207 direito civil resumo da aula 01

Direito Civil Aula 01

O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula

ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementao do estudo em livros

doutrinrios e na jurisprudncia dos Tribunais.

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Sumrio

1. Recomendaes Iniciais .......................................................................................... 2

2. Premissas/ Parmetros para o estudo ................................................................... 2

2.1 Introduo ......................................................................................................... 2

2.2 Direito Clssico e Contemporneo ................................................................... 2

2.2.1 Viso clssica (forma de pensamento do sculo XVI) ................................. 2

2.2.2 Viso Contempornea ................................................................................. 4

Paradigmas principais utilizados como parmetro do CC/02 ........................................ 8

3. LINDB (Lei de Introduo s Normas de Direito Brasileiro) ................................. 11

3.1 ndice de Abordagem do tema ....................................................................... 11

3.2 Vigncia das leis .............................................................................................. 11

3.2.1 Existncia ................................................................................................... 12

3.2.2 Validade ..................................................................................................... 13

3.2.3 Eficcia ....................................................................................................... 13

3.2.3.1 Vacatio Legis ...................................................................................... 14

3.2.3.2 Ato jurdico perfeito ........................................................................... 16





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1. Recomendaes Iniciais

Contato do professor

Facebook.com/prof.andreroberto

Email: [email protected]

Atualmente, para preparao para concursos pblicos, sobretudo para rea federal,

fundamental a leitura de informativos no caso especfico de Direito Civil, os informativos do

STJ.

Sugestes Bibliogrficas

Direito Civil Esquematizado. Pedro Lenza e Carlos Roberto Gonalves. Editora Saraiva.

Manual de Direito Civil. Volume nico. Flavio Tartuce. Editora Gen.

Direito Civil. Cesar Fiuza. Editora RT.

Direito Civil Sistematizado. Cristiano Sobral.

2. Premissas/ Parmetros para o estudo

2.1 Introduo

importante estabelecer premissas, parmetros de estudo, isso porque a

interpretao literal de um dispositivo nem sempre representa a melhor interpretao.

No que toca a questes de concurso, cumpre esclarecer, porm, que em alguns

momentos, a questo buscar a forma como o legislador previu especificamente aquele

instituto.

De qualquer forma, indispensvel saber a interpretao constitucional, da doutrina

e dos tribunais, principalmente do STJ, quanto aquele tema.

2.2 Direito Clssico e Contemporneo

2.2.1 Viso clssica (forma de pensamento do sculo XVI)

Autonomia da Vontade ampla Liberdade Contratual

Direitos patrimoniais eram disponveis.

Predominncia de normas dispositivas e de contedo patrimonial;





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Os crticos afirmam que havia trs personagens beneficiados pelo CC de 1916: o

credor, o proprietrio e o pai.

Relaes jurdicas paritrias presuno de igualdade entre as partes;

Ideia de igualdade meramente formal, o que era muito nocivo, sobretudo quando as

situaes de vulnerabilidade eram gritantes.

Separao entre direito pblico e privado

O pensamento do incio do sculo XX era de absoluta separao entre direito pblico

e privado. Eram dois ramos paralelos, que raramente se tocavam.

O primeiro regulamentava relao do Estado com entes pblicos e dos cidados com

o Estado. A norma base de regulao desse direito pblico era a CRFB.

Por outro lado havia o direito privado, relacionado regulao das relaes entre os

sujeitos. A norma base dessa relao era o CC. Destaca-se que, em um primeiro momento,

as questes de direito privado no estavam submetidas CRFB, alm de o controle de

constitucionalidade ainda estava se desenvolvendo.

No tocante ao direito pblico, as normas eram de natureza cogente, portanto,

obrigatrias, que no admitiam renncia. Ao passo que no direito privado, as normas eram

renunciveis, normas dispositivas1. Havia normas imperativas no direito privado, mas eram

mnimas, normalmente de contedo no patrimonial.

Visualizao figurativa dos dois sistemas: o direito pblico representa relaes

verticais, enquanto que o direito privado regularia as relaes horizontais, j que as relaes

seriam paritrias, no havendo supremacia de uma parte em relao outra, ou seja, todos

so iguais perante a lei.

Direito Pblico Direito Privado

Relaes Verticais Relaes horizontais

Supremacia do interesse pblico Todos so iguais perante a lei (paritrios)

Observao: as premissas do direito clssico foram relativizadas. No mais se afirma

que so dois ramos separados perante o outro. As mudanas havidas, principalmente ao

longo do sculo XX, impuseram a superao da viso clssica.

1 MPF cobrou a diferena entre norma dispositiva e cogente.





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Obrigatoriedade dos contratos como sinnimo de segurana jurdica;

Boa-f subjetiva;

O legislador se preocupava em proibir a m-f, mas no em garantir a boa-f. Havia

uma falsa ideia de que cada um somente deveria firmar os contratos que lhe satisfizesse.

Nessa esteia de pensamento, se o contrato nasceu, porque as duas partes esto dali

tirando proveito. Portanto, se algum no foi privilegiado pelo negcio, significa que ela no

tomou as devidas precaues.

Intangibilidade dos negcios jurdicos como garantia de respeito liberdade e

autonomia das partes;

Havia proibio reviso judicial dos negcios jurdicos. Era possvel a anulao pelo

juiz, mas jamais a alterao de clusula. Destaca-se que at a dcada de 80, entendia-se que

juiz no podia substituir a vontade da parte para alterar o contedo de um contrato.

Irretroatividade da lei em relao ao ato jurdico perfeito = segurana jurdica.

Como as partes j convencionaram, celebrando contratos vlidos, no poderia a lei

estabelecer de forma contrria, alterando o contrato porque a lei mudou.

2.2.2 Viso Contempornea

A viso contempornea no vai abolir as premissas do direito clssico, mas sim

impulsionar a reviso. Sendo assim, no se pode afirmar que no h mais pacto sunt

servanda, ele existe, s no tem mais a fora de outrora, no mais absoluto.

