programa bolsa famÍlia: impactos e efeitos das...
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Trabalho de Conclusão de Curso
PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA: IMPACTOS E EFEITOS DAS
CONDICIONALIDADES NO CONTEXTO ESCOLAR
Luzanira de Deus Pereira da Silva1
Orientadora: Flavia Pedrosa de Camargo2
Resumo: O presente artigo tem por finalidade apresentar as implicações das condicionalidades do
Programa Bolsa Família no âmbito educacional para a melhoria do rendimento escolar e
permanência escolar. O grande desafio das escolas brasileiras contemporâneas é melhorar a
qualidade da educação e garantir a permanência da criança e do adolescente das camadas nos
bancos escolares até concluir seus estudos. Nessa perspectiva surgiram alguns
questionamentos que nortearam a pesquisa tais como: as condicionalidades corroboram para
a permanência de meninos e meninas das camadas populares na escola? Qual o impacto da
frequência escolar na aprendizagem? São indagações que buscaremos responder através da
pesquisa empírica que consiste numa abordagem qualitativa e será baseada no materialismo
histórico dialético. A pesquisa foi realizada em uma escola pública Municipal do município
de Corumbá-MS onde atende 844 discentes sendo que 452 são beneficiários/as do Bolsa
Família. Esperamos que a pesquisa possa contribuir para a maior compreensão acerca do
Programa Bolsa Família e de como esse benefício impacta no cotidiano dos meninos e
meninas no âmbito escolar e na vida social.
Palavras-chave: Programa Bolsa Família; Condicionalidades, Educação, Cidadania
INTRODUÇÃO
O Brasil é uma das maiores economias do mundo, mas é também um país que apresenta
grandes desigualdades socioeconômicas e uma parte considerável da população ainda vive
em situação de pobreza ou de extrema pobreza (RASSELA, 2013, p1.)
Convém pontuar que a pobreza leva a falta de instrução, uma vez que as crianças são
obrigadas a deixarem a escola para trabalhar e ajudar a família perpetuando assim o ciclo da
pobreza, pois sem escolarização e qualificação não há como entrar no mundo do trabalho.
1Pós-graduanda em Educação Social - Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – Campus do Pantanal. 2 Mestrado em Educação pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - Campus do Pantanal - Corumbá, MS, Brasil; Psicóloga Organizacional do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul.
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(PINZANI, REGO, 2013). A exclusão econômica resulta por sua vez, em exclusão social e
política, visto que os pobres passam a viver a margem da sociedade. (IDEM).
Pesquisas realizadas pelo PNAD- Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios aponta
que no Brasil tem 13 milhões de analfabetos com 15 anos ou mais, além disso, ainda tem o
problema do analfabetismo funcional, pessoas que dominam de forma rudimentar a leitura e a
escrita. Diante de tal problemática a educação tem sido um dos principais temas de
discussões e reflexões de órgãos governamentais e sociedade civil. Sua relevância deve-se ao
fato de abranger questões sociais, econômicas, políticas e culturais dos diferentes países que
veem na educação formal o pilar das mudanças estruturais da sociedade. (CORRÊA, 2011)
Nessa perspectiva, o programa Bolsa Família (PBF) foi criado pelo Governo Federal,
durante o mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva pela Lei nº 10.836 e
regulamentada pelo Decreto nº 5.209, de 17 de setembro de 2004. O programa é gerenciado
pelo Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) e beneficia famílias
pobres (com renda mensal por pessoa de R$ 60,01 a R$ 120,00) e extremamente pobres (com
renda mensal por pessoa de até R$ 60,00) como alternativa de mudança tendo como uma das
metas, no que tange a área da educação, vincular a transferência de renda à permanência da
criança e adolescente na escola (IDEM).
Ao participar do Programa, a família beneficiaria deve cumprir as seguintes condições:
manter crianças e adolescentes em idade escolar frequentando a escola; cumprir cuidados
básicos de saúde, calendário de vacinação para crianças de 0 a 6 anos; cumprir a agenda pré e
pós-natal para as gestantes e mulheres que estão amamentando. (BRASIL, 2011)
As condicionalidades impostas pelo governo federal na área da educação exigem das
famílias o compromisso de manterem seus filhos na escola, com frequência mínima mensal
de 85% para filhos até 15 anos e de 75% para jovens entre 16 e 17anos. (IDEM)
Podemos dizer que através de lutas e movimentos sociais ao longo da história, o acesso à
escola pública e gratuita está sendo gradativamente consolidado na modalidade do Ensino
Fundamental, porém o grande desafio das escolas brasileiras é melhorar a qualidade da
educação e garantir a permanência da criança e do adolescente nos bancos escolares até
concluir seus estudos. (GUEDES, GONÇALVES, NASCIMENTO,2015)
Diante desse grande desafio como já foi dito, perguntamo-nos: o Programa Bolsa Família
tem contribuído para reduzir a evasão escolar e consequentemente para a melhoria do
desempenho escolar dos educandos? A assiduidade das crianças melhorou com a
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implementação do PBF? São indagações que buscaremos responder através de um estudo
mais aprofundado referente ao Programa Bolsa Família no Município de Corumbá.
