teoria geral do dt civil

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COISAS E PATRIMÓNIO Noção jurídica de coisa Num sentido corrente e amplo, coisa é tudo o que pode ser pensado, ainda que não tenha existência real e presente. Num sentido físico, coisa é tudo o que tem existência corpórea, ou pelo menos, é susceptível de ser captado pelos sentidos. Quanto ao sentido jurídico de coisa, há que considerar o art. 202º CC, onde se contém a seguinte definição: “diz-se coisa tudo aquilo que pode ser objecto de relações jurídicas.” Podemos definir as coisas em sentido jurídico como os bens (ou entes) de carácter estático, desprovidos de personalidade e não integradores de conteúdo necessário desta, susceptíveis de constituírem objecto de relações jurídicas, ou, toda a realidade autónoma que não sendo pessoa em sentido jurídico, é dotada de utilidade e susceptibilidade de denominação pelo homem. Os bens de carácter estático, carecidos de personalidade, só são coisas em sentido jurídico quando puderem ser objecto de relações jurídicas. Para esses efeito devem apresentar as seguintes características: a) Existência autónoma ou separada; 1

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Coisas e Patrimonio

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INTRODUO

Coisas e PatrimnioNoo jurdica de coisaNum sentido corrente e amplo, coisa tudo o que pode ser pensado, ainda que no tenha existncia real e presente. Num sentido fsico, coisa tudo o que tem existncia corprea, ou pelo menos, susceptvel de ser captado pelos sentidos.

Quanto ao sentido jurdico de coisa, h que considerar o art. 202 CC, onde se contm a seguinte definio: diz-se coisa tudo aquilo que pode ser objecto de relaes jurdicas.

Podemos definir as coisas em sentido jurdico como os bens (ou entes) de carcter esttico, desprovidos de personalidade e no integradores de contedo necessrio desta, susceptveis de constiturem objecto de relaes jurdicas, ou, toda a realidade autnoma que no sendo pessoa em sentido jurdico, dotada de utilidade e susceptibilidade de denominao pelo homem.

Os bens de carcter esttico, carecidos de personalidade, s so coisas em sentido jurdico quando puderem ser objecto de relaes jurdicas. Para esses efeito devem apresentar as seguintes caractersticas:

a) Existncia autnoma ou separada;

b) Possibilidade de apropriao exclusivas por algum;

c) Aptido para satisfazer interesses ou necessidades humanas.

Inversamente no necessrio:

a) Que se trate de bens de natureza corprea;

b) Que se trate de bens permutveis, isto , com valor de troca;

c) Que se trate de bens efectivamente apropriados.

O Cdigo Civil define no art. 204 e seguintes os tipos de coisas. D tambm o conceito de frutos (art. 212). Define igualmente as benfeitorias (art. 216).

Classificao das coisasA lei indica no art. 203 CC, as vrias classificaes de coisas:

Coisas corpreas: so caracterizadas por serem apreendidas pelos sentidos;

Coisas incorpreas: sero as meras criaes do esprito humano, no podendo como tais ser apreendidas pelos sentidos;

Coisas materiais: so tambm coisas corpreas;

Coisas imateriais: podem ser corpreas ou incorpreas.

Os direitos sobre as coisas corpreas seguem o regime especial do Cdigo Civil, enquanto os direitos sobre as coisas incorpreas so regidos por lei especial (arts. 1302 e 1303 CC).

Alm desta classificao, distingue-se ainda coisas no comrcio, aquelas que so susceptveis de apropriao privada e coisas fora do comrcio, aquelas que escapam apropriao privada. Esto disposio da generalidade dos homens. So comuns a todos.

O prof. Castro Mendes, refere-nos que: so bens potencialmente dominiais que ainda no esto em poder do Estado.

So coisas que no so individualmente aprovveis, porque o seu prprio regime no permite essa apropriao (os baldios), e outras coisas que embora possam ser objecto de relaes privadas, so insusceptveis de apropriao individual (bens de personalidade).

Categorias das coisas imveisOs arts. 204 e 205 CC, distinguem por enumerao coisas imveis de coisas mveis.

Da confrontao das diversas categorias, cr-se a sua conduo em dois grupos:

- Imveis por natureza, prdios rsticos, prdios urbanos e guas do seu estado natural;

- Imveis por relao, no sendo em si imveis, tm essa categoria por disposio, por isso encontramos aqui realidades que criam em si mesmas, a natureza das coisas mveis.

A classificao dessas coisas mveis como imveis, vem-lhes de certa relao que mantm com determinadas coisas imveis, resultando daqui duas consequncias:

- Quebrada essa relao com a coisa imvel, essas coisas readquirem a sua qualidade de mveis e passam pelo direito a ser tratadas como igual;

- Ao incluir essas coisas na categoria de imveis, o legislador pretendeu mais do que classific-las como tal, atribuir-lhes o regime jurdico das coisas imveis. Por isso, para essas coisas, o melhor que havia a fazer era dizer-se que seriam coisas mveis, sujeitas ao regime de coisa imveis.

Prdio rstico: uma parcela delimitada de solo terrestre e as construes a existentes que no tenham autonomia econmica.

Prdio urbano: qualquer edifcio incorporado no solo, com carcter de estabilidade e permanncia e os terrenos que lhe serviam de logradouro.

O elemento essencial do prdio urbano o edifcio, no havendo no entanto qualquer definio legal de edifcio. O Cdigo Civil adoptou a soluo de no admitir a classificao de prdios mistos. Os prdios rsticos abrangem tambm as construes que neles existem, quando estas no tenham autonomia econmica. Nos prdios urbanos incluem-se tambm os logradouros. So ainda indicadas como coisas imveis, as partes integrantes dos prdios rsticos e urbanos. A definio de parte integrante resulta claramente do art. 204/4 CC.

Categoria das coisas mveisOs bens mveis escapam a uma classificao taxativa, podem ser mveis por:

- Natureza;

- Relao;

- Imposio legal.

Coisas semoventes: so uma categoria das coisas mveis. No esto previstas autonomamente no Cdigo Civil, e abrangem as coisas que se movem por si mesmas, em virtude de uma fora anmica prpria, incluindo-se portanto os animais, com excluso do Homem.

H direitos que s podem ter por objecto coisas imveis, exemplos:

Direitos de habitao;

Direitos de superfcie e servides prediais;

Condomnio horizontal.

H ainda os direitos reais de aquisio, que podem incidir sobre coisas imveis e sobre mveis sujeitos a registo.

Registveis so alm de todos os imveis, os veculos automveis, as embarcaes e navios e as aeronaves.

A esta classificao tambm faz referncia o art. 205/2, ao mandar aplicar s coisas mveis sujeitas a registo o mesmo regime das coisas mveis, em tudo o que no seja especialmente regulado.

Coisas fungveis e no fungveisA diferena assenta na posio por elas ocupadas na relao jurdica. Em certos casos em que so consideradas no Direito pela sua individualidade, ou seja, pelas suas caractersticas especficas, pelo contrrio, noutras relaes jurdicas as coisas so tomadas segundo o seu gnero e determinadas apenas pela sua qualidade e pela sua quantidade.

As primeiras valem pelo que nelas h de individual e de especfico, porque s essas coisas que tm essa caracterstica especfica e mais nenhuma outra coisa tem essa caracterstica, e nesse elemento especfico que se encontram a vontade e a inteno da pessoa que contrata a respeito dessa coisa que tem essas caractersticas especficas.

As segundas j valem pelo que nelas h de genrico, ou seja, pelo que nelas h de comum em relao a outras do mesmo gnero, e nesse elemento genrico que se concentram a vontade e a inteno das pessoas que contratam sobre esses tipo de coisas.

Atende-se no art. 207 CC, susceptibilidade de, na relao jurdica, a coisa poder ser substituda por outra equivalente. Se essa coisa substituvel fungvel. Se insubstituvel, no fungvel.

O critrio de classificao no pode ser aferido no plano do jurdico, revelando-se assim a noo de coisa fungvel pela referncia situao da coisa na relao jurdica.

Coisas consumveis, coisas divisveis, coisas indivisveisAs coisas consumveis, so as que resultam do art. 208 CC, so as coisas cujo o uso regular importa a sua destruio ou a sua alienao.

As coisas divisveis, so as coisas que podem ser fraccionadas sem alterao da sua substncia, diminuio de valor ou prejuzo para o uso a que se destinam (art. 209 CC).

No ser um critrio natural ou fsico, antes um critrio jurdico. A razo deste facto resulta de, no campo meramente fsico, as coisas poderem ser divisveis e poderem assim deixar de ter utilidade sob o ponto de vista jurdico. Logo que o fraccionamento de uma coisa implique alterao da sua substncia ou do valor, ela ser juridicamente indivisvel.

A distino no se esgota neste critrio, havendo a possibilidade de certas coisas divisveis serem consideradas indivisveis por fora de disposio especfica na lei, ou por conveno das partes e imposio legal (art. 1376 CC por exemplo).

Coisas futuras e coisas compostasAs coisas futuras so, as que no esto em poder do disponente, ou a que este no tem direito, ao tempo da declarao negocial.

Este conceito impe a necessidade de se fixar o momento em funo do qual a existncia da coisa se determina. Esse momento o da declarao negocial de que a coisa objecto. Esta definio legal baseia-se em dois critrios:

- Critrio da existncia;

- Critrio da titularidade do direito em causa.

Assim tanto coisa futura aquela que no existe no momento da declarao negocial, como aquela que existe e no est, ao tempo da declarao negocial, na disponibilidade do disponente.

As coisas compostas, identificam-se estas com a universalidade de facto (art. 206).

Segundo o prof. Inocncio Galvo Teles, universalidade de facto ser o complexo de coisas jurdicas pertencentes ao mesmo sujeito e tendentes ao mesmo fim. Fim esses que a ordem jurdica reconhece e trata como formando uma coisa s.Das universalidades de facto, convm demarcar as universalidades de direito, universalidade esta que ser constituda por elementos patrimoniais activos e passivos, e vinculaes. As universalidades de facto sero constitudas por bens e por elementos patrimoniais activos. Tendo como caractersticas:

- H sempre uma unidade de tratamento do conjunto;

- Autonomia jurdica dos elementos.

A circunstncia de um conjunto poder ser tomado autonomamente em si mesmo, traduzindo individualidade para alm dos seus prprios elementos, acarreta uma consequncia de alterao dos elementos da universalidade.

Verificando-se a universalidade de facto, no perde a sua individualidade, e essa variabilidade de elementos da universalidade pode manifestar-se atravs de trs modalidades distintas:

1. Compressibilidade, traduzindo uma possibilidade de diminuio dos elementos da universalidade;

2. Extensibilidade, envolvendo a possibilidade de aumento dos elementos da universalidade;

3. Fungibilidade, a viabilidade de substituio dos elementos da universalidade existente em certo momento, por outros.

Coisas principais e acessriasA classificao de coisa acessria pressupes a existncia de uma coisa, que ser a coisa principal, a coisa que existe em si mesma e que no pressupe a existncia de uma outra. de esta outra que ela, coisa acessria, depende.

Coisa principal, aquela cuja existncia ou sorte jurdica no est na dependncia de outras (art. 210/1 CC).

