utentes e alguns funcionários em Santa Leocádiade Baião, tendo daí partido para Montedeiras (Marco de Canaveses), onde teve lugar um almoço--piquenique.

Da parte de tarde aos idosos foi proporcionada a oportunidade de conhecerem e experienciaremo ambiente de uma discoteca (Torre de Nevões) que normalmente é frequentada por jovens. A maio-

ria dos idosos revelou boa disposição e muita energia, o que surpreendeu os mais novos. No final, foi oferecido um lanche pela administração daquele empreendi-mento turístico. De referir ainda que muitos idosos se mostraram entusiasmados com esta iniciativa, tendo manifestado desejos de voltar a repeti-la.

As IPSS de Baião agradecem à administração da Torre de Nevões a disponibilidade e o acolhimento prestados.

Idosos de Baião na discoteca

Tal como demos conta no último número do Solidariedade, a Misericórdia de Gaia celebrou, emambiente de festa, os seus 75 anos. A 26 de Junho, dia de aniversário da Santa Casa, o BispoEmérito de Setúbal, D. Manuel Martins, em representação do Bispo da Diocese do Porto, presidiuà celebração da Missa de Acção de Graças, na Igreja Paroquial de Mafamude. Seguiu-se jantar deconfraternização dos Irmãos e Amigos da Misericórdia, que contou com a presença do GovernadorCivil do Porto, do Vereador do Pelouro da Acção Social da Câmara Municipal de Gaia, em repre-sentação do seu Presidente e de outras entidades, bem como de várias Misericórdias.

A 29 de Junho, 120 idosos dos lares daquela instituição foram até à Quinta do Moinho, em Alvados,Porto de Mós, tendo ali passado um dia inesquecível, isto enquanto as 225 crianças da Creche,Jardim de Infância e do Centro de Acolhimento se deslocaram à Bracalândia, vivendo dia de esfu-siante alegria. A 30 de Junho, a Mesa Administrativa homenageou 7 trabalhadores da Misericórdiaque este ano completam 25 anos de serviço, entregando a cada um uma salva de prata.

A 1 de Junho o Prof. Doutor Eugénio Francisco dos Santos proferiu brilhante palestra sobre a figu-ra do benemérito Salvador Ferreira Brandão, tendo apresentado brochura de sua autoria. De segui-da procedeu-se à inauguração do Núcleo Museológico e das novas instalações dos Serviços deSegurança, Higiene e Saúde no Trabalho.

75 anos da Misericórdia de Gaia

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Vida Associativa

A União Distrital das InstituiçõesParticulares de Solidariedade Social(UDIPSS) do Porto assinou, no passa-do dia 13 de Julho, protocolos decooperação com 18 câmaras do distri-to, concretizando um sonho há muitoacalentado e cuja concretização foiconsiderada histórica pelo Presidenteda União, Padre Lino Maia.

Trata-se de uma iniciativa pioneiraem Portugal, tendo como objectivo pri-macial dar uma resposta mais consis-tente aos problemas sociais do distrito.Os documentos assinados com asdezoito autarquias visam a articulaçãode esforços entre as edilidades e asIPSS do distrito, de molde a agilizar ea potenciar respostas eficazes para osproblemas sociais que afectam osmais carenciados do distrito do Porto.

Na medida das suas disponibili-dades, as câmaras vinculam-se adisponibilizar técnicos para acompa-nharem a elaboração de projectos deobras de construção, reparação, con-

servação e restauro, isto para além doapoio à concretização das mesmasobras.

Na cerimónia de assinatura, quedecorreu no Fórum Cultural de Er-mesinde, o Padre Lino Maia sublinhoua "entusiástica, pronta e total adesão"dos autarcas à proposta formuladapela União, há seis meses atrás.Frisou a importância dos fins pros-seguidos pelas IPSS, no global, lem-brando a representatividade das mes-mas no distrito do Porto. São quatrocentenas, com perto de trezentas já fi-liadas na União, o que representa umataxa de adesão de 70%. Mobilizamtrês milhares de voluntários, empre-gando sete mil trabalhadores, que seafadigam em responder às necessi-dades directas de setenta mil utentes.

Perante um anfiteatro apinhado derepresentantes das IPSS, das autar-quias e demais entidades oficiais, LinoMaia lembrou ser a identidade dasinstituições de solidariedade caldeada

através da entre-ga e da dádiva detempo e de vida,sempre ao serviçoda divisa "sabercrer, saber fazer".Destacou a abne-gação dos diri-gentes das insti-tuições, "voluntá-rios, voluntaristase voluntariosos di-rigentes" nortea-dos pelos "valoresda fé, da justiça",mas também da"teimosia".

Esta última cara-cterística, da tei-mosia ou persis-tência, foi sublin-hada pelo Presi-dente da CNIS,quando, no seudiscurso, se refe-riu ao Presidente

da UDIPSS do Porto: "Só com líderesdeste jaez, só com a persistência e ateimosia de dirigentes como o PadreLino Maia é que se conseguemalcançar estes objectivos" - frisou oCónego Crespo, para quem o dia 13de Julho ficará para sempre registadocomo "um momento alto da UDIPSSdo Porto": "O meu muito obrigado aoPadre Lino Maia e à direcção daUnião. Há uns tempos atrás isto quehoje aqui aconteceu não seria possí-vel. Consegue-se agora graças àconstituição das UDIPSS e ao apoioda CNIS".

Numa alusão aos feitos futebolísticosdo FCP, Francisco Crespo haveria deconstatar que "o Porto é aquele quevai sempre à frente, também aquisoube ganhar este campeonato".Depois da assinatura dos protocoloshouve ainda tempo para mais palavrasde louvor à iniciativa da UDIPSS doPorto.

Paulo Ferreira, do Centro Distrital deSegurança Social do Porto defendeu a"conjugação de esforços" tendente à"potenciação de sinergias" entre osautarcas e as IPSS: "Tem que se pôrtoda a gente a trabalhar em rede. Nãoé possível conceber a acção socialsem o esforço meritório que todas asIPSS vêm desenvolvendo".

Para aquele dirigente, a actividadedas IPSS no distrito do Porto "não temparalelo nas outras zonas do país".Tempo ainda para afirmar que a RedeSocial no distrito tem conhecido "umaadesão espectacular".

José Cesário, em representação dogoverno, considerou "muito nobre" amissão das IPSS: "Uma missãohumana que procura valorizar as pes-soas, através de actos de profundagenerosidade, de grande solidarie-dade. Ninguém se realiza só, mas simajudando os outros. Felicito-os a todospor esta iniciativa, que devia ser con-tinuada noutros distritos, defendomesmo que deveria ser seguida emtodo o país, porque é assim que sevaloriza o país, é assim que cumpri-mos a nossa missão na Terra".

Fernando Melo, Presidente daCâmara de Valongo, encerrou a ceri-mónia com um discurso muito breve.Para o anfitrião, "as IPSS não se subs-tituem ao Estado nem às autarquias,antes se complementam": "É funda-mental que todas as instituições seempenhem, se motivem para esteapoio aos que mais necessitam" -frisou o autarca.

Outras iniciativas se seguirão, desen-cadeadas pela União Distrital dasInstituições Particulares de Solidarie-dade Social do Porto. Esta a promessadeixada pelo Padre Lino Maia aos pre-sentes: "Vamos continuar de mãosdadas a desbravar caminhos. As nos-sas propostas de colaboração não seesgotarão aqui. Desenvolveremos no-vas iniciativas em breve, muito embreve mesmo".

Dia histórico para a UDIPSS do Porto

Agosto 2004

Acordos celebrados com 18 Câmaras do distrito

Cerimónia de assinatura dos protoco-los, no Fórum Cultural de Ermesinde

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Actualidade

Fernando Negrão é o novo Ministroda Segurança Social, da Família e daCriança.

É juiz, nasceu em Angola em 1956,tem 48 anos e dois filhos. Quandojovem estudante pertenceu ao Movi-mento da Esquerda Socialista (MES),nos agitados anos pós-Revolução deAbril de 1974. Depois deixou a políticae dedicou-se por inteiro à magistratu-ra.

No auge do cavaquismo ganhou fa-ma com o julgamento de José ManuelBeleza. Muito por causa disso terásido escolhido por Guterres para a PJ.Foi director da Polícia Judiciária entre1995 e 1999, durante o governo doPS. Foi demitido após o rebentamentodo "caso Moderna", alegadamente por

ter estado na origem de uma fuga deinformação. Foi eleito deputado, peloAlgarve, como independente nas lis-tas do PSD, nas legislativas de 2002,tendo chegado a ser falado para aspastas da Justiça ou da AdministraçãoInterna. Só agora chegou ao governomas já há algum tempo que estava norol dos ministeriáveis. Foi convidadopor Durão Barroso para ser presidentedo Instituto da Droga e da Toxicode-pendência (IDT), o cargo que desem-penhava recentemente.

Fernando Negrão não tem conheci-mento das áreas que vai tutelar. Noâmbito da Segurança Social apenastem experiência recente no combate àDroga e Toxicodependência, matériasque, curiosamente, são tuteladas pelo

Ministério da Saúde. Por tudo isto é deadmitir que o novo membro do execu-tivo de Santana Lopes se limite aseguir as políticas de Bagão Félix, umministro que subiu de posto político,desempenhando agora funções nasFinanças e Administração Pública eque deixou uma marca de grande ini-ciativa, conhecimento, rigor e inflexi-bilidade…

Ao redesenhar a orgânica governa-mental Santana Lopes determinouque o Trabalho fosse separado daSegurança Social, juntando-se àsActividades Económicas de ÁlvaroBarreto.

Muita gente ficou perplexa porquepode significar uma menor preocupa-ção social. Os sindicatos estão na li-nha da frente acusando o executivo desubmeter o social ao económico. ACNIS, Confederação Nacional dasInstituições de Solidariedade, já deusinais de alguma incomodidade.

O cónego Francisco Crespo, Pre-sidente da CNIS, é o exemplo dessapreocupação mas prefere esperar:"Vamos ver se não ficamos desiludi-dos", refere em editorial.

Em crónica neste Solidariedade oanterior presidente da UIPSS, PadreJosé Maia, afirma que "ninguém sedeu ao trabalho de ler o que a Lei jáconsagra e tem de ser cumprido, aponto de não prever na Orgânica doGoverno alguém que seja o In-terlocutor de quem, em cooperaçãocontratualizada com o Estado, através

de sucessivos Governos, assegura àvolta de 70% das políticas de acçãosocial no País".

