teoria geral do direito civil (i + ii)

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TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL 1SEMESTREBibliografia Do 1 Semestre: Capelo de Sousa Do 2 Semestre: C.A. Mota Pinto

O conceito de direito civil: o direito divide-se em dois grandes grupos, direito pblico e direito privado, sendo que o direito civil se integra no direito privado. A distino entre direito pblico e direito privado: Critrios de distino: o I Um primeiro critrio assenta na natureza do interesse protegido pelas normas, a chamada teoria dos interesses (interessentheorie). A norma seria de direito pblico quando o fim da mesma fosse a tutela de um interesse pblico, ou seja, um interesse da colectividade. A norma seria de direito privado quando visasse tutelar um mero interesse particular. Crticas: a maior parte das normas jurdicas tanto de direito privado como de direito pblico visam proteger simultaneamente interesses pblicos e interesses dos particulares. Assim, por exemplo, as normas que regulam o funcionamento e actuao do Estado, embora tutelando interesses gerais da comunidade, visam o bem dos homens concretos dessa comunidade. Por outro lado as normas de direito privado no se dirigem apenas realizao do interesse dos particulares, visando quase sempre interesses pblicos (exemplo, art.875 cc.) que sujeita as vendas de imveis a escritura pblica, para alm de defender as partes contra a sua precipitao realiza o interesse pblico de segurana do comrcio. S seria aceitvel se exprimisse uma cota tendencial: o direito pblico tutelaria predominantemente interesses da colectividade e o direito privado tutelaria predominantemente interesses dos particulares (Marcelo Caetano): natureza do interesse prioritariamente tutelado; Ainda assim no seria aceitvel porque em muitos casos no se sabe qual o interesse predominante (ex.registo predial). H normas pacificamente classificadas como de direito privado e que visam predominantemente interesses pblicos (normas imperativas).

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II Um outro critrio o da posio relativa dos sujeitos da relao jurdica (subjektions theorie), o direito pblico regularia relaes entre sujeitos que esto numa posio de supra-ordenao ou supremacia e outros de infra-ordenao ou de subordinao. O direito privado disciplinaria relaes entre sujeitos numa posio relativa de igualdade ou coordenao. Crticas: no direito pblico pode-nos surgir posies de igualdade ou coordenao (exemplo: relaes entre dois municpios membros de uma associao de municpios); No direito privado encontramos algumas relaes jurdicas hierarquizadas (relao no poder paternal entre pai e filho (art. 1878 cc.) ou contrato de trabalho entre entidade patronal e trabalhador (art. 1152); o III-Um outro critrio o da teoria dos sujeitos (subjektheorie) que assenta na identidade dos sujeitos. Seriam normas de direito pblico aquelas em que interviesse como sujeito activo ou passivo o Estado ou qualquer ente pblico. Seria de direito privado as que apenas interviessem particulares. Crticas: os entes pblicos podem intervir como particulares em muitos negcios jurdicos (ex. o Estado compra a um particular uma casa para l instalar um servio); Os particulares podem relacionar-se entre si no mbito do direito pblico (ex. concurso de acesso funo pblica); o IV O critrio mais aceite o da qualidade dos sujeitos, que a verso moderna da teoria dos sujeitos. So normas de direito privado, as que regulam relaes jurdicas entre particulares, ou entre particulares e o Estado ou outros entes pblicos, ou entre entes pblicos sempre que estes ajam despidos de poder de autoridade pblica. So normas de direito pblico as que regulam relaes jurdicas do Estado e outros entes pblicos entre si, ou com os particulares quando os primeiros ajam munidos de poderes de autoridade pblica, de soberania ou de imprio ius imperi. Crticas: no d base de sustentao para a integrao no direito pblico das normas que regulam a organizao e funcionamento das pessoas colectivas pblicas e que so consideradas pacificamente normas de direito pblico; Deixa em aberto o que se entende por poder de autoridade pblica. Existindo hoje vrias funes do Estado, nomeadamente no campo da assistncia social que no

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envolvem meios de autoridade, mas que tambm no mostram o Estado na veste de um particular (ex. rendimento mnimo garantido). O nosso ordenamento jurdico no estabeleceu um critrio geral para determinar quais as normas de direito pblico e quais as de direito privado. Trata-se mais de um produto histrico, em que o ordenamento ao longo dos tempos foi fixando critrios diversos para determinadas relaes jurdicas que foi integrando num ou noutro ramo. Noutros casos optou por interpolaes mistas de direito pblico e de direito privado. No entanto h certas normas que nos permitem avanar na definio do critrio: art. 501 cc: submete o Estado e demais entes pblicos em matria de responsabilidade civil decorrente do exerccio de actividade de gesto privada ao regime do direito privado diferentemente do que acontece com actividade de gesto pblica (critrio da qualidade dos sujeitos). Artigo 1304 cc, que sujeita o domnio das coisas pertencentes ao Estado ou a outras pessoas colectivas pblicas s regras do cdigo civil, s pertencendo ao domnio pblico do Estado os bens definidos e regidos por lei excepcional (art.84CRP) (critrio da qualidade dos sujeitos). Em suma a nossa lei assume o critrio da qualidade dos sujeitos da relao jurdica, embora hajam regimes mistos. Alcance prtico da distino: 1. Satisfaz um interesse de ordem cientfica na sistematizao e agrupamento das normas jurdicas; 2. Serve para determinar as vias judiciais competentes para a soluo dos diferentes conflitos. Em casos de conflito de direito privado so competentes os tribunais judiciais e dentro destes os tribunais comuns em matria civil, salvo quando houver matria civil especializada (ex. tribunal de trabalho, tribunais de famlia e menores, tribunais martimos). Em casos de conflito de direito pblico so competentes os tribunais administrativos e fiscais (arts. 211 e 212 CRP); 3. Responsabilidade civil, ou seja, a obrigao de indemnizar decorrente de uma actividade de rgos ou agentes estaduais est sujeita a um regime diverso consoante os danos sejam causados no exerccio de uma actividade de gesto pblica ou privada. Ora, a actividade de gesto pblica a disciplinada pelo direito pblico e a de gesto privada pelo direito privado, da a necessidade prtica da distino. Temos, assim efeitos legais prprios para o direito pblico distintos do direito privado. Caractersticas do direito pblico e do direito privado: 1. Direito privado: vigora o princpio da liberdade em que lcito tudo quanto no proibido pela lei; Direito pblico: vigora o principio da competncia ou da legalidade, onde s lcito o que permitido pela lei;

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2. Direito privado: predominncia de normas supletivas (regras jurdicas que podem ser afastadas pela vontade das partes em sentido contrrio); Direito pblico: predominncia de normas imperativas (no podem ser afastadas pela vontade das partes); 3. Direito privado: de certo modo um direito geral face ao direito pblico porque regula a generalidade das relaes jurdicas; Direito pblico: regula um sector mais determinado de relaes jurdicas, as que esto previstas na lei e se especializaram do tronco comum do direito que aparece ligado ao direito privado. 4. s relaes entre o Estado e os particulares , em princpio, aplicvel o direito privado, s se aplicando o direito pblico quando a relao dominada pela ideia de ius imperi. 5. Os bens do Estado pertencem, em regra, ao domnio privado (art.1304 cc); 6. Os contratos do Estado com os particulares so, em regra, regulados pelo direito privado, s se aplicando o direito pblico quando a lei o determine; 7. Muitas vezes o direito privado de aplicao subsidiria face ao direito pblico. O direito civil como direito privado geral comum: O direito civil o ncleo fundamental do direito privado. Mas ser o ncleo fundamental no ser todo o direito privado. Com o evoluir da sociedade foram surgindo direitos especiais (subconjuntos unitrios e sistematizados de normas jurdicas aplicveis a determinados e delimitados sectores da vida humana, prevendo um regime jurdico diverso do regime regra que o direito civil, mas tendo-o como direito subsidirio. Assim, no direito privado, o direito civil o direito me (Mutterrech). Encontramos, assim, regras gerais no direito civil que se aplicam a esses ramos especiais do direito privado (ex. menoridade art.122). Os direitos privados especiais: 1. O direito comercial: desde cedo surgiram tribunais comerciais para os mercadores, cuja jurisprudncia muito contribuiu para a autonomizao do direito comercial. A lei da boa razo (1769) e os estatutos da Universidade de Coimbra (1772) distinguiam j o direito comercial do direito civil, dizendo que em matria comercial, nos casos omissos, se deveria aplicar as leis das naes civilizadas. Mas a incerteza que da advinha levou publicao em 1883 do primeiro cdigo comercial: o cdigo de Ferreira Borges que era de pendor subjectivista, este regulava um direito dos comerciantes. Em 1888 vamos ter um novo cdigo, o cdigo de Veiga Beiro, que ainda se encontra em vigor, de pendor objectivista: regula os actos de comrcio, sejam eles praticados ou no por comerciantes, embora admitindo actos praticados apenas por comerciantes. Mas a autonomia

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do direito comercial justifica-se pelas necessidades prprias do comrcio moderno, seno vejamos: a. Necessidade de facilidade, simplicidade e rapidez na concluso das transaces, da o direito comercial ser menos exigente no que respeita forma negocial; b. O comerciante precisa tambm do reforo das suas garantias, como credor, exemplo o aval comercial em que se responsabiliza a pessoa que o d ao mesmo tempo e ao mesmo nvel do devedor podendo o credor executar o patrimnio de um ou outro, ao contrario da fiana civil em que h o beneficio da excusso, o fiador o ultimo a responder pela dvida. c. Os actos jurdicos comerciais so, regra geral, de natureza onerosa, ou seja, onde h uma contrapartida econmica, ao contrrio do direito civil onde coabitam os actos onerosos e gratuitos. d. H uma necessidade de maior regulamentao unitria de carcter internacional no direito comercial com a globalizao da economia (ex. leis uniformes para letras, livranas e cheques). 2. O direito do trabalho: com o avano civilizacional os trabalhadores comearam a deixar de ser vistos como criados, mas pessoas com direitos e deveres, da ter nascido grande regulamentao que levou autonomizao deste ramo do direito privado. O nosso cdigo civil declara no artigo 1153 que o contrato de trabalho est sujeito a legislao especial DL n 49.48 de 24 novembro de 1969 que estabelece o regime jurdico do contrato individual de trabalho, bastante alterado depois do 25 de Abril que veio estabelecer modificaes na durao do trabalho, no direito de greve, igualdade entre homens e mulheres, trabalho de menores,etc. O direito do trabalho compreende sobretudo as seguintes caractersticas: a. Tratamento e tutela do trabalhador, como parte econmica mais dbil, da prevalecerem as normas que estabeleam tratamento mais favorvel para o trabalhador. b. H uma grande interveno do Estado na relao laboral, sobretudo nas relaes colectivas de trabalho, em que conciliador, intervindo nos conflitos entre as entidades patronais e os trabalhadores com armas como a requisio civil. Intervm ainda ao nvel da previdncia social, higiene e segurana, etc. c. Este ramo tem ainda especialidades de jurisdio, sobretudo nos principais centros urbanos, em que os conflitos laborais so resolvidos pelos tribunais de trabalho. Especialidade ainda de processo com mecanismos processuais prprios com o cdigo de processo do trabalho. 3. Direito internacional privado: o DIP no regula directamente as questes que dividem as partes. Apenas nos indica qual a legislao