A pesquisa foi desenvolvida em uma escola da rede municipal de ensino da cidade de
Corumbá/MS, nas séries iniciais do Ensino Fundamental, tendo por finalidade investigar os
impactos do programa e das condicionalidades na redução da desigualdade social no contexto
escolar, bem como, na evasão escolar e seus desdobramentos para vida das crianças
beneficiarias. Esperamos que a pesquisa possa contribuir para a maior compreensão acerca
do Programa Bolsa Família e de como esse benefício impacta no cotidiano dos meninos e
meninas no âmbito escolar e na vida social.
1 Os princípios legais do Programa Bolsa Família sob a luz da Constituição de 1988
A constituição Federal de 1988 foi produzida no âmbito da luta democrática contra a
ditadura e representou um grande avanço para a época. Com todos os seus possíveis limites,
esta constituição criou o espaço jurídico para o desenvolvimento de políticas de direitos no
país. Com isso, abriu as portas para as políticas públicas com vistas a efetivação de uma
justiça social mínima; apregoada pelo próprio preâmbulo que afirma que o Estado
democrático deve assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a
segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de
uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos. O artigo 3º expressa os objetivos
fundamentais da República Federativa do Brasil I-construir uma sociedade livre, justa e
solidária; II- garantir o desenvolvimento nacional; III- erradicar a pobreza e a marginalidade
e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV- promover o bem a todos, sem preconceitos
de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras de discriminação (PINZANI, REGO,
2014, p.169).
A Constituição de 1988 consagrou novos princípios de reestruturação do sistema de
políticas sociais, segundo as orientações valorativas então hegemônicas: o direito social como
fundamento da política; o comprometimento do Estado com o sistema, projetando um
acentuado grau de provisão estatal pública e o papel complementar do setor privado; a
concepção da seguridade social (e não de seguro) como forma mais abrangente de proteção e,
no plano organizacional, a descentralização e a participação social como diretrizes do
reordenamento institucional do sistema. (DRAIBE, 2003, p.4) Podemos dizer que a
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constituição de 1988, trouxe em seu bojo o gérmen de esperança de milhões de brasileiros
ainda sem voz silenciados pela dor e sofrimento, de ser reconhecidos como ser humano,
como sujeitos de direitos, representa a luta de um povo pela igualdade entre os homens e
mulheres independentemente da condição social, racial, gênero e etnia , ascendendo assim a
luta contra a pobreza e de qualquer forma de violência aos sujeitos de direito.
Contudo, como demonstra a história, nenhum direito escrito nas constituições será
respeitado sem ação coletiva e sem lutas para conquistar os recursos que permitem respeitar e
efetivar o que está no papel. De acordo com Candau nos dias atuais possuímos um
significativo conjunto normativo e de políticas centradas na proteção dos direitos humanos,
porém ainda convivemos com violações sistemáticas bem como impunidade as múltiplas
formas de violência, desigualdade social e a fragilidade da efetivação dos direitos
juridicamente afirmados constituem uma realidade cotidiana (CANDAU, 2008)
De acordo com os dados do IBGE (2011) o Brasil tem 16,27 milhões de pessoas em
situação de extrema pobreza, o que representa 8,5% da população. O enfrentamento a
pobreza e as desigualdades sociais é um dos grandes desafios da sociedade brasileira
contemporânea. Para superá-lo, é necessário que o Estado formule e implemente políticas e
programas que garantam direitos sociais e o pleno exercício da cidadania. Essas políticas são
de responsabilidade do Governo Federal, dos estados e do Distrito Federal e devem contar
também com a participação da sociedade.(BRASIL,2015, p.5).
A fome e a miséria são em si mesmas graves privações da liberdade humana, no seu
sentido mais profundo. Sendo assim políticas sociais não devem ser comparadas a meros
atos de caridade pública. Elas são instrumentos para promover autonomia individual e criar
um senso de comunidade, são instrumentos de cidadania, pois visam “proteger o status de
uma pessoa como membro da comunidade”. (PINZANI, REGO, 2013, p.87 apud HARRIS)
Entretanto há várias críticas que rotulam de assistencialistas as políticas de
transferência de renda, como o Bolsa Família. Contudo, se a vida é o primeiro direito do ser
humano e garanti-la é o dever mais elementar do Estado, não pode ser considerado
assistencialismo algo que efetive essa garantia. Nessa direção o direito de todos á saúde,
escola, alimentação têm adquirido certo reconhecimento nas políticas sociais e educacionais.
