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O PAPEL DO PEDAGOGO NO CRAS - CENTRO DE REFERÊNCIA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL E OS IMPACTOS DO SEU TRABALHO COM AS FAMÍLIAS ATENDIDAS PELO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA Luciana Maria Espinóza 1 Ana Carolina Pontes Costa 2 RESUMO: A pesquisa tem como objetivo investigar o papel do Pedagogo no CRAS - Centro de Referência de Assistência Social, e os impactos do seu trabalho com as famílias atendidas pelo Programa Bolsa Família (PBF). Que atividades desenvolvem os pedagogos nesta instituição? Com qual clientela trabalham? Quais os resultados e efeitos dos trabalhos realizados com as famílias atendidas no CRAS e que são beneficiárias do Programa Bolsa Família. A partir dos estudos e dos dados que foram coletados, constatou-se que o pedagogo da sociedade capitalista do século XXI passou a ter uma função ampliada, por que passou a oferecer uma educação mais humana e que tem como foco principal a reintegração dos indivíduos em sociedade, por meio de uma educação mais sociável, coletiva e participativa. Sobre a sua atuação no CRAS estudado, o trabalho do pedagogo mostrou-se de extrema relevância e sua principal função está em contribuir para o resgate esses sujeitos da vulnerabilidade e riscos sociais aos quais estão expostos. Palavras-Chave: Pedagogia Social. Instituições não-escolares. Bolsa Família. Impactos. Resultados. 1. INTRODUÇÃO O que me motivou a desenvolver este tema foi o fato de ter atuado em instituições escolares da rede pública municipal de Corumbá e estar atuando em instituição governamental, cuja maioria da clientela são famílias de baixa renda, com muitos problemas de ordem familiar, cultural, social e, claro principalmente de ordem financeira. Ao acompanhar os relatos, vivências e até desabafos, vi o quanto a pobreza leva os indivíduos para uma vida de miséria e 1 Graduado em Pedagogia. Aluna do curso de especialização em Educação, Pobreza e Desigualdade Social. 2 Professora Adjunta da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campus do Pantanal. Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Educação da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro/PUC-Rio.

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O PAPEL DO PEDAGOGO NO CRAS - CENTRO DE REFERÊNCIA DE

ASSISTÊNCIA SOCIAL E OS IMPACTOS DO SEU TRABALHO COM AS

FAMÍLIAS ATENDIDAS PELO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA

Luciana Maria Espinóza1

Ana Carolina Pontes Costa2

RESUMO:

A pesquisa tem como objetivo investigar o papel do Pedagogo no CRAS - Centro de Referência

de Assistência Social, e os impactos do seu trabalho com as famílias atendidas pelo Programa

Bolsa Família (PBF). Que atividades desenvolvem os pedagogos nesta instituição? Com qual

clientela trabalham? Quais os resultados e efeitos dos trabalhos realizados com as famílias

atendidas no CRAS e que são beneficiárias do Programa Bolsa Família. A partir dos estudos e

dos dados que foram coletados, constatou-se que o pedagogo da sociedade capitalista do século

XXI passou a ter uma função ampliada, por que passou a oferecer uma educação mais humana

e que tem como foco principal a reintegração dos indivíduos em sociedade, por meio de uma

educação mais sociável, coletiva e participativa. Sobre a sua atuação no CRAS estudado, o

trabalho do pedagogo mostrou-se de extrema relevância e sua principal função está em

contribuir para o resgate esses sujeitos da vulnerabilidade e riscos sociais aos quais estão

expostos.

Palavras-Chave: Pedagogia Social. Instituições não-escolares. Bolsa Família. Impactos.

Resultados.

1. INTRODUÇÃO

O que me motivou a desenvolver este tema foi o fato de ter atuado em instituições

escolares da rede pública municipal de Corumbá e estar atuando em instituição governamental,

cuja maioria da clientela são famílias de baixa renda, com muitos problemas de ordem familiar,

cultural, social e, claro principalmente de ordem financeira. Ao acompanhar os relatos,

vivências e até desabafos, vi o quanto a pobreza leva os indivíduos para uma vida de miséria e

1 Graduado em Pedagogia. Aluna do curso de especialização em Educação, Pobreza e Desigualdade Social. 2 Professora Adjunta da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campus do Pantanal. Doutoranda do

Programa de Pós-Graduação em Educação da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro/PUC-Rio.

