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Trabalho de Conclusão de Curso PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA: IMPACTOS E EFEITOS DAS CONDICIONALIDADES NO CONTEXTO ESCOLAR Luzanira de Deus Pereira da Silva 1 Orientadora: Flavia Pedrosa de Camargo 2 Resumo: O presente artigo tem por finalidade apresentar as implicações das condicionalidades do Programa Bolsa Família no âmbito educacional para a melhoria do rendimento escolar e permanência escolar. O grande desafio das escolas brasileiras contemporâneas é melhorar a qualidade da educação e garantir a permanência da criança e do adolescente das camadas nos bancos escolares até concluir seus estudos. Nessa perspectiva surgiram alguns questionamentos que nortearam a pesquisa tais como: as condicionalidades corroboram para a permanência de meninos e meninas das camadas populares na escola? Qual o impacto da frequência escolar na aprendizagem? São indagações que buscaremos responder através da pesquisa empírica que consiste numa abordagem qualitativa e será baseada no materialismo histórico dialético. A pesquisa foi realizada em uma escola pública Municipal do município de Corumbá-MS onde atende 844 discentes sendo que 452 são beneficiários/as do Bolsa Família. Esperamos que a pesquisa possa contribuir para a maior compreensão acerca do Programa Bolsa Família e de como esse benefício impacta no cotidiano dos meninos e meninas no âmbito escolar e na vida social. Palavras-chave: Programa Bolsa Família; Condicionalidades, Educação, Cidadania INTRODUÇÃO O Brasil é uma das maiores economias do mundo, mas é também um país que apresenta grandes desigualdades socioeconômicas e uma parte considerável da população ainda vive em situação de pobreza ou de extrema pobreza (RASSELA, 2013, p1.) Convém pontuar que a pobreza leva a falta de instrução, uma vez que as crianças são obrigadas a deixarem a escola para trabalhar e ajudar a família perpetuando assim o ciclo da pobreza, pois sem escolarização e qualificação não há como entrar no mundo do trabalho. 1 Pós-graduanda em Educação Social - Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – Campus do Pantanal. 2 Mestrado em Educação pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - Campus do Pantanal - Corumbá, MS, Brasil; Psicóloga Organizacional do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul.

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Trabalho de Conclusão de Curso

PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA: IMPACTOS E EFEITOS DAS

CONDICIONALIDADES NO CONTEXTO ESCOLAR

Luzanira de Deus Pereira da Silva1

Orientadora: Flavia Pedrosa de Camargo2

Resumo: O presente artigo tem por finalidade apresentar as implicações das condicionalidades do

Programa Bolsa Família no âmbito educacional para a melhoria do rendimento escolar e

permanência escolar. O grande desafio das escolas brasileiras contemporâneas é melhorar a

qualidade da educação e garantir a permanência da criança e do adolescente das camadas nos

bancos escolares até concluir seus estudos. Nessa perspectiva surgiram alguns

questionamentos que nortearam a pesquisa tais como: as condicionalidades corroboram para

a permanência de meninos e meninas das camadas populares na escola? Qual o impacto da

frequência escolar na aprendizagem? São indagações que buscaremos responder através da

pesquisa empírica que consiste numa abordagem qualitativa e será baseada no materialismo

histórico dialético. A pesquisa foi realizada em uma escola pública Municipal do município

de Corumbá-MS onde atende 844 discentes sendo que 452 são beneficiários/as do Bolsa

Família. Esperamos que a pesquisa possa contribuir para a maior compreensão acerca do

Programa Bolsa Família e de como esse benefício impacta no cotidiano dos meninos e

meninas no âmbito escolar e na vida social.

Palavras-chave: Programa Bolsa Família; Condicionalidades, Educação, Cidadania

INTRODUÇÃO

O Brasil é uma das maiores economias do mundo, mas é também um país que apresenta

grandes desigualdades socioeconômicas e uma parte considerável da população ainda vive

em situação de pobreza ou de extrema pobreza (RASSELA, 2013, p1.)

Convém pontuar que a pobreza leva a falta de instrução, uma vez que as crianças são

obrigadas a deixarem a escola para trabalhar e ajudar a família perpetuando assim o ciclo da

pobreza, pois sem escolarização e qualificação não há como entrar no mundo do trabalho.

1Pós-graduanda em Educação Social - Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – Campus do Pantanal. 2 Mestrado em Educação pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - Campus do Pantanal - Corumbá, MS, Brasil; Psicóloga Organizacional do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul.

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Trabalho de Conclusão de Curso

(PINZANI, REGO, 2013). A exclusão econômica resulta por sua vez, em exclusão social e

política, visto que os pobres passam a viver a margem da sociedade. (IDEM).

Pesquisas realizadas pelo PNAD- Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios aponta

que no Brasil tem 13 milhões de analfabetos com 15 anos ou mais, além disso, ainda tem o

problema do analfabetismo funcional, pessoas que dominam de forma rudimentar a leitura e a

escrita. Diante de tal problemática a educação tem sido um dos principais temas de

discussões e reflexões de órgãos governamentais e sociedade civil. Sua relevância deve-se ao

fato de abranger questões sociais, econômicas, políticas e culturais dos diferentes países que

veem na educação formal o pilar das mudanças estruturais da sociedade. (CORRÊA, 2011)

Nessa perspectiva, o programa Bolsa Família (PBF) foi criado pelo Governo Federal,

durante o mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva pela Lei nº 10.836 e

regulamentada pelo Decreto nº 5.209, de 17 de setembro de 2004. O programa é gerenciado

pelo Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) e beneficia famílias

pobres (com renda mensal por pessoa de R$ 60,01 a R$ 120,00) e extremamente pobres (com

renda mensal por pessoa de até R$ 60,00) como alternativa de mudança tendo como uma das

metas, no que tange a área da educação, vincular a transferência de renda à permanência da

criança e adolescente na escola (IDEM).

