o centro - n.º 34 - 26.09.2007

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DIRECTOR JORGE CASTILHO | Taxa Paga | Devesas – 4400 V. N. Gaia | Autorizado a circular em invólucro de plástico fechado (DE53742006MPC) ANO II N.º 34 (II série) De 26 de Setembro a 9 de Outubro de 2007 1 euro (iva incluído) Telef.: 239 854 150 Rua da Sofia, 95 - 3.º - 3000-390 COIMBRA Alimentação adequada durante a menopausa SAÚDE OPINIÃO PÁG. 16 POLÍTICA DIA DO CORAÇÃO PÁG. 15 PÁG. 4 e 5 Actividades saudáveis para todos os gostos Eleições no PSD geram polémica REABRIU COM EMENTAS ROMANAS E DAS TERRAS DE SICÓ PARA MARCAÇÕES: 969 453 735 - Augusto Valente - Francisco Amaral - João Louceiro - Massano Cardoso - Sertório Martins - Varela Pècurto PÁG. 2 e 3 A NATUREZA, A HISTÓRIA E A GASTRONOMIA ALIAM-SE PARA UMA EXPERIÊNCIA MEMORÁVEL EM CENÁRIO ÚNICO Nos dias 27 e 28 de Julho e 1 de Agosto pode apreciar os astros após o jantar em sessões multimédia de astronomia na varanda do Restaurante orientadas por astrónomos ENRIQUECIDO O TURISMO NA REGIÃO CENTRO Circuito da Romanização é um novo atractivo PÁG. 4, 6, 7, 14 , 17

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Versão integral da edição n.º 34 do quinzenário “O Centro”, que se publica em Coimbra. Director: Jorge Castilho. 26.09.2007. Site do Instituto Superior Miguel Torga: www.ismt.pt Visite outros sítios de Dinis Manuel Alves em www.mediatico.com.pt , www.slideshare.net/dmpa, www.youtube.com/mediapolisxxi, www.youtube.com/fotographarte, www.youtube.com/tiremmedestefilme, www.youtube.com/discover747 , http://www.youtube.com/camarafixa, , http://videos.sapo.pt/lapisazul/playview/2 e em www.mogulus.com/otalcanal Ainda: http://www.mediatico.com.pt/diasdecoimbra/ , http://www.mediatico.com.pt/redor/ , http://www.mediatico.com.pt/fe/ , http://www.mediatico.com.pt/fitas/ , http://www.mediatico.com.pt/redor2/, http://www.mediatico.com.pt/foto/yr2.htm , http://www.mediatico.com.pt/manchete/index.htm , http://www.mediatico.com.pt/foto/index.htm , http://www.mediatico.com.pt/luanda/ , http://www.biblioteca2.fcpages.com/nimas/intro.html

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Page 1: O Centro - n.º 34 - 26.09.2007

DIRECTOR JORGE CASTILHO

| Taxa Paga | Devesas – 4400 V. N. Gaia |Autorizado a circular em invólucrode plástico fechado (DE53742006MPC)

ANO II N.º 34 (II série) De 26 de Setembro a 9 de Outubro de 2007 �� 1 euro (iva incluído)

Telef.: 239 854 150Rua da Sofia, 95 - 3.º - 3000-390 COIMBRA

Alimentaçãoadequadadurantea menopausa

SAÚDE OPINIÃO

PÁG. 16

POLÍTICA DIA DO CORAÇÃO

PÁG. 15PÁG. 4 e 5

Actividadessaudáveispara todosos gostos

Eleiçõesno PSDgerampolémica

REABRIU COM EMENTAS ROMANAS E DAS TERRAS DE SICÓ

PARA MARCAÇÕES: 969 453 735

- Augusto Valente- Francisco Amaral- João Louceiro- Massano Cardoso- Sertório Martins- Varela Pècurto

PÁG. 2 e 3

A NATUREZA, A HISTÓRIA E A GASTRONOMIA ALIAM-SEPARA UMA EXPERIÊNCIA MEMORÁVEL EM CENÁRIO ÚNICO

Nos dias 27 e 28 de Julho e 1 de Agosto pode apreciar os astros após o jantarem sessões multimédia de astronomia na varanda do Restaurante

orientadas por astrónomos

ENRIQUECIDO O TURISMONA REGIÃO CENTRO

CircuitodaRomanizaçãoé um novoatractivo

PÁG. 4, 6, 7, 14 , 17

Page 2: O Centro - n.º 34 - 26.09.2007

2 DE 26 DE SETEMBRO A 9 DE OUTUBRO DE 2007

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Propriedade: AudimprensaNif: 501 863 109

Sócios: Jorge Castilho e Irene Castilho

Inscrito na DGCS sob o n.º 120 930

Composição e montagem: AudimprensaRua da Sofia, 95, 3.º - 3000-390 CoimbraTelefone: 239 854 150 - Fax: 239 854 154e-mail: [email protected]

Impressão: CORAZE - Oliveira de Azeméis

Depósito legal n.º 250930/06

Tiragem: 10.000 exemplares

CIRCUITO DA ROMANIZAÇÃO

O “Circuito da Romanização” é anova e aliciante oferta turística que aRegião Centro de Portugal passa agoraa proporcionar, susceptível de desper-tar o interesse de muitos milhares devisitantes do País e do estrangeiro.

De facto, este circuito envolve umconjunto muito rico e diversificado, comcada um dos pontos de interesse a cur-ta distância dos restantes, o que tornapossível a visita aos diversos sítios numespaço de tempo reduzido e com umbilhete único, beneficiando ainda de es-truturas de apoio de qualidade – comoé o caso, por exemplo, do renovado Res-taurante do Museu de Conímbriga, ondepodem saborear-se as ementas roma-nas inspiradas no célebre gastrónomoApicius e os pratos mediterrânicos comos produtos endógenos das Terras deSicó.

Este “Circuito da Romanização” sur-ge na sequência de um acordo institu-cional estabelecido com as autarquiasde Condeixa-a-Nova, Penela e Ansião,envolvendo a Liga de Amigos e o Mu-seu Monográfico de Conimbriga. O pro-tocolo permitiu criar o denominado “Cir-cuito da Romanização” no território doOppidum de Conimbriga, dotado de bi-lhete único e meios comuns de divulga-ção aos outros pontos onde existemvaliosos vestígios da presença romana,com um enorme significado no que con-cerne à promoção do turismo culturalna região de Sicó e ao papel do Museuno apoio ao desenvolvimento da eco-nomia do turismo.

Reconhecendo a importância desta

ENRIQUECIMENTO DA OFERTA TURÍSTICA NA REGIÃO CENTRO

Circuito da Romanizaçãoé um novo atractivo

iniciativa, a ela se associou a Região deTurismo do Centro, que passa, assim, adispor de mais uma importante e origi-nal oferta para o turismo nacional e paraatrair e fixar o turismo estrangeiro.

O lançamento oficial do “Circuito deRomanização” está marcado para de-pois de amanhã (sexta-feira, dia 28),com o seguinte programa:

09h30 – Recepção dos participantes,seguida de apresentação oficial do Cir-cuito da Romanização no auditório doMuseu de Conimbriga.

11h00 às 13h00 – Visita guiada ao

Museu e às Ruínas de Conimbriga.13h às 15h00 – Almoço no Restau-

rante do Museu de Conimbriga: Gastro-nomia de Apicius e Menu das Terras deSicó.

15h30-15h45 – Breve visita a Alca-bideque.

16h00-17h30 – Visita guiada ao Mu-seu e Villa Romana do Rabaçal

18h00-19h30 – Visita guiada ao Com-plexo Monumental de Santiago da Guar-da: Villa Romana, Torre Medieval e So-lar dos Condes de Castelo Melhor, nosCaminhos de Santiago. Aqui haverá uma

- BILHETE ÚNICO PARA VÁRIOS LOCAIS E INICIATIVAS INTERESSANTESsessão de astronomia (observação so-lar e nocturna) entre as 18h00 e as23h00.

Trata-se de uma jornada que contarácom a presença dos representantes ofi-ciais dos parceiros envolvidos no pro-jecto e para a qual foram igualmenteconvidados outras entidades oficiais,com destaque para os Ministros da Cul-tura e da Economia e o Presidente doIMC.

A apresentação do “Circuito da Ro-manização” prosseguirá nos dias se-guintes, integrando-se nas Jornadas Eu-ropeias do Património. No sábado, dia29, a sessão de astronomia decorreráno Museu de Conímbriga, aberta aopúblico mediante inscrição prévia (quepoderá ser feita via telefone para os 239944764; 96 9279074, pelo fax: 239945202 ou para o e-mail:[email protected])

Aqui está, pois, um valioso contribu-to para o incremento do Turismo na Re-gião Centro e no próprio País.

Saliente-se que muitas pessoas quehabitam nesta Região desconhecem nãosó as profundas alterações recentemen-te introduzidas em Conímbriga (cujaárea de visita duplicou e onde foram re-construídos vários pontos de interesse),mas também os outros sítios de grandeimportância histórica e cultural que fi-cam a escassos quilómetros.

A partir de agora, e de uma formamuito acessível, poderão ter uma atrac-tiva jornada de descoberta, onde o la-zer se alia ao enriquecimento cultural,num programa cheio de interesse parapessoas de todas as idades.

A magnífica “Palestra” das Ruínas de Conímbriga, recentementereconstruída e agora integrada no Circuito da Romanização

Page 3: O Centro - n.º 34 - 26.09.2007

3DE 26 DE SETEMBRO A 9 DE OUTUBRO DE 2007

O jornal “Centro” tem uma alician-te proposta para si.

De facto, basta subscrever uma as-sinatura anual, por apenas 20 euros,para automaticamente ganhar uma va-liosa obra de arte.

Trata-se de um belíssimo trabalhoda autoria de Zé Penicheiro, expressa-mente concebido para o jornal “Cen-tro”, com o cunho bem característicodeste artista plástico – um dos maisprestigiados pintores portugueses, comreconhecimento mesmo a nível inter-nacional, estando representado em co-lecções espalhadas por vários pontosdo Mundo.

Neste trabalho, Zé Penicheiro, como seu traço peculiar e a inconfundívelutilização de uma invulgar paleta decores, criou uma obra que alia grandequalidade artística a um profundo sim-bolismo.

De facto, o artista, para representara Região Centro, concebeu uma flor,composta pelos seis distritos que inte-gram esta zona do País: Aveiro, Caste-lo Branco, Coimbra, Guarda, Leiria eViseu.

Cada um destes distritos é represen-tado por um elemento (remetendo pararespectivo património histórico, arqui-tectónico ou natural).

A flor, assim composta desta formatão original, está a desabrochar, sim-bolizando o crescente desenvolvimen-

to desta Região Centro de Portugal, tãorica de potencialidades, de História, deCultura, de património arquitectónico, dedeslumbrantes paisagens (desde as prai-as magníficas até às serras verdejantes)e, ainda, de gente hospitaleira e traba-lhadora.

Não perca, pois, a oportunidade dereceber já, GRATUITAMENTE, estamagnífica obra de arte, que está repro-duzida na primeira página, mas que temdimensões bem maiores do que aquelasque ali apresenta (mais exactamente 50cm x 34 cm).

Para além desta oferta, passará a rece-

ber directamente em sua casa (ou no localque nos indicar), o jornal “Centro”, que omanterá sempre bem informado sobre oque de mais importante vai acontecendonesta Região, no País e no Mundo.

Tudo isto, voltamos a sublinhá-lo, porAPENAS 20 EUROS!

Não perca esta campanha promocio-nal, e ASSINE JÁ o “Centro”.

Para tanto, basta cortar e preencher ocupão que abaixo publicamos, e enviá-lo, acompanhado do valor de 20 euros(de preferência em cheque passado emnome de AUDIMPRENSA), para a se-guinte morada:

Jornal “Centro”Rua da Sofia. 95 - 3.º3000–390 COIMBRA

Poderá também dirigir-nos o seu pe-dido de assinatura através de:

� telefone 239 854 156� fax 239 854 154� ou para o seguinte endereço

de e-mail:[email protected]

Para além da obra de arte que desdejá lhe oferecemos, estamos a prepararmuitas outras regalias para os nossosassinantes, pelo que os 20 euros da as-sinatura serão um excelente investi-mento.

O seu apoio é imprescindível paraque o “Centro” cresça e se desenvol-va, dando voz a esta Região.

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PATRIMÓNIO

Doces conventuais são parte da his-tória de Portugal, o Mosteiro de Alcoba-ça também, e levar crianças a fabricaras iguarias na cozinha do monumento éum dos desafios das Jornadas Europei-as do Património, a decorrer entre ospróximos dias 28 e 30 (sexta-feira a do-mingo).

“Que docinho!!! Vem fazer e provardoces conventuais” é o convite-desafiolançado às crianças da pré-primária deAlcobaça para entrarem no Mosteiro. Aomesmo tempo que se aborda a históriado local, explica a organização, “fomen-ta-se a ligação e a compreensão do es-paço-cozinha de uma forma lúdica”.

Ainda no distrito de Leiria, nesta ci-dade, a Biblioteca Municipal organiza, dia28, uma sessão com diversos jogos cen-tenários, incluindo explicações sobre asorigens destes mesmos jogos, alguns dosquais há muito caídos em desuso.

Dando corpo ao mote das jornadas,“Património em Diálogo”, em Aveiro oMuseu da Cidade, durante os três dias

Jornadas europeias do Património:dos doces ao teatro no Centro de Portugal

em que o património é actualidade naEuropa, vai providenciar visitas ao Cen-tro Histórico e Ecomuseu da Troncalha-

da, focando a atenção na Arte Nova nacidade dos canais.

Com a representação de um Auto deFé (julgamento e leitura de sentença), aIgreja do Convento dos Frades Francis-canos, em Trancoso, distrito da Guarda,crianças e jovens, ao mesmo tempo queenfatizam a importância histórica do lo-cal, “julgam e sentenciam” o Estado por-tuguês e o município de Trancoso pelaforma como o património cultural é tra-tado neste concelho.

Já no distrito de Viseu, em Nelas, apartir do Parque Ecológico da Quinta daCerca, todos aqueles que quiserem par-ticipar, poderão, também de 28 a 30 deSetembro, visitar o circuito ecológico eetnográfico das Terras de Senhorim.

Na Figueira da Foz, os caminhantesdas Terras de Senhorim podem partir à“Descoberta da Rota das Salinas”, comuma visita ao Núcleo Museológico do Sale Salina do Corredor da Cobra, passeioque pode dar um outro “gosto” às Jorna-das Europeias do Património.

Em Coimbra, a autarquia preparou,entre outras iniciativas para marcar asjornadas, a 28 e 29, uma visita guiada àTorre de Almedina e ao Edifício Chiado,sendo aqui o objetivo que os participan-tes se confrontem com o enquadramen-to e a evolução urbana e sócio-culturaldo espaço que envolve os dois edifícios.

O incontornável Convento de Cristo,em Tomar, distrito de Santarém, vai darteatro, com o Mito de Inês de Castro, a28, em português, pelo grupo Fatias deCá, e, em francês, uma peça de Henryde Montherlant pelos “Tragediens desArènes”.

No Fundão, no distrito de CasteloBranco, o Museu Arqueológico Muni-cipal José Monteiro organiza uma pa-lestra sobre o “Museu e a Comunida-de”, por João Mendes Rosa, directordo espaço.

Ainda na Região Centro, destaquepara as visitas ao novo Circuito da Ro-manização, como se refere na páginaao lado

Conímbriga na rota das JornadasEuropeias do Património

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4 DE 26 DE SETEMBRO A 9 DE OUTUBRO DE 2007POLÍTICA

ponto . por . ponto

Por Sertório Pinho Martins

E os candidatos a lideres da oposiçãolá vão a votos outra vez! Quem diria!Barões e baronetes já desembainhamalfanges e carregam alabardas frente aosmilitantes embasbacados e às câmarasde ocasião!

Ângelo Correia saiu da hibernação eé vê-lo, fogoso e rejuvenescido, a terçararmas por uma mudança milagrosa quetire da monotonia os debates parlamen-tares, e até Santana Lopes já se fez apa-recido e mandou dizer que talvez con-corra ao comando da bancada do seuPPD-PSD, pois então!

Moita Flores faz pontaria ao seu futu-ro político, saturado das agruras autár-quicas em Santarém, e Luís Filipe Me-nezes sonha reeditar o lendário congres-so da Figueira da Foz, de onde João Sal-gueiro saiu tosquiado, depois de algunsbarões (com Eurico de Melo à cabeça),terem lançado na mesa o nome de umimberbe Cavaco Silva: e foi o que seviu… há quase vinte e cinco anos, é bomlembrar!

Na S.Caetano à Lapa, os acomoda-dos e os não-me-toques-que-me-estra-gas-o-status, vão desfiando apoios cin-zentos e espreguiçados a Marques Men-des, que na última entrevista televisivapuxou dos galões e afirmou categorica-mente que a primeira medida que toma-rá se ganhar as directas, é unir o parti-do! De pouco valeu o remendo que aseguir tentou pôr no buraco em que semetera, acossado pela entrevistadora! Se

O TRILEMAvai agora unir o partido, que já recebeusemi-escangalhado e com os ratos a sal-tar pela borda fora, então que tem feitonestes dois anos e picos, para além deperder sistematicamente os debates comJosé Sócrates e se esfalfar para chegarà mesa do poder fugidio? E, se a memó-ria nos levar até ao que o ainda líder so-cial-democrata foi fazer ao último comí-cio de Chão da Lagoa, e quase crismarAlberto João Jardim de divindade rein-carnada, – eu, se fosse militante, entra-va em transe hipnótico até às ‘directas’,chegava lá e botava na urna o papel quesaísse de um-dó-li-tá rapidinho. Porquede outro modo ficava com um trilema dotamanho das promessas eleitorais dasúltimas legislativas.

1. – Luís Filipe Menezes? Mas se forvotar numa qualquer circunscrição abai-xo do Tejo, como engolir os patéticos“sulistas” que fizeram escândalo numcongresso do Coliseu que lhe fugiu entreos dedos? Se votar rés-vés acima do Tejo(de Famalicão à Figueira da Foz, Ama-dora e Linda-a-Velha), como dormir empaz com os três mil militantes cujas quo-tas foram pagas por quatro dedicadoscompanheiros (não há almoços grátis, eos dedicados companheiros sabem-nomelhor que ninguém)? Diz o presidentedo Conselho de Jurisdição que se tratade “arrebanhamento”, e logo a seguir fazlava-mãos-de-Pilatos ao reconhecer que“é um problema jurídico e político com-plexíssimo” (presume-se que o superla-tivo classifica exactamente o escânda-

lo): pode assim concluir-se que se vaichegar ao dia de entronizar o possívelperdedor de 2009, e tudo continuará napaz podre do ‘problema complexíssimo’.Consequências? Ora, isto são tudo artis-tas portugueses!

2. – Luís Marques Mendes? Mas seele (segundo o seu rival) nem sequer al-guma vez geriu um modesto molho desalsa espigada, e o pai já diz que o filho,mesmo ganhando as directas, “está tra-mado” porque “vai ter a oposição à per-na”! Mau: então o moço não deu a talgarantia, com o país a ver (quantas noi-tes de insónia não lhe custou já este dis-parate), de que vai unir o partido logui-nho depois de ganhar as ditas cujas di-rectas? Se nem o pai acredita (e comolhe deve ter custado confessá-lo)! E osoito mil militantes açoreanos que irãovotar mesmo sem as quotas pagas, por-que é tradição ilhéu levar o votozinho aGarcia, mesmo sem pagar o dízimo im-posto pela cartilha partidária?

