resumo de direito civil

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Luiz Guilherme Loureiro – Curso Completo de Direito Civil 1 Capítulo 1: Lei de Introdução ao Código Civil (LICC) LICC Tal lei trata de matérias como a vigência da norma jurídica (obrigatoriedade e eficácia global do ordenamento jurídico nacional), a sua aplicação no tempo (direito intertemporal), o direito internacional privado, os mecanismos de integração das normas (quando houver lacunas), os critérios de interpretação das leis e os atos civis praticados pelas autoridades consulares brasileiras no estrangeiro Vigência da lei Art. 1 o Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta e cinco dias depois de oficialmente publicada. § 1 o Nos Estados, estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se inicia três meses depois de oficialmente publicada. (Vide Lei 2.145, de 1953) § 2 o A vigência das leis, que os Governos Estaduais elaborem por autorização do Governo Federal, depende da aprovação deste e começa no prazo que a legislação estadual fixar. § 3 o Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicação de seu texto, destinada a correção, o prazo deste artigo e dos parágrafos anteriores começará a correr da nova publicação. § 4 o As correções a texto de lei já em vigor consideram-se lei nova. Conceito de lei Lei é manifestação legislativa da União, dos Estados-membros, do DF e dos municípios; não são considerados leis os atos normativos de caráter administrativo (portarias, regulamentos) Ver artigo 61, Constituição Federal Promulgação: ato pelo qual se afirma que o projeto de leis se transformou em lei Processo legislativo em âmbito federal Apresentação do projeto iniciativa e emendas Votação: LO – maioria simples; LC – maioria absoluta; EC – maioria de 3/5 Sanção e veto: sanção pode ser expressa e tácita; veto por dois motivos: inconstitucionalidade ou inconveniência – pode ser total ou parcial; 48 horas após ter ocorrido a sanção ou a publicação do veto, o presidente da república deverá proceder à promulgação Promulgação: promulgar significa atestar a existência; indica que a lei é válida e obrigatória Publicação Apenas com a publicação a lei se torna vigente; só válida feita pelo D.O. Vacatio Legis Prazo entre a data da publicação da lei e a data de sua entrada em vigor (pode entrar em vigor imediatamente, se determinado expressamente, ou em prazo maior de 45 dias) Necessidade de tempo para conhecimento e adequação Lei existe desde sua publicação, mas só vigora depois de certo tempo (no 46º dia, se não for definido outro prazo) Tal regra é valida para todas as leis, qualquer que seja sua natureza (penal, processual....) Não se aplica à Constituição Federal Aplica-se às EC Aplicam-se às MP's, que têm força de lei Aplicam-se aos tratados em convenções internacionais Hipótese de erro no texto da lei Nova publicação dentro da vacatio legis: prazo de 45 dias começa a correr da nova publicação Nova publicação fora da vacatio legis: o texto corrigido é considerado lei nova, respeitando o art. 1º da LICC, exceto por determinação contrária expressa Vigência da lei brasileira nos Estados estrangeiros para fins de aplicação do direito pátrio § 1 o Nos Estados, estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se inicia três meses depois de oficialmente publicada. (Vide Lei 2.145, de 1953) Vacatio legis no estrangeiro: três meses Duração da lei A simples alteração da realidade social não autoriza, automaticamente, a revogação de determinada lei (segurança jurídica) Critério objetivo que regula a vida das leis: “não se destinando a lei à vigência temporária, terá vigor até que outra a modifique ou revogue” Lei temporária: própria lei traz seu prazo (lei orçamentária) Perde sua vigência com o simples transcurso do tempo

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Page 1: Resumo de Direito Civil

Luiz Guilherme Loureiro – Curso Completo de Direito Civil 1

Capítulo 1: Lei de Introdução ao Código Civil (LICC)

LICC Tal lei trata de matérias como a vigência da norma jurídica (obrigatoriedade e eficácia global do ordenamento jurídico nacional), a

sua aplicação no tempo (direito intertemporal), o direito internacional privado, os mecanismos de integração das normas (quando houver lacunas), os critérios de interpretação das leis e os atos civis praticados pelas autoridades consulares brasileiras no estrangeiro

Vigência da lei Art. 1o  Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta e cinco dias depois de oficialmente

publicada.  § 1o  Nos Estados, estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se inicia três meses depois de oficialmente publicada. (Vide Lei 2.145, de 1953)        § 2o  A vigência das leis, que os Governos Estaduais elaborem por autorização do Governo Federal, depende da aprovação deste e começa no prazo que a legislação estadual fixar.        § 3o  Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicação de seu texto, destinada a correção, o prazo deste artigo e dos parágrafos anteriores começará a correr da nova publicação.        § 4o  As correções a texto de lei já em vigor consideram-se lei nova.

Conceito de lei Lei é manifestação legislativa da União, dos Estados-membros, do DF e dos municípios; não são considerados leis os atos

normativos de caráter administrativo (portarias, regulamentos) Ver artigo 61, Constituição Federal Promulgação: ato pelo qual se afirma que o projeto de leis se transformou em lei

Processo legislativo em âmbito federal Apresentação do projeto iniciativa e emendas Votação: LO – maioria simples; LC – maioria absoluta; EC – maioria de 3/5 Sanção e veto: sanção pode ser expressa e tácita; veto por dois motivos: inconstitucionalidade ou inconveniência –

pode ser total ou parcial; 48 horas após ter ocorrido a sanção ou a publicação do veto, o presidente da república deverá proceder à promulgação

Promulgação: promulgar significa atestar a existência; indica que a lei é válida e obrigatória Publicação

Apenas com a publicação a lei se torna vigente; só válida feita pelo D.O.

Vacatio Legis Prazo entre a data da publicação da lei e a data de sua entrada em vigor (pode entrar em vigor imediatamente, se determinado

expressamente, ou em prazo maior de 45 dias) Necessidade de tempo para conhecimento e adequação Lei existe desde sua publicação, mas só vigora depois de certo tempo (no 46º dia, se não for definido outro prazo) Tal regra é valida para todas as leis, qualquer que seja sua natureza (penal, processual....)

Não se aplica à Constituição Federal Aplica-se às EC

Aplicam-se às MP's, que têm força de lei Aplicam-se aos tratados em convenções internacionais

Hipótese de erro no texto da lei Nova publicação dentro da vacatio legis: prazo de 45 dias começa a correr da nova publicação Nova publicação fora da vacatio legis: o texto corrigido é considerado lei nova, respeitando o art. 1º da LICC, exceto por

determinação contrária expressa

Vigência da lei brasileira nos Estados estrangeiros para fins de aplicação do direito pátrio § 1o  Nos Estados, estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se inicia três meses depois de oficialmente

publicada. (Vide Lei 2.145, de 1953) Vacatio legis no estrangeiro: três meses

Duração da lei A simples alteração da realidade social não autoriza, automaticamente, a revogação de determinada lei (segurança jurídica)

Critério objetivo que regula a vida das leis: “não se destinando a lei à vigência temporária, terá vigor até que outra a modifique ou revogue” Lei temporária: própria lei traz seu prazo (lei orçamentária)

Perde sua vigência com o simples transcurso do tempo Leis excepcionais: vigência durante determinada situação (lei de tabelamento de preços)

Perde sua força com a consumação do fato ou do evento excepcional que determinou seu nascimento Leis temporárias e excepcionais são dotadas do atributo da ultratividade: embora decorrido o período de sua

duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência Lei só pode ser revogada por outra lei

Costume pode revogar uma lei? Art. 2o  Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue.         § 1o  A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior.         § 2o  A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga nem modifica a lei anterior.        § 3o  Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência. A lei se modifica ou se revoga por outra lei supremacia incontestável sobre o costume

Revogação (ab-rogação) e derrogação Derrogação: alterar a estrutura de uma lei, ampliando ou restringindo seu alcance (revogação parcial) abrange parte da lei Revogação: extinção da lei; ocorre sempre que o legislador cria disposições legais diversas ou antagônicas das que vigoravam

ou quando abole o texto existente, sem criar outro abrange toda a lei

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Ab-rogação abrange também seus regulamentos executórios (ex. decretos) e demais normas administrativas que lhe digam respeito (ex. circulares, avisos, ordem de serviço...)

A lei deixa de ser obrigatória no dia em que a lei revogadora ou derrogadora se torna vigente

Revogação tácita Art. 2o  Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue.         § 1o  A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior.         § 2o  A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga nem modifica a lei anterior.        § 3o  Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência.

Revogação pode ser expressa ou tácita Não há necessidade de fórmula (revogam-se todas as disposições em contrário) revogação expressa Para a revogação tácita não se requer o conflito entre todas as disposições legais, bastando a mera incompatibilidade

parcial; qualquer incompatibilidade verificada é suficiente para legitimar a revogação da lei anterior Também ocorre quando lei nova regula toda a matéria, mesmo que não haja incompatibilidade As leis sobre determinadas matérias podem ter revogadas por um código superveniente apenas algumas de suas

partes (derrogação)

Coexistência da lei anterior e da lei nova § 2o  A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga nem modifica a lei anterior Normas anteriores continuam válidas quando compatíveis com lei posterior Lei geral nova não revoga a lei especial anterior, quando for com ela incompatível

Revogação da Constituição Federal Constituição Federal revoga todo o direito constitucional anterior, não importando se existem ou não incompatibilidades Desconstitucionalização: só é admitida se prevista expressamente Quanto à legislação infraconstitucional, prevalecem as leis anteriores, desde que não sejam incompatíveis com a nova ordem

constitucional teoria da recepção

Revogação de tratados Lei não pode revogar um tratado internacional ratificado pelo Estado Ato do governo princípio da separação dos poderes O inverso NÂO é verdadeiro: um tratado pode modificar uma lei anterior

O tratado somente perde sua força quando for incompatível com a Constituição Federal POSIÇÃO DO STF: tratado, ao ser incorporado ao direito interno, equivale à lei ordinária e, por isso, pode ser revogado por lei

posterior. Exceção para tratados equivalentes a EC.

Repristinação Fenômeno pelo qual uma lei revogada volta a ter vigência em face da revogação da lei que a tinha eliminado do mundo jurídico

Em nosso sistema jurídico, é uma exceção, só ocorre em caso de expressa disposição da nova lei

Obrigatoriedade da lei Art. 3o  Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece. Segurança jurídica consagração do art. 3º Apenas a própria lei pode abrir exceção a essa regra Erro de direito (errônea interpretação da lei): pode dar causa à anulação do Negócio Jurídico, desde que não caracterize recusa

à aplicação da lei

Omissão da lei e integração do direito Normas de estrutura ou de competência: descrevem as condições e os procedimentos por meio dos quais emanam normas de

conduta válidas Normas de conduta: descrevem a conduta que se deve ou não ter Sistema jurídico não pode ter lacunas que impeçam a aplicação de uma norma abstrata a determinado caso concreto Juiz não pode deixar de apreciar uma demanda sob a justificativa de inexistência de lei: deve decidir de acordo com a analogia,

os costumes e os princípios gerais do direito: Art. 4o Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de

direito. Dogma da completude

Nunca haverá espaço jurídico vazio, mas sim um espaço regulado por normas de caráter geral. Dessa forma, tudo aquilo que não estiver regulado por uma norma particular cairá sob o domínio de uma norma geral

Pode ocorrer, entretanto, que um determinado caso não esteja regulamentado e, ao mesmo tempo, não caia no domínio da regra geral de que tudo o que não é proibido pela norma específica é permitido. Em tal hipótese, dever ser aplicado o disposto no § 4º da LICC, segundo o qual o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito.

No caso de lacuna no ordenamento jurídico, há duas soluções jurídicas: A consideração do caso não regulamentado e a conseqüente aplicação da norma geral exclusiva A consideração do caso não regulamentado como semelhante ao regulamentado e a conseqüente aplicação da

analogia, costumes e princípios gerais de direito

Métodos de integração e fontes do direito O direito é um todo unitário e completo, isto é, não comporta espaços vazios (dogma de completude). Diante de uma lacuna,

cabe ao jurista promover a integração do direito, de modo a completá-lo. No que tange à fonte do direito, existem dois métodos de integração: a heterointegração e a auto-integração

Método da heterointegração: usar como recurso para combater o vazio jurídico outros ordenamentos ou fontes diversas daquela que é dominante (v.g., costume, direito comparado)

Na falta de norma escrita, jurista usa fontes diversas: costume e direito comparado, por exemplo Costume: é uma norma jurídica secundária que deriva da longa prática uniforme ou da geral e constante repetição de

um determinado comportamento, sob a convicção de que corresponde a uma necessidade jurídica. Para que

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constitua um costume, o comportamento deve ser uniforme, contínuo, público e resultar da convicção de que é necessário e justo Encontra-se abaixo da lei: só é usado quando se esgotarem todos os recursos legais para o preenchimento da

lacuna não há lei semelhante a ser aplicada Reconhecido de ofício ou por prova

Três espécies de costume: a) secundum legem: previsto na lei, que reconhece sua eficácia obrigatória e que determina a sua aplicação

em determinadas circunstâncias b) praeter legem: pode ser invocado quando não puder ser aplicada a analogia caráter supletivo,

suprindo a lei nos casos omissos c) contra legem: uso uniforme e constante que viola a letra da norma legal não admitido na ordem

jurídica brasileira

Método da auto-integração: consiste na integração realizada por meio do mesmo ordenamento, no âmbito da mesma fonte dominante, sem recorrer a outros ordenamentos e com o mínimo de consulta a fontes diversas da dominante. O jurista deve, como uso de tal método, encontrar um dispositivo da própria lei e que seja apto a suprir a lacuna. Quanto a este último método, podem ser utilizados dois instrumentos Analogia: procedimento que consiste em aplicar a um caso não previsto em lei, de modo direto ou específico, outro

dispositivo de lei previsto para hipótese distinta, mas semelhante ao caso não regulamentado Necessidade de identificar semelhança entre fatos tipo diferentes e um juízo de valor que mostra a relevância

das semelhanças sobre as diferenças Dois requisitos para a aplicação da analogia:

Não previsão do caso sub judice em norma legal Relação de semelhança entre o caso não contemplado em lei e o previsto[

A semelhança deve ser de tal modo essencial que justifique idêntico tratamento jurídico para ambos os casos

Princípios gerais do direito: nada mais são do que normas de valor genérico que, por se encontrarem na consciência dos povos e, por isso, serem universalmente aceitas, acabam por orientar a compreensão do sistema jurídico, ainda que estejam positivadas. São a base sobre as quais se assenta o ordenamento jurídico, que compreendem valores básicos de justiça, como o princípio que veda o enriquecimento sem causa; o princípio da igualdade; o princípio da solidariedade; o princípio da boa-fé; a equidade Juiz, com o auxílio de induções, valores e máximas, deve pesquisar e aplicar os princípios basilares do instituto

sub judice busca dos princípios mais gerais

Eqüidade: Art. 5o  Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum. Dar a cada um o que é seu

Aplicação da lei A aplicação da norma jurídica no caso concreto não é uma operação automática, pois o operador do direito deve proceder à

análise da sociedade na sua historicidade local e universal, de maneira a permitir a individualização do papel e do significado da regra legal na unidade e na complexidade do fenômeno social

O direito positivo Como conjunto de princípios e regras destinadas a ordenar a coexistência, o direito constitui um sistema unitário e

hierarquicamente predisposto. Essas normas geralmente são expressas por meio de fontes predeterminadas e reconhecidas, predominantemente por escrito, o que se denomina direito positivo Dupla função: conservar situações presentes ou modificar a realidade social

O papel do jurista É aquele que interpreta, individualiza e aplica a lei Não existe significado interno do texto jurídico que prescinde de sua relação com o mundo exterior Interpretação é atividade ligada às escolhas e aos valores definidos pelo legislador, expressos no ordenamento

Regra de hermenêutica jurídica: Art. 5o  Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum.

O bem comum Princípio superior e presumido Conceito aberto (existência digna, desenvolvimento social, cooperação, solidariedade) Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum. O magistrado não é

um autômato, não podendo aplicar friamente a letra da lei a um determinado caso concreto. Cabe a ele aferir o espírito da norma, o motivo de sua existência, à finalidade social nela incorporada. Havendo dois interesses em jogo, o juiz deve aplicar a lei sempre de modo a fazer preponderar o interesse da sociedade, ainda que em prejuízo do interesse individual

O art. 5º, da LICC, portanto, contém uma regra de hermenêutica jurídica e, ao fixar como regra basilar de interpretação o fim social, colocou em segundo plano outros métodos de exegese, como a interpretação gramatical, a interpretação lógica e a intenção do legislador. Ao interpretar e aplicar a norma legal, o juiz deve escolher, dentre os possíveis entendimentos, qual deles se mostra mais útil ou reflete melhor o interesse da sociedade

Ao aplicar a lei, o juiz deve interpretá-la de forma sistemática, ou seja, de acordo com o ordenamento jurídico e jamais como algo isolado, estanque, divorciado do sistema normativo. Ele deve, ainda, descobrir a utilidade da norma, o que implica não só a apreciação dos fatos e valores que, originalmente, a constituíram, mas também daqueles que lhes são supervenientes

A unidade do direito, os princípios fundamentais e a aplicação da lei

O ordenamento globalmente considerado é composto de normas diversas que têm a sua origem nos poderes mais distintos constituindo-se em um sistema dotado de hierarquia. No ápice desse sistema está a norma constitucional. A harmonização entre as normas exige por parte do jurista um grande esforço e um amplo conhecimento do ordenamento como um todo

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Constituição Federal: normas para emanar normas (constitucionalidade formal); valores constitucionais (constitucionalidade material/substancial)

Constituição Federal: regra de hermenêutica e de comportamento Ao interpretar a lei, o jurista deve considerar o ordenamento jurídico como um todo unitário, e jamais olvidar que o sujeito

do direito é o ser humano As normas, qualquer que seja sua hierarquia, podem e devem ser aplicadas diretamente para a solução de determinado

problema concreto Regras da LICC aplicam-se a todas as áreas, pois o direito é um só

Direito intertemporal: aplicação da lei no tempo Art. 6º A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada.

(Redação dada pela Lei nº 3.238, de 1º.8.1957) Conflito de leis no tempo nasce da sucessão de leis

Os diferentes modos de ação da lei no tempo Retroatividade da lei nova; efeito imediato da lei; sobrevida da lei antiga

Retroatividade da lei nova Quando a lei possui efeitos pretéritos, atingindo fatos anteriores aos da sua entrada em vigor, ela invado o domínio da

lei anterior É vedada, só podendo ser aplicada quando houver declaração formal do legislador nesse sentido Mas podem existir fatos passados que produzem efeitos para o futuro, efeitos que se prolongam no tempo

Nesse caso, tais efeitos serão disciplinados pela lei nova não se trata de retroatividade da lei, mas sim de aplicação imediata da lei nova

Efeitos imediatos da lei nova Lei nova será aplicada desde sua aplicação e entrada em vigor, aplicando-se a lei velha a domínio anterior Apenas no que concerne aos atos anteriores (ainda pendentes) de uma situação em curso (na hipótese de atos

jurídicos de elaboração progressiva) é que e a lei nova poderá ser aplicada retroativamente Em certas matérias o efeito imediato é excluído assim como o efeito retroativo, como ocorre, por exemplo, em relação

aos contratos em curso, que não são tocados pela lei nova, seja no que se refere aos atos praticados antes de sua entrada em vigor, seja no que tange aos efeitos futuros sobrevida da lei antiga

Sobrevida da lei antiga É situação em que a nova lei deixa que a lei antiga continue a ser aplicada em relação aos efeitos jurídicos futuros de

fatos anteriores a sua vigência. Além da hipótese dos contratos acima citada, também temos como exemplo a enfiteuse. O CC não mais prevê essa espécie de direito real, mas permite que o antigo código continue a ser aplicado às relações nascidas sob o seu império, até que venham a ser extintas

A natureza diversa das diferentes relações jurídicas O nº de situações jurídicas não conhece limites, e cabe a cada área do direito determiná-las Essas situações jurídicas não se constroem necessariamente em um único momento. Elas têm um desenvolvimento

no tempo, de tal forma que a lei nova pode intervir em um certo momento. Dessa forma, se ela atingir as partes anteriores, a lei terá um efeito retroativo; caso contrário, ela terá um efeito imediato.

É evidente que uma lei cujo objeto é a regulamentação das condições de constituição ou de extinção de uma situação jurídica, não pode levar em consideração fatos anteriores a sua entrada em vigor. Portanto, as leis relativas ao modo de constituição e extinção de uma situação jurídica não podem, sem retroatividade, questionar a eficácia ou ineficácia jurídica de um fato passado

Leis relativas à constituição ou extinção de uma situação jurídica Desenvolvimento de uma situação jurídica compreende três momentos: constituição, produção de efeitos e extinção

Constituição e extinção representam a dinâmica da situação Produção de efeitos representa a estática da situação

Regras que se aplicam ao nascimento são as mesmas que se aplicam a sua extinção (há casos em que a extinção corresponde ao nascimento de outra, como a novação e a prescrição aquisitiva)

Situações jurídicas podem formar-se ou extinguir-se em um único momento ou em um período de tempo prolongado; no último caso é que surgem dificuldades quanto à aplicação da lei nova mas lei nova não pode ser aplicada a atos pretéritos sem retroagir; pode, porém, sem retroatividade, disciplinar os efeitos oriundos das relações jurídicas formadas sob o seu império

Quanto às condições de constituição (ou de extinção) ainda não realizadas, a princípio serão reguladas pela lei nova, em face do seu efeito de aplicação imediata. O mesmo ocorre com os efeitos jurídicos de uma situação já existente. A lei nova não prejudica a situação jurídica já constituída, mas rege os efeitos produzidos a partir de sua entrada em vigor. As leis que criam novas situações jurídicas (v.g., direito de superfície) são assimiladas pelas leis antigas não podendo incidir sobre fatos passados para criar situações jurídicas.

Já no que se refere à lei que extingue relações jurídicas o problema é mais complexo, pois, tratando-se de uma lei de dinâmica jurídica, ou seja, que tem por objeto a extinção de uma relação e não de seus efeitos, ela deverá ser aplicada sem retroagir às situações já existentes a partir do dia de sua entrada em vigor (v.g. enfiteuse)

Na hipótese da pluralidade de situações jurídicas, é necessário examinar se elas são dependentes ou concorrentes. Dependentes: umas secundárias em relação às principais (alimentos e paternidade; tutela e menoridade);

nesse caso, o acessório segue o principal a lei nova produz efeito sobre ambas as situações

Disposições de Direito Internacional Privado Art. 7o  A lei do país em que domiciliada a pessoa determina as regras sobre o começo e o fim da personalidade, o

nome, a capacidade e os direitos de família. (conflito de leis no espaço) § 1o  Realizando-se o casamento no Brasil, será aplicada a lei brasileira quanto aos impedimentos dirimentes e

às formalidades da celebração. § 2o O casamento de estrangeiros poderá celebrar-se perante autoridades diplomáticas ou consulares do país de

ambos os nubentes. (Redação dada pela Lei nº 3.238, de 1º.8.1957)

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§ 3o  Tendo os nubentes domicílio diverso, regerá os casos de invalidade do matrimônio a lei do primeiro domicílio conjugal.

§ 4o  O regime de bens, legal ou convencional, obedece à lei do país em que tiverem os nubentes domicílio, e, se este for diverso, a do primeiro domicílio conjugal.

§ 5º - O estrangeiro casado, que se naturalizar brasileiro, pode, mediante expressa anuência de seu cônjuge, requerer ao juiz, no ato de entrega do decreto de naturalização, se apostile ao mesmo a adoção do regime de comunhão parcial de bens, respeitados os direitos de terceiros e dada esta adoção ao competente registro. (Redação dada pela Lei nº 6.515, de 26.12.1977)

§ 6º - O divórcio realizado no estrangeiro, se um ou ambos os cônjuges forem brasileiros, só será reconhecido no Brasil depois de três anos da data da sentença, salvo se houver sido antecedida de separarão judicial por igual prazo, caso em que a homologação produzirá efeito imediato, obedecidas as condições estabelecidas para a eficácia das sentenças estrangeiras no País. O Supremo Tribunal Federal, na forma de seu regimento interno, poderá reexaminar, a requerimento do interessado, decisões já proferidas em pedidos de homologação de sentenças estrangeiras de divórcio de brasileiros, a fim de que passem a produzir todos os efeitos legais. (Redação dada pela Lei nº 6.515, de 26.12.1977)

§ 7o  Salvo o caso de abandono, o domicílio do chefe da família estende-se ao outro cônjuge e aos filhos não emancipados, e o do tutor ou curador aos incapazes sob sua guarda.

§ 8o  Quando a pessoa não tiver domicílio, considerar-se-á domiciliada no lugar de sua residência ou naquele em que se encontre. Disposições de direito internacional privado que tratam do estatuto pessoal (nome, capacidade, direitos de

família, dos bens, da sucessão, da sociedade, etc.) Definir qual dos direitos coexistentes (dos diversos países) deve ser aplicado na solução de determinado

caso concreto Segundo Maria Helena Diniz, a “LICC é o Estatuto de Direito Internacional Privado; é uma norma cogente

brasileira, por determinação legislativa da soberania nacional, aplicável a todas as leis. A revogação do Código Civil de 1916 nela não refletiu, continuando, portanto, vigente e eficaz”

Direito que rege o estatuto pessoal O estatuto pessoal é disciplinado pela lei do país em que a pessoa natural for domiciliada

Critério da unicidade uma lei única para o estatuto pessoal Divergência quanto ao critério para eleição do direito aplicável: territorialidade, domicílio, nacionalidade

Brasil adotou o critério do domicílio princípio da unidade domiciliar De acordo com o direito internacional privado brasileiro, para saber se um estrangeiro tem ou não capacidade

civil para a realização de um determinado negócio jurídico, o juiz deverá aplicar a lei do país onde ele é domiciliado e não a lei da nacionalidade ou o direito do país onde foi celebrado o ato

Direito aplicável ao casamento Art. 7º, § 1o Realizando-se o casamento no Brasil, será aplicada a lei brasileira quanto aos impedimentos dirimentes e

às formalidades da celebração. Exceção ao princípio do domicílio Engloba impedimentos, capacidade para o casamento e causas suspensivas Também a celebração do casamento de pessoas domiciliadas no estrangeiro, realizado no Brasil, deve seguir as

normas pertinentes do Código Civil Os estrangeiros de passagem no Brasil podem, entretanto, celebrar o casamento perante autoridades

diplomáticas ou consulares do país de ambos os nubentes ARt. 7º, § 3o Tendo os nubentes domicílio diverso, regerá os casos de invalidade do matrimônio a lei do primeiro

domicílio conjugal. O matrimônio, além de obedecer a lei do país onde foi celebrado, não pode violar a lei brasileira, se os nubentes

quiserem vir a morar no Brasil

Casamento celebrado no estrangeiro: validade no Brasil O casamento celebrado no estrangeiro pode produzir efeitos jurídicos no Brasil desde que tenha observado as regras

vigentes no país da celebração. Não se exige, para fins de validade do casamento estrangeiro, que o ato lá realizado tenha observado os mesmos requisitos exigidos pelo direito brasileiro

Desta forma, o fato de um homem unir-se com uma mulher, tendo por fim estabelecer plena comunhão de vida, como objeto lícito garantido pelo direito estrangeiro, tem-se um casamento que deve ter validade perante nosso direito. Logo, um casamento celebrado segundo as normas de país estrangeiro, que admite a poligamia, deve ser reconhecido como válido no direito pátrio, ainda que o Código Civil brasileiro proíba o casamento de pessoa casada (art. 1.521, VI). O mesmo raciocínio se aplica ao casamento de homossexuais celebrado segundo os ditames do direito do país do domicílio das partes.

Para fins de verificação da validade de casamento realizado no estrangeiro, deve o julgador observar se foram seguidas as normas vigentes no país da celebração

Os brasileiros domiciliados no Brasil, que estejam no estrangeiro, podem celebrar casamento perante as autoridades consulares brasileiras. Estas autoridades têm atribuições de tabelião e de oficial de registro civil em relação a tais atos

Direito aplicável ao regime de bens no casamento De acordo com o art. 7º, § 4o  da LICC, o regime de bens, legal ou convencional, obedece à lei do país em que os

nubentes forem domiciliados, e, se este for diverso, à do primeiro domicílio conjugal Refere-se ao casamento realizado no estrangeiro, sendo o primeiro domicílio conjugal fixado no Brasil Art. 7º, § 5º - O estrangeiro casado, que se naturalizar brasileiro, pode, mediante expressa anuência de seu

cônjuge, requerer ao juiz, no ato de entrega do decreto de naturalização, se apostile ao mesmo a adoção do regime de comunhão parcial de bens, respeitados os direitos de terceiros e dada esta adoção ao competente registro.