Trabalho de Conclusão de Curso 2

desamparo, pois estes ficam naturalmente excluídos e privados de usufruírem de seus direitos

sociais: trabalho, educação, moradia, saúde etc.), precisando de profissionais devidamente

preparados e que os orientem em algumas ações necessárias e imprescindíveis, não só para

conhecerem, mas para entenderem, enfrentarem e se posicionarem frente aos novos desafios,

regras, atitudes, posturas, linguagens, exigências e obrigações sociais impostos pela sociedade

capitalista globalizada.

E hoje, de uma forma geral, mas principalmente aquelas famílias carentes que são

oriundas do Programa Bolsa Família, necessitam de orientações contínuas e que ajudem a

integrá-las na vida social de uma forma natural e respeitosa. E o pedagogo vem com essa nova

mostra de educação social, para que esses grupos não acabem encontrando nos meios ilícitos –

drogas, prostituições, crimes- possibilidades de ter uma vida simples, mas digna e com seus

direitos garantidos, por meio de uma educação incentivadora de ideias, conceitos e pontos de

vista.

Considero minha proposta de pesquisa relevante, por que o pedagogo deixou de atuar e

se preocupar apenas, com o processo ensino-aprendizagem do indivíduo na escola, ele agora se

preocupa também com sua inserção social e práticas educativas que se desenvolvem em

espaços não escolares. Dessa forma, para um melhor entendimento da pesquisa, apresentarei

inicialmente uma revisão da literatura que me forneceu informações pertinentes ao tema e que

também fundamentam minhas investigações, interpretações, análises e considerações.

O neoliberalismo nasceu logo depois da II Guerra Mundial, na região da Europa e da

América do Norte onde imperava o capitalismo. Foi uma reação teórica e política contra o

Estado intervencionista, que se comprometeu com a repercussão da economia e com programas

de assistência social, como: saúde, educação, moradia e outros direitos sociais.

Com essas medidas o capitalismo voltou a se expandir garantindo a toda população

uma melhor distribuição de renda, uma melhor qualidade de vida, elevando o seu poder

aquisitivo para que esta tivesse a capacidade de comprar e demandar produtos, estimulando a

produção.

Porém, nos princípios dos anos de 1970 ocorreu uma nova crise do capitalismo

mundial, gerada, sobretudo pela queda da produtividade, subida dos preços do petróleo em

1973 e 1979 e a queda do dólar. Todo o mundo capitalista avançado caiu numa longa e profunda

recessão, com baixas taxas de crescimentos e altas taxas de inflação.

Trabalho de Conclusão de Curso 3

O neoliberalismo interpretou a crise como consequência da intervenção do Estado na

economia e começou a pregar as teses a favor da privatização de serviços de saúde, do sistema

educacional, diminuição da proteção social ao trabalho e o incremento da desigualdade como

fator de crescimento econômico.

O Estado passou a se configurar como mínimo, ou seja, foi retirado deste, a

responsabilidade sobre seus cidadãos. Houve redução nos gastos do Governo, o que significou

menos dinheiro para a prestação dos serviços sociais e melhorias na infraestrutura pública.

Implicando também em demissão de funcionários públicos, corte de pessoal e fechamentos de

empresas estatais.

Ocorreu também, como característica da política neoliberal, a privatização dos setores

públicos, promovendo políticas governamentais antipopulares que só ampliaram a queda do

poder aquisitivo dos salários, o desemprego massivo, a desnacionalização de setores

estratégicos da economia estatal, a venda de empresas estatais por preços venais, a falência de

milhões de pequenos e médios produtores, tanto rurais como industriais.

O neoliberalismo também tornou as pessoas do mundo todo, escravas do consumo, em

função de um mercado livre e forte que induz e cria estratégias sutis e criativas de demandas

por seus bens supérfluos que só satisfazem e beneficiam o mercado e as empresas privadas.

Assim, o neoliberalismo acabou produzindo o agravamento das desigualdades sociais e o

aumento da pobreza extrema.

Suas práticas e suas políticas geraram um desastre e uma desintegração social numa

escala massiva, já que fez todo um movimento para retrair programas universais de proteção

social, em prol de critérios particularistas. Como consequência, empurrou cada vez mais o

trabalhador a uma vida de miséria, prendendo-o à benefícios governamentais e tornando o

Estado forte, expressando este, tanto em suas políticas econômicas quanto em suas políticas

sociais, as relações entre classes sociais.

