resumo teoria geral do direito civil ii

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    Resumo Teoria Geral do Direito Civil II

    Turma B DIA - 2010/2011

    Regente: Professora Maria Palma Ramalhopor Filipe Mimoso e Patrcia Ganho

    Parte I

    I- FACTOS JURDICOS E NEGCIO JURDICO

    1. Factos jurdicos: classificaes

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    O facto jurdico , normalmente, definido como um evento ao qual o Direito associedeterminados efeitos. Poder-se-ia dizer que o facto jurdico se apresenta como arealidade apta a, integrando uma previso normativa, desencadear a sua estatuio.MENEZES CORDEIRO

    O facto jurdico um acontecimento com relevncia jurdica, uma ocorrncia a que oDireito atribui consequncias jurdicas. Um relmpago que destri uma casa, o nascimentode uma pessoa, a sua morte, o prprio decurso do tempo, so simples factos jurdicos. ODireito atribui-lhes consequncias por si mesmos. O facto jurdico, ao corresponder previso da norma, integrado com a norma e d lugar consequncia jurdica (PPV).

    Factos jurdicos subdividem-se em:

    Factos humanos

    o Voluntrios

    o Involuntrios

    Factos naturais

    Critrios de classificao de factos jurdicos:

    A origem do Facto, por exemplo, se tem origem numa aco humana estamos

    perante um Facto Humano.

    O tipo de efeitos que ele produz reporta-se portanto eficcia jurdica*1;

    A natureza das situaes jurdicas a que se reporta o facto.

    o E, portanto Facto jurdico pessoal, Obrigacional, Real e sucessrio.

    *1. Quando se reporta ao tipo de efeitos, falamos de eficcia jurdica, que corresponde adeterminadas consequncias nas quais, atravs de critrios reconhecidos, ainda quediscutveis, seja possvel apontar as caractersticas da juridicidade, sendo estasconsequncias juridicamente relevantes sempre respeitantes a pessoas. Assim sendo, a

    eficcia jurdica reporta-se de modo necessrio, a situaes jurdicas. Estas situaes,por seu turno, resultam de uma deciso jurdica, ou seja, assumem-se como o acto e oefeito de realizar o Direito, solucionando um caso concreto.

    Da eficcia pode falar-se em:

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    Eficcia constitutiva caso se constitua uma situao antes inexistente na ordem jurdica:por exemplo, h eficcia constitutiva quando, nos termos do artigo 1263.,a) algum seaposse duma coisa, fazendo surgir uma situao possessria;

    Eficcia transmissiva sempre que uma situao j existente, na ordem jurdica, transite

    da esfera de uma pessoa para a de outra; por exemplo, celebrado um contrato de compra evenda, a propriedade da coisa transmite-se do vendedor para o comprador, segundo oartigo 879., alnea a);

    Eficcia modificativa na hiptese de uma situao centrada numa determinada pessoa aise conservar com alteraes no seu contedo; o negcio anulvel que, nos termos do artigo288., seja confirmado, altera-se, por ter sido sanado;

    Eficcia extintiva na eventualidade de se dar o desaparecimento, da ordem jurdica, deuma situao antes existente: cumprida uma obrigao, esta extingue-se.

    A eficcia pode ainda classificar-se consoante a natureza das situaes jurdicas a que sereporte:

    Eficcia pessoal quando a situao jurdica que se constitua, transmita, modifique ouextingue no tenha natureza patrimonial.

    Eficcia obrigacional sempre que alguma dessas quatro vicissitudes se reporte asituaes obrigacionais e real quando tal ocorra perante situaes prprias de coisascorpreas.

    Estas classificaes de eficcia, o mesmo se aplicam aos factos, constitutivos,modificativos, etc.

    No confundir transmisso com sucesso, nesta ocorre a substituio de uma pessoapor outra, mantendo-se esttica uma situao jurdica a qual, por isso, estandoinicialmente na esfera de uma pessoa, surge, depois da troca, na de outra.

    Os factos jurdicos so susceptveis de mltiplas classificaes:

    A mais simples distingue, nos factos jurdicos em geral ou lato sensu*:

    Factos jurdicos em sentido estrito (stricto sensu);

    Actos jurdicos.

    Os factos jurdicos stricto sensu (para efeitos de eficcia considerados comomanifestaes da vontade humana) abrangem eventos da mais diversa natureza. Assim, oque pode haver de comum entre uma inundao, que acciona os mecanismos de um

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    contrato de seguro, uma extraco da lotaria, que confere direitos a determinados prmios, justamente, a presena de eficcia jurdica. No entanto o facto jurdicostricto sensu poderedundar numa manifestao de vontade humana que, no releve, enquanto tal, em termosde eficcia: o Direito trata-a como uma ocorrncia, como sucede com a gesto denegcios (arts.: 464.ss do CC).

    (para efeitos de eficcia so considerados como eventos naturais)

    Os actos jurdicos podem processar-se no espao conferido s pessoas pela autonomiaprivada.

    Quando tal ocorra, eles comportam a classificao de:

    actos jurdicos em sentido estrito Implicam liberdade de celebrao, mas uma

    vez estabelecida, os efeitos produzem-se independentemente da vontade do agente;

    negcios jurdicos H vontade de praticar o acto (Liberdade de celebrao) evontade de estipular o respectivo contedo para produzir determinados efeitos que odireito considera legtimos (Liberdade de Estipulao).

    Na base destes fenmenos, encontra-se a aco humana.

    2. Aco Humana igual ao acto mas em que o fim relevante.

    A aco humana traduz o essencial da eficcia jurdica. O conceito de aco sofreu umaevoluo histrica marcada. Ela comeou por ser entendida em sentido naturalstico: seria

    uma modificao do mundo exterior, causalmente ligada vontade. Mas por esta via, aaco humana mal se distinguiria de uma actuao desenvolvida por um animal, porexemplo, pois tudo se passaria dentro de comuns relaes de causa-efeito, explicveis pelacausalidade, no seu sentido mais mecanicista.

    Intentou-se, ento, introduzir um sentido normativista da aco. Este, adaptado ao DireitoCivil, uma vez que foi elaborado tendo em conta as necessidades do penalismo, dir que, naaco, se assiste a uma afirmao ou negao de valores. Mas no entanto, existem algunsbices respeitantes a esta concepo. Pergunta-se, no fundamental, se a particular aptidoda aco humana para afirmar ou negar valores, lhe advm, apenas, da identidade do

    agente, isto , do facto de ele ser uma pessoa humana, ou se a aco humana, porquehumana, estruturalmente diferente de quaisquer outras aces. No fundo, a conceponormativista no ultrapassava, ainda, o esttico do naturalismo.

    O passo seguinte foi dado pela teoria de aco final ou finalismo, desenvolvida naAlemanha por HANS HENZEL e, entre ns, autonomamente, por MANUEL GOMESDA SILVA.

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    A aco humana no pode ser entendida como puramente causal, no sentido do agenteprovocar, de forma mecnica, determinadas alteraes no mundo exterior: a aco finalporque o agente, consubstanciando previamente o fim que visa atingir pe, na prossecuodeste, as suas possibilidades.

    O que distingue a aco humana de qualquer outra a sua estrutura interna: a acono-humana traduz-se na sucesso mecnica de causa-fim, sendo este determinado poraquela; na aco humana, h uma prefigurao do fim que determina o movimento para oalcanar e os meios para tanto seleccionados: o prprio fim a causa.

    Assim se compreende que actuaes humanas naturalisticamente idnticas possam terconteudos e efeitos muito diferentes, consoante os fins que as animem e justifiquem .Num exemplo clssico, a pessoa que se levanta, num recinto, pode expressar que vai saudarum amigo, pode traduzir traduzir um deputado, no decurso de uma votao no Parlamento.

    Julga-se, no entanto, que o finalismo deve ser levado at ao fim . O acto jurdico emsentido estrito sempre uma aco humana que, como tal, considerada pelo Direito .Quando este dispense a finalidade, deparamos j com um facto jurdico em sentidoestrito.

    No exemplo da ocupao, artigo 1318, algum adquire, de facto, a propriedade de umacoisa apenas por se apossar dela, isto , por a colocar na sua esfera exclusiva de actuao,independentemente de pretender ser seu proprietrio. A lei admite, alias, a ocupao porparte de quem nem tenha uso da razo (art. 1266 que admite tal assero): h, no entanto, afinalidade de captar a coisa e a tal aco que o Direito, depois, atribui a eficciaconstitutiva da propriedade. A pessoa que, contra a sua vontade, fique pegada a uma coisamvel sem dono, no se torna proprietria.

    Segundo o professor Oliveira Ascenso, mover o dedo indicador sem qualquer fim,reflexamente ou por sonambulismo, no um acto nem uma aco: surge como umsimples facto; caso tenha consequncias, elas no seriam no mbito humano. Istoporque, o Direito, por vezes, exige uma finalidade mais profunda do que outras. Masquando abdicasse totalmente de tal factor, haveria j apenas um facto jurdico e no umverdadeiro acto em sentido prprio, isto , uma actuao humana.

    A aco mais do que um simples comportamento exterior. O que caracteriza a aco asntese do comportamento com a sua intencionalidade e o seu fim, num todo incindvel,numa unidade que exprime o agir humano. A aco humana s compreensvel na suaintegralidade. Desconsideradas a intencionalidade e finalidade, o simples comportamentoexterno s pode ser relevante como facto, e no como acto jurdico, como simplesacontecimento ou ocorrncia a que o Direito atribui consequncias. A aco o ser do agirhumano e, como tal, o objecto por excelncia do Direito. S as aces, e no os simplescomportamentos, podem ser julgados lcitos ou ilcitos (PPV).

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    3- Actos lcitos e ilcitos

    O critrio de distino o de conformidade com a lei, projectando-se esta distino igualmente noregime dos efeitos jurdicos do acto, uma distino privativa dos actos jurdicos. (Mota Pinto)

    O acto lcito quando se processe ao abrigo de uma permisso especifica, de umapermisso genrica ou, simplesmente, quando seja irrelevante para o Direito. Os actoslcitos so, muitas vezes, actos jurdicos pois, alem de no desconformes com o sistema, oDireito ainda lhes associa determinados efeitos.

    Os actos lcitos so conformes Ordem Jurdica e por ela consentidos. No podemos dizer que oacto ilcito seja sempre invlido. Um acto ilcito pode ser vlido, embora produza os seus efeitossempre acompanhado de sanes. Da mesma feita, a invalidade no acarreta tambm a ilicitude doacto. (Mota Pinto)

    Os actos ilcitos correspondem a comportamentos humanos desconformes com oDireito,por implicarem actuaes proibidas ou por redundarem no no acatamento deatitudes prescritas.

    Os actos ilcitos, so contrrios Ordem Jurdica e por ela reprovados, importam uma sano para oseu autor (infractor de uma norma jurdica). (Mota Pinto)

    A ilicitude pode provocar um regime jurdico de censura: a culpa.