Padre Maia considera que não existeinterlocutor directo com a CNIS o quepode revelar-se como uma grave lacu-na no diálogo social. Pode existir orisco de "ficarem seriamente compro-metidos direitos sociais consagradospelo anterior Governo, a troco de umavisão assistencialista que subvertetodo o ordenamento jurídico nodomínio da acção social, da soli-dariedade, da protecção familiar e, poroutro, obrigue as IPSS, que há longosanos têm trabalhado em cooperaçãocom o Estado, a repensarem o seufuturo..."

Fernando Negrão herda algumasquestões escaldantes. Uma delas é onovo regime do subsídio de desem-prego, que é contestado pelos sindi-catos, patrões e oposição. Bagãoadmitiu mexer na proposta em sedede concertação social. Negrão temagora a iniciativa.

Outra será a prometida flexibilidadeda idade de reforma, proposta que atéjá estava em cima da mesa.

E há ainda o sistema complementarde segurança social, baseado no con-ceito do tecto contributivo, permitindoque trabalhadores com menos de 35anos e dez anos de descontos pos-sam transferir parte das contribuiçõespara sistemas privados de pensões.

O novo Ministro está sob o benefícioda dúvida.

Fernando Negrão tem benefício da dúvidaNovo Ministro da Segurança Social, da Família e da Criança

Agosto 2004

O Ministério das Finanças voltou agarantir a intenção de reduzir osimpostos sobre as pessoas com rendi-mentos mais baixos. As medidas quevão fazer diminuir as prestações fis-cais serão tomadas durante os próxi-mos dois anos, através de ajustamen-tos nos descontos e nos escalões doscontribuintes.

Fonte do Ministério das Finanças eda Administração Pública garantiu àAgência Lusa que, "como afirmou oministro das Finanças, tudo se farápara racionalizar e reduzir ou eliminar

algumas deduções à colecta porforma a permitir, ainda que gradual-mente, um ajuste dos escalões - quenão das taxas - que oneram excessi-vamente rendimentos baixos emédios".

No Programa do Governo, entreguea 23 de Julho na Assembleia daRepública, o Executivo liderado porPedro Santana Lopes compromete-sea rever o Imposto sobre o Rendimentodas Pessoas Singulares (IRS),através de ajustamentos nas dedu-ções fiscais e dos escalões dos con-

tribuintes. O objectivo enunciado pelo titular

das Finanças, António Bagão Félix, éuma reforma do IRS que "torne maisjustas e racionais" as deduções fiscaise que privilegie "a vertente familiar",mas "sem prejuízo da disciplina orça-mental".

A mesma fonte negou, também, quese esteja a preparar um "enormeaumento de transferências de fundospúblicos para as regiões autónomas epara as autarquias", sublinhando queé necessário "o empenho solidário de

todos os sectores das administraçõespúblicas, sem excepção", para pros-seguir o objectivo de consolidação dascontas públicas.

No debate sobre o Programa donovo Governo, realizado no passadodia 27 de Julho, o primeiro-ministro,Pedro Santana Lopes, considerou "umponto de honra do Governo" obter umdéfice de 2,8 por cento do ProdutoInterno Bruto (PIB) este ano, abaixodos três por cento a que obriga oPacto de Estabilidade da UniãoEuropeia.

Redução da carga fiscal para quem tem menos rendimentosImpostos

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Respigos

Alargamento e responsabilidadesocial das empresas

Os novos Estados Mem-bros da União Europeiatrarão novas ideias e no-vas perspectivas ao deba-te sobre a responsabilida-de social das empresas.

O conceito de responsa-bilidade social das empre-sas é um conceito relati-vamente novo para a maio-ria dos novos EstadosMembros da União Euro-peia, diz Bernard Giraud, oDirector Executivo da CRSEurope.

"No entanto" - acrescenta - "sabendo que o conceito está consideravelmentedisseminado e aplicado, não vê obstáculos ou pessoas a oporem-se à ideia deque a Europa quer construir uma nova dinâmica económica, para o que sãonecessárias empresas que não sejam apenas agentes do processo de cresci-mento económico, mas também do processo de crescimento social".

in Info@Plataforma - Plataforma Portuguesa das ONGD

O drama da Bajouca A população da Bajouca está desesperada: há cerca de dois meses que não

tem médico. E não é a primeira vez, trata-se de uma situação cíclica. Quandoa Administração Regional de Saúde (ARS) consegue lá colocar um médico, apressão é tanta, ou seja, o trabalho é tanto, que o clínico vai-se embora àprimeira oportunidade. O último pediu a exoneração da função pública. O pre-sidente da Junta, como é seu costume, agarrou o touro pelos cornos e está dedentes cerrados a defender os interesses da sua gente. E diz o óbvio: ummédico sozinho não chega, ainda por cima quem é aqui colocado tem de per-correr mais de 50 quilómetros por dia sem ninguém lhe pagar mais por isso. Acoisa está para durar, pois o presidente da ARS diz que vai ser difícil encontraruma solução. E quando um gestor público diz uma coisa destas, é porque nãovai ser encontrada solução. Quanto às causas do problema, nega que haja mágestão da ARS, alegando que há falta de médicos, por isso não se pode geriro que não há.

António José Laranjeira, Diário de Leiria

Estudo internacional denuncia mau acesso à saúde reprodutiva

O acesso da população global a serviços de saúde reprodutiva continua a serbastante deficiente, apesar da maioria dos países terem introduzido na últimadécada medidas para lidar com o problema.

Responsáveis do Fundo Populacional das Nações Unidas (UNFPA) emGenebra referem, ainda assim, que há sinais de "grande progresso" na imple-mentação de estratégias para garantir melhorias "na saúde maternal" e na pro-tecção das populações em questões sexuais e reprodutivas.

Contudo, os mesmos peritos estimam que mais de 600 mil mulheres morramanualmente e mais de 18 milhões fiquem feridas ou cronicamente doentes, emvirtude de complicações durante o parto, mas que podem ser prevenidas. Orisco de morte durante o parto é duas vezes maior para jovens entre os 15 e os19 anos e cinco vezes maior para adolescentes entre os 10 e os 14 anos.

Cerca de 13 por cento das mortes maternais (aproximadamente 18 mil porano) podem ser directamente atribuídas a complicações resultantes de abortossem segurança, "quando praticamente todas estas mortes poderiam ser evi-tadas com sistemas seguros de aborto". Estima-se que anualmente 1,4 milhõesde jovens entre os 15 e os 19 anos efectuem “abortos inseguros" e que mais de250 milhões de mulheres em todo o mundo continuem sem acesso a sistemasreprodutivos eficientes.

Igualmente preocupante, todos os anos há 14 milhões de jovens com menosde 19 anos que se tornam mães e um terço de mulheres adolescentes relatamque a sua primeira experiência sexual foi "forçada". As Nações Unidas estimamque anualmente ocorram 330 milhões de infecções sexualmente transmitidas,metade das quais entre jovens.

in Público

16 polícias de Vila Real com deficiência de 85%

16 polícias da PSP de Vila Real possuem um grau de incapacidade na ordemdos 85 por cento, comprovado por uma junta médica em Lisboa. O sindicato dosector está "preocupado" com esta situação, afirmando que "se as pessoaspossuem este grau de incapacidade não podem efectuar trabalho de rua, poisse são confrontados com um caso em que têm que repor a ordem pública, nãoterão capacidade para o fazer".

Depois da realização de uma junta médica, em Lisboa, ficou provado que 16agentes da PSP de Vila Real apresentam um grau de incapacidade na ordemdos 85 por cento.

Os exames foram feitos na sequência de uma investigação do Ministério daAdministração Interna para averiguar as denúncias de alegadas baixas fraudu-lentas no comando de Vila Real.

E o Sindicato dos Profissionais da Polícia está "preocupado" com o resultadodos testes. Fernando Seixas, da direcção nacional do sindicato, explicou queos 16 agentes passarão a realizar 365 dias de serviços moderados, ou seja,metade das horas de serviço em patrulha e outra metade de trabalho de sec-retaria.

Mas é precisamente devido ao grau de "incapacidade" comprovado pela juntamédica que Fernando Seixas se diz preocupado com a "qualidade dos serviçosde rua" prestados por estes polícias.

Para o sindicalista, o trabalho prestado pelos colegas "com este grau de defi-ciência e, como tal, com problemas de saúde, poderá estar em causa, já que apatrulha nas ruas é um serviço que exige muito esforço físico".

Na opinião de Fernando Seixas, "se as pessoas possuem este grau de inca-pacidade não podem efectuar trabalho de rua, pois se são confrontados comum caso em que têm que repor a ordem pública, não terão capacidade para ofazer".

Stephanie Bernardo, Semanário Transmontano

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Dossier

"O Centro Social e Paroquial deBobadela, vem por este meio informarque tem vindo a apoiar uma família deSão João da Talha, desde o ano de2000.

Esta família é composta por Mãe etrês filhos menores, nomeadamente;Mãe (sofre de cancro); Filha-Estudante-16 anos; Filho - Estudante -14 anos; Filho - Estudante - 11 anos.

O pai das crianças abandonou-os.Mas quando lá vivia, bebia muito...maltratava fisicamente a mãe e nãodava qualquer apoio aos filhos.

Esta Instituição tem tido uma inter-venção social global com esta família,apoiando-a em várias vertentes, deforma gratuita: apoio psicológico àmãe e filhos, refeições diárias, idas àpraia nas férias das crianças, mobi-liário, roupas, diligências para tratar da

documentação; vigilância na saúde daMãe; apoio financeiro; apoio no trajec-to educacional e social das crianças.

Desta forma, esta família, apesar dacarências económicas e de saúde,tem conseguido sustentar-se com aprestação do Rendimento Mínimo Ga-rantido. No entanto, ao longo dotempo a Segurança Social tem exigidovários documentos que comprovem asituação de carência desta família e,até ao momento, apesar da situaçãocrítica e gravíssima de saúde dautente, tem sido entregue atempada-mente toda a documentação solicita-da. No entanto, numa carta datada de

31.05.2004 a Segurança Social enviaum ofício à utente onde solicita, noprazo de 10 dias, fotocópia do pedidode renovação das autorizações deresidência da Mãe e de um dos filhos.Informaram, também, que o pedidodevia ser feito 30 dias antes das mes-mas caducarem (caducaram em17.04.2004).

