resumo processo civil

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Teoria Geral do Processo. Jurisdição: É o poder/dever do Estado em fazer justiça e dirimir os conflitos de interesse. Classificação da Jurisdição: No Brasil temos duas modalidades: Contenciosa e Voluntária. Jurisdição Contenciosa é Jurisdição (é a regra). Obs: Contencioso quer dizer conflito. Jurisdição Voluntária: É a administração pública dos interesses privados. Existem situações de nossa vida expressamente previstas em lei que somente podem produzir efeitos se chanceladas pelo judiciário (divórcio consensual, testamento e interdição). Jurisdição Contenciosa Jurisdição Voluntária Lide Ausência de Lide Partes Interessados Atividade do juiz é substitutiva* Atividade integrativa** Todo tipo de sentença. Declaratória, condenatória. Etc. Sentença Homologatória. Faz-se coisa julgada NÃO FAZ COISA JULGADA 1111 CPC Ação Rescisória 485CPC Ação Anulatória 486 CPC *: Atividade é substitutiva porque o Estado substitui a vontade das partes ao dizer quem tem razão no conflito. **: A atividade do Estado na Jurisdição Voluntária é integrativa porque ele integraliza um acordo de vontades. Características da Jurisdição. Existem diversas, mas as mais importantes são quatro: 1- Inafastabilidade (CF 5º XXXV) “A lei não excluirá da apreciação do judiciário, lesão ou ameaça a direito”. 126 CPC O juiz não se exime de sentenciar ou despachar alegando lacuna ou obscuridade da lei. No julgamento da lide caber-lhe-á aplicar as normas legais; não as havendo, recorrerá à analogia, aos costumes e aos princípios gerais do direito”. “Vedação ao Non Liquet”. 2- Juiz natural: É o juiz previamente investido na causa, sendo vedado no direito brasileiro tribunais de exceção. “A causa vai até o juiz; o juiz não vai à causa”. Não se pode criar um tribunal para resolver uma questão. 3 - Imparcialidade: Impedimento art. 134 CPC e Suspeição art. 135 CPC. O juiz caindo em um desses casos, estará afastado do processo. Se provar de plano que o juiz não pode julgar a causa o caso será de impedimento. Se demandar dilação probatória o caso será de suspeição.

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Resumo de vários conteúdos sobre direito processual civil.

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Page 1: Resumo Processo Civil

Teoria Geral do Processo.

Jurisdição: É o poder/dever do Estado em fazer justiça e dirimir os conflitos de interesse.

Classificação da Jurisdição:

No Brasil temos duas modalidades: Contenciosa e Voluntária.

Jurisdição Contenciosa é Jurisdição (é a regra).

Obs: Contencioso quer dizer conflito.

Jurisdição Voluntária: É a administração pública dos interesses privados. Existem situações de

nossa vida expressamente previstas em lei que somente podem produzir efeitos se

chanceladas pelo judiciário (divórcio consensual, testamento e interdição).

Jurisdição Contenciosa Jurisdição Voluntária

Lide Ausência de Lide

Partes Interessados

Atividade do juiz é substitutiva* Atividade integrativa** Todo tipo de sentença. Declaratória, condenatória. Etc. Sentença Homologatória.

Faz-se coisa julgada NÃO FAZ COISA JULGADA – 1111 CPC

Ação Rescisória – 485CPC Ação Anulatória – 486 CPC

*: Atividade é substitutiva porque o Estado substitui a vontade das partes ao dizer quem tem

razão no conflito.

**: A atividade do Estado na Jurisdição Voluntária é integrativa porque ele integraliza um

acordo de vontades.

Características da Jurisdição.

Existem diversas, mas as mais importantes são quatro:

1- Inafastabilidade (CF 5º XXXV)

“A lei não excluirá da apreciação do judiciário, lesão ou ameaça a direito”.

126 CPC – “O juiz não se exime de sentenciar ou despachar alegando lacuna ou

obscuridade da lei. No julgamento da lide caber-lhe-á aplicar as normas legais; não as

havendo, recorrerá à analogia, aos costumes e aos princípios gerais do direito”.

“Vedação ao Non Liquet”.

2- Juiz natural: É o juiz previamente investido na causa, sendo vedado no direito brasileiro

tribunais de exceção. “A causa vai até o juiz; o juiz não vai à causa”. Não se pode criar um

tribunal para resolver uma questão.

3 - Imparcialidade: Impedimento art. 134 CPC e Suspeição art. 135 CPC. O juiz caindo em um

desses casos, estará afastado do processo.

Se provar de plano que o juiz não pode julgar a causa o caso será de impedimento. Se

demandar dilação probatória o caso será de suspeição.

Page 2: Resumo Processo Civil

4- Identidade Física do Juiz: Art. 132 CPC. “Aquele que colhe a prova, julga”. Quem preside a

audiência fica vinculado a proferir a sentença. Porém, se por qualquer motivo, o juiz for

afastado da vara no momento entre a audiência e a sentença, ele não precisa mais julgar.

Competência: É o limite da jurisdição. É a distribuição aos órgãos judiciários de suas funções.

Critérios de Classificação de competência:

No Brasil temos quatro critérios:

Material: Matéria, Civil, Trabalho, Criminal etc. (Absoluta)

Funcional: Competência Hierárquica entre os juízes. (Absoluta)

Territorial: Comarcas. (Relativa)

Valor da Causa. Rito Ordinário, Sumário (Relativa).

Um juiz só é incompetente porque o advogado do autor errou. Se a gravidade deste erro for

grande a incompetência será absoluta.

Incompetência Absoluta Incompetência Relativa.

Juiz pode declarar de oficio - 113 CPC Juiz não pode declarar de oficio*- súmula 33 STJ

Objeção – a qualquer momento (485, II CPC). Exceção de incompetência no prazo preclusivo de 15 dias

Partes não podem derrogar (abrir mão da competência) Partes podem derrogar**

Material Valor da causa

Funcional Territorial

*:se a parte não opuser exceção de incompetência ocorre a prorrogação da competência – 114

CPC.

Obs: contrato de adesão em que se verificar a abusividade da cláusula de eleição de foro (112

parágrafo único CPC). É o único caso em que o juiz pode declarar de oficio a incompetência

relativa.

**: nos juizados especiais federais/fazenda pública as partes não podem derrogar pois a

competência é ABSOLUTA (em relação ao valor da causa, não importa quantos salários

mínimos seja o valor).

Obs: Mandado de Segurança contra ato judicial, em regra não é esta a resposta.

Ação: É o direito subjetivo público de se deduzir uma pretensão em juízo.

A ação pode ser vista como um Direito e também como um Procedimento, o direito está

assegurado pela Constituição Federal no Artigo 5º XXXV. A ação está intimamente ligada à

inafastabilidade. Segundo Pontes de Miranda, “a chave que abre a porta da jurisdição é a

ação”, o porteiro é o juiz.

Page 3: Resumo Processo Civil

Condições da Ação:

- Possibilidade Jurídica do Pedido.

- Legitimidade de parte.

- Interesse de Agir.

Possibilidade jurídica do Pedido:

O pedido será juridicamente possível quando aquilo que se busca no judiciário esteja previsto

em lei ou não seja vedado por ela.

Exemplo 1: Usucapião de bem público (não pode).

Exemplo 2: Cobrança de dívida de jogo (não pode).

Exemplo 3: Herança de pessoa viva (não pode).

Legitimidade de Parte:

É a coincidência das pessoas que figuraram no direito material com aquelas que estão no

processo.

Legitimação Extraordinária:

Existem determinadas situações jurídicas em que a lei autoriza que aquele que busca o

judiciário em nome próprio não tenha participado do direito material, buscando portanto o

direito alheio (MP, sindicato, condomínio).

OBS: No caso de representação não é legitimação extraordinária, porque o representante não

é parte do processo, ele age em nome alheio para tutelar direito alheio. (Mãe que entra com

ação de alimentos para o filho menor).

Interesse de Agir:

Deve-se analisar a situação com um binômio: Necessidade e Adequação. Para se compreender

a necessidade faz-se a pergunta: “preciso do judiciário?” Se a resposta for “não”, faltará

interesse de agir.

Um exemplo: Ezzio tem um contrato com Altair, e este tem que pagar a Ezzio daqui a 20 dias,

enquanto este contrato não vencer, Altair não estará em mora e não será inadimplente, logo

Ezzio não precisará entrar no judiciário para impetrar uma ação de cobrança.

Adequação: devem-se usar os meios adequados para se buscar a tutela. Seguindo o exemplo

anterior, digamos que Altair não pagou a Ezzio, acabou o prazo para o pagamento, logo Ezzio

precisará entrar no judiciário, porém foi iniciado o processo com um Habeas Corpus, o juiz

extinguirá o processo por falta de interesse de agir, não foram utilizados os meios adequados.

Ver o artigo 267 VI CPC.

Litisconsórcio (46, CPC): Pluralidade de partes no mesmo processo.

Os motivos que levam à formação do litisconsórcio são:

- Economia processual.

- Harmonia dos Julgados – ou todos ganham ou todos perdem.

Page 4: Resumo Processo Civil

Litisconsórcio Multitudinário (46, Parágrafo Único).

Poderá o juiz limitar o litisconsórcio facultativo quando pelo número excessivo de litigantes

puder ocasionar prejuízo para a defesa ou para rápida solução do litígio.

Quanto à Posição: Ativo (mais de um autor).

Passivo (mais de um réu).

Misto (mais de um autor e mais de um réu).

Quanto ao Momento de Formação: Inicial (formado na petição inicial).

Ulterior (formado no curso do processo).

Quanto a Uniformidade da Decisão: Unitário (quando o juiz tem o dever de julgar igual para todos)

Simples (quando o juiz não precisa julgar igual para todos)

OBS: Eficácia Subjetiva da Intervenção Litisconsorcial.

Se o litisconsórcio for simples os atos e omissões de um não ajudam nem atrapalham aos

demais. Se o litisconsórcio for unitário os atos positivos praticados por um

(contestação/recurso) aproveita aos demais. Mas os atos negativos (confissão) serão ineficazes

até para quem praticou.

Quanto à Obrigatoriedade: Facultativo (Eu quis)

Necessário (Lei determina ou natureza da relação jurídica, sempre

que for unitário – ver artigo 47 CPC).

Intervenção de Terceiros:

Assistência:

Ocorre assistência quando o terceiro tem interesse jurídico em que uma das partes vença a

demanda. A assistência pode ser simples ou litisconsorcial.

Assistência Simples: Se o terceiro tiver relação com apenas umas das partes.

Assistência Litisconsorcial: Se o terceiro tiver relação com as duas partes.

O instrumento para ingressar com assistência é a Petição Simples, a qualquer momento do

processo e ela é facultativa. Após isso há a intimação das partes para se manifestarem se

concordam ou rejeitam a intervenção no prazo de 5 dias. O silêncio representará aceitação.

Sendo aceita a intervenção do assistente, será caso de “simples ingresso” *. Caso as partes não

concordem com o ingresso do assistente, quem irá decidir é o juiz.

Obs: De acordo com o STJ o juiz poderá indeferir o ingresso do assistente mesmo com a

concordância das partes. Ou seja, divergência entre Lei e Jurisprudência.

Page 5: Resumo Processo Civil

Nomeação à Autoria (62/69 CPC):

É a correção do pólo passivo da demanda em circunstâncias especiais.

Sempre que o réu for parte ilegítima no processo ele deverá contestar em preliminar, salvo nas

hipóteses de “detentor e cumpridor de ordem” onde será necessária a Nomeação à autoria. –

Arts. 62 e 63 CPC,

O instrumento é a Petição Simples, o momento é o prazo de defesa, se a nomeação for

indeferida (erro ou nomeação errada com má-fé) o magistrado devolverá o prazo de defesa, e

a nomeação à autoria é OBRIGATÓRIA (69 CPC).