    3. Actos jurdicos e negcios jurdicos

    Como referido anteriormente, aquando do estudo do instituto da autonomia privada,os actos jurdicos em sentido amplo repartem-se em actos jurdicos em sentidoestrito (stricto sensu) artigo 295. do CC e em negcios jurdicos 217 eseguintes, consoante postulem mera liberdade de celebrao ou, mais longe, assentemna liberdade de celebrao e na liberdade de estipulao.

    Segundo a concepo da Regente, existem dois critrios fundamentais na distino deactos jurdicos e negcios jurdicos:

    O critrio de relevo da vontade das partes para a produo dos efeitos do acto;

    Critrio do grau de liberdade do sujeito. Ou seja, o sujeito pratica o acto, tem

    portanto liberdade de estipulao, mas est predominantemente sujeito aos efeitosda lei.

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    E, ainda segundo a Regente existe uma distino gradual entre ambos, porque existemactos que so praticamente negcios jurdicos, porque a liberdade de estipulao do autorem alguns casos maior.

    Os actos jurdicos so comportamentos voluntrios juridicamente relevantes. So

    comportamentos de pessoas, de pessoas humanas ou colectivas, aos quais o Direitoreconhece relevncia como comportamentos voluntrios e livres. Diferentemente dossimples factos jurdicos, no so ocorrncias juridicamente relevantes, mas sim actosvoluntrios, da autoria de pessoas, humanas ou colectivas, que o Direito valora comotais, isto , como actos voluntrios. Em relao aos simples factos jurdicos, tm comocaractersticas, o serem voluntrios e o serem da autoria de pessoas e a elas imputveis.Os actos jurdicos tm algo de comum com os factos jurdicos e algo de comum com osnegcios jurdicos. De comum com os factos jurdicos tm o ser objecto de valoraojurdica; de comum com os negcios jurdicos tm a relevncia da voluntariedade. Talcomo os simples factos jurdicos, os actos jurdicos tm um papel quase passivo na

    determinao da consequncia jurdica. Embora o Direito exija que sejam voluntrios, aintencionalidade e afinalidade com que sejam praticados no relevante para adeterminao da consequncia jurdica.Isto significa que, no domnio do acto jurdico, o papel da autonomia privada acentuadamente reduzido (PPV).

    Os actos jurdicos podem classificar-se em actos declarativos ou declaraes e actosreais ou operaes(PPV).

    As declaraes so actos dirigidos a outros e que tm um contedo comunicativo. Tmde ter um ou mais destinatrios, determinados - declaraes receptcias ou recipiendas ou indeterminados- declaraes no receptcias ou no recipiendas. Alm disso, tm deter uma funo de comunicar um contedo e de ter um contedo a comunicar a essesdestinatrios: so actos de comunicao.Os actos reais ou operaes so simples comportamentos voluntrios de pessoas emrelao aos quais o Direito atende voluntariedade da sua prtica, mas que no tmcontedo comunicativo (PPV).

    Esta classificao dos actos jurdicos em actos declarativos e actos reais no deve

    confundir-se, porque no coincide, com a classificao dos actos jurdicos em negociaise no negociais. Sobretudo no deve pensar-se que apenas os actos declarativos sonegociais. H actos que so mais negociais e outros que o so menos. O acto pode sermais ou menos negocial. No possvel e constitui factor de impreciso dividir emtermos binrios, todos os actos jurdicos em duas classes estanques: a classe dos actostotalmente negociais e a classe dos actos nada negociais. mais significativo distinguir,

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    consoante a maior ou menos liberdade de celebrao e a maior ou menor liberdade deestipulao, os actos jurdicos em mais ou menos negociais (PPV).

    Negcios jurdicos- So actos de autonomia privada que pem em vigor uma regulaojurdica vinculante para os seus autores, com o contedo que estes lhe quiserem dar, dentro

    dos limites jurdicos da autonomia privada (os efeitos dos negcios jurdicos produzem-seex voluntate) Ex: o testamento e os contrato ( artigo 405.) (PPV).

    Os negcios jurdicos so actos jurdicos constitudos por uma ou mais declaraes devontade, dirigidas realizao de certos efeitos prticos, com inteno de os alcanar sobtutela do direito, determinando o ordenamento jurdico, a produo dos efeitos jurdicosconformes inteno manifestada pelo declarante ou declarantes.

    Diferentemente do que sucede com os actos jurdicos simples e com os meros factosjurdicos, no caso dos negcios jurdicos no a Lei que determina unilateral e fixamente

    as consequncias jurdicas. O regime jurdico e as consequncias jurdicas dos negciosjurdicos so institudas pelos prprios negcios. A causa eficiente a autonomia privada eno a Lei. Como actos de autonomia privada, os negcios no regem, em princpio, paraalm das suas partes: no tm eficcia sobre terceiros, nem os vinculam (s vinculam osseus autores) e, dentro do mbito material da autonomia privada criam direito (PPV).

    Teoria dos efeitos jurdicos - Para esta doutrina os efeitos jurdicos produzidos, tais como alei os determina, so perfeita e completamente correspondentes ao contedo da vontade daspartes. Haveria uma vontade das partes dirigida produo de determinados e precisosefeitos jurdicos.

    Este ponto de vista no fornece o correcto diagnstico ou o correcto critrio para adeterminao da relao que intercede no negcio jurdico entre a vontade dos seus autorese os efeitos jurdicos respectivos. Alis, a ser esta doutrina correcta, s os juristascompletamente informados sobre o ordenamento podiam celebrar negcios jurdicos.

    Teoria dos efeitos prticos - As partes manifestam apenas uma vontade de efeitos prticosou empricos, normalmente econmicos, sem carcter ilcito. A estes efeitos prticos ouempricos manifestados, faria a lei corresponder efeitos jurdicos concordantes.Tambm esta concepo inaceitvel. Tal como define o negcio jurdico este no se

    distingue dos compromissos ou convenes celebrados sob o imprio de outrosordenamentos normativos (cortesia, moral, praxes sociais, etc.).

    Teoria dos efeitos prticos-jurdicos - o ponto de vista correcto. Os autores dosnegcios jurdicos visam certos resultados prticos ou materiais e querem realiz-los porvia jurdica. Tem, pois, tambm uma vontade de efeitos jurdicos.

    Os negcios jurdicos so actos jurdicos constitudos por uma ou mais declaraes de

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    vontade, dirigidas realizao de certos efeitos prticos, com inteno de os alcanar sobtutela do direito, determinado o ordenamento jurdico produo dos efeitos jurdicosconformes inteno manifestada pelo declarante ou declarantes.

    A importncia do negcio jurdico manifesta-se na circunstncia de esta figura ser um

    meio de auto ordenao das relaes jurdicas de cada sujeito de direito. Est-se perante oinstrumento principal de realizao do princpio da autonomia da vontade ou autonomiaprivada.

    O negcio jurdico enquadra-se nos actos intencionais e caracteriza-se sempre pelaliberdade de estipulao. No que toca sua estrutura, o negcio jurdico autonomiza-secomo acto voluntrio intencional e por isso acto finalista.

    No negcio, tem de haver de aco, sem esta, o negcio inexistente. O autor do actotem de querer um certo comportamento exterior por actos escritos ou por palavras. Tem deser de livre vontade, de outra maneira ser inexistente (ex. coaco fsica), tem de haveruma declarao (exteriorizao da vontade do agente), constitui um elemento de naturezasubjectiva.

    O comportamento no basta ser desejado em si mesmo, necessrio que ele sejautilizado pelo declarante como meio apto a transmitir um certo contedo decomportamento. (MOTA PINTO)

    Associadas ao negcio jurdico esto a liberdade de celebrao de a liberdade de

    estipulao:A liberdade de celebrao postula uma livre deciso por parte do autor de celebrar ou deno celebrar negcio, bem como a liberdade de determinar o contedo do negcio jurdico.O autor tem tambm o poder de determinar em que termos se quiser vincular, qual ocontedo da regulao que com o negcio vai pr em vigor, quais os moldes em que o seunegcio vai produzir modificaes na sua esfera jurdica.PAULO CUNHA, seguido porMENEZES CORDEIRO, assenta a diferena entre actojurdico e negcio jurdico na distino entre liberdade de celebrao e liberdade deestipulao. No acto jurdico, o autor teria apenas a liberdade de celebrao, no lheassistindo liberdade de estipulao; no negcio jurdico, diferentemente, o autor terialiberdade de celebrao e de estipulao (PPV).

    Ao assumir como critrio da negocialidade a liberdade de estipulao, esta perspectivadesconsidera negcios jurdicos de crucial importncia como, por exemplo, o casamento,em que no existe liberdade de estipulao, e que seriam assim despromovidos categoriade simples actos jurdicos. Ora, o casamento, tanto no regime que a lei lhe d em especialna particular relevncia e regime dos vcios da vontade como na especial intensidade com

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    que nele intervm o princpio da autonomia privada, no deve ser tido como simples actojurdico no negocial (PPV).

    Melhor critrio parece ser aquele que se situa a diferena entre o acto jurdico simples e onegcio jurdico em ser tributria da autonomia privada, ou apenas da lei, a modificao

    consequentemente provocada na Ordem Jurdica. No negcio jurdico, a regulao que posta em vigor tributria da autonomia provada; no acto jurdico simples, tributria dalei (critrio adoptado por Oliveira Ascenso, por exemplo). A existncia ou no deliberdade de estipulao mais um indcio do carcter negocial, do que o seu critrio. Masno determinante. Assim, o casamento, por exemplo, um negcio jurdico, embora osnubentes no tenham, no que lhes respeita, liberdade de estipulo, porque a sua eficciajurdica tributria da autonomia privada e no da lei. Tambm os contratos de contedorgido ou fixo, como, por exemplo, os contratos de compra e venda celebrados em massa nocomrcio retalhista, no deixam de ter carcter negocial pelo simples facto de, na sua

    celebrao, no ter sido admitida a negociao do contedo. Na verdade, no por haverliberdade de estipulao que existe negcio jurdico, mas antes o inverso, por havernegcio jurdico que h liberdade de estipulao. A liberdade de estipulao implicadapela negocialidade e constitui, sem dvida um seu indcio, mas no deve ser tida como seunico critrio, nem mesmo como seu critrio determinante (PPV).

    A invalidade do negcio jurdico traduz-se na sua no vigncia no mbito do Direito. Emprincpio, as promessas e compromissos de pessoas, ou os acordos entre si celebrados, noalcanam vigor jurdico se forem ilcitos (PPV).

    Pressupostos dos negcios jurdicos:

    As partes- Os negcios jurdicos pressupem pessoas que os tenham celebrado e que sejampartes deles. Os negcios jurdicos so celebrados por pessoas, por pessoas humanas ou porpessoas colectivas, que so os seus autores. As partes podem fazer-se substituir por pessoasa quem confiram poderes de representao, os menores e os interditos pelos respectivosrepresentantes legais e as pessoas colectivas pelos seus representantes orgnicos e por suavez por procuradores. A parte no o mesmo que a pessoa e pode ser constituda por vriaspessoas. Parte o titular dos interesses (Oliveira Ascenso). Cada parte corresponde, no

    negcio, a um ncleo de interesses (PPV).