1) Constitucionalizao do Direito Civil dilogo entre o direito privado e o pblico

(aproximao das fontes normativas).

A constituio passa a ser aplicada tanto ao direito pblico quanto ao direito

privado. Saliente-se que no se trata de reconhecimento do controle de constitucionalidade.

mais do que isso, uma vez que se reconhece a aplicao direta e imediata da Constituio

da Repblica a uma relao privada e no apenas como fundamento de validade da lei

privada. Quando se passa admitir que a constituio tem esse papel, o direito civil tambm

tem fonte constitucional.

A visualizao figurativa dos dois sistemas alterada:

Direito Constitucional

Direito Pblico Direito Privado





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2) Eficcia horizontal dos Direitos Fundamentais

importante destacar que o reconhecimento da aplicao direta dos preceitos

constitucionais s relaes privadas recente no Brasil. O primeiro julgado que admite a

possibilidade de aplicao direta de 2006. A constituio, na abordagem do direito

clssico, tinha uma eficcia vertical, ou seja, tinha relao de poder entre aqueles que tm a

posio de poder. Nesse contexto, surgiu a expresso da eficcia horizontal dos direitos

fundamentais. O julgado paradigma do STF o RE 201819/RJ:

EMENTA: SOCIEDADE CIVIL SEM FINS LUCRATIVOS. UNIO BRASILEIRA DE COMPOSITORES.

EXCLUSO DE SCIO SEM GARANTIA DA AMPLA DEFESA E DO CONTRADITRIO. EFICCIA DOS

DIREITOS FUNDAMENTAIS NAS RELAES PRIVADAS. RECURSO DESPROVIDO.

I. EFICCIA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS NAS RELAES PRIVADAS. As violaes a direitos

fundamentais no ocorrem somente no mbito das relaes entre o cidado e o Estado, mas

igualmente nas relaes travadas entre pessoas fsicas e jurdicas de direito privado. Assim, os

direitos fundamentais assegurados pela Constituio vinculam diretamente no apenas os

poderes pblicos, estando direcionados tambm proteo dos particulares em face dos poderes

privados.

II. OS PRINCPIOS CONSTITUCIONAIS COMO LIMITES AUTONOMIA PRIVADA DAS ASSOCIAES.

A ordem jurdico-constitucional brasileira no conferiu a qualquer associao civil a possibilidade

de agir revelia dos princpios inscritos nas leis e, em especial, dos postulados que tm por

fundamento direto o prprio texto da Constituio da Repblica, notadamente em tema de

proteo s liberdades e garantias fundamentais. O espao de autonomia privada garantido pela

Constituio s associaes no est imune incidncia dos princpios constitucionais que

asseguram o respeito aos direitos fundamentais de seus associados. A autonomia privada, que

encontra claras limitaes de ordem jurdica, no pode ser exercida em detrimento ou com

desrespeito aos direitos e garantias de terceiros, especialmente aqueles positivados em sede

constitucional, pois a autonomia da vontade no confere aos particulares, no domnio de sua

incidncia e atuao, o poder de transgredir ou de ignorar as restries postas e definidas pela

prpria Constituio, cuja eficcia e fora normativa tambm se impem, aos particulares, no

mbito de suas relaes privadas, em tema de liberdades fundamentais.

III. SOCIEDADE CIVIL SEM FINS LUCRATIVOS. ENTIDADE QUE INTEGRA ESPAO PBLICO, AINDA

QUE NO-ESTATAL. ATIVIDADE DE CARTER PBLICO. EXCLUSO DE SCIO SEM GARANTIA DO

DEVIDO PROCESSO LEGAL.APLICAO DIRETA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS AMPLA DEFESA E

AO CONTRADITRIO. As associaes privadas que exercem funo predominante em

determinado mbito econmico e/ou social, mantendo seus associados em relaes de

dependncia econmica e/ou social, integram o que se pode denominar de espao pblico, ainda

que no-estatal. A Unio Brasileira de Compositores - UBC, sociedade civil sem fins lucrativos,

integra a estrutura do ECAD e, portanto, assume posio privilegiada para determinar a extenso

do gozo e fruio dos direitos autorais de seus associados. A excluso de scio do quadro social

da UBC, sem qualquer garantia de ampla defesa, do contraditrio, ou do devido processo

constitucional, onera consideravelmente o recorrido, o qual fica impossibilitado de perceber os

direitos autorais relativos execuo de suas obras. A vedao das garantias constitucionais do

devido processo legal acaba por restringir a prpria liberdade de exerccio profissional do scio. O

carter pblico da atividade exercida pela sociedade e a dependncia do vnculo associativo para

o exerccio profissional de seus scios legitimam, no caso concreto, a aplicao direta dos direitos





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fundamentais concernentes ao devido processo legal, ao contraditrio e ampla defesa (art. 5,

LIV e LV, CF/88).

IV. RECURSO EXTRAORDINRIO DESPROVIDO.

(RE 201819, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Relator(a) p/ Acrdo: Min. GILMAR MENDES,

Segunda Turma, julgado em 11/10/2005, DJ 27-10-2006 PP-00064 EMENT VOL-02253-04 PP-

00577 RTJ VOL-00209-02 PP-00821)

No caso paradigma, o STF entendeu que a ampla defesa e o contraditrio tambm se

aplicam excluso de participante de associao, ainda que a lei no imponha tal

obrigatoriedade. Destaca-se que nessa hiptese, em tese, ter-se-ia que aplicar o estatuto da

associao o qual, no caso concreto, tambm no previa tal exigncia.

De acordo com a interpretao clssica, a garantia da ampla defesa e contraditrio,

refere-se s relaes entre estado e particular. A interpretao dada pelo STF, porm, foi de

que se trata de um direito aplicvel diretamente a particulares, impondo um contedo a um

estatuto privado, quando a lei privada no fazia tal previso.

