o centro - n.º 55 – 16.07.2008

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DIRECTOR JORGE CASTILHO | Taxa Paga | Devesas – 4400 V. N. Gaia | Autorizado a circular em invólucro de plástico fechado (DE53742006MPC) ANO III N.º 55 (II série) De 16 a 29 de Julho de 2008 1 euro (iva incluído) Telef.: 239 854 150 Rua da Sofia, 95 - 3.º - 3000-390 COIMBRA Marinho quer acabar com “vergonhoso negócio” ADVOGADOS PÁG. 7 TELEMEDICINA RAINHA SANTA PÁG. 11 A 13 PÁG. 17 Coimbra saiu à rua para saudar Padroeira Premiada Cardiologia Pediátrica de Coimbra Marcelo diz-se “melindrado” com a RTP PÁG. 3 PÁG. 3 PÁG. 11 a 15 TELEVISÃO PÁG. 11 a 13 Médico de Coimbra já fez nascer 17 mil bebés de casais inférteis DEFENDE APOIO ESTATAL A 400 MIL CASAIS COM PROBLEMAS DE FERTILIDADE E QUE QUEREM TER FILHOS PÁG. 17

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Page 1: O Centro - n.º 55 – 16.07.2008

DIRECTOR JORGE CASTILHO

| Taxa Paga | Devesas – 4400 V. N. Gaia |Autorizado a circular em invólucrode plástico fechado (DE53742006MPC)

ANO III N.º 55 (II série) De 16 a 29 de Julho de 2008 � 1 euro (iva incluído)

Telef.: 239 854 150Rua da Sofia, 95 - 3.º - 3000-390 COIMBRA

Marinho queracabar com“vergonhosonegócio”

ADVOGADOS

PÁG. 7

TELEMEDICINA RAINHA SANTA

PÁG. 11 A 13PÁG. 17

Coimbrasaiu à ruapara saudarPadroeira

PremiadaCardiologiaPediátricade Coimbra

Marcelodiz-se“melindrado”com a RTP

PÁG. 3

PÁG. 3

PÁG. 11 a 15

TELEVISÃO

PÁG. 11 a 13

Médicode Coimbrajá fez nascer17 mil bebésde casais inférteis

DEFENDE APOIO ESTATAL A 400 MIL CASAISCOM PROBLEMAS DE FERTILIDADEE QUE QUEREM TER FILHOS

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2 16 A 29 DE JULHO DE 2008COIMBRA

Director: Jorge Castilho(Carteira Profissional n.º 99)

Propriedade: AudimprensaNif: 501 863 109

Sócios: Jorge Castilho e Irene Castilho

Inscrito na DGCS sob o n.º 120 930

Composição e montagem: AudimprensaRua da Sofia, 95, 3.º - 3000-390 CoimbraTelefone: 239 854 150 - Fax: 239 854 154

e-mail: [email protected]

Impressão: CIC - CORAZEOliveira de AzeméisDepósito legal n.º 250930/06

Tiragem: 10.000 exemplares

No Governo Civil de Coimbra de-correr hoje, pelas 11h30, uma confe-rência de imprensa para apresentaçãodo Dispositivo Distrital “Mortes naEstrada, Vamos Travar este Drama –Verão 2008”.

Na sessão serão apresentados osdispositivos das forças de segurança

que vão estar no terreno durante esteVerão, nomeadamente PSP, GNR eBrigada de Trânsito.

Estarão presentes os responsáveisdas entidades envolvidas na campa-nha de segurança, nomeadamente oGovernador Civil do Distrito de Coim-bra, o Comandante da PSP, o Coman-

dante do Grupo Territorial da GNR deCoimbra, o Comandante da Brigadade Trânsito, bem como todos os ele-mentos da Comissão Distrital de Se-gurança Rodoviária.

Convém recordar que nesta época doano acontecem muitos acidentes que po-deriam ser evitados se os automobilistas

obedecessem às mais elementares regrasde segurança, nomeadamente evitando oexcesso de velocidade, as ultrapassagensperigosas, o consumo de álcool e o cansa-ço provocado por viagens muito longas.

O jornal “Centro” apela aos condutorespara que não esqueçam estas regras bási-cas, que tantas tragédias podem evitar.

Cuidados redobrados para quem viaja nas estradas

Campanha apoiada pelo jornal

Um Verão sem incidentes florestais demaior é o que deseja o Governador Civildo Distrito de Coimbra. Confiante numamelhor organização do dispositivo decombate a fogos em relação a anos an-teriores, Henrique Fernandes afirmou que“desde o grande incêndio de 2003, emparticular o que atingiu a Pampilhosa daSerra, se tiraram lições”.

Estas declarações foram feitas ementrevista à Rádio Regional do Centro(96.2 FM), durante o programa “DoisDedos de Conversa”, gravado nas ins-talações da Joalharia Góis, Solum, etransmitido na passada sexta-feira.

O representante do Governo no dis-trito realçou que, a par de um maior es-forço por parte das autarquias, o novoenquadramento legal veio agilizar sobre-maneira o combate aos incêndios, subli-nhando a importância de todos os opera-cionais no terreno responderem peranteum único comando. “A nova Lei de Ba-ses da Protecção Civil, criada por esteGoverno, introduz nomeadamente umprincípio fundamental que é haver umcomando inequívoco”, considerou.

Igualmente relevante, segundo o Go-vernador Civil, foi a “aposta na rapidezda resposta – entre 15 e 20 minutos –para que um foco não se transforme num

GARANTIU GOVERNADOR CIVIL EM ENTREVISTA

Coimbra tem capacidade de respostaao risco de incêndios

incêndio de nove dias como sucedeu naPampilhosa da Serra, assim como o re-forço das brigadas helitransportadas”.

Foi também por iniciativa deste Go-verno, acrescentou Henrique Fernandes,que as especificidades das associaçõeshumanitárias foram consideradas em ter-mos legislativos.

“O enquadramento legal teve umavantagem: criou as regras de um edifí-

cio”, razão pela qual, segundo HenriqueFernandes, o distrito de Coimbra contaagora “com uma boa articulação entreos diversos organismos e uma boa capa-cidade de resposta”.

A corroborar esta visão estão as es-tatísticas que revelam um claro decrés-cimo de incêndios florestais.

“Em 2006 houve 1536 ocorrências e50.939 hectares de área ardida, enquan-

to em 2007 as estatísticas referem quehouve 1.075 ocorrências que correspon-deram a 852 hectares ardidos. Ou seja,houve uma baixa drástica”, referiu.

Os recursos florestais, cada vez maissujeitos a um maior risco de incêndiodevido à alteração dos hábitos das pró-prias pessoas, frisou, “são um problemaque diz respeito a todos nós”. “A próprialegislação diz que um dos agentes da pro-tecção civil é o cidadão”, alertou Henri-que Fernandes, apelando a que todosrespeitem a floresta, nomeadamentemantendo limpa a área em torno das ha-bitações. “Devemo-nos proteger dela,onde ela pode ser agressiva”, conside-rou. “O desleixo e incúria por parte doproprietário também nos custa muito di-nheiro dos nossos impostos”, comentou.

Defensor de uma função reguladorado Estado, o Governador Civil do Distri-to de Coimbra referiu ainda que a em-pregabilidade é uma das áreas prioritári-as da sua intervenção, tendo destacadoque em mais de três anos de mandato jáfoi confrontado com diversas situaçõesde notória debilidade empresarial. Nes-tes casos, notou Henrique Fernandes, apreocupação maior é sempre preservaros postos de trabalho ou, em última aná-lise, defender o interesse dos trabalha-dores.

Henrique Fernandes

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316 A 29 DE JULHO DE 2008 NACIONAL

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ma tão original, está a desabrochar,simbolizando o crescente desenvolvi-mento desta Região Centro de Portu-gal, tão rica de potencialidades, de His-tória, de Cultura, de património arqui-tectónico, de deslumbrantes paisagens(desde as praias magníficas até às ser-ras imponentes) e, ainda, de gente hos-pitaleira e trabalhadora.

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O comentador MarceloRebelo de Sousa disse ontem(terça-feira) à Lusa estar“surpreendido” e “melindra-do” por saber que o seu pro-grama na RTP tinha patrocí-nio e deu razão ao organismoregulador em abrir um pro-cesso de contra-ordenação.

“Fico surpreendido e melin-drado por não me terem ditonada, acho que ter um patro-cinador para o programa pres-supõe que eu saiba”, afirmouMarcelo Rebelo de Sousa, re-agindo a uma deliberação daEntidade Reguladora para aComunicação Social (ERC).

Numa decisão ontem divul-gada, a ERC anunciou que vai

COMENTÁRIO DOMINICAL NA TELEVISÃO

Marcelo Rebelo de Sousadiz-se “melindrado” com RTPpor desconhecer patrocínio ao programa

Sousa, defendendo que “umacoisa são anúncios, outra sãopatrocínios” e sublinhandoachar “muito curioso nuncaterem dito nada”.

“Foi uma sorte eu nunca terfalado na Generis” durante oprograma, reforçou, asseguran-do que “acreditava tratar-se deum anúncio como outro qual-quer e nunca um patrocínio”.

Apesar de a RTP ter, en-tretanto, garantido à Lusa quevai “acatar a decisão” daERC e retirar o patrocínio aoprograma já a partir da próxi-ma edição, Marcelo Rebelo deSousa pretende “apurar coma direcção de Informação oque se passou”.

instaurar um processo de con-tra-ordenação à RTP e à Ge-neris Farmacêutica por inser-ção de patrocínios no progra-ma “As Escolhas de Marce-lo”, que considera violar o Có-digo da Publicidade.

A deliberação baseou-senuma apreciação da tipologia doprograma, tendo a ERC chega-do à conclusão que “As Esco-lhas de Marcelo”, transmitidoaos domingos na RTP 1, integrao género comentário político.

Género que se inclui entreos que estão proibidos peloCódigo da Publicidade de re-ceber patrocínios.

“A ERC tem toda a razão”,sublinhou Marcelo Rebelo de

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ponto . por . ponto

Por Sertório Pinho Martins

Quando o vento sopra a favor daschamas, é certo e sabido que o incêndioalastra e a área ardida acrescenta des-graça a quem (sobre)vive do que a flo-resta ainda vai dando. E o país é o espe-lho dos fogos de Verão! Jaime Silva queros jovens de regresso à agricultura: dan-do como exemplo as ilusões perdidas dosagricultores esbulhados até ao osso?José Sócrates tira da cartola um auspi-cioso ‘carro eléctrico’: tentando fazeresquecer o lastro das taxas sem retornoque continuam coladas aos combustíveisdo nosso destino fatal? Quase 90% dasempresas (a espinha dorsal da nossaeconomia, porque os outros 10% sãoEstado e banca com os seus negócioslabirínticos) classifica a conjuntura eco-nómica abaixo de má: e o ministro dáprioridade a visitar hipermercados e vercom os olhos que Deus lhe deu se estãoa cumprir à risca os 20% do IVA? Aclasse média já lançou a toalha ao tape-te: e os novos ‘amigos de Alex’ (Mene-zes e quejandos) elogiam a eito a despe-sa pública? A banca deu o estoiro (e cala-se à espera que a tormenta lhe passeentre a secante e a tangente): e as ins-tâncias supervisoras vão adiando paraas calendas a verdade a que temos di-reito? O Presidente quis saber sobre ocusto real de obras que vão sair do bol-so dos contribuintes: e o poder instaladosó reagiu à voz grossa da admoestação?As Misericórdias sobem de tom sobre oestado de pobreza das populações ca-renciadas: e o eco vai-se esvaindo noazul diáfano de um triste “tenha paciên-cia, Deus o ajude”? A oposição adopta

Bloco quê?...a estratégia de falar por generalidades,mas logo a seguir espalha-se ao compri-do em temas cirúrgicos como o casa-mento dos homossexuais, para gáudio dossocialistas – como se a opinião de Ma-nuela Ferreira Leite não fosse igual à demuita e boa gente que votou Sócratesem Março de 2005! Os partidos conti-nuam a abusar do discurso político dotoca-e-foge, que já não enche barriganem faz perder o sono à plebe: e o po-der instalado, esgotado que está o círcu-lo vicioso das alcovitices de galinheiro,volta ao discurso dos dois governos queo antecederam, mas cuidando de riscara era-Guterres da história da nossa de-mocracia.

Cada um faz o seu número de circo, acorda vai esticando debaixo das nossasdesilusões e não nos demos conta que jáestamos a trabalhar sem rede! Numaconjuntura económico-social sem prece-dentes desde há décadas, o que passa avaler é o chorrilho de asneiras, a surdezà voz do bom-senso, a competição pelamaior parvoíce política – porque no fimalguém há-de apagar as luzes! Come-çam já a multiplicar-se os avisos dos se-nadores (alguns por sinal confortavel-mente instalados nos palanques que apolítica lhes trouxe por acréscimo…),qualquer evento (por mais insignifican-te) serve para tocar a rebate e a lançarrecados que não têm segunda leitura,cruzam-se ameaças por cima das nos-sas cabeças atarantadas com tanto des-pudor político, e o horizonte continua nu-blado a perder de vista. Cheira cada vezmais a queimado e ninguém repara na

direcção do vento!O país precisa urgentemente de esta-

bilidade política! Quase diríamos que aqualquer preço, e venha de onde vier asapatada redentora. Caminhamos esma-gados pelo custo do dia-a-dia e encurra-lados entre dois fogos (a descrença e odesespero) que continuam por circuns-crever. E só queremos é romper as cha-mas e sair da tenda deste circo onde ospalhaços já perderam a graça e a capa-cidade de nos maravilhar como noutrostempos. Porque é bom ter noção de quese a cura não vier de ‘dentro’ do próprioregime, arriscamo-nos a que a doençapossa ser travada por qualquer iniciativamusculada, quanto de recurso – e de-pois é tarde para recriminações.

A ideia peregrina de um ‘bloco cen-tral’, ainda por cima com estes protago-nistas, tropeça desde logo na mais ele-mentar das vertentes de um casamento-a-dois: a natureza humana. Alguém ima-gina José Sócrates acamaradado comquem não lhe obedeça cegamente ou aesticar o dedo a um ministro que não te-nha sido escolha apenas sua? Ou Manu-ela Ferreira Leite submissa a(pre)conceitos e metodologias de gover-nação com que legitimamente possa nãoconcordar de todo? Sócrates nunca teráa paciência estratégica de raposa (é umimpositivo-compulsivo) de Mário Soaresno seu melhor, e a Manuela falta-lhe osavoir político e o desprendimento es-pontâneo que Mota Pinto transpirava.Quem se atreve, em consciência, a fa-zer daqueles dois as traves da estabili-dade política que o país exige? Ou am-

bos designam os seus testas-de-ferro, eficam a intrigar em bastidores? Ou – butnot the least – pede-se a Cavaco Silvaque os leve pela mão e pendurados pe-las orelhas, até aprenderem humildade eespírito de sacrifício em prol do interes-se nacional?

José Sócrates tem nas mãos umamaioria absoluta, base primeira para aestabilidade política que outros vão terque conquistar a pulso e esgrimindo ar-gumentos que levem a dar um passo atrásquem em 2005 votou claramente no PS.Dir-se-á que já havia no ar uma ‘dinâmi-ca de mudança’; mas chegar à maioriaabsoluta foi um feito indiscutível. Porém,ao primeiro-ministro falta-lhe ainda do-minar arroubos de espontaneidade, do-sear ímpetos, simular contrição e sacri-ficar peões, para chegar ao pleno em2009 – e terá nas mãos a chave que lheabre a porta da estabilidade que o paísnão dispensa por mais tempo. Ora sacri-ficar peões é algo que Sócrates ainda nãoabsorveu e interiorizou do mundo cruelda política, a ponto de remodelar tão só‘para as eleições de 2009’. Senão, queoutros trunfos ou actos de propagandasocial lhe restam, numa altura em que abarriga vazia dos contribuintes bate maisforte do que a vozearia dos debates so-bre o estado da nação? Remodelandoagora, terá no mínimo o benefício da dú-vida de quem foi solidário até ao limitedo tolerável, mas que não hesitou em daro passo patriótico quando esgotou todasas esperanças em homens que afinaldesapontaram o país real. E se ele tempor onde escolher!

O secretariado da Conferência Ibe-ro-americana vai efectuar, a pedido dogoverno português, um estudo para ava-liar o valor económico da língua portu-guesa, disse ontem (terça-feira) àagência Lusa o ministro da Cultura,José António Pinto Ribeiro.

“A metodologia já nos foi comuni-cada”, afirmou Pinto Ribeiro, destacan-do tratar-se de “metodologia semelhan-te a uma que se pediu para fazer umestudo para a língua castelhana”, acres-centou.

“Nós gostaríamos de alargar esseestudo a todos os países de língua ofi-cial portuguesa”, acrescentou, vincan-do que “qualquer falante, qualquer eco-nomia de língua portuguesa, pode apro-veitar e internacionalizar-se nas asasda língua portuguesa”.

O ministro da Cultura salientou, poroutro lado, que um outro estudo, enco-mendado pelo Instituto Camões ao Ins-tituto Superior de Ciências do Traba-

Conferência Ibero-americana vai avaliarvalor económico da língua portuguesa

lho e Empresa (ISCTE), também paraavaliar o valor económico da línguaportuguesa, “vai ser reinserido” no quevai ser efectuado pela ConferênciaIbero-americana.

“Esse estudo pedido pelo InstitutoCamões vai ser reinserido. Nós, nestemomento, estamos a desenvolver umapolítica, a lançar as bases e a estrutu-ra para uma política da língua em Por-tugal e que gostaríamos que fosse es-tendida a todos os países da Comuni-dade de Países de Língua Portugue-sa”, adiantou.

“Isto significa recentrar a nossa po-lítica em matéria de língua neste es-paço, para o que vai ser constituídoum fundo para a língua portuguesa”,disse.

Esse fundo que permitirá “expan-dir a língua portuguesa”, permitirátambém “enviar professores de por-tuguês para fora”.

O ministro da Cultura revelou que o

fundo vai ser anunciado dentro de umconjunto de medidas destinadas à pro-moção da língua portuguesa.