Ao participar do Programa, a família beneficiaria deve cumprir as seguintes condições:

manter crianças e adolescentes em idade escolar frequentando a escola; cumprir cuidados

básicos de saúde, calendário de vacinação para crianças de 0 a 6 anos; cumprir a agenda pré e

pós-natal para as gestantes e mulheres que estão amamentando. (BRASIL, 2011)

As condicionalidades impostas pelo governo federal na área da educação exigem das

famílias o compromisso de manterem seus filhos na escola, com frequência mínima mensal

de 85% para filhos até 15 anos e de 75% para jovens entre 16 e 17anos. (IDEM)

Podemos dizer que através de lutas e movimentos sociais ao longo da história, o acesso à

escola pública e gratuita está sendo gradativamente consolidado na modalidade do Ensino

Fundamental, porém o grande desafio das escolas brasileiras é melhorar a qualidade da

educação e garantir a permanência da criança e do adolescente nos bancos escolares até

concluir seus estudos. (GUEDES, GONÇALVES, NASCIMENTO,2015)

Diante desse grande desafio como já foi dito, perguntamo-nos: o Programa Bolsa Família

tem contribuído para reduzir a evasão escolar e consequentemente para a melhoria do

desempenho escolar dos educandos? A assiduidade das crianças melhorou com a

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implementação do PBF? São indagações que buscaremos responder através de um estudo

mais aprofundado referente ao Programa Bolsa Família no Município de Corumbá.

A pesquisa foi desenvolvida em uma escola da rede municipal de ensino da cidade de

Corumbá/MS, nas séries iniciais do Ensino Fundamental, tendo por finalidade investigar os

impactos do programa e das condicionalidades na redução da desigualdade social no contexto

escolar, bem como, na evasão escolar e seus desdobramentos para vida das crianças

beneficiarias. Esperamos que a pesquisa possa contribuir para a maior compreensão acerca

do Programa Bolsa Família e de como esse benefício impacta no cotidiano dos meninos e

meninas no âmbito escolar e na vida social.

1 Os princípios legais do Programa Bolsa Família sob a luz da Constituição de 1988

A constituição Federal de 1988 foi produzida no âmbito da luta democrática contra a

ditadura e representou um grande avanço para a época. Com todos os seus possíveis limites,

esta constituição criou o espaço jurídico para o desenvolvimento de políticas de direitos no

país. Com isso, abriu as portas para as políticas públicas com vistas a efetivação de uma

justiça social mínima; apregoada pelo próprio preâmbulo que afirma que o Estado

democrático deve assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a

segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de

uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos. O artigo 3º expressa os objetivos

fundamentais da República Federativa do Brasil I-construir uma sociedade livre, justa e

solidária; II- garantir o desenvolvimento nacional; III- erradicar a pobreza e a marginalidade

e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV- promover o bem a todos, sem preconceitos

de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras de discriminação (PINZANI, REGO,

2014, p.169).

A Constituição de 1988 consagrou novos princípios de reestruturação do sistema de

políticas sociais, segundo as orientações valorativas então hegemônicas: o direito social como

fundamento da política; o comprometimento do Estado com o sistema, projetando um

acentuado grau de provisão estatal pública e o papel complementar do setor privado; a

concepção da seguridade social (e não de seguro) como forma mais abrangente de proteção e,

no plano organizacional, a descentralização e a participação social como diretrizes do

reordenamento institucional do sistema. (DRAIBE, 2003, p.4) Podemos dizer que a

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constituição de 1988, trouxe em seu bojo o gérmen de esperança de milhões de brasileiros

ainda sem voz silenciados pela dor e sofrimento, de ser reconhecidos como ser humano,

como sujeitos de direitos, representa a luta de um povo pela igualdade entre os homens e

mulheres independentemente da condição social, racial, gênero e etnia , ascendendo assim a

luta contra a pobreza e de qualquer forma de violência aos sujeitos de direito.

Contudo, como demonstra a história, nenhum direito escrito nas constituições será

respeitado sem ação coletiva e sem lutas para conquistar os recursos que permitem respeitar e

efetivar o que está no papel. De acordo com Candau nos dias atuais possuímos um

significativo conjunto normativo e de políticas centradas na proteção dos direitos humanos,

porém ainda convivemos com violações sistemáticas bem como impunidade as múltiplas

formas de violência, desigualdade social e a fragilidade da efetivação dos direitos

juridicamente afirmados constituem uma realidade cotidiana (CANDAU, 2008)

De acordo com os dados do IBGE (2011) o Brasil tem 16,27 milhões de pessoas em

situação de extrema pobreza, o que representa 8,5% da população. O enfrentamento a

pobreza e as desigualdades sociais é um dos grandes desafios da sociedade brasileira

contemporânea. Para superá-lo, é necessário que o Estado formule e implemente políticas e

programas que garantam direitos sociais e o pleno exercício da cidadania. Essas políticas são

de responsabilidade do Governo Federal, dos estados e do Distrito Federal e devem contar

também com a participação da sociedade.(BRASIL,2015, p.5).

