solidariedade – n.º 61 – maio 2004

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Maio 2004 2.ª Série N.º 61 Mensal Padre Francisco Crespo Director Nesta extensa entrevista, o Mi- nistro do Emprego e da Solida- riedade fala abertamente das relações com as IPSS. A difer- enciação positiva é aposta que quer ganhar. Municipalização da acção so- cial? Traz ganhos e perdas, diz o governante. Bagão Félix revela que a procu- ra do Rendimento Social de In- serção tem aumentado, aumen- to provocado pela recessão; quer dar combate sem tréguas às baixas fraudulentas e à sub- sidiodependência. Tempo ainda para falar da crise, das debilidades do sistema fis- cal, até para elogiar algumas medidas do anterior governo. E para deixar um aviso: a ad- versidade demográfica só se conseguirá combater com o au- mento da produtividade. Página 3 Fisiocar de ouro Fernando Gonçalves inven- tou um veículo de transporte e terapia para deficientes ou traumatizados motores e pessoas que tenham dificul- dades motoras. O Fisiocar ganhou a meda- lha de ouro no Salão Interna- cional de Invenções, que de- correu recentemente em Ge- nebra. Este inventor do Fundão espera agora que alguma empresa ligada ao sector o contacte, para avançar com a produção do veículo. Mensário da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade CNIS MINISTRO BAGÃO FÉLIX EM ENTREVISTA Padre Maia comenta A Paixão de Mel Gibson Página 16 Em entrevista ao Solida- riedade, Paulo E. Correia, Juiz dos Tribunais de Famí- lia e Menores, diz que o al- coolismo dos casais é causa de muitos mais males que a toxicodependência. As crian- ças das zonas rurais estão mais desprotegidas que as das cidades, por maiores di- ficuldades na denúncia de maus tratos. Condena práti- ca que sobe em flecha, a da arguição dos abusos sexu- ais como arma de arremes- so em processos de divór- cio. Página 5 Quero gerar alguma inquietude nas instituições Maquete do Fisiocar Páginas 11 a 14 Autorizado pelos CTT a circular em invólucro fechado de plástico. Autorização DEO/415/204004/DCN

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Versão integral da edição n.º 61 (2.ª Série), do mensário “Solidariedade”, órgão oficial da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNIS). Director: Padre Francisco Crespo. Porto, Portugal, Maio 2004. Não se esqueça de que pode ver o documento em ecrã inteiro, bastando para tal clicar na opção “full” que se encontra no canto inferior direito do ecrã onde visualiza os slides. Também pode descarregar o documento original. Deve clicar em “Download file”. É necessário que se registe primeiro no slideshare. O registo é gratuito. Para além de poderem ser úteis para o público em geral, estes documentos destinam-se a apoio dos alunos que frequentam as unidades curriculares de “Arte e Técnicas de Titular”, “Laboratório de Imprensa I” e “Laboratório de Imprensa II”, leccionadas por Dinis Manuel Alves no Instituto Superior Miguel Torga (www.ismt.pt). Para saber mais sobre a arte e as técnicas de titular na imprensa, assim como sobre a “Intertextualidade”, visite http://www.mediatico.com.pt/manchete/index.htm (necessita de ter instalado o Java Runtime Environment), e www.youtube.com/discover747 Visite outros sítios de Dinis Manuel Alves em www.mediatico.com.pt , www.slideshare.net/dmpa, www.youtube.com/mediapolisxxi, www.youtube.com/fotographarte, www.youtube.com/tiremmedestefilme, www.youtube.com/discover747 , http://www.youtube.com/camarafixa, , http://videos.sapo.pt/lapisazul/playview/2 e em www.mogulus.com/otalcanal Ainda: http://www.mediatico.com.pt/diasdecoimbra/ , http://www.mediatico.com.pt/redor/ , http://www.mediatico.com.pt/fe/ , http://www.mediatico.com.pt/fitas/ , http://www.mediatico.com.pt/redor2/, http://www.mediatico.com.pt/foto/yr2.htm , http://www.mediatico.com.pt/manchete/index.htm , http://www.mediatico.com.pt/foto/index.htm , http://www.mediatico.com.pt/luanda/ , http://www.biblioteca2.fcpages.com/nimas/intro.html

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Page 1: SOLIDARIEDADE – N.º 61 – MAIO 2004

Maio 20042.ª Série N.º 61Mensal

Padre Francisco CrespoDirector

Nesta extensa entrevista, o Mi-nistro do Emprego e da Solida-riedade fala abertamente dasrelações com as IPSS. A difer-enciação positiva é aposta quequer ganhar.Municipalização da acção so-cial? Traz ganhos e perdas, dizo governante. Bagão Félix revela que a procu-ra do Rendimento Social de In-serção tem aumentado, aumen-

to provocado pela recessão;quer dar combate sem tréguasàs baixas fraudulentas e à sub-sidiodependência. Tempo ainda para falar da crise,das debilidades do sistema fis-cal, até para elogiar algumasmedidas do anterior governo. E para deixar um aviso: a ad-versidade demográfica só seconseguirá combater com o au-mento da produtividade.

Página 3

Fisiocar de ouro

Fernando Gonçalves inven-tou um veículo de transportee terapia para deficientes outraumatizados motores epessoas que tenham dificul-dades motoras. O Fisiocar ganhou a meda-lha de ouro no Salão Interna-cional de Invenções, que de-correu recentemente em Ge-nebra.Este inventor do Fundão

espera agora que algumaempresa ligada ao sector ocontacte, para avançar coma produção do veículo.

Mensário da

Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade

CNIS

MINISTRO BAGÃO FÉLIX EM ENTREVISTA

Padre MaiacomentaA Paixãode MelGibson

Página 16

Em entrevista ao Solida-riedade, Paulo E. Correia,Juiz dos Tribunais de Famí-lia e Menores, diz que o al-coolismo dos casais é causade muitos mais males que atoxicodependência. As crian-ças das zonas rurais estãomais desprotegidas que asdas cidades, por maiores di-ficuldades na denúncia demaus tratos. Condena práti-ca que sobe em flecha, a daarguição dos abusos sexu-ais como arma de arremes-so em processos de divór-cio.

Página 5

Quero gerar alguma inquietude nas instituições

Maquete do Fisiocar

Páginas 11 a 14

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Abertura

No mais fundo de ti,eu sei que traí, mãe!

Tudo porque já não souo retrato adormecidono fundo dos teus olhos!

Tudo porque tu ignorasque há leitos onde o frio não sedemorae noites rumorosas de águas mati-nais!

Por isso, às vezes, as palavras quete digosão duras, mãe,e o nosso amor é infeliz.

Tudo porque perdi as rosas brancasque apertava junto ao coraçãono retrato da moldura!

Se soubesses como ainda amo asrosas,talvez não enchesses as horas depesadelos...

Mas tu esqueceste muita coisa!Esqueceste que as minhas pernascresceram,que todo o meu corpo cresceu,e até o meu coraçãoficou enorme, mãe!Olha - queres ouvir-me? -, às vezes ainda sou o meninoque adormeceu nos teus olhos;

ainda aperto contra o coraçãorosas tão brancascomo as que tens na moldura;

ainda oiço a tua voz:“Era uma vez uma princesa

no meio de um laranjal...”

Mas - tu sabes! - a noite é enormee todo o meu corpo cresceu...

Eu saí da moldura,dei às aves os meus olhos a beber.

Não me esqueci de nada, mãe.Guardo a tua voz dentro de mim.E deixo-te as rosas...

Boa noite. Eu vou com as aves!

Poema à MãeEugénio de Andrade

Após alguns meses de interregnoaqui está de novo o nosso tão queridoe desejado "SOLIDARIEDADE".

Há muito tempo que as nossas filia-das nos interrogam: "quando é que saio SOLIDARIEDADE?"

É bom sinal.Significa que o jornal é uma peça fun-

damental da nossa "máquina" que sechama CNIS.

Quer dizer que ele é um amigo quenos quer visitar mensalmente e quetodos nós o aguardamos de braçosabertos.

Dele esperamos muita coisa: Forma-ção, informação, partilha de experiên-cias, sugestões, perguntas e respos-tas, novidades, enfim um mundo decoisas que se chama "vida" de todosos dias com que milhares de Dirigen-tes, Funcionários, Voluntários e Uten-tes das Instituições Particulares deSolidariedade Social se debatem per-manentemente.

Mas, para que o "SOLIDARIEDADE"seja de facto aquilo que todos nós an-siamos, é preciso que haja mais parti-

lha, muita colaboração, boa vontade,abertura e dinamismo. Todos têm neleo seu lugar.

Os Técnicos que colaboram naredacção do jornal deverão ter o traba-lho de escolher, compilar e torná-loatractivo. Mas o interesse e o gosto pelo"SOLIDARIEDADE" está nas nossasmãos.

O nome não podia ser mais sugesti-vo. É o nosso distintivo. Pela solidarie-dade estamos a dar a vida, muito maisque um atleta pela camisola do seuclube.

Desejo pois que, desde este novonúmero e mensalmente o nosso jor-nal seja um autêntico amigo queentra nas nossas Instituições e équerido e desejado por todos os queo contactam.

Editorial

Ant

ónio

Pin

to

[email protected]

A colocação da primeira pedra danova basílica de Fátima terá lugarno dia 6 de Junho, Domingo daSantíssima Trindade. A informaçãofoi oferecida pelo Bispo de Leiria--Fátima, que disse ainda esperarque “a inauguração de todo o com-plexo volumétrico se verifique em2007, aniversário da primeiraaparição de há 90 anos”.

D. Serafim Ferreira e Silva destacao facto de a futura igreja da San-tíssima Trindade ter a primeira pedravinda do túmulo de São Pedro: “OPapa João Paulo II teve a amabili-dade de oferecer um pedacinho depedra extraída do túmulo de S.Pedro, no Vaticano. É um símbolomuito eloquente".

D. Serafim justificou a construçãode uma nova Basílica em Fátimacom a necessidade sentida peloSantuário em “dar acolhimento aquantos chegam de fora”

“Está em construção a igreja da

Santíssima Trindade, que será umgrande centro de culto e cultura,numa conjugação permanente de fée razão. Além das celebrações, emespaços adequados, fazem parte doconjunto os acessos, o parquehoteleiro e de restauração”, explicouo prelado em entrevista ao semaná-rio Voz Portucalense, da Diocese doPorto.

“Todos vão reconhecer as vanta-gens e verificar a boa harmoniaentre a nova igreja, as outras cons-truções e a natureza” - assegura D.Serafim Ferreira e Silva.

NOVA BASÍLICA DE FÁTIMAPrimeira

pedra a 6 de Junho

Ant

ónio

Pin

to

Por Padre Francisco Crespo

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Maio 2004

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Actualidade

Chama-se Fernando Gonçalves e, se não inventa tudo, inventa muito. Genebra dá-lhe o devido valor, dourando eprateando os seus inventos. Recentemente, ganhou a Medalha de Ouro com o FISIOCAR, um veículo de transportee terapia, para deficientes ou traumatizados motores, e pessoas que tenham dificuldades motoras.

“É ideal para actividades domésticas, passeios ou compras em superfícies comerciais” – afirmou FernandoGonçalves ao SOLIDARIEDADE, acrescentando:

“O utilizador pode andar sentado, de pé, ou caminhar apoiado nas extensões. Estas extensões são reguláveis emaltura ou largura, bastando para o efeito levantar o estrado articulado do mesmo”.

Para além da funcionalidade de meio de transporte, o veículo pode ser utilizado para fisioterapia, uma vez que temum estrado que, quando levantado, funciona como uma espécie de andarilho que permite ao utilizador movimentar--se, sempre apoiado pelo cesto de compras, colocado na dianteira.

Gonçalves concebeu o veículo para produção com ou sem motores. De forma simples, diríamos que se trata deum misto de carrinho de compras e cadeira de rodas.

Da 32.ª edição do Salão Internacional de Invenções, que decorreu recentemente em Genebra, trouxe quatro medalhas: duas de ouro, uma de prata e uma de bronze.A outra medalha de ouro foi conquistada pelo VEHICLE DETECTION, ALERT AND BLOCKING SYSTEM, um sistema de con-

trolo e detecção de entradas de veículos em auto-estradas, que impede a circulação de automóveis em sentido contrário.TRANSVIA, um sistema de abertura rápida das barreiras de protecção em auto-estradas, valeu-lhe uma medalha de prata. A de

bronze ficou para o BREAK-SYSTEM, um dispositivo de paragem de veículos a ser accionado quando os travões não funcionamou em situações de risco de colisão.

Às quatro medalhas de Fernando Gonçalves, Portugal somou mais sete. Este ano, todos os inventos portugueses apresenta-dos a concurso naquele prestigiado certame foram medalhados, o que aconteceu pela primeira vez em 32 anos de presençasregulares do nosso país.

Este inventor do Fundão espera agora que alguma empresa ligada ao sector o contacte, para avançar com a produção doFISIOCAR. É o velho dilema dos inventores portugueses. Inventar, inventam eles muito. Os especialistas estrangeiros têm dadoo devido valor ao trabalho dos nossos compatriotas. O problema surge depois, na etapa de produção. Geralmente a máquinaemperra. Fernando Nogueira Gonçalves amarga tal sina. No seu site (http://www.invento.web.pt), podemos ler: Por falta de uminventor / Se perdeu um invento. / Por falta de um invento / Se perdeu um produto. / Por falta de um produto / Se perdeuuma empresa. / Por falta de uma empresa / Se perdeu uma fábrica. / Por falta de uma fábrica / Perderam-se milhares deempregos. / Por falta de milhares de empregos / Um país perdeu seu futuro. / Tudo por falta de um INVENTOR.

Pode ser que, desta vez, atendendo à utilidade social do FISIOCAR, este invento passe mesmo do papel.

Fisiocar de ouro

Fernando Gonçalves (ao centro), recebendo mais umprémio

Os ministros da Educação e daSegurança Social e do Trabalhoapresentaram, no passado mês deAbril, o Plano Nacional de Prevençãodo Abandono Escolar, um esforçocolectivo para evitar que os jovenssaiam precocemente do sistema deensino.

Com o lema Eu não Desisto ,o PNAPAE tem como grande objec-tivo reduzir para menos de metade astaxas de abandono escolar e desaída precoce até 2010.

No conjunto das recomendaçõesdestaca-se: a criação da figura dotutor escolar, para acompanhamentodas crianças em risco de abandono;o desenvolvimento de um programaespecífico de Formação de Profes-

-sores; a criação de um Plano dePortuguês Língua Não Materna, deum Plano de Promoção da Leitura eda Escrita e de um Plano específicopara o Apoio ao Ensino e Aprendiza-gem da Matemática.

A dinamização de um Programa deApoio e Financiamento a ActividadesExtra-Curriculares – Depois dasAulas; a criação do Programa Pais naEscola; a implementação da metodo-logia e dos referenciais para reco-nhecimento, validação e certificaçãode competências com equivalênciaao actual Ensino Secundário, inte-gram ainda os objectivos deste ambi-cioso programa.

Por último, refira-se a promessa deuma campanha de sensibilizaçãodirigida essencialmente aos jovensque abandonaram o sistema de ensi-no com os anos de final de cicloincompletos. Sobre este assunto, vertambém notícia na página 10.

Combate ao abandonoescolar

♦ Acidentes de trabalho vitimaram170 pessoas em 2003, metade dasquais na construção civil.