É obvio que este aviso já foi feitotarde demais, pois já tinham passadomais de dois meses e meio paraque a utente conseguisse ter osdocumentos solicitados. No entan-to, informo que esta família deixou queeste prazo caducasse, porqueestavam à espera de conseguir aautorização de residência perma-nente, que estava a ser tratadaatravés do advogado (que foi solicita-do à Segurança Social) que lhe dáapoio jurídico gratuito. Mas mesmoassim, com o apoio desta Instituição(Centro Social e Paroquial deBobadela) e da família alargada, a u-tente conseguiu obter, no prazo esti-pulado, o pedido de renovação daautorização de residência. Infeliz-mente, numa carta de 01.07.2004 aSegurança Social informa que foi ces-sada a prestação do RMG nessemesmo dia.

Informo, também, que, quando sedeixa caducar o prazo da autorizaçãode residência, esta ainda tem validadepor mais um ano, e quando há atrasosna renovação deste documento, oSEF poderá exigir o pagamento deuma coima e nada mais.

No dia 6 de Julho de 2004, dia emque soube desta situação, telefonei àSegurança Social para saber se nãohaveria hipótese de alterar estadecisão, porque esta família correria orisco de morrer à fome em pleno dis-trito de Lisboa, capital de Portugal. Aresposta dada é que têm de cumprir alei. Agora pergunto, como é possívelcumprir a lei desta forma, se aSegurança Social Local (de Mosca-vide) tem conhecimento de toda estasituação e da intervenção que estaInstituição tem para com esta família,e mesmo assim limita-se a cumprir alei sem avaliar a situação e dar o seuparecer. Então porque é que exis-tem os Assistentes Sociais nosServiços Locais da SegurançaSocial, se têm conhecimento dasreais situações dos utentes mas

nada poderão fazer?E mais, os outros dois menores têm

nacionalidade Portuguesa. Mesmoassim também lhes foi automa-ticamente cortado o RMG. Será justo?

Pior é saber que o Ministro BagãoFélix, quando fala (entrevista ao jornalSolidariedade de Maio de 2004) so-bre as alterações entre o RMG e oRendimento de Inserção Social dizque com esta mudança o Ministério émais exigente ao nível da fiscalizaçãoe controlo justamente em nome des-ses princípios. Mas também diz quetêm diferenciação positiva ao níveldas mulheres grávidas e com filhosaté um ano, ao nível das famíliascom doentes crónicos, com defi-cientes, famílias mais numerosas,fazendo essa graduação das expecta-tivas e direitos sociais.

Não deixa de ser engraçado verificaras diferenças entre a teoria e a práti-ca.

Neste momento, em que todos nósmostramos o nosso patriotismo porPortugal, sinto-me envergonhada pelaforma como os mais carenciados sãotratados. Os mais ricos cada vezmais ricos e os mais pobres a mor-rerem à fome.

Por isso, venho por este meio solici-tar o apoio de todos, para minimizaresta situação grave de carência, epara isso informo que esta família,para além da água, luz e materialescolar, tem uma renda mensal de250 Euros. Portanto, o mais urgente éa ajuda na subsistência desta habi-tação, pois sobre o resto, as comu-nidades de Bobadela e São João daTalha já se estão a juntar para ajudar.

Bobadela, 22 de Julho de 2004. A Coordenadora Técnica Assinatura ilegível

(bolds da autora da missiva)

“Em Portugal morre-se à fome!”RSI - Rendimento Social de Inserção

Contactos para quem pretenda ajudar esta família:

Centro Social e Paroquial deBobadelaRua Mártires do Tarrafal, n.º 14A2695-056 BobadelaTel: 21 955 6075; Fax: 21 995 9186

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Grande Entrevista

Solidariedade - Por comparaçãocom o RMG que balanço faz doRSI?

Joaquina Madeira - Ainda é cedopara se fazer um balanço consistentede comparação. Trata-se de uma me-dida que mantendo os mesmos objec-tivos determina o direito a umaprestação e a um programa de inser-ção, de modo a conferir às pessoas eaos seus agregados familiares apoiosadaptados à sua situação pessoal,que contribuam para a satisfação dassuas necessidades essenciais e quefavoreçam a sua inserção, social e co-munitária, e uma progressiva auto-nomia.

Solidariedade - Como é que temsido feita a transição?

Joaquina Madeira - Na fase de tran-sição, foram transmitidas orientaçõesde actuação aos serviços, tendo emvista ultrapassar com sucesso os ris-cos inerentes a essa fase, traçandoalgumas orientações uniformizadoras,na perspectiva da salvaguarda dosdireitos dos beneficiários e, certamen-te, na da obtenção da maior eficáciapossível no desempenho dos serviços.A preocupação fundamental foi a sal-

vaguarda dos direitos dos benefi-ciários RMG. Os titulares e benefi-ciários do direito ao Rendimento Mí-nimo Garantido mantiveram os res-pectivos direitos até ao fim do períodode atribuição dos mesmos.

Solidariedade - As alterações efec-tuadas, em relação ao RMG, pro-duziram maior justiça? Quais sãoessas alterações?

Joaquina Madeira - Na análise daalteração legislativa da Medida Ren-dimento Social de Inserção, asgrandes mudanças constituem-se nomaior rigor quanto à verificação dascondições de acesso à medida e naintrodução da ideia de discriminaçãopositiva. Prevê a Lei a atribuição deapoios especiais face a situaçõesmais vulneráveis, como é o caso doapoio à maternidade e do apoio noscasos em que existam no agregadopessoas portadoras de doença físicaou mental profundas, pessoas porta-doras de doença crónica e pessoasidosas em situação de grande depen-dência. Estes aspectos podem tra-duzir-se, na prática, nas seguintesalterações: Estabelecimento de condi-ções específicas de atribuição; Novo

regime de renovação; Novo regime decessação da prestação.

Solidariedade - A componente daInserção, tão criticada no RMG, temsido mais contemplada no RSI?

Joaquina Madeira - A componenteda inserção, é a dimensão central doRSI e é o ponto chave do "sucesso"desta medida de política social.

Solidariedade - E o combate àfraude?

Joaquina Madeira - A proliferaçãode situações abusivas descredibilizou,junto da opinião pública, a Medida queantecedeu o Rendimento Social deInserção, que, apesar da sua fortecomponente humanista e generosa,fomentou em alguns casos, verda-deiros estigmas sociais quanto aosbeneficiários. Por isso, reconheceu-seimperioso tornar mais rigoroso o mo-delo actual, criando mecanismos defiscalização efectiva e de controlo efi-caz, centrando-se o alcance da Medi-da junto daqueles que efectivamenteprecisam. Foi por isso que, juntamentecom a implementação de um sistemaoperacional informático nacional ecom a instituição de dispositivos dearticulação e de gestão integrada comoutras prestações sociais, foi intro-duzido um sistema de fiscalizaçãoaleatório, cuja aleatoriedade de inter-venção no tempo e no espaço se pre-tende dissuasório de quaisquer com-portamentos de utilização indevida doRSI e eficaz na detecção das irregu-laridades. A primeira acção de fiscali-zação verificou-se em Julho, aguar-dando-se agora os respectivos resul-

tados quantitativos e está previstooutro sorteio no último trimestre doano.

Solidariedade - Segundo um re-latório da Segurança Social sobre aaplicação do RSI há uma grandepercentagem de indeferimentos,deixando de fora do sistema fa-mílias em situação difícil. Porque éque cerca de metade dos reque-rentes de RSI vê recusado o apoiopretendido?

Joaquina Madeira - A taxa de inde-ferimento tem vindo a diminuir signi-ficativamente, encontrando-se presen-temente no valor de 31,43%. Se efec-tuarmos uma comparação com a ante-rior Medida, verifica-se que a taxa deindeferimento média era aproximada-mente de 40%. As causas de indeferi-mento são, maioritariamente: Falta depreenchimento das condições geraisde atribuição sem motivo justificativo,nas quais se incluem: não possuirresidência legal em Portugal, deterrendimentos superiores ao estipuladopela Lei, não assumir compromisso desubscrever programa de inserção, nãofornecimento dos meios probatóriossolicitados, inibição do acesso ao di-reito, em virtude de anterior incumpri-mento conexo com a Medida deRendimento Mínimo Garantido, faltade comparência à entrevista paraelaboração do relatório social.

Solidariedade - A fórmula de cálcu-lo para apuramento da situaçãoeconómica do agregado exclui umaparte dos requerentes mesmo queestes provem que, à data em que

Queremos reduzir para metade o tempo médio de atribuição do RSIJoaquina Madeira

Há cerca de um ano o RendimentoMínimo Garantido (RMG) foi substituídopelo Rendimento Social de Inserção(RSI). O então ministro Bagão Félix reto-cava uma das mais populares medidas dogoverno socialista, corrigindo desvios,injustiças e insuficiências e, ao mesmotempo, dando alguma razão às criticas dePaulo Portas que tinha chamado ao RMG"subsídio à preguiça". Aparentementeparecia tudo certo.

Em jeito de balanço de actividade, umrelatório da Segurança Social, divulgadopelo jornal Público, veio pôr em causa aoperacionalidade e a justiça da medida,ao revelar que há um grande número de

indeferimentos e uma demora exageradana apreciação dos processos.

Segundo o jornal "metade dos reque-rentes de Rendimento Social de Inserção(RSI) a quem foi recusado apoio combase no argumento de que tinham rendi-mentos superiores aos que permite a leinão tinham fontes de receita quando so-licitaram a atribuição da prestação e dissomesmo fizeram prova."

A razão directa tem a ver com a mu-dança de fórmula de cálculo que avalia asituação económica do agregado. Con-sidera os doze meses anteriores à datade apresentação enquanto que no RMGeram considerados apenas três.

Joaquina Madeira é a presidente da Co-missão Nacional de Rendimento Socialde Inserção e é a Coordenadora do PlanoNacional de Acção para a Inclusão.

Em entrevista ao Solidariedade tentajustificar o contexto sem se desviar doespírito da lei.

As respostas, por escrito, de JoaquinaMadeira são muito cautelosas. A mudan-ça de ministro ajuda a entender os cuida-dos.

