207 leis penais extravagantes resumo da aula 02 (1)

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Leis Penais Extravagantes O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 1 www.cursoenfase.com.br Sumário 1. Crimes contra ordem tributária.............................................................................. 2 1.1 Introdução......................................................................................................... 3 1.2 Deveres constitucionais e tributação ............................................................... 4 1.3 Histórico e Legislação........................................................................................ 8 1.4 Crimes tributários e princípio da insignificância (Crimes de Bagatela) .......... 11 1.5 Crime tributário / Norma penal em branco / Elemento normativo do tipo .. 16 1.6 Lei penal no tempo ......................................................................................... 19 1.7 Programas de recuperação fiscal .................................................................... 21

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Leis penais extravagantes

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Leis Penais Extravagantes

O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula

ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros

doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais.

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Sumário

1. Crimes contra ordem tributária .............................................................................. 2

1.1 Introdução ......................................................................................................... 3

1.2 Deveres constitucionais e tributação ............................................................... 4

1.3 Histórico e Legislação ........................................................................................ 8

1.4 Crimes tributários e princípio da insignificância (Crimes de Bagatela) .......... 11

1.5 Crime tributário / Norma penal em branco / Elemento normativo do tipo .. 16

1.6 Lei penal no tempo ......................................................................................... 19

1.7 Programas de recuperação fiscal .................................................................... 21

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1. Crimes contra ordem tributária

Art. 1º a 3º da Lei nº 8.137/90

Lei nº 8.137/90, Art. 1° Constitui crime contra a ordem tributária suprimir ou reduzir tributo, ou

contribuição social e qualquer acessório, mediante as seguintes condutas: (Vide Lei nº 9.964,

de 10.4.2000)

I - omitir informação, ou prestar declaração falsa às autoridades fazendárias;

II - fraudar a fiscalização tributária, inserindo elementos inexatos, ou omitindo operação de

qualquer natureza, em documento ou livro exigido pela lei fiscal;

III - falsificar ou alterar nota fiscal, fatura, duplicata, nota de venda, ou qualquer outro

documento relativo à operação tributável;

IV - elaborar, distribuir, fornecer, emitir ou utilizar documento que saiba ou deva saber falso ou

inexato;

V - negar ou deixar de fornecer, quando obrigatório, nota fiscal ou documento equivalente,

relativa a venda de mercadoria ou prestação de serviço, efetivamente realizada, ou fornecê-la em

desacordo com a legislação.

Pena - reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.

Parágrafo único. A falta de atendimento da exigência da autoridade, no prazo de 10 (dez) dias,

que poderá ser convertido em horas em razão da maior ou menor complexidade da matéria ou da

dificuldade quanto ao atendimento da exigência, caracteriza a infração prevista no inciso V.

Art. 2° Constitui crime da mesma natureza: (Vide Lei nº 9.964, de 10.4.2000)

I - fazer declaração falsa ou omitir declaração sobre rendas, bens ou fatos, ou empregar outra

fraude, para eximir-se, total ou parcialmente, de pagamento de tributo;

II - deixar de recolher, no prazo legal, valor de tributo ou de contribuição social, descontado ou

cobrado, na qualidade de sujeito passivo de obrigação e que deveria recolher aos cofres públicos;

III - exigir, pagar ou receber, para si ou para o contribuinte beneficiário, qualquer percentagem

sobre a parcela dedutível ou deduzida de imposto ou de contribuição como incentivo fiscal;

IV - deixar de aplicar, ou aplicar em desacordo com o estatuído, incentivo fiscal ou parcelas de

imposto liberadas por órgão ou entidade de desenvolvimento;

V - utilizar ou divulgar programa de processamento de dados que permita ao sujeito passivo da

obrigação tributária possuir informação contábil diversa daquela que é, por lei, fornecida à

Fazenda Pública.

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Seção II - Dos crimes praticados por funcionários públicos

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Art. 3° Constitui crime funcional contra a ordem tributária, além dos previstos no Decreto-Lei n°

2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal (Título XI, Capítulo I):

I - extraviar livro oficial, processo fiscal ou qualquer documento, de que tenha a guarda em razão

da função; sonegá-lo, ou inutilizá-lo, total ou parcialmente, acarretando pagamento indevido ou

inexato de tributo ou contribuição social;

II - exigir, solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da

função ou antes de iniciar seu exercício, mas em razão dela, vantagem indevida; ou aceitar

promessa de tal vantagem, para deixar de lançar ou cobrar tributo ou contribuição social, ou

cobrá-los parcialmente. Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa.

III - patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a administração fazendária,

valendo-se da qualidade de funcionário público. Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e

multa.

1.1 Introdução

Os crimes contra a ordem tributária talvez sejam um dos crimes com maior

dificuldade dogmática, sobretudo por conta da falta de técnica na jurisprudência, que não se

preocupa com que o crime tenha alguma razão de ser, pelo contrario, há uma série de

construções jurisprudenciais com o objetivo de esvaziamento do crime.

Exemplo1: edição da súmula vinculante nº 24.

SÚMULA VINCULANTE Nº 24

NÃO SE TIPIFICA CRIME MATERIAL CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA, PREVISTO NO ART. 1º,

INCISOS I A IV, DA LEI Nº 8.137/90, ANTES DO LANÇAMENTO DEFINITIVO DO TRIBUTO.

Exemplo2: outra construção jurisprudencial que esvazia o crime e foi recentemente

realizada pelo STJ consiste no uso do documento falso depois da consumação também está

absorvido.

Exemplo3: operação “negócio da China”envolvendo descaminho e Casa e Video, cuja

investigação foi baseada em uma interceptação telefônica. Os advogados alegaram nulidade

da formatação de um computador na polícia federal para anular as provas. Esse argumento

foi aceito pelo STJ, entendendo que poderia ter ficado no computador algo que inocentasse

todos, mas como foi realizada a formatação sem a autorização, torna nula toda a

investigação.

“O maior jugo de um reino, a mais pesada carga de uma república, são os imoderados tributos. Se

queremos que sejam leves, se queremos que sejam suaves, repartam-se por todos. Não há tributo

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mais pesado que a morte e contudo todos o pagam e ninguém se queixa porque é tributo de

todos.”