Art. 7º, § 6º - O divórcio realizado no estrangeiro, se um ou ambos os cônjuges forem brasileiros, só será reconhecido no Brasil depois de três anos da data da sentença, salvo se houver sido antecedida de separarão judicial por igual prazo, caso em que a homologação produzirá efeito imediato, obedecidas as condições estabelecidas para a eficácia das sentenças estrangeiras no País. O Supremo Tribunal Federal, na forma de seu regimento interno, poderá reexaminar, a requerimento do interessado, decisões já proferidas em pedidos de

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homologação de sentenças estrangeiras de divórcio de brasileiros, a fim de que passem a produzir todos os efeitos legais. (Redação dada pela Lei nº 6.515, de 26.12.1977) Deixou de ter vigência após a introdução do divórcio no ordenamento jurídico brasileiro

Direito aplicável aos bens Art. 8o  Para qualificar os bens e regular as relações a eles concernentes, aplicar-se-á a lei do país em que estiverem

situados. § 1o  Aplicar-se-á a lei do país em que for domiciliado o proprietário, quanto aos bens moveis que ele trouxer ou

se destinarem a transporte para outros lugares. § 2o  O penhor regula-se pela lei do domicílio que tiver a pessoa, em cuja posse se encontre a coisa apenhada.

Para qualificar os bens e reger as relações a eles concernentes, deverá ser aplicada a lei do país em que estiverem situados. Esta é uma regra tradicional do direito brasileiro: a lex rei sitae. No entanto, há uma espécie de bens que não se sujeitam à lex rei sitae, quais sejam os bens móveis que o proprietário trouxer e os que se destinarem a transporte para outro lugar. Tais bens estão sujeitos à lei do domicílio do proprietário. Os bens móveis que o estrangeiro, de passagem pelo Brasil, traz consigo não estão sujeitos ao direito brasileiro, mas à lei do país onde ele é domiciliado.

Bens em trânsito: a lei do domicílio do proprietário não pode ser aplicada em toda e qualquer caso atos conservatórios exigíveis em determinado lugar podem depender da lei do local onde estão situados naquele exato momento Penhor: regulado pela lei do domicílio da pessoa em cuja posse se encontre a coisa empenhada

A lei que rege as obrigações Regra locus regit actum: as obrigações são regidas pela lei do lugar onde são constituídas Art. 9o  Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que se constituírem.

§ 1o  Destinando-se a obrigação a ser executada no Brasil e dependendo de forma essencial, será esta observada, admitidas as peculiaridades da lei estrangeira quanto aos requisitos extrínsecos do ato.

§ 2o  A obrigação resultante do contrato reputa-se constituída no lugar em que residir o proponente. Capacidade é regida pela lei do domicílio

Destinando-se a obrigação a ser executada no Brasil, ainda que estipulada no estrangeiro, deve se sujeitar à forma essencial prevista no nosso ordenamento jurídico. A forma essencial é aquela necessária à validade do negócio jurídico. Desse modo, os contratos de seguro celebrados no estrangeiro somente são válidos no Brasil se adotarem a forma escrita; e os contratos translativos de direitos reais sobre imóveis com valor superior a 30 salários mínimos devem adotar a forma de escritura pública (ato notarial), mesmo que tal exigência não seja prevista na lei do lugar da constituição

Determinação do lugar onde é constituída a obrigação O local onde o ato é lavrado não é necessariamente aquele onde é constituída a obrigação

Para dirimir esta questão, o direito internacional privado brasileiro estabelece que a obrigação resultante do contrato reputa-se constituída no lugar em que residir o proponente (art. 9º, § 2º). Esta solução corresponde ao sistema tradicional de nosso ordenamento jurídico. De acordo com o direito brasileiro, o momento inicial da formação do contrato é a proposta, que ocorre quando uma das partes pede que a outra se manifeste sobre o acordo proposto. A proposta é uma declaração unilateral de vontade que produz efeito jurídico consistente em obrigar o proponente aos seus termos.

Direito aplicado à sucessão por morte ou ausência        Art.  10.  A sucessão por morte ou por ausência obedece à lei do país em que domiciliado o defunto ou o

desaparecido, qualquer que seja a natureza e a situação dos bens. § 1º A sucessão de bens de estrangeiros, situados no País, será regulada pela lei brasileira em benefício do

cônjuge ou dos filhos brasileiros, ou de quem os represente, sempre que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do de cujus. (Redação dada pela Lei nº 9.047, de 18.5.1995)

§ 2o  A lei do domicílio do herdeiro ou legatário regula a capacidade para suceder. Conteúdo do texto também é regulado pela lei do domicílio, salvo se a lei estrangeira violar a ordem pública e os

interesses nacionais Quanto à forma do testamento, aplica-se o princípio do locus regit actum Capacidade para suceder é regulada pela lei do domicílio do herdeiro ou do legatário

Capacidade das pessoas jurídicas e legitimidade para adquirir bens imóveis Art. 11.  As organizações destinadas a fins de interesse coletivo, como as sociedades e as fundações, obedecem à lei

do Estado em que se constituirem.         § 1o  Não poderão, entretanto. ter no Brasil filiais, agências ou estabelecimentos antes de serem os atos

constitutivos aprovados pelo Governo brasileiro, ficando sujeitas à lei brasileira.         § 2o  Os Governos estrangeiros, bem como as organizações de qualquer natureza, que eles tenham

constituído, dirijam ou hajam investido de funções públicas, não poderão adquirir no Brasil bens imóveis ou susceptíveis de desapropriação.

        § 3o  Os Governos estrangeiros podem adquirir a propriedade dos prédios necessários à sede dos representantes diplomáticos ou dos agentes consulares.

As demais pessoas jurídicas ou físicas estrangeiras podem adquirir imóveis no Brasil, seja por ato entre vivos, seja por ato causa mortis. A lei, entretanto, impõe algumas restrições (Lei 5.709/71)

Lei aplicável às sociedades, associações e fundações Art. 11, § 1º A nacionalidade da pessoa jurídica depende do lugar onde foi celebrado o ato de sua constituição Funcionamento de sociedade estrangeiro em território nacional depende de autorização do poder executivo

Competência da autoridade judicial brasileira Art. 12.  É competente a autoridade judiciária brasileira, quando for o réu domiciliado no Brasil ou aqui tiver de ser

cumprida a obrigação. § 1o  Só à .autoridade judiciária brasileira compete conhecer das ações, relativas a imóveis situados no Brasil.

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Luiz Guilherme Loureiro – Curso Completo de Direito Civil 7

§ 2o A autoridade judiciária brasileira cumprirá, concedido o exequatur e segundo a forma estabelecida pele lei brasileira, as diligências deprecadas por autoridade estrangeira competente, observando a lei desta, quanto ao objeto das diligências.

Segundo o direito internacional privado brasileiro, o juiz brasileiro é competente para julgar a lide, quando o réu for domiciliado no Brasil ou aqui tiver de ser cumprida a obrigação. Da mesma forma, a ação que tiver por objeto bem imóvel situado no Brasil necessariamente terá de ser conhecida pela autoridade judicial brasileira

O juiz é incompetente para proferir sentença que não tenha possibilidade de executar No Brasil, além da competência interna, material e territorial, que se encontra disciplinada nas normas próprias de

nosso Código Processual, a LICC estabelece uma regra de caráter internacional: a ação deve ser proposta no Brasil, quando proposta contra réu aqui domiciliado, ou quando se trate de obrigação a ser cumprida em território brasileiro e imóvel aqui localizado

Três, portanto, são os fatores que fixam a competência do juiz brasileiro, segundo a LICC: o domicílio do réu, o lugar de cumprimento da obrigação e o local de situação do imóvel

Obrigação (contrato) é competente o juiz do lugar da execução Atos ilícitos executados no lugar do fato gerador

A questão da prova de fatos ocorridos no estrangeiro Art.  13.  A prova dos fatos ocorridos em país estrangeiro rege-se pela lei que nele vigorar, quanto ao ônus e aos

meios de produzir-se, não admitindo os tribunais brasileiros provas que a lei brasileira desconheça. Princípio lex loci: tanto quanto ao ônus quanto aos seus meios de produção

Ônus e meios de prova definidos pela lei do país onde ocorreu o fato Modo de produzir a prova lei brasileira

Meios não admitidos no direito brasileiro não são aceitos (art. 212, CC) No que tange ao negócios jurídicos, aqueles realizados em outros países têm eficácia no Brasil desde que

tenham sido produzidos segundo a lei daquele Estado (locus regit actum) e desde que não ofendam a soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes

Destarte, para valer no Brasil, o ato praticado no exterior deve observar a forma prevista no direito do local da celebração. A regra locus regit actum é imperativa, mas comporta uma exceção: ainda que o ato não tenha observado a forma prescrita na lei do local da celebração, será considerado válido quando obedecer à forma prevista na lei do país onde a causa será julgada

Execução de sentença estrangeira    Art. 14.  Não conhecendo a lei estrangeira, poderá o juiz exigir de quem a invoca prova do texto e da vigência. Art. 15.  Será executada no Brasil a sentença proferida no estrangeiro, que reuna os seguintes requisitos:

        a) haver sido proferida por juiz competente;         b) terem sido os partes citadas ou haver-se legalmente verificado à revelia;         c) ter passado em julgado e estar revestida das formalidades necessárias para a execução no lugar em que

foi proferida;         d) estar traduzida por intérprete autorizado;         e) ter sido homologada pelo Supremo Tribunal Federal.         Parágrafo único.  Não dependem de homologação as sentenças meramente declaratórias do estado das

pessoas. Inclui decisões cíveis e de processos administrativos Somente poderá ser homologada pelo STJ a sentença estrangeira que obedecer a todos os requisitos acima citados,

e desde que não ofenda a soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes Só precisa de homologação se produzir efeitos patrimoniais

Aplicação da lei estrangeira Art. 16.  Quando, nos termos dos artigos precedentes, se houver de aplicar a lei estrangeira, ter-se-á em vista a

disposição desta, sem considerar-se qualquer remissão por ela feita a outra lei. Art. 17.  As leis, atos e sentenças de outro país, bem como quaisquer declarações de vontade, não terão eficácia no

Brasil, quando ofenderem a soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes.

Casamento realizado por autoridades consulares brasileiras Art. 18. Tratando-se de brasileiros, são competentes as autoridades consulares brasileiras para lhes celebrar o

casamento e os mais atos de Registro Civil e de tabelionato, inclusive o registro de nascimento e de óbito dos filhos de brasileiro ou brasileira nascido no país da sede do Consulado. (Redação dada pela Lei nº 3.238, de 1º.8.1957)

Art. 19. Reputam-se válidos todos os atos indicados no artigo anterior e celebrados pelos cônsules brasileiros na vigência do Decreto-lei nº 4.657, de 4 de setembro de 1942, desde que satisfaçam todos os requisitos legais. (Incluído pela Lei nº 3.238, de 1º.8.1957) Parágrafo único. No caso em que a celebração desses atos tiver sido recusada pelas autoridades consulares,

com fundamento no artigo 18 do mesmo Decreto-lei, ao interessado é facultado renovar o pedido dentro em 90 (noventa) dias contados da data da publicação desta lei. (Incluído pela Lei nº 3.238, de 1º.8.1957)

Ambos os nubentes devem ser brasileiros

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Luiz Guilherme Loureiro – Curso Completo de Direito Civil 8

Capítulo 2: Das Pessoas

Da pessoa natural Introdução

Personalidade é qualidade inerente à pessoa, é a condição de pessoa, ou seja, é uma situação jurídica subjetiva, uma qualidade reconhecida pelo direito ao ser humano (pessoa física ou natural) e a certas organizações humanas, como a sociedade, as organizações, as fundações e as entidades políticas

Conceito de personalidade : aptidão para ser sujeito de relações jurídicas

Pessoa é, no sentido jurídico, o sujeito capaz de contrair obrigações e gozar direitos

Duas espécies de sujeitos de direito:

Físicas ou naturais

Jurídicas ou morais

Existência da pessoa física ou moral Condicionada a dados biológicos: é sobre o corpo humano e a vida humana que o direito se debruça para reconhecer a

existência de uma pessoa física

Começo da personalidade Nascimento com vida

Código Civil não exige requisitos da viabilidade da forma humana Recém nascido não precisa viver por 24 horas

Legislador impôs registro do nascimento mesmo no caso de a criança ter nascido morta ou de ter morrido por ocasião do parto A personalidade civil se extingue pela morte da pessoa

Do nascituro Lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro e tutela os direitos da personalidade para além da morte do

indivíduo (direito à honra, direitos do autor) Nascituro ainda não é pessoa

TJSP reconheceu o direito do nascituro a alimentos Pode ser herdeiro e também beneficiado por doação, devendo ser aceita por seu representante legal

Condição suspensiva: nascimento com vida Art. 1.798. Legitimam-se a suceder as pessoas nascidas ou já concebidas no momento da abertura da sucessão. Art. 1.799. Na sucessão testamentária podem ainda ser chamados a suceder: I - os filhos, ainda não concebidos, de pessoas indicadas pelo testador, desde que vivas estas ao abrir-se a sucessão;

Só pode suceder se filho de pessoa indicada pelo testador; caso contrário não têm vocação hereditária as pessoas ainda não concebidas

Novas fronteiras do direito da pessoa: o biodireito A doutrina da dignidade humana tem importância capital para a definição e tutela dos chamados direitos personalíssimos ou

direitos de personalidade previstos nos art.s 11 a 21 do Código Civil

Os direitos da personalidade Introdução

LIVRO I: DAS PESSOAS; TÍTULO I: DAS PESSOAS NATURAIS; CAPÍTULO I: DA PERSONALIDADE E DA CAPACIDADE

Vida, honra, integridade física e moral estão contidos na personalidade e são direitos subjetivos ou autônomos capazes de constituir uma figura à parte ao lado dos direitos patrimoniais

Os direitos de personalidade, também chamados de direitos personalíssimos, são as prerrogativas de conteúdo extrapatrimonial, inalienáveis, perpétuas e oponíveis erga omnes, que correspondem a toda pessoa por sua condição de tal, desde antes de seu nascimento e até depois de sua morte, e das quais não pode ser privada por ação do Estado nem de outros particulares porque isso implicaria menoscabo da personalidade

Os direitos personalíssimos constituem uma inconfundível categoria dos direitos subjetivos essenciais, que pertencem à pessoa por sua só condição humana e que se encontram umbilicalmente ligados ao indivíduo

Importância atual dos direitos de personalidade O tema dos direitos personalíssimos tem uma importância manifesta e constitui uma das mais importantes inovações do novo

Código Civil Código Civil estabelece que são direitos subjetivos, passíveis de reparação de danos, em caso de violação, seja

patrimonial, seja moral

Princípios e características dos direitos personalíssimos Código Civil prevê apenas três características dos direitos de personalidade: intransmissibilidade, irrenunciabilidade e

indisponibilidade (não podem sofrer limitações voluntárias Art. 11. Com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer limitação voluntária.)

Características que podem ser acrescentadas a essas: Inatos: desde a origem da pessoa Vitalícios: só se extinguem com a morte; alguns são passados aos herdeiros (intimidade e honra) Necessários: não podem faltar, ser perdidos, nem se pode renunciar a eles Essenciais: mínimo indisponível à vida da pessoa humana Extrapatrimoniais: mas ressarcimento não é impedido

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Indisponíveis e intangíveis: não podem ser alienados ou transferidos Absolutos: oponíveis erga omnes (não quer dizer que são ilimitados)

O direito ao corpo Corpo não pertence ao mundo dos objetos: não é considerado uma coisa Corpo e suas partes não são bens comercializáveis Princípio da intangibilidade tem dois aspectos:

Ninguém pode ser obrigado a fazer um atentado contra o próprio corpo, mesmo que por interesse alheio legítimo (perícia ou retirada de sangue) (Art. 231. Aquele que se nega a submeter-se a exame médico necessário não poderá aproveitar-se de sua recusa.)

Havendo supremacia do interesse do Estado, pessoa pode ser compelida a, por exemplo, vacinação obrigatória Triplamente protegido, contra

Atentados de terceiros (Art. 15. Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, a tratamento médico ou a intervenção cirúrgica.) para salvaguardar um direito mais relevante de outrem, ou por razão de saúde pública, pode haver exceção

Poder de disposição do próprio indivíduo (Art. 13. Salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do próprio corpo, quando importar diminuição permanente da integridade física, ou contrariar os bons costumes.

Parágrafo único. O ato previsto neste artigo será admitido para fins de transplante, na forma estabelecida em lei especial.) mas não é todo indisponível; fins altruísticos ou científicos e transplantes

Curiosidade de terceiros (intimidade e imagem) Três requisitos para disposição

Morte do disponente Gratuidade do ato Finalidade altruística ou científica

Sanção do princípio da intangibilidade Dano corporal suscetível de avaliação e inclui duas espécies de prejuízos

Dano material (exato): quantidade de dinheiro que a pessoa deixará de ganhar em face da redução da capacidade de trabalho

Dano moral (avaliação pelo juiz): corresponde à dor física e psíquica experimentada pela vítima e que abrange o dano estético Penalização é reparatória e intimidatória Indenizações são cumuláveis

Direito ao nome Nome permite que a pessoa tenha reconhecida e protegida sua individualidade, como membro da família e da comunidade

onde vive Atributo da personalidade que individualiza o ser humano

Direito à palavra e direito à imagem Também constituem bens jurídicos que forma a personalidade humana Pertence à pessoa, e somente a ela, o direito de decidir quem pode ter acesso a seus escritos e quem pode gravar sua voz e

divulgá-la (Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais.)

Há restrição no artigo; a lei brasileira ainda não reconhece o direito à palavra como um bem autônomo, um atributo da personalidade que não se confunde com a honra e a boa fama

O requerimento de proibição da divulgação de escrito Cabe à pessoa requerer a proibição da divulgação de seus escritos ou da transmissão de suas palavras

Ao judiciário Astreinte (multa diária)

A indenização por dano decorrente da violação do direito à palavra Só cabe se resultar em danos à honra, boa fama e respeitabilidade da pessoa humana

Formas de captação da imagem Protegida contra processos técnicos de captação ou divulgação (fotografia)

Não entra desenhos, pintura, caricatura

Imagens de pessoas captadas em locais públicos Não há ilicitude quando se dá no contexto da fotografia ou reprodução de um espaço ou evento público imagem da pessoa

integrada ao cenário Quando se nota intenção de individualização é ilícito

Divulgação de imagens com fins comerciais Pessoa pode requerer proibição

Ato ilícito a publicação não autorizada para levar vantagem ainda que não seja desrespeitosa à pessoa

O direito à privacidade Função é fornecer um espaço no qual a individualidade pode se desenvolver Cabe ao Estado proteger a privacidade e estimular o convício social

A noção de direito ao respeito à vida privada na ordem jurídica brasileira Direito fundamental:  Constituição Federal, art. 5º,  X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das

pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação; Dentro dele: inviolabilidade da casa, correspondência e comunicações telefônicas Considera-se que o indivíduo vive com personalidade em esferas diversas: numa esfera individual e noutra privada

Individual: proteção da vida privada dentro da esfera pública proteção à honra

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Vida privada: inviolabilidade da personalidade dentro de seu retiro proteção contra a indiscrição Vida privada pode ser subdividida em três esferas: de dimensões progressivamente menores

Esfera maior (círculo privado strictu senso): comportamentos e fatos que a pessoa não deseja que se tornem de conhecimento público

Esfera da intimidade, ou confidencial (no interior da esfera maior): participam apenas as pessoas que gozam de confiança e intimidade do indivíduo

Esfera do segredo (no âmago da esfera privada): aspectos que interessam apenas ao indivíduo Sigilo profissional, doméstico, por cartas ou telefone

Em suma, a proteção da vida privada destina-se à tutela da inviolabilidade da personalidade dentro de seu retiro, necessário ao seu desenvolvimento e evolução, em seu mundo particular, à margem da vida exterior

Não é um direito absoluto e sem limites, em situações em que estão em risco a sociedade como um todo, o Estado pode adotar medidas que impliquem intrusão na vida privada

Privacidade e liberdade de informação Pode o juiz, a pedido do particular, proibir a publicação de matéria jornalística que, fugindo de sua missão de informar, implicar

em atentado à vida privada Intrusão na vida privada pode se produzir de duas maneiras:

A) no momento em que uma informação é obtida sem autorização B) quando a informação é transmitida a terceiro ou é tornada pública

Intrusão do Estado na vida privada Código Civil regula relações entre particulares; tema da intrusão estatal é constitucional e penal Pode haver intrusão para garantia da ordem pública e do combate à criminalidade

Extinção da personalidade Morte

Enquanto viva, a pessoa exerce direitos pessoais, intransmissíveis, e direitos patrimoniais, transmissíveis Com a morte, desaparecem os direitos pessoais (com exceções) Morte é fato material e também jurídico A vontade do indivíduo pode produzir efeitos póstumos (casamento póstumo na França, e paternidade post mortem no Brasil

Art. 1.597. Presumem-se concebidos na constância do casamento os filhos: II - nascidos nos trezentos dias subseqüentes à dissolução da sociedade conjugal, por morte, separação judicial, nulidade e anulação do casamento;)

Testamento: realização da vontade do indivíduo post mortem V.g. fundação Cláusulas que restringem o poder de disposição dos herdeiros não podem passar de uma geração, e podem ser

suprimidas pelo juiz, quando sua execução for extremamente difícil ou onerosa

O afastamento do domicílio Afastamento (não-presença corporal) é diferente de ausência (desaparecimento sem deixar notícia e sem nomear quem o

represente nos atos da vida civil) O afastamento ou a não-presença da pessoa não a impede de manifestar sua vontade (contratos por correspondência, por

mensageiro – núncio – ou representante) Representante atua em nome do representado, mas atua de acordo com sua própria vontade; núncio é mero instrumento

de transmissão da vontade da parte

Morte presumida Diferença da ausência: nesta não há certeza quanto a sua morte; mas quando o desaparecimento de pessoas for cercado por

circunstâncias tais que gerem uma certeza da morte, há morte presumida Ausência: incerteza da vida ou da morte, em razão da falta de notícias

Produz os mesmos efeitos sucessórios da morte natural Lei 9.140/95 (alterada pela Lei 10.875/2004) – pessoas desaparecidas em razão de participação ou acusação de participação

em atividades políticas Art. 88. Poderão os Juízes togados admitir justificação para o assento de óbito de pessoas desaparecidas em naufrágio,

inundação, incêndio, terremoto ou qualquer outra catástrofe, quando estiver provada a sua presença no local do desastre e não for possível encontrar-se o cadáver para exame. (Renumerado do art. 89  pela Lei nº 6.216, de 1975).

Da ausência Desaparecimento sem deixar notícia e sem nomear quem o represente nos atos da vida civil Pouco importa se é voluntária ou involuntária: não havendo notícias pelo prazo previsto em lei, poderá, a pedido do interessado,

ser declarada a ausência Proteção do patrimônio e preservação dos interesses do ausente e de seus herdeiros

Juiz pode nomear curador

Do curador e do ausente Qualquer pessoa pode requerer ao juiz a declaração de ausência Juiz deve nomear como curador seu cônjuge ou companheiro (não separado judicialmente ou de fato por mais de dois anos,

antes da declaração) Na falta dele, o juiz pode nomear um parente, preferindo o mais próximo Sem parente, pode ser qualquer pessoa

Declaração de ausência e de sucessão do ausente Depois de um ano de arrecadação dos bens, poderão os interessados requerer ao juiz que declare a ausência e abra

provisoriamente a sucessão do ausente Quando deixar procurador, só depois procurador, só depois de três anos

Legitimidade: cônjuge, herdeiros presumidos, os que tiverem os bens do ausente direito dependente de sua morte, e credores de obrigações vencidas e não pagas Ministério Público também, quando não há interessados

Sentença só produz efeitos 180 dias depois da publicação Para efeito erga omnes, deve ser inscrita no Registro Civil do último domicílio

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Luiz Guilherme Loureiro – Curso Completo de Direito Civil 11

Posse dos bens do ausente Herdeiros que não cônjuge, ascendentes ou descendentes: posse só com garantia de restituição (penhor ou hipoteca)

Se o herdeiro não tiver condições de dar a garantia, não é imitido na posse, e sua parte fica sob administração do curador Empossados nos bens, os sucessores provisórios ficarão representando ativa e passivamente o ausente, de modo que contra

eles correrão as ações pendentes, como também as que eventualmente sejam propostas Herdeiros necessários podem ficar com os frutos; se o ausente reaparecer, devolvem apenas os bens

Outros sucessores ficam apenas com metade dos frutos Ausência injustificada ou voluntária: não obriga à devolução da metade dos frutos, só dos bens principais

Sucessores têm direito a indenização por benfeitorias necessárias e a levantamento das voluptuárias (direito à retenção dos bens enquanto não forem indenizadas; não responsáveis por danos, salvo culpa)

Sucessão definitiva Depois de dez anos do trânsito em julgado da sentença que concede abertura da sucessão provisória, poderão os

interessados requerer a sucessão definitiva e o levantamento das garantias prestadas Podem alienar os bens

Em caso de retorno ou de aparecimento de herdeiro nos dez anos seguintes à decretação da sucessão provisória, só pode reclamar bens que estiverem ainda nas mãos dos sucessores ou os substituírem (ou sub-rogados)

Não pode reclamar a venda, mas pode reclamar o preço obtido Depois de dez anos do trânsito em julgado da sentença que concede abertura da sucessão provisória, o ausente não pode

exigir mais nada Sucessão definitiva não requerida: bens passam ao Município ou Território Federal

Individualização da pessoa física Introdução

Um certo número de “sinais” jurídicos distingue cada indivíduo de seus semelhantes: o nome, pelo qual é conhecido, e o vínculo com um lugar situado no espaço (domicílio); também o estado civil e o sexo são elementos que identificam e individualizam a pessoa natural Carga genética também é considerada

Do nome É um atributo da personalidade que individualiza a pessoa na sociedade mesmo após sua morte

Elementos integrantes do nome Art. 16. Toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos o prenome e o sobrenome Nome, prenome, agnomes (Júnior, Filho, Neto, Sobrinho), alcunhas ou apelidos, hipocorísticos (diminutivo)

Natureza jurídica e aquisição do nome Proteger a própria pessoa com objetivos de não patrimonialidade Nome civil pode ser adquirido por

Nascimento Adoção (1618 a 1629 Código Civil) Casamento (1565, §1º, Código Civil)

Em caso de separação, a mulher ainda pode usar o nome do marido quando houver Evidente prejuízo à sua identificação Manifesta distinção entre o nome da mãe e dos filhos Dano grave reconhecido em decisão judicial

Alteração do nome A princípio, o prenome é imutável, por ser princípio de ordem pública (art. 58, LRP) Exceções:

Nome que expuser ao ridículo Apresentação de erro gráfico evidente Nome que causar embaraço no setor comercial e na vida pública da pessoa, por causa de homonímia Apelido público e notório que venha a substituir o nome no ambiente em que vive a pessoa, salvo proibido por lei Necessidade de proteção de vítimas e testemunhas de crimes

Requerimento ao juiz para os registros públicos, ouvido o Ministério Público, podendo o registro ser revertido após a cessação da ameaça; segredo de justiça

Tradução de nome estrangeiro Próprio interessado pode alterar o nome desde que não prejudique os apelidos de família, após completar a maioridade, no

prazo decadencial de um ano; depois, só por ação judicial

Proteção do nome Art. 17. O nome da pessoa não pode ser empregado por outrem em publicações ou representações que a exponham ao

desprezo público, ainda quando não haja intenção difamatória. Art. 18. Sem autorização, não se pode usar o nome alheio em propaganda comercial. O titular do nome pode exigir que cesse a lesão ao seu direito de personalidade e ainda reclamar perdas e danos. Em caso de

uso indevido do nome em propaganda, p. ex., o interessado pode mover ação em que demande ao juiz fixação de multa diária para evitar a lesão ou sua intensificação, sem prejuízo de perdas e danos

Pseudônimo goza da mesma proteção legal conferida ao nome

Domicílio Também é elemento identificador da pessoa e ponto de conexão para as relações jurídicas

Todo indivíduo tem um nome e uma “sede legal”, na qual há de se considerar sempre presente, ainda quando se encontra momentaneamente afastado dela

O domicílio é escolhido e constituído livremente pelo indivíduo, como manifestação de sua vontade e resultado da sua autodeterminação

É o lugar onde a pessoa natural se estabelece habitualmente. Diferencia-se da moradia e da residência por apresentar, além de um elemento objetivo (o local físico onde a pessoa se encontra), um elemento subjetivo (intenção de permanência duradoura). Portanto, dois são os requisitos para caracterização do domicílio: residência e o ânimo de permanência Art. 70. O domicílio da pessoa natural é o lugar onde ela estabelece a sua residência com ânimo definitivo.

