o centro - n.º 54 - 02.07.2008

24
DIRECTOR JORGE CASTILHO | Taxa Paga | Devesas – 4400 V. N. Gaia | Autorizado a circular em invólucro de plástico fechado (DE53742006MPC) ANO III N.º 54 (II série) De 2 a 15 de Julho de 2008 1 euro (iva incluído) Telef.: 239 854 150 Rua da Sofia, 95 - 3.º - 3000-390 COIMBRA As imagens da alegria mas também da tristeza EURO 2008 PÁG. 16 a 18 FAUSTO CORREIA JOÃO FERNANDES PÁG. 7 PÁG. 2 Homenagem pela acção em prol da cultura Evocação em Praça no Dia da Cidade A crítica severa ao serviço público PÁG. 24 PÁG. 3 PÁG. 11 a 15 TELEVISÃO Prevenir para não (a)pagar FOGOS FLORESTAIS: FASE MAIS CRÍTICA COMEÇOU ONTEM PÁG. 2 Coimbra em festa PÁG. 11 a 13

Upload: manchete

Post on 12-Jun-2015

612 views

Category:

Documents


5 download

DESCRIPTION

Versão integral da edição n.º 54 do quinzenário “O Centro”, que se publica em Coimbra. Director: Jorge Castilho. 02.07.2008. Site do Instituto Superior Miguel Torga: www.ismt.pt Visite outros sítios de Dinis Manuel Alves em www.mediatico.com.pt , www.slideshare.net/dmpa, www.youtube.com/mediapolisxxi, www.youtube.com/fotographarte, www.youtube.com/tiremmedestefilme, www.youtube.com/discover747 , http://www.youtube.com/camarafixa, , http://videos.sapo.pt/lapisazul/playview/2 e em www.mogulus.com/otalcanal Ainda: http://www.mediatico.com.pt/diasdecoimbra/ , http://www.mediatico.com.pt/redor/ , http://www.mediatico.com.pt/fe/ , http://www.mediatico.com.pt/fitas/ , http://www.mediatico.com.pt/redor2/, http://www.mediatico.com.pt/foto/yr2.htm , http://www.mediatico.com.pt/manchete/index.htm , http://www.mediatico.com.pt/foto/index.htm , http://www.mediatico.com.pt/luanda/ , http://www.biblioteca2.fcpages.com/nimas/intro.html

TRANSCRIPT

Page 1: O Centro - n.º 54 - 02.07.2008

DIRECTOR JORGE CASTILHO

| Taxa Paga | Devesas – 4400 V. N. Gaia |Autorizado a circular em invólucrode plástico fechado (DE53742006MPC)

ANO III N.º 54 (II série) De 2 a 15 de Julho de 2008 � 1 euro (iva incluído)

Telef.: 239 854 150Rua da Sofia, 95 - 3.º - 3000-390 COIMBRA

As imagensda alegriamas tambémda tristeza

EURO 2008

PÁG. 16 a 18

FAUSTO CORREIA JOÃO FERNANDES

PÁG. 7PÁG. 2

Homenagempela acçãoem prolda cultura

Evocaçãoem Praçano Diada Cidade

A críticaseveraao serviçopúblico

PÁG. 24

PÁG. 3

PÁG. 11 a 15

TELEVISÃO

Prevenirpara não(a)pagar

FOGOS FLORESTAIS:FASE MAIS CRÍTICACOMEÇOU ONTEM

PÁG. 2

Coimbraemfesta

PÁG. 11 a 13

Page 2: O Centro - n.º 54 - 02.07.2008

2 DE 2 A 15 DE JULHO DE 2008NACIONAL

Director: Jorge Castilho(Carteira Profissional n.º 99)

Propriedade: AudimprensaNif: 501 863 109

Sócios: Jorge Castilho e Irene Castilho

Inscrito na DGCS sob o n.º 120 930

Composição e montagem: AudimprensaRua da Sofia, 95, 3.º - 3000-390 CoimbraTelefone: 239 854 150 - Fax: 239 854 154

e-mail: [email protected]

Impressão: CIC - CORAZEOliveira de AzeméisDepósito legal n.º 250930/06

Tiragem: 10.000 exemplares

D. Beatriz de Almeida CoelhoFerreira de Oliveira

A Família de D. Beatriz de Almeida Coelho Ferreira de Oliveira(Viúva do médico Dr. Germano de Oliveira),

falecida no passado dia 17 de Junho, em Coimbra, vem, por este meio,manifestar a sua profunda gratidão a quantos participaram no funeral

(realizado da Igreja de S. José para jazigo de família no cemitério da Conchada),bem como a todos os que, pelas mais diversas formas, lhe manifestaram o seu pesar.

AGRADECIMENTO

Mais de 9.800 elementos e de 2.300 ve-ículos e ainda 59 meios aéreos, estão dispo-níveis desde ontem (terça-feira) na fase“Charlie”, período considerado o mais críti-co de incêndios florestais, segundo a direc-tiva operacional da Autoridade Nacional deProtecção Civil.

A fase “Charlie”, que se prolonga até 30de Setembro, é a que mobiliza mais meioshumanos e materiais e conta com 2.373equipas, num total de 2.360 veículos, 9.803elementos e 59 meios aéreos.

Os meios aéreos disponíveis incluem 35helicópteros e 14 aviões, a que se juntamdois aerotanques pesados anfíbios e os no-vos cinco helibombardeios pesados.

Das aeronaves, nove são meios própriosdo Estado, sendo seis helicópteros e trêsligeiros, segundo o Ministério da Adminis-tração Interna.

A estes meios aéreos há a associar doishelicópteros bombardeiros ligeiros da AFO-CELCA, uma associação de empresas dosector papeleiro e de celulose, e brigadasde outros agentes presentes no terreno.

Todo este dispositivo é coordenado

Incêndios: período crítico começou ontem– MOBILIZADOS 9.800 ELEMENTOS, 2.300 VEÍCULOS E 59 MEIOS AÉREOS

pela Autoridade Nacional de ProtecçãoCivil, através do seu Comando Nacionale Comandos Distritais de Operações deSocorro.

O período crítico de prevenção contraincêndios, durante o qual é proibida a reali-zação de queimadas e fogueiras nos espa-ços florestais, também arranca hoje e pro-longa-se até 15 de Outubro

Este ano o período crítico, definido anu-almente por portaria do Ministério da Agri-cultura no âmbito do Sistema Nacional deDefesa da Floresta contra Incêndios, foi alar-gado em mais 15 dias por se constatar queexistem condições propícias para a existên-cia de fogos florestais “para lá de Setem-bro”, segundo fonte do Ministério.

PROTECÇÃO CIVIL PEDEEMPENHO DE TODOS NADEFESA DA FLORESTA

Entretanto, o comandante operacional daAutoridade Nacional de Protecção Civil(ANPC), Gil Martins, pediu ontem o empe-nho de todos portugueses na defesa da flo-resta, sublinhando que devem “abandonar

comportamentos de risco” para que os in-cêndios sejam evitados.

Na conferência de imprensa para assi-nalar o início da fase “Charlie”, período con-siderado o mais crítico de incêndios flores-tais, Gil Martins disse que é “necessário oempenho” de todos os cidadãos na protec-ção da floresta.

“Podemos ter o melhor dispositivo domundo, mas se não existir um empenho doscidadãos”, tal não funciona em pleno, afir-mou o comandante operacional da ANPCnum encontro com jornalistas destinado es-sencialmente a apresentar o dispositivopara a fase “Charlie”, que termina a 30 deSetembro.

Segundo Gil Martins, na fase mais críticade incêndios florestais os meios humanos emateriais aumentam em todo o território, bemcomo o “nível de prontidão”.

Nos próximos três meses vão estar mo-bilizados 9.803 elementos, 2.360 veículos e59 meios aéreos, três dos quais da AFO-CELCA, uma associação de empresas dosector papeleiro e de celulose.

O dispositivo de vigilância, detecção e

combate aos incêndios conta ainda com240 postos de vigia espalhados por todo opaís e com 35 embarcações da Autorida-de Marítima.

Gil Martins garantiu que até hoje (quar-ta-feira) todo este dispositivo estará ope-racional.

Os meios humanos e materiais disponí-veis são coordenados pela Autoridade Na-cional de Protecção Civil, através do seuComando Nacional e Comandos Distritaisde Operações de Socorro.

De acordo com a ANPC, a área ardidaem Portugal nos primeiros seis meses doano mais do que duplicou em relação aomesmo período de 2007.

De 01 de Janeiro a 29 de Junho arderamem todo o país 3.569 hectares, enquanto em2007 a área ardida foi de 1.381 hectares.

No mesmo período registaram-se 3.676ocorrências (2.804 em fogachos e 872 emincêndios florestais) contra os 2.941 queocorreram no primeiro semestre de 2007.

Os dados da ANPC mostram tambémque o maior número de incêndios se regis-tou em Fevereiro, Março e Abril.

CERIMÓNIA DE DESCERRAMENTO DA PLACATOPONÍMICA SERÁ NA PRÓXIMA SEXTA-FEIRA

Praça de Coimbra passaa chamar-se Fausto Correia

Depois de amanhã (sexta-feira), Dia da Cidade, Coimbra presta significativa homenagem aFausto Correia, um dos mais dedicados conimbricenses, prematuramente falecido em Bruxelas(no dia 9 de Outubro do ano passado), onde se encontrava a ocupar o lugar de eurodeputado paraque fora eleito em listas do Partido Socialista.

Assim, a Câmara Municipal de Coimbra dá cumprimento à decisão que aprovou com parecerunânime da Comissão de Toponímia, atribuindo o nome de Fausto Correia à até aqui designadaPraça Machado de Assis.

Trata-se de uma escolha repleta de simbolismo, já que era naquela Praça que Fausto Correia,ao longo de décadas, se reunia com os amigos, na esplanada do café Trianon, sempre que, aosfins-de-semana, regressava à sua Coimbra, para animados e pluralistas debates sobre as ques-tões mais diversas.

A cerimónia está marcada para as 19,30 horas e o elogio de Fausto Correia será feito porManuel Queiró.

Page 3: O Centro - n.º 54 - 02.07.2008

3DE 2 A 15 DE JULHO DE 2008 COIMBRA

Temos uma excelente sugestãopara uma oferta a um Amigo, a umFamiliar ou mesmo para si próprio:uma assinatura anual do jornal“Centro”

Custa apenas 20 euros e ainda re-cebe de imediato, completamentegrátis, uma valiosa obra de arte.

Trata-se de um belíssimo trabalhoda autoria de Zé Penicheiro, expres-samente concebido para o jornal“Centro”, com o cunho bem carac-terístico deste artista plástico – umdos mais prestigiados pintores portu-gueses, com reconhecimento mesmoa nível internacional, estando repre-sentado em colecções espalhadas porvários pontos do Mundo.

Neste trabalho, Zé Penicheiro,com o seu traço peculiar e a incon-fundível utilização de uma invulgarpaleta de cores, criou uma obra quealia grande qualidade artística a umprofundo simbolismo.

De facto, o artista, para represen-tar a Região Centro, concebeu umaflor, composta pelos seis distritos queintegram esta zona do País: Aveiro,Castelo Branco, Coimbra, Guarda,Leiria e Viseu.

Cada um destes distritos é repre-sentado por um elemento (remeten-do para o respectivo património his-tórico, arquitectónico ou natural).

A flor, assim composta desta for-

ma tão original, está a desabrochar,simbolizando o crescente desenvolvi-mento desta Região Centro de Portu-gal, tão rica de potencialidades, de His-tória, de Cultura, de património arqui-tectónico, de deslumbrantes paisagens(desde as praias magníficas até às ser-ras imponentes) e, ainda, de gente hos-pitaleira e trabalhadora.

Não perca, pois, a oportunidade dereceber já, GRATUITAMENTE ,esta magnífica obra de arte (cujas di-mensões são 50 cm x 34 cm).

Para além desta oferta, o beneficiá-rio passará a receber directamente em

sua casa (ou no local que nos indicar),o jornal “Centro”, que o manterásempre bem informado sobre o que demais importante vai acontecendo nes-ta Região, no País e no Mundo.

Tudo isto, voltamos a sublinhá-lo,por APENAS 20 EUROS!

Não perca esta campanha promo-cional e ASSINE JÁ o “Centro”.

Para tanto, basta cortar e preen-cher o cupão que abaixo publicamos,e enviá-lo, acompanhado do valor de20 euros (de preferência em chequepassado em nome de AUDIMPREN-SA), para a seguinte morada:

AUDIMPRENSAJornal “Centro”

Rua da Sofia. 95 - 3.º3000–390 COIMBRA

Poderá também dirigir-nos o seu pe-dido de assinatura através de:

� telefone 239 854 150� fax 239 854 154� ou para o seguinte endereço

de e-mail:[email protected]

Para além da obra de arte que desdejá lhe oferecemos, estamos a prepararmuitas outras regalias para os nossosassinantes, pelo que os 20 euros da as-sinatura serão um excelente investi-mento.

O seu apoio é imprescindível paraque o “Centro” cresça e se desen-volva, dando voz a esta Região.

CONTAMOS CONSIGO!

ORIGINAL PRESENTE POR APENAS 20 EUROS

Ofereça uma assinatura do “Centro”e ganhe valiosa obra de arte

Desejo oferecer/subscrever uma assinatura anual do CENTRO

No passado sábado, a Alternativa –Associação Cultural para o Desenvolvi-mento do Ser Humano, iníciou um ciclode palestras e visitas intitulado “Figurasde Coimbra”.

O primeiro evento deste ciclo, que seprolongará por 2009 e 2010, foi dedicadoa Pedro Nunes (nascido em Alcácer doSal em 1502 e falecido em Coimbra em1578), um dos maiores (para muitos omaior) cientistas portugueses de todos ostempos. Esta acção decorreu no Obser-vatório Astronómico da Universidade deCoimbra, em Santa Clara.

A iniciativa começou com uma pa-lestra sobre Pedro Nunes por João Fi-lipe Queiró, Professor Catedrático doDepartamento de Matemática da FC-TUC, um grande estudioso da históriada ciência e do ensino da Matemática,que muito se destacou nas comemora-çoes dos 500 anos do nascimento dePedro Nunes.

Associação Cultural Alternativapromove palestras sobre figuras de Coimbra

Seguiu-se a visita às instalações e equi-pamentos do Observatório, guiada peloseu Director, Artur Soares Alves (Pro-fessor Catedrático do Departamento de

Matemática da FCTUC).Entre os vários aspectos interessan-

tes ali observados, saliente-se uma répli-ca do anel náutico concebido por Pedro

Nunes, de um modelo do nónio e de di-versos instrumentos de navegação usa-dos pelos marinheiros portugueses daÉpoca Moderna, para além de muitasoutras peças valiosas.

À noite, de novo no Observatório As-tronómico, decorreu uma sessão de ob-servação das estrelas, conduzida porJoão Fernandes, Professor de Astrono-mia da Universidade de Coimbra.

Tratou-se, pois, de uma significativahomenagem à figura e à obra de um dosgrandes nomes da Matemática europeiado século XVI, que foi um distinto lenteda Universidade de Coimbra e cosmó-grafo-mor do Reino.

Dias antes, a Alternativa promoveraa sua quinta tertúlia, que decorreu naGaleria Santa Clara, subordinada ao tema“Associativismo: um novo corporativis-mo?”, que teve como orador principal oPresidente do Conselho da Cidade deCoimbra, José Dias.

PEDRO NUNES EVOCADO NO OBSERVATÓRIO ASTRONÓMICO

Amadeu Carvalho Homem (professor universitário e dirigente da “Alternativa”)e José Dias, Presidente do Conselho da Cidade de Coimbra

Page 4: O Centro - n.º 54 - 02.07.2008

4 DE 2 A 15 DE JULHO DE 2008NACIONAL

ponto . por . ponto

Por Sertório Pinho Martins

José Sócrates não quis remodelar algu-mas peças do governo no início de 2007, comtempo para refrescar protagonistas em pas-tas sensíveis à governação interna e em ta-refas de grande impacto na presidência por-tuguesa dos 27, o que na altura não causariaestranheza ou reparos à oposição, muitomenos poria em causa a cooperação presi-dencial. Era um meio-de-mandato pacífico,sem ruídos de rua ou altercações domésti-cas… mas venceu a certeza inabalável deque estava tudo sob controlo, apesar de al-guns (já perceptíveis) erros de casting, emcasos flagrantes de insensatez política, im-perícia negocial ou falta de preparação téc-nica (Saúde, Economia, Agricultura, Educa-ção, Justiça, e mais uns tantos que depoisdecidiram fingir de mortos para não seremdetectados). A saída de Correia de Campose o pas-de-deux a que Isabel Pires de Limase prestou (Freitas do Amaral e Campos eCunha ‘disseram’ muito cedo do seu desa-pontamento), acabaram afinal por não senotar no contexto de uma falta gritante dedesinfecção política, que urgia. E as gaffessucederam-se, a inépcia campeou em vári-os quadrantes da vida quotidiana, as multi-dões desceram à rua em protestos gigantes-cos (professores, pescadores, agricultores,sindicatos), o primeiro-ministro acabou bom-beiro-para-todo-o-serviço e sem tempo parapreparar as legislativas de 2009 (vai impro-visando com remendos de burel ante as pa-tacoadas de alguns dos seus ministros, o quesoa sempre a pronto-socorro e nunca a ac-ção friamente estruturada). E os erros deperfis ministeriáveis e de tempos de inter-venção foram-se arrastando, os yes-minis-ter assumiram a sua condição de segundas-linhas e afogaram-se na mediocridade emque hoje vegetam.

