direito civil - resumo contratos (2)

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1 DIREITO CIVIL Contratos Resumo das aulas ministradas pelo Prof. Vitor Frederico Kümpel INTRODUÇÃO Fato jurídico é todo acontecimento que tenha relevância para o Direito. Esses acontecimentos podem ser provenientes da Natureza (fatos naturais) ou da ação humana (atos jurídicos). A diferença entre fato jurídico e ato jurídico é que o primeiro é gênero do qual o último é espécie. Os atos jurídicos podem ser classificados em: ilícitos; lícitos. Os atos jurídicos lícitos, por sua vez, dividem-se em: meramente lícitos, ou atos jurídicos em sentido estrito; negócios jurídicos. Ambos contém declaração de vontade; a diferença encontra-se nos seus efeitos. No ato jurídico em sentido estrito, os efeitos são previstos pela lei; no negócio jurídico, pelas partes. Os negócios jurídicos podem ser: unilaterais: só há uma declaração de vontade (exemplos: testamentos, promessa de recompensa, reconhecimento de paternidade de menores de 18 anos, emissão de cheques etc.); bilaterais: há um acordo de vontades. 1.1. Conceito de Contrato Contrato é um negócio jurídico bilateral, um acordo de vontades, com a finalidade de produzir efeitos no âmbito do Direito. 1.2. Requisitos de Validade do Contrato São os seguintes os requisitos de validade do contrato: agente capaz; objeto lícito, possível e determinado, ou pelo menos determinável, como, por exemplo, a compra de uma safra futura; forma prescrita ou não defesa em lei. O contrato ilícito é gênero, do qual o contrato juridicamente impossível é espécie. O contrato juridicamente impossível só ofende a lei. Já os contratos ilícitos ofendem a lei, a moral e os bons costumes. O contrato de prostituição é um contrato juridicamente possível, mas ilícito.

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DIREITO CIVILContratos

Resumo das aulas ministradas peloProf. Vitor Frederico Kümpel

INTRODUÇÃO

Fato jurídico é todo acontecimento que tenha relevância para o Direito. Essesacontecimentos podem ser provenientes da Natureza (fatos naturais) ou da ação humana (atosjurídicos).

A diferença entre fato jurídico e ato jurídico é que o primeiro é gênero do qual oúltimo é espécie.

Os atos jurídicos podem ser classificados em:ilícitos;lícitos.Os atos jurídicos lícitos, por sua vez, dividem-se em:meramente lícitos, ou atos jurídicos em sentido estrito;negócios jurídicos.Ambos contém declaração de vontade; a diferença encontra-se nos seus efeitos. No

ato jurídico em sentido estrito, os efeitos são previstos pela lei; no negócio jurídico, pelaspartes.

Os negócios jurídicos podem ser:unilaterais: só há uma declaração de vontade (exemplos: testamentos, promessa de

recompensa, reconhecimento de paternidade de menores de 18 anos, emissão decheques etc.);

bilaterais: há um acordo de vontades.

1.1. Conceito de ContratoContrato é um negócio jurídico bilateral, um acordo de vontades, com a finalidade de

produzir efeitos no âmbito do Direito.

1.2. Requisitos de Validade do ContratoSão os seguintes os requisitos de validade do contrato:agente capaz;objeto lícito, possível e determinado, ou pelo menos determinável, como, por

exemplo, a compra de uma safra futura;forma prescrita ou não defesa em lei.O contrato ilícito é gênero, do qual o contrato juridicamente impossível é espécie. O

contrato juridicamente impossível só ofende a lei. Já os contratos ilícitos ofendem a lei, amoral e os bons costumes.

O contrato de prostituição é um contrato juridicamente possível, mas ilícito.

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Forma prescrita é a forma que a lei impõe, sendo de observação necessária seexigida.

1.2.1. Requisito especial dos contratosÉ o consentimento, podendo ser expresso ou tácito.O consentimento tácito ocorre quando se pratica ato incompatível com o desejo de

recusa.Há contratos em que a lei exige o consentimento expresso, não valendo o silêncio

como aceitação. Aqui não se aplica o brocado: quem cala consente. Nada obsta que a leidetermine, em casos excepcionais, que o silêncio valha como aceitação tácita.