Padre Antonio Vieira, Sermão de Santo Antônio, pregado na Igreja de Chagas de São Francisco,

Lisboa, em 14 de Setembro de 1642.

A ideia do sermão de Santo Antônio representa claramente a ideia do que seria um

tributo isonômico. Atualmente no Brasil quem paga tributo são os assalariados, isso porque

os empresários sempre têm uma forma de não pagá-los. No mais das vezes, o manejo para

não pagar tributo, normalmente denominado planejamento tributário, é simulação e, em

última análise, fraude.

Exemplo: os jogadores de futebol recebem parte da sua “remuneração” como

“direito de imagem”, eles constituem uma PJ com essa finalidade. Ademais, os jogares de

futebol, em regra, compram seus carros como PJ e não como PF porque se pagar por leasing

eles podem incluir esse valor como despesa operacional. Opera-se menor carga tributária.

Destaca-se que quem pode pagar tributo é quem tem alguma capacidade econômica

e, portanto, será essa pessoa que será o potencial autor desses delitos.

1.2 Deveres constitucionais e tributação

Quando se estuda direito constitucional, não se estuda, como regra, os deveres do

indivíduo para com o Estado. Canotilho explica que isso se dá pela própria gênese do Estado

Direito como nós o conhecemos, que surge como limitação do poder do Estado em face do

indivíduo. Ocorre que o aludido autor afirma que o sistema constitucional europeu vem

resgatando a ideia de deveres do indivíduo para com o Estado. Isso porque viver em

liberdade significa ter uma responsabilidade da qual decorre a obrigação de pagar tributos.

Atualmente, há previsão expressa na Constituição portuguesa do dever de pagar tributos.

No Brasil, o dever de contribuir é extraído da existência de um sistema tributário. Sendo

assim, não se sustenta a tese de que são inconstitucionais os crimes tributários. Insta

esclarecer, ainda, que somente no Brasil há a aludida tese.

Síntese do tópico: segundo Canotilho, o tema dos deveres constitucionais sempre

ficou relegado a um segundo plano na dogmática constitucional, isso se deveu à própria

gênese do Estado de Direito, construído como forma de limitação do arbítrio estatal. O

tema, porém, tem sido resgatado no sentido de reconhecer que ao direito de liberdade

corresponde uma responsabilidade comunitária da qual decorre o dever fundamental de

pagar tributos.

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Destaca-se que sendo o fundamento constitucional da obrigação de pagar tributos a

existência de um dever constitucional nesse sentido, um problema vem sendo enfrentado na

abordagem desses crimes, consistente na existência de uma certa proximidade ente ilícito

administrativo e ilícito penal.

Como diferenciar ilícito administrativo de ilícito penal?

A diferenciação é problemática porque, na verdade, o crime tem por base a infração

administrativa. Trata-se de uma das questões mais tortuosas enfrentadas pela doutrina

espanhola, mas que a doutrina brasileira não explora. O ilícito administrativo e o penal

tutelam o mesmo interesse: frustrar o recolhimento do tributo no momento adequado,

afetando o interesse arrecadatório.

Nelson Hungria defendia que não há como fazer distinção, qualitativa ou

quantitativa, entre ilícito administrativo e penal.

Na Espanha a questão é relevante porque o princípio do bis in idem leva em conta o

ilícito administrativo e o penal, razão pela qual não poderia haver uma multa e uma pena.

Naquele sistema, se configurado o crime, a cobrança do tributo será como execução da

sanção penal.

No Brasil não há essa vedação ao bis in idem, tendo em vista a autonomia das

instâncias. Ocorre que para entender o crime tributário é necessário olhar a questão

concreta.

Exemplo: Rogério é empresário e percebe que se sonegar determinado tributo, ele

terá uma multa. Ocorre que se com isso ganhar a licitação, vale a pena firmar o contrato e

depois arcar com o pagamento da multa. Sendo assim, muitas vezes, o sujeito irá optar por

não pagar o tributo, por ser mais vantajoso.

Síntese do tópico: o ilícito penal no âmbito tributário guarda uma grande

proximidade com o ilícito administrativo porque ambos têm como fundamento o

descumprimento da obrigação tributária. Segundo Hungria, não há uma distinção

fundamental entre ilícito administrativo e ilícito penal, tratando-se de mera opção

discricionária do legislador. Esse aspecto é importante porque aponta para a ideia de que a

afetação do interesse se dá no mesmo momento, isto é, o do descumprimento da obrigação.

Como regra, quando o sujeito deixa de pagar o tributo, ele viola a obrigação

tributária. Nesse momento, ele poderá consumar o ilícito penal.

Exemplo: determinado contribuinte teria que pagar imposto de renda, mas na

declaração omitiu uma renda, razão pela qual não precisou pagar nada. Nesse momento em

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que omitiu tal informação, descumpriu a obrigação tributária. Ocorre que, como fez isso

mediante fraude (requisito do art. 1º da Lei nº 8.137/90) isso também configura crime.

Nessa situação, o interesse fazendário tributário foi violado no momento em que tinha que

pagar o imposto de renda, mas não pagou. Tanto que é a partir desse momento que

correrão os juros de mora. O interesse penal, como se identifica com o interesse fiscal,

também resta violado nesse momento, que configura lesão ao interesse jurídico. Sendo

assim, não tem sentido a súmula vinculante nº 24.

Observação1: decisão recente do STJ. A receita federal pode realizar quebra de sigilo

bancários sem autorização judicial, uma vez que é inerente às suas atribuições. O STJ

entendeu que a receita pode obter acesso aos dados bancários para cobrar tributos, mas

não pode repassar esses dados ao MPF. Em outros termos, pode-se perceber que o STJ

quase afirma que existe ilícito administrativo, mas não ilícito penal.

Observação2: REFIS são programas de parcelamento tributário que impedem

processar por crime tributário. Na prática, somente são processados e condenados pessoas

físicas ou empresas falidas, que não conseguem arcar com o pagamento do financiamento

proposto.

Destaca-se que, com frequência, a doutrina afirma que a fraude é o que diferencia

ilícito administrativo do ilícito penal. Destaca-se, porém, que nem todo crime tributário tem

fraude, conforme art. 168-A do CP.

