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EVASÃO ESCOLAR: UMA VIOLAÇÃO DOS DIREITOS DE MENINOS E MENINAS DE ESCOLAS PÚBLICAS DA CIDADE DE CORUMBÁ – MS Ednaldo da Silva Ramos 1 RESUMO O trabalho “Evasão Escolar: uma violação dos direitos de meninos e meninas de escolas públicas da cidade de Corumbá - MS” faz parte do Curso de Especialização “Educação, Pobreza e Desigualdade Social” do CPAN/UFMS como trabalho de conclusão de curso. Refere-se a uma proposta de trabalho para disponibilizar subsídios que auxiliam em identificar as causas da evasão escolar entre alunos oriundos de escolas públicas, e na perspectiva de construir meios para garantir a permanência destes alunos na escola. A prioridade em escolher o tema da evasão escolar deu-se pelo motivo de que um a cada quatro alunos que inicia o ensino fundamental no Brasil abandona a escola antes de completar a última série. Tendo por esse motivo o trabalho a intenção de verificar quais as causas que fazem meninos e meninas se afastarem da sala de aula. A pesquisa foi realizada com alunos evadidos de uma escola pública da cidade de Corumbá- MS no período de junho a novembro do ano de 2016. A metodologia referiu-se a um estudo quanti-quali, as respostas foram adquiridas através dos instrumentos de observação, do questionário e de entrevista, cujos resultados da pesquisa e avaliação dos dados após analisados podem contribuir para uma compreensão mais acurada sobre os problemas da Evasão Escolar nas Escolas do Ensino Público na Cidade de Corumbá-MS. Palavras-chave: Direito. Escola. Evasão escolar. 1 INTRODUÇÃO Esse trabalho tem por finalidade identificar questões referentes à Evasão Escolar e a violação dos direitos no ensino das escolas públicas do ensino fundamental de Corumbá – MS. Na trajetória da Evasão Escolar estudos importantes apontam que ainda há muito que se fazer em busca de minorar, ou seja, de reduzir o problema que tem incomodado a sociedade - o distanciamento do aluno da sala de aula. Alguns pontos podem ser destacados como relevantes para o tema em questão, o trabalho infantil, a desmotivação em permanecer em sala de aula e as dificuldades em se deslocar à escola. Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, no seu Capítulo IV, Art. 53, “a criança e o adolescente têm direito a educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho” (ECA, 1990, p.40). Assegurando-lhes, como aponta o inciso I deste mesmo artigo, “a igualdade de condições para o acesso e permanência na escola” (ECA,1990, p. 40). 1 Graduado em Psicologia pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – Campos do Pantanal em Corumbá- MS. Trabalho de Conclusão de Curso de Pós Graduação em Educação, Pobreza e Desigualdade Social- UFMS/CPAN–Corumbá-MS.

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EVASÃO ESCOLAR: UMA VIOLAÇÃO DOS DIREITOS DE MENINOS E MENINAS DE ESCOLAS PÚBLICAS DA CIDADE DE CORUMBÁ – MS

Ednaldo da Silva Ramos1

RESUMO O trabalho “Evasão Escolar: uma violação dos direitos de meninos e meninas de escolas públicas da cidade de Corumbá - MS” faz parte do Curso de Especialização “Educação, Pobreza e Desigualdade Social” do CPAN/UFMS como trabalho de conclusão de curso. Refere-se a uma proposta de trabalho para disponibilizar subsídios que auxiliam em identificar as causas da evasão escolar entre alunos oriundos de escolas públicas, e na perspectiva de construir meios para garantir a permanência destes alunos na escola. A prioridade em escolher o tema da evasão escolar deu-se pelo motivo de que um a cada quatro alunos que inicia o ensino fundamental no Brasil abandona a escola antes de completar a última série. Tendo por esse motivo o trabalho a intenção de verificar quais as causas que fazem meninos e meninas se afastarem da sala de aula. A pesquisa foi realizada com alunos evadidos de uma escola pública da cidade de Corumbá-MS no período de junho a novembro do ano de 2016. A metodologia referiu-se a um estudo quanti-quali, as respostas foram adquiridas através dos instrumentos de observação, do questionário e de entrevista, cujos resultados da pesquisa e avaliação dos dados após analisados podem contribuir para uma compreensão mais acurada sobre os problemas da Evasão Escolar nas Escolas do Ensino Público na Cidade de Corumbá-MS. Palavras-chave: Direito. Escola. Evasão escolar. 1 INTRODUÇÃO

Esse trabalho tem por finalidade identificar questões referentes à Evasão Escolar e a

violação dos direitos no ensino das escolas públicas do ensino fundamental de Corumbá – MS.

Na trajetória da Evasão Escolar estudos importantes apontam que ainda há muito que se

fazer em busca de minorar, ou seja, de reduzir o problema que tem incomodado a sociedade -

o distanciamento do aluno da sala de aula. Alguns pontos podem ser destacados como

relevantes para o tema em questão, o trabalho infantil, a desmotivação em permanecer em sala

de aula e as dificuldades em se deslocar à escola.

Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, no seu Capítulo IV, Art. 53,

“a criança e o adolescente têm direito a educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua

pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho” (ECA, 1990, p.40).

Assegurando-lhes, como aponta o inciso I deste mesmo artigo, “a igualdade de condições para

o acesso e permanência na escola” (ECA,1990, p. 40).

1 Graduado em Psicologia pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – Campos do Pantanal em Corumbá-MS. Trabalho de Conclusão de Curso de Pós Graduação em Educação, Pobreza e Desigualdade Social-UFMS/CPAN–Corumbá-MS.

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Retomam-se, entretanto, que o comportamento do aluno no núcleo escolar parece ser

determinado por aquilo que a escola e a sociedade oferecem, tratando-se neste caso de seus

objetivos, valores, incentivos, condições de ensino, fatores econômicos, ambientais,

localização, entre outros. Sendo observado que a criação do programa bolsa família e suas

condicionalidades tiveram como um dos objetivos, garantirem a permanência do aluno na

escola. No âmbito do Programa Bolsa Família, as condicionalidades se justificam pelo contexto histórico de desigualdades vivenciadas pelas famílias em situação de pobreza. São compromissos assumidos pelas famílias do PBF e, em especial, pelo poder público, a fim de que este contribua para elevar a efetivação do direito à educação e à saúde dessas famílias (SILVA, 2010, p.37).

Na visão de Neri (2014), o Programa Bolsa Família contribuiu positivamente, trazendo

resultados significantes tanto na esfera escolar quanto familiar. Comentando de forma explícita

o seguinte: Para além da reunião de ações esparsa pré-existentes, o bolsa família criou uma nova estrutura, aperfeiçoou mecanismos, adicionou benefícios e ampliou o alcance e impacto distributivo das transferências. Com o plano Brasil Sem Miséria, lançado em 2011, mais famílias que precisavam ser cobertas, foram encontradas e ganharam acesso aos benefícios. Mais serviços de assistência social, educação, saúde e inclusão produtivas passaram a ser oferecidos e, dando mais a quem tem menos, foram instituídos pagamentos diferenciados sob medidas para cada família, no valor necessário para cada pessoa cadastrada supere a extrema pobreza a partir de 2013 (NERI, 2014, p.19).

Tornando-se evidente que o programa bolsa família vem trazendo à população pobre e

as famílias que vivem em situação de extrema pobreza, benefícios que de certa forma, fazem

minimizar a situação de miséria em que se encontram. Impondo também, para aqueles

beneficiários do programa, condições que por outro lado, trazem benefícios, principalmente na

esfera da educação, fazendo diminuir de certa forma, a permanência do aluno fora da escola.

Devendo ressaltar ainda que Diante das conquistas realizadas na área da educação,

torna-se importante esclarecer o que aponta Silva (2010), no que diz respeito às

condicionalidades as quais são previstas matrícula e a frequência escolar mínima de 85% para

crianças e adolescentes entre 6 e 15 anos e de 75% para jovens de 16 e 17 anos.

A cidade de Corumbá está além desse índice conforme aponta Boletim/Ministério do

Desenvolvimento e Combate a Fome (MDS, 2014): O Brasil Sem Miséria no seu Município, na cidade de Corumbá, em relatório gerado em setembro de 2014, 99,24% das crianças e jovens de 6 a 17 anos de

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idade do bolsa família têm acompanhamento de frequência escolar. Sendo a média nacional 92, 03%. Estando o município acima da média, mas ainda assim é importante que as secretarias de assistência social e de educação continuem trabalhando juntas para aumentar o número de famílias cujos filhos têm frequência escolar (MDS, 2014, p.2).

São números relevantes, porém, estudos precisam ser feitos para melhor conhecer essa

realidade, construindo conhecimentos técnicos a respeito da evasão escolar referente aos alunos

das escolas municipais de Corumbá-MS.

A pesquisa teve como objetivo geral identificar e registrar as causas da evasão escolar

no contexto de escolas públicas da cidade de Corumbá/MS. Tendo ainda como objetivos

específicos: verificar os níveis de relações que existem entre o aluno e a escola; analisar o

relacionamento destes alunos fora do ambiente escolar em diferentes contextos como: família

e comunidade; e realizar uma escuta desses alunos que estão fora da escola do ensino

fundamental deste município com o intuito de apresentar possibilidades de manter ou trazer de

volta os meninos e meninas evadidos das escolas.

Com o trabalho se verificou os por quês da evasão escolar, questionando de antemão,

quais os prejuízos dessas famílias que têm seus filhos fora das salas de aulas. Qual o universo

desses alunos, ou seja, qual o ambiente desses alunos, como vivem esses alunos? A família era

participante do programa bolsa família? Seriam oriundos de famílias pobres? Quais as maiores

dificuldades que o impediam de frequentar a escola? O que deveria se julgar necessário para

mudar essa situação?

