sÍlvio de salvo venosa - direito civil , vol. ii - teoria geral das obrigações e teoria geral dos...

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  • 7/21/2019 SLVIO de SALVO VENOSA - Direito Civil , Vol. II - Teoria Geral Das Obrigaes e Teoria Geral Dos Contratos (2013)

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    COLEO DIREITO CIVILSvio de Salvo Venosa

    A obra compreende o ito volumes, abrangendo todos os ramos do Direito

    Civil, incluindo o Direito Empresarial, que foi lanado com a dcima edio,

    expondo os temas de forma didtica, sem prejuzo da profundidade. Trata-se

    de obra de estudo para o bacharelado, de consulta para profissionais do D ireito

    e de referncia para o ps-graduando. A doutrina nacional e estrangeira

    mencionada com a frequncia necessria, evitando-se, porm, transcries e

    referncias suprfluas praticidade do texto. N em por isso o autor foge das

    questes controvertidas, apresentando sempre as mais recentes posies

    doutrinrias e jurisprudenciais.

    Vo lume 1

    Parte Geral

    Volume 2

    Teoria Geral das Obrigaes e Teoria Geral dos Contratos

    Volume 3

    Contratos em Espcie

    Volume 4

    Responsabilidade Civil

    Volume 5

    Direitos Reais

    Volume 6

    Direito de Famlia

    Volume 7

    Direito das Sucesses

    Volume 8

    Direito Empresarial

    a t l a s . c o m . b r

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    Svio de Salvo Venosa

    Direito CivilTeoria Geral das Obrigaese Teoria Geral dos Contratos

    Volume 2

    13a Edio

    LTVRO DIGITAL

    SO PAULO

    EDITORA ATLAS S.A. - 2013

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    2000 by Editora Atlas S.A.

    1. ed. 2001; 2. ed. 2002; 3. ed. 2003; 4. ed. 2004; 5. ed. 2005;

    6. ed. 2006; 7. ed. 2007; 8. ed. 2008; 9. ed. 2009; 10. ed. 2010;

    11. ed. 2011; 12. ed. 2012; 13. ed. 2013

    Cromo de:AGB/Masterfile

    Composio: Lino-Jato Editorao Grfica

    E-maildo autor:

    [email protected]

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)(Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

    Venosa, Slvio de Salvo

    Direito civil: teoria geral das obrigaes e teoria geral do s contra tos/

    Slvio de Salvo Venosa. - 13. ed. - So Paulo : Atlas, 2013 . -

    (Coleo direito civil; v. 2)

    Bibliografia.

    ISBN 978-85-224-756 4-3

    eISBN 978-85-224-7660-2

    1. C ontratos - Brasil 2. Direito civil 3. Obrigaes (Direito) -

    Brasil I. Ttulo. II. Srie.

    00-2927

    CDU-347(81)

    ndice para catlogo sistemtico:

    1. Bras il: Direito civil 347(81)

    TOD OS OS DIREITOS RESER VADO S - proibida a reproduo total

    ou parcial, de qualquer forma ou por qualquer meio. A violao dos

    direitos de autor (Lei n 9.610/98) crime estabelecido pelo artigo 184

    do Cdigo Penal.

    Editora Atlas S.A.

    Rua Conselheiro Nbias, 1384

    Campos Elsios

    01203 904 So Paulo SP

    011 3357 9144

    atlas.com.br

    mailto:[email protected]:[email protected]
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    A

    Slvio Lus

    e Dnis,

    meus filhos

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    jM1 t k

    Sumrio

    1 Introduo ao direito das obrigaes, 1

    1.1 Posio da obrigao no campo jurdico, 1

    1.2 Definio, 4

    1.3 Distino entre direitos reais e direitos pessoais, 7

    1.4 Importncia do Direito das Obrigaes, 8

    1.5 Evoluo da teoria das obrigaes, 9

    1.6 Posio do Direito das Obrigaes no Cdigo Civil e em seu estudo, 10

    2 Estrutura da relao obrigacional, 13

    2.1 Introduo, 13

    2.2 Sujeitos da relao obrigac ional, 142.3 Objeto da relao obrigacional, 15

    2.3.1 Patrimonialidade da prestao, 17

    2.4 Vnculo jurdico da relao obrigacional, 20

    2.5 Causa nas obrigaes, 21

    3 Obrigaes naturais, 25

    3.1 Introduo, 25

    3.2 Direito romano, 27

    3.3 Obrigaes naturais no dire ito brasileiro, 28

    3.4 Natureza jurdica das obrigaes naturais, 33

    3.5 Efeitos da obrigao natural, 34

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    v i i i Direito Civil Venosa

    4 Obrigaes reais (propter rem)e figuras afins, 37

    4.1 Obrigaes reais (propterrem), 37

    4.2 nus reais, 41

    4.2.1 nus reais e obrigaes reais, 42

    4.2.2 Conceito, 42

    4.3 Obrigaes com eficcia real, 43

    5 Fontes das obrigaes, 47

    5.1 Introduo, 47

    5.2 Fontes das obrigaes no D ireito Romano, 48

    5.3 Viso moderna das fontes das obrigaes, 49

    5.4 Fontes das obrigaes no C digo C ivil de 1916 e no atual Cdigo, 51

    6 Classificao das obrigaes, 53

    6.1 Espcies de obrigaes, 53

    6.1.1 Obrigaes de meio e obrigaes de resultado, 56

    6.1.2 Obrigaes de garantia, 58

    6.2 Obrigaes de dar: coisa certa e coisa incerta, 59

    6.2.1 Obrigaes de dar, 59

    6.2.2 Obrigaes de dar coisa certa, 60

    6.2.2.1 Responsabilidade pela perda ou deteriorao da coisa na obrigaode dar coisa certa, 61

    6.2.2.2 Melhoramentos, acrscimos e frutos na obrigao de dar coisa cer

    ta, 65

    6.2.2.3 Obrigaes de restituir, 65

    6.2.2.4 Responsabilidade pela perda ou deteriorao da coisa na obrigao

    de restituir, 66

    6.2.2.5 Melhoram entos, acrscimos e frutos na obrigao de restituir, 67

    6.2.2.6 Execuo da obrigao de dar coisa certa, 69

    6.2.3 Obrigaes pecunirias, 706.2.4 Obrigaes de dar coisa incerta, 74

    6.3 Obrigaes de fazer e de no fazer, 77

    6.3.1 Obrigao de fazer, 77

    6.3.2 Obrigao de dar e de fazer, 79

    6.3.3 Obrigaes de fazer fungveis e no fungveis, 80

    6.3.4 Descumprimento das obrigaes de fazer, 81

    6.3.5 Obrigaes de no fazer, 85

    6.3.6 Modo de cumprir e execuo forada da obrigao de no fazer, 86

    6.4 Obrigaes alternativas e facultativas, 88

    6.4.1 Obrigaes cumulativas e alternativas, 88

    6.4.2 Obrigao alternativa, 89

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    6.4.3 Concentrao e cumprimento da obrigao alternativa, 91

