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Teoria Geral do Direito Processual Civil II 4º Semestre Profª Maria Carolina Beraldo [email protected]

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Teoria Geral do Direito Processual Civil II

4º Semestre

Profª Maria Carolina Beraldo

[email protected]

COMPETÊNCIA

1. Conceito

Competência pode ser conceituada como o poder de exercer a jurisdição nos limites

estabelecidos pela lei ou, em conceituação generalizada, é o âmbito dentro do qual o

juiz pode exercer a jurisdição(Moacyr Amaral Santos in Primeiras Linhas)

a competência vem disciplinada tanto na Constituição Federal como também nas leis infraconstitucionais e, para o que interessa

aos fins da nossa matéria, sua disciplina vem prevista nos arts. 86 a 124 do Código

de Processo Civil

CompetênciaTÍTULO IV

DOS ÓRGÃOS JUDICIÁRIOS E DOS AUXILIARES DA JUSTIÇACAPÍTULO I

DA COMPETÊNCIA

Art. 86. As causas cíveis serão processadas e decididas, ousimplesmente decididas, pelos órgãos jurisdicionais, nos limitesde sua competência, ressalvada às partes a faculdade deinstituírem juízo arbitral.

Art. 87. Determina-se a competência no momento em que a ação éproposta. São irrelevantes as modificações do estado de fato

ou de direito ocorridas posteriormente, salvo quandosuprimirem o órgão judiciário ou alterarem a competência emrazão da matéria ou da hierarquia.

2. Competência Internacional

limites da jurisdição nacional, ou seja, da Justiça brasileira

2.1 Espécies: - concorrente (cumulativa)- exclusiva

2.3 Conseqüência do reconhecimento da incompetência internacional: extinção do processo

CAPÍTULO IIDA COMPETÊNCIA INTERNACIONAL

Art. 88. É competente a autoridade judiciária brasileira quando:

I - o réu, qualquer que seja a sua nacionalidade, estiver domiciliado noBrasil;

II - no Brasil tiver de ser cumprida a obrigação;

III - a ação se originar de fato ocorrido ou de ato praticado no Brasil.

Parágrafo único. Para o fim do disposto no no I, reputa-se domiciliada noBrasil a pessoa jurídica estrangeira que aqui tiver agência, filial ousucursal.

Art. 89. Compete à autoridade judiciária brasileira, com exclusão dequalquer outra:

I - conhecer de ações relativas a imóveis situados no Brasil;

II - proceder a inventário e partilha de bens, situados no Brasil, ainda que oautor da herança seja estrangeiro e tenha residido fora do territórionacional.

DA COMPETÊNCIA INTERNACIONAL(cont.)

Art. 90. A ação intentada perante tribunal estrangeiro não induzlitispendência, nem obsta a que a autoridade judiciária brasileiraconheça da mesma causa e das que Ihe são conexas.

3. Critérios legais determinativos da Competência interna

• Valor da causa

• Matéria

• Funcional

• Território

os antigos praxistas distribuíam a competência conforme três outros critérios:

• em razão da matéria (ratione materiae)

• em razão das pessoas (ratione personae)

• em razão do lugar (ratione loci)

Chiovenda, de seu turno, distribuiu a competência segundo três critérios:

• Objetivo (valor da causa e material)

• Territorial

• Funcional

* em razão da pessoa

3.1 Competência em razão do valor da causa

uma vez fixada a competência do foro em razão do território, podem as normas de organização

judiciária, segundo previsto no art. 91, utilizar-se do critério “valor da causa” para criação de juízos

privativos

Em São Paulo, a competência dos diversos juízos não leva em conta o valor da causa, mas sim a

matéria (varas de família, v.g.) e as pessoas (Varas de Fazenda Pública)

Atenção:

O valor da causa constitui um dos critérios para definir o procedimento a ser observado

no julgamento. O rito sumário, por exemplo, é observado nas causas cujo valor

não exceder a 60 salários mínimos (art. 275)!!