“É um fundo especialmente queri-do, especialmente desejado pelo pri-meiro-ministro (José Sócrates) no sen-tido de centrarmos a nossa actividadeem matéria de relação com os paísesda Comunidade de Países de LínguaPortuguesa, na base da língua portu-guesa e da utilização da língua portu-guesa”, frisou.

As medidas para a promoção da lín-gua portuguesa vão ser aprovadas noconselho de ministros desta semana,antecipado para quarta-feira, devido àviagem do primeiro-ministro José Só-crates para uma visita a Angola.

Este conselho de ministros constituio último encontro dos membros do go-verno português antes da Cimeira daComunidade de Países de Língua Por-tuguesa, agendada para 24 e 25 destemês, em Lisboa.

Portugal assume a presidência daorganização nos próximos dois anos ededicará prioridade à língua.

“Toda a política de relação com osoutros países (em matéria de língua)vai ser feita” no âmbito da Comunida-de de Países de Língua Portuguesa,precisou.

Nesse contexto, os Ministérios daCultura, dos Negócios Estrangeiros eEducação “vão trabalhar no sentido darefundação do Instituto Camões”.

Quanto aos custos que a execuçãode tal plano implica, José António Pin-to Ribeiro destacou que todo o Gover-no estará envolvido.

“Será uma resolução aprovada peloGoverno, sob a liderança do primeiro-ministro. Todo o Governo estará mobi-lizado para este projecto, em termosinstitucionais e também em termos deinternacionalização através da Comu-nidade de Países de Língua Portugue-sa”, sublinhou.

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516 A 29 DE JULHO DE 2008 COIMBRA

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CarlosEsperança

ponte europa

IRÃO: A FÉ À BEIRADA LOUCURA NUCLEAR

Bastavam ao mundo a loucura prosé-lita dos beatos e a incontinência verbalde alguns líderes para o planeta se tor-nar um lugar de horror. O preço do pe-tróleo e a míngua de alimentos contribu-em para adensar as nuvens que amea-çam a sobrevivência colectiva.

É neste estado de pessimismo e desâ-nimo que o Irão lançou com êxito, a par-tir de local ignorado do deserto, novemísseis com um raio de acção de 2.000km, capaz de atingir numerosas cidadesda região, nomeadamente Tel Aviv.

Sabe-se como são piedosos os guar-das revolucionários de Teerão e comotem sido loquaz o presidente Ahmadine-jad a reiterar o desejo obsessivo de erra-dicar do mapa o Estado de Israel. Já nãoé a questão palestina, em que os árabestêm razão, que está em causa, é o desti-

no colectivo da humanidade e a paz in-ternacional que estão ameaçadas pelahecatombe nuclear.

Com a Europa bloqueada pelo Nãoirlandês e pelas suas próprias divergên-cias internas, com o pior presidente dosEUA das últimas décadas em fim demandato, com o pavor das economiascom a alta dos combustíveis, com aRússia a responder ás provocações daNATO, o Irão encontrou o momentoideal para a demonstração de força.

Hoje, pela vez primeira, o Irão pôs-me do lado de Israel e do seu direito dese defender. Nos períodos de crise, pormaiores que sejam as contradições quenos dilaceram, não podemos hesitar natrincheira que escolhemos. ISRAEL tem

o direito à sua existência. Sem «mas».

IGREJA ANGLICANANUMA ENCRUZILHADA

A vitória dos fiéis progressistas que jáhaviam consagrado o acesso das mulhe-res ao sacerdócio, bem como de homos-sexuais, e, agora, ao episcopado, é o pre-núncio de um cisma em que a correnteconservadora se vira para Roma e osprogressistas seguem o seu caminhocomo igreja protestante.

O anglicanismo é uma criação oficialde Henrique VIII, separada de Romadesde 1534, embora o desejo de eman-cipação já fosse forte e o contributo da

Reforma protestante decisivo. Por issopermaneceu sempre uma corrente, in-fluenciada pela Reforma, mais toleran-te e progressista que coexistiu com ou-tra mais tradicionalista e nostálgica doVaticano.

Para esta corrente, que tem menosadeptos e mais praticantes, o acessodas mulheres ao sacerdócio foi sem-pre uma espinha cravada no coraçãode quem não perdoa à mulher o peca-do original e a considera indigna doexercício do múnus.

A luta constante entre liberais e con-servadores, que atingiu o auge com a in-dicação de uma mulher como Primaz daIgreja Episcopal dos EUA, teve agoraum novo braço de ferro que ameaça de-sintegrar a Igreja que tem na Inglaterrae na monarquia inglesa a sua mais sólidareferência.

Após um breve retorno à Igreja cató-lica (1553/58) as vicissitudes do poderditaram o regresso ao anglicanismo que,desde 1558, passou a ser a religião ofici-al. Hoje, todos os monarcas têm de jurarmanter e proteger a fé e espera-se quecasem com um protestante, obrigaçãomitigada pelo tradicional sentido da tole-rância britânica onde são numerosas asreligiões e 23% da população é alheia aqualquer fé.

Os homossexuais e as mulheres im-pedem que, no futuro, todos os anglica-nos possam frequentar a mesma missa.O cisma vem aí. Não é a fé que os divi-de, é a tolerância.

Um auditório multi-usos, residênci-as, um restaurante panorâmico e va-lências desportivas, culturais e lúdicasestão contemplados na "Aldeia doMédico", um empreendimento gizadopela Secção Regional Centro da Or-dem dos Médicos (SRC-OM) paraCoimbra.

Com custos provisórios estimadosem 10 milhões de euros, o projecto estáprevisto para a Quinta do Couto, naAdémia, nos arredores da cidade, e as-senta num "conceito pioneiro" em Por-tugal, segundo disse ontem à agênciaLusa o presidente da SRC-OM, JoséManuel Silva.

Contempla a construção de residên-cias assistidas para os médicos apo-sentados – a Casa do Médico -, ga-rantindo-lhes independência, qualidadede vida, conforto e segurança, e quecoexistem, no espaço do complexo, comas valências da formação contínua dos

Ordem constrói Aldeia do Médicocom residências, centro de congressoscultura e lazer

clínicos e ainda serviços de ordem re-creativa, desportiva e cultural.

"É um projecto distintivo para Co-imbra, que será auto-sustentável. Seráum espaço único em termos da poliva-lência e do contacto que permitirá en-tre os médicos mais velhos e os maisnovos", sublinhou o professor da Fa-culdade de Medicina da Universidadede Coimbra.

Para lá será deslocada a actual sededa SRC-OM e, no seu futuro centrode congressos, um espaço polivalentepara as vertentes científica, formativae de lazer, terá capacidade para even-tos participados por 1.500 pessoas.

Na óptica de José Manuel Silva,este centro de congressos poderá terum papel vital na captação do turismocientífico.

"Nenhum dos grandes congressosnacionais se realiza em Coimbra. Co-imbra tem de explorar essa vertente",

defende o médico, ao vincar que onome da cidade "é conhecido interna-cionalmente", mas, contudo, "esse po-tencial não tem sido explorado".

Segundo José Mário Martins, mem-bro da comissão da SRC-OM para oprojecto da Aldeia do Médico, este em-preendimento que, "se tudo correr bem,deverá estar concluído dentro de cin-co anos", representa "uma oportunida-de para Coimbra se afirmar no pano-rama nacional".

"Vamos lançar o concurso global-mente, mas a construção será faseadanum esquema compatível com a capa-cidade financeira da Ordem e o con-forto das pessoas", disse ainda JoséMário Martins.

Naquele espaço com vista para a ci-dade e situado junto de acessos estra-tégicos ao país, decorrem actualmentetrabalhos de limpeza do terreno, onde aSRC-OM quer instalar também um Mu-

NOS ARREDORES DE COIMBRA

seu do Médico, um anfiteatro romanopara espectáculos ao ar livre, uma pis-cina e uma zona de jogos mista.

A Secção Regional Centro da Or-dem dos Médicos aposta ainda emmanter na paisagem uma zona de matamediterrânica, com a criação de ciclo-vias, zonas de passeios pedonais e cir-cuitos de manutenção, um dos exem-plos do conjunto de preocupações am-bientais que, segundo frisa José Ma-nuel Silva, acompanha o projecto.

Fazer "prevalecer o verde sobre o ci-mento" e constituir-se como "um projec-to de qualidade, com as últimas tecnolo-gias, amigo do ambiente, virado para ofuturo e com possibilidade de crescimen-to modular" são algumas das premissasorientadoras da Aldeia do Médico.

Com mais de dez hectares, o terre-no mantém ainda a chaminé de umaantiga cerâmica, que a Ordem tencio-na preservar.

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6 16 A 29 DE JULHO DE 2008INTERNACIONAL

Fiodor Lukyanov *

* in revista A Rússia na Política Global

Bush na recta final

Na cimeira G8, que decorreu de 7 a 9 deJulho no Japão, George W. Bush chamouao Presidente russo «um homem inteligen-te», sem mostrar, no entanto, qualquer inte-resse em dialogar. De facto, o Presidentedos EUA não vai trabalhar ou discutir ideiasnovas com Dmitri Medvedev. Bush já nãotem planos políticos para o futuro. Falta-lheapenas ultimar as tarefas não acabados. Ouseja, deixar ao seu sucessor os assuntos eas obrigações nada fáceis de contornar.

O Presidente norte-americano está numasituação muito difícil. Os resultados da suapolítica externa são unanimamente avalia-dos como «um rotundo fracasso». Da Amé-rica Latina ao Médio Oriente desabrochouum forte anti-americanismo. Washingtonmantém as relações bastante frias com amaioria dos seus aliados. Na questão dasegurança energética, falharam todas astentativas norte-americanas de diminuir adependência de fornecedores externos.Cresce sem parar a influência da China.Com a Rússia não existe uma agenda deacções comuns. E assim por diante.

Bush precisa desperadamente de vercoroados de êxito pelo menos alguns dosgrandes projectos iniciados durante a suapresidência. Entretanto, é impossível espe-rar um progresso, por mais pequeno que seja,no Iraque, no Irão, no conflito israelo-árabee no Afeganistão. Restam poucos projec-tos: o Sistema de Defesa Antimíssil (SDA)na Europa Central e a aproximação daUcrânia e da Geórgia da NATO.

Ao que tudo indica, até ao fim do anotodos os esforços da administração norte-americana serão concentrados nestas direc-ções. Não há nada especial anti-russo nes-ta corrida na recta final. O 43.º presidentedos EUA simplesmente almeja um êxito napolítica externa. Infelizmente, ao tentar re-

solver os seus próprios problemas, Busharrisca a deixar, para o seu sucessor, as re-lações complicadas com Moscovo.

Qualquer que seja o desenlace das elei-ções em Novembro, é difícil esperar que osEUA ponham de lado o SDA. Mas o prazode realização do projecto, os ritmos de fi-nanciamento e os locais de instalação destepoderão ser corrigidos ou alterados. O mes-mo se pode dizer quanto ao futuro alarga-mento da NATO.

Talvez por isso a Casa Branca tenha re-dobrado ultimamente os seus esforços nes-tas direcções.

Entretanto, à viagem, na passada sema-na, de Condoleezza Rice a Praga, onde as-sinou um acordo sobre a instalação de umpoderoso radar em terra checa, e à curtavisita a Tbilissi, onde a alta diplomata norte-americana se colocou claramente do ladoda Geórgia, em conflito com a Rússia, Mos-covo reagiu com uma dureza pouco habitu-al. O MNE russo prometeu uma respostanão diplomática, mas sim «técnico-militar»aos planos de defesa antimíssil norte-ame-ricanos.

A actividade frenética da Casa Branca

pode ter mais uma explicação: as posiçõesmuito enfraquecidas de Washington. Umaprova disso é o regateio, travado agora pelaPolónia, em cujo território os EUA preten-dem colocar os mísseis interceptores. Háuns meses, Washington não imaginava en-contrar uma tão dura resistência por partedo seu aliado mais próximo e leal na EuropaCentral.

Pode-se referir mais um caso não me-nos significativo. Apesar de toda a pressãonorte-americana, a Grécia não tem altera-do a sua posição quanto ao nome «Mace-dónia», e continua a vetar a entrada destepaís, já há muito anunciada, na NATO. Aquestão continua em aberto.

À luz desta conjuntura desfavorável,Washington prefere não adiar os assuntospolíticos resolvidos (no caso da RepúblicaCheca), já que a opinião pública do país, di-ferentemente da elite política, se manifestaesmagadoramente contra a instalação doradar norte-americano. Quaisquer que se-jam as razões da pressa dos EUA, as con-sequências desta corrida na recta final nãoauguram nada de bom.

A Geórgia sempre vê no apoio de Wa-

shington um estímulo para acções cada vezmais duras. O que, por sua vez, “leva a águaaos moinhos” dos que desejariam ver des-tabilizada a situação na Abkhásia, na Ossé-tia do Sul e na Rússia.

Do ponto de vista de Tbilissi, quanto maispróximo o patronato da NATO, maior asegurança na região. A Rússia vê tudo aocontrário: quanto maior é a possibilidade deTbilissi de receber as garantias da NATO,mais actual será a questão de reconheci-mento da independência da Abkhásia e daOssétia do Sul. Surge um círculo vicioso...

A situação agudizar-se-á nos próximosmeses. Em Dezembro, na cimeira dos mi-nistros de negócios estrangeiros dos paísesmembros da Aliança, Washington dará tudopor tudo para ver a Ucrânia e a Geórgiaincluídas no plano de acção com vista à ade-são à NATO.

Quanto ao SDA, Moscovo, em princípio,nada poderá fazer para contrariar os planosdos EUA. No entanto, os acontecimentosna Europa Central influirão seriamente naagenda «norte-americana» do novo Presi-dente da Rússia.

Nos EUA já há muito que não há umpresidente cujo fim de mandato fosse tãoimpacientemente esperado, tanto no paíscomo no mundo em geral. No Outono doano passado, numerosos políticos e paísesreceavam que Bush tentasse resolver o pro-blema iraniano à força. Felizmente, estaopção desvaneceu-se pouco a pouco.

A assinatura dos acordos sobre a instala-ção do Sistema de Defesa Antimíssil dosEUA na Europa Central e a decisão sobrea aproximação dos países no espaço pós-soviético da NATO não são tão devastado-ras como seria, por exemplo, uma acçãomilitar contra o Irão. Mas qualquer desejode George W.Bush de ultimar as tarefas nãoacabadas é prenhe de consequências pou-co agradáveis.

Portugal com papel relevantena “União para o Mediterrâneo”

O general Loureiro dos Santos, especia-lista em defesa, considerou ontem “muitopositiva” a constituição da União para oMediterrâneo e sublinhou que Portugal é oEstado “em melhores condições” para dia-logar com os países do Norte de África.

“Portugal pode ser um ‘agente especial’da União Europeia para a ligação com oNorte de África”, declarou à agência Lusao especialista em defesa e estratégia.

O general comentava a formalização,domingo, apadrinhada pela PresidênciaFrancesa da UE, da União para o Medi-terrâneo, constituída por 43 Estados, quese comprometem a construir “um cami-nho para a paz, democracia, prosperidadee condição humana, social e cultural”.

Na opinião de Loureiro dos Santos, Por-tugal tem um “benefício directo” nestaorganização,”como Estado-membro da UEe como Estado-membro com capacidadesespeciais para dialogar com estes países, no-meadamente os do Norte de África”.

“Portugal deve ser o Estado que estáem melhores condições de lidar, de dialo-gar, com qualquer dos países do Norte deÁfrica, porque não tem contenciosos comestes Estados e nem sequer pode consti-tuir uma ameaça (tipo neo-colonial). Issodá a Portugal uma grande vantagem nestetipo de ligação na UE com o Norte de Áfri-ca”, afirmou o general.

Loureiro dos Santos destacou que a ini-ciativa “tem grandes potencialidades para

estabilizar a região em torno do Atlântico,especialmente o Norte de África e a Euro-pa”, já que esta última “pode ser afectadapor ameaças, nomeadamente terroristas,provenientes do Norte de África”.

Acrescentou que a União pode, ao mes-mo tempo, promover o desenvolvimento doNorte de África, “que é, aliás, a única ma-neira de pôr um travão sério às ameaçasterroristas”.

“Pode também favorecer economica-mente a Europa, porque ela tem grandesdependências em termos de combustíveisfósseis e o Norte de África tem-nos (…), e,por outro lado, qualquer das regiões (UE eNorte de África) pode constituir um mer-cado apetecível para a outra”, explicou,

Loureiro dos Santos, desejando que a inicia-tiva apadrinha pela Presidência Francesa daUE tenha mais êxito que outras anteriores,como o Processo de Barcelona.

Contudo, o general mostrou-se menosesperançado de que a União para o Medi-terrâneo (UPM), que no seu entender podenão resultar no contexto do conflito israelo-palestiniano.

Em sua opinião, “o que está em cima damesa do ponto de vista estratégico só pode-rá ser resolvido se houver uma posição de-cisiva, um esforço decisivo e uma vontadedecisiva dos Estados Unidos”.

“Só os EUA é que têm capacidade sufi-ciente para influenciar as estratégias de Is-rael. E, enquanto este não modificar algu-mas das suas estratégias penso que serádifícil atingir uma situação de paz no conflitoisraelo-palestiniano”, afirmou.

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716 A 29 DE JULHO DE 2008 NACIONAL

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O bastonário dos advogados, MarinhoPinto, afirma em carta dirigida à classe quequer “acabar com o descalabro” na Ordem,nomeadamente com o “vergonhoso negó-cio” da formação dentro da instituição.

“É altura de pôr alguma ordem na Or-dem e acabar com o descalabro a queestamos a assistir. Nos últimos anos o nú-mero de advogados tem crescido à médiade 1.500 por ano. Na campanha eleitoralde 2004 éramos cerca de 22 mil e hoje jásomos mais de 26 mil advogados em exer-cício. A formação é um bom negócio den-tro da Ordem. Há muita gente que ganhabom dinheiro com isso, mas apresenta-sesempre como fazendo grandes sacrifíci-os pela OA”, escreve António MarinhoPinto na carta, datada de 14 deste mês, eque já suscitou uma posição do ConselhoSuperior da OA.

