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Direito processual Civil II 3º ano 2013/2014 Intervenção de terceiros: - Intervenção acessória e principal : estando pendente uma acção, pode nela intervir terceiro que mostre interesse em ser abrangido pelo caso julgado ou em opor-se à apreciação da causa. Esta intervenção torna o terceiro parte da causa e consoante a sua posição pode ser parte acessória ( se o terceiro apenas assume a posição de auxiliar) ou parte principal ( se o terceiro faz valer um direito próprio ou se lhe é exigido o cumprimento de uma prestação ou reconhecimento de um direito). Há então que distinguir entre intervenção acessória (321º a 332º) e a intervenção principal regulada nos arts. 311º a 317º e 333º a 350º. Quanto à intervenção principal, ela ainda comporta duas sub-espécies : a intervenção principal strictu sensu (311º ) e a oposição (333º a 350º). - Intervenção espontânea e provocada : a intervenção principal ou acessória pode ser espontânea (311º a 315º; 326º a 332º; 342º a 350º) ou provocada (cfr. 316º; 321º a 324º; 338º a 341º).É espontânea se o terceiro decide intervir espontaneamente na acção e é provocada se o terceiro é chamado a intervir por qualquer das partes na acção. A intervenção provocada pode destinar-se a conseguir a inclusão do terceiro no âmbito do caso julgado da decisão da acção (cfr. 320º; 323º; 340º) ou a obter o auxilio da parte acessória na defesa a realizar na acção (321º/1). Em certos casos, a intervenção provocada pode conduzir à substituição da parte inicial pelo terceiro chamado (337º/1; 341º/1). A lei não prevê qualquer caso em que a intervenção provocada corresponda a um dever das partes da acção, mas conhece várias situações em que uma intervenção espontânea se verifica na sequência do cumprimento pela parte do dever de levar o conhecimento da pendência da causa a um terceiro

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Direito processual Civil II3º ano

2013/2014

Intervenção de terceiros:- Intervenção acessória e principal: estando pendente uma acção, pode nela intervir terceiro que mostre interesse em ser abrangido pelo caso julgado ou em opor-se à apreciação da causa. Esta intervenção torna o terceiro parte da causa e consoante a sua posição pode ser parte acessória ( se o terceiro apenas assume a posição de auxiliar) ou parte principal ( se o terceiro faz valer um direito próprio ou se lhe é exigido o cumprimento de uma prestação ou reconhecimento de um direito). Há então que distinguir entre intervenção acessória (321º a 332º) e a intervenção principal regulada nos arts. 311º a 317º e 333º a 350º. Quanto à intervenção principal, ela ainda comporta duas sub-espécies : a intervenção principal strictu sensu (311º ) e a oposição (333º a 350º).- Intervenção espontânea e provocada: a intervenção principal ou acessória pode ser espontânea (311º a 315º; 326º a 332º; 342º a 350º) ou provocada (cfr. 316º; 321º a 324º; 338º a 341º).É espontânea se o terceiro decide intervir espontaneamente na acção e é provocada se o terceiro é chamado a intervir por qualquer das partes na acção. A intervenção provocada pode destinar-se a conseguir a inclusão do terceiro no âmbito do caso julgado da decisão da acção (cfr. 320º; 323º; 340º) ou a obter o auxilio da parte acessória na defesa a realizar na acção (321º/1). Em certos casos, a intervenção provocada pode conduzir à substituição da parte inicial pelo terceiro chamado (337º/1; 341º/1).A lei não prevê qualquer caso em que a intervenção provocada corresponda a um dever das partes da acção, mas conhece várias situações em que uma intervenção espontânea se verifica na sequência do cumprimento pela parte do dever de levar o conhecimento da pendência da causa a um terceiro interessado. Tal dever recai, por exemplo, sobre o locatário interessado (1038º al. b) CC), o comodatário (1135º al. g) CC), o depositário (1187º al. b) CC) e o usufrutuário (1475º CC).

INTERVENÇÃO ACESSÓRIA- Intervenção provocada: o réu que tenha acção de regresso contra terceiro, que o deverá indemnizar do prejuízo que lhe cause a condenação na acção, pode chamá-lo a intervir como parte acessória, desde que esse terceiro não possa intervir na acção como parte principal (321º/1). Se, por sua vez, o terceiro chamado tiver direito de regresso contra um outro terceiro, pode provocar a intervenção acessória deste último e assim sucessivamente ( 323º/3).Para justificar essa intervenção não basta um simples direito de indemnização contra um terceiro, torna-se necessário que exista uma relação de conexão entre o objecto da acção pendente e o da acção de regresso (322º/2). Essa

conexão está assegurada sempre que o objecto da acção pendente seja prejudicial relativamente à apreciação do direito de regresso contra o terceiro.A intervenção acessória provocada não permite que o terceiro assuma a qualidade de parte principal, pelo que não é possível que o réu da acção formule qualquer pedido de condenação desse terceiro na satisfação do seu direito de regresso. O terceiro é apenas chamado para auxiliar o réu na sua defesa (321º/2). Com este chamamento o demandado obtém não só o auxilio do terceiro como também a vinculação deste à decisão de carácter prejudicial sobre as questões de que depende o direito de regresso (323º/4). Pela mesma razão, não é possível a substituição do demandado pelo terceiro chamado. Ambos devem permanecer na acção, o réu como parte principal e o chamado como parte acessória e seu auxiliar.Segundo o disposto no art. 321º/1, a intervenção acessória provocada não é admissível quando o réu possa fazer intervir o terceiro como parte principal (cfr. 316º). Suponha-se, por exemplo, que existem vários devedores solidários e que só um deles é demandado, o que é admissível porque o litisconsórcio entre eles é voluntário; o devedor demandado pode provocar a intervenção principal dos outros devedores (316º/1), pelo que não pode chamá-los a intervir como partes acessórias.Outro exemplo: o credor pode demandar apenas o fiador (641º/1 CC e 316º CPC). Como o fiador pode fazer intervir o devedor como parte principal, aquele demandado não pode provocar a intervenção deste como parte acessória.Assim, o principal âmbito de aplicação da intervenção provocada acessória coincide com o direito de regresso decorrente de uma relação conexa com o objecto do processo. Por exemplo: num subcontrato, se o dono da obra demandar o empreiteiro por defeitos da obra e se esta tiver sido realizada por um subempreiteiro, aquele demandado que tem direito de regresso sobre esse ultimo (1226º CC) pode chamá-lo a intervir como parte acessória.O chamamento do terceiro é deduzido pelo réu na contestação ou, se este não pretender contestas no prazo em que esta devia ser apresentada (322/1; 323º). Passados três meses sobre a data em que foi deduzido o incidente sem que estejam realizadas todas as citações, o autor pode requerer o prosseguimento da acção(324º). Se o incidente se mantiver, o juiz, depois de ouvida a parte contrária, defere o chamamento quando se convença da viabilidade da acção de regresso e da sua conexão com a causa principal (322º/2).Se o chamamento for deferido, o chamado é citado e corre novamente a seu favor o prazo para contestar (323º/1) e a sentença proferida constitui caso julgado quanto a ele relativamente às questões de que depende o direito de regresso invocado pelo autor do chamamento (323º/4).- Intervenção do ministério público: sempre que o MP deva intervir como parte acessória, ser-lhe-á oficiosamente notificada a pendencia da acção logo que a instância se considere iniciada (325º). O MP deve intervir acessoriamente quando, não devendo ser parte principal (Art. 5º LOMP), sejam interessados na causa as regiões autónomas, as autarquias locais, outras pessoas colectivas

publicas (…). A falta de vista ou exame do MP constitui uma nulidade processual de conhecimento oficioso (196º/1) que, no entanto, se considera sanada se a entidade a que ele devia prestar assistência tiver feito valer os seus direitos através de representante (194º).

INTERVENÇÃO PRINCIPALA intervenção principal stricto sensu visa permitir a participação de um terceiro que é titular de uma situação subjectiva própria.- Intervenção espontânea: a intervenção espontânea é admissível quando pretenda intervir um terceiro que em relação ao objecto da causa tenha um interesse igual ao do autor ou do reu e que por isso possa constituir com ele um litisconsórcio voluntario ou necessário (311º ). Quando o terceiro que deseja intervir possa coligar-se com o autor nos termos do art. 36º e não se verifique qualquer obstáculo a essa coligação (311º e 37º). A intervenção espontânea pode ser, por isso, litisconsorcial ou coligatória.A intervenção espontânea litisconsorcial (311º ) é admissível em qualquer momento até ao transito em julgado da sentença proferida na causa (313/1); a intervenção espontânea coligatoria (311º ) só é admissível enquanto o interveniente puder deduzir a sua pretensão em articulado próprio (313º e 314º).- Intervenção provocada: a intervenção principal provocada é admissível quando qualquer das partes pretenda fazer intervir na causa um terceiro como seu associado ou associado da parte contraria (316º/1), ou seja, quando qualquer das partes deseje chamar um litisconsorte voluntario ou necessário; quando o autor queira provocar a intervenção de um reu subsidiário contra quem pretenda dirigir o pedido (316º/2).Quando a intervenção provocada permite a integração de um litisconsórcio necessário, essa intervenção sana a ilegitimidade decorrente da sua falta (261º).Exemplo: o autor instaura uma acção contra o condutor de um veiculo em que pede a indemnização pelos prejuízos causados num acidente de viação. Se o demandado alegar que conduzia o veiculo em nome de quem tinha a sua direcção efectiva e que o utilizava no interesse dele, o autor pode provocar a intervenção principal deste terceiro (316º) e pedir a sua condenação (eventualmente solidaria com o réu inicial – 500º/3 CC) naquela indemnização.Apesar de o 316º só se referir, através da remissão para o art. 39º, à intervenção de um réu subsidiário, parece dever entender-se que tal chamamento também é admissível se o réu chamado se encontrar numa relação de alternatividade com o réu inicial.Salvo quando for necessária para assegurar a legitimidade das partes (261º), for passiva e tiver sido deduzida pelo réu ou se destinar a chamar o exequente e demais credores interessados à acção proposta por um outro credor contra o mesmo devedor executado (792º), a intervenção provocada só pode ser requerida até ao momento em que podia deduzir-se a intervenção espontânea

em articulado próprio (318º), isto é, dentro dos prazos referidos no art. 314º CPC.Se o terceiro chamado intervier no processo, a sentença aprecia o seu direito e constitui caso julgado em relação a ele (320º). Se isto não suceder, a sentença só contitui caso julgado quanto a ele se da intervenção resultar um litisconsórcio necessário activo ou passivo, um litisconsórcio voluntario passivo, um litisconsórcio necessário activo da iniciativa do réu ou um litisconsórcio subsidiário passivo (320º/2).

OPOSIÇÃODestina-se a permitir a participação de um terceiro que é titular de uma situação subjectiva incompatível com aquela que é alegada pelo autor ou pelo reconvinte (333º e 338º). Além disso, a oposição serve igualmente para um terceiro reagir contra um acto judicialmente ordenado de entrega de bens que ofende a sua posse ou qualquer direito incompatível com a realização ou âmbito da diligencia : essa oposição efectua-se através dos embargos de terceiro (342º). O opoente assume na instancia a posição de parte principal (335º e 341º).- Oposição espontânea : é a que se verifica por iniciativa de um terceiro que pretende fazer valer, no confronto com ambas as partes um direito próprio incompatível com o pedido do autor ou do reconvinte (333º).O oponente espontâneo deve deduzir a sua pretensão numa petição (334º), mas a oposição só é admitida enquanto não estiver designado dia para a discussão e julgamento da causa em 1º instancia ou, se o processo não a comportar, enquanto não for proferida a sentença final (333º; 335º/1). Se alguma das partes reconhecer o direito do oponente, o processo segue unicamente entre a outra parte e o oponente, tomando este a posição de autor ou de réu (337º). Se ambas as partes impugnarem o direito do oponente, a instancia segue entre as três partes: conforma-se então um litisconsórcio reciproco, pois que ficam pendentes duas causas conexas, uma entre as partes primitivas e outra entre o oponente e aquelas partes.- Embargos de terceiro: constituem uma modalidade especial de oposição espontânea. Esses embargos destinam-se a permitir a reacção de um terceiro contra um acto judicial que ordena a apreensão ou entrega de bens e que ofenda a sua posse ou qualquer direito incompatível com a realização ou âmbito da diligencia (342º). Os embargos de terceiro nunca são admissíveis relativamente à apreensão de bens realizada no processo de recuperação da empresa e da falência (342º) porque a restituição e a separação de bens está submetida a um regime especial.Os embargos de terceiro só podem ser utilizados por um sujeito que não seja ou não tenha sido parte no processo no qual é ordenada a diligencia que ofende a sua posse ou o seu direito sobre o bem. As partes da acção não

podem utilizar os embargos de terceiro como meio de impugnação da decisão que ordena a entrega ou apreensão de bens.Qualquer dos cônjuges pode defender através de embargos de terceiro, mesmo sem autorização do outro, os direitos sobre os bens próprios e os bens comuns que hajam sido indevidamente atingidos pela diligencia ordenada (343º). Cabem naquela primeira hipótese os casos em que numa acção movida contra um único cônjuge, são penhorados bens próprios do cônjuge não executado ou são penhorados bens comuns sem que o exequente peça a sua citação para requerer a separação de bens (740º): em qualquer destas situações, o cônjuge do executado , que é terceiro relativamente à execução, pode embargar para defender, no primeiro caso, os seus bens próprios e, no segundo, os bens comuns.O art. 740º é aplicável quer ao caso em que a divida é da exclusiva responsabilidade do cônjuge executado, quer à hipótese em que a divida é da responsabilidade de ambos os cônjuges, mas o credor apenas possui titulo executivo extrajudicial contra um deles e, por isso, não pode penhorar os bens comuns (1695º CC).Os embargos de terceiro devem ser deduzidos nos 30 dias subsequentes Àquele em que a diligencia que ofende a posse, mas nunca depois de esses bens terem sido judicialmente vendidos ou adjudicados (344º). O embargante deve solicitar o termo ou o levantamento da diligencia e pode requerer a restituição provisória da posse (347º; 344º;345º; 346º).Se os embargos forem recebidos, são notificadas para contestar as partes primitivas (348º e 302º).Quando os embargos se fundem apenas na invocação da posse do terceiro sobre os bens apreendidos ou entregues, pode qualquer das partes primitivas, na contestação dos embargos (348º) pedir o reconhecimento quer do seu direito de propriedade sobre esses bens, quer de que tal direito pertence à pessoas contra quem a diligencia foi promovida.Se, por exemplo, um terceiro invocar que é possuidor do bem penhorado e defender a sua posse através de embargos de terceiro, o executado pode alegar que é ele próprio o proprietário do bem e o exequente pode invocar que o seu proprietário é o executado (266º).Adquire força de caso julgado material tanto a decisão que considera o embargo procedente com base na posse ou no direito invocado pelo embargante, como a decisão que os considera improcedentes por reconhecer a fundamentação da exeptio dominii alegada por qualquer dos embargados.- Oposição provocada: verifica-se por iniciativa da parte passiva sempre que tenha conhecimento de que um terceiro se arroga um direito incompatível com o do autor (338º). Suponha-se, por exemplo, que um autor propõe, na sua qualidade de herdeiro, uma acção de cobrança de divida; o réu que sabe que um outro sujeito se considera único herdeiro do mesmo falecido pode provocar a intervenção desse terceiro como oponente da pretensão do autor.

Pode ser requerida pelo réu dentro do prazo fixado para a contestação (338º). O terceiro é citado para deduzir a sua pretensão (339º; 334 a 337º; 341º).Se o terceiro chamado não deduzir qualquer pretensão na causa: se ele tiver sido citado na própria pessoas e não se verificar nenhuma das situações de inoperância da revelia (567º e 568º), o réu é imediatamente condenado a satisfazer o pedido do autor (340º) e a sentença proferida produz caso julgado quanto ao terceiro. Se o terceiro não puder considerar-se citado na sua própria pessoa ou se se verificar alguma das condições da inoperância da revelia (567º e 568º), a acção prossegue os seus termos para que seja apreciada a titularidade do direito litigioso (340º).

Exercício: Intervenção de terceirosA propõe contra B acção de anulação de um contrato que ambos celebraram com fundamento em dolo causado por C. Na pendencia da causa, A pretende demandar também C, pedindo que este seja condenado no pagamento de uma indemnização com fundamento em dolo.Esta intervenção de C, a ser admitida iria gerar um litisconsórcio superveniente ou uma coligação? Temos dois pedidos diferentes com o mesmo fundamento. Esta situação corresponde a uma coligação.Isto era possível no momento da propositura da acção? Art. 36º - requisitos da coligação.A causa de pedir era a mesma, pelo que A podia demandar C no momento da proposição da acção.Pode A fazê-lo na pendencia da acção?Arts. 311º e ss. – se o C fosse admitido no processo estávamos perante intervenção principal provocada.Art. 262º nº1 al. b)- intervenção coligatória passiva. O 311º remete para o litisconsórcio. O 316º/2 diz que nos casos de litisconsórcio voluntario pode provocar a intervenção. Resulta daqui que não é admissível a intervenção coligatória passiva.Conclui-se que na pendencia da acção, A não pode requerer a intervenção de C. O tribunal deveria indeferir o pedido (318º/2) formulado pelo autor.O que A podia fazer era propor acção contra C separadamente e depois pedir a apensação do processo (267º).

A causa um acidente de viação, provocando danos em B e em C. B demanda A pelo pagamento dos danos no valor de 5000. Pode C fazê-lo também, posteriormente, na mesma acção, pedindo o pagamento de 10000?Entre B e C não existe litisconsórcio.O montante individualiza o pedido. Pedidos de valores diferentes são diferentes pedidos.Apesar de o acidente ter causado danos, serão os factos os mesmos (36º/2)?

Esta coligação era admissível no momento da propositura da acção, mas não posteriormente por força do art. 311º.

A mutuou 5000 a B, tendo C ficado como fiador da obrigação de B. B não restitui a quantia pelo que A demanda B.

1. Pode B, na pendencia da acção, provocar a intervenção de C?O art. 316º/3 al. a) permite demandar um sujeito passivo da relação controvertida e o fiador não é devedor do autor. O mero garante não pode intervir na acção por iniciativa de B. O devedor não pode provocar a intervenção do fiador.

2. Pode A provocar a intervenção de C?Nos termos do art. 316º/2, o autor pode provocar a intervenção do garante. Entre o devedor e o fiador existe um litisconsórcio.

3. E se o C fosse co-devedor de B? O B poderia demanda-lo (317º), assim como A também poderia.

A pede uma indemnização a B por danos causados por este no exercício da sua profissão. B pretende requerer a intervenção da sua seguradora responsável pelos danos que B viesse a provocar no exercício da sua profissão. Pode fazê-lo?Não podia haver qualquer litisconsórcio porque entre o réu e a seguradora não existe relação.Só poderia haver da parte da seguradora uma intervenção acessória provocada (321º e 323º/4).Na acção de regresso a seguradora não pode questionar a titularidade do direito de regresso.O juiz podia indeferir este requerimento? 322º/2.

A, sublocatário de x pretende intervir na acção de despejo de x que B move a C. Pode fazê-lo? Desde que tenha interesse legitimo, pode intervir como assistente (326º).

A demanda B, pedindo a declaração do seu direito de propriedade sobre x. C considera-se proprietário de x. Que pode C fazer? Art. 333º CPC. É um caso de oposição. C coloca-se na acção na posição de opositor contra A e B.

A é executado numa acção sendo penhorados bens comuns de A e seu cônjuge. O que pode o respectivo cônjuge fazer? Art. 343º, embargo de terceiro por parte do cônjuge.

Substituição processual: HABILITAÇÃO. Pode ser mortis causa ou inter-vivos. A habilitação incidente implica uma modificação subjectiva da instancia (a que vem no CPC). Alguém alega no momento da acção a sua qualidade de sucessor. O valor da decisão quanto à questão da decisão é o de constituir caso julgado fora do processo respectivo (91º/2), ou seja, não faz caso julgado a menos que uma das partes requeira essa amplitude

Habilitação mortis causa: há obrigatoriedade. A propõe acção contra B. Se houver transmissão da posição de B para C, a habilitação não é obrigatória. Mas se for em função da morte, é obrigatória.Há habilitação mortis causa se o processo tiver de seguir, mas há casos em que o processo não tenha de seguir.O que acontece quando falece uma das partes? A acção extingue-se por inutilidade superveniente da lide e deve-se …Art. 251º e 270º nº1 – tornar conhecido no processo a morte.Art. 269º nº1 – suspende-se a instancia e abre-se processo de habilitação, previsto nos arts. 351º e seguintes. A tudo o que não esteja aqui regulado aplica-se as regras gerais (292º a 295º).

Habilitação inter-vivos: art. 356º. B foi citado e resolve ceder a posição contratual a C. A acção foi proposta por A contra B e este transmite a sua posição a C. Pode acontecer que nem A nem o juiz conheçam dessa transmissão. Se B e C não quiserem, não há habilitação. Tem de haver um requerimento de habilitação e este vai dizer que houve uma cessão. Pode haver uma transmissão tanto do lado activo como do lado passivo. A outra parte pode impugnar esta habilitação, ou seja, no caso é notificado o A para contestar.A emprestou 100 000 euros a B porque este tinha um avultado património. B quer ceder a posição contratual a C. Claro que este truque pode ser impugnado por A. Se não for requerida habilitação, não há problema. Mas se for requerida, pode A impugná-la (356º al. a)).A habilitação é voluntária, esta iniciativa das partes pode ser do transmitente, do transmissário ou da parte contraria. Se houver habilitação, quais são os efeitos? Art. 263º CPC.Se houver condenação, quem é condenado? B ou C? A orientação da lei portuguesa será a de que temos uma substituição processual.Segundo a teoria das alterações materiais, as alterações materiais não afectam o plano processual (principio da estabilidade processual). Das duas uma, ou continuava a acção ou tinha de ser proposta nova acção.Segundo a teoria da relevância, se houvesse processo a correr no momento em que houvesse transmissão e desde que se soubesse, essa relação material afectaria o plano processual.O art. 263º consagra a teoria da relevância mitigada, ou seja, a relação material só afecta o plano processual em alguns casos. Se houver transmissão, o transmitente B continua a ter legitimidade (apesar de ter sido substituído por C).

1. Só há substituição quando estiver pendente uma acção. S e a transmissão for antes da propositura da acção, há um problema de legitimidade.

2. Haja uma transmissão de uma coisa ou de um direito litigioso. Art. 579º nº3 a propósito da transmissão de um direito litigioso.

3. Pré-existência desta coisa ou direito litigioso.4. Conhecimento da transmissão no decurso da acção.

Nos termos do art. 263º nº1, se houver transmissão inter-vivos, o B continua a ter legitimidade para a causa enquanto o C não for admitido por habilitação.Art. 30º/3 – o que está no 263º/1 é uma causa autónoma de legitimidade. Se fossemos apenas pelo 30º/3, haveria ilegitimidade.

Nos termos do art. 263º nº2, A tem de estar de acordo com a habilitação. O artigo até permite que A seja desleixado, porque se A não se opuser, mesmo assim pode não ocorrer substituição quando se chegar à conclusão que aquela substituição ocorreu para frustrar as expectativas de A.Se A se opuser, pode haver casos em que se aceite a substituição se o juiz considerar que ela não fere os interesses de A e pode contribuir para a celeridade da acção. A prof. Ana Paula Costa e Silva vem dizer que há alguma conveniência de que assim seja.O art. 263º nº3 vem dizer que se houver uma sentença, pode suceder que o caso julgado abranja B e C, mesmo que C não intervenha na acção. Não há automatismo (relevância mitigada).Pode dar-se o caso que haja acção de A contra B e haja transmissão a C. Já não há possibilidade de C intervir na acção. Mas mesmo assim a sentença proferida afecta C (este já não pode intervir porque já passaram a fase dos articulados). A decisão vai afectar tanto B como C, pelo que há uma ampliação de caso julgado.O C, ao intervir na acção, estamos a proteger a transmissão e o principio da economia processual. Esta é uma excepção ao principio da estabilidade da instância.Ana Paula Costa e Silva – se olharmos para o que acontece quando C sucede a B, pode acontecer uma ampliação da causa de pedir porque com a transmissão o titulo de B pode não corresponder totalmente ao titulo de C. A causa de pedir que subsiste é mais ampla que a inicial. O objecto não é o mesmo. Há uma modificação subjectiva e objectiva.