1.3. Princípios do Direito Contratual1.3.1. Princípio da autonomia da vontade e princípio da supremacia daordem pública

Esses dois princípios devem ser vistos harmonicamente.Autonomia da vontade é a liberdade de contratar. Os contratantes podem acordar o

que quiserem, respeitando os requisitos de validade do contrato.Quando o Estado intervém nas relações contratuais, mitiga o princípio da autonomia

da vontade e faz prevalecer o princípio da supremacia da ordem pública. Exemplos:Consolidação das Leis do Trabalho, Lei de Locações, Código de Defesa do Consumidoretc. Muitos doutrinadores sustentam a extinção do princípio da autonomia privada e suasubstituição por um novo princípio, mais restrito, o da autonomia privada.

1.3.2. Princípio do consensualismoO contrato considera-se celebrado com o acordo de vontades. A compra e venda de

bem móvel, por exemplo, é um acordo de vontades, sendo a tradição apenas o meio detransferência da propriedade.

Há alguns contratos, no entanto, que exigem, para se aperfeiçoarem, além do acordo devontades, a tradição. São chamados contratos reais. Exemplos: mútuo (empréstimo de coisafungível), comodato (empréstimo de coisa infungível), depósito, doação de bens móveis depequeno valor (também chamada doação manual).

1.3.3. Princípio da relatividadeO contrato é celebrado entre pessoas determinadas, vinculando as partes contratantes. É

possível, entretanto, a alguém que não seja contratante exigir o cumprimento de um contrato. Oprincípio da relatividade ocorre nas estipulações em favor de terceiro (exemplo: seguro de vida,em que o beneficiário é terceira pessoa).

1.3.4. Princípio da obrigatoriedade e princípio da revisão dos contratosOs contratos devem ser observados e cumpridos, sendo esse o postulado do

princípio da obrigatoriedade (pacta sunt servanda). Os contratos de execução prolongadano tempo continuam obrigatórios se não ocorrer nenhuma mudança - Princípio rebus sicstantibus.

Opõe-se ao Princípio pacta sunt servanda - o contrato faz lei entre as partes.A nossa legislação acolhe em parte a regra rebus sic stantibus, trazida pela Teoria da

Imprevisão, que tem os seguintes requisitos:contratos de execução prolongada;.

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fato imprevisível e geral;onerosidade excessiva.

A primeira atitude a ser tomada deve ser a revisão do contrato com a tentativa de serestaurar as condições anteriores. Não sendo possível, rescinde-se o contrato.

O pacta sunt servanda deve ser analisado à luz do direito constitucional, dadignidade da pessoa humana, além dos princípios da boa-fé objetiva e da função social docontrato, que são aplicados e interpretados de forma conjunta e sistematizada. Osprincípios da boa-fé objetiva e da função social do contrato não substituíram o princípio dopacta sunt servanda.

1.3.5. Princípio da boa-féAté prova em contrário (presunção iuris tantum), presume-se que todo contratante

está de boa-fé.

1.4. Fases da Formação do ContratoOs contratos começam com as negociações preliminares. Quanto maior o valor dos

bens, maiores serão as negociações preliminares.Essas negociações não obrigam e não vinculam os contratantes, pois ainda não

passam de especulação de valores e condições.É possível que, após essa fase, surja, de um dos contratantes, uma proposta, a qual

vinculará o proponente. Essa proposta também é chamada policitação ou oblação. Quemfaz a proposta deve sustentá-la. Assim, podemos afirmar que a policitação é umadeclaração de contade, dirigida pelo policitante ao oblato, por força da qual o primeiromanifesta a sua intenção de se considerar vinculado se a outra parte aceitar.

O Código Civil faz distinção entre proposta feita a pessoa presente e proposta feitaa pessoa ausente.

