o centro - n.º 16 – 13.12.2006

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DIRECTOR JORGE CASTILHO OPINIÃO Quem se lembra da Académica? PÁG. 15 SÓ UMA ESCOLA NO PAÍS Cães-guia mudam vida de deficientes PÁG. 18 UMA PRENDA NATALÍCIA ORIGINAL | Taxa Paga | Devesas – 4400 V. N. Gaia | Autorizado a circular em invólucro de plástico fechado (DE53742006MPC) ANO I N.º 16 (II série) De 13 a 26 de Dezembro de 2006 € 1 euro (iva incluído) Ofereça uma assinatura do “Centro” e ganhe uma obra de arte PÁG. 2 e 3 PÁGINA 11 PÁGINAS 4 A 12 João Araújo, D.O. OSTEOPATA Guarda – Consultas à 2.ª feira Marcações pelo telefone: 271 237 039 Inscreva-se em: Atelier de Pintura Iniciação em Artes Plásticas Conferências de Anatomia Artística Visite-nos em www.aelima.com ou Rua Gil Vicente, 86-A – Coimbra Telefone: 239 781 486 – Telemóvel: 917 766 093 Exposição de fotografia de João Igor e de pintura de Luís Sargento até 21 de Dezembro Mais de 250 obras de arte em catálogo Santos da Casa Telef. 239 83 62 83 Rua da Sofia, 94 A - 3000-389 Coimbra Comércio de Artigos Religiosos de: Maria Luíza Fernandes “Natividade” Josefa de Óbidos (1630 – 1684) Natal INICIATIVA DO CONSERVATÓRIO DE COIMBRA Música vai invadir a cidade Quinta-feira na Baixa Sexta-feira no “Dolce Vita” Origens Contos Tradições Poemas Perspectiva do futuro Conservatório

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Versão integral da edição n.º 16 do quinzenário “O Centro”, que se publica em Coimbra. Director: Jorge Castilho. 13.12.2006.

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Page 1: O Centro - n.º 16 – 13.12.2006

DIRECTOR JJOORRGGEE CCAASSTTIILLHHOO

OPINIÃO

Quemse lembradaAcadémica?

PÁG. 15

SÓ UMA ESCOLA NO PAÍS

Cães-guiamudamvida dedeficientes

PÁG. 18

UMA PRENDA NATALÍCIAORIGINAL

| Taxa Paga | Devesas – 4400 V. N. Gaia |Autorizado a circular em invólucrode plástico fechado (DE53742006MPC)

ANO I N.º 16 (II série) De 13 a 26 de Dezembro de 2006 € 1 euro (iva incluído)

Ofereça uma assinaturado “Centro”e ganhe umaobra de arte

PÁG. 2 e 3

PÁGINA 11

PÁGINAS 4 A 12

João Araújo,D.O.

OSTEOPATA

Guarda – Consultas à 2.ª feiraMarcações pelo telefone: 271 237 039

Inscreva-se em: Atelier de Pintura nn Iniciação em Artes Plásticas nn Conferências de Anatomia Artística

Visite-nosem www.aelima.com ou Rua Gil Vicente, 86-A – CoimbraTelefone: 239 781 486 – Telemóvel: 917 766 093Exposição de fotografia de João Igor

e de pintura de Luís Sargento até 21 de DezembroMais de 250 obras de arte em catálogo

SSaannttooss ddaa CCaassaa

Telef. 239 83 62 83Rua da Sofia, 94 A - 3000-389 Coimbra

Comérciode Artigos Religiosos

de: Maria Luíza Fernandes

“Natividade”Josefa de Óbidos(1630 – 1684)

Natal

INICIATIVA DO CONSERVATÓRIODE COIMBRA

Músicavai invadira cidadeww Quinta-feira na Baixaww Sexta-feira no “Dolce Vita”

v Origensv Contosv Tradiçõesv Poemas

Perspectiva do futuro Conservatório

Page 2: O Centro - n.º 16 – 13.12.2006

22 EENNTTRREEVVIISSTTAA DE 13 A 26 DE DEZEMBRO DE 2006

Director: Jorge Castilho(Carteira Profissional n.º 99)

Propriedade: AudimprensaNif: 501 863 109

Sócios: Jorge Castilho e Irene Castilho

Inscrito na DGCS sob o n.º 120 930

Composição e montagem: Audimprensa– Rua da Sofia, 95, 3.º3000-390 Coimbra - Telefone: 239 854 150Fax: 239 854 154e-mail: [email protected]

Impressão: CIC - CORAZEOliveira de AzeméisDepósito legal n.º 250930/06Tiragem: 10.000 exemplares

No sentido de proporcionar mais algunsbenefícios aos assinantes deste jornal, o“Centro” estabeleceu um acordo com a li-vraria on line “livrosnet.com”.

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CONFIRMANDO A OPINIÃO DE D. ALBINO CLETO EM ENTREVISTA AO “CENTRO”

Cardeal de São Paulo admite que a Igrejareconsidere celibato dos padres

Na anterior edição do “Centro” publicá-mos uma desenvolvida entrevista com oBispo de Coimbra, D. Albino Cleto, onde oquestionámos sobre o celibato dos padres(relativamente ao qual ele manifestou con-cordância) e sobre o alegado conservado-rismo do novo Papa, de que ele discordou.Para sustentar que o Papa Bento XVI não éconservador, D. Albino Cleto aludiu mes-mo ao facto de ele ter acabado de nomearcomo responsável pela Congregação parao Clero o cardeal brasileiro CláudioHummes, que é conhecido pelas suas posi-ções progressistas.

Ora sucede que apenas três dias depoisda edição do “Centro”, o jornal “O Estadode São Paulo” publicava uma entrevistacom o referido cardeal Cláudio Hummes,confirmando a opinião que nos fora dadapor D. Albino Cleto.

Assim, nessa entrevista o cardealHummes afirma que a Igreja poderá revero celibato para admitir sacerdotes casados.

“Apesar de o celibato fazer parte da his-tória e da cultura católicas, a Igreja poderever esta questão, pois o celibato não é umdogma, sim uma norma disciplinar”, disseo cardeal.

Dom Cláudio Hummes concedeu esta

entrevista ainda no Brasil, antes de partirpara o Vaticano (onde foi assumir o rele-vante cargo que o torna como responsávelpelos assuntos relativos a 400 mil padresespalhados por todo o mundo).

Reiterando o que D. Albino Cleto referi-ra ao “Centro”, o cardeal brasileiro salien-tou na entrevista que existem alguns padrescasados e que a proibição do matrimóniosó foi adoptada depois da instituição dosacerdócio.

Cláudio Hummes, que chegou a serconsiderado um dos prováveis sucessoresde João Paulo II no conclave que elegeuBento XVI, disse que a Igreja Católica nãoé “estacionária, sim uma instituição quemuda quando deve mudar”.

Instado a comentar os recentes escânda-los de pedofilia, Cláudio Hummes referiuque o tema preocupa a Igreja.

“Ainda que se trate de um só caso – fri-sou – já seria uma grande preocupação,principalmente por causa das vítimas”.

“É injusto e hipócrita generalizar osescândalos de pedofilia, pois mais de 99por cento dos sacerdotes não têm nada aver com isso”, salientou.

Segundo o cardeal, a pedofilia é um pro-blema de toda a sociedade, uma vez queexistem casos de abuso sexual de criançasnas suas próprias famílias.

Dom Cláudio Hummes, de 72 anos,substitui no cargo o cardeal colombianoDario Castrillón Hoyos, de 77 anos, que

apresentou a demissão por motivos deidade.

Com a recente nomeação, Hummespassa a ser o brasileiro com maior influên-cia no Vaticano e aumentará as suas possi-bilidades de se tornar Papa se houver outroconclave antes de completar 80 anos, limi-te para a participação dos cardeais na esco-lha papal.

Filho de imigrantes alemães, nascidoem 1934 na cidade de Montenegro, no Es-tado do Rio Grande Sul, Cláudio Hummesfoi bispo na cidade de Santo André, naregião metropolitana de São Paulo, entre1975 a 1996.

D. Cláudio Hummes é considerado umcardeal progressista em relação às questõessociais, embora alguns o achem um tantoconservador no que se refere à doutrina daIgreja.

No final da década de 70 apoiou as pri-meiras greves operárias contra o regimemilitar de então (1964-1985), acolheu líde-res perseguidos, entre eles Lula da Silva, eautorizou a realização de reuniões secretasnas igrejas da diocese.

Depois de passar dois anos em For-taleza, capital do Estado do Ceará, CláudioHummes substituiu, em 1998, D. PauloEvaristo Arns, um dos mais destacados re-ligiosos progressistas do Brasil, na Ar-quidiocese de São Paulo.

Ao contrário de seu antecessor em SãoPaulo, manteve sempre distância em rela-ção à Teologia da Libertação, uma corren-te da Igreja, nomeadamente na AméricaLatina, que adaptou conceitos marxistas àdoutrina católica.

Seguidor das orientações de João PauloII, o arcebispo de São Paulo é contra aeutanásia, os métodos contraceptivos, asinvestigações científicas com células esta-minais e a ordenação de mulheres.

O cardeal brasileiro fala cinco idiomas eocupa actualmente 12 cargos em organis-mos do Vaticano, o que o faz passar, emmédia, uma semana por mês em Roma,com destaque para a participação noConselho do Diálogo Inter-religioso naCúria Romana.

O chefe da igreja ortodoxa grega, mon-senhor Christodoulos, inicia hoje (quar-ta-feira, dia 13) uma visita histórica aoVaticano, durante a qual se encontrarácom o Papa Bento XVI, anunciou a ar-quidiocese de Atenas.

Trata-se do primeiro encontro oficialem Roma entre um Primaz da IgrejaOrtodoxa grega e um Papa.

Numa entrevista ao jornal grego “Na-tional Herald”, Christodoulos afirmouque este encontro com o Papa aconteceno âmbito dos esforços de aproximaçãoentre as Igrejas Católica e Ortodoxa,separadas desde 1054.

As tentativas de reconciliação entre as

duas igrejas estiveram também no centrodos encontros, no final de Novembro, emIstambul, entre Bento XVI e o Patriarcaecuménico ortodoxo Bartolomeu I, noâmbito da visita do Papa à Turquia.

Tradicionalmente anti-papista, a igre-ja da Grécia melhorou no entanto as suasrelações com a Santa Sé depois de umavisita de João Paulo II a Atenas, em Maiode 2001, em que manifestou o arrependi-mento da Igreja Católica pelos erroscometidos contra os ortodoxos.

Na altura, o Papa evocou a “pilhagemdramática da cidade imperial de Constan-tinopla, que era um bastião da Cristandadeno Oriente”, pelos cruzados em 1.204.

“O facto de os cristãos latinos neleterem participado enche os católicos deum profundo arrependimento”, subli-nhou o Pontífice.

A igreja grega, uma das mais conser-vadoras no seio da Igreja Ortodoxa, re-clamara insistentemente um arrependi-mento do Vaticano pelas “crueldades queos seus fiéis infligiram aos ortodoxosdurante a Quarta Cruzada”.

Durante a visita do chefe da IgrejaOrtodoxa grega ao Vaticano, que terminasábado, o Papa deverá oferecer a Chris-todoulos dois pedaços da corrente queterá mantido prisioneiro o apóstolo Pauloantes da sua execução em Roma.

IGREJAS SEPARADAS HÁ MAIS DE 800 ANOS

Papa recebe hoje em Roma o Primaz ortodoxo grego

Cláudio Hummes

Page 3: O Centro - n.º 16 – 13.12.2006

Se fôssemos analisar as causas, certa-mente chegaríamos a conclusões decep-cionantes.

A verdade, porém, é que, neste caso enesta altura, mais importantes que ascausas são as consequências.

Estou a referir-me ao chamado “espí-rito natalício” e às coisas positivas quepodem encontrar-se entre a multiplici-dade de fenómenos que se manifestam apropósito do Natal.

Que importa se a dádiva a quem pre-cisa não é feita com propósito verdadei-ramente solidário, antes com o intuitode cumprir obrigação anual, como se setratasse do pagamento de um imposto?

Relevante é que ela se concretize!E não estou a referir-me às prendas,

às coisas materiais, já que essas assumi-ram, na maior parte dos casos, uma ver-tente que tem muito mais a ver com oconsumismo do que com a religião – oumesmo com a fraternidade.

Quero especialmente aludir às atitudesde reconciliação e, sobretudo, aos gestosde presença que há muito andam ausentes– entre familiares, na maioria das situa-ções, mas igualmente entre amigos.

Mesmo os que não se identificamcom uma religião são crentes, no senti-do de acreditarem na bondade do seupróximo – às vezes, ostensivamente, tãodistante…

Por isso, seria bom que o Natal portodos fosse assinalado – através de umamensagem, de um telefonema, de umavisita…

Não tenho dúvidas que para muitos,sobretudo para os que habitualmente es-tão mais sós, essa oferta provocará muitomais alegria do que qualquer objectovalioso.

Por isso aqui deixo um veementeapelo: roube algum tempo aos embrulhose utilize-o a visitar (ou a escrever, a tele-fonar, a enviar um e-mail ou sms..) àque-les que gostam de si e de quem tem anda-do afastado!

Vai ver que custa pouco. E pode dar-se

o milagre de assim descobrir, no seu ínti-mo, o espírito natalício, que será a maisreconfortante de todas as prendas – parasi e para os que lhe sentiam a falta…

***

Esta edição do “CENTRO” assinala aquadra festiva, procurando fazê-lo com apossível originalidade. Daí que tenhamosseleccionado alguns poemas alusivos aoNatal, dois contos muito interessantes(um de Mia Couto, num comovente“Natal” africano, outro de Maria OndinaBraga, numa tocante vivência asiática). Eainda uma crónica de Eça de Queirós,sobre o Natal londrino por ele testemu-nhado em fins do séc- XIX.

Para além disso, reproduzimos pintu-ras de alguns dos nossos mais reputadosartistas que mostram a forma como eles,em épocas bem distintas, sentiram oNatal.

Desta forma singela, a todos os nossosLeitores, Assinantes e Anunciantes dese-jamos um Natal com saúde e muito feliz!

33DE 13 A 26 DE DEZEMBRO DE 2006

O jornal “Centro” tem uma aliciante pro-posta para si.

De facto, basta subscrever uma assinaturaanual, por apenas 20 euros, para automatica-mente ganharem uma valiosa obra de arte.

Trata-se de um belíssimo trabalho da auto-ria de Zé Penicheiro, expressamente concebi-do para o jornal “Centro”, com o cunho bemcaracterístico deste artista plástico – um dosmais prestigiados pintores portugueses, comreconhecimento mesmo a nível internacional,estando representado em colecções espalha-das por vários pontos do Mundo.

Neste trabalho, Zé Penicheiro, com o seutraço peculiar e a inconfundível utilização deuma invulgar paleta de cores, criou uma obraque alia grande qualidade artística a um pro-fundo simbolismo.

De facto, o artista, para representar a Re-gião Centro, concebeu uma flor, compostapelos seis distritos que integram esta zona doPaís: Aveiro, Castelo Branco, Coimbra,Guarda, Leiria e Viseu.

Cada um destes distritos é representadopor um elemento (remetendo para respecti-vo património histórico, arquitectónico ounatural).

A flor, assim composta desta forma tão ori-ginal, está a desabrochar, simbolizando ocrescente desenvolvimento desta Região Cen-tro de Portugal, tão rica de potencialidades, deHistória, de Cultura, de património arquitec-

tónico, de deslumbrantes paisagens (desde aspraias magníficas até às serras verdejantes) e,ainda, de gente hospitaleira e trabalhadora.

Não perca, pois, a oportunidade de receberjá, GRATUITAMENTE, esta magnífica obrade arte, que está reproduzida na primeira pági-na, mas que tem dimensões bem maiores doque aquelas que ali apresenta (mais exacta-mente 50 cm x 34 cm).

Para além desta oferta, passará a receberdirectamente em sua casa (ou no local que nosindicar), o jornal “Centro”, que o manterá

sempre bem informado sobre o que de maisimportante vai acontecendo nesta Região, noPaís e no Mundo.

Tudo isto, voltamos a sublinhá-lo, porAPENAS 20 EUROS!

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Jornal “Centro”Rua da Sofia. 95 - 3.º3000–390 COIMBRA

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Para além da obra de arte que desde já lhe ofe-recemos, estamos a preparar muitas outras regali-as para os nossos assinantes, pelo que os 20 eurosda assinatura serão um excelente investimento.

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Para tal envio: q cheque q vale de correio no valor de 20 euros.

#

EE DD II TT OO RR II AA LL

Jorge [email protected]

NA SOCIEDADE PORTUGUESADE AUTORES

São hoje entreguesos Prémios Pen Clube

Os Prémios do PEN Clube Portuguêsrelativos a obras publicadas em 2005 nasmodalidades de poesia, ensaio, narrativa,primeira obra e tradução vão ser entre-gues hoje (quarta-feira, dia 13) naSociedade Portuguesa de Autores (SPA),em Lisboa.

Os vencedores da edição 2005 foramAntónio Ramos Rosa, na Poesia (“Géne-se”), Pedro Eiras, no Ensaio (“EsquecerFausto”), Fiama Hasse Pais Brandão eHélder Macedo, na Ficção (“Contos daImagem” e “Sem nome”, respectivamen-te) e Ana Cristina Oliveira, na primeiraobra (“Continentes Negros”).

José Bento e Miguel Serras Pereira par-tilham o Grande Prémio da Tradução, pe-las suas versões da obra magna da novelís-tica espanhola, “Dom Quixote”, de Miguelde Cervantes.

À excepção do destinado à primeiraobra, no valor de 2.500 euros, os prémiostêm todos uma dotação de 5 mil euros.

O Presidente da República, CavacoSilva, e o Director do Instituto Portuguêsdo Livro e das Bibliotecas (IPLB), JorgeManuel Martins, deverão assistir à cerimó-nia de entrega dos prémios, marcada paraas 18h30.

Espírito natalício

Page 4: O Centro - n.º 16 – 13.12.2006

DE 13 A 26 DE DEZEMBRO DE 2006

O Natal surge como o aniversáriodo nascimento de Jesus Cristo,Filho de Deus, sendoactualmente uma das festascatólicas mais importantes.Inicialmente, a Igreja Católicanão comemorava o Natal.Foi em meados do século IV d. C.que se começou a festejaro nascimento do Menino Jesus,tendo o Papa Júlio I fixadoa data no dia 25 de Dezembro,já que se desconhece a verdadeiradata do seu nascimento.Uma das explicações paraa escolha do dia 25 de Dezembrocomo sendo o dia de Natalprende-se como facto de esta datacoincidir com a Saturnáliados romanos e com as festasgermânicas e célticas do Solstíciode Inverno. Sendo todas estasfestividades pagãs, a Igreja viuaqui uma oportunidadede cristianizar a data, colocandoem segundo plano a sua conotaçãopagã. Algumas zonas optarampor festejar o acontecimentoem 6 de Janeiro, mas gradualmenteesta data foi sendo associadaà chegada dos Reis Magos e nãoao nascimento de Jesus Cristo.O Natal é, assim, dedicadopelos cristãos a Cristo,que é o verdadeiro Sol de Justiça(Mateus 17,2; Apocalipse 1,16),e transformou-se numadas festividades centraisda Igreja, equiparadadesde cedo à Páscoa.Apesar de ser uma festa cristã,o Natal, com o passardo tempo, converteu-senuma festa familiarcom tradições pagãs,em parte germâni-cas e em parteromanas.