Dupla Concordância: Para que haja nomeação à autoria é necessária a concordância do autor

e do terceiro.

Denunciação da Lide (70/76 CPC):

É a intervenção de garantia. Permite que a parte traga ao processo, terceiro, garantidor de seu

direito, para responder regressivamente.

A denunciação da lide será formalizada pelo autor na petição inicial e pelo réu na defesa.

É muito útil, pois é um instrumento de economia processual.

As hipóteses de denunciação da lide são os casos de evicção e seguradora.

De acordo com a doutrina/jurisprudência, somente a evicção é obrigatória. De acordo com a

lei todas as hipóteses são.

Chamamento ao Processo (77/80):

É a intervenção de solidariedade. Permite que o réu traga ao processo os demais co-obrigados

que não foram demandados.

Hipóteses de chamamento – 77CPC.

1- fiador traz os devedores ao processo.

2- fiador traz os demais fiadores ao processo.

3- devedor traz os demais devedores ao processo.

Obs: Devedor NÃO pode chamar o fiador ao processo.

O Chamamento ao processo é facultativo e será formalizado pelo réu no prazo de defesa.

Oposição: Ocorre oposição quando o terceiro reivindica para si, no todo ou em parte aquilo que as partes

disputam em juízo.

A oposição é uma ação incidental, podendo o opoente entrar no processo antes da sentença

(prazo da defesa), além dela ser facultativa.

“Em face da ação do opoente, o autor e o réu estão em litisconsórcio passivo”.

Page 6: Resumo Processo Civil

Com o ingresso da oposição, os opostos serão citados para se defenderem NO PRAZO COMUM

DE 15 DIAS.

Petição Inicial (282 CPC): Instrumento pelo qual se materializa o direito de ação.

“A Petição Inicial Indicará: I – o juiz ou tribunal, a que é dirigida (competência); II – os nomes,

prenomes, estado civil, profissão, domicílio e residência do autor e do réu; III – o fato e os

fundamentos jurídicos do pedido (direito civil) IV – o pedido, com as suas especificações; V – o

valor da causa (art’s. 259 e 260 CPC dois artigos inúteis); VI – as provas com que o autor

pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados; VII – o requerimento para a citação do

réu”.

Pedido (286):

Certo e Determinado. Pedido certo é o pedido expresso. Pedido determinado é todo pedido

individualizado pelo seu gênero e quantidade.

OBS: Pedido implícito é aquele que não precisa ser pedido para que seja analisado (ex:

honorários advocatícios; atualização monetária; juros de mora).

OBS2: Em regra, todo pedido é determinado, porém há casos em que não é possível

especificar um valor no pedido, a lei atenta a esta peculiaridade, classificou como “pedido

genérico”.

Pedido Genérico (pedido determinável):

- Ações Universais: Quando o autor não souber a universalidade de bens que compõe o seu

direito (ex: inventário; petição de herança).

- Reparação de Danos: Quando o autor não puder quantificar a extensão do ato ilícito

praticado pelo réu (ex: dano moral; o autor foi atropelado, de ante mão não há possibilidade

de ele saber o custo de todo o tratamento médico que ele precisará).

OBS3: O dano moral deve ser atribuído pelo juiz, art. 286 CPC.

- Quando depender de um ato a ser praticado pelo réu: Nas ações de prestação de contas a

apuração do valor dependerá das contas prestadas pelo réu.

Modalidades de Pedido:

1- Alternativo (288 CPC): Ocorre pedido alternativo quando o réu tem à sua disposição

duas ou mais maneiras de cumprir a obrigação. Esses pedidos têm a mesma hierarquia,

em regra quem escolhe qual deles será cumprido é o réu.

2- Sucessivo (289 CPC): Nesta modalidade de pedido há uma escala de interesses. Dessa

forma somente será analisado o pedido subsidiário se negado o principal.

3- Prestações Periódicas (290 CPC): Nas relações de trato sucessivo o autor formulando a

1ª parcela, todas as outras serão devidas de pleno direito. Constitui modalidade de

pedido implícito.

4- Pedidos Cumulados (292 CPC): É a possibilidade de se cumular dentro do mesmo

processo dois ou mais pedidos para que o juiz analise TODOS.

Page 7: Resumo Processo Civil

4.1- Requisitos para Cumular: Pedidos compatíveis entre si, ainda que entre eles não haja

conexão; Mesmo juízo competente (pedidos só referentes a civil, ou família, trabalho

etc); Que seja adotado o mesmo procedimento (exceção: Art. 292 §2º: quando para

cada pedido,corresponder tipo diverso de procedimento, admitir-se-á, se o autor

empregar o procedimento ordinário).

Citação: Ato pelo qual se traz o réu em juízo para que ele possa se defender.

Real: Correio ou oficial de justiça.

Ficta: Edital ou Hora certa.

OBS: Ao réu citado de forma ficta será nomeado um curador especial – o Curador não vai fazer

nada... “Defesa por negativa geral”. (art. 9º II CPC)

Correio: Nos termos do art. 222 a citação será feita pelo correio para qualquer comarca do

país (a regra).

Oficial de Justiça: Nas ações de estado; quando o réu for incapaz; quando o réu for pessoa de

direito público; nos processos de execução; quando o réu morar em localidades aonde o

correio não chega; quando o autor requerer outra forma.

Edital: Art. 231. Ocorre citação por edital quando não se souber quem é o réu ou este residir

em local incerto ou de difícil acesso.

Hora Certa: Art. 227. Quando o oficial de justiça comparece por três vezes na casa do réu, que

tem domicilio certo e presume a suspeita de ocultação.

Sentença:

De acordo com o art. 162 § 1º CPC, Sentença é o ato do juiz que implica alguma das situações

previstas nos Arts. 267 e 269. O art. 267 fala sobre as sentenças sem resolução do mérito

(terminativa) e o 269 com resolução do mérito.

Artigo 269 CPC: Haverá resolução de mérito

I- Quando o juiz acolher ou rejeitar o pedido do autor (única situação com um

julgamento).

II- Quando o réu reconhecer a procedência do pedido.

III- Quando as partes transigirem (acordo).

IV- Quando o juiz pronunciar a decadência ou prescrição.

V- Quando o autor renunciar ao direito sobre que se funda a ação.

Sentenças com Mérito (269):

Quando, de alguma forma, resolver o conflito (definitiva).

Page 8: Resumo Processo Civil

Sentenças sem Mérito (267):

Todas as demais (terminativa). Importante frisar que o art. 267, V, fala da perempção,

litispendência e coisa julgada, nessas situações, a extinção do processo dar-se-á sem resolução

de mérito, mas como que por “extensão” adquire a imutabilidade de coisa julgada material.

Elementos da Sentença (458 CPC):

Relatório: Resumo da causa (no juizado especial não precisa art. 38 da lei 9.099/95).

Fundamento: Os motivos que levam o juiz a julgar procedente ou improcedente. É a parte

mais importante da sentença para o advogado, sua ausência causa nulidade absoluta.

Dispositivo: A conclusão da sentença, a parte mais importante para o autor e réu. Só ele faz

coisa julgada.

OBS: Fundamento pode se chamar: “Razões, Motivos, Verdade dos Fatos e Questões

Prejudiciais”.

OBS2: A fundamentação apenas fará coisa julgada quando a parte EXPRESSAMENTE

REQUERER que as “questões prejudiciais” se tornem imutáveis. Ver os artigos 469 e 470 CPC.

Princípio da Adstrição/Congruência (128 e 460 CPC):

Nenhum juiz pode julgar:

Extra Petita: O juiz viajou, dá algo diferente do que se pediu.

Ultra Petita: O juiz exagerou, concede mais do que se pediu.

Infra Petita: O juiz esqueceu, julga menos do que se pediu.

OBS: Para o exame da OAB, infra petita e citra petita são expressões sinônimas!

OBS2: Se alguém faz cinco pedidos numa ação no judiciário, o juiz dá quatro, mas nega um, ele

não julgou infra petita, e sim “parcialmente procedente”. O autor ganhou quatro e perdeu um.

Situação diferente quando se pede cinco, ele julga quatro, mas não julga um, neste caso

ocorreu infra petita.

OBS3: Toda sentença Infra/Citra petita, cabe embargos de declaração.

Teoria da Irretratabilidade da Sentença:

O Código de Processo Civil adotou essa teoria, já que em seu artigo 463, apenas permite a sua

alteração para correção de erros materiais, erros de cálculo e por embargos de declaração

(recurso destinado àquelas decisões contraditórias, obscuras ou omissas).

Exceções:

Art. 296 CPC, se a sentença indeferir a petição inicial, caberá apelação, podendo o

magistrado retratar-se em 48 horas.

Art. 285 CPC, no julgamento de processos repetidos, havendo diversos processos com

base em idêntica controvérsia poderá o magistrado não citar o réu e proferir sentença

com resolução de mérito contra o autor. Nesse caso cabe apelação, sendo facultado

ao magistrado retratar-se em 5 dias.

Page 9: Resumo Processo Civil

Na apelação interposta contra sentenças no procedimento do estatuto da Criança e do

Adolescente (art. 198, VII Lei 8.069/90) em que o juiz pode retratar-se no prazo de 5

dias após receber o recurso.

Classificação das Sentenças:

As sentenças podem ser de improcedência ou de procedência. As sentenças de improcedência

são aquelas que julgam improcedente o pedido do autor, logo, estas sempre são declaratórias

negativas, isto é, atestam que o autor não possui o direito postulado.

A doutrina diverge quanto a adoção da classificação ternária1 (que contém as sentenças

meramente declaratórias, constitutivas e condenatórias) e a quinaria (que, além destas, agrega

as sentenças executiva e mandamental).

Tutela Declaratória:

A sentença declaratória “apenas” declara a existência ou a inexistência de uma relação

jurídica, ou o modo de ser de uma relação. O objetivo dessa sentença é eliminar uma situação

de incerteza que paira sobre determinada relação jurídica que é fonte de dúvidas, incerteza e

insegurança. A sentença declaratória será a tutela outorgada ao autor e acobertada pela coisa

julgada material.

Em todas as sentenças, mesmo as com pedido constitutivo ou condenatório, o juiz declara

quem tem razão. Dessa forma, toda sentença declara algo. A diferença é que as sentenças

concernentes a outras tutelas não se limitam à declaração do juiz; nelas preponderam outros

efeitos.

A sentença declaratória não impõe nenhuma obrigação às partes, por isso não constitui título

executivo, mas torna certa aquela relação que, embora já existisse, não era reconhecida. Sua

eficácia é ex tunc, seus efeitos retroagem à data do início da relação jurídica cuja existência foi

discutida. Frise, ela apenas confirma judicialmente aquilo que já existia.

Tutela Constitutiva:

As sentenças constitutivas além de declarar, formam, modificam ou extinguem uma relação

jurídica. Assim como as sentenças declaratórias, as sentenças constitutivas bastam por si para

atender ao direito substancial afirmado. Não formam título executivo, e não prescindem de

atos posteriores para que o direito material seja efetivamente realizado.

Duas situações podem ensejar o seu ajuizamento: 1) a existência de um litígio a respeito de

relação jurídica que uma das partes quer constituir ou desfazer sem o consentimento da outra,

1 Importante dizer que a classificação é TERNÁRIA, e não TRINÁRIA. Trinário (expressão inexistente em

nosso vocabulário) vem do verbo trinar, que define o canto dos pássaros, e não representa a conjunção de três elementos.

Page 10: Resumo Processo Civil

ou 2) a exigência legal de ingresso no judiciário para que determinada relação jurídica possa

ser modificada, mesmo com o consenso dos envolvidos. No primeiro caso a constituição é

voluntária; no segundo, é necessária (por exemplo, a separação consensual).