3. – Votar em branco ou chapar umpalavrão no boletim? Mas então fica tudocomo dantes: a distribuição de computa-dores aos jovens e de telemóveis aoscarenciados (os pasquins de parede jáfalam em alívio de gordas dívidas ao Es-tado de algumas empresas que comerci-alizam essas modernices), e com o Va-lentim a rir-se da surreada que lhe puse-ram às pernas quando teve pena dospobres gondomarenses que ainda não ti-nham micro-ondas e televisão por cabo;os Ministérios a vender património para

equilibrar as contas públicas; o dr. MárioSoares a ser de novo a bóia para arran-jar petróleo venezuelano a pataco; a Lu-soponte a levar para casa um tanto porcada carro que não passe nas suas tra-vessias (e esta, ein, como diria o Peça?)e opte pela nova que aí vem e vai custarmais umas centenas de milhões; o tirarde tapete às competências da PGR eoutras instâncias de segurança do Esta-do; o novo aeroporto que navega entreos turvos interesses instalados e os pu-zzles (por resolver) de Portela+1, Alco-chete+2 e Tires+3, para além dos turis-tas furiosos pelas malas perdidas e osatrasos monumentais; os ministros a darcom a burricada na água lá para as ban-das da saúde doente, da educação igno-rante, das razões “óbvias” para não daros bons-dias ao DalaiLama, da econo-mia da cauda europeia, e mais que Deushaja; os duelos entre bancos que nãodeixam de continuar a amealhar resulta-dos e teimam no contraciclo com o TioSam nessa coisa ridícula das taxas dejuro!... E já não tenho mais fôlego paravirar a página do livro de reclamações(inútil, como todos os que por aí jazemnos balcões do nosso descontentamen-to), apenas quero saber se me resta odireito à indignação e ao meu trilema:Saramago, quando fala na Ibéria, deveser apedrejado, santificado ou eleito naspróximas legislativas como chefe da jan-gada de pedra que teima em derivar semrumo? Ou será que vivemos mesmonuma rua mal frequentada?...

O Conselho de Jurisdição Nacionaldo PSD decidiu dar a “possibilidadeexcepcional” aos militantes dos Aço-res de pagarem as quotas em atrasoaté ao dia das directas e excluiu 1.442militantes dos cadernos eleitorais por“pagamentos irregulares”.

As decisões do Conselho de Juris-dição Nacional (CJN) foram transmi-tidas aos jornalistas pelo presidentedaquele órgão, o deputado GuilhermeSilva, no final de uma reunião que seprolongou por mais de quatro horas,na sede nacional do PSD.

Uma das questões analisadas pelosmembros do CJN estava relacionadacom a situação dos oito mil militantesda Região Autónoma dos Açores quenão tinham as quotas em dia mas foramincluídos nos cadernos eleitorais, con-trariando, assim, as normas nacionais dopartido, que determinam que apenas osmilitantes com quotas actualizadas po-dem votar nas eleições internas.

Segundo Guilherme Silva, esta situaçãodecorre dos próprios estatutos regionais

POLÉMICA ANTECEDE CONGRESSO DO PSD

Conselho de Jurisdição exclui 1.442 militantes do PSD-Açores “que não exigem que osmilitantes tenham as quotas em dia paraexercer o direito de voto”.

Contudo, e porque deste caso de-corria “uma desigualdade em relaçãoaos demais militantes” e porque foiafastada a hipótese, que chegou a sercolocada ao final da tarde, de “excluirdos cadernos eleitorais todos os mili-tantes dos Açores”, o CJN decidiuautorizar “a possibilidade excepcionalde pagarem as quotas em atraso atéao momento do voto” nas directas desexta-feira.

“É uma solução que concilia a igual-dade de exercício de voto, com o de-ver de ter as quotas em dia”, subli-nhou Guilherme Silva, adiantando quea decisão mereceu o acordo de todosos membros do CJN presentes no mo-mento da votação, que já decorreu de-pois dos apoiantes de Luís Filipe Me-nezes terem abandonado a reunião.

Ainda de acordo com o presidentedo CJN, o ‘tribunal’ do partido deci-diu “de acordo com a lei e os estatu-

tos” e teve em conta um parecer doconstitucionalista Jorge Miranda.

Por outro lado, o CJN decidiu ex-cluir dos cadernos eleitorais das direc-tas para a liderança do PSD 1.442 mi-litantes “por pagamento irregulares”ou “pagamentos em massa”.

Relativamente a esta decisão, Gui-lherme Silva recusou que só tenhamsido excluídos apoiantes de Luís Fili-pe Menezes.

“Não sabemos de quem são apoi-antes”, sublinhou, referindo que, emrelação a estes casos, o CJN se limi-tou a “verificar se estavam ou não aser violados os estatutos”.

Em declarações aos jornalistas mo-mentos antes, o deputado Rui Gomesda Silva, membro do CJN e apoiantede Luís Filipe Menezes tinha deixadoduras críticas à forma como decorreua reunião do ‘tribunal’ do partido, con-siderando que se tratou de um encon-tro “com muitos problemas”.

“Milhares de militantes com as quo-tas pagas desapareceram dos cader-

nos eleitorais”, denunciou, acusandoo partido de apenas ter “dúvidas emrelação aos apoiantes de Luís FilipeMenezes” e não relativamente aosapoiantes de Luís Marques Mendes.

“Houve uma actividade deliberadade eliminação de um lado e acrescen-to do outro”, adiantou.

Quanto à situação dos Açores, eapesar de ter havido por parte dosmembros do CJN apoiantes de LuísFilipe Menezes “toda a disponibilida-de para que pudessem votar”, o CJN“decidiu abrir uma excepção para osAçores”, acrescentou o deputado so-cial-democrata.

“Se abriu uma excepção para osAçores, então, que seja possível to-dos os militantes ainda pagarem asquotas em atraso”, apelou.

“O que está em causa é o nome doPSD”, salientou, classificando o pro-cesso eleitoral para as directas como“uma enorme trapalhada”.

Uma “trapalhada” que faz com quese possa “esperar tudo” a partir de

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5DE 26 DE SETEMBRO A 9 DE OUTUBRO DE 2007 POLÍTICA

e concede excepção aos Açores

PORTA-VOZ DE MENEZESAFIRMA HAVERFAVORECIMENTODE MARQUES MENDES

A candidatura de Luís Filipe Menezesacusou ontem (terça-feira) Marques Men-des e Guilherme Silva de alterarem as re-gras “para se favorecerem” nas directas doPSD, depois de ter sido permitido o “paga-mento excepcional” de quotas aos militan-tes dos Açores.

Em declarações à Lusa, Ribau Esteves,porta-voz da candidatura do autarca de Gaia,considerou que o CJN não tem competên-cia para alterar as regras que foram apro-vadas pelo Conselho Nacional do PSD paraas eleições directas.

Ribau Esteves acusou Marques Mendese Guilherme Silva, de mudarem as regrasque eles próprios aprovaram “para se favo-recerem” e prejudicarem “deliberadamen-te” a candidatura de Menezes.

“Marques Mendes e Guilherme Silva têma gravíssima responsabilidade de gerir umprocesso vergonhoso, sem qualquer tipo deseriedade e legalidade”, comentou.

“O PSD vive o mais negro momento dasua história, assistimos a uma grave vergo-nha e um forte ataque à idoneidade, serie-dade e credibilidade que sempre caracteri-zou a história do partido”, acrescentou.

Ribau Esteves disse ainda à Lusa que,perante isto, a candidatura de Luis FilipeMeneses iria ontem “reflectir” sobre os maisrecentes acontecimentos e que uma deci-são sobre o futuro da candidatura seria anun-ciada “ao partido e ao país” ao fim do dia.

Sobre as possibilidades em cima da mesa,Ribau Esteves reafirmou que a candidaturaestá disposta “a ir até às últimas consequên-cias jurídicas e políticas”, sem especificar.

O porta-voz de Luís Filipe Menezes de-nunciou ainda uma “retirada selectiva” doscadernos eleitorais de cerca de quatro milapoiantes da sua candidatura.

“Não podemos confirmar estes númerosporque não temos acesso ao cadernos, sa-bemos também que há pagamentos emmassa por parte de apoiantes de MarquesMendes, mas não podemos confirmar issoporque não temos acesso à ‘prova do cri-me”, referiu.

A decisão do Conselho de JurisdiçãoNacional (CJN), presidido pelo deputadoGuilherme Silva, contraria as normas nacio-nais do partido, que determinam que ape-nas os militantes com quotas actualizadaspodem votar nas eleições internas, que serealizam sexta-feira.

Segundo Guilherme Silva, esta situaçãode excepção decorre dos próprios estatutos

agora, acrescentou.“Se valer tudo para manter o po-

der, o PSD não terá muito futuro”,lamentou.

Confrontado com estes apelos e crí-ticas, o presidente do CJN recusoualargar “a possibilidade excepcional”dada aos militantes dos Açores para

pagarem as quotas até ao momentoda votação, porque isso seria “uma ile-galidade”.

Questionado sobre o que pode acon-

tecer politicamente no dia das direc-tas, Guilherme Silva disse acreditar noapaziguamento da situação.

“A poeira vai assentar”, salientou.

regionais do PSD-Açores, “que não exigemque os militantes tenham as quotas em diapara exercer o direito de voto”.

Ribau Esteves considera que as explica-ções de Guilherme Silva apenas vêm con-firmar a “fraude” e acusa o presidente doConselho de Jurisdição Nacional de parcia-lidade.

“O árbitro, que tem que ser imparcial,está claramente a puxar para um lado”,disse, adiantando que, assim, o “jogo ficadesvirtuado”.

APOIANTES DE MENDESACUSAM CANDIDATURADE MENEZES DE “CRIARESCÂNDALO”PARA DISFARÇAR“EVENTUAL DERROTA”

A candidatura de Marques Mendes acu-sou ontem (terça-feira) os apoiantes de LuísFilipe Menezes de criarem “um escândalo”por causa do pagamento excepcional dequotas nos Açores para disfarçar a “faltade ideias” e justificar uma eventual derrota.“Estão a criar um escândalo em torno dequestões menores e a lançar suspeições einsinuações sobre um processo transparen-te e limpo para criar álibis para a falta deideias e justificar os resultados”, disse à agên-cia Lusa o porta-voz da candidatura de Mar-ques Mendes, Macário Correia.

O presidente da Câmara de Tavira, Ma-cário Correia, comentava assim as declara-ções do porta-voz da candidatura de LuísFilipe Menezes, Ribau Esteves, que acusa-ra Marques Mendes e Guilherme Silva, pre-sidente do Conselho de Jurisdição Nacional(CJN), de alterarem as regras “para se fa-vorecerem” nas directas do PSD, agenda-das para sexta-feira.

Macário Correia rejeitou e devolveu asacusações de pagamento “fraudulento”de quotas, adiantando que o processo dedefinição dos cadernos eleitorais “foi lim-po e claro”.

“Há aqui uma tentativa de lançar fumonegro sobre um processo que decorreucom regras claras”, sublinhou MacárioCorreia, adiantando que “as decisões doConselho Nacional de Jurisdição devemser respeitadas”.

O porta-voz de Marques Mendes defen-de que as declarações dos opositores naseleições directas devem ser entendidas “àluz do desespero e do espírito de derrota eangústia” que reina na candidatura de LuísFilipe Menezes.

“Devemos ter a dignidade de preservara imagem que as pessoas têm do PSD e dapolítica”, defendeu.

MENDES RECORDAQUE SOCIAIS-DEMOCRATASSEMPRE RESPEITARAMOS ÓRGÃOS E REGRASDO PARTIDO

Marques Mendes recordou ontem(terça-feira) o “respeito, elevação e dig-nidade” pelos órgãos e regras com queos sociais-democratas sempre travaramo debate interno, num comentário implí-cito à polémica do processo eleitoral dasdirectas.

Sem nunca se referir explicitamenteà polémica gerada à volta das decisõesdo Conselho de Jurisdição Nacional doPSD de permitir que os militantes dosAçores possam pagar as quotas até aomomento da votação nas directas e àexclusão de mais de 1.400 filiados doscadernos eleitorais, Marques Mendes

recordou “o respeito” que sempre hou-ve em relação aos órgãos e regras dopartido.

“O PSD sempre viveu de forma apai-xonada o debate político. Mas, atenção,o PSD sempre travou o debate políticointerno com respeito, elevação, dignida-de, com respeito pelos órgãos, com res-peito pelas regras, com respeito uns pe-los outros”, disse.

Marques Mendes, que falava duran-te a apresentação da comissão de hon-ra da sua candidatura às eleições di-rectas marcadas para depois de ama-nhã (sexta-feira), recordou ainda que“os legítimos interesses de cada um nãopodem estar acima dos interesses dopartido”.

“As legítimas aspirações de cada mi-litante não podem assumir-se à custada imagem e do bom nome do parti-do”, acrescentou, considerando que “aunidade e o bom nome do partido sãofundamentais”.

Depois de ter arrancado as primeiraspalmas do público, Marques Mendes fezainda questão de dizer que não contam comele para “fragilizar” o PSD, mais uma veznuma critica implícita à candidatura do seuadversário nas eleições directas de sexta-feira, de Luís Filipe Menezes

“Não contem comigo em nenhum mo-mento para fragilizar o PSD, por qual-quer método, atitude ou comportamen-to”, sublinhou.

Antes, Marques Mendes já tinha aler-tado para a necessidade do partido não“desperdiçar energias” com “questiún-culas”, lembrando que sempre foi um“defensor da unidade”.

“A unidade é indispensável”, reforçou,salientando, contudo, que tal não signifi-ca “cortar a liberdade de opinião”, por-que a unidade constrói-se com “a plura-lidade de opiniões”.

Ainda antes de Marques Mendes fa-lar, também já o militante ‘número 1’ efundador do partido Francisco Pinto Bal-semão, que preside à comissão de honrada candidatura do actual líder social-de-mocrata, tinha alertado para a necessi-dade do partido não “perder tempo” compequenas questões.

“Não perdemos tempo com questi-únculas, nem com questões sectárias”,disse.

Instados pelos jornalistas no final dacerimónia a falar sobre as polémicas queenvolvem o processo eleitoral para as di-rectas, nem Pinto Balsemão nem o anti-go líder do PSD/Açores João BoscoMota Amaral quiseram fazer qualquercomentário.

Marque Mendes Luís Filipe Menezes

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6 DE 26 DE SETEMBRO A 9 DE OUTUBRO DE 2007OPINIÃO

«Somos um país pequeno e pobre eque não tem se não o mar

muito passado e muita História e cadavez menos

memória (…)»(Manuel Alegre, “País de Muito Mar”,

in Doze Naus)

A crise que Portugal atravessa é bemmais grave, ampla e profunda do que que-rem fazer crer, reduzindo-a à economia eàs finanças públicas. A sua compreensãoterá de procurar-se na longa duração, por-que ela mergulha as raízes no nosso passa-do histórico, como o afirma, entre outros,Vitorino Magalhães Godinho: “Vive-se noinstantâneo, na ultra-curta duração, só con-ta o imediato, aliás imprevisível – a «teoria»,dogmática de um dogmatismo laico, nãoassenta no conhecimento dos processos es-truturais ao longo dos séculos, e por isso nãopode construir as equações que indiquemos caminhos do porvir”.

Mais de cinco séculos decorridos so-bre o início dos Descobrimentos, continu-amos por resolver o dilema que AntónioSérgio sintetizou entre a «política da Fi-xação» e a «política do Transporte», ago-ra mais adequadamente traduzido por di-lema entre uma política de desenvolvimen-to e uma política de negócio. Para o com-preender teremos de fazer uma sintéticaretrospectiva histórica.

Poucos anos após a chegada à Índia, anobreza, aliada ao clero, conseguiu recu-perar o poder económico à burguesia emer-gente, conduzindo o país à crise do final doséculo XVI. Nos dois séculos seguintesaconteceria o mesmo relativamente aoBrasil, com a nobreza a reaver das mãosda burguesia as alavancas da obtenção dariqueza e o ouro a pagar o défice comerci-al com a Inglaterra. Nestes três séculos,quase todos os imensos recursos do paísseriam desperdiçados sem proveito realpara o seu desenvolvimento.

O Liberalismo não mudou significativa-mente a situação. Numa primeira fase, atendência conservadora do cartismo, expri-mindo os interesses da aristocracia comer-cial, acabou por triunfar sobre as aspiraçõesdemocratizantes e industrializantes do setem-brismo. Depois, com a Regeneração, asesperanças depressa se esgotariam numrotativismo entre dois partidos “análogos naspalavras, idênticos nos actos, iguais um aooutro como duas metades do mesmo zero”– como então observava ironicamenteGuerra Junqueiro. Próximo do colapso, o re-gime procurou a salvação na efémera «di-tadura» franquista, uma solução que se re-velaria trágica. A nobreza liberal foi a prin-cipal beneficiária da nacionalização dos bensmonacais, reforçando o seu estatuto de pre-ponderância política e económica. Ideologi-camente dominante mas sem consciênciade classe, numa sociedade onde a taxa de

Monteiro Valente*

Portugal hoje,ou o multissecular dilema nacionalanalfabetismo ultrapassava os 75 % e o ope-rariado quase não existia, a burguesia en-leou-se em compromissos com a aristocra-cia, pelo que seria mais agrária do que in-dustrial ou comercial. Deste modo, com umaeconomia essencialmente agrícola, uma in-dústria incipiente e fracos recursos, os su-cessivos governos dependiam dos impostose, sobretudo, da banca, especialmente daestrangeira, para as grandes obras lança-das com o «fontismo», situação que estariana origem de vários escândalos financeiros.“Os banqueiros governavam o Estado e ospolíticos governavam a banca. Em conjun-to, absorviam a poupança do país” – diz Vas-co Pulido Valente.

A República ambicionou resgatar o paísdo atraso histórico e do declínio em que seencontrava e reorganizar toda a arcaicasociedade portuguesa, pondo o acento tóni-

co na eliminação do analfabetismo, na mo-dernização política, no desenvolvimento dosrecursos nacionais, no combate à corrup-ção clientelar e na realização dos direitossociais. Porém, a instabilidade política, asdificuldades económicas e financeiras, acarestia da vida, a agitação social, as dissi-dências dos partidos republicanos, sobretu-do após a I Guerra Mundial, conduziram aofracasso daqueles objectivos. O próprio Par-tido Democrático – o mais identificado comos valores republicanos e que hegemonizoua vida política da I República – acabaria porse fixar numa política imobilista, repressivae corruptora nos processos de captação deapoios, aliado aos grandes interesses eco-nómicos, alienando as simpatias populares.A sua ânsia de dominar a vida política leva-ria tanto republicanos como os seus adver-sários a conspirar juntos contra a «ditadurado partido único» e a apoiar, finalmente, aintervenção «redentora» das forças arma-das em 28 de Maio de 1926.

Salazar suportou-se na estrutura maisretrógrada da sociedade portuguesa, no po-der das oligarquias dos velhos privilégios, numsistema de dominação económica de umaminoria reaccionária hostil a qualquer mu-dança, numa banca parasitária e num Esta-do autoritário e violentamente repressivo.Reduziu o ensino primário a um nível rudi-mentar e limitou o acesso ao secundário esuperior, para combater as ideias de moder-nidade que a República havia incentivado.Em contrapartida, promoveu um ultranaci-onalismo, sustentado ideologicamente nofalso mito de um «Império do Minho a Ti-

mor», que culminaria numa longa e dramá-tica guerra colonial.