Coisas acessrias, ou pertenas, as coisas mveis que, no constituindo partes integrantes, esto afectadas por forma duradoura ao servio ou ornamentao de uma outra.

Parte integrante, toda a coisa mvel ligada materialmente ao prdio com carcter de permanncia.

Ordem de consequncias:

- Decorre do prprio conceito de parte integrante (art. 204/3 CC), que a coisa acessria no pode estar ligada materialmente, com carcter de permanncia, coisa principal;

- Significa que a coisa acessria no pode ser um elemento da coisa principal.

O primeiro elemento positivo do conceito de coisa acessria resulta da ltima parte deste art. 210/1 CC. Esta afectao pode ser de ordem econmica ou de ordem esttica, mas tambm pode ser uma afectao de ordem jurdica.

De todas as coisas que revestem estas caractersticas se podem entender como acessrias, porque o art. 210/2 CC, impe a necessidade de se estabelecer uma restrio nas coisas que, embora em abstracto, caibam nas restries do n. 1 do artigo

A razo para tal, reside no facto deste preceito determinar que as coisas acessrias no seguem os princpios dos negcios respeitantes a estas, salvo disposio em contrrio.

Segundo o prof. Castro Mendes, devem ser estabelecidas na noo do art. 210/1 CC, duas distines:

H que distinguir coisas acessrias com valor autnomo desafectveis da coisa principal; Coisas acessrias sem valor autnomo, ligadas coisa principal mas s economicamente.

Pode ainda haver lugar a alguma censura a este preceito, se se identificarem as coisas acessrias com pertenas.

Pertenas, so as coisas mveis em sentido restrito (art. 210/1 CC). No tm portanto valor autnomo e no podem ser destacadas da coisa principal, sob pena desta ficar prejudicada na sua utilidade normal. Neste sentido, necessrio que a coisa mvel se encontre afectada coisa principal, sendo que se tratar de uma afectao de destino, distinguindo-se por isso da ligao material que se verifica nas partes componentes e nas partes integrantes.

FrutosSo tudo o que uma coisa produz periodicamente, sem prejuzo da sua substncia. tudo o que nasce e renasce de uma coisa (art. 212 CC).

Produtos, coisas que, sem carcter de periodicidade, podem ser destacadas de outras coisas principais, sem prejuzo da sua substncia.

Os frutos classificam-se em (art. 212/2 CC):

- Frutos naturais: so os que provm directamente da coisa, quer por efeitos das foras da natureza, quer por aco do homem em conjunto com estas;

- Frutos civis: rendas ou interesses que a coisa produz em consequncia de uma relao jurdica.

BenfeitoriasSo todas as despesas para conservao ou melhoramento da coisa (art. 216/1 CC).

Respeitam tanto a cosas mveis como a coisas imveis e repartem-se por trs categorias que o art. 216/2 e 3 CC, contemplam e definem:

- Benfeitorias necessrias, quando tm por fim evitar a perda, deteriorao ou destruio da coisa;

- Benfeitorias teis, so as que, no sendo indispensveis para a sua conservao, lhe aumentam, todavia, o valor;

- Benfeitorias volupturias, so as que, no sendo indispensveis para a sua conservao, nem lhe aumentando o valor, servem apenas para recreio do benfeitorizante.

Estas benfeitorias visam unicamente a satisfao ou recreio de quem as realiza, torna o bem mais agradvel para quem dele desfruta. O regime das benfeitorias varia consoante a modalidade que cada uma destas merece.

O instituto da posse distingue muito significativamente no seu regime, as diferenas relativas aos diversos tipos de benfeitorias.

No que respeita s benfeitorias necessrias, o possuidor de um bem de boa ou m f, tem sempre o direito de ser indemnizado pelas benfeitorias que haja realizado nesse bem (art. 1273/1 e 2 CC).

PrestaesToda a conduta humana a que o sujeito da relao jurdica est adstrito (art. 397 CC). So o objecto tpico das relaes obrigacionais.

Interessa referir que a prestao consiste sempre numa conduta determinada ou pelo menos determinvel, que imposta a uma ou mais pessoas, tambm elas determinadas ou determinveis.

Esta conduta pode consistir numa aco, num facere, ou numa absteno, non facere, e por isso que se fala em conduta de prestao positiva ou de contedo positivo, e de prestao negativa ou de contedo negativo. Distingue-se ainda prestao instantnea e prestao duradoura. Atende-se aqui ao modo como se realiza a prestao.

Assim, se o comportamento que devido se esgota num s momento, estaremos perante uma prestao instantnea. Se pelo contrrio, a prestao se consubstancia em condutas que se prolongam no tempo, diz-se prestao duradoura, podendo ainda distinguir-se prestao duradoura contnua, ou seja, o cumprimento da prestao prolonga-se ininterruptamente por um perodo de tempo indeterminado; ou prestao duradoura de acto sucessivo, a conduta do devedor no ininterrupta, consistindo em acto que se repetem sucessiva e periodicamente.

A prestao de facto, aquela que consiste apenas numa conduta do devedor, no se referindo e esgotando-se em si mesma.

A prestao de coisa, quando do devedor se reporta a uma certa coisa, essa que nos parece aqui como objecto da prpria prestao.

Noo de patrimnioFala-se por vezes, de patrimnio para designar o patrimnio global. Tem-se ento em vista o conjunto de relaes jurdicas activas e passivas avaliveis em dinheiro de que uma pessoa titular. 1) Trata-se do conjunto de relaes jurdicas; no se trata do conjunto de imveis, mveis, crditos ou outros direitos patrimoniais, pois as coisas mveis no so entidades do mesmo tipo dos crditos ou dos outros direitos. O patrimnio integrado por direitos sobre as coisas, direitos de crdito, obrigaes e outros direitos patrimoniais. 2) No fazem parte do patrimnio certas realidades, susceptveis de ter relevncia para a vida econmica das pessoas, mas que no so relaes jurdicas existentes, sendo antes meras fontes de rendimentos futuros. 3) S fazem parte do patrimnio as relaes jurdicas susceptveis de avaliao pecuniria; esta pecuniaridade pode resultar do valor de troca do direito por este ser alianvel mediante uma contraprestao, ou do valor de uso, traduzido em direito, no sendo permutvel, proporcionar o gozo de um bem, material ou ideal, que s se obtm mediante uma despesa.

a esta noo que se refere o art. 2030/2, ao definir herdeiro como o que sucede na totalidade ou numa quota do patrimnio do falecido.

Fala-se, outras vezes, de patrimnio para designar o chamado patrimnio bruto ou patrimnio ilquido. Tem-se ento em vista o conjunto de direitos avaliveis em dinheiro, pertencentes a uma pessoa, abstraindo, portanto, das obrigaes.

Finalmente, num sentido mais restrito, pode designar-se por patrimnio o chamado patrimnio lquido, isto , o saldo patrimonial.

O patrimnio distingue-se pois, facilmente da esfera jurdica. Esta a totalidade das relaes jurdicas de que uma pessoa sujeito. Abrange, assim o patrimnio e os direitos e obrigaes no avaliveis em dinheiro (pessoais hoc sensu), encabeados na pessoa.

O conceito de patrimnio traduz a soma ou conjunto das relaes jurdicas avaliveis em dinheiro, pertencentes a uma pessoa. No se trata de um objecto jurdico nico ou universalidade.O fenmeno da autonomia patrimonial ou separao de patrimniosNa esfera jurdica de uma pessoa existe normalmente apenas um patrimnio. Em certos casos, porm, seremos forados a concluir existir na titularidade do mesmo sujeito, alm do se patrimnio geral, um conjunto de relaes patrimoniais submetido a um tratamento jurdico particular, tal como se fosse de pessoa diversa estamos ento perante um patrimnio autnomo ou separado.

Se o patrimnio tem como funo principal responder pelas dvidas do seu titular, ento parece que o critrio mais adequado para caracterizar a separao de patrimnios deve ser o da existncia de um tratamento jurdico particular em matria de responsabilidade por dvidas.

Patrimnio autnomo ou separado ser, assim, o que responde por dvidas prprias, isto , s responde e responde s ele por certas dvidas.

Patrimnio global composto pelo conjunto das relaes jurdicas activas e passivas (direitos e obrigaes), avaliveis em dinheiro que uma pessoa susceptvel ser titular (esta noo muito importante para efeitos sucessrios art.2030 n2)

Nota: Esfera jurdica conjunto de relaes jurdicas activas e passivas pessoais e patrimoniais

Patrimnio bruto ou ilquido conjunto das relaes jurdicas activas pertencentes a uma pessoa abstrado das obrigaes (esta noo muito importante para efeitos de execuo, indemnizaes ao credor interessa conhecer os seus activos e no as suas obrigaes art.483, art.817)

Patrimnio liquido conjunto das relaes jurdicas activas deduzidas as relaes jurdicas passivas = saldo patrimonial (esta noo importante para efeitos de insolvncia e para efeitos fiscais no caso das empresas)

Patrimnio autnomo ou privado do patrimnio global atende a critrios diferente das noes anteriores.

Casos em que o sujeito tem dois patrimnios mas apenas quando a lei o defina expressamente.

A via de regra que um sujeito apenas tenha um patrimnio.

O segundo patrimnio ter uma finalidade especfica: responder por dvidas.

Patrimnio autnomo ou separado ser, assim, o que responde por dvidas prprias, isto , s responde e responde s ele por certas dvidas. Torna-se necessrio para se falar de autonomia patrimonial ou separao de patrimnios que um certo patrimnio responda apenas por certas dvidas do seu titular, no respondendo pelas outras. E que por aquelas dvidas s o patrimnio autnomo responda, no podendo elas afectar o patrimnio geral do seu titular.

As dvidas pelas quais s o patrimnio autnomo responde, sem responder por quaisquer outras, so as dvidas relacionadas com a funo especfica, com a finalidade ou afectao especial desse patrimnio. Um estabelecimento comercial seria um patrimnio autnomo se respondesse apenas pelas dvidas comerciais do seu titular com excluso das dvidas estranhas ao exerccio do comrcio e se por essas dvidas comerciais no respondessem os restantes bens do comerciante. No esse, porm, o caso do nosso direito privado (salvo, em certa medida, no caso do estabelecimento individual de responsabilidade limitada, como veremos). A herana ser um patrimnio autnomo, se os bens hereditrios responderem apenas pelas dvidas do de cujus, e no pelas dvidas pessoais do herdeiro, e se pelas dvidas do de anus responder s o activo da herana e no o patrimnio pessoal do herdeiro.

Ex. Numa herana, a herana fica separada para pagar as dvidas da prpria herana.

A herana o conjunto das relaes jurdicas patrimoniais que, por fora da morte de um indivduo, passam da titularidade deste para os herdeiros e legatrios.