O que caracteriza essa sentença é o surgimento de um estado jurídico distinto do anterior. Por

a sua eficácia é ex nunc; ela não produz seus efeitos para antes da sentença transitada em

julgado (divórcio p. ex.). A exceção a essa regra é a anulação de negócio jurídico (art. 182 CC),

que retroage à data de formalização do negócio.

É típica sentença que se relaciona aos direitos potestativos, que se efetivam no mundo jurídico

das normas, e não dos fatos. Dá-se pelo verbo, e não pelo ato concreto, material.

Tutela Condenatória:

São aquelas que não se limitam apenas a declarar a existência do direito em favor do autor,

mas lhe concedem também a possibilidade de valer-se da tutela executiva, tornando realidade

concreta aquilo que lhe foi concedido. Portanto, forma-se com elas um título executivo

judicial.

Sua eficácia é ex tunc, pois seus efeitos retroagem à data da propositura da demanda. Como

regra, a sentença condenatória só produz efeitos a partir do trânsito em julgado, salvo se o

recurso contra ela interposto não for dotado de eficácia suspensiva.

Tutela Mandamental:

Por sentença mandamental, deve-se entender a técnica que pretende extrair do devedor o

cumprimento voluntário. Dirige-se diretamente contra a pessoa do obrigado, aguardando dele

o acatamento e o cumprimento de uma ordem, sob pena de responder pelas consequências

do descumprimento.

Para os seguidores da classificação quinaria, pode-se diferenciar a sentença condenatória da

mandamental, no seguinte aspecto: na condenatória o seu descumprimento não implica crime

de desobediência, já que a técnica empregada nesse tipo de medida dispensa o emprego de

outras formas de coerção que não a sub-rogação.

Tutela Executiva:

1) O núcleo da eficácia executiva lato sensu reside na transferência de coisa, da esfera

patrimonial do réu para a do autor; 2) a mencionada coisa deve lá estar de forma ilegítima,

contra direito; 3) esta coisa pode ser garantida tanto por direito real quanto por um direito

pessoal; 4) a eficácia executiva (força) se dá de maneira imediata, sempre por meio da própria

sentença do processo de conhecimento, de modo que pode haver atividade executiva sem a

necessidade de título executivo judicial ou extrajudicial; 5) as ações executivas lato sensu

devem ser colocadas no âmbito do processo de conhecimento.

Page 11: Resumo Processo Civil

As sentenças executivas são de natureza condenatória, mas prescindem de uma fase de

execução que lhes sobrevenha para que seu comando seja cumprido, haja vista que as

condenatórias exortam o devedor a cumprir; as executivas já efetivam a tutela.

A sentença executiva é técnica sub-rogatória que independe da vontade do devedor para se

realizar, mas que não atua mediante expropriação de bens. Ao contrário da condenatória, esta

não se dirige ao devedor da obrigação, mas concretiza-se independentemente de sua vontade.

Por ser, como dito, técnica sub-rogatória típica neste ponto – e basicamente neste ponto –

afina-se com a tradicional tutela condenatória.

Coisa Julgada:

Coisa julgada é a qualidade de que se reveste a sentença de mérito transitada em julgado,

proferida com base em cognição exauriente. A coisa julgada objetiva tornar imutável fora do

processo aquilo que foi decidido dentro dele.

Classificação:

Material: Coisa julgada material torna imutável não só o processo, mas também o próprio

direito discutido em juízo (Extinção com mérito).Sua eficácia é Panprocessual. A parte não

pode propor novamente a demanda.

Formal: Coisa julgada formal torna imutável apenas o processo em que esta se formou

(Extinção sem mérito), por isso diz-se que sua eficácia é Endoprocessual. A parte pode propor

novamente a demanda em outro processo, há exceções.

OBS: Arts. 267 V (perempção, litispendência e coisa julgada) sempre que o processo for extinto

com base nestas condições, será sem resolução de mérito mas a parte NÃO PODE propor

novamente a ação.

OBS2: Toda coisa julgada material é também formal.

OBS3: Não é necessário que seja sentença, qualquer decisão que preencha alguns requisitos

tem aptidão para fazer coisa julgada material, por exemplo: a decisão que julga pedidos

incontroversos (CPC, art. 273, §6º) ou o acórdão podem formar imunidade para fora do

processo em que foram produzidos.

Função Positiva e Negativa da coisa julgada:

Existe essa dupla função, vejamos:

Função Negativa:

Consiste na proibição de ajuizar a mesma causa em outro processo já julgado. Por repetição

de causas entendam-se duas demandas com as mesmas partes, pedidos e causas de pedir.

Além da economia processual, uma vez que evita o ajuizamento de duas demandas, tem essa

função o mérito de evitar decisões conflitantes (teoria da tríplice identidade de Pothier).

Mesmo que a segunda confirme a decisão da primeira, não é desejável duas ações analisando

a mesma causa.

Page 12: Resumo Processo Civil

Função Positiva:

A função positiva da coisa julgada é decorrência da função negativa. Enquanto pela

primeira impede-se o magistrado de revisitar causa já julgada, pela segunda o magistrado não

está proibido de julgar o mérito, mas fica vinculado ao que foi decidido na primeira demanda.

Pela explicação pergunta-se: não seria antagônico uma (função) proibir a repropositura

e a outra autorizar, desde que vinculado ao que foi decidido? Na verdade, são fenômenos

diversos. Não se trata de mesma causa em processos diferentes, o que é proibido por força da

função negativa da coisa julgada, mas sim de uma mesma relação jurídica apresentada em

processos diferentes. Dessa forma, a teoria da tríplice identidade não consegue explicar essa

problemática, devendo ser iluminada pela teoria da identidade da relação jurídica de Savigny.

O julgamento poderá ser feito desde que baseado na fundamentação esposada na

primeira demanda. Constitui, portando, um imperativo para o segundo julgamento.

Se na primeira demanda foi constatada a paternidade, numa segunda demanda, em

que se cobram alimentos, eventual discussão sobre paternidade deve ser afastada, em

atenção à coisa julgada.

Limites da Coisa Julgada: artigos 468, 469 e 472 CPC.

Subjetivos (472): Diz respeito a quem é atingido:

As partes e os terceiros que ingressaram no processo e adquiriram a condição de parte (à

exceção do assistente simples, que sofre a eficácia da decisão).

As partes e os terceiros intervenientes participaram do processo, exerceram o contraditório e

puderam influenciar no resultado da decisão. A coisa julgada não poderá atingir a quem não

tenha tido esse poder de influência.

Há outra exceção: ações de estado, investigação de paternidade.

Objetivos (468): O que é atingido:

Nem tudo que é decidido se torna imutável. Dentro da sentença somente o dispositivo tem

esse condão. Dessa forma, nem o relatório nem os fundamentos ficam acobertados pela coisa

julgada. É possível que os fundamentos de uma demanda sejam rediscutidos em outra,

podendo o magistrado chegar, até, a conclusões diferentes.

Execução:

A finalidade da execução é cumprir um título executivo. Título executivo é todo documento

criado pelo legislador, cujo objetivo é fundamentar uma execução.

Execução de Título Extrajudicial: Execução por quantia certa contra devedor solvente.

A fase inicial se dá com uma Petição inicial, o executado é citado para pagar a dívida no

prazo de 3 dias; o credor nomeia bens para penhora, a citação é feita por oficial de justiça (Art.

222, d.) e o juiz ao receber a Petição Inicial, fixa os honorários de plano.

O executado é citado, se ele pagar a dívida no prazo, além de encerrar a execução, ele

terá um desconto de 50% dos honorários da outra parte. Se ele não pagar ocorrerá a

Expedição de Mandado de Penhora e Avaliação: O oficial de justiça irá penhorar e avaliar os

bens:

Page 13: Resumo Processo Civil

a) Encontrando o executado e não encontrando bens, suspende-se a execução (791 III).

b) O oficial encontra bens, mas não encontra o executado, ele fará uma “pré-penhora”

chamada de “Arresto”, feito isto, o oficial irá por 3 vezes nos próximos 10 dias para

encontrar o devedor. Se o executado não for localizado, será citado por edital,

passando o prazo do edital e ainda assim ele não for localizado, o arresto converte-se

em penhora (654 CPC).

OBS: O executado pode: Pagar, opor embargos (discutir a dívida no prazo de 15 dias),

Moratória Processual (pagar parcelado) ou Não pagar. A moratória processual será vista mais

adiante.

Penhora:

Averbação da execução (615-A): poderá o exequente requerer certidão com os dados do

processo, para que possa averbar em cartórios suscetíveis de registro que contenham bens do

executado.

Ordem de penhora de bens – 655: 1- Dinheiro; 2- Veículo de transporte terrestre; 3- Bem

móvel; 4- Bem imóvel; 5- Navio e aeronave.

A ordem dos bens previstas no artigo 655, não é obrigatória, pois o magistrado deve se atentar

ao princípio da menor onerosidade para o devedor.

OBS: Art. 620: “Quando por vários meios o credor puder promover a execução, o juiz mandará

que se faça pelo modo menos gravoso para o devedor”.

Bens Impenhoráveis:

Previstos no artigo 649 CPC (bens absolutamente impenhoráveis) e na Lei dos Bens de Família

8009/1990.

Art. 649: São absolutamente impenhoráveis:

I- Os bens inalienáveis e os declarados, por ato voluntário, não sujeitos à execução;

II- Os móveis, pertences e utilidades domésticas que guarnecem a residência do

executado, salvo os de elevado valor ou que ultrapassem as necessidades comuns

correspondentes a um médio padrão de vida.

III- Os vestuários, bem como os pertences como os pertences de uso pessoal do

executado, salvo de elevado valor.

IV- Os vencimentos, subsídios, soldos, salários, remunerações, proventos de

aposentadoria, pensões, pecúlios e liberalidade de terceiro e destinadas ao

sustento do devedor e sua família, os ganhos de trabalhador autônomo e os

honorários de profissional liberal, observado o disposto no § 3º deste artigo.

V- Os livros, as máquinas, as ferramentas, os utensílios, os instrumentos ou outros

bens móveis necessários ao exercício de qualquer profissão.

VI- O seguro de vida. (...) Eticétera.

Bem de família: é o único bem da entidade familiar não sujeito à expropriação judicial.

Critério para Classificação de Bem de família:

Page 14: Resumo Processo Civil

1- Bem de família Voluntário: Bem indicado pelo dono como tal. Prevalece sobre os

outros tipos.

2- Bem Destinado à Moradia: Onde a família mora. Art. 1º lei 8009/90

3- Bem de Menor Valor: Quando o devedor tem mais de um bem.

Casos em que o bem de família pode ser penhorado:

1- Alimentos.

2- Produto de Crime.

3- Quando a dívida for do próprio imóvel: IPTU, Condomínio, Hipoteca, Financiamento.

4- Dívidas do Empregado (a) Doméstico (a): Quando o patrão não paga as verbas

trabalhistas da empregada doméstica.

5- Fiador em contratos de locação.

Os bens móveis que guarnecem a residência são igualmente impenhoráveis, salvo os veículos

de transporte, as obras de arte e os adornos suntuosos (tudo que ultrapassa a necessidade de

uma média qualidade de vida).

OBS: Se o carro for instrumento para trabalho, não poderá ser penhorado. Note que o carro é

instrumento PARA trabalhar, e não PARA IR trabalhar.

Penhora Online (655-A):

É a possibilidade de constrição de artigos financeiros pertencentes ao executado objetivando a

satisfação do crédito exequendo. A penhora online depende de provocação da parte,

impedindo o juiz de requerer de ofício.

Moratória Processual:

Poderá o executado no prazo dos embargos e confessando a existência da dívida requerer o

depósito de 30% do crédito para que o restante da dívida seja pago em até 6 parcelas iguais e

sucessivas com juros de 1% ao mês.