    Capacidade- A incapacidade tem como consequncia a invalidade do negcio jurdico. H,contudo, que distinguir consoante a falta de incapacidade se traduz em incapacidade degozo, em incapacidade de exerccio ou em incapacidade acidental. A falta de capacidade degozo tem como consequncia, em princpio, a nulidade do negcio. A nulidade do negciojurdico celebrado com incapacidade de gozo decorre do art 294 CC. O negcio jurdico

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    celebrado por quem estiver afectado por uma incapacidade de exerccio , em princpio,apenas anulvel (PPV).

    Legitimidade- A legitimidade a particular posio da pessoa perante concretos bens,interesses ou situaes jurdicas que lhe permite agir sobre eles. A legitimidade um dos

    pressupostos do negcio jurdico, no sentido de que o seu autor s pode, atravs donegcio, agir sobre e em relao a bens, interesses ou situaes jurdicas desde que paratanto tenha legitimidade. A falta de legitimidade tem como consequncia em princpio aineficcia, que se traduz na falta de produo, total ou parcial e absoluta ou relativa, dosefeitos tpicos do acto (ex: art 268 CC) (PPV).

    Objecto- (ver art 280) til distinguir com clareza, por exemplo, na compra e venda, deum lado, a transmisso da propriedade da coisa mediante um preo e o que a esse propsitofoi estipulado, que seria o objecto imediato e que constitui o contedo do negcio, e, do

    outro, a coisa comprada e vendida, cuja propriedade transmitida pelo negcio, que seriaento o objectostricto sensu ou mediato, que o bem sobre o qual o negcio incide eproduz efeitos, o bem de cuja propriedade as partes dispem na compra e venda.

    5- Actos jurdicos em sentido estrito

    Os simples actos jurdicos, so factos voluntrios cujos efeitos se produzem, mesmo queno tenham sido previstos ou queridos pelos seus autores, embora muitas vezes haja

    concordncia entre a vontade destes e os referidos efeitos. Os efeitos dos simples actosjurdicos ou actos jurdicos stricto sensu produzem-se ex. lege e no ex. voluntate.(Mota Pinto)

    O acto jurdico traduz o exerccio da autonomia privada marcado pela presena, apenas,de liberdade de celebrao.

    O Direito associa, pois, efeitos jurdicos aos simples actos, por se tratar demanifestaes de vontade humana, quando no, estar-se-ia perante factos jurdicos emsentido estrito; mas os efeitos em causa esto normativamente predeterminados, nopodendo as pessoas interferir na sua concreta formulao.

    Os actos jurdicos em sentido estrito correspondem a uma forma menos elevada doexerccio da autonomia privada. Assim se compreende que eles se documentem,sobretudo, no domnio do Direito das coisas (o apossamento, artigo 1263. alnea a), aocupao, artigo 1318. ou a especificao, artigo 1338); no Direito da famlia, porexemplo, o contrato de casamento (artigo 1577.), ou a perfilhao (artigo 1849.). No

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    Direito das obrigaes, pelo contrrio, dominam os negcios, como se depreende doartigo 405..

    MANICK estabeleceu uma classificao de actos jurdicos em sentido estrito,bastante divulgada, mais tarde por KLEIN. Embora essencialmente descritiva,

    importante ter em ateno alguns aspectos:

    Puras actuaes exteriores, por exemplo, os actos que integrem a ocupao de uma

    coisa ou a perseguio e captura de animais;

    Actuaes que impliquem ainda certas opes interiores, por exemplo, a escolha

    de um domicilio ou de uma sede da pessoa colectiva;

    Actuaes que traduzam matria j prefixada, por exemplo, o acto de perfilhar;

    Comunicaes, sejam elas de conhecimentos ou de vontade.

    Todos estes actos tm em comum a ausncia de liberdade de estipulao; no seuconjunto eles do uma ideia da realidade que se lhes obriga.

    Importa considerar distines especificas dos actos jurdicos em sentido estrito:

    Actos quase negociais, equivalentes aos actos jurdicos em sentido estrito, que se

    analisem numa pura manifestao de vontade, por exemplo, a perfilhao;aplicao das regras jurdicas respeitantes ao negcio juridico (art 808 CC)

    Actos materiais, correspondentes aos actos jurdicos em sentido estrito, que

    resultem de actuaes materiais voluntrias, por exemplo, um apossamento.

    Aos actos jurdicos em sentido estrito aplicam-se, na medida do possvel, as regrasrespeitantes do negcio jurdico; tal o regime defendido pela doutrina e consagrado noartigo 295.

    Finalmente, o princpio geral do artigo 295. pode ser aplicado a actuaes humanas que,por serem puramente funcionais, no possam considerar-se actos, marcados, pelaliberdade de celebrao. To ser o caso duma sentena judicial. Esta, por via do artigo295. do CC, dever ser interpretada luz do artigo 236..

    4. Estrutura do negcio jurdico

    Envolve uma ou mais partes (unilateral ou bilateral) as partes devem estar aptas a

    celebrar o negcio jurdico;

    O bem jurdico deve ser idneo para esse efeito;

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    As partes podem estabelecer o contedo de forma mais ampla ou mais restrita;

    Est na disponibilidade das partes para que estas configurem determinados

    elementos essenciais. No entanto, a Liberdade das partes no total, est sujeita adeterminados limites estabelecidos pela Lei.

    A doutrina tradicional, desenvolvida no Direito comum e adoptada, por exemplo, porMANUEL DE ANDRADE, distinguia, com referncia ao negcio jurdico, trs tipos deelementos dos negcios jurdicos:

    Elementos essenciais;

    Elementos naturais;

    Elementos acidentais.

    Os elementos essenciais, necessariamente presentes em cada negcio jurdico,abrangiam elementos gerais e especficos:

    Elementos gerais deveriam surgir em todos os negcios. E seriam elementos

    essenciais gerais a capacidade das partes, a declarao ou declaraes de vontade eo objecto possvel: qualquer negcio jurdico deveria, para existir em termos devalidade, reunir estes elementos.

    Elementos especficos seriam os elementos imprescindveis para caracterizar

    determinado tipo negocial, distinguindo-o dos demais. Variariam consoante o

    tipo negocial considerado; por exemplo, na compra e venda, o preo seria essencialpara que se pudesse, ter em conta, a presena desses especifico contrato.

    Os elementos naturais so os efeitos que, por sua natureza, os diversos negcios deveriamproduzir, mas que as partes podem, ao abrigo da sua autonomia privada, validamenteafastar. Correspondem a normas supletivas, isto , a normas cuja aplicao fica nadisponibilidade das pessoas. Tais normas predominam no Direito das Obrigaes, aocontrrio do que sucede nos restantes trs sectores do Direito Civil.

    Os elementos acidentais correspondem a estipulaes que no sejam necessrias para aconsistncia de um negcio e que o Direito no preconiza, ainda que a ttulo supletivo,para o tipo negocial considerado. As partes podem, contudo, ao abrigo da sua autonomiaprivada, inclui-las nos negcios que celebrem.

    Doutrina do Professor Paulo Cunha

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    Elementos necessrios so os que a lei exija para a validade de todo e qualquer

    acto jurdico; subdividir-se-iam, ainda, em elementos essenciais, sem os quais nohaveria negcio, e em elementos habilitantes, requeridos para a sua total validade;

    Elementos especficos correspondem aos requeridos para cada tipo de acto; o

    preo, na compra e venda, a renda, no arrendamento, etc;

    Elementos naturais derivam da lei: ela estabelece-os para, supletivamente,

    servirem dos diversos tipos negociais, de acordo com a sua natureza;

    Elementos acidentais abrangem os introduzidos, em cada caso, pela vontade das

    partes; poderiam ainda ser tpicos, quando j se encontrem conceitualizados pela lei,por exemplo, o prazo ou a condio, ou variveis, quando derivem da vontade daspartes.

    Doutrina do Professora Castro Mendes e tambm defendida pela regente, Prof.Doutora Maria do Rosrio Palma Ramalho:

    Defende a existncia de Pressupostos e Elementos do negcio.

    Pressupostos condies externas ao negcio, mas que determinam a sua validade einvalidade. Estes podem ser divididos entre:

    Subjectivos condies externas de validade do negcio atinentes aos sujeitos (v.g.

    capacidade dos contraentes celebrarem o negcio);

    Objectivos condies externas de validade do negcio, atinentes ao objecto, eportanto ao fim do mesmo. O fim do negocio deve ser de acordo com a lei.

    Elementos do negcio:

    Essenciais aquelas clausulas do negcio sem as quais ele se descaracteriza;

    Acidentais

    5. Classificaes dos negcios juridicos Negcios unilaterais e multilaterais ou contratos

    O negcio diz-se unilateral quando tenha uma nica parte; multilateral ou contratoquando, pelo contrrio, se assuma como produto de duas ou mais partes.

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    A ideia de parte no equivale de pessoa: num negcio, unilateral ou multilateral, vriaspessoas podem encontrar-se interligadas, de modo a constituir uma nica parte. E,portanto a ideia de parte corresponde titularidade de determinado interesse,consoante o nmero e diversidade de interesses presentes, no apenas de nmero deautores.

    A distino entre negcios unilaterais e contratos no pode repousar em apregoadasdiferenas genticas, nmero de pessoas, de declaraes ou de interesses, mas sim nosefeitos que venham a ser desencadeados:

    Nos negcios unilaterais os efeitos no diferenciam as pessoas que, eventualmente nelestenham intervindo; por isso, tende, neles, a haver uma nica pessoa, uma nica declaraoou um nico interesse; a inexistncia de tratamentos diferenciados permite, em termosformais, considerar no seu seio a presena de uma nica parte: apenas se distingue asituao desta da dos restantes, os terceiros. So exemplos de negcios unilaterais o

    testamento (artigo 2179./1); a renncia (artigo 1476./1,e), ou a confirmao (artigo288.);Negcios unilaterais uma nica declarao (ainda que feita por diversas pessoas);distintas declaraes podem dar azo a um mero negcio unilateral desde que se encontremordenadas de modo paralelo.

    De referir que os negcios jurdicos unilaterais pem em vigor uma consequncia ouregulao jurdicas, independentemente da concordncia ou do consenso de uma outraparte. O autor do negcio unilateral pode vincular-se a si prprio, mas no pode vincularoutrem sem o seu consentimento. Este poder de rejeitar decorre da Autonomia Privada:

    todas as pessoas tm o direito de proteger a sua esfera jurdica contra intromisses alheiasno desejadas e no consentidas, e so livres de querer ou no querer adquirir um direitoque outrem lhes queira atribuir. Os limites Autonomia Privada e ao contedo dosnegcios jurdicos unilaterais so os mesmos que se pem, em geral, aos contratos: so oslimites da Lei, da Moral e da Natureza (art 280).