As caractersticas de uma plena autonomia patrimonial manifestam-se:

a) Na circunstncia de a responsabilidade do herdeiro pelas dvidas da herana no exceder o valor dos bens herdados, quer a herana seja aceite a benefcio de inventrio, quer seja aceite pura e simplesmente (art. 2071.); se a aceitao e a benefcio de inventrio, os credores do de cujus s se podem pagar pelos bens inventariados, salvo se os credores provarem a existncia de outros bens da herana que no constaram do inventrio (art. 2071., n. 1); se a aceitao pura e simples, no h inventrio dos bens da herana, mas a responsabilidade do herdeiro pelas dvidas hereditrias no excede tambm o valor dos bens herdados, incumbindo, porm, ao herdeiro provar a insuficincia do activo hereditrio para solver as dvidas do de cujus (art. 2071.', n. 2); constata-se, pois, que o herdeiro no responde pelas dvidas da herana para alm das foras dos bens herdados (no responde ultra vires hereditatis), mas o nus da prova da insuficincia do activo hereditrio cabe ao herdeiro e no aos credores na aceitao pura e simples, enquanto o nus da prova da existncia de mais bens alm dos inventariados cabe aos credores na aceitao a benefcio de inventrio.

b) Na circunstncia de os credores da herana e os legatrios gozarem de preferncia sobre os credores pessoais do herdeiro, durante os cinco anos subsequentes a abertura da sucesso ou a constituio de divida, se esta e posterior (art. 2070.); os credores pessoais s podem, portanto, pagar-se pelos bens hereditrios, depois de satisfeitos os credores do de cupis, desaparecendo assim a autonomia patrimonial com o pagamento destes; passados cinco anos cessa tambm, como vimos, a autonomia patrimonial da herana, estejam ou no pagos os credores do de cujos. Pois cessa ento a preferncia consagrada no artigo 2070." Constata-se do exposto ser a herana um patrimnio autnomo e visar esta autonomia um mero escopo de Liquidao, traduzido em assegurar o pagamento dos credores da herana com os bens da herana e s com estes.Um caso em que o legislador se referiu a um patrimnio separado ou autnomo e o estabelecimento individual de responsabilidade limitada (E.I.R.L.). Este pode ser constitudo por qualquer pessoa singular que, porem, pode criar um s E.I.R.L. que pretenda exercer uma actividade comercial, afectando para o efeito ao estabelecimento uma parte do seu patrimnio. Cujo valor representa o capital inicial do estabelecimento Pelas dividas resultantes de actividades no mbito do objecto do E.I.R.L. respondem os bens a este afectados. Em caso de insolvncia do titular, por causa relacionada com a actividade exercida naquele estabelecimento, s responde com todo o seu patrimnio pelas dvidas contradas nesse exerccio se se provar que a separao patrimonial no foi observada na gesto do estabelecimento (art. 11. n. 85 1,e 2, do Dec.-Lei n. 248/86).

Por outro lado, o patrimnio do E.I.R.L, responde, em princpio, apenas pelas dvidas contradas no desenvolvimento das actividades compreendidas no mbito desse estabelecimento. Pode, porem, ser penhorado o prprio estabelecimento, em execuo movida contra o seu titular por dividas alheias a explorao, desde que os credores provem a insuficincia dos restantes bens do devedor (arts. 10. e 22. do Dec.-Lei n. 248/86) .

Exemplos :ouvir a gravao

Patrimnio colectivo - Forma de comunho e aplica-se comunho conjugal formada pelos bens comuns.

Patrimnio colectivoMassa patrimonial que pertena por mais de uma pessoa. Na titularidade de cada uma dessas pessoas, o que existe o direito a um conjunto patrimonial na globalidade. Os titulares do direito no caso do patrimnio colectivo, s tem o direito a uma quota de liquidao desse patrimnio quando ocorrer a diviso do patrimnio colectivo. Este caracteriza-se tambm por encontrar afecto a um determinado fim, que o fim que visa prosseguir.

O patrimnio colectivo no se confunde, porem, com a compropriedade ou propriedade em comum, Na propriedade em comum ou compropriedade, figura de procedncia romanstica, estamos perante uma comunho por quotas ideais, isto e, cada comproprietrio ou consorte tem direito a uma quota ideal ou fraco do objecto comum. Dai que o comproprietrio possa dispor de toda a sua quota na comunho ou de parte dela (art. 1408.); da que o comproprietrio no seja obrigado a permanecer na indiviso, podendo exigir a diviso da coisa comum (art. 1412.). O patrimnio colectivo pertence em bloco, globalmente, ao conjunto de pessoas correspondente. Individualmente nenhum dos sujeitos tem direito a qualquer quota ou fraco; o direito sobre a massa patrimonial em causa cabe ao grupo no seu conjunto. Da que nenhum dos membros da colectividade titular do patrimnio colectivo possa alienar uma quota desse patrimnio ou possa requerer a diviso, enquanto no terminar a causa geradora do surgimento do patrimnio colectivo.

O patrimnio colectivo, , pois, determinado por uma causa ou escopo. Relativamente a prossecuo desse escopo pode gerar-se um passivo, um conjunto de dvidas. Por essas dvidas, de que so sujeitos passivos os membros do grupo titular do patrimnio colectivo, estes respondem com os bens colectivos e esgotados estes, solidariamente com os seus bens pessoais. Os credores pessoais dos titulares do patrimnio colectivo no se podem pagar pelo patrimnio refecido, mas, uma vez extinto o vnculo colectivstico, podem obter satisfao pela parte que toque ao seu devedor nesse patrimnio, respeitada a preferncia dos credores da colectividade.

Na esfera jurdica de uma pessoa existe normalmente apenas um patrimnio. Em certos casos, porm, seremos forados a concluir existir na titularidade do mesmo sujeito, alm do se patrimnio geral, um conjunto de relaes patrimoniais submetido a um tratamento jurdico particular, tal como se fosse de pessoa diversa estamos ento perante um patrimnio autnomo ou separado.

Se o patrimnio tem como funo principal responder pelas dvidas do seu titular, ento parece que o critrio mais adequado para caracterizar a separao de patrimnios deve ser o da existncia de um tratamento jurdico particular em matria de responsabilidade por dvidas.

Patrimnio autnomo ou separado ser, assim, o que responde por dvidas prprias, isto , s responde e responde s ele por certas dvidas.

A figura do patrimnio colectivoNa hiptese de autonomia patrimonial existem na titularidade do mesmo sujeito duas ou mais massas patrimoniais separadas.

A figura do patrimnio colectivo apresenta-se-nos quando, inversamente, um nico patrimnio tem vrios sujeitos. Duas ou mais pessoas, que possuem cada uma o seu patrimnio que lhes pertence globalmente.

O patrimnio colectivo no se confunde, porm, com a compropriedade ou propriedade em comum. Na propriedade em comum ou compropriedade, figura de procedncia romanstica, estamos perante uma comunho por quotas ideais, isto , cada comproprietrio ou consorte tem direito a uma quota ideal ou fraco do objecto comum. O patrimnio colectivo pertence em bloco, globalmente ao conjunto de pessoas correspondente. Individualmente nenhum dos sujeitos tem direito a qualquer quota ou fraco; o direito sobre a massa patrimonial em causa cabe ao grupo no seu conjunto. Da que nenhum dos membros da colectividade titular do patrimnio colectivo possa alienar uma quota desse patrimnio ou possa requerer a diviso, enquanto no terminar a causa geradora do surgimento do patrimnio colectivo.

Facto Jurdico e Acto JurdicoNoo de facto jurdico todo o acto humano ou acontecimento natural juridicamente relevante. Esta relevncia jurdica traduz-se principalmente, seno mesmo necessariamente na produo de efeitos jurdicos.

A constituio de uma relao jurdica depende sempre de um evento, evento esse a que o Direito reconhece relevncia como fonte de eficcia jurdica. A delimitao de facto jurdico tarefa que cabe ao prprio Direito.

A criao de efeitos jurdicos cabe norma jurdica. Da que, os factos jurdicos constituam a caracterizao das situaes que sob forma hipottica a norma faz depender a produo de efeitos de Direito.

Para o prof. Oliveira Ascenso: a factispcie pressupe j uma situao juridicamente valorada, a que se ligam ulteriores efeitos jurdicos, para o facto de sobrevir determinado facto jurdico.

Contraposio entre efeito jurdico e facto jurdicoOs factos jurdicos so sempre acontecimentos do mundo real que o Direito toma como causas de certas consequncias juridicamente atendveis. Os efeitos jurdicos sero as consequncias desses factos jurdicos.

corrente estabelecer a distino entre factos naturais, tem a sua origem num acontecimento da natureza; humanos, tem a sua origem na vontade humana.

Classificao dos factos jurdicosA primeira classificao dos factos jurdicos a que se pode estabelecer entre factos voluntrios ou actos jurdicos, resultam da vontade como elemento juridicamente relevante, so manifestao ou actuao de uma vontade; so aces humanas tratadas pelo direito enquanto manifestao de vontade. Os factos jurdicos involuntrios ou naturais, so estranhos a qualquer processo volitivo ou porque resultam de causas de ordem natural ou porque a sua eventual voluntariedade no tem relevncia jurdica.

Classifica-se, os factos humanos em voluntrios, e os factos naturais em extraordinrios/involuntrios.

Mas, h factos humanos no voluntrios, porque a vontade do Homem no determinante nem na sua produo nem nos efeitos que lhes so correspondentes (anlise casustica dos efeitos que a norma lhes atribu, excepto o decurso do tempo - art. 276 CC).

Os factos jurdicos humanos (caracterizam-se por aces que atingem um determinado fim) podem tambm ser, no voluntrios, integrando-se estes naqueles comportamentos caracterizados por se dirigirem a um fim que o Homem mentalmente antecipa e quer realizar.

No entanto, nem sempre o Direito atende a esta estrutura finalista de aco humana. H factos em relao aos quais, o seu carcter humano volitivo (voluntrio) completamente desconsiderado pelo Direito na atribuio de quaisquer fins, e tudo acaba por se passar como se de um acto natural se tratasse.

Os factos jurdicos no voluntrios, no seu conjunto, formam uma categoria a que muitos autores designam por facto jurdico strictu sensu, contrapondo-se a esta a de actos jurdicos correspondentes aos factos jurdicos voluntrios.

Acto jurdico uma manifestao de vontade e que como tal, a norma atribu efeitos de Direito. Nos diversos actos humanos existe sempre uma manifestao de vontade, sendo que esta o elemento relevante do acto jurdico, que entendida e considerada pelo direito.

O prof. Castro Mendes, diz que s estamos na presena de um acto jurdico quando pensamos num facto voluntrio a que a Ordem Jurdica liga efeitos de Direito, em ateno sua voluntariedade.A simples conjugao destes elementos permite a formulao de actos jurdicos, entendendo-se aqui, a manifestao de vontade como tal, a norma jurdica atribu efeitos de Direito.ClassificaoA classificao dos actos jurdicos obedece a diferentes critrios. Assim, no que toca estrutura do acto, distingue-se acto jurdico simples e acto jurdico complexo. Se atendermos modalidade dos efeitos, distingue-se entre actos positivos e actos negativos, actos principais e actos secundrios, e actos lcitos e actos ilcitos.

O papel que reservado vontade na formulao dos efeitos do acto, permite-nos ainda fazer a distino entre actos jurdicos simples ou no intencionais, e actos jurdicos intencionais. Os actos intencionais sero de contedo determinado e de contedo no determinado ou indeterminado.

No acto intencional de contedo determinado, o contedo da manifestao de vontade est pr-determinado, ficando assim definindo o efeito do acto.

