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Trabalho de Conclusão de Curso EVASÃO ESCOLAR DO ENSINO MÉDIO REGULAR NOTURNO: ESCOLA ESTADUAL NATHÉRCIA POMPEO DOS Ivania José da Silva 1 RESUMO Este artigo aborda as causas e consequências da evasão escolar, especialmente na Educação de Jovens e Adultos, a partir de pesquisa qualitativa realizada na Rede Pública de Ensino do Estado de Mato Grosso do Sul, no Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos- Nathércia Pompeo dos Santos- Ensino Médio, no município de Corumbá. O objetivo é analisar elementos que causam a evasão escolar refletindo sobre o trabalho educativo, e a importância da prática pedagógica dos professores acerca dos conceitos envolvendo: mediação, historicidade, prática social e transmissão do conhecimento socialmente construído. O texto segue defendendo a necessidade de a escola combater a exclusão social por meio do efetivo trabalho educativo voltado a instrumentalizar o aluno com o desenvolvimento eficaz da aprendizagem dos conhecimentos científicos/conteúdos, trabalhados nas diferentes áreas do conhecimento. Esse argumento caracteriza-se, por um lado, como uma maneira da escola enfrentar os problemas nesse campo, e por outro, uma possibilidade para que o aluno saia do complicado processo da evasão escolar. Palavras-chave: Evasão Escolar. Educação. Ensino Médio. Cidadania. 1 INTRODUÇÃO O problema da evasão escolar preocupa a escola e seus representantes, ao perceber alunos com pouca vontade de estudar, ou com importantes atrasos na sua aprendizagem. Nesse sentido, é preciso considerar que a evasão escolar é uma situação problemática, que se produz por uma série de determinantes. Convém esclarecer que o termo evasão escolar será entendido como resultado do fracasso escolar do estudante e da própria instituição escolar, como se verá mais adiante ao estudar as causas da evasão escolar, assim também, como seus efeitos na produtividade da escola. ¹SILVA, Ivania José da: Graduação em História, Universidade Federal de Mato Grosso de Sul/ Campus Pantanal. E-mail do autor: [email protected]. Projeto de pesquisa: Educação Pobreza e Desigualdade social. Orientador: Prof. Me.Rogério Melo.

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Trabalho de Conclusão de Curso

EVASÃO ESCOLAR DO ENSINO MÉDIO REGULAR NOTURNO: ESCOLA

ESTADUAL NATHÉRCIA POMPEO DOS

Ivania José da Silva1

RESUMO

Este artigo aborda as causas e consequências da evasão escolar, especialmente na Educação

de Jovens e Adultos, a partir de pesquisa qualitativa realizada na Rede Pública de Ensino do

Estado de Mato Grosso do Sul, no Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e

Adultos- Nathércia Pompeo dos Santos- Ensino Médio, no município de Corumbá. O

objetivo é analisar elementos que causam a evasão escolar refletindo sobre o trabalho

educativo, e a importância da prática pedagógica dos professores acerca dos conceitos

envolvendo: mediação, historicidade, prática social e transmissão do conhecimento

socialmente construído. O texto segue defendendo a necessidade de a escola combater a

exclusão social por meio do efetivo trabalho educativo voltado a instrumentalizar o aluno

com o desenvolvimento eficaz da aprendizagem dos conhecimentos científicos/conteúdos,

trabalhados nas diferentes áreas do conhecimento. Esse argumento caracteriza-se, por um

lado, como uma maneira da escola enfrentar os problemas nesse campo, e por outro, uma

possibilidade para que o aluno saia do complicado processo da evasão escolar.

Palavras-chave: Evasão Escolar. Educação. Ensino Médio. Cidadania.

1 INTRODUÇÃO

O problema da evasão escolar preocupa a escola e seus representantes, ao perceber

alunos com pouca vontade de estudar, ou com importantes atrasos na sua aprendizagem.