Relações de cumulação: a cumulação de objectos verifica-se quando, num mesmo processo, são apresentados vários objectos processuais referidos a distintos efeitos jurídicos.A cumulação objectiva pode ser inicial quando se verifica desde o começo da instancia ou sucessiva se ela se constitui durante a pendencia da causa.Os pressupostos processuais devem ser aferidos separadamente em relação a cada um dos objectos cumulados. Disto decorre que a cumulação se pode desfazer por indeferimento liminar da petição inicia ou pela absolvição do reu da instancia quanto a um dos objectos cumulados.Assim, por exemplo, o patrocínio judiciário obrigatório nas causas cujo valor excede a alçada dos tribunais de 1º instancia (art. 40º), pelo que, como na cumulação simples o valor da causa é determinado pela soma do valor de todos os objectos (297º), o patrocínio pode ser obrigatório numa situação em que o não seria se cada um dos pedidos cumulados fosse individualmente apresentado.A cumulação objectiva só exige a competência absoluta do tribunal para apreciar todos os objectos cumulados ( 554º e 555º em referencia ao 37º), pelo que o tribunal que é relativamente competente para apreciar um dos objectos cumulados é-o igualmente para todos os demais objectos.

Cumulação simples: o autor requer a procedência simultânea de todos os pedidos cumulados e a produção de todos os seus efeitos (555º). Por exemplo: o autor instaura uma acção pedindo a entrega de uma máquina e o pagamento

de uma indemnização pela mora na sua prestação; se a acção for julgada procedente, o réu deve realizar ambas as prestações.Em certas situações, recai sobre a parte um ónus de cumulação de pedidos. Por exemplo: o art. 1792º/2 CC impõe que o pedido de indemnização do cônjuge ofendido seja deduzido na própria acção de divorcio.O art. 297º estabelece que, cumulando-se na acção vários pedidos, o seu valor é a quantia correspondente à soma dos valores de todos eles, o que pressupõe que cada um dos pedidos representa uma diferente utilidade económica. Se assim não suceder, está-se perante uma cumulação aparente. Por exemplo: numa acção de reivindicação, em que se pede o reconhecimento de propriedade e a restituição da coisa (cfr. 1311º/1 CC), não se verifica qualquer cumulação objectiva porque os pedidos formulados não possuem uma utilidade económica diferenciada e por isso não se soma para determinação do valor da causa o valor do pedido de apreciação da propriedade ao pedido de restituição da coisa.Pressupostos:A cumulação simples exige a não exclusão por lei, bem como a compatibilidade processual (555º com remissão para o art. 37º) e substantiva (186º/2 al. c)) entre os objectos cumulados. Em certos casos, atendendo à natureza dos interesses, a lei exclui a cumulação de dois ou mais objectos num mesmo processo. É o que acontece quanto às acções de investigação de maternidade e de paternidade, dado que os arts. 1814º e 1869º CC exigem que estas acções seja especialmente instauradas com essa finalidade. A cumulação só é admissível se o tribunal for absolutamente competente para todos os objectos apresentados (555º), isto é, se ele for material, hierárquica e internacionalmente competente para apreciar todos esses objectos. O que se deixa que seja diferente é a competência em razão do território e do valor. Para sabermos se há compatibilidade processual temos de ver se há impedimentos por parte do art. 37º. A cumulação simples também exige que a forma do processo seja compatível para todos os pedidos cumulados (555º, 278º nº1 al. e); 576º).Havendo incompatibilidade processual pode haver as consequências do art. 96º (37º/1) ou pode suceder que haja uma excepção dilatória nominada (37º/2).

A compatibilidade substantiva refere-se à concordância prática dos efeitos decorrentes dos objectos cumulados (555º e 186º nº2 al. c)). A cumulação não é admissível se os efeitos resultantes de um ou alguns objectos for incompatível com os efeitos provenientes de outro desses objectos. Assim, não se pode cumular, por exemplo, o pedido de apreciação do direito de propriedade sobre um imóvel com o pedido de reconhecimento do direito de usufruto sobre o mesmo imóvel porque a propriedade não é conciliável com o usufruto. Se houver incompatibilidade substantiva, há ineptidão da petição inicial nos termos do art. 186º nº2 al. c). É exigida conexão objectiva? Entre esses pedidos tem de haver uma relação de dependência, a mesma causa de pedir, os factos a apreciar, as regras jurídicas serem essencialmente as mesmas. Entre nós, o professor Teixeira de Sousa entende que o art.. 36º deve ser analogicamente aplicável às situações de cumulação simples. Mas literalmente, a lei não remete para o art. 36º. O que sucede entre os vários pedidos quando não há conexão

objectiva? Pode haver suprimento e se não o fizer, o réu é absolvido da instância quanto a todos os pedidos. Temos aqui um vicio sanável (art. 38º). O autor é convidado a vir ao processo dizer qual o pedido que deseja ver apreciado. Se o autor der essa indicação, o processo prossegue só no pedido indicado.

Cumulação alternativa: a parte requer a procedência de todos os objectos cumulados mas pretende obter apenas, segundo a escolha do réu, a produção dos efeitos de um desses objectos (553º). Por exemplo: o autor pede a condenação do réu na entrega de um quadro ou de uma jóia. É por isso que o valor de uma acção em que são formulados pedidos alternativos é apenas o do pedido de maior valor (297º nº3).Na cumulação alternativa, a parte requer a procedência de todos os objectos alegados, não se confundindo, por isso, com a situação em que a parte formula vários pedidos, sabendo de antemão que um ou vários não poderão proceder, mas deixando ao tribunal a opção pela procedência de um ou alguns deles. Esta situação é, aliás, inadmissível e conduz à ineptidão da petição inicial por indeterminação do pedido (186º nº2 al. a)).Pressupostos: Alternatividade substantiva : exige que todos os pedidos formulados possam ser apresentados em alternativa. Essa alternatividade está assegurada no caso dos direitos alternativos por natureza ou origem (553º nº1), como é a hipótese das obrigações alternativas (543º nº1 CC).A falta de alternatividade substantiva sucede quando o autor instaura uma acção pedindo o cumprimento de um contrato de mutuo ou o reconhecimento de propriedade sobre um imóvel. Significa que, sob o ponto de vista substantivo, os objectos não podem ser apresentados numa relação de alternatividade. A essa falta deve ser aplicada, por analogia, a consequência da contradição substantiva na cumulação simples, que é a ineptidão da petição inicial (186º nº2 al. c)). Compatibilidade processual : apesar de a lei nada referir, a cumulação alternativa deve exigir a compatibilidade processual entre os objectos alegados. Isto significa que são analogicamente aplicados à cumulação alternativa os pressupostos exigidos pelo artigo 555º nº1 (Teixeira de Sousa).A falta de compatibilidade processual produz as mesmas consequências de idêntica situação na cumulação simples:“Para sabermos se há compatibilidade processual temos de ver se há impedimentos por parte do art. 37º. A cumulação simples também exige que a forma do processo seja compatível para todos os pedidos cumulados (555º, 278º nº1 al. e); 576º).Havendo incompatibilidade processual pode haver as consequências do art. 96º (37º/1) ou pode suceder que haja uma excepção dilatória nominada (37º/2).” A cumulação alternativa não exige conexão objectiva.

Cumulação subsidiária: o autor requer a procedência de um objecto (principal) e, subsidiariamente, a de um outro (subsidiário). Nesta cumulação são apresentados vários objectos, mas o objecto que é formulado subsidiariamente só é apreciado se o objecto principal for julgado

improcedente. O valor da causa em que é apresentada uma cumulação subsidiaria é apenas, por isso, o correspondente ao objecto principal (297º/3, 2º parte).A apreciação de um ou vários pedidos subsidiários é condicionada pela decisão de improcedência sobre o objecto principal.A cumulação subsidiaria encontra-se prevista no art. 554º/1 e pode referir-se aos seguintes exemplos: o autor pode intentar uma acção de reivindicação de um imóvel e pode pedir subsidiariamente o reconhecimento do seu direito de usufruto sobre o mesmo imóvel.Mesmo que pela procedência do objecto principal, o objecto subsidiário nunca venha a ser apreciado, verifica-se a pendencia deste ultimo desde o inicio da acção. Isto pode ter relevância, por exemplo, para o funcionamento da excepção de litispendência ( 580º/1 e 581º/1): esta excepção opera se, durante a pendencia da acção em que se formula o objecto subsidiário, este mesmo objecto for apresentado numa outra acção. O termo da pendencia do objecto subsidiário verifica-se com o transito em julgado da decisão sobre o objecto principal (276º CC).Quanto ao prazo de prescrição, sempre que a subsistência do objecto subsidiário não seja prejudicada pela procedência do objecto principal, deve aplicar-se analogicamente o art. 327º/2 CC: durante a pendencia da causa mantem-se a interrupção da prescrição, decorrente da citação do réu, do direito alegado a titulo subsidiário, mas, apos a decisão de procedência proferida quanto ao objecto principal, começa a correr um novo prazo prescricional para esse direito a contar do acto interruptivo, ou seja, a partir daquela citação.PRESSUPOSTOS:- Compatibilidade processual: a cumulação subsidiaria exige compatibilidade processual entre os objectos cumulados (554º/2, 2º parte), a qual respeita, como resulta da remissão do 554º/2 para o art. 37º, à competência absoluta do tribunal e à compatibilidade entre as formas de processo. A cumulação só é admissível se o tribunal for absolutamente competente para todos os objectos apresentados (555º), isto é, se ele for material, hierárquica e internacionalmente competente para apreciar todos esses objectos. O que se deixa que seja diferente é a competência em razão do território e do valor. Para sabermos se há compatibilidade processual temos de ver se há impedimentos por parte do art. 37º. A cumulação também exige que a forma do processo seja compatível para todos os pedidos cumulados (555º, 278º nº1 al. e); 576º).Havendo incompatibilidade processual pode haver as consequências do art. 96º (37º/1) ou pode suceder que haja uma excepção dilatória nominada (37º/2).

A generalidade dos pressupostos processuais é apreciada separadamente para o objecto principal e para o objecto subsidiário. No entanto, como o objecto subsidiário só é apreciado se o objecto principal for considerado improcedente, pode perguntar-se se, quanto ao objecto subsidiário a apreciação dos pressupostos processuais fica dependente daquela improcedência. A pendencia do objecto subsidiário desde o inicio da instancia justifica que os pressupostos processuais relativos a esse objecto devam ser apreciados nos momentos normais (despacho liminar e despacho saneador), portanto, mesmo antes de se conhecer qual a decisão sobre o objecto principal.

Cumulação objectiva sucessiva: é aquela em que ao objecto inicial da acção é cumulado, por iniciativa de uma das partes, um outro objecto. São situações em que se constitui, durante a pendencia de uma acção, uma pluralidade de objectos processuais.A iniciativa pode ser da parte activa e é a situação que mais se aproxima da cumulação inicial. Ou pode ser da parte passiva quando o réu alega um excepção peremptória ou deduz um pedido reconvencional, o que implica a apresentação de um objecto distinto daquele que é invocado pelo autor. A excepção peremptória é um facto impeditivo, modificativo ou extintivo do efeito jurídico pretendido pelo autor (576º/3), pelo que a sua alegação envolve a apreciação de um objecto distinto daquele que foi invocado pela parte. Suponha-se, por exemplo, que o autor pretende obter a condenação do réu no cumprimento de determinada prestação contratual; se o réu invocar que nada deve prestar porque já cumpriu a prestação, está a alegar um facto extintivo do direito apresentado pelo autor e simultaneamente um objecto que sem essa invocação não seria apreciado na causa.O mesmo acontece no caso de o réu deduzir um pedido reconvencional, isto é, formular um pedido autónomo do pedido normal de defesa contra o próprio autor da acção (266º/1). Se, por exemplo, o réu pedir a condenação do autor no cumprimento da prestação sinalagmática daquela que este pretende (266º/2 al. a)), torna-se necessário apreciar um objecto diferente daquele que foi invocado pelo autor.O art. 267º/1 permite que qualquer das partes requeira a apensação de acções que foram propostas separadamente, quando entre elas se verificarem os pressupostos do litisconsórcio, da coligação, da oposição ou da reconvenção. Por exemplo, é admissível na apensação de varias acções em que os lesados num mesmo acidente de viação pedem às companhias seguradoras a reparação dos respectivos danos.Convém estabelecer a distinção entre a cumulação sucessiva e a modificação do objecto do processo. Enquanto na cumulação sucessiva se verifica a apresentação de um novo objecto a par do objecto inicial, na modificação do objecto dá-se a substituição de um objecto por outro.Uma das circunstancias que pode determinar a cumulação sucessiva é a superveniência de factos susceptíveis de integrarem a causa de pedir, isto é, a ocorrência destes factos apos o momento normal da sua invocação em juízo ou o conhecimento pela parte após esse momento, de factos já ocorridos (588º/2).A cumulação de um novo objecto baseado em factos supervenientes é sempre admissível até ao encerramento da fase de discussão e julgamento (588º/1 al. c)). Por exemplo: suponha-se que o autor invoca, como fundamento da reivindicação de um prédio, a sua aquisição através de contrato de compra e venda; se durante a pendencia da acção o autor se tornar herdeiro do vendedor ou adquirir o bem por usucapião, aquela parte pode alegar, como fundamento do seu direito de propriedade e em cumulação com a causa de pedir invocada, qualquer das formas de aquisição.

Se os factos não forem supervenientes, a cumulação sucessiva só é admissível nas condições referidas nos arts. 264º e 265º, aplicáveis analogicamente. Assim, se houver acordo das partes , a cumulação sucessiva é admissível em qualquer momento salvo se entre o objecto inicial e o objecto cumulado não houver qualquer conexão e essa falta perturbar inconvenientemente a instrução (264º). Se esse acordo não existir, a cumulação de uma nova causa de pedir só é admissível dentro dos condicionalismos do art. 265º.A cumulação é admissível na réplica (265º/1), mas para que o autor possa apresentar esse articulado é necessário que o reu tenha apresentado uma excepção ou deduzido pedido reconvencional na contestação (584º), pelo que o objecto cumulado tem que apresentar uma certa conexão com essa excepção ou reconvenção. Por exemplo: o autor pede uma indemnização pelo incumprimento de uma prestação contratualmente assumida; se o réu invocar a invalidade do contrato, o autor pode pedir como pedido subsidiário que se esta excepção for considerada procedente , o réu seja condenado a indemnizar o interesse contratual negativo.

1. Excepção peremptória : consiste na invocação pelo réu de um facto que obsta à produção dos efeitos decorrentes do objecto definido pelo autor e determina a absolvição, total ou parcial do pedido (576º/3 e 571º/2). A dedução desta excepção implica uma cumulação objectiva sucessiva. Por exemplo: o autor instaura uma acção de condenação no cumprimento de uma prestação pecuniária; o réu pode opor, como excepção peremptória, o pagamento dessa quantia monetária.Na defesa por impugnação o réu contradiz os factos articulados pelo autor ou nega que deles possa decorrer o efeito jurídico pretendido pela parte (571º/2); diferentemente, na defesa por excepção peremptória, o reu não impugna os factos alegados pelo autor nem a sua adequação aos efeitos pretendidos, antes invoca outros factos que constituem causa impeditiva, modificativa ou extintiva do direito invocado pelo autor (571º/2).A excepção peremptória é incompatível com essa impugnação pelo que se são cumuladas como formas de defesa do réu, uma tem de ser subsidiaria da outra. Se, por exemplo, o réu nega que tenha celebrado qualquer contrato com o autor, só a titulo subsidiário pode alegar o cumprimento da obrigação que decorre desse negócio.As excepções peremptórias podem decorrer tanto de um direito (contradireito oponível ao autor) como de uma situação jurídica.O réu alega uma excepção peremptória invoca um objecto distinto daquele que é apresentado pela parte activa e requer a sua procedência contra esta parte, comportando-se deste modo como autor.A excepção peremptória esta subordinada ao principio da disponibilidade das partes. Assim, mesmo que os factos susceptíveis de constituir excepção peremptória constem de articulado apresentado pelo autor, o tribunal não pode extrair deles qualquer consequência se o reu não requer, com base nestes

mesmo factos, a absolvição do pedido. Salvaguarda-se naturalmente a possibilidade do conhecimento oficioso dessa excepção, caso em que o tribunal pode decretar a absolvição do pedido, ainda que não requerida pelo réu.Como a excepção peremptória produz um efeito extintivo, modificativo ou impeditivo do efeito pretendido pelo autor, a sua dedução não implica qualquer alteração do valor da acção.Excepções impeditivas – são aquelas que obstam ao preenchimento de uma previsão legal e que, por isso, impedem a uma certa consequência jurídica. São exemplos a nulidade do negocio jurídico (240º/2; 280º e 294º CC), o erro na declaração (247º CC), o erro sobre a pessoa ou objecto do negocio (251º CC), o dolo (253º/1 e 254º CC), a coacção moral (255º e 256º CC) e a incapacidade acidental ( 257º CC).São igualmente excepções impeditivas aquelas que se referem a situações excepcionais. Assim, por exemplo, o locatário que é demandado para responder pela perda da coisa locada, pode invocar que essa perda resultou de causa que não lhe é imputável, nem a terceiro a que tenha permitido essa utilização (1044º CC).Excepções extintivas – são aquelas que destroem as consequências jurídicas decorrentes do preenchimento de determinada previsão legal. São exemplos a condição resolutiva (270º CC), a prescrição (298º/1 CC), a caducidade (298º/2 CC) e ainda todas as causas de extinção das obrigações que são o cumprimento (762º CC), a dação em cumprimento e pro solvendo (837º e 840º/1 CC), a consignação em depósito (846º CC), a compensação (847º CC), a novação objectiva e subjectiva (857º e 858º CC), a remissão de divida (863º CC) e a confissão (868º CC).Excepções modificativas – determinam uma modificação do objecto invocado pelo autor, este objecto que originariamente era um, passa a ser outro depois da invocação da excepção. Por exemplo, a exceptio non adimpleti contractus (428º CC), a condição suspensiva (270º CC), a aceitação da modificação do contrato oposta ao pedido de resolução com fundamento em alteração anormal das circunstancias (437º/2 CC) e o direito de retenção (754º CC).A arguição de uma excepção modificativa implica uma absolvição do reu quanto ao pedido originário e uma condenação, normalmente condicional, dessa mesma parte em relação a um outro objecto. Se, por exemplo, o réu invoca exceptio non adimpleti contractus, o tribunal em vez de condenar simpresmente o réu (como o réu pretendia) a cumprir a prestação, condena-o a cumpri-la se o autor realizar a correspondente contraprestação.Justifica-se aplicar analogicamente à condenação proferida na sequencia da invocação de uma excepção modificativa o regime estabelecido no art.610º nº2 al. a) CPC, quanto à condenação in futurum pois que a alegação dessa excepção significa que não há litigio relativamente à existência da obrigação, mas tão-só quanto às condições do seu cumprimento. Consequentemente, o

autor é responsável pelas custas e pelos honorários do advogado do réu (610º/3).O art. 91º/1 estabelece a extensão da competência do tribunal da acção para apreciar qualquer excepção invocada pelo réu.A alegação de uma excepção peremptória permite que o autor conteste a matéria da excepção num articulado próprio, que é a réplica (584º/1). A falta de contestação pelo autor da excepção invocada pelo reu produz a admissão por acordo dos respectivos factos (587º).Nada impede que o autor oponha uma contra-excepção à excepção invocada pelo réu e assim sucessivamente.

2. Pedido reconvencional: consiste na formulação pelo réu de um pedido que é distinto do pedido normal da defesa (que é a absolvição da instancia) e cuja procedência é requerida contra o autor (266º/1). Por exemplo: o autor propôs uma acção, pedindo a entrega do imóvel comprado ao réu; este pode formular, através de reconvenção, o pedido de pagamento do preço da venda.A diferença entre a dedução de um pedido reconvencional e a alegação de uma excepção peremptória consiste no seguinte: quando o réu invoca uma excepção peremptória o seu efeito é, se for procedente, o de obviar à procedência do objecto apresentado pelo autor, pelo que essa excepção produz um efeito circunscrito à improcedência da acção; em contrapartida, o réu que formula um pedido reconvencional visa obter um efeito positivo que pode ser a apreciação de um facto ou de um direito, a condenação da contraparte na realização de uma prestação ou a constituição de uma situação jurídica.É por isso que a invocação de uma excepção peremptória não determina qualquer alteração do valor da causa, mas a formulação de um pedido reconvencional, quando distinto do deduzido pelo autor, implica a sua soma ao valor inicial da acção (299º/2).Enquanto a excepção deve ser deduzida na contestação (573º/1) e por isso fica precludida a sua invocação em momento posterior ou em acção autónoma (573º/2), a formulação de um pedido reconvencional é sempre uma faculdade, que só fica precludida no caso de a procedência da acção ser incompatível com a procedência do objecto que poderia ser alegado através de reconvenção. A dedução da excepção peremptória é um ónus, mas a formulação de um pedido reconvencional é uma faculdade.PRESSUPOSTOS – além dos pressupostos gerais, a reconvenção exige ainda a conexão entre o objecto apresentado pelo autor e o pedido reconvencional, bem como a compatibilidade processual com o objecto definido pelo autor.Como em regra o valor do pedido reconvencional se soma ao valor do pedido do autor (299º/2), da alteração do valor da causa pode resultar que, por exemplo, a acção passe de uma instancia local para uma instancia central ou que o patrocínio judiciário que não era obrigatório, passe a ser.

Na reconvenção falta o interesse processual sempre que o efeito pretendido através do pedido reconvencional coincide com aquele que resulta da improcedência da acção. Assim, por exemplo, o réu não pode utilizar a reconvenção para obter a declaração de inexistência de um credito alegado pelo autor porque tal efeito decorre da improcedência da causa.A reconvenção só é admissível se o tribunal competente para o pedido do autor for absolutamente competente para o pedido reconvencional (93º). Assim, para que a reconvenção seja admissível, é necessário que o tribunal da acção seja material, hierárquica e internacionalmente competente para apreciar a reconvenção (compatibilidade processual).A incompatibilidade processual provém da incompetência absoluta do tribunal da acção ou da inadequação da forma de processo para o pedido reconvencional. Aquela incompetência absoluta determina a absolvição do autor da instancia reconvencional no despacho saneador (577º al. a) e 278º/1 al a)) e a incompatibilidade de formas de processo implica uma excepção dilatória inominada e a consequente absolvição do autor da instancia reconvencional (576º/2 e 278º/1 al. e)).A reconvenção só é admissível se a forma do processo adequada para o objecto definido pelo autor for compatível com aquela que é própria para o pedido reconvencional (266º). Assim, o pedido reconvencional não é admissível se a um dos objectos corresponder processo comum e ao outro, processo especial.A conexão objectiva verifica-se …- Quando o pedido reconvencional emerge da causa de pedir invocada pelo autor (266º). Por exemplo, o autor instaura uma acção pedindo o cumprimento de uma prestação contratual; o réu pode pedir em reconvenção a condenação do autor a realizar a prestação sinalagmática que decorre do mesmo contrato.- Quando o pedido reconvencional provém do fundamento da contestação apresentada pelo réu (266º). Por exemplo: o autor pede a condenação do réu na realização de uma prestação contratual; se o réu invocar a nulidade do contrato pode pedir através de reconvenção a restituição do que prestou (289º/1 CC).Se o autor propuser uma acção de reivindicação de um imóvel, o reu pode formular o pedido reconvencional de restituição do sinal em dobro pelo não cumprimento do contrato promessa de venda do imóvel, o réu pode optar entre insistir no cumprimento do contrato, requerendo eventualmente a sua execução especifica (442º/3 CC) ou reconhecer incumprimento da outra parte e pedir a restituição do sinal em dobro (442º/2 CC): naquele caso, a reconvenção decorre do fundamento da defesa (no primeiro); neste ultimo, (no segundo) do fundamento da acção.- Quando o pedido reconvencional respeitar a benfeitorias ou despesas relativas à coisa cuja entrega é pedida pelo autor. Se, por exemplo, o autor propõe uma acção de reivindicação de um prédio, o réu pode formular o pedido reconvencional do pagamento das benfeitorias realizada no prédio reivindicado.

- Quando o pedido reconvencional visa conseguir a compensação do crédito do autor sobre o réu com um contra crédito do réu sobre o autor (847º/1 CC). Se, por exemplo, o autor instaura uma acção pedindo o pagamento de um credito, o reu pode reconvencionar alegando um crédito sobre o autor e requerendo a compensação total ou parcial dos referidos créditos. Há que diferenciar entre a compensação efectuada num momento anterior (extrajudicial) ou durante (judiciária) a acção. No primeiro caso, essa parte alega uma excepção peremptória (576º/3). No segundo caso, o réu pretende provocar a compensação entre créditos e para conseguir a compensação judiciaria serve-se da reconvenção. A tese da excepção-reconvençao entende que a reconvenção só deve ser utilizada para obter a condenação do autor quanto ao excesso do crédito do réu relativamente ao credito do auto. Quer dizer, se o contracrédito do réu for do mesmo montante ou de quantitativo inferior ao crédito do autor, o réu deverá limitar-se a invocar a compensação como excepção peremptória. A reconvenção é inadmissível por falta de conexão objectiva e de compatibilidade processual. A falta dessa conexão resulta da inexistência de uma relação entre o objecto definido pelo autor e o pedido reconvencional do réu e, porque é uma excepção dilatória inominada, determina a absolvição do autor da instancia reconvencional no despacho saneador (576º/2 e 278º/1 al. e)).

