recursos teoria geral

108
TEORIA GERAL DOS RECURSOS 1. Introdução Antes de iniciarmos o estudo dos recursos, é prudente relembrarmos que o rito ordinário do procedimento comum divide-se em fases processuais que se interligam entre si e que são as seguintes: fase postulatória, fase de saneamento, fase probatória e; fase decisória.

Upload: luids

Post on 25-Oct-2015

19 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

TEORIA GERAL DOS RECURSOS• 1. Introdução

• Antes de iniciarmos o estudo dos recursos, é prudente relembrarmos que o rito ordinário do procedimento comum divide-se em fases processuais que se interligam entre si e que são as seguintes:

• fase postulatória,• fase de saneamento,• fase probatória e;• fase decisória.

FASE POSTULATÓRIA

• A fase postulatória corresponde à fase em que as partes vêm a juízo formular suas pretensões, trazendo os motivos de fato e de direito que entendem serem suficientes para a formação da convicção do julgador.

FASE SANEAMENTO

• Fase saneamento

• Na segunda fase, de saneamento, o juiz:

• analisa o processo,• determina providências necessárias,• decreta as nulidades insanáveis e promove o

suprimento daquelas que forem sanáveis;

FASE SANEAMENTO

• Esta análise feita pelo juiz pode conduzir ao reconhecimento de estar o processo em ordem, dando sequência ao seu curso normal, ou;

• Pode levar à sua extinção, com resolução do mérito ou, ainda;

• Sem julgamento do mérito, quando concluir o juiz que o processo não reúne os requisitos necessários para a obtenção de uma sentença de mérito.

FASE PROBATÓRIA

• Na fase probatória as partes irão demonstrar a veracidade dos fatos por elas sustentados na inicial do autor (fatos constitutivos do direito do autor) ou;

• na resposta do réu (fatos modificativos, extintivos ou impeditivos do direito do autor), coletando material probatório que servirá de suporte à decisão do mérito.

FASE DECISÓRIA

• E, finalmente, a fase decisória, cujo objetivo é a entrega da prestação jurisdicional com a decisão do juiz (sentença de mérito) que acolhe ou rejeita o pedido do autor.

• Encerrada a atividade jurisdicional de primeiro grau, pode surgir a fase recursal, muito embora também exista a possibilidade de interposição de recurso nas fases anteriores (postulatória, de saneamento e probatória).

FASE RECURSAL

• Na fase recursal a parte recorrente (parte vencida, Ministério Público ou terceiro interveniente) demonstra seu inconformismo com a decisão proferida, postulando sua reforma ou modificação ou ainda seu esclarecimento ou integração, até que ocorra o trânsito em julgado da sentença.

INTERPOSIÇÃO DE RECURSOS

• A interposição de recursos é uma reação natural do homem, que não se sujeita a um único julgamento;

• Os recursos vão buscar seus fundamentos na necessidade psicológica, ínsita ao homem, de não se conformar perante uma única decisão.

• Obs: (o homem é incapaz, em regra, de se submeter à imposição de outrem, quando esta lhe pode trazer, de uma ou outra forma, algum gravame ou prejuízo).

FUNDAMENTOS

• A existência de recursos é necessária em virtude da possibilidade de erro ou até de má-fé ou abuso do poder pelo julgador, e o confiar-se o poder de decidir a apenas uma pessoa possibilita o arbítrio.

• Por isso, os recursos foram sempre admitidos na história do Direito, em todas as épocas e em todos os povos.

• Seus fundamentos são, portanto, a necessidade psicológica do vencido, a falibilidade humana do julgador e as razões históricas do próprio Direito.

FINALIDADE E SENTIDO DOS RECURSOS

• Os recursos têm a finalidade de outorgar maior certeza quanto à decisão emanada do Judiciário e evitar erros, gerando maior força de pacificação social ao processo.

• O sentido da sua existência é possibilitar o reexame das decisões proferidas no processo como garantia fundamental da boa justiça.

• A existência dos recursos tem sua base jurídica no próprio texto constitucional, quando este organiza o Poder Judiciário em duplo grau com a atribuição primordialmente recursal dos Tribunais.

PRINCÍPIOS

• O instituto do recurso vem sempre correlacionado com:

• o princípio da recorribilidade e;• do duplo grau de jurisdição,

• que consiste na possibilidade de submeter-se a lide a exames sucessivos, por juízes diferentes, como garantia da boa solução do litígio.

PRINCÍPIOS

• O princípio do duplo grau de jurisdição garante ao menos um recurso para cada decisão, no entanto, existem exceções a este princípio como:

• nas ações de competência originária do STF e nos juizados especiais em que decisão que homologa acordo é irrecorrível.

• Este princípio dá maior certeza à aplicação do Direito, com a proteção ou restauração do direito porventura violado.

REEXAME

• O órgão de grau superior, pela sua maior experiência e quantidade de julgadores, se acha mais habilitado para reexaminar a causa e apreciar a decisão anterior, a qual por sua vez, funciona como elemento de freio à nova decisão que se vier a proferir.

• O que se busca, em verdade, outra coisa não é senão a efetiva garantia da proteção jurisdicional.

SISTEMA DE IMPUGNAÇÃO

• Se não houver recursos, a incerteza cessará com a decisão única, mas haverá o risco de consagrar-se uma injustiça.

• Aí a orientação maleável seguida pelo Direito:

ensejar um ou mais recursos, mas considerar que, esgotados os concedidos por lei, a causa está julgada, pelo menos naquele processo.

• Outra observação importante é que existe, no direito processual civil brasileiro, um sistema de impugnação de decisões judiciais que não se restringe aos recursos.

Uma decisão judicial pode ser impugnada de três maneiras:

• a) por um recurso;

• b) por uma ação autônoma (impugna-se a decisão através da instauração de novo processo, como por exemplo, ação rescisória, mandado de segurança contra ato judicial, embargos de terceiro); e

• c) pelos sucedâneos recursais (tudo que não seja recurso ou ação autônoma e que sirva para rever decisão judicial é um sucedâneo recursal, como por exemplo, reexame necessário, correição parcial).

Uma decisão judicial pode ser impugnada de três maneiras:

• A lei estabelece em determinadas situações uma condição para que a sentença transite em julgado, é o duplo grau de jurisdição ou reexame necessário ou remessa oficial ou ainda recurso de ofício, o qual não tem natureza de recurso, pois é condição para que certas sentenças transitem em julgado.

• A palavra correição parcial significa a possibilidade de emendar ou reformar alguma decisão.

• A correição parcial é uma providência administrativa ou de caráter disciplinar, tendo por finalidade corrigir fato que demonstre abuso ou inversão tumultuária do processo. É utilizada para os casos não previstos no sistema recursal.