A algazarra insensata de há meses atrás,em torno do “fim-da-crise” apregoada pelogoverno, fez a populaça acreditar que o piorjá tinha passado. E de repente tudo caiu pelabase, com um fragor impensado: afinal nãoestava nada sob controlo, e não havia um‘plano B’ para emergências. O petróleo afo-gou esperanças; o preço dos bens alimenta-res alvoroçou o país até aos alicerces; osagricultores enfureceram-se pela retençãode verbas que lhe eram devidas e que o mi-

O c e r c o

nistério usou abusivamente até ao último se-gundo em proveito próprio; o contínuo fe-cho de empresas empurrou o desempregopara números só disfarçados pela engenha-ria estatística; o crash bolsista e a carestiado mercado de capitais podaram até ao tu-tano o PSI-20; a banca sofreu em silênciouma derrocada sem precedentes, que só asanteriores aventuras em off-shore ameni-zaram; e os responsáveis políticos puseramas mãos na cabeça, não para lamentar ouse penitenciarem humildemente, mas ape-nas para inventar desculpas esfarrapadas etentar dizer aos basbaques atónitos que orei afinal não vai nu.

E agora? Agora, acabado o circo deLuís Filipe Menezes e Santana Lopes

(que ia dando para umas tardes “por-reiras-pá” na Assembleia da Repúbli-ca), e com a esquerda parlamentar acrescer para cima de um PS entaladotambém pela conjuntura internacional,que não foi capaz de antever e preve-nir, nem usar atempadamente como al-mofada credível (agora é tarde, depoisde todas as parolices políticas atiradasao vento por alguns ministros), o exe-cutivo de José Sócrates está debaixode fogo e cercado por todos os lados.A eleição de Manuela Ferreira Leiteganhou uma dimensão que obviamen-te não teria se ocorresse em clima deapaziguamento sócio-económico; o pró-prio Presidente da República não pode

fechar por mais tempo os olhos esperan-çados numa melhoria governativa quetarda; a barriga vazia dos novos pobrese a decapitação da classe média (que nãopode escapar à máquina fiscal) sobemde tom no mar encapelado de um hori-zonte em que o PS já tinha começado afazer campanha para 2009. Mas que vaiter de engordar com novas promessas,que ou cumpre e rapa o resto do fundodo tacho, ou deixa cair e leva um chutono traseiro no Outono do próximo ano.

“E agora?”, deve repetir até à exaustãoJosé Sócrates, questionado dentro do pró-prio PS por figuras históricas e respeitadas(Mário Soares, Manuel Alegre), e a quemsó resta a clarividência e a segurança políti-ca de Vieira da Silva, a fidelidade cega deTeixeira dos Santos, a discrição premedita-da de Luís Amado – porque o resto é paisa-gem inóspita e ervas a crescer ao Deus-dará. O futuro não augura nada de bom, eestar no governo nesta altura oscila entre opesadelo, o pânico e a vontade de se enfiarpelo chão abaixo, com alguns já a murmu-rar baixinho “porque carga de água me vimmeter numa alhada destas”!... E quando arataria começar a sair para o convés e alançar-se à água, antes que o casco abrafendas ou o Almirante mande arrestar ocargueiro, porque “está a ser posto em cau-sa o regular funcionamento das instituiçõese o dever soberano de servir a República”?!Ainda haverá tempo e o barco aguentaráas ondas da tal remodelação que está ano emeio fora de prazo? Não vejo muito maisque o primeiro-ministro possa fazer, de sur-presa e com efeito atordoante, para rompero cerco e acalmar a multidão em fúria, ti-rando assim o tapete a algumas críticas fe-rozes que atingiram em cheio os sectoresmais fragilizados pela incompetência e in-continência verbal dos respectivos ministros.O anúncio de novas iniciativas sociaisou quejandas já perdeu impacto, nomeio de um torvelinho em que a confi-ança dos portugueses acompanha dia-riamente o rastejar da bolsa, a subidada inflação, taxas de juro, petróleo ebens alimentares – estes, sim, os ver-dadeiros pesadelos de um povo de es-quecidos lá para os lados do sol-postode uma Europa em estertor. E ou JoséSócrates remodela, ou a chicotada debalneário vai-lhe ser dolorosa, quer ve-nha das bandas de Belém, quer seja di-tada pelo resultado das urnas nas pró-ximas legislativas.

Certificação energética obrigatóriapara todos os edifícios novos

Todos os edifícios novos, independente-mente da área ou fim, são a partir de agoraobrigados a uma certificação de desempe-nho energético e a medidas de redução doconsumo de energia como colectores sola-res para aquecer as águas.

A segunda fase do Sistema Nacional deCertificação Energética e da Qualidade doAr Interior nos Edifícios (SCE) entrou emvigor a 1 de Julho, obrigando a que os pedi-dos de licenciamento de edifícios novos te-

nham o certificado energético.A agência para a energia (ADENE),

entidade gestora do SCE, afirmou em co-municado estimar que até ao final desteano tenham sido certificados “cerca de 40mil edifícios de serviços e de habitação”.

Até agora a certificação era exigidaapenas a edifícios novos com mais de milmetros quadrados de área construída, masa segunda fase do SCE, que começou emJulho deste ano, alargou a certificação a

todos os edifícios novos.Os certificados contêm informação so-

bre as necessidades energéticas do edifícionuma utilização normal e também as suascaracterísticas construtivas, factores quedeterminam a sua maior ou menor eficiên-cia energética.

O mesmo documento integrará aindapropostas sobre medidas de melhoria dodesempenho energético e da qualidade doar interior.

Os ambientalistas da Quercus congratu-lam-se com o novo sistema de certificação,lembrando que o sector dos edifícios é res-ponsável por uma grande fatia dos consu-mos de energia final (30 por cento).

“Um edifício eficiente estará a contribuirnão só para um consumo racional de ener-gia, como também para a redução da factu-ra energética dos consumidores. Os benefí-cios alargam-se também ao ambiente, poisestaremos a reduzir consequentemente asemissões de dióxido de carbono para a at-mosfera”, lembram os ambientalistas emcomunicado divulgado.

Page 5: O Centro - n.º 54 - 02.07.2008

5DE 2 A 15 DE JULHO DE 2008 COIMBRA

[email protected]

CarlosEsperança

ponte europa

Em Outubro de 1967 fui desterrado parao norte Moçambique, pelo único crime deser português, obrigado a integrar o exérci-to de ocupação que o ditador vitalício – Sa-lazar – resolveu usar para atrasar a históriae se manter no poder até que a cadeira tevea audácia que faltou aos compatriotas.

Foram 26 meses de sofrimento, às vezesde fome, quase sempre de medo, nada quese comparasse ao flagelo dos povos indíge-nas: a lepra, a tuberculose, a fome e o terrorda tropa e da FRELIMO, populações queas autoridades administrativas tratavamcomo se fossem gado.

Já lá vão quase quarenta anos que termi-nou o pesadelo, e ainda hoje recordo os ros-tos tristes das crianças e o ar de sofrimentode um povo ocupado por invasores. Maspara que hei-de falar disso se a dor e a re-volta não se apagam?

É a farsa que hoje decorre no Zimba-bué que me trouxe à memória aquelas pa-ragens e os tempos do Portugal salazaris-

O patriarca da família Jardimdas revistas cor-de-rosa

ta. Tal como o nosso ditador vitalício, tam-bém o que hoje o imita na farsa eleitoralse considera perpétuo e intransigente aceder o poder. Ouvi-o, há pouco, a dizerque o poder lhe foi dado por Deus e quenão permitiria que lho tirassem.

Curiosamente, também era então vitalí-cio o ditador do Malawi, um pequeno paísque fazia fronteira com a região do Niassae que o exército português invadia regular-mente sob o pretexto de perseguir os solda-dos da FRELIMO. O presidente vitalício era,como todos os ditadores, um indivíduo sem

dignidade. Chamava-se Banda e tinha umcônsul na cidade da Beira que era o portu-guês mais influente de Moçambique, antigomembro do Governo de Salazar, perigosopolítico habituado a trabalhar na sombra.

Um dia a Companhia de Caçadores1626, uma força de intervenção, invadiuo Malawi e, contrariamente ao costume,esqueceu-se de um 1.º cabo, fardado earmado, na pressa de se afastar dos jipesda polícia militar do país invadido. Ficouansioso o Comandante do Batalhão n.º1936, um destemido e honrado tenente-

coronel, Luís Canejo Vilela, quando o ca-pitão lhe deu conta da expedição e do de-saparecimento do militar.

As coisas nem sempre são tão gravescomo parecem, basta a desonestidadedos homens e a falta de honra seremmaiores do que deviam.

Na sede do Batalhão, no Catur, apare-ceu no dia seguinte o famigerado Eng.ºJorge Jardim no avião particular, com pi-loto privativo. Dois dias depois o 1.º caboera entregue, incólume, em Mandimba(fronteira), com o camuflado intacto, omorteiro e as respectivas granadas.

Dessa vergonha, que acabou bem,guardo a foto que aqui deixo. Entre omajor Artur Batista Beirão, à esquerda(que viria a ser general comandante daRegião Militar de Lisboa, onde substituiuVasco Lourenço) e o tenente-coronel LuísVilela, está uma figura do fascismo por-tuguês, disfarçado de régulo, pai e avô dasCinhas e Pimpinhas com o mesmo apeli-do, o indivíduo que ameaçou Moçambi-que com um banho de sangue na loucaaventura de tentar uma independênciabranca, à semelhança da Rodésia e daÁfrica do Sul.

Eis um pouco da história que ninguémconta.

Abre amanhã (quinta-feira, dia 3 deJulho), no Choupalinho, mais uma edi-ção da Feira Popular de Coimbra, quefuncionará até ao próximo dia 20, orga-nizada pela Junta de Freguesia de San-ta Clara.

Com um orçamento de pouco maisde 100 mil euros, este evento, um dosmaiores certames que se levam a efei-to em Coimbra, conta com parcos apoi-os institucionais.

José Simão, Presidente da Junta deFreguesia de Santa Clara, sublinha esteaspecto, referindo a disparidade de va-lores com que a edilidade conimbricen-se apoia a realização deste certame,apenas 7 mil euros, enquanto que paraa organização da CIC concedeu 135 mileuros.

Apesar disso, o Presidente da Juntade Freguesia e seus colaboradores “ar-regaçaram as mangas” e, tal como jásucedeu em anos anteriores, preparamtodas as condições para que sejam 17dias de festa oferecidos à cidade de Co-imbra e à Região Centro, aos seus ha-bitantes e aos milhares de turistas naci-onais e estrangeiros que nesta altura nosvisitam.

A organização envolve 35 funcioná-rios e cerca de meio milhar de feiran-tes, entre empresários e colaboradores.

MUITAS ATRACÇÕES NO CHOUPALINHO AO LONGO DE 17 DIAS

Feira Popular de Coimbra abre amanhã

Funcionará das 20h00 às 24h00, epara além das habituais atracções terátambém a sempre típica e apreciadazona de restauração, onde a sardinhaassada certamente voltará a reinar, comas febras e o frango, a broa e o caldoverde, o bom vinho, a sangria – tudo istocoroado com a nobreza gastronómicada doçaria conventual. Claro que tam-bém ali estarão as farturas que tantosapreciam.

Um dos grandes atractivos deste ano,serão as massagens térmicas de jade,que, de acordo com os promotores, per-mitirão ao visitante retemperar energi-as de forma original e muito agrdável.

Mas. como já se referiu, ali vãoestar asdiversões que fazem a alegria de miúdos egraúdos, desde os carros de choque aoscarrocéis, dos cavalinhos ao karting.

Para quem visitar a Feira, a partir deamanhã, tudo deverá estar a funcionar

de forma exemplar.Contudo, para que tal seja uma reali-

dade foi necessário trabalho árduo e noi-tes perdidas a ultimar todos os porme-nores.

De facto, a organização da Feira Po-pular queixa-se de que um dos grandesproblemas que enfrenta tem a ver como escasso tempo de que dispõe paramontagem de todas as estruturas, pra-ticamente apenas três dias, isto tendoem conta o encerramento da CIC, a 29de Junho, e o arranque da Feira Popu-lar, a 3 de Julho.

Mas o empenho da autarquia santa-clarense, tal como o tem demonstradonos anos anteriores, embora em circuns-tâncias bastante distintas, é o mesmo:apesar das dificuldade, a Feira Popularabrirá as suas portas amanhã.

Refira-se, por último, que para alémdos divertimentos tradicionais, esta edi-ção da Feira Popular de Coimbra temainda para oferecer aos visitantes cin-co espectáculos musicais, a saber: Di-xys (no dia 5 de Julho), Biscoitos (a 11),Incensos (a 12), Kremlin (a 18) e San-tisabel (a 19).

Por tudo isto, bem se justifica umaou mais visitas à Feira Popular, agoraenvolvida pelo excelente Parque Verdeda margem esquerda.

Page 6: O Centro - n.º 54 - 02.07.2008

6 DE 2 A 15 DE JULHO DE 2008INTERNACIONAL

Fiodor Lukyanov *

* in revista A Rússia na Política Global

Realizou-se mais uma cimeira semestralRússia-UE. O encontro decorreu em 26-27de Junho na cidade de Khanty-Mansiysk,capital de uma das regiões da Sibéria, ri-quíssima em petróleo, gás natural, ouro ediamantes.

Na cimeira foi anunciado o início das con-versações (que começam a 4 de Julho emBruxelas) com vista a assinar um novo acor-do estratégico entre a UE e a Rússia, emsubstituição do vigente «Acordo sobre Par-ceria e Cooperação».

Depois das três cimeiras infrutíferas, con-segiu-se, finalmente, um resultado formal, oque já pode ser considerado um êxito. Noentanto, dada a presente atmosfera na polí-tica europeia, o diálogo entre Moscovo eBruxelas promete ser longo e difícil.

Hoje em dia, a Europa Unida tem déficede grandes objectivos políticos. Na verda-de, os dois objectivos anteriores – acabarcom a inimizade secular entre a França e aAlemanha, e superar a divisão da Europatradicional após a queda da cortina de ferro– foram cumpridos.

A etapa seguinte consiste em avançarpara uma Europa verdadeiramente unidacom base numa identidade política e siste-ma de gestão supraestatal comuns. Maspara tal as nações europeias não estão pre-paradas: a ameaça de perder a soberania,que lhes pareceu muito real, cria um ambi-ente desfavorável para poderem progredirneste sentido.

A UE acaba de se tornar numa vítima dasua própria propaganda, embora antes te-nha sido exactamente a habilidade de ven-der bem os passos de integração que asse-gurou os êxitos do projecto europeu. O sig-nificado de constituição era descrito aos ci-dadãos de modo tão pomposo, que muitoscomeçaram a acreditar numa Europa fede-rativa, capaz de subordinar todos a umaburocracia centralizada. Na verdade, a

Rússia – UE: um acordo intercalar

Constituição Europeia, sem falar já do Tra-tado de Lisboa, previa apenas pequenospassos nesta direcção. Pelos vistos, isto jábastou.

Por outro lado, por que formular um ob-jectivo político se acaba de ser criado ummercado europeu gigante e atingido um ní-vel do bem-estar sem precedentes? Por quenão gozar simplesmente destes êxitos notá-veis, em vez de se colocar novas tarefasciclópicas?

AS RAZÕES ECONÓMICASNÃO BASTAM

Os fundadores da UE – que lançaram oprocesso nos anos 40 e 50 do século passa-do – compreendiam que para uma verda-deira integração as razões económicas nãobastam. Apenas um objectivo político, reco-nhecido por todos, é capaz de fazer comque as nações limitem o seu egoísmo e pra-tiquem auto-restrição em nome de progres-so geral. Sem uma compreensão mútua,ajustar uma posição comum transforma-senuma luta por bens, subsídios, prerrogativas,agendas nacionais, etc.

Presentemente, a UE não tem um ob-jectivo político comum. Vários grupos depaíses discernem de modo diferente tantoas raízes dos problemas europeus, como olugar da Europa no mundo. Cada impor-tante questão de política externa provocaprofundas divergências, já que exige adop-tar uma atitude para com os outros joga-dores mundiais (por exemplo, os EUA e a

Rússia).O enorme poderio económico da UE

contrasta com a sua incapacidade de fazerum jogo político sério, reflectindo-se negati-vamente no avanço geral.