Se a proposta é feita a uma pessoa presente e contém prazo de validade, esse deveser obedecido; se não contém prazo, a proposta deve ser aceita de imediato. É o famoso“pegar ou largar”.

Se a proposta é feita à pessoa ausente, por carta ou mensagem, com prazo pararesposta, esta deverá ser expedida no prazo estipulado. Se a proposta não fixar prazo pararesposta, o Código Civil dispõe que deve ser mantida por tempo razoável (que varia deacordo com o caso concreto). Núncio é o nome que se dá ao mensageiro.

A proposta feita por telefone é considerada "entre presentes". A proposta feita pelaInternet é considerada "entre ausentes".

A proposta ainda não é o contrato: este só estará aperfeiçoado quando houver aaceitação.

A aceitação da proposta "entre ausentes" pode ser feita por carta ou telegrama,aperfeiçoando-se o contrato quando da expedição daqueles.

Se a aceitação, por circunstância imprevista, chegar tarde ao conhecimento do proponente,este comunicá-lo-á imediatamente ao aceitante, sob pena de responder por perdas e danos, pois ocontrato se formou com a aceitação tempestiva.

É possível arrepender-se da aceitação feita por carta, bastando para isso que aretratação chegue ao conhecimento da outra parte antes ou concomitante à aceitação (artigo433 do Código Civil).

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A oferta ao público equivale a proposta quando encerra os requisitos essenciais ao contrato,salvo se o contrário resultar das circunstâncias ou dos usos. Pode revogar-se a oferta pela mesmavia de sua divulgação, desde que ressalvada esta faculdade na oferta realizada.

A aceitação fora do prazo, com adições, com restrições ou com modificações éconsiderada contraproposta ou nova proposta, conforme artigo 431 do Código Civil.

O Decreto-lei n. 58/37 dispõe que os contratos de compromisso de compra e vendade imóveis loteados são irretratáveis e irrevogáveis, salvo previsão em contrário.

Segundo a Súmula n. 166 do Supremo Tribunal Federal, é inadmissível o arrependimentono compromisso de compra e venda sujeito ao regime do Dec.-lei n. 58 de 10.12.1937. Ocompromisso de compra e venda de imóvel loteado é sempre irretratável e irrevogável.

O compromisso de compra e venda de imóvel não-loteado é irretratável eirrevogável, salvo previsão em contrário. Há, portanto, a possibilidade de o contrato tercláusula de retratação.

Se o vendedor se recusa a passar a escritura, o comprador pode requerer a suaadjudicação compulsória.

1.5. Peculiaridades dos Contratos BilateraisOs contratos bilaterais são aqueles que geram obrigações recíprocas para os contratantes.

1.5.1. Contratos bilaterais com prestações simultâneasNesses contratos, nenhum dos contratantes pode exigir judicialmente a prestação do outro

enquanto não tiver cumprido a sua (artigo 476 do Código Civil). A parte contrária defende-sealegando a exceção do contrato não cumprido – exceptio non adimpleti contractus. Tem comopressuposto o descumprimento total do contrato.

Deve ser argüida na contestação. É uma exceção e não uma objeção, pois o juiz nãopode conhecê-la de ofício.

É possível argüi-la tanto se o autor não cumpriu sua parte no contrato como se acumpriu incorretamente.

Se o contrato não for cumprido corretamente, a defesa se chama exceptio non riteadimpleti contractus. Também gera a extinção da ação.

1.6. ArrasArras é o sinal depositado por um dos contratantes no momento em que o contrato é

celebrado.Tem natureza de contrato real, só se aperfeiçoa com a efetiva entrega do valor ao

outro contratante.As arras não se confundem com a cláusula penal, que tem natureza de multa.Há dois tipos de arras: penitenciais e confirmatórias. O ponto em comum que existe

entre as arras penitenciais e as arras confirmatórias é a simultaneidade à celebração docontrato, devendo haver a efetiva entrega da quantia.