Sob influência francis-cana, espalhou-se, apartir de 1233, o cos-tume de, em toda acristandade, se cons-truírem presépios, jáque estes reconstituí-am a cena do nasci-mento de Jesus.

A árvore de Natal sur-ge no século XVI, sendoenfeitada com luzes sím-bolo de Cristo, Luz doMundo. Uma outra tradiçãode Natal é a troca de presen-

tes, que são dados pelo Pai Natal oupelo Menino Jesus, dependendo da tra-dição de cada país.

PRESÉPIO

A palavra “presépio” significa “umlugar onde se recolhe o gado, curral, es-tábulo”. Contudo, esta também é adesignação dada à representaçãoartística do nascimento doMenino Jesus num estábulo,acompanhado pela Virgem Ma-ria, S. José e uma vaca eum jumento – a que muitasvezes se acrescentam outrasfiguras, como pastores,ovelhas, anjos, os ReisMagos.

O nascimento de Jesus começou a sercelebrado no século III, data das primei-ras peregrinações a Belém, para se visi-tar o local onde Jesus nasceu.

No século IV começaram a surgirrepresentações do nascimento de Jesusem pinturas, relevos ou frescos.

Passados nove séculos, mais precisa-mente no ano de 1223, S.

Francisco de Assis decidiucelebrar a missa da vésperade Natal com os cidadãos de

Assis de forma diferente.Assim, esta missa, emvez de ser celebrada nointerior de uma igreja,foi celebrada numagruta, que se situavana floresta de Grécio,

perto da cida-de. S. Francis-co transportou

para essagruta umboi e um

burro e feno, e colocou na gruta as ima-gens do Menino Jesus, da Virgem Mariae de S. José. Com isto, pretendeu tornarmais acessível e clara a celebração doNatal, para que as pessoas pudessemvisualizar o que se terá passado emBelém durante o nascimento de Jesus.

Nos finais do século XV, graças a umdesejo crescente de fazer reconstruçõesplásticas da Natividade, as figuras deNatal libertam-se das paredes das igre-jas, surgindo em pequenas figuras, oque permite criar cenas diferentes.Surgem, assim, os presépios.

A criação do cenário que hoje éconhecido como presépio, provavel-mente, deu-se já no século XVI.Segundo o inventário do Castelo dePiccolomini em Celano, o primeiro pre-sépio criado num lar particular surgiuem 1567, na casa da Duquesa deAmalfi, Constanza Piccolomini.

No século XVIII, a recriação da cenado nascimento de Jesus estava comple-tamente inserida nas tradições deNápoles e da Península Ibérica, incluin-do Portugal.

Aliás, há quem considere que nonosso País foram feitos alguns dos maisbelos presépios de todo o mundo, sendode destacar os realizados pelos esculto-res e barristas Machada de Castro eAntónio Ferreira, no século XVIII.

ÁRVORE DE NATAL

A Árvore de Natal é um pi-nheiro ou abeto, enfeitado e ilu-minado, especialmente nas casasparticulares, na noite de Natal.A tradição da Árvore de Natal

tem raízes muito mais longínquasdo que o próprio Natal.

Os romanos enfeitavam árvo-res em honra de Saturno, deusda agricultura, mais ou menos na

mesma época em que hojepreparamos a Ár-vore de Natal. Osegípcios traziam ga-lhos verdes de pal-meiras para dentro

de suas casa no diamais curto do ano(que é em Dezem-bro), como símbo-

lo de triunfo davida sobre amorte. Nas cul-turas célticas,

os druídas tin-ham o costume de

decorar velhos carva-lhos com maçãs doura-das para festividadestambém celebradas na

mesma época do ano.

Natal: origem e simbologia44 NNAATTAALL

Page 5: O Centro - n.º 16 – 13.12.2006

DE 13 A 26 DE DEZEMBRO DE 2006

A primeira referência a uma “Árvore deNatal” surgiu no século XVI e foi nestaaltura que ela se vulgarizou na EuropaCentral, há notícias de árvores de Natal naLituânia em 1510.

Diz-se que foi Lutero (1483-1546),autor da reforma protestante, que após umpasseio, pela floresta no Inverno, numanoite de céu limpo e de estrelas brilhantestrouxe essa imagem à família sob a formade Árvore de Natal, com uma estrela bri-lhante no topo e decorada com velas, istoporque para ele o céu devia ter estadoassim no dia do nascimento do MeninoJesus.

O costume começou a enraizar-se. NaAlemanha, as famílias, ricas e pobres,decoravam as suas árvores com frutos,doces e flores de papel (as flores vermelhasrepresentavam o conhecimento e as bran-cas representavam a inocência). Isto per-mitiu que surgisse uma indústria de deco-rações de Natal, em que a Turíngia se espe-cializou.

No início do século XVII, a Grã-Bretanha começou a importar da Ale-manha a tradição da Árvore de Natalpelas mãos dos monarcas de Hannover.Contudo a tradição só se consolidou nasIlhas Britânicas após a publicação pela“Illustrated London News”, de umaimagem da Rainha Vitória e Albertocom os seus filhos, junto à Árvore deNatal no castelo de Windsor, no Natalde 1846.

Esta tradição espalhou-se por toda aEuropa e chegou aos EUA aquando daguerra da independência pelas mãos dossoldados alemães. A tradição não se conso-lidou uniformemente dada a divergênciade povos e culturas. Contudo, em 1856, aCasa Branca foi enfeitada com uma árvorede Natal e a tradição mantém-se desde1923.

Como o uso da árvore de Natal tem ori-gem pagã, este predomina nos países nór-dicos e no mundo anglo-saxónico. Nospaíses católicos, como Portugal, a tradiçãoda árvore de Natal foi surgindo pouco apouco ao lado dos já tradicionais presépios.

MENINO JESUS

Jesus, em hebreu, Jehoshua, abreviadoem Jeshua, que quer dizer “Javé, é a salva-ção”, o filho de Deus, segundo oEvangelho, e o Messias anunciado pelosprofetas. Nasceu em Belém da VirgemMaria, em 25 de Dezembro do ano de 749de Roma, embora o cálculo feito no séculoVI pelo frade Dionísio, e que serve de cro-nologia da era cristã, colocou o nascimen-to, erradamente, no ano de 754. Jesus mor-reu crucificado, no ano 33 da era moderna.

Segundo os Evangelhos, o presépio queserviu de berço ao Menino Jesus foi visita-do pelos Reis Magos do Oriente (Baltasar,

Belchior e Gaspar). O rei da Judeia,Herodes, sabendo que chegada do Messiasera anunciada para essa época pelos anti-gos profetas, ordenou que todos os recém-nascidos fossem assassinados. Perante isto,José (pai adoptivo de Jesus) e Maria deci-diram fugir para o Egipto, para salvarem a

vida de Jesus. Só depois da morte de He-rodes, esta família voltou para Nazaré, naGalileia. Aqui Jesus cresceu, ajudando seupai adoptivo no trabalho de carpinteiro.Aos 30 anos, Jesus começou a sua missão,sendo baptizado por seu primo S. JoãoBaptista, nas águas do Jordão. Em seguida,dirigiu-se para o deserto onde permaneceudurante 40 dias em jejum e onde resistiu àstentações de Satanás. Começou por pregaro Evangelho ou a “boa nova” na Galileia,depois dirigiu-se para Jerusalém, lugaronde se deparou com uma hostilidade cres-cente por parte dos fariseus. Na sua missão,Jesus foi acompanhado pelos seus discípu-los, os doze apóstolos, com estes percorreuas cidades da Judeia e da Galileia, pregan-do a caridade, o amor de Deus e do próxi-mo e realizando inúmeros milagres. Asideias defendidas por Jesus Cristo fizeramenfurecer os fariseus e os sacerdotesjudeus, que acusaram-no perante o gover-nador romano, Pôncio Pilatos, de se dizerRei dos Judeus e de querer derrubar ogoverno estabelecido. Judas, um dos após-

tolos, traiu Jesus por 30 dinheiros. Depoisde ter celebrado a última ceia e instituído aEucaristia, Cristo teve de comparecerperante o sumo-sacerdote dos Judeus,Caifás, e em seguida perante a justiçaromana, representada por Pôncio Pilatos.Condenado pelo primeiro, abandonado

pelo segundo, coberto de ultrajes pelo povosubiu ao Calvário, onde morreu crucifica-do entre dois ladrões. Ressuscitou ao 3.ºdia e apareceu a muitos dos seus discípu-los, encarregando-os de espalhar a sua dou-trina pelo mundo inteiro. Quarenta diasdepois da sua ressurreição, subiu aos céusna presença dos seus discípulos.

REIS MAGOS

Os Reis Magos teriam vindo do Oriente,guiados por uma estrela, para adorar oDeus Menino, em Belém

A designação “Mago” era dada, entreos Orientais, à classe dos sábios ou erudi-tos, contudo esta palavra também erausada para designar os astrólogo. Isto fezcom que, inicialmente, se pensasse queestes magos eram sábios astrólogos, mem-bros da classe sacerdotal de alguns povosorientais.

Posteriormente, a Igreja atribuiu-lhes oapelido de “Reis”, em virtude da aplicaçãoliberal que se lhes fez do Salmo 71,10.

Quanto ao número e nomes dos ReisMagos são tudo suposições sem basehistórica, aliás algumas pinturas dos pri-meiros séculos mostram 2, 4 e atémesmo 12 Reis Magos adorando Jesus.Foi uma tradição posterior aos Evan-gelhos que lhes deu o nome de Baltasar,Gaspar e Belchior (ou Melchior), tendo-se também atribuído a cada um caracte-rísticas próprias.

Belchior (ou Melchior) seria o represen-tante da raça branca (europeia) e descende-ria de Jafé; Gaspar representaria a raçaamarela (asiática) e seria descendente deSem; por fim, Baltasar representaria todosos de raça negra (africana) e descenderia deCam. Estavam assim representadas todasas raças bíblicas (e as únicas conhecidas naaltura: os semitas, os jafetitas e camitas.Pode então dizer-se que a adoração dosReis Magos ao Menino Jesus simboliza ahomenagem de todos os homens na Terraao Rei dos reis, mesmo os representantesdo tronos, senhores da Terra, curvam-seperante Cristo, reconhecendo assim a suadivina realeza.

O dia de Reis celebra-se a 6 de Janeiro,partindo-se do princípio que foi neste diaque os Reis Magos chegaram finalmentejunto ao Menino Jesus. Em alguns países éno dia 6 de Janeiro que se entregam os pre-sentes.

Ao chegarem ao seu destino, os ReisMagos deram como presentes ao MeninoJesus: Ouro (oferecido por Belchior), pararepresentar a Sua nobreza; incenso (ofere-cido por Gaspar), que representa a divinda-de de Jesus; e Mirra (oferecido porBaltasar), simbolizando o sofrimento queCristo enfrentaria na Terra (a mirra é umaerva amarga).

Assim, os Reis Magos homenagearamJesus como rei (ouro), como deus (incen-so) e como homem (mirra).

Coloca-se a questão de saber como éque os Reis Magos associaram o apareci-mento da Estrela com o nascimento deJesus. A verdade é que existem várias teo-rias, mas não há como saber qual delas é acorrecta. Uma dessas teorias considera queos Reis Magos descobriram a relação entreo novo astro e o nascimento de Cristo.

Mais explicações sobre esta questão eoutras relacionadas com os Reis Magossão dadas através de textos apócrifos, istoé, textos não reconhecidos pela Igreja.

Contudo estes textos foram, de ummodo geral, escritos nos séculos II e III daera cristã, para preencherem lacunassobre a vida de Jesus e de outras persona-gens do Novo Testamento, assim objecti-vo destes era saciar a curiosidade religio-sa, transformando o vago em concreto,independentemente da veracidade dos fac-tos, daí não estarem incluídos nos chama-dos Livros Canónicos.

e simbologia

“Presépio”Gregório Lopes, c.1490-1550, Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa

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DE 13 A 26 DE DEZEMBRO DE 2006

O menino no sapatinhoMia Couto *

Era uma vez o menino pequenito, tãominimozito que todos seus dedos erammindinhos. Dito assim, fino modo, ele,quando nasceu, nem foi dado à luz masa uma simples fresta de claridade.

De tão miserenta, a mãe se alegroucom o destamanho do rebento – assimpediria apenas os menores alimentos. Amulher, em si, deu graças: que é bom acriança nascer assim desprovida depeso que é para não chamar os mausespíritos. E suspirava, enquanto con-templava a diminuta criatura.

Olhar de mãe, quem mais pode apa-gar as feiuras e defeitos nos viventes?

Ao menino nem se lhe ouvia o choro.Sabia-se de sua tristeza pelas lágrimas.

Mas estas, de tão leves, nem lhe des-ciam pelo rosto. As lagriminhas subiampelo ar e vogavam suspensas. Depois,se fixavam no tecto e ali se grutavam,missangas tremeluzentes.

Ela pegava no menino, com uma sómão. E falava, mansinho, para essa con-cha.

Na realidade, não falava: assobiava,feita uma ave. Dizia que o filho nãotinha entendimento para palavra. Só lín-gua de pássaro lhe tocaria o reduzidocoração. Quem podia entender? Ele hádessas coisas tão subtis, incapazesmesmo de existir. Como essas estrelasque chegam até nós mesmo depois deterem morrido. A senhora não se impor-tava com os dizquedizeres.

Ela mesmo tinha aprendido a ser deoutra dimensão, florindo como o capim:sem cor nem cheiro.

A mãe só tinha fala na igreja. Noresto, pouco falava. O marido, descren-te de tudo, nem tinha tempo para serdesempregado. O homem era um fiorra-po, despacha-gargalos, entorna-fundos.Do bar para o quarto, de casa para a cer-vejaria.

Pois, aconteceu o seguinte: dadas asdimensões de sua vida e não havendoberço à medida, a mãe colocou o meni-ninho num sapato. E cujo era o esquer-do do único par, o do marido. De entãoem diante, o homem passou a calçar deum só pé. Só na ida isso o incomodava.Na volta, ele nem se apercebia de terpés, dois na mesma direcção.

Em casa, na quentura da palmilha, omiúdo aprendia já o lugar do pobre: nosembaixos do mundo. Junto ao chão, tãorés e rasteiro que, em morrendo, dispen-saria quase o ser enterrado. Uma peúga

desirmanada lhe fazia de cobertor. Ofrio estreitasse e a mulher se levantavade noite para repuxar a trança dos ataca-dores. Assim lhe calçava um aconche-go. Todas as manhãs, de prevenção, elaavisava os demais e demasiados:

– Cuidado, já dentrei o menino nosapato.

Que ninguém, por descuido, o calças-se. Muito-muito, o marido quando vol-tava bêbado e queria sair uma vez mais,desnoitado, sem distinguir o maisesquerdo do menos esquerdo. A mulhernão deixava que o berço fugisse da vis-lembrança dela. Porque o marido já seoutorgava, cheio de queixa:

– Então, ando para aqui improvisarum coxinho?

– É seu filho, pois não?– O diabo que te descarregue!E apontava o filhote: o individuozito

interrompia o seu calçado? Pois que,

sendo aqueles seus exclusivos e únicossapatos, ele se despromoveria para umchinelado?

– Sim – respondeu a mulher. – Eu jálhe dei os meus chinelos.

Mas não dava jeito naqueles areaisdo bairro. Ela devia saber. A pessoapisa o chão e não sabe se há mais

areia em baixo que em cima do pé.– Além disso, eu é que paguei os tais

sapatos.Palavras. Porque a mãe respondia

com sentimentos:– Veja o seu filho, parece o Jesuzinho

empalhado, todo embrulhadinho nosbichos de cabedal.

Ainda o filho estava melhor queCristo – ao menos um sapato já não ébicho em bruto. Era o argumento delamas ele, nem querendo saber, subia detom:

– Cá se fazem, cá se apagam!

O marido azedava e começou a ame-açar: se era para lhe desalojar o definiti-vo pé, então, o melhor seria desfaze-rem-se do vindouro. A mãe, estarrecida,fosse o fim de todos os mundos:

– Vai o quê fazer?– Vou é desfazer.Ela prometia-lhe um tempo, na espe-

ra que o bebé graudasse. Mas o assuntoazedava e até degenerou em soco, pun-hos ciscando o escuro. Os olhos dela,amendoídos ainda, continuaram esprei-tando o improvisado berço. Ela sabiaque os anjos da guarda estão a preçosque os pobres nem ousam.

Até que o ano findou, esgotada a últi-ma folha do calendário. Vinda da igreja,a mãe descobriu-se do véu e anunciouque iria compor a árvore de Natal. Semdespesa nem sobrepeso. Tirou à lenhaum tosco arbusto. Os enfeites eram tam-pinhas de cerveja, sobras da bebedeirado homem. Junto à árvore ela rezoucom devoção de Eva antes de haver amacieira. Pediu a Deus que fosse dadoao seu menino o tamanho que lhe eradevido. Só isso, mais nada. Talvez,depois, um adequado berço. Ou quemsabe, um calçado novo para o seuhomem. Que aquele sapato já espreitavapelo umbigo, o buraco na frente autori-zando o frio.

Na sagrada antenoite, a mulher fezcomo aprendera dos brancos: deixou osapatinho na árvore para uma qualquerimprobabilíssima oferta que lhe miracu-lasse o lar.

No escuro dessa noite, a mãe nãodormiu, seus ouvidos não esmoreceram.

Despontavam as primeiras horasquando lhe pareceu escutar passos nasala. E depois, o silêncio. Tão espessoque tudo se afundou e a mãe foi engoli-da pelo cansaço.

Acordou cedo e foi directa ao arbus-to de Natal. Dentro do sapato, porém, sóo vago vazio, a redonda concavidade donada. O filho desaparecera? Não para osolhos da mãe. Que ele tinha sido levadopor Jesus, rumo aos céus, onde há ummundo apto para crianças. Descida emseus joelhos, agradeceu a bondade divi-na. De relance, ainda notou que lá notecto já não brilhavam as lágrimas doseu menino. Mas ela desviou o olhar,que essa é a competência de mãe: o nãoenxergar nunca a curva onde o escurofaz extinguir o mundo.

* Retirado de “Na Berma de Nenhuma Estrada”(2ª Edição), Lisboa, Editorial Caminho, 2001

FFeessttaass FFeelliizzeess

“Adoração dos Magos”Vasco Fernandes (Grão Vasco), activo entre 1501 e 1540

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Natal ChinêsPor Maria Ondina Braga *

A senhora Tung chegava dois diasantes da consoada. Costumava vê-la logode manhã, com a irmã jardineira, nopátio maior, a admirar as laranjeiras anãsnos vasos de loiça. Via-a casualmente acontemplar, embevecida, o presépio doconvento. Encontrava-a por fim à mesa.