Nesse sentido, é preciso considerar que a evasão escolar é uma situação problemática, que se

produz por uma série de determinantes. Convém esclarecer que o termo evasão escolar será

entendido como resultado do fracasso escolar do estudante e da própria instituição escolar,

como se verá mais adiante ao estudar as causas da evasão escolar, assim também, como seus

efeitos na produtividade da escola.

¹SILVA, Ivania José da: Graduação em História, Universidade Federal de Mato Grosso de Sul/ Campus

Pantanal. E-mail do autor: [email protected].

Projeto de pesquisa: Educação Pobreza e Desigualdade social.

Orientador: Prof. Me.Rogério Melo.

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São muitos os motivos que conduzem o estudante a abandonar seus estudos. Dentre

eles, destacam-se os fatores internos, associados ao desenvolvimento psíquico do aluno, bem

como os fatores externos de natureza socioeconômica. Muitas vezes, jovens vêem-se

obrigados a optar por trabalhar em lugar de estudar, devido à necessidade de contribuir para o

sustento da família. Além disso, o modelo de escola da atualidade, já não desperta o interesse

do aluno. Lara (2003) corrobora essa análise, ao afirmar que o fenômeno da evasão escolar

associado ao fato da escola estar pouco preocupada em possibilitar aos alunos e professores a

experiência do acontecer das ideias, na sua produção, em consonância aos desafios concretos

da vida, contribui consequentemente ao abandono da escola, caminho que parece mais certo.

Tendo em vista que o acesso do aluno ao ensino médio noturno regular não tem

garantido a sua permanência na escola fruto do estudo deste artigo, e nem êxito na conclusão

de seus estudos e que a problemática da evasão vem se arrastando há décadas. Constatando

que só temos quatro salas do ensino médio regular noturno em funcionamento, temos que

montar estratégias para evitar que essas salas fechem por falta de aluno e essa modalidade de

ensino acabe naquela região da cidade, que só conta com a presente escola para atender

vários bairros adjacentes, o fechamento dessas salas de aulas acarretaria um prejuízo enorme,

pois impossibilitaria que muitos adolescentes tivessem o direito de estudar e concluírem essa

etapa de ensino, ficando fora da escola muitos seriam vulneráveis ao mundo das drogas e do

crime, pois é uma região onde acontecem muitos assaltos, praticados inclusive por menores

de idade.

O objetivo deste artigo é analisar elementos que causam a evasão escolar na escola

Nathercia refletindo sobre o trabalho educativo, e a importância da prática pedagógica dos

professores acerca dos conceitos envolvendo: mediação, historicidade, prática social e

transmissão do conhecimento socialmente construído, assim, buscar estratégias para diminuir

os índices de evasão nesta unidade escolar.

1.1 UNIDADES DE ENSINO

A Escola Estadual Nathércia Pompeo dos Santos foi fundada em 1986, na zona norte

do município de Corumbá, na parte alta da cidade, para atender a um conjunto de bairros que

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tem uma comunidade bastante carente. Ofertando ensino público nas modalidades de ensino

Fundamental, Médio e EJA (Educação de Jovens e Adultos de ensino Médio Noturno).

O objetivo geral da escola é proporcionar ao aluno a formação necessária ao seu

desenvolvimento intelectual-afetivo-psico-social, para sua autorrealização e preparação para

o exercício consciente da cidadania, observando as determinações da Lei n° 9.394/96.

A escola hoje tem uma equipe de educadores bastante heterogênea, contando com: 01

(uma) diretora, 01 vice-diretor e coordenadoras pedagógicas (uma por área), 18 (dezoito)

professores regentes (em regime de 20 horas - sendo 14 horas em sala de aula e 06 horas para

atividades de planejamento, formação e desenvolvimento de grupos de apoio, com os alunos

que necessitam de uma ação educativa mais pontual, ou seja, reforço escolar), 05 (cinco)

professores de Jovens e Adultos (noturno).

