revista tela viva 156 - dezembro 2005

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CINEMA Gustavo Dahl avalia os primeiros quatro anos da Ancine PRODUÇÃO Aumento dos custos aperta as margens das produtoras televisão, cinema e mídias eletrônicas ano 14_#156_dezembro2005 FERMENTO NO BOLO Copa do Mundo, eleições e economia puxam para cima as projeções de faturamento da televisão

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Revista Tela Viva 156 - Dezembro 2005

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CINEMAGustavo Dahl avalia os primeiros quatro anos da Ancine

PRODUÇÃOAumento dos custos aperta as margens das produtoras

televisão, cinema e mídias eletrônicas ano 14_#156_dezembro2005

FERMENTO NO BOLOCopa do Mundo, eleições e economia puxam para cima as projeções de faturamento da televisão

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(editorial)

Em 2006, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) deverá julgar a fusão entre DirecTV e Sky, que poderá resultar na formação de um grande operador de TV por assinatura via satélite (DTH) com mais de 1,3 milhão de assinantes.

Será um dos momentos mais importantes na história da TV por assinatura no Brasil. Não porque a fusão represente riscos ou ameaças, pois as duas operadoras já estão no Brasil há dez anos, com os mesmos acionistas, e isso representou avanços reais na consolidação do mercado brasileiro de TV paga. Ao contrário, a fusão das duas operadoras deve ser benéfica porque traz perspectivas de viabilidade reais ao mercado de DTH, que tem altíssimos custos de operação. É algo de que a TV por assinatura no Brasil precisa.

O fato histórico a ser destacado é que, pela primeira vez, os órgãos de defesa da concorrência serão envolvidos na análise do mercado de comunicação, em particular nas definições que dizem respeito ao conteúdo, ao que é veiculado. Comunicação não é uma atividade privada qualquer, que pode ser exercida sem a atenção do Estado. Comunicação é algo que envolve o direito de expressão e informação de uma sociedade, dois princípios que estão nas raízes e um ambiente democrático e livre.

No momento em que o Cade e as demais instâncias que zelam pelas questões concorrenciais olharem para a fusão, estarão olhando não apenas para duas empresas e um mercado. Estarão olhando, pela primeira vez na história recente do Brasil, para os interesses da sociedade no que se refere à pluralidade e à diversidade de informação. O desafio será balancear as condições de aprovação da fusão para, não necessariamente nesta ordem: 1) não inviabilizar economicamente a operação; 2) não criar um ambiente xenófobo, por um lado; 3) não alijar os agentes econômicos brasileiros do mercado, por outro lado; 4) garantir uma concorrência justa e, principalmente; 5) garantir ao telespectador plena liberdade de acesso às fontes de informação e entretenimento que ele escolher.

Os melhores exemplos na Europa e nos EUA mostram que este desafio não é único do Brasil. Por isso, torcemos para que a análise da fusão entre DirecTV e Sky não seja apenas um episódio isolado, mas que sirva de aprendizado para a regulação futura do mercado de comunicação no Brasil.

André Mermelsteina n d r e @ t e l a v i v a . c o m . b r

Conteúdo em questão

Tela Viva é uma publicação mensal da Editora Glasberg - Rua Sergipe, 401, Conj. 605,

CEP 01243-001. Telefone: (11) 2123-2600 e Fax: (11) 3257-5910. São Paulo, SP.

Sucursal Setor Comercial Norte - Quadra 02 Bloco D - torre B - sala 424 - CEP 70712-903.

Fone/Fax: (61) 3327-3755 Brasília, DFJornalista Responsável Rubens Glasberg (MT 8.965)

Não é permitida a reprodução total ou parcial das matérias publicadas nesta revista,

sem autorização da Glasberg A.C.R. S/AOs artigos da Broadcast Engineering®

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Todos os direitos são reservados pela Primedia Inc.

Rubens GlasbergAndré MermelsteinSamuel PossebonManoel FernandezOtavio JardanovskiGislaine GasparVilma Pereira (Gerente), Gilberto Taques (Assistente Financeiro)

Edianez Parente

Fernando Lauterjung

Daniele Frederico, Lizandra de Almeida (Colaboradora)

Carlos Eduardo Zanatta (Chefe da Sucursal)

Carlos Edmur Cason (Edição de Arte)Debora Harue (Assistente)Rubens Jardim (Produção Gráfica)Geraldo José Nogueira (Editoração Eletrônica)

Almir Lopes (Gerente), Ivaneti Longo (Assistente)

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Impressão

IlUSTRAÇÃO DE CAPA: RICARDO BARDAL

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Ano 14 _156_ dez/05(índice)

Tela Viva edita as cartas rece-bidas, para adequá-las a este espaço, procurando manter a máxima fidelidade ao seu conteúdo.Envie suas críticas, comentários e sugestões para [email protected].

MipcomParabéns pela excelente cobertura do Mipcom.Especialmente pelo grande serviço prestado à produção independente.Grande abraço,

Marco AltbergPresidente da ABPI-TV

PingüinsFiquei muito feliz ao ler a matéria sobre o filme “A Marcha do Imperador”, que é a maior bilhete-ria de um filme francês na história. Depois do sucesso de documentários como “Super Size Me” e “Tiros em Columbine”, ficou provado que é possível fazer com que os documentários tornem-se blockbusters e sejam rentáveis para o cinema. Temos de aguardar ansio-samente pelo filme no Brasil!

Alexandre PradoSão Paulo, SP

(cartas)

telavivanewswww.telaviva.com.br

Acompanhe as notícias mais recentes do mercado

Ano Novo gordo 28Canais abertos e pagos apostam no crescimento de publicidade em 2006

scanner 8figuras 16entrevista 18Gustavo Dahl aponta os caminhos para a Ancine

publicidade 34Produtoras reduzem as suas margens de lucro

tv por assinatura 38Relação entre programadoras e operadoras em xeque

audiência 41no ar 42making of 44artigo 46Diversidade cultural tem vitória na Unesco, por Petrus Barreto

cinema 48Curtas e médias ganham espaço em Vitória

upgrade 49agenda 50

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Produções animadasO artista gráfico e animador José Anderson da Silva foi o

responsável pela campanha de verão da RIC, afiliada da Record em Curitiba. O filme conta com cenas divertidas para lembrar o

espectador sobre os cuidados necessários com o sol. Paralela-

mente, o animador paranaense se dedica a um projeto de seriado

para TV sobre a família Iscaioqui, que adotou o sobrenome em homenagem ao clã Sky-

walker, da série de filmes de George Lucas. A série, voltada ao público jovem, mas não

infantil, conta com personagens como o gato da família, que na verdade

é uma ratazana pinguça disfarçada com cartolinas

coladas na orelha.

Artigo 1º fica até 2016A Comissão de Educação do Senado

Federal aprovou no final de novembro o relatório do senador Gerson Camata (PMDB/ES) sobre o projeto de lei (PLS 361/2005), apresentado pelo senador Sérgio Cabral (PMDB/RJ), que prorroga até o final de 2016 os efeitos do artigo primeiro da Lei 8.685/93, a Lei do Audiovisual. Trata-se do mecanismo que incentiva os investimentos em produção audiovisual através de dedução de parcela do Imposto de Renda. Por força do disposto no artigo 50 da Medida Provisória nº 2.228-1, de 6 de setembro de 2001, a vigência do Artigo 1º expiraria em 2006. Como o projeto é terminativo na Comissão de Educação, se não houver recurso para apreciação em plenário o texto vai à Câmara dos Deputa-dos para apreciação.

UNIVERSAl NA VIVAx O Universal Channel, joint venture entre a Globosat e a NBC Universal, entrou

no line-up da Vivax nas praças onde não figurava (antigas operações da Canbrás): ABCDM e Baixada Santista - nas demais praças, onde era anteriormente a Horizon, o

canal já estava presente.O canal de filmes e séries entra sem cobrança

adicional aos assinantes dos pacotes Econômico, Compact e Classic. O Universal Channel passa a ser exibido no canal 22, em substituição à STV Rede SescSenac, que continua na grade da Vivax, mas sobe para o canal 68. A região do ABCDM engloba as cidades de Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul, Diadema e Mauá. Na Baixada Santista, a Vivax está presente em

Santos, Bertioga, Guarujá, Cubatão, Praia Grande e São Vicente.

Comissão de marco regulatório

Na última reunião do ano, realizada em 5 de dezembro, o Conselho de Co-municação Social do Senado criou duas novas comissões técnicas: Comissão do Marco Regulatório, que será coordenada por Paulo Machado de Carvalho Neto, e a Comissão de Liberdade de Expressão, a ser coordenada pelo conselheiro Gil-berto Leifert. A criação das duas novas comissões, que começam a funcionar a partir de março, só foi possível pelo encerramento dos trabalhos da Comissão de Concentração na Mídia e pela fusão da Comissão de Regionalização e Quali-dade da Programação com a Comissão de Radiodifusão Comunitária.

Cota para o MercosulDurante a Reunião das Autoridades Cinematográficas e Audiovisuais do

Mercosul (Recam), que aconteceu no dia 17 de novembro em Salvador, foi elaborada uma proposta de resolução do grupo do mercado comum, a partir da qual será feita uma consulta aos agentes privados do mercado cinematográfico e aos órgãos de governo dos países associados para estabelecer parâmetros de tratamento de filme local para os filmes originários dos países do bloco, estabel-ecendo assim a cota de tela do Mercosul. Segundo a Ancine, a expectativa é de que este processo de consulta e análise das propostas dure cerca de 120 dias.

Outra proposta que está sendo analisada pela Recam é o Certificado de Nacionalidade do Mercosul para obras cinematográficas, com o objetivo de pos-sibilitar que os certificados locais dos países membros sejam válidos nos outros mercados, identificando assim o “filme do Mercosul”. Essa proposta possibilitará também o tratamento relativo a taxas, impostos e contribuições de filmes do Mercosul como filmes nacionais. No Brasil, por exemplo, a Condecine de filme do Mercosul seria igual à de filme brasileiro.

“The 4400”

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INTERATIVIDADE NO FUTEBOlPARA O TORNEIO DO FUTEBOL EUROPEU LIGA DOS CAMPEõES, A TV BANDEIRANTES TROUxE UMA NOVIDADE. Já QUE Há

SIMULTANEIDADE NOS JOGOS, A EMISSORA DECIDIU PASSAR AO TELESPECTADOR A ESCOLHA SOBRE QUAL PARTIDA DEVE ExIBIR. O PúBLICO VOTA ATÉ O DOMINGO, POR MEIO DO ENVIO DE MENSAGENS DE TExTO VIA CELULAR (ENVIO POR QUALQUER OPERA-DORA DA PALAVRA JOGO PARA O NúMERO 49209, AO CUSTO NORMAL DE UM SMS, DE R$ 0,31 MAIS IMPOSTOS ) E EM SEGUIDA RESPONDE A UMA QUESTãO, PARA OPTAR SOBRE QUAL PARTIDA QUER VER.

Brother antecipadoA Net Serviços abriu as vendas da

sexta edição do reality show “Big Brother Brasil” e já transmite uma programação

com os melhores momentos de anos anteriores em canal dedicado. O pro-grama só começa em 10 de janeiro de 2006. Há duas modalidades de venda:

pacote completo e um pacote semanal e os valores cobrados, até 1º de janeiro de 2006, podem ser parcelados em quatro vezes. As compras via Internet custam: R$ 63,75 (pacote completo) e R$ 45,00

(pacote semanal). Já a compra via central de atendimento sai respectivamente por

R$ 75,00 e R$ 55,00.

Fox no celularDepois de estrear nos mercados do México e Argentina,

o serviço para celular “My Fox” chegará em breve também ao Brasil. A Fox desenvolve aplicativos como ringtones, wallpapers e outros, baseados na programação dos seus canais. A idéia da programadora é fornecer para todas as operadoras. No Brasil, a Fox foi pioneira ao trazer os “mobi-sodes” de “Conspiracy”, seriado para celular com capítulos de um minuto, que são oferecidos no Vivo Play3G, serviço com streaming de vídeo ainda em fase experimental da operadora.

Reflexões cinematográficasO livro “Cinema e televisão durante a ditadura militar:

depoimentos e reflexões”, lançado pela editora Cultura Acadêmica, traz textos de pesquisadores e cineastas como Sérgio Muniz, Laurindo Leal Filho, César Bolaño, Tânia Pellegrini, Ânge-lo Del Vecchio e Roberto Farias sobre como e o que foi produzido pelo cin-ema e pela televisão no período da ditadura militar no Brasil (1964-1985). Organizada por Anita Simis, a obra é resultado de um seminário realizado na Faculdade de Ciências e Letras da Unesp de Ara-raquara, em 2003, do qual participa-ram estes e outros pensadores do cinema.

Em movimentoA linha Orangis Brilho

Intenso, da Leagée, ganhou um filme de 30 segundos para o lan-çamento de seu novo produto. O filme “Walkman” foi produzido em computação gráfica pela Digital 21, com letreiros em mov-imento que flutuam na tela com as mensagens sobre o produto e saem do plano fechado com-pondo os fios de cabelo de uma mulher dançando. A direção de criação é de Sérgio Lopes e Paulo André Bione, com direção de Rodolfo Patrocínio.

TV digital começa a tomar formaNeste mês de dezembro os consórcios universitários que

participam do desenvolvimento do SBTVD (Sistema Brasileiro de TV Digital) entregam ao Grupo Gestor e ao Comitê de Desen-volvimento as conclusões sobre a análise técnica e mercad-

ológica. A sugestão do padrão a ser adotado pelo Brasil sai no começo de fevereiro, conforme decreto presidencial, ou antes, conforme a vontade do ministro Hélio Costa. No início do mês, os consórcios apontaram alguns dos resultados para a impren-sa. A proposta é um sistema diferente dos internacionais, mas

que atende às principais demandas do governo e dos radiodifu-sores. Para que haja uma “inclusão digital” através da TV digital, os consórcios propuseram o uso de redes WiMAx (banda larga metropolitana sem fio). A idéia é equipar os set-tops com chips para a transmissão de dados pelas redes wireless, que poderão

ser exploradas pelos próprios radiodifusores, em uma faixa próxima ao UHF, ou até por prefeituras e órgãos públicos, em

localidades menores.As demandas dos radiodifusores em relação à modulação tam-

bém estão atendidas. A modulação proposta é uma adaptação do COFDM usado pelo padrão japonês (ISDB-T), com codificação MPEG-4, em canais de 6 MHz com 19 Mbps cada, que segundo o pesquisador Marcelo k. Zuffo, da USP, permite a transmissão

simultânea, no mesmo canal, de sinais em HDTV, SDTV e mobili-dade. Segundo Zuffo, o sistema permite, por exemplo, transmitir um sinal de sHDTV (Super High-Definition) a 18 Mbps e mais um

sinal móvel de 0,4 Mbps, ou então dois sinais de HDTV convencio-nal, a 9 Mbps cada. Em outra configuração, poderia transmitir, por exemplo, quatro sinais EDTV (Enhanced Definition, qualidade de

DVD com 780 linhas) com 5,4 Mbps cada.

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Dança cidadãA produtora canadense Eileen Thalenberg (foto do alto, à esq.), da Stormy

Nights Productions, esteve em São Paulo no início de novembro para a última parte das gravações do documentário para a TV “The Citizen Dancer”, sobre o projeto artístico-social do bailarino Ivaldo Bertazzo.

Eileen, cuja produtora é especializada em programas de música e dança, já conhecia o trabalho de Ivaldo, que cria espetáculos de dança com jovens da periferia de São Paulo e durante o processo realiza um trabalho social com eles e suas família. Ela tem parentes no Brasil que a apresentaram ao artista, pelo qual ficou fascinada. “Ele trabalha com a pessoa, não só com a dança. Dá às crianças instrumentos para a vida”, diz.

Durante uma viagem de produtores brasileiros ao Canadá, conheceu Denise Gomes, da Bossa Nova Films (foto do alto, à dir.), e logo fecharam um acordo de co-produção para um programa de cerca de uma hora de duração. O documen-tário terá dois focos: o trabalho social, com o perfil de quatro ou cinco jovens inte-grantes do projeto, e a dança em si, uma vez que o projeto resulta em espetáculos de alta qualidade, já apresentados no Brasil e no exterior.

“Tudo é bem feito, ele usa os melhores cenógrafos, iluminadores. É revolu-cionário. Um projeto assim poderia ser aplicado até em áreas mais pobres do Canadá”, conta Eileen.

A produção, no valor total de 538 mil dólares canadenses (aprox. R$ 990 mil) foi dividida em 75% para a Stormy Nights, que trouxe um cameraman e a própria Eileen, que dirige o filme, e 25% para a Bossa Nova, que provê a logística e os serviços de produção no Brasil. A pós-produção será feita em Toronto. Eileen terá os direitos de distribuição no Canadá e a Bossa Nova terá para o Brasil. No resto do mundo, as receitas serão divididas proporcionalmente entre as duas.

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Animações nacionaisDentro da programação para 2006 dos canais da Turner, um dos destaques fica por

conta da entrada de novas animações feitas por cartunistas brasileiros para o bloco adulto do Cartoon Network. Os desenhistas Glauco, Adão, Laerte, Angeli e Caco Galhardo terão seus personagens de tirinhas como protagonistas de programetes que serão exibidos no “Adult Swin”, faixa de programação de sexta a domingo após as 23h. As animações serão produzidas pelos estúdios de Daniel Messias - o mesmo do “Projeto Cartum Netiuorque” - e utilizam recursos mobilizados via Artigo 39 da MP 2228.

Já a TNT anuncia novas séries, como “The Closer” e as novas temporadas de “Veronica Mars” e de “Battlestar Galactica” (segunda temporada). O canal terá a nova edição do Rock in Rio Lisboa, show do Motley Crüe e o Ozzfest. Haverá também a quinta edição da produção local “Projeto 4�”, no Brasil. A TNT continua com os longas-metragens dublados (de acordo com a direção do canal, um pedido do próprio mercado assinante). Entre os filmes do próximo ano estão “Onze Homens e Um segredo”, “Mais Velozes e Furiosos” e “Harry Potter e a Câmera Secreta” No TCM Classic Hollywood entram os se-riados “I Love Lucy” e “Os Intocáveis”. E o canal CNN International inaugura em dezembro o serviço “CNN Pipeline”, que estará disponível na web também para o Brasil, e através do qual o usuário de Internet compra sob demanda vídeos noticiosos ao vivo, vídeos de arquivo e clipes de notícias diversas. Os preços ainda não foram divulgados.