Entende-se, que pesquisas realizadas sobre a evasão escolar têm ocorrido ultimamente

em grande frequência destacando-se vários aspectos referentes às causas do afastamento de

alunos da sala de aula. Segundo relatório realizado pelo Programa das Nações Unidas para o

Desenvolvimento, um a cada quatro alunos que inicia o ensino fundamental no Brasil, abandona

a escola antes de completar a última série (PNUD, 2012).

Com o propósito de se conhecer as causas da evasão de forma mais detalhada, optou-se

por um estudo quantitavo-qualitativo, no qual a coleta se deu por meio de instrumentos de

observação, de entrevista semi-estruturada, com auxilio de gravação, cujos resultados depois

de organizados foram analisados através de uma abordagem teórica planejada para o trabalho. Ao conceber o processo de pesquisa como um mosaico que descreve um fenômeno complexo a ser compreendido é fácil entender que as peças individuais representem um espectro de métodos e técnicas, que precisam estar abertas a novas ideias, perguntas e dados. Ao mesmo tempo, a diversidade nas peças deste mosaico inclui perguntas fechadas e abertas,

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implica em passos predeterminados e abertos, utiliza procedimentos qualitativos e quantitativos (GÜNTHER, 2006, p.203).

Os sujeitos da pesquisa pertenceram ao universo de alunos do ensino fundamental de

escolas públicas do município de Corumbá-MS, no período de setembro a outubro de 2016. As

visitas foram realizadas em dias da semana em horários alternados conforme lista previamente

obtida pela coordenação da escola.

Considerando a utilização de procedimentos e instrumentos foram necessários três

etapas. Preparação do material incluindo a definição do quadro conceitual; elaboração das

entrevistas, que foram realizadas junto aos adolescentes e o terceiro, a análise dos dados.

Conforme Mayring (2002) apud Günther (2006, p.202), “a pesquisa qualitativa apresenta as

principais características gerais: coleta de dados; objeto de estudo, interpretação de resultados

e generalização”. Mayring (2002, p.202), continua afirmando que: “não exclui a quantificação,

mas enfatiza que a função importante da abordagem qualitativa é a de permitir uma

quantificação com propósito”.

Minayo (2009) resume essa abordagem afirmando que: “o conjunto de dados

quantitativos e qualitativos, porém, não se opõem. Ao contrário, se complementam, pois a

realidade abrangida por eles interage dinamicamente, excluindo qualquer dicotomia”

(MINAYO 2009, p.22).

Sendo assim, procurou-se identificar as causas da evasão escolar entre alunos oriundos

de escola pública na perspectiva de construir meios para que esse índice seja atenuado,

verificando os níveis de relações que existiam entre aluno e escola para que ocorresse a evasão

escolar, e realizada uma análise sobre o relacionamento destes alunos fora do ambiente escolar.

Contando ainda que o trabalho está dividido em três partes. Uma parte introdutória como

abertura. A segunda parte, a qual apresenta as categorias que se relacionam com o contexto de

discussão da evasão escolar, uma visão dos direitos relacionados a escola e a frequência escolar.

Finalizando com a terceira parte a qual faz um resumo dos resultados na análise da pesquisa.

2 AS CATEGORIAS QUE SE RELACIONAM COM O CONTEXTO DE DISCUSSÃO

DA EVASÃO ESCOLAR

A evasão escolar é uma problemática que vem se desenrolando através do tempo, vários

educadores já realizaram pesquisas e outros trabalhos no sentido de verificar as causas de o

aluno deixar de frequentar a escola. Esta pesquisa veio a verificar que as causas da evasão

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escolar são principalmente por questões de desmotivação, indisciplina, falta de credibilidade

no ensino/aprendizagem, tanto por parte dos pais quanto dos filhos, distância, além de outras

questões ligadas não só ao ambiente escolar, como também fora deste ambiente.

2.1 Direitos Humanos

A discussão sobre os Direitos Humanos tem início a partir das últimas décadas do século

XVII. Os governos e as elites se mostravam arbitrários ao extremo, surgindo um movimento de

luta contra essas classes sociais no sentido que houvesse maior respeito e dignidade à

humanidade que sofriam nas mãos da minoria aristocrática.

A partir do movimento, que foi se fortificando a cada período, em 1948 surge a

Declaração dos Direitos Humanos, seu principal objetivo era iniciar um combate contra as

violações dos direitos, principalmente o direito das mulheres, crianças, idosos e pessoas com

deficiência; da proibição de tratamento desumano e cruel, como bem aponta o Art. 5 da

declaração: “Ninguém será submetido a tortura nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos

ou degradantes”. Ou seja, excluir qualquer forma de discriminação, seja de gênero, raça, cor,

classe social, entre outros.

Na tentativa de mudar grande parte do que vinha acontecendo com a humanidade frente

esse contexto histórico, surgem os Direitos Humanos, com o intuito de minimizar o sofrimento

da humanidade. Mas, apesar das mudanças ocorridas, com a implantação dos direitos humanos,

a sociedade ainda hoje se apresenta com certa desconfiança referente a esses direitos,

principalmente quanto a prática de suas ações, ou seja, quanto ao cumprimento dos 30 artigos

expostos na Declaração dos Direitos Humanos.