A senhora Tung viajava todos os anosda Formosa para Macau, na época doNatal, a fim de festejar o nascimento deCristo na companhia da sua primogéni-ta, a irmã Chen-Mou.

Nesses dias, com as meninas emférias, o refeitório do colégio pareciamaior e mais desconfortável: só eu eMiss Lu nos sentávamos à mesa com-prida das professoras. Daí a presença dasenhora Tung, que noutra ocasião pas-saria talvez despercebida (estirada asala entre pátios de cimento e plantasverdes), se tornar nessa altura notável.

Baixa, seca de carnes, de olhos aten-ciosos, pensativos, a senhora Tung sor-ria constantemente, falava inglês, gosta-va de comer, de fumar, de jogar ma-jong. As criadas cortejavam-na nos cor-redores, preparavam-lhe pratos especi-ais, levavam-lhe chá ao quarto. Além deser mãe da subdirectora, tinha fama derica e distribuía moedas de prata a todoo pessoal na noite de festa.

Nessa noite assistiam três freiras aonosso jantar (a regra não lhes permitiacomer connosco): a directora, a subdi-rectora e a mestra dos estudos. E muitoempertigada, segurando com ambas asmãos um tabuleiro de laca coberto comum pano de seda, a senhora Tung rece-bia-as à porta do refeitório, entregandocerimoniosamente o presente à filha,que por sua vez o oferecia à directora.Eram bolos de farinha fina de arrozamassada com óleo de sésamo. Toda devermelho, de sapatos bordados e gan-chos de jade no cabelo, a senhora Tung,quando a superiora colocava o tabuleirodos bolos na mesa, dobrava-se quase atéao chão. Rezava-se, depois. Para lá dospátios, à porta da cozinha, as criadasespreitavam, curiosas.

Nem no primeiro, nem no segundo,nem no terceiro Natal que passei emMacau, a senhora Tung era cristã, mastodos os anos se nomeava catecúmena. Aseguir ao jantar falava-se nisso. A direc-tora, uma francesa de mãos engelhadasque noutros tempos frequentara aUniversidade de Pequim, perguntava emchinês formal quando era o baptizado.Inclinando a cabeça para o peito, asenhora Tung balbuciava, indicando airmã Chen-Mou. A filha... a filha sabia.Talvez se pudesse chamar cristã peloespírito, mas o coração atraiçoava-a. Ocoração continuava apegado a antigasdevoções... Todavia, vestira-se de galapara a festividade da meia-noite, tinha noquarto o Menino Jesus cercado de flores,e a alma transbordava-lhe de alegriacomo se cristã verdadeiramente fosse.

Com um sorriso meio complacentemeio contrariado, a irmã Chen-Moudesconversava, passando a bandeja dosbolos à superiora, que separava uns tan-tos para o convento. Os restantes comê-los-íamos nós, ao fim da Missa do Galo,com chocolate quente.

O chocolate era a esperada surpresada directora. A senhora Tung chamava-lhe, em ar de gracejo, «chá de Paris». Nofim das três missas vinham outra vez astrês freiras ao refeitório do colégio paratrocarem connosco o beijo da paz e nosoferecerem a tigela fumegante do cho-colate. Vinham e partiam logo (tardedemais para se demorarem), e Miss Lu,fanática terceira-franciscana, sempreatenta aos passos das monjas, sorvia àpressa o líquido escaldante, como quemcumprisse um dever, e saía atrás delas.

Ficávamos, assim, a senhora Tung eeu, uma em frente da outra. À luz das

velas olorosas do centro de mesa, osseus olhos eram dois riscos tremulantes.Sorríamos. Finalmente, o reposteiro aofundo da sala apartava-se. Uma das cri-adas entrava, silenciosa. Servia-sevinho de arroz.

Creio que o vinho de arroz figuravaentre as bebidas proibidas no colégio eque chegava ali por portas travessas. Ocerto, contudo, é que ambas o bebía-mos, a acompanhar os bolos de sésamo,no grande e deserto refeitório, na noitede Natal.

O vinho de arroz queimava-me a gar-ganta e fazia-me vir lágrimas aos olhos.Quanto à senhora Tung, saboreava-odevagar, molhando nele o bolo, e, comomal provara o «chá de Paris», bebiadois cálices.

Entretanto, Aldegundes, a criadamacaense mais antiga do colégio, apa-recia com as especialidades da terra:aluares, fartes e coscorões, dizendo quealuá era o colchão do Minino Jesus,farte almofada, coscorão lençol. E eu

traduzia em inglês para a senhora Tung,que achava isto enternecedor e gratifi-cava a velha generosamente.

Quando por fim atravessávamos acerca a caminho de casa, sob uma luabranca, espantada, anunciadora doInverno para a madrugada, a senhoraTung abria-se em confidências.

A menina sabia... ? a «menina» era airmã Chen-Mou, a subdirectora do colé-gio ?, sabia que ela continuava a vene-rar a Deusa da Fecundidade. Tratava-sede uma pequena divindade, toda nua etoda de oiro. Fora ela quem lhe dera fil-hos. Estéril durante sete anos, a senhoraTung recorrera à sua intercessão divinaquando o marido já se preparava parareceber nova esposa. Não podia portan-to deixar de a amar. Toda a felicidadelhe provinha daí, dessa afortunada horaem que a deusa a escutara.

Parava a meio do largo átrio enluara-

do, de olhar meditabundo, mãos cruza-das no colo. E as palavras saíam-lhelentas e soltas, como se falasse sozinha.

... E aquele mistério da virgindade deNossa Senhora! Virgem e mãe aomesmo tempo... Não se lia no Génesis:«O homem deixará o pai e a mãe para seunir a sua mulher e os dois serão uma sócarne?» Não era essa a lei do Senhor?Por quê então a Mãe de Cristo diferentedas outras, num mundo de homens e demulheres onde o Filho havia de vir pre-gar o amor? A Deusa da Fecundidade,patrona dos lares, operava milagres,

sim, mas racionalmente, atraindo a von-tade do homem à da sua companheira eexaltando essa atracção. Como o Céualagando a Terra na estação própria.

Retomávamos a marcha em direcçãoaos nossos aposentos. Difícil para mimresponder às dúvidas da senhora Tung,nem ela parecia esperar resposta. Mu-dava, rápida, de assunto, aludindo aotempo, à viagem de regresso, às saboro-sas guloseimas da criada macaísta.

Já em casa, convidava-me a ir ver oseu presépio. O quarto cheirava forte-mente a incenso. Em cima da cómoda,entre flores, lá estava o Menino Jesus,de cabaia de seda encarnada, sapatinhosde veludo preto, feições chinesas.

Depois, timidamente, a senhora Tungabria a gaveta... e surgia a deusa.

O Menino Jesus era de marfim. ADeusa da Fecundidade era de oiro. OMenino, de pé, de um palmo de altura,trajando ricamente. A deusa, sentada,pequenina, nua.

Os olhos da senhora Tung atentavamnos meus, como se à procura de com-preensão, mas as suas palavras prontas(a deter as minhas?) eram de autocensu-ra. Não, não devia fazer aquilo. A filhaasseverara que o Menino Jesus entriste-cia, em cima da cómoda, por causa dadeusa, na gaveta. E quem sabia mais doque a filha?

Eu já sentia frio, apesar da aguarden-te de arroz. O Inverno, ali, chegava derepente. A senhora Tung, no entanto,tinha as mãos quentes e as faces afo-gueadas.

Despedíamo-nos. Eu sempre me ape-tecia dizer-lhe que estivesse sossegada,que de certeza o Menino Jesus não ha-via de se entristecer, em cima da cómo-da, por causa da deusa, na gaveta. Masnunca lho disse nos três anos que passeio Natal com ela. Palpitava-me que asenhora Tung se enervava com o assun-to. E que, de qualquer jeito, não meacreditaria.

In “ A China Fica ao Lado”,Lisboa, Panorama, 1968

(Maria Ondina Braga nasceu em 1932, emBraga. Deixou esta cidade nos anos 50. EmParis, cursou a Alliance Française e em Londresa Royal Society of Arts. Viajou, aprendeu e ensi-nou. Foi professora do ensino secundário emLuanda, Goa e Macau, desenvolvendo tambémactividade no domínio da tradução. De todasestas viagens resultaram páginas de escrita ondese combinam memória, conto, novela, romance ecrónica, sem nunca esquecer as raízes minhotas).

“Adoração dos Magos”Domingos António de Sequeira, 1768-1837, Colecção Particular

Deseja-lhe Festas Felizes

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Eça de Queirós *

O Natal, a grande festa doméstica daInglaterra, foi este ano triste – dessatristeza particular que oferece, por umdia de calma ardente, a praça deserta deuma vila pobre...

O que nos estragou o Natal, nãoforam decerto as preocupações políti-cas, apesar da sua negrura de borrasca.Nem a rebelião do Transval em que osBoers debutaram por exterminar o 94de linha, um dos mais experimentados egloriosos regimentos da Inglaterra e queameaça ensanguentar toda a África doSul numa guerra de raças; nem a situa-ção da Irlanda, que já não é governadapela Inglaterra, mas pelo comité revolu-cionário da Liga Agrária – seriam inqui-etações suficientes para tirar o sabortradicional ao, plum-pudding do Natal.As desgraças públicas nunca impedemque os cidadãos jantem com apetite: emisérias da pátria, enquanto não sãotangíveis e senão apresentam, sob aforma flamejante de obuses rebentando,inuma cidade sitiada, não tirarão jamaiso sono ao patriota.

Não; o que estragou o Natal, foi sim-plesmente a falta de neve. Um Natalcomo este que passámos, com um sol deuma palidez de convalescente, deslizan-do timidamente sobre uma imensa peçade seda azul desbotada, um Natal semneve, um Natal sem casacos de peles,parece tão insípido e tão desconsoladocomo seria em Portugal a noite de S.João, noite de fogueiras e descantes, sehouvesse no chão três palmos de neve ecaísse por cima o granizo até de madru-gada! Um desapontamento nacional!

Para compreender bem o encanto daneve deste famoso Natal inglês, bastaexaminar alguma das pinturas, gravurasou oleografias, que o têm popularizado.

O assunto não varia na paisagem re-petida: é sempre a mesma entrada dumparque, de aparência feudal, por véspe-ras do Natal, antes da meia-noite; o céupesado de neve suspensa parece uma,gaza suja: e a perder de vista tudo estácoberto da neve caída, uma neve bran-ca, fofa, alta, que faz nos campos umgrande silêncio. Junto à grade do par-que, uma mulher e duas crianças, ataba-fadas nos seus farrapos, com lampiõesna mão, vão cantando as loas; e aofundo, entre as ramagens despidas,ergue-se o maciço castelo, com as jane-las flamejando, abrasadas da grande luzde dentro e da alegria que as habita.

E toda a poesia do Natal está justa-mente nessas janelas resplandecendo nanoite nevada.

Felizes aqueles para quem essas por-tas difíceis se abrem! Logo ao entrar naantecâmara os tectos, as ombreiras, osespaldares das cadeiras, os troféus decaça, aparecem adornados das verdurasdo Natal, das ramagens sagradas do car-valho céltico; e pelas paredes, em letras

douradas, ondei-am os dísticostradicionais –Merry Chris-tmas! Mer-ry Christ-mas! alegrenatal! ale-gre natal! eo mesmogrito se re-pete nosshake-handsque se dão aohóspede.

Sob a cha-miné estala e dançaa grande fogueirado Natal: a sua luzrica faz parecer de ouro os cabeloslouros, e de prata as barbas brancas.

Tudo está enfeitado como numaPáscoa sagrada: dos retratos dos avóspendem ramos de flores de Inverno,as flores da neve, e todas as pratas dacasa cintilam sobre os aparadores,numa solenidade patriarcal. Dosgrandes lustres balança-se o ramo simbólico domistletoe, o ramo do amordoméstico: e ai das se-nhoras que um momento pa-rarem sob a sua ramagem! Quem assimas surpreender tem direito a beijá-lasnum grande abraço! Também, que vol-tas sábias, que estratégia complicada,para evitar o ramo fatídico! Mas, pobresanjos! ou se enganam ou se assustam, ea cada momento é sob o mistletoe umgrito, um beijo, dois abraços que pren-dem uma cinta fugitiva...

E o piano não se cala nestas noites! Éalguma velha canção inglesa, em que sefala de torneios e cavaleiros, ou umadança da Escócia, que se baila, com ogentil cerimonial do passado.

E por corredores e salas, as crianças,os bebés, com os cabelos ao vento, vesti-dos de branco e cor-de-rosa, correm, can-tam, riem, vão a cada momento espreitaros ponteiros do relógio monumental, por-que à meia-noite chega Santo Claus, ovenerável Santo Claus que tem três milanos de idade e um coração de pomba, eque já a essa hora vem caminhando pelaneve da estrada, rindo com os seus velhosbotões, apoiado ao seu cajado, e com osalforges cheios de bonecos. AmávelSanto Claus! Por um tempo tão frio,naquela idade deixar a cabana de algodãoque ele habita no país da Legenda, e virpor sobre ondas do mar e ramagens deflorestas trazer a estes bebés o seu natal!

Também, como eles o adoram, o bomClaus! E apenas ele chegar, como corre-rão todos, em triunfo, a puxá-lo para opé do lume, a esfregar-lhe as decrépitasmãos regeladas, e oferecer-lhe uma taçade prata cheia de hidromel quente - queele bebe dum trago, o glutão! Depoisabrem-se-lhe os alforges. Quantasmaravilhas!...

Mas destas personagens que aparecempelas consoadas, o meu predilecto é FatherChristmas – o papá Natal.

Esse, porém, só pode ser admirado emtoda a sua glória, quando se abre a sala daceia: então lá está sobre o seu pedestal, aocentro da mesa – que lhe põe em torno,com os cristais e os pratos, um amável bri-lho da auréola caseira. Bem-vindo, papáNatal! Boas noites, papá Natal!

O respeitável ancião, com o seu capuzaté aos olhos, todo salpicado de neve, asmãos escondidas nas largas mangas defrade, o olho maganão e jovial, esgarça aboca num riso de felicidade sem-fim, e assuas enormes barbas de algodão pendem-lhe até aos pés.

Todas as crianças o querem abraçar, eele não se recusa, porque é indulgente.

E quanto mais a ceia se anima, mais oseu patriarcal riso se escancara; as boche-chas reluzem-lhe de escarlates, as barbasparecem crescer-lhe, e ali está, bonacheirãoe venerável, com a importância de umDeus tutelar e amado, como a encarnaçãosacramental da alegria doméstica.

E no entanto fora, na neve, as pobres cri-anças cantam as loas: e com vigor as can-tam! É que elas sabem que não serãoesquecidas: e que daqui a pouco a grade seabrirá, e virá um criado, vergando ao pesode toda a sorte de coisas boas, peças decarne, empadas, vinho, queijos – e mesmobonecas para os pequenos; porque SantoClaus é um democrata, e, se enche os seusalforges para os ricos, gosta sobretudo deos ver esvaziados no regaço dos pobres.

Tudo isto é encantador. Mas tire-se-lhe aneve, e fica estragado. O Natal com uma

O Natal

“Santo Claus”de acordo como Harper’s Bazarde Dezembrode1867

Ao Menino Deusem metáforade doceRomance

– Quem quer fruta doce?– Mostre lá! Que é isso?– É doce coberto;É manjar divino.– Vejamos o doce;Compraremos todo,Se for todo rico.– Venha ao portal logo;Verá que não minto,Pois de várias sortesÉ doce infinito.– Desculpa, minha alma.Mas ah! Que diviso?!Envolto em mantilhas,Um Infante lindo!– Pois de que se admira,Quando este MeninoÉ doce coberto,É manjar divino?– Diga o como é doce,Que ignoro o prodígio.– Não sabe o mistério?Ora vá ouvindo:Muito antes de Santa Ana,Teve este doce princípio,Porque já do SalvadorSe davam muitos indícios.Mas na Anunciada dizemQue houve mais expresso aviso,E logo na EncarnaçãoSe entrou por modo divino.Esteve pois na EsperançaMuitos tempos escondido;Saiu da Madre de Deus,depois às Claras foi visto.Fazem dele estimaçãoAs freiras com tal capricho,Que apuram para este doceTodos os cinco sentidos.Afirmam que no CalvárioTerá seu termo finito,Sendo que no SacramentoHá-de ter novo artifício.Que seja doce este Infante,A razão o está pedindo,Porque é certo que é morgado,Sendo unigénito Filho!Exposto ao rigor do tempo,Quando tirita nuzinho,Um caramelo parecePelo branco e pelo frio.Tão doce é que, porque farteAo pecador mais faminto,Será de pão com espécies,Substancial doce divino.É manjar tão soberano,Regalo tão peregrino,Que os espíritos levanta,Tornando aos mortos vivos.Tão delicioso bocadoSerá de gosto infinito,Manjar real, verdadeiro,Manjar branco, parecido!Que é manjar dos Anjos, dizemTalentos mui fidedignos,Por ser pão de ló, que aos AnjosFoi em figura oferecido

Jerónimo Baía(Frade beneditino e professor,nascido em Coimbra em 1620

e falecido em Viana do Castelo em 1688,pregador na corte de D. Afonso VI)

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Vai nascer esta noite à meia-noite em pontoNum sótão num porão numa cave inundada

Vai nascer esta noite à meia-noite em pontoDentro de um foguetão reduzido a sucataVai nascer esta noite à meia-noite em pontoNuma casa de Hanói ontem bombardeadaVai nascer esta noite à meia-noite em pontoNum presépio de lama e de sangue e de cisco

Vai nascer esta noite à meia-noite em pontoPara ter amanhã a suspeita que existe

Vai nascer esta noite à meia-noite em pontoTem no ano dois mil a idade de CristoVai nascer esta noite à meia-noite em ponto

Vê-lo-emos depois de chicote no temploVai nascer esta noite à meia-noite em pontoE anda já um terror no látego do vento

Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto Para nos vir pedir contas do nosso tempo

David Mourão-Ferreira, Lira de Bolso

DE 13 A 26 DE DEZEMBRO DE 2006

lua cor de manteiga a bater numa terra tépi-da de Primavera, torna-se apenas uma datano calendário. O lume não tem poesia ínti-ma; não há loas; Santo Claus não vem; opapá Natal parece um boneco insípido; nãose colhe o mistletoe. Não há mesmo a ale-gria de abrir a janela, e pôr no rebordo,dentro duma malga, a ceia de migalhas doNatal para os pardais e para os outros pas-sarinhos, que tanta fome sofrem pelasneves. Enfim não há Natal! Foi o que suce-deu este ano...

Resta a consolação de que os pobrestiveram menos frio. E isto é o essencial;pensando bem, se nas cabanas houve maisalgum conforto, e se se não tiritou toda anoite entre quatro farrapos, é perfeitamen-te indiferente que nos castelos as damasbocejassem.