3.2 Competência em razão da matéria e em razão da pessoa

Tal como o valor da causa, a matéria e a qualidade das pessoas envolvidas no litígio não são utilizadas pelo Código para definir

a competência, mas a Constituição da República e as leis de organização judiciária

utilizam-se de ambos os critérios para estabelecimento de competência

CAPÍTULO IIIDA COMPETÊNCIA INTERNA

Seção IDa Competência em Razão do Valor e da Matéria

Art. 91. Regem a competência em razão do valor e da matéria asnormas de organização judiciária, ressalvados os casosexpressos neste Código.

Art. 92. Compete, porém, exclusivamente ao juiz de direito

processar e julgar:

I - o processo de insolvência;

II - as ações concernentes ao estado e à capacidade da pessoa.

3.3 Competência Funcional

O critério funcional leva em conta a função de cada órgão jurisdicional para praticar atos do processo ou grau de jurisdição

• Atos do processo – CPC regula

• Grau de Jurisdição – competência hierárquica – CF e normas de organização

judiciária regulam

Seção IIDa Competência Funcional

Art. 93. Regem a competência dostribunais as normas da Constituição daRepública e de organização judiciária. Acompetência funcional dos juízes deprimeiro grau é disciplinada nesteCódigo.

3.4 Competência Territorial

A competência territorial (ou de foro) leva em conta a divisão do território nacional em

circunscrições judiciárias

• J. Estadual: comarcas

• J. Federal: seções e sub-seções judiciárias

Seção IIIDa Competência Territorial

Art. 94. A ação fundada em direito pessoal e a ação fundada emdireito real sobre bens móveis serão propostas, em regra, noforo do domicílio do réu.

§ 1o Tendo mais de um domicílio, o réu será demandado no foro de

qualquer deles.

§ 2o Sendo incerto ou desconhecido o domicílio do réu, ele serádemandado onde for encontrado ou no foro do domicílio do

autor.

§ 3o Quando o réu não tiver domicílio nem residência no Brasil, aação será proposta no foro do domicílio do autor. Se estetambém residir fora do Brasil, a ação será proposta em qualquer

foro.

§ 4o Havendo dois ou mais réus, com diferentes domicílios, serãodemandados no foro de qualquer deles, à escolha do autor.

Da Competência Territorial (cont.)

Art. 95. Nas ações fundadas em direito real sobre imóveis é competente o

foro da situação da coisa. Pode o autor, entretanto, optar pelo foro

do domicílio ou de eleição, não recaindo o litígio sobre direito de

propriedade, vizinhança, servidão, posse, divisão e demarcação de

terras e nunciação de obra nova.

Art. 96. O foro do domicílio do autor da herança, no Brasil, é o

competente para o inventário, a partilha, a arrecadação, o cumprimento

de disposições de última vontade e todas as ações em que o espólio

for réu, ainda que o óbito tenha ocorrido no estrangeiro.

Parágrafo único. É, porém, competente o foro:

I - da situação dos bens, se o autor da herança não possuía domicíliocerto;

II - do lugar em que ocorreu o óbito se o autor da herança não tinha

domicílio certo e possuía bens em lugares diferentes.

Da Competência Territorial (cont.)

Art. 97. As ações em que o ausente for réu correm no foro de seu últimodomicílio, que é também o competente para a arrecadação, oinventário, a partilha e o cumprimento de disposições testamentárias.

Art. 98. A ação em que o incapaz for réu se processará no foro dodomicílio de seu representante.

Art. 99. O foro da Capital do Estado ou do Território é competente:

I - para as causas em que a União for autora, ré ou interveniente;

II - para as causas em que o Território for autor, réu ou interveniente.

Parágrafo único. Correndo o processo perante outro juiz, serão os autosremetidos ao juiz competente da Capital do Estado ou Território, tantoque neles intervenha uma das entidades mencionadas neste artigo.

Excetuam-se:

I - o processo de insolvência;

II - os casos previstos em lei.

Da Competência Territorial (cont.)