Por V. M. Pinto

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Grande Entrevistafazem o pedido, não possuemfontes de rendimento?

Joaquina Madeira - A forma de cál-culo para este apuramento resulta dacontabilização dos rendimentos dafamília nos 12 meses anteriores à en-trada do requerimento nos serviços.Esta contabilização permite aferir commaior rigor os rendimentos dos agre-gados mas pode dificultar o acesso àMedida por parte de famílias que so-freram uma quebra ou descida derendimento recente, em momentoimediatamente anterior à data deapresentação do requerimento.

Solidariedade - Em seu entender,esta situação é desvirtuante e deveser corrigida? Como?

Joaquina Madeira - Está nestemomento a ser efectuado um estudoda situação e avaliados todos os con-dicionalismos.

Solidariedade - A que se deve agrande diferença de indeferimentoque se verifica na análise distrito adistrito? Os critérios são os mes-mos mas o tempo e o modo de apli-cação podem corrigir situações deevidente injustiça?

Joaquina Madeira - Numa primeirafase e logo que a regulamentação daLei foi publicada, a preocupação foianalisar de imediato os pedidos novosde RSI, na tentativa de minimizar e di-minuir o tempo de espera dos reque-rentes. Contudo, no período quemediou entre a data de publicação daLei e a regulamentação, os CentrosDistritais desenvolveram um trabalhoprévio, de solicitação da documenta-ção necessária à aferição de con-dições de atribuição. Por isso havia,nesse período, um volume de proces-sos prontos para decisão de indeferi-mento liminar e arquivamento e paraintrodução no sistema informáticomais expressivos, comparativamenteaos processos para decisão favorável.E em alguns centros distritais, forampriorizadas essas situações. O circuitodos processos deferidos é um poucomais longo, considerando a exigênciados mesmos serem obrigatoriamenteinstruídos com um relatório social, daresponsabilidade do Núcleo Local deInserção da área de residência dafamília em estudo.

Solidariedade - O tempo de apre-ciação dos processos tem diminuí-do mas ainda é muito longo, o quepode ser dramático nalguns casosde necessidade extrema. De queforma pode ser encurtado o períododa análise?

Joaquina Madeira - Num processode transição e na implementação deuma nova medida há sempre dificul-dades em estabilizar alguns indi-cadores, reveladores da eficácia dosserviços, e, na verdade, o tempomédio de atribuição é um deles.

Infelizmente, não é uma situaçãonova, dado que no anterior regime eratambém uma situação em avaliaçãoconstante. Contudo, está em marchaum plano de contingência, de tentativade redução para 50% do tempo médioactual de atribuição da prestação(intervalo de tempo correspondenteentre a data de solicitação da candi-datura e a data de despacho dedecisão). É necessário, no entanto, terem conta que os serviços ainda estãoa organizar-se e os atrasos na análisee introdução dos dados do RSI já nãosão gravosos, embora mereçam aindapreocupação.

Solidariedade - Em que passo estáa criação dos Núcleos Locais deInserção?

Joaquina Madeira - Os NLI devemestar constituídos e em pleno funcio-namento no prazo máximo de um anoa contar da data de entrada em vigorda Regulamentação da Lei 13/2003 de21 de Maio, ou seja, em Novembro.

A transição das Comissões Locais deAcompanhamento para os NLI, que seiniciou em Março, foi feita através derequerimento da entidade distrital daSegurança Social competente, dirigidaao Ministro da Segurança Social e doTrabalho, solicitando, para o efeito, anomeação dos representantes obri-gatórios do NLI.

Esta solicitação dos representantesobrigatórios aos diferentes ministériosencontra-se em desenvolvimento.

Solidariedade - Que papel é quepodem ter as IPSS na consulta,

aconselhamento e acompanhamen-to dos processos?

Joaquina Madeira - A possibilidadede as Instituições Particulares deSolidariedade Social e outras enti-dades que prossigam os mesmos finsparticiparem no desenvolvimento deacções inerentes à prossecução depolíticas de inclusão, traduz, em si,uma preocupação de construção decaminhos de inserção em que todosdeveremos ser chamados a cooperar.O aprofundamento do envolvimentoda sociedade civil na prossecução dasfinalidades de inclusão, é muito impor-tante.

Esta Lei permite a celebração de pro-tocolos entre a Segurança Social eentidades parceiras, para a pros-secução conjunta dos objectivos decombate à exclusão.

Está definido que as IPSS, no âmbitodo estabelecimento de protocolos,terão um conjunto de acções a desen-volver no acompanhamento dos bene-ficiários do RSI, nomeadamente a ela-boração da informação social, e do re-latório social, negociação e elabora-ção do programa de inserção e acom-panhamento e avaliação do mesmo.

Solidariedade - O recurso às IPSSnão poderá ser entendido comouma forma do Estado se demitir dosaspectos mais problemáticos noprocesso de aplicação do RSI?

Joaquina Madeira - Do nosso pontode vista, as políticas de inserção deve-rão ser asseguradas através de umamaior participação e responsabiliza-

ção dos actores sociais locais rele-vantes. Nestas circunstâncias, o Es-tado surge num papel mobilizador derecursos da sociedade, apostando naeficácia da intervenção local próxima epersonalizada, proporcionados pelaactuação descentralizada das enti-dades parceiras.

No entanto a Segurança Social deve-rá continuar a assegurar os fins soci-ais, na busca de novas respostas soci-ais eficazes. Mantendo o papel degarante da coesão social, a entidadedistrital da Segurança Social continuaa ser responsável pela coordenaçãodo acompanhamento às famílias naárea do distrito no qual actua, sendocompetente para acompanhar a activi-dade desempenhada pelas institui-ções que aderiram à celebração deprotocolo, designadamente avaliandosemestralmente a acção por elasdesenvolvida, disponibilizando-lhes aformação e os suportes de informaçãonormalizados e assegurando o finan-ciamento definido no protocolo.

Solidariedade - Tem algum indi-cador acerca da disponibilidadedas IPSS para fazerem parceriascom o Estado, nessa matéria?

Joaquina Madeira - Numa primeirafase do nosso trabalho, foi solicitadoàs entidades distritais da SegurançaSocial uma indicação do número deinstituições que os serviços identifi-cavam como reunindo as condiçõestécnicas e revelando vontade para acelebração dos protocolos a que serefere a Lei do RSI.

Esta primeira abordagem foi positivae o número de instituições era signi-ficativo.

Presentemente, e estando a tran-sição dos Núcleos Locais de Inserçãoadiantada, foi solicitado, este mês, deforma muito concreta aos CentrosDistritais que identificassem as Ins-tituições que, em conformidade com aprática e metodologia de intervenção eo tipo de organização e gestão quedesenvolvem, apresentam condiçõespara a celebração dos Protocolos emreferência, assim como o número defamílias a abranger.

Solidariedade - A saída do MinistroBagão Félix pode provocar altera-ções no funcionamento e aplicaçãodo RSI?

Joaquina Madeira - A Lei é paraaplicar e cumprir.

Solidariedade - Que expectativastem relativamente ao novo MinistroFernando Negrão?

Joaquina Madeira - De acordo comas palavras conhecidas publicamentedo Sr. Ministro Fernando Negrão, vãomanter-se as orientações anteriores eos serviços irão continuar a cumprir asua missão, tentando melhorar todosos dias o seu desempenho ao serviçodo cidadão.

Agosto 2004

Page 14: SOLIDARIEDADE – N.º 64 – AGOSTO 2004

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Em 2004 comemora-se o 10.ºAniversário da Conferência Interna-cional sobre População e Desenvol-vimento, organizada pelas NaçõesUnidas e realizada no Cairo, Egipto,em Setembro de 1994.

O Programa de Acção, adoptadopor consenso por 179 países, incluin-do Portugal, reúne recomendaçõespara um período de 20 anos a váriosníveis e a estratégia recomenda ac-ções a nível internacional e nacional.

A evolução demográfica em Portu-gal, no período de vigência do plano,caracteriza-se por um aumento con-tínuo da população residente, esti-mando-se que, no início de 1995 te-nha ultrapassado os 10 milhões deresidentes, atingido os 10 475 milha-res em 1 de Janeiro de 2004.

É ainda previsível que os efectivospopulacionais prolonguem a tendên-cia ascendente até 1 de Janeiro de2011, alcançando os 10 626 milharesde residentes. A partir daquele anoinicia-se um decréscimo até 2014.

Entre 1994 e 2002, observaram-setaxas de crescimento efectivo anualcrescentes, sobretudo como resulta-do de taxas de crescimento migrató-rio favoráveis. Em 2003, apesar dataxa migratória ser ligeiramente infe-rior à do ano anterior mantém-secom valores significativos.

Os valores projectados permitemconfirmar a tendência decrescentedas taxas de crescimento efectivo dapopulação, que assumem um valornulo em 2010, e negativo nos anosseguintes.

As alterações demográficas ocorri-das nas últimas décadas emPortugal, como sejam a baixa danatalidade e o aumento da esperan-ça de vida, ou a mudança do sentidopredominante dos fluxos migratórios,repercutem-se no volume e na estru-tura da população.

Nas últimas décadas tem-se assisti-do a uma baixa das taxas de natali-dade. Em 1994, a taxa de natalidadeera próxima de 11 nados-vivos porcada 1000 habitantes, e apesar deno período compreendido entre 1995e 2000 se observar uma ligeira recu-peração, embora com oscilações, osníveis voltaram a diminuir no começodo século XXI. De acordo com ocenário mais provável das pro-jecções de população residenteperspectiva-se a evolução em baixa

do indicador até 2014, ano em que a taxa rondaráos 9 nados vivos por 1000 habitantes. As mu-danças no campo da natalidade reflectem-se nocrescimento e estrutura da população quer atravésdo número de crianças nascidas em cada ano,como também no número de filhos que aquelasvenham a ter no futuro.

A esperança média de vida à nascença tem vindoa aumentar progressivamente em Portugal. Se em1994 as mulheres podiam esperar viver, emmédia, 79 anos e os homens 71 anos, prevê-seque, em 2014, os valores ascendam a 82 e 76anos, respectivamente, traduzindo um ganhoaproximado de 3,4 anos para as mulheres e 4,1para os homens, atenuando assim a diferença nalongevidade entre sexos.