Apropriação indébita previdenciária (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)

CP, Art. 168-A. Deixar de repassar à previdência social as contribuições recolhidas dos

contribuintes, no prazo e forma legal ou convencional: (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)

Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)

ACR – Apelação Criminal – Processo 1999.61.81.001830-2 TRF 3ª Região

Fato Gerador da

Obrigação Tributária

Pagamento

Inércia (inadimplemento)

Inércia quanto ao pagamento +

Fraude para encobrir

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EMENTA

PENAL - EMBARGOS INFRINGENTES – ART. 1º, INC. I, DA LEI Nº 8.137/90 –

FALTA DE ENTREGA DE FORMULÁRIO DE IMPOSTO DE RENDA – LAVRATURA DE AUTO DE

INFRAÇÃO PELA RECEITA FEDERAL – AUSÊNCIA DE MATERIALIDADE DOCUMENTAL - TIPO PENAL

DE OCULTAÇÃO COM FRAUDE – NÃO CARACTERIZAÇÃO – ATIPICIDADE – PROVIMENTO DO

RECURSO.

1.- A conduta de falta de entrega de declaração de imposto de renda à Receita Federal não

configura delito, porquanto não há materialidade documental passível de ocorrer a fraude,

elemento característico do crime contra a ordem tributária e necessário ao perfazimento da

figura típica.

2. Embargos providos.

O julgado acima transcrito, aborda o art. 1º da Lei nº 8.137/90, ocorre que há

diversos outros ilícitos em que não precisam de fraude, conforme pode-se depreender dos

tipos previstos no art. 2º, II e IV do mesmo diploma legal.

Lei nº 8.137/90, Art. 2° Constitui crime da mesma natureza: (Vide Lei nº 9.964, de 10.4.2000)

(...)

II - deixar de recolher, no prazo legal, valor de tributo ou de contribuição social, descontado

ou cobrado, na qualidade de sujeito passivo de obrigação e que deveria recolher aos cofres

públicos;

(...)

IV - deixar de aplicar, ou aplicar em desacordo com o estatuído, incentivo fiscal ou parcelas

de imposto liberadas por órgão ou entidade de desenvolvimento;

Síntese do tópico: como regra, os crimes tributários pedem a fraude como elementar,

contudo, nada impede que se estruturem crimes tributários nos quais a fraude não é um

elemento típico, como ocorre com o art. 169-A do CP e art. 2º, II da Lei nº 8.137/90.

Observação: recomenda-se a remissão no art. 1º da Lei nº 8.137/90 para o art. 72 da

Lei nº 4.502/64, o qual traz o conceito de fraude tributária. Por ele se depreende que

quando se deixa de pagar um tributo, configura fato típico, mas não haverá punição, por

conta da extinção da punibilidade.

Lei nº 4.502/64, art . 72. Fraude é tôda ação ou omissão dolosa tendente a impedir ou retardar,

total ou parcialmente, a ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal, ou a excluir

ou modificar as suas características essenciais, de modo a reduzir o montante do impôsto devido

a evitar ou diferir o seu pagamento.

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1.3 Histórico e Legislação

Historicamente, embora o CP sempre tenha trazido a figura do descaminho no art.

334, crime de viés tributário, bem como, em algumas legislações esparsas, o não

recolhimento de tributos tenha sido equiparado à apropriação indébita, foi na Lei nº

4.729/65, que os crimes tributários começaram a ganhar autonomia.

CP, Contrabando ou descaminho

Art. 334 Importar ou exportar mercadoria proibida ou iludir, no todo ou em parte, o

pagamento de direito ou imposto devido pela entrada, pela saída ou pelo consumo de

mercadoria:

Pena - reclusão, de um a quatro anos.

§ 1º - Incorre na mesma pena quem: (Redação dada pela Lei nº 4.729, de 14.7.1965)

a) pratica navegação de cabotagem, fora dos casos permitidos em lei;(Redação dada pela Lei

nº 4.729, de 14.7.1965)

b) pratica fato assimilado, em lei especial, a contrabando ou descaminho;(Redação dada pela

Lei nº 4.729, de 14.7.1965)

c) vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de qualquer forma, utiliza em proveito

próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria de procedência

estrangeira que introduziu clandestinamente no País ou importou fraudulentamente ou que sabe

ser produto de introdução clandestina no território nacional ou de importação fraudulenta por

parte de outrem; (Incluído pela Lei nº 4.729, de 14.7.1965)

d) adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade

comercial ou industrial, mercadoria de procedência estrangeira, desacompanhada de

documentação legal, ou acompanhada de documentos que sabe serem falsos. (Incluído pela Lei

nº 4.729, de 14.7.1965)

§ 2º - Equipara-se às atividades comerciais, para os efeitos deste artigo, qualquer forma de

comércio irregular ou clandestino de mercadorias estrangeiras, inclusive o exercido em

residências. (Redação dada pela Lei nº 4.729, de 14.7.1965)

§ 3º - A pena aplica-se em dobro, se o crime de contrabando ou descaminho é praticado em

transporte aéreo. (Incluído pela Lei nº 4.729, de 14.7.1965)

Observação: o art. 11 da Lei nº 4357/64 equiparava à apropriação indébita certas

condutas que na verdade estavam relacionados ao descumprimento de obrigação tributária,

sendo assim, o crime de apropriação indébita tem essa nomenclatura por conta de um

equívoco histórico.

Lei nº 4357/64, art 11. Inclui-se entre os fatos constitutivos do crime de apropriação indébita,

definido no art. 168 do Código Penal, o não-recolhimento, dentro de 90 (noventa) dias do

término dos prazos legais:

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a) das importâncias do Impôsto de Renda, seus adicionais e empréstimos compulsórios,

descontados pelas fontes pagadoras de rendimentos;

b) do valor do Impôsto de Consumo indevidamente creditado no-s livros de registro de

matérias-primas (modêlos 21 e 21-A do Regulamento do Impôsto de Consumo) e deduzido de

recolhimentos quinzenais, referente a notas fiscais que não correspondam a uma efetiva

operação de compra e venda ou que tenham sido emitidas em nome de firma ou sociedade

inexistente ou fictícia;

c) do valor do Impôsto do Sêlo recebido de terceiros pelos estabelecimentos sujeitos ao

regime de verba especial.