Nem eu sei realmente como a ceia faus-tosa possa saber bem, como o lume dosalão chegue a aquecer – quando se consi-dere que lá fora há quem regele, e quemrilhe, a um canto triste, uma côdea de doisdias. É justamente nestas horas de festaíntima, quando pára por um momento ofurioso galope do nosso egoísmo – que aalma se abre a sentimentos melhores defraternidade e de simpatia universal, e quea consciência da miséria em que se deba-tem tantos milhares de criaturas, volta comuma amargura maior. Basta então ver umapobre criança, pasmada diante da vitrine deuma loja, e com os olhos em lágrimas parauma boneca de pataco, que ela nuncapoderá apertar nos seus miseráveis braços– para que se chegue à fácil conclusão queisto é um mundo abominável. Deste senti-mento nascem algumas caridades deNatal; mas, findas as consoadas, o egoísmoparte à desfilada, ninguém torna a pensarmais nos pobres, a não ser alguns revoluci-onários endurecidos, dignos do cárcere e amiséria continua a gemer ao seu canto!

Os filósofos afirmam que isto há-de sersempre assim: o mais nobre de entre eles,Jesus, cujo nascimento estamos exacta-mente celebrando, ameaçou-nos, numapalavra imortal, que teríamos semprepobres entre nós. Tem-se procurado comrevoluções sucessivas fazer falhar estasinistra profecia – mas as revoluções pas-sam e os pobres ficam.

Neste momento, por exemplo, naIrlanda, os trabalhadores, ou antes os ser-vos do ducado de Leicester estão morren-do de fome, e o duque de Leicester estáretirando anualmente, do trabalho duro queeles fazem, quatrocentos contos de réis derenda! É verdade que a Irlanda está emrevolta; é verdade que, se o duque deLeicester se arriscasse a visitar o seu duca-do de Irlanda, receberia, sem tardar, quatrolindas balas no crânio.

E o resultado? Daqui a vinte anos os tra-

balhadores de Leicester estarão de novo asofrer a fome e o frio – e o filho do duquede Leicester, duque ele mesmo então, vol-tará a arrecadar os seus quatrocentos con-tos por ano.

Não é possível mudar. O esforço huma-no consegue, quando muito, converter umproletariado faminto numa burguesia farta;mas surge logo das entranhas da sociedadeum proletariado pior. Jesus tinha razão:haverá sempre pobres entre nós. Donde seprova que esta humanidade é o maior erroque jamais Deus cometeu.

Aqui estamos sobre este globo há dozemil anos a girar fastidiosamente em tornodo Sol, e sem adiantar um metro na famo-sa estrada do progresso e da perfectibilida-de: porque só algum ingénuo de provínciaé que ainda considera progresso a invençãoociosa desses bonecos pueris que se cha-mam máquinas, engenhos, locomotivas,etc., e essas prosas laboriosas e difusas quese denominam sistemas sociais.

Nos dois ou três primeiros mil anos deexistência trepámos a uma certa altura decivilização; mas depois temos vindo rolan-do para baixo numa cambalhota secular.

O tipo secular e doméstico de umaaldeia Ária do Himalaia, tal como umavetusta tradição o tem trazido até nós, éinfinitamente mais perfeito que o nossoorganismo doméstico e social. Já não falode gregos e romanos: ninguém hoje tembastante génio para compor um coro deÉsquilo ou uma página de Virgílio; comoescultura e arquitectura, somos grotescos;nenhum milionário é capaz de jantar comoLúculo; agitavam-se em Atenas ou Romamais ideias superiores num só dia do quenós inventámos num século; os nossosexércitos fazem rir, comparados às legiõesde Germânicos; não há nada equiparável àadministração romana; o boulevard é umaviela suja ao lado da Via Ápia; nem umaAspásia temos; nunca ninguém tornou afalar como Demóstenes: – e o servo, oescravo, essa miséria da antiguidade, nãoera mais desgraçado que o proletáriomoderno.

De facto, pode-se dizer que o homemnem sequer é superior ao seu venerável pai– o macaco; excepto em duas coisas teme-rosas – o sofrimento moral e o sofrimentosocial.

Deus tem só uma medida a tomar comesta humanidade inútil: afogá-la num dilú-vio. Mas afogá-la toda, sem repetir a fatalindulgência que o levou a poupar Noé; senão fosse o egoísmo senil desse patriarcaborracho, que queria continuar a viver,para continuar a beber, nós hoje gozaría-mos a felicidade inefável de não sermos...

* Esta crónica de Eça de Queirós foi publicadana “Gazeta de Notícias”, do Rio de Janeiro, nofinal de 1880

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Dia de NatalHoje é dia de ser bom.dia de passar a mão pelo rosto das crianças,de falar e de ouvir com mavioso tom,de abraçar toda a gente e de oferecer lembranças.

É dia de pensar nos outros - coitadinhos - nos que padecem,de lhes darmos coragem para poderem continuar a aceitar a sua miséria,de perdoar os nossos inimigos, mesmo aos que não merecem,de meditar sobre a nossa existência, tão efémera e tão séria.

Comove tanta fraternidade universal.É só abrir o rádio e logo um coro de anjos,como se de anjos fosse,numa toada doce,de violas e banjos,entoa gravemente um hino ao Criador.E mal se extinguem os clamores plangenes,a voz do locutoranuncia o melhor dos detergentes.

De novo a melopeia inunda a Terra e o CéuE as vozes crescem num fervor patético.(Vossa Excelência verificou a hora exacta em que o Menino Jesus nasceu?Não seja estúpido! Compre imediatamente um relógio de pulso antimagnético.)

Torna-se difícil caminhar nas preciosas ruas.Toda a gente se acotovela, se multiplica em gestos, esfuziante.Todos participam nas alegrias dos outros como se fossem suasE fazem adeuses enluvados aos bons amigos que passam mais distante.

Nas lojas, na luxúria das montras e dos escaparates,Com subtis requintes de bom gosto e de engenhosa dinâmica,Cintilam, sob o intenso fluxo de milhares de quilovates,As belas coisas inúteis de plástico, de metal, de vidro e de cerâmica.

Os olhos acorrem, num alvoroço liquefeito,Ao chamamento voluptuoso dos brilhos e das cores.É como se tudo aquilo nos dissesse directamente respeito,

António Gedeão

Litania para este Natal (1967)

NNAATTAALL 99

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DE 13 A 26 DE DEZEMBRO DE 2006

EDITADA PELA LUSATENAS

Medalha assinala Natal de 2006

O apóstolo S. João, logo no início doseu Evangelho, proclama que o Verbode Deus, “a luz verdadeira que iluminatodo o homem que vem a este mundo,fez-se carne e habitou entre nós” (Cfr.Jo.1, 9-14).

Este acontecimento, que todos osanos celebramos no Dia de Natal,foi o mais importante de todaa história da humanidade.De facto, descendo aomeio dos homens, oFilho de Deus, ger-ado no seio daVirgem Maria,torna-se um denós e intro-duz-nos na es-fera do divi-no. Com onascimentode Jesus Cris-to a históriada humanida-de ganha umnovo rumo, dei-xa de ser limita-da pelo tempo epelo espaço, adqui-rindo a dimensão daplenitude, porque “Elevem restaurar todas ascoisas que há na terra” (Cfr.Ef. 1, 10), de tal modo que serátudo em todos.

Mesmo sem, muitas vezes, nos aper-cebermos da dimensão e da profundi-dade deste mistério da vinda do Filhode Deus à cidade dos homens, todoso celebramos, servindo-nos dos mais

diversos meios. Por-que o Natal é uma

verdadeira festa da hu-manidade que se sente

renovada em Jesus daNazaré. Não nos admira,

pois, que nesta quadra semultipliquem os gestos de fra-

ternidade e de partilha. Uma festanão tem sentido se aquele que a faz

estiver sozinho, isolado, olhando ape-nas para dentro de si. A verdadeira festaexige abertura àqueles que caminhamao nosso lado, todos com os olhos pos-tos na mesma direcção. Que outra coisasignificavam, até há poucos anos, asdezenas de cartões de “boas festas” queenviávamos uns aos outros, a não seresta necessidade interior de abertura aosque connosco partilham a condição dagrande família humana? E, nos nossosdias, as centenas de mensagens através

dos no-vos meios

de comunicaçãotêm sentido diferen-

te? E as prendas, essaspequenas coisas que nos oferecemosnesta quadra, não significam, tambémelas, este impulso em festejarmos omaior acontecimento da história hu-mana?

Esta não é apenas uma celebraçãoreligiosa, no sentido mais comum dotermo, mas uma celebração humana,que adquire o seu inteiro sentido nestereconhecimento que, aos poucos, ahumanidade vai fazendo da dignidadede todos presente em cada um, semexclusão de ninguém por razão alguma,nem de raça, nem de credo, nem deopção de vida. O Natal, comemorandoo nascimento de Cristo, o restaurador dahumanidade, é verdadeiramente a festada fraternidade universal! Nem outrosentido tem a mensagem do Anjo que,de novo, desce das alturas para desejar“paz na terra aos homens que Deusama” (Cfr. Lc, 2, 14).

Cumprindo uma tradição de há muitos anos, aMedalhística LUSATENAS acaba de lançarmais uma bela obra de arte, que bem podeconstituir uma excelente alternativa para pren-das natalícias. Trata-se de uma Medalha alusi-va ao Natal de 2006. Da autoria do escultor

Jorge Coelho, a medalha tem um módulo de90 mm e está cunhada em bronze – ou seja, éuma oferta que perdurará pela vida fora, aindapor cima a um preço acessível (está à vendanos locais habituais, que poderão ser dados aconhecer através do telemóvel 917 610 716).

Como é hábito, a Medalha de Natal vemacompanhada de um texto alusivo à quadra,da autoria do padre A. Jesus Ramos, Professorde História da Igreja.É esse texto que a seguir reproduzimos, coma devida vénia:

AAnnttóónniioo RReeiiss && MMaarrqquueess,, LLddaa..

Execução de todo o tipo de calçadas

–– DD ee ss ee jj aa -- ll hh ee FF ee ss tt aa ss FF ee ll ii zz ee ss –– Rua da Igreja, 19 - Telef. 969 288 893 - 3025-501 - S. Martinho de Árvore

1100 NNAATTAALL

Natal: a grande festada fraternidade universal

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DE 13 A 26 DE DEZEMBRO DE 2006

CONSERVATÓRIO OFERECE PRENDA À CIDADE

Música vai invadir CoimbraO Conservatório de Música de Coim-

bra vai oferecer uma prenda de Natal àcidade nos próximos dias 15 e 16 (sex-ta-feira e sábado).

Assim, depois de amanhã (sexta-fei-ra), a Baixa de Coimbra será animadapor alunos e professores do Conser-vatório, e ainda de outros músicos,naquilo que deverá ser “uma propostade novos rituais natalícios que ajudem ahonrar o espírito da quadra e a dinami-zar o património monumental e opequeno comércio” – como refere a Co-missão de Pais dos Alunos doConservatório. Esta intervenção contacom o apoio da Câmara Municipal deCoimbra e da Comissão de Festas daCidade.

No sábado, será a vez de uma interven-ção no Centro Comercial “Dolce Vita”.

De acordo com a citada Comissão,“procurou-se um centro cultural por um

dia, um auditório para o Conservatório.A escolha do Dolce Vita garantiu umespaço frequentado e livre de intempé-ries, um exercício pedagógico de adap-tação de reportórios e um parceiro sen-sível à dignidade do projecto e da insti-tuição em causa”.

E os membros da Comissão acres-centam:

“Para uma e outra datas, a fórmulaque se propõe é a de uma participaçãomaciça de músicos, estudantes e profes-sores, bem como de outros músicossolidários com o projecto. Esta é uma

oportunidade para unir a cidade numacausa de consenso inatacável e cujoresultado positivo só pode redundar noreforço da auto-estima para o Con-servatório e para Coimbra”.

EMBORACOM PROJECTO APROVADOCONSERVATÓRIO FUNCIONAEM MÁS CONDIÇÕES

E a que se deve esta inesperada pren-da, que promete assumir-se como umacontecimento inédito em Coimbra, emtermos de animação musical da cidade?A resposta é dada pelos responsáveispor esta curiosa inicitiva:

“O estudo do projecto de arquitectu-ra do novo Conservatório de Coimbra jáfoi aprovado. Não estamos seguros,todavia, de haver uma calendarizaçãoclara do início e sequência de uma obra

por que esta cidade da cultura espera hámais de 20 anos. Em 2003 um alto res-ponsável afirmava à imprensa que aCasa da Música de Coimbra estariapronta em 2007. Agora, uma perspecti-va optimista aponta para mais 4 ou 5anos. O último improviso empurrou oConservatório para uma difícil coabita-ção com uma escola secundária da peri-feria, onde se dividiram com tabiquesalgumas salas para caber o mais possí-vel. Não há auditório. Não há condiçõespedagógicas mínimas. Os ensaios daorquestra funcionam no bar”.

E é perante esta realidade que surge ainteressante oferta à cidade:

“As associações de pais e de estudan-tes e representantes dos órgãos da esco-la, realçando, pela positiva, a recentegarantia de avanço do projecto por partedo Ministério da Educação, vão agoraempenhar-se numa campanha assertivade reforço da imagem positiva da insti-tuição e de sensibilização para a impor-tância de um tecto para a dança e a

música digno das ambições de Coim-bra. O que se propõe para 15 e 16 deDezembro é uma prenda de Natal doConservatório para a cidade”.

E concluem:“Para os conimbricenses, será a opor-

tunidade de observar uma pequenamontra da vasta incidência pedagógicade uma escola artística de que dependea qualidade do ensino da música naregião”.

Maquete do futuro Conservatório de Música

O Presidente da Câmara Municipal de Coimbradeseja a todos, particularmente àqueles

que vivem em situação de privação ou sofrimento,um Santo Natal vivido em solidária comunhãoe formula votos de um Ano Novo mais feliz.

OO PPrreessiiddeennttee ddaa CCââmmaarraa MMuunniicciippaall ddee CCooiimmbbrraa

Carlos Encarnação

NNAATTAALL 1111

Page 12: O Centro - n.º 16 – 13.12.2006

DE 13 A 26 DE DEZEMBRO DE 2006

“Natividade”Vasco Fernandes (Grão Vasco), activo entre 1501 e 1540

NatalNatal... Na província neva.Nos lares aconchegados,Um sentimento conservaOs sentimentos passados.

Coração oposto ao mundo,Como a família é verdade!Meu pensamento é profundo,Estou só e sonho saudade.

E como é branca de graçaA paisagem que não sei, Vista de trás da vidraça Do lar que nunca terei!

Fernando Pessoa(Notícias Ilustrado,

nº 29, 30 de Dezembro de 1928)

NatalHoje é dia de Natal.O jornal fala dos pobresem letras grandes e pretas,traz versos e historietase desenhos bonitinhos,e traz retratos tambémdos bodos, bodos e bodos,em casa de gente bem.Hoje é dia de Natal.- Mas quando será de todos?

Sidónio Muralha

Pai NatalPai Natal, vem, por favor!Traz zincos p’rás escolas,Traz giz, traz quadros,Cadernos, lápis e livros!raz carteiras e armários,E professores e alegria!

Pai Natal, vem, por favor!Traz a chuva e verdura,E frutas, milho e arrozNos campos dos nossos pais!Harmonia entre os adultos,P’ra nós, a certeza da paz

Xanana Gusmão

NatalOutro natal,Outra comprida noiteDe consoadaFria,Vazia,Bonita só de ser imaginada.Que fique dela, ao menos,Mais um poema breveRecitadoPela neveA cair, ao de leve,No telhado.

Miguel Torga,Antologia Poética

1122 NNAATTAALL

Page 13: O Centro - n.º 16 – 13.12.2006

PPUUBBLLIICCIIDDAADDEE 1133DE 13 A 26 DE DEZEMBRO DE 2006

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PRÉDIO RUIUAcaba de ruir o prédio que se encon-

trava em estado crítico na zona daPortagem. A Baixa (nunca houve, nemnunca haverá “baixinha”...) está velha.A cair.

Que tristeza.(publicado no blogue

em 1 de Dezembro)

MEIO SÉCULODE EUROPA UNIDA

Este foi o logótipo escolhido para assi-nalar os 50 anos do Tratado de Roma.

O autor, o polaco Szymon Skrzypc-zak (na foto), 23 anos, estudante daAcademia de Belas Artes de Poznan,recebeu um prémio de 6.000 euros.

Os 10 logótipos finalistas estão emhttp://ec.europa.eu/avservices/50/index_en.cfm

(publicado no blogueem 30 de Novembro)

POLÍTICOS“Quando o manobrismo se instala no

seio da democracia, percebemos que éurgente repensar o sistema político, asresponsabilidades individuais e a formade participação. Assim, caminhamos parao abismo. Para que o poder seja servidopor uma legião de serventuários, acéfalos,mesquinhos e medíocres cuja política édo tamanho do seu umbigo. Vamos mal.E não se enxerga luz ao fundo do túnel”.

(Francisco Moita Flores,ontem, no “Correio da Manhã”,

a propósito da rotação de deputadosdo PCP na Assembleia da República;

publicado no blogueem 29 de Novembro)

VICTOR BAPTISTA,DEPUTADO SOCIALISTA

Acabo de ouvir na TSF o deputadoVictor Baptista a discursar na Assem-bleia da República, a defender com vi-gor o ministro das Finanças. “Indigna-díssimo”, afirmou o jornalista.

Victor Baptista, deputado socialista,a defender um ministro socialista. E ausar palavras como “indigna”, “inacei-tável” e “inadmissível” para classificaruma declaração de um deputado doPSD, que comparou o político portu-guês ao célebre ministro da Informaçãode Saddam Hussein.

Como eu gostava de ver (neste caso,ouvir) Victor Baptista, meu conterrâ-

neo, a lutar com o mesmo vigor, na As-sembleia da República, contra a co--incineração de resíduos industriaisperigosos que o Governo quer “atirar”para o concelho de Coimbra.

(publicado no blogueem 28 de Novembro)

FRASES“No preciso momento em que por todo

o mundo se procura ligar cada vez mais aspopulações ao seu representante, indivi-dualizando, responsabilizando, discutin-do os círculos uninominais, o directóriodos comunistas portugueses revela-nosque encara as pessoas, mesmo os ‘cama-radas’, como meros instrumentos, descar-táveis, ao serviço da acção do partido”.

***“Curiosamente, este é o mesmo par-

tido que denunciava a sucessão deDurão Barroso por Santana Lopes como argumento de que lhe faltava a legiti-mação do voto popular”.

***“O PCP afirma-se contra uma gera-

ção de recibos verdes, no mundo do tra-balho, mas é, ao mesmo tempo, e pelaprática, a favor dos políticos cobardes,medíocres, que tudo façam para mere-cer a ‘confiança’ do partido não pou-pando nas doenças da coluna”.

***“Alguém me explica o que separa,

afinal, o simpático camarada Jerónimode Sousa do capitalista mais brutal? Eunão vejo diferença”.

(João Marcelino, in “Sábado”;publicado no blogueem 1 de Dezembro)

VITÓRIA NA FIGUEIRA DA FOZA minha equipa venceu a Naval, na

Figueira da Foz, por 3-1.Ao intervalo, a Académica já vencia

por 2-1, depois da Naval se ter coloca-do em vantagem logo no 1.º minuto,num lance de passividade defensiva ede infelicidade do guarda-redes.

Os golos da minha equipa foram mar-cados por Flávio (25 minutos), Rodrigo(31 minutos) e Rodolfo (64 minutos).