♦ São 602.369 os beneficiários que,em Portugal, recebem a pensão mí-nima. Esta cifra equivale a um quartodo universo dos pensionistas. Recor-de-se que as pensões mínimas vãoaumentar 2% (4,16€) no próximo mêsde Junho. Com este aumento, apensão mínima do regime geralfixa-se em 212,16€.

♦ Mais de meio milhão de por-tugueses vivem sozinhos. Estacifra aumentou 44,1% em 10 anos(de 1991 para 2001).

♦ Um em cada cinco portuguesesanda armado. Há 800 mil armaslegalizadas no nosso país.

♦ Os portugueses enviaram 146milhões de SMS no Ano Novo.

♦ A GNR registou 6471 atentadoscontra o ambiente nos primeiros novemeses de 2003, mais dois mil do queem todo o ano de 2002.

♦ Portugal tem os trabalhadorescom menos habilitações entre os25 países da actual UniãoEuropeia.

♦ O Estado é o maior empregadornacional, situação que se verifica nosdiferentes níveis da estrutura admi-nistrativa portuguesa. Segundo dadosrecolhidos através do 1.º Recensea-mento Geral, efectuado em 1996, onúmero total de trabalhadores daAdministração Pública é de 619.399,dos quais 500.535 pertencem à Ad-ministração Central.

Números e mais números

Maquete do Fisiocar

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O que são?

Para queservem?

Informações Úteis

Tribunais de Família e Menores

Os Tribunais de Família Os Tribunais de família são compe-

tentes para preparar e julgar: a) osprocessos de jurisdição voluntária re-lativos a cônjuges; b) as acções deseparação de pessoas e bens e dedivórcio (podendo os divórcios pormútuo consentimento ser tambémrequeridos na Conservatória doRegisto Civil se o casal não tiver filhosmenores ou, havendo-os, se o poderpaternal se mostrar já judicialmenteregulado); c) os inventários requeridosna sequência de acções de separaçãode pessoas e bens e de divórcio, bemcomo os procedimentos cautelarescom aqueles relacionados; d) asacções de declaração de inexistênciaou de anulação do casamento civil; e)as acções relativas à anulação decasamento civil contraído de boa-fépelo menos por um dos cônjuges; f)as acções e execuções por alimentosentre cônjuges e entre ex-cônjuges.

Tais Tribunais são ainda compe-tentes para, relativamente a menorese filhos maiores: a) Instaurar a tutela ea administração de bens; b) Nomearpessoa que haja de celebrar negóciosem nome do menor e, bem assim,nomear curador-geral que representeextrajudicialmente o menor sujeito aopoder paternal; c) Constituir o vínculoda adopção; d) Regular o exercício dopoder paternal e conhecer dasquestões a este respeitantes; e) Fixaros alimentos devidos a menores e aosfilhos maiores ou emancipados epreparar e julgar as execuções por ali-mentos; f) Ordenar a entrega judicialde menores; g) Autorizar o represen-tante legal dos menores a praticar cer-

tos actos, confirmar os que tenhamsido praticados sem autorização eprovidenciar acerca da aceitação deliberalidades; h) Decidir acerca dacaução que os pais devam prestar afavor dos filhos menores; i) Decretar ainibição, total ou parcial, e estabelecerlimitações ao exercício do poderpaternal; j) Proceder à averiguaçãooficiosa de maternidade, de pater-nidade ou para impugnação da pater-nidade presumida; l) Decidir, em casode desacordo dos pais, sobre o nomee apelidos do menor.

Compete, ainda, aos Tribunais defamília: a) Havendo tutela ou adminis-tração de bens, determinar a remune-ração do tutor ou administrador, co-nhecer da escusa, exoneração ouremoção do tutor, administrador ouvogal do conselho de família, exigir ejulgar as contas, autorizar a substitui-ção da hipoteca legal e determinar oreforço e substituição da cauçãoprestada e nomear curador especialque represente o menor extrajudicial-mente; b) Nomear curador especialque represente o menor em qualquerprocesso tutelar; c) Converter, revogare rever a adopção, exigir e julgar ascontas do adoptante e fixar o mon-tante dos rendimentos destinados aalimentos do adoptado; d) Decidiracerca do reforço e substituição dacaução prestada a favor dos filhosmenores; e) Exigir e julgar as contasque os pais devam prestar; f)Conhecer de quaisquer outros inci-dentes nos processos acima referi-dos.

Os Tribunais de Menores

Compete aos tribunais de menoresdecretar medidas relativamente amenores que, tendo completado 12anos e antes de perfazerem 16 anos,

se encontrem em alguma dasseguintes situações: a) Mostrem difi-culdade séria de adaptação a umavida social normal, pela sua situação,comportamento ou tendência quehajam revelado; b) Se entreguem àmendicidade, vadiagem, prostituição,libertinagem, abuso de bebidasalcoólicas ou uso ilícito de drogas; c)Sejam agentes de algum facto qualifi-cado pela lei penal como crime, con-travenção ou contra-ordenação.

A competência dos tribunais demenores é extensiva a menores comidade inferior a 12 anos quando os paisou o representante legal não aceitem aintervenção tutelar ou reeducativa deinstituições oficiais ou oficializadas nãojudiciárias.

Ressalvados os casos em que acompetência caiba, por lei, às apon-tadas instituições, independentementeda idade, os tribunais de menores sãoainda competentes para: a) Decretarmedidas relativamente a menores quesejam vítimas de maus tratos, deabandono ou de desamparo ou seencontrem em situações susceptíveisde porem em perigo a sua saúde,segurança, educação ou moralidade;b) Decretar medidas relativamente amenores que, tendo atingido os 14anos, se mostrem gravemente inadap-tados à disciplina da família, do traba-lho ou do estabelecimento de edu-cação e assistência em que se encon-trem internados; c) Decretar medidasrelativamente a menores que se entre-guem à mendicidade, vadiagem, pros-tituição, libertinagem, abuso debebidas alcoólicas ou uso de drogas,quando tais actividades não consti-tuírem nem estiverem conexionadascom infracções criminais; d) Apreciar edecidir pedidos de protecção demenores contra o exercício abusivo deautoridade na família ou nas institui-ções a que estejam entregues.

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Solidariedade – Hoje em dia hámais problemas com os menores, ouestes encontram-se mais protegidosdo que há uns anos atrás?

Dr. Paulo Correia – Fundamental-mente, foram os padrões de exigênciaque mudaram. Noto evolução muitoqualitativa no que se refere às exigên-cias da sociedade. Se antes aceitáva-mos determinados castigos corporais,considerando-os normalíssimos, hojeisso já não acontece. E isto vale tantopara as comunidades urbanas comopara as rurais.

Solidariedade – Os problemas maisgraves surgem nas cidades…

P. Correia – Nas zonas urbanasencontramos famílias completamentedesreguladas. No entanto, os proble-mas com as crianças são mais fáceisde detectar, são denunciados commuito mais facilidade e prontidão. Jánas comunidades rurais, mesmo emzonas limítrofes a grandes cidades,deparamo-nos, por vezes, com ummuro de silêncio que é difícil transpor.Não sendo situações tão graves comoaquelas com que nos deparamos nascidades, ficam, no entanto, semresolução. Isto acontece porque osfamiliares mais chegados ou osvizinhos receiam incómodos, atémesmo represálias, caso procedam auma denúncia.

Solidariedade – As crianças daszonas rurais mais desprotegidas doque as das cidades, é isso?

P. Correia – Não generalizando, semdúvida alguma. Nas cidades chegamos anotar até um excesso de zelo por parteda comunidade. Algumas daschamadas recebidas pelas linhas de

apoio vêm a revelar-se alertas infun-dados, tal a preocupação das pessoascom o bem-estar das crianças. Sejacomo for, prefiro este excesso de zelo,entre aspas, claro, a uma atitudelaxista da comunidade.

“O ÁLCOOL ESTÁ LÁ, QUASE SEMPRE”

Solidariedade – É na toxicode-pendência que encontramos a origemda maior parte dos problemas…

P. Correia – Surpreendentemente, éo alcoolismo que fomenta a maiorparte das desgraças. 90 por cento doscasos que me chegam às mãos sãooriginados por esse flagelo. O álcoolestá lá, quase sempre, num ou noutrodos pais, por vezes no casal. Isto tantose verifica nas aldeias como nascidades. A toxicodependência originaproblemas mais graves, mas as mais fre-quentes têm a ver com o alcoolismo.

Solidariedade – O aumento dasfamílias monoparentais tem-sereflectido numa maior taxa de aban-donos de crianças, ou de negligência?

P. Correia – Não noto isso. A maiorparte dos casos provêm das chamadasfamílias típicas, de crianças a viverem compai e mãe, não significando isso que os paissejam casados.

Solidariedade – Na ordem do diaestão hoje os abusos sexuais amenores…

P. Correia – É verdade, e não vale apena repetir o que tem sido dito sobreisso. Mas permita-me que aproveiteesta oportunidade para deixar um aler-ta, sobre uma prática condenável quevejo aumentar assustadoramente nosúltimos tempos. Falo da utilizaçãodo abuso sexual como arma dearremesso entre casais desavindos,partes num processo de regulação dopoder paternal. Invoca-se cada vezmais, e quase sempre por parte doparceiro feminino, o perigo de taisabusos acontecerem caso a criançaseja confiada ao pai, ou permitindoque com ele passe algum tempo. Éum argumento terrível. Muitasvezes, o magistrado sente-se

manietado perante tal arguição. Nãohá provas, mas está criada a sus-peição. Não há provas, mas o malestá feito.

“DENÚNCIAS MOTIVADAS POR PURO REVANCHISMO”

Solidariedade – Tais estratégiasaumentaram depois da divulgação doque se passou com as crianças daCasa Pia?

P. Correia – De forma significativa. Hádois tipos de situações. Por um lado,preocupações genuínas das mães,alicerçadas nos comportamentos se-xuais do cônjuge. No lado oposto,encontramos denúncias motivadaspor puro revanchismo. Esquecem-sede que quem mais sofre com tudo issosão os filhos.

Solidariedade – Falou em juízesmanietados, na dificuldade em con-seguir provas…

P. Correia – Confesso que lidamoscom muitas dificuldades em situaçõesdo género. Nós não temos, nemtemos que ter preparação específicanesse domínio. Mas recorremos aespecialistas, tanto do Instituto deMedicina Legal como de departamen-tos de pedopsiquiatria. Registo várioscasos em que a avaliação rigorosa, aavaliação científica efectuada pelosperitos demonstrou ser tudo falso. Éterrível, e bom seria que as pessoasse deixassem dessas estratégias.Chega-se ao requinte de se recorrerprimeiro a um hospital, tentando obterrelatórios que depois possam alicerçara falsa denúncia junto dos tribunais.Isto mesmo tem-me sido contado poralgumas médicas com quem lido

profissionalmente.Solidariedade – Há sanções, quando

se prova que a denúncia é falsa…P. Correia – Mas aí o juiz fica manie-

tado por outras razões. Vamos con-denar a pessoa que fez essa falsadenúncia por má fé? Podemos fazê-lo,mas aí estamos a tornar a situação dodos filhos ainda mais periclitante. E omais importante de tudo é salva-guardarmos o futuro das crianças.

“NÃO PODEMOS FALHAR NO MOMENTO DECISIVO”

Solidariedade – É uma perguntarecorrente, a que se refere à juven-tude de alguns magistrados. Esseargumento pesa nos Tribunais deFamília e Menores?

P. Correia – Trata-se de uma área tãosensível que não se compadece comamadorismos, nem inexperiência dequalquer ordem. Não podemos falharno momento decisivo. Note-se que alei exige dez anos de serviço e umaclassificação de Bom Com Distinção,obrigando a que o magistrado nomea-do para estes tribunais seja dotado dequalidade técnica e tenha umapreparação específica dentro destaárea. Nesse aspecto o legislador foiexigente, e ainda bem. O que acon-tece é que, por escassez de meios,são colocados como auxiliares juízesque não cumprem os requisitos deter-minados na lei. Sem serem nomeadosdefinitivamente, é claro, mas a ver-dade é que, por carência de recursoshumanos, nem sempre se conseguemcumprir os requisitos legais, havendojuízes impreparados para o desem-penho destas funções específicas.

Solidariedade – Disse juízesimpreparados?

P. Correia – Digo-o com toda aresponsabilidade. As pessoas sabemque é assim, que nos deparamos comesse problema nos Tribunais deFamília e Menores. É uma preocu-pação do próprio Conselho Superiorda Magistratura. Este órgão, honra lheseja feita, tem evitado a nomeação deauxiliares para estes lugares.

Entrevista

Juiz alerta para o flagelo do alcoolismoMAUS TRATOS A CRIANÇAS

Em entrevista ao Solidariedade, Paulo Eduardo Correia, 40 anos, Juiz dos Tribunais de Família e Menores, diz que o alcoolismo dos casais é causa demuitos mais males do que a toxicodependência. As crianças das zonas rurais estão mais desprotegidas do que as das cidades, por maiores dificuldadesna denúncia dos casos de maus tratos. Condena prática que sobe em flecha, a da arguição dos abusos sexuais como arma de arremesso em processos dedivórcio. E constata a existência de juízes impreparados nos Tribunais de Família e Menores, tudo a ver com a falta de recursos humanos: “Trata-sede uma área tão sensível que não se compadece com amadorismos, nem inexperiência de qualquer ordem” – defende o magistrado.

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Respigos

Geminação de paróquiasprecisa de serimplementada

Os directores nacionais das Obras Missionárias Pontifícias dos paíseseuropeus estiveram reunidos no Seminário dos Espiritanos, na Torre d’Aguilha,em Lisboa, para reflectir sobre a animação missionária e a pastoral juvenil. Emdeclarações à Agência ECCLESIA, o padre Manuel Durães Barbosa, directornacional, sublinhou que as Obras Missionárias Pontifícias têm um papel decoordenação e pretendem dar um novo impulso à pastoral juvenil. Se esta "nãocontemplar a dimensão missionária fica fragilizada", disse.

A dimensão missionária abre "horizontes", alarga "fronteiras" e cria"comunhão entre a Igreja local e a Igreja noutros países", acrescentou.

Os 28 directores nacionais estiveram em diálogo entre 27 a 30 de Março, re-flectiram também sobre "a geminação de dioceses e paróquias com os desafiosque essa mesma provoca". E acentua: "não é uma geminação que tem comoprioridade a ajuda monetária", mas "deve gerar uma comunhão maior entreIgrejas de continentes diferentes", realçou o padre Manuel Durães Barbosa.

Em Portugal, este desafio está a cargo da Fundação Evangelização eCulturas (FEC) mas – acentua o director nacional – "pode-se dizer que o nossopaís está a aderir a um ritmo crescente mas lento". Para gerar esta geminação,"é necessário que haja consciência missionária" dentro da própria paróquia.

Agência Ecclesia

100 litros de sangue ecerca de 18500 EUROS

100 litros de sangue e cerca de 18 mil e quinhentos EUROS foi o resultado dopeditório público e da recolha benévola de sangue, em quatro centros, pelaCáritas de Setúbal. Em comunicado, a Cáritas de Setúbal salienta que, dosnove concelhos que constituem a diocese sadina já foram apurados os resulta-dos dos oito onde se realizou o peditório e que, relativamente ao ano anterior,“se registou um decréscimo de 23%”. Esta diminuição está “relacionada com acrise económica que o país atravessa e com a cada vez maior dificuldade emencontrar pessoas que se disponibilizem para realizar o peditório”.