E acrescenta na carta, a que a AgênciaLusa teve acesso: “Essas pessoas nãoolham a meios para manter essa situação,incluindo os insultos contra mim. Mas eu nãovou esmorecer. O meu programa de refor-mas é para cumprir e vou cumpri-lo. Res-ponderei perante quem me elegeu e nãoperante quem foi eleito para outros órgãose para desempenhar outras funções dentroda Ordem dos Advogados (OA)”.

“Candidatei-me e fui eleito” – prossegue– “para fazer reformas. E uma dessas re-formas é acabar com o vergonhoso negó-cio da formação dentro da OA. Um negó-cio que só serve umas (poucas) centenasde dirigentes e formadores e no qual gas-tam milhões de euros das quotizações dosadvogados e das ‘propinas’ usurárias cobra-das aos estagiários”.

“Só para inscrição no estágio são logoexigidos 600 ou 700 euros a cada candidatoe depois, durante o estágio, têm de pagarmais uma infinidade de outras despesas,desde conferências até à inscrição paraexames”, lê-se na carta.

“A formação tem sido o cancro da OA.O actual modelo de formação surgiu unica-mente com um objectivo: dinheiro. Surgiu

MARINHO PINTO QUER “ACABAR COM O DESCALABRO”

Bastonário contra o “vergonhoso negócio”da formação na Ordem

quando, nos finais dos anos 80, Portugal re-cebeu centenas de milhões de contos paraformação profissional. Todos se atiraram aesses fundos com mais ou menos cupidez”,adianta o bastonário.

Segundo Marinho Pinto, “infelizmente, aOA não ficou atrás e logo instituiu a obriga-ção de os advogados estagiários assistirema umas aulas criadas à pressa unicamentepara que a Ordem e alguns advogados (prin-cipalmente dirigentes da OA logo transfor-mados em professores) pudessem receberuma fatia dos fundos comunitários”.

“E a verdade dura e crua é que toda aformação está entregue exclusivamente aosConselhos Distritais (da OA), sendo eles (equem com eles pactuou), obviamente, osúnicos responsáveis por este estado de coi-sas, ou seja, pela massificação descontrola-da da nossa profissão”, escreve também obastonário.

Depois de se referir a “guerrilha inter-na”, Marinho Pinto alude também na suacarta “ao facto de alguns presidentes deConselhos Distritais terem já falado em des-tituição do bastonário”.

“Trata-se de um método de acção psico-lógica bem conhecido que só pode afectaros medrosos ou os hesitantes. A mim não”,

garante Marinho Pinto, aconselhando osadvogados a começarem “a pensar se seránecessário destituir os titulares de algunsórgãos da OA, incluindo, obviamente, o bas-tonário, ou então quem o quer impedir delevar a cabo o programa de reformas comque se apresentou às eleições e que os ad-vogados portugueses aprovaram com amaior votação de sempre na história da OA”.

“Por mim não sou adepto desse método.Os meus princípios são os do respeito pelasregras da democracia e do respeito pelosresultados das eleições democráticas. Podeser que não seja necessário recorrer a ou-tros métodos que não as eleições para apu-rar a vontade dos advogados portugueses;mas também pode vir a ser necessário, eentão é bom que todos estejamos prepara-dos para isso, até porque a democracia nãose esgota em eleições”, adverte.

Marinho Pinto avisa que não desistirá:“Quero reafirmar que podem contar comi-go para levar a cabo as reformas que sãourgentes na nossa Ordem para, nomeada-mente, inverter o ciclo de massificação danossa profissão, dignificar a Advocacia efazer com que a Ordem esteja ao serviçode todos os advogados e não apenas de al-guns. Apesar de todas as adversidades, não

desistirei”.O Conselho Superior da Ordem dos Ad-

vogados (CSOA) decidiu solicitar ao basto-nário da classe, António Marinho Pinto, queclarifique as denúncias que fez, visando ofuncionamento dos órgãos da instituição eseus titulares.

“O Conselho Superior entende, em con-formidade, e no exercício das suas compe-tências, notificar o senhor bastonário, solici-tando-lhe que, no âmbito dos seus deveresestatutários, contribuindo para o apuramen-to da verdade, para o prestígio da Ordemdos Advogados e da Justiça, concretize assituações por si referidas para que não fi-que sombra de impunidade ou suspeita decalúnia”, lê-se na acta da reunião anteon-tem realizada.

O supremo órgão jurisdicional da Ordemdeclara ter tomado “conhecimento das men-ções” que António Marinho Pinto “vem fa-zendo em declarações públicas e em comu-nicado dirigido à classe, nomeadamenteaquelas que visam o funcionamento de ór-gãos da Ordem e seus titulares”.

Em declarações aos jornalistas, no finalda reunião, o presidente do Conselho Supe-rior da Ordem dos Advogados, José Antó-nio Barreiros, precisou que não foi dado pra-zo para o bastonário clarificar as suas de-núncias.

Há uma semana, o bastonário dos advo-gados acusou os dirigentes dos órgãos dis-tritais da instituição que criticaram o seudesempenho de estarem a fazer oposiçãointerna e de não saberem o significado dademocracia.

Num jantar-conferência sobre a “Crisena Justiça”, em Leiria, Marinho Pinto afir-mou que “muitos dos magistrados, princi-palmente juízes, agem como se fossem di-vindades” e “actuam como donos dos tri-bunais”, locais em que os “cidadãos sãotratados como servos e os advogados comosúbditos”.

Em Março, numa entrevista à SIC Notí-cias, Marinho Pinto alegou que “há conspi-rações, ataques pessoais” na instituição.

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8 16 A 29 DE JULHO DE 2008OPINIÃO

CULPA NOSSA

34 anos depois, a nossa democracia con-tinua débil, não por culpa dos partidos polí-ticos ou dos governantes, mas por culpade todos nós, ou seja, da chamada socie-dade civil.

É fácil atribuir culpas à oposição ou àclasse política por tudo o que de mal acon-tece no país, mas a verdade é que semuma sociedade civil devidamente esclare-cida e organizada há coisas que nunca seendireitam.

Só num país em que o cidadão não temde facto nenhum poder, é possível que a EDPdiga aos clientes cumpridores que passama pagar a factura dos que não pagam. (...)

Francisco Sarsfield CabralPágina Um (Rádio Renascença)

PATRIOTISMO

(...) Vejo que D. José Saraiva Mar-tins conseguiu trocar a causa, aparente-mente perdida, da canonização dos pas-torinhos pela do beato Nuno de SantaMaria, que a memória melhor guardacomo D. Nuno Álvares Pereira, o Con-destável. Não faço a injúria de conside-rar D. José o nosso agente no Vaticano,mas louvo-lhe o patriotismo que não es-morece. Creio que, com a troca, se ga-nhou espessura histórica. E adivinho aquiuma negociação dura, mas exemplar. Épena não lhe darem o pelouro da ingrataIrlanda. (...)

Nuno Brederode Santos (jurista)DN 6/Julho/08

DEUS COMO MÃE

(...) Um livro sagrado, por exemplo, aBíblia, só tem validade última e só encontraa sua verdade adequada enquanto todo ena sua dinâmica global. A argumentaçãocom fragmentos pode por vezes tornar-seinclusivamente ridícula. Assim, princípio her-menêutico essencial e decisivo das religiõese dos seus textos é o do sentido último dareligião, que é a libertação e salvação. OSagrado, Deus, referente último do religio-so, apresenta-se como Mistério plenamen-te libertador e salvador. É, pois, à luz destaintenção última que as religiões e os seustextos têm de ser lidos, concluindo-se quenão têm autoridade divina aqueles textos que,de uma forma ou outra, se apresentamcomo opressores e discriminatórios. Então,não sendo normativos, deverão ser evita-dos nas celebrações religiosas.

É claro que a hermenêutica feminista tem

de ser uma hermenêutica da suspeita. Nãoé de suspeitar que religiões orientadas porhomens e textos que têm homens comoautores maltratem as mulheres, lhes sejampouco favoráveis e as tornem invisíveis, asconsiderem inferiores e as coloquem emlugares subordinados?

(...) A teologia feminista mostra-se espe-cialmente crítica com a imagem de Deus“Pai”, por tratar-se de uma imagem que leva“directamente à obediência e à submissão,de que a religião autoritária abusa”. Querrecuperar imagens que têm a ver com avida, a amizade, o amor, a clemência, a com-paixão, a compreensão, a generosidade, aternura, a confiança, o perdão, a solicitude...E o que é que pode impedir os crentes de sedirigirem a Deus como Mãe?

Anselmo Borges(padre e professor de Filosofia)

DN 6/Julho/08

A “POLÍTICA DO BETÃO”

Cerca de 14 anos depois de o PS deAntónio Guterres ter combatido a chamada«política do betão» e a «insensibilidade soci-al» do Governo do PSD, chefiado por Ca-vaco Silva, proclamando «Primeiro as Pes-soas», uma das palavras de ordem que ofaria chegar ao Governo, Manuela FerreiraLeite, a nova presidente do PSD, então mi-nistra de Cavaco, inicia a sua liderança fa-zendo, no seu estilo próprio, proposta seme-lhante e o mesmo tipo de crítica ao Governodo PS, chefiado por José Sócrates, ex-mi-nistro de Guterres... É assim e não é novo: apolítica à portuguesa dá muitas voltas para,no final das contas, em geral, acabar nosmesmos sítios, com os mesmos partidos eas mesmas pessoas...

De facto, o que sobressaiu nas interven-ções de Manuela Ferreira Leite (MFL), noCongresso do PSD, em matéria programá-tica, foi a proposta de privilegiar o «social»,o apoio aos mais necessitados, e não as gran-des obras públicas. (...)

José Carlos de Vasconcelos (jornalista)Visão

SABOR A FOZ CÔA

A história das gravuras de Foz Côa e dafutura barragem do Sabor é uma lição exem-plar dos malefícios da demagogia, servidana política. Guterres tinha acabado de che-gar a primeiro-ministro e, dos disponíveis dosEstados Gerais, foi buscar para ministro daCultura Manuel Maria Carrilho (que, depoise quando a nave socialista começou a me-ter água, foi o primeiro a saltar fora e, des-mentindo a máxima de Guterres de que‘Roma não paga a traidores’, acaba por sercompensado com o melhor tacho de todo oEstado português - o de embaixador naUNESCO). Juntos à época, Guterres eCarrilho resolveram inaugurar o mandatocom uma decisão grandiosa: cancelava-sea barragem de Foz Côa, já em construção,e a benefício da preservação de uns taca-nhos rabiscos numas pedras, que alguns ‘sá-bios’ e alguns oportunistas decretaram sergravuras paleolíticas.(...)

Miguel Sousa Tavares (jornalista)Expresso 3/Julho/08

O GARROTE

O paradoxo é real e explosivo. Ao mes-mo tempo que se anuncia a investigaçãocomo uma das apostas mais centrais da le-gislatura e se define a ciência como umadas alavancas mais decisivas da inovação edo desenvolvimento de que o País necessi-ta, descobre-se que as universidades estãoà beira do sufoco, a funcionar em deprimen-tes condições terceiro-mundistas. O que,sendo grave em si, mais grave se torna dadoo contraste entre este retrato e o espírito deabastança com que se impulsionaram vári-as parcerias com universidades americanas.Tem sido dito que o orçamento de 2009 seráfinalmente o do consistente reforço do sec-tor – mas irá a tempo?

Manuel Maria CarrilhoDN 5/Julho/08

A CRISE

Portugal está em crise desde 2001. Aolongo dos últimos sete anos, a economiaportuguesa esteve a divergir em relação àmédia europeia e foi ultrapassada por vári-os países da Europa do Leste. A crise é es-trutural. É uma consequência inevitável docrescimento da despesa pública ao longo dosanos 90. Cavaco Silva e António Guterresconstruíram um sector público caro, pesadoe ineficiente. O País está agora a sofrer asconsequências.

O sector público tem de ser sustentadocom os impostos cobrados ao sector priva-do. Este facto não causaria grandes proble-mas se o sector público fosse eficiente eprodutivo. Não é. O dinheiro dos impostosdesperdiçado pelo sector público seria maisbem aproveitado se fosse reinvestido pelosector privado. Portugal precisa de um sec-tor público mais pequeno e mais produtivo ede uma carga fiscal sobre o sector privadomais baixa. (...)

João Miranda (investigador)DN 5/Julho/08

TERRAMOTO

Um terramoto está a assolar a Europa.Não é detectável nos sismógrafos conven-cionais porque tem um tempo de desenvol-vimento atípico. Não ocorre em segundosse não em anos ou talvez décadas. Consis-te na convulsão social e política que vai de-correr da destruição progressiva do chama-do modelo social europeu uma forma decapitalismo muito diferente da que dominaos EUA assente na combinação virtuosaentre elevados níveis de produtividade e ele-vados níveis de protecção social, entre umaburguesia comedidamente rica e uma clas-se média comedidamente média ou reme-diada; na eficácia de serviços públicos uni-versais; na consagração de um direito aotrabalho que, por reconhecer a vulnerabili-dade do trabalhador individual frente ao pa-trão, confere níveis de protecção de direitossuperiores aos que são típicos no Direito Civil;no acolhimento de emigrantes baseado noreconhecimento da sua contribuição para odesenvolvimento europeu, e das suas aspi-rações à plena cidadania com respeito pe-las diferenças culturais.

A destruição deste modelo é crescente-

mente comandada pelas instituições daUnião Europeia e pelas orientações daOCDE. (...)

Boaventura Sousa Santos (sociólogo)Visão

SER RETRÓGRADA

Em entrevista à TVI, entre proclamaçõesdo género “nem mais uma obra pública paraPortugal”, e “ainda não sei bem por ondevou mas sei que não vou por onde vai oGoverno vá o governo por onde for”, a novalíder do PSD assumiu não ser “suficiente-mente retrógrada para ser contra as rela-ções homossexuais”. Porém, para o casode alguém a tomar por modernaça (coisa,que, depreende-se, atentará muito contra asua particular ideia de credibilidade) Manu-ela Ferreira Leite certificou que, afinal, de-fende que estas relações devem ser discri-minadas: “Pronuncio-me, sim, sobre o ten-tar atribuir o mesmo estatuto àquilo que éuma relação de duas pessoas do mesmosexo igualmente ao estatuto de pessoas desexo diferente (...) Admito que esteja a fa-zer uma discriminação porque é uma situa-ção que não é igual. A sociedade está orga-nizada e tem determinado tipo de privilégi-os, tem determinado tipo de regalias e demedidas fiscais no sentido de promover afamília.”

Ferreira Leite é não só livre de serretrógrada e de achar bem que os ho-mossexuais sejam discriminados como émuito bem-vinda a clarificação (uma queseja) da sua posição sobre esta matéria.É até livre de achar que o casamento sóserve para procriar. Pena que não apro-veite para propor que o Código Civil develevar uma grande volta no sentido de proi-bir terminantemente o casamento a mu-lheres pós-menopausa, a homens combaixa contagem de espermatozóides e deum modo geral a todos os que não assi-nem uma declaração vinculativa da suadeterminação de se multiplicarem. Poroutro lado, ao postular que “a família tempor objectivo a procriação”, eximiu-se deexplicar por que carga de água confun-de família e casamento. Que chamaráMFL a casamentos entre pessoas de sexodiferente dos quais não resultam filhos ecomo qualifica as uniões de facto (quenuma lei de 2001 equipararam casais he-tero e homossexuais): se as pessoas quevivem em união de facto não são umafamília, serão o quê? (...)

Fernanda Câncio (jornalista)DN 4/Julho/08

MARIANO GAGO

(...) Eu dormia bem com um Governoque me deixasse ir para férias e ao país confi-antes em quem estava ao leme. Para nãofalar em ministros desaparecidos. Eu achoque o ministro Mariano Gago, metade dopaís não faz ideia se é ministro ou não. Nóstemos tudo neste Governo menos uma equi-pa forte, coesa, que nos dê confiança paraas dificuldades que aí vêm. (...)

Nuno Morais SarmentoEntrevista à Rádio Renascença

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916 A 29 DE JULHO DE 2008 OPINIÃO

ABANDONO

(...) O abandono de recém-nascidos éantigo como o mundo, existiu em todas asclasses sociais, consta de muitas das lendase contos que passaram de geração em ge-ração. Heróis da mitologia e figuras bíblicasforam mesmo despojados de qualquer ma-ternidade como se assim assumissem maisplenamente a sua grandeza: Rómulo e Remoalimentados por uma loba, Moisés deixadonuma cesta deslizando pelas águas do Niloaté às mãos compassivas da irmã do Faraó.Ao longo de séculos, gerações de mulheresabandonaram os filhos e em muitos casosesse foi, ainda, um acto de amor.

Os tempos modernos criaram a ilusão deque tais factos, agora apelidados de “fenó-menos”, eram residuais, que as causas queos provocavam iam desaparecer. Não foiassim. A Roda acabou mas foi substituídapor uma pirâmide burocrática sem coraçãoe sem rosto. As mãos que, após o toque dasineta, faziam girar a roda e acolhiam a cri-ança exposta foram substituídas por umEstado que, como se viu em Portugal, deixaimpunemente que as crianças sejam usa-das e abusadas. A condição humana é imu-tável e a sua pseudo-sofisticação parece nãoter resultado. (...)

Maria José Nogueira Pinto (jurista)DN 3/Julho/08

TRATADO DE LISBOA

Fui, como se sabe, partidário do Tratadode Lisboa. Não pela sua qualidade, que nãoé boa. É um Tratado confuso, que remetepara os tratados anteriores e que não é cla-ro nem simplificado, como queria Sarkozy.Pelo contrário, é complexo, longo e difícil decompreender.

Porque fui, então, a seu favor? Porque aUnião Europeia, depois do não francês edinamarquês ficou paralisada e sem norte.Em consequência, cresceu o eurocepticis-mo e os cidadãos europeus cada vez se dis-tanciaram mais de Bruxelas. Era preciso umnovo impulso, dar ânimo e confiança à Eu-ropa e a aprovação do Tratado de Lisboaservia para isso.