§ 3º Nos casos previstos neste artigo, a ação penal será iniciada por meio de representação

da Procuradoria da República, à qual a autoridade de julgadora de primeira instância é obrigada

a encaminhar as peças principais do feito, destinadas a comprovar a decisão final condenatória

proferida na esfera administrativa.

§ 4º Quando a infração fôr cometida por sociedade, responderão por ela os seus diretores,

administradores, gerentes ou empregados cuja responsabilidade no crime fôr apurada em

processo regular. Tratando-se de sociedade estrangeira, a responsabilidade será apurada entre

seus representantes, dirigentes e empregados no Brasil.

Observe-se que a Lei nº 4.729/65 no art. 1º traz, na verdade, uma forma especial de

falsidade ideológica, consistente na declaração falsa para não pagar tributo.

Lei nº 4.729/65, Art 1º Constitui crime de sonegação fiscal: (Vide Decreto-Lei nº 1.060, de

1969)

I - prestar declaração falsa ou omitir, total ou parcialmente, informação que deva ser

produzida a agentes das pessoas jurídicas de direito público interno, com a intenção de eximir-se,

total ou parcialmente, do pagamento de tributos, taxas e quaisquer adicionais devidos por lei;

II - inserir elementos inexatos ou omitir, rendimentos ou operações de qualquer natureza em

documentos ou livros exigidos pelas leis fiscais, com a intenção de exonerar-se do pagamento de

tributos devidos à Fazenda Pública;

III - alterar faturas e quaisquer documentos relativos a operações mercantis com o propósito

de fraudar a Fazenda Pública;

IV - fornecer ou emitir documentos graciosos ou alterar despesas, majorando-as, com o

objetivo de obter dedução de tributos devidos à Fazenda Pública, sem prejuízo das sanções

administrativas cabíveis.

V - Exigir, pagar ou receber, para si ou para o contribuinte beneficiário da paga, qualquer

percentagem sôbre a parcela dedutível ou deduzida do impôsto sôbre a renda como incentivo

fiscal. (Incluído pela Lei nº 5.569, de 1969)

Atualmente, o crime é previsto na Lei nº 8.137/90, nos seguintes termos:

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Lei nº 8.137/90, Art. 1° Constitui crime contra a ordem tributária suprimir ou reduzir tributo, ou

contribuição social e qualquer acessório, mediante as seguintes condutas: (Vide Lei nº 9.964,

de 10.4.2000)

Note-se que, na redação anterior, o crime se aproximava ao crime de falsidade

ideológica, caracterizando-se como crime formal. Com a alteração da redação, a doutrina

sustenta que o crime é material, precisando do resultado sonegação.

Exemplo1: imagine-se que o prazo para a declaração de imposto de renda é em 30 de

abril, tendo o contribuinte cumprido esse prazo, sem pagar, porém, o respectivo tributo.

Nessa ocasião, o contribuinte consumou o crime tributário, tendo em vista o

descumprimento da obrigação tributária1.

Exemplo2: imagine-se, diferentemente, que o prazo para a declaração de imposto de

renda é em 30 de abril, tendo o contribuinte cumprido esse prazo, pagando o respectivo

tributo. Ocorre que em 30/09 o contribuinte faz retificadora à declaração, dentro do prazo

para tanto, tendo sido restituído valor em dezembro. Configura também, nessa hipótese,

crime tributário, vez que o contribuinte está fazendo descumprir a obrigação em momento

posterior àquele em que a obrigação já tinha sido cumprida. Na essência também é crime

tributário porque se refere à obrigação tributária, vez que ela tornará descumprida depois

de vencido o prazo. Esse tipo de construção torna mais difícil de estudo do crime tributário.

O prejuízo foi causado em dezembro.

Saliente-se que o crime tributário está vinculado ao descumprimento de uma

obrigação, normalmente vinculado a uma fraude, mas nem sempre necessariamente.

Exemplo3: determinado contribuinte teria que pagar tributo em 30/04. Porém, ao

invés de pagar, realiza simulação na sua declaração de modo que ao invés de ter que pagar

tributo, ele terá restituição em seu favor. Destaca-se que a obrigação está descumprida

quando a pessoa tinha que pagar, mas não paga. O que configuraria o recebimento da

restituição? Em que pese haver o recebimento de algo, o crime já havia sido consumado. O

descumprimento tributário se dá em 2 atos: um omissivo (não pagar) e outro comissivo

(receber).

Destaca-se, por fim, que a jurisprudência brasileira não aceita a tese da

inconstitucionalidade dos crimes tributários, para os quais têm previsão fundamento

constitucional. Ademais, a aludida tese é somente brasileira.

1 Deve-se desconsiderar, por ora, o teor da súmula vinculante nº 24, que será apreciada no momento

oportuno.

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1.4 Crimes tributários e princípio da insignificância (Crimes de Bagatela)

O princípio da bagatela é desenvolvido em várias construções, mas todas

representativas de uma única questão: espaço dentro do qual o direito penal não deve

intervir, por não haver afetação do bem jurídico.

No plano do crime tributário, duas questões se tornam mais problemáticas:

1. Delito de acumulação - construção feita para questões de bem jurídico

supraindividuais;

2. O valor da execução fiscal - tendo em vista que abaixo de determinado valor a

fazenda não promove a execução fiscal;

1. Delito de acumulação

No âmbito do direito penal econômico, autores como Lothar Kuhlen sustentam que a

existência de bens jurídicos supraindividuais faz com que a análise da insignificância leve em

conta a questão da acumulação de comportamentos, isto é, deve-se reduzir o patamar da

insignificância para uma quadra na qual até mesmo a acumulação de condutas não produza

uma afetação relevante do bem jurídico.

Observação: comentários sobre a prova do concurso para o MP de Goiás:

Questão: 2º fase do MP de Goiás. O que é o princípio da reserva quanto à

autolavagem? É aplicável no Brasil?

Conforme visto na aula sobre lavagem, mesmo o sujeito que comete o crime

antecedente, pode responder por lavagem, razão pela qual não há restrição à autolavagem.