Destaca-se que a relatora do presente julgado (Ellen Gracie) foi vencida, sendo o

relator para acrdo o Min. Gilmar Mendes, o qual fundamentou seu voto no caso

paradigmtico julgado pela corte constitucional alem, conhecido como caso LTH no qual

a corte alem reconheceu a garantia de poder externar a opinio, em liberdade de

expresso. Na hiptese julgada, Lth, crtico cinematogrfico, liderou movimento de boicote

divulgao de filme que tinha como finalidade negar a existncia do holocausto, razo pela

qual os produtores dos filmes ajuizaram pleito indenizatrio em face de Lth. A corte

constitucional alem entendeu pela possibilidade imediata de aplicao da liberdade de

expresso no mbito particular, julgando improcedente o pleito indenizatrio.

Na seara do STF, a mesma questo quanto aplicabilidade imediata das normas

constitucionais foi discutida quando da apreciao da constitucionalidade da lei de imprensa

e, atualmente, permeia a discusso quanto constitucionalidade das bibliografias no

autorizadas.

3) Funcionalizao dos institutos jurdicos;

A funo social passa a ser exigvel aos direitos subjetivos em geral. Atualmente,

portanto, fala-se em funo social do contrato, da posse, da propriedade, da famlia e da

empresa. Em outros termos, a funcionalizao consiste no reconhecimento de que os

direitos no existem apenas para satisfazer os interesses privados, mas eles tm que atender

a interesses sociais.

4) Despatrimonializao do direito privado em prol da dignidade da pessoa humana;





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Como consequncia, o direito privado passa a ser indisponvel, ou seja, h menor

quantidade de normas dispositivas. Tanto que, atualmente, o CC, tem muitas normas de

carter pblico (cogentes), no se restringindo s normas de carter privado (dispositivas).

5) Autonomia privada e liberdade exercidas no limite em razo da funo social;

6) Crescimento do nmero de normas de ordem pblica;

Como h maior nmero de normas de ordem pblica, a autonomia privada

diminuda, da mesma forma que a liberdade. Destaca-se, porm, que ainda h autonomia e

liberdade, mas essas encontram a funo social como limitao.

Exemplo: no mbito do contrato de plano de sade, a liberdade das partes exercida

com muita restrio, visto que a rea regulada, tendo em vista a vulnerabilidade de uma

das partes.

7) Reconhecimento da vulnerabilidade e busca da igualdade substancial.

A ideia de que as partes no so necessariamente iguais, sendo importante

reconhecer elementos para proteger a desigualdade.

Exemplos: art. 423 e 424 do CC so normas de ordem pblica, de carter imperativo,

que visam proteger aquele que mais vulnervel.

CC, Art. 423. Quando houver no contrato de adeso clusulas ambguas ou contraditrias, dever-

se- adotar a interpretao mais favorvel ao aderente.

CC, Art. 424. Nos contratos de adeso, so nulas as clusulas que estipulem a renncia

antecipada do aderente a direito resultante da natureza do negcio.

Observao: a vulnerabilidade do CDC e da CLT no casustica, mas sim

principiolgica. Por essa razo, o CDC e a CLT tm contedo protetivo ao consumidor e ao

trabalhador, respectivamente, por serem vulnerveis por principiologia.

No CC as relaes no so sempre desiguais, razo pela qual a vulnerabilidade no

principiolgica, depende de anlise no caso concreto.

Exemplo: clusula de eleio de foro (art. 78 do CC).

CC, Art. 78. Nos contratos escritos, podero os contratantes especificar domiclio onde se

exercitem e cumpram os direitos e obrigaes deles resultantes.

Quando a relao for de consumo e a clusula de eleio de foro for prejudicial ao

consumidor, porque um foro diferente do seu domiclio, no haver dvidas de que essa

clusula abusiva, tendo em vista que o consumidor vulnervel, tendo-lhe que ser





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facilitado o acesso ao judicirio. Sendo assim, essa clusula no ser aplicada, vez que no

pode integrar o contrato uma clusula abusiva (nula).

Saliente-se que o STJ tem afirmado que nem todo contrato de adeso que impe

uma clusula de eleio de foro vulnera o aderente. Se for relao de consumo, ser

abusiva, por princpio, se o contrato for de outra natureza, depender da anlise no caso

concreto.

Exemplo: maior franqueador do McDonalds no Brasil tem sede no Rio de Janeiro.

Adere um contrato de adeso que estabelece como clusula de eleio de foro SP. Nessa

hiptese, mesmo sendo contrato de adeso, vlida a clusula, vez que no h

vulnerabilidade, no h dificuldade em o aderente se fazer representar.

8) Relativizao da Obrigatoriedade dos pactos para preservao da comutatividade

e da boa-f (objetiva)

O contrato obrigatrio, desde que compatvel com outros princpios, tais como:

boa-f e probidade, buscando-se, com isso, o equilbrio das relaes.

Paradigmas principais utilizados como parmetro do CC/02

Foram trs parmetros utilizados pela comisso que elaborou o CC: eticidade,

socialidade e operabilidade.

a) Eticidade: tbua axiolgica baseada em valores de tica, probidade e boa-f.

Quando se fala em boa-f subjetiva (CC/16) probe-se que se aja com dolo contra o

outro. Para analisar a m-f tem que analisar a inteno. A anlise complicada porque

depende do ntimo das pessoas. Nessa sistemtica, por exemplo, Pncio de Pilatos agiu de

boa-f, vez que agiu de forma neutra, sem ser de m-f. O comportamento neutro na lgica

do CC/16 era admitido.

Ocorre que quando a eticidade passa a ser paradigma, a boa-f passa a ser um

dever2, ou seja, adota-se a boa-f objetiva, impondo-se um padro de comportamento

objetivo. Passa-se, assim, a ter que colaborar com o outro por dever e no por boa-inteno.