A fome e a miséria são em si mesmas graves privações da liberdade humana, no seu

sentido mais profundo. Sendo assim políticas sociais não devem ser comparadas a meros

atos de caridade pública. Elas são instrumentos para promover autonomia individual e criar

um senso de comunidade, são instrumentos de cidadania, pois visam “proteger o status de

uma pessoa como membro da comunidade”. (PINZANI, REGO, 2013, p.87 apud HARRIS)

Entretanto há várias críticas que rotulam de assistencialistas as políticas de

transferência de renda, como o Bolsa Família. Contudo, se a vida é o primeiro direito do ser

humano e garanti-la é o dever mais elementar do Estado, não pode ser considerado

assistencialismo algo que efetive essa garantia. Nessa direção o direito de todos á saúde,

escola, alimentação têm adquirido certo reconhecimento nas políticas sociais e educacionais.

Políticas de moradia (como o Programa Minha casa, minha vida3, de Bolsa Família, de saúde,

3 O programa minha casa minha vida foi lançada em 2009 pelo governo federal com o objetivo de enfrentar o

déficit habitacional do país, estimado em 7,2 milhões de moradias. Sua finalidade é criar mecanismos de

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de educação-escola para todos, de qualidade... são políticas consensuais, que tem por base o

avanço da consciência da igualdade e de que as desigualdades sociais, econômicas, regionais

tem que ser superadas. (ARROYO, 2014, p121)

Com base nesse pano de fundo, podemos afirmar que um programa de transferência estatal

de renda as famílias de baixo poder aquisitivo como o Bolsa Família se insere em uma ainda

incipiente política pública de cidadania. O fato de ser ainda muito insuficiente como tal não

nos permite ignorar suas possibilidades de se tornar uma consistente política de formação de

cidadãos, se complementadas por um conjunto mais amplo de políticas que visam a esse alvo

garantido na constituição de 1988. Nesse sentido, o Bolsa Família (BF) começa pelo mais

preliminar direito, o direito á vida. (PINZANI, REGO, 2014, p176)

Dessa maneira, a vivência de carências rudes e miserável impede as pessoas de

desenvolverem suas funções humanas e reduz suas capacidades de humanização. A pobreza

não é somente privação de dinheiro e recursos materiais, é também privação de capacidades e

não desenvolvimento de funções humanas importantes, o que torna os pobres ainda mais

pobres. (IDEM)

Nesse contexto que o Programa Bolsa Família se insere com a finalidade de garantir a

subsistência imediata e também fornece uma base material para que os indivíduos possam

desenvolver-se em direção a uma maior autonomia, pautando-se na articulação de três

dimensões essenciais à superação da fome e da pobreza:

1. Promoção do alívio imediato da pobreza, por meio da transferência direta de renda à

família;

2. Reforço ao exercício de direitos sociais básicos nas áreas de Saúde e Educação, que

contribui para que as famílias consigam romper o ciclo da pobreza entre gerações;

3. Coordenação de programas complementares, que têm por objetivo o desenvolvimento

das famílias, de modo que os beneficiários do Bolsa Família consigam superar a

situação de vulnerabilidade e pobreza.(BRASIL,2015, p7)

Entretanto segundo Rocha (2008), não é só com transferência monetária que se elimina a

pobreza e a desigualdade de renda, pois esta tem caráter multidimensional. Assim, numa

visão mais ampla, o trabalho propõe que as condicionalidades se tornem crucial para diminuir

incentivos à produção e aquisição de novas unidades habitacionais. E o acesso das famílias de baixa renda a casa

própria.

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a pobreza e a alta desigualdade de renda, quando se investe na classe beneficente menos

favorecida, para que se solidifique na base a permanência enquanto frequência escolar para

crianças e adolescentes na diminuição do trabalho infantil e no aumento da segurança

alimentar..(GUEDES, GONÇALVES, NASCIMENTO, 2015).

Nessa perspectiva, o projeto de pesquisa tem por finalidade analisar o impacto do PBF, no

rendimento escolar e permanência de meninos e meninas oriundos da camada popular na

escola.

2 PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA E AS CONDICIONALIDADES

O Programa Bolsa Família (PBF), criado em outubro de 2003, é um programa de

transferência direta de renda com condicionalidades, voltado para famílias em situação de

pobreza e de extrema pobreza em todo o país. O PBF possui três eixos principais:

transferência de renda, condicionalidades e ações complementares. A transferência de renda

promove o alívio imediato da pobreza. As condicionalidades reforçam o acesso a direitos

sociais básicos nas áreas de educação, saúde e assistência social. Já as ações complementares

objetivam o desenvolvimento de capacidades das famílias e a superação de sua situação de

vulnerabilidade. (PINZANI, REGO, 2014, p176)

O Bolsa Família integra o Plano Brasil Sem Miséria, que tem como foco de atuação

brasileiros com renda familiar per capita inferior a 77 reais mensais. O Programa é uma das

mais importantes iniciativas atualmente instituídas – ao lado do Sistema Único de Assistência

Social (Suas) – para proteger as famílias em situação de pobreza, vulnerabilidade e risco

social. O Programa Bolsa Família é uma das mais importantes iniciativas atualmente

instituídas – ao lado do Sistema Único de Assistência Social (Suas) – para proteger as

famílias em situação de pobreza, vulnerabilidade e risco social. (BRASIL, 2015)

A Condicionalidade na área de educação traz em seu bojo as seguintes exigências;

matricular as crianças e os adolescentes de 6 a 17 anos nas escolas; e garantir a frequência

mínima de 85% nas aulas para crianças e adolescentes de 6 a 15 anos, e de 75% para jovens

de 16 e 17 anos.