Na última crise da integração – a cha-mada «euroesclerose» dos anos 70 e 80 doséculo XX – ninguém esperava ver a UE(CEE) agir independentemente. A divisãodos papéis na Aliança transatlântica era cla-ra: os EUA tratavam da estratégia e da se-gurança, enquanto a Europa Ocidental con-fiava no parceiro, ajudando-o na medida dassuas possibilidades.

Hoje em dia não existe uma ameaça in-tegradora, e os horizontes da Europa e dosEUA diferem substancialmente. A visãoglobal da Casa Branca, orientada para usode força e garantia da sua liderança mundi-al, não encontra grande apoio nas capitaisdo Velho Mundo. E quando alguns políticoseuropeus tecem ambições mais globais,acontece que para as realizar faltam recur-sos políticos, militares e humanos. A Euro-pa Unida tem perdido gosto pela grande ge-opolítica.

A UE derrapa também como uma forçaregional. As naturais tentativas de alargar asua influência à parte ocidental do espaçopós-soviético levam-na a uma zona de ace-rada concorrência geopolítica. Nesta zonareina a política clássica de concorrência ede força, da qual o Velho Mundo não ape-nas está desabituado, como procura fugir.A UE já se estendeu à Europa Central e à

Europa de Leste por meio de uma expan-são pacífica, mas não consegue digerir estebocado.

UMA QUESTÃO-CHAVEPARA A EUROPA

As relações da UE com a Rússia sãouma questão-chave para o futuro da Euro-pa. E não se trata apenas de as suas econo-mias serem mutuamente dependentes ecomplementares. Colocar o objectivo de umaunião da Europa nos seus limites geográfi-cos é capaz de vir a ser uma locomotiva,que puxará o processo de integração. Damesma forma como foi o desejo de acabarde vez com derramamentos de sangue noVelho Continente. Não é uma tarefa buro-crática, mas antes histórica.

Só assim se pode resolver a questão dedesenvolvimento progressivo e estável dospaíses entalados entre a Rússia e a UE,nomeadamente a Ucrânia, a Bielorrússia ea Moldova. De contrário, continuarão comoum campo de concorrência permanente:Moscovo a opor-se à sua integração nasestruturas ocidentais, e a Europa a fazer opossível para que não caiam na esfera dainfluência da Rússia.

Claro que não se pode falar sobre a en-trada da Rússia na UE, pois não será este oponto final do desenvolvimento europeu.Trata-se de elaborar um formato inteiramen-te novo de arquitectura continental.

Por enquanto, a Rússia prefere fantasiar«ser um centro financeiro mubdial», e aEuropa delira da sua perfeição moral. Asduas coisas dificilmente passarão na provado tempo.

É ridículo falar agora sobre um acordouniversal a reger as relações Rússia-UE nosanos vindouros. Nem Moscovo nem Bru-xelas sabem como será a situação na Euro-pa dentro de 5-7 anos. Tudo está a mudarrapida e imprevisivelmente. O contexto glo-bal dita rígidas regras do jogo e estreita aspossibilidades tanto da UE, como da Rús-sia. E daqui a 5-7 anos, as perspectivas po-dem ser bem diferentes.

O Tratado de Lisboa, em que tanto seempenhou o nosso primeiro-ministro, so-freu um rude golpe com o “Não” da Ir-landa, fragilizando a Europa a 27.

A Irlanda, por imperativo constitucio-nal, tem de referendar tratados interna-cionais. Fê-lo, e disse “Não”. Segundo oseu primeiro-ministro, são várias as ra-zões que levaram os irlandeses a toma-rem essa decisão. Entre outras, mostra-ram “apreensão em relação ao futuro edúvidas quanto ao caminho que a UE

pretende seguir”. Para Brian Cowen, sãomuitas as preocupações do eleitorado ir-landês, em relação ao funcionamento dasinstituições europeias.

E nós portugueses, será que sabemosrealmente o que é o Tratado de Lisboa equais as suas implicações na vida de to-dos nós?

Em artigo de opinião no Sol, CarolinaPestana abordava este assunto com umainterrogação: “Se me perguntarem quaissão os quatro pilares fundamentais doTratado de Lisboa, não sei responder.Perguntei a duas ou três pessoas, de idei-as diferentes e nível de informação se-melhante, e também não sabiam. Fiqueimuito preocupada”.

Como disse recentemente o primeiro-

ministro José Sócrates, a construção eu-ropeia só faz sentido com todos, ou seja,com os 27 países integrantes da Comu-nidade Europeia. A democracia tem des-tas coisas, mas é o sistema com o qualme identifico e defendo. Ainda recente-mente, António Barreto teria afirmadoque era questionável que menos de ummilhão de irlandeses decidissem em sen-tido contrário de quase 500 milhões deeuropeus.

Os responsáveis europeus têm agorauma difícil tarefa pela frente: convenceros irlandeses das vantagens do Tratadode Lisboa. Mas, para isso, não basta ex-plicar. É preciso que aqueles que vão teressa responsabilidade, o saibam fazermuito bem, de modo a não deixarem

quaisquer dúvidas.A história da Europa está a ser feita

de avanços e recuos. Quando a Consti-tuição Europeia foi a referendo, tambéma França e a Holanda disseram “não” eo projecto europeu não parou por isso.Nada está perdido, mas permito-me ci-tar Francisco Sarsfield Cabral: “Tentarconstruir uma Europa contra a vontadedos europeus é complicado”.

José Soares

[email protected]

O chumbo da Irlanda

Page 7: O Centro - n.º 54 - 02.07.2008

7DE 2 A 15 DE JULHO DE 2008 COIMBRA

num dos melhores locais de Coimbra(Rua Pinheiro Chagas,

junto à Avenida Afonso Henriques)

VENDE-SE

Informa telemóvel 919 447 780

Casa com 3 pisose amplo quintal

Um dos dois mestres que tive era ho-mem de princípios rígidos mas doa quais nãovinha mal ao mundo.

Dezassete horas em ponto e ei-lo senta-do à pequena mesa onde retocava negati-vos. Era a hora sagrada do chá com torra-das que entretanto a empregada fizera.

Quem surgisse àquela hora fatídica parase fotografar – fosse quem fosse – só eraatendido após terminado este ritual.

Gostava de fazer comparações e tinhauma forma muito pessoal de ensinar. Di-zia que tanto faz revelar uma fotografianuma frigideira de barro vidrado comonuma tina de aço inoxidável. O que eranecessário é tirá-la na conta, isto é, coma tonalidade certa.

Lembrava que uma máquina pode ser

Varela Pècurto

Fotógrafo – tal como Padre e Médicouma maravilha técnica mas quem faz a fo-tografia é quem está atrás. A técnica é sóveículo. Não tem cérebro.

Dos seus ensinamentos jamais esque-ci o que comparava o fotógrafo ao padree ao médico. Nenhum deles deve falar doque vê e ouve porque o sigilo é princípiosagrado. Fazendo-se dele uma regra acumprir durante a vida, a comunidade con-siderar-nos-á um cidadão de confiança.

No entanto passei por situação difícilde contornar, por não poder denunciá-la.Fui contactado para tirar uma fotografianos arredores de Coimbra mas antes tivede jurar que a ninguém contaria ter feitotal serviço. Tratou-se de fotografar umretábulo com a Natividade que estavanuma sala transformada em curral, numaquinta apalaçada. Soube depois, que gra-ças à composição e medidas, a peça ti-nha pertencido ao palácio de S. Marcos,confirmação obtida na crónica sobre oassunto, escrita pelo último cronista des-

te convento.Das poucas palavras que ouvi já com o

retábulo desmanchado e as pedras nume-radas, soube que tudo seria enviado rumo àU.S.A., remessa ilegal, clandestina; comoviajaria, não sei.

Os meses passaram e um dia, na Bai-xa de Coimbra, o indivíduo que me tinhacontratado, colocando-se à minha frente,exclamou:

Ainda bem que o encontro! Está liber-to do juramento sobre o retábulo, pois nãosaiu do país. Foi colocado numa capelaparticular perto de Sintra. Em todo o casonão convém falar do assunto. (Pois sim!Pensei logo).

Fiquei aliviado, sinceramente. Era menosuma perda do nosso património. Entre tan-tos desvios, alguns nem têm retorno, mes-mo depois de localizados.

Mas o meu mestre tinha razão:Fotógrafo é como médico e padre...

(Fotografia do retábulo de Sant’AnnaDionísio)

“Esta é a primeira prestação de uma gran-de dívida que todos temos para com JoãoFernandes” – afirmou António Arnaut nopassado sábado, no decorrer da homena-gem ao que foi, durante quase um quarto deséculo, Delegado Regional do Centro doINATEL (Instituto Nacional de Aproveita-mento dos Tempos Livres).

A sessão solene decorreu na Igreja deSantiago, repleta de admiradores e amigosde João Fernandes, desde destacadas figu-ras da cultura e da política, até anónimoselementos de associações culturais e recre-ativas da Região Centro que João Fernan-des tanto estimulou e apoiou.

António Arnaut, aliás, sublinhou queJoão Fernandes tem sido um exemplo decidadania,

Para além do advogado e escritor, tam-bém os outros oradores teceram rasgadoselogios a João Fernandes, todos eles unâni-mes em classificar como muito meritória aacção por ele desenvolvida em prol da cul-tura ao longo de mais de duas décadas a

QUASE UM QUARTO DE SÉCULO DE TRABALHO EXEMPLAR

João Fernandes homenageado por acção no INATEL

liderar o INATEL na Região Centro.O Governador Civil de Coimbra, Hen-

rique Fernandes, por seu turno, sublinhouque o homenageado conseguiu fazer doINATEL “uma escola cívica e de cultu-ra para todos”

O Presidente do INATEL, AlarcãoTroni, teve palavras de muito apreço pelo

trabalho desenvolvido por João Fernan-des, anunciando que vai solicitar ao Pre-sidente da República que lhe atribua umacondecoração.

O homenageado, naturalmente como-vido, agradeceu as palavras elogiosas e apresença de tantos amigos que enchiama Igreja.

Sublinhou que fora ele próprio a pedir quea cerimónia decorresse naquele local, já quefoi ali, na Praça do Comércio (maisc(Instituto Nacional de Aproveitamento dosTempos Livres), conhecida por “Praça Ve-lha”), que passou a sua meninice.

Lembrou que foi parar ao INATEL a

convite de António Campos, sublinhando quese tratava de um cargo não remunerado,por isso pouco apetecível.

Com a simplicidade que sempre foi seuapanágio, afirmou ser um homem rico, nãoem bens materiais, mas pela família que teme pelos amigos que conquistou.

Para além da dezena de discursos, a ho-menagem teve outro aspecto muito signifi-cativo: o desfile, pelas ruas da Baixa deCoimbra, de alguns dos muitos grupos daRegião Centro que João Fernandes apoiouao longo de mais de duas décadas.

Refira-se que o INATEL acaba de serextinto e transformado em Fundação.

João Fernandes no INATEL

O simbólico abraço de gratidão de António Arnaut a João Fernandes

Page 8: O Centro - n.º 54 - 02.07.2008

8 DE 2 A 15 DE JULHO DE 2008OPINIÃO

HERÓIS ACIDENTAIS

A Lusa deu-se ao trabalho de contaros deputados que se encontravam quar-ta-feira, pelas 17.20, no plenário da AR,onde se debatia a Conta Geral do Estado.

Dos 230 eleitos, estavam presentes 42.Os restantes 188 andavam, como SantanaLopes, “por aí”, talvez no bar a beber umcopo e a comentar as incidências da con-tratação de Cristian Rodriguez pelo F. C. doPorto, talvez a dormitar em alguma comis-são, talvez, quem sabe?, já no comboio ouno avião a caminho de um mais que mere-cido fim-de-semana. Discutiam-se, no ple-nário, insignificâncias como a questão dodéfice, o desenvolvimento, o empobrecimen-to dos portugueses. Lá fora estavam 30graus, e só quem não tivesse nada que fa-zer é que perderia tempo numa discussãocujo resultado antes de o ser já o era. (...)

Manuel António PinaJN 27/Junho/08

A CIVILIZADA SUÉCIA

A Suécia, habitualmente liberalíssima,civilizada e civil, tem terror ao terror. Aca-ba de apoiar, por uma maioria escassa noParlamento, poderes de intercepção decomunicações internacionais, sem autori-zação judicial prévia. A capacidade ficano Säpo, o serviço de segurança policial.Um amigo letrado explica-me que, no de-senrolar do processo, haverá sempre a vozde um juiz, embora não na fase de inicia-tiva. E acrescenta-me que o maior pro-blema será o de distinguir entre mensa-gens “internas” e “externas”, dado quemuito trânsito comunicativo sueco passapor servidores internacionais. Cabe ago-ra a palavra aos “freios e contrapesos”do sistema constitucional. A seguir, pelomenos, até à próxima bomba. (...)

Nuno RogeiroJN 25/Junho/08

O TRATADO E A IRLANDA

O Tratado de Lisboa foi maltratado naIrlanda? Por amor de Deus, apenas acon-teceu que os irlandeses, convidados a di-zerem o que pensam, disseram não. Osreferendos, como a democracia, são fei-tos com “sins” e com “nãos”!

Os principais responsáveis políticos dasdemocracias ocidentais têm de aprendera conviver com as regras do jogo demo-crático. Pode parecer estranho ou bizar-ro isto que acabo de escrever, mas sepensarmos nas reacções ao resultado ne-gativo do referendo ao Tratado de Lisboana Irlanda, talvez já se perceba melhor.

Bem, talvez perceba melhor quem qui-ser perceber porque, tal como o pior cegoé o que não quer ver, para mau entendedornem uma frase assim completa basta.

As reacções de indignação e ostensi-vamente violentas contra o povo irlandêspor se ter revelado inconformado com asbenesses europeias contidas no Tratadode Lisboa, revelam uma total falta de pre-paração para a sã convivência com a de-mocracia, tal qual ela é e não se vislum-bra que possa ser de outra forma. (...)

Manuel SerrãoJN 18/Junho/08

O “HOMO SPORTIVUS”

(...) O desporto, como riquíssima inter-mediação entre povos diversos, históriasautónomas, pessoas diferentes, tradiçõesespecíficas, valores contrastantes, desapa-receu. Evaporou-se, na consagração des-ta sua nova prática massificadora, inteira-mente encapsulado num ciclo de euforia/abatimento, que é o ciclo do eterno retornoque anima o novo espírito desportivo.

É interessante observar que quando sepergunta “o que é que se ganha, quandose vence um jogo?”, nunca se conseguereceber como resposta mais do que atra-palhadas tautologias, que ilustram bem omodo como o desporto se vive como umfim em si mesmo, que se esgota em cadaperformance, ao mesmo tempo que logose ilude com a antecipação da sua (inter-minável) repetição.

Há dias, depois da derrota portuguesafrente à selecção da Alemanha, João Lo-pes (que, com David Borges, é dos pou-cos a manter, entre nós, um registo dereflexão sobre o fenómeno desportivo)fazia aqui nas páginas do DN a perguntadecisiva: que exaltação da pátria é essa,que não resiste a uma derrota? Dito deoutro modo, que valores – patrióticos ououtros – são esses, que só se manifestamna euforia programada das televisões edas multidões por elas condicionadas? (...)

Manuel Maria CarrilhoDN 28/Junho/08

CONVERSA EM JERUSALÉM

Acaba de aparecer, com o título Jerusa-lemer Nachtgespräche (“Conversas Noc-turnas em Jerusalém”), uma série de diálo-gos entre dois jesuítas, em Jerusalém, noitedentro: o padre G. Sporschill, austríaco, e ocardeal Carlo Martini, antigo arcebispo deMilão e um dos nomes mais famosos daIgreja, durante anos considerado papabilis(possível Papa), que aos 75 anos se retirou

para Jerusalém: “Jerusalém é a minha pá-tria. Antes da pátria eterna.”

“Houve um tempo em que sonhavacom uma Igreja que segue o seu caminhona pobreza e na humildade, uma Igrejaque não depende dos poderes deste mun-do. Sonhei com o extermínio da desconfi-ança. Com um Igreja que dá espaço àspessoas que pensam mais longe. Com umaIgreja que anima sobretudo aqueles que

se sentem pequenos e pecadores. Sonheicom uma Igreja jovem. Hoje já não tenhoesses sonhos. Aos 75 anos, decidi-me porrezar pela Igreja. Olho para o futuro. Quan-do o Reino de Deus chegar, como será?Como será, depois da minha morte, o meuencontro com Cristo, o Ressuscitado?”