Nessa perspectiva, ao no fornecer uma informao que seria essencial, h violao da boa-

f, uma vez que comando objetivo. Em outros termos, ao no fornecer uma informao de

forma clara ou ao omiti-la, viola-se a boa-f, ainda que no haja a inteno.

Da mesma forma, por imposio da boa-f, necessrio respeito coerncia, ainda

que esteja amparado de forma contrria contratualmente. Sendo assim, se o

2 H um ditado popular que ajuda a compreender a boa-f objetiva: De boa inteno o inferno est

cheio.





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comportamento anterior contrrio ao atual, h violao boa f objetiva, por no ser

coerente. Um exemplo dessa hiptese noticiado no Informativo 478 do STJ.

INFORMATIVO 478 DO STJ

CORREO MONETRIA. RENNCIA.

O recorrente firmou com a recorrida o contrato de prestao de servios jurdicos com a previso

de correo monetria anual. Sucede que, durante os seis anos de validade do contrato, o

recorrente no buscou reajustar os valores, o que s foi perseguido mediante ao de cobrana

aps a resciso contratual. Contudo, emerge dos autos no se tratar de simples renncia ao

direito correo monetria (que tem natureza disponvel), pois, ao final, o recorrente, movido

por algo alm da liberalidade, visou prpria manuteno do contrato. Dessarte, o princpio da

boa-f objetiva torna invivel a pretenso de exigir retroativamente a correo monetria dos

valores que era regularmente dispensada, pleito que, se acolhido, frustraria uma expectativa

legtima construda e mantida ao longo de toda a relao processual, da se reconhecer presente

o instituto da supressio. REsp 1.202.514-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 21/6/2011.

Na questo apreciada pelo STJ, um advogado foi contratado para agir em favor do

seu cliente, firmando contrato de advocacia mensal, prevendo-se que, a cada ano, o

honorrio seria reajustado por um ndice. Passados anos, no foram reajustados os valores,

podendo-se presumir, a priori, que o valor era satisfatrio para ambos os contratantes.

Ocorre que, passados alguns anos, o cliente denunciou e rescindiu o contrato. O advogado,

ento, ingressou em juzo requerendo a diferena relacionada ao rejuste jamais cobrado.

Frise-se que o contrato assegurava o reajuste e o devedor, ao pagar, pagou sabidamente

sem o reajuste. A luz da boa-f, os valores que no foram sinalizados como devidos no

podem ser cobrados, ainda que haja previso clara no contrato. Atualmente, a boa-f passa

a exigir mais das partes do que exigia.

Dentro dessa perspectiva, a boa-f passa a exigir como dever que se olhe para o

outro e corresponda s suas expectativas legtimas. Sendo assim, aquele adota

comportamento neutro tambm viola a boa-f.

b) Operabilidade: estabelecer solues normativas de modo a facilitar sua

interpretao e aplicao pelo operador do Direito.

Exemplo: todos os prazos prescricionais esto nos art. 205 e 206 do CC/02. Todos os

demais dispositivos so ou de usucapio ou de decadncia.

CC/02, Art. 205. A prescrio ocorre em dez anos, quando a lei no lhe haja fixado prazo menor.

CC/02, Art. 206. Prescreve:

1o Em um ano:

I - a pretenso dos hospedeiros ou fornecedores de vveres destinados a consumo no prprio

estabelecimento, para o pagamento da hospedagem ou dos alimentos;

II - a pretenso do segurado contra o segurador, ou a deste contra aquele, contado o prazo:





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a) para o segurado, no caso de seguro de responsabilidade civil, da data em que citado para

responder ao de indenizao proposta pelo terceiro prejudicado, ou da data que a este

indeniza, com a anuncia do segurador;

b) quanto aos demais seguros, da cincia do fato gerador da pretenso;

III - a pretenso dos tabelies, auxiliares da justia, serventurios judiciais, rbitros e peritos, pela

percepo de emolumentos, custas e honorrios;

IV - a pretenso contra os peritos, pela avaliao dos bens que entraram para a formao do

capital de sociedade annima, contado da publicao da ata da assembleia que aprovar o laudo;

V - a pretenso dos credores no pagos contra os scios ou acionistas e os liquidantes, contado o

prazo da publicao da ata de encerramento da liquidao da sociedade.

2o Em dois anos, a pretenso para haver prestaes alimentares, a partir da data em que se

vencerem.

3o Em trs anos:

I - a pretenso relativa a aluguis de prdios urbanos ou rsticos;

II - a pretenso para receber prestaes vencidas de rendas temporrias ou vitalcias;

III - a pretenso para haver juros, dividendos ou quaisquer prestaes acessrias, pagveis, em

perodos no maiores de um ano, com capitalizao ou sem ela;

IV - a pretenso de ressarcimento de enriquecimento sem causa;

V - a pretenso de reparao civil;

VI - a pretenso de restituio dos lucros ou dividendos recebidos de m-f, correndo o prazo da

data em que foi deliberada a distribuio;

VII - a pretenso contra as pessoas em seguida indicadas por violao da lei ou do estatuto,

contado o prazo:

a) para os fundadores, da publicao dos atos constitutivos da sociedade annima;

b) para os administradores, ou fiscais, da apresentao, aos scios, do balano referente ao

exerccio em que a violao tenha sido praticada, ou da reunio ou assembleia geral que dela

deva tomar conhecimento;

c) para os liquidantes, da primeira assembleia semestral posterior violao;

VIII - a pretenso para haver o pagamento de ttulo de crdito, a contar do vencimento,

ressalvadas as disposies de lei especial;

IX - a pretenso do beneficirio contra o segurador, e a do terceiro prejudicado, no caso de seguro

de responsabilidade civil obrigatrio.

4o Em quatro anos, a pretenso relativa tutela, a contar da data da aprovao das contas.

