o centro - n.º 46 – 12.03.2008

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DIRECTOR JORGE CASTILHO | Taxa Paga | Devesas – 4400 V. N. Gaia | Autorizado a circular em invólucro de plástico fechado (DE53742006MPC) ANO II N.º 46 (II série) De 12 a 25 de Março de 2008 1 euro (iva incluído) Telef.: 239 854 150 Rua da Sofia, 95 - 3.º - 3000-390 COIMBRA Governo admite flexibilizar avaliação PROFESSORES KOSOVO PÁG. 4 VIOLÊNCIA DOMÉSTICA COM NOMES DE RUAS PÁG. 12 e 13 PÁG. 10 Coimbra homenageou cidadãos exemplares Algumas ajudas contra o silêncio Análise de processo que ameaça a Europa PÁG. 22 4 de ambulância para a morte PÁG. 3

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Page 1: O Centro - n.º 46 – 12.03.2008

DIRECTOR JORGE CASTILHO

| Taxa Paga | Devesas – 4400 V. N. Gaia |Autorizado a circular em invólucrode plástico fechado (DE53742006MPC)

ANO II N.º 46 (II série) De 12 a 25 de Março de 2008 � 1 euro (iva incluído)

Telef.: 239 854 150Rua da Sofia, 95 - 3.º - 3000-390 COIMBRA

Governoadmiteflexibilizaravaliação

PROFESSORES KOSOVO

PÁG. 4

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA COM NOMES DE RUAS

PÁG. 12 e 13PÁG. 10

Coimbrahomenageoucidadãosexemplares

Algumasajudascontrao silêncio

Análisede processoque ameaçaa Europa

PÁG. 22

4 de ambulância para a mortePÁG. 3

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2 DE 12 A 25 DE MARÇO DE 2008

Director: Jorge Castilho(Carteira Profissional n.º 99)

Propriedade: AudimprensaNif: 501 863 109

Sócios: Jorge Castilho e Irene Castilho

Inscrito na DGCS sob o n.º 120 930

Composição e montagem: AudimprensaRua da Sofia, 95, 3.º - 3000-390 CoimbraTelefone: 239 854 150 - Fax: 239 854 154e-mail: [email protected]

Impressão: CORAZE - Oliveira de Azeméis

Depósito legal n.º 250930/06

Tiragem: 10.000 exemplares

NACIONAL

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ENSINO SUPERIOR

Ministro nega despedimentode dois quintos dos docentes

O Ministro do Ensino Superior rea-firmou ontem (terça-feira) que o pro-cesso de racionalização das instituiçõesdo Ensino Superior actualmente em cur-so não implica o despedimento de doisquintos dos docentes universitários.

Mariano Gago falava na ComissãoParlamentar da Educação e Ciência,onde foi confrontado pela deputada doBloco de Esquerda Ana Drago que dis-

se que o processo de saneamento fi-nanceiro do Ensino Superior coloca emrisco dois em cada cinco professoresuniversitários com vínculos precários.

“O Governo quer racionalizar as ins-tituições do Ensino Superior, melho-rando o seu desempenho e as capaci-dades científicas e profissionais do seucorpo docente. Não queremos que ne-nhuma pessoa qualificada no Ensino

Superior fique sem emprego”, decla-rou Mariano Gago.

O responsável pela pasta da Ciência,Tecnologia e Ensino Superior classificoumesmo como “falsa e irresponsável” aafirmação da deputada bloquista.

De acordo com dados avançadosrecentemente pelo presidente do Sin-dicato Nacional do Ensino Superior,Paulo Peixoto, no universo de 25 mil

docentes do sector público, cerca de9.500 professores (quase 40 por cen-to, dois em cada cinco) têm contratosadministrativos de provimento com oestatuto de convidados.

Entre os dez mil docentes do Ensi-no Superior Politécnico Público – ondeos contratos são tendencialmentemais curtos – 7.500 estão com víncu-los precários.

O Reitor da Universidade de Coimbra (UC),Seabra Santos, internado desde domingo nosHospitais da Universidade devido a um enfar-te, deve ter alta hospitalar “a curto prazo”, dis-se ontem à Lusa fonte hospitalar.

Fernando Seabra Santos, de 52 anos, foi in-ternado domingo na sequência de um “episó-dio coronário agudo”, depois de ter chegadode uma viagem ao Brasil, onde sezenas de uni-versidades criaram no sábado o “Grupo de Co-imbra”, numa cerimónia em que participou.

De acordo com a mesma fonte, o estado desaúde do Reitor está a evoluir favoravelmen-te, “encontrando-se clinicamente bem, peloque terá alta a curto prazo”.

O catedrático da Faculdade de Ciências eTecnologia da UC preside também ao Conse-lho de Reitores das Universidades Portugue-sas (CRUP), que representa 15 universidadespúblicas mais a Católica.

Durante o período de convalescença, as fun-ções de Seabra Santos serão desempenhadaspelo Vice-Reitor Avelãs Nunes, Professor ca-tedrático da Faculdade de Direito.

Reitor da Universidade de Coimbraem recuperação depois de sofrer enfarte

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3DE 12 A 25 DE MARÇO DE 2008 NACIONAL

Temos uma excelente sugestãopara uma oferta para um Amigo, umFamiliar ou mesmo para si próprio:uma assinatura anual dojornal“Centro”

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Trata-se de um belíssimo trabalhoda autoria de Zé Penicheiro, expres-samente concebido para o jornal“Centro”, com o cunho bem carac-terístico deste artista plástico – umdos mais prestigiados pintores portu-gueses, com reconhecimento mesmoa nível internacional, estando repre-sentado em colecções espalhadas porvários pontos do Mundo.

Neste trabalho, Zé Penicheiro,com o seu traço peculiar e a incon-fundível utilização de uma invulgarpaleta de cores, criou uma obra quealia grande qualidade artística a umprofundo simbolismo.

De facto, o artista, para represen-tar a Região Centro, concebeu umaflor, composta pelos seis distritos queintegram esta zona do País: Aveiro,Castelo Branco, Coimbra, Guarda,Leiria e Viseu.

Cada um destes distritos é repre-sentado por um elemento (remeten-do para respectivo património his-tórico, arquitectónico ou natural).

A flor, assim composta desta for-

ma tão original, está a desabrochar,simbolizando o crescente desenvolvi-mento desta Região Centro de Portu-gal, tão rica de potencialidades, de His-tória, de Cultura, de património arqui-tectónico, de deslumbrantes paisagens(desde as praias magníficas até às ser-ras verdejantes) e, ainda, de gente hos-pitaleira e trabalhadora.

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Poderá também dirigir-nos o seu pe-dido de assinatura através de:

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O ACIDENTE DE MONTE REDONDO QUE CAUSOU 4 MORTES

A ambulância que foi ontem (ter-ça-feira) abalroada por um comboioem Montijos, Monte Redondo, Leiria,seguia com velocidade normal antesdo acidente, disse à Agência Lusa umatestemunha.

Segundo Sandra Silva, que momen-tos antes havia ultrapassado a viaturasinistrada, a ambulância “seguia nor-malmente” antes do embate, que ocor-reu depois de ter tentado ultrapassaras cancelas da linha ferroviária doOeste, que estavam descidas.

Logo a seguir ao seu veículo teratravessado a passagem de nível, ascancelas desceram, garante Sandra

Ambulância seguiacom velocidade normalantes da colisão com comboio

Silva, que não ouviu o estrondo dacolisão e só se apercebeu do acidentejá na freguesia vizinha da Ortigosa.

A ambulância, propriedade da As-sociação Cultural dos Lugares Amigos(ACLA), costumava transportar doen-tes e idosos do norte do concelho deLeiria para a sede de município.

Ontem transportava uma família daPraia do Pedrógão (pai e mãe comcerca de 70 anos e uma filha invisualcom 50 anos), que iriam para uma clí-nica em Leiria – e não para o Hospi-tal de Santo André, como inicialmen-te foi avançado no local do acidente– para sessões de fisioterapia relaci-

onadas com problemas de ossos.“Os meios chegaram muito rápido

mas infelizmente não havia nada a fa-zer”, lamentava a presidente da Juntade Freguesia de Monte Redondo, Ma-ria Espadinha.

Ao longo da manhã, dezenas de mo-radores formaram uma “romaria” aolocal do acidente mas as autoridadesisolaram o perímetro e colocaram len-çóis sobre os pedaços de corpos aolongo da via.

Os passageiros da composição nãose aperceberam do acidente e apenasouviram o maquinista a apitar e de-pois um grande estrondo, resultado da

colisão.António da Costa, de 66 anos, que

vive perto da passagem, apenas ou-viu um “grande barulho” e depois viuuma “nuvem de pó à frente da loco-motiva”.

Depois do “grande estrondo” disseà sua mulher “que ia algum carro àfrente da automotora”.

“Nunca pensei que fosse a ambu-lância” que costumava fazer este per-curso quase diariamente, disse.

Na sua opinião, os acidentes acon-tecem por “erro dos condutores”, quetentam forçar a passagem mesmoquando as cancelas estão descidas.

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ponto . por . ponto

Por Sertório Pinho Martins

Na última crónica tentei fazer da ‘fugapara a frente’ o golpe de asa para que o PSnão entre (por culpa própria) em jejum pro-longado de poder já a partir de 2009 – maso vento se encarregará de varrer para lon-ge o que não passa de mero vaticínio. Equem sou eu para dar opiniões que ninguémme pede e muito menos que alguém ouve!Mas, voltando à vaca fria, que caminho iráseguir um PSD, que tem de estar conscien-te que é a única alternativa de poder nestepaís e por isso não dever distrair-se das fra-quezas dos adversários políticos directos?O palco medíocre onde Luís Filipe Mene-zes vai arrastando a sua sofrivelidade de fi-gurante secundário, a somar às incontinên-cias verbais da família social-democrata quecrescem exponencialmente (mas que nãoexplicam porque se evaporou o clã dos ba-rões quando há meia dúzia de meses o au-tarca de Gaia subiu ao palanque, se todoslhe conheciam já a falta de areia para tama-nha camioneta, desde a sua célebre tiradade ‘sulistas’ e ‘elitistas’ e uma trágico-cómi-ca saída em lágrimas do Coliseu) – tudo istoprenuncia borrasca de criar bicho do outrolado da rua. E se no caso do PS a receitapoderia ser uma “fuga para a frente”, o PSD(sem Menezes, como é óbvio!) só pode“emendar a mão”. E quanto mais tarde ofizer, pior!

Escrevi neste espaço que José Sócratestinha avaliado mal a multidão de descami-sados que a CGTP pusera a desfilar em Lis-boa há uns meses, e que aí começara a cruzque o ministro da saúde levaria até ao cal-vário, sem honra nem glória, chamado quefoi à pressa a S. Bento para se demitir…aseu pedido. Se de novo o primeiro-ministro

A cegueira, a surdez e a parvoíceapenas tiver surdez e lhe passar ao lado oprotesto que os professores – unidos comonunca se viu – desenrolaram no sábado aolongo de vários quilómetros e que foi tão sóa maior manifestação de classe alguma vezrealizada em Portugal depois do PREC, es-tamos conversados sobre a surdez e a ce-gueira. E a ideia do comício-resposta do PSno Porto é uma tremenda parvoíce políticaque, se concretizada (e não a fazer é ummal menor, porque ela será o segundo kno-ckout no espaço de uma semana), lhe vaitrazer custos acrescidos aos do imponentedesfile dos professores na Av. da Liberda-de. Da surdez conveniente e da parvoícepolítica, vai um passo até à realidade de que“o maior cego é aquele que não quer ver”.Porque onde isto tudo vai acabar, tá-se mes-mo a ver, não tá-se? Mas ele não ‘tá, por-que a procissão vai continuar, na ressaca davisita policial a escolas para saber quantos eque professores iriam à manif, do ministroda agricultura a manter o calote que tempara com os agricultores que já deviam terrecebido até ao fim de 2007 apoios que en-tretanto estão a rechear de juros os cofrespúblicos, de uma juíza a averiguar a fugainexplicada de documentos classificados noprocesso de Paulo Pedroso contra o Esta-do, ou do pedido de explicações de deputa-dos socialistas (!) ao primeiro-ministro so-bre alterações de última hora às regras doscertificados de aforro. A coisa promete, orase promete!

E voltemos ao PSD, que parece não terpercebido o momento porque o governopassa, e vai continuar a passar, se por exem-plo for para levar a sério o que o ministrodas finanças já sussurrou sobre a baixa deimpostos para muito breve …depois de ter

jurado que jamais antes de 2010. E comoMário Lino já afirmara a pés juntos que oaeroporto era na Ota, ou Sócrates já tinhadito que a nova travessia do Tejo era ondeele dissesse (a CIP obrigou-o de novo aconsultar o LNEC), a palavra do poder ins-talado começa a acompanhar a cotaçãobolsista do PSI-20 – e vai mumificando acredibilidade de alguns governantes entreti-dos a guiar carruagens desgovernadas. Eque deveriam ter sido remodelados há umano (numa pacífica metade de mandato),tirando assim veleidades às oposições e ga-nhando a expectativa esperançada do país.O PSD não soube então aproveitar essafalha de estratégia de José Sócrates e pôr àfrente do partido um trunfo maior (ManuelaFerreira Leite teria esmagado tudo e todos,e talvez hoje 2009 fosse uma esperança enão um pesadelo para as hostes social-de-mocratas). Não seria, pois, tempo de nestaaltura o PSD já ter propostas aliciantes emcima da mesa, que chamem a atenção damultidão votante, para além de copiar a ideiade A. J. Seguro sobre o financiamento dospartidos, assunto que não enche barriga aosdesempregados e não incute esperança àclasse média que já passou à categoria de‘novos pobres’? Aquela professora a exibirna manif o cartão de militante socialista e amaldizer o voto-Sócrates em 2005, não dáuma ideia aos guardiões da consciência so-cial-democrata sobre o terreno por semearque há num país a acordar da festança? LuísFilipe Menezes não conta para esta cruza-da, porque o primeiro passo dos conjuradossó pode ser atirá-lo (politicamente falando,já se vê!) pela primeira janela que encon-trem aberta na S. Caetano à Lapa, com ousem armário, mas com o Ribau a tiracolo.

Depois têm de passar à acção, porque LFMe Pedro Santana Lopes são hoje os melho-res aliados de José Sócrates : um porquepoliticamente não existe – logo serve à ma-ravilha para que o povoléu acabe por esco-lher o mal menor em 2009 – e o outro, por-que LFM é quem mais lhe convem à frentedo partido, para ele continuar a perorar noParlamento e a fazer presidências abertasonde o chefe “se lhe pode juntar quando oentender” (não dá para acreditar, e nadaaconteceu a seguir). Porque no dia em queLFM saltar da janela, a partir daí o líder par-lamentar do PSD acaba politicamente, equando os conjurados chegarem ao poder,logo a seguir nomeiam-no embaixador naTailândia. E ele agradecerá, radiante!

No entanto, o movimento tímido de an-tigos secretários-gerais do PSD não augu-ra nada de bom para o partido, porque éprenúncio de que vai continuar o jogo doempata e a conspiração do sótão, enquan-to não chega a campanha para as legislati-vas – e aí Santana Lopes vai grudar emMenezes como araldite sarnenta. Porque,ou os barões tiram o traseiro da pacatezdos seus chorudos retiros empresariais, queo partido os ajudou (e se ajudou!) a con-quistar, ou não há conselhos nacionais queresolvam seja o que for : a substituição deMenezes, para dar ao PSD alguma espe-rança de regressar ao poder, não se faránas reuniões à porta fechada – Pedro San-tana Lopes já o percebeu, e anda na rua afalar com as distritais e a marcar terreno.Se a cegueira e a surdez políticas tambématacarem os sociais-democratas, o bompovo está condenado a aturar parvoícespor muitos anos e bons. Eu já estou avisa-do, mas a culpa passa-me ao lado.

AVALIAÇÃO DOS PROFESSORES

Governo admite adoptar “soluções flexíveis”e “correções” ao modelo

O Ministério da Educação (ME)anunciou ontem (terça-feira) estar dis-ponível para adoptar “soluções flexí-veis” na aplicação do processo de ava-liação de desempenho dos professo-res e admitiu introduzir “correções”ao modelo, mas apenas no final do pró-ximo ano lectivo.

“Admitimos encontrar soluções fle-xíveis, de forma a respeitar as dife-rentes capacidades das escolas na im-plementação deste modelo, respeitan-do os interesses dos professores e osobjectivos do Ministério da Educa-ção”, afirmou o secretário de EstadoAdjunto e da Educação, em conferên-cia de imprensa, ressalvando que nãoestá em cima da mesa a possibilidadede “suspender” o processo, nem de oaplicar de forma experimental.

“Não se trata de um adiamento oususpensão geral”, acrescentou.

Instado pelos jornalistas a exempli-ficar as soluções que poderão seradoptadas, Jorge Pedreira escusou-sea adiantar pormenores, afirmandoapenas que não existem ainda “solu-ções finais”.

“Não vou pronunciar-me sobrequestões concretas. Ainda terão de sertrabalhadas com os sindicatos de pro-fessores e com o Conselho das Esco-las”, justificou.

A intenção do Ministério é que atéao final do presente ano lectivo sejamavaliados cerca de sete mil professo-res, docentes contratados e dos quadrosmas em condições de progredir na car-reira, e até ao final do ano civil de 2009os restantes, a grande maioria.

“Há possibilidade de salvaguardaressas situações. Há posssibilidade deflexibilidade nesses casos”, limitou-sea afirmar o secretário de Estado, ga-rantindo: “Não há progressões nem re-novações automáticas”.

Sobre o processo de avaliação, adi-antou, por exemplo, a possibilidade deserem aumentados os créditos de horasdas escolas para efeitos de avaliação.