Uma decisão judicial pode ser impugnada de três maneiras:

• Não se deve confundir o recurso com outros meios autônomos de impugnação da decisão judicial, como: a ação rescisória e o mandado de segurança, porque;

• o recurso é de uso endoprocessual, ou seja, ocorre no interior do processo que se encontra em curso, sem a formação de nova relação jurídica processual.

Uma decisão judicial pode ser impugnada de três maneiras:

• Vale ressaltar que o recurso é um ato voluntário da parte prejudicada por uma decisão judicial, qualificando-se como ônus processual.

• Porquanto a parte não está obrigada a recorrer do julgamento que a prejudica; mas;

• Se o vencido não interpuser o recurso cabível, consolidam-se e se tornam definitivos os efeitos da sucumbência ante o trânsito em julgado da decisão, vez que ocorre preclusão.

TEORIA GERAL DOS RECURSOS

• Conceito

• A palavra recurso é usualmente utilizada como todo e qualquer meio empregado pela parte litigante a fim de defender o seu direito, como, por exemplo, a ação, a contestação, a exceção, a reconvenção, etc.

• Nesse sentido diz-se que a parte deve recorrer ao processo cautelar ou deve recorrer à ação reivindicatória, e assim por diante.

TEORIA GERAL DOS RECURSOS

• Recurso em direito processual tem uma acepção técnica e restrita, podendo ser definido como:

• “o instrumento processual pelo qual a parte demonstra seu inconformismo com uma decisão proferida nos autos, e provoca o reexame desta decisão, pela mesma autoridade judiciária ou por outra hierarquicamente superior, visando a obter a sua reforma, a sua invalidação, a sua modificação, o seu esclarecimento ou a sua integração.”

TEORIA GERAL DOS RECURSOS

• Magalhães Noronha define o recurso como:"a providência legal imposta ao juiz ou concedida à parte interessada, objetivando nova apreciação da decisão ou situação processual, com o fim de corrigí-Ia, modificá-la ou confirmá-la".

• Mais sucintamente, Fernando da Costa Tourinho Filho ensina que recurso:"nada mais é do que o reexame de uma decisão".

TEORIA GERAL DOS RECURSOS

• Em regra, o fim do recurso é sanar os defeitos substanciais da decisão, ou seja, suas injustiças decorrentes da má apreciação da prova, bem como da errônea interpretação das pretensões da parte ou dos fatos e das circunstâncias.

TEORIA GERAL DOS RECURSOS

• Caracteriza-se o recurso como o meio idôneo a ensejar o reexame da decisão dentro do mesmo processo em que foi proferida (não gera processo novo, ainda que formulado em autos apartados), antes da formação da coisa julgada, para que seja sanado o eventual vício de forma ou de conteúdo do ato processual decisório.

A natureza jurídica do recurso está sujeita a discussões doutrinárias, vez que pode ele ser encarado de várias

maneiras:

• a) como desdobramento do direito de ação que vinha sendo exercido até a decisão proferida;

• b) como ação nova dentro do mesmo processo;

• c) como qualquer meio destinado a obter a "reforma" da decisão, quer se trate de ação como nos recursos voluntários, quer se cogite de provocação da instância superior pelo juiz que proferiu a decisão, como nos recursos de ofício.

CLASSIFICAÇÕES DOS RECURSOS

• Quanto ao fim visado pelo recorrente, os recursos podem ser classificados como:

a) de reforma, quando se busca uma modificação na solução dada à lide, visando a obter um pronunciamento mais favorável ao recorrente;

b) de invalidação, quando se pretende apenas anular ou cassar a decisão, para que outra seja proferida em seu lugar (ocorre geralmente em casos de vícios processuais);

c) de esclarecimento ou integração, que ocorre com os embargos de declaração, onde o objeto do recurso é apenas afastar a falta de clareza ou imprecisão do julgado, ou ainda suprir alguma omissão do julgador.

CLASSIFICAÇÕES DOS RECURSOS

• Quanto ao juiz que os decide os recursos podem ser:

a) devolutivos ou reiterativos, quando a questão é devolvida pelo juiz da causa a outro juiz ou tribunal (juiz do recurso); quando devolve a matéria para a apreciação do órgão superior; ex.: apelação e recurso extraordinário;

b) não devolutivos ou iterativos, quando a impugnação é julgada pelo mesmo juiz que proferiu a decisão recorrida; ex.: embargos de declaração e embargos infringentes;

c) mistos, quando tanto permitem o reexame pelo órgão prolator como a devolução a outro órgão superior; ex.: agravo de instrumento.

CLASSIFICAÇÕES DOS RECURSOS

• No que se refere à marcha do processo a caminho da fase executiva, os recursos podem ser:

a) suspensivos: os que impedem o início da execução porque sustam os efeitos da decisão recorrida (não havendo este efeito a execução provisória pode ter início);

b) não suspensivos: os que permitem a execução provisória.

• O agravo de instrumento e o recurso extraordinário são sempre não suspensivos.

• Mas a apelação, que normalmente é de efeito suspensivo, em alguns casos admite apenas a devolução do conhecimento da causa ao juízo recursal, não impedindo a execução provisória.

CLASSIFICAÇÕES DOS RECURSOS

• Quanto ao objeto a ser tutelado, os recursos podem ser classificados como:

a) ordinários, que protegem o direito subjetivo da parte; ex.: apelação;

b) extraordinários lato sensu, que protegem o ordenamento jurídico e, somente indiretamente, protegem o direito subjetivo da parte; ex.: recurso extraordinário e recurso especial.

CLASSIFICAÇÕES DOS RECURSOS

• Quanto às suas fontes informativas, os recursos podem ser:

a) constitucionais, previstos pela Constituição Federal e que têm por finalidade levar aos Tribunais Superiores o seu conhecimento ou defender os direitos fundamentais do indivíduo (habeas corpus, mandado de segurança, recurso especial, recurso extraordinário);

b) legais, previstos no Código de Processo ou em outras leis processuais especiais; e

c) regimentais, os instituídos nos regimentos dos tribunais (agravo interno, por exemplo – recurso admissíveis porque, muito embora a competência para edição de normas processuais seja exclusivamente da União, estes agravos são meros mecanismos destinados a verificar se o entendimento individual do prolator da decisão corresponde ao entendimento do órgão colegiado a que ele pertence).

ATOS SUJEITOS A RECURSO

• No processo são praticados os chamados atos processuais, ora pelas partes, ora por serventuários da Justiça, ora por peritos, ora por terceiros e ora pelo juiz.

