resumo responsabilidade civil

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MÓDULO III – RESPONSABILIDADE CIVIL (ART. 927 A 954) TEORIA GERAL DA RESPONSABILIDADE CIVIL O DISPOSIÇÕES GERAIS CONCEITO 1 : a responsabilidade civil está ligada à conduta que provoca dano às outras pessoas. Trata-se de um dever de indenizar aquele que sofreu alguma espécie de dano. Constitui um dever sucessivo 2 3 , resultante da violação de um dever de cuidado. 4 NATUREZA JURÍDICA: a natureza jurídica da responsabilidade civil sempre será sancionadora, independentemente de se materializar como pena, indenização ou compensação pecuniária. Entende-se por sanção a medida legal que poderá ser imposta por quem foi lesado pela violação da norma jurídica, a fim de fazer cumprir a norma violada, de fazer reparar o dano causado ou de infundir respeito à ordem jurídica. A sanção é conseqüência jurídica que o não cumprimento de um dever produz em relação ao obrigado. A responsabilidade civil constitui uma sanção civil, por decorrer de infração de norma de direito privado, cujo objetivo é o interesse particular, e, em sua natureza, é compensatória, por abranger indenização ou reparação de dano causado por ato ilícito, contratual ou extracontratual e por ato lícito. OBS.: qual a diferença entre ilícito penal e ilícito civil? Durante anos a doutrina se digladiou tentando cunhar a diferença entre ilícito civil e ilícito penal. Na linha de pensamento de alguns autores, como Miguel Fenech e Aguiar Dias, podemos concluir que a diferença está basicamente na carga sancionatória estatal e na tipicidade exigida para a responsabilidade penal. CONSIDERAÇÕES INICIAIS SOBRE AS ESPÉCIES DE RESPONSABILIDADE CIVIL: a responsabilidade civil, enquanto fenômeno jurídico da convivência conflituosa do homem em sociedade é, na sua essência, um conceito uno, incindível. Entretanto, em função de algumas peculiaridades dogmáticas, faz-se mister estabelecer uma classificação sistemática, tomando por base justamente a questão da culpa (responsabilidade objetiva ou subjetiva) e, depois disso, a natureza da norma jurídica violada (responsabilidade civil contratual ou aquiliana). FUNÇÃO DA REPARAÇÃO: três funções podem ser facilmente visualizadas no instituto da reparação civil: COMPENSATÓRIA DO DANO À VÍTIMA (retornar as coisas ao statu quo ante princípio da restitutio in integrum ); PUNITIVA DO OFENSOR (ausência de cautela na prática de seus atos); DESMOTIVAÇÃO SOCIAL DA CONDUTA LESIVA (cunho socioeducativo) 1 Sérgio Cavalieri Filho “[...] responsabilidade civil é dever jurídico sucessivo que surge para recompor um dano decorrente de violação de um dever jurídico originário [...]” (2007, p. 02). 2 Quando um dever jurídico é violado, configura-se um ilícito que, na maioria das vezes, ocasiona um dano a outrem, surgindo, pois, um dever de indenizar. Esse dever jurídico originário, também pode ser chamado de obrigação, sendo que, a violação desse dever, ocasionará uma responsabilidade, ou seja, um dever jurídico sucessivo. 3 O dever jurídico originário (OBRIGAÇÃO), corresponde a um direito absoluto (p. exemplo. respeito a integridade física), para aquele que descumprir esse dever surgirá um outro dever jurídico: o da reparação do dano (Dever sucessivo - RESPONSABILIDADE). Em síntese a responsabilidade civil é um dever jurídico sucessivo que surge para racompor o dano decorrente da violação de um dever jurídico originário. 4 A palavra “responsabilidade” origina-se do latim, “re-spondere”, que consiste na idéia de segurança ou garantia da restituição ou compensação.

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Resumo de DIreito Civil III. Responsabilidade Civil. Responsabilidade civil transportador.

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MÓDULO III – RESPONSABILIDADE CIVIL (ART. 927 A 954) TEORIA GERAL DA RESPONSABILIDADE CIVIL

O DISPOSIÇÕES GERAIS CONCEITO1: a responsabilidade civil está ligada à conduta que provoca dano às outras

pessoas. Trata-se de um dever de indenizar aquele que sofreu alguma espécie de dano. Constitui um dever sucessivo2 3, resultante da violação de um dever de cuidado.4

NATUREZA JURÍDICA: a natureza jurídica da responsabilidade civil sempre será

sancionadora, independentemente de se materializar como pena, indenização ou compensação pecuniária. Entende-se por sanção a medida legal que poderá ser imposta por quem foi lesado pela violação da norma jurídica, a fim de fazer cumprir a norma violada, de fazer reparar o dano causado ou de infundir respeito à ordem jurídica. A sanção é conseqüência jurídica que o não cumprimento de um dever produz em relação ao obrigado. A responsabilidade civil constitui uma sanção civil, por decorrer de infração de norma de direito privado, cujo objetivo é o interesse particular, e, em sua natureza, é compensatória, por abranger indenização ou reparação de dano causado por ato ilícito, contratual ou extracontratual e por ato lícito.

OBS.: qual a diferença entre ilícito penal e ilícito civil? Durante anos a doutrina se digladiou

tentando cunhar a diferença entre ilícito civil e ilícito penal. Na linha de pensamento de alguns autores, como Miguel Fenech e Aguiar Dias, podemos concluir que a diferença está basicamente na carga sancionatória estatal e na tipicidade exigida para a responsabilidade penal.

CONSIDERAÇÕES INICIAIS SOBRE AS ESPÉCIES DE RESPONSABILIDADE CIVIL: a

responsabilidade civil, enquanto fenômeno jurídico da convivência conflituosa do homem em sociedade é, na sua essência, um conceito uno, incindível. Entretanto, em função de algumas peculiaridades dogmáticas, faz-se mister estabelecer uma classificação sistemática, tomando por base justamente a questão da culpa (responsabilidade objetiva ou subjetiva) e, depois disso, a natureza da norma jurídica violada (responsabilidade civil contratual ou aquiliana).

FUNÇÃO DA REPARAÇÃO: três funções podem ser facilmente visualizadas no instituto da

reparação civil: COMPENSATÓRIA DO DANO À VÍTIMA (retornar as coisas ao statu quo ante – princípio da restitutio in integrum); PUNITIVA DO OFENSOR (ausência de cautela na prática de seus atos); DESMOTIVAÇÃO SOCIAL DA CONDUTA LESIVA (cunho socioeducativo)

1 Sérgio Cavalieri Filho “[...] responsabilidade civil é dever jurídico sucessivo que surge para recompor um dano decorrente de violação de um dever jurídico originário [...]” (2007, p. 02). 2 Quando um dever jurídico é violado, configura-se um ilícito que, na maioria das vezes, ocasiona um dano a

outrem, surgindo, pois, um dever de indenizar. Esse dever jurídico originário, também pode ser chamado de obrigação, sendo que, a violação desse dever, ocasionará uma responsabilidade, ou seja, um dever jurídico sucessivo. 3 O dever jurídico originário (OBRIGAÇÃO), corresponde a um direito absoluto (p. exemplo. respeito a integridade física), para aquele que descumprir esse dever surgirá um outro dever jurídico: o da reparação do dano (Dever sucessivo - RESPONSABILIDADE). Em síntese a responsabilidade civil é um dever jurídico sucessivo que surge para racompor o dano decorrente da violação de um dever jurídico originário. 4 A palavra “responsabilidade” origina-se do latim, “re-spondere”, que consiste na idéia de segurança ou garantia da restituição ou compensação.

EFETIVIDADE DOS ARTS. 1, INCISO III E 3, INCISOS I E III DA CRFB NAS RELAÇÕES JURÍDICAS PRIVADAS: o direito civil clássico era caracterizado pela máxima do patrimonialismo, já o direito civil constitucional é fundamentado na dignidade da pessoa humana, fase personalíssima. Nessa nova fase os princípios da dignidade da pessoa humana e o da solidariedade social ganham efetividade normativa. (só legitima Recurso Extraordinário se contrariar pontos positivados especificamente na CF/88)

ESPECIFICIDADES DA RESPONSABILIDADE CIVIL CONSTITUCIONAL: constituinte

originário positivou temas de responsabilidade civil, por exemplo: o dano moral; responsabilidade civil do Estado; erro judiciário; o dano nuclear, ambiental e nas relações de consumo.

Como bem afirma Fernando Noronha, a divisão da responsabilidade civil em extracontratual e contratual reflete “um tempo do passado”, uma vez que os princípios e regramentos básicos que regem as duas supostas modalidades de responsabilidade civil são exatamente os mesmos. Em síntese, em ambas há a violação de uma norma e a reparação dos danos causados que se impõe. RESPONSABILIDADE CIVIL CONTRATUAL OU NEGOCIAL (ATO ILÍCITO RELATIVO –

INADIMPLEMENTO): nos casos de inadimplemento de uma obrigação, o que está fundado nos artigos 389, 390 e 391 do atual Código Civil. O art. 389 trata do descumprimento da obrigação positiva (dar e fazer). O art. 391 consagra o princípio da responsabilidade patrimonial, prevendo que pelo inadimplemento de uma obrigação responde todos os bens do devedor. Repise-se, mais uma vez, que apesar da literalidade do último comando, deve ser feita a ressalva de que alguns bens estão protegidos pela impenhorabilidade, caso daqueles descritos no art. 649 do CPC. Cite-se o exemplo contemporâneo do bem de família, inclusive de pessoa solteira (Súmula 354 do STJ) -- > obs. “CLÁUSULA DE NÃO INDENIZAR5” – essa cláusula somente tem cabimento na responsabilidade civil contratual (envolvendo contratos civis, paritários – aqueles que não são de adesão -, que não sejam de transporte ou de guarda. Ilustre-se com uma compra e venda civil, com conteúdo plenamente discutido pelas partes). Trata-se, pois, de convenção por meio da qual as partes excluem o dever de indenizar, em caso de inadimplemento da obrigação. Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona entendem que essa cláusula só deve ser admitida quando as partes envolvidas guardarem entre si uma relação de igualdade, de forma que a exclusão do direito à reparação não traduza renúncia da parte economicamente mais fraca. -- > O CDC, em seu art. 25, veda cláusula que impossibilite, exonere ou atenue a responsabilidade civil do fornecedor. E o motivo é simples: a vulnerabilidade do consumidor aconselha a intervenção estatal no domínio da autonomia privada, para considerar abusiva a cláusula que beneficie a parte economicamente mais forte. Principalmente em se tratando de contratos de adesão, em que a manifestação livre de vontade do aderente é mais reprimida. -- > A Súmula 161 do STF veda expressamente essa cláusula nos contratos de transporte: “Em contrato de transporte é inoperante a cláusula de não indenizar”. -- > A cláusula de não indenizar não tem validade e eficácia nos contratos de guarda em geral em que a segurança é buscada pelo contratante, constituindo a causa contratual. Cite-se de início, o contrato de depósito em cofre de banco, sendo a cláusula nula em casos tais (ver tratado de depósito de bem empenhado: STJ, REsp 1133111/PR, Rel. Min. Sidnei Beneti, 3 T, , 2009). Ainda ilustrando, no contrato de estacionamento, é nula a cláusula de irresponsabilidade, simbolizada por uma placa no local com os dizeres: “O Estacionamento não responde pelos objetos deixados no

5 Também denominada cláusula de irresponsabilidade ou cláusula de não indenizar.

interior do veículo”. Há muito tempo o STJ já sumulou que “A empresa responde perante o cliente pela reparação de dano ou furto de veículo ocorridos em seu estacionamento” (Súmula 130). -- > A jurisprudência do STJ aceita essa cláusula no caso, por exemplo, de furto de veículo dentro de um condomínio (STJ, REsp 168346/SP, Rel. Min. Waldemar Zveiter, 1999).

RESPONSABILIDADE CIVIL EXTRACONTRATUAL OU AQUILIANA (ATO ILÍCITO ABSOLUTO)6: está baseada no ato ilícito (art. 186) e no abuso de direito (art. 187). O artigo 186 fundamenta a responsabilidade extracontratual quando dispõe que toda pessoa que causar prejuízo a outrem ficará obrigada a indenizar. Impõe a todos, o dever legal de não lesar outrem. (princípio do NEMINEM LAEDERE)

A despeito de o CC não conter tipos especiais como no Direito Penal, consagrou, todavia, um sistema normativo de responsabilidade calcado em três artigos fundamentais:

Art. 186, CC Art. 187, CC Art. 927, CC O art. 186 do CC, pois ao definir o ato ilícito, consagra uma regra geral de responsabilidade civil complementada pelos artigos 187 (que define o abuso de direito) e 927 do CC. Em verdade, tal sistema visa a coibir comportamentos danosos em atenção ao princípio do NEMINEM LAEDERE (segundo o qual a ninguém é dado causar prejuízo a outrem). Obs.: fica no topo, pois define o ato ilícito. Não se trata de questão de hierarquia.

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária (dolosa), negligência ou imprudência (culposa), violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

Este dispositivo consagra uma ilicitude subjetiva ou objetiva? Subjetiva (dolo e culpa). Contudo, além do art. 186 do CC, que firma o sistema de ilicitude subjetiva, integram também o sistema jurídico de responsabilidade civil extracontratual artigos que consagram formas de ilicitude objetiva (arts. 187 e 927 do CC).

Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.

Em nenhum momento, o artigo supramencionado, ao definir abuso de direito citou dolo ou culpa, o dispositivo consagrou a chamada ilicitude objetiva, tendo em vista que para a aferição do abuso, não se analisa culpa ou dolo, senão a própria finalidade do agente (se ultrapassou ou não os limites ditados pelo fim social ou econômico, pela boa-fé ou bons costumes).

i. Enunciado 37 da I Jornada de Direito Civil promovida pelo CJF: “art. 187. A responsabilidade civil decorrente do abuso do direito independe de culpa e fundamenta-se somente no critério objetivo-finalístico”.

6 A expressão “responsabilidade aquiliana” tomou da Lei Aquília (Lex Aquilia) o seu nome característico, pois nela é que se esboça o princípio geral regulador da reparação do dano.

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.

Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.

i. Enunciado 38 – Art. 927: a responsabilidade fundada no risco da atividade, como prevista na segunda parte do parágrafo único do art. 927 do novo Código Civil, configura-se quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano causar a pessoa determinada um ônus maior do que aos demais membros da coletividade.

O nosso sistema de responsabilidade, pois, é montado com base nesse tripé.

O ELEMENTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL Não há unanimidade doutrinária em relação a quais são os elementos estruturais da

responsabilidade civil ou pressupostos do dever de indenizar.

Há doutrinadores que entendem ser a culpa em sentido amplo ou genérico é um dos elementos essenciais da responsabilidade civil (entendem dessa forma os doutrinadores: Sílvio da S. Venosa, Carlos Roberto Gonçalves e Flávio Tartuce). Entretanto, prevalece o entendimento de ser culpa genérica um elemento acidental da responsabilidade civil, como é o caso de Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho (e também Maria Helena Diniz e Sérgio Cavalieri Filho), que apresentam somente três elementos para o dever de indenizar: a) a conduta humana (positiva ou negativa), b) dano ou prejuízo e c) nexo de causalidade. a) conduta humana c) nexo de causalidade d) dano ou prejuízo OBS.: a CULPA, base da responsabilidade do CC da França (arts 1.382 e 1.383 e também do CC/16, não é um elemento obrigatório da responsabilidade civil uma vez que existe responsabilidade civil sem análise da culpa. Passa-se, separadamente, ao estudo de tais elementos da responsabilidade civil ou pressupostos do dever de indenizar.

CONDUTA HUMANA Apenas o homem, por si ou por meio das pessoas jurídicas que forma, poderá ser civilmente

responsabilizado por suas condutas. O núcleo fundamental da noção de conduta humana é a voluntariedade, que resulta

exatamente da liberdade de escolha do agente imputável, com discernimento necessário para ter consciência daquilo que faz. Em outras palavras, a voluntariedade, que é pedra de toque da noção de conduta humana ou ação voluntária, primeiro elemento da responsabilidade civil, não traduz necessariamente a intenção de causar o dano, mas sim, e

tão somente, a consciência daquilo que se está fazendo. E tal ocorre não apenas quando estamos diante de uma situação de responsabilidade subjetiva (calcada na noção de culpa), mas também de responsabilidade objetiva (calcada na idéia de risco), porque em ambas as hipóteses o agente causador do dano deve agir voluntariamente, ou seja, de acordo com a sua livre capacidade de autodeterminação. Nessa consciência, entenda-se o conhecimento dos atos materiais que se está praticando, não se exigindo, necessariamente, a consciência subjetiva da ilicitude do ato.

ATO ILÍCITO: o ato ilícito é a conduta contrária ao ordenamento jurídico, sendo seus

elementos a antijuridicidade e a imputabilidade. Segundo Venosa, o ato ilícito traduz-se em um comportamento voluntário que transgride um dever. Pablo Stolze prefere utilizar o primeiro elemento como conduta humana e não o ato ilícito, pois na sua visão a ilicitude não acompanha necessariamente a ação humana danosa ensejadora da reponsabilização. A antijuridicidade nada mais é do que o elemento objetivo do ato ilícito. É uma ação ou omissão que ofende a norma. Já a imputabilidade é o elemento subjetivo (discernimento = maturidade + sanidade).

i. O ato ilícito pode ser civil, penal ou administrativo, sendo certo que o

primeiro interessa ao presente trabalho. Entretanto, é fundamental apontar que há casos em que a conduta ofende a sociedade (ilícito penal) e o particular (ilícito civil), acarretando dupla responsabilidade. Exemplificamos com um acidente de trânsito, situação em que pode haver um crime, bem como o dever de indenizar. Porém, não se pode esquecer a regra prevista no art. 935 do CC, segundo a qual a responsabilidade civil independe da criminal, regra geral. Sem prejuízo dessas situações, às vezes, a responsabilidade pode ser tripla, abrangendo também a esfera administrativa, como no caso de uma conduta que causa danos ao meio ambiente, sendo-lhe aplicadas as sanções administrativas, civis e criminais previstas nas Leis 6938/81 e 9605/98. Pois bem, pode-se afirmar que o ato ilícito é a conduta humana que fere direitos subjetivos privados, a alguém.

ABUSO DE DIREITO (TEORIA DO ABUSO DE DIREITO OU DOS ATOS EMULATIVOS): o

abuso de direito ou exercício irregular do direito, é o uso de um direito, poder ou coisa além do permitido ou extrapolando as limitações jurídicas, lesando alguém, traz como efeito o dever de indenizar. Realmente, sob a aparência de um ato legal ou licito, esconde-se a ilicitude (ou melhor, antijuridicidade sui generis) no resultado, por atentado ao princípio da boa-fé e aos bons costumes ou por desvio da finalidade econômica ou social. A "ilicitude" do ato praticado com abuso de direito possui, segundo alguns autores e dados jurisprudenciais, tem natureza objetiva, aferível, independentemente de culpa e dolo.

No abuso de direito não há violação formal da norma, mas violação material dos limites éticos do ordenamento jurídico. Não existe ilegalidade, mas sim ilegitimidade. (Nem tudo que não é proibido é permitido, pois no limite do permitido e proibido está o abusivo, e o abusivo tão ilícito como o proibido).