As arras penitenciais aparecem se no contrato constar cláusula de arrependimento.Caso contrário, as arras serão sempre confirmatórias.

a) Arras penitenciaisPrevistas no artigo 420 do Código Civil, atuam como pena convencional quando as

partes estipularem o direito de arrependimento, prefixando as perdas e danos.

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Se quem desistir do contrato for quem deu as arras, perdê-las-á; se quem desistir foraquele que as recebeu, deverá devolvê-las em dobro.

Não gera direito de exigir perdas e danos, pois estas funcionam como prefixaçãodaquelas. Não há possibilidade de desistir das arras para pedir perdas e danos.

b) Arras confirmatóriasDe acordo com o artigo 417 do Código Civil, as arras confirmatórias têm a função

de confirmar o contrato e torná-lo obrigatório.Não se confundem com prefixação de perdase danos. Se houver rescisão do contrato, aquele que deu causa responderá por perdas edanos, nos termos do artigo 396 do Código Civil.

Se quem inadimpliu o contrato foi quem recebeu as arras, cabe ao outro contratantepedir rescisão do contrato mais perdas e danos e a devolução das arras. Se oinadimplemento for de quem deu as arras, o valor das perdas e danos será abatido dessemontante.

Contrato preliminar

O contrato preliminar, exceto quanto à forma, deve conter todos os requisitosessenciais ao contrato a ser celebrado.

Concluído o contrato preliminar, com observância do disposto no artigoantecedente, e desde que dele não conste cláusula de arrependimento, qualquer das partesterá o direito de exigir a celebração do definitivo, assinando prazo à outra para que oefetive. Logo, deve-se afirmar que o contrato preliminar possui força obrigatória, nãosendo um mero sinal ou arras na celebração do negócio jurídico.

Esgotado o prazo, poderá o juiz, a pedido do interessado, suprir a vontade da parteinadimplente, conferindo caráter definitivo ao contrato preliminar, salvo se a isto se opusera natureza da obrigação.

Se o estipulante não der execução ao contrato preliminar, poderá a outra parteconsiderá-lo desfeito, e pedir perdas e danos.

1.7. Classificação dos Contratos1.7.1. Unilateral e bilateral

O critério diferencial é o número de obrigações. Os contratos unilaterais geram obrigaçãoapenas para um dos contratantes. Os contratos bilaterais geram obrigações recíprocas, sãochamados contratos sinalagmáticos.

1.7.2. Gratuito e onerosoDiferenciam-se no que diz respeito à vantagem patrimonial. Os contratos gratuitos trazem

vantagens econômicas e patrimoniais somente para um dos contratantes (exemplo: doação pura);os onerosos, para ambos (exemplos: compra e venda; seguro de vida etc.).

Via de regra, o contrato bilateral é oneroso, e o unilateral, gratuito.No Brasil só existe um contrato unilateral e gratuito: é o contrato de mútuo feneratício

(empréstimo de dinheiro a juros).É contrato unilateral porque se aperfeiçoa com a entrega do numerário ao mutuário, não

bastando o acordo de vontades. Feita a entrega, o mutuante exime-se de sua obrigação, restandoapenas deveres ao mutuário.

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Os contratos onerosos subdividem-se em:comutativos: aqueles de prestações certas e determinadas; no momento da

celebração, as partes já conhecem suas vantagens e desvantagens;aleatórios: aqueles que, no momento da celebração, as partes não conhecem as suas

vantagens e desvantagens. Há sempre um elemento de risco neles. Exemplo:compra e venda da safra de arroz do ano seguinte.

1.7.3. Paritários e de adesãoNo contrato paritário as partes têm possibilidade de discutir, estabelecer cláusulas,

modificá-las.O contrato de adesão é o contrato redigido inteiramente por uma das partes; a outra

apenas adere a ele. O Código de Defesa do Consumidor (Lei n. 8.078/90) regulamenta e conceituaessa espécie de contrato no seu artigo 54.