EM ExPANSãOA THOMSON ANUNCIOU

NO INíCIO DE DEZEMBRO QUE FECHOU ACORDO PARA

AQUISIçãO DE 33% DAS AçõES DA CANOPUS, DESEN-

VOLVEDORA JAPONESA DE SOFTWARES PARA EDIçãO DE

VíDEO. A TRANSAçãO, NO VAL-OR DE 91,3 MILHõES (APROx.

R$ 238 MILHõES), FAZ PARTE DO PROJETO DE ExPANSãO

DA EMPRESA FRANCESA NAS áREAS DE DESkTOP VIDEO,

VíDEO SOBRE IP E CONVERSãO DIGITAL DE MíDIA. ALÉM DISSO, COLOCA A GRASS

VALLEy, MARCA DA THOM-SON PARA A áREA DE VíDEO

PROFISSIONAL, NO MERCADO DE SOLUçõES PARA EDIçãO MULTI-FORMATO BASEADAS

EM PCS. A THOMSON Já HAVIA ANUNCIADO, NO INíCIO DESTE

ANO, SEU INTERESSE EM ATUAR MAIS FORTEMENTE NO

MERCADO PROAV.Desenhos do cartunista laerte para o Cartoon.

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Prêmio Adicional

No dia 14 de novembro, a Ancine publicou no Diário Oficial a Instrução Normativa que institui o Prêmio Adicional de Renda (PAR) e o primeiro edital do prêmio. Pela IN, o PAR poderá ser usado pelas empresas da seguinte forma:

* Empresas produtoras - desenvolvimento de projeto, finalização de obra cinematográfica e complementação de recursos para a filmagem de obra cinematográfica;

* Empresas distribuidoras - aquisição de direitos de distribuição de longa-metragem nacional, com utilização dos recursos na produção, despesas de comercialização, sendo, neste caso, vedada a retenção do valor usado através do PAR nos resultados de bilheteria, assim como o uso dos recursos para aquisição de cotas de co-produção;

* Empresas exibidoras - automação de bilheteria, projeto de investimento nas salas que farão jus ao apoio financeiro, abertura de novas salas, aquisição de equipamentos digitais de exibição.

O primeiro edital do PAR destina R$ 4,162 milhões, distribuídos de maneira igualitária entre as categorias

de empresa produtora, distribuidora e exibidora. Uma particularidade para o prêmio de exibição é que o valor máximo por complexo cinematográfico será de R$ 30 mil, sendo que o montante que ultrapassar este valor será transferido para as outras categorias (produção e distribuição). Os prêmios serão depositados pela Ancine em conta corrente bloqueada e só serão liberados após a análise e aprovação das propostas de destinação de recursos, enviadas por cada ganhador do PAR.

Consulta pública A instrução normativa, que passou por processo de consulta

pública, acatou várias sugestões do mercado. Entre elas estava a redução da faixa de bilheteria mínima atingida por um mesmo filme por empresas produtoras para ter direito ao prêmio. A redução foi de 50 mil para 20 mil espectadores. Além disso, foram estabelecidas alíquotas de desempenho baseadas no rendimento por cópia, que incidirão negativamente na pontuação de cada obra quando não atingirem rendimento mínimo por cópia lançada.

Volta da pornochanchada

A pornochanchada brasileira é o tema central da nova campanha da marca Chilli Beans, criada pela Fracta e produzida pela Base Cinematográfica. O gênero do cinema brasileiro, comum na década de 70, foi marcado por cenas de erotismo, erros de continuidade e áudio

dublado e com freqüência fora de sincronismo. Propositalmente, todas estas características foram mantidas pela produtora nos sete filmes, mas de uma forma revisada, ou seja, transformando o erro em linguagem, para gerar uma certa estranheza e conferir ares inusitados aos filmes. Com direção de Iko Kasper, um dos filmes apresenta o ator David Cardoso, ícone da pornochanchada, jogando todo o seu charme e mostrando seus dotes de dançarino para seduzir.

Natal animadoO filme da campanha de natal do Central Plaza Shopping, composta ainda por

outdoor, Internet e spot, contou com 25 crianças no casting. O filme tem pique de videoclipe, embalado ao som de um jingle agitado, com a idéia de quebrar o velho paradigma de filme emocional para essa época do ano. As crianças invadem o cenário de natal do shopping, brincam e se divertem. Em uma cena inusitada, uma garotinha aperta o nariz do Papai Noel.

A criação é da Rae, MP, com criação de Mauro Khelm (que assina ainda a direção de criação), Alberto Lima e Jorge Sato. A produção é da Canvas 24p, com direção de cena de Wiland Pinsdorf e trilha sonora da Play It Again.

HIPERNATAL NO SíTIOA campanha de Natal da Hipercard, empresa

de cartões de crédito do Unibanco, conta com uma promoção do Sítio do Pica-Pau Amarelo. A cada R$ 70 em compras com o Hipercard, o usuário ganha uma miniatura do Sítio e a cada R$ 500, recebe a coleção inteira com os oito persona-gens. A campanha, que tem como slogan “Natal é mais, Natal é hiper”, foi criada pela QG e conta com um filme de 30 segundos intitulado “Papel Noel”, dirigido por Luiz Ferré, da Cine. A veicula-ção será feita em toda a região Nordeste.

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Embate políticoAlgumas das associações que fazem parte do Comitê

Consultivo do Sistema Brasileiro de TV Digital queixaram-se da postura do Ministério das Comunicações, em uma situação que quase culminou na dissolução do Comitê no final de novembro. Chegou-se a propor a saída dos membros do Comitê, “uma vez que os debates importantes acontecem em outros fóruns”, disse o representante de uma das associações.

As associações reclamam da pouca representatividade que vêm tendo nas discussões sobre o SBTVD, enquanto “as emissoras comercias de televisão passaram a ter contato direto com o Ministério das Comunicações”, disse uma fonte. Nas 12 reuniões que aconteceram até agora, a contribuição “foi mínima, se não nula”, afirmou um membro do Comitê. Por fim, o Comitê apenas enviou ao ministro Hélio Costa, através do coordenador do Grupo Gestor, a ata da reunião, pedindo maior participação.

Além disso, as associações das emissoras de televisão que atuam no campo público divulgaram, também no final de novembro, um manifesto que, entre outros pontos, pede a adoção da multiprogramação na TV digital e diz que se unirão para articular seus interesses na discussão. O modelo proposto pelas TVs públicas na TV digital terrestre é a oferta de novos canais ao público, lembrando que “a introdução de mecanismos de ampla comunicação e interatividade entre as emissoras e a audiência são do mais alto interesse do desenvolvimento social e cultural do país, devendo ser priorizados sobre quaisquer outras possibilidades trazidas pela nova tecnologia”.

Hélio Costa, em entrevista ao programa “Roda Viva” no início de dezembro, de certa forma conseguiu postergar a crise com estes setores, afirmando que a decisão do modelo de negócios da TV digital deverá ficar a Lei Geral de Comunicação, e que o momento é apenas de escolha da tecnologia.

TElEFONE PODEROSO

A agência 141 Worldwide foi a responsável pela campanha de lançamento do novo celular da LG, capaz de reproduzir músicas do formato MP3. Com criação de Vitor Azambuja e Marcos Dyonisio, e colaboração de Gustavo Monteiro na arte, a campanha conta com um filme de 30 segundos, produzido pela Cine, com direção de Clóvis Mello.

O cenário é do filme é um prédio residen-cial, onde, uma noite, os moradores acordam incomodados com o volume alto da música que vem de um dos apartamentos. Irritados, os vizinhos chamam a polícia, para descobrir que, na verdade, a música vem de um celular LG que o dono havia esquecido em casa.

Programa jovem no SBT

O SBT fechou com a Oi o pa-trocínio exclusivo de sua atração

musical voltada ao público jovem para a madrugada, o “Music

Box”. O programa tem clipes de bandas atuais, informações sobre músicas e dicas de passeios, além de ensinar como baixar toques, papéis de parede e outras novi-dades para usuários de celular,

que participam do programa com envio de mensagens de SMS,

ou de vídeos e fotos ao site do programa. O programa é diário,

de segunda a sexta-feira.

Arquivo digitalMax Benôit, diretor do INA (Instituto Nacional do

Audiovisual, da França) esteve no Brasil em novembro para participar do Recine, e contou a TELA VIVA como vem sendo feito o processo de digitalização do acervo audiovisual

da instituição. No Brasil, Benôit teve conversas com a Cinemateca e com emissoras de TV para trocar experiências no assunto.

O INA armazena toda a programação exibida pelas televisões abertas francesas. Inicialmente, a partir de sua criação nos anos 50, guardava apenas imagens das TVs públicas (sobre as quais detém os direitos e pode inclusive comercializar). Desde 1995, através de um convênio, guarda também todas as transmissões comerciais. Na prática, cumpre o papel de realizar o depósito legal das imagens, obrigatório por lei. Hoje o INA grava na íntegra o sinal de 48 emissoras de TV e 17 de rádio. O acervo acumula impressionantes 2,7 milhões de horas de TV e rádio. Desta coleção, cerca

de 1 milhão de horas de TV estão sendo digitalizadas. As gravações atuais já são feitas digitalmente.

O INA corre contra o relógio. Benôit calcula que até 2015 há 800 mil horas de material sob ameaça de deterioração. A digitalização corre ao ritmo de 55 mil horas por ano. O material é guardado em um storage Sony Petasite, em MPEG-2, para arquivo, e MPEG-1, para visualização. O orçamento do projeto é de 103 milhões anuais.

O material digitalizado está disponível para pesquisa na Internet (é necessário fazer um cadastro), e a partir de 2006 o INA criará um site aberto ao público, onde mediante um pagamento qualquer pessoa poderá assistir a programas antigos.

Max Benôit

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Nos créditos dos principais lançamentos do cinema brasileiro neste segundo semestre está o nome do

diretor de arte Marcos Pedroso. É ele quem assina a arte de filmes como “Cidade Baixa”, de Sérgio Machado, e “Cinema, Aspirinas e Urubus”, de Marcelo Gomes. E seu nome também vai aparecer em “Crime Delicado”, de Beto Brant, “A Máquina”, de João Falcão, ambos com lançamento previsto para janeiro de 2006, e “A Casa de Alice”, de Chico Teixeira, em finalização. Em comum, os filmes têm diretores jovens e equipes muito integradas, que participam de todo o processo, muito antes do início das filmagens. A direção, a fotografia, a arte, a produção de locação, o figurino, todas as funções trabalharam juntas nesses projetos para criar a imagem do filme, de uma forma que se aproxima do que se chama de production design.

Formado em artes plásticas pela Escola de Comunicações e Artes da USP em 1991, foi lá que começou a trabalhar com cenografia, em projetos de colegas de teatro e cinema. E foi onde conheceu Tom Araújo, um dos fundadores do Teatro da Vertigem, um

dos grupos mais inovadores do teatro brasileiro contemporâneo. Trabalhei com artes plásticas, principalmente escultura e videoarte, e então fui para Nova York estudar. Participei do circuito de artes plásticas com exposições, mas sempre achei essa área meio solitária. Então preferi trabalhar com teatro, que envolvia o trabalho em grupo.

Durante 12 anos, Marcos foi o cenógrafo do Teatro da Vertigem e até hoje viaja com o grupo em montagens no exterior de trabalhos

locação. A espessura das paredes, os elementos de época, isso é muito difícil e muito caro de ser produzido.

O primeiro longa da carreira de Marcos foi “Bicho de 7 Cabeças”, de Laís Bodanzky. Depois que voltei de Nova York, trabalhei na produtora Arquitetura da Imagem, onde também trabalhava o produtor Fabiano Gullane. Eu fazia meus projetos de videoarte e eles estavam começando a produzir. Já tinha acompanhado o curta “Cartão Vermelho”, da laís, então ela me chamou para o longa. Depois fiz “Madame Satã”, do Karim Aïnouz. Assim como no atual “Cinema, Aspirinas e Urubus”, “Madame Satã” se passava em um ambiente pobre e de época. É incrível como não existe registro histórico da pobreza. Pesquisei fotos históricas prestando atenção nas bordas, nas pessoas que estavam no entorno. O passado parece muito mais bonito e quando isso aparece dos filmes é sempre idealizado. Nós fomos atrás do passado real e vimos que nem todo malandro usava chapéu, só os grandes mafiosos usavam terno de linho. Por isso nunca assisto filmes como referência de época e de arte. Assisto para ver enquadramentos, opções de fotografia. Mas prefiro

usar fontes históricas de pesquisa. Tenho mesmo uma grande afinidade com esse realismo, em valorizar e transformar uma locação. Mas já fiz muita publicidade e no “A Máquina”, por exemplo, fizemos tudo em estúdio, criando um sertão fantasioso e assumindo que estávamos no estúdio.

Seus próximos projetos são “Mutum”, primeiro filme de ficção da documentarista Sandra kogut, e “Rifa-me”, do parceiro karim Aïnouz. Pelo jeito, não vai ser fácil tirá-lo do cinema tão cedo.

Mergulho no cinema

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como “O Paraíso Perdido”, “O Livro de Jó” e “Apocalipse 1,11”, que integram a Trilogia Bíblica do grupo. Só não está participando do projeto BR3, atualmente em cartaz em São Paulo, porque está fazendo um filme atrás do outro. O trabalho com o Vertigem se aproxima muito do cinema, porque é feito com instalações em cima de locações já existentes. “O Paraíso Perdido, por

exemplo, foi encenado em uma igreja e “O Livro de Jó”, em um hospital desativado. Escolhemos o lugar e montamos o projeto cenográfico em cima disso, trazendo objetos e elementos e interferindo na estrutura já existente. Essa minha experiência foi fundamental para o cinema e principalmente para esses filmes. Aqui no Brasil temos profissionais muito bons, mas ainda não temos muita estrutura para reproduzir detalhes arquitetônicos. É possível criar as texturas, mas não as dimensões. Por isso os filmes que exigem realismo sempre ficam melhores em

“A ExPERIêNCIA DO TEATRO FOI FUNDAMENTAl PARA TRABAlHAR COM CINEMA ”.

MARCOS PEDROSO

Vendas e marketingO Fox One Stop Media, departamento de vendas de publicidade dos canais Fox, Fx e National Geographic Chan-nel, promoveu Raquel Soares (à esq.) a assistente de operações comerciais. Ela fica responsável pelo tráfego de materiais publicitários, organização e inserção de publicidade, além de realizar o contato com as agências. Já o departamento de marketing recebe Graziela Daiuto (à dir.), na gerência de trade marketing. Ela fica responsável pelo desenvolvimento e implementação da estratégia de comu-nicação dos canais e suas programações junto aos compradores de mídia.

Ano novo, vida nova Cláudio Santos desliga-se do SBT, ficando até o final

de dezembro na emissora. O executivo, que ocupava a direto-ria comercial do SBT, é o último a sair da equipe que Antônio Athayde levou para a rede de Silvio Santos, quando assumiu a superintendência comercial, há pouco mais dois anos. O executi-vo assume em janeiro a diretoria de publicidade do Grupo Estado, onde reporta-se aos diretores superintendentes Célio Virginio e Elói Gertel.

Mais recursos humanos O diretor de 3D Chrystie Lira foi contratado pela Dínamo Digital. Atuando há nove anos

com computação grá-fica, Lira se formou na Escola Panamericana de Artes de São Paulo e passou pelas produto-ras Trattoria, Vetor Zero e Conspiração Filmes. Fez trabalhos para Pep-si, Tim, Gatorade,Vivo e Coca-Cola. Seu primeiro trabalho na

nova casa é o novo clipe da banda Nação Zumbi, com 3 minutos de animação. A produtora contratou ainda Regina knapp (ex-Trama) para o seu atendimento. A profissional tem no currículo passagens pela Espiral, Zero Filmes, Jx Filmes, Cia Ilustrada, DPZ e DM9.

Novo atendimento Paula Saraiva é a novidade no aten-dimento da Republika Filmes.

A profissional, que começou sua carreira como aten-dimento em 1993, trabalhou com vários diretores, entre eles Rodrigo Lewkowicz, Carlos Manga

Junior, Cristiano Metri, Bia Flecha, Beto Salatini e Renê Sampaio. Paula chega na Republika Filmes para tra-balhar com Mário Peixoto, Doca Sander, Ingrid Moraes e Daniela Harriz.

Alexandre Hohagen deixou a direção da divisão de ad sales da HBO no Brasil. O executivo foi para o escritório brasileiro do

portal de buscas Google.

Na Discovery Networks do Brasil, o diretor de ad sales, Guil-herme Zattar, deixou a empresa. Ele já assumiu a direção de

marketing da Embratel.

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Novo conselhoO FAC (Fórum do Audiovisual e do Cinema) real-

izou assembléia para a eleição de seu novo conselho deliberativo em novembro. Também foi eleito na data o comitê diretor, agora formado por: André Sturm (Sicesp, Pandora Filmes e HSBC Belas Artes), coordenador geral; Valmir Fernandes (Abraplex e Cinemark), conselheiro tesoureiro; e Carlos Eduardo Rodrigues (Globo Filmes), secretário. O conselho deliberativo é formado por: Alexandre Annenberg (ABTA); André Porto Alegre (APP); Arturo Pisciotti Neto (UBV); Carlos Alkimim (ABPTA); José Inácio Gennari Pizani (Abert); Paulo Thiago Ferreira Paes de Oliveira e Roberto Farias (Sicav-RJ); Rodrigo Gui-marães Saturnino Braga (Sindicato das Empresas Distribuidoras do estado de SP); Valdir Batista de Siqueira (Abap); e Wilson Borges (Abeica).