Agência Ecclesia

Reconhecer o passadodescobrir os porquês

Tantas vezes as pessoas têm tendência a queixar-se de que a cultura ciganase fecha sobre si própria relativamente à cultura envolvente. Terminámos aQuaresma, vivemos já (quando estas linhas se escrevem) as alegrias de o Paiter ressuscitado Jesus da morte que os pecados da humanidade Lhe deram. Ébom reflectir um pouco sobre a história, é tempo para metermos a mão na cons-ciência colectiva.

Quem não se defende, quem não se fecha, quem não se torna desconfiado eagressivo quando é, sistematicamente, discriminado, perseguido, excluído, de-portado, castigado, chacinado, etc. etc. etc.? Costuma dizer-se que quem nãose sente não é filho de boa gente. Os ciganos têm, certamente, uma origem deboa gente, algures no Kerala no Norte da Índia. Ainda hoje, ao fim de cerca deum milénio de agruras, eles mantêm a postura de boa gente que as suas origensneles imprimiram.

No, a todos os títulos, notável documento que a Santa Sé, na sequência do VCongresso Mundial da Pastoral dos Ciganos, está a preparar para difundir emtoda a Igreja, sobre a etnia cigana e as suas relações com a sociedade europeiae com a Igreja, este aspecto da má consciência de tantas comunidades cristãs,ao longo da história, sem excluir o presente, no seu não acolhimento das popu-lações ciganas, é meridianamente focado.

Examinemos, pois, a nossa consciência colectiva. Tentemos, então, com-preender os porquês e, melhor ainda, façamos, como o Papa já fez, váriasvezes, mea culpa, e tentemos começar a compreender os nossos irmãosciganos, por dentro, não pelas aparências, nos seus corações feridos por tantosmaus tratos nossos ou dos que nos precederam e então o sentimento deamizade por um irmão que veio de tão longe e que necessita do nosso acolhi-mento talvez comece a despertar e uma verdadeira Páscoa despontará nanossa terra.

Francisco Monteiro. A Caravana

Conseguimos pensar ummundo livre da fome?

(...) Esta problemática leva-nos a perguntarmo-nos: conseguimos pensar ummundo onde o ser humano se possa alimentar dignamente? Onde toda agente, sobretudo as novas gerações, possam crescer, aprender e tornar-semembros activos e responsáveis da sociedade? Conseguimos pensar ummundo livre da fome?

Libertemos a mãe Terra da estrutura económica perversa que enche ospratos a uns enquanto esvazia os dos vizinhos, e isso será possível. Se aspessoas forem bem alimentadas, terão saúde e energia, criatividade, segu-rança e coragem suficiente para resolver problemas e criar uma culturasaudável. A insuficiente alimentação impede o homem de poder trabalhar edesenvolver-se. Pela lei da interligação dos membros, como diria S. Paulo,todo o corpo social fica atingido.

Mensageiro de Sto. António

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Iniciativa

A Família face à exclusãoNo próximo dia 29 de Maio terá

lugar, em Fátima, um seminário orga-nizado pela CNIS, tendo por tema AFamília face à Exclusão. Como é pordemais sabido, as transformaçõesdos modelos familiares tradicionaistêm-se vindo a alterar acarretando,cada vez mais, uma maior individua-lização dos seus núcleos.

Estas transformações, associadasà existência, em crescendo, defamílias mono parentais, maioritaria-mente constituídas por mulherescom dificuldades económicas acres-cidas e impossibilitadas de poderemconciliar a sua vida familiar com aprofissional, agravam-se com asescassas possibilidades de acesso ainstituições de solidariedade deapoio às estruturas familiares, as-pectos que nada contribuem para oacompanhamento das suas criançase sobretudo dos seus idosos depen-

dentes, que vivem sós e em situaçãode risco.

Os pressupostos anteriores, aliadosà evolução do envelhecimento de-mográfico, ao número crescente denovos imigrantes / minorias étnicas,agravam-se se tivermos em conta oaumento do número crescente dedesempregados, maioritariamente

do sexo feminino, com baixas qualifi-cações escolares e profissionais.

Urge dar mais atenção às estru-turas familiares e dinamizar politicassociais que apoiem a unidade dafamília e a dignifiquem, mas sobretu-do promovam o seu desenvolvimen-to, de forma a poder-se minorar oagravamento da exclusão social em

Portugal.Estas preocupações da CNIS são

comuns a grandes figuras públicas,como as de Sua Eminência o SenhorCardeal Patriarca e as de Sua Ex.ª oSenhor Presidente da República,que recentemente deixou transpare-cer numa entrevista à RevistaEconomia Social que "Eventuais re-cuos nas politicas sociais, podem terefeitos muito gravosos (...) e con-duzir ao aumento da pobreza", de-fendendo que só, "uma articulaçãoentre o Estado, sector privado e sec-tor social, permitirá dar sentido útil ànoção de rede social de protecção eapoio aos grupos sociais desfavore-cidos" (SIC).

É este o tema das nossas preocu-pações, que em conjunto preten-demos debater, para assinalar o AnoInternacional da Família.

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Publicidade

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Todos os adultos, com excesso de peso ou obesidade (IMC >= 25) que necessitem de emagrecer, podeminformar-se sobre o Plano XL, junto do seu médico assistente. Desenvolvido pela Fundação Portuguesade Cardiologia (FPC), o Plano XL é um programa nutricional personalizado, destinado a pessoas que dese-jam perder peso de forma saudável e modificar os seus hábitos alimentares de modo a evitar a recupera-ção do peso perdido, após a dieta.

São os médicos que disponibilizam aos seus doentes o questionário do Plano XL que, após preenchi-mento, deve ser enviado para a Fundação Portuguesa de Cardiologia. Posteriormente, todas as pessoassão contactadas pelas Nutricionistas do Plano XL e acompanhadas durante 6 meses através de contactostelefónicos regulares.

Após o primeiro contacto telefónico, é elaborado um plano alimentar personalizado, adaptado o maispossível aos hábitos e preferências de cada um, que é enviado pelo correio. Nos contactos posterioresavalia-se a adaptação à dieta, a evolução do peso e do perímetro abdominal e reforça-se a motivação paracontinuar a emagrecer. Durante este acompanhamento são fornecidos alguns materiais com informaçõesúteis, promotoras da mudança de hábitos após a dieta. O Plano XL tem também uma linha azul, que fun-ciona 12h por dia, para apoio e esclarecimento de todas as dúvidas sobre este programa.Para mais pormenores, ligue 213 815 000, ou envie um e-mail para [email protected]

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Actualidade

Plano

XL

Os mais de 250 participantes noSeminário sobre Violência Domésticae Crianças em Risco, promovido pelaUDIPSS de Castelo Branco, ao abrigodo Acordo celebrado entre a CNIS eIEFP, constataram que:

- Existe maior consciência condu-cente à denúncia junto das instânciaspúblicas das situações de perigo emque encontram muitas das crianças;

- A violência sobre as mulheres ecrianças, em situação de perigo, nãosão problemáticas novas, mas emergemdelas novas realidades, que as tornammais complexas;

- As crianças têm um tempo para oser, não podendo deixar de lhes daras condições apropriadas ao seucrescimento equilibrado, sendo aafectividade, desde o momento daconcepção, um dos elementos maisestruturantes para a formação daessência do ser;

- A família continua e continuará aser o lugar privilegiado para o desen-volvimento saudável dos indivíduos, esó quando esgotadas todas as suaspotencialidades se deverá investirnoutros modelos alternativos, taiscomo o acolhimento no seio da famíliaalargada ou o recurso a famílias deadopção;

- A família é uma realidade emmutação, mas a sua função primordialde cultivar e proteger a vida é imutá-vel;

- É indispensável a participação dos

membros mais velhos na harmonia ecumprimento da missão inalienáveldas famílias;

- É no seio das famílias atingidaspelo alcoolismo e toxicodependênciaque predominam as situações de vio-lência e de risco mais sinalizadas;

- As IPSS estão conscientes de quea correcta prevenção e solução dosproblemas sociais por mais simplesque sejam, não se compadecem comformas de estar e de actuar autistas eque visem alcançar protagonismospessoais ou institucionais.

Concluíram por isso que:

1. É imperioso criar nas IPSS, eatravés delas, a cultura dos DIREI-TOS HUMANOS e apelar ao respeitoincondicional por cada um e por todoseles, sem esquecer que lhes estãoassociados o sentido do cumprimentodos deveres, a fim de que se almeje o

escopo da cidadania a que nosdevíamos sentir obrigados;

2. As IPSS são convidadas a con-tribuir, cada vez mais, para a pre-venção de todas as situações propicia-doras de maus-tratos e a assumirem--se com a consciência ética dascomunidades em que estão inseridas;

3. As IPSS reafirmam a sua con-vicção de que só o trabalho em parce-ria, tanto a nível local, nacional outransnacional, é instrumento eficaz deactuação solidária;

4. Se persistem muitas das causasoriginadoras de violência na família,em particular contra crianças e mu-lheres, outras surgiram nos últimosanos e mais hão-de surgir nos próxi-mos, pelo que as IPSS mantêm ocompromisso de continuar a investirna informação / formação dos seuscolaboradores;

5. No cumprimento do comprovadoprincípio da subsidariedade, as IPSScontinuam disponíveis para colaborarna criação de iniciativas propiciadorasdo BEM COMUM, contando, paraisso, com a cooperação dos diversosserviços locais e do Governo daNação;

6. As IPSS sabem que a prevençãoprecoce é o meio mais eficaz de inter-venção social, e porque é na famíliaonde tudo começa, comprometem-sea reforçar as acções que visem apreparação dos jovens e o despertar

da consciência dos casais para asresponsabilidades parentais quevenham ou já têm que assumir. AUDIPSS de Castelo Branco providen-ciará a instalação de GABINETES deinformação, aconselhamento e media-ção familiares, proporcionando a for-mação necessária aos respectivosmediadores;

7. AS IPSS não deixarão de criar ascondições favoráveis à valorização dopapel dos idosos na família, porqueestes podem dar um contributo indis-pensável à construção da afectividadee da memória, que são factoresessenciais para a plena integraçãosócio-familiar dos indivíduos.

A terminar, os participantes regozi-jaram-se com a celebração do 30.ºAniversário do 25 de Abril e formula-ram votos para que se mantenhamvivos e activos os ideais que o justi-ficaram, comprometendo-se colaborarpara este desiderato.

Violência doméstica e crianças em riscoCONCLUSÕES DO SEMINÁRIO DA COVILHÃ

O SOLIDARIEDADE divulga, na íntegra, o documento continente das conclusões do seminário que teve lugar, no passado dia 24 de Abril, na Covilhã,subordinado ao tema Mulheres vítimas de violência doméstica e crianças em risco.

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Margens

Abandono escolar é tragédia nacionalO abandono escolar é uma “tragédia

nacional”. As palavras são do Pre-sidente da República que dedicou aPresidência Aberta, na semana pas-sada, à educação. Jorge Sampaiopediu que o país escolha a formação ea educação como prioridades nospróximos anos para que Portugal nãovenha a ser marginalizado no futuro.“Não estou disponível para assistir aesta tragédia nacional”, referiu oPresidente no decurso de uma visita àEscola Profissional de Idanha-a-Nova.Sampaio fez questão de esclarecerque o recado era para o país e nãopara o governo. Segundo as estatísti-cas há 43 por cento de jovens entre os18 e os 24 anos de idade que nãocompletaram o ensino secundário, oque coloca Portugal na cauda daEuropa dos 25. Jorge Sampaio adver-tiu para o facto de Portugal perder abatalha do desenvolvimento se nãocolocar a educação como primeira

prioridade. “Ou o país dá uma voltaséria e diz que ‘a formação das pes-soas é uma questão central para ospróximos dez anos’, ou então ficare-mos mais marginais”.

Na entrevista concedida ao So-lidariedade o Ministro do Emprego e

Solidariedade reconheceu o problemae adiantou as metas do governo emmatéria de combate ao abandonoescolar. “Foi lançado por mim e peloMinistro da Educação um programanacional de prevenção do abandonoescolar. O que se passa é o seguinte:Abandono escolar no sentido estritodo termo, isto é, os que saem da esco-la sem atingir o fim da escolaridadeobrigatória, anda à volta de 2,8 porcento. Desceu nos últimos dez anosde 10 para 2,8 por cento. Temos quever o lado positivo, a nossa auto-esti-ma não pode ser confrontada só comproblemas. Fizemos avanços. Onosso objectivo agora a é reduzir em50 por cento esse valor. Os 43 porcento é o que se considera tecnica-mente a saída precoce do sistemaescolar. Concluíram a escolaridadeobrigatória mas abandonaram o sis-tema de ensino sem qualificações adi-cionais. No fundo, tem mais a ver com

o 12.º ano do que com o 9.º. Há 10anos esse número era de 65%, agoraé de 43. Houve uma evolução positivae queremos que até 2010 passe parametade. É necessário relançar o ensi-no profissional, técnico-profissional,tecnológico. Isso é decisivo. Fizeram--se coisas boas, eu próprio tenhoorgulho de, como Secretário deEstado do Emprego, em 1988, com oministro da educação RobertoCarneiro, ter avançado com as esco-las profissionais, que hoje são umsucesso; o sistema de aprendizagemtambém é um sucesso mas é insufi-ciente. As escolas comercias e indus-triais acabaram no 25 de Abril porrazões compreensíveis, do ponto devista de diferenciação socialmenteestúpida, mas criou-se um vazio. Háum buraco negro de deficiente qualifi-cação a nível de quadros intermé-dios.”

PRESIDÊNCIA ABERTA SOBRE A EDUCAÇÃO

A Violência Doméstica é, para alémde um crime punido pelo artigo 153.º doCódigo Penal, um flagelo social e umdrama humano que afecta muitasfamílias, com particular impacto nasmulheres e nas crianças.

O actual Governo, na sequência depolíticas que foram desenvolvidas naúltima década, aprovou recentementeo II Plano Nacional contra a ViolênciaDoméstica, com objectivos ambiciososque envolvem todos os agentes daadministração central e local, bemcomo os organismos da sociedadecivil.

É neste âmbito que nasce o projectoEstrada Larga, uma iniciativa a cargodo Soroptimist Internacional ClubePorto - Invicta, aprovado pela CIDM -Comissão para a Igualdade e para osDireitos das Mulheres / Presidência doConselho de Ministros e co-financiadopela União Europeia - Fundo SocialEuropeu, no âmbito da medida 4.4. do

POEFDS - Pequena Subvenção àsONG's.

O projecto tem como principal objecti-vo informar e sensibilizar as cidadãs eos cidadãos sobre o que fazer perantesituações de Violência Doméstica.

É urgente informar o público sobreestas questões, promovendo umamudança de mentalidades e de actua-ções - uma sociedade moderna e justatem que unir esforços para combater aViolência Doméstica, tornando ina-

ceitável a sua prática e criandocondições sociais e humanas para queas suas vítimas possam, em segu-rança, ultrapassá-la e os agressorespossam mudar o seu comportamento.

A estratégia do projecto Estrada Larga- Caminhos para Famílias semViolência é informar e sensibilizar direc-tamente cerca de 24 mil pessoas sobreo problema da Violência Doméstica nosdistritos de Aveiro, Porto e Braga.Queremos ir ao encontro de alunos,professores, autarcas, técnicos e públi-co em geral para em conjunto construir-mos caminhos para famílias sem vio-lência.

