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BOLSA FAMÍLIA: O PAPEL DO ASSISTENTE SOCIAL NA GARANTIA DO CUMPRIMENTO DA CONDICIONALIDADE DA FREQUÊNCIA ESCOLAR NA ÁREA RURAL DE CORUMBÁ-MS Verônica Murilo 1 Claudia Elizabeth da Costa Moraes Mondini 2 RESUMO A presente pesquisa traz uma reflexão sobre a prática diária do assistente social na política pública de assistência social, mais especificamente, de sua atuação no Programa Bolsa Família na cidade de Corumbá-MS tendo como referência o Centro de Referência e Assistência Social (CRAS- Albuquerque) que atua nos assentamentos do município dando atenção aos serviços que são fornecidos bem como verificar se as condicionalidades no que se refere a evasão escolar, já que o programa requer do aluno 85%,de presença em sala de aula estão sendo respeitadas, tanto pelas famílias bem como pelas assistentes sociais que fazem com que esse serviço seja colocado em prática tornando o atendimento mais eficaz e proporcionando aos seus usurários atividades que norteiem uma melhor qualidade de vida. Houve um aprofundamento do tema, uma reflexão sobre alguns aspectos, dos quais levantamos alguns questionamentos na área rural as condicionalidades são de acordo com a realidade da urbana devido ao difícil acesso e questões climáticas? Os programas de transferência de renda criados, de modo especial o Programa Bolsa Família, condicionam o recebimento do benefício ao cumprimento de condicionalidades pela família beneficiária? Tal condição imposta não se configura como algo novo, ela se faz presente na história das políticas sociais. A pesquisa será com levantamento de dados qualitativos e quantitativos conforme o relatório mensal de atendimento do CRAS/ Albuquerque e da Coordenação do Bolsa Família. Palavras-chaves: assistência social; prática profissional; bolsa família. 1 Graduada em Serviço social pela Anhanguera Uniderp e Pós Graduada em Gestão De Políticas Públicas e Rede de Direito pela UNOPAR - Universidade Norte do Paraná. Email: [email protected] 2 Formada em Psicologia pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e Mestra em educação pela mesma instituição.

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BOLSA FAMÍLIA: O PAPEL DO ASSISTENTE SOCIAL NA GARANTIA DO

CUMPRIMENTO DA CONDICIONALIDADE DA FREQUÊNCIA ESCOLAR NA

ÁREA RURAL DE CORUMBÁ-MS

Verônica Murilo1

Claudia Elizabeth da Costa Moraes Mondini 2

RESUMO

A presente pesquisa traz uma reflexão sobre a prática diária do assistente social na política pública de assistência social, mais especificamente, de sua atuação no Programa Bolsa Família na cidade de Corumbá-MS tendo como referência o Centro de Referência e Assistência Social (CRAS- Albuquerque) que atua nos assentamentos do município dando atenção aos serviços que são fornecidos bem como verificar se as condicionalidades no que se refere a evasão escolar, já que o programa requer do aluno 85%,de presença em sala de aula estão sendo respeitadas, tanto pelas famílias bem como pelas assistentes sociais que fazem com que esse serviço seja colocado em prática tornando o atendimento mais eficaz e proporcionando aos seus usurários atividades que norteiem uma melhor qualidade de vida. Houve um aprofundamento do tema, uma reflexão sobre alguns aspectos, dos quais levantamos alguns questionamentos na área rural as condicionalidades são de acordo com a realidade da urbana devido ao difícil acesso e questões climáticas? Os programas de transferência de renda criados, de modo especial o Programa Bolsa Família, condicionam o recebimento do benefício ao cumprimento de condicionalidades pela família beneficiária? Tal condição imposta não se configura como algo novo, ela se faz presente na história das políticas sociais. A pesquisa será com levantamento de dados qualitativos e quantitativos conforme o relatório mensal de atendimento do CRAS/ Albuquerque e da Coordenação do Bolsa Família.

Palavras-chaves: assistência social; prática profissional; bolsa família.

1 Graduada em Serviço social pela Anhanguera Uniderp e Pós Graduada em Gestão De Políticas Públicas e Rede de Direito pela UNOPAR - Universidade Norte do Paraná. Email: [email protected] 2 Formada em Psicologia pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e Mestra em educação pela mesma instituição.

Trabalho de Conclusão de Curso 2

1 INTRODUÇÃO

O Programa Bolsa-Família, e o maior e mais ambicioso programa na história brasileira,

que nasce para enfrentar o maior de todos os desafios no combate à fome e a miséria, promover

e emancipar as famílias que se encontra em condições de pobreza ou extrema pobreza no Brasil.

Surgiu no mandato do Ex Presidente Fernando Henrique Cardoso, implementado pelo ex

presidente da Luiz Inácio Lula da Silva no ano de 2006. Como é sabido, naquele ano o

Presidente da República Luis Inácio Lula da Silva foi reeleito com ampla maioria dos votos.

Com efeito, milhares de famílias carentes, favorecidas pelo Bolsa-Família, com Lula reeleito,

a formação da cidadania continuou avançando no Brasil e mantido pelo atual governo da

presidente Dilma Rousseff.

Segundo Arlete Sampaio que descreve As políticas de desenvolvimento social no

Brasil, apontando que nos dois primeiros anos de mandato do Governo da Presidenta Dilma,

os dados mostram o impacto da política social no Brasil. Com uma população estimada em

190,8 milhões de habitantes, 67 milhões de pessoas são assistidas pelos programas sociais do

Governo Federal. As iniciativas da política social de combate à fome e à pobreza permitiram

retirar 28 milhões de pessoas da pobreza absoluta e reduzir em 62% a desnutrição infantil.

Conforme cita Galvão (2008), atualmente, os partidos políticos de oposição

argumentam que não se está exigindo das famílias beneficiadas pelo programa Bolsa-Família

que atende 11 milhões de famílias no país uma contrapartida no sentido de enviar os filhos com

idade apropriada para à escola. Afirmam os oposicionistas que o referido programa

governamental tal como vem sendo aplicado acaba gerando uma dependência das pessoas

assistidas em relação ao dinheiro repassado pelo governo federal. As famílias, defendem

alguns deputados, serão mantidas eternamente na pobreza, posto que seus filhos não estão

frequentando a escola devidamente.