Ao aumento da esperança de vida à nascençaassocia-se a baixa dos níveis de mortalidade, emparticular da mortalidade infantil, cujo valor, em1994, rondava ainda os 7,9 óbitos de crianças commenos de 1 ano por cada mil nados-vivos, man-tendo a tendência de redução progressiva que jáse vinha verificando, estimando-se em 4,1 em2003.

Acresce a estes factores, a inversão do sentidopredominante dos fluxos migratórios na década de90 do século XX, em Portugal, com saldosmigratórios positivos, contrariando a tendêncianegativa na década anterior. Ainda que esta inver-são não tenha sido imediata, estimou-se para1994 um saldo migratório positivo (17 000), comvalores sempre crescentes até 2002 (70 000). Apartir deste ano os valores, apesar de positivos,atenuam-se, prevendo-se que em 2014 ronde os10 000.

As consequências destas alterações demográfi-cas são visíveis na distribuição dos efectivos po-pulacionais pelos grandes grupos etários.

Se a percentagem de população em idade activa(dos 15 aos 64 anos de idade) não apresentaoscilações significativas (67,2% em 1 de Janeirode 1994, 67,5% em 2004, prevendo-se 66,5% em2014), o mesmo não se verifica com as percenta-gens atribuídas aos grupos populacionais dosmais jovens (dos 0 aos 14 anos de idade) e dosmais idosos (com 65 ou mais anos de idade).

Observa-se, por um lado, a contínua redução dapercentagem de efectivos populacionais jovens,que em 1 de Janeiro de 1994 se situava nos 18,4%e se prevê que em 2014 diminua para 15,2%, e,por outro lado, a tendência oposta relativamente àpopulação idosa, que em 1994 ainda era inferior(14,5%) à proporção de jovens, passando a sersuperior no início do século XXI, representandoem 2014 os 18,4% da população total.

Esta situação, para além de traduzir o fenómenodo duplo envelhecimento da população, ligeira-mente atenuado, mas não invertido pelos saldosmigratórios observados e previstos, implica aindaalterações na dependência que estes gruposetários exercem sobre a população em idade acti-

va. Se em 1 de Janeiro de 1994, por cada 100 indi-víduos em idade activa existiam cerca de 22idosos, este valor sobe para 25 em 2003, preven-do-se que alcance os 28 no início de 2014 (tendoem conta o cenário base das mais recentes pro-jecções de população residente em Portugal). Ofenómeno do envelhecimento é mais notório nasmulheres como resultado da sua maior longevi-dade.

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Estatísticas

Dia Mundial da População

A Conferência Internacional sobre População eDesenvolvimento (ICPD) realizada no Cairo emSetembro de 1994 é considerada um marco históriconas questões de população e desenvolvimento, bemcomo no campo dos direitos humanos, em particulardas mulheres.

O Programa de Acção (PoA), adoptado por consensopor 179 países, reúne recomendações para um perío-do de 20 anos, adoptando uma estratégia que realçaas ligações entre população e desenvolvimento, comenfoque na qualidade e bem-estar dos indivíduos.Enquanto o PoA é global e define acções a váriosníveis, a estratégia recomenda acções a nível na-cional.

Os progressos alcançados têm sido avaliados emcada cinco anos, quer a nível nacional quer interna-cional.

A primeira avaliação quinquenal do programa foi con-duzida pela Assembleia Geral das Nações Unidas emNova Iorque, em 1999, conhecida como Cairo+5.Confirmaram-se os objectivos do Cairo e foram refor-çados os ligados às questões de Igualdade deOportunidades de Género bem como ao Envelhe-cimento Demográfico. Adoptaram-se as Key Actionsque reúnem os compromissos assumidos.

O 10.º aniversário, designado como Cairo+10 cele-bra-se a meio do período de vigência do Programa deAcção do Cairo, devendo ser encarado simultanea-mente como uma oportunidade de avaliar os progres-sos e evidenciar como ao atingi-los se cumprem osobjectivos do Milénio, traçados na Cimeira de 2000.

No âmbito da resolução das Nações Unidas e paranão se reabrirem as negociações dos compromissosassumidos nas grandes conferências internacionais, oactual follow-up realizou-se a nível regional PopulationForum 2004, no âmbito da Comissão de População eDesenvolvimento e será assinalado pelas NaçõesUnidas.

A Conferência Internacional de População eDesenvolvimento do Cairo e respectivos follow-up deuaos Institutos Nacionais de Estatísticas e Centros deEstudos sobre a População um papel relevante naimplementação e monitorização dos princípios subja-centes ao Programa de Acção.

Site oficial da Conferência Internacional de População e Desenvolvimento

http://www.unfpa.org/icpd/

Texto disponibilizado pelo Instituto Nacional de Estatística

Agosto 2004

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Opinião

Governo esqueceu políticas sociais Por Padre José Maia

Até ao momento em que nos foidado conhecer o designado "Progra-ma do XVI Governo Constitucional",ainda pensava que o Primeiro Minis-tro andaria à procura de alguém paraum Ministério ou Secretaria de Es-tado que se preocupasse com o cum-primento do que está legalmente es-tabelecido na Lei de Bases da Segu-rança Social, designadamente aoSistema de Acção Social (capítulo III,artigos 82.º a 93.º), bem assim comodo Sub-Sistema de Solidariedade,art.º 50.º a 60.º, da mesma Lei deBases, assinada pelo então Primeiro-Ministro Dr. Durão Barroso e peloSenhor Presidente da República, Dr.Jorge Sampaio.

Porém, desisti de esperar, ao ter-mos conhecimento do Programa deGoverno apresentado à Assembleiada República.

Concluí que ninguém se deu ao tra-balho de ler o que a Lei já consagra etem de ser cumprido, a ponto de nãoprever na Orgânica do Governo al-guém que seja o Interlocutor dequem, em cooperação contratualiza-da com o Estado, através de suces-sivos Governos, assegura 70% daspolíticas de acção social no País!

Bem esperei pelo debate na As-sembleia da República para ver sealguém encontrava um jeito de repa-rar estas gravíssimas lacunas, sobpena de, por um lado, ficarem seria-mente comprometidos direitos sociaisconsagrados pelo anterior Governo, atroco de uma visão assistencialistaque subverte todo o ordenamento ju-rídico no domínio da acção social, dasolidariedade, da protecção familiare, por outro, obrigue as IPSS, que hálongos anos têm trabalhado em coo-peração com o Estado, a repensaremo seu futuro...

Em vão! Temos mesmo de nos go-vernar com um programa social que épara todos motivo de apreensão, amenos que a Equipa presidida peloMinistro Fernando Negrão encontre oengenho e a arte para, na base deanteriores práticas governativas,sobretudo na área da cooperaçãoentre o Estado e as IPSS, prestar anecessária e adequada acção sociale protecção familiar a tantos e tantas(que são cada vez mais) se vãovendo excluídos do circuito da cida-dania e da solidariedade!

Considero que é bom deixar passar

por este mensageiro das IPSS que éo Solidariedade um apelo a favor daurgência que é necessário imprimiràs políticas sociais, sobretudo numavertente que não tem merecido a de-vida atenção: a prevenção de muitassituações que, a curto prazo, poderãoencaminhar pessoas, famílias e gru-pos para a exclusão social.

Problemas como o prevenção dodesemprego e uma ajuda rápida aquem dele vier a ficar refém, não secompadecem com demoras nemburocracias!

A forma insensível como, muitasvezes, a pretexto de critérios mera-mente economicistas, se tomam cer-tas medidas chamadas de gestão,desenraizando famílias do seu habi-tat natural, sem cuidar da preparaçãopara adaptação a novos contextoshumanos e sociais que as habilitem asaber lidar com tais contextos, estácertamente na base de muitas e no-vas marginalidades, sobretudo noque se refere a crianças que mudamde escolas e a idosos em solidão aquem empurram de lado para lado,sem respeito pela sua dignidade.

Em face de todas estas problemáti-cas, cabe certamente às IPSS umpapel de "aliadas" das pessoas quevierem a ser apanhadas no rede-moinho das dificuldades da vida,prestando-nos a oferecer a nossa so-lidariedade para com elas construir-mos soluções que as impeçam decair no desespero e angústia.

Neste preciso momento, ninguémpoderá ficar insensível às vítimas dosincêndios. O país respira fumo e ouveecos de desespero de tanta genteque, após uma vida inteira de traba-lho, se viu despojada de tudo.

É uma nova realidade que não cabeem nenhuma das valências dasInstituições, mas que não pode pas-sar-nos ao lado.

Há abertura para reorientar muitasdas nossas prioridades sociais emfunção de novas emergências?

Estará o Estado disponível para seabrir a novas formas de cooperaçãoque prevejam a prestação de ser-viços e respostas sociais mais á-geis?... Ou continuarão os Serviçosdo Ministério da Segurança Socialmais preocupados com a estatísticados utentes e as medidas das insta-lações ou a qualidade das ementasdas cantinas?!

[email protected]

Há dias em que me apetece desistir e parar de fingir que ainda posso ajudarquem quer que seja.

Há outros em que me apetece perder a sanidade e, por uma vez, dar-me aosupremo prazer de expulsar alguns dos progenitores que me enxameiam ogabinete, teimando em permanecer comigo durante a totalidade do dia, comose eu próprio não fosse mais do que o pai deles, permanentemente disponí-vel para perdoar as suas infantilidades.

Pudera eu, nesses dias, fazer subir o baloiço até ao céus e deixar de ouvir oeco das suas vozes.

À D. Marta, permanentemente queixosa de estar esgotada para tratar dosseus 5 rapazes. Ela, que queria tanto uma menina.

"Vai brincar lá para fora Miguel, deixa-me descansar um bocadinho", "Sr.Juiz ponha-me o Miguel numa instituição que eu já não o aguento mais".

Aos pais do Luís Miguel que, com 14 anos de idade, passou a auto-muti-lar-se com frequência e a rejeitar qualquer cor no vestuário que não seja opreto …

À Anabela, hoje mãe com 15 anos, que insistiu com os pais em levar pordiante a gravidez e a quem estes, perante tal posicionamento, colocaram narua no 8.º mês de gestação do neto …

Ao Pedro, filho de pais divorciados, que, para além de se recusar a assinarna escola o seu apelido paterno, entra em choro convulsivo no gabinete sóporque o juiz insiste com ele na necessidade de cumprimento de um regimede visitas ao pai.