Em termos gerais, a Académica osci-lou no primeiro quarto de hora. Noentanto, depois de ter chegado à igual-dade passou a existir apenas uma equi-pa em campo: a de Coimbra.

Com a efeito, a partir do 1-1 e até aointervalo, a minha equipa voltou a exi-bir-se ao melhor nível. Adivinhava-se avantagem e ela chegou mesmo aindaantes do descanso.

Na 2.ª parte, a Académica continuou amandar no jogo, embora com menor bri-lho exibicional. O resultado chegou a 3-1,mas só Rodolfo falhou um par de oportu-nidades flagrantes. Num destes lances, oavançado foi derrubado pelo guarda-redesfigueirense, mas o árbitro nada assinalou.

No próximo domingo, a Académicarecebe na Pedrulha o Boavista, com quemperdeu na 1.ª volta por 2-1. A jogar como ofez hoje nos minutos finais da 1.ª parte, aminha equipa chegará certamente à vitória.

(publicado no blogueem 10 de Dezembro)

1144 AA PPÁÁGGIINNAA DDOO MMÁÁRRIIOO DE 13 A 26 DE DEZEMBRO DE 2006

Mário Martins

[email protected]

Não é fácil – mas, ao mesmo tem-po, não é difícil – escrever sobre opadre Augusto Nunes Pereira.

Não é difícil porque vivi largosanos na pobre paróquia de que eraresponsável, a de S. Bartolomeu, emCoimbra. Conheci-o bem e ele tam-bém me conhecia. Foi ele que mebaptizou, deu a primeira comunhão,presidiu à celebração da “profissãode fé”, esteve presente no Crisma e,mais tarde, teve a gentileza de se des-locar a Castanheira de Pêra, do“outro lado” da serra da Lousã, paraestar no meu casamento. No planoafectivo, era uma pessoa da família.

Foi ele, também, o primeiro chefede Redacção que conheci, no cubícu-lo apertado onde se delineava o“Correio de Coimbra” – ele, o cóne-go Urbano Duarte e a escritora MariaEspiñal foram os meus primeiros“modelos vivos” de jornalista.

Por tudo isto, é muito fácil escre-ver sobre o padre Nunes Pereira – epermitam-me que assim o refira, por-que foram estes os vocábulos quemais utilizei para comunicar comele. (Nos últimos anos, quando o en-contrava, tratava-o por monsenhor,mas achei sempre que era uma pala-vra que não se coadunava com a suapersonalidade. Monsenhor parecetransmitir um certo “estatuto” dediferença – e o padre Nunes Pereirafoi sempre um homem simples ehumilde, pobre entre os pobres, igno-rado entre os ignorados da vida.)

Não é difícil escrever sobre opadre Nunes Pereira. Poderia recor-dar a azáfama tranquila com que pre-parou a primeira exposição na gale-ria de “O Primeiro de Janeiro”, a doispassos da sua igreja. Ou recordarcomo justificou os valores tão baixosque atribuiu às peças que iria mos-trar: “Não estás a ver? Estão assina-das ‘NP’. Sabes o que quer dizer?...Que não prestam!”. O excesso dehumildade.

Ou lembrar as tertúlias, em quenunca participei, n’“A Brasileira”,também ali ao lado, que olhava des-lumbrado da porta do café. Ou a dis-tribuição de leite e queijo oferecidospor Cáritas internacionais, que ele ea irmã, a D. Maria Adelaide, distri-buíam nos anos 60 pela gente maiscarenciada da paróquia – quasetodos.

Tantas, tantas recordações... Co-mo a daquela manhã de sábado, jáele vivia na casa de madeira pré--fabricada, junto à ponte da Portela,em que alguns amigos lhe foramlevar um gravador de vídeo, compra-do entre todos, para que pudesseregistar o programa/entrevista quenessa tarde a RTP2 iria transmitir.

Estive com ele menos de umasemana antes de morrer. Não sei aindahoje porquê, naquela tarde de sábadodecidi pegar no carro e ir a Mon-temor-o-Velho, assistir à inauguraçãoda exposição de trabalhos do padreNunes Pereira. Foi a última. E tam-bém ainda hoje não consigo explicar a“febre” que senti e que me levou naaltura a tirar umas boas dezenas defotografias. São as últimas.

Não seria difícil lembrar tantosoutros episódios. Mas a verdade éque continua a ser muito difícilescrever sobre o padre Nunes Pereirae recordar que ficou por cumprir umpedido que tantas vezes fez:“Quando é que vamos a Fajão, paraconheceres a casa-museu?”. – Umdia destes, padre Nunes Pereira –respondia-lhe mecanicamente, con-vencido que, mais dia menos dia,faríamos a viagem. Ficou por fazer.

Acompanha-me essa mágoa.No entanto, a maior dificuldade

em escrever sobre o padre AugustoNunes Pereira são estas lágrimas tei-mosas que toldam a visão e dificul-tam o encontrar das teclas.

(texto publicado na edição deDezembro de 2006 do “Mensageiro

de Santo António”; publicado noblogue em 3 de Dezembro de 2006)

Nunes Pereira: o “meu padre”

A última exposição

Page 15: O Centro - n.º 16 – 13.12.2006

DDEESSPPOORRTTOO 1155DE 13 A 26 DE DEZEMBRO DE 2006

EXTRACTO PARA PUBLICAÇÃOJorge Coutinho da Costa, primeiro ajudante do Terceiro Cartório

Notarial de Coimbra, a cargo da notária, Maria Olímpia Correia Colaço,certifica para efeitos de publicação que por escritura de hoje, exaradaa folhas 104, do Livro de Notas para escrituras diversas 617-A, desteCartório, Aires Rodrigues Mortágua da Fonseca, NIF 104.436.360, emulher, Maria da Conceição Mendes Ferreira, NIF 137.551.088,casados sob o regime da comunhão de adquiridos, naturais de Coim-bra, ele de S. João do Campo, ela de S. Silvestre, onde residem na Ruado Varela, n.º 18, FOI DECLARADO:

Que são donos e legítimos possuidores, com exclusão de outrem,do seguinte imóvel, situado na freguesia de S. Silvestre, concelho deCoimbra:

Prédio urbano composto de casa de um pavimento sito no lugar deCasal Varela, com a área coberta de vinte metros quadrados, a con-frontar do Norte com serventia de inquilinos, do Sul e do Nascente comJosé Correia da Fonseca e do Poente com Maria da Conceição MendesFerreira, inscrito na respectiva matriz sob o artigo 179, com o valorpatrimonial tributário de 95,93 €.

Que este prédio não se encontra descrito na Primeira Conservatóriado Registo Predial de Coimbra.

Que este prédio veio à sua posse em data que não podem já preci-sar, mas que se situa no ano de mil novecentos e setenta e quatro,quando lhes foi ajustado doar por José Branco Ferreira e mulher, Emíliade Jesus Mendes, pais dela, justificante mulher, residentes que foramem S. Silvestre, Coimbra.

Contudo, nunca chegaram a formalizar a ajustada doação atravésda necessária escritura pública, nem pode a mesma ser agora formali-zada, em virtude daqueles antepossuidores já terem falecido.

Que, no entanto, desde aquele ano de mil novecentos e setenta equatro, que entraram na posse do identificado prédio, em nome próprio,agindo sempre por forma correspondente ao exercício do direito de pro-priedade, aproveitando todas as suas utilidades, usufruindo-o, e custean-do os respectivos encargos, tudo com o conhecimento de toda a gente,sem violência e sem oposição de quem quer que seja, e, ininterrupta-mente, até hoje.

Que, assim, tendo exercido sobre este prédio, em nome próprio,uma posse pública, pacífica e contínua, que dura há mais de vinteanos, justificam a sua aquisição pela usucapião.

Está conforme com o original.Coimbra, 29 de Novembro de 2006.

O 1.º ajudante,(Jorge Coutinho da Costa)

CENTRO, N.º 16 de 13.12.2006

TORNEIO E ESTÁGIO INTERNACIONAL DE MÚRCIA

Judoca de Coimbra decidiu triunfo lusoJorge Fernandes, atleta do Judo Clube

de Coimbra (JCC), contribuiu de formadecisiva para o 1.º lugar conquistadopela selecção masculina portuguesa noTorneio Internacional de Múrcia, emEspanha, que ditou ainda a 3.ª posiçãoda equipa feminina de Portugal.

O judoca conimbricense não perdeunenhum dos combates em que partici-pou. Depois de terminarem empatados,Portugal e Espanha tiveram de decidirentre si o vencedor da competição. Foi,então, necessário definir um combate

para a final, tendo sido a categoria de -73 quilogramas a sorteada.

As duas selecções já se tinham encon-trado na poule, assim como JorgeFernandes e o espanhol mais forte dacategoria. Os confrontos foram semprebastante renhidos, com o empate a vigo-rar nesta fase em dois combates. Umresultado que se repetiu mais duas vezesno derradeiro e decisivo frente-a-frente.

A necessidade de recorrer ao ponto deouro surgiu e Jorge Fernandes não dei-xou os créditos por mãos alheias, aca-

bando por vencer a competição. O árbi-tro espanhol teve de premiar a atitudeofensiva do português, castigando ojudoca espanhol por falta de combativi-dade.

Após uma vitória com contornosraros, a comitiva portuguesa permane-ceu em Espanha para participar no está-gio. Os 15 judocas lusos aproveitaram aoportunidade para estar em contactocom atletas de outros países e consolidara experiência internacional, que, emalguns casos, já é muita.

JUDO

Quem se lembra da Académica?Carlos Carranca

Perante o seu estado calamitoso – se-gundo informação que a imprensa não secansa de veicular – a Académica O.A.F.não precisa de equilibrar as contas, mas deuma revolução capaz de provocar umacatarse e um renascimento.

A Académica não traz consigo as suasmarcas identitárias.

Sem estudantes e sem Academia, comuma caterva de políticos – gestores do blo-co dos interesses –, parece um edifícioprestes a ser implodido. Sem originalidade,sem força, sem carácter para criar algo seu,resta a fé clubística aos que do clube aindaguardam a memória.

Rebaixada e perdida, a Académica maisnão faz do que dobrar-se diante dos agio-tas, extinguindo-se gradualmente na justaproporção dos credores que se agigantam.

Esta Académica tem vindo a afastar osque mais a respeitam, os que lhe querem deverdade.

Há como que uma atmosfera intolerá-vel, que se deposita nas almas, uma triste-za contínua.

Resta-nos a recordação de um tempohistórico como sensação da identidadeconservada.

Um fundo de melancolia e de profundadesconfiança de si mesma vai enchendo ocenário da nossa representação.

Hoje somos assim.Quem se lembra da Académica?

OO PP II NN II ÃÃ OO

Formação da Académica no ano de 1969

Page 16: O Centro - n.º 16 – 13.12.2006

1166 OOPPIINNIIÃÃOO DE 13 A 26 DE DEZEMBRO DE 2006

O MULTILINGUISMONA UNIÃO EUROPEIA

(…) Com o passar dos anos e suces-sivos alargamentos, a União Europeia(UE) vai ganhando cidadãos e novaslínguas. Neste momento, o arco-írisidiomático já é composto por vinte lín-guas oficiais, correspondendo a 25Estados membros (EM), uma vez que aAlemanha e a Áustria partilham o ale-mão, o Reino Unido e a Irlanda, oinglês, a Grécia e Chipre, o grego, e aBélgica e o Luxemburgo partilham aslínguas dos vizinhos franceses, neerlan-deses e alemães.

A diversidade linguística está consa-grada na Carta Europeia dos DireitosFundamentais e é um valor central daconstrução europeia, ainda que, doponto de vista pragmático, acarrete ini-ludíveis dificuldades e elevados custos.Para pôr a funcionar esta moderna Torrede Babel, é necessário um exército detradutores e intérpretes.

(…) Em teoria, todas as línguas sãoiguais, mas na prática, há situações dehierarquia e privilégio. Até porque nãotêm todas a mesma projecção e o mes-mo potencial internacional. Não há ino-cência nem acaso nas escolhas linguísti-cas.

O português é uma das grandes famí-lias linguísticas do mundo actual e é umcaso singular na Europa e no mundo –língua comum de oito países, falada porduzentos milhões de pessoas, espalha-das pelos cinco continentes –, pelo quedevia ter um lugar especial no conjuntodas línguas oficiais europeias. É a ter-ceira língua da União Europeia maisfalada no mundo. Depois do inglês e doespanhol e antes do alemão, do francêse do italiano. E o seu legado histórico éinestimável, pois foi a primeira línguaeuropeia a estabelecer uma verdadeiraponte cultural entre o Ocidente e oOriente. A língua de Camões devia terna UE um estatuto correspondente à suaprojecção internacional. Por isso impor-ta – nas palavras de Miguel Torga – tor-

nar conhecida da “Europa culta” a lín-gua portuguesa “para que a singularida-de expressiva de um povo (…) possa deora avante patentear à curiosidade cos-mopolita toda a sua riqueza e originali-dade”. É um dever dos deputados portu-gueses no PE.

u Edite EstrelaDN 10/DEZ/06

O CLUBE NUCLEARUns dizem que o Mundo acabará num

grande fogo, outros afirmam que seránum grande gelo”, dizia Robert Frost. Oclube nuclear é o mais perigoso do Mun-do, mas não cessa de aumentar.

O Paquistão por exemplo, está aconstruir um novo reactor nuclear, emKhushab (Sudoeste de Islamabad),capaz de produzir 40 a 50 ogivas atómi-cas no espaço de um ano. Islamabadacaba ainda de testar o foguetão HaftIII, com 290 quilómetros de alcance.Quanto à Índia, seu ex-inimigo e per-manente rival (agora com combustívelnuclear americano), moderniza o seuarsenal atómico e poderia hoje dispararmísseis da superfície e do fundo do mar,a partir de submarinos silenciosos.

A China continua a aperfeiçoar as suasarmas de ‘dissuasão’, Israel tem umareserva não declarada de munições de‘juízo final’, os EUA e a Rússia mantêmfrotas importantes (sempre actualiza-das) de vectores estratégicos e, naUnião Europeia, França e Reino Unidodecidiram continuar com este tipo desistemas, hoje mais pequenos mas maissofisticados.

A Coreia do Norte põe-se tambémem bicos dos pés, mas a sua arma podeser negligenciável.

Por outro lado, de Moscovo conti-nuam a chegar notícias alarmantessobre a existência de um “grupo empre-sarial criminoso, com acesso a tecnolo-gia nuclear”, que estaria por detrás do‘ajuste de contas’ com Litvinenko (…).

u Nuno Rogeiro (politólogo)CM 10/DEZ/06

O SACRIFÍCIOE A MISERICÓRDIA

(…) Afinal, um Deus que precisassede sacrifícios era um Deus pior do queos seres humanos, quando vivem umahumanidade boa e feliz. Que pai ou mãequer que os filhos andem de joelhos oude rastos diante deles e lhes ofereçamsacrifícios?

O sofrimento pelo sofrimento é inútile deve-se combatê-lo, bem como àsreligiões doloristas que pregam o sofri-mento como agradável a Deus e a viamais directa para o céu. Deus não preci-

sa nem quer sacrifícios. Deus, que éamor, quer amor e justiça para todos,dando preferência aos marginalizados eaos pobres. Mas cá está. A prática doamor e da justiça, a contribuição realpara uma sociedade boa e justa e maisfeliz implicam capacidade de sacrificar-se. Agora, porém, é diferente: não setrata do sacrifício pelo sacrifício, masdas melhores causas da vida, que inevi-tavelmente exigem renúncia, entrega,doação.

(…) Quando se fala de nova evange-lização, é disto que se trata: acreditar,com todas as consequências, noEvangelho enquanto notícia boa doDeus que é amor e que não tolera víti-mas. De facto, é em nome do Deus quequer vítimas que nós próprios, pelaguerra, mediante a exploração omnímo-da e sem escrúpulos, continuamos afazer vítimas. Deus, porém, o que queré misericórdia. A paixão por Deus tra-duz-se por compaixão real e efectivapara com os homens e mulheres.

Também em Portugal as questões dajustiça social têm de ser prioritárias.

u Anselmo Borges(padre e professor de Filosofia)

DN 10/DEZ/06

CAMARATE E O BRUXOFez no passado dia 4 26 anos que

aconteceu o acidente de Camarate. Otempo suficiente para o homem queafirma ter feito a bomba se considerar àvontade para confessar publicamente oseu feito. Mas o confesso artesão debombas provocou, agora, outro aciden-te. O romance ‘Camarate’ foi uma espé-cie de certidão de óbito dos investiga-dores a ele ligados. Os autores do aten-tado brincaram com as mais sérias insti-tuições deste País. Com as polícias queinvestigaram, com os deputados queinquiriram, com os magistrados queacrescentaram o condimento a toda estasopa. Mas nada. O romance tornou-seinterminável e foi apanhado por esseletal instituto da prescrição. Mas pro-metia continuar a atormentar as almasdos mais determinados em encontrar-lhe um fim condigno. Eis senão quandodo alto da alta protecção que lhe conce-dem a lei penal e as forças ocultas, suaarma preferida, o multifacetado bruxoJosé Esteves, homem que já tudo fez navida, resolve escrever o seu próprio epí-logo. Foi bomba, sim senhor. E foi elepróprio que a fez e entregou no localcombinado com os seus clientes. Erauma brincadeira, acrescenta, à cautela,não vá o diabo tecê-las. Destinava-se apregar um susto ao general Soares Car-

neiro, torná-lo numa vítima e facilitar asua eleição para a Presidência da Re-pública. A história está bem caçada. Enão é menos fantástica do que a óperabufa que a antecedeu e durou estes 26anos. (…)

u João Marques dos Santos(advogado)

CM 08/DEZ/06

CAMARATE E A JUSTIÇAVinte e seis anos depois do acidente

de Camarate que vitimou Sá Carneiro eAmaro da Costa, ainda persiste, paraalguns, o fantasma da tese de atentado.Infelizmente, esta tragédia trouxe pro-moção e visibilidade pública a certaspessoas e, para alguns partidos, apro-veitamento político em determinadosciclos eleitorais.

A dignidade humana e a importânciadas pessoas que aí morreram impunhamoutro respeito. De facto, já não hápachorra para, novamente, se assistir aeste ruído e a insensatas declaraçõespúblicas que de nada servem.

O processo Camarate foi investigadopela Justiça portuguesa até à exaustão,com centenas de relatórios de peritospara todos os gostos, com a produção detodo o tipo de prova admissível emDireito, com inúmeros exames, comexumações variadas aos corpos das víti-mas e com incontáveis comissões deinquérito parlamentar. É um recordedigno de ser assinalado em toda aHistória da Justiça em Portugal.

Não é possível continuar-se nestamentira artificiosa, neste enredo quetem alimentado a tese de atentado.