• Mas apenas dos atos dos juízes é que cabem os recursos.

• E, ainda, não de todos, mas somente dos atos decisórios do juiz (sentenças, decisões interlocutórias e acórdãos).

ATOS SUJEITOS A RECURSO

• As sentenças (art. 513 do CPC) e decisões interlocutórias (art. 522 do CPC) são sempre recorríveis, qualquer que seja o valor da causa.

• Dos despachos de mero expediente, isto é, daqueles que apenas impulsionam a marcha processual, sem prejudicar ou favorecer qualquer das partes, não cabe recurso algum (art. 504 do CPC).

• Os despachos são irrecorríveis por serem pronunciamentos do juiz desprovidos de conteúdo significativamente decisório, como, por exemplo, aquele através do qual o juiz determina que os autos sejam remetidos ao contador judicial ou manda que se junte aos autos um rol de testemunhas.

• Por praticamente não terem conteúdo decisório, não podem causar prejuízo para as partes e tampouco interesse em recorrer, visto que o prejuízo é pressuposto para a possibilidade de utilização dos recursos (somente a parte vencida pode recorrer).

ATOS SUJEITOS A RECURSO

• Vale mencionar algumas situações diferenciadas:

I - nos juizados especiais estaduais as decisões interlocutórias não são atacáveis via agravo e nem as sentenças são apeláveis; (contra sentenças cabe recurso inominado no prazo de dez dias);

II - nos juizados especiais federais as interlocutórias não são atacáveis via agravo, salvo as relativas às tutelas de urgência;

III – existem sentenças agraváveis, como, por exemplo, a sentença que decreta a falência (a que não decreta é apelável).

ATOS SUJEITOS A RECURSO

• Há também decisões dos tribunais sujeitas a recursos.

• As decisões monocráticas do relator são sujeitas ao agravo interno/regimental (art. 39 da lei 8038/90), salvo algumas exceções(exemplo: a decisão do relator que converte agravo de instrumento em agravo retido é insuscetível de recurso).

• Os acórdãos também são atos decisórios recorríveis, contra eles cabem embargos infringentes, de divergência, recurso especial e extraordinário, recurso ordinário constitucional e embargos de declaração.

RECURSOS ADMISSÍVEIS

• O rol de recursos admissíveis no processo civil é taxativamente discriminado pelo Código de Processo Civil, no art. 496.

• Art. 496 - São cabíveis os seguintes recursos:I - apelação;II - agravo;III - embargos infringentes;IV - embargos de declaração;V - recurso ordinário;VI - recurso especial;VII - recurso extraordinário;VIII - embargos de divergência em recurso especial e em recurso extraordinário.

RECURSOS ADMISSÍVEIS

• No primeiro grau de jurisdição (juízo de primeira instância), admitem-se os seguintes recursos:- apelação,- agravo, e - embargos de declaração.

• Quanto aos acórdãos dos tribunais, admite o Código os seguintes recursos:- embargos infringentes,- embargos de declaração,- recurso ordinário para o Superior Tribunal de Justiça e para o Supremo Tribunal Federal,- recurso especial,- recurso extraordinário,- e embargos de divergência no Supremo Tribunal Federal e no Superior Tribunal de Justiça.

RECURSOS ADMISSÍVEIS

• Para as decisões de segundo grau, diferentes de acórdão, o Código prevê os seguintes recursos:

- agravo contra despacho de relator que indefere de plano os embargos infringentes;

- agravo contra o indeferimento do agravo de instrumento pelo relator;

- agravo “nos próprios autos” contra o despacho denegatório do recurso extraordinário e do recurso especial.(o STJ denominou este recurso de agravo em recurso especial – AResp).

TEORIA GERAL DOS RECURSOS

• Desnecessário salientar que somente é possível interpor um recurso previsto (criado e regulamentado) pela lei, uma vez que, conforme mencionado, o rol de recursos admissíveis no processo civil é taxativamente discriminado pela legislação (princípio da taxatividade dos recursos).

• Sendo o recurso matéria de ordem pública, envolvendo interesse público, atende a interesses não só do indivíduo, como da própria sociedade, não é possível ter sua ordem alterada por convenção ou acordo entre as partes.

TEORIA GERAL DOS RECURSOS

• Importante relembrar que somente a União tem competência para legislar sobre questões processuais, portanto, só existem os recursos mencionados e aqueles que forem criados por lei federal.

• As normas processuais que tipificam os recursos, criando-os, não podem ser interpretadas extensivamente ou analogicamente.

TEORIA GERAL DOS RECURSOS

• Mas esta constatação não afasta a possibilidade de os tribunais disciplinarem em seus regimentos agravos internos, também chamados de agravos regimentais, contra decisões dadas individualmente por seus membros nos casos em que a lei federal não preveja tais medidas.

(tais agravos são meros mecanismos destinados a verificar se o entendimento individual do prolator da decisão corresponde ao entendimento do órgão colegiado a que ele pertence).

TEORIA GERAL DOS RECURSOS

• É importante mencionar que, por mais completo que seja o sistema recursal do Código, hipóteses haverá em que a parte se sentirá na iminência de sofrer prejuízo, sem que haja um remédio específico para sanar o dano que o juiz causou a seus interesses em litígio.

• Por isso, engendrou a praxe forense, encampada por algumas leis locais de organização judiciária e regimentos internos de tribunais, a correição parcial ou reclamação, como providência assemelhada ao recurso, sempre que o ato do juiz for irrecorrível e puder causar dano irreparável para a parte.

TEORIA GERAL DOS RECURSOS

• A correição parcial não está contemplada na legislação processual civil codificada ou extravagante, mas é medida capaz de coibir a inversão tumultuária da ordem processual, em virtude de erro, abuso ou omissão do juiz.

• A correição parcial não é recurso na correta acepção da palavra, posto não visar à reforma ou invalidação de decisão, mas possibilita trazer de volta os autos à sua marcha normal; marcha esta tumultuada pela ausência de observância da ordem legal instituída para o procedimento, com determinações equivocadas de atos de mero expediente (despachos).

• Assim, contra os despachos de expediente, não permite o Código nenhum recurso, mas às vezes um simples despacho pode tumultuar completamente a marcha processual, lesando irreparavelmente os interesses do litigante.

TEORIA GERAL DOS RECURSOS

• Nesses casos, e, em geral, nas omissões do juiz, contra as quais não se pode cogitar de agravo, haverá de ter lugar a correição parcial desde que preenchidos seus pressupostos:

• a) existência de uma decisão ou despacho, que contenha erro ou abuso, capaz de tumultuar a marcha normal do processo;

• b) o dano ou a possibilidade de dano irreparável para a parte;

• c) inexistência de recurso específico.