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Art. 71. Se, porém, a pessoa natural tiver diversas residências, onde, alternadamente, viva, considerar-se-á domicílio seu qualquer delas. Necessário o ânimo de permanecer em cada uma das residências

Art. 72. É também domicílio da pessoa natural, quanto às relações concernentes à profissão, o lugar onde esta é exercida. Alguém que mora com ânimo definitivo em SP, e trabalha em Porto Alegre, têm dois domicílios

Código de Processo Civil: Art. 94.  A ação fundada em direito pessoal e a ação fundada em direito real sobre bens móveis serão propostas, em regra, no foro do domicílio do réu. § 1o  Tendo mais de um domicílio, o réu será demandado no foro de qualquer deles. § 2o  Sendo incerto ou desconhecido o domicílio do réu, ele será demandado onde for encontrado ou no foro do domicílio

do autor. § 3o  Quando o réu não tiver domicílio nem residência no Brasil, a ação será proposta no foro do domicílio do autor. Se

este também residir fora do Brasil, a ação será proposta em qualquer foro. § 4o  Havendo dois ou mais réus, com diferentes domicílios, serão demandados no foro de qualquer deles, à escolha do

autor. Pessoa jurídica também tem domicílio

Domicílio da União é o DF, e dos Estados e Territórios é a capital; dos municípios, onde funcione a administração municipal

Pessoa jurídica: lugar onde funcione a administração, mas pode estabelecer no estatuto ou ato constitutivo outro local Pessoa jurídica estrangeira: lugar de estabelecimento no Brasil vários estabelecimentos, cada um é domicílio para os

atos nele praticados Pessoa errante: domicílio onde for encontrada Domicílio pode ser alterado: Art. 74. Muda-se o domicílio, transferindo a residência, com a intenção manifesta de o mudar.

Parágrafo único. A prova da intenção resultará do que declarar a pessoa às municipalidades dos lugares, que deixa, e para onde vai, ou, se tais declarações não fizer, da própria mudança, com as circunstâncias que a acompanharem.

Domicílio: Legal: recém-nascido, incapaz, funcionário público, militares Voluntário: local escolhido

Atributos da pessoa física ou natural Capacidade

Toda pessoa é dotada de personalidade: para adquirir direitos e contrair obrigações O conceito de personalidade é coincidente com o de capacidade jurídica, que é a aptidão para ser titular de direitos subjetivos e

de deveres jurídicos ou, em outras palavras, a idoneidade para ser sujeito de relações jurídicas, para realizar atos da vida civil, para praticar negócios jurídicos

Para exercer direitos e contrair obrigações, é preciso que a pessoa esteja em pleno gozo da capacidade civil e não seja legalmente impedida Somente maiores de 18 anos que não sejam portadores de doença ou retardo mental que as impeçam de discernir,

mesmo que transitoriamente, e que não estejam impedidas de exprimir livremente sua vontade; também é precisoq não esteja legalmente impedido (não basta apenas a maioridade)

Ato praticado por agente incapaz é nulo de pleno direito, e o ato nulo é insanável Absolutamente incapaz deve ser representado Relativamente incapaz deve ser assistido

Legitimação Capacidade não se confunde com legitimação: para que a pessoa passa, validamente, celebrar um negócio jurídico, além da

capacidade, ela deve ter legitimação Conceito de legitimação : exigência da lei, imposta a certas pessoas capazes, de preenchimento de determinados

requisitos para a celebração de negócio jurídico Positiva: quando não veda a prática do ato, mas impõem observância de requisitos especiais e pessoais que

extrapolem os genericamente exigidos (ex. cônjuge vender imóvel) Negativa: quando a lei declara a inabilitação de certas pessoas para a prática de certos atos devido a uma situação

irremovível em que eles se acham (ex.: juiz não pode adquirir bens alienados em hasta pública derivada de processo judicial em que atua)

Tutor tem capacidade para negócio jurídico em geral, mas não tem legitimação para adquirir bens do tutelado (idem ao curador)

Incapacidade absoluta e relativa Absolutamente incapazes: menores de 16 anos; pessoas que, por enfermidade, não tiverem discernimento para prática dos

atos da vida civil e aqueles que, ainda que transitoriamente, não puderem expressar suas vontade são representados Relativamente incapazes: entre 16 e 18 anos são assistidos

Também pessoas que tenham discernimento reduzido em virtude de deficiência mental, alcoolismo ou vício em tóxico, bem como os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo, e os pródigos (pródigos só para negócios jurídicos patrimoniais)

Lei e costumes podem estabelecer exceções à regra geral de que o menor não pode celebrar negócio jurídico sem estar representado CLT Fazer testamento ou aceitar doação pura Pequenas compras, contratos de transporte, etc

Da emancipação É o ato que tem por objetivo conferir a um menor o governo de sua pessoa e o gozo e administração de seus bens. Em outros

termos, com a emancipação, o menor adquire capacidade para a realização de atos da vida civil, sem necessidade de representação ou assistência

Pode ser consensual (concessão dos pais) ou legal (imposição da lei) Consensual : necessária a anuência de ambos os pais, ou de um deles, na falta do outro; por escritura pública ou sentença

judicial Legal : casamento, colação de grau em curso de ensino superior, estabelecimento civil ou comercial ou pela existência de

relação de emprego, desde que o menor tenha economia própria

Das pessoas jurídicas Introdução

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Luiz Guilherme Loureiro – Curso Completo de Direito Civil 13

Conceito ficto de pessoa, que tem existência própria, distinta das pessoas que a constituem Possui todos os atributos da pessoa física, exceto os inerentes à natureza específica dela

Pessoa jurídica pode sofrer dano moral Classificação das pessoas jurídicas

Código Civil: Art. 40. As pessoas jurídicas são de direito público, interno ou externo, e de direito privado. Público externo : Estados e organizações internacionais (ONU) Público interno : União, Estados, DF, Territórios e Municípios, inclusive associações públicas e demais entidades de caráter

público criadas por lei Algumas podem ter a estrutura de direito privado (empresas, fundações) regidas pelo direito privado

Direito privado : sociedades, fundações, organizações religiosas e partidos políticos Associações não perseguem finalidade lucrativa Fundação é criada por uma pessoa para cumprir um fim de interesse geral imposto por ela, par ao qual é dotada de meios

econômicos adequados Sociedade: busca o lucro

Aquisição da personalidade jurídica Com a inscrição no órgão competente: Registro Público de Empresas Mercantis (Juntas Comerciais) ou Registro Civil das

Pessoas Jurídicas (Art. 45. Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro, precedida, quando necessário, de autorização ou aprovação do Poder Executivo, averbando-se no registro todas as alterações por que passar o ato constitutivo.)

Apenas entidades que possuem objeto lícito é que poderão ser registradas e adquirir personalidade jurídica Fundação intervenção do Ministério Público Sociedade ou associação rubrica de advogado Todos os atos relevantes também devem ser registrados

Atributos da pessoa jurídica Também pessoa jurídica pode exercer direitos e contrair obrigações em nome próprio tem personalidade Individualidade própria, distinta e independente dos sócios Patrimônio próprio, sem se confundir nem se comunicar com o dos sócios Movem-se por impulso de uma atividade própria, distinta da economia particular dos associados Sócio é órgão da pessoa jurídica; não a representa, é sua parte integrante, por meio da qual ela exprime sua vontade Conseqüências da personalidade jurídica:

A entidade tem vontade própria, capacidade de querer, embora sua vontade seja manifestada por intermédio de quem legalmente a represente;

O seu patrimônio é próprio e independente daquele dos associados e constitui a garantia dos credores; Os bens particulares dos sócios ou associados, consequentemente, não podem ser executados por dívidas da sociedade,

senão depois de executados os bens sociais, salvo quando o sócio prestou alguma garantia ao respectivo pagamento (v.g., figura como avalista ou fiador da pessoa jurídica). É a chamada responsabilidade subsidiária

A entidade exercita a atividade para a qual foi constituída sob um nome social que lhe é próprio, tendo um domicílio seu, embora possa manter filiais ou sucursais

Pode fazer parte de outra sociedade ou associação, como sócia, mesmo com a função de administrador ou gerente, nos termos da lei

Os débitos e créditos dos sócios são independentes e não se confundem com os da sociedade, razão pela qual não se admite que nem os sócios, nem a sociedade possam opor compensação perante terceiros

Teoria da desconsideração da personalidade jurídica Abuso do direito

Juiz deve desconhecer ou desconsiderar a existência da pessoa jurídica, para que o sócio, por meio de seu patrimônio particular, seja diretamente responsabilizado pela fraude ou abuso de direito: Código Civil: Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela

confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica.

CDC: Art. 28. O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade quando, em detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social. A desconsideração também será efetivada quando houver falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica provocados por má administração.

CTN: Art. 135. São pessoalmente responsáveis pelos créditos correspondentes a obrigações tributárias resultantes de atos praticados com excesso de poderes ou infração de lei, contrato social ou estatutos:   I - as pessoas referidas no artigo anterior; II - os mandatários, prepostos e empregados; III - os diretores, gerentes ou representantes de pessoas jurídicas de direito privado Art. 134. Nos casos de impossibilidade de exigência do cumprimento da obrigação principal pelo contribuinte,

respondem solidariamente com este nos atos em que intervierem ou pelas omissões de que forem responsáveis: I - os pais, pelos tributos devidos por seus filhos menores; II - os tutores e curadores, pelos tributos devidos por seus tutelados ou curatelados; III - os administradores de bens de terceiros, pelos tributos devidos por estes; IV - o inventariante, pelos tributos devidos pelo espólio; V - o síndico e o comissário, pelos tributos devidos pela massa falida ou pelo concordatário; VI - os tabeliães, escrivães e demais serventuários de ofício, pelos tributos devidos sobre os atos praticados por eles, ou perante eles, em razão do seu ofício; VII - os sócios, no caso de liquidação de sociedade de pessoas. Parágrafo único. O disposto neste artigo só se aplica, em matéria de penalidades, às de caráter moratório.

Juiz não pode desconsiderar de ofício a personalidade Para aplicação da teoria da desconsideração da personalidade jurídica não basta mera insolvência da sociedade, mas é

preciso que tenha havido má fé na utilização da separação patrimonial. Não havendo comprovação de mau uso ou fraude no gerenciamento da empresa, prevalece a regra de limitação da responsabilidade do sócio, suportando o credor o dano daí decorrente (RT 768/349)

Espécies de pessoa jurídica Associação

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Luiz Guilherme Loureiro – Curso Completo de Direito Civil 14

STJ: a Constituição Federal assegura plena liberdade de associação. Não podem prevalecer as restrições da Lei 6251/75 em face à Constituição Federal de 1988. Ninguém é obrigado a associar-se ou a permanecer associado. As associações são dotadas de autonomia de organização e funcionamento

Independem de autorização estatal Clubes, torcidas organizadas

Não há entre os associados direitos e obrigações recíprocos A associação se distingue da sociedade também em outro aspecto. O registro do contrato social produz duas espécies de

efeitos: cria uma pessoa jurídica – a sociedade – titular de direitos e obrigações perante os sócios e estabelece um vínculo jurídico entre estes, com direitos e deveres jurídicos. Já o registro da associação dá ensejo tão-somente a um vínculo jurídico entre a pessoa jurídica e os associados, não havendo direitos recíprocos

Fim não econômico, embora possa ela exercer atividade econômica para atingir a finalidade prevista no estatuto Qualquer finalidade – econômica Necessária autorização para representação quando do caso concreto (contradição com Alexandre de Moraes)

Instituição da associação O ato que institui a associação é o estatuto que, uma vez registrado no Registro Civil das Pessoas Jurídicas, conferirá

personalidade jurídica a este ente. O registro confere ainda legitimidade à associação para representar os interesses de seus associados em juízo ou fora dele e, inclusive, para a impetração de mandado de segurança coletivo para tutela de direitos coletivos difusos. Neste caso, o registro deve ter sido realizado a pelo menos um ano.

Para que seja valido, e possa ser registrado, o estatuto deve conter: A denominação, os fins e a sede da associação Os requisitos para a admissão, demissão e exclusão dos associados Os direitos e deveres dos associados As fontes de recursos para sua manutenção O modo de constituição e funcionamento dos órgãos deliberativos As condições para a alteração das disposições estatutárias e para a dissolução A forma de gestão administrativa e de aprovação das respectivas contas (incluída pela lei 11.127/2005)

Direitos e deveres do associado Devem ter direitos iguais, mas o estatuto pode instituir categorias com vantagens especiais Regra geral, à qualidade de associado é intransmissível

Transferência da quota ou fração ideal do patrimônio não implica a atribuição da qualidade de associado O estatuto pode prever a possibilidade da transferência da condição de associado Associado pode ser expulso

Do órgão deliberativo É a assembléia geral, à qual compete privativamente destituir os administradores e alterar o estatuto

Código Civil: Art. 59. Compete privativamente à assembléia geral: I – destituir os administradores; II – alterar o estatuto. Parágrafo único. Para as deliberações a que se referem os incisos I e II deste artigo é exigido deliberação da assembléia especialmente convocada para esse fim, cujo quorum será o estabelecido no estatuto, bem como os critérios de eleição dos administradores.

O estatuto estabelece o quorum da assembléia e os critérios de eleição dos administradores

Da extinção da associação Constituição Federal: Art. 5º - XIX - as associações só poderão ser compulsoriamente dissolvidas ou ter suas atividades

suspensas por decisão judicial, exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito em julgado; É possível a suspensão cautelar Pode ser extinta por vontade dos associados ou por decisão judicial transitada em julgado Associados só têm direito à restituição do valor atualizado da contribuição que fizeram; não têm direito à repartição do

patrimônio líquido

Sindicatos e cooperativas Sindicatos e cooperativas são formas de associações. A Constituição inclui, expressamente, as cooperativas entre as

associações. Nesse sentido, dispõe o art. 5º, XVIII - a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas independem de autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento;

A cooperativa é a associação sob a forma de sociedade com número aberto de membros, que tem por objetivo estimular a poupança, a aquisição ou a economia de seus associados, mediante atividade econômica comum. Trata-se de uma forma de organização da atividade econômica, tendo por finalidade a produção agrícola, industrial ou mercantil.

Também é inscrita no Registro Civil das Pessoas Jurídicas O sindicato, por sua vez, é uma associação constituída para a defesa dos interesses de pessoas que exercem a mesma

profissão ou o mesmo gênero de atividades. A associação profissional está regida, de modo geral, pelas mesmas regras de organização das demais associações, embora sua criação seja disciplinada por lei especial

Da fundação Não é reunião de pessoas, mas um conglomerado de bens livres que são destinados, pelo instituidor, à realização de um

determinado fim religioso, moral, cultural ou assistencial não é possível fim diverso, conforme Código Civil Bem coletivo, uma universalidade de bens Não se confunde mais com o patrimônio do instituidor Fundações antigas continuam válidas, mas quanto ao funcionamento obedecem ao Código Civil de 2002 (Art. 2.032. As

fundações, instituídas segundo a legislação anterior, inclusive as de fins diversos dos previstos no parágrafo único do art. 62, subordinam-se, quanto ao seu funcionamento, ao disposto neste Código.) Modificação dos estatutos das fundações e associações: quorum da lei nova: 2/3 dos administradores ou associados Pode ser pessoa jurídica de direito privado (deve ser registrada) ou de direito público (disciplinada pelo direito

administrativo Art. 4° A Administração Federal compreende: I - A Administração Direta, que se constitui dos serviços integrados na estrutura administrativa da Presidência da República e dos Ministérios. II - A Administração Indireta, que compreende as seguintes categorias de entidades, dotadas de personalidade jurídica própria: a) Autarquias; b) Empresas Públicas; c) Sociedades de Economia Mista. d) fundações públicas. (Incluído pela Lei nº 7.596, de 1987)

Atos de instituição da fundação

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Luiz Guilherme Loureiro – Curso Completo de Direito Civil 15

Entre vivos ou causa mortis Por escritura pública ou testamento Constituída por ato entre vivos, o instituidor é obrigado a transferir-lhe a propriedade, ou outro direito real, sobre os bens

dotados Se não o fizer, Ministério Público pede mandado judicial

Fundação é irrevogável Testamento pode ser público, cerrado ou particular

Negócio jurídico só produz efeitos após a morte Propriedade é transferida desde logo Testamento é revogável (revogação só não alcança a verba relativa a reconhecimento de filho)

O instituidor não precisa necessariamente transferir a propriedade de bens para a fundação; ele pode transmitir outros direitos reais de uso e gozo, como o usufruto e o direito de superfície, e desde que tais direitos possibilitem à pessoa jurídica alcançar os fins que lhe foram destinados pelo instituidor Pode haver cláusula no testamento que diz que se os bens não forem suficientes, passam para os herdeiros

Instituidor também dispõe sobre a forma de administração da fundação Ministério Público deve aprovar o estatuto, que deve ser elaborado no prazo estabelecido pelo instituidor ou em 180 dias

da data em que os encarregados tiverem ciência do encargo Se não fizerem, cabe o MPE ou MPF (DF ou Territórios)

Depois de registrada a fundação, o instituidor não pode mais exercer nenhum poder sobre ela

Registro do estatuto da fundação Todos os atos devem ser averbados

Quorum de 2/3 mais aprovação do Ministério Público Ainda que alcançado o quorum, poderá a minoria vencida impugnar a deliberação, no prazo de dez dias. Para tanto,

aprovada a alteração, os administradores deverão submeter o estatuto à aprovação do Ministério Público, requerendo que seja dada ciência àqueles que foram vencidos

Extinção da fundação Tornar-se sua finalidade ilícita, impossível ou inútil, ou quando vencido o prazo de sua existência Patrimônio vai para outra fundação

Do Registro Civil das Pessoas Jurídicas Para que adquiram personalidade jurídica, as associações, fundações e partidos políticos, assim como as sociedades

simples (sociedades não empresárias), devem ser registradas. Nesse cartório são registrados os contratos sociais, estatutos e atos constitutivos das pessoas jurídicas de direito privado, exceto as sociedades empresárias, que são registradas no Registro Público de Empresas Mercantis

Registrador deve avaliar ser a partes são capazes Menor pode testar (instituir fundação)

Menor de 18 anos pode ser sócio, desde que representado ou assistido Pessoa absoluta ou relativamente incapaz não pode ser empresária, salvo no caso de sucessão de empresa e com

autorização judicial Devem ser feitas as averbações

Exame do título de constituição da pessoa jurídica: o princípio da qualificação Cabe ao oficial do registro verificar se os atos constitutivos e demais títulos relacionados às pessoas jurídicas,

apresentados em Cartório para registro ou averbação, preenchem os requisitos legais Quando houver necessidade de autorização legal, o oficial deverá exigir sua apresentação Dados que devem constar do registro variam de acordo com a natureza da pessoa jurídica, em geral, são:

Denominação, capital, fins e sede da pessoa jurídica Modo de administração e representação da entidade Se o ato de constituição permite alteração da administração Se os sócios respondem ou não pelas obrigações sociais As condições de extinção da pessoa jurídica Nomes e qualificação dos sócios, associados ou membros

Sociedade simples: rubricada por advogado Extinção depende de averbação à margem do registro (voluntária, legal e compulsória)

Art. 1.033. Dissolve-se a sociedade quando ocorrer: I - o vencimento do prazo de duração, salvo se, vencido este e sem oposição de sócio, não entrar a sociedade

em liquidação, caso em que se prorrogará por tempo indeterminado; II - o consenso unânime dos sócios; III - a deliberação dos sócios, por maioria absoluta, na sociedade de prazo indeterminado; IV - a falta de pluralidade de sócios, não reconstituída no prazo de cento e oitenta dias; V - a extinção, na forma da lei, de autorização para funcionar.

Decisão judicial

P A R T E G E R A LLIVRO I

DAS PESSOASTÍTULO I

DAS PESSOAS NATURAISCAPÍTULO I

DA PERSONALIDADE E DA CAPACIDADEArt. 1o Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil.Art. 2o A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro.Art. 3o São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil:I - os menores de dezesseis anos;II - os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos;III - os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade.Art. 4o São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de os exercer:I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;

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Luiz Guilherme Loureiro – Curso Completo de Direito Civil 16

II - os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham o discernimento reduzido;III - os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo;IV - os pródigos.Parágrafo único. A capacidade dos índios será regulada por legislação especial.Art. 5o A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil.Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade:I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público, independentemente de homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos;II - pelo casamento;III - pelo exercício de emprego público efetivo;IV - pela colação de grau em curso de ensino superior;V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia própria.Art. 6o A existência da pessoa natural termina com a morte; presume-se esta, quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão definitiva.Art. 7o Pode ser declarada a morte presumida, sem decretação de ausência:I - se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida;II - se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado até dois anos após o término da guerra.Parágrafo único. A declaração da morte presumida, nesses casos, somente poderá ser requerida depois de esgotadas as buscas e averiguações, devendo a sentença fixar a data provável do falecimento.Art. 8o Se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se podendo averiguar se algum dos comorientes precedeu aos outros, presumir-se-ão simultaneamente mortos.Art. 9o Serão registrados em registro público:I - os nascimentos, casamentos e óbitos;II - a emancipação por outorga dos pais ou por sentença do juiz;III - a interdição por incapacidade absoluta ou relativa;IV - a sentença declaratória de ausência e de morte presumida.Art. 10. Far-se-á averbação em registro público:I - das sentenças que decretarem a nulidade ou anulação do casamento, o divórcio, a separação judicial e o restabelecimento da sociedade conjugal;II - dos atos judiciais ou extrajudiciais que declararem ou reconhecerem a filiação;III - dos atos judiciais ou extrajudiciais de adoção.

CAPÍTULO IIDOS DIREITOS DA PERSONALIDADE

Art. 11. Com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer limitação voluntária.Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei.Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá legitimação para requerer a medida prevista neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou colateral até o quarto grau.Art. 13. Salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do próprio corpo, quando importar diminuição permanente da integridade física, ou contrariar os bons costumes.Parágrafo único. O ato previsto neste artigo será admitido para fins de transplante, na forma estabelecida em lei especial.Art. 14. É válida, com objetivo científico, ou altruístico, a disposição gratuita do próprio corpo, no todo ou em parte, para depois da morte.Parágrafo único. O ato de disposição pode ser livremente revogado a qualquer tempo.Art. 15. Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, a tratamento médico ou a intervenção cirúrgica.Art. 16. Toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos o prenome e o sobrenome.Art. 17. O nome da pessoa não pode ser empregado por outrem em publicações ou representações que a exponham ao desprezo público, ainda quando não haja intenção difamatória.Art. 18. Sem autorização, não se pode usar o nome alheio em propaganda comercial.Art. 19. O pseudônimo adotado para atividades lícitas goza da proteção que se dá ao nome.Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais.Parágrafo único. Em se tratando de morto ou de ausente, são partes legítimas para requerer essa proteção o cônjuge, os ascendentes ou os descendentes.Art. 21. A vida privada da pessoa natural é inviolável, e o juiz, a requerimento do interessado, adotará as providências necessárias para impedir ou fazer cessar ato contrário a esta norma.

CAPÍTULO IIIDA AUSÊNCIA

Seção IDa Curadoria dos Bens do Ausente

Art. 22. Desaparecendo uma pessoa do seu domicílio sem dela haver notícia, se não houver deixado representante ou procurador a quem caiba administrar-lhe os bens, o juiz, a requerimento de qualquer interessado ou do Ministério Público, declarará a ausência, e nomear-lhe-á curador.Art. 23. Também se declarará a ausência, e se nomeará curador, quando o ausente deixar mandatário que não queira ou não possa exercer ou continuar o mandato, ou se os seus poderes forem insuficientes.Art. 24. O juiz, que nomear o curador, fixar-lhe-á os poderes e obrigações, conforme as circunstâncias, observando, no que for aplicável, o disposto a respeito dos tutores e curadores.Art. 25. O cônjuge do ausente, sempre que não esteja separado judicialmente, ou de fato por mais de dois anos antes da declaração da ausência, será o seu legítimo curador.§ 1o Em falta do cônjuge, a curadoria dos bens do ausente incumbe aos pais ou aos descendentes, nesta ordem, não havendo impedimento que os iniba de exercer o cargo.§ 2o Entre os descendentes, os mais próximos precedem os mais remotos.§ 3o Na falta das pessoas mencionadas, compete ao juiz a escolha do curador.

Seção IIDa Sucessão Provisória

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Luiz Guilherme Loureiro – Curso Completo de Direito Civil 17

Art. 26. Decorrido um ano da arrecadação dos bens do ausente, ou, se ele deixou representante ou procurador, em se passando três anos, poderão os interessados requerer que se declare a ausência e se abra provisoriamente a sucessão.Art. 27. Para o efeito previsto no artigo anterior, somente se consideram interessados:I - o cônjuge não separado judicialmente;II - os herdeiros presumidos, legítimos ou testamentários;III - os que tiverem sobre os bens do ausente direito dependente de sua morte;IV - os credores de obrigações vencidas e não pagas.Art. 28. A sentença que determinar a abertura da sucessão provisória só produzirá efeito cento e oitenta dias depois de publicada pela imprensa; mas, logo que passe em julgado, proceder-se-á à abertura do testamento, se houver, e ao inventário e partilha dos bens, como se o ausente fosse falecido.§ 1o Findo o prazo a que se refere o art. 26, e não havendo interessados na sucessão provisória, cumpre ao Ministério Público requerê-la ao juízo competente.§ 2o Não comparecendo herdeiro ou interessado para requerer o inventário até trinta dias depois de passar em julgado a sentença que mandar abrir a sucessão provisória, proceder-se-á à arrecadação dos bens do ausente pela forma estabelecida nos arts. 1.819 a 1.823.Art. 29. Antes da partilha, o juiz, quando julgar conveniente, ordenará a conversão dos bens móveis, sujeitos a deterioração ou a extravio, em imóveis ou em títulos garantidos pela União.Art. 30. Os herdeiros, para se imitirem na posse dos bens do ausente, darão garantias da restituição deles, mediante penhores ou hipotecas equivalentes aos quinhões respectivos.§ 1o Aquele que tiver direito à posse provisória, mas não puder prestar a garantia exigida neste artigo, será excluído, mantendo-se os bens que lhe deviam caber sob a administração do curador, ou de outro herdeiro designado pelo juiz, e que preste essa garantia.§ 2o Os ascendentes, os descendentes e o cônjuge, uma vez provada a sua qualidade de herdeiros, poderão, independentemente de garantia, entrar na posse dos bens do ausente.Art. 31. Os imóveis do ausente só se poderão alienar, não sendo por desapropriação, ou hipotecar, quando o ordene o juiz, para lhes evitar a ruína.Art. 32. Empossados nos bens, os sucessores provisórios ficarão representando ativa e passivamente o ausente, de modo que contra eles correrão as ações pendentes e as que de futuro àquele forem movidas.Art. 33. O descendente, ascendente ou cônjuge que for sucessor provisório do ausente, fará seus todos os frutos e rendimentos dos bens que a este couberem; os outros sucessores, porém, deverão capitalizar metade desses frutos e rendimentos, segundo o disposto no art. 29, de acordo com o representante do Ministério Público, e prestar anualmente contas ao juiz competente.Parágrafo único. Se o ausente aparecer, e ficar provado que a ausência foi voluntária e injustificada, perderá ele, em favor do sucessor, sua parte nos frutos e rendimentos.Art. 34. O excluído, segundo o art. 30, da posse provisória poderá, justificando falta de meios, requerer lhe seja entregue metade dos rendimentos do quinhão que lhe tocaria.Art. 35. Se durante a posse provisória se provar a época exata do falecimento do ausente, considerar-se-á, nessa data, aberta a sucessão em favor dos herdeiros, que o eram àquele tempo.Art. 36. Se o ausente aparecer, ou se lhe provar a existência, depois de estabelecida a posse provisória, cessarão para logo as vantagens dos sucessores nela imitidos, ficando, todavia, obrigados a tomar as medidas assecuratórias precisas, até a entrega dos bens a seu dono.