Art. 100. É competente o foro:

I - da residência da mulher, para a ação de separação dos cônjuges e aconversão desta em divórcio, e para a anulação de casamento;

II - do domicílio ou da residência do alimentando, para a ação em que se pedemalimentos;

III - do domicílio do devedor, para a ação de anulação de títulos extraviados oudestruídos;

IV - do lugar:

a) onde está a sede, para a ação em que for ré a pessoa jurídica;

b) onde se acha a agência ou sucursal, quanto às obrigações que ela contraiu;

c) onde exerce a sua atividade principal, para a ação em que for ré a sociedade,que carece de personalidade jurídica;

d) onde a obrigação deve ser satisfeita, para a ação em que se Ihe exigir ocumprimento;

V - do lugar do ato ou fato:

a) para a ação de reparação do dano;

b) para a ação em que for réu o administrador ou gestor de negócios alheios.

Parágrafo único. Nas ações de reparação do dano sofrido em razão de delito ouacidente de veículos, será competente o foro do domicílio do autor ou do localdo fato.

(In)Competência Absoluta e

(In)Competência Relativa

Incompetência absoluta

Torna ilegítima a atuação do órgão jurisdicional no processo, padecendo de

nulidade insanável os atos decisórios dele emanados

• em razão da matéria• em razão da pessoa

• em razão do critério funcional

Incompetência absoluta (cont.)

Características:

- norma cogente (de ordem pública)

- Insanável – nulidade de todos os atos decisórios; possibilidade de ajuização da ação rescisória

- Cognoscível de ofício, a qualquer tempo e grau de jurisdição

Art. 113. A incompetência absoluta deve ser declarada de ofício e pode ser alegada, em qualquer tempo e

grau de jurisdição, independentemente de exceção.

§ 1o Não sendo, porém, deduzida no prazo da

contestação, ou na primeira oportunidade em que Ihe

couber falar nos autos, a parte responderáintegralmente pelas custas.

§ 2o Declarada a incompetência absoluta, somente os atos decisórios serão nulos, remetendo-se os autos

ao juiz competente.

Incompetência relativa

Acarreta a nulidade dos atos decisórios, devendo ser arguida e declarada na

oportunidade e forma previstas em lei

• em razão do território (exceção: art. 95, 2a. Parte, CPC)

• em razão do valor da causa

Art. 112. Argúi-se, por meio de exceção, a incompetência relativa.

Art. 304. É lícito a qualquer das partes argüir, por meio de exceção, a

incompetência (art. 112), o impedimento (art. 134) ou a

suspeição (art. 135).

Perpetuatio Jurisdicionis

Princípio segundo o qual o que determina a competência são os elementos de fato e de

direito existentes no momento da propositura da ação. Uma vez fixada a

competência, a alteração desses elementos não tem qualquer influência sobre a

competência (art. 87)

Ao fixar os critérios determinativos da competência territorial, o CPC o faz

abstratamente, ou seja, prevê critérios para o juizamento, em tese, de uma demanda

(ex.: local do domicílio do réu ou da situação do imóvel)

Modificação ou prorrogação da competência relativa

• Conexão

• Continência

• Eleição de foro

Influência sobre a fixação da competência em concreto

• Conexão: mesmo objeto ou causa de pedir (103, CPC)

• Continência: identidade quanto às partes e à causa de pedir, mas o objeto de uma, por ser mais amplo, abrange o das outras (art. 104, CPC)

Conexão ou continência são fenômenos que provocam a reunião dos feitos (para evitar

julgamentos inconciliáveis). Uma vez verificada a necessidade de se reunir, deve-se saber onde: o critério para a identificação do juízo perante o qual tramitarão ambos os

feitos é a PREVENÇÃO.

Prevenção: significa a definição prévia de competência de determinado órgão

jurisdicional em razão de circunstâncias relativas à demanda ou recurso anteriormente a ele distribuído.

• Ações conexas correndo em separado perante juízes que têm a mesma competência territorial: considera-se prevento aquele que DESPACHOU em primeiro lugar (art. 106)

• Ações conexas correndo em separado perante juízes que têm diferente competência territorial (comarcas distintas): prevenção decorrerá da CITAÇÃO (art. 219)

Arguição da incompetência

• Incompetência relativa: por meio de exceção (art. 112)

• Incompetência absoluta: pode ser declarada de ofício ou pelas partes em qualquer tempo e grau de jurisdição (art. 113)

Conflito de competência

Art. 115. Há conflito de competência:I - quando dois ou mais juízes se

declaram competentes;II - quando dois ou mais juízes se

consideram incompetentes;III - quando entre dois ou mais juízes

surge controvérsia acerca da reunião ou separação de processos.