O Objetivo da pesquisa foi de analisar o cumprimento das condicionalidades do

Programa Bolsa Família, no que se refere a educação, nos seus diversos aspectos, tais como o

histórico do programa, objetivos, público alvo, recursos, parcerias, a função do assistente social

nas visita de condicionalidade dentro da área urbana e na área rural nas unidades do

CRAS/Albuquerque.

Trabalho de Conclusão de Curso 3

O procedimento metodológico incluirá análise documental (relatórios mensais de

atendimento do CRAS/Albuquerque, apresentação e entrega do Termo de Consentimento Livre

e Esclarecido, aplicação de entrevistas com responsáveis pelas crianças que tiveram ou estão

em vias de ter seu benefício cortado por quebra da condicionalidade de frequência escolar,

entrevista com assistentes sociais responsáveis pelo acompanhamento dessas famílias. Esse

projeto irá abordar o Programa Bolsa Família com o enfoque no papel do Assistente Social na

averiguação das condicionalidades do Programa Bolsa Família, destacando a área da educação,

as crianças e adolescente que se evadem da escolas, entrevistar a família, destacando o papel

da mulher, já que a maioria são o RF – Responsável Familiar deve ser um dos membros da

família, preferencialmente mulher. O RF deve ter idade mínima de 16 anos. Essa pessoa é quem

vai prestar as informações da família, que serão registradas no Cadastro Único.

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A metodologia na qual está sustentada a pesquisa é de base quantitativa e qualitativa,

tendo como objetivo apreender percepções, significados, opiniões referente ao trabalho do

Assistente Social no CRAS no que se refere as averiguações de condicionalidades do Programa

Bolsa Família.

A pesquisa qualitativa proporcionou um contato mais direto com os sujeitos da

pesquisa, ampliando nosso conhecimento sobre os objetivos propostos por esse trabalho.

Segundo Martinelli (1999, p.26) “[...] uma consideração importante é que a pesquisa qualitativa

é participante, nós também somos sujeitos da pesquisa [...]”.

A entrevista é um procedimento utilizado na investigação social para a coleta de dados

ou no diagnóstico ou tratamento de um problema social. Esta técnica de pesquisa pode ser

utilizada com todos os segmentos da população, o entrevistado não precisa saber ler ou

escrever, ao contrário do questionário onde é necessário que o entrevistado seja alfabetizado.

A entrevista ainda possibilita que sejam utilizadas tanto as abordagens quantitativas submetidas

ao tratamento estatístico, quanto às abordagens qualitativas que são referência nesse tipo de

abordagem (MARCONI; LAKATOS, 2011, p. 80-81), neste caso foi utilizada a pesquisa

qualitativa.

Trabalho de Conclusão de Curso 4

Os instrumentos da pesquisa foram divididos em duas partes sendo que na parte I, a

identificação do sujeito e na parte II, a entrevista que foi elaborada, permitindo que as famílias

pudessem ficar livres para responderem.

Vale salientar que as questões elaboradas estiveram de acordo com os objetivos da

pesquisa, como também outros fatores que contribuíram e eram relevantes ao tema em estudo

Qual a importância do Programa Bolsa Família para a sua realidade familiar? A sua família

conhece as condicionalidades do Programa Bolsa Família? Como conheceu as

condicionalidades do Programa Bolsa Família? Qual a importância da visita que recebeu da

Assistente Social verificando o descumprimento de condicionalidade? A sua família entrou em

Acompanhamento Familiar pelo Cras? Na sua visão qual a importância do Acompanhamento

Familiar da Equipe de Averiguação de Condicionalidades realizada pelo CRAS mensalmente?

3 O PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA E SEUS CONDICIONANTES

O Programa Bolsa Família, criado pela medida provisória nº 132, de 20 de Outubro de

2003, transformada na Lei no 10.836, de 09 de janeiro de 2004, e regulamentado pelo Decreto

no 5.209, de 17 de setembro de 2004, é o principal programa de transferência de renda do

governo federal. Constitui-se num programa estratégico no âmbito do Fome Zero – uma

proposta de política de segurança alimentar, orientando-se pelos seguintes objetivos: combater

a fome, a pobreza e as desigualdades por meio da transferência de um benefício financeiro

associado à garantia do acesso aos direitos sociais básicos – saúde, educação, assistência social

e segurança alimentar; promover a inclusão social, contribuindo para a emancipação das

famílias beneficiárias, construindo meios e condições para que elas possam sair da situação de

vulnerabilidade em que se encontram (BRASIL, 2006).

Cerca de 5 milhões de famílias já faziam parte do cadastro do Bolsa Família em outubro

de 2004. Desse total, cerca de 20% participavam pela primeira vez e os outros 80% já fazia

parte de outros programas (Nunes, 2004). Ainda, de acordo com a mesma reportagem, até o

final de 2006 o governo federal pretende transferir todas as famílias que estão cadastradas nos

outros programas - Bolsa Escola, Cartão Alimentação e Vale Gás - e incluí-as no Bolsa Família.

Trabalho de Conclusão de Curso 5

De acordo com informações do site do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à

Fome, em dezembro de 2004 mais de 6,6 milhões de famílias já estavam cadastradas no

Programa.

Vale informar que a gestão do Programa é descentralizada, envolvendo os três níveis de

governo, ou seja, a União, os Estados e municípios, que não fica restrita as famílias que residem

na área urbana, como também a área rural com todos direitos que são oferecidos, renda per

capita, condicionalidades as condicionalidades do Programa Bolsa Família, que não se

restringe na educação e sim na saúde e assistência social, pois devem estar em consonância.

Quanto ás condicionalidades, na área da Saúde, existem o acompanhamento do calendário

vacinal e do crescimento e desenvolvimento para crianças menores de 7 anos; pré-natal das

gestantes e o acompanhamento do bebê e das nutrizes na faixa etária de 14 a 44 anos. Na área

da educação, todas as crianças e adolescentes entre 6 e 15 anos devem estar matriculados e com

frequência escolar mensal mínima de 85% . Os estudantes entre 16 e 17 anos devem ter

frequência de, no mínimo, 75%. Na Assistência Social, frequência mínima de 85% relativa aos

serviços socioeducativos para crianças e adolescentes de até 15 anos em risco ou retiradas do

trabalho infantil.