(...) A história repetiu-se. Agora com onão da Irlanda, ao referendo de ratificação,com 53,4% do «não» contra 46,6% do «sim»,sendo a taxa de participação de 53,13 porcento. Foi um balde de água fria sobre oseuropeístas dos 27 países membros da União.Alguns proclamaram imediatamente (por-ventura com júbilo interior): «O Tratado deLisboa, morreu.» Outros, como uma euro-deputada, foram mais longe (cito): «Foi umaderrota do Governo PS/Sócrates» e o re-sultado «contribui para travar um caminhomuito perigoso das grandes potências euro-peias».

Enganou-se: nem uma coisa nem outra.Não foi uma derrota para o PS/Sócrates;foi uma derrota para a União Europeia, lan-çando-a num novo imbróglio, num momen-to internacional de crise gravíssima. Imbró-glio que não aproveita a ninguém, nem so-bretudo aos que se comprazem em fazer apolítica (perigosíssima) do «quanto pior,melhor». (...)

Mário SoaresVisão

SIGNIFICATIVO

(...) Num dia destes liguei a televisão aoserão e deparei-me com o canal público, aRTP1, a falar de como fazer fois gras emcasa de um notável embaixador (que apar-teceu com um cão ao colo). Passei para aSIC e viam-se jornalistas vestidas de canto-ras do grupo Abba, com cabeleiras às co-res, cantando Waterloo. A TVI passava anovela do costume e a RTP2 a Anatomiade Grey, uma série para maiores de 26 nocanal da cultrura portuguesa. (...)

Pedro Santana LopesSol 5/Julho/08

(...) José Sócrates que se cuide, poispode deixar de ter sossego mesmo ondenão esperava. Se tudo isto não for, comonão é, um acaso, então estamos, objecti-vamente, perante o regresso de AníbalCavaco Silva ao tabuleiro do xadrez po-lítico. Com Manuela Ferreira Leite como“rainha” e “bispos” e “torres” já emmovimento. Não é nenhuma conspira-ção. É o sistema político a entrar numanova fase.

Pedro Santana LopesSol 12/Julho/08

O PREÇO DAS MISSAS

Aumentam os transportes e aumentamos preços das missas. Entre as minudênci-as materiais e a infinitude do espírito já nãohá as diferenças que implicavam um irre-dutível antagonismo. A vida quotidiana, no“socialismo moderno” de José Sócrates, estáinsuportável. Ajudava, para alguns, o encon-tro com Deus, na liturgia missal. Agora, atéesse alívio dos aflitos cobra aumento. Sabe-mos que não somos feitos para compreen-der muitas coisas, e que a política é a disci-plina das ambiguidades. No entanto, enten-demos menos o domínio do vil metal no ter-ritório do religioso. O preço das missas vaicorresponder a que tabela? A uma medidasemelhante à dos transportes colectivos? Portempo, equivalendo este à quilometragem?Em quanto vai importar uma modesta no-vena? E um piedoso rito de defuntos?

(...) Em todos os conflitos contemporâ-neos, a Igreja tem desempenhado um pa-pel relevante. Para o bem e para o mal.Muitas das suas evasivas, numerosos dosseus silêncios atingem, historicamente, osdomínios do escândalo. O papa do Hitler,Pio XII, que abençoou as Divisões Panzer,e estendeu o braço numa saudação aber-rante, não é, somente, a simbólica de umaépoca: reflecte uma intenção e assinala umaideologia.

A evidência é que a dimensão históricada cruz permitiu toda a espécie de abusos,inclusive o da superstição. As missas sãoagora mais caras. A decisão, creio que vati-cana, obedece a uma exigência dos tem-pos, que transforma os arautos e servidoresdo Reino em deploráveis mercenários.

“A glória de Deus é o pobre vivo.” A fra-se de Ireneu deixa de fazer sentido. E oaumento do custo das missas, por módicoque seja, sugere que a plenitude do amor nafé é gravemente amachucada. Pediam, oscrentes, a salvação do mundo e a purifica-

ção das pessoais almas. Para isso, oravam,na apoquentação de quem acredita que umaboa prece é sempre a derrota dos malesconcretos. Entre os quais estes, rudementeimpostos pela política de Sócrates. O am-paro, presumidamente oferecido, na gratasolidariedade de quem vive em plena co-munhão de afectos, dispõe, agora, de umatabela de preços. Deus está no mercado.

Baptista-Bastos (escritor e jornalista)DN 2/Julho/08

ZEZÉ CAMARINHA EM LIVRO

Acaba de ser publicado, com a prestigia-da chancela da D. Quixote, um texto quepoderá vir a tornar-se histórico no nossopanorama literário.

Intitula-se Zezé Camarinha, o últimomacho man português, e não tem, masdevia ter, o alto patrocínio da ILGA, por-quanto opera o pequeno milagre de fazer aapologia da homossexualidade de um modoque é comovente sem ser panfletário. Ca-marinha, é curioso notá-lo, não seria capazde panfletarismo, seja porque a sua perso-nalidade é do tipo dócil, seja porque desco-nhece o significado da palavra «panfletá-rio» – tal como de qualquer palavra commais de três sílabas, e a esmagadora maio-ria das que têm mais que uma.

O primeiro aspecto a salientar é que aobra é inclassificável. Uso aqui «inclassifi-cável» não no sentido de ser difícil de ca-talogar em algum dos géneros literários ha-bituais (conto, romance, biografia), mas simno sentido que lhe dá a frase «Eh pá, eleassaltou a velhota? Esse tipo é inclassifi-cável.» Em segundo lugar, importa referirque o próprio autor não se enquadra noperfil tradicional de «autor», na medida emque, ao contrário da maioria dos autores,Camarinha não é ainda um homo sapienssapiens, nem aparenta poder vir a sê-lo,mesmo na hipótese académica de viver atéaos 400 anos. (...)

Ricardo Araújo Pereira (humorista)Visão

ACORDO ORTOGRÁFICO

A CPLP vai reunir-se em Lisboa em 20e 21 de Julho. É possível que o Acordo Or-tográfico volte sorrateiramente a fazer par-te da agenda.

Pelo sim, pelo não, e para que não hajafalhas de cabal esclarecimento, os signatá-rios da petição manifesto em defesa dalíngua portuguesa estão a entregar nasembaixadas dos países membros da CPLPum dossier com todos os pareceres negati-vos sobre o AO, que, de resto, se encon-tram arquivados e disponíveis no seu blogueoficial

(emdefesadalinguaportuguesa.blogspot.com).A petição, que já ronda as 80 000 assina-

turas, deverá ultrapassar as 100 000 dentrode três semanas. Quando for discutida naAssembleia da República, terá muitas mais.Mas, para já, será um firme e oportuno en-quadramento da sociedade civil para a reu-nião da CPLP. (...)

Vasco Graça Moura (escritor)DN 2/Julho/08

INVEJAR OS POETAS

Pensava que uma das poucas qualida-des que tinha era a ausência de inveja. Nãoé verdade. Invejo os poetas. O que eu que-ria mesmo, o que mais queria neste mundo,o que mais desejava mas não tenho talento,era ser poeta. Até aos dezanove, vinte anos,só escrevi poemas. Descobri que erammaus, que não era capaz, que me faltava odom. Foi um achado tremendo para mim, acerteza que a minha vida perdera o sentido.E então, aflito, desesperado, a medo, come-cei a tentar outra coisa, porque não me con-cebia sem uma caneta na mão.

Nunca fiz contos, nem diários, nem tea-tro, nem ensaios e contar lérias não me inte-ressava. Interessava-me transferir o mun-do inteiro para o interior das capas de umlivro. E cheio de hesitações, recuos, influên-cias, a certeza que ainda não era aquilo, ain-da não era aquilo, dei início a este fadário.(...)

António Lobo Antunes (escritor)Visão

“O ESTADO DA NAÇÃO”

(...) Em 1975 a Assembleia aindasabia a gramática e usava com algu-ma eficiência a língua portuguesa.Hoje papagueia sem vergonha os lu-gares-comuns da propaganda partidá-ria ou perora num calão administrati-vo e “técnico”, que se destina habili-dosamente a esconder a verdade ou ovácuo. A tradição oratória, até a sala-zarista, desapareceu. Não há memó-ria de um discurso organizado e claro,que tenha tido sobre a opinião públicaum efeito profundo e duradouro. AAssembleia é um clueb privado que,de quando em quando, a televisãomostra a um país mais do que indife-rente.

O “debate” sobre o “Estado da Na-ção” da última quinta-feira exibiu in-voluntariamente o país como ele é: aindigência intelectual, a mesquinhez depropósito, a irresponsabilidade políti-ca. Daquela gente não se pode espe-rar nada.(...)

Vasco Pulido ValentePúblico 11/Julho/08

Existe uma razão pela qual ainda nãoé possível eleger uma mulher para a Pre-sidência dos Estados Unidos: a guerra.As pessoas não confiam numa mulherpara dirigir um país em guerra, e Bushfez um bom trabalho a convencer as pes-soas de que a América está em guerradesde o 11 de Setembro. Biologicamen-te, a guerra é assunto de homens, assun-to de virilidade e testosterona. A guerra,como a caça, pode ser praticada pormulheres mas não nos interessa muitomatar bichos ou pessoas. A maternidadee a guerra são incompatíveis. E as gran-des vítimas das guerras são as mulherese as crianças. (...)

Clara Ferreira AlvesÚnica (Expresso) 12/Julho/08

A GUERRA E AS MULHERES

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10 16 A 29 DE JULHO DE 2008CRÓNICA

A OUTRA FACEDO ESPELHO

José Henrique Dias*

[email protected]

LOUSÃ - Nelson Fernandes

arte em café

* Professor universitário

Nunca dispensava uma passagem, ao cair da tar-de, na enfermaria 2 do Serviço de Cirurgia. Tinhaapenas três camas. Mantinha, como de resto todoo hospital, a limpa dignidade do tempo em que foraprivado. Talvez essa a principal razão de ter senti-do os ventos da fortuna quando ali iniciei a minhaformação. Passados todos estes anos, as centenasde intervenções, a respiração liberta dos casos re-solvidos e o que fica marcado, a despeito dos es-forços, pelos insucessos, olho para o serviço quedirijo e mobilizo-me nos colegas que ajudei a for-mar ao longo destes já vinte e cinco anos.

Falava da enfermaria dois. Por causa daquele se-nhor que de algum modo me fascinou desde a pri-meira consulta. A ruralidade emergia no vocabulá-rio, mas um toque aristocratizante transparecia emcada gesto, na dignidade da apresentação, na sub-tileza da ironia no quadro da própria doença.

Viera de longe, lá muito do noroeste transmonta-no, pela mão de um familiar ligado a um colega.Quando lhe explicaram como era a colonoscopia,atropelou o medo com uns gracejos sobre trajec-tos. Quando depois ouviu “tem uma ferida má”, pri-meiro sorriu, depois ficou vagamente tenso, por fimperguntou e então?, como quem dizia, o que possoesperar de vós ou o que me espera.

Marcou-se a cirurgia para um tempo breve. Tudocorreu como era esperado. Teve de ficar colosto-mizado. Aceitou com dignidade o saco e tudo o quelhe dissemos. Quis saber dos incómodos que podiaprovocar aos outros. Ficou aparentemente tranqui-lo. O pós-operatório decorreu com normalidade.

O que me levava até à enfermaria a despropósi-to sobrevinha da vontade de viver que ele me de-volvia. Sempre empenhado em manter os outrosbem dispostos. O sorriso e a palavra certa em cadamomento. Aos oitenta e quatro anos, o senhor Quin-zinho tinha sempre uma história para todas as situ-ações. De menino Quinzinho, lá na aldeia e na casagrande, passou a senhor Quinzinho. Era assim co-nhecido sete léguas em redor do ninho paterno.Único varão da família, entre cinco irmãs, ocupoua lugar-tenência da gestão agrícola da casa. Não ialonge. Dava para os gastos e pouco mais, apesarda quinta, das courelas e das olgas, além de montese pastos. Dispensava-lhe o tempo que podia. Orde-nava trabalhos, mas parava os trabalhadores. Pa-gava para lhes contar histórias, para desespero dafamília. Toda a gente gostava de trabalhar para ele.Pudera. Erguiam as costas, bebiam e riam, tinhama jeira certa. De boas contas não havia como ele.Tudo até ao tostão.

Melhor que a gestão da casa lhe ia a espingardade dois canos e o treino da cadela Lira. Aberta aépoca de caça, voltava com o cinto recheado e ain-da dava umas peças aos pexotes. Não falhava igual-mente em artimanhas de cana e anzol ao longo doano. No Tâmega barbos e bogas, no Beça trutas deágua gelada. As trutas dos rios do planalto do Bar-roso, fritas com taliscas de presunto dentro, eramde se lhes tirar o chapéu.

Caçava nos montes, pescava nos rios e filosofavaa compasso. Só precisava de quem o ouvisse. Casoujá madurote. Na aldeia havia rapazio que lhe davaares, barrigadas de moçoilas que serviam a família,

Filosofemas…

o que não retraiu a senhora que levou ao altar.Quando falava da mulher, então já com oitenta bem

medidos, e uma cara de fazer inveja, como sublinha-va, reiterava outro brilho na íris azulada e lambia osorriso. Fora a professora da terra durante uma eter-nidade. Palmatoada de criar bicho, mas distinçõesnos exames da quarta. Tiveram filhos que queima-ram fitas no Porto e em Coimbra. Falava da mulhere deles com orgulho e brincava com a memória.

É uma grande mulher, dizia. Com oitenta e trêsanos faz a cama e…

parava para medir o efeito e acrescentava brejeiro,…ainda me ajuda a desfazê-la.O senhor Petinga, da cama do lado, com anos de

mar e lota de Cascais, desfazia-se a rir. Ouça esta,senhor doutor, ouça esta, agitava-se mal me via pas-sar a porta. Vinha historieta atrás de historieta. As-sim engoliam as tardes e as horas de sono, paraesquecerem as amarguras da situação hospitalar.

O senhor Petinga tinha sido amputado. A pernaesquerda fora quase toda, que os compromissos cir-culatórios não deixaram alternativa. Conformara-se com a diabetes e acostumara-se à prótese. Es-tava de novo, passados uns meses, por causa deuns dedos do outro pé. As coisas complicavam-seem surdina.

Ia rindo com o senhor Quinzinho, apresentava-ofestivamente a quem ia de visita e aos médicosquando passávamos a rotina das verificações, mastinha um problema metafísico.

Volta que não volta, falava da eternidade. Paraele, com maiúscula, é evidente. Eternidade. Deba-tia-se com o Juízo Final e acreditava na ressurrei-ção da carne. Não eram muitas as dificuldades.Estava tudo no catecismo, ouvira sabe-se lá quan-tas vezes nas homilias dominicais. No tempo emque fora de missas.

Com maior ou menos claro arrependimento, sen-tia-se no caminho da salvação. Se a doença foracastigo, as contas estavam saldadas com a moedada perna perdida. Mas só até onde podia ir a sua

compreensão dos mistérios da vida. As inquieta-ções eram muitas, e o senhor Quinzinho, que tiveraum tio bispo, recordava-lhe que o dedo de Deusapontava os ímpios e também os que se afastaramdo caminho da salvação. Ria, mas exorcizava osseus medos enquanto eclodiam ovos de pecadosalheios.

Não seria bem o caso do Petinga, pesassem em-bora uns negócios de saias na meia idade. Os medosque passara nas traineiras e um naufrágio em queperdera três companheiros, noite de frio e de trevasa boiar até que foi salvo, com a alma já encomenda-da a Deus, de mistura com os choros e gritos domulherio de negro na praia, redimiam todas as faltasperante os desígnios do Senhor. Eram passaportedigno para ir desta para melhor, como dizia. Porquêmelhor não sabia, ir desta é que não tinha alternati-va. Certificou-lhe o da cama do lado, quando a famí-lia o quis levar para casa.

Mas não era esse o magno problema. Um dia, abei-rou-se de mim à boca pequena e segredou-me: Ósenhor doutor, morrer já não me assusta assim tanto,que eu sei que toca a todos, até ao senhor doutorque é um santo. Mas quando for do Juízo Final, quandofor da ressurreição da carne, como é que vão en-contrar a minha perna? O senhor doutor por acasosabe para onde mandaram a minha perna?

Ainda hoje tenho a resposta atravessada na gar-ganta. Fiquei para li a tartamudear uns tantos dis-parates que de nada serviram ao senhor Petinganem à ressurreição.

Os problemas filosóficos têm a dimensão dequem os sente. Já Torga dizia, que filosofia por fi-losofia, é tão importante o problema dos universais(amplo, complexo e por resolver, pesem Boécio,Abelardo ou Ockham) como saber se chove ou nãochove no dia das colheitas.

Como diabo se vai saber da perna do senhor Pe-tinga, pensei, quando me vieram dizer que tinha mor-rido naquela noite.

“Arch Leg” (escultura de Henry Moore nos Jardins Kew, em Richmond, arredores de Londres)

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1116 A 29 DE JULHO DE 2008 FESTAS DE COIMBRA

CELEBRAÇÕES DA CIDADE E DA RAINHA SANTA ISABEL

Coimbra saiu à rua para saudar a Padroeira

Feira Popular no Choupalinho até domingoA Feira Popular de Coimbra tem vindo a alcançar

assinalável êxito, com milhares de pessoas a procu-rarem o amplo recinto do Choupalinho, na margemesquerda do Mondego, para ali passarem bons mo-mentos de diversão de forma muito acessível.

Para além de um bom programa de animação mu-sical, com grupos a actuar ao vivo, a Feira Popularestá recheada das tradicionais diversões que fazemas delícias de miúdos e graúdos.

Para além disso, proporciona também uma boa

oferta gastronómica, nomeadamente de doces tra-dicionais (como as célebres arrufadas de Coimbra),mas também as sardinhas, o frango, as febras deporco, o bacalhau, tudo assado ali mesmo na hora,à vista dos clientes, para saborosas refeições.

Por tudo isto, uma visita à Feira Popular é obri-gatória para quem ainda a não visitou - já que osque por lá passaram certamente terão desejo devoltar, aproveitando os tempos livres para agradá-veis momentos de convívio familiar, ainda por cima

de forma muito barata - o que é relevante nestaépoca de dificuldades.

E exactamente porque tristezas não pagam dívi-das, importa aproveitar esta oportunidade para esque-cer os problemas e relaxar o corpo e o espírito.