Este bosquejo da nossa história permitedetectar alguns dos principais problemas quetêm sucessivamente bloqueado o desenvol-vimento da sociedade portuguesa. Habituá-mo-nos a viver do que vem de fora – pri-meiro do ouro da Mina, depois das especia-rias da Índia, a seguir do açúcar e ouro doBrasil, mais tarde dos empréstimos ingleses–, e a delapidar os proventos em avultadasprestações a grupos sociais não produtores(nobreza e clero até ao século XIX, alto fun-cionalismo do Estado e clientelas partidári-as depois), na aquisição de bens sumptuári-os, em despesas de ostentação, no equilí-brio do défice externo, na amortização dadívida pública, etc., com o capital concen-trado sobretudo em actividades de pendorrentista. A grande intumescência daqueles

sectores da população, a contrastar com aacentuada contracção e fraca qualificaçãodos trabalhadores ocupados na produção debens, associada à permanência de mentali-dades dominantes culturalmente pouco evo-luídas e demasiado voltadas para o passa-do, agravavam a situação. Habituámo-nos,igualmente, ao trabalho externo – primeirodos escravos, depois dos galegos –, enquantoa mão-de-obra nacional abandonava do país.Por último, os poderes políticos enredaram-se sistematicamente em compromissos comas oligarquias dominantes, fincando-se empráticas imobilistas, autoritárias e frequen-temente corruptoras, avessas à participaçãoe aos interesses da maioria dos cidadãos.

Treze anos de guerra colonial e derroca-da abrupta do «Império», pareciam aconte-cimentos favoráveis a “um repensamentoem profundidade da totalidade da nossaimagem perante nós mesmos e no espe-lho do mundo – voltando a citar EduardoLourenço”. Mas, passados poucos anos,voltaram em triunfo as mentalidades, inér-cias e hábitos do passado. Muitos viram naUnião Europeia sobretudo uma fonte de di-nheiro fácil, e uma parte significativa dossubsídios foi desperdiçada no enriquecimentoespaventoso, em negócios fraudulentos eem projectos de interesse e prioridade maisque duvidosos. O desenvolvimento do paíspouco beneficio retirou realmente deles, salvono tocante a infra-estruturas, continuandoPortugal a ser o que menos cresce entre os27 Estados-membros da União Europeia,apesar de haver recebido em fundos estru-turais proporcionalmente mais que a maio-

ria dos parceiros europeus. Regressou tam-bém, novamente, a força de trabalho da imi-gração, e os portugueses tornam a sair dopaís à procura do futuro que aqui lhes é ne-gado. Sob a protecção do Estado, e à custade escandalosos lucros nos sectores ban-cário e bolsista, na especulação em tornodas mais valias do solo, em negócios obscu-ros e nas grandes obras públicas, reconsti-tuíram-se poderosos grupos financeiros,agravando uma economia excessivamenteconcentrada em sectores de reduzido valoracrescentado em termos de produção deriqueza e trabalho. Assim, não surpreende aestagnação da economia, a permanência daalta taxa de desemprego, o crónico déficeorçamental, nem o agravamento da cargafiscal sobre a classe média e a progressivadesconstrução do Estado Social. No planopolítico, acentua-se a tendência para a he-gemonia pelos partidos do espaço público epara a limitação da participação dos cida-dãos, enquanto se acentua o divórcio destesrelativamente àqueles e floresce o cliente-lismo e um novo caciquismo, reflectindo umacrise de representação que só os partidos(obviamente!) se recusam a admitir. A vidanacional é marcada, sobretudo, pelas que-relas partidárias e pelo baixo combate políti-co entre os dois maiores partidos, ao mes-mo tempo que a diferença entre as suas prá-ticas governativas é cada vez mais imper-ceptível e mais idênticos são os seus méto-dos de acção: demagogia, populismo, pro-paganda, espectáculo, mentira, intimidação,manipulação, etc.,. Entretanto, vai reemer-gindo na sociedade a tradicional cultura na-cionalista, ou mesmo ultranacionalista, cadavez mais abertamente hostil à democracia,reflectindo o desespero e angústia que sevai instalando no quotidiano dos portugue-ses. O passado torna-se presente, e amea-ça tornar-se futuro.

A solução da crise que atinge a maio-ria dos portugueses não passa por qual-quer deriva populista ou autoritária, poruma acção providencial ou por um outroimaginário «salvador da Pátria». Passa,sim, pelo fortalecimento dos valores fun-damentais da democracia e, antes de mais,pelo aprofundamento da cidadania. Semela, a liberdade ficará reduzida a um meroformalismo ritualista, que só aproveitaráaos interesses instalados, como aconte-ceu com o Liberalismo e a I República. Esó com ela se poderá restituir vitalidade àsociedade e ao sistema político.

O que o Portugal precisa – e urgente-mente – é, pois, de mais cidadania: mais in-tervenção dos cidadãos, debate de ideias,espírito crítico, pedagogia cívica, memóriademocrática, enfim, mais Abril. Porque o 25de Abril não é passível de leituras restritivasda liberdade, nem se conjuga com medosou resignações. E porque Abril foi, também,em grande medida, parte de uma luta pelanossa memória histórica.

* Major-General

O que o Portugal precisa – e urgentemente – é,pois, de mais cidadania: mais intervençãodos cidadãos, debate de ideias, espírito crítico,pedagogia cívica, memória democrática,enfim, mais Abril.

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7DE 26 DE SETEMBRO A 9 DE OUTUBRO DE 2007 COIMBRA

Li na rubrica “Fala o Leitor” do Diáriode Coimbra de 18/9 p.p. uma esclarecedo-ra carta do doutor João Carlos S. Pinho so-bre a vida de seu avô, Marques da Costa.

Apenas em 4 colunas, o neto deste hon-rado Homem deu-nos em excelente resu-mo do que tem sido o percurso profissionalde uma das pessoas de quem me fiz amigoao chegar a Coimbra.

Desde os primeiros contactos foi-me fá-cil perceber qual era a orientação que Mar-ques da Costa dava à sua existência.

Trabalhador madrugador infatigável, queabdica de ofertas que a maioria de nós con-sidera indispensáveis, continua na sua linhade conduta, sempre disponível, sem domin-gos, feriados e férias por vontade própria.

Dá prioridade às suas obrigações diáriasmas é receptivo a outras, ocasionais. Cola-borador fiel do Professor Doutor BissayaBarreto e das suas equipas, vimo-lo posteri-ormente fixado no Portugal dos Pequeni-tos. Hábil e com espantosa adaptabilidadesurgia aqui e ali, nos pavilhões destinados ainvisuais, surdos, o Hospital dos Covões,Casas da Criança, Maternidade, preventó-rios e colónias de férias na serra e à beira-mar. Centenas de crianças tomaram o seuprimeiro banho de mar nos braços de Mar-ques da Costa.

Sempre determinado deu conta de “ca-rocas” e grandes tarefas.

Uma das suas facetas liga-se à fotogra-

Varela Pècurto

Marques da Costafia. Foi um dos muitos clientes a quem sem-pre dispensei atendimento personalizado.Interessado pelas inovações tem uma apa-relhagem fotográfica acima do normal e delatem tirado bom partido.

Numa emergência ultrapassámos umepisódio cujo final estávamos longe deimaginar.

O Professor Bissaya Barreto teve defazer uma conferência inesperada, em Ma-drid, numa 5.ª feira. No domingo anterior eue Marques da Costa partimos numa escuramadrugada para a recolha dos slides queilustrariam a conferência. Foi uma autênti-ca maratona às primeiras obras do Profes-sor Bissaya, algumas distantes entre si. Oregresso foi à meia-noite, com as últimasfotografias a serem tiradas recorrendo aoflash e debaixo de um guarda-chuva.

O filme seguiu às 3 horas da manhãpara Lisboa em tarifa especial da C.P. paraser revelado em Linda-a-Velha, como eraentão usual.

À ordem do Professor os slides foramlevantados 2.ª feira à tarde, ensaiados na 4.ªfeira, já em Espanha e no dia seguinte reali-zou a sua conferência.

Logo que me foi proporcionado saber setudo correra bem fiquei surpreendido coma resposta: tudo bem mas no final da Con-ferência, entre felicitações e despedidas, osslides desapareceram e a mala do nossoProfessor regressou vazia.

Mais tarde, com bom tempo e sempressas, a colecção foi repetida para ne-cessidades futuras.

Marques da Costa iniciou a sua activida-de em instituições ligadas ao Professor Bis-saya Barreto. Dedicou mais tempo ao Por-

tugal dos Pequenitos logo que este surgiu.Andámos por ali a fotografar para o arqui-tecto Cassiano Branco e desde então Mar-

ques da Costa conheceu vários dos respon-sáveis deste parque, de quem recebeu or-dens quando não lhe eram dadas pessoal-mente pelo Professor.

Aos noventa e dois anos, comparece di-ariamente no recinto, antes da porta se abrirao público.

Aquando das suas bodas de prata profis-sionais, a Fundação Bissaya Barreto não oesqueceu.

Mas face à sua longa e impecável car-reira, que está prestes a atingir as Bodasde Diamante e não tendo a Fundação ne-nhum colaborador nos seus quadros comuma carreira como a de Marques da Cos-ta será justo não pensar em tradições ecelebrar, já, o impoluto desempenho de tãodedicado funcionário.

Tanta verticalidade, nos dias de hoje, fa-zem dele uma jóia rara.

Marques da Costa

APRESENTADO POR MARCELO REBELO DE SOUSA

Livro de Santos Cabral faz revelaçõesde “Uma incursão pela Polícia”

“Uma Incursão pela Polícia” é o títulodo livro do juiz-conselheiro José SantosCabral, há dias lançado em Coimbra, eque constitui um notável depoimento so-bre a experiência vivida por este magis-trado enquanto Director Nacional daPolícia Judiciária.

Isso mesmo foi referido por MarceloRebelo de Sousa, que procedeu à apre-sentação do livro no decorrer de umasessão na Quinta das Lágrimas, a queassistiram centenas de pessoas (entre asquais o Presidente e o Vice-Presidentedo Supremo Tribunal de Justiça, o ex-ministro da Justiça Aguiar Branco e mui-tas outras destacadas figuras nacionais).

A obra foi editada pela Almedina, cujoresponsável, Carlos Pinto, saudou os pre-sentes, elogiando o autor.

Elogios que foram retomados, de umaforma invulgarmente calorosa, por Mar-

celo Rebelo de Sousa, primeiro para aeditora Almedina, cujo trabalho enalte-

ceu, e depois para Santos Cabral, afir-mando:

Carlos Pinto, Santos Cabral e Marcelo Rebelo de Sousa

“Esta obra tem o traço do autor, uma fi-gura muito prestigiada na sociedade portu-guesa, e não apenas no domínio jurídico”.

O professor de Direito sublinhou de-pois “a formação teórica, a sensibilidadeprática e a carreira invulgarmente bri-lhante” de Santos Cabral, “com uma vi-são humanista que está em cada páginadesta obra, como tem estado em cadapágina da sua vida”.

Marcelo considerou o livro como obrade reflexão e consulta, com um conteú-do muito rico, com elementos informati-vos por poucos conhecidos e focandoalguns dos principais aspectos da crimi-nalidade, nomeadamente a económica,bem como o problema, agora tão debati-do, da coordenação das polícias.

Santos Cabral agradeceu os elogios,afirmando que a passagem pela PJ foiuma experiência muito enriquecedora.

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8 DE 26 DE SETEMBRO A 9 DE OUTUBRO DE 2007OPINIÃO

LIBERTAÇÃO DE PRESOS

(...) Estamos bem colocados, no âm-bito da União Europeia. E ficaríamos noprimeiro lugar dos países com menos pri-são preventiva, se fizéssemos a distin-ção que os outros países fazem. Os pre-sos consideram-se preventivos até aotrânsito em julgado, mas não é possíveligualar a situação da prisão preventivade um indivíduo que não foi acusado doque foi acusado, do pronunciado e do quejá foi julgado. Este, que já foi julgado compleno direito a defesa, é o mesmo do queuma acusação em que o Ministério Pú-blico diz que há indícios para levar umapessoa a julgamento?

A libertação de várias pessoas em con-sequência da aplicação destas novas nor-mas contribui para criar um clima de inse-gurança, como já defendeu o Sindicataodos Magistrados do Ministério Público?

As pessoas ficam assustadas, mas nãohá razão para alarme. (...)

Cândida AlmeidaPúblico 23/Setembro/07

IMPLOSÃO PARTIDÁRIA

(...) Portugal está assim, três décadasdepois do 25 de Abril, refém de uma pode-rosa tenaz política, entalado entre partidosprofundamente esclerosados e uns ocasi-onais ímpetos independentistas, sem ver-dadeira coerência ou consistência.

É pois urgente agir para melhorar anossa democracia, e só há uma via: a derequalificar os próprios partidos, fazen-do deles organizações mais pluralistas,mais transparentes e mais informais. Emsuma, mais atractivas para quem se quei-ra dedicar (em exclusivo ou em paralelocom as suas carreiras profissionais) à vidapública.

Olhemos, para se perceber mais fa-cilmente o que quero dizer, para os re-centes Governos de Gordon Brown oude Sarkozy - ou, mais atrás, de Zapateroou de Angela Merkel. O que se vê nes-ses Governos são quadros partidários,com qualidade e experiência, que dãogarantia de competência nas (natural-mente sempre controversas) funções queocupam. E o que, nestas circunstâncias,a sociedade civil, os independentes e osmovimentos de cidadãos fazem, é somarcompetitivamente ideias e debates, pro-jectos e desafios aos partidos, não é pre-tender substituí-los.

A situação exige assim que os partidos

portugueses - e nomeadamente o PS,como maior partido português - encetemuma profunda transformação, se nãoquerem que cada eleição os torne aindamais frágeis, acossados entre o descré-dito público, o ressentimento activo dealguns dissidentes e as ilusões de outrostantos independentes. (...)

Manuel Maria CarrilhoDN 23/Setembro/07

TREMOR FINANCEIRO

Os mercados internacionais andamnervosos há semanas. Todos os bancosmundiais se ressentem, muitas institui-ções foram castigadas severamente eteme-se uma derrocada global. Os ris-cos económicos são justificadamenteassustadores. A opinião comum é queestas situações são causadas por loucosespeculadores brincando com o dinheirodos outros. Mas, em Finanças, perigosdestes costumam assinalar grandes des-cobertas.

Mecanismos que hoje consideramosbanais surgiram no meio de horríveis ca-tástrofes. O nascimento dos bancos mo-dernos gerou, entre outras, a dolorosa Mis-sissippi Bubble de 1720. A vulgarizaçãodo papel-moeda esteve ligado a hiper-in-flações, como a francesa de 1795-96 e aamericana de 1861-65. A política mone-tária contemporânea adveio da GrandeDepressão de 1929-33. Desta vez a cria-tividade financeira e as oportunidades daglobalização criaram poderosas inovaçõesque prometem revolucionar o crédito mas,ainda mal conhecidas e controladas, cria-ram uma situação muito perigosa. A novaideia é uma engenhosa combinação debanca e bolsa para alargar o acesso aomercado de capitais. Consiste em conce-der créditos, por exemplo para gestorescomprarem a sua empresa ou inquilinos asua casa, dispersando depois o risco des-ses empréstimos pela venda de título cujovalor depende da rentabilidade dos crédi-tos originais. Através desta “titularização”,o primeiro credor passa a outros parte donegócio. A ideia pode ser repetida suces-sivamente, com os compradores dessestítulos a emitir outros títulos “derivados”,cujo valor depende dos primeiros, disper-sando ainda mais o risco. A enorme van-tagem desta novidade está não só na ver-satilidade e especialização financeira mastambém na democratização e populariza-ção do acesso ao crédito. (...)

João César das NevesDN 23/Setembro/07

“IN SATISFAÇÃO”

(...) Em Portugal, onde me sinto e sen-to, nós não nos importamos de perder.

Desde que seja de cabeça levantada,com os corninhos ao sol. Ele é um não aca-bar de vitórias morais de empatas coitos ecoitadas de fingir que pelo menos alguémna família tem sangue estrangeiro na guel-ra. Quem como nós não suporta o cheirode sardinhas assadas, tomates crus e chi-cotadas psicológicas nem neonazis mortos-

vivos, quem vota em zombarias e quem nãodesfaz a barba mas faz a cama de lavadoda breca.

Ai que tudo se queixa do que nos foiimposto, dos aumentos dos géneros anima-lícios, das escutas telefónicas como se al-guém estivesse interessado em decifrar afrase “onde estás?” ou verificar quantotempo vai durar o bronze... São saudadesdas pele a despelar, dos bolos estragados,dos automóveis não condicionados, dométodo das temperaturas, dos biscoitos in-terruptos. (...)

Rui ReininhoJN 22/Setembro/07

DIFICULDADES DA IGREJA

(...) Tudo começa com um equívoco.Hoje, quando se fala da Igreja, é numagigantesca instituição e nos seus altos emédios hierarcas que de facto se pensa:Papa, bispos, padres. Já se esqueceu que,no princípio, não era assim, pois Igreja sig-nificava a reunião das Igrejas, entendidascomo assembleias dos cristãos congrega-dos em nome de Jesus.

Foi com Constantino e Teodósio quetudo se modificou, quando o cristianismose tornou religião oficial do Estado e aIgreja acabou por transformar-se numainstituição de poder. Desde então, de ummodo ou outro, espreitou o perigo de es-quecer a Igreja enquanto comunidade dosfiéis a Cristo, que caminha na fé e na ten-tativa de actualizar no mundo o reinadode Deus a favor de todos os homens emulheres, sobretudo dos mais pobres eabandonados, para sublinhar sobretudouma Igreja-instituição, hierarquizada epoderosa. Quem congrega é menos Je-sus do que a hierarquia, e a fé está maisdirigida ao dogma do que à pessoa de Je-sus e ao Deus salvador. (...)

As dificuldades são diversas, tanto aonível da doutrina como da própria organi-zação. O mundo moderno pôs em causao princípio da simples autoridade vertical,mas a Igreja tem dificuldade em aceitar adúvida e argumentar. Ao princípio da de-mocracia a Igreja contrapõe uma monar-quia absoluta. Na sociedade civil, aos di-rigentes aplicam-se denominações funci-onais: ministros, reitores, directores, mas,na Igreja, o Código de Direito Canónicocontinua com categorias quase ontológi-cas: são “superiores” e até “superioresmaiores”, o que implica que os outros são“inferiores”. Jesus tinha dito: “sois todosirmãos”. Mal um padre é nomeado bispofica o seu nome próprio precedido de“Dom”, abreviatura de “Dominus” (se-nhor), título senhorial antiquado. Dificul-dade maior é a reconciliação com o cor-po, com a sexualidade e com as mulheresna sua igualdade com os homens. Do pon-to de vista doutrinal ainda hoje causa es-panto que o padre Teilhard de Chardin, ocientista que tentou conciliar a fé com umaconcepção evolucionista do mundo, con-tinue sob suspeita. Mas como se podeproclamar ainda, no quadro da evolução,a visão tradicional de Adão e Eva e dopecado original? Como é concebível que

dois seres apenas semiconscientes tenhamcometido um pecado que estaria na ori-gem de todo o mal do mundo? Como épossível continuar a transmitir a ideia per-versa de que Deus descarregou sobre oseu Filho na cruz toda a sua cólera, re-conciliando-se desse modo com a Huma-nidade? Este é o nervo da questão: acre-dita-se, sinceramente, por palavras eobras, que Deus é Amor?

Anselmo Borges(padre e professor de Filosofia)

DN 22/Setembro/07

KATE

Nesta altura, o número de portugue-ses que não emitiu uma opinião definiti-va sobre o caso Madeleine McCann émuito reduzido, mesmo que a “opiniãodefinitiva” seja apenas passageira. Énatural e inevitável estão presentes, nocaso Madeleine McCann, quase todos osingredientes do drama - o rapto ou o ho-micídio, a criança que é raptada por umcriminoso ou a Medeia que mata os pró-prios filhos, a campanha por Maddie eas suspeitas sobre os pais. Mais do queo drama, no entanto, o caso transformou-se numa trama policial que alimenta vá-rias teorias da conspiração, todas elascapazes de abalar a nossa fé no génerohumano. Seja como for, a história estálonge do epílogo. (...)