Actos simples e actos complexosAtendendo-se ao critrio da estrutura, definir-se- como acto simples, aquele que formado por um s elemento. Relativamente ao acto complexo e em antinomia ao acto simples, tem-se a destacar diversos elementos:

Os actos jurdicos complexos h que estabelecer a distino consoantes se produzem os seus elementos constitutivos;

Os elementos, quando ocorrem todos a um tempo, definem um acto complexo de formao instantnea ou simultnea.

Actos complexos de formao sucessiva ou plurissubsistente, os vrios elementos de um acto complexo acabam por se produzir em tempos diferentes, havendo no entanto um tempo intermdio entre cada declarao de vontade o que se tornar relevante em termos jurdicos.

Actos jurdicos positivos e negativosEstes actos, situam o critrio de distino no plano dos efeitos jurdicos do acto e atendendo-se ao modo como eles se projectam sobre uma situao jurdica existente no momento da sua prtica.

Os actos positivos, consistem sempre em aces, num facere. Em certas situaes, tambm se pode considerar a omisso, um non facere, conducente manuteno de um estado de coisas anterior.

Actos jurdicos principais e secundriosEsta disposio prende-se muito com a eficcia do acto, da prpria relevncia do acto jurdico como autntica fonte criadora de factos jurdicos.

Os factos a que a Ordem Jurdica liga efeitos jurdicos, so factos principais. Se atendermos modalidade dos efeitos que produzem, os actos principais podem agrupar-se em certas classificaes:

- Actos constitutivos;

- Actos modificativos;

- Actos extintivos;

- Actos aquisitivos modificativos dispositivos de direitos, o facto adstritos em relao esfera jurdica de outra pessoa (ex. 342 CC).

Os actos secundrios em si mesmos, no so causas de efeitos. No entanto, interferem com eficcia dos actos principais, impedindo ou confirmando essa mesma eficcia. Neste sentido, dizemos que estamos perante actos impeditivos, permissivos ou confirmativos de actos principais.

Actos jurdicos lcitos e ilcitosO critrio de distino o de conformidade com a lei, projectando-se esta distino igualmente no regime dos efeitos jurdicos do acto, uma distino privativa dos actos jurdicos.

A razo de ser desta delimitao reside na circunstncia de a ilicitude envolver sempre um elemento de natureza subjectiva que se manifesta num no acatamento, numa rebeldia Ordem Jurdica instituda. Envolve sempre uma violao da norma jurdica, sendo nesse sentido a atitude adoptada pela lei a represso, desencadeando assim um efeito tipo da violao a sano.

Os actos ilcitos, so contrrios Ordem Jurdica e por ela reprovados, importam uma sano para o seu autor (infractor de uma norma jurdica).

Os actos lcitos so conformes Ordem Jurdica e por ela consentidos. No podemos dizer que o acto ilcito seja sempre invlido. Um acto ilcito pode ser vlido, embora produza os seus efeitos sempre acompanhado de sanes. Da mesma feita, a invalidade no acarreta tambm a ilicitude do acto.

A distino entre actos jurdicos simples ou no intencionais ou calculados, no pe em causa o problema da interveno da vontade, no obstante se atenda relevncia da vontade no regime dos efeitos jurdicos do acto.

H certos actos jurdicos que bastam com a vontade do agente, dirigida a uma conduta em si mesma. Esta conduta, tem no entanto de ser querida pelo agente e necessita sempre de uma aco humana sendo esta apta e suficiente para que se produzam os efeitos previstos na forma jurdica.

Os actos jurdicos intencionais, podem distinguir-se entre determinados e indeterminados. H nestes actos jurdicos aquilo a que alguns autores chamam: a nota finalista da conduta humana.Na modalidade dos actos jurdicos intencionais possvel distinguir-se a vontade humana, sendo que esta considerada para o direito, como a gnese da voluntariedade de determinar Direito vontade expressa de uma certa aco. Noutros casos para alm dessa voluntariedade, atende-se tambm ao facto de o agente querer expressar uma determinada conduta de pensamento.

A vontade funcional encontra-se sempre nos actos intencionais, no tendo no entanto em todos eles a mesma extenso, processando-se a distino nos termos seguintes. Em certos actos jurdicos intencionais, a vontade, embora se refira aos efeitos do acto, no estipula esses efeitos. O agente tem de acatar os efeitos no patrimoniais do casamento. No so, neste caso, os nubentes que definem os efeitos no patrimoniais do acto. Os efeitos do acto indeterminado, no so fixos to s pela norma jurdica, como tambm pelo agente.

Nem a norma nem o agente determinam os efeitos do acto em termos absolutos. A norma confere uma certa liberdade ao agente na determinao dos efeitos.

Factos voluntrios ou actos jurdicosEstes podem, segundo outra classificao de caracter fundamental, distinguir-se em negcios jurdicos e simples actos jurdicos ou actos jurdicos sirito sensu. Estamos no domnio dos factos voluntrios, apesar disso nem sempre os efeitos jurdicos respectivos so produzidos por terem sido queridos e na medida em que o foram.

Os negcios jurdicos, so factos voluntrios, cujo ncleo essencial integrado por uma ou mais declaraes de vontade a que o ordenamento jurdico atribui efeitos jurdicos concordantes com o contedo da vontade das partes, tal como este objectivamente (de fora) apercebido.

Os simples actos jurdicos, so factos voluntrios cujos efeitos se produzem, mesmo que no tenham sido previstos ou queridos pelos seus autores, embora muitas vezes haja concordncia entre a vontade destes e os referidos efeitos. Os efeitos dos simples actos jurdicos ou actos jurdicos sirito senso produzem-se ex. lege e no ex. voluntate. Dentro dos simples actos jurdicos usual fazer-se uma distino entre:

1) Quase-negcio jurdicos ou actos jurdicos quase-negcio, traduzem-se na manifestao exterior da vontade (ex. art. 471 Cdigo Comercial - art. 808 CC);

2) Operaes jurdicas, tambm designada na doutrina estrangeira pelas expresses actos materiais, actos reais ou actos exteriores, traduzem-se na efectivao ou realizao de um resultado material ou factual a que a lei liga determinados efeitos jurdicos.

Aquisio, modificao e extino de relaes jurdicas

Os factos jurdicos desencadeiam determinados efeitos. Esses efeitos jurdicos consistem fundamentalmente numa aquisio, numa modificao ou numa extino de relaes jurdicas.

Vamos, pois, focar alguns temas ligados constituio, modificao ou extino de relaes jurdicas. Como as relaes jurdicas stricto senso se analisam num direito subjectivo e no correspondente dever jurdico ou sujeio, podemos na explanao da matria considera-la sob a ptica de aquisio, modificao ou extino de direitos, referindo uma ou outra particularidade atinente ao lado passivo das relaes jurdicas.

Conceito e modalidade de aquisio de direitos. Aquisio originria e aquisio derivada. Modalidades desta ltima

Um direito adquirido por uma pessoa quando esta se torna titular dele. Aquisio de direitos , pois, a ligao a criao de um lao de pertinncia de um direito a uma pessoa. No coincidem as noes de aquisio de direitos e de constituio de direitos. A constituio de um direito e o seu surgimento, a criao de um direito que no existia anteriormente. Toda a constituio de

um direito implica a sua aquisio, dado no existirem direitos sem sujeito. Mas a inversa no verdadeira, pois nem toda a aquisio de direitos tem lugar em casos de surgimento ex novo de um direito; na aquisio derivada translativa, como veremos, adquire-se, por transferncia, um direito j constitudo e preexistente na titularidade de outra pessoa, direito que mantm a sua identidade, apesar da mudana de sujeito (pense-se na figura da cesso de crditos).

Os dois tipos fundamentais de aquisio de direitos so a aquisio originria e a aquisio derivada. Na primeira o direito adquirido no depende da existncia ou da extenso de um direito anterior, que poder at no existir; quando o direito anterior exista, o direito no foi adquirido por causa desse direito, mas apesar dele. Na segunda, o direito adquirido funda-se ou filia-se na existncia de um direito na titularidade de outra pessoa; a existncia anterior desse direito e a sua extino ou limitao e que geram a aquisio do direito pelo novo titular, que so a causa dessa aquisio.

So casos de aquisio originria a ocupao de coisas mveis (ares, 1318 e segs.), a usucapio (arts. 1287. e segs.), a aquisio de direitos de autor pela criao literria, artstica ou cientfica, etc.

So casos de aquisio derivada a aquisio do direito de propriedade, ou de outro direito real, por fora de um contrato (venda, doao, troca, dao em pagamento, etc.), a aquisio de um crdito ou de uma relao contratual por cesso, aquisio de direitos por sucesso mortis causa, etc.

Caracterizamos os termos de distino segundo um critrio de causalidade que v a aquisio derivada como consequncia ou efeito imediato da extino subjectiva ou da limitao de um direito anterior, ao invs da aquisio originria onde no existe qualquer ligao causal entre a perda ou diminuio de um direito e a aquisio.

Este critrio da distino e o que esta em coerncia com o interesse pratico-jurdico da mesma: o direito adquirido, na aquisio derivada e no j na aquisio originria, depende na sua existncia, extenso e natureza do direito pr-existente.Dentro da aquisio derivada pode distinguir-se entre aquisio derivada translativa, aquisio derivada constitutiva e aquisio derivada restitutiva.

Comearemos por distinguir entre as duas primeiras modalidades, que so precisamente as mais frequentes formas que assume a aquisio derivada: a aquisio derivada translativa (a mais vulgar) e a aquisio derivada constitutiva.

Naquela o direito adquirido o mesmo que j pertencia ao anterior titular Assim, se um indivduo adquire o domnio de um prdio por compra, doao ou sucesso mortis causa, legtima ou testamentria. Na aquisio derivada constitutiva o direito adquirido filia-se num direito (mais amplo: cfr. supra) do anterior titular. Forma-se custa dele, limitando-o ou comprimindo-o. Mas no preexiste como entidade autnoma e especfica na esfera jurdica dessa pessoa. caso de o proprietrio de um prdio constituir (por venda, etc.) uma servido, ou outro direito real de gozo ou de garantia, a favor de outrem.

Parece-nos situar-se igualmente nesta sede a distino entre cesso da posio contratual ou cesso de contrato e subcontrato.

A nica particularidade que nestas figuras se apresenta a de estarmos perante a aquisio, no propriamente de um s direito subjectivo (relao simples), mas de relaes contratuais (relaes obrigacionais complexas).A cesso da posio contratual (arts. 424. e segs.), p. ex., cesso da posio de locatrio, cesso da posio de comprador ou de vendedor (fornecedor) num contrato de fornecimentos peridicos, etc.. uma aquisio derivada translativa da posio contratual, isto , da relao contratual ou relao obrigacional complexa emergente do contrato de locao, do contrato de fornecimento. etc.

O subcontrato, p. ex., sublocao (uris. 1060." e segs.), subempreitada (art. 1213.), etc., uma aquisio derivada constitutiva, pois um contratante (p. ex., a pessoa que se torna simultaneamente locatrio e sublocador) concede a outro (p. ex., sublocatrio) a possibilidade de usar a posio contratual que para o primeiro resulte de um contrato principal, ao qual este ltimo continua ligado.