• As leis de organização judiciária têm atribuído ora ao Conselho Superior da Magistratura, ora aos próprios Tribunais Superiores, a competência para conhecer e julgar as correições parciais ou reclamações.

• Seu procedimento tem sido o mesmo do agravo de instrumento.

EFEITOS DOS RECURSOS

• Pode o recurso produzir diferentes efeitos, conforme sua natureza ou disposição legal.

• Os recursos podem ter, em princípio, dois efeitos básicos: o devolutivo e; o suspensivo.

Pelo efeito devolutivo, reabre-se a oportunidade de reapreciar e novamente julgar questão já decidida.

EFEITOS DOS RECURSOS

• Em regra, nenhuma questão, depois de solucionada em juízo, pode ser novamente decidida, porque se forma em torno do pronunciamento jurisdicional a preclusão (art. 471, caput), requisito necessário a que o processo caminhe sempre para frente, sem retrocesso, rumo à solução do litígio.

• Art. 471 - Nenhum juiz decidirá novamente as questões já decididas, relativas à mesma lide, salvo:

O mecanismo dos recursos, porém, tem sempre a força de impedir a imediata ocorrência da preclusão e, assim, pelo efeito devolutivo dá-se o restabelecimento do poder de apreciar a mesma questão, pelo mesmo órgão judicial que a proferiu ou por outro hierarquicamente superior.

EFEITOS DOS RECURSOS

• O efeito devolutivo (possibilidade de reexame da decisão recorrida), em sentido amplo, é comum a todos os recursos, ou seja, em todos há a transferência para a instância superior (eventualmente da mesma instância, como na hipótese de embargos declaratórios) do conhecimento de determinada questão.

EFEITOS DOS RECURSOS

• Alguns doutrinadores (como Barbosa Moreira) diferenciam o efeito devolutivo em:

efeito devolutivo horizontal/extensivo que seria o efeito devolutivo propriamente dito e;

efeito devolutivo vertical/em profundidade que é o efeito translativo.

EFEITOS DOS RECURSOS

• O efeito devolutivo/dimensão horizontal em extensão é aquele que estabelece o que o tribunal deve redecidir, ou seja, é o pedido do recorrente.

• Assim a extensão horizontal ou efeito devolutivo é determinado pelo pedido do sucumbente que interpôs o recurso.

• Por isso diz-se que é uma manifestação do princípio dispositivo, pois cabe ao recorrente decidir quais são as questões que deverão ser examinadas pelo tribunal.

EFEITOS DOS RECURSOS

• O efeito translativo/dimensão vertical em profundidade transfere ao tribunal as questões que terá que examinar para poder decidir o que foi devolvido, sem interferência alguma do recorrente.

• Incluem-se nessas as questões incidentes as matérias de ordem pública (prescrição e decadência) e todas as questões suscitadas no processo, relacionadas aos pedidos impugnados.

EFEITOS DOS RECURSOS

• Pelo efeito suspensivo, impede-se ao decisório impugnado produzir seus naturais efeitos enquanto não solucionado o recurso interposto;

• O recurso funciona como condição suspensiva da eficácia da decisão, que não pode ser executada até que ocorra o seu julgamento.

• O efeito suspensivo (impedimento da imediata execução do decisório impugnado porque impede ou obsta os efeitos da decisão recorrida) pode ser afastado, em determinados casos, por não ser sempre essencial ao fim colimado pelos recursos.

EFEITOS DOS RECURSOS

• De maneira geral, os atos de execução só devem ocorrer depois que a decisão se tornar firme (coisa julgada), por exigência mesma do princípio do devido processo legal.

• Enquanto não se esgotam os meios de debate e defesa, não está o Poder Judiciário autorizado a invadir o patrimônio da parte.

• Há casos excepcionais, contudo, em que a boa realização da Justiça exige efetivação, de imediato, das medidas deliberadas em juízo.

EFEITOS DOS RECURSOS

• É para tanto que a lei abre exceção ao natural efeito suspensivo e dispõe que alguns recursos, em algumas situações, não devem ser recebidos nos dois efeitos, mas apenas no devolutivo (ex.: arts. 497 e 520 do CPC).

• Art. 497 - O recurso extraordinário e o recurso especial não impedem a execução da sentença; a interposição do agravo de instrumento não obsta o andamento do processo, ressalvado o disposto no Art. 558 desta Lei.

• Art. 520 - A apelação será recebida em seu efeito devolutivo e suspensivo. Será, no entanto, recebida só no efeito devolutivo, quando interposta de sentença que:

EFEITOS DOS RECURSOS

• Parte da doutrina costuma dizer que não é o recurso que tem efeito suspensivo, pois ele apenas prolonga a ineficácia (execução) do processo.

• Enfim, a regra geral é que todo recurso tenha o duplo efeito e que só será privado da suspensividade quando houver previsão legal expressa a respeito.

• Omissa a regulamentação a respeito do tema, o recurso terá de produzir a natural eficácia suspensiva, regra que, no silêncio da lei, se aplica, por exemplo, aos embargos infringentes e aos de declaração.

EFEITOS DOS RECURSOS

• Há, ainda, o efeito impeditivo do trânsito em julgado que consiste em:

obstar a ocorrência da preclusão e;

a formação da coisa julgada, pelo menos com relação à parte da decisão de que se está recorrendo.

EFEITOS DOS RECURSOS

• Fala-se no efeito regressivo (ou iterativo ou, ainda, diferido), que é a possibilidade do juízo de retratação permitindo ao prolator da decisão alterá-la ou revogá-la inteiramente em algumas situações previstas na lei (exemplo: art. 285-A, § 1º e art. 296).

• Art. 285-A. Quando a matéria controvertida for unicamente de direito e no juízo já houver sido proferida sentença de total improcedência em outros casos idênticos, poderá ser dispensada a citação e proferida sentença, reproduzindo-se o teor da anteriormente prolatada. (Acrescentado pela L-011.277-2006)

• § 1º Se o autor apelar, é facultado ao juiz decidir, no prazo de 5 (cinco) dias, não manter a sentença e determinar o prosseguimento da ação.

• Art. 296 - Indeferida a petição inicial, o autor poderá apelar, facultado ao juiz, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, reformar sua decisão.

EFEITOS DOS RECURSOS

• Outro efeito mencionado pelos doutrinadores é o efeito expansivo subjetivo:

a regra é que o recurso só produz efeitos para o recorrente, sucede que em algumas hipóteses os recursos produzem efeitos para outros sujeitos, como por exemplo:

- nos embargos de declaração a interrupção de prazo é para todos;- o recurso interposto por litisconsorte unitário aproveita a outro litisconsorte e;- recurso interposto por devedor solidário estende seus efeitos para outros réus desde que se alegue matéria comum aos outros réus.