O não pagamento de uma delas acarreta:

A) No vencimento antecipado das demais

B) Multa de 10% sobre as vincendas

C) Impossibilidade de a parte opor embargos.

Embargos à Execução:

É a defesa do executado na execução de título extrajudicial.

1) Os embargos têm natureza jurídica de ação, seguem todos os requisitos do art. 282.

2) 15 dias contados da juntada aos autos do mandado de citação cumprido.

3) Não é preciso garantir o juízo (ter penhorado de bens ou valores que satisfaçam o

crédito exequendo).

4) Os embargos não têm efeito suspensivo (novidade pós reforma de 2006).

OBS: Poderá o executado obter efeito suspensivo desde que: a) Prove o dano;

b) Garantir o juízo (necessário caucionar).

5) Apelação.

Page 15: Resumo Processo Civil

Execução de Título Judicial (Cumprimento de Sentença):

Nos termos do art. 475 – J do CPC, após o trânsito em julgado da sentença, o

executado será intimado para pagar a dívida no prazo de 15 dias sob pena de multa

pecuniária de 10% do valor da condenação.

À partir do 16º dia, nasce para o credor o direito subjetivo de entrar com um

requerimento (petição simples), exigindo o cumprimento da obrigação mais multa.

O prazo para requerer é de 6 meses sob pena de arquivamento do processo.

Após o requerimento o Juiz ordena a Expedição de Mandado de Penhora e Avaliação.

A defesa do executado para execução de título judicial é a impugnação.

Impugnação:

A doutrina diverge em relação à natureza da impugnação, alguns dizem que tem a

mesma natureza da ação, outros que é um procedimento híbrido, outros afirmam que

é defesa. Para a prova da OAB, impugnação é um Incidente.

O prazo é de 15 dias contados da juntada aos autos do mandado de penhora

cumprido.

Para se entrar com impugnação é necessário garantir o juízo.

Garantir o juízo é ter penhorado bens ou valores que satisfaçam o crédito exequendo.

Não tem efeito suspensivo. Para obter o efeito suspensivo deverá o executado provar

o dano.

A decisão que julgar impugnação caberá agravo de instrumento, salvo se a

impugnação for julgada procedente, e esta procedência gerar a extinção de todo

processo de execução, o recurso será apelação.

Recursos:

Recurso é o meio de impugnação das decisões judiciais, colocado à disposição das

partes, do Ministério Público ou de terceiro, para que a decisão judicial possa ser submetida a

novo julgamento para reformar, anular, esclarecer ou integralizar uma decisão.

Os recursos retardam a produção de efeitos da coisa julgada. Enquanto houver recurso

pendente, a decisão não se torna definitiva nem seus efeitos imutáveis. Recurso é espécie do

gênero remédios.

Fatores de Criação dos Recursos:

a) Natural inconformismo humano.

b) Possibilidade de erro nas decisões (finalidade corretiva). Mais do que isso, a utilidade

preventiva, pois o magistrado que sabe que será examinado tomará maior cuidado ao

proferir sua decisão.

c) Interesse do Estado na correta aplicação do direito no caso concreto.

d) Uniformização da aplicação do direito, pois decisões diferentes em casos análogos

geram desprestígio ao Poder Judiciário. É por esses motivos que se aplica, em nosso

ordenamento, o duplo grau de jurisdição.

Page 16: Resumo Processo Civil

O artigo 496 do Código de Processo Civil diz quais os tipos de recursos vigentes em

nosso ordenamento, porém suas espécies ou formas de interposição não foram nele

referidas. Não alude agravo retido nem de instrumento, apenas agravo. Não fala do

recurso adesivo, que não é modalidade, mas forma de interposição.

OBS: O fato do legislador, no art. 496, haver enumerado os recursos dá a impressão de

taxatividade, de interpretação restritiva, isso porque o caput do artigo fala em “seguintes

recursos”. Entretanto, o sistema recursal não se exaure nesse artigo. É bom que se lembre do

sistema recursal do juizado especial criminal e dos embargos infringentes da Lei de Execução

Fiscal.

Trata-se de direito de ação desenvolvido dentro do processo. Não se trata de ação

autônoma, mas de direito de ação desenvolvido no curso do processo. É necessário

voluntariedade, ou seja, vontade de recorrer, ninguém é obrigado a recorrer.

A Constituição Federal de 1988 em seu art. 22, I, outorgou competência exclusiva à

União para legislar sobre matéria processual. Logo, só existem recursos criados por lei

federal. Assim, tanto o Código de Processo Civil como as legislações extravagantes

podem criar (e criaram) novos recursos (LEF, ECA, JEC, entre outros).

Diferenças entre Recursos e Ações Autônomas:

Não se pode confundir recurso com os outros meios de impugnação das decisões

judiciais. De fato existem semelhanças, já que ambos objetivam a impugnação destas. Durante

muito tempo tentou-se distinguir recurso de ações autônomas pelo critério da coisa julgada.

Assim, se o processo ainda estivesse em curso, a medida judicial seria o recurso, caso

contrário, seria necessário ações autônomas.

Mas essa não é a melhor definição, já que o mandado de segurança, que não é

recurso, cabe antes do trânsito em julgado contra ato judicial (Lei 11.212/2009, art. 5º).

Recursos: Os recursos não criam, ao contrário das ações autônomas, uma nova relação jurídica

processual (novo processo), mas sim prolongam a vida útil do processo, retardam a coisa

julgada. Pontes de Miranda dizia que apenas se recorrem de processos vivos. Dependem da

vontade das partes, seguem na mesma relação jurídico-processual e não têm como

pressuposto o vício da decisão, e sim a decisão desfavorável (sucumbência).

Ações Autônomas de Impugnação: É necessário que se forme outra relação processual, visam

à reforma de uma decisão, mas devem ter por fundamento um vício, p. ex., mandado de

segurança2, ação rescisória, embargos de terceiro, querela nullitatis, e a reclamação

constitucional.

2 O mandado de segurança somente será cabível contra decisão judicial conquanto não caiba nenhum

recurso no caso concreto (art. 5º, da Lei 12.016/2009 e súmula 267 do STF).

Page 17: Resumo Processo Civil

Classificação dos Recursos:

Existem duas sub-classificações, Recursos Ordinários e Recursos Extraordinários e Recursos de

Fundamentação Livre e de Fundamentação Vinculada.

Os extraordinários têm como função tutelar o direito objetivo, os ordinários visam tutelar o

direito subjetivo dos recorrentes.

Recursos Extraordinários: também chamados de excepcionais ou de estrito direito, não

buscam a correção da justiça da decisão. Visam, tão só, averiguar se a lei foi corretamente

aplicada ao caso. É para evitar o antagonismo de decisões na interpretação das leis que

servem esses recursos.

Imagine uma ação em que servidores cobram da Administração Pública, em juízo,

diferenças salariais que deveriam ter sido incorporadas aos seus vencimentos. É comum alguns

juízes concederem a incorporação e outros tantos, não. Inequivocamente esses servidores

terão de conviver com uma situação inusitada: pois uns recebem por exercer a função e

outros, que exercem a mesmíssima função, não, mesmo se enquadrando na mesma realidade

fático-jurídica.

Essas peculiaridades fazem com que esses recursos possuam um juízo de

admissibilidade diferenciado, muito mais complexo que os demais. Como não visam à tutela

do direito subjetivo, o próprio ordenamento impõe uma série de condições específicas

inerentes apenas a eles. Assim, p. ex., não examinam matéria fática, é necessário o

esgotamento de todos os recursos ordinários, e não julgam matéria que não foi decidida

anteriormente (prequestionamento).

São considerados recursos extraordinários em nosso sistema: Recurso Especial, Recurso

Extraordinário e Embargos de Divergência.

Recursos Ordinários: Não são excepcionais e visam à tutela do direito subjetivo das partes. O

problema não é a correta aplicação da lei, mas sim a correção da decisão. Basta, para esses

casos, que seja alegada a injustiça da decisão, que constitui um móvel para o interesse

recursal. Esses recursos permitem ampla revisão da matéria fática e probatória. São exemplos,

a apelação, os agravos, os embargos infringentes e de declaração.

Recursos de Fundamentação Vinculada à lei exigem a presença de determinados requisitos

para que tenham cabimento. Baseiam-se, obrigatoriamente, em motivos predeterminados,

assim, não basta a existência de uma decisão; é necessário que nessa decisão haja algum

requisito específico que integre o cabimento do recurso.

Os embargos de declaração necessitam de uma contradição, obscuridade ou omissão.

O recuso especial pressupõe não só a existência de um acórdão, como também que haja –

nesse acórdão – violação à lei federal. O mesmo se aplica ao recurso extraordinário, que impõe

Page 18: Resumo Processo Civil

violação à Constituição Federal (mesmo que para esse recurso a decisão não precise

necessariamente de um acórdão).

Quanto aos Recursos de Fundamentação Livre são todos os demais. Não se prendem a

determinado defeito ou vício da decisão. Qualquer que seja o problema, sempre será cabível o

recurso, desde que seja daquela específica decisão. Assim, para a apelação basta a existência

da sentença, mesmo que esta não tenha vício algum, o interesse de agir do autor reside

justamente na incompatibilidade da decisão prolatada com a tutela pretendida.

Duplo Grau de Jurisdição:

Antes de tudo, necessário se evitar um erro comum na doutrina, o de confundir os

conceitos de Grau de Jurisdição com Instância. Instância é termo ligado à organização

judiciária, sendo certo que na estrutura do judiciário existem órgãos hierarquicamente

inferiores e superiores. Tem função estática.

Assim, uma ação de despejo corre em primeiro grau de jurisdição na primeira

instância. Aquele que foi sucumbente poderá interpor recurso de apelação para o segundo

grau de jurisdição na segunda instância, mas nem sempre é assim.

Pode ocorrer de um processo estar em primeiro grau de jurisdição na segunda

instância; p.ex., a ação rescisória; como também em segundo grau de jurisdição na primeira

instância, como nos juizados especiais criminais.

Grau de Jurisdição é o contato que o judiciário tem com a causa (o primeiro contato

refere-se ao primeiro grau de jurisdição; o segundo contato com o segundo grau, e assim por

diante). Tem função dinâmica.

O duplo grau de jurisdição tem íntima relação com a preocupação de evitar o abuso de

poder pelo juiz, que poderia ocorrer se não houvesse um controle. Um juiz único poderia

tornar-se despótico, conforme advertência de Montesquieu, já que saberia que ninguém iria

interferir na sua decisão.

Importante ressaltar que a Constituição do Império, de 1824, previa em seu art. 158 o

duplo grau de jurisdição. Todas as Constituições que advieram posteriormente, inclusive a

atual, não dispuseram sobre esse princípio.

A atual CF, em seu art. 5º, LV, assegurou a todos o direito ao contraditório, à ampla

defesa e aos recursos a ele inerentes, mas não indicou expressamente o princípio do duplo

grau. Por isso alguns autores entendem que o referido princípio não pode ser alçado à

categoria constitucional.

Page 19: Resumo Processo Civil

Resumidamente, argumentos de quem é contra o princípio:

a) Dificuldade do Acesso à Justiça: prolongamento do processo, elevação das custas. É o

duplo grau uma boa desculpa para o réu que não tem razão, pois o processo se torna

mais demorado com infindáveis recursos.

b) Desprestígio da primeira instância: dada a ampla possibilidade de submeter sua

decisão a reexame pelo segundo grau, o juiz monocrático perde sua importância.

c) Quebra da unidade do poder jurisdicional: Gera insegurança. Se a decisão

monocrática for retificada pelo tribunal, é sinal de que de nada serviu. Se for

ratificada, qual foi a função do tribunal? Seja qual for a decisão, gera descrédito.

d) Afastamento do princípio da imediatidade: é o juiz de primeiro grau que toma

contato direto com as provas orais e tem melhores condições de dizer o direito, não o

tribunal.