Seção IIIDa Sucessão Definitiva

Art. 37. Dez anos depois de passada em julgado a sentença que concede a abertura da sucessão provisória, poderão os interessados requerer a sucessão definitiva e o levantamento das cauções prestadas.Art. 38. Pode-se requerer a sucessão definitiva, também, provando-se que o ausente conta oitenta anos de idade, e que de cinco datam as últimas notícias dele.Art. 39. Regressando o ausente nos dez anos seguintes à abertura da sucessão definitiva, ou algum de seus descendentes ou ascendentes, aquele ou estes haverão só os bens existentes no estado em que se acharem, os sub-rogados em seu lugar, ou o preço que os herdeiros e demais interessados houverem recebido pelos bens alienados depois daquele tempo.Parágrafo único. Se, nos dez anos a que se refere este artigo, o ausente não regressar, e nenhum interessado promover a sucessão definitiva, os bens arrecadados passarão ao domínio do Município ou do Distrito Federal, se localizados nas respectivas circunscrições, incorporando-se ao domínio da União, quando situados em território federal.

TÍTULO IIDAS PESSOAS JURÍDICAS

CAPÍTULO IDISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 40. As pessoas jurídicas são de direito público, interno ou externo, e de direito privado.Art. 41. São pessoas jurídicas de direito público interno:I - a União;II - os Estados, o Distrito Federal e os Territórios;III - os Municípios;IV - as autarquias, inclusive as associações públicas; (Redação dada pela Lei nº 11.107, de 2005)V - as demais entidades de caráter público criadas por lei.Parágrafo único. Salvo disposição em contrário, as pessoas jurídicas de direito público, a que se tenha dado estrutura de direito privado, regem-se, no que couber, quanto ao seu funcionamento, pelas normas deste Código.Art. 42. São pessoas jurídicas de direito público externo os Estados estrangeiros e todas as pessoas que forem regidas pelo direito internacional público.Art. 43. As pessoas jurídicas de direito público interno são civilmente responsáveis por atos dos seus agentes que nessa qualidade causem danos a terceiros, ressalvado direito regressivo contra os causadores do dano, se houver, por parte destes, culpa ou dolo.Art. 44. São pessoas jurídicas de direito privado:I - as associações;II - as sociedades;III - as fundações.IV - as organizações religiosas; (Incluído pela Lei nº 10.825, de 22.12.2003)V - os partidos políticos. (Incluído pela Lei nº 10.825, de 22.12.2003)§ 1o São livres a criação, a organização, a estruturação interna e o funcionamento das organizações religiosas, sendo vedado ao poder público negar-lhes reconhecimento ou registro dos atos constitutivos e necessários ao seu funcionamento. (Incluído pela Lei nº 10.825, de 22.12.2003)§ 2o As disposições concernentes às associações aplicam-se subsidiariamente às sociedades que são objeto do Livro II da Parte Especial deste Código. (Incluído pela Lei nº 10.825, de 22.12.2003)§ 3o Os partidos políticos serão organizados e funcionarão conforme o disposto em lei específica. (Incluído pela Lei nº 10.825, de 22.12.2003)

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Art. 45. Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro, precedida, quando necessário, de autorização ou aprovação do Poder Executivo, averbando-se no registro todas as alterações por que passar o ato constitutivo.Parágrafo único. Decai em três anos o direito de anular a constituição das pessoas jurídicas de direito privado, por defeito do ato respectivo, contado o prazo da publicação de sua inscrição no registro.Art. 46. O registro declarará:I - a denominação, os fins, a sede, o tempo de duração e o fundo social, quando houver;II - o nome e a individualização dos fundadores ou instituidores, e dos diretores;III - o modo por que se administra e representa, ativa e passivamente, judicial e extrajudicialmente;IV - se o ato constitutivo é reformável no tocante à administração, e de que modo;V - se os membros respondem, ou não, subsidiariamente, pelas obrigações sociais;VI - as condições de extinção da pessoa jurídica e o destino do seu patrimônio, nesse caso.Art. 47. Obrigam a pessoa jurídica os atos dos administradores, exercidos nos limites de seus poderes definidos no ato constitutivo.Art. 48. Se a pessoa jurídica tiver administração coletiva, as decisões se tomarão pela maioria de votos dos presentes, salvo se o ato constitutivo dispuser de modo diverso.Parágrafo único. Decai em três anos o direito de anular as decisões a que se refere este artigo, quando violarem a lei ou estatuto, ou forem eivadas de erro, dolo, simulação ou fraude.Art. 49. Se a administração da pessoa jurídica vier a faltar, o juiz, a requerimento de qualquer interessado, nomear-lhe-á administrador provisório.Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica.Art. 51. Nos casos de dissolução da pessoa jurídica ou cassada a autorização para seu funcionamento, ela subsistirá para os fins de liquidação, até que esta se conclua.§ 1o Far-se-á, no registro onde a pessoa jurídica estiver inscrita, a averbação de sua dissolução.§ 2o As disposições para a liquidação das sociedades aplicam-se, no que couber, às demais pessoas jurídicas de direito privado.§ 3o Encerrada a liquidação, promover-se-á o cancelamento da inscrição da pessoa jurídica.Art. 52. Aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos da personalidade.

CAPÍTULO IIDAS ASSOCIAÇÕES

Art. 53. Constituem-se as associações pela união de pessoas que se organizem para fins não econômicos.Parágrafo único. Não há, entre os associados, direitos e obrigações recíprocos.Art. 54. Sob pena de nulidade, o estatuto das associações conterá:I - a denominação, os fins e a sede da associação;II - os requisitos para a admissão, demissão e exclusão dos associados;III - os direitos e deveres dos associados;IV - as fontes de recursos para sua manutenção;V – o modo de constituição e de funcionamento dos órgãos deliberativos; (Redação dada pela Lei nº 11.127, de 2005)VI - as condições para a alteração das disposições estatutárias e para a dissolução.VII – a forma de gestão administrativa e de aprovação das respectivas contas. (Incluído pela Lei nº 11.127, de 2005)Art. 55. Os associados devem ter iguais direitos, mas o estatuto poderá instituir categorias com vantagens especiais.Art. 56. A qualidade de associado é intransmissível, se o estatuto não dispuser o contrário.Parágrafo único. Se o associado for titular de quota ou fração ideal do patrimônio da associação, a transferência daquela não importará, de per si, na atribuição da qualidade de associado ao adquirente ou ao herdeiro, salvo disposição diversa do estatuto.Art. 57. A exclusão do associado só é admissível havendo justa causa, assim reconhecida em procedimento que assegure direito de defesa e de recurso, nos termos previstos no estatuto. (Redação dada pela Lei nº 11.127, de 2005)Parágrafo único.(Revogado pela Lei nº 11.127, de 2005)Art. 58. Nenhum associado poderá ser impedido de exercer direito ou função que lhe tenha sido legitimamente conferido, a não ser nos casos e pela forma previstos na lei ou no estatuto.Art. 59. Compete privativamente à assembléia geral: (Redação dada pela Lei nº 11.127, de 2005)I – destituir os administradores; (Redação dada pela Lei nº 11.127, de 2005)II – alterar o estatuto. (Redação dada pela Lei nº 11.127, de 2005)Parágrafo único. Para as deliberações a que se referem os incisos I e II deste artigo é exigido deliberação da assembléia especialmente convocada para esse fim, cujo quorum será o estabelecido no estatuto, bem como os critérios de eleição dos administradores. (Redação dada pela Lei nº 11.127, de 2005)Art. 60. A convocação dos órgãos deliberativos far-se-á na forma do estatuto, garantido a 1/5 (um quinto) dos associados o direito de promovê-la. (Redação dada pela Lei nº 11.127, de 2005)Art. 61. Dissolvida a associação, o remanescente do seu patrimônio líquido, depois de deduzidas, se for o caso, as quotas ou frações ideais referidas no parágrafo único do art. 56, será destinado à entidade de fins não econômicos designada no estatuto, ou, omisso este, por deliberação dos associados, à instituição municipal, estadual ou federal, de fins idênticos ou semelhantes.§ 1o Por cláusula do estatuto ou, no seu silêncio, por deliberação dos associados, podem estes, antes da destinação do remanescente referida neste artigo, receber em restituição, atualizado o respectivo valor, as contribuições que tiverem prestado ao patrimônio da associação.§ 2o Não existindo no Município, no Estado, no Distrito Federal ou no Território, em que a associação tiver sede, instituição nas condições indicadas neste artigo, o que remanescer do seu patrimônio se devolverá à Fazenda do Estado, do Distrito Federal ou da União.

CAPÍTULO IIIDAS FUNDAÇÕES

Art. 62. Para criar uma fundação, o seu instituidor fará, por escritura pública ou testamento, dotação especial de bens livres, especificando o fim a que se destina, e declarando, se quiser, a maneira de administrá-la.Parágrafo único. A fundação somente poderá constituir-se para fins religiosos, morais, culturais ou de assistência.Art. 63. Quando insuficientes para constituir a fundação, os bens a ela destinados serão, se de outro modo não dispuser o instituidor, incorporados em outra fundação que se proponha a fim igual ou semelhante.Art. 64. Constituída a fundação por negócio jurídico entre vivos, o instituidor é obrigado a transferir-lhe a propriedade, ou outro direito real, sobre os bens dotados, e, se não o fizer, serão registrados, em nome dela, por mandado judicial.Art. 65. Aqueles a quem o instituidor cometer a aplicação do patrimônio, em tendo ciência do encargo, formularão logo, de acordo com as suas bases (art. 62), o estatuto da fundação projetada, submetendo-o, em seguida, à aprovação da autoridade competente, com recurso ao juiz.Parágrafo único. Se o estatuto não for elaborado no prazo assinado pelo instituidor, ou, não havendo prazo, em cento e oitenta dias, a incumbência caberá ao Ministério Público.Art. 66. Velará pelas fundações o Ministério Público do Estado onde situadas.§ 1o Se funcionarem no Distrito Federal, ou em Território, caberá o encargo ao Ministério Público Federal. (Vide ADIN nº 2.794-8)

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§ 2o Se estenderem a atividade por mais de um Estado, caberá o encargo, em cada um deles, ao respectivo Ministério Público.Art. 67. Para que se possa alterar o estatuto da fundação é mister que a reforma:I - seja deliberada por dois terços dos competentes para gerir e representar a fundação;II - não contrarie ou desvirtue o fim desta;III - seja aprovada pelo órgão do Ministério Público, e, caso este a denegue, poderá o juiz supri-la, a requerimento do interessado.Art. 68. Quando a alteração não houver sido aprovada por votação unânime, os administradores da fundação, ao submeterem o estatuto ao órgão do Ministério Público, requererão que se dê ciência à minoria vencida para impugná-la, se quiser, em dez dias.Art. 69. Tornando-se ilícita, impossível ou inútil a finalidade a que visa a fundação, ou vencido o prazo de sua existência, o órgão do Ministério Público, ou qualquer interessado, lhe promoverá a extinção, incorporando-se o seu patrimônio, salvo disposição em contrário no ato constitutivo, ou no estatuto, em outra fundação, designada pelo juiz, que se proponha a fim igual ou semelhante.

TÍTULO IIIDo Domicílio

Art. 70. O domicílio da pessoa natural é o lugar onde ela estabelece a sua residência com ânimo definitivo.Art. 71. Se, porém, a pessoa natural tiver diversas residências, onde, alternadamente, viva, considerar-se-á domicílio seu qualquer delas.Art. 72. É também domicílio da pessoa natural, quanto às relações concernentes à profissão, o lugar onde esta é exercida.Parágrafo único. Se a pessoa exercitar profissão em lugares diversos, cada um deles constituirá domicílio para as relações que lhe corresponderem.Art. 73. Ter-se-á por domicílio da pessoa natural, que não tenha residência habitual, o lugar onde for encontrada.Art. 74. Muda-se o domicílio, transferindo a residência, com a intenção manifesta de o mudar.Parágrafo único. A prova da intenção resultará do que declarar a pessoa às municipalidades dos lugares, que deixa, e para onde vai, ou, se tais declarações não fizer, da própria mudança, com as circunstâncias que a acompanharem.Art. 75. Quanto às pessoas jurídicas, o domicílio é:I - da União, o Distrito Federal;II - dos Estados e Territórios, as respectivas capitais;III - do Município, o lugar onde funcione a administração municipal;IV - das demais pessoas jurídicas, o lugar onde funcionarem as respectivas diretorias e administrações, ou onde elegerem domicílio especial no seu estatuto ou atos constitutivos.§ 1o Tendo a pessoa jurídica diversos estabelecimentos em lugares diferentes, cada um deles será considerado domicílio para os atos nele praticados.§ 2o Se a administração, ou diretoria, tiver a sede no estrangeiro, haver-se-á por domicílio da pessoa jurídica, no tocante às obrigações contraídas por cada uma das suas agências, o lugar do estabelecimento, sito no Brasil, a que ela corresponder.Art. 76. Têm domicílio necessário o incapaz, o servidor público, o militar, o marítimo e o preso.Parágrafo único. O domicílio do incapaz é o do seu representante ou assistente; o do servidor público, o lugar em que exercer permanentemente suas funções; o do militar, onde servir, e, sendo da Marinha ou da Aeronáutica, a sede do comando a que se encontrar imediatamente subordinado; o do marítimo, onde o navio estiver matriculado; e o do preso, o lugar em que cumprir a sentença.Art. 77. O agente diplomático do Brasil, que, citado no estrangeiro, alegar extraterritorialidade sem designar onde tem, no país, o seu domicílio, poderá ser demandado no Distrito Federal ou no último ponto do território brasileiro onde o teve.Art. 78. Nos contratos escritos, poderão os contratantes especificar domicílio onde se exercitem e cumpram os direitos e obrigações deles resultantes.

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Capítulo 4: Dos Fatos Jurídicos

Dos negócios jurídicos Conceito

Fatos jurídicos são os acontecimentos em virtude dos quais as relações de direito nascem e se extinguem. Todos os acontecimentos suscetíveis de produção, aquisição, alienação, modificação ou extinção de direitos são caracterizados como fatos jurídicos Atividade humana ou natureza (v.g. morte, nascimento)

Humanos podem ser lícitos (conforme a lei; atos jurídicos) ou ilícitos (violam a lei) Os fatos da natureza capazes de gerar relações jurídicas são denominados “fatos jurídicos em sentido estrito” e são espécies

do gênero “fatos jurídicos”. Os fatos jurídicos em sentido estrito não envolvem qualquer ato humano, já que provêm de forças alheias à atuação do homem

Negócio jurídico refere-se unicamente às operações jurídicas Vontade humana Também os atos ilícitos geram efeitos jurídicos. Todo aquele que causar danos a outrem, seja por conduta dolosa ou culposa, é

obrigado a repará-los. O ato ilícito é fonte de obrigação reparação

Da representação A representação é uma espécie de cooperação jurídica pela qual pode intervir no negócio alguém que nele seja interessado,

mas intervenha em nome e no interesse de outrem. Em outros termos, a representação é a atuação jurídica em nome de outrem, sobre quem irão recair as conseqüências negociais Ativa ou passiva Lei ou vontade Anulável o negócio jurídico que o representante celebrar consigo mesmo Pode haver cláusula em causa própria

Representante deve agir no interesse do representado. Se concluir o negócio em conflito com o interesse deste, o ato é anulável desde que o terceiro tenha ou deva ter conhecimento de tal fato. prazo decadencial de 180 dias

Representante deve provar sua condição, sob pena de arcar com as conseqüências do ato Na representação legal, o representado não pode se opor à atuação do representante, ainda que dela discorde Representação é diferente de mandato Art. 177. A anulabilidade não tem efeito antes de julgada por sentença, nem se pronuncia de ofício; só os interessados a podem

alegar, e aproveita exclusivamente aos que a alegarem, salvo o caso de solidariedade ou indivisibilidade. Representação aparente simulador responde pelo negócio jurídico

Características do negócio jurídico Negócio jurídico é uma espécie do gênero “fato jurídico”. É um ato decorrente da vontade humana, lícito, capaz de gerar efeitos

na órbita do direito. Trata-se de uma declaração volitiva endereçada ao alcance de resultados previstos no ordenamento jurídico A diferença entre o negócio jurídico e o ato jurídico é que, no primeiro, a parte ou as partes podem calcular e planejar os efeitos

(v.g. testamento, contrato, pacto antenupcial), enquanto no segundo os efeitos decorrem naturalmente do ato (v.g. renúncia, aceitação de herança, endosso de título de crédito etc.) Ato jurídico strictu sensu efeito mesmo que não desejado

Pessoas que figuram nos negócio jurídico são as partes Vontade de cada um, estando conforme aquela dos demais, é denominada “consentimento” similitude de vontades

É possível que o negócio jurídico se aperfeiçoe pela vontade de apenas uma pessoa: testamento Tanto o negócio jurídico como o ato jurídico stricto sensu inserem-se na categoria geral dos atos jurídicos, vale dizer, dos

comportamentos voluntários que tendem a criar, modificar ou extinguir direitos

Classificação dos Negócios Jurídicos Instantâneos ou de formação sucessiva (atos sucessivos intercorrentes podem produzir certos efeitos; o negócio jurídico só o faz

quando todos tiverem sido praticados) Divisíveis certos poderes, deveres ou relações podem receber tratamento jurídico distinto indivisíveis conteúdo forma uma

unidade jurídica incindível Pode decorrer da lei, da natureza do negócio jurídico ou da vontade das partes

Unilaterais, bilaterais ou multilaterais Onerosos (contraprestação) e gratuitos (não há contraprestação) Inter vivos (efeitos ainda durante a vida da parte) ou mortis causa Formais (lei impõe uma forma ou solenidade a ser observada, sob pena de nulidade) ou não-formais

No direito atual, prevalece o princípio da liberdade da forma

Elementos pressupostos do negócio jurídico Essenciais (genéricos e específicos), naturais e acidentais

Essenciais : falta gera nulidade do negócio jurídico Naturais : decorrem da própria natureza do negócio jurídico (expressamente previstos e disciplinados pelo ordenamento jurídico

para prevalecer no silencia das partes) Acidentais : opcionais (partes podem ou não prevê-los; ausência não prejudica o negócio jurídico condição, termo e encargo)

Elementos essenciais Genéricos : determinam a validade de qualquer negócio jurídico agente capaz, objeto lícito, possível, determinado ou determinável,

e forma prescrita ou não defesa em lei Específicos: referem-se a um negócio jurídico determinado (preço na compra e venda) Pode-se situar o negócio jurídico nos planos da existência, da validade e da eficácia

Se falta elemento estrutural, não existe Se falta elemento essencial, existe, mas não é válido Pode existir e ser válido, mas com efeitos postergados para o futuro (testamento)

Essenciais : vontade humana; idoneidade do objeto em relação ao negócio que se tem em vista (hipoteca só de bem imóvel); forma A inobservância dos pressupostos e requisitos pode conduzir, conforme o caso, à inexistência ou à invalidade do negócio jurídico. A

invalidade, por sua vez, é divida em nulidade ou anulabilidade, conforme o vulto do interesse atingido: social ou individual

Causa do negócio jurídico

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Doutrina é controversa O Código Civil não inclui a causa entre os requisitos do negócio jurídico (art. 104 - Art. 104. A validade do negócio jurídico requer: I -

agente capaz; II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável; III - forma prescrita ou não defesa em lei.). Apenas dispõe que o negócio jurídico é nulo quando seu motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito (art. 166, III)

Da vontade Precisa observar limites e não ser viciada, além de existir Legitimação

Capacidade é aptidão intrínseca da pessoa para realização de atos da vida civil; enquanto legitimação é a aptidão para atuar em negócios jurídicos que tenham determinado objeto, em virtude de uma relação em que se encontra ou se coloca o interessado em face do objeto do ato

Na legitimação, importa a posição da pessoa em determinada situação negocial, quanto à outra pessoa, certos bens ou certos interesses (curador, juiz, notário)

Pode ocorrer, ainda, que a vontade seja viciada: a pessoa está no gozo de suas faculdades mentais, é um agente capaz, mas um fator interno ou externo influencia o processo de formação da vontade, levando o agente a realizar um negócio jurídico que não corresponde ao efetivamente querido

Declaração de vontade ou consentimento Vontade é um elemento essencial do negócio jurídico. É exteriorizada ou expressada por declaração, de forma que os elementos

volitivos compreendem não só a vontade propriamente dita, mas também a vontade de declarar e a vontade de emitir o teor da declaração. O negócio jurídico deve corresponder efetivamente à vontade da parte, seja no que se refere à sua declaração, seja no que tange ao seu conteúdo

Para ser válida, vontade deve ser declarada Expressa ou tácita (escrito, verbalmente, sinal ou simples conduta omissiva) Nem sempre se admite a declaração tácita; CC admite quando a lei não exigir que seja expressa Tolerância do credor é uma forma de declaração tácita reconhecida (atos reiterados) Silêncio é meio, desde que previsto em lei (não vale como confissão)

Discrepância entre vontade e declaração Vontade e declaração de vontade são coisas diferentes Não ocorrem em um mesmo momento. Nem sempre a vontade se forma em um mesmo instante: normalmente, o agente, antes de

formar e concretizar sua vontade, busca conhecer o bem de que precisa ou deseja e analisar as vantagens e desvantagens do negócio jurídico pretendido. É o conhecimento consciente do bem que atrai a vontade, daí se falar que o consentimento, para que seja válido, deve ser dado com prévio conhecimento da causa

Para resolver o conflito entre a vontade interna e a vontade declarada, a doutrina oferece várias soluções, que podem ser resumidas em grandes teorias Subjetiva : prevalece a vontade sobre a declaração Declaração : vale a vontade externada Responsabilidade : mesmo que não reflita a vontade real, a manifestação de vontade tem efeito obrigatório quando a

disparidade entre ela e o querer verdadeiro decorrer de culpa ou dolo do declarante. Em tal caso, a parte vincula-se ao negócio jurídico, ainda que não desejasse realmente, já que é responsável pelo desacordo entre o que disse e o que quis

No nosso ordenamento jurídico, se a vontade discrepa da declaração, é esta que prevalece; mas tal presunção é relativa (Art. 110. A manifestação de vontade subsiste ainda que o seu autor haja feito a reserva mental de não querer o que manifestou, salvo se dela o destinatário tinha conhecimento.) Segundo a doutrina, o negócio jurídico pode também ser anulado se o destinatário podia descobrir a discrepância entre a

vontade interna e a declarada, se tivesse atuado com mediana diligência

Os limites da vontade: a ordem pública, os bons costumes e as função social do contrato Art. 104. A validade do negócio jurídico requer: II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável; Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato. Ordem pública : princípios jurídicos e privados, políticos, morais e econômicos que são absolutamente obrigatórios para a

conservação da ordem social Normas de ordem pública dirigem-se a todos os cidadãos, são imperativas

Lei 8884/94 - Art. 20. Constituem infração da ordem econômica, independentemente de culpa, os atos sob qualquer forma manifestados, que tenham por objeto ou possam produzir os seguintes efeitos, ainda que não sejam alcançados:I - limitar, falsear ou de qualquer forma prejudicar a livre concorrência ou a livre iniciativa;II - dominar mercado relevante de bens ou serviços;III - aumentar arbitrariamente os lucros;IV - exercer de forma abusiva posição dominante.

Interesse social deve preponderar; contrato deve favorecer o progresso social Deve representar equidade

Objeto lícito, idôneo, determinado ou determinável Só é idôneo o lícito, determinado ou determinável O objeto do negócio jurídico é a operação visada pelo interessado, ou interessados. Em um sentido imediato, é a própria prestação

prevista pelas partes (v.g. compra e venda). Em sentido mediato, é o bem objeto dessa prestação (v.g. veículo). Para que o negócio jurídico seja válido, o objeto (mediato e imediato) deve ser válido

É possível quando for realizado de acordo com as forças humanas e com observância do ordenamento jurídico. A possibilidade, portanto, deve ser física e jurídica. É considerado fisicamente possível tudo aquilo que pode ser realizado de acordo com as regras da natureza e como engenho humano. Ao contrário, é impossível o objeto que exceder tais regras e limites. Apenas a impossibilidade absoluta e perpétua do objeto invalida o negócio jurídico Absoluta : atinge qualquer pessoa, independente das circunstâncias Relativa : atinge certa ou certas pessoas

Impossibilidade jurídica diz respeito à compatibilidade do objeto, ou seja, da prestação, com o ordenamento jurídico Inválidos os negócios jurídicos que violam a lei, a moral e a ordem pública

Devem também ser delineados os contornos do negócio jurídico e os bens sobre os quais incide Pode ser válido quando se refira a objeto futuro, ainda não existente (sempre sujeito a condição – sujeito a evento futuro e

incerto – ou termo – certeza da existência superveniente)

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Evento futuro pode recair sobre coisa esperada (pactum de re sperata) ou sobre simples esperança (alea, v.g. seguros)

Da forma do negócio jurídico Introdução

Negócio jurídico é aperfeiçoado com a declaração de vontade Manifestação deve ser qualificada; é a forma que dá corpo e existência ao ato volitivo do agente do negócio jurídico; ela

também prova a existência do ato ou negócio jurídico As partes podem escolher a forma, mas em alguns casos ela é imposta pela lei

Forma e prova Forma e prova não são sinônimos

Categorias de negócio jurídico De forma livre ou de forma especial ou solene Art. 109. No negócio jurídico celebrado com a cláusula de não valer sem instrumento público, este é da substância do ato. Para determinados negócios jurídicos, há opção por mais de uma forma: negócio jurídico de forma plural testamento

(público, cerrado ou particular)

Escritura pública Fixa materialmente e de modo permanente a declaração de vontade

Vontade das partes e não do notário

Negócios jurídicos que exigem forma especial Art. 108. Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial à validade dos negócios jurídicos que visem à

constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior a trinta vezes o maior salário mínimo vigente no País O que importa não é o valor do direito real imobiliário, mas sim o valor do imóvel sobre o qual recai

Art. 227. Salvo os casos expressos, a prova exclusivamente testemunhal só se admite nos negócios jurídicos cujo valor não ultrapasse o décuplo do maior salário mínimo vigente no País ao tempo em que foram celebrados. Parágrafo único. Qualquer que seja o valor do negócio jurídico, a prova testemunhal é admissível como subsidiária ou complementar da prova por escrito.

Atos constitutivos de direitos reais sobre imóveis Art. 108 também para servidão, usufruto, hipoteca e anticrese

Exceções: Art. 1.369. O proprietário pode conceder a outrem o direito de construir ou de plantar em seu terreno, por tempo determinado, mediante escritura pública devidamente registrada no Cartório de Registro de Imóveis. Parágrafo único. O direito de superfície não autoriza obra no subsolo, salvo se for inerente ao objeto da concessão. - Art. 1.417. Mediante promessa de compra e venda, em que se não pactuou arrependimento, celebrada por instrumento público ou particular, e registrada no Cartório de Registro de Imóveis, adquire o promitente comprador direito real à aquisição do imóvel.