No Brasil os direitos Humanos, como história, se fortaleceu no período do regime

Militar que se desenvolveu entre os anos de 1964 a 1985. As violações dos direitos e liberdades

individuais e coletivas estavam ocorrendo de forma desenfreada. O Art 1º dessa Declaração é

bem claro ao afirmar que “todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em

direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de

fraternidade”. Surgindo a partir do entendimento dessas violações, movimentos em prol dos

Direitos Humanos, dando também significante contribuição no espaço da Educação em Direitos

Humanos.

O tema da infância e da adolescência tem estado presente no Brasil há pelo menos duas décadas, não só nas discussões teóricas que orientam a pesquisa

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acadêmica, mas também nas políticas públicas e nas lutas dos movimentos sociais. Recentemente tem havido conquistas no plano legal – o Estatuto da Criança e do Adolescente, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a Lei Orgânica da Assistência Social -, embora nem sempre acompanhadas pela alocação dos recursos que são imprescindíveis e pelas ações concretas necessárias para tornar fato o preceito constitucional: Crianças e Adolescentes são cidadãos de direitos (BAZÍLIO; KRAMER, 2008, p.13).

Este fortalecimento deu-se mais, com a elaboração da constituição de 1988,

principalmente no que diz respeito a inviolabilidade de direitos e liberdade básica, estes fizeram

fortalecer de certa maneira a igualdade e com maior ênfase, o direito a educação infantil. Em

contrapartida, Basílio e Kramer (2008) no que diz respeito à população infantil e jovem faz

alusão à situação de risco, violência ou exclusão da seguinte forma:

[...] meninos (de ou na ) rua, crianças vitimas de maus tratos – como configurasse um grupo social a parte; as contribuições advindas dos estudos de caráter histórico ou sociológico da infância ou das investigações do campo pedagógico penetram pouco aqui. Será que nós, pesquisadores da área educacional ao tratar, por exemplo, de ensino/aprendizado ou da leitura escrita, da prática pedagógica e dos saberes docentes, temos perguntado sobre as condições das crianças que estão na escola, do ponto de vista de seu cotidiano fora da escola? Ou ao olharmos apenas como alunos? E, ao abordar as interações das crianças nas creches e pré-escolas, nos deixamos inquietar pelas práticas e interações estabelecidas como essas mesmas crianças fora do contexto institucional? É verdade que tivemos conquistas significativas com o Estatuto da Criança e do Adolescente, mas essas conquistas chegaram às escolas, as creches, as pré-escolas?[...] (BAZÍLIO; KRAMER, 2008, p.13).

São pontos importantes que nos leva a refletir sobre as condições sociais e econômicas

dessas crianças/adolescentes, o seu dia a dia, os seus direitos às vezes violados seja pela própria

família ou até mesmos pela sociedade, tornado-se fatores importantes que poderão servir como

alicerce para evasão escolar.

2.2 Pobreza

A pobreza é algo que preocupa, não só as famílias que sofrem com esse fenômeno, mas

também àqueles que direta ou indiretamente, realizam trabalhos, programas e projetos no

sentido de minimizar essa situação. Viver em regime de pobreza é algo preocupante não só no

Brasil, mas o mudo inteiro. Como aponta Jovchelovitch e Wertthehein (2003). A grande maioria dos 2 ou 3 bilhões de seres humanos que se acrescentarão a população do mundo antes do fim deste século estarão exposta a pobreza. Ela vem colocando pressões alarmantes sobre o meio ambiente e os equilíbrios globais. As cifras são apocalípticas: 8 milhões de crianças morrem a cada ano em razão de pobreza, 150 milhões de crianças com menos de cinco anos sofrem de desnutrição extrema, 100 milhões de crianças moram nas ruas. A

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cada três segundos, a pobreza mata uma criança em algum lugar. (JOVCHELOVITCH; WERTTHEHEIN, 2003 p.27).

A maioria das pessoas tem em mente que o único critério para entender a pobreza é

quem tem renda baixa, mas esse é apenas um deles. Ser pobre não é só isso, ser pobre

geralmente são indivíduos que não são providos de uma educação formal adequada, sem uma

formação profissional fixa, tendo por isso na maioria das vezes terem que exercer atividades

rústicas ou -pesadas, passando a receber por conta disso, baixa remuneração e ser também um

cidadão não qualificado. Outros critérios podem ser somados a estes e que são de grande

relevância para a classificação da pobreza, são a etnia, índios ou negros. Faltam de esperança,

variação do rendimento, lugar de residência, composição e estrutura da família, classe social,

econômica e idade. São fatores que são observados no dia a dia e que de certa maneira precisa

Em outras palavras, ser pobre é a falta de condições básicas para uma vida saudável, má

nutrição, moradia precária, ausência de assistência médica básica, o acesso à educação com

dificuldades, falta de saneamento básico, luz elétrica, entre outros, e ter uma renda per capita

de R$ 77,00, modificado pelo Decreto 8.794, nº de 29 de junho de 2016 “Art. 18. O Programa

Bolsa Família atenderá às famílias em situação de pobreza e extrema pobreza, caracterizadas

pela renda familiar mensal per capita de até R$ 170,00 (cento e setenta reais) e de R$ 85,00

(oitenta e cinco reais), respectivamente.