A reconvenção deve ser deduzida discriminadamente na contestação (583º). Mas isto não significa que a reconvenção só possa ser formulada se houver contestação, mas que, se a houver, a reconvenção deve ser deduzida separadamente nesse articulado e que, se não existir tal articulado a reconvenção deve ser apresentada no prazo determinado para a contestação. A parte da contestação em que o reu deduz o pedido reconvencional deve ser equiparada a uma petição inicial pelo que lhe é aplicável o regime previsto para esta petição (552º/1 e 2).À reconvenção deduzida pelo réu não pode o autor opor outra reconvenção (584º e 585º).A falta de contestação pelo autor dos factos alegados pelo reu como fundamento do pedido reconvencional implica em regra a sua admissão por acordo (574º e 587º).O valor do pedido reconvencional soma-se ao valor inicial da acção, excepto se a reconvenção não se referir a um pedido distinto daquele que é formulado pelo autor (299º/2). Assim, se numa acção de divorcio o reu requerer o decretamento do mesmo a seu favor, o valor da acção não se altera.Em certos casos, a apreciação da reconvenção depende da procedência da causa. É o que sucede, por exemplo, quando o réu pede o pagamento das benfeitorias realizadas na coisa reivindicada (266º/2 al. b)): este pedido reconvencional só pode ser apreciado se o réu for condenado a restituir aquela coisa.

A procedência da reconvenção também pode estar dependente da improcedência da acção (266º/6). Por exemplo: a reconvenção que decorre da defesa do reu (266º/2 al. a)) só pode ser apreciada se a contestação proceder e a reconvenção que se destina a obter o mesmo efeito que é pretendido pelo autor (266º/2 al. c)) só pode proceder se improceder o pedido do autor.O pedido reconvencional não é afectado pela desistência do pedido formulado pelo autor, excepto se a reconvenção for dependente da procedência deste pedido (286º/2). Assim, se o autor desistir do pedido de reivindicação da coisa, não se mantém o pedido reconvencional relativamente ao pagamento das benfeitorias realizadas pelo réu nessa mesma coisa (266º/2 al. b)). A mesma doutrina vale para a desistência da instancia que, alias, se for requerida depois da contestação exige a previa aceitação do réu (286º/1).A reconvenção pode constituir em conjunto com a defesa por excepção peremptória uma cumulação simples ou subsidiaria. Por exemplo: o autor propõe uma acção pedindo o cumprimento de um contrato; o réu pode excepcionar o dolo na celebração do contrato e cumulativamente pedir através de reconvenção o pagamento de uma indemnização pelos prejuízos sofridos.Reconvenção interveniente – segundo o 266º/1, a reconvenção é deduzida pelo réu contra o autor. O art. 266º/4 prevê a reconvenção interveniente que é aquela que é acompanhada da intervenção principal de um terceiro na acção pendente e que, por isso, está sujeita aos pressupostos desta cumulação subjectiva.A reconvenção pode ser deduzida pelo réu, não só contra o autor da acção mas também contra um terceiro cuja intervenção no processo é provocada pelo réu reconvinte (316º/1). Por exemplo: o autor propõe uma acção pedindo a reivindicação de um imóvel; o reu que se considera proprietário desse imóvel pode deduzir um pedido reconvencional com um conteúdo semelhante, mas como o autor é casado e importa assegurar a sua legitimidade (34º/1), há que provocar a intervenção do cônjuge do autor (316º/1).

Exercícios:G propõe acção de divórcio contra H pedindo que seja decretado o divórcio sem consentimento com fundamento na violação do dever de fidelidade de H. H contesta e pede também o divórcio sem consentimento, alegando que foi G quem cometeu adultério. Quid júris?

Temos um pedido reconvencional, nos termos do art. 266º.PRESSUPOSTOS:- Art. 93º: competência absoluta (matéria, hierarquia e competência internacional). Se o tribunal não for competente, há absolvição do reconvindo da instância reconvencional.- Conexão objectiva: verifica-se quando o pedido reconvencional emerge da causa de pedir do autor (266º/2 al. a)). Existe conexão quando um dos factores

do 266º/2 esteja preenchido e esta enumeração é taxativa. Neste caso aplica-se a alínea d) do nº2 do art. 266º CPC.- Art. 583º-Art. 266º/3: a petição inicial tem de identificar a forma de processo. Se o pedido inicial seguir forma especial e o reconvencional, forma comum, então haveria inadequação de formas de processo e consequente absolvição do autor, da instancia reconvencional (93º).Neste caso, esta reconvenção era admissível.- O valor da acção calcula-se no momento em que a acção é proposta (299º/1). Só não haverá soma dos valores quando a reconvenção seja admitida por força da al. d) do 266º/2, pelo que neste caso não haveria soma e o valor da acção seria calculado com base no 303º.Também não há soma quando o réu quer a mera compensação. Mas em regra, a reconvenção implica um aumento do valor da causa. Se uma acção valia 1000 e por força da reconvenção passa a valer 50 000, tem de ser remetida para uma instancia central. O art. 93º/2 diz que o juiz deve remeter oficiosamente o processo para o tribunal competente.- O art. 266º/4 diz-nos que a reconvenção tem de ser deduzida contra o autor (obrigatoriamente), mas pode chamar um terceiro.- Se o pedido principal não é apreciado, a instancia reconvencional prossegue a não ser quando o pedido do réu é dependente do pedido do autor (266º/6).

Imagine que M, na contestação, vem alegar que não pintou o vitral porque O não lhe pagou o preço acordado e pede a condenação de O nesse pagamento.

A contestação tem uma excepção peremptória, ou seja, excepção de não cumprimento do contrato. Mas para além disso, temos também um pedido reconvencional ao pedir a condenação do autor no pagamento (266º/2 al. a)). Neste caso, a causa de pedir da acção era o contrato.A forma de processo era a mesma (266º/3). Havia competência absoluta (93º).

Imagine que na réplica O vem pedir que M fosse condenado a cumprir o contrato e no caso deste pedido proceder, fosse condenado a pagar uma indemnização de 750 pela mora.

A réplica só é admissível para efeitos de responder a uma reconvenção (584º/2). Segundo o 265º/2, o autor pode em qualquer altura reduzir o pedido ou amplia-lo se este for um desenvolvimento do pedido primitivo. Pode ter lugar até ao encerramento da discussão em 1º instancia (audiência final – 604º/3 al. e)).

B propõe uma acção contra R, pedindo a sua condenação no pagamento dos danos que causou no seu veiculo devido ao acidente de viação, de

culpa de R no montante de 2500. R, na contestação, afirma que B lhe deve a quantia de 3000 que não lhe devolveu na data acordada no contrato de mútuo, pretendendo assim o pagamento desta quantia. Aprecie a contestação de R.

A questão colocava-se : compensação (reconvenção) ou excepção dilatória?O art. 266º/2 al. c) diz que fosse qual fosse o montante do réu, a compensação operaria sempre por via reconvencional. A decisão do juiz sobre este pedido tem força de caso julgado.

Suponha que o réu, na contestação, afirma que nada tem a dever ao autor uma vez que tinha sob o autor um crédito de 5000 e ambos os crédito já tinham sido compensados.

Neste caso, a compensação opera em termos de excepção peremptória.

Negócios processuais:- A desistência do pedido e da instância e a confissão do pedido são negócios unilaterais, mas a transacção é um contrato. Daí que a desistência e a confissão possam ser objecto de um contrato promessa unilateral em que a parte se vincula a desistir do pedido ou da instancia ou a confessar o pedido.Também a celebração da transacção pode ser convencionada através de um contrato promessa bilateral ou sinalagmático.- A desistência e a confissão do pedido podem ser realizadas em qualquer momento da tramitação da acção (283º/1); o mesmo vale para a transacção (283º/2).Apesar de a acção se considerar proposta logo que seja recebida a respectiva petição inicial na secretaria (259º/1), os efeitos em relação ao réu só se produzem, em regra, a partir da citação (259º/2), pelo que só apos esse acto o réu pode confessar o pedido. Quanto à participação do demandado numa transacção, a solução é distinta: dada a categoria substantiva desse negocio (1248º CC), o réu pode intervir em qualquer transacção que, se for realizada antes da sua citação, é ainda uma transacção extrajudicial.- Restringindo a analise as situações mais viáveis na pratica o que importa verificar é se o autor pode desistir do pedido depois do proferimento pelo tribunal de uma sentença absolutória, se o réu pode confessar o pedido após a prolação de uma sentença de condenação e se as partes podem transigir depois da pronuncia de uma sentença com qualquer desses conteúdos.A resposta deve ser negativa sempre que estes actos reproduzam o conteúdo da decisão proferida, isto é, repitam o conteúdo desta ( como sucede quando, por exemplo, o réu confessa o pedido que o tribunal considerou procedente), mas será, pelo contrário, positiva se essa situação se não verificar.

A justificação daquela inadmissibilidade encontra-se na falta de interesse processual da parte, pois que, por exemplo, não se descortina interesse do autor em desistir do pedido após o tribunal ter reconhecido a inexistência do direito por ele alegado.Quer dizer: os negócios processuais que repetem o conteúdo daquela decisão convertem-se numa renuncia ao recurso que a parte vencida podia interpor (631º/1).- Quanto à desistência da instancia realizada apos o proferimento da decisão sobre o mérito da causa, o problema é distinto porque esse acto nunca pode reproduzir ou repetir o conteúdo da sentença.Como esta desistência depende da aceitação do reu quando seja requerida depois do oferecimento da contestação (286º/1), a solução quanto à admissibilidade dessa desistência após o proferimento da decisão de mérito varia, antes de mais, consoante o réu, que contestou, deu o seu consentimento ou não aceite essa desistência. Naquele primeiro caso, a desistência da instancia parece admissível; mas deve afirmar-se o contrário na outra hipótese referida.Além disso, deve entender-se que ela é inadmissível sempre que a sentença proferida seja desfavorável ao autor, porque de outra forma constituiria um meio de o autor impedir a produção dos efeitos dessa decisão.- Os sujeitos da desistência, confissão e transacção são, em principio, as partes na acção. Mas há situações nas quais podem participar terceiros estranhos à acção. Assim, por exemplo, o cabeça de casal que instaurou contra o administrador de bens da herança uma acção de prestação de contas, só pode desistir do pedido formulado acompanhado de todos os herdeiros.-A desistência e a confissão só podem provir de partes principais e, se tiver intervindo na acção uma parte acessória (321º/1; 326º/1), esta só pode celebrar uma transacção se dela também participar a parte principal. A assistência nunca afecta a posição das partes principais quanto à liberdade de desistência, confissão ou transacção (331º).- Mas também há que considerar a relevância e os efeitos da sentença homologatória desses negócios (290º/3). Assim, depois dessa homologação, só a transacção pode ser revogada, resolvida ou rescindida, embora a sua extinção não afecte os efeitos processuais produzidos (nomeadamente a extinção da instancia – 277º al d); 284º). O autor que desistiu do pedido ou da instância ou o réu que confessar o pedido não podem revogar esses actos depois do trânsito em julgado da sentença homologatória.- Como negócios processuais, elas deveriam exigir os normais pressupostos dos actos processuais (como a capacidade e a representação judiciaria, etc.). Mas, como se pode concluir especialmente da invalidade prevista nos arts. 291º nº 1 e 3, esses pressupostos só têm autonomia quando não sejam consumidos pelos requisitos gerais dos actos jurídicos. É por isso que, por exemplo, é nula a desistência, confissão ou transacção cujo objecto seja

contrário à ordem pública ou ofensivo dos bons costumes (280º/2 CC). Expressão deste regime é o disposto no art. 291º/1.A acção de nulidade ou anulação pode ser instaurada apos o trânsito em julgado da sentença homologatória da confissão, desistência ou transacção (291º/2). Obtida essa declaração de nulidade ou anulação depois do trânsito em julgado daquela sentença, a parte pode impugna-la no recurso extraordinário de revisão.- Existem algumas especialidades quando a desistência, a confissão ou a transacção resultem de actos praticados por representantes de pessoas colectivas, sociedades, incapazes ou ausentes. Conforme dispõe o 287º, esses representantes só podem desistir, confessar ou transigir com observância do âmbito e limites dos seus poderes de representaçãoPara que o mandatário judicial possa desistir, confessar ou celebrar transacção é necessário que lhe tenham sido conferidos poderes forenses especiais (45º/2). Atendendo à importância desses actos e dos seus efeitos, a lei não os inclui no âmbito dos poderes forenses gerais (44º/1) e exigiu para eles poderes especiais do mandatário.A nulidade da confissão, desistência ou transacção, quando provenha unicamente da falta de poderes do representante ou da insuficiência do mandato, é sanável. Quando se refere a um representante geral, há que procurar o respectivo regime substantivo (como por exemplo, aquele que consta do 1893º CC quanto aos actos anuláveis dos progenitores). Se a nulidade do negocio processual resultar da falta de poderes do mandatário judicial ou irregularidade do mandato, a sentença homologatória é notificada pessoalmente ao mandante, podendo este, nos 10 dias seguintes, declarar que não ratifica o acto do mandatário. Se nada disser, o acto é havido por ratificado e a nulidade considera-se sanada, mas se o mandante declarar que não ratifica, este não produzirá qualquer efeito em relação a ele (291º/3). Se faltar essa notificação, o mandante pode socorrer-se desse recurso extraordinário para obter a anulação da decisão homologatória.- Quanto à legitimidade, há que observar as especialidades impostas pelas situações de litisconsórcio. O art. 288º/1 estipula que nos casos de litisconsórcio voluntario é livre a confissão, a desistência e a transacção por cada um dos litisconsortes quando limitada ao interesse de cada um deles. Por seu turno, o 288º/2 exclui a confissão, desistência e transacção proveniente ou celebrada por um único dos litisconsortes necessários.O 288º/1 não se pode referir a qualquer litisconsórcio voluntário, mas somente àquele em que cada um dos litisconsortes possui um interesse autonomizavel perante o interesse de outros litisconsortes.Também sucede que nem todo o litisconsórcio necessário obsta à participação de um único litisconsorte na confissão, desistência ou transacção, pelo que o art. 288º/2 não se refere a todo o litisconsórcio, mas apenas ao unitário.A confissão, a desistência e a transacção não são admissíveis relativamente a situações jurídicas indisponíveis (289º/1), isto é a situações que não podem ser

constituídas, modificadas ou extintas por vontade das partes (1249º CC, quanto à transacção). Como a desistência da instância não produz nenhum destes efeitos sobre o objecto do processo (cfr.285º/2), a indisponibilidade deste objecto nunca a exclui.Uma indisponibilidade absoluta verifica-se, por exemplo, nas acções de investigação de maternidade (cfr. 1814º CC). Dado o caracter irrenunciável do estado de filho e a irrelevância da vontade para a sua constituição, nessas acções não é admissível nem a desistência do pedido nem a confissão do mesmo, nem admitem transacção.Encontram-se igualmente algumas situações de indisponibilidade relativa. Podem referir a acções de divórcio (1773º CC) e de separação judicial de pessoas e bens (1795º-A CC): nestas acções não são admissíveis a confissão do pedido e a transacção, mas o autor pode desistir do pedido (289º/2).- Através da desistência, da confissão e da transacção não é possível obter efeitos que só podem ser produzidos através de sentença judicial. Assim, não é válida a transacção judicial que, no caso de não pagamento pelo arrendatário das rendas vincendas, considera automaticamente resolvido o contrato.Esses negócios são, todavia, admissíveis em casos em que os efeitos por eles produzidos não podiam ser obtidos no próprio processo pendente.- Se o negócio processual for válido, o tribunal homologa o negócio e condena ou absolve nos termos acordados pelas partes (290º/3).Com o transito em julgado da sentença homologatória (628º), os negócios processuais ficam cobertos pela força de caso julgado dessa decisão. Mas este transito não obsta à admissibilidade da acção destinada a declaração de nulidade ou anulação desses negócios (291º/2), nem impede que na oposição a execução baseada na sentença homologatória, o executado alegue qualquer das causas que determinam aquela nulidade ou anulabilidade.

Desistência da instância: é o negócio unilateral através do qual o autor renuncia à obtenção da tutela jurisdicional requerida, pois que apenas significa que essa parte desiste de procurar tutelar essa situação no processo pendente.Não é possível desistir da instancia quanto, por exemplo, a uma parte do montante da indemnização requerida. Quanto à desistência da instância de um dos litisconsortes activos ou em relação a um dos litisconsortes demandados, tal só é possível no caso de litisconsórcio simples (ou não unitário), mas, na hipótese de o efeito de caso julgado da decisão da causa se estender a essa parte demandada mesmo que se torne terceiro perante a acção, tal desistência necessitará do seu consentimento se for realizada depois do oferecimento da contestação (286º/1).A desistência da instância apenas faz cessar o processo pendente (285º/2). Importa tutelar os interesses do réu. É isso que justifica que a eficácia da desistência da instância, quando seja requerida depois do oferecimento da contestação, fique dependente de aceitação do réu (286º/1).

Os efeitos da desistência da instância retroagem ao momento da propositura da acção, pelo que, em regra, tudo se passa como se a acção nunca tivesse estado pendente.

Desistência do pedido: é o negócio unilateral através do qual o autor reconhece a falta de fundamento do pedido formulado. Representa o reconhecimento pelo autor de que a situação jurídica alegada não existe ou se extinguiu. A desistência do pedido extingue a situação jurídica que o autor pretendia tutelar (285º/1).A desistência do pedido pode ser total ou parcial (283º/1).

Confissão do pedido: é o negócio unilateral pelo qual o reu reconhece fundamento no pedido formulado pelo autor. A confissão pode ser total ou parcial (283º/1), consoante o âmbito de reconhecimento realizado.Essa confissão pode ser simples ou complexa, é simples quando o réu reconhece o pedido tal como ele é formulado pelo autor; e é complexa quando o réu reconhece o pedido do autor, mas opõe-lhe um contra efeito. Assim, verifica-se uma confissão complexa quando, por exemplo, o réu confessa o pedido mas afirma que só o satisfará quando essa parte cumprir a respectiva prestação sinalagmática.A confissão do pedido implica, consoante seja total ou parcial, a extinção ou modificação da instância (284º e 277º al. d)). A confissão do pedido não pode ser submetida a qualquer condição. Mas quanto à confissão do pedido subsidiário, deve entender-se que, normalmente ela só vale para o caso de o pedido principal vir a improceder.

Transacção: é o contrato pelo qual as partes previnem ou terminam um litígio mediante reciprocas concessões (1248º CC). Quando as partes previnem um litígio futuro, a transacção chama-se preventiva ou extrajudicial; quando as partes terminam um litígio (quando poem termo a um processo pendente), a transacção chama-se judicial.A transacção pode ser quantitativa ou novatória. A transacção quantitativa é aquela em que as concessões reciprocas das partes se traduzem numa modificação do quantum do objecto da causa. É o que sucede quando, por exemplo, o réu admite pagar uma parte da quantia pretendida pelo autor e este desiste de obter a condenação do réu quanto à sua totalidade.A transacção novatória é aquela em que as concessões mútuas entre as partes implicam a constituição, modificação ou extinção de direitos diversos do objecto do litigio (1248º/2 CC). Assim, por exemplo, numa acção de reivindicação com base na propriedade de um imóvel, as partes podem celebrar uma transacção em que o autor reconhece o usufruto do réu sobre o imóvel e o réu reconhece a propriedade do autor sobre o mesmo bem.

Os efeitos processuais traduzem-se, atendendo à amplitude da transacção em relação ao objecto do processo, numa modificação do pedido (normalmente numa redução) ou na extinção da instância (284º e 277º al. d)).

Exercícios:A, residente no Porto, proprietário do imóvel x, situado em Aveiro com a área de 1000 m2, intenta acção contra B, residente em Loulé na qual pretende o reconhecimento do seu direito de propriedade sobre o imóvel, porquanto B afirma em público que tal imóvel sempre pertenceu à sua família.Se for proferida uma sentença condenatória, pode o réu confessar o pedido?Art. 283º CPC – confissão de pedido. A confissão pode ser feita até ao fim do processo (transito em julgado da decisão).Há aqui uma sentença condenatória quando o réu confessa o pedido (277º al. d)) extingue-se a instancia.Art. 290º/3 – se a confissão for declarada válida, é declarado por sentença condenando-se ou absolvendo-se nos seus precisos termos (sentença homologatória ).Se há uma confissão total, o juiz vai condenar o réu no pedido. Aqui, a sentença homologatória vai reproduzir a decisão que o juiz já tomou. Aqui há um problema de interesse processual porque o efeito já foi obtido e a confissão será ineficaz por falta de interesse processual.

E se for proferida uma sentença absolutória da instância? O autor pode desistir da instância? Art. 286º/1 –pode desistir se o réu autorizar .

Imagine que o mandatário judicial do autor agiu ao abrigo de uma procuração forense que lhe concedia poderes gerais. Quando o réu é notificado da sentença homologatória de tal acordo, fica indignado pois não pretendia confessar.Art. 45º/2Art. 291º/3

A, B e C são comproprietários de um imóvel. A demanda B, requerendo a divisão de coisa comum. Pode A, autora, desistir do pedido?Art. 288º/2 CPCArt. 1412º CC – a compropriedade não se qualificaria como direito indisponível. Só nos casos das convenções mencionadas no referido artigo é que se poderia considerar um direito indisponível. Não havendo, não haveria obstáculo à desistência.

Imaginando que A, B e C estavam presentes, podia A desistir do pedido? Uma vez que este era um litisconsórcio necessário. Não seria de aplicar nem o 288º/2 nem o 289º/1 e portanto seria lícita a desistência do pedido.

A intenta acção contra B, pedindo que este fosse condenado a pagar 5000 euros a titulo de responsabilidade extra contratual. Na audiência final, A e B apresentam requerimento escrito assinado por ambos, do qual consta que as partes chegaram a acordo nos termos do qual B reconhece que a pretensão de A é juridicamente bem fundada.Caracterize este negocio processual.Pode estar em causa uma confissão de direito (não há aqui confissão de factos, nem confissão ficta). Aqui temos um misto estre uma confissão de pedido e uma transacção. O conteúdo da transacção é vastíssimo. Se não houver contrapartida em dinheiro, podemos considerar o negocio como uma transacção? Segundo o CPC, a transacção pode abranger tudo menos direitos indisponíveis.Se não houver contrapartida em dinheiro, qualifica-se como confissão. Se houver contrapartida em dinheiro, já há transacção.Para o professor Alberto dos Reis, se este acordo entre as partes significar uma contrapartida para ambos, ainda estamos perante uma transacção.

As partes acordam que B reconheça que a pretensão de A é juridicamente bem fundada e A aceita suportar metade das custas processuais.Caracterize este negócio processual.Neste caso, não há duvida que estamos perante uma transacção. Aqui há uma reciproca concessão entre as partes e portanto, uma transacção.

A propõe acção contra B, pedindo a execução especifica do contrato promessa de compra e venda da mota de B. O contrato devia ser celebrado nos seis meses seguintes. B comunicou-lhe que não fazia tenções de cumprir o contrato.Na contestação, o mandatário impugna os factos 1 e 2 e confirma que B não pretende vender a mota a A. A pretende aproveitar processualmente esta declaração, mas não sabe se o pode fazer, uma vez que o mandatário de B não estava munido de poderes especiais. Quid júris?Temos aqui uma confissão de factos, pelo que pode não estar aqui em causa a aplicação do art. 45º/2.A confissão de factos é uma declaração de ciência e é um meio de prova e não um negocio processual.Segundo o art. 465º/2, as confissões de factos podem ser retiradas enquanto a parte contraria as não aceitar expressamente. Esta aceitação pode ser por qualquer meio e a partir do momento em que isto é feito, a confissão torna-se irretractável. Se a parte nada diz, a confissão pode ser retirada a qualquer momento. Basta que haja uma manifestação através de um requerimento

autónomo e o facto abrangido pela confissão considera-se plenamente provado.Nos termos do art. 46º, o mandatário não precisa de ter uma procuração com poderes especiais.- Suponha agora que o mandatário de B, ainda sem estar munido de procuração com poderes especiais, confessa por termo no processo, o pedido.Aplica-se aqui o art. 45º nº 1 CPC.O art. 157º e seguintes dizem quais são os requisitos dos termos.Ele precisava de procuração com poderes especiais, o que significa que o acto é nulo. Nos termos do art. 291º nº3, o vicio é sanável. A sentença homologatória é notificada ao mandante e este, nada dizendo, ratifica o acto.