Em conferência de imprensa, admi-tiu ainda a introdução de “correcções”ao modelo de avaliação de desempe-nho da tutela, mas apenas no segundociclo de avaliações, portanto no finaldo próximo ano lectivo (2008/2009).

“Desde que fique preservado o queconsta no Estatuto da Carreira Docen-te e que essas correcções não ponhamem causa o essencial deste modelo”,

afirmou.O anúncio do Governo surgiu após

uma reunião com a Federação Naci-onal dos Professores (Fenprof), naqual Jorge Pedreira admitiu “um en-tendimento” para resolver “a confli-tualidade” existente.

“Foi possível encontrar uma basepara continuar a trabalhar. Felizmen-te, o diálogo não estava esgotado”,congratulou-se Jorge Pedreira.

No final da reunião, também o se-cretário-geral da Fenprof afirmou tersido encontrada “uma luz ao fundo dotúnel” em matéria de avaliação, ges-tão escolar, horários de trabalho dosprofessores e decisões judiciais.

No entanto, Mário Nogueira recu-sou-se igualmente a adiantar mais por-menores.

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5DE 12 A 25 DE MARÇO DE 2008 COIMBRA

E são mesmo. Uma fanfarra de fa-zer parar o trânsito e outras diabru-ras mais, muitas. Actuam, chinfrinam,enfernizam e também tocam. E bem.

Depois do espectáculo de aque-cimento, no passado dia 1, ondeaproveitaram para abrilhantar umrasganço, apresentaram-se ao públi-co no dia 8, dia de encerramento daX Semana Cultural da Universidadede Coimbra.

Fanfarra reforçada com os músi-

AUPRÈS DE MA BLONDE E MANU THÉRON

“Ganda” malucos!

cos e os cantores que, durante toda asemana, frequentaram um workshopcom os Auprès e Manu Théron.

Uma delícia!“Auprès de Ma Blonde” é uma fan-

farra de bolso cheia de momentos hi-lariantes, nascida e alimentada na rua,aberta a tudo, que se instala para re-descobrir dias de festa. Com um tra-balho baseado no escutar e na impro-visação, AUPRÈS DE MA BLON-DE tece ligações entre a criação mu-

sical original e as músicas popularese tradicionais, sobre as quais se er-gue o espectáculo-concerto. Com:Thierry Daudé (Trompete), AlfredSpirli (Percussão), Daniel Malaverg-ne (Tuba), Philippe Neveu (OboéLanguedócio).

Em Coimbra andaram acompanha-dos por Manu Théron, cantor pro-vençal que integra o grupo “Lo Corde la Plana”. Em:

http://curtocircuito08.blogspot.com

pode ver vídeos da actuação dosAuprès, ouvir canções interpretadaspor Manu Théron e os “Lo Cor dela Plana”, para além de poder visua-lizar uma série de fotos.

Os vídeos da actuação do grupo,assim como alguns excertos do ex-celente espectáculo “CARUMA”,encontram-se também disponíveisem

http://www.youtube.com/tiremme-destefilme

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6 DE 12 A 25 DE MARÇO DE 2008NACIONAL

A Farmácia Figueiredo, que funcio-na na Rua da Sofia há muitas déca-das (é uma das mais antigas e presti-giadas farmácias não só de Coimbra,mas de toda a Região Centro), acabade mudar de instalações para proce-der a profundas obras de re remodela-ção no edifício.

Mas mudou para bem perto, de for-ma a não causar transtorno aos seusclientes.

Assim, está agora na Rua Simõesde Castro, n.º 160 (em frente ao standda Audi e junto à loja Vodafone que

ABERTAS INSCRIÇÕES PARA TESTES GRATUITOS

Farmácia Figueiredo mudou de instalações

A Directora Técnica da Farmácia, Dr.ª Capitolina Figueiredo, em primeiro planoAs novas instalações da Farmácia Figueiredo,mesmo ao lado de uma loja de jornais e revistas

faz esquina com a Rua João Macha-do, no encontro com a Avenida Fer-não de Magalhães).

Num espaço muito acolhedor, amploe cheio de luz, a Farmácia Figueiredo,dirigida pela Dr.ª Capitolina Figueiredoà frente de uma equipa de competentesfarmacêuticos, oferece aos seus clien-tes um atendimento invulgarmente sim-pático e um aconselhamento personali-zado, sempre na defesa da saúde dequantos a procuram.

Para além da venda de medicamen-tos e outros produtos farmacêuticos,

a Farmácia Figueiredo proporciona umvasto conjunto de serviços, entre osquais a determinação do colesterol, daglicémica, do ácido úrico, do PSA(próstata), dos triglicerídeos, do peso,da altura e índice de massa corporal.

Além do mais, é preocupação cons-tante de toda a equipa da Farmácia Fi-gueiredo fazer um acompanhamento te-rapêutico de cada um dos seus clientes.

De registar que a Farmácia Figuei-redo vai proporcionar, entre os próxi-mos dias 17 e 19 de Março (segunda-feira a quarta-feira da próxima sema-

na), testes gratuitos para determina-ção da glicémia e do colesterol e con-trolo da tensão arterial.

Quem quiser beneficiar destes tes-tes gratuitor apenas terá de dirigir-se,quanto antes, à Farmácia Figueiredopara fazer a respectiva inscrição.

A Farmácia Figueiredo igualmentedisponibiliza aos seus clientes, espe-cialmente às senhoras, uma vastagama de produtos de dermoestética ede perfumaria, de higiene e de cos-mética, tendo periodicamente aconse-lhamento por esteticistas.

Marinho Pinto desafia AR a “ter a coragem”de criar incompatibilidade para advogados

O bastonário da Ordem dos Advo-gadas desafiou ontem (terça-feira) oParlamento a ter “a coragem” de tor-nar incompatíveis os cargos de advo-gado e deputado, porque misturar asduas funções “não é bom para a de-mocracia”.

“O Parlamento deveria ter a cora-gem de legislar nesta matéria”, afirmouMarinho Pinto, após uma reunião como coordenador do Bloco de Esquer-da, Francisco Louçã, e a deputada He-lena Pinto para apresentar cumprimen-tos como bastonário.

Para Marinho, quem legisla “nãopode, ao mesmo tempo, aplicar pro-fissionalmente, nos tribunais, as leis quefaz no Parlamento”.

Além disso, pode subverter as “re-gras da sã concorrência” e justifica

porquê: “advogado que é deputado temcondições para ser preferido, por vezesnão tanto pela qualidade dos serviços ju-rídicos, mas pela facilidade que tem,como deputado, aos centros de poder”.

A seu lado, Francisco Louçã acom-panhou as declarações do bastonário,não se comprometeu com esta ideia elembrou o Bloco propôs, há duas se-manas, que os deputados não possamrepresentar o Estado em negócios.

O coordenador do BE quer primei-ro ver e ler “as propostas da Ordem”para depois se pronunciar.

No final da reunião, na sede do BE,em Lisboa, Marinho Pinto e Louçãconcordaram na necessidade de com-bater a corrupção, “um cancro na so-ciedade portuguesa”, nas palavras dobastonário dos advogados.

BASTONÁRIO INSISTE

Page 7: O Centro - n.º 46 – 12.03.2008

7DE 12 A 25 DE MARÇO DE 2008 NACIONAL

EXPLICAÇÕESDE MATEMÁTICALicenciada em Matemática

com experiênciadá explicaçõesa todos os anosTelemóvel: 962 449 286

Quase meio milhão de portuguesesaguarda uma primeira consulta hospita-lar, dos quais 120 mil esperam por umaconsulta de oftalmologia, tempos que aministra da Saúde considerou ontem (ter-ça-feira) “inaceitáveis” em alguns casos.

Ana Jorge, que falava pela primeiravez como Ministra da Saúde perante osdeputados da Comissão Parlamentar deSaúde, avançou estes números no dis-curso com que apresentou o trabalho queo Governo está a desenvolver no sector.

A Ministra congratulou-se com o au-mento do número de consultas externasnos hospitais, que passou de 8,386 milhõesem 2005 para 9,279 milhões em 2007.

Uma evolução “favorável” que nãofoi suficiente para acompanhar o au-mento da procura, conforme reconhe-ceu Ana Jorge.

De acordo com uma recente audito-ria da Inspecção-Geral das Actividadesde Saúde (IGAS), estima-se em 474 milo número de primeiras consultas em es-pera nos hospitais públicos. Destes do-entes, mais de um quarto (mais de 120mil) aguardam por uma consulta de of-

Meio milhão de portuguesesaguarda primeira consulta hospitalar

AFIRMA A MINISTRA DA SAÚDE

Jorge reiterou o empenho do Governonas Unidades de Saúde Familiar paramelhorar o acesso aos cuidados de saú-de primários, garantindo que, até ao finaldeste ano, deverão estar criadas 150 emais 100 até 2009.

Outra aposta deste executivo, lembra-da por Ana Jorge, refere-se aos cuida-dos continuados integrados, tendo a mi-nistra referido que até Março de 2008foram celebrados 110 acordos, num to-tal 1.921 camas já em funcionamento.

As medidas nesta área permitiram oapoio a 8.203 cidadãos, um número quefica muito aquém das 162.860 pessoasque o Instituo Nacional de Estatísticaestima necessitarem de cuidados conti-nuados integrados.

O mesmo instituto prevê que em 2010existam 181.219 pessoas a precisar des-tes cuidados.

Ana Jorge indicou ainda que existem198 mil inscritos para cirurgia (menos 18por cento do que no final de 2005) e quea mediana do tempo de espera é agorade 4,3 meses. Em 2007 foram realizadas403 cirurgias.

talmologia.Esta realidade levou à constituição de

uma comissão de peritos que deveráapresentar medidas num relatório que

deverá estar concluído nas próximassemanas.

Neste primeiro discurso perante aComissão Parlamentar de Saúde, Ana

Até ao próximo sábado, dia 15 de Mar-ço, o cérebro está em destaque no Museuda Ciência da Universidade de Coimbra.Durante a “Semana do Cérebro 2008”, esteano dedicada ao tema “Cérebro e Socie-dade”, jovens e adultos vão poder apren-der mais sobre o funcionamento cerebralgraças a um conjunto de ateliers e de pa-lestras.

“O envelhecimento e o cérebro”,“Quando o cérebro é diferente”, “O cére-bro no mundo da droga”, “O cérebro delee o cérebro dela”, eis os temas das quatro

conferências interdisciplinares que vão pon-tuar as tardes do “Cérebro e Sociedade”,de Terça a Sexta-feira. Com uma sessãopor dia, sempre das 16 horas às 17h30, oprograma reúne no anfiteatro do Laborato-rio Chimico especialistas em física, neurolo-gia, medicina ou antropologia.

Jogos sobre o cérebro vão também serdesenvolvidos ao longo da semana, na par-te da manhã. Dirigidos aos alunos do ensinobásico, do primeiro ciclo (e também às cri-anças do 5.º e 6.º ano no dia 14), esses ate-liers pretendem sensibilizar o público esco-

lar para os mistérios do cérebro e despertara curiosidade dos mais pequenos para asneurociências.

O sábado é, quanto a ele, reservado naíntegra aos mais novos, contando com duassessões educativas. Tem lugar de manhã,entre as 10h30 e as 11h30, a

“Ginástica para o cérebro”, uma oficinadestinada aos alunos do 3º e 4º ano que re-quer a participação activa de todos. À tar-de, pelas 15 horas, o atelier “Cérebros àsolta” recebe as crianças a partir dos 7 anos,para que possam brincar aos detectives e

descobrir a que animais pertencem os cé-rebros apresentados.

Esta iniciativa é organizada pelo Centrode Neurociências e Biologia Celular da Uni-versidade de Coimbra (CNC), em parceriacom a Sociedade Portuguesa de Neuroci-ências (SPN) e o Museu da Ciência da Uni-versidade de Coimbra (UC). Todas as acti-vidades inseridas no programa dessa “Se-mana do Cérebro” têm entrada livre, sendocontudo necessário inscrever-se previamen-te junto da equipa do Museu no caso dosateliers infantis (por telefone: 239 85 43 50).

Semana do “Cérebro e Sociedade” no Museu da Ciência

Page 8: O Centro - n.º 46 – 12.03.2008

8 DE 12 A 25 DE MARÇO DE 2008OPINIÃO

AS MULHERES

(...) É que, se é certo que a mulhernão é igual ao homem, também é certoque as mulheres não são iguais entre si.E esta revolução pacífica, sem mortosnem feridos, tornou este facto bem cla-ro. Sempre desconsiderei a mulher “so-fredora”, suspirante, ansiosa, escrava dedever, passiva e normalmente muito ma-çadora. Sempre me irritou a mulher “in-fra-estrutura”, a grande mulher atrás dogrande homem, uma espécie de mana-ger furioso de um protagonismo alheio epartilhado da pior forma.

E que dizer da mulher “bem sucedi-da” que enche as páginas das revistasfemininas com receitas instântaneas desucesso ou da mulher “executiva”, quenas novas técnicas publicitárias veiosubstituir o modelo, já gasto e censurá-vel, da “mulher objecto”, carregada degadgets inúteis, sem olheiras, stress ounariz brilhante?

Dou ainda de barato o discurso can-sativo e estéril, que tornou surdos tantosouvidos e secou tantas boas vontades,da “mulher ao poder por ser mulher” e oefeito perverso de se ter padronizado umcomportamento de minoria de um grupoque é hoje estatisticamente maioritário.É que sempre me pareceu absurdo queas mulheres, constituindo uma expressãofortíssima do eleitorado, vejam no homemo único culpado da sua sistemática ine-legibilidade para cargos do poder.

(...) A existência de um “Dia da Mu-lher” é muito questionável. O que se ce-lebra, que efeito se quer produzir, o quesignifica essa distinção – que eu saibanão existe o “Dia do Homem” – nummundo onde as mulheres estão em mai-oria? Não sei ao certo. Para mim, o dia8 só faz sentido se conseguirmos pôr emevidência a diferença entre o discursooficial e a realidade, entre as leis queabundantemente produzimos e as cau-sas que, ainda hoje, impedem as mulhe-res de fazerem, com liberdade, as suasescolhas. O meu dia 8 é para isto mes-mo. (...)

Maria José Nogueira Pinto (jurista)DN 6/Março/08

PORTUGAL E O FUTURO

Portugal é um Estado-Nação. Queristo dizer que a Nação coincide em ab-soluto com o Estado, ao contrário do queacontece com a nossa vizinha Espanha,

que é um Estado com diversas nações,isto é: com territórios bem demarcados,línguas próprias, histórias e costumes di-versificados. Embora, após a Constitui-ção democrática de 1978, as quatro na-cionalidades históricas de Espanha, an-teriores à Guerra Civil de 1936-1939 –País Basco, Galiza, Catalunha e Castela–, fossem envolvidas num sistema cons-titucional, que reconhece 17 autonomias– para iludir a velha questão que agitouos séculos XIX e XX. Perguntam-se hojeos constitucionalistas se foi uma boa so-lução? É duvidoso que tenha sido, ape-sar das múltiplas vantagens que trouxeao desenvolvimento de Espanha.

Em Portugal, com uma realidade uni-tária bem diferente da espanhola, nuncase pôs uma tal questão. Mesmo quando,depois da Revolução dos Cravos, a Cons-tituição de 1976 reconheceu duas regiõesautónomas de governo próprio, nos arqui-pélagos dos Açores e da Madeira, dada adistância que as separa do Continente.

Vem isto a propósito da identidade dePortugal, como Estado-Nação, desde1140, que é três séculos anterior a Espa-nha, como tal, só assim chamada depoisdo casamento dos Reis Católicos, Fer-nando e Isabel, e da conquista do Reinode Granada, aos mouros (1482). Portu-gal – reconheça-se – tem uma identida-de fortíssima que resistiu à ocupaçãoespanhola (1580-1640) – sobretudo noBrasil e noutras regiões do Império – ese manifesta ainda hoje, sobretudo nasdiásporas portuguesas espalhadas peloscinco continentes.

E, no entanto, os portugueses, colecti-vamente, sofrem de péssima doença: des-confiarem de si próprios. E têm o estra-nho hábito de dizer mal – não no estran-geiro, mas em Portugal – de si próprios eda sua terra. É um mal que vem de longe,cuja razão não consigo explicar. (...)

Mário SoaresDN 4/Março(08

EUROPA VIRA À ESQUERDA?

Admitia do conhecimento geral o fac-to de 2009 ser o ano de todas as elei-ções; em Portugal, o aroma que as pre-cede já anda no ar e aspira-se, designa-damente, no regresso à rua das grandesmanifestações de massa, cavalgando aestranha mistura entre o descontenta-mento legítimo de alguns e o corporati-vismo de muitos; vai-se também tornan-do evidente que há solidariedades políti-cas e consensos adquiridos que come-çam a fraquejar quando se corre o riscode, a nível nacional ou local, se romper oequilíbrio entre quem aceita a indispen-sabilidade das reformas em curso e afrustração dos mais afectados por elas.

Talvez seja essa a razão pela qual aspróximas eleições para o ParlamentoEuropeu (PE) – que também ocorremem 2009 (Junho) – tenham desapareci-do do cronograma mental dos eleitoresportugueses a crer nas conclusões de uminquérito oficial sobre a visibilidade do PEjunto dos cidadãos dos 27 países mem-

bros, cujos resultados acabam de serpublicados, 98% dos portugueses nãoimaginam quando terão de votar paraeleger de novo os seus representanteseuropeus. (...)