SFH: hipoteca pode ser por escrito particular, com força de escritura pública

Transferência de direitos reais imobiliários Art. 541. A doação far-se-á por escritura pública ou instrumento particular. Parágrafo único. A doação verbal será válida, se,

versando sobre bens móveis e de pequeno valor, se lhe seguir incontinenti a tradição. deve ser interpretado em conjunto com o art. 108

Modificação de direitos reais imobiliários Modificação de hipoteca e de servidão, instituição de condomínio especial Divisão de imóvel sujeito a condomínio comum escritura pública ou particular homologado pelo juiz

Renúncia de direito real sobre imóvel Aplica-se o art. 108

Outras ocorrências da escritura pública Pacto antenupcial, cessão de direitos hereditários, contrato de constituição de renda Contrato de mandato pode ser celebrado por instrumento público ou particular. Mas como se trata de contrato-meio, deve-se

observar a forma do contrato fim Art. 657. A outorga do mandato está sujeita à forma exigida por lei para o ato a ser praticado. Não se admite mandato verbal

quando o ato deva ser celebrado por escrito. Art. 126, Código Civil

Dos defeitos do negócio jurídico Introdução

Anuláveis vício: erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão e fraude contra credores Vícios de vontade: erro, dolo, coação e estado de perigo Vícios sociais: fraude contra credores e simulação

Simulação: causa de nulidade (nulo de pleno direito)

Erro ou ignorância Art. 138. São anuláveis os negócios jurídicos, quando as declarações de vontade emanarem de erro substancial que poderia

ser percebido por pessoa de diligência normal, em face das circunstâncias do negócio. Art. 139. O erro é substancial quando:I - interessa à natureza do negócio, ao objeto principal da declaração, ou a alguma das

qualidades a ele essenciais;II - concerne à identidade ou à qualidade essencial da pessoa a quem se refira a declaração de vontade, desde que tenha influído nesta de modo relevante;

“Erro” é idéia falsa da realidade, que leva a uma manifestação da vontade diversa daquela que existiria se a pessoa conhecesse melhor a realidade Discrepância entre vontade interna e declaradas por erro substancial e escusável negócio jurídico anulável

Substancial : importante (parte não realizaria o negócio jurídico) Ele é substancial quando : art. 139, acima Natureza: parte pensa estar celebrando um contrato, mas está assumindo um contrato de outra natureza

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Objeto: diferença do objeto principal que motivou a declaração de vontade e do objeto de fato Pessoa: Pode ser concernente à identidade ou à qualidade essencial da pessoa a quem se refira a declaração

de vontade, desde que tenha influído nesta de modo relevante. Pode ocorrer que o doador transfira determinado bem de seu patrimônio para premiar o donatário, por acreditar que este lhe salvou a vida, mas quem o fez foi outra pessoa. Nesse caso, o negócio jurídico é anulável

Direito: desde que não implique recusa à aplicação da lei for motivo único ou principal do negócio jurídico, também é suscetível de causar invalidade do ato. É o caso, p. ex., de uma parte que compra um terreno para construir um edifício, desconhecendo a existência de lei municipal que proíbe tal tipo de construção. Ainda que o vendedor desconheça a restrição legal, o contrato poderá ser anulado por erro de direito do comprador

Acidental : secundário (parte ainda realizaria) O falso motivo também pode dar causa à anulação do ato, se ele é causa essencial da realização do negócio. É o caso da

venda de estabelecimento comercial em que a razão determinante é o grande movimento de negócios: neste caso o erro é substancial e não meramente acidental

Erro deve ser sempre escusável (não pode haver negligência, imperícia ou imprudência) Juiz deve adotar como parâmetro as condições pessoais do declarante e as circunstâncias concretas do negócio

jurídico: grau de instrução, idade, conhecimento do objeto, comportamentos das partes, etc. Pessoa que manifestou vontade viciada deve comprovar que a outra parte sabia do erro, ou ao menos saberia, se

tivesse atuado com diligência normal (art. 138, Código Civil) Art. 144. O erro não prejudica a validade do negócio jurídico quando a pessoa, a quem a manifestação de vontade se

dirige, se oferecer para executá-la na conformidade da vontade real do manifestante.

Dolo É o expediente astucioso empregado para induzir alguém à prática de um ato, que o prejudica, e aproveita ao autor do dolo ou

a terceiro. Ao contrário do que ocorre na figura do erro, em que o declarante se engana sozinho, no dolo a falsa percepção da realidade é induzida por outrem

Só dolo principal ou essencial é causa de anulabilidade do ato (não tem efeito se, por outro modo, a parte também teria anuído)

Dolus bônus (mero exagero) é diferente de dolus malus (embuste; contrário à moral) Comissivo (conduta positiva da parte) é diferente de passivo (silêncio sobre informação relevante) Art. 147. Nos negócios

jurídicos bilaterais, o silêncio intencional de uma das partes a respeito de fato ou qualidade que a outra parte haja ignorado, constitui omissão dolosa, provando-se que sem ela o negócio não se teria celebrado.

Dolo de representante legal Art. 149. O dolo do representante legal de uma das partes só obriga o representado a responder civilmente até a importância do

proveito que teve; se, porém, o dolo for do representante convencional, o representado responderá solidariamente com ele por perdas e danos. representante legal é diferente de representante convencional

Coação É todo ato ou conduta que incuta na parte fundado temor de dano iminente e considerável à sua pessoa, à sua família, ou aos

seus bens, levando-a a manifestar vontade que não expressaria se não fosse coagida Art. 151. A coação, para viciar a declaração da vontade, há de ser tal que incuta ao paciente fundado temor de dano

iminente e considerável à sua pessoa, à sua família, ou aos seus bens. Apenas o dano psicológico caracteriza a coação. Considera-se coação a ameaça ou pressão séria exercida sobre a pessoa

para forçá-la a praticar um ato, contrariamente à sua vontade Coação absoluta = violência física inexiste vontade (negócio jurídico inexistente) Coação moral: escolha entre a possibilidade do mal e a declaração

Ameaça deve ser verdadeira e séria Mal deve ser iminente e atual, e não futuro Art. 153. Não se considera coação a ameaça do exercício normal de um direito, nem o simples temor reverencial Deve haver relação de causalidade com o negócio jurídico

Pode estender-se a ameaça a pessoa dileta Juiz deve avaliar o caso concreto

Art. 152. No apreciar a coação, ter-se-ão em conta o sexo, a idade, a condição, a saúde, o temperamento do paciente e todas as demais circunstâncias que possam influir na gravidade dela.

Coação vicia o ato ainda que praticada por terceiro, desde que dela tenha ou deva ter conhecimento a parte a quem aproveite. Ao contrário, se a parte não tiver conhecimento da coação, o negócio jurídico subsiste, podendo o paciente pleitear perdas e danos contra o autor da coação

Estado de perigo A lei não se preocupa que o contrato seja objetivamente “justo” ou “equitativo”, vale dizer, que as prestações sejam exatamente

iguais ou possuam um mesmo valor econômico. A lei não fixa critérios objetivos que assegurem a troca justa, a equitativa proporção entre a prestação e a contraprestação (a não ser no caso de setores do mercado submetidos a preço controlado) e, com maior razão, não permite ao juiz modificar o equilíbrio econômico fixado pelo contrato, retificando a proporção entre os valores trocados ainda que, porventura, lhe pareça econômica, social ou moralmente injustificada Pessoa deve estar livre de influência externa que a leve a celebrar um contrato que sabe ser desvantajoso

Quando estas regras são violadas, pode haver controle de mérito da adequação entre a prestação e a contraprestação

É o que ocorre nos casos de estado de perigo e de lesão. No estado de perigo, por exemplo, a parte, premida pela necessidade de salvar-se, ou pessoa de sua família, do grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação extremamente onerosa Dois elementos:

De natureza processual: que o contrato tenha se concluído sob pressão de circunstâncias extremamente graves De natureza substancial: é preciso que os termos de troca sejam iníquos ou gravemente desproporcionais,

prejudicando a parte que sofre aquelas circunstâncias

Lesão Ocorre quando uma pessoa, sob premente necessidade ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente

desproporcional ao valor da pretensão proposta

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Luiz Guilherme Loureiro – Curso Completo de Direito Civil 24

Código CivilArt. 157. Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta.§ 1o Aprecia-se a desproporção das prestações segundo os valores vigentes ao tempo em que foi celebrado o negócio jurídico.§ 2o Não se decretará a anulação do negócio, se for oferecido suplemento suficiente, ou se a parte favorecida concordar com a redução do proveito.

Ela governa o contrato bilateral oneroso. O remédio alcança a toda convenção que reúna essas exigências, inclusive o contrato de trabalho, e compreende também o contrato preliminar

Mera desigualdade entre as obrigações, por si só, não demonstra a lesão: para ser configurada a lesão é preciso que exista algo além da manifesta ou chocante desigualdade das obrigações, que é justamente a exploração de um dos contratantes pelo outro, que se aproveita da situação de necessidade ou inexperiência do primeiro

Art. 478. Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma das partes se tornar excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução do contrato. Os efeitos da sentença que a decretar retroagirão à data da citação. lesão superveniente não anula o contrato Só se pode falar em lesão quando existe contraprestação e for possível exigir a equivalência entre as prestações

Aplica-se a contrato comutativo e aleatório

Elementos da lesão Requisito

Contrato só pode ser anulado por lesão se houver a existência de um contratante cuja situação de necessidade ou inexperiência seja aproveitada pelo autor da lesão, que exige uma prestação equivalente. A lesão deve existir no momento da ação e não devem ter transcorrido mais de quatro anos da data em que foi celebrado o contrato

Elemento objetivo : vantagem patrimonial evidentemente desproporcional e sem justificação deve ser manifesta, induvidosa, chocante e exagerada

Cabe ao juiz a análise, à luz do caso concreto Equação benefício-sacrifício

Parte prejudicada deve se encontrar ainda em uma situação de necessidade ou apresenta inexperiência. Necessidade : penúria falta ou carência das coisas, notadamente daquelas que são importantes para a sobrevivência digna

da pessoa (diferente do estado de perigo) Também inclui estado de espírito, traduzido por situação de angústia ou desespero Exclui bens de luxou ou que não sejam de extrema necessidade

Inexperiência : esta definição aproxima a lesão da definição conceitual de erro ou ignorância. Mas, no caso da lesão, ao contrário do ocorre na figura do erro, esta inexperiência é aproveitada pelo contratante mais forte, capaz ou conhecedor, em detrimento do débil ou inexperiente, sem que se configure o erro ou mesmo o dolo. Haveria lesão, por exemplo, na venda de um computador com configuração ultrapassada a um camponês que, embora anunciado corretamente (modelo, capacidade de memória, periféricos, etc.), é vendido por um preço exorbitante, aproveitando-se da inexperiência do comprador

A figura da lesão procura tutelar pessoas de escassa cultura ou de pouca idade, podendo ocorrer também em determinados tipos de contratos que exigem conhecimentos técnicos ou de costumes e usos locais, que não são acessíveis a um dos contratantes

Deve haver um sujeito ativo que se aproveite da situação Não há necessidade da vontade de prejudicar ou que proceda de modo abusivo; basta que tenha conhecimento da

situação de necessidade ou inexperiência basta o mero aproveitamento de um pelo outro A ocorrência de lesão autoriza a parte prejudicada a pleitear a anulação do negócio jurídico. Não será, entretanto, anulado, se a

parte beneficiada oferecer suplemento suficiente ou, quando for o caso, redução do proveito. Em suma, quando com a anuência da parte favorecida, for possível reequilibrar o negócio jurídico, ele não será anulado

Fraude contra credores Como regra geral, responde o devedor com seus bens pelos débitos contraídos prisão só no caso de pensão alimentícia Pode haver penhor, anticrese (A anticrese é um instituto civil, espécie de direito real de garantia, ao lado do penhor e da

hipoteca, no qual o devedor, ou representante deste, entrega um bem imóvel ao credor, para que os frutos deste bem compensem a dívida. É sempre originado de um contrato (negócio jurídico), não existe anticrese originada pela lei, como ocorre nos outros dois institutos citados anteriormente. ou hipoteca)

Quando não há, o credor – quirografário – não dispões de garantia específica e de qualquer privilégio, contando apenas com o patrimônio, que é garantia comum a todos os credores

Código CivilArt. 158. Os negócios de transmissão gratuita de bens ou remissão de dívida, se os praticar o devedor já insolvente, ou por eles reduzido à insolvência, ainda quando o ignore, poderão ser anulados pelos credores quirografários, como lesivos dos seus direitos.§ 1o Igual direito assiste aos credores cuja garantia se tornar insuficiente.§ 2o Só os credores que já o eram ao tempo daqueles atos podem pleitear a anulação deles.

Doutrina: artifício malicioso para prejudicar 3ºs Mas também se aplica aos contratos gratuitos, não se exigindo má-fé ou propósito deliberado de prejudicar os credores

Contratos onerosos : Elemento objetivo (eventos domini) : todo ato prejudicial ao credor que torne o devedor insolvente ou que tenha sido

praticado em estado de insolvência Elemento subjetivo (concilius fraudis) : má-fé, intuito malicioso de prejudicar adquirente deve ter ciência da situação de

insolvência do fraudador Na transmissão gratuita de bens e na remissão de dívida, o contrato é anulado de qualquer forma

Código CivilArt. 159. Serão igualmente anuláveis os contratos onerosos do devedor insolvente, quando a insolvência for notória, ou houver motivo para ser conhecida do outro contratante.

Ação paulianaCódigo CivilArt. 160. Se o adquirente dos bens do devedor insolvente ainda não tiver pago o preço e este for, aproximadamente, o corrente, desobrigar-se-á depositando-o em juízo, com a citação de todos os interessados.Parágrafo único. Se inferior, o adquirente, para conservar os bens, poderá depositar o preço que lhes corresponda ao valor real.

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Para evitar a anulação do contrato, o adquirente, se ainda não tiver pago o preço, poderá depositá-lo em juízo, citando os interessados, vale dizer, o credor ou credores e o devedor alienante. Se o preço for inferior ao corrente no mercado, o adquirente somente poderá conservar o bem adquirido se depositar o preço correspondente ao valor real da coisa

Também há fraude quando o devedor insolvente pagar o credor quirografário (É o credor que não possui direito real de garantia, seus créditos estão representados por títulos advindos das relações obrigacionais. Ex: os cheques, as duplicatas, as promissórias.) dívida ainda não vencida

Também há fraude no caso de o devedor já insolvente conceder garantia real a algum credorCódigo CivilArt. 163. Presumem-se fraudatórias dos direitos dos outros credores as garantias de dívidas que o devedor insolvente tiver dado a algum credor.

Art. 164. Presumem-se, porém, de boa-fé e valem os negócios ordinários indispensáveis à manutenção de estabelecimento mercantil, rural, ou industrial, ou à subsistência do devedor e de sua família. Também os destinados à subsistência do devedor e sua família

Ação pauliana ou revocatória Tem por objetivo a desconstituição do negócio jurídico praticado em fraude contra o credor, requerendo a anulação do ato

fraudulento Se o devedor conceder, fraudulentamente, garantia de dívida ou remissão desta, a sentença desconstitui por si só o ato. Se

houve transmissão de direito real, ou ainda pagamento de dívida não vencida, a restituição da coisa ou do dinheiro é implicitamente cumulada. A coisa será restituída, quer se encontre em poder de terceiro, contra o qual se poderá executar a sentença, uma vez que esta contém o elemento condenatório à restituição

Eficácia erga omnes restituição ao estado anterior ao negócio jurídico fraudulento Legitimidade ativa – credor quirografário e também credor com privilégio (art. 158, Código Civil) Legitimidade passiva – devedor e também quem celebrou o contrato fraudulento, bem como terceiros que agiram com má-fé

ambos são réus e devem ser citadosCódigo de Processo Civil        Art. 94.  A ação fundada em direito pessoal e a ação fundada em direito real sobre bens móveis serão propostas, em regra, no foro do domicílio do réu.        § 1o  Tendo mais de um domicílio, o réu será demandado no foro de qualquer deles.        § 2o  Sendo incerto ou desconhecido o domicílio do réu, ele será demandado onde for encontrado ou no foro do domicílio do autor.        § 3o  Quando o réu não tiver domicílio nem residência no Brasil, a ação será proposta no foro do domicílio do autor. Se este também residir fora do Brasil, a ação será proposta em qualquer foro.        § 4o  Havendo dois ou mais réus, com diferentes domicílios, serão demandados no foro de qualquer deles, à escolha do autor.

Prescrição em 10 anos, da data em que se torna público o ato fraudulento

SimulaçãoCódigo CivilArt. 167. É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e na forma.§ 1o Haverá simulação nos negócios jurídicos quando:I - aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais realmente se conferem, ou transmitem;II - contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira;III - os instrumentos particulares forem antedatados, ou pós-datados.§ 2o Ressalvam-se os direitos de terceiros de boa-fé em face dos contraentes do negócio jurídico simulado.

Simulação é declaração falsa, enganosa, da vontade, visando dar ao negócio jurídico efetivamente desejado ou realizado uma aparência diversa, com o fito de prejudicar terceiro ou violar a lei. Os contratantes, usando de expedientes de má-fé, visam obter efeito diverso daquele que o negócio jurídico aparenta conferir

Simulação caracteriza-se pelo intencional desacordo entre a vontade interna e a vontade declarada, no sentido de criar, aparentemente, um ato jurídico que, de fato, não existe, ou então oculta, sob determinada aparência, o ato realmente querido

É conhecida pela outra parte só terceiros a desconhecem Pode ser:

Absoluta : partes não praticam nenhum negócio jurídico, apenas fingem (completa ausência de qualquer realidade) Relativa : partes pretendem, de fato, realizar um negócio jurídico prejudicial a terceiro ou fraudatório à lei, mas visando

escondê-lo ou dar-lhe aparência diversa, realizam outro negócio jurídico. Assim, existem dois negócios jurídicos, um dele é o simulado, o outro é o dissimulado, oculto sobre a casa do primeiro, mas efetivamente desejado pelas partes. Neste caso, é nulo o negócio jurídico simulado, mas é considerado válido o dissimulado, se atender os requisitos de substância e de forma

Negócio jurídico dissimulado é diferente de negócio jurídico simulado O rol do art. 167 é de numerus apertus, podendo surgir outros casos de simulação, desde que incluídos no conceito doutrinário

e que tenham por objetivo prejudicar terceiros ou fraudar a lei Podem surgir outros casos

Se não há intenção de prejudicar terceiros ou burlar a lei, não há simulação Negócio jurídico é nulo

Elementos acidentais do negócio jurídico: a condição, o termo e o encargo Não são indispensáveis, mas podem ser previstos pelas partes a fim de alterar as conseqüências do ato

Condição É o evento futuro e incerto a que se subordina o efeito do negócio jurídico, podendo impedir a produção de efeitos antes de seu

advento (condição suspensiva) ou tornar sem efeito o ajuste em virtude de seu advento (condição resolutiva) Declaração acessória de vontade, oposta à principal

São lícitas as condições não contrárias à lei, à ordem pública ou aos bons costumes. A lei proíbe as condições: Contrárias à lei ou de fazer coisa ilícita Que privarem o ato de todos os efeitos Que sujeitarem o ato ao arbítrio de uma das partes (condição puramente potestativa (só a puramente potestativa é ilícita) Que forem física ou juridicamente impossíveis, quando suspensivas Que forem incompreensíveis ou contraditórias

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Luiz Guilherme Loureiro – Curso Completo de Direito Civil 26

Condição suspensiva juridicamente impossível torna o negócio jurídico nulo; a resolutiva considera-se não escrita Não são ilícitas as condições simplesmente potestativas: embora sujeitas à manifestação de vontade de uma das partes,

dependem, ainda, de um acontecimento exterior, que independe do querer dos contratantes Também não são ilícitas com as condições mistas, que dependem da vontade de uma das partes e da vontade de um terceiro

determinado Só é ilícita a condição que depende exclusivamente do arbítrio da parte, equivalente ao capricho Condição juridicamente impossível só causa a nulidade se for suspensiva; a resolutiva considera-se não escrita, como a de não

fazer coisa impossível; a de fazer coisa impossível considera-se não escrita

Condições suspensivas e resolutivas Suspensivas: ato existe e é Valdo, mas não eficaz; direito só é adquirido quando ocorre a condição

Art. 129. Reputa-se verificada, quanto aos efeitos jurídicos, a condição cujo implemento for maliciosamente obstado pela parte a quem desfavorecer, considerando-se, ao contrário, não verificada a condição maliciosamente levada a efeito por aquele a quem aproveita o seu implemento.

Art. 126. Se alguém dispuser de uma coisa sob condição suspensiva, e, pendente esta, fizer quanto àquela novas disposições, estas não terão valor, realizada a condição, se com ela forem incompatíveis.

Lei pode determinar efeito retroativo da condição, que em regra não há Atos já praticados não são prejudicados pela condição resolutiva

Termo É o dia em que começa ou se extingue a eficácia de um negócio jurídico, isto é, trata-se de um evento futuro e certo. O termo

suspende o efeito de uma obrigação, até o momento determinado, ou seja, até o advento de um evento futuro e certo. O termo inicial (dies a quo) suspende o exercício mas não a aquisição de um direito, e o termo final (dies a quem) extingue um direito previsto no contrato, até então vigente

Encargo Encargo ou modo é uma limitação trazida a uma liberalidade. É um ônus imposto a outrem nos negócios jurídicos que envolvem

atos de liberalidade (v.g., doação e testamento), e consiste na assunção de determinado comportamento a favor do disponente, do beneficiário, de terceiro ou da sociedade. Nada impede que o doador, portanto, transfira gratuitamente a propriedade de uma fazenda para o donatário, desde que este, por sua vez, doe o apartamento de sua propriedade a uma determinada pessoa Determinação acessória que restringe a vantagem criada pelo negócio jurídico

Não se confunde com a condição. Esta atua sobre a eficácia do negócio jurídico, suspendendo ou extinguindo seus efeitos. O encargo, ao contrário, não suspende os efeitos do ato, que se torna perfeito e acabado, a não ser que o contratante expressamente diga o contrário, quando então o modo se equipara à condição suspensiva

O negócio jurídico sob encargo produz, desde logo, os efeitos que lhe são próprios, vale dizer, sua eficácia não fica condicionada à realização do modo ou encargo. Não obstante, o descumprimento do encargo pode dar ensejo à revogação da liberalidade, se não preferir o disponente executá-lo

Simples: mero voto, recomendação ou conselho Qualificado: imposição de uma obrigação jurídica, pecuniária, moral ou mista Inadimplemento pode acarretar a revogação do negócio jurídico O cumprimento dos encargos nas doações modais pode ser exigido por via judicial, pelo doador, por terceiro ou pelo Ministério

Público

Da invalidade do negócio jurídico Introdução

A ausência dos requisitos – agente capaz, objeto lícito, possível e determinado, e forma prescrita ou não defesa em lei – ou ainda a ocorrência de vício na manifestação da vontade dá ensejo à invalidade do negócio jurídico. São espécies do gênero “invalidade” a nulidade absoluta e a nulidade relativa, ou anulabilidade

Negócios jurídicos nulos (ordem pública) são diferentes dos anuláveis (motivos de interesse privado) São diversos os regimes da nulidade e da anulabilidade

Nulo não produz efeito nenhum; anulável produz efeito enquanto não for reconhecida a judicialmente a invalidade Nulidade absoluta não convalesce jamais e a qualquer momento pode ser declarada (ato nulo é imprescritível); ato

anulável convalesce com a passagem do tempo, de forma que o ato não poderá ser atacado após o decurso do prazo decadencial

Sentença que reconhece a nulidade absoluta produz efeitos erga omnes, enquanto a decisão judicial que decreta a anulação do ato anulável aproveita exclusivamente à parte que a alegar (inter partes), salvo solidariedade ou indivisibilidade

Ato nulo (nulidade absoluta) pode ser alegado por qualquer interessado e pelo Ministério Público e deve ser reconhecido de ofício pelo juiz; ato anulável (nulidade relativa) pode ser alegado apenas pelo interessado, não podendo ser pronunciado ex officio pelo juiz

Da nulidade absoluta A nulidade de pleno direito é imediata; ela golpeia mortalmente o ato logo que ele é praticado e não permite em momento algum

os seus efeitos Partes encontram-se na mesma situação anterior, como se nunca tivesse existido o negócio jurídico; ato nulo não pode ser

ratificado Nulidade não prescreve

Da nulidade relativa Não produz efeitos imediatos. O ato, apesar de viciado, existe e produz efeitos. A sentença que o anula modifica o estado

anterior das coisas Apenas a parte prejudicada pode alegar a nulidade relativa Só pode ser pronunciada em ação competente, salvo casos em que a lei admite seja oposta em defesa Partes podem saná-la, ratificando expressa ou tacitamente efeito retroativo, salvo convenção ou direito de terceiro

Tácita: quando a parte cumpre parcialmente a obrigação, embora conhecendo o vício

Casos de nulidade absoluta

Código CivilArt. 104. A validade do negócio jurídico requer:

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Luiz Guilherme Loureiro – Curso Completo de Direito Civil 27

I - agente capaz;II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável;III - forma prescrita ou não defesa em lei.

Assim, é nulo o ato praticado por incapaz, aquele cujo objeto é ilícito ou impossível, o que não observa a forma prescrita em lei ou que não se reveste da solenidade que a lei considera essencial. Também é nulo o negócio jurídico quando a lei taxativamente o declarar como tal, ou lhe negar efeito, o ato que frauda a lei. Finalmente, o novo Código Civil considera nulo de pleno direito o negócio simulado

Por outro lado, é anulável o negócio jurídico praticado por pessoa relativamente incapaz sem estar devidamente assistida e quando se observa algum vício de vontade, como o erro, dolo, coação, fraude contra credores, estado de perigo e lesão. A simulação – considerada um vício social como a fraude contra credores – é causa de nulidade absoluta do negócio jurídico

Nulidade parcial Art. 184. Respeitada a intenção das partes, a invalidade parcial de um negócio jurídico não o prejudicará na parte válida, se

esta for separável; a invalidade da obrigação principal implica a das obrigações acessórias, mas a destas não induz a da obrigação principal.

Quando o negócio jurídico for passível de desdobramento, o defeito de uma de suas partes não contamina o todo Parte principal invalida acessória, mas a acessória não invalida a principal

Efeitos da nulidade e prazo para a alegação Art. 182. Anulado o negócio jurídico, restituir-se-ão as partes ao estado em que antes dele se achavam, e, não sendo possível

restituí-las, serão indenizadas com o equivalente. Nulidade absoluta ex tunc Nulidade relativa ex nunc Art. 211. Se a decadência for convencional, a parte a quem aproveita pode alegá-la em qualquer grau de jurisdição, mas o juiz

não pode suprir a alegação. Se a parte sabia, ou devia saber, que estava negociando com pessoa incapaz, o ato pode ser anulado e, neste caso, o solvens

só pode exigir a restituição do que pagou, se provar que o pagamento reverteu em favor daquele Prazo para anular negócio jurídico viciado por erro, dolo, coação, estado de perigo ou lesão: quatro anos

Prazo decadencial: não se interrompe e não se suspende, contando a partir da data do negócio jurídico (salvo coação a partir de quando cessa)

Prazo para propor a ação também é de quatro anos quando é parte pessoa relativamente incapaz. Tal prazo tem início no dia em que cessar a incapacidade e não do dia em que foi realizado o negócio

Art. 179. Quando a lei dispuser que determinado ato é anulável, sem estabelecer prazo para pleitear-se a anulação, será este de dois anos, a contar da data da conclusão do ato.