Francisco José ViegasJN 24/Setembro/07

MANDAR PASSEARA DR.ª ZEZINHA

(...) Confesso que me agradam as pes-soas capazes de assumir estas coisas.Até me agrada que Nogueira Pinto seassuma salazarista. Se é verdade, achobem que o diga. Só estranho que o nãotenha dito publicamente há mais tempo -ou disse e não dei por nada? - e não te-nha defendido, enquanto dirigente doCDS/PP, que este devia seguir a linhasalazarista em vez de falar de “demo-cracia cristã”. Salazar podia ser cristão- há-os de todos os géneros, incluindo osmuito pouco cristãos - mas era a modosque antidemocrata. Parece que há pro-vas de que mandava para a choldra epara a tortura quem não pensava comoele e não dizia que não a um homicidiozi-to aqui e ali. Para Zezinha, que pode noPortugal democrata, à frente de umasalada de garoupa, bradar-se salazarista- e portanto antidemocrata - sem que nin-guém a mande a qualquer parte, isso -prender, torturar, matar - era “saber man-dar”. No Portugal democrata, uma Ze-zinha pode até dizer estas coisas enquantoespera que quem manda agora a mandemandar na Baixa. Porque acha que paraquem agora manda não conta a ideolo-gia (nem a memória), só a imagem e opragmatismo. Até podia ser assim - po-dia ser que Costa não se importasse dealienar parte do seu eleitorado para no-mear uma salazarista que lhe garantissebons resultados. Sucede que alguém que

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9DE 26 DE SETEMBRO A 9 DE OUTUBRO DE 2007 OPINIÃO

acha que o problema do comércio daBaixa é causado pelas lojas “de chine-ses” é alguém que, para além de exibira xenofobia descomplexada que se es-pera de uma salazarista, ainda não per-cebeu nada da Baixa. Perante isso, que,convenhamos, nem indicia competêncianem garante bons resultados, Costa nãopode senão mandar Zezinha passear.Pela Baixa, sugiro eu. Tem lá três Za-ras, sabia? A não ser que prefira daruma volta na China. Diz que lá man-dam lindamente.

Fernanda Câncio (jornalista)DN 21/Setembro/07

AMAR OS LIVROS

(...) Nestes últimos tempos li abundan-te e anarquicamente. Entrei, sem crité-rio ou determinação prévia, na vida ealma de personagens muito diversos ecom os quais estabeleci forte intimidade,viajei por uma geografia ousada e incon-sequente, fiz troça do tempo, no passadoe no futuro de mim. Dando sentido aoenigmático verso de Guimarães Rosa:“Eu sou donde nasci. Sou de outros lu-gares.” A leitura de livros - ficção, ro-mance, novela, poesia - é hoje, talvez, amais enriquecedora forma de estar sozi-nho sem estar só. Num tempo em quesobem os níveis de stress, se sofrem osefeitos do excesso de informação quaseimpossível de assimilar, aumenta vertigi-nosamente o número de pessoas que vi-vem sós, se formam ilhas e redutos ondeantes se convivia, se perde a individuali-dade e a interioridade, os livros são umantídoto garantido. E também para atu-rar os inúmeros maçadores que nos ro-deiam e ameaçam atrapalhar a nossavida. Em Portugal, país que bate recor-des no consumo de antidepressivos, esteantídoto devia ser promovido oficialmente.

Para os mais novos, a questão é aindamais premente. Filhos de uma cultura in-formativa e de imagem, com poucos há-bitos de leitura, são os futuros homo vi-dens. Correm o risco de ficar à margemda percepção de tudo aquilo que relevana própria essência da condição huma-na. Se pensarmos no conjunto de estí-mulos indispensáveis à formação de cadaum enquanto pessoa, parte substancialvem, seguramente, da leitura, do poderde interpelação que as histórias, que ape-nas os livros podem narrar deste modo,têm na estimulação dos sentimentos e dacompreensão de cada um. Num quadrode absoluta liberdade, esse exercício in-dividual e silencioso é uma forte arga-massa para uma interioridade coesa queabre os caminhos para crescer.

Felizmente que os responsáveis per-ceberam isso. Daí que, apesar da cren-ça cega nas novas tecnologias de infor-mação para igualar oportunidades, o Pla-no Nacional de Leitura vai fazendo o seubom caminho. É que não basta ensinar aler, é preciso ensinar a gostar de ler.

Maria José Nogueira PintoDN 20/Setembro/07

“L’UOMO È MOBILE...”

(...) Em 6.1.2005, declarava que nãoapoiaria Cavaco Silva numa futura eleiçãopresidencial. Mas, em 27.10.2005, consi-derava-o o único candidato a sério e cominvulgares condições para ser um grandepresidente.

Em 24.2.2005, a sua escolha presiden-cial recaía em Marcelo Rebelo de Sousa.Mas, em 1.6.2006, ironizava sobre as qua-lidades que podiam faltar a Marcelo e, em

30.11.2006, atacava-o contundentemente.Em 11.5.2006, dava uma palavra de es-

tímulo e compreensão para com os minis-tros da Saúde e das Finanças, consideran-do o encerramento das maternidades, comuma ou outra excepção, uma medida irre-batível. Mas, em 3.3.2007, achava que osdossiers do encerramento das maternida-des e das urgências têm sido geridos deuma forma tão atabalhoada que um agen-te infiltrado da oposição não faria melhor.

Em 24.11.2005, desejava longa vida àOta. Mas, em 14.6.2007, passava a defen-der a solução Portela + 1.

Em Abril de 2005 afirmava que o pri-meiro referendo a realizar devia ser o eu-ropeu. Mas, em 28.6.2007 dizia-se contraesse referendo e a favor da ratificaçãoparlamentar do tratado.

Em 29.12.2004, era a favor de Bragacomo capital de cinco distritos. Mas, em13.4.2006, propôs que a capital da regiãonorte ficasse no interior de Trás-os-Mon-tes.

Em 26.4.2007, se fosse presidente doPSD desejaria eleições intercalares emLisboa. Mas, em 6.8.2007, dizia não po-dermos falar de estabilidade e “ter feito tudopara deitar abaixo a maior câmara do País”.

Em 2.3.2006, elogiava o Governo queachava ter transmitido alguns sinais de es-perança e outros de justificada apreensão,mostrado vontade política de afrontar inte-resses instalados, gerido bem o timing dossilêncios e dos ministros, sabido afastar-sede medidas polémicas e crises de circuns-tância. Mas, em 27.7.2007, tentou copiar,tarde e a más horas, o que Marques Men-des tem vindo constantemente a dizer ereconheceu “que o governo socialista nãocumpre o que prometeu na campanha elei-toral: dois anos passados, há mais desem-pregados, há mais miséria, há mais listasde espera, há mais impostos, há menos ma-

ternidades, há menos segurança, há me-nos justiça social, há menos liberdade”.

E ainda agora, aceitou o debate na SICNotícias, para anunciar dias depois que nãoo aceitava e passar a aceitá-lo outra vez,decorridas 24 horas.

Hoje, tanta volatilidade compulsiva fa-ria Verdi reescrever uma ária célebre:“L’uomo è mobile / qual piùma al vento...”

Vasco Graça MouraDN 19/Setembro/07

ÓSCAR LOPES

(...) Óscar Lopes completa 90 anosem 2 de Outubro. Cumpriu o fado de vi-ver num tempo de opróbrio: foi preso, im-pedido de dar aulas, o nome suprimidona imprensa. Este homem adverso aodogma e permanentemente aberto à in-terrogação sempre defendeu que a cul-tura é o grande espaço da responsabili-dade e do compromisso. E defendeu es-ses conceitos com uma obstinação ape-nas explicável pela sua têmpera de már-more num corpo só na aparência de por-celana. Merecia tudo o que a pátria lhedevia. A pátria nunca foi pródiga para osseus maiores. Modesto, recatado, discre-to e grandioso, Óscar Lopes interpelouos mistérios das ciências humanas, pro-curando dilucidar os aspectos menos cla-ros da antropologia cultural, estrutural esocial. Evitou os clamores do marque-tingue e as tubas efémeras do “mediáti-co”. Recolhido na casa da Rua de BelosAres, ergueu uma obra monumental eímpar.

A Cooperativa Árvore e o editor CruzSantos decidiram homenagear (de 10 a14 de Outubro) o grande intelectual e acoerência inexpugnável do cidadão. Pen-saram editar um volume com os textosde Óscar Lopes sobre o Porto. Pediramo apoio da câmara. Como as inclinaçõesde Rui Rio para a cultura deslizam entreo nada e a indiferença, até agora nenhu-ma resposta. Esclareça-se que a ediçãoimportaria, quando muito, em três mileuros. Também o Ministério da Cultura,cuja titular vai falar na sessão inaugural,se alheou de subvencionar a iniciativa.

Não se constrói um Estado modernosem relações culturais abertas. A liber-dade de identidade implica a existênciade uma cultura política de que, notoria-mente, este Executivo não é detentor,assim como o não é de uma política cul-tural. O caso Óscar Lopes é outro dosmuitos exemplos. Perseguido, encarce-rado, no salazarismo; ignorado, hostiliza-do, menosprezado na “democracia”.

Menos por aqueles que o admiram.

Baptista BastosDN 19/Setembro/07

ALTERAÇÕES LEGISLATIVAS

Será verdade que até o prof. Marcelosó deu pelas alterações do Código Penale do Processo Penal agora, no exactomomento em que acabaram de entrar emvigor?

Tanto quanto se sabe (e foi o próprioPresidente da República a recordá-lo...) asalterações legislativas agora introduzidasforam amplamente discutidas onde o de-vem ser por imperativos legais.

No foro judicial foram ouvidas todas asinstituições que animam a vida do sector eno foro político o tema foi longamente de-batido na Assembleia da República, tendomerecido o consenso alargado do inevitá-vel “bloco central”, PS e PSD.

Apesar da complexidade técnica queexige uma discussão séria sobre o assun-to, a verdade é que até na opinião publica-da ele foi aflorado e nenhum advogado comparticular interesse na matéria pode hojefingir que lhe esconderam o que estava aser preparado. (...)

Manuel SerrãoJN 19/Setembro/07

REVOLTA JUDICIÁRIA

(...) É verdade que era uma brutalida-de prender alguém sem que lhe fosse ditodaquilo de que era acusado. Conhece-sena história recente muitos casos de indi-víduos que ficaram presos preventivamen-te sem que soubessem o que lhe haviacaído em cima e, assim, esperaram me-ses até que a acusação lhes revelassesegredos que, por outro lado, os jornaisiam sabendo de cor com cirúrgicas fugasde informação. Agora passou-se ao oi-tenta e estão criadas as condições jurídi-cas para que ainda antes de estar estru-turada a prova judiciária já os eventuaisacusados conhecerem os intestinos dospróprios processos. Não há investigaçãoque resista e vai ser o fartar vilanagem.

Esta lei poderia ser de uma grande va-lia caso o sistema judiciário fosse outro.Informatizado, tecnicamente apetrecha-do, dotado de equipas de peritos com ca-pacidade suficiente para despachar rapi-damente exames, perícias que, hoje, de-moram meses, até anos. Seria uma mais-valia de grande monta se a PJ e o Minis-tério Público fossem máquinas altamenteprofissionalizadas, no que respeita a mei-os e capacidade de reacção. Não são.Possuem bons quadros mas a investiga-ção criminal moderna já não se compa-dece essa mais-valia. O Instituto de Me-dicina Legal está longe de responder ra-pidamente, o Laboratório de Polícia Ci-entífica ainda mais longe, as Unidades dePerícias Económicas e Financeiras muitomais longe e por aí fora.

Finalmente, é uma lei que potencia ainsegurança objectiva e subjectiva. O ri-gor que se exige na aplicação na prisãopreventiva vai pôr, sobretudo no quadrodos crimes da competência da GNR e daPSP, os cabelos em pé aos investigadoresdestas instituições. Não admira a revolta.Aquilo que podia ser um grande salto emfrente vai transformar-se numa enormeconfusão se não forem rapidamente in-troduzidas correcções. Também não cau-sa grande espanto. Já estamos habitua-dos a isto

Francisco Moita FloresCM 24/Setembro/07

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10 DE 26 DE SETEMBRO A 9 DE OUTUBRO DE 2007PUBLICIDADE

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11DE 26 DE SETEMBRO A 9 DE OUTUBRO DE 2007 CULTURA

As Edições MinervaCoimbra lança-ram recentemente a obra “Cartas a Anade Leonardo”, um ensaio sobre epistolo-grafia amorosa da autoria de EdgardPanão, numa sessão que contou com apresença de muitas dezenas de amigose familiares do autor.

Em nome da editora, Isabel Garciaagradeceu aos presentes, ao autor e aosapresentadores.

O autor foi apresentado por Rui Velo-so, que aludiu às suas qualidades huma-nas e recordou o seu percuro profissio-nal, com destaque para os muitos anosem que foi Director da Escola do Ma-gistério de Aveiro.

A apresentação do livro foi feita porMaria do Rosário Cunha, docente daUniversidade Aberta (de cuja Delegaçãode Coimbra é Directora), para quem estaé uma obra que convida a entrar no mun-do dos afectos onde “habitam um ho-mem, uma mulher e uma cidade”.

Um jogo entre o real e a ficção quesimultaneamente apresenta as cartas de

“Cartas de Amor” publicadas pela Minerva Coimbra

Leonardo a Ana e um relato do percursode vida de Leonardo, com várias refe-rências a Coimbra e às suas zonas urba-nas, bem como a figuras e a eventos his-toricamente comprovados, a par de ou-tros não identificáveis. “É evidente que oautor propõe um pacto de leitura em querealidade e ficção se confundem, se con-

tagiam, até à diminuição das fronteirasentre elas”.

Ao todo são 107 cartas, da autoria deLeonardo e de Ana, “e todas elas, se porum lado reconfiguram o percurso de ou-tras Anas e de outros Leonardos”, comoo próprio autor sugere, “por outro lado, erelativamente às figuras reais que estão

na sua origem, contrariam a insustentá-vel chateza das vidas sem passado”.

Quanto à cidade, em vez de motivode instabilidade e ciúme na relação tri-angular que o livro retrata, é antes, eacima de tudo, cúmplice, afirma aindaMaria do Rosário Cunha. “Cúmplice por-que é lugar de encontro e cúmplice pe-las estratégias a que se presta para queesse mesmo encontro de prolongue”.

Cumplicidade e sortilégio são pois,para a apresentadora, “os termos quemelhor definem a relação do par de na-morados com a cidade que, seja qual fora razão, não deixa de estar presente emtodas as cartas que trocam, ao ponto deAna lhe atribuir «um jeito feiticeiro quenos envolve como um manto diáfono te-cido de quimeras, de sonhos e de milcegueiras»”.

A sessão incluiu ainda a actuação dogrupo de fado de Coimbra “Lácrima”,que desta forma prestou uma homena-gem surpresa a Edgard Panão, que nofinal agradeceu.

Isabel Garcia, Edgar Panão, Rosário Cunha e Rui Veloso

“Félix Avelar Brotero, uma história na-tural” - este o título do livro da autoria daarquitecta paisagista Cristina Castel-Bran-co, apresentado na passada semana noJardim Botânico da Universidade de Co-imbra.

A obra, cuja primeira versão foi escritaem francês (a autora recebeu a insígnia de“Chevallier des Arts et des Lettres” atri-buída pelo ministro da Cultura de França),centra-se na figura e obra do grande botâ-nico português que possibilitou aos alunosde Medicina conhecer as plantas, as suasfamílias e qualidades.

Na sessão realizada ao ar livre, no mag-nífico cenário do Botânico (e sob uma ár-vore que terá sido plantada por Brotero),começaram por usar da palavra o Direc-tor da Imprensa da Universidade, Faria Cos-ta (Professor da Faculdade de Direito), aDirectora do Jardim Botânico, Helena Frei-tas (que é também a responsável do De-partamento de Botânica da Universidadede Coimbra), ambos tecendo rasgados elo-gios à obra e à sua autora.

A apresentação do livro foi feita por Jor-ge Paiva (um dos mais prestigiados botâni-cos portugueses), que considerou ser esteo livro mais importante até hoje publicadosobre Avelar Brotero e sobre o JardimBotânico, bem como sobre o papel de re-levo que tiveram para a Botânica mas tam-bém, e sobretudo, para o ensino da Medi-cina, através das plantas medicinais queforam vindo dos mais diversos pontos doMundo.

Cristina Castel-Branco agradeceu as

DA AUTORIA DA ARQUITECTA CRISTINA CASTEL-BRANCO

Biografia de Félix Avelar Broteroapresentada no Jardim Botânico

palavras que lhe foram dirigidas e enalte-ceu o trabalho que está a ser desenvolvidopor Helena Freitas na preservação e de-senvolvimento do Jardim Botânico da Uni-versidade de Coimbra.

A encerrar a cerimónia, usou da pala-vra, em nome da Reitoria, o Pró-ReitorAntónio Pimentel, que sublinhou a satisfa-ção da Universidade em poder acolhernaquele belíssimo espaço uma cerimóniatão cheia de significado como era o lança-mento do valioso livro sobre Brotero.

Doutorada em História de Arte de Jar-dins, Cristina Castel-Branco levou sete anosa escrever o livro que, embora minuciosa-mente documentado, não foge à intempo-ralidade das emoções e dos sentimentos, oque dá à obra um carácter de romance his-tórico.

Publicado pela Imprensa da Universi-dade e Livros Horizonte, o livro é obrigató-rio para quem pretende conhecer melhor aobra notável de Avelar Brotero, bem comoa história da Botânica.

Cristina Castel-Branco é licenciada emArquitectura Paisagística (Instituto Supe-rior de Agronomia – ISA, 1985), mestrenesta mesma disciplina (Universidade deMassachusetts, 1989) e doutorada em His-tória de Arte de Jardins (ISA, 1993). É pro-fessora no Instituto Superior de Agrono-mia desde 1989, onde dirige o departamentode Arquitectura Paisagista.

Entre 1997 e 2002 foi directora do Jar-dim Botânico da Ajuda (criado no séculoXVIII). É Fundadora e Presidente da As-sociação Portuguesa dos Jardins e SítiosHistóricos.

Faria Costa, Cristina Castel-Branco, António Pimentel, Jorge Paiva e Helena Freitas

Vai decorrer no próximo sábado,no Porto, o lançamento do livro depoesia “Variações sobre tema de Ví-tor Matos e Sá: Invenção de Eros”,da autoria de Xavier Zarco.

Recorde-se que esta obra valeuao autor a conquista do Prémio dePoesia Vítor Matos e Sá - 2007, cer-tame organizado pelo Conselho Ci-entífico da Faculdade de Letras daUniversidade de Coimbra.

Publicado pela “edium editores”,o livro será apresentado pela poeti-sa Ana Maria Costa e pelo poetaLuís Monteiro da Cunha.

A sessão está marcada para as15h30, no Auditório do Clube Lite-rário do Porto (Rua Nova da Alfân-dega, 22).

Integrado neste evento haverá umespectáculo de dramatização, baila-do e música.

Xavier Zarco é o pseudónimo li-terário de Pedro Baptista, que fazparte da equipa do jornal “Centro”.