    6.4.3.1 Retratabilidade da concentrao, 95

    6.4.4 Acrscimos sofridos pelas coisas na obr igao alternativa, 96

    6.4.5 Obrigaes facultativas, 96

    6.4.5.1 Efeitos da obrigao facultativa, 98

    6.5 Obrigaes divisveis e indivisveis, 98

    6.5.1 Conceito, 98

    6.5.2 Pluralidade de credores e de devedores , 101

    6.5.3 Indivisibilidade e solidariedade, 104

    6.6 Obrigaes solidrias, 105

    6.6.1 Conceito, 105

    6.6.2 Antecedentes histricos, 106

    6.6.3 Obrigaes in solidum, 106

    6.6.4 Caractersticas e fundamento da solidariedade, 107

    6.6.5 Fontes da solidariedade, 109

    6.6.6 Solidariedade ativa, 111

    6.6.6.1 Efeitos da solidariedade ativa, 112

    6.6.6.2 Extino da solidariedade ativa, 113

    6.6.7 Solidariedade passiva, 114

    6.6.7.1 Principais efeitos da obrigao solidria, 114

    6.6.7.2 Aspectos processuais da solidariedade. A coisa julgada , 116

    6.6.7.3 Pagamento parcial, 118

    6.6.8 Extino da solidariedade, 118

    6.7 Outras modalidades de obrigaes, 120

    6.7.1 Obrigaes principais e acessrias, 120

    6.7.2 Obrigaes lquidas e ilquidas, 121

    6.7.3 Obrigaes condicionais, 123

    6.7.4 Obrigaes modais, 125

    6.7.5 Obrigaes a termo, 127

    6.8 Obrigaes de juros. Obrigaes pecunirias, 1296.8.1 Obrigaes de juros, 129

    6.8.1.1 Espcies de juros, 130

    6.8.1.2 Anatocismo, 134

    6.8.2 Obrigaes pecunirias, 135

    7 Transmisso das obrigaes, 139

    7.1 Cesso de crdito, 139

    7.1.1 Introduo. A transmissibilidade das obrigaes, 139

    7.1.2 Conceito de cesso de crdito. Afinidades, 140

    7.1.3 Posio do devedor, 142

    7.1.4 Natureza jurdica, 145

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    X Dir eito Civil Venosa

    7.1.5 Requisitos. Objeto. Capacidade e legitimao, 145

    7.1.6 Responsabilidade, 146

    7.1.7 Espcies, 147

    7.1.8 Efeitos, 148

    7.2 Assuno de dvida, 149

    7.2.1 Conceito, 149

    7.2.2 Caractersticas, 152

    7.2.3 Espcies, 152

    7.2.4 Efeitos, 154

    7.3 Cesso de posio contratual (cesso de contrato), 156

    7.3.1 Introduo, 156

    7.3.2 TYansmisso das obrigaes em geral, 158

    7.3.3 Cesso de posio contratual. Conceito, 159

    7.3.4 Natureza jurdica, 160

    7.3.5 Figuras afins, 162

    7.3.6 Campo de atuao do instituto, 164

    7.3.7 Modos de formao, 165

    7.3.8 Efeitos, 166

    7.3.8.1 Efeitos entre cedente e cessionrio, 166

    7.3.8.2 Efeitos entre cedente e cedido, 168

    7.3.8.3 Efeitos entre cessionrio e cedido, 1687.3.9 Cesso de posio contratual no direito brasileiro, 170

    8 Pagamento, 173

    8.1 Extino normal das obrigaes, 173

    8.2 Natureza jurdica do pagamento, 174

    8.3 De quem deve pagar. O soZvens, 176

    8.4 A quem se deve pagar. O accipiens, 181

    8.4.1 Credor putativo, 182

    8.4.2 Quando o pagamento feito a terceiro desqualificado ser vlido, 1848.4.3 Pagamento feito ao inibido de receber, 185

    8.5 Objeto do pagamento e sua prova, 186

    8.5.1 Prova do pagamento, 191

    8.6 Lugar do pagamento. Dvidas qurableseportables, 195

    8.7 Tempo do pagamento, 198

    9 Enriquecimento sem causa e pagamento indevido, 203

    9.1 Introduo, 203

    9.2 Enriquecimento sem causa. Contedo, 204

    9.3 Enriquecimento sem causa e pagamento indevido com o fonte de obrigaes, 205

    9.4 Tratamento da matria no direito romano, 207

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    Sumr io X

    9.4.1 A condictio indebitiy208

    9.4.2 Outras condictiones, 209

    9.4.3 Sntese do pensamento romano, 209

    9.5 Direito moderno, sistema alemo e sistema francs, 210

    9.6 Aplicao da teoria do enriquecimento sem causa no direito brasileiro, 213

    9.6.1 Requisitos do enriquecimento sem causa, 215

    9.6.2 Aplicao do instituto. A jurisprudncia brasileira, 216

    9.6.3 Objeto da restituio, 219

    9.7 Ao de in remverso, 220

    9.7.1 A subsidiariedade da ao, 223

    9.8 Sntese conclusiva do enriquecimento sem causa. Prescrio, 225

    9.9 Pagamento indevido, 227

    9.9.1 Pagamento em geral. Contedo, 227

    9.9.2 Posio da matria na lei. Fonte autnoma de obrigaes, 229

    9.9.3 Pressupostos do pagamento indevido, 230

    9.9.4 Erro do solvensy231

    9.9.5 Pagamento de dvida condicional, 233

    9.10 Casos em que aquele que recebeu no obrigado a restituir, 234

    9.10.1 Dvida prescrita e obrigao natural, 234

    9.10.2 Pagamento para fim ilcito, imoral ou proibido por lei, 235

    9.10.3 Outra hiptese de no repetio. O art. 880, 235

    9.11 Pagamento indevido que teve por objeto um imvel, 236

    9.11.1 Accipiens alienade boa-f por ttulo oneroso, 237

    9.11.2 Accipiens alienade boa-f por ttulo gratuito, 237

    9.11.3 Accipiens alienaa terceiro de m-f, 238

    9.11.4 M-f do accipiensy238

    9.11.5 Sntese, 238

    9.12 Concluso, 239

    10 Formas espedais de pagamento e extino de obrigaes, 24110.1 Pagamento por consignao, 241

    10.1.1 Interesse do devedo r em extinguir a obrigao, 241

    10.1.2 Objeto da consignao, 242

    10.1.3 Hipteses de consignao, 243

    10.1.4 Procedimento da consignao, 249

    10.2 Pagamento com sub-rogao, 254

    10.2.1 Conceito, 254

    10.2.2 Origem histrica, 256

    10.2.3 Natureza jurdica e institutos afins, 256

    10.2.4 Sub-rogao legal, 258

    10.2.5 Sub-rogao convendonal, 260

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    xii Direito Civil Venosa

    10.2.6 Efeitos da sub-rogao, 261

    10.3 Imputao de pagamento, 263

    10.3.1 Conceito, 263

    10.3.2 Requisitos, 26510.3.3 Imputao de pagam entofeitapelo devedor, 266

    10.3.4 Imputao de pagam entofeitapelo credor, 267

    10.3.5 Imputao de pagamentofeitapela lei, 268

    10.4 Dao em pagamento, 269

    10.4.1 Conceito, 269

    10.4.2 Requisitos e natureza jurdica , 271

    10.4.3 Equiparao da datio in solutum compra e venda, 272

    10.5 Novao, 273

    10.5.1 Conceito e espcies, 273

    10.5.2 Requisitos, 280

    10.5.3 Efeitos, 283

    10.6 Compensao, 285

    10.6.1 Conceito, 285

    10.6.2 Compensao em sua origem romana, 285

    10.6.3 Natureza jurdica, 286

    10.6.4 Modalidades, 287

    10.6.5 Compensao legal. Requisitos, 28810.6.5.1 Reciprocidade de crditos, 288

    10.6.5.2 Liquidez, certeza e exigibilidade, 290

    10.6.5.3 Homogene idade das prestaes, 291

    10.6.5.4 Existncia e validade do crd ito compensante, 292

    10.6.6 Obrigaes no compensveis, 292

    10.6.7 Efeitos, 295

    10.7 Transao, 296

    10.7.1 Conceito. Peculiaridades, 296

    10.7.2 Natureza contratual da transao. Caractersticas, 297

    10.7.3 Modalidades. Forma, 299

    10.7.4 Objeto, 300

    10.7.5 Capacidade para transigir. Poder de transigir, 301

    10.7.6 Efeitos da transao, 302

    10.7.7 Nulidades da transao, 304

    10.7.8 Anulabilidades da transao, 305

    10.7.9 Interpretao restritiva da transao, 306

    10.8 Compromisso, 306

    10.8.1 Conceito e utilidade, 306

    10.8.2 Natureza jurdica, 308

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    S u m ri o X i i

    10.8.3 Mediao, 309

    10.9 Confuso, 309

    10.9.1 Conceito e natureza jurdica, 309

    10.9.2 Fontes da confuso, 311

    10.9.3 Espcies, 311

    10.9.4 Efeitos, 312

    10.9.5 Requisitos, 313

    10.10 Remisso, 313

    10.10.1 Conceito. Natureza jurdica. Afinidades, 313

    10.10.2 Origem histrica, 314

    10.10.3 Espcies, 314

    10.10.4 Efeitos, 315

    10.10.5 Remisso no Cdigo C ivil de 2002, 316

    11 Crise no cumprimento da obrigao. Inadimplemento. Mora, 319

    11.1 Cumprimento da obrigao em crise, 319

    11.2 Inadimplemento absoluto e inadimplem ento relativo, 322

    11.3 Inadimplemento relativo. A mora, 324

    11.3.1 Mora do devedor, 326

    11.3.2 Efeitos da constituio em mora do devedor, 328

    11.4 Mora do credor, 329

    11.4.1 Efeitos da mora do credor, 33011.5 Purgao da mora, 332

    12 Frustrao no cumprimento da obrigao. Inexecuo. Perdas e danos, 337

    12.1 Descumprimento da obrigao, 337

    12.2 Culpa do devedor, 338

    12.2.1 Prova da culpa, 341

    12.3 Inexecuo das obrigaes sem indenizao. Caso fortuito e fora maior, 341

    12.3.1 Exonerao da excludente. A clusula de no indenizar, 342

    12.4 Indenizao. Perdas e danos, 345

    12.4.1 Dano moral, 349

    13 Clusula penal, 353

    13.1 Conceito. Natureza jurdica, 353

    13.2 Clusula penal compensatria. Clusula penal moratria, 354

    13.3 Funes da clusula penal, 360

    13.4 Exigibilidade da clusula penal, 360

    13.5 Imutabilidade, alterao e limite da clusula penal, 361

    13.6 Clusula penal e institutos afins, 365

    13.7 Clusula penal e obrigaes indivisveis, 366

    13.8 Clusula penal em favor de terceiro e assumida por terceiro, 366

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    X V Direito Civil Venosa

    14 Sinal ou arras, 367

    14.1 Conceito, 367

    14.2 Noo histrica, 369

    14.3 Arras no Cdigo Civil de 1916. Arras confirmatrias, 370

    14.4 Arras penitenciais. Funo secundria, 373

    14.5 Arras e obrigao alternativa, 374

    14.6 Arras e clusula penal, 374

    14.7 Arras no cd igo de 2002, 375

    15 Universo das relaes contratuais, 379

    15.1 Neg cio jurd ico e contrato, 379

    15.1.1 Contrato no Cdigo francs, 380

    15.1.2 Contrato no Cdigo Civil alemo e a assimilao de seu conceito, 38115.2 Antecedentes histricos, 382

    15.3 Historiddade do conceito de contrato. Sua evoluo. A chamada crise do contra

    to, 383

    15.4 Contrato no Cdigo de Defesa do Consumidor, 387

    15.5 Relao negociai alcanada pelo Cdigo de Defesa do Consumidor, 389

    16 Princpios gerais do direito contratual. Contrato de adeso. Novas manifesta-

    es contratuais, 391

    16.1 Autonom ia da vontade, 39116.2 Fora obrigatria dos contratos, 393

    16.3 Princpio da relatividade dos contratos, 393

    16.4 Princpio da boa-f nos contratos. Desdobramentos. Proibio de comportamen

    to contraditrio (venire contra factum prop rium), 394

    16.4.1 A boa-f contratual no vigente cdigo. A boa-f objetiva, 395

    16.4.2 Funo social do contrato, 397

    16.4.3 Proibio de comportamento contraditrio: venire contra factum pro-

    prium ,398

    16.5 Novas manifestaes contratuais. Contratos com clusulas predispostas, 40116.5.1 Despersonalizao do contratante, 401

    16.5.2 Contrato de adeso, 402

    16.5.3 Contrato-tipo, 405

    16.5.4 Contrato coletivo, 405

    16.5.5 Contrato coativo, 407

    16.5.6 Contrato dirigido ou regulamentado, 407

    16.6 Relaes no contratuais. Acordo de cavalheiros, 408

    17 Classificao dos contratos (I ), 411

    17.1 Necessidade do estudo da classificao dos contratos, 411

    17.2 Classificao no Direito Romano, 413

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    Sumr io XV

    17.3 Contratos unilaterais e bilaterais - classificao quanto carga de obrigaes

    das partes, 413

    17.3.1 Relevncia dessa classificao. Exceo de contrato no cumprido nos

    contratos bilaterais. Clusula resolutria nesses contratos, 416

    17.3.2 Possibilidade de renncia exceo de contrato no cumprido: clusula

    solve et repete, 420

    17.4 Contrato plurilateral, 422

    18 Classificao dos contratos (n ), 425

    18.1 Contratos gratuitos e onerosos, 425

    18.2 Contratos comutativos e aleatrios, 427

    18.2.1 Contratos aleatrios no Cd igo Civil, 428

    18.3 Contratos tpicos e atpicos - nominados e inominados, 431

    18.3.1 Contratos nominados e inominados no Direito Romano, 433

    18.3.2 Compreenso e interpretao moderna dos contratos tpicos e atpicos,

    434

    19 Classificao dos contratos (III ), 437

    19.1 Contratos consensuais e reais, 437

    19.2 Contratos solenes e no solenes - formais e no formais, 438

    19.3 Contratos principais e acessrios, 440

    19.4 Contratos instantneos e de durao, 440

    19.5 Contratos por prazo determinado e por prazo indeterminado, 441

    19.6 Contratos pessoais e impessoais, 443

    19.7 Contratos civis e mercantis, 444

    19.8 Contrato preliminar, 444

    19.9 Contratos derivados - subcontratos, 450

    19.10 Autocontrato - contrato consigo mesmo, 452

    20 Elementos do contrato, 457

    20.1 Teoria dos negcios jurdicos aplicada aos contratos, 45720.2 Vontade no plano contratual. Consentimento. A parte nos contratos, 458