A interpretação dos contratos de adesão, quando de cláusulas obscuras, deve ser em favordo aderente. Exemplos: contrato de cláusulas abusivas (artigo 51 do Código de Defesa doConsumidor): eleição de foro, só vale se não trouxer prejuízo ao aderente; cláusula queimpõe a perda das parcelas pagas; cláusula de plano de saúde que restringe cobertura dedoenças epidêmicas e AIDS.

Nos contratos de adesão, são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia antecipada doaderente a direito resultante da natureza do negócio.

Não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva.

1. EFEITOS DOS CONTRATOS

1.1. Vícios Redibitórios (artigos 441 a 446 do Código Civil)Vícios redibitórios são os defeitos ocultos que existem em um determinado bem,

tornando-o impróprio ao uso a que se destina, ou diminuindo-lhe o valor.A coisa já é adquirida com um defeito oculto. Se o defeito é aparente, presume-se

que o comprador o conheça.No presente texto serão estudados os vícios previstos no Código Civil.

1.1.1. Diferença entre vício redibitório e erroErro é a falta de percepção da realidade. No erro a pessoa adquire uma coisa que não

é a que desejava. Vale o brocardo popular: a pessoa compra “gato por lebre”.No vício redibitório a pessoa compra exatamente o que queria, porém a coisa vem

com defeito oculto.No erro, a coisa não tem nenhum defeito; apenas não corresponde ao desejo íntimo

da pessoa. É subjetivo.No vício redibitório o erro recai na coisa. Daí dizer-se que é objetivo.

1.1.2. Fundamento jurídicoEnsina o Prof. Carlos Roberto Gonçalves que “o fundamento da responsabilidade

pelos vícios redibitórios encontra-se no princípio de garantia, segundo o qual todoalienante deve assegurar ao adquirente, a título oneroso, o uso da coisa por ele adquirida epara os fins a que é destinada. A ignorância dos vícios pelo alienante não o exime da

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responsabilidade, salvo se esta foi expressamente excluída, de comum acordo (CC, art.443)”.

1.1.3. Requisitos do vício redibitórioa) Só existe em contrato comutativo

É subespécie de contrato oneroso. É aquele contrato em que, no momento da celebração,os contratantes já sabem quais são suas vantagens e desvantagens.

b) O vício tem de ser ocultoVício oculto é aquele que não é percebido quando um homem normal examina a coisa.

c) A existência do vício deve ser anterior ao contratod) O vício deve tornar a coisa imprópria ao uso a que se destina, ou lhe reduzir o

valor

1.1.4. Ações edilíciasHavendo vício redibitório cabem ações edilícias.Essas ações podem ser:

Ação redibitória: objetiva rescindir o contrato;Ação quanti minoris ou estimatória: o comprador fica com a coisa, mas com o valor

reduzido, ou seja, com abatimento no preço. A opção cabe ao adquirente.Pode-se mover a ação edilícia esteja o vendedor de má-fé ou boa-fé. Se o vendedor agiu

de má-fé, pode-se pedir a restituição do que o mesmo recebeu, ou a redução do valor, cumuladacom pedido de perdas e danos. Se estava de boa-fé, cabe ao adquirente pedir somente a rescisão docontrato ou o abatimento no preço.

1.1.5. ObservaçõesQuando ocorre erro, a ação cabível é a ação anulatória, que tem prazo prescricional de

quatro anos, contados da efetivação do negócio.Não pode reclamar por vício redibitório quem adquirir a coisa em hasta pública, pois se

trata de uma venda forçada, sendo injusto permitir essa ação contra o expropriado do bem.O Código Civil, sensível à necessidade de alterar prazos, estabeleceu no artigo 445 que o

direito de obter a redibição ou abatimento no preço decai no prazo de 30 dias se a coisa for móvelou de um (1) de for imóvel. O prazo é contado da entrega efetiva, e da alienação reduzido àmetade se quando o negócio jurídico o comprador já estava na posse do bem. Para o vício oculto oprazo só conta do momento em que ele se exterioriza, estabelecendo-se um prazo máximo de 180dias para exteriorizar nos bens móveis, e em um ano se foram imóveis.