Elisa Ferreira (eurodeputada)JN 9/Março/08

A LESTE DA DECÊNCIA

Leio que Gastão Salsinha se entregoua Gino Neves, chefe da polícia militar ti-morense. Depois leio que Gastão Salsi-nha afinal não se entregou. Não impor-ta. Importa é que o sr. Salsinha é perse-guido. Por causa do nome ridículo? Apa-rentemente, não. Parece que o homemé o tenente, ou ex-tenente, que liderou ofalhado atentado ao comandante, ou ex-comandante, Xanana Gusmão, e está li-gado ao grupo do falecido major (ou ex-major?) Alfredo Reinado. Entretanto, ogeneral Matam Ruak, líder das ForçasArmadas locais, aconselha Salsinha a

render-se até ao final de Março, à se-melhança do que já fez o revoltoso Amaroda Costa (posto desconhecido e identi-dade curiosa).

Confesso algum fascínio pela soleni-dade que os “média” dedicam à balbúr-dia em Timor. Os tiroteios entre gentesem eira nem beira passam, nos nossosnoticiários, por complexos confrontosbélicos. E uns desgraçados movidos pelapenúria são tratados, sem intenção iróni-ca, pelas respectivas patentes, que ospróprios trocariam num ápice por umarefeição digna.

Povoar as notícias de Timor deste si-mulacro de organização marcial não éinocente. Ao abrir “telejornais” com aabundância de tropa fandanga, desvia-se as atenções da escassez do resto. Seisanos após a celebrada independência,Timor não possui vestígios de um siste-ma produtivo, empregos, cuidados médi-cos decentes, escolas sofríveis e aque-

las miudezas que, quando existem, defi-nem um país e, quando não, configuramum falhanço. Um falhanço que come-çou na colonização nula, prosseguiu coma selvática ocupação indonésia e, para oque agora interessa, atingiu a consagra-ção no bizarro sentimentalismo que de-dicámos à jovem nação. Insisto: uma ilhasubmersa em caridade, miséria e infeli-zes aos tiros não é uma nação, é umavergonha. Em certa medida, uma vergo-nha nossa, que as esfarrapadas divisasdos nativos talvez disfarcem, mas quenaturalmente não apagam.

Alberto Gonçalves (sociólogo)DN 9/Março/08

A INSEGURANÇA

Ao contrário daquilo que aparenta adiscussão pública, o problema da inse-gurança vai muito para além da relaçãoentre a notícia/visibilidade de um conjuntode crimes violentos e não se resolve com

as medidas que caem nos restritos cam-pos das polícias e dos tribunais.

Dos vários estudos sobre inseguran-ça que se conhecem nas últimas duasdécadas, entre eles sublinho um dos maisimportantes realizado pela equipa do prof.Boaventura Sousa Santos nos meados dadécada de 90, aquilo que nos é reveladoindicia que os medos que nos habitamnão têm a actividade criminosa comoprimeira preocupação dos portugueses.

O problema do desemprego, as preocu-pações com a saúde, com a educação dosfilhos surgem, em ordens diferentes, à fren-te do medo face à criminalidade. (...)

Francisco Moita FloresCorreio da Manhã 9/Março/08

A SEGURANÇA E A PAZ

Portugal está um país menos seguro,com fenómenos de criminalidade que

O Secretário de Estado José Magalhães e o Ministro Rui Pereira

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9DE 12 A 25 DE MARÇO DE 2008 OPINIÃO

deixam as populações em insegurança ea viverem com medo. Esta é a realida-de, por muito que custe a Rui Pereira,que, para minimizar o que está a aconte-cer, tentou mascarar o País real comnovas estatísticas que indicam que a cri-minalidade violenta baixou. As estatísti-cas do crime têm várias leituras.

A melhor estatística é o sentimento daspopulações e aquilo que elas sentem noseu dia-a-dia, porque vivem no País reale contactam, nas ruas e nos transportespúblicos, directamente com o crime.

Já entrou e veio para ficar em Portu-gal, uma nova cultura de crime, com re-gras de actuação diferentes, porque, ago-ra, já não é o “murro” que impera, mas aarma que mata por uns míseros cênti-mos, em completo desprezo pela vidahumana. As polícias não estão prepara-das para lidar com este tipo de crime e,com a partilha da investigação pelas vá-rias polícias, perdeu-se eficácia e infor-mação relevante. Só o crime ganhou.

Rui Rangel (juiz)Correio da Manhã 9/Março/08

EM MEMÓRIADO GUARDA RICARDO

Ainda tenho gravada na memória ainvasão, pela polícia de choque, do Hos-pital de Santa Maria, durante a greve de1962. Não só a brutalidade, das coronhase dos “casse-têtes”, mas sobretudo afuriosa cegueira – excitada, ansiosa esem critério – daqueles mastins antro-pomórficos, deformados nos seus chu-maços pardos. Vi a pancada seca nacalva de Lindley Cintra e um risco ver-melho a abrir-se, para deixar correr osangue, enquanto o corpo desabava cominesperada lentidão. Já em corrida, videpois, sentado no muro baixo e segu-rando a cabeça aberta, o Luís OsvaldoDias Amado, ensanguentado e lívido.Curiosamente, dois professores, atraves-sando por nós os corpos.

Após este baptismo de fogo, nuncamais encarei a violência policial como mesmo espanto e a mesma revolta.Dias depois, quando o espancado foio Vítor Wengorovius – de quem era,e sempre fui, grande amigo – eu játinha uma abordagem “técnica” daocorrência. Porque a virgindade doespanto e da revolta, essa perdera-aem Medicina, ao ver, a quatro ou cin-co metros de distância, o suave mar-tírio de Lindley Cintra.

De tal modo que, ao cabo de algunsanos, já a violência que eu sentia comoverdadeiramente opressiva e humi-lhante nem era a da pancada. Era es-tarmos três ou quatro cidadãos a con-versar na rua (provavelmente antes oudepois de uma manifestação), passarpor nós um qualquer anónimo de ga-bardina e dizer, numa surdina pater-nalista: “Vamos a circular, que eu nãoquero ajuntamentos.” Porque era tãoóbvio de onde lhe vinha aquela estra-nha autoridade, que a nenhum de nósocorria perguntar: “E quem é Você? E

o que tem a ver com isso?”Como, porém, explicar a um jovem de

vinte e tal anos as razões por que a mi-nha geração (tal como o que resta dasanteriores) trouxe para o 25 de Abril es-tes fantasmas? Como dizer-lhe que nãose pode excluir que um pouco da memó-ria do outro lado – o dos mastins do ca-pitão Maltez e dos anónimos da gabardi-na – possa ter perdurado, não nos ho-mens (que já não são os mesmos), masnos pequenos atavismos das instituições?Não é fácil, se não fizermos, com a ge-ração dele, o esforço que lhe exigimospara com a nossa. (...)

Nuno Brederode Santos (jurista)DN 9/Março/08

NÓS E O KOSOVO

Portugal vai reconhecer a independên-cia do Kosovo, até ao fim deste mês.Dissipar-se-á então um denso silêncio,pontuado pelas angústias respeitáveis deCavaco Silva.

A declaração parece natural. Do pontode vista do Direito Internacional, o novoEstado é discutível, mas não é ilegal. Doponto de vista político, não se vê comopoderia ser de outro modo. Do ponto devista sócio-económico, com melhoresrecursos humanos do que a Albânia, farápela vida.

Claro que é preciso, agora, respeitopela minoria sérvia, pelo mandato dasforças internacionais, pelos princípiosde boa vizinhança e não beligerância.

Sem isso não há sucesso.

Nuno RogeiroCorreio da Manhã 9/Março/08

A ESPERANÇA MODERNA– O REINO DO HOMEM

É bem possível que Bento XVI te-nha conhecido pessoalmente o filóso-fo Ernst Bloch em Tubinga. De qual-quer modo, ao redigir a sua segundaencíclica, sobre a esperança (Spe sal-vi – Salvos em esperança), de certezalembrou o grande filósofo, autor daobra filosófica mais consistente desempre sobre esta temática – O Prin-cípio Esperança – a enciclopédia detodas as esperanças, que, em alemão,tem 1654 páginas. E começa assim:“Quem somos? Donde vimos? O queesperamos? O que nos espera?”.

De facto, a ideia de Bento XVI de quea modernidade viveu da ânsia de reali-zar na História o Reino de Deus semDeus foi aprofundada por Ernst Bloch.A sua filosofia, no limite, quereria herdaresse Reino de Deus, o Sumo Bem, aNova Jerusalém de que fala a Bíblia. Se,sendo marxista, acabou por criticar oshorrores do estalinismo, foi porque es-perava “o Totalmente Outro”, como re-serva escatológica, ainda que por forçada própria Natureza. Bloch é um beloexemplo do homem simultaneamentereligioso e ateu. Religioso, porque “ondehá esperança, há religião”. Ateu, porque

não esperava a salvação vinda do Deuspessoal que cria por amor e que vem aoencontro do Homem.

Pergunta o Papa, com razão: como foipossível pensar que a mensagem de Je-sus diz respeito apenas ao indivíduo e aoAlém, como se a salvação definitiva im-plicasse o desprezo deste mundo e a es-perança se reduzisse à “salvação daalma”?

Em reacção, a modernidade trouxeo Além para o aquém. Mediante a re-volução científica, proclamou-se a féno progresso, que garantiria um mun-do totalmente novo, “o reino do Ho-mem”. (...)

Anselmo Borges(padre e professor de filosofia)

DN 8/Março/08MEMÓRIADE JORGE DE SENA

A revista literária Relâmpago vaieditar um número dedicado a Jorge de

Sena. Mais do que justo. Sena é umdos maiores intelectuais portuguesesdo nosso tempo, um extraordinário ro-mancista, um prefaciador incomumpelas pistas de leitura que propõe, umensaísta fora de série – e um dos trêsmaiores poetas que Portugal produziuno século XX. Quando, em 1977, nascerimónias do 10 de Junho, Guarda,proferiu o discurso inaugural, a con-vite do Presidente da República, Ra-malho Eanes, o autor de Metamorfo-ses e Peregrinatio ad Loca Infectaadvertiu, grave e veemente, dos peri-gos que corria a democracia, caso de-sistíssemos de ser cidadãos. É um do-cumento impressionante, pela previsãocrítica e pela luminosa lucidez. Tem-pos antes, numa entrevista que lhe fizpara o Diário Popular, afirmou que“estavam a repetir-se os vícios doEstado Novo”.

Como era de hábito, as declaraçõesde Jorge Sena fizeram estremecer asbem-pensâncias. Nunca moera as pa-lavras no vácuo. Nunca fizera conver-sa mole, e sempre dissera o que enten-dia dever dizer, doesse a quem doesse.O País padreca, de literatos menores,de cabisbaixos campeões da convivên-cia, não perdoava a este homem livre e,

ainda por cima, de alto coturno intelec-tual, a grandeza que se não burilava comfrases de pequeno conceito. (...)

Baptista-Bastos(escritor e jornalista)

DN 5/Março/08

HISTÓRIAS DE EMBALAR

(...) A força dos EUA está em fazero mundo acreditar que o seu futuro sepressente, se adivinha, na actualidadeamericana. Deste ponto de vista, a dis-puta em curso entre Hillary Clinton eBarack Obama pela investidura demo-crática às próximas eleições presiden-ciais americanas revela duas tendên-cias que vale a pena destacar.

A primeira, que cada vez mais umacandidatura vale por si, como espectá-culo que deve assegurar a atenção, ese possível a excitação, dos cidadãos.O que tem vários custos, nomeadamen-te o de aumentar o fosso entre o quefaz uma candidatura triunfar e o quegarante, depois, um bom governo. Orecente caso Sarkozy (que de resto as-sumiu explicitamente o padrão ameri-cano) é a mais eloquente ilustraçãodeste paradoxo, que veio para ficar.

A segunda tendência é que a polari-zação política – indispensável para pren-der a atenção dos media e dos cidadãos– desliza velozmente das ideologias paraas mitologias, das convicções para ascrenças, da opinião informada para ocontágio emocional.

São estes aspectos que dão à cam-panha de Barack Obama a inesperadaforça que ela tem revelado. Pode la-mentar-se a vacuidade do que afirmasobre políticas de saúde, a puerilidadedas suas ideias sobre a discriminaçãoracial (vista como um problema mera-mente individual) ou a generalidade doque diz sobre a globalização. Ou, ainda,que aos voluntários da sua campanhase recomende que partilhem muitas ex-periências e falem pouco de política.

Nada disto, contudo, é relevante. Oque conta é que Obama protagoniza,como se de uma declinação religiosado político se tratasse, a possibilidadede uma nova identidade – uma “iden-tidade-projecto”, como diria Castells– para milhões de americanos. Umapossibilidade que, na verdade, temcada vez menos a ver com qualquersolução concreta para os problemasimediatos das pessoas, e se liga cadavez mais com a prodigiosa ilusão quese lhes dá, de encenarem e de melho-rarem a sua própria história.

No fundo, é a dinâmica deste esta-do de alma que o messiânico slogan“yes, we can” traduz com inegável efi-cácia política: como se, afinal, se tra-tasse de participar numa história deembalar, daquelas que acalmam asmaiores angústias da alma com a ina-balável certeza de um fim feliz. (...)

Manuel Maria CarrilhoDN 8/Março/08

Jorge de Sena

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10 DE 12 A 25 DE MARÇO DE 2008MULHER

A violência faz parte de um mundo sim-bólico individual de muitas mulheres e cri-anças portuguesas. Os referenciais deaprendizagem de comportamentos e da lin-guagem de quem é abusado têm símboloscarregados de violência. Muitas mulheresvítimas de violência doméstica sofrem deuma perturbação, uma forma de Perturba-ção de Stress Pós Traumático (PSPT), emque inevitavelmente manifesta efeitos trau-máticos uma vez que é repetida e imprevisi-velmente exposta a violência e agressões,promovendo assim o desenvolvimento decertos sintomas tais como medo, passivida-de, bloqueio emocional, mecanismos de de-fesa como a negação, entre outros, mas quede facto afectam directamente a habilidadede funcionamento saudável.

O Síndroma da Mulher Batida (SMB)*,é resultado de uma lenta progressão do ca-minho da tortura, que de forma cumulativaao longo do tempo, actuam como ruminan-tes e destrutivos. Para melhor reconheci-mento destes sintomas, foi desenhado omodelo explicativo do SMB, o qual clarificade alguma forma as eternas questões quesurgem com frequência: “Por que será queas mulheres batidas ficam?” ou “Por queserá que grande parte das mulheres abu-sadas não denunciam os agressores?”.Existem duas características fundamentaispara compreender as mulheres que sofremdo SMB: o Torpor Emocional e a Impo-tência Aprendida. O Torpor Emocionalé ilustrado pela passividade, medo e ador-mecimento emocional face à atmosfera deterror e brutalidade em que a mulher vive.A mulher não tem a clareza de perceber aviolência como violência em si. A violênciaé uma linguagem ‘familiar’ para esta, fa-zendo parte da sua narrativa, da sua históriade vida, e por isso naturalmente percebidacomo parte do seu mundo. Por outro lado, oconceito de Impotência Aprendida refe-re-se a uma das sequelas emocionais maisgraves do SMB, pois simboliza a desespe-rança e o sistema de pensamento ‘sem sa-ída’. A mulher que é agredida e abusiva-mente controlada no seu dia-a-dia, sentegenuinamente que escapar é impossível, equalquer tentativa de se evadir ao exagera-do controlo será severamente castigada commais um pico nos Ciclos de Violência já ins-talados de forma permanente no padrão fa-

Síndroma da Mulher Batida (SMB):O que é? Como compreender?

“Porque será que as mulheres batidasficam com os parceiros agressores?”“Porque será que grande parte das mulheres abusadasnão denunciam os agressores?”

Cátia Antunes(Psicóloga clínica)[email protected]

miliar. O funcionamento adaptativo da mu-lher batida é altamente incapacitante e pro-cessa-se meramente por mecanismos de so-brevivência (negação, distorção da realida-de agressiva, evitamento de conflitos, per-missividade do controlo exagerado, culpabi-lização, entre muitos outros).

As mulheres abusadas são alvo de umamplo conjunto de agressões verbais porparte de seus parceiros, que passam porserem chamadas de estúpidas, feias, ina-dequadas sexualmente e incompetentes,são muitas vezes carregadas de culpa ouvergonha, claras desvalorizações, ou sãomesmo submetidas a actos sexualmente in-desejados pela próprias. O Ciclo de Violên-cia*** passa geralmente por três fases: Faseda Emergência da Tensão, a Fase da Agres-

são e a Fase da ‘Lua-de-Mel’ ouReconciliação. A 1.ª fase representao tempo em que as tensões são acu-muladas pelo agressor e em que avítima está permanentemente emperigo de ser abusada sob qualquerpretexto. É a fase da discussão, domedo e das ameaças do agressor.A 2.ª fase é representada por umpico de agressividade, um momen-to de explosão e claros maus tratosquer a nível emocional, físico ou

sexual. A 3.ª fase é ilustrada pelo arrependi-mento do agressor, pela desculpabilização(álcool, trabalho) e pelos mecanismos desedução para voltar a controlar a vítima.Quando passa esta fase, a vítima começa asentir o medo (1.ª fase) das tensões acumu-ladas e a evitar os conflitos que possam jus-tificar um próximo assalto de agressivida-de(2.ª fase).

A reflexão sobre as vítimas de violênciadoméstica e os seus padrões, fazem emer-gir questões igualmente importantes sobreos agressores, especialmente sobre o quedesencadeia estes ciclos de violência, ou deque modo se pode intervir para com estesgrupos de pessoas incapazes de controlaros impulsos agressivos ou mesmo reflectirsobre os seus comportamentos de desres-peito claro dos direitos humanos, para osquais não existe uma penalização eficaz. Po-der-se-á reflectir que a semente patriarcalé ainda vigorosamente germinada pelascrenças que sustentam uma enorme redesocial dos sistemas familiares portugueses.No entanto, quais são as redes de interven-ção social que existem de modo a que ascasas das vítimas de violência domésticapossam tornar-se seguras? O que se podefazer para que exista uma protecção na eda intimidade das vítimas? É de facto umcontroverso contexto, que mistura o públicoe o privado da vida, e que toca em pontosda intimidade mais íntima de cada um. OEsconder é um caminho percorrido pormuitas vítimas.