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estadual aplicvel para regular um caso concreto em que os elementos da relao jurdica esto em contacto. Simultaneamente com vrias ordens jurdicas estaduais. Consta sobretudo dos ars. 14 a 65 cc um direito instrumental de normas sobre normas, da a sua unidade e autonomia face ao direito civil. No entanto, o DIP no um verdadeiro direito internacional, mas um direito de natureza e fonte interna, cada Estado tem o seu prprio DIP. claramente direito privado porque diz respeito s relaes jurdicas privadas ao contrrio do direito internacional pblico que regula fundamentalmente relaes entre Estados. 4. Outros ramos especiais do direito privado: constituiro tambm direitos privados especiais o direito de autor e direitos conexos bem como o direito de propriedade industrial como patente pelo artigo 1303, sendo o direito civil direito subsidirio destes ramos. Controversa ser essa qualificao para o direito agrrio, normas relativas estrutura e actividade da agricultura. Nesta matria concorrem normas de direito privado e tambm normas de direito pblico com o Estado a visar finalidades de justia social e tambm com normas provenientes da Unio Europeia. Essas normas esto a tender para a autonomizao, mas no h ainda um corpo legislativo unitrio, com estrutura e esprito prprios. As fontes de direito civil: Fontes imediatas (operam sem intermedirios): (1) leis, (2) normas corporativas; Fontes mediatas (legitimidade depende de outras fontes): (3) usos, (4) equidade, princpios fundamentais de direito. 1. As leis: de acordo com o artigo 1/2 cc, as leis so tomadas numa concepo lata todas as disposies genricas provindas dos rgos estaduais competentes (acepo latssima: lei significa direito, acepo intermdia: lei contrape-se a regulamento, abarcando apenas as leis, decretos-leis e decretos legislativos regionais, acepo restrita: designa os actos legislativos da AR). Temos assim, (a) Leis constitucionais, (b) leis ordinrias (da AR), (c) decretos lei do governo, (d) decretos legislativos regionais e os vrios regulamentos. a. Leis constitucionais: a Constituio o quadro bsico das relaes jurdicas da sociedade, emanao do contrato social de Rousseau. Da que haja diversas normas constitucionais com aplicao no mbito de direito civil. Sobretudo por fora do artigo 18 CRP so de aplicabilidade directa os arts. 24 a 47 da CRP que incorporam maioritariamente direitos fundamentais civis aplicabilidade imediata da Constituio. Noutros casos h normas programticas na Constituio que necessitam de desenvolvimento legislativo, por

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exemplo o artigo 64 da CRP, que depende das capacidades do Estado para promover esse direito. Se o Estado no desenvolver politicas nesse sentido poder haver lugar inconstitucionalidade por omisso aplicabilidade mediata da Constituio. Leis ordinrias: as leis ordinrias so as leis da AR. Esta tem uma competncia geral, que est presente no artigo 161 da CRP e uma competncia reservada. H dois tipos de reserva, uma reserva absoluta em que cabe exclusivamente AR no podendo delegar no Governo essas tarefas (art.164 CRP) e uma competncia relativa, em que ela pode delegar ao governo essas competncias (art.165 CRP). Decretos lei do governo: tm o mesmo valor das leis ordinrias. Temos uma competncia exclusiva (art.198/2 CRP), uma competncia prpria (1981/a) CRP) e uma competncia autorizada (198/1/b) CRP): foi o que se passou aquando da reforma do cdigo civil em 1978 que o adaptou CRP de 1976. Decretos legislativos regionais: atente-se ao artigo 227 da CRP e s limitaes a presentes: a) matria de interesse especifico, b) no estejam reservados competncia prpria dos rgo de soberania, c) esto subordinadas s leis gerais (art.112/4 da CRP bem como o prprio 227). Regulamentos: no direito civil h ainda zonas perifricas de carcter regulamentar. Veja-se o exemplo das portarias que estabelecem os coeficientes de actualizao dos arrendamentos urbanos para habitao. Tornando-se muito mais fcil essa actualizao assim do que se a mesma fosse feita por decreto lei.

2. As normas corporativas: uma parte da doutrina (Doutor Mota Pinto) entende que com a abolio do regime corporativo com o 25 de Abril, estas normas deixaram de ser fonte de direito e o facto destas terem permanecido no artigo 1cc deve-se ao facto da reforma deste cdigo em 1977 ter tido um carcter meramente parcial, adaptando o cdigo CRP de 1976 e no ter sido feita uma reviso geral do mesmo. Da defender a revogao tcita ou uma interpretao ab-rogante face a estas normas. Mas parece que estas continuam a existir, pois apesar da extino do regime corporativo, a representatividade profissional mantm-se, ainda que noutros moldes, donde sobressai o princpio da liberdade de associao que gera fontes de direito em matria de estatutos e regulamentos internos. Exemplo disso o cdigo deontolgico da ordem dos mdicos. Mas salvaguardando a unidade do sistema o artigo 1/3 afirma que essas normas no podem contrariar disposies legais de carcter imperativo. Por exemplo, esse cdigo deontolgico no poder conter normas que violem direitos liberdades e garantias. 3. Usos: o artigo 3 considera os usos como fonte de direito mas conferelhes importantes limitaes:

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a. S so juridicamente atendveis quando a lei o determine, como tal so fonte mediata de direito j que para se aplicarem necessitam da remisso de uma norma jurdica (ex.art.218); b. No podem ser contrrios aos princpios da boa f, aqui tomada numa acepo objectiva, ou seja, um comportamento honesto, honroso e leal; c. No estarem em oposio com as normas corporativas. No confundir os usos com o costume (prtica social reiterada com a convico da sua obrigatoriedade jurdica). Actualmente o costume no fonte de direito civil. Comeou por ser fonte imediata de direito, mas foi decrescendo de valor devido sua incerteza e rapidez das mutaes sociais. A lei da Boa razo colocou-lhe enormes restries: conforme boa razo, no ser contrrio lei (100 anos de existncia) sendo que o cdigo de 1867 o excluiu das fontes de direito (o chamado cdigo de Seabra). 4. Equidade: o artigo 4, outra fonte mediata do direito civil j que: a. S tem lugar quando haja disposio legal que o permita (exemplo art. 494). b. Quando haja acordo das partes e a relao jurdica no seja indisponvel. c. Quando as partes tenham previamente convencionado nos termos da clusula compromissria (esta diz respeito fixao da resoluo de litgios atravs de tribunais arbitrais, sendo que aqui no so competentes os tribunais comuns, exemplo caso entre a EDP e a TELECOM que pode implicar grande conhecimento tecnolgico elas estabelecem que o processo resolvido por tribunal arbitral). a chamada justia do caso concreto ou soluo ex aequo et bono . As fontes internacionais: a CRP no artigo 8 abre a nossa ordem jurdica a fontes de direito internacional, sobretudo no seu n3 em que assumem especial relevo os regulamentos dos rgos da EU que vigoram directamente na nossa ordem jurdica interna ao contrrio das directivas que necessitam de acto de transposio para o direito nacional. A jurisprudncia: a jurisprudncia o conjunto de decises em que se exprime a orientao seguida pelos tribunais na deciso dos casos concretos, no fonte de direito na nossa ordem jurdica. Essas decises no vinculam os mesmos ou outros tribunais no futuro (julgamento do mesmo tipo, algo que acontece nos pases da common law), devido ao princpio da independncia doas magistrados judiciais que julgam apenas segundo a Constituio e a lei (exemplo, se um juiz de 1 instancia tem uma interpretao diferente de certa norma da do Supremo deve seguir a sua prpria interpretao). A nica excepo que existia at 1995 era a dos assentos do STJ, presentes no art.2 e hoje

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revogados. Quando existiam dois acrdos do Supremo e excepcionalmente da relao, relativamente mesma questo fundamental de direito, assentes sob solues opostas e sejam produzidas no domnio da mesma legislao se recorria para o plenrio do Supremo que tiraria um assento que solucionaria o caso concreto, valendo como preceito geral para o futuro. Esta revogao baseou-se sobretudo no princpio da separao dos poderes, presente no art.111 da CRP, em que a funo legislativa atribuda AR e ao Governo e a funo jurisdicional atribuda aos tribunais. Da ser inaceitvel a criao, por parte destes de normas jurdicas com fora obrigatria geral, mesmo que com carcter interpretativo. No entanto o art.8 n3 mostra claramente o desejo de uma certa uniformizao na aplicao do direito para garantir a segurana e a previsibilidade do direito. Para isso, foi criado, no plano processual o acrdo em julgamento ampliado de recurso de revista, em que o plenrio das seces cveis emite um acrdo de forma a assegurar a uniformidade da jurisprudncia, acrdo que publicado no DR. S que esse acrdo no tem fora obrigatria geral nem mesmo para os tribunais superiores. Tem um mero valor indicativo. No entanto necessrio que haja razes fortes para esse tribunal contrariar tal acrdo, at porque se o caso tiver valor para subir at ao Supremo o normal o acrdo ser reafirmado. Quanto aos assentos proferidos antes da data da sua revogao (13/12/1995) deixaram de ter fora obrigatria geral e tm o valor dos acrdos de recurso ampliado de revista, ou seja, tm um mero valor indicativo, para os casos concretos o recurso intentado at essa data vale para a resoluo do conflito concreto. Em termos gerais vale como mera jurisprudncia uniformizada. problema de aplicao de leis no tempo. Mas de acordo com o artigo 8 n3 no so apenas objecto de ponderao por parte do juiz os acrdos do Supremo em julgamento ampliado de revista, mas tambm outros acrdos do Supremo, das relaes e at sentenas de 1 instncia. Cada vez menos o direito recorre a uma jurisprudncia de conceitos, positivista e dedutiva, mas a uma jurisprudncia atenta aos interesses das partes, capaz de valoraes jurdicas. Cada vez o juiz menos a boca da lei, cabendolhe uma ponderao na aplicao concreta de muitos comandos legais, o caso das clausulas gerais e de conceitos indeterminados. Existe aqui uma forte dose de valorao apresentando a interveno judicial um verdadeiro carcter constitutivo (exemplo art.334). Isto ainda mais visvel no preenchimento das lacunas da lei com os artigos 10 n1 e 2, sobretudo com o 10 n3 em que o juiz elabora uma norma adhoc dentro do esprito do sistema aqui h uma clara induo do direito. Da que se fale no desenvolvimento normativo do direito pelo juiz ou mesmo do chamado Richterrrech (direito jurisprudencial). Oliveira Ascenso diz que os acrdos com fora obrigatria geral do TC so fonte de direito. No parece que o sejam: O TC no cria nenhuma norma, limita-se a formular um juzo de valor; O facto dos acrdos serem publicados no DRI srie A e terem fora obrigatria geral no significativo pois, por exemplo, a nomeao de um Ministro no DR-I-A tem tambm fora obrigatria geral e no uma norma jurdica.