Trata-se de previsão na Convenção de Palermo, sobre organização criminosa

transnacional, a qual traz uma reserva para a hipótese de o ordenamento interno entender

que é bis in idem a punição do sujeito que está lavando o próprio dinheiro obtido. Nessa

hipótese, poderia deixar de punir esse sujeito. De qualquer forma, há algumas condutas

típicas que não poderão ser praticadas pelo agente, como aquele que recebe um

apartamento para pagamento de propina, não tem como adquiri-lo, não incidindo nessa

hipótese típica.

A questão queria que se desenvolvesse que não se aplica a reserva à autolavagem no

Brasil e que há alguns casos em que há condutas que não serão praticadas.

Questão: 2º fase do MP de Goiás. Discorra sobre a teoria da ação significativa.

Leis Penais Extravagantes

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O tema somente é desenvolvido na doutrina por Paulo César Busato e Juarez Tavares.

Questão: 2º fase do MP de Goiás. Disserte sobre o discurso de resistência no

contexto do direito penal no séc. XXI e qual a crítica realizada aos bens

supraindividuais.

Trata-se de discurso existentes na Europa que entende que o direito penal não deve

ser utilizado para tratar de bens jurídicos supraindividuais.

2. Valor da execução fiscal

a. Lei nº 10.522/02

Há alguns autores, como José Paulo Baltazar, que sustentam que se não há interesse

fiscal para cobrar tributo, não pode haver crime, visto que o interesse extrapenal

condicionaria o interesse penal.

O problema concreto é que, para a Fazenda Pública, se em um determinado

momento a cobrança ultrapassar o valor, por conta da incidência dos juros, por exemplo,

haverá a cobrança.

Lei nº 10.522/02, Art. 20. Serão arquivados, sem baixa na distribuição, mediante requerimento do

Procurador da Fazenda Nacional, os autos das execuções fiscais de débitos inscritos como Dívida

Ativa da União pela Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional ou por ela cobrados, de valor

consolidado igual ou inferior a R$ 10.000,00 (dez mil reais). (Redação dada pela Lei nº 11.033, de

2004)

§ 1o Os autos de execução a que se refere este artigo serão reativados quando os valores dos

débitos ultrapassarem os limites indicados.

§ 2o Serão extintas, mediante requerimento do Procurador da Fazenda Nacional, as execuções

que versem exclusivamente sobre honorários devidos à Fazenda Nacional de valor igual ou

inferior a R$ 1.000,00 (mil reais). (Redação dada pela Lei nº 11.033, de 2004)

§ 3o O disposto neste artigo não se aplica às execuções relativas à contribuição para o Fundo de

Garantia do Tempo de Serviço.

§ 4o No caso de reunião de processos contra o mesmo devedor, na forma do art. 28 da Lei

no 6.830, de 22 de setembro de 1980, para os fins de que trata o limite indicado no caput deste

artigo, será considerada a soma dos débitos consolidados das inscrições reunidas. (Incluído pela

Lei nº 11.033, de 2004)

Destaca-se que o critério dos R$10.000,00 é problemático, embora previsto em lei,

no art. 20 da Lei nº 10.522/2002. Isso porque o §1º do mencionado artigo estabelece que,

após atingido o valor, a Fazenda irá cobrar. Ocorre que, no âmbito penal, não há como a

insignificância progredir para uma significância. Em outros termos, não faz sentido, em

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matéria penal, afirmar que o fato é insignificante em momento e em outro dado momento,

é significante.

Outra questão divergente é saber se é possível, para a análise da insignificância, levar

em conta algo que é utilizado como sanção para fins tributários, ou seja, a multa. Na

Espanha, a sonegação é em relação à cota defraudada. No Brasil, o que é executado inclui o

valor do imposto, multa e juros.

Destaca-se, ainda, que se o sujeito praticar 5 fatos, mas que são investigados no

mesmo procedimento fiscal na Receita Federal, os valores são somados e, se na totalidade

alcançar mais de 10 mil reais, ainda que individualmente seja inferior a esse valor, a fazenda

cobrará.

Pelo acima exposto, percebe-se que a tese que condiciona a aplicação da

insignificância ao limite da cobrança gera uma série de problemas dogmáticos quando da

sua aplicação na esfera penal.

Destaca-se que o principio da insignificância aceito pela jurisprudência refere-se ao

descaminho e não a fraude, hipótese em que, como regra, não há execução fiscal, uma vez

que se decreta o perdimento do bem e encaminha a questão para o MPF.

Não obstante tudo isso, o STJ tinha jurisprudência no sentido de que a insignificância

referia-se ao valor de R$ 100, 00, conforme §1º do art. 18 da Lei nº 10.522/02.

Lei nº 10.522/02, Art. 18. Ficam dispensados a constituição de créditos da Fazenda Nacional, a

inscrição como Dívida Ativa da União, o ajuizamento da respectiva execução fiscal, bem assim

cancelados o lançamento e a inscrição, relativamente:

(...)

§ 1o Ficam cancelados os débitos inscritos em Dívida Ativa da União, de valor consolidado igual

ou inferior a R$ 100,00 (cem reais).

Síntese do tópico: na jurisprudência, tanto do STF quanto do STJ, é firme a aceitação

do critério da execução fiscal para a insignificância. Porém, estabelecido em 10 mil reais por

força do art. 20 da Lei nº 10.522/2002, esse critério tem o inconveniente de não considerar

que no bojo dos 10 mil reais está inserida, inclusive, a sanção tributária, que não é algo que

corresponde ao dano decorrente da conduta. Contudo, esse critério tem sido questionado

nos casos de reiteração criminosa em que o STF acaba por afastar a insignificância com o

argumento de que o sujeito faz do crime modo de vida.

Conclusões sobre o tema:

1. Quando há reiteração criminosa, ainda que seja inferior a 10 mil, é afastada a

tese da insignificância, por conta de o sujeito fazer do crime modo de vida;

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2. O valor utilizado, como regra é de 10 mil reais.

b. Portaria MF nº 75/2012

Art. 1º Determinar:

I - a não inscrição na Dívida Ativa da União de débito de um mesmo devedor com a Fazenda

Nacional de valor consolidado igual ou inferior a R$ 1.000,00 (mil reais); e II - o não ajuizamento

de execuções fiscais de débitos com a Fazenda Nacional, cujo valor consolidado seja igual ou

inferior a R$ 20.000,00 (vinte mil reais).