Idealmente*, as mulheres batidas deve-

riam ter assegurada uma protecção policialadequada, de fácil acesso a ordem judicialrestringente. O sistema deveria facilitar dis-crição dos procedimentos judiciais no quese refere aos agressores. Às Mulheres abu-sadas deveria ser-lhes facultado apoio tem-porário, incluindo apoio para as crianças, bemcomo divórcios rápidos. Deveria existir umaregulação efectiva, significativa dos tribu-nais dos direitos de visita paternais das cri-anças. E, por fim, reconhecer o real perigoem que as mulheres batidas e as suas crian-ças se encontram, ouvir e providenciar pro-tecção adequada e apoio emocional. O ob-jectivo da presente discussão serve paratocar em pontos de extrema delicadezaque visam defender e proteger as vítimasde violência doméstica que são vítimasdentro das suas próprias casas. As mu-lheres batidas são permanentemente bom-bardeadas com mensagens ameaçadorasdentro das suas próprias casas, bem comoem termos de discriminação de género.Uma das formas mais insidiosas e cru-éis de abuso é a que ocorre dentro daprópria casa, na intimidade das nos-sas relações interpessoais*.

E por analogia, fora da intimidade dasnossas casas, existem batalhas entre a le-gislação e a respectiva aplicação, especial-mente quando não nos podemos esquecerque este é um território masculino. A Lei écriada, definida e dominada maioritariamentepor homens. As necessidades legislativas deintervenção na área da violência domésticae sua implementação já se têm vindo a pro-jectar de um modo mais visível e promissor.Depois de casos tão violentos como o agres-sor que foi julgado e condenado a 18 anos

De acordo com os Estudos do Instituto de Medi-cina Legal (Lisboa et. Al., 2005) existem diferentestipos de violência no contexto da violência doméstica:Violência Física (corresponde a 12,8% da violênciaincidente), Violência Sexual (2,6%), Violência Psico-lógica ou Emocional (30,5%), e tipos de violênciadiferentes em simultâneo (49,5%).

Por outro lado e neste mesmo estudo, verifica-seque em termos de Contexto do Desenrolar da Violên-cia, o espaço da família / casa é o contexto mais prová-vel para violência contra Mulheres (50,7%), segue-sea violência no trabalho (23,3%), a violência em locaispúblicos (15,1%) e nas ruas (10,9%).

Mesmo que a violência doméstica já se tenha tor-nado um crime público em Portugal, em termos dereactividade das vítimas de violência, a posição depassividade parece ser a dominante (33,3%), ou par-tilham com uma pessoa (30,2%), ou evitam a situação(14,2%), ou por fim, as pessoas que reagem comgrave violência (11,2%). Algumas mulheres chegam acontactar a polícia (6,7%) ou Instituições de Apoiocomo a APAV (1,6%). Apenas 11,1% das mulherespedem ajuda.

Normalmente, o contexto sociocultural associadoà violência doméstica, tende a contribuir para a repro-dução da mesma lógica de violência ao longo das famí-lias descendentes. Tanto física, económica, social eculturalmente, as famílias que espelham padrões ouciclos de violência encontram-se quase que “armadi-lhadas” numa lógica social limitada de opções. Asmulheres vitimadas racionalizam veemente a culpa, a

por matar a mulher com pontapés na cabe-ça; ou mesmo como um pai que se enfor-cou após esfaquear a filha de 10 anos nospulsos e no pescoço, a qual sobreviveu, en-tre muitos outros casos que são trazidos àluz pelos media**, será já hora para reflec-tir sobre os direitos da vítimas de violênciadoméstica, bem como as medidas de pro-tecção judicial. Mas mais importante e fun-damental parece-me ser informar e for-mar quem não compreende o espaço deterror que é vivido por uma mulher abu-sada dentro da própria casa, num espaçoque tem de ser cuidador. Numa segundainstância, informar e clarificar o que sig-nifica ser uma mulher batida para as pró-prias mulheres abusadas, que na sua mai-oria desconhecem a sua condição demulheres batidas.

Já começam a existir infra-estruturas queapoiam, ajudam e orientam. Já começam aexistir profissionais especializados para oapoio de mulheres abusadas na sua digni-dade. Mas ainda não é seguro ou eficaz. Asmulheres batidas apenas se revelarão quandose sentiram seguras para pedir ajuda. Amudança tem de ser descendente. Deverácomeçar na protecção judicial a encorajaras mulheres a usufruir desta.

vergonha e responsabilidade da violência. E quandochegam a um ponto de desesperança profunda rea-gem com a mesma força e agressividade acumulada detantos anos de vitimação. Daí que as Tentativas deSuicídio e Auto-mutilação ocorram em 3,8% das mu-lheres vitimadas por violência doméstica, em compa-ração com 0,7% de pessoas que não sejam vítimas deviolência doméstica. As tentativas de suicídio atravésdo efeito / consumo de drogas e álcool em mulheresvítimas de violência doméstica são de 15,9% compa-rado com os 3,2% das não vítimas de VD.

A APAV, Associação de Apoio à Vítima, revela queno 1º trimestre de 2006 já existiam 3537 registos decrimes, em que cerca de 88% corresponderam a cri-mes de violência doméstica. A violência tem diferen-tes faces, a violência psicológica (33,2%), Ofensasfísicas à Integridade Humana (36,4%) e o Comporta-mento ameaçador e coercivo (30,6%). Dentro dos3094 crimes de violência doméstica, 6 acabaram emhomicídio. Cerca de 97% dos casos registados de vio-lência no geral foram perpetrados por pessoas quefazem parte dos conhecimentos das vítimas.

Visitar sites:http://www.plataformamulheres.org.pt/

* Lenore Walker (1979, 1984). Battered Women.** (Artigos do Correio da Manhã, 12/02/2008, pp.

11 e 15) relativos a Nelson Pica e Mário Ruivo, arguidosjulgados por violência doméstica.

*** http://elearning.projectolaura.org/modulo-1/problematica-da-violencia-domestica/ciclo-da-violen-cia-domestica

NOTAS EPIDEMOLÓGICAS

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11DE 12 A 25 DE MARÇO DE 2008 OPINIÃO

Seria difícil imaginar que poderia sair tão ferido por umasimples frase, escrita no pórtico do livro, para guardar re-cordações no espaço da gratidão. As mulheres, pensou,são insensatas ou têm o gosto interior incontrolado da morte.Matam por matar, soltam facilmente o tigre que há emcada um de nós. Se é verdade que não somos uma espé-cie monogâmica, também é verdade haver capacidadeselectiva de preservarmos alguns tesouros. Ela, se tiveraalgum dia tal capacidade, deixou que estiolasse no san-gue. Preferia sobrepor-se à realidade mais pura. Por issonem pensou duas vezes quando resolveu escrever a fra-se. Tinha de a escrever. Lançou com precisão em timesnew roman corpo doze. Olhou e gostou. Ficava por de-baixo das outras, das que reservara para ele, na convic-ção de que assim separava as águas dos amores.

Aparentemente, um era memória, tinha sido, o outro con-tinuava a ser, era, estava bem explícito para ela que reser-vava para João toda a sua capacidade de amar.

Só na cabeça de uma mulher as coisas podem ser vis-tas assim. Claro que o automatismo da escrita só podiaresultar de um afecto interminado, a que estava presa,que a marcara definitivamente, de que não tinha consci-ência, mas que na verdade continuava razão última da suacapacidade de amar.

Deixar o nome no livro e aquelas palavras, mais do queimperativo de gratidão, era imperativo do amor. Não perce-beu de imediato, quando viu os efeitos no rosto de João.Reparou na transfiguração, como a expressão endureceu,lívido e seco, alterado, à beira de um colapso, no terror daapoplexia. Quando o viu levantar-se, esgueirou-se do seuolhar o espectro da morte eminente. Por isso num impulsopegou na esferográfica e riscou a frase.

Não podia perceber que não riscara o fundamental,aquilo que despertara no amante a aterradora sentença.Feriste-me de morte, ouviu-o murmurar. Traíste o melhorque havia em mim. Parecia letra de um fado.

Podia ter interiorizado. Revisto o erro. Não existe essa

Outra vez…A OUTRA FACE

DO ESPELHO

José Henrique Dias*

[email protected]

lógica na cabeça das mulheres. Só existe o objecto da suapaixão. Que lhe importava o que podia acontecer? Nela, oque ressaltava com vigor era a imagem do outro, a razãoque a levara a escrever a frase, a memória dos temposrepartidos, o calor que lhe percorria o sangue ao pensá-lo, onome, a doçura do nome, com aquele toque carinhoso dediminutivo, as mãos nas mãos, as cavalgadas do amor nasnoites que viveram juntos, a ternura do olhar.

Por isso devolvia as frases. Também tu me feriste demorte. Pior, feriste a minha liberdade de escrever o queentendo, o meu direito a expressar os sentimentos.

A tarde perdeu-se no tédio dos romances sem história.João olhava-a e os olhos esmaeciam como água em hortaseca. Nada poderia ser igual. Nunca mais. Tinha posto todoo seu empenhamento naquele livro em que ela podia reve-lar-se e mostrar a sua capacidade criativa, ascender aorespeito de todos e caminhar na estrada larga do sucesso.Poucas vezes na vida tinha abdicado de si mesmo, todovoltado para aquele objecto que para ele passara a ser deculto e que via chegado o momento da tipografia. Restavaencontrar dia para o lançamento e esperar o impacto.

Falara com um amigo para garantir a apresentação comoum acto maior nas notícias da especialidade. Tudo pensado

milimetricamente. Com a marca do seu rigor intelectual e asua vasta experiência de leitor e crítico literário.

Fora de todo inesperado que ela escrevesse a fraseque abrira feridas de destruição. Teresa andou a pensá-la, demorou-a na boca, numa primeira versão não cons-tava. Quando ele teve a possibilidade da primeira leiturado original a frase não estava lá. Guardou-a para aquelatarde, quando o livro fora dado por acabado. Esperaraque ele dissesse para entregar na editora, garantido su-cesso literário do ano.

A frase ficara com a redacção específica que se dá aoseleitos. Com preposição isolada, sem a contracção com oartigo definido da vulgarização. A fulano, não ao fulano.Como acontecia com ele. Para ele, o destaque era óbvio,mas profissional. De um meridiano convencionalismo. Tal-vez não pudesse ser de outra maneira, para resguardar asconvenções, mas não tivera igual cuidado para com o outro.

Quando chegou o dia do lançamento, a sala transpirava.Era grande a azáfama como excitantes as expectativas.Fora anunciado como o livro do ano e não era difícil auguraro êxito que veio a verificar-se.

À hora a que começava a sessão, ela olhou sobressalta-da em volta e reparou que João não aparecera. Pensou queera um atraso normal, não obstante saber que ele tinha aobsessão da pontualidade. Contrariada, deu-se início à apre-sentação. Não podia ser mais auspiciosa a maneira comose falava do livro. Ela não ouvia. Os olhos pregados naporta, à espera da aparição.

João corria na auto-estrada. Pisava o acelerador sem-pre mais e mais. O ponteiro ia fazendo a curva até aolimite do absurdo. No prato do leitor de CDs, pusera odisco que ela lhe oferecera pelo Natal. A voz de Simonebatia as sílabas na quentura do sotaque tropical.

Transformava a vulgar canção de dor de cotovelo,como dizem os brasileiros, numa leve ironia, em despren-dimento. Trauteou a compasso com a cantora…

Só assim Sinto você bem perto de mimOutra vez…

Não constou da notícia do acidente, no dia seguinte.

* Professor universitário

A abolição da tortura, bem como ada pena de morte, faz parte da matrizcivilizacional por que pautamos os nos-sos comportamentos e estruturamos asdemocracias em que vivemos.

Foi longo o caminho percorrido emuitos os mártires que se sacrificarampara que ao absolutismo real sucedes-se o sufrágio universal e o poder deorigem divina fosse substituído pelosmodernos Estados de direito, baseadosna vontade popular.

Todavia, à frente do Império (EUA)encontra-se um fundamentalista evan-

Simone

[email protected]

CarlosEsperança

ponte europa Bush insiste na defesa da tortura

gélico, um presidente que ao humanis-mo sobrepõe os interesses do petróleoe ao Estado de direito a arbitrariedade

policial.Bush deixou há muito de ser um pe-

rigo nacional, tornou-se uma ameaça

mundial. Por menos foram julgados noTPI outros dirigentes cuja diferençaresidia no menor poder militar e na au-sência de acesso directo a Deus e aosconselhos deste.

Para terminar o mandato com deson-ra e vergonha, do seu país e do mundo,Bush «anunciou hoje ter vetado um di-ploma que impediria a CIA de recorrera métodos de interrogatório a suspeitosde terrorismo e que são consideradostortura pela generalidade dos Estados».

É esta infâmia que envergonha osamigos dos EUA, onde me incluo, sa-bendo distinguir o seu povo da vaga si-nistra de neo-conservadores que toma-ram o aparelho de Estado.

Esperemos que os democratas, soba égide de Hillary ou Obama, devolvama América aos princípios liberais que es-tão inscritos na sua Constituição e fize-ram parte dos ideais dos fundadores dogrande país.

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12 DE 12 A 25 DE MARÇO DE 2008RUAS DE COIMBRA

Coimbra deu nomes de cidadãos

O elogio de José Augusto da Silva foi feito por seu neto,Jorge Aragão da Silva Morgado, na presença de muitos familiares e amigos

Os méritos literários de Garcia de Resende foram destacadospela professora Isaltina Martins

A placa da Rua Amorim Girão foi descerrada pelo Presidente da Junta De SantaClara e por Fernando Rebelo, ex-Reitor da Universidade de Coimbra

Para ouvir os elogios a Émile Planchard (feitos por Nicolau Vasconcelos Raposo,docente da Faculdade de Letras) e descerrar a lápida com o seu nome, veio da Bélgicao seu sobrinho barão de Planchard

O elogio do costureiro Hildebrando Silva foi feito por um seu amigo, Vítor AmaralLeitão (aqui ladeado por José Simão, Presidente da Junta de Freguesia de SantaClara, e por Mário Nunes, Vereador da Cultura e Presidente da Comissão deToponímia)

João Victor Silva Pereira, discípulo e colega de Amorim Girão, fez o elogio doprestigiado geógrafo e professor universitário

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13DE 12 A 25 DE MARÇO DE 2008 RUAS DE COIMBRA

exemplares a ruas de Santa Clara

O vereador Mário Nunes e uma sobrinha de Émile Planchard descerram a placada Praceta Émile Planchard

O filho mais novo, Gonçalo, e a neta mais nova, Carlota (foto acima) descerraram aplaca com o nome de Maria Helena Carrington da Costa (foto ao lado), cujo elogiofoi feito por Jorge Castilho

O Presidente da Junta de Freguesia de Santa Clara, José Simão, fez uma emotivaintervenção ao elogiar José João Ruivo, jovem alferes miliciano que foi morto emcombate Angola em 1972

A mãe do jovem José João Ruivo, bem como restantes familiares e amigos, nãoconseguiram disfarçar a emoção ao evocar o jovem morto em plena juventude

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14 DE 12 A 25 DE MARÇO DE 2008EDUCAÇÃO/ENSINO

Tão combatida quanto festejada, a Fran-cofonia poderia tornar-se numa nova aven-tura moderna, face a uma mundializaçãoesclerosante. Explicações.

Entre as ideias recebidas ligadas à ima-gem da francofonia, a suspeita colonialistanão é a menos tenaz. Imaginada, em 1880,pelo geógrafo francês Onésime Reclus, a“francofonia” designava então a comunidadelinguística e cultural constituída pela Françae pelas suas colónias. Mas o termo cedo caino esquecimento. Paradoxalmente, é a des-colonização que vai permitir à francofoniarenascer. Em Novembro de 1962, o presi-dente e poeta senegalês, Léoppold SédarSenghor, escreve na revista Esprit o primeiromanifesto em favor da francofonia. Em1970, os seus companheiros de luta pela in-dependência, o nigeriano Hamani Diori e otunisino Habib Bourguiba, fundam, com ele,em Niamey, uma instituição internacional decooperação. “A ideia era servir-se doFrancês para se sair da colonização”,explica Foued Laroussi, delegado para aFrancofonia no Instituto das Ciências da Co-municação do CNRS2. “A verdadeira co-lonização era exercida pela autoridadecolonial e não pela cultura francesa.Aliás, qual é a língua que não provém deuma colonização?”

Hoje, a instituição da Francofonia – com“F” maiúsculo – reúne sessenta e oito Es-tados e governos. “Ao expandir-se, aFrancofonia é cada vez menos coloni-al”, observa Michel Guillou, director doInstituto Francofonia e Mundialização naUniversidade Jean Moulin, em Lion. “Elareúne actualmente quase tantos paísesex-colónias francesas como países quenunca o foram, nem da França nem daBélgica”.

NÚMEROSQUE FALAM POR SI:

*175 milhões de pessoas no mundo utili-zam o Francês, das quais 115 milhões comolíngua materna.

*O Francês é a segunda língua mais en-sinada.

*5% das páginas da Internet são francó-

A Francofonia: razões de serfonas; o Francês é a terceira língua maisutilizada na Net.

*O Francês possui o estatuto de línguaoficial, só ou com outras línguas, em 32Estados e governos da Organização In-ternacional da Francofonia.

*Os francófonos são a 9ª maior co-munidade linguística; são, junto com osanglófonos, os únicos presentes nos cin-co continentes.