Quem pode suscitar o conflito de competência?

Art. 116. O conflito pode ser suscitado por qualquer das partes, pelo Ministério Público ou pelo juiz.

Parágrafo único. O Ministério Público seráouvido em todos os conflitos decompetência; mas terá qualidade de

parte naqueles que suscitar.

Art. 117. Não pode suscitar conflito aparte que, no processo, ofereceuexceção de incompetência.

Parágrafo único. O conflito decompetência não obsta, porém, a que aparte, que o não suscitou, ofereçaexceção declinatória do foro.

Até quando pode ser suscitado o conflito de competência?

Até o trânsito em julgado da respectiva decisão (Súmula 59, STJ)

Procedimento

Art. 118. O conflito será suscitado ao presidente do

tribunal:

I - pelo juiz, por ofício;

II - pela parte e pelo Ministério Público, por petição.

Parágrafo único. O ofício e a petição serão instruídos

com os documentos necessários à prova do conflito.

Art. 119. Após a distribuição, o relator mandará ouvir os

juízes em conflito, ou apenas o suscitado, se um

deles for suscitante; dentro do prazo assinado pelorelator, caberá ao juiz ou juízes prestar as

informações.

Art. 120. Poderá o relator, de ofício, ou a

requerimento de qualquer das partes,

determinar, quando o conflito for positivo,

seja sobrestado o processo, mas, neste caso,bem como no de conflito negativo, designaráum dos juízes para resolver, em caráter

provisório, as medidas urgentes.

Julgamento

A competência para julgamento do conflito de competência varia de acordo com o status

do órgão jurisdicional que o suscita:

• Conflito entre STJ e quaisquer tribunais, ou entre Tribunais Superiores �STF (102, I, o, CF)

• Conflito de competência entre quaisquer Tribunais, bem como entre Tribunais e juízes a ele

não vinculados � STJ

• Conflito de competência entre juízes de um mesmo Tribunal � Tribunal de Justiça do Estado

• Conflito de competência entre juízes federais vinculados ao Tribunal � Tribunal Regional

Federal

Jurisprudência temática

• Súmulas do STF: 508, 517, 556, 624

• Súmulas do STJ: 1, 3, 11, 33, 34, 41, 42, 55, 59, 82, 150, 177, 224, 235, 254

4. Metodologia para determinação da competência:

1. Qual a justiça competente, nacional ou estrangeira?

2. Justiça comum ou especializada? (Análise da CF)

3. Justiça comum federal ou estadual? (Análise da CF – art. 109)

4. Competência funcional: órgão superior ou inferior?

5. Qual o foro competente?

6. Qual o juízo competente?

EXERCÍCIO

Uma atriz americana, atualmente residindo em Belo Horizonte, pretendendo se separar judicialmente

de seu marido, procura o advogado em seu escritório, a fim de que ele proponha a ação

competente. Informa-o de que o marido é italiano, diretor de cinema; casaram-se na Bélgica, quando

ambos trabalhavam no filme “Nada ficou no lugar”, sendo que há dois anos ele reside no Rio de Janeiro, onde permanecerá por muito tempo,

em razão de ter firmado contrato com uma empresa brasileira de televisão.

Afora outros aspectos de direito, o advogado terá de explicar à cliente onde a ação será proposta: no Brasil, nos Estados Unidos, na Itália ou na Bélgica? Se no Brasil, em qual foro (comarca) e em qual juízo (vara)?

Metodologia para determinação da competência

1. Qual a justiça competente: nacional ou estrangeira?

A despeito da nacionalidade dos cônjuges e de o casamento ter sido contraído no estrangeiro, a justiça brasileira é

competente porque o réu está domiciliado no Brasil (art. 88, I). Note-se que essa competência é concorrente (se a ação for proposta na Bélgica e ocorrer a coisa julgada, a

parte poderá pedir a homologação do julgado para produzir efeitos no território nacional (art. 483)

Metodologia para determinação da competência

2. Definida a competência da justiça brasileira, resta saber: a ação deve ser proposta na justiça comum ou especializada?