O Projecto Estrada Larga dispõe deum excelente site, com bastante infor-mação sobre a sua actividade, nele seincluindo a calendarização das acçõesa desencadear nos próximos dias. Osite deste projecto encontra-se emhttp://www.estradalarga.online.pt/

Caminhos para Famílias sem Violência

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Grande Entrevista

Solidariedade – O sr. Ministro tempassado, nos últimos tempos, a ideiade que vai ser alterada a filosofia rela-tivamente às contribuições que têmsido dadas às famílias carenciadas.Em vez do pagamento ser feito àsinstituições tem sido referido que opagamento pode e deve ser feitodirectamente às famílias, escolhendoelas depois a instituição. É umamudança de política?

Bagão Félix - Esta minha posição éuma posição de convicção, emborareconheça que em muitos aspectos éuma gestação teórica. Verdadeira-mente, o que o Estado deve apoiarsão as famílias, as pessoas. Essa éque é a essência de qualquer políticasocial. Se esse apoio é feito atravésdo aparelho do Estado ou se é veicu-lado, quase sempre melhor, atravésde organizações intermédias dasociedade civil, como são as IPSS eas Misericórdias, é um aspecto impor-tante, mas instrumental. O fim dapolítica social é ajudar as pessoas. Ofinanciamento directo às famílias, emteoria, representa duas ou três vanta-gens em relação às instituições.Primeira: Permite maior liberdade deescolha das famílias apoioadas.Segunda: Ao permitir maior liberdadede escolha das famílias apoiadas, per-mite uma “concorrência” mais sadia emais profiláctica na própria sociedade.O “mercado” ajusta-se. As más institui-ções são menos procuradas, as insti-tuições de excelência são mais procu-radas. Terceira vantagem e, ao

mesmo tempo, grande problema, éapoiar com mais eficácia na gestãodos recursos financeiros disponíveisas famílias que mais precisam. Nós

sabemos que nas instituições há umasque fazem um exercício notável deseriação social dos idosos, das crian-ças, dos deficientes, das pessoas quesão apoiadas... mas, há outras quetêm a tendência para captar...

Solidariedade – Angariar clientes?Bagão Félix – Sim. Clientes que

paguem mais para compensar deter-minado tipo de encargos. Perguntar--me-á: Porque é que tendo essa ideianão a concretizou? Devo dizer que noacordo que foi celebrado com asMisericórdias e com a CNIS foi esta-belecido que vamos começar a iniciarisso no apoio domiciliário. E não é por

acaso. No apoio domiciliário a desin-termediação entre quem apoia e quemé apoiado é muito maior. Não necessi-ta de cimento, de betão armado. Maisdo que um equipamento é um serviço.

“NEM SEMPRE AS PESSOAS QUE PAGAM IMPOSTOS SÃO AS MENOSCARENCIADAS”

Verdadeiramente há um obstáculoobjectivo: A nossa capacidade e possi-bilidade de aferir das condiçõeseconómico-sociais das famílias. Onosso sistema fiscal é ainda débil aesse nível. Nem sempre as pessoasque pagam impostos são as menoscarenciadas; há determinado tipo derendimentos que objectivamente nãosão declarados no IRS porque estãosujeitos a taxas liberatórias. Se umapessoa só viver de muito dinheiro dedepósitos a prazo não precisa dedeclarar IRS. A declaração de IRSpode não significar a fotografia social

de carência das famílias. Temos que irpor passos graduais. Eu com estaideia procurei dois objectivos: essaideia do gradualismo, da aproximação,começar a pouco e pouco. Este ca-minho faz-se caminhando. Mas tendoesse farol por linha de orientação e, aomesmo tempo, gerar alguma incomo-didade, no bom sentido da palavra, ounuma linguagem mais cristã: Geraralguma inquietude nas próprias insti-tuições. Fazermos todos uma reflexãocrítica. Há instituições que funcionammuito bem mas há outras que, defacto, deixam-se cair em algumas ten-tações de menor aferição social.

Solidariedade – É nesse sentido quevai a iniciativa recente de mandarencerrar algumas instituições?

Bagão Félix – Estes 364 estabeleci-mentos, e não foi por acaso que lhechamei estabelecimentos, são total-mente instituições com fins lucrativos.Eram instituições que não tinhamalvará, não tinham as condições míni-mas de segurança, de higiene, dequalidade, de conforto, etc. Não têmnada a ver com as IPSS.

Solidariedade – Mas, ainda assim,estas acções acabam por ser um sinaldo governo em relação às institui-ções...

Bagão Félix – Eu fui Secretário deEstado da Segurança Social no gover-no de Sá Carneiro, 1980, há 24 anos,e na altura fiz uma grande modificaçãono financiamento das Instituições deSolidariedade Social. Elas eram finan-ciadas não pelos utentes, pelos finsque perseguiam, mas pelos meios,isto é pelo pessoal que tinham ao seuserviço. Era um disparate, porquequanto mais improdutiva fosse a insti-tuição, mais pessoal tivesse mesmoque não precisasse, mais recebia.Essa foi uma revo-lução na altura. Há24 anos não ima-gina a revolução quefoi por isso em prática.

“A POLÍTICA TAMBÉM SE FAZDE UTOPIAS”

Depois há uns poucos de anos atrás- isso não foi comigo mas eu acheimuito bem -, começaram-se a afinaros critérios de capitação, os custosvariáveis, os custos fixos e acho quese está evoluir muito. Agora entrou-senuma nova fase que é fazer diferen-ciação positiva, pela qualidade, é umaterceira fase mas sem deixar de terem conta este farol: A política tambémse faz de utopias. É provavelmenteuma utopia, mas toda a gente concor-da que é a perspectiva correcta. Podee deve haver passos intermédios,aquilo a que chamei de gradualismo.O financiamento pode e até deve,numa fase intermédia, ser um mistodas duas coisas. Ser em parte umfinanciamento à instituição e suple-mentarmente um apoio à família maiscarenciada. No fundo ir buscar as van-tagens de dois tipos de financiamentosem cair nos inconvenientes dos doistipos de financiamento. Têm que ser

Quero gerar alguma inquietude nas instituiçõesBAGÃO FÉLIX, MINISTRO DO EMPREGO E DA SOLIDARIEDADE

António Bagão Félix é um dos Ministros mais conhe-cidos do governo PSD-CDS/PP. É uma pessoa de pou-cas surpresas e de muitas convicções. O responsávelpela pasta do Emprego e da Solidariedade já foiSecretário de Estado em governos anteriores e tem umpensamento plasmado em vários documentos escritosao longo da sua carreira. “Tenho ideias, sei o quequero e sei por onde é o caminho” disse ele ao termi-nar esta entrevista de hora e meia ao Solidariedade.

Mal chegou ao governo não descansou enquantonão apresentou a nova lei de bases da SegurançaSocial que revogou o diploma aprovado em 2000 pelo Partido Socialista. Mas não secoíbe de elogiar, no executivo de António Guterres, aquilo que sempre achou adequa-do para o país.

Tem 56 anos, é católico, benfiquista e bom chefe de família. Diz que o que quer fazercabe neste mandato: “Se o sr. Primeiro-Ministro tiver confiança em mim, até final domandato, ficarei. Mais tarde ou mais cedo o verdadeiro desejo de um ministro que nãoé político de carreira, como é o meu caso, é ser ex-ministro.”

Nesta entrevista falou das relações com as IPSS. Abertamente, como é seu timbre.

“Agora entrou-se numa nova fase, que é fazer diferenciação positiva, pela qualidade”

Por V. M. Pinto

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Grande Entrevistasoluções aproximativas.

Solidariedade – Nunca será entãouma substituição imediata e total. Dizque é uma utopia...

Bagão Félix – Eu vou dar-lhe exem-plos de onde já existe há muitos anos.O subsídio de educação especial queé dado às famílias que têm filhos defi-cientes, para irem para estabeleci-mentos de educação especial, é feitoàs famílias. Vou-lhe dar outro exem-plo: As escolas profissionais, que sãofinanciadas com dinheiros da UniãoEuropeia e nacionais, neste ministérioe no da Educação. Este ano, o finan-ciamento já é dado aos alunos. Não édado às escolas.

Solidariedade – É uma tendência...Bagão Félix – É uma tendência irre-

versível e aí é quase lutar contra ofuturo. Agora eu quero dizer oseguinte às instituições, claramente:Uma coisa é a utopia. Outra coisa é tera ideia absolutamente clara para ondeé que caminhamos. Outra é não cairem precipitações onde todos per-demos e ninguém fica a ganhar. Temque ser visto com muita serenidade eem maturação constante das solu-ções, não só de ser boa a soluçãomas de ser assumida por todos.

Solidariedade – Pesa muito o factode no país haver cerca de 4000 insti-tuições de solidariedade social queempregam 72 mil pessoas. A insta-lação dessa política faria ruir este sec-tor.

Bagão Félix – Não concordo. Achoque o país tem evoluído muito aolongo dos últimos 25 anos. A cobertu-ra de equipamentos sociais e serviçossociais prestados pelas organizaçõesda sociedade civil tem, hoje em dia,uma expressão muito forte, como sevê nos números que referiu. Mas háum dado que ainda é inelutável: É quea procura excede a oferta. Portanto,essa questão não se põe a não ser nadepuração daquelas que não devemexistir, por razões de péssima quali-dade, de ilegalidade de procedimen-tos... Mas isso, seja com o financia-mento de uma maneira ou de outra, oEstado tem o dever de fiscalizar asinstituições em nome da procura dobem comum.

“HÁ MAIS PROCURA DO RENDIMENTO SOCIALDE INSERÇÃO”

Solidariedade – A alteração efectua-da no Rendimento Mínimo Garantido,uma das suas mais polémicas medi-das, vai também no sentido de clari-ficar o apoio que é prestado às pes-

soas que mais necessitam?Bagão Félix – É uma questão inte-

ressante. Agora chama-se Rendimen-to Social de Inserção, como sabe. Oque está subjacente... Há duas con-cepções, dois pilares, dois elementosestruturantes da reforma social, aque-la que eu preconizo e tenho procuradopôr em prática. Uma é a de queninguém deve ser excluído da possi-bilidade de ter acesso aos bens eserviços sociais; a outra é a de queninguém devendo ser excluído, emteoria, só deve ser apoiado quem pre-cisa mais. É o princípio da diferencia-ção positiva. Hoje em dia não podehaver outro. A ideia do tudo paratodos, além de injusta é uma ideiairrealizável. Não é por acaso queforam os países ricos da Europa quecomeçaram primeiro as reformas so-ciais, a Alemanha e a Suécia. Permito--me citar aqui o dr. Medina Carreiraque costuma dizer “até nisso somospobres...”. Começa pelos países ricosessa evolução. O El Dorado de umsistema em que entrava mais dinheiroe saía pouco, em que as pessoasmorriam cedo, em que se nascia muitoapós a segunda guerra mundial, oboom de nascimentos, a ideia de quehavia sempre dinheiro para tudo...Essa questão acabou ... Hoje vivemosnum ambiente de carência objectivade recursos que nos leva a ser maisrigorosos na sua atribuição para aspessoas certas. Ou seja, a segurançasocial, o Rendimento Social de In-serção, a doença, o desemprego, oabono de família, o apoio às institui-ções, deve ter o seguinte objectivo:Todos aqueles que precisam devemser apoiados. Aquilo a que eu chamo aobrigação horizontal da segurançasocial. Mas só devem ser apoiados,com diferenciação positiva, aquelesque mais precisam. Aquilo a quechamo o princípio vertical da Se-gurança Social. No Rendimento Socialde Inserção nós somos mais exi-gentes ao nível da fiscalização e con-trolo justamente em nome dessesprincípios, mas também temos dife-renciação positiva ao nível das mulhe-res grávidas e com filhos até um ano,ao nível das famílias com doentescrónicos, com deficientes, famíliasmais numerosas, fazendo essa gra-duação das expectativas e direitos so-ciais. É interessante que no Ren-dimento Social de Inserção há um arti-go que prevê os chamados vaucherssociais, cheques sociais, para medica-mentos, ou para habitação, ou paraentrada numa instituição social. Esseprincípio também já lá está. Acho que

a pouco e pouco ele deve ser con-cretizado. O de haver chequesconsignados para determinada finali-dade social. No fundo, permita-me queuse uma caricatura, o abono defamília em boa teoria, sei que isso nãoé concretizável, devia ser através deum vale com o qual se devesse com-prar coisas para a criança que éabonada. Desde a alimentação aovestuário etc., e não como hoje odamos, que é um cheque na conta dospais que pode ser para o pai ir para ataberna ou para ir ao futebol ou outracoisa qualquer. Mas nós sabemos queé um sonho irrealizável e, sincera-mente, discutível, porque viola oprincípio da liberdade. As pessoas nãopodem ser orientadas pelo Estado...

Solidariedade – Se não houvesseRendimento Social de Inserção seriauma medida que o sr. Ministro teriaimplementado?

Bagão Félix – Na altura em que foicriado o Rendimento Mínimo Ga-rantido eu escrevi que sempre o con-siderei uma medida positiva. A minhaexpressão da altura foi: “É uma medi-da de indiscutível bondade social”.Isso não me condicionou no sentidode melhorar a eficácia social daprestação. Foi isso que procurei.Vamos ver se tenho êxito nesse objec-

tivo que não é para mim é para o país.Eu posso dar números destesprimeiros três meses. Neste momentotemos 59 por cento dos pedidos quesão indeferidos...

Solidariedade – O sr. Ministro tentouacabar com aquilo a que se começoua chamar a subsidiodependência.Acha que está a conseguir?

Bagão Félix – No início o diplomaprevia que os jovens até aos trintaanos não teriam direito ao rendimentomínimo, como acontece em Espanha,no Luxemburgo, como acontecenoutros países, justamente porque seentende que o Rendimento Mínimo,sendo o último recurso, não pode sera primeira porta de entrada, o primeiroguichet de uma mesada paga pelocontribuinte. Um jovem que acaba aescolaridade, em meu entender, nãodeve ser, em nome de valores não sóde dignidade, mas também de sentidoactivo na realização dos objectivos deuma nação, entrar logo na subsidiode-pendência. Eu quando propus issonão era no sentido de diminuir asresponsabilidades do Estado. Era deaumentá-las a montante, ao nível daspolíticas activas de emprego, de quali-ficação profissional, de apoio àinserção de jovens na vida activa.Mas, como sabe, foi declarado incons-

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Grande Entrevistatitucional, rectificamos isso e nestemomento não houve corte ao nível deum conjunto de beneficiários poten-ciais e efectivos do rendimento socialde inserção.

Solidariedade – E o que dizem asestatísticas?

Bagão Félix – Há um aumento nãomuito significativo de cerca de 5 porcento no número de beneficiários, querde titulares da prestação, que andam àvolta de 100 mil, quer de beneficiáriosda prestação, que andam à volta de300 mil. A taxa de indeferimento émuito maior, anda muito perto dos 60por cento. Somos mais exigentes. Hámais procura do Rendimento Social deInserção, o que é natural, por causa dasituação social, da crise, e é uma con-sequência da situação social e umaobrigação do orçamento social corres-ponder a essa consequência. Há maisprocura, mas por outro lado, de facto,há uma zona de tentativa de receberum rendimento para o qual se verificanão haver direito. Na anterior legis-lação o Rendimento Mínimo Garantidoera renovável automaticamente ao fimde doze meses da prestação. Agoradeixou de ser renovável automatica-mente. Isto é, o titular tem que fazerprova de que se mantém em situaçãode carência com direito a receber a

prestação. Isso levava à inércia dasubsidiodependência. O dinheiro éescasso, temos que fazer opções.

Solidariedade – Mas a subsidiode-pendência existe ainda em grandeescala.