5o Em cinco anos:

I - a pretenso de cobrana de dvidas lquidas constantes de instrumento pblico ou particular;

II - a pretenso dos profissionais liberais em geral, procuradores judiciais, curadores e professores

pelos seus honorrios, contado o prazo da concluso dos servios, da cessao dos respectivos

contratos ou mandato;





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III - a pretenso do vencedor para haver do vencido o que despendeu em juzo.

c) Socialidade: superao do modelo individualista do CC/16. Consagrao da

funo social da posse, da propriedade, dos contratos, da empresa e da famlia.

9) Modificao e reviso judicial dos contratos;

A intangibilidade que havia foi reduzida, sendo possvel alterao contratual por

ordem judicial.

10) Eficcia imediata das normas de ordem pblica e ato jurdico privado.

3. LINDB (Lei de Introduo s Normas de Direito Brasileiro)

3.1 ndice de Abordagem do tema

Art. 1 ao 6 da LINDB: soluo dos conflitos da lei no tempo: vigncia,

revogao e efeito represtinatrio.

Art. 3, 4 e 5 da LINDB - interpretao e fontes supletivas;

Art. 6 da LINDB - eficcia da lei no tempo, com a questo da retroatividade

ou irretroatividade e ultratividade3 da lei.

Dos art. 7 em diante sero tratada as questes de aplicao de direito no espao.

Esse contedo mais afeto ao direito internacional privado.

3.2 Vigncia das leis

LINDB, Art. 1o Salvo disposio contrria, a lei comea a vigorar em todo o pas quarenta e cinco

dias depois de oficialmente publicada.

1o Nos Estados, estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se inicia

trs meses depois de oficialmente publicada. (Vide Lei 2.145, de 1953) (Vide Lei n 2.410, de

1955) (Vide Lei n 3.244, de 1957) (Vide Lei n 4.966, de 1966) (Vide Decreto-Lei n 333, de

1967)

2o (Revogado pela Lei n 12.036, de 2009).

3o Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicao de seu texto, destinada a

correo, o prazo deste artigo e dos pargrafos anteriores comear a correr da nova publicao.

4o As correes a texto de lei j em vigor consideram-se lei nova.

3 Embora o dispositivo no diga expressamente, ser abordada a ultratividade.





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Art. 2o No se destinando vigncia temporria, a lei ter vigor at que outra a modifique ou

revogue. (Vide Lei n 3.991, de 1961)

1o A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela

incompatvel ou quando regule inteiramente a matria de que tratava a lei anterior.

2o A lei nova, que estabelea disposies gerais ou especiais a par das j existentes, no revoga

nem modifica a lei anterior.

3o Salvo disposio em contrrio, a lei revogada no se restaura por ter a lei revogadora

perdido a vigncia.

As normas, tal como os negcios jurdicos, so analisadas em trs planos: existncia,

validade e eficcia.

3.2.1 Existncia

Existncia: desde a sua promulgao;

Na perspectiva infraconstitucional, a lei existe desde a sua publicao. Isso no

significa que est produzindo efeito. A publicidade dessa lei ocorre com a publicao no

rgo competente. A partir da publicao, a norma torna-se de todos conhecidas.

Publicidade (presuno absoluta): desde a sua publicao (art. 3 da LINDB)

LINDB, Art. 3o Ningum se escusa de cumprir a lei, alegando que no a conhece.

A partir da publicao, a norma se torna de todos conhecida, conforme presuno

absoluta, devendo ser cumprida.

Harmonia entre o art. 3 da LINDB e art. 139, III do CC.

CC/02, Art. 139. O erro substancial quando:

(...)

III - sendo de direito e no implicando recusa aplicao da lei, for o motivo nico ou principal do

negcio jurdico.

Partindo-se da premissa de que nem toda norma obrigatria/cogente, possvel

anular um negcio jurdico por erro de direito (art. 139, III do CC). A conciliao do previsto

no art. 3 da LINDB e no art. 139, III do CC, normas que so aparentemente contraditrias,

ocorre com a diferenciao da norma cogente da norma dispositiva.

Ao celebrar um negcio jurdico por ter interpretado equivocadamente a norma,

entendendo-a como cogente, mas como no era, esse negcio jurdico pode ser desfeito. Em

outros termos, o art. 139, III do CC/02 refere-se s hipteses em que a pessoa no teria

celebrado o negcio se no precisasse.





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Exemplo1: h confuso atual quanto ao direito sucessrio, principalmente do direito

do cnjuge, visto que a lei prev de uma forma, mas a interpretao dada recentemente

pelo STJ distinta. Nesse contexto, caso o sujeito celebre uma cesso de direitos

hereditrios fundada em uma interpretao da norma que depois no mais subsiste, esse

negcio jurdico celebrado pode ser anulado. Dependendo das circunstncias e do prazo

pode-se anular o negcio, visto que o erro era escusvel, j que havia doutrina e

jurisprudncia naquele sentido, quando demonstrado que ele no teria sido celebrado se

soubesse a melhor interpretao.

Exemplo2: confisso de dvida em relao a uma cobrana que o STF vem a

reconhecer a inconstitucionalidade. A confisso dessa dvida no poder subsistir, tendo em

vista a perspectiva do erro.

3.2.2 Validade

Validade: norma em conformidade com o ordenamento jurdico;

Se for uma lei ordinria, tem que estar em conformidade com a CRFB.

Norma em sentido amplo (regulamento) tem que verificar est de acordo com a

norma infraconstitucional.

3.2.3 Eficcia

Eficcia: ser eficaz (eficcia absoluta) a partir do momento em que entra em

vigor, podendo no ser eficaz a certos atos (eficcia relativa).

Ateno: em alguns casos a eficcia relativa, entrando em vigor sem ser totalmente

eficaz. Normas tributrias e eleitorais tm essa caracterstica porque, normalmente, tm

eficcia relativa.

Exemplo1: art. 16 da CRFB.