O entendimento majoritário é de que o princípio do duplo grau foi contemplado pelo

sistema, seja porque a CF prevê a existência de tribunais, seja porque está ligado à ideia de

Estado de Direito, que contém em si dupla função: a) quanto ao particular que pode manusear

recursos para exercer o controle; e b) quanto ao Estado, cujos órgãos superiores fiscalizam os

inferiores.

As principais teses de defesa do duplo grau são:

a) Os juízes, sabedores de que serão submetidos a controle, tomam maior cuidado em

suas decisões.

b) A revisão será feita por juízes mais experientes; por juízes que passaram por

julgamentos análogos.

Juízo de Admissibilidade e Juízo de Mérito:

Assim como para o ajuizamento de uma causa é necessário preencher alguns

requisitos (pressupostos processuais e condições da ação), também os recursos devem

preencher alguns requisitos, sem os quais não serão apreciados.

Chama-se juízo de admissibilidade o que declara a aptidão do recurso para ser

analisado. Chama-se juízo de mérito a verificação da matéria de fundo, ou seja, a existência ou

não de fundamento acerca daquilo que se postula.

Varia a forma como se realiza o juízo de admissibilidade, variação essa prevista em lei.

Entretanto existe, a despeito das vicissitudes, um sistema básico como regra geral.

O juízo de admissibilidade tem natureza de questão preliminar, e não de questão

prejudicial. É preliminar, uma vez que a ausência dos requisitos impede a apreciação do

recurso a ele vinculado. As prejudiciais apenas influenciam no teor da decisão. Tanto as

preliminares como as prejudiciais constituem espécie de gênero maior, as questões prévias.

O juízo de admissibilidade no Brasil é exercido em regra, em duas etapas: a primeira,

pelo juízo monocrático que proferiu a decisão recorrida e a segunda, pelo órgão ad quem

quando do julgamento efetivo do recurso. A decisão do órgão ad quem, evidentemente

prevalece sobre a decisão do órgão originário. Ademais, as decisões não possuem nenhum

Page 20: Resumo Processo Civil

grau de vinculação. O tribunal não precisa ratificar o exame de admissibilidade do órgão

inferior, podendo analisar novamente os pressupostos e constatar a ausência de algum

requisito que passou despercebido pelo órgão a quo.

Sua finalidade é evitar a remessa dos autos ao órgão ad quem nos casos em que o

recurso é manifestamente inadmissível. Assim, em observância ao princípio da economia

processual, exerce um controle prévio para evitar o funcionamento desnecessário dos

tribunais.

Tem-se uma exceção o agravo de instrumento, de resto, todos os demais recursos são

interpostos perante a autoridade que prolatou a decisão, permitindo, portanto, um duplo juízo

de admissibilidade: um juízo daquele que proferiu a decisão, outro daquele que julgará o

mérito. Novamente, o tribunal não fica vinculado à decisão proferida pelo juízo a quo.

Vigora em nosso sistema a dualidade de órgãos, ou seja, um órgão julga a

admissibilidade e outro julga o mérito. Normalmente o órgão inferior não pode adentrar o

mérito, sob pena de usurpação de competência.

OBS: Nos embargos de declaração e nos embargos infringentes da Lei de Execução Fiscal,

contudo, aquele que decide sobre a admissibilidade é exatamente aquele que vai julgar o

mérito; portanto, uma exceção.

OBS2: As expressões são “conhecer” e “não conhecer”, para a admissibilidade e “dar” e

“negar” para o mérito.

Pressupostos:

O juízo de admissibilidade pode ser (pressuposto objetivo) pertinente ao recurso que se

interpõe ou referente à pessoa que recorre (pressuposto subjetivo).

Pressupostos Objetivos.

a) Recorribilidade: Para que se possa recorrer, o ato que se enfrenta deve ser recorrível.

É necessário saber quais atos praticados pelo juiz no processo e, consequentemente,

aplicar-lhes o recurso cabível.

Atos que o juiz exerce ao longo do processo:

Sentenças: atos recorríveis;

Decisões interlocutórias: recorríveis sempre que o juiz, no curso do processo, resolver situação

que possa causa prejuízo a uma das partes;

Despachos: não são recorríveis, porque, por eles não se resolvem questões, apenas propiciam

a movimentação do processo sob determinadas diretrizes dadas pelo juiz.

Atos Ordinatórios: antes atos exclusivos do juízes, hoje praticados por auxiliares da justiça,

também não cabem recurso, no máximo podem ser revistos pelo juiz quando necessário.

Acórdão: os acórdãos podem ser decisões interlocutórias ou sentenças, vai depender se

resolvem questões incidentes, ou se pronunciarem de acordo com o conteúdo dos arts. 267 ou

269.

b) Tempestividade: é a exigência de que o recurso interposto seja apresentado no prazo.

Este prazo é peremptório e insuscetível de dilação convencional.

c) Cabimento (adequação): Sendo recorrível o ato, cumpre verificar qual o recurso é o

adequado para aquela situação. Em observância ao princípio da fungibilidade, havendo

Page 21: Resumo Processo Civil

equívoco sobre o recurso correto a ser impetrado, o juiz pode converter o recurso

errado no apropriado.

d) Inexistência de fato impeditivo ou extintivo para recorrer: Profere-se juízo de

admissibilidade negativo3 quando existir algum fato que impeça ou extinga o direito da

parte recorrer. São requisitos verificados dentro do processo (endoprocessualmente).

Os fatos extintivos são a renúncia ao recurso e a aquiescência à decisão. Os fatos impeditivos

são a desistência do recurso ou da ação, o reconhecimento jurídico do pedido ou a renúncia ao

direito sobre que se funda a ação.

Fatos Extintivos.

Renúncia: Negócio jurídico de disponibilidade de uma posição jurídica em que a parte abre

mão direito de recorrer. Pode ser manifestada expressa ou tacitamente. Deve ser interpretada

restritivamente e não se presume, por se tratar de uma extinção de direitos.

É negócio jurídico unilateral, independe da outra parte para que seus efeitos sejam gerados

imediatamente.

Aquiescência: É a prática de ato capaz de demonstrar a conformação quanto à decisão

desfavorável. Aliás, é que o que preconiza o CPC: “Art. 503. A parte, que aceitar expressa ou

tacitamente a sentença ou a decisão, não poderá recorrer. Parágrafo Único. Considera-se

aceitação tácita a prática, sem reserva alguma, de um ato incompatível com a vontade de

recorrer”.

Quem aquiesce a uma decisão, curva-se diante dela, aceitando-a. A renúncia é ato de

vontade; a aquiescência é ato de conformismo, e pode ser expressa quando a parte pratica ato

incompatível com o recurso. Bons exemplos de aquiescência: a entrega das chaves pelo

locatário, na ação condenatória do despejo; e efetuar o pagamento, na ação de indenização.

Fatos Impeditivos:

Desistência da ação é ato de natureza processual em que o autor abre mão do

processo. Abre mão de sua condição processual ativa que adquirira com a propositura da

demanda. A iniciativa da desistência da ação cabe ao autor, que tem de contar com a anuência

do réu caso já tenha transcorrido o prazo para a resposta.

Trata-se, portanto, de ato bilateral, que apenas se aperfeiçoa com a manifestação da

parte contrária. Difere da renúncia ao direito, pois nesta o autor renuncia ao direito da própria

pretensão; naquela, apenas daquele processo. Com a aceitação do réu, gera um efeito

vinculativo ao juiz, que é obrigado a homologar a extinção.

Havendo reconhecimento ou renúncia ao direito, não poderá apresentar recurso, por

motivo lógico, porque o ato de disposição do direito material é incompatível com a vontade de

recorrer, salvo se o recurso versar sobre a invalidade do reconhecimento ou da renúncia do

direito.

Desistência do Recurso é ato unilateral (art. 501), em que, após a interposição do

recurso, manifesta a parte ao juiz o interesse em não vê-lo julgado. A desistência pressupõe

3 É o único, pois todos os requisitos de admissibilidade têm natureza positiva. Deve existir o preparo; o

recurso deve ser interposto no prazo legal.

Page 22: Resumo Processo Civil

recurso já interposto, quando a lei fala “a qualquer tempo” quer limitar a desistência da

interposição do recurso até o momento do julgamento.

Assim como a renúncia, a desistência não necessita de homologação judicial, basta que

a parte protocolize a sua intenção. Os efeitos se produzem a partir do momento em que é

exteriorizada. A desistência pode ser expressa ou tácita: tácita é quando a parte pratica ato

incompatível com o recurso já interposto.

e) Singularidade: cada decisão comporta um recurso específico. As exceções se

encontram nos artigos do CPC 498 e 541

f) Preparo: alguns recursos estão sujeitos a preparo, ou seja, as despesas processuais

correspondentes ao recurso interposto. Entenda que o CPC não disciplina a

obrigatoriedade do preparo, mas o regimento de custas de cada Estado. Se a parte

tiver recolhido valor insuficiente, o juiz mandará que o complemente em cinco dias

(art. 511, §2º) a deserção só poderá ser desconsiderada por justo impedimento. O MP

e a Fazenda Pública não recolhem preparo, porque têm isenção legal, assim como as

pessoas beneficiadas pela assistência judiciária (Lei 1.060/50).

Pressupostos Subjetivos:

São requisitos pertinentes à pessoa que recorre.

a) Legitimidade: para ajuizar uma ação a parte precisa ter legitimidade ad causam. Sem o

preenchimento dessa condição o pedido formulado (mérito) não poderá ser

apreciado. Como o recurso constitui uma extensão ao direito de ação, também se

exige que a parte tenha legitimidade. Assim, para que o recurso seja admissível é

necessário que a parte que o interpôs seja qualificada para tal.

A legitimidade visa separar as pessoas que podem recorrer daquelas que não podem. A

legitimidade é permanente, alguém a adquire pela simples condição de ser parte, e ela

perdura enquanto permanecer nessa situação.

Quem pode recorrer:

As partes: autor e réu, opoente, o denunciado à lide, o chamado ao processo, o nomeado à

autoria e o assistente. O assistente litisconsorcial tem legitimidade autônoma para recorrer,o

STJ entende que o assistente simples recorre na qualidade de terceiro prejudicado e não de

parte.

Ministério Público: Seja como titular da ação seja como fiscal da lei. Mesmo que o MP já tenha

comparecido aos autos alegando que não participará, ainda assim sua legitimidade está

presente. Seu recurso independe do recurso apresentado pela parte vencida. Pode interpor

recurso adesivo, salvo se estiver atuando como fiscal da lei, já que o referido recurso

pressupõe “sucumbência recíproca” e o MP não sofre sucumbência quando custus legis. O MP

poderá recorrer mesmo quando indeferida sua intervenção.

Terceiro Prejudicado, União, Advogado, o advogado não é parte nem terceiro, portanto, não

possui legitimidade para recorrer, de regra. Sua única função é ser representante judicial da

parte. Importante questão que se apresenta na prática é a legitimidade para recorrer dos

honorários advocatícios arbitrados em sentença.

Page 23: Resumo Processo Civil

b) Interesse: a parte além de possuir legitimidade, necessita ter interesse para recorrer.

O interesse recursal segue os mesmo critérios que o interesse de agir como condição

da ação. É preciso demonstrar que a via recursal é o único meio possível para atingir o

objetivo pretendido.

A existência da sucumbência que move o interesse. A demonstração do interesse é inferida

objetivamente, não basta apenas demonstrar o inconformismo, é necessário demonstrar a

situação de desvantagem que a sentença produziu.