(…) Portugal não julgou Camarateporque não existiam quaisquer indíciosno processo que apontassem para a tesede crime. Esta foi a convicção segura demuitos juízes e procuradores doMinistério Público que, ao longo desta‘novela’, trabalharam neste processo. Émuito bom para a nossa Justiça que esteprocesso seja julgado no TribunalEuropeu dos Direitos do Homem, paraque, de uma vez por todas, se ‘santifi-que’ a tese de acidente. E, já agora,quanto ao retardado confesso da teoriada bomba (a cinematografia americananem sabe o que perdeu), poderia seraccionada pelos ofendidos, a justiçacivil, para efeitos de eventual indemni-zação.

u Rui Rangel (juiz)CM 03/DEZ/06

A HORA DIFÍCIL DO PSDO PSD está incandescente. Os níveis

de insatisfação no seio da família social--democrata são elevados. E se até aqui

itações

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esse descontentamento foi suportadocom silêncio, a verdade é que agora elese manifesta às escancaras com picardi-as, entre alguns barões do partido, defazer chorar as pedras da calçada.

Marques Mendes não tem tido vidafácil desde a sua investidura, mas agoraa coisa está preta. Luís Filipe Menezesveio a terreiro partir a louça e insurgir-se contra o líder mas sem cuidar de refe-rir que os tempos estão difíceis paraqualquer personalidade que esteja notopo do partido.

Sócrates tornou-se um peso-pesadoda política. Transformou-se num adver-sário temível para qualquer dirigentesentado nos bancos da Oposição.Marques Mendes, que por si própriotem fragilidades conhecidas, nos con-frontos com Sócrates tem sido literal-mente cilindrado. É evidente que osmilitantes e simpatizantes do PSD nãosuportam ver assim a sua organizaçãopolítica. Luís Filipe Menezes, ao avan-çar com tanto pundonor contra o líder,apontando as incapacidades, nãomelhora a questão mas corporiza, dávoz, ao descontentamento no seio doPSD. Este avanço de Luís Filipe Me-nezes espevita a alma social-democratamas não o coloca como alternativa aoactual líder. Diria até que comprometeesse sonho/desejo que vem de longe.

u Emídio Rangel (jornalista)CM 02/DEZ/06

A TELEVISÃO DA CANALHASeria injusto proceder a juízos e pro-

cessos de intenção contra o ministroAugusto Santos Silva a propósito dasmedidas que o governo tenciona tomarpara a comunicação social. Como fre-quentemente se descobre, as televisõestêm um poder excessivo sobre todosnós. Não é por culpa das televisões; épor nossa culpa e é por culpa das elitesque deveriam ter pensado duas vezesantes de se associarem à televisão dacanalha. E a televisão da canalha está aítodos os dias.

Não é nenhum dos canais em especi-al – é a televisão e o seu poder de trans-formar em agressão e abjecção tudo ouquase tudo aquilo em que toca. Tambémé verdade que podemos ser injustosquando se toma a parte pelo todo; a tele-visão é um bem essencial para a nossacivilização, tanto quanto uma ameaça.Falar sobre ela é caminhar sobre o fioda navalha todo o discurso sobre a tele-visão está marcado pela tentação dacensura e podemos admiti-lo à vontade.É normal que assim seja depois de verprogramas abjectos, de ver os nossosfilhos manipulados por telenovelas gro-tescas, de assistir a telejornais tendenci-osos, de vermos a invasão da esferapública pela pornografia, de ouvir errosde gramática, de ouvir jornalistas igno-rantes, de ver “figuras públicas” servi-rem-se do ecrã – enfim, de assistir àtransformação da televisão em janelapara o pior que há na vida inteira.Nessas condições, qualquer um de nóssente uma pequena inclinação para acensura.

É certo que podemos censurar emcasa, no recato das coisas domésticas.Por exemplo a novela “Morangos comAçúcar” mostra uma jovem palermaque telefona a alguém a pedir drogaporque os pais vão divorciar-se. Te-remos de ser compreensivos? Ou, comopedem os pedagogos, reuniremos afamília e tentaremos explicar que aqui-lo é um exagero? Às dez da manhã, umatelevisão mostra a promoção de umfilme para maiores de 18 anos, justa-mente quando a minha filha vê um pro-grama infantil. Fazer o quê? E os anún-cios agressivos e pobres de espírito? E asubstituição, no cabo, do excelenteGNT pela triste e miserável RedeRecord? (…)

u Francisco José Viegas (escritor)JN 04/DEZ/06

BALANÇO PAPALPeregrinação e política, a visita de

Bento XVI à Turquia foi um reconhecidoêxito. Para o Vaticano e para Ancara.Relembrou ao Mundo que o Papa, mes-mo sem divisões armadas, não tem medo.Mostrou ao Mundo que a Turquia moder-na é um país civilizado, seguro, interessa-do no diálogo de culturas e religiões.

Nas ruas, os nacionalistas defende-ram o secularismo e os islâmicos luta-ram pela manutenção da sua fé. Quantoa Joseph Ratzinger, acenou às duasmassas.

Começou por visitar o mausoléu deAtaturk, símbolo do Estado laico, eorou na Mesquita Azul, ao lado doGrande Mufti de Istambul, e do imã dotemplo.

u Nuno Rogeiro (politólogo)CM 03/DEZ/06

LISBOA E CRIMINALIDADE(…) A metrópole de Lisboa, simboli-

camente centrada na capital mas comum quadro de expansão que vai muitopara além dos seus limites administrati-vos, absorveu vilas, cidades e concelhoslimítrofes, estendendo-se para lá do rioaté Alcochete e Setúbal e é, por si, pro-dutora de mais de 50 por cento da crimi-nalidade que ocorre em todo o País.

Não admira. Esta concreção de gen-tes, em perpétuo movimento, de origemdiversa, formadas em quadros culturaisbem diferentes, produz uma multidãode determinações, expectativas e objec-tivos aos quais a miragem de ‘grandecidade’ não acrescenta realizações. Co-mo se não bastasse esta ausência desolidariedades horizontais, é sabido queo crescente desvanecimento das rela-ções de vizinhança, a desagregação dasrelações de interconhecimento indivi-dual, a exaltação de mitos que elegem oconsumo e o prazer como os ícones dosucesso, a rápida secularização doscomportamentos desvanecendo as anti-gas relações de autoridade vão abrindocaminho para a assumpção de condutasanormais como forma de manifestaçãoe de conquista de poder numa metrópo-le onde os vários poderes ‘normais’crescentemente se vão dissolvendo.

A violência que em Chelas atiroucom um número significativo de jovenspara o limite entre a morte e a vida saidesse microcosmos de grupos com umaordem interna que já não se reconhecena ordem externa, socialmente tidacomo boa, e que o Estado e o poderpolítico persegue como finalidade dasua própria realização. E não vale a pe-na criar estatísticas optimistas. Confor-me aumenta a força da metrópole maiorserá o aumento da violência através deactos como este, ou outros que matampolícias, matam mulheres indefesas,matam sem parar.

É a expressão manifesta de que oproblema não é social nem policial. Épolítico. É o drama de saber ou não con-ter a voracidade sem limite da enormemancha metropolitana, dos seus mitos,das suas produções ideológicas. Umdesafio tremendo que a morte não dei-xará de acompanhar.

u Francisco Moita Flores(docente universitário)

CM 04/DEZ/06

DECRÉSCIMODE BUZINADELAS

Em 30 anos, Portugal viu o númerode automóveis decuplicar de 500 mil, noinício da década de 70, para cinco mil-hões, à entrada do novo século. A chaveda evolução é simples: o automóvel éum bem inestimável; transforma barrei-ras invencíveis em pequenas distâncias edá um novo sentido à nossa liberdade

primordial, a liberdade de deslocação.Entretanto, pagámos um preço eleva-

do pelo progresso. O número de vítimasmortais de acidentes rodoviários atingiuno início do ‘boom’, em 1975, o máxi-mo de 2676. Há dez anos, em 1996,ainda morreram 2100 pessoas na estra-da. Desde então, verificou-se uma dimi-nuição progressiva da sinistralidadegrave, que promete culminar, no ano emcurso, em menos de mil mortos.

Na vida pública actual, as ‘auto-estradas’ da informação nivelam peque-nos episódios e factos relevantes.Muitas vezes, não conseguimos distin-guir o essencial do acessório. Ora, adiminuição do número de mortes naestrada faz parte do essencial, porquecontribui para o aumento da esperançade vida que se registou desde os anos 70(de cerca de sete anos).

Esta diminuição da mortalidade temmúltiplas causas: melhores estradas,automóveis mais seguros, fiscalizaçãoreforçada e empenhamento político.

(…) Mas, acima de tudo, julgo que aevolução da sinistralidade se deve a umamudança de mentalidade dos condutores.Uma das manifestações mais visíveis (ouaudíveis) da mudança – creio que directa-mente proporcional à diminuição donúmero de mortes – é o decréscimo debuzinadelas nas estradas portuguesas. Essepormenor revela que a condução agressivatem perdido terreno, em benefício de umacondução defensiva e responsável.

u Rui Pereira (professor de Direito)

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1188 RREEPPOORRTTAAGGEEMM DE 13 A 26 DE DEZEMBRO DE 2006

GRANDE LISTA DE ESPERA NA ÚNICA ESCOLA DO PAÍS (EM MORTÁGUA)

Cães-guia mudam a vida dos deficientesCego aos 25 anos, Pedro Lima veio

engrossar a lista de candidatos portuguesesà atribuição de um cão-guia, mais de 60pessoas que esperam em média há trêsanos para encontrar a visão na ponta deuma trela.

Para este engenheiro civil do Porto,actualmente com 27 anos, o ideal seria játer o cão-guia quando, em Fevereiro,deixar a casa dos pais para viver sozinho.“Fiquei cego a 2 de Fevereiro de 2005numa explosão na pedreira em que trabal-hava e, poucos meses depois, candidatei-me a um cão”, contou à Agência Lusa.

Desde então, Pedro Lima estudouBraille, aprendeu a andar de bengala,deixou de ser engenheiro e agora gere osite de uma empresa de organização deeventos, uma reconversão profissional sópossível graças à ajuda de amigos e con-hecidos.

Espera que o cão-guia o ajude a superaras limitações de mobilidade porque não é“exímio na arte de bengalar”, melhore asua auto-estima e atenue os olhares de co-miseração que sente sempre que sai à rua,em suma, que seja os seus olhos.

Optimista, tem, no entanto, consciênciaque querer não é poder quando e mPortugal há apenas uma escola de for-mação de cães-guia e a lista de espera háanos que não baixa dos 60 nomes.

“Apesar do trabalho meritório da escola,os três educadores só conseguem entregar12 cães por ano e agora estão a fazer asreposições dos primeiros que entregaram -que passam à frente de toda a gente -, se euestiver no fim da lista...”, refere.

Lembra que tem a seu favor o factode ser activo, jovem e sociável, critériosdeterminantes para a Associação Beira-Aguiera de Apoio ao Deficiente Visual(ABAADV), entidade que gere a escolade cães-guia e que, desde 1999, já entre-gou gratuitamente 50. Ter entre 18 e 65anos, ser totalmente cego, exercer umaactividade profissional ou ser estudantee sair de casa diariamente são, segundoFilipa Paiva, directora técnica da esco-

la, condições essenciais para integrar alista de candidatos.

A responsável gostaria de, no futuro,conseguir responder aos cerca de 60 cegosem lista de espera e alargar a entrega gra-tuita de cães a pessoas que a penas saem decasa para praticar desporto ou participar navida de uma associação, à semelhança doque acontece, por exemplo, em Inglaterra,onde são entregues uma média de 100 cãespor ano.

Em Portugal, “num ano ideal, comoeste, conseguimos entregar 12 cães, mas noano passado só entregámos oito”, disse àAgência Lusa Filipa Paiva. A única escolade cães-guia do país deu os primeiros pas-sos em meados da década de 90, mas foi apartir da atribuição do estatuto de Ins-tituição Pública de Solidariedade Social,em 2000, que a sua actividade se tornoumais consistente.

CURSO DE TRÊS ANOSEM FRANÇA PARA SE PODEREDUCAR OS CÃES

A responsável gostaria de ter mais edu-cadores na escola, mas os custos inerentesaos três anos que dura a formação em

França têm inviabilizado este propósito.“Temos um acordo com a segurança

social que financia em 65 a 70 por cento anossa actividade, mas tudo o resto temosque inventar porque o mecenato socialainda está pouco presente na sociedadeportuguesa”, lamenta Filipa Paiva, queteme que o actual período de três anos deespera possa agravar-se. Na sua maioriafêmeas da raça Labrador Retriever ofereci-das ou criadas na própria escola, os cães-guia têm por missão conduzir o cego emsegurança por passeios, estradas, estaçõesde comboio e metro, evitando pessoas, car-ros mal estacionados ou postes.

Toda esta aprendizagem demora doisanos e, para além dos educadores, concen-tra dos esforços dos próprios cegos e dasfamílias de acolhimento, que os recebemdesde que nascem até à ida para a escola,com um ano.

Com a escola a responsabilizar-se pelaalimentação e saúde dos cachorros, àsfamílias cabe ensinar-lhes os primeiroshábitos de higiene e, por exemplo, que nãose rouba comida da mesa, nem se roemmóveis.

Manuela Moital, 59 anos, professoraaposentada da Figueira da Foz, tornou-se

família de acolhimento quando ofereceu àescola uma cadela, a Farrusca, que ficouem sua casa até ter idade para ser educada.

“Foi a primeira e custou-me muitodeixá-la ir, mas por outro lado sinto-meorgulhosa por saber que o meu trabalhocom o cão vai ajudar alguém”, disse àLusa.

Depois da Farrusca, vieram a Lee, a Nete a Osíris, e Manuela conseguiu a adesãodos dois irmãos para esta causa.

“Agora, além dos meus cães, tenhosempre os da escola para uns compen-sarem a partida dos outros, mas a sepa-ração é sempre dramática”, diz.

Tão dramática, quão emocionante é oreencontro, anos mais tarde, com os cãesque ajudou a formar.

“Estive dois anos sem ver a Farrusca e,quando fomos à cerimónia de entrega aocego, ela reconheceu-me só pelo olfacto.Não há nada que pague essa sensação”,lembra.

Com cães entregues do Algarve a Vianado Castelo, os principais pedidos chegamdos grandes centros urbanos de Lisboa ePorto.

É no Porto que vive o Júnior, entregue aMariana Rocha em 2004, depois dos habit-uais três anos de espera.

Licenciada em Direito, 27 anos,Mariana é cega desde pequena e tem emJúnior o companheiro de todas as horas,“um amigo” que tornou as suas saídasdiárias simultaneamente “mais tranquilas eaventureiras”.

“Como confio totalmente no cão,arrisco mais”, disse à Lusa.

Mariana gostou particularmente de terdeixado de ser “a coitadinha” par a ver asatenções concentradas no Júnior e, por viadisso, ter passado a falar m ais com as pes-soas que a abordam na rua. Do Júniordestaca características como a meiguice, aatenção, a responsabilidade e o facto deestar sempre disponível, apesar de ser“muito dorminhoco” .

Cristina Fernandes Ferreira (Lusa)

O Governo acaba de alargar aos defi-cientes em geral o direito, até agora ape-nas reconhecido aos cegos, de entrarem,acompanhados por cães de assistência,em locais, transportes e estabelecimentosde acesso público

O decreto-lei agora aprovado em Con-selho de Ministros consagra “o direito deacesso de todas as pessoas com deficiên-cia que utilizam cães de assistência” erevoga a anterior legislação sobre a ma-téria, considerada “discriminatória” porreconhecer esse direito apenas aos cida-dãos cegos.

Assim, a lei passa a aplicar-se à defi-ciência visual (cães-guia), auditiva (cãespara surdos) e mental, orgânica ou moto-ra (cães de serviço).

O decreto-lei exige ainda que as es-colas de treino de cães sejam credenci-adas e registadas no Instituto Nacionalde Reabilitação, que os treinadores te-nham qualificações nas áreas da veteri-nária e da reabilitação e que os cãessejam cedidos a título gratuito aos uti-lizadores.

A legislação que, segundo o Mi-nistério do Trabalho e da Segurança So-

cial (MTSS), é das primeiras da Europasobre os cães de assistência, está previs-ta no primeiro plano de acção para a inte-gração das pessoas com deficiência(PAIPDI).

Na sua elaboração, contou com o con-tributo das associações de cidadãoscegos e utilizadores de cães-guia, As-sociação Nacional de Municípios, Asso-ciação Nacional de Freguesias, RegiõesAutónomas dos Açores e da Madeira egabinete do Secretário de EstadoAdjunto da Agricultura e Pescas.

O MTSS estima que, em Portugal, ha-

ja uma centena de pessoas que esperamcães de assistência.

Anova legislação foi aprovada na vés-pera de um encontro que reuniu, naFigueira da Foz cerca de duas dezenas decegos com os respectivos cães-guia.

Em Portugal, existem 50 utilizadoresde cães-guia formados pela escola daAssociação Beira-Aguieira de Apoio aoDeficiente Visual (ABAADV), emMortágua, a única no País, onde a lista deespera tem mais de 60 pessoas e a entre-ga gratuita de cães demora em média trêsanos.

Nova legislação alarga a todos os deficienteso acesso a locais públicos com cães de assistência

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OOPPIINNIIÃÃOO 1199DE 13 A 26 DE DEZEMBRO DE 2006

Hasselblad – uma estrela

Depois de conhecer Portugal (inclu-indo as Ilhas) decidi passar férias além-fronteiras, começando por Espanha, quedividi em zonas, percorrendo uma emcada ano.

Quando chegou a vez da costa atlân-tica, certo dia passei por uma pequenalocalidade de pescadores, onde almoceinum acolhedor restaurante. Não só tive-ram a gentileza de me servir a hora tar-dia, como também regularam a tempe-ratura ambiente, que estava fria paramim.

A meio da refeição ouvi grande baru-lho, o inconfundível som de ferradurassobre as pedras da calçada.

Menos por curiosidade, mais pordeformação profissional, perguntei aomoço que me servia o que se passavapor ali.

– Oh senhor, uma desgraça! – res-pondeu-me o empregado. Espanhóis eitalianos, de sociedade, estão cá a rodaruma fita que mete cavaleiros. Pagamtão bem aos que têm um cavalo e que-rem participar que muitos abandonamtemporariamente os seus empregos. Atéo padeiro por lá anda e a população sempão. Nós temo-lo, mas vamos buscá-lobem longe.

A minha curiosidade levou-me a irver as filmagens que decorriam na zonado porto, fácil de alcançar seguindo porruelas, sempre a descer.

Quis o acaso que nesse ano levasse aHasselblad que tinha adquirido poucoantes da partida para férias.

(Esta máquina fotográfica levou maisde seis anos a ser concebida e é tão ver-sátil que valeu ao sueco que a inventou,e lhe deu o seu nome, a mais importan-te condecoração do seu País.Constituída por três partes distintas –

óptica, câmara escura e porta-filme –não leva mais de três segundos a serdesmanchada. Além das fotografiasnormais, pode fotografar sob a água, ointerior do corpo humano e o espaço.Todos os seus acessórios custam umafortuna. Permite dois formatos de nega-tivos e um dos tipos de porta-filmespode acolher quase uma centena deimagens. Na Lua ficou uma máquinaabandonada. No regresso, o astronauta,além de regressar com o filme, trocou opeso do material abandonado porpedras lunares – uma das quais o meudedo indicador direito já tocou).