A Lei nº 10.836, de 9 de janeiro de 2004,regulamentada pelo Decreto nº 5.209, de 17

de setembro de 2004, criou, como órgão de assessoramento imediato do presidente da

República, o Conselho Gestor Interministerial do Programa Bolsa Família, com a finalidade de

formular e integrar políticas públicas, definir diretrizes, normas e procedimentos sobre o

desenvolvimento e implementação do Programa Bolsa Família, bem como apoiar iniciativas

para a instituição de políticas públicas sociais, visando promover a emancipação das famílias

beneficiadas pelo Programa nas esferas federal, estadual, do Distrito Federal e municipal, tendo

as competências, composição e funcionamento estabelecidos em ato do Poder Executivo.

(BRASIL,2004)

De acordo com o Art. 5º da Lei nº 10.836, de 9 de janeiro de 2004 o Conselho Gestor

Interministerial do Programa Bolsa Família tem o apoio de uma Secretaria-Executiva, com a

finalidade de coordenar, supervisionar, controlar e avaliar a operacionalização do Programa,

compreendendo o cadastramento único, a supervisão do cumprimento das condicionalidades,

o estabelecimento de sistema de monitoramento, avaliação, gestão orçamentária e financeira

dentre outras funções.(BRASIL,2004).

Trabalho de Conclusão de Curso 6

O Programa Bolsa Família é uma transferência de renda destinada às famílias em

situação de pobreza, com renda per capita mínima de R$ 85,00 até R$ 170,00 mensais, que

associa à transferência do benefício financeiro o acesso aos direitos sociais básicos saúde,

alimentação, educação e assistência social.

Busca promover a inclusão social, contribuindo para a emancipação das famílias

beneficiárias, construindo meios e condições para que elas possam sair da situação de

vulnerabilidade em que se encontram, com atividades continuas desde SCVF – Serviço de

Convivência e Fortalecimento de Vínculos, acolhida, visitas e acompanhamento familiar,

triagem para Aposentadoria Rural e BPC – Beneficio de Prestação Continuada para idosos e

pessoa com deficiência, cursos em parcerias com Sindicato Rural e SENAR – Serviço Nacional

de Aprendizagem Rural, Pronatec, levando e oportunizando às famílias atividades e

capacitações para que aumente a renda e autoestima.

Durante a minha atuação profissional como Assistente Social, responsável pela

averiguação das condicionalidades do Programa Bolsa Família na área rural de Corumbá,

ressalto que percorrendo os assentamentos e através das visitas domiciliares aos usuários que

estão em descumprimento principalmente na educação, muitos deixam de ir a escola por

ajudarem no sustento familiar, gravidez precoce, envolvimento com drogas e álcool, filhos que

respeitam os pais, casos de negligencia familiar, difícil acesso e as condições climáticas, as

chuvas que impedem a passagem dos ônibus escolares, dentre outros.

Conforme o acompanhamento familiar realizado pela equipe multidisciplinar do

equipamento na área de abrangência que atua, através do Serviço de Proteção e Atendimento

Integral à Família (Paif) que é um trabalho de caráter continuado que visa a fortalecer a função

de proteção das famílias, prevenindo a ruptura de laços, promovendo o acesso e usufruto de

direitos e contribuindo para a melhoria da qualidade de vida. Realizado, pois de essas famílias

entram no acompanhamento, existe um trabalho qualificado e fortalecido, na qual entramos na

residência das famílias, informamos o que pode acontecer, com o descumprimento, pois no

momento a família esta sendo advertida, se caso continuar haverá o bloqueio do benefício e

consequentemente o cancelamento, pois não houve o respeito com a condicionalidade.

Quando a família se dispõe a cumprir com as condicionalidades após a advertência,

muitas procuram os nossos serviços para que haja a continuidade do beneficio, bem como

Trabalho de Conclusão de Curso 7

estarmos presente, buscando orientações, na qual e feito o trabalho de fortalecimento de

vínculos, já que o CRAS e a porta de entrada das famílias e da Proteção Básica, o serviço

realizado caracteriza em proteção, protético e preventivo.

Os serviços disponibilizados pelo CRAS possuem centralidade no Serviço de Proteção

e Atendimento Integral à Família (PAIF) e no Serviço de Convivência e Fortalecimento de

Vínculos (SCFV). De acordo com a Resolução nº 109, de 11 de novembro de 2009, ou a

chamada Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais (2009), o primeiro consiste em

um serviço voltado ao atendimento e acompanhamento de famílias que compõem o quadro de

situação de vulnerabilidade social. O PAIF possui caráter continuado e:

[...] a finalidade de fortalecer a função protetiva das famílias, prevenir a ruptura dos seus vínculos, promover seu acesso e usufruto de direitos e contribuir na melhoria de sua qualidade de vida. Prevê o desenvolvimento de potencialidades e aquisições das famílias e o fortalecimento de vínculos familiares e comunitários, por meio de ações de caráter preventivo, preventivo e proativo. (TIPIFICAÇÃO..., 2009, p.6).

3.1.CENTRO DE REFERÊNCIA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL E PROGRAMA BOLSA

FAMÍLIA

O Centro de Referência da Assistência Social - CRAS é uma unidade pública estatal

localizada em áreas com maiores índices de vulnerabilidade e risco social, destinada ao

atendimento socioassistencial de famílias.

O CRAS é o principal equipamento de desenvolvimento dos serviços socioassistenciais

da proteção social básica. Constitui espaço de concretização dos direito socioassistenciais nos

territórios, materializando a política de assistência social.

No CRAS, portanto, deve ser necessariamente ofertado o PAIF, podendo ser ofertados

outros serviços, programas, benefícios e projetos conforme disponibilidade de espaço físico e

de profissionais qualificados para implementá-los, e desde que não prejudiquem a execução do

PAIF e nem ocupem os espaços a ele destinados. Os demais serviços socioeducativos, ações

complementares e projetos de proteção básica desenvolvidos no território de abrangência do

CRAS devem ser a ele referenciados.

Trabalho de Conclusão de Curso 8

Sabe-se que o CRAS é a porta de entrada para os programas sociais funcionando como

um “braço” da Secretaria Municipal de Cidadania. É uma unidade pública da política de

assistência social, de base municipal, integrante do SUAS – Sistema Único de Assistência

Social, localizado em áreas com maiores índices de vulnerabilidade e risco social, destinado à

prestação de serviços e programas sócio assistenciais de proteção social básica às famílias e

indivíduos, e à articulação destes serviços no seu território de abrangência, e uma atuação

intersetorial na perspectiva de potencializar a proteção social.