CRFB, Art. 16. A lei que alterar o processo eleitoral entrar em vigor na data de sua publicao,

no se aplicando eleio que ocorra at um ano da data de sua vigncia. (Redao dada pela

Emenda Constitucional n 4, de 1993)

Como regra, no direito civil, a norma que entra em vigor produz efeitos imediatos,

conforme art. 6, caput, da LINDB:

LINDB, Art. 6 A Lei em vigor ter efeito imediato e geral, respeitados o ato jurdico perfeito, o

direito adquirido e a coisa julgada. (Redao dada pela Lei n 3.238, de 1957)





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3.2.3.1 Vacatio Legis

A norma no necessariamente entra em vigor na data da publicao. Inclusive, a LC

n 95/98 (que orienta a elaborao legislativa), dispe que a vigncia imediata remendada

apenas pelas normas de menor repercusso social. Nesse sentido a vacatio legis

recomenda para as normas de maior repercusso social (art. 8 da LC n 95/98).

LC n 95/98, Art. 8 A vigncia da lei ser indicada de forma expressa e de modo a contemplar

prazo razovel para que dela se tenha amplo conhecimento, reservada a clusula "entra em vigor

na data de sua publicao" para as leis de pequena repercusso.

1 A contagem do prazo para entrada em vigor das leis que estabeleam perodo de vacncia

far-se- com a incluso da data da publicao e do ltimo dia do prazo, entrando em vigor no dia

subsequente sua consumao integral. (Includo pela Lei Complementar n 107, de 26.4.2001)

2 As leis que estabeleam perodo de vacncia devero utilizar a clusula esta lei entra em

vigor aps decorridos (o nmero de) dias de sua publicao oficial . (Includo pela Lei

Complementar n 107, de 26.4.2001)

Em que pese a LC n 95/98 orientar o estabelecimento de prazo de vacatio razovel,

a Lei n 12.112/09, que alterou de forma substancial a lei de locao de imveis urbanos (Lei

n 8.245/91) trouxe dispositivo que estabelecia que a norma deveria entrar em vigor na data

da sua publicao. Tendo em vista que a norma em questo de grande repercusso social,

o artigo que determinava a entrada em vigor imediata, foi vetado pela presidncia. Sendo

assim, a lei foi aprovada sem cumprir o art. 8 da LC n 95/98, uma vez que no indicou de

forma expressa a vigncia legal.

Se no h prazo expresso, deve-se socorrer LINDB, mais especificamente o art. 1.

LINDB, Art. 1o Salvo disposio contrria, a lei comea a vigorar em todo o pas quarenta e cinco

dias depois de oficialmente publicada.

1o Nos Estados, estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se inicia

trs meses depois de oficialmente publicada. (Vide Lei 2.145, de 1953) (Vide Lei n 2.410, de

1955) (Vide Lei n 3.244, de 1957) (Vide Lei n 4.966, de 1966) (Vide Decreto-Lei n 333, de

1967)

2o (Revogado pela Lei n 12.036, de 2009).

3o Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicao de seu texto, destinada a

correo, o prazo deste artigo e dos pargrafos anteriores comear a correr da nova publicao.

4o As correes a texto de lei j em vigor consideram-se lei nova.

De acordo com o dispositivo transcrito, h vigncia simultnea em todo o territrio

nacional, ou seja, o sistema brasileiro no adota o sistema regional, mas sim a simultnea.





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Ainda, quando ocorrer o silncio, o prazo de vacatio ser o do art. 1 da LIND o qual prev o

prazo para eficcia interna de 45 dias4.

Saliente-se que o princpio da obrigatoriedade simultnea dispe que a lei entra em

vigor em todo territrio nacional ao mesmo tempo.

Para hiptese de aplicao da lei brasileira no exterior, o prazo maior, conforme

1 do art. 1 da LINDB.

Destaca-se que o dispositivo do LINDB no foi revogado pela LC n 95/98, passando a

ter, porm, aplicao subsidiria.

Observao: o CC/02 previu um perodo expresso de vacncia, sendo o perodo de 1

ano. No entendimento majoritrio, isso significa que a vigncia teve incio em 11 de janeiro

de 2003.

CC/02

Vacatio legis: 1 ano.

Vigncia: 11/01/2003.

Pegadinhas sobre o tema:

1- O fato lesivo que provocou perdas e danos ao sujeito ocorreu na vigncia da lei

anterior. No CC/16 o prazo prescricional era de 20 anos, sendo que o CC atual em relao

matria previu o prazo de 3 anos. Como a diferena entre os prazos grande, o legislador

previu um prazo de transio, no art. 2.038 do CC/02, segundo a qual h ultratividade da lei

revogada. De acordo com a regra de transio, quando transcorrido menos da metade ou

metade do prazo, se aplica a lei nova. Quando transcorrido mais da metade do tempo, se

aplica a lei anterior.

CC02, Art. 2.028. Sero os da lei anterior os prazos, quando reduzidos por este Cdigo, e se, na

data de sua entrada em vigor, j houver transcorrido mais da metade do tempo estabelecido na

lei revogada.

O legislador da banca CESPE colocou um fato ocorrido em fevereiro de 1982.

Aplicao a priori do CC/16 seria o prazo prescricional de 20 dias. O examinador dava a data

da publicao da lei (janeiro de 2002). Tinha que se atentar que j tinha mais de 10 anos,

razo pela qual a prescrio s ocorreu em 2012 e no em 2005, como sugeria o enunciado.

4 Observao: exatamente o caso que aconteceu em relao alterao da lei de locaes e sua

vigncia, foram cobrados em concurso elaborado pela Banca Cesgranrio em 2010.





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Fev/1992 Fev/2002 11/01/03 2012

10 anos

Ocorrncia do Fato da Prescrio (CC/16) Vigncia do CC/02 Prescrio

2- O sujeito fez testamento deixando todos os seus bens aos pobres. Embora fosse

casado, no tinha ascendente nem descendente. O sujeito morreu em 2002. Considerando

que a sucesso se rege pela lei no momento da morte e no CC/16 o cnjuge no era o

herdeiro necessrio, a disposio testamentria foi vlida, visto que no havia legtima a ser

protegida.