1.2. Evicção (artigos 447 a 457 do Código Civil)Segundo o Prof. Carlos Roberto Gonçalves: “Evicção é a perda da coisa em virtude

de sentença judicial, que a atribui a outrem por causa jurídica preexistente ao contrato”.Exemplo: quando o agente compra um carro furtado e a Polícia o apreende o adquirenteficará sem o carro e sem o dinheiro. “O art. 447 do Código Civil prescreve que, nos últimoscontratos onerosos, o alienante será obrigado a resguardar o adquirente dos riscos da perdada coisa para terceiro, por força de decisão judicial em que fique reconhecido que aquelenão era o legítimo titular do direito que convencionou transmitir”.

1.2.1. Requisitos da evicçãoa) Somente existe em contrato onerosoSe ocorre em contrato gratuito, o adquirente não está sofrendo prejuízo.b) Perda da propriedade, posse ou uso do bem

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c) A causa da evicção deve ser anterior ao contratoDe acordo com o Prof. Carlos Roberto Gonçalves: “O alienante só responde pela

perda decorrente de causa já existente ao tempo da alienação”.Exemplo: A é dono de um terreno. A celebra um contrato de compra e venda com B.

Ocorre que C habitava o terreno. C move ação de usucapião contra B. B tem ação deevicção contra A? Depende, se os requisitos do usucapião tiverem sido preenchidos antesda venda, B terá ação contra evicção sofrida por causa de A. Se os requisitos não estavampreenchidos na época da venda, B não tem direitos e deverá arcar com os prejuízos.

d) Sentença que atribua o bem a terceira pessoaA apreensão administrativa também gera a evicção. Deve ser ato de autoridade

judiciária ou administrativa.e) Denunciação da lide (artigo 70, inciso I, do Código de Processo Civil)Para grande parte da doutrina é a única hipótese em que a denunciação da lide é

obrigatória.Exemplo: C vende a B um imóvel, mas A acha que o imóvel é seu. Se A move uma

ação reivindicatória contra B e essa é julgada procedente, B sofrerá evicção. Para Bresguardar-se da evicção, deve promover a denunciação da lide de C. O denunciante é ocomprador que corre risco de sofrer a evicção. O denunciado é o vendedor. Se B nãodenuncia, perderá o direito ao ressarcimento dos prejuízos sofridos com a evicção.

Tratando-se de ação de procedimento sumário, não cabe nenhuma modalidade deintervenção de terceiros, salvo a assistência; portanto, não cabe a denunciação da lide. Osprejuízos da evicção serão requeridos por meio de ação autônoma.

A denunciação da lide é decorrente da evicção; portanto, deve ser obrigatóriaquando for possível; não o sendo, os prejuízos da evicção são requeridos por meio de açãoautônoma.

A pessoa que sofre a evicção tem direito de cobrar do vendedor os seguintes valores:restituição integral do preço pago;se o vendedor vendeu o bem de má-fé, o comprador pode requerer perdas e danos;custas e honorários; a pessoa que deu causa à evicção poderá ser condenada nos

honorários da denunciação da lide e a ressarcir o comprador dos honoráriosadvocatícios que despendeu com a ação principal; o comprador não sofreránenhum prejuízo.

1.2.2. Evicção parcial (artigo 455 do Código Civil)É sofrer a evicção de uma parte do bem que foi objeto do contrato.

Havendo evicção parcial, se essa for de parte considerável do objeto, o evicto podeoptar entre requerer a rescisão do contrato e o dinheiro de volta, ou ficar com o que sobroudo objeto e pedir abatimento no preço, o qual será proporcional à perda.

Se a evicção parcial for de pequena área, não considerável, o evicto só poderá pedirabatimento no preço.