O CRAS é uma unidade que oferta e referencia serviços e ações, de caráter protetivo,

preventivo e proativo. Possui funções exclusivas de oferta pública do trabalho social com

famílias do PAIF, estando, também, sob sua responsabilidade a gestão territorial da rede

socioassistencial de proteção social básica. O público a ser atendido nesses espaços são famílias

e indivíduos que estejam em situação de vulnerabilidade e risco social decorrente de pobreza

(ausência de renda), privação (precário ou nulo acesso aos serviços), fragilização de vínculos

relacionais ou de pertencimento (discriminações etárias, étnicas, de gênero, por deficiência

etc.). Cabe ressaltar que o atendimento às famílias deve priorizar aquelas beneficiárias do

Programa Bolsa Família e outros programas de transferência de renda, se houver.

Além dos elementos já sinalizados, vale ressaltar, que para a garantia do

desenvolvimento de suas atividades, os CRAS possuem diretrizes nacionais a serem seguidas,

tais como: um espaço físico adequado (estrutura, horário de funcionamento e identificação),

equipe de profissionais para gerir e executar os programas, projetos, benefícios e serviços

sócio-assistenciais e uma metodologia de trabalho específica - o PAIF - para a realização do

trabalho social realizado com as famílias. A Assistência Social é realizada de forma

descentralizada e participativa, cabendo a coordenação e normatizações gerais à esfera federal

e a coordenação e execução dos respectivos programas, projetos serviços e benefícios aos

estados e municípios.

3.2 CONDICIONALIDADES DO BOLSA FAMÍLIA

As condicionalidades visam certificar o compromisso e a responsabilidade das famílias

atendidas. Representam o acesso a direitos que, a médio e longo prazos, aumentam a autonomia

das famílias, na perspectiva da inclusão social. Elas também ampliam as condições para o

Trabalho de Conclusão de Curso 9

aumento nas oportunidades de geração de renda das famílias. Nesse sentido, as

condicionalidades representam resultados alcançados e que ainda serão, na medida em que

estabelecem ações para a melhoria da qualidade de vida das famílias assistidas pelo Programa.

Em relação aos serviços de saúde, o PBF determina que gestantes, nutrizes e crianças

de 0 a 6 anos sejam acompanhadas do ponto de vista nutricional, mantendo o esquema de

vacinação em dia. Gestantes devem participar das consultas de pré e pós-natal e, assim como

as mães de crianças de 0 a 6 anos, devem também participar das atividades educativas sobre

saúde e nutrição. No que tange à educação, exige-se 85% de frequência escolar das crianças e

adolescentes na faixa entre 6 e 15 anos. O não cumprimento dessas condicionalidades implica

no desligamento das famílias beneficiárias do Programa.

A legislação que define a gestão do acompanhamento das condicionalidades do

Programa Bolsa Família é bastante minuciosa. Aqui, vale mencionar que as Portarias que

tratam do assunto foram publicadas após denúncias1 da grande imprensa no que diz respeito à

condução das ações de controle das contrapartidas e à focalização do Programa.

Seguindo a trajetória dos programas de transferência de renda no Brasil, o PBF define

o cumprimento de algumas condicionalidades relacionadas às áreas de saúde e educação. A

expectativa, segundo justificativa explicitada na legislação e documentos oficiais do Programa,

é de que o cumprimento de condicionalidades tanto possibilite o acesso e a inserção da

população pobre nos serviços sociais básicos como favoreça a interrupção do ciclo de

reprodução da pobreza, configurando, assim, uma espécie de ‘porta de saída’ do Programa.

Em relação aos serviços de saúde, o PBF deter mina que gestantes, nutrizes e crianças

de 0 a 6 anos sejam acompanhadas do ponto de vista nutricional, mantendo o esquema de

vacinação em dia. Gestantes devem participar das consultas de pré e pós-natal e, assim como

as mães de crianças de 0 a 6 anos, devem também participar das atividades educativas sobre

saúde e nutrição. No que tange à educação, exige-se 85% de frequência escolar das crianças e

adolescentes na faixa entre 6 e 15 anos. O não cumprimento dessas condicionalidades implica

no desligamento das famílias beneficiárias do Programa.

A legislação que define a gestão do acompanhamento das condicionalidades do

Programa Bolsa Família é bastante minuciosa. Aqui, vale mencionar que as Portarias que

Trabalho de Conclusão de Curso 10

tratam do assunto foram publicadas após denúncias da grande imprensa no que diz respeito à

condução das ações de controle das contrapartidas e à focalização do Programa.

Um primeiro aspecto a destacar é que embora a legislação recente seja clara quanto ao

papel dos três níveis de governo na implementação das condicionalidades, é sobre o município

que recai a maior parte das responsabilidades de oferta de serviços e de gestão do

acompanhamento do cumprimento das obrigações das famílias beneficiárias.

As famílias que estiverem inadimplentes com relação ao cumprimento das

condicionalidades estão sujeitas a uma série de sanções, que vão desde o bloqueio do benefício

por 30 dias até o seu cancelamento. Tais regras podem criar, em verdade, um processo de

exclusão que alarga ainda mais a distância entre o PBF e a lei de autoria do senador Eduardo

Suplicy, recém aprovada no Congresso Nacional, que institui uma renda básica de cidadania

universal e incondicional.

Além disso, a ausência de registro do resultado do acompanhamento das

condicionalidades nos sistemas de informação, definidos pelos ministérios da educação e

saúde, poderá também acarretar em bloqueio e perda do benefício, a critério do MDS. A

legislação preserva as famílias de qualquer sanção somente quando ficar comprovado que o

cumprimento das condicionalidades foi prejudicado em razão de problemas relativos à oferta

de serviços por parte dos municípios.