O programa bolsa família criado pelo governo federal, é um programa em que através

de transferência de renda contribui com milhares de famílias brasileiras a saírem da situação de

pobreza e de extrema pobreza.

O governo federal ao criar o programa bolsa família, paralelamente, também criou

condicionalidades que de forma sucinta implica em algumas condições que as famílias

contempladas com o programa têm a obrigação de cumpri-las, entre elas, a permanência das

crianças na escola, isto porque antes da criação dos programas do governo federal, destacando

o bols///////////////////////////////////////////a família, a evasão escolar se apresentava em maiores

proporções e o número de criança em situação de trabalho infantil era mais notória.

Segundo Ferro e Nicollela (2007) apud Campêlo e Cortêz (2013) referente aos impactos

dos programas de transferência de renda concernente a participação no mercado de trabalho: Os resultados dos autores apontam para uma redução na participação no mercado de trabalho das crianças e adolescentes como decorrência da participação no programa. Concretamente, o programa chega a reduzir a probabilidade desta participação em 12,9 p.p. no caso das meninas de 11 a 15 anos de idade residentes no campo, mas tão somente 0,6 p.p. para as com 6 a

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10 anos de idade residentes nas cidades. A redução em 4,8 p.p na probabilidade dos meninos de 11 e 15 anos trabalharem mostra quão expressivos são os resultados alcançados por estes autores na diminuição do trabalho infantojuvenil. Contudo, os autores concluem não haver diminuição do tempo dedicado ao trabalho por esta população (CAMPÊLO e CORTÊZ, 2013, p.312).

O Programa ajuda muitas famílias a saírem da situação de extrema pobreza e ao mesmo

tempo dá melhores condições a permanência da criança na escola, melhorando sua

aprendizagem, e ao mesmo tempo, fazê-las fugir da situação de exploração do trabalho infantil

e da situação de menino na rua esmolando, ou seja, pedindo esmolas para se alimentarem e

ajudar na alimentação dos outros membros da família como acontecia antes da implantação dos

programas do governo federal. Fato que ocorria na cidade Corumbá há uns cinco anos, no qual

se via crianças nas feiras e nas entradas das danceterias cuidando carros, nas portas dos

restaurantes pedindo dinheiro, e nas casas perguntado se tinha pão para dá. Hoje se ainda

acontece é esporadicamente.

Assim, Crespo e Gurovitzuma (2012) resumem o conceito de pobreza dada pelos pobres

da seguinte maneira: Pobreza é fome, é falta de abrigo. Pobreza é estar doente e não poder ir ao médico. Pobreza é não poder ir à escola e não saber ler. Pobreza é não ter emprego, é temer o futuro, é viver um dia de cada vez. Pobreza é perder o seu filho para uma doença trazida pela água não tratada. Pobreza é falta de poder, falta de representação e liberdade (CRESPO e CUROVITZUMA, 2012, p. 11).

Demonstrando assim, que ser pobre engloba vários fatores, e não apenas um fator como

é comentando no senso comum o qual apresenta apenas um critério que diz que, ser pobre é

apenas aqueles que têm renda baixa, ou seja, pouco dinheiro.

2.3 Evasão Escolar

A inserção na escola é um direito de todos, como também é direito da família, da

comunidade e da sociedade se engajarem para garantir a permanência dos alunos no ambiente

escolar. Mas existem diferentes situações que fazem com que a criança ou adolescente se

afastem do ambiente escolar. O que não se pode afirmar como abandono, e sim, como evasão

escolar. Como afirma Klein (2008) in Diniz (2015). Abandono e evasão possuem significados diferentes, embora com características semelhantes. Segundo ele, o abandono refere-se ao aluno matriculado que deixa de frequentar a escola durante o andamento do ano letivo, sem comunicação formal ou ter solicitado a transferência. Em contrapartida, a evasão ocorre quando o aluno matriculado em determinada

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série, em determinado ano letivo, não renova sua matrícula para o ano seguinte, independentemente se foi aprovado ou retido (KLAIN, 2008 apud DINIZ, 2015, p. 20).

A Problemática que preocupa todos os setores educacionais, tanto no ensino médio

quanto no ensino fundamental. A percepção da evasão escolar como um termo único seria como

uma generalização inviável, pois existem muitos fatores que a levam a esse fim e com diferentes

significados a seu respeito.