Bagão Félix - A subsidiação não é ummal, é um bem. As pessoas que pre-cisam têm que ser apoiadas. Ou pelasvias das prestações substitutivas derendimentos, como é o caso do subsí-dio de desemprego, ou pelas vias decarência social, como é a pensãosocial ou o Rendimento Social deInserção. Esse aspecto da subsidiaçãoé uma questão patrimonial, genéticada segurança social do Estado--Providência. A subsidiodependência éoutra coisa. O recebimento automáticoda prestação gera duas ideias perver-sas: A de que a pessoa não se consi-dera útil na e para a sociedade, e geraa ideia de que acaba por ser umimposto sobre o trabalho. Convida aonão trabalho e é nesse sentido que eucontesto a subsidiodependencia.

“TENHO SENTIDO GRANDECOMPREENSÃO NAS MEDIDAS”

Solidariedade – Outra batalha: O sr.Ministro tem-se empenhado na lutacontra as baixas fraudulentas, o que

lhe tem causado algum rombo na po-pularidade de que gozava neste exe-cutivo.

Bagão Félix – Lutar contra as baixasfraudulentas não é uma luta política, éum imperativo ético de quem está numlugar destes. Mas a razão principal dealteração feita ao subsidio de doençanão foi essa. Foi fazer o princípio dadiferenciação positiva. Eu acho queuma pessoa que está com umadoença grave, que está quatro, cinco,seis meses em casa, essa é que ver-dadeiramente pode ter um rombo noseu orçamento familiar, porque gastamais medicamentos, mais meios auxi-liares de diagnóstico. Se calhar, pre-cisa de alguém para a apoiar. Umagripe de três ou quatro dias não afectatanto o orçamento familiar. Se eutivesse todo o dinheiro do mundo essaquestão não se colocava. Mas o di-nheiro não cai do céu. A segurançasocial é uma instituição a cargo daeconomia. Só o que se produz é quepode ser distribuído. Foi esse tipo dejustiça que entendi fazer. Uma coisa éo que se publica dos opinadoresprofissionais, das instituições par-tidárias, sindicais ou políticas quefazem aquilo que devem fazer. Ademocracia é a expressão pública dosdesacordos, não é só dos acordos.Outra coisa é o que as pessoas no seuíntimo pensam. Nesse aspecto tenhosentido uma grande compreensão nasmedidas.

Solidariedade – Mas admite que éuma medida impopular. O grosso dasbaixas é de curta duração.

Bagão Félix – A política não se fazpara se ser popular. Faz-se para se serexigente. Eu como Ministro da Segu-rança Social tenho que me preocuparcom o que vai ser a Segurança Socialem 2020. Para que nessa altura cadaum de nós tenha a sua pensão ou acriança que nasce hoje tenha em 2040determinado tipo de direitos. Essa éque é a minha obrigação. O pior quese pode fazer na Segurança Social énão se fazer nada. Eu até podia, porcomodidade e por cobardia, não tomarestas medidas. Se calhar era maispopular. Daqui a dois anos, quandoacabar esta legislatura, ainda nãoacontecia nada de grave. Mas estava ahipotecar o futuro. Eu acho que todosos políticos deviam, quando apresen-tam determinada medida, deviam serobrigados a dizerem como é que elase financia. O que eu vejo é que dizemnão às alterações ao subsídio dedoença, as pensões aumentavammuito mais... Também eu queria. Osubsídio de desemprego aumentar, o

Rendimento Social de Inserção nãoser tão exigente e fazer mais ... Comoé que isso é possível? Quando se quertudo ao mesmo tempo acaba por nãose fazer nada.

Solidariedade – Vai continuar a apos-tar no reforço da fiscalização?

Bagão Félix – Devo dizer que nessamatéria o governo anterior fez um bomtrabalho e nós temos continuado essaaposta. A fiscalização no subsídio dedoença é muito difícil. Porque tem aver com um acto que por si não éadministrativamente controlado. Tem aver com questões profissionais e deon-tológicas, é um acto médico. Eu nãoposso discutir com o médico se a baixaé correcta ou incorrecta. Há barreirasobjectivas a determinado tipo de fisca-lização. Mesmo assim, retirando essaparte, as estatísticas dos últimos doisanos dão o seguinte exercício: Emcada três pessoas que são chamadasa acções de fiscalização, uma falta. Sefalta perde o subsídio. Das outrasduas, cerca de 33 por cento das baixassão indevidas. Isto é, uma em cadaduas baixas não devia existir. Há duasbases de observação e os númeroscoincidem. Em Portugal, excluindo afunção pública e os independentes,que não têm direito a subsídio dedoença a não ser a partir de noventadias, nós temos 50 milhões de dias debaixa por doença, anualmente. É umamédia de 17 dias e meio por trabalha-dor por ano. O triplo de Espanha. Istoé uma questão que nos compromete atodos e não é só deste ou daquelepolítico.

Solidariedade – O seu discurso estávirado para o futuro. Fazer hojeesforços para que no futuro haja di-nheiro para garantir os compromissossociais. Prevenir e impedir a falênciado sistema. Politicamente talvez nãoseja muito compensador. Fá-lo porconvicção?

Bagão Félix – Não é por raciocínioideológico, é por raciocínio factual. Aaritmética demográfica da segurançasocial em Portugal, tal como nos ou-tros países da Europa, é preocupante.Estão envelhecidos, cada vez mais. Aesperança média de vida aumentadois meses em cada ano que passa. Oministro da segurança social nos anossetenta era o ministro mais feliz domundo. As pessoas reformavam-seaos 65 e morriam aos 67, em média.Hoje reforma-se aos 65 e, se for mul-her, tem ainda mais 19 anos de esper-ança média de vida, se for homem,tem 15. E daqui a 20 anos vão ter 25,30 anos. Ora, como não se nascemais, como a geração da riqueza não

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Grande Entrevistaaumentou muito na população activa,como as pessoas vivem mais tempo,mais reformadas, só há duas ma-neiras de equilibrar isto: É distribuirmelhor para aqueles que mais pre-cisam, uma vez que não há recursospara todos da mesma maneira - eseria uma injustiça -, e combater aadversidade da demografia na parteem que ela é positivamente irreversí-vel, que é vivermos mais tempo.Como? Aumentando a produtividade.Há muito mais gente a receber e muitomenos a produzir riqueza. A únicamaneira de resolver é pôr estas mes-mas pessoas que trabalham a pro-duzir mais. O único antídoto para aadversidade demográfica é a produ-tividade. É um elemento fundamentalde coesão social. Não só para a redis-tribuição de rendimentos no presente,via salários e partilha de resultadosnas empresas, como para a redis-tribuição de rendimentos no futuro. Euainda me poderia dar ao luxo de sercobarde do ponto de vista político...Saio em 2006 e depois quem vier queresolva. Cada vez vai ser mais duro.Sigo aquele lema: Em política socialnão se pode governar para as próxi-mas eleições mas para as próximasgerações. Se o resultado disso foruma derrota eleitoral é uma vitóriapara o país, para a nação. Estou abso-lutamente convencido do que estou adizer. Deixe-me dizer... isto é como ascerejas.... O Partido Socialista con-testou o subsídio de doença. Não con-testou tanto, como era óbvio, o abonode família. Curiosamente o PartidoSocialista, antes de acabar o seumandato, tomou uma medida gera-cionalmente fundamental. Com a qualeu na altura disse que estava de acor-do e hoje continuo a dizer. A alteraçãoda forma de cálculo das pensões.Considerando toda a carreira contribu-tiva e não apenas os últimos dez anos.No fundo, do ponto de vista prático,representa a diminuição da pensão.Nas pensões futuras das pessoas. Euaplaudi essa medida que passouincólume.

Solidariedade – Nos próximos tem-pos, e tendo em vista a garantia definanciamento dos subsídios no futuro,que outras propostas de alteraçõessão de esperar do seu Ministério?

Bagão Félix – Fiz uma nova Lei deBases da Segurança Social e estou aregulamentar todas as áreas. Esperopoder concluir a obra. A próxima é osubsídio de desemprego que vai seralterado. Vai haver aspectos positivos.Vai facilitar o acesso das pessoas aosubsídio de desemprego. Agora são

precisos descontos de 540 dias nosúltimos dois anos e apenas vão serprecisos descontos de nove meses noúltimo ano. O acesso é maior. Não sevai diminuir o valor mas o número demeses que se vai receber, que hoje écalculado em função da idade, vaipassar a ser em função da idade mastambém do número de anos dedescontos. É uma questão de justiça.Não pode ser tratada da mesmamaneira uma pessoa que com 40anos teve três anos de descontos deoutra que trabalhou 20 anos. Isto é umseguro contributivo. Também tem quehaver um prémio à contributividade.Vamos reforçar a exigência. Quemrecusar uma oferta de emprego doCentro de Emprego para as suashabilitações, na mesma área deresidência, vai perder o direito ao sub-sídio. Temos que ser mais exigentes emais generosos. Mais alterações:Vamos criar a reforma a tempo parcial

para conjugá-la com o trabalho atempo parcial. Hoje muita gente no diaem que se reforma cai abruptamentedo ponto de vista social, psíquico, hu-mano, é o que eu chamo umaeutanásia social. Vamos tentar sua-vizar essa passagem para a vida inac-tiva. Isso beneficia as empresas quepodem ter pessoas mais velhas emtempo parcial e ao mesmo tempoadmitir jovens em tempo parcial quetêm qualificações mas não têm exper-iência. É uma medida de segurançasocial e política de emprego. A pas-sagem ao tempo parcial vai exigir porparte do empregador a admissão deuma outra pessoa para a parte que oreformado deixa livre.

Solidariedade – Há mais algumamedida preparada para os próximostempos?

Bagão Félix – As grandes prestaçõesestão revistas: o abono de família, o

Rendimento Social de Inserção, o sub-sídio de doença, o subsídio de desem-prego, as pensões... Temos é que me-lhorar a prestação da segurançasocial. Ao nível da informática, ondetemos um longo caminho a percorrer,e é fundamental para a qualidade dosserviços e de atendimento. Um dosmeus sonhos, que espero realizar, éque as pessoas possam consultar omultibanco e verem a sua situaçãocontributiva. Até para controlarem oempregador e saberem se ele está afazer os devidos descontos. É a defe-sa de um auto-controlo da sociedadeque deve ter instrumentos para isso.Outra medida: O cruzamento de da-dos entre o fisco e a segurança social,que já está a ser encetado.

Solidariedade – Que papel é que, noseu entender, está reservado àsInstituições. A participação na acçãosocial vai aumentar ou vai diminuir?Qual o sentido que dá à cooperação

com as IPSS? Bagão Félix – Absolutamente ine-

quívoco. Por muitas razões, valorati-vas, ideológicas e de eficácia, estáprovado que um equipamento socialgerido pelo Estado custa muito maisdinheiro do que por uma instituiçãoparticular. Está provado, mandei fazeressas contas, e depois porque acredi-to no princípio da subsidariedadesocial, um elemento estruturante dadoutrina social da igreja e que hoje éum património mundial. Nunca sedeve partir do Estado para a família epara a pessoa humana; deve partir-seda pessoa humana para família, paraa instituição intermédia, para a autar-quia e finalmente o Estado. Nóscomeçamos sempre pelo Estado. Sóse deve subir ao patamar seguinte daorganização da sociedade quandonão se faz melhor na organizaçãoinferior. Que nas Instituições em geral,

em média, é um exercício muito me-lhor, é. Eu tenho estas convicçõesarreigadas há muitos anos. ComoSecretário de Estado da SegurançaSocial em 1980, do governo SáCarneiro, com o Ministro João MoraisLeitão, Ministro dos Assuntos Sociais,desnacionalizámos as Misericórdiasque tinham sido nacionalizadas nosanos setenta. Hoje é fácil fazer discur-sos bonitos sobre as Instituições e asMisericórdias, é politicamente correc-to. As pessoas sabem porque é queestou do lado das Instituições. Porqueacredito nesse valor, porque acreditoque a solidariedade na sua principalexpressão é nas pessoas. A soli-dariedade do Estado é opaca. A dasInstituições e a das pessoas é visível,é proximativa e participativa, tem plas-ticidade, generosidade e sentido deserviço. É contagiante. O que euquero modificar nas Instituições é nosentido de exaltar a excelência, asboas práticas. O país precisa da au-toridade através do exemplo e doexemplo para se desenvolver. As insti-tuições têm um papel relevante e umaresponsabilidade indiscutível.

Solidariedade – Consigo há ou não atendência para municipalizar a acçãosocial?

Bagão Félix – (risos) – É uma per-gunta muito boa e com toda a sinceri-dade, muito difícil de responder. Aminha convicção é a de que a munici-palização tem ganhos e perdas. Temuma vantagem, aproxima. Tem umadesvantagem, partidariza e, portanto,haverá Instituições filhas e enteadas,seja desta cor ou daquela. Ainda pre-cisamos atingir um grau de maturi-dade cívica e institucional maior paraessa municipalização. Que é umacoisa normal na Europa, na França,Suécia, Dinamarca, onde a acçãosocial está ao nível municipal. Há, noentanto, uma coisa que podemosfazer neste momento. Sem munici-palizar, reunir esforços, não dispersaresforços. Há sobreposições e, portan-to, omissões. A nível concelhio temos,por exemplo, a Comissão de Pro-tecção de Crianças e Jovens emRisco, temos a Rede Social, temos aComissão de Luta contra a Pobreza,temos... depois são sempre as mesmapessoas, temos a Comissão do Ren-dimento Social de Inserção... O queeu quero fazer é, permita-me a lin-guagem tecnocrata, uma holding deacompanhamento e de apoio social anível concelhio. Onde proliferam ascomissões há harmonia e integraçãode decisões a menos. Espero mudarisso...

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Opinião

Vida e arte em diálogoEducação estética na terceira idade

Com o tempo a sabedoria

Embora muitas sejam as folhas, araiz é só uma;Ao longo dos enganadores dias damocidade,Oscilaram ao sol as minhas folhas,minhas flores;Agora posso murchar no coraçãoda verdade.

W.B. Yeats

As palavras do poeta irlandês WilliamYeats traduzem parte da minha expe-riência enquanto professor de Históriada Arte na Universidade do TempoLivre (UTL) - um curso organizado emCoimbra pela Associação Nacional deApoio ao Idoso (ANAI). A sala de aulareúne pessoas dos mais variadosestratos sociais e experiências pro-fissionais que se encontram aposen-tadas, não constituindo a idadeobstáculo para aprender informal-mente as formas no tempo. O seuentusiasmo mantém-se desperto e, talcomo os misteriosos e belos cisnesselvagens de Coole, também (...) osseus corações não envelheceram;paixão ou conquista solicitam aindaseu incerto viajar.

Com efeito, o homem nasce abertoao mundo e, no outono da vida,prossegue potencialmente criador,apesar do inevitável declínio que ociclo da existência comporta. Pessoainfinitamente diversa, o Homem reno-va-se constantemente pelo processopedagógico. Para os alunos que fre-quentam este curso, a sala de aula eas diversas visitas de estudo comple-mentares, são espaços de troca deexperiências, de convívio permanentee do retomar de aprendizagensque têm proporcionado um maiordesenvolvimento das suas capaci-dades estético-expressivas.

Para reagir a todas as harmonias,visíveis e ocultas, que se podem inter-

pretar numa criação artística, torna-seimprescindível possuir um espíritoaberto e desenvolver uma sensibili-dade particular. Essa viagem dedescoberta terá de se empreender deolhos bem abertos e com ânimo reno-vado. É que, como afirma E. Gom-brich, "(…) existem razões erradaspara não se gostar de uma obra dearte." Isso acontece quando, a priori, onosso juízo de valor é parcial ou pre-conceituoso.