VEICULARVALORES COMUNS

Outra falsidade: centrando-se na promo-ção do Francês, a Francofonia estaria agar-rada a um combate de retaguarda; ora issoé esquecer que o seu campo de acção émuito mais largo: “Partindo da defesa dacultura, a Francofonia abriu-se progres-sivamente a outras temáticas tais comoos direitos do homem, a democracia, odesenvolvimento sustentável…”, continuaFoued Laroussi. Este é um engajamentoonde ela possui toda a sua legitimidade: “Alíngua não é apenas um instrumento decomunicação; é também um veículo decultura. Os defensores da ideia da Fran-cofonia referem-se às Luzes, à Revolu-ção Francesa. Partilhar uma língua im-plica também um outro modo de pensaro mundo”.

São estes valores comuns que levarama Francofonia a desempenhar um papelpolítico crescente na cena internacional.Em 1993, os países francófonos declarama sua vontade de agir em favor da diversi-dade cultural face ao desejo dos EstadosUnidos de liberalizar o domínio dos bens eserviços culturais. A Francofonia lideraentão um combate que conduziu à decla-ração de Cotonou sobre a diversidade cul-tural, concebida igualmente como um pro-cesso ao serviço da paz, texto que foi adop-tado em Novembro pela Unesco. Desdeentão, a Francofonia milita, sem cessar,para que se estabeleça uma Convençãomais exigente ao nível internacional: veioa ser assinada pela Unesco, a 21 de Outu-bro de 2005, por 148 países, num universode 154. Só os Estados Unidos e Israel selhe opuseram3. Neste sentido, opondo-se

a uma mundialização que trata a cultura,os saberes, as línguas como mercadorias,a Francofonia pode constituir “uma outramundialização”4. “Ela constitui uma pos-sibilidade face a uma mundializaçãorastejante que, visando uma certa uni-formização da cultura e das línguas pelahegemonia do anglo-americanismo, re-sulta numa pobreza linguística e cultu-ral”, comenta Foued Laroussi.

CONSTITUIR “UMA OUTRAMUNDIALIZAÇÃO”

Para Michel Guillou, a Francofoniapode também trazer respostas às neces-sidades de intercâmbio, de diversidade ede solidariedade geradas pela mundializa-ção: “As áreas linguísticas organizadas,como a francofonia, constituem luga-res privilegiados de diálogo, tão ne-cessários no momento em que se de-senvolvem guerras de religiões ou decivilizações. Por uma espécie de mesti-çagem dos valores da África e da Eu-ropa, a francofonia defende tambémos valores comuns da humanidade”.

Duas regiões do mundo tradicional-mente não francófonas (o Médio-Orien-te e a América Latina) reclamam, por seulado, tomar parte na francofonia. “Elasencontram na resposta francófona ummeio de se defenderem a si próprias ede defenderem o seu pluralismo linguís-tico”, afirma Foued Laroussi. “A fran-cofonia incita as outras línguas quecoabitam no seu seio a terem o seu lu-gar no xadrez linguístico”.

OS ENTRAVES FRANCESESNo momento em que é reconhecida no

estrangeiro, a francofonia é desprezada, senão mesmo maltratada em França! Nasci-da no exterior do Hexágono, desafiando otraçado arbitrário das fronteiras, os seusvalores nem sempre foram bem entendidos.“Defender a francofonia significa defen-der uma certa diversidade cultural”, notaFoued Laroussi: una “poli-francofonia” si-multaneamente enriquecida pela imigraçãofrancófona e pelo Ultramar.

Segundo Michel Guillou, “o maior ini-

migo da francofonia são as elites fran-cesas que, por razões de eficácia imedia-ta, se enganam de combate”. O Parla-mento francês ratificou, neste sentido, a novede Outubro último, o Protocolo de Londresque suprime a obrigação, para os diplomaseuropeus, de serem traduzidos para Fran-cês. Esta dispensa só aproveitaria ao inglês,segundo os seus detractores. Para o linguistaClaude Hagège, “a tradição da promo-ção do Francês está a ser abandonadaem troca de grandes massas. Outros pa-íses, como a Espanha e a Itália, que pos-suem economias tão importantes como anossa, defendem hoje melhor a sua lín-gua do que a França”. E Michel Guillouapela para que se “pare com o unilinguis-mo e se ponha finalmente a questão danecessidade da francofonia para a Fran-ça, e da sua utilidade no mundo”.

COMO FUNCIONAMAS INSTITUIÇÕESDA FRANCOFONIA?

A Conferência de chefes de Estado e degoverno, chamada “Cimeira”, constitui ainstância política da Francofonia. As Cimei-ras são preparadas e seguidas pela Confe-rência ministerial da Francofonia e o Con-selho permanente da Francofonia.

A Organização internacional da Franco-fonia (OIF) e o seu secretário geral, eleitopelos chefes de Estado e de governo, estãoencarregados de representar a Francofoniano plano internacional, de pôr em acção apolítica da organização, e de propor os eixosprioritários de acção.

A Assembleia parlamentar da Francofo-nia, consultiva, reagrupa os representantesde 74 organizações parlamentares de Esta-dos e de comunidades francófonas.

Outros operadores concorrem para osobjectivos da Francofonia: a Agência uni-versitária da Francofonia, o canal de televi-são TV5, a universidade Senghor de Ale-xandria, a Associação internacional de Pre-sidentes de Câmara e responsáveis das ca-pitais e das metrópoles parcial ou inteira-mente francófonas.

(francophonie.org/doc/txt-reference/charte_francophonie.pdf)

Está a decorrer em Coimbra, desde o passado dia, 8 uma semana decicada à Francofonia,numa iniciativa conjunta da Alliance Française de Coimbra, da Faculdade de Letras e da Escolade Hotelaria de Coimbra.

O programa de amanhã (quinta-feira, 13) inclui conferências por Françoise Sabatelli, da Em-baixada de França, sobre as razões da aprendizagem do francês em Portugal; e por Ofélia PaivaMonteiro, Professora da Faculdade de Letras, que falará sobre o ensino da língua, literatura ecultura francesas nos últimos 50 anos.

Anteontem, a Vice-Reitora da UC Cristina Robalo Cordeiro falou sobre “Rivarol Relu etCorrigé: De l’Universalité à la Diversité de la Langue Française”, e Paul Zimmerlin, Director daAlliance Française de Coimbra, sobre “Le Réseau Mondial des Alliances Françaises: Instrumentde la France”.

Depois de amanhã (sexta-feira), pelas 10,30 horas, na Escola de Hotelaria de Coimbra,Paul Zimmerlin falará da região da Alsácia, de onde é natural.

Durante toda a semana, pelas 16 horas, são projectados filmes francofónos, com entra-da gratuita, havendo também uma exposição-venda de livros à entrada da Faculdade deLetras da Universidade de Coimbra.

Abaixo se divulga um texto sobre a importância da francofonia.

Semana da francofonia decorre em Coimbra

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15DE 12 A 25 DE MARÇO DE 2008 EDUCAÇÃO/ENSINO

* Professor e Dirigente do SPRC/FENPROF

Nelson Delgado *

– Ó pai, vocês são bués! – exclamouo meu filho de 14 anos, olhando perfeita-mente extasiado, a “maré negra” que sefoi avolumando na Rotunda do Marqu-ês. Três horas e meia depois de ter co-meçado, a Marcha pela Indignação ain-da não tinha terminado e voltou ele a re-petir: – Ó pai, somos mesmo bués, nun-ca me vou esquecer disto…

E não, não esquecerá nunca os100 milque desfilaram entre o Marquês de Pom-bal e o Terreiro do Paço, num dia queficou marcado para a história, por ter sidouma das maiores manifestações de sem-pre, na Península Ibérica, levada a cabopelos docentes de Norte a Sul do país.

Pude sentir com enorme emoção oespanto do meu filho, assim como a pre-sença de inúmeros populares, ao longoda Avenida, a aplaudirem a massa hu-mana que desfilava. Observei comomuitos deles tinham os olhos marejadosou exibiam cartazes onde manifestavamo seu apoio e confiança à nossa classe,o que me tocou bem fundo.

À manifestação, na Praça do Comér-cio, repleta de gente, que não cabendo,encheu as ruas de acesso à mesma, jun-taram-se alguns pais e alunos, em pro-testo contra o ME, numa acção de soli-dariedade para com os professores.

Inúmeros elementos da PSP, uns far-dados, outros à paisana, acompanharam

Ó pai, vocês são bués!a manifestação de professores, não fos-sem os “Hooligans “ – segundo EmídioRangel (sic Correio da Manhã) - come-ter algum acto tresloucado de violênciagratuita. Depressa se verificou que tudose passava e, continuaria a passar-se namais perfeita normalidade porque os“pseudo.-professores”- de Rangel – sa-bem bem manifestar-se com “educa-ção”, “respeito” e “civismo”, coisa queeste senhor parece desconhecer…

Apesar de tudo avançar sem confli-tos, vinte autocarros com professoresvindos do Norte foram parados numaoperação stop da Brigada de Trânsito daGNR junto à estação de serviço de Avei-ras, na A1. Mário Nogueira (dirigente daFENPROF) quando discursava, no Ter-reiro do Paço, acabou por confirmar estainformação. Segundo uma fonte sindical,que viajava num dos autocarros, o factode haver passageiros em pé na viaturafoi o motivo apresentado pelas autorida-des para a operação.

Começa-se a desconfiar que algo maisgrave está a ser tecido às escondidas doZé Povinho, já que demasiadas anomali-as estão acontecendo, reflectidas emvários domínios da sociedade.

Os professores são uma classe bemrepresentativa do que é cada vez mais opaís “médio”: são funcionários públicos;são licenciados; vêm das classes médias

e/ou têm expectativas de classe média;passaram (e passam) por relações detrabalho precárias; lidam directa e rapi-damente, nas escolas, com as principaismudanças sociais e são administradospela mais burocrática das máquinas bu-rocráticas, a 5 de Outubro. O seu mal-estar e o seu protesto são representati-vos do estado das coisas. Só que não fi-caram quietos, no “cada um por si”; exi-giram o que o documento da SEDES veiodescobrir como pólvora seca:

«Em geral o Estado, a esfera formal ondese forma a decisão e se gerem os negóci-os do país, tem de abrir urgentemente ca-nais para escutar a sociedade civil e os ci-dadãos em geral» e/ou têm expectativasde classe média; passaram (e passam) porrelações de trabalho precárias; lidam dire-cta e rapidamente, nas escolas, com asprincipais mudanças sociais e são admi-nistrados pela mais burocrática das máqui-nas burocráticas, a 5 de Outubro.

Esta semana os docentes irão vesti-dos de luto para os seus locais de traba-lho, assinalando-o dentro e fora das es-colas e os protestos continuarão atravésde mais manifestações “educadas” portodo o país. E, possivelmente, educadasdemais porque eles, governo e ME, es-tão determinados em levar a sua avante.

O Ministro da Presidência afirmou ante-ontem (segunda-feira) que a esmagadoramaioria dos professores só será avaliada noano lectivo de 2008/2009, sendo no presen-te ano escolar apenas avaliados sete mil numtotal de 143 mil docentes.

As declarações de Pedro Silva Pereiraforam feitas em entrevista à SIC/Notícias,em que procurou sublinhar a disponibilidadedo Governo para “resolver os problemas quevão surgindo” nas escolas.

Entrevistado pelo jornalista Mário Cres-po, o titular da pasta da Presidência disseque um dos sinais de disponibilidade é justa-mente o facto de a ministra da Educação,Maria de Lurdes Rodrigues – aliás, por tra-

Manifestação impressionante

Ministro afirma que maioria dos professoressó será avaliada em 2008/2009

balho com o conselho das escolas – teraceite rever os prazos” referentes aos ca-lendários intercalares.

“Isto significa que já hoje a esmagadoramaioria dos professores só será avaliadano próximo ano lectivo. É portanto falso,simplesmente falso, que o sistema vá seraplicado à pressa para produzir a avalia-ção dos professores nos três meses do fi-nal do ano lectivo”, salientou Pedro SilvaPereira.

No presente ano lectivo, de acordo como ministro da Presidência, “poucos” serãoos docentes sujeitos a avaliação.

“No total de 143 mil professores, nãochegará a sete mil os professores que po-

derão precisar desta avaliação”, disse.Segundo a estimativa de Pedro Silva

Pereira, serão avaliados “apenas aquelesque estão à beira de mudar de escalão”e, como tal, para que em Setembro desteano já possam estar no outro escalão re-muneratório, “precisam da avaliação parasubir de escalão”.

“E são também professores contratados,não tanto por causa da renovação do con-trato mas por causa da possibilidade de con-correrem no próximo ano. Ou seja, a avali-ação que será feita este ano, a menos queas escolas se sintam em condições de fazermais, será feita no interesse dos professo-res”, acrescentou.

Cem mil professores desfilaram duran-te cerca de cinco horas, em Lisboa, na“marcha da indignação” exigindo a demis-são da ministra da Educação, a renegocia-ção do Estatuto da Carreira Docente e asuspensão do processo de avaliação de de-sempenho.

A ministra Maria de Lurdes Rodriguesdesvalorizou o número de manifestantes,afirmando “não ser relevante” e garantiu queirá continuar a trabalhar na “procura dasmelhores soluções”.

A última manifestação de professores,

que tinha sido até hoje a maior de sempre,realizou-se a 5 de Outubro de 2006 e juntouem Lisboa perto de 25 mil docentes, em pro-testo, na altura, contra o Estatuto da Carrei-ra Docente. Existem em Portugal 143 mildocentes, segundo referiu esta semana aministra da Educação.

No final da marcha, o secretário-geral daFederação Nacional dos Professores (FEN-PROF), Mário Nogueira, reclamou vitóriasobre o Governo, “e com maioria absoluta”porque na manifestação se conseguiu a“maioria qualificada entre os professores”.

Para o dirigente, os docentes “manifes-taram a sua indignação, dando uma fortís-sima expressão e elevado significado polí-tico ao seu protesto”, enquanto a equipaministerial de Maria de Lurdes Rodrigues“deixou de reunir condições” para se man-ter no cargo e “esgotou todas as condi-ções de diálogo”.

No protesto foram ainda anunciadas maisformas de luta como a realização de umasemana nacional de luto nas escolas e demanifestações em todas as segundas-fei-ras durante o terceiro período.

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16 DE 12 A 25 DE MARÇO DE 2008SAÚDE

MassanoCardoso

Há dias surgiram duas notícias muitointeressantes. Uma delas dizia respeito aum dos mais conhecidos antidepressivos,Prozac, sendo-lhe atribuído o papel de pla-cebo em inúmeras situações de depres-são não muito grave. Claro que nos casosmais complicados, o medicamento, a parde muitos outros, actua e actua bem. Emcasos de depressão ligeira, fenómenomuito frequente nos nossos dias, a capa-cidade do “doente” em ultrapassar o pro-blema é uma realidade que pode ser “ace-lerada” com um fármaco, com um cháde hipericão, uma ida à bruxa ou cum-prindo uma promessa.

A empresa que comercializa o Prozacveio a terreiro afirmar que existem evi-dências científicas que provam os seusefeitos. E provam mesmo! O problemacinge-se aos casos considerados como“doença” mas que, em boa verdade, de-veriam ser considerados como variaçõesdo estado normal em que um certo graude tristeza, de mal-estar e de ansiedadeestão presentes. É raro encontrar alguémque ao longo da vida não tenha tido um oumais episódios depressivos “minor”.

A notícia é valiosa por denunciar a cres-cente medicalização de muitos problemas

“Placebofilia”...que nos atingem, por chamar a atençãopara o perigo de abuso de certas substân-cias que, entre nós, é muito preocupante,

e para demonstrar que o “medicamento”mais poderoso é o placebo.

A outra notícia prende-se com um es-tudo da Faculdade de Medicina de Lis-boa em que os autores revelam que aacupunctura não tinha efeito na supres-são tabágica. Sabemos que o método dasagulhinhas é utilizado em muitas situa-ções, ao ponto de ser reconhecida comotécnica pela Ordem dos Médicos e ha-ver mesmo um curso de pós graduaçãona Faculdade de Medicina de Coimbra.

O que eu achei muito curioso foi ofacto dos defensores da acupunctura te-

rem afirmado, categoricamente, que exis-tem evidências científicas, sobretudopara os lados do Oriente, e que conse-guem ter taxas de sucesso, no abandonodo tabaco, na ordem dos 90%! Os cien-tistas que abordam estas temáticas, na-quilo a que se convencionou chamar“medicina baseada na evidência”, dizemque esta técnica de origem chinesa nãotem efeito, ao passo que os acupunctu-ristas garantem evidências científicaspróximas dos 100%, alegando que a efi-cácia da técnica não pode ser avaliadapelos padrões da medicina ocidental.Pois! Há padrões e padrões! Para queos “especialistas das técnicas chinesas”consigam tamanho sucesso, só atravésde um viés selectivo, ou seja, os maispropensos aos placebos – poderíamosdesigná-los como “placebófilos” – recor-reriam à acupunctura e, deste modo, te-riam mais probabilidades em obter a“cura”. Foi pena não terem sido auscul-tadas as mulheres, e homens de virtude,perguntando-lhes quais as taxas de su-cesso das suas “terapêuticas” no aban-dono do tabaquito! Se é que são procu-rados para esse efeito, claro está!

Somos todos sensíveis ao efeito pla-cebo, uns menos, outros mais e, prova-velmente, uma grande fatia, mas mesmomuito grande, deverá ser ultra-sensível

aos seus efeitos, seja na área da saúde,seja na área da politica. Mas, no caso dodesemprego, da falta de condições soci-oeconómicas, ou de situações em queestômago anda vazio, não há placebo quevalha, quer sejam aplicados os “padrões

ocidentais ou orientais”...Ah! Já me esquecia! Parece, se-

gundo os acupuncturistas, que a agu-lhinha tem que ser espetada na orelhano “ponto do guerreiro”! Estimulan-do-o o indivíduo adquire “força devontade e determinação”.