Entretanto as condicionalidades na área de saúde, para os responsáveis por crianças

menores de sete anos são as seguintes: Levar as crianças aos locais de campanhas de

vacinação; Manter atualizado o calendário de vacinação, de acordo com as instruções do MS;

e levar as crianças ao posto de saúde, com o cartão de saúde da criança, para

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acompanhamento do seu crescimento e desenvolvimento, entre outras ações, conforme o

calendário estipulado pelo Ministério da Saúde (MS).Cabe ressaltar que as mulheres gravidas

devem cumprir as seguintes condicionalidades: Fazer as consultas e os exames antes do

nascimento do bebê (pré-natal);de acordo com o calendário estabelecido pelo Ministério da

Saúde (MS) e participação de atividades educativas referente ao aleitamento e alimentação

saudável promovido pela Equipe de saúde. (IBIDEM)

O cumprimento de condicionalidades deve ser entendido como um compromisso assumido

pelas famílias e pelo poder público. O acesso aos serviços de saúde e de educação é um

direito básico e condição fundamental para permiti r o rompimento do ciclo intergeracional

da pobreza, ou seja, da manutenção da condição de pobreza de uma geração a outra. Por

exemplo, crianças que cumprem as condicionalidades do PBF, ao ter acesso aos serviços de

saúde e educação, poderão ter melhores condições de vida que seus pais. (BRASIL, 2015,

PP.10-13)

De acordo com os pesquisadores Pinzani e Rego, a renda básica condicionada, ao incluir o

beneficiário no corpo de cidadãos, promove nele um sentimento de identificação com a

nação, devido o reconhecimento de sua pessoa por parte das instituições. Em contrapartida,

exige-se dele que assuma suas responsabilidades perante a comunidade política e o próprio

estado. Assim ocorre o aprendizado da cidadania em dupla dimensão: A do sujeito de direitos

e a do sujeito de deveres. As duas dimensões são necessárias para que os indivíduos se

considerem cidadãos , isto é, membros ativos do corpo político, e não meros clientes que

recebem passivamente os serviços oferecidos pelo Estado ( PINZANI,REGO,2014,p.83).

3 EDUCAÇÃO E A CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA

A educação compõe um dos direitos fundamentais da criança e do adolescente, devendo

ser assegurada pelo poder público, designado para prover as condições necessárias à sua

efetivação, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da

cidadania e sua qualificação para o trabalho (CORRÊA, 2011).

A constituição Federal do Brasil de 1988 vem garantir o acesso a educação, no artigo 205,

diz:

“A educação, direito de todos e dever do estado e da família, será

promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno

desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua

qualificação para o trabalho”. (BRASIL, 1988).

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Os direitos sociais correspondem a uma imposição de deveres ao Poder Público,

objetivando o desenvolvimento do ser humano, sobretudo dos mais carentes (BASTOS p. 227

apud. PERES, 2008)

Nessa perspectiva o Estado deve, por exemplo, oferecer aos cidadãos uma educação

primária de qualidade, gratuita e pública e não pode deixar os mais pobres em situação de

analfabetismo que não lhes permitiria sair da situação de pobreza em que vive. Contudo, a

mera alfabetização não é ainda uma condição suficiente para melhorar o próprio status social:

em sociedades industrializadas o que se procura são primeiramente de trabalhadores

qualificados, a falta de uma educação e de uma formação superior á mera alfabetização

significa para os indivíduos em questão não somente a exclusão do mercado de trabalho, mas

também a exclusão social, já que leva ao desempenho crônico, ou á aceitação de trabalhos

não qualificados e mal pagos. .(PINZANI,REGO,2014,p74)

O duplo desafio da educação é ensinar o aluno a participar – sinônimo de cidadania e a

produzir – sinônimo de trabalho. Quando se ensina o aluno a “aprender a aprender” (DEMO,

1995), se lhe estão fornecendo as ferramentas para que o mesmo desenvolva papel estratégico

de aprendizado e crescimento contínuo nos desafios que o futuro lhe apresentar.(PERES

,2008, p.7)

O conhecimento propicia qualidade na vida individual e integra o homem na sociedade.

Leva o homem ao desenvolvimento constante, à prosperidade, à liberdade de escolha,

consciência de decisão, com capacidade de lutar pelos seus objetivos e ideais, não sendo

influenciado por pensamentos incompatíveis com os seus próprios. Não há dignidade

humana, nem cidadania na ignorância. Não educar é não dar liberdade. Conforme Fabiana

Cássia Dupim Souza,

É preciso educar o povo (crianças, adultos e idosos aí incluídos), para que

ele possa compreender seu papel na sociedade em que vive e exercer os

direitos que decorrem da situação da peça ativa da realidade que o circunda.

