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O PAPEL DO PEDAGOGO NO CRAS - CENTRO DE REFERÊNCIA DE
ASSISTÊNCIA SOCIAL E OS IMPACTOS DO SEU TRABALHO COM AS
FAMÍLIAS ATENDIDAS PELO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA
Luciana Maria Espinóza1
Ana Carolina Pontes Costa2
RESUMO:
A pesquisa tem como objetivo investigar o papel do Pedagogo no CRAS - Centro de Referência
de Assistência Social, e os impactos do seu trabalho com as famílias atendidas pelo Programa
Bolsa Família (PBF). Que atividades desenvolvem os pedagogos nesta instituição? Com qual
clientela trabalham? Quais os resultados e efeitos dos trabalhos realizados com as famílias
atendidas no CRAS e que são beneficiárias do Programa Bolsa Família. A partir dos estudos e
dos dados que foram coletados, constatou-se que o pedagogo da sociedade capitalista do século
XXI passou a ter uma função ampliada, por que passou a oferecer uma educação mais humana
e que tem como foco principal a reintegração dos indivíduos em sociedade, por meio de uma
educação mais sociável, coletiva e participativa. Sobre a sua atuação no CRAS estudado, o
trabalho do pedagogo mostrou-se de extrema relevância e sua principal função está em
contribuir para o resgate esses sujeitos da vulnerabilidade e riscos sociais aos quais estão
expostos.
Palavras-Chave: Pedagogia Social. Instituições não-escolares. Bolsa Família. Impactos.
Resultados.
1. INTRODUÇÃO
O que me motivou a desenvolver este tema foi o fato de ter atuado em instituições
escolares da rede pública municipal de Corumbá e estar atuando em instituição governamental,
cuja maioria da clientela são famílias de baixa renda, com muitos problemas de ordem familiar,
cultural, social e, claro principalmente de ordem financeira. Ao acompanhar os relatos,
vivências e até desabafos, vi o quanto a pobreza leva os indivíduos para uma vida de miséria e
1 Graduado em Pedagogia. Aluna do curso de especialização em Educação, Pobreza e Desigualdade Social. 2 Professora Adjunta da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campus do Pantanal. Doutoranda do
Programa de Pós-Graduação em Educação da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro/PUC-Rio.
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desamparo, pois estes ficam naturalmente excluídos e privados de usufruírem de seus direitos
sociais: trabalho, educação, moradia, saúde etc.), precisando de profissionais devidamente
preparados e que os orientem em algumas ações necessárias e imprescindíveis, não só para
conhecerem, mas para entenderem, enfrentarem e se posicionarem frente aos novos desafios,
regras, atitudes, posturas, linguagens, exigências e obrigações sociais impostos pela sociedade
capitalista globalizada.
E hoje, de uma forma geral, mas principalmente aquelas famílias carentes que são
oriundas do Programa Bolsa Família, necessitam de orientações contínuas e que ajudem a
integrá-las na vida social de uma forma natural e respeitosa. E o pedagogo vem com essa nova
mostra de educação social, para que esses grupos não acabem encontrando nos meios ilícitos –
drogas, prostituições, crimes- possibilidades de ter uma vida simples, mas digna e com seus
direitos garantidos, por meio de uma educação incentivadora de ideias, conceitos e pontos de
vista.
Considero minha proposta de pesquisa relevante, por que o pedagogo deixou de atuar e
se preocupar apenas, com o processo ensino-aprendizagem do indivíduo na escola, ele agora se
preocupa também com sua inserção social e práticas educativas que se desenvolvem em
espaços não escolares. Dessa forma, para um melhor entendimento da pesquisa, apresentarei
inicialmente uma revisão da literatura que me forneceu informações pertinentes ao tema e que
também fundamentam minhas investigações, interpretações, análises e considerações.
O neoliberalismo nasceu logo depois da II Guerra Mundial, na região da Europa e da
América do Norte onde imperava o capitalismo. Foi uma reação teórica e política contra o
Estado intervencionista, que se comprometeu com a repercussão da economia e com programas
de assistência social, como: saúde, educação, moradia e outros direitos sociais.