Políticas de moradia (como o Programa Minha casa, minha vida3, de Bolsa Família, de saúde,
3 O programa minha casa minha vida foi lançada em 2009 pelo governo federal com o objetivo de enfrentar o
déficit habitacional do país, estimado em 7,2 milhões de moradias. Sua finalidade é criar mecanismos de
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de educação-escola para todos, de qualidade... são políticas consensuais, que tem por base o
avanço da consciência da igualdade e de que as desigualdades sociais, econômicas, regionais
tem que ser superadas. (ARROYO, 2014, p121)
Com base nesse pano de fundo, podemos afirmar que um programa de transferência estatal
de renda as famílias de baixo poder aquisitivo como o Bolsa Família se insere em uma ainda
incipiente política pública de cidadania. O fato de ser ainda muito insuficiente como tal não
nos permite ignorar suas possibilidades de se tornar uma consistente política de formação de
cidadãos, se complementadas por um conjunto mais amplo de políticas que visam a esse alvo
garantido na constituição de 1988. Nesse sentido, o Bolsa Família (BF) começa pelo mais
preliminar direito, o direito á vida. (PINZANI, REGO, 2014, p176)
Dessa maneira, a vivência de carências rudes e miserável impede as pessoas de
desenvolverem suas funções humanas e reduz suas capacidades de humanização. A pobreza
não é somente privação de dinheiro e recursos materiais, é também privação de capacidades e
não desenvolvimento de funções humanas importantes, o que torna os pobres ainda mais
pobres. (IDEM)
Nesse contexto que o Programa Bolsa Família se insere com a finalidade de garantir a
subsistência imediata e também fornece uma base material para que os indivíduos possam
desenvolver-se em direção a uma maior autonomia, pautando-se na articulação de três
dimensões essenciais à superação da fome e da pobreza:
1. Promoção do alívio imediato da pobreza, por meio da transferência direta de renda à
família;
2. Reforço ao exercício de direitos sociais básicos nas áreas de Saúde e Educação, que
contribui para que as famílias consigam romper o ciclo da pobreza entre gerações;
3. Coordenação de programas complementares, que têm por objetivo o desenvolvimento
das famílias, de modo que os beneficiários do Bolsa Família consigam superar a
situação de vulnerabilidade e pobreza.(BRASIL,2015, p7)
Entretanto segundo Rocha (2008), não é só com transferência monetária que se elimina a
pobreza e a desigualdade de renda, pois esta tem caráter multidimensional. Assim, numa
visão mais ampla, o trabalho propõe que as condicionalidades se tornem crucial para diminuir
incentivos à produção e aquisição de novas unidades habitacionais. E o acesso das famílias de baixa renda a casa
própria.
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a pobreza e a alta desigualdade de renda, quando se investe na classe beneficente menos
favorecida, para que se solidifique na base a permanência enquanto frequência escolar para
crianças e adolescentes na diminuição do trabalho infantil e no aumento da segurança
alimentar..(GUEDES, GONÇALVES, NASCIMENTO, 2015).
Nessa perspectiva, o projeto de pesquisa tem por finalidade analisar o impacto do PBF, no
rendimento escolar e permanência de meninos e meninas oriundos da camada popular na
escola.
2 PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA E AS CONDICIONALIDADES
O Programa Bolsa Família (PBF), criado em outubro de 2003, é um programa de
transferência direta de renda com condicionalidades, voltado para famílias em situação de
pobreza e de extrema pobreza em todo o país. O PBF possui três eixos principais:
transferência de renda, condicionalidades e ações complementares. A transferência de renda
promove o alívio imediato da pobreza. As condicionalidades reforçam o acesso a direitos
sociais básicos nas áreas de educação, saúde e assistência social. Já as ações complementares
objetivam o desenvolvimento de capacidades das famílias e a superação de sua situação de
vulnerabilidade. (PINZANI, REGO, 2014, p176)
O Bolsa Família integra o Plano Brasil Sem Miséria, que tem como foco de atuação
brasileiros com renda familiar per capita inferior a 77 reais mensais. O Programa é uma das
mais importantes iniciativas atualmente instituídas – ao lado do Sistema Único de Assistência
Social (Suas) – para proteger as famílias em situação de pobreza, vulnerabilidade e risco
social. O Programa Bolsa Família é uma das mais importantes iniciativas atualmente
instituídas – ao lado do Sistema Único de Assistência Social (Suas) – para proteger as
famílias em situação de pobreza, vulnerabilidade e risco social. (BRASIL, 2015)
A Condicionalidade na área de educação traz em seu bojo as seguintes exigências;
matricular as crianças e os adolescentes de 6 a 17 anos nas escolas; e garantir a frequência
mínima de 85% nas aulas para crianças e adolescentes de 6 a 15 anos, e de 75% para jovens
de 16 e 17 anos.