O ato abusivo é uma conduta lícita, mas desconforme ora à finalidade socioeconômica pretendida pela norma ao prescrever uma situação ou um direito ora ao princípio da boa-fé objetiva. Ou seja, em outras palavras, o abuso de direito para sua configuração requer uma valoração axiológica do exercício de um direito subjetivo, tendo por base os valores contidos na Constituição Federal. O art. 187, ao definir o abuso de direito como ato ilícito, deve ser, como dizem Gustavo Tepedino, Heloísa Helena Barboza e Maria Celina Bodin de Moraes, "interpretado como uma referência a uma ilicitude lato sensu, no sentido de contrariedade ao

direito como um todo, e não como uma identificação entre a etiologia do ato ilícito e a do ato abusivo, que são claramente diversa."

i. Na verdade, parece-nos que caem na órbita do abuso de direito,

ensejando, obviamente a responsabilidade civil: a) os atos emulativos: que são praticados dolosamente pelo agente, no exercício normal de um direito, em regra, o de propriedade, isto é, com a firme intenção da causar dano a outrem e não de satisfazer uma necessidade ou interesse do seu titular (art. 1228, parágrafo 2) p. ex: se um proprietário constrói em sua casa uma chaminé falsa com o único objetivo de retirar luz do seu vizinho (art. 1277); b) os atos ofensivos aos bons costumes ou contrários à boa-fé, apesar de praticados no exercício normal de um direito, constituem abuso de direito, p. ex: se o credor, após haver cedido seu crédito, tendo ciência de que o cessionário não notificou o devedor do fato, interpela este e obtém o pagamento do débito; c) os atos praticados em desacordo com o fim social ou econômico do direito subjetivo: como o direito deve ser usado de forma que atenda ao interesse coletivo, logo haverá ato abusivo, revestido de ilicidade, de seu titular se ele o utilizar em desacordo com sua finalidade social. Assim, se alguém exercer direito, praticando-o com uma finalidade contrária a seu objetivo econômico ou social, estará agindo abusivamente.

Exemplos:

Direito do Consumidor. A publicidade abusiva como abuso de direito. (ofensa ao art. 37, § 2, do CDC – comercial de TV que induzia as crianças destruírem seus tênis da marca A, para que seus pais dessem outro tênis da marca A – isso se caracteriza como um mau costume – o MP de São Paulo ajuizou uma ação civil publica)

Direito do Trabalho. A greve abusiva e o abuso de direito do empregador. O

exemplo típico de caracterização do abuso de direito na área trabalhista ocorre no caso de abuso na grave, conforme o art. 9, § 2, da CF/88. sobre o tema, pronunciou-se o STF:

“O direito à greve não é absoluto, devendo a categoria observar os parâmetros legais de regência. Descabe falar em transgressão à Carta da República quando o indeferimento da garantia de emprego decorre do fato de se haver enquadrado a greve como ilegal” (STF, RE 184.083, Rel. Min. Marco Aurélio, DJ 18.05.2001).

Direito Civil. Direito das Coisas. Abuso no exercício da propriedade.

“O direito de propriedade não se reveste de caráter absoluto, eis que, sobre ele, pesa grave hipoteca social, a significar que, descumprida a função social que lhe é inerente (CF, art. 5, XXIII), legitimar-se-á a intervenção estatal na esfera dominial privada, observados, contudo, para esse efeito, os limites, as formas e os procedimentos fixados na própria Constituição da República. O acesso à terra, a solução dos conflitos sociais, o aproveitamento racional e adequado do imóvel rural, a utilização apropriada dos recursos naturais disponíveis e a preservação do meio ambiente constituem elementos de realização da função social da propriedade” (STF, ADIn 2.213-MC, Rel. Min. Celso de Mello, DJ 23.04.2004).

CONDUTA HUMANA E A ILICITUDE (ANTIJURIDICIDADE): Pablo Stolze e Rodolfo

Pamplona levando em conta o rigor técnico e divergindo de Silvio de Salvo Venosa que adota a nomenclatura ato ilícito, os autores preferem tratar o primeiro elemento da responsabilidade civil como conduta humana. Devido a conduta ilícita não ser elemento da responsabilidade civil. Isso porque pode haver responsabilidade civil de ato lícito (consoante alguns autores, tais como: Garcez Neto, Windscheid e Paulo Lobo), muito embora na

maioria das situações haja conduta ilícita. Assim, pode haver por EXCEÇÃO, responsabilidade civil decorrente de ato lícito.

Exemplos:

Desapropriação; Passagem forçada do Direito de Vizinhança, na qual se deve indenizar o proprietário que

sofre a passagem (atenção: a servidão é um direito constituído; a passagem é um direito que a lei concede ao proprietário que tem sua propriedade encravada).

ESPÉCIES DE ATO ILÍCITOS – CONSEQUÊNCIAS: a) Indenizatório: diante de um dano, haverá indenização. Ex: aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito; b) Invalidante: proporciona a anulação do ato praticado de forma ilícita. Ex: anulado o negócio jurídico, restituir-se-ão as partes ao estado em que antes dele se achavam, e, não sendo possível restituí-las, serão indenizadas com o equivalente; c) Caducificante: aqui ocorre perda do direito. Ex: perderá por ato judicial o poder familiar o pai ou a mãe que: castigar imoderadamente o filho; deixar o filho em abandono; praticar atos contrários à moral e aos bons costumes; d) Autorizante: a lei autoriza pedidos diante da prática de um ato ilícito. Ex: a parte lesada pelo inadimplemento pode pedir a resolução do contrato, se não preferir exigir-lhe o cumprimento, cabendo, em qualquer dos casos, indenização por perdas e danos (art. 475 do CC). CLASSIFICAÇÃO DA CONDUTA HUMANA: a depender da forma pela qual a ação humana

voluntária se manifesta, poderemos classificá-la em:

a) POSITIVA (AÇÃO): que se traduz pela prática de um comportamento ativo (ex: sujeito que, embriagado, arremessa o seu veículo contra o muro do vizinho) b) NEGATIVA (OMISSÃO): trata-se da atuação omissiva (não fazer, abstenção), geradora de dano (ex: enfermeira que, violando as suas regras de profissão e o próprio contrato de prestação de serviços que celebrou, deixa de ministrar os medicamentos ao seu patrão, por dolo ou culpa). A jurisprudência nacional tem entendido, em regra, não responde pelo roubo ou furto do veículo no seu interior, uma vez que não há por parte deste, ou de seus prepostos, o dever legal de impedir o ilícito. Nesse sentido:

“Indenização. Responsabilidade civil. Furto de veículo em condomínio, quando guardado na garagem do condomínio. Falta de prova de que o condomínio, com rateio correspondente, matem serviço específico de guarda e vigilância. Improcedência. Recurso provido” (TJSP, Apelação Cível 228.722-1, São Paulo, 2 Câmara Civil, Rel. J. Roberto Bedran, 26.09.1995, v.u.

O Código Civil, além de disciplinar a responsabilidade civil por ato próprio, reconhece

também espécies de responsabilidade civil indireta, por ato de terceiro (art. 932) ou por fato do animal (art. 936) e da coisa (art.s 937 e 938).

NEXO DE CAUSALIDADE

CONCEITO: trata-se, do elo que liga o dano ao seu fato gerador. É diferente do nexo de

imputação, que liga a conduta ao agente.

i. A responsabilidade civil, mesmo objetiva, não pode existir sem a relação de causalidade entre o dano e a conduta do agente. Se houver dano sem que a sua causa esteja relacionada com o comportamento do suposto ofensor, inexiste a relação de causalidade, não havendo a obrigação de indenizar. Fundamental, para tanto, conceber a seguinte relação lógica:

Na responsabilidade subjetiva o nexo de causalidade é formado pela culpa

genérica ou lato sensu, que inclui o dolo e a culpa estrita (art. 186 do CC).

Na responsabilidade objetiva o nexo de causalidade é formado pela conduta, cumulada com a previsão legal de responsabilização sem culpa ou pela atividade de risco (art. 927, parágrafo único, do CC).

TEORIAS EXPLICATIVAS DO NEXO CAUSAL:

A. Teoria da equivalência de condições (“confitio sine qua non”): teoria desenvolvida por um jurista e filósofo alemão Von Buri. Para esta teoria, todo e qualquer antecedente fático que concorra para o resultado é causa. Contudo, por meio de tal teoria o intérprete pode ser levado a uma espiral infinita. Ex: crime VS chegar a Adão e Eva.

i. Nas palavras de Gustavo Tepedino, “a inconveniência desta teoria, logo

apontada, está na desmesurada ampliação, em infinita espiral de concausas, do dever de reparar, imputando a um sem-número de agente. Afirmou-se, com fina ironia, que a fórmula tenderia a tornar cada homem responsável por todos os males que atingem a humanidade”.

Nessa linha, se o agente saca a arma e dispara o projétil, matando o seu desafeto, seria considerado causa, não apenas o disparo, mas também a compra da arma, a sua fabricação, a aquisição do ferro e da pólvora pela indústria etc., o que envolveria, absurdamente, um número ilimitado de agentes na situação de ilicitude.

B. Teoria da causalidade adequada: teoria desenvolvida pelo filósofo Von Kries. Para essa segunda teoria causa é apenas o antecedente que, segundo um juízo abstrato de probabilidade, seja apto ou idôneo a determinar o resultado danoso. Ex: a compra da arma não é a causa da morte de alguém (mas sim o disparo). Aqui analisa a causa mais adequada a chegar num resultado danoso.

i. Essa teoria consta dos arts. 944 e 945 do atual Código Civil. Nesse

sentido, o Enunciado n. 47 do CJF/STJ, da I Jornada de Direito Civil, enuncia que o art. 945 não exclui a teoria da causalidade adequada.

ii. Ex: cidadão está no aeroporto aí entra alguém e vê o cara usando o

vaso sanitário este último tira do bolso uma massa a fim de travar a porta. Em razão disso o cidadão perdeu o voo e embarcou noutro avião (o qual caiu e o cidadão por sua vez). O cara que usou a massinha deu causa a morte? Para a primeira teoria, na forma mais pura, o brincalhão deu causa. Contudo, segundo o juízo de experiência da vida – prender

alguém num banheiro – não é a forma adequada a determinar a morte de alguém, linha de pensamento seguida por esta segunda teoria.

C. Teoria da causalidade direta ou imediata (interrupção do nexo causal): tal teoria foi desenvolvida no Brasil pelo professor Agostinho Alvim. Para esta terceira teoria, mais objetiva do que as anteriores, causa é o antecedente que determina o resultado danoso, como conseqüência sua direta e imediata.

i. Gustavo Tepedino é defensor desta terceira teoria (RTDC – Revista Trimestral de Direito Civil - ano 2, V. 06/01), bem como Carlos Roberto Gonçalves, razão pela qual defendem ter sido esta a teoria adotada pelo Código Civil em seu art. 403. Vejamos:

CC, Art. 403. Ainda que a inexecução resulte de dolo do devedor, as perdas e danos só incluem os prejuízos efetivos e os lucros cessantes por efeito dela direto e imediato, sem prejuízo do disposto na lei processual.

OBS1.: todavia, esta matéria está longe de ser pacífica. Grande parte da doutrina, a exemplo de Sérgio Cavalhieri Filho e Romualdo dos Santos, a despeito da dicção do artigo 403 do CC, entendem que o CC adotou a Teoria da Causalidade Adequada. Entretanto, no pensar de Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona, a teoria adotada foi a da Causalidade Direta e Imediata, o que encontra reforço no REsp 686 de 2008 do RJ da relatoria do Min. Luiz Fux, bem como no noticiário especial do STJ do dia 04 de maio de 2010.

OBS2.: Destaque-se que há até julgado no STJ que afirma que as duas teorias são sinônimas (nesse sentido, ver: STJ, REsp 325.622/RJ, Rel. Min. Carlos Fernando Mathias (Juiz Federal Convocado do TRF 1. Região). Em brilhante SINTESE Flávio Tartuce destaca que este não é o melhor caminho, pois há uma sutil diferença entre as teorias, eis que a causalidade adequada valoriza mais a concausalidade, os fatos concorrentes e o grau de culpa dos envolvidos. Por outra via, para a teoria do dano direto imediato ganham relevo as excludentes totais de responsabilidade.

EXCLUDENTES TOTAIS DO NEXO DE CAUSALIDADE: as excludentes mantêm relação

com a teoria do dano direto e imediato, segundo a doutrina que adota essa corrente. De qualquer forma, deve-se dizer que tais excludentes também não afastam a teoria da causalidade adequada. São elas:

A. A CULPA EXCLUSIVA OU O FATO EXCLUSIVO DA VÍTIMA: destaca-se

a expressão EXCLUSIVA (O), pois diferente disso, quando a atuação da vítima também favorece a ocorrência do dano, somando-se ao comportamento causal do agente, fala-se em “concorrência de causas ou de culpa”, caso em que a indenização existirá, mas deverá ser reduzida, na proporção da contribuição da vítima. Assim, no caso, o dano decorre por causa da atuação de ambos os sujeitos da relação jurídica.

OBS. Somente se houver atuação exclusiva da vítima haverá quebra do nexo causal. Como vimos linhas acima, havendo concorrência de culpas (ou causas) a indenização deverá, como regra geral, ser mitigada, na proporção da atuação de cada sujeito.

i. O vigente Código Civil brasileiro, em regra sem equivalência na codificação anterior, adotou expressamente a culpa concorrente como um

critério de quantificação da proporcionalidade da indenização, conforme se verifica do seu art. 945:

“Art. 945. Se a vítima tiver concorrido culposamente para o evento danoso, a sua indenização será fixada tendo-se em conta a gravidade de sua culpa em confronto com a do autor do dano.”

ii. No campo do Direito do Consumidor, a teoria da concorrência de causas

não tem essa mesma amplitude. Isso porque, nos termos do art. 12, parágrafo 3, da Lei n. 8078/90, somente a culpa exclusiva da vítima tem o condão de interferir na responsabilidade civil do fornecedor, excluindo-a.

B. A CULPA EXCLUSIVA OU O FATO EXCLUSIVO DE TERCEIRO O comportamento de um terceiro – que não seja o agente do dano e a vítima – rompe o nexo

de causalidade, excluindo a responsabilidade civil. Ainda que de forma indireta, o CC reconhece essa causa excludente nos arts. 929 e 930.

i. As excludentes de nexo de causalidade servem, em regra, tanto para a responsabilidade

subjetiva quanto para a objetiva. Porém, em algumas situações uma determinada excludente é descartada pela lei. Agravando a responsabilidade civil. Ilustrando, a culpa exclusiva de terceiro não é admitida como excludente nos transporte de pessoas, respondendo o transportador perante o passageiro vitimado e assegurado o seu direito de regresso contra o real culpado (art. 735 CC).

ii. Se o dato de terceiro, referentemente ao que ocasiona um dano, envolve uma clara

imprevisibilidade, necessidade e, sobretudo, marcada inevitabilidade sem que, para tanto, intervenha a menor parcela de culpa por parte de quem sofre o impacto substanciado pelo fato de terceiro, óbvio é que nenhum motivo haveria para que não se equiparasse ele ao caso fortuito. Fora daí, não.

iii. Jurisprudência considera assaltos à mão armadas em transportes coletivos (fato de

terceiro), incide a excludente de responsabilidade por força maior. O fato de terceiro não guarda conexidade com o transporte. (STF, RE 88.408-RJ, 1980; STJ, REsp 74534 RJ, 1997; REsp 435865 RJ 2002)

A. O CASO FORTUITO E A FORÇA MAIOR:

Art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior, se expressamente não se houver por eles responsabilizado. Parágrafo único. O caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato necessário, cujos efeitos não era possível evitar ou impedir.

Caso fortuito + Força maior = Fato/Ocorrência imprevisível ou difícil de prever que gera um ou mais efeitos/ conseqüências inevitáveis.

i. A respeito dos conceitos de caso fortuito e força maior, como é notório, não há unanimidade doutrinária. (Orlando Gomes p. ex. divide considera seus significados

distintos7; mas há decisões no STJ que os consideram sinônimos – Resp. 135542/MS rel. min. Castro Meira 2 T. 2004).

ii. Há corrente doutrinária que entende que o caso fortuito e força maior incidem sobre a

culpa (Sílvio Venosa e Orlando Gomes); outra corrente (Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona) entende que incide sobre o nexo de causalidade, embora o elemento anímico seja alvejado com a sua ocorrência.

iii. Reiterando o que já foi dito, a jurisprudência do STJ consolidou entendimento de que o

transportador rodoviário ou municipal não responde pelo assalto ao passageiro, pois a segurança não é essencial ao serviço prestado. De outra forma, afirma-se que o risco da atividade não abrange o assalto, havendo um caso de fortuito ou força maior. (nesse sentido, ver, por exemplo: STJ, REsp 783743/RJ; REsp 435865/RJ; REsp 402227/RJ; REsp 331801/RJ. REsp 468900/RJ; REsp 268110/RJ e REsp 714728/MT).

iv. Em relação ao assalto ocorrido em estabelecimento bancário, a jurisprudência do STJ

tem afastado a sua caracterização como caso de fortuito ou força maior, mantendo o dever de indenizar da instituição bancária, pois a segurança é essencial ao serviço prestado (nesse sentido, ver: STJ, REsp 694153/PE, Rel. Min. Cesar Asfor Rocha, 4T j.; 2005).

v. Classificam-se em fortuito interno e fortuito externo. De acordo com o professor Pablo

Stolze, a diferença entre caso fortuito interno e externo é aplicável, especialmente, nas relações de consumo. O caso fortuito interno incide durante o processo de elaboração do produto ou execução do serviço, não eximindo a responsabilidade civil do fornecedor. Já o caso fortuito externo é alheio ou estranho ao processo de elaboração do produto ou execução do serviço, excluindo a responsabilidade civil.

vi. Como se pode notar, o caso fortuito e a força maior merecem análise casuística pelo

aplicador do Direito. CONCAUSAS: utiliza-se a expressão “concausa” para caracterizar o acontecimento que,

ANTERIOR, CONCOMITANTE OU SUPERVENIENTE ao antecedente que deflagrou a cadeia causal, acrescenta-se a este, em direção ao evento danoso.

a. Se esta segunda causa for ABSOLUTAMENTE INDEPENDENTE em relação à

conduta do agente – quer seja preexistente, concomitante ou superveniente – o nexo causal originário estará rompido e o agente não poderá ser responsabilizado. (ex. homem leva tiro, mas morre devido a um terremoto, derrame causado por diabete etc.)

b. Se tratando de uma causa RELATIVAMENTE INDEPENDENTE – aquela que

incide no curso do processo naturalístico causal, somando-se à conduta do agente –, urge distinguirmos se a mesma é preexistente, concomitantemente ou superveniente. Em geral, essas concausas, quando PREEXISTENTES OU CONCOMITANTES, não excluem o nexo causal, e, consequentemente, a obrigação de indenizar (ex. A, pessoa doente, tem sua situação agravada por ato de B. Em seguida morre; C morre de susto quando A atira nele e não propriamente pelo ferimento). Entretanto, quando se trata de concausa superveniente – ainda que relativamente independente em relação à conduta do sujeito –, o nexo de causalidade poderá ser rompido se esta causa, por si

7 Caso fortuito é o acontecimento provindo da natureza, sem qualquer intervenção da vontade humana. A força maior, por sua vez, é o fato do terceiro, ou do credor; é atuação humana, não do devedor, que impossibilita o cumprimento obrigacional.

só, determinar a ocorrência do evento danoso (ex. A ferido por B, morre em acidente de ambulância no caminho para o hospital).

Em conclusão, temos que, apenas se houver determinado, por si só, o resultado danoso, a concausa relativamente independente superveniente haverá rompido o nexo causal, excluindo a responsabilidade do sujeito infrator.