    Nos contratos os efeitos diferenciam duas ou mais pessoas, isto : fazem surgir, a cargode cada interveniente, regras prprias, que devem ser cumpridas e possam ser violadasindependentemente umas das outras; e em consequncia, tendem a surgir varas declaraes,vrias pessoas e vrios interesses. So exemplos: a compra e venda (artigo 874.), a

    doao (artigo 940.), a sociedade (artigo 980.) ou o casamento (artigo 1577.).Negcios multilaterais ou contratos- declaraes so vrias; as declaraes contratuais tmde ser contrapostas para realmente existir um contrato.

    Os negcios unilaterais completam-se, por definio, com a declarao que osconsubstancie; dispensa-se qualquer anuncia de outros intervenientes. Com especificidade,a doutrina apresenta a sua sujeio a um principio da tipicidade, com base no artigo

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    457., entende-se que apenas seria possvel celebrar os negcios unilaterais expressamenteprevistos na lei, no podendo, pois, compor-se tipos negociais novos, ao abrigo daautonomia privada. Um melhor estudo das fontes revela, no entanto, que a tipicidade , to-s, aparente: o legislador permitiu, atravs de vrios esquemas que os interessadosengendrem, negcios no tipificados em leis. O nosso pensamento evoluiu, desde ento,

    para uma ideia de tipicidade imperfeita, na medida em que, so possveis a celebraode negcios no previstos directamente na lei.

    Os contratos resultam do encontro de duas vontades, atravs de uma proposta e deuma aceitao.

    O principio geral dos contratos o principio da atipicidade (artigo 405. do CC),podem ser celebrados os contratos que as partes pretenderem estabelecer, desde que dentrodos limites da lei.

    Dentro dos negcios contratuais, importa, pelo seu relevo, referenciar as seguintessubdistines:

    Contratos sinalagmticos e no sinalagmticos consoante dem lugar a

    obrigaes recprocas, ficando as partes, em simultneo, na situao de credorese devedores ou, pelo contrrio, apenas facultem uma prestao; alguma doutrinachama ainda, aos contratos sinalagmticos, respectivamente bilaterais.

    Contratos monovinculantes e bivinculantes conforme apenas uma das partesfique vinculada ou ambas sejam colocadas nessa situao ; esta classificao nose confunde com a anterior: um contrato pode ser sinalagmtico, isto , implicar

    prestaes correlativas e no obstante, apenas uma das partes se encontrar vinculada sua efectivao; assim, no contrato-promessa unilateral (artigo 411) hsinalagma uma vez que a sua concretizao, atravs do contrato-definitivo, exigedeclaraes de ambas as partes: mas apenas uma das partes deve prestar, se a outraquiser e esta presta quando quiser e caso queira que a outra preste.

    Promessa ao pblicoNos arts 459 a 462, o CC contm a regulao tpica das promessas pblicas. Sonegcios jurdicos unilaterais pelos quais os seus autores prometem publicamente

    (feita a pessoa determinada ou feita ao pblico), uma prestao a quem se encontrarnuma certa situao ou praticar certo facto, positivo ou negativo. Ex: (quandoalgum oferece alvssaras a quem encontrar um objecto perdido, ou um prmio aquem executar uma obra literria, etc). A promessa ao pblico, como negciojurdico unilateral que , vincula o promitente. Esta vinculao traduz-se naconstituio de uma obrigao na esfera jurdica do promitente e num direitosubjectivo na esfera jurdica do beneficirio da promessa. Como proposta contratual

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    que , deve satisfazer todos os requisitos de uma proposta: completude, firmeza esuficincia formal.Com a promessa pblica no deve ser confundida a proposta pblica (Oferta aopblico), a que o Cdigo Civil se refere no art 230. A proposta pblica tambm um negcio jurdico unilateral, mas com um contedo e uma eficcia

    jurdica muito diferente da promessa pblica (ver ponto da Oferta aoPblico dentro da alnea Formao dos Contratos) (PPV).

    Negcios inter vivos e mortis causa

    Os negcios inter vivos destinam-se a produzir efeitos em vida dos seus

    celebrantes.

    Os negcios mortis causa intrinsecamente concebido pelo Direito para reger

    situaes jurdicas desencadeadas com a morte de uma pessoa. Em termos prticos,

    ele regulado pelo Direito das sucesses. Como exemplos de negcios mortis causaocorrem o testamento (artigo 2179.) e os pactos sucessrios (artigos 1700. eseguintes). A generalidade dos negcios inter vivos. E, ainda, este tipo denegcios no tem preocupaes de equilbrio, uma vez que surge como liberalidade,e assenta no valor fundamental da vontade do falecido o de cuius. Implica, assimregras prprias de interpretao e de aplicao.

    E, portanto, as partes ao abrigo da sua autonomia privada, podem estipular que os seusnegcios produzam efeitos com a morte de alguma delas. No obstante, o negcio intervivos por assentar num tipo de regulao primacial destinado a reger relaes entre vivos.

    Assim sucede com o contrato de seguro de vida, que produz efeitos com a morte dosegurado.

    Negcios formais e consensuais

    O Direito portugus, tem vindo a evoluir, considerando o consensualismo negocial,segundo o artigo 219. do Cdigo Civil, os negcios s requerem uma forma especialquando a lei o exigir.

    Nestes termos, compreende-se a contraposio entre negcios formais e consensuais.

    So consensuais os negcios que, por no carem sob a estatuio de normascominadoras de forma especial, sejam susceptveis de concluso por simplesconsenso. E, portanto negcios cuja forma corresponda ao que as partesestabelecerem.

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    So formais os negcios cuja concluso a lei exija determinado ritual na

    exteriorizao da vontade. E, portanto, o negcio cuja forma corresponda auma exigncia legal.

    Todos os negcios tm forma, mas revestem uma forma em especial, seno no

    chegam a realizar-se, todavia essa forma escolhida pelos autores.

    Negcios obrigacionais, reais, familiares e sucessrios

    So classificados como obrigacionais os negcios jurdicos dos quais resulte a vinculaodas partes, ou de alguma delas, execuo de prestaes, isto , a comportamentos devidos.So obrigacionais, por exemplo, o mando e, de acordo com a doutrina tradicional, tambmo arrendamento e o comodato.

    Negcios jurdicos reais so, por um lado, os que tm efeitos de direitos reais eficcia real

    e, por outro, os que se materializam com a entrega da coisa que constitui o seu objecto.

    Como negcios jurdicos familiares so classificados aqueles que tm or contedo aconstituio, modificao ou extino de situaes ou relaes jurdicas familiares.Incluem-se nesta classe, por exemplo, o casamento, a conveno antenupcial, a adopo,etc.

    Como negcios jurdicos sucessrios classificam-se os que tm por contedo aconstituio, modificao e extino de situaes e relaes jurdicas sucessrias. Soexemplos, o testamento, a aceitao, o repdio, e a alienao da herana ou a sua partilha.

    (PPV).

    Negcios tpicos e atpicos

    O negcio jurdico o produto da autonomia privada no seu mais elevado nvel: implicaliberdade de celebrao e de estipulao.

    Mas isso no impede que a lei fixe o regime de verdadeiros negcios jurdicos; f-lo,porm, a ttulo supletivo, disponibilizando figurinos que as partes podero adoptar ou, pelocontrrio, abandonar ou adaptar como entenderem.

    O negcio tpico quando a sua regulao conste da lei;

    O negcio atpico quando tenha sido estatuda pelas partes.

    Os tipos legais so aqueles que constam na lei e que a encontram uma disciplina,

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    pelo menos tendencialmente completa e suficiente para a contratao por referncia(PPV).

    Pode ainda suceder que as partes vertam, num determinado negcio que celebrem,elementos tpicos e atpicos, nesse sentido, fala-se de negcio misto artigo 405 do CC.

    O mesmo j no acontece com as unies negociais (ou unio de contratos), na qual doisou mais negcios foram colocados, pelas partes, numa situao de interdependncia. Talinterdependncia ocasiona diversos efeitos jurdicos.

    Alem dos tipos legais, podemos contar com tipos sociais. Desta feita, trata-se de negciosjurdicos que, embora no previstos na lei, so de tal forma solicitados pela prtica queadoptam um exemplo comum, por todos conhecido. Desse modo, bastar uma simplesreferncia ao tipo social para, de imediato, as partes se reportarem a todo um conjunto deregras bem conhecidas, na prtica jurdico-social. Por exemplo: o contrato de concesso, aprestao de servios, etc.

    Os tipos sociais so os modelos de contratos que existem e vigem na sociedade, na vida derelao, na prtica. Nem todos os tipos sociais so recolhidos pelo Legislador na lei eexistem na prtica da contratao, nos usos e costumes do trfego, onde so celebrados, deacordo com o princpio da Autonomia Privada (PPV).

    Os contratos distinguem-se entre tpicos e atpicos.Se corresponderem a um tipo legal, so legalmente tpicos, se corresponderem a um tiposocial, so socialmente tpicos. Ex: (O trespasse um contrato legalmente nominado, mas

    no legalmente tpico, embora seja, sem dvida, socialmente tpico).So contratos atpicos podem ser puros e mistos. So contratos atpicos puros aqueles que,alm de no corresponderem a qualquer tipo contratual, sejam construdos sem o recurso modificao ou combinao de um ou mais tipos contratuais. Os contratos atpicos mistosso aqueles que so construdos atravs da modificao ou mistura de tipos contratuais,embora no correspondam a qualquer deles (PPV).

    Negcios nominados e inominados

    O negcio tpico , em princpio, nominado: a lei designa-o pelo seu nome nomen

    iuris. Por exemplo, a compra e venda, a doao e a sociedade so tpicas e nominadas.Pode, porm, assistir-se a uma dissociao entre as duas caractersticas, como demonstrouPESSOA JORGE: um negcio que tenha regulao supletica legal mas no seja apelidadoseno pela doutrina ser tpico e inominado; aquele que merecer referencia legal pelo seunome mas que no surja regulado, nominado e atpico; assim sucede com os contratos detransporte e de hospedagem referidos no artigo 755., a) e b), mas sem tratamento explcitono Cdigo.

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    Negcios onerosos e gratuitos

    Um negcio oneroso quando implique esforos econmicos para ambas as partes, emsimultneo e com vantagens correlativas; pelo contrrio, ele gratuito quando uma daspartes dele retire to-s vantagens ou sacrifcios.

    Exemplos claros de onerosidade e de gratuitidade so constitudos, respectivamente,pela compra e venda (artigos 874. e seguintes) e pela doao (artigos 940. eseguintes). Registe-se, contudo, que certos negcios podem surgir como onerosos ougratuitos consoante o que seja estipulado pelas partes, respectivamente, o artigo 1158./1.

    Da natureza onerosa ou gratuita dos negcios deriva a aplicao de mltiplas regrasdiferenciadas; para alm das que se prendam com os respectivos tipos, registam-seclivagens no que toca aos pressupostos artigo 951./2, interpretao artigo 237., eaos casos de impugnao artigo 612./1.