Com essas medidas o capitalismo voltou a se expandir garantindo a toda população
uma melhor distribuição de renda, uma melhor qualidade de vida, elevando o seu poder
aquisitivo para que esta tivesse a capacidade de comprar e demandar produtos, estimulando a
produção.
Porém, nos princípios dos anos de 1970 ocorreu uma nova crise do capitalismo
mundial, gerada, sobretudo pela queda da produtividade, subida dos preços do petróleo em
1973 e 1979 e a queda do dólar. Todo o mundo capitalista avançado caiu numa longa e profunda
recessão, com baixas taxas de crescimentos e altas taxas de inflação.
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O neoliberalismo interpretou a crise como consequência da intervenção do Estado na
economia e começou a pregar as teses a favor da privatização de serviços de saúde, do sistema
educacional, diminuição da proteção social ao trabalho e o incremento da desigualdade como
fator de crescimento econômico.
O Estado passou a se configurar como mínimo, ou seja, foi retirado deste, a
responsabilidade sobre seus cidadãos. Houve redução nos gastos do Governo, o que significou
menos dinheiro para a prestação dos serviços sociais e melhorias na infraestrutura pública.
Implicando também em demissão de funcionários públicos, corte de pessoal e fechamentos de
empresas estatais.
Ocorreu também, como característica da política neoliberal, a privatização dos setores
públicos, promovendo políticas governamentais antipopulares que só ampliaram a queda do
poder aquisitivo dos salários, o desemprego massivo, a desnacionalização de setores
estratégicos da economia estatal, a venda de empresas estatais por preços venais, a falência de
milhões de pequenos e médios produtores, tanto rurais como industriais.
O neoliberalismo também tornou as pessoas do mundo todo, escravas do consumo, em
função de um mercado livre e forte que induz e cria estratégias sutis e criativas de demandas
por seus bens supérfluos que só satisfazem e beneficiam o mercado e as empresas privadas.
Assim, o neoliberalismo acabou produzindo o agravamento das desigualdades sociais e o
aumento da pobreza extrema.
Suas práticas e suas políticas geraram um desastre e uma desintegração social numa
escala massiva, já que fez todo um movimento para retrair programas universais de proteção
social, em prol de critérios particularistas. Como consequência, empurrou cada vez mais o
trabalhador a uma vida de miséria, prendendo-o à benefícios governamentais e tornando o
Estado forte, expressando este, tanto em suas políticas econômicas quanto em suas políticas
sociais, as relações entre classes sociais.
Por volta dos anos 1980, especificamente a partir das últimas décadas do século
XX – anos de 1980 e 1990 – ocorreram transformações nas relações de trabalho, como
consequência das políticas econômicas neoliberais e do processo de globalização, gerando
repercussões significativas na área educacional.
As transformações ocorridas foram reflexos do constante processo de expansão
do capitalismo, que passou a exigir, no lugar de trabalhadores não-qualificados e baratos,
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trabalhadores com conhecimentos e aprendizagem contínua. Tal exigência promoveu impacto
nas políticas educacionais, assim como também, na vida do trabalhador.
Em relação às políticas educacionais, estas tiveram que traçar planos e projetos de
educação mais eficazes na preparação de um trabalhador com novas habilidades, mais
qualificados e mais preparados para atender as necessidades de um mercado de trabalho amplo
e diversificado.
Em relação a vida do trabalhador, este perdeu seu poder aquisitivo e,
consequentemente a qualidade de vida, devido ao desemprego massivo, desencadeado pelas
novas exigências do trabalho.
Dessa forma um novo cenário de educação se abriu. A educação sofreu mudanças
em seu conceito. Deixou de ser restrita só nos espaços escolares formais para se fazer presente
também em outros segmentos da sociedade, como: ONGS, hospitais, presídios, empresas,
indústrias e também nas orientações de famílias, como as que são atendidas dentro de
instituições como o CRAS, entre outros. Desenhou-se um novo campo de atuação para o
profissional da educação – o Pedagogo Social. Redefiniu-se o perfil do pedagogo na sociedade
capitalista, com novas perspectivas para a educação formal e para a educação não-formal.