Por volta dos anos 1980, especificamente a partir das últimas décadas do século

XX – anos de 1980 e 1990 – ocorreram transformações nas relações de trabalho, como

consequência das políticas econômicas neoliberais e do processo de globalização, gerando

repercussões significativas na área educacional.

As transformações ocorridas foram reflexos do constante processo de expansão

do capitalismo, que passou a exigir, no lugar de trabalhadores não-qualificados e baratos,

Trabalho de Conclusão de Curso 4

trabalhadores com conhecimentos e aprendizagem contínua. Tal exigência promoveu impacto

nas políticas educacionais, assim como também, na vida do trabalhador.

Em relação às políticas educacionais, estas tiveram que traçar planos e projetos de

educação mais eficazes na preparação de um trabalhador com novas habilidades, mais

qualificados e mais preparados para atender as necessidades de um mercado de trabalho amplo

e diversificado.

Em relação a vida do trabalhador, este perdeu seu poder aquisitivo e,

consequentemente a qualidade de vida, devido ao desemprego massivo, desencadeado pelas

novas exigências do trabalho.

Dessa forma um novo cenário de educação se abriu. A educação sofreu mudanças

em seu conceito. Deixou de ser restrita só nos espaços escolares formais para se fazer presente

também em outros segmentos da sociedade, como: ONGS, hospitais, presídios, empresas,

indústrias e também nas orientações de famílias, como as que são atendidas dentro de

instituições como o CRAS, entre outros. Desenhou-se um novo campo de atuação para o

profissional da educação – o Pedagogo Social. Redefiniu-se o perfil do pedagogo na sociedade

capitalista, com novas perspectivas para a educação formal e para a educação não-formal.

Na educação o pedagogo deixou de se preocupar só com o processo ensino

aprendizagem do indivíduo na escola, mas também com sua inserção social.

Quanto à educação não – formal, o pedagogo atua preparando continuamente o

trabalhador em espaços como empresas e indústrias, desenvolve medidas educacionais e sociais

em espaços como ONGS governamentais e não-governamentais, com o objetivo de promover

a reintegração dos indivíduos na sociedade, já que as transformações que ocorreram nas

relações de trabalho provocaram o desemprego massivo de muitas mãos - de- obras

desqualificadas e baratas, promovendo o empobrecimento do trabalhador e de toda a sua

família, deixando estes cada vez mais em situação de vulnerabilidade social. Por consequência,

em alguns espaços não-formais, o pedagogo atua desenvolvendo projetos sociais na orientação

dos indivíduos, que por causa dos impactos gerados pelas políticas econômicas foram excluídos

dos seus direitos sociais, como: trabalho, saúde, educação, moradia, etc.

Trabalho de Conclusão de Curso 5

2. HISTÓRIA DO CENTRO DE REFERÊNCIA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL –

CRAS

Cada vez mais o tema “Pobreza e a Desigualdade Social” vira alvo de estudos e

pesquisas para tentar entender e amenizar suas causas e consequências. Isso ocorre porque

vimos o número dessas desigualdades aumentando cada vez mais e em números alarmantes.

E com este enorme desafio, traz também a necessidade de desenvolvermos ações e

estratégias que façam diferença no cotidiano das pessoas. E o Programa Bolsa Família (PBF)

do Governo Federal, tem se colocado neste cenário público contemporâneo como um dos

instrumentos de redução da desigualdade e de alívio imediato da extrema pobreza. E, partindo

dessas afirmações, surgem as questões que também serão o fio condutor para o

desenvolvimento deste trabalho. São elas: Quais ações desenvolve um Pedagogo Social em

instituição como o CRAS- Centro de Referência de Assistência Social? Quais as diferenças, os

impactos e os resultados de seu trabalho junto às famílias beneficiárias do Programa Bolsa

Família e das famílias que não recebem o benefício?

Nesta direção, a presente pesquisa tem como objetivo investigar o papel do Pedagogo

no CRAS - Centro de Referência de Assistência Social, e os impactos do seu trabalho com as

famílias atendidas pelo Programa Bolsa Família (PBF), bem como conhecer o perfil da sua

clientela e o tipo de atendimento realizado pelo CRAS, tendo como foco o trabalho do

pedagogo responsável pela instituição.

A origem da Assistência Social, no Brasil, tem início na filantropia e solidariedade

religiosa. No século XX, os sociais democratas brasileiros, e alguns membros socialistas,

entendiam que o Estado deveria se responsabilizar em produzir serviços sociais de qualidade,

ainda que com a vigência do sistema econômico capitalista. Assim, sob a ditadura do Estado

Novo, Getúlio Vargas, cria em 1938, pelo Decreto-Lei nº 525, o Conselho Nacional de Seguro

Social, vinculado ao Ministério da Educação e Saúde.