Entretanto as condicionalidades na área de saúde, para os responsáveis por crianças
menores de sete anos são as seguintes: Levar as crianças aos locais de campanhas de
vacinação; Manter atualizado o calendário de vacinação, de acordo com as instruções do MS;
e levar as crianças ao posto de saúde, com o cartão de saúde da criança, para
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acompanhamento do seu crescimento e desenvolvimento, entre outras ações, conforme o
calendário estipulado pelo Ministério da Saúde (MS).Cabe ressaltar que as mulheres gravidas
devem cumprir as seguintes condicionalidades: Fazer as consultas e os exames antes do
nascimento do bebê (pré-natal);de acordo com o calendário estabelecido pelo Ministério da
Saúde (MS) e participação de atividades educativas referente ao aleitamento e alimentação
saudável promovido pela Equipe de saúde. (IBIDEM)
O cumprimento de condicionalidades deve ser entendido como um compromisso assumido
pelas famílias e pelo poder público. O acesso aos serviços de saúde e de educação é um
direito básico e condição fundamental para permiti r o rompimento do ciclo intergeracional
da pobreza, ou seja, da manutenção da condição de pobreza de uma geração a outra. Por
exemplo, crianças que cumprem as condicionalidades do PBF, ao ter acesso aos serviços de
saúde e educação, poderão ter melhores condições de vida que seus pais. (BRASIL, 2015,
PP.10-13)
De acordo com os pesquisadores Pinzani e Rego, a renda básica condicionada, ao incluir o
beneficiário no corpo de cidadãos, promove nele um sentimento de identificação com a
nação, devido o reconhecimento de sua pessoa por parte das instituições. Em contrapartida,
exige-se dele que assuma suas responsabilidades perante a comunidade política e o próprio
estado. Assim ocorre o aprendizado da cidadania em dupla dimensão: A do sujeito de direitos
e a do sujeito de deveres. As duas dimensões são necessárias para que os indivíduos se
considerem cidadãos , isto é, membros ativos do corpo político, e não meros clientes que
recebem passivamente os serviços oferecidos pelo Estado ( PINZANI,REGO,2014,p.83).
3 EDUCAÇÃO E A CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA
A educação compõe um dos direitos fundamentais da criança e do adolescente, devendo
ser assegurada pelo poder público, designado para prover as condições necessárias à sua
efetivação, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da
cidadania e sua qualificação para o trabalho (CORRÊA, 2011).
A constituição Federal do Brasil de 1988 vem garantir o acesso a educação, no artigo 205,
diz:
“A educação, direito de todos e dever do estado e da família, será
promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho”. (BRASIL, 1988).
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Os direitos sociais correspondem a uma imposição de deveres ao Poder Público,
objetivando o desenvolvimento do ser humano, sobretudo dos mais carentes (BASTOS p. 227
apud. PERES, 2008)
Nessa perspectiva o Estado deve, por exemplo, oferecer aos cidadãos uma educação
primária de qualidade, gratuita e pública e não pode deixar os mais pobres em situação de
analfabetismo que não lhes permitiria sair da situação de pobreza em que vive. Contudo, a
mera alfabetização não é ainda uma condição suficiente para melhorar o próprio status social:
em sociedades industrializadas o que se procura são primeiramente de trabalhadores
qualificados, a falta de uma educação e de uma formação superior á mera alfabetização
significa para os indivíduos em questão não somente a exclusão do mercado de trabalho, mas
também a exclusão social, já que leva ao desempenho crônico, ou á aceitação de trabalhos
não qualificados e mal pagos. .(PINZANI,REGO,2014,p74)
O duplo desafio da educação é ensinar o aluno a participar – sinônimo de cidadania e a
produzir – sinônimo de trabalho. Quando se ensina o aluno a “aprender a aprender” (DEMO,
1995), se lhe estão fornecendo as ferramentas para que o mesmo desenvolva papel estratégico
de aprendizado e crescimento contínuo nos desafios que o futuro lhe apresentar.(PERES
,2008, p.7)
O conhecimento propicia qualidade na vida individual e integra o homem na sociedade.
Leva o homem ao desenvolvimento constante, à prosperidade, à liberdade de escolha,
consciência de decisão, com capacidade de lutar pelos seus objetivos e ideais, não sendo
influenciado por pensamentos incompatíveis com os seus próprios. Não há dignidade
humana, nem cidadania na ignorância. Não educar é não dar liberdade. Conforme Fabiana
Cássia Dupim Souza,
É preciso educar o povo (crianças, adultos e idosos aí incluídos), para que
ele possa compreender seu papel na sociedade em que vive e exercer os
direitos que decorrem da situação da peça ativa da realidade que o circunda.
(...) A escola deve servir como instrumento de preparação para uma
participação ativa no mundo. Não há como reivindicar, propor ou participar
sem que se saiba de quê. É imprescindível que o povo saiba ler, que tenha
noções, ainda que básicas, dos direitos de que é titular. (...) não há cidadania
plena onde não há educação. Povo sem educação, sem participação nos
rumos de seu Estado, inconsciente de seu papel no mundo, alheio às
discussões que o impulsionam, perde a condição de cidadão e passa a ser
simplesmente mera massa disforme (apud ROCHA, 2004, p.232).