A e B, ambos sócios da sociedade C intentam acção de anulação de deliberação social contra esta sociedade. No decurso da acção, A desiste do pedido por termo no processo. Quid júris?Há aqui uma situação de litisconsórcio voluntario entre os sócios.Nos termos do art. 288º nº1, é livre a confissão ou desistência desde que limitada ao interesse de cada um na causa.O litisconsórcio parciário é aquele em que a decisão da causa pode ser diferente para cada um dos litisconsortes. A jurisprudência tem considerado que nestas situações de litisconsórcio voluntario não fazia sentido que um dos sócios desistisse uma vez que a decisão tinha de ser unitária. Assim, só é possível desistir em caso de litisconsórcio parciário. Portanto, neste caso aplica-se o 288º/1 e como não estamos perante um interesse divisível, não era possível a desistência.

Revelia: A propõe acção contra B. Quando o réu é citado, ele tem um prazo para apresentar a contestação. B pode contestar e se o fizer, pode na contestação defender-se por impugnação, por excepção ou reconvenção. Mas ainda há uma outra possibilidade, que é B nada fazer (cfr. Por exemplo: arts. 7º/3; 385º/1; 594º/2). Se B não deduzir defesa, ele é revel. A contestação constitui um ónus da parte, não existindo qualquer dever de contestar (571º/1). Daí decorre que a revelia não determina a aplicação ao réu de qualquer sanção, mas antes certas desvantagens quanto à decisão da acção (concretamente, a diminuição ou mesmo exclusão da probabilidade de uma decisão favorável a essa parte).Revelia absoluta vs revelia relativa: o sr. B pode ter duas atitudes. Recebe a citação e nada faz ou telefona ao seu advogado e constitui mandatário judicial. O art. 566º é isto que diz, o primeiro caso reporta-se á revelia absoluta e o segundo caso reporta-se à revelia relativa.O assistente é considerado substituto processual do assistido revel (329º), mas como não pode realizar actos que aquele tenha perdido o direito de praticar, não pode sanar essa revelia.

Revelia operante vs revelia inoperante: revelia inoperante corresponde a situações que vão impedir os efeitos da revelia. Estes efeitos estão no art. 567º (“consideram-se confessados os factos”). Temos uma situação do réu que pelo silencio, é-lhe dada uma situação equiparada à confissão (confessio ficta).Mas há situações em que apesar de haver revelia, esta é inoperante (568º). Nas quatro alíneas do 568º devemos distinguir cinco situações:- Citação edital: situação em que há citação, mas não se sabe onde a pessoa está. É o exemplo do velejador que está a velejar à volta do mundo. Se houver uma citação edital e revelia absoluta, dá a ideia de que ele não sabe que contra ele há um acção. Citação edital + revelia absoluta = revelia inoperanteMas pode suceder que há citação edital mas houver intervenção do Ministério Público no sentido de defender os interesses do réu, aí não haverá revelia (568º al. b)).- Art. 568º al. a): temos uma situação de pluralidade de réus, um contesta e os outros não contestam. Não podemos considerar que haveria confissão de factos por parte de uns e não de outros relativamente ao mesmo objecto.- Quando o réu for incapaz.- Art. 568º al. c): Indisponibilidade do objecto. Como vimos, nem toda a confissão em termos de objecto é possível.- Art. 568º al. d): segundo o art. 364º CC, o documento autentico não pode ser substituído por outro.

A revelia operante implica uma importante consequência quanto à decisão da acção, pois implica a confissão dos factos articulados pelo autor (567º).Problema complexo é o de saber se a confissão ficta ou presumida que resulta da revelia operante pode ser declarada nula ou anulada. A resposta deve ser afirmativa, talvez com excepção do erro do réu. Após a declaração de nulidade ou anulabilidade daquela confissão, a parte pode solicitar a revisão da decisão transitada. O fundamento dessa revisão é a aplicação analógica do disposto no art. 696º al. d), quanto à nulidade ou anulabilidade da semelhante confissão do pedido.Convém esclarecer que o efeito cominatório realizado pela revelia não prevalece sobre a matéria de conhecimento oficioso, nomeadamente as excepções dilatórias de que o tribunal deva conhecer (578º) e que obstem à apreciação do mérito da causa (278º/3). Assim, por exemplo, apesar de o réu não ter contestado e de a revelia ser operante, o tribunal deve absolver o réu da instancia se for absolutamente incompetente.O efeito cominatório da revelia operante também não pode prevalecer sobre os efeitos ilegais pretendidos pelo autor. Se a confissão ficta respeitar a factos impossíveis ou notoriamente inexistentes ou se o autor tiver formulado um pedido ilegal ou juridicamente impossível, essa confissão não é admissível (354º al. c) CC) e o tribunal não os deve considerar admitidos por acordo e deve abster-se de apreciar o pedido.

Se a revelia for absoluta, o tribunal deve certificar-se de que a citação foi feita com as formalidades legais e mandá-la repetir se encontrar ilegalidades (566º).Se se verificar uma revelia operante e relativa, o processo é facultado para exame pelo prazo de 10 dias sucessivamente ao advogado do autor e do réu e, em seguida, é proferida sentença (567º/2).

Hipóteses:A intenta acção contra B, pedindo que este seja condenado a reconhecer que A é o proprietário do imóvel x. B, citado editalmente, não contesta nem constitui mandatário judicial. Como deve o juiz actuar?O tribunal deve verificar se a citação foi feita com as formalidades legais.Estamos perante uma excepção, pelo que o réu está em revelia inoperante, nos termos do art. 568º al. b). Significa isto que não se consideram confessados os factos para efeito de revelia. É necessário fazer a prova dos factos. Aqui não se aplica o 567º e não se consideram confessados os factos. A réplica nunca terá lugar e acaba ali a fase dos articulados. Mas na fase da condensação (592º/1 al. a)) não haverá audiência prévia nos casos das alíneas b), c) e d) do 568º. Na alínea a) do 568º, o processo segue normalmente.Nos caos de revelia inoperante vai haver audiência, discussão e julgamento e sentença. Só nos casos das alíneas b), c) e d) é que a revelia inoperante implica alterações na tramitação.

A revelia operante implica a confissão dos factos e (567º/2) o processo é facultado para exame aos advogados para estes se pronunciarem sobre a matéria de direito e de seguida entramos na fase da audiência final, mais propriamente, passa-se da fase dos articulados para a fase da audiência final (sentença). Imaginemos que o réu é citado pessoalmente e não constitui mandatário. O art. 567º aplica-se quando o réu é citado pessoalmente ou quando o réu junta procuração a mandatário. Se o réu não tem mandatário, não tem advogado para alegar por escrito e violaria o principio do contraditório. Por isso, consideramos que a aplicação do 567º limita-se aos casos em que o réu revel constitui mandatário.

Se o B, apesar de não ter contestado, nem apresentado mandatário, tiver apresentado um requerimento no processo a solicitar a junção de um documento. Quid júris?O art. 566º fala em : “nem intervir de qualquer forma no processo”. Portanto, esta é uma revelia relativa. Mas este documento pode ser considerado uma contestação? Por exemplo, se A propõe acção contra B alegando o pagamento de uma divida. B apenas junta um recibo que comprova o pagamento. Parece admissível considerar que esta seja uma contestação.

Se o documento tiver valor de contestação (documento que ateste um facto extintivo) não devem considerar-se confessados os factos. Se tal não ocorrer, aplica-se a alínea b) do 568º e consequentemente o 567º.

A e B são co-devedores de uma obrigação pecuniária de 4000 euros. C, credor, intenta acção contra A e B, pedindo a condenação destes no pagamento.A não contesta, embora tenha junto ao processo declaração forense a constituir D como mandatário.B apresenta contestação em que alega que a obrigação está prescrita. Caracterize a situação processual de A.A está em revelia relativa, inoperante (566º e 568º al. a). Independentemente de um dos réus estar em revelia relativa, como é um meio de defesa comum, a contestação de B aproveita ao outro. Só não se consideram provados os factos que o réu contestou. No caso de defesa por impugnação o réu ataca o facto constitutivo do direito do autor. Na defesa por excepção o réu alega um facto extintivo ou modificativo. A prescrição é uma típica excepção peremptória que torna a obrigação numa obrigação natural.Neste caso ainda deve aplicar-se o 567º, porque trata-se de um facto que só aproveita à parte que invoca, pois o outro pode não querer beneficiar dela. A defesa por excepção não aproveita ao réu que não contestou.Acórdão relação de Coimbra 567/08.9tbcdr.c1:O 567º/1 consagra a seguinte regra – se o réu não contestar tendo sido citado regularmente, consideram-se confessados os factos articulados pelo autor. Mas esta regra comporta várias excepções, entre elas a alínea a) do 568º. A alínea a) refere que não se aplica o disposto no 567º, havendo vários réus, algum deles contestar relativamente aos factos que o contestante impugnar.Como escreveu Alberto dos Reis, o réu não contestante beneficia da oposição deduzida pelo réu contestante, quer se trate de litisconsórcio necessário ou voluntario. Decorre daquela alínea que, no caso de haver mais que um réu, a defesa apresentada por um deles aproveita aos demais relativamente aos factos que o contestante impugnar e só estes. Como refere Antunes Varela, não se apaga globalmente o efeito da revelia, apenas se afasta em relação aos factos que o contestante impugnar. A todos os demais factos se aplicará a presunção do 574º/1. Ainda que a acção venha a improceder por qualquer razão, nomeadamente, pela procedência de alguma excepção de que beneficie o contestante, os factos impugnados permanecem controvertidos.A impugnação dos factos feita pelo réu contestante é como se tivesse sido feita pelos demais réus.Em, suma, não aproveita a defesa por excepção, apenas a defesa por impugnação.

A propõe acção contra B, pedindo a sua condenação na entrega de 11000 euros e contra C na entrega de 7000 euros. Funda o pedido contra B na celebração de um contrato de compra e venda entre ambos e o pedido contra C na celebração, 1 mês mais tarde, numa outra compra e venda de conteúdo análogo.B apresenta contestação na qual alega que o contrato celebrado com A foi um contrato de doação. C não apresenta contestação. Quid júris?O 568º al. a) diz respeito apenas aos factos de interesse para o réu contestante e para o réu revel.No caso, não há interesse de C em contradizer os factos contestados por B.Estamos perante uma mera coligação passiva (36º). Assim sendo, há revelia nos termos do 567º.É uma coligação porque A demanda dois devedores com pedidos e causas de pedir distintas. São discriminadamente formuladas. Neste caso, a defesa de B não aproveitará a C, porque a causa de pedir não é a mesma.Há aqui uma impugnação de direito. Temos dois pedidos assentes em causas de pedir diferentes. Para que a impugnação aproveite, a causa de pedir tem de ser a mesma e única ou a apreciação dos mesmos factos.Aqui, como não há facto comum aos dois pedidos, não aproveita a impugnação. É necessário haver uma factualidade comum.No caso, o réu revel não ia aproveitar a contestação e relativamente a ele os factos consideravam-se confessados e aplicava-se o regime da revelia operante (567º).

A instaura acção contra B solicitando o divorcio sem o consentimento atenta a violação do dever conjugal de co habitação. Imagine que na contestação B alega serem verdadeiros os factos descritos por A nos artigos primeiro a trinta da petição inicial.1.Trata-se de uma confissão de factos ou de pedido? É uma confissão de factos, temos uma declaração de ciência. No caso da confissão do pedido não há um reconhecimento da verdade dos factos, mas um reconhecimento do bem requerido.Art. 352º CC – confissão de factos.2.Atenta a afirmação de B, pode o juiz decretar de imediato o divórcio? Os efeitos da confissão são determinar a prova plena dos factos que são reconhecidos. No fundo, o que queremos saber é se esta confissão produziria os seus efeitos.Nos termos do art. 354º al. b) do CC, estes factos não podiam ser objecto de confissão por serem factos indisponíveis.3.Se o B não apresentar contestação, quais os efeitos desta atitude? A revelia seria inoperante por força do 568º al. c).

A e B celebram um contrato de compra e venda de um apartamento pelo preço de 100 000 euros. Como B não pagou a quantia no prazo convencionado, A propõe contra B uma acção na qual requer o cumprimento do contrato. Imagine que B não contesta. Quid júris?É caso de aplicação do 568º al. d). Para a prova desse contrato é necessário escritura publica (364º CC). O autor teria ainda de fazer a prova desse contrato.

Providências cautelares: nem sempre a regulação dos interesses conflituantes pode aguardar a decisão proferida pelo tribunal que resolve, de modo definitivo, aquele conflito. Por vezes, torna-se necessário obter uma composição provisoria da situação controvertida antes do proferimento da decisão definitiva.Justifica-se sempre que ela seja necessária para assegurar a utilidade da decisão e a efectividade da tutela jurisdicional (2º/2).Se, por exemplo, o devedor está a dissipar o seu património, é indispensável impedir a continuação dessa conduta porque se assim não acontecer, o credor, mesmo que venha a obter uma sentença condenatória, perdeu entretanto a garantia patrimonial do seu crédito (601º CC).Ela pode justificar-se pela necessidade de garantir um direito, de definir uma regulação provisória ou de antecipar a tutela pretendida.O decretamento da providencia não retira o interesse processual na solicitação da tutela definitiva e não há qualquer contradição (364º/4) entre a concessão daquela antecipação através do decretamento da providencia e a recusa da tutela definitiva na acção principal.Entre o procedimento cautelar e a acção principal nunca se pode verificar qualquer excepção de litispendência (580º/1 e 581º/1) e a decisão proferida no procedimento cautelar não é vinculativa na acção principal (364º/4).Se o procedimento cautelar for instaurado antes da propositura da acção principal, os efeitos contra o réu decorrentes dessa propositura produzem-se, nos termos do 366º/6, logo a partir da apresentação da petição inicial dessa acção.As providencias cautelares implicam necessariamente uma apreciação sumária da situação através de um procedimento simplificado e rápido. A summaria cognitio justifica que certas providencias cautelares possam ser decretadas sem a prévia audição da contraparte, isto é, sem ser concedida a esta parte o uso do contraditório. Essa possibilidade encontra-se prevista em dois níveis: num deles, proíbe-se a audição do requerido (378º e 393º).Aos procedimentos cautelares são subsidiariamente aplicáveis as disposições gerais sobre incidentes da instancia (365º/3). Os procedimentos cautelares constituem uma das situações em que a citação do réu depende de prévio despacho judicial (226º/4 al. b)). Por conseguinte, o juiz, em vez de ordenar a citação, pode indeferir liminarmente o requerimento, quando o pedido seja

manifestamente improcedente ou ocorram, de forma evidente, excepções dilatórias insanáveis e de que o juiz deva conhecer oficiosamente .A providencia é decretada se houver a probabilidade séria da existência do direito ameaçado e se se mostrar suficientemente fundado o receio da sua lesão (368º/1), mas deve ser recusada se o prejuízo imposto ao requerido exceder consideravelmente o dano que com ela o requerente pretende evitar (368º/2).O requerido pode impugnar a providencia através da interposição de recurso do despacho que a decretou, quando entenda que, face aos elementos apurados pelo tribunal, ela não devia ter sido deferida (372º/1 al. a)). Mas deverá deduzir oposição quando pretenda alegar factos novos e meios de prova que não foram considerados pelo tribunal e que afastem os fundamentos da providencia ou determinem a sua redução (372º /1 al. b)).Pressupostos:- Periculum in mora – a necessidade da composição provisoria decorre do prejuízo que a demora na decisão da causa e na composição definitiva provocaria na parte cuja situação jurídica merece ser acautelada (362º/1).Se faltar o periculum in mora, ou seja, se o requerente da providencia não se encontrar, pelo menos, na iminência de sofrer qualquer lesão, falta a necessidade da composição provisoria e a providencia não pode ser decretada.- Fumus boni iuris – as providencias cautelares exigem apenas a prova sumária do direito ameaçado, ou seja, a demonstração da probabilidade séria da existência do direito alegado, bem como do receio da lesão. As providencias só requerem quanto ao grau de prova uma mera justificação embora a repartição do ónus da prova entre o requerido e o requerente observe as regras gerais (342º nº 1 e 2 CC).Assim, para o decretamento da providencia cautelar exige-se apenas a prova de que a situação jurídica alegada é provável ou verosímil, pelo que é suficiente a aparência deste direito, ou seja, basta um fumus boni iuris.A mera justificação também é suficiente para a demonstração pelo requerido de que o dano que ele sofreria com o decretamento da providencia excede consideravelmente aquele que o requerente pretende evitar (368º/2).O fumus boni iuris decorre da suficiência da mera justificação. Se esse fumus boni iuris se encontrar provado, o tribunal deve decretar a providencia; se isso não suceder, o tribunal não a pode decretar, ainda que isso se pudesse justificar por outros factores.- As providencias cautelares exigem todos os pressupostos processuais gerais. Especificamente quanto ao interesse processual, importa referir que ele falta sempre que o requerente possa atingir a garantia do direito através de um meio mais adequado. Assim, por exemplo, falta o interesse processual para requerer o arresto (391º) quando o requerente possuir um titulo executivo e o crédito for exigível ou se possa tornar exigível na própria execução.Quanto às providencias que realizam uma função de garantia (arresto e arrolamento), o interesse processual falta sempre que o requerente possua

uma outra garantia, nomeadamente uma garantia real. Assim, por exemplo, o credor hipotecário não pode requerer o arresto de bens do devedor, nem mesmo quando a hipoteca se tornar insuficiente para a garantia da obrigação.

A lei define várias providências nominadas e admite, sempre que nenhuma delas seja aplicável, uma providencia comum de âmbito residual (362º/3). As providencias nominadas são a restituição provisoria da posse (377º a 379º), a suspensão de deliberações sociais (380º a 383º), os alimentos provisórios , o arbitramento de reparação provisoria (388º a 390º), o arresto (391º a 396º), o embargo de obra nova (397º a 402º) e o arrolamento (403º a 409º).

Providencias de garantia:Arresto – providencias cautelares cuja finalidade especifica é garantir a realização de uma pretensão e assegurar a sua execução. O arresto pode ser requerido pelo credor que demonstre a probabilidade da existência do seu credito e tenha justo receio da perda da sua garantia patrimonial (391º/1 CPC; 601º e 619º/1 CC).O arresto consiste na apreensão judicial de bens do devedor (391º/2 CPC; 619º/1 CC) ou de bens transmitidos pelo devedor a um terceiro(392º/2 CPC; 619º/2 CC). Assim, por exemplo, existe fundamento para decretar o arresto se o devedor se furta ao contacto com o credor e diligencia a venda de uma farmácia, que constitui o único património que lhe é conhecido.O arresto não se justifica se o credito estiver assegurado por uma garantia real ou o credor estiver protegido de outra forma.Só são susceptíveis de arresto os bens penhoráveis, o que exclui os bens que não podem ser penhorados tanto absolutamente (737º e 738º), como relativamente, bem como aqueles que só o podem ser parcialmente.Arrolamento - destina-se a evitar o extravio ou dissipação de bens, moveis ou imoveis, ou de documentos (403º/1 e 406º/1). Assim, por exemplo, justifica-se o arrolamento de uma fracção de um prédio que é objecto de um contrato-promessa se existir o risco de o promitente-vendedor a alienar a um terceiro. O arrolamento também pode recair sobre contas bancárias.Como preliminar ou incidente da acção de separação judicial de pessoas e bens, divorcio, declaração de nulidade ou anulação de casamento, qualquer dos cônjuges pode requerer o arrolamento de bens comuns ou dos seus bens próprios que sejam administrados pelo outro cônjuge (409º/1).

Providências de regulação:Restituição provisória da posse – o possuidor que for esbulhado com violência tem o direito de ser restituído provisoriamente à sua posse, desde que alegue e prove os factos que constituem a posse, o esbulho e a violência (377º CPC e 1279º CC).Embargo de obra nova – pode ser judicial ou extrajudicial. O embargo judicial pode ser requerido por quem se sentir ofendido no seu direito de propriedade, num outro direito real ou pessoal de gozo ou na sua posse, em consequência

de obra, trabalho ou serviço que lhe cause ou ameace causar prejuízo (397º/1). Esse interessado também pode realizar directamente o embargo por via extrajudicial, notificando verbalmente perante duas testemunhas, o dono ou o encarregado da obra e requerendo posteriormente, em 5 dias a sua ratificação judicial (397º nº 2 e 3).Assim, por exemplo, o embargo de obra nova pode ser utilizado para obstar à extracção de areia e outros inertes do leito de um rio, por exemplo.Suspensão das deliberações sociais – se alguma associação ou sociedade tomar, em assembleia geral, deliberações contrárias a lei, qualquer sócio pode requerer, no prazo de 10 dias, que a execução dessas deliberações seja suspensa, desde que, além de provar a sua qualidade de socio, mostre que essa execução pode causar dano apreciável (380º/1).O dano causado deve ser apreciável, mas não tem de ser irreparável ou de difícil reparação. Assim, por não poder causar qualquer dano considerável, não pode ser requerida a suspensão da deliberação respeitante ao recebimento de dividendos. Mas a providencia pode não ser decretada se o prejuízo resultante da suspensão for superior ao que puder derivar da execução da deliberação (381º/2). Além disso, a providencia não pode ser concedida se a deliberação já se encontrar executada, isto é, já tiver produzido os seus efeitos.

Providências de antecipação: Alimentos provisórios – pode ser requerida como dependência da acção em que principal ou acessoriamente seja pedida uma prestação de alimentos (384º/1 CPC e 2007º/1 CC). Arbitramento de reparação - como dependência da acção de indemnização fundada em morte ou lesão corporal pode o lesado, bem como aqueles que lhe podiam exigir alimentos, requerer o arbitramento de uma quantia certa, sob a forma de renda mensal, como reparação provisoria do dano (388º/1).A providencia requerida é decretada se se verificar uma situação de necessidade em consequência das lesões sofridas e se estiver indiciada a existência da obrigação de indemnizar a cargo do requerido (388º/2).

Providências não especificadas: (362º e seguintes) se não couber a situação concreta em nenhuma das providencias especificadas, só aí se poderá propor uma não especificada.Nos termos do art. 362º, esta providencia não é típica, mas tem de ser extremamente detalhada.O prof. Teixeira de Sousa reconhece que tem requisitos próprios:1.Fundado receio que outrem cause lesão grave (362º/1).2.Que apresente um “remédio” que vai conter aquele receio.3.Será que a medida vai trazer mais benefícios que malefícios? Pode ser recusada quando o prejuízo para o requerido exceda o dano que com ela se pretende evitar (368º/2).

Nos termos do art. 362º/4, não é admissível a repetição de providencia que já haja sido julgada ou caducada. Uma providencia não especificada pode ser algo de novo, ou uma mistura de providencias especificadas.Pode haver casos em que a providencia passa a ter como finalidade o fim da acção principal (364º). Para isso, aparecem aqui varias normas em que decretar a providencia cautelar (369º) venha a tornar desnecessária a acção principal (inversão do contencioso). Nos temos aqui uma superação do fumus bonis júris. Neste caso a providencia esgota-se em si mesma. Desde que o juiz consiga formar convicção segura, admite-se a inversão do contencioso.Aqui, a instrumentalidade desaparece, há um juízo de certeza e não um juízo com base no fumus bonis júris.A inversão do contencioso é uma excepção ao 373º, portanto, não há caducidade da providencia.Quid júris se a parte que requereu ao juiz a inversão do contencioso e depois apresenta a acção principal. Há aqui litispendência? Na opinião do professor, não há litispendência porque o que o juiz faz é aceitar a pretensão mas se a parte quiser propor acção principal, não deve o juiz recusa-la.A tramitação do procedimento comum corresponde à tramitação dos acidentes da instancia (365º/3). Temos o requerimento, os meios de prova, alegações orais, e decisão. Pode não haver lugar ao contraditório antes do decretamento da providencia.No caso da restituição provisoria da posse e no caso do arresto, nunca há lugar a contraditório porque é contrário ao próprio fim da providencia (393º e 378º).Mas na comum, pode não haver contraditório quando o juiz, caso a caso, ache que ele seja prejudicial.Pode haver contraditório subsequente : recurso e oposição. Se o requerido quer por em causa a providencia com base nos dado que já existiam à data da providencia, temos o recurso (o recurso nunca se destina a apreciar meios novos). Se ele tiver meios novos, então exerce o contraditório através da oposição.A providencia caduca se não for instaurada a acção principal dentro de um certo prazo (373º/1 al. a)) e também caduca se a acção principal indeferir o pedido (caduca, mas para o futuro. Por exemplo, não se restituem os alimentos que já foram prestados – 373º/1 al. c)).A decisão da providencia tem influencia na acção principal? Segundo o art. 364º/4, a providencia não tem influencia na acção principal. E pode ter influencia numa outra acção qualquer? Fará caso julgado noutra acção? Segundo o art. 619º/1, o juiz decide sobre a aparência do direito, não há uma decisão sobre a relação material controvertida, pelo que não estão reunidos os requisitos para que aquela decisão valha fora daquele procedimento cautelar. Dentro do procedimento cautelar, pode essa decisão ser alterada? Por exemplo, o juiz não decreta o arresto e depois muda de opinião e decreta-o.