Em 1942, o então presidente cria a Legião Brasileira de Assistência, que passou a ser

presidida pela primeira dama Darcy Vargas. No início, as ações da LBA eram voltadas a atender

as famílias dos pracinhas combatentes da 2º Guerra Mundial, caracterizando-se por um

atendimento materno-infantil.

As políticas sociais do Brasil, no governo de Getúlio Vargas (1930-1945), tiveram um

caráter agregação dos trabalhadores, em benefício de um consenso entre classes e do

Trabalho de Conclusão de Curso 6

desenvolvimento capitalista. Após a Constituição de 1988, se inovam os aspectos essenciais da

Assistência Social, marcando historicamente a importância desta política como direito,

ocorrendo uma alteração das normas e regras centralizadoras e distribuição as competências

entre União, Estados e Municípios, junto ao Distrito Federal, estimulando maior participação

das coletividades.

A partir da Constituição de 1988 surge, em 1993, a Lei Orgânica da Assistência Social

- LOAS - 8742/93, que passa a regulamentar o SUAS, vem estabelecendo dois níveis de

proteção social: básica – de caráter preventivo – e especial – quando ocorre violação de direitos.

E dentro da Proteção Básica do SUAS se encontra o CRAS, o Centro de Referência de

Assistência Social, que em cada município deve identificar o(s) território(s) de vulnerabilidade

social e nele(s) serem implantados de forma a aproximar os serviços dos usuários.

Atualmente, Corumbá possui 07 CRAS que atendem centenas de famílias nos mais

variados projetos sociais, nos pontos mais vulneráveis do nosso município.

Entre as principais ações desenvolvidas nesses CRAS, estão o reforço escolar para

crianças e adolescentes, assim como cursos de artes manuais ou artesanatos para as mães que

necessitam de uma renda a mais. Em alguns desses CRAS, as mães até criaram uma cooperativa

para comercializar os produtos. Além desses cursos, nos CRAS também são oferecidas

palestras dos mais variados temas, como sexualidade, planejamento familiar, violência

doméstica, prevenção ás drogas, contam também com aulas de balé para crianças, aulas de

capoeira, informática, danças de salão e ginástica para jovens e adultos. Trabalham também

com grupos de idosos e portadores de deficiências, com atividades manuais, procurando sempre

motivar a coordenação motora e a memória. Na maioria das vezes, essas atividades são

coordenadas e aplicadas pelo Pedagogo Social.

3. METODOLOGIA

A metodologia apresentada foi agrupada por meio de cinco passos metodológicos, que

serão descritos a seguir.

O primeiro passo da pesquisa contou com o levantamento e seleção de obras que

contribuíram com a construção do referencial teórico das obras que fundamentaram a pesquisa,

com leituras e fichamentos dos argumentos e posicionamentos úteis para fundamentar as

descrições, interpretações e análises de dados coletados.

Trabalho de Conclusão de Curso 7

O segundo passo foia construção das questões norteadoras da pesquisa; tipos e fontes de

informação; amostra da pesquisa; composição da amostra da pesquisa; técnicas da coleta de

dados: as entrevistas.

O terceiro passo metodológico oportunizou a construção das questões norteadoras para

as entrevistas com os profissionais pedagogos que atuam no Centro de Referência de

Assistência Social em Corumbá MS.

No quarto passo foram realizadas as observações dos trabalhos para conhecer, entender

e analisar os avanços e os impactos na vida dos usuários e beneficiários do Programa Bolsa

Família dos CRAS que são atendidos por pedagogos sociais.

O quinto passo metodológico da pesquisa refere-se à apresentação, análise e discussão

dos dados coletados.

Já o sexto passo, caracteriza-se pela entrega do relatório final e apresentação à banca

examinadora para avaliação.

4. ANÁLISES DOS DADOS COLETADOS

Buscou-se, especificamente, identificar e investigar como os pedagogos sociais e as

famílias lidam com as condicionalidades do PBF e como o trabalho destes profissionais têm

contribuído para garantir condições mínimas de manutenção das necessidades básicas de direito

e verificar quais as perspectivas das famílias em relação à possibilidade de não necessitarem

mais da renda oriunda deste programa.