De parabéns está o Presidente da Junta de Fregue-sia de Santa Clara, José Simão, e a sua equipa, queuma vez mais conseguiram, com parcos apoios, pôr depé um certame repleto de animação.

A visitar até à noite do próximo domingo

Aspecto nocturno da Feira e imagem da inauguração, com José Simão a receber o Presidente da Câmara e o Vereador da Cultura, que saboreiam arrufadas de Coimbra

(continua na página 13)

Como é tradicional, de dois em doisanos (nos anos pares), a Rainha San-ta Isabel desce à cidade que a esco-lheu como Padroeira. A imagem vemem procissão, na quinta-feira à noite,até à Igreja da Graça, e de lá regres-sa no domingo à tarde, de volta aoConvento de Santa Clara, onde Isa-bel está sepultada.

Este ano esse hábito de devoção vol-

tou a cumprir-se, com um mar de gentea estender-se pelas ruas por onde as pro-cissões passaram.

São da procissão do passado domingoas imagens desta página e as que publi-camos na página 13 (todas da autoria deDinis Manuel Alves), que dispensam co-mentários.

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12 16 A 29 DE JULHO DE 2008PUBLICIDADE

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1316 A 29 DE JULHO DE 2008 FESTAS DE COIMBRA

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14 16 A 29 DE JULHO DE 2008CULTURA

João PauloSimões

FILATELICAMENTE Edição Comemorativa do Bicentenáriodo Desembarque de Wellington na Figueira da Foz

Um pequeno parêntesis na História doSelo Português, para falar de uma emissãocomemorativa do Desembarque das tropasinglesas no Cabedelo (Figueira da Foz).

Portugal encontrava-se invadido desdeDezembro de 1807 pelas tropas de Napo-leão. O povo estava à míngua, ameaçado eultrajado. Por onde passavam os France-ses, era só rasto de destruição, incêndios,pilhagens. Tinham o país a seu bel-prazer.Portugal passou a ser uma colónia do Bra-sil, pois a Corte mudara-se para Terras deVera Cruz ficando cinco pessoas a gover-nar o país. Junot, encarregou-se de as des-tituir e tomar ele o governo de Portugal.

A Guerra Peninsular veio pôr termo àprosperidade do século XVIII. Declinaramas receitas, uma vez que o comércio internoe externo esteve paralisado.

Aquando desta primeira invasão fran-cesa, o Reitor da Universidade de Coim-bra, Manuel Pais de Aragão Trigoso, aotomar conhecimento de que era indispen-sável a tomada do Forte de Santa Catari-na, na Foz do Mondego, à entrada da bar-ra da Figueira – depósito de material deguerra de relativa importância e ponto es-tratégico considerável para estabelecimen-to de comunicações com a esquadra britâ-

nica que se avizinhava –, encarregou Ber-nardo António Zagalo, sargento de artilha-ria e estudante da Universidade de Coim-bra, dessa patriótica missão.

Académico Zagalo, como também eraconhecido, forma em Coimbra um batalhãocom quarenta voluntários, vinte cinco dosquais estudantes, que, sob o seu comando,marcham no dia 25 de Junho de 1808 rumoà Figueira da Foz, com a missão de atacarde surpresa os franceses que ocupavam aentão vila e o Forte de Santa Catarina. Pelocaminho, populares de Tentúgal, Carapinhei-ra e outras terras do Baixo Mondego, fo-ram engrossando o batalhão. Em Monte-mor-o-Velho, o pequeno batalhão contavajá com três mil populares armados de pi-ques, foices e lanças. Ouviam-se sinos en-tre clamorosas ovações. Ao romper da al-vorada, este engrossado batalhão chega à

Figueira da Foz.Zagalo mandou atacar a vila por

duas frentes.Os soldados de Junot, que passeavam

pela vila, foram tomados de surpresa e fo-ram constituídos prisioneiros.

Cercou-se o Forte. O plano de Zagaloconsistia em fazer render os franceses pelafome, uma vez que se sabia que tinham pou-cos víveres. Dois dias depois, a 27 de Ju-nho, rendiam-se, e a bandeira francesa foisubstituída pela portuguesa.

Estão assim criadas as condições para odesembarque das tropas de Wellington noCabedelo, com um contingente de treze milhomens juntando-se no mesmo local aosportugueses, para assim pôr termo à primeirainvasão francesa, derrotando Junot na ba-talha do Vimieiro, em 17 de Agosto.

Pelo que lemos na imprensa figueirense,

o Senhor Coronel Américo Henriques deuuma verdadeira lição de História no SalãoNobre da Câmara Municipal.

A dada altura da sua “aula”, refere que“tudo, tudo o povo sofreu. E depois, durantea Revolução Liberal? O povo não acredita-va no Liberalismo, porque confundia o Li-beralismo com as Invasões Francesas! Osideais da Liberdade, Igualdade e Fraterni-dade, que lhe queriam mostrar, eram osmesmos ideais que os franceses traziam naponta das baionetas. E talvez por isso mes-mo o povo português foi tremendamente,encarniçadamente Miguelista! Esta é a ver-dade dos factos. (…)”

Bibliografia: “Aspectos da Figueira da Foz deMaurício Pinto e Raimundo Esteves, 1945; Históriade Portugal de A. H. de Oliveira Marques, 1980

As Edições MinervaCoimbra apre-sentaram recentemente dois livros depoesia de Norberto Canha – “Voo ador-mecido” e “Momento, esperanças e cer-tezas”, ambos com o subtítulo “Contasaos netos” – numa sessão que decor-reu na Secção Regional do Centro daOrdem dos Médicos, em Coimbra, comuma sala pequena para as várias deze-nas de amigos e familiares que quise-ram marcar presença.

As obras foram apresentadas por Leo-nor Riscado e Luís Canavarro e a ses-são contou também com a presença dovereador da Cultura, Mário Nunes.

Isabel de Carvalho Garcia abriu a ses-são, em nome da editora, cumprimentan-do os apresentadores e tecendo algumasconsiderações sobre o autor, enaltecen-do, nomeadamente, as suas qualidadesde humanista. “Justo, sensível, preocu-pado com o mundo que o rodeia, tentan-do encontrar soluções para os problemasda sociedade actual e da juventude emparticular, benemérito, filantropo que tantose dá com o mais simples como com omais nobre”, assim foi Norberto Canhadefinido por Isabel Garcia.

“Com rasgos de futurismo e de inte-

ACABA DE LANÇAR DOIS LIVROS DE POESIA

Norberto Canha: médico sensível e humanistaligência, vivo e perspicaz”, Isabel Gar-cia reconheceu ainda em Norberto Ca-nha “uma enorme criatividade e pro-dutividade já que tem em fase avan-çada um outro livro”.

Leonor Riscado apresentou então“Voo adormecido”, livro que conside-rou ser “fruto do labor apurado de umhumanista e, como tal, um esteta”. Osque de mais perto privam com Nor-berto Canha, afirmou, “conhecem asua grandeza de alma e a humildadeda postura”.

Em “Voo adormecido”, “o poetaconjuga, da primeira à última página, oneológico verbo Poemar, definido pelopróprio como harmonia possível entrea palavra, o pensar e o sentimento”,referiu ainda Leonor Riscado. “Tem-po e olhar, vida e morte são os binómi-os organizadores do metrónomo quecomanda os ritmos desta obra, repre-sentativa da voz acordada de um poe-ta puro, que caldeia as memórias dainfância com a simplicidade do meni-no que nasceu, cresceu e amou”.

Já Luís Canavarro considerou “Mo-mentos, esperanças e certezas” um li-vro “breve” mas que “diz muito e obri-

ga a pensar”. E a pensar naqueles as-suntos a que a nossa acomodação, ego-ísmo, conveniência e indiferença, nostenta subtrair.

Numa época em que “ouvir ou ler bomportuguês, é cada vez mais difícil”, o li-vro de Norberto Canha é exactamente ooposto: “Está escrito numa linguagemclara, sem ornatos nem subterfúgios,pode ser lido por uma criança (aliás, umacriança entendê-lo-á mais facilmente doque um adulto desalentado), sem com issoperder uma formidável erudição”.

O que não se espera, confessou LuísCanavarro, “é que os seus escritosabranjam um tão vasto leque de conhe-cimentos e de interesses, revelem umaalma sã e bem formada, traduzam umhumanismo raro e sentido e denotem umespírito plenamente jovem”. Caracterís-ticas que fazem do autor um “homemde excepção”.

No final, Maria dos Prazeres Francis-co, da Secção Regional do Centro daOrdem dos Médicos, também usou dapalavra, tendo a sessão sido enriquecidacom a actuação do grupo Fadvocal, se-guindo-se uma breve intervenção do au-tor e o encerramento por Mário Nunes.

A tarde terminou com um champa-nhe de honra e a actuação do Coroda Ordem dos Médicos dirigido porVirgílio Caseiro.

Norberto Canha

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1516 A 29 DE JULHO DE 2008 EDUCAÇÃO/ENSINO

* Professora. Dirigente do SPRC

Tendo, embora, a consciência de queo assunto de que vou falar não se reves-te, minimamente, da mesma importânciade outras questões, como, por exemplo,o Código de Trabalho, abordo-o porqueme tem incomodado e porque o conside-ro relevante, ainda que a outra escala.Trata-se da pouca consideração ou, mes-mo, do desprezo com que são tratadosos professores, em geral, e o exercícioda docência na área da Língua Portu-guesa, em particular.

Esta desconsideração é verificável avários níveis. Se é verdade que conside-ro revoltante o facto de não haver qual-quer critério realista ou interessante, paraas aprendizagens dos alunos, com a cri-ação de duas novas categorias e com adecisão de quem é que ocupa que luga-res em cada uma dessas categorias,muito mais o é a situação de desempre-go ou de emprego nas caixas dos hiper-mercados, nas lojas de roupa ou noutrasactividades. Estas, que nada têm de de-sonroso, não respondem, minimamente,

Valorizar o ensinodo Português

Emília Sá *

OPINIÃO

à preparação e aos anseios dos jovenslicenciados, sobretudo na área das lín-guas estrangeiras e portuguesa que so-nharam vir a ser professores, que fize-ram estágio profissional para o serem,que trabalharam imenso para o concluí-rem com êxito, e que estão, assim, suba-proveitados e, como é de esperar, defrau-dados nas suas naturais expectativas.

Tudo isto acontece neste desgoverna-do país no qual a iliteracia é confrange-dora, no qual uma cada vez maior cama-da da população, desde os portuguesespertencentes às camadas sociais maisdesfavorecidas (que não tiveram as mes-mas garantias de acesso a uma educa-ção correcta e completa) até aos políti-cos, passando por jornalistas..., tudo as-sassina a nossa língua. É o “tu disses-tes”, é o “tu fizestes”, é o “há-des”, é o“houveram muitas negativas”, é o “ficouaponte na acta”, são os sujeitos separa-dos dos predicados por vírgulas, são osfilmes ingleses, para além de mal legen-

dados, com erros crassos de ortografia…enfim, é o nunca acabar de disparates ede incorrecções que, confesso, me põem,pelo menos, mal disposta.

Além disto, deve saber-se que grandeparte do insucesso escolar se deve aofacto de os alunos não perceberem o quelêem, nomeadamente, não perceberemo que lhes é pedido, nos testes de avalia-ção ou nos exames, ou o que estudam,isto é, o que tentam estudar, já que nãose consegue estudar o que não se per-cebe e, por isso, decoram.

Perante tudo isto, retomo o que afir-mei, no início do meu texto, manifestan-do o desejo de que se reconheça a im-portância do ensino do Português e dosnossos Professores, sem que, com isto,esteja a sobrevalorizar esta área do co-nhecimento, porque muito há a fazer,aproveitando as potencialidades de quemse formou para formar bons e correctosutilizadores da língua portuguesa.

O Sindicato dos Professores da Re-gião Centro (SPRC) questionou ontem(terça-feira) o destino dos 17,5 milhõesde euros que as autarquias recebem paraactividades de enriquecimento curricu-lar ans escolas da região, considerandoque os docentes são mal pagos. As au-tarquias queixam-se de que aquela ver-ba é insuficiente.

Numa conferência de imprensa ontem,em Coimbra, o SPRC contestou o actualmodelo de “escola a tempo inteiro”, emque a maioria dos professores trabalhacomo “mão-de-obra barata e em condi-ções de extrema precariedade”, a reci-bo verde, nalguns casos a ganhar umamédia de 190 euros mensais.

De acordo com dois estudos realiza-dos pelo SPRC sobre as Actividades deEnrequecimento Curricular (AEC) noúltimo ano lectivo nos seis distritos daRegião Centro, ao qual responderamcerca de 90 por cento das autarquias, oEstado transferiu para essas câmaras ummontante global superior a 17,5 milhõesde euros.

“Para onde é canalizado este dinhei-ro, se os horários dos professores sãoreduzidos, os pagamentos são baixos, osmateriais para as actividades são insufi-cientes ou inexistentes?”, questionouHelena Arcanjo, coordenadora do De-partamento do 1º Ciclo do SPRC.

Confrontado pela Agência Lusa, An-tónio José Ganhão, da Associação Naci-onal de Municípios (ANMP) contra-ar-gumenta que, “na generalidade, as au-tarquias têm défice com as AEC”.

“Esta não é uma actividade lucrativa

SPRC questiona destino de verbasque autarquias consideram insuficientes

para as autarquias, longe disso”, decla-rou, referindo que o que as câmarasmunicipais recebem do Estado “é insufi-ciente para o serviço que prestam”.

O dirigente da ANMP sustenta que asautarquias com escolas a funcionar emregime de desdobramento de horário têminclusive de “alugar instalações (para asAEC) e suportam-nas à custa do seuorçamento”.

Segundo o estudo, que abrangeu cer-ca de três mil profissionais, a disparida-de do valor/hora pago pelas AEC verifi-ca-se não só entre distritos mas mesmoentre escolas do mesmo distrito.

Leiria e Guarda são os distritos ondefoi pago um valor/hora mais baixo aosprofessores (7,19 euros), mas foi tam-bém na Guarda que se verificou o valormais alto (17 euros).

António José Ganhão confirma que,no país, houve autarquias a pagar 7 eu-ros e outras 20 euros à hora, o que levoua ANMP a colocar o problema à minis-tra da Educação.

Para o próximo ano lectivo, no despa-cho das AEC há já uma estabilidade doíndice remuneratório ao pessoal docentecom habilitação própria que “acabarácom a disparidade” dos valores pagos,afirmou.

O financiamento que as autarquiasrecebem por cada aluno será aumenta-do em 12,5 euros, totalizando 262,5 eu-ros, o que, na opinião do dirigente daANMP continua a ser “claramente insu-ficiente”.

O SPRC exige que as AEC sejamdadas no horário escolar curricular, até

às 15:30, e que a partir dessa hora e atéàs 19:00/19:30 sejam criadas actividadesde carácter lúdico, para que as criançaspassem a ter tempo para brincar.

“Estes alunos, dos seis aos dez anos,são os do sistema educativo portuguêscom mais horas de escola - 35 semanais-, é um crime cometido pelo Ministérioda Educação e muitos encarregados deeducação estão adormecidos”, conside-rou Luís Lobo, dirigente do SPRC.

Contactado pela Lusa, o director dogabinete de Educação da Câmara deCoimbra, Oliveira Alves, admite que“muitos pais e professores se queixamde que o actual modelo de AEC é muitoformatado e retira tempo às criançaspara brincar”.

“A escola a tempo inteiro está a serpaga, em boa parte, pelas autarquias enão pelo Estado”, declarou, referindo quea autarquia pagou 15 euros à hora aosprofessores das AEC.

Um dos traços mais negativos do fun-cionamento das AEC na Região Centro,segundo um dos estudos, é a “flexibilida-de do horário escolar”, com 92,2 por cen-to das escolas a funcionar em regimenormal, 7,8 por cento em regime de ho-rário duplo (manhã/tarde), e 78,8 porcento com AEC das 15:30 às 17:30.

Cerca de 90 por cento dos professo-res que asseguram as AEC trabalharama recibos verdes, 64,3 por cento ganhamenos de 500 euros mensais, e cerca de50 por cento trabalha em média apenascinco horas por semana.

Os estudos ontem divulgados estarãodisponíveis na página online do SPRC.

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16 16 A 29 DE JULHO DE 2008SAÚDE

MassanoCardoso

As formigas são consideradas como umexemplo de harmonia social em que o bemda comunidade está acima dos interessesindividuais. Têm um elaborado sistema deorganização com rainha e tudo. Pensava-se que a rainha deste sistema surgia porcriação. Ou seja, algumas larvas receberi-am determinados alimentos para esse efeito

e todas poderiam ter essa oportunidade.Um verdadeiro sistema monárquico-demo-crático. Agora, um artigo muito interessantedemonstra que não é bem assim. Afinal,as formigas são “traiçoeiras, egoístas e cor-ruptas”. Tudo porque o estudo revelou quealgumas larvas têm mais probabilidades de

“Formiguinhas traiçoeiras, egoístase corruptas”...

se tornarem rainhas, já que transportam umou mais genes da “realeza” o que lhes dáuma vantagem face às suas “irmãs” altru-ístas. E tomam as adequadas medidas paraevitarem ser detectadas, caso contrário apresença de um excesso de formigas coma mesma linhagem genética seria conside-rada hostil ao ponto de as restantes toma-rem medidas contra elas. Claro que os res-pectivos machos “reais” encarregam-se depropagar os “filhotes” por mais colónias,escapando à vigilância dos restantes.

Se esta tese estiver correcta, os cientis-tas poderão provar que os ditos insectossociais, considerados paradigmas de igual-dade, cooperação e harmonia, afinal tam-bém “cultivam” o fenómeno corrupção.

Corrupção “real”!As sociedades humanas foram constru-

ídas e são dominadas por muitos interes-ses, sendo a corrupção um fenómeno mui-to comum. Tão comum que nem Hadley-burg conseguiu escapar. “O homem quecorrompeu Hadleyburg”, de Mark Twain,ilustra bem o poder e a força da corrup-ção. Numa cidade, considerada a mais ín-tegra e a mais honesta do mundo, a “incor-ruptível”, um forasteiro, que por lá passou,foi ofendido, provavelmente sem qualquerintenção por parte dos cidadãos. De qual-quer modo, arquitectou uma estrangeirinhatal que acabou por desmascarar a arro-gância da pressuposta incorruptibilidade dosseus cidadãos e até do mais honesto detodos que acabou por morrer tresloucado.