TEORIA DA IMPUTAÇÃO OBJETIVA E A RESPONSABILIDADE CIVIL No entendimento de Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona a teoria da imputação objetiva serve para o Direito Civil. Para eles, essa teoria é muito mais que uma teoria de excludente do nexo causal do que propriamente afirmativa da sua existência. No dizer do Professor Luiz Flávio Gomes: “A teoria da imputação objetiva consiste basicamente no seguinte: só pode ser responsabilizado penalmente por um fato (leia-se: a um sujeito só pode ser imputado o fato), se ele criou ou incrementou um risco proibido relevante e, ademais, se o resultado jurídico decorreu desse risco”. (ex. alguém dá causa a um acidente de veículo, por estar embriagado (criação do risco proibido) – nesse caso o agente poderá ser responsabilizado penalmente, e, porque não dizer civilmente, para aqueles que admitem a incidência da teoria no âmbito civil)

i. Regras básicas da teoria da imputação objetiva da conduta: a. Não há imputação objetiva quando o risco criado é permitido (I. nas situações

de risco normal – pessoa que deu aula de pilotagem a terrorista suicida, que pilotou avião que se chocou com a torre do WTC; II. Nas intervenções médicas; III. nas lesões esportivas; IV. na teoria da confiança etc.)

b. Não há imputação objetiva quando o risco é tolerado (ou aceito amplamente

pela comunidade): aqui, seja por força da teoria da imputação objetiva, seja em razão da teoria da adequação social, o fato é atípico;

c. Não há imputação objetiva quando o risco proibido criado é insignificante

(conduta insignificante. Exemplo: jogar um copo d’água numa represa com 10 bilhões de litros de água que veio a inundar toda área vizinha; sendo a conduta do agente, nesse caso, absolutamente insignificante, não há que se falar em fato típico)

DANO OU PREJUÍZO

CONCEITO: o Dano traduz a lesão a um interesse jurídico tutelado patrimonial ou moral.

i. Nem todo dano é indenizável, ou seja, nem todo dano gera responsabilidade civil. O elemento primordial para o dever de indenizar é o dano, ou seja, sem o dano não há responsabilidade civil, mas ele não é certeza do dever de indenizar, porque nem todo dano é indenizável.

ii. Prevê a Súmula 37 do STJ que é possível a cumulação, em uma mesma

ação, de pedido de reparação material e moral. Assim, logo após a CF/88, que reconheceu os danos morais como reparáveis, a jurisprudência superior passou a admitir a cumulação dupla dos danos.

iii. A tendência atual é de se reconhecer os novos danos, ampliando o teor da

Súmula supra. Nesse contexto, o próprio STJ editou a Súmula 387,

admitindo a cumulação dos danos estéticos com os danos morais e, obviamente, também com os danos materiais.

REQUISITOS DO DANO INDENIZÁVEL A. VIOLAÇÃO DE INTERESSE JURÍDICO MATERIAL OU MORAL. Ex: dor coração não viola interesse jurídico – término de namoro; B. SUBSISTÊNCIA DO DANO. Ex: se o dano já foi reparado, não há dano. Segundo MHD só se pode indenizar em juízo o dano que subsista; e C. CERTEZA DO DANO. Não se indeniza dano hipotético (vide art. 186 e 403 CC), mero aborrecimento, mero dissabor – não se indenizam meras abstrações. O dano para ser indenizável deve ser certo.

OBS.: mitiga este terceiro requisito a teoria francesa da perda de uma chance. Segundo o Prof. Fernando Gaburri a perda de uma chance pode ser indenizável por afastar uma legítima expectativa de favorecimento ao lesado. Ocorre nos casos em que se retira da vítima a provável oportunidade de melhorar a sua situação atual. Ex: candidato muito bem preparado perde o vôo para a cidade onde iria realizar a última fase de um concurso, devido à paralisação por parte dos funcionários. Outros exemplos: Advogado que perde prazo de contestação em matéria favorável ao seu cliente x recurso deserto, pois o advogado não preparou o recurso (aprofundar no tema vide obra da editora LTR de Sérgio Novaes Dias denominada “Responsabilidade Civil do Advogado pela Perda de uma Chance”). Houve um REsp famoso que aplicou a Teoria da Perda de uma Chance: o REsp 788.459/BA consagra situação de perda de uma chance por conta da impropriedade de pergunta formulada em programa televisivo.

DANO REFLEXO (OU DANO EM RICOCHETE): Dano reflexo é aquele que atinge a vítima

indireta, ligada a vítima direta da atuação ilícita. Temos duas vítimas aqui. Uma que sobre o dano direto e outra de forma secundária (em ricochete). Ex: criminoso arma de fogo disparou um tiro vítima 1 morreu vítima direta. Certo que a vítima 2 (filho da vítima n. 1) sofre um dano reflexo em razão da morte de seu pai. Trata-se de dano indenizável.

OBS.: DANO REFLEXO X DANO INDIRETO - não confundir este dano com o que alguns autores chamam de danos INDIRETOS (Fernando Gaburri), caso em que a mesma vítima sofre uma “CADEIA DE PREJUÍZOS” (danos indiretos). Dano indireto remete-nos à ideia de uma cadeia de prejuízos: a mesma vítima sofre um dano direto e danos indiretos ou conseqüenciais. Ex: comprei um cavalo infectado, que transmite doença aos outros do estábulo; todos morrem.

ESPÉCIES DE DANO

I. DANOS CLÁSSICOS: Danos materiais e danos morais

A. DANOS PATRIMONIAIS OU MATERIAIS Conceito: são aqueles que constituem prejuízo ou perdas que atingem o patrimônio

corpóreo de alguém. Classificação: nos termos do art. 402 do CC, os danos podem ser subclassificados em:

a. Danos emergentes ou danos positivos: o que efetivamente se perdeu. Como exemplo típico, pode ser citado o estrago do automóvel, no caso de um acidente de trânsito. Como outro exemplo, a regra do art. 948, I, do CC, para os casos de homicídios, devendo os familiares da vítima ser reembolsados pelo pagamento das despesas com o tratamento do morto, seu funeral e o luto da família.

b. Lucros cessantes ou danos negativos: o que razoavelmente se deixou de

lucrar. No caso de acidente de trânsito, poderá pleitear lucros cessantes o taxistas, que deixou de receber valores com tal evento, fazendo-se o cálculo dos lucros cessantes de acordo com a tabela fornecida pelo sindicato da classe e o tempo de impossibilidade de trabalho. Como outro exemplo de lucros cessantes, cite-se, no caso de homicídio, a prestação dos alimentos indenizatórios, ressarcitórios ou indenitários, devidos à família do falecido, mencionada no art. 948, II, do CC.

OBS. A QUESTÃO DOS ALIMENTOS INDENIZATÓRIOS Tais alimentos não se confundem com os de direito de família, a jurisprudência entende que não cabe prisão civil pela falta de seu pagamento (STJ). Aos dependentes falecidos é devida indenização a título de lucros cessantes, levando-se em conta a vida provável daquele que faleceu (IBGE - STJ). 2/3 do salário da vítima por mês + FGTS, 13 salário, férias, e eventuais horas extras (se a vítima tinha carteira assinada), até o limite de vida provável da vítima. Eventualmente, se a vítima faleceu após a idade de vida provável, faz-se um cálculo de sobrevida, de acordo com as suas condições gerais, que pode variar de dois a cinco anos, ou até mais. Súmula 229 do STF A INDENIZAÇÃO ACIDENTÁRIA NÃO EXCLUI A DO DIREITO COMUM, EM CASO DE DOLO OU CULPA GRAVE DO EMPREGADOR. Súmula 491 do STF É INDENIZÁVEL O ACIDENTE QUE CAUSE A MORTE DE FILHO MENOR, AINDA QUE NÃO EXERÇA TRABALHO REMUNERADO. B. DANOS EXTRAPATRIMONIAIS OU MORAIS FUNDAMENTO CONSTITUCIONAL: a reparabilidade dos danos imateriais tem fundamento

no art. 5, incisos V e X da CF/88.

CONCEITO: a melhor corrente na conceituação dos danos morais é aquela que o caracteriza como lesão a direitos da personalidade, sendo essa a visão que prevalece na doutrina brasileira (Caio Mário, MHD, C.R.Gonçalves).

CLASSIFICAÇÃO

QUANTO AO SENTIDO DA CATEGORIA Dano moral, em sentido próprio – constitui aquilo que a pessoa sente (dano moral in natura), causando na pessoa dor, tristeza, vexame, humilhação, amargura, sofrimento, angústia e depressão. Dano moral, em sentido impróprio (sentido amplo) – constitui qualquer lesão aos direitos da personalidade, como, por exemplo, à opção sexual. Não necessita da prova do sofrimento em si para a sua caracterização.

QUANTO À NECESSIDADE OU NÃO DE PROVA Dano moral provado ou dano moral subjetivo – constituindo regra geral, segundo o atual estágio da jurisprudência nacional, é aquele que necessita ser comprovado pelo autor da demanda, ônus que lhe cabe. Dano moral objetivo ou presumido (in re ipsa) – não necessita de prova, como nos casos de morte de pessoa da família, lesão estética ou uso indevido de imagem para fins lucrativos (Súmula 403 do STJ)

Súmula 403 do STJ - Independe de prova do prejuízo a indenização pela publicação não autorizada da imagem de pessoa com fins econômicos ou comerciais.

QUANTO À PESSOA ATINGIDA

Dano moral direto – é aquele que atinge a própria pessoa, a sua honra subjetiva (autoestima) ou objetiva (repercussão social da honra). Dano moral indireto ou dano moral em ricochete – é aquele que atinge a pessoa de forma reflexa, como nos casos de morte de uma pessoa da família (art, 948, caput, do CC), lesão à personalidade do morto (art. 12, parágrafo único, do CC) e perda de uma coisa de estima, caso de um animal de estimação (art. 952 do CC). Em suma, o dano atinge uma pessoa ou coisa e repercute em outra pessoa, como uma bala que ricocheteia. DANOS MORAIS X TRANSTORNOS: cabe o juiz, analisando o caso concreto e diante da

sua experiência, apontar se a reparação imaterial é cabível ou não. Nesse sentido, foi aprovado, na III Jornada de Direito Civil, o Enunciado 159 do CJF, pelo qual o dano moral não se confunde com os meros aborrecimentos decorrentes de prejuízo material.

i. Exemplo jurisprudencial --> O STF afastou pedido reparatório pela perda de uma

frasqueira contendo objetos de maquiagem de um mulher, eis que não obstante um fato desagradável, não gera dano moral indenizável. (STF, RE 387.014/SP, Rel. Min. Carlos Velloso, 2 T., DJ. 2004).

OBS. O STJ tem entendido de forma reiterada que a mera quebra de um contrato ou o mero descumprimento contratual não gera dano moral. De qualquer forma, esclareça-se que o próprio STJ tem entendimento que a negativa do pagamento de indenização por seguradora gera um dano moral presumível no caso concreto. Dentro do mesmo raciocínio, de acordo com a idéia do

caráter pedagógico da indenização por danos morais, do que se falará adiante, o STJ tem entendido que a recusa de custeio das despesas por parte de empresa de plano de saúde não é mero aborrecimento, mas constitui dano moral presumido.

Informativo 426 STJ “O dano moral não é pertinente pela simples aquisição de refrigerante com inseto, sem que seu conteúdo tenha sido ingerido, por se encontrar no âmbito dos dissabores da sociedade de consumo, sem abalo à honra, ausente situação que produza no consumidor humilhação ou represente sofrimento em sua dignidade. Com esse entendimento, a Turma deu provimento ao recurso da sociedade empresarial, invertendo o ônus da sucumbência. Precedentes citados: AgRg no Ag 276.671-SP, DJ 8/5/2000; AgRg no Ag 550.722-DF, DJ 3/5/2004, e AgRg no AgRg no Ag 775.948-RJ, DJe 3/3/2008. REsp 747.396-DF, Rel. Min. Fernando Gonçalves, julgado em 9/3/2010.”

DANOS MORAIS DA PESSOA JURÍDICA

1. Corrente (majoritária - STJ): o entendimento da reparabilidade do dano moral consta da Súmula 227 do STJ, podendo ser ainda extraído do art. 52 do CC, pelo qual se aplica à pessoa jurídica, no que couber, o disposto quanto aos direitos da personalidade. Em verdade, o dano moral da pessoa jurídica atinge a sua honra objetiva, que é a repercussão social da honra, sendo certo que uma empresa tem uma reputação perante a coletividade. Não se pode imaginar que o dano moral da pessoa jurídica atinja a sua honra subjetiva, que é a autoestima.

A corrente da reparação dos danos morais da pessoa jurídica ganhou força com o Enunciado 189 do CJF, aprovado na III Jornada de Direito Civil, in verbis: “Na responsabilidade civil por dano moral causado à pessoa jurídica, o fato lesivo, como dano eventual, deve ser demonstrado”. Exemplo: hipóteses de inscrição indevida ou ilegítima de seu nome em cadastro de inadimplentes. (STJ - REsp. 662111/RN 4T 2004)

2. Corrente (minoritária – importante no RJ – corrente UERJ): Gustavo Tepedino,

Heloísa Helena Barboza e Maria Celina Bodin de Moraes, pela qual a pessoa jurídica não pode sofrer danos morais, pois esses constituem lesões à dignidade humana, própria das pessoas naturais. Para essa linha de pensamento, os danos imateriais que atingem a pessoa jurídica seriam danos institucionais, Na IV Jornada de Direito Civil, a omissão da Parte Geral provou o Enunciado 286, relativo ao art. 52 do CC, prevendo que “Os direitos da personalidade são direitos inerentes e essenciais à pessoa humana, decorrentes de sua dignidade, não sendo as pessoas jurídicas titulares de tais direitos”.

NATUREZA JURÍDICA DA INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS

1. Corrente: a indenização por danos morais tem o mero intuito reparatório ou compensatório, sem qualquer caráter disciplinador ou pedagógico. Essa tese encontra-se superada na jurisprudência, pois a indenização deve ser encarada como mais do que uma mera reparação.

2. Corrente (minoritária): a indenização tem um caráter punitivo ou disciplinador, tese

adotada nos EUA, com o conceito de punitives damages. Essa corrente não vinha sendo bem aceita pela nossa jurisprudência, que identificava perigos na sua aplicação.

Entretanto, nos últimos tempos, tem crescido o número de adeptos a essa teoria. (Informativo 364 STF – AI 455846 – Rel. Celso de Mello)

De forma punitiva: condições econômicas + grau de culpa do ofensor.

3. Corrente (majoritária): a indenização por dano moral está revestida de um caráter

principal reparatório e de um caráter pedagógico ou disciplinador acessório, visando a coibir novas condutas. Mas esse caráter acessório somente existirá se estiver acompanhado do principal. Essa tese ainda tem prevalecido na jurisprudência nacional. (STJ – REsp 883630/RS – Rel. Nancy Andrighi 3T - 2008; REsp 665425/AM, Rel. Nancy Andrighi 3T - 2005 ).

De forma compensatória: extensão do dano + condições pessoais da vítima.

i. Em sede doutrinária, a questão não restou clara na IV Jornada de Direito Civil, eis

que foi aprovado o Enunciado 379 do CJF/STJ, prevendo que “O art. 944, caput, do CC não afasta a possibilidade de se reconhecer a função punitiva ou pedagógica da responsabilidade civil”. A redação assim ficou, pois muitos dos juristas então presentes se declararam adeptos da função punitiva da indenização, o que não é posição pacífica na doutrina.

TABELAMENTO DOS DANOS MORAIS: Flávio Tartuce afirma que qualquer tentativa de

tarifação ou tabelamento dos danos morais, mesmo que por lei, é inconstitucional. Primeiro, por lesão à especialidade, segunda parte da isonomia constitucional (art. 5, caput, da CF/1988). Ilustrando, imagine-se que uma lei preveja como valor de dano moral pela morte de pessoa da família o montante de cem salários-mínimos. Ora, pela tabela, pessoas que têm sentimentos diferentes receberão mesma indenização. Segundo, o tabelamento por dano moral viola a cláusula geral de tutela da pessoa humana, retirada do art. 1, III, da CF/88. Na esteira da melhor doutrina, diante da proteção da dignidade humana, não é recomendável sequer a estipulação de tetos pela legislação infraconstitucional para a referida indenização, o que deve ser tido como incompatível com o Texto Maior (Maria Celin Bodin de Moraes/UERJ).

REPARABILIDADE DO DANO MORAL: com o advento da CF/88, que prevê

expressamente indenização por dano moral em seu art. 5, V e X, trilha seguida, inclusive, como não poderia deixar de ser, pelo CC brasileiro 2002, a questão da reparabilidade do dano moral é pacífica8. Entretanto, nem sempre este foi o posicionamento, pois havia correntes que propugnavam pela irreparabilidade do dano moral.

ZULMIRA PIRES DE LIMA, (citado por todos os autores que enfrentaram seriamente a questão da reparabilidade do dano moral), sintetiza as objeções à reparabilidade do dano extrapatrimonial em 8 sintéticos e precisos tópicos, a seguir transcritos:

1. Falta de um efeito penoso durável. 2. A incerteza nesta espécie de danos, de um verdadeiro direito violado. 3. A dificuldade de descobrir a existência do dano. 4. A indeterminação do número de pessoas lesadas. 5. A impossibilidade de uma rigorosa avaliação em dinheiro. 6. A imoralidade de compensar uma dor com dinheiro. 7. O ilimitado poder que tem de conferir-se ao juiz.

8 Em 1966, o Supremo Tribunal Federal admitiu, pela primeira vez, a reparação do dano moral RTJ – 39/38-44.

8. A impossibilidade jurídica de admitir-se tal reparação.

CRITÉRIOS DA REPARABILIDADE DO DANO MORAL: na esteira da melhor doutrina e

jurisprudência, na fixação da indenização por danos morais, o magistrado deve agir com equidade, analisando:

A extensão do dano; As condições socioeconômicas e culturais dos envolvidos; As condições psicológicas das partes O grau de culpa do agente, de terceiro ou da vítima.

Tais critérios podem ser retirados dos arts. 944 e 945 do CC, bem como do entendimento dominante, particularmente do STJ. O julgamento a seguir demonstra muito bem a aplicação dos critérios apontados e a função pedagógica da reparação moral. Nunca se pode esquecer, ademais, a função social da responsabilidade civil. Se, por um lado, deve-se entender que a indenização tem função pedagógica ou educativa para futuras condutas, por outro, não pode o valor pecuniário gerar o enriquecimento sem causa ou ruína do ofensor, devendo ser aplicado o princípio da proporcionalidade ou da razoabilidade na fixação do quantum indenizatório (por todos: REsp 824.000/MA, Rel. Min. Jorge Scartezzini, 4 Turma, j. 2006; REsp 773.853/RS, Rel. Min. Nacy Andrighi, 3 Turma, j. 2005 e REsp 739.102/RJ, Rel. Min. Denise Arruda, 1 Turma, j. 2005).

II. DANOS NOVOS: Danos estéticos, danos morais coletivos, danos sociais e

danos por perda de uma chance. A. DANOS ESTÉTICOS Conceito: os danos estéticos são tratados atualmente tanto pela doutrina quanto pela

jurisprudência como uma modalidade separada de dano extrapatrimonial, o que está de acordo com a tendência de reconhecimento dos novos danos, de alargamento da razão anterior.

Para a professora da USP Teresa Ancona Lopez, basta a pessoa ter sofrido uma

“transformação” para que o referido dano seja caracterizado. Tais danos, em regra, estão presentes quando a pessoa sofre feridas, cicatrizes, cortes superficiais ou profundos em sua pele, lesão ou perda de órgão internos ou externos do corpo, aleijões, amputações, entre outras anomalias que atingem a própria dignidade humana. Esse dano, nos casos em questão, será também presumido (in re ipsa), como ocorre com o dano moral objetivo.

O STJ vem entendendo há tempos que o dano estético é algo distinto do dano moral, pois há

no primeiro uma “alteração morfológica de formação corporal que agride a visão, causando desagrado e repulsa”. Já no dano moral há um “sofrimento mental – dor da mente psíquica, pertencente ao foro íntimo”. O dano estético seria visível, “porque concretizado na deformidade” (STJ, REsp 65.383/RJ, Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, j. 2005 e REsp 84.752/RJ, Min. Ari Pargendler, j. 2000). Consolidando esse entendimento, o teor da Súmula 387 do STJ, de setembro de 2009: “é lícita a cumulação das indenizações de dano estético e dano moral”.

B. DANOS MORAIS COLETIVOS

Danos Coletivos lato sensu: de acordo com a natureza dos interesses ou direitos violados, três espécies de danos coletivos lato sensu podem ser suscitadas, a saber, difusos, coletivos (stricto sensu) e individuais homogêneos. A definição legal de tais interesses se encontra no Código de Defesa do Consumidor brasileiro, que traz norma, nesse sentido, de natureza geral, não se limitando às relações de consumo.

INTERESSES Difusos Coletivos Individuais

homogêneos BASE LEGAL Art. 81, parágrafo

único, I CDC Art. 81, parágrafo único, II CDC

Art. 81, parágrafo único, III CDC

DEFINIÇÃO Interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste Código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato.

Interesses ou direitos coletivos, assim entendidos para efeitos deste Código, os transindividuais de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base.

Interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de origem comum.