2. EXTINÇÃO DOS CONTRATOS (artigos 472 a 480 do Código Civil)

A classificação e delimitação das formas de extinção dos contratos é controvertida.Seguindo a orientação mais completa e didática trazida pelos Professores Carlos RobertoGonçalves, Maria Helena Diniz e Orlando Gomes, tem-se o seguinte gráfico:

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instantâneaFORMA NORMAL DE EXTINÇÃO Adimplemento

Fator de eficácia

absoluta– nulidade

relativa– Anteriores oucontemporâneas expressaao contrato – condição

resolutiva tácita

– direito de arrependimentoFORMAANORMALDE –inadimplemento (ou inexecução)

voluntárioEXTINÇÃO – Resolução inadimplemento (ou inexecução)

involuntário– onerosidade excessiva

– Supervenientes – bilateral (distrato)à formação – Resiliçãodo contrato – unilateral

– Morte de um dos contratantes– Rescisão

2.1. Forma Normal de Extinção dos ContratosO contrato extingue-se, em regra, com o cumprimento do seu objeto. A execução

pode ser instantânea (pagamento à vista, entrega imediata de um bem etc.), diferida(entrega do bem no mês seguinte), ou continuada (pagamento em prestações).

O cumprimento do contrato é provado pela quitação, feita pelo credor de acordocom o artigo 320 do Código Civil.

2.2. Forma Anormal de Extinção dos ContratosOcorre com a inexecução do contrato por fatores anteriores, concomitantes ou

supervenientes a ele.

2.2.1. Causas ANTERIORES ou contemporâneas ao contratoa) NulidadeO não-preenchimento dos requisitos necessários à perfeição do contrato gera sua

nulidade. As condições a serem observadas para validade do acordo são: capacidade das

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partes e livre consentimento (subjetivos); objeto lícito e possível (objetivos); formaprescrita em lei (formal).

A nulidade decorrente da não-observação dessas exigências pode ser absoluta –quando ferir norma de ordem pública, ou relativa – quando o vício contido for passível deconvalidação.

b) Condição resolutivaDeve ser verificada judicialmente e pode ser tácita – os artigos 475 a 477, do

Código Civil, permitem à parte lesada pelo inadimplemento requerer a rescisão do contratocom perdas e danos, ou expressa – quando convencionadas pelas partes as conseqüênciasda inexecução do contrato.

Todo contrato bilateral possui, implicitamente, cláusula resolutiva tácita.c) Direito de arrependimentoAs partes podem ajustar, expressamente, o direito de arrependimento, que possibilita

a extinção do contrato sem que seja cumprido. Os efeitos do arrependimento estãoprevistos no artigo 420 do Código Civil.

2.2.2. Causas SUPERVENIENTES ao contratoa) Resolução

Por inadimplemento voluntário: sucede da culpa de uma das partes, que nãocumpre o avençado, causando prejuízo ao outro contratante. Asconseqüências estão previstas nos artigos 476 e 477, do Código Civil,sujeitando ainda o inadimplente à cláusula penal (arts. 409 e seguintes doCódigo Civil).

Por inadimplemento involuntário: origina-se no caso fortuito ou força maior, deacordo com o artigo 393 do Código Civil; o devedor não responde pelosprejuízos ocasionados, salvo na hipótese do artigo 399 do Código Civil – seestiver em mora e não conseguir demonstrar que o dano sobreviria mesmoque a obrigação fosse cumprida a seu tempo.

Por onerosidade excessiva: deve decorrer de fato extraordinário; extingue ocontrato pela aplicação da teoria da imprevisão, que impõe a regra rebus sicstantibus.

b) Resilição (artigos 472 e 473 do Código Civil)Deriva da manifestação de uma ou ambas as partes. A manifestação bilateral

verifica-se no distrato, e a unilateral é vista como exceção, porque, em regra, apenas umcontratante não pode romper o avençado.

c) Morte de um dos contratantesÉ forma de extinção anormal dos contratos personalíssimos, que não permitem a

execução pelos sucessores do de cujus.d) RescisãoUtilizado como sinônimo de resolução e resilição, trata-se de modo específico de

extinção de certos contratos celebrados em estado de perigo (quando uma parte tem aintenção de prejudicar a outra com o contrato), ou decorrentes de lesão (quando uma parteaproveita-se da inexperiência ou necessidade da outra para auferir vantagem).