A resposta está na CF, uma vez que nela se encontra fixada a competência da justiça especializada (a competência da justiça comum é residual). Não estando a ação de separação judicial elencada entre aquelas da competência da justiçca especializada, conclui-se que a competência é da justiça comum!

Metodologia para determinação da competência

3. Definida a competência da justiça comum, cabe indagar: a demanda deve ser proposta na justiça comum federal ou na justiça comum estadual?

Verificando-se que a ação de separação judicial não se inclui entre aquelas da competência dos juízes federais (cf. art. 109, CF), será da competência da justiça comum estadual!

Metodologia para determinação da competência

4. Cabe agora verificar se o conhecimento da causa cabe a órgão superior ou inferior.

A competência dos tribunais (hierárquica) é espécie do gênero competência funcional.

Verificando-se a CF e a CE, chega-se à conclusão de que o conhecimento da ação

de divórcio cabe a orgão inferior.

Metodologia para determinação da competência

5. Definido que a ação pode ser proposta no Brasil, em órgão inferior da justiça comum estadual, pergunta-se: em qual comarca (foro) deve ser proposta?

A competência, no caso, é territorial, portanto, regulada pelo Código de Processo Civil. Assim, deve-se verificar se para a ação a ser proposta o Código prevê ou não foro especial, não se esquecendo de que o foro geral (domicílio do réu) é residual. Para a ação de separação judicial o Código prevê como foro (especial) o da residência da mulher (art. 100,

I). Assim, o foro competente é o da comarca de Belo Horizonte.

Metodologia para determinação da competência

6. Ocorre que em Belo Horizonte, tal como em São Paulo e de um modo geral nas comarcas de maior porte, as varas são especializadas em razão da matéria, das pessoas ou do valor da causa. Em face disso, pergunta-se: qual o juízo competente?A competência de foro é regulada pelo CPC e a competência de juízo pelas normas de organização

judiciária. No caso específico, segundo a Lei de Organização Judiciária do Estado de MG (no

Estado de São Paulo trata-se do Decreto-lei Nº 158, de

28 de outubro de 1969), a competência é de uma das varas de família.

FONTES:• Cândido Rangel Dinamarco, Instituições de

Direito Processual Civil

• Cassio Scarpinella Bueno, Curso Sistematizado de Direito Processual Civil

• Elpídio Donizetti, Curso Didático de Direito Processual Civil

• Moacyr Amaral Santos, Primeiras Linhas

• Código de Processo Civil

SUJEITOS DO PROCESSO

Processo =

Relação instaurada entre as partes e o Estado-juiz, criando direitos e impondo ônus e obrigações processuais aos seus sujeitos

componentes

+

PROCEDIMENTO (meio extrínseco pelo qual ele se instaura, se desenvolve e

termina)

Procedimento: Atos que se sucedem temporalmente e que se interligam num

encadeamento lógico

Processo (cont.)

• Método de atuação estatal

• Instrumento para prestação da tutela jurisdicional

“Judicium est actum trium personarum: judicis, actoris et rei”

(Búlgaro)

SUJEITOS DO PROCESSO

Quem são os denominados sujeitos do processo?

autor réu

Estado-juiz

Advogados

Auxiliares da justiça

Ministério Público

Terceiros

pólo ativo pólo passivopólo passivopólo ativo pólo passivopólo ativo

• Estado-juiz (sujeito imparcial)

• Partes - em sentido material- em sentido processual

• Terceiros - interessados- desinteressados

• Auxiliares da Justiça

Sujeitos principais

Sujeitos secundários

JUIZ

• Sujeito imparcial do processo

• Se coloca supra et inter partes

• Vedação ao non liquet (denegação de justiça, violação ao art. 5º, XXXV, CF e art. 126, CPC):

Art. 126. O juiz não se exime de sentenciar ou despachar alegando lacuna ou obscuridade da lei.

No julgamento da lide caber-lhe-á aplicar as normas legais; não as havendo, recorrerá à

analogia, aos costumes e aos princípios gerais de direito.