Art. 577 CPC: “Não se admitirá, entretanto, recurso da parte que não tiver interesse na

reforma ou modificação da decisão”.

Mérito Recursal:

Sendo positivo o juízo de admissibilidade, o órgão ad quem procederá à apreciação do mérito

recursal. O mérito do recurso é a pretensão recursal, ou seja, aquilo que se pede. A pretensão

pode ser a reforma, a invalidação, a integração ou o esclarecimento da decisão.

Causa de Pedir:

Como qualquer demanda os recursos têm uma causa de pedir. A causa de pedir

recursal constitui-se do fato jurídico apto a autorizar a reforma, invalidação,

integralização ou esclarecimento da decisão recorrida.

Assim é importante verificar qual o tipo de vício que enseja o reexame do ato judicial

impugnável. A argumentação pode ser de reforma ou invalidação dos erros praticados pelo

juízo na sentença, respectivamente denominados error in iudicando e error in procedendo.

Error in iudicando é o erro no julgamento, erro de juízo. Trata-se da má apreciação da questão

de direito ou da questão de fato. Requer-se, pois a reforma da decisão.

Error in procedendo é o vício de atividade, um defeito na decisão que a torna apta a ser

invalidada. Observe: uma coisa é a decisão errada, a qual o tribunal pode corrigir. Outra, é a

decisão defeituosa, que deve ser invalidada para que seja proferida uma nova.

Esse vício não está ligado ao conteúdo da decisão, mas à forma, já que não ataca o seu

acerto. Enquanto os vícios de juízo guardam referibilidade com o direito material, os vícios de

atividade têm observância no direito processual.

O vício de atividade ocorre quando o juiz desrespeita norma de procedimento

provocando gravame à parte. São exemplos o ato de designar perícia e não intimar a parte

para apresentar quesitos, julgar antecipadamente o mérito quando ainda pendente de provas,

pronunciar-se a respeito de determinado fato já alcançado pela preclusão, ou ainda a ausência

de fundamentação da decisão.

Page 24: Resumo Processo Civil

Recurso Adesivo (art. 500 CPC).

Diz o referido artigo: “Cada parte interporá o seu recurso, independentemente, no prazo e

observadas as exigências legais (...)”. Infere-se da leitura deste artigo, que a parte,

individualmente, interporá seu recurso no prazo, observadas as exigências legais; contudo, se

as partes sucumbirem reciprocamente, é possível a interposição no prazo das contrarrazões de

recurso adesivo.

Exemplo: Adjanaxkleber (A) ajuíza ação de cobrança contra Buíque (B), a fim de receber a

quantia de R$: 5.000,00. Na sentença, o juiz julga parcialmente procedente o pedido de “A”,

condenando Buique a pagar R$: 2.500,00. “A” entende que a sentença foi justa e não recorre

dela, contudo Buíque interpõe recurso. Para evitar a reforma da sentença (reformatio in pejus)

em razão do recurso interposto, no prazo das contrarrazões, “A” poderá recorrer

adesivamente. Por esse motivo, afirma-se que o recurso adesivo não é espécie de recurso, pois

não se encontra enumerado no rol do art. 496, mas fica atrelado ao recurso da parte contrária,

chamado principal.

O recurso é adesivo é cabível em apelação, embargos infringentes, recurso especial e

extraordinário (art. 500, II CPC).

Dá-se a interposição no prazo para contrarrazões do recurso da outra parte.

É dependente do recurso principal.

O MP e terceiros não podem recorrer, pois a lei menciona apenas autor e réu.

Efeitos dos Recursos: As consequências jurídicas que resultam para o processo da interposição de um recurso.

Impedimento do trânsito em julgado:

Alguns autores preferem dizer que os recursos retardam o trânsito em julgado.

Efeito Devolutivo:

Entende-se por efeito devolutivo a transferência ao órgão ad quem do conhecimento

da matéria impugnada, com o objeto de reexaminar a matéria recorrida. É comum a todos os

recursos, e é manifestação do princípio dispositivo.

Pelo princípio dispositivo e pelo princípio da inércia, o juiz não pode agir de ofício, e

depende da provação do interessado para atuar no caso concreto (art. 2º, 262, 128 e 460 CPC).

Com a conjugação de ambos os princípios cria-se um novo, denominado princípio da

congruência ou da adstrição, o qual veda ao magistrado julgar acima, abaixo ou fora do

pedido.

Fazendo um transporte para a esfera recursal, que nada mais é que uma renovação do

direito de ação, tem-se o efeito devolutivo.

Ao contrário da permissibilidade em primeiro grau (CPC, art. 286), o tribunal não

admite recurso genérico, devendo a parte manifestar-se precisamente sobre o gravame

sofrido (princípio da dialeticidade).

O objeto da devolutividade constitui o mérito do recurso, mesmo que este verse sobre

matéria processual, ou mesmo que essa matéria tenha sido prelimiar em primeira instância.

Page 25: Resumo Processo Civil

Importante: a devolutividade não quer dizer remessa a outro órgão, pois existem recursos que

serão examinados pelo próprio prolator.

O efeito devolutivo pode ser:

Imediato: é aquele que a devolutividade se opera de plano, imediatamente, para o órgão

destinado à análise do recurso (agravo de instrumento, embargos de declaração).

Gradual: a devolução será gradual. Primeiro se estabelece o exame de admissibilidade no

órgão que proferiu a decisão, para, somente após, autorizar a remessa para o órgão que fará a

análise do mérito. É a regra em nosso ordenamento (apelação, recurso especial, recurso

extraordinário, recurso ordinário constitucional).

Diferido: são casos em que a admissibilidade e o julgamento do recurso são diferidos para

outra oportunidade. O recurso fica condicionado a evento futuro e incerto para a sua

efetivação no processo (agravo retido, que depende de reiteração na apelação, e os recursos

especial e extraordinário retidos, que, igualmente, dependem dessa ratificação quando da

interposição dos recursos da decisão final).

Limitado: Há casos em que o efeito devolutivo é limitado, a despeito de a decisão demonstrar

que a sucumbência foi maior e a parte demonstrar o interesse em recorrer de toda a decisão.

São situações em que a própria lei limita a devolução da matéria (embargos infringentes, que

ficam limitados à matéria objeto da divergência, mesmo que o acórdão constate que a

sucumbência foi maior).

Efeito Suspensivo:

Adiamento da produção dos efeitos da decisão impugnada até que o recurso seja

efetivamente julgado. Em decorrência desse efeito o comando emergente da decisão não

pode ser executado ate que transite em julgado o recurso.

Assim, com a publicação do ato, passa a correr o prazo para a interposição do recurso.

Se aquele recurso previsto no ordenamento tiver efeito suspensivo, deve-se aguardar para ver

se será ou não interposto. Enquanto isso a decisão não produz efeitos. Somente se a parte não

interpuser recurso a decisão passa a produzir efeitos.

Se a impugnação da decisão for parcial, a suspensividade atingirá somente a parte

recorrida, podendo executar (via carta de sentença) a parte que não o foi, desde que a parte

recorrida seja independente daquela de que não se recorreu.

OBS: três circunstâncias em que o recurso pode obter a concessão do efeito suspensivo: 1)

quando o recurso já tiver previsão deste efeito, p. ex., apelação; 2) quando depender da

concessão do juiz. Assim, os recursos que não tiverem essa previsão poderão receber o efeito

suspensivo desde que requerida pela parte e verificado o relevante fundamento; 3) por meio

de ação cautelar, é possível socorrer-se desta ação para requerer o efeito suspensivo (art. 800,

parágrafo único CPC), aplicável ao recurso especial e extraordinário, que por força do art. 542,

Page 26: Resumo Processo Civil

§2º não possuem o efeito suspensivo. Em nenhuma hipótese é cabível em mandado de

segurança.

Efeito Regressivo ou Retratação:

A faculdade que alguns recursos têm de atribuir ao órgão a quo a possibilidade de

reconsiderar a decisão recorrida. De regra a matéria sempre será analisada pelo órgão ad

quem.

Efeito Expansivo:

Por força do efeito devolutivo, o juiz deve apreciar o recurso nos limites da extensão

em que ele foi interposto. Há casos, contudo, em que o julgamento vai além. Assim, o objeto

da decisão ultrapassa os limites daquilo que foi impugnado pelo recorrente. Isso ocorre por

força do efeito expansivo, que pode ser subjetivo ou objetivo.

Há o efeito expansivo subjetivo quando,embora o recurso tenha sido interposto por

apenas um dos litisconsortes, a todos aproveita. Seja porque se trata de litisconsorte unitário,

seja porque, mesmo sendo simples, a sentença deverá ser igual para todos; não pode

beneficiar apenas um.

Já o efeito expansivo objetivo poderá ser interno ou externo.

Será expansivo objetivo interno quando a decisão for mais ampla do que a matéria

impugnada, mas produzir efeitos somente para dentro do recurso. Assim, dando provimento a

apelação, o tribunal acolhe preliminar de litispendência que atingirá toda a sentença.

Será expansivo objetivo externo quando a decisão produz efeitos para fora do

recurso. Com a interposição do agravo de instrumento, o seu eventual provimento pode fazer

com que a decisão em primeiro grau seja revogada, bem como todos os atos decorrentes dela,

que deixarão de produzir efeitos.

Efeito Translativo:

É a permissibilidade de o tribunal conhecer de matérias que não foram objeto de

recurso ou contrarrazões, e, portanto, que não estão sujeitas ao limite do efeito devolutivo,

que guarda referibilidade com o princípio dispositivo. Essas matérias são consideradas de

ordem pública, o que lhes confere a permissibilidade de apreciação independente de

provocação.

Efeito Substitutivo:

Art. 512 CPC: “o julgamento proferido pelo tribunal substituirá a sentença ou a decisão

recorrida no que tiver sido objeto de recurso”.

Essa regra significa que, uma vez admitido o recurso, mesmo que a ele se tenha

negado provimento, o acórdão do tribunal terá substituído a decisão recorrida. É fundamental

que o recurso tenha sido admitido, pois a admissão autoriza ao órgão julgador excursionar

sobre o mérito.

“A decisão que julgar o recurso sempre prevalecerá sobre a decisão recorrida,

independentemente de seu conteúdo”. Logo, não se admite o efeito substitutivo em duas

situações: a) quando o recurso não for admitido, e b) quando a decisão tiver a função de

Page 27: Resumo Processo Civil

invalidar a decisão recorrida (error in procedendo), já que nesses casos não haverá função

rescindente e não haverá decisão que prevaleça (não haverá o que substituir), pois a decisão

recorrida será expurgada do mundo jurídico, devendo ser proferida uma nova.

Recursos em Espécie:

Apelação:

A apelação é cabível em todos os procedimentos: comum (ordinário e sumário) ou

especial. Tanto nos de jurisdição contenciosa quanto nos de jurisdição voluntária (art. 1.110

CPC).

É recurso que se interpõe contra sentença (CPC: arts. 162 §1º, 513, 267 e 269).

A apelação em regra é cabível contra qualquer sentença (513).

Exceções:

a) Sentença do juizado especial cível, que comporta recurso inominado (art. 41 da lei

9.099/95)

b) Sentença que julga os embargos na Lei de Execução Fiscal nas condenações até 50

OTN’s (art. 34 da lei 6.830/80). Dessa decisão cabem embargos infringentes de alçada

do próprio juiz prolator da sentença.

c) Das sentenças que figuram como partes Estado estrangeiro/organismo internacional

contra município ou pessoa residente/domiciliada no Brasil. Dessa sentença da justiça

federal caberá recurso ordinário constitucional (art. 37 da lei 8.038/90).

Efeitos da Apelação:

Sobre o efeito devolutivo: após o exame de admissibilidade, abre-se a oportunidade para

apreciação de mérito pelo órgão ad quem (CPC, art. 514, III).