Para Almada Negreiros, um olhardescontaminado poderá ser capaz de"marchar limpo para diante", dealcançar um horizonte mais vasto, vir-tualmente habitado pela obra de arteque admite a discussão e que não sedeixa encerrar num juízo de valorabsoluto, admitindo a relatividade dainterpretação pessoal. Um olhar infor-mado, mas descomprometido, será amelhor forma de observar e sentir acriação artística.

Uma abordagem sistemática deobservação, descrição, análise e inter-pretação dos dados artísticos é umprocesso que, de acordo com ElisaMarques, procura "despertar a sensi-bilidade estética, o prazer da fruição ede contemplação".

Uma educação integradora do serhumano, em qualquer altura do seupercurso de vida, terá de conciliar asdiversas formas de conceber o fenó-meno artístico. Pedagogicamente sãodeterminantes os campos da arte e daestética, da crítica e da prática artísti-ca. Com efeito, esta abordagemprocura conhecer para criar, avaliarpara argumentar, permitindo aindaemitir juízos de valor sobre as diver-sas formas artísticas.

Uma arte para todos significa umaarte que chega a todos. Para que talprocesso de democratização acon-teça, torna-se indispensável umprocesso de comunicação eficaz. Osistema emissor da arte e o público

receptor precisam da mediação de umsistema de educação integral e inte-grador, que não exclua ninguém quepretenda alargar o conhecimento e acompreensão da vida, nem algumaforma de arte que contribua para a for-mação da pessoa humana.

A sociedade contemporânea encon-tra-se profundamente dividida entre osinteresses de desenvolvimento dobem-estar e a preocupação em pro-mover o desenvolvimento pessoal esocial de cada ser humano. A norma-lização dos indivíduos é um dospilares em que se alicerça a actualorganização social e económica,orientada para a ideia de progresso esubordinada ao conceito de utilidade ede sucesso. Segundo Viktor Frankl,essa visão redutora e normalizadora"ignora o valor de todos os que sãodiferentes e, ao fazê-lo, apaga a deci-siva diferença entre ter valor no senti-do de dignidade e ter valor no sentidode utilidade".

Não podemos nunca confundir adignidade do ser humano com merautilidade social; muito menos ignorar o

papel daqueles que, devido a idadeavançada, a doença incurável ou outraincapacidade humana, não podem daro seu pleno contributo social. A vidapermanece potencialmente significati-va, mesmo nas circunstâncias quepodem inferiorizar o homem na suaautonomia vivencial. A sua experiênciapassada, os seus valores são intocá-veis e constituem-se como um patri-mónio, a sua mais-valia - a possibili-dade, senão de mudar a situação pre-sente, pelo menos de mudar a sua ati-tude futura, face à fatalidade que oimpede de se realizar plenamente.

Neste contexto, a educação pela artena terceira idade poderá ajudar arepensar o posicionamento do serhumano no mundo. A diversidade devisões artísticas constitui uma formaválida de lutar contra uma sociedadehomogénea e indiferente à pluralidadecultural. Para o cineasta brasileiroJoaquim Pedro de Andrade, a vida, talcomo a arte, só vale a pena quandonos implicamos e consegue "... ver emostrar o nunca visto, o bem e o mal,o feio e o bonito".

Por Pedro Miguel Ferrão

Alunos da Universidade do Tempo Livre em visita a Toledo

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Opinião

A Paixão de CristoPor Padre José Maia

A opinião pública e muito especial-mente a crítica do cinema acolheramcom grande impacto mediático o filmeA PAIXÃO DE CRISTO.

Que razões poderão justificar tama-nha publicitação?

Naturalmente que o nome do seuautor, de renome mundial no mundodo cinema, terá pesado na mediatiza-ção do filme.

A quem conhece o percurso artísticodeste génio da arte da imagem, teráchamado a atenção a circunstânciade o mesmo actor ter interpretadopapéis tão opostos em tão poucoespaço de tempo, associando o alta-mente profano ao eminentemente reli-gioso!

Num tempo em que o laicismo, oagnosticismo e o indiferentismo inspi-ram a cultura dominante, relegando oreligioso para o domínio do privado eapregoando a morte de Deus, nãodeixa de constituir uma surpresa ofacto de um actor afamado ter ousadoproduzir um filme de temática explici-tamente religiosa, assumindo o riscode bilheteiras vazias e de uma conde-nação implacável dos críticos de cine-ma.

Este risco, pelo que se sabe, apenastem uma explicação no facto de estehomem da arte se ter confessado umcrente impressionado pela incom-preensível violência que os acusadorese algozes de Jesus Cristo usaram naforma de o julgar, condenar e matar!

No fim de contas, também ele se fezeco da mesma interrogação queCristo formulou aos que maltratavamcom aquela brutalidade, quando lhesperguntou: "afinal de contas, por queé que me condenais e maltratais?".

Dirigindo-se também a Deus, nestemomento de solidão e profunda dor,Jesus perguntou: " Pai: afasta de mimeste cálice".

Nós que por cá andamos a tentarperceber algumas das anomalias danossa justiça, com prisões preventi-vas, com prisões domiciliárias, compresos bem amparados por bonsadvogados e outros que terão de seresignar à sua condição de pobressem qualquer esperança de umbocadinho de alívio no seu sofrimentode detidos, este Homem Jesuspoderá acabar por representar umaréstea de esperança!

Morreu por amor, morreu sem culpa,morreu de pé (mesmo que tenha sidonuma cruz).

Curiosamente, de quem já viu ofilme, os ecos são os mesmos:demasiada violência, muita gente delágrimas no olho, perigo de agrava-mento do semitismo.

Cá por mim, que também o vi,espero que a PAIXÃO DE CRISTOpossa ser uma pedrada no charco danossa imunidade ética, uma inter-pelação à nossa consciência humana.

Que temos feito para merecer osangue e o sofrimento deste Homem?

Quando o davam por morto e bementerrado, Ele ressuscitou. A Vidavenceu a morte!

Uma Europa que se nega a incluirsequer a referência ao cristianismonum mísero preâmbulo da suaConstituição, não estará a usar demais violência do que aquela que oscarrascos ostentaram ao pé da Cruzem relação ao Cristo Senhor?

Será na morte de Deus que o Mundoespera a vida do Homem?

[email protected]

A Paixão de Cristo, de Mel Gibson, foi o filme mais visto emPortugal, na semana de 8 a 14 de Abril. Mais de 66 mil especta-dores adquiriram ingressos para esta película, segundo dados doInstituto do Cinema, Audiovisual e Multimédia.

Naquele mesmo período, a polémica obra sobre as últimas dozehoras da vida de Cristo, arrecadou cerca de 286 mil euros dereceitas brutas, liderando a lista dos mais vistos e totalizando,desde a estreia, 419 mil espectadores.

O diário israelita Maariv, de Telavive, dá conta da possibilidade de que oEstado de Israel venha a ceder à Igreja Católica a administração do Cenáculo,o local onde se acredita que Jesus celebrou a Última Ceia.

A notícia, reproduzida pela Rádio Vaticano, diz que o acordo entre as autori-dades israelitas e a Santa Sé faz parte de negociações para resolver outrosproblemas, como o do visto de permanência em Israel de membros da IgrejaCatólica.

O Cenáculo, situado no Monte Sion, em Jerusalém, é um dos principais san-tuários cristãos mas, ao contrário dos outros, está sob administração israelita,dado que se situa no mesmo lugar onde fica o túmulo do rei David.

Um funcionário do Ministério das Relações Exteriores disse que, após muitosadiamentos, “desta vez parece que o governo de Telavive está mesmo dis-posto a abrir um novo caminho com a Santa Sé”.

Segundo o Maariv, o Presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, inte-ressado em satisfazer o eleitorado cristão do seu país, exigiu, no mês passa-do em Washington, que o Primeiro-ministro Ariel Sharon “acelerasse essadecisão”.

A transferência do Cenáculo para a Santa Sé, provavelmente ao cuidado daOrdem Franciscana (que já tem a custódia da Terra Santa), estimularia a pere-grinação dos cristãos de todo o mundo, beneficiando a indústria do turismo deIsrael.

Durante a Idade Média os Franciscanos instalaram no Cenáculo a suaprimeira casa na Terra Santa, mas acabaram expulsos pelo Otomanos em1551, que no local construíram uma mesquita. Posteriormente, o edifício pas-sou para as mãos do Ministério israelita para o Culto, sendo hoje uma sina-goga.

Em 2000, durante a histórica visita à Terra Santa, João Paulo II celebroumesmo uma Missa privada no local, naquela que foi a primeira celebraçãoeucarística no Cenáculo em vários séculos.

Actualidade

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Page 18: SOLIDARIEDADE – N.º 61 – MAIO 2004

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Opinião

Quantitativamente a economia so-cial representa hoje, a nível europeu,cerca de 8% das empresas e institui-ções e também cerca de 10% de todoo emprego, calculando-se que cercade 25% dos cidadãos europeus este-jam a ela ligados, nos mais variadosaspectos.

O carácter particular da economiasocial é derivado ao facto de combinarperfeitamente a eficiência económicae o empreendedorismo social. Elaoferece um enorme potencial noquadro de uma moderna e pluraleconomia social de mercado, a suadiversidade, a sua força e conheci-mento são activos para melhorar epreservar a vida dos cidadãos.

As instituições de solidariedadesocial, particularmente os CentrosSociais Paroquiais e as Misericórdias,praticam e têm por objecto a culturado voluntariado dos seus membros e oespírito de serviço dos seus colabo-radores dedicados à prestação deserviços à comunidade, envolvendoum elevado número de valências, nasáreas da infância, juventude e terceiraidade, tais como: serviços de pro-tecção social, cuidados de saúde,serviços de proximidade e apoio domi-ciliário, educação e formação, in-serção social de pessoas com defi-ciência, etc., pelo que desempenhamum papel muito especial na criação docapital social, na capacidade deempregar pessoas oriundas de gruposdesfavorecidos, na criação do bemestar social e da solidariedade, naprópria revitalização das economiaslocais e na luta contra a pobreza e a

exclusão social, na assistência àsfamílias e dos mais idosos e isolados.Acresce ainda a tarefa extremamentecomplexa do acompanhamento da for-mação da personalidade dos nossosjovens desde praticamente o seunascimento até à adolescência e pos-teriormente na velhice, através daorganização de eventos lúdicos e cul-turais.

É objecto da economia social aprocura de um equilíbrio entre o cres-cimento económico e a coesão e asolidariedade social e deste modoorganiza as suas actividades, empre-sas e instituições tendo em conta osseguintes princípios:

- o primado da pessoa humana;- associativismo voluntário e aberto;- controle democrático dos seus

membros;- partilha de interesses entre os seus

membros e o interesse colectivo;- defesa e implementação dos princí-

pios da solidariedade e responsabili-dade;

- autonomia de gestão e indepen-dência versus as autoridades;

- re-investimento dos benefícios querseja para o desenvolvimento das suaspróprias actividades quer seja nointeresse da comunidade.

É um sector da economia cujo cresci-mento sustentado é um certeza emvista do aumento muito significativo dapopulação idosa, ao longo deste sécu-lo, e cujas necessidades a váriosníveis são satisfeitas pelas organiza-ções de economia social.

O grande desafio coloca-se tanto aonível da oferta de instalações e deequipamentos de qualidade comotambém da capacidade de gestão dosórgãos sociais e do desempenho doscolaboradores. No que se refere aosdois últimos, a complexidade e a exi-

gência de soluções a encontrar para agestão diária e estratégica requer ele-vados níveis de formação profissionale qualificação técnica nas áreasadministrativa, técnica e pedagógica.Neste aspecto, e no que respeita aosCentros Sociais Paroquiais, é impor-tante salientar a preocupação da CNISem programar para as suas activi-dades, em 2004, acções de formaçãoefectiva e do le-vantamento de neces-sidades de formação nas IPSS.

As empresas e instituições de econo-mia social são tidas pela UniãoEuropeia como um dos instrumentospara alcançar o pleno emprego, con-ciliando a qualidade do emprego eempregos para todos, incluindo osmais vulneráveis e, principalmente,em colocar todo o seu potencial naluta contra a exclusão social.

Na qualidade de membro do ComitéEconómico e Social Europeu, emBruxelas, em representação da CNIS,por um período de quatro anos, fuiconvidado a participar numa reunião,no dia 25 de Março, do Intergrupo deEconomia Social do ParlamentoEuropeu, durante a qual foi aprovadoum memorando no qual seendereçavam, entre outras, as se-guintes recomendações:

- solicitar à Comissão Europeia paraimplementar um programa significati-vo de suporte para o sector da econo-mia social nos países que se vãoagora juntar à União Europeia .

- solicitar que a economia social sejareconhecida como parte do acquiscommunautaire, como uma forma e-fectiva de combinar o crescimentoeconómico com a coesão social.

- solicitar às organizações de econo-mia social para mobilizarem os seusrecursos juntamente com os meiosfinanceiros da Comissão, em ordem asuportar o desenvolvimento destesector nos Estados Membros.

- pedir aos governos dos EstadosMembros e bem como às autoridadeslocais e regionais para reconheceremas organizações de economia socialcomo um válido e legítimo interlocutorno diálogo social. Neste aspecto, épedido que, ao abrigo dos artigos138.º e 139.º do Tratado da UniãoEuropeia sejam reconhecidos como

interlocutores sociais junto da ComitéEuropeu Permanente as Cooperati-vas, Mutualidades, Associações eFundações e Instituições de soli-dariedade social .

- solicita à Comissão Europeia paracriar, no interior da sua estrutura, umserviço inteiramente dedicado paralevar em conta o desenvolvimento dopotencial da economia social. Pedirque seja realizado um estudo deimpacto nas consequências da apli-cação da legislação europeia às em-presas e instituições de economiasocial.

- afirmar a necessidade de alcançaruma representação da economiasocial a todos os níveis: local, regio-nal, nacional e europeu, sendo pedidoque as organizações de economiasocial se estruturem de forma a darresposta através de organização dasua representação para atingir esteobjectivo.

Na certeza de um papel cada vezmais importante das grandes famíliasde empresas e instituições do sectorda economia social, na economia e nacoesão social do país, com especialincidência nos planos acima indica-dos, penso que seria importante quedesde já se programassem aproxi-mações destas grandes famílias nosentido de organizar uma represen-tação efectiva de uma forma consoli-dada e consistente ao nível municipal,regional, nacional e europeu.

* Economista. Representante da CNIS noComité Económico e Social Europeu

A economia socialREPRESENTA 10% DE TODO O EMPREGO EUROPEU

Por José Leirião*

A economia so-cial em toda a suadiversidade unifi-ca os aspectoseconómicos, civise participativos dasociedade; no en-tanto, a sua im-

portância é ainda ignorada por mui-tos.

Constituem o sector da economiasocial quatro tipos de famílias deempresas: as cooperativas, mutuali-dades, associações e fundações desolidariedade social.

Índice de envelhecimento em Por-tugal (1972 a 2021) - fonte: INE

1972 - 34 idosos para cada 100jovens com menos de 14 anos.

1998 - 90,3 idosos para cada 100jovens com menos de 14 anos.

2021 - 127,4 idosos para cada 100jovens com menos de 14 anos. Aqui, a sua opiniãoAqui, a sua opinião

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Um breve olhar retrospectivomostrar-nos-á as rápidas e profundasmudanças que afectaram a instituiçãofamiliar:

Éramos um mundo fechado, comantípodas, de informações difíceis, umplaneta saudável, regíamo-nos secu-larmente por valores.