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O cidadão desinformado torna-se “escravo” das decisões dos demais, pois não tem
condições de decidir, acaba sendo uma pessoa de fácil manipulação, alvo de oportunistas e
enganadores. Silva (2006) salienta que essa pessoa é livre em seu ir e vir, mas preso ao
desconhecimento; somente pela apropriação do conhecimento, homens e mulheres podem ser
livres ou seja têm pelo menos alguma chance de exercer sua liberdade. (IDEM)
O conhecimento político, social e econômico é pré-requisito para realizar, debater,
questionar, intervir, lutar, defender, transformar, decidir, socializar-se. Quando a educação
plenamente proporcionar esses conhecimentos, o ser humano terá a possibilidade de fazer as
suas próprias escolhas. A informação torna-se o primeiro item a ser cumprido para que o
cidadão esteja apto para o exercício da cidadania e, por fim, esteja qualificado
profissionalmente para ser incluído no mercado de trabalho. De acordo com Kant (1996,
p.15) “O homem não pode tornar-se um verdadeiro homem senão pela educação. Ele é aquilo
que a educação dele faz” (PERES,2008, p.8)
4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A presente pesquisa tem por finalidade apresentar resultados do estudo investigativo
referente ao Programa Bolsa Família tendo como foco as contribuições do programa para
inclusão, acesso e permanência de meninos e meninas de baixo poder aquisitivo na escola.
Trazendo para o campo da pesquisa as seguintes indagações: O PBF tem contribuído para
inclusão, acesso e permanência de meninos e meninas das classes populares na escola? Qual
a concepção das famílias e dos profissionais em educação sobre o Programa?
Nessa perspectiva, foi desenvolvida uma pesquisa empírica de campo com abordagem
qualitativa, a qual investiga os significados que os sujeitos atribuem às suas vivências. Na
investigação utilizamos entrevistas semiestruturada com um roteiro de questionário.
As entrevistas foram realizadas com famílias beneficiadas pelo programa social,
professores e coordenador de uma escola localizada na área urbana no Município de
Corumbá e atende 844 alunos/as sendo que 452 discentes recebem o Bolsa Família.
Para analise dados obtidos nas entrevistas utilizaremos como referencial teórico os autores
que discutem a temática da desigualdade social e emancipação do ser humano histórico e
social enquanto sujeito de direitos, tais como, Arroyo (1999), Pinzani e Rego (2014).
Esperamos que a pesquisa possa contribuir para a maior compreensão acerca do Programa
Bolsa Família e como esse benefício reflete no cotidiano das crianças beneficiárias trazendo
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em seu bojo dados relevantes sobre o impacto do programa no progresso e permanência dos
educandos na escola a partir das vivências reais na qual estão inseridos. Com intuito de
contribuir para eficácia do programa.
5 RESULTADOS E DISCUSSÕES DOS DADOS LEVANTADOS
A pesquisa empírica foi realizada com quatro participantes sendo que três trabalham no
âmbito escolar e uma mãe (D. Alexandra) que tem filhos na fase escolar e recebe o Bolsa
Família. Vale salientar que “Alexandra” é um pseudónimo.
6-Caracterização dos sujeitos entrevistados
Entrevistado(1) - Coordenadora, possui graduação em pedagogia,7anos de serviço.
Entrevistado(2) - Professora possui graduação em pedagogia, 6anos de serviço.
Entrevistado (3)- Professora possui graduação em pedagogia, 6anos de serviço.
Entrevistado (4)- Diarista, Ensino Fundamental incompleto, 20 anos que atua nessa área.
Vale salientar que as professoras que participaram da entrevista trabalham com alunos/
alunas das séries iniciais do Ensino Fundamental com o ciclo de alfabetização.
A Mãe entrevistada usou nome fictício de Alexandra, esta têm seis filhos, porém três já
estão casados e os outros três são menores e moram com ela, estes são estudantes. D.
Alexandra estudou até 8º ano do Ensino Fundamental, mas não terminou porque precisava
trabalhar para ajudar a família. Segundo ela, foi uma época muito difícil, porque não tinha
ajuda do governo como tem hoje, assim como o Bolsa Família.
O Programa Bolsa Família está em vigência há uma década, dessa forma para maior
compreensão acerca do programa buscamos verificar qual a concepção que os participantes
da pesquisa (educadores/ família) acerca do Programa Bolsa Família. Os sujeitos
entrevistados de modo geral elucidaram que o programa auxilia as famílias de baixo poder
aquisitivo. Tal afirmação pode ser constatada nos trechos abaixo respectivo a fala dos
participantes.
“O programa Bolsa Família é um auxilio que o governo repassa as famílias,
como forma de ajudar na renda”(Entrevistada 1)
“O Programa auxilia as famílias e exige a frequência dos alunos na
escola[...]” (Entrevistada 2)
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“O programa auxilia as famílias que necessitam de uma ajuda mensal
financeira, com intuito de reduzir o analfabetismo [...]” (Entrevistada 3)
“O Bolsa Família é muito bom, porque tem ajudado muito na renda familiar
com esse dinheiro eu compro as coisas para as minhas crianças, se não
tivesse essa ajuda seria mais difícil”.( Entrevistada 4)
Como vemos de modo geral, a aprovação do programa por parte dos diversos atores
entrevistados é bastante grande. Reconhecem ainda que o programa é um importante auxilio
na renda familiar. Nessa direção, certo grau de independência econômica, advinda do
recebimento de renda monetária regular, pode começar a emancipar os sujeitos da condição
de vulnerabilidade e das estruturas tradicionais de dominação que os conduz à perda de
qualquer tipo de aquisição de vontade política e de moral próprias.