Fala-se tambm por vezes de aquisio derivada restitutiva, tendo-se em vista a hiptese de o titular de um direito real limitado (servido, etc.) se demitir dele, unilateral ou contratualmente (a titulo gratuito ou a ttulo oneroso), recuperando assim ipso facto o proprietrio a plenitude dos seus poderes, em virtude da conhecida elasticidade ou fora expansiva do direito de propriedade. Porventura seria mais rigoroso falar-se de aquisio originria restitutiva quando o titular do direito real se demite dele por acto unilateral (renncia verdadeira e prpria). De qualquer maneira qualifica-se de restitutiva a aquisio porque ela vai repor as coisas no estado anterior a constituio do direito real que se extingue.

Impe-se distinguir entre aquisio derivada e sucesso. A sucesso e o subingresso de uma pessoa na titularidade de todas as relaes jurdicas ou determinada ou determinadas relaes jurdicas de outrem. Rigorosamente coincide apenas, portanto, com a aquisio derivada translativa, pois s nesta que o direito adquirido o mesmo do anterior titular.

A sucesso refere-se igualmente as dvidas e no s aos direitos, enquanto a aquisio rigorosamente s diz respeito a direitos. As dvidas, ainda quando mantm a sua identidade, apesar da mudana de devedor com consentimento do credor, no se adquirem assumem-se. Da que o artigo 595., prevendo e regulando a transmisso ou sucesso singular de dvidas, tenha a epgrafe assuno de dvida.

Numa hiptese de sucesso numa relao jurdica, isto , numa hiptese de aquisio derivada translativa, o titular anterior do direito designa-se por autor, antecessor ou causante (causam dans) e o adquirente por sucessor ou causado (causam habens). Frequentemente, porm, fala-se de sucesso para designar apenas a sucesso mortis causa (cfr. art. 2024.). Neste caso o autor da sucesso ou causante designado usualmente por hereditando ou de cujus, e os sucessores ou causados so, como sabemos, designados por herdeiro ou legatrio, consoante sucedem na totalidade ou numa quota do patrimnio do falecido ou em relaes jurdicas determinadas.

A noo de transmisso de direitos equivale igualmente, como j resulta do exposto, de aquisio derivada translativa e de sucesso. Num sentido muito amplo podem, porm, empregar-se as expresses transmisso de direitos ou sucesso de direitos para abranger qualquer forma de aquisio derivada.

Tal como a sucesso se refere igualmente s dvidas, ao contrrio da aquisio derivada, tambm existe uma transmisso das dvidas, coincidente, no caso de acto entre vivos, com a noo de assuno de divida e, no caso de morte do devedor, com a sucesso mortis causa nas dvidas.

Importncia da distino entre aquisio derivada e aquisio originria

Na aquisio originria a extenso do direito adquirido depende apenas do facto ou ttulo aquisitivo. Neste sentido diz-se, quanto usucapio, tantum possessum quantum praescriptam.

Na aquisio derivada a extenso do direito do adquirente depende do contedo do facto aquisitivo, mas depende ainda da amplitude do direito do transmitente, no podendo em regra ser maior que a deste direito: nemo plus juris ad alium transferre potest quam ipse haberet. a regra geral da aquisio derivada.

Este princpio caracterizador da aquisio derivada comporta, todavia, excepes. Estas excepes significam, pois, que, em certas hipteses, o adquirente, no obstante a aquisio ser derivada, pode obter um direito que no pertencia ao transmitente ou mais amplo do que aqueles que pertenciam a este.

Excepes a regra geral da aquisio derivada

Portanto, se A vendeu um prdio ou um automvel a B e depois C, B e C so terceiros entre si e prevalece a venda a C, se foi primeiramente registada, embora A j no fosse o verdadeiro proprietrio, pois a sua venda a B plenamente vlida e eficaz inter partes (art. 4.").

Logo, verifica-se uma excepo ao princpio segundo o qual na aquisio derivada o adquirente (C) no pode adquirir um direito, se este no existia na titularidade do transmitente (A).

J no ser assim se o mesmo prdio for vendido por A a B e por C a D. Neste caso prevalece das duas vendas a que foi feita pelo verdadeiro proprietrio, mesmo que a outra tenha sido registada em primeiro lugar.

Tambm na hiptese de A vender um prdio a B, que regista a aquisio, e este vender logo a C, que igualmente regista este acto, C ter de abrir mo do prdio, no caso de a primeira venda (de A a B) ser logo declarada nula ou anulada, dado o efeito retroactivo da invalidade da primeira compra, que provoca uma invalidade derivada ou consequencial da segunda. que o registo estabelece apenas uma presuno tantum juris de existncia da propriedade da pessoa a favor de quem o prdio est registado, presuno esta ilidvel (art. 7 do Cod. Do Registo Predial). O conceito garante apenas a terceiros, entendido este conceito nos termos supra definidos, que, se o individuo a favor de quem est registado um prdio foi o seu titular, ento ainda o .

Do exposto se infere que o registo predial no se destina a realizar uma proteco mxima da segurana na aquisio de direitos sobre imoveis, mas uma proteco mais limitada: no a garantir que, se se adquire de quem tem o prdio registado em seu nome, se faz uma aquisio vlida e firme, mas, repetindo, a assegurar que, se o direito existiu na titularidade desta pessoa, ento ela ainda o conserva.

Esta garantia a nica conferida pelo registo deve considerar-se plena, pelo que deve funcionar, sejam ambas as aquisies onerosas ou gratuitas e sem que se deva admitir prova tendente a demonstrar que o terceiro devia conhecer, ou conhecia, o acto anterior no inscrito, isto , sem que releve a boa ou a m f subjectivas do terceiro. A segurana que se pretende garantir ao comrcio jurdico seria fortemente afectada, se o terceiro, adquirente de quem tem um prdio registado a seu favor, ficasse exposto s delongas, s incertezas, aos gastos, eventualmente s manobras inerentes a processos judiciais tendentes a provar que ele conhecia uma alienao anterior. Acresce que s a inoponibilidade de actos no registados a terceiros, mesmo que de m-f (p. ex., por deverem conhecer uma aquisio anterior), motivar os interessados a promover o registo, como de interesse pblico. A aquisio tabular (aquisio pelo registo) exige, portanto, apenas que o terceiro actue com base num registo preexistente, desconforme com a realidade substantiva, e que efectue o registo a seu favor em primeiro lugar.

O nosso direito positivo no fornecia j qualquer argumento legal que permitisse sustentar, para o desproteger, a relevncia da m-f do terceiro que registou em primeiro lugar, ou a limitao da preferncia concedida pela prioridade do registo aos actos a ttulo oneroso. Em face, porm, de divergncias jurisprudenciais geradoras de insegurana sobre a titularidade dos bens, a que convinha pr cobro, o Decreto-Lei n. 533/99, de 11 de Dezembro, veio expressamente tomar partido pela clssica definio de Manuel de Andrade (como se l no seu prembulo), clarificando no artigo 5. do Cdigo do Registo Predial o que deve entender-se por terceiros, para efeitos de registo. Segundo a nova redaco do artigo 5.", n. 4. do Codigo do Registo Predial. terceiros, para efeitos de registo, so aqueles que tenham adquirido de um autor comum direitos incompatveis entre si.

Da inoponibilidade da simulao a terceiros de boa f. Os negcios simulados so nulos e, como tal, no produzem quaisquer efeitos. Se o simulado adquirente de um prdio, porm, vender ou doar, por acto verdadeiro, o mesmo prdio a um terceiro e este ignorar a simulao, o terceiro adquire validamente esse objecto (art. 243).

Ora, dado que o vendedor ou doador tinha adquirido a propriedade por acto simulado e, portanto, nulo, o terceiro adquire de quem no era proprietrio, ao invs do que prescreve o princpio nemo plus juris...

Da eventual inoponibilidade das nulidades e anulabilidades a terceiro de boa f. Por fora do princpio nemo plus juris..., se A transmitiu, por negcio nulo ou anulvel, um prdio a B e este, por sua vez, o transmitiu a C, declarado nulo ou anulado o primeiro acto, o segundo seria tambm nulo e, consequentemente, C devia restituir o prdio (resoluto iure dantis resolvitur et jus accipientis ). Isto porque as nulidades e anulaes operam em face de terceiros e no s em face da contraparte (operam in rem e no apenas in personam).

Tal a soluo que, com algum vago apoio no artigo 697, a doutrina afirmava em face do Cdigo de 1867. O Cdigo de Seabra no protegia, assim, a boa-f do terceiro (C) que celebrou um negcio com quem (B) tinha legitimidade aparente para o fazer, mas se veio afinal a revelar carecido dessa legitimidade, por ter sido destrudo retroactivamente o negcio donde ela lhe advinha. A nica excepo a esta regra verificava-se, nos termos j indicados, por fora da inoponibilidade da simulao a terceiros de boa-f.

Diversa a soluo do actual Cdigo Civil. A se estabelece (art. 291) um regime de inoponibilidade a terceiros de boa-f, adquirentes a ttulo oneroso, das nulidades e anulaes de negcios respeitantes a imveis ou mveis sujeitos a registo, desde que a aco tendente declarao de nulidade ou anulao no seja proposta e registada dentro dos trs anos posteriores concluso do negcio.

Assim se realiza, atravs desta inovao do Cdigo de 1966, a proteco do terceiro de boa f, adquirente a non domino, sendo os direitos deste sacrificados, por fora da invalidade do negcio donde resultaram os direitos do seu transmitente, apenas na hiptese de este ser invalidado nos trs anos subsequentes sua realizao. uma soluo semelhante que no artigo 243. se estabelece para a simulao, embora conferindo uma proteco menos completa ao terceiro de boa f. Para os efeitos do artigo 291.", considerado de boa f o terceiro adquirente que, no momento da aquisio (mala fides superveniens non nocet), desconhecia, sem culpa, o vcio do negcio nulo ou anulvel (n.3 do mesmo artigo).

Torna-se bvio como do n." 1 do artigo 291., por exigncia da proteco da confiana dos terceiros e dos interesses do comrcio jurdico, resulta uma excepo regra geral da aquisio derivada (nemo plus juris ad alium transferre potest quam ipse haberet.

Modificao de direitos

Tem lugar a modificao de direitos quando, alterado ou mudado um elemento de um direito, permanece a identidade do referido direito, apesar da vicissitude ocorrida. A perdurao do direito, apesar da modificao verificada, significa que o ordenamento jurdico continua a tratar o direito como se no tivesse tido lugar a alterao. O direito o mesmo e no um direito novo.

A modificao do direito uma modificao subjectiva, se tem lugar uma substituio do respectivo titular; permanecendo a identidade objectiva do direito. Tem lugar, nesta hiptese, uma sucesso no direito. o que se verifica no domnio dos direitos de crdito, e quanto a actos inter vivos, com a cesso de crditos e com a sub-rogao nos crditos. A sucesso entre vivos nas relaes obrigacionais substituio de sujeitos sem extino da relao jurdica e surgimento de uma nova, isto , sem novao, mas antes com perdurao da identidade do vnculo pode ter lugar, tambm, do lado passivo, surgindo ento a assuno da dvida e pode ainda referir-se relao contratual (relao obrigacional complexa), normalmente atravs da cesso da posio contratual. Sabemos, igualmente, que a modificao subjectiva das relaes jurdicas, quer do lado activo, quer do lado passivo, pode ter lugar por sucesso mortis causa.