    20.2.1 Conceito de parte e sua sucesso nos contratos, 459

    20.2.2 Formas de manifestao da vontade contratual. O silncio como mani

    festao, 461

    20.3 Capacidade dos contratantes, 462

    20.4 Objeto dos contratos, 463

    20.4.1 Causa e objeto dos contratos, 464

    20.4.2 Apreciao pecuniria dos contratos, 465

    20.5 Forma e prova dos contratos, 465

    20.6 Vcios da vontade contratual. Leso. Prticas abusivas no Cdigo de Defesa do

    Consumidor, 468

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    XV Direito Civil Venosa

    21 Interpretao dos contratos, 471

    21.1 Sentido da interpretao, 471

    21.2 Linhas de interpretao, 473

    21.3 Interpretao em nossa lei, 474

    21.4 Particularidades da interpretao dos contratos, 478

    21.5 Destinatrios das normas de interpretao, 478

    21.6 Aspectos e regras de interpretao, 479

    21.7 Interpretao integrativa e integrao dos contratos, 483

    22 Teoria da impreviso. Reviso dos contratos, 485

    22.1 Princpio da obrigator iedade dos contratos e possibilidade de reviso, 485

    22.2 Fundamentos da possibilidade de reviso judicial dos contratos, 486

    22.3 Justificativa para a aplicao judicial da teoria da impreviso, 48722.4 Origens histricas. A clusula rebus sic stantibusy490

    22.5 Requisitos para a aplicao da clusula, 490

    22.6 Como se opera a reviso. Efeitos, 492

    22.6.1 Solues legais. Direito comparado, 492

    22.7 Clusula de excluso da reviso judicial, 496

    23 Responsabilidade contratual, prcontratual e pscontratual, 497

    23.1 Responsabilidade contratual e extracontratual, 497

    23.2 Requisitos da responsabilidade civil, 50023.2.1 Conseqncias da responsabilidade civil, 500

    23.2.2 Requisitos da responsabilidade contratual em particular, 501

    23.3 Responsabilidade pr-contratual, 502

    23.3.1 Recusa de contratar, 502

    23.3.2 Rompimento de negociaes preliminares, 504

    23.4 Responsabilidade ps-contratual, 507

    24 Relatividade dos contratos. Efeitos com relao a terceiros, 509

    24.1 Terceiros e o contrato, 50924.2 Verdadeiros terceiros na relao contratual, 511

    24.3 Contratos em favor de terceiros, 511

    24.3.1 Natureza jurdica, 514

    24.3.2 Posio do terceiro com relao ao contrato, 514

    24.4 Contrato para pessoa a declarar, 515

    24.5 Promessa de fato de terceiro, 517

    25 Desfazimento da relao contratual. Extino dos contratos, 519

    25.1 Transitoriedade e desfazimento dos contratos. Extino, 519

    25.2 Resilio dos contratos, 521

    25.2.1 Distrato e forma, 522

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    Sumr io X V i

    25.2.2 Quitao, recibo, 524

    25.2.3 Iniciativa de um dos contratantes. Resilio unilateral, revogao, 524

    25.3 Resoluo. Clusulas resolutivas expressa e tcita, 525

    25.4 Resoluo por inexecuo involuntria, 529

    25.5 Resoluo por inadimplemento antecipado, 529

    26 Formao e concluso dos contratos, 533

    26.1 Consentimento. Vontade contratual, 533

    26.1.1 Silncio na formao dos contratos, 535

    26.2 Perodo pr-contratual. Formao da vontade contratual, 536

    26.2.1 Contratos preliminares. A opo, 538

    26.3 Oferta ou proposta, 538

    26.4 Fora vinculante da oferta, 54026.4.1 Manuteno da proposta pelos sucessores do ofertante, 541

    26.4.2 Proposta no obrigatria, 542

    26.4.3 Aceitao, 542

    26.4.4 Durao e eficcia da proposta e da aceitao. Retratao. Contratos por

    correspondncia: teorias, 542

    26.4.5 Vinculao da oferta no Cdigo de Defesa do Consumidor, 546

    26.5 Formao dos contratos por meio de informtica, 548

    26.6 Lugar em que se reputa celebrado o contrato, 551

    26.7 Contratos que dependem de instrumento pblico, 55226.8 Contratos sobre herana de pessoa viva , 552

    26.9 Impossibilidade da prestao e validade dos contratos, 553

    27 Vcios redibitrios, 555

    27.1 Obrigaes de garantia na entrega da coisa, 555

    27.2 Vcios redibitrios. Conceito, 556

    27.3 Noo histrica, 558

    27.4 Requisitos, 559

    27.5 Efeitos, 561

    27.6 Excluso da garantia em vendas sob hasta pblica, 562

    27.7 Modificaes da garantia, 563

    27.8 Prazos decadenciais no Cdigo Civil de 1916, 564

    27.8.1 Prazos decadenciais no Cdigo de 2002, 565

    27.9 Vcios ocultos segundo o Cd igo de Defesa do Consumidor, 567

    27.9.1 Decadncia e prescrio no Cdigo de Defesa do Consumidor. Vcios

    aparentes e ocultos, 570

    28 Evico, 575

    28.1 Conceito, 575

    28.2 Noo histrica, 577

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    X V i i Direito Civil Venosa

    28.3 Requisitos, 578

    28.3.1 Requisito da existncia de sentena judicial, 578

    28.4 Interveno do alienante no processo em que o adquirente demandado, 579

    28.5 Excluso da responsabilidade por evico. Reforo da garantia, 582

    28.6 Montante do direito do evicto, 583

    28.7 Evico parcial, 585

    28.8 Evico nas aquisies judiciais, 586

    29 Vontade privada e contratos administrativos, 587

    29.1 Direito privado em face do direito pblico, 587

    29.2 Contratos da administrao e contratos administrativos, 588

    29.3 Espcies de contratos administrativos, 590

    29.4 Caractersticas dos contratos administrativos, 590

    30 Arbitragem, 593

    30.1 Conceito e utilidade, 593

    30.2 Natureza jurdica, 596

    30.2.1 Mediao e conciliao, 596

    30.3 Origem histrica, 597

    30.4 Clusula compromissria. Novos rumos impostos pela lei. Execuo especfica:

    ao para instituio da arbitragem, 598

    30.4.1 Aspectos da clusula compromissria, 600

    30.4.2 Procedimentos para execuo especfica da clusula compromissria,

    603

    30.5 Modalidades, 605

    30.6 Requisitos do compromisso. Autorizao para decidir por equidade, 606

    30.7 Dos rbitros, 608

    30.8 Do procedimento arbitrai, 610

    30.9 Da sentena arbitrai, 612

    30.9.1 Nulidade da sentena arbitrai, 615

    30.10 Sentenas arbitrais estrangeiras, 61730.11 Extino do compromisso, 620

    Bibliografia, 621

    ndice remissivo,631

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    Introduo ao Direito dasObrigaes

    1.1 Posio da Obrigao no Campo Jurdico

    O Direito situa-se no mundo da cultura, isto , dentro da realidade das realizaes humanas. Antepe-se ao mundo da cultura, que o universo do dever-ser,

    um mundo do ideal, ao mundo do ser, que o mundo da natureza, das equaes

    matemticas (Venosa, Direito civil: parte geral, Cap. 1; a respeito da viso tripar-

    tida da realidade: mundo da natureza, mundo dos valores e mundo da cultura).

    Por outro lado, o mundo da cultura vale-se de outra dimenso da realidade que

    nos cerca, que o mundo dos valores: por meio da valorao de cada conduta

    humana, atingimos o campo do Direito.

    Direito o ordenamento das relaes sociais. S existe Direito porque h so

    ciedade (ubi societas, ibi ius).Assim, em princpio, para um nico homem isoladoem uma ilha, existir o Direito, porm, no momento em que esse homem receba a

    visita de um semelhante. Isto porque, no mais estando o indivduo s, ir relacio

    nar-secom o outro homem, e essa relao jurdica. Essa exemplificao histrica

    hoje j no pode ser peremptria, pois mesmo o indivduo solitrio em uma ilha,

    sabendo que existem outros indivduos no universo, deve preservar os valores e

    recursos ambientais. Desse modo, em sociedade, nos mltiplos contatos dos ho

    mens entre si, relacionam-se, pois uns dependem dos outros para sobreviver.

    Pois bem, dentro da sociedade (e at mesmo fora dela, embora no seja esse

    o enfoque que aqui se queira dar), o homem atribui valor a tudo o que o circunda.O homem que tem sede dar valor maior gua; o homem que no tem teto dar

    valor maior morada; o homem abastado, a quem essas necessidades bsicas no

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    2 Direito Civil Venosa

    afligem, dar valor maior qui ao lazer, ao esporte, aos contatos profissionais

    etc. Ora, tais valores, isoladamente considerados, ainda se apresentam de forma

    esttica; contudo, servem de estmulo para que o homem sedento procure gua;

    para que o homem sem teto procure abrigo; para que o abastado procure algo

    mais dentro de sua escala de valores.

    A relao jurdica estabelece-se justamente em funo da escala de valores

    do ser humano na sociedade. A todo momento, em nossa existncia, somos esti

    mulados a praticar esta ou aquela ao em razo dos valores que outorgamos s

    necessidades da vida: trabalhamos, compramos, vendemos, alugamos, contra

    mos matrimnio etc.

    Em palavras singelas, eis a descrita a relao jurdica: o liame que nos une

    a nosso semelhante, ou a uma pessoa jurdica ou ao Estado e que pode tomar

    mltiplas facetas.A obrigao, no sentido que ora se examina, consiste numa relao jurdica.

    Ningum, em sociedade, prescinde desse instituto. A todo instante em nossa vida,

    por mais simples que seja a atividade do indivduo, compramos ou vendemos,

    alugamos ou emprestamos, doamos ou recebemos doao. Existe, portanto, um

    estmulo, gerado por um valor, para que seja por ns contrada uma obrigao.

    H um impulso que faz com que nos comprometamos a fazer algo em prol de

    algum, recebendo, na maioria das vezes, algo em troca.

    Ao mesmo tempo que esse estmulo nos impulsiona a obter algo, como no

    caso de passarmos diante de uma vitrina e sermos levados a adquirir a mercado

    ria a exposta, o fato de partirmos para a relao jurdica objetivada faz tambm

    com que exista limitao a nossa prpria liberdade. Isto porque, no caso descrito,

    se adquirirmos a mercadoria que nos atrai, teremos de despender certa quantia,

    a qual, certamente, poderia ser destinada a outras atividades, talvez at mais

    necessrias.

    Do sopesamento do estmulo e da limitao psquica que sofremos nasce a

    noo essencial de obrigao. E o estmulo e a limitao psquica que traaro o

    perfil do homem equilibrado, pois, exacerbando-se um ou outro elemento, socio

    logicamente falando, o indivduo desequilibra-se e, consequentemente, tambm

    seu patrimnio.

    Dentro desse contexto, podem ser tratadas da mesma forma as obrigaes de

    cunho no jurdico, como as obrigaes morais, religiosas, ou de cortesia. Sobre

    esse tema discorremos em nossa obra Introduo ao estudo do direito: primeiras

    linhas, por esta mesma editora.

    Todavia, o que diz respeito a nosso exame a obrigao jurdica, aquela

    protegida pelo Estado, que lhe d a garantia da coero no cumprimento, que

    depende de uma norma, uma lei, ou um contrato ou negcio jurdico, enfim.Destarte, por trs do estmulo e da limitao, na atividade do agente, existe

    um ordenamento total subjacente.

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    In t roduo ao D i re ito das Obr igaes 3

    Em toda obrigao, portanto, existe a submisso a uma regra de conduta. A

    relao obrigacional recebe desse modo a proteo do Direito.