(...) A escola deve servir como instrumento de preparação para uma

participação ativa no mundo. Não há como reivindicar, propor ou participar

sem que se saiba de quê. É imprescindível que o povo saiba ler, que tenha

noções, ainda que básicas, dos direitos de que é titular. (...) não há cidadania

plena onde não há educação. Povo sem educação, sem participação nos

rumos de seu Estado, inconsciente de seu papel no mundo, alheio às

discussões que o impulsionam, perde a condição de cidadão e passa a ser

simplesmente mera massa disforme (apud ROCHA, 2004, p.232).

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O cidadão desinformado torna-se “escravo” das decisões dos demais, pois não tem

condições de decidir, acaba sendo uma pessoa de fácil manipulação, alvo de oportunistas e

enganadores. Silva (2006) salienta que essa pessoa é livre em seu ir e vir, mas preso ao

desconhecimento; somente pela apropriação do conhecimento, homens e mulheres podem ser

livres ou seja têm pelo menos alguma chance de exercer sua liberdade. (IDEM)

O conhecimento político, social e econômico é pré-requisito para realizar, debater,

questionar, intervir, lutar, defender, transformar, decidir, socializar-se. Quando a educação

plenamente proporcionar esses conhecimentos, o ser humano terá a possibilidade de fazer as

suas próprias escolhas. A informação torna-se o primeiro item a ser cumprido para que o

cidadão esteja apto para o exercício da cidadania e, por fim, esteja qualificado

profissionalmente para ser incluído no mercado de trabalho. De acordo com Kant (1996,

p.15) “O homem não pode tornar-se um verdadeiro homem senão pela educação. Ele é aquilo

que a educação dele faz” (PERES,2008, p.8)

4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A presente pesquisa tem por finalidade apresentar resultados do estudo investigativo

referente ao Programa Bolsa Família tendo como foco as contribuições do programa para

inclusão, acesso e permanência de meninos e meninas de baixo poder aquisitivo na escola.

Trazendo para o campo da pesquisa as seguintes indagações: O PBF tem contribuído para

inclusão, acesso e permanência de meninos e meninas das classes populares na escola? Qual

a concepção das famílias e dos profissionais em educação sobre o Programa?

Nessa perspectiva, foi desenvolvida uma pesquisa empírica de campo com abordagem

qualitativa, a qual investiga os significados que os sujeitos atribuem às suas vivências. Na

investigação utilizamos entrevistas semiestruturada com um roteiro de questionário.

As entrevistas foram realizadas com famílias beneficiadas pelo programa social,

professores e coordenador de uma escola localizada na área urbana no Município de

Corumbá e atende 844 alunos/as sendo que 452 discentes recebem o Bolsa Família.

Para analise dados obtidos nas entrevistas utilizaremos como referencial teórico os autores

que discutem a temática da desigualdade social e emancipação do ser humano histórico e

social enquanto sujeito de direitos, tais como, Arroyo (1999), Pinzani e Rego (2014).

Esperamos que a pesquisa possa contribuir para a maior compreensão acerca do Programa

Bolsa Família e como esse benefício reflete no cotidiano das crianças beneficiárias trazendo

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em seu bojo dados relevantes sobre o impacto do programa no progresso e permanência dos

educandos na escola a partir das vivências reais na qual estão inseridos. Com intuito de

contribuir para eficácia do programa.

5 RESULTADOS E DISCUSSÕES DOS DADOS LEVANTADOS

A pesquisa empírica foi realizada com quatro participantes sendo que três trabalham no

âmbito escolar e uma mãe (D. Alexandra) que tem filhos na fase escolar e recebe o Bolsa

Família. Vale salientar que “Alexandra” é um pseudónimo.

6-Caracterização dos sujeitos entrevistados

Entrevistado(1) - Coordenadora, possui graduação em pedagogia,7anos de serviço.

Entrevistado(2) - Professora possui graduação em pedagogia, 6anos de serviço.

Entrevistado (3)- Professora possui graduação em pedagogia, 6anos de serviço.

Entrevistado (4)- Diarista, Ensino Fundamental incompleto, 20 anos que atua nessa área.

Vale salientar que as professoras que participaram da entrevista trabalham com alunos/

alunas das séries iniciais do Ensino Fundamental com o ciclo de alfabetização.

A Mãe entrevistada usou nome fictício de Alexandra, esta têm seis filhos, porém três já

estão casados e os outros três são menores e moram com ela, estes são estudantes. D.

Alexandra estudou até 8º ano do Ensino Fundamental, mas não terminou porque precisava

trabalhar para ajudar a família. Segundo ela, foi uma época muito difícil, porque não tinha

ajuda do governo como tem hoje, assim como o Bolsa Família.

O Programa Bolsa Família está em vigência há uma década, dessa forma para maior

compreensão acerca do programa buscamos verificar qual a concepção que os participantes

da pesquisa (educadores/ família) acerca do Programa Bolsa Família. Os sujeitos

entrevistados de modo geral elucidaram que o programa auxilia as famílias de baixo poder

aquisitivo. Tal afirmação pode ser constatada nos trechos abaixo respectivo a fala dos

participantes.