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Os princpios gerais de direito civil: so princpios de ordenao material ou substancial das normas jurdicas civis que estruturam, do coerncia e unidade ao conjunto do direito civil. So a sua ossatura, modelam o contedo do direito civil. Tais princpios so desenvolvidos pelas normas civis e alimentando o esprito do sistema civil a eles se recorrendo na integrao de lacunas praeter legem conforme o artigo 10/3. Estes princpios podem ter carcter fundamental ou Constitucional se resultam de normas ou princpios Constitucionais. Mas h tambm princpios gerais emergentes da lei ordinria civil. Vamos proceder sua enumerao: 1. 2. 3. 4. 5. 6. Principio da dignidade da pessoa humana; Principio do reconhecimento da personalidade jurdica humana; Principio da plenitude da capacidade jurdica humana; Principio da igualdade; Principio da tutela geral da personalidade; Principio da personificao jurdica e da capacidade jurdica funcional das pessoas colectivas privadas; 7. Principio da autonomia da vontade privada; 8. Principio da no violao da esfera jurdica alheia; 9. Principio da boa-f; 10. Principio do equilbrio das prestaes; 11. Principio da proibio de auto-defesa dos direitos prprios; 12. Principio da liberdade declarativa; 13. Principio da nulidade de actos e negcios jurdicos violadores de regras imperativas; 14. Principio da proibio do abuso de direito. Ao seu aprofundamento: 1. Principio da dignidade da pessoa humana: resulta do artigo n1 da CRP, resultando da natureza do homem deste configurar livre e reciprocamente a sua existncia e a sua insero social, de se autopropor objectivos e limites para a sua actuao. Numa frmula de Kant, o homem fim em si mesmo, no podendo ser empregado simplesmente como meio. Por isso ele pessoa, tem um incondicionvel valor em si mesmo. Face a esta dignidade Larenz diz que todo o ser humano tem, face a qualquer outro, um direito a ser respeitado por ele como pessoa, sendo obrigado a respeitar a outra de modo anlogo princpio do respeito mtuo fundamental e a base da convivncia numa comunidade jurdica e de toda a relao jurdica e est na origem do prprio direito geral de personalidade (art.70) Este princpio implica: a. Principio da proibio de negcios usurios: art.282;

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b. Vigncia de certos institutos de favorecimento da parte contraente mais fraca, como o caso do decreto lei acerca das clusulas contratuais gerais. O direito ainda concebido tendo como destinatrios essa comunidade de pessoas livres e iguais. 2. Principio do reconhecimento da personalidade jurdica humana: do princpio da dignidade da pessoa humana decorre que todo e qualquer ser humano tem personalidade jurdica aptido para ser centro autnomo de relaes jurdicas (art.66 n1); 3. Principio da plenitude da capacidade jurdica humana: a dignidade da pessoa humana postula ainda uma plenitude da capacidade jurdica de qualquer homem: aptido para ser titular de um circulo maior ou menor de relaes jurdicas (art. 67); S no o ser face a disposio legal em contrrio como decorre do artigo 67. Exemplo de excepo um menor com menos de 16 anos, no pode casar. A excepo regra geral de que todos os homens tm capacidade jurdica a incapacidade.

4. Principio da igualdade: este princpio decorre do art.13 CRP que implica que se tratem igualmente situaes de interesses iguais e que se tratem diferentemente situaes de interesses diversos, atendendo sua particularidade. Fala-se cada vez mais de igualdade jurdicomaterial e no de igualdade jurdico-formal, independente do contedo (por exemplo promoes de uma real igualizao atravs de diferenciaes legais compensatrias). Mas qual o critrio a adoptar para sabermos quando estamos perante uma situao de igualdade ou desigualdade? Deve-se atender, segundo Castanheira Neves inteno material especifica do direito, vendo, se baseada em fundamentos materiais suficientes e assenta em consideraes razoveis, assim, uma razo arbitrria que no materialmente fundada e no assenta em objectivos razoveis violar este principio de igualdade. Como exemplo de uma norma razoavelmente discriminatria: temos o artigo 1911 n2, que no viola o principio da igualdade do homem e da mulher, pois este regime apenas visa favorecer o filho j que biologicamente e sociologicamente tem uma maior ligao me e famlia desta do que ao pai, j seria uma norma que violaria o principio da igualdade a que permitisse um quota hereditria maior para os filhos nascidos dentro do casamento dos que os fora do mesmo, violando assim directamente o art.36/4 CRP. O artigo 13 da CRP diznos que apesar das nossas diferenas especificas, existe no cerne da natureza humana uma base comum a todos, uma qualidade que pertence a todos os homens sem distino. Qualidade que est na base da personalidade fsico-moral presente no art.70, um conjunto de

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direitos absolutos que se impe ao respeito de todos os outros. Esta igualdade que se quer material impe obrigaes legais de diferenciao para compensar a desigualdade de oportunidades que se verificam na prtica. 5. Principio da tutela geral da personalidade: quando o artigo 70 nos fala de personalidade fsica ou moral, no se trata de personalidade jurdica, ou seja, aptido para se ser centro autnomo de relaes jurdicas (regulada no art.66) mas sim de personalidade humana tomada como objecto jurdico, na medida em que todo o homem tem um direito sobre si mesmo, sobre a sua prpria personalidade humana nos seus elementos fsicos e espirituais. Esta clusula geral da tutela da personalidade protege os bens da personalidade ligados: a. Relao do homem consigo mesmo: a vida, o seu corpo, esprito (sentimentos inteligncia), bem como a capacidade criadora do homem e as respectivas criaes; b. Relao do homem com o seu ambiente fsico e social: a identidade, liberdade, segurana, honra, etc. Junto desta estrutura normativa existem diversos direitos especiais de personalidade que tutelam aspectos particulares da personalidade aos quais se aplica subsidiariamente o regime do DGP. Esses direitos especiais encontram-se nos arts. 72 a 80. A violao destes mesmos direitos pode implicar: Responsabilidade civil (art. 70 n2); Certas providncias judiciais adequadas s circunstncias do caso para evitar a consumao da ameaa ou atentar os efeitos da ofensa j cometida art.70 n2. Os direitos de personalidade so irrenunciveis: podendo todavia ser objecto de limitaes voluntrias que no sejam contrrias aos princpios da ordem pblica art. 81 n1 (pelo consentimento ser contra a ordem pblica devido aos prejuzos irremediveis que resultariam para a pessoa so ilcitos a mutilao ou a eutansia). 6. Principio da personificao jurdica e da capacidade jurdica funcional das pessoas colectivas privadas: ao lado da personalidade jurdica reconhecida a todas as pessoas singulares o nosso direito civil no artigo 158 atribui, mediante certos pressupostos personalidade jurdica s pessoas colectivas, ou seja, a qualidade de tambm elas serem centros autnomos de relaes jurdicas. Pessoas colectivas: so colectividades de pessoas ou complexos patrimoniais / organizados em vista a um fim comum / a que o ordenamento jurdico atribui a qualidade de sujeitos de direitos. Segundo o artigo 157 as pessoas colectivas privadas so:

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a. Associaes: colectividade de pessoas que no tm por fim o lucro econmico dos seus associados, mas outros fins comuns (recreativos, culturais,etc); b. Fundaes: massa de bens afecta pelo seu instituidor a finalidades de interesse social, sendo que os seus rgos devem actuar de acordo com a vontade declarada pelo fundador; c. Sociedades: organizao de duas ou mais pessoas / que contribuem com bens ou servios para o exerccio de uma actividade econmica / dirigida obteno de lucros e sua distribuio pelos scios. Mas qual a natureza desta personalidade colectiva? Autores como Savigny defendem a teoria da fico segundo a qual a lei estaria a proceder como se as pessoas colectivas fossem pessoas singulares. Autores como Otto Van Gierke defendem a teoria organicista, em que as pessoas colectivas seriam uma realidade idntica das pessoas singulares, resultam da natureza das coisas, num claro antropomorfismo. No podemos aceitar nenhuma das duas teorias expostas. Por um lado, e , apesar de ser uma criao do direito, ela no nenhuma fico legal porque tem a sua natureza e fundamentao na realidade social e na estruturao de interesses humanos, como nos diz Manuel de Andrade a traduo jurdica de um fenmeno emprico. Por outro lado a teoria organicista tambm de rejeitar porque no precisamos de um organismo antropomrfico para justificar a personalidade jurdica, j que ela uma criao do direito Ela assim uma criao do direito e no uma fico legal ou organismo natural. Ao contrrio da capacidade jurdica das pessoas singulares, a capacidade jurdica das pessoas colectivas no de carcter geral. Ela sim de natureza funcional ou especifica em razo dos fins de cada uma delas, como nos refere o artigo 160 n1. No n2 do artigo 160 ainda excepcionado da capacidade jurdica: a) Direitos e obrigaes vedados por lei (ex. capacidade testamentaria) b) Direitos e obrigaes que seja inseparvel da personalidade singular (os direitos derivados da vida como o casamento ou a filiao) Assim, a capacidade jurdica das pessoas colectivas menor e inferior das pessoas singulares como resulta da comparao dos artigos 67 e 160. 7. Principio da autonomia da vontade privada: este principio resulta do poder de auto-determinao de cada homem e cresce limitado pelos quadros normativos da ordem jurdica que assentam na vontade popular. Assim, este principio no se confunde com livre arbtrio, com cada um fazer aquilo que bem entende. Tudo porque vivemos em

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sociedade e as relaes jurdicas no visam apenas o bem individual mas tambm o bem comum. O nosso direito civil protege o poder de auto-determinao do homem em duas vertentes: a. Tutela da liberdade negativa: probe que qualquer pessoa possa ser constrangida por outrm a praticar ou no praticar qualquer facto nemo postest presise coagi ad factum. b. Tutela da liberdade positiva: permite a cada um praticar ou no praticar qualquer facto que no seja proibido ou prejudique superiores interesses jurdicos de outrem, pela boa f, pelos bons costumes, pela ordem pblica e o prprio fim do exerccio da liberdade (334); Principio da autonomia privada: traduz-se no estabelecimento, conformao e extino autnomos da relaes jurdicas privadas por parte de cada homem, segundo a sua vontade e dentro dos limites estabelecidos pela ordem jurdica. Vejamos as varias expresses da autonomia privada: a) Nos direitos reais: principio da livre aquisio e transmisso entre vivos e por morte das coisas dominiais privadas art.62 CRP. Principio que contm restries de direito pblico expropriaes por utilidade pblica (62n2 CRP) e de direito privado, o abuso de direito, por exemplo (334). O principio da livre realizao de actos reais, ou seja, actos que se traduzem num certo resultado material (ex. criao de obras literrias). No entanto uma rea com grande incidncia de normas imperativas ex. 1306 que se traduz na regra do numerous clausus ou da tipicidade das figuras reais e dos seus elementos caractersticos, no podendo constituir direitos reais os que no estejam previstos na lei. Artigo 1306 em que se fixa os modos de aquisio do direito de propriedade. b) No direito da famlia: liberdade de celebrao de casamento, de constituir famlia e de requerer divrcio art. 36 CRP- fixao do regime de bens do casamento art. 1698.No entanto, tambm aqui h o principio da tipicidade das figuras familiares e dos seus efeitos arts. 1576 e ss. Vigoram tambm diversos regimes imperativos como o exemplo da matria de dividas dos conjugues arts. 1690 ss. c) No direito das sucesses: liberdade de transmisso sucessria artigo 62 n1 CRP, de celebrao de testamento e de fixao do seu contedo, etc. Mas esto tambm tipificados os diferentes objectos de sucesso art. 2030, as formas de testamento, as fontes de vocao sucessria, etc, domnio onde imperam as normas imperativas.