EFEITOS DOS RECURSOS

• Por último, destaca-se o efeito substitutivo do recurso:

o julgamento de um recurso substitui a decisão recorrida ainda que a confirme, ou seja, a decisão do tribunal faz “desaparecer” a sentença de primeiro grau.

• O efeito substitutivo só acontece se o recurso for julgado, ou seja, em contrário sensu, o recurso não admitido não opera efeito substitutivo, assim pode-se afirmar que o efeito substitutivo é pressuposto de recurso julgado.

• Pode-se afirmar também que a apelação que foi conhecida não transita em julgado a sentença, pois é o acórdão que transitará.

• Uma última afirmação se faz pertinente: se o recurso para invalidar a sentença for provido não gera efeito substitutivo.

PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE DOS RECURSOS

• O recurso tem um objeto, que é o pedido de reforma ou de integração da decisão impugnada.

• Sua apreciação, pelo órgão revisor, todavia, depende de pressupostos e condicionamentos definidos na lei processual.

• Os pressupostos de admissibilidade são exigências formais estabelecidas pela lei para se permitir o julgamento do mérito recursal.

PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE DOS RECURSOS

• Somente se cumpridos os pressupostos de admissibilidade do recurso é que será analisado o mérito do mesmo.

• Portanto, cabe ao órgão a que se endereçou o recurso duas ordens de deliberação:

o juízo de admissibilidade e; o juízo de mérito do recurso interposto.

PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE DOS RECURSOS

• Os pressupostos de admissibilidade se apresentam como questões prejudiciais ao julgamento de mérito, já que este só acontecerá se o recurso for conhecido no juízo de admissibilidade.

• Superado, com êxito, esse primeiro estágio da apreciação, o julgamento de mérito consistirá em dar ou negar provimento ao recurso.

Se se confirma o decisório impugnado, nega-se provimento ao recurso.

Se se altera o julgamento originário, dá-se provimento ao recurso.

PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE DOS RECURSOS

• O mérito do recurso pode ser o mesmo mérito da ação.

• Na apelação, por exemplo, se se julgou procedente ou improcedente o pedido, o mérito do recurso será exatamente o mesmo da ação.

• Por outro lado, no agravo ou nos embargos de declaração o mérito do recurso normalmente não coincide com o mérito da ação.

PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE DOS RECURSOS

• Quando se usa a terminologia “conhecer ou admitir o recurso” está se referindo ao juízo de admissibilidade do recurso

• Obs: (a ausência dos pressupostos de admissibilidade acarreta o não recebimento ou não conhecimento do recurso interposto, ou seja, o recurso não será analisado em seu mérito (não será apreciado o pedido de reforma ou invalidade da decisão proferida);

PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE DOS RECURSOS

• Quando se usa a terminologia “dar provimento ou negar provimento” está se referindo ao juízo de mérito do recurso.

• Se um recurso não é conhecido consequentemente não se examina o mérito, por outro lado, um recurso que foi conhecido pode ou não ser provido.

• A regra geral é a de que o juízo de admissibilidade do recurso seja exercido pelo juízo a quo (juízo de origem) e pelo juízo ad quem (juízo de destino) e que o juízo de mérito seja exercido uma única vez pelo órgão ad quem.

PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE DOS RECURSOS

• Tanto o juiz a quo quanto a ad quem devem fazer o juízo de admissibilidade:

o juiz a quo faz o primeiro juízo de admissibilidade do recurso, em caso de não recebimento sempre caberá contra essa decisão um recurso para que o juízo ad quem controle os atos do juízo a quo;

o segundo juízo de admissibilidade é feito pelo juízo ad quem.

No entanto, existem exceções a essa regra, com relação ao agravo de instrumento, pois é um recurso que se interpõe diretamente no juízo ad quem; os embargos de declaração também possuem apenas um juízo de admissibilidade no juízo a quo.

PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE DOS RECURSOS

• Enquanto o juízo de admissibilidade é, em regra, duplo, o juízo de mérito é, em regra, único, exercido pelo juízo ad quem.

• Existe uma tendência no sentido de que o juízo de mérito seja exercido pelo juízo a quo:

isso ocorre tradicionalmente com o agravo, no juízo de retratação, e também pode ocorrer com a apelação, quando o juiz extingue o processo por indeferimento da inicial ou julga a ação improcedente com fundamento no art. 285-A do CPC.

PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE DOS RECURSOS

• Uma confirmação desta tendência é a nova regra instituída no § 1º do art. 518 do CPC, segundo o qual o juiz não receberá o recurso de apelação quando a sentença estiver em conformidade com súmula do STJ ou do STF.

• Art. 518 - Interposta a apelação, o juiz, declarando os efeitos em que a recebe, mandará dar vista ao apelado para responder.

• § 1º O juiz não receberá o recurso de apelação quando a sentença estiver em conformidade com súmula do Superior Tribunal de Justiça ou do Supremo Tribunal Federal.

PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE DOS RECURSOS

• A cada reforma legislativa que se faz se outorgam mais poderes ao relator, que pode, segundo a redação do art. 557, § 1º-A, dar provimento ao recurso se a decisão recorrida estiver em manifesto confronto com súmula ou com jurisprudência dominante dos tribunais superiores.

• Art. 557 - O relator negará seguimento a recurso manifestamente inadmissível, improcedente, prejudicado ou em confronto com súmula ou com jurisprudência dominante do respectivo tribunal, do Supremo Tribunal Federal, ou de Tribunal Superior.

• § 1º-A - Se a decisão recorrida estiver em manifesto confronto com súmula ou com jurisprudência dominante do Supremo Tribunal Federal, ou de Tribunal Superior, o relator poderá dar provimento ao recurso.

• A regra do art. 557 do CPC que autoriza o relator a decidir o recurso, de acordo com a Súmula 253 do STJ, alcança inclusive o reexame necessário.

PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE DOS RECURSOS

• São pressupostos de admissibilidade subjetivos (que levam em consideração a qualidade necessária à pessoa do recorrente; que dizem respeito às pessoas legitimadas a recorrer): legitimidade e interesse.

• São pressupostos de admissibilidade objetivos (que dizem respeito às exigências legais para o conhecimento do recurso):- recorribilidade da decisão,-tempestividade,- singularidade do recurso,- adequação ou cabimento,- preparo,- motivação e forma,- e inexistência de fatos modificativos ou extintivos do direito de recorrer.

PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE DOS RECURSOS

• Se todos os pressupostos de admissibilidade forem observados, o órgão revisor “conhecerá do recurso”.