“O programa Bolsa Família é um auxilio que o governo repassa as famílias,

como forma de ajudar na renda”(Entrevistada 1)

“O Programa auxilia as famílias e exige a frequência dos alunos na

escola[...]” (Entrevistada 2)

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“O programa auxilia as famílias que necessitam de uma ajuda mensal

financeira, com intuito de reduzir o analfabetismo [...]” (Entrevistada 3)

“O Bolsa Família é muito bom, porque tem ajudado muito na renda familiar

com esse dinheiro eu compro as coisas para as minhas crianças, se não

tivesse essa ajuda seria mais difícil”.( Entrevistada 4)

Como vemos de modo geral, a aprovação do programa por parte dos diversos atores

entrevistados é bastante grande. Reconhecem ainda que o programa é um importante auxilio

na renda familiar. Nessa direção, certo grau de independência econômica, advinda do

recebimento de renda monetária regular, pode começar a emancipar os sujeitos da condição

de vulnerabilidade e das estruturas tradicionais de dominação que os conduz à perda de

qualquer tipo de aquisição de vontade política e de moral próprias.

De acordo com os autores (PINZANI, REGO, 2014) o dinheiro liberta o indivíduo. Por

isso, lembra Simmel (1977) que o dinheiro é o mais móvel de todos os bens[...] que de modo

decisivo ocasiona a libertação do indivíduo perante os vínculos unificantes como os que

irradiam de outros objetos de propriedade (PINZANI, REGO,2014, p.205)

4.1 PERCEPÇÃO DA COMUNIDADE ESCOLAR SOBRE AS CONDICIONALIDADES E

RENDIMENTO ESCOLAR

O Programa Bolsa Família possui três eixos principais: transferência de renda,

condicionalidades e ações complementares. A transferência de renda promove o alívio

imediato da pobreza. As condicionalidades reforçam o acesso a direitos sociais básicos nas

áreas de educação, saúde e assistência social. Já as ações complementares objetivam o

desenvolvimento de capacidades das famílias e a superação de sua situação de

vulnerabilidade (BRASIL,2015, p.5).

O termo “condicionalidades” é importante na concepção do programa. Desde seu início, o

PBF segue, em parte pela sua origem em programas de transferências pré-existentes que

tinham esse desenho, o modelo de transferência de renda condicionada, que tem por

características exigir compromissos ou contrapartidas à transferência de renda. Como

expresso na própria exposição de motivos para a Medida Provisória 132 de 2003, criadora do

PBF, as condicionalidades têm o papel de:

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Trabalho de Conclusão de Curso

[...] induzir o acesso aos direitos sociais de segurança alimentar, saúde,

educação e assistência social. O Programa pretende, também, contribuir para

a emancipação dessas famílias, criando oportunidades de inclusão social,

isto é, fornecendo meios para que possam sair da situação em que se

encontram e, ainda, provocar impacto no plano local (p.14).

Originalmente, as condicionalidades buscam influenciar ou induzir o comportamento das

famílias em situação de vulnerabilidade, por meio da associação entre o benefício e as

decisões quanto à manutenção de seus integrantes na escola e ao acesso à saúde. Essa indução

aumentaria o capital humano de seus integrantes, caracterizando-se como um investimento

das famílias em suas capacidades e estabelecendo um elo causal entre as transferências de

renda no presente e as condições futuras das crianças e jovens das famílias atendidas

(AGATTE, ANTUNES,2015, p.14). A proposta é o rompimento dos ciclos de pobreza que

marcam as gerações dessas famílias, preconizado com a concretização do direito à educação

como elemento fundamental da inclusão social das famílias, compreendendo a educação

escolar como condição da construção de conhecimento, da formação humana e da proteção

social às crianças e adolescentes. (SANTOS, SILVA, 2015, p11)

Sendo assim cabe-nos a pergunta: O que pensam os profissionais em educação e as

famílias beneficiarias referente as condicionalidades? Elas contribuem para melhoria da

assiduidade e permanência das crianças na escola?

Vejamos agora o que pensam os profissionais na área da educação referente a seguinte

indagação: As condicionalidades contribuem ou não para frequência e permanência das

crianças na escola?

“Contribui, uma vez que como condicionalidades o aluno deve apresentar

bom rendimento e presença. (Entrevistada 1)

“Sim, porque por medo de perderem esse benefício, os responsáveis pela

criança cuidam para que não perca as aulas”, o bolsa família garante a

frequência mas não o acompanhamento dos pais as vezes comparece nas

reuniões promovida pela escola “(Entrevistada 2)

“ Os pais trazem as crianças para não perderem o benefício. Os /as alunos/as

são frequentes, mas os pais não participam do desenvolvimento escolar dos

filhos/as, não dão auxilio para o professor”. (Entrevistada 3)

As entrevistadas demonstraram através das opiniões que as condicionalidades do

programa contribuíram de forma positiva para permanência e assiduidade de meninos e

meninas na escola, isso devido ao medo que os pais/ responsáveis tem de perder o benefício,

até porque é a única renda de muitas famílias, mas não garante a aprendizagem dos discentes

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nem mesmo o envolvimento dos pais nas atividades escolares. Mas o que pensam os

beneficiários do programa sobre as condicionalidades?

Para dona Alexandra (mãe) beneficiária do programa, as condicionalidades são

importantes na área da educação porque exige responsabilidade dos pais com a educação dos

filhos, cuidando para que não faltem as aulas para não perder o benefício, além disso o

programa oportuniza cursos às famílias para que possam qualificar para o mercado de

trabalho.