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André Sturm

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(entrevista)

O começo do jogoO presidente da Ancine avalia os primeiros quatro anos da agência e dá sua visão sobre os mecanis-mos de incentivo, regulação do mercado e a integração do audiovisual.

Em um momento estratégico para a regulamentação audiovisual, quando diversos projetos estão em discussão ou em tramitação, o diretor-

presidente da Ancine, Gustavo Dahl, mostra as dificuldades enfrentadas na implantação da agência, mas aponta que pontos do mercado poderão ser regulados em breve. Na cadeia da indústria cinematográfica, Dahl diz que chegou a hora de regular a distribuição e a exibição, atendendo a algumas demandas do setor. Ele diz ainda que fatalmente a agência se expandirá para todo o setor audiovisual e cobra a conversão da MP 2.228 em lei.

TElA VIVA Como está e como ficará a estrutura da Ancine? Ela já está efetivamente implantada, após quatro anos de existência?

GUSTAVO DAHl A agência tentou agrupar dentro dela as pessoas que tinham a expertise, a memória e a inteligência da gestão institucional do cinema nos últimos trinta anos mas, evidentemente, incorporando novos valores. Essa gestão combina um grande déficit com um afluxo insuficiente de novos valores e também com as dificuldades naturais da implantação da estrutura do serviço público, o que exigiu um superesforço, para que a agência seja implantada e possa crescer. Esse superesforço cria novas demandas. Então a agência está recebendo amanhã (1º/12), quase quatro anos após a sua instalação, seus primeiros concursados de nível médio (20 profissionais). No início de março, a agência receberá mais 50 concursados de nível superior. Há 20 anos que não há um aporte de recursos tão significativo para o setor.

de gestão da informação. É como construir a casa morando nela.

A Ancine tem uma atividade de regulamentação que são as instruções normativas (INs) já feitas. O processo interno de regulamentação ainda é lento, porque a Ancine superpõe duas agências: uma de fomento e uma reguladora. A agência de fomento maneja os processos de utilização dos benefícios fiscais para o cinema. O “só isso” não é pouco. Quando recebemos essa função do MinC eram 1,4 mil processos de uma vez e com problemas de procedimento. A Ancine representou um esforço de instalar um conceito de democracia procedimen-tal. Achamos que o procedimento institucionaliza, e a institucionalização instrumenta o setor.

A Ancine também recebeu a competência de regulamentar o cinema em toda a sua cadeia econômica, o que só no processo da produção inclui infra-estrutura, prestação de serviços, a produção propriamente dita e o laboratório. Depois disso, temos a distribuição e a exibição, que é a primeira janela de consumo, seguida pelo DVD e vídeo, a TV por assinatura e a TV aberta. Isto tudo junto é a famosa Ancinav! Nós sempre acreditamos que era necessário trabalhar por módulos. As janelas também são módulos. Temos que conseguir reestruturar o módulo do cinema - na produção, distribuição e nas salas - para depois estruturar o vídeo e o DVD, o que está previsto em lei. É o que a MP 2.228-1 chama de atividade videofonográfica.

Mesmo chamando-se Agência Nacional do Cinema, já incorpora o setor audiovisual, na medida em que a obra cinematográfica trafega por

Fernando Lauterjungf e r n a n d o @ t e l a v i v a . c o m . b r

Agora a Ancine está criando seu corpo técnico. Ela funcionava só com os cargos comissionados, que constituíam a estrutura organizacional feita há quatro anos, e com os terceirizados. A Ancine ainda está em um processo de implantação.

A agência tem agido mais na área de fiscalização e fomento do que na regulação do mercado?

A avaliação dos resultados é como aquela história do copo meio cheio ou meio vazio. O órgão regulamentador da área de cinema que existia, o Concine, foi extinto e desarticulado em 1990. A Ancine foi criada em cima do nada. Ela não teve nenhum órgão pré-existente em que pudesse se apoiar. Ela teve que se inventar em cima de um vácuo tanto de regulamentação quanto

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Gustavo Dahl

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todo esse universo. Não há tradição no Brasil em regulamentação desta ordem (abrangendo todo o universo audiovisual). Pensar em agência de desenvolvimento e fomento é fácil. Isso foi feito historicamente pela Embrafilme e depois pelas várias Secretarias do Audiovisual ou de Desenvolvimento do Audiovisual.

A regulamentação tem os parâmetros do Concine, que era o órgão regulador concebido no regime autoritário em um momento em que havia 3,5 mil salas no país e ainda se tentava incorporar o vídeo, depois um grande vácuo até a entrada da Ancine, que tem que neutralizar este vácuo com esta abrangência e ainda formar seus experts. Para isso é necessário incorporar elementos de fora. Esse processo de incorporação teve que enfrentar os percalços do último ano do governo FHC e dos primeiros anos do governo Lula, no qual o modelo das agências entrou em forte discussão. Praticamente, o primeiro ano do governo foi, para a Ancine, um ano de indefinição da vinculação, se iria para a Casa Civil, o Ministério da Cultura ou o Ministério do Desenvolvimento da Indústria e do Comércio. Só a partir desta definição é que houve possibilidade de encarar os problemas de gestão, mas já dentro dos limites de contenção orçamentária e de recursos humanos. É como instituir um órgão dentro de uma política que tem um lado bom de restauração do papel do estado e um outro, que vai na contra-corrente, que é o de limitação do custeio desse mecanismo. É evidente que a recuperação do papel do estado implica em investimentos. Numa política de restrição de investimento você tem uma roda girando num sentido e a outra rodando em outro.

Então há um problema de contingenciamento orçamentário?

Não. A Ancine tem executado seu orçamento na sua integralidade. Uma agência não precisa ter mais recursos do que sua capacidade de execução. Como a instalação da agência é lenta, gradual e segura, o contingenciamento,

atribuídos a ele. Como também os editais de finalização da Ancine estão dentro do que chamamos de fomento regulador. Já se verificou que dentro do atual modelo, existe um problema, há uma grande quantidade de filmes cuja produção é interrompida após a fase de filmagem. Os editais de finalização encaram este problema. Nós os contemplamos também como uma ação reguladora.

Há ainda grandes questões de regulação do mercado, como a janela para o lançamento de DVDs, uma demandados exibidores. É uma ação típica de regulação de mercado que estamos elaborando.

A efetividade da regulamentação depende da capacidade de fiscalização, que depende tanto de uma atividade de controle exercida através da gestão da informação, e por ações presenciais. Ambas dependem do processo de

implantação da Ancine. A posição da Ancine é a de fazer, primeiro, um tra-balho de fiscalização orientadora, antes de ser sancionatória. Um trabalho de articulação com os agentes de mercado,

sem se deixar capturar por eles.Nós sentimos que há uma atividade

de regulação a ser dada nos próprios mecanismos de incentivos fiscais. Se abrimos um edital de finalização oferecendo R$ 350 mil para oito filmes e inscrevem-se 110 filmes, sentimos que a questão do fomento precisa ser regulada. A Ancine precisa estabelecer qual é sua capacidade legiferante, o que, através da competência de INs, que é o instrumento legal da agência, pode ser feito.

Existe uma demanda dos pequenos exibidores para que a Ancine regule o fornecimento de cópias para as pequenas salas. O atual modelo de exploração do produto cinematográfico concentrado em filmes arrasa-quarteirão privilegia o topo da pirâmide do mercado de salas. O produto não chega até a metade

até agora, se deu em um nível suportável para esta fase de implantação. Evidentemente que com a chegada de uma nova força de trabalho, a capacidade da Ancine vai aumentar e serão necessários novos recursos. Tenho a sensação que este problema se colocará de fato ou não no contingenciamento do orçamento de 2006.

Há um lugar onde esse contingenciamento incidiu, que é o Prêmio Adicional de Renda. Estavam previsto no orçamento R$ 16 milhões para o PAR, usando como referência R$ 1 por espectador do cinema brasileiro no ano de 2004. O orçamento limitou a R$ 4,5 milhões. Mas estamos fazendo com o que foi consignado no orçamento. Esse mecanismo de fomento automático, segundo a terminação francesa, o paraíso da regulamentação cinematográfica, é uma ação experimental. É a primeira vez que está sendo feito após 20 anos de ter sido extinto. Poderíamos executar os R$ 16 milhões. Mas experimentar com os R$ 4,5 milhões que temos, para ver como funciona, também é válido.

O senhor vê o Prêmio Adicional de Renda como a primeira grande ação reguladora da Ancine?

Não. Eu acho que o Artigo 39 encarou o fato de que, na televisão por assinatura, a produção independente brasileira tinha uma presença extremamente limitada. O Artigo 39 é um equivalente ao que o Artigo 3º (da Lei do Audiovisual) representa para a produção cinematográfica. A dinamização do Artigo 3º (também feita na MP 2.228) e o Artigo 39 foram concebidos juntos. A ocupação e ampliação da fatia de mercado obtida pelos grandes êxitos das produções associadas às distribuidoras majors e o Artigo 39 são ações reguladoras que conseguiram resultados nas áreas com as quais elas se comprometeram.

A importância do PAR é a de ser a primeira ação de fomento automático, realizado a partir da performance, do desempenho no mercado. Com isso, criou-se um mecanismo de compensação ao Artigo 1º, que no fundo é um fomento seletivo. Há sempre alguém que escolhe os projetos. A abertura deste caminho é muito mais importante do que os R$ 4,5 milhões >>

“Temos que conseguir reestruturar o módulo

do cinema — na produção, distribuição

e nas salas — para depois estruturar o

vídeo e o DVD, o que está previsto em lei.”

(entrevista)

baixo desta pirâmide. Ou chega junto com o DVD. Aí encontramos uma contradição regulatória dura. A lógica de exploração do produto cinematográfico se dá em função da rentabilidade do produto, e não da rede, que são as salas de exibição. Os resultados do produto mantêm o hábito social de ir ao cinema e também uma parte da rede de exibição. Mas aí o País é colocado diante de um dilema: simplesmente por essa questão de organização de mercado deve-se permitir que fechem as 600 salas que têm dificuldade em ter acesso às cópias dos grandes lançamentos? Essa disposição é tipicamente condicionada pelas forças do mercado. É uma intervenção econômica difícil. Tanto do ponto de vista legal, quanto operacional. Como vamos obrigar uma distribuidora a fornecer cópias? Ou será que vamos subsidiar cópias suplementares? A ocupação do mercado pelas cópias é em si mesmo uma forma de rentabilização da atividade econômica. Afinal, distribuição é programação (cópia) mais marketing. Como sairemos desta sinuca de bico? É interessante do ponto de vista da regulação.

A exibição digital pode ser a saída para o problema das pequenas salas?

Seguramente. A Ancine já promoveu em Porto Alegre, Rio de Janeiro, São Paulo e Recife seminários sobre cinema digital tentando difundir conhecimentos. Lembre-se também que a Ancine, como todas as agências, executa políticas e dá subsídios para a criação de políticas. A criação de um anel periférico do mercado equipado digitalmente é uma política que, dentro de uma perspectiva de regulação de mercado, pode afrontar a questão do preço do ingresso, que elitiza o consumo. Como sempre, a sala depende do conteúdo para salas digitais, o tem que ser feito em articulação com as distribuidoras. A distribuição de filmes brasileiros é outro grande problema no mercado que pode ser auxiliada pela tecnologia

faixa econômica, não necessitam de ser contemplados. Levando-se em conta a realidade do mercado brasileiro, esse piso foi colocado bem baixo. Se os recursos fossem infinitos ou mais abundantes, poderíamos perfeitamente fazer uma premiação linear que incluísse os blockbusters também, porque estimular o sucesso é uma política válida. Mas primeiro

temos que trabalhar com os recursos que temos, e se assumíssemos essa linearidade acabaríamos premiando um filme ou dois. O resultado do mercado de salas é muito concentrado. 10% dos títulos correspondem a, no mínimo, 50% do mercado. Às vezes, no cinema brasileiro, 3% ou 4% dos títulos correspondem a 80% do mercado. E aí vem um grande número de filmes abaixo do limite de 100 mil espectadores. A faixa entre 100 mil e 1 milhão de espectadores tem muito poucos filmes.

As majors trabalham com conjuntos de filmes.

Para elas o que conta é o rendimento da programação como um todo. Para os filmes brasileiros, que são produzidos independentemente, é importante melhorar o resultado de cada um isoladamente. Isto é regular. A lógica em criar faixas intermediárias se sustenta como fator de regulação.

O senhor afirmou publicamente que o Artigo 1º da lei do Audiovisual conseguiu viabilizar o trabalho de novos diretores e novas produtoras, mas não conseguiu capitalizar as empresas. Os Funcines e o PAR resolverão essa distorção do mecanismo?

A agência foi feita por várias razões. Uma delas é porque, modestamente, oito anos atrás, eu fiz um esforço teórico privilegiando a necessidade de uma visão sistêmica do processo.

digital. Para um país que tem uma extrema escassez de salas, espelhado pela relação sala/habitante, e que tem um mercado de salas elitizado e concentrado pelo poder econômico, a idéia de periferização e interiorização através de salas equipadas com projetores digitais é uma perspectiva grande. A evolução tecnológica também está criando novas modalidades de distribuição, outras janelas e outros suportes ou ainda a dispensabilidade do suporte. Atualmente o mundo audiovisual se divide entre o que tem suporte e o que não tem. Ao mesmo tempo se divide entre o conteúdo empurrado, como é feito pela televisão e pelas salas, e entre o puxado, como é feito por quem adquire um DVD ou encomenda um filme por telefone. Se cruzarmos o mundo que tem suporte e o mundo que não tem suporte, com o mundo do conteúdo empurrado e do conteúdo puxado, surgem novas modalidades de exploração de um mesmo produto, o que muda paradigmas. Para usar do jargão, muda paradigmas transversalmente.

A Ancine foi criticada, inclusive por um de seus diretores, por assumir uma doutrina que privilegia o filme médio. Isso acontece por conta da distorção causada pelo Artigo 1º, que impõe a seleção a alguém de fora de mercado, como o senhor mesmo falou?

Não. O João da Silveira tem uma visão radicalmente liberal do processo econômico, o que eu não desqualifico, mas, na agência, a atividade de regulação se dá neste interstício da liberdade de mercado e da intervenção econômica do estado. Já o velho Prêmio Adicional de Renda, concedido pela Embrafilme, tinha um teto, a partir do qual os filmes tinham direito a 5% do prêmio, uma faixa média de 20% e um piso de 5%. Ou seja, a idéia é a de que os grandes sucessos que se viabilizam no mercado mobilizam recursos suficientes para se capitalizar e que o piso, aqueles filmes que não atingem uma determinada

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“Para um país que tem uma extrema escassez de salas, a

idéia de periferização e interiorização através

de salas equipadas com projetores digitais

é uma perspectiva grande.”

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uma visão sistêmica do processo. A conclusão é que não basta produzir. Quando a gente pensa em capitalização do setor, a gente pensa fundamentalmente no mercado de salas. As outras janelas, para o cinema brasileiro, são pouquíssimo exploradas e, às vezes, pouco remuneradas. O DVD é uma caixa preta. O preço dos filmes brasileiros na televisão por assinatura, e mesmo na aberta, é parametrizado pelo preço de aquisição dos produtos estrangeiros, que têm uma escala mundial. A idéia de tornar a atividade econômica, a ponto de capitalizar a produção, precisaria levar em conta a exploração do produto em todas as janelas. Entender que a economia está distorcida. Martin Scorcese, inaugurando a nova sede da Cinemathéque Française, há dois meses, disse que as salas eram responsáveis por 16% da remuneração de um filme, atualmente. Alguns dizem que chega a 25%. O cinema brasileiro, no auge, no último ano, ocupou 22% do mercado de salas. Ocupando 20% de 16%, está ocupando 3,2% no mercado. Quanto representa este 3,2% do conjunto que seria o 100% ideal da remuneração de um filme? Muito pouco. Seria realmente, não só querer que o rabo abanasse o cachorro, mas que o rabo cortado abanasse o cachorro inteiro.

Acho que se a gente fizer com que o filme brasileiro tenha uma melhor remuneração no mercado interno ocupando as várias janelas, já estaremos, no mínimo, dividindo as despesas com o estado.

Já está tramitando no Congresso o projeto que prorroga os efeitos do Artigo 1º da lei do Audiovisual. Se esse mecanismo acabasse, os investimentos em produção sofreriam uma redução

o grosso do investimento estatal não só no Brasil. A auto-sutentabilidade, ou seja, viver a partir de seu próprio mercado em um sentido amplo, se apresenta como uma utopia que faz o processo andar. Seria necessária uma reordenação do mercado mundial para que fosse possível essa capitalização.

Não seria o caso de o mecanismo ser revisto e ganhar um caráter permanente? Em 2016 não será necessária, novamente, a sua prorrogação?

A gente prefere ir mais profundamente nas discussões e falar na reordenação do mercado mundial, numa redefinição da relação de forças entre os vários países produtores. Aí a regulamentação tem um papel a jogar nessa reordenação. Acho que a fórmula de ir renovando sucessivamente representa um pensamento desejoso. Mas seguramente o processo de independência e de autonomia da produção audiovisual será tão longo quanto o processo de autonomia econômica dos países periféricos. É um eufemismo, mas é a verdade.

O Artigo 39 da MP 222�-1 trouxe alguns bons resultados, gerando produções para a TV por assinatura. Por outro lado, o modelo coloca as produtoras mais como prestadoras de serviços que como co-produtoras de fato. Isto pode ser revisto?

Falo como diretor-presidente da agência sobre o que é uma tendência na diretoria colegiada. Quando o mecanismo foi concebido, foi de uma maneira saudável: deixar uma boa margem de liberdade para acumular massa crítica para permitir a sua reformulação. O mecanismo não representa aquele compromisso radicalmente liberal que reage à intervenção do Estado. Nitidamente, precisa contemplar algumas revisões, como a de não servir simplesmente para retroalimentar a grade das televisões; não servir exclusivamente para colocar as produtoras independentes de televisão como prestadoras de serviços para

drástica. Isso acontece porque ainda não foi possível encontrar a fórmula ideal de investimento versus contrapartida?