Somos hoje um mundo aberto, comvizinhos, com informações globais einstantâneas, de deslocações super-sónicas.

Somos um planeta ecologicamentedoente. Regemo-nos por interesses eproveitos. Vivemos entregues a nóspróprios. Estamos infectados pelosvírus da solidão e da violência, daapatia e da indiferença.

A Família deixou de ser, aparente-mente sem regresso, a primeira esco-la.

Era-o, de facto. A escola dos valores.A primeira escola passou a ser a tele-

visão: a mais sedutora, a mais baratae a mais universal das escolas.

Esta escola, já não forma os futuroscidadãos. Ensina-lhes competição,violência, sensasionalismo, consumis-mo, pornografia.

Alimenta e promove a ideia que aFamília é já uma realidade passada,ultrapassada pelas novas realidadesemergentes.

Aponta com incrível ousadia, novasformas de relacionamento inter-pes-soal, releva o discurso que refere quea Família é uma questão politicamenteincorrecta e é uma instituição retrógrada.

Neste contexto e, quiçá também porsua influência, há também algumasvozes, muito em voga actualmente,que advogam que os pilares funda-mentais da Família : Pai e Mãe, sãodispensáveis. Queira Deus que a ciên-cia não nos permita evoluir para qual-quer outra hipótese, embora esteaspecto da engenharia genética nãoseja de menosprezar.

Tenho a firme convicção de que areprodução de seres vivos a partir deuma célula - a chamada clonagem -que ameaça dispensar a forma de pro-criação que a natureza inventou, eque há milhões de anos é o ver-dadeiro suporte da família, possa vir a

ser um fenómeno de consequênciasimprevisíveis e um obstáculo à conso-lidação da Família.

Mas é oportuno questionar queFamília é possível, a partir de umanova forma de reprodução que dis-pensa o amor, abdica do afecto, senão, em última instância, da própriarelação sexual?

Que consequências no plano dainstituição familiar?

A relação que firmamos com os nos-sos pais não é meramente orgânica!

É, sobretudo, uma cumplicidade quese constrói no tempo.

10 anos depois da Organização dasNações Unidas ter proclamado o anode 1994, como o Ano Internacional daFamília, temos a consciência, cadavez mais viva, dos perigos e dosriscos que corre a humanidade com adegradação a que tem estado sujeitaa instituição e a vida familiar.

Esta consciencialização, deve com-prometer-nos, hoje ao celebrarmos o10.º aniversário do AIF, de que é pos-sível, ainda que em moldes actuais,recompor a instituição familiar, porforma a voltar a desempenhar opapel de célula base da sociedadehumana.

É, pois, urgente, um confronto com aConstituição da República, que nosrege, designadamente no que se refe-re à garantia dos direitos que, salvan-

do a família, salvam esta sociedade:A afirmação do primado da Família, o

direito a existir e a progredir comofamília;

O direito de transmitir a vida e dar aeducação aos filhos, segundo aspróprias tradições e valores culturais;

O direito ao trabalho e à adequaçãodas condições laborais às condiçõesfamiliares;

O direito à segurança física, política,social e económica;

O direito à habitação;O direito à protecção dos menores

das situações de pornografia, toxi-codepedência, alcoolismo, violência;

O direito à emigração, como família,na busca de uma vida digna;

O direito à segurança dos idosos, aviver e a morrer dignamente;

O direito a uma verdadeira justiça fis-cal que reconheça o papel social dafamília.

Em cada política sectorial é funda-mental integrar uma dimensão familiarjá que a Família é a certeza e aresposta aos desafios do mundoactual e do futuro.

Não haverá solidariedade socialsem solidariedade entre gerações,sem solidariedade familiar .

A família é, assim, a questão cen-tral da sociedade moderna.

* Presidente da UDIPSS - LISBOA – UniãoDistrital das Instituições Particulares deSolidariedade Social

Maio 2004

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Opinião

Família para o Terceiro MilénioANO INTERNACIONAL DA FAMÍLIA - 10.º ANIVERSÁRIO 1994-2004

Por José Carlos Jorge Batalha*

Como parte in-trínseca da socie-dade humana ecomo instituiçãonatural de rela-ções intergeracio-nais, a Famíliatem sido o sus-

tentáculo das civilizações, e, ape-sar da sua desvalorização ética e dasua degradação social – que temsido a génese de muitos e gravesproblemas com que o Mundo mo-derno se debate - continua a evi-denciar a sua indispensabilidadepara a estruturação da sociedadee para a formação e realização doHomem.

O Gabinete de Actividade Motora Adaptada do Departamento de Desporto da UTADapresentou uma proposta às Câmaras com a intenção de fomentar um programa deexercício físico, específico para a população idosa.

A Câmara Municipal de Sabrosa aderiu a esta iniciativa, no âmbito da Rede Social.O resultado são mais de 30 idosos de todo o concelho que, três vezes por semana,praticam desporto sénior em Vila Real, aproveitando esta oportunidade disponibiliza-da pela autarquia.

O programa desenrola-se todas as terças e quintas-feiras com treino de força; àsSextas-Feiras dá-se primazia às actividades desportivas no meio aquático. Todos osexercícios são devidamente preparados e ministrados por técnicos da UTAD.

De realçar ainda o contributo do Projecto de Luta Contra a Pobreza, que forneceuos fatos de treino e os ténis, bem como todas as Instituições às quais pertencem osidosos e que são responsáveis pelo transportes dos atletas até Vila Real.

O encerramento das actividades está previsto para 30 de Junho de 2004.

Idosos em forma

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20

Avisos

Os trabalhadores de uma companhiasiderúrgica brasileira, com capitaisbelgas, estavam super-endividados. Aempresa, com cerca de 3500 empre-gados, resolveu apoiar os seusempregados no reequilíbrio das suasfinanças pessoais, mas colocou umacondição. Para serem ajudados ti-nham de ir a uma consulta de finançaspessoais. A história, que, com a devi-da vénia, respigamos do DiárioEconómico, é contada por LouisFrankenberg, que liderou o dito pro-jecto nessa companhia.

Para a empresa, ajudar a reequilibraras finanças pessoais dos seus traba-lhadores significa reduzir os acidentesde trabalho, aumentar a produtividadee resolver seriamente a catadupa depedidos que invadiam o departamentode pessoal para empréstimos. As con-sultas eram obrigatoriamente dadasao casal que só deixaram de seracompanhados quando Frankenbergdecidiu que estavam “curados” datendência para se sobre-endividarem.

O recurso aos cartões de crédito égeralmente apontado como o procedi-mento que maiores calafrios causa,pela facilidade do acto de aquisição,levando depois muitas famílias aodesespero. Apesar das elevadas taxasde juro – justificadas pelo facto de setratar de um crédito de elevado risco,uma vez que não existe título executi-vo –, os cartões de crédito constituemum modo de pagamento cada vez

mais popular. De acordo com númerosda Visa, na chamada região Europaexistiam, no final de 2001, mais de195 milhões de cartões desta marca,dos quais 39% eram de crédito (para59% do tipo “multibanco”). Em Portu-gal, os Visa contam já 10,5 milhões deaderentes, sendo que 2,2 milhões sãocartões de crédito.

Estes 2,2 milhões de Visa registamum consumo médio anual de 2087euros, sendo que o valor médio portransacção atinge os 63 euros.

De acordo com dados fornecidospela Unicre, Lisboa e os arredoresconstituem as zonas onde oscartões de crédito mais são usados.Por sectores, são as lojas e osrestaurantes que registam o maiornúmero de pagamentos por esta via,com 57,2% e 17,3% do total dastransacções, respectivamente.

OBSERVATÓRIO DOENDIVIDAMENTO

A crise que se vive em Portugal, asgrandes incógnitas em torno do futurodo sistema de pensões, estas e muitasoutras razões devem levar as famíliasa pensar várias vezes antes de decidi-rem endividar-se. Resistir à pressãodo crédito, poupando mais do quegastando, é mandamento que aprudência erege como fundamental,nos dias que correm.

Em Portugal funciona, desde 2001, oObservatório do Endividamento dos

Consumidores (OEC), isntituiçãoresultante de um protocolo celebradoentre o Instituto do Consumidor e aFaculdade de Economia da Univer-sidade de Coimbra - Centro de Estu-dos Sociais.

Este observatório tem como objec-tivo principal a investigação da

problemática do endividamento e dosobreendividamento dos consumi-dores.

Compete ao OEC proceder à recolhae análise da informação económica esócio-jurídica no domínio do créditoaos consumidores; definir metodolo-gias de avaliação do sobreendivida-mento; realizar estudos técnicos que

permitam caracterizar e conhecer asprincipais tendências do endividamen-to e do sobreendividamento das famí-lias; e participar em reuniões de tra-balho para discussão e estudo demedidas de intervenção nas áreas docrédito, do endividamento e do sobre-endividamento dos consumidores.

Se a temática do sobreendividamen-to o preocupa, passe os olhos pelo sitedisponibilizado pelo observatório, emhttp://www.oec.fe.uc.pt/index.html. Aliencontra documentos de grande utili-dade, desde estudos de especialistasa recortes de imprensa, passando porsugestões de outras páginas web avisitar.

Há outros sites a visitar, de ondepode recolher documentos de inte-resse. Para si, pessoalmente, tambémpara promover o esclarecimento e odebate junto dos seus funcionários,caso seja empregador. Reenviandoalguns destes alertas ao pessoal quede si depende, ou imprimindo algumaspáginas para colocação num placardda sua IPSS, estará a contribuir paraque muitos dos que já vivem com difi-culdades não se endividem alegre-mente, para logo depois apanharemsustos terríveis. Comprar com cartãode crédito não dói nada, o que dói épagar depois o que se comprou e osjuros respectivos.

Sugerimos-lhe também uma visita aosite do Instituto do Consumidor, emhttp://www.ic.pt.

Dívidas para que vos quero!

Em Linha

808 200 520A Linha SOS Ambiente funciona 24 horas por dia, 7 dias por semana. Trata-se

de uma linha telefónica destinada a receber denúncias sobre agressões am-bientais, encaminhando-as para a Inspecção-Geral do Ambiente e para oServiço de Protecção da Natureza e do Ambiente da GNR.

Sempre que vir um esgoto desaguar num curso de água sem qualquer trata-mento, presenciar o abate de árvores clandestino, a deposição e queima deresíduos ilegais ou sempre que testemunhe qualquer outra situação ou actoque considere um atentado ao ambiente, ligue para o 808 200 520.

O jornal das IPSSO jornal das IPSS Para todas as IPSSQueremos divulgar as vossas iniciativas, os vossos

projectos, os vossos sonhos, as vossas reclamações, as

vossas angústias.

Enviar colaborações para:

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Actualidade

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Estão abertas as inscrições para ocurso de Pós-Graduação em Media eExclusão (Construção da Diferença eda Exclusão pelos Meios de Comu-nicação Social), a promover pelo Cen-tro de Estudos Multiculturais.

Esta pós-graduação terá lugar noVerão de 2004, em Lisboa, repartindo--se por 10 sessões em 5 sábados deJunho/Julho, totalizando 30 horas deformação habilitante para a avaliaçãofinal.

Pretende-se proporcionar uma refle-xão sobre a construção da diferença ea génese da exclusão nos meios decomunicação social.

"Este curso habilita para o exercícioda crítica ao papel que os media têmcomo espaços de discriminação políti-ca, económica, social e cultural, sen-do eles próprios também geradores,potenciadores e multiplicadores des-sas exclusões. Os exemplos estuda-dos provêm da imprensa, da publici-dade, do cinema, da televisão e doslivros escolares" - adiantam os organi-zadores.

A discriminação de género na publi-cidade, a discriminação da orientaçãosexual na imprensa, a discriminaçãoexercida pela linguagem, o cinema e oretrato dos excluídos, a construçãoétnica da diferença e a exclusãosocial, são alguns dos temas cons-tantes do plano de estudos, programaque contempla ainda os seguintesaspectos: os livros de texto escolarescomo transmissores da diferença e daexclusão; o papel dos media na cons-trução da diferença: o caso dos imi-grantes; meios de comunicação e aconstrução da opinião pública sobreos imigrantes; orientações práticaspara o reconhecimento da diversidadenos meios de comunicação social.

Podem inscrever-se os titulares oufinalistas de qualquer licenciatura (sobreserva de apreciação curricular seráadmitida a frequência em regime de'curso livre' a alunos não licenciados).

Para saber mais sobre esta inicia-tiva, pode visitar o site disponível emhttp://www.multiculturas.com/media.htm.

Media e Exclusão Prémio Jaime FilipeAbriu no passado dia 1 de Maio o

prazo para apresentação de candida-turas ao Prémio Jaime Filipe, concursopromovido pelo Instituto de Solida-riedade e Segurança Social (ISSS), edestinado a impulsionar a investigaçãonacional na área das tecnologias deapoio.

Detalhando, a atribuição deste pré-mio visa:

1 - Contribuir para o aparecimento deconcepções inovadoras de promoçãode autonomia que facilitem a realizaçãodos actos da vida diária das pessoasem situação de dependência e pro-movam a humanização da prestaçãode cuidados.

2 - Promover a criação e desenvolvi-mento de instrumentos e tecnologiasque facilitem, optimizem e prolon-guem as capacidades físicas, psíqui-cas e sociais e sejam garante de umamaior qualidade de vida.

3 - Estimular a adopção de medidasque visem a prevenção e promoçãoda autonomia e reparação das capaci-dades perdidas.

4 - Sensibilizar a sociedade em gerale o sector da indústria, em particular,para a emergência de um nicho demercado pouco explorado, bem comopara a necessidade de fomentar acomercialização de meios inovadoresde promoção da autonomia a preçosreduzidos.

5 - Estimular a criatividade na área

tecnológica e de design num domíniopouco desenvolvido.

Podem candidatar-se pessoas indi-viduais, com mais de 18 anos, resi-dentes em território nacional, e pes-soas colectivas, sediadas em territórionacional.

Recordamos que o eng. Jaime Filipese notabilizou pela investigação pro-movida na área das tecnologias deacesso, sendo de sua autoria equipa-mentos como o Optacom, que permitea uma pessoa cega fazer a leitura dedocumentos escritos a tinta.

PRÉMIO DE 5 MIL EUROS

PRAZO TERMINAA 31 DE JULHO

Em 2003 o prémio foi atribuído adois estudantes do Instituto SuperiorTécnico (IST). André Campos e PedroBranco criaram um sistema que per-mite aos cegos enviar e receber men-sagens escritas de telemóvel, ope-ração até agora praticamente impos-sível para os cerca de 135 mil por-tugueses portadores desta deficiên-cia.

A Comissão de Direitos Humanosdas Nações Unidas aprovou no pas-sado dia 21 de Abril uma resoluçãocom vista à abolição definitiva dapena de morte, apesar dos votos con-tra de Estado Unidos, China, ArábiaSaudita e Índia, entre outros.

O documento foi aprovado com 28votos a favor, 20 contra e cincoabstenções. Estados Unidos, China,

Índia e Arábia Saudita integraram ogrupo dos países que votou contra aresolução.

O texto exige que todos os Estadosonde a pena de morte ainda seencontra em vigor revoguem esta lei,aplicando uma moratória das exe-cuções. Mais se pede que a pena demorte não seja aplicada nos casosem que o acusado tenha menos de

18 anos ou sofra de doenças mentais. Números da Amnistia Internacional

dão conta de que, das 1.146 exe-cuções aplicadas no ano passado,84% foram registadas na China, Irão,EUA e Vietname, quatro dos paísesque votaram contra a resolução.