Poderes

a) Administrativos (ou de polícia) – exs: arts. 445 e 446

a) Jurisdicionais: - poderes-meios

- poderes instrutórios

- poderes-fim

Art. 445. O juiz exerce o poder de polícia, competindo-lhe:

I - manter a ordem e o decoro na audiência;

II - ordenar que se retirem da sala da audiência os que se comportarem inconvenientemente;

III - requisitar, quando necessário, a força policial.

Art. 446. Compete ao juiz em especial:

I - dirigir os trabalhos da audiência;

II - proceder direta e pessoalmente à colheita das provas;

III - exortar os advogados e o órgão do Ministério Público a que discutam a causa com elevação e urbanidade.

Parágrafo único. Enquanto depuserem as partes, o perito, os assistentes técnicos e as testemunhas, os advogados não podem intervir ou apartear, sem licença do juiz.

DEVERESArt. 125. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código, competindo-lhe:

I - assegurar às partes igualdade de tratamento;

(isonomia – art. 5º, CF)

II - velar pela rápida solução do litígio;

(razoável duração do processo – art. 5º, LXXVIII, CF)

III - prevenir ou reprimir qualquer ato contrário à dignidade da Justiça;

(punição à litigância de má-fé)

IV - tentar, a qualquer tempo, conciliar as partes.

Dever de imparcialidade:

IMPEDIMENTOS: de cunho objetivo, peremptórios – art. 134, CPC

SUSPEIÇÃO: reconhecimento demanda prova – art. 135, CPC

IMPEDIMENTOS

Art. 134. É defeso ao juiz exercer as suas funções no processo contencioso ou voluntário:

I - de que for parte;

II - em que interveio como mandatário da parte, oficiou como perito, funcionou como órgão do Ministério Público, ou prestou depoimento como testemunha;

III - que conheceu em primeiro grau de jurisdição, tendo-lhe proferido sentença ou decisão;

IV - quando nele estiver postulando, como advogado da parte, o seu cônjuge ou qualquer parente seu, consangüíneo ou afim, em linha reta; ou na linha colateral até o segundo grau;

V - quando cônjuge, parente, consangüíneo ou afim, de alguma das partes, em linha reta ou, na colateral, até o terceiro grau;

VI - quando for órgão de direção ou de administração de pessoa jurídica, parte na causa.

Parágrafo único. No caso do no IV, o impedimento só se verifica quando o

advogado já estava exercendo o patrocínio da causa; é, porém, vedado ao advogado pleitear no processo, a fim de criar o impedimento do

juiz.

ATENÇÃO

- 2º grau: quando o parentesco do juiz for com o advogado da parte

- 3º grau: quando o parentesco do juiz for com a própria parte

SUSPEIÇÃO DE PARCIALIDADEArt. 135. Reputa-se fundada a suspeição de parcialidade do juiz, quando:

I - amigo íntimo ou inimigo capital de qualquer das partes;

II - alguma das partes for credora ou devedora do juiz, de seu cônjuge ou de parentes destes, em linha reta ou na colateral até o terceiro grau;

III - herdeiro presuntivo, donatário ou empregador de alguma das partes;

IV - receber dádivas antes ou depois de iniciado o processo; aconselhar alguma das partes acerca do objeto da causa, ou subministrar meios para atender às despesas do litígio;

V - interessado no julgamento da causa em favor de uma das partes.

Parágrafo único. Poderá ainda o juiz declarar-se suspeito por motivo íntimo.

Manifestação da recusa:

Por meio de exceção de impedimento ou suspeição

Responsabilidade civil do juiz

Art. 133. Responderá por perdas e danos o juiz, quando:

I - no exercício de suas funções, proceder com dolo ou fraude;

II - recusar, omitir ou retardar, sem justo motivo, providência que deva ordenar de ofício, ou a requerimento da parte.

Ação de responsabilidade civil

Contra o magistrado ou contra o Estado -responsabilidade civil objetiva – art. 37, CF:

§ 6º - As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa

qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo

ou culpa.