O buraco é mais em baixo ou mais em cima. É algo elementar que precisa ser sempre repetido. Existe um cinema, o cinema multinacional, que trabalha em escala mundial e que explora muito bem todas janelas. Tem também os cinemas nacionais que têm que se remunerar em seus mercados nacionais e, normalmente, competindo com aquele cachorro grande, para ficarmos nas imagens caninas, que ocupa o mercado de salas mundial. É evidente que sem um investimento estatal na produção você nem entra no jogo. A

produção é deficitária, mesmo a americana. No entanto, a produção não pára; ela se dá em um rolo: uma produção vai fazendo outra, que faz outra. Depois, apesar de ser de alto risco, a produção viabiliza a atividade de distribuição, viabiliza a exibição e não viabiliza mas contribui de maneira forte na economia da televisão aberta e por assinatura.

Já temos uma fatia limitada de mercado sem a capacidade de gerar esse rolo que, geralmente, é gerado na distribuição. Com um avanço de dinheiro da distribuição o produtor começa a produzir um

filme e, quando teria que repor o capital investido naquela produção, o filme já está em condição de exploração e é jogado no mercado. Com isso, mal ou bem, o produtor cria um capital de giro que lhe permite aplicar em uma outra produção. Este é o rolo tradicional da produção cinematográfica no qual produção e distribuição trabalham articuladamente. Tradicionalmente existia uma verticalização muito maior, existiam estúdios que produziam distribuíam e exibiam. De alguma forma, essa articulação dos elos da cadeia econômica é necessária.

Além disso, o cinema industrial trabalha em função da diminuição do risco. Imagina então o cinema autoral, dirigido às salas especiais, às salas de arte, que representam

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“Se fizermos com que o filme brasileiro

tenha uma melhor remuneração no

mercado interno ocu-pando as várias janelas, já estaremos, dividindo

as despesas com o estado.”

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independentes de televisão como prestadoras de serviços para as programadoras. A idéia inicial foi fortalecer as produtoras indepen-dentes, que reclamam inclusive da falta de um mecanismo próprio de incentivo, dizendo que as programadoras têm um incentivo, mas as produtoras não. Essa é uma questão que tem que ser contemplada, não pelo Art. 39 mas por um novo mecanismo. Essa questão faz parte da agenda da Ancine.

O Art. 39 resultou de uma negociação com as programadoras estrangeiras. A Ancine não quer desconsiderar esta negociação. Mas a agência tem o objetivo de incentivar a existência de uma produção independente.

A ação da ABPI-TV, combinada com a Apex, em relação à exportação de produto audiovisual brasileiro para televisão tem dado muito certo. Mas encontra uma questão natural do processo, o fato de que é mais fácil vender um projeto por fazer que um projeto pronto. Na hora de apresentar os projetos, as produtoras estrangeiras perguntam: qual é a contra-partida que as nacionais podem oferecer. As produtoras brasileiras não têm uma contrapartida. Por isso há oportunidades que estão sendo desperdiçadas por falta de contrapartida. Falta uma política de incentivo ao produtor independente. Isso, combinado com a atualização do Artigo 39, pode desenhar uma política.

Existe algum outro ponto da MP que mereça uma revisão?

Seria avançar além da competência da agência alterar a MP. A agência já identificou uma necessidade de revisão da MP, inclusive porque ela tem quatro anos e ainda é uma medida provisória. Ela precisa ser transformada em lei. Este processo foi ultrapassado pela colocação da discussão do projeto da Ancinav, uma questão pública e notória, sobretudo para os leitores de Tela Viva. Há ainda uma proposta de criação da Lei Geral das Comunicações, com comissão

Em entrevista concedida à Pay-TV em novembro de 2001, o senhor disse que a prioridade da Ancine era atuar para o cinema, apenas com uma interface para o audiovisual, mas que a agência ainda abrigaria o setor de TV, dizendo que “o jogo não acabou”. E agora, o jogo acabou?

Eu sempre defendi esta questão, tanto quando foi criada no final do governo passado, quanto no início deste governo, quando a agência teve de ser apresentada ao novo governo. A Ancine é a incubadora de uma agência que fatalmente transbordará para a atividade audiovisual como um todo. Acho que o cinema e a atividade audiovisual são duas atividades e duas indústrias diferentes. Acho que a pirâmide audiovisual tem a TV aberta na base, que terá agora anexos como a telefonia e a Internet, mas que se dirige a um vértice que é o cinema. Pela concentração de informação que o cinema tem, pela sua qualidade prototípica, o cinema é o conteúdo mais nobre da pirâmide.

Indiscutivelmente, o filme passa por toda a cadeia. Ele poderá ser capturado num chip dum telefone celular, ligado em uma tela plana em casa com sistema de som surround. Nesse momento ele estará interagindo com telefonia e televisão.

O que está acontecendo com a indústria fonográfica por conta da Internet já está começando a acontecer com o cinema. A Condecine cobrada sobre publicidade já prevê outras modalidades. Até que ponto a publicidade por

celular é objeto da ação da Ancine? Nós acreditamos que seja.

Antes eu disse que o jogo não acabou. Hoje digo que o jogo está começando!

instalada na Casa Civil e nos ministérios designados. Há também uma dificuldade de se enfrentar a questão da regulação dos conteúdos.

Por outro lado, a Lei do Audiovisual precisa ser revista. Por ocasião da prorrogação do Artigo 1º se colocou esta questão, se seria uma oportunidade para rever a lei. Os setores corporativos ficaram receosos de que uma revisão mais ampla pudesse comprometer a renovação e optaram pela “prorrogação do Artigo 1º sequinho” (conforme propôs o produtor Luis Carlos Barreto em evento que debateu a renovação do mecanismo).

Mas veja que a questão legislativa continua no ar. Tem a revisão do modelo colocado pela Lei do Audiovisual, a transformação da MP da Ancine em lei, o que seria de bom tom, e também a questão da Lei Geral de Comunicação de Massas. São projetos grandes em matéria de abrangência, complexidade e delicadeza política.

A vinculação da Ancine ao Ministério da Cultura foi criticada por parte do setor regulado pela agência. Essa vinculação cerceou de alguma maneira a liberdade de atuação da agência? Ele virou uma sub-secretaria da Secretaria do Audiovisual?

Não. Seguramente não. Em primeiro lugar, a decisão de vinculação de um órgão é uma decisão de governo. O MinC, que defendeu vigorosamente a manutenção da Ancine enquanto autarquia especial quando foi necessário fazê-lo junto à Casa Civil, tinha a concepção de que o ministério formula políticas que são implementadas pela agência. Esta consciência existiu desde o início. O encaixe de uma agência em implantação junto com um projeto de ampliação das suas competências criou uma necessidade de alinhamento. Mas a Ancine tem trabalhado em consonância com a Secretaria do Audiovisual e com o MinC.

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“A idéia foi fortalecer as produtoras

independentes, que reclamam da falta de

um mecanismo de incentivo. Essa é uma questão que tem que ser contemplada por um novo mecanismo,

não pelo Art. 39.”

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TVs querem mais em 2006Redes relatam no ano faturamento em publicidade superior ao de 2004 na ordem de dois dígitos percentuais; Copa e eleições turbinam próximo ano.

Ano par, ano de Copa do Mundo, ano de eleições. Ainda que ninguém se arrisque a ser demasiadamente

otimista, até as projeções mais realistas apontam para crescimento de receitas de publicidade em TV aberta a partir de dois dígitos em 2006.

O novo ano promete movimentação nos mercados. As emissoras abertas, que entregam 2005 com declarado crescimento nas suas receitas provenientes de publicidade, acreditam que o maior evento do futebol mundial turbine o mercado como um todo - e não apenas o canal que detém os direitos do evento, ou seja, a TV Globo. E há no segundo semestre o período eleitoral. Fora os sempre alegados prejuízos às redes por conta do horário político gratuito, ele dá um atrativo maior principalmente à grade de jornalismo. Descontadas as incertezas que todo processo de escolha sucessória acarreta na economia nacional, as redes não projetam um cenário pessimista.

Pegando por exemplo um grande investidor da mídia TV, o próprio governo federal, no último ano em que coincidiram Copa e eleições, 2002, os gastos com TV chegaram a quase de R$ 423 milhões (veja quadro). Dois anos depois, os gastos saltaram para mais de R$ 510 milhões - foi ano de Olimpíada, época de grandes investimentos

Edianez Parentee d i a n e z @ t e l a v i v a . c o m . b r

de empresas estatais ligadas às modalidades esportivas (Banco do Brasil, Correios, Caixa Econômica Federal, Petrobras). Em 2005, com todo o escândalo político, ainda assim, nos nove primeiros meses, a conta de gastos em TV estava em R$ 304 milhões - ou 60% do que se gastou nesta mídia no ano anterior. Importante salientar que tamanho índice não se verifica com os demais veículos de comunicação. Com outdoor, por exemplo, os gastos estavam em cerca de 30% em relação a 2004.

A ABA (Assoc. Bras. de Anunciantes) não tem um número fechado sobre os investimentos para o próximo ano, por conta dos setores diversos que abrange, mas sinaliza que será maior do que em 2005. “Os eventos têm um peso maior no direcionamento da verba do que no seu incremento”, afirma Ricardo Monteiro,

presidente do comitê de mídia da entidade. Segundo ele, aumentos de investimentos decorrem diretamente do aumento da atividade econômica e do poder aquisitivo da população.

A TV Globo, veículo de mídia número um do País, apresentou um crescimento de

aproximadamente 13% em 2005. E é quase isso que projeta crescer ao longo do ano que se aproxima, na melhor das hipóteses. O índice pode parecer menor se for comparado aos percentuais de crescimento informados pelas demais redes abertas; no entanto, há que se levar em conta que, quando se passa dos R$ 4 bi/ano, como é o caso da líder, cada unidade percentual significa um valor com pelo menos oito

números. Ou seja: se há tamanha massa crítica, qualquer crescimento é muito representativo.

Para 2006, a Globo projeta três cenários para o mercado publicitário. No otimista, trabalha com 12% de crescimento; no realista, 10%; e no pessimista, 8%. Segundo Willy Haas Filho, diretor geral de comercialização, “a expectativa é crescer em linha com o mercado”. A Globo não considera suas estimativas conservadoras. “Em qualquer caso, são índices de crescimento consideravelmente acima dos da economia como um todo, o que reflete a crença dos anunciantes na força da publicidade como motor do consumo”, afirma Haas. De acordo com

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“Fomos penalizados pela redução de 50% na verba de publicidade do Governo Federal.”

Walter Zagari, da Record

“A expectativa é crescer em linha com o mercado.”

Willy Haas, da Globo

o diretor da Globo, tanto a participação da emissora no total dos investimentos em TV quanto no share de audiência mantêm-se estáveis.

SBTO SBT, segunda maior rede do

país, relatava em novembro um faturamento para 2005 cerca de 20% acima do ano anterior. Cláudio Santos, diretor comercial do SBT até o final do ano, descreveu um faturamento líquido de R$ 700 milhões. Segundo Santos, somando-se a este montante também o faturamento publicitário das redes afiliadas (total de 107 emissoras), o SBT soma em publicidade em 2005 ano acima de R$ 1 bilhão.

De acordo com o então executivo do SBT, a emissora projetava para 2006 um crescimento de 13%, mesmo sem carregar a Copa do Mundo. Para o próximo ano, a emissora promete mais um horário de novelas, e muitas estréias em reality shows, como “Supernanny” e o concurso de calouros “ídolos”, baseado no formato do sucesso norte-americano “American Idol”. “O perfil do anunciante que está no SBT é igual ao do mercado; são os maiores, com forte presença do varejo”, disse Santos.

RecordEmparelhada com o SBT está a

Record, que publicamente se assume como na cola da Globo - seu slogan é “rumo à liderança”. A emissora cresceu muito no ano, mas até esperava mais, conforme explica o superintendente comercial, Walter Zagari: “Esperávamos atingir esse crescimento, mas acredito que, assim como a Record, todos os veículos de comunicação foram pena-lizados pela redução de aproximada-mente 50% na verba publicitária do Governo Federal.” O índice da emissora ficou em 40%, com a Record alcançando os R$ 700 milhões.

Para 2006, a rede espera aumento de audiência e de faturamento. “Em relação ao faturamento, me arrisco em dizer que, mesmo com a falta de parte da verba do governo, a Record apresentará um crescimento de 35%”. O que faz o executivo projetar esse

últimos meses do ano foram especialmente bem-sucedidos. “Outubro, por exemplo, foi o nosso melhor mês dos últimos três anos”. As novidades na programação (novos programas de Raul Gil, Claudete Troiano), os bons resultados de audiência com o jornalismo e também com o futebol (com o excelente campeonato espanhol e o campeonato italiano também), dramaturgia (a novelinha “Floribella”), são apontados por Mainardi como alavancadores

das receitas da rede. Para 2006, a Band não espera nada menos do que 20% de aumento. Mesmo sem ter a Copa do Mundo, a rede envolveu-se no projeto comercial da Bandsports e terá boletins especiais jornalísticos do evento (leia a seguir). Além disso, a emissora estréia mais um horário de dramaturgia e tem um forte projeto de cobertura do Carnaval de Salvador - já vendido no mercado.

Rede TV!A Rede TV!, que sofreu no final do

ano alguns revezes por conta de seu polêmico apresentador popular João kléber, esperava um grande ano. De

número são os lançamentos de programação, a Copa do Mundo e as eleições. Mesmo sem ter a Copa, a Record tem uma grade forte de futebol - exibe os mesmos campeonatos que a Globo, Paulista e Brasileirão. Zagari informa que todos os patrocinadores de 2005 já renovaram seus contratos para 2006 e outros estão na fila de espera.

O executivo diz que o faturamento da rede é resultado da combinação de algumas variáveis: patrocínio, veiculações avulsas em rede e locais, e também merchandising. Na Record, as categorias que puxam o faturamento são jornalismo, esporte e novela. O seriado nacional “Avassaladoras”, uma novela de Lauro César Muniz gravada em São Paulo e a terceira edição de “O Aprendiz” são algumas das novidades na emissora para 2006.

BandA TV Bandeirantes, apontada no mercado

como uma das mais prejudicadas pela diminuição de anúncios do governo, ainda assim registrava um 2005 até 30% superior a 2004, que por sua vez já tinha sido maior 40% por conta da Olimpíada. A meta de crescimento para este ano estava estipulada em 18%. De acordo com Marcelo Mainardi, diretor executivo comercial da emissora, os

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APOSTA NA REGIONAlIZAÇÃOWilly Haas, da Globo, diz que as oportunidades regionais seguem como uma fronteira ampla a ser explorada. “Muitos mercados regionais têm crescido em ritmo mais acelerado do que o mercado como um todo”. Para ele, isso deve continuar em 2006 e também nos anos seguintes, refletindo a força da economia regional e também os fortes investimentos que as emissoras fazem para atender ao público e ao mercado anunciante local.O crescimento das emissoras se reflete também nas suas afiliadas, segundo Walter Zagari, da Record. Ele diz que sempre que é veiculada uma inserção em rede, há o repasse de verba para todas as praças que a exibiu.Um exemplo de investimento local é o da TV Aratu (BA). A afiliada do SBT em Salvador comprou equipamentos digitais para captação e finalização de suas reportagens. Montou um núcleo de verão, formado por uma equipe de produção exclusiva para a cobertura de eventos e produção de reportagens na Bahia. Produtores, repórteres e editores trabalham no projeto, que inclui a cobertura de festas populares, Natal, Réveillon e Carnaval. Tudo isso gera receita local para a emissora.

“Outubro, por exemplo, foi o nosso melhor mês dos últimos três anos.”

Marcelo Mainardi, da Band

acordo com Marcelo de Carvalho, vice-presidente da emissora, a expectativa era de se registrar em 2005 o maior crescimento da história da rede — que completou seis anos no último mês de novembro. No início de dezembro, o departamento comercial da RedeTV!, que tem como superintendente comercial Dalton Machado, comemorava o cumprimento da meta de faturamento da emissora, com ganhos 35% superiores a 2004. Portanto, a Rede TV passou dos R$ 270 milhões de faturamento. Para 2006, a emissora tem um Projeto Verão, leva o “Pânico na TV” para cobrir os bastidores da Copa e negocia para ter novamente a Série B do Brasileirão.

MTVMaior emissora aberta (UHF)

segmentada do mercado brasileiro, a MTV fecha 2005 com receitas 21% maiores que no ano passado - segundo balanço do Grupo Abril, a emissora faturara em 2004 cerca de R$ 100 milhões. Guilherme Valentini, diretor de publicidade do canal, conta que 60% das receitas vieram com os patrocínios - o restante ficou para

Para 2006, a MTV promete uma programação mais voltada à música, atendendo a pedidos do público. O diretor de publicidade conta que muitos dos eventos já estão com patrocínios renovados. O prêmio VMB, por exemplo, já está com metade das cotas renovadas. Na previsão de crescimento para o próximo ano, a MTV estima 12%. “É um ano de eleição, sempre existe um risco”. O diretor acha que a Copa absorve uma considerável verba de anúncios - e a MTV bem que garantiu sua parcela; afinal, é parceira (com o programa “Rock & Gol”) da Coca-Cola em sua promoção que cadastra clientes num sorteio para ir à Alemanha. Segundo Guilherme Valentini, o governo Lula não foi muito favorável à MTV como veículo para suas campanhas de governo.

CulturaA TV Cultura, um mix de TV pública

estadual (leia-se PSDB) e fundação sem fins lucrativos que vende patrocínios, é outra que se ressente da falta de verbas do governo federal (leia-se PT). O orçamento da emissora em 2005 foi de R$ 125 milhões e a Cultura deve fechar o ano com a obtenção de cerca de R$ 20 milhões em patrocínios. Para 2006, além de esperar uma dotação orçamentária maior - a verba do governo estadual é passível de aprovação na Assembléia Legislativa paulista -, a Cultura quer mais receitas com seus tantos novos projetos. “A TV Cultura não vende audiência, vende credibilidade, prestígio; esse é o nosso grande diferencial”, diz Marcos Mendonça, presidente da Fundação Pe. Anchieta, mantenedora do canal. A Cultura também obtém receitas com ofertas de serviços, mas seus custos operacionais continuam altos: manutenção das antenas retransmissoras no Estado, custos de satélite. A TV não faz previsões para o próximo ano, mas aposta nos novos projetos, como a parceria para programas jovens com o Grupo Abril, bem como na inovação tecnológica, com a chegada dos novos equipamentos da Grass Valley que comprou.

breakes comerciais. E ele acredita que no próximo ano esta condição se mantenha: “É uma tendência na TV segmentada, que os anunciantes busquem essa horizontalidade”, afirma. Valentin cita as empresas ligadas a telecomunicações (fabricantes, teles fixas e móveis, provedores de Internet) como responsáveis por 30% das receitas.