(...) Critica a encíclica Humanae Vi-tae, de 1968, com a proibição da chama-da “pílula contraceptiva”. “O mais tristeé que a encíclica é co-responsável pelofacto de muitos já não tomarem a sério aIgreja como parceira de diálogo e mes-tra.” Confessa que a encíclica HumanaeVitae foi negativa. “Muitos afastaram-seda Igreja e a Igreja afastou-se de muitos.Foi um grande estrago.” Mas, após qua-renta anos, “poderíamos ter uma novaperspectiva”. “Estou perfeitamente con-victo de que a direcção da Igreja podemostrar um caminho melhor do que o daencíclica.” Procuramos “um novo cami-nho” para falar sobre a sexualidade, ocasamento, a regulação da natalidade, aprocriação medicamente assistida.

Quanto ao preservativo e atendendo àsida, ele próprio diz que acabou por tornar-se o “cardeal da camisinha”, como lhe con-fessou a sorrir um padre do Brasil. (...)

Anselmo Borges(padre e professor de Filosofia)

DN 28/Junho/08

A PIOR DAS RESPOSTAS

Os juízes do Tribunal da Feira decidi-ram suspender os julgamentos. Decidiramfazer exactamente o contrário do que de-viam. Depois de dois juízes terem sidoagredidos, deviam querer julgar mais, nãomenos e mais tarde. Porque há, pelo me-nos, um julgamento que urge: o dos doistipos que agrediram os juízes. Suspenderjulgamentos porque os criminosos abusa-ram equivale a remeter a justiça portu-guesa para a Guerra de Solnado: “Sar-gento, fiz um prisioneiro!” – “Onde é queele está?” – “Não quis vir.” A justiça quetanto sabe e pratica símbolos – ele é to-gas, ele é vendas nos olhos, balanças eespadas – devia saber que sinais está apassar: a malta dá- -lhes umas lampari-nas e eles fecham a loja... Mas que órgãode soberania (tanto ano de latim devia ter-lhe ensinado: quer dizer, de mando, depoder, de autoridade) é este que se enco-lhe quando ofendido? (...)

Ferreira FernandesDN 28/Junho/08

O QUE É O “FERREIRISMO”

Num país onde o exercício da políticafoi entregue a habilidosos e vendedoresde promessas, em que o sentido do servi-ço público se perdeu, em que preponde-ram os interesses pessoais, os estados dealma e os caprichos, em que se multipli-cam as entradas de leão e as saídas desendeiro, alguém que é fiável e confiável,que vive habitualmente, que conhece o reale o quotidiano, que distingue o essencialdo acessório, que não desperdiça o tem-po nem as energias, que não quer nadapara si, que vem quando é difícil e que se

Page 9: O Centro - n.º 54 - 02.07.2008

9DE 2 A 15 DE JULHO DE 2008 OPINIÃO

apresenta exactamente como é, que jun-ta princípios e competência para fazer é,no mínimo, auspicioso. Se isto é o “Fer-reirismo” dou-me por satisfeita.

A opinião publicada, que substituiu hámuito a opinião pública em Portugal, ain-da julga que os políticos são um produtovendável, como um detergente ou um re-frigerante. Achei graça ao facto de osespecialistas de marketing terem dito, emuníssono, “não lhe mudem a imagem!”.Porque eles bem sabem que é hoje umvalor político em alta o ser-se exactamen-te o que se parece e parecer exactamen-te o que se é. Manuela Ferreira Leite éconfortavelmente normal e real, é tran-quilizadoramente ela própria. E esse vaiser, também, um dos traços do “Ferreiris-mo”: a normalidade de se ser mulher, mãede família, avó, dona de casa, ministraduas vezes, líder parlamentar e primeirapresidente de um partido político. (...)

Maria José Nogueira PintoDN 27/Junho/08

A ALEGRIA DOS CEMITÉRIOS

Falhei! Falhámos!” Dramático, numainfelicidade de intempérie, Ângelo Correiacrucificou-se no Congresso do PSD. Maslogo acusou a intriga permanente, o mal-dizer constante, a sombra pesada do ran-cor como factores determinantes para aenfermidade da alma do partido. Foi ummomento trémulo, lacrimoso, pungente. Ascâmaras das televisões percorreram asfaces dos ilustres, e os ilustres apresenta-vam as faces com o decoro espiritual re-comendado pela grave circunstância.

Pedro Passos Coelho quis saber qual oprojecto, qual o programa, qual a doutri-na, qual a estratégia que a Dr.ª ManuelaFerreira Leite possuía para resgatar apátria dos malefícios do “socialismo mo-derno” de José Sócrates. A pátria ficoumuito reconhecida, e até lhe saltou umafurtiva lágrima, com as estremecidas pre-ocupações do desenvolto Passos. A Dr.ªManuela Ferreira Leite, impassível, fecha-da, fatigada, gótica, na escura profundi-dade das suas cogitações parecia nemsequer ouvir.

Levemente rouco, místico, lívido, sur-giu na noite o fatal Santana. Os jornalis-tas, muito animosos, agitaram-se com in-tenso regozijo. “Agora é que é!” O Con-gresso decorrera morno, lento, pesaroso.E o velho animador da congregação nun-ca se deixara substituir, nem entregara oscréditos em mãos alheias. Falou em éticapolítica, como se ele próprio constituísseuma garantia da verdade, uma força daconsciência e, de certo modo, um instru-mento da justiça. A plateia, ante a sumá-ria execução, sorriu e aplaudiu.

O rosto da dr.ª Manuela Ferreira Leite,esse, permanecia o que tem sido: um enig-ma íntimo. Aliás, a substância do seu dis-curso (que Pacheco Pereira aplaudiu, fre-nético, com transporte e unção) foi o gé-lido resultado de uma assustadora ausên-cia de ideias. (...)

Baptista-BastosDN 27/Junho/08

O “NÃO” DA IRLANDA

(...) O que aconteceu na Irlanda deveser pensado no plano dos princípios, semnecessidade de se extrapolar de umasquestões para outras (referendo ou nãoreferendo, países que ratificaram o Tra-tado ou países que o não fizeram), ao sa-bor dos diferentes ordenamentos consti-tucionais, das conjunturas políticas e dosinteresses em presença.

Se a constituição irlandesa exige o refe-rendo, a UE não pode penalizar a Irlanda,nem por realizá-lo, nem pelo resultado ve-rificado, assim como não pode sancionaroutros países em que o desfecho do pro-cesso de aprovação, por hipótese, venha aser identicamente negativo. E a UE muitomenos pode avançar para soluções parce-lares de reconfiguração institucional. Temde encontrar uma saída de outra natureza.

O problema é que já não basta a equipa-ração da legitimidade da aprovação par-lamentar à legitimidade referendária, mes-mo que tal equiparação fosse correcta namatéria e, no limite, ocorre um paradoxoque poderia enunciar-se assim: se toda agente pensa que o Tratado de Lisboachumbaria num referendo europeu, essaconvicção torna-se um indicador políticode desconfiança incontornável e por issomesmo deixou entretanto de haver condi-ções para o Tratado entrar em vigor amenos que tal referendo se faça. A Irlan-da não fez mais do que tornar esta situa-ção ainda mais visível e a aprovação doTratado em cada um dos outros paísesainda mais frágil. (...)

Vasco Graça MouraDN 25/Junho/08

O REGRESSO DA POLÍTICA

A nostálgica viagem de George Bushpela Europa, para se despedir, não tevehistória. Bush acabou. Passeou com asenhora Merkel, nos arredores de Ber-lim, encontrou o Papa, que lhe prodigali-zou imerecidos elogios, conversou comSarkozy, na Embaixada dos Estados Uni-dos em Paris – onde inaugurou um monu-mento à amizade franco-americana – e,finalmente, correu a Londres, para tomarchá com a Rainha. Um programa socialintenso. Nada de especialmente interes-sante. Os seus interlocutores tinham ospensamentos direccionados para as elei-ções presidenciais americanas que seaproximam. Bush fingiu, sorridente, nãoter percebido.

No entanto, a crise múltipla, que teve oseu epicentro na América, chegou defini-tivamente à Europa e começou a fazerestragos sérios. O crescimento abrandou– e estamos só no começo – o custo devida aumentou, com mais desemprego eos salários bloqueados, o preço dos com-bustíveis subiu em flecha, com todas asconsequências que daí resultam, a revol-ta dos camionistas, dos taxistas, dos pes-cadores e dos agricultores, atingiu, aomesmo tempo, o que é significativo, vári-os países europeus – e vai continuar commais ou menos lockout e greves, uma vezque a Europa, com o não da Irlanda aoreferendo, paralisou de novo as institui-

ções, como se tivesse ocorrido algo deinesperado. Não foi. O pior, porém, é queninguém sabe quando e como se vai sairdo imbróglio. (...)

Mário SoaresDN 24/Junho/08

A FRAGILIDADE EUROPEIA

(...) A expansão colonial do século XIXfoi justificada pelas democracias europeiasda frente atlântica, nos respectivos parla-mentos, pela necessidade de dominar asfontes de matérias-primas e garantir mer-cados de produtos acabados. Destruídoesse império, a realidade, demonstradapelas manifestações que desfilam pelascapitais europeias, é que a Europa é umespaço com debilidades, carente de ma-térias-primas, carente de energia, caren-te de mão-de-obra, e começa a dar sinaisde carência de confiança.

A globalização implica sistemas aber-tos que sofrem as intervenções cuja ori-gem a lei da reflexividade situa nas anti-gas dependências coloniais, e os sinais deque a capacidade europeia de reformulare reanimar o sistema está em dificulda-des são eloquentes. A falta actual de lide-ranças poderosas e confiáveis tambémnão ajuda a inverter a tendência.

Os noticiários parecem mais empenha-dos em abordar os debates sobre as mu-danças dos modelos de comportamentosocial, ou sobre os vários circos de entre-tenimento dos tempos livres, incluindo aagenda de tempos livres de líderes políti-cos, do que os debates cívicos e políticossobre a relação da Europa com a circuns-tância que a envolve de maus augúrios ede más notícias.

A crise que traz multidões para a ruaem protesto pelas dificuldades de vidacausadas pela disfunção do sistema eco-nómico globalista, que foi instalado comoferecida abonação científica e poucagovernança, não é amenizada pelo recur-so a semânticas paliativas porque a po-breza crescente, o desemprego, e a fome,incitam ao exercício de direitos naturaispouco condescendentes. Esses direitosnaturais exigem uma sociedade de confi-ança para que a contenção recíproca,necessária para assegurar a coexistênciaefectiva de todos, seja um regulador na-tural. A pouco amiga circunstância exter-na, exige uma sólida mobilização cívica aque a UNESCO de longe apela, para quea política retome o comando confiável eoriente o rumo para horizontes menos in-quietantes. Por isso, a busca de um pro-jecto de governança confiável não podeser fixada e dramatizada na rejeição deuma proposta de Tratado, como se ape-nas houvesse para cada futuro uma visãode método sem alternativa. (...)

Adriano MoreiraDN 24/Junho/08

UMA CIÊNCIA OCULTA

Comecei a ver o Portugal-Alemanha,o único jogo do campeonato europeu aque assisti, apetrechado de algumas in-formações essenciais colhidas nos media.A saber, que a defesa portuguesa roçava

a perfeição, que os dois avançados portu-gueses não passavam de um embaraço,que o melhor jogador do mundo era in-questionavelmente português, que “tecni-camente” (?) Portugal era muito superiore que a Alemanha valia pela força física.

Confrontado com a realidade, não per-cebi nada. Cada ataque “germânico” de-correu sem oposição e, quase sempre,com êxito. Ambos os embaraços pátriosmarcaram. O “melhor jogador do mun-do” não acertou uma jogada. Os alemães,“tecnicamente” ou não, não deram hipó-teses, mesmo movendo-se devagarinhocontra uma equipa que corria e suava fei-to doida. No final, ouvi na televisão, Por-tugal ganhou “na estatística”. É verdadeque perdeu nos golos, mas isso porque otreinador anunciara a saída uns dias an-tes, atitude irresponsável que, se não im-pede a selecção de rematar 50 vezes,pelos vistos desmotiva-a de o fazer na di-recção da baliza adversária.

Decididamente, o futebol é inacessívela leigos. O engraçado é que parece igual-mente complicado para especialistas. Eolhem que não há poucos.

Alberto Gonçalves (sociólogo)DN 22/Junho/08

OS CAMIONISTAS

Talvez um dos sinais mais importantespara perceber o nosso tempo (isto supon-do, claro, que é possível perceber o nossotempo) seja o facto de o Oráculo de Del-fos ter perdido toda a sua popularidadepara o Oráculo de Bellini. A diferençaessencial entre os dois é que o segundoleva 75 euros à hora. De resto, o primeirorecomendava «Conhece-te a ti mesmo»,o que, pelo menos no meu caso, constituium péssimo conselho. Conheço-me ape-nas de vista, e já é bom. Um conheci-mento profundo obrigaria a uma convivên-cia mais intensa, e eu não me dou comgente desta. Sei apenas que dificilmentemereço fazer parte daquilo a que se cha-ma Humanidade. Enquanto grupo, percor-remos um longo caminho, desde o maca-co até àquilo que somos hoje, mas eu nãohá maneira de o esconder continuo inqui-etantemente próximo do macaco.

A Humanidade foi à Lua, é certo, maseu não sei como. Às vezes tenho dificul-dade em ir à Brandoa sem parar para pe-dir indicações. Parece que fizemos a fu-são do átomo, mas eu, pessoalmente, nemsei reconhecer um átomo se o vir na rua,quanto mais fundi-lo. Em contraponto, des-casco maravilhosamente amendoins. Soucompetente a catar piolhos. Aprecio umabanana de vez em quando. Não me digamque não continuo mais próximo do maca-co do que do homem moderno.

A minha sorte é que o mundo não é dohomem moderno. O mundo, percebemo-lo esta semana, está nas mãos dos cami-onistas. A mesma sociedade que colocauma sonda em Marte paralisa se os ca-mionistas se chateiam. (...)

Ricardo Araújo PereiraVisão

Page 10: O Centro - n.º 54 - 02.07.2008

10 DE 2 A 15 DE JULHO DE 2008CRÓNICA

A OUTRA FACEDO ESPELHO

José Henrique Dias*

[email protected]

LOUSÃ - Nelson Fernandes

arte em café

* Professor universitário

Um homem desce a noite com uma flor na boca.Presa entre os lábios, levemente tocada com os den-tes, colhida ao anoitecer. É amarela e grande como oluar. Do tamanho de todos os gestos impensáveis. Nãoé de Pirandello, não está numa estação de caminho deferro, mas não sabe se em estado terminal. Está numautomóvel parado e sorve o olhar de uma mulher a seulado. Amor clandestino? Não há amores clandestinos.Há amores ocultos e clandestinidade cúmplice. Nosamantes clandestinos.

A flor salta da boca, bate nas mãos e rola para ocorpo. Pára nas ancas, aquém da chuva e do vento,ergue-se da tempestade e espera…

Um corpo de mulher silencioso e distante acorda naflor. Ao alcance de um sorriso, mas terrivelmente dis-tante. Talvez um corpo adormecido para uma flor querolou da boca para todos os milagres possíveis. Talvezapenas o lugar vazio que estremece, despojado de to-das as maravilhas para a invenção da noite. Talvez.Como sabê-lo? Que é possível saber?

A flor regressa. Desce aos dedos da mulher sentadano vento, cai nas ancas, esconde-se, adormece. É umaflor para as mãos que se estendem, se alongam, febrise exaustas, no corpo da mulher deitada. É invasora einfesta todo o território da mulher.

Um homem tem apenas a flor na boca, amarela einútil como preces de esperança na salvação. Choracom a cabeça inerte e distante do colo da mulher que onão espera, que o não precisa, que o rejeita por dentro

da flor. De fora por dentro de todos os mistérios. Àdistância de um sorriso.

Aguda uma guitarra grita. Costuma dizer-se umaguitarra chora. Timbres de loucura silenciosa e brancana noite de chuva. Nas bocas descoloridas e frias dohomem e da mulher cristalizam beijos de insondáveldistância, sabem a cor da morte.

Súbito o homem canta. O canto sobe-lhe o sangue,agita-o, dança-lhe nas fontes, anda por dentro como oamor e a raiva. Canto angustiado e multiforme, monó-logo intemporal nos muros do tempo. Um homem des-tina-se ao silêncio.

A mulher continua distante, feita de chuvas lunaresna alucinação das cordas tensas da guitarra que grita,longe longe, sempre mais longe, devorando as raízesda morte expectante. Nos olhos do homem acorrenta-do ao vento no anoitecer.

Ophelia em automóvel de luar…

A mulher não entende. É um astro frio. Com mãosque descem inúteis nas ancas para o homem podermorrer silenciosamente com a flor na boca.

Luminosas as mãos agarram a chuva, edificam-se,derramam-se. O homem prende o gesto rápido dasmãos de chuva que fogem, cavalos soltos na voragemda noite para um frio interior. Sorri. Como quem dorme

infâncias. Como quem sonha regres-sos.

O poema faz-se contra o tempo e amemória. Ergue-se como voos sobreas mãos molhadas no coro grego dachuva em melodia de guitarra. Talvezo homem seja um poeta. Talvez. Masa mulher não pode saber. Sabe apenaster olhos de lago e luar e isso é tão im-portante. É tão fundamental olhar comolhos de luar e água.