À Ana Raquel que, com receio dos pais, conseguiu ocultar uma gravidez eque deu à luz na casa de banho de uma conhecida discoteca desta cidade,tendo acabado por abandonar o recém-nascido dentro do caixote do lixo maispróximo e que miraculosamente acabou por sobreviver ...

À D. Júlia, espancada constantemente pelo marido mas que acaba semprepor desistir dos sucessivos processos de divórcio ou de natureza criminal, porconstatar que se os fizer prosseguir acabará por ficar sem qualquer fonte derendimentos ....

Ao pequeno Renato, vendedor de pensos, a quem os pais não deixam entrarem casa se não trouxer diariamente 10 euritos para sustentar os hábitosalcoólicos dos pais.

Há dias assim... deve ser do calor !

* Juiz do Tribunal de Família e Menores de Coimbra

Vidas na Justiça

Ele há dias...

Por Paulo Eduardo Correia*

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Page 18: SOLIDARIEDADE – N.º 64 – AGOSTO 2004

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Opinião

No passado dia 21 de Abril aComissão emitiu uma proposta dedirectiva do Parlamento Europeu e doConselho relativa à aplicação do prin-cípio da igualdade de oportunidades eigualdade de tratamento entre ho-mens e mulheres em domínios ligadosao emprego e à actividade profissionalCOM(2004) 279 final, cujo objectivoconsiste em aumentar a transparên-cia, simplificação e clareza da legisla-ção já existente sobre o tema.

Desde 1975 que o tema da igual-dade de tratamento entre homens emulheres tem sido desenvolvido pelaUnião Europeia contemplando várioselementos, tais como: igualdade deremuneração; igualdade de acesso aoemprego e à formação profissional econdições de trabalho; em matéria desegurança social.

Verifica-se, desde aquela data, umalargamento do âmbito da igualdadede tratamento, afim de incluir tambémas áreas de política social.

O texto agora apresentado é tambémo resultado das contribuições dasociedade civil(ONGs - OrganizaçõesNão Governamentais) e parceirossociais (sindicatos e empresários)durante o período em que o temaesteve em consulta desde Julho aOutubro de 2003.

Através desta proposta de directiva aComissão pretende: congregar numasó directiva diversa legislação avulsaexistente desde 1975; simplificar e tor-nar mais compreensíveis as dispo-sições tanto aos cidadãos em geralcomo às empresas e instituições em-pregadoras; garantir uma maior eficá-cia das medidas adoptadas pelosEstados Membros na aplicação do

princípio da igualdade de tratamento.Com este propósito a comissão so-

correu-se da jurisprudência emanadado TJCE (Tribunal de Justiça CriminalEuropeu) emergente dos vários casosdecididos em tribunal relacionadoscom o tema. Em geral estabelece quea aplicação do princípio da igualdadede tratamento implica a não existênciade qualquer discriminação directa ouindirecta em razão do sexo. Em parti-cular a Comissão saliente o seguinte:

Trabalho de igual valor

O Tribunal define o princípio da igual-dade de remuneração pelo trabalho,por trabalho igual ou de igual valor in-dependentemente de este ser desem-penhado por um homem ou uma mu-lher. Para ser aplicável, o princípiopressupõe que os trabalhadores mas-culinos ou femininos se encontrem emsituações comparáveis.

Avaliação profissional e classificação profissional

A directiva estabelece que 'em espe-cial, quando for utilizado um sistemade classificação profissional para adeterminação das remunerações, estesistema deve basear-se em critérioscomuns aos trabalhadores masculinose femininos e ser estabelecido demodo a excluir as discriminações emrazão do sexo'.

A directiva aplica-se à populaçãoactiva, incluindo os trabalhadores in-dependentes, os trabalhadores cujaactividade seja interrompida pordoença, maternidade, acidente ou de-semprego involuntário e a pessoas àprocura de emprego, trabalhadorescom deficiência e bem como a pes-soas a cargo desses trabalhadores,nos termos da legislação e/ou práticanacional.

É importante esclarecer que as direc-tivas da União Europeia não se apli-cam automaticamente nos EstadosMembros, pois cabe a estes, seguindoo princípio da Subsidiariedade, trans-por e ajustar para a legislação nacio-nal aquelas disposições.

Pergunta o leitor, então e se o país

não aplicar a legislação de acordocom o espírito e a letra emanada daUnião Europeia ?

A União Europeia não tem a respon-sabilidade de garantir que a legislaçãoé aplicada na sua essência mas tem opoder de coordenar, fiscalizar e exigirquando é colocado em causa o princí-pio da igualdade entre os Estados--Membros.

Como exemplos da desigualdade, naUnião Europeia, no que se refere à i-gualdade de tratamento entre homense mulheres, bastará comparar as con-dições gerais de igualdade que sãogarantidas às mulheres na Suécia eem Portugal.

O aumento da taxa de empregoalcançado nos últimos anos, situando--se na Europa na ordem dos 65%,deve-se ao aumento significativo dataxa de emprego feminina desde mea-dos dos anos setenta, através datransferência para o sector dos ser-viços, de uma melhoria das habili-tações literárias dos jovens e tambémuma melhoria nas especificações dasfunções permitindo uma maior inte-gração das mulheres.

No entanto, as mulheres estão aindasubrepresentadas em funções de

gestão média/alta e ao nível da admi-nistração das empresas.

O crescimento económico carece,principalmente em Portugal, de umaumento dos níveis de competência,de mobilidade e flexibilidade da popu-lação activa, o que pode vir a ser con-seguido se for implementada umadiversificação da base de competên-cias, incentivando-se também umamaior representação feminina nossectores e actividades em que as mu-lheres estão subrepresentadas.

O aumento da base de educação eda formação, englobando a apren-dizagem ao longo da vida, é crucialpara que seja possível atingir umamais elevada taxa de emprego cujoobjectivo é de 70% (entre os 15 e 64anos) até 2010 e deste modo garantiro desenvolvimento económico.

Particularmente no que se refere àsmulheres, cuja taxa de emprego éactualmente de 54%, torna-senecessário um grande esforço de me-lhoria de incentivos e de condições deacesso para que possam aumentarainda mais as suas competênciasprofissionais e colocarem as suascapacidades ao serviço da sociedade.

No âmbito da complexidade e exi-gência de qualidade nos serviçosprestados pelas IPSS à sociedade, apertinência das necessidades de for-mação e da aprendizagem ao longoda vida coloca-se de maneira especí-fica e decisiva.

* Economista. Representante da CNIS noComité Económico e Social Europeu

Princípio de igualdade de tratamento entre homens e mulheres

Por José Leirião*

Na edição domês passado donosso mensárioS o l i d a r i e d a d ereferi algumas no-tas sobre este te-ma. Por se tratarde elemento de

interesse fundamental penso queseria importante focar alguns deta-lhes que considero cruciais.

[email protected]

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Opinião

Amores de VerãoPor Henrique Rodrigues*

A mesma pessoa me dizia que, emcerta ocasião, interpelara a responsá-vel pelo lar das raparigas em risco,perguntando-lhe se resultavam casa-mentos assim arranjados - sem pai-xão, sem escolha mútua.

(Confesso que, por mim, fiqueiespantado com esse uso, já que pen-sava, percebi depois que ingenua-mente, que os casamentos combina-dos sem o acordo da noiva tinhamacabado com o adeus de Teresa aSimão das janelas do Recolhimentodo Convento de Monchique, aqui noPorto, junto à barra do Douro, contadopelo Camilo, que tanto sabia deamores infelizes…).

Voltando à nossa história, e emresposta à interpelação, afiançou adirectora do lar que eram poucos oscasamentos assim contratados queacabavam em divórcio, fazendo comoregra cada um dos cônjuges um es-forço empenhado para manter aunião.

Tendo depois acrescentado, comênfase: "olhe que há muito mais divór-cios nos outros casamentos".

Lembrei-me desta história antiga apropósito da recente crise política edos seus efeitos na coligação que nosgoverna.

Também aí começámos com um

casamento celebrado sem amor:ninguém acredita que entre o Dr.Durão Barroso e o Dr. Paulo Portastivesse despertado qualquer químicaquando resolveram, há dois anos, jun-tar-se num projecto de vida - sempre apena a fugir para o jargão social…(Hei-de voltar a isto do "projecto devida" noutro artigo) - para governar opaís.

Mas o certo é que a coligação lá foidurando, com estabilidade, sendomotivo de geral espanto o esforço ver-dadeiro feito por cada um dos par-ceiros para não dar ao outro margempara zangas ou rupturas.

Já no que respeita ao novo Governo,o certo é que desde há longo tempoque toda a gente vem dizendo que oDr. Santana Lopes e o Dr. Paulo Por-tas parecem talhados para se enten-derem. E, sendo assim, o casamentoentre o PPD/PSD e o CDS/PP é ver-dadeiramente hoje um caso depaixão.

Entretanto, fomos tendo notícia,pelos jornais, de alguns arrufos - na

formação do Governo, na posse, nasinstalações… E os comentadoreslevam-nos à conta de, dando-se tãobem os líderes dos dois partidos,tomarem atitudes sem a prevenção deadivinhar a sua reacção nas hostes doparceiro, ou sendo indiferentes a ela.

Tomam a harmonia por garantida,sem lutarem dia a dia por ela.

Tal qual como nos casamentos.De maneira que estamos para ver se

a dois anos de coligação estável massem sal, tranquila mas sem chama, sevão seguir tempos de paixão tumul-tuosa… mas fugaz.

Como os amores de Verão…Por mim, entre um casamento em

que se arremata a noiva e um queresulta da escolha livre do homem eda mulher, prefiro evidentemente oúltimo, mesmo que dure menos.

Quanto à coligação do Governo,entre a paixão e a persistência, con-fesso que não sei.

E o leitor?

* Presidente da Direcção do CentroSocial de Ermesinde

Pessoa amigacontava-me, aquihá uns anos, docostume de ospescadores, quan-do se encontra-vam em risco denaufrágio, no mar,

prometerem, em caso de salvamen-to, ir buscar mulher para casar a umainstituição particular que recebiaraparigas em situação de risco socialgrave, como então se dizia.

(Trata-se, como se vê, de históriaantiga, do tempo em que em cadapraia havia um porto de pesca, combarcos, e marinheiros; antes docamartelo europeu os abater do acti-vo.)