“VARIAÇÕESSOBRE TEMADE VÍTOR MATOSE SÁ: INVENÇÃODE EROS”

Livrode XavierZarcovai ser lançadono Porto

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12 DE 26 DE SETEMBRO A 9 DE OUTUBRO DE 2007PENELA

27 de Setembro – Quinta-Feira

15h30 – Jogos tradicionais, Corridade Trotineta, Gincana, Tracção à cor-da, Corrida de Sacos e/ou Corrida deAndas, Praça da República

19h00 – Inauguração da FAGRIP eTasquinhas S. Miguel

21h30 – Demonstração de Ginásti-ca Aeróbica e Karaté Shukokai, Pra-ça do Rossio

23h00 – Baile com o Grupo DuoTecla

28 de Setembro – Sexta-Feira

15h30 – Torneio de Hóquei de Rua,Campo de Ténis

18h00 – Reabertura da FAGRIP eTasquinhas S. Miguel

18h30 – Inauguração da Exposição“Sábios Mudos... Mundos Faladores”,de Álvares de Sousa, Espaço-museuda Villa Romana do Rabaçal

22h30 – Desfile de Moda, PavilhãoMultiusos

23h00 – Espectáculo Musical comAna Malhoa

24h00 – Baile com o Grupo Bilt

29 de Setembro – Sábado(FERIADO MUNICIPAL)

09h30 – Percurso Pedestre (Iníciojunto ao Castelo de Penela)

11h00 – Sessão Solene do Dia doMunicípio

12h00 – Reabertura da FAGRIP eTasquinhas S. Miguel

13h00 – Almoço do Expositor15h30 – Encontro de Filarmónicas:

Sociedade Filarmónica Penelense; Fi-larmónica da Sociedade Boa UniãoAlhadense

16h00 – Futebol: CDR PenelenseVs AA Arganil, Campo de São Jorge

18h00 – Apresentação do Livro“Convento de Cristo em Tomar – Ber-ço de um Grande Império”, de IsabelSantinho, Salão Nobre

22h00 – Espectáculo Musical coma Companhia de Teatro Encerrado paraObras

23h00 – Espectáculo Musical comQuinta do Bill

24h00 – Raid Nocturno TT, Conce-lho de Penela

00h00 – Espectáculo Piromusical,Castelo de Penela

00h30 – Baile com o Grupo Trap-Zap

30 de Setembro – Domingo(Feira de S. Miguel– Feira das Nozes)

08h00 – Arruada de Gaiteiros08h30 – X Passeio BTT (concen-

tração junto à Piscina Municipal)09h00 – Reabertura da FAGRIP10h00 – Passeio Moto Turístico das

Nozes12h00 – Reabertura das Tasquinhas

São Miguel16h00 – Festival de Folclore: Ran-

cho Folclórico do Rabaçal; Rancho Fol-clórico de Pereira do Campo; Ass. Etn.Música Folclore de Campeã (Vila Real)

22h30 – Baile com o Grupo Ban-dazona

00h00 – Encerramento das Festascom Fogo de artifício

Penela em festa mostra o que valePenela é hoje um dos mais dinâmicos

municípios da Região Centro, com umaactividade diversificada, tirando partidoda sua diversidade e riqueza cultural.

Neste momento ali decorre a 15.ª FeiraAgrícola, Comercial e Industrial, que é umaeloquente mostra das potencialidades doconcelho nestes domínios (e que pode servisitada até ao próximo domingo).

Mas esse é apenas um dos aspectosda vasta animação que tem Penela porpalco no decorrer dos próximos dias,como demonstra o programa que se pu-blica noutro local desta página, e de queavultam as realizações no próximo fim-de-semana (sábado o Feriado Municipal,domingo a Feira de S. Miguel e Feira dasNozes).

RICO PATRIMÓNIO

Para além da Feira e das Festas, Pe-nela proporciona aos visitantes um patri-mónio histórico e cultural invulgarmenterico e diversificado, de que a seguir re-ferimos alguns exemplos:

Castelo de Penela - A sua constru-ção data do séc. XI, apesar do que hojese pode ver do Castelo remontar somen-te aos Séculos XIV e XV. No seu interi-or tem a Igreja de São Miguel, cujas pri-meiras origens se prendem ao séc. XII.

Igreja de São Miguel - O Foral de1137 refere já a existência de uma igre-ja. O templo que hoje se pode apreciarresulta de uma grande intervenção efec-tuada na segunda metade do séc. XVI.

Pelourinho de Penela - Remonta àépoca medieval e compõem-se de umacoluna de fuste oitavado, da pinha e detrês degraus.

Igreja da Misericórdia - É uma igre-ja da segunda metade do séc. XVI, ape-sar de ter inscrito no seu portal o ano de1616, no qual terá sido alvo de reforma

Igreja de Stª Eufémia - Embora jáhaja referências a esta igreja 1254, é so-bretudo um templo do período renascen-tista, com um corpo de três naves, sepa-radas por arcadas da ordem toscanas, co-bertura em madeira e cabeceira tríplice.

Igreja Matriz de Podentes - O ex-terior desta Igreja é resultante de umaremodelação executada no Século XIX.No seu interior tem apenas uma nave euma única capela na cabeceira, cujo al-tar-mor é oitocentista.

Pelourinho de Podentes- É um pe-lourinho de estilo manuelino, com o fustede mármore, provavelmente reaproveita-do de um antigo edifício romano em ruí-nas. É o maior fuste de um só bloco, datá-vel desta época, encontrado em Portugal.

Igreja Matriz do Rabaçal - O edifí-

cio que hoje se vê é o resultado de diver-sas remodelações, tendo sido a mais re-presentativa executada nos finais do Sé-culo XVIII. Esta igreja possui uma cabe-ceira composta por uma só nave e umacapela, de onde se destaca um retábulooitocentista de talha com uma tela alusivaà sua patrona, Santa Maria Madalena.

Villa Romana do Rabaçal - Situada a12 Km de Conímbriga, a Villa Romana doRabaçal encontra-se numa “meia-encos-ta” na Freguesia do Rabaçal, entre umacumeada com arvoredo e um riacho, fa-zendo parte integrante do território daantiga civitas, junto da via romana que li-gava Olisipo a Bracara Augusta.

Desta Villa Romana datada do séculoIV d.c. conhece-se a pars urbana (árearesidencial), balneum (Balneário), parsfrumentária (área do pátio agrícola comalpendre), pars rustica (alojamento dosservos, armazéns, oficinas).

Castelo do Germanelo - Erguidopor D. Afonso Henriques, entre 1140-1142, este castelo típico do período Daliavista-se uma paisagem deslumbrante

sobre o vale do Rabaçal.Convento de Santo António - O

convento foi fundado em 1578, contudo,o conjunto das construções (igreja, árearesidencial e anexos) datam do séc.XVIII. Nas mãos de particulares desde1834, ano em que a Ordem Franciscanafoi extinta, está hoje em elevado estadode degradação.

Monte de Vez - Com acesso por SãoSebastião, do Monte de Vez desfruta-sede uma paisagem deslumbrante. A exis-tência de uma Capela e de um moinhode vento reconstruído são dois elemen-tos que emprestam ao local uma belezamuito própria. Daqui avista-se uma gran-de parte da área do Concelho, avistan-do-se para além das Vilas de Penela eEspinhal o Castelo de Germanelo, e asSerras do Espinhal e do Rabaçal.

Referência merecem também as Igre-jas Matrizes da Cumieira e do Espinhal,.

Em termos de Natureza, destaquepara as grutas naturais (das maiores doPaís) e a deslumbrante paisagem da Ser-ra do Espinhal.

PROGRAMA DAS FESTAS

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13DE 26 DE SETEMBRO A 9 DE OUTUBRO DE 2007 TURISMO

O número de turistas, nacionais e es-trangeiros, que visitaram Coimbra esteVerão, aumentou relativamente a 2006.De acordo com o Presidente da Empre-sa Municipal de Turismo de Coimbra(TC), Luís Alcoforado, este aumentodeve-se ao facto de mais pessoas se te-rem apercebido de que a cidade propor-ciona um conjunto de experiências agra-dáveis e contactos com o património cul-tural e histórico – e este último em bomestado de conservação. Segundo LuísAlcoforado, “Coimbra é um local quenaturalmente desperta o desejo de co-nhecer, pois é a alma política, cultural eeducativa do país”.

Ao visar este potencial, o Presidenteda TC acentua o esforço da Empresapara atrair apoio do sector privado narecuperação do aspecto urbano da Altade Coimbra. Para além de restaurar osmonumentos históricos, a TC tem comoobjectivo reforçar Coimbra como ummodelo de turismo e transformar cadavez mais a cidade como um dos princi-

RESPONSÁVEL DO TURISMO QUER ATRAIR AINDA MAIS VISITANTES

- sustenta Luís Alcoforado“Coimbra é a alma de Portugal”

As comemorações do Dia Mundial doTurismo, que se assinala amanhã (quinta-feira, dia 27 de Setembro), decorrem emCoimbra com atracções em diversos pon-tos da cidade. A partir das 9h30, no Con-vento de São Francisco, representantes dediferentes entidades reúnem-se no âmbitodo VI Fórum de Turismo, este ano subordi-nado ao tema “Identidades e Mitos”.

Durante todo o dia, as comemoraçõesacontecem simultaneamente em vários pon-tos da cidade, com animações na baixa, dis-tribuição de prendas e visitas guiadas a par-tir das 15h00 aos locais míticos, como oConvento de Santa Clara-a-Velha, a Quintadas Lágrimas e o Mosteiro de Santa Clara-a-Nova.

À noite actua a cantora Cristina Brancoe do Grupo Cantos de Coimbra com o es-pectáculo “Zeca – Cantor de Coimbra,Músico do Mundo”. Trata-se de uma ho-menagem a José Afonso, passando pelamúsica pré e pós-coimbrã do cantor. O es-pectáculo pertence ao ciclo “Tudo isto éfado?” e tem início às 22h00 no PavilhãoMultidesportos.

Este ano, a Organização Mundial de Tu-rismo elegeu o tema “O Turismo abre assuas portas às mulheres” numa homena-gem ao sexo feminino. Em Coimbra, o VIFórum de Turismo faz a ligação entre o re-ferido tema e o “Turismo – Identidades eMitos”, com diversos especialistas a deba-terem, entre outros temas, os ícones da cul-tura e identidade conimbricense, como Inêsde Castro e a Rainha Santa Isabel. De acor-

pais destinos e símbolos de Portugal.Um dos projectos da TC, a ser posto

em prática nos próximos 10 meses, con-siste na promoção dos pontos de inte-

resse turístico através do lançamento deum portal na Internet, que irá divulgar acidade em todo o mundo e fornecer in-formações diversas, nomeadamente so-bre hotelaria, passeios, mapas e roteiros.

Outras medidas a curto prazo estão pre-vistas ainda para este ano, como o assi-nalar de algumas datas comemorativas dacultura portuguesa e ocidental. Está pro-gramado para Dezembro um “Circuito dePresépios”, em que as igrejas da cidadesão convidadas a abrir as portas aos visi-tantes para que estes apreciem os res-pectivos presépios. A iniciativa tambémcontempla a actuação de grupos corais ede cantores de Coimbra para apresenta-ções públicas de temas natalícios.

Para além destes projectos, há aindao propósito de convidar cantores de cra-veira internacional e criar eventos mar-cantes, que se repitam nos anos seguin-tes. Um deles, por exemplo, com o títuloprovisório “No Outono a canção de Co-imbra convida a outro género musical”,visa promover espectáculos de qualida-

de, de diferentes áreas musicais, queatraiam público a Coimbra, mesmo nachamada “época baixa”.

UNIVERSIDADE DE COIMBRAAPOIA DIA MUNDIALDO TURISMO

As comemorações referentes ao DiaMundial do Turismo fazem parte do pla-no estratégico da TC para divulgação epromoção da cidade. A Turismo de Co-imbra conta com o apoio da Universi-dade de Coimbra (UC) e de outras ins-tituições públicas, escolas de turismo ehotéis para uma melhor formação e or-ganização dos eventos, com o propósi-to de reforçar Coimbra como um dosdestinos mais procurados da Europa.Relativamente ao apoio da Universida-de ao Dia Mundial do Turismo, PedroSaraiva, Vice-Reitor da UC, sublinhouo interesse da instituição em colaborarnas celebrações, facilitando o acesso eas visitas à Universidade.

Forum de reflexãono Dia Mundial do Turismo

do com Pedro Machado, Presidente daRegião de Turismo do Centro (RTC), esteseventos ligados à cultura conimbricense sãototalmente apoiados pela RTC, pois colabo-ram para aumentar cada vez mais o desen-volvimento do turismo na região Centro.

Na opinião do Presidente da EmpresaMunicipal de Turismo de Coimbra, Luís Al-coforado, ambos os temas da comemora-ção foram bem empregados, pois proporci-onaram diferentes abordagens. “Deu-nos apossibilidade de recordar dois mitos femini-nos de Coimbra e ainda trazer uma voz fe-minina para encerramento do evento”, afir-ma. Segundo Luís Alcoforado, estas inicia-tivas proporcionam a possibilidade de Co-imbra se reconciliar com alguns dos seusmitos e figuras maiores.

Em relação a este tema escolhido pelaOrganização Mundial de Turismo, há quemteça algumas críticas quanto à sua designa-ção. Apesar de parecer, a princípio, umahomenagem às mulheres, na opinião da co-ordenadora nacional do curso de Turismoda Profitecla (uma das empresas organiza-doras do VI Fórum de Turismo), Maria Lú-cia Medeiros, o tema deste ano deveria serdiferente porque “as mulheres nunca esti-veram de fora do turismo” afirma. LúciaMedeiros faz questão de defender a posi-ção feminina dentro deste mercado de tra-balho, tendo em vista que, segunda ela, amaior parte dos profissionais do sector doTurismo são mulheres.

Luís Alcoforado

Fernanda Castilho

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14 DE 26 DE SETEMBRO A 9 DE OUTUBRO DE 2007EDUCAÇÃO / ENSINO

João Louceiro *

* Dirigente do SPRC

O instrumento de base para recrutar ecolocar professores nas escolas públicastem sido a lista graduada. Não se trata deuma ordenação em função de critérios,caprichos ou ímpetos de circunstância. Nãodepende do efeito do sorriso do(a)candidato(a), da sua aparência física, dacor partidária ou da vocação para a sub-serviência acrítica, apreciados por um qual-quer líder de ocasião. Ainda bem, tanto maisque falamos do exercício de funções públi-cas que servem direitos fundamentais doscidadãos.

Um primeiro critério para ordenar oscandidatos naquela lista é o integrarem ouainda não os quadros do Ministério da Edu-cação, isto é, já terem sido previamenteseleccionados por ele. Surge depois a ques-tão de serem ou não profissionalizados, istoé, de para além da qualificação exigida pelalei na área científico-didáctica que preten-dem leccionar, terem ainda um período deprática profissional supervisionada, avalia-da e certificada. A seguir, em cada grupode candidatos, a ordenação é feita pesan-do dois outros factores: a “graduação pro-fissional” obtém-se combinando a classifi-cação obtida na formação inicial que per-mite ao candidato ser professor e o tempode serviço que ele tem, isto é, a sua expe-riência profissional.

Homessa, sr.ª ministra!Sucessivos governos têm dado mostras

de querer acabar com este instrumento.Augusto Santos Silva, o contra-torpedeirode Sócrates para as zaragatas parlamen-tares, foi ministro de Guterres. Queria aca-bar com a lista graduada, atirando a selec-ção de contratados para critérios e proces-sos definidos escola a escola.

David Justino, ministro de Barroso, tam-bém almejava o seu fim. Introduziu mu-danças que em muito deturparam a aplica-ção da graduação profissional. Tudo ficoumais baço, mais sujeito a atropelos e ultra-passagens. Perdeu-se transparência e jus-tiça em diversas fases dos concursos…

Carmo Seabra, acredite-se ou não, foiministra da Educação. Era o tempo deSantana Lopes. Verdadeiramente, o seumaior contributo para acabar com a trans-parência nos concursos de professores foio da perigosa descredibilização.

Governos PS e do PSD; ministros PSe do PSD… Agora, Sócrates, Lurdes Ro-drigues e os seus secretários de Esta-do… Inventaram as colocações pluria-nuais que, contornando uma abordagemséria da estabilidade do corpo docentenas escolas, originam injustiças, enquan-to deixam o essencial por resolver. Im-puseram uma nova organização dos gru-pos de recrutamento dos professores e,para acudir aos problemas que geraram,matam expectativas de colocação e mo-

vimentam pessoas de uns grupos paraoutros, sem justiça e sem respeito. Con-tra regras da Lei, subtraem horários dasfases de colocação, produzindo aindaoutras injustiças. Através das normas queurdiram para acesso à categoria de titu-lar, promovem ultrapassagens dos maisgraduados por outros menos graduados.Precipitam sem explicação o fim dascolocações de muitos que ainda aguar-davam em lista, por exemplo, a possibili-dade de serem contratados, remetendo-os para a correria escola a escola e paraos contratos individuais de trabalho.

Através de medidas e comportamentos,a clareza, a justiça e a honestidade dosconcursos estão a ser atacadas. Não é umatrapalhada mas sim uma actuação delibe-rada, tripudiando sobre a Lei, para turvar oque deveria ser cristalino. Agora aqui, de-pois ali, esta linha de actuação vai, paulati-namente, corroendo a verdade e a trans-parência da lista graduada.

A ministra dizia, há poucos dias quenão conhecia instrumento tão mau degestão quanto a lista graduada… Ho-messa! Mas, afinal, que dividendos per-segue a ministra e o seu governo, aotentar acabar de vez com a transparên-cia, a objectividade e a justiça no recru-tamento dos docentes para as escolaspúblicas? Vale a pena pensar nisto!...

Associação portuguesa exportaprograma infantil para países europeus

A Associação Prevenir vai exportarpara Itália, Alemanha e Inglaterra o pro-grama “Crescer a Brincar” que ensinaas crianças a terem auto-estima, a geriremoções e a tomar decisões, disse àLusa a presidente, Lorena Crusellas.

Segundo a presidente da Prevenir, umaorganização não-governamental que temcomo principal objectivo a prevenção epromoção da saúde, o Crescer a Brin-car é “um programa educacional de com-petências longitudinal a quatro anos” di-rigido a crianças dos quatro aos 10 anos.

O Crescer a Brincar abrange “áreaspsicossociais, físicas e saúde com o es-pecial objectivo na prevenção precoceda violência, da toxicodependência, com-bate ao insucesso escolar e das proble-máticas relacionadas com saúde mental”,explicou.

Lorena Crusellas adiantou que o pro-grama já abrangeu, desde 2002, cercade seis mil alunos em Portugal continen-tal, orientados por 300 professores.

Este ano aderiram ao programa osconcelhos de Odivelas, Amadora e La-goa. Nos Açores, o primeiro concelho aadoptar este plano de educação será VilaFranca do Campo.

A presidente da associação, gestorado programa, apontou Castelo Brancocomo uma referência negativa para aPrevenir por ter “interrompido o projec-to devido a falta de verbas camarárias”.

O suporte educativo é baseado em li-vros específicos nas diferentes variáveisde competências em cada uma das qua-tro etapas do primeiro ciclo, sendo queno primeiro ano os alunos desenvolvemcapacidades na área da promoção dasaúde (consciência corporal), disciplinae auto controlo.

No segundo ano de escolaridade, ascrianças recebem formação para as áre-as de diferenciação emocional cognitivae comportamental mais o reforço da auto-estima do aluno.

Os estudantes do primeiro ciclo doterceiro ano aprendem competênciassociais e assertividade (capacidade deafirmação com respeito por terceiros),com complemento na área de regula-ção emocional e reforço das emoçõespositivas.

No final do programa, já no quarto ano,o Crescer a Brincar prepara as criançaspara a resolução de problemas e para atomada de decisões, além da gestão de

emoções.O Crescer a Brincar tem como base

um projecto universitário de quatro anos,do investigador Paulo Moreira, que con-ta com o apoio da Porto Editora.