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d) No direito das obrigaes: neste domnio que mais se afirma o princpio da autonomia privada como grande meio de actuao da autonomia privada temos o negcio jurdico: acto pelos quais os particulares ditam a regulamentao das suas relaes,constituindo-as, modificando-as, extinguindoas e determinando o seu contedo. H que distinguir entre: Negcios jurdicos unilaterais: tem apenas uma declarao de vontade (exemplo o testamento); Negcios jurdicos bilaterais ou contratos: com duas ou mais declaraes de vontade convergentes, tendentes produo de um resultado jurdico unitrio (ex. compra e venda). Nos negcios jurdicos unilaterais de olhar com reserva a produo de efeitos na esfera jurdica (conjunto de relaes jurdicas de que uma pessoa titular) alheia (por vontade unilateral de outra pessoa). Da que nos negcios jurdicos unilaterais vigore o principio da tipicidade ou do numerous clausus, sendo que s so juridicamente admitidos os que estiverem especificamente previstos na lei art. 457. Sendo que a forma, os pressupostos e os seus efeitos esto tambm imperativamente fixados na lei. Nos negcios jurdicos bilaterais ou contratos, nestes negcios vigora o principio da liberdade contratual artigo 405. Do artigo 405 emerge: a) Liberdade de celebrao de contratos: faculdade de livremente realizar contratos ou recusar a sua celebrao. Esta liberdade subdivide-se em dois predicados: i. Ningum pode ser obrigado a contratar contra a sua vontade nemo potest precise coagi ad factum ou a ningum podem ser aplicadas sanes pela recusa de contratar. ii. A ningum pode ser imposta a absteno de contratar: excepcionalmente o nosso ordenamento apresenta algumas restries liberdade de celebrao de contratos: 1- dever jurdico de contratar no que respeita ao seguro de responsabilidade civil automvel; 2- proibio de celebrao de contratos com determinadas pessoas (ex. art. 877); 3- sujeio do contrato a autorizao de outrm (ex. emisso de aces destinadas a subscrio pblica). b) Liberdade de modelao do contedo contratual: faculdade conferida aos contraentes de fixarem livremente o contedo dos contratos. Isto implica: 1-a possibilidade das partes realizarem os contratos previstos no cdigo civil (exemplo a compra e venda) ou em outras leis (exemplo locao financeira) chamados contratos tpicos nominados em que as partes aceitam todo o contedo e indicam apenas os pressupostos factuais para a sua produo; 2- realizar contratos tpicos nominados aos quais concertam as

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clusulas que lhes aprouver, (eventualmente conjugando dois ou mais contratos contratos mistos art. 405 n2; 3a possibilidade das partes celebrarem contratos diferentes dos previstos no cdigo, chamados contratos atpicos inominados. Mas, esta liberdade contratual conhece algumas restries legais, desde logo as aludidas no artigo 405 dentro dos limites da lei. Mas h tambm poderosas restries fcticas a este princpio sobretudo nos chamados contratos de adeso (contratos entre produtores ou distribuidores de bens ou servios em larga escala e consumidores aderentes que so mltiplos e indeterminados, propondo os primeiros todas as clusulas do contrato, limitando-se os segundos a aderir ou no a tal contrato). Teoricamente no h restries liberdade contratual, o consumidor livre de rejeitar o contrato, s que na prtica no bem assim, pois muitas das vezes o fornecedor est numa posio de monoplio (ex. electricidade) e rejeitar o contrato no satisfazer uma necessidade fundamental. Da que o consumidor impedido pela necessidade forado a aceitar o contrato e todas as clusulas constantes no mesmo, muitas delas, injustas. Para combater isto podemos recorrer s regras da boa f artigo 762; a nulidade do negcio contrrio ordem pblica artigo 280 n2, temos mais recentemente o regime das clusulas contratuais gerais Decreto Lei 446/85, alterado pelo Decreto Lei 220/95 por si alterado pelo Decreto Lei 249/99 de 7 de Julho. 8. Principio da no violao da esfera jurdica alheia: cada pessoa tem uma esfera jurdica prpria que composta pelo conjunto de relaes jurdicas de que uma pessoa titular, pelos seus direitos e interesses juridicamente protegidos. Em tal esfera podemos considerar dois hemisfrios: a. Pessoal: caracterizado pela sua no avaliabilidade em dinheiro e onde se inserem os direitos pessoais ou no patrimoniais (exemplo, os direitos de personalidade); b. Patrimonial: definido pela sua avaliabilidade em dinheiro e onde se enquadram os direitos patrimoniais (exemplo, os direitos de crdito). Na vida social, os comportamentos das pessoas, sejam eles aces ou omisses violam muitas vezes deveres de absteno ou de aco. Quando isto acontece a pessoa constitui-se, em princpio, na obrigao de reparar ou compensar os danos causados. Essa obrigao de reparar ou compensar os danos causados a chamada responsabilidade civil : necessidade imposta pela lei, a quem causa prejuzos a outrm, de colocar o ofendido na situao em que estava sem essa leso. H duas espcies de responsabilidade civil: a. Negocial: resulta da violao de um direito de crdito ou obrigao em sentido tcnico, emergente de um negcio ou directamente da lei (exemplo, compra e venda). Vem regulada fundamentalmente nos artigos 798 ss e implica a falta culposa do devedor ao cumprimento da obrigao,

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sendo a culpa apreciada nos termos aplicveis responsabilidade civil extranegocial como decorre do 799/2. Ela desdobra-se em trs modalidades: i. Impossibilidade de cumprimento: o incumprimento decorre de uma causa imputvel ao devedor, a prestao j no ser possvel de se efectuar no todo ou em parte 801 e 802; ii. Mora: o devedor, por causa que lhe seja imputvel, no efectua a prestao no tempo devido, no entanto a prestao ainda possvel artigo 804; iii. Cumprimento defeituoso: por causa imputvel ao devedor, este realiza a prestao mas com vcios ou deficincias que ocasionam prejuzos especficos ao credor artigo 799. b. Extra-negocial, extra-contratual ou aquiliana: resulta da violao de uma obrigao, passiva ou activa, universal, ou seja, do no cumprir de um dever geral de absteno ou aco contraposto a um direito absoluto. Vem regulado essencialmente nos artigos 483 a 510. Ela conhece trs tipos: i. Responsabilidade civil por actos ilcitos ou culposos: regulada no artigo 483 n1 e pressupe: 1. A existncia de uma aco ou omisso, voluntria e ilcita que viole um direito subjectivo absoluto ou qualquer disposio legal destinada a proteger interesses alheios. Voluntrio quer dizer que dominvel ou controlvel pela vontade do lesante, no quer dizer que seja um facto querido por este, ilcito porque contrrio aos comandos que lhe so impostos pela ordem jurdica; 2. Nexo de imputao de tal aco ou omisso ao agente, que envolve uma censura tico-jurdica e que se desdobra em dois elementos: A imputabilidade (ver 488); A culpa, que assume as seguintes modalidades: o Dolo: que pode ser: Dolo directo: o agente quis directa e especificamente realizar o facto ilcito violador do direito de outrm (exemplo, A utiliza o nome profissional e B para se fazer passar por ele); Dolo necessrio: quando o agente realizou tal facto ilcito prevendo-o como uma consequncia reflexa, mas necessria de uma conduta (exemplo: A quer transportar produtos de um prdio para o outro, sabendo que os empregados tm que passar por prdio alheio e destruir

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nele certas culturas, apesar disso, d ordens nesse sentido; Dolo eventual: quando o agente praticou tal facto ilcito prevendo-o como um efeito apenas possvel ou eventual, mas teria persistido na sua conduta se previsse o facto ilcito como efeito necessrio da sua conduta (exemplo, o condutor ao aproximar-se de um cruzamento, vendo pessoas e veculos no abranda a sua velocidade excessiva, no se preocupando com o atropelar algum ou embater com outro veiculo o que acaba por acontecer em qualquer dos casos o lesante conhece as circunstncias de facto que integra a violao do direito e tem conscincia da ilicitude do facto. o Negligncia ou mera culpa: muito importante a diferenciao entre mera culpa e dolo, pois o artigo 494 admite a possibilidade de diminuio equitativa da indemnizao. Aqui o agente procede sem os elementos volitivos do dolo, mas com a omisso de deveres de cuidado, percia e diligncia exigveis para evitar a violao do direito ou interesses alheios. Esta pode ser: Consciente: quando o agente previu como possvel o resultado ilcito mas por precipitao ou desleixo cr na sua no verificao; Inconsciente: o agente por imprudncia, desleixo, impercia, distraco ou inaptido no teve conscincia de que o acto poderia decorrer o resultado ilcito, embora este objectivamente fosse previsvel se o agente usasse de diligncia. A culpa em sentido amplo (abrangendo dolo e negligncia) deve ser apreciada em abstracto pelo modelo de um bom pai de famlia (o velho bnus pater famlias romano), ou seja, um homem mdio, com a sua inteligncia e perspiccia colocado nas circunstancias e contexto em que o lesante agiu artigo 487 n2. 3. A existncia de danos: estes podem ser: o Patrimoniais: traduzem-se numa diminuio ou no aumento do patrimnio Directos: prejuzo imediato sofrido pelo lesado no Dano emergente seu patrimnio (exemplo, destruir uma coisa); + Indirectos: vantagens que deixaram de entrar no Lucro cessante patrimnio do lesado em virtude do acto ilcito (exemplo, perda de salrios, resultante de uma hospitalizao por agresso fsica). o Danos no patrimoniais ou morais: consagrados no artigo 496. So bens estranhos ao patrimnio do lesado. Verificam-se

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quando h sofrimentos fsicos ou morais, perda de considerao social, etc. A reconstituio a que obriga a responsabilidade civil pelos artigos 483 e 562 deve, em principio, ser uma reconstituio natural, como nos diz o artigo 566 n1 ( sempre que a reconstituio natural no seja possvel): a reconstituio da situao em que o lesado estaria sem a infraco. O mesmo artigo 566 n1 diz-nos que quando tal no seja possvel pelas razes indicadas, ter lugar uma indemnizao em dinheiro ou restituio por equivalente, que uma hiptese maioritria, visto raramente o lesado ficar completamente indemnizado com a reconstituio natural. No caso dos danos no patrimoniais no podemos falar de uma indemnizao porque no so avaliveis em dinheiro, temos assim uma compensao, que no um preo de dor mas uma compensao mediante satisfaes derivadas da utilizao do dinheiro. O artigo 496 n1 fala de danos que pela sua gravidade meream tutela do direito, assim no sero indemnizveis os pequenos incmodos, desgostos ou contrariedades embora emergentes de actos ilcitos imputveis a outrem (exemplo, um empurro no autocarro). 4. A verificao de um NEXO DE CAUSALIDADE ADEQUADO: entre os danos produzidos e o acto em causa, da que segundo o artigo 483 n1 s so indemnizveis os danos resultantes da violao, o mesmo dizer que o autor s est obrigado a reparar aqueles danos que no se teriam verificado sem essa violao. Existem teorias acerca disto, consultar. Concluindo: esta responsabilidade civil por actos ilcitos substancialmente culposa ou subjectiva, como nos diz Mota Pinto, fazer apelo liberdade moral do homem e apresentar os danos como consequncias evitveis , estimulando se desta forma zelos e cuidados em impedir esses danos.