Para a execução desta pesquisa, foram feitas entrevistas com pedagogas que atuam em

áreas sociais, especificamente em quatro CRAS de Corumbá - MS. A primeira a ser

entrevistada e acompanhada foi a Pedagoga Lírio3 46 anos, há 5 atua como Educadora Social,

é servidora pública com cargo efetivo na Prefeitura de Corumbá, com lotação na Secretaria

Municipal de Assistência Social e Cidadania. Atualmente trabalha no CRAS CEU, bairro

Jardim dos Estados

A segunda foi a também Pedagoga, Rosa, de 46 anos, é servidora pública com cargo

efetivo há 07 anos na Prefeitura de Corumbá pela Secretaria de Educação e está cedida à

Secretaria de Assistência Social e Cidadania para o cargo de Educadora Social e Coordenadora

3 O nome verdadeiro dos sujeitos foi substituído por nomes fictícios, procurando preservar a identidade dos

mesmos.

Trabalho de Conclusão de Curso 8

do CRAS RURAL, que tem sua sede localizada na rua Tiradentes, Centro. O CRAS RURAL

atende as famílias dos assentamentos rurais que se encontram no entorno da cidade.

A terceira Pedagoga, Margarida, é Gestora de Relações Institucionais e que atualmente

está como Técnica de Referência, no CRAS 1, localizado na rua Cáceres s/n, bairro Centro

América.

A quarta Pedagoga, Dente de Leão, 34 anos, Gestora de Ações Sociais, que atua com o cargo

de Técnica de Referência, efetivada há 02 anos e 05 meses, no CRAS 3, localizado na rua 21

de setembro s/n, bairro Cervejaria.

A partir da análise dos dados coletados por meio das entrevistas e acompanhamento dos

trabalhos diários dessas profissionais, onde foram compatíveis em quase todas as respostas da

entrevista, assim como foram unânimes em afirmar que o PBF garante a complementação da

renda, mas não consegue garantir o suprimento total das necessidades básicas das famílias,

sendo insuficiente, mas que se tornou extremamente necessário no que diz respeito ao

enfrentamento à vulnerabilidade e à extrema pobreza.

A pesquisa mostra que os perfis traçados dos usuários do PBF são em sua maioria,

mulheres, com faixa etária entre 20 a 53 anos de idade. Na maioria das vezes também, são

consideradas as chefes de família, por isso se tornam as representantes legais dos benefícios. O

estudo mostra que a maioria das famílias desconhecem acerca das condicionalidades, não

sabem sobre sua definição, porém, eles têm uma noção parcial sobre as condicionalidades

exigidas, por exemplo: entendem que devem obrigatoriamente levar seus filhos à escola ou ao

posto de saúde, mas o fazem mais pelo medo de perder o benefício do que pela via de

conhecimento, de quantas mudanças boas e de quantas precauções, essas exigências podem

trazer para a vida de toda a família.

O PBF garante uma renda complementar à renda familiar, mas percebe-se nos

depoimentos das pedagogas e das usuárias (principalmente) e que estavam presentes nos dias

da pesquisa, que o programa não é suficiente para suprir todas as necessidades básicas da

família, mas que se tornou extremamente importante, principalmente na aquisição dos

alimentos mais básicos do dia-a-dia, materiais escolares e também de materiais de higiene.

Constatou-se também que uma das maiores expectativas das famílias é em relação às

oportunidades de emprego aos filhos, ou seja, depositam a esperança no tempo quando seus

filhos atingirem a maioridade, e que eles possam conseguir emprego com carteira assinada,

garantindo desta forma uma estabilidade financeira e uma segurança, não só para ele, mas para

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seus pais, pois os mesmos se veem como pessoas que já estão velhas demais para estudar e até

mesmo batalhar por um emprego ou por um emprego melhor.

4.1 ATUAÇÃO DO PEDAGOGO NA QUESTÃO SOCIAL: A EXPERIÊNCIA NO CRAS

Para entender essa relação entre a educação, os sujeitos e a sociedade, é sustentável que

se compreenda esse processo educação / sociedade na atualidade. Pois esse novo tempo exige

um Educador Social que apresente uma formação ampla e diferente dos Pedagogos que atuam

no Ensino Regular. São profissionais semelhantes, pois suas práticas se baseiam em elementos

e objetivos similares, apesar da formação e principalmente da linha de atuação serem distintas.

O Pedagogo como professor vai trabalhar mais em sua formação técnica e o Pedagogo Social

vai atingir o contexto do indivíduo e as suas diversas experiências de vida, auxiliando-os junto

à comunidade e à reflexão de sua condição pessoal e social.