1.2 EVASÃO ESCOLAR EM FOCO

A escola pública do Ensino Médio só será efetivamente democrática

quando seu projeto pedagógico, sem pretender ingenuamente ser

compensatório, propiciar as necessárias mediações para que os menos

favorecidos estejam em condições de identificar, compreender e buscar

suprir, ao longo de sua vida, suas necessidades com relação à participação

na produção cientifica, tecnológica e cultural. (Acácia Kuenzer)

Há muito tempo vem se usando o discurso de que houve a democratização do ensino

público, ofertando vagas para todos, no entanto a problemática da evasão escolar é bem maior

e afeta a todas as modalidades de ensino. Ela é decorrente de fatores econômicos, políticos e

sociais que geram na sociedade atual, amplas desigualdades e exclusões, sendo que os mais

afetados são alunos do ensino médio e de modo especial os do ensino médio noturno. É no

noturno que os alunos sentem ainda mais dificuldades em conciliar trabalho e estudo além

dos já conhecidos fatores econômicos e sociais que contribuem para a sua desistência.

Sabe-se que é difícil resolver a questão da evasão escolar em um curto espaço de

tempo, tendo em vista que é uma situação que vem se agravando com o passar dos anos,

principalmente por fatores sociais e econômicos. Segundo a pesquisa realizada há ações

efetivas por parte do governo federal e estadual que auxiliam a permanência do aluno na

escola, mas que atingem mais os alunos do ensino fundamental. O aluno maior de idade já

não conta com estes recursos.

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Sobre a exclusão dos alunos, Bourdieu (2004, p. 221) quando escreve o texto intitulado “Os

excluídos do interior”, relata ainda outro problema, o dos alunos que ficam na escola e que ao

seu final recebem diplomas desvalorizados:

Os alunos ou estudantes provenientes das famílias mais desprovidas

culturalmente têm todas as chances de obter, ao fim de uma longa

escolaridade, muitas vezes paga com sacrifícios, um diploma desvalorizado;

e se fracassam, o que segue sendo seu destino mais provável, são votados a

uma exclusão, sem dúvida, mais estigmatizante e mais total do que era no

passado.

O autor aponta que no passado – até aproximadamente a década de 50 na França –

existia uma “ideologia do dom”, que para o nosso contexto brasileiro parece ter ainda

fundamento. Sob tal ideologia as escolas acabavam por convencer os alunos de que o seu

fracasso se dava porque estes não se sentiam feitos para a escola, de que não eram feitos para

as posições que podem ser alcançadas (ou 5 não) pela escola, ou seja, as profissões não

manuais e, muito especialmente, as posições dirigentes no interior dessas profissões.

Embora a questão da evasão precise ser compreendida, por um lado, no contexto

capitalista e não a isolando deste contexto, por outro lado, é legítimo que se pergunte se é

possível no âmbito escolar realizar ações que diminuam os índices de evasão escolar. Sabe-se

que a escola, muitas vezes, sem se dar conta, faz uso de algumas práticas de ensino que acaba

contribuindo com o fracasso escolar do aluno, contribuindo para a sua exclusão.

Neste cenário a educação aparece, muitas vezes, como um campo conivente com tais

ideais, na medida em que não faz a crítica e reforça as desigualdades acima descritas.

No Século XXI, no Brasil, este contexto sofre certas alterações, já que assume o

governo federal um representante da classe trabalhadora. Luiz Inácio Lula da Silva tem

adotado uma concepção mais à “esquerda”, sendo que no discurso e em algumas práticas

percebe-se uma maior atenção à classe desfavorecida, na tentativa de fortalecer a democracia

e diminuir as desigualdades sociais. Tal governo tem proposto uma série de políticas públicas

como o Programa Bolsa Família, que é tido como uma das mais importantes políticas sociais

deste governo com o intuito de priorizar a educação, a alimentação, a economia, a saúde e a

previdência social.

O Programa Bolsa Família, uma vez que mantém intensa relação com o objeto desta

pesquisa, precisa ser melhor compreendido. Segundo a Cartilha do Governo do Estado do

Paraná “FICA: Mobilização para a Inclusão Escolar e a Valorização da Vida”

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O programa Bolsa Família (...) articula-se com o direito à alimentação por

meio da garantia de uma renda mínima; articula-se com a saúde e educação

por meio da cobrança de condicionalidades; articula-se com políticas de

geração de trabalhos e renda, porque no pacto de adesão firmado com os

municípios, determina a adoção de ações complementares nesse sentido. (...)