Garantias constitucionais – art. 95, CF

Art. 95. Os juízes gozam das seguintes garantias:

I - vitaliciedade, que, no primeiro grau, só será adquirida após dois anos de exercício, dependendo a perda do cargo, nesse período, de deliberação do tribunal a que o juiz estiver vinculado, e, nos demais casos, de sentença judicial transitada em julgado;

II - inamovibilidade, salvo por motivo de interesse público, na forma do art. 93, VIII;

III - irredutibilidade de subsídio

93, VIII - o ato de remoção, disponibilidade eaposentadoria do magistrado, por interessepúblico, fundar-se-á em decisão por voto damaioria absoluta do respectivo tribunal ou doConselho Nacional de Justiça, asseguradaampla defesa;

AUXILIARES DA JUSTIÇA

Art. 139, CPC:

CAPÍTULO VDOS AUXILIARES DA JUSTIÇA

Art. 139. São auxiliares do juízo, além de outros, cujas atribuições são determinadas pelas normas de organização judiciária, o escrivão, o oficial de justiça, o perito, o

depositário, o administrador e o intérprete.

PARTES

“Parte é aquele que demanda em seu próprio nome a atuação de uma vontade da lei, e aquele em face de quem essa atuação é

demandada”(Chiovenda, Instituições, p. 278)

Terceiro interessado por exclusão, é aquele que não é parte mas, autorizado por lei,

intervém na relação processual (v.g. assistente)

Autor e réu são denominações usuais no processo de conhecimento em geral, mas há especificidades:

I) Processo de conhecimento:

Nomenclatura

a) Nas exceções:

b) Na reconvenção:

c) Nos recursos (em geral):

d) Na apelação:

e) No agravo:

excipiente e exceto

reconvinte e reconvindo

recorrente e recorrido

apelante e apelado

agravante e agravado

f) Nos embargos de terceiro:

g) Nas intervenções de terceiro:

II- Processo de execução:

III- Processo Cautelar:

IV- Procedimentos de jurisdição voluntária:

embargante e embargado

interveniente (denunciado, chamado, assistente...)

a) Credor e devedorb) Embargante e embargado

requerente e requerido

interessados

Pressupostos processuais relativos às partes• Capacidade de ser parte

(corresponde à capacidade de ter direitos e obrigações na ordem civil – capacidade

jurídica)

• Capacidade de estar em juízo

(corresponde à capacidade de exercício ou de fato)

• Capacidade postulatória

(os atos processuais são praticados por quem detém poder de postulação)

Legitimidade para a causa

Identificação daquele que pode pretender ser o titular do bem da vida deduzido em juízo, seja

como autor, seja como réu(Cassio Scarpinella in Partes e Terceiros..., p. 31)

Em regra, a titularidade da ação vincula-se à titularidade do pretendido direito subjetivo, envolvido na lide.

Art. 6o Ninguém poderá pleitear, em nome próprio, direito alheio, salvo quando

autorizado por lei.

LEGITIMIDADE EXTRAORDINÁRIA:

• Substituição processual

(defesa do direito alheio em nome próprio)

• Representação

(o representante defende em juízo direito alheio em nome alheio)

SUBSTITUIÇÃO PROCESSUAL

Conceito: “demandar a parte, em nome próprio, a tutela de um direito controvertido de outrem” (Humberto Theodoro Jr., p. 87)

Exemplos: art. 42, CPC; art. 68, CPP

Art. 42. A alienação da coisa ou do direito litigioso, a

título particular, por ato entre vivos, não altera a

legitimidade das partes.

§ 1o O adquirente ou o cessionário não poderá ingressar

em juízo, substituindo o alienante, ou o cedente, sem

que o consinta a parte contrária.

§ 2o O adquirente ou o cessionário poderá, no entanto,

intervir no processo, assistindo o alienante ou o

cedente.

§ 3o A sentença, proferida entre as partes originárias, estende os seus efeitos ao adquirente ou ao cessionário.

Art. 68. Quando o titular do direito àreparação do dano for pobre (art. 32, §§ 1o e 2o), a execução da sentença condenatória (art. 63) ou a ação civil

(art. 64) será promovida, a seu requerimento, pelo Ministério Público.