Nos termos dos artigos 613º e 620º, se a alteração for de um dia para o outro, aplica-se o 613º. A partir do momento que ele profere uma decisão ele não a pode alterar. Este é um caso de inexistência por falta de poderes jurisdicionais.Se o juiz muda de opinião passados, por exemplo, 6 meses, aplica-se o 620º. Passado algum tempo,a decisão transita em julgado. Há um prazo para interpor recurso e passado o prazo ela torna-se obrigatória dentro do processo. Uma vez transitada em julgado, naquele procedimento cautelar, nenhum juiz pode alterar a decisão. Neste caso, seria uma situação de violação de caso julgado e o vicio dessa decisão é a ineficácia (da segunda decisão – 625º).Em suma, as providencias não podem ser alteradas livremente, a não ser nos casos de factos novos supervenientes.

Hipóteses:Em 2000 A adquire um prédio a B constituído por uma casa e duas dependências. Em 2001, A constata que uma das dependências se encontra ocupada por C. C sempre se opôs a desocupar a dependência. Em 2010 A propõe acção contra C, pedindo que o tribunal declare a propriedade do prédio e que C desocupe a dependência.Na pendência da acção, pode A obter a imediata desocupação por C da dependência?O problema aqui era de proporcionalidade. Não se pode provocar uma lesão desproporcionada ao requerido (368º/2).Se o juiz concluísse que a lesão provocada no requerido era substancialmente maior que a providência, então ela deveria ser negada.

Marcha do processoProcedimento comum:O art. 547º contem o principio da adequação formal.Alguns autores dizem que a ultima parte do 547º não faz muito sentido porque o próprio art. 20º CRP consagra o processo equitativo.Por outro lado, o 547º será a continuação do art. 6º (dever de gestão processual).Então se o juiz chegar à conclusão que o processo deve adoptar outra forma? Isto não é uma violação do principio da legalidade? Estão a dar-se poderes ao juiz que podem extravasar o principio da legalidade. Para o professor, este principio talvez tenha sido um exagero na busca pela celeridade.

1. Fase dos articulados: os articulados são a petição inicial, a contestação e a réplica (quando tenha lugar) – arts. 144º e seguintes do CPC.Numa acção em geral temos os chamados articulados normais, ou seja, articulados habituais. São eles a petição inicial e a contestação.Depois, a réplica pode acontecer ou não. Por exemplo, o réu apresenta contestação e o autor apresenta a réplica (depende do que se diz na contestação). A réplica é um articulado eventual.Mas também há articulados supervenientes que dependem da existência de factos supervenientes. - Petição inicial: articulado que cabe ao autor e é quase uma decorrência do principio do dispositivo (art. 3º CPC).Art. 259º -a instancia inicia-se com a proposição da acção, quando a petição inicial dá entrada na secretaria judicial.Art. 552º - diz-nos quais os requisitos da petição inicial. Deve o autor designar o tribunal (al. a) – endereço); identificar as partes (entroito); expor os factos essenciais (al. d) – narração) e a causa de pedir; conclusão e identificação do pedido (al. c)); valor da causa (al. f)); documento comprovativo do pagamento da taxa de justiça ou apoio judiciário nos termos do 552º/3.Pode acontecer que a PI tenha deficiências. Nos termos do 186º, temos as nulidades da petição inicial. É nulo todo o processo quando for inepta a petição inicial.Art. 186º/2 – causas de ineptidão da petição inicial. É ininteligível a PI quando, por exemplo, A afirma que B é devedor de certa quantia, mas não diz qual o preço orçamentado ou qual a empreitada realizada. Tudo isto cabe na alínea a) do 186º. Se o pedido ou a causa de pedir não forem apresentados ou não forem claros, há ineptidão.Outro exemplo será quando o pedido estiver em contradição com a causa de pedir. A invoca a nulidade do contrato e pede a execução especifica. Esta contradição tem de ser insanável. Ou então se a cumulação for incompatível. Em qualquer destas situações a petição é inepta e considera-se nula. Só avançaremos para a citação do réu se a petição não for inepta.Art. 187º - se a ineptidão da PI não for averiguada logo, todo o processado é nulo.Mas também temos entraves formais no 558º. Pode suceder que a PI até não seja inepta mas a secretaria a recuse. Por exemplo, quando omitir a identificação das partes. Todos os entraves têm a ver com os requisitos da petição inicial (552º), mas não pode violar o 186º.- Citação do réu: (art. 225º) a citação das pessoas singulares é pessoal ou edital, no caso de a pessoas se encontrar ausente . Nos termos do 187º, se o réu não tiver sido citado, todo o procedimento é nulo, mas pode acontecer que a citação seja ela própria nula (181º).- Contestação: pode ser uma contestação de defesa (por impugnação ou or excepção) ou de reconvenção. Claro que o réu pode na mesma contestação impugnar ou excepcionar e reconvir.O réu quando se for defender tem de apresentar toda a defesa (573º - principio da concentração). Ele não pode “guardar na gaveta” informações, excepto se estas forem supervenientes (573º/2).

A contestação é um ónus por parte do réu. Se o réu não contestar entra em revelia, que pode ser operante ou inoperante.- Réplica: (584º) só é admissível a réplica para o autor deduzir matéria de defesa relativamente à reconvenção. Ainda se deixa haver réplica nas acções de simples apreciação negativa.Se o autor não quiser apresentar réplica, as prescrições relativas à revelia também se aplicam ao autor que não replicar.Imaginemos que o réu só impugnou ou excepcionou (o que poderia motivar uma resposta), mas o autor não pode replicar porque não houve reconvenção. Apesar desta restrição da réplica, o art. 3º continua a vigorar. Esta ideia do art. 3º seria para incluir outros articulados para além da réplica se não houver réplica. Mas alguns autores defendem que mesmo nesse caso deve-se aceitar que o autor responda às excepções apresentadas na contestação.O Dr. Ramos Faria vem dizer que o juiz deve aceitar o articulado do autor como resposta à contestação do réu quando este apresenta excepções e é esta a ideia subjacente ao art. 3º do CPC.- Articulados supervenientes: (art. 588º) relativamente a factos supervenientes de que não se podia ter noticia antes, na réplica ou em novo articulado, podem ser apresentados. Mas podem ser apresentados até ao encerramento da discussão.

2. Fase da condensação:

O juiz vem concluir se o processo deve continuar ou não. Temos aqui o despacho pré-saneador; a audiência prévia; e o despacho saneador. A audiência prévia pode não acontecer.O despacho pré-saneador (590º/2) também não é obrigatório. Este despacho tem a ver com a sanação, uma correcção de articulados, falta de documentos. Podem não existir razoes para a sanação, situação em que não há despacho pré-saneador.A audiência previa (591º) destina-se a tentar conciliar as partes (al. a)), discutir as excepções dilatórias (al. b)), discutir as posições das partes, ou seja, discussão de mérito (al. c)) … Pode ser que na audiência previa seja proferido o próprio despacho saneador (al. d)), mas nas matérias mais complexas, pode o despacho saneador ser proferido mais tarde (595º).Art. 591º al. g) – programação da audiência prévia.Art. 592º - nas acções não contestadas não há audiência prévia.

Art. 593º - a audiência pode ser dispensada se for apenas para proferir despacho saneador ou para enunciação dos termos de prova, pelo que pode não haver audiência prévia.Nos termos do 595º, o despacho saneador tem uma função normal (verificar a conformidade da instancia) e uma função eventual (decisão de mérito da causa – al b)). Se o despacho for normal, aí aparece-nos a fixação dos termos de prova (596º). Nos casos de função de sentença, logo há caso julgado.

3. Fase da instrução:Começa aqui no art. 596º, a matéria dos temas de prova. Nos articulados devem juntar, as partes, muitas das provas de que dispõem.A prova, muita dela, está prevista no Código Civil, nos artigos 341º e seguintes (CC).Nos termos do art. 341º do CC, o objecto da prova são factos e a sua função é a demonstração da realidade dos factos.A prova é uma actividade ou um resultado? Para o prof. Castro Mendes é sobretudo uma actividade. Mas o regente entende que a prova pode ser simultaneamente uma actividade e um resultado.Nem tudo pode ser objecto de prova, desde logo os factos que não são pertinentes. No próprio art. 596º CPC é-nos dito que a prova só incide sobre os factos que são objecto do litigio (factos controvertidos).Segundo o art. 5º CPC, são as partes que alegam os factos. A última parte da al. c) permite-nos tirar a conclusão prática de que, em meios pequenos, o tribunal tem acesso a mais factos do que nas comarcas grandes. A tudo o que decorre do 5º/2 CPC, acrescem os factos articulados pelas partes.Delimitação positiva: factos pertinentes, factos alegados pelas partes; factos do 5º/2 CPC.Delimitação negativa: as alegações de direito não podem ser objecto de prova. Tudo o que é justificação e argumentação tem de ser separado, nada disto são factos. Por outro lado, a delimitação deve excluir as razões de direito porque jura novit curia ( o tribunal conhece o direito), é imperativo que o tribunal conheça o direito, como decorre do art. 8º do CC.Por outro lado, ainda, imaginemos que há um processo a decorrer paralelamente. Nos termos do 421º CPC (valor extra processual da prova) pode ser alegado num outro processo relativamente á mesma parte.Ónus da prova: há uma obrigação de o tribunal decidir (art. 8º CC), daí se estipularem regras nos temas de prova no CC.Aquele que invoca o direito, deve fazer a prova. As regras do ónus da prova são consequência do imperativo de o tribunal ter de tomar uma decisão (8º CC).Segundo o art. 342º CC, aquele que invoca o direito tem o ónus de provar os factos constitutivos do direito. Se ele não provar, aquela decisão vai, em principio, ser-lhe desfavorável. O nº 2 do mesmo artigo acrescenta que os factos extintivos ou modificativos incumbem ao réu, geralmente. Dispõe ainda o nº3 que em caso de dúvida, os factos devem ser considerados como constitutivos do direito.O art. 343º CC abrange os casos especiais.Os artigos 342º e 343º têm em conta a igualdade entre as partes na disponibilidade de meios de prova, e por isso prevê-se a inversão do ónus da prova quando essa igualdade não exista.

O art. 344º CC prevê a inversão do ónus da prova, inverte-se desde que haja convenção nesse sentido (desde que não seja a convenção excessivamente lesiva para uma das partes); desde que haja presunção legal (ex. 1254º CC, relativamente a presunções ilidíveis); sempre que a lei o determine, desde logo, domínios em que a lei determina que as partes não estão em posição de igualdade (por exemplo, a prova de um defeito é da responsabilidade do produtor. Considera-se que o consumidor está numa situação de desvalor, e por isso a ele cabe apenas a prova do dano e ao produtor a prova do defeito).O 344º/2 CC traz outro género de situações. Por exemplo, A foi operado e quer intentar acção de responsabilidade civil contra o hospital e o médico. O problema que se coloca aqui é que não haja acesso aos documentos de prova. À partida, aplica-se o 344º/2 quando estes elementos de prova desapareceram do hospital ou são destruídos pelo médico (“à parte contrária ter culposamente tornado impossível a prova ao onerado”).Para além disso, temos no 345º CC a inversão convencional. É nula quando se trate de direito indisponível e também quando a inversão torne excessivamente difícil o exercício do direito. Pode admitir-se, por exemplo, uma convenção segundo a qual o vendedor se responsabiliza pelos vícios da coisa vendida se não provar que eles são posteriores ao contrato.As convenções que excluam um meio legal de prova ou admitam meio de prova diferente dos legais só são nulas quando o direito seja indisponível ou a convenção torne excessivamente difícil o exercício do direito. Pode, portanto, admitir-se a validade da convenção que, por exemplo, afaste a prova testemunhal ou exija que o facto só se prove por escrito. A esta regra faz excepção a segunda parte relativa às determinações legais, quanto à prova, que tenham por fundamento razões de ordem pública. Assim, quando a lei exige escritura pública, não pode convencionar-se a possibilidade de provar o facto por documento particular.Se olharmos para os arts. 342º e seguintes do CC podemos dizer que tudo isto é rígido e limitador da iniciativa probatória por parte do tribunal. Alguns autores têm escrito, dizendo que as regras do ónus da prova devem ser apenas indicativas. É o juiz que deve indicar no caso concreto quais os encargos probatórios que cabem às partes. António Azevedo é um destes autores que vem defender a teoria dinâmica dos encargos probatórios. Este autor diz que o ónus da prova é um encargo, mas não é uma obrigação e, ao não ser uma obrigação, vai estimular as partes a alegar e por outro lado, vai ajudar o magistrado a decidir.Mas Azevedo vem dizer que esta visão é estática e própria do estado liberal. Ao se evoluir do estado liberal para o estado social, faz sentido continuar a prefigurar as regras estáticas do ónus da prova? Esta rigidez do ónus da prova pode trazer injustiças. O juiz é que deve atribuir o encargo probatório à parte que esteja em melhores condições de provar. Já houve diversas criticas a esta teoria. O próprio autor até reconhece haver discricionariedade da parte do juiz, mas esta discricionariedade dada ao juiz é dada na ideia de correcção das desigualdades entre as partes e a colocar as partes numa situação de possível paridade.Por seu turno, Maria dos Prazeres Beleza vem opor-se a esta teoria. Aqui temos, por um lado, o principio do dispositivo e por outro lado, o principio do inquisitório. Não cabe, ao magistrado, todo o encargo probatório, mas o juiz não está numa posição passiva ou de arbitro.

Esta tensão entre estes dois princípios antagónicos mostra uma evolução. Por um lado, em sede de prova, o juiz pode ter iniciativa probatória (ex. prova pericial) que mostra o seu lado activo.Há um principio base, o da livre apreciação da prova, que significa que o juiz não esta vinculado pelas provas trazidas pelas partes ao processo. As regras sobre o ónus da prova são regras de decisão que auxiliam o juiz a tomar uma decisão. Até porque o nosso sistema é um sistema de preclusões (ex. revelia), faz sentido que a continuemos a ter em temas de prova. Mas essas regras não são tao rígidas assim, bastando pensar na inversão do ónus da prova, que mostra bem que não há uma rigidez total (344º CC).Verdadeiramente, as regras do ónus da prova têm diversas saídas.A teoria dinâmica traz uma grande incerteza no caso concreto, colocando as partes numa situação de maior insegurança.Esta posição da conselheira Maria dos Prazeres Beleza é a adoptada. Não são as regras da teoria dinâmica que vão trazer um papel mais dinâmico ao juiz porque este dinamismo já existe.

Hipótese:A propôs contra B e C uma acção sob a forma de processo comum, alegando o seguinte:- Que celebrou com os réus, por escritura pública, um contrato de compra e venda de um imóvel pelo qual se obrigou a pagar aos réus 100 000 euros.- As negociações foram feitas apenas entre A e C e que durante estas negociações a ré mostrou ao autor fotografias do imóvel que haviam sido alteradas em edição de imagem. Assim, quando celebrou o contrato, A estava numa situação de erro.- Aquando da celebração do contrato, o autor deu a conhecer à ré, C, o facto de ter incumprido um contrato promessa de compra e venda de um outro imóvel.- O autor alega que sofreu danos no valor de 50 000 euros correspondentes à perda do sinal e vem pedir a anulação do contrato por erro e a condenação de C no pagamento dos tais 50 000 euros.

1. Podem estes pedidos ser formulados na mesma acção? A causa de pedir é idêntica, é o erro e o dolo. Há um facto comum a ambos os pedidos: o dolo.Existe litisconsórcio no que diz respeito ao pedido de anulação e existe coligação no que diz respeito ao pedido de indemnização. Esta coligação é admissível? Os requisitos são a conexão (causa de pedir era a mesma e única); competência absoluta; compatibilidade processual.

2. Depois de ter sido citado, B contesta, alegando unicamente que houve alguma manipulação de imagem, mas que a divergência em relação à realidade não tornou essencial o erro. C contacta o seu advogado e opta por não apresentar contestação, mas junta procuração forense.O juiz dispensa a audiência prévia, profere despacho saneador e enuncia os termos de prova:

a) O contrato de compra e venda do imóvel foi celebrado.b) Há divergência entre as fotos e a realidade.c) O réu B conhecia a situação de erro.

d) O autor perdeu o sinal.Analise a enunciação dos temas de prova.

O despacho saneador destina-se a rectificar matéria controvertida (591º al. d)). O juiz vai disciplinar aquilo que vai ter lugar na audiência final.Nos termos do 595º, o despacho saneador destina-se a conhecer das excepções dilatórias e nulidades processuais, assim como conhecer imediatamente o mérito da causa.

a) Quanto ao contrato, ele tinha de necessariamente ser provado por documento autenticado (364º CC) e ele não pode ser substituído por qualquer outro meio de prova. A enunciação dos temas de prova está desde logo sujeita a esse limite.

b) Relativamente ao que não contesta, este facto deve dar-se por confessado? Na medida em que houve impugnação, temos aqui um facto não controvertido (568º al. a)).

Temas de prova :Olhando para os artigos 342º e seguintes do CC, quando encontramos as provas, designadamente as regras de repartição, vemos a partir do 349º CC a concretização de alguns meios de prova. Para nós, as presunções são meios de prova. Temos assim as presunções; a confissão; prova documental; prova pericial (388º CC); prova por inspecção (390º CC); prova testemunhal (392º CC). Olhando para o CC já temos vários meios de prova, mas para além do CC, existem preceitos no CPC configurados como meio de prova – por ex. a prova por apresentação de coisas móveis ou imóveis (416º CPC).A primeira questão que se coloca é se esta chaveta do CPC apenas configura uma enunciação exemplificativa. Há uma atipicidade de meios de prova? No nosso ordenamento temos de voltar a referir os contratos probatórios. Para T. Sousa essa possibilidade está restringida porque o 345º/2 CC dispõe que é nula a convenção que exclua meios de prova ou admita meios diversos dos legais. A ideia é que a só o legislador pode criar novos meios de prova, havendo um sistema de tipicidade. Código Civil: Art. 342º - são factos constitutivos do direito invocado, por exemplo, os pressupostos da responsabilidade civil: o facto, a ilicitude do facto, a culpa, o dano e o nexo de causalidade.São factos impeditivos, na generalidade dos casos, o erro, o dolo, a coacção, a simulação, a incapacidade, a condição; é igualmente facto impeditivo da responsabilidade objectiva fixada no 503º a imputação do acidente ao lesado ou terceiro.São factos modificativos, por exemplo, a moratória concedida ao devedor, a concentração do objecto da prestação, a prescrição, etc.São factos extintivos, por ultimo, a condição resolutiva, o pagamento, a compensação, a caducidade, etc.Aquele que invoca determinado direito tem de provar os factos que normalmente o integram; a parte contrária terá de provar, por seu turno, os factos anormais que excluem ou impedem a eficácia dos elementos constitutivos (a incapacidade, a falta ou vícios da vontade, a impossibilidade do objecto, a fraude à lei, etc.).

Assim, se o réu invocar a prescrição (como facto modificativo do direito do autor), sobre o autor recairá por sua vez, o ónus de provar a suspensão ou a interrupção da prescrição que haja obstado à consumação desta.Para sabermos se um facto é constitutivo ou impeditivo não se pode olhar ao facto isoladamente considerado, mas na sua conexão com o direito invocado. Assim, o erro, o dolo e a coacção revestem geralmente natureza de factos impeditivos, mas se o autor vier alegar qualquer destes vícios para pedir a declaração judicial de anulação do negocio, estes factos passam a funcionar como constitutivos.Nos casos de dúvida sobre se determinado elemento é facto constitutivo ou é a sua falta que representa um facto impeditivo, o nº 3 do 342º dá um critério supletivo, optando pela primeira solução.Art. 344º - há presunção legal ou liberação do ónus da prova sempre que a lei considera certo facto, quando se não faça prova em contrario (v.g. 350º/1). Veja-se o caso de liberação do ónus da prova no 1260º/2 e no 243º/3.No 344º/2 está previsto, por exemplo, o seguinte caso: a parte contrária inutilizou um documento que serviria ao autor para fazer prova do fundamento do seu direito. Por exemplo, a prova de culpabilidade de um médico dependia do facto de ser de gaze ou de algodão uma compressa e do seu tamanho. O médico inutilizou essa compressa e o tribunal considerou-o onerado com a prova de que não tivera culpa.Art. 345º - não é permitida a convenção que inverta o ónus da prova quando se trate de direitos indisponíveis. Não pode, por exemplo, convencionar-se que é ao pretenso pai que cabe provar, numa acção de investigação de paternidade, que não é o pai. Sendo o direito disponível, já é admitida a convenção, desde que ela não se torne excessivamente difícil o exercício do direito. Pode admitir-se, por exemplo, uma convenção segundo a qual o vendedor se responsabiliza pelos vícios da coisa vendida, se não provar que eles são posteriores ao contrato.As convenções que excluam um meio legal de prova ou admitam um meio de prova diferente dos legais só são nulas quando o direito seja indisponível ou a convenção torne excessivamente difícil o exercício do direito. Pode, portanto, em largos limites, admitir-se a validade da convenção que, por exemplo, afaste a prova testemunhal ou exija que o facto só se prove por escrito.A esta regra faz a excepção a segunda parte, relativamente às determinações legais, quanto à prova, que tenham por fundamento razoes de ordem publica. Assim, quando a lei exige escritura pública, não pode convencionar-se a possibilidade de provar o facto por documento particular.

Prof. Isabel Alexandre:

Procurou-se disciplinar o procedimento probatório de modo a torná-lo mais célere, dissuadindo as partes de manobras dilatórias e racionalizando o tempo que o tribunal despende com a produção da prova.O segundo princípio que é afectado com a recente reforma do CPC é o princípio da imediação. Reporto-me ao aumento dos poderes da Relação em sede de modificação da decisão sobre a matéria de facto, quer ao nível da renovação da produção da prova, quer ao nível da produção de novos meios de prova.Registo também alterações que redundam num reforço do princípio da livre admissibilidade das provas, umas vezes também contribuindo para a celeridade processual e outras vezes resultando no seu prejuízo: e tenho em vista os novos meios de prova com consagração legal expressa.A nova sistematização da instrução: A instrução do processo aparece regulada, no CPC de 2013, nos artigos 410º e seguintes.Fases do processo comum de declaração são apenas, segundo o CPC de 2013: A fase dos articulados (artigos 5 52 ° e seguintes); A fase da gestão inicial do processo e da audiência prévia (artigos 590º e seguintes); A fase da audiência final (artigos 599º e seguintes); A fase da sentença (artigos 607º e seguintes); e A fase dos recursos (artigos 62 7º e seguintes).Não repugna aceitar a deslocação das disposições relativas à instrução para a parte do novo CPC referente ao processo em geral, mas teria sido importante fazer referência, nas disposições respeitantes ao processo comum de declaração, à existência de uma fase de instrução (que pode, na verdade, ter autonomia cronológica) e, bem assim, adequar aquelas disposições relativas à instrução a qualquer forma processual.Objecto da instrução: No que diz respeito ao objecto da instrução, afirma o artigo 410º do CPC de 2013 que este é constituído pelos temas da prova enunciados ou, quando não tenha de haver lugar a esta enunciação, pelos factos necessitados de prova. Vejamos o que significa “ temas da prova enunciados”: como objecto da instrução.