Um conselho para a rapaziada da opo-sição: corram depressa para o acupunc-turista mais perto de si! Se não der re-sultado para deixar de fumar, pode serque estimule alguma coisita...

Menos de cinco por cento da popu-lação mundial é viciada em substân-cias ilegais, cinco ou seis vezes me-nos que os viciados em tabaco ou emálcool, segundo dados da ONU apre-sentados anteontem (segunda-feira)em Viena (Áustria).

O director do departamento das Na-ções Unidas contra a Droga e o Cri-me (ONUDD), o italiano AntonioMaria Costa, disse, numa conferên-cia de imprensa, que o problema dasdrogas se havia “contido, mas não re-solvido”, de acordo com o relatório,que servirá de base à revisão da polí-tica internacional contra as drogasdesenvolvida nos últimos dez anos.

Em 1998, a ONU lançou em NovaIorque uma estratégia para “eliminarou reduzir significativamente o culti-vo ilegal da folha de cocaína, do can-nabis e da dormideira até 2008”.

Segundo Costa, os objectivos inici-ais não foram cumpridos, ainda queos dependentes de drogas ilegais re-presentem menos de cinco por centoda população mundial, um valor “cin-

Viciados em álcool e tabaco5 vezes mais numerosos que toxicodependentes

co ou seis vezes inferior aos viciadosem tabaco ou em álcool”.

Costa sublinhou que as pessoas queconsomem “drogas duras”, as quecausam danos mais graves na saúde,são aproximadamente 25 milhões, queequivale a 0,5 por cento da populaçãomundial.

Cerca de 200 mil pessoas morrempor ano vítimas da toxicodependência.

O vice-secretário da ONU reco-nheceu que existe um problema deimagem na luta contra as drogas.

“Existem muito poucos recursospara tratamentos de prevenção e re-abilitação. Dedica-se muito à erradi-cação dos cultivos (ilícitos) e pouco àerradicação da pobreza”, explicou.

Também criticou as propostas de le-galização das drogas como medidapara acabar com o problema: “as dro-gas não são perigosas porque são ile-gais, são ilegais porque são perigo-sas”, acrescentou.

Os próprios dados das Nações Uni-das mostram que os objectivos pro-postos há dez anos em Nova Iorque

não foram alcançados.A produção de cannabis estabilizou

nos últimos dez anos, porém a con-centração de tetraidrocanabinol(THC), princípio activo da planta, au-mentou.

Isto supõe um aumento indirecto da

produção, uma vez que é requeridamenos quantidade dessa substância,segundo admitiu Costa.

“Apesar disso, calcula-se que a pro-dução mundial de cocaína foi de 984toneladas em 2006, ou seja, um au-mento de 19 por cento desde 1998”,reconhece um documento oficial dareunião.

Na origem desse acréscimo estãoas melhorias das técnicas de cultivo,o aumento das colheitas anuais e donúmero de plantas por hectare e a uti-lização de variedades de maior rendi-mento.

Entre 1998 e 2007, o cultivo de dor-mideira diminuiu apenas dois por cen-to (de 238 mil para 234 mil hectares),mas a produção desta planta alcan-çou, em 2007, as 8.800 toneladas, quecorresponde ao dobro do volume pro-duzido nos nove anos anteriores.

A superfície total de culturas ilíci-tas de cocaína na Bolívia, Colômbia ePeru diminuiu 18 por cento (de190.800 hectares para 156.900 hec-tares), entre os anos de 1998 e 2006.

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17DE 12 A 25 DE MARÇO DE 2008 SAÚDE

José Soares

[email protected]

O comando da televisão e a“fast food “são aliados do seden-tarismo e da obesidade, respon-sáveis pela epidemia de diabe-tes que nunca ameaçou tanto osportugueses como hoje, segun-do Almeida Ruas, galardoadocom o Prémio de Excelência deDiabetes.

Trata-se da segunda edição des-te prémio, organizado pela Socie-dade Portuguesa de Diabetologiae um laboratório, que foi entregueno decorrer do 8º Congresso Por-tuguês de Diabetes, que decorreuem Vilamoura.

Em declarações à Lusa, Al-meida Ruas disse estar “orgulho-so” do galardão, por considerarque já fez alguma coisa pela do-ença, referindo-se ao trabalhoque desenvolve desde 1965 nesta área.

Manuel Almeida Ruas, fundador edirector do Serviço de Endocrinologiados Hospitais Universitários de Coim-bra (HUC), licenciou-se em Medici-na em 1957.

O seu interesse na diabetes e endo-crinologia levou-o a ir para Paris, parao Instituto de Alta Cultura, onde frequen-

ALMEIDA RUAS GALARDOADO COM “PRÉMIO EXCELÊNCIA DE DIABETES”:

Comando televisivo e fast food são aliadosdo sedentarismo e obesidade

tou os Serviços de Endocrinologia e Do-enças Metabólicas do Hospital Pitié.

A sua preparação em Endocrinolo-gia, nova área do saber médico a nívelnacional e internacional, levaram-noainda a Londres onde, como bolseiroda Fundação Calouste Gulbenkian, tra-balhou no London Hospital e no NewEngland Hospital.

Almeida Ruas criou a Con-sulta Externa de Endocrinolo-gia nos HUC em 1973. Desdeentão, como lembrou à Lusa,a doença foi alvo de um gran-de investimento, nomeada-mente ao nível do diagnóstico.

A este propósito, o especia-lista sublinhou a importânciada identificação das glicemiasatravés da picada do dedo e,na área da diabetes tipo I, asubstituição das seringas pe-las canetas infusoras.

Em relação à doença, Al-meida Ruas afirma que, doponto de vista epidemiológico,constata-se que a diabetes tipoII “está a aumentar de umaforma epidémica”, sendo “um

perigo mundial”.“As estatísticas mostram valores

muitíssimos elevados e os prognósti-cos são ainda piores, o que se deve àpredisposição genética aliada ao se-dentarismo e à obesidade.

“As pessoas não se mexem, sentam-se para trabalhar e nos tempos livres enem precisam de se levantar para mu-dar os canais televisivos, graças aos

comandos. Esta vida sedentária, alia-da à obesidade, em grande parte cau-sada pela fast food, pode resultar emdiabetes tipo II e, logo, a um elevadorisco para o coração”, disse.

Este prémio destina-se a premiaruma figura da diabetologia nacionalque se tenha destacado pela activida-de desenvolvida na clínica, na investi-gação ou na educação terapêutica naárea da diabetes mellitus e das suascomplicações.

No valor de 7.500 euros, o prémioreconhece institucionalmente as melho-res práticas nacionais no controlo dadiabetes, patologia que se estima atin-gir mais de 700 mil portugueses e quedeverá duplicar na próxima década.

Para o Presidente da SociedadePortuguesa de Diabetologia (SPD),Luís Gardete Correia, “este é um pré-mio muito importante pois permite,acima de tudo, distinguir um colega quetenha pautado a sua vida pessoal eprofissional pela investigação e edu-cação na área da diabetes. É umagrande honra para a SPD atribuir, anu-almente, este galardão, pois é tambémuma forma de a sociedade se afirmarno panorama médico nacional”.

Almeida Ruas

Um dos conceitos mais difíceis declassificar, e alcançar, é a felicidade. Oque é para um determinado indivíduo,pode ser exactamente o oposto para ou-tra pessoa. A felicidade pode ser conse-guida num momento, ou ser atingida atra-vés do conjunto de vários momentos aolongo da vida. Depende muito de pessoapara pessoa.

Cientistas britânicos e australianosdivulgaram agora um estudo em que,segundo eles, “os genes são responsá-veis por alguns traços de personalida-de capazes de favorecer a felicidade”.Para estes cientistas, embora todos nósfaçamos tudo para alcançar a felicida-de, seja lá o que isso for, a verdade éque há pessoas que nascem já predes-tinadas a alcançar a felicidade, graçasaos genes com que nasceram. Por isso,mais facilmente lutam por objectivosque dão significado às suas vidas, sen-do mais sociáveis, menos dadas a so-frerem de tensões nervosas ou preo-

Felicidade herda-se geneticamentecupadas em demasia.

Talvez isso justifique por que razão hápessoas que tanto lutam e nada conse-guem, e outras, sem esforço digno deregisto, alcançam o que querem e até oque nunca procuraram, sem qualquer di-

ficuldade. Tudo lhes parece cair do Céu,para a sua própria felicidade e para de-sespero de todos os outros, até com al-guma inveja à mistura.

Os estudos que estes cientistas trou-xeram agora a público foram feitos a

mais de dois mil indivíduos, mil pares degémeos, uns verdadeiros e outros falsos.O estudo dos gémeos há muito que é feitopara melhor perceber as ciências do co-nhecimento, mas agora também foi utili-zado para o estudo da genética.

Mas será que então estamos votadosà felicidade ou condenados à desgraça?Parece que também não é bem assim.Segundo um dos investigadores que par-ticipou na elaboração deste estudo, TimBates, da Universidade de Edimburgo,“as pessoas que não herdam os traçosque predispõem à felicidade não devemconcluir que estão destinadas a uma vidadesgraçada”.

Para contrariar essa tendência gené-tica para a desgraça, já existem muitasreceitas com sucesso garantido. Algumasdelas, passam por: “ser activo, sociável,

não entrar em stress, passar mais tempocom a família e amigos, ver menos tele-visão, não deixar que o trabalho avassa-le toda a sua vida e saber apreciar mes-mo os pequenos bons momentos”.

Talvez seja por tudo isto que há muitooptei por uma lema de vida: viver inten-samente cada dia como se fosse o últi-mo! Um dia vai mesmo ser verdade e sóespero que seja daqui a muitos anos.

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18 DE 12 A 25 DE MARÇO DE 2008A PÁGINA DO MÁ[email protected]

Mário Martins

PORTUGAL, “PORCA MISERIA”

Deplorável é a palavra mais “meiga” que encontro para classificar aforma como Augusto Santos Silva se referiu ontem, em Chaves, aos ma-nifestantes que o aguardavam e aos professores em geral.

(Luiz Carvalho, no “Instante fatal”, é bastante duro e classifica-o de“Democrata de sarjeta”. Leia aqui.)

Não tenho dúvidas que o actual Governo é o mais arrogante da histó-ria democrática portuguesa, deixando “a milhas” de distância os últimosanos do consulado de Cavaco Silva.

Também não tenho dúvidas que este Governo é tão socialista como eusou piloto de aviões. É o Governo mais à direita de que me lembro. Fortecom os fracos, fraco com os fortes.

Trinta e quatro anos depois de Abril regressa o fantasma do delito deopinião, as famílias (pais, filhos, primos, irmãos, tios, cunhados...) aboca-nham o mais que podem “à mesa do orçamento”, a corrupção está insta-lada, o compadrio afasta o mérito e promove a mediocridade acéfala,acentua-se a desigualdade social.

As hipóteses de regeneração do sistema parecem cada vez mais re-motas.

Perdeu-se a noção dos valores. É o tempo do “chico-espertismo”.

Os tempos são deprimentes.Cada vez me sinto mais um refugiado no meu próprio país.Sou daqui, estou aqui, mas é-me estranha toda esta realidade.

Como diriam os italianos, “porca miseria”.

(Este é o texto n.º 1.000 d’A Página do Mário. Começa a ser tempo depensar em “descansar”...)

(publicado em 8/03)

SE EU FOSSE A MINISTRA...... pegava na carteira, apagava a luz e

saía devagarinho pela porta dos fundos.(publicado em 8/03)

DESCULPAS NA 1.ª PÁGINA

“24 Horas”, de hojeNão é vulgar. Daí o destaque.

(publicado em 7/03)

CITAÇÃOO buzinão de José Sócrates – É o

ponto de não retorno. Sócrates per-cebe que chegou ao fim da estrada. Amanifestação do próximo sábado emLisboa, não vai ser mais uma mani-festação de professores. Vai ser o bu-zinão de José Sócrates. O estado degraça já tinha chegado, depois do es-tado da desgraça. A hora é de finadose nem um comício de desespero deapoio ao falhado presidente do con-selho de ministros irá retomar o fôle-go da governação.

(in “Instante fatal”;publicado em 6/03)

CRISEO FC Porto foi ontem afastado da

Liga dos Campeões, nas Antas, poruma equipa de 2.º plano europeu.

No momento em que escrevo, umaequipa de 3.º plano europeu vence oBenfica, na Luz, por 2-0.

É este o retrato mais actual do fu-tebol português.

PS - O Sporting acaba de empatarno campo de uma equipa inglesa igual-mente de 3.º plano, segundo ouço apósum jogo confrangedor.

(publicado em 6/03)

CAMINHO DA LIBERDADEO meu (grande) amigo Carlos Carran-

ca, socialista por opção política, aca-ba de enviar o texto que a seguir trans-crevo.

VERGONHA – O Governo socia-lista do eng.º Sócrates vai promover,no Porto, dia 15, uma manifestação àmaneira de Salazar com o povo “agra-decido” trazido, mais uma vez, em au-tocarros da província.

– QUEM MANDA?– SÓCRATES! SÓCRATES! SÓ-

CRATES!(publicado em 4/03)

POUPAR NA ASSINATURADA “PROTESTE”

É assinante da Proteste?Quer poupar 50% na assinatura du-

rante um ano?Veja no blogue como deve proceder.

(publicado em 3/03)

OS JORNAIS E A INTERNETFui ao “site” do Expresso olhar a

1.ª página da edição de hoje.Um outro assunto chamou-me a

atenção e encontrei este pedaço detexto:

«O coronel Vasco Lourenço escre-veu no blogue da Associação 25 deAbril um comentário às acusaçõesque lhe foram feitas pelo também co-ronel Costa Martins no site do Ex-presso. Com a devida vénia, publica-se a seguir o texto, na íntegra, de Vas-co Lourenço. O título e os subtítulossão da responsabilidade do Expresso.»

Ou seja: o “site” do maior semaná-rio português (em papel) publica umtexto retirado de um blogue, que porsua vez é a resposta a um depoimen-to prestado no próprio “site”.

Os tempos da comunicação, hojeem dia, são assim. E quem não estáatento a esta realidade acabará porperder o “comboio do futuro”.

São sinais dos tempos.(publicado em 1/03)

GASOLINA QUASE A 300Acabo de passar num posto de abs-

tecimento de combustíveis.O preço da gasolina sem chumbo

de 95 octanas é de 1,419 euros.Ou seja: um litro de gasolina custa

284$48 na moeda antiga.Como dizia a saudosa Ivone Silva,

«Isto é que vai cá uma crise!»(publicado em 28/02)

UMA PALAVRAQUE... NÃO EXISTE

Não costumo ler o jornal “O Jogo”.Mas tenho por ele algum carinho, por-que não esqueço que lá trabalhei nosprimeiros anos de existência.

«O quê?! um jornal desportivo diá-rio?! E vocês conseguem arranjar no-tícias para fazer o jornal todos osdias?!...». Esta foi a expressão quemais ouvi nos primeiros meses.

E não, não era fácil, naquele tem-po, fazer um jornal desportivo todosos dias. Mas lá fomos andando e hojeé o que se sabe: três diários desporti-vos em Portugal!

[Sinto orgulho por ter estado no iní-

cio da publicação do primeiro jornaldesportivo diário português. Sempretive uma “costela” que me levou a es-colher a novidade e a correr riscos pro-fissionais. Anos mais tarde, troquei umlugar de chefia no “Jornal de Notíci-as”, o maior jornal diário português,

por uma “aventura” no (então) aindainexistente “Diário As Beiras”. Nãome arrependi da escolha feita; nemhoje me arrependo. Aliás, só tenho aagradecer ao Criador o facto de atéhoje me ter proporcionado tantas ex-periências diferentes, porque issocorresponde ao que verdadeiramen-te desejo.]

Voltemos ao presente.“O Jogo” que vi nascer e ajudei a

crescer durante alguns anos surpre-endeu-me hoje com uma “calinada”das grandes na 1.ª página.

Quando li o título «Morte de Ca-bral Ferreira enlutece Belenenses»estranhei. Enlutece?....

Fui ao dicionário (ver as imagensmais abaixo) e comprovei que a pa-lavra enlutece não existe! Erro gros-so, portanto.

Espanta-me que, com os recursoshoje existentes, em que bastam al-guns “cliques” para esclarecer qual-quer dúvida, um erro destes tenhapassado despercebido aos editoresdo jornal.

Enfim...(publicado em 27/02)

ECONOMIA DE MERCADOTem TV Cabo? Pegue no telefone e

reduza a factura em 5•/mês.O segredo está no blogue.

(publicado em 26/02)

Page 19: O Centro - n.º 46 – 12.03.2008

19DE 12 A 25 DE MARÇO DE 2008 MÚSICA

Distorções

José Miguel [email protected]

Há já alguns anos que conheço o Vas-co Ferreira, mas em termos musicais sóo conheci há cerca de 5 anos, quandocomeçou a actuar ao vivo com os Ye-llow W Van, uma das minhas bandas pre-feridas. Nessa altura era a terceira vozjuntamente com Ruas e Manzk, apesardeste último já ter abandonado a banda.Passado esta estreia nos palcos, foi tem-po de ganhar coragem e avançar sozi-nho, agora sob o nome de Sensi MC, efoi já neste formato que o vi no passadodia 29 de Fevereiro. Apesar de não serum adepto do hip hop, assumo que ado-rei o que vi, sobretudo porque o som pra-ticado por Sensi MC, não é o mesmo aque estamos habituados quando ouvimosfalar de hip hop, cruzando sonoridadesmuito diversas, dando origem a um “co-cktail” de sons que tem muito de inova-dor. Apesar de não haver, ainda, discoeditado, o artista já disponibiliza no seu

“myspace” uma série de temas que nosvão entretendo enquanto não sai o seudisco de estreia, já com título, “Peque-

nos Crimes Entre Amigos”, de que des-taco “Sonhos”, que é sem dúvida umgrande tema.