Mark Twain Hadleyburg mudou de nome e “é denovo uma cidade honesta e terá de le-vantar cedo o homem que, de novo, aapanhe a dormir”

Entre nós, tem sido ventilado, por mui-tas individualidades, que esta praga estáa atingir níveis muito preocupantes, pon-do em causa a harmonia e o bem-estarda grande maioria de cidadãos honestose cumpridores das suas obrigações. Os“pais” da corrupção sabem “semear” osseus “genes”. A forma como o fazem,despudoradamente, não passaria pelosfiltros das formigas “altruístas”, porquese estas os detectassem decerto que oseliminariam.

Afinal, o fenómeno é geral. Nem as sim-páticas e ordeiras formigas escapam...

NOVO LIVRO DE MASSANO CARDOSO“Conversas de doenças” é o título do

novo livro da autoria de Salvador Mas-sano Cardoso (Professor da Faculdadede Medicina da Universidade de Coim-bra e nosso ilustre Colaborador).

Trata-se do 5.º volume da colecção“Crónicas Paraepidemiológicas”, onde sereúnem algumas das crónicas que Sal-vador Massano Cardoso tem publicadoem diversos órgãos de comunicação so-cial e também no blog 4R - Quarta Re-pública

(http://quartarepublica.blogspot.com)de que é um dos colaboradores (e quebem merece uma visita regular, pelo in-teresse dos textos que insere.

Esta obra, tal como as restantes 4 dareferida colecção, é editada pelo Institu-to de Higiene e Medicina Social da Fa-culdade de Medicina da Universidade deCoimbra, de que Massano Cardoso é o

principal responsável.Um livro onde são tratados temas de

grande actualidade de forma muito inte-ressante e acessível.

Cuidados primários em debateA ministra da Saúde propôs sexta-fei-

ra, em San Salvador, que a XI Confe-rência Ibero-Americana de Ministros daSaúde, que se realiza em 2009 em Lis-boa, aborde o papel dos cuidados de saú-de primários na concretização dos ob-jectivos do milénio.

“Propus o tema, que foi debatido eaceite de forma consensual”, afirmouAna Jorge à agência Lusa, à margem daX Conferência Ibero-Americana de Mi-nistros da Saúde que decorreu na capitalde El Salvador.

Ainda segundo a governante, o temaa abordar em Lisboa na próxima edi-ção da conferência terá um aprofun-damento na área da informática e no-vas tecnologias, “nomeadamente noque diz respeito à telemedicina, às re-des de referenciação e à organização

dos cuidados de saúde”.Dada a presença dos seus homólogos

de uma vintena de países, Ana Jorge teráprocurado, ao longo do primeiro dia doencontro, sondar a possibilidade de rea-lização de parcerias.

“Há, da nossa parte, um interesse aonível dos recursos humanos, uma vez quetemos carência de médicos”, reconhe-ceu a ministra, adiantando ter iniciado “al-guns contactos, ainda incipientes” compaíses como o Chile e a Argentina.

Em ‘troca’ dos médicos, a Argentina,com carências no sector da enfermagem,podia “acolher jovens enfermeiros portu-gueses que estivessem disponíveis paratrabalhar no país”, sugeriu a governante.

Como exemplo de uma parceria já emcurso, Ana Jorge referiu à Lusa o inter-câmbio estabelecido com o Uruguai.

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1716 A 29 DE JULHO DE 2008 SAÚDE

Ascende a cerca de 17 mil o númerode bebés que Agostinho Almeida San-tos, especialista em genética, conseguiufazer nascer em casais com problemasde esterilidade.

A revelação deste número muito signi-ficativo foi feita anteontem numa sessãodo Rotary Club de Coimbra/Olivais, ondeeste professor catedrático da Faculdadede Medicina de Coimbra proferiu umapalestra intitulada “O início da vida”.

Na apresentação do palestrante feitapor um dos elementos daquele clube ro-tário (de que Agostinho Almeida Santostambém é membro), foi revelado esse nú-mero muito expressivo de crianças nas-cidas depois da intervenção médica deAgostinho Almeida Santos junto de mi-lhares de casais inférteis que, vindos detodos os pontos do País e até do estran-geiro, o têm procurado ao longo dos mui-tos anos de exercício da actividade deespecialista em genética e obstetrícia,que actualmente ainda prossegue.

No decorrer da palestra, AgostinhoAlmeida Santos aludiu ao grave proble-ma que constitui a quebra do índice denatalidade da população portuguesa, sus-tentando que não será com os 300 eurosde “prémio” por cada filho que se con-segue inverter essa tendência.

Defendeu que uma medida que certa-

Agostinho Almeida Santos ajudou a nascer

17 mil bebésde casais com problemas de esterilidade

mente teria efeitos muito positivos seria ade apoiar cerca de 400 mil casais que es-timou exisitirem actualmente em Portugalcom problemas de esterilidade e que de-sejam ter filhos, muitos dos quais poderi-am ver esse seu sonho concretizado seexistissem mais aajudas por parte do Es-tado para uma eficaz resposta médica.

Ainda em relação à crescente percen-tagem dos problemas de infertilidade nonosso País, Agostinho almeida Santosreferiu que está cientificamente prova-do que para isso concorrem diversos fac-tores, entre os quais o uso dos pesticidase as dioxinas geradas pela poluição at-mosférica.

Agostinho Almeida Santos mostrou-semuito crítico relativamente ao aborto eao facilitismo com que ele está a ser pra-ticado no nosso País. Salientou, a propó-sito, que os três dias que a legislaçãoestabelece para reflexão das mulheresque querem abortar normalmente não têmefeitos práticos, porque raramente elassão devidamente esclarecidas sobre astransformações do feto logo após a fe-cundação. Asim, no decorrer da sua pa-lestra foi mostrando imagens de ecogra-fias feitasem vários estádios da evolu-ção do feto, salientando que quanto maisas técnicas de imagiologia evoluem, maisse comprova como logo nas primeirassemanas existe um ser vivo com identi-dade própria e que deve ser preservado.

A Presidente do Rotary Club de Co-imbra/Olivais, Maria Helena Goulão(também ela médica e professora daFaculdade de Medicina de Coimbra) sa-lientou, no final, que a palestra ali apre-sentada por Agostinho Almeida Santos,por ser tão acessível e elucidativa, deve-ria ser levada às escolas de todo o Paíse trasmitida pelos meios de comunica-ção social, pois seria uma forma de de-monstrar o verdadeiro princípio da vidae levar a que ela fosse respeitada porquem hoje o não faz, na maior parte dasvezes, por ignorância.

Agostinho Almeida Santos quando proferia a palestra “O início da Vida” emsessão do Rotary Clube de Coimbra / Olivais

A prestação de cuidados de cardi-ologia pediátrica em locais remotosatravés de telemedicina recebeu on-tem (terça-feira) o primeiro prémiodas Boas Práticas em Saúde, instituí-do pela Direcção-Geral da Saúde.

Esta segunda edição dos galardões,organizada pela Associação Portugue-sa para o Desenvolvimento Hospita-lar, também distinguiu um projecto decodificação de medicamentos nos hos-pitais públicos e um outro de rastreiovisual pediátrico.

Entregue na presença da ministrada Saúde, Ana Jorge, o primeiro pré-mio distinguiu o projecto do CentroHospitalar de Coimbra/AdministraçãoRegional de Saúde do Centro, que visaprestar cuidados diferenciados de car-diologia pediátrica.

A iniciativa pretende facilitar oacesso a consultas, assim como umaorientação em tempo real de situaçõesde urgência e reduzir custos de des-

TELEMEDICINA

Cardiologia Pediátrica de Coimbradistinguida com 1.º Prémio das Boas Práticas

locação e absentismo laboral associa-dos a uma consulta presencial.

A redução da morbilidade e da mor-talidade pelo diagnóstico e interven-ção precoces e consultas de cardiolo-gia fetal por telemedicina são outrosdos objectivos.

Todos os hospitais distritais incluí-dos na rede, que funciona com bandalarga, foram equipados com electro-cardiógrafos e ecocardiógrafos.

O segundo prémio distinguiu o desen-volvimento e implementação de umaCodificação Uniforme de Medicamen-tos ao Nível Hospitalar, da iniciativa doInfarmed e Administração Regional deSaúde de Lisboa e Vale do Tejo.

O projecto permitiu uniformizar acodificação, quando antes havia gran-de diversidade e um elevado grau deintervenção humana, que “era uma

fonte potencial de erros”, assim comolimitações na agregação de informa-ção, o que dificultava as análises decompras e consumos.

O novo sistema permite monitori-zar consumos por hospital, por áreaterapêutica e por área de prestaçãode cuidados.

A informação recolhida “permitefundamentar o processo de tomada dedecisões a vários níveis com vista auma gestão mais racional do medica-mento”, lê-se no resumo dos prémiosentregues.

Eduardo Castela é o principalresponsável pelo êxito da telemedicinaem Cardiologia Pediátrica

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18 16 A 29 DE JULHO DE 2008A PÁGINA DO MÁ[email protected]

Mário Martins

Orgulho de pai

APROXIMANDO-SE o final do 2.ºmandato como presidente dos Estudan-tes Democratas Europeus (EDS), a mi-nha filha encontra-se esta semana em“visita de estudo” a Israel, a convite deresponsáveis israelitas.

Daqui a menos de 15 dias, será subs-tituída no cargo, durante a AssembleiaAnual do organismo, em Malta, não sesabendo quem lhe sucederá, já que exis-tem três candidatos.

Há pouco mais de uma semana, este-ve em Paris, onde foi recebida no Palá-cio do Eliseu. É desta cerimónia a foto-grafia que hoje recebi e aqui publico.

FOI A PRIMEIRA vez que um por-tuguês (no caso, uma portuguesa) as-sumiu a liderança dos EDS, organismoque representa cerca de meio milhãode estudantes de toda a Europa, doAtlântico aos Urais.

Anteriormente, tinha sido vice-pre-sidente durante três mandatos, o quesignifica que foi eleita pela primeira vezcom 20 anos, facto inédito na históriados EDS.

APESAR DA DUPLA periferia quea afecta (é de Portugal... e de Coimbra),e do esforço acrescido que esta desigual-dade acarreta (basta pensar no desgas-te das viagens), a Ana tem desempenha-do o cargo com grande responsabilidadee invulgar dedicação, facto que lhe va-leu a reeleição no ano passado, face aum candidato austríaco.

Os “dias da presidente” começamsempre antes das 7h00 (no outro extre-mo da Europa já são quase 10h00...) eterminam muito tarde.

As deslocações à sede do organis-mo, em Bruxelas, são frequentes. Háque assegurar o funcionamento da es-trutura, tratar de aspectos burocráticos,apresentar candidaturas, acompanhara “vida financeira” e a edição de pu-blicações, assinar documentos, organi-zar encontros e sessões de estudo, pro-gramar deslocações, avaliar iniciativas,participar nas reuniões plenárias doPartido Popular Europeu, elaborar re-latórios e orçamentos.

Mesmo agora, quando sabe que nãopode ser reeleita por determinação es-

IIa a entrar no estabelecimento quan-

do vi o cartaz, enorme, a anunciar umserviço “HASSTA” finais do ano.

Dei meia-volta.Com tal qualidade linguística à por-

ta, não senti confiança para adquirir

Manias de consumidorqualquer produto.

IIMais à frente, sempre no mesmo mo-

derno centro comercial, parei defrontede uma montra.

Gostei daquele casaco.

Ia para entrar quando reparo num avi-so, pequenino, no canto: «Todos os arti-gos da montra estão reservados».

Virei costas.Quem me garante que os artigos exis-

tentes no interior da loja não estão tam-bém reservados?

(Conclusão: Se mais pessoas as-sumirem estas atitudes, os comer-ciantes ver-se-ão obrigados a mu-dar de atitude/estratégia. Em nomeda qualidade. E da dignidade dosconsumidores!)

(publicado em 10 de Julho)

tatutária, não deixa de cumprir os seuscompromissos com rigor, facto nãomuito vulgar num jovem da sua idade,pelo que me tem sido dado perceberem variadas ocasiões.

CHEGOU o “tempo das despedidas”.Há cerca de dois meses, em Bruxelas,falou no plenário do PPE, tendo ouvidoreferências elogiosas ao seu trabalho porparte do respectivo secretário-geral.

No mês passado foi editado o últi-mo número sob a sua responsabilida-de da revista dos EDS, que coordenadesde 2003.

Neste momento, prepara a publica-ção do “Relatório Anual 2007-2008”e a transição de poderes para o novopresidente, porque é assim que deveser e porque ela sabe as dificuldadesque teve (e os problemas que encon-trou) quando assumiu o cargo.

AOS 25 ANOS, a Ana completou hádois anos a licenciatura em Direito naUniversidade de Coimbra com eleva-da classificação (15 valores) depois deter estado um ano a estudar em Siena(Itália), faz parte das Mondeguinas edo Orfeon Académico da Universida-de de Coimbra, foi dirigente da Asso-ciação Académica de Coimbra e hávários anos que integra a direcção na-cional da JSD, onde desempenhou di-versas funções e actualmente é res-ponsável pelas Relações Internacionais.Nas últimas eleições partidárias foi amandária distrital para a Juventude dePedro Passos Coelho.

É MINHA FILHA e, por isso, olhopara ela de maneira diferente. É ine-vitável.

Mas isso não me obriga a ser hipó-crita ou falsamente modesto.

Independentemente das opções po-líticas que tem tomado, considero-a umexemplo para os jovens – exemplo departicipação cívica, exemplo de res-ponsabilidade, exemplo de conciliaçãoentre as tarefas escolares e os inte-resses sociais.

O exemplo da Ana ainda se tornamais valioso num tempo em que, na nos-sa sociedade, é comum ver valorizadaa mediocridade arrogante e atrevida,que na maior dos casos só vai(sobre)vivendo à custa dos apelidospaternos ou maternos.

NÃO É, obviamente, o caso da Ana.Ela tem, por isso, motivos para se sen-

tir feliz com o que vai realizando.E nós, a família, felizes por (e com)

ela. Mais: orgulhosos.

(publicado em 7 de Julho)

Instantâneo da recepção ao “Bureau” do EDS pelo Presidente francês no Palácio do Eliseu, no princípio deste mês

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1916 A 29 DE JULHO DE 2008 MÚSICA

Distorções

José Miguel [email protected]

Na quinta feira passada fui à se-gunda edição do Optimus Alive sobre-tudo pelos cabeças de cartaz, os RageAgainst The Machine, que só por siarrastaram a grande maioria dos es-pectadores que ali se deslocaram. Porcausa do trânsito não cheguei a tem-po de ver os nova-iorquinos MGMTno Palco Metro. Mas enquanto nãocomeçava a actuação da banda deZack de La Rocha, fui-me entretendocom as restantes actuações do palcoOptimus, nomeadamente dos The Na-tional e dos suecos The Hives, queme impressionaram bastante, sobre-tudo porque além de terem uma mãocheia de temas de que eu gosto –como “Walk Idiot Walk”, “Two-TimingTouch and Broken Bones” ou “HateTo Say I Told You So” – mostram tam-bém uma excelente atitude em palco,que nada deixava antever, sobretudoporque actuam de fato e de gravata.

Mas, para o fim, estava reservadoo mote da minha ida a Optimus Alive,naquela que era mais uma das bandasque ouvia por alturas do liceu, os RageAgainst The Machine, que regres-saram após um interregno de nove

Um concerto pela Orquestra Alemã deNRW a interpretar temas lusos, tendocomo solista o guitarrista João Torre doVale, é um dos destaques dos segundosEncontros Internacionais da Guitarra Por-tuguesa, a decorrer em Coimbra de 11 a19 de Outubro.

A iniciativa, apresentada pela Orques-tra Clássica do Centro (OCC), resulta deuma parceria com a Caixa Geral de De-pósitos e pretende valorizar um instrumen-to que faz parte da cultura portuguesa eda cidade de Coimbra e conceder-lhenova dimensão, nomeadamente enquan-to solista de orquestra.

A guitarra portuguesa é provavelmenteo instrumento musical que melhor se identi-fica com as raízes culturais da música por-tuguesa, pelo que a sua valorização e utili-zação por grupos internacionais, como é ocaso da orquestra alemã presente no even-to, é uma forma de “exportar a cultura e asobras dos compositores portugueses”, refe-riu à agência Lusa Emília Cabral Martins,presidente da associação da OCC.

“Tem sido nossa preocupação a interna-cionalização da música portuguesa, e em

DE 11 A 19 DE OUTUBRO EM COIMBRA

Encontros Internacionais da Guitarra Portuguesaparticular deste instrumento musical que tan-to se identifica com as nossas raízes cultu-rais. Além disso, entendemos que no pano-rama internacional este instrumento pode seruma verdadeira embaixatriz portuguesa dagenuína personalidade etnomusicológica re-gional”, refere a responsável numa nota dedivulgação do evento.

Emília Cabral Martins diz ser intenção daOCC encomendar novas composições paraguitarra e orquestra que possam divulgarnovos compositores e enriquecer futurosencontros internacionais dedicados ao ins-trumento musical.

A aposta passa, assim, pela internacio-nalização e promoção da guitarra portugue-sa enquanto instrumento solístico individuale de orquestra, pela criação de novos públi-cos e estímulo ao surgimento de novos exe-cutantes, e pela divulgação de um novo re-portório para o enriquecimento do patrimó-nio bibliográfico musical.

Além do concerto da Orquestra Alemãde NRW, na noite do primeiro dia dos en-contros, a 11 de Outubro, o programa incluiconferências, uma exposição de modelos deguitarra portuguesa e recitais de guitarra.

O programa inicia-se a 11 de Outubrocom uma conferência intitulada “A guitarraportuguesa numa perspectiva interpretativa,solística e estilística”, a que se segue umconcerto por Bruno Costa (guitarra portu-guesa) e Paulo Figueiredo (piano), encer-rando-se o dia com a actuação da orques-tra sinfónica alemã.