A partir de 2008, está valendo a extensão da faixa etária para adolescentes

de 16 e 17 anos para incorporar ao benefício do Bolsa Família. Com isso, o

programa se articula com o PROJOVEM, inclusive prevendo pagamento de

bolsa diferenciada para essa faixa etária- no caso, R$ 30,00 por filho, até o

limite de dois por família.

2. METODOLOGIA

Está pesquisa foi elaborada a partir do levantamento de informações sobre os números

de alunos evadidos e a relação quanto aos alunos beneficiários do Programa Bolsa Família no

ensino médio noturno da Escola Estadual Nathércia Pompeo dos Santos. Foram entrevistados

apenas os educadores, coordenadores e diretores da instituição, sendo o total de 13

entrevistados.

A pesquisa foi realizada em quatro etapas. Primeiramente feito uma pesquisa

documental, uma revisão bibliográfica. Na segunda fase uma coleta de dados, levantamento

de informações a partir de documentos junto à secretaria da escola e aos representantes do

Programa Bolsa Família. No terceiro momento serão aplicados questionários qualitativos por

amostragem com alunos de todas as séries do ensino médio regular noturno, questionário

também aos professores de como essa problemática é vista por este segmento da escola.

Na última fase foi feito uma análise e interpretação dos resultados e a conclusão do

artigo.

Como instrumento privilegiado para a coleta dos dados, foi empregada a entrevista

semi-estruturada, que foi aplicada aos alunos e corpo docente, no intuito de analisar e

compreender o processo da evasão escolar na referida Escola. Para isso, foi feita uma reunião

com os docentes e estudantes para explicar os objetivos da pesquisa, assim como para

convidá-los a se tornarem participantes da mesma. No momento posterior, foi marcado o

momento adequado para o participante assinar o Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido, bem como para responder as questões da entrevista.

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3. RESULTADOS

3.1 PERFIL DOS ENTREVISTADOS

Foram entrevistados no total 13 (QUADRO 1) educadores da escola supra citada

sendo 1 com idade entre 25-30 anos, 4 com idade entre 31-40, 6 professores entre 41-50

anos, e 2 professores com idade acima de 51 anos.

Quadro 1. Dados pessoais dos professores entrevistados

Professores

Idade Sexo (*) Docência

(anos)

Área de

Conhecimento

Efetivos

1 37 F 10 Matemática Sim

2 38 M 02 Ciências

Humanas

Sim

3 41 F 20 Ciências da

Natureza

Sim

4 33 F 02 Linguagens Não

5 44 F 22 Matemática Sim

6 45 M 05 Linguagens Sim

7 49 F 15 Ciências da

Natureza

Não

8 48 F 13 Linguagens Não

9 46 F 16 Linguagens Não

10 60 F 30 Linguagens Sim

11 40 F 04 Matématica Não

12 57 M 20 Matemática Sim

13 26 M 01 Ciências

Humanas

Não

A maioria dos professores (69%) cursou o ensino médio ou magistério em escola

pública, e um grupo menor de 31% em escola particular. O que se observa é que na

graduação aconteceu ao contrário, a grande maioria dos professores (81%) cursou a escola

particular. Na Pós-Graduação 92% dos professores cursou em instituição privada e apenas

8% em escola pública. Pela análise da pesquisa nota-se que um grande número de professores

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(75%) possui Pós- Graduação em diversas áreas. Constata-se que há professores formados em

quase todas as disciplinas, porém fica faltando professores de Física, Química e Filosofia,

estas disciplinas são ministradas por professores fora da área em que se formaram.

Para a atualização dos profissionais é oferecido a eles cursos na rede estadual para que

continuem sua formação, neste sentido o que se pode observar é que no total de dezesseis

professores entrevistados, 33% participam da formação continuada ofertada no início de cada

ano letivo. Do DEB Itinerante apenas 25% dos professores participaram, sendo que este é

muito importante porque trata da organização do Plano Curricular. E outros cursos com

menor índice de participação: GTR 11%; Cursos em Faxinal do Céu 8%; Folhas 6%;

Simpósio 11%; e 6% não participaram de nenhum curso nestes anos.