Se formos levar em conta à educação básica, a evasão estaria inserida na questão de o

aluno não frequentar a escola. Mas esse não comparecimento à sala de aula provavelmente não

deve ocorrer pela simples vontade do aluno, mas também por diversos fatores paralelos que

podem influenciar no seu afastamento. A falta de motivação, ou desinteresse do aluno em ir à

aula, a dinâmica de ensino, a desestruturação das famílias, falta de vagas, situações biológicas

do aluno, escolas inadequadas, a dinâmica de ensino, distância, a violência, tudo isso podem

ser vieses, ou seja, tendência ao afastamento do menino e menina da sala de aula. Porém, a

Constituição Federal de 1988 no art. 208 estabelece: O direito à educação como direito público subjetivo, o que significa que o indivíduo que não tiver acesso ao ensino considerado obrigatório possui mecanismos jurídicos para fazer valer esse direito. Cabe ao cidadão a faculdade de exigi-lo quando lesado. A Emenda Constitucional nº 59 de 2009, modificou a redação do mencionado art. 208, estabelecendo que a educação básica é obrigatória e gratuita dos quatro aos 17 anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria. (JOVCHELOVITCH; WERTTHEHEIN, 2003 p.14)

Martins (2012) apresenta um pensamento importante quanta à evasão escolar, para ela,

esse fenômeno ocorre pelo fracasso das relações sociais. Fazendo-se entender de certa forma,

que a vida cotidiana mostra-se cada vez mais fragilizadas. Comentário que faz uma

correspondência entre pobreza e o impacto na educação.

Outra situação que ocorre segundo Craveiro e Ximenes (2013) são os obstáculos

encontrados pelas famílias que vivem em situação de pobreza e extrema pobreza quanto ao

ingresso e permanência de suas crianças na escola. Estes estudiosos apontam esta questão da

seguinte forma: Outra constatação, ao longo das décadas, é que as famílias que se encontram em circunstâncias de pobreza e extrema pobreza têm apresentado maiores dificuldades para que suas crianças, adolescentes e jovens tenham acesso à escola e nela permaneçam até a conclusão da educação básica. Isto ocorre, muitas vezes, em razão da inserção, de modo precoce, no mercado de trabalho formal ou informal, bem como da incompreensão da família sobre a

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importância da educação e da escolarização (CRAVEIRO;XIMENES, 2013, p.110).

Dessa forma, conforme o exposto é diverso os fatores que contribuem para a evasão

escolar. Klaim (2008) comenta de forma sucinta e objetiva, que quando o aluno matriculado

em determinada série, em determinado ano letivo, não renova sua matrícula para o ano seguinte,

independentemente se foi aprovado ou retido.

3 OS CAMINHOS DA PESQUISA – RESULTADOS

Na pesquisa foi utilizado um método de cunho qualitativo e quantitativo no qual as

respostas foram adquiridas através dos instrumentos da entrevista semiestruturada, realizada

por meio de questionários com 12 questões, aplicadas em quatro alunos do ensino fundamental

da rede pública estadual e municipal da cidade de Corumbá-MS. Procurou-se verificar a

percepção do aluno sobre o tema, e na sequência do trabalho foi realizada uma análise das

principais causas e a partir dessa análise abrangendo aplicação e tabulação das respostas da

pesquisa, buscou-se entender melhor essas causas no sentido de diminuir na medida do possível

as consequências que podem causar a evasão escolar.

3.1 Descrição dos Sujeitos

Foram entrevistados quatro alunos de escolas públicas, sendo três de escola pública

estadual, e um de escola pública municipal, sendo três do sexo feminino as quais podemos

denominar de: A.B, C.D, E.F e um do sexo masculino de nome, G.H. Tendo duas com idade

de quinze anos, que são: A.B e C.D. Uma com idade de dezesseis anos chamada de E.F e um

com idade de 18 dezoito anos com o nome de G.H. Sendo que A.B e C.D, têm filhos. (tabela

01). Tabela 01 – Descrição dos alunos participantes da pesquisa quanto a Idade, Sexo e Filhos do Ensino Fundamental de Escolas Públicas - EFEP de Corumbá-MS/2016.

IDADE SEXO MASC. FEM.

TEM FILHOS MASC. FEM.

TOTAL

18 01 01

16 01 01

15 02 02 02 TOTAL 01 03 02 04

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3.2 As entrevistas

Quanto a evolução das entrevistas foram realizadas em momentos diferentes os quais

seriam entregues os questionários que estariam sendo respondidos durante a entrevista. As

coletas de dados realizadas tiveram um tempo médio de 30 minutos, tendo os primeiros cinco

minutos para informar ao sujeito dos objetivos da pesquisa, e os minutos restantes para

respostas as questões. As questões iniciais eram de forma fechada ocorrendo que durante a

coleta algumas opiniões iam surgindo e sendo adicionadas.

No desenvolvimento do trabalho os quatro entrevistados responderam que moram com

os pais. Sendo importante fazer um contraponto ao firmar que esta primeira parte da entrevista,

ou seja, as primeiras sete questões, foi realizada através de perguntas mais diretas.

Dando continuidade as entrevistas ao responder sobre quantas pessoas residem em sua

casa, G.H disse que moram dez pessoas. A.B afirmou sete pessoas, enquanto E.F disse que

moram quatro pessoas e C.D respondeu que três pessoas residem em sua casa.