Observao: sempre que h uma reduo muito acentuada, a orientao de que o

prazo novo contado da entrada em vigor da lei nova e no do fato.

Sntese:

FATO 11.01.2003

Tempo transcorrido = X

Termo inicial do Prazo Vigncia do CC

Ver se X (tempo transcorrido) maior do que metade do prazo prescricional. Se for

maior, aplica-se a lei antiga, contada a partir do prazo do fato.

Se X for menor ou igual metade do prazo, aplica-se a lei nova, contada a partir da

vigncia da lei nova. No se conta a partir do fato porque se no haveria prescrio

retroativa.

3.2.3.2 Ato jurdico perfeito

A) Art. 2.035, caput do CC

Conforme art. 6, caput, quando a norma entra em vigor, seus efeitos so imediatos,

respeitados o ato jurdico perfeito, a coisa julgada e o direito adquirido.

O ato jurdico perfeito aquele que j existe e vlido, ainda que no tenha

produzido todos os seus efeitos. Ele regulado pela norma vigente no momento da sua

celebrao (tempus regit actum), conforme art. 2.035 do CC/02.

CC, Art. 2.035. A validade dos negcios e demais atos jurdicos, constitudos antes da entrada em

vigor deste Cdigo, obedece ao disposto nas leis anteriores, referidas no art. 2.045, mas os seus





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efeitos, produzidos aps a vigncia deste Cdigo, aos preceitos dele se subordinam, salvo se

houver sido prevista pelas partes determinada forma de execuo.

Pargrafo nico. Nenhuma conveno prevalecer se contrariar preceitos de ordem pblica, tais

como os estabelecidos por este Cdigo para assegurar a funo social da propriedade e dos

contratos.

A dificuldade est no fato de a existncia e validade se concentrarem em um nico

momento, porm, a eficcia, no se concentra, necessariamente, em um nico momento,

visto que h negcios de eficcia diferida. Por essa razo, o art. 6 da LICC traz eficcia geral

e imediata, aplicando-se aos efeitos dos negcios celebrados.

Eficcia

Celebrao Vigncia CC/02 Efeitos

Existncia Ex. Mora

Validade Aplicao do CC/02

Aplicao do CC/16

Exemplo: contrato de locao tem eficcia diferida. Quando o contrato foi celebrado,

os juros de mora legais, aplicveis aos casos em que as partes no haviam previsto outro,

eram de 0,5% ao ms ou 6% ao ano. O CC/02, vigente no momento da manifestao do

efeito, tem que ser regular esse efeito. H discusso quando a taxa prevista no CC/02, o STJ

entende ser a taxa SELIC, mas, de qualquer forma, distinto do previsto no CC/16. Destaca-

se que tal aplicao do CC/02 ao negcio celebrado no prejudica o ato jurdico perfeito, vez

que o efeito s se manifestou quando da vigncia do CC/02.

importante destacar que, conforme o dispositivo legal (art. 2.035 do CC), caso as

partes tenham convencionado de outra forma, de forma vlida, ser respeitada a vontade

das partes, por conta de ser o ato jurdico perfeito.

B) Art. 2.035, pargrafo nico do CC.

CC, Art. 2.035. A validade dos negcios e demais atos jurdicos, constitudos antes da entrada em

vigor deste Cdigo, obedece ao disposto nas leis anteriores, referidas no art. 2.045, mas os seus

efeitos, produzidos aps a vigncia deste Cdigo, aos preceitos dele se subordinam, salvo se

houver sido prevista pelas partes determinada forma de execuo.

Pargrafo nico. Nenhuma conveno prevalecer se contrariar preceitos de ordem pblica, tais

como os estabelecidos por este Cdigo para assegurar a funo social da propriedade e dos

contratos.





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O pargrafo nico transcrito acima prev disposio distinta da lgica do caput do

mesmo dispositivo, uma vez que estabelece que, ainda que as partes tenham convencionado

de forma distinta, se houver incompatibilidade em relao aos preceitos de ordem pblica,

dever aplicar a nova lei.

Exemplo: art. 1336, 1 do CC limita a multa de condomnio ao mximo de 2%. Sendo

assim, os negcios celebrados convencionando em patamar superior a previso legal, no

tero aplicao, por ser a norma de ordem pblica, que tem eficcia imediata e geral, com

aplicao obrigatria.

CC, Art. 1.336. So deveres do condmino:

(...)

2o O condmino, que no cumprir qualquer dos deveres estabelecidos nos incisos II a IV, pagar

a multa prevista no ato constitutivo ou na conveno, no podendo ela ser superior a cinco vezes

o valor de suas contribuies mensais, independentemente das perdas e danos que se apurarem;

no havendo disposio expressa, caber assembleia geral, por dois teros no mnimo dos

condminos restantes, deliberar sobre a cobrana da multa.

Saliente-se que para muitos essa hiptese se refere a uma hiptese de retroatividade

mnima, vez quando a lei estabelece que o convencionado no mais se aplica, est afetando

o que foi validamente contratado e, consequentemente, atinge a segurana jurdica.

Explica-se que retroatividade mnima refere-se ao fato de a lei nova alcanar os

efeitos futuros dos atos jurdicos pretritos, afastando a regra convencional e impondo a

norma de ordem pblica.

O STF j havia se manifestado quanto ao tema antes da entrada em vigor do cdigo,

na ADIn n 493 (Relatoria: Moreira Alves), julgamento em 1992.