A primeira dúvida que, a este propósito, se coloca, é a de saber como é que a instrução pode ter como objecto temas da prova enunciados se, como resulta do artigo 341º do CC e, em geral, de todas as disposições do CC referentes às provas, a actividade probatória – excepto quando verse sobre o direito consuetudinário, local ou estrangeiro (cfr. o artigo 348º do CC)–,tem sempre como objecto factos.Parece evidente que, para efeitos da instrução do processo, os temas da prova enunciados, a que o artigo 410º do CPC de 2013 se refere, só podem ser factos, factos que o juiz enunciou num dado momento do processo.Quais são então os factos que o artigo 410º tem em vista, quando alude (com pouco rigor) aos temas da prova enunciados?A enunciação, quando se trate de processo declarativo comum, dos temas da prova, tem lugar num despacho proferido depois do despacho saneador, mas ainda na audiência prévia, nos termos dos artigos 591º, n.º 1, alínea f), e 596º do CPC de 2013; e, quando não haja audiência prévia, essa enunciação tem lugar 20 dias após o termo dos articulados, conforme determina o artigo 593º, n.º 2, alínea c).Os preceitos acabados de referir não explicitam em que se traduzem os temas da prova que o juiz deve enunciar, mas deduz-se do artigo 5º, n.ºs 1 e 2 que, se os temas da prova forem factos, esses factos só podem ser os essenciais, enquanto realidade contraposta aos factos instrumentais e aos complementares ou concretizadores, urna vez que estes não carecem de alegação, podendo resultar precisamente da instrução.Em suma: não obstante a instrução ter por objecto factos, podem ou não ter sido anteriormente enunciados factos, sendo certo que, se não tiver havido tal enunciação factual, as partes não podem reclamar da omissão (reclamação que está prevista no artigo 596º, n.ºs 2 a 4 do CPC de 2013 e que, portanto, versará sobre deficiências de outro tipo).Factos essenciais impugnados e não impugnados: Deduz-se também dos artigos 572º, n.º 1, alínea c), e 574º, n.ºs 1 e 2, do CPC de 2013 – naturalmente quando a enunciação tenha versado sobre factos e não sobre meros temas de prova - que só os factos essenciais que hajam sido impugnados devem ser enunciados pelo juiz como constituindo tema da prova: os factos essenciais não impugnados consideram-se, em regra, admitidos por acordo (sendo depois considerados na sentença, nos termos do artigo 607º, n.º 4), pelo que não faria sentido o juiz estar a enunciá-los como temas de prova.Na verdade, resulta do teor literal dos artigos 591º, n.º 1, alínea f), 592º, n.º 2, 593º, n.ºs 1e 2, alínea c), e 596º, n.º 1, do CPC de 2013,que a enunciação dos temas de prova tem lugar quando a acção deva prosseguir, ainda que não haja sido contestada.Ou seja: a revelia inoperante não dispensa o juiz de enunciar os temas da prova e, nesse caso, não houve impugnação dos factos essenciais(a menos que a inoperância da revelia se funde na circunstância de existirem vários réus e algum deles ter contestado: cfr. os artigos 568º, alínea a), do CPC).Concluindo quanto a este ponto: quando o artigo 410.º do CPC de 2013 refere que a instrução tem por objecto os temas da prova enunciados, tem em vista, não só os factos essenciais impugnados, mas também, quando a revelia do réuSeja inoperante, os factos essenciais não impugnados, porque em todos estes casos poderá ter havido enunciação de temas da prova.

Os factos instrumentais e complementares ou concretizadores: embora os temas de prova que o juiz enunciou possam ter sido apenas os factos essenciais impugnados (ou, quando a revelia do réu seja inoperante, os factos essenciais estarão impugnados) – e, como vimos, pode nem ter havido enunciação de factos, mas de meros ternas de prova –, a instrução tem necessariamente um âmbito mais vasto do que essa enunciação, abrangendo também factos instrumentais (quer hajam sido impugnados, quer não o tenham sido: é o que parece resultar do artigo 574 º, n.º 2, parte final, do CPC de 2013, que afirma que “ a admissão de factos instrumentais pode ser afastada por prova posterior”) e complementares e concretizadores (que não devam considerar – se admitidos por acordo: é o que parece resultar desse mesmo artigo, a contrario).O artigo 5.º, n.º 2, alíneas a) e b ), confirma o entendimento de que a instrução pode ter por objecto factos instrumentais e complementares ou concretizadores, ao mencionar que estes podem resultar da instrução.Redução do limite do número de testemunhas e sua apresentação pelas partes: Uma das inovações da actual reforma prende - se com o limite do número de testemunhas e justifica - se, ao que parece, pelo reforço do princípio da celeridade processual.“ O limite ao número de testemunhas é fixado em 10 para cada parte, sendo admissíveis outras tantas em caso de reconvenção. De todo o modo, em conformidade com o princípio do inquisitório, é prevista a possibilidade de o juiz admitir um número superior de testemunhas, quando a natureza e a extensão d os temas da prova o justifiquem”.Estas regras encontram-se consagradas no artigo 511º do CPC de 2013.No entanto, em se tratando de acção de valor não superior à alçada do tribunal de 1ª instância, determina o artigo 511º, n.º1, 3ª parte, do CPC de 2013 que o limite do número de testemunhas é reduzido para metade (isto é, para 5 testemunhas, sem prejuízo de, nos termos do n.º4, o juiz poder admitir a inquirição de mais testemunhas).Antecipação do último momento para a apresentação de documentos: “Em consonância com o princípio da inadiabilidade da audiência final, visando disciplinar a produção de prova documental, é estabelecido que os documentos podem ser apresentados até 20 dias antes da data em que se realize a audiência final, assim se assegurando o oportuno contraditório e obviando a intuitos exclusivamente dilatórios”. A regra segundo a qual os documentos, se não forem juntos com o articulado respectivo, podem ser apresentados até 20 dias antes da data em que se realize a audiência final (sendo então a parte condenada em multa se não conseguir provar que não pôde oferecer os documentos com o articulado), está no artigo 423º, n.º 2, do CPC de 2013.Antecipação do momento para a indicação de meios de prova diversos dos documentos (552º/2): “ No final da petição, o autor deve apresentar o rol de testemunhas e requerer outros meios de prova; caso o réu conteste, o autor é admitido a alterar o requerimento probatório inicialmente apresentado, podendo fazê-lo na réplica, caso haja lugar a esta, ou no prazo de 10 dias a contar da notificação da contestação”Regra semelhante, com as devidas adaptações, vale para a contestação e está consagrada no artigo 572º, alínea d), do CPC de 2013.Portando, no processo comum de declaração, a indicação de meios de prova diversos dos documentos passa a dever ser feita, não na audiência preliminar

(futura audiência prévia) ou, quando esta não se tenha realizado, após a notificação do despacho saneador – como à luz do CPC de 1961 sucede –, mas nos próprios articulados.O artigo 598º, n.º 2, do CPC de 2013 admite, ainda, a alteração ou aditamento ao rol de testemunhas até 20 dias antes da data em que se realize a audiência de julgamento.É de notar que esta data continua a dever ser marcada, em regra, na audiência prévia (artigos 591º, n.º 1, alínea g), e 593º, n.º 2, alínea d), do CPC de 2013).O caso excepcional da prova por declarações de parte: Nos termos do artigo 466º, n.º 1, do CPC de 2013, as declarações de parte podem ser requeridas até ao início das alegações orais em 1ª instância.Depois de produzidos todos os meios de prova em audiência final, ainda é possível requerê-las, se não se tiverem iniciado as alegações orais (que no CPC de 2013 incidirão sobre a matéria de facto e de direito: cfr. o seu artigo 604º, n.º 3, alínea e)).

Consagração de novos meios de prova:O artigo 466.º do CPC de 2013: a nova figura da prova por declarações de parte – “Prevê-se a possibilidade de prestarem declarações em audiência as próprias partes, quando face à natureza pessoal dos factos a averiguar tal diligência se justifique, as quais são livremente valoradas pelo juiz, na parte em que não representem confissão”.Em primeiro lugar, as declarações de parte são requeridas pela própria parte que irá prestar essas declarações.Assim, por exemplo, a parte pode requerer que o seu representante (por exemplo, o seu gerente), que está impedido de depor corno testemunha (cfr. artigo 496º do CPC de 2013), preste declarações de parte (cfr. artigos 466º, n.º 2, e 453º, n.º 2, do mesmo Código), assim obviando à dificuldade que, no sistema do CPC de 1961, constitui a inquirição desse representante.Decorre do artigo 466º, n.º 1, parte final, do CPC de 2013 – em que se alude à “ prestação de declarações sobre factos em que tenham intervindo pessoalmente ou de que tenham conhecimento directo” – que não é admissível à parte requerer a prestação de declarações pela parte contrária.Não parece também admissível – embora se reconheça que a questão oferece muitas dúvidas – o juiz determinar oficiosamente as declarações de parte, apesar de o artigo 466º, n.º2, do CPC de 2013 remeter para o artigo 417º, que regula o dever de cooperação para a descoberta da verdade, bem corno para o estabelecido na secção anterior sobre a prova por confissão das partes, onde se prevê (no artigo 452º, n.º 1), a possibilidade de o juiz determinar o depoimento de parte. Esta conclusão resulta da comparação entre o artigo 466º, que apenas alude ao requerimento para prova por declarações de parte, e o artigo 452º, que alude tanto ao requerimento corno à determinação oficiosa do depoimento de parte.Em suma: a remissão do artigo 466º, n.º 2, para o artigo 417º, ambos do CPC de 2013, significará apenas que, tendo requerido a sua audição pelo tribunal , a parte não poderá depois recusar -se a responder, ou mentir, podendo também ser-lhe aplicada urna multa e valorada a sua recusa, se afinal não vier a colaborar; por outro lado, a remissão do artigo 466º, n.º2, para o regime da prova por confissão das partes significará que à prova por declarações de parte são aplicáveis as regras respeitantes à produção da prova por confissão das

partes ( por exemplo, a que estabelece a prestação do depoimento em audiência final, a que exige a prestação de juramento ou a que determina que a parte seja interrogada pelo juiz e não pelos mandatários das partes), mas já não que sejam aplicáveis aquelas regras que digam respeito aos requisitos de admissibilidade do depoimento de parte (por exemplo, a regra que estabelece a possibilidade de requerer o depoimento de compartes ou os factos sobre os quais o depoimento pode recair).Em segundo lugar, e corno decorre do artigo 466º, n.º3, do CPC de 2013, as declarações de parte podem redundar na obtenção de meios de prova de natureza distinta e com diferente valor probatório.Em terceiro lugar, e como já atrás se viu, as declarações de parte, diversamente das outras diligências probatórias, podem ser requeridas até ao início das alegações orais em 1ª instância (artigo 466º, n.º 1, do CPC de 2013).Sendo requeridas no fim da produção de prova em audiência final, não há dúvida de que o momento próprio para prestar as declarações é depois dessa produção e antes das alegações orais, referenciadas no artigo 604º, n.º3, alínea e), do CPC de 2013).Sendo, porém, requeridas antes da audiência final ou durante a produção da prova em audiência, haverá alguma ordem para a prestação das declarações em audiência? O novo artigo 604º, n.º 3, do CPC de 2013, relativo aos actos a realizar na audiência final, silencia completamente as declarações de parte, pelo que não se percebe, por exemplo, se elas devem ter lugar antes ou depois dos depoimentos de parte e da inquirição das testemunhas. Supõe-se que competirá ao juiz programar a prestação dessas declarações, em regra na audiência prévia; não tendo havido tal programação, devem talvez ser prestadas depois dos depoimentos de parte, pela sua afinidade com estes.Em quarto lugar, e nos termos do artigo 466º, n.º 1, do CPC de 2013, as declarações de parte apenas podem incidir sobre factos em que o declarante haja intervindo pessoalmente ou de que tenha conhecimento directo.Não podem assim incidir as declarações de parte genericamente sobre os temas da prova – como, a propósito da prova testemunhal, admite o novo artigo 516º, n.º 1 –, sendo sempre circunscritas àqueles factos pessoais ou de conhecimento directo.Em quinto lugar, a parte pode, no mesmo processo, prestar declarações de parte e depoimento de parte, isto é, ser ouvida em qualidades distintas – na qualidade, dir-se-ia, de declarante e de depoente –, para prova de factos distintos e em momentos distintos.Com efeito, se a parte for ouvida a requerimento da parte contrária, o procedimento a empregar é o do depoimento de parte; mas se for ouvida por sua própria iniciativa, o procedimento é o das declarações de parte.Por outro lado, se a parte for ouvida na primeira qualidade, sê-lo-á para prova de factos que lhe são desfavoráveis; se for ouvida na segunda qualidade, sê-lo-á para prova de factos que lhe são favoráveis (em princípio, porque o artigo 466º, n.º3, do CPC de 2013 não exclui que das declarações de parte emerja confissão).Finalmente, a parte pode prestar depoimento de parte num momento e, noutro momento completamente distinto, prestar declarações de parte.É o que sucederá se a parte, tendo prestado depoimento de parte no início da audiência final, requerer, finda a produção de todos os meios de prova e antes das alegações orais, a prestação de declarações de parte.

Não há, em suma, a possibilidade de a parte prestar um único depoimento em audiência, quando haja de ser ouvida sobre factos que lhe são desfavoráveis e também sobre outros que lhe são favoráveis.São diferentes do depoimento de parte (452º CPC) que se insere como uma confissão. Isto é: se a parte admitir algo desfavorável, verdadeiramente o depoimento de parte é uma confissão judicial. Para além do juiz poder requerer o depoimento da parte, também a outra parte o pode requerer (452º/2 CPC), ou seja, também o réu pode requerer que o autor deponha.Nos termos do 454º CPC, o depoimento só pode ter por objecto factos de conhecimento directo, factos pessoais, exceptuando os factos criminosos ou torpes. Este depoimento de parte vai suceder (456º CPC) na audiência final, mas até pode suceder que ocorra na audiência prévia, nos termos do 456º/3 CPC.“Na parte em que houver confissão” – até o próprio legislador classifica o depoimento da parte como confissão (463º CPC). Mas nem todo o depoimento de parte é confissão. Pode suceder que não haja admissão de nenhum facto desfavorável. Por outro lado, (465º CPC), a confissão não pode ser retirada (465º/2 CPC).

O novo artigo 452.º n.º 1: uma nova forma de obter a confissão judicial?Aquele artigo 452º, n.º 1 alude à determinação do juiz de comparência pessoal das partes para a prestação de depoimento, informações ou esclarecimentos sobre factos que interessem à decisão da causa.Concomitantemente, o novo CPC alude, no artigo 7.º, n.º2, aos esclarecimentos das partes, a pedido do juiz, sobre a matéria de facto: mais precisamente, a propósito do princípio da cooperação, estabelece que o juiz pode, em qualquer altura do processo, ouvir as partes, convidando – as a fornecer os esclarecimentos sobre a matéria de facto ou de direito que se afigurem pertinentes.O artigo 452º, n.º1, do CPC de 2013, na parte em que alude ao poder do juiz de, em qualquer estado do processo, determinar a comparência pessoal das partes para a prestação de informações ou esclarecimentos sobre factos que interessem à decisão da causa, refere-se a uma figura diversa do depoimento de parte.O artigo 452º, n.º1, para ter alguma utilidade face ao artigo 7.º, n.º 2, tem de ser interpretado como aludindo a uma realidade com valor probatório, não podendo resumir-se a esclarecimentos sobre alegações que as partes fizeram nos articulados.Atingida esta conclusão – a de que o novo artigo 452º, n.º 1 alude, não só ao depoimento de parte determinado oficiosamente pelo juiz (e, portanto, dirigido à obtenção de uma confissão) – , mas também a uma outra figura que com ele se não confunde.Parece que a prestação de informações ou esclarecimentos sobre factos que interessem à decisão da causa apenas incide sobre factos desfavoráveis à parte, uma vez que, à semelhança do depoimento de parte, se insere numa Secção do CPC dedicada à prova por confissão.No que se refere à segunda questão acima identificada – a relativa ao valor probatório da prestação dessas informações ou esclarecimentos – , supõe-se que ou delas resulta uma confissão e há que aplicar o regime do Código Civil quanto ao seu valor probatório, ou não resulta: neste último caso, e havendo

reconhecimento de factos desfavoráveis, há que aplicar o artigo 361º do CC, que estabelece que “(o) reconhecimento de factos desfavoráveis, que não possa valer com o confissão, vale como elemento probatório que o tribunal apreciará livremente”; não havendo tal reconhecimento, parece que o resultado da prestação de informações ou esclarecimentos será também livremente apreciado, nos termos gerais.Finalmente, e quanto à terceira questão: a prestação de informações ou esclarecimentos sobre factos que interessem à decisão da causa não deve, como já hoje, à luz do CPC de 1961, sucede, ser qualificada como meio de prova diverso dos previstos no Código Civil, mas como um meio de obtenção de um meio de prova já previsto no ordenamento (a confissão).Verificações não judiciais qualificadas (494º CPC): “Cria-se um novo meio de prova, que se designa por verificações não judiciais qualificadas. Sempre que seja legalmente admissível a inspecção judicial, mas o juiz entenda que se não justifica, face à natureza da matéria ou à relevância do litígio, a percepção directa dos factos pelo tribunal, pode ser incumbido técnico ou pessoa qualificada de proceder aos actos de inspecção de coisas ou locais ou de reconstituição de factos e de apresentar o seu relatório. Sem prejuízo das atestações realizadas por autoridade ou oficial público, as verificações não judiciais qualificadas são livremente apreciadas pelo tribunal.Permite-se, deste modo, que sejam averiguados com acrescida eficácia e fiabilidade factos que, não implicando o juízo científico que subjaz à prova pericial, possam ser melhor fixados ou esclarecidos por entidade isenta e imparcial e tecnicamente apetrechada (evitando o habitual recurso à falível prova testemunhal para a sua determinação e dispensando inspecções judiciais que não sejam proporcionais ao relevo e natureza da matéria litigiosa)”.Será que o técnico ou pessoa qualificada se distingue do perito por não formular um juízo científico? A Exposição de Motivos da Proposta de Lei n.º 11 3/XII dá a entender que as figuras se distinguem deste modo, ao referir que à prova pericial subjaz um juízo científico. Mas o artigo 388º do CC– ao afirmar que a prova pericial tem por fim a percepção ou apreciação de factos por meio de peritos, quando sejam necessários conhecimentos especiais que os julgadores não possuem, ou quando os factos, relativos a pessoas, não devam ser objecto de inspecção judicial – dá a entender que nem sempre à perícia subjaz um conhecimento especial; por outro lado, como se distingue exactamente este conhecimento especial da qualificação que o técnico ou pessoa qualificada tem necessariamente de possuir, para como tal ser considerado?Do exposto resulta que as verificações não judiciais qualificadas não se distinguem da prova pericial em atenção às características da pessoa que as realiza.Distinguem -se então de que modo? Ao que se julga, só se distinguem no ponto em que, se não for legalmente admissível a inspecção judicial, as verificações não judiciais qualificadas não podem ter lugar: portanto, o âmbito destas é menor do que o da perícia.Em segundo lugar, o artigo 494º, n.º1, do CPC de 2013 dá a entender que as partes não podem requerer uma verificação não judicial qualificada: requerem, quanto muito, uma inspecção judicial, nos termos do artigo 490º, n.º 1, podendo o tribunal depois, se julgar que a inspecção judicial não se justifica (ou melhor:

justifica-se, mas não é o meio de prova mais conveniente), determinar, em vez dela, uma verificação não judicial qualificada. Ou seja: a utilização deste meio de prova é sempre da iniciativa do juiz.Em terceiro lugar, o artigo 494º, n.º2, do CPC de 2013 estabelece que o valor probatório das verificações não judiciais qualificadas depende da pessoa que as realiza, na medida em que alude à sua livre apreciação, “sem prejuízo das atestações realizadas por autoridade ou oficial público”. Ou seja: o valor probatório deste meio de prova é variável em função de quem o realiza.Quais as atestações não submetidas ao princípio da livre apreciação da prova (e portanto com valor de prova plena) que estão em causa neste preceito? Ao que parece, apenas o podem estar as atestações que hajam sido reduzidas a escrito e que se reconduzam ao conceito de documento autêntico do artigo 363, n.º2, do CC, uma vez que só a este, e não também a atestações não reduzidas a escrito, a lei civil confere valor de prova plena (cfr. artigo 371º do CC).De todo o modo, o artigo 493º, relativo ao auto de inspecção e aplicável às verificações não judiciais qualificadas por força do artigo 494 º, n.º 1, parte final, parece excluir a hipótese de a atestação ser relatada de modo verbal perante o juiz: e o artigo 604º, n.º3, relativo à produção de prova em audiência, também não prevê a existência de um tal relato.E se a verificação não judicial qualificada for feita, por exemplo, por notário? Qual o seu valor probatório?A figura confunde-se, de algum modo, com a passagem de certificados de factos verificados pelo notário, a que alude o artigo 4°,n.º 2, alínea e), do Código do Notariado.Seja como for, para que a verificação feita pelo notário possa ter valor de prova plena, é necessário, segundo o artigo 363º, n.º2, do CC, que o documento que a corporiza seja exarado pelo notário.Ora o regime das verificações não judiciais qualificadas alude apenas a um auto da diligência (cfr. o artigo 493º, por remissão do artigo 494º, n.º 1, do CPC de 2013), que é lavrado pela secretaria, o que origina o problema de saber se a lei processual civil pretendeu conferir valor de prova plena a uma atestação de um oficial público – o notário – que não consta de documento exarado pelo próprio oficial público (assim derrogando o artigo 363º,n.º2, do CC), ou se continua a exigir este documento para a atestação ter valor de prova plena. Inclino-me para esta última solução, que implica que, em vez de registada em auto (ou para além de regista da em auto), a diligência o seja em documento elaborado por notário.Consequentemente, as verificações não judiciais qualificadas constituem modalidades de prova pericial – duas modalidades, aliás, consoante sejam feitas por oficial ou autoridade pública ou por outra pessoa –, não devendo estar reguladas no contexto da inspecção judicial: e a circunstância de só terem lugar quando a inspecção judicial seja legalmente admissível não afasta a sua qualificação como prova pericial, uma vez que a prova pericial também pode ter lugar quando a inspecção judicial seja legalmente admissível.

Código Civil:Prova por confissão … consiste no reconhecimento pela parte da veracidade de um facto desfavorável e favorável à parte contraria (352º CC).

A confissão só é eficaz se for feita por pessoa com capacidade e poder de dispor do direito a que o facto confessado se refere (353º CC): se, por exemplo, o credor confessar o recebimento da prestação contratual realizada pelo devedor, a confissão equivale a disposição do seu direito de credito e, por isso, exige aquela capacidade e disponibilidade.A confissão não é admissível se for declarada insuficiente por lei ou recair sobre facto cujo reconhecimento ou investigação a lei proíba (354º al. a) CC), como sucede quando a lei exige como forma de declaração negocial, documento autentico, autenticado ou particular (364º/1 CC). A confissão tb não é admissível se recair sobre factos relativos a direitos indisponíveis (354º al. b) CC), como são, por exemplo, aqueles que se referem ao estado das pessoas, ou se incidir sobre factos impossíveis ou notoriamente inexistentes (354º al. c) CC).A confissão pode ser judicial ou extrajudicial (355º/1 CC). A confissão judicial é aquela que é feita em juízo (355º/2 CC) quer de forma espontânea, se for realizada por iniciativa do confitente, quer de maneira provocada, se for realizada em depoimento de parte (452º/1 CPC) ou em resposta a esclarecimentos pedidos pelo tribunal (411º CPC). A confissão extrajudicial é aquela que é feita fora do processo (355º/4 CC).A confissão, uma vez realizada, não pode ser retirada (465º/1 CPC). Exceptua-se a confissão feita nos articulados, enquanto a parte contrária a não tiver aceite especificamente (465º/2 e 46º CPC).Da indivisibilidade decorre que a confissão só pode ser aceite ou rejeitada na integra (360º CC). Assim, o autor ou o réu que quer aproveitar-se da parte da confissão que lhe é favorável tem de aceitar também a parte que lhe é desfavorável, embora possa fazer prova contra a parte da confissão que lhe é desfavorável (360º CC).O valor da confissão é diferente consoante a confissão seja judicial ou extrajudicial. A confissão judicial tem valor probatório distinto, consoante seja escrita ou não escrita – a confissão judicial escrita tem o valor de prova plena contra o confitente (358º/1 CC) - a confissão judicial não escrita tem o valor de prova livre (358º/4 CC). Por isso, ainda que o depoimento da parte seja prestado na audiência final (604º/3 al. a) CPC), ele deve ser reduzido a escrito para que dele se possa extrair a força probatória plena.A confissão extrajudicial tem um valor probatório que depende do meio pelo qual é comunicada ao tribunal - a confissão extrajudicial exarada em documento autentico ou particular considera-se provada nos termos aplicáveis a estes documentos ( 369º a 372º e 373º a 379º CC), mas tem sempre força probatória plena se for dirigida à contraparte ou a um seu representante (358º/2 CC), e força probatória livre se for feita a terceiros ou estiver contida em testamento (358º/4 CC) - a confissão extrajudicial não escrita tem o valor de prova livre (358º/4 CC) – finalmente, a confissão extrajudicial provada por testemunhas é livremente apreciada pelo tribunal ( 358º/3 CC). Prova documental …Art. 364º - A regra é a de que os documentos escritos, autênticos, autenticados ou particulares são exigidos como formalidades ad substantiam. Daí o principio da nulidade consagrado no art. 220º. No primeiro caso (formalidade ad substantiam) o negocio é nulo, salvo se constar de documento de força probatória superior; no segundo (formalidade ad probatoriem) o acto não é nulo mas só pode provar-se por confissão expressa, judicial ou extrajudicial,

devendo neste ultimo caso constar de documento de igual ou superior valor probatório.Se, por exemplo, A confere procuração verbal a B para celebrar um contrato-promessa de compra e venda de imóveis, o facto de A confessar que outorgou os poderes representativos não basta para provar a representação, dado que a procuração, neste caso, tem de constar de documento assinado pelo representado.Mas, se a lei exige documento autentico já não vale um documento autenticado pois este tem apenas o mesmo valor probatório (377º) nem vale igualmente a prova por confissão.Art. 366º - Os documentos escritos a que falte algum dos requisitos legais não são destituídos de todo o valor probatório. É o que acontece, por exemplo, com um documento não assinado ou com uma simples minuta. O que estes documentos não podem é satisfazer a exigência legal de forma (cfr. 364º).Art. 362º CC – pode ser tanto um documento escrito como não escrito (por ex. fotografias, registos vídeo). “Qualquer objecto elaborado pelo homem”.Os documentos podem ser autênticos ou particulares. Os autênticos decorrem do 363º/2 e os particulares decorrem do 363º/3.Os documentos autenticados são aqueles em que apesar de serem particulares, as partes querem atribuir maior força probatória.Nos termos do 364º, o documento autentico, autenticado ou particular não podem ser substituídos por outro meio de prova. Mas quanto aos documentos escritos autênticos o art. 370º diz-nos que há uma presunção de autenticidade, mas que pode ser ilidida.Quanto aos documentos particulares (363º/3 e 373º CC) têm força probatória nos termos do 376º CC. Nos termos do 374º CC pode ser posta em causa a autoria da letra e da assinatura. Relativamente aos documentos autênticos, nos termos do 372º CC, a sua força probatória só pode ser ilidida com base na sua falsidade.Nos termos do 383º CC, as certidões têm a força probatória das originais.Há diferentes forças probatórias. Isto decorre da prova documental. Aquilo que referimos como o principio da livre apreciação da prova (607º/5 CPC) é que é a regra geral.Defendemos que o nosso sistema era de valoração mista da prova, porque há outros meios de prova em que está muito reduzida essa livre apreciação, nomeadamente na prova documental.Mas nem todos os documentos têm a mesma força probatória, e podemos coloca-la em três níveis:

1. Prova bastante : tenta-se fundar a convicção do juiz através de um determinado documento. A outra parte pode causar dúvida dessa prova, basta-lhe produzir contraprova (346º CC). Lançar dúvida séria. Nos termos do art. 374º CC, alguém junta documento particular. Pode acontecer que está demonstrada a veracidade da letra e da assinatura e estão os factos provados. Mas pode a outra parte impugnar a veracidade da letra e assinatura. A outra parte está a agir no sentido de contraprova (374º/2 e 346º CC). Se a segunda parte levantar dúvida, a primeira parte pode nada fazer (374º/1) ou fazer qualquer coisa (374º/2, 2º parte), apresentar a prova da sua veracidade. Atenção, se nada disser, o tribunal deve decidir contra a parte onerada.