    Sob esses aspectos, a teoria geral das obrigaes representa ponto fundamen

    tal que desdobra o campo do Direito Civil e espraia-se pelos diversos caminhosdo Direito. no direito obrigacional que posicionamos um problema fundamen

    tal: de um lado, a liberdade do indivduo, sua autonomia em relao aos demais

    membros da sociedade e, de outro lado, a exigncia dessa mesma sociedade ao

    entrelaamento de relaes, que devem coexistir harmonicamente.

    A sociedade no pode subsistir sem o sentido de cooperao entre seus mem

    bros, pois, no corpo social, uns suprem o que aos outros falta. Essa necessidade

    de cooperao faz nascer a imperiosa necessidade de contratar,negociar. Os mem

    bros da sociedade vinculam-seentre si. Esse vnculo, percebido nos primrdios do

    Direito Romano, tinha cunho eminentemente pessoal, incidia diretamente sobrea pessoa do devedor, a tal ponto que este podia ser convertido em escravo, caso

    no cumprisse o prometido. Tal serve para demonstrar claramente que, se hoje o

    vnculo obrigacional psicolgico, j houve tempo na Histria em que o vnculo

    foi material.

    A economia de massa cria o contrato dirigido ao consumidor, um negcio

    jurdico geralmente com clusulas predispostas, nica forma de viabilizar a nova

    realidade de consumo, em que no dado ao contratante discutir livremente as

    clusulas. Entre ns, o Cdigo de Defesa do Consumidor (Lei nQ8.078, de 11-9-

    1990) instituiu um microssistema jurdico dirigido a essas relaes jurdicas deconsumo que hoje dominam as relaes negociais.

    No , porm, unicamente o estmulo criativo do homem que faz nascer a

    obrigao. Como examinaremos no Captulo 5, h obrigaes que surgem de

    situaes jurdicas de desequilbrio patrimonial injustificado, em que a vontade

    desempenha papel secundrio: o enriquecimento sem causa em geral. Por vezes,

    dentro desse crculo maior do injusto enriquecimento, ocorre um pagamento in

    devido, que gera a obrigao de restituir.

    Por vezes, a vontade no atua no sentido precpuo de criar uma obrigao,

    mas no de ocasionar intencionalmente um dano, com conseqente prejuzo. Nasce a obrigao de reparar o dano, de pagar indenizao. Tambm pode ocorrer

    que a vontade no atue diretamente a fim de criar um dever de indenizar, mas a

    conduta do agente, decorrente de negligncia, imprudncia ou impercia, culpa

    no sentido estrito, ocasiona um dano indenizvel no patrimnio alheio.

    No bastasse esse quadro, perfeitamente caracterizado no direito privado, o

    indivduo, inserido no ordenamento do Estado, tem obrigaes para com ele. O

    Estado, para a consecuo de seus fins, impe que determinados fatos originem

    obrigao de solver tributos, possibilitando meios financeiros Administrao. A

    obrigao tributria decorre do poder impositivo do Estado, embora subjacente-mente sempre haja uma vontade ou atividade inicial do contribuinte, direta ou

    indireta, que a impulsiona.

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    4 Dire i to Civil Venosa

    Aqui, nesta introduo, no pretendemos uma compreenso estritamente

    tcnica do fenmeno obrigacional. Procuramos, por ora, to s uma posio

    de conhecimento prvio que permita doravante o exame da obrigao e suas

    vicissitudes.

    Como se nota, nosso estudo ocupar-se- com as obrigaes jurdicas, no

    com todas dessa natureza, mas to s com as que dizem respeito ao ttulo parti

    cular e consagrado de Direito das Obrigaes . A todo direito corresponde uma

    obrigao, um dever. Em nosso estudo neste livro, porm, no nos ocuparemos

    das obrigaes decorrentes do Direito de Famlia e de seus respectivos deveres. A

    palavra obrigao,como vem tratada no ttulo desta obra, recebeu um contedo

    tcnico e restrito, de modo que sua acepo estrita d perfeitamente o conheci

    mento de seu alcance. nesse sentido estritamente tcnico, como um conjunto

    de normas reguladoras de determinadas relaes jurdicas, que a dico apareceno Livro I da Parte Especial do Cdigo Civil de 1916, ocupando os arts. 863 ss:

    Do Direito das Obrigaes.Com o mesmo significado, o atual Cdigo mantm a

    expresso (arts. 233 ss).

    Sob o prisma didtico, o Direito das Obrigaes ocupa destaque fundamental

    no estudo do Direito, porque seus lineamentos fundamentam no s o Direito

    Civil, mas tambm todo o aspecto estrutural de nossa cincia. Como sintetiza

    magnificamente Fernando Noronha,

    o Direito das Obrigaes disciplina essencialmente trs coisas: as relaes de

    intercmbio de bens entre as pessoas e de prestao de servios (obrigaes

    negociais), a reparao de danos que umas pessoas causem a outras (res

    ponsabilidade civil em geral, ou em sentido estrito ) e, no caso de benefcios

    indevidamente auferidos com o aproveitamento de bens ou direitos de outras

    pessoas, a sua devoluo ao respectivo titu lar (enriquecimento sem causa)

    (2003:8).

    1.2 Definio

    absolutamente clssica a definio das Institutosde Justiniano: obligatio est

    juris vinculum, quo necessitate adstringimur alicujus solvendae rei, secudum nostrae

    civitatis jura (Liv. 3Q, Tt. XIII) (a obrigao um vnculo jurdico que nos obriga

    a pagar alguma coisa, ou seja, a fazer ou deixar de fazer alguma coisa).

    Embora brilhantemente concisa e elegante a definio, de notar que ela se

    presta a todo tipo de obrigao jurdica e no apenas no sentido restrito do Direi

    to das Obrigaes. As obrigaes so, no geral, apreciveis em dinheiro. Ademais,a definio clssica ressalta em muito a figura do devedor, o lado passivo da obri

    gao, no se referindo ao lado ativo, credor.

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    In t roduo ao D i re ito das Obr igaes 5

    Nosso Cdigo Civil no apresenta definio de obrigao, no que andou bem,

    pois o conceito intuitivo e no cabe, como regra geral, ao legislador definir.

    Clvis Bevilqua (1977:14) assim a define:

    obrigao a relao transitria de direito, que nos constrange a dar, fazer

    ou no fazer alguma coisa, em regra economicamente aprecivel, em proveito

    de algum que, por ato nosso ou de algum conosco juridicamente relacio

    nado, ou em virtude da lei, adquiriu o direito de exigir de ns essa ao ou

    omisso.

    Sem dvida, qualquer definio se apresentar passvel de crticas, pois se

    trata de tarefa bastante difcil.

    Washington de Barros Monteiro (1979, v. 4:8 ) entende lacunosa a definio

    de Bevilqua por no aludir ao elemento responsabilidade, aduzindo que esse

    fator entra em jogo no caso de descumprimento da obrigao e apresenta a se

    guinte definio:

    obrigao a relao jurdica, de carter transitrio, estabelecida entre de

    vedor e credor e cujo objeto consiste numa prestao pessoal econmica, posi

    tiva ou negativa, devida pelo primeiro ao segundo, garantindo-lhe o adimple-

    mento atravs de seu patrim nio.

    Mais sinteticamente, podemos conceituar obrigao como uma relao ju r dica transitria de cunho pecunirio, unindo duas (ou mais) pessoas, devendo uma(o devedor) realizar uma prestao outra (o credor). A responsabilidade que

    aflora no descumprimento, materializando-se no patrimnio do devedor, quer-

    -nos parecer que no integra o mago do conceito do instituto, embora seja fator

    de vital importncia.

    Qualquer definio que tentemos apresentar elementos constantes, mais ou

    menos realados, ainda que implicitamente.

    Assim, a obrigao relao jurdica.O Direito Romano j realava o vn

    culo que, nos tempos de antanho, incidia pessoalmente sobre o devedor. J seacentua essa relao que une duas ou mais pessoas. Qualificando comojurdica

    a relao, afastam-se todas as demais relaes estranhas ao Direito, tais como

    as obrigaes morais e religiosas, que so desprovidas de sano, escapando ao

    manto da lei, embora sejam reconhecidos pelo Direito alguns relacionamentos

    de ndole acentuadamente moral. Washington de Barros Monteiro (1979, v. 4:8)

    recorda a ingratido do donatrio que pode ocasionar a revogao da doao

    (arts. 555 ss).

    A obrigao possui carter transitrio,porque essa relao jurdica nasce com

    a finalidade nsita e precpua de extinguir-se. A obrigao visa a um escopo, maisou menos prximo no tempo, mas que, uma vez alcanado, extingue-a. Aqui, j

    se antev uma das distines do Direito obrigacional, do Direito real, porque este

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    6 Direito Civil Venosa

    tem carter de permanncia regido e dominado que pelo conceito de proprie

    dade. Uma vez satisfeito o credor, quer amigvel, quer judicialmente, a obrigao

    deixa de existir. Atinge-se a soluo da obrigao e o vnculo desaparece. No

    pode existir obrigao perene. Por mais longas que sejam as obrigaes, um dia

    elas se extinguiro. A obrigao , portanto, efmera, embora possa ser bastante

    dilatada no tempo.

    Essa relao jurdica, esse vinculo, une duas ou mais pessoas.Credor e deve

    dor so os dois lados da obrigao, do ponto de vista ativo e passivo. Ressalta

    mos aqui a pessoalidade do vnculo. Antepomos esse direito pessoal aos direitos

    reais, que so oponveis contra todos (erga omnes).Como j lembramos, na an

    tiga Roma esse vnculo surgiu com tamanha intensidade que incidia diretamen

    te sobre a pessoa do devedor, que, no descumprimento da obrigao, poderia

    tomar-se escravo.

    O objeto da obrigao traduz-se numa atividadedo devedor, em prol do cre

    dor. Essa atividade aprestao.Pode ser um ato ou um conjunto de atos, uma

    conduta, enfim, de aspecto positivo ou negativo, uma vez que a prestao poder

    ser simples absteno. Destarte, a obrigao poder ser no s positiva, como

    numa compra e venda, em que o vendedor entregar a coisa e o comprador pa

    gar com dinheiro, como tambm negativa, como no caso de dois vizinhos lim

    trofes comprometerem-se a no levantar muro entre seus dois imveis.

    Observe, no entanto, que o patrimnio do devedor que responde, em ltima

    anlise, pelo adimplemento. Passada a fase da Antiguidade na qual o vnculo eraestritamente pessoal, sobre o patrimnio que vai recair a satisfao do credor.Mesmo quando a obrigao personalssima, como, por exemplo, a contratao

    de artista para pintar um retrato, no podemos obrig-lo a cumprir o contratado,

    por atentar contra a dignidade humana. A questo se resolver em perdas e danos porque, em razo da contratao de matiz exclusivamente pessoal, o credor

    no aceitar nenhum outro artista para realizar a prestao.

    Cumpre realar, primordialmente, o cunho pecunirioda obrigao. O objetoda obrigao resume-se sempre a um valor econmico. A obrigao que no te

    nha essa colorao poder, verdade, ser jurdica, mas no se insere no contextodo Direito das Obrigaes que ora estudamos. A propsito, no Direito de Famlia

    encontraremos obrigaes sem contedo econmico. O Direito das Obrigaes ,portanto, essencialmente patrimonial.