DESTINATÁRIOS Indeterminados Determináveis Determinados NATUREZA Indivisível Indivisível Divisível ELEMENTO DE LIGAÇÃO

Situação de Fato Relação Jurídica Base

Situação de Fato

INSTRUMENTO DE DEFESA

Ação Civil e Ação Popular

Ação Civil Pública e Mandado de Segurança Coletivo

Ação Civil Coletiva

Conceito: o dano moral coletivo surge como um candidato dentro da idéia de ampliação

dos danos reparáveis. O seu conceito é controvertido, mas ele pode ser denominado como o dano que atinge, ao mesmo tempo, vários direitos da personalidade, de pessoas determinadas ou determináveis (danos morais somados ou acrescidos).

CDC – O Código de Defesa do Consumidor admite expressamente a reparação dos

danos morais coletivos, mencionando-os no seu art. 6, VI. Deve-se compreender que os danos morais coletivos atingem direitos individuais homogêneos e coletivos em sentido estrito, em que as vítimas são determinadas ou determináveis. Por isso, a indenização deve ser destinada para elas, se vítimas.

i. A questão é controversa no STJ, tanto que do seu Informativo 418, de dezembro

de 2009, podem ser extraídos dois julgados. O primeiro, da 1 Turma, que repele o pedido, pois supostamente os danos morais são apenas individuais (STJ, REsp 971.844-RS, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, dez.2009). Já o outro, 2 Turma, traz entendimento em sentido contrário, pela sua reparabilidade (nesse sentido, ver: STJ, REsp 1.057.274-RS, Rel. Min. Eliana Calmon, dez.2009).

C. DANOS SOCIAIS Conceito: o professor titular da USP, Antonio Junqueira de Azevedo, propõe um nova

modalidade: o dano social. Para ele, “os danos sociais, por sua vez, são lesões à sociedade, no seu nível de vida, tanto por rebaixamento de seu patrimônio moral – principalmente a respeito da segurança – quanto por diminuição na qualidade de vida”. O que se percebe é que esses danos podem gerar repercussões materiais ou morais. Nesse ponto, diferenciam-se os danos sociais dos danos morais coletivos, pois os últimos são apenas extrapatrimoniais.

Questão problemática: a grande dificuldade do dano social, sem dúvida, refere-se à

questão da legitimidade, ou seja, para quem deve ser destinado o valor da indenização. Junqueira de Azevedo aponta que, além do pagamento de uma indenização, deve ser destinado o valor a um fundo de proteção, o que depende dos direitos atingidos. Cita também o art. 883, parágrafo único, do CC de 2002, que trata do pagamento indevido e do destino de valor para instituição de caridade. A idéia, nesse sentido, é perfeita, se os prejuízos atingiram toda a coletividade, em um sentido difuso, os valores de reparação devem também ser revertidos para os prejudicados, mesmo que de forma indireta.

i. A partir dessa idéia, há decisão importante, do sempre pioneiro Tribunal de Justiça

do Rio Grande do Sul, reconhecendo a reparação do dano social. O caso envolve a fraude de um sistema de loterias (caso Toto Bola), o que gerou danos à sociedade. Fixada a indenização, os valores foram revertidos a favor do fundo gaúcho de proteção dos consumidores. (TJRS, Recurso Cível 71001281054, 1 Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Rel. Ricardo Torres Hermann j.2007).

ii. Aplicando a construção dos danos sociais ou difusos, pode ser citado interessante

julgado do TRT da 2 Região, que condenou o Sindicato dos Metroviários de São Paulo a destinar indenização para instituição filantrópica (cestas básicas) devido a uma greve totalmente abusiva que parou a grande metrópole.

Diferença entre Danos morais coletivos e Danos sociais ou difusos Danos morais coletivos Danos sociais ou difusos - Atingem vários direitos da personalidade. - Direitos individuais homogêneos ou coletivos em sentido estrito – vítima determinadas ou determináveis. - Indenização é destinada para as próprias vítimas.

- Causam um rebaixamento no nível de vida da coletividade (Junqueira). - Direitos difusos – vítimas indeterminadas. Toda a sociedade é vítima da conduta. - Indenização para um fundo de proteção ou instituição de caridade.

D. DANOS POR PERDA DE UMA CHANCE

No que concerne à perda de uma chance como nova categoria de dano, cresce na jurisprudência o número de julgados de sua aplicação. A perda de uma chance está caracterizada quando a pessoa vê frustrada uma expectativa, uma oportunidade futura, que, dentro da lógica do razoável, ocorreria se as coisas seguissem o seu curso normal. A partir dessa idéia essa chance deve ser séria e real.

Crítica: Flávio Tartuce vê com ressalva o enquadramento da perda de uma chance como nova categoria de dano. Isso porque tais danos são, na grande maioria das situações,

hipotéticos ou eventuais, sendo certo que os arts. 186 e 403 do CC exigem o dano presente e efetivo. A perda de uma chance, na verdade, trabalha com suposições, com o se. Na verdade, muitas situações descritas pelos adeptos da teoria podem ser resolvidas em sede de danos morais, sem que a vítima tenha necessidade de provar que a chance é séria e real.

i. Inúmeros são os julgados que responsabilizam advogados por perderem prazos de seus

clientes, gerando perda da chance de vitória judicial.

ii. Na seara médica, o pioneiro Tribunal do Rio Grande do Sul já responsabilizou um hospital por morte de recém- nascido, havendo a perda da chance de viver. Fala-se ainda em perda da chance de cura do paciente, pelo emprego de uma técnica malsucedida pelo profissional da área de saúde.

iii. O TJRS responsabilizou um curso preparatório para concursos públicos que assumiu o

compromisso de transportar o aluno até o local da prova. Porém, houve atraso no transporte, o que gerou a perda da chance de disputa em concurso público, e surgindo o dever de indenizar.

iv. O acórdão mais comentado a respeito do tema é aquele pronunciado pelo STJ em

conhecido julgado envolvendo o programa Show do Milhão, do SBT (a pergunta formulada de forma errada – STJ, REsp 788.459/BA, Rel. Min. Fernando Gonçalves, 4 Turma, 2005).

v. INFORMATIVO 443 DO STJ

O tribunal a quo deu parcial provimento à apelação interposta pelos ora recorrentes para reduzir o valor da indenização imposta pela sentença, que os condenou ao pagamento de danos morais e materiais ao recorrido, por, às vésperas do dia da eleição municipal, haver veiculado falsa notícia referente à sua candidatura ao cargo de vereador, não tendo sido eleito por apenas oito votos. Assim, a Turma negou provimento ao recurso, reiterando o entendimento de que É POSSÍVEL A INDENIZAÇÃO PELO BENEFÍCIO CUJA CHANCE A PARTE PREJUDICADA TENHA PERDIDO A OPORTUNIDADE DE CONCRETIZAR, SEGUNDO UM CRITÉRIO DE PROBABILIDADE. Não se trata de reparar a perda de uma simples esperança subjetiva, em conferir ao lesado a integralidade do que esperava caso obtivesse êxito ao usufruir plenamente sua chance. É NECESSÁRIO QUE TENHA OCORRIDO UM ATO ILÍCITO E, DAÍ, DECORRESSE A PERDA DA CHANCE DE OBTER O RESULTADO QUE BENEFICIARIA O LESADO. Precedentes citados: REsp 1.104.665-RS, DJe 4/8/2009; REsp 965.758-RS, DJe 3/9/2008; REsp 1.079.185-MG, DJe 4/8/2009, e REsp 788.459-BA, DJ 13/3/2006. REsp 821.004-MG, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 19/8/2010.

O CULPA GENÉRICA OU LATO SENSU Quando se fala em responsabilidade com ou sem culpa, leva-se em conta a culpa em

sentido amplo ou a culpa genérica (culpa lato sensu), que engloba o dolo e a culpa estrita (stricto sensu).

CONCEITO: a culpa (em sentido amplo) deriva da inobservância de um dever de conduta,

previamente imposto pela ordem jurídica, em atenção à paz social. Se esta violação é proposital, atuou o agente com dolo; se decorreu de negligência, imprudência ou imperícia, a sua atuação é apenas culposa, em sentido estrito.

OBS: Para o Direito Civil não importa se o autor agiu com dolo ou culpa, sendo a conseqüência inicial a mesma, qual seja, a imputação do dever de reparação do dano ou indenização dos

prejuízos. Todavia, os critérios para fixação da indenização são diferentes, eis que os arts. 944 e 945 da atual codificação consagram a chamada redução equitativa da indenização. TEORIA DO RISCO: fundamento da responsabilidade objetiva, que admiti a possibilidade de

responsabilização do sujeito que empreendesse atividade perigosa, independente da análise de sua culpa. Percebe-se no código civil, que, ao lado da responsabilidade decorrente do ilícito (art. 186), em cuja noção encontra-se inserida a idéia de culpa, poderá o magistrado também reconhecer

ELEMENTOS DA CULPA: Na doutrina nacional, Sérgio Cavalieri Filho apresenta três elementos na caracterização da culpa:

a. Voluntariedade do comportamento do agente: ou seja, a atuação do sujeito causador do dano deve ser voluntária, para que se possa reconhecer a culpabilidade. Note-se que, se houver, também, vontade direcionada à consecução do resultado proposto, a situação reveste-se de maior gravidade, caracterizando dolo. Neste, portanto, não apenas o agir, mas o próprio escopo do agente é voltado à realização de um prejuízo. Na culpa em sentido estrito, por sua vez, sob qualquer das suas três formas de manifestação (negligência, imprudência ou imperícia), o dano resulta da violação de um dever de cuidado, sem que o agente tenha a vontade posicionada no sentido da realização do dano;

b. Previsibilidade: só se pode apontar a culpa se o prejuízo causado, vedado pelo direito,

era previsível. Escapando-se do campo da previsibilidade, ingressamos na seara do fortuito que, inclusive, pode interferir no nexo de causalidade, eximindo o agente da obrigação de indenizar;

c. Violação de um dever de cuidado: a culpa implica a violação de um dever de cuidado.

Se esta inobservância é intencional temos o dolo. GRAUS DA CULPA:

a. Culpa grave: há uma imprudência ou negligência crassa. O agente até que não queria o resultado, mas agiu com tamanha culpa de tal forma que parecia que o quisesse. Em casos tais, o efeito é o mesmo do dolo, ou seja, o ofensor deverá pagar indenização integral. (equipara-se ao dolo).

b. Culpa leve: é a culpa intermediária, situação em que a conduta se desenvolve sem a

atenção normalmente devida. Utiliza-se como padrão a pessoa humana comum (culpa in abstrato). Em havendo culpa intermediária e concorrente em relação a terceiro ou à própria vítima, merecem aplicação os arts. 944 e 945 do CC, pelos quais a indenização mede-se pela extensão do dano e pelo grau de culpa dos envolvidos. E mais: havendo excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano poderá o juiz reduzir equitativamente a indenização, especialmente se a vítima tiver concorrido para o evento danoso.

c. Culpa levíssima: no menor grau possível, situação em que o fato só teria sido evitado

mediante o emprego de cautelas extraordinárias ou de especial habilidade. No Direito Civil, em regra, responde-se inclusive pela culpa levíssima, porque se tem em vista a extensão do dano (art. 944 do CC). Todavia, presente a culpa levíssima, a indenização a ser paga deverá ser reduzida mais ainda, eis que o art. 945 do CC atual enuncia que a mesma deve ser fixada de acordo com o grau de culpabilidade.

i. Enunciado 46 do CJF: Art. 944: A possibilidade de redução do montante da indenização em face do grau de culpa do agente, estabelecida no parágrafo único do art. 944 do novo Código Civil, deve ser interpretada restritivamente, por representar uma exceção ao princípio da reparação integral do dano [,] não se aplicando às hipóteses de responsabilidade objetiva. (Alterado pelo Enunciado 380 – IV Jornada)

ii. Enunciado 380 do CJF – Art. 944: Atribui-se nova redação ao Enunciado n. 46

da I Jornada de Direito Civil, pela supressão da parte final: não se aplicando às hipóteses de responsabilidade objetiva.

A CULPA CONCORRENTE E O FATO CONCORRENTE DA VÍTIMA são amplamente admitidos como atenuantes do nexo de causalidade na RESPONSABILIDADE OBJETIVA, conduzindo à redução equitativa da indenização.

FORMAS DE MANIFESTAÇÃO DA CULPA EM SENTIDO ESTRITO:

a. NEGLIGÊNCIA: Falta de cuidado + omissão (constante do art. 186 do CC). Exemplo: a empresa que não treina o empregado para exercer determinada função.

b. IMPRUDÊNCIA: Falta de cuidado + ação (também constante do art. 186 do CC).

Exemplo: a empresa que não treina o empregado para exercer determinada função.

c. IMPERÍCIA: Falta de qualificação ou treinamento para desempenhar uma determinada função, própria dos profissionais liberais. Consta do art. 951 do CC, para os que atuam na área da saúde. Exemplo: o médico que faz cirurgia sem ter habilitação

ESPÉCIES DE CULPA:

I. Quanto à origem

a. Culpa contratual: presente nos casos de desrespeito a uma norma contratual ou a um dever anexo relacionado com a boa-fé objetiva e que exige uma conduta leal dos contratantes em todas as fases negociais. O desrespeito à boa-fé objetiva pode gerar a responsabilidade pré-contratual, contratual e pós-contratual da parte que a violou, o que é interpretação dos Enunciados n. 25 e 170 do CJF, aprovados nas Jornadas de Direito Civil. Justamente por isso é que se pode falar na culpa ao contratar ou culpa in contrahendo.

b. Culpa extracontratual ou aquiliana: é resultante da violação de um dever

fundado em norma do ordenamento jurídico ou de um abuso de direito. Exemplo: situações envolvendo acidentes de trânsito, homicídio, lesões corporais, entre outros.

II. Quanto à atuação do agente

a. Culpa in comittendo: conceito relacionado com a imprudência, ou seja, com

uma ação ou comissão.

b. Culpa in omittendo: alinhada à negligência, à omissão.

III. Quanto ao critério da análise pelo aplicador do direito

a. Culpa in concreto: analisa-se a conduta de acordo com o caso concreto, o que é sempre recomendável, tendo em vista o sistema adotado pelo Código Civil de 2002.

b. Culpa in abstrato: leva-se em conta a pessoa natural comum, ou seja, o antigo

critério do homem médio. Recomenda-se a utilização da primeira expressão, pois o art. 1 do CC prefere pessoa a homem (art. 2 do CC/1916), afastando qualquer discriminação na utilização da expressão no masculino. As duas formas de culpa (in concreto + in abstrato) devem interagir entre si, ou seja, deve-se analisar o caso concreto levando-se em conta a normalidade do comportamento humano. Isso, para que conclusão do aplicador do direito seja justa e razoável.

IV. Quanto à sua presunção

a. Culpa in vigilando: há uma quebra do dever legal de vigilância como era o caso,

por exemplo, da responsabilidade do pai pelo filho, do tutor pelo tutelado, do curador pelo curatelado, do dono de hotel pelo hóspede e do educador pelo educando.

b. Culpa in eligendo: culpa decorrente da escolha ou eleição feita pela pessoa a

ser responsabilizada, como no caso da responsabilidade do patrão por ato de seu empregado.

c. Culpa in custodiendo: a presunção da culpa decorreria da falta de cuidado em

se guardar uma coisa ou animal.

i. Deve-se concluir, como parcela da doutrina, que não se pode falar mais nessas modalidades de culpa presumida, hipóteses anteriores de responsabilidade subjetiva. Essa conclusão se dá porque as hipóteses de culpa in vigilando e culpa in eligendo estão regulamentadas pelo art. 932 do CC, prevendo o art. 933 a adoção da teoria do risco, ou seja, que tais casos são de responsabilidade objetiva do dano ou detentor de animal por fato danoso causado, eis que o próprio dispositivo prevê as excludentes de responsabilidade (culpa exclusiva da vítima e força maior), situação típica de objetivação. No que concerne à culpa in custodiendo por outras coisas inanimadas (incluindo os produtos), os arts. 937 e 938 do CC e o próprio Código de Defesa do Consumidor também consagram a responsabilidade sem culpa (objetiva).

ii. A partir das idéias supra, deve ser tida como totalmente cancelada,

DOUTRINARIAMENTE, a súmula 341 do STJ, mediante a qual seria presumida a culpa do empregador por ato do seu empregado. Na verdade, o caso não é mais de culpa presumida, mas de responsabilidade objetiva (arts. 932, III, e 933 do CC). Espera-se que o STF efetivamente cancele a súmula, para que não pairem dúvidas entre os aplicadores do Direito.

O CLASSIFICAÇÃO DA RESPONSABILIDADE CIVIL QUANTO À CULPA DISPOSIÇÕES GERAIS Durante o século XX, a sociedade experimentou um imenso avanço bélico e tecnológico (Guerra Fria) que determinou uma significativa alteração nas bases da responsabilidade civil, na medida em que a responsabilidade puramente subjetiva passo a passo, foi sendo superada pela noção de risco, esvaziando o espaço da culpa.

O sociólogo Emile Durkain, o qual já cuidava acerca do assunto (alterações – sociedade) no século anterior. Aumentaram-se os riscos. A idéia fundamental é de que aquele que realiza uma atividade que envolva risco, para extrair um proveito, deve responder pelo dano independente de culpa. O nosso sistema de responsabilidade atual é baseado no tripé abaixo:

Art. 186, CC Art. 187, CC Art. 927, CC O CC/16 não havia consagrado uma regra geral de responsabilidade objetiva, responsabilidade esta que ingressou em nosso ordenamento por meio de leis especiais, por outro lado vale frisar que o CC de 2002, em seu art. 927, expressamente, contemplou as duas formas de responsabilidade (subjetiva e objetiva). A primeira lei especial a consagrar a responsabilidade objetiva foi o Dec. 2.681/1912 (acidente ferroviário). Depois veio a legislação de acidente de trabalho, a legislação do DPVAT (Seguro obrigatório), CDC e tantas outras leis especiais no Brasil consagraram responsabilidade objetiva. O CC/16 calcava a responsabilidade na idéia de culpa. Houve uma desconcentração do CC, ou seja, ao longo do século XX, leis especiais foram sendo aprovadas consagrando a responsabilidade sem análise da culpa. Responsabilidade civil, portanto, objetiva. Enfim, o atual CC, no art. 927 do CC, acompanhando essa tendência, consagra a responsabilidade subjetiva (culpa) e a responsabilidade objetiva (sem culpa).

Qual é a regra acerca da responsabilidade? Adotou duas modalidades de responsabilidade (objetiva e subjetiva).

O ato ilícito no CC é tratado no art. 186 como ilicitude subjetiva. O art. 187 cuida da ilicitude objetiva (abuso de direito).

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.

Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.

O artigo 186, previsto no dispositivo acima, quando define o ato ilícito, admite a responsabilidade baseada na culpa (subjetiva). Já o art. 187, diversamente do artigo anterior, apenas prevê a responsabilidade objetiva. No parágrafo único do art. 927 existem duas situações de responsabilidade objetiva:

1. NA FORMA DAS LEIS ESPECIAIS. Ex: o CDC, a legislação ambiental, a legislação acerca da indenização – previdência em razão de acidente de trabalho, a responsabilidade do Estado; ou 2. Quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, RISCO para os direitos de outrem. OBS. Cuidado com a assertiva: “Haverá responsabilidade objetiva por conta da atividade de risco”, pois não é qualquer atividade, afinal, quase todas as atividades hoje possuem certo grau de risco. Assim, para que haja responsabilidade objetiva, é preciso que a atividade traduza uma ação reiterada, habitual, expondo a vítima a uma probabilidade de dano maior do que a experimentada por outras pessoas da coletividade. Por fim, lembra-nos o Prof. Roger Aguiar, em sua obra “Responsabilidade Civil Objetiva” (Editora Atlas), que a responsabilidade objetiva prevista na segunda parte do parágrafo único do art. 927 do CC, pressupõe uma ação reiterada habitualmente exercida pelo réu. Invocando o pensamento de Alvino Lima (“Da Culpa ao Risco”) podemos ainda concluir QUE A RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO RÉU PRESSUPÕE A BUSCA DE UM PROVEITO, EM VIRTUDE DO QUE EXPÕE A VÍTIMA A UMA PROBABILIDADE DE DANO MAIOR DO QUE A OUTROS MEMBROS DA COLETIVIDADE. Ex1: suponha que uma carga de produtos químicos tombe e danifique a residência de uma família que resida à beira de uma estrada. Neste caso, pelo fato de a transportadora colocar esta família em um risco maior, em relação a toda sociedade, responderá objetivamente pelo acidente. Ex2: táxi VS acidente VS é razoável que o taxista responda objetivamente em face da sua atividade.