2. Prova plena : vai tentar dar ao juiz uma convicção que não pode ser abalada pela mera dúvida. Neste caso, se juntar o documento ou se houver uma presunção com força de prova plena, significa que (371º; 376º - presunções ilidíveis) a outra parte tem de fornecer prova do contrário (347º). Neste caso tem de se demonstrar que aquele facto não é verdadeiro.Na prova plena há até níveis diferentes. Prova plena simples e prova plena qualificada.Na prova plena simples temos de demonstrar o contrário daquele facto. Perante a existência de um facto, podemos destruir esse facto com qualquer outro meio de prova, por exemplo, prova testemunhal.Na prova plena qualificada não podemos fazer a prova do contrário por qualquer meio de prova (393º CC). Para a prova do contrário há vários meios de prova que são retirados, por exemplo, a prova por testemunhas.As presunções judiciais só podem ser admitidas nos casos em que é admitida a prova testemunhal (351º).

3. Prova pleníssima: é a força probatória mais forte. As presunções inilidíveis fazem prova pleníssima (260º/3). A veracidade do facto é dado pela lei.Se olharmos para o 1260º/3 vemos um exemplo de presunção inilidível que faz prova pleníssima. Basta demonstrar que houve violência.A prova pleníssima é indestrutível? A contraparte tem de destruir a base da presunção. No caso do 1260º/3, o que a outra parte tem de demonstrar é que a posse não foi adquirida por violência.

A prova também pode ser livre: no sistema de prova livre, o valor a conceder à prova realizada através dos meios de prova não está legalmente pré-fixado, antes depende da convicção que o julgador formar sobre a actividade probatória da parte (607º/1). É o que sucede com a prova pericial (389º CC), a inspecção judicial (391º CC) e a prova testemunhal (396º CC).A livre apreciação está excluída quando a lei exija, para a existência ou a prova do facto, qualquer formalidade especial (607º/2). Assim, por exemplo, a prova livre não é admitida para a prova da transmissão da propriedade de um imóvel, porque esta alienação exige escritura pública (875º CC).Falta de prova: a dúvida sobre a realidade de um facto é resolvida contra a parte a quem o facto aproveita (414º CPC e 346º CC), ou seja, é resolvida contra a parte onerada com a sua prova ( 342º nºs 1 e 2 CC). Assim, perante a falta ou insuficiência da prova, o tribunal ficciona a prova do facto contrário e decide com base nesse facto. Por exemplo: ao autor da acção de indemnização incumbe a prova do dano (342º/1 CC), pelo que, se o autor não provar esse facto, o tribunal decide como se estivesse provada a inexistência de qualquer prejuízo.Se o autor não prova o facto constitutivo, a acção é julgada improcedente segundo o principio actore non probante réus absolvitur (414º CPC), mesmo que o réu não prove qualquer facto impeditivo, modificativo ou extintivo. Porém, se o autor realiza a prova do facto constitutivo, o réu pode, em alternativa, assumir uma das seguintes atitudes: impugnar por contraprova (346º CC) ou por prova do contrário (347º CC) a prova produzida pelo autor; provar em correspondência com o respectivo ónus de alegação, um facto impeditivo, modificativo ou extintivo da situação jurídica invocada pelo autor (342º/2 CC).

Se o autor não realiza a prova do facto constitutivo da situação jurídica que invoca, a acção é julgada improcedente e o réu é absolvido do pedido (414º CPC).

Prova pericial…Art. 389º - o principio da prova livre (por contraposição à prova legal: prova por documentos, por confissão e por presunções legais) vigora no domínio da prova pericial, da prova por inspecção (391º) e da prova por testemunhas (396º).Prova livre não quer dizer prova arbitraria, mas prova apreciada pelo juiz segundo a sua experiencia, a sua prudência, o seu bom senso, com inteira liberdade sem estar vinculado ou adstrito a quaisquer regras medidas ou critérios legais.O tribunal pode agora afastar-se livremente do parecer dos peritos, sem necessidade de justificar o seu ponto de vista, quer porque tenha partido de factos diferentes dos que aceitou o perito, quer porque discorde das conclusões dele ou dos raciocínios em que elas se apoiam.Prova testemunhal…Art. 393º - Quando a declaração negocial deva ser reduzida a escrito e não o seja, o acto é nulo (220º; cfr. 364º), sendo irrelevante qualquer espécie de prova. Se a lei exige apenas que a declaração se prove por documento, está expressamente afastada a prova testemunhal. Se a lei não exige documento, mas este foi lavrado e tem força probatória plena, não é também admitida prova testemunhal.Art. 395º CC – casos em que a lei exige certo meio de prova para a declaração negocial. Se existir um principio de uma prova documental, então a prova testemunhal pode completar um outro meio de prova.Art. 496º CPC – estão impedidos de depor como testemunhas os que possam depor como partes.Art. 495º CPC – não podem depor os interditos por anomalia psíquica. Há um acórdão que considera este preceito inconstitucional porque pode acontecer que a parte não disponha de mais nenhum meio de prova ou ainda pode suceder que aquela pessoa tenha capacidade de percepção suficiente (a lei não proíbe o menor de depor, que também tem uma percepção diminuída).Para além destes casos, qualquer pessoa pode depor como testemunha, o que significa que o juiz não pode recusar o depoimento. Quanto muito, a pessoa pode recusar-se nos casos do 497º CPC.O valor probatório da prova testemunhal? O legislador não condiciona o julgador (principio da livre apreciação da prova – arts. 356º CC e 607º/5 CPC).Através da fundamentação da sentença evita-se o livre arbítrio, o juiz tem de explicar a orientação do seu raciocínio. Se a sentença não tiver essa fundamentação , ela é nula.Se a fundamentação for deficiente, pode-se recorrer para a relação se a causa admitir recurso. Mas para que isso seja possível é necessário que a relação tenha os dados à sua disposição através da gravação da audiência final (155º CPC).

Hipótese:A e B celebraram um contrato de compra e venda de um apartamento sito em Lisboa, pelo preço de 100 000 euros, tendo ficado acordado que B

recebia as chaves e pagava 60 000 euros na data da celebração do negocio e o remanescente do preço, no prazo de dois meses. Como B não pagou aquela quantia no prazo convencionado, A instaura contra B uma acção pedindo o cumprimento do contrato. A apresenta um documento escrito particular destinado a provar a realização do contrato de compra e venda.Qual o momento processual de apresentação do referido meio de prova?O CC preocupa-se com questões de admissibilidade dos meios de prova. O CPC regula questões de apresentação dos meios de prova em juízo.Nos termos do art. 423º CPC, deve a prova documental ser apresentada com o articulado em que se aleguem os factos correspondentes. O documento é apresentado na fase dos articulados. Se estes prazos não forem cumpridos, o documento não pode ser junto ao processo.Segundo o art. 466º/1 CPC, a prova por declarações da parte é admitida até ao inicio das alegações orais em 1º instancia (604º/3 al. e) CPC) e ocorrem na audiência final.De acordo com o art. 500º CPC, na prova testemunhal, as testemunhas depõem na audiência final. Segundo o art. 598º/2 CPC, o role de testemunhas deve ser apresentado na fase dos articulados. O art. 598º CPC prevê a possibilidade de substituição de testemunhas, mesmo depois de ter passado o prazo (508º/1 CPC).As regras do procedimento probatório variam muito.No caso da prova pericial, o momento para a parte requerer perícias é nos articulados. Na audiência prévia e gestão inicial do processo.A apresentação de documentos e de requerimento de provas é sempre feita nos articulados.- Quais os efeitos jurídico-processuais resultantes da falta de intervenção de B nessa acção?Estamos perante revelia absoluta inoperante. A revelia não ia operar a confissão do facto impugnado. A realização do facto de compra e venda (364º CC) terá de ser sempre provada por documento escrito e nunca por confissão.- Qual deverá ser a decisão do juiz se B contestar, nada referindo em relação à celebração do contrato de compra e venda, mas alegando que o negocio é anulável por coacção que não consegue provar.O réu nada diz em relação à celebração do contrato de compra e venda, pelo que se considera este facto admitido por acordo. Nesta acção, o contrato constitui causa de pedir e por isso o ónus de alegação compete ao autor (art. 5º CPC).Mas quem tem de provar esse contrato? Nos termos do 342º/2 do CC, quem invoca um direito tem o ónus de prova sobre os factos constitutivos do direito alegado. Cabe ao autor porque foi ele que invocou o contrato.Se o réu nada disser, considera-se admitido por acordo esse facto. Só quando existe dúvida irredutível é que se torna pertinente saber quem tem o ónus de prova. Quando é que o juiz vai aplicar no processo o 343º CC? É na sentença. Depois de produzida toda a prova, o juiz continua em duvida sobre o facto constitutivo do direito do autor. Então, o juiz, nos termos do 414º CPC, vai resolver a duvida contra a parte a quem o facto não ficou demonstrado. Mas a quem o facto não aproveita? O juiz tem de ir ao 342º/1 CC que rege apenas nos casos em que o juiz não sabe se o facto se verificou ou não. O juiz resolve a duvida contra o autor. O juiz vai absolver o réu do pedido, vai proferir uma

decisão de mérito em relação à parte onerada com a prova. Se o ónus da prova competia ao réu, aí condena o réu no pedido.Estamos a falar sempre de factos essenciais.Voltando à hipótese, supondo que o facto da celebração do contrato foi demonstrado pelo autor, o réu vem dizer que houve coacção. Este é um facto impeditivo do direito do autor, porque obsta à validade deste sempre. É um facto que teve lugar no mesmo momento da constituição do direito e que afecta a sua validade na sua origem.O facto extintivo, por seu turno, implica que o direito foi originaria e validamente constituído, mas posteriormente um facto vai determinar a sua extinção.Se o réu não consegue provar a coacção (342º/2 CC), o tribunal condenava-o no pedido.Imagine que A apresenta uma escritura pública para provar a realização do contrato de compra e venda. Quid júris se B alegar que não foi ele que assinou o contrato.Aqui já avançamos para o valor probatório da prova.Art. 371º do CC diz qual é a força probatória dos documentos autênticos – fazem prova plena (por ex. uma escritura). Só se provam os factos praticados e presenciados pela entidade documentadora. Tudo o que não se enquadra nestes requisitos, não é provado.Aquilo que as partes relatam como ocorrido não é abrangido pela prova plena.Prova plena qualificada, só se admite o afastamento mediante prova em contrário, não basta lançar a duvida (372º/1 CC), não basta contraprova.A generalidade dos meios de prova é de prova livre, é a regra geral (607º/5 CPC). Se não houver nenhuma disposição que disponha diferentemente, a prova é livre. O juiz pode dar como demonstrado qualquer facto dentro do meio de prova em causa. A sua força probatória é abalada pela contra prova. A contraprova (346º CC) consiste em lançar a dúvida sobre a veracidade dos factos. Depois, ainda há outros meios, a chamada prova pleníssima (350º/2 CC) em que a lei nem admite o contrário.Assim sendo, temos: - Prova livre, destruída mediante contraprova. - Prova plena, destruída mediante prova em contrário. - Prova pleníssima, onde a lei não admite a prova do contrário.Voltando ao caso, estamos perante prova plena qualificada (446º CPC e 372º/1 CC). Se o A conseguir demonstrar que não foi ele que assinou o contrato, a prova é destruída.D vem alegar que pagou 70 000 euros e A nada diz. Quid júris?Quando D vem alegar o pagamento dos 70 000 euros, esta alegação é uma excepção peremptória extintiva (pagamento).Se o réu se defender por impugnação o autor não tem direito a resposta. Se for por excepção, o autor tem direito de resposta (3º/4 CPC).Se o réu não tiver trazido ao processo nenhum facto impeditivo, modificativo ou extintivo, estamos perante defesa por impugnação.342º CC – relativamente ao ónus da prova. Se o réu impugna, não inverte o ónus da prova. Só tem o ónus da prova sobre os factos impeditivos, modificativos ou extintivos (defesa por excepção).Então, o que sucede se A nada diz a esta excepção? Os factos são admitidos por acordo (574º/2 CPC)?

O art. 587º CPC atribui o mesmo efeito do 574º CPC e os factos são admitidos por acordo.Art. 395º CC – o art. 394º CC diz que é inadmissível a prova por testemunhas de determinados factos que já estejam plenamente provados por documentos. Todos estes artigos se aplicam aos factos extintivos.

Hipótese:Certo dia em que ia a conduzir o seu automóvel, A é surpreendido por B que pretendendo suicidar-se se atravessa no seu caminho. Para evitar a colisão, A desvia o veiculo embatendo numa àrvore. Como consequência do acidente, o veiculo de A ficou desfeito. A teve de ser tratado no hospital em virtude de uma fractura e bem assim foi-lhe diagnosticado a necessidade de constante apoio psicológico. A instaura uma acção contra B, pedindo o pagamento das quantias de 10 000 euros provenientes de tratamentos hospitalares; de 20 000 euros correspondentes ao custo da perda do veiculo e de 50 000 euros a titulo de danos morais.Na contestação B alega que A embatera na àrvore porque se deixara distrair com a passagem de uma cegonha e que já prescrevera o direito de indemnização porque o acidente ocorrera à 10 anos.

1. Como distribui o ónus da prova nesta acção?Art. 342º/1 CC – A tem de invocar os factos constitutivos desse direito. Tem de provar que embateu na árvore por culpa de B.O A tem o ónus de prova de todos os factos constitutivos do direito à indemnização ( os requisitos da responsabilidade civil).B está a dizer que não praticou nenhum facto ilícito, há uma mera impugnação.Quanto à distracção de A, temos uma impugnação de facto, não há uma relação entre o facto e os danos. Quanto à prescrição (498º CC), no plano substantivo a divida torna-se apenas natural, pelo que estamos perante uma excepção peremptória modificativa. Não tendo o autor respondido, o que acontece? Art. 574º/2 por remissão do 587º CPC e 3º/4 CPC- há um dever de resposta.

Fase da audiência finalEncontra-se regulada nos artigos 599º e seguintes, decorre perante juiz singular, que pode designar pessoa competente para assistir á audiência e aí prestar os esclarecimentos necessários sempre que a matéria de facto suscite dificuldades de natureza técnica (601º). O juiz goza de todos os poderes necessários para tornar útil e breve a discussão, conforme dispõe o art.º 602ºA audiência só pode ser adiada se houver impedimento do tribunal, faltar algum dos advogados sem que o juiz tenha providenciado pela marcação mediante acordo prévio ou ocorrer motivo que constitua justo impedimento (603º). A mera comunicação por parte do advogado da impossibilidade da sua comparência deixou de constituir motivo de adiamento, exigindo-se agora a verificação de um justo impedimento. Não havendo motivos para o adiamento, a audiência inicia-se com a tentativa de conciliação se a causa estiver no âmbito de disposição das partes (604º). Frustrando-se a conciliação, a audiência continuará com a produção de prova segundo a ordem indicada no 604º/3, a menos que o juiz justificadamente altere nos termos do 604º/8.

Após a inquirição das testemunhas é dada a palavra aos mandatários das partes para produzirem, querendo, alegações orais onde produzem a apreciação critica da prova produzida, indicando os factos que no seu entender devem ser considerados como provados ou não provados, assim como aparentes as conclusões de direito impostas por esses mesmos factos.Nas alegações os advogados devem procurar auxiliar o juiz na difícil tarefa de julgar a matéria de facto, assim como na sua subsunção ao direito aplicável. Ao advogado cabe destacar com a maior objectividade possível qual o resultado da prova produzida.Com as alegações orais dos advogados das partes termina a audiência final, começando a correr o prazo de 30 dias para a elaboração da sentença.

Fase da sentençaEncerrada a audiência final, o processo é concluso ao juiz para ser proferida sentença no prazo de 30 dias (607º).Nas questões a solucionar pelo juiz devem incluir-se, sob pena de nulidade (615º/1 al. d)) aquelas que as partes tenham submetido à sua apreciação, exceptuadas as questões cuja decisão esteja prejudicada pela solução dada a outras (608º/2), assim como as que são de conhecimento oficioso. Não estando o juiz sujeito às alegações das partes no que diz respeito à indagação, interpretação e aplicação das regras de direito (5º/3).Deverá o juiz pronunciar o seu julgamento da matéria de facto, declarando quais os factos que julga provados e os que, sendo relevantes, não foram demonstrados (607º/4).Após enunciar e fundamentar o julgamento da matéria de facto (607º/4) cabe ao julgador indicar, interpretar e aplicar as normas correspondentes, concluindo pela decisão final (607º/3).Preceitua o 608º que a sentença deverá conhecer em primeiro lugar das questões processuais que possam determinar a absolvição da instancia. Cabe ter presente que se o despacho saneador for genérico, o mesmo não constitui caso julgado formal.Decidindo do mérito, cabe ao juiz pronunciar-se expressamente sobre o pedido do autor e, se for o caso, do réu reconvinte.É sabido que (principio do dispositivo) sob pena de nulidade, a sentença não pode condenar em quantidade superior ou em objecto diverso do pedido, mas importa precisar esta limitação. O juiz não está condicionado à fundamentação de direito, por exemplo, se for pedida a anulação do contrato, o juiz não esta impedido, considerando os interesses práticos pretendidos pelo demandante de declarar a nulidade do mesmo contrato se esta for a consequência jurídica dos factos alegados e provados.Nas situações em que a obrigação em causa não é exigível no momento em que a acção foi proposta, a sentença pode condenar o devedor a satisfazer a prestação no momento do vencimento.A lei prevê ainda expressamente a condenação genérica para as situações em que naos existam, justificadamente, elementos para fixar o objecto ou quantidade (609º/2), assim como a condenação em alternativa (553/2).No final da sentença, deve o juiz condenar os responsáveis pelas custas processuais, indicando a responsabilidade de cada parte (607º/6 e 153º).Nulidade da sentença: a sentença é nula quando se verifique alguma das situações mencionadas no art. 615º, ou seja, quando:

- Não contenha a assinatura do juiz; - Não especifique os fundamentos de facto e de direito que justificam a decisão; - Os fundamentos estejam em oposição com a decisão ou ocorra alguma ambiguidade ou obscuridade que torne a decisão ininteligível; - O juiz deixe de se pronunciar sobre questões que devesse apreciar ou conheça de questões de que não podia tomar conhecimento; - Condene em quantidade superior ou em objecto diverso do pedido.A falta de assinatura do juiz constitui uma nulidade suprível, enquanto for possível colher a assinatura do autor da sentença. Não sendo tal possível, a nulidade da sentença terá como consequência necessária a repetição dos atos de produção de prova a que o julgador não assistiu.A falta de especificação dos fundamentos de facto e de direito que justificam a decisão enquanto causa de nulidade não pode confundir-se com a eventual falta de adequação ou lógica jurídica entre a fundamentação apresentada e a decisão. A nulidade exige, porém, um falta absoluta, total de fundamentação ou uma oposição entre os fundamentos e a decisão. Haverá oposição se a fundamentação apontar uma posição contraria, oposta à proferida pelo julgador, ou pelo menos em uma direcção diferente. Na nulidade da sentença não se incluem as situações de inconcludência, insuficiência ou erro de fundamentação.A sentença será nula sempre que exista uma ambiguidade ou obscuridade que tenham como consequência a ininteligibilidade da decisão, a não compreensão do seu conteúdo ou alcance. Face ao direito aplicável, a decisão não é compreensível mas obviamente que em tal caso não estaremos perante uma situação de nulidade. Haverá nulidade, por exemplo, se não for claro, face ao julgamento da matéria de facto, qual a data da (provada) interpelação para o cumprimento de uma obrigação pecuniária, e na decisão o tribunal condenar o réu o reu no cumprimento dos juros vencidos e vincendos.Nulidade frequentemente invocada é a prevista no 615º al. d), ou seja, a omissão de pronuncia. Só há tal nulidade quando os tribunais deixem de se pronunciar sobre verdadeiras questões invocadas pelas partes e não perante a argumentação aduzida pelas partes.Atenta o 615º al. e), a sentença será nula, ocorrendo uma situação de excesso de pronuncia, ou seja, sempre que a causa do julgado não se identifique com a causa de pedir ou o julgado não se identifique com o pedido.Nulidade da sentença: (615º) se o valor da acção admite recurso ou, por outro motivo, é no recurso que a parte deve arguir a nulidade da sentença. Só se não for admissível recurso é que a parte pode arguir a nulidade através de reclamação. Para o recurso o prazo geral é de 30 dias (638º). Se não for admissível recurso (615º/4), o prazo geral é de 10 dias (149º). Quando a lei não fixe um prazo especial, aplicamos sempre a regra geral.O art. 615º é taxativo ou há outros casos de nulidade? Nos termos do art. 3º/3, o juiz deve observar o contraditório, não lhe sendo licito decidir questões que lhe não tenham sido pedidas. Deve o juiz dar às partes a possibilidade de contraditório e se o não fizer a decisão será nula nos termos do 195º/1. Resulta daqui que existem casos de nulidade de sentença para além do 615º, pelo que este artigo não é taxativo.

De uma nulidade processual reclama-se no prazo geral (195º). Se o juiz indeferir a arguição da nulidade, o que acontece? O juiz pode deferir ou indeferir a arguição de nulidade através de despacho (201º) do qual a parte pode recorrer nos termos gerais.Quando a sentença é nula, a parte rege nos termos do 615º/4. Quando a decisão é nula nos termos gerais do 195º, a parte reclama e só depois é que recorre. A doutrina tem vindo a aplicar o 615º a estas nulidades. ?????Efeitos da sentença: com a prolação da sentença fica esgotado o poder jurisdicional do juiz quanto à matéria da causa (613º). A partir daquele momento o juiz não pode proferir nova decisão sobre a causa. Há, no entanto, excepções que importa ter presente. O juiz pode rectificar erros materiais, suprir nulidades e reformar a sentença.Por erros materiais entende-se as deficiências decorrentes de omissões ou erros de calculo ou escrita. Quanto à sua rectificação, estabelece o 614º que se a sentença omitir o nome das partes, for omissa quanto as custa ou contiver erros de escrita ou de calculo ou quaisquer inexactidões devidas a outra omissão ou lapso manifesto, pode ser corrigida por simples despacho, a requerimento de qualquer das partes ou por iniciativa do juiz (616º).À luz da nova disciplina, qualquer que seja a ambiguidade ou obscuridade da sentença as mesmas só serão relevantes se tornarem a decisão ininteligível e, nessa medida, nula (615º/1 al. c)). Se a sentença é ambígua, aos seus destinatários deve ser atribuída a faculdade de pedir a aclaração, ainda que a decisão em si mesma seja perceptível.Efeito processual da sentença da maior importância é o efeito executório previsto no 703º/1 al. a). A sentença (condenatória) constitui titulo executivo, permitindo a propositura de uma acção tendo em vista a realização coactiva de uma obrigação (704º).Quanto aos efeitos substantivos da sentença, importa destacar a ampliação do prazo prescricional e a possibilidade de constituição de hipoteca. Aquele primeiro efeito resulta do 311º CC e o segundo dos arts. 710º e 711º CC.A generalidade dos autores aponta como efeito material da sentença o caso julgado.