Sobre quantos cômodos têm na casa. C.D disse que tinham sete. G.H respondeu quatro

cômodos. E.F disse que tinham três e A.B respondeu que havia dois cômodos em sua casa.

Ao se tratar da renda familiar os quatros responderam que não sabem. Mas ao serem

questionados sobre quantas pessoas trabalham na casa, E.F e G.H responderam que duas

pessoas trabalham em sua casa. C.D disse que apenas uma trabalha e A.B respondeu que

nenhuma pessoa trabalhava.

Se a família recebia o benefício do programa bolsa família, A.B e G.H responderam que

sim e E.F e C.D responderam que não recebem benefício do programa bolsa família.

Torna-se importante ressaltar que na residência de G.H residem 10 pessoas, apenas dois

membros trabalham e a família é beneficiária do programa bolsa família. Um número grande

de pessoas para uma casa de apenas quatro cômodos. Podendo citar nessa questão o fator

ambiental e o fator econômico os quais poderiam ter também interferido para um bom

desempenho escolar de G.H, ocorrendo por estes motivos, certa desmotivação para o estudo, e

em consequência o afastamento do mesmo da escola.

Referente as maiores dificuldades que os impedem de frequentar a escola, E.F e G.H

responderam por causa da violência: “tem muita briga na escola” foi o comentário de G.H. Este

outro ponto importante que merece ser comentado.

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A violência física, verbal e psicológica, ou melhor, a pratica do bullying, também pode

ser considerado um dos fatores preponderantes para o afastamento do aluno da sala de aulas, o

medo de denunciar o autor, o medo de sofrer novas agressões, o medo de contar em casa, e a

omissão, por muitas vezes da escola, são variáveis que podem contribuir para que o aluno deixe

de comparecer ao ambiente escolar. Ainda sobre as dificuldades que os impedem de frequentar

a escola, A.B respondeu, ”porque teria de ficar com o filho” e C.D disse, “por motivo da

distância”.

E no que diz respeito ao que julga necessário para mudar essa situação G.H e E.F,

responderam não saber o que seja necessário para modificar essa situação, enquanto A.B disse

que “poderia ter mais creches” e C.D comentou: “tentar estudar mais perto”.

A distância também nos leva a crer que seja um dos pontos positivos para o afastamento

do aluno da escola. Às vezes o aluno mora em locais onde o transporte é precário, ou mesmo,

não tem condições de apanhar um transporte e ter que se deslocar a pé até a escola, e ás vezes,

sozinhos sem a companhia de um dos pais ou responsável. Importante lembrar que, durante

esse trajeto da casa para a escola e da escola para casa, varias situações desagradáveis podem

ocorrer com a criança que está se deslocando sozinha, principalmente a interferência de uma

pessoa maior para oferecer algo ilícito, praticar ameaças, ou até mesmo violência física contra

esta. Deixando a criança vulnerável, com medo de se deslocar até a escola sozinha, e por conta

disso, passando a perder a motivação pela mesma.

GH disse gostar de várias atividades na escola, atividades como português, educação

física e história e gostar menos de matemática, inglês e geografia. Mas segundo as respostas

anteriores de GH, a violência na escola foi um dos fatores que o fez se afastar da mesma. E.F

disse gostar de todas e menos da matemática. C.D respondeu gostar da Educação física e gostar

menos de português. Enquanto A.B disse que gosta de vôlei e gosta menos de queimada.

Durante a entrevista foi comentado se essa atividade que não gosta o faria se afastar da

escola. C.D respondeu: “não, é mais porque a escola é longe”. Reforçando nitidamente a

resposta anterior. A.B, E.F, e G.H, responderam que não. Ao responderem sobre, se as dúvidas

eram sempre tiradas quando sentia dificuldades em determinado tema. C.D e G.H responderam

sim. A.B respondeu que não e E.F disse que às vezes.

Em continuidade ao serem abordados se já houve repetência de ano. C.D respondeu que

não, A.B, E.F e G.H disseram que sim. Tendo G.H repetido cinco vezes, A.B mencionou que

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quatro vezes e E.F respondeu uma vez. Sendo verificado que G.H repetiu o ano cinco vezes, o

mais repetente, mostrando mais uma vez que o ambiente físico, a desigualdade social, o fator

econômico, ainda são variáveis para a repetência.

Ainda durante a entrevista se a repetência influenciou no afastamento da escola. Todos

quatro responderam que não influenciou. Garschange (2007), diz que a baixa qualidade do

ensino básico brasileiro é traduzida pelos altos índices de repetência e evasão escolar.

Sobre a distância da casa para a escola. A.B respondeu: “é muito longe”. C.D “disse:

‘é muito longe e muito calor para ir pra a escola”. G.H respondeu, “ser um pouco longe”, e E.F

disse ‘ser boa”. Se a distância influenciou para o afastamento da escola. A.B e C.D afirmaram

que sim, e E.F e G.H afirmaram que não.

Embora o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), no seu art. 53 –V, p. 23, ser

bem claro ao afirmar que a criança e o adolescente têm direito ao acesso a escola pública e

gratuita próxima a sua residência, infelizmente, isso não acontece com todos, principalmente

porque o Estado de modo geral, não oferece condições para tal.