• Caso contrário, dele “não conhecerá”, ou seja, o recurso será rejeitado, sem exame do pedido de novo julgamento da questão que fora solucionada pelo decisório recorrido, ou seja, sem exame do mérito do recurso interposto.

• Dá-se a morte do procedimento recursal no estágio da verificação dos pressupostos de admissibilidade.

PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE DOS RECURSOS

• Importante esclarecer que o mérito do recurso não se confunde com o mérito da causa determinado pelo pedido do autor formulado na petição inicial e que envolve sempre uma questão de direito material.

• No recurso, também, há sempre um pedido – o de novo julgamento, para reformar, anular ou aperfeiçoar a decisão impugnada.

• Esse pedido – mérito do recurso – pode ou não referir-se a uma questão de direito material.

PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE DOS RECURSOS

• Às vezes a pretensão de invalidação da sentença, formulada pelo recorrente, envolverá questão puramente processual.

• Seu julgamento, porém, não será de preliminar, mas de mérito, mérito não da causa e sim do recurso.

• Preliminares do recurso são apenas as questões que antecedem a apreciação do pedido contido no próprio recurso, são os pressupostos de admissibilidade.

PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE DOS RECURSOS

• Mérito do recurso é o julgamento dos fundamentos ou motivos do recurso, feito sempre pelo juízo ad quem (grau superior) em uma sessão de julgamento, salvo nos embargos de declaração e no juízo de retratação (feito no juízo a quo).

• Exemplo: quando se faz uma apelação e se quer alegar que o juiz é incompetente, não se deve alegar a incompetência como preliminar, pois esta é a própria causa de pedir do recurso.

PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE DOS RECURSOS

• Salvo em caso de não conhecimento do recurso, o acórdão que julga o recurso (dá ou nega provimento) substitui a decisão recorrida, nos limites do recurso interposto (art. 512).

• Art. 512 - O julgamento proferido pelo tribunal substituirá a sentença ou a decisão recorrida no que tiver sido objeto de recurso.

• Ao substituí-lo, acarreta praticamente sua cassação, até mesmo quando o confirma (ou mantém), pois o novo julgamento ocupa no processo, para todos os efeitos, o lugar da sentença ou acórdão que tiver sido objeto do recurso interposto.

PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE DOS RECURSOS

• Legitimidade

• A lei confere legitimidade para interpor recurso às partes do processo em que a decisão foi proferida, ao representante do Ministério Público, quando atua no feito (ou nele pode atuar) e ao terceiro prejudicado pelo efeito reflexo do ato decisório (art. 499 do CPC).

• Art. 499 - O recurso pode ser interposto pela parte vencida, pelo terceiro prejudicado e pelo Ministério Público.

PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE DOS RECURSOS

• A legitimidade para recorrer decorre ordinariamente da posição em que o inconformado (recorrente) já ocupava como sujeito da relação jurídica processual em que se proferiu a decisão recorrida; portanto, a parte vencida é que ordinariamente tem legitimidade para interpor recurso.

• A lei, no entanto, prevê, em determinadas circunstâncias, legitimação recursal extraordinária para quem não seja parte, como o representante do Ministério Público e o terceiro prejudicado.

PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE DOS RECURSOS

• O terceiro, embora não seja vencido, por não ser parte no processo, pode vir a sofrer prejuízo em decorrência da sentença.

• Isto se dá quando ocorre "o nexo de interdependência entre o seu interesse de intervir e a relação jurídica submetida à apreciação judicial" (art. 499, § 1º, do CPC).

• Art. 499 - O recurso pode ser interposto pela parte vencida, pelo terceiro prejudicado e pelo Ministério Público.

• § 1º - Cumpre ao terceiro demonstrar o nexo de interdependência entre o seu interesse de intervir e a relação jurídica submetida à apreciação judicial.

PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE DOS RECURSOS

• Portanto, para que o terceiro interfira no processo através de recurso, é necessário demonstrar uma relação jurídica com o vencido que sofra prejuízo, em decorrência da sentença.

• Seu interesse para recorrer seria resultante do nexo entre as duas relações jurídicas:

- de um lado, a que é objeto do processo, e, de outro;

- a de que é titular, ou de que se diz titular o terceiro (interesse jurídico).

PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE DOS RECURSOS

Como exemplo pode ser citado o interesse do locatário frente à sentença que resolve o domínio do locador.

O recurso do terceiro interessado apresenta-se como forma ou modalidade de intervenção de terceiro na fase recursal.

Equivale à assistência (litisconsorcial), para todos os efeitos, inclusive de competência.

PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE DOS RECURSOS

Na lição de Liebman, seguida por nosso Código:

"são legitimados a recorrer apenas os terceiros que teriam podido intervir como assistentes", ou seja;

aqueles que mantenham uma relação jurídica com a parte assistida, e que possam sofrer prejuízo em decorrência do resultado adverso da causa.

PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE DOS RECURSOS

• Como interveniente, apenas para coadjuvar a parte assistida, o terceiro que recorre no processo alheio não pode defender direito próprio que exclua o direito dos litigantes. O recurso do terceiro, portanto, há de ser com o fito de defender a parte sucumbente, tão apenas.

• O prazo do terceiro, para recorrer, é o mesmo da parte a que ele assiste, muito embora não tenha o assistente recebido qualquer intimação da decisão.

• O dies a quo (termo inicial do prazo recursal), portanto, fixa-se pela data da intimação da parte assistida.

PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE DOS RECURSOS

• Por outro lado, o Ministério Público, nos termos do § 2º do art. 499 do CPC, tem legitimidade para recorrer tanto no processo em que é parte, como naqueles em que oficiou como fiscal da lei.

• Recorrendo, assume o Ministério Público, no procedimento recursal, a condição de parte, com iguais poderes e ônus à semelhança do que ocorre quando exerce o direito de ação, salvo a regra especial que dispensa de preparo os recursos por ele interpostos.

Súmula 99 STJ - O Ministério Público tem legitimidade para recorrer no processo em que oficiou como fiscal da lei, ainda que não haja recurso da parte.

PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE DOS RECURSOS

• As únicas hipóteses de recurso de ofício estão elencadas no art. 475 do CPC (são as hipóteses de reexame necessário, nas quais a sentença proferida somente produz efeitos depois de confirmada pelo órgão superior).

• Ao princípio da voluntariedade do recurso (à parte deve ser conferida ampla liberdade para interpor recurso, demonstrando sua concordância ou não com o pronunciamento jurisdicional), a lei abre exceções, prevendo o denominado recurso de ofício (recurso obrigatório, recurso necessário).

PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE DOS RECURSOS

• Apresenta-se o recurso ex officio como uma providência imposta por lei no sentido do reexame de sentenças e decisões pelos órgãos judiciários superiores, quando versem determinadas matérias e segundo a decisão adotada.

• A existência de interesse público relevante torna obrigatória a reapreciação da causa julgada.

• Este recurso de ofício é tido como um recurso anômalo. São recursos que obrigatoriamente devem ser interpostos pelo juiz, na decisão, não transitando em julgado a sentença em que tiver sido omitido.

PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE DOS RECURSOS

• Tratando-se de recurso de ofício, desnecessário é que seja ele fundamentado, ou seja, o juiz não precisa dizer das razões que o levam a recorrer.

• Também não se devem intimar as partes para o arrazoarem.

• Não está a sua interposição sujeita a prazo, podendo o Tribunal tomar dele conhecimento em qualquer momento em que os autos cheguem ao Tribunal.

PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE DOS RECURSOS

• Interesse

• Também para recorrer se exige a condição do interesse, tal como se dá com a propositura da ação;

• O exercício do direito de recorrer está subordinado à existência de um interesse direto na reforma ou modificação da decisão.

• O recurso interposto pela parte deve ser útil (haver sucumbência) e ainda ser necessário (ser a única maneira de melhorar sua situação).

PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE DOS RECURSOS

• O que justifica o recurso é o prejuízo, ou gravame, que a parte sofreu com a sentença, ou seja, o interesse em recorrer está ligado ao conceito de sucumbência (sucumbir consiste em não receber da decisão tudo o que dela se esperava).

• Só pode interpor recurso quem tenha sofrido prejuízo com a decisão prolatada, ou seja, que tenha perdido a ação ou deixado de ganhar o que pleiteou em termos processuais.

PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE DOS RECURSOS

• Como o recurso é o meio que tem por finalidade restaurar o interesse da parte lesada, é evidente que, ao menos em princípio, só quem foi prejudicado pela decisão pode lançar mão dele.

• Só o vencido, no todo ou em parte, tem interesse para interpor recurso.

• O correto é dizer que ambas as partes tem legitimidade para recorrer, tendo interesse para fazê-lo somente a parte sucumbente. Se ocorrer sucumbência recíproca, ambas as partes serão legitimadas para recorrer.

PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE DOS RECURSOS

• Para as decisões interlocutórias o interesse em recorrer surge quando gerada ao recorrente uma situação de desvalia no processo.

• Já para as sentenças, o autor sucumbe quando não tem acolhimento integral de sua pretensão, na forma como deduzida na inicia;

• o réu, por sua vez, sucumbe quando o pedido do autor é atendido, mesmo que parcialmente.

PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE DOS RECURSOS

• Um exemplo famoso de recurso inútil é o acórdão com dois fundamentos, um constitucional e um legal, sendo que qualquer deles é suficiente para sustentar a decisão, ou seja, para se derrubar o acórdão seria necessário refutar os dois argumentos.

• Numa situação como esta deverá o sucumbente impetrar simultaneamente com recurso especial o extraordinário, pois a utilização de apenas um recurso se demonstrará inútil.

PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE DOS RECURSOS

• Exemplo de recurso desnecessário é a apelação na ação monitória, pois o réu pode fazer uso dos embargos.

• Súmula 126 do STJ - É inadmissível recurso especial, quando o acórdão recorrido assenta em fundamentos constitucional e infraconstitucional, qualquer deles suficiente, por si só, para mantê-lo, e a parte vencida não manifesta recurso extraordinário.

PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE DOS RECURSOS

• O recurso do terceiro prejudicado é forma de intervenção de terceiros em fase recursal, sendo seu interesse caracterizado pela qualidade de assistente que poderia ter ostentado no processo em primeiro grau.

• Assim, proferida a sentença no processo em que ele poderia ter promovido intervenção na qualidade de terceiro interessado, e tendo esta decisão judicial produzido efeitos prejudiciais em sua esfera de interesses jurídicos (não os efeitos da coisa julgada, mas aqueles que se poderiam considerar efeitos reflexos ou indiretos da sentença), de terceiro interessado passa a ser terceiro (efetivamente) prejudicado, tendo interesse em recorrer.

• Portanto, seu recurso visa à vitória de seu assistido e não o amparo a direito próprio (do terceiro recorrente)

PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE DOS RECURSOS

• O interesse do Ministério Público em recorrer está vinculado à natureza da sua função exercida no processo.

• Por vezes sua intervenção é determinada pela matéria objeto do processo, cuja relevância do interesse público demanda a participação da instituição defensora da sociedade. Nestas hipóteses seu interesse surge pela simples discordância com o teor da decisão proferida.

• Já nos casos em que sua intervenção é determinada pela qualidade especial de hipossuficiência de uma das partes (incapazes, idosos, etc.), não tem ele interesse em recorrer da decisão que favoreça quem devia defender, vinculada a admissibilidade de seu recurso à sucumbência do hipossuficiente. Importante lembrar que o Ministério Público tem independência funcional.

PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE DOS RECURSOS

• Ressalte-se que inconformidade com a fundamentação da sentença não é, por si só, causa para recurso, se a parte saiu vencedora, isto é, não teve o pedido repelido, total ou parcialmente.

• Só a sucumbência é que justifica o recurso, não a diversidade dos fundamentos pelos quais foi essa mesma ação acolhida.

• Interessante, é a situação do litisconsórcio unitário, onde, havendo sucumbência, qualquer dos litisconsortes poderá interpor recurso separadamente; e, devendo ser uniforme a decisão para os litisconsortes, o recurso interposto por um deles a todos aproveita.

PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE DOS RECURSOS

• Reformatio in pejus – embora omisso o Código, a doutrina é uniforme em repelir a possibilidade de reformatio in pejus, ou seja, é vedada a reforma da decisão recorrida para piorar a situação jurídica do recorrente, sem que tenha a outra parte também recorrido.

• No julgamento do recurso pode-se acolher ou não o pedido de reforma formulado pelo recorrente, mas não se tolera que a pretexto de reexame da decisão impugnada, se lhe possa impor um gravame maior do que o constante da decisão reexaminada, e que não tenha sido objeto, também, de recurso do adversário do recorrente.

PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE DOS RECURSOS

• Sobre a parte da sentença que não foi objeto de recurso pelo adversário do apelante, e que eventualmente poderia ser alterada em prejuízo deste, incidiu a coisa julgada, diante de inércia daquele a que a reforma da sentença favoreceria.

• Valer-se do recurso para agravar a situação do recorrente importa, em outros termos, decidir extra ou ultra petita, atuar jurisdicionalmente de ofício, e violar a coisa julgada ou a preclusão, no tocante aquilo que se tornou definitivo para a parte que não recorreu.

PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE DOS RECURSOS

• A única hipótese em que o sistema permite a piora da situação do recorrente é a da necessidade de o órgão ad quem decidir matéria de ordem pública.

• Assim, por exemplo:

• O autor que recorreu por ter sido considerado parte ilegítima pode eventualmente ter essa decisão alterada para pior, se chegar à conclusão de que havia coisa julgada anterior; decisão esta que impede a repropositura da ação.

PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE DOS RECURSOS

• Recorribilidade da decisão

• Já foi mencionado que somente as sentenças (art. 513 do CPC) e decisões interlocutórias (art. 522 do CPC) são recorríveis.

• Dos despachos de mero expediente não cabe recurso algum (art. 504 do CPC).

PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE DOS RECURSOS

• Tempestividade

• O recurso deve ser manejado em tempo hábil, ou seja, deve ser interposto dentro do prazo legal. Isto porque nosso sistema processual é baseado em preclusões, com perda de faculdades processuais pelo seu não exercício no momento oportuno.

• Cada espécie de recurso tem um prazo próprio, que é idêntico e comum para ambas as partes.

PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE DOS RECURSOS

• Tempestividade

• Por exceção, concede-se à Fazenda Pública e ao Ministério Público o prazo em dobro para recorrer (art. 188 do CPC).

• Haverá também contagem em dobro do prazo quando houver litisconsortes não representados pelo mesmo advogado (art. 191 do CPC), desde que a decisão tenha prejudicado todos ou mais de um litisconsorte, e quando a parte estiver representada por defensor dativo (§ 5º do art. 5º da Lei 1.060/1950).

• Súmula 641 STF - Não se conta em dobro o prazo para recorrer, quando só um dos litisconsortes haja sucumbido.

PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE DOS RECURSOS

• O termo inicial do prazo recursal é determinado pela intimação dos advogados sobre a decisão proferida, que se verifica, conforme o art. 506 do CPC:- pela leitura da sentença em audiência;- pela intimação direta dos representantes processuais dos litigantes, no caso de sentença não proferida em audiência;- ou pela publicação da súmula do acórdão no órgão oficial, quando se tratar de decisões de tribunais.

O início do prazo para interposição do recurso também pode ocorrer na data em que a parte tiver ciência inequívoca do ato decisório, tornando desnecessária a intimação, razão pela qual o recurso interposto antes da intimação não é intempestivo (fora do prazo).

PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE DOS RECURSOS

• Para o revel correrão todos os prazos, independentemente de intimação (art. 322 do CPC), inclusive os de recurso, salvo se após a caracterização da revelia tenha cessado a contumácia (recusa do comparecimento em juízo), pelo seu comparecimento posterior.

• No prazo legal deverá a petição de interposição do recurso estar protocolada em cartório ou segundo a norma de organização judiciária (art. 506 do CPC).

• Também se aplica aos recursos a Lei nº 9.800/99, que permite às partes a utilização de sistema de transmissão de dados e imagens tipo fac-símile ou outro similar, para a prática de atos processuais que dependam de petição escrita, desde que os originais sejam entregues em juízo, necessariamente, até cinco dias da data do término do prazo estipulado em lei.

PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE DOS RECURSOS

• Quanto ao prazo para a interposição de recursos no STJ, vigora a Súmula nº 216 dessa Corte:

"A tempestividade do recurso interposto no Superior Tribunal de Justiça é aferida pelo registro no protocolo da Secretaria e não pela data da entrega na agência do correio".

• Esgotado o prazo estipulado pela lei torna-se precluso (perda da possibilidade de praticar ato processual) o direito de recorrer. Trata-se de prazo peremptório, insuscetível de dilação convencional pelas partes.

• Pode, todavia, haver suspensão ou interrupção do prazo de recursos nos casos expressamente previstos em lei.

PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE DOS RECURSOS

• Ocorre suspensão quando o curso do prazo sofre paralisação temporária, mas sem prejuízo do lapso já vencido.

• Verifica-se a interrupção quando vencido o obstáculo, o prazo reinicia a correr por inteiro.

• São casos de suspensão do prazo recursal os dos arts. 179 do CPC (férias) e 180 do CPC (obstáculo criado pela parte contrária), entre outros.

• Há também, o obstáculo judicial, não mencionado pelo Código, mas que evidentemente suspende o prazo de recurso.

PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE DOS RECURSOS

• Os casos do art. 507 do CPC são típicos de interrupção, de maneira que, após os fatos ali mencionados, se reinicia a contagem integral do prazo de recurso.

• Para ter a eficácia interruptiva, é indispensável que o fato ocorra dentro do prazo de recurso.

• O interessado deverá provar nos autos a verificação do fato para que o juiz admita a interrupção, restituindo-lhe o prazo que voltará a fluir a partir da intimação da decisão.

• Ocorre, também, interrupção do prazo de recurso quando qualquer das partes, em tempo hábil, manifesta embargos de declaração (art. 538).

PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE DOS RECURSOS

• A devolução do prazo será requerida pela parte logo ao término do empecilho à prática do ato desejado.

• Não existindo prazo especial na lei para esse requerimento, aplica-se o disposto na regra geral do art. 185 do CPC, de sorte que, no máximo até cinco dias do evento, terá de ser requerida a reabertura do prazo, sob pena de preclusão.

PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE DOS RECURSOS

• Singularidade do recurso - princípio da unirecorribilidade

• Pelo princípio da unirecorribilidade dá-se a impossibilidade da interposição simultânea de mais de um recurso.

• Este princípio comporta duas aparentes exceções.

A primeira é a interposição simultânea de recurso extraordinário e de recurso especial contra o mesmo acórdão (art. 541 do CPC).

A outra é a possibilidade de interposição de ambos ou algum deles juntamente com os embargos infringentes.

São exceções meramente aparentes, já que na realidade não são dois ou mais recursos cabíveis contra a mesma decisão, mas recursos distintos contra partes diversas do mesmo julgado (cada recurso ataca parte distinta do ato decisório recorrido).

PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE DOS RECURSOS

• No caso excepcional dos embargos de declaração, pode ocorrer o duplo recurso contra uma só decisão.

• Mas a exceção ao princípio da unirecorribilidade também é aparente porque, na realidade, os recursos serão sucessivos, já que o primeiro interrompe o prazo da apelação, além de terem objetivos diversos.

• Na verdade deve-se entender esse princípio de maneira que existe um recurso para cada propósito.

PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE DOS RECURSOS

• Adequação/Cabimento - princípio da correspondência

• Pelo princípio