Ao direta de inconstitucionalidade. - Se a lei alcanar os efeitos futuros de contratos celebrados

anteriormente a ela, ser essa lei retroativa (retroatividade mnima) porque vai interferir na

causa, que e um ato ou fato ocorrido no passado. - O disposto no artigo 5, XXXVI, da Constituio

Federal se aplica a toda e qualquer lei infraconstitucional, sem qualquer distino entre lei de

direito pblico e lei de direito privado, ou entre lei de ordem pblica e lei dispositiva. Precedente

do S.T.F.. - Ocorrncia, no caso, de violao de direito adquirido. A taxa referencial (TR) no e

ndice de correo monetria, pois, refletindo as variaes do custo primrio da captao dos

depsitos a prazo fixo, no constitui ndice que reflita a variao do poder aquisitivo da moeda.

Por isso, no h necessidade de se examinar a questo de saber se as normas que alteram ndice

de correo monetria se aplicam imediatamente, alcanando, pois, as prestaes futuras de

contratos celebrados no passado, sem violarem o disposto no artigo 5, XXXVI, da Carta Magna. -

Tambm ofendem o ato jurdico perfeito os dispositivos impugnados que alteram o critrio de

reajuste das prestaes nos contratos j celebrados pelo sistema do Plano de Equivalncia

Salarial por Categoria Profissional (PES/CP). Ao direta de inconstitucionalidade julgada

procedente, para declarar a inconstitucionalidade dos artigos 18, "caput" e pargrafos 1 e 4; 20;

21 e pargrafo nico; 23 e pargrafos; e 24 e pargrafos, todos da Lei n. 8.177, de 1 de maio de





19


1991.

(ADI 493, Relator(a): Min. MOREIRA ALVES, Tribunal Pleno, julgado em 25/06/1992, DJ 04-09-

1992 PP-14089 EMENT VOL-01674-02 PP-00260 RTJ VOL-00143-03 PP-00724, sem grifos no

original)

O STF estabeleceu naquela oportunidade que no importa se a norma de carter

pblico ou no, devendo ser aplicado o que pactuado pelas partes, sob pena de interferir na

segurana jurdica. Nessa perspectiva, o art. 2.035 do CC/02 teria uma inconstitucionalidade,

se aplicado aos contratos celebrados no passado. Ocorre que o pensamento mudou e a

noo de segurana jurdica foi alterada. O individualismo do CC/16 tem sido substitudo

pelo interesse social. Sendo assim, o STJ vem admitindo que a lei nova se aplique a efeitos

vincendos. Nesse sentido, por exemplo, o julgamento do RE 136901, em 2006, pelo STF, traz

uma soluo um pouco diferente da adotada no julgamento da supracitada ADIN.

TABLITA. PLANO CRUZADO. REGRA DE DEFLAO DO DECRETO-LEI 2.284/86. PRINCPIOS DO

DIREITO ADQUIRIDO, DO ATO JURDICO PERFEITO E DA COISA JULGADA. ALTERAO DE PADRO

MONETRIO. 1. No julgamento do RE 141.190, o plenrio do STF entendeu que o fator de

deflao veio a preservar o equilbrio econmico-financeiro inicial dos contratos, diante da sbita

interrupo do processo inflacionrio. A manuteno dos contratos ento vigentes - que traziam

embutida a tendncia inflacionria - importaria em ganhos irreais, desiguais e incompatveis com

o pacto firmado entre as partes antes da alterao radical do ambiente monetrio e econmico.

2. Tambm por isso se confirmou a tese de que normas de ordem pblica que instituem novo

padro monetrio tm aplicao imediata em relao aos contratos em curso como forma de

reequilibrar a relao jurdica antes estabelecida. 3. O Plano Funaro (Cruzado) tambm

representou mudana de padro monetrio e alterao profunda dos rumos econmicos do pas

e, por isso, a esse plano econmico tambm se aplica a jurisprudncia assentada no julgamento

do RE 141.190. Negado provimento ao recurso.

(RE 136901, Relator(a): Min. MARCO AURLIO, Relator(a) p/ Acrdo: Min. NELSON JOBIM,

Tribunal Pleno, julgado em 15/03/2006, DJ 02-06-2006 PP-00005 EMENT VOL-02235-03 PP-

00562)

Nesse julgamento, o STF admite que haja mudana na forma de conduo de um

contrato a fim de adapt-lo a uma realidade, alterando contratos que traziam ndices muito

elevados, como forma de garantir um interesse maior, de estabilidade econmica.

Saliente-se que est em julgamento no STF a ADPF n 165, na qual se discute se os

planos econmicos, quando entraram em vigor, poderiam ter afetado as cadernetas de

poupana durante o seu perodo de aniversrio.

Exemplo: determinada pessoa aplicou dinheiro na caderneta de poupana no dia 15.

Lei nova alterou o ndice no dia 20. Esse novo ndice se aplica desde logo ou h mudana

somente no novo aniversrio?

A tese dos correntistas de que o novo ndice se aplica somente no prximo

aniversrio da caderneta de poupana, visto que j tinha acontecido o investimento quando

a lei mudou.





20


A tese das instituies financeiras, porm, de reconhecer que a norma de ordem

pblica tem necessidade de eficcia imediata to grande que alcanaria at as aplicaes j

feitas. Caso o STF admita essa aplicao, reconhecer a retroatividade mdia, vez que no

alcanar apenas os efeitos futuros, mas atingir tambm as situaes pendentes.

Destaca-se que tendncia seria que as situaes nascidas na nova ordem podem ser

atingidas pelas normas de ordem pblica, como dispe o art. 2.035, p. . do CC, mas as

pendentes tm que ter respeitada a aplicao das normas quando do fato gerador. Ocorre

que no possvel chegar a nenhuma concluso atualmente em relao ao tema por conta

da repercusso econmica, tendo-se que aguardar o julgamento da ADPF n 165.

Saliente-se, por fim, que, embora a lei seja, em regra, irretroativa, em algumas

situaes ela poder retroagir, ao menos retroatividade mnima, na forma do art. 2.035 do

CC.

207 direito civil resumo da aula 01

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