O aparelho até permite que seja dis-parado da Figueira da Foz mas estandoem Coimbra, num tripé e junto a umafonte luminosa, enquadrando uma plan-ta para fotografar o seu crescimento,uma reacção química, etc. O seu lança-mento no mercado foi um êxito, sóofuscado pelo seu elevado preço, que

mantém – apesar de ter sido copiada porjaponeses e russos).

A zona das filmagens abrangia oporto com os dois molhes e um espaçoque incluía um mercado montado pro-positadamente para o filme. Os prédiosnesse perímetro tinham as fachadascobertas com outras, a imitar as dorecuado século III. A movimentação eragrande e as figuras e os barcos tambémse apresentavam como se dessa épocafossem.

O que mais chamava a atenção eramduas pernas, só até ao joelho, na pontados molhes. Calculei a sua altura em 25a 30 metros.

Fui avançando no espaço que era per-mitido aos curiosos, fotografando aqui eali. Um popular informou-me que astais pernas iam pertencer a um corpoonde seriam ligadas numa trucagem delaboratório, técnicas que a cinematogra-fia já dominava, mesmo com a era digi-

tal ainda a anos de distância. Tratava-sedo Colosso de Rodes, uma das 7 Mara-vilhas da Antiguidade, que representavaHélios, o deus do Sol. Esta ilha tinhaentão mais de cem estátuas, das quais amaior era a do Colosso, setenta tonela-das de ferro na fundição, um molde daautoria do escultor Chares, executadadepois da vitória sobre o rei macedónioDemétrio Poliorcetes. Desde o projecto,no ano de 291, até à conclusão da obra,passaram 12 anos, despesa paga com avenda dos despojos deixados no campoda luta pelo rei vencido.

A estátua apresentava-se nua, mãodireita bem erguida, segurando umenorme vaso onde ardiam archotes, pro-vavelmente um farol, com acesso interi-or. A testa era uma ampla janela de ondese podia atacar quem tentasse entrar noporto.

Existiu, de pernas bem escancaradas,durante meio século, sendo derrubadapor violento sismo. Dela nada chegouaos nossos dias e mesmo os relatosconhecidos são um tanto ou quantoimprecisos.

Voltando às minhas fotografias: tantome excedi que acabei por dar nas vistasda equipa que rodeava o director. Umdos seus assistentes veio na minhadirecção, tão decidido que me levou apensar vir proibir-me de fotografar. Masnão. Muito atencioso, deu-me o braço elevou-me até junto do chefe. Este sus-pendeu a actividade e todos me rodea-ram, olhando e pedindo explicaçõessobre a Hasselblad. No meu “portu-nhol” fui explicando como trabalhava eo que permitia aquela máquina-sensa-ção. O Colosso foi esquecido. Muitasdas personagens aproveitaram parafumar e a estrela dos técnicos hispano-italianos passou a ser a Hasselblad.

Quase um ano depois fui ao cinemaAvenida (em Coimbra) ver um filmeintitulado “O Colosso de Rodes”, dandoespecial atenção aos truques aplicados aàs bravas cenas a cujas filmagens tinhaassistido. Não vou esquecê-lo.

As férias foram diferentes e maisuma vez se provou a magia do cinema.

Varela Pècurto

Sindicato dos Bancários do Centro

Os corpos gerentesdesejam Festas Felizesa todos os associados

Avenida Fernão de Magalhães, 476 - 3000-173 CoimbraTelef. 239 854 880 - Fax: 239 854 889

Junta de Freguesiade Santo António dos Olivais

o EXECUTIVO DA JUNTA DE FREGUESIADESEJA A TODOS OS CONCIDADÃOS UM

FELIZ NATAL E UM PRÓsPERO ANO DE 2007

Rua Flávio Rodrigues, 21Telef. 239 790 900 - Fax: 239 790 909

3000-095 COIMBRA

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O leitor esclarecido, mas que aindanão conheça a obra, deparando-se como título “Coimbra à guitarra”, poderá, éclaro, imaginar muita coisa. Tendoalguma sensibilidade poética e musical,talvez pense lá para si: Que guitarra oautor concebeu a acompanhar a cidade?Ou, doutro modo, com que voz temCoimbra cantado? Há guitarras de ador-mecer e há outras de acordar? Há gui-tarras de fazer esquecer e outras defazer lembrar?

De Coimbra à guitarra, bem podería-mos dizer (porque definir aqui nãocabe) que é uma espécie de rapsódia devariações que em vez de escritas empauta, são-no pelas palavras, melhor,pela palavra poética que entendeu, pordentro, as guitarradas dos intérpretes aquem o poeta se dirige em justa e senti-da homenagem.

Vamos então ouvir o dedilhar dassuas palavras. Vamos pois abrir o livro.Respirando convenientemente ao virarda folha, como quem passa de uma vari-ação a outra na necessária mudança.

O poeta abre com uma homenagemaos Salatinas, gente simples e maceradaque conheceu a diáspora dentro da pró-pria cidade. A morte da velha alta ficousempre espetada na garganta. Con-cluindo este poema de abertura o poetaescreve «...protesto de ser humano/con-tra a morte utilitária de Coimbra».Diga-se, desde já, que o poeta nuncaconfunde o popular com o popularucho,o simples com o brejeiro.

E que a «morte utilitária de Coim-bra» ainda que acreditemos numa qual-quer ressurreição ou renascimento, vemde muito longe. Esse acordar deveriaser, antes de mais, o recordar do espíri-to do Estudo Geral fundado pelo rei-poeta o Lavrador, com o original acentodiscente e não docente, naquele velhoespírito estudantil de Bolonha e não da

professoral Sorbonne, vazia esta já doúltimo sopro da dialéctica grega.

Daí que o iluminismo pombalino, po-sitivista, burocrático, centralista e estatal,embora estruturante e reformador, viria agerar, na cidade essencialmente universi-tária, um fenómeno que cindiu a suavida, isto é, o confronto entre o estudan-te e o futrica, mantido ao longo de mui-tas gerações, e hoje naturalmente esbati-do. Nessa tensão sociocultural se desen-rolaram inúmeros problemas. Nas reper-cussões que teve na guitarra, é o que nóssabemos, sendo que o mal social deualguns bons frutos artísticos, pois nenhu-ma verdadeira arte se faz sem pelomenos algum sofrimento.

Voltemos ao livro de Carlos Car-ranca, que dele nunca saímos. O autorestrutura a obra em três andamentos,segundo a sua sensibilidade pessoal,mas seja ela qual for, não se nos afiguradifícil observar que no primeiro anda-mento pairam apenas dois nomes, doisarquétipos da guitarra: Artur Paredes eCarlos Paredes, como se fossem as duascolunas que sustentassem os pórticosdos templos gregos, e não vamos discu-tir agora qual deles representa a colunajónica ou a coríntia. Para além destasfiguras maiores, Carlos Carranca conce-be este instrumento medularmente por-tuguês, bem lusitano, e ainda ligado aonome de Nossa Senhora. O eterno femi-nino tem na guitarra o mais alto mote. Opróprio poeta o escreve, mais que umavez, nos seus poemas.

A guitarra é feminina e de certamaneira lunar, ainda que, em nossa opi-nião, em Carlos Paredes, sobretudodepois do disco gravado ao vivo naópera de Frankfurt, ela seja arrebatado-ra e solar. Encerremos este primeiroandamento com a leitura integral dopoema que nos parece tudo resumir:«Carlos Paredes – Ó guitarra lusitana!/Ó harpa das loucas correrias!/ Salgadomar das fantasias.../ É a voz do povo

que te chama!/ Redentora e fraternal,/és tu quem anuncia/ a hora da alegria/de ser de novo/ o povo,/ o rei dePortugal.» E se o povo há-de ser rei, nãoo será certamente com esta cinzentademocracia por rainha!

Passemos ao segundo andamento,referindo, antes de mais, as primorosasilustrações de Jorge Vicente.

É certo que as águas do Mondegonão chegam a todo lado. Mas pode-sedizer que a guitarra de Flávio Rodri-gues, ele também um salatina, chegou atodo o lado. E, segundo o que é dito eestá escrito, à sua barbearia acudiamacadémicos e não académicos. CarlosCarranca abre da melhor maneira osegundo andamento do seu livro com opoema «Flávio Rodrigues: – Há umlugar/ que me visita sempre/ românticoe doente/ onde a guitarra/ que só tudedilhas/ geme sensual.» O poeta per-corre, em seguida, outros guitarristas –e não os poderia visitar a todos, sobpena do livro se engrossar consideravel-mente, – guitarristas esses que vêm atéà nossa geração, e que frequentaram asua barbearia, verdadeira escola deensinar, ocupando o lugar da universi-dade que nunca ensinava (como hoje) oque de melhor a cidade ia tendo.

No terceiro e último andamento oautor como que se desliga do poema-dedicatória, dos versos ofertados esbo-çando este ou aquele guitarrista, paraconceber a guitarra única, a guitarraparadigma que, apesar de tudo, é real.Real na paisagem não menos verdadei-ra. Verdadeira porque alguém a tocacom os dedos e o coração, e não porquese ouça num altifalante enquanto unstantos apreciam camarões e os fazemdeslizar na espuma artificial da cerveja.

Para concluir, vou ler dois poemasdeste terceiro andamento. «FadoMenor- Cansado de Coimbra/ e seussenhores/ cansado desta lua/ dos canto-res/ cansado desse ontem/ e deste hoje/Cansado de mim mesmo/ e dos douto-res/ Cansado.../sobretudo cansado/ E oque resta?/ E Coimbra a dos amores.»Acode-nos à memória Pedro e Inês, ou

o milagre das rosas da Rainha Santa.Episódios que o tempo transformou emmitos, mas também me permito discor-dar de muitos historiadores que dizemque a História faz o mito. Creio, e nãosou o primeiro, que o mito é que faz aHistória. Por eles, os mitos, muito se foicriando, seja uma tela, um drama, umpoema, uma guitarrada, um feriadonacional. E no fundo, a benéfica peda-gogia da repetição para ver se enxerga-mos o arquétipo das coisas belas e pere-nes, das grandes causas do homem, quenão são descartáveis como as inflações.

Poema «Guitarra de Coimbra – Nãose deixou contaminar/ pela mania erudi-ta/ da dita/ universidade/ popular/ ficouda cidade/ essa guitarra/aflita/ erudição/só a do coração/ e tudo quanto toca res-suscita».

Mas antes que tudo ressuscite ou serenove há que alargar a vista, à maneirado deus bifronte Jano que tanto miravao passado como o futuro, o além e oaquém. Símbolo do tempo, o seu rosto éherético à visão estreita hoje de muitagente. Há quem se envergonhe de olharpara trás e só viva polarizado no futuro,alheado do presente, outros vice-versa.Condenada à fogueira tem sido umacerta face de Jano, porventura o ladogenuinamente português, na confusão(ou má-fé) entre internacionalismo euniversalidade. Por isso a guitarra traráainda a dor aguda de sermos nós, e nóspelos outros.

Para terminar só me resta sublinhar queo livro de Carlos Carranca preenche oespaço em Coimbra que faltava ocupar. Ode um conjunto de poemas que, evocandoa guitarra e os guitarristas, também sepoderia chamar «Flores para Coimbra».

É urgente o som das guitarras dotempo rasgado ou em glissando, quevolte a trazer o tempo para tudo, já queo time is money há-de acabar um dia. Jáo profetizou o povo quando dizia: «otempo dá-o Deus de graça!».

Diríamos até que faltam guitarras demãos suadas, essas que devolvam osilêncio criador, que façam pausas nodia a dia. De tal modo um timbre nossoque pudéssemos reduzir as importações,sobretudo as de ideias que já não estãopróprias para consumo. Timbre originalpelo qual poderíamos começar a dis-pensar as citações obrigatórias, o tecidoadiposo dos currículos... Mais do que osgrandes volumes sonoros, é a guitarra, ogume ao lado do coração, que podeesconjurar o sono hipnótico que Por-tugal dorme; ser resistência à barbárieplutocrata, ao síndrome da coca-cola...Para que, se não pudermos ser «barõesassinalados» sejamos povo assinalado,e, como Agostinho da Silva dizia, alémde poetas sejamos o poema!

Eduardo Aroso

A PROPÓSITO DE “COIMBRA À GUITARRA” DE CARLOS CARRANCA

Trovador, peregrino, viajante(Continuação da edição anterior)

INSTITUTO NACIONAL PARA APROVEITAMENTODOS TEMPOS LIVRES DOS TRABALHADORESTempo útil - Tempo solidário

Venha daí, traga os que lhe são especiais e partilhecom o INATEL momentos únicos

CURSO DE JOVENS MÚSICOS – 18 A 23 de DEZEMBROCANTARES NATALÍCIOS – IGREJA MATRIZ DE ANÇÃ

A Delegação do INATEL de Coimbradeseja a todos os seus associados Boas Festas

PARA INFORMAÇÕES, CONTACTE A DELEGAÇÃO DE COIMBRA:RUA DR. ANTÓNIO GRANJO, 6

TEL.239853380/1 –FAX.239853384 – EMAIL: [email protected]

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OOPPIINNIIÃÃOO 2211DE 13 A 26 DE DEZEMBRO DE 2006

Gládio uterino

Está aí o referendo. Dia 11 de Fe-vereiro.

Os portugueses serão chamados amanifestar a sua opinião acerca de umdos mais delicados problemas da nossavida colectiva: a possibilidade legal dematar (despenalização é um eufemismopatetamente tendencioso) uma criançaem gestação, até às dez semanas de vidauterina.

Esta palavra matar aterroriza-nos.Esta ideia matar uma criança dilacera-nos a alma.

Isto é terrivelmente grave para serassim tão leviana, acintosa, nua e crua-mente posto à consideração das consciên-cias.

Temos orgulho em ser dos primeirospovos do mundo a abolir a pena demorte. Passados cerca de século e meio,encontramo-nos numa encruzilhadapara decidir se devemos permitir a penacapital para os indefesos e potenciaiscidadãos cujos pais entendam, até àsdez semanas, não os deixar nascer.

Suprimir a vida duma criança, dumfilho gerado num são processo afectivo,é uma anormalidade. Liquidar uma cri-ança porque não foi planeada e muitomenos desejada é dum egoísmo atroz.Apunhalar um ser humano indefesocom a mesma leviandade com que foigerado, é brincar com o que de maissagrado existe neste projecto da criaçãoem que somos chamados a colaborar. Épura e simplesmente sabotar.

Vamos estar divididos porque o cada-falso não é erguido na praça pública.Tudo se tem passado nos quartos dasabortadeiras, nas clínicas além-frontei-ras. Só a mulher permite que o algozintervenha no silêncio do reservado. Osilêncio dos inocentes.

Vamos estar divididos entre a vida ea morte de milhares de membros dasfuturas gerações destinados a enrique-cer e a continuar este senil e depaupera-do país.

Vamos estar divididos porque a

leviandade originada pela crise de valo-res que nos apoquenta e empobrece falamuito mais alto que o humanismo danossa civilização.

Oxalá não continuemos ainda dividi-dos quando o egoísmo e a desumanida-de, atingindo o seu auge, nos colocaremno caminho a vida dos mais fracos e dosmais velhos, daqueles que implorando onosso apoio, só atrapalham o gozo donosso bom viver.

Para nós, o aborto será, de qualquerângulo de perspectiva, uma falência dovalor respeito pela vida e, num sentidomais restrito, do humanismo cristão quesempre plasmou a nossa matriz cultural.

Não nos parece, todavia, que se devaatribuir as responsabilidades de todaesta leviana desumanidade aos seusautores morais – os pais.

A sociedade tem de assumir a suaquota parte pela apologia de valoresnegativos como: a liberdade hedonista eirresponsável, a falta de respeito pelaintegridade física e moral de cada um, oexcessivo culto da eterna juventude e amórbida hostilização da velhice, a cruasegregação dos deficientes e dos maisfracos...

A esquerda defende acirrada e limi-narmente o aborto. Mas será que essamesma esquerda algum dia se preocu-pou com toda a problemática decorren-te dessa carência de valores? Será que aesquerda, para além da reivindicaçãosistemática, alguma vez se preocupouem fazer pedagogia, em criar condiçõessusceptíveis de conferir alternativashumanizadas ao recurso ao aborto?

A direita empreende a patética cruza-da do NÃO. E que faz a direita? Recusaàs grávidas e às confessas candidatas àgravidez o direito ao emprego, excluin-do-as liminarmente no processo deadmissão e despedindo-as quando pre-cário é o vínculo laboral.

Num país de índice negativo deaumento populacional a direita, à gravi-dez, só tem como alternativas o desem-prego e a prisão. Hipocrisia e cinismo atoda a prova!

O estado, por sua vez, parece quererlavar as mãos. Está-se nas tintas relati-vamente às condicionantes sociais queempurram para o aborto: o desemprego,a carência de protecção familiar, a pro-blemática do exercício do poder pater-nal e da adopção, as políticas de defesa

da gravidez, da natalidade e de apoio àinfância...

Se o sim vencer, abrirá impavida-mente as portas das nossas maternida-des, patrocinará o estabelecimento declínicas abortivas já com malas e baga-gens para se instalarem e enriqueceremà custa de tanta miséria social, não paradar à luz, mas para “sem penalizações”apagar a luz da vida.

Se for o não, continuará a tragicomé-dia dos mediáticos e enxovalhantes jul-gamentos. Para constar.

Será que a consciência dos nossospolíticos ainda não lhes bateu tão forteque os levasse a procurar outras alterna-tivas mais sérias e responsáveis? Criar,por exemplo, serviços médicos e psico-sociais de aconselhamento, mecanis-mos mais austeros de pré-responsabili-zação dos intervenientes.

Será que a sociedade científica e ascomissões de ética determinaram cor-rectamente o momento em que, à luzduma moral minimamente consistente,o ser gerado assume ontologicamente aidentidade de ser humano? Não estaráele, porventura, muito mais próximo domomento da concepção?

No nosso modesto entender, o abortoserá a pior das soluções para uma gravi-dez extemporânea ou indesejada. Será,porventura, um mal menor em situaçõesclínicas de anomalias que intervenhamna má formação física e fisiológica dacriança

Como cidadãos, desejaríamos bemque a pergunta que vai ser posta à vota-ção fosse mais clara e que a sua redac-ção constituísse também um convite auma séria e profunda reflexão.

É absolutamente necessário que fi-que claro na consciência de cada umque, mesmo às oito ou dez semanas degestação, um aborto é a deliberada pri-vação da vida, para não dizer assassina-to, de um ser que, por consanguinidade,é filho do seu autor moral e, por direitospré adquiridos, é nosso compatriota.

Vale mais uma boa reflexão e amadu-recimento das ideias à luz dos nossosvalores tradicionais do que uma apres-sada sentença de morte que é o queparece querer vir a acontecer.

Precisamente porque, não estandobem conscientes da gravidade da situa-ção, nos encontramos tragicamentedivididos.

Renato Ávila

POIS... – Então, sempre compraste a revis-ta?... E trouxeste o pão?...

– Não, o pão não trouxe, que o di-nheiro não chegou.