    O vocbulo obrigaoainda pode ganhar duas outras conotaes separadasdo sentido prprio que estamos tratando, mas com ele correlatas. H um sentidomais geral, quando o termo designa tudo o que a lei ou mesmo a moral determina

    a uma pessoa, sem que haja propriamente um credor: , por exemplo, a obrigaode servir s Foras Armadas; a obrigao de o proprietrio respeitar os regulamentos administrativos em relao a seu imvel etc. Num sentido mais restrito,

    nos meios financeiros, a palavra obrigaodesigna um ttulo negocivel, nominativo ou ao portador, representando para seu titular um crdito. de emisso de

    uma instituio particular ou rgo pblico, como as Obrigaes do Tesouro.

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    In t roduo ao D i re ito das Obr igaes 7

    1.3 Distino entre Direitos Reais e Direitos Pessoais

    J foi dito que o direito obrigacional um direito pessoal, pois sua nsita re

    lao jurdica vincula somente duas (ou mais) pessoas. Os direitos reais, que tm

    sua maior expresso no direito de propriedade, incidem diretamente sobre a coisa.

    Como se nota, ambos os campos enfocados possuem um contedo patrimonial.

    Importa apresentar, ainda que sucintamente, por que o direito real no

    objeto desta obra, as principais distines entre os direitos obrigacionais, direitos

    pessoais (jus ad rem) e os direitos reais ( ius inre):

    1. O direito real exercido e recai diretamente sobre a coisa, sobre um

    objeto fundamentalmente corpreo (embora ocorra tambm titularida

    de sobre bens imateriais), enquanto o direito obrigacional tem em mira

    relaes humanas. Sob tal aspecto, o direito real um direito absolu

    to, exclusivo, oponvel perante todos (erga omnes), enquanto o direito

    obrigacional relativo, uma vez que a prestao, que seu objeto, s

    pode ser exigida ao devedor.

    2. Portanto, como conseqncia, o direito real no comporta mais do que

    um titular (no se confunda, contudo, com a noo de condomnio,

    em que a propriedade sob esse aspecto continua a ser exclusiva, mas

    de vrios titulares). Esse titular exerce seu poder sobre a coisa objeto

    de seu direito de forma direta e imediata. O direito obrigacional com

    porta, como j exposto, um sujeito ativo, o credor, um sujeito passivo,

    o devedor, e a prestao, o objeto da relao jurdica. Nesse sentido,

    pode ser afirmado que o direito real atributivo, enquanto o direito

    obrigacional cooperativo.

    3. O direito real aquele que concede o gozo e a fruio de bens. O di

    reito obrigacional concede direito a uma ou mais prestaes efetuadas

    por uma pessoa.

    4. O direito obrigacional, como j visto, tem carter essencialmente transi

    trio. O direito real tem sentido de inconsumibilidade, de permanncia.5. O direito real, como corolrio de seu carter absoluto, possui o cha

    mado direito de seqela: seu titular pode perseguir o exerccio de seu

    poder perante quaisquer mos nas quais se encontre a coisa. O direito

    pessoal no possui essa faceta. O credor, quando recorre execuo

    forada, tem apenas uma garantia geral do patrimnio do devedor, no

    podendo escolher determinados bens para recair a satisfao de seu

    crdito.

    6. Os direitos reais no so numerosos, so numerus clausus, nmero fe

    chado, isto , so s aqueles assim considerados expressamente pelalei. So facilmente enunciveis. J os direitos obrigacionais apresen

    tam-se com um nmero indeterminado. As relaes obrigacionais so

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    8 Direito Civil Venosa

    infinitas, as mais variadas, e as necessidades sociais esto, sempre e

    sempre, criando novas frmulas para atend-las.

    Outras diferenas, no to palpveis, poderiam ser enunciadas, porm im

    portante acentuar que no Direito das Obrigaes, baluarte do Direito privado,que se encontra a maior amplitude da autonomia da vontade.

    Em que pesem as diferenas, no h antagonismo nas duas categorias. As

    duas classificaes no se distanciam a ponto de no se tocarem. So muitos os

    pontos de contato entre os direitos obrigacionais e os direitos reais, que se en

    trelaam e se cruzam frequentemente. Muitas vezes, a obrigao tem por escopo

    justamente adquirir a propriedade ou qualquer outro direito real. exatamente

    essa a finalidade do contrato de compra e venda. No se trata, pois, de dois com

    partimentos estanques. H mesmo, como em tudo no Direito, uma zona interme

    diria em que a distino ser difcil.

    Por vezes, os direitos reais utilizam-se como verdadeiros acessrios de direi

    tos obrigacionais. o que sucede nas garantias reais (penhor e hipoteca), que

    surgem em razo de uma obrigao contrada pelo devedor, o qual, em caso de

    insolvncia, estar com seu bem onerado para garantia do credor.

    Doutro lado, o direito obrigacional, por vezes, pode estar vinculado a um

    direito real, como o caso das obrigaes propter rem ou reipersecutrias, das

    quais nos ocuparemos mais adiante. Aqui, a linha divisria entre os dois direitos

    bastante tnue.

    1.4 Importncia do Direito das Obrigaes

    O estudo do Direito das Obrigaes, seguindo inclusive a estrutura de nosso

    Cdigo Civil, compreende parte de conceitos gerais e parte de particularizaes.

    Na Parte Geral das obrigaes, que objeto agora de nosso estudo, fixam-se os

    princpios a que esto subordinadas todas as obrigaes. So estudados o nasci

    mento, as espcies, o cumprimento, a transmisso e a extino das obrigaes.Na Parte Especial, so vistas as obrigaes em espcie, pontificando os contratos,

    sujeitando-se cada uma delas a disciplina especfica, mas sob o manto da parte

    geral. Nesta primeira parte de nosso estudo, nos ocuparemos desses princpios

    gerais de conhecimento indispensvel, porque aplicveis a todas as espcies de

    obrigaes, mesmo porque muitas relaes obrigacionais surgem sem estar es

    pecificamente disciplinadas na lei. So, por exemplo, os contratos atpicos, que

    se subordinam, fundamentalmente, aos princpios gerais. As relaes tpicas so

    reguladas pela parte especial, em geral como normas supletivas.

    A importncia das obrigaes revela-se por ser projeo da autonomia privada no Direito. Ao contrrio dos direitos reais, as relaes obrigacionais so infi

    nitas, podendo ser criadas de acordo com as necessidades individuais e sociais.

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    In t roduo ao D i re ito das Obr igaes 9

    Esto presentes desde a atividade mais simples at a atividade mais complexa da

    sociedade. So reguladas pelo direito obrigacional tanto a mais comezinha com

    pra e venda, quanto a mais complexa negociao.

    O Direito das Obrigaes d o suporte econmico da sociedade, porque pormeio dele que circulam os bens e as riquezas e escoa-se a produo. Segundo

    Orlando Gomes (1978:10), cada vez mais, no mundo contemporneo, avulta

    a importncia dos patrimnios constitudos quase exclusivamente de ttulos de

    crdito, que so obrigaes.

    Na sociedade de consumo, h tendncia crescente de pulverizao das relaes obrigacionais. A todo momento, a publicidade e a propaganda esto incen

    tivando o consumo. Da necessidade mais premente ao fator mais suprfluo, o

    homem est sempre consumindo e para isso estar socorrendo-se do Direito das

    Obrigaes. Em todas as atividades, da produo distribuio de bens e servios, imiscui-se o direito obrigacional.

    Nossa legislao de proteo ao consumidor, embora tenha institudo um

    microssistema jurdico, no pode deixar de ter como substrato fundamental os

    conceitos tradicionais do direito obrigacional.

    1.5 Evoluo da Teoria das Obrigaes

    Autores dos sculos passados tinham tendncia de considerar a teoria geral dasobrigaes como imutvel, tal como o Direito natural (cf. Weill e Terr, 1975:9).

    Repetia-se, com nfase, que as obrigaes representavam a parte imutvel do Direi

    to, parecendo que suas regras principais eram verdades universais e eternas, como

    as regras da geometria e da matemtica (cf. Planiol e Ripert, 1937:60).

    Sem dvida, h elementos na teoria que podem ser considerados como de

    Direito natural, de acordo com a base de sua filosofia, ligados s necessidades es

    senciais do homem e a princpios de moral. A efetivao, porm, desses princpios

    varia e evolui, conforme os fatores tempo e espao.

    Embora a parte das obrigaes seja a que nos foi legada do Direito Romano

    de forma mais estvel, pois o direito de famlia e das sucesses, assim tambm

    de certa forma o direito das coisas, ficaram presos a velhas instituies, preci

    samos ver que houve profunda evoluo dentro das vrias fases do Direito que

    nos serviu de base. No Direito Romano, portanto, a teoria das obrigaes sofreu

    profunda evoluo.

    O antigo ius civileconhecia apenas os contratos reais ou formais. O simplespacto convencional no provia ao na justia. O formalismo e os parcos limites

    desse sistema foram atenuados pelo direito pretoriano e constituies imperiais.

    Foi criada uma teoria para os contratos inominados e para os simples pactos, masjamais foi admitido completamente que os contratos pudessem ser puramente

    consensuais.

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    1 0 Dire i to Civi l Venosa

    Como j se acenou, no tocante execuo das obrigaes, como o vnculo in

    cidia sobre a pessoa do devedor, a substituio para fazer recair a execuo sobre

    os bens parece ter sido lenta e ditada pelas necessidades da evoluo da prpria

    sociedade romana. A princpio, a sano do nexum, velho contrato do direito quiri-

    trio, era a manus iniectio, que, pela falta de adimplemento, outorgava ao tradens

    o direito de lanar mo do devedor. A lei Papiria Poeteliado sculo IV a.C. supri

    miu essa forma de execuo, a qual, tudo indica, j estava em desuso na poca.

    A teoria das obrigaes que imperou na Europa, na Idade Mdia, derivava de

    costumes germnicos. A autonomia da vontade era reduzida e os contratos eram

    bastante formais. A responsabilidade pelo descumprimento confunde-se com a

    vingana privada e com a responsabilidade penal (cf. Weill e Terr, 1975:10).

    Com o renascimento dos estudos romansticos nos sculos X e XI, volta luz

    a legislao romana, que se mostrava superior aos direitos locais, ento empregados como direito positivo. No nos esqueamos, tambm, da influncia da Igreja,

    que pesou decisivamente para que princpios de ordem moral fossem acolhidos

    no Direito. Passa a ter influncia o princpio da palavra dada nos contratos, pre

    parando terreno para que, no sculo XVI, suija a regra da fora obrigatria dos

    contratos, inserida na codificao napolenica, fruto de toda uma escola jurdica,

    denominada exegtica. Veja o que falamos a respeito dessa particularidade em

    nossa obra Introduo ao estudo do direito: primeiras linhas.

    Recebemos essa influncia da legislao francesa, inspirada no liberalismo.