Responsabilidade civil pelo risco ou objectiva: s tem lugar nos casos tipificados na lei como decorre do artigo 483 n2. Pressupe: a) Violao de um direito absoluto; b) Nexo de imputao objectivo entre esse facto e responsvel; c) A existncia de prejuzos; d) Nexo causalidade entre facto e dano. S que aqui estamos perante factos no culposos, apenas materialmente imputveis pessoa, com base no facto desta ter posto em aco, para seu benefcio, certas foras que so fontes de riscos e potenciais danos para os outros. Necessidades sociais de segurana impem que quem crie uma fonte de riscos em seu proveito suporte os efeitos prejudiciais do seu emprego, segundo o princpio ubi commoda, ibi incomoda (onde esto as coisas cmodas esto as incomodas). A matria referida encontra-se nos artigos 500 a 510. Para alm de

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prescindir da culpa no pressupe normalmente um acto ilcito, podendo dimanar de um facto natural, de um acto de terceiros ou de um acto do prprio lesado. Responsabilidade civil por acto licito: emergente de fontes que constituem uma interveno licita na esfera jurdica de outrm, com sacrifcio de uma seu direito ou interesse, factos imputveis ao lesante que deles tira proveito. Contar as quatro caractersticas das demais responsabilidades civis extra-contratuais, s que aqui o acto praticado licito. Responde a um princpio de compensao de vantagens em que aquele que tem de suportar, no interesse de outrem, uma perturbao ao seu direito possa obter uma indemnizao. S acontece nas circunstncias e hipteses especificadas na lei, como decorre do artigo 483 n2. No existindo uma unificao legal que preveja um regime jurdico semelhante ao da responsabilidade pelo risco. Expoente mximo desta responsabilidade o artigo 1367. 9. Principio da boa f: a convivncia scio jurdica tem de ser alicerada na confiana recproca e no recto comportamento e inteno de uns relativamente aos outros. Temos a: a. Boa f em sentido subjectivo: ignorncia no culposa de vcios ou irregularidades do respectivo acto, que leva a lei a dispensar um tratamento de favor a quem actua com este estado de esprito, ou seja, a quem tem a convico de proceder rectamente seu prejudicar direitos alheios. assim, algo de psicolgico, uma convico de se estar a actuar em conformidade com o direito. Neste caso ela no um princpio geral de direito, sim um pressuposto para a aplicao ou no de uma norma. Exemplo mximo: 1647 e 1648 que dizem respeito aos efeitos do casamento declarado nulo ou anulado quando celebrado por ambos ou apenas por um dos cnjuges de boa-f. b. Boa f objectiva: aqui trata-se de uma conduta ou comportamento honesto, correcto, leal e fiel das partes. Aqui no est em causa a realidade psicolgica da pessoa, mas o cumprimento dessas mesmas regras. Aqui um princpio geral de direito, envolve uma clusula geral e como tal a mediao do juiz na sua aplicao aos casos concretos. Tem um carcter obviamente objectivo pois relaciona-se com regras de conduta. Exemplos: 227 n1 e 762 n2. 10. Principio do equilbrio das prestaes: esta questo coloca-se sobretudo nos contratos onerosos, onde cada uma das partes deve obter pela sua prpria prestao uma contraprestao adequada de valor equilibrado, como decorre do artigo 237. Em casos especiais, como por exemplo os negcios usurrios artigo 282, a lei exige uma equivalncia medida por parmetros objectivos, Mas normalmente o

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ordenamento contenta-se com a equivalncia subjectiva, ou seja, que ambas as partes considerem as prestaes equilibradas, limitando-se aqui o direito a assegurar que no houve dolo, erro ou mesmo coaco. Este principio leva considerao de uma distribuio justa dos encargos e dos riscos do contrato, Exemplo disso o artigo 796. Mas tal principio ultrapassa o mbito dos contratos, estendendo-se at ao direito da famlia (deveres de respeito e fidelidade recprocas 1672) ou s sucesses (cada herdeiro s responde pelos encargos na proporcionalidade da quota que lhe tenha cabido artigo 2098 n1. 11. Principio da proibio de auto-defesa dos direitos prprios: este princpio decorre da estatuio a contrario dos artigos 336 e 339, proibindo-se assim a auto-defesa. aos tribunais que compete o assegurar de direitos e interesses protegidos pela lei e o dirimir dos conflitos, como estabelecido no artigo 202 CRP, o que no pe em causa as funes das foras de segurana pblica como garante imediato dos direitos dos cidados cuja violao constitua crime artigo 272 da CRP. 12. Principio da liberdade declarativa: resulta do artigo 219 e alertanos para o facto de os negcios jurdicos poderem, em princpio, se realizar de um modo consensual, por palavras ou gestos sem sujeio a forma escrita. Com isto visa-se: a. Facilitar e abreviar uma concluso vlida dos negcios jurdicos; b. Impedir a invalidade, por falta de forma legal devido a ignorncia ou mesmo dificuldades econmicas, de negcios queridos pelas partes onde no h grande relevncia de interesse pblico a existncia de forma; c. Tutelar a confiana existente entre as partes. 13. Principio da nulidade de actos e negcios jurdicos violadores de regras imperativas: o artigo 294 estabelece o principio pelo qual os negcios jurdicos e tambm os actos jurdicos, por fora do artigo 295, celebrados contra disposio legal de carcter imperativo so nulos. O artigo 294 abrange: a. Negcios contra a lei: ofendem frontalmente uma proibio ou uma actuao legalmente determinada; b. Negcios em fraude lei: contornam proibies ou actuao, atingindo o mesmo resultado por outros meios diferentes dos previstos pela lei. Normas imperativas: so aquelas que impem um certo comportamento preceptivas, ou probem determinada conduta

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proibitivas e cuja violao implica, em princpio, a nulidade dos actos ou negcios que colidam com a mesma. Quando a norma imperativa no acompanhada de nenhuma sano, ter de se analisar a ratio dessa mesma norma, saber (quais os interesses tutelados pela norma, se o legislador visa atacar as aces ou omisses em si ou situaes que decorrem das mesmas, ex um contrato de trabalho que no respeita o horrio legal nulo porque a proibio que resulta da lei visa o prprio contedo do contrato, mas um contrato de compra e venda feito fora do horrio de funcionamento do estabelecimento j vlido pois a proibio legal visa sobretudo no o contrato em si mas uma concorrncia leal no comrcio, algo que resulta do contrato, bastando para que se cumpra esse objectivo que o lojista pague uma coima, no sendo necessria a nulidade do contrato). 14. Principio da proibio do abuso de direito: decorre do 334. Sendo que aqui o excesso tenha de ser evitado porque se trata de uma limitao ao direito, uma limitao autonomia da vontade. A Codificao do direito civil: Generalidades: o As colectneas legais: inicialmente o direito civil estava inteiramente ligado ao costume, sendo ele a fonte inicial de todo o direito. Tratava-se de um comportamento adoptado pela comunidade com a convico da sua obrigatoriedade. Sobretudo a partir da criao das primeiras cidades multiplicam-se as leis e com elas a necessidade de se saber quais as que se mantinham em vigora e as que seriam revogadas, nascem, assim as primeiras compilaes de certas fontes diversas abarcando diversas matrias e que conferiam maior certeza, ordem, clareza, estabilidade e conhecimento das mesmas a todos, exemplo Lei das XII tbuas que continha grande parte do ius civile romano da poca arcaica; o posterior Corpus Iuris Civilis mandado elaborar por Justiniano; caso tambm das nossas ordenaes, as Afonsinas, Manuelinas e Filipinas. o Os cdigos modernos: a codificao num sentido moderno s aparece a partir dos finais do sculo XVIII. Assim, um cdigo, ser um diploma legislativo, que obedece a critrios sistemtico cientficos, que regula todo um importante sector ou ramo do direito, duradouramente. No direito civil assume especial importncia o cdigo civil Francs de 1804, tambm chamado de Napoleo que com vrias alteraes ainda hoje continua em vigor. Era composto por: Um titulo preliminar sobre a publicao, efeitos e aplicao das leis; Livro I das pessoas; Livro II dos bens e das diferentes modificaes da propriedade;