A modificao subjectiva das relaes jurdicas pode resultar, ainda, de uma multiplicao dos sujeitos por adjuno p. ex., um novo devedor assume a obrigao para com o credor, permanecendo o devedor vinculado (assuno cumulativa, co-assuno de dvida ou adeso dvida).

III A modificao do direito uma modificao objectiva, se muda o contedo ou o objecto do direito, permanecendo este idntico.

Muda o contedo se, p. ex., concedida pelo credor ao devedor uma prorrogao do prazo para o cumprimento. Muda o objecto, se, p. ex., no cumprindo o devedor culposamente a obrigao, o seu dever de prestar substitudo por um dever de indemnizar.

Extino de direitos

I-A extino de um direito tem lugar quando um direito deixa de existir na esfera jurdica de uma pessoa. Quebra-se a relao de pertinncia entre um direito e a pessoa do seu titular.

II A extino de direitos traduzir-se- numa extino subjectiva ou perda de direitos, se o direito sobrevive em si, apenas mudando a pessoa do seu titular. O direito mudou de titularidade; extinguiu-se para aquele sujeito, mas subsiste na esfera jurdica de outrem. A extino subjectiva ou perda de direitos verifica-se sempre que tem lugar urna sucesso na titularidade dos direitos: o sucessor adquire ou subingressa na titularidade do direito e este extinguiu-se para o autor ou transmitente (causante).

III A extino de direitos ser uma extino objectiva, se o direito desaparece, deixando de existir para o seu titular ou para qualquer outra pessoa. Nesta hiptese no h sucesso, transmisso ou aquisio derivada translativa de direitos.

o que acontece se h destruio do objecto do direito (p. ex., consumo do objecto do direito de propriedade, destruio de coisa por um incndio, etc.), se h abandono de um mvel, se um direito de crdito exercido e cobrado ou se extingue por prescrio, etc.

IV As consideraes expostas acerca da extino de direitos so vlidas, mutatis mutandis, para a extino de deveres jurdicos, sobretudo de obrigaes.

V Uma forma particular de extino de direitos a correspondente aos institutos da prescrio (arts. 300. e segs.) e da caducidade (arts. 328. e segs.).

a) Se o titular de um direito o no exercer durante certo tempo fixado na lei, extingue-se esse direito. Diz-se, nestes casos, que o direito prescreveu, ou que o direito caducou.

O beneficirio da prescrio, completada esta, pode recusar o cumprimento da prestao ou opor-se ao exerccio do direito prescrito. No entanto, se o devedor, beneficirio da prescrio, tiver cumprido espontaneamente a obrigao prescrita (ignorando ou no a prescrio), o credor goza da soluti retentio, no podendo o obrigado repetir o que haja prestado (cfr. art. 304.). Isto porque, como j sabemos, as dvidas prescritas passam a constituir obrigaes naturais.

A caducidade opera tambm a extino do direito.

b) Ao falarmos na prescrio referimo-nos, obviamente, prescrio extintiva ou negativa. Ao lado desta existe ainda a chamada prescrio aquisitiva ou positiva, atravs da qual se adquirem direitos reais (recorde-se o que dissemos sobre a usucapio, que um modo de aquisio originria).

bom de ver, pois, que s a primeira uma forma de extino de direitos, sendo essa a prescrio extintiva que aqui tomamos em considerao.

c) Dissemos que a prescrio e a caducidade acarretam a extino de direitos quando estes no so exercidos durante certo tempo. Importa apurar como se distingue da caducidade.

Segundo o critrio tradicional, clssico, a prescrio aplica-se aos direitos subjectives propriamente ditos, enquanto a caducidade visar os direitos potestativos.

A nossa lei seguiu, porm, um critrio formal, afirmando que quando um direito deva ser exercido durante certo prazo se aplicam as regras da caducidade, salvo se a lei se referir expressamente prescrio (art. 298.",n. 2).

H importantes diferenas de regime jurdico entre a prescrio e a caducidade (451 ). Assim:

1 Admitem-se estipulaes convencionais sobre a caducidade (art. 330.). o mesmo no acontecendo a respeito do regime da prescrio, o qual inderrogvel (art. 300);

2 A caducidade apreciada oficiosamente pelo tribunal (art. 333.), diversamente do que sucede com a prescrio, que tem de ser invocada, no podendo o tribunal supri-la, de ofcio (art. 3031');

3 A caducidade, em princpio, no comporta causas de suspenso nem de interrupo (art. 328), ao contrrio da prescrio, que se suspende e interrompe nos casos previstos na lei (cfr., respectivamente. arts. 318." e segs. e 323 e segs.);

4 Por ltimo, a caducidade s impedida, em principio, pela prtica do acto (art. 331), enquanto que a prescrio se interrompe pela citao ou notificao judicial de qualquer acto que exprima, directa ou indirectamente, a inteno de exercer o direito, tendo-se, igualmente, por interrompida, cinco dias depois de requerida a citao ou a notificao, se estas no tiverem sido feitas por causa no imputvel ao requerente (art. 323).

d) Esta diferena de regimes entre a prescrio e a caducidade fica a dever-se diversidade dos fundamentos que subjazem a um e outro instituto. Vejamos .

A prescrio extintiva, possam embora no lhe ser totalmente estranhas razes de justia, um instituto endereado fundamentalmente realizao de objectivos de convenincia ou oportunidade. Por isso, encarada exclusivamente numa perspectiva de justia, foi pelos antigos crismada de impium remedium ou impium praesidium. Apesar disso, porm, sempre intervm na fundamentao da prescrio uma ponderao de justia. Diversamente da caducidade, a prescrio arranca, tambm, da ponderao de uma inrcia negligente do titular do direito em exercit-lo, o que faz presumir uma renncia ou, pelo menos, o torna indigno da tutela do Direito, em harmonia com o velho aforismo dormientibus non succurrit jus.

Por isso, embora a prescrio tal como a caducidade vise desde logo satisfazer a necessidade social de segurana jurdica e certeza dos direitos, e, assim, proteger o interesse do sujeito passivo, essa proteco e dispensada atendendo tambm ao desinteresse, inrcia negligente do titular do direito em exercit-lo. H, portanto, uma inrcia do titular do direito, que se conjuga com o interesse objectivo numa adaptao da situao de direito situao de facto.

Na caducidade, porm, s o aspecto objectivo da certeza e segurana tomado em conta. O que explica, p. ex., que a caducidade seja apreciada oficiosamente pelo tribunal ao contrrio da prescrio, que tem de ser invocado , bem como o facto de influrem sobre o prazo de prescrio, e no sobre o da caducidade, situaes e acontecimentos que excluem a possibilidade de a falta de exerccio do direito ser atribuda a inrcia do titular situaes e acontecimentos que podem suspender ou interromper a prescrio, mas no a caducidade.

e) De referir, por ltimo, que o prazo ordinrio da prescrio de vinte anos (art. 309), prevendo a lei, para certas hipteses, uma prescrio de cinco anos (art. 310). H prazos mais curtos para as chamadas prescries presuntivas (que so as que se fundam na presuno de cumprimento art. 312.), prazos esses que podem ser de seis

meses (art. 316.") ou de dois anos (art. 317.).

Estas prescries presuntivas, por serem fundadas numa presuno de cumprimento, podem, ao contrrio do regime geral da prescrio, ser ilididas por confisso do devedor.

Conceito e importncia do negcio jurdico

I Os negcios jurdicos so actos jurdicos constitudos por uma ou mais declaraes de vontade, dirigidas realizao de certos efeitos prticos, com inteno de os alcanar sob tutela do direito, determinando o ordenamento jurdico a produo dos efeitos jurdicos conformes inteno manifestada pelo declarante ou declarantes.

O que verdadeiramente constitutivo do negcio o comportamento declarativo a existncia de um comportamento que, exteriormente observado, aparea como manifestao de uma vontade de certos efeitos prticos sob a sano do ordenamento jurdico. Claro que, normalmente, esta aparncia corresponde a um contedo volitivo real e essa coincidncia permite ao negcio jurdico realizar a sua funo de meio de realizao da autonomia da vontade. Tal coincidncia no , todavia, necessria, como veremos, e em caso de dissdio entre vontade real e declarao prevalece, quase sem restries, o elemento declarativo.

II A importncia do negcio jurdico manifesta-se na circunstncia de esta figura ser um meio de auto-ordenao das relaes jurdicas de cada sujeito de direito. Estamos perante o instrumento principal de realizao do princpio da autonomia da vontade ou autonomia privada. J atrs focamos, ao tratar dos princpios fundamentais do direito civil portugus, a funo do negcio jurdico como meio de autogoverno pelos particulares da sua esfera jurdica prpria.

Relao entre a vontade exteriorizada na declarao negocial e os efeitos jurdicos do negcio

I Teoria dos efeitos jurdicos. Para esta doutrina, os efeitos jurdicos produzidos, tais como a lei os determina, so perfeitas e completamente correspondentes ao contedo da vontade das partes.

Haveria (ou teria de haver) uma vontade das partes dirigida produo de determinados e precisos efeitos jurdicos. Os prprios efeitos derivados de normas supletivas resultariam da tcita vontade das partes.

Este ponto de vista no fornece o correcto diagnstico ou o correcto critrio para a determinao da relao que intercede no negcio jurdico entre a vontade dos seus autores e os efeitos jurdicos respectivos. Alis, a ser esta doutrina correcta, s os juristas completamente informados sobre o ordenamento poderiam celebrar negcios jurdicos. Ora, o que sucede que as partes dos vrios negcios no tm uma representao completa e exacta de todos os efeitos que o ordenamento jurdico atribui s suas declaraes de vontade.

Por outro lado, se certo que algumas normas supletivas consagram clusulas usuais ou de estilo do comrcio jurdico, no menos verdade que elas s deixam de se aplicar quando uma vontade real contrria foi manifestada, no bastando provar-se que as partes no pensaram no ponto ou at provavelmente no teriam querido aquele regime. Correspondem algumas a vontade normal das partes, mas no vontade real tcita outras traduzem um critrio de justia do legislador que este no considera com suficiente acuidade para ser afirmado imperativamente, mas faz valer, aproveitando-se do silncio das partes.

II Teoria dos efeitos prticos. Para esta doutrina, a teoria dos efeitos jurdicos no realista est longe da realidade. As partes manifestam apenas uma vontade de efeitos prticos ou empricos, normalmente econmicos ou sociais, sem carcter ilcito. A estes efeitos prticos ou empricos manifestados, faria a lei corresponder efeitos jurdicos concordantes.

Tambm esta concepo inaceitvel. Tal como define o negcio jurdico, este no se distingue dos compromissos ou convenes celebrados sob o imprio de outros ordenamentos normativos (cortesia, moral, praxes sociais, etc.).

III Teoria dos efeitos prtico-jurdicos. o ponto de vista correcto. Os autores dos negcios jurdicos visam certos resultados prticos ou materiais e querem realiz-los por via jurdica. Tm, pois, tambm uma vontade de efeitos jurdicos. A vontade dirigida a efeitos prticos no a nica nem a decisiva decisiva para existir um negcio a vontade de os efeitos prticos queridos serem juridicamente vinculativos, a vontade de se gerarem efeitos jurdicos, nomeadamente deveres jurdicos, correspondentes aos efeitos prticos. H uma inteno dirigida a um determinado efeito econmico juridicamente garantido.