A 12 realiza-se um concerto com Jorge

Tuna e Octávio Sérgio, à guitarra de Coim-bra, e Renato Parreira e Fernando Alvim, àguitarra de Lisboa.

A “Noite da Guitarra de Coimbra Ama-dora” tem lugar no dia 17, com a actuaçãode Fernando Marques, Henrique Fraga,Manuel Coroa e Miguel Drago, e uma apre-sentação do especialista Jorge Cravo, queestabelecerá as diferenças entre a guitarrade Coimbra e a guitarra de Lisboa.

A 18, além da exposição de modelos deguitarra portuguesa e de um workshop deconstrução de guitarras, realiza-se o recital“A Guitarra e o Canto”, com interpretaçãode temas de José Afonso, Hilário, CarlosParedes, Antero da Veiga e Edmundo Bet-tencourt, entre outros.

A 19 de Outubro, último dia dos segun-dos Encontros Internacionais da GuitarraPortuguesa, e antecedendo o concerto deencerramento pela Orquestra Clássica doCentro, haverá uma conferência sobre oinstrumento pelo docente universitário RuiVieira Nery.

Os primeiros Encontros Internacionais daGuitarra Portuguesa realizaram-se em 2007em Coimbra, de 19 e 21 de Outubro.

anos – que a banda (excluindo Zackde La Rocha) aproveitou para se ali-ar ao ex-vocalista dos Soundgarden,Chris Cornell, formando os Audios-lave, do qual saíram dois trabalhos deoriginais, “Out of Exile” e “Revelati-ons”, e ainda sobrou tempo para oguitarrista Tom Morello se aventurara solo, num projecto denominado TheNightwatchman. Apesar de só no anopassado terem regressado às actua-ções ao vivo no Festival de Coachellanos Estados Unidos da América, abanda continua a exibir-se a grandenível, num alinhamento que reuniu osmaiores êxitos da sua carreira, nome-adamente: “Bombtrack”, “Freedom”,“Bulls On Parade”, “Sleep Now InThe Fire”, “Guerilla Radio” e o inevi-tável “Killing In The Name”. Após oconcerto, uma questão paira no ar:

PARA SABER MAIS:

Audioslave “Out Of Exile” (InterscopeRecords)Audioslave “Revelations” (InterscopeRecords)The Nightwatchman “One Man Revo-lution” (Sony Bmg)

www.whoismgmt.comwww.americanmary.comwww.hives.nuwww.audioslave.comwww.nightwatchman.comwww.ratm.com

The Hives

Rage Against The Machine

Rage Against The Machine

será esta digressão, apenas um des-pedida dos fãs ou o mote para maisum trabalho de originais ? Oxalá sejaa segunda opção.

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20 16 A 29 DE JULHO DE 2008OPINIÃO

A MINHA ESTANTE

Maria Pinto*[email protected]

* Docente do ensino superior

Foi tão bom rever-te, Iara!...

Soprava um vento frio naquela manhãde Janeiro. Aproximei-me da casa depraia. Sem saber porquê. Pensara emlugares outros, mas acabei por me dei-xar conduzir àquele local.

Antes de subir e arrumar a bagagem,um olhar de relance para o horizonte. Odesejo de ficar ali, na praia. Algumaspessoas caminhavam. As ondas reben-tavam sem parar na areia. Nuvens pe-sadas desciam pausadamente e adensa-vam o ambiente. Uma atmosfera mag-nificente de filme a preto e branco.

Encaminhei-me, com lentidão, em di-recção ao mar. Ninguém sabia do meuparadeiro, pois aquela pequena viagemera algo que não queria, de todo, parti-lhar. Um raro momento em que poderiaestar a sós... esquecida de ser.

Um quotidiano em constante movi-mento, mas em que cada dia parecia re-produzir o anterior, com os mesmos rit-mos, as mesmas pressões.

Ali, na praia, voltava a controlar o meudestino, como se estivesse prestes a co-meçar a viver. Imitando a natureza emestado de gestação. “Começar denovo... e contar comigo...”. Era a can-ção que ia entoando.

Qualquer coisa naquele mar revoltome fazia repousar. Apetecia partir debarco, deixando tudo para trás e fazen-do do mar o meu leito de viagem.

Foi nesse instante que surgiste, Iara.A respiração ofegante da caminhada. Ocabelo revolto de mar. O olhar podero-so, de força da natureza. Bonita. Comosempre te conhecera. Daquela belezaque parece explicar o amor.

Não nos víamos há longos meses.Desde o dia do meu aniversário. Soube-ra apenas do teu adeus a Alessandro, queregressara definitivamente a África.

Gostei tanto de te rever, Iara! Dosmomentos de amizade que acabámos porreviver, dos desabafos que conseguistepartilhar. O teu desnorte por não sabe-res se alguma vez irias amar alguém comoamaras Alessandro. O recordar do mo-mento em que o conheceste, do que vosimpeliu um para o outro, do quando tudocomeçou a mudar.

Angolano de origem, Alessandro, qui-sera em Portugal melhorar os seus sa-beres, mas o seu sonho foi sempre o deregressar e ajudar a desenvolver o seupaís. E esse sonho não era o teu, Iara.Querias lembrar Angola e a tua Áfricaao ensinares o ritmo quente do Kizom-ba; as Mornas, as Coladeras e o Fu-nána...

“We’ll always have Paris...”

Quando poderias regressar ao rostode Alessandro? Quando voltaria a serpossível abraçá-lo? Quando te aninhari-as de novo em seu peito, dizendo venhoprocurar lugar em ti..Como poderiamdeixar crescer o vosso amor, assim, àdistância?

Foram tantas as tuas questões, Iara!Tantas as ansiedades! Lembro-me de terdito que nada do que vale a pena é fácil.Que “para estar junto não é precisoestar perto e sim do lado de dentro...”– recordei-te Leonardo da Vinci.

O teu estado de desespero atenuou-se apenas quando me lembraste que erao dia do teu aniversário. Convidaste-mea ficar para a noite. Era apenas umapequena comemoração entre amigosnaquele bar exótico junto à praia. O mes-mo local onde tu e Alessandro haviamdeslumbrado um dia em ritmo de Mor-na. Sorriste de forma angustiada quan-do te falei dos teus dotes dedançarina.”Tranquila-ti, mulhé, euinda venho ti buscá”. Fora a derradei-ra frase de Alessandro.

Lembraste-me o último Agosto, quan-do gracejei com o pianista do bar, Sa-muel, e lhe disse “Play it, Sam! Play As

Time goes By!”...Nesse momento alguém me dissera:

gostaria de dançar consigo um bole-ro não importa onde...

Depois de arrumar a pequena malaque levara, estirei-me no sofá em tonsde preto e branco. Revi a nossa conver-sa, Iara. Lembrei os motivos que me ti-nham levado àquela praia. Revisitei astuas últimas palavras que me transpor-taram, em pensamento, para a minhaestante. Ali estava, na prateleira ondeguardo os filmes da minha vida. Casa-blanca. Alguém mo oferecera depois dobolero.

“You must remember thisA kiss is just a kissA sigh is just a sigh…

And when two lovers wooThey still say ‘I love you’On that you can relyNo matter what the future bringsAs time goes by…”

Casablanca tem um sabor universale eterno. Por isso, tem tocado de uma

forma natural e abrangente a minha cor-da sensível. Esse fascínio especial, essairresistível atracção tem por base a his-tória de um amor verdadeiro e incondici-onal. Casablanca é no seu cerne umabela e impossível história de amor, comum complexo triângulo amoroso e o con-sequente “suspense” sobre o seu impre-visível desfecho. A sua acção decorresob um pano de fundo trágico de guerramundial (o avanço do nazismo) e numlocal exótico e turbulento: o norte deÁfrica. Apesar de alguma “naiveté” quese entrevê em certas cenas de estúdio, ojogo magnífico de luz e de sombra e oambiente “noir” de preto e branco finaldão ao filme um sedutor ar de mistério eum encanto clássico, entre a bruma e ofumo. Especialmente visível na intensi-dade e emoção dos olhares. Depois, aausteridade, a elegância e, porque não, oagora politicamente incorrecto cigarro deBogart, numa personagem aparentemen-te fria e cínica que esconde um coraçãopartido de ouro, casam bem com a bele-za sublime, contida, hesitante, quase ce-lestial de Ingrid Bergman. O que pertur-ba e faz recordar este filme com umacerta nostalgia é sobretudo a cena finaldo aeroporto, e o facto de ela não apre-sentar o tradicional e desejado “happyend”. Aqui reside o inesperado segredode Casablanca. É a convicção de queIlsa e Rick se amam perdidamente parasempre – desde que se encontraram emParis – , mas as circunstâncias adversase um altruísta sentido do dever (a causa,a resistência) fazem com que se sepa-rem fisicamente. Contudo, há qualquercoisa que nos diz que talvez o melodra-ma não acabe com aquele último voopara Lisboa, o que deixa a pairar, reti-cente, uma secreta esperança de reen-contro. A acompanhar a inevitável lágri-ma ao canto do olho, subsiste em con-trapartida a doce satisfação de que o“bem”, seja isso o que for, mais uma vezsaiu vencedor. Talvez seja este final po-lémico, esta escolha pessoal, solitária edolorosa, entre o amor e o dever, quecontinue a manter a dimensão profunda-mente humana e mítica deste filme.

Nesta noite de aniversário, do teu ani-versário, Iara, Alessandro não regressoupara te buscar. Mas tu voltaste a des-lumbrar. E eu brinquei de novo com Sa-muel: Play it again... as time goes by.Não houve boleros nessa noite. Apenasuma dolorosa e deliciosa sensação de li-berdade.

Algures pelo meio, na minha sala es-cura, lembrei o momento mágico e ines-quecível de Casablanca e repeti-me:“We’ll always have Paris”.

Claro que este momento só é mágicopara quem já amou alguma vez na vida...

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2116 A 29 DE JULHO DE 2008 OPINIÃO

Renato Ávila

POIS...POIS...POIS...POIS...POIS...

Joséd’Encarnação

O enxovalho do poder

Nunca tomara consciência disso.Há dias, porém, observando-o melhore sem relógio, dei comigo a meditaracerca daquele pé de roseira. Cauletortuoso e rijo, donde partiam trêsramos. Ostentava, um, bem farfalhu-da rosa, dezenas de pétalas aconche-gadas umas às outras, esplendor que– não duvidei – já se não aguentariamais uma semana assim. Noutro, sor-ria o (ainda) botão, na ânsia de seespreguiçar ao Sol. O terceiro, vesti-do de largas folhas verdes – em queimaginei a benéfica fotossíntese –deixava espreitar minúsculo botãopromissor…

Assim fossem a vida e a socieda-de, pensei eu, no respeito pelos rit-mos e pelas oportunidades de cadaum, sabendo que… a todos chegaráa vez de encantar.

O poder raramente é simpático. Aceita-se como uma necessidade colectiva paraque a ordem, a disciplina e a justiça enqua-drem a organização e orientem as relaçõesda sociedade.

A história apresenta-nos o poder numacontínua, morosa e convulsiva evolução atéatingir o paradigma da democracia, apaná-gio das sociedades modernas e culturalmentedesenvolvidas.

Ao conceberem o “estado” como fór-mula e entidade abstracta para o assumir eexercer, os cidadãos obrigam-se a transfe-rir para a sua esfera as prerrogativas indivi-duais e colectivas de um potencial exercícioque lhes advém da sua qualidade de sereslivres, civilizados e socialmente integrados.

Ao fazê-lo, constituem a autoridade doestado e, automaticamente, obrigam-se arespeitá-la, a mantê-la e a defendê-la atra-vés da observância dos normativos e daaceitação e dignificação do papel dos ór-gãos, das instituições e dos agentes incum-bidos de os fazer cumprir.

Na sua qualidade de órgão de soberania,cabe aos tribunais o exercício do poder – opoder de julgar os comportamentos dos in-divíduos face a possíveis distorções ou des-vios quanto ao cumprimento das leis queregulam as relações individuais, de grupo edestes com a sociedade e com o próprioEstado.

Estrutura hierarquicamente superior naorganização daquele, tal como o Presidenteda República, o Parlamento e o Governo,

os tribunais, personificados nos juízes de di-reito, são credores duma dignidade especial,de respeito perante a sua nobilíssima, deli-cada e espinhosa missão – julgar.

Desde a mais remota antiguidade, talexercício revestia-se duma unção, duma auraquase divina, nascida do reconhecimentocolectivo da experiência, da probidade e daelevação moral do juiz até que, com a evo-lução do direito (jus), a competência jurídi-ca também se tornou essencial.

Hoje, os nossos tribunais estão confron-tados com inusitados desafios duma socie-dade em vertiginosa e radical mudança etransformação de valores às quais o próprioEstado tem dificuldade em adaptar-se, emexercer o seu papel tradicional.

Os tribunais estão enrodilhados nesseredemoinho. Aquela aura, aquela silencio-sa e reverenciada distância que recata o“templo do juízo” estão fragilizadas por umageneralizada e estulta irreverência quantoa protocolos e competências e por uma rui-dosa e intempestiva invasão pelos mediados circuitos processuais dos casos em in-vestigação e em apreço.

Há como que uma onda de perplexida-des, uma certa desorientação que talvezexplique, ainda que em parte, os proble-mas da morosidade, da ineficácia na apli-cação da justiça.

Tal situação, a prolongar-se, pode muitobem tornar-se irreversível, descredibilizaro exercício do poder judicial e conduzir àanarquia e ao primado do sempre injustopoder do mais forte.

Quando sentimos que a justiça não foifeita porque os processos prescreveram,porque as provas não foram validadas devi-

do a irrelevância ou inconsistência; quandonos apercebemos de que a sua aplicação,com sucesso e em tempo útil, está depen-dente da capacidade económica para con-tratar os serviços dum patrono competente;quando os cidadãos são acusados na praçapública por incúria de reserva ou por inép-cia na investigação e os tribunais não o fa-zem ou tardam em fazê-lo à face da lei, ficasempre o travo amargo da dúvida, o ferretedo labéu de crime não provado, a frustra-ção colectiva do fatalismo dos buracos dalei e da institucionalização da impunidade.

A criação desse sentimento, desse climade inaplicabilidade das normas, de incapaci-dade, de progressiva nulidade da justiça,associadas a uma crescente atitude de os-tensiva irreverência, para não dizer falta derespeito, pelo poder, pela autoridade do Es-tado, pode muito bem tornar ingovernáveluma sociedade.

Por mais que os responsáveis políticostentem aligeirar a gravidade do acontecido,o que se passou em Santa Maria da Feiraexprime bem a delicadeza da situação.

Não será a inexistência da distância físi-ca e do pedestal dos juízes em relação aojulgado a prostituir a austeridade da atmos-fera forense, mas a progressiva fragiliza-ção da autoridade do Estado e, em conse-quência, dos tribunais.

Os motivos de tal fragilidade não serãocompletamente extrínsecos. No nossomodesto entender, a cultura socio-políticados juízes não condiz com a necessáriaabertura que a democratização fomentou.Parece haver como que uma bio-resis-tência à ultrapassagem das fronteirasduma certa suserania, dum certo corpo-

rativismo dificilmente entendível, aliás,num órgão de soberania.

Subsistem sombras dum paradoxal ex-cesso discursivo, dum certo empolamen-to de imagem não compagináveis com asobriedade e a reserva que o acto de jul-gar reclama.

Quando vemos o poder político amesqui-nhado por uma medíocre classe de politi-queiros, discutido, afrontado e enxovalhadona rua; quando sentimos as forças de segu-rança manietadas, não só pela exiguidadede meios, mas por estranhos pruridos ad-vindos duma farisaica e inconsequente in-terpretação das garantias constitucionais;quando as forças armadas, baluarte da re-serva moral e da força e segurança do Es-tado, são relegadas para os patamares infe-riores das prioridades da nação, sentimosque só nos restam os tribunais como credí-veis depositários do poder.

Impõe-se dignificá-los. Por dentro, pelaafectação dos meios necessários ao seu dig-no, seguro e eficiente funcionamento e pelorepensar e ajustar da atitude dos respecti-vos agentes. Por fora, por um maior cuida-do na feitura das leis, por uma maior aproxi-mação dos serviços judiciais aos cidadãos,pelo fomento duma cultura de respeito pelaautoridade do Estado e pela dignidade dosmesmos tribunais.

Urge acabar com a guerrilha latente en-tre as instituições que servem a justiça. Édegradante o espectáculo de mútuas acu-sações a que frequentemente assistimos.

O poder e a autoridade do Estado, orespeito pelas leis e pela dignidade dostribunais são valores fundamentais da de-mocracia.

Negá-los, enxovalhá-los é atentar con-tra a própria democracia.

[email protected]

CarlosEsperança

ponte europa

Bastavam ao mundo a loucura prosé-lita dos beatos e a incontinência verbalde alguns líderes para o planeta se tor-nar um lugar de horror. O preço do pe-tróleo e a míngua de alimentos contribu-em para adensar as nuvens que amea-çam a sobrevivência colectiva.

É neste estado de pessimismo e desâ-nimo que o Irão lançou com êxito, a par-tir de local ignorado do deserto, novemísseis com um raio de acção de 2.000km, capaz de atingir numerosas cidadesda região, nomeadamente Tel Aviv.

Sabe-se como são piedosos os guar-das revolucionários de Teerão e comotem sido loquaz o presidente Ahmadine-jad a reiterar o desejo obsessivo de erra-dicar do mapa o Estado de Israel. Já nãoé a questão palestina, em que os árabes

têm razão, que está em causa, é o desti-no colectivo da humanidade e a paz in-ternacional que estão ameaçadas pelahecatombe nuclear.

Com a Europa bloqueada pelo Nãoirlandês e pelas suas próprias divergên-cias internas, com o pior presidente dosEUA das últimas décadas em fim demandato, com o pavor das economiascom a alta dos combustíveis, com a Rús-

sia a responder ás provocações daNATO, o Irão encontrou o momento ide-al para a demonstração de força.

Hoje, pela vez primeira, o Irão pôs-me do lado de Israel e do seu direito dese defender. Nos períodos de crise, pormaiores que sejam as contradições quenos dilaceram, não podemos hesitar natrincheira que escolhemos. ISRAEL temo direito à sua existência. Sem «mas».