§ 1º Os limites estabelecidos no caput não se aplicam quando se tratar de débitos decorrentes de

aplicação de multa criminal. § 2º Entende-se por valor consolidado o resultante da atualização do

respectivo débito originário, somado aos encargos e acréscimos legais ou contratuais, vencidos

até a data da apuração. § 3º O disposto no inciso I do caput não se aplica na hipótese de débitos,

de mesma natureza e relativos ao mesmo devedor, que forem encaminhados em lote, cujo valor

total seja superior ao limite estabelecido.

§ 4º Para alcançar o valor mínimo determinado no inciso I do caput, o órgão responsável pela

constituição do crédito poderá proceder à reunião dos débitos do devedor na forma do parágrafo

anterior.

§ 5º Os órgãos responsáveis pela administração, apuração e cobrança de créditos da Fazenda

Nacional não remeterão às unidades da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN)

processos relativos aos débitos de que trata o inciso I do caput. § 6º O Procurador da Fazenda

Nacional poderá, após despacho motivado nos autos do processo administrativo, promover o

ajuizamento de execução fiscal de débito cujo valor consolidado seja igual ou inferior ao previsto

no inciso II do caput, desde que exista elemento objetivo que, no caso específico, ateste elevado

potencial de recuperabilidade do crédito.

§ 7º O Procurador-Geral da Fazenda Nacional, observados os critérios de eficiência,

economicidade, praticidade e as peculiaridades regionais e/ou do débito, poderá autorizar,

mediante ato normativo, as unidades por ele indicadas a promoverem a inscrição e o ajuizamento

de débitos de valores consolidados inferiores aos estabelecidos nos incisos I e II do caput.

Esclarece-se que a Fazenda encomendou um estudou a economistas do EPEIA para

fazer um levantamento quanto aos custos da execução. Nesse estudo, de cunho econômico,

verificou-se que deveriam ser promovidas apenas as execuções em valores superiores a R$

20.00,00. Destaca-se que, na mesma oportunidade, verificou-se que o maior custo da

execução era para citação, razão pela qual restou recomendo que mesmo as execuções em

que o valor fosse inferior, mas se já tivesse sido realizada a citação, deveriam prosseguir.

O critério não poderia ser encampado quando for quanto à multa penal, conforme

previsão expressa na portaria.

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Em suma, o critério dos R$ 20.000,00 está em aberto e vem sendo recusado pelo STJ,

conforme pode ser verificado no julgamento do AgRGg no HC 216368.

AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. DESCAMINHO. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA.

INAPLICABILIDADE. PRECEDENTES. LEI N. 10.522/02. VALOR ELIDIDO SUPERIOR A R$ 10.000,00

(DEZ MIL REAIS). PORTARIA N.75/2012, DO MINISTÉRIO DA FAZENDA. DESCABIMENTO. AGRAVO

REGIMENTAL IMPROVIDO.

I - A Terceira Seção deste Superior Tribunal de Justiça, apreciando a questão da aplicação do

princípio da insignificância ao crime de descaminho, no julgamento do Recurso Especial

Representativo de Controvérsia n. 1.112.748/TO, sedimentou o entendimento segundo o qual

somente é cabível o reconhecimento do delito de bagatela aos débitos tributários que não

ultrapassem o teto de R$ 10.000,00 (dez mil reais), em conformidade com o art. 20 da Lei n.

10.522/2002.

II - A Portaria n. 75, de 22 de março de 2012, do Ministério da Fazenda, não conduz à conclusão

diversa. Se a execução fiscal pode prosseguir por valor inferior a R$ 20.000,00 (vinte mil reais),

consoante a disciplina legal, então tal montante não pode ser considerado insignificante.

III - In casu, o valor do tributo elidido é superior ao patamar fixado por esta Corte Superior.

IV - Agravo regimental improvido.

(AgRg no HC 216368/RS, Rel. Ministra REGINA HELENA COSTA, QUINTA TURMA, julgado em

11/02/2014, DJe 17/02/2014)

O tema ainda está vacilante, com ligeira prevalência de que não pode utilizar como

critério os R$ 20.000,00.

Síntese do tópico: em relação à portaria nº 75/12, a jurisprudência do STJ tem

entendido pela não aplicação desse critério, mantendo o de 10 mil reais (AgRGg 216368),

embora no STF exista menção a tal critério no HC 118.000/PR.

Ementa: PENAL. HABEAS CORPUS. CRIME DE CONTRABANDO. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA.

APLICAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. REITERAÇÃO DELITIVA. ORDEM DENEGADA.

I – Nos termos da jurisprudência deste Tribunal, o princípio da insignificância deve ser aplicado ao

delito de descaminho quando o valor sonegado for inferior ao estabelecido no art. 20 da Lei

10.522/2002, com as atualizações feitas pelas Portarias 75 e 130, ambas do Ministério da

Fazenda.

II – No caso sob exame, o paciente detinha a posse, sem a documentação legal necessária, de

22.500 (vinte e dois mil e quinhentos) maços de cigarro2 de origem estrangeira, que, como se

sabe, é típica mercadoria trazida do exterior, sistematicamente, em pequenas quantidades, para

abastecer um intenso comércio clandestino, extremamente nocivo para o País, seja do ponto de

vista tributário, seja do ponto de vista da saúde pública.

2 A importação de cigarro clandestino para o Brasil por uma pessoa física configura, tecnicamente,

crime de contrabando, uma vez que pessoa física não tem autorização para importação de cigarros.

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III – Os autos dão conta da reiteração delitiva, o que impede a aplicação do princípio da

insignificância em favor do paciente em razão do alto grau de reprovabilidade do seu

comportamento.

IV - Ordem denegada.