Já foi adoptado pelos concelhos deAmares, Braga, Cascais, Fafe, Famali-cão, Lisboa, Oeiras, Póvoa do Lanhoso,Guimarães, São João da Madeira, ValePaços e Monção.

O Programa Crescer a Brincar inte-gra desde 2004 a base de dados do Ob-servatório Europeu das Drogas e Toxi-codependências (EDDRA), devido aos“resultados positivos” apresentados en-tre o grupo experimental e o de controlo,referiu a responsável.

A Associação conseguiu o apoio dedois mecenas (duas empresas), no âm-bito da responsabilidade social, que pa-trocinam os materiais de suporte educa-tivo a uma turma de Oeiras e criançasno primeiro ciclo em Benfica, respecti-vamente, explicou Lorena Crusellas.

O custo anual do Programa Crescera Brincar para 300 crianças é estimadoem cerca de cinco mil euros, disse a vice-presidente da associação MargaridaBarbosa.

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15DE 26 DE SETEMBRO A 9 DE OUTUBRO DE 2007 SAÚDE

Alcançar uma velhice produtiva, li-vre de doenças cardiovasculares, é umdos desejos da maioria da população.Porém, atingir esta meta não é uma pre-ocupação apenas pessoal. A FundaçãoPortuguesa de Cardiologia (FPC) vol-ta a organizar o evento “Juntos por umcoração saudável” especialmente de-dicado ao Dia Mundial do Coração, quese assinala no próximo domingo (dia 30de Setembro). Polybio Serra e Silva(Professor jubilado da Faculdade deMedicina da Universidade de Coimbrae Presidente da Delegação Centro daFPC), afirma a necessidade de se in-centivar a população para uma alimen-tação saudável e a prática de exercíci-os físicos, tendo em vista que a maiorparte das doenças do coração podemser prevenidas.

Com o apoio de diversas entidades,a comemoração do Dia Mundial do Co-ração em Coimbra terá como principalatracção a “Marcha pelo Coração”. Oobjectivo da caminhada é reunir a po-pulação de diferentes faixas etárias econvidar as pessoas a andar pela cida-de, a pé ou de bicicleta. A concentra-ção para o evento ocorre às 9h00 naPraça da República e o percurso se-gue pela Av. Sá da Bandeira, atraves-sa a Praça 8 de Maio, Portagem, Pon-te Santa Clara, Ponte Pedro e Inês atéao Parque Verde, com previsão de che-gada às 11h45. Ali, os praticantes deuma vida saudável são presenteadoscom o “Festival da Sopa, do Pão e daMaçã”, onde podem comer sem medodo colesterol. Após o almoço, às 14h00está previsto um passeio pelo Monde-go a bordo do “Basófias”. Às 14h30inicia-se a actuação de grupos folcló-ricos.

“O CORAÇÃODEVE SER BEM TRATADO”- DIZ O PRESIDENTEDA CÂMARA MUNICIPAL

As doenças cardiovasculares sãoumas das principais preocupações daMedicina, a nível mundial. Em Portu-gal, um país naturalmente envelheci-do, trata-se de uma prioridade da saú-de nacional não apenas oferecer tra-tamento para estas doenças, mas tam-bém fornecer informação à populaçãoe estabelecer medidas de prevenção.No que toca à saúde alimentar das cri-anças do concelho, o presidente daCâmara de Coimbra, Carlos Encarna-ção, afirma que os refeitórios das es-colas já oferecem alimentação equili-

“Juntos por um coração saudável”é tema do Dia Mundial do Coração

NO PRÓXIMO DOMINGO

brada, com acompanhamento de die-tistas e nutricionistas, que inclui sopas,sumos naturais e frutas na ementa.Carlos Encarnação acredita que a ali-mentação saudável deve começar noinício da vida, na fase da infância, paraque o indivíduo cresça com um cora-ção bem tratado.

Polybio Serra e Silva e Carlos Encarnação apresentando o programa

Representantes das diversas entidades que em Coimbra participam no “Dia Mundial do Coração”

PROGRAMA DIA MUNDIALDO CORAÇÃO

Praça da República09h00 – Concentração na Praça da

República: Distribuição de t-shirts ebonés

Animação: Yoga do Riso e Jujitsu

09h30 – Início Marcha (a pé ou debicicleta)

Percurso: Av. Sá da Bandeira, Pra-ça 8 de Maio, Portagem, Ponte SantaClara, Ponte Pedro e Inês e ParqueVerde,

Parque Verde10h00 – Spinning10h30 – Body Combat11h15 – Body Balance12h00 – Formação de um “Coração

Humano”12h15 – Alongamentos e Flexibilidade15h30 – Body Balance16h15 – Body Jam17h00 – SpinningOutras actividades: Remo, vela, ca-

noagem, parapente, ergómetros e tes-tes de avaliação física

Parque da Cidade13h00 – Festival da Sopa, do Pão

e da Maçã (Mercadinho das Fani-queiras)

14h00 – Passeio pelo Mondego abordo do “Basófias”

14h30 – Actuação de Grupos Fol-clóricos

Fernanda Castilho

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16 DE 26 DE SETEMBRO A 9 DE OUTUBRO DE 2007SAÚDE

Paula BeirãoValenteNutricionista

NUTRICIONANDO

Prosseguindo a série de artigos que te-mos vindo a publicar com vista a uma ali-mentação saudável ao longo da vida, jul-gámos de interesse dedicar este a umasituação específica que atinge a generali-dade das mulheres a partir de determina-da idade. Uma situação que, sendo em-bora normal, muitas têm dificuldade emlidar com ela, e durante a qual o aspectonutricional é pouco valorizado, quando nãoesquecido.

Entre os quarenta e os cinquenta anos ociclo menstrual da mulher começa a sofreralgumas alterações, acabando por cessarpassado algum tempo. A esse período dá-se o nome de menopausa. As hormonassexuais femininas diminuem então de for-ma rápida, originando várias mudanças fisi-ológicas, acompanhadas de frequentes os-cilações da temperatura corporal e de difi-culdades de respiração. Podem tambémocorrer, em alguns casos, alterações espo-rádicas de humor, associadas a ansiedadecrescente e a estados de irritabilidade. Nestafase da vida, por via de regra, verifica-seigualmente uma tendência para o aumentode peso e de volume abdominal, que tendea agravar o estado emocional da mulher.

ESPECIAL SENHORAS:

A alimentação na menopausaProcurando contrariar esta tendência, a mu-lher recorre a esforços redobrados, nemsempre os mais indicados.

Com o avanço da idade, ocorrem nor-malmente perdas de massa óssea, aumen-tando a probabilidade do aparecimento deosteoporose e o risco de fracturas. Agra-vam-se simultaneamente os factores po-tenciadores de outras doenças, tais comoaterosclerose, diabetes, dislipidemias, hi-percolesterolemia e hipertensão arterial.A menopausa torna toda esta situaçãomais preocupante.

Embora o quadro descrito pareça, àpartida, sombrio, é fundamental ter cons-ciência de que muitos dos problemas po-derão ser prevenidos através de um com-portamento alimentar adequado e da prá-tica regular de actividade física. O acom-panhamento por um profissional de saú-de da especialidade é também aconse-lhado, pois haverá que tomar em consi-deração os hábitos alimentares e o estilode vida de cada mulher.

Nesta fase da vida é particularmenteimportante uma boa escolha dos alimentos.Práticas empíricas – como a de colocar delado alimentos ricos em hidratos de carbo-no, (p.e. pão e derivados), numa tentativadesesperada para perder alguns quilos –poderão constituir um grave risco, com efei-tos contrários. Evitar farinhas muito refina-

das, como as utilizadas em bolos e em al-guns doces – nos quais muitas senhorasencontram o seu refúgio diário – será, nocaso apontado, uma melhor solução. A die-ta alimentar diária deverá manter alimentosde todos os grupos da roda dos alimentos,nas devidas proporções, adiantando-se al-gumas orientações:

– As proteínas deverão ser de alto valorbiológico, de origem animal ou vegetal, eacompanhadas de gorduras vegetais. A car-ne de aves e o peixe apresentam vantagensna sua constituição em gordura relativamen-te às carnes vermelhas, o que não significaque as últimas não possam ser esporadica-mente ingeridas.

– As gorduras de origem vegetal – emparticular as que, como o azeite, abundamem ácidos gordos monoinsaturados – sãopreferíveis às de origem animal, normalmen-te associadas ao aparecimento de ateros-clerose. Os ácidos gordos polinsaturados(ómega-3), presentes em alguns peixes(como atum, salmão, cavala, etc.), são mui-to importantes na prevenção dos factoresde risco. É de salientar que durante a frituraas gorduras não deverão ser sujeitas a ele-vadas temperaturas.

– A ingestão de cálcio, em alimentos comoleite e derivados, é especialmente recomen-dável para combater o aparecimento da os-teoporose, conjuntamente com o aumento

da actividade física.– As necessidades em vitaminas são idên-

ticas às de qualquer outro adulto, mas deve-rá ser dada particular atenção à vitaminaD. Existe nos produtos de origem vegetal,mas pode também ser encontrada em óleosde fígado de peixe. A acção dos raios ultra-violeta da luz solar reforça a presença destavitamina. As vitaminas C e E – presentesnas hortaliças, cereais completos e algunsfrutos secos – são também fundamentaispara a protecção do organismo, assim comoos minerais antioxidantes.

– O controlo do sódio na alimentação éimprescindível para combater a tendênciapara o aumento da tensão arterial, normalna menopausa. Os produtos de charcutariae enchidos são desaconselhados, pelo ele-vado teor de sal e pela quantidade de gor-dura saturada neles presente. Em contra-partida, o uso de especiarias é particular-mente indicado.

– Por último, é importante uma boa hi-dratação do organismo, aumentando o con-sumo de água natural, em detrimento derefrigerantes ou bebidas gaseificadas.

Embora o acompanhamento desta faseda vida exija outras abordagens, espera-mos poder contribuir, com estes conse-lhos gerais no âmbito nutricional, para aju-dar as mulheres a ultrapassá-la com umamelhor qualidade de vida.

O Curso de Medicina da Universidadede Coimbra dos anos de 1971/77, ofereceuà cidade de Coimbra uma escultura de au-toria do médico cardiologista e artista plásti-co açoriano Dimas Simas Lopes, cuja inau-guração decorreu no passado sábado (dia22), com a presença do Presidente da Câ-mara Municipal de Coimbra, Carlos Encar-nação e de outras entidades.

A escultura está colocada na rotunda daRua Afonso Romão (entre os Hospitais daUniversidade de Coimbra e o novo HospitalPediátrico).

Esta iniciativa, que o Presidente da Câ-mara Municipal enalteceu, surge numa al-tura em que se celebram os 30 anos desteCurso, em que se licenciaram 253 médicosde todas as especialidades.

O Curso Médico de 1971/77 é, até à data,o Curso de Medicina que mais profissionaisintegra no quadro docente da Universidadede Coimbra, além de outros espalhados poroutras Universidades do país e até no es-trangeiro (Canadá). Inclui também nomesque se destacaram pelo desempenho defunções ao nível da Administração Central,caso da Administração Regional de Saúdedo Centro, por onde passaram Jaime Ra-

ASSINALANDO OS 30 ANOS DE FORMATURA

Curso Médico ofereceu escultura a Coimbra

mos, José Cabeças, Fernando Andrade ouFernando Regateiro. Também LurdesGuerreiro, Directora da ARS do Algarve,ainda João Medina, ex-Ministro da Saúdede Cabo Verde, e Hernâni Caniço, Presi-dente da Associação Saúde em Português.Também na Académica de Coimbra Au-gusto Roxo e Campos Coroa deixarammarcas, respectivamente, enquanto Presi-

dente da Assembleia Geral e Presidenteda Direcção da AAC/OAF.

A peça que assinala os 30 anos da for-matura do Curso Médico é, no entender doautor, Dimas Simas Lopes, “uma prova deconsideração e de admiração, por centenasde médicos, aos cidadãos de Coimbra, atra-vés da sua Câmara Municipal. E tem o sen-tido de celebração do nosso esforço em prol

dos nossos semelhantes doentes e uma pro-va de respeito pela memória dos Confradesmortos”. Recorde-se, em especial, ManuelCunha, médico falecido em Novembro doano transacto, que era a “alma” das organi-zações dos encontros anuais promovidos poreste Curso Médico.

A peça apresenta uma morfologia deuma coroa (inspirada na Coroa do Espíri-to Santo - Ilha Terceira, de onde é naturalo autor da escultura), que é formada porum conjunto de seis elementos sugestivosde formas antropomórficas, vistos de per-fil, que convergem para uma posição dedança e que está implantada num círculode 7 metros de diâmetro.

No entender do autor, “trata-se de umapeça escultórica com volume, formas e con-cepção preocupadas com a contemporanei-dade, preenchendo um espaço que passaráa ter visibilidade. Durante o dia o brilho doaço inox chama a atenção para a harmoniadas estruturas e de noite oferece um espec-táculo feérico de cor e de luz. Com o sim-bolismo de seres humanos, com vectoresde forças, no mesmo sentido, formando umacoroa com o gesto mais belo que é a solida-riedade humana”.

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17DE 26 DE SETEMBRO A 9 DE OUTUBRO DE 2007 SAÚDE

MassanoCardoso

O “Chapeleiro Louco”...

A personagem “Chapeleiro Louco” des-creve uma figura vitoriana em que os cha-peleiros ficavam “passados” devido à into-xicação pelo mercúrio, utilizado na prepara-ção dos feltros e das peles. Há quem digaque já eram “malucos”, mesmo, antes deusar o metal líquido!

O uso deste elemento é bem conhecidoem várias situações, nomeadamente no fa-brico de instrumentos de precisão. Os efei-tos tóxicos são bem conhecidos desde hámuito tempo, sobretudo a nível do sistemAanervoso central, donde a designação do “sín-drome do chapeleiro louco”.

O seu cabelo precisa ser cortado”,disse o Chapeleiro. Ele estivera aolhar para Alice por algum tempo comgrande curiosidade e esta fora a suaprimeira intervenção. “Você deveriaaprender a não fazer esse tipo de co-mentário pessoal”, Alice retrucou comseveridade. “Isso é muito grosseiro.”

O Chapeleiro arregalou os olhos aoouvir isso, mas, tudo que ele disse foi:“Por que é que um corvo se parececom uma escrivaninha?”

(in “Alice no País das Maravilhas”,de Lewis Carrol).

O metilmercúrio é muito tóxico e temcomo fontes (após metilação) além das jáenunciadas, a queima de carvão, minera-ção e incineração de produtos que conte-nham mercúrio. A situação é de tal modo

“Um chá maluco” - ilustração de John Tenniel do livro de Lewis Carrol “Alice no País das Maravilhas”

preocupante nalgumas partes do globo aoponto de ser proibido ou aconselhado a in-gestão moderada de peixes, sobretudo emcrianças.

Há muitos anos que os médicos alerta-vam para a necessidade da proibição do usode termómetros, esfingomanómetros e ou-tros aparelhos à base de mercúrio, porquecontribuem para riscos ambientais e ocupa-cionais nada despiciendos. Recordo que, em1993, em Helsínquia, num congresso inter-nacional sobre saúde ocupacional, ter sidoaconselhado medidas deste género, haven-do por parte dos suecos informação sobre oseu não uso a nível hospitalar. Agora, 14 anosdepois, o Parlamento Europeu aprovou aproibição do fabrico e utilização de instru-mentos à base de mercúrio nos próximos18 meses na U.E.

Os processos de identificação dos nexosde causalidade e a promulgação das ade-quadas medidas legislativas são muito len-tos, e exasperantes, mesmo depois de ha-ver evidências científicas do perigo de ex-posição a um produto tóxico. No caso ver-tente, associação mercúrio e problemas neu-rológicos, a poluição marítima verificada emMinamata, em 1956, devido a actividade in-dustrial, levou à ingestão de peixe contami-

nado provocando a morte e graves defici-ências em inúmeras pessoas. Um exemploparadigmático de poluição antropogénica, emque a falta de respeito pelos valores huma-nos, associada ao lucro fácil e rápido, cons-tituem as principais explicações pelos gra-ves atentados ambientais, sacrificando mui-tas espécies, incluindo a nossa, simultanea-mente, algoz e vítima.

Os atentados ambientais são cada vezmais graves, alguns configurando o epítetode verdadeiros “genocídios ambientais”.Muitos memoriais imortalizam a humanida-de nas suas múltiplas vertentes. Minamatatem um bastante curioso, talvez único, emque são lembradas as vítimas da poluição.Para cada uma das vítimas, uma esfera, alembrar as pequeninas esferas, com as quaisbrincávamos sempre que tínhamos acessoao mercúrio, e que nos deliciava com o seuestranho brilho e densidade.

A loucura do Chapeleiro, personagem dolivro de Lewis Carrol, pode ter sido inspira-da nos fabricantes de chapéus que utiliza-vam mercúrio. Sendo assim, a loucura esta-ria justificada. E nos outros, que não sendochapeleiros, revelam estranhas loucuras,mais estranhas do que os próprios diálogosde “Um Chá Maluco”?

Lewis Carrol, o autor de “Alice no País das Maravilhas”

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18 DE 26 DE SETEMBRO A 9 DE OUTUBRO DE 2007A PÁGINA DO MÁ[email protected]

Mário Martins

SURPRESA E VERGONHAHá mais de 20 anos, no Estádio da Luz,

vi que Jordão foi rasteirado fora da área.Mas o árbitro marcou penalty, Portugalvenceu a Rússia por 1-0 e foi disputar o“Europeu” de França.

Vi bem, felizmente, o que por vezesnão sucede quando se analisa uma joga-da numa fracção de segundo e a mais de50 metros de distância.

(Muitas vezes saio dos estádios comdúvidas e fico à espera de ver as imagenstelevisivas para formar uma opinião...)

Ontem, no Estádio de Alvalade, auma distância semelhante, vi um socode Scolari.

De imediato, tentei compatibilizar doisfortes sentimentos: surpresa e vergonha.

(publicado em 13 de Setembro)

COMENTÁRIO – Este texto moti-vou um comentário anónimo, do seguin-te teor: “Aconselho-o a mudar de len-tes. Scolari não chega a tocar (não quenão tenha vontade disso, mas apenas temos braços curtos) no sérvio. – P.S. Jáque diz que a foto é boa, porque resumetudo, diga-me: aconteceu antes ou de-pois do (suposto) contacto?”.

Por norma, comentários anónimos nãosão publicados... nem respondidos. Destavez abri uma excepção e escrevi o se-guinte: “Esclareço o anónimo (uma veznão são vezes...) que, graças a Deus, sóutilizo lentes para ler ao perto; ao longe,felizmente, ainda vejo bem. E faço duasperguntas. Primeira: onde é que eu es-crevi que Scolari tocou no sérvio? Se-gunda: onde é que eu escrevi que a fotoé boa? Custa-me a entender que isto su-ceda um texto tão curto... É só ler.”.

(publicado em 15 de Setembro)

S(O)COLARI A PRAZOAcaba de ser conhecido o castigo aplicado ao seleccionador português: 4 jogos de

suspensão.No Estádio José de Alvalade vi Scolari a tentar evitar que um jogador sérvio (que,

entretanto, se soube que não é “flor que se cheire”...) criasse algum problema comRicardo Quaresma.

E, depois, vi a mão fechada de Scolari em direcção ao sérvio. Foi mesmo à minhafrente. Se lhe tocou (ou não), não percebi na altura. Mas vi a mão fechada, enquantono rádio portátil ouvia comentadores a falar de uma palmada. Palmada, não.