    Nos contratos gratuitos, o empobrecimento do patrimnio de uma das partes corresponde,em regra, ao enriquecimento do patrimnio da outra. Pode, todavia, no ser sempre assim:por exemplo, nas chamadas doaes onerosas, artigo 963., o prprio donatrio suporta,tambm, sacrifcios. O negcio surge, ento, oneroso para uma das partes, o donatrio egratuito para a outra, o doador.

    Pois, um negcio pode vir a revelar-se como imensamente lucrativo para uma das partes eruinoso para a outra; nem por isso haver gratuitidade: se as partes o no tiverem queridocomo tal, antes se verificando a presena de um negcio em desequilbrio. No verdadeironegocio gratuito, a vontade livre do sacrificado determinou-se pela inteno de dar, oanimus donandi.

    Negcios de administrao e de disposio

    Os negcios de administrao no atingem em profundidade, uma esfera jurdica,enquanto, pelo contrrio, os de disposio o fazem. Em princpio, os actos de disposios podem ser livremente praticados pelo prprio titular da esfera jurdica afectada e tendoele capacidade para o fazer; quando um acto de disposio deva ser praticado por outrem, oDireito determina particulares precaues, como sejam a autorizao judicial (artigo 91./3,ou do Ministrio Pblico, por exemplo, artigo 1938.). Pode ainda suceder que o prprio

    titular da esfera atingida, por ser incapaz, no possa praticar actos de disposio, a no seratravs de particulares esquemas de cautela; por exemplo, os artigos 153. e 154..

    Tem importncia ainda outros preceitos legais: 1159.; 1446; 1678; 1922; o e 1967.

    Em suma, o acto que s possa ser praticado pelo prprio, no um acto deadministrao. Para prevenir duvidas e em certos casos, a lei define exactamentequais so os actos de administrao: assim, na hiptese do artigo 1024./1, a locao

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    constitui para o locador um acto de administrao ordinria, excepto se estipuladopor um prazo superior a 6 anos.

    Os actos de administrao devem, por um lado manter a aptido da coisa ou do bem paraa satisfao das necessidades e, por outro lado, promover a potencialidade e a utilidade

    desse bem para a satisfao dessas necessidades e para a realizao desses fins.

    Estes podem ser de administrao ordinria e extraordinria .

    A administrao ordinria corresponde a gesto normal, normalmente so dadoscomo exemplo de administrao ordinria os actos que, no alterando a substancia da coisa,se destinam sua frutificao ou conservao.

    Os actos de disposio - so aqueles que afectam a substancia da coisa ou do bem.Alterao mais profunda, em comparao com os actos de administrao.

    Negcios parcirios, de organizao, de distribuio e aleatrios.Um negcio diz-se parcirio quando implique a participao dos celebrantes emdeterminados resultados. Tal sucede no contrato de parceria pecuria artigo 1121., ena sociedade artigo 980.;

    O negcio de organizao visa montar uma estrutura que faculte a cooperaopermanente, em certo quadro, de pessoas, por exemplo, o contrato de sociedade;

    Os negcios de distribuio podem contrapor-se aos de consumo. Na distribuio, visa-sepercorrer o circuito econmico na parte que liga a produo ao vendedor final. O negcio

    de consumo equivale aquisio de bens pelo destinatrio final: o consumidor.

    Um negcio aleatrio quando, no momento da sua celebrao, sejam desconhecidas asvantagens patrimoniais que dele derivem para as partes. Esse desconhecimento, deve ser daprpria natureza do contrato, em moldes tais que ele no faa sentido de outra forma. Porexemplo, um contrato de seguro aleatrio: ele pressupe o desconhecimento daocorrncia e do montante do dano que a seguradora seja, eventualmente a suportar. Tpicosnegcios aleatrios, so, os contratos de jogo ou de aposta, artigo 1245..

    Negcios causais e abstractos

    O negcio causal quando a sua fonte tenha de ser explicitada para que a sua eficcia semanifeste e subsista.

    O negcio abstracto quando essa eficcia se produz e conserve independentemente daconcreta configurao que o haja originado.

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    Fala-se em causalidade ou abstraco dos negcios quando perante uma eficcianegocial em si, por exemplo, Abel deve entregar 100euros a Bento, s tantas horas de certodia, e em determinado local, se pergunte pela fonte (= causa) da situao jurdica originada,por exemplo, Abel pedira os 100euros emprestados, ou deve-os a ttulo de preo.

    Assim sendo, haveria negocio causal quando o dever de Abel adviesse de uma compra evenda, artigo 879., c), ou da restituio implicada pelo mtuo, artigo 1142..Pelo contrario,ele seria abstracto quando tal dever subsistisse sem necessidade de indagar a suaprovenincia.

    No direito civil portugus, os negcios so, em princpio, sempre causais. A eficcianegocial tornar-se-ia, efectivamente, incompreensvel quando desligada da fonte que lhedera lugar: sendo totalmente abstracta ela s se torna perceptvel quando comunicadaatravs da fonte.

    Dos negcios abstractos, h que distinguir os negcios presuntivos de causa artigo 458/1 do CC. Ou seja, perante uma promessa de cumprimento ou dereconhecimento de divida, no e necessrio demonstrar a fonte do dbito. Masnem por isso se pode falar de uma situao abstracta: a questo torna-se causaldesde o momento em que se prove o contrrio do que resulta da declarao decumprimento ou de reconhecimento.

    A classificao que distingue negcios causais e abstractos, uma classificao que

    opera a nvel de eficcia, que contrape situaes.

    Negcios reais quoad effectum e quoad constitutionem; negcios sujeitos aregisto constitutivo

    Dentro dos negcios jurdicos reais existem por um lado os que tm efeitos de direitos reais eficcia real e, por outro, os que se materializam com a entrega da coisa que constitui oseu objecto.

    Os primeiros, aqueles que tm eficcia real constituem uma subclasse: a dos negciosjurdicos reais quoad effectum. So deles exemplo a compra e venda, que um contratoque opera a transmisso da propriedade em consequncia da simples celebrao do

    contrato, e ainda que no haja entrega da coisa vendida.

    Os segundos, aqueles contratos que se no fecham sem que ocorra a entrega da coisa,constituem a subclasse dos negcios jurdicos reais quoad constitutionem, qualpertencem, por exemplo, o mtuo artigo 1142.; o depsito tpicos artigo 1185.; openhor artigo 669./1 e o comodato artigo 1129.. (PPV).

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    II- Formao do negcio jurdico

    1- As declaraes negociais

    1. A formao do negcio como um processo

    A categoria do negcio jurdico opera num nvel de acentuada abstraco . Asua formao implica actividades de complexidade muito varivel: em concreto, umnegcio pode ocorrer de imediato, atravs de um simples assentimento ou, pelocontrrio, implicar complexas actividades preparatrias, a tanto dirigidas.

    A doutrina civil recuperou, com xito, a ideia de processo, para explicar a formao donegcio jurdico. Diz-se, em Direito, que h processo quando diversos actos jurdicos seencadeiem de modo a proporcionar um objecto final.Na mesma linha de pensamento, todas as normas jurdicas que intervenham num processodevem ser interpretadas e aplicadas em consonncia com o objectivo em vista na sequnciaem causa.Assim entendida, a ideia de processo aplica-se, com bons resultados, formao donegcio jurdico: os diversos actos que ela possa implicar conjugam-se, efectivamente, comvista a esse resultado final.Um processo ou sequncia processual analisa-se em factos ou em actos, quando assente emactuaes humanas destinadas a prosseguir o objectivo final. A sequncia dever contudoprojectar, de modo dinmico e, tanto quanto possvel, fiel, a ordenao processual negocial(PPV).

    Aquando da preparao de um contrato, as partes podem seguir os caminhos que lhesaprouverem, adoptando as mais diversas metodologias. A lei limita-se a prever o esquemamais geral o da proposta e da aceitao, tendo em vista os ausentes e que abaixoestudaremos. A partir da, ser possvel encontrar resposta aos mais diversos problemas.Todavia, na prtica da contratao, deparamos, em regra, com um procedimento diversos:

    as partes negoceiam e apuram o texto do contrato, de tal modo que tudo se passa entrepresentes. No possvel, no fim, apontar um proponente e um destinatrio daproposta, j que ambas assumem as duas qualidades.Somos levados a distinguir, na contratao, os processos tpicos e os atpicos. So tpicos osprocedimentos com sede legal e, ainda, aqueles que so habitualmente adoptados pelaspartes interessadas (tipicidade social). So atpicos todos os demais.Os processos atpicos podem prescindir de alguma das fases acima apontadas ou podem

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    prever novas fases. Tais fases at podero ser tpicas p. ex: contratos preparatrios,concurso para a concluso do contrato ou aplicao de regras especiais. O processo,enquanto tal, ser atpico, at porque no h normas quanto insero, na sua sequncia, detais elementos eventuais (PPV).

    2- Declaraes de vontade ou negociais e declaraes de cincia

    A declarao o elemento central no processo de formao do negcio jurdico. O CdigoCivil, estrutura toda a matria do negcio jurdico em funo da declarao negocial,artigos 217 e seguintes. No apresentando qualquer definio de declarao negocial.

    No entanto, a declarao apresenta trs elementos fundamentais a reter:

    A declarao negocial uma aco humana voluntria pressupe portanto,

    uma actuao ou omisso controladas ou controlveis pela vontade; A ideia dedeclarao mantm-se, em princpio e em primeiro plano, uma aco logovoluntria. Os eventos que, ligados embora pessoa humana, no se possamconsiderar aces por exemplo, afirmaes feitas durante o sono, em estado detranse, sob hipnose ou na influncia de psicotrpicos so, em rigor, simples factos.

    A declarao negocial um acto de comunicao, isto , uma aco que releva

    por dela se depreender uma opo interior do declarante, opo essa que, assim, sevai exteriorizar;

    E, por fim, a declarao ainda um acto de validade: ao faz-la, o declarante noemite uma comunicao de cincia ou uma informao opinativa: ele manifesta umaadstriao da prpria vontade, que a origina, a um padro de comportamentodeterminado, pr-indiciado por ela prpria.

    Alguma doutrina, representada entre ns porMANUEL ANDRADE/MOTA PINTO,intenta, da declarao, dar noes mais objectivadas, no sentido de menos ligadas vontade do declarante.

    A declarao que, por erro, no corresponde vontade real do autor apenas anulvel esomente quando se conjuguem vrios factores artigo 247. do CC; pode assim suceder

    que sobreviva uma declarao, em termos legtimos, sem que ela corresponda vontade dodeclarante;

    A declarao feita por quem, por qualquer causa, se encontrava acidentalmenteincapacitado de entender o sentido dela apenas anulvel e, ainda ai desde que o factoseja notrio ou conhecido do declaratrio artigo 257./1;

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    A declarao feita com reserva mental , em princpio, vlida, apesar de ser contrria vontade real do declarante artigo 244..