RESPONSABILIDADE CIVIL SUBJETIVA Conceito: a responsabilidade subjetiva constitui regra geral em nosso ordenamento jurídico,

baseada na teoria da culpa. Dessa forma, para que o agente indenize, ou seja, para que responda civilmente, é necessário a comprovação da sua culpa genérica. (importante a leitura e conexão com o segmento anterior “culpa genérica ou lato sensu”).

RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA

CONCEITO: a responsabilidade objetiva é aquela que independe de culpa e é fundada na

teoria do risco, em uma de suas modalidades, sendo as principais:

a. Teoria do risco administrativo: adotada nos casos de responsabilidade objetiva do Estado (art.37, § 6, da CF/1988)

b. Teoria do risco criado: está presente nos casos em que o agente cria o risco,

decorrente de outra pessoa ou de uma coisa. Cite-se a previsão do art. 938 do CC, que trata da responsabilidade do ocupante do prédio pelas coisas que dele caírem ou forem lançadas (defenestramento).

c. Teoria do risco da atividade (ou risco profissional): quando a atividade

desempenhada cria risco a terceiros, o que pode se enquadrar na segunda parte do art. 927, parágrafo único, do CC.

d. Teoria do risco-proveito: é adotada nas situações em que o risco decorre de

uma atividade lucrativa (“QUEM COLHE OS BÔNUS DEVE SUPORTAR OS ÔNUS”), ou seja, o agente retira um proveito do risco criado, como nos casos envolvendo os riscos de um produto, relacionados com a responsabilidade objetiva decorrente do Código de Defesa do Consumidor. Dentro da idéia de

risco-proveito estão os riscos de desenvolvimento, nos termos do Enunciado 43 CJF/STJ. Exemplificando, deve uma empresa farmacêutica responder por um novo produto que coloca no mercado e que ainda está em fase de testes.

e. Teoria do risco integral: nessa hipótese NÃO HÁ EXCLUDENTE DE NEXO DE CAUSALIDADE ou responsabilidade civil a ser alegada, como nos casos de danos ambientais, segundo os autores ambientalistas (art. 14, § 1, da Lei 6.938/1981).

i. Outros exemplos da teoria do risco integral: (i) seguro obrigatório – DPVAT – indenização pelo seguro obrigatório para os proprietários de veículos automotores é devida, mesmo que o acidente tenha sido provocado por veículo desconhecido, ou não identificado e ainda que tenha havido culpa exclusiva da vítima; (ii) Danos nucleares – art. 21, inciso XXIII, alínea “d” da CF/88.

HAVERÁ RESPONSABILIDADE INDEPENDENTE DE CULPA EM DUAS SITUAÇÕES

(ART. 927, PARÁGRAFO ÚNICO):

A. Nos casos previstos expressamente em lei. Como primeiro exemplo, cite-se a responsabilidade objetiva dos fornecedores de produtos e prestadores de serviços frente aos consumidores, prevista no Código de Defesa do Consumidor (Lei 8078/1990). Como segundo exemplo, destaque-se a responsabilidade civil ambiental, consagrada pela Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (art. 14, § 1, da Lei 6.938/1981).

B. Uma atividade de risco normalmente desempenhada pelo autor do dano, o que é

consagração da cláusula geral de responsabilidade objetiva. Como se pode notar, trata-se de uma atividade normalmente lícita, que causa danos a outrem. Concretizando, como ilustrações de atividade de risco que geram a aplicação da citada cláusula geral podem ser citadas as atuações como motorista de carga perigosa ou de valores, segurança, motoboy, caldeiro, mineiro, trabalhador da construção civil, vaqueiro ou peão de boiadeiro, entre outras.

i. Incide no art. 927, parágrafo único, segunda parte do CC, a responsabilidade da

empresa que mantém o sítio digital de ambientes virtuais de relacionamento (Orkut, Facebook, site de fotos, blog´s, etc.). A responsabilidade é tida como objetiva, pois tais ambientes são tidos como de potencial risco de lesão a direitos da personalidade. (TJMG, Apelação Cível 1.0024.08.041302-4/0011, Belo Horizonte, 17 Câmara Cível, Rel. Des. Luciano Pinto j. 2008); (TJRS, Acórdão 70026684092, Caxias do Sul, 9 Câmara Cível, Rel. Des. Tasso Caubi Soares Delabary, j.2009)

COMO CONCILIAR A RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA E O ART. 944, PARÁGRAFO ÚNICO DO CC

Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano. Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz reduzir, eqüitativamente, a indenização.

Clara é a primeira parte do dispositivo. É regra geral de Direito Civil que a indenização mede-se pela extensão do dano, sob pena de caracterizar enriquecimento sem causa. Não é, pois, a

intensidade de culpa que altera a mensuração do quantum debeatur. Assim, se o prejuízo é de 10, compreendendo o dano emergente e o lucro cessante, a indenização devida também deverá ser de 10, mesmo que o agente causador da lesão haja atuado com intensa carga de dolo. Sempre foi assim no Direito Civil, que, nesse particular, afasta-se do Direito Penal, uma vez que, ocorrido um ilícito penal, o juiz criminal, ao impor a reprimenda estatal (sanção penal), graduará pena-base, dentre outros critérios, de acordo com a culpabilidade do infrator. Essa investigação psicológica não é exigida pelo Direito Civil para fixar a indenização devida. Como bem demonstrou o caput do art. 944, que o juiz possa, pro equidade, diminuir a indenização devida, se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano. Ora, tal permissivo, subvertendo o princípio de que a indenização mede-se pela extensão do dano, permite que o juiz investigue culpa para o efeito de reduzir o quantum debeatur. É o caso, por exemplo, de o magistrado constatar que o infrator não teve intenção de lesionar, embora haja causado dano considerável. É duvidoso, inclusive, até onde cai a utilidade da norma, que, sem sombra de dúvida, embora possa se afigurar justa em determinado caso concreto, acaba rompendo definitivamente com o princípio básico de ressarcimento integral da vítima. Isso sem mencionar que o ilícito praticado pode decorrer do exercício de atividade de risco, ou estar previsto em legislação especial como ensejador de responsabilidade objetiva, e o juiz, para impor a obrigação de indenizar, não necessite investigar a culpa do infrator.

i. Na I Jornada de Direito Civil, tentou-se contornar conciliar a responsabilidade objetiva e o art. 944: “A possibilidade de redução do montante da indenização, em face do grau de culpa do agente, estabelecida pelo parágrafo único do art. 944 do novo Código Civil, deve ser interpretada restritivamente por representar uma exceção ao princípio da reparação integral do dano, não se aplicando às hipóteses de responsabilidade objetiva”. Analisando esse entendimento, a primeira impressão é de que não haveria outra solução, senão admitir essa faculdade de redução apenas nas hipóteses de responsabilidade subjetiva (culposa), o que poderia ser considerado uma regra um tanto anacrônica, pois inserida em um sistema que privilegia as hipóteses de responsabilidade calcadas na atividade de risco. Todavia, posteriormente, a IV Jornada considerou por bem atribuir nova redação ao referido Enunciado n. 46 da I Jornada de Direito Civil, com a supressão da parte final “não se aplicando às hipóteses de responsabilidade objetiva”, o que levanta novas reflexões sobre o tema. Poder-se-ia então imaginar que, em verdade, o fato de se não analisar a culpa em uma demanda que verse sobre responsabilidade objetiva não significaria que ela não concorresse, no caso concreto. Nessa linha, poderia, então, o elemento subjetivo ser analisado apenas para efeito de redução.

O EXCLUDENTES DA RESPONSABILIDADE CIVIL CONCEITO: são todas as circunstâncias que, por atacar um dos elementos ou pressupostos

gerais da responsabilidade civil, rompendo o nexo causal, terminam por fulminar qualquer pretensão indenizatória.

As excludentes de ilicitude afastam a contrariedade, mas via de regra não excluem o dever

de indenizar. As excludentes de responsabilidade (caso fortuito, força maior e culpa exclusiva da vítima)

rompem o nexo de causalidade e afastam a responsabilidade.

ESTADO DE NECESSIDADE

Art. 188. Não constituem atos ilícitos: II - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de remover perigo iminente. Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites do indispensável para a remoção do perigo.

Enuncia o art. 188, II, do atual Código que não constitui ato ilícito a deterioração ou

destruição da coisa alheia, ou a lesão à pessoa, a fim de remover perigo iminente, prestes a acontecer. Esse comando legal consagra o estado de necessidade, que merece tratamento idêntico, como se sinônimo fosse. Em complemento, o parágrafo único do mesmo dispositivo disciplina que o ato será legítimo somente quando as circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites do indispensável à remoção do perigo. Em havendo excesso, mais uma vez, tanto poderá estar configurado o abuso de direito (art. 187 do CC) o ato ilícito propriamente dito (art. 186 do CC).

Diferente do que ocorre na legítima defesa, o agente não reage a um situação injusta, mas

atua para subtrair um direito seu ou de outrem de uma situação de perigo concreto. É o caso do sujeito que desvia o seu carro de uma criança, para não atropelá-la, e atinge o muro da casa, causando danos materiais. Atuou, nesse caso, em estado de necessidade. Note-se, entretanto, que, se o terceiro atingido não for o causador da situação de perigo, poderá exigir indenização do agente que houvera atuado em estado de necessidade, cabendo a este ação regressiva contra o verdadeiro culpado.

Art. 929. Se a pessoa lesada, ou o dono da coisa, no caso do inciso II do art. 188, não forem culpados do perigo, assistir-lhes-á direito à indenização do prejuízo que sofreram.

Art. 930. No caso do inciso II do art. 188, se o perigo ocorrer por culpa de terceiro, contra este terá o autor do dano ação regressiva para haver a importância que tiver ressarcido ao lesado. Parágrafo único. A mesma ação competirá contra aquele em defesa de quem se causou o dano (art. 188, inciso I).

LEGÍTIMA DEFESA

Art. 188. Não constituem atos ilícitos: I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido;

Diferente do estado de necessidade, na legítima defesa o indivíduo encontra-se diante de

uma situação atual ou iminente de injusta agressão, dirigida a si ou a terceiro, que não é obrigado a suportar.

LEGITIMA DEFESA REAL: pressupõe a reação proporcional a uma injusta agressão, atual

ou iminente, utilizando-se moderadamente dos meios de defesa postos à disposição do ofendido. A desnecessidade ou imoderação dos meios de repulsa poderá caracterizar o excesso, proibido pelo Direito. Vale lembrar que, se o agente, exercendo a sua lídima prerrogativa de defesa, atinge terceiro inocente, terá de indenizá-lo, cabendo-lhe, outrossim, ação regressiva contra o verdadeiro agressor. Em havendo excesso, mais uma vez, tanto

poderá estar configurado o abuso de direito (art. 187 do CC) o ato ilícito propriamente dito (art. 186 do CC) - Ex. proprietário da fazenda desfere tiros de armas de fogo contra invasores de seu imóvel, não haverá legítima defesa, mas excesso no exercício da defesa.

LEGITIMA DEFESA PUTATIVA X DEVER DE INDENIZAR: a legítima defesa putativa não

exclui o dever de indenizar. (STJ, REsp 513.891/RJ, Processo 2003/0032562-7, 3 T. , Rel. Min. Ari Pargendler, j. 2007)

ART. 930 E A LEGITIMA DEFESA: o art. 930 do CC, inicialmente aplicável ao estado de

necessidade e à remoção de perigo iminente, poderá ser aplicado à legítima defesa. O comando legal prevê em seu caput o direito de regresso em relação ao culpado pelo estado gerador do perigo. O parágrafo único do art. 930 reconhece o direito de regresso também contra aquele em defesa de quem o dano acabou sendo causado. Em outras palavras, havendo exercício imoderado da defesa ou defesa putativa e sendo o fato causado por terceiro, é reconhecido o direito de regresso do ofensor contra aquele que gerou a situação que causou o dano.

Art. 930. No caso do inciso II do art. 188, se o perigo ocorrer por culpa de terceiro, contra este terá o autor do dano ação regressiva para haver a importância que tiver ressarcido ao lesado. Parágrafo único. A mesma ação competirá contra aquele em defesa de quem se causou o dano (art. 188, inciso I).

EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO E ESTRITO CUMPRIMENTO DO DEVER LEGAL

Art. 188. Não constituem atos ilícitos: I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido;

Não constitui ato ilícito ato praticado no exercício regular de um direito reconhecido. Trata-se

de uma das excludentes do dever de indenizar mais discutidas no âmbito da jurisprudência.

i. À inclusão do nome de devedores no rol dos inadimplentes ou devedores, em cadastros de natureza privada (Serasa e SPC). Por uma questão lógica, a inscrição nos casos de inadimplência constitui um exercício regular de direito do credor, conforme entendimento unânime de nossos Tribunais. O raciocínio serve para o protesto de título em casos de não pagamento no prazo fixado (nessa linha de conclusão: STJ, Ag. Rg. no Ag. 555.171/RS, 2004; 3 T, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, 2004). Alerte-se apenas que, antes da inscrição, deve ocorrer a comunicação ao devedor pela empresa que mantém o cadastro (Súmula 359 do STJ). A falta dessa comunicação constitui abuso de direito, gerando o dever de reparar.

ii. O condomínio que publicar o número da unidade inadimplente na prestação de

contas que circular entre os condôminos. No caso em questão, não há que se falar em ato ilícito, mas em exercício regular de direito se a dívida realmente existir (concluindo desse modo: 2 TACSP, Apelação sem Revisão 646.365-00/9, 12 Câmara, Rel. Juiz Romeu Ricupero, j. 2002)

iii. Exercício regular das próprias funções – se bombeiro arromba uma porta para

salvar a criança de um incêndio, sua situação não está enquadrada no inciso II do art. 188 do CC. Dessa forma, não se aplica o art. 929 do mesmo Código, que

dispõe o seu eventual dever de indenizar. Isso porque, para o caso do bombeiro, deve subsumir o inciso I do art. 188;

Deverá haver indenização nos casos de abuso de direito, que o agente tenha a intenção de

prejudicar terceiros, bastando, segundo a dicção legal, que exceda manifestadamente os limites impostos pela finalidade econômica ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.

DAS EXCLUDENTES DO NEXO DE CAUSALIDADE O tema já foi discutido no segmento que tratou de nexo de causalidade. [1. culpa ou fato exclusivo da vítima; 2. culpa ou fato exclusivo de terceiro; 3. caso fortuito (evento totalmente imprevisível) e força maior (evento previsível, mas inevitável)].

¤ CLÁUSULA DE NÃO INDENIZAR O tema já discutido no segmento que tratou de responsabilidade civil contratual.

MODALIDADES DE RESPONSABILIDADE CIVIL

O RESPONSABILIDADE CIVIL POR ATO DE TERCEIRO

Art. 928. O incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas por ele responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo9 ou não dispuserem de meios suficientes. Parágrafo único. A indenização prevista neste artigo, que deverá ser eqüitativa, não terá lugar se privar do necessário o incapaz ou as pessoas que dele dependem.

A responsabilidade do incapaz é subsidiária e mitigada.

ENUNCIADO 39 – Art. 928: a impossibilidade de privação do necessário à pessoa, prevista no art. 928, traduz um dever de indenização eqüitativa, informado pelo princípio constitucional da proteção à dignidade da pessoa humana. Como conseqüência, também os pais, tutores e curadores serão beneficiados pelo limite hum anitário do dever de indenizar, de modo que a passagem ao patrimônio do incapaz se dará não quando esgotados todos os recursos do responsável, mas se reduzidos estes ao montante necessário à manutenção de sua dignidade.

Em termos de processo, haverá litisconsórcio sucessivo, cumulação subsidiária de pedidos.

O pedido é feito em relação ao responsável pelo incapaz, mas este não tendo condições, sucessivamente direcionará o pedido ao incapaz.

O bem de família dos pais podem ser penhorados para arcar indenização decorrente de ato

ilícito de incapaz. Mas, o único crédito que pode penhorar o bem de família é o decorrente da pensão mensal fixada na ação de indenização. INFORMATIVO 415.

INFORMATIVO 426 – filho morava só com a mãe, a mãe comprou um revólver, 3 dias

depois o filho pegou a arma e matou um amiguinho, STJ responsabilizou só a mãe. (crítica do NELSON ROSENVALD – a responsabilidade objetiva – qualquer um dos dois poderia responder)

EXCEÇÃO - Caso de responsabilidade direta do incapaz – ECA art. 116. – se um

adolescente comete o ilícito é condenado pelo ato infracional, essa condenação permite que vítima – ENUNCIADO 40 do CJF.

ENUNCIADO 40 - Art. 928: o incapaz responde pelos prejuízos que causar de maneira subsidiária ou excepcionalmente como devedor principal, na hipótese do ressarcimento devido pelos adolescentes que praticarem atos infracionais nos termos do art. 116 do Estatuto da Criança e do Adolescente, no âmbito das medidas sócio-educativas ali previstas.

Responsabilidade solidária do menor com os pais.

ENUNCIADO 41 - Art. 928: a única hipótese em que poderá haver responsabilidade solidária do menor de 18 anos com seus pais é ter sido emancipado nos termos do art. 5º, parágrafo único, inc. I, do novo Código Civil.

9 CASO EM QUE PAI EM MÃE ESTÃO DIVORCIADOS. QUEM ESTÁ NA GUARDA RESPONDE. NELSON ROSENVALD (DIVERGENTE PENSA STJ) DESCORDA, DIZ QUE HÁ SOLIDARIEDADE E OS DOIS SÃO LEGITIMADOS PASSIVOS PARA DEMANDA.

Art. 929. Se a pessoa lesada, ou o dono da coisa, no caso do inciso II do art. 188, não forem culpados do perigo, assistir-lhes-á direito à indenização do prejuízo que sofreram.

Art. 930. No caso do inciso II do art. 188, se o perigo ocorrer por culpa de terceiro, contra este terá o autor do dano ação regressiva para haver a importância que tiver ressarcido ao lesado. Parágrafo único. A mesma ação competirá contra aquele em defesa de quem se causou o dano (art. 188, inciso I).

Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil: I - os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia10; II - o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas condições; III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele; IV - os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se albergue por dinheiro, mesmo para fins de educação, pelos seus hóspedes, moradores e educandos; V - os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime, até a concorrente quantia.

Art. 933. As pessoas indicadas nos incisos I a V do artigo antecedente, ainda que não haja culpa de sua parte, responderão pelos atos praticados pelos terceiros ali referidos.

Esse artigo adotou a teoria do risco criado, a responsabilidade é objetiva, mas para que

essa pessoa responda pelo ato de terceiro, é necessário provar a culpa daqueles pelos quais são responsáveis. Por isso a responsabilidade é denominada objetiva indireta ou objetiva impura, conforme a doutrina de Álvaro Villaça Azevedo. Desse modo, é fundamental repetir que não se pode mais falar em culpa presumida (culpa in vigilando ou culpa in eligendo) nesses casos, mas em responsabilidade sem culpa, de natureza objetiva.

INDENIZAÇÃO DE DANO GERADO NA ESCOLA – 1 posicionamento Aguiar Dias,

responsabilidade intermitente, quando está em caso os pais respondem, na escola ela que responde. 2 posicionamento – quando o menor comete ato antijurídico na escola a responsabilidade é solidária da escola (art. 932, IV) e dos pais (art. 932, I), visto que o pais contribuem na formação da personalidade dos filhos e tem responsabilidade pelos atos dele.

Quem responde pela dano é quem tem a guarda do incapaz, na literalidade do Código (art.

932, I). Entretanto, Nelson Rosenvald destaca a possibilidade da responsabilidade para que a vítima tenha maior possibilidade de reparação do dano.