    O Cdigo Civil de 1916, criado no sculo XIX e preso s inspiraes filosficasde seu tempo, apresenta princpios que hoje so postos em choque perante o

    constante intervencionismo do Estado e a publicizao do Direito privado, re

    querendo muita argcia do aplicador da lei, que deve acompanhar a evoluo de

    sua poca. No resta dvida de que o Cdigo revogado era de inspirao liberal,

    aplicando-se modernamente em sociedade que sofre por demais o intervencio

    nismo do Estado. Como no Direito das Obrigaes que reside o grande baluarte

    da autonomia da vontade, cabe aos julgadores no esquecer esse aspecto, como

    razo da prpria existncia do Direito privado. H que se encontrar um meio-ter

    mo, o que procurou fazer o Projeto de 1975, que redundou no Cdigo de 2002,entre o esprito liberal do Cdigo, que d confiana ao indivduo e sua vontade, e

    a corrente social que, sob o manto da justia social e das necessidades modernas

    de produo, procura inserir o indivduo numa disciplina coletiva.

    1.6 Posio do Direito das Obrigaes no Cdigo Civil e em seuEstudo

    O Direito das Obrigaes trata de direitos de ndole patrimonial e constituia matria do Livro I da Parte Especial do Cdigo Civil. Em outras legislaes,

    como na alem, por exemplo, as obrigaes so tratadas logo aps a parte geral

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    In t roduo ao D i re i to das Obr igaes 11

    do Cdigo, pois seu conhecimento e tcnica influem em todos os campos do di

    reito, no prescindindo o direito das coisas, de famlia e das sucesses de seus

    princpios. Tal ocorre porque, como j visto, o Direito obrigacional ilustrado

    pela autonomia da vontade, sendo a parte mais terica, racional e abstrata da

    legislao civil.

    Por outro lado, em virtude de as obrigaes evolurem muito rapidamente

    em razo das necessidades contemporneas, a estrutura de seu Direito, ainda que

    tradicional e clssica, deve adaptar-se, pelo trabalho dos tribunais, s enormes

    mudanas sociais.

    Uma vez conhecidos os princpios gerais, mormente atinentes ao negcio

    jurdico, personalidade e prescrio, tais princpios vo orientar toda aparte

    especial, assim tratada no Cdigo. E o Direito das Obrigaes, justamente pe

    los caractersticos apontados, que possui mais estreita relao com os conceitos fundamentais do Direito Civil. Os outros campos do Direito Civil dependem

    desses conceitos obrigacionais. A propsito, assim se manifesta Orlando Gomes

    (1978:11):

    A principal razo dessa prioridade de ordem lgica. O estudo de vrios

    institutos dos outros departamentos do Direito Civil depende do conhecimento de conceitos e construes tericos doDireito das Obrigaes, tanto mais

    quanto ele encerra, em sua parte geral, preceitos que transcendem sua rbita

    e se aplicam a outras sees do Direito Privado. Natural, pois, que sejam

    apreendidos primeiro que quaisquer outros. Mais fcil se toma, assim, a ex

    posio metdica.

    H, contudo, posio dos que entendem que a prioridade deva ser dada primeiramente ao Direito de Famlia, seguindo a ordem do Cdigo, que trata da ma

    tria logo aps aparte geral;levam em conta a estreita vinculao da famlia comos conceitos da personalidade. Outros, como Clvis Bevilqua, entendem que osdireitos reais devem ter precedncia no estudo, por ser a noo de propriedade

    intuitiva. No resta dvida, porm, de que o Direito das Obrigaes, guardando

    os princpios de abstrao e generalidade, independe dos outros ramos daparteespeciale, principalmente tendo em vista o aspecto didtico, seu exame deve suceder imediatamente ao estudo daparte geral.No obstante isso, a localizao damatria no Cdigo Civil irrelevante, porque esse posicionamento no impede aharmonizao do conjunto, embora seja de convenincia lgica que a matria ora

    tratada venha em seguida parte geral.

    Seguindo essa tendncia, o Cdigo Civil de 2002 j insere o Direito das Obri

    gaes logo aps a Parte Geral,no Livro I da Parte Especial, a partir do art. 233.

    Por outro lado, no h razo ontolgica para diferenciao no direito ora

    tratado entre obrigaes civis e obrigaes comerciais. A dicotomia do sistema doCdigo antigo reflete-se principalmente em razo das pocas distintas de elabo

    rao legislativa nos dois campos. O Cdigo Civil deste sculo revoga expressa

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    1 2 Dire i to Civi l Venosa

    mente a parte primeira do Cdigo Comercial (art. 2.045). Tanto no Direito Civil,

    como no Direito Comercial, a estrutura bsica a mesma, a que nos chegou do

    Direito Romano. nesse campo que se realiza mais facilmente a unificao do Di

    reito Civil e do Direito Comercial, tendo diversos pases elaborado uma legislao

    nica sobre a matria, como o caso da Sua, que apresenta um Cdigo de Obri

    gaes destacado do Cdigo Civil. Houve tentativas em nosso pas para que isso

    ocorresse, mas optou-se por inserir a matria no bojo do corrente Cdigo Civil.

    Tambm no campo internacional, a matria das obrigaes apresenta-se comoterreno favorvel unificao. Aps a Primeira Guerra Mundial, elaborou-se um

    projeto de Cdigo de Obrigaes comum para a Frana e para a Itlia. O projeto

    foi apresentado em 1928, mantendo-se fiel tradio jurdica comum dos dois

    pases. No foi, no entanto, adotado por qualquer dessas naes, embora muitas

    de suas disposies tenham sido adotadas pelo Cdigo Civil italiano, revisto em

    1942. No h dvida, contudo, de que a unificao internacional do Direito obri

    gacional se mostrar til para servir segurana do comrcio que hoje cada vez

    mais se internacionaliza, surgindo da necessidade de princpios uniformes.

    A criao de organismos supranacionais, como a unio europeia, por exem

    plo, faz surgir diretivas a serem aplicadas por todos os Estados-membros, numa

    preparao de um futuro cdigo civil internacional.

    De qualquer modo, o carter universal e abstrato do Direito das Obrigaes

    fez com que se mantivesse a estrutura romanstica at o presente. No obstante

    esse perfil, superou-se a ideia do aspecto personalssimo e intransfervel da obrigao romana, permitindo-se a transferncia das obrigaes e, com a socializao

    do Direito privado, muitos institutos clssicos foram modificados e, hoje, surgem

    sob novas roupagens.

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    Estrutura da Relao Obrigacional

    2.1 Introduo

    Pelo que se percebe da definio de obrigao, estrutura-se ela pelo vnculoentre dois sujeitos, para que um deles satisfaa, em proveito do outro, determi

    nada prestao.

    Destarte, o sujeito ativo, o credor, tem umapretensocom relao ao devedor.

    Na obrigao, no existe um poder imediato sobre a coisa. Preliminarmente, o

    interesse do credor que o devedor, sujeito passivo, satisfaa, voluntria ou coa-

    tivamente, a prestao. A sujeio do patrimnio do devedor s vai aparecer em

    uma segunda fase, na execuo coativa, com a interveno do poder do Estado.

    A existncia de pelo menos dois sujeitos essencial ao conceito de obrigao.A possibilidade de existir o chamado contrato consigo mesmo no desnatura a

    bipolaridade do conceito de obrigao, pois continuam a existir no instituto dois

    sujeitos na estrutura da obrigao. Oportunamente, voltaremos a esse assunto.

    O objeto da relao obrigacional aprestaoque, em sentido amplo, cons

    titui-se numa atividade, numa conduta do devedor. Nesse diapaso, importa no

    confundir a prestao, ou seja, a atividade do devedor, em prol do credor, que

    se constitui no objeto imediato da obrigao. Em um contrato de mandato, por

    exemplo, o objeto imediato da prestao a execuo de servios, atos ou ativi

    dades do mandatrio em nome do mandante.H, outrossim, tambm, um objeto mediatona prestao, que nada mais

    nada menos que o objeto material ou imaterial sobre o qual incide a prestao.

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    1 4 Direito Civil Venosa

    No contrato de mandato, no exemplo apresentado, o objeto mediato da presta

    o so os prprios servios ou a prpria atividade material desempenhada pelo

    mandatrio, como a assinatura de uma escritura, a quitao dada etc. Orlando

    Gomes (1978:23) prende-se ao exemplo do comodato:

    "O objeto da obrigao especifica de um comodatrio o ato de restitui

    o da coisa ao comodante. O objeto dessa prestao a coisa emprestada,

    seja um livro, uma joia, ou um relgio. Costuma-se confundir o objeto da

    obrigao com o objeto da prestao, fazendo-se referncia a este quando se

    quer designar aquele, mas isso s se permite paraabreviar a frase. Tecnica

    mente, so coisas distintas.

    H portanto uma distino entre objeto mediato e imediato na obrigao,

    distino que no possui maior utilidade prtica.

    Assim, uma vez conhecida a noo de obrigao, importante analisar a

    estrutura da relao obrigacional, isto , decomp-la em seus elementos constitu

    tivos, saber como se articulam entre si e, finalmente, como funciona todo sistema

    obrigacional.

    Embora exista discrepncia entre os autores, a obrigao decompe-se, fun

    damentalmente, em trs elementos: sujeitos, objetoe vinculo jurdico.Passemos a

    focalizar cada um deles.

    2.2 Sujeitos da Relao Obrigacional

    A polaridade da relao obrigacional apresenta, de um lado, o sujeito ati

    vo (credor) e, de outro, o sujeito passivo (devedor). Podero ser mltiplos os

    sujeitos ativos e passivos. O sujeito ativo tem interesseem que a prestao seja

    cumprida. Para que a tutela de seu direito protegido tenha eficcia, o credor pode

    dispor de vrios meios que a ordem jurdica lhe concede. Assim, pode o credor

    exigir o cumprimento da obrigao (art. 331) ou a execuo, que sua realizaocoativa. Pode tambm dispor de seu crdito, remitindo a dvida no todo ou em

    parte (art. 385). Pode igualmente dispor de seu direito de crdito por meio da

    cesso (art. 286) etc.

    Devedor a pessoa que deve praticar certa conduta, determinada atividade,

    em prol do credor, ou de quem este determinar. Trata-se, enfim, da pessoa sobre

    a qual recai o dever de efetuar a prestao.

    Os sujeitos da obrigao devem ser ao menos determinveis, embora possam

    no ser, no nascedouro da obrigao, determinados. No necessrio que desde

    a origem da obrigao haja individuao precisa do credor e do devedor. De qualquer modo, a indeterminao do sujeito na obrigao deve ser transitria, porque

    no momento do cumprimento os sujeitos devem ser conhecidos. Se a indetermi-

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    Est ru tura da Re lao Obr igac iona l 1 5

    nao perdurar no momento da efetivao da prestao, a lei faculta ao devedor

    um meio liberatrio que a consignao em pagamento. Deposita-se o objeto da

    prestao em juzo, para que o juiz decida quem ter o direito de levant-la.

    Pode ocorrer indeterminao do credor quando houver ofertas ao pblico, oua nmero mais ou menos amplo de pessoas, como o da promessa de recompen

    sa (arts. 854 ss). Nesse caso, o devedor certo, mas o credor indeterminado no

    nascimento da obrigao, embora obrigao exista desde logo. Quem preencher

    os requisitos da promessa se intitular, a princpio, credor. Outra situao seme

    lhante ocorre nos ttulos ao portador ou ordem. No primeiro caso, o devedor

    deve pagar a quem quer que se apresente com o ttulo; no segundo caso, o sujeito

    ativo originalmente determinado, mas pode ser substitudo por qualquer indiv

    duo que receber validamente a crtula, por meio do endosso.