O meu segundo destaque desta sema-na vai para dois rapazes de Brisbane, res-pectivamente Nick Littlemore e PeterMayes, que fundaram os Pnau, uma dasbandas que mais me surpreendeu nos

últimos tempos com um registo homóni-mo, o terceiro da sua carreira – após aedição de “Sambanova” (2001) e“Again” (2005) –, que foi editado no pas-sado mês de Novembro, apenas na terrados cangurús e que na ausência de edi-ção europeia apenas pode ser obtido porimportação nos lugares do costume. Te-mas como “Embrace” – que conta coma participação de Ladyhawke – ou“Come Together” mostram-nos um sommuito diferente, dançável, mas com umtravo rock, que nos cativa à primeiraaudição.

Para o fim, a sugestão desta quinzena

vai para o primeiro de quatro volumesde temas instrumentais da autoria deTrent Reznor e dos Nine Inch Nails, dasaga “Ghosts”. “Ghosts I-IV” pode ser

adquirido legalmente em diversos forma-tos, que vão desde um formato de “do-

wnload” gratuito que inclui 9 temas euma série de capas e “screensavers” atéuma versão (já esgotada) que custava300 dólares e que inclui 2 discos vinyl, 2cd’s e uma série de outras regalias, quepodem ser verificadas no site oficial dabanda. Está à distância de um clique.

PARA SABER MAIS:www.myspace.com/sensimcwww.pnau.net/www.nin.com/

Sensi MC “Sonhos” (Alfaiate Music)Pnau “Pnau” (etcetc)Nine Inch Nails “Ghosts I - IV”(The Null Corporation)

Sensi MC

O canadiano Neil Young, que des-de os anos 1960 tem sido um dos

mais influentes músicos rock da suageração, actua em Julho em Portu-gal, no âmbito do Festival Alive, emAlgés, anunciou a organização.

O autor de “Rockin’ in the freeworld” actuará a 12 de Julho, no ter-ceiro e último dia do festival, quereceberá ainda Ben Harper & The

Neil Young actuaem Julho em Portugal

Innocent Criminals e DonovanFrankenreiter.

Ao fim de mais de quarentaanos dedicados à música, NeilYoung continua activo e alerta aoque se passa no mundo, apesarde há dois anos lhe ter sido diag-nosticado um aneurisma cerebral.

Desde 2005 lançou três álbuns,incluindo “Living with war”, dis-co de canções de protesto que re-metem para a guerra no Iraque epara a administração de GeorgeW. Bush.

Em 2007 saiu “Chrome Drea-ms II”, o seu 30º álbum que étambém a sequela de “ChromeDreams” de 1977, e que deveráservir de base ao concerto emPortugal.

Da sua discografia destacam-se ainda “Everybody knows thisis nowhere” (1969), “Freedom”(1989) ou “Greendale” (2003).A segunda edição do Festival Ali-

ve decorrerá de 10 a 12 de Julho noPasseio Marítimo de Algés.

Além de Neil Young, o festivalcontará ainda com Rage Against theMachine, Gogol Bordello, WithinTemptation, Ben Harper e Donoo-van Frankenreiter.

Neil Young

A cantora islandesa Bjork provocou ascríticas dos seus fãs chineses depois de gri-tar “Tibete! Tibete!” no final apoteótico dasua canção intervencionista “Declare Inde-pendence”, num concerto em Xangai, se-gundo comentários publicados em váriaspáginas chinesas na Internet.

O grito activista de Bjork no concerto dopassado dia 2, em Xangai, o centro econó-mico e financeiro da China, acabou por atrairpouca atenção pública na China, onde sãoaplicadas regras duras aos activistas a fa-vor da independência da região autónomachinesa do Tibete.

A manifestação de Bjork não foi notíciana imprensa estatal chinesa, mas os comen-tários de fãs contra a atitude da cantoracomeçaram a surgir em vários sites chine-ses depois de se ter espalhado a informa-ção acerca do que aconteceu.

APELO NUM CONCERTO EM XANGAI

Bjork defendeindependência do Tibete

“Se realmente ela fez isto, então estamulher faz realmente com que as pessoastenham vontade de vomitar”, escreveu umcibernauta no portal Sina.com, um dos maispopulares na China.

Algumas das pessoas que assistiram aoconcerto em Xangai afirmaram que o en-cerramento do concerto com forte tom po-lítico não gerou insultos à cantora mas dei-xou o público pouco à vontade, segundo in-formações nos fóruns do mesmo site.

Os funcionários da empresa chinesa quepromoveu o concerto, a Emma Ticketmas-ter, ainda não comentaram o sucedido.

Não é a primeira vez que Bjork usa amúsica “Declare Independence” (Declaraa Independência), cuja letra inclui palavrascomo “Raise your flag! (Ergue a Tua Ban-deira), para manifestar apoio político a vári-as causas. A cantora dedicou a mesma can-ção ao Kosovo num concerto que deu nomês passado, no Japão.

No vídeo de “Declare Independence”Bjork aparece a agitar as bandeiras da Gro-nelândia e das Ilhas Faroé, controladas pelaDinamarca.

A China governa o Tibete desde 1951,após o exército chinês ter entrado no terri-tório para esmagar uma revolução. O con-trolo chinês é alvo frequente de condena-ção por parte de organizações não-gover-namentais e activistas que não reconhecemo domínio chinês.

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20 DE 12 A 25 DE MARÇO DE 2008OPINIÃO

Jorge Côrte Real *

Campanha apoiada pelo jornal

(* jurista)

Condução segura ou Códigode Segurança Pessoal (CSP) (5)

A ULTRAPASSAGEM

Seguir as recomendações do Códi-go da Estrada e nunca esquecer quesó a deve iniciar depois de se certifi-car de que foi visto. Em caso de dúvi-da, assinale acusticamente a sua in-tenção com um apito (breve). Execu-te esta manobra rapidamente, com de-terminação e a não mais de 1,5m dedistância do veículo a ultrapassar.Nunca se sabe quando aparece umobstáculo, e nessa altura todos os cen-tímetros são bem-vindos.

CAIXA DE VELOCIDADES

Não, não é um quebra-cabeças. Aspassagens de caixa devem ser efectua-das com a maior suavidade que consiga-mos aplicar.

Nunca reduzir em cima de uma cur-va. A 50 m da curva a abordar, já deveestar engrenada a mudança adequa-da, aquela que permita sair em potên-cia. Os carros até há uns 30 anos ti-nham 3 ou 4 relações de caixa, sendoa mais alta a prise directa, ou relação1/1, a qual segurava o carro quandolevantávamos o pé do acelerador.Hoje é frequente encontrarmos nasviaturas 5, 6 e até 7 relações de cai-xa. Francamente, não gosto deste exa-gero. Eu sei que o motivo é a econo-mia. Só que os condutores são quaseimpelidos a conduzir em relações so-bremultiplicadas, com a desagradável

sensação de “roda livre”, obrigando ausar mais os travões e a uma condu-ção mais atenta. Se procuramos se-gurança, é aconselhável esquecer es-tas relações fora das auto-estradas, econduzir com a prise directa engre-nada. Se não souber qual a mudançaque na viatura que conduz correspon-de à prise directa, pergunte ao con-cessionário da marca.

DA CARGA

Nunca, em caso algum, sobrecarre-gue a sua viatura. Também não convémaligeirá-la. O fabricante projectou o seucarro segundo rigorosos parâmetrosmédios, procurando distribuir igualmen-te os pesos suportados pelos eixos dian-teiro e traseiro. Conduzir com o depósitode combustível a menos de metade dasua capacidade total é uma ousadia tãoperigosa que pode, por falta de peso ede aderência num dos eixos (vulgarmen-te o traseiro) e em situações limite, pro-vocar um despiste. Recomendo circularsempre com o depósito cheio. Quandodesce abaixo de metade atesta-se pararepor o peso no eixo para o qual a viatu-ra foi concebida.

Evite circular com excesso de peso.Desequilibra o peso calculado paracada eixo, o que vai causar instabilida-de em curva, perda de potência e au-mento dos consumos muito significati-vo, para já não falar da perda do pra-zer de condução.

OS PNEUS

Sempre que possível escolha pneus dechuva. Duram menos, mas é no molha-do onde as coisas se complicam, e estesdão muito mais segurança. Em seco to-dos os pneus são bons. Por norma, en-cho os pneus com duas ou mais librasque o recomendado, para manter os sul-cos do piso bem abertos e os pneus maisfrescos, sendo esta última correcção in-dispensável em piso molhado.

DE NOITE

Se puder não conduza. Se o fizer, nãose esqueça dos óculos, se os usar. Sepuder use óculos com lentes amarelaspróprias para condução nocturna. Lim-pe os faróis e os vidros antes de partir,substitua lâmpadas que estejam fundidase adopte um ritmo de condução variável,para não adormecer. Nos cruzamentoscom outras viaturas não olhe para os fa-róis directamente, desvie o olhar para aberma direita. Meta uma lanterna noporta-luvas com uma bateria carregada.Ao nascer e ao pôr do sol faça uma pau-sa de condução mais prolongada. Nor-malmente meia hora ao nascer do Sol euma hora ao pôr do Sol, para que os olhosse adaptem à variação luminosa.

Enquanto conduz não fume porquedistrai o condutor e sujeita-se a que dei-xe cair um morrão incandescente no colo– e ao sacudi-lo pode distrair-se e per-der o controlo da viatura.

BEBIDAS E MEDICAMENTOS

Se conduzir, não beba bebidas alco-ólicas; mas se beber faça-o modera-damente e tenha sempre por perto Me-tadoxil ou outro composto com pirido-xina, que acelera o metabolismo do ál-cool. Após a toma, espere sempre pelomenos 40 minutos antes de conduzir.

Se tomou anfetaminas, benzodizepinasou cafeína em excesso nas últimas 12 ho-ras, não toque no volante. Espere ou peçaa alguém que conduza. Afectam o tempode reacção ainda mais que o álcool. Tam-bém os desgostos, os ódios e as depres-sões não devem acompanhar o condutor.

Se tiver dúvidas sobre os seus tem-pos de reacção, faça o seguinte teste:munido de um relógio digital com lei-tura de centésimos de segundo, ponha-o a funcionar e quando os dois últi-mos dígitos atingirem 00 carregue nobotão de paragem. Verifique. Até 30centésimos de segundo, pode condu-zir à vontade. De 30 a 50, conduzir,mas com muita cautela. Se o tempode reacção ultrapassar os 50, condu-za só em pequenos trajectos, máximode 3 km. Se ultrapassar os 100, ouseja, 1 segundo, deixe que seja outrapessoa a conduzir.

Esperando que as indicações aqui dei-xadas ao longo destas semanas sejamúteis, termino esta série de textos dese-jando a todos muito boas viagens, mascom segurança.

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21DE 12 A 25 DE MARÇO DE 2008 OPINIÃO

Renato Ávila

Joséd’Encarnação

POIS...POIS...POIS...POIS...POIS...

A produção literária de Camões nãoé vasta.

De facto, Os Lusíadas são a sua prin-cipal obra. Mas o poeta escreveu aindaodes, sonetos, elegias, publicados em vidaem livros alheios. Assim, a sua lírica érecolhida de manuscritos vários e de vá-rias épocas, colocando-se em causa a au-tenticidade de alguns poemas.

Para terminar esta breve abordagemda vida e da obra de Luís Vaz de Ca-mões, falta ainda salientar uma outraemissão saída em 1980.

Esta emissão é constituída por doisselos, picotados a meio, com os valoresde 6$50 com o perfil do poeta e, ao lado,uma estrofe d’Os Lusíadas (III 20-11).

IV CENTENÁRIO DA MORTE DE CAMÕES

Poesia e Verdade

«História, mestra da Vida», «A His-tória não se repete»: frases do dia-a-dia, cuja validade amiúde se discute.Ambas são válidas, porém, pois só é‘mestra’ porque… se repete.

Detêm os acontecimentos inúmerasvariáveis e isso leva quem só liga àCiência e à Técnica – formados emcursos integrais ou ‘de aviário’ – a des-denhar os aforismos e a menosprezara História.

Fez-se a Revolução Francesa me-diante distribuição clandestina de pan-fletos; as perturbações sociais da pri-meira industrialização fizeram-se coma propaganda boca a boca dos desen-raizados urbanos; na América do Sul,mais recentemente, uma revoluçãoteve mulheres de panelas na mão comoprotagonistas…

Revolução armada? Ná, não é pos-sível! E quem disse que só há revolu-ções de tiroteio? Hoje, as armas sãoos blogues, a Internet, as sms…

Abalizada autoridade em questões edu-cacionais afirmava há dias num dos “Prós eContras” da RTP que, com a democratiza-ção e consequente massificação do ensino,a escola se sentiu obrigada a calibrar asexigências curriculares e programáticas porníveis mais acessíveis a um hipotético alunomédio.

Implícita, portanto, a conformista tese deque os programas tiveram, por minimização,de adaptar-se à mediana (à mediania?...)duma suposta genérica capacidade dos alu-nos e nela enquadrar o sucesso a perseguir.

Por outro lado, e dentro dos mesmos prin-cípios, houve que aligeirar, que facilitar nãosó nos níveis, mas nas práticas que corpori-zam a aprendizagem e formalizam a avalia-ção das aquisições de saberes e comporta-mentos.

Em causa, por conseguinte, uma espéciede abastardamento do ensino no sentido deo tornar mais acessível, mais susceptível doalcance de um êxito, ainda que ilusório.

E, aqui, poderíamos questionar acercadesse mesmo sucesso, da qualidade dasaquisições e competências a atingir e da fi-abilidade da sua aferição.

Quando se fala de aferição teremos,igualmente, de inquirir acerca dos pa-drões utilizados, das suas abrangências

Minimalismo e facilistismoe exigências.

As manifestações globais de culturae capacidade instrumental, especialmen-te das gerações mais próximas, revelamum deficiente domínio, nomeadamente nouso do idioma e do cálculo.

A iliteracia e a incultura que grassam aolhos vistos, as análises de insuspeitos orga-nismos supranacionais revelam que os pa-drões são minimalistas e que as práticasestão eivadas de redutor facilitismo.

As revisões e acertos curriculares, nonosso modesto entender, têm subestimado,ou mesmo deixado pelo caminho, aspectosfundamentais de uma cultura de valores ede pragmática exigência cognitiva.

Por sua vez, as sucessivas reformas doprocesso de formação inicial e contínua deprofessores têm subalternizado os aspec-tos técnico-pedagógicos da orientação daaprendizagem.

Na transição das EM’s para as ESE’snão terão sido minimamente salvaguarda-dos aspectos fundamentais das didácticasligadas à instrumentalidade.

Duvidamos mesmo que algumas rubri-cas essenciais da Teoria Curricular, comosejam a programação e a avaliação, este-jam devidamente sedimentadas e escla-recidas na mente de grande número deprofessores.

O afunilamento dos ensinos básico esecundário em direcção à porta das uni-versidades e politécnicos, ao fechar o le-que de alternativas, terá, por seu lado, fo-

mentado o desinteresse de muitos, o in-sucesso e o abandono que estigmatizama nossa escola.

Hoje, com urgência, temos de reconhe-cer que a escola portuguesa falhou: vege-tou na mediania que leva à mediocridade,defraudou os que a ela recorreram e dei-xou o país a braços com uma crise de ilite-racia e impreparação profissional de incal-culáveis proporções.

Não vale a pena puxar pelos expedi-entes da aferição e compensação dasexperiências de vida, das estratégiasimediatistas de individualização e mas-caramento de programas, do aligeira-mento das aquisições e estratégias deavaliação para dourar as estatísticas eatribuir um simulacro de diploma.

Será sempre mais do mesmo. A apostana mediocridade. Na fraude educativa.

É precisamente isto que os professoresainda não disseram claramente e que bailano fundo das suas consciências.

É precisamente isto que os professorestêm de erguer como bandeira se quiseremconquistar o lugar e a consideração a quetêm direito.

Isto, todavia, implica disponibilidade paramudar, para sair das águas podres do imo-bilismo e fantasia pedagógica. Exige estu-do, doação, entusiasmo e, sobretudo, umaforça enorme, convicções profundas e umacoragem sem limites.

É que se torna imperioso combater con-cepções e práticas demasiado arreigadas

para se lidar com o rigor e procurar a ex-celência, como ciclópico será educar umaopinião pública estiolada e viciada em co-mezinhas coisas de novelas, “futebóis”, so-poríferos “eteróis”, e uma classe políticasem classe e sem a clara consciência dointeresse nacional cujas noções de méritoe competência se encontram altamentedistorcidas.

A escola tem de continuar a ser paratodos. Inclusiva. Porém, terão de ser oseducandos a elevar-se aos níveis de exi-gência e do rigor pelo trabalho e pelo es-forço, com a orientação magistral com-petente e motivadora.

As respostas terão de ser abertas e equi-libradas no sentido de ir ao encontro das suasexpectativas e capacidades.

Torna-se essencial uma estreita e cor-recta articulação dos níveis de exigênciaprogramática entre os diferentes ciclos deensino e uma criativa e pragmática diver-sificação de saberes e competências demodo a, sem transigências de rigor nasaquisições, a todos facultar, numa escolacredível, sólidos instrumentos de inserçãona vida activa e numa pretensa carreiraacadémica.

São estas políticas de verdade que têmfalhado e sem as quais todas as outras setornam marginais.

Em nossa opinião, tem sido essa a ra-zão de tanto descontentamento, das con-fusões e do descalabro em que está en-volta a escola.

João PauloSimões

FILATELICAMENTE

Desenhados por J. Pedro Roque, es-tes selos são em papel esmalte F e den-teados 12x12 ½.