Na educação o pedagogo deixou de se preocupar só com o processo ensino
aprendizagem do indivíduo na escola, mas também com sua inserção social.
Quanto à educação não – formal, o pedagogo atua preparando continuamente o
trabalhador em espaços como empresas e indústrias, desenvolve medidas educacionais e sociais
em espaços como ONGS governamentais e não-governamentais, com o objetivo de promover
a reintegração dos indivíduos na sociedade, já que as transformações que ocorreram nas
relações de trabalho provocaram o desemprego massivo de muitas mãos - de- obras
desqualificadas e baratas, promovendo o empobrecimento do trabalhador e de toda a sua
família, deixando estes cada vez mais em situação de vulnerabilidade social. Por consequência,
em alguns espaços não-formais, o pedagogo atua desenvolvendo projetos sociais na orientação
dos indivíduos, que por causa dos impactos gerados pelas políticas econômicas foram excluídos
dos seus direitos sociais, como: trabalho, saúde, educação, moradia, etc.
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2. HISTÓRIA DO CENTRO DE REFERÊNCIA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL –
CRAS
Cada vez mais o tema “Pobreza e a Desigualdade Social” vira alvo de estudos e
pesquisas para tentar entender e amenizar suas causas e consequências. Isso ocorre porque
vimos o número dessas desigualdades aumentando cada vez mais e em números alarmantes.
E com este enorme desafio, traz também a necessidade de desenvolvermos ações e
estratégias que façam diferença no cotidiano das pessoas. E o Programa Bolsa Família (PBF)
do Governo Federal, tem se colocado neste cenário público contemporâneo como um dos
instrumentos de redução da desigualdade e de alívio imediato da extrema pobreza. E, partindo
dessas afirmações, surgem as questões que também serão o fio condutor para o
desenvolvimento deste trabalho. São elas: Quais ações desenvolve um Pedagogo Social em
instituição como o CRAS- Centro de Referência de Assistência Social? Quais as diferenças, os
impactos e os resultados de seu trabalho junto às famílias beneficiárias do Programa Bolsa
Família e das famílias que não recebem o benefício?
Nesta direção, a presente pesquisa tem como objetivo investigar o papel do Pedagogo
no CRAS - Centro de Referência de Assistência Social, e os impactos do seu trabalho com as
famílias atendidas pelo Programa Bolsa Família (PBF), bem como conhecer o perfil da sua
clientela e o tipo de atendimento realizado pelo CRAS, tendo como foco o trabalho do
pedagogo responsável pela instituição.
A origem da Assistência Social, no Brasil, tem início na filantropia e solidariedade
religiosa. No século XX, os sociais democratas brasileiros, e alguns membros socialistas,
entendiam que o Estado deveria se responsabilizar em produzir serviços sociais de qualidade,
ainda que com a vigência do sistema econômico capitalista. Assim, sob a ditadura do Estado
Novo, Getúlio Vargas, cria em 1938, pelo Decreto-Lei nº 525, o Conselho Nacional de Seguro
Social, vinculado ao Ministério da Educação e Saúde.
Em 1942, o então presidente cria a Legião Brasileira de Assistência, que passou a ser
presidida pela primeira dama Darcy Vargas. No início, as ações da LBA eram voltadas a atender
as famílias dos pracinhas combatentes da 2º Guerra Mundial, caracterizando-se por um
atendimento materno-infantil.
As políticas sociais do Brasil, no governo de Getúlio Vargas (1930-1945), tiveram um
caráter agregação dos trabalhadores, em benefício de um consenso entre classes e do
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desenvolvimento capitalista. Após a Constituição de 1988, se inovam os aspectos essenciais da
Assistência Social, marcando historicamente a importância desta política como direito,
ocorrendo uma alteração das normas e regras centralizadoras e distribuição as competências
entre União, Estados e Municípios, junto ao Distrito Federal, estimulando maior participação
das coletividades.