De acordo com os autores (PINZANI, REGO, 2014) o dinheiro liberta o indivíduo. Por
isso, lembra Simmel (1977) que o dinheiro é o mais móvel de todos os bens[...] que de modo
decisivo ocasiona a libertação do indivíduo perante os vínculos unificantes como os que
irradiam de outros objetos de propriedade (PINZANI, REGO,2014, p.205)
4.1 PERCEPÇÃO DA COMUNIDADE ESCOLAR SOBRE AS CONDICIONALIDADES E
RENDIMENTO ESCOLAR
O Programa Bolsa Família possui três eixos principais: transferência de renda,
condicionalidades e ações complementares. A transferência de renda promove o alívio
imediato da pobreza. As condicionalidades reforçam o acesso a direitos sociais básicos nas
áreas de educação, saúde e assistência social. Já as ações complementares objetivam o
desenvolvimento de capacidades das famílias e a superação de sua situação de
vulnerabilidade (BRASIL,2015, p.5).
O termo “condicionalidades” é importante na concepção do programa. Desde seu início, o
PBF segue, em parte pela sua origem em programas de transferências pré-existentes que
tinham esse desenho, o modelo de transferência de renda condicionada, que tem por
características exigir compromissos ou contrapartidas à transferência de renda. Como
expresso na própria exposição de motivos para a Medida Provisória 132 de 2003, criadora do
PBF, as condicionalidades têm o papel de:
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[...] induzir o acesso aos direitos sociais de segurança alimentar, saúde,
educação e assistência social. O Programa pretende, também, contribuir para
a emancipação dessas famílias, criando oportunidades de inclusão social,
isto é, fornecendo meios para que possam sair da situação em que se
encontram e, ainda, provocar impacto no plano local (p.14).
Originalmente, as condicionalidades buscam influenciar ou induzir o comportamento das
famílias em situação de vulnerabilidade, por meio da associação entre o benefício e as
decisões quanto à manutenção de seus integrantes na escola e ao acesso à saúde. Essa indução
aumentaria o capital humano de seus integrantes, caracterizando-se como um investimento
das famílias em suas capacidades e estabelecendo um elo causal entre as transferências de
renda no presente e as condições futuras das crianças e jovens das famílias atendidas
(AGATTE, ANTUNES,2015, p.14). A proposta é o rompimento dos ciclos de pobreza que
marcam as gerações dessas famílias, preconizado com a concretização do direito à educação
como elemento fundamental da inclusão social das famílias, compreendendo a educação
escolar como condição da construção de conhecimento, da formação humana e da proteção
social às crianças e adolescentes. (SANTOS, SILVA, 2015, p11)
Sendo assim cabe-nos a pergunta: O que pensam os profissionais em educação e as
famílias beneficiarias referente as condicionalidades? Elas contribuem para melhoria da
assiduidade e permanência das crianças na escola?
Vejamos agora o que pensam os profissionais na área da educação referente a seguinte
indagação: As condicionalidades contribuem ou não para frequência e permanência das
crianças na escola?
“Contribui, uma vez que como condicionalidades o aluno deve apresentar
bom rendimento e presença. (Entrevistada 1)
“Sim, porque por medo de perderem esse benefício, os responsáveis pela
criança cuidam para que não perca as aulas”, o bolsa família garante a
frequência mas não o acompanhamento dos pais as vezes comparece nas
reuniões promovida pela escola “(Entrevistada 2)
“ Os pais trazem as crianças para não perderem o benefício. Os /as alunos/as
são frequentes, mas os pais não participam do desenvolvimento escolar dos
filhos/as, não dão auxilio para o professor”. (Entrevistada 3)
As entrevistadas demonstraram através das opiniões que as condicionalidades do
programa contribuíram de forma positiva para permanência e assiduidade de meninos e
meninas na escola, isso devido ao medo que os pais/ responsáveis tem de perder o benefício,
até porque é a única renda de muitas famílias, mas não garante a aprendizagem dos discentes
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nem mesmo o envolvimento dos pais nas atividades escolares. Mas o que pensam os
beneficiários do programa sobre as condicionalidades?
Para dona Alexandra (mãe) beneficiária do programa, as condicionalidades são
importantes na área da educação porque exige responsabilidade dos pais com a educação dos
filhos, cuidando para que não faltem as aulas para não perder o benefício, além disso o
programa oportuniza cursos às famílias para que possam qualificar para o mercado de
trabalho.
“Eu acho que as condicionalidades são importantes porque exige mais das
pessoas, tem que ter compromisso né com a escola, não deixar os filhos
faltar e com os cursos que vem surgindo, já participei de vários cursos,
assim as pessoas tem mais condições de desempenhar no trabalho,, dá mais
possibilidade de trabalhar, além disso ajuda no currículo”( Alexandra-
entrevistada 4)
Considerando a percepção da beneficiaria em relação as condicionalidades, foi possível
perceber possibilidades de ganhos envolvidos em seu cumprimento que vão muito além dos
efeitos práticos sobre a frequência escolar e a escolaridade dos filhos. Trata-se do
fortalecimento dos sentimentos de pertencimento e reconhecimento sociais por parte da
beneficiária dados pela efetividade no cumprimento das condicionalidades previstas no
programa.