    No campo negocial, no se trata, apenas, de dar expresso vontade do declarante;h, tambm, que tutelar a confiana das pessoas em certas exteriorizaes, mesmo

    quando apenas na aparncia se mostrem negociais.

    Na verdade, a confiana legitima deve ser tutelada, aplicando-se-lhe mesmo, em certamedida, directamente ou por analogia, as regras sobre negcios jurdicos. Mas ela no deveser confundida com as declaraes negociais. Pelo que se segue:

    O negcio jurdico apresenta-se como uma manifestao da autonomia privada;nessa medida, ele deve corresponder vontade autnoma das pessoas: o Direito,sendo como uma Cincia, no pode assentar em equvocos ou fices;

    O negcio jurdico que se mantenha sem vontade real no j um verdadeiro

    negcio mas, antes, uma manifestao de confiana tutelada.

    Deve-se portanto salvaguardar a ideia de declarao como efectiva exteriorizao davontade humana. E portanto, que seja sempre entendida como uma aco voluntriaque se traduz numa manifestao de vontade com contedo negocial.

    As declaraes podem classificar-se ainda em declaraes de vontade e declaraes decincia, consoante o contedo comunicado.So declaraes de vontade aquelas em que se exprime uma inteno. So exemplo dedeclaraes de vontade, entre outras, a proposta de contrato, a sua aceitao ou repdio, etc.

    So declaraes de cincia aquelas em que se comunica a outrem uma assero sobre averdade ou falsidade de algo ou, mais correctamente, em que se exprime um juzo derealidade (ex: depoimento duma testemunha) (PPV).

    3- Tipos de declaraes negociais

    Declaraes expressas e tcitas:

    O artigo 217. do Cdigo Civil distingue as declaraes negociais em expressas e tcitas.A declarao negocial expressa, na letra da lei, quando feitapor palavras, escrito ououtro meio directo de manifestao da vontade; tcita quandose deduz de factos que,com toda a probabilidade, a revelam.

    Todavia, no assim. Uma comunicao escrita pode conter uma declarao expressa,com o contedo que o seu autor lhe quis directamente imprimir, e tambm uma declarao

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    tcita com um contedo que lhe est implcito. o que sucede, por exemplo, quando ovendedor, numa escritura pblica de compra e venda de um prdio, declara querer venderaquele prdio, sem dizer que seu proprietrio. A declarao expressa no que respeita vontade negocial de vender e tcita no que respeita afirmao da propriedade do prdiopelo vendedor.

    Por outro lado, as declaraes expressas no tm que ser necessariamente verbais epodem ser simplesmente gestuais, como no caso de licitao em leilo, com um simplesaceno de cabea, ou o caso da aceitao da proposta oral feita com um aperto de mo.

    De uma declarao expressa, que finalisticamente dirigida expresso de um certocontedo, pode resultar ainda implicitamente uma outra declarao, esta agora tcita, desdeque, segundo o n.1 do artigo 217., dela se deduza com toda a probabilidade.

    A possibilidade, reconhecida por lei, de se formarem negcios jurdicos na base dedeclaraes tcitas obriga a chamar a ateno para dois factores:

    A natureza formal de uma declarao no impede que ela seja tacitamente

    emitida; como dispe o artigo 217./2 do CC, requer-se, ento, que a formaprescrita tenha sido observada quanto aos factos de que se deduza a declarao emcausa.

    A presena, sempre vivel, de declaraes tcitas no deve conduzir a uma

    hipertrofia da vontade: s legitimo descobrir declaraes negociais, ainda quetcitas, quando haja verdadeira vontade, dirigida aos efeitos e minimamenteexteriorizada, ainda que de modo indirecto.

    Segundo o Prof. PEDRO PAIS DE VASCONCELOS, a classificao dicotmica dadeclarao negocial em expressa e tcita pelo Cdigo Civil, no a mais correcta. Naverdade a palavra tcito tem o sentido etimolgico de silencioso e induz muitas vezes aconfuso entre declarao tcita e o silncio.

    As declaraes tcitas correspondem, na realidade, compreenso do sentido que estimplcito num qualquer comportamento, em termos tais que dele se deduz com toda aprobabilidade. Assim, sempre que aquele a quem foi feita a proposta contratual, semque tenha declarado expressamente aceit-la, d inicio execuo do contrato proposto,

    deduz-se desse comportamento, com toda a probabilidade, que aceitou a proposta. Houve,portanto, aceitao tcita.

    O artigo 234. do CC, embora se refira, na sua letra, a uma dispensa de declarao deaceitao, deve ser interpretado no sentido de dispensar apenas uma declarao expressa deaceitao. A aceitao a que se refere o artigo 234. do CC uma aceitao tcita, que se

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    traduz, na letra do prprio artigo, numa conduta que mostre a inteno de aceitar aproposta.

    As declaraes expressas e tcitas tm em princpio o mesmo valor. S nos casos emque a lei o exija que a declarao tem de ser expressa. Tal sucede, por exemplo, no caso

    do casamento ou no caso previsto no artigo 957. do CC, que exige a declaraoexpressa para que o doador se responsabilize pelos vcios da coisa. Quando a lei nadadiga em contrrio, as declaraes negociais tanto podem ser feitas expressa comotacitamente.

    E, ainda, no deve, confundir-se declarao tcita com inaco ou com ausncia dedeclarao: a declarao tcita , na verdade, uma declarao indirecta,autonomizada, enquanto tal, numa classificao tradicional. (GALVAOTELLES/DIAS MARQUES)

    O silncioO silncio no deve ser confundido com a declarao negocial tcita . Nesta ultima,existe um comportamento negocial que tem um sentido que juridicamente relevante. Nosilncio nada existe. O silncio a ausncia de uma aco, e logo inexistncia de um fime de meios desencadeados para o prosseguir.

    Segundo o artigo 218., o silencio vale como declarao negocial quando esse valor lheseja atribudo:

    Por lei;

    Por uso;

    Por conveno.

    No caso da lei, o silncio opera como um facto jurdico estrito que desencadeia, no entanto,a aplicao de normas do tipo negocial. Exemplos, de casos em que a lei confere ao

    silncio o valor de declarao negocial so os dos artigos 923./2 e o 1163., relativos,respectivamente, aceitao da proposta de venda a contento e aprovao daexecuo ou inexecuo do mandato.

    Podem, tambm, as partes, por conveno, atribuir ao silncio o significado que lhesaprouver e, entre outros, um sentido negocial. Trata-se de um simples exerccio daautonomia privada.

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    O silncio valer, como declarao negocial quando um uso, devidamente juspositivadopor uma lei, o determine.

    No regime legal do arrendamento, por exemplo, o artigo 1054., n.1, do Cdigo Civil,atribui ao silncio das partes o efeito de renovao do seu prazo. Num qualquer

    contrato pode convencionar-se que o silncio tenha o valor de aceitao, ou de recusa,de uma prestao como cumprimento.

    Por definio, o silncio envolve a ausncia de qualquer declarao; no pode, por isso,apresentar forma.

    Acaso a prpria lei atribua ao silncio um determinado valor negocial, pode estar implcitaa dispensa de uma forma que, doutro modo, seria requerida.

    Mas outro tanto no pode suceder com os usos ou com a simples conveno das partes: atravs da concesso de eficcia ao silncio, no vivel a dispensa das regras formais.

    Seria de encarar uma alternativa: a de a prpria conveno relativa ao silencia seguir aforma legalmente prescrita e, depois, tambm de acordo com essa forma, se constatar aocorrncia de silencia. Mas assim, tudo apontaria para um negcio tcito.

    4- A eficcia da declarao negocial: declaraes receptcias e noreceptcias:

    A declarao negocial, como declarao de vontade, tem um contedo que dirigido aoutrem: ao declaratrio. A declarao negocial pode ter um declaratrio especfico a quem

    dirigida, ou ser dirigida a uma ou mais pessoas indeterminadas. Quanto tenha umdestinatrio especifico chama-se declarao negocial recipienda ou receptcia; quandono tenha, quando seja feita a uma ou mais pessoas indeterminadas, chama-sedeclarao negocial no recipienda ou no receptcia.

    Na normalidade dos casos, as declaraes que visem integrar um negcio contratual sorecipiendas, ao passo que as atinentes a negcios unilaterais, que se prendem, por definio,a uma nica vontade, operam por si. Mas h excepes: a oferta ao pblico no temqualquer destinatrio, por definio e visa, justamente, integrar um contedo contratual.

    As declaraes recipiendas vem a sua eficcia condicionada pela ligao particular quevisam estabelecer com o seu destinatrio. O momento da sua eficcia, tem sidoequacionado com recurso a vrias doutrinas, das quais cabe explicar trs:

    Teoria da expedio a declarao recipienda seria eficaz logo que enviada para o

    destinatrio;

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    Teoria da recepo a eficcia ocorria quando ela chegasse ao podes do

    destinatrio;

    Teoria do conhecimento exigir-se-ia, para a produo de efeitos, a efectiva

    apreenso, pelo destinatrio, da declarao que lhe fosse dirigida.

    No entanto, estas teorias do lugar a dvidas: a teoria da expedio no se justificaperante uma declarao que, por qualquer razo, nunca chegue ao seu destino; a darecepo claudica quando uma declarao chegue ao poder do destinatrio em termos taisque no possa ser entendida; a do conhecimento torna-se inexplicvel quando adeclarao, tendo chegado ao destinatrio em termos cognoscveis, no seja, por este,apreendida.

    Ponderando todos estes valores em presena, o Cdigo Civil portugus, apresenta no seuartigo 224., algum entendimento que rodeia a eficcia das declaraes negociais:

    A declarao no recipienda torna-se eficaz logo que a vontade do declarante se

    manifeste na forma adequada artigo 224./1;

    A declarao recipienda eficaz:

    o Quando chegue ao poder do destinatrio (teoria da recepo) ou dele seja

    conhecida (teoria do conhecimento) artigo 224./1, primeira parte;

    o Quando seja remetida e s por culpa do destinatrio no tenha sido

    oportunamente recebida (teoria da expedio) artigo 224./1;

    o Em qualquer caso, a declarao ineficaz quando seja recebida pelo

    destinatrio em condies de, sem culpa sua, no poder ser conhecida(relevncia negativa da teoria do conhecimento) artigo 224./3.

    A doutrina actual explica ainda que a recepo implica a chegada da declarao aombito do poder ou da actuao do destinatrio, de modo a que ele possa conhece-la.

    Segundo o professor PEDRO PAIS DE VASCONCELOS , h uma ligao forte entre ateoria da recepo e do conhecimento, que todavia, no completa. Chegada ao poder dodeclaratrio, a declarao legalmente tida por conhecida. irrelevante que o declaratrio,

    que tem em seu poder a declarao, a no leia ou dela no tome conhecimento. Se o nofizer, a declarao torna-se perfeita e plenamente eficaz.