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Livro III diferentes maneiras pelas quais se adquire a propriedade. Plano muito similar s Institutiones de Gaio e Justiniano, tem um carcter antropocntrico, tem um baixo grau de abstraco, h separao entre o direito pessoal e o patrimonial, h ausncia de uma parte geral plano de GAIO ou ROMANO FRANCES. Diferentemente o BGB, ou seja, o cdigo civil Alemo de 1896 utiliza a classificao germnica, pandectistica ou plano de Savigny, tem uma parte geral e 4 partes especiais (obrigaes, coisas, famlia, sucesses). o A questo da Parte Geral do Cdigo Civil: a existncia de uma parte geral no BGB foi um problema muito discutido. O argumento principal invocado contra a parte geral a de que ela no passaria de um mero exerccio teortico tornado lei j que a elaborao de uma verdadeira parte geral seria uma tarefa da cincia do direito. Este argumento falacioso, j que a parte geral tem autonomia prpria, tem se sim, feito trabalho teortico sobre essa parte, algo que legitimo. Alm disso, a parte geral dos cdigos e as disposies gerais de ttulos, captulos, etc, resultam de uma exigncia tcnica jurdica: de evitar repeties, fixando desde logo um conjunto de disposies gerais que teriam de ser repetidas em moldes idnticos em diferentes partes da lei, diz respeito a um catlogo de questes preliminares cuja soluo afecta todas as regulamentaes particulares que a lei estabeleceu. Acresce ainda o facto destes artigos da parte geral poderem e deverem ser modificados, introduzidos ou removidos pelas transformaes da sociedade ou pela evoluo do direito, ou seja, no so normas imutveis. Pelo contrrio devem-se adequar realidade histrico-concreta. A parte geral pode, desta forma, ser mesmo lacunosa, sendo que a aplicao das normas desse parte geral no vale para todos os casos que no estejam comtemplados nas partes especiais, mas apenas para uma casos que caibam na letra e esprito das disposies da parte geral. No entanto, existindo essa parte geral permite enquadrar um numero maior de hipteses do que um cdigo sem parte geral. No concordamos pois com Meneses Cordeiro ou Orlando de Carvalho que dizem que a parte geral apenas introduz uma grande abstraco no cdigo e que afasta o cdigo da pessoa humana, que dever ser seu objecto, estes autores no consideram que a prpria norma jurdica para o ser verdadeiramente tem que revestir carcter geral e abstracto. Temos, no entanto, que ter um enorme cuidado na coordenao da parte geral com as partes especiais, j que as normas no se dispem segundo um mero alinhamento ou continuidade, mas segundo uma ordenao (elemento sistemtico da interpertaao). Atendemos seguinte classificao das normas: a) Gerais: as que correspondem a princpios fundamentais do sistema jurdico e estabelecem o regime regra das relaes que disciplinam; b) Especiais: consagram uma disciplina nova para um conjunto de casos mas que no est em directa oposio com a disciplina geral;

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c) Excepcionais: regulam um sector restrito de relaes com uma configurao particular, consagram uma disciplina oposta que vigora para o comum das relaes do mesmo tipo. Temos que conjugar as partes gerais com partes e normas especiais e ainda com normas excepcionais , exemplo: em matria de negcios jurdicos em geral vale o 253, mas para o casamento encontramos o 1636, que s tem relevo no contexto do casamento. Ainda como argumento a favor de uma parte geral o facto de os cdigos que a tenham serem susceptveis de adaptao s diversas mutaes Constitucionais radicais, exemplo disto o nosso cdigo civil face Constituio de 1976. Ver no livro do doutor Capelo (parte geral do CC) o O Cdigo civil Portugus de 1867 e as reformas de 1930 e 1940: depois da Restaurao foi apresentada ao Rei a ideia de se fazer um cdigo que afastasse as ordenaes Filipinas. No entanto, o Rei no acha necessrio e as ordenaes continuaram a vigorar, sendo o diploma que mais tempo vigorou no nosso Pas, 200 anos, at ao cdigo de 1867. Com a revoluo liberal de 1820 e com a exigncia de novos princpios da ordem jurdica que respondessem aos valores nascidos da Revoluo, h de novo a necessidade de se elaborar um cdigo civil que possibilite esses valores do liberalismo. S que Revoluo liberal seguira-se vrias guerras civis com mudanas a nvel Constitucional que no conferiam a estabilidade e condies para a elaborao de um cdigo civil. S a partir de 1850 se comea a pensar mais seriamente na elaborao de um cdigo civil, com a participao na 1 comisso elaboradora, de Coelho da Rocha, jurisconsulto da nossa faculdade, que utilizando o estilo Pandectistico Alemo (uma parte geral e 4 especiais) sistematizou as ideias liberais de Mello Freire. Mas o cdigo de 1867 fica-se a dever a Antnio Lus de Seabra, mais tarde Visconde de Seabra, que chamou a sai redaco do projecto como presidente da comisso. Tal foi o seu contributo para este cdigo que o mesmo conhecido pelo cdigo de Seabra. Seabra, ao contrrio de Coelho da Rocha, vai apresentar um modelo antropocntrico com grande influncia da Revoluo Francesa mas tambm com um carcter original. Esta base antropocntrica claramente visvel na sistematizao: I- capacidade civil; II-aquisiao de direitos; III- direito de propriedade; IV- ofensa de direitos e sua reparao. O cdigo mostra tambm claramente a sua influncia liberal com a sua viso ampla da liberdade contratual. O cdigo vai posteriormente sofrer as mudanas que se identificam com a passagem a um Estado Republicano, sobretudo no que respeita ao direito da Famlia e sucesses, sobretudo, numa clara separao entre Estado e Igreja que se manifesta na instituio do casamento civil e tambm na permisso de divrcio. Estas mudanas no foram, porm, imediatamente integradas no cdigo civil, numa clara preocupao de

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harmonizao e sistematizao vieram a ser integradas apenas em 1930 com a primeira reforma do cdigo civil. Em 1940, j com o Estado Novo e com Salazar na sua mxima fora, realiza-se a concordata entre Portugal e a Santa S, que imprimiu grandes mudanas sobretudo no direito da Famlia, com a admisso do casamento catlico com valor jurdico-civil, no havendo necessidade tambm de se efectuar o casamento civil para que o mesmo tivesse valor jurdico civil. Aboliu-se ainda o divrcio para os casamentos catlicos a partir de 1940, cabendo apenas aos tribunais cannicos declarar a anulao ou no de um casamento catlico. A nica possibilidade era o regime de separao de pessoas e bens, mas sem a possibilidade da pessoa se poder casar novamente. o O Cdigo Civil de 1966: a reforma de 1977 e principais alteraes: o primeiro passo tomado em 1944 com a nomeao de uma comisso qual presidiu o professor Vaz Serra, jurisconsulto da nossa faculdade de direito. Esta elaborao de um novo cdigo justificava-se por: a) Existncia de enorme legislao avulsa; b) Inadequao das concepes do cdigo s doutrinas e valores afirmados pelo Estado Novo. Os trabalhos estenderam-se por 22 anos at que o Ministro da Justia Antunes Varela, o projecto do cdigo civil, sendo o mesmo a ser aprovado em 15 de Novembro de 1966. Como grandes exemplos da modificao em relao ao cdigo anterior no que respeita ao contedo, temos por exemplo a exigncia das sociedades constitudas serem reconhecidas por uma entidade pblica (forma de o Estado Novo controlar a sociedade e impedir a liberdade de expresso), a posio do homem como chefe de famlia, a posio mais favorvel ao filhos nascidos dentro do casamento em relao aos nascidos fora deste. Em termos de estrutura temos a adopo do plano de Savigny ou sistematizao Germnica (uma parte geral e 4 partes especiais). Vamos depois ter uma reforma em 1977 com a necessidade de adaptar o cdigo civil Constituio de 1976, exemplo disto o da igualdade de direitos entre filhos nascidos dentro e fora do casamento, o princpio da igualdade entre homens e mulheres. No entanto a reforma de 1977 teve tambm algumas inovaes como o caso: a) Melhoria da posio sucessria do conjugue sobrevivo; b) Extino da enfiteuse; c) Alteraes ao nvel do arrendamento, o que fez com que o mesmo sasse do cdigo devido profundidade do mesmo e tambm frequncia da sua mudana o que no conferiria estabilidade a esta disciplina, da a sua remoo do cdigo; d) A maior idade dos 21 anos para os 18 anos; e) Outras mudanas de menor vulto se seguiram visto que o cdigo , embora vise a estabilizao das normas no imutvel s transformaes sociais, econmicas e politicas e s novas descobertas.

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o Legislao complementar do cdigo civil: quando legislao complementar h que distinguir dois tipos: as de leis civis e de leis no civis. Na lei civil temos as partes numa posio de paridade, no h portanto ius imperi. No caso de leis civis temos vrios diplomas que complementam o cdigo civil, tais como, o RAU ou mesmo o direito real de habitao peridica. Temos depois vrios cdigos que complementam o cdigo civil. Temos como exemplos o cdigo de registo civil ou o cdigo do notariado. o Aplicao das leis civis no tempo: muito importante saber quais as normas que se vo aplicar para as diversas situaes, surge, desta forma, o problema da aplicao das leis no tempo, que regulado pelo artigo 12 do nosso cdigo. Tudo porque as normas se vo sucedendo no tempo, podendo hoje uma norma ser substituda por outra. O principio geral (a lei s dispe para o futuro artigo 12 n1 e n2 1 parte). No entanto se a lei dispuser directamente sobre o contedo de certas relaes jurdicas ela vai abranger as relaes j constitudas e que subsistam aquando da sua entrada em vigor artigo 12 n2 2 parte. Em relao s alteraes de prazos atravs da lei, rege o artigo 297. 297/1 Se estabelecer um prazo mais curto aplica-se aos prazos em curso mas s se comea a contar a partir da entrada em vigor da nova lei. Com excepo de se de acordo com a lei antiga faltar menos tempo; 297/2 Se estabelecer um prazo mais longo tambm se aplica aos prazos em curso, mas aqui comea-se a contar desde o momento inicial. A lei interpretativa integrada na interpretada artigo 13. o O Estilo e a classificao das normas civis: Vejamos os trs tipos e formulaes legais: a) Casustico: emisso de normas jurdicas prevendo o maior numero possvel de situaes da vida real, atravs de uma hiptese concretizada em casos reais e atravs de uma estatuio extremamente minuciosa. Esta formulao era tpica do direito romano, aparecendo entre ns com as ordenaes do Reino. Tem na sua base a crena optimista da capacidade de prever todas as situaes e assim subtrair ao arbtrio do julgador a deciso do conflito em causa. No entanto so notrias as desvantagens deste estilo: a. Impossibilidade de regular casuisticamente todos os casos relevantes; b. Rpida desactualizao destas leis por efeitos como a inflao ou a evoluo tecnolgica. b) Legal abstracto generalizador: traduz-se na elaborao de tipos de situao da vida, atravs de conceitos gerais e abstractos, embora bem definidos e determinados por fora de um grande trabalho da doutrina e da jurisprudncia. A tarefa do julgador a de subsumir as situaes da vida concreta hiptese legal. Estilo tpico da jurisprudncia dos