A expectativa das condicionalidades do PBF é de que as crianças acompanhadas cumpram
adequadamente o ciclo da educação básica. Portanto, uma situação melhor do que a
vivenciada por seus pais e familiares, que em muitos casos são analfabetos absolutos ou
funcionais.
Nesse contexto apresentarei mais um trecho da entrevista com dona Alexandra, que
acredita que através da Educação Escolar os seus filhos poderão ter uma vida melhor.
“O estudo é muito importante para ter um futuro melhor, quero que meus
filhos seja alguém na vida, um advogado, um professor[...] que eles possam
ter um bom emprego” [...] Não terminei o estudo, porque tive que trabalhar
...”( Alexandra)
As condicionalidades em relação à educação e à saúde do PBF foram estabelecidas com o
propósito de contribuir para o aumento das capacidades das pessoas, tendo em vista o
combate à pobreza. O pressuposto desse entendimento é que os filhos dos mais pobres, por
meio do acesso aos serviços de educação e saúde, ampliariam seu Capital Humano e, assim,
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obteriam maiores possibilidades de ingressar no mercado de trabalho, gerar renda e sair da
condição de pobreza quando adultos.
Dados de uma pesquisa realizada no mês de agosto e setembro de 2016 pelo MDS (
Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário) mostra que 98,66% das famílias do
município de Corumbá tem cumprido com as condicionalidades. Sendo assim o acesso e
permanência dos meninos e meninas das classes populares nas escolas públicas vem
acontecendo de forma positiva, as crianças estão ficando mais tempo na escola, mas qual o
impacto do Programa no rendimento escolar dos discentes? A reprovação diminui? Houve
caso de Alunos que recebem o bolsa família serem reprovados?
4.2 RENDIMENTO ESCOLAR E REPROVAÇÃO
A coordenadora da escola pesquisada elucidou que: A reprovação tem diminuído, a gestão
escolar busca fazer esse controle, entrando em contato com a família, porém já houve caso de
reprovação, ocasionada pelas faltas e baixo rendimento escolar.
As professoras de forma unânime salientaram que a frequência e permanência do aluno na
escola não garante um bom rendimento escolar já houve caso de alunos serem reprovados
devido a falta de interesse, falta de apoio familiar e também por faltarem as aulas
excessivamente. Nesse último caso as faltas são informadas ao órgão fiscalizador (CRAS),
algumas famílias já perderam o benefício por descumprirem as condicionalidades.
Na opinião de D. Alexandra os filhos estão mais interessados em aprender, apesar de
participar das reuniões da escola e do filho ser frequente nas aulas não possível evitar a
reprovação:
Os meus filhos já reprovaram, porque eles não conseguiam entender a
matéria e eu também por ter pouca instrução desconhecia o conteúdo dessa
forma não consegui ajudar ele.
Ao analisarmos as respostas das entrevistadas percebemos que as professoras cobram o
apoio das famílias nos deveres escolares dos discentes e por outro lado a família por possuir
pouca instrução não consegue ajudar o filho/a. Sabemos que o acompanhamento dos pais ou
responsáveis no desenvolvimento dos filhos/as é um dos fatores essencial que contribui para
o sucesso escolar .Contudo é importante considerarmos que o aprendizado da criança começa
muito antes de sua entrada na escola: na família e em outros tantos ambientes e em vários
Trabalho de Conclusão de Curso
processos de interação. mas, quando falamos do saber sistematizado que deve ser oferecido
às crianças na escola, é fundamental que o professor tenha um papel ativo no processo de
desenvolvimento desta, ajudando-a a realizar as atividades propostas para que em outro
momento seja capaz de fazê-las sozinha, dando assim continuidade ao seu processo de
desenvolvimento.(TEIXEIRA,2013,p.62)
Por conseguinte, Patto (1996) afirma que, mesmo diante da ausência ou da dificuldade
dos pais em ajudar os filhos nas tarefas escolares, é importante atentarmos para o papel do
professor que deve observar as necessidades dos alunos, e prevendo o ponto de chegada,
“organizar e programar os procedimentos necessários para transformar a possibilidade do
aprender em realidade”. É necessário que haja comprometimento por parte do professor
nesse processo, a escola, na pessoa do professor, é responsável por transmitir à criança os
conhecimentos acumulados historicamente, pois, a educação é “o ato de produzir, direta e
intencionalmente, em cada indivíduo singular, a humanidade que é produzida histórica e
coletivamente pelo conjunto dos homens” (SAVIANI, 2008b, p. 8).
Para Carvalho (2000, p. 149), as responsabilidades da família e da escola no que se refere
ao processo de escolarização das crianças se confundem a partir do momento em que a escola
passa a delegar à família uma função que é sua. Segundo a autora:
[...] assim, o papel acadêmico atribuído à família nega a especificidade da
educação escolar e afeta o papel profissional docente, contra toda uma
história de diferenciação institucional, especialização funcional (...) e
profissionalização do magistério. Além disso, apaga a distinção entre
educação formal e informal, reduz a educação à escolarização e confunde o
papel paterno/materno com o papel docente.