Agosto 2004

O Eduardo é um jovem portador de paralisia cerebral (síndrome cerebeloso, com ataxia de movimentos),que frequenta a Cerciaz desde Outubro de 2001.

Nasceu no Porto, a 27 de Junho de 1980. Vive em Outeiro, freguesia de Santiago de Riba-Ul. É um jovemsensível, lutador como todos nós, que um dia ousou sonhar.

Um dos seus sonhos já se concretizou, com o lançamento do seu primeiro livro. Poemas simples, singe-los, por onde perpassa um misto de ternura e inocência.

Caso esteja interessado na compra do livro do Eduardo, contacte a Cerciaz, em Lações de Cima - Apart.90 - 3721-909 Oliveira de Azeméis. Tel: 256 687 497; Fax 256 681 038; e-mail: [email protected].

Utente da Cerciaz lança o seu primeiro livro de poemas

A Alma escondeu-se quando viu a naturezacoberta com neve.Os meninos, alegres, brincavam com a neve.Na noite de Natal ficavam a olhar para o Céu eViam uma estrela maior a cintilar maisque as outras estrelas.

A Câmara Municipal da Covilhã vaipromover aulas de ginástica gratuitaspara idosos, a partir do corrente mêsde Agosto. As aulas terão lugar noJardim Público da cidade.

A iniciativa vai ser conhecida pelonome de "Idosos em Movimento", e éorganizada no âmbito do Cartão

Municipal do Idoso.Segundo a Câmara da Covilhã, ape-

sar das aulas de ginástica seremdirigidas a pessoas idosas, qualquerpessoa interessada pode participarnas sessões que vão decorrer até 30de Setembro, todas as terças e quin-tas-feiras durante a manhã.

Os serviços da Câmara da Covilhãaconselham o uso de vestuário des-portivo adequado e pedem aos partici-pantes que levem consigo uma toalhae água.

O Cartão Municipal do Idoso é gra-tuito e foi lançado pela autarquia em1998, existindo cerca de dez mil por-

tadores, com mais de 65 anos. Os beneficiários têm direito a diver-

sos descontos nos serviços munici-pais, em transportes e no abasteci-mento água, além de um programa deviagens turísticas a vários pontos dopaís, organizado pela Câmara daCovilhã.

Idosos da Covilhã vão ter aulas de ginástica gratuitas

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20

Reflexões

Com efeito, o facto de falarmos empessoas introduz desde logo muitas evariadas questões. Não existem pes-soas iguais, cada um de nós pensa eage de maneira diferente, sente eexprime-se de forma diferente, temnecessidades e fins diversos. Enfim,como diria a minha avó, cada cabeça,sua sentença. Tudo isto dificulta bas-tante a gestão de pessoas. E se que-remos alcançar os objectivos das nos-sas organizações, temos de ter emconta este aspecto. As organizaçõessão constituídas por pessoas e seestas se encontrarem desmotivadas,dificilmente cumprirão os seus objec-tivos e as suas funções dentro dasorganizações. Como remediar estasituação?

Hoje falaremos da importância e dopoder da comunicação entre as pes-soas. Certamente haverá outrassoluções eficazes para contornar estasituação, mas hoje abordaremos ape-nas uma delas - a importância da co-municação. Quantas vezes já qui-semos saber se aquilo que fazemosno nosso dia-a-dia está bem feito?Quantas vezes quisemos perguntar ànossa chefia directa se podemos con-tinuar a fazer o mesmo ou devemosmudar a nossa maneira de fazer, masnão houve oportunidade para isso ousimplesmente, sejamos francos, fal-tou-nos a coragem? Pois é…

Contudo, se ousássemos perguntarse as nossas atitudes e comportamen-tos estão correctos, provavelmentesaberíamos que o nosso trabalho cor-responde às expectativas, emborapudessemos certamente melhorar

alguns aspectos. E se a nossa chefiadirecta tivesse algum tempo para nostransmitir esta informação, o nossotrabalho seria com certeza melhoradoe, em última análise, os utentes sai-riam obviamente beneficiados.

A este processo de devolução deinformação, e sendo necessário recor-rer a estrangeirismos, chama-se feed-back. Porque é que o feedback as-sume particular importância nos diasde hoje? Quando transmitimos a umapessoa uma informação, qualquerinformação, sobre as suas atitudes oucomportamentos, estamos a contribuirpara que esta possa modificá-los, me-lhorando-os. Se, contudo, esta comu-nicação não existir, a pessoa nuncaterá a hipótese de corrigir as suas ati-tudes. Assim, o feedback torna-se fun-damental em qualquer organizaçãopois:

- é essencial para um bom trabalhode equipa;

- é necessário para o crescimento edesenvolvimento profissional e tam-bém pessoal;

- constitui uma parte essencial doprocesso de aprendizagem.

É claro que nem sempre é fácil trans-mitirmos uma informação quandoexiste algum distanciamento entre aspartes, e principalmente quando setrata de uma informação menos positi-va. No entanto, há que ter a consciên-cia que esta devolução de informaçãoé necessária para o nosso aperfeiçoa-mento profissional, pelo que devemosaceitar o feedback com naturalidade einclusive solicitá-lo, demonstrandoassim um sinal de maturidade.

É evidente que existem algumas"regras" a seguir durante o processo,nomeadamente as características deum bom feedback. Neste sentido, ofeedback deve ser descritivo e nãoavaliativo, pois de facto não faz partede qualquer processo de avaliação evisa apenas motivar o colaborador acontinuar o bom trabalho e a eventual-mente melhorar alguns aspectos domesmo. Deve ainda ser específico enão generalista, ou seja, dizer exactae claramente os pontos a corrigir, e taldeve ocorrer, obviamente, num mo-

mento oportuno. Além disso, será con-veniente explicar ao colaborador oporquê da existência deste processo,clarificando mais uma vez que tal nãofaz parte do sistema avaliativo.

Um outro aspecto relevante prende--se com a existência de apenas doistipos de feedback: positivo e correcti-vo. Não existe portanto um feedbacknegativo. Da mesma maneira que nãodevem existir críticas destrutivas, ape-nas construtivas, não faria sentidorecorrer a um feedback negativo,quando queremos motivar o colabo-rador e não desmotivá-lo. O primeiro

implica o enaltecer de uma atitudee/ou comportamento, visando mantê--lo ou melhorá-lo. O segundo dizrespeito à modificação de atitudese/ou comportamentos, no sentido dealcançar um melhor enquadramento

no espírito da organização. Em todo este processo, e quer

sejamos os emissores ou os recep-tores, devemos aprender a ouvir osoutros e a expressar as nossasopiniões sem reagir de forma emo-cional defensiva e/ou ofensivamente,estando sempre conscientes da im-portância desta informação para oaperfeiçoamento individual mas tam-bém colectivo.

Se existem "regras" para transmitirum feedback, existem igualmente "re-gras" para o receber. Estas são:

- evitar desculpas ou desvalorizar ati-tudes;

- agradecer a quem nos transmite ofeedback;

- solicitá-lo com frequência;- quando necessário, pedir para clari-

ficar a ideia transmitida;- ouvir com atenção evitando inter-

romper quem fala;- lembrarmos-nos de que não exis-

tem maus feedbacks; o mau mesmo énão receber nenhum.

Fácil? Nem por isso. Estamos a lidarcom pessoas, logo não pode ser fácil.E mesmo que resulte numa determi-nada situação, pode não resultar comoutro colaborador pois não estamosnum laboratório em que as reacçõesquímicas são sempre iguais quandose adicionam determinados elemen-tos. Mas também ninguém disse queisto iria ser fácil, pois não?

* Licenciada em Gestão

A importância do feedbackPor Mafalda Santos*

Todos nós tra-balhamos diaria-mente em organi-zações que sãocompostas porpessoas e todosnós conhecemosas dificuldades

que existem em gerir pessoas. Eessas dificuldades surgem porquê?Precisamente porque se tratam depessoas e não de máquinas pro-gramáveis.

[email protected]

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Iniciativas

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A União Europeia aprovou uma candi-datura conjunta da Escola Secundáriade Oliveira do Bairro e da APPACDMde Anadia, referente a um projecto ten-dente à formação de adultos no acom-panhamento e relacionamento com de-ficientes.

Este projecto, inserido no ProgramaSócrates Grundtvig II, vai ser desen-volvido em conjunto com outros quatropaíses, a saber: Alemanha, Eslováquia,Finlândia e Lituânia.

O projecto visa essencialmente atroca de experiências de quem lida dia-riamente com deficientes, partilhandoinformações sobre métodos terapêuti-cos, desde a sua formação profissionalà sua reabilitação, aprendendo os pro-motores com o trabalho de campo rea-lizado em cada um dos países.

A título de exemplo, sabe-se deantemão que um dos principais inte-resses da Lituânia e da Eslováquia sãoos resultados da hipoterapia obtidospela APPACDM de Anadia.

Uma outra componente é a de pro-porcionar aos jovens deficientes vivên-cias inéditas.

No projecto está incluída a partici-pação de deficientes dos cinco paísesque terão eles próprios tarefas paradesenvolver em conjunto, nomea-damente um grande espectáculo final,de música ou teatro.

Por parte da Escola Secundária deOliveira do Bairro, que desenvolveu ini-cialmente o projecto, o objectivo residena sensibilização dos estudantes e dacomunidade em geral para a proble-mática da deficiência.

Anadia partilha experiências com a Europa

Teve lugar, recentemente, a primeirareunião da Rede Social da Maia, redetendente a combater da forma maiseficaz possível os problemas sociaisdo concelho, com especial destaquepara a pobreza. O primeiro encontroserviu para definir a composição dacomissão instaladora, que integrarásete entidades, devendo apresentarum plano de trabalho até Setembro.

Câmara Municipal da Maia, CentroDistrital da Segurança Social, Centrode Saúde da Maia, Socialis, Centro deEmprego, Instituto de Reinserção So-cial e uma representante da área da

Rede Social da Maia avança

Agosto 2004

Educação, são as sete entidades que compõem a comissão instaladora.

O Programa Rede Social é compar-ticipado pelo Fundo Social Europeu epelo Ministério da Segurança Social edo Trabalho, entidades que disponibi-lizam 60 mil euros para o período deimplementação, com duração previstade dois anos.