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conceitos. Este estilo assenta na conscincia da impossibilidade de prever todas as hipteses geradas na vida e na necessidade de atribuir algum carcter valorativo na interveno do decidente aquando da sua aplicao da lei. No entanto, este estilo apresenta uma falta de maleabilidade face multiplicidade e complexidade da vida real por mais que os seus conceitos sejam gerais e abstractos. o problema das lacunas, ou seja, de situaes juridicamente relevantes que no encontram na lei uma soluo expressa. c) Linhas de orientao: aqui o legislador limita-se a estabelecer mdulos de apreciao, de acordo com a jurisprudncia dos valores. Aqui a hiptese e a estatuio no esto definidas por caracteres limitados. O juiz no acto de aplicao da lei tem uma grande margem de discricionariedade. Como grande exemplo deste estilo temos o cdigo civil Suo de 1907. Existem dois tipos de linhas de orientao: a. Clusulas gerais: recorremos a critrios valorativos de apreciao. Aqui no h subsuno ou deduo mas induo, grande exemplo de uma clusula geral a da boa f presente no artigo 762 n2 (temos aqui a boa f em sentido objectivo, mas saber se o sujeito agiu honesta e honradamente depende de vrias situaes e o juiz tem grande margem discricionria; b. Conceitos indeterminados: so conceitos imprecisos e maleveis com caractersticas dos pressupostos de facto de uma norma, mas sem uma zona nuclear segura e uma certa indeterminao da sua rea e dos seus limites legais. Como exemplo de um conceito indeterminado temos o artigo 487 n2 a diligncia de um bom pai de famlia, conceito que deriva do principio bnus pater famlias romano que caracteriza um homem cujas capacidades so medianas. um conceito muito indeterminado que faz apelo a critrios valorativos face a cada caso concreto. O nosso cdigo civil adopta fundamentalmente o tipo de formulao mediante conceitos gerais e abstractos. Este mtodo possibilita um maior grau de segurana e razoabilidade das solues. No entanto poder levar, em razo de variedade da vida, levar o Juiz a decises menos rectas para o caso concreto. Para atenuar isto mesmo foram introduzidas clausulas gerais e mesmo conceitos indeterminados, dotando o nosso cdigo de uma adaptao s vrias situaes da vida, doseando a necessidade de certeza e segurana com uma preocupao de justia para todos os casos concretos. o Classificao das normas civis: Existem vrias classificaes de normas civis: a. Normas imperativas: no podem ser afastadas pela vontade das partes; b. Normas supletivas: podem ser afastadas pela vontade das partes. c. Normas gerais, especiais e excepcionais (j analisamos ver atrs)

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o O mbito da Teoria geral do direito civil: por um lado, temos a teoria geral do ordenamento jurdico civil: diz respeito s normas gerais do cdigo civil, concentradas nos artigos 1 a 13 cc, que estabelecem vrios princpios acerca das normas jurdicas. Por outro lado a teoria geral da relao jurdica civil, aplicao do direito em relao com a realidade social que tambm objecto de normas jurdicas. o A relao jurdica civil: a. Conceito e contedo: Relao jurdica: o vnculo normativo, disciplinado e garantido pelo direito civil que une entre si sujeitos de direito, mediante a atribuio a uma pessoa de um direito subjectivo propriamente dito, de um direito potestativo ou de um poder dever e imposio a outra pessoa de um dever jurdico ou uma sujeio correspondente. Podemos considerar a expresso relao jurdica com referncia a um modelo, paradigma ou esquema contido na lei, a estamos perante uma relao jurdica abstracta (ex. relao pela qual o inquilino deve pagar a renda ao senhorio). Podemos considerar a expresso relao jurdica com referncia a uma relao existente na realidade entre pessoas determinadas, sobre um objecto determinado e de um facto jurdico determinado, a estamos perante uma relao jurdica concreta (ex. o senhor A pode exigir do inquilino B a renda de 150 euros pelo arrendamento do quarto x). Contedo da relao jurdica: o Direitos subjectivos propriamente ditos ou stricto sensu: o poder jurdico reconhecido pela ordem jurdica a uma pessoa de livremente exigir ou pretender de outrm um comportamento positivo (aco) ou negativo (omisso), contrape-se-lhe, na posio passiva, o dever jurdico, ou seja, a necessidade de realizar o comportamento a que tem direito o titular activo da aco. H aqui uma dicotomia entre o poder de exigir e o de pretender: Poder de exigir: na quase totalidade das hipteses o titular do direito subjectivo, no caso da contraparte no cumprir o dever jurdico a que est adstrita, pode recorrer aos tribunais para deles obter as providencias necessrias coercivas aptas a satisfazer o seu interesse. Poder de pretender: h um crculo restrito de hipteses, em que o titular do direito no pode reagir contra o adversrio se este no adoptar o comportamento que lhe prescrito. So, no entanto, deveres jurdicos, porque se o sujeito passivo cumprir voluntariamente, a lei trata a situao como se o comportamento lhe tivesse podido ser exigido. o caso das obrigaes naturais reguladas nos arts. 402 e 403. Aqui se o devedor, por exemplo, de uma divida de jogo ilcito artigo 1245, cumprir espontaneamente, o credor, que no podia

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exigir judicialmente um pagamento, pode conservar a prestao recebida, goza da soluti retentio. Enquanto que o devedor no tem a possibilidade de repetir, no tem a condictio indebiti. o Direitos potestativos: o poder jurdico, reconhecido pela ordem jurdica, a uma pessoa de por um acto de livre vontade, s de per si, ou integrado por um acto de uma autoridade pblica, produzir determinados efeitos jurdicos que inevitavelmente se impe ao sujeito passivo, contrape se lhe, na posio passiva, a sujeio, ou seja, a situao de necessidade em que se encontra o sujeito passivo de ver produzir se forosamente uma consequncia na sua esfera jurdica por efeito do exerccio do direito pelo seu titular. Podem ser: 1. Constitutivos: produzem a constituio de uma relao jurdica por acto unilateral do seu titular (exemplo constituio de servido de passagem em beneficio de prdio encravado art 1550); 2. Modificativos: produzem uma simples modificao numa relao jurdica existente e que continuar a existir apesar de modificada (exemplo, separao judicial de pessoas e bens art 1795-A); 3. Extintivos: produzem a extino de uma relao jurdica existente (exemplo, o direito de obter o divorcio art. 1773). Lado passivo dos direitos subjectivos strictu sensu e dos direitos potestativos: Contraposto aos direitos subjectivos propriamente ditos temos o dever jurdico. Aqui o sujeito do dever, embora se expondo a sanes, tem a possibilidade prtica de no cumprir. H uma colaborao do sujeito do dever para que e cumpra esse direito. Os deveres jurdicos podem ser: 1Pendentes sobre uma ou mais pessoas determinadas e, ento, falamos de direitos relativos; 2No caso de alguns deveres jurdicos de absteno pendentes sobre todas as pessoas, ento falamos de direitos absolutos erga omnes. Contraposto aos direitos potestativos temos a sujeio. Aqui, diversamente do dever jurdico, trata-se de uma necessidade inelutvel, no podendo o sujeitado violar ou infringir essa situao mesmo que esta v contra a sua vontade. Teoria da vontade e teoria do interesse: ao definirmos direito subjectivo propriamente dito ou direito potestativo definimo-lo como um poder jurdico, um poder que da vontade e que o seu titular poder usar livremente e impor aos outros a posio defendida por Savigny e pelo Dr.Mota Pinto.

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Diversamente Iherny e entre ns o Dr. Orlando de Carvalho dizem que se trata da expresso de interesses juridicamente protegidos. Algo com o qual no concordamos devido estrita funcionalizao que faz dos direitos, caracterstica que no pode ser imputada ao nosso sistema jurdico. H que dizer que s em casos extremos de clamorosa e manifesta contrariedade entre o exerccio do direito e o seu fim social ou econmico, o exerccio desse direito ilegtimo por fora do artigo 334 que consagra a doutrina do abuso do direito. o Poderes deveres: s h direitos subjectivos quando o exerccio do poder jurdico est dependente da vontade do seu titular, por falta dessa liberdade de actuao que os poderes-deveres no so direitos subjectivos. Estes poderes no podem ser exercidos se o seu titular quiser e como quiser, mas do modo exigido pela funo do direito (exemplo, o poder paternal). Se no forem exercidos quando deviam s-lo ou forem exercidos de outro modo o seu titular infringe um dever jurdico que passvel de sanes (exemplo, inibio do poder paternal). Os poderes-deveres visam sobretudo a defesa dos interesses do sujeito passivo. Elementos da relao: Sujeito: so as pessoas entre quem se estabelece o vnculo respectivo: os titulares do direito subjectivo stricto sensu ou do direito potestativo e das posies passivas correspondentes, ou seja, o dever jurdico e a sujeio. So pessoas j que a personalidade jurdica a susceptibilidade de ser titular de direitos e obrigaes, ou seja, de ser titular de relaes jurdicas, podendo essas pessoas ser singulares ou colectivas, pblicas ou privadas. Assim, para haver uma relao jurdica civil preciso existir mais do que uma pessoa. Se existir apenas uma no h relao jurdica, extingue-se por confuso como nos refere o artigo 868. 2Objecto: aquilo sobre que incidem os poderes do titular activo da relao jurdica. No o conjunto formado pelo direito subjectivo e o correspondente dever jurdico, estes formam o contedo da RJ. aquilo sobre que incidem os poderes do titular desse direito subjectivo. Podem ser objecto de relaes jurdicas: a) outras pessoas; b) coisas corpreas; c) coisas incorpreas; d) modos de ser da prpria pessoa; e) outros direitos. Facto jurdico: todo o facto produtivo de efeitos jurdicos. Tem um papel condicionante no surgimento da relao jurdica. Como se desencadeia a energia jurdica contida na lei. condio ou pressuposto da sua existncia. Para alm de condicionar a relao jurdica vai modelar o contedo da relao jurdica, fixando o objecto dos direitos das partes e o contedo dos mesmos. 1-

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Garantia: o conjunto de providncias coercitivas postas disposio do titular activo de uma RJ, de forma a obter a satisfao do seu direito, lesado por um obrigado que o infringiu ou ameaa infringir. A garantia da Relao jurdico privada s entra, normalmente, em movimento sob o impulso do titular do direito subjectivo violado ou ameaado. A sua forma mais frequente a indemnizao dos danos causados ao titular do direito, sendo que sempre que possvel se proceder reconstituio natural. O facto ilcito civil, como tal, no desencadeia a aplicao de uma pena. A priso por dvidas foi suprimida em 77. Procurou-se, no entanto, que esta supresso fosse acompanhada de medidas sucedneas de tutela, como o caso do arresto de bens, nos termos do artigo 619. H que referir que a garantia no protege o titular do direito apenas no caso de violao do seu direito. Protege-o ainda contra ameaas ou receios legtimos de infraco do dever jurdico como visvel no artigo 619. Dando-lhe mesmo a possibilidade atravs de aces de simples apreciao por termo em juzo situao de dvida sobre a existncia do seu direito. Em princpio, o que est excludo ser o recurso fora prpria para obter satisfao. A justia privada, , assim, ilcita, o titular no pode reagir e obter ressarcimento pelas vias de facto. Para a tutela de um direito o seu titular deve requerer perante os tribunais a providncia adequada, ou seja, intentar uma aco. Excepcionalmente a auto-defesa dos direitos pode ser lcita, como patente pelo artigo 336 (aco directa), desde que respeite os pressupostos a presentes. Diferentemente a legitima defesa presente no 337, porque enquanto a aco directa supe uma aco j consumada e um meio repressivo, a legitima defesa um meio preventivo dirigido a afastar a agresso iminente em inicio de execuo mas ainda no consumada, sendo que nesta ltima, ao contrrio da aco directa, o defendente pode lesar interesses superiores aos interesses ameaados. Nas obrigaes naturais existe igualmente o elemento garantia. Falamos da solutio redentio, este no poder o obrigado repetir o que haja prestado. Nos direitos potestativos podemos dizer que h uma garantia mais forte do que nos direitos subjectivos stricto sensu, j que uma garantia infalvel, em que a outra parte no pode infringir esse direito. Classificao das relaes jurdicas: a) Relao jurdica simples ou singular: relao existente entre dois sujeitos, mediante atribuio ao sujeito activo de um direito subjectivo propriamente dito ou de um direito potestativo, e, ao sujeito passivo do dever jurdico ou sujeio correspondentes. b) Relao jurdica complexa: trata-se de uma srie de relaes jurdicas singulares, ou seja, uma srie de direitos subjectivos propriamente ditos ou direitos potestativos e deveres jurdicos ou sujeies correspondentes, conexionadas ou unificadas por um qualquer aspecto (exemplo, A relao entre o comprador e o vendedor de uma mquina no contm s o dever