Considerando que são prerrogativas dos municípios manterem atualizado o sistema de

informação e ofertar os serviços relativos às condicionalidades, pode-se imaginar que inúmeros

problemas relativos às diferentes capacidades financeira e gerencial dos municípios interferirão

no atendimento de tais requisições. Assim, não se pode deixar de levantar a possibilidade de

que famílias sejam punidas em razão da incapacidade de muitos municípios em manter

atualizado o repasse de informação para o MDS. Com efeito, a literatura que trata do processo

recente de descentralização das políticas sociais no Brasil, dentre os quais se destaca o estudo

de Arretche (2000), assinala que, em geral, os municípios brasileiros ainda têm apresentado

muitas fragilidades na oferta de serviços de educação e saúde, comprometendo o processo de

implementação das condicionalidades do PBF.

Outro elemento a ser destacado é que, embora o município assine um termo de adesão

ao Programa comprometendo-se a ofertar adequadamente os serviços básicos previstos nas

Trabalho de Conclusão de Curso 11

condicionalidades, a legislação não prevê ações de responsabilização e punição para os

municípios inadimplentes. Dessa forma, é sobre as famílias que recai, quase exclusivamente, a

responsabilidade pelo cumprimento das condicionalidades.

Ademais, é preciso considerar que a perspectiva de inclusão social ao Bolsa Família

está também ancorada na oferta de programas complementares (tais como programas de

geração de emprego e renda, cursos profissionalizantes, microcrédito, compra de produção

agrícola, oficinas de ‘empreendedorismo’ e apoio a iniciativas de economia solidária, entre

outros) que, em tese, deve ser implementada de forma cooperativa entre os diferentes níveis de

governo e com base na intersetorialidade das ações. Isso mostra o reconhecimento de que as

ações básicas de saúde e educação isoladas não são suficientes para alcançar os objetivos do

Programa.

Importante notar que, mesmo reconhecendo a relevância das ações complementares,

estas não aparecem como obrigação dos entes federados e, portanto não constituem

contrapartidas. Neste caso, não há definição de estratégias de implementação, o que demonstra

total ausência de indução para ações que são, no plano dos discursos oficiais, consideradas

porta de saída do Programa e da situação de pobreza.

Sobre essa questão, um outro aspecto importante a ser considerado é que, apesar do

Programa optar pelo foco na família, a análise de sua estrutura organizacional demonstra que

as exigências de contrapartidas estão previstas apenas para aqueles grupos tradicionalmente

priorizados na política social, quais sejam: gestantes, nutrizes, crianças e adolescentes.

A principal polêmica em torno das condicionalidades do PBF aparece, por um lado, no

reconhecimento de que as mesmas têm potencial de pressionar a demanda sobre os serviços de

educação e saúde, o que, de certa forma, pode representar uma oportunidade ímpar para ampliar

o acesso de um contingente importante da população aos circuitos de oferta de serviços sociais.

Mas, por outro lado, como afirma Lavinas (2004), ao ser exigido o cumprimento de

obrigatoriedades como condição para o exercício de um direito social, os próprios princípios

de cidadania podem estar ameaçados.

Para os idealizadores do Bolsa Família, a exigência de condicionalidades constituiria

uma forma de ampliar o exercício do direito à saúde e à educação, ainda incompletos entre nós.

Entretanto, é preciso reconhecer que o alcance de tal objetivo exige a implementação de

Trabalho de Conclusão de Curso 12

mecanismos consistentes de acompanhamento social das famílias beneficiárias no sentido de

reverter tal exigência em real oportunidade de inserção social. Não obstante, no PBF não está

prevista a realização de acompanhamento social das famílias por equipes multiprofissionais, o

que requereria ações para além do controle estrito das contrapartidas. É indiscutível que ações

dessa natureza contribuiriam em muito para o sucesso do Programa, a exemplo de outros

programas nas áreas de assistência social e saúde que apostam no fortalecimento das relações

de vínculo entre profissional e população beneficiária.

3.3 O ASSISTENTE SOCIAL E A AÇÃO NO DISCUMPRIMENTO DAS

CONDICIONALIDADES

Para os idealizadores do Bolsa Família, a exigência de condicionalidades constituiria

uma forma de ampliar o exercício do direito à saúde e à educação, ainda incompletos entre nós.

Entretanto, é preciso reconhecer que o alcance de tal objetivo exige a implementação de

mecanismos consistentes de acompanhamento social das famílias beneficiárias no sentido de

reverter tal exigência em real oportunidade de inserção social.

O trabalho do Serviço Social nos CRAS, não obstante, no PBF não está prevista a

realização de acompanhamento social das famílias por equipes multiprofissionais, o que

requereria ações para além do controle estrito das contrapartidas. É indiscutível que ações dessa

natureza contribuiriam em muito para o sucesso do Programa, a exemplo de outros programas

nas áreas de assistência social e saúde que apostam no fortalecimento das relações de vínculo

entre profissional e população beneficiária

Para tratarmos sobre o trabalho dos assistentes sociais, há que se analisar a dimensão

política a qual não é revelada de imediato, e nem nas dificuldades emergentes da ação. Para

que consigamos revelar este significado social da prática, segundo Iamamoto (1992), há que se

considerar o movimento das classes sociais e ainda sua relação com o Estado e sociedade para

que assim possamos desvelar “(...) os fios que a articulamos as estratégias políticas das classes,

desvendar seus efeitos na vida social, assim como seus limites e possibilidades.

IAMAMOTO,1992 pág. 120.

Trabalho de Conclusão de Curso 13

O PBF também condiciona ações na área da assistência social. Assim, os beneficiários

do PBF devem participar das ações socioeducativas destinadas para as crianças em situação de

trabalho infantil. Além disso, o PBF recomenda a adoção de programas complementares

voltados à geração de emprego e renda, tais como: cursos profissionalizantes, programas de

microcrédito, compras de produção agrícola familiar, entre outros. No entanto, essas ações não

fazem parte do conjunto de condicionalidades impostas pelo programa.

Portanto, verifica-se que a exigência de contrapartidas comportamentais por parte dos

beneficiários é um ponto central do desenho do PBF e vem se tornando numa questão bastante

polêmica. O debate em torno desse tema abarca diferentes posições. Para os formuladores do

PBF, a condicionalidade é apresentada como sinônimo de inclusão social e emancipação. A

exigência favorece a ampliação do exercício do direito a serviços sociais de caráter universais

como a educação e a saúde. Todavia, uma vez exigida essas condicionalidades, faz-se

necessário criar mecanismos consistentes de acompanhamento social das famílias

beneficiárias, tendo em vista ser uma oportunidade de inserção social.Sob essa perspectiva, as

ações de controle e acompanhamento exigem um esforço conjunto dos três ministérios (MDS,

MEC e Saúde).