Simplesmente, no se trata de uma representao completa dos efeitos jurdicos correspondentes quela vontade de efeitos prticos esses efeitos jurdicos completos sero determinados pela lei.

Basta uma representao global prtica de profanos dos efeitos jurdicos imediatos e fundamentais do negcio.

IV Por falta de inteno de efeitos jurdicos nestes termos, distinguem- se os negcios jurdicos dos chamados negcios de pura obsequiosidade. Estes so promessas ou combinaes da vida social, s quais estranho o intuito de criar, modificar ou extinguir um vnculo jurdico (p. ex., o convite para um passeio, para um jantar, etc.).

V A falta de vontade de efeitos jurdicos distingue, igualmente, os negcios jurdicos dos chamados meros acordos ou agreements, ainda gentlemen's agreements (acordos de cavalheiros).

Estas convenes so combinaes sobre matria que normalmente objecto de negcios jurdicos, mas que, excepcionalmente, esto desprovidas de inteno de efeitos jurdicos. o caso de um emprstimo de honra ou de uma disposio de bens para depois da morte, em que o disponente confia pura e simplesmente na honorabilidade cios herdeiros a quem cumpre executar a disposio.

VI Pode surgir a dvida sobre se numa dada hiptese existe um negcio de pura obsequiosidade ou um negcio jurdico ou antes sobre se existe um mero gentlemen's agreement ou um negcio jurdico.

Se a dvida for do primeiro tipo, a parte interessada em demonstrar a existncia do negcio jurdico que tem o nus da prova respectivo. Se a dvida for do segundo tipo, a parte interessada em demonstrar a inexistncia da inteno negociai que tem o onus probandi.

Casos Prticos

1-Ernesto empresrio da restaurao da zona de Leiria, anuncia numa radio local que pretende admitir empregado de mesa;

R:voluntario, simples acto juridico

A simples proposta de contratar, j um negocio juridico unilateral, no recepticio

2- Rui encontra sada do metro um bilhete da lotaria ainda no sorteado

R:acto juridico ,vluntario, simples acto juridico, material.

3- Queda de granizo intensa partiu os vidros dianteiros e traseiros do carro de Madalena.

R: facto juridico natural ou puro facto juridico.

4- Numa alterao motivada por demarcao de terras, Incio atingiu a tito de caadeira Mauricio , causando morte imediata.

R: simples acto juridico, mero acto material.

5-Dia 3 de Maro, vai ter lugar a festa dos 25 anos de Daniel no restaurante agula.

R:acto juridico, contrato, bilateral.

6-Pedro foi informado por Rodrigo, seu primitivo ou originrio credor de que o seu credor passava a ser Claudia.

R: modificao subjectiva.

7-Como qualificar a inveno de uma maquina industrial

R:aquisio

8-A hipoteca de um imvel

R:aquisio derivada constitutiva de direitos.

9- Lcia emprestou a Vanessa um livro de Teoria Geral do Direito Civil. 5 anos depois j com a licenciatura e mestrado includo, Lcia pretende que Vanessa lhe entregue o livro, alegando ser ela a proprietria do livro. Concorda com a reaco de Vanessa?

R: no, porque nesse tempo Vanessa tinha adquirido o livro por usucapio, aquisio originria.

10-Ludovina herdou uma quina perto de Monforte.

R:aquisio derivada translativa.

11-Elvira Vila Nova, ETRL executou o restauro de 2 comodas e varias cadeiras a Carlota Gomes de S. Carlota no pagou o custo do restauro e a comerciante envia-lhe uma carta registada com aviso de recepo, avisando-lhe de ter passado j o prazo de pagamento dessa importncia. Avalie o significado juridico desse comportamento.

R:facto juridico, simples acto voluntario, quase negocio juridico.

11.1- Em carta de resposta, Carlota pede para pagar em 3 prestaoes. Elvira Vila Nova aceita.

R: modificao objectiva-negocio juridico bilateral.

12-A assunao da divida de um pai para o filho.

R:modificao subjectiva de um dever.

13-Renuncia a um usufruto.

R:aquisio derivada restitutiva do direito.

14-Miguel reservou e desfrutou da estadia de um fim de semana num resort de luxo no Algarve, em Agosto de 2013, acompanhado de uma amiga especial. O custo desta estadia no foi pago. Em Fevereiro de 2014 a empresa hoteleira proprietria do hotel instaura de cobrana da divida. Pode Miguel contestar que nada deve autora?

R:houve uma situao de prescrio. uma divida prescrita.

Extino objectiva do direito.

Elementos do negcio Jurdico

1-Toms de 14 anos, com dinheiro que herdou do seu av comprou uma scooter a Viriato, comerciante de veculos motorizados de duas rodas

R:falta de capacidade jurdica invalidade.

2-Teodoro acordou com Casimiro, em Janeiro de 2014 vender-lhe uma vivenda na Nazar , mas ficou exarado no contrato que Casimiro s poder ocupar a casa a 31 de Maio de 2014, data em que o arrendatrio de Teodoro desocupa o locado, por terminar s nessa data o contrato de arrendamento.

-clausula acessria de condio.

Elementos do Negcio Jurdico

Elementos do negcio jurdicoRelativamente ao negcio jurdico, h dois aspectos ter em conta:

1. Pressuposto do negcio jurdico ou requisito do negcio jurdico ou ainda elementos extrnsecos do negcio jurdico;

2. Elementos intrnsecos ou elementos constitutivos do negcio jurdico, aqui enquadra-se a forma e o contedo do negcio.

Entende-se, por forma, o modelo como o negcio se apresenta face aos outros negcios na vida da relao, na vida exterior do negcio. Por contedos, o que intrinsecamente considerado no negcio.

Esta caracterizao abrange realidades muitos concretas, donde se destaca a capacidade das partes, a legitimidade das partes e a idoneidade do objecto: sendo que estes so elementos do negcio jurdico.

Quando se analisa o negcio jurdico deve-se distinguir dois tipos de realidades: realidades lgica e ontologicamente anteriores ao negcio, ou seja, realidades que tm de existir para que o negcio possa existir; deve-se distinguir tambm a estrutura do negcio, as realidades que formam o negcio.

A regulao dos interesses funciona atravs de estipulaes das partes e tambm atravs de estatuies da lei.

Na doutrina portuguesa h vrias opinies:

O prof. Paulo Cunha, distingue quatro categorias:

Elementos necessrios: aqueles que faziam com que o negcio tivesse humanidade prpria, essencial ao negcio, fazendo existir o negcio tal como ele , a sua falta gera a nulidade;

Elementos especficos: no interessam ao regime geral, mas interessam para a apreciao de um certo tipo de negcio;

Elementos naturais: so inerentes natureza jurdica daquele acto, decorrem da lei e correspondem aos efeitos que por lei esto estabelecidos para cada negcio;

Elementos acidentais: os que no se incluem em nenhuma das categorias anteriores.

- Meros factos habilitantes do negcio, ficam na disponibilidade das partes (variveis ou atpicos), implica a anulabilidade do negcio.

Classificao dos Negcios JurdicosBreve classificao dos negcios jurdicosUm dos critrios clssicos o que atende ao nmero de pessoas que intervm nesses negcios. O negcio diz-se singular, se apenas intervm uma pessoa, se intervierem mais de que uma pessoa, o negcio diz-se plural.Na Ordem Jurdica portuguesa, h negcios que so obrigatria e necessariamente singulares: o caso do testamento, s uma pessoa pode testar o acto.

Por outro lado, h negcios que so necessariamente plurais, e nalguns casos, os negcios alm de serem plurais, envolvem contraposio de interesses entre as vrias partes intervenientes. O negcio plural ser bilateral ou plurilateral, sendo que o contrato a figura paradigmtica deste tipo de negcios. No se deve confundir nunca parte com pessoas: podem intervir vrias pessoas constituindo uma s parte.

O negcio unilateral, pode ser singular ou plural, mas o negcio singular necessariamente unilateral.

A doutrina nem sempre est de acordo com isto, sendo que uma das solues possveis envolve o atender-se s declaraes emitidas, no apenas ao seu nmero, mas forma como elas se articulam no negcio.

Mais importante ainda o modo como elas se articulam entre si: casos h em que as diversas declaraes so paralelas e formam um s grupo, havendo igualmente casos em que o contedo de uma declarao o oposto ao contedo da outra, embora convirjam num certo sentido, tendo em vista um resultado comum unitrio.

Se a divergncia de vontades interfere com o regime dos efeitos do negcio, justificando um tratamento distinto entre os seus autores, estamos perante um negcio bilateral ou plurilateral.

Num contrato de sociedade h posies comuns dos autores do negcio e ento este mantm-se como negcio unilateral. O critrio jurdico de distino entre negcios unilaterais e bilaterais reside na diferente posio que, perante os interesses que so regulados pelo negcio, os autores do mesmo ocupam. Se os interesses forem divergentes, para que haja negcio, as vontades dos diversos intervenientes tm de se encontrar num ponto comum, sendo este o acordo de vontades ou livre consenso.

Negcios jurdicos unilaterais e contratos ou negcios jurdicos bilateraisO Cdigo Civil contm uma regulamentao geral do negcio jurdico, abrangendo assim as duas modalidades. O critrio classificativo o do nmero e modo de articulao das declaraes integradoras do negcio.

Nos negcios unilaterais, h uma declarao de vontade ou vrias declaraes, mas paralelas formando um s grupo.

Nos contratos ou negcios bilaterais, h duas ou mais declaraes de vontade, de contedo oposto, mas convergentes, ajustando-se na sua comum pretenso de reduzir resultado jurdico unitrio, embora com um significado para cada parte.

Acerca dos negcios unilaterais, importa focar as seguintes caractersticas:

a) necessrio a anuncia do adversrio, a eficcia do negcio unilateral no carece de concordncia de outrem;

b) Vigora, quanto aos negcios unilaterais, o princpio da tipicidade ou do numerus clausus;c) Deve-se fazer a distino entre negcios unilaterais receptcios (ou recepiendos), a declarao s eficaz, se for e quando for dirigida e elevada ao conhecimento de certa pessoas; e negcios unilaterais no receptcios, basta a emisso da declarao sem ser necessrio comunic-la a quem quer que seja.

Acerca dos contratos, no so integrados por dois negcios unilaterais, cada uma das declaraes (proposta e aceitao) emitida em vista do acordo.

A proposta do contrato irrevogvel, depois de chegar ao conhecimento do destinatrio (art. 230 CC), mantendo-se durante os lapsos de tempo referidos no art. 228 CC, sendo o contrato integrado por duas declaraes, pe-se o problema de saber qual o momento da sua perfeio. O problema surge, quanto aos contratos entre ausentes, e tem interesse para efeitos vrios. Vrias doutrinas abordam a questo:

a) Doutrina da aceitao: o contrato est perfeito quando o destinatrio da proposta aceitar a oferta que lhe foi feita;

b) Doutrina da expedio: o contrato est perfeito quando o destinatrio expediu, por qualquer meio a sua aceitao;

c) Doutrina da recepo: o contrato est perfeito quando a resposta contendo a aceitao chega esfera de aco do proponente, isto , quando o proponente passa a estar em condies de a conhecer;

d) Doutrina da percepo: o contrato s est perfeito quando o proponente tomou efectivo da aceitao.