Possivelmente aquele homem amaaquela mulher. Amor gratuito. Ninguémpode saber. Apenas a flor na bocaamarela e silente. Também a chuva nasmãos a incendiar o sangue. Um homeme uma mulher destinados à morte nosjoelhos marmóreos da mulher sentadae a flor floresce indefinidamente, já dotamanho da noite, do tamanho da mú-

sica nos ossos, no sexo, na cabeça desagregada. Amulher não sorri, assiste silenciosa e vaga a todas astempestades. Germinam sementes de desejo. Fazem-se flor. Nos ombros. Começo de todos os gestos nocôncavo das mãos assustadas na sua nudez. Fluidas.

Nos ombros da mulher dormita a flor amarela. Ésimplesmente uma flor nos ombros. A mulher é depoisum campo florido. Os ombros. O colo. As mamas. Asancas. O rigor triangular da espera. Côncava. Mulhertoda luar e nostalgia.

Deus vem sentar-se na cabeça do homem que olhaa chuva e as mãos poisadas nos movimentos enluara-dos da mulher deitada. Que pena deus estar de fériasnas Caraíbas, distraído com as novelas deitadas na areia,pensa. Encharca-se de solidão. Apetece-lhe gritar masnão tem voz. Secou-lhe deus nas palavras do grito. Dogrito sem palavras. Das palavras sem deus. Apenas

lágrimas secas. Não há nada a fazer. A mulher perdeu-se para a noite. Tem sexo de pássaro de asas cortadas.Nada acontece no olhar.

E se gritasse?! Se de repente aquele homem irresis-tivelmente lançasse para a noite seu grito diurno parabater na lua do ventre da mulher deitada? Um uivoimenso. Instante. Dissolvido na garganta com sabor anoite e viagem. Se descesse pelos fios de lua deixandoo rosto da mulher em todos os edifícios onde se escre-ve é proibido afixar cartazes e mansamente viesse di-zer-lhe no interior daquele automóvel nocturno…Viessedizer-lhe…Tentasse dizer…Dissesse…

Perdeu a palavra exacta. Que se pode dizer sem aexactidão das palavras exactas.

Morte aos poetas e aos homens sentados à beiradas ancas das mulheres silenciosas. Vivam mãos obs-cenas que sobem e tocam e sabem e vibram e mudame bebem e medem e geram lagartas de frutos frescosmovendo-se dos dedos nas ancas abertas das mulhe-res deitadas. Gestos sagrados. Definitivos. Consubs-tanciados além da memória. Litúrgicos e condenados àpolifonia redentora dos infernos. Salvos.

Um homem com uma flor amarela na boca sabe quea morte espera o instante da flor caindo das palavras

para o colo da mulher que a seu lado assiste silenciosae sentada, sem um gesto. Corola marchetada de acenoleve de eterno adeus.

A mulher caminha nos jardins nocturnos sem saberque ele, de flor na boca, colhida na noite dos campos deMaio, murmura um nome na corola evanescente que,pétala a pétala, se faz grinalda e coroa de Ophelia vo-gando sobre um rio celeste.

O nome flutua. Entre presente e futuro. Nasce nelao canto. Ninguém ouve. Apenas a noite. O automóvelparado. Flor de silêncio. Louca. Roubada. Da boca.

And will he not come again?No, no, he is dead: Go to thy death-bed:He never will come again. (1)

[E ele virá outra vez?Não vem – que mofina sorte!– Jaz no seu leito de morteNão, não... não vem outra vez.] (2)

(1) Shakespeare.The Tragedy of Hamlet,Prince of Denmark. Act 4. Scene 5.

(2) Versão de José António de Freitas. 1887.

Page 11: O Centro - n.º 54 - 02.07.2008

11DE 2 A 15 DE JULHO DE 2008 FESTAS DE COIMBRA

As Festas de Coimbra e da Rainha San-ta Isabel principiaram na passada sexta-fei-ra, dia 27 de Junho, com um programa quese estende por duas semanas e que incluium conjunto muito variado de realizações.

Promovidas pela primeira vez pela em-presa municipal “Turismo de Coimbra”, osfestejos deste ano assumem também umformato original, diferente das edições an-teriores e, segundo a organização, “um pro-grama ambicioso, capaz de atrair públicosdiferenciados”.

Até 15 de Julho, decorrerão espectácu-los e outros eventos em vários locais da ci-dade, como o Jardim da Sereia, Conventode S. Francisco, Centro Histórico, EstádioCidade de Coimbra, Praça da República eParque Verde do Mondego.

Do programa merece especial destaqueo concerto Grupo Novo Rock (GNR) coma Banda Sinfónica da Guarda NacionalRepublicana (GNR), a decorrer no EstádioCidade de Coimbra, depois de amanhã (sex-ta-feira, dia 4 de Julho), Dia da Cidade eferiado municipal em todo o concelho deCoimbra.

Como acima referimos, as Festas princi-piaram na passada sexta-feira como o es-pectáculo de solidariedade “A Guitarra deCoimbra por Timor”, que decorreu no Jar-dim da Sereia. Tratou-se de um concertomemorável, que contou com a participaçãode Vitorino, Janita Salomé, Filipa Pais e aBrigada Vítor Jara e o Coro “Alma de Co-

CELEBRAÇÕES DA CIDADE E DA RAINHA SANTA ISABEL

Coimbra em festa ao longo de duas semanas

imbra”. De referir, como curiosidade, queVitorino pediu desculpa pelo “atrevimentode vir cantar fado de Coimbra”, mas justifi-cou tê-lo aprendido com Zeca Afonso. Ecantou-o, aliás, muito bem – tal como bemactuaram os outros participantes.

Saliente-se também a evocação, feita porJanita Salomé, de dois excelentes guitarris-tas de Coimbra já falecidos, António Portu-gal e Pinho Brojo, mas elogiando tambémos jovens que ali actuavam, juntamente como veterano Durval Moreirinhas, o que mos-tra que a guitarra de Coimbra continua bemviva e tem o futuro assegurado pelas novasgerações de músicos.

Também no Jardim da Sereia, assistiu-seontem (terça-feira) a outro notável espec-táculo: a Gala de Ópera, com a participaçãodo elenco do Teatro Nacional de S. Carlos,a Companhia Portuguesa de Ópera e o coroespanhol Liceo Casino de Vilagarcía deArousa.

De salientar ainda as actuações de Ma-riza (sábado, dia 5 de Julho, no Pateo dasEscolas da Universidade de Coimbra), dosTrabalhadores do Comércio (concerto comentrada livre no dia 11 de Julho, na Praça daRepública) e dos brasileiros Rosa Passos eCouple Coffee Band (dia 13 de Julho, noJardim da Sereia), um espectáculo come-morativo dos 50 anos de Bossa Nova.

ACROBACIAS AÉREASE CERÂMICA ANTIGA

Outro número original das Festas desteano é o “Coimbra Air Show”, entre os dias4 e 6 de Julho. No primeiro dos três dias doevento, que decorre no Aeródromo Munici-pal Bissaya Barreto, é possível assistir aosobrevoo do Rio Mondego, entre a PonteAçude e a Ponte Rainha Santa, e a acroba-cias aéreas, junto à Ponte Pedro e Inês, noParque Verde.

O programa das Festas inclui tambémuma exposição inédita de Cerâmica de Co-imbra, que reunirá, no Convento de S. Fran-cisco, peças do Museu Machado de Cas-tro, de outros museus portugueses e de co-leccionadores privados, datadas entre osséculos XVI e XX.

A mostra tem início a 4 de Julho, prolon-gando-se até 31 de Outubro, sendo umaoportunidade rara para apreciar muitas pre-ciosidades.

EUROFOLK E TEATROINTERNACIONAL

Destaque ainda para o festival EuroFolk,no Jardim da Sereia (noa dias 7 e 8 de Ju-lho), que conta com três bandas a concursoe com a actuação dos Damadaká (Itália),Els Groullers (Espanha), Ginga (Portugal) eDervish (Irlanda).

Mas referência merecem também o “XFestival Internacional de Teatro de Tema

Clássico”, com a participação do GrupoThíasos do IEC (Instituto de Estudos Clás-sicos), a decorrer no dia 8 de Julho, no Pá-teo das Escolas da Universidade de Coim-bra.

MUSICA DE COIMBRAE PIROTECNIA

Referência especial merece também,neste variado programa, o destaque dado àmúsica de Coimbra.

Assim, haverá uma Gala de Guitarra deCoimbra, no Jardim da Sereia, com a actu-ação de Susana Seivane e Paulo Soares.

Até ao próximo dia 15 de Julho decorre,junto ao Arco de Almedina, uma iniciativadsignada por “30 Minutos com a Canção deCoimbra”.

Um dos números deste invulgar progra-ma que, certamente, irá ter maior impactejunto do público, é o espectáculo pirotécnicomarcado para o dia 10 de Julho.

Mas antes haverá também fogo de arti-fício nos dias 4 de Julho (no final do espec-táculo dos GNR+GNR no Estádio Cidadede Coimbra) e 13 de Julho, pelas 00h00, juntoao Rio Mondego.

TRADICIONAIS PROCISSÕESDA PADROEIRA DÀ CIDADE

O programa religioso, a cargo da Con-fraria da Rainha Santa, inclui a Missa Sole-ne da Rainha Santa, no dia 4 de Julho, pelas11h00, na Igreja do Convento de Santa Cla-ra-a-Nova.

Mas o destaque vai para as tradicionaisprocissões. A nocturna, que traz a RainhaSanta até à cidade de que é Padroeira (tam-bém chamada Procissão de Penitência daRainha Santa Isabel, com saída às 20h00,da Igreja do Convento de Santa-Clara-a-Nova para a Igreja da Graça), com a habi-tual paragem do andor na Ponte de SantaClara para a saudação à Rainha Santa). Ea Procissão Solene da Rainha Santa Isabel,no domingo, com saída às 18h00 da Igrejada Graça para regresso da imagem da Pa-droeira à Igreja do Convento de Santa Cla-ra-a-Nova, onde a Rainha Santa Isabel estásepultada.

Page 12: O Centro - n.º 54 - 02.07.2008

12 DE 2 A 15 DE JULHO DE 2008PUBLICIDADE

Page 13: O Centro - n.º 54 - 02.07.2008

13DE 2 A 15 DE JULHO DE 2008 FESTAS DE COIMBRA

4 JULHO – DIA DA CIDADE

GNR + GNR - 20h | Início da animação (Passatempos Rádio Comercial e Des-portos Radicais). 22h | Concerto. 0h00| Fogo de Artifício

Local: Estádio Cidade de CoimbraPreço: • 10,00 (bilhetes à venda na Ticketline, FNAC, Casa Aninhas e Postos

de Turismo da Universidade e da Portagem)Sinopse do Espectáculo:Com este concerto, os GNR voltam a escrever a história da música em Portugal:

16 Anos depois do memorável espectáculo no Estádio José de Alvalade, que contoucom mais de 45.000 fãs, tendo sido a única banda a conseguir o feito até hoje, ogrupo junta-se agora à Guarda Nacional Republicana, que reunirá em palco 120elementos da banda Sinfónica. Este projecto de sucesso, cuja ideia partiu do Maes-tro da banda da GNR – Coronel Jacinto Montezo, é esperado com muita ansiedadeem Coimbra, depois do êxito no Pavilhão Atlântico.

5 JULHO – SÁBADO

MARIZA - 21h30| Local: Paço das Escolas da UCPreçário: • 40,00 / • 30,00 (bilhetes à venda na FNAC e Loja da Universidade)

8 JULHO – 3ª FEIRA

EUROFOLK – Festival de Folk Music - Ginga e Dervish21h30 | Local: Jardim da SereiaPreçário: • 5,00 (bilhetes à venda na Casa Aninhas e Postos de Turismo da

Universidade e da Portagem)Sinopse do Espectáculo:O Eurofolk é um concurso europeu de música folk, cujo objectivo é dar a conhe-

cer novos valores deste género musical em vários países europeus. Teve origem háquatro anos atrás, sendo que este ano a eliminatória portuguesa – com três bandasa concurso - acontece em Coimbra, de onde sairá um vencedor que rumará aMálaga para a grande final europeia.

O EuroFolk integra ainda a actuação dos espanhóis Els Groullers, dos italianosDamadaká, dos portugueses Ginga e de um dos maiores nomes internacionais damúsica folk, os irlandeses Dervish.

Durante a tarde, terão lugar workshops de danças tradicionais italianas.

13 JULHO – DOMINGO

ROSA PASSOS E COUPLE COFFEE BAND21h30 | Local: Jardim da SereiaPreçário: • 10,00 (sentado) / • 7,50 (geral) - (bilhetes à venda na Ticketline,

FNAC, Casa Aninhas e Postos de Turismo da Universidade e da Portagem)Sinopse do Espectáculo:Rosa Passos trará a Coimbra uma “colecção “ das melhores baladas brasileiras,

algumas delas celebrizadas por Elis Regina, que servem de pretexto para um sentidotributo a esta cantora.

O concerto, comemorativo dos 50 anos de Bossa Nova, surge no âmbito da di-gressão da cantora a Portugal, que se inicia em Julho e que acontece depois de umatemporada de 16 espectáculos consecutivos, realizados no início deste ano, em S.Paulo, onde estreou o espectáculo que agora vai apresentar em Coimbra.

A primeira parte do concerto estará a cargo d’Os Couple Coffee, de LuandaCozetti e Norton Daiello, que apresentam uma visita ao universo Bossa Nova.

Irão ainda evocar Zeca Afonso, João Gilberto e interpreter temas de samba ejazz.

15 JULHO – 3ª FEIRA

GALA DA GUITARRA DE COIMBRASusana Seivane e Paulo Soares21h30 | Local: Jardim da SereiaPreçário: • 5,00 (bilhetes à venda na Casa Aninhas e Postos de Turismo da

Universidade e da Portagem)

Bilhete Geral: • 40,00Inclui os seguintes concertos:- Guitarra de Coimbra por Timor- Gala de Ópera- GNR + GNR em Coimbra- Eurofolk – Festival de Folk Music- Rosa Passos e Couple Coffee Band- Gala de Guitarra

Os restantes eventos que constam do programa oficial das Festas de Coimbra eda Rainha Santa são de acesso livre.

Informações: 239 857 583

PROGRAMA DAS FESTAS

O QUE É A EMPRESA MUNICIPAL“TURISMO DE COIMBRA”

Constituída em 2007, por deliberação da Câmara Municipal de Coimbra,a Turismo de Coimbra – EM tem por objectivo promover, de forma susten-tada, actividades com vista ao aumento da procura turística de Coimbra.Para o efeito, tem como atribuições a gestão de instalações e equipamentosde interesse turístico, a criação de projectos de animação e equipamentosde interesse turístico, por si ou em associação com outras entidades, a ade-quação das estruturas e serviços à oferta e procura turística e o apoio ainiciativas privadas nesse sector. Promoverá ainda a realização de conven-ções, congressos, nacionais e internacionais em Coimbra.

Page 14: O Centro - n.º 54 - 02.07.2008

14 DE 2 A 15 DE JULHO DE 2008SAÚDE

MassanoCardoso

Ao ler um interessante artigo sobre o“Transtorno do défice de atenção comhiperactividade”, que é consideradocomo uma doença, pelo menos está con-templado no “Diagnosis & StatisticalManual for Mental Disorders”, o autorcoloca a seguinte situação: É verdadeque muitas crianças com este transtornotêm problemas nas sociedades moder-nas. Mas o que aconteceria se a socie-dade fosse diferente? Com base numinteressante estudo sobre membros deuma tribo Queniana, os Ariaal, parte se-dentarizou-se enquanto a outra continuana sua vida nómada, e através de umadeterminada variante genética, que estáligada a “apetites” e tendências paraconsumir alimentos e drogas, à procurade novidades e sensações (novelty-se-eking) e aos sintomas do “Transtorno dodéfice de atenção com hiperactividade”,o articulista conclui que os que apresen-tam a tal variante apresentam melhoresíndices de status nutricional entre os nó-madas mas piores nos sedentários. Alémdo mais, especula que a presença da tal

“Imposto da fraternidade”...variante genética propicia aos portado-res aumentar os impulsos, manifestaragressividade e revelar violência face asituações difíceis de prever, quando põemem causa a sua segurança, assim comooutros tipos de comportamento que lhespermitem obter alimentos. Os própriosrapazes têm tendência em transforma-rem-se em guerreiros e aprendem maisdepressa (mesmo sem escolas) numambiente dinâmico. Perante esta análi-se, a situação descrita como doença po-derá ter uma explicação evolutiva aopossibilitar que os nómadas se adaptemàs circunstâncias ambientais.

O nomadismo constituiu a forma maisprevalente de vida ao longo da maiorparte da nossa existência. O advento daagricultura, muito recente, cerca de13.000 anos, modificou, radicalmente,esta forma de viver, mas os genótiposcontinuam a andar por aí.