    Como lembra Caio Mrio da Silva Pereira (1972, v. 2:19), a indeterminaodo devedor mais rara, mas tambm pode ocorrer, decorrendo em geral de di

    reitos reais que acompanham a coisa em poder de quem seja seu titular. , por

    exemplo, a situao do adquirente de imvel hipotecado que responde com ele

    pela soluo da dvida, embora no tenha sido o devedor originrio, nem tenha

    contrado a obrigao. O credor, nessa hiptese, poder receber de quem quer

    que assuma a titularidade da coisa gravada.

    Fixe-se, contudo, que, determinados ou determinveis os sujeitos, apenas

    a pessoa natural ou jurdica poder ficar nos polos da obrigao. Nada impede,

    porm, que em cada polo da relao obrigacional se coloquem mais de um credorou mais de um devedor.

    importante tambm lembrar que a fuso numa s pessoa das qualidades de

    credor e devedor ocasiona a extino da obrigao, fenmeno que se denomina

    confuso (art. 381).

    Ocorre com frequncia que os sujeitos da obrigao sejam representados.Os

    representantes agem em nome e no interesse de qualquer dos sujeitos da obri

    gao e sua declarao de vontade vincula os representados. Sobre essa matria

    discorremos em Direito civil: parte geral, no Captulo 19. A tambm fizemos a

    distino dos representantes dos nncios ou mensageiros, simples porta-vozes,

    que tambm podem participar da relao obrigacional.

    2.3 Objeto da Relao Obrigacional

    Trata-se do ponto material sobre o qual incide a obrigao. Cuida-se da pres

    tao, em ltima anlise. Essa prestao, que se mostra como atividade positiva

    ou negativa do devedor, consiste, fundamentalmente, em dar, fazer ou no fazer

    algo. Constitui-se de um ato, ou conjunto de atos, praticados por uma pessoa:a realizao de uma obra, a entrega de um objeto ou, sob a forma negativa, a

    absteno de um comerciante de se estabelecer nas proximidades de outro, por

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    1 6 Dire i to Civi l Venosa

    exemplo. No se esquea, porm, da distino que fizemos na abertura deste ca

    ptulo, acerca do objeto imediato e do objeto mediato da prestao. Aprestao,

    ou seja, a atividade culminada pelo devedor, constitui-se no objeto imediato. O

    bem material que se insere na prestao constitui-se no objeto mediato. Trata-se

    de objeto material da obrigao em sentido estrito.

    Como corolrio da noo de negcio jurdico, a prestao deve serpossvel,

    lcitae determinvel.

    Note que os requisitos da prestao so os mesmos do objeto material sobre

    o qual ela incide.

    A prestao deve ser fsica ou juridicamente possvel, nos termos do art. 166,

    II, valendo o que foi dito a respeito dos atos jurdicos em geral, em Direito civil:

    parte geral.Os conceitos de impossibilidade fsica ou jurdica so os mesmos a

    expostos. Quando a prestao for inteiramente impossvel, ser nula a obrigao.J se a prestao for to s parcialmente impossvel, no se invalidar a obriga

    o, de acordo com o art. 106, uma vez que o cumprimento da parcela possvel

    poder ser til ao credor. Ademais, uma prestao impossvel ao nascer, que se

    tome possvel quando do momento do cumprimento, perfeitamente vlida e

    deve, portanto, ser cumprida.

    A prestao poder serpossvel, isto , materialmente realizvel, mas poder

    haver um obstculo de ordem legal em seu cumprimento. O ordenamento poderepudiar a prestao. Trata-se de aplicao particular da teoria geral dos atos

    jurdicos. o caso, por exemplo, de se contratar importao de artigos proibidospor lei. Quanto impossibilidade fsica do cumprimento da prestao, remete

    mos o leitor ao que foi dito em Direito civil: parte gerala respeito das condies

    impossveis.1

    1 Ao de cobrana - Ressarcimento pelo desembolso pelo pagamento das mensalidades do

    curso de direito. Procedncia. Apelao. Questes preliminares afastadas. Alegao de prescrioafastada. No ultrapassado o prazo de 3 anos previsto no arts. 206, 3o, iy do Cdigo Civil. Mrito.Autor que alega o pagamento de salrio e mensalidades da faculdade de direito r. Deciso da

    justia trabalhista que reconheceu a relao de emprego e o pagamento das verbas e, apesar deafastada a questo de incompetncia em razo da matria, no decidiu sobre os valores das mensa

    lidades. Acordo verbal. Desembolso confirmado pela r. Fato incontroverso. Ausncia de prova deque a r teria que restituir os valores. Condio afirmada pelo autor na inicial de que o pagamento

    se daria quando a r estivesse formada com a possibilidade de pagar com o prprio trabalho de

    advogada. Ressarcimento que se daria, portanto, em data futura e incerta. Mudana do escritriopara outra cidade e dispensa da funcionria. Condio que no se realizou, uma vez que sem em

    prego, deixou a r de estudar e de se formar. Negcio vlido, porm ineficaz. Incidncia do artigo121 do Cdigo Civil. Desistncia da r na continuidade do curso que no afasta a condio, pois

    com sua dispensa, no teria a mnima condio de enfrentar as despesas prprias com alimentaoe mensalidades. Obrigao impossvel. Doutrina. Incidncia da primeira parte do art. 248 do C

    digo Civil. Pagamentos realizados em nome da r. No incidncia do art. 305 do Cdigo Civil. Tesepossvel defendida pela r de que houve doao dos valores. Impossibilidade de se admitir que os

    pagamentos se deram a ttulo de complementao de salrio. Precedente do TRT 31Regio. Autorque quis proteger a funcionria garantindo-lhe os meios de subsistncia e estudo. Arrependimento

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    Est ru tura da Re lao Obr igac iona l 1 7

    Ainda, a prestao deve mostrar licitude.Deve atender aos ditames da moral,

    dos bons costumes e da ordem pblica, sob pena de nulidade, como em qualquer

    ato jurdico (art. 166). Destarte, ilcito contratar assassinato, elaborar contrato

    para a manuteno de relaes sexuais, contratar casamento em troca de vanta

    gens pecunirias, por exemplo.

    Por fim, a prestao, se no for determinada, deve ser ao menos determinvel.

    Ser determinada a prestao quando perfeitamente individualizado o objeto:

    compro um automvel marca X, com nmero de chassi e de licena declinados.

    Ser determinvel a prestao quando a identificao relegada para o momento

    do cumprimento, existindo critrios fixados na lei ou na conveno para a iden

    tificao. o que sucede nas denominadas obrigaes genricas (art. 243), cujo

    objeto fungvel, indicado pelo gnero e pela quantidade, o que ser objeto de

    nosso estudo neste volume. No momento do cumprimento da prestao, no entanto, devemos determinara prestao, num ato que se denomina concentrao

    da prestao, ora por parte do devedor, ora por parte do credor, conforme o caso,

    como veremos adiante.

    2.3.1 Patrimonialidade da Prestao

    No sentido tcnico, descrever sempre admitido, como faz a doutrina tradi

    cional, que a obrigao deve conter uma prestao de contedo direta ou indiretamente patrimonial. O Direito no pode agir sobre realidades puramente

    abstratas. Uma obrigao que no possa resumir-se, em sntese, a apreciao pe

    cuniria, ainda que sob o prisma da execuo forada, ficar no campo da Moral,

    no ser jurdica.

    que no pode possibilitar tirar da r o que quis lhe dar. Deciso reformada. Recurso provido (TJSP- Ap. 990.10.401703-3, 16-3-2012, Rei. Virgio de Oliveira Junior).

    Direito processual civil. Ao de resciso contratual. Compromisso de compra e venda de

    imvel. Loteamento no aprovado. Objeto ilcito. Contrato nulo. Reconveno. Danos morais. Ocontrato que tem objeto ilcito nulo e enseja o retorno das partes ao estado anterior contra

    tao. - O mero inadimplemento contratual, mora ou prejuzo econmico no configuram, por

    si ss, dano moral, porque no agridem a dignidade humana (TJMG- Acrdo Apelao Cvel

    1.0346.08.015035-9/001, 2-3-2011, Rei. Des. Jos Flvio de Almeida).

    Monitria - Cambial - Cheques emitidos em funo de dvidas de jogo (bingo) - As dvidas

    de jogo ou de aposta no obrigam a pagamento, por conseguinte sendo sem validade as promessas

    de pagamento e os ttulos criados com base em dvidas de tal natureza - Circunstncia em que a

    simples entrega (tradio) do cheque ao portador, no significa pagamento, pois o cheque ape

    nas uma ordem de pagamento e na realidade esse pagamento s se verifica quando a ordem

    cumprida, seja com a entrega real do dinheiro, seja com o lanamento em conta da importnciamencionada no cheque, de forma que, s a, caber ao portador quitar o seu crdito, pois s ento

    o dbito desaparece - Recurso no provido (TJSP-Ap. Cvel 7.344.624-1, 23-4-2009,11* Cmara

    de Direito Privado - Rei. Gilberto dos Santos).

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    1 8 Direito Civil Venosa

    Sob esse aspecto, vale lembrar que, embora a maioria das obrigaes possua

    contedo imediatamente patrimonial, como comprar e vender, alugar, doar etc.,

    h prestaes em que esse contedo no facilmente perceptvel ou mesmo no

    existe. No se confunde, porm, a obrigao, no sentido essencialmente tcnico,

    com certos deveres que escapam a tal conceito, como a obrigao de servir s

    Foras Armadas, por exemplo. Aqui a sano no ser pecuniria, pois no se est

    no campo do Direito obrigacional ora examinado.

    Se obrigao no sentido estrito, porm, apresentar to s contedo de or

    dem moral, se a efetivao da prestao for coercvel (e a a obrigao jurdica

    distingue-se das demais), no resta dvida de que nessa coercibilidade residir o

    carter patrimonial do instituto, ainda que de forma indireta.

    Desse modo, a prestao deve ser suscetvel de ser avaliada em dinheiro.Nos

    so Cdigo Civil no dispe expressamente sobre a matria. O Cdigo italiano de1942 toma posio sobre o problema no art. 1.174:

    a prestao que constitui objeto da obrigao deve ser suscetvel de avaliao

    econmica e deve corresponder a um interesse, ainda que no patrimonial,

    do credor.

    J o Cdigo japons, numa disposio lembrada por Alberto Brenes Cordoba

    (1977:19), atendendo doutrina alem, dispe: o objeto de uma obrigao pode

    ser algo no suscetvel de ser apreciado em dinheiro.Ora, no resta dvida de que

    a questo tormentosa.

    Entende-se, outrossim, que nas obrigaes em que se ressalta o contedo mo

    ral seu descumprimento tambm passvel de coero, doutro modo no seria ju

    rdico. Se o cumprimento da obrigao for impossvel ou inconveniente, no campo

    do descumprimento da obrigao, e como em todas as situaes, o denominador

    comum ser indenizao por perdas e danos. Apenas nesta ltima fase, surgir um

    contedo patrimonial, mas j num momento em que a obrigao deixou de ser re

    gularmente cumprida. A indenizao, a como nas outras situaes, no eqivale

    obrigao, mas trata-se de um substitutivodo cumprimento, ou seja, a tentativamais perfeita que o Direito tem para reequilibrar uma relao jurdica.