E alembrei-me do professor de Fi-losofia:

«Nós, portugueses, adoramos viverenganados, iludidos e achamos normal

que assim seja. Por exemplo, lemosrevistas sociais e ficamos derretidos(não falo do cérebro, mas de um planoemocional) ao vermos casais felicíssi-mos e com vidas de sonho. Pronto, sa-bemos que aquilo é tudo mentira, quemuitos deles se divorciam ao fim detrês meses e que outros vivem um alco-olismo disfarçado. Mas adoramos fin-gir que aquilo é tudo verdade».

Joséd’Encarnação

João PauloSimões

FILATELICAMENTE

D. Luís I Fita curva, não denteado(1866-1867)

Após a reforma de Francisco deBorja Freire, foi contratado o gravadorCharles Wiener para lhe suceder comoPrimeiro Abridor da Cada da Moeda,cargo que começou a exercer a partirde Janeiro de 1865.

Entretanto, Portugal tinha celebradoconvenções postais com outros paísesnas quais se estabeleciam portes dife-rentes nos representados por BorjaFreire, sendo necessário criar novosvalores para os selos do correio.

Assim, foram substituídos modelosanteriores por um novo padrão unifor-me, que Wiener desempenhou semgrande sucesso artístico.

Os selos de D. Luís, continuaram aser em relevo, impressos na mesmamáquina, dotada agora de um divisorcapaz de espaçar uniformemente osselos nas folhas e contendo vinte e oitoselos dispostos em sete linhas e quatrocolunas, todos eles com margensmenores do que os anteriores. Um por-menor os diferenciava dos anteriores:a fita já não era direita, mas sim curva.

PRAÇA DAREPÚBLICA

Carlos Carranca

Goes

A voz é de terra e de tragédia,Ibéria toda.Sete luas? Sete sóis?A noite é seu caminho...O mar cresce no espaçode um deus que traz sozinhoa voz de outras vozes- a voz de Luiz Goes.

Carlos Carranca(in “Pedras Suspensas”, Universitária Editora, 1996)

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Os concertos de música ligeira emPortugal atraíram três milhões de es-pectadores em 2005, proporcionandouma receita de bilhete ira de 22,1 milhõesde euros, indicam os “dados da cultura2005”, divulgados pelo Instituto Na-cional de Estatística (INE).

Aqueles números representam umterço da assistência a todos os espec-táculos realizados o ano passado emPortugal, incluindo ópera, teatro etauromaquia, e cerca de 42 por cen-to das receitas globais do sector.

No conjunto, “em 2005, realiza-ram-se 24.471 sessões de espectácu-los ao vivo, registando um total decerca de 9 milhões de espectadores”e “o total de bilhetes vendidos foi de4 milhões, gerando receitas no valorde 52,4 milhões de euros”, diz o re-

latório do INE. Mais de dois terçosdos espectáculos (67 por cento) de-correram nas regiões de Lisboa e doNorte, que concentraram também 70e 18 por cento das receitas de bilhe-teira, respectivamente.

Segundo a mesma fonte, o teatrofoi a área com maior número de ses-sões (48 por cento do total), mas emtermos de espectadores e de receitasde bilheteira “foram os concertos demúsica ligeira que passaram a termais expressão”.

Os concertos de música clássicaatraíram apenas 6,2 por cento dosespectadores e a ópera continuou aregistar o mais elevado preço médiopor bilhete (25 Euros), à frente datauromaquia (19 euros) e das varie-dades (16 euros).

Depois de na quinzena passada tereleito os melhores discos nacionais,hoje vou eleger os melhores concertos aque assisti em 2006, surgindo à cabeçaos concertos dos Bloc Party e dos WeAre Scientists no Festival de Paredes deCoura, assim como as actuações dosPearl Jam e dos Depeche Mode no Pavi-lhão Atlântico, o concerto dos Strokesno Lisboa Soundz e, ainda, o dos ArcticMonkeys no Paradise Garage. Foi, defacto, um ano riquíssimo em actuaçõesao vivo e para 2007 resta-nos desejarum “cartaz” igual a 2006.

Visto que ao longo destas semanastenho destacado e analisado todos osdiscos que fizeram parte do que o anode 2006 teve de melhor, no que toca àmúsica internacional, é aos leitoresdeste espaço que cabe escolher qual foi,de facto, o melhor. Por isso, aguardo asvossas listas na minha caixa de correioelectrónico.

Nas últimas semanas tenho estadobastante activo na pesquisa de discos

novos, e as surpresas não tardaram emaparecer, seja pelos Azzido Da Bass, oupor Thomas Schumacher, ou por Ga-briel & Dresden, ou, mesmo, pelo feno-

menal novo “single” dos Black Strobe,“Shining Bright Star” (PhonesIndustrial Version).

Mas fugindo do que costuma ser odenominador deste espaço, hoje escre-ver-vos sobre um dos músicos que maisadmiro na actualidade, não só pelo seuecletismo, mas, sobretudo, pelo virtuo-sismo e criativo que imprime nas suascriações, sejam elas no âmbito do seuprojecto em nome próprio, seja pelo seupassado, enquanto “parte” dos SétimaLegião ou dos Madredeus. Como éóbvio, trata-se de Rodrigo Leão, queacaba de editar uma colectânea retros-pectiva da sua carreira, intitulada “OMundo (1993-2006)”, mas, além de seruma “revisão da matéria dada” de todosos seus temas, inclui também novas ver-sões dos temas “Carpe Diem”,“Amatorius” e “Ave Mundi Luminar”,assim como os inéditos “Rua da Ata-laia”, “Voltar”, “Solitude”. Mas este“best of” não esquece a “pré história”da sua carreira a solo e inclui “Tardes deBolonha” – composto para os Madre-deus – e “Ascensão” dos tempos dosSétima Legião, que já tinha sido incluí-do em “Pásion” (o único disco ao vivodeste compositor português), mas queneste “best of” aparece pela primeiravez em versão de estúdio.

Para o fim, ficam as derradeirassugestões para o Natal que se avizinha,e nos discos as minhas recomendaçõesrecaem sobre o “novo” “Best of…” dosDepeche Mode e sobre “O Mundo(1993-2006)” de Rodrigo Leão, já noque toca a livros “U2 by U2” – há umaedição em português - e “1001 DiscosPara Ouvir Antes de Morrer” são asminhas sugestões, e, já agora compremo fantástico “Signal Sparks” dos Sea-food, no qual tenho andado viciado nasúltimas semanas.

Resta-me desejar umas boas festas atodos os leitores.

PARA SABER MAIS:

- http://www.azzidodabass.de/- http://www.thomasschumacher.com/- http://www.gabrielanddresden.com/- http://www.myspace.com/blackstrobe/- http://www.rodrigoleao.pt/- http://www.depechemode.com/- http://www.seafood.uk.com/- http://www.u2.com- Azzido Da Bass Feat. Johnny Blake“Lonely By Your Side” (LusciousSounds)- Thomas Schumacher “Home” (Bush)- Gabriel & Dresden “DangerousPower (Club Mixes)” (OrganizedNature) - Black Strobe “Shining Bright Star”(Playloudrecordings)- Depeche Mode “The Best Of…(Vol.1)” (Mute Recordings)- Rodrigo Leão “ O Mundo (1993-2006)“ (Sony BMG)- Seafood “Paper Crown King”(Cooking Vinyl)

- “U2 by U2” (Fubu)- “1001 Discos Para Ouvir Antes deMorrer” (Lisma)

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Distorções

José Miguel [email protected]

Música ligeira atraiu 3 milhõesde espectadores em 2005

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IINNTTEERRNNEETT 2233DE 13 A 26 DE DEZEMBRO DE 2006

O jornalismo do cidadão é já umarealidade e nasceu como consequênciada chamada Web 2.0 e do avanço das te-cnologias móveis. O portal Yahoo e aagência de notícias Reuters criaram oYou Witness, um sistema de contribui-ção de notícias por utilizadores comuns.«Where you there when news happe-ned?» é o mote.

A Reuters é a responsável pela ediçãoe distribuição dos conteúdos. O Yahoodisponibilizará imagens no YahooNews. Os utilizadores podem enviarvídeos e fotografias. É a era do cidadãojornalista, com os meios técnicos à dis-posição e a liberdade de publicar nouniverso da web, numa ciberesfera àescala mundial. O You Witness não éum conceito novo. A novidade é mesmoserem empresas do mundo da comuni-cação como o Yahoo e a Reuters reco-nhecerem a importância do jornalismodo cidadão.

Links relacionados:http://today.reuters.com/news/globalco-ve rage .a spx? type=youwi tness&src=cms – site da Reuters para o YouWitness NewsYou Witness Newsendereço: http://news.yahoo.com/you-witness |categoria: jornalismo, cidadania

O Corpus do Português está disponí-vel na rede há cerca de um mês. O siteé fruto do trabalho de dois investigado-res das universidades norte-americanasde Georgetown e Brigham Young. Osautores, Mike Davis e Michael Ferreira,criaram uma base de dados sobre a lín-gua portuguesa com base em estudos e

variados documentos de Portugal e doBrasil. Na totalidade estão catalogados50 mil textos em português e a platafor-ma permite pesquisa mais de 45 mil-hões de palavras nesta base de dados.

A interface permite fazer pesquisapor palavras-chave ou frases, classesgramaticais, palavras “vizinhas” e le-mas. É ainda possível comparar a fre-quência e a distribuição das palavras,frases e construções gramaticais atravésde três processos diferentes: compara-ções de registos (a oralidade, a ficção,os discursos jornalístico e académico);dialecto (as diferenças de língua entrePortugal e Brasil no século XX); perío-do histórico (comparação da língua de1300 a 1900). Esta plataforma é patroci-nada pelo US National Endowment forthe Humanities e é um valioso contribu-to para quem se interessa pela línguaportuguesa.

Links relacionados:http://www.neh.gov/ – US NationalEndowment for the Humanitieshttp://www.byu.edu/ – Universidade deBrigham Younghttp://www.georgetown.edu/ – Univer-sidade de GeorgetownO Corpus do Portuguêsendereço: http://www.corpusdoportu-gues.org/ | categoria: português

O weblog Indústrias Culturais é umespaço de registo de pistas, leituras epesquisas no âmbito das indústrias cul-turais. Ou seja, neste blog fala-se deimprensa, rádio, televisão, Internet, ci-nema, vídeo, jogos, música, livros ecentro comerciais. Na rede desde Ja-neiro de 2003, o Indústrias Culturais dodocente de Comunicação RogérioSantos é uma referência na blogosferaportuguesa.

Os posts variam entre a actualidadedo mundo da Comunicação e a investi-gação do autor. Este weblog é um ver-dadeiro espaço multimédia apresentan-do entradas com hipertexto, imagens evídeo q.b. Nas colunas laterais, Ro-gério Santos apresenta as capas doslivros publicados pelo autor, das revis-tas onde colabora e da literatura querecomenda, hiperligações para sites doseu interesse, links de vídeos realizadospelo “blogueiro” e outras informaçõesque sistematicamente vão sendo actua-lizadas.

Indústrias Culturaisendereço: http://industrias-culturais.blogspot.com | categoria: weblogs

O Flylc.com é um motor de busca devoos europeus em companhias low cost.O site permite aceder a listas de desti-nos e de partidas por aeroporto e porpaís e a um inventário de companhiaseuropeias de baixo custo. Para utiliza-dor o motor de busca basta aceder aoslinks ou seleccionar o ponto de origeme de partida num quadro principal, quenos lista as companhias aéreas quefazem os voos pretendidos.

O site permite aceder a horários,taxas e fazer reservas online. OFlylc.com lista quatro aeroportos portu-gueses: Lisboa, Porto, Faro e Funchal.A partir da capital portuguesa há 13companhias a voarem para 45 destinos.Do Porto voam cinco empresas para 38aeroportos europeus. Faro é o aeroportoportuguês com mais destinos listados:um total de 66 e 21 companhias. Quantomaior for a antecedência da marcação,mais barata é a passagem. Por exemplo:uma viagem de Lisboa a Barcelona, idae volta, em Fevereiro de 2007 custa 50euros com taxas incluídas (preço apro-ximado entre as várias companhias quefazem este percurso) – o que correspon-de mais ou menos ao preço de um bilhe-te de ida e volta de comboio entrePorto-Lisboa.

Flylc.comendereço: http://www.flylc.com/ cate-goria: viagens

Está finalmente a emitir a France 24ou a chamada “CNN à francesa”. Aestação começou a emitir na web a 6 deDezembro e arrancou no cabo e no saté-lite no dia seguinte. A nova televisãoemite em francês, inglês e árabe e é oprimeiro canal francês de informação aemitir em contínuo. A redacção é com-posta por 170 jornalistas de 28 naciona-lidades que têm como missão conquis-tar 80 milhões de espectadores emFrança e outros 190 no resto do mundo.

A tarefa não é fácil e, com vista a atin-gir esta meta, a France 24 conta comparceiros como a agência de notíciasFrance Press, a RFI (Rádio France In-ternationale), France Televisions e aTF1.

Jacques Chirac foi o grande impulsi-onador deste projecto que arrancou em2002 e resulta de uma parceria público-privada. Com vista a realçar os valoresfrancófonos e com um orçamentomodesto, a France 24 promete um olharsobre a actualidade com uma perspecti-va francesa 24 horas por dia e sete diaspor semana. Para 2007, a France 24conta com um investimento público de86 milhões de euros.

Um orçamento substancialmenteinferior ao das suas concorrentes di-rectas – BBC, CNN e a recém lançadaAl-Jazeera Internactional. Tanto ocanal árabe como a France 24 vão che-gar ao cabo português já em Janeiro de2007.

France 24endereço: http://www.france24.com |categoria: informação, televisão

O Slideshare é um site de partilha deconhecimento e um verdadeiro serviçopúblico na web. Este espaço permitedisponibilizar e consultar online slides-hows dos mais variados assuntos. Trata-se de um website colaborativo organiza-do com base em tags (categorização porpalavras-chave). Os ficheiros a disponi-bilizar podem ser criados nas ferramen-tas PowerPoint ou OpenOffice.

A primeira página do Slideshare é oponto de partida do utilizador. É possí-vel fazer login ou proceder ao registo,ver os últimos slides e comentários adi-cionados, consultar o slide mais populare as tags mais recorrentes, conhecer osutilizadores mais recentes, obter infor-mações sobre a utilização que os ciber-nautas fazem do Slideshare e as novida-des recentes desta plataforma. Profes-sores e alunos do mundo inteiro estão adisponibilizar as suas apresentações noSlideshare, assim como organizadoresde conferências e investigadores. Maseste não é um site de carácter académi-co. Há slides de tudo, desde registo decasamentos e outros eventos até ao(indispensável e inevitável) humor.

Slideshareendereço: http://slideshare.net/ | catego-ria: conhecimento, software, partilha

IDEIAS DIGITAIS

Inês AmaralDocente do InstitutoSuperior Miguel Torga

O CORPUS DO PORTUGUÊS

FLYLC.COM

SLYDSHARE

INDÚSTRIAS CULTURAIS

FRANCE 24

YOU WITNESS NEWS

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O SALÁRIO MÍNIMO NA RTP

É cada vez mais difícil não acreditarna governamentalização da Informaçãona RTP. No Telejornal do passado dia 5,a notícia de abertura foi sobre o aumen-to do salário mínimo nacional. Um as-sunto que, sem qualquer dúvida, mere-cia lugar de destaque. Mas, subtilmente,a informação foi dada da forma quemais convinha ao Governo: o saláriomínimo nacional vai subir para 500 € ...em 2011.

José Rodrigues dos Santos disse-ocom a pausa necessária. Assim, o efeitofoi o pretendido. Quando se escuta “osalário mínimo nacional vai aumentarpara 500 €...”, quem vive (mal) com talsalário, nem esperará pelo resto do lan-çamento. O mais certo será saltar na ca-deira, embora com o desenvolvimentoda matéria se vá aperceber, com desâni-mo, que os tais 500 € só serão pagosdaqui a cinco anos.

A informação séria não deve recorrera estas suspensões, a esta articulação dodiscurso que, na oralidade, deforma asua compreensão.A menos que o ob-jectivo fosse o deironizar, o que se-ria inadmissível naabertura de um Te-lejornal, o sentidoque se tira da opçãotomada por Rodri-gues dos Santos éa de uma lamentável construção que,sem ser falsa, induz o espectador emerro.

Nada disto, porém, tem limitado o en-tusiasmo da própria RTP a propósito dasaudiências do Telejornal, que terão atin-gido valores que já não eram registadosdesde 1999. Há quem defenda, e eu con-cordo, que a RTP deve dar conta não dosresultados comerciais da audimetria,mas sim de estudos qualitativos inde-pendentes, científicos, sobre a qualidadedos programas e conteúdos informativosque emite, em estrito acordo com a Leida TV e do Contrato de Concessão a quea empresa está obrigada. Enquanto issonão acontecer, o serviço público conti-nuará a dar provas de que não conseguedistanciar-se dos mecanismos da televi-são comercial e, assim, de não cumprir oseu desígnio.

UM GRANDE MOMENTODE TELEVISÃO

“Um grande momento de televisão”,foi como lhe chamou o produtor da Co-municaSom, responsável pelo programa“Fátima” que Fátima Lopes apresentanas manhãs da SIC. Um miúdo de 15anos, com distúrbios mentais, que, su-postamente, bate na mãe, foi repreendi-do em directo pela apresentadora.Fátima, qual deusa omnipresente, garan-tiu que vai ficar de olho nele e o públicoempolgou-se. Ah grande Fátima! Éassim mesmo! Di-rigiu-se à pessoaerrada, mas queimporta? Penimdeve ter dado umsalto de contenta-mento. As audiên-cias dispararam e Fátima confirmou queé a “bomba” que Rangel descobriu.

SER HUMANO

No meio do abundante lixo televisi-vo, há ainda quem tente deixar algunsprodutos em bom estado. A SIC-Notícias tem alguns momentos que vãopara além do conceito habitual de infor-mação. “Ser Humano” é um deles.

“Ser humano” procura colocar ques-tões que reflectem as inquietações da

maioria das pessoas. O programa, daautoria e conduzido pela jornalistaCatarina Neves, conta com a participa-ção dos psiquiatras Luísa Gonçalves eVítor Amorim Rodrigues.

Cada edição aborda em cerca de 15minutos um tema, como a solidão, o de-sejo, a raiva, o desespero ou a morte.Cada assunto é apresentado com a exibi-ção do excerto de um filme. Por exemplo,já foram utilizados momentos de filmescomo “Casablanca” e “Cinema Paraíso”.

O programa é gravado num cenárioimprevisto, à primeira vista desconfor-

tável, num interior de um palácio e uti-lizando uma disposição em triângulodos participantes. Como é apresentadodepois de ser editado, não há temposmortos e a mobilidade proveniente dautilização de planos improváveis paraum directo, tornam “Ser Humano” numproduto televisivo diferente. É uma ten-tativa bem conseguida de criar objectivi-dade num formato normalmente mole.Para o efeito contribui também muito alucidez e clareza dos colaboradores e aspalavras exactas da jornalista.

2244 TTEELLEEVVIISS ÃÃOO DE 13 A 26 DE DEZEMBRO DE 2006

PÚBLICA FRACÇÃO

Francisco [email protected]

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