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INVESTIMENTOS EM MíDIA DO GOVERNO FEDERAlTotal geral: Administração Direta + Indireta

MEIO 2001 2002 2003 2004 2005*Internet 12.640.141,65 10.613.538,40 8.868.090,99 11.496.701,67 6.603.660,61Outdoor 14.125.313,38 7.603.866,35 6.327.110,55 16.060.381,67 5.053.535,53Rádio 101.699.780,95 62.545.722,26 58.567.688,66 89.315.427,41 47.504.351,90Revista 78.144.209,14 71.052.635,06 70.553.872,57 85.616.939,03 57.360.846,45Jornal 130.738.242,68 103.226.312,01 63.488.117,25 107.937.680,02 55.111,432,02Televisão 509.894.971,71 422.834.603 376.185.413,52 510.650.530,44 304.840.74,19

* De janeiro a setembro. Os valores não incluem publicidade legal, produção e patrocínio.Fonte: SECOM

FATURAMENTO DAS EMISSORAS EM 2005Globo R$ 4,3 bilhõesSBT R$ 703 milhõesRecord R$ 700 milhõesRede TV R$ 270 milhõesBand não divulgadoMTV R$ 121 milhõesTV Cultura* R$ 125 milhões

ExPECTATIVA DE CRESCIMENTO EM 2006Globo de 8% a 12 %SBT 13%Record 35%Rede TV! não divulgadoBand 20%MTV 12%Cultura não divulgado

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A TV por assinatura cresce muito acima das demais mídias. No primeiro semestre do ano

apresentou o maior crescimento, e a aposta é que o des-empenho na segunda metade do ano ratifique essa trajetória.

As estimativas são de que o setor como um todo chegue ao final de 2005 com um faturamento 25% acima de 2004. Essa foi a média que as principais programadoras do mercado, ouvidas por Tela Viva, projetaram para o aumento de suas receitas em ad sales neste ano. Com tudo isso, no entanto, o setor prevê chegar ao final do ano com me-nos de 3% de participa-ção no bolo de publici-dade do País - o que, é consenso, ainda é pouco, muito pouco. É corrente que a TV paga brasileira já teria por obrigação e direito poder

vendas de publicidade do que propria-mente no mercado de assinaturas. No início de dezembro, os canais pagos relatavam lotação nos seus breaks com-erciais no final de ano, por conta de uma alta demanda por veiculações por parte dos anunciantes.

TurnerSegundo o VP de ad sales e

marketing da Turner, Rafael Davini Neto, de todos os seus canais, o maior crescimento de receita de publici-dade em 2005 foi da TNT: quase 60%. O Cartoon Network, que também é líder no seu segmento, manteve-se na média de crescimento do mercado, em 25%. “Isto porque o Cartoon já é um canal mais estabilizado”, explica. Para o próximo ano, Davini crê que os canais de esportes devem alavan-car todo o setor.

GlobosatFred Müller, diretor de vendas

publicitárias da Globosat, não abriu os números de crescimento da programa-dora, porém garantiu que se tratou “de um ano muito bom”. A Globosat continuou com seus projetos que incluem, além das vendas de patrocínios nacionais de todos os seus canais, também anúncios locais para oito praças, nas operações Net: Porto Alegre, Curitiba, Brasília, Belo Horizonte, Fortaleza, Florianópolis, São Paulo e Rio de Janeiro. Nestas capitais, além dos canais de seu próprio

abocanhar pelo menos os 8% que representa na penetração dos domicílios com TV no País - índice que ainda assim estaria minimizado em sua real importância, dada a participação

maciça do segmento A/B na composição da base as-sinante - um alcance total de aproximadamente 13 mil-hões de indivíduos.

Ricardo Monteiro, da ABA, aponta a presença da Copa do Mundo nos canais pagos esportivos, com a respectiva venda das suas cotas, como exemplo de migração de verbas. No período de eleições, ele vê também a TV paga como importante alternativa para o anunciante em busca de qualificação de público. “Existe um movimento crescente de o anunciante se aproximar mais do seu cliente, e não mais apenas com o comercial de 30 segundos”, diz.

A boa aceitação da mídia já faz algumas programa-

doras pleitearem maiores valores pelos seus espaços de publicidade. E já há canais no mercado brasileiro que faturam mais em

Canais pagos faturam 25% mais em 2005TV por assinatura cresce e pleiteia share maior.

“Estimamos um cresci-mento de até 12% em 2006, o que é fantástico, se comparado ao PIB.”

Fred Müller, da Globosat

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entanto, a venda de publicidade já vinha há um ano sendo feita pela mesma equipe, sob o comando do diretor de ad sales, Paulo Leal. Ele conta que é de acima de 50% o crescimento dos canais registrado em 2005 em relação ao ano anterior (deve-se considerar que no ano anterior o canal da Disney não veiculava publicidade).

O executivo não minimiza o poder de fogo do setor, por estar ainda com uma participação de menos de 3% no bolo da publicidade nacional. Pelo contrário, vê o dado como importante: “A TV por assinatura é o meio que tem mostrado o maior crescimento de todas as mídias. É uma indústria recente, com 15 anos, e já chega a quase 3%; o meio rádio é gratuito, tem abrangência nacional, está há 80 anos no mercado e tem 4%”. Ele diz não duvidar de que o setor tem tudo para que, nos próximos cinco anos, supere as demais mídias, como rádio, outdoor, mídia exterior e chegue muito perto do segmento de revistas, hoje em média com 9% de participação.

Sobre os canais esportivos, Leal celebra o fato de a ESPN ter atraído para a TV paga um anunciante tão importante quanto a Casas Bahia (em 2004, como patrocinadora do futebol). Em 2005, os canais também atraíram um setor anunciante importante, o farmacêutico.

Dos canais infantis, o Disney tem se mostrado com forte demanda. Isto se explica porque apenas recentemente o canal conseguiu entrar no line-up da Net. Para 2006, segundo Leal, pela primeira vez o canal fecha o primeiro trimestre com 100% de sua meta de vendas atingida. Para o Jetix, um canal já consolidado no seu segmento, o cumprimento de metas já é rotina, explica Leal.

Além disso, a equipe da ESPN passou, no último quadrimestre do ano, a vender inserções regionais nas operações Neo TV em seis praças: Curitiba, Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Brasília e Goiânia. “É um sistema de ganha-ganha, em que o operador também é remunerado”, explica Paulo Leal, apontando que a estratégia mostrou que o anunciante vai atrás cada vez mais dos espaços

assinaturas, na ordem de 10%, com uma aposta ainda maior no final de ano, dadas as incisivas promoções da Net e Sky. “Nosso ano foi muito bom; tivemos 36% de crescimento de ad sales”, afirma Gustavo Leme, diretor geral dos canais Fox no Brasil. Ele conta que o National Geographic Channel apresentou tanto crescimento de audiência quanto de ad sales, tal como o novíssimo Fx.

O canal Fox também trouxe inovações. No bloco noturno de animação “Não Perturbe”, por exemplo, houve uma adaptação dos próprios anunciantes ao marketing do canal,

levando algumas de suas peças para o formato “deitado”, tal como as animações.

Para 2006, a Fox vê o esporte como otimizador do setor. Tanto que puxa atrações esportivas para o Fx e pretende lançar seu novo canal de velocidade e motor, o Speed. Ainda, o canal Fox estréia o seriado nacional “Avassaladoras”, parceria com a Record e a Total Filmes.

Disney & ESPNOs canais ESPN, ESPN Brasil, Jetix e

Disney passaram no final do ano a ter distribuição conjunta às afiliadas; no

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portifólio, a Globosat vem negociando os breaks locais da Net (dois minutos por hora) e também de alguns canais internacionais: AxN, Sony, Nickelodeon e Fox.

Para 2006, a programadora estima um crescimento entre 10% e 12% superior ao de 2005, o que, na sua visão, não é pouco: “Vira um índice fantástico, se comparado, por exemplo, à evolução do PIB”, compara Müller, que vai ter ampla cobertura nos seus canais dos principais destaques de programação ao longo do próximo ano: Copa do Mundo, com o SporTV; e a cobertura das eleições, pela GloboNews. Müller vê a escalada de crescimento da TV paga como um círculo virtuoso e acredita que, nesta perspectiva, a Globosat acertou em cheio ao investir em programação nacional: “Foi o que se mostrou o caminho certo”, diz.

FoxA Fox relata crescimento

superior ao da média do mercado em publicidade, mas destaca que também cresceu em receita de

lAMAC CONFUNDE O MERCADOA Lamac, associação dos programadores internacionais com distribuição na América Latina para fins de publicidade, no intuito de apresentar dados qualitativos ao mercado, reuniu parte dos anunciantes para uma exposição que acabou questionando a própria credibilidade da indústria. A entidade expôs aos publicitários que os números divulgados pelos operadores ao mercado estariam abaixo da realidade. Diz que vai trabalhar para no próximo ano oferecer aos anunciantes um índice mais adequado de penetração da TV paga no Brasil. Ouvidos por esta publicação, as entidades de pesquisa, operadores e os próprios executivos das programadoras internacionais aqui estabelecidas defenderam o setor e a seriedade dos trabalhos no Brasil.Ana Maria Gemignani, diretora de marketing da Globosat e integrante do comitê de market-ing da ABTA, diz que os sistemas de pesquisa utilizados e divulgados pela indústria (Ibope, TGI, Marplan, PTS) têm metodologia estatística, seriedade e são auditados por entidades recon-hecidas internacionalmente. “Tudo vem sendo assimilado pelo mercado, que prestigia muito a TV por assinatura e também a sua programação brasileira”, diz Ana Maria. Segundo ela, a questão da pirataria deve ser abordada como um caso de ilegalidade: “Não vamos oficializar os dados dos piratas”, afirma.

“Quanto mais a TV paga se aproximar do modelo de comercialização da TV aberta, com regionalização, mais vai crescer.”

Paulo leal, da Disney & ESPN

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19 milhões, mais que o dobro da ESPN Brasil, por exemplo), o pacote da Bandsports envolve também a cobertura jornalística do canal Bandnews e boletins jornalísticos especiais na TV Bandeirantes. Bortolai ressalta o alto investimento no evento - a Band deve levar 60 profissionais para a Alemanha.

No segundo semestre, com eleições, o Bandnews espera uma audiência tão grande quanto obteve com a cobertura das CPIs - e portanto terá também um

pacote especial de patrocínios.

Sony e AxNO canal AxN, vendido pela

Sony Television, é um dos que se destacaram ao longo do ano. O canal registrou um aumento de 53% na sua audiência, em comparação entre agosto de 2004 e o mesmo mês de 2005, entrando entre os dez mais da TV paga. A chegada da série “Lost” foi um dos alavancadores do canal, sendo exibida em sete meses. “Com as boas audiências o canal alavancou ainda mais sua programação e definiu-se melhor, com um perfil de ação, um novo visual e inseriu na programação mais séries renomadas como ‘CSI: Miami’, ‘CSI Ny’, ‘Las Vegas’ e trouxe de volta ‘Alias’”, afirma Stefania Granito, gerente de marketing do canal no Brasil. Marcas como Listerine, Samsung, Ford e Brastemp, que buscavam apenas as séries do canal Sony, estenderam suas compras de mídia também para o AxN.

regionais. “Quanto mais a TV paga se aproximar do modelo de comercialização da TV aberta, mais vai crescer”, vaticina o diretor.

ViacomA animação nos infantis é

geral. O canal Nickelodeon, o carro-chefe da recém-lançada Viacom Networks no Brasil, também segue firme na segunda colocação no alcance entre os canais infanto-juvenis. Por exemplo, para a edição 2006 do Verão Nick, duas cotas estavam fechadas no começo de dezembro, com Grendene e McDonald’s.

Para o novo canal da Viacom no País, o VH1, Fátima Zagari, diretora de publicidade da programadora, já relatava os anunciantes mesmo antes de sua estréia. O novo canal musical, embora ainda não tivesse sido incluído no line-up de nenhuma operadora, já tinha no seu lançamento garantindo a presença de duas marcas fortes: Nestlé e Henkel (cola SuperBonder).

TV Rá Tim BumAinda no segmento infantil,

a TV Rá Tim Bum, com um ano de existência e apenas 20% de penetração na base assinante, já tem sua receita de publicidade maior do que a de assinaturas. “Sentimos que os anunciantes mais financiam uma causa do que fazem uma pura opção de mídia ao patrocinarem o Rá Tim Bum”, diz Cícero Feltrin, diretor de marketing do canal. O licenciamento

(DVDs, produtos etc) também já é uma importante fonte de receitas. “Mas nós somos muito cautelosos com a propaganda no canal”, ressalta Feltrin. “Não aceitamos determinados produtos e nossos personagens não estimulam o consumo de produtos ou fazem apelos de compra”. Assim, a Nestlé aparece no canal com vinhetas voltadas aos pais, com orientações pedagógicas; a Porto Seguro criou ou “Portinho Seguro”, com dicas de segurança para as crianças. A Estrela foi o primeiro anunciante da TV Rá Tim Bum.

Clima de CopaBandnews e BandSports cresceram

juntos quase 35% em 2005 e prevêem um 2006 bem gordo - a Copa do Mundo deve turbinar as receitas dos canais em atípicos 70% acima de 2005. Em dezembro, a programadora já tinha vendido quatro de suas seis cotas principais para o evento, conforme informou o diretor de vendas de publicidade do canal, Alexandre Bortolai. Ainda que o preço de tabela de cada cota fosse salgado (R$

O “Cocoricó” tem novos episódios na TV Rá Tim Bum.

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(publicidade)

Rentabilidade no limiteOs altos custos da produção publicitária no Brasil levam a margem de lucro das produtoras para baixo; elenco e mão-de-obra são os itens mais preocupantes do orçamento.

O preço das produções publicitárias no Brasil não sofreu alterações significativas nos últimos cinco anos. Ainda

assim, as produtoras só viram a sua rentabilidade despencar. A concorrência, o redirecionamento de verbas dos anunciantes e o encarecimento da mão-de-obra técnica e do elenco são apenas alguns dos fatores que fizeram com que as produtoras sentissem as suas margens diminuírem, à medida em que os orçamentos mantiveram-se enxutos e os custos aumentaram. Paulo Schmidt, da Academia de Filmes, acredita que o preço médio de um filme comercial hoje, no Brasil, esteja entre US$ 80 e US$ 100 mil. Segundo o produtor, esse valor tem se mantido nos últimos dez anos. Porém, os custos da produção aumentaram, restando às produtoras a opção de reduzir as suas margens. Essa margem, que já chegou a ser de 50%, hoje varia muito abaixo desse número. “Não conseguimos repassar o aumento de custos para os anunciantes. Hoje, a maioria das produtoras trabalha com taxas de 20% a 30% de lucro”, afirmou Schmidt.

O achatamento dos preços pode ser atribuído a um conjunto de fatores, entre eles a mudança de perfil do anunciante, que passou a procurar soluções imediatas para a venda de seus produtos. Essa tendência pode ser notada pelo crescimento da publicidade de varejo no Brasil, que concentra hoje grande parte da verba publicitária. “Os anunciantes estão destinando uma proporção maior de suas verbas ao varejo. Se há alguns anos atrás, essa proporção era de 50% para varejo e 50% para institucional,

sua personalidade”, diz. Ao considerar que o maior anunciante do País, a Casas Bahia, investe justamente na publicidade de varejo, é impossível ignorar a sua importância. “O varejo está sustentando as nossas redes de televisão. Para as produtoras, é interessante por garantir volume de trabalho durante um determinado tempo, possibilitando uma redução de custos”, afirma Schmidt. Os produtores concordam, no entanto, que o varejo é uma solução imediata para o problema de estoque das empresas, e que a propaganda institucional não pode ser abandonada. “O varejo bem feito é extraordinário. Para que funcione, deve acontecer é uma união de dois fatores: a identificação do consumidor com a marca, por meio da propaganda institucional, e as facilidades de compra daquele produto no varejo”, diz João Daniel Tikhomiroff, da Mixer, grupo do qual faz parte a Pizza Mixer, uma bandeira específica para a produção de comerciais na área de varejo.

Non-advertisingAlém do varejo, os anunciantes

têm desviado a sua atenção do break convencional para outras formas de publicidade que se mostram efetivas, como promoções e eventos. Mais uma vez, as verbas destinadas aos comerciais televisivos são achatadas. Esse desvio causa problemas não apenas para as produtoras, mas para os outros participantes da cadeia, como as locadoras. Paulo Ribeiro, da Locall, afirma que os preços de tabela de locação não foram reajustados em dois anos, e as locadoras não conseguem repassar os custos para outros componentes da cadeia produtiva. “Somos o fim da linha. O consumidor

Daniele Fredericod a n i e l e @ t e l a v i v a . c o m . b r

hoje talvez isso seja 70% ou 80% no varejo e 20% ou 30% no institucional”, afirmou Eduardo Tibiriçá, da Bossa Nova Films.

Para Leyla Fernandes, presidente da Associação das Produtoras de Obras Audiovisuais (Apro), a propaganda de varejo pode ser nociva, uma vez que, na falta de campanhas institucionais, as marcas perdem suas características e passam a ter somente preço. “Quando um anunciante coloca vários produtos de diferentes empresas em seu comercial, ele faz com que esses produtos não tenham tanta necessidade de estabelecer a sua própria marca, o que pode causar, a médio e longo prazo, a perda de

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compra menos da empresa, que diminui a verba da agência, que paga um preço menor às produtoras, que ‘apertam’ a locadora, que não tem a quem ‘apertar’”, afirma. “As produtoras têm a opção de nos pedir para diminuir os custos. Nós, por outro lado, não podemos ligar para a Philips, por exemplo, e pedir para baixar o preço dos equipamentos”.