Dos atos ilícitos Noção

É ilícito quando viola uma regra do ordenamento jurídico, de qualquer ramo do direito Não obstante, quando a pessoa faz alguma coisa vedada pela lei, ou se abstém quando a norma legal exige uma conduta ativa,

há uma violação do direito e, consequentemente, a prática de um ato ilícito. Logo, o ato ilícito pode ser conceituado como a conduta ativa ou omissiva que viola uma norma jurídica e causa prejuízo a outrem. Em outras palavras, é o ato contrário à ordem jurídica e que viola direito subjetivo individual. Cumpre ressaltar que também o exercício de um direito subjetivo pode caracterizar ato ilícito, quando exceder manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes. Essa espécie de ato ilícito é denominada “abuso de direito” e será analisada oportunamente

Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes

Elementos do ato ilícito Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda

que exclusivamente moral, comete ato ilícito Voluntário, mesmo que sem intenção de causar o dano

Quatro são os elementos do ato ilícito: a conduta danosa (elemento objetivo), a culpa ou dolo do agente (elemento subjetivo), o resultado (dano material ou moral) e o nexo causal entre a conduta e o resultado

Ação e vontade Para caracterizar o ato ilícito deve haver uma ação ou omissão voluntária (vontade) No caso de coação física irresistível, inexiste ação Tratando-se de coação moral, há conduta voluntária A voluntariedade da conduta não se confunde com a projeção da vontade sobre o resultado. O querer intencional de produzir o

resultado caracteriza o dolo, que é um elemento subjetivo do ato ilícito. No primeiro caso, a vontade é suporte físico do ato e não do resultado

O elemento subjetivo: culpa e dolo Conduta, além de voluntária, deve ser dolosa ou culposa

Intenção de produzir o resultado danoso, ou então ação com imprudência, negligência ou imperícia Dolo : intenção deliberada de causar dano a outrem pleno conhecimento da ação contrária à ordem jurídica e intenção do

dano Culpa : é a violação do dever de cuidado que todos os indivíduos devem observar na vida em sociedade, para não prejudicarem

a pessoa e bens alheios. Quem age com culpa, embora não querendo e prevendo o resultado danoso, deixa de observar o dever de cuidado e, com isso, causa dano a outrem Negligência: descuido, desídia, inércia Imprudência: conduta arriscada e irresponsável Imperícia: falta de destreza no exercício da profissão ou inobservância de regra técnica

Padrão para aferição da culpa: é considerado como parâmetro a pessoa mediana Pouco importa o grau de culpa Outras modalidades de culpa:

In eligendo: má escolha daquele a quem se confia a prática de um ato

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Luiz Guilherme Loureiro – Curso Completo de Direito Civil 28

In vigilando: falta de atenção com o procedimento de outrem In custodiendo: violação do dever de cuidado em razão da falta de cautela ou atenção em relação a uma pessoa, animal

ou objeto que esteja sob os cuidados do agente (v.g., dono responde pelos danos causados por seus cães)

Culpa concorrente Há compensação de culpas

Cada parte arca com seus prejuízos, ou eles são somados e divididos entre eles Essa regra não se aplica à relações de consumo regidas pelo CDC

Dano Para que ocorra o ato ilícito é necessária a existência de um dano

Material ou moral Sem ele, não cabe ação de indenização

Relação de causalidade entre o comportamento do agente e resultado Último elemento do ato ilícito é o nexo de causalidade entre a conduta voluntária e o resultado danoso Nexo se interrompe ou desaparece quando o procedimento do ofendido é a única causa do resultado danoso

Exclusão de ilicitudeCódigo CivilArt. 188. Não constituem atos ilícitos:I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido;II - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de remover perigo iminente.Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites do indispensável para a remoção do perigo.

Três casos de exclusão de ilicitude Legítima defesa

Indispensável para salvas os interesses do agredido Deve prevalecer o direito daquele que não deu motivo à eclosão do conflito Requisitos : a) agressão injusta, atual ou iminente; b) um direito do agredido ou de outrem, atacado ou posto em

perigo pela agressão; c) a repulsa deve ser proporcional ao ataque e necessária e suficiente para repeli-lo

Exercício regular de direito Termo direito também inclui o costume Ninguém poderá ser responsabilizado civilmente – e tampouco penalmente – pelo exercício regular de direito seu

enquanto se mantiver dentro da ordem jurídica, ainda que terceiro venha a sofrer prejuízo sem ter sido parte na ação Indivíduo deve agir de forma razoável

Estado de necessidade Tem como substractum uma situação de perigo para determinado bem jurídico, que somente pode ser salvo mediante

o sacrifício de outro bem de menor relevância. Sempre dois bens sob perigo, de forma que é impossível salvar ambas as coisas

Requisitos : a) perigo atual ou iminente; b) ameaça a direito próprio ou alheio; c) situação não provocada voluntariamente pelo agente; d) conduta exercida dentro dos limites do indispensável para a remoção do perigo

Código CivilArt. 929. Se a pessoa lesada, ou o dono da coisa, no caso do inciso II do art. 188, não forem culpados do perigo, assistir-lhes-á direito à indenização do prejuízo que sofreram.Art. 930. No caso do inciso II do art. 188, se o perigo ocorrer por culpa de terceiro, contra este terá o autor do dano ação regressiva para haver a importância que tiver ressarcido ao lesado.Parágrafo único. A mesma ação competirá contra aquele em defesa de quem se causou o dano (art. 188, inciso I).

Se o dono não for o responsável pela situação de perigo, o autor do dano deve repará-lo Quem age em estado de necessidade pode entrar com ação regressiva contra o causador Se o proprietário do bem sacrificado é o causador do perigo, não há então dever de indenizar

Do abuso do direito Noção

Teoria da relatividade: à concepção implacável e ilimitada dos direitos individuais se opõe a teoria da relatividade, que admite a possibilidade de abusos no exercício dos direitos, ainda que se trate de direitos fundamentais da pessoa humana. Direitos possuem finalidade social. O exercício do direito de forma contrária a seu espírito não constitui uso, mas sim abuso, e aquele que sofrer algum dano pode responsabilizar o titular do direito subjetivo Equidade x direito estrito Móvel e fins devem ser analisados

Novo Código Civil – é abusivo todo exercício do direito que vá contra a sua função social, ou ainda quando o agente é movido pela intenção de prejudicar terceiros ou age com má-fé Responsabilidade civil

No abuso do direito, respeita-se a letra da lei, mas se ilude seu espírito, recorrendo a atos aparentemente lícitos, mas que em si, ou sem sua combinação, perseguem um resultado proibido. O ato abusivo é executado dentro dos limites do direito, mas, como seu objetivo não é concordante com a finalidade social ou econômica da norma, deixa de ser amparado pelo ordenamento jurídico

Direito subjetivo não é absoluto Pode-se definir o abuso de direito como a ação ou omissão que, a partir de um direito subjetivo, viola ou agride um

interesse existencial ainda não tutelado por uma norma jurídica expressa. Tal ação ou omissão se caracteriza sempre que há exercício abusivo de um direito subjetivo

Abuso de direito no Código Civil Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo

seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.

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Critério objetivo não há menção à intenção do agente Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que

injustamente a possua ou detenha. § 2o São defesos os atos que não trazem ao proprietário qualquer comodidade, ou utilidade, e sejam animados pela intenção de prejudicar outrem.

Natureza jurídica do abuso de direito É ato ilícito Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites

impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.

Elementos do abuso de direito São cinco:

Uso (ou não-uso) de um direito, objetivo ou externamente legal; Violação da proibição de exercer um direito subjetivo contra os fins de sua instituição, as finalidades sociais ou

econômicas, a boa-fé e os bons costumes; Dano a um interesse juridicamente protegido; Imputação ao autor do exercício abusivo por dolo ou culpa ou por simples voluntariedade; Nexo causal entre o exercício irregular do direito e o dano

No ato ilícito viola-se um direito adquirido (lesão de direito); no ato abusivo, viola-se um interesse não expressamente protegido pelo direito (dano a um interesse)

Juiz pode assinalar o limite Ainda que não exista dano efetivo, o uso do direito pode ser considerado abusivo e determinar a produção de outro tipo de

conseqüência

Efeitos e sanção do abuso de direito Dever de indenização Parte prejudicada pode requerer ao juiz a cessação do ato abusivo; também pode mover uma ação inibitória

Da prescrição e da decadência Prescrição

É a extinção da pretensão pelo seu não-exercício no prazo fixado em lei É a extinção da pretensão, e não da ação ou do direito

Código CivilArt. 205. A prescrição ocorre em dez anos, quando a lei não lhe haja fixado prazo menor.Art. 206. Prescreve:§ 1o Em um ano:I - a pretensão dos hospedeiros ou fornecedores de víveres destinados a consumo no próprio estabelecimento, para o pagamento da hospedagem ou dos alimentos;II - a pretensão do segurado contra o segurador, ou a deste contra aquele, contado o prazo:a) para o segurado, no caso de seguro de responsabilidade civil, da data em que é citado para responder à ação de indenização proposta pelo terceiro prejudicado, ou da data que a este indeniza, com a anuência do segurador;b) quanto aos demais seguros, da ciência do fato gerador da pretensão;III - a pretensão dos tabeliães, auxiliares da justiça, serventuários judiciais, árbitros e peritos, pela percepção de emolumentos, custas e honorários;IV - a pretensão contra os peritos, pela avaliação dos bens que entraram para a formação do capital de sociedade anônima, contado da publicação da ata da assembléia que aprovar o laudo;V - a pretensão dos credores não pagos contra os sócios ou acionistas e os liquidantes, contado o prazo da publicação da ata de encerramento da liquidação da sociedade.§ 2o Em dois anos, a pretensão para haver prestações alimentares, a partir da data em que se vencerem.§ 3o Em três anos:I - a pretensão relativa a aluguéis de prédios urbanos ou rústicos;II - a pretensão para receber prestações vencidas de rendas temporárias ou vitalícias;III - a pretensão para haver juros, dividendos ou quaisquer prestações acessórias, pagáveis, em períodos não maiores de um ano, com capitalização ou sem ela;IV - a pretensão de ressarcimento de enriquecimento sem causa;V - a pretensão de reparação civil;VI - a pretensão de restituição dos lucros ou dividendos recebidos de má-fé, correndo o prazo da data em que foi deliberada a distribuição;VII - a pretensão contra as pessoas em seguida indicadas por violação da lei ou do estatuto, contado o prazo:a) para os fundadores, da publicação dos atos constitutivos da sociedade anônima;b) para os administradores, ou fiscais, da apresentação, aos sócios, do balanço referente ao exercício em que a violação tenha sido praticada, ou da reunião ou assembléia geral que dela deva tomar conhecimento;c) para os liquidantes, da primeira assembléia semestral posterior à violação;VIII - a pretensão para haver o pagamento de título de crédito, a contar do vencimento, ressalvadas as disposições de lei especial;IX - a pretensão do beneficiário contra o segurador, e a do terceiro prejudicado, no caso de seguro de responsabilidade civil obrigatório.§ 4o Em quatro anos, a pretensão relativa à tutela, a contar da data da aprovação das contas.§ 5o Em cinco anos:I - a pretensão de cobrança de dívidas líquidas constantes de instrumento público ou particular;II - a pretensão dos profissionais liberais em geral, procuradores judiciais, curadores e professores pelos seus honorários, contado o prazo da conclusão dos serviços, da cessação dos respectivos contratos ou mandato;III - a pretensão do vencedor para haver do vencido o que despendeu em juízo.

Arts. 205 e 206 são todos de prescrição: todos os outros são decadenciais A decadência, ao contrário, é a extinção do direito material pelo seu não-exercício no prazo legal ou convencional. Não

se confundem os institutos, já que na prescrição o que se extingue é a pretensão e não o direito, embora não possa o titular invocar esse direito nem a título de exceção, ou seja, de defesa, contra a pretensão que lhe seja oposta

Diferença entre prescrição e decadência Prazo de prescrição decorre sempre da lei Prazo decadencial pode ser legal ou convencional Várias são as diferenças entre a prescrição e a decadência.

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Luiz Guilherme Loureiro – Curso Completo de Direito Civil 30

Primeiramente, a prescrição pode ser objeto de renúncia expressa ou tácita, enquanto a decadência é irrenunciável, quando fixada em lei (Código Civil - Art. 209. É nula a renúncia à decadência fixada em lei.). A decadência convencional pode ser objeto de renúncia

A prescrição pode ser alegada em qualquer grau de jurisdição, pela parte a quem aproveita e pode ser reconhecida de ofício pelo juiz em qualquer caso. A decadência, quando legal, pode ser alegada em qualquer grau de jurisdição e deve ser reconhecida de ofício pelo juiz. Se a decadência for convencional, o juiz não pode suprir a alegação da parte

A prescrição pode ser impedida, suspensa ou interrompida nas hipóteses previstas no Código Civil. O prazo decadencial, salvo disposição expressa da lei, não conhece causa impeditiva, suspensiva ou interruptiva. Por disposição expressa (Código Civil – art. 208) não corre a decadência contra as pessoas absolutamente incapazes. Única exceção à regra da impossibilidade de impedimento ou interrupção do prazo decadencial a prescrição pode ser impedida

Renúncia da prescrição e da decadência convencional Art. 191. A renúncia da prescrição pode ser expressa ou tácita, e só valerá, sendo feita, sem prejuízo de terceiro, depois

que a prescrição se consumar; tácita é a renúncia quando se presume de fatos do interessado, incompatíveis com a prescrição.

Pode ser tácita ou expressa É necessário que a renúncia da prescrição não resulte em prejuízo para terceiro Prazos de prescrição não podem ser alterados por acordo de vontades Art. 195. Os relativamente incapazes e as pessoas jurídicas têm ação contra os seus assistentes ou representantes legais,

que derem causa à prescrição, ou não a alegarem oportunamente. Prescrição continua a correr contra o sucessor

Causas impeditivas e suspensivas da prescrição A prescrição não corre nos seguintes casos:

Entre os cônjuges, na constância da sociedade conjugal Entre ascendentes e descendentes, durante o poder familiar Entre tutelados e curatelados e seus tutores ou curadores, durante a tutela ou curatela Contra as pessoas absolutamente incapazes Contra os ausentes do País em serviço público da União, dos Estados ou dos Municípios Contra os que se acharem servindo nas Forças Armadas, em tempo de guerra Pendendo de condição suspensiva Não estando vencido o prazo Pendente ação de evicção (Diz-se que há evicção quando o comprador de uma coisa perde essa coisa para um

terceiro em virtude de decisão judicial fundamentada em fato anterior ao momento da compra da coisa. Na ação de evicção, há na verdade o exercício de duas pretensões: uma do terceiro sobre o comprador (para recuperar a coisa) e outra do comprador sobre o vendedor (para receber de volta o dinheiro que pagou pela coisa)

Quando a ação se originar de fato que deve ser apurado no juízo criminal, não correrá a prescrição antes da respectiva sentença definitiva

Art. 201. Suspensa a prescrição em favor de um dos credores solidários, só aproveitam os outros se a obrigação for indivisível.

Causas que interrompem a prescriçãoCódigo CivilArt. 202. A interrupção da prescrição, que somente poderá ocorrer uma vez, dar-se-á:I - por despacho do juiz, mesmo incompetente, que ordenar a citação, se o interessado a promover no prazo e na forma da lei processual;II - por protesto, nas condições do inciso antecedente;III - por protesto cambial;IV - pela apresentação do título de crédito em juízo de inventário ou em concurso de credores;V - por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor;VI - por qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que importe reconhecimento do direito pelo devedor.Parágrafo único. A prescrição interrompida recomeça a correr da data do ato que a interrompeu, ou do último ato do processo para a interromper.

Uma vez interrompida a prescrição por um dos motivos acima elencados, ela recomeça a correr da data do ato que a interrompeu, ou do último ato do processo que a interromper. A interrupção da prescrição tem efeitos diversos, quer ser trate de obrigação solidária ou não-solidária Não-solidária: não aproveita outros credores Solidárias: interrompendo-se contra um, interrompe-se contra todos

Prova do negócio jurídico Introdução

Podem ser provados por qualquer meio, salvo aqueles a que se impõe forma especial Lei e vontade das partes pode impor a observância de determinada formalidade especial nesse caso, a forma é

essencial Princípio da liberdade de prova: a convicção do juiz deve ser formada livremente Não obstante, determinadas normas ainda são influenciadas pelo sistema de prova legal, como aquelas que determinam a

capacidade das testemunhas, a regra de que o ato público faz prova plena em juízo e aquela segundo a qual o negócio jurídico cujo valor ultrapassar dez salários mínimos somente pode ser provado por documento

Código CivilArt. 215. A escritura pública, lavrada em notas de tabelião, é documento dotado de fé pública, fazendo prova plena.§ 1o Salvo quando exigidos por lei outros requisitos, a escritura pública deve conter:I - data e local de sua realização;II - reconhecimento da identidade e capacidade das partes e de quantos hajam comparecido ao ato, por si, como representantes, intervenientes ou testemunhas;III - nome, nacionalidade, estado civil, profissão, domicílio e residência das partes e demais comparecentes, com a indicação, quando necessário, do regime de bens do casamento, nome do outro cônjuge e filiação;IV - manifestação clara da vontade das partes e dos intervenientes;V - referência ao cumprimento das exigências legais e fiscais inerentes à legitimidade do ato;VI - declaração de ter sido lida na presença das partes e demais comparecentes, ou de que todos a leram;

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Luiz Guilherme Loureiro – Curso Completo de Direito Civil 31

VII - assinatura das partes e dos demais comparecentes, bem como a do tabelião ou seu substituto legal, encerrando o ato.§ 2o Se algum comparecente não puder ou não souber escrever, outra pessoa capaz assinará por ele, a seu rogo.§ 3o A escritura será redigida na língua nacional.§ 4o Se qualquer dos comparecentes não souber a língua nacional e o tabelião não entender o idioma em que se expressa, deverá comparecer tradutor público para servir de intérprete, ou, não o havendo na localidade, outra pessoa capaz que, a juízo do tabelião, tenha idoneidade e conhecimento bastantes.§ 5o Se algum dos comparecentes não for conhecido do tabelião, nem puder identificar-se por documento, deverão participar do ato pelo menos duas testemunhas que o conheçam e atestem sua identidade. Art. 228. Não podem ser admitidos como testemunhas:I - os menores de dezesseis anos;II - aqueles que, por enfermidade ou retardamento mental, não tiverem discernimento para a prática dos atos da vida civil;III - os cegos e surdos, quando a ciência do fato que se quer provar dependa dos sentidos que lhes faltam;IV - o interessado no litígio, o amigo íntimo ou o inimigo capital das partes;V - os cônjuges, os ascendentes, os descendentes e os colaterais, até o terceiro grau de alguma das partes, por consangüinidade, ou afinidade.Parágrafo único. Para a prova de fatos que só elas conheçam, pode o juiz admitir o depoimento das pessoas a que se refere este artigo.

Objeto da prova São objeto da prova os fatos que não sejam reconhecidos e notórios Lei não é objeto de prova, exceto lei municipal e estrangeira

Formas, fontes e espécies de prova É importante distinguir:

Motivos de prova : as alegações que estabelecem, imediatamente ou não, a convicção do juiz Prova : é o meio de demonstração da veracidade de um fato ou ato

Qualquer dos meios previstos no art. 212, Código Civil: I - confissão; II - documento; III - testemunha; IV - presunção; V - perícia. rol exemplificativo

Meios de prova : fontes de que o juiz extrai os motivos de prova Procedimentos probatórios : conjunto das atividades necessárias a colocar o juiz em comunicação com os meios de prova

ou a verificar a admissibilidade de uma prova Código de Processo Civil: Art. 332.  Todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos, ainda que não especificados

neste Código, são hábeis para provar a verdade dos fatos, em que se funda a ação ou a defesa.

Confissão Declaração, por uma parte, da verdade dos fatos afirmados pela outra parte e contrários ao confitente

Deve ser considerada com reservas no âmbito do processo penal Eficácia da confissão se subordina a condições de capacidade e legitimidade: só pode confessar pessoa capaz de se

obrigar Pode ser feita por representante legal ou convencional, respeitados os limites em que possa vincular o representado Código Civil: Art. 214 - A confissão é irrevogável, mas pode ser anulada se decorreu de erro de fato ou de coação Pode ser:

Judicial: feita perante o juiz Extrajudicial: realizada fora do juízo perante a outra parte ou terceiros pode ser provada por testemunhas, salvo

nos casos em que a lei não admite prova testemunhal

Testemunhas Pessoa diversa dos partícipes em determinado fato ou negócio jurídico e que tem conhecimento do ocorrido

Observações são expostas como fatos subjetivos Há casos em que não é admitida prova exclusivamente testemunhal, mas ela pode ser usada subsidiariamente em

qualquer caso Testemunha: maior de 16 anos e discernimento para prática dos atos da vida civil

Pródigo pode ser Cegas e surdas podem ser, desde que o conhecimento do fato não dependa dos sentidos faltantes

Testemunha não pode ter interesse no litígio Não pode ser amigo íntimo ou inimigo capital das partes, cônjuges, parentes em linha reta e colaterais até terceiro

grau, por consangüinidade ou afinidade podem ser ouvidas como informantes Segredo profissional ou por estado deve ser respeitado Código Civil: Art. 229. Ninguém pode ser obrigado a depor sobre fato: I - a cujo respeito, por estado ou profissão, deva

guardar segredo; II - a que não possa responder sem desonra própria, de seu cônjuge, parente em grau sucessível (ascendente, descendente, colateral até o quarto grau, ou amigo íntimo; III - que o exponha, ou às pessoas referidas no inciso antecedente, a perigo de vida, de demanda, ou de dano patrimonial imediato. Recusa de depor pode se dar em qualquer esfera

Presunção É um tipo de raciocínio, uma conclusão a respeito de um fato não diretamente demonstrado, que se obtém a partir de outro

fato comprovado prova indireta, ou circunstancial Pode ser:

Legal : decorre de norma constante no direito positivo (v.g., posse é exteriorização da propriedade) Comum : fundam-se no que ordinariamente acontece; só admitidas nos casos em que a lei torna possível a prova

testemunhal (v.g., S. 301 do STJ: recusa do suposto pai a submeter-se ao exame de DNA induz presunção relativa de paternidade)

Absoluta (juris et de jure) : estabelecida por lei como verdade indestrutível Relativa (juris tantum) : a lei estabelece um fato como verdadeiro, até prova em contrário

Perícia Prova técnica e demanda do perito um perfeito conhecimento técnico da questão submetida a juízo Pode constituir na declaração de ciência (quando relata as percepções colhidas, quando se apresenta como prova

representativa de fatos verificados ou constatados) ou na afirmação de um juízo (quando constitui parecer que auxilia o juiz na interpretação ou apreciação dos fatos da causa)

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Luiz Guilherme Loureiro – Curso Completo de Direito Civil 32

Ninguém pode ser constrangido a se submeter a perícia Código Civil: Art. 232. A recusa à perícia médica ordenada pelo juiz poderá suprir a prova que se pretendia obter com o exame.

Documento É coisa em que se fixa materialmente, e de modo permanente, a manifestação de vontade, ou seja, é o instrumento que

serve como suporte para uma declaração de vontade Nem sempre tem como suporte o papel, tal como o CD, o DVD As declarações de vontade constantes de documentos assinados presumem-se verdadeiras em relação aos signatários,

seja qual for o suporte utilizado Pode ser público ou particular

O particular pode ter sua autoria e conteúdo confirmados pelas partes perante um notário, tornando-se um documento autenticado

Escritura pública É o documento público escrito por tabelião, em suas notas Notário é dotado de fé pública autenticidade aos documentos

Requisitos da escritura públicaCódigo CivilArt. 215. A escritura pública, lavrada em notas de tabelião, é documento dotado de fé pública, fazendo prova plena.§ 1o Salvo quando exigidos por lei outros requisitos, a escritura pública deve conter:I - data e local de sua realização;II - reconhecimento da identidade e capacidade das partes e de quantos hajam comparecido ao ato, por si, como representantes, intervenientes ou testemunhas;III - nome, nacionalidade, estado civil, profissão, domicílio e residência das partes e demais comparecentes, com a indicação, quando necessário, do regime de bens do casamento, nome do outro cônjuge e filiação;IV - manifestação clara da vontade das partes e dos intervenientes;V - referência ao cumprimento das exigências legais e fiscais inerentes à legitimidade do ato;VI - declaração de ter sido lida na presença das partes e demais comparecentes, ou de que todos a leram;VII - assinatura das partes e dos demais comparecentes, bem como a do tabelião ou seu substituto legal, encerrando o ato.§ 2o Se algum comparecente não puder ou não souber escrever, outra pessoa capaz assinará por ele, a seu rogo.§ 3o A escritura será redigida na língua nacional.§ 4o Se qualquer dos comparecentes não souber a língua nacional e o tabelião não entender o idioma em que se expressa, deverá comparecer tradutor público para servir de intérprete, ou, não o havendo na localidade, outra pessoa capaz que, a juízo do tabelião, tenha idoneidade e conhecimento bastantes.§ 5o Se algum dos comparecentes não for conhecido do tabelião, nem puder identificar-se por documento, deverão participar do ato pelo menos duas testemunhas que o conheçam e atestem sua identidade.

Ausência de alguns dos requisitos implica nulidade da escritura Tabelião é responsável pela segurança jurídica e validade do negócio jurídico, podendo até arcar com perdas e danos

no caso de vício na prestação do serviçoDecreto 93.240/86Art 1º Para a lavratura de atos notariais, relativos a imóveis, serão apresentados os seguintes documentos e certidões:         I - os documentos de identificação das partes e das demais pessoas que comparecerem na escritura pública, quando julgados necessários pelo Tabelião;         II - o comprovante do pagamento do Imposto sobre a Transmissão de Bens Imóveis e de Direitos a eles relativos, quando incidente sobre o ato, ressalvadas as hipóteses em que a lei autorize a efetivação do pagamento após a sua lavratura;         III - as certidões fiscais, assim entendidas:         a) em relação aos imóveis urbanos, as certidões referentes aos tributos que incidam sobre o imóvel, observado o disposto no § 2º, deste artigo;         b) em relação aos imóveis rurais, o Certificado de Cadastro emitido pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRA, com a prova de quitação do último Imposto Territorial Rural lançado ou, quando o prazo para o seu pagamento ainda não tenha vencido, do Imposto Territorial Rural correspondente ao exercício imediatamente anterior;         IV - a certidão de ações reais e pessoais reipersecutórias, relativas ao imóvel, e a de ônus reais, expedidas pelo Registro de Imóveis competente, cujo prazo de validade, para este fim, será de 30 (trinta) dias;         V - os demais documentos e certidões, cuja apresentação seja exigida por lei.         § 1º O Tabelião consignará na escritura pública a apresentação dos documentos e das certidões mencionadas nos incisos II, III, IV e V, deste artigo.         § 2º As certidões referidas na letra a , do inciso III, deste artigo, somente serão exigidas para a lavratura das escrituras públicas que impliquem a transferência de domínio e a sua apresentação poderá ser dispensada pelo adquirente que, neste caso, responderá, nos termos da lei, pelo pagamento dos débitos fiscais existentes.         § 3º A apresentação das certidões previstas no inciso IV, deste artigo, não eximirá o outorgante da obrigação de declararar na escritura pública, sob pena de responsabilidade civil e penal, a existência de outras ações reais e pessoais reipersecutórias, relativas ao imóvel, e de outros ônus reais incidentes sobre o mesmo.

Eficácia da escritura pública É documento dotado de fé pública, fazendo prova plena, isto é, demonstração perfeita e acabada do negócio jurídico

que encerra, podendo, por si só, formar a convicção no espírito do julgador Presunção é relativa: prevalece até prova em contrário, inclusive em relação a terceiros O que se presume verdadeiro é a ciência do tabelião quanto aos fatos que se passaram na sua presença No que tange às declarações de vontade das partes, o tabelião apenas certifica que as ouviu e o que ouviu: a prova é

plena quanto à existência da declaração e dos seus termos e não no que se refere à veracidade de seu conteúdo Prova não é plena quanto à veracidade dos conteúdos das declarações, mas do que foi dito ao tabelião

Nulidade da escritura pública Ela pode ser da substância do ato por força de lei ou por convenção das partes No caso do art. 108, Código Civil (Art. 108. Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial à validade

dos negócios jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre

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Luiz Guilherme Loureiro – Curso Completo de Direito Civil 33

imóveis de valor superior a trinta vezes o maior salário mínimo vigente no País.), a nulidade do instrumento invalida o negócio jurídico

No caso do art. 109, Código Civil (Art. 109. No negócio jurídico celebrado com a cláusula de não valer sem instrumento público, este é da substância do ato), a sua invalidade não induz à do negócio jurídico, porque ele pode ser provado por outro meio (Art. 183. A invalidade do instrumento não induz a do negócio jurídico sempre que este puder provar-se por outro meio)

No primeiro caso, a nulidade do instrumento acarreta a invalidade do negócio jurídico; já no segundo, o negócio jurídico pode ser provado por outro meio

Equiparação de outros atos oficiais à escritura públicaLei 6.015/73 (Lei dos registros públicos)  Art. 221 - Somente são admitidos registro: (Renumerado do art. 222 com nova redação pela Lei nº 6.216, de 1975).        I - escrituras públicas, inclusive as lavradas em consulados brasileiros;         II - escritos particulares autorizados em lei, assinados pelas partes e testemunhas, com as firmas reconhecidas, dispensado o reconhecimento quando se tratar de atos praticados por entidades vinculadas ao Sistema Financeiro da Habitação;         III - atos autênticos de países estrangeiros, com força de instrumento público, legalizados e traduzidos na forma da lei, e registrados no cartório do Registro de Títulos e Documentos, assim como sentenças proferidas por tribunais estrangeiros após homologação pelo Supremo Tribunal Federal;         IV - cartas de sentença, formais de partilha, certidões e mandados extraídos de autos de processo.         V - contratos ou termos administrativos, assinados com a União, Estados e Municípios no âmbito de programas de regularização fundiária, dispensado o reconhecimento de firma. (Incluído pela Medida Provisória nº 459, de 2009)

Pode ser registrada renúncia em favor de alguém, constante do processo Atos praticados nos processos judiciais, devidamente instrumentalizados pelo escrivão por determinação do juiz,

equivalem à escritura pública Ato judicial tem força jurídica do ato notarial Na sistemática do direito civil brasileiro, o ato processual e a escritura pública têm a mesma força instrumental Em suma, instrumento público não é apenas a escritura lavrada em notas do tabelião, mandado de segurança

também os atos judiciais e as certidões tiradas dos autos pelos escrivães também engloba o ato consular

Anuência de interessados e demais declarações que devem constar da escritura Alienação de imóvel por parte de cônjuge (com exceções), alienação a descendentes, venda de fração ideal de

condômino a terceiro É possível que a anuência conste de ato posterior, desde que a outorga seja dada pela mesma forma exigida para a

validade deste Anuência de terceiro é diferente de autorização judicial alvará judicial A falta de anuência não impede a lavratura da escritura e o registro negócio jurídico não é nulo de pleno direito,

mas anulável (interesse particular) Lei não exige que único título trate conjuntamente do negócio jurídico principal e do pacto acessório (v.g. venda e

retrovenda)Código CivilArt. 1.314. Cada condômino pode usar da coisa conforme sua destinação, sobre ela exercer todos os direitos compatíveis com a indivisão, reivindicá-la de terceiro, defender a sua posse e alhear a respectiva parte ideal, ou gravá-la.Parágrafo único. Nenhum dos condôminos pode alterar a destinação da coisa comum, nem dar posse, uso ou gozo dela a estranhos, sem o consenso dos outros.Art. 220. A anuência ou a autorização de outrem, necessária à validade de um ato, provar-se-á do mesmo modo que este, e constará, sempre que se possa, do próprio instrumento.