O princípio da adstrição da sentença ao pedido (arts. 128 e 460 CPC) determina que o

magistrado deve julgar em congruência com aquilo que foi formulado. Essa regra, com os

devidos reparos, pode ser transportada para o campo recursal, e recebe o nome de efeito

devolutivo. Dessa forma, o material transportado ao tribunal para estabelecer o trabalho a ser

exercido na fase recursal depende de manifestação da parte.

Compete à parte eleger as matérias que serão “devolvidas” ao tribunal. Assim, se

Marcos foi sucumbente no valor de R$: 1.000,00, mas apelou apenas metade, somente essa

parte recorrida será objeto de apreciação pelo tribunal ad quem.

Ao receber a apelação o juiz deve declarar os efeitos em que a recebe, segundo a lei.

Como regra, o magistrado recebê-la em seu duplo efeito, devolutivo e suspensivo. A exceção

dessa regra encontra-se no artigo 520 CPC. Não havendo efeito suspensivo, a parte vencedora

poderá requerer o início da execução provisória, segundo o art. 521 do CPC.

São recebidas somente no efeito devolutivo as sentenças:

a) Que homologarem divisão e demarcação de terras.

b) Que condenarem em alimentos

c) Que julgarem processo cautelar

d) Que rejeitarem liminarmente ou julgarem improcedentes os embargos à execução.

e) Que deferirem a instituição de arbitragem

Page 28: Resumo Processo Civil

f) Que confirmarem os efeitos da tutela antecipada.

Limitações decorrentes do efeito devolutivo:

1) Impedimento de trazer matérias que não foram requeridas ao juízo a quo (vedação ao

jus novorum).

2) Limitação do tribunal impugnado.

3) Proibição da reformatio in pejus. Afinal, se o tribunal apenas está limitado ao que foi

requerido e este sempre será para melhorar a decisão, não poderá o tribunal agravar

aquilo que foi decidido em primeiro grau.

Processamento:

A apelação é feita mediante petição dirigida ao juiz prolator da sentença. Será dada

vista ao apelado para respondê-la no Prazo de 15 dias (o prazo das contrarrazões é igual ao

prazo de interpor apelação).

O juiz também verificará a admissibilidade da apelação, ou seja, verificará se apelação

está no prazo, se possui preparo etc.; logo após, concederá os efeitos em que a apelação será

recebida (como regra, seu duplo efeito, devolutivo e suspensivo).

Contra a decisão que não acolhe a apelação, cabe apenas agravo de instrumento (no

prazo de 10 dias). Se a sentença do juiz estiver baseada em súmula do STJ ou do STF, o

magistrado poderá não receber a apelação; é uma espécie de súmula impeditiva de recurso.

O julgamento será feito no tribunal colegiado.

Agravo:

O agravo é o recurso oponível contra as decisões interlocutórias, ou seja, os atos do

juiz que, no curso do processo, solucionam questões incidentes.

Importante: Com a reforma da lei do agravo diante de todas as decisões interlocutórias, cabe

agravo retido.

Apenas caberá agravo de instrumento em cinco situações:

1) Nas decisões de dano de difícil ou incerta reparação (decisões de urgência); no

exemplo da concessão ou não concessão de medidas liminares.

2) Na decisão que não admitir a apelação, ou seja, não determinar que ela suba

(porque está fora do prazo).

3) Nas decisões sobre os efeitos da apelação – os efeitos da apelação decorrem da lei

(efeitos ope legis) e geralmente esse recurso é recebido em seu duplo efeito.

Ocorre que nem sempre os efeitos concedidos são desejados pelo apelante. É possível haver a

necessidade de execução provisória (querendo somente o efeito devolutivo) ou a imediata

suspensão da sentença (duplo efeito). Dessa forma caberá agravo de instrumento.

4) Na decisão que julgar liquidação de sentença

5) Na decisão que julgar impugnação à execução.

Page 29: Resumo Processo Civil

Essas cinco situações podem ser resumidas em duas (facilitando para se fazer o exame

da ordem): As decisões de urgência e todas as decisões após a sentença (que abrangem as

outras quatro situações).

Exemplo: Depois de proferida a sentença do juiz, a parte entra com apelação, porém o juiz não

recebe a apelação por achar que esta não preencha um dos requisitos. Este é um caso de

decisão interlocutória após a sentença, dando espaço para o Agravo de Instrumento.

Agravo Retido:

Interposto contra decisões interlocutórias. Seu processamento não ocorrerá

imediatamente no tribunal, ficará retido, nos autos, até a sentença. Quando for interposta a

apelação, o agravo subirá para que seja apreciado em preliminar.

O agravo será endereçado ao próprio juiz da causa no prazo de 10 dias e ficará retido

até a decisão final (sentença).

Quando de sua interposição ao juiz, é facultado retratar-se.

Segue a sorte do recurso principal, se apelação não subir, o agravo também não sobe.

Ao subir, o agravo deverá ser apreciado antes da apelação no tribunal.

O recorrente deverá, nas razões ou contrarrazões de apelação, reiterar a existência do

agravo, sob pena de desistência tácita.

O agravo será obrigatoriamente retido e oral nas audiências de julgamento e

instrução.

Exemplo: O juiz não permite que uma testemunha seja ouvida (decisão interlocutória contrária

ao interesse da parte, agravo retido). A parte ganha a causa, o agravo não precisa subir para o

tribunal porque não houve dano para a parte.

Agravo de Instrumento:

Nas hipóteses em que seu cabimento se fizer necessário, será processado diretamente

no tribunal, permanecendo os autos do processo em primeiro grau.

O agravo de instrumento é o ÚNICO recurso do Direito Brasileiro, que o Tribunal que

receber o recurso, não terá em suas mãos o processo. Todos os outros sobem para o tribunal

junto com o processo, neste caso sobem apenas as razões, permanecendo o processo em

primeiro grau. Porém a lei exige que a sejam feitas cópias de peças do processo, formando um

“instrumento” que irá para o tribunal (ad quem).

Art. 524 CPC: afirma que a petição de agravo será endereçada diretamente ao tribunal

competente, contendo os seguintes itens:

a) Exposição do fato e do direito

b) Razoes do pedido de reforma

c) Nome e endereço completo dos agravados (agravante e agravado).

Page 30: Resumo Processo Civil

O artigo 525 indica quais são as cópias que deverão instruir o agravo de instrumento:

a) Obrigatoriamente, com a decisão agravada, certidão de intimação dessa decisão e as

procurações dos advogados.

b) Facultativamente, com outras peças que o agravante entender úteis.

Depois de distribuir o agravo diretamente no Tribunal, o recorrente requererá a

juntada, no processo em primeira instância, da cópia do agravo, devidamente protocolizada,

com a relação dos documentos que o instruíram (art. 526 CPC), no prazo de três dias. Trata-se

de uma norma obrigatória, sob pena de não conhecimento do recurso.

Deve ocorrer imediatamente a distribuição do agravo no Tribunal, inclusive ao relator

sorteado, para que pratique os seguintes atos:

1) Negar seguimento ao agravo liminarmente (557). Caso o relator verifique algumas das

possibilidades enumeradas no art. 557, poderá negar seguimento ao agravo, conforme

se lê: “O relator negará seguimento a recurso inadmissível, improcedente, prejudicado

ou em confronto com súmula ou jurisprudência dominante do respectivo tribunal, do

STF ou STJ”.

2) Converterá agravo de instrumento em retido, salvo quando houver lesão grave ou de

difícil reparação. Esse inciso foi modificado pela nova lei e ocorrerá sempre que o

relator não vislumbrar a urgência que motivou o agravante a buscar a forma de

instrumento. Claro que esta conversão não ocorrerá nos casos de urgência.

3) Conferir efeito suspensivo (558) ou deferir a antecipação da pretensão recursal: O

agravo é recebido somente no efeito devolutivo, mas, por vezes, a requerimento da

parte, o juiz poderá dar efeito suspensivo. Entretanto, em alguns casos, é necessário

não somente suspender a eficácia da decisão, como também a prática de um ato

positivo do julgador. É chamado de efeito ativo, que nada mais é do que uma terceira

forma de efeito do agravo de instrumento.

4) Informações ao juiz da causa em 10 dias para esclarecimento ou retratação.

5) Intimação do advogado para apresentar contraminuta em 10 dias.

6) Ouvir o MP em 10 dias, nas causas em que sua intervenção se faça necessária. Em 30

dias, o relator solicitará dia para o julgamento.

OBS: Das decisões que convertem o agravo de instrumento em retido caberá reconsideração

ou Mandado de Segurança.

Embargos Infringentes:

“Cabem embargos infringentes quando o acórdão não unânime: a) houver reformado,

em grau de apelação, a sentença de mérito; b) houver julgado procedente a ação rescisória”;

art. 530 CPC.

No primeiro item o legislado limitou a abrangência do uso dos embargos, visto que,

antes da reforma, qualquer tipo de sentença impugnada por apelação cabia embargos

infringentes. Agora cabem apenas às de mérito, além disso, o acórdão deve ter reformado a

sentença.

Page 31: Resumo Processo Civil

Exemplo: Se a parte perdeu em primeiro grau, apelou e perdeu novamente em segundo grau

(mas agora por 2x1), não caberá embargos, pois o acórdão não reformou a sentença. Para que

haja embargos (p.ex.), a parte deve ter vencido a sentença, e perdido a apelação por dois

votos a um (princípio do “EU NÃO POSSO TOMAR DUAS BUCHA”).

No segundo item, só cabem embargos infringentes se a ação rescisória for julgada

procedente, diferente do que ocorria antes da reforma, quando não se dependia do resultado.

O prazo dos embargos é de 15 dias, contados da intimação do acórdão no Diário

Oficial.

OBS: os embargos atacam a conclusão do acórdão, ou seja, sua parte dispositiva, de maneira

que não lhe é lícito impugnar a fundamentação. As teses apresentadas pelos juízes, para

chegar à conclusão, não são passíveis de embargos, por isso se afirma que a divergência dos

embargos se encontra na parte dispositiva da decisão.

Exemplo: No julgamento do acórdão, dois juízes entendem que a dívida não é exigível porque

ocorreu o pagamento. O outro juiz entende que a dívida não é exigível porque ocorreu a

prescrição. No final das contas, a despeito das fundamentações distintas, não caberão

embargos infringentes, porque os três juízes convergiram para a mesma conclusão: a dívida

não é exigível.

Efeitos: Os efeitos dos embargos acompanham os da apelação. Assim, se a apelação foi

recebida (como de regra é) no seu duplo efeito, os embargos manterão esses dois efeitos cujo

objetivo é impedir a produção dos efeitos do acórdão, embargado em apelação ou em ação

rescisória. Entretanto, as apelações recebidas apenas no efeito devolutivo não permitem que

os embargos tenham efeito suspensivo.

Processamento:

1) Endereçado ao relator do acórdão, processando-se nos mesmos autos.

2) O relator abrirá vista para as contrarrazões e, depois, apreciará a sua admissibilidade.

3) Conforme dispuser o regimento interno, sortear-se-á um novo relator para o

julgamento.

Embargos de Declaração:

A regra é que todo recurso tenha por objetivo reformar uma decisão. Os embargos não

têm (necessariamente) essa finalidade.

Entende-se por embargos de declaração o recurso destinado ao juiz ou ao tribunal

prolator da decisão para que este afaste a obscuridade e contradição ou supra a omissão no

julgado que proferiu.

Observe que os embargos de declaração não visam modificar a justiça da decisão,

apenas esclarecê-la ou integralizar o julgamento no seu aspecto formal, porque a decisão

apresentou, como dito, omissão ou contradição.