No primeiro capítulo do “O Livro queDesceu do Céu”, de Ahmad ´Abd al –Waliyy Vincenzo, o autor, depois de apre-sentar o jovem Zayd, o rapaz que escre-veu a primeira cópia do Alcorão, descrevea relação entre nómadas e sedentários,afirmando que “é um elemento funda-mental da história de todas as civiliza-ções tradicionais, e não só da islâmica”.Segundo este professor da Universida-de de Nápoles, “O nomadismo represen-ta a condição ancestral, dos homens an-tigos, de natureza desprendida dos bensterrenos. O povo de Israel foi nómadaaté à construção do templo de Salomão,e o próprio Cristo afirmou: Os lobos têmcovis e os pássaros do ar ninhos, mas oFilho do Homem não tem onde pousar acabeça”. Chamou-me particular atençãoo facto de, na Arábia, os povos sedentá-rios pagarem aos nómadas um “impostoda fraternidade”, em virtude de um an-tigo “pacto”. Poderia ser consideradocomo um tributo a pagar para não seremincomodados, mas não. Tratava-se de“uma verdadeira homenagem dos seden-tários aos seus irmãos do deserto que da-

vam continuidade à vida nobre dos ante-passados, mantendo viva a sua memória”.

Afinal, quem sabe se aquilo que pas-sámos a considerar como doença, e queé tratada vigorosamente, não é mais doque um desajustamento entre uma he-rança, de nobres antepassados, e umasociedade não prevista? Quem sabe se

um modelo de ensino, dinâmico, menosconvencional, mais adequado às crian-ças com estas características, não po-deria ajudar a resolver os casos que poraí abundam? Quem sabe? No fundo, se-ria uma forma de aplicar, nos temposmodernos, o equivalente do “imposto dafraternidade”...

Alerta para águacom alto teor de crómio

O consumo de água contaminada com elevados níveis de crómio provocalesões hepáticas e renais, concluiu um estudo da Universidade de Coimbra (UC)agora divulgado, que alerta para a necessidade de se monitorizarem os seusparâmetros.

Em declarações à agência Lusa, a coordenadora do estudo, Maria CármenAlpoim, da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra(FCTUC), salientou a necessidade das análises à água incluírem a “avaliaçãodos níveis de metais pesados nas zonas rurais e industriais”, o que actualmentenão acontece.

Segundo a investigadora, nos meios rurais a utilização de pesticidas, que têmelevados níveis de arsénio, pode contribuir para a contaminação de lençóis fre-áticos, enquanto nas zonas industriais o crómio e o níquel são os metais pesadosmais nocivos que se infiltram nos solos.

Maria Cármen Alpoim aconselha as pessoas que residem em zonas de poçosou possuem furos em casa a procederem a análises periódicas antes de consu-mirem a água e a não utilizarem lamas de estações de tratamento para adubaros terrenos agrícolas.

Segundo a docente da FCTUC, o consumo continuado de água contaminadacom crómio provoca, a longo prazo, lesões graves ao nível hepático e renal quese arrastam depois aos sistemas cardíaco e oftalmológico.

“O estudo mostrou que o consumo continuado de água da rede pública conta-minada com crómio hexavalente provocou graves lesões hepáticas e algumaslesões renais e, embora não se tenham registado desenvolvimento de tumores,observaram-se alterações no metabolismo da glicose”, explica Cármen Alpoim.

Page 15: O Centro - n.º 54 - 02.07.2008

15DE 2 A 15 DE JULHO DE 2008 EDUCAÇÃO/ENSINO

Maria IsabelLemos *

Dos entendimentose desentendimentos

Aquando do entendimento da platafor-ma sindical dos professores com o Ministé-rio da Educação, apareceram vozes de nãoentendimento, leia-se discordância, com aparca importância do conteúdo do protoco-lo entretanto aceite pelas partes. Tal opiniãosó pode ter vindo de uma informação in-completa ou de leituras apressadas. Nuncaé demais realçar que, para além de vitóriastão importantes como a definição geral dacarga horária da componente de trabalhoindividual, da aceitação de que todo o traba-lho de professores contratados possa seravaliado e, assim ser tido como tempo deserviço, do adiamento dos actos conducen-tes à institucionalização (de novo…) de umdirector, se conseguiu que a Ministra daEducação entendesse a importância da ne-gociação e deixasse a sua atitude arrogantepara passar ao diálogo; entendamo-nos: talnunca tinha acontecido; entendamo-nos: aMinistra e a sua equipa conversaram maisnessas duas semanas do que nos dois anosque as antecederam.

Um dos aspectos do entendimento foi asuspensão durante este ano lectivo, agoraprestes a terminar, do processo de avalia-ção dos professores e a redução ao maissimples do processo avaliativo dos profes-

sores contratados que passou a resumir-se,na prática, ao preenchimento dos itens pos-síveis da ficha de auto-avaliação; convenha-mos que, para quem achava (como foi fre-quentemente repetido por esta equipa mi-nisterial) que o relatório crítico de avaliação,ligado ao anterior estatuto não era nada, foium grande e inesperado entendimento.

Então, ainda simples na acção para uns,para outros já muito complicado, aí está omonstro a começar a rugir. Se não tivessehavido o dito entendimento, ouvir-se-iamneste momento os urros por esse país fora;país, não: por esta parte continental do país.As ilhas têm sortilégios que afinal não estãosó no nosso imaginário…

E agora começa o meu desentendi-mento.

Ainda não foram aprovados nem divul-gados os instrumentos que vão servir de baseao processo avaliativo e já aí estão fichas,listas de verificação, descritores, âmbitos deincidência, guiões de observação, enfim umacomplexa panóplia, no sentido literal do ter-mo, pois de armas se trata. Diligentementeos professores começaram a construir a suaperdição, não sei se por uma perversa atrac-ção pelo abismo ou uma inconfessável emedieva tendência de auto-flagelação. Sónos falta mesmo que, qualquer dia seja estaequipa ministerial a vir manifestar o seu nãoentendimento por tal sadomasoquismo.

Vamos assim assistir a um director quetenha cerca de duzentos docentes para ava-liar (o que é perfeitamente certo, dados osagrupamentos de escolas), a analisar pro-cessos avaliativos de mais de vinte páginascada um, a fazer duzentas entrevistas. Naminha ingenuidade, ainda pensei: “Bem, nãosão todos ao mesmo tempo...: uns anos uns,outros anos outros…”. Mas não! Para oMinistério poder controlar as “cotas”, sãotodos no mesmo período de tempo. Entãonão fará mais nada. Não entendo como vaiorientar o conjunto de questões que hoje tan-to tempo e energias retiram aos ConselhosExecutivos.

Quanto aos docentes, vão gastar tantotempo e criatividade a planificar, organizar,preparar, avaliar que não lhes vai sobrar dis-ponibilidade para comer, dormir, amar e, cla-ro… para exercer a sua função de profes-sores. Talvez se tenham que encerrar asescolas por uns dias. À porta, ficará um le-treiro: “Não há aulas porque os professoresestão a avaliar-se uns aos outros”. Não en-tendo, não entendo.

Vou esperar que todo este processo ava-liativo se auto-destrua, se esfume comoaquelas mensagens iniciais dos episódios da“Missão Impossível” da minha adolescên-cia, que também não eram de fácil entendi-mento.

* Professora. Dirigente do SPRC

O Ministério da Educação celebrou an-teontem (segunda-feira) protocolos que per-mitirão que cinco grandes empresas da áreadas Tecnologias da Informação e da Co-municação (TIC) dêem formação a alunosde trinta escolas secundárias do país.

Os protocolos permitem a criação deacademias das empresas Apple, Cisco, Li-nux, Microsoft, Oracle e Sun junto das es-colas, com oferta de formação e certifica-ção extracurricular nas respectivas áreas deespecialidade, segundo as necessidades daspróprias empresas.

Cada uma destas empresas terá cincoacademias, a funcionar em trinta escolasespalhadas por todo o país.

“O objectivo é que estes jovens possamintegrar as empresas”, afirmou a ministrada Educação, Maria de Lurdes Rodrigues,realçando que o projecto prevê a adequa-ção da formação às necessidades das em-presas, aumentando “a probabilidade deconseguir um emprego, uma posição nes-sas empresas”.

“Há muitas escolas com condições atésemelhantes de participar num programadeste tipo e vamos vendo também as ne-cessidades que as empresas de formaçãoparticipada têm para os seus próprios qua-dros e, gradualmente, a rede vai-se alargan-do”, salientou a ministra da Educação.

Maria de Lurdes Rodrigues reforçou ain-

PARA APROXIMAR ESCOLAS E INDÚSTRIA

Ministério e empresas criam academiasda que “nada impede estes alunos de pros-seguir estudos” e de entrar depois para umainstituição de Ensino Superior.

“Esta iniciativa vem completar o proto-colo celebrado com as empresas que ofe-recem estágios aos alunos dos cursos pro-fissionais de todo o país”, acrescentou a mi-nistra, salientando que “há um site no qualas escolas podem colocar as suas necessi-dades de estágio e as empresa as vagas quetêm disponíveis para os alunos, criando umadinâmica própria de oferta e procura”.

“O que fizemos foi levar os alunos a es-tagiar nas melhores empresas. Este progra-ma que estamos a fazer é um movimentocomplementar: trazer as melhores, maioresempresas da economia do conhecimentopara as escolas”, salientou, por seu lado, ocoordenador do Plano Tecnológico da Edu-cação (PTE), João Trocado da Mata.

O responsável explicou que em primeirolugar “especialistas das empresas darão for-mação a professores e numa segunda fasedarão formação a alunos”.

Em Setembro, os professores das esco-las abrangidas na primeira fase iniciam aformação para obter a certificação neces-sária para leccionar nas academias.

“Este programa representa uma peque-na revolução nas escolas. Pela primeira vezconvidam as empresas a formar nas própri-as escolas”, disse.

Segundo Trocado da Mata, para este ar-ranque do projecto foram seleccionadasempresas “que tinham já programas de aca-demias”, mas está-se “já a estudar o alar-gamento deste programa”.

“Queremos mais empresas e queremosmais academias, porque com isso vamosestar a estreitar a ligação entre economia eeducação, entre empresas e escolas, entreensino e mercado de trabalho, vamos refor-çar a empregabilidade dos alunos e moder-nizar as escolas e as empresas”, concluiu.

As escolas secundárias André Gouveia,em Évora, e Serafim Leite, em São João daMadeira, têm funcionado como escolas-pi-loto deste projecto, com resultados muitopositivos, segundo a ministra.

Com um investimento de 400 milhões deeuros, o PTE pretende equipar, até 2010, asescolas com 310.000 computadores, 9.000quadros interactivos e mais de 25.000 vide-oprojectores.

Está previsto um rácio de um computa-dor para cada cinco alunos e Internet emtodas as escolas de alta velocidade, haven-do, segundo a ministra, “em algumas esco-las possibilidade de ultrapassar os 48 ‘me-gabites’ previstos no PTE”.

Segundo o Ministério da Educação, oobjectivo é “colocar Portugal entre os cincopaíses europeus mais avançados no âmbitoda modernização tecnológica do ensino”.

Page 16: O Centro - n.º 54 - 02.07.2008

16 DE 2 A 15 DE JULHO DE 2008EURO 2008

Page 17: O Centro - n.º 54 - 02.07.2008

17DE 2 A 15 DE JULHO DE 2008 EURO 2008

Page 18: O Centro - n.º 54 - 02.07.2008

18 DE 2 A 15 DE JULHO DE 2008A PÁGINA DO MÁ[email protected]

Mário Martins

Imagens da festa do Euro 2008

Nem a chuva, que chegou a caircom alguma intensidade durante váriashoras, arrefeceu o entusiasmodeste adepto

Eram seis, mas fotografei apenas estesdois. Vestidos a rigor, alguns forcadosassistiram ao Portugal-Suíça,em Basileia, mesmo à minha frente

Apesar de eliminados, os suíços nãoperderam o sentido de humor. Tivesorte, porque foi só o cartão amarelo...

Quando aparece uma câmara de televisão, os adeptos concentram-se,agitam bandeiras, gritam Por-tu-gal! e acenam «lá para casa»

Quem verdadeiramente quer ver um jogo de futebol... fica em casa, a assistir pelatelevisão. Há repetições e tudo! Ir ao estádio é sinónimo de participar na festa.Arrepiante esta bancada de adeptos portugueses durante o Portugal-Rep. Checa,numa tarde de sol, em Genebra. Inesquecível

Um momento de boa disposição com voluntários, dentro do estádio de Genebra.O rapaz mais alto é um jovem português radicado na Suíça há três anos. Vivesatisfeito a vender pacotes de minutos para telemóveis. Sou “consultorde telecomunicações”, disse-me. Nem precisava de o identificar, porque bastaolhar para os dois rostos masculinos para descobrir qual é o português...

A estação central de Basileia decoradacom a publicidade de um dospatrocinadores do Euro 2008. Começavaaqui a “Alameda dos Adeptos”,percorrida por milhares de pessoasao longo do dia. Uma enorme“avenida do futebol”

Uma adepta daqui bem perto...

Dentro do estádio, num bar oficial daUEFA, uma bem-disposta portuguesada zona de Viseu e um cartazcom a palavra bifanas. Naquele dia,Genebra acolheu-nos como umaverdadeira cidade lusitana. Ali, o númerode emigrantes portugueses por metroquadrado é inacreditável

Page 19: O Centro - n.º 54 - 02.07.2008

19DE 2 A 15 DE JULHO DE 2008 MÚSICA

Distorções

José Miguel [email protected]

Virgílio Caseiro e um quarteto desaxofones foram os convidados paraa última sessão do primeiro ciclo do“Chá com Lágrimas”, desta vez inti-tulado “Chá com Música”, e que de-correu num agradável fim de tarde nosjardins do Hotel Quinta das Lágrimas.

“A música como factor interventi-vo sociológico” foi precisamente otema da intervenção de Virgílio Ca-seiro, maestro titular da OrquestraClássica do Centro e do Coro dosAntigos Orfeonistas da Universidadede Coimbra. Para que serve a músicae qual a sua importância na aprendi-zagem e da moldagem dos seres hu-manos, constituiu a base da breve pa-lestra do maestro que lamentou o pou-co peso que a música tem no ensino ea pouca importância que se lhe con-fere em relação às humanidades e àsciências.

A música, afirmou, “consegue inter-vencionar num conjunto de capacida-des ao nível cognitivo”, algo que difi-

Música encerrou primeiro ciclo do “Chá com Lágrimas”

cilmente é atingido por qualquer outradisciplina. Recordando uma frase dofilósofo grego Sócrates – “Os sentidos

são a janela do espírito” –, VirgílioCaseiro assegurou que “se tivermos asorte de transformar em janelas os cin-

co sentidos que nos preparam paraaprender, teremos um melhor desen-volvimento ao longo da vida”.

A intervenção do maestro foi com-plementada pela actuação de umquarteto de saxofones composto porRicardo Oliveira, Tiago Taborda, An-tónio Alves e Licínio Maurício, queinterpretou temas clássicos e de jazzdos séculos XIX e XX, comprovando,tal como referiu Virgílio Caseiro, que“a música é um alimento para todosos dias”.

O “Chá com Lágrimas”, que re-gressa em Outubro para um novo ci-clo, é a mais recente criação da Fun-dação Inês de Castro, das Edições Mi-nervaCoimbra e do Hotel Quinta dasLágrimas, e tem por objectivo relem-brar a ambiência das velhas tertúliascoimbrãs, razão que explica o espaçodado ao diálogo artístico e cultural,num clima da maior informalidade. Ainiciativa conta ainda com o apoio daEmpresa Municipal de Turismo.