Do art. 224 CC, resulta consagrar o nosso direito a doutrina da recepo, que parece ser alis, a prefervel de iure condendo. No ser todavia necessrio que a declarao chegue ao poder ou esfera de aco do proponente, se, por qualquer meio, foi dele conhecida (art. 224/1).

Consequncias da distino entre negcios bilateral e unilateral prpria distino corresponde a estrutura do negcio, que diferente consoante estejamos perante um negcio unilateral ou bilateral.

Se s h uma parte, o negcio s fica perfeito com a declarao dessa vontade.

Nos negcios bilaterais a perfeio depende sempre da conjugao de duas vontades divergentes, no existindo negcios enquanto elas no se ajustarem.

No Cdigo Civil, igualmente considerado como negcio jurdico bilateral, o acto constitutivo de uma sociedade. No entanto, h certos contratos que a lei considera negcios jurdicos, embora sejam de contedo determinado, como o caso do casamento. Parece ento que se pode definir o contrato como negcio jurdico unilateral ou plurilateral.

H no entanto uma classificao que privativa dos contratos, que deve ser referida pela sua importncia:

Contratos sinalagmticos ou bilaterais: emergem de obrigaes recprocas para ambas as partes, sendo deste exemplo o contrato de compra e venda ou contrato de empreitada;

Contratos no sinalagmticos ou unilaterais: as obrigaes emergentes vinculam s uma das partes, sendo deste exemplo o mtuo ou as doaes.

Diz-se que o contrato sinalagmtico decorre obrigaes interdependentes, porque existem entre as obrigaes causa de outras obrigaes. este vnculo mtuo que se diz sinalgma, este vnculo existente entre obrigaes dos diversos sujeitos, constitui-se no momento da celebrao do negcio, e diz-se sinalgma genrico.

No entanto, este vnculo pode no ser simultneo, gerando-se as obrigaes em momentos diferentes para ambas as partes, s com o desenvolvimento da execuo dessas obrigaes para uma parte que surgem as obrigaes para actos administrativos outras partes. Fala-se ento em sinalgma sucessivo.

A importncia da distino entre sinalagmticos e no sinalagmticos, reside no facto de os contratos do primeiro tipo terem um regime especial de caractersticas prprias:

- Excepo de no cumprimento: segundo esta excepo, a falta de cumprimento de uma das obrigaes, sendo comum o tempo de cumprimento, ou ainda perdendo o contraente relapso ou benefcio do prazo, justifica ainda o no cumprimento pela parte contrria (art. 428 CC);

- Condio resolutiva tcita: um instituto que confere a uma das partes a faculdade de resolver o negcio, com fundamento na falta de cumprimento da outra parte (art. 801/1 e 808 CC).

Negcios consensuais ou no solenes e negcios formais e solenesOs negcios formais ou solenes, so aqueles para os quais a lei prescreve a necessidade da observncia de determinada forma, o acatamento de determinado formalismo ou de determinadas solenidades. Os negcios no solenes (consensuais, tratando-se de contratos), so os que podem ser celebrados por quaisquer meios declarativos aptos a exteriorizar a vontade negocial, a lei no impe uma determinada roupagem exterior para o negcio.

Quando o negcio formal, as partes no podem realizar por todo e qualquer comportamento declarativo; a declarao negocial deve, nos negcios formais, realiza-se atravs de certo tipo de comportamento declarativo imposto por lei. Hoje o formalismo exigido apenas para certos negcios jurdicos, uniforme, traduzindo-se praticamente na exigncia de documento escrito, e est assim simplificado, relativamente aos direitos antigos. O princpio geral do Cdigo Civil em matria de formalismo negocial o princpio da liberdade declarativa ou liberdade de forma ou consensualidade (art. 219 CC).

Quando, nos casos excepcionas em que a lei prescrever uma certa forma, esta no for observada, a declarao negocial nula.

Negcios reaisSo aqueles negcios em que se exige, alm das declaraes de vontade das partes, formalizadas ou no, prtica anterior ou simultnea de um certo acto material.

Assim, o negcio real, obrigacional, familiar, sucessrio, consoante dele resulte a constituio, a modificao ou a extino de uma qualquer relao jurdica real, obrigacional, familiar ou sucessria. A importncia desta classificao resulta da diversa extenso que o princpio da liberdade contratual (art. 405 CC) reveste em cada uma das categorias.

Quanto aos negcios familiares pessoais, a liberdade contratual est praticamente excluda, podendo apenas os interessados celebrar ou deixar de celebrar o negcio, mas no podendo fixar-lhe livremente o contedo, nem podendo celebrar contratos diferentes dos previstos na lei.

Quanto aos negcios familiares patrimoniais, existe, com alguma largueza, a liberdade de conveno (art. 1698 CC), sofrendo embora restries (arts. 1699 1714 CC).

Quanto aos negcios reais, o princpio da liberdade contratual sofre considervel limitao derivada do princpio da tipicidade ou do numerus clausus, visto que no permitida a constituio, com caracter real, de restries ao direito de propriedade ou de figuras parcelares deste direito seno nos casos previstos na lei (art. 1306). S podem constituir-se direitos reais tpicos, embora essa constituio possa resultar de um negcio inominado ou atpico.

No domnio dos negcios obrigacionais vigora o princpio da liberdade negocial, quase inconfinadamente, quanto aos contratos, abrangendo a liberdade de fixao do contedo dos contratos tpicos, de celebrao de contratos diferentes dos previstos na lei e de incluso nestes quaisquer clusulas (art. 405 CC); quanto aos negcios unilaterais, vigora porm, a princpio da tipicidade (art. 457 CC).

Negcios patrimoniais e negcios no patrimoniais ou pessoaisO critrio distintivo , tambm, o de natureza da relao jurdica a que o negcio se fere.

Os negcios pessoais so negcios cuja disciplina, quanto a problemas como o da interpretao do negcio jurdico e o da falta ou dos vcios da vontade, no tm que atender s expectativas dos declaratrios e os interesses gerais da contratao, mas apenas vontade real, psicolgica do declarante. Esta prevalncia da vontade real sobre a sua manifestao exterior exprime-se, por vezes quanto aos negcios pessoais, em textos especiais que se afastam da doutrina geral dos negcios jurdicos; na ausncia de textos directos um princpio, inferido da natureza dos interessados em jogo, que se impe ao intrprete. Na disciplina dos negcios patrimoniais, por exigncia da tutela da confiana do declaratrio e dos interesses do trfico, a vontade manifestada ou declarada triunfa sobre a vontade real, assim se reconhecendo o valor social da aparncia.Negcios recepiendos e no recepiendosA distino atende s diferentes modalidades pelas quais o negcio ganha eficcia. Os negcios no recepiendos, so os negcios em que os efeitos se produzem por meros efeitos do acto sem ter de o negcio ser levado ao conhecimento de outrem. Os negcios recepiendos ou dirigidos a outrem, so os negcios cuja eficcia depende da circunstncia de a declarao negocial ser dirigida ou levada ao conhecimento de outra pessoa (art. 224/1 CC).

Esta classificao tem por excelncia aplicao nos negcios jurdicos unilaterais. Nestes casos, encontram-se com facilidade exemplos de negcios no recepiendos:

- Repdio de herana;

- Actos constitutivos de fundao;

- Testamentos;

- Aceitao de herana.

Importa no confundir os negcios unilaterais que so dirigidos a outrem com a comunicao que tem de ser feita ao destinatrio do negcio e com a aceitao por parte do mesmo. que esta comunicao representa a mera condio de eficcia do negcio.

Negcios entre vivos e negcios mortis causaOs negcios entre vivos, destinam-se a produzir efeitos em vida das partes, pertencendo a esta categoria quase todos os negcios jurdicos e na sua disciplina tem grande importncia, por fora dos interesses gerais do comrcio jurdico, a tutela das expectativas da parte que se encontra em face da declarao negocial.

Os negcios mortis causa, destinam-se a s produzir efeitos depois da morte da respectiva parte ou de alguma delas. Os negcios desta categoria, so negcios fora do comrcio jurdico, no sentido de que, na sua regulamentao, os interesses do declarante devem prevalecer sobre o interesse na proteco da confiana do destinatrio dos efeitos respectivos. Tal diversidade dos interesses prevalecentes manifestar-se- quanto a problemas, como a divergncias entre a vontade e a declarao, os vcios da vontade, a interpretao, etc., negcios mortis causa , inequivocamente, o testamento.

Negcios onerosos e negcios gratuitosEsta distino tem como critrio o contedo e finalidade do negcio. Os negcios onerosos ou a ttulo oneroso, pressupem atribuies patrimoniais de ambas as partes, existindo, segundo a perspectiva destas, um nexo ou relao de correspectividade entre as referidas atribuies patrimoniais.

As partes esto de acordo em considerar, as duas atribuies patrimoniais como correspectivo uma da outra. Neste sentido pode dizer-se que no negcio oneroso as partes esto de acordo em que a vantagem que cada um visa obter contrabalanada por um sacrifcio que est numa relao de estrita casualidade com aquela vantagem. As partes consideram as duas prestaes ligadas reciprocamente pelo vnculo da casualidade jurdica.

Os negcios gratuitos ou a ttulo gratuito, caracterizam-se ao invs, pela interveno de uma inteno liberal (animus domandi, animus beneficiandi). Uma parte tem a inteno devidamente manifestada, de efectuar uma atribuio patrimonial a favor de outra, sem contrapartida ou correspectivo. A outra parte procede com a consequncia e vontade de receber essa vantagem sem um sacrifcio correspondente.

Negcios parciriosSo uma subespcie dos negcios onerosos. Caracterizam-se pelo facto de uma pessoa prometer certa prestao em troca, de uma qualquer participao nos proventos que a contraparte obtenha por fora daquela prestao (ex. art. 1121 CC).

Negcios de mera administrao e negcios de disposioA utilidade da distino, est relacionada com a restrio por fora da lei ou sentena, dos seus poderes de gesto patrimonial dos administradores de bens alheios, ou de bens prprios e alheios, ou at nalguns casos (inabilitao), de bens prprios, aos actos de mera administrao ou de ordinrio administrao.

Os actos de mera administrao ou de ordinria administrao, so os correspondentes a uma gesto comedida e limitada, donde esto afastados os actos arriscados, susceptveis de proporcionar grandes lucros, mas tambm de causar prejuzos elevados. So os actos correspondentes a uma actuao prudente, dirigida a manter o patrimnio e aproveitar as sua virtualidades normais de desenvolvimento, mas alheia tentao dos grandes voos que comportam risco de grandes quedas.Ao invs, actos de disposio so os que, dizendo respeito gesto do patrimnio administrado, afectam a sua substncia, alteram a forma ou a composio do capital administrados, atingem o fundo, a raiz, o casco dos bens. So actos que ultrapassam aqueles parmetros de actuao correspondente a uma gesto de prudncia e comedimento sem riscos.

Estrutura do negcio jurdicoO contedo ou estrutura do negcio jurdico diz respeito aos elementos intrnsecos do negcio, deve ser entendido como objecto social pretendido com a celebrao do negcio jurdico.

As realidades anteriores ao negcio, entendem-se como os pressupostos para que o prprio negcio possa existir, so esses pressupostos: a capacidade das par