Para sobreviver às pressões de estar no final da cadeia produtiva, as locadoras contaram com uma ajuda da economia, com a valorização do real. Os equipamentos, em sua maioria importados, ficaram mais baratos e permitiram que as locadoras não quebrassem, ainda que a rentabilidade esteja muito abaixo do desejado. “Se o dólar estivesse custando R$ 3, estaríamos em uma situação difícil, convivendo com um faturamento, no mínimo, 25% inferior ao de dois anos atrás”. Ribeiro reconhece, no entanto, que a mudança cambial também teve um impacto negativo quando o assunto é produção internacional.

De 12.244 obras publicitárias produzidas em 2005, até o dia 9 de novembro, (sendo 12.153 brasileiras e 91 estrangeiras adaptadas), 247 foram obras estrangeiras autorizadas a filmar no Brasil, segundo dados da Ancine. No ano passado, foram 148 obras. Projetos como o Film Brazil, criado para divulgar o Brasil como pólo de produção, investem em outros aspectos positivos do País para atrair o mercado internacional. Equipe técnica qualificada, estrutura de produção, elenco com diferentes etnias, locações interessantes e estações do ano contrárias às dos países do hemisfério norte são alguns dos pontos enfatizados pelo projeto, já que, no momento, o câmbio pode não ser um dos atrativos se comparado aos países concorrentes, como Argentina, áfrica do Sul e Canadá.

A Argentina tem se mostrado uma feroz concorrente quando o assunto é produção. Apesar de utilizar uma tabela diferenciada para as produções internacionais, seus preços ainda são mais atraentes que os brasileiros. “O

termos de produção e continuaremos produzindo localmente e explorando vários projetos”.

Segundo informações da Apro, um dos itens que torna os custos argentinos menores que os brasileiros é o casting, que chega a ser 30% mais barato que o nosso. Custos com elenco e mão-de-obra têm sido apontados como dois dos fatores que mais encareceram a produção e forçaram as produtoras a baixar suas margens. “Nos últimos cinco anos deve ter havido um crescimento de 150% no custo de elenco e 100% na mão-de-obra”, calcula Schmidt, da Academia.

No caso do elenco, os aumentos são mais recentes e o impacto foi sentido este ano. O sindicato que representa a categoria e as produtoras têm tentado encontrar uma forma de minimizar o problema, mas até o momento, o elenco ainda é considerado um dos itens mais onerosos do orçamento. “Se o anunciante quer elenco com exclusividade, por exemplo, isso encarece. Precisamos, além de um preço mais justo, de um briefing mais exato para que os gastos sejam mais racionais”, diz Leyla.

Uma das formas encontradas para que o elenco não pese tanto na produção, foi orçá-lo à parte, sendo pago diretamente pelo anunciante. “Na Bossa Nova Films, orçamos o elenco à parte, para que não onere uma sobretaxa da própria produtora sobre este custo. Com isso, mais uma vez a produtora cede parte do seu ganho”, diz Tibiriçá, que também lembra a possibilidade de buscar atores diretamente no mercado, sem passar pelas agências de casting.

A mão-de-obra formada pelos técnicos também é apontada como um dos principais motivos para o aumento do custo da produção. A falta de profissionais especializados, de uma política de formação de mão-de-obra e a organização em sindicatos têm fortalecido essa categoria de profissionais. “Não estamos conseguindo convencer os nossos técnicos que se eles

Brasil é o país mais caro para produzir entre os países da América Latina”, afirma Paulo Dantas, da Movi&Art. O país vizinho tem se tornado tão atraente para as produções internacionais, que até mesmo algumas agências brasileiras, com clientes globais, têm realizado ali idéias criadas no Brasil. “Acho que o mercado está errado. Como uma agência do Brasil, que tem relação com os fornecedores locais, está preferindo produzir uma campanha na Argentina? Não acho que seja só uma questão de custo, mas também o fato dos argentinos estarem mais ousados, e publicidade depende de ousadia”, afirma Tibiriçá, da Bossa Nova Films. Nilvia Centeno, da agência McCann-Erickson, acredita que a migração das produções para a Argentina acontece por este país estar com uma política econômica extremamente favorável e pelo anseio de agências e clientes por alternativas viáveis de produção. “Acho um pouco ingênuo e fatalista demais esse radicalismo de acharmos que a procura pela Argentina enfraquecerá o mercado brasileiro. O Brasil é considerado um mercado de excelência em

“A margem depende também de uma melhoria nos prazos, que hoje são alucinantes.”João Daniel Tikhomiroff, da Mixer

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(publicidade)

baixassem seus preços, trabalhariam mais e conseqüentemente ganhariam mais. Estamos discutindo hora-extra de um profissional que já ganha R$ 800 por dia de trabalho”, ressalta Dantas, da Movi&Art.

Crise políticaNem só de aumento nos custos

sofreu a publicidade em 2005. A intensa crise política vivida principalmente no segundo semestre do ano tornou o mercado instável e os anunciantes cautelosos. Não foi apenas o governo e instituições ligadas a ele que deixaram de anunciar. A iniciativa privada também conteve seus gastos, especialmente em propaganda institucional. “Na verdade, a crise ainda não passou. Esses últimos meses do ano deveriam estar melhores, mas acho que os anunciantes estão segurando as verbas, apostando em 2006. No caso da Academia de Filmes, crescemos 22% no primeiro semestre, mas estamos ‘gastando’ esse crescimento para equilibrar o segundo”, diz Schmidt.

Os participantes da cadeia produtiva têm buscado maneiras de contornar a crise que afetou o mercado publicitário, e solucionar o problema da rentabilidade. Alguns acreditam que a rentabilidade será alcançada por meio de um aumento de volume de trabalho. “Estamos agregando na quantidade para atingir os valores”, diz Rodolfo Patrocínio, da produtora de efeitos Digital 21. Leyla Fernandes

os anunciantes”, diz. O que se nota nas empresas

de produção, finalização, locação e outros participantes da cadeia é a diversificação das atividades, ainda que para a maioria o mercado publicitário ainda seja o principal responsável pelo faturamento. “Acredito que a produção independente de conteúdo é o mercado que está crescendo. Isso vem, de certa forma, compensar a perda que sentimos na área da publicidade”, disse Paulo Ribeiro, da Locall.

A Digital 21 fugiu da crise este ano com propostas de conteúdo para a telefonia móvel, longas-metragens, documentários e outras produções na área de entretenimento. “Não deixamos de atender os clientes da publicidade, mas temos sentido dificuldade em realizar novas negociações”, diz Patrocínio.

Para 2006, as projeções são otimistas. Com a Copa do Mundo e as eleições, as produtoras acreditam no aumento do volume de trabalho. “A melhoria de todo o resto vai depender muito da sensibilidade dos anunciantes e das agências, de exercerem um melhor controle sobre os anunciantes, exercitar uma melhoria nos prazos e nos custos, para que, no final, os filmes fiquem melhores”, diz Tikhomiroff, da Mixer. Nilvia Centeno, da McCann-Erickson acredita em um ligeiro crescimento

lembra que o aumento de volume de trabalho também faz com que o mercado se equilibre automaticamente, uma vez que com pouco trabalho a oferta do anunciante passa a ser mais impositiva. “Apesar da crise política, a economia conseguiu manter-se razoavelmente estável, com um consumo forte, o que fez com que anunciantes tivessem a necessidade de anunciar mais este ano”, explica.

Além disso, as negociações entre os três principais agentes da cadeia de produção — anunciantes, agências e produtoras — também é um ponto a ser melhorado. “Fazer com que nossa margem de lucro suba também depende de uma melhoria nos prazos, que hoje são alucinantes. Com tempo, podemos planejar melhor a campanha e otimizar os custos”, diz João Daniel Tikhomiroff.

Paulo Schmidt também acredita que o mercado internacional possa ajudar a elevar o preço das produções nacionais. “Estamos sendo assediados pelos estrangeiros, para os quais trabalhamos com o mesmo preço, mas com uma margem melhor. Se o número de produções internacionais de grande porte aumentar muito, não teremos mão-de-obra nem equipamento para atender a produção interna, o que acaba ameaçando

MIxER PRODUZ PUBlICIDADE MÓVElA Mobile Mixer é a nova bandeira do grupo Mixer, que nasceu a

partir de uma parceria da produtora com o Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (Cesar). A joint-venture foi criada para a produção de conteúdos para dispositivos móveis e interativos, e o Cesar é responsável pelas soluções tecnológicas do processo.

Suas ações são voltadas exclusivamente para a produção publicitária. Fábio Ribeiro (foto), diretor de operações da Mixer, explica que gerar audiência para o conteúdo de celular tem um custo muito alto. No caso da publicidade, segundo Ribeiro, cabe ao cliente e à agência buscarem audiência para esse conteúdo.

Quanto à parte tecnológica, a Mobile Mixer gera o conteúdo em todos os formatos necessários para diferentes operadoras e modelos de aparel-hos, e entrega diretamente no servidor da operadora.

O primeiro trabalho, já entregue, é a coluna de vinhos com Carlos Cabral para o Pão de Açúcar, criado pela agência áfrica e veiculado na Vivo.

“Nos últimos cinco anos deve ter havido

um crescimento de 150% no custo de elenco

e 100% na mão-de-obra.”Paulo Schmidt, da Academia de Filmes

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do volume, mas afirma que as negociações devem continuar com a mesma intensidade. “A política agressiva de negociação veio para ficar. O mercado terá de ter um olhar maduro para encarar esse desafio”, conclui.

Novas mídiasA migração das verbas da

produção publicitária da televisão para outras mídias, como celular e Internet, fez com que as produtoras criassem departamentos específicos para cuidar desse tipo de produção. Todas parecem concordar que somente um trabalho que integre todas as mídias poderá funcionar. “A questão é: como inserir a marca do anunciante dentro do conteúdo de entretenimento? Não é só criar ação para telefonia, ou para a web, mas sim integrá-las com a produção para a TV”, diz Tibiriçá, da Bossa Nova Films.

Além disso, elas ressaltam

adaptação não funciona. O movimento de câmera, os ângulos e a iluminação são diferentes de um comercial de TV. É necessário trabalhar com especialistas no assunto”, disse Tikhomiroff, da Mixer, que criou recentemente uma bandeira só para a criação desse tipo de conteúdo.

a necessidade de otimizar os preços, pensando todas as mídias de forma alinhada, uma vez que a verba publicitária não deve aumentar. “O cliente tem de ser lembrado disso no momento em que se pensa a campanha, para que haja uma otimização dos custos. Fizemos um cálculo que mostrou que ao pensar em uma campanha integrada para a televisão e para a Internet, por exemplo, o custo agregado com a nova mídia seria em média 15%”, disse Paulo Schmidt, que afirmou não acreditar em estruturas de produção montadas apenas para Internet e serviços móveis.

Integrar as mídias, no entanto, não consiste apenas em adaptar um comercial de TV para a Internet ou para o celular. “A

“Acredito que a produção independente de conteúdo é

o mercado que está crescendo. Isso vem compensar a perda

que sentimos na publicidade”Paulo Ribeiro, da Locall

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(tv por assinatura)

Conteúdo reguladoCade e Anatel dão os primeiros passos para regular o mercado de comunicações do ponto de vista da programação. Exclusividade de programação e a fusão DirecTV/Sky estão no olho do furacão.

O modelo que há mais de dez anos orienta a relação entre programadoras e operadoras de TV por

assinatura está próximo de sofrer a sua primeira mudança significativa no Brasil, em função de decisões de órgãos reguladores. O fato é inédito porque, até hoje, nem a Anatel e nem o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) disseram ao mercado o que deveria ser feito em relação ao conteúdo do mercado de TV paga.

O ponto em questão envolve a forma de comercialização dos canais Globosat, que hoje são vendido sob o regime de exclusividade, ou seja, para apenas um operador por praça. São, na verdade, dois casos intimamente ligados. O primeiro corre na Secretaria de Direito Econômico (SDE) do Ministério da Justiça, e é a análise do pedido feito pela NeoTV (que representa vários operadores de cabo e MMDS independentes) para que o canal SporTV seja aberto a todas as operadoras. O segundo caso é a análise da fusão entre Sky e DirecTV. São dois processos separados, mas que têm no componente “programação Globo” um elemento em comum.

Desde outubro, a SDE e a Globosat negociam um Termo de Correção de Conduta (TCC) em relação à questão da exclusividade, e a celebração do acordo poderia ser assinada ainda em dezembro. Basicamente, o que o Ministério da Justiça colocou na mesa, segundo observadores, é que a forma que a

para o SporTV, mas também para um conjunto de canais considerados importantes, entre os quais GloboNews, GNT e Multishow.

A Globosat, por sua vez, negociava o TCC, no começo de dezembro, sem uma pressão muito forte para aceitá-lo. Até porque poderia não celebrar acordo algum e deixar o caso ir para decisão do Cade, que é quem julgará definitivamente a questão. E isso tomaria pelo menos mais um ano do processo.

Acontece que há, tanto para a SDE quanto para a Globosat, alguns

Samuel Possebons a m u c a @ t e l a v i v a . c o m . b r

Globosat adota para comercializar seus canais teria que mudar, e que ela deveria abrir a todos os operadores as mesmas condições que oferece para a Sky e para a Net Serviços, além de alguns outros afiliados de menor porte do sistema Net Brasil. A SDE está forçando para que a Globosat abra mão da exclusividade e tenta estabelecer uma fórmula de abertura dos canais que respeite os ganhos de escala. Assim, os operadores ligados à Neo TV (e qualquer outro) teriam o direito de adquirir os canais, pagando menos conforme o número de assinantes. A SDE tentava essa negociação não só

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fatores adicionais de pressão que precisam ser considerados. No caso da secretaria, forçar demais e fazer a Globosat desistir de um TCC é ruim porque não resolve o problema de imediato e porque criaria uma situação de relacionamento com a Globo não desejada pelo governo. Além disso, a SDE buscava colocar na quebra de exclusividade também os conteúdos do pay-per-view do Campeonato Brasileiro a partir de contratos futuros (a mudança não valeria para o atual contrato com o Clube dos 13). Se pressionar demais, pode não conseguir incluir essa programação.

Do lado da Globosat, o problema reside no fato de que se deixar o problema da exclusividade de programação para ser decidido no Conselho Administrativo de Defesa Econômica, corre o risco de embaraçar a análise da fusão da DirecTV com a Sky. O Cade recebeu

operadora de TV paga por satélite após a fusão.

RecomendaçõesAlém da quebra da exclusividade,

a Anatel ainda recomendou ao Cade algumas outras medidas: 1) que imponha à operadora resultante da fusão uma política nacional de preços (para que não cobre menos apenas em praças onde concorre com cabo e MMDS); 2) a manutenção dos atuais canais na grade da operação pós-fusão até o fim dos contratos; 3) medidas para evitar exclusividade ou condições não isonômicas de aquisição de equipamentos e; 4) garantias de que as programadoras brasileiras não pertencentes às empresas acionistas da operação pós-fusão possam distribuir seus canais.

Este último é um ponto de grande relevância, porque toca em uma disputa comercial entre grupos

em novembro, da Anatel, o parecer com relação à fusão. A agência não viu objeções à operação, mas recomendou ao órgão de defesa da concorrência que na sua análise considerasse impor mudanças de conduta em relação à exclusividade de programação. Somando-se isso a um parecer da SDE recomendando a quebra da exclusividade, será virtualmente impossível para a Globosat conseguir passar imune pelo processo de fusão, onde a Globo (sócia da Sky) é parte interessada. Além disso, qualquer atraso no processo só serviria para deixar no mínimo tensas as relações com a News Corp., que será controladora da

A ANATEl RECOMENDOU AO CADE QUE GARANTA ESPAÇO à PROGRAMAÇÃO NACIONAl

COMO CONDIÇÃO PARA A FUSÃO NO DTH.

(tv por assinatura)

de mídia nacionais. Notadamente a Bandeirantes, que produz três canais de TV por assinatura, e o grupo Globo. A Band tem pressionado as autoridades, desde que a fusão entre Sky e DirecTV foi anunciada, para não ficar de fora do line-up das operadoras. Isso porque, hoje, a viabilização desses três canais depende da DirecTV. Mas a Band ia além: queria que os seus canais entrassem no nível básico, ou seja, nos pacotes mais baratos da operação de TV paga, para ter assim maior distribuição e maior receita, como acontece com os canais da Globosat. A recomendação da Anatel não especifica o pacote em que a programação da Band ou qualquer outra independente (como o canal CinebrasilTV, por exemplo) entrará.

Além disso, a Bandeirantes ainda pretende continuar pressionando o Cade para que imponha como condição para aprovar a fusão a perspectiva de distribuição de conteúdo brasileiro independente nas demais plataformas controladas pela DirecTV e News Corp. no mundo. A Globo conseguiu essa garantia no contrato com Rupert Murdoch em que estabeleceu como ela ficaria após a fusão.

Para complicar ainda mais a análise, existe também uma certa divisão dentro do governo sobre uma das cláusulas colocadas no acordo entre News Corp. e Globo: a cláusula que diz que o grupo brasileiro é quem decide que conteúdo de interesse nacional passará na operação de DTH. Na prática, se um canal estrangeiro, uma HBO, por exemplo, fizer mais do que uma hora de programação brasileira por semana, ou se a Sky quisesse adquirir algum conteúdo esportivo nacional, a exibição destas programações teria que passar pelo crivo da Globo. Há uma parte do governo que entende

pagou a mais para ter os conteúdos exclusivos da Globosat. É justo que ela deixe de ter esse diferencial competitivo em uma decisão que vai beneficiar apenas a Sky e a DirecTV?. A solução imaginada pela SDE é fazer com que, na escala, a Net tenha vantagem sobre seus concorrentes na contratação dos canais.