Vale lembrar que deve ser tida como cancelada a Súmula 341 do STF, pela qual seria

presumida a culpa do empregador por ato de seu empregado. A responsabilidade do empregador por ato do seu empregado, que causa dano a terceiro, independe de culpa (responsabilidade objetiva – arts. 932, III, e 933 do CC).

10

ENUNCIADO N. 191 CJF SÚMULA 492 do STF

Art. 934. Aquele que ressarcir o dano causado por outrem pode reaver o que houver pago

daquele por quem pagou, salvo se o causador do dano for DESCENDENTE SEU11,

ABSOLUTA OU RELATIVAMENTE INCAPAZ.

44 – Art. 934: na hipótese do art. 934, o empregador e o comitente somente poderão agir regressivamente contra o empregado ou preposto se estes tiverem causado dano com dolo ou culpa.

11 Apenas 932, I, CC.

O RESPONSABILIDADE CIVIL PELO FATO DA COISA E DO ANIMAL

Conceito: trata-se do estudo da responsabilidade da pessoa que detem o poder de comando

das coisas e animais causadores de danos à esfera jurídica de outrem, situação de prejuízo que deverá ser ressarcida.

Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona entendem que a premissa de que a responsabilidade pelos

danos causados pela coisa ou animal há que ser atribuída aquela pessoa que, no momento do evento, detinha poder de comando sobre ele.

i. Exemplo: minha bomba d’água, mal-conservada, explode e lesiona um transeunte,

a obrigação de indenizar será imposta a mim, proprietário e guardião da coisa, que estava sob a minha custódia e direção.

ii. Note-se que essa atribuição de responsabilidade não exige necessariamente

perquirição de culpa. Ou seja, a depender do sistema legal consagrado, o guardião poderá ser chamado à responsabilidade, mesmo que não haja atuado com culpa ou dolo, mas pelo simples fato de haver exposto a vítima a uma situação de risco. (Ex. coisa ou animal de propriedade da Administração Pública – responsabilidade objetiva).

Responsabilidade civil pela guarda de animal

Art. 936. O dono, ou detentor, do animal ressarcirá o dano por este causado, se não provar culpa da vítima ou força maior.

i. Partindo da teoria do risco, o guardião somente se eximirá se provar quebra do nexo causal em decorrência da culpa exclusiva da vítima ou evento de força maior, não importando a investigação de sua culpa.

ii. Responsabilidade objetiva em imprópria ou impura (que admite inversão do ônus da

prova), pois o causador do dano pode provar que não teve culpa.

iii. Em caso da entrega pelo dono a terceiro, este terceiro responderá pelo dano, pois é que tinha a guarda do animal.

iv. Se o animal houver sido furtado, e, estando da posse do ladrão, atacar um terceiro?

Segundo Caio Mário caso o furto ocorreu por falta de cautela do dono ele responderá. Caso o furto ocorreu, mesmo ele tendo o cuidado com coisa ou animal, equivalerá o evento à força maior e assim não será responsabilizado.

Responsabilidade civil pela ruína de edifício ou construção

Art. 937. O dono de edifício ou construção responde pelos danos que resultarem de sua ruína, se esta provier de falta de reparos, cuja necessidade fosse manifesta.

i. Trata-se no entender de Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona, Silvio Venosa, um caso de

responsabilidade civil objetiva do dono do edifício ou construção. Considerando ser a construção civil uma atividade de risco, potencialmente danosa.

ii. O proprietário (dono) somente de eximirá se provar a quebra do nexo causal por uma das excludentes de responsabilidade, como, por exemplo, evento fortuito ou de força maior ou, ainda culpa exclusiva da vítima.

Responsabilidade civil pelas coisas caídas de edifícios

Art. 938. Aquele que habitar prédio, ou parte dele, responde pelo dano proveniente das coisas que dele caírem ou forem lançadas em lugar indevido.

i. Cuida-se de responsabilidade civil objetiva, pois o agente só se exime provando não

haver participado da cadeia causal dos acontecimentos.

ii. Jurisprudência: O dano é imputado ao condomínio, não se podendo identificar a unidade habitacional de onde partiu a coisa, a jurisprudência tem adotado o critério de responsabilizar apenas o bloco de apartamentos de onde se poderia, segundo a lógica dos fatos, partir o objeto. Dessa maneira, os moradores do bloco ou face do prédio oposto ao local do dano não seria admitidos como parte legítima para responderem na demanda indenizatória.

Responsabilidade civil pelo automóvel

Súmula 132 do STJ - A ausência de registro da transferência não implica a responsabilidade do antigo proprietário por dano resultante de acidente que envolva o veiculo alienado.

Súmula 489 do STF - A compra e venda de automóvel não prevalece contra terceiros, de boa-fé, se o contrato não foi transcrito no registro de títulos e documentos.

Súmula 492 do STF - A empresa locadora de veículos responde, civil e solidariamente com o locatário, pelos danos por este causados a terceiro, no uso do carro locado.

O RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO

DISPOSIÇÕES GERAIS

Consubstancia-se na obrigação de indenizar um dano patrimonial ou moral decorrente de danos causados a terceiros. A responsabilidade do Estado (pode decorrer de comportamentos administrativos, atos legislativos e atos judiciais) pode compreender a responsabilidade contratual e a responsabilidade extracontratual.

Trate-se de dano resultante de comportamentos do Executivo, do Legislativo ou do

Judiciário, A RESPONSABILIDADE É DO ESTADO, PESSOA JURÍDICA; POR ISSO É ERRADO FALAR EM RESPONSABILIDADE DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, já que esta não tem personalidade jurídica, não é titular de direitos e obrigações na ordem civil. A capacidade é do Estado e das pessoas jurídicas públicas ou privadas que o

representam no exercício de parcela de atribuições estatais. E a responsabilidade é sempre civil, ou seja, de ordem pecuniária. (DI PIETRO)

EVOLUÇÃO DA NOÇÃO DE RESPONSABILIDADE DO ESTADO

A Irresponsabilidade do Estado

Na época dos Estados absolutos, o Estado dispunha de incontestável autoridade sobre o

súdito, de modo que, responsabilizá-lo, significaria colocá-lo no mesmo nível que o súdito, em total desrespeito à sua plena soberania. Nessa época vigia a máxima The King can do no wrong (O Rei não pode errar).

Essa teoria começou a ruir já no século XIX dando espaço ao postulado democrático da

responsabilidade. Os EUA e a Inglaterra foram os últimos a resistirem ao paradigma (até década de 40 do século XX).

Teorias subjetivistas Teoria da culpa civil ou responsabilidade subjetiva (o Estado responde pelos atos de seus agentes – culpa invigilando ou in eligendo) Teoria da culpa administrativa. (culpa in commitendo e in omittendo – na ação ou omissão de seus agentes). Teoria da culpa anônima (deve-se provar que o dano decorreu da atividade pública) Teoria da culpa presumida (falsa teoria objetiva – inversão do ônus da prova) Teoria da culpa administrativa ou culpa do serviço (aplicada em caso de omissão do serviço – mau prestado, atrasado, inexistência)

Calcada na idéia civilista da culpa individual, o Estado só respondia quando comprovada

a culpa individual do seu agente, isto é, quando se demonstrava que este, no exercício de sua função, procedeu com imperícia, negligência ou imprudência.

Teorias objetivistas Teoria da culpa administrativa ou culpa do serviço Teoria do risco (divide-se risco administrativo e risco integral)

Teoria da culpa administrativa ou culpa do serviço

Essa teoria teve como mérito distinguir a culpa individual do agente público, em virtude da qual ele mesmo respondia, e, de outro, a culpa administrativa ou culpa anônima do serviço.

O Estado será responsabilizado por culpa do serviço ou administrativa ou anônima, quando (1) o serviço não existiu ou não funcionou, devendo funcionar; (2) o serviço funcionou mal; (3) o serviço atrasou.

A responsabilidade por culpa do serviço é responsabilidade subjetiva do Estado, porque é

baseado na culpa (culpa especial – não é individual, mas do serviço – que não funcionou, funcionou mal ou funcionou atrasado).

A responsabilidade pelos danos causados por atos de terceiros ou fenômenos da

natureza é do tipo subjetiva, há necessidade de comprovação de omissão culposa do Estado, para configurar a obrigação de indenizar.

Teoria do risco

É a teoria do risco que serve de fundamento para a idéia de responsabilidade objetiva ou sem culpa do Estado.

Consiste na obrigação de reparar os danos causados a terceiros em razão de um

procedimento lícito ou ilícito do Estado. Distingue-se da responsabilidade subjetiva: por ser independente de culpa e abranger as

condutas lícitas e ilícitas que causarem danos. Para Hely Lopes Meirelles, a teoria do risco abrange duas modalidades: o risco

administrativo e o risco integral, distinguindo-se apenas pelo fato de que a primeira modalidade admite causas excludentes de responsabilidade e a segunda não. (DI PIETRO usa as expressões como sinônimos).

RESPONSABILIDADE DO ESTADO NO DIREITO BRASILEIRO

O fundamento da responsabilidade objetiva é a isonomia. Justificada no sentido de qual, se todos se beneficiam da atividade estatal, nada mais justo todos responderem pelo danos decorrente dos riscos dessa atividade.

Desde a Constituição de 1946 o Brasil adota a responsabilidade objetiva do Estado, na

atual Constituição é consagrada no art. 37 § 6º.

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: § 6º - As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.

Requisitos para a responsabilidade objetiva do Estado segundo o art. 37 § 6º.

1. Que se trate de pessoa jurídica de direito público ou de direito privado prestadora de serviços públicos; a norma constitucional veio pôr fim às divergências doutrinárias quanto à incidência de responsabilidade objetiva quanto se tratasse de entidades de direito privado prestadoras de serviços públicos (fundações governamentais de direito privado, empresas públicas, sociedades de economia mista, empresas permissionárias e concessionárias de serviços

públicos), já que mencionadas, no artigo 107 da Constituição de 1967, apenas as pessoas jurídicas de direito público (União, Estados, Municípios, Distrito Federal, Territórios e autarquias); 2. Que essas entidades prestem serviços públicos, o que exclui as entidades da administração indireta que executem atividade econômica de natureza privada; assim é que, em relação às sociedades de economia mista e empresas públicas, não se aplicará a regra constitucional, mas a responsabilidade disciplinada pelo direito privado, quando não desempenharem serviço público; 3. Que haja um dano causado a terceiros em decorrência da prestação de serviço público; aqui está o nexo de causa e efeito; 4. Que o dano seja causado por agente das aludidas pessoas jurídicas, o que abrange todas as categorias, de agentes políticos, administrativos ou particulares em colaboração com a Administração, sem interessar o título sob o qual prestam o serviço; 5. Que o agente, ao causar o dano, aja nessa qualidade; não basta ter a qualidade de agente público, pois, ainda que o seja, não acarretará a responsabilidade estatal se, ao causar o dano, não estiver agindo no exercício de suas funções.

OBS. Só responde na modalidade COMISSIVA, pois no caso de omissão a responsabilidade é subjetiva – “falta do serviço”. Esse ação ou ato comissivo pode ser por comportamento lícitos em face de atos jurídicos (interrupção do fluxo de automóvel em rua de edifício garagem licenciado) ou materiais (obra do Estado que cause desvalorização de propriedade particular – ex. minhocão -SP); por comportamento ilícito em face de atos jurídicos (apreensão de material, sem cumprir as formalidades legais) ou atos materiais (carcereiro espancar preso). OBS. DANOS DE OBRA PÚBLICA – o dano decorrente de obra pública gera para o Estado a mesma responsabilidade objetiva prevista para os serviços públicos, tendo em vista que, embora a obra seja um fato administrativo, ela deriva sempre de um ato administrativo de quem ordena sua execução. Mesmo que obra pública seja confiada a terceiros (empreiteiros, por exemplo), a responsabilidades pelos danos oriundos do só fato da obra é sempre do Estado que determinou sua realização. Decerto que, se o dano decorreu de imperícia, imprudência ou negligência do empreiteiro, pode o Estado cobrar deste, regressivamente, o que pagou à vitima. Mas lembre-se: a responsabilidade originária é do Estado, como dono da obra. Mas pode vítima optar por acionar o particular, na hipótese de negligência, imperícia ou imprudência deste na execução da obra. OBS. A palavra agente não é sinônimo de servidor, mas sim abrange todas as espécies de agentes públicos.

Reparação do dano – quando se trata de ação fundada na culpa anônima do serviço ou

apenas na responsabilidade objetiva decorrente do risco, a denunciação da lide não cabe, porque o denunciante estaria incluindo novo fundamento na ação: a culpa ou dolo do funcionário, não argüida pelo autor; Mas, quando se trata de ação fundada na responsabilidade objetiva do Estado, mas com argüição de culpa do agente público, a denunciação da lide é cabível como também é possível o litisconsórcio facultativo (com citação da pessoa jurídica e de seu agente) ou a propositura da ação diretamente contra o agente público.

ATOS LEGISLATIVOS

Na doutrina e jurisprudência já começa a prevalecer o entendimento segundo o qual os atos

legislativos firmam a responsabilidade do Estado quando estes forem previamente declarados inconstitucionais pelo STF, em sede de controle concentrado de constitucionalidade (seja comissivo ou omissivo), além da demonstração dos eventuais danos suportados – Responsabilidade objetiva.

ATOS JUDICIAIS O Estado será responsável objetivamente pelo Erro judiciário (criminal – prisão além do

devido; CF, art. 5, LXXV). O Juiz só responde pessoalmente no termos do art. 133 do CPC – Responsabilidade subjetiva (culpa, dolo, fraude).

CAUSAS EXCLUDENTES DA RESPONSABILIDADE DO ESTADO

São apontadas como causas excludentes da responsabilidade objetiva a força maior – caso fortuito (fatos imprevissiveis e inevitáveis) – e a culpa exclusiva da vítima.

Divergência doutrinária Caso fortuito como acontecimento humano e Força maior como evento da natureza. (DI PIETRO E CELSO A. B. DE MELLO); - para Di Pietro, caso fortuito não constitui causa de exclusão da responsabilidade. Caso fortuito como evento da natureza e Força maior como acontecimento humano (Hely L. Meirelles)

Independentemente do conceito elas são, somente são, causas excludentes de responsabilidade, na medida em que rompam o NEXO CAUSAL. OBS. Quando houver culpa concorrente entre o Estado e a vítima, não haverá exclusão da responsabilidade, mas tão-só atenuação do valor da indenização.

DIREITO DE REGRESSO (RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO AGENTE PÚBLICO)

Conforme o art. 37 § 6º só existe o direito de regresso quando: a) o agente agiu com

culpa ou dolo; b) o Estado, condenado, pagou indenização à vítima. OBS. Mesmo no caso de culpa ou dolo do agente, à vítima, pode propor ação somente contra o Estado – não poderá contra o agente (STF 1 Turma RE 327904 – HELY LOPES MEIRELLES). Entretanto, o posicionamento MAJORITÁRIO é em contrário, dizendo que pode contra somente contra o agente, somente contra o Estado ou contra os dois solidariamente (Celso Antônio B. Mello e STF no RE 90071, AI 106483). OBS. OBRIGAÇÃO DA AÇÃO REGRESSIVA – A propositura da ação regressiva contra o agente público que causar, por dolo ou culpa, o dano a terceiro, é obrigatória em caso de condenação da Fazenda Pública, devendo o seu ajuizamento dar-se no prazo de 60 dias a contar da data em que transitar em julgado a sentença condenatória. OBS. DENUNCIAÇÃO DA LIDE – AGENTE PÚBLICO QUE CAUSOU O DANO – 1 CORRENTE (MAJORITÁRIA) O argumento para proibir a denunciação, é o fato de que o ingresso do servidor geraria tumulto processo, tendo em vista que a responsabilidade do ente

público é objetiva e a do servidor é subjetiva. Quem adota esta corrente compartilha o pensamento de Vicente Greco. Segundo Celso Antônio Bandeira de Mello no caso da indenizatória por responsabilidade objetiva, não cabe denúncia da lide (art. 70, inciso III do CPC), provocada pelo Estado contra o agente, visto que isso traria fato novo ao processo (ou seja, a CULPA – RESPONSABILIDADE SUBJETIVA); (posição STJ) 2 CORRENTE (MINORITÁRIA) – O argumento para admitir se fundamenta no art. 70, III, do CPC, não havendo proibição em tese, baseando-se na corrente defendida por Dinamarco.

O RESPONSABILIDADE CIVIL NAS RELAÇÕES DE TRABALHO DISCIPLINA E IMPORTÂNCIA DA RESPONSABILIDADE CIVIL NAS RELAÇÕES DE

TRABALHO Confor ANTINOMIA ART. 7, XXVIII, DA CF/88 E ART. 927, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CC. Neste caso observa-se um conflito entre uma norma geral superior (art. 7, XXVIII, da CF) e

uma norma especial inferior (art. 927, parágrafo único, do CC). Presente esse choque, essa antinomia, qual das duas normas irá sobrepor? Trata-se de uma antinomia de segundo grau, envolvendo os critérios hierárquicos e da especialidade. O conflito envolvendo tais critérios – hierárquico e especialidade – é exemplo típico de antinomia real, em que a solução não está nos metacritérios propostos, desenvolvidos por Noberto Bobbio. Repise-se que a especialidade consta da Constituição Federal, na segunda parte do princípio da isonomia,

um dos ditames do Direito Civil Constitucional (a lei deve tratar de maneira igual os iguais e de maneira desigual os desiguais). Pois bem, em havendo antinomia real, a partir da doutrina de Maria Helena Diniz, duas são as possíveis soluções: 1. Solução: Solução do Poder Legislativo com a edição de uma terceira norma apontando qual das duas regras em conflito deve ser aplicada, ou seja, qual deve se sobrepor. Como não há no momento essa terceira norma, não é o caso desse meio de solução. 2. Solução: Solução do Poder Judiciário, com a escolha, pelo juiz da causa, de uma das duas normas, aplicando os arts. 4 e 5 da Lei de Introdução. Por esse caminho, o magistrado deve buscar socorro na analogia, costumes, princípios gerais do direito, fim social da norma e bem comum. Aplicando-se o princípio geral de interpretação mais favorável ao empregado, um dos ditames do Direito do Trabalho, a responsabilidade é objetiva. O mesmo se diz pela aplicação do fim social da norma e do bem comum, consubstanciado a regra suum cuique tribuere (dar a cada um o que é seu), o processo máximo de justiça. O juiz também entenderá pela responsabilidade objetiva se aplicar a proteção da dignidade humana (art. 1, III, da CF) e a solidariedade social (art. 3, I, da CF) em prol do trabalhador ou empregado.

Destaque-se que a tese de aplicação do art. 927, parágrafo único, do CC para os acidentes do trabalho foi adotada pelo Enunciado 377, aprovado na IV Jornada de Direito Civil, cuja redação é a seguinte: “O art. 7, XXVIII, da Constituição Federal não é impedimento para aplicação do disposto no art. 927, parágrafo único, do Código Civil quando se tratar de atividade de risco”.

Na jurisprudência do TST vários são julgados que fazem incidir o art. 927, parágrafo único,

do CC para as relações de trabalho. (TST, Recurso de Revista 850/2004-021-12-50.0, 6 Turma, Rel. Min. Maurício Godinho Delgado, j. 03.06.2009)

INFORMATIVO 398 STJ COMPETÊNCIA. INDENIZAÇÃO. HERDEIROS. ACIDENTE. TRABALHO. A Seção negou provimento ao agravo e reiterou seu entendimento no sentido de que a ação de indenização por danos morais e materiaisajuizada pelos herdeiros do empregado falecido em razão de acidente de trabalho deve ser processada e julgada perante a Justiça comum. Precedentes citados do STF: CC 7.204-MG, DJ 31/3/2006; do STJ: CC 57.884-SP, DJ 9/4/2007; CC 75.787-RS,DJ 6/8/2007; CC 54.210-RO, DJ 12/12/2005; CC 55.534-RS, DJ 8/10/2007; CC 40.618-MS, DJ 13/10/2005, e AgRg no CC 88.445-RJ, DJ 3/12/2007. AgRg no CC 92.821-BA, Rel. Min. Massami Uyeda, julgado em 10/6/2009.