(HC 118000, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda Turma, julgado em 03/09/2013,

PROCESSO ELETRÔNICO DJe-182 DIVULG 16-09-2013 PUBLIC 17-09-2013)

1.5 Crime tributário / Norma penal em branco / Elemento normativo do tipo

Art. 1° Constitui crime contra a ordem tributária suprimir ou reduzir tributo, ou contribuição

social e qualquer acessório, mediante as seguintes condutas

Revisão conceitual:

Objeto material da conduta → aquilo sobre o que recai a conduta

Sujeito ativo → quem pode cometer o delito

Sujeito passivo → quem pode ser lesionado com a conduta

Objeto jurídico do crime ou objetividade jurídica → interesse que é tutelado

pela norma.

No caso do crime tributário, o seu objeto material é o tributo, questão normativa. O

tributo, no tipo penal, além de ser objeto material, é elementar normativa, que será

encontrada na constituição ou em outras normas. Pode-se afirmar, assim, que o tipo penal é

uma norma penal em branco.

Síntese do tópico: os tipos penais relacionados a crimes tributários são normas

penais em branco, pois dependem da complementação, que será encontrada na legislação

tributária. Além disso, torna-se evidente que a legislação tributária se apresenta como

relevante para a descrição da conduta proibida. Assim, questões relacionadas à identificação

do sujeito ativo do crime, que é o sujeito passivo da obrigação tributária, a alíquota, que

representa o montante de tributo devido e ao qual poderá corresponder a lesão do bem

jurídico e, por fim, o prazo de recolhimento, que estabelecerá o momento em que a conduta

afeta o bem jurídico no caso concreto.

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Imagine-se que determinado sujeito venha a aderir ao SIMPLES3, apesar de ter

recolhimento superior ao previsto para o regime favorecido de recolhimento. Para

tanto, frauda a informação quanto ao faturamento da empresa. Quantos crimes são

cometidos? Um crime de supressão de tributos ou vários crimes?

Destaca-se que a fraude realizada é apenas uma, no momento da declaração falsa

quanto ao faturamento. Configura concurso formal ou crime único? Não há um tipo penal

referente a fraudar para aderir ao SIMPLES. O melhor entendimento, portanto, é reconhecer

o concurso formal, visto que, a partir de uma única fraude, descumprem-se diversas

obrigações tributárias. Por tal razão é importante sempre indagar qual é a obrigação

tributária subjacente ao comportamento.

Outro exemplo sobre o tema há na hipótese em que o empresário retém o imposto

de renda na fonte, mas não o recolhe. A lei estabelece a obrigação de reter e recolher. Como

se trata de responsável tributário, ter-se-á para cada não recolhimento, uma conduta típica.

É por essa razão, inclusive, que não cabe a tese de crime único. Trata-se de um crime para

cada mês em que deixou de recolher. O mesmo raciocínio quanto à configuração de um

crime por mês é aplicável no crime do art. 168-A do CP.

CP, Art. 168-A. Deixar de repassar à previdência social as contribuições recolhidas dos

contribuintes, no prazo e forma legal ou convencional: (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)

§ 1o Nas mesmas penas incorre quem deixar de: (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)

I - recolher, no prazo legal, contribuição ou outra importância destinada à previdência social que

tenha sido descontada de pagamento efetuado a segurados, a terceiros ou arrecadada do

público; (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)

II - recolher contribuições devidas à previdência social que tenham integrado despesas contábeis

ou custos relativos à venda de produtos ou à prestação de serviços; (Incluído pela Lei nº 9.983,

de 2000)

III - pagar benefício devido a segurado, quando as respectivas cotas ou valores já tiverem sido

reembolsados à empresa pela previdência social. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)

§ 2o É extinta a punibilidade se o agente, espontaneamente, declara, confessa e efetua o

pagamento das contribuições, importâncias ou valores e presta as informações devidas à

previdência social, na forma definida em lei ou regulamento, antes do início da ação

fiscal. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)

3 SIMPLES é o sistema voltado para determinado tipo de empresa, normalmente de menor

envergadura, que possibilitará o recolhimento unificado de tributos. Para que se possa aderir a esse sistema é

necessário ter um determinado faturamento máximo.

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§ 3o É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou aplicar somente a de multa se o agente for

primário e de bons antecedentes, desde que: (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)

I - tenha promovido, após o início da ação fiscal e antes de oferecida a denúncia, o pagamento da

contribuição social previdenciária, inclusive acessórios; ou (Incluído pela Lei nº 9.983, de

2000)

II - o valor das contribuições devidas, inclusive acessórios, seja igual ou inferior àquele

estabelecido pela previdência social, administrativamente, como sendo o mínimo para o

ajuizamento de suas execuções fiscais. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)

Na hipótese de norma penal em branco, revogada ou alterada a norma

complementar, qual a consequência?

Exemplo: Dilma é reeleita em 2014 e, no ano de 2015, estabelece alíquota zero para

o imposto de renda. O sujeito que deixou de recolher imposto de renda em 2012 será

alcançado por uma abolitio criminis?

Destaca-se que quando o complemento está assentado em razões de caráter

permanente, a retirada do complemento faz com que atinja fatos anteriores. Seria a

hipótese aplicável caso a maconha fosse retirada do rol de substâncias consideradas

entorpecentes. De outro lado quando o complemento está assentado em razões de caráter

temporário, não produz abolitio criminis.

Sendo assim, para responder a indagação proposta quanto à abolitio criminis, é

importante analisar se o crime tributário é tratado como legislação de caráter permanente

ou temporário. Saliente-se que este é tratado como temporário, uma vez que o legislador

pode alterar a matéria a qualquer tempo e o tributo é cobrado para satisfazer um

orçamento ao qual é aplicado o princípio da anualidade do direito financeiro.

A interpretação da legislação tributária abre espaço para outra discussão: o legislador

é livre para criar e extinguir tributos, havendo espaço para saber se há ou não abolitio. Isso

porque, se há margem para criar, tem que haver margem para excluir também4.

Questão do MPF – Na hipótese de norma penal em branco5, revogada ou alterada a

norma complementar:

4 A cobrança do CPMF era temporária, sendo assim, iria acabar de qualquer forma, razão pela qual não

se aplica a tese da abolitio a essa hipótese.

5 Em uma prova se não for especificado se o complemento é temporário ou permanente, deve-se

trabalhar como se fosse permanente.

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a) Haverá retroatividade de norma mais benigna;

b) Haverá a ultratividade da norma revogada;

c) As decisões transitadas em julgado não seriam afetadas;

d) Apenas os processos em curso seriam afetados. ]

Resposta correta: letra a, isso porque retroagirá e alcançará o comportamento anterior.