As minhas reacções imediatas foram de surpresa e de vergonha.Surpresa porque não esperava que Scolari tivesse uma atitude daquelas. Vergo-

nha porque o seleccionador de Portugal, um homem já de cabelos brancos, optarapela reacção mais básica, mais animal.

No dia seguinte, na televisão, vi que Scolari respondeu a uma agressão do jogadorsérvio. Diminui o grau de gravidade da atitude do seleccionador, mas não deixou deser condenável.

Portugal não se pode dar ao luxo de ser conhecido internacionalmente como aequipa das simulações (das quedas por tudo e por nada) e das agressões.

Creio que a direcção da FPF perdeu boas ocasiões de actuar com firmeza aquan-do da agressão de João Pinto ao árbitro no “Mundial” da Coreia/Japão e da destrui-ção do balneário em Toulon por parte da selecção de sub-21.

Desperdiçou depois o Euro’2004, que poderia ter sido uma oportunidade únicapara tentar mudar o rumo dos acontecimentos. Milhões de euros (um escândalo!),no entanto, foram gastos em cimento e não houve um único cêntimo para promovero fair-play.

Os resultados estão à vista.Scolari não tem condições para continuar a orientar a equipa portuguesa. Atenden-

do aos serviços prestados, deverá terminar esta fase de qualificação e, eventualmente,orientar a equipa na fase final do Euro’2008, a disputar na Áustria e na Suíça.

Mas, desde já, deve ser dito ao técnico brasileiro que a Federação portuguesa nãoconta mais com os seus serviços.

Defendo desde o início a presença de Scolari à frente da selecção. No entanto, osvalores (como sejam a disciplina e o fair-play) estão SEMPRE em primeiro lugar.

(Post Scriptum – Scolari prestou serviços relevantes ao futebol português, como é ocaso da conquista do 2.º lugar no Euro’2004, disputado em Portugal. Como tambémHumberto Coelho os prestou, ao conseguir o 3.º lugar no Euro’2000, jogado na Bélgicae na Holanda).

MANHÃ ATRIBULADAAcordei mais cedo e lembrei-me de ver

as notícias na TVI. Desisti. Os jornalistasnão liam as notícias, gritavam as notícias.

Ligo o rádio e ouço na Antena 1 que osradares em Lisboa já renderam ao Estadocerca de 6 milhões de euros.

Duas frases depois, a jornalista afirmanão saber quantas multas já foram (ou irãoser) pagas. Afinal, os radares renderam ounão renderam?!

A terminar a notícia, o “pivot” do notici-ário informa que os radares caçam os au-tomobilistas.

Percebi que não era um “dia-sim” emtermos de comunicação social.

Abro o computador e vou à procuradas mensagens. Numa delas, fonte insti-tucional informa-me o seguinte: “Brisa -a empresa declarou recomprou 320 milacções próprias”.

Desisto definitivamente.(publicado em 12 de Setembro)

ESTÁ TUDO BEM?Meu caro Mário,Está tudo bem?Congratulei-me quando vi que o en-

cerramento da “paginadomario” tinhasido só um interregno de férias, mas, nasvárias vezes ao dia que abro a página,fico desiludido com o silêncio desde sá-bado.

Há algum problema? Espero que não.Um abraço,L.Amigo,Esta ausência deve-se, apenas, ao fac-

to de estar assoberbado de trabalho.Têm sido jornadas de 12 horas (até

mais!), por vezes sem intervalo. No entan-to, esta “fase” está quase ultrapassada, peloque espero em breve “A Página” possaretomar a normalidade.

Peço desculpa por não ter avisado, es-pecialmente aqueles que – como tu – sãoleitores habituais.

Aquele abraço.(publicado em 20 de Setembro)

MILHÕES DE MOURINHOOs jornais, as rádios e as televisões

anunciam valores para todos os gostos.A rescisão do contrato com José Mou-

rinho terá custado ao Chelsea 14 milhõesde euros, 24 milhões de euros, 37,5 milhõesde euros.

Afinal, ficamos em quanto?(publicado em 21 de Setembro)

VIVA O RÂGUEBI!Quem me conhece sabe do meu gosto

pelo “jogo do melão”.Já em miúdo, as únicas faltas que dei às

aulas no Liceu foi para ver jogos do Tor-neio das Cinco Nações. Até o meu paidescobrir...

Já crescidote, estive em Barcelona na

conquista da Taça Ibérica pela Académi-ca, o maior feito desportivo – por equipas– de Coimbra nas últimas décadas.

Hoje vi nos noticiários as reportagens

sobre o Escócia-Portugal de ontem, queassinalou a estreia da selecção portuguesano Campeonato do Mundo, em França.

Fiquei com uma certeza: se os rapazesdo pontapé na bola (incluindo Deco, é cla-ro...) cantassem o hino nacional com ta-manho sentimento, a equipa de Scolari jáestava há muito qualificada para a fase fi-nal do Europeu 2008.

(publicado em 10 de Setembro)

DERROTA INVULGARA minha equipa perdeu por 1-0 com o

Torreense, num jogo disputado na povoa-ção de Sobreiro Curvo, freguesia de A-dos-Cunhados, a 176 quilómetros (e 9,90 euros

de portagens) de Coimbra.Na única oportunidade clara de golo, o

Torreense marcou.A minha equipa equipa teve cinco (!!!)

oportunidades semelhantes, mas desper-diçou-as todas: três remates para fora,um remate ao poste e um lance em queo guarda-redes se antecipou e evitou oremate.

Em conclusão, se o resultado de um jogofosse o número de oportunidades de goloiminente, teria sido assim: Torreense, 1 -Vigor, 5. Mas como, na realidade, só con-tam as bolas que entram na baliza, a minhaequipa perdeu.

(publicado em 15 de Setembro)

(publicado em 20 de Setembro)

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19DE 26 DE SETEMBRO A 9 DE OUTUBRO DE 2007 TELEVISÃO

A televisão emerge como momen-to fundador de visibilidade e como ins-trumento de verdade. É uma máquinaprodutora de redundância que reciclacontinuamente e organiza um novo es-

paço-tempo.Existe uma acção socializante do

imaginário televisivo que conduz aoespectáculo de ritualização da cultu-ra e da informação. Trabalha num re-gisto de ilusão naturalista e de cria-ção de efeitos de legitimação tendopor horizonte, um horizonte de acon-tecimento.

O dispositivo televisivo tem comoprimeira acção solicitar a capacidadede identificação do telespectador en-quanto parte da audiência.

Para além na materialização domundo, a televisão é capaz de reci-clar e produzir identidades colectivas,de criar um dispositivo simbólico par-tilhado, ou aquilo a que Jean-PierreDesaulniers denominava de “vida sim-bólica comum”.

PÚBLICA FRACÇÃO

Francisco [email protected]

Banalidades de base

A televisão chegou a um ponto sem retorno.Ela está no local de onde nada de novo se avista,na fronteira absoluta da “Era do vazio”. Perante dezenasou centenas de canais e escolhas, é, porém, o tédio e odesespero que nos espera. A revolução tecnológicasalvá-la-á na directa medida em que possa imitar,ou incorporar-se nos computadores.Mas afinal, quais os motivos para o estado a que chegou?Alinho, a seguir, alguns dos que me parecemmais determinantes.

A televisão não interpela o públicoda mesma maneira que o cinema. Nocaso da televisão, a interpelação é fei-ta de um modo directo, quer pelo seucarácter de “electrodoméstico”quer

pela continuidade assegurada; Pelaidentidade da imagem, pelo olhar nosolhos do apresentador, podendo aindareferir-se a função conotativa/retóri-ca, a redundância entre imagem e pa-lavra, os “closes”, etc. que têm comoalvo o espectador estatístico e a fide-lização das audiências.

A lógica instrumental do dispositi-vo televisivo é uma lógica multimodal, uma vez que permite diferentes re-gimes de ordenação do real, diferen-tes ordens de disposição e de “ mise-en-scéne “ do real. Temos comoexemplo os telejornais no período daditadura (o “saber” era substituído pelo“fazer persuasivo” e pelo “crer”).

Diferentes ordens de imagens tele-visivas instituem diferentes regimes devisibilidade com o telespectador, sen-

do suposto passar a credibilidade dasimagens ou a lógica de eficácia co-mercial e consensual do medium. Ou-tro é o caso do contrato de credibili-dade, que a imagem televisiva preten-de instituir através do “fazer persua-sivo”, do “saber fazer”.

O antigo modo de ver (sequenciale nomádico) é agora transformado emfigura.

Poder-se-á assim afirmar que háuma perda de especificidade da pro-dução televisiva, que conduz ao este-reótipo, mas sobretudo que se está acriar um “dispositivo abstracto deenunciação” que se recicla nos dife-rentes géneros, a que se chama o flu-xo contínuo de emissão.

Os dois efeitos mais visíveis do re-gime de indiferença da televisão frag-mentária são o zapping e a videogra-vação.

Com o zapping , se por um lado oemissor perde o poder impositivo, poroutro, o facto de estar perante novascompetências do telespectador leva-o a renovar os seus próprios proces-sos discursivos através de uma estra-tégia de “contaminação” do fluxo.

Estas estratégias de contaminação,derivam do efeito de contágio de lin-guagens e práticas como a publicida-de. Consequentemente, assiste-se aoesbatimento das fronteiras entre pu-blicidade e programas que conduz àestandardização do discurso dos pro-gramas, nomeadamente através da in-tegração publicitária do divertimentoou do “efeito de série”.

Pode, então, explicar-se desta for-ma a tendência para a “televisão-es-

pectáculo” desde meados dos anos80. Temos como exemplo os talksho-ws , concursos, telenovelas, reality-shows, programas eróticos, etc. Pro-cura-se, então, mais uma vez, ganharaudiências e produzir públicos que ren-

tabilizem os projectos comerciais.Na sequência da “contaminação”

das grelhas de programas, outra ques-tão a ter em consideração é a do“efeito-série”, a relação entre série etelevisão. A série é sobretudo ummodo de funcionamento do medium eé também um dos parâmetros essen-ciais para a definição do seu disposi-tivo tecnodiscursivo.

Este género de programa surge comuma estrutura narrativa recorrente,com pequenas variações topológicas,em que a continuidade e a evoluçãoda narrativa não ultrapassa a habili-dade de ver e prever do telespecta-dor médio.

Nas telenovelas, por exemplo, otempo perde claramente a homogenei-dade. O espaço na série evolui sobre-tudo através da sucessão de arquéti-pos e tópicos estereotipados. Os en-quadramentos são inclusive determi-nados pelo jogo de convenções da ló-gica diagonal, sem perspectiva.

É neste regime de visibilidade e detemporalidade, em que as imagens sereproduzem em série, e em que a ba-nalização dos efeitos surge como es-tratégia de fidelização, que os jogosformais tendem a substituir-se aos jo-gos do sentido.

A imagem entra então numa era deinsignificância, enraizada de sentido,em que cada imagem apenas remetepara si própria. A televisão torna-seassim numa “não-janela” para o mun-do, dando apenas a ver os seus restose fragmentos.

Poderemos então concluir que o tipode representação do mundo que a te-

levisão reflecte é uma visão secretis-ta , limitada pela dimensão instrumen-tal do dispositivo quando este poderialimitar-se à representação do mundo,expondo apenas a sua visão funcionale política da realidade.

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20 DE 26 DE SETEMBRO A 9 DE OUTUBRO DE 2007ASTROLOGIA

Jorge Côrte Real *

* Jurista

Urano

Já abordámos os astros cuja influênciase faz sentir mais no domínio das tendênci-as pessoais.

Urano, oitava superior de Mercúrio, Nep-tuno, oitava superior de Vénus, e Plutão, oi-tava superior de Marte, não nos tocam domesmo modo, antes nos influenciam maispelas as épocas em que nascemos, cresce-mos e vivemos. Diremos que definem maisos eventos e os valores característicos decada uma daquelas.

São planetas muito lentos: Urano demo-ra 84 anos a dar uma volta em torno do Sol,Neptuno 164,8 anos, e Plutão 248! São de-signados, em linguagem astrológica, por pla-netas transpessoais, ou transcendentais, ouainda transaturnianos (porque a sua órbita éexterior a Saturno) e também por geracio-nais, por marcarem uma geração. E istoporque a sua influência se situa para alémdo indivíduo. Representam as energias e osideais transformadores. Sublinhe-se, no en-tanto, que os seus trânsitos, ou seja quandopassam ou tocam pontos fulcrais da nossacarta natal, fazem-se sentir muito notoria-mente e até frequentemente nos ajudam eempurram para mudanças de vida radicais.

Os signos que ocupam estão relaciona-dos com a sua geração mas, no mapa indi-vidual, a sua importância é muito menor do

que a da casa onde se localizam e os aspec-tos, ângulos, que formam com outros as-tros. Estes aspectos que os planetas trans-pessoais enviam aos astros pessoais, reve-lam como a pessoa está afinada com as for-ças transformadoras características da suageração (Inconsciente Colectivo) e tambémcom as energias transformadoras em simesma. Por oposição, aos astros pessoais– p. ex. à Lua que simboliza a necessidadede segurança emocional, a Mãe (apoio in-terior) e a Saturno relacionado com a ne-cessidade de segurança material tangível, oPai (apoio exterior). Vejamos então comfuncionam.

Hoje iremos tratar de Urano, nas próxi-mas edições falaremos de Neptuno e dePlutão.

Urano está relacionado com a intui-ção mental. Com a liberdade, as ideias ori-ginais, com as mudanças repentinas, com afilosofia, sintonia com a verdade, inventivi-

dade, criatividade pura. Pela negativa, quempossui Urano formando ângulos difíceis emáreas sensíveis no mapa natal, influencia oindividuo a ser obstinado, impaciente, inqui-eto, caprichoso, excêntrico, necessidadeconstante de excitação e mudança sem ob-

jectivo, irresponsável orgulhoso e extremis-ta. Convém referir no entanto, que estas in-fluências se fazem sentir muito subliminar-mente.

No mapa natal, onde se nota mais a suaacção é nas épocas.

Quem nasceu com o Planeta Urano emCarneiro, ou nos primeiros 30º do Zodíaco,entre 1928 e 1934, tende a ser criativo, em-preendedor, pioneiro e inovador na sua acti-vidade, engenhoso e original, dotado de ha-bilidade. Mal aspectado, pode ser rebelde ecarente de auto-controle.

Urano em Touro, ou entre os graus 30 e60 do Zodíaco, nascidos entre 1935 e 1942,tende a ser o improvisador. Prático nos di-nheiros e finanças, gosto pela música e arte.Capacidade de atrair os outros com facili-dade. Mal aspectado poderá originar o ciu-mento, o teimoso, problemas conjugais.

Os indivíduos com Urano em Gémeos,nascidos entre os anos 1942 – 1948, são ospersuasores, tem alguma tendência a falare a escrever, são geralmente preocupadoscom os amigos em quem confiam aberta-mente, são inquietos e gostam de realizarpequenas deslocações. Mal aspectado, brus-quidão no falar, pouca consideração pelossentimentos alheios.

Urano em Câncer, quem nasceu entreos anos 1949 – 1955, são geralmente pes-soas muito sensíveis e preocupadas com olar e a família porque neste período Uranotransitou por Câncer relacionado com a Lua,e a quarta casa (o eu sinto, o lar e a família)adoram viajar em cruzeiros, são sensíveis eintuitivos.Com aspectos desafiadores a Ura-no, podem ser instáveis, e com temperamen-to irascível e incompreensível.

Os nascidos entre os anos1956 – 1962,têm o Urano em Leão, adoram divertir-se enão suportam desafios á sua autoridade(quinta casa as diversões, Leão a autorida-

de), possuem uma abordagem livre do amor,são inconvencionais e diferentes (plasma-dos nas novas formas de música como oRock na época), e a sua determinação éilimitada, agarrando-se teimosamente às suasideias, afastando tudo o que não lhes con-

vém. Exibem um ego muito elevado e senão praticarem a autodisciplina podem sermuito destrutivos.

Os que nasceram entre 1962 e 1968, como Urano em Virgem, regido por Mercúriosão, em geral muito prestativos, gostam deservir e ajudar os outros sendo também muitoorganizados. É a era da informática. Inte-ressam-se pela ecologia, a alimentação eterapias naturais, são em geral estudiosos,inventivos e humanos. De realçar que, den-tro deste período, os nascidos entre 1964 e1967, quando o planeta Urano esteve con-junto com Plutão, manifestam e queixam-se de alguma instabilidade emocional, deonde decorre alguma dificuldade organiza-cional e por vezes até relacional. Este fenó-meno é muito raro, mas a sobreposição deUrano (astro da mudança rápida), com Plu-tão (astro da reforma profunda), gera na prá-tica uma ansiedade permanente de desejarque as mudanças sejam feitas rapidamentee todos sabem que mudanças profundas ca-recem de tempo, por vezes muito.

Entre 1968 e 1975, o planeta Urano este-ve em Balança, regida por Vénus, foi a épo-ca do “flower pot”, e não são de estranhar,nesta altura, os movimentos de libertaçãoamorosa, politica, religiosa, emancipaçãofeminina, etc. É a época das novas aborda-gens do casamento e das condutas sociais,onde os relacionamentos se sobrepõem aocontrato legal que constitui o casamento. Osconceitos de justiça também sofrem modi-ficações. Os nascidos com esta configura-ção são conhecidos por reformadores, ab-sorvendo e reflectindo estas influências.

Quando o planeta Urano esteve em Ba-lança, signo de ar, não é de estranhar a ex-pansão das comunicações, dos contactossociais, cimeiras e os primeiros telemóveis(criados pela Motorola em 1973), etc.

Com a permanência de Urano em Es-

corpião, entre 1975 e 1981, concretiza-se ociclo da libertação amorosa, passando a se-xual (Marte regente e oitava casa, relacio-nada com o sexo). Os que nasceram comesta posição de Urano são dotados de emo-ções intensas e novas abordagens, atraídospelo oculto, são investigadores e dotados dehabilidade científica e mecânica.

Quando Urano transitou em Sagitário,signo de fogo, 1981-1988, gerou nativos pro-gressistas, com novos conceitos religiosos,atraídos pelas ciências ocultas como a pa-rapsicologia e a metafísica, ciências queanalisam de forma científica e objectiva.Gostam de pregar partidas, são optimistas,compassivos e liberais. Com aspectos difí-ceis, podem ser rebeldes.

Entre 1988 e 1995, Urano esteve emCapricórnio, signo de terra, os nascidos nesteperíodo, tendem a ser construtivos, preocu-pados com a adopção de medidas que tor-nem o mundo melhor, por via governamen-tal e legislativa. Com ideias brilhantes, sãolíderes atraentes. Os terrenos, a exploraçãode recursos, as actividades mineiras, a es-peleologia são os seus domínios científicos.Com aspectos críticos de Urano a outrosastros, pode existir uma tendência para nãoconseguir conciliar a tradição inerente a Ca-pricórnio com as mudanças rápidas e pro-gressistas características de Urano, geran-do, consequentemente insegurança e inqui-etação.

Aqueles que nasceram com Urano emAquário, “1995 a 2002” são muito huma-nos. Tendem a mudar o Mundo para o bemde todos. Livres de pensamento, abertos anovas ideias, são independentes e líderes pornatureza, por vezes excêntricos. Paixãopelas novidades, e pelo progresso cientificoque admiram, sobretudo novas invenções.Com aspectos desfavoráveis, serão incon-vencionais, utópicos e até revolucionários.