TRT-RJ SÚMULA Nº 25 - ACIDENTE DO TRABALHO. DANO MORAL. TEORIA DO RISCO. Quando a atividade exercida pelo empregador implicar, por sua própria natureza, risco acentuado para o empregado, a obrigação patronal de indenizar o dano moral decorrente de acidente do trabalho depende, exclusivamente, da comprovação do dano e do nexo de causalidade com o trabalho desenvolvido. Art. 927 do Código Civil

O RESPONSABILIDADE CIVIL NAS RELAÇÕES DE CONSUMO

Disposições Gerais

Fundamentação do CDC

Art. 1° O presente código estabelece normas de proteção e defesa do consumidor, de ordem pública e interesse social, nos termos dos arts. 5°, inciso XXXII, 170, inciso V, da Constituição Federal e art. 48 de suas Disposições Transitórias.

Relação jurídica de consumo

Consumidor

Art. 2° Consumidor é TODA PESSOA FÍSICA OU JURÍDICA que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final.

Consumidor por equiparação

Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo.

Fornecedor

Art. 3° Fornecedor é TODA PESSOA FÍSICA OU JURÍDICA, PÚBLICA OU PRIVADA, NACIONAL OU ESTRANGEIRA, BEM COMO OS ENTES DESPERSONALIZADOS, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.

Produto e serviço

§ 1° Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial. § 2° Serviço é QUALQUER ATIVIDADE FORNECIDA NO MERCADO DE CONSUMO, MEDIANTE REMUNERAÇÃO, INCLUSIVE AS DE NATUREZA BANCÁRIA, FINANCEIRA12, DE CRÉDITO E SECURITÁRIA, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista.

Qualidade de Produtos e Serviços, da Prevenção e da Reparação dos Danos

Proteção a saúde e segurança

Art. 8° Os produtos e serviços colocados no mercado de consumo não acarretarão riscos à saúde ou segurança dos consumidores, exceto os considerados normais e previsíveis em decorrência de sua natureza e fruição, obrigando-se os fornecedores, em qualquer hipótese, a dar as informações necessárias e adequadas a seu respeito.

Parágrafo único. Em se tratando de produto industrial, ao fabricante cabe prestar as informações a que se refere este artigo, através de impressos apropriados que devam acompanhar o produto.

Art. 9° O fornecedor de produtos e serviços potencialmente nocivos ou perigosos à saúde ou segurança deverá informar, de maneira ostensiva e adequada, a respeito da sua nocividade ou periculosidade, sem prejuízo da adoção de outras medidas cabíveis em cada caso concreto.

Art. 10. O fornecedor não poderá colocar no mercado de consumo produto ou serviço que sabe ou deveria saber apresentar alto grau de nocividade ou periculosidade à saúde ou segurança.

12 Em julgamento realizado em junho de 2006, o STF, por maioria de votos, julgou, com alguma ressalva (especialmente quanto a política de juros), improcedente a ADI – sobre a impossibilidade constitucional vide art. 192 da CF, da aplicação do CDC nas relações envolvendo bancos e instituições financeiras.

§ 1° O fornecedor de produtos e serviços que, posteriormente à sua introdução no mercado de consumo, tiver conhecimento da periculosidade que apresentem, deverá comunicar o fato imediatamente às autoridades competentes e aos consumidores, mediante anúncios publicitários. § 2° Os anúncios publicitários a que se refere o parágrafo anterior serão veiculados na imprensa, rádio e televisão, às expensas do fornecedor do produto ou serviço. § 3° Sempre que tiverem conhecimento de periculosidade de produtos ou serviços à saúde ou segurança dos consumidores, a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão informá-los a respeito.

RESPONSABILIDADE CIVIL PELO FATO DO PRODUTO OU SERVIÇO (ACIDENTE DE CONSUMO)

FATO DO PRODUTO OU SERVIÇO – acidente de consumo - A responsabilidade civil decorrente de danos causados ao consumidor, por falha na segurança dos produtos ou serviços fornecidos.

Art. 12. O FABRICANTE, O PRODUTOR, O CONSTRUTOR, NACIONAL OU ESTRANGEIRO, E O IMPORTADOR respondem, INDEPENDENTEMENTE DA EXISTÊNCIA DE CULPA, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos.

i. Responsabilidade solidária do fabricante, produtor, construtor, nacional ou estrangeiro, e

o importador.

ii. Responsabilidade subsidiária do comerciante

Responsabilidade civil objetiva da empresa e empresário (código civil).

Art. 931. Ressalvados outros casos previstos em lei especial, os empresários individuais e as empresas respondem independentemente de culpa pelos danos causados pelos produtos postos em circulação.

ENUNCIADO 42 – Art. 931: o art. 931 amplia o conceito de fato do produto existente no art. 12 do Código de Defesa do Consumidor, imputando responsabilidade civil à empresa e aos empresários individuais vinculados à circulação dos produtos.

ENUNCIADO 43 – Art. 931: a responsabilidade civil pelo fato do produto, prevista no art. 931 do novo Código Civil, também inclui os riscos do desenvolvimento.

§ 1° O produto é defeituoso quando não oferece a segurança que dele legitimamente se espera, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais: I - sua apresentação; II - o uso e os riscos que razoavelmente dele se esperam; III - a época em que foi colocado em circulação.

§ 2º O produto não é considerado defeituoso pelo fato de outro de melhor qualidade ter sido colocado no mercado.

Excludentes de responsabilidade

§ 3° O fabricante, o construtor, o produtor ou importador só não será responsabilizado quando provar: I - QUE NÃO COLOCOU O PRODUTO NO MERCADO; II - QUE, EMBORA HAJA COLOCADO O PRODUTO NO MERCADO, O DEFEITO INEXISTE; III - A CULPA EXCLUSIVA DO CONSUMIDOR OU DE TERCEIRO.

i. Alegação de caso fortuito (art. 393 cc) – fortuito externo – não será responsável;

fortuito interno – será responsável. Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona entendem que embora não esteja elencado no rol taxativo da lei os referidos excludentes podem ser alegados, por imperativo lógico, pois tais circunstâncias desfazem o nexo causal.

ii. Inversão do ônus da prova – pretendendo o réu alegar, em sede de defesa, uma das

excludentes acima estudadas, deverá o magistrado, nos termo no art. 6, VIII, reconhecer a inversão do ônus da prova, em benefício do consumidor. Em outras palavras, caberá ao próprio réu provar o alegado (não colocou o produto no mercado; o defeito inexiste; culpa exclusiva da vítima ou de terceiro).

Art. 6º São direitos básicos do consumidor: VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências;

Responsabilidade subsidiária do comerciante

Art. 13. O comerciante é igualmente responsável, nos termos do artigo anterior, quando: I - o fabricante, o construtor, o produtor ou o importador não puderem ser identificados; II - o produto for fornecido sem identificação clara do seu fabricante, produtor, construtor ou importador; III - não conservar adequadamente os produtos perecíveis.

Parágrafo único. Aquele que efetivar o pagamento ao prejudicado poderá exercer o direito de regresso contra os demais responsáveis, segundo sua participação na causação do evento danoso.

Serviço defeituoso

Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.

§ 1° O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais: I - o modo de seu fornecimento; II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam; III - a época em que foi fornecido.

§ 2º O serviço não é considerado defeituoso pela adoção de novas técnicas.

Excludentes da responsabilidade pelo fato do serviço

§ 3° O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar: I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste; II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.

A responsabilidade civil dos profissionais liberais

§ 4° A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais SERÁ APURADA MEDIANTE A VERIFICAÇÃO DE CULPA.

i. EXCEÇÃO: RESPONSABILIDADE SUBJETIVA

Consumidor por equiparação

Art. 17. Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos consumidores todas as vítimas do evento.

RESPONSABILIDADE CIVIL PELO VÍCIO DO PRODUTO OU SERVIÇO

Art. 18. Os FORNECEDORES DE PRODUTOS de consumo duráveis ou não duráveis respondem solidariamente pelos vícios de qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade, com a indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, podendo o consumidor exigir a substituição das partes viciadas.

§ 1° NÃO SENDO O VÍCIO SANADO NO PRAZO MÁXIMO DE TRINTA DIAS, PODE O CONSUMIDOR EXIGIR, ALTERNATIVAMENTE E À SUA ESCOLHA: I - a substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas condições de uso; II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos; III - o abatimento proporcional do preço.

§ 2° Poderão as partes convencionar a redução ou ampliação do prazo previsto no parágrafo anterior, não podendo ser inferior a sete nem superior a cento e oitenta dias. Nos contratos de adesão, a cláusula de prazo deverá ser convencionada em separado, por meio de manifestação expressa do consumidor.

§ 3° O consumidor poderá fazer uso imediato das alternativas do § 1° deste artigo sempre que, em razão da extensão do vício, a substituição das partes viciadas puder comprometer a qualidade ou características do produto, diminuir-lhe o valor ou se tratar de produto essencial.

§ 4° Tendo o consumidor optado pela alternativa do inciso I do § 1° deste artigo, e não sendo possível a substituição do bem, poderá haver substituição por outro de espécie, marca ou modelo diversos, mediante complementação ou restituição de eventual diferença de preço, sem prejuízo do disposto nos incisos II e III do § 1° deste artigo.

§ 5° No caso de fornecimento de produtos in natura, será responsável perante o consumidor o fornecedor imediato, exceto quando identificado claramente seu produtor.

§ 6° São impróprios ao uso e consumo: I - os produtos cujos prazos de validade estejam vencidos; II - os produtos deteriorados, alterados, adulterados, avariados, falsificados, corrompidos, fraudados, nocivos à vida ou à saúde, perigosos ou, ainda, aqueles em desacordo com as normas regulamentares de fabricação, distribuição ou apresentação; III - os produtos que, por qualquer motivo, se revelem inadequados ao fim a que se destinam.

Art. 19. Os fornecedores respondem solidariamente pelos vícios de quantidade do produto sempre que, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, seu conteúdo líquido for inferior às indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou de mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha: I - O ABATIMENTO PROPORCIONAL DO PREÇO; II - COMPLEMENTAÇÃO DO PESO OU MEDIDA; III - A SUBSTITUIÇÃO DO PRODUTO POR OUTRO DA MESMA ESPÉCIE, MARCA OU MODELO, SEM OS ALUDIDOS VÍCIOS; IV - A RESTITUIÇÃO IMEDIATA DA QUANTIA PAGA, MONETARIAMENTE ATUALIZADA, SEM PREJUÍZO DE EVENTUAIS PERDAS E DANOS. § 1° Aplica-se a este artigo o disposto no § 4° do artigo anterior.

§ 2° O fornecedor imediato será responsável quando fizer a pesagem ou a medição e o instrumento utilizado não estiver aferido segundo os padrões oficiais.

Art. 20. O fornecedor de serviços responde pelos vícios de qualidade que os tornem impróprios ao consumo ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade com as indicações constantes da oferta ou mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha: I - A REEXECUÇÃO DOS SERVIÇOS, SEM CUSTO ADICIONAL E QUANDO CABÍVEL; II - A RESTITUIÇÃO IMEDIATA DA QUANTIA PAGA, MONETARIAMENTE ATUALIZADA, SEM PREJUÍZO DE EVENTUAIS PERDAS E DANOS; III - O ABATIMENTO PROPORCIONAL DO PREÇO.

§ 1° A reexecução dos serviços poderá ser confiada a terceiros devidamente capacitados, por conta e risco do fornecedor.

§ 2° São impróprios os serviços que se mostrem inadequados para os fins que razoavelmente deles se esperam, bem como aqueles que não atendam as normas regulamentares de prestabilidade.

Art. 21. No fornecimento de serviços que tenham por objetivo a reparação de qualquer produto considerar-se-á implícita a obrigação do fornecedor de empregar componentes de reposição originais adequados e novos, ou que mantenham as especificações técnicas do fabricante, salvo, quanto a estes últimos, autorização em contrário do consumidor.

Art. 22. Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos. Parágrafo único. Nos casos de descumprimento, total ou parcial, das obrigações referidas neste artigo, serão as pessoas jurídicas compelidas a cumpri-las e a reparar os danos causados, na forma prevista neste código.

Art. 23. A ignorância do fornecedor sobre os vícios de qualidade por inadequação dos produtos e serviços não o exime de responsabilidade.

Art. 24. A garantia legal de adequação do produto ou serviço independe de termo expresso, vedada a exoneração contratual do fornecedor.

Art. 25. É vedada a estipulação contratual de cláusula que impossibilite, exonere ou atenue a obrigação de indenizar prevista nesta e nas seções anteriores.

§ 1° Havendo mais de um responsável pela causação do dano, todos responderão solidariamente pela reparação prevista nesta e nas seções anteriores.

§ 2° Sendo o dano causado por componente ou peça incorporada ao produto ou serviço, são responsáveis solidários seu fabricante, construtor ou importador e o que realizou a incorporação.

Decadência e prescrição

Art. 26. O direito de reclamar pelos vícios aparentes ou de fácil constatação caduca em: I - TRINTA DIAS, TRATANDO-SE DE FORNECIMENTO DE SERVIÇO E DE PRODUTOS NÃO DURÁVEIS; II - NOVENTA DIAS, TRATANDO-SE DE FORNECIMENTO DE SERVIÇO E DE PRODUTOS DURÁVEIS.

§ 1° Inicia-se a contagem do prazo decadencial a partir da entrega efetiva do produto ou do término da execução dos serviços.

§ 2° Obstam a decadência: I - a reclamação comprovadamente formulada pelo consumidor perante o fornecedor de produtos e serviços até a resposta negativa correspondente, que deve ser transmitida de forma inequívoca; II - (Vetado) III - a instauração de inquérito civil, até seu encerramento.

§ 3° Tratando-se de vício oculto, o prazo decadencial inicia-se no momento em que ficar evidenciado o defeito.

Prazo prescricional para a pretensão reparatória decorrente do acidente de consumo

Art. 27. PRESCREVE EM CINCO ANOS A PRETENSÃO À REPARAÇÃO PELOS DANOS causados por fato do produto ou do serviço prevista na Seção II deste Capítulo, iniciando-se a contagem do prazo a partir do conhecimento do dano e de sua autoria.

i. O prazo do CDC prevalece em relação ao prazo prescricional do CC; Como se trata de

norma especial, prevalece mesmo diante da regra geral de prescrição das pretensões de reparação civil, constante do art. 206, § 3°, V, do CC, que estabelece o prazo de 3 anos para sua dedução.

Desconsideração da personalidade jurídica

Art. 28. O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade quando, em detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social. A desconsideração também será efetivada quando houver falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica provocados por má administração. § 1° (Vetado). § 2° As sociedades integrantes dos grupos societários e as sociedades controladas, são subsidiariamente responsáveis pelas obrigações decorrentes deste código. § 3° As sociedades consorciadas são solidariamente responsáveis pelas obrigações decorrentes deste código. § 4° As sociedades coligadas só responderão por culpa. § 5° Também poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua personalidade for, de alguma forma, obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores.

RESPONSABILIDADE CIVIL PELA INSERÇÃO DO NOME DO CONSUMIDOR NOS

BANCOS DE DADOS O STJ, já firmou posicionamento acerca da matéria, conforme se verifica de uma simples leitura dos seguintes precedentes: “De acordo com o artigo 43, § 2°, do CDC, e com a doutrina, obrigatória é a comunicação de sua inscrição no cadastro de proteção ao crédito, na ausência dessa comunicação, reparável o dano oriundo da inclusão indevida” (4 Turma, REsp 165.727/DF, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, v u. j. 1998) “O registro somente deve ser feito com o prévio conhecimento do interessado, para permitir as medidas de defesa cabíveis” (4 Turma, REsp 22337-8 RS, Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, v. u. j. 1995).

Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona entendem que a responsabilidade dos prejuízos decorrentes de um indevida inclusão devem ser suportados, solidariamente, pelo fornecedor responsável pela solicitação da “negativação” e pela pessoa jurídica mantedora do cadastro de proteção ao crédito, o que encontra respaldo no parágrafo único do art. 7 c/c o art. 14, caput, do mesmo diploma.

SÚMULA 385 DO STJ – DA ANOTAÇÃO IRREGULAR EM CADASTRO DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO, NÃO CABE INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL, QUANDO PREEXISTENTE LEGÍTIMA INSCRIÇÃO, RESSALVADO O DIREITO AO CANCELAMENTO.

O RESPONSABILIDADE CIVIL DO TRANSPORTADOR SÚMULAS 145 151, 161, 187 314 E 492 STF Conceito de contrato de transporte: é aquele em que uma pessoa ou empresa se obriga,

mediante a retribuição, a transportar, de um local a outro, pessoas ou coisas animadas ou inanimadas, por via terrestre, aquaviaria, ferroviária e aérea, assumindo os riscos decorrentes desse empreendimento.

Art. 730. Pelo contrato de transporte alguém se obriga, mediante retribuição, a transportar, de um lugar para outro, pessoas ou coisas.

Características: O contrato de transporte, disciplinado a partir do art. 730 do Código de

2002, pode ser definido como o negócio jurídico bilateral, consensual e oneroso, pelo qual uma das partes (transportador ou condutor) se obriga a, mediante remuneração, transportar pessoa ou coisa a um destino previamente convencionado.

Obrigação de resultado: na medida em que se obriga a transportar a mercadoria até o local

acertado, em segurança. Obrigação de natureza contratual, na medida em que o transportador, ao assumir a

obrigação, arca com o dever de levar a coisa ou pessoa até o local de destino, devidamente protegida e em perfeito estado de conservação.

Art. 731. O transporte exercido em virtude de autorização, permissão ou concessão, rege-se pelas normas regulamentares e pelo que for estabelecido naqueles atos, sem prejuízo do disposto neste Código.

Disciplina jurídica do transporte público: o transporte coletivo, que for exercido por

particulares mediante autorização, permissão ou concessão, é regido por tais atos administrativos e normas regulamentares, disciplinadoras de condições, obrigações, direitos, tarifas etc, por ser modalidades de prestação indireta de serviço público por pessoas jurídicas de direito privado, sem que haja prejuízo do disposto nos arts. 730 a 756 doCC e, havendo dano, aplicar-se-á o art. 37 parágrafo 6 da CF

Art. 732. Aos contratos de transporte, em geral, são aplicáveis, quando couber, desde que não contrariem as disposições deste Código, os preceitos constantes da legislação especial e de tratados e convenções internacionais.

Contrato de transporte e normas que lhe são aplicáveis. Em regra, desde que não se contrariem os arts 730 a 756 do CC, sempre que for possível, aplicar-se-ão aos contratos de transportes as leis especiais, tratados e convenções internacionais. Porém, é preciso a esse respeito que o aplicador aja com cautela e prudência objetiva, pois a legislação especial, as convenções e os tratados disciplinados minunciosamente certas particularidades alusivas a determinados transportes, ao passo que o CC apenas traça normas genéricas. E havendo conflito entre elas, como poderia prevalecer a norma geral posterior (CC) sobre a norma especial anterior (p. ex. Código Brasileiro de Aeronáutica; Regulamento dos Transportadores Ferroviários etc), diante do metacritério de que lei posterior geral não derroga anterior especial? como poderiam o tratado e a convenção internacional ter caráter subsidiário, se somente são aplicáveis a fatos interjurisdicionais e se no conflito entre norma de direito internacional e a norma de direito interno ter-se-á, em regra, a superiorirdade do tratado sobre a norma interna, ligando-a a um controle de constitucionalidade, e se, com a ratificação, entra no direito interno como norma especial?

ENUNCADO 369 - Diante do preceito constante no art. 732 do Código Civil, teleologicamente e em uma visão constitucional de unidade do sistema, quando o contrato de transporte constituir uma relação de consumo, aplicam-se as normas do Código de Defesa do Consumidor que forem mais benéficas a este.

Art. 733. Nos contratos de transporte cumulativo, cada transportador se obriga a cumprir o contrato relativamente ao respectivo percurso, respondendo pelos danos nele causados a pessoas e coisas. § 1o O dano, resultante do atraso ou da interrupção da viagem, será determinado em razão da totalidade do percurso. § 2o Se houver substituição de algum dos transportadores no decorrer do percurso, a responsabilidade solidária estender-se-á ao substituto.