“Eu acho que as condicionalidades são importantes porque exige mais das

pessoas, tem que ter compromisso né com a escola, não deixar os filhos

faltar e com os cursos que vem surgindo, já participei de vários cursos,

assim as pessoas tem mais condições de desempenhar no trabalho,, dá mais

possibilidade de trabalhar, além disso ajuda no currículo”( Alexandra-

entrevistada 4)

Considerando a percepção da beneficiaria em relação as condicionalidades, foi possível

perceber possibilidades de ganhos envolvidos em seu cumprimento que vão muito além dos

efeitos práticos sobre a frequência escolar e a escolaridade dos filhos. Trata-se do

fortalecimento dos sentimentos de pertencimento e reconhecimento sociais por parte da

beneficiária dados pela efetividade no cumprimento das condicionalidades previstas no

programa.

A expectativa das condicionalidades do PBF é de que as crianças acompanhadas cumpram

adequadamente o ciclo da educação básica. Portanto, uma situação melhor do que a

vivenciada por seus pais e familiares, que em muitos casos são analfabetos absolutos ou

funcionais.

Nesse contexto apresentarei mais um trecho da entrevista com dona Alexandra, que

acredita que através da Educação Escolar os seus filhos poderão ter uma vida melhor.

“O estudo é muito importante para ter um futuro melhor, quero que meus

filhos seja alguém na vida, um advogado, um professor[...] que eles possam

ter um bom emprego” [...] Não terminei o estudo, porque tive que trabalhar

...”( Alexandra)

As condicionalidades em relação à educação e à saúde do PBF foram estabelecidas com o

propósito de contribuir para o aumento das capacidades das pessoas, tendo em vista o

combate à pobreza. O pressuposto desse entendimento é que os filhos dos mais pobres, por

meio do acesso aos serviços de educação e saúde, ampliariam seu Capital Humano e, assim,

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obteriam maiores possibilidades de ingressar no mercado de trabalho, gerar renda e sair da

condição de pobreza quando adultos.

Dados de uma pesquisa realizada no mês de agosto e setembro de 2016 pelo MDS (

Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário) mostra que 98,66% das famílias do

município de Corumbá tem cumprido com as condicionalidades. Sendo assim o acesso e

permanência dos meninos e meninas das classes populares nas escolas públicas vem

acontecendo de forma positiva, as crianças estão ficando mais tempo na escola, mas qual o

impacto do Programa no rendimento escolar dos discentes? A reprovação diminui? Houve

caso de Alunos que recebem o bolsa família serem reprovados?

4.2 RENDIMENTO ESCOLAR E REPROVAÇÃO

A coordenadora da escola pesquisada elucidou que: A reprovação tem diminuído, a gestão

escolar busca fazer esse controle, entrando em contato com a família, porém já houve caso de

reprovação, ocasionada pelas faltas e baixo rendimento escolar.

As professoras de forma unânime salientaram que a frequência e permanência do aluno na

escola não garante um bom rendimento escolar já houve caso de alunos serem reprovados

devido a falta de interesse, falta de apoio familiar e também por faltarem as aulas

excessivamente. Nesse último caso as faltas são informadas ao órgão fiscalizador (CRAS),

algumas famílias já perderam o benefício por descumprirem as condicionalidades.

Na opinião de D. Alexandra os filhos estão mais interessados em aprender, apesar de

participar das reuniões da escola e do filho ser frequente nas aulas não possível evitar a

reprovação:

Os meus filhos já reprovaram, porque eles não conseguiam entender a

matéria e eu também por ter pouca instrução desconhecia o conteúdo dessa

forma não consegui ajudar ele.

Ao analisarmos as respostas das entrevistadas percebemos que as professoras cobram o

apoio das famílias nos deveres escolares dos discentes e por outro lado a família por possuir

pouca instrução não consegue ajudar o filho/a. Sabemos que o acompanhamento dos pais ou

responsáveis no desenvolvimento dos filhos/as é um dos fatores essencial que contribui para

o sucesso escolar .Contudo é importante considerarmos que o aprendizado da criança começa

muito antes de sua entrada na escola: na família e em outros tantos ambientes e em vários

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Trabalho de Conclusão de Curso

processos de interação. mas, quando falamos do saber sistematizado que deve ser oferecido

às crianças na escola, é fundamental que o professor tenha um papel ativo no processo de

desenvolvimento desta, ajudando-a a realizar as atividades propostas para que em outro

momento seja capaz de fazê-las sozinha, dando assim continuidade ao seu processo de

desenvolvimento.(TEIXEIRA,2013,p.62)

Por conseguinte, Patto (1996) afirma que, mesmo diante da ausência ou da dificuldade

dos pais em ajudar os filhos nas tarefas escolares, é importante atentarmos para o papel do

professor que deve observar as necessidades dos alunos, e prevendo o ponto de chegada,

“organizar e programar os procedimentos necessários para transformar a possibilidade do

aprender em realidade”. É necessário que haja comprometimento por parte do professor

nesse processo, a escola, na pessoa do professor, é responsável por transmitir à criança os

conhecimentos acumulados historicamente, pois, a educação é “o ato de produzir, direta e

intencionalmente, em cada indivíduo singular, a humanidade que é produzida histórica e

coletivamente pelo conjunto dos homens” (SAVIANI, 2008b, p. 8).