Re-ratificação da escritura pública Somente podem ser feitas por outra escritura pública; é inadmissível a correção de erros na escritura, seja pelo

próprio notário, seja no âmbito da atividade administrativa do juiz corregedor Antes de terminado o ato notarial, podem haver retificações; o que não se admite é a retificação posterior do erro Em caso de morte de uma das partes, deve ser utilizada a via judicial

Outros documentos públicos Além das escrituras: traslados e as certidões, extraídos por tabelião ou oficial de registro, de instrumentos ou

documentos lançados em suas notas e registros Traslado : é cópia extraída por oficial público ou tabelião de instrumento ou documento lavrado no seu livro de

notas, é a reprodução integral do instrumento público lavrado por tabelião Havendo discrepância entre a escritura pública e o traslado, prevalece a primeira

Certidão : é o documento autêntico, fornecido ao interessado, cujo conteúdo é um atestado ou declaração relativa a um fato ou ato constante dos arquivos da serventia ou ofício; pode ser em inteiro teor, breve relatório ou em resumo

Documento particular Art. 221. O instrumento particular, feito e assinado, ou somente assinado por quem esteja na livre disposição e

administração de seus bens, prova as obrigações convencionais de qualquer valor; mas os seus efeitos, bem como os da cessão, não se operam, a respeito de terceiros, antes de registrado no registro público Princípio da relatividade do contrato instrumento contratual vale apenas entre as partes e não vincula

terceiros Contratos com valor superior ao décuplo do salário mínimo só admitem prova documental Código Civil: Art. 224. Os documentos redigidos em língua estrangeira serão traduzidos para o português para ter

efeitos legais no País; tradução por tradutor juramentado e também registro para ter efeito no país Código Civil Art. 225. As reproduções fotográficas, cinematográficas, os registros fonográficos e, em geral, quaisquer

outras reproduções mecânicas ou eletrônicas de fatos ou de coisas fazem prova plena destes, se a parte, contra quem forem exibidos, não lhes impugnar a exatidão. considerados documentos particulares

Cópia autenticada por tabelião tem o mesmo valor do original, mas a parte deve exibir o original se a autenticidade for impugnada

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Luiz Guilherme Loureiro – Curso Completo de Direito Civil 34

Capítulo 5: Do Direito das ObrigaçõesParcial: Modalidades de Obrigações, Adimplemento e Extinção das Obrigações, Inadimplemento das Obrigações e Responsabilidade

Civil (PARCIAL)

Das obrigações em geral Conceito de obrigações

Compreende os deveres impostos pelo direito, suscetíveis de estimação pecuniária, que consistem em dar, fazer ou deixar de fazer alguma coisa

Não é indispensável que o dever tenha origem no direito positivo para que surja a obrigação. Também as obrigações naturais não deixam de ser verdadeiras obrigações, pois importam o dever de satisfazer uma pretensão suscetível de apreciação pecuniária reconhecendo, o direito positivo, efeitos a vínculos de tal natureza

No conceito de obrigação são visíveis três elementos: a) vínculo jurídico; b) partes (credor e devedor); c) objeto (prestação) A coercibilidade é um dos elementos da obrigação: o credor pode ajuizar contra o devedor inadimplente ação competente para

os fins de obter a prestação ou seu sucedâneo, que é a indenização das perdas e danos O patrimônio do devedor responde pelas obrigações por ele assumidas garantia real do credor Três partes: credor, devedor e objeto (prestação)

Diferença entre direito obrigacional e direito real Os direitos reais consistem em poderes ou prerrogativas sobre coisas determinadas que qualquer sujeito, ainda que

indeterminado, deve respeitar A obrigação consiste em uma relação jurídica entre sujeitos determinados ou determináveis, em razão da qual o respectivo

titular pode exigir a prestação devida Na obrigação, o direito do credor é exercido por meio do devedor; no direito real, é exercido diretamente sobre a coisa Direito obrigacional pode ser exercido apenas em face do devedor; direito real é oponível erga omnes

Elementos da obrigação Sujeito, objeto, causa ou fonte da obrigação. Não existe relação obrigacional que não possua sujeito, objeto ou fonte

Sujeito da obrigação Os sujeitos da obrigação são as pessoas vinculadas pela relação jurídica a que ela se refere – obrigatoriamente há um ativo

(titular) e um passivo Somente podem ser credores ou devedores as entidades dotadas de personalidade; entidades despersonalizadas, como o

espólio, a massa falida, o condomínio, a princípio, não podem ser sujeitos ativos ou passivos de obrigações, salvo aquelas previstas em lei

Sujeito deve ser agente capaz Art. 310. Não vale o pagamento cientemente feito ao credor incapaz de quitar, se o devedor não provar que em benefício dele

efetivamente reverteu. – Código Civil Art. 335. A consignação tem lugar: III - se o credor for incapaz de receber, for desconhecido, declarado ausente, ou residir em

lugar incerto ou de acesso perigoso ou difícil; (depósito em juízo) Sujeito deve ser determinado ou determinável Obrigações propter rem - sujeito determinável, mas individualizável no momento da exigência da obrigação, apenas

Objeto É aquilo que o devedor deve satisfazer em favor do credor, ou seja, é a prestação Coisa ou fato ou abstenção de algo que o devedor poderia executar, se não fosse a existência da obrigação Dar, fazer ou não fazer Não há obrigação sem objeto Falta de objeto pode resultar: a) de sua indeterminação; b) de sua impossibilidade; c) de sua falta de significação pecuniária Deve ser física e juridicamente possível Direito das obrigações tem conteúdo eminentemente patrimonial: deve ser estimada em dinheiro, pouco importando que se trate

de obrigação contratual ou extracontratual Objeto também deve ser legítimo: é ilegítimo quando for contrário à ordem pública, à moral e aos bons costumes

Causa ou fonte da obrigação É o fato que lhe dá origem Doutrina atual adota a classificação tripartite das fontes: os atos de vontade particular, os fatos ilícitos e a norma jurídica

Essa é a posição da doutrina brasileira É considerado ato ilícito e, portanto, fonte de obrigação, o abuso de direito Se uma obrigação, em sua origem, era ilícita e posteriormente a ilicitude cessa em virtude do advento de nova lei, ela continua

inválida: as obrigações permanecem no todo ou em parte afetadas pela ineficácia inicial, apesar de uma nova lei admitir sua validade. O mesmo ocorre caso sobrevenha a ilicitude regra tempus regit actum: a validade da obrigação deve ser apreciada de acordo com a lei vigente ao tempo de sua constituição

Interdependência das obrigações Em princípio, as obrigações não são contaminadas por vícios que recaem em outras obrigações, mas excepcionalmente se

verifica a interdependência das obrigações. As obrigações podem ser vinculadas, de tal forma que uma não pode existir sem a outra

Obrigação que tem independência própria é denominada “obrigação principal”, enquanto a dependente é denominada “acessória”

Relação de acessoriedade pode surgir da lei ou da vontade das partes Relação de interdependência das obrigações implica os seguintes efeitos:

Extinção da principal implica a nulidade da acessória, mas o inverso não é verdadeiro A nulidade da principal contamina a acessória Regime jurídico da principal abrange, em princípio, a obrigação acessória

Prescrição, formalidades, provas

Efeitos da obrigação Podem ser normais (necessários) ou anormais Normais consistem nos meios que o ordenamento jurídico confere ao credor para que obtenha o cumprimento específico da

obrigação: em espécie ou in natura

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Luiz Guilherme Loureiro – Curso Completo de Direito Civil 35

Cumprimento forçado da obrigação Limitações ao cumprimento forçado da obrigação dependem da sua natureza, sendo mais ou menos amplas se se tratar de

obrigação de dar, fazer ou não fazer Quando a prestação é exeqüível apenas pelo devedor, a prestação é substituída pela obrigação de indenizar as perdas e danos Art. 247. Incorre na obrigação de indenizar perdas e danos o devedor que recusar a prestação a ele só imposta, ou só por ele

exeqüível. – Código Civil Art. 249. Se o fato puder ser executado por terceiro, será livre ao credor mandá-lo executar à custa do devedor, havendo recusa

ou mora deste, sem prejuízo da indenização cabível. – Código Civil Mediante autorização judicial

Art. 461. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou, se procedente o pedido, determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento.   (Redação dada pela Lei nº 8.952, de 1994) – Código de Processo Civil

A astreinte como meio de compulsão do devedor Astreinte é a imposição judicial de uma condenação pecuniária que recai sobre o devedor enquanto ele não cumprir a prestação

a que se obrigou, podendo ser aumentada indefinidamente multa diária imposta pelo juiz enquanto permanecer inadimplida a obrigação

Art. 461. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou, se procedente o pedido, determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento. § 4o  O juiz poderá, na hipótese do parágrafo anterior ou na sentença, impor multa diária ao réu, independentemente de pedido do autor, se for suficiente ou compatível com a obrigação, fixando-lhe prazo razoável para o cumprimento do preceito. Código de Processo Civil

Para a efetivação da tutela específica ou para a obtenção do resultado prático, poderá o juiz, de ofício ou a requerimento, determinar as medidas necessárias, tais como a imposição de multa por tempo de atraso, busca e apreensão, etc.

Art. 621. O devedor de obrigação de entrega de coisa certa, constante de título executivo extrajudicial, será citado para, dentro de 10 (dez) dias, satisfazer a obrigação ou, seguro o juízo (art. 737, II), apresentar embargos.  (Redação dada pela Lei nº 10.444, de 7.5.2002) Parágrafo único. O juiz, ao despachar a inicial, poderá fixar multa por dia de atraso no cumprimento da obrigação, ficando o respectivo valor sujeito a alteração, caso se revele insuficiente ou excessivo. (Incluído pela Lei nº 10.444, de 7.5.2002) – Código de Processo Civil

Astreinte não é uma pena civil; também não é uma indenização; não tem relação com prejuízo sofrido pelo credor, mas visa a reparação desse prejuízo

Tem natureza cominatória, e não ressarcitória Deve ser aplicado o princípio que domina a teoria da responsabilidade civil o ofendido não pode lucrar com o dano que

sofreu É obrigação acessória, e cessa com a principal

Efeitos anormais ou acidentais das obrigações São as conseqüências destas que concernem à satisfação do direito do credor por via de sucedâneo; em caso de

inadimplemento, o devedor tem a obrigação de indenizar perdas e danos. A obrigação é substituída pela indenização (dano emergente – valor da prestação; lucro cessante – aquilo que deixou de lucrar)

Indenização tem caráter subsidiário, ou seja, não cabe ao credor optar pela indenização se for possível o cumprimento em espécie da obrigação; não pode o juiz impô-la sem anuência do credor; não pode o devedor substituir a prestação por ela, salvo convenção das partes

Requisitos para existência do direito a perdas e danos: a) inadimplemento; b) culpa ou dolo do devedor; c) dano sofrido pelo credor; d) nexo de causalidade entre este e a conduta do devedor

Inadimplemento absoluto – total: prestação não pode mais ser exercida de forma útil ou proveitosa para o credor Mora – inadimplemento parcial: prestação ainda pode ser cumprida pelo devedor

Modalidades das obrigações Introdução

Elas podem ser classificadas em função: da natureza do vínculo e eficiência da proteção jurídica; b) de seu objeto; c) do sujeito; d) da causa; e) das modalidades que possam alterar a sua eficácia; f) interdependência (principal e acessória)

Obrigação natural Civis ou naturais Civis: tuteladas pelo ordenamento jurídico Naturais: não previstas no ordenamento positivo, mas apenas no direito natural (mero dever moral); o credor não tem meios

jurídicos para exigir seu cumprimento, v.g., dívida de jogo

Outras espécies de obrigações Quanto aos sujeitos: singular ou plural

Plurais: podem ser divisíveis, indivisíveis e solidárias Se for indivisível, o credor pode exigi-la de qualquer um dos devedores, ou o devedor pode pagar a qualquer um dos

credores; ser for divisível, é dividida em tantas partes autônomas quanto necessário Solidariedade: em virtude da lei ou da vontade das partes, as obrigações se enfeixam e constituem um só vínculo jurídico

Quanto à causa: contratuais (contrato), extracontratuais (ato ilícito) ou legais (leis) Quanto às modalidades: pura e simples, condicionais, ou com encargo Outra classificação separa a obrigação de meio da obrigação de resultado:

Meio: todos os esforços para obter o resultado, mas sem se responsabilizar pela obtenção do mesmo Resultado: o resultado deve ser entregue, sob responsabilidade do devedor

Quanto à determinação do objeto: de dar coisa certa; de dar coisa incerta; de dar quantidade de coisas e de dar some de dinheiro

Quanto ao objeto: junto ou disjunto (alternativas e facultativas) Classificação mais importante: segundo a natureza (dar, fazer, não fazer)

Obrigação de dar Consiste na entrega de alguma coisa pelo devedor ao credor

Dar coisa certa: credor não é obrigado a receber outra (válido para acessórios) Se o objeto a ser entregue for destruído ou deteriorado, em caso de culpa ou dolo, aplica-se a regra da responsabilidade

civil

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Ver p. 270 No caso de perda ou deterioração sem culpa, quem arca com o prejuízo é sempre o proprietário – res perit dominio Se a obrigação era de restituir, quem arca com o prejuízo é o credor – res perit dominio

Aumentos e melhorias da coisa O princípio que rege os aumentos e melhorias é aquele segundo o qual as coisas valorizam para seu dono – dono pode exigir

aumento do preço, antes da tradição válido para acessórios, inclusive frutos Benfeitorias necessárias realizadas pelo devedor podem ser cobradas do credor, já que este, como dono da coisa, é o

beneficiado Benfeitorias úteis não são cobráveis; nem as voluptuárias devedor pode levantá-las, desde que o levantamento não cause

dão ao bem principal Frutos naturais e industriais são adquiridos pela percepção

Frutos civis podem ser classificados em: Percebidos: pertencem ao devedor, além dos exigíveis ainda não cobrados antes da tradição da coisa, porque

geraram um crédito para o dono e, antes da tradição, o devedor ainda é titular do domínio Pendentes: juros, alugueres pertencem ao credor; são aqueles que, ainda que já iniciados, não são exigíveis até o

momento da tradição

Obrigação de dar coisa incerta Coisa incerta é aquela indicada, ao menos, pelo gênero e pela quantidade não há que se falar de riscos derivados de seu

perecimento ou deterioração No momento em que se faz a escolha, a obrigação passar a ser de dar coisa certa

As partes devem avençar a quem cabe a escolha; no silêncio delas, cabe ao devedor, dentre as coisas do gênero – deve escolher pela média

Obrigação de fazer Quando envolve transferência de domínio, é de dar; em todos os outros casos, é de fazer Na obrigação de dar, é sempre possível a execução compulsória; já na de fazer, a execução específica é impossível Inadimplemento da obrigação de fazer enseja reparação por perdas e danos Se o devedor tem que confeccionar a coisa antes, a obrigação é de fazer Credor não é obrigado a aceitá-la de terceiro, quando convencionado o oposto

Credor executa ou repara por meio de perdas e danos, em caso de culpa Em caso de inadimplemento, cabe verificar se é fungível ou infungível (podendo ser realizada apenas pelo devedor) É possível execução por meio de título extrajudicial Art. 645.  Na execução de obrigação de fazer ou não fazer, fundada em título extrajudicial, o juiz, ao despachar a inicial, fixará

multa por dia de atraso no cumprimento da obrigação e a data a partir da qual será devida. Quando fungível, o credor pode optar por perdas e danos ou mandar executar por terceiro, à custa do devedor

Obrigação de concluir contrato Contrato preliminar: deve obedecer todos os requisitos quanto ao contrato principal Em caso de inadimplemento, pode o credor obter sentença judicial que supra o mesmo Contrato deve ser levado a registro, para que surta efeitos Art. 463. Concluído o contrato preliminar, com observância do disposto no artigo antecedente, e desde que dele não conste

cláusula de arrependimento, qualquer das partes terá o direito de exigir a celebração do definitivo, assinando prazo à outra para que o efetive. Parágrafo único. O contrato preliminar deverá ser levado ao registro competente. – Código Civil Sentença do juiz pode suprir o inadimplemento da parte

Obrigação de não fazer É aquela em que o devedor assume o compromisso de se abster de um determinado ato Somente é lícita se não envolver restrição sensível à liberdade individual Inadimplida voluntariamente, há dever de indenizar; se não for voluntária, volta a situação ao seu estado anterior

Obrigações alternativas É alternativa quando, embora múltiplo o seu objeto, o devedor se exonera cumprindo uma das prestações; difere da cumulativa,

em que o devedor deve cumprir todas as obrigações previstas Salvo disposição em contrário, cabe ao devedor a escolha Mesmo em caso de culpa do devedor quanto a uma, pode ele exonerar-se cumprindo a outra, se a ele couber a escolha Se todos tornarem-se impossíveis, deve-se averiguar se houve culpa – indenização ou extinção pura e simples da obrigação

Se couber a escolha ao devedor, deve pagar a que por último se impossibilitou; se for ao credor, pode exigir o valor de qualquer uma delas, além de perdas e dano

Obrigação divisível e indivisível Outra na hipótese da pluralidade de devedores, a obrigação pode ser divisível ou indivisível

Divisível: tem por objeto uma coisa ou um fato suscetível de divisão sem a perda da sua substância ou do seu valor econômico; havendo mais de um credor ou devedor, presume-se dividida regra concursu partes fiunt Duas exceções: indivisibilidade e solidariedade (o credor pode exigir de cada um dos devedores o pagamento integral

da prestação) Indivisibilidade: quando o objeto for indivisível por ordem da natureza do bem ou por ordem econômica (perda de

valor); Solidariedade: a indivisibilidade existe por força de lei ou pela vontade das partes

Sendo vários os credores, e um só o devedor, este pode exonerar-se pagando a qualquer um deles Tanto a de dar quanto a de fazer podem ser indivisíveis Devedor de obrigação indivisível que paga ao credor é colocado no lugar do credor, inclusive quanto a garantias (hipoteca,

penhor, anticrese) A obrigação indivisível perde esse caráter quando transformada em perdas e danos Pluralidade de credores: o devedor só de desobriga pagando a todos os credores conjuntamente, ou a um, dando este

caução de ratificação dos outros Indivisível: se um dos credores perdoa a dívida, os outros só poderão exigir entrega da coisa descontada a parcela

perdoada

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Obrigações solidárias Art. 264. Há solidariedade, quando na mesma obrigação concorre mais de um credor, ou mais de um devedor, cada um com

direito, ou obrigado, à dívida toda. – Código Civil Pode ser ativa ou passiva É uma exceção à regra Diferente de obrigação indivisível

Fontes da solidariedade Sempre resulta ou da lei, ou da vontade das partes

Solidariedade passiva Credor pode exigir a dívida em sua totalidade de qualquer um dos devedores

Pode ser observada sob duas faces: Externamente: conjunto dos devedores se apresenta como se fosse um único devedor Internamente: devedores obrigam-se entre si

Devedor só pode opor ao credor suas exceções pessoais ou as comuns a todos os devedores Aquele que paga a dívida por inteiro tem direito de exigir dos co-devedores suas cotas No caso de devedores insolventes, suas cotas são rateadas pelos solventes No caso de apenas uma das partes ser interessada na dívida (avalizado, p.ex.) não há rateio

Renúncia à solidariedade O credor pode renunciar à solidariedade, seja em relação a um, alguns ou a todos os credores É diferente de remissão de dívida

Descumprimento da obrigação solidária Em caso de força maior, a obrigação se extingue, e todos os coobrigados são liberados Em caso de culpa de um dos coobrigados, o credor tem direito a receber o equivalente à prestação, além de perdas e

danos A solidariedade não se extingue com a insolvência, ao contrário da obrigação indivisível Pelas perdas e danos só responde o culpado pelo descumprimento (Art. 279. Impossibilitando-se a prestação por culpa de

um dos devedores solidários, subsiste para todos o encargo de pagar o equivalente; mas pelas perdas e danos só responde o culpado. – Código Civil)

Se um dos devedores solidários falecer deixando herdeiros, estes estão obrigados a pagar apenas a quota correspondente ao seu quinhão hereditário

Da transmissão das obrigações Cessão de crédito

O crédito pode se cedido devido a seu caráter patrimonial, se a isso não se opuser a natureza da obrigação, a lei ou a convenção com o devedor

Pode ser total ou parcial Deve ser notificada ao devedor, sob pena de não ser eficaz ante ele Para se concretizar, o título de crédito deve ser cedido O devedor pode opor contra o cessionário as exceções de direito pessoal que tinha contra o antigo até o momento da cessão Cedente não responde pela solvência do devedor, mas apenas pela existência do crédito, salvo cláusula em contrário

cedente não responde por valor maior do que recebeu do cessionário

Da assunção de dívida Também a dívida pode ser transferida a terceiro, desde que haja consentimento expresso do credor Na cessão de crédito, não há necessidade de anuência do devedor, bastando que este seja notificado da existência do contrato Devedor primitivo fica exonerado, salvo se o terceiro era insolvente, e isso era ignorado pelo credor Não se admite consentimento tácito Assunção de dívida implica na extinção das garantias primitivas prestadas O novo devedor não pode opor exceções pessoais que caberiam ao devedor primitivo

Adimplemento e extinção das obrigações Do pagamento

Noção É o principal meio de extinção da obrigação É espécie do gênero adimplemento É desempenho voluntário da obrigação pelo devedor

Quem deve pagar O devedor, em primeiro plano; mas outras pessoas podem ter o interesse de pagar, como o fiado Credor não pode recusar pagamento feito regularmente pelo devedor ou por terceiro Terceiro que paga sub-roga-se em todos os direitos do accipiens Apenas o devedor pode se opor a pagamento efetuado pelo terceiro não interessado; quando oposição for fundada em

justo motivo, a obrigação é extinta, mas não há direito ao reembolso Credor poderá opor contra o terceiro exceção que tinha contra o primitivo devedor

Terceiro pode pagar em nome do devedor ou em seu próprio nome; no primeiro caso, não há qualquer relação de direito como devedor; no segundo, tem direito a reembolso, mas não se sub-roga

Código Civil - Art. 306. O pagamento feito por terceiro, com desconhecimento ou oposição do devedor, não obriga a reembolsar aquele que pagou, se o devedor tinha meios para ilidir a ação.

Pagamento a credor incapaz Para que seja válida, a obrigação deve ter como sujeito um agente capaz O pagamento feito cientemente a credor incapaz não surte nenhum efeito Código Civil - Art. 310. Não vale o pagamento cientemente feito ao credor incapaz de quitar, se o devedor não provar que

em benefício dele efetivamente reverteu. Se o devedor, de boa fé, acreditava ser o credor capaz, o pagamento surte seus efeitos

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Pagamento feito ao representante do credor e a terceiro Qualquer um dos três tipos de representante é capaz para receber o pagamento (legal, judicial ou convencional) O pagamento feito a terceiro é válido se ratificado pelo credor ou vir em proveito deste Pagamento feito de boa fé a credor putativo é válido

A manifesta desproporção das prestações Código Civil - Art. 317. Quando, por motivos imprevisíveis, sobrevier desproporção manifesta entre o valor da prestação

devida e o do momento de sua execução, poderá o juiz corrigi-lo, a pedido da parte, de modo que assegure, quanto possível, o valor real da prestação. Trata-se de lesão superveniente

Prova do pagamento Principal prova do pagamento é a quitação

Documento escrito Não é o único meio de prova: também presunções, confissões, depoimento de testemunhas, transferências

eletrônicas de fundos

Presunções de pagamento Lei estabelece uma série de presunções:

Quando feito em quotas periódicas, o pagamento da última Entrega do título ao devedor Quitação do capital sem reserva dos juros

São relativas

Consignação em pagamento Constitui forma de extinção da obrigação, que se dá com depósito judicial ou depósito em estabelecimento bancário Não só o dinheiro, mas qualquer outro bem corpóreo, objeto da obrigação, pode ser depositado Código de Processo Civil - Art. 890.  Nos casos previstos em lei, poderá o devedor ou terceiro requerer, com efeito de

pagamento, a consignação da quantia ou da coisa devida.  § 1o  Tratando-se de obrigação em dinheiro, poderá o devedor ou terceiro optar pelo depósito da quantia devida, em estabelecimento bancário, oficial onde houver, situado no lugar do pagamento, em conta com correção monetária, cientificando-se o credor por carta com aviso de recepção, assinado o prazo de 10 (dez) dias para a manifestação de recusa. § 2o  Decorrido o prazo referido no parágrafo anterior, sem a manifestação de recusa, reputar-se-á o devedor liberado da obrigação, ficando à disposição do credor a quantia depositada.§ 3o  Ocorrendo a recusa, manifestada por escrito ao estabelecimento bancário, o devedor ou terceiro poderá propor, dentro de 30 (trinta) dias, a ação de consignação, instruindo a inicial com a prova do depósito e da recusa. § 4o  Não proposta a ação no prazo do parágrafo anterior, ficará sem efeito o depósito, podendo levantá-lo o depositante.

Hipóteses autorizadoras da consignação em pagamento Quando o credor, sem justa causa, recusar o recebimento do pagamento ou se negar a dar quitação na forma devida Quando o credor não puder receber o pagamento ou dar quitação

A mora do credor não depende de culpa Se o credor não for, nem mandar receber a coisa no lugar, tempo e condições devidos

Aplica-se no caso de dívida quérable (aquela que deve ser paga no domicílio do devedor ou no local por ele determinado)

Não de aplica à dívida portable (a que deve ser paga no domicílio do credor) Se o credor for incapaz de receber, for desconhecido, declarado ausente, ou residir em lugar incerto ou de acesso

perigoso e difícil Incapacidade superveniente do credor não permite ao devedor inadimplir a dívida No caso de falência do credor, o pagamento deve ser feito ao síndico Ausência: pagamento feito ao curador, salvo se tais poderes não forem fixados pelo juiz

Código Civil - Art. 308. O pagamento deve ser feito ao credor ou a quem de direito o represente, sob pena de só valer depois de por ele ratificado, ou tanto quanto reverter em seu proveito.