Não confundir:

Substituição processual com sucessão de parte: na substituição de parte ocorre uma alteração nos pólos subjetivos do processo

Art. 43. Ocorrendo a morte de qualquer das partes, dar-se-á a substituição pelo

seu espólio ou pelos seus sucessores, observado o disposto no art. 265.

Poderes do substituto processual

• amplos

• Não compreendem atos de disposição do próprio direito matrial do substituido, como confissão, transação, reconhecimento do pedido, etc

Capacidade processual

Consiste na aptidão de participar da relação processual, em nome próprio ou alheio

Tem capacidade processual quem dispõe de aptidão civil:

CAPÍTULO I

DA CAPACIDADE PROCESSUAL

Art. 7o Toda pessoa que se acha no exercício dos seus

direitos tem capacidade para estar em juízo.

Art. 8o Os incapazes serão representados ou

assistidos por seus pais, tutores ou

curadores, na forma da lei civil.

Art. 9o O juiz dará curador especial:

I - ao incapaz, se não tiver representante legal,

ou se os interesses deste colidirem com os

daquele;

II - ao réu preso, bem como ao revel citado por

edital ou com hora certa.

Têm capacidade para figurar como parte na relação processual:

a) Pessoas naturaisb) Pessoas jurídicasc) Pessoas formais - massa falida

- espólio- sociedades sem

personalidade jurídica....

Representação das pessoas jurídicas públicas e privadas

Art. 12. Serão representados em juízo, ativa epassivamente:

I - a União, os Estados, o Distrito Federal e osTerritórios, por seus procuradores;

II - o Município, por seu Prefeito ou procurador;

III - a massa falida, pelo síndico;

IV - a herança jacente ou vacante, por seu curador;

V - o espólio, pelo inventariante;

VI - as pessoas jurídicas, por quem os respectivosestatutos designarem, ou, não os designando, porseus diretores;

VII - as sociedades sem personalidade jurídica, pela

pessoa a quem couber a administração dos seus

bens;

VIII - a pessoa jurídica estrangeira, pelo gerente,

representante ou administrador de sua filial, agência

ou sucursal aberta ou instalada no Brasil (art. 88,parágrafo único);

IX - o condomínio, pelo administrador ou pelo síndico.

DEVERES DAS PARTESArt. 14. São deveres das partes e de todos aqueles que de qualquer forma participam do processo:

I - expor os fatos em juízo conforme a verdade;

II - proceder com lealdade e boa-fé;

III - não formular pretensões, nem alegar defesa, cientes de que são destituídas de fundamento;

IV - não produzir provas, nem praticar atos inúteis ou desnecessários à declaração ou defesa do direito.

V - cumprir com exatidão os provimentos mandamentais e não criar embaraços à efetivação de provimentos judiciais, de natureza antecipatória ou final.

Art. 15. É defeso às partes e seus advogados empregar expressões injuriosas nos escritos apresentados no processo, cabendo ao juiz, de ofício ou a requerimento do ofendido, mandar riscá-las.

Parágrafo único. Quando as expressões injuriosas forem proferidas em defesa oral, o juiz advertirá o advogado que não as use, sob pena de Ihe ser cassada a palavra.

Responsabilidade das partes por dano processual

Art. 16. Responde por perdas e danos aquele que pleitear de má-fé como autor, réu ou interveniente.

Art. 17. Reputa-se litigante de má-fé aquele que:

I - deduzir pretensão ou defesa contra texto expresso de lei ou fato incontroverso;

II - alterar a verdade dos fatos;

III - usar do processo para conseguir objetivo ilegal;

IV - opuser resistência injustificada ao andamento do processo;

V - proceder de modo temerário em qualquer incidente ou ato do processo;

Vl - provocar incidentes manifestamente infundados;

VII - interpuser recurso com intuito manifestamente protelatório.

Sanção:

Art. 18. O juiz ou tribunal, de ofício ou arequerimento, condenará o litigante de má-féa pagar multa não excedente a um por centosobre o valor da causa e a indenizar a partecontrária dos prejuízos que esta sofreu,mais os honorários advocatícios e todas asdespesas que efetuou.