Caso julgadoConforme o 628º, a decisão considera-se transitada em julgado logo que não seja susceptível de recurso ordinário ou reclamação.Dizer-se que uma decisão transitou em julgado significa que a sentença se tornou definitiva ou imodificável ou seja que nos encontramos perante um caso julgado.Importa distinguir o caso julgado formal do caso julgado material. Se a decisão tiver por objecto o mérito da causa ou seja a relação controvertida (619º), o caso julgado será matérial. Se a decisão tiver unicamente por objecto a relação jurídica processual (620º), o caso julgado é formal. Caso julgado material será então a qualidade da decisão proferida sobre o mérito da causa que já transitou em julgado, ao passo que o caso julgado formal é a qualidade da decisão proferida sobre a relação processual após o transito em julgado, como sucederá quando, por exemplo, o juiz julga procedente ou improcedente uma excepção dilatória.O caso julgado formal produz efeitos no processo que deu origem à decisão em causa, a sua eficácia não ultrapassa o processo (620º). O caso julgado material tem força obrigatória dentro do processo e fora dele (619º).

O caso julgado tem uma função negativa, que é evitar que o tribunal seja colocado na alternativa de contradizer ou reproduzir uma decisão anterior (580º/2) e uma função positiva, a da proibição da contradição da decisão. Atenta a excepção, fica o juiz impedido de apreciar o mérito da causa (577º), considerando a autoridade o juiz deve julgar o mérito da causa impondo as partes a declaração jurisdicional anterior.Atento o disposto nos artigos 580º e 581º, fácil é concluir que o caso julgado enquanto excepção pressupõe a repetição de uma causa, uma tríplice identidade de sujeitos, pedido e causa de pedir (581º/2, 3 e 4).Quanto à autoridade do caso julgado, constitui entendimento maioritário que não é necessária a tríplice identidade exigida no 581º, atendendo aos interesses da certeza e segurança jurídica.O efeito preclusivo: Antunes Varela, destacando a profunda e intima ligação entre a sentença como acto do processo e a relação litigada enquanto situação reconstituída pela sentença à luz do direito substantivo, sublinha que não é aconselhável a separação entre o direito material e o direito processual a que a teoria processual dá lugar. Salientando que a sentença traduz um acto de reconstituição definitiva, dentro dos limites do caso julgado.Teixeira de Sousa sublinha que a excepção do caso julgado tem uma natureza processual, uma eficácia adjectiva, enquanto a autoridade do caso julgado uma natureza adjectiva e simultaneamente substantiva.As sentenças produzem sempre efeitos declarativos na medida em que definem uma determinada situação jurídica, tornando-a certa ou mais certa, podendo ter um efeito constitutivo quando constituem, modificam ou extinguem situações jurídicas. Uma sentença que anula um contrato ou uma acção de despejo que põe termo a um contrato de arrendamento, para além de ter um efeito declarativo, tem um efeito constitutivo, altera a ordem jurídica.No entanto, a certeza da definição de uma situação jurídica só ocorre se não puder ser posta em causa, eficazmente a aplicação do direito à realidade material dada como assente, ou seja, se ocorrer um efeito preclusivo.É precisamente a esta exigência de segurança que o caso julgado responde através do seu efeito preclusivo, ou seja, através da perda do poder de praticar actos tendentes a obter uma diferente definição vinculativa de uma situação jurídica.Se A intentar uma acção de reivindicação contra B, invocando que adquiriu X por compra a C e a acção for julgada procedente, atento o efeito preclusivo, B ficará impedido de obter sentença que retire a eficácia da decisão já transitada, que coloque em causa a eficácia da declaração proferida: A é proprietário de X face ao contrato celebrado com C.A preclusão traduz-se na perda de determinados poderes. Quem está vinculado ao caso julgado fica impedido de obter uma sentença susceptível de retirar eficácia de uma sentença já transitada em julgado.Através do efeito preclusivo vão-se garantir os efeitos da sentença.Do caso julgado decorre a preclusão e, desta, a certeza da situação afirmada. Da sentença decorre a afirmação de uma situação jurídica, uma afirmação sobre o certo.Se a certeza só ocorre com o efeito preclusivo e se este resulta do trânsito em julgado, da imodificabilidade que constitui a essência do caso julgado, este deve configurar-se como uma propriedade, ou qualidade de sentença e não um seu efeito.

Transitada em jugado, a sentença funde o direito material e o direito processual, não se justificando considerar duas ordens diferentes, quando este é o meio ou instrumento daquele, sobretudo quando o processo tem como fim a tutela dos interesses subjectivos.Limites objectivos do caso julgado: é importante saber se a força do caso julgado abrange apenas a parte decisória da sentença ou também os seus fundamentos.Face ao regime estatuído nos arts.º 621º e 91º, a doutrina e jurisprudência não têm hesitado em considerar que o legislador optou por uma solução restritiva. Encontra-se, no entanto, uma divisão entre os que negam atribuir à fundamentação da sentença qualquer força de caso julgado e os que, aceitando aquela regra, admitem um maior ou menor numero de excepções.No art.º 619º se estatui que a decisão fica tendo força obrigatória. Decisivo é, no entanto, a interpretação conjugada do preceituado nos arts.º 621º e 91º/2. Destas disposições resulta que a eficácia do caso julgado abrange tão só a parte decisória da sentença a menos que, relativamente à decisão das questões e incidentes suscitados, alguma das partes requeira o julgamento com tal amplitude.Para a jurisprudência maioritária e parte da doutrina, aquela faculdade concedida as partes (91º/2) diz apenas respeito às questões que não constituem pressupostos ou fundamentos necessários da decisão, que não condicionam o julgamento de mérito.Encontramos como premissa maior o entendimento de que o art.º 621º define os limites objectivos do caso julgado nos precisos termos em que a extensão destes não inutilize a estatuição constante do art.º 91º/2; como premissa menor, a afirmação de que esta disposição abrande tão só as questões que não se podem configurar como fundamentos directos da decisão jurisdicional; e a conclusão de que o art.º 621º contém como extensão mínima dos limites objectivos do caso julgado necessários para obstar à existência de decisões contraditórias, isto é, os fundamentos directos da decisão.Definindo o art.º 621º o âmbito do caso julgado, o art.º 91º/2, ao fazer depender a eficácia do caso julgado para determinadas questões da vontade das partes, não pode deixar de significar que estas mesmas questões não estão abrangidas naquele preceito. Parte-se da afirmação de que o art.º 621º estende a eficácia do caso julgado aos fundamentos da decisão e, posteriormente, procura-se definir o âmbito máximo e mínimo da mesma extensão.Castro Mendes distingue entre caso julgado relativo e caso julgado absoluto. Para este autor, quanto aos fundamentos da decisão a tomada de posição pelo órgão jurisdicional teria força de caso julgado relativo; já quanto à decisão o caso julgado seria absoluto ou relativo consoante a declaração judicial em causa. Castro Mendes sublinha que ao contrario das teses que estendem a eficácia do caso julgado a todos os pressupostos da decisão, e às que restringem tal eficácia à decisão propriamente dita, se deverá entender que os pressupostos da decisão transitada em julgado são indiscutíveis como pressupostos da decisão e só nessa medida. Exemplificando, assente que A é credor de R pela entrega de x, fica assente que o contrato, de que o credito se alegou resultar, existe e é eficaz, só na medida necessária para assegurar uma causa concreta ( que não a sentença, a qual não pode constituir fundamento válido de um direito material) à obrigação declarada. Se A pedir a condenação de R na entrega de Y, outra consequência do contrato, este é livremente

discutível na sua verificação e validade. Mas se R quiser fazer declarar a nulidade absoluta e total do contrato em causa, não pode: é indiscutível que ele é válido como fonte da obrigação judicialmente reconhecida.Suponhamos que C pede em juízo e obtém a condenação de D no pagamento de 10 contos que lhe deve por venda a credito de utensílios indispensáveis ao exercício da sua profissão. Transitada em julgado a condenação e movida a correspondente acção executiva, D não pode nesta pretender evitar a aplicação do art.º 823º/3 propondo-se a provar que a venda a crédito se não verificou, ou é nula e o crédito de A decorre não dela, mas de sentença injusta, não gozando portanto de regalia especial do preceito referido. Uma teoria restritiva pura admiti-lo-ia, dado que a tomada de posição no primeiro processo sobre a venda a credito é um mero fundamento da decisão - D deve a C 10 contos. Em nossa opinião, a venda a credito fica indiscutivelmente como fonte da obrigação e só nesta medida: ela basta, no entanto, para a aplicação do art.º 823º/3 dicar assegurada.Aceitar, como nos parece mais adequado, que a autoridade do caso julgado tem apenas por objecto a decisão propriamente dita, não significa necessariamente ter de se admitir que a relação jurídica tornada certa se desligue da sua causa. Admita-se que A demanda B pedindo que venha a ser reconhecido como proprietário de um determinado imóvel por o ter adquirido por compra e que o tribunal julga que A não é proprietário de x face ao contrato de compra e venda invocado, que é nulo. A afirmação “A não é proprietário” só é definitiva por referência à aludida nulidade.A tese restritiva revela-se mais conforme às opções legislativas. A preclusão dos meios de defesa do demandado e a impossibilidade de o autor invocar novas razoes susceptíveis de fundamentar a pretensão negada visam garantir a imodificabilidade das decisões que não é um fim em si mesmo, mas um meio para alcançar a segurança e certeza jurídica.A actividade jurisdicional é guiada por um propósito, pôr termo às situações de incerteza, definindo quais os interesses merecedores de tutela. Não pode porém o tribunal regular interesses que não sejam aqueles que as partes expressa e intencionalmente levam à sua apreciação (art.º 3º/1). Ao tribunal cabe dar cumprimento ao dever de agir, imposto ao Estado no interesse dos requerentes.As teses amplexivas, atentas à possibilidade de decisões contraditórias, acabam por permitir que decisões tomadas tendo em vista os pedidos de tutela jurisdicional das partes e a definição dos interesses que impulsionaram àquelas a requerer a mesma, venham a ser consideradas como inatacáveis.A limitação da eficácia do caso julgado à parte decisória da sentença é um corolário do principio do dispositivo. É a luz destas considerações que se deve interpretar o art.º 91º/2. Cremos resultar claro do art.º 91º que o caso julgado tem apenas por objecto, e em regra, a parte injuntiva da sentença.Os limites subjectivos do caso julgado: a definição dos limites subjectivos do caso julgado passa por responder à questão de saber quais os sujeitos atingidos pela sua eficácia.A aceitação pela doutrina e jurisprudência da eficácia ultra partes (ou seja de que o principio da relatividade do caso julgado não tem valor absoluto) assenta, essencialmente, na distinção entre eficácia directa e eficácia reflexa ou indirecta, bem como na distinção entre excepção do caso julgado e autoridade do caso julgado.

É recorrente fazer apelo à distinção, utilizada por Alberto dos Reis, entre terceiros juridicamente interessados e os terceiros juridicamente indiferentes, consoante a susceptibilidade de o caso julgado poder causar aos mesmos um prejuízo de natureza jurídica. Estes últimos ficaria sujeitos à eficácia reflexa do caso julgado, quanto aos primeiros, importaria distinguir os titulares de relações jurídicas independentes e incompatíveis e os terceiros titulares de relações jurídicas concorrentes, paralelas e dependentes.Relativamente aos terceiros sujeitos de uma relação independente e incompatível, Alberto dos Reis destaca a impossibilidade de os mesmos sofrerem a acção reflexa do caso julgado. Quanto aos terceiros sujeitos de relações jurídicas paralelas, a sentença só constituiria caso julgado face aos mesmos, se estes assumissem a posição de parte, o que poderia resultar da sua intervenção no processo ou do facto de terem sido colocados em condições de o poderem fazer. Relativamente aos titulares das relações jurídicas concorrentes, o caso julgado apenas se poderia repercutir na sua esfera jurídica nos casos, tidos como excepcionais, em que a lei dispensasse o concurso de todos os interessados como requisito necessário à apreciação do mérito. Por último, quanto aos titulares de relações dependentes, admite-se a eficácia reflexa sempre que seja logicamente inevitável a repercussão.Alberto dos Reis rejeitou o entendimento jurisprudencial que distinguia a excepção do caso julgado da autoridade do caso julgado, destacando ao invés a função positiva e a função negativa do caso julgado. A primeira verificar-se-ia quando o caso julgado faz valer a sua força e autoridade, de que seria expressão máxima a sua exequibilidade , a segunda quando obsta a nova apreciação do mérito da causa.Em sentido diverso, Teixeira de Sousa distingue a autoridade da excepção do caso julgado, e a eficácia reflexa da extensão do caso julgado a terceiros. No primeiro caso, esta eficácia significaria que aquilo que ficou definido entre os legítimos contraditores deve ser aceite por qualquer terceiro. Já a extensão do caso julgado caracterizar-se-ia pela vinculação de interessados (directos e indirectos) à constituição, modificação ou extinção de uma situação subjectiva própria. Nas situações de eficácia reflexa, sustenta-se existe uma eficácia erga omnes ou absoluta do definido entre todos os interessados directos. Na extensão do caso julgado o seu âmbito subjectivo não seria já absoluto, só valeria em relação a terceiros em cuja esfera jurídica operaria a constituição, modificação ou extinção de uma situação jurídica face ao definido pela sentença transitada. Pela excepção se alcança o efeito negativo da inadmissibilidade de segunda acção, ao passo que pela autoridade se alcança o efeito positivo de impor uma decisão como pressuposto indiscutível de uma segunda decisão de mérito.A jurisprudência não atribui um valor absoluto ao caso julgado ou ao principio da eficácia relativa, recorrendo essencialmente à tese da dupla função do caso julgado, a que fazem corresponder a qualificação polar : excepção do caso julgado vs. autoridade do caso julgado.Reconhecendo aquelas duas funções ao caso julgado, não é porém uniforme a jurisprudência quanto aos requisitos da sua verificação. Assim, enquanto alguns arestos dos tribunais superiores exigem a identidade de partes em qualquer uma das funções, outros, em maioria, dispensam tal requisito quanto à função positiva ou autoridade do caso julgado.

O entendimento largamente dominante é o da admissibilidade excepcional de uma eficácia reflexa ou ultra partes.Entenderam os tribunais ter eficácia indirecta ou reflexa, por exemplo: - As sentenças proferidas quanto à esfera patrimonial do devedor relativamente aos terceiros credores, bem como a todos os demais terceiros tidos como juridicamente indiferentes, ainda que interessados; - As sentenças de anulação ou declarativas da nulidade de negócios jurídicos, com a ressalva do disposto no art.º 291º CC.Entre outras, rejeitaram os nossos tribunais a eficácia reflexa do caso julgado: - Das sentenças que declaram a nulidade de um negocio jurídico de compra e venda em acção onde foi interveniente o titular de hipoteca registada sobre o imóvel, atento o regime do art.º 291º CC.Em regra identifica-se a eficácia indirecta do caso julgado com a imposição aos terceiros do definido pela sentença entre as partes e a eficácia directa com a constituição, modificação ou extinção de situações jurídicas.A eficácia preclusiva do caso julgado permite que os efeitos da sentença prevaleçam perante a afirmação de diferentes situações jurídicas conexas à por esta definida, mas assim só sucede verdadeiramente quanto aos sujeitos que se encontravam investidos no poder de obter uma sentença incompatível com a anteriormente transitada. O caso julgado ao fazer precludir o poder de alcançar a definição de uma dada situação jurídica só torna oponíveis os efeitos da sentença aos que se encontraram invertidos naquele mesmo poder. Quanto aos demais que se não encontram em tal posição substantiva, não cabe falar em oponibilidade dos efeitos da sentença, mas da autoridade da sentença enquanto ato emanado por um órgão de soberania.É esta autoridade que encontramos no art.º 205º/2 da CRP. A autoridade é uma qualidade da sentença, mas que se traduz na obrigatoriedade da sai aceitação enquanto definição de uma situação jurídica vinculante para os sujeitos abrangidos pela sua eficácia. Por exemplo: C não poderá ignorar ou contestar que A foi reconhecido como proprietário face a B, mas não fica impedido de obter uma sentença que o reconheça como proprietário. Opera a autoridade da sentença mas não o efeito preclusivo do caso julgado.Para apurar-se o efeito preclusivo opera face a quem não é parte, caberá apurar caso a caso se a vontade dos sujeitos das situações jurídicas afirmadas é susceptível de desencadear alterações na esfera jurídica de terceiros, ou se, não obstante a existência de uma relação de dependência, tal não ocorre. Sendo a resposta negativa, a sentença que declare a situação prejudicial não deve ter como oponível por força da eficácia preclusiva do caso julgado, a quem não foi destinatário de uma pretensão deduzida em juízo e, como tal, não foi investido na posição de parte. Sendo a resposta positiva, o principio do dispositivo permite aquela oponibilidade.Eficácia do caso julgado relativamente a terceiros: Atendendo à natureza dos interesses em causa, a lei estatui expressamente que em certas situações o caso julgado pode atingir terceiros. Assim sucede no caso de transmissão por acto entre vivos da coisa ou direito litigioso (263º/3); nas questões relativas ao estado das pessoas (622º); nas acções populares; nas situações de chamamento de terceiros a intervir como partes principais ou acessórias (320º; 323º/4 e 340º).A lei civil aceitou a solução do caso julgado de acordo com o sentido da decisão nas obrigações solidárias (522º e 531º CC), nas obrigações indivisíveis

(538º/2 CC), nas situações de fiança e hipoteca constituída por terceiro (635º/1 e 717º/2). As sentenças transitadas em julgado cujo conteúdo seja favorável aos terceiros aproveita a estes, mas contra os mesmos não são oponíveis os efeitos de uma sentença desfavorável.Transmissão, por acto entre vivos, da coisa ou direito litigioso: a parte transmitente continua a ter legitimidade para a causa, enquanto o adquirente não for admitido a substitui-lo (263º/1), e a sentença produzirá efeitos em relação ao adquirente, ainda que este não intervenha no processo, a menos que a acção esteja sujeita a registo e este não ocorra antes do registo do facto aquisitivo (263º/3).O adquirente deve ser tido como terceiro, porque mantem-se a legitimidade do transmitente.O efeito do caso julgado traduzir-se-á na preclusão do poder do adquirente obter uma declaração jurisdicional que torne certa uma situação jurídica, susceptível de retirar eficácia prática à situação jurídica afirmada pelo transmitente e judicialmente reconhecida. Não está em causa a mera autoridade da sentença face a terceiros, mas uma situação excepcional em que o efeito preclusivo atinge um terceiro.O âmbito de vinculação ao caso julgado do transmitente enquanto parte que é, não se distingue do âmbito de vinculação do adquirente. Ambos vêem precludir a possibilidade de no futuro colocar em causa a situação jurídica definida pela sentença.Acções sobre o estado das pessoas: preceitua o art.º 622º que o caso julgado produz efeitos mesmo em relação a terceiros nas acções propostas contra todos os interessados directos em que tenha havido oposição.Assim, nas acções de divorcio ou separação de pessoas e bens, de declaração de nulidade ou anulação do casamento, de impugnação, reconhecimento ou negação de paternidade ou maternidade, de insolvência, de interdição, a eficácia do caso julgado não atinge apenas as próprias partes, mas também terceiros, desde que: - A acção seja intentada contra todos os interessados directos (1819º e 1837º CC; 1846º CC). - Tenha havido oposição de algum dos réus.Os interessados directos a que alude o 622º hão-de coincidir com os interessados directos em contradizer a que se refere o art. 30º.Interessados directos são, certamente, o outro cônjuge, o pretenso pai ou, falecido o mesmo, o cônjuge sobrevivo e também, sucessivamente, os descendentes, ascendentes ou irmãos (1873º e 1819º CC).Interessados indirectos serão, certamente, os sujeitos titulares de relações jurídicas conexas com a situação controvertida, como sucederá com os credores do cônjuge, por exemplo.

SUMÁRIOContestação (art. 572º):•ónus de impugnação de factos essenciais (art. 574º.1 e 2)•alegação dos factos essenciais em que se baseiam as excepções (572º.c) (art. 5º.1)•cominação para a não especificação das excepções (art. 572º.c)•contra crédito – reconvenção (art. 266º.2.c)

•requerimento probatório (572º.d)

Réplica•admitida em dois casos (art. 584º):-pedido reconvencional-acções de simples apreciação negativa•não há articulado para responder a excepções

Despacho pré-saneador (art. 590º):•suprimento de excepções dilatórias (nº 2.a)•suprimento de irregularidades dos articulados (nº 3)•aperfeiçoamento fáctico dos articulados (nº 4)•junção de documentos para permitir decisão no despacho saneador (nº 2.c)•carácter vinculado do despacho

Audiência prévia - finalidades (art. 591º):•realizar tentativa de conciliação•facultar discussão sobre questões a decidir no despacho saneador•discutir posições das partes e suprir insuficiências ou imprecisões•proferir despacho saneador•determinar adequação formal, simplificação ou agilização processual•proferir despacho a identificar o objecto do litígio e a enunciar os temas da prova•programar e agendar a audiência finalAudiência prévia - regime:•obrigatoriedade (591º)•não realização (592º)•dispensa pelo juiz (593º.1)•audiência potestativa (593º.3)

Despacho saneador (art. 595º):•conhecimento de excepções dilatórias (nº 1.a)•conhecimento imediato do mérito (pedidos formulados ou excepções peremptórias) (nº 1.b)

Identificação do objecto do litígio e enunciação dos temas da prova (art. 596º):•superação de um regime com mais de 70 anos, sem paralelo em sistemas conhecidos•fim da quesitação sincopada e atomística de pontos de facto•eliminação do velho art. 633º•instrução sem barreiras artificiais, delimitada apenas pela causa de pedir e pelas excepções deduzidas•assegurar correspondência entre o quadro fáctico do processo e a realidade histórica revelada nos autos

Regime nas acções de valor não superior a metade da alçada da Relação (art. 597º):•contraditório•audiência prévia•despacho saneador

•adequação formal, simplificação ou agilização processual•despacho a identificar o objecto do litígio e a enunciar os temas da prova•programação e agendamento da audiência final•designação de dia para a audiência final

Alteração do requerimento probatório (art. 598.1):•na audiência prévia convocada pelo juiz (art. 591º)•na audiência prévia potestativa (593º.3)•regime das acções de valor não superior a metade da alçada da Relação (art. 597º)

Aditamento ou alteração ao rol de testemunhas:•até vinte dias antes da audiência final (598º.2 e 3)

Prova por documentos (art. 423º)•apresentação com os articulados (nº 1)•até 20 dias antes da audiência final (nº 2)•depois desse momento (nº 3)

Prova por confissão / depoimento de parte (arts. 452º e ss.)

Prova por declarações de parte (art. 466º)

Verificações não judiciais qualificadas (art. 494º)

Prova testemunhal (arts. 495.º e ss.)•apenas são notificadas a requerimento (art. 507º.2)•10 por cada parte (art. 511º.1)•limite reduzido a metade em acções de valor não superior à alçada 1.ª instância•além do limite (art. 511º. 4) (630º.2)•diferença entre o nº 1 e o nº 2 do art. 598º•regime do depoimento (art. 516º)

Audiência final (arts. 599º e ss.):•gravação sempre (art. 155º)•juiz singular: tramitação, audiências, sentença (arts. 599º e 605º)•inadiabilidade (art. 603º)•suspensão da instância não interfere com realização da audiência (272º.4)•actos a praticar na audiência (art. 604º.3)•alegações de facto e direito em simultâneo (art. 604º.3.e)

Sentença (art. 607º)•prazo: 30 dias•reabertura da audiência para diligências suplementares•identificação das partes e do objecto do litígio•decisão de facto e de direito em simultâneoFundamentos de facto na sentença (art. 607º.4)•declaração dos factos julgados provados e dos factos julgados não provados

•análise crítica das provas, indicando-se as ilações tiradas dos factos instrumentais e especificando-se os demais fundamentos que foram decisivos para a convicção do juiz•consideração dos factos que estão admitidos por acordo, provados por documentos ou por confissão reduzida a escrito•compatibilização de toda a matéria de facto adquirida•extrair dos factos apurados as presunções impostas pela lei ou por regras da experiência