A partir da Constituição de 1988 surge, em 1993, a Lei Orgânica da Assistência Social
- LOAS - 8742/93, que passa a regulamentar o SUAS, vem estabelecendo dois níveis de
proteção social: básica – de caráter preventivo – e especial – quando ocorre violação de direitos.
E dentro da Proteção Básica do SUAS se encontra o CRAS, o Centro de Referência de
Assistência Social, que em cada município deve identificar o(s) território(s) de vulnerabilidade
social e nele(s) serem implantados de forma a aproximar os serviços dos usuários.
Atualmente, Corumbá possui 07 CRAS que atendem centenas de famílias nos mais
variados projetos sociais, nos pontos mais vulneráveis do nosso município.
Entre as principais ações desenvolvidas nesses CRAS, estão o reforço escolar para
crianças e adolescentes, assim como cursos de artes manuais ou artesanatos para as mães que
necessitam de uma renda a mais. Em alguns desses CRAS, as mães até criaram uma cooperativa
para comercializar os produtos. Além desses cursos, nos CRAS também são oferecidas
palestras dos mais variados temas, como sexualidade, planejamento familiar, violência
doméstica, prevenção ás drogas, contam também com aulas de balé para crianças, aulas de
capoeira, informática, danças de salão e ginástica para jovens e adultos. Trabalham também
com grupos de idosos e portadores de deficiências, com atividades manuais, procurando sempre
motivar a coordenação motora e a memória. Na maioria das vezes, essas atividades são
coordenadas e aplicadas pelo Pedagogo Social.
3. METODOLOGIA
A metodologia apresentada foi agrupada por meio de cinco passos metodológicos, que
serão descritos a seguir.
O primeiro passo da pesquisa contou com o levantamento e seleção de obras que
contribuíram com a construção do referencial teórico das obras que fundamentaram a pesquisa,
com leituras e fichamentos dos argumentos e posicionamentos úteis para fundamentar as
descrições, interpretações e análises de dados coletados.
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O segundo passo foia construção das questões norteadoras da pesquisa; tipos e fontes de
informação; amostra da pesquisa; composição da amostra da pesquisa; técnicas da coleta de
dados: as entrevistas.
O terceiro passo metodológico oportunizou a construção das questões norteadoras para
as entrevistas com os profissionais pedagogos que atuam no Centro de Referência de
Assistência Social em Corumbá MS.
No quarto passo foram realizadas as observações dos trabalhos para conhecer, entender
e analisar os avanços e os impactos na vida dos usuários e beneficiários do Programa Bolsa
Família dos CRAS que são atendidos por pedagogos sociais.
O quinto passo metodológico da pesquisa refere-se à apresentação, análise e discussão
dos dados coletados.
Já o sexto passo, caracteriza-se pela entrega do relatório final e apresentação à banca
examinadora para avaliação.
4. ANÁLISES DOS DADOS COLETADOS
Buscou-se, especificamente, identificar e investigar como os pedagogos sociais e as
famílias lidam com as condicionalidades do PBF e como o trabalho destes profissionais têm
contribuído para garantir condições mínimas de manutenção das necessidades básicas de direito
e verificar quais as perspectivas das famílias em relação à possibilidade de não necessitarem
mais da renda oriunda deste programa.
Para a execução desta pesquisa, foram feitas entrevistas com pedagogas que atuam em
áreas sociais, especificamente em quatro CRAS de Corumbá - MS. A primeira a ser
entrevistada e acompanhada foi a Pedagoga Lírio3 46 anos, há 5 atua como Educadora Social,
é servidora pública com cargo efetivo na Prefeitura de Corumbá, com lotação na Secretaria
Municipal de Assistência Social e Cidadania. Atualmente trabalha no CRAS CEU, bairro
Jardim dos Estados
A segunda foi a também Pedagoga, Rosa, de 46 anos, é servidora pública com cargo
efetivo há 07 anos na Prefeitura de Corumbá pela Secretaria de Educação e está cedida à
Secretaria de Assistência Social e Cidadania para o cargo de Educadora Social e Coordenadora
3 O nome verdadeiro dos sujeitos foi substituído por nomes fictícios, procurando preservar a identidade dos
mesmos.