O jornal das IPSS O jornal das IPSS

Para todas as IPSSPara todas as IPSS

Em colaboração com instituições de solidariedade social do concelho, aCâmara Municipal de Rio Maior, através do Sector de Acção Social, vai levar aefeito em Outubro próximo, um programa de actividades sob o lema daSolidariedade. Entre 08 e 12 de Outubro a “Semana da Solidariedade” desen-cadeará um conjunto de eventos no âmbito da acção social, a decorrerem emvários locais de Rio Maior. Serão cinco dias onde se pretende que haja debate,convívio, esclarecimento e formação numa área que é da responsabilidade detodos, desde entidades oficiais, jovens, idosos, emigrantes, família e ondetodos sejam cada vez mais participativos.

Exposições, seminários, campanhas de esclarecimento, jogos tradicionais,actividades de animação cultural são as actividades previstas que irão dar à“Semana da Solidariedade” um importante relevo social.

O programa, divulgado pelo Oeste Online, vai desenvolver-se em cinco dias,cada um dedicado a uma temática: 8 de Outubro será o Dia dos Avós e Netos;9 de Outubro o Dia do Cidadão Sénior; o Dia do Imigrante preencherá o dia 10;dia 11 de Outubro será o Dia da Instituição. A 12 de Outubro, Dia Mundial daFamília, cumpre-se o Dia da Família.

Semana da Solidariedade em Rio Maior

A 8 e 9 de Outubro próximo vai ter lugar, noHotel Tivoli Tejo (Parque das Nações), o VIIForum de Apoio ao Doente Reumático, umaorganização da Liga Portuguesa contra asDoenças Reumáticas (LPCDR). Imagem eauto-estima, Vida a Dois, Concepção e Me-dicação, Hereditariedade e Doenças Reumá-ticas, Afectos de Maternidade e Paternidade,Os Sonhos - Afectos que os Médicos tambémdevem conhecer, são os temas escolhidos pa-ra debate neste encontro.

Para informações mais detalhadas sobre esta iniciativa, devem contactar-seos serviços de secretariado, através do telefone 21 4465728, do fax 214465729, ou por e-mail, para [email protected].

Actualmente, cerca de 2,7 milhões de portugueses sofrem de algum tipo dedoenças reumáticas, o que equivale a 38% da população. Por sexos, a doençaatinge 1 milhão e 700 mil mulheres e 970 mil homens.

As doenças reumáticas são as mais frequentes da raça humana, e conti-nuarão muito provavelmente a sê-lo no futuro, pois a população mundial nãopára de crescer e, sobretudo, de envelhecer.

O alerta para estas doenças é urgente, assinala a LPCDR, já que são muitasvezes ignoradas por quem as sofre, pela simples razão de que a doença podedecorrer anos sem sintomas.

A LPCDR tem âmbito nacional, sendo seus objectivos primaciais auxiliar todosos que sofrem destas doenças, contribuir para a sua integração na sociedade,colaborar com outras organizações internacionais suas congéneres e contribuirpara a criação e manutenção de centros especializados de diagnóstico, trata-mento e recuperação do doente reumático.

Funciona das 14h às 18h, na Av. de Ceuta, Lote 13, Lj 2, 1300-125 Lisboa. Portelefone, pode contactar-se o 21 3648776.

A Liga mantém site na internet, disponível no endereço www.lpcdr.pt

Forum de Apoio ao Doente Reumático

Ribeiro da Silva, Presidente daLPCDR

Ponto de Apoio à Vida é uma Instituição Particular deSolidariedade Social que nasceu para apoiar grávidas emdificuldades que se sentem de tal forma pressionadas a re-jeitar o seu filho que frequentemente, mesmo não sendoesse o seu desejo, deixam de o trazer à Vida pela situaçãode desespero, solidão e abandono ou por mero desconhe-cimento dos seus direitos e falta de informação em relaçãoaos apoios a que podem recorrer.

Se precisa deste tipo de apoio, se conhece alguém quedele necessita, contacte 800 20 80 90, ou 21 758 98 18.Também pode escrever para [email protected].

A instituição localiza-se na rua Raul Mesnier du Ponsard,n.º 10, 1750-243 Lisboa.

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Propriedade: CNIS (Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade) Rua Oliveira Monteiro, 356 ; 4050-439 Porto NIF: 501 146 253Telefone: 22 606 59 32 Fax: 22 600 17 74 e-mail: [email protected] Director: Padre Francisco CrespoRedacção: V. M. Pinto; D. Pedro Alves, Rodrigo Ferreira Colaboradores: António Pinto, Evelyne Crespelle, Padre José Maia, Pedro Miguel Ferrão, Sérgio Gomes. Paginação: Media Z Impressão: Unipress - R. Anselmo Braancamp, 220 - Granja 4410-359 Arcozelo - GaiaTiragem: 5.000 exemplares Depósito Legal n.º 11753/86, ICS -111333

Ficha técnica

Imagens

Desculpem, mas é a maior,Não admira, foi por mim escolhida,E o meu gosto, é o melhor,E esta é a canção mais feliz,Feliz eu que a posso cantar,É o meu maior grito de vidaFoi o seu grito, o meu despertar,Canção de mãe é sorrir,Canção berço de embalar,Melodia de dormir,Mãe ternura a aconchegar,Canção de mãe é sorrir,Gosto de ver e ouvir,Voz imagem de sonhar,Imagem viva lembrança,Que faz de mim a criança,Que gosta de recordar

A minha mãe,É a mãe mais amiga,Certeza, com que posso contar,E nem por isso, sou a imagem que queria,Mas nem sempre me soube aceitar,Razão de mãe é dizer,Mãe cuidado a aconselhar,Os cuidados que hei-de ter,As defesas a cuidar,Saudade mãe é escrever,Carta que vou receber,Noticia de me alegrar,Cartas visitas encontros,Essa troca que nós somos,Este prazer de trocar,Canção de mãe é sorrir,Gosto de ver e ouvir,A ternura de cantar.

A minha mãe, é a mãe mais bonita,

Deolinda de Jesus, poema de António Variações

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PublicidadeAgosto 2004

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Sem Palavras

A Fechar

Pelo menos 17 milhões de pessoas no mundo dependemda Agência das Nações Unidas para os Refugiados(ACNUR) para encontrar "um lugar a que chamar lar", aler-tou o secretário-geral da ONU, Kofi Annan. Numa men-sagem alusiva ao Dia Internacional dos Refugiados, queeste ano teve como tema "Um lugar a que chamar lar", KofiAnnan insistiu na necessidade da comunidade internacionalreafirmar o seu empenho no apoio a esta missão de ajudaros milhões de refugiados e deslocados do mundo.

"Para milhões de refugiados e deslocados internos nomundo inteiro, o lar é um lugar de onde tiveram de fugir paraescapar à morte (...) e um lugar que muitos deles não têmmenor esperança de ver de novo", pelo que a comunidade

internacional deve "dar provas da sua generosidade e conceder-lhes um apoio constante", salientou Kofi Annan. Segundo os últimos números divulgados na página oficial do ACNUR na Internet, relativos ao princípio do ano de 2003,

20,6 milhões de pessoas (uma em cada 300 habitantes do mundo) estava sobre protecção da ONU. Desse número,aproximadamente 3,6 milhões regressaram a suas casas.

20,6 milhões dependem da ONU Um em cada 300 habitantes do Mundo

Sabotagem trava ajuda humanitária a 10 milhões de pessoas

Dez milhões de pessoas precisam urgentemente deajuda e de comida porque os funcionários de agências detrabalho humanitário não conseguem chegar até elas,denunciou o chefe das ações humanitárias da ONU.

De acordo com o subsecretário-geral Jan Egeland, ope-rações em 20 países são alvo de sabotagem ou prejudi-cadas por falta de recursos. Em sua opinião, a crise emDarfur, no sul do Sudão, é actualmente a pior do mundo.

"Penso que ainda não é um genocídio e que podemosevitar que se torne um", declarou Egeland ao Conselho deSegurança da ONU. Este alto responsável pediu ao fórummais poderoso da ONU que aprove uma resolução com oobjectivo de proteger civis em conflitos armados e evitarque crises menores "se tornem catástrofes de grandes

proporções".Agências da ONU e outras organizações não-governamentais enfrentam sérias dificuldades no fornecimento dos meios

básicos para a sobrevivência aos que mais precisam em outros locais de conflitos, como Colômbia, Somália e Afeganistão."É uma combinação de governos que não permitem acesso, grupos armados que não nos dão segurança, e até mesmo

a falta de recursos que nos impossibilita de alcançar esses grupos", declarou Egeland.O alto funcionário da ONU fez duras críticas ao governo do Sudão pelo que vem ocorrendo em Darfur, onde 2 milhões

de pessoas precisam desesperadamente de ajuda, na sequência dos violentos confrontos entre rebeldes e milíciasárabes.

Egeland revelou que os representantes deagências de ajuda humanitária ainda não ti-nham conseguido obter vistos de entrada nopaís. Além disso, comida e equipamentosestão sendo retidos.

"O governo, que deveria fazer tudo paranos ajudar, ainda não está ajudando. Algunsministros estão cooperando, mas vários dosseus subordinados sabotam a nossa acção",afirmou Egeland à BBC Brasil

Restrições semelhantes impedem a ajudaa 2,2 milhões de pessoas na República Cen-tro-Africana, 3,5 milhões de palestinos, 3 mi-lhões de habitantes do leste do Congo evários outros milhões no Uganda, Costa doMarfim, Chechénia, Cáucaso e Afeganistão.

A Guiné-Bissau vai beneficiar de umfinanciamento de 2,646 milhões dedólares americanos do Fundo Mun-dial de Luta contra o HIV/SIDA, Tu-berculose e Paludismo, para tentardebelar estas três pandemias numperíodo de cinco anos.

A primeira parte desta subvenção,destinada a financiar o projecto du-rante os primeiros dois anos, estima--se em 1,55 milhão de dólares, deacordo com a convenção de financia-mento assinada em Bissau.

Entretanto, Portugal também semantém atento à crise dramática vivi-da pelo povo guineense.

A 2 de Julho foram assinados 11acordos de cooperação tendo emvista apoiar iniciativas ligadas aocombate à pobreza naquele paísafricano.

Ajuda para combateàs pandemias

Guiné-Bissau

Agosto 2004