Isabel Carvalho Garcia, Virgílio Caseiro e Teresa Lopes

Foi editado, na passada segunda-feira,“Circo de Feras Ao Vivo no Campo Peque-no”, o dvd que retrata as actuações dosXutos & Pontapés no Campo Pequeno(Lisboa) nos passados dias 8 e 9 de De-zembro de 2007. Nestes dias, e em jeito decomemoração dos 20 anos da edição de“Circo de Feras”, a banda de Tim e Zé Pe-dro juntou a entoação de temas deste e deoutros discos da sua carreira a actuaçõesdo denominado “novo circo”. Foi, como ali-ás já tinha referido neste espaço, o melhorconcerto de uma banda portuguesa a queassisti no ano transacto. Para quem nãoesteve lá, esta é uma boa solução para verum pouco de que ali se passou; para quemesteve, como foi o meu caso, sabe semprebem recordar e perceber como tudo foi con-cebido e montado com o “Making Of...”.Resta destacar que a 1.ª edição tem uma

capa especial em metal.Muito se fala sobre a música portuguesa

e a necessidade de ela se reinventar, sobre-tudo no que toca a estratégias de marke-ting, mas o que é certo é que vão aparecen-do uma série de mostras de que este cená-rio pode mudar e prova disso mesmo são asmais recentes edições dos X-Wife, LindaMartini e Bunnyranch. Os X-Wife aca-bam de editar o primeiro avanço do seu novotrabalho, “On The Radio”, apenas em vinil,que inclui ainda outro tema: “Turn Around”.Ao passo que o Linda Martini reapare-cem no mercado com um EP de 6 temas

intitulado “Marsupial”, apenas comercializa-do num pack limitado a 525 exemplares queinclui um cd, um vinil branco e um saco.Ambas as edições a cargo da Rastilho Re-cords, uma pequena editora com sede emMarrazes, Leiria. Por fim, há a destacaroutra edição pioneira levada a cabo pelaSony Bmg, que edita o novíssimo longa du-ração dos conimbricenses Bunnyranch,“Teach Us Lord ... How To Wait”, em duasfases, uma primeira metade já à venda, queinclui a caixa e um dos cd´s, e em Outubroserá editada a segunda, que inclui o livrinhoe o segundo cd, o que me faz lembrar otriplo cd ao vivo editado pelos Pearl Jam em1994, intitulado “Dissident (Live At Atlan-ta)”, que foi vendido da mesma forma.

PARA SABER MAIS:

Xutos & Pontapés “Circo de Feras Ao VivoNo Campo Pequeno” (Universal)X-Wife “On The Radio/Turn Around”(Rastilho Records)Linda Martini “Marsupial”(Rastilho Records)Bunnyranch “Teach Us Lord...How ToWait” (Sony Bmg)

www.xutos.ptwww.myspace.com/xwiferockswww.lindamartini.pt.vuwww.myspace.com/lindamartiniwww.bunnyranch.web.pt

O Ministério da Educação (ME) estabe-leceu novas regras de apoio financeiro àsescolas de música do ensino particular oucooperativo, com base no critério do custoanual por aluno.

Segundo uma nota do ME, “os estabele-cimentos de ensino especializado da músi-ca da rede de ensino particular e cooperati-vo com autorização de funcionamento po-dem candidatar-se ao apoio financeiro aconceder pelo ME à frequência dos cursos

Governo anuncia novos apoios a escolas de músicade iniciação, dos cursos básico e secundá-rio em regime articulado e dos cursos bási-co e secundário em regime supletivo”.

A aprovação da comparticipação tem emconta a avaliação dos projectos apresenta-dos pelas escolas por uma comissão e ocálculo do apoio financeiro contempla o cri-tério do custo anual por aluno.

Entre as regras, é imposto que os alunosdos cursos de iniciação tenham pelo menostrês horas semanais de formação e ainda

que só serão admitidos para financiamento“os estudantes que concluam um curso bá-sico de Música no período máximo de seisanos e os que concluam um curso secundá-rio de Música no período máximo de quatroanos”.

As escolas não podem cobrar propinasaos alunos abrangidos dos cursos básico esecundário em regime articulado e as men-salidades cobradas aos cursos de iniciaçãoe aos cursos básico e secundário em regi-

me supletivo não podem ser superiores aovalor da comparticipação financeira conce-dida pelo ME.

Segundo o ministério, as novas regraspretendem “garantir uma maior articulaçãoentre o ensino artístico especializado e oensino regular”, tendo em vista “a reestru-turação da rede de oferta do ensino artísticoespecializado”, nomeadamente “o seu alar-gamento a um maior número de alunos, emcondições de equidade”.

Page 20: O Centro - n.º 54 - 02.07.2008

20 DE 2 A 15 DE JULHO DE 2008OPINIÃO

A MINHA ESTANTE

Maria Pinto*[email protected]

* Docente do ensino superior

“Vejo do cais, mil janelasDa minha velha LisboaVejo Alfama das vielasO Castelo, a MadragoaE os meus olhos rasos de águaDeixam por toda a cidadeA minha prece de mágoaNesta canção de saudade”

Sentei-me e fechei os olhos. Ainda tive tempo de ouvir“...comboio rápido com destino a Lisboa...”

A sensação de aperto no coração foi-se desvanecendoà medida que me afastava de Coimbra, dando lugar a umsentimento de esperança e de liberdade.

Parti num sábado quente de Junho. Rumo à capital. Apartir daí, sem destino.

Lisboa é uma cidade aberta, luminosa, que se estendecom preguiça e languidez sobre o rio. É a cidade branca dofilme de Alain Tanner, a cheirar em certas manhãs de bairro– quando não sopra a “maresia” do Tejo – a perfume fres-co de flores. Não tem a louca megalomania das grandesmetrópoles frias e anónimas. Pelo contrário, nela ainda sepode desfrutar com calma de uma sensação de grande li-berdade. Até mesmo de uma salutar impunidade.

Ao chegar, quis apenas andar a pé só pelo puro prazerde olhar as pessoas. Sentir o ritmo e o pulsar da cidade.Reconhecer os seus recantos e segredos. Observar os gestose as manias das gentes. Tudo isto contribuindo para experi-mentar uma espécie de beatitude e íntimo renascimento.No fundo, preparando o coração e o espírito para outrasrealidades. Para novos desafios que se desenhavam.

“Hei-de beijar com ternuraAs tuas sete colinasE vou andar à procuraDe mim p’las esquinas…”

Se Coimbra representa o aconchegante útero materno,o berço natal, a raiz telúrica, o porto seguro, ela é também avida trepidante e séria, nua e crua.

Coimbra é a brincadeira de infância, a dependência afec-tiva. “Em Coimbra, serei tua...”. Mas é também a deci-

Hei-de beijar-te, Lisboa...

são solitária, a dureza, a asfixia.

Estava em Lisboa. E nesse passeio livre, por entre gentedesconhecida que me desconhecia, ia viajando em pensa-mento e calcorreando estas duas cidades. Sentia vontadede criar. De rir. De brincar.

Lisboa tem representado para mim saborosos nacos dealegria e de lazer. Sem correrias desesperadas e frenéticas,atrás do primeiro fogo-fátuo que se me atravesse no cami-nho. Sempre apreciei a sobriedade sem ascetismo, a ele-gância sem peneirice e a verdade nua dos sentimentos emvez do teatro hipócrita de opereta em que o nosso país setornou. O luxo acho-o supérfluo. A festa mundana umaperda de tempo e o dinheiro como valor não me interessa.

Compreendo muito bem Miguel Torga quando confessa“não coincido com a lógica comum, com os hábitoscomuns, com os lugares-comuns. Não sei respeitar asaparências. Pelo contrário. Nada do que parece malaos outros me importa, se me parece bem”.

Estas convicções profundas não me impedem, no entan-

Há uns meses publiquei um artigo de opi-nião, sob este mesmo título. Nas minhas lei-turas encontrei o texto em anexo, que pen-so ser oportuno colocar à reflexão dos Lei-tores. Guerra Junqueiro é o seu autor e foiescrito em 1896!!!... Reparem como aindacontinua actual. Há coisas que não mudamem Portugal... Por que será????

“Um povo imbecilizado e resignado,humilde e macambúzio, fatalista e sonâm-bulo, burro de carga, besta de nora,aguentando pauladas, sacos de vergo-

(Advogado)

Nuno Carvalho

O Portugal em que deixei de acreditar!...nhas, feixes de misérias, sem uma rebe-lião, um mostrar de dentes, a energia dumcoice, pois que nem já com as orelhas écapaz de sacudir as moscas; um povoem catalepsia ambulante, não se lem-brando nem donde vem, nem onde está,nem para onde vai; um povo, enfim, queeu adoro, porque sofre e é bom, e guar-da ainda na noite da sua inconsciênciacomo que um lampejo misterioso da almanacional, reflexo de astro em silêncioescuro de lagoa morta. [...] Uma bur-guesia, cívica e politicamente corruptaaté à medula, não descriminando já obem do mal, sem palavras, sem vergo-nha, sem carácter, havendo homens que,honrados na vida íntima, descambam navida pública em pantomineiros e sevan-

dijas, capazes de toda a veniaga e todaa infâmia, da mentira à falsificação, daviolência ao roubo, donde provém que

na política portuguesa sucedam, entre aindiferença geral, escândalos monstru-osos, absolutamente inverosímeis no Li-moeiro. Um poder legislativo, esfregãode cozinha do executivo; este criado dequarto do moderador; e este, finalmen-te, tornado absoluto pela abdicação unâ-nime do País. A justiça ao arbítrio daPolítica, torcendo-lhe a vara ao pontode fazer dela saca-rolhas. Dois partidossem ideias, sem planos, sem convicções,incapazes, vivendo ambos do mesmo uti-litarismo céptico e pervertido, análogosnas palavras, idênticos nos actos, iguaisum ao outro como duas metades do mes-mo zero, e não se malgando e fundindo,apesar disso, pela razão que alguém deuno parlamento...”

to, de desfrutar a vida, de sorrir e de relembrar...

Por entre os bairrinhos de Lisboa, por entre vielas e miljanelas, senti as palavras que aqui me disseste – e escre-veste – depois de dobrar os meus trinta anos:

‘Cê sabe onde fica a praia e a lua de Itapoã?É aí mesmo nesse corpo dourado molhado p’la

espuma do mar. ‘Cê sabe onde fica Ipiranga e a avenida de S. João?Ali no salão antigo fora de moda do Ritz ClubBailando ao ritmo endiabrado da salsa e do mambo.Ou na doce melancolia coleante dos boleros de sempre.Antecipação e prenúncio de outras danças, outras

palavras, outros momentos. ‘Cê sabe mesmo o que é uma canção do Caetano?É esse sorriso lindo, solar.A generosidade sem cálculo nem contrapartidaO balbuciar urgente do amor, o grito áspero da revoltaA atenção apesar do cansaço, a ternura apesar da rotinaA luz clara do olhar que emerge no fundo da noite. ‘Cê sabe o que será fazer quarenta?É fazer tudo o que já se fez, mas com calma.É viver o instante com renovado prazer.É rever o mundo e as gentes com uma discreta

sabedoria.É ir de novo a um concerto do Caetano com aquela

blusa vermelha...

É voltar a Coimbra, com os filhos e amá-los cadavez mais. Sabendo que lá não estás. Que nunca esti-veste. Que a porta se fechou para ti.

É procurar na estante o que há anos me escrevestee continuar a ser menina-mulher. Sem mágoas. Como assunto resolvido.

Quarenta anos? O dobro do amor pela vida!...E Lisboa?

“Se ao voltarMe vires chorar, perdoaQue eu abra a porta à tristeza /para depois rir à toa /tenho a certeza /que ao ver as ruas /tal qual hoje as vejo /nesse teu ar de rainha do Tejo...

Hei-de beijar-te Lisboa...”

Guerra Junqueiro

Page 21: O Centro - n.º 54 - 02.07.2008

21DE 2 A 15 DE JULHO DE 2008 OPINIÃO

Renato Ávila

POIS...POIS...POIS...POIS...POIS...

João PauloSimões

FILATELICAMENTE

Joséd’Encarnação

A Europa dos políticos

Segundo inquérito divulgadopelo jornal Público no passado dia10 de Junho, em plena euforia doEuro, fomos jubilosamente sur-preendidos com o facto de 90%dos inquiridos ter respondido queaquilo de que mais se orgulhavado seu País – Portugal – era a…sua História! *

Notável bofetada esta, sim, se-nhor, num momento em que osmandantes do Reino parece fa-zerem gala de não conhecerem anossa História, e os que conge-minam programas de ensino me-

O “não” irlandês ao Tratado de Lis-boa parece ter feito estremecer o edifí-cio engenhosa e pomposamente fecha-do na capital portuguesa.

Se bem que a verde Irlanda, pelasingularidade do seu processo sanci-onatório, constituísse, desde o início,velada preocupação para os políticostratadistas, habituados que estão a re-sultados mais previsíveis e facilmen-te controláveis através da via parla-mentar, um chumbo por parte do eter-namente rebelde vizinho de Sua Ma-jestade seria, para eles, uma questãolongínqua e académica.

Tão seguros estavam das suas pre-visões que nem se propuseram estu-dar qualquer alternativa. Daí o seudesnorte e as insensatas opiniões logoaduzidas.

Claramente se confirma, assim, queo célebre documento não emanava davontade dos povos, mas da dos políti-cos. Que, fugindo à consulta da von-tade popular, se procurava impor umpreceituado o qual, à partida, iria con-citar a sua recusa. Que o normativoconsigna doutrina e estratégias con-trárias ao interesse comum dos cida-dãos europeus.

Acontece ainda que o tratado, deriva-do de outros tratados anteriores, já rejei-tados por franceses e holandeses, e nas-

cido dum atabalhoado e comezinho sis-tema de tesoura e cola, redundou numdocumento hermético, complexo e obs-curo com meandros demasiado compli-cados para ser claro e entendível, logo,facilmente manipulável.

Tudo isto nas costas dos cidadãos.Nunca é demais repetir.

Se a boa-fé e a seriedade democráti-cas presidissem ao processo, o “não” daIrlanda deveria, isso sim, constituir moti-vo imperioso para ouvir directamente ospovos dos outros vinte e seis países. Im-pensável, todavia, num projecto talhadopara uma Europa de meia dúzia.

A recusa irlandesa, a qual muito boagente explica por razões de natureza éti-co-religiosa, associa-se a um crescentedesencanto com a gestão europeia. Adeclarada apologia dos modelos liberaisna economia e nas questões sociais, ototal franqueamento da Europa às arre-metidas do capitalismo selvagem, cerce-ando regalias há muito adquiridas e cri-ando preocupantes franjas de desempre-go e de exclusão social, o imobilismo eevidente incapacidade para enfrentarcom sucesso o grave problema da ener-gia criam perplexidades e desenvolvemos inevitáveis fenómenos de rejeição.Estamos mesmo em crer que se, hoje,todos os outros países referendassem oTratado, muitos acompanhariam o não daIrlanda.

Em vez de digerirem com humilda-de democrática a vontade soberana-mente manifestada nas urnas, os polí-

ticos parece estarem a exercer, comapocalípticas insinuações e veladasameaças, inaudita pressão sobre os ci-dadãos irlandeses.

Dum espaço de liberdade e democra-cia, dum grande universo de dignidadesocial e de elevação cultural e política,tal como a conceberam a generosa ehumana solidariedade, a larga visão polí-tica dos que a idealizaram, a Europa estáprisioneira de inqualificáveis e mesqui-nhas tutelas que a colocam ao dispor dosdesígnios de grupos de sórdidos interes-ses internacionais.

Passada a era Miterrand, Gonzalez,Köl, Delors, a Europa entrou em carên-cia de lideranças fortes e integralmenteassumidas quanto à genuinidade do pro-jecto europeu. É deprimente o espectá-culo de tergiversação, de inconsequên-cia, de incapacidade, de estranha sub-missão a um decadente e supra invoca-do fatalismo que oferecem os actuaissenhores da EU.

Ao esgrimirem o fenómeno da globa-lização e a consequente competição daseconomias emergentes, onde a inexistên-cia de direitos sociais e a proliferação demão de obra a baixo custo, apenas expli-cam uma parte do problema – a que maisconvém ao capitalismo especulador, es-quecem-se das políticas compensatóriasde defesa de mercado e dos sistemasautóctones de produção.

É mais fácil e empresarialmente maisatractivo nivelar por baixo as prerrogati-vas laborais, para fazer face à concor-

rência, do que defendê-las e projectá-laspara onde elas se tornam necessárias.

Para uma Europa das luzes, precur-sora da liberdade e dos direitos sociais, éum péssimo serviço. Um resquício dumcerto colonialismo de má memória.

Ao analisarmos todas estas estra-nhas incidências, começamos a per-guntar a nós próprios se este contínuoalargamento das fronteiras da Uniãovai, de facto, ao encontro de novos ci-dadãos com todo o significado políticoe humanista que enforma o conceito,ou se se trata fundamentalmente deum mercantil exercício de angariaçãode novos consumidores.

É esta gente que, alinhada pelos inte-resses das multinacionais e do capitalis-mo especulador e que, pautando por bai-xo as coordenadas sócio-económicas dacompetitividade e do progresso, querimpingir aos europeus a pesada facturada renúncia a direitos e prerrogativassociais que decénios de lutas e o espaçocomum lhes proporcionaram.

São estes políticos que, incapazes dedefender os verdadeiros interesses daEuropa na cena internacional, de pautaruma política externa de alianças descom-prometida e geograficamente consonantecom as suas fronteiras, exigem, amea-çam, põem a faca ao pescoço dos rebel-des ao projecto.

Perverso. Tenebroso.Esta Europa martelada à beira Tejo

jamais será a Europa dos cidadãos.A dos políticos? Certamente.

Uma vez que existiam grandes quantida-des de selos tipo Ceres retirados de circula-ção e que se encontravam em depósito naCasa da Moeda, e com vista a diminuir asencomendas à firma inglesa que fabricavaos selos base com desequilíbrio do orçamentoda Administração Geral dos Correios e Te-légrafos, a portaria de 19 de Setembro de1928 mandou pôr em circulação os referi-dos selos, depois de sobretaxados ($04, $10,$15, $16, $40, $80, $96 e 1$60).