Ao considerar que muitos profissionais da educação esperam poder contar com os pais
como monitores e que se há alguma falha no processo educacional a responsabilidade é da
falta de ajuda dos pais, podemos entender que a escola tem um problema que não é dela. De
acordo com Collares e Moysés (1996, p. 27) “A escola – entendida como instituição social
concreta, integrante de um sistema sociopolítico concreto - apresenta-se como vítima de uma
clientela inadequada”(RIBEIRO,2013, p.62). E acaba culpabilizando a criança e família pelo
insucesso escolar, porém a escola e a família precisam cumprir cm o seu papel no processo
educativo.
Segundo Arroyo, todo o processo de exclusão social e negação de uma escola de qualidade
para as camadas mais pobres da população, constituído criteriosamente pelo poder público,
Trabalho de Conclusão de Curso
estão alicerçados sobre uma má formação de professores baseada em currículos fracos,
acríticos, falta de solidez nos estudos teóricos. (BERTOLINO, 2012, p.2) A mudança só será
possível quando os educadores partilharem a mesma concepção de ensino e aprendizagem,
tendo uma compreensão que considere que todos os alunos têm potencial para aprender algo
e, portanto, cabe (ao poder público e não unicamente ao profissional da educação) viabilizar
um ensino capaz de desenvolver ao máximo as competências de cada aluno, considerando
que educar não é função única da escola, deve ser compromisso de toda a sociedade.
Portanto parafraseando Arroyo a escola por si só não tem poder de erradicar as mazelas
sociais impostas pelo sistema capitalista dentre elas a pobreza. Porém a educação escolar tem
um papel fundamental na luta pelas transformações dessas relações e conduzir os indivíduos
considerados “desiguais”, “inferiores” pelo sistema à apropriação do conhecimento de forma
consciente e critica, nessa direção cabe aos profissionais da educação educar não somente
para o trabalho, mas sim para emancipação do homem, para que este possa exercer a sua
cidadania de forma plena e consciente propiciando condições para que os menos favorecidos
economicamente rompam com o ciclo da pobreza que perpetua no Brasil.( ARROYO,2015)
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O enfrentamento a pobreza e as desigualdades sociais é um dos grandes desafios da
sociedade brasileira contemporânea. Para superá-lo, é necessário que o Estado formule e
implemente políticas e programas que garantam direitos sociais e o pleno exercício da
cidadania. Essas políticas são de responsabilidade do Governo Federal, dos estados e do
Distrito Federal e devem contar também com a participação da sociedade. (BRASIL,2015,
p5).
As políticas sociais não devem ser comparadas a meros atos de caridade pública e sim
como um direito. De acordo com os pesquisadores Pinzani e Rego, a renda básica
condicionada, ao incluir o beneficiário no corpo de cidadãos, promove nele um sentimento de
identificação com a nação, devido o reconhecimento de sua pessoa por parte das instituições.
Em contrapartida, exige-se dele que assuma suas responsabilidades perante a comunidade
política e o próprio estado. (PINZANI, REGO,2014, p.83).
Dessa forma através da pesquisa empírica constatamos que o programa através das
condicionalidades está contribuindo de significativa para a frequência e permanência dos/as
Trabalho de Conclusão de Curso
filhos/as dos trabalhadores na escola. O problema levantado foi referente a aprendizagem
que tem implicações positiva ou negativa no rendimento escolar o qual não faz parte das
condicionalidades do PBF, de acordo com as entrevistadas. O bom rendimento escolar
deveria fazer parte das condicionalidades, pois é uma problemática que merece atenção das
políticas públicas para que seja superado e para que efetive de fato a inclusão, oportunizando
meninos e meninas o acesso não só a escola, mas principalmente ao conhecimento, pois a
expropriação da cultura escrita impede os sujeitos de direitos de exercerem a cidadania
plena.
Portanto, convém ressaltar que a permanência das crianças na escola não é suficiente para
que sua formação as ajude a sair do círculo vicioso da pobreza. A frequência escolar é uma
condição necessária, mas não suficiente para garantir uma boa educação: sem escola de
qualidade, sem boas condições de estudo em casa, sem apoio de pais e professores, as
crianças de famílias pobres muito dificilmente conseguem obter bons resultados e alcançar
um nível de instrução suficiente para ter mais chances profissionais na vida. (BRASIL,2015,
p.15)
O Programa Bolsa Família tem atuado de forma significativa no sustento de muitas
famílias brasileiras e atenuado a pobreza, mas ainda não está conseguindo promover a
emancipação.
Este trabalho não tem a pretensão de esgotar os estudos e investigações sobre o tema, mas
evidenciar indicadores que possam corroborar para o aperfeiçoamento do Programa Bolsa
Família. Muitos estudos e reformulações serão necessários, bem como novas medidas
complementares até que se consolide de fato a inclusão social.
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