    No n.2 do artigo 224. - a declarao torna-se tambm perfeita e eficaz, quando adeclarao recipienda que s por culpa do declaratrio no foi por ele oportunamenterecebida. Esta pratica vulgar no que respeita a cartas registadas que os seus destinatriosse recusem a receber e acabam por ser devolvidas aos respectivos remetentes. E

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    importante atender a que esta matria se aplica tanto a declaraes negociais como adeclaraes no negociais, por fora da remisso geral do artigo 295..

    A questo da recepo no se coloca apenas em relao simples recepo ou no recepoda declarao, mas tambm em relao ao tempo em que ocorra . No n.2 do artigo

    224.,fala-se expressamente da declarao que s por culpa do destinatrio no foi porele oportunamente recebida. Segundo a letra da lei, a declarao torna-se eficazapesar de, s por culpa do declaratrio, ter sido tardiamente recebida.

    Temos assim, que ter em ateno duas situaes:

    o Se a declarao foi enviada, por exemplo, por carta registada, e o destinatrio se

    recusou a recebe-la e a levanta-la no correio , tendo a mesma sido devolvida aoremetente, deve entender-se que se tornou eficaz no momento em que deveria tersido recebida se no tivesse ocorrido a conduta culposa do destinatrio.

    o Mas, se a conduta culposa do declaratrio no impediu a recepo, mas determinouo seu atraso, no h razo para adoptar um diferente critrio: a declarao deve sertida como eficaz, no na data em que veio a ser efectivamente recebida, masantes naquele em que o deveria ter sido.

    2- A formao dos contratos

    Os contratos celebrados entre presentes e entre ausentes

    Os contratos entre presentes, no h entre as declaraes de vontade das partes, umintervalo de tempo juridicamente relevante; pelo contrrio, nos contratos entre ausentes,as diversas declaraes so separadas por intervalo de tempo donde emergemconsequncias jurdicas. O critrio , pois, de ordem jurdica e no geogrfica: ocontrato celebrado por telefone entre duas pessoas muito distantes um contratoentre presentes, enquanto o concludo presencialmente por celebrantes que, emmomentos diferentes, tenham feito as suas declaraes, entre ausentes.

    1- Proposta negocial e convite a contratar

    A proposta, em termos formais, pode ser definida como a declarao feita por uma daspartes e que, uma vez aceite pela outra ou pelas outras, d lugar ao aparecimento de umcontrato.

    A proposta contratual, para o ser efectivamente, deve reunir trs requisitos essenciais,apontados nas diversas obras de doutrina:

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    o Deve ser completa;

    o Deve revelar uma inteno inequvoca de contratar;

    o Deve revestir a forma requerida para o negcio em causa. ( Formalmente

    suficiente/adequada).Deve ser completa, no sentido de abranger todos os pontos a integrar no futuro contrato:ficam includos quer os aspectos que devam, necessariamente, ser precisados peloscontratantes, por exemplo, identidade das partes, objecto a vender, montante de preo, queros que, podendo ser supridos pela lei, atravs de normas supletivas, as partes entendammoldar segundo a sua autonomia. Faltando algum elemento e ainda que a outra parte oviesse a completar, no haveria, sobre ele, o consenso necessrio.

    Deve revelar uma inteno inequvoca de contratar: no h proposta quando adeclarao do proponente seja feita em termos dubitativos ou hipotticos: a proposta deve

    ser firme, uma vez que a sua simples aceitao d lugar ao aparecimento do contrato, semque ao declarante seja dada nova oportunidade de exteriorizar a vontade.

    Deve revestir a forma requerida para o negcio em causa: segundo LARENZ, aproposta deve surgir de tal modo que uma simples declarao de concordncia do seudestinatrio faa, dela, um contrato. Ou seja, deve revestir uma forma que satisfaa aexigncia formal do contrato proposto.

    Emitida uma proposta contratual e tornando-se esta eficaz, nos termos de algumas dasproposies do artigo 224., importante verificar os termos dessa eficcia e por quanto

    tempo dever ela manter-se.

    A eficcia da proposta contratual consiste essencialmente em fazer surgir, na esfera dodestinatrio, o direito potestativo de, pela aceitao, fazer nascer o contrato proposto,constituindo no proponente uma correspondente sujeio.

    Esta situao jurdica deve distinguir-se de outras nas quais uma das partes, merc deesquemas preexistentes, negociais ou legais, tinha o direito potestativo de forar outra concluso dum contrato. Estas outras situaes , a que Larenz/Wolf chamam genericamentedireitos de opo, surgem na sequncia de contratos-promessas, de pactos de preferncia ou

    de direitos de opo ou de preceitos legais que os estabeleam, tal como sucede napreferncia legal.

    A durao da eficcia da proposta pauta-se pelo dispositivo do artigo 228./1 doCdigo Civil, nos termos seguintes:

    Se, na proposta, for estipulado um prazo para a aceitao, o proponente fica

    vinculado at ao termo desse prazo;

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    Se, na proposta, for pedida resposta imediata, a vinculao do proponente mantm-

    se durante o tempo que, em condies normais, demorem a proposta e a respectivaaceitao a chegar aos respectivos destinatrios;

    Se, na proposta, no for estipulado qualquer prazo, e esta for feita a pessoa ausente

    ou feita por escrito a pessoa presente, a vinculao do proponente manter-se- atcinco dias aps o tempo que, em condies normais, demorem a proposta e arespectiva aceitao a chegar aos respectivos destinatrios.

    O Cdigo Civil no avana quanto determinao concreta do que seja esse tempo que,em condies normais, a proposta e a sua aceitao demorem a chegar ao seu destino. E, noentanto, esse perodo pode variar consoante o meio de comunicao utilizado (deve serdeterminado em abstracto). Ser mnimo se for utilizado um meio de comunicaorpido, por exemplo, o telegrama ou o fax, ser maior se se recorrer ao correio, havendoento que distinguir o tipo de correio (areo, terrestre ou martimo) e a distncia.

    Se o proponente nada estipular quanto ao meio de comunicao a utilizar na

    resposta, dever sujeitar-se demora normal de um meio de comunicao normal, eno poder sequer supor que tenha sido utilizado o mais expedito. (PEDRO PAESDE VASCONCELOS).

    MENEZES CORDEIRO recorre, para a determinao do tempo de demora normal dacomunicao da proposta e da aceitao, ao sistema das notificaes postais judiciaisdirigidas a advogados, institudo pelo Decreto-Lei n. 121/76 de 11 de Fevereiro, hojecontido no artigo do Cdigo de Processo Civil. Segundo este sistema, a recepo presume-

    se ocorrida no terceiro dia posterior ao do registo da carta, ou no primeiro dia til seguinte,quando aquele seja um domingo ou feriado. Esta presuno pode ser ilidida pelo receptor,se a recepo ocorrer em data posterior, mas no o pode ser pelo expedidor se ocorrer emdata anterior. Esse mesmo prazo pode ser transposto para as propostas contratuaisremetidas pelo correio: quando o proponente utilizar essa via e pela resposta imediata, umaeventual aceitao dever chegar nos seis dias subsequentes, passando o prazo a onze,quando ele nada diga; em qualquer caso, o prazo que termine em domingo ou feriadotransfere-se para o primeiro dia til seguinte.

    Segundo o Prof. PEDRO PAIS DE VASCONCELOS, este sistema assenta em

    circunstncias e pressupostos que nem sempre se verificam na contratao. Na medida emque este sistema s poderia ser aplicvel, por exemplo, s declaraes expedidas porcorreio registado que, condies normais, menos demorado do que o correio noregistado. (Ver pgina 471 do Professor Vasconcelos). S no caso, de comunicaesentre comerciantes, transmitidas por correio registado, este sistema poderia ser adequado;porem, sem suporte legal, no cremos que seja justo imp-lo a pessoas que no podemrazoavelmente prev-los e contar com ele.

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    E, ainda, segundo o professor PEDRO PAIS DE VASCONCELOS, a questo deeficcia vinculativa da proposta deve ser apreciada em ligao com o dever de boa f nacontratao, a que se refere o artigo 227. do Cdigo Civil. O proponente, depois deformular e expedir a sua proposta, deve aguardar o tempo necessrio para que o destinatrioda proposta a possa estudar e lhe possa dar uma resposta. Este tempo no podia ser

    determinado com exactido pela lei e no deve ser a Doutrina a fix-lo em termosrgidos.

    O proponente, se quiser beneficiar de certeza e segurana quanto durao

    concreta do tempo da sua vinculao, pode estipular, na proposta, em que termose durante quanto tempo se quer manter vinculado ao que props. Se no o fizer, nopoder deixar, em boa f, de esperar pelas respostas que lhe possam chegar dentrode uma demora normal, no poder deixar de se manter fiel proposta queformulou durante o tempo que, em termos de normalidade e de boa f, seja aindapossvel receber uma aceitao.

    A durao da eficcia da proposta contratual fica melhor explicitada se se atenuar nosmodos que possam conduzir sua extino. Assim, cabe considerar:

    O decurso do prazo - extingue, por caducidade, a proposta atingida. Os prazos

    comuns aplicveis resultam do artigo 228./1 e foram, acima, considerados.

    A revogao *;

    A aceitao faz desaparecer a proposta, promovendo a sua integrao no contrato;

    A rejeio conduz ao mesmo resultado da aceitao, desta feita por renncia, do

    destinatrio, ao direito potestativo de aceitar a proposta em jogo;

    Morte ou incapacidade do proponente havendo fundamento para presumir ser

    essa a sua vontade artigo 231./1, ou se tal resultar da prpria declarao 226./1;

    Morte ou incapacidade do destinatrio determina a sua caducidade - artigo

    231./2. Se o proponente quiser, sempre poder emitir nova proposta, de igual

    teor dirigida aos herdeiros do destinatrio;

    Por ilegitimidade superveniente do proponente desde que anterior recepo

    da proposta 226./2.

    *A proposta pode ser revogada. O proponente pode ter feito constar da proposta a suarevogabilidade e o respectivo regime. Trata-se de matria disponvel onde rege a autonomia

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    privada. O n.1 do artigo 230. admite a estipulao pelo proponente do regime darevogao da proposta, como resulta da expresso salvo declarao em contrrio, comque tem inicio.

    A revogao da proposta um acto unilateral , praticado pelo proponente, que tem por

    contedo a extino da proposta previamente emitida. Em qualquer caso, deve ter-sepresente que a revogao em causa s possvel enquanto no houver contrato ;passada tal marca, haveria j no uma mera revogao da proposta, mas a revogao doprprio contrato, a qual s possvel, em principio, atravs de um acordo (distrate).

    Segundo o artigo 230., a revogao vivel em duas hipteses:

    Quando o proponente se tenha reservado a faculdade de revogar artigo 230./1;

    Quando a revogao se d em moldes tais que seja, pelo destinatrio, recebida antes

    da proposta, ou ao mesmo tempo com esta 230./2.