Síntese do tópico: A conduta no crime tributário deve levar em conta o fato

imponível, independentemente do período de apuração ou do prazo de recolhimento do

tributo. Isto é, a sonegação está vinculada ao descumprimento da obrigação decorrente do

fato imponível.

Questão: XVIII Concurso do MPF – X é condenado por fato, condenação transitada

em julgado que posteriormente perde determinada natureza, subsistindo, todavia,

por natureza diversa.

a) A condenação sofrida subsiste;

1.6 Lei penal no tempo

Sob o ponto de vista de lei penal no tempo, é frequente no âmbito dos crimes

tributários, o surgimento de causas de extinção de punibilidade relacionadas ao pagamento

do tributo, tais causas devem ser interpretadas, segundo critérios de direito penal e não de

direito tributário, isto é, abstraindo-se o caráter temporal antes mencionado.

Evolução da causa de extinção da punibilidade dos crimes tributários:

1. CP

2. Lei nº 4.729/65 – art. 2º: pagamento antes do início da ação fiscal

Art 2º Extingue-se a punibilidade dos crimes previstos nesta Lei quando o agente promover o

recolhimento do tributo devido, antes de ter início, na esfera administrativa, a ação fiscal

própria. (Vide Decreto-Lei nº 94, de 1966) (Vide Lei nº 5.498, de 1968) (Vide Decreto-

Lei nº 1.650, de 1978)

Parágrafo único. Não será punida com as penas cominadas nos arts. 1º e 6º a sonegação

fiscal anterior à vigência desta Lei. (Revogado pela Lei nº 8.383, de 1991)

3. Lei n 5498/68 : pagamento ou parcelamento do imposto de renda

Art 1º Extingue-se a punibilidade dos crimes previstos na Lei número 4.729, de 14 de julho

de 1965, para os contribuintes do impôsto de renda que, dentro de 30 (trinta) dias da publicação

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desta Lei, satisfizerem o pagamento de seus débitos na totalidade, ou efetuarem o pagamento de

1ª (primeira) quota do parcelamento que lhes tenha sido concedido.

4. Lei 8.137/90 – pagamento do tributo

Art. 14. Extingue-se a punibilidade dos crimes definidos nos arts. 1° a 3° quando o agente

promover o pagamento de tributo ou contribuição social, inclusive acessórios, antes do

recebimento da denúncia. (Revogado pela Lei nº 8.383, de 30.12.1991)

5. Lei nº 8.383/91 – revogação do art. 14 da Lei nº 8.137/90

6. Lei nº 9.249/95 – art. 34: pagamento antes do recebimento da denúncia;

Art. 34. Extingue-se a punibilidade dos crimes definidos na Lei nº 8.137, de 27 de dezembro de

1990, e na Lei nº 4.729, de 14 de julho de 1965, quando o agente promover o pagamento do

tributo ou contribuição social, inclusive acessórios, antes do recebimento da denúncia.

7. REFIS

Tem-se de relevante nesse cenário o seguinte: imagine-se que a pessoa sonegou

tributo em 1990, ano no qual a lei trazia a previsão de que para extinção da punibilidade era

necessário o pagamento do tributo antes da ação fiscal, ou seja, antes de qualquer atuação

do fisco. Imagine-se que o pagamento foi realizado depois da ação do fisco, mas antes da

denúncia. Como o contribuinte pagou fora do período legal, o pagamento será considerado

como circunstância atenuante.

Ocorre que, se houver lei posterior que entende o pagamento realizado antes da

denúncia extingue a punibilidade, essa lei retroagirá para atingir e alterar a natureza do

pagamento efetuado. Isso porque essa lei que disciplina o momento temporal do

pagamento tem natureza penal.

Em relação ao pagamento, sempre que uma nova lei atribua uma natureza mais

benéfica ao pagamento, a natureza deste se modificará para beneficiar o agente. Por lógico,

o contrário não será aplicado, razão pela qual se a natureza mudar para piorar, não

retroagirá para alcançar o agente.

Observação: quando a lei fala “em qualquer tempo” na verdade é até o trânsito em

julgado, sob pena de inconstitucionalidade. Há autores que defendem que o “a qualquer

tempo” atinge, inclusive, os pagamentos efetuados após o trânsito em julgado da sentença.

Ocorre que esta visão estaria eivada de inconstitucionalidade vez que o objetivo legal não é

transformar a prisão no pagamento do tributo. Direito penal não pode ser tratado como

instrumento de cobrança de dívida.

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1.7 Programas de recuperação fiscal

A partir da década de 90, com o surgimento de causas de extinção da punibilidade, o

legislador vislumbrou a possibilidade de converter o pagamento do tributo em uma causa de

extinção da punibilidade nos crimes tributários. Isso se deu, especificamente, com o art. 34

da Lei nº 9.249/95.

Lei nº 9.249/95, Art. 34. Extingue-se a punibilidade dos crimes definidos na Lei nº 8.137, de 27 de

dezembro de 1990, e na Lei nº 4.729, de 14 de julho de 1965, quando o agente promover o

pagamento do tributo ou contribuição social, inclusive acessórios, antes do recebimento da

denúncia.

Explica-se que um advogado do Paraná começou a sustentar que, como o pagamento

antes do recebimento da denúncia extinguia a punibilidade, o contribuinte poderia entrar

judicialmente e sobrestar o oferecimento da denúncia, uma vez que estava tentando pagar,

ainda que em parcelas. A questão refere-se, unicamente, em reparar ou não o dano. Sendo

assim, se não houvesse possibilidade de manejar a causa de extinção da punibilidade, não

deveria aplicar a possibilidade de parcelamento. Ocorre que a tese defendida pelo advogado

ganhou respaldo, levando a edição do art. 34 da Lei nº 9.249/95. Destaca-se que o sistema

de parcelamento somente existe no Brasil e não mais em nenhum outro sistema mundial.

Os programas de parcelamento (REFIS) são caracterizados:

1. Programas de parcelamento que suspendem a pretensão punitiva, ou seja,

impedem denúncia;

2. Pagamento que extingue a punibilidade.