    Como bem lembra o saudoso Antunes Varella (1977, v. 1:91), a llrazo pela

    qual muitos autores insistem na necessidade do carter patrimonial da prestao

    uma pura considerao de ordem prtica.E, como explanamos, no resta dvida

    de que certa a afirmao do mestre lusitano. na execuo, como vimos, que

    ressaltar o aspecto pecunirio e patrimonial da prestao, quando inexiste no

    bojo do cumprimento espontneo da obrigao.

    O mesmo autor recorda a aplicao prtica do problema da patrimonialidade

    ora versada, falando das doaes com encargos, e cita o exemplo do proprietrio de um jardim que faz doao, mas com o encargo de o donatrio o manter

    franqueado ao pblico. Situao semelhante, que podemos lembrar, de algum

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    Est ru tura da Re lao Obr igac iona l 1 9

    que doa imvel a uma Municipalidade, para a instalar um parque pblico, com

    o encargo de que referido parque tome o nome do doador. Fora do aspecto do

    encargo, nos atos de liberalidade, podem ser lembrados outros exemplos: numa

    obrigao negativa em que um vizinho se comprometa a no ligar aparelhos de

    som em determinado horrio; ou algum que se comprometa a divulgar uma re

    tratao a uma ofensa honra etc. Nesses casos, o objeto imediato da prestao

    de cunho essencialmente moral. Quer haja uma clusula penal nas respectivas

    avenas, quer no, o aspecto patrimonial s vai surgir quando do descumprimen

    to, na fase executria.

    No resta dvida, no entanto, de que algumas prestaes de carter pre

    ponderantemente moral, tendo em vista certas circunstncias, podem ficar com

    menor garantia do que as obrigaes de carter primrio patrimonial. Isso no

    deve ser de molde a repeli-las do campo jurdico. Todavia, em todo o caso, deve

    existir sempre o interesse do credor no cumprimento da prestao, ainda que esse

    interesse seja de ordem ideal, afetiva ou moral, merecendo, ento, a proteo ju

    rdica. No se deve esquecer do que retrata o art. 76 do Cdigo Civil de 1916, que

    protege o legtimo interesse moral para o exerccio do direito de ao. intuitivo,

    porm, que o conceito de juridicidade da obrigao moral no pode ser alargado

    de molde a incluir-se nele uma srie de obrigaes que, posto que contraindo-se

    todos os dias na vida social, nunca ningum pensou em fazer valer merc da coao

    judicia l,conforme ensina Roberto de Ruggiero (1973, v. 3:13).

    Dessas premissas, conclui-se que o objeto da prestao poder ser patrimonial ou no. Nas palavras de Pontes de Miranda (1971, v. 22:41):

    Qualquer interesse pode ser protegido, desde que lcito, e todo interesse

    protegvel pode ser objeto de prestao, como a obrigao de enterrar o morto

    segundo o que ele, em vida, estabelecera, ou estipularam os descendentes ou

    amigos ou pessoas caridosas.

    Em qualquer caso, imperioso avaliar um interesse aprecivelpor parte do

    credor em que a obrigao seja adimplida. Como se nota, no existe controvrsia

    quanto necessidade de interesse patrimonial do credor. A controvrsia restringe-se patrimonialidade ou no da prestao (Noronha, 2003:24).

    O sentido tcnico de obrigao ao qual nos prendemos no se confunde,

    tambm, com obrigaes derivadas do Direito de Famlia. Essas relaes pessoais

    entre os vrios membros da famlia ou aquelas que se podem denominar como

    relaes quase familiares (tutela, curatela) geram deveres de outra ndole. Suas

    conseqncias podero ter at mesmo carter patrimonial, como a obrigao de

    alimentos, mas pertencem a outro compartimento do Direito, que no ao decan

    tado Direito obrigacional. Tal devido, primordialmente, ao fato de que essas

    obrigaes no derivam da autonomia da vontade, mas de normas cogentes, impostas pelo Estado para estruturar a famlia como instituio. Doutro modo, as

    sanes pelo descumprimento de uma obrigao no sentido estrito resumem-se

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    2 0 Dire i to Civi l Venosa

    sempre numa indenizao, enquanto as sanes pelo descumprimento de uma

    obrigao familiar so de natureza variada, esbarrando, muitas vezes, numa ti-

    picidade penal. o que ocorre, por exemplo, nas infraes aos deveres do ptrio

    poder ou aos deveres conjugais. Ainda no divisamos na obrigao familiar um

    carter oneroso, mesmo que possa haver contedo patrimonial, como o caso do

    dever de administrao de bens do pupilo, que tem o tutor ou curador.

    Destarte, no interesse apreciveldo credor que vai residir o mago da patri-

    monialidade da obrigao ora tratada, patrimonialidade esta que deve ser enten

    dida dentro das moderaes aqui expostas.

    2.4 Vnculo Jurdico da Relao Obrigacional

    O vnculo jurdico que ligava o devedor ao credor nos primrdios de Roma,

    como j exposto, tinha carter estritamente pessoal, notando-se um direito do

    credor sobre a pessoa do devedor, como num estgio tendente escravido deste

    ltimo. Posteriormente, o vnculo atenua-se paulatinamente, toma-se mais hu

    mano, mais conforme aos princpios da liberdade e autonomia da vontade. Mo

    dernamente, podemos dizer que o vnculo tem carter pessoal, porm diverso da

    rudeza antiga, porque se tem em mira um dever do devedor em relao ao credor.

    Esse carter legitima uma expectativa do credor de que o devedor pratique uma

    conduta esperada pelo primeiro. Como vimos, nesse carter obrigacional h umaexecutividade eminentemente patrimonial, tendo em vista os meios que o orde

    namento coloca disposio do credor para a satisfao de seu crdito.

    Nessas noes preliminares e introdutrias at aqui vistas, j acenamos que,

    normalmente, na obrigao, existem um elemento pessoal e um elemento patri

    monial. O primeiro relativo decantada atividadedo devedor, ou mais exata

    mente a um comportamentodeste, uma vez que a obrigao pode ser negativa;

    comportamento esse que se liga vontade do credor. O segundo elemento, o

    patrimonial, passivo com relao ao devedor, pois se refere disposio de seu

    patrimnio para a satisfao do credor. O devedor deve suportar a situao de

    servir seu patrimnio de adimplemento da obrigao.

    Nitidamente, pois, divisam-se os dois elementos da obrigao: o dbito(debi-

    tum, Schuld, em alemo) e a responsabilidade (obligatio, Haftung).

    Embora o primeiro aspecto que surge na obrigao seja o dbito, ele no pode

    ser visto isoladamente, sem a responsabilidade, j que esta garante aquele. Toda

    obrigao, como expresso, d lugar a uma diminuio da liberdade do sujeito pas

    sivo e a constrio que pode advir a seu patrimnio o espelho dessa diminuio.

    A responsabilidade, por seu lado, revela a garantia de execuo das obrigaes,pelo lado do credor, que muitos consideram como elemento autnomo. A garan

    tia, no entanto, deve ser vista como o aspecto extrnseco do elemento vnculo.

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    Est ru tura da Re lao Obr igac iona l 2 1

    Essa garantia manifesta-se no ordenamento das mais variadas formas proces

    suais para propiciar a obteno da satisfao do interesse do credor (por exem

    plo, art. 580 do CPC, com a redao da Lei n 11.382, de 2006; arts. 621 ss do

    mesmo diploma que regula a execuo para a entrega de coisa certa etc.).

    Assim, o cerne ou ncleo da relao obrigacional o vnculo.Esse vnculo,

    portanto, biparte-se no dbito e na responsabilidade. Cria-se, dessa forma, uma

    relao de subordinao jurdica, devendo o devedor praticar ou deixar de prati

    car algo em favor do credor. Em contrrio, existe o poder atribudo ao credor de

    exigir a prestao. No conseguida espontaneamente a prtica da prestao, o

    credor possui meios coercveis, postos pelo Estado, para consegui-la, ressaltando-

    -se a a responsabilidade.O credor titular de uma tutela jurdica, portanto. Em

    princpio, s o credor pode tomar a iniciativa de interpelar o devedor; a ele cabe

    colocar em marcha o processo contra o devedor faltoso. Em muitos contratos, hdeveres recprocos de prestao de ambas as partes, regulados por princpios que

    oportunamente examinaremos.

    O direito prestao que possui o credor tem como correspondente, do outro

    lado da relao obrigacional, o dever de prestardo devedor. Trata-se de dever e

    no de nus. instrumento que serve para satisfazer a um interesse alheio. Caso

    no atenda ao dever de prestar, o devedor ficar sujeito s sanes atinentes

    mora e ao inadimplemento (arts. 394 ss e arts. 402 ss).

    Por outro lado, a bipartio do vnculo em dbitoe responsabilidade, existen

    te na relao obrigacional, fica bem clara nos casos de exceo regra geral: h

    situaes em que, excepcionalmente, ora falta um, ora falta outro elemento. Nas

    obrigaes naturais, que estudaremos a seguir, existe o dbito, mas o credor no

    est legitimado a exigir seu cumprimento. Aqui, h dbito, mas no h responsa

    bilidade.No contrato de fiana, ao contrrio, algum, o fiador, responsabiliza-se

    pelo dbito de terceiro. Nesse caso, h responsabilidade, mas no h dbito.Por

    tanto, nessas excees, nas quais o dbito e a responsabilidade no esto juntos,

    observam-se claramente os dois elementos do vnculo.

    De qualquer forma, a exceo vem confirmar a regra: na relao obrigacional,dbito CSchuld) e responsabilidade (Haftung) vm sempre juntos, como fenme

    nos inseparveis. Na realidade, como j pudemos perceber, so aspectos do mes

    mo fenmeno da relao obrigacional. No podemos dar preponderncia quer a

    um, quer a outro elemento, embora, primeira vista, ressalte o elemento dbito.

    2.5 Causa nas Obrigaes

    O tema tem dado origem a vivas discusses.O Cdigo Civil ptrio no apresenta a causa como pressuposto essencial dos

    negcios jurdicos. A ela j nos referimos em Direito civil: parte geral,quando tra

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    tamos dos requisitos do negcio jurdico e nos referimos ao art. 140, que mencio

    na falso motivo e no mais falsa causa, como fazia o Cdigo anterior (art. 90).

    Deve ser entendido como causa do ato o fundamento, a razo jurdica da

    obrigao.No campo jurdico, quando uma pessoa se obriga, ela o faz por um funda

    mento juridicamente relevante. No se confunde, sob o prisma jurdico, o motivo

    com a causa. Podemos dizer que a causa o motivo juridicamente relevante.Em

    razo das dificuldades que apresenta, entre ns a causa substituda pelo objeto,

    entre os requisitos essenciais dos negcios jurdicos (art. 104). No obstante isso,

    como por vezes o ordenamento civil faz referncia causa, importante que a

    ela se faa referncia.

    Um exemplo prtico poder ilustrar a matria. No se confunde a causa, ou

    fim imediato