Os questionários foram aplicados no período noturno, Ensino Fundamental e Médio

(EJA) , sendo que para os professores foram entregues e devolvidos respondidos a mesma

quantidade, num total de 35. Esse dado permite considerar a importância e responsabilidade

que os professores atribuíram a pesquisa, transmitindo confiança em suas respostas; dos 11

formulários destinados a equipe diretiva foram respondidos 10, incluindo nessa categoria:

diretora, equipe pedagógica, coordenadoras, bibliotecária e auxiliares administrativos.

Entre a equipe diretiva e os professores, a maior parte deles está entre os 21 e 40 anos.

Os números envolvendo o tempo de magistério e o tempo de trabalho na escola nas

categorias dos professores e equipe diretiva identificam que com relação ao tempo de

magistério não diferem muito, ficando entre 18 meses de trabalho a 10 anos. Já no tempo de

trabalho na escola Nathercia foram apontadas diferenças entre as categorias.

A análise realizada através de entrevistas mostraram que a primeira categoria (

professores entre 25-30 anos) apresentam menor tempo de trabalho na escola que a equipe

diretiva, apontando que 10% estão na escola por volta de 10 anos e 90%, de um a cinco anos,

sendo a maioria com apenas um e dois anos na escola. Esses números evidenciam um

problema para implementação da Proposta Pedagógica da Escola, uma vez que o rodízio de

professores os distancia da responsabilidade e entendimento dos reais desafios a vencer

envolvendo a escola.

Aparecem na segunda categoria (31-40 anos) números que trazem benefícios para a

escola, destacando que oferecem condições de desenvolvimento de sólido trabalho, haja vista

que somente três pessoas estão na escola a menos de dez anos.

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Essa equipe assim constituída parece dar uma característica peculiar à escola,

imprimindo um caráter coletivo e no limite de suas possibilidades e das condições presentes

na escola e no sistema educacional, concretizar a educação com a qual está comprometida.

O cuidado com a evasão escolar por parte dessa categoria manifesta-se por um lado,

em medidas visando o retorno dos alunos evadidos, e por outro, pela preocupação em manter

os alunos na escola antes que abandonem os estudos. No primeiro caso podem ser citados:

telefonemas, visitas, envio de recados e entrega de listas contendo os nomes de alunos

evadidos para a equipe pedagógica, no segundo caso promovendo momentos de ludicidade

no intervalo das aulas, música e torneios de modalidades esportivas como futebol.

3.2 EVASÃO ESCOLAR E SUAS CAUSAS

O trabalho foi apontado como o maior motivo pelo qual os alunos evadem, deixam de

frequentar a escola. Este fato acontece desde os primeiros anos de suas vidas. Por serem

constituintes de uma camada social menos favorecida, são obrigados a fazerem uma opção

que lhes garanta a manutenção sua e, na maioria das vezes, de familiares, deixando para trás

sonhos de estudar e se tornar alguém em melhor condição de vida. O conflito entre trabalho e

escola tem desdobramentos imediatos por causa do impacto do trabalho precoce sobre a

evasão escolar e, no longo prazo, sobre a escolaridade obtida. Contudo, há uma situação que

não se pode deixar de tratar aqui: o fato de que esse trabalho pode vir a ser o causador da

evasão escolar temporária e, depois, tornar-se definitiva.

Os filhos e a gravidez são apresentados pelos respondentes como a segunda maior

razão da evasão escolar. Explica-se esse motivo, pelo menos com duas situações: ou os pais

vão trabalhar para sustentar a prole, ou deixam de trabalhar para cuidar dela. Tal situação

gera grande conflito, principalmente naqueles que conseguem vislumbrar nos estudos uma

saída para a situação socioeconômica difícil em que vivem. O problema se torna mais grave,

quando pais e