Page 32: Resumo Processo Civil

OBS: São cabíveis embargos de declaração contra qualquer decisão. A jurisprudência é

pacífica, no sentido de caberem embargos de declaração contra decisão interlocutória. Cabem

até embargos declaratórios de outros embargos, desde que o vício persista na decisão.

Poderá o juízo ou o tribunal entender que os embargos são meramente protelatórios,

condenando o embargante em 1% sobre o valor da causa (art. 538, parágrafo único do CPC), e,

com a reiteração, a multa poderá atingir 10%.

O prazo para interposição dos embargos, tanto em 1ª instância, quanto em 2ª

instância, é de 5 dias, e devem ser dirigidos ao juiz relator do julgado. Não há preparo. O juiz

ou relator receberá as razões dos embargos e, sem audiência da outra parte, decidirá em 5

dias.

OBS: para não se esquecer do prazo, método para decorar: “Hilton Boenos Aires, precisa cinco

dias toda semana para poder declarar seu amor”.

Efeitos:

No sistema recursal dos embargos, existem os efeitos comuns (devolutivo e

suspensivo) e também os efeitos interruptivos e os efeitos infringentes. No que se refere ao

efeito interruptivo, os embargos de declaração interrompem a contagem do prazo para a

interposição de outros recursos.

Após o julgamento dos embargos de declaração, recomeçar-se-á a contagem dos

prazos (por inteiro) para a interposição de outros recursos. A interrupção começa a correr da

data do ajuizamento dos embargos e permanece até a decisão que o decidir.

Outro efeito é o modificativo ou infringente, que é a situação anômala dos embargos

quando modificam o teor da decisão, mesmo não sendo essa a sua função típica.

Exemplo: imagine que, na defesa de determinada ação de cobrança, o réu levante dois

fundamentos de defesa: a prescrição e o pagamento. O juiz ao julgar, esqueceu-se de ver a

prescrição e apenas verificou o pagamento, que, na opinião do magistrado, não restou

provado. Dessa forma, julgou o pedido do autor procedente. O réu embarga a declaração, já

que o juiz se omitiu em relação à prescrição. Ao analisar os embargos, o juiz verifica seu erro,

analisa a prescrição e reforma a decisão. Ocorreu o efeito infringente dos embargos.

CUIDADO: NÃO CONFUNDIR Embargos infringentes (recurso) com embargos de declaração

com efeitos infringentes.

Recursos Extraordinário e Especial.

A lei deve incidir e ser aplicada de maneira uniforme para todas as pessoas que sofrem

a sua ingerência. Assim, é importante frisar que a aplicação da lei precisa ser igual a todos,

evitando divergências e antagonismos nas decisões proferidas pelos tribunais no que diz

respeito à aplicação de uma mesma lei em casos semelhantes.

Em nosso sistema processual, a preservação do princípio da unidade do ordenamento

jurídico conta com dois meios eficazes de padronização: uniformização de jurisprudência (art.

Page 33: Resumo Processo Civil

476), utilizada quando a divergência da aplicação da lei ocorrer em órgãos fracionários do

mesmo tribunal; e os recursos especiais e extraordinários. O objetivo desses recursos é

assegurar que a lei federal e a constituição federal sejam uniformes em todos os casos que

necessitam de sua incidência.

Portanto, recebem o nome de recursos de fundamentação vinculada, porque neles

não se pode discutir qualquer questão de interesse da parte, somente a controvérsia a

respeito da aplicação de lei federal ou da Constituição.

São recursos extremos, para os órgãos que formam a cúpula do judiciário, STF e STJ.

Admite-se recurso extraordinário (art. 102, III CF) nas ações judiciais julgadas pelos

tribunais, em única ou última instância, quando a decisão recorrida:

1) Contrariar dispositivo da Constituição Federal (afrontar norma constitucional

expressamente apontada).

2) Declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal, pois algumas decisões

negam vigência à lei federal, porque o tribunal, ou juízo recorrido, afasta a sua

aplicação, já que a evidência é inconstitucional, assim, deixa de aplicá-la.

3) Julgar válida lei ou ato do governo local em face da CF. Ao afirmar a validade do ato

contrariado em face da CF, a decisão estará afetando a aplicação constitucional.

4) Julgar válida lei local contestada em face de lei federal (EC n. 45/2004).

Admite-se o recurso especial (art. 105, III, CF) nas causas decididas por tribunais, em

única ou última instância, quando a decisão recorrida:

1) Contrariar tratado de lei federal ou negar-lhe vigência. Trata-se de contrariedade à lei

que, além de lhe negar vigência, também a interpreta de forma incorreta.

2) Julgar válido ato de governo local contestado em face de lei federal (reformado pela

EC 45). Trata-se de uma espécie de negativa de vigência ou contrariedade à lei federal.

Se a decisão recorrida afirmou a validade de lei ou ato local (estadual ou municipal)

que está em confronto com norma federal, é porque deixou de aplicá-la.

3) Der à lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro tribunal.

Observações:

O recurso especial é manejável contra decisão de acórdão, proferido em apelação,

agravo, ação rescisória e embargos infringentes.

Somente matéria de direito poderá ser veiculada, ou seja, aplicação da lei no caso

concreto, matéria de fato não interessa.

A matéria que será objeto de apreciação na instância especial deverá ter sido ventilada

e decidida pelos órgãos inferiores (prequestionamento, súmulas 282 e 356 do STF; e

211 do STJ).

Prequestionamento é, portanto, a necessidade de que a matéria recorrida esteja

expressamente prevista no acórdão que originou o recurso especial ou extraordinário.

Efeitos:

Os recursos serão recebidos apenas no seu efeito devolutivo e não impedem a

execução do acórdão em primeiro grau (587 CPC).

Page 34: Resumo Processo Civil

Exceção: a parte poderá requerer o efeito suspensivo por meio de medida cautelar.

Processamento:

Os recursos serão endereçados ao presidente ou vice presidente do tribunal recorrido.

Quando a petição for recebida no Tribunal, o recorrido será intimado para apresentar

contrarrazões, e o próprio tribunal verificará a admissibilidade do recurso.

Caso sejam interpostos os dois recursos, será apreciado, primeiro, o recurso especial

no STJ, para depois, ser apreciado o recurso extraordinário no STF. O Ministro do STJ

poderá entender que a matéria do recurso extraordinário será prejudicial quando,

então, em despacho irrecorrível, remeter os autos para a apreciação inicial do STF. O

Ministro do Supremo pode entender que a matéria do especial é prejudicial,

remetendo (em decisão irrecorrível) os autos de volta ao STJ.

Da decisão que não conhecer o recurso especial ou recurso extraordinário caberá

agravo no prazo de 10 dias, consoante disciplina o art. 544 do CPC.

OBS: o agravo de instrumento de despacho denegatório de recurso especial ou extraordinário

(e somente esse!!!) não precisará mais ser protocolado de forma apartada, sendo apresentado

nos próprios autos do processo já existente.

Dessa forma a nomenclatura do agravo de instrumento será apenas “agravo”, pois não

haverá mais a necessidade de formação de um instrumento com as peças que antes eram

trasladadas.

OBS2: Deferido é sinônimo de dado provimento. O agravante deverá interpor um agravo para

cada recurso inadmitido.

Repercussão Geral:

Não basta que a causa tenha como base a violação da CF, é necessário que o pedido

formulado ultrapasse a barreira do simples pedido formulado ultrapasse a barreira do simples

pedido individual, ou seja, deve interessar à coletividade.

Exemplo: há algum entendimento do que venham a ser questões de repercussão geral: a)

demandas múltiplas, como as previdenciárias e tributárias, em que diversos demandantes

formulam pedidos semelhantes; b) questões de grande magnitude, constitucional, como

aquelas que disciplinam acerca de valores fundamentais.

O órgão irá analisar o pedido, e somente poderá recusá-lo pela manifestação de 2/3 de seus

membros, esse quórum qualificado é para considerar se a questão tem ou não repercussão

geral.

Também ocorre repercussão geral nos casos listados pelo artigos 543-A, § 3º e 543-B.

543-A: “... questões relevantes do ponto de vista econômico, político, social ou

jurídico, que ultrapassem os interesses subjetivos da causa”.

§3º: “Haverá repercussão geral sempre que o recurso impugnar decisão contrária a

súmula ou jurisprudência dominante do tribunal”.

Page 35: Resumo Processo Civil

543-B: “quando houver multiplicidade de recursos com fundamento em idêntica

controvérsia, a análise da repercussão geral será processada nos termos do Regimento

Interno do Supremo Tribunal Federal, observado o disposto neste artigo”.

Apelação Sentenças 15

Dias

Admissibilidade: Juiz Mérito: Tribunal

Art. 518 §1º CPC Duplo Efeito Suspensivo e devolutivo – Regra Devolutivo - Exceção

Agravo Retido Decisão interlocutória

10 dias A: Juiz M: Trib.

Art. 523 §3º CPC Não importa

Agravo de Instrumento

Decisão inter: urgência ou após a sentença

10 dias

A: Relator (Trib) M: Trib.

Art. 527 P. Único CPC

Efeitos Suspensivos ou ativos e devolutivo

Embargos Infringentes

2x1 Acórdão em apelação e ação rescisória

15 dias A: Relator M: Tribunal

Art. 530 CPC4 Lei não regula, doutrina e Jurisprudência divergem

Embargos de Declaração

Qualquer decisão obscura, contraditória ou omissa

5 dias Adm + Mérito: Prolator da decisão

Art. 538 CPC5 - ele interrompe o prazo

Suspensivo, devolutivo, Modificativo ou infringente

6 e

interruptivo Recurso

Especial Acórdã

o que violar – Lei federal

15 dias A: Tribunal TJ ou TRF M: STJ

Pré-questionamento7 Efeito Devolutivo - 542 §2º - pode ser requerido o suspensivo por medida cautelar

Recurso Extraordinário

Acórdão - Constituição

15 dias A: Tribunal TJ ou TRF M: STF

Súmula 640 STF8 Efeito Devolutivo – 542 §2º - pode ser requerido o suspensivo por medida cautelar

OBS5: O Objetivo do STF e STJ é completamente diferente de um Tribunal de Justiça ou TRF.

Quando alguém faz uma apelação, o Tribunal de Justiça tem uma única preocupação: saber se

a pessoa tem razão ou não. Se a parte perder em 2º grau e o processo for para o STJ ou STF, a

questão não será mais sobre a pessoa estar certa ou errada, e sim se a decisão está em

conformidade com o direito. O Tribunal de Justiça tem que se preocupar com as pessoas que

recorrem. O STF e STJ com a sociedade. O tribunal superior não pode julgar causa nova que

apareceu pela primeira vez na sua instância, porque ele dirá a última palavra sobre aquilo que

já foi decidido, discutido, prequestionado.

4 Princípio do “EU NÃO POSSO TOMAR DUAS BUCHA”: “cabem embargos infringentes quando o acórdão

não unânime houver reformado, em grau de apelação, a sentença de mérito, ou houver julgado procedente ação rescisória. Se o desacordo for parcial, os embargos serão restritos à matéria objeto da divergência”. 5 O protocolo dos embargos de declaração interrompe a contagem de prazo para interposição de outros

recursos. No Juizado Especial Cível, suspende, artigo 50 da lei 9.099. 6 Efeito infringente: quando o magistrado no julgamento dos embargos modifica a sua decisão.

7 Prequestionamento é a exigência que a matéria, objeto de recurso, tenha sido decidida no acórdão

recorrido. 8 A decisão de colégio/turma recursal (2ª Instância de Juizado Especial) caberá recurso extraordinário,

somente.

Page 36: Resumo Processo Civil

OBS6: Para se impetrar recurso especial, é necessário: “prévio exaurimento das instâncias

ordinárias” e a decisão seja proferida por um tribunal. No caso de recurso extraordinário basta

apenas o “Prévio exaurimento das instâncias ordinárias”.