Só tem cabimento a consignação quando ainda não tiver sido nomeado curador ao ausente No caso de morte presumida, o pagamento deve ser feito aos herdeiros

No caso de se ignorar quem são os herdeiros, deve ser feita a consignação Se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o objeto do pagamento Se pender litígio sobre o objeto do pagamento

Código Civil - Art. 344. O devedor de obrigação litigiosa exonerar-se-á mediante consignação, mas, se pagar a qualquer dos pretendidos credores, tendo conhecimento do litígio, assumirá o risco do pagamento.

Requisitos de validade da consignação em pagamento A consignação, para ser válida, deve observar os requisitos do pagamento, notadamente o modo, a natureza e o valor da

prestação, conforme convencionado pelas partes Não basta apenas a presença de uma das hipóteses autorizadoras

Código de Processo Civil - Art. 899.  Quando na contestação o réu alegar que o depósito não é integral, é lícito ao autor completá-lo, dentro em 10 (dez) dias, salvo se corresponder a prestação, cujo inadimplemento acarrete a rescisão do contrato.

Também devem ser depositados juros e atualização monetária Código Civil - Art. 318. São nulas as convenções de pagamento em ouro ou em moeda estrangeira, bem como para

compensar a diferença entre o valor desta e o da moeda nacional, excetuados os casos previstos na legislação especial.

Consignação das prestações periódicas Todas devem ser depositadas no seu valor nominal, ou com o aumento progressivo convencionado pelas partes Devem ser depositadas na data do vencimento

Lugar da consignação em pagamento

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O depósito deve ser requerido no lugar de pagamento Foro do contrato, ou cláusula específica Na falta de cláusula, o é o foro do domicílio do devedor

Procedimento da consignação em pagamento Ela pode ser judicial ou extrajudicial

A extrajudicial só é possível quando tratar-se de dívida em dinheiro; além disso, não é aceita em qualquer caso

Pagamento com sub-rogação Nada mais é do que o pagamento realizado por terceiro interessado, que, neste caso, substitui o credor na relação entre

este e o devedor Pode ser legal ou convencional

Sub-rogação legal Art. 346. A sub-rogação opera-se, de pleno direito, em favor: I - do credor que paga a dívida do devedor comum;II - do

adquirente do imóvel hipotecado, que paga a credor hipotecário, bem como do terceiro que efetiva o pagamento para não ser privado de direito sobre imóvel;III - do terceiro interessado, que paga a dívida pela qual era ou podia ser obrigado, no todo ou em parte.

Sub-rogação convencional Art. 347. A sub-rogação é convencional:I - quando o credor recebe o pagamento de terceiro e expressamente lhe

transfere todos os seus direitos;II - quando terceira pessoa empresta ao devedor a quantia precisa para solver a dívida, sob a condição expressa de ficar o mutuante sub-rogado nos direitos do credor satisfeito.

Art. 348. Na hipótese do inciso I do artigo antecedente, vigorará o disposto quanto à cessão do crédito. Não pode ser presumida; deve haver expressa menção à transferência dos direitos do credor satisfeito para a

pessoa que faz o pagamento ou empresta o dinheiro necessário para tanto

Efeitos do pagamento com sub-rogação A sub-rogação importa um transpasso do crédito a favor do sub-rogado, que é o terceiro que paga a dívida ou

empresta o dinheiro Todos os direitos, ações e garantias existentes em favor do antigo credor contra o devedor principal, co-devedores e

fiadores são transferidos para o sub-rogado Não são transmitidas ao sub-rogado as faculdades do credor primitivo inerentes à sua pessoa; o devedor não pode

opor contra o sub-rogado as exceções que tinha contra o credor original, salvo quando a sub-rogação é regida pelas regras de cessão de crédito (art. 374, I, Código Civil) – v.g. compensação

Limites à transmissão dos direitos Art. 350. Na sub-rogação legal o sub-rogado não poderá exercer os direitos e as ações do credor, senão até à soma

que tiver desembolsado para desobrigar o devedor. Nem sempre a garantia é transmitida (v.g. hipoteca)

Hipótese de pagamento parcial Art. 346. A sub-rogação opera-se, de pleno direito, em favor:III - do terceiro interessado, que paga a dívida pela qual

era ou podia ser obrigado, no todo ou em parte. sub-roga-se, mesmo que seja pagamento parcial; neste caso, surgirá um concurso de credores

Tem preferência para o recebimento o credor original partes podem convencionar em contrário

Imputação do pagamento É a operação pela qual – na hipótese de vários débitos da mesma natureza – o devedor, o credor ou a lei determina quão

ou quais deles será extinto pelo pagamento insuficiente para solver todos Várias obrigações, da mesma natureza, que vinculam os mesmos credores e devedores

Cinco requisitos: Várias obrigações Mesmo credor e devedor Prestações de mesma natureza Líquidas e vencidas Pagamento insuficiente para cobrir todas

Art. 352. A pessoa obrigada por dois ou mais débitos da mesma natureza, a um só credor, tem o direito de indicar a qual deles oferece pagamento, se todos forem líquidos e vencidos. – Código Civil

O direito de imputar o pagamento cabe, em primeiro lugar, ao devedor; em seguida, ao credor Havendo capital e juros, o pagamento é, primeiro, imputado aos juros vencidos, e depois ao capital O pagamento é imputado às dívidas vencidas em primeiro lugar; se forem todas líquidas e vencidas ao mesmo tempo, far-

se-á na mais onerosa, ou seja, a que tiver juros mais altos Critério da maior onerosidade

Dação em pagamento O credor não é obrigado a receber prestação diversa da combinada, ainda que tenha maior valor, mas pode consentir em

receber prestação diversa da que lhe é devida Há dação em pagamento quando houver qualquer substituição do objeto devido

Requisitos da dação em pagamento Existência de obrigação válida Entrega atual de uma coisa distinta da devida Consentimento do credor Intenção de pagar Capacidade e legitimidade Quando for o caso, forma prevista em lei

Dação em pagamento é regulada pelas normas que disciplinam o contrato de compra e venda

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Mas é contrato real (só obtém plenitude de sua eficácia pelo efetivo cumprimento) e não pessoal (acordo de vontades) Se o credor evicto perder o bem, é restabelecida a obrigação primitiva

Diferença entre dação em pagamento e outras figuras jurídicas Pagamento consiste no cumprimento específico da obrigação, já a dação em pagamento tem por objeto um bem distinto

do devido Novação consiste na substituição de uma obrigação por outra, enquanto a dação em pagamento consiste na substituição

do objeto do pagamento por outro distinto; novação só tem lugar depois de vencida a dívida Pacto comissório é proibido penhor ou hipoteca: credor impõe cláusula que diz que, caso haja inadimplência, o domínio

do bem passa automaticamente para ele

Novação É um acordo pelo qual se extingue uma obrigação, com a imediata criação de outra que substitui a primeira transformação

de uma em outra Há novação quando o novo devedor sucede o antigo, ficando este quite como credor; também quando, em virtude de obrigação

nova, outro credor substitui o antigo Cessão de crédito e débito substituem a novação

Espécies de novação Objetiva: resulta de uma mudança no objeto devido ou na causa da obrigação primitiva substituição da prestação, ou

mudança da causa no momento em que se decide inovar o título Subjetiva: provém da mudança do pólo passivou ou ativo da obrigação, que produz a extinção da obrigação antiga (na

cessão de crédito ou débito a obrigação continua a mesma) Novação subjetiva por substituição do devedor independe do consentimento deste – não cabe ação regressiva

Elementos da novação São necessários os seguintes elementos: a) existência de uma obrigação anterior; b) criação de uma nova; c) ânimo de

novar

Existência de obrigação anterior válida Nulidade relativa da obrigação anterior não impede que ela seja ratificada

Criação de uma nova Dessa criação, depende a extinção da anterior Quando a nova obrigação é nula, não há novação No caso de nulidade relativa, pode haver ratificação, com efeitos retroativos Segunda obrigação pode ser subordinada a condição suspensiva

Ânimo de novar Deve haver vontade de substituir uma obrigação pela outra, caso contrário subsiste a original Deve ser cristalina, livre de qualquer dúvida Prova da existência do animus novandi deve ser efetuada pela parte interessada na extinção da obrigação anterior Simples prorrogação de prazo não constitui novação, nem a confissão de dívida

Compensação Forma de extinção da obrigação que se configura quando duas pessoas forem, ao mesmo tempo, credor e devedor uma da

outra. Obrigação extingue-se até onde se compensarem Para que se caracterize, é necessário que as dívidas sejam líquidas, vencidas e de coisas fungíveis: quem é titular de crédito

ainda não vencido não pode alegá-la Pode ser alegada nos embargos à execução, desde que o título a compensar esteja revestido das mesmas características de

liquidez e certeza do título executivo, cabendo o ônus da prova a quem desejar valer-se dela Não é admissível quando a obrigação vier de esbulho, furto ou roubo; quando uma das obrigações se originar de comodato,

depósito ou alimentos; ou quando uma das obrigações tiver por objeto uma coisa insuscetível de penhora Código Civil - Art. 380. Não se admite a compensação em prejuízo de direito de terceiro. O devedor que se torne credor do seu

credor, depois de penhorado o crédito deste, não pode opor ao exeqüente a compensação, de que contra o próprio credor disporia.

Confusão Há confusão quando a pessoa se torna, ao mesmo tempo, credora e devedora de si mesma não existe obrigação com um

só sujeito Havendo a confusão, extingue-se a obrigação; se for parcial, extingue-se parcialmente Cessada a confusão, é restabelecida a dívida e todos os seus acessórios Se for obrigação solidária, extingue a dívida até a concorrência da respectiva parte

Remissão de dívidas É o perdão de dívida; uma vez aceito pelo devedor, extingue a obrigação, mas sem prejuízo de terceiro No penhor, a devolução do bem não extingue a dívida, mas a garantia apenas Nas obrigações solidárias, a remissão feita a um devedor não exime os demais; mas o credor só pode cobrar o débito deduzida

a dívida remida

Do inadimplemento das obrigações Introdução

Para cobrança forçada, há necessidade de intervenção do poder judiciário Pode ser:

Relativo: não obstante o retardamento, a obrigação ainda pode ser satisfeita de modo útil Absoluto: quando a prestação não mais pode ser realizada ou não é mais útil ao credor

Nos contratos onerosos, o devedor somente tem a obrigação de indenizar quando o descumprimento de sua prestação é culposo ou doloso em caso fortuito ou força maior não há esta obrigação Na doação, só há o direito se houver dolo

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Da mora É a inadimplência relativa de uma obrigação (mesmo conceito e requisitos) Código Civil - Art. 394. Considera-se em mora o devedor que não efetuar o pagamento e o credor que não quiser recebê-lo no

tempo, lugar e forma que a lei ou a convenção estabelecer. Nas obrigações de não fazer, há mora quando o ato é praticado Mora é o cumprimento defeituoso da prestação, de forma que o credor pode exigir a execução da obrigação, mais perdas e

danos. Pode ser do devedor ou do credor Do devedor requer dois elementos:

Atraso Dolo ou culpa

Terceiro elemento pode ser requerido: a interpelação do devedor pelo credor Mora do devedor caracteriza-se pela simples recusa em receber o pagamento no tempo, lugar e forma fixados em lei ou

em contrato

Distintos sistemas de constituição em mora Sistema de interpelação e sistema de mora automática pelo transcurso do tempo próprio para o pagamento Código Civil - Art. 397. O inadimplemento da obrigação, positiva e líquida, no seu termo, constitui de pleno direito em mora

o devedor. Parágrafo único. Não havendo termo, a mora se constitui mediante interpelação judicial ou extrajudicial. não há necessidade de adoção de qualquer providência

Interpelação é necessária somente quando não houver prazo assinado, pouco importando se a obrigação é civil ou comercial

Código Civil - Art. 398. Nas obrigações provenientes de ato ilícito, considera-se o devedor em mora, desde que o praticou. Lei especial pode, porém, exigir a interpelação (DL 911/1969)

Antecipação do vencimento da obrigação Credor não pode exigir antes do vencimento, mas credor pode fazer o pagamento antecipado para se livrar dos encargos

Mas partes podem convencionar o prazo em benefício do credorCódigo CivilArt. 333. Ao credor assistirá o direito de cobrar a dívida antes de vencido o prazo estipulado no contrato ou marcado neste Código:I - no caso de falência do devedor, ou de concurso de credores;II - se os bens, hipotecados ou empenhados, forem penhorados em execução por outro credor;III - se cessarem, ou se se tornarem insuficientes, as garantias do débito, fidejussórias, ou reais, e o devedor, intimado, se negar a reforçá-las.Parágrafo único. Nos casos deste artigo, se houver, no débito, solidariedade passiva, não se reputará vencido quanto aos outros devedores solventes.

Fatores impeditivos da mora Falta de cooperação do credor Tratando-se de obrigações recíprocas, o devedor não incorre em mora se o credor, por sua vez, não realiza sua prestação

exceção do contrato não cumprido

Efeitos da mora O principal efeito da mora é tornar juridicamente relevante o descumprimento da obrigação pelo devedor: a mora implica a

responsabilidade do devedor pelos danos e prejuízos derivados do atraso no cumprimento da obrigação Devedor incorre em juros, mesmo que a prestação não sejam em dinheiro

Código Civil - Art. 406. Quando os juros moratórios não forem convencionados, ou o forem sem taxa estipulada, ou quando provierem de determinação da lei, serão fixados segundo a taxa que estiver em vigor para a mora do pagamento de impostos devidos à Fazenda Nacional.Art. 407. Ainda que se não alegue prejuízo, é obrigado o devedor aos juros da mora que se contarão assim às dívidas em dinheiro, como às prestações de outra natureza, uma vez que lhes esteja fixado o valor pecuniário por sentença judicial, arbitramento, ou acordo entre as partes.

Devedor em mora responde pelos riscos que a coisa vier a sofrer, mesmo em caso fortuito ou força maior; só não responderá pelos danos se provar que não agiu com culpa, ou que o dano sobreviria ainda quando a obrigação fosse oportunamente executada

Exclui a possibilidade de constituir em mora a parte contrária Autoriza a parte a resolver o contrato, ainda que não conste cláusula resolutiva expressa Mora do credor: devedor isento de dolo à responsabilidade pela conservação da coisa; obriga o credor a ressarcir

despesas de conservação

Subsistência do direito do devedor de pagar durante a mora O devedor tem o direito de cumprir a sua obrigação, salvo se esta perdeu sua utilidade para o credor

Recusa a receber autoriza consignação em juízo Regra não absoluta: caso o credor tenha movido ação para resolver o contrato, o devedor não tem direito a efetuar o

pagamento Código Civil - Art. 337. O depósito requerer-se-á no lugar do pagamento, cessando, tanto que se efetue, para o

depositante, os juros da dívida e os riscos, salvo se for julgado improcedente. Com o depósito cessam os efeitos da mora

Extinção da mora Pelas seguintes causas: a) pagamento ou consignação em pagamento; b) renúncia do credor; c) impossibilidade de

pagamento superveniente Renúncia pode ser total ou parcial, conforme compreenda todos os efeitos da mora ou apenas alguns deles Mora accipiendi: extinta por decisão do credor ou do devedor

Dos juros de mora Código Civil – Art. 405. Contam-se os juros de mora desde a citação inicial. só quando não houver dispositivo fixando a

mora em outra oportunidade Código Civil – Art. 397. O inadimplemento da obrigação, positiva e líquida, no seu termo, constitui de pleno direito em mora

o devedor.Parágrafo único. Não havendo termo, a mora se constitui mediante interpelação judicial ou extrajudicial.Art. 398. Nas obrigações provenientes de ato ilícito, considera-se o devedor em mora, desde que o praticou.

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Luiz Guilherme Loureiro – Curso Completo de Direito Civil 42

Diferença entre juros moratórios e juros compensatórios Juros compensatórios: constituem o rendimento do capital; são devidos desde quando pactuados, no montante previsto

pelas partes No contrato de mútuo a incidência de juros compensatórios é sempre presumida relativamente, cabendo ao

mutuário provar que não foram previstos Com o advento da lei 4.595/1964, não se aplicam as limitações fixadas pelo decreto 22.626/1933 de 12% ao ano Juros de mora: natureza indenizatória pelo retardamento

Correção monetária Apenas recompõem o poder de compra da moeda, tendo por fundamento a equidade Código Civil - Art. 389. Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e atualização

monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado. Código Civil - Art. 404. As perdas e danos, nas obrigações de pagamento em dinheiro, serão pagas com atualização

monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, abrangendo juros, custas e honorários de advogado, sem prejuízo da pena convencional.

Código Civil - Art. 316. É lícito convencionar o aumento progressivo de prestações sucessivas. Autorização legal para atualização monetária Vedado reajuste com periodicidade inferior a um ano

Não é devida no curso de contrato que não a prevê, mas incide sobre dívida por ato ilícito a partir da data do efetivo prejuízo (s. 43 do STJ)

Multa moratória É a punição pelo atraso no cumprimento a obrigação máximo 2% Pode ser cumulada com atualização monetária e juros moratórios Espécie de cláusula penal

Limite de juros moratórios Código Civil – Art. 406. Quando os juros moratórios não forem convencionados, ou o forem sem taxa estipulada, ou

quando provierem de determinação da lei, serão fixados segundo a taxa que estiver em vigor para a mora do pagamento de impostos devidos à Fazenda Nacional.

Art. 161, § 1º do CTN – 1% a.m. Podem ser convencionados pelos contratantes até o dobro dos juros legais, ou seja, até 24% a.a. Juros remuneratórios não podem exceder os juros legais

Da cláusula penal Noção

Também chamada de multa contratual ou pena convencional, é o dispositivo pelo qual os contratantes estipulam, de forma prévia, o valor da indenização a ser paga em caso de descumprimento da obrigação ajustada em caso de descumprimento culposo

Obrigação acessória que impõe uma sanção econômica (em dinheiro ou outro bem) para a parte inadimplente Sua nulidade não implica a nulidade do contrato

Cláusula penal também pode ser independente: multa no caso de a obrigação ser inválida ou de o contrato ser rompido por fato fortuito

Pode ser prevista para o caso de inadimplemento da obrigação principal, de obrigação prevista em determinada cláusula do contrato ou ainda na hipótese de mora

Em caso fortuito ou força maior não há incidência da cláusula penal

Natureza da cláusula penal É uma pena privada Decorre da simples inexecução culposa do contrato Não pode ser cumulada com indenização, a não ser que seja decorrente do simples retardamento culposo da prestação Não consiste em um ganho para o credor

Não pode exceder o valor da obrigação principal

Finalidade da cláusula penal Finalidades:

Reforço à obrigação principal Sucedâneo pré-avaliado de perdas e danos devidos em vista do inadimplemento do contrato Restabelecimento do equilíbrio rompido com a inexecução da obrigação pactuada

Credor pode usar o procedimento ordinário, e pleitear indenização, ou optar pela execução da cláusula penal

A cláusula penal é benefício do credor Devedor não pode eximir-se da obrigação entregando a importância da cláusula penal Não confere direito ao arrependimento, ao contrário do arras Código Civil - Art. 410. Quando se estipular a cláusula penal para o caso de total inadimplemento da obrigação, esta converter-

se-á em alternativa a benefício do credor.

Espécies de cláusula penal Compensatória: aplicada no caso de inadimplemento total da obrigação Moratória: no caso de mora Estipulada em segurança especial de cláusula determinada: serve para reparar o dano decorrente do descumprimento de uma

determinada cláusula do contrato, embora não inadimplido em sua totalidade Pode haver cláusula que permita ao credor cobrar prejuízo superior ao estabelecido na cláusula penal

Limite e revisão de cláusula penal Código Civil - Art. 412. O valor da cominação imposta na cláusula penal não pode exceder o da obrigação principal. Pode haver cláusula que permita ao credor cobrar prejuízo superior ao estabelecido na cláusula penal Juiz pode rever a pena: Código Civil - Art. 413. A penalidade deve ser reduzida eqüitativamente pelo juiz se a obrigação

principal tiver sido cumprida em parte, ou se o montante da penalidade for manifestamente excessivo, tendo-se em vista a natureza e a finalidade do negócio.

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Não pode haver cláusula que proíba a redução

Cláusula penal e natureza da obrigação Quando a obrigação for divisível, só incorre na pena o devedor que a infringir, e proporcionalmente à sua parte na obrigação Quando for indivisível, todos respondem pela multa, mas o valor da pena só pode ser exigido integralmente do que caiu em falta Nas obrigações solidárias, o valor pode ser cobrado de qualquer devedor, mas o culpado responde aos outros pela obrigação

acrescida direito de regresso

Arras ou sinal Noção

Soma em dinheiro ou coisa móvel fungível entregue por uma parte a outra, por ocasião da conclusão do contrato, com a finalidade de firmar a presunção de acordo final e tornar obrigatória a avença termo deriva do latim “arrha”, que significa penhor, garantia

Podem ser: Confirmatórias: confirmam o acordo e constituem princípio de pagamento, se a coisa dada for do mesmo gênero da

obrigação principal; se for diversa, deverá ser restituída depois de cumprida a obrigação Penitenciais: admite que a parte se arrependa e volte atrás no negócio entabulado, perdendo em favor do outro

contratante o bem ou valor que deu Estipulação acessória ao contrato É necessário que haja a efetiva entrega principal diferença quanto à cláusula penal

Confirmatórias No silêncio do contrato, são sempre confirmatórias as arras Neste caso, inadimplemento sujeita a parte a indenização por perdas e danos Arras valem apenas como taxa mínima de indenização

Penitenciais Se no contrato foi estipulado que as partes terão direito de arrependimento, as arras ou sinal terão função unicamente

indenizatória Não há indenização suplementar Só são penitenciais se houver no contrato cláusula que faculte o arrependimento

Diferença entre cláusula penal e arras Multa de cláusula penal só é paga em caso de inadimplemento; arras são pagas previamente, na conclusão do acordo Multa penal pode ser reduzida; para as arras não há previsão legal, exceto em caso de relação de consumo (S. do STF)

Da responsabilidade civil

Introdução É a obrigação que pode recair sobre uma pessoa de reparar o prejuízo causado a outrem por conduta própria ou de pessoas,

animais ou coisas que dele dependam Princípio básico: direito neminem laedere os indivíduos podem fazer tudo o que não é vedado por lei e deixar de fazer tudo

aquilo que a lei não exige, desde que não causem danos a terceiros Lei exige de todos um dever de cuidado, de forma que todo aquele que, por ato ilícito, causar dano a outro, tem o dever de

indenizar Responsabilidade nem sempre decorre de culpa

Responsabilidade civil objetiva Código Civil - Art. 931. Ressalvados outros casos previstos em lei especial, os empresários individuais e as empresas

respondem independentemente de culpa pelos danos causados pelos produtos postos em circulação. Ato praticado com abuso de direito também é ilícito

Espécies de responsabilidade Pode ser classificada quanto ao tipo de culpa, em responsabilidade contratual ou extracontratual, também chamada de

aquiliana Na culpa ocorre sempre a violação de um dever preexistente se for originário de um contrato, ela é contratual; caso

contrário, é extracontratual Culpa aquiliana: violação de um dever de cuidado que a todos se impõem Pode se classificada, ainda, em objetiva e subjetiva

Subjetiva é baseada na culpa, considerada um elemento subjetivo que anima a conduta do agente Objetiva independe de culpa, bastando a conduta voluntária, o dano e o nexo causal entre um e outro

Teoria do risco: se alguém exerce uma atividade potencialmente danosa, responde pelos eventos danosos que ela gera para os indivíduos, independentemente de culpa

Teoria da culpa ainda impera no Código Civil

Responsabilidade por fato de outremCódigo CivilArt. 932. São também responsáveis pela reparação civil:I - os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia;II - o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas condições;III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele; (culpa in eligendo ou in vigilando)IV - os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se albergue por dinheiro, mesmo para fins de educação, pelos seus hóspedes, moradores e educandos;V - os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime, até a concorrente quantia.

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Art. 933. As pessoas indicadas nos incisos I a V do artigo antecedente, ainda que não haja culpa de sua parte, responderão pelos atos praticados pelos terceiros ali referidos.

Art. 928. O incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas por ele responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de meios suficientes.

Nesses casos, há o direito de regresso

Elementos da responsabilidade subjetiva ou aquiliana Ato ilícito que obriga a reparar é espécie de fato jurídico Ato ilícito: Código Civil - Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e

causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito; Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.

Código Civil - Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.; Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.

São elementos: o dano, a culpa e nexo de causalidade entre conduta e resultado

Dano Não há responsabilidade sem prejuízo Mesmo que o dano for pequeno, deve ser reparado Para ser ressarcível, deve ser atual e certo não há reparação de dano futuro

No entanto, a reparação de danos por um prejuízo futuro é possível quando este é decorrente de um dano já existente

Dano dever ser certo, fundado sobre fato preciso e não sobre uma hipótese

Culpa Não basta que o agente realize uma conduta contrária ao direito e cause dano a outrem. É preciso ainda que sua ação

seja faltosa, que tenha agido com culpa Na culpa ocorre sempre a violação de um dever preexistente Culpa é a falta do dever de cuidado, que se exige do homem médio

Culpa strictu sensu: imprudência, negligência ou imperícia Culpa lato sensu: inclui também o dolo, que é a intenção de causar dano

O agente quer voluntariamente o ato praticado, sem pretender o resultado prejudicial a terceiro, com a violação do seu direito

Não importa a intensidade da culpa Código Civil - Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano. Parágrafo único. Se houver excessiva

desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz reduzir, eqüitativamente, a indenização. Quando se trata de dano moral, a doutrina e a jurisprudência consideram que o grau de culpa, ou a existência do dolo,

deve ser levada em conta na fixação da indenização Pode haver responsabilidade civil no estado de necessidade Ação em legítima defesa não gera responsabilidade civil

Culpa concorrente É a culpa do agente e da vítima, concomitantemente

Responsabilidade é dividida CDC: culpa concorrente do consumidor não atenua responsabilidade do fornecedor Apenas quando a culpa for igual, cada um arca com seus danos

Teoria do risco Responsabilidade sem culpa

Nexo causal Dano só pode gerar responsabilidade quando for possível estabelecer uma relação de causalidade entre ele e o seu autor Fato só contribui para o resultado quando, sem ele, o dano não teria ocorrido Art. 942. Os bens do responsável pela ofensa ou violação do direito de outrem ficam sujeitos à reparação do dano

causado; e, se a ofensa tiver mais de um autor, todos responderão solidariamente pela reparação. Parágrafo único. São solidariamente responsáveis com os autores os co-autores e as pessoas designadas no art. 932.

Só é indenizável o dano direto e imediato Principais excludentes do vínculo de causalidade são

Legítima defesa Culpa da vítima Fato de terceiro Cláusula de não indenizar Caso fortuito ou força maior

Dano causado por animal Dono é obrigado a indenizar, salvo se provar culpa da vítima ou força maior Responsabilidade fundada na teoria do risco: independe de culpa Mesmo em caso de atropelamento de animal, o dono do mesmo só se exime da responsabilidade de indenizar se

provar que o evento danoso decorreu de culpa exclusiva do motorista ou de caso fortuito Não é necessário provar relação de propriedade, mas simples detenção

Responsabilidade por cobrança indevida Código Civil – Art. 940. Aquele que demandar por dívida já paga, no todo ou em parte, sem ressalvar as quantias

recebidas ou pedir mais do que for devido, ficará obrigado a pagar ao devedor, no primeiro caso, o dobro do que houver cobrado e, no segundo, o equivalente do que dele exigir, salvo se houver prescrição.

A mera cobrança não implica a aplicação do dispositivo; deve haver cobrança judicial

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Qualquer cobrança vexatória e inclusive o protesto indevido de títulos ou documentos de dívida geram o dever de indenizar pelos danos morais causados

Código Civil – Art. 941. As penas previstas nos arts. 939 e 940 não se aplicarão quando o autor desistir da ação antes de contestada a lide, salvo ao réu o direito de haver indenização por algum prejuízo que prove ter sofrido.

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Índice

Capítulo 1: Lei de Introdução ao Código Civil (LICC).................................................................................................1Capítulo 2: Das Pessoas............................................................................................................................................ 8Capítulo 4: Dos Fatos Jurídicos................................................................................................................................ 20Capítulo 5: Do Direito das Obrigações..................................................................................................................... 35Parcial: Modalidades de Obrigações, Adimplemento e Extinção das Obrigações, Inadimplemento das Obrigações e Responsabilidade Civil (PARCIAL)........................................................................................................................... 35