Foram postos em circulação 1.024.480selos de $04 s/8 laranja, 629.620 selos de$04 s/30 castanho, 544.140 selos de $10 s/1/4 sépia, 185.840 selos de $10 s/ ½ preto,231.200 selos de $10 s/1 castanho verme-lho, 967.980 selos de $10 s/ 4 verde, 720.000selos de $10 s/ 4 laranja, 1.595.080 selos de$10 s/6 sépia, 965.920 selos de $15 s/16 ul-tramar, 10.800 selos de $15 s/20 castanho,554.980 selos de $15 s/20 cinzento, 83.420selos de $15 s/24 verde azul, 560.000 selosde $15 s/25 rosa, 899.060 selos de $15 s/25

1928-1929- Selos tipo

“Ceres”com

sobretaxa

cinzento, 324.189 selos de $16 s/32 verde,4.132.140 selos de $40 s/2 laranja, 36.000selos de $40 s/ 2 amarelo, 1.694.000 selosde $40 s/ 2 chocolate, 3.513.360 selos de$40 s/ 3 azul, 1.634.820 selos de $40 s/ 50amarelo.

(in Livros Electrónicos de Carlos Kulberg)

tidos numa qualquer torre de mar-fim tentam, a todo o custo, banir aHistória do Ensino Básico e Se-cundário (e, se calhar, até achamque esses senhores das universi-dades que ensinam História bempodiam ir semear arroz…).

É que eles acham que arroz epetróleo é que interessam. Mas…turista visita-nos para quê? E por-quê? Quantos por dia nas instala-ções da Universidade e nos claus-tros da Sé Velha? E em Conímbri-ga? Quantos?

* Questionário a emigrantes, subor-dinado ao tema «Como se constrói oorgulho nacional» (Fonte: ISSP - Iden-tidade Nacional 2003). À pergunta«Quais são as principais fontes de or-gulho em ser português», as três prin-cipais respostas foram: História (91,8%), Desporto (86,5 %), Literatura e Arte(84,8 %). Os países que mais valoriza-ram o orgulho na História: Venezuela,EUA e Portugal.

Page 22: O Centro - n.º 54 - 02.07.2008

22 DE 2 A 15 DE JULHO DE 2008EMPRESAS

António Barbosa:mais de 80 anos com bateriassempre bem carregadas

Na próxima sexta-feira, dia 4 de Julho (Dia da Cidade de Coimbra), completam-se43 anos de funcionamento da Auto-Luz.Trata-se de um estabelecimento no Beco do Fanado (mesmo junto ao Terreiroda Erva), fundado no dia 4 de Julho de 1965 por António Afonso Barbosa,que ainda hoje ali continua a vender baterias e a ajudar muitos automobilistascom problemas eléctricos nas respectivas viaturas.António Afonso Barbosa começou ainda miúdo (com apenas 10 anos)a aprender o ofício na Electro-Garagem, na Av. Fernão de Magalhães. Andoudepois por outras empresas e quando era já um técnico experiente decidiu abrira sua “Auto Luz”, no local onde ainda hoje se mantém.Mais de 70 anos de trabalho, mas uma notável forma física, já que ninguémlhe dá os mais de 80 anos que leva de vida. Aliás, afirma que enquanto a saúdeo deixar ali estará todos os dias (às vezes fora de horas e aténos dias de merecido descanso) a satisfazer os seus clientes.Sempre, e de forma invejável, com as baterias bem carregadas!

AUTO-LUZ CELEBRA 43.º ANIVERSÁRIO

O restaurante Aqua, na Quinta dasLágrimas, reabre com o bom tempo paraum almoço numa ilha de tranquilidade,no centro da cidade de Coimbra. AlbanoLourenço, único chef português distin-guido com uma estrela Michelin, prepa-ra para a ocasião uma ementa cheia desol e de sabores.

O responsável pelo projecto gastronó-mico do Hotel (nos restaurantes Arca-das e Aqua) escolheu o porco ibérico e asardinha para assinalar o regresso dosalmoços mediterrânicos na Quinta dasLágrimas. Aliando criatividade e know-how, Albano Lourenço selecciona osmelhores alimentos para dar vida a pra-tos originais.

O “Creme de sardinhas com amên-doa laminada”, a “Salada de Sardinhascom pimentos marinado e migas da Lou-sã”, a “Sinfonia de secretos e plumas

QUINTA DAS LÁGRIMAS

Porco ibérico e sardinhastemperam os almoços do Aqua

com batata gratinada” e as “Bochechasde porco ibérico com estaladiço de pre-sunto, legumes e puré de batata nova”são as novas propostas do chefe de co-zinha, que prometem fazer “chorar pormais”. E como uma boa refeição acabasempre com uma nota doce, o “Folhadode pêssego com molho de alperce”, o“Pudim de Chá verde com fruta” e asmignardises que acompanham o café vãodeliciar os apreciadores de culinária.

Por 25 euros, a Quinta das Lágrimasconvida os habitantes e visitantes da ci-dade de Coimbra a fazer uma pausa

gourmet durante o Verão, rodeados pe-los jardins que testemunharam os amo-res de Pedro e Inês (bebidas não incluí-das). As reservas poderão ser efectua-das no Hotel, presencialmente, por e-mail(reservas@quintadaslágrimas.pt) ouatravés do telefone (239 802 380).

MENUCreme de sardinhas com amêndoa la-

minadaouSalada de Sardinhas com pimentos

marinado e migas da LousãSinfonia de secretos e plumas com ba-

tata gratinadaouBochechas de porco ibérico com es-

taladiço de presunto, legumes e puré debatata nova

Folhado de pêssego com molho de al-perce

ouPudim de Chá verde com frutaCafé e mignardises

Chef Albano Lourenço

Socipneus comemora40 anos de actividade

A Socipneus, uma das mais reputadasempresas de comercialização de pneusda Região Centro, acaba de completar40 anos de actividade.

Fundada em Coimbra a 1 de Julho de1968, a Socipneus foi uma arriscadaaposta do empresário Armando Rodri-gues, que destaca, para o êxito alcança-do, o apoio da família e o empenho dosseus funcionários..

E a verdade é que, quatro décadas vol-vidas, pode dizer-se que foi uma apostaganha.

De facto, a Socipneus conquistou in-vulgar prestígio ao longo de todos estesanos, tendo fidelizado clientela graças aoprofissionalismo e simpatia da gerênciae dos seus colaboradores.

Refira-se, como exemplo, que são ospróprios funcionários a insistirem com osclientes para ali passarem regualrmentea fim de verificar o estado e a pressãodos pneus, trabalho esse que fazem gra-tuitamente e com um sorriso cativante.

Um exemplo de preocupação cívica

que importa registar, já que com este sim-ples gesto (mas também raro!) estão aalertar os clientes para elementares re-gras de precaução muitas vezes menos-prezadas. E, assim, estão a dar impor-tante contributo para garantir que se andana estrada em segurança, já que os pneussão uma vertente essencial para que asviaturas circulem sem pôr em risco osseus ocupantes e os outros utentes daestrada.

Para além das instalações na Av. Fer-não de Magalhães, n.º 500, a Socipneusestá também na Rua Adriano Lucas (es-trada de Eiras), Armazém 1, igualmenteem Coimbra.

Para além da comercialização de to-dos os tipos de pneus das mais diversasmarcas, a Socipneus dispõe ainda domais moderno equipamento para alinha-mentos de direcção, testes de travões ede suspensões, montagem de amortece-dores, substituição de filtros, óleos, bemcomo muitos outras peças e acessóriospara automóveis.

Page 23: O Centro - n.º 54 - 02.07.2008

23DE 2 A 15 DE JULHO DE 2008 INTERNET

IDEIAS DIGITAIS

Inês AmaralDocente do Instituto Superior Miguel Torga

PARQUES DE SINTRA

TOTLOL

DIGA CULTURA

KIRSY

SAVE THE ELEPHANTS

AMAROK

O Verão já chegou e é preciso planear as fériase os passeios de fim-de-semana. O site Parquesde Sintra é uma boa opção para quem pretendeoptar por uma oferta cultural, natural e educativa.

No site é possível conhecer a história e a verten-te cultural de cada um dos espaços que são geridospela empresa Parques de Sintra - Parque e Palácioda Pena, Castelo dos Mouros, Parque e Jardins deMonserrate e o Convento dos Capuchos. As visitasvirtuais são também uma excelente opção. Quemquiser já definir o que vai fazer, tem propostas deprogramas para todas as idades.

PARQUES DE SINTRA

endereço: http://www.parquesdesintra.pt/categoria: lazer

As crianças têm agora uma espécie de YouTu-be. A ideia é entreter o público mais jovem comNoddy, Rua Sésamo e companhia limitada. Semqualquer problema de surgirem vídeos impróprios.

Os conteúdos que esta plataforma apresenta sãofiltrados do YouTube pelos próprios pais. O resul-tado é uma espécie de televisão para crianças va-riada, em versão Internet.

TOTLOL

endereço: http://www.totlol.comcategoria: vídeo, crianças

Só para mulheres. Ou mais ou menos. O Kirsy éum site que reúne links e artigos recomendados edireccionados ao público feminino. É mais um sitesocial, na medida em que são votados pela comuni-dade em função do interesse que têm para o colec-tivo.

A lógica é simples e a interface também. Todosos temas têm lugar, mas alguns destacam-se maisaqui do que num site generalista.

KIRSY

endereço: http://www.kirtsy.com/categoria: social media

Este site é uma espécie de Digg cultural e emportuguês. Os utilizadores propõem uma lista de ar-tigos e notícias que podem ser votados pelos res-tantes membros do site. Ou seja, mais um site desocial media onde são os utilizadores que atribuemcredibilidade e hierarquizam a informação.

O tema geral é a Cultura e os sub-temas sãobastante interessantes. Para já é uma ideia aindaem fase de expansão, pelo que o número de votosainda não é muito grande. Há também poucos co-mentários, mas já foram adicionados bastantes ar-tigos. A interface é muito atractiva e com bons ní-veis de usabilidade. Um site tipicamente Web 2.0para acrescentar aos favoritos.

DIGA CULTURA

endereço: http://digacultura.net/categoria: Cultura, social media

O elefante enfrenta sérias ameaças nos dias quecorrem. A caça ilegal e a perda do seu habitat sãoos principais motivos que tornam iminente o perigode extinção a médio prazo do maior animal terres-tre dos dias de hoje.

O site Save the Elephants assume a defesa des-tes animais, fazendo parte de uma associação ho-mónima criada em 1993, sem fins lucrativos. No sitepodemos conhecer as intervenções da associaçãoem África, acompanhar uma espécie de diário debordo de cientistas que estão no terreno, ficar a parda investigação feita sobre o assunto, participar nacampanha com donativos, entre outros.

SAVE THE ELEPHANTS

endereço: http://www.save-the-elephants.org/categoria: activismo

Os utilizadores de Linux têm agora um novo pro-grama de música: o Amarok. Trata-se de um sof-tware gratuito, que permite organizar músicas e pes-quisar por estilos musicais. Claro que não é umanovidade por aí além, mas é dirigida a outros utili-zadores já que por norma esta página abrange maissoftware dedicado a Windows e/ou Mac.

Este serviço tem a novidade de ser possível pes-quisar letras. Quando seleccionada a opção correc-ta, o utilizador ouve a música e tem acesso imedia-to à sua letra. A única condição é que esteja ligadoà Internet. O Amarok tem também uma ligação àWikipedia, pelo que a pesquisa de informação é outradas mais valias.

AMAROK

endereço: http://amarok.kde.org/categoria: música

Page 24: O Centro - n.º 54 - 02.07.2008

24 DE 2 A 15 DE JULHO DE 2008TELEVISÃO

PÚBLICA FRACÇÃO

Francisco [email protected]

FUTEBOL E CENSURA

Pois foi... muito futebol!Depois da eliminação de Portugal, lá

se perdeu uma boa parte do negócio que

estava montado à volta deste Campeo-nato Europeu que se disputou na Áustriae na Suíça.

A TVI foi quem mais perdeu com aderrota de Portugal frente à Alemanha.A chamada “estação de Queluz” apos-tou muito forte neste campeonato. Terconseguido comprar os direitos para a

transmissão em sinal aberto de tanto jogo,foi decerto pesado. Arriscou, mas ficoulonge da vaga de 2004 e até do Mundialde 2006.

O próprio director da TVI, José Eduar-do Moniz, lá esteve, aparecendo perante

as câmaras e sublinhando que era possí-vel fazer uma boa cobertura com “pou-ca gente”. Esta “pouca gente” só se forcomparando com o que era habitual natelevisão pública, pois “gente” da TVIera o que não faltava na Suíça. No míni-mo vinte e oito pessoas, um Carro deExteriores digital, com oito câmaras, trêsviaturas para transmissão por satélite, umEstúdio móvel.

Diga-se em abono da verdade, ou daminha opinião, que vários dos repórtereseram francamente limitados. Há mesmoum caso que se torna confrangedor, o de

Pedro Neves de Sousa, com ascendên-cia ilustre no chamado jornalismo des-portivo português, mas que transmite asensação de ser demasiado penoso paraele de cada vez que entra “no ar”.

Este Euro-2008, em termos televisi-vos, ficou também marcado pelas quei-xas de censura das televisões suíça eaustríaca. “Não é aceitável que algoaconteça sem que o possamos mostrar”,condenou Elmar Oberhauser, director deinformação da televisão pública ORF.

A UEFA, a entidade que organiza oCampeonato da Europa, e que pela pri-meira vez assumiu a responsabilidade dastransmissões, emitiu um comunicado noqual negou qualquer tipo de censura nastransmissões televisivas, rejeitando assimas acusações das televisões públicas daÁustria e da Suíça, países organizadoresda competição.

A UEFA garantiu que «ofereceu aosseus parceiros televisivos todos os mei-

os para controlar a sua própria emissão»,acrescentando ainda que havia reuniões

Façaumaassinaturado “Centro”e recebavaliosaobra de arteAPENAS 20 euros POR ANO- LEIA NA PÁG. 3

Esta é a reprodução da obra de ZéPenicheiro que será sua gratuitamente

diárias com as cadeias de televisão quetêm direitos de transmissão e que nuncarecebeu queixas relativas a qualquer cen-sura.

Em relação à invasão de campo deum adepto, no Áustria-Croácia, situação

referida pelas televisões que se queixa-ram de censura, a UEFA explica que orealizador «decidiu continuar a mostrara acção do jogo, em vez de interrompercom outro tipo de imagens».

Na generalidade, as realizações forammás e a ideia de passar nos écrans doestádio as imagens dos jogos acabou porser um óbvio retrocesso.

Do mal o menos, e não houve nenhumgolo em diferido,como aconteceuno Portugal-Ho-landa de 2004, masas repetições malescolhidas e indis-criminadas acaba-ram por, mais umavez, condenar par-te das transmis-sões. Nesta maté-ria há mesmo que aprender com os in-gleses.

E A RTP CONTINUA ...

“O Estado não vai sancionar a RTPpor ter falhado obrigações de serviçopúblico em 2007 já que a estação apre-sentou uma melhoria de desempenho emrelação a anos anteriores”, afirmou Au-gusto Santos Silva, ministro da tutela.

“Seria um absurdo que o accionista –que não sancionou a empresa concessi-onária do serviço público nos anos ante-riores – a sancionasse agora, num anoem que a empresa melhorou o cumpri-

mento das obrigações impostas pelo con-trato de concessão”, explicou ainda oministro.

Ora o relatório da Entidade Regula-dora para a Comunicação Social (ERC)relativo a 2007 indica que a RTP teve“insuficiências claras” no cumprimentodas suas obrigações, nomeadamente noque diz respeito a programas formativose dirigidos aos jovens, mas também naquota de difusão de obras de produçãoem língua portuguesa e nos limites deemissão de publicidade.

Trata-se, portanto, de respeitar o quese passa no “Curral das Moinas”. Defacto, um canal estatal que dá tempo deantena a um programa supostamente hu-morístico chamado “Telerural”, o tal quese passa em Curral das Moinas, só podemesmo estar a “melhorar” o seu desem-penho como serviço público!

Não é por acaso que as audiências nas

faixas etárias mais jovens está em declí-nio. Felizmente que o acesso dos maisnovos à informação e ao entretenimentose ampliou consideravelmente. Uma ge-ração que tenha por modelo o “Curraldas Moinas”, futebol atrás de futebol etanta manhã e tarde de pimbalhada, nãopode aspirar a muito.

É certo que os mais novos parecemcontar apenas para as estatísticas esco-lares europeias, para passarem logo aseguir a ser ignorados e libertados paraa nova emigração, mas, aproveitando aonda futeboleira, e como diria o “peque-no-grande” treinador Octávio... “vocêssabem do que eu estou a falar”.