De modo geral, as finalidades do trabalho social com famílias, seus membros e

indivíduos são definidas pela própria legislação da Assistência Social, aterializada nas ações

profissionais, serviços e benefícios oferecidos. Portanto, a dimensão teleológica do trabalho ou

por finalidades é exterior aos sujeitos que o executam, muito embora concordem com elas e

em coletivos tenham contribuído por sua fixação em lei.

Assim, fortalecer os vínculos familiares antes de sua dissolução, trabalhar de forma

preventiva para evitar riscos e violação de direitos através dos benefícios, programas e trabalho

socioeducativo, que visem à autonomia e ao protagonismo desses sujeitos, constituem

objetivos do trabalho social com famílias e indivíduos e expressam o grau de adesão à política.

3.4 O TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL NOS CRAS

Trabalho de Conclusão de Curso 14

Sabe-se que o trabalho humano é caracterizado por sua capacidade de dar respostas

prático-conscientes às suas necessidades, o que coloca o homem por meio do trabalho na

condição de criador, de sujeito que age consciente e racionalmente, que planeja

antecipadamente e põe em movimento sua capacidade de transformação mediante o trabalho.

Contudo, na sociedade capitalista, o trabalho é contraditório, mesmo quando especializado,

pois perde a dimensão criativa, consciente e autodeterminada pelo próprio sujeito, uma vez que

responde a um fim que não é determinado pelo trabalhador. Assim, embora a qualificação

teórica, técnica e ética imprima direção à ação, o trabalho particular e especializado é parte do

trabalho coletivo na sociedade capitalista, que é fragmentado, mas combinado, que estabelece

finalidades ao trabalho assalariado.

Esse aporte teórico nos ajuda a entender o trabalho profissional da equipe

interdisciplinar no CRAS e a direção do trabalho social com famílias, dependentes não apenas

de seus referenciais teóricos, concepções e visões de mundo, mas também da direção dada pelo

Ministério do Desenvolvimento Social, gestor, coordenadores, dentre outros, mesmo que isso

não exima os profissionais de suas responsabilidades em relação ao que é posto em prática,

considerando sua relativa autonomia como trabalho especializado.

O trabalho socioeducativo com grupos de famílias, ou grupos de segmentos atendidos,

que algumas vezes envolve suas famílias, funciona como espaço de reflexão e troca de

experiências, utilizado em muitas situações como um recurso terapêutico, cuja direção do que

é discutido e refletido se encaminha, predominantemente, para questões internas às famílias,

seus conflitos, como exercer seus papéis, ou utilizado para prestar informações. Portanto, é

herdeiro das práticas educativas tradicionais, embora envoltas de discursos modernos dos

direitos e cidadania.

Quando se refere ao trabalho do Assistente Social nas Unidades do CRAS e

principalmente se tratando em especial ao Programa do Bolsa Família, verificou-se que são os

seguintes os atendimentos:

• ENTREVISTA E ENCAMINHAMENTO PARA GRUPO DE ACOLHIDA:

com o objetivo de apresentar o programa e verificar a demanda de cada família;

Trabalho de Conclusão de Curso 15

• VISITAS DOMICILIARES: Ação que objetiva a localização de famílias

potenciais usuárias do serviço, fortalecer o vinculo da família com o serviço e

monitorar as mudanças ocorridas a partir da sua participação.

• PALESTRAS: Exposição de temas, campanhas educativas demandados pelas

famílias cujo objetivo é a transmissão de informações e o debate.

Cada técnico ou seja o assistente social tem a sua responsabilidade para que o trabalho

tenha êxito e qualidade, sabe-se que às vezes a quantidade de atendimentos conta bastante nos

serviços, porém a atividade desenvolvida com eficácia tem um valor pessoal que engrandece

o profissional que está atuando, pois fazer por fazer não dá um retorno palpável para quem atua

com amor no que faz.

Constituem competências do Assistente Social:

I - elaborar, implementar, executar e avaliar políticas sociais junto a órgãos da administração pública, direta ou indireta, empresas, entidades e organizações populares;

II - elaborar, coordenar, executar e avaliar planos, programas e projetos que sejam do âmbito de atuação do Serviço Social com participação da sociedade civil;

III - encaminhar providências, e prestar orientação social a indivíduos, grupos e à população; IV - orientar indivíduos e grupos de diferentes segmentos sociais no sentido de identificar recursos e de fazer uso dos mesmos no atendimento e na defesa de seus direitos; V - planejar, organizar e administrar benefícios e Serviços Sociais; VI - planejar, executar e avaliar pesquisas que possam contribuir para a análise da realidade social e para subsidiar ações profissionais;VII - prestar assessoria e consultoria a órgãos da administração pública direta e indireta, empresas privadas e outras entidades, com relação às matérias relacionadas no inciso II deste artigo;

VIII - prestar assessoria e apoio aos movimentos sociais em matéria relacionada às políticas sociais, no exercício e na defesa dos direitos civis, políticos e sociais da coletividade;

IX - realizar estudo sócio - econômicos com os usuários para fins de benefícios e serviços sociais junto a órgãos da administração pública direta e indireta, empresas privadas e outras entidades.

X - planejamento, organização e administração de Serviços Sociais e de Unidade de Serviço Social. ( BRASIL.Lei Orgânica de Assistência Social.1993.)

.

Trabalho de Conclusão de Curso 16

Dentro das funções acima citadas o Assistente social no CRAS e dando atenção ao

Bolsa Família, visa fazer com que as condicionalidades sejam cumpridas, visitando as famílias,

diagnosticando a real situação e buscando resultados satisfatórios para que não perda para

nenhum dos favorecidos e todo esse trabalho deve estar sendo realizado em redes, pois só assim

haverá uma qualidade no que se faz.

Diante das tendências do trabalho social nos CRAS, é possível dizer que, apesar de os

avanços conceituais da política de Assistência Social, principalmente do enfoque da pobreza e

da articulação de respostas em benefícios, serviços, atenções e procedimentos variados, de

atendimento individualizado e coletivo, e entre as políticas setoriais, o trabalho socioeducativo

não superou ainda a psicologização dos problemas sociais, o trato de problemas internos à

família e de sua responsabilização por estes.

Todavia, só o acesso a serviços e benefícios como dádiva, benesse, caridade não

provoca mudanças subjetivas políticas, autonomia e cidadania, mas sim subalternidade e tutela.

É nesse sentido que se precisam romper as dicotomias e unir conhecimentos específicos – ideal,

se na mesma perspectiva teórica e metodológica –, para o trabalho interdisciplinar, guiados por

uma perspectiva de totalidade que: 1- Supere a psicologização das relações e problemas sociais;

2- Ultrapasse a dimensão conservadora, disciplinadora, normatizadora e, principalmente, de

julgamento, culpabilização das famílias pelo não cumprimento de funções tradicionalmente e

funcionalmente atribuídas às famílias; 3 -procure romper com os referenciais teóricos

funcionalistas das famílias “desestruturadas”, “disfuncionais”, “incompletas” pelo não

atendimento ao modelo-padrão, ideal de família; 4 - ultrapasse o âmbito da realidade familiar

e do território, para entendê-los como inseridos em determinações mais amplas, parte de um

todo, o que leva ao entendimento de que os problemas e dificuldades familiares são decorrentes

de múltiplos processos sociais e; 5 - fortaleça a dimensão preventiva dos problemas sociais,

atuando em dificuldades cotidianas, buscando dar sustentabilidade à família, suporte, apoio,

cuidados, serviços e ações outras necessárias para não chegarem a vivenciar situações

extremas, o que pressupõe o Estado assumir responsabilidade pública pelo atendimento de suas

necessidades; articular serviços e/ou, criar novos serviços, projetos e programas para atender

as necessidades e demandas levadas pelas famílias.(REGIMENTO INTERNO CRAS .

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Trabalho de Conclusão de Curso 17

4 DISCUSSÃO E RESULTADOS

A pesquisa é de base quantitativa e qualitativa, tendo como objetivo apreender

percepções, significados, opiniões referente ao trabalho do Assistente Social no CRAS no que

se refere as averiguações de condicionalidades do Programa Bolsa Família.

Os sujeitos da pesquisa foram cinco famílias que residem na área de nos assentamentos

da cidade, sendo que todos estão em acompanhamento familiar pelo CRAS Albuquerque,

instituições que atende a área rural e fronteiriça da cidade de Corumbá-MS, devido estarem em

descumprimento de condicionalidades do Programa Bolsa Família, no quesito educação.

As entrevistas foram realizadas na residência das famílias, ou seja, todas nos

assentamentos, cada qual em seu lote, sem nenhum episódio negativo para a entrevistadora,

pois a mesma já tinha contato com a família, todos concordaram em assinar o TCLE, para que

pudéssemos dar um bom andamento nas pesquisas.

A primeira questão abordada, qual a importância do Programa Bolsa Família para a sua

realidade familiar? Responderam ajuda no transporte, na alimentação, compras de materiais

escolares e medicamentos, todas as famílias necessitam do beneficio do PBF, pois possui uma

grande contribuição na renda familiar mensalmente.

Na questão “a sua família conhece as condicionalidades do Programa Bolsa Família?”

todos responderam que sim, sabem que estão relacionadas a saúde, vacinas tem que estar em

dias, pesagem da família e a saúde da mulher, sempre estarem recadastrando, participando das

atividades do CRAS e os filhos que estão em idade escolar tem que estar na escola, Percebeu-

se nessa questão que todos são bem informados sobre as condicionalidades do PBF.

O que se destacou na questão “Como conheceu as condicionalidades do Programa Bolsa

Família?” As respostas foram unânimes que tiveram o conhecimento das condicionalidades na

escola e através do CRAS com as reuniões que são realizadas mensalmente, destacando a

importância dos filhos estarem na escola para que as famílias possam continuar a receber o

benefício do PBF.

Quando foram questionados sobre “Qual a importância da visita que recebeu da

Assistente Social verificando o descumprimento de condicionalidade?” Informaram da

importância da assistente social na visita, pois explicam o por que estão sendo visitados, avisam

Trabalho de Conclusão de Curso 18

que os filhos estão faltando na escola, solicitam para que eles voltem a estudar e incentivam

conversando com a família da importância do estudo e para que serve.

Além de informar sobre os estudos através das visitas fazem com que a família busque

autonomia, para melhorarem o relacionamento familiar principalmente com os adolescentes

que não gostam de ir para escola, já querem construir família cedo, sem nenhuma orientação o

que é realizado no acompanhamento familiar, pois muitas informações são passadas e

repassadas,

Na questão “A sua família entrou em Acompanhamento Familiar pelo Cras?” Todas as

famílias pesquisadas estão em averiguação de condicionalidade no quesito educação, devido

ao difícil acesso, doenças na família e desinteresse dos filhos.

Na sua visão qual a importância do Acompanhamento Familiar da Equipe de

Averiguação de Condicionalidades realizada pelo CRAS mensalmente? Algumas respostas

coincidiram no item o reforço para que os filhos possam ir para a escola, a importância de

serem valorizados, pois a área rural tudo e mais difícil, além das visitas, ficam sabendo da

garantia de seus direitos, o que podem ou não, as mentes são abertas para a melhoria da

qualidade de vida, se existem algum problema familiar, eles possuem o CRAS para recorrer e

receber orientações, as crianças começam a ter responsabilidade, se tem acesso a outros

serviços como cursos que são levados diretamente nos assentamentos sem nenhum custo.

Como a condicionalidade averiguada a maioria era sobre a baixa frequência escolar, foi

questionado “O senhor/a foi chamado/a na escola para averiguação das faltas do seu filho/a?

O senhor/a compareceu?” Responderam que são poucas as vezes que são chamadas, pois os

filhos não entregam os bilhetes, a dificuldade de se comunicação é muita. A escola até chama,

mas o desinteresse não é somente dos filhos, dos pais que muitas vezes não gostam e não

querem ouvir reclamações, ficam saturados, devido a toda problemática que já vivem.

Nesse item cabe destacar a parceria que o CRAS Albuquerque tem com nalgumas

escolas da área rural principalmente as que ficam próximas a fronteira, existe uma articulação

entre CRAS e Escolas, fortalecendo a rede, buscando melhoria na qualidade de vida das

famílias, garantindo o acesso aos serviços e a garantia de direitos dessas famílias que residem

longe da cidade, convivem com uma renda mínima para sua sobrevivência.

Trabalho de Conclusão de Curso 19

A última questão se deteve em quem controla o dinheiro do PBF na sua casa? O que

isso representa? As respostas foram que o dinheiro e controlado pelo responsável familiar no

caso aqui, todas as mulheres, que utilizam o benefício para a ajuda e custeio de despesas da

família.

Conclui-se que na que a união de esforços entre os profissionais da área social

juntamente com a escola e outras áreas são preponderantes para o êxito da intervenção

profissional diante das diversas expressões da questão social.

5 ANÁLISE DOS RESULTADOS

Para a análise dos resultados, foram realizados diversos estudos em artigos e

documentos oficiais do MDS, assim teria uma pesquisa coesa e com resultados favoráveis ao

tema por mim elaborado.

Na leitura do artigo As Estratégias de Manutenção das Famílias durante o Período de

Bloqueio do Programa Bolsa Família devido ao Descumprimento de Condicionalidade,

destacou-se na conclusão que “o Programa Bolsa Família (PBF) não inova, apenas executa essa

tendência, tanto é que os valores do benefício ainda não se adaptaram ao valor do novo salário

mínimo. Os valores do benefício não são suficientes para a manutenção das famílias, os valores

repassados pelo PBF são irrisórios, apesar de em alguns casos ser o único meio de sustento das

famílias, este valor é apenas um incentivo, para suprir o básico do básico.”

Entende-se aqui que apesar do PBF, ser atuante, medidas são tomadas com relação as

condicionalidades, pois muitas famílias necessitam desse dinheiro, pois ajudam na renda

familiar.

Para a inclusão de uma família no PBF não deveria ser considerado apenas a renda per

capita, mas sim ser avaliado todo o contexto familiar, as condições sociais, como por exemplo,

se as famílias possuem residência própria, condições de moradia, presença de pessoa com

deficiência, idosos, famílias chefiadas por mulheres. No nosso ponto de vista a renda per capita

estabelecida pelo programa muito baixa o que muitas vezes torna-se empecilho para que os

Trabalho de Conclusão de Curso 20

membros da família insiram-se em atividades remuneratórias, com medo de perder o benefício

do governo.

Ainda de acordo com os estudos realizados e o acompanhamento das condicionalidades

percebe-se que o benefício para muitas famílias, que através de suas condicionalidades muitos

passaram a participar, a ter acesso às políticas de saúde, educação. Entretanto, o PBF não

deveria constituir-se como um fim, mas como meio, ou seja, deve-se pensar em estratégias que

promovam a emancipação destas famílias, como escolarização, profissionalização, parcerias

com empresas para encaminhamento ao mercado de trabalho, habitação, entre outros. O repasse

do benefício às famílias deveria ter início, meio e fim, incentivando-as para conquista de sua

autonomia financeira.

No texto de dissertação de mestrado de Tatiana de Oliveira Stechi O Programa Bolsa

Família e Suas Condicionalidades: Entre o Direito e Dever, “da mesma forma, a perspectiva

de punir as famílias que não cumprem as condicionalidades, parece incompatível com os

objetivos de promoção social do programa. Deve-se considerar também as condições que as

famílias dispõem para atender as requisições impostas, tendo em vista as dificuldades

cotidianas de sobrevivência a que a maioria está exposta.”

O que se percebe durante os estudos é que o contexto familiar deve ser levado em

consideração nas condicionalidades do PBF, pois muitas famílias vivem isoladas de tudo e de

todos, sem as orientações necessárias, o que muitas vezes não é considerado pelo profissional

que informa sobre as condicionalidades.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Iniciamos a conclusão deste artigo, reafirmando da importância do assistente Social na

averiguação das condicionalidades do PBF, pois o que se preza é um trabalho direcionado com

fins na qual se verifica realmente o perfil das famílias atendidas, suas limitações, ou seja, a

realidade familiar em que realmente se encontram, na qual não deva ser levado em

consideração apenas a renda per capita, mas sim o contexto familiar, condições sociais,

moradia, pessoa com deficiência, idosos, famílias nas quais os responsáveis familiares são

Trabalho de Conclusão de Curso 21

mulheres. Tal discurso se dá por considerarmos a renda per capita estabelecida pelo programa

muito baixa, fazendo com que algum membro da família busque melhoria de sua qualidade de

vida com receio de perder o beneficio.

Partindo da discussão acima foi que durante a pesquisa podemos verificar a suma

importância do profissional na averiguação das condicionalidades, seja ele e Assistente Social,

as famílias necessitam de um apoio e acompanhamento, principalmente as da zona rural, que

não possuem acesso e ficam longe do que se trata na cidade, as orientações são importantes e

pertinentes para que haja um retorno não somente quantitativo e qualitativo na garantia de

direitos dessas famílias.

Existem vários pensamentos relacionados ao PBF, porém há de se notar a importância

deste para as famílias que se encontram em vulnerabilidade, as condicionalidades fortaleceram

o acesso de muitos na educação, saúde e assistência social, pois essas pessoas não estão ali

participando por conta do dinheiro que recebem mensalmente e sim buscando melhor qualidade

de vida, emancipação, mercado de trabalho de qualidade, entre outros.

Então se entende que se aplica ao Serviço Social entrelaçado com o programa Bolsa

Família, a busca ativa, acompanhamento das condicionalidades e fazer com que sejam

cumpridas as exigências necessárias para que se tenha uma Politica Pública justa e eficaz para

todos.

Assim concluímos que não basta apenas criar a Política Pública justa e eficaz e sim que

ela saia do papel e atenda as famílias, que haja profissionais comprometidos com o trabalho,

pois de crítica por crítica já se tem demais, o que ser que haja uma crítica construtiva em que

as pessoas possam ser verdadeiramente valorizadas, que o PBF, não seja objetos de diversas

contraversões e que possa valer o lado positivo do beneficio, fazer com que essas famílias

possam se empoderar e seguir seu caminho, buscando o melhor para si e a comunidade em que

vivem.

7 REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição Federal de 1988.

BRASIL. Lei Orgânica da Assistência. Lei Nº 8.742, de 7 de Dezembro de 1993.

Trabalho de Conclusão de Curso 22

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