Para Carvalho (2000, p. 149), as responsabilidades da família e da escola no que se refere

ao processo de escolarização das crianças se confundem a partir do momento em que a escola

passa a delegar à família uma função que é sua. Segundo a autora:

[...] assim, o papel acadêmico atribuído à família nega a especificidade da

educação escolar e afeta o papel profissional docente, contra toda uma

história de diferenciação institucional, especialização funcional (...) e

profissionalização do magistério. Além disso, apaga a distinção entre

educação formal e informal, reduz a educação à escolarização e confunde o

papel paterno/materno com o papel docente.

Ao considerar que muitos profissionais da educação esperam poder contar com os pais

como monitores e que se há alguma falha no processo educacional a responsabilidade é da

falta de ajuda dos pais, podemos entender que a escola tem um problema que não é dela. De

acordo com Collares e Moysés (1996, p. 27) “A escola – entendida como instituição social

concreta, integrante de um sistema sociopolítico concreto - apresenta-se como vítima de uma

clientela inadequada”(RIBEIRO,2013, p.62). E acaba culpabilizando a criança e família pelo

insucesso escolar, porém a escola e a família precisam cumprir cm o seu papel no processo

educativo.

Segundo Arroyo, todo o processo de exclusão social e negação de uma escola de qualidade

para as camadas mais pobres da população, constituído criteriosamente pelo poder público,

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Trabalho de Conclusão de Curso

estão alicerçados sobre uma má formação de professores baseada em currículos fracos,

acríticos, falta de solidez nos estudos teóricos. (BERTOLINO, 2012, p.2) A mudança só será

possível quando os educadores partilharem a mesma concepção de ensino e aprendizagem,

tendo uma compreensão que considere que todos os alunos têm potencial para aprender algo

e, portanto, cabe (ao poder público e não unicamente ao profissional da educação) viabilizar

um ensino capaz de desenvolver ao máximo as competências de cada aluno, considerando

que educar não é função única da escola, deve ser compromisso de toda a sociedade.

Portanto parafraseando Arroyo a escola por si só não tem poder de erradicar as mazelas

sociais impostas pelo sistema capitalista dentre elas a pobreza. Porém a educação escolar tem

um papel fundamental na luta pelas transformações dessas relações e conduzir os indivíduos

considerados “desiguais”, “inferiores” pelo sistema à apropriação do conhecimento de forma

consciente e critica, nessa direção cabe aos profissionais da educação educar não somente

para o trabalho, mas sim para emancipação do homem, para que este possa exercer a sua

cidadania de forma plena e consciente propiciando condições para que os menos favorecidos

economicamente rompam com o ciclo da pobreza que perpetua no Brasil.( ARROYO,2015)

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O enfrentamento a pobreza e as desigualdades sociais é um dos grandes desafios da

sociedade brasileira contemporânea. Para superá-lo, é necessário que o Estado formule e

implemente políticas e programas que garantam direitos sociais e o pleno exercício da

cidadania. Essas políticas são de responsabilidade do Governo Federal, dos estados e do

Distrito Federal e devem contar também com a participação da sociedade. (BRASIL,2015,

p5).

As políticas sociais não devem ser comparadas a meros atos de caridade pública e sim

como um direito. De acordo com os pesquisadores Pinzani e Rego, a renda básica

condicionada, ao incluir o beneficiário no corpo de cidadãos, promove nele um sentimento de

identificação com a nação, devido o reconhecimento de sua pessoa por parte das instituições.

Em contrapartida, exige-se dele que assuma suas responsabilidades perante a comunidade

política e o próprio estado. (PINZANI, REGO,2014, p.83).

Dessa forma através da pesquisa empírica constatamos que o programa através das

condicionalidades está contribuindo de significativa para a frequência e permanência dos/as

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filhos/as dos trabalhadores na escola. O problema levantado foi referente a aprendizagem

que tem implicações positiva ou negativa no rendimento escolar o qual não faz parte das

condicionalidades do PBF, de acordo com as entrevistadas. O bom rendimento escolar

deveria fazer parte das condicionalidades, pois é uma problemática que merece atenção das

políticas públicas para que seja superado e para que efetive de fato a inclusão, oportunizando

meninos e meninas o acesso não só a escola, mas principalmente ao conhecimento, pois a

expropriação da cultura escrita impede os sujeitos de direitos de exercerem a cidadania

plena.

Portanto, convém ressaltar que a permanência das crianças na escola não é suficiente para

que sua formação as ajude a sair do círculo vicioso da pobreza. A frequência escolar é uma

condição necessária, mas não suficiente para garantir uma boa educação: sem escola de

qualidade, sem boas condições de estudo em casa, sem apoio de pais e professores, as

crianças de famílias pobres muito dificilmente conseguem obter bons resultados e alcançar

um nível de instrução suficiente para ter mais chances profissionais na vida. (BRASIL,2015,

p.15)

O Programa Bolsa Família tem atuado de forma significativa no sustento de muitas

famílias brasileiras e atenuado a pobreza, mas ainda não está conseguindo promover a

emancipação.

Este trabalho não tem a pretensão de esgotar os estudos e investigações sobre o tema, mas

evidenciar indicadores que possam corroborar para o aperfeiçoamento do Programa Bolsa

Família. Muitos estudos e reformulações serão necessários, bem como novas medidas

complementares até que se consolide de fato a inclusão social.

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