Contrato de transporte cumulativo: havendo vários transportadores, cada um deles tem o

dever de cumprir o contrato no percurso que lhe couber, respondendo objetivamente pelos prejuízos que, durante ele, causou a pessoas e coisas transportadas. Esse contrato gera responsabilidade solidária por ser difícil determinar, dentre vários transportadores, o faltoso; logo, qualquer deles poderá ser demandado pelo lesado para a reparação do prejuízo causado à incolumidade da carga ou do viajante, apesar de, para fins de execução do contrato, cada um ficar obrigado pela etapa que vier a assumir durante o percurso. Já houve decisão de que "o primeiro transportador se responsabiliza por todo o percurso, ainda que trechos subsequentes estivessem a cargo de outra companhia". O que suportar o encargo indenizatório terá direito ao reembolso junto ao transportador, em cujo percurso ocorreu o dano.

Atraso ou interrupção da viagem: se algum prejuízo advier em razão de atraso ou

interrupção da viagem, será ele determinado considerando-se a totalidade do percurso e não apenas um ou outra etapa, visto que o contrato de transporte contém obrigação de resultado e não de meio.

Responsabilidade soidária: o transporte cumulativo gera responsabilidade civil solidária do

substituto, em caso de ter havido substituição de alguns dos transportadores durante o percurso. Como a obrigação de indenizar somente poderá recair sobre os executores do transporte, operar-se-á a exclusão do substituído e a inclusão do substituto na responsabilidade solidária.

TRANSPORTE DE PESSOAS

Art. 734. O transportador responde pelos danos causados às pessoas transportadas e suas bagagens, salvo motivo de força maior, sendo nula qualquer cláusula excludente da responsabilidade.

Parágrafo único. É lícito ao transportador exigir a declaração do valor da bagagem a fim de fixar o limite da indenização. Art. 735. A responsabilidade contratual do transportador por acidente com o passageiro não é elidida por culpa de terceiro, contra o qual tem ação regressiva.

Transporte gratuito

Art. 736. Não se subordina às normas do contrato de transporte o feito gratuitamente, por amizade ou cortesia. Parágrafo único. Não se considera gratuito o transporte quando, embora feito sem remuneração, o transportador auferir vantagens indiretas.

Excludente da responsabilidade do transportador

Art. 737. O transportador está sujeito aos horários e itinerários previstos, sob pena de responder por perdas e danos, salvo motivo de força maior.

Art. 738. A pessoa transportada deve sujeitar-se às normas estabelecidas pelo transportador, constantes no bilhete ou afixadas à vista dos usuários, abstendo-se de quaisquer atos que causem incômodo ou prejuízo aos passageiros, danifiquem o veículo, ou dificultem ou impeçam a execução normal do serviço. Parágrafo único. Se o prejuízo sofrido pela pessoa transportada for atribuível à transgressão de normas e instruções regulamentares, o juiz reduzirá eqüitativamente a indenização, na medida em que a vítima houver concorrido para a ocorrência do dano. Art. 739. O transportador não pode recusar passageiros, salvo os casos previstos nos regulamentos, ou se as condições de higiene ou de saúde do interessado o justificarem. Art. 740. O passageiro tem direito a rescindir o contrato de transporte antes de iniciada a viagem, sendo-lhe devida a restituição do valor da passagem, desde que feita a comunicação ao transportador em tempo de ser renegociada. § 1o Ao passageiro é facultado desistir do transporte, mesmo depois de iniciada a viagem, sendo-lhe devida a restituição do valor correspondente ao trecho não utilizado, desde que provado que outra pessoa haja sido transportada em seu lugar. § 2o Não terá direito ao reembolso do valor da passagem o usuário que deixar de embarcar, salvo se provado que outra pessoa foi transportada em seu lugar, caso em que lhe será restituído o valor do bilhete não utilizado. § 3o Nas hipóteses previstas neste artigo, o transportador terá direito de reter até cinco por cento da importância a ser restituída ao passageiro, a título de multa compensatória.

Art. 741. Interrompendo-se a viagem por qualquer motivo alheio à vontade do transportador, ainda que em conseqüência de evento imprevisível, fica ele obrigado a concluir o transporte contratado em outro veículo da mesma categoria, ou, com a anuência do passageiro, por modalidade diferente, à sua custa, correndo também por sua conta as despesas de estada e alimentação do usuário, durante a espera de novo transporte. Art. 742. O transportador, uma vez executado o transporte, tem direito de retenção sobre a bagagem de passageiro e outros objetos pessoais deste, para garantir-se do pagamento do valor da passagem que não tiver sido feito no início ou durante o percurso.

TRANSPORTE DE COISAS Obrigações das partes envolvidas no contrato de transporte de mercadorias:

a. Obrigação do remetente: entrega da mercadoria em condições de envio; pagamento do preço convencionado, ressalva a hipótese de este ser adimplido pelo destinatário; acontecimento da mercadoria; declaração do seu valor e da sua natureza; recolhimento tributário pertinente; respeito às normas legais em vigor no sentido de somente expedir mercadorias de trânsito admitido no Brasil;

b. Obrigação do transportador: receber a coisa a ser transportada no dia, hora,

local e modo convencionados; empregar total diligência no transporte da mercadoria posta sob a sua custódia; seguir o itinerário ajustado, ressalvadas as hipóteses de caso fortuito e força maior; entregar a mercadoria ao destinatário da mesma, mediante apresentação do respectivo documento comprobatório de sua qualidade de recebedor (conhecimento de transporte); respeito às normas legais em vigor no sentido de somente expedir mercadorias de trânsito admitido no Brasil.

Art. 743. A coisa, entregue ao transportador, deve estar caracterizada pela sua natureza, valor, peso e quantidade, e o mais que for necessário para que não se confunda com outras, devendo o destinatário ser indicado ao menos pelo nome e endereço.

Art. 744. Ao receber a coisa, o transportador emitirá conhecimento com a menção dos dados que a identifiquem, obedecido o disposto em lei especial.

Parágrafo único. O transportador poderá exigir que o remetente lhe entregue, devidamente assinada, a relação discriminada das coisas a serem transportadas, em duas vias, uma das quais, por ele devidamente autenticada, ficará fazendo parte integrante do conhecimento.

Art. 745. Em caso de informação inexata ou falsa descrição no documento a que se refere o artigo antecedente, será o transportador indenizado pelo prejuízo que sofrer, devendo a ação respectiva ser ajuizada no prazo de cento e vinte dias, a contar daquele ato, sob pena de decadência.

Art. 746. Poderá o transportador recusar a coisa cuja embalagem seja inadequada, bem como a que possa pôr em risco a saúde das pessoas, ou danificar o veículo e outros bens.

Art. 747. O transportador deverá obrigatoriamente recusar a coisa cujo transporte ou comercialização não sejam permitidos, ou que venha desacompanhada dos documentos exigidos por lei ou regulamento.

Art. 748. Até a entrega da coisa, pode o remetente desistir do transporte e pedi-la de volta, ou ordenar seja entregue a outro destinatário, pagando, em ambos os casos, os acréscimos de despesa decorrentes da contra-ordem, mais as perdas e danos que houver.

Art. 749. O transportador conduzirá a coisa ao seu destino, tomando todas as cautelas necessárias para mantê-la em bom estado e entregá-la no prazo ajustado ou previsto.

Art. 750. A responsabilidade do transportador, limitada ao valor constante do conhecimento, começa no momento em que ele, ou seus prepostos, recebem a coisa; termina quando é entregue ao destinatário, ou depositada em juízo, se aquele não for encontrado.

Art. 751. A coisa, depositada ou guardada nos armazéns do transportador, em virtude de contrato de transporte, rege-se, no que couber, pelas disposições relativas a depósito.

Art. 752. Desembarcadas as mercadorias, o transportador não é obrigado a dar aviso ao destinatário, se assim não foi convencionado, dependendo também de ajuste a entrega a domicílio, e devem constar do conhecimento de embarque as cláusulas de aviso ou de entrega a domicílio.

Art. 753. Se o transporte não puder ser feito ou sofrer longa interrupção, o transportador solicitará, incontinenti, instruções ao remetente, e zelará pela coisa, por cujo perecimento ou deterioração responderá, salvo força maior.

§ 1o Perdurando o impedimento, sem motivo imputável ao transportador e sem manifestação do remetente, poderá aquele depositar a coisa em juízo, ou vendê-la, obedecidos os preceitos legais e regulamentares, ou os usos locais, depositando o valor.

§ 2o Se o impedimento for responsabilidade do transportador, este poderá depositar a coisa, por sua conta e risco, mas só poderá vendê-la se perecível.

§ 3o Em ambos os casos, o transportador deve informar o remetente da efetivação do depósito ou da venda.

§ 4o Se o transportador mantiver a coisa depositada em seus próprios armazéns, continuará a responder pela sua guarda e conservação, sendo-lhe devida, porém, uma remuneração pela custódia, a qual poderá ser contratualmente ajustada ou se conformará aos usos adotados em cada sistema de transporte.

Art. 754. As mercadorias devem ser entregues ao destinatário, ou a quem apresentar o conhecimento endossado, devendo aquele que as receber conferi-las e apresentar as reclamações que tiver, sob pena de decadência dos direitos.

Parágrafo único. No caso de perda parcial ou de avaria não perceptível à primeira vista, o destinatário conserva a sua ação contra o transportador, desde que denuncie o dano em dez dias a contar da entrega.

Art. 755. Havendo dúvida acerca de quem seja o destinatário, o transportador deve depositar a mercadoria em juízo, se não lhe for possível obter instruções do remetente; se a demora puder ocasionar a deterioração da coisa, o transportador deverá vendê-la, depositando o saldo em juízo.

Art. 756. No caso de transporte cumulativo, todos os transportadores respondem solidariamente pelo dano causado perante o remetente, ressalvada a apuração final da responsabilidade entre eles, de modo que o ressarcimento recaia, por inteiro, ou proporcionalmente, naquele ou naqueles em cujo percurso houver ocorrido o dano.

i. Transporte aeronáutico: especial atenção merece, no estudo deste tema, além do nosso Código Aeronáutico (Lei n. 7.565/86) e do Código de Defesa do Consumidor, que alterou profundamente o tratamento da matéria, a Convenção de Varsóvia, referente ao transporte internacional de passageiro, ratificada pelo Brasil em 2 maio de 1931, e promulgada pelo Decreto n. 20.794/31. A responsabilidade deste transportador é de natureza contratual e objetiva.

ii. Quando a prestação de serviço de transporta aeronáutico gerar danos a terceiros,

deve ser aplicado o CDC, conforme já decidiu o STJ – consumidor por equiparação.

iii. STF, em sede de RE, da lavra do Min. Sepúlveda Pertence, 2002, no qual se assentou a responsabilidade civil do Estado pelo acidente aéreo causado pela omissão fiscalizatória do Departamento de Aviação Civil (DAC)

O RESPONSABILIDADE CIVIL DO EMPREITEIRO, CONSTRUTOR E INCORPORADOR

Art. 937. O dono de edifício ou construção responde pelos danos que resultarem de sua ruína, se esta provier de falta de reparos, cuja necessidade fosse manifesta.

Responsabilidade objetiva – RISCO CRIADO ou RISCO PROVEITO, depende do caso

concreto. Nos termo literais do dispositivo, para que a responsabilidade tenha natureza objetiva,

haveria necessidade de estar evidenciado o mau estado de conservação do edifício ou da construção. Todavia, na opinião de FLAVIO TARTUCE, CAVALIERU, VENOSA, C.R. GONÇALVES, tal requisito é dispensável. Por uma questão lógica, sendo a necessidade de reparos manifesta a responsabilidade é objetiva; muito maior deve ser se tal necessidade estiver às escondidas, o que denota uma má-fé do constritor. (EX. PALACE II).

Art. 938. Aquele que habitar prédio, ou parte dele, responde pelo dano proveniente das coisas que dele caírem ou forem lançadas em lugar indevido.

Responsabilidade objetiva – RISCO CRIADO (M.H. DINIZ, CAVALIERI, VENOSA) Trata-se da responsabilidade civil por defenestramento ou por effusis ET dejectis. A

expressão defenestrar significa jogar fora pela janela. A doutrina majoritária entende que não importa que o objeto líquido (effusis) ou sólido

(dejectis) tenha caído acidentalmente, pois ninguém pode colocar em risco a segurança alheia, o que denota a responsabilidade objetiva do ocupante diante de um risco criado.

Em caso de cessão do prédio RESPONDE O LOCATÁRIO, só responde o locador em caso de coautoria.

Não sendo possível identificar o apartamento qual foi lançado a coisa, será responsabilizado os apartamentos ou escritórios de onde eram possível ser laçada a coisa. Exemplo: apartamentos da lateral direita do bloco b(STJ). Em posicionamento minoritário S. de Salvo Venosa, entende que todo o condomínio deverá responder, justificando o posicionamento pelo objetivo de pulverização dos danos na sociedade, quando o dano é praticado por um membro de um grupo no qual não se indentifica, todo o grupo responde.

O RESPONSABILIDADE CIVIL DECORRENTE DE CRIME

Art. 935. A responsabilidade civil é independente da criminal, não se podendo questionar mais sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o seu autor, quando estas questões se acharem decididas no juízo criminal.

Independência relativa: entre o juízo civil e criminal, na medida em que se proíbe a

rediscussão da materialidade do fato ou de sua autoria, se tais questões já estiverem decididas no juízo criminal. Assim, no exemplo do homicídio, se o réu lograr êxito na demanda, demonstrando cabalmente a negativa de autoria, não terá legitimidade passiva para figurar no pólo passivo de uma demanda indenizatória.

ENUNCIADO 45 – Art. 935: no caso do art. 935, não mais se poderá questionar a existência do fato ou quem seja o seu autor se essas questões se acharem categoricamente decididas no juízo criminal.

Efeitos civis da sentença penal condenatória: o art. 91, I, do CP estabelece como efeito

da sentença penal condenatória “tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime”. A vítima ou seus sucessores buscam esse ressarcimento por meio da denominada ação civil ex delicto.

Art. 91 - São efeitos da condenação: I - tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime;

Foro competente

Art. 100. É competente o foro:

V - do lugar do ato ou fato: a) para a ação de reparação do dano;

Execução da indenização

Art. 63. Transitada em julgado a sentença condenatória, poderão promover-lhe a execução, no juízo cível, para o efeito da reparação do dano, o ofendido, seu representante legal ou seus herdeiros.

Indenização aos herdeiros e dependentes carentes

Art. 245. A lei disporá sobre as hipóteses e condições em que o Poder Público dará assistência aos herdeiros e dependentes carentes de pessoas vitimadas por crime doloso, sem prejuízo da responsabilidade civil do autor do ilícito.

Prescrição

Art. 200. Quando a ação se originar de fato que deva ser apurado no juízo criminal, não correrá a prescrição antes da respectiva sentença definitiva.

i. É permitido ao juiz, nas infrações com pena não superior a dois anos, e que não sejam de ação penal incondicionada, instar as partes à composição civil, em audiência, com o efeito de, em havendo êxito, prejudicar a persecução criminal, por força da extinção da punibilidade.

INDENIZAÇÃO CONCEITO – toda compensação ou retribuição monetária feita por uma pessoa a outrem,

para a reembolsar de despesas feitas ou para a ressarcir de perdas tidas. Tem por

finalidade integrar – ou, mais precisamente, recompor – o patrimônio daquele que se viu lesionado.

Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano. Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz reduzir, eqüitativamente, a indenização.

Enunciado 46 – Art. 944: a possibilidade de redução do montante da indenização em face do grau de culpa do agente, estabelecida no parágrafo único do art. 944 do novo Código Civil, deve ser interpretada restritivamente, por representar uma exceção ao princípio da reparação integral do dano, não se aplicando às hipóteses de responsabilidade objetiva.

CONCAUSA

Art. 945. Se a vítima tiver concorrido culposamente para o evento danoso, a sua indenização será fixada tendo-se em conta a gravidade de sua culpa em confronto com a do autor do dano.

Enunciado 47 – Art. 945: o art. 945 do Código Civil, que não encontra correspondente no Código Civil de 1916, não exclui a aplicação da teoria da causalidade adequada.

Art. 946. Se a obrigação for indeterminada, e não houver na lei ou no contrato disposição fixando a indenização devida pelo inadimplente, apurar-se-á o valor das perdas e danos na forma que a lei processual determinar.

Art. 947. Se o devedor não puder cumprir a prestação na espécie ajustada, substituir-se-á pelo seu valor, em moeda corrente.

Art. 948. No caso de homicídio, a indenização consiste, sem excluir outras reparações:

I - no pagamento das despesas com o tratamento da vítima, seu funeral e o luto da família;

II - na prestação de alimentos às pessoas a quem o morto os devia, levando-se em conta a duração provável da vida da vítima.

Art. 949. No caso de lesão ou outra ofensa à saúde, o ofensor indenizará o ofendido das despesas do tratamento e dos lucros cessantes até ao fim da convalescença, além de algum outro prejuízo que o ofendido prove haver sofrido.

Art. 950. Se da ofensa resultar defeito pelo qual o ofendido não possa exercer o seu ofício ou profissão, ou se lhe diminua a capacidade de trabalho, a indenização, além das despesas do tratamento e lucros cessantes até ao fim da convalescença, incluirá pensão correspondente à importância do trabalho para que se inabilitou, ou da depreciação que ele sofreu.

Parágrafo único. O prejudicado, se preferir, poderá exigir que a indenização seja arbitrada e paga de uma só vez.

ENUNCIADO 48 – Art. 950, parágrafo único: o parágrafo único do art. 950 do novo Código Civil institui direito potestativo do lesado para exigir pagamento da indenização de uma só vez, mediante arbitramento do valor pelo juiz, atendidos os arts. 944 e 945 e a possibilidade econômica do ofensor.

FORMA DE REPARAÇÃO DE DANOS: um critério prático de diferenciação entre o dano

patrimonial e o dano moral, além daquele referente à esfera jurídica atingida e às conseqüências geradas de forma direta pelo evento danoso, reside, certamente, na forma de reparação.

a. No dano patrimonial (onde restou atingido um bem físico, de valor comensurável

monetariamente), a reparação pode ser feita através da reposição natural. b. No dano moral, jamais pode ser restituída à sua situação anterior, a reparação,

em tais casos, reside no pagamento de uma soma pecuniária, arbitrada judicialmente, com o objetivo de possibilitar ao lesado uma satisfação compensatória pelo dano sofrido, atenuando, em parte, as conseqüências da lesão.

Art. 951. O disposto nos arts. 948, 949 e 950 aplica-se ainda no caso de indenização devida por aquele que, no exercício de atividade profissional, por negligência, imprudência ou imperícia, causar a morte do paciente, agravar-lhe o mal, causar-lhe lesão, ou inabilitá-lo para o trabalho.

Art. 952. Havendo usurpação ou esbulho do alheio, além da restituição da coisa, a indenização consistirá em pagar o valor das suas deteriorações e o devido a título de lucros cessantes; faltando a coisa, dever-se-á reembolsar o seu equivalente ao prejudicado.

Parágrafo único. Para se restituir o equivalente, quando não exista a própria coisa, estimar-se-á ela pelo seu preço ordinário e pelo de afeição, contanto que este não se avantaje àquele.

Art. 953. A indenização por injúria, difamação ou calúnia consistirá na reparação do dano que delas resulte ao ofendido.

Parágrafo único. Se o ofendido não puder provar prejuízo material, caberá ao juiz fixar, eqüitativamente, o valor da indenização, na conformidade das circunstâncias do caso.

Art. 954. A indenização por ofensa à liberdade pessoal consistirá no pagamento das perdas e danos que sobrevierem ao ofendido, e se este não puder provar prejuízo, tem aplicação o disposto no parágrafo único do artigo antecedente.

Parágrafo único. Consideram-se ofensivos da liberdade pessoal:

I - o cárcere privado;

II - a prisão por queixa ou denúncia falsa e de má-fé;

III - a prisão ilegal.