Morte à pena de morte Apoio às MulheresApoio às Mulheres

Vítimas Vítimas

de Vde ViolênciaiolênciaComissão para a Igualdade e

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http://www.seg-social.pt/.

Ant

ónio

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Vida Associativa

Criada em Julho de 2003, a UniãoDistrital das Instituições Particularesde Solidariedade Social (UDIPSS) deVila Real, está sedeada em Chaves efunciona no Lar Nossa Senhora daMisericórdia. De acordo com oRegulamento Interno de que dispõe,assente em princípios da democratici-dade, representatividade e descentra-lização, reúne ordinariamente às quar-tas terças-feiras do mês, em sistemade rotatividade consoante a origemgeográfica dos seus membros.

Preservar os direitos das IPSSs,sobretudo no que diz respeito à suaprimordial acção junto das pessoas,especificamente famílias e grupossocialmente mais carenciados, susci-tando a efectividade dos seus direitosde cidadania através do papel inter-ventivo das instituições junto dascomunidades constitui um dos seusprincipais desígnios.

Relativamente à metodologia dasreuniões, orientadas de forma a valo-rizar a individualização das inter-venções, têm início às 14:30 horas edividem-se em duas partes. A primeiracom duração até às 16 horas destina--se exclusivamente aos órgãos direc-tivos, enquanto a segunda parte, quedecorre das 16 horas em diante, está

aberta a todas as instituições que per-tençam à área geográfica do local dareunião. Trata-se de um espaço deesclarecimento e de partilha de dúvi-das entre as IPSSs.

Dando cumprimento à finalidadepara que foi criada - promoção e coor-denação de acções que visem oreforço da cooperação e do intercâm-bio inter-institucional - a UDIPSS deVila Real teve a sua primeira reuniãoem Dezembro do ano passado, naSanta Casa da Misericórdia de Cha-ves, à qual se seguiu já em Ja-neirodeste ano uma outra que decorreu naSanta Casa da Misericórdia de Cerva,tendo participado também o CentroSocial Paroquial de Vila Pouca deAguiar.

A UDIPSS reuniu também no con-celho de Sabrosa, no passado dia 2de Março, na Associação Portuguesade Pais e Amigos do Cidadão DeficienteMental de Sabrosa (APPACDM), na pre-sença da Associação de AssistênciaNossa Senhora das Candeias; no dia30 do mesmo mês, reuniu em Peso daRégua, na Casa do Povo de Godim.

COOPERAÇÃO PROTOCOLAR

A Comissão de Acompanhamento e

Avaliação dos Protocolos e Acordosde Cooperação do Distrito de VilaReal reuniu no dia 18 de Março, noCentro Distrital de Solidariedade eSegurança Social daquele distrito.Foram discutidos, entre outros assun-tos de interesse, a cooperação, vigên-cia e qualidade das respostas sociaise o investimento em equipamentos deacordo com o PIDDAC do corrente ano.

A segunda reunião teve lugar no dia26 de Abril, obedecendo a três pontosfundamentais: a definição e aprova-ção do regulamento por que se rege aComissão, o Protocolo de Coopera-ção para 2004, e a Circular Normativanúmero 6 (de 6.04.2004), da DirecçãoGeral da Solidariedade e SegurançaSocial (DGSSS).

Todas as IPSSs do distrito foraminformadas de que, em conformidadecom a referida circular, anexa aoProtocolo de Cooperação para o cor-rente ano, as listas nominativas queera suposto serem enviadas trimes-tralmente para o Centro Distrital deSolidariedade de Segurança Socialpassarão a ser mensais não nominati-vas, sendo necessário referenciar onúmero do processo dos utentes.

A pedido da UDIPSS e do Se-cretariado Distrital da União das

Misericórdias Portuguesas de VilaReal, presentes na reunião, foi solici-tada uma moratória de dois meses, afim de possibilitar tempo suficiente àsInstituições para organizar o novomodelo, pelo que as próximas listasdeverão ser enviadas até dia 10 deJulho, sendo estas referentes ao mêsde Junho de 2004.

ASSEMBLEIA GERALDA UDIPSS

Em Assembleia Geral extraordináriada UDIPSS de Vila Real, realizadaigualmente no CDSSS de Vila Real,no passado dia 23 de Abril, a UDIPSSesclareceu os seus associados no quese refere à Comissão Distrital deAcompanhamento e Avaliação dosProtocolos e Acordos de Cooperação,sua constituição e funcionamento.

Em agenda esteve igualmente aapresentação e análise do ProtocoloAnual de Cooperação para 2004 edos vários documentos que o com-põem, uma vez que este apontanovas formas de cooperação. Cercade 75 por cento das Instituições dodistrito estiveram presentes.

União Distrital das IPSS de Vila RealEM ACÇÃO

Propriedade: CNIS (Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade) Rua Oliveira Monteiro, 356 ; 4050-439 PortoTelefone: 22 606 59 32 Fax: 22 600 17 74 e-mail: [email protected] Director: Padre Francisco CrespoRedacção: V. M. Pinto; D. Pedro Alves, Rodrigo Ferreira Colaboradores: António Pinto, Evelyne Crespelle, Padre José Maia, Pedro Miguel Ferrão, Sérgio Gomes. Paginação: Media Z Impressão: Unipress - R. Anselmo Braancamp, 220 - Granja 4410-359 Arcozelo - GaiaTiragem: 5.000 exemplares Depósito Legal n.º 11753/86, ICS -111333

Ficha técnica

Igrejas de Vila Real

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Miscelânea

A notícia é da BBC. Raves para sur-dos vão-se tornando regulares emLondres. A última teve lugar a 21 deAbril, com o som a ser comandado porpor vários DJs, incluindo GillesPeterson, da Rádio 1, da BBC. O di-nheiro arrecadado com a festa, que sechamou Deaf Jam, será entregue aorganizações não-governamentais quedefendem os direitos dos surdos.

O organizador do evento e pioneirodas raves para surdos, James Hog-garth, teve a ideia quando, no meio deuma festa numa discoteca, tapou osouvidos com as mãos e percebeu quesentia a música tão intensamentecomo quando ouvia. “O meu corpovibrava imenso; afinal não precisamosde escutar para usufruirmos da expe-riência do clubbing (passar a noitenuma discoteca)”.

Hoggarth pediu então aos DJs para

passarem músicas com o baixo bemmarcado e com ritmos pesados. “BillieJean, de Michael Jackson, é umamúsica óptima para ser tocada nessasraves; e uma das minhas obrigatóriasé LFO, uma música techno do iníciodos anos 90, famosa por rebentarcom os equipamentos de som. O vo-lume pode ser mais alto do que o nor-mal e os graves aumentados de formaque a noite possa ser realmente com-partilhada com surdos e pessoas comdificuldades de audição.” – revelaHoggarth.

A 21 de Abril, a rave para surdosteve lugar no Plastic People, clube doleste de Londres conhecido pelo seupotente sistema de som. No sábadoanterior, 900 pessoas passaram anoite no Rocket, no norte de Londres.

Ashton Phillip, que é surdo, diz queas músicas nas raves para deficientesauditivos é muito mais alta do que nosclubes noturnos comuns. “Sentimos amúsica no corpo todo. Quando o vo-lume aumenta e as vibrações ficammais fortes, toda a gente dança. Talcomo acontece numa noite comumnum clube noturno, a luz muda de corde acordo com a música. O palco tam-bém é mais iluminado para que osclientes surdos possam ver os artistasfazendo sinais” – esclarece Phillip.

Iqbal Masih foi vendido como escra-vo, pelo próprio pai, a um fabricantede tapetes, quando contava apenas 4anos de idade, em troca de 12dólares. Trabalhava mais de 12 horaspor dia, era espancado, repreendidoe ligado ao tear em que trabalhava,por uma corrente. Foi obrigado a tra-balhar, por mais de 6 anos, nessetear, sendo explorado vergonhosa-mente.

Em 1992, juntamente com outrascrianças, Iqbal escapa da fábrica detapetes, para assistir à Jornada daLiberdade, organizada pela Frente deLibertação do Trabalho Escravo. Du-rante a conferência, decide contar asua própria história. Os terríveis por-menores que foi libertando chocaramos presentes, tendo a sua históriasido noticiada, no dia seguinte, pelos

jornais locais. Com a ajuda de um advogado,

escreve uma carta de demissão queentrega ao ex-patrão. Começa a pri-var mais de perto com Eshan UllahKhan, líder da Frente de Libertaçãodo Trabalho Escravo.

Com a ajuda deste, começa a con-tar a própria e terrível experiência àstelevisões de todo o mundo. Torna--se um símbolo e o porta-voz do dra-ma das crianças trabalhadoras. Par-ticipa em numerosos congressosdedicados à exploração da mão-de--obra infantil. Em 1994, com apenas11 anos de idade, vai a Estocolmo,onde narra sua experiência, numaconferência mundial sobre a infân-cia.

Em Boston, recebe um prêmio daReebook e uma bolsa de estudos deuma Universidade norte-americana.No dia 16 de abril de 1994, domingode Páscoa, é baleado à queima--roupa, quando, na companhia dosprimos Liaqat e Faryad, passeavade bicicleta na sua terra natal, Mu-ridke.

Tinha apenas 12 anos. SegundoUllah Khan, Iqbal Masih foi executa-do pela mafia dos tapetes paquis-tanesa.

Cascas de alimentos e talos passarama fazer parte do cardápio de algumasescolas municipais do Brasil. O novosistema, implantado no início dopassado mês de Março, vai-se incor-porando às refeições dos alunos deforma gradual. Pretende-se reduzirgastos com os lanches das crianças,isto sem comprometer a qualidadenutricional do cardápio.

Entre Agosto e Setembro de 2003,cerca de 200 merendeiras da redepública de Blumentau foram treinadaspara aprenderem a preparar a meren-da alternativa, composta por partesnutritivas do alimento, mas que antestinham o lixo como destino.

No Centro de Educação Infantil (CEI)Thiago Anzini, as 130 crianças comempelo menos uma vez por semana umamerenda deste tipo. São bolinhos

preparados a partir da folha da couve--flor, bolo de mamão, feito com acasca da fruta, e até risoto rosado,composto por talos de legumes entreoutros alimentos.

As crianças não participaram detestes de adaptação à nova merenda.A Secretaria de Educação prefere iraos poucos condicionando os pala-dares, inserindo a merenda diferentede forma gradual. Isso significa quedurante alguns dias da semana, ascrianças passam a contar com umarefeição feita com a nova receita. Paraa diretora do Thiago Anzini, ReginaDeschamps, ouvida pelo Jornal deSanta Catarina (Florianópolis/SC), amerenda diferente é feita espo-radicamente. “As crianças têm quese adaptar a um hábito mais saudá-vel. Nem todas gostam”, afirma.

Raves para surdos Iqbal MasihSUCESSO ESTRONDOSO EM LONDRES O GAROTO QUE LUTAVA CONTRA O TRABALHO INFANTIL

Lanches com cascas de alimentosEXPERIÊNCIA-PILOTO NO BRASIL

Álbum dos leitoresPARTICIPE

Guardámos esteespaço para si.

Envie-nos as suasfotos, em papel ou em

formato digital.Publicá-las-emos com

todo o gosto._________________

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Desporto

Um sonho que se concretiza. CarlosBaptista, 42 anos, vai ser o único represen-tante português nos Paralímpicos de Atenas,na modalidade de equitação.

Há 13 anos atrás, um acidente de viaçãomodificou por completo a sua vida. Encon-trou apoio na Associação para o Desenvol-vimento e Formação Profissional de Mirandado Corvo (ADFP), tendo aqui frequentado umcurso de formação profissional de agro-pe-cuária. O curso funcionou como passaportepara passar a trabalhar no Centro Hípicodaquela IPSS.

Do tratamento dos animais até à aventurade montar o primeiro cavalo, foi um passo.Carlos Baptista encarou as dificuldades queforam surgindo, sem nunca desanimar. Osresultados estão à vista, após quatro anos depresenças em competições.

A participação deste cavaleiro conta com oapoio da Federação Equestre Portuguesa,da ADFP e de um patrocinador de Cascais.

Carlos Baptista em AtenasÚNICO CAVALEIRO PORTUGUÊS NOS PARALÍMPICOS

O emblemaO emblema da Paraolim-

píada de 2004 caracterizao perfil de uma pessoa, deum atleta, do homem ouda mulher. A figura aponta

para o horizonte simbolizando o opti-mismo e o futuro; no centro, está aface humana representando a forçae a determinação do ser humano naconquista dos seus objetivos, dosseus sonhos. A forma é amigável, aslinhas são lisas, a cor é suave (alaran-jada e brilhante ).

A composição aponta ao sol e àchama que reside, interiormente, emtodos os atletas, inspirando-os edando-lhes força. O sol é uma refe-rência directa à Grécia, país anfitriãodos jogos Paraolímpicos de 2004.

Logo que Amália Rodrigues termine as filmagens de “Sangue Toureiro”, ao lado do matador de toiros Diamantino Viseu, iniciar-se-ão as filmagensda primeira película luso-espanhola, da parceria Cesareo Gonzalez-Aníbal Contreiras, que, como já noticiámos será uma produção de caracterís-ticas dominantemente musicais e populares.

As honras do estrelato serão compartilhadas por Joselito, esse prodigioso cantor de 9 anos de idade, cuja voz maleável e de grande plasticidadelhe permite entoar toda a gama de cantares espanhóis até atingir o “flamenco”, uma das mais dificultosas modalidades e Amália Rodrigues, aembaixatriz da canção portuguesa no mundo.

Amália Rodrigues tem dado sobejas provas do seu valor como actriz cinematográfica, para que seja necessário fazera sua apologia.

Joselito, que o público português admirava já como cantor infantil de grande talento - revelado pelo filme “O Pequeno Rouxinol” -mostrou-se também um actor de real categoria, ao interpretar um papel profundamente humano, em que percorre toda a gama de sen-timentos e de emoções, dando-nos ora a sugestão de que é travesso e rebelde, ora a de que é profundamente carinhoso e compreen-sivo, ora ainda a de que é caritativo e sensível, no filme Joselito, coração de ouro, há pouco exibido entre nós. Enfim, Joselito trans-mite-nos com absoluta segurança e grande naturalidade a certeza de que é tão bom actor como cantor. E isso diz do seu valor comocomediante.

Aguardamos com natural expectativa e indesmentível interesse o que poderá fornecer-nos essa sugestiva simbiose: Amália Rodrigues- Joselito.

in revista Plateia, n.º 2, 15 de Janeiro de1958

Joselito, o próximo parceiro de AmáliaNotícias de outros tempos

Os primeiros jogos parOs primeiros jogos para atletas com incapacidades fora atletas com incapacidades foram realizados em 1948.am realizados em 1948.

Os jogos olímpicos especiais parOs jogos olímpicos especiais para atletas com deficiência fora atletas com deficiência foram organizados pela primeiram organizados pela primeira va vez em Rez em Roma em 1960. oma em 1960.

Desde 1960 forDesde 1960 foram organizados 11 Jogos Pam organizados 11 Jogos Pararaolímpicos de Vaolímpicos de Verão e 7 Jogos Perão e 7 Jogos Pararaolímpicos de Inaolímpicos de Invvernoerno..

Entre 17 e 28 de Setembro de 2004, AEntre 17 e 28 de Setembro de 2004, Atenas dará as boas-tenas dará as boas-vindas a 4.000 atletas parvindas a 4.000 atletas paraolímpicos de 130 países.aolímpicos de 130 países.

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Maio 2004