Um terceiro fator a ser considerado é a mudança de paradigma regulatório. A Anatel, por exemplo, nunca deu nenhum palpite sobre a questão da programação. Na sua recomendação ao Cade na questão da fusão, pela primeira vez a agência colocou claramente sua visão de como deve ser a forma de comercialização dos canais com as operadoras com vista a evitar concentração de mercado. Ainda que a Anatel tenha feito apenas uma sugestão, é um precedente importante em um cenário em que também operadores de telecomunicações começam a adquirir conteúdos audiovisuais. Sobre esta posição da Anatel, há quem defenda que não existe determinação expressa na lei para que a agência de telecomunicações avance sobre questões de conteúdo, que não são regulados pela agência. Mas há quem diga que a agência tem o dever de olhar para este assunto quando o conteúdo for determinante na questão da concorrência. É uma polêmica ainda aberta

A fusão entre Sky e DirecTV deve ser analisada no primeiro semestre de 2006, e será nesse período que ficará mais claro se a forma como a Globosat e os operadores que compram sua programação se relacionam continuará a mesma. Provavelmente não. Mas o mais significativo de todo esse processo é que terá sido aberto o precedente para que casos envolvendo concorrência entre empresas de comunicação sejam analisados do ponto de vista daquilo que elas entregam.

que é uma cláusula muito forte, que dá muito poder à Globo para fechar o mercado inclusive a concorrentes nacionais. Mas há quem analise de outra forma: diante da inevitabilidade de uma fusão que vai criar um grande operador de TV paga com controle estrangeiro (de ninguém menos do que Rupert Murdoch), melhor deixar na

mão da Globo a seleção de conteúdo brasileiro do que deixar livre. Boa parte do Cade está convencida dessa posição, por exemplo.

Nos dois casos que devem alterar a relação entre programadores e operadores de TV por assinatura há questões ainda polêmicas. Por

exemplo, se um mercado de TV paga sem conteúdo exclusivo é viável ou não. Mesmo na Europa, onde fusões semelhantes já foram discutidas, o entendimento é que a exclusividade faz parte da competição. O que os órgãos de defesa da concorrência têm feito é colocar limites a esta exclusividade. Ainda não se sabe como essa questão será equacionada.

Injustiça?Outro problema é em relação às

operadoras como Net Serviços, que até hoje

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PROCESSO ABRE O PRECEDENTE PARA

QUE CASOS DE CONCORRêNCIA

EM COMUNICAÇÃO lEVEM EM CONTA

O CONTEúDO.

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Multishow fica entre os “top 3” para adultos e jovens

Numa repetição da performance dos últimos três meses, entre os indivíduos de 18 anos ou mais com TV por assinatura, os canais TNT, Multishow e GloboNews foram os que apresentaram o melhor alcance diário médio durante outubro, dentre os

canais aferidos pelo Ibope Mídia. O levantamento considera o total de indivíduos de 18 anos ou mais com TV por assinatura na Grande São Paulo + Grande Rio de Janeiro + Porto Alegre + Curitiba + Belo Horizonte + Distrito Federal, o que corresponde a um universo de cerca de 4,2 milhões de indivíduos. Deste total, os canais da TV por assinatura aferidos apresentaram um alcance diário médio de 51,2% ou 2,1 milhões de pessoas por dia, e um tempo médio diário de audiência de duas horas.Já entre o público infanto-juvenil, entre 4 e 17 anos com TV por assinatura, no mês das crianças os canais infantis Cartoon Network e Nickelodeon, seguidos pelo canal de entretenimento Multishow foram os que apresentaram o melhor alcance diário médio ao longo do mês. Nas mesmas praças citadas acima, entre este público os canais pagos tiveram um alcance diário médio de 56,3%, ou 527,5 mil pessoas por dia, e um tempo médio diário de audiência de duas horas e nove minutos.

(audiência - TV paga)

*Universo 4.252.100 indivíduos *Universo 936.600 indivíduos

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Acima de 18 anos* (Das 6h às 5h59)

De 4 a 17 anos* (Das 6h às 5h59)

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A apresentadora do Multishow Daniele Suzuki.

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Alcance (%) Indivíduos (mil) Tempo MédioTotal canais pagos 51,2 2177,6 2:00:00TNT 14,7 623,0 0:27:19Multishow 12,1 514,2 0:18:14GloboNews 11,9 503,8 0:39:11SporTV 11,8 502,2 0:39:18Discovery 9,5 404,8 0:23:03Warner Channel 9,5 402,6 0:25:55Universal Channel 9,2 392,8 0:26:02AxN 9,2 390,7 0:21:41Sony 8,3 353,7 0:17:30Fox 8,2 350,4 0:18:48Telecine Premium 8,2 349,8 0:30:21Cartoon Network 8,2 348,7 0:34:04GNT 7,8 333,4 0:17:29National Geographic 7,7 326,9 0:18:00SporTV2 7,4 316,5 0:16:41People + Arts 6,3 266,8 0:19:01Nickelodeon 5,9 249,7 0:25:04HBO 5,6 237,8 0:34:17ESPN 5,5 232,1 0:18:43

Alcance (%) Indivíduos (mil) Tempo MédioTotal canais pagos 56,3 527,5 2:09:41Cartoon Network 27,6 258,7 1:01:56Nickelodeon 22,2 208,4 0:45:47Multishow 12,3 115,2 0:30:52TNT 12,1 112,9 0:23:51Discovery Kids 11,0 102,6 1:01:31Jetix 9,8 91,8 0:58:50Discovery 7,2 67,2 0:16:40Disney Channel 7,2 67,1 0:49:52Warner Channel 7,1 66,6 0:18:04SporTV 6,8 63,7 0:28:16Fox 6,1 57,3 0:22:20Telecine Premium 5,8 53,9 0:30:08Boomerang 5,6 52,7 0:35:41Universal Channel 5,5 51,3 0:18:16AxN 5,4 50,8 0:12:27Sony 5,4 50,4 0:16:38People + Arts 5,0 47,2 0:19:18SporTV2 4,5 42,1 0:15:23National Geographic 4,4 40,8 0:17:11

Edianez Parentee d i a n e z @ t e l a v i v a . c o m . b r

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Blockbusters no Telecine PremiumEis uma palhinha dos filmes que o Telecine Premium vai exibir ao longo

de 2006. A rodada começa em janeiro com “O Terminal”, com Tom Hanks (foto). Depois, durante o ano, chegam: “Elektra”, “A Supremacia Bourne”, “Bridget Jones — No Limite da Razão”, “Cruzada”, “Guerra dos Mundos”, “Madagascar”, “Menina de Ouro”, “O Amigo Oculto”, “O Chamado 2”, “O Espanta-Tubarões”, “Quarteto Fantástico”, “Ray”, “Robôs”, “Sideways — entre Umas e Outras”, “Sob o Domínio do Mal”, “Sr. e Sra. Smith”, “Star Wars: Episódio 3 — A Vingança dos Sith”, só para citar alguns.

Pílulas no SBT O SBT, que estudava criar um

telejornal para o seu horário de almoço em São Paulo, decidiu distribuir seu conteúdo noticioso em pílulas ao longo do dia. “Preferimos os boletins, que

entram de hora em hora, a estabelecer um horário fixo”, conta o diretor de jornalismo da emissora, Luiz Gonzaga Mineiro (foto). Ele conta também que o SBT já definiu uma equipe com quatro

repórteres para a Alemanha, na Copa do Mundo. Mesmo sem ter os jogos da competição, a emissora quer cobrir o evento. Seu departamento jurídico já foi acionado, para ver como ficam as imagens jornalísticas dos jogos. É praxe no Brasil que as emissoras tenham direito a pelo menos três minutos dos jogos (que incluem os gols). Mas no caso da Copa, esta prática não é seguida

“Águas de Março” no CartoonO clássico da MPB “águas de Março”, de autoria de Tom Jobim, é o som que

embala a trilha sonora em vinheta e um episódio do “Laboratório Submarino 2021”, no bloco Adult Swim, do Cartoon Network. Na vinheta, os personagens do desenho animado cantam a música em dueto. A programadora informa que licenciou a canção para uso no mundo todo, tanto para o episódio quanto para a vinheta.

PESQUISA GNT No segundo semestre de 2005, o canal GNT realizou

uma pesquisa quantitativa, com 520 assinantes Net e Sky, de 18 a 65 anos, para avaliar seu reposicionamento, feito há dois anos. Eis alguns resultados:n O canal é top of mind entre as mulheres dos 25 aos 34 anos;n 71% dos assinantes estão muito satisfeitos ou satisfeitos

com o canal. Entre as mulheres de 18 a 24 anos, o índice de satisfação sobe para 82%

n Imagem: o GNT é visto como um canal formador de opinião.n Atributos valorizados: informação confiável e sob vários

ângulos, leveza, vanguarda.

F-1 cresce no mundo

A maior competitividade na Fórmula 1 em 2005,

com o fim do império de Schumacher e da Ferrari, teve reflexo imediato nos índices de audiência das transmissões das corridas,

que subiram em diversos países

(à exceção. obviamente, da

Alemanha). Por aqui, a Globo continua com a atração em

2006, para a qual já vendeu suas cotas

de patrocínio. Banco Real, Chevrolet, Nova

Schin, Petrobras e Tim serão os

anunciantes da temporada.

“Saia Justa”

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? VOCê SABIA QUE:

oA Copa Jetix, torneio mundial de futebol infanto-juvenil promovido anualmente pelo canal, terá em 2006 sua final na Alemanha?

nA TV Rá-TIM-BUM LEVOU NOS ESTADOS UNIDOS O PRêMIO ACHO AWARDS, QUE FOI DADO EM OUTUBRO PELA DMA (DIRECT MARkETING ASSOCIATION), EM ATLANTA? A PREMIAçãO FOI PARA A CATEGORIA MEIOS DE COMUNICAçãO. POR AQUI, O CANAL AINDA NãO CONSEGUIU ATINGIR A MAIOR DISTRIBUIçãO NO MERCADO NACIONAL. oA transmissão na África da TV da Gente, canal idealizado pelo cantor e apresentador Netinho de Paula, terá conteúdo da TV Bandeirantes? Uma das atrações certas é o programa de Raul Gil, visto que o apresentador já é conhecido no continente por conta do sinal internacional da TV Record. nEMBORA MUITAS VIDEOLOCADORAS, PRINCIPALMENTE AS MENORES DE BAIRROS, Já O FAçAM COM TODOS OS SERIADOS DE TODAS AS MARCAS, Só A PARTIR DE DEZEMBRO A FOx PASSA A AUTORIZAR QUE AS CAIxAS DE DVDS DE SEUS SERIADOS SEJAM LOCADAS POR EPISóDIOS?

oFoi encomendada nos EUA uma terceira safra para “Battlestar Galactica”, que começa a ser produzida em 2006? A TNT, que estréia a segunda temporada em janeiro, já garantiu a terceira.

MAIS DETETIVES O UNIVERSAL CHANNEL ADQUIRIU, NUMA NEGOCIAçãO

FEITA PELO CANAL EM NíVEL PAN-REGIONAL, MAIS 32 EPISó-DIOS DA SÉRIE MÉDICO-FORENSE “DETETIVES MÉDICOS” (“MEDICAL DETECTIVES”). A ATRAçãO TAMBÉM ESTá NA

GRADE DO DISCOVERy CHANNEL.

Filmes na GloboA Globo concentrou na última semana do ano os

melhores filmes do pacote de blockbusters que compra dos estúdios de Hollywood. Depois de lotar as sessões Tela Quente, Supercine e Temperatura Máxima com títulos de segunda linha, o final do ano reserva blockbusters como “Minority Re-port”, “Uma Mente Brilhante”, “O Grinch”, “Conto de Natal do Mickey” e “Stuart Little 2”. “Shrek” será exibido no primeiro dia de 2006.

Concurso da CNNO CONCURSO CULTURAL DA

CNN INTERNATIONAL “JORNALISTAS DO AMANHã” SERá REPETIDO EM 2006. AS INSCRIçõES DEVEM

SER ABERTAS NO PRIMEIRO SEMESTRE, PROVAVELMENTE EM ABRIL, COM O TEMA E REGULAMEN-

TOS. E O VENCEDOR SERá ANUNCIADO PELA REDE NA FEIRA DA ABTA, QUE ACONTECE EM

AGOSTO EM SãO PAULO.

Fx na kiss FM O canal Fx promoveu uma ação inusitada: foi para

o rádio, com um programa diário durante a semana. A escolhida foi a kiss FM (São Paulo 102,1 MHz; Campi-nas 107,9 MHz), emissora musical de clássicos do rock e dedicada a um público adulto. O programa tem uma edição semanal na TV, no próprio canal Fx, nas noites de domingo, com os melhores momentos do estúdio. Segundo Cláudio dos Anjos, diretor de marketing da Fox, esta é a primeira iniciativa do gênero desenvolvida pela Fox Latin American Channels. As vendas de patrocínio funcionam assim: o espaço na rádio será vendido pela kiss; o espaço na TV é vendido pela equipe da Fox.

O cantor Marcelo Nova, a locutora Dani Mel e o multi-mídia Ricardo Corte Real comandam a atração.

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(making of )Lizandra de Almeida

l i z a n d r a @ t e l a v i v a . c o m . b r

Resultado da primeira edição do concurso de curtas-metragens

infantis do Ministério da Cultura, o filme “Minhocas” investiu em uma técnica de animação que, segundo seus diretores e produtores, é a que pode colocar a produção brasileira de animação mais perto do mercado internacional. O filme foi todo feito em stop motion, mas passou por um longo processo de pós-produção. “Já temos uma pós-produção muito boa, com profissionais talentosos, mas ainda não temos estrutura para fazer um filme todo em computação gráfica que possa concorrer com os das grandes produtoras americanas”, avalia Paolo Conti, sócio da produtora Animaking e um dos diretores do filme. O prêmio do ministério, de R$ 60 mil, não foi suficiente para o projeto, mas a produtora investiu mais R$ 100 mil já apostando na idéia do longa.

O curta conta a história de uma família de minhocas, composta por mãe, pai, filho e avô. O filho, supercurioso, quer saber o que acontece no mundo lá fora, acima da terra. A mãe e o avô advertem para os perigos, falando em monstros e assombrações. Mas o pai decide que é melhor levar o filho pessoalmente para conhecer a vida, mesmo correndo o risco de encontrar passarinhos e pescadores. Os dois vivem uma aventura, mas se tornam mais amigos e cúmplices.

“Pensamos o filme como um exercício para um longa-metragem. Então fizemos todo o planejamento como se fosse o de um longa. Criamos dois sets em paralelo,

de estar. Mas o filme também mostra o quarto do filho, um local repleto de raízes de árvores e o exterior, ou seja, a paisagem ao ar livre que inclui um ataque de passarinho. Todos os personagens foram feitos com bonecos articulados, com exceção de um tatu bola, criado em computação gráfica.

A equipe da produtora já está fazendo testes de exibição com crianças e vai começar a

exibir o filme em festivais. Enquanto isso, trabalha no roteiro do longa, com o auxílio de uma pedagoga. “Sempre pensamos em nos tornar uma produtora de conteúdo, mas este não seria nosso primeiro projeto. Mas com o curta já conseguimos resolver 50% dos problemas que podem aparecer no longa. Então criamos outros núcleos — não vão ser só as minhocas — e decidimos investir nesse projeto”, afirma Paolo.

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Vida subterrânea

Título “Minhocas”Roteiro Paulo de Tarso Domite Mendonça (Disca)Prod. executiva AnimakingDir. de Produção Arthur MedeirosDir. geral e de Paolo Contianimação Fotografia Paulo de Tarso Domite Mendonça (Disca)Dir. de arte e Policarpo Gracianocenografia Chefe de Carlo Contimaquinária e elétrica Sonorização Fuego Sonoro

enquanto um era arrumado para a filmagem, o outro estava funcionando. No longa, já imaginamos que vamos ter seis ou sete sets, com filmagens escalonadas. Conseguimos fazer um planejamento muito bom — ao todo, um terço do tempo foi dedicado à produção, um terço à animação e um terço à finalização”, diz Arthur Medeiros, também sócio da produtora.

A produção começou com a gravação de todas as vozes e a edição desse material no Final Cut, para servir de base e para dar o tempo de cada cena. “Fizemos então o animatic, que é o story board com as vozes”, explica Arthur. “A diferença entre a versão final e o animatic foi de no máximo 5%. Na fase de produção, fizemos muitos testes e mudamos tudo umas três ou quatro vezes. Mas quando chegamos à conclusão de que os bonecos, a luz, os cenários, o acting estavam bons, aí começamos a filmar mesmo.”

Como o filme todo se passa embaixo da terra, a luz foi fundamental para distinguir o que era dia e o que era noite. A maior parte das cenas se passa na casa dos personagens, especialmente na sala

Animação sobre família de minhocas pode virar longa-metragem.

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Ironia

Um filme sem assinatura, sem cliente, sem produto. Simplesmente um teaser que

remete a um site na Internet. A nova campanha da Escola Panamericana de Arte, criada pela Loducca22, mostra um apresentador típico de filmes de varejo, em frente a móveis e eletrodomésticos, como se divulgasse ofertas de uma loja popular. O apresentador passa por vários cenários até que um manifestante invade a cena e começa a quebrar tudo, gritando por mais criatividade.

O protesto contra a mesmice dos comerciais de varejo foi produzido com os mesmos recursos desse tipo de filme. “Usamos a linguagem desses filmes e o mesmo tipo de câmera Beta Digital. Esses filmes têm muito zoom, muitos cortes. Os móveis são reais também”, conta o diretor Paulo Diehl. Depois de várias cenas nas quais o manifestante ataca o armário, ele realmente despencou. “Sabíamos que aquela ia ser a última cena, porque o armário estava

quase quebrando e aí desmoronou de vez.”“A idéia do filme manifesto veio

do briefing, que pedia uma campanha inovadora de matrículas. Resolvemos fazer uma ação de convergência de mídias, na qual o consumidor só sabe qual é o produto e o anunciante se acessar o site”, afirma Guga ketzer, diretor de criação da campanha, que vai incluir outros filmes a partir de janeiro, sempre em cima de modelos de propaganda repetitivos.