Foram impressos na Imprensa Nacio-nal Casa da Moeda e circularam de 9 deJunho de 1980 a 31 de Agosto de 1989.

Eis aqui, quase cume da cabeçaDe Europa toda, o Reino Lusitano,Onde a terra se acaba e o mar começaE onde Febo repousa no Oceano.Este quis o Céu justo que floreçaNas armas contra o torpe Mauritano,Deitando-o de si fora; e lá na ardenteÁfrica estar quieto o não consente.

No selo de 20$00, temos o mesmo perfil do poeta eum soneto.

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,Muda-se o ser, muda-se a confiança;Todo o mundo é composto de mudança,Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,Diferentes em tudo da esperança,Do mal ficam as mágoas na lembrançaE do bem, se algum houve, as saudades.

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22 DE 12 A 25 DE MARÇO DE 2008INTERNACIONAL

Balcãs deriva da palavra turca quedesigna montanha. Balcãs chamaram osturcos otomanos à cordilheira que vai doleste da Sérvia até ao Mar Negro, quan-do, em 1453, conquistaram Constantino-pla (actual Istambul) e iniciaram a suaexpansão pela Dácia romana. Ponto deencontro dos antigos e divididos ImpérioRomano do Ocidente e do Oriente e pos-teriores Igreja Católica Romana (Eslo-vénia, Croácia) e Ortodoxa de Bizâncio(Sérvia, Montenegro, Macedónia), a re-ligião muçulmana (Albânia, Bósnia) in-troduz um outro ponto de divisão e con-flito entre latinos, germanos e eslavos.Os impérios Austríaco, Turco e Russodisso lucraram, sob o olhar atento dosIngleses, Franceses e Alemães1. Acres-centem-se hoje as rotas do petróleo e asfontes de investimentos para a “recons-trução” da ex Jugoslávia, ou ainda a rotaprivilegiada da droga vinda do Oriente:entre 4 a 6 toneladas de heroína por mês,ou seja entre 200 a 600 milhões dedólares mensais.

Boa parte deste 2º maior mercado eu-ropeu (depois dos automóveis, paralelo aode armas e antes que o de mulheres, crian-

A Independência do KosovoRené Tapia

(Professor universitário)

Os Estados Unidos parecem preci-sar pouco da diplomacia.

O poder é suficiente.Só os fracos precisam diplomacia.O império romano não necessitou

da diplomacia.Nem os Estados Unidos a utilizam.

Boutros Boutros-Ghali(Ex Secretário-geraldas Nações Unidas)

A antiga colónia da Jugoslávia

ças e órgãos humanos) é controlada pelamáfia albanesa, em aliança conflituosacom as turcas e italianas. O seu centrode operações é o Kosovo, onde financiao UCK (Exército de Libertação do Ko-sovo, em albanés Ushtria Çlirimtare eKosovës), surgido oficialmente em 1995,mas criado na Suiça em 1982.

Segundo as suas próprias declarações,o UCK surge para combater as tropassérvias de Milocevic, razão pela qual étolerado pelas tropas americanas daNATO (340.000 soldados instalados naregião). Para os serviços secretos alba-neses (SHIK), o UCK era dirigido por

Abou Bakr al-Sadiq, da Al-Qaeda. Foi aSHIK que, em 1995, com o apoio da CIAe o financiamento do Irão e da ArábiaSaudita, permitiu o funcionamento da Al-Qaeda no Kosovo, em troca da passa-gem da heroína do Afeganistão. Muham-mad Zawahiri, outro associado de BinLaden, morto no Paquistão em 2006, eradirector das operações especiais da UCK.

O Kosovo (Kocogo em sérvio, ouKosova – Kosovë – em albanês) foi con-quistado pelos turcos em 1389 até 1912,quando foram expulsos. Com a queda doimpério otomano da Sublime Porta foicriado o principado de Albânia, mas a

província (independente desde 1877) doKosovo foi integrada na Sérvia, forman-do parte do Reino da Jugoslávia desde1918, que reprimiu os albaneses (80%da população actual de 2,2 milhões, an-tes da última limpeza étnica dos albane-ses contra os sérvios). Em 1940 Musso-lini anexou a Albânia e foi a vez dos sér-vios serem perseguidos. Com a criaçãoda Jugoslávia por Tito, em 1945, Kosovofoi mantida província autónoma, forman-do parte da Sérvia até 1991, quando de-clarou unilateralmente a sua independên-cia, sendo só reconhecida pelos EstadosUnidos, que, em 1995 utilizou este terri-tório para bombardear a Bósnia-Herze-govina e, em 1999, Belgrado 2. A 17 deFevereiro de 2008 separou-se da Sérvia,sendo reconhecido pelos Estados Unidose alguns países europeus, reconhecimen-to declarado “imoral” por Putin, ao queo seu Ministro de Relações Exterioresacrescentou ser “a primeira vez que seaborda a saída de uma região de dentrode um estado soberano”.

Este é o nó górdio da Europa.

1 Geopoliticamente, o rio Danúbio (onde sesitua estrategicamente Belgrado. a capital da Ser-via) não só divide as terras da Europa aptas paraa cerveja ou o vinho, mas possibilita à Alemanhachegar ao mar Negro. Este mar permite a passa-gem para a Ásia e fecha o caminho da Rússia aoMediterrâneo. O mesmo papel joga o mar Adriá-tico, via Eslovénia, no acesso à estratégica Ilha deMalta, no centro do Mediterrâneo, e chegar aoCanal do Suez, Médio Oriente ou Mar Negro.

2 Com estas campanhas, a NATO passou, deter sido criada como uma organização para a de-fesa colectiva, a agir como uma aliança de segu-rança colectiva dos Estados Unidos actuando emterritório europeu, “Região Euro-Atlantica”, se-gundo o novo “Conceito Estratégico” criado emLisboa, 1999.

A autoproclamada independência doKosovo provoca acesas discussões. Deba-te-se principalmente de que maneira o casokosovar influirá nas zonas de inúmeros con-flitos territoriais. Mas o que mais interessaé um outro aspecto: os acontecimentos nosBalcãs inserem-se organicamente no pro-cesso geral de degradação das instituiçõesinternacionais.

Todos os participantes da colisão noKosovo apelam ao Direito Internacional.Todos declaram alto e bom som um im-parável desejo de solucionar a questãocom base nas normas reconhecidas. Maso processo saiu fora do quadro dos pro-cedimentos legais. O Conselho de Segu-rança da ONU está fora do jogo, e a legi-timidade da nova formação estatal conti-nuará por muito tempo um objecto deacalorada polémica.

Moscovo e Belgrado lançam as culpassobre os EUA e a Europa Ocidental – osiniciadores da independência «a qualquerpreço» do Kosovo. Washington, Londres,

O Kosovo e as novas regras do jogoParis, Berlim e outros apoiantes de Pristinaconsideram que a obstrução que a Rússiacria na ONU faz enfraquecer ainda maiseste importante organismo internacional.

No entanto, não acontece nada de novo.Nos últimos 15 anos as instituições interna-cionais estavam a perder rapidamente a suainfluência. E, diga-se de passagem, que to-dos dão um contributo, na medida das suaspossibilidades. (...)

Tudo mudou com o fim da «guerra fria».O bloco vencedor sentia-se aborrecido daslimitações impostas pela regras do períodoanterior. E o derrotado já não podia insistirna aplicação das normas do Direito Inter-nacional.

«Nas novas condições, os EUA não ve-rão razões para se submeterem às velhasrestrições», – assim caracterizou em 2003a situação criada o investigador norte-ame-ricano Michael Glennon. Num artigo seu,publicado na revista «Foreign Affairs», eleproclamou «a morte» do Conselho de Se-gurança da ONU. O investigador assinou a

peça logo após a rápida vitória norte-ameri-cana no Iraque. Mas a ideia fora inicialmen-te exposta no seu livro «Os Limites do Di-reito e as Prerrogativas da Força», escritocom base na experiência da campanha dosEUA e da NATO no Kosovo em 1999.

A guerra da NATO contra a Jugoslá-via teve como principal justificação a ne-cessidade de defender as normas do Di-reito e os padrões humanitários. Para alegalizar recorreu-se a uma interpretaçãoambígua e duvidosa de uma resolução doConselho de Segurança. No caso da guer-ra contra o Iraque já se escusou a qual-quer resolução da ONU.

(...) A erosão tocou não apenas a ONU.Em geral, a eficácia das instituições inter-nacionais na solução dos prementes pro-blemas do nosso mundo continua a baixar.Hoje em dia, fala-se muito sobre as refor-mas da OSCE, do FMI e da OMC.

A principal colisão está na contradiçãoentre o sistema internacional multipolar emformação e a ineficácia das instituições.

Cresce o número de países que pretendemparticipar na definição de «novas regras dojogo».

O limiar dos anos 90 do século XX nãosurgiu como uma final, mas antes como oinício do tormentoso processo da transfor-mação global – da estabilidade confronta-dora, com regras bem definidas, para algonovo. O ponto de destino ainda não é claro,mas o movimento continua.

As circunstâncias do aparecimento de umnovo Estado nos Balcãs leva-nos a umaconclusão pouco radiante. As esperançasdos anos 90 - conseguir uma paz assenteno Direito e nos valores humanitários, estãoa desfazer-se como nevoeiro matinal. O usoda força militar e o prevalecer do princípioétnico sobre o princípio cívico na edificaçãoestatal conduziram os kosovares para a in-dependência.

Fiodor Lukyanovin revista “A Rússia na Política Global”

24.02.08

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23DE 12 A 25 DE MARÇO DE 2008 INTERNET

IDEIAS DIGITAIS

Inês AmaralDocente do Instituto Superior Miguel Torga

O site FotoAdrenalina organiza expedições fo-tográficas e as propostas online são muito interes-santes. A ideia é proporcionar aos clientes umasférias diferentes, do ponto de vista da objectiva. Aproposta é diferente, mas motivadora: férias em di-ferentes pontos do globo com o objectivo de foto-grafar.

As propostas são absolutamente irrecusáveis eporque as férias da Páscoa estão a chegar, acedera este site pode significar uma mudança de planos.Mas justificada. Se não, atente-se a alguns dos des-tinos: Açores, Picos da Europa, Noruega ou Ama-zónia.

FOTOADRENALINA

endereço: http://www.fotoadrenalina.com/categoria: fotografia

GAVE

Numa altura em que se aproximam as várias épocasde exames em diferentes níveis de ensino, o Ministérioda Educação disponibiliza no site do GAVE (Gabinetede Avaliação Educacional) exercícios e explicações deMatemática.

Esta base de dados tem como objectivo permitir aosalunos testarem conhecimentos. Por outro lado, numaárea reservada, os professores podem introduzir novosconteúdos como trabalhos de casa e fichas de avalia-ção. Segundo o GAVE, o projecto vai estender-se embreve a outras áreas.

GAVEendereço: http://bi.gave.min-edu.pt/categoria: ensino

CIÊNCIA VIVA

FOTOADRENALINA

CONJUGA-ME

GAMER GUINESS BOOK

PLANET OF INTERNET

O site Ciência Viva tem uma área muito interes-sante para os fins-de-semana dedicados aos pais e aosfilhos: o Ciência em Casa. O objectivo é partilhar ex-periências domésticas com carácter científico, aproxi-mando pais e filhos na busca do conhecimento.

O autor do site avisa que podem acontecer impre-vistos nos testes, recomenda algumas regras e alertapara o facto de ser possível que algumas “matérias-primas” não tenham este carácter para os pais. Noentanto, parece-nos um espaço interessante para pro-

piciar a interacção entre pais e filhos do ponto de vistado conhecimento e da ciência.

CIÊNCIA VIVA

endereço: http://cienciaemcasa.cienciaviva.pt/categoria: ciência, crianças

O Guiness Book lançou uma edição especial dedi-cada aos jogos. É um projecto antigo que agora semateraliza. Trata-se de uma secção do Guiness Bookque faz a compilação dos melhores resultados no mun-do dos jogos.

Alguns dados curiosos, para aguçar o apetite dosvisitantes: a consola mais vendida de sempre foi a Nin-tendo Super Mário Bro e o jogo mais longo foi conse-guido por um canadiano, em 1980, que esteve a jogar oSpace Invaders durante 38 horas e 30 minutos.

GAMERS GUINESS BOOKendereço: http://gamers.guinnessworldrecords.com/international.aspx/categoria: jogos

Numa espécie de extensão do Sim City ao ambi-ente dos browsers, o Planet of Internet propõe aosutilizadores replicar na web o mundo real. Cada pes-soa que adira a esta comunidade ocupa um espaço(metaforicamente, um apartamento) que pode ser vi-sitado por outros utilizadores.

Para participar neste mundo virtual não é precisopagar, salvo os utilizadores que queiram comprar umterreno ou um apartamento. Para conhecer os mo-radores de Planet of Internet basta ver os registosde residência de particulares ou empresas. Cada uti-lizador tem também um perfil que apresenta os da-dos pessoais, o blog, vídeos e fotografias. Não é umaideia original, mas os gráficos são engraçados e, sópor isso, vale a pena uma visita.

PLANET OF INTERNETendereço: http://www.planetofinternet.com/categoria: simulação

O Conjuga-me é um espaço na rede que dispo-nibiliza um programa aos utilizadores que permite con-jugar verbos da língua portuguesa. O software partedo infinitivo de um verbo e faz a conjugação verbal,tanto de verbos irregulares como de regulares.

Está online desde Agosto de 2007 e já apresen-tou cerca de 125 mil conjugações. O sistema nãoestá ainda completo, mas o site avisa: «Para ostempos compostos não aparece conjugação poisestes formam-se facilmente com o particípio pas-sado do verbo e com um auxiliar». Há ainda hi-perligações para outras aplicações semelhantes,tanto em português como noutras línguas. Uma vi-sita indispensável, em particular na era da “Gera-ção Polegar” que reinventa a língua portuguesa comos sms ao ponto de a eskecer.

CONJUGA-ME

endereço: http://www.conjuga-me.net/categoria: língua portuguesa

Page 24: O Centro - n.º 46 – 12.03.2008

24 DE 12 A 25 DE MARÇO DE 2008DIA DO PAI

Dia do Pai é jána próxima quarta-feira (19)É já na próxima quarta-feira (19 de Março) que se celebra o “Dia do Pai”.À semelhança do que sucede com o “Diada Mãe”, é uma forma de homenagearquem esteve na origem da existência de cada um de nós.Para os que têm a infelicidade de já ter perdido o Pai, será um dia para evocar, de formaainda mais intensa, a sua memória, para recordar os seus ensinamentos, para honrar oseu exemplo.Para os que têm a alegria de ainda poderem contar com o apoio do Pai, é a altura de

lhe demonstrar quanto o amam, quanto o admiram, quanto lhe estão gratos, atravésde um gesto, de uma pequena lembrança.Em homenagem a todos os Pais, a seguir transcrevemos, com a devida vénia,um significativo texto do padre A. Jesus Ramos, Professor de História daIgreja, que acompanha a bela medalha editada pela LUSATENAS, que igualmentese reproduz (e que pode ser uma excelente lembrança, que perdurará pelostempos fora).

Um mestre que nos ama“Quem honra o Pai encontrará alegria

nos seus filhos”. A afirmação é do Livrodo Eclesiástico, ou de Bem Sira, um dostextos de sabedoria do Antigo Testamen-to. Mas, como toda a Palavra de Deus,continua agora tão actual como no tem-po em que foi escrita. Serve-nos por isso,às mil maravilhas, como ponto de parti-da para uma curta reflexão sobre a ce-lebração que fazemos todos os anos doDia do Pai, que coincide sempre com afesta litúrgica do Patriarca S. José, mo-delo de todos os pais. Aliás, quando es-colhemos uma imagem para a celebra-ção deste dia, quase sempre nos decidi-mos por um retrato idealizado do Car-pinteiro de Nazaré ensinando ao MeninoJesus a sua arte e as outras coisas ne-

cessárias para viver em comunidade epara ser pessoa cumpridora dos seusdeveres de cidadania plena.

Um dos principais aspectos do papeldo Pai é, de facto, o de transmitir aosfilhos não apenas conhecimentos teóri-cos, mas sobretudo a forma de ver omundo, de encarar a realidade e de rela-cionar com os seus semelhantes. Maisdo que simples mestre que ensina, o Paisente que é formador que modela o ca-rácter, que imprime no ânimo dos filhosos fundamentos duradoiros, que lhes hão-de servir para toda a vida.

Nesta tarefa educativa, o desempe-nho formador do Pai terá tanto mais êxi-to quanto maior for ilustrado com o exem-plo do próprio modo de vida. A honesti-

dade, a honradez e até o espírito de per-dão, bem como a tolerância e a solidari-edade são virtudes que se aprendem nãopor palavras, por mais bonitas que elassejam, mas principalmente através daobservação das atitudes e dos actos dequem ensina.

Excelente é, pois, a escola da imita-ção de exemplaridade de vida. Felizesaqueles pais que sentem a admiração dosfilhos, por ser isso sinal de que não ape-nas os geraram para a vida, mas os for-maram na escola do exemplo, para se-rem homens e mulheres na plena acep-ção da palavra.

Este sentimento de admiração pela fi-gura do Pai torna-se ainda mais vivoquando recorda que ele foi e é não ape-

nas o mestre que ensina, ou mesmo oformador que modela, mas acima de tudoo grande amigo que nos compreende eque quer para os filhos todo o bem domundo. Numa palavra – um mestre quenos ama!

A presente medalha, obra do escultorJorge Coelho e editada pela Medalhísti-ca Lusatenas, pretende traduzir o reco-nhecimento e a gratidão devidos a todosos pais que procuram ser mestres, serformadores e ser amigos – os melhoresamigos!

A. Jesus Ramos(Professor de História da Igreja

no Instituto Superiorde Teologia de Coimbra)