Irão: a fé à beirada loucura nuclear

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22 16 A 29 DE JULHO DE 2008CULTURA

J.A. Alves Ambrósio

OPINIÃO

Já li que a razão suscita problemas deproblemas e que não há nenhuma saída parao humano excepto a emoção. Pôr a traba-lhar o lado direito do cérebro em vez do ladoesquerdo. Parece-me irretorquível e, sub-sequentemente, afirmar o primado do espi-ritual, do religioso (etimologicamente falan-do, claro; é o religare latino).

Uma genuína emoção é um gozo impo-luto e quanto ao carácter religioso dos mu-seus, para além do que fica dito, baste quese lembre que são frequentados por cres-centíssimas multidões – e multidões das maisrequintadas personalidades (ricas em todosos aspectos). Ricas em todos os aspectos,aqui, é sinónimo de, v.g., «muito apreciavel-mente amplo campo de gosto, interesses,educação e compreensão além da média»(cito um leitor da TIME editada no transac-to dia 19). Se o leitor tão bem se sente numdestes templos – no fundo o que os museussão –, em Madrid ou Barcelona, Grenobleou Giverny, Münster ou Berlim, Bruxelas, AHaia, Copenhaga, Oslo... interioriza na per-feição o que acaba de ler.

Vivo rodeado de espelhos – eloquente-mente genuínos. Uns vêm de títulos univer-sitários, outros da camada social média, ou-tros manifestamente populares (ou mesmode um mundo de privações, com a fome aassediar).

A eles, qualquer que seja a sua origem, é

Manufactura de tapeçarias de Portalegretodavia comum uma idiossincrasia. Na ge-neralidade são dóceis e receptivos, nãoambiciosos, mais resignados que dinâmicos,emanando uma ancestralidade carente deletras, do primado da Cultura Humanística.E de sociabilidade... ruidosa. A arte é paraeles um mundo longínquo – maisestranho ainda o seu preço – e es-tão deprimidos com Portugal.

Dizer-lhes que os tapeceiros dePortalegre são os melhores domundo (a afirmação foi feita hádécadas por um grande nome datapeçaria artística mundial, JeanLurçat, ademais de sabê-lo – sen-ti-lo – qualquer que já tenha estadona galeria de tapeçarias da cidadeque o insigne Régio cantou), dizer-lhes isso é para eles um surpreen-dente bálsamo. Como surpreen-dente bálsamo é dizer-lhes que osnossos CTT estão também entreos melhores do mundo, que a nos-sa filatelia é altamente cotada, quea cozinha portuguesa é a 3.ª ou 4.ªa nível mundial, com uma naturali-dade, uma singeleza e um requinteexclusivos, que a nova igreja da SantíssimaTrindade, em Fátima, com os seus c. dezmil lugares é a quarta, salvo erro, no Globo,que a Marinha Grande e Alcobaça produ-zem peças de vidro com uma personalidadetal que espantam o proprietário da cosmo-

polita galeria de Friburgo da Brisgóvia (Flo-resta Negra),... Não me alongo.

A Manufactura das Tapeçarias de Por-talegre é uma notável honra portuguesa, paraPortugal. Expõe nos mais conspícuos luga-res do mundo e as suas obras são aprecia-

das pelos mais refinados espíritos.Festejou o 60.º aniversário em Setembro

passado, mas a efeméride passou quasedesapercebida num País que se ignora a simesmo.

Há décadas que me ligam a elas faguei-

Reprodução da obra “Évora”, de Nadir Afonso

Varela Pècurto

Residente em Coimbra há 60 anos, du-rante a maioria dos quais estiveligado ao Grupo “Camara”, queajudei a desenvolver dedicando-lhe milhares de horas em activacolaboração, sei avaliar quantoé arredio o interesse coimbrãopelo associativismo, especial-mente o cultural e sem intuitospecuniários lucrativos.

Por isso compreendo a justi-ficação dos esforços feitos peladirecção do M.A.C. (Movimen-to Artístico de Coimbra) no sen-tido de conseguir a colaboraçãodos associados, que são actual-mente em número nunca atingi-do, o que possibilita novas inicia-tivas.

A que é uma razoável sedena Casa Municipal da Vida As-sociativa, na R. João Cabreira,peca pela exiguidade para tantae natural expansão.

Ainda assim, além do que éhabitual nestas associações, énela que decorrem lições de pin-tura, agora também abertas a

Movimento Artístico de Coimbra

ros sentimentos; e uma imperecível grati-dão que tem no espírito maior da Excelen-tíssima Senhora Dona Fernanda Fortunatouma lídima concreção.

Estas despretensiosas linhas não têmoutro intuito que homenagear a Manufactu-

ra e todos quantos a ela se li-gam, dá-la a conhecer, pois,como já disse, é praticamenteignorada (um estreito círculode privilegiados endinheiradose/ou ligados à arte são os úni-cos que dela podem falar).

Por mais banal, repetitiva,que a afirmação seja é, porém,incoercível: arte é a supremaemoção. Ameniza de tal modoo quotidiano – e a Vida, claro– porque é imarcescível. Ouseja: o leitor não se prive dostapetes de parede manufactu-rados em Portalegre. Nuncatinha ouvido falar deles? – Nãose apoquente. Na «cidade doAlto Alentejo...» (a toada deRégio é impressionante), se

para lá telefonar, brindá-lo-ão com uma guiae, eventualmente, assistirá ao trabalho dastecedeiras. Nunca mais o esquecerá, asse-guro-lhe. Se, por acaso, estiver em Lisboavisite a sua galeria.

Há enriquecimento que, além de gozo-zos, são... à borla.

jovens dos 5 aos 16 anos.Com novos e esperançosos órgãos soci-

ais desde 25 de Fevereiro passado, renasceo entusiasmo por mais desenvolvimento, sópossível com a colaboração dos sócios.

Em 19 de Julho próximo terá lugar umavisita cultural ao Porto com ida à Casa do

Infante, Convento de S. Francisco, MuseuSoares dos Reis e, por fim, a um espectácu-lo musical de Filipe La Féria.

Prepara-se também a “Exposição Colec-tiva 2008”, na Casa da Cultura, cuja inau-guração está prevista para 1 de Agosto às18 horas, prolongando-se a abertura até ao

fim deste mês.Esperam-se aguarelas, cerâ-

micas, desenhos, esculturas,esmaltes, pinturas e vitrais, poisos associados preenchem umavasta e diversificada preferên-cia por tais disciplinas.

Não me sendo possível co-laborar de outra forma, vou en-viar duas fotografias, em es-treia. Desde há anos que têmestado arquivadas.

Na que hoje publico – “Fimde semana” – vê-se a alta proade um barco atracado e na basedesta está um descontraído pes-cador aguardando que o peixecoma o isco. À sua frente, numafaixa de mar sob vasto céu,veleja um praticante de wind-surf. Esta pequena mancha cla-ra é suficiente para equilibrar oenquadramento e barrar o es-paço de fuga.

A outra fotografia tambémse integra nas obras que a ro-

deiam, pois mais parece delicada pintura. Oque se não vê da casa de campo fica à ima-ginação de cada observador. Enquadradapor vegestação tem como fundo a zona maisalta da Serra da Estrela e um dos seus con-trafortes, ambos envolvidos em ligeira ne-blina matinal o que lhes tira detalhes queobsorviriam a coluna de fumo que se esca-pa da chaminé. O sol, tentando romper porentre a árvore à esquerda e a ténue colunade fumo dão origem ao título da obra – Co-meço de dia.

É intenção do MAC levar uma selecçãosaída desta exposição a França e Galiza em2009. Tal propósito tem contribuido para oentusiasmo e esmero dos concorrentes, queterão de entregar os seus trabalhos na Casada Cultura ainda no corrente mês de Julho,nos dias 28 (das 9 às 17,30 horas) e 29 (das9 às 12,30 horas) mas não sem antes pre-encherem a ficha de inscrição fornecida peloMAC.

Não estando em causa a disputa de pré-mios nesta exposição, a Organização queme desculpe esta antecipada apresentaçãode um dos meus trabalhos. A minha inten-ção é convidar outros colegas fotógrafos ainscreverem-se no MAC, podendo assimconcorrer à próxima exposição e participa-rem em outras iniciativas.

A sede está aberta das 15 às 17,30h,de segunda a quinta-feira, e às sextasdas 9 às 12h.

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2316 A 29 DE JULHO DE 2008 INTERNET

IDEIAS DIGITAIS

Inês AmaralDocente do Instituto Superior Miguel Torga

SUPRGLU

OS CONTEMPORÂNEOS

LIFESTREA.MS

SLIFE

EHOW

SEX AND THE CITY

A Web 2.0 trouxe o fenómeno da publicaçãoimediata, disponível à escala mundial. Mas a gran-de dificuldade de autores e leitores é a teia das hi-perligações por onde se difunde a informação. OSuprglu é a solução.

Trata-se de um serviço gratuito que permite agre-gar conteúdos variados publicados em sites dife-rentes numa só página. Músicas ouvidas na web,posts de blogs e fotografias são alguns dos conteú-dos que podem ser disponibilizados num mesmoecrã, sendo possível também a distribuição via RSS.A desvantagem é o tempo: o Suprglu demora al-gumas horas (até dois dias) a compilar os últimosconteúdos publicados nos serviços indicados.

SUPRGLU

endereço: http://www.suprglu.comcategoria: digital

Chegam ao domingo à noite na RTP. Bruno No-gueira, Gonçalo Waddington, Nuno Lopes e com-panhia limitada anima os serões televisivos e já cri-aram registos que andam nas bocas de Portugal.Agora estão na Internet, para quem só quer “apa-recer”.

No canal dos Contemporâneos na web há ví-deos da série, informações sobre os actores,making of de alguns sketches, bloopers, excertos

de episódios. Brevemente vai estar online uma áreade downloads. A versão mobile também vai ser lan-çada e vai disponibilizar toques para telemóvel eoutros conteúdos.

OS CONTEMPORÂNEOS

endereço: http://videos.sapo.pt/contemporaneoscategoria: comédia

A nova geração de serviços e aplicações na Internetpermite uma filosofia de difusão livre, proximidade e,sobretudo, personalização. A proposta do Slife é preci-samente a materialização da ideia de adaptação do ser-viço a cada um, simulando um ginásio online e offline.

Estranho? Nem por isso. Na verdade é uma amplia-ção do que há muitos anos se passava na televisãomatinal. Ou seja, trata-se de um espaço que motiva otreino em casa, na sala de cada um, mostrando exercí-cios e incentivando o utilizador. Quem quiser pode soli-citar um personal trainer, mas offline claro.

SLIFE

endereço: http://www.slife.ptcategoria: estilo de vida

A vida digital de um utilizador da Web 2.0 tem mui-tos perfis. O Lifestrea.ms é uma boa solução paraquem quer agregar todos os perfis que vai criando nosvariadíssimos serviços que se acumulam na rede.

A gestão das várias contas pode ser feita a partirdeste serviço, o que representará seguramente algu-ma economia de tempo na “segunda vida” que a In-ternet se tornou. O Lifestrea.ms ainda está em ver-são beta e só é acessível por convite, mas é semprepossível solicitar um convite. Ao bom estilo da Web2.0, claro está.

LIFESTREA.MS

endereço: http://lifestrea.ms/categoria: social media

Na Internet há de tudo: assuntos interessantes eoutros absolutamente inúteis, entre muitos outros.Ora este site mistura interesse e inutilidade, numacompilação interessante. O Ehow é o espaço idealpara quem é curioso e gosta de sites de instruções.

Aqui é possível aprender a fazer coisas tão dís-pares como a melhor forma de remover uma nódoade vinho, formatar um disco de computador ou nãose magoar a costurar à máquina. Há mais de 180milhões de artigos para ler, divididos por várias te-máticas. E há ainda uma wiki, onde a comunidadepode participar. Inclusivé em português.

EHOW

endereço: http://www.ehow.comcategoria: diversos

Para além do filme, os fãs da série que celebri-zou a colunista Carrie Bradshaw têm agora tam-bém o site. Há os extras do costume, excertos dofilme e uma particularidade: o macbook da perso-nagem principal está acessível online.

A Apple deve agradecer a publicidade e os fãsos conteúdos. Estão disponíveis as crónicas deCarrie (que davam mote aos episódios) e aindaemails, listas de tarefas, a agenda e outros docu-mentos. Claro que tudo ficcional. Mas não deixade ser uma ideia original. E, quem sabe, patrocio-nada pela empresa da maçã.

SEX AND THE CITY

endereço: http://www.sexandthecitymovie.comcategoria: filmes

Page 24: O Centro - n.º 55 – 16.07.2008

24 16 A 29 DE JULHO DE 2008TELEVISÃO

PÚBLICA FRACÇÃO

Francisco [email protected]

Façaumaassinaturado “Centro”e recebavaliosaobra de arteAPENAS 20 euros POR ANO- LEIA NA PÁG. 3

Esta é a reprodução da obra de ZéPenicheiro que será sua gratuitamente

IDOSOS DE OLHO NA TV

Por vezes a realidade das estatísticasé verdadeiramente assustadora. Nas“conversas de café”, que já não há, mashá as dos Centros Comerciais, as ao te-lefone ou na net, fala-se de coisas cadavez mais difusas. Uma delas é a televi-são. A televisão é cada vez mais um meiovelho... e para velhos.

Os mais recentes resultados da Ma-rktest não deixam qualquer margem paradúvidas. Os idosos de Portugal, emboratambém este seja um conceito “velho”,estão a ver mais televisão do que viamhá cinco anos. E vêem quase mais qua-renta e cinco minutos por dia do que viamem 2003.

Estes idosos estão na faixa etária dosmaiores de 64 anos. Não me parece muitoclaro que, actualmente, possam ser de-signados por idosos. Com as reformasaos 65 anos e com a esperança de vidaa atirar para perto dos 80, é muito redu-tor arrumar os seniores maiores de 64na prateleira dos “idosos”.

Seja como for, a população portugue-sa com mais de 64 anos está, neste mo-mento, a consumir televisão cinco horase meia (!!!) por dia. Este é um númeroassustador.

Recorro a um extracto de um post que

o Professor Manuel Pinto (Universida-de do Minho), publicou no blog “Jorna-lismo e Comunicação”. Diz ele :

“Um volume de consumo desta di-mensão deveria fazer tremer o país.Com as crianças (cujos consumosestão longe destes valores) preocu-pamo-nos com o tempo e o impacteda TV. Mas com os mais velhos ac-tuamos como se já nada houvessea esperar, como se não fosse dra-mático que centenas de milhares ve-getem a olhar para o ecrã, sem

oportunidades para o que se cha-ma propriamente vida, abandona-dos a si mesmos, sedados por essemoinho de imagens que entretém edistrai.

O quadro não está a ficar mais

risonho, com o passar do tempo.Pelo contrário: o consumo médio detelevisão entre os idosos cresceumais de meia hora diária, nos últi-mos cinco anos, de acordo com amesma Marktest.

A divulgação de um dado destecalibre deveria inquietar e mobili-zar. Nomeadamente os própriosmedia e, em especial, as televisões.Só que esta gente não tem pedigreena bolsa de valores televisiva. Votamas compra pouco, porque poucopode comprar. Conta para o bolodo rating e do share, mas não me-rece uns programas regulares quelhe dê voz e vez.”

Quem quer pensar sobre isto? Comobem diz Manuel Pinto, os responsáveispelas estações de televisão não o farão,e no caso da RTP é lamentável que onão façam. Então e os sociólogos? E osinteressados nas políticas para a tercei-ra idade? E os responsáveis políticos que,de facto, recolhem o voto destas pesso-as, mas depois as abandonam perante osedativo televisivo? Uma quase comple-ta ausência de humanidade varre o nos-so País.

RTP EM MAUS LENÇÓIS

A RTP pode vir a ser obrigada pelaComissão Europeia a devolver ao Esta-do português diversas ajudas pontuaisque recebeu entre 1994 e 1998, verbas

que podem chegar aos 340 milhões deeuros (mais de 68 milhões de contos).A maior parte deste montante diz res-peito a aumentos de capital realizadosentre 1993 e 1997, que ascenderam a57,6 milhões de contos, que incluem umaverba de compensação pela venda darede de teledifusão à Portugal Telecom,em 1993.

Tudo foi desencadeado por um acór-dão do Tribunal de Primeira Instância dasComunidades Europeias, que deu emparte razão à SIC num recurso apresen-tado pela estação televisiva no final de2003, onde o canal de Carnaxide pedia aanulação de uma decisão tomada porBruxelas em Outubro do mesmo ano.

Baseada num processo de investiga-ção aprofundada a medidas pontuaisaplicadas pelo Estado a favor da RTP,

a Comissão Europeia tinha concluídoque algumas dessas medidas eram com-patíveis com o mercado comum e queoutras não eram auxílios de Estado. Jáno acórdão recentemente divulgado, otribunal decidiu anular a parte da deci-são comunitária na qual Bruxelas con-siderava, em 2003, que várias medidasde financiamento da RTP pelo Estadoportuguês entre 1993 e 1998 “não so-brecompensavam os custos da empre-sa com o serviço público de televisão”,entre as quais os aumentos de capital ealguns empréstimos obrigacionistas ga-rantidos pelo Estado. Isto porque, con-sidera que a Comissão Europeia, “nãose colocou numa situação de dispor deinformações suficientemente fiáveis

relativas à determinação das prestaçõesde serviço público efectivamente forne-cidas e aos custos efectivamente supor-tados para o fornecimento dessas pres-tações”, uma vez que não solicitou to-dos os relatórios de auditoria externa quedeveria ter pedido. Desta forma, con-clui que Bruxelas “não cumpriu o seudever de exame diligente e imparcial”.

O Tribunal das Comunidades Euro-peias deu também razão à SIC ao con-siderar que “as medidas de isenção detaxas e de emolumentos notariais e deregistos de que a RTP beneficiou quan-do se transformou em sociedade anóni-ma, no início dos anos 90, devem serconsiderados auxílios de Estado”.

Será a RTP que fica em maus len-çóis ou o contribuinte que se deve pre-parar para cobrir estas eventuais irre-gularidades?