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de pagar o preo e o direito ao preo, mas torna o devedor credor da entrega da mquina, ou outros vnculos, como deveres acessrios de o vendedor guardar a mquina ou deveres laterais do vendedor informar o comprador do modo de funcionamento da mquina, etc) Outras figuras jurdicas: a) nus: necessidade de observncia de determinados comportamentos para a realizao de um interesse prprio. Aqui o onerado no deve, ele pode praticar ou no um certo acto, mas se no o praticar no realizar certo interesse. Exemplo, o nus da prova, o onerado ao no acatar o nus no infringe nenhum dever nem a sua conduta ilcita, mas perde ou deixa de obter uma vantagem, desta forma diferente do dever jurdico. O ordenamento no caso do nus no desaprova o seu no acatamento, ao contrrio do que acontece com o dever jurdico em que h ntida desaprovao. b) Expectativa jurdica: situao activa, juridicamente tutelada, correspondente a um estdio de um processo complexo de formao sucessiva de um direito. uma situao em que se verifica a possibilidade juridicamente tutelada de aquisio futura de um direito, estando j parcialmente verificado o facto jurdico constitutivo desse direito. Trata-se de uma verdadeira expectativa jurdica e no de uma expectativa de facto pois a lei protege a sua posio. Outras classificaes: a) Relaes jurdicas perfeitas: tm plena garantia jurdica; b) Relaes jurdicas imperfeitas: tm apenas um embrio de garantia jurdica, exemplo as obrigaes naturais; c) Relaes jurdicas principais: so autnomas, no estando dependentes de outras relaes jurdicas; d) Relaes jurdicas acessrias: esto dependentes da relao jurdica principal, exemplo a fiana. e) Relaes jurdicas patrimoniais: so susceptveis de avaliao pecuniria; f) Relaes jurdicas no patrimoniais ou pessoais ou extrapatrimoniais: no so susceptveis de uma avaliao pecuniria. Embora nestas relaes possa haver lugar a uma indemnizao a ttulo de compensao; g) Relaes jurdicas dominiais: h poder do titular activo dispor livremente do objecto jurdico; h) Relaes jurdicas no dominiais: no h poder do titular activo dispor livremente do objecto, exemplo no caso do suicdio. Pessoas singulares e pessoas colectivas: personalidade e capacidade: Sujeitos de direito: so os entes susceptveis de serem titulares autnomos de direitos e obrigaes, de serem titulares autnomos de relaes jurdicas.

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A personalidade jurdica essa aptido para ser titular autnomo de relaes jurdicas. Esta aptido prpria das pessoas singulares, que deriva de uma exigncia do direito em respeitar a dignidade que deve reconhecer a todos os seres humanos. Aptido que vem regulada no artigo 66. Mas tambm as pessoas colectivas tm personalidade jurdica como resulta do artigo 158. Todo o sujeito para alm de um crculo mnimo de direitos patrimoniais que s teoricamente podero faltar, ele necessariamente titular de um crculo de direitos de personalidade. personalidade jurdica inerente a capacidade jurdica ou capacidade de gozo de direitos: essa aptido para ser titular de um circulo, com mais ou menos restries de relaes jurdicas. A diferena que essa capacidade pode ser mais ou menos restrita, sendo-se sempre pessoa. As pessoas singulares tm uma capacidade jurdica mais ampla do que as pessoas colectivas como facilmente se depreende da comparao dos artigos 67 e 160. Capacidade jurdica para o exerccio de direitos: Capacidade para o exerccio de direitos: a idoneidade para actuar juridicamente, exercendo direitos ou cumprindo deveres, adquirindo direitos ou assumindo obrigaes, por acto prprio e exclusivo ou mediante um representante voluntrio ou procurador, ou seja, um representante escolhido pelo prprio representado. A pessoa dotada de capacidade de exerccio actua pessoalmente, ou seja, no carece de ser substituda na prtica de actos que pem em movimento a sua esfera jurdica, por qualquer representante designado na lei ou em conformidade com ela. Actua autonomamente j que tambm no carece de consentimento de ningum, nem anterior, nem posterior ao acto. Faltando essa aptido para actuar pessoal e autonomamente teremos uma incapacidade de exerccio de direitos que pode ser suprida pela representao legal ou pela assistncia. A incapacidade pode ser genrica (refere-se a actos jurdicos em geral) ou especfica (refere-se a actos jurdicos em especial). A capacidade para o exerccio de direitos reconhecida aos indivduos que atinjam a maioridade artigo 130. Nem s os menores so incapazes para o exerccio de direitos artigo 123. H outras incapacidades como a dos interditos artigo 138 e a dos inabilitados artigo 152. Ao contrrio da capacidade de gozo de direitos, a capacidade jurdica para o exerccio de direitos pode faltar a uma pessoa singular. Tudo porque esta capacidade para agir supe uma capacidade de querer e entender. Assim, devem estar desprovidas de capacidade de exerccio as pessoas que por vrias razes no possam determinar com normal esclarecimento ou liberdade interior os seus interesses.

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(Nota: nesta parte est problema dos direitos sem sujeito segundo uns apontamentos, est confuso, a seguir est a transcrio do livro do doutor Capelo) O problema dos direitos sem sujeito: (segundo apontamentos) (passar frente est confuso, ver em baixo segundo o livro) Toda a relao jurdica tem de estar conexionada com um sujeito, j que o poder pressupe um titular e o (dever) a vinculao um suporte. No entanto certas situaes parecem s poder ser juridicamente enquadradas numa categoria de direitos sem sujeito. o caso de atribuio de bens por doao ou sucesso mortis causa a um nascituro (aquele que j foi gerado mas ainda no nasceu) ou at a um concepturo (aquele que ainda ser gerado) em que parece no haver titular activo entre o momento da doao ou morte e do nascimento do beneficirio que far surgir a pessoa jurdica. Conferir os artigos 952 e 2033. O mesmo acontece com a situao de direitos que integram a herana entre a morte do cuius e aceitao da herana perodo de herana jacente1. Pode tambm haver situaes de aparncia da falta do sujeito passivo, o caso das obrigaes do de cuius includas na herana jacente. Windscheid afirmava a existncia, nestes casos, de direitos sem sujeito. Lehmann, Manuel de Andrade e Mota Pinto negam a possibilidade lgica da existncia de direitos sem sujeito, sendo um absurdo essa possibilidade, j que defendendo a teoria da vontade, consideram que o direito subjectivo se traduz num poder e como tal tem de pertencer a algum e o mesmo para a obrigao, j que todo o poder implica necessariamente um titular e todo dever um suporte. As situaes anteriormente descritas seriam estados de vinculao de certos bens em vista do surgimento futuro de uma pessoa. Com um direito sobre eles esse objecto no estaria integrado em nenhuma relao jurdica mas tambm no seria livre j que estava a ser objecto de uma tutela jurdica que o reservaria para um provvel direito futuro. Outros autores falam de relaes jurdicas imperfeitas j que um caso de provisria inexistncia do sujeito, admitindo, assim, a inexistncia de direitos sem sujeito. Alm disso, o caso da herana jacente constitui um patrimnio autnomo em que os credores tm possibilidade processual de executar estes bens, sendo que apenas a herana responde por esta dvida e no os bens pessoais dos herdeiros. PROBLEMA DA EXISTENCIA DE DIREITOS SEM SUJEITO LIVRO: H situaes jurdicas em que, pelo menos aparentemente, falta um dos sujeitos jurdicos, sobretudo activo mas tambm passivo. Assim, no caso da herana jacente (2046) at tal aceitao ou declarao (2050 e 2155); de doao ou sucesso a favor de nascituro no concebido ou concepturo (952 e1

Herana jacente: herana aberta pela morte de uma pessoa singular mas ainda no aceite pelos seus herdeiros familiares nem declarada vaga para o Estado 2046.

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2033 n2 al.a )enquanto este no nascer o no houver posibilidade de nascer, bem como no caso de abandono de um titulo ao portador (aco de uma sociedade annima ou bilhete cinema, at ser encontrado ou ter caducado). Por outro lado, faltar ou ainda faltar o sujeito passivo de uma obrigao contrada por uma pessoa entretanto falecida e cuja herana se encontra jacente, sendo certo que os sucessveis aceitantes viro a responder por tal obrigao. Doutrina divide-se quanto existncia ou no de direitos sem sujeito: Manuel de Andrade e Mota Pinto entendem que estamos perante meros estados de vinculao de bens em vista da possvel supervenincia de titulares para eles uma vez que o direito subjectivo pressuporia sempre a ligao do direito a uma determinada pessoa. Diferente, Orlando Carvalho, Castro Mendes e Oliveira Ascenso consideram haver nestes casos direitos subjectivos sem sujeito. Trata-se de um problema teortico, de construo doutrinal, a resolver, a partir dos dados do nosso sistema legal. A concepo que perfilhmos de direito subjectivo consubstancia-se em um poder jurdico distinto do poder material efectivo pelo que no nos parece inseparvel da titularidade sempre actual de uma determinada pessoa, quando a ordem jurdica face a especiais interesses em jogo, permite manter ou organizar antecipadamente tal estrutura, em termos de o respectivo poder jurdico, na sua exacta configurao, ficar predisposto a ser adquirido por um ser dotado de personalidade jurdica ou a extinguir-se. O sistema pode admitir para certos casos, por razoes muito especiais, excepcionalmente, mecanismos jurdicos cuja melhor construo doutrinaria ser a de direitos subjectivos sem sujeito.Na linha de Orlando de Carvalho o ncleo de poderes sobre os bens se encontre definido ou como cremos melhor, que se encontrem j estruturados o contedo e o objecto de determinados poderes jurdicos de exigir ou pretender o comportamento de outra(s) pessoa(s) ou de intervir inelutavelmente na esfera jurdica de outra pessoa, bem como os correlativos deveres ou sujeies jurdicos. Parecem ser essas as situaes jurdicas, quase clssicas acima referidas.H que ter muita prudncia na analise de outras eventuais eventualmente semelhantes.

PESSOAS SINGULARES Personalidade jurdica: aptido para ser titular autnomo de relaes jurdicas. Algo que nas pessoas singulares corresponde a uma exigncia do d