    Uma vez expedida a proposta, o proponente fica, em princpio, vinculado aos seustermos. Mas, quando a proposta tenha um destinatrio, no se justifica que o seu autorfique vinculado antes ou independentemente de esse destinatrio a ter recebido ou dela tertido conhecimento. E, portanto a diversidade rapidez dos meios de comunicao permiteque o proponente consiga, porventura, fazer chegar a revogao ao destinatrio daproposta antes mesmo de este a ter recebido ou ter dela tido conhecimento(retractao), assim sendo, no chega a ser criada na esfera jurdica do destinatrio, aexpectativa de contratao e no se justifica a vinculao do proponente.

    Nota: no caso do proponente, sem se ter reservado a faculdade de revogar, vir declarar quea sua proposta se manteria indefinidamente. Quando tal suceda, ele deveria ficar parasempre sujeito a uma eventual aceitao, que poderia nunca surgir. Por certo que a propostafeita em tais condies se submeteria prescrio, no seu prazo ordinrio de vinte anos artigos 300. e ss; trata-se contudo, de um prazo ainda demasiado excessivo para que umapessoa o deva aguardar, a fim de se liberar de uma proposta que nunca mais obtenharesposta, numa situao susceptvel de bloquear, sem vantagens para ningum, meiosfinanceiros, materiais e humanos. Prope-se assim, a aplicao analgica do artigo 411.do Cdigo Civil: o proponente pode solicitar ao tribunal a fixao de um prazo paraque o destinatrio aceite ou rejeite; passado tal prazo, segue-se a caducidade daproposta, nos termos gerais.

    O convite a contratar - PEDRO PAIS DE VASCONCELOS

    O convite a contratar uma declarao pela qual uma pessoa se manifesta disposta ainiciar um processo de negociao com vista futura eventual concluso de umcontrato, mas sem se vincular, nem sua concluso, nem a um seu contedo j

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    completamente determinado. um acto finalisticamente orientado abertura de umnegcio, no pode ser confundido com proposta contratual e promessa contratual.

    No convite a contratar o seu autor mantm uma liberdade que no tem na proposta decontrato. Pode modificar o contedo do projecto contratual inicialmente formulado e

    pode a final desistir de contratar. No tem, tambm, de ser formulado numa forma quesatisfaa as exigncias formais do contrato tido em vista.

    A aceitao de um convite a contratar tem como consequncia apenas o iniciar de umanegociao com vista celebrao de um contrato, e vincula as pessoas envolvidasapenas ao dever de boa f , nos moldes do artigo 227. do Cdigo Civil, mas no obrigado a contratar. O convite a contratar no constitui portanto, o seu autor numasujeio, nem investe a pessoa a quem for dirigido num poder potestativo de aceitar,provocando a concluso de um contrato.

    E por fim, no vazio de contedo. Fixa, com maior ou menor determinao, o quadrocontratual cuja negociao se prope. Pode ser dirigido ao publico ou a pessoasconcretamente identificadas, ou ainda a certas classes de pessoas ou a pessoas determinadassegundo critrios gerais.

    Oferta ao pblico

    A oferta ao pblico uma modalidade particular de proposta contratual,caracterizada por ser dirigida a uma generalidade de pessoas.

    Como qualquer proposta contratual, a oferta ao publico deve reunir os trs requisitos

    fundamentais, acima apontados: deve ser completa, deve compreender a intenoinequvoca de contratar e deve apresentar-se na forma requerida para o contrato acelebrar.

    H que distinguir a oferta ao publico de certas figuras que, por vezes, lhe parecemprximas, assim:

    O convite a contratar: atravs de vrios meios, as entidades interessadas podem incitarpessoas indeterminadas a contratar; a assenta a importante actividade de publicidade; noh, porm, oferta ao pblico quando o convite no compreenda todos os elementos paraque, da sua simples aceitao, surja o contrato; em regra, o simples convite publicitriopressupe negociaes ulteriores, das quais poder resultar uma verdadeira proposta;

    A proposta feita a uma pessoa desconhecida ou de paradeiro ignorado: trata-se de umaproposta comum, com destinatrio especifico, por oposio a genrico desconhecendo-se,porm, a identidade ou o paradeiro deste, h que proceder a um anuncio publico, nostermos do artigo 225.;

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    As clusulas contratuais gerais: embora genricas, no surgem necessariamente comoproposta e implicam uma rigidez que no enforma, de modo necessrio, a oferta ao pblico.

    A oferta ao pblico tem uma grande importncia pratica no moderno trfego negocialde massas. Portanto, como proposta genrica, dirigida a todos os interessados, surge como

    modo idneo de proporcionar muitos contratos com um mnimo de esforo e de custos, porparte dos celebrantes.

    A oferta ao pblico pode ser formulada atravs de qualquer meio susceptvel de demonstraruma inteno de contratar, completa e efectiva. Entre os meios mais frequentes contam-se os impressos remetidos a pessoas indeterminadas, as tabuletas ou a simplesexposio dos bens em montras, acompanhada da indicao do respectivo preo.

    O Cdigo Civil no se ocupou, de modo expresso, da oferta ao pblico, excepto pararegular a sua extino; segundo o artigo 230./3 do Cdigo Civil, a revogao daproposta, quando dirigida ao publico, eficaz desde que seja feita na forma de oferta ou emforma equivalente. Trata-se de um preceito que, pela sua letra como pelo seu esprito, temaplicao, tambm, ao caso do anncio pblico da declarao, feito nos termos do artigo225. do Cdigo Civil, a proposta a pessoa desconhecida ou de paradeiro ignorado.

    Aceitao, rejeio e contraproposta

    A aceitao uma declarao recipienda, formulada pelo destinatrio da propostanegocial ou por qualquer interessado, quando haja uma oferta ao pblico, cujo contedoexprima uma total concordncia com o teor da declarao do proponente.

    A aceitao deve assumir duas caractersticas fundamentais:- traduzir uma concordncia total e inequvoca;- revestir a forma exigida para o contrato.

    Segundo o Prof. PEDRO PAES DE VASCONCELOS, A aceitao deve obedecer atrs requisitos:

    Conformidade significa a adeso total e completa proposta. Uma aceitao

    com reservas, limitaes ou com modificaes no opera a concluso do contrato,porque no envolver o acordo negocial. A aceitao deve exprimir uma

    concordncia pura e simples, um claro sim, uma resposta afirmativa interrogativaem que a proposta se traduz.

    Tempestividade uma consequncia da limitao do tempo da vinculao do

    proponente. O proponente pode estipular, ou no, na proposta, qual o tempo peloqual se pretende vincular. A aceitao deve tornar-se perfeita, como declarao,antes de ter cessado a vinculao do proponente. O proponente, ao vincular-se com

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    a proposta, fica constitudo numa sujeio, qual corresponde, na esfera jurdicado destinatrio da proposta, a um poder potestativo de aceitar a proposta. Aaceitao s tempestiva se se tornar perfeita enquanto se mantiver a sujeio doproponente. Passado esse tempo, cessa a sujeio do proponente e tambm opoder potestativo do destinatrio de aceitar a proposta.

    Suficincia formal se o negcio projectado estiver sujeito a uma exigncia

    especial de forma, por lei ou por estipulao, a aceitao ter de revestir umaforma que seja, pelo menos, suficiente para o contrato se poder concluir.

    A aceitao pode ser expressa ou tcita.O artigo 234. do CC, sob a epigrafe , dispensada declarao de aceitao, prev que a aceitao possa ser feita atravs de uma conduta

    que mostre a inteno de aceitar a proposta . Este artigo exige expressamente que tenhahavido um comportamento do qual se deduza a aceitao. Este comportamento umadeclarao tcita. muitssimo frequente, por exemplo, o fornecimento ou um servio, em

    vez de dizer expressamente que aceita faze-lo, d logo execuo encomenda. A execuo,nestas circunstancias, constitui aceitao tcita da proposta.

    Em suma: no chega, uma aceitao apenas sobre o essencial da proposta. Tem de haveracordo sobre todos os problemas/pontos que qualquer das partes queira suscitar.

    Sendo uma declarao recipienda, dirigida ao proponente, que se torna perfeita, nos termosdo artigo 224. do CC, quando chega ao poder do proponente ou por ele conhecida.Operando nos termos desse preceito, pode suceder que a aceitao comece a produzir osseus efeitos apenas quando a proposta j no tenha eficcia: haver, nos termos do artigo

    229., uma recepo tardia da aceitao.Quando isso suceda no h, de imediato qualquer contrato. A concluso de um negciocontratual exige que a proposta e a aceitao se encontrem em plena eficcia.

    Assente este ponto, determina o artigo 229., a distino que segue:

    A aceitao foi expedida fora de tempo: o proponente nada tem a fazer, se quiser o

    contrato; se pretender a sua celebrao, ter de fazer nova proposta;

    A aceitao foi expedida em tempo til: o proponente deve avisar o aceitante de que

    no chegou a concluir-se qualquer contrato, sob pena de responder pelos prejuzos;se pretender o contrato, basta-lhe considerar a aceitao tardia como eficaz.

    O artigo 229. s prev expressamente o dever de informao no caso em que ocontrato se no concluiu em consequncia da recepo tardia da aceitao.

    O dever de informao resulta, em termos gerais, do dever de boa f na contratao queest expressamente previsto no artigo 227.. cada interveniente na contratao deve

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  • 7/27/2019 Resumo Teoria Geral Do Direito Civil II

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    informar o outro sobre tudo o que nas circunstncias do caso se mostrar relevante paraevitar que sofra danos. A expressa meno do dever de informar, no artigo 229., tornaclaro que esse dever existe no caso em que, ao contrrio da expectativa do aceitante, ocontrato se no concluiu.

    Uma vez emitida, a aceitao pode ser revogada, nos termos do artigo 235./2: adeclarao revogatria deve chegar ao poder do proponente, ou ser dele conhecida,em simultneo com a aceitao ou antes dela. Trata-se, como se v, de um esquema similarao da revogao da proposta, artigo 230./2.

    A concluir, registe-se que o contrato se tem por celebrado no momento em que a recepose torne eficaz e no lugar da recepo desta. Celebrado o contrato, desencadeiam-se osefeitos nele previstos. E assim, o prprio contrato pode fixar o momento do inicio dos seusefeitos.

    Ver tambm a aceitao parcial, presente no ponto da Contraproposta

    Rejeio

    Perante uma proposta contratual, o destinatrio dispe da alternativa de a rejeitar.

    A rejeio um acto unilateral recipiendo pelo qual o destinatrio recusa a propostacontratual, renunciando ao direito a que dera lugar. Nos termos gerais, a rejeio pode serexpressa ou tcita; assim que ela se torne eficaz, extingue-se a proposta contratual. Talcomo a proposta e a aceitao, a rejeio pode ser revogada, sendo, por consequncia,substituda pela aceitao, desde que a competente declarao chegue ao poder do

    proponente, ou dele seja conhecida, ao mesmo tempo que a rejeio, artigo 235./1, do CC.

    A aceitao da proposta com aditamentos, limitaes ou outras modificaesimplicaa sua rejeioartigo 233., I