Com Urano em Peixes, 2003 a 2011, te-remos o idealista, intuitivo, tendências místi-cas, interesse pelas filosofias orientais, me-ditação, yoga, pela hipnose, etc. A palavra-chave será, menos matéria mais espírito.Capacidade de auto-sacrifício. Êxito possí-vel no teatro, cinema e na arte de represen-tar a qualquer nível. São muito sensíveis. Setiver aspectos difíceis, tenderá a fugir parao álcool, tabaco, e promiscuidade sexual.Urano esteve em Peixes entre 1919 e 1927,e são conhecidos pelo menos os casos dosactores, Richard Burton, Marilyin Monroee Sammy Davis Jr.

Não será demais sublinhar, mais uma vez,que estas influências de Urano se produ-zem a um nível subliminar, que devem serequacionadas com o planeta Mercúrio eimporta anotar bem os aspectos com osquais Urano está relacionado. Por exem-plo, as ligações difíceis de Urano com Mer-cúrio e em simultâneo com o Sol, dão ori-gem, frequentemente, a distúrbios compor-tamentais. A proximidade de Urano á Terrapode originar terramotos, ciclones, tufões eoutras alterações, mas sempre de formasúbita.

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21DE 26 DE SETEMBRO A 9 DE OUTUBRO DE 2007 OPINIÃO

Renato Ávila

João PauloSimões

FILATELICAMENTE

Joséd’Encarnação

POIS...POIS...POIS...POIS...POIS...

Que alternativa?

Apesar de termos a 5ª língua maisfalada no mundo, continuamos a aga-char-nos perante a hegemonia do in-glês colonizador. E, agora, tudo quan-to é relatório oficial deu em ter de servertido para inglês. À pressa, claro –sabe Deus como!...

A história passou-se com o Dou-tor Luís Reis Torgal e, com sua licen-ça, aqui vai nas suas próprias pala-vras:

«Ao mandarmos traduzir para In-glês o nosso relatório destinado àFCT surgiu uma dúvida quando asnossas funcionárias faziam a revisão.Anunciava-se ali um colóquio para…Thin Tip, em 2008!

– Onde fica isto? – perguntavamuma para a outra. – O Prof. Torgalcostuma ir ao Japão. Talvez seja ali.

Concluíram, depois de muitas in-terrogações, que afinal se tratavade… Ponta Delgada!!!».

Estamos a um par de anos das legislati-vas. Elas, todavia, já mexem no principalpartido da oposição.

É que, no próximo escrutínio interno doPSD, o vencedor será um potencial candi-dato a Primeiro-Ministro.

Muito se tem dito e redito acercadas virtudes e defeitos do actual exe-cutivo e da maioria que o apoia. Há,certamente, razões para desejar umaalternância que venha dar melhoresrespostas aos problemas que a todosnos afligem, corrigir as falhas e col-matar as brechas duma governaçãoraramente conseguida.

Esperava-se, desde o início da actuallegislatura, o esboço duma alternativa e oseu gradual enriquecimento face às ex-periências e à reflexão sobre os resulta-dos da acção governativa, consubstanci-ados nos projectos políticos dos partidosoposicionistas com vocação de poder.

Tem sido desoladora a sua intervenção.Incapazes de analisar judiciosamente asmedidas e a acção do governo e a actua-ção da respectiva maioria e de organizaruma crítica política e tecnicamente consis-tente, complementada com sérias propos-tas, e de, através delas, exercer uma ac-ção pedagógica de esclarecimento da opi-

nião pública, enveredaram pela soez e de-magógica linguagem do bota-abaixo, ca-valgando gratuitamente em todos os acon-tecimentos susceptíveis de depreciar a ac-ção governativa

Só assim se entende que as sondagenscontinuem a colocar o PS e o Primeiro-Ministro a tão longa distância dos seus maisdirectos perseguidores.

Parece, pois, não haver trabalho de baseainda feito.

Os contendores concorrentes a líder doPartido, em vez de apresentarem soluçõesválidas e consistentes para darem corpo eidoneidade à alternativa a que se propõem,parecem mais interessados num desavisa-do jogo de ping-pong de ataques verbaisque nada abonam da sua competência eseriedade políticas.

Dizer que José Sócrates é o seu princi-pal adversário, que governa mal e que épreciso derrotá-lo nas próximas eleições émuito pouco, mesmo muito pouco.Comocos voluntarismos deste tipo o actual Pri-meiro-Ministro continuará de pedra e calpor muitos e bons anos.

E os problemas estão aí. Por mais que odesmintam ministros e deputados, por maisloas que cantem os contentinhos, uma novaclasse de instalados e de aturdidos pela ine-fável doutrina do mestre.

A entrada em vigor dos novos códi-gos de direito penal veio pôr em maiorevidência os anacronismos que emergem

entre e nos sistemas judiciais e de segu-rança – a lentidão duma justiça que nãoage em tempo útil, tornando-se presa fá-cil de treinados juristas e de prevarica-dores e corruptos que principescamentepagam os seus serviços; a segurança doscidadãos à mercê de tropelias dilatóriasdos que abusam do desmesurado zelo degarantismos da lei susceptíveis de con-ferir a liberdade a gente vocacionadapara actos da mais violenta criminalida-de e à qual as forças de segurança têmdificuldade em se opor.

O reverso da medalha deste inusitado ebalofo triunfalismo da abertura do ano lec-tivo agiganta-se quando analisadas friamen-te as perspectivas dos que entram em con-fronto com as amargas experiências da-queles que saíram a engrossar as defrau-dadas e numerosas fileiras dos licenciadosno desemprego.

A bandeira da centena e meia de mi-lhar de novos postos de trabalho trouxemuitos votos mas também muitas desilu-sões. E é neste quadro de estagnação doemprego e de quase meio milhão de de-sempregados que o patronato só vê nosdespedimentos a única estratégia pararevitalizar as empresas.

A doutrina eminentemente liberal doseconomocratas de aquém e de além fron-teiras, ao centrarem no lucro, a qualquerpreço, toda a actividade económica, vemsubordinar-lhe as componentes política e

social do estado minando-o por confran-gedora impotência perante a libérrimatransumância das empresas segundo osinteresses das multinacionais e outrosgrandes emprergadores, a contínua pres-são para o aligeiramento das leis laborais,a corrupção, a economia paralela e a fugaaos impostos legalmente assistidas, o es-candaloso aumento do desnível entre ri-cos e pobres, a indigência a atingir um emcada cinco portugueses... Um quadro bemmenos idílico do que o panorama oficial-mente martelado.

Transparece claramente o apetite docapital para dominar as mais importan-tes estruturas públicas no âmbito da saúdee segurança social, da educação... Sãosignificativas as suas invectivas contraum pretenso e empolado despesismo doestado cada vez mais dependente dopoder económico deixando sérias apre-ensões no seio daqueles que, sem qual-quer protecção, se vêem obrigados aacolher-se à sua sombra.

Os tempos não estão fáceis. As alter-nativas apresentam-se nebulosas. As quese desenharam e nas quais acreditámosforam-se esfumando. As outras, permane-cem, ou por incapacidade ou por insondá-veis desígnios, nas névoas duma trama ouenoveladas num imbróglio de inusitadasproporções.

Para tamanhos problemas a oposiçãotambém parece não ter soluções!...

No verso de cada selo, foi impressa aazul, tipograficamente na Casa da Moe-da, a seguinte inscrição com oração emLatim:

”Centenário de Santo António MCX-CV * MDCCCXCV” “O língua bene-dicta, quase Dominum semper benedi-xisti et adios benedicere docuisti : nuncperspecue cernitur quanti meriti fuerisapud deum” S. Boaventura. (Cuja tra-dução é: “Oh língua bendita, que semprelouvaste o Senhor e ensinaste os outrosa louvar: agora claramente se vê quanto

1895 – 7º Centenáriodo Nascimentode Santo António (CONCLUSÃO)

merecimento tiveste junto de Deus”). S.Boaventura

(In: Carlos Kulberg, “Selos dePortugal, vol 1”)

O dia 13 de Junho é portanto dia de

Santo António, feriado municipal em al-gumas localidades, motivo de festejo.

É também conhecido como o santocasamenteiro.

Quem não conhece as noivas de San-to António?

Cerca de 800 objectos postais, de trêscolecções, estão expostos, até ao próxi-mo dia 4 de Outubro, na Fundação Alen-tejo - Terra Mãe para retratar a históriapostal de Évora, cidade onde, em 1520,foi instituído o correio em Portugal.

A mostra traça toda a história do cor-reio de Évora, desde 1797 até à épocaactual, englobando três colecções, duas

MOSTRA FILATÉLICA EM ÉVORAintituladas “História Postal de Évora”, daCTM e do filatelista Rui Manuel Mendes,e uma do “Templo de Diana”, cedida pelotambém filatelista António Cristóvão.

No global, a iniciativa reúne cerca de800 objectos postais representando a“história postal de uma das mais impor-tantes localidades postais do país”.

Évora foi, precisamente, a localidade

em que D. Manuel I instituiu, em 1520, ocorreio em Portugal, um facto “marcan-te da história postal portuguesa”, acres-centa a entidade organizadora.

Cartas pré-filatélicas, cartas do perí-odo adesivo, inteiros postais, selos, mar-cas postais e etiquetas de registo são al-guns dos principais objectos postais quedão corpo à mostra.

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22 DE 26 DE SETEMBRO A 9 DE OUTUBRO DE 2007MÚSICA

Distorções

José Miguel [email protected]

Depois de na edição anterior ter es-crito sobre o David Fonseca, e ter refe-rido que “Superstars” seria o primeiro“single” de um novo disco ainda sem tí-tulo, na verdade o mesmo já tem nome,“Dreams In Colour”, e chega às lojas nopróximo dia 8 de Outubro. A produçãoesteve a cargo de Nelson Carvalho e dopróprio David. Para quem estiver inte-ressado em saber mais sobre o novo tra-balho de originais só tem de assistir aos“webisódios” que o músico tem vindo adisponibilizar emwww.davidfonseca.blogs.sapo.pt.

Chegou esta semana às lojas o novís-simo disco da banda do ex-Nirvana, DaveGrohl, intitulado “Echoes, Silence, Pati-ente & Grace”, de que já era conhecidoo fenomenal “The Pretender”, que jároda nas rádios e nas televisões desde opassado mês de Agosto. Mas temascomo: “Let It Die”, “Come Alive”, “Era-se/Replace” e “Long Run To Ruin”,

mostram que a energia deste novo tra-balho de originais, o sexto, dos Foo Fi-ghters não está apenas concentrada no“single” de apresentação, mas se espa-lha por todo o disco. Mas há, também,momentos mais calmos e melódicoscomo sejam “Stranger Things have Ha-ppened” e “Home”. Estamos peranteoutro sério candidato a disco do ano de2007.

Há discos que não entram nas nossaspreferências às primeiras audições. Foio caso de “Funeral” dos Arcade Fire, quehoje adoro, e foi, também, o caso de “OurLove To Admire” dos Interpol. O “sin-gle” “Heinrich Maneuver” já andava a

rodar nas rádios e con-seguiu cativar-me logoà primeira, mas, só pas-sado algum tempo éque temas como“Mammoth”, “PioneerTo The Falls”, No I inThreesome” ou o fan-tástico “Pace is TheTrick” me conseguiramchamar a atenção.

Com as mudançasna programação daAntena 3, o “MQ3”,programa da autoria deum maiores divulgado-res musicais da actua-lidade (e uma das mi-nhas maiores influênci-

as), Miguel Quintão, passou a ter umnovo horário e um novo formato. Assim,passa a ir para o “éter” das duas às trêsda manhã de domingo e agora em for-mato “dj set”. Desta forma já nos pode-mos deliciar todas as semanas com osseus “set´s” e, sempre, à hora marcada.

Para o fim, a sugestão da edição emDVD de “Popmart Live From MexicoCity” dos U2 – especialmente a ediçãolimitada com dois discos –, que registaum dos concertos de uma das melhoresdigressões de sempre do rock mundial, àqual tive oportunidade de assistir ao vivoaquando da sua passagem por Lisboa a11 de Setembro de 1997.

PARA SABER MAIS:www.davidfonseca.com

O grupo português Brigada VictorJara venceu a edição de 2007 do Pré-mio José Afonso, com o álbum “CeiaLouca”, editado em 2006, anunciou aCâmara Municipal da Amadora, queatribui o galardão.

“Ceia Louca” assinalou o regressoda Brigada Victor Jara, numa alturade celebrações de mais de três déca-das de carreira, desde que o grupoapareceu, em 1975 em Coimbra.

O prémio foi atribuído por unanimi-dade por um júri do qual fizeram parteOlga Prats, António Vitorino de Almei-da, Carlos Pinto Coelho, António Mo-reira e Natália Cañamero de Matos.

O Prémio José Afonso foi criado em1988 para homenagear o cantautorportuguês e destina-se a galardoar umálbum de edição portuguesa cujos te-mas tenham como referência a cultu-ra e a história portuguesas.

Actualmente com nove músicos, aBrigada Victor Jara já integrou na suaformação inicial artistas como Né La-deiras, Fernando Amílcar e JoaquimCaixeiro.

Brigada Victor JaravencePrémio José Afonso 2007

Em 1977, dois anos depois de se te-rem formado, com um nome que ho-menageia o cantor chileno Víctor Jara,editaram o primeiro álbum, “EitoFora”, feito de cantares regionais.

Da sua discografia destaca-se“Monte formoso”, em 1989, do qualsaiu um espectáculo de homenagema José Afonso, que contou com a par-ticipação do Teatro Bonifrates e doGrupo de Etnografia e Folclore daAcademia de Coimbra.

Em 2000 lançaram “Por sendas,montes e vales” e em 2006 “Ceia lou-ca”, que contou com a participaçãode convidados como Carlos do Car-mo, Vitorino e Janita Salomé, Lenad´Água e Jorge Palma.

O prémio José Afonso, que não foiatribuído em 2006, foi entregue à Bri-gada Victor Jara no dia 22 de Setem-bro nos Recreios da Amadora.

Fausto, Sérgio Godinho, Né Ladei-ras, Dulce Pontes, Filipa Pais, Carlosdo Carmo e José Medeiros foram al-guns dos músicos portugueses já dis-tinguidos com o Prémio José Afonso.

www.davidfonseca.blogs.sapo.ptwww.foofighters.comwww.interpolnyc.comw w w. r t p . p t / w p o r t a l / a n t e n a 3 /index.php?article=194&visual=1h t t p : / / m u l t i m e d i a . r t p . p t /index.php?rcanal=3www.u2.com

David Fonseca “Sing Me SomethingNew” (Universal)David Fonseca “Our Hearts Will BeatAs One” (Universal)Foo Fighters “Echoes, Silence, Patiente& Grace” (RCA)Interpol “Our Love To Admire” (Parlo-phone)U2 “Popmart Live From Mexico City”(Universal)

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23DE 26 DE SETEMBRO A 9 DE OUTUBRO DE 2007 INTERNET

IDEIAS DIGITAIS

Inês AmaralDocente do Instituto Superior Miguel Torga

EXACTO

EDU 2.0

REPORTWITTERS GAMETRAILERS

RUGBY

ADS OF THE WORLD

O ano lectivo está a começar e com ele regressam asdespesas com o material escolar. Com os manuais aaumentarem significativamente de preço de ano paraano, um jovem português lembrou-se de promover a re-ciclagem dos livros. Como? Colocando na web livrosusados mas actuais.

O sistema ainda está um pouco reduzido em termosgeográficos, por questões de logística. Mas em termosgerais, o projecto funciona da seguinte forma: recolhem-se os livros e procede-se à sua classificação, consoanteo seu estado de conservação, idade e preço original daeditora. Depois estabelece-se um preço e coloca-se ainformação dos manuais para venda no site. Se foremvendidos, quem cedeu os exemplares recebe o dinheiro.A iniciativa tem todo o mérito e merece um impulso.

EXACTOendereço: http://www.exacto.com.pt/categoria: ensino, educação

O Edu 2.0 assume-se como o espaço da educaçãodo futuro na Internet. A ideia é promover a criação deuma comunidade de ensino/aprendizagem onde todosos utilizadores possam ser em simultâneo alunos e pro-fessores, consoante a sua especialização no tema.

Qualquer utilizador pode criar um curso no Edu 2.0de forma gratuito e o acesso a este é livre. Os visitan-tes podem navegar no site por tópicos de interesse,possibilitando assim uma interacção efectiva entre co-munidades temáticas. Há também recursos disponíveisde várias áreas, espaços de comunicação e uma lista-gem de cursos online.

EDU 2.0endereço: http://www.edu20.org/categoria: ensino, educação

Já aqui falámos do Twitter, um espaço de mi-croblogging. Esta semana destacamos o Repor-Twitters, um espaço dedicado aos jornalistas. Oconceito é novo e inovador: trata-se de um espaçopara publicar ideias de jornalistas.

Explicando melhor: o ReporTwitters tem comoobjectivo dar um canal informativo imediato e me-diático aos jornalistas que não têm espaço para pu-blicar os seus trabalhos ou àqueles que o queremdifundir no ciberespaço. É essencialmente um de-safio aos jornalistas e pretende aproximar utiliza-dores do Twitter e a informação produzida pelosmembros do ReporTwitters. Os interessados sótêm de se registar no site e fazer “microblogginginformativo”.

REPORTWITTERS

endereço: http://reportwitters.com/categoria: redes sociais, jornalismo

Anúncios do mundo de todos os suportes, dispo-nibilizados online. Numa frase, é esta a apresenta-ção de Ads of the World, um site onde estão ex-postos alguns dos melhores anúncios publicitáriosrealizados à escala mundial.

Neste site é possível encontrar anúncios que fo-ram difundidos na televisão ou na rádio, outros queforam publicados na imprensa e até mesmo publici-dade de outdoors. O utilizador pode navegar no siteescolhendo o meio de difusão e/ou a região, mas étambém possível ver as publicidades adicionadas re-centemente. Este site é também colaborativo, per-mitindo aos seus visitantes enviarem trabalhos pu-blicitários para o catálogo.

ADS OF THE WORLD

endereço: http://adsoftheworld.com/categoria: publicidade

Com o “brilharete” da selecção nacional de Ru-gby no Mundial, decididamente esta modalidade estána moda. A comunicação social tem acompanhadoa prestação dos “Lobos” em França. O Expressodiz que o rugby é “um jogo de brutos praticado porcavalheiros”. O Público dedica-lhe um dossier, queé actualizado com informações sobre os jogos diá-rios e outros conteúdos.

O micro-site do Público dedicado à modalidadeapresenta também informações detalhadas sobrecada uma das selecções que compõem os quatrogrupos do campeonato, os estádios e as cidades ondedecorre a prova, as regras do jogo, os recordes, ocalendário dos jogos, os 30 convocados da selec-ção portuguesa, as classificações do vários jogos,análises sobre o Austrália 2003 (o último mundialda modalidade), links para notícias sobre rugby pu-blicadas na imprensa portuguesa e ainda vídeos eáudio com os jogadores portugueses como os prin-cipais protagonistas.

RUGBY – MICRO-SITE DO JORNALPÚBLICOendereço: http://www.publico.clix.pt/sites/rugby2007/categoria: desporto, informação

Os fãs de jogos electrónicos querem estar sem-pre a par das últimas novidades. Por isso mesmo, oGametrailers é um ponto de paragem na rede obri-gatório. Neste espaço estão disponíveis listas dejogos para diferentes plataformas, com sinopses etrailers.

Novidades, análises, um fórum e o envio de ví-deos realizados pelos visitantes caracterizam estesite, que se assume como uma fonte primordial paratodos os que gostam de jogos, sejam este de con-sola, online, FPS, RPG, MMORPG... Há tambémuma listagem dos principais eventos da área dosjogos. No site encontramos ainda um ponto de ven-da de jogos e acessórios.

GAMETRAILERS

endereço: http://www.gametrailers.com/categoria: jogos electrónicos

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