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do CRAS RURAL, que tem sua sede localizada na rua Tiradentes, Centro. O CRAS RURAL
atende as famílias dos assentamentos rurais que se encontram no entorno da cidade.
A terceira Pedagoga, Margarida, é Gestora de Relações Institucionais e que atualmente
está como Técnica de Referência, no CRAS 1, localizado na rua Cáceres s/n, bairro Centro
América.
A quarta Pedagoga, Dente de Leão, 34 anos, Gestora de Ações Sociais, que atua com o cargo
de Técnica de Referência, efetivada há 02 anos e 05 meses, no CRAS 3, localizado na rua 21
de setembro s/n, bairro Cervejaria.
A partir da análise dos dados coletados por meio das entrevistas e acompanhamento dos
trabalhos diários dessas profissionais, onde foram compatíveis em quase todas as respostas da
entrevista, assim como foram unânimes em afirmar que o PBF garante a complementação da
renda, mas não consegue garantir o suprimento total das necessidades básicas das famílias,
sendo insuficiente, mas que se tornou extremamente necessário no que diz respeito ao
enfrentamento à vulnerabilidade e à extrema pobreza.
A pesquisa mostra que os perfis traçados dos usuários do PBF são em sua maioria,
mulheres, com faixa etária entre 20 a 53 anos de idade. Na maioria das vezes também, são
consideradas as chefes de família, por isso se tornam as representantes legais dos benefícios. O
estudo mostra que a maioria das famílias desconhecem acerca das condicionalidades, não
sabem sobre sua definição, porém, eles têm uma noção parcial sobre as condicionalidades
exigidas, por exemplo: entendem que devem obrigatoriamente levar seus filhos à escola ou ao
posto de saúde, mas o fazem mais pelo medo de perder o benefício do que pela via de
conhecimento, de quantas mudanças boas e de quantas precauções, essas exigências podem
trazer para a vida de toda a família.
O PBF garante uma renda complementar à renda familiar, mas percebe-se nos
depoimentos das pedagogas e das usuárias (principalmente) e que estavam presentes nos dias
da pesquisa, que o programa não é suficiente para suprir todas as necessidades básicas da
família, mas que se tornou extremamente importante, principalmente na aquisição dos
alimentos mais básicos do dia-a-dia, materiais escolares e também de materiais de higiene.
Constatou-se também que uma das maiores expectativas das famílias é em relação às
oportunidades de emprego aos filhos, ou seja, depositam a esperança no tempo quando seus
filhos atingirem a maioridade, e que eles possam conseguir emprego com carteira assinada,
garantindo desta forma uma estabilidade financeira e uma segurança, não só para ele, mas para
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seus pais, pois os mesmos se veem como pessoas que já estão velhas demais para estudar e até
mesmo batalhar por um emprego ou por um emprego melhor.
4.1 ATUAÇÃO DO PEDAGOGO NA QUESTÃO SOCIAL: A EXPERIÊNCIA NO CRAS
Para entender essa relação entre a educação, os sujeitos e a sociedade, é sustentável que
se compreenda esse processo educação / sociedade na atualidade. Pois esse novo tempo exige
um Educador Social que apresente uma formação ampla e diferente dos Pedagogos que atuam
no Ensino Regular. São profissionais semelhantes, pois suas práticas se baseiam em elementos
e objetivos similares, apesar da formação e principalmente da linha de atuação serem distintas.
O Pedagogo como professor vai trabalhar mais em sua formação técnica e o Pedagogo Social
vai atingir o contexto do indivíduo e as suas diversas experiências de vida, auxiliando-os junto
à comunidade e à reflexão de sua condição pessoal e social.
Nos CRAS, o educador social trabalha para promoção, crescimento e o
desenvolvimento dos sujeitos, independente do ambiente no qual o indivíduo está inserido.