Apesar de ter sido vetado pelo Conar cerca de uma semana depois que entrou no ar, por ter sido considerado agressivo contra os anunciantes de lojas populares de móveis, o filme conseguiu o resultado esperado. Muitos consideraram o filme violento, já que o manifestante agride o apresentador. Mas o comercial despertou a atenção do público a quem se destinava, ou seja, o jovem, e levou-

os à Internet para descobrir, afinal, do que o filme estava falando. “Depois de duas veiculações em um dia, registramos 12 mil acessos ao site”, conta Guga.

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Título “Varejo”Anunciante Escola Panamericana de ArteAgência Loducca22Dir. de criação Guga ketzerCriação Guga ketzer Produtora/ Companhia de Cinema filme Direção/filme Paulo DiehlDir. de fotografia Marcelo RochaPós-produção Tribbo PostProdutora/som Plug inAprovação/cliente Enrique Lipszyc

Comercial inovou ao não exibir sequer o nome do anunciante.

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(artigo)

Diversidade cultural, a nova fronteira

tratada e transacionada em todo o globo como qualquer mercadoria e bem de consumo, tal qual televisores, soja, sapatos ou aço. Enquanto produto necessário à preservação da identidade cultural, compreendem os demais países que a cultura não deve se sujeitar às regras de comércio internacional, merecendo, pois, tratamento diferenciado.

Trata-se de uma discussão que se encontra fundamentada em valores eminentemente econômicos, com uma pitada de valores de cunho ideológicos, ambos de grande relevância.

Saiu vencedora a segunda posição, em detrimento dos interesses norte-americanos. Acastelando uma terceira posição, evidentemente conciliatória e que considerava aspectos relevantes de ambos os lados, o Brasil acabou por apoiar a corrente em defesa da diversidade cultural e, por intermédio do ministro Gilberto Gil, envidou todos os esforços para aprovação da Convenção.

De imediato nada mudará no contexto do comércio internacional de bens culturais, uma vez que a implementação legal do plano de ação sugerido pela Convenção demanda tempo. A médio e longo prazo, surgirão elementos que tendem a mudar o cenário atual.

Política culturalSegundo a Convenção, os estados-

membros poderão, a seu critério, implementar mecanismos legais que permitirão a efetiva reestruturação da industria cultural nacional. Subsídios, incentivos, cotas de tela e taxação, por exemplo, não deverão ser mais vistas como medidas protecionistas. Os estados-membros não mais estarão

Petrus Barreto*c a r t a s @ t e l a v i v a . c o m . b r

Foi de 151 a 2 o placar final da derrota norte-americana, acontecida durante a 33ª Conferencia Geral da Unesco, em 18 de outubro deste ano, quando

da votação para aprovação, ou não, da Convenção sobre a Proteção e a Promoção da Diversidade das Expressões Culturais.

Apesar de todos os esforços americanos, que demandaram, inclusive, a tentativa de acordos comerciais bilaterais de última hora, utilizados como moeda de troca por votos em favor de seus interesses, saiu vitoriosa a proposta em prol da preservação da diversidade cultural. Mas ao final, o que de fato está por trás de toda a discussão sobre a diversidade cultural?

Em linhas gerais, trata-se de uma disputa internacional que coloca, de um lado, os Estados Unidos em posição de defesa do segundo item mais importante de sua balança comercial, a cultura (mais especificamente, o audiovisual) e, em posição antagônica, os países que, em virtude da hegemonia americana, perdem diariamente espaço que deveria ser ocupado por suas manifestações culturais, especialmente dentro de suas fronteiras.

Para esses últimos, mais do que um produto economicamente relevante, a cultura representa, acima de tudo, sua própria identidade, bem intangível de valor incomensurável. Os valores, objetivos e subjetivos, em discussão e em conflito, ao final, são claros e muito bem definidos, representando duas faces de uma mesma moeda chamada cultura, quais sejam: o bem cultural como produto comercial (posicionamento dos EUA) e a cultura como um bem necessário e indispensável a preservação da identidade dos povos (entendimento dos demais 151 paises que votaram em favor da Convenção).

Como produto comercial, defendem os EUA e Israel que a cultura seja vista,

* Sócio do escritório Petrus Barretto Advogados. Especializado em direito do entretenimento, propriedade intelectual e mídia. É professor de direito autoral da FGV-RJ e foi diretor jurídico da Globosat

até 1998. Tem entre seus clientes empresas como TAP; Panamerica Sports Inc.; Acom

Comunicações; Canal Futura; e Editora Senac. É sócio da Imagex, empresa especial-

izada na distribuição de produtos culturais brasileiros para o exterior.

sujeitos a ameaças estrangeiras (leia-se EUA) de retaliações comerciais, visto que a OMC não será mais o foro competente para apreciar e julgar questões e disputas relativas ao trafego de bens culturais ao redor do mundo. Saí de cena, portanto, a OMC e entra a Unesco.

Todavia, é certo que a Unesco articulará a criação de um órgão internacional com competência e jurisdição bem definidas para apreciação e manifestação acerca das disputas que a nova ordem cultural demandará. Alias, desconsiderar a necessidade de um foro arbitral competente é negar a essencial característica humana de gerar conflitos, especialmente quando valores de ordem econômica e/ou ideológica estão em discussão. Vale observar que em virtude da inconteste característica econômica dos bens e produtos gerados pela industria cultural, não cabe uma visão simplista acerca das questões que nela se encerram. É importante manter em vista que estamos diante de um novo momento e de uma nova fronteira, e a norma, juntamente com a capacidade de se fazê-la aplicar, é o único caminho para harmonizar os mais diversos interesses, unos (a quase totalidade) em seu direcionamento, mas de infinita diversidade em seus desdobramentos. Sob essa óptica, que nos perdoem os puristas, mas cultura é, de fato, negócio, é transação comercial. É, queiram ou não, fator de significativa influencia na balança comercial de muitos países, na medida em que é clara sua

capacidade de geração direta de receitas, inclusive através da sua convergência com outras atividades econômicas. E que digam os franceses a respeito, árduos defensores da Convenção, cuja industria do turismo encontra-se fundamentalmente alicerçada na cultura, manifestada através da arquitetura, da história, das artes plásticas, da música, do cinema e do teatro, ou seja, da identidade cultural do povo francês.

Outros elementos para entendimento da importância das atividades culturais são vistos na pesquisa “Global Entertainment and Media Outlook”. Realizada por empresas de consultoria mundialmente reconhecidas,

a pesquisa nos dá conta de que em 2009 o setor do entretenimento movimentará cerca de US$ 1,8 trilhão em todo o mundo, sendo, definitivamente, um dos setores de maior expansão no globo. As projeções apontam para um crescimento de 7,3% ao ano, para os próximos quatro anos, e indicam a América Latina como a segunda responsável por este crescimento (à razão de 8,2%, em média, ao ano), perdendo apenas para a China. Por outro lado, o estudo apresenta um dado interessante, os EUA terão o pior desempenho no setor, com crescimento de 5,6%. Vale notar que a distribuição de filmes, produção fonográfica e edição de livros são alguns dos

negócios que integram a industria do entretenimento, para os fins da pesquisa citada. Diante disto, como negar o valor econômico dos bens culturais? E mais, ficam claras as preocupações norte-americanas em relação a Convenção e as motivações para manter as transações de bens culturais, no âmbito internacional, como hoje se encontram.

Mas neste contexto, o mais importante é que o primeiro passo para preservação do caleidoscópio cultural do planeta Terra foi dado. O resto são filigranas, entrelinhas que se ajustarão ao longo do tempo. O fato é que as manifestações culturais, até então, vinham se mantendo aquecidas em banho-maria, notadamente nos denominados países emergentes, especialmente por conta do controle norte-americano exercido na cadeia produtiva da “industria cultural”. A partir da Convenção, espera-se que os novos elementos globais da economia da cultura elevem a temperatura do setor, fazendo com que o cadinho cultural mundial entre em ebulição, permitindo o resgate, a preservação e a difusão das mais diversas manifestações culturais em todo o planeta. Resta, agora, aguardar os desdobramentos desse primeiro movimento, torcendo para que a Convenção se fixe em definitivo e que o cenário mundial ganhe novos contornos com a quebra da hegemonia norte-americana. Definitivamente, estamos diante de uma nova fronteira a ser desbravada, a preservação da diversidade cultural.

EM 2009, O ENTRETENIMENTO MOVIMENTARÁ US$ 1,� TRIlHÃO

EM TODO O MUNDO, SENDO, DEFINITIVAMENTE,

UM DOS SETORES DE MAIOR ExPANSÃO NO GlOBO.

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(cinema)

Cinema invade o Espírito Santo Festival de Vitória exibe 101 filmes e marca parceria com Minas Gerais para a produção de novos documentários.

O 12° Vitória Cine Vídeo, festival de cinema realizado no Espírito Santo entre os dias 28 de dezembro e 3

de janeiro, contou com a exibição de 54 filmes e 47 vídeos de curta e média-metragem durante a Ix Mostra Competitiva Nacional. Além desses, foram exibidos cinco longas-metragens inéditos no Estado.

O festival recebeu inscrições de 613 obras de todo o País, que concorreram ao Troféu Marlim Azul e prêmios em dinheiro. Os filmes vencedores foram “Deu no Jornal” e “Historietas Assombradas (Para Crianças Malcriadas)” na categoria animação; “Início do Fim”, em ficção; e na categoria documentário, “Viva Volta”. Entre os vídeos, foram premiados “Antecipato Visione” e “Quem”, como videoarte; os documentários “Fã” e “Bitola Cabeça Super 8”; e a ficção “Uma homenagem a Aluísio Netto”. O Prêmio de Júri Popular ficou para o filme “No Princípio Era o Verbo” e para o vídeo “De 10 a 14 anos”.

Durante o festival, aconteceu também o 6° Festivalzinho, com a mostra de filmes e vídeos para estudantes de escolas do ensino fundamental da rede pública municipal de Vitória. Além dos concorrentes, o Festivalzinho apresentou o quarto filme de animação do projeto “Vitória pra Mim”, curta-metragem realizado pelos alunos da rede municipal de ensino. Também aconteceram exibições de filmes concorrentes em diversos bairros de Vitória, durante o Cine Galpão Itinerante;

e viabilizar a distribuição da produção nacional e internacionalmente. O projeto garante a escolha e produção de 35 documentários a cada edição, sendo que, até o momento, 65 títulos já foram contemplados, de todos os Estados do País.

Os projetos selecionados recebem R$ 100 mil cada, sendo 80% do Ministério da Cultura e 20% das televisões públicas daquela região. “A nossa meta é a auto-sustentabilidade do programa. Para isso, contamos com um fundo, que absorve 55% do valor de cada documentário comercializado”, explicou Orlando Senna, secretário do Audiovisual do Ministério da Cultura, que afirmou que espera ter, ao final de 2006, ao menos 130 filmes produzidos. Em março terá início o concurso do programa DocTV Ibero-Americano, que conta com a união de 13 países latino americanos mais Portugal e Espanha.

DANIElE FREDERICO

concurso de Roteiro Capixaba; oficinas, palestras e debates.

DocTVFoi anunciada durante o festival, uma

parceria que deve viabilizar cinco novos documentários na região de Vitória e em Minas Gerais dentro do projeto DocTV. A parceria, formada por Rede Minas e TVE Espírito Santo, com o apoio das sessões mineira e capixaba da Associação Brasileira de Documentaristas (ABD), buscará articular a captação de recursos para a realização de cinco documentários, sendo três em Minas e dois em Vitória, além dos já previstos no projeto (dois para Minas e um para Vitória). O DocTV é um projeto de fomento à produção e à difusão do documentário brasileiro, de parceria entre a Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura, a TV Cultura e a Associação Brasileira das Emissoras Públicas (Abepec) com o apoio da ABD, lançado com o objetivo de regionalizar a produção de documentários, incentivar a parceria dos produtores independentes com as televisões públicas

Gabriela Barreto, vencedora da categoria Melhor Vídeo Documentário, por “Bitola Cabeça Super �“ e Victor Hugo Borges, premiado pelo filme de animação “Historietas Assombradas (Para Crianças Malcriadas)”.

A Avid já está distribuindo o Alienbrain Studio 7.5, seus sistema de gerenciamento de conteúdo para produção digital. Desenvolvido especificamente para desenvolvedores de jogos e projetos e de desenho industrial, o novo sistema conta melhorias que trazem maior interoperabilidade e confiabilidade. O pacote vem com o Server Health Monitor, uma ferramenta de monitoração e diagnóstico em tempo integral de bancos de dados; é compatível com as especificações da arquitetura Microsoft .NET ; e updates para os plug-ins dos pacotes de modelação e animação 3D. Além disso, vem com o Alienbrain Reader, um software gratuito que permite que usuários “casuais” acessem e revisem os conteúdos criados no sistema, mas sem fazer modificações.

O Alienbrain pode ainda gerenciar procedimentos criados na linguagem MEL, usada no software de animação Maya, além de suportar softwares como o Softimage|xSI 5.0, Alias Maya 7 e Autodesk 3DS Max.

Estão disponíveis três versões do sistema: duas versões do Alienbrain Essentials - uma voltada para artistas, com interface visual, previews mais velozes e integração com softwares 2D e 3D de terceiros, e uma versão para programadores, que tem integração com o Microsoft Visual Studio 2005; e o Alienbrain Advanced, mais completa e voltada a grandes empresas.

Solução HD A Canopus, que teve 1/3 de sua ações adquiridas pela Thomson

recentemente, anunciou sua nova solução de edição baseada em placa PCI Express, a Edius Nx. Trabalhando em tempo real em vídeos HD/SD (inclusive simultaneamente), a solução foi criada para tirar melhor proveito das CPUs dual-core com interfaces PCI Express. A EDIUS Nx é integrada por uma placa de vídeo e o software de edição não-linear EDIUS Pro, que trabalha em tempo real com diferentes e simultâneos formatos de edição sem-compressão (SD, HD, HDV, DV, MPEG-2 e MPEG-1). Trabalha ainda com o codec proprietário Canopus HQ, que usa bitrate variável. A placa de captura trabalha com camcorder e dexk HDV 1080i e 720p, podendo capturar vídeo em 24fps HD.

Combinada com o kit de expansão HD, a solução é, segundo a fabri-cante, a única baseada em Windows a dar saída em monitor HD externo em full frame-rate e em real time.

A Siemens está integrando e tecnologia Hydra IP Video Gateway, da Entone, em seus set-top boxes da linha de soluções IPTV Surpass Home Entertainment. Com isso, prestadores de serviço de TV por assinatura poderão usar redes de cabo coaxial para oferecer IPTV com multi-stream de vídeo. Em outras palavras, operadores de cabo podem oferecer serviços IPTV sem a necessidade de usar cabeamento Ethernet, facilitando a migração para TV digital, pay-per-view, video-on-demand, PVR, e até acesso à Web.

A solução da Entone permite que um mesmo equipamento faça em uma mesma conexão até três streams de vídeo simultâneos através de DSL, fibra ou Ethernet. A mesma caixa pode fazer ainda transmissão de dados e telefonia.

IPTVHydra: IPTV sem cabeamento Ethernet

A Edius Nx trabalha em tempo real com SD e HD simultaneamente.

(upgrade)

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Sistema da Avid gerencia conteúdos para produção digital.

Criação de games

> JANEIRO 2006

19 a 29 Sundance Film Festival. Park City, EUA. Tel.: (801) 328-3456. E-mail: [email protected]. Web: www.sundance.org

24 a 26 Natpe 2005. Hotel Mandalay Bay Resort, Las Vegas, EUA. Tel.: (1-310) 453-4440. E-mail: [email protected]. Web: www.natpe.org.

24 a 29 Fipa (Festival Internacional de Programas Audiovisuais). Biarritz, França. Tel.: (33-1) 4489-9999. E-mail: [email protected]. Web: www.fipa.tm.fr.

> FEVEREIRO 2006

A Cinéfondation, seleção oficial do Festival de Cannes que apresenta anualmente cerca de 20 filmes de curta e média-metragens de ficção e animação provenientes de escolas

de cinema, recebe inscrições e remessa de filmes até o dia 18 de fevereiro de 2006. Este ano foram escolhidos 18 títulos provenientes da Coréia do Sul, Israel, Dinamarca, França, Polônia, República Tcheca, Reino Unido, EUA , Argentina, Colômbia, Cuba, México e Brasil. O Festival acontece entre os dias 17 e 28 de maio de 2006. Informações: www.festival-cannes.fr

9 a 19 Festival Internacional de Berlim. Berlim, Alemanha. Tel.: (49-30) 259-200. E-mail: [email protected]. Web: www.berlinale.de.

> MARÇO 2006

22 a 2/4 (SP), 22 a 2/4 (RJ), 3/4 a 16/4 (Brasília) É Tudo Verdade — Festival Internacional de Documentários. São Paulo, SP. Tel.: (11) 3022-7535. E-mail: [email protected]. Web: www.itsalltrue.com.br .

2� e 29 Seminário Mundo IP. Debates sobre as novas apilcações como IPTV e voz sobre IP e suas implicações nos negócios de mídia e

telecomunicações. ITM-Expo, São Paulo, SP. Tel.: (11) 3214-3747. E-mail: [email protected]. Web: www.convergeeventos.com.br.

> ABRIl 2006

1° e 2 MipDoc. Noga Hilton, Cannes, França. Tel.: (33-1) 4190-4580. E-mail: [email protected]. Web: www.mipdoc.com.

3 a 7 MipTV/Milia. Palais des Festivals, Cannes, França. Tel.: (33-1) 4190-4580. E-mail: [email protected]. Web: www.miptv.com.

9 a 11 NCTA 2006. Atlanta, EUA. Tel.: (1-202) 775-3669). E-mail: [email protected]. Web: www.thenationalshow.com.

22 a 27 NAB 2005. Las Vegas Convention Center, Las Vegas, EUA. Tel.: (1-202) 595-2052. E-mail: [email protected]. Web: www.nabshow.com.

(agenda)

Não disponivel

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