Nos CRAS, o educador social trabalha para promoção, crescimento e o

desenvolvimento dos sujeitos, independente do ambiente no qual o indivíduo está inserido.

Como podemos ver na citação de Libâneo:

O pedagogo é um profissional qualificado para atuar em vários campos

educativos, atendendo as demandas socioeducativas decorrentes de novas

realidades, novas tecnologias, mudanças nos ritmos de vida, a presença nos

meios de comunicação e informação, dentre muitas áreas que requerem a

contribuição do pedagogo. “ (LIBÂNEO, 1999, p. 30-31)

Atender grupos de crianças, adolescentes e idosos em situação de vulnerabilidade

social, ociosidade e desestruturação familiar, é o trabalho principal dos pedagogos nos CRAS,

pois estes oferecem o apoio necessário à superação dessas dificuldades, por meio de um

atendimento especializado para a emancipação social e principalmente para o fortalecimento

de vínculos da família com o indivíduo atendido. Esse trabalho é feito por toda uma equipe de

profissionais como pedagogo, psicólogos, assistentes sociais entre outros. São trabalhos

voltados para as interações sociais, construção de diálogos e de reflexões, momentos de

diversão e de trocas de conhecimentos, valores e culturas.

O Pedagogo no CRAS aborda temas geradores que centralizam o processo de aplicação

das atividades, tendo como exemplo a alimentação saudável, higiene, respeito, solidariedade,

prevenção às drogas, família, direitos e deveres das crianças e dos adolescentes, cidadania,

Trabalho de Conclusão de Curso 10

folclore, interação grupal, dentre outros itens que podem ser trabalhados tanto com as crianças

e adolescentes, quantos com os idosos.

O Educador Social precisa ser dedicado e comprometido com as ações desenvolvidas

no CRAS e estar preparado, não apenas, para realizar atividades socioeducativas e de

convivência com qualidade, mas deve principalmente estar pronto para enfrentar novos

desafios, ciente que estará se envolvendo em problemas sociais que não se resolverão

rapidamente, mas sim, com um constante trabalho bem fundamentado, atraente, criativo, crítico

e reflexivo. O pedagogo Social não deve se deixar abater pelas dificuldades de atuação, e sim

superar os obstáculos, pois sua atuação é de suma importância no CRAS, é ele quem desperta

em seus participantes a consciência de que são seres humanos, e que podem ser inferiores

economicamente, mas não como pessoas. E que merecem respeito, dignidade, segurança,

atenção, cuidados e direitos garantidos como qualquer outro cidadão.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Podemos perceber nas experiências e vivências que tivemos com a pesquisa em quatro

Centros de Referência de Assistência Social- CRAS de Corumbá - MS, que o papel do

pedagogo é de extrema relevância e sua principal função está em resgatar esses sujeitos da

vulnerabilidade e riscos sociais aos quais estão expostos.

No campo pedagógico a atuação de um pedagogo dentro do espaço escolar não é nada

fácil, várias são as dificuldades enfrentadas pelos docentes, mas com o acompanhamento feito

pelos Educadores Sociais dos CRAS, rapidamente são percebidos avanços tanto nas notas como

no comportamento das crianças e adolescentes assistidas, pois além de trabalharem também

com reforço escolar, trabalham com temas geradores que precisam ser articulados por parte,

em grupos pequenos e com faixa etária adequada.

É um desafio ao profissional de pedagogia trabalhar com crianças, adolescentes e idosos

que estão em situação de risco, morando em ambientes totalmente vulneráveis. Porém, quando

a equipe de profissionais (pedagogos, psicólogos, assistentes sociais) consegue atingir todos os

elementos de uma família, em todas as suas faixas etárias, a mudança na estrutura familiar, na

forma de entender a vida com seus direitos e deveres e principalmente no fortalecimento dos

vínculos familiares se tornam uma grande conquista, por meio de um trabalho que ainda se

depara com uma realidade que precisa progredir em relação a esta área da pedagogia, pois a

educação não formal que é praticada nesses ambientes ainda precisa de um olhar mais atento e

Trabalho de Conclusão de Curso 11

diferenciado. Destaca-se, ainda, a necessidade de maiores investimentos em infraestrutura e

tecnologia para que a equipe envolvida tenha melhores condições de trabalho e assim fazer

mais a diferença na vida daqueles que realmente necessitam de uma verdadeira educação social.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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