Como podemos ver na citação de Libâneo:
O pedagogo é um profissional qualificado para atuar em vários campos
educativos, atendendo as demandas socioeducativas decorrentes de novas
realidades, novas tecnologias, mudanças nos ritmos de vida, a presença nos
meios de comunicação e informação, dentre muitas áreas que requerem a
contribuição do pedagogo. “ (LIBÂNEO, 1999, p. 30-31)
Atender grupos de crianças, adolescentes e idosos em situação de vulnerabilidade
social, ociosidade e desestruturação familiar, é o trabalho principal dos pedagogos nos CRAS,
pois estes oferecem o apoio necessário à superação dessas dificuldades, por meio de um
atendimento especializado para a emancipação social e principalmente para o fortalecimento
de vínculos da família com o indivíduo atendido. Esse trabalho é feito por toda uma equipe de
profissionais como pedagogo, psicólogos, assistentes sociais entre outros. São trabalhos
voltados para as interações sociais, construção de diálogos e de reflexões, momentos de
diversão e de trocas de conhecimentos, valores e culturas.
O Pedagogo no CRAS aborda temas geradores que centralizam o processo de aplicação
das atividades, tendo como exemplo a alimentação saudável, higiene, respeito, solidariedade,
prevenção às drogas, família, direitos e deveres das crianças e dos adolescentes, cidadania,
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folclore, interação grupal, dentre outros itens que podem ser trabalhados tanto com as crianças
e adolescentes, quantos com os idosos.
O Educador Social precisa ser dedicado e comprometido com as ações desenvolvidas
no CRAS e estar preparado, não apenas, para realizar atividades socioeducativas e de
convivência com qualidade, mas deve principalmente estar pronto para enfrentar novos
desafios, ciente que estará se envolvendo em problemas sociais que não se resolverão
rapidamente, mas sim, com um constante trabalho bem fundamentado, atraente, criativo, crítico
e reflexivo. O pedagogo Social não deve se deixar abater pelas dificuldades de atuação, e sim
superar os obstáculos, pois sua atuação é de suma importância no CRAS, é ele quem desperta
em seus participantes a consciência de que são seres humanos, e que podem ser inferiores
economicamente, mas não como pessoas. E que merecem respeito, dignidade, segurança,
atenção, cuidados e direitos garantidos como qualquer outro cidadão.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Podemos perceber nas experiências e vivências que tivemos com a pesquisa em quatro
Centros de Referência de Assistência Social- CRAS de Corumbá - MS, que o papel do
pedagogo é de extrema relevância e sua principal função está em resgatar esses sujeitos da
vulnerabilidade e riscos sociais aos quais estão expostos.
No campo pedagógico a atuação de um pedagogo dentro do espaço escolar não é nada
fácil, várias são as dificuldades enfrentadas pelos docentes, mas com o acompanhamento feito
pelos Educadores Sociais dos CRAS, rapidamente são percebidos avanços tanto nas notas como
no comportamento das crianças e adolescentes assistidas, pois além de trabalharem também
com reforço escolar, trabalham com temas geradores que precisam ser articulados por parte,
em grupos pequenos e com faixa etária adequada.
É um desafio ao profissional de pedagogia trabalhar com crianças, adolescentes e idosos
que estão em situação de risco, morando em ambientes totalmente vulneráveis. Porém, quando
a equipe de profissionais (pedagogos, psicólogos, assistentes sociais) consegue atingir todos os
elementos de uma família, em todas as suas faixas etárias, a mudança na estrutura familiar, na
forma de entender a vida com seus direitos e deveres e principalmente no fortalecimento dos
vínculos familiares se tornam uma grande conquista, por meio de um trabalho que ainda se
depara com uma realidade que precisa progredir em relação a esta área da pedagogia, pois a
educação não formal que é praticada nesses ambientes ainda precisa de um olhar mais atento e
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diferenciado. Destaca-se, ainda, a necessidade de maiores investimentos em infraestrutura e
tecnologia para que a equipe envolvida tenha melhores condições de trabalho e assim fazer
mais a diferença na vida daqueles que realmente necessitam de uma verdadeira educação social.
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