A violência ainda continua sendo algo preocupante no ambiente escolar sendo um dos

fatores para o afastamento destes da escola, donde a metade dos entrevistados terem respondido,

ser esta uma das dificuldades que têm encontrado para que permaneçam na escola. Tendo A.B

respondido que às vezes brigam e E.F comentado ter muita briga na escola. Enquanto C.D

respondeu “não tenho dificuldades porque gosto de estudar” e G.H Também disse “não tenho

dificuldades porque na escola têm amizades legais”. Na opinião de C.D, E.F e G.H, estes

disseram que na escola não aconteceu algo que possa se relacionar com o seu afastamento e

A.B disse que sim. Porém, com relação a violência, uma das principais causas é a pratica do

bullying, ou violência física, psicológica e verbal. Como acima citado.

Será que a escola observa os seus alunos dentro e fora da escola? Como bem aponta

Bazílio, 2008. “Quantas crianças e jovens vitimas de maus tratos e abusos sexuais contam com

as professoras para falar do que sofrem, procuram ajuda e obtêm encaminhamentos?”

(BAZILIO, 2008, p. 13). Mas, será que a escola está realmente comprometida com estes alunos

que precisam de maior apoio?

Concluindo as entrevistas, todos foram unânimes em responder não, quando foram

questionados se na família aconteceu algo que os fizeram afastar-se da escola. .

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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo revelou que a Evasão Escolar continua acontecendo em maior ou menor

escala. Fato que vem ocorrendo dependendo das variáveis que cultivam o afastamento do aluno

da sala de aula.

Tratando-se da Evasão Escolar de alunos do ensino fundamental da rede pública

estadual e municipal da cidade de Corumbá-MS, é notório que há uma necessidade de

progressão, sendo constatado que há certa escassez por parte de vários setores no sentido de

auxiliar estes sujeitos para que permaneçam comparecendo a escola, e não tenham os seus

direitos violados. Sendo percebida durante a pesquisa, a falta de motivação caracterizada por

questões de violência no ambiente escolar, notado também o afastamento da sala de aula por

motivo de gravidez na adolescência. Verificado o não comparecimento a escola, por motivo da

distância, e observado um número altíssimo de repetência por questões ambientais familiares.

Concernente ainda a violação deste direito, vale ressaltar a questão da pobreza, que de

uma forma ou de outra também pode ter influencia para o afastamento do sujeito da escola, por

falta de autoestima e em consequência a desmotivação para o estudo. Torna-se importante

afirmar que a pessoa que vive em situação de pobreza não quer dizer que este seja menos

inteligente que outros que vivem em melhores condições, mas o ambiente, ou seja, o lar, o

número de pessoas existentes nesse lar, a falta de recursos, tanto material quanto econômico,

tudo isso soma para que o aluno tenha motivação ou não para o estudo.

O governo federal dá sua parcela de colaboração no sentido de manter o aluno em sala

de aulas com o programa bolsa família, além de outros projetos referentes à educação

fundamental, oferecido por outras entidades não governamental, como o CAIJ – Centro de

Apoio Infantil Juvenil – Corumbá-MS, mas ainda faltam pontos importantes para minorar a

situação. Colocando sobre o palco, que as necessidades humanas básicas requerem condições

para viver com um mínimo de dignidade, como segurança, alimentação e vestuário, as

necessidades intelectuais também necessitam de condições mínimas para desenvolver sua

aprendizagem, como transporte escolar, segurança, comprometimento dos educadores, entre

outros. Como bem mencionado durante a pesquisa que a distância e a violência foram variáveis

para a metade dos entrevistados se afastarem da escola.

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Como é possível solucionar o problema da evasão escolar, se já foram realizados vários

trabalhos sobre a questão e a problemática continua. Cabe a Federação, ao Estado e ao

Município, se engajarem, e trabalharem na mesma perspectiva.

O Brasil é extenso, e não se torna viável criar uma política pedagógica globalizada, ou

seja, uma política pedagógica unificada, para a mesma população que mora numa metrópole

como São Paulo, e a mesma política pedagógica para quem reside numa cidade de médio porte

como Corumbá-MS. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) é bem claro no seu art 53

- parágrafo único, p.23, “É direito dos pais ou responsáveis ter ciência do processo pedagógico,

bem como participar das definições das propostas educacionais”.

O estatuto generaliza que é direito dos pais participarem das definições das propostas

educacionais. Mas, pouco se vê isso acontecer. Então, não é só a participação de um ou dois, é

preciso a participação de todos, e não só o aluno como vítima, como o principal causador da

evasão escolar, o aluno faz parte de um todo, por isso, é preciso a colaboração de todos, da

Federação, do Estado, do Município, das políticas públicas, da família e dele, o próprio aluno,

o que mais sai perdendo no desenrolar de toda a questão, para que dêem o melhor e consiga

alcançar o principal objetivo que e criar meios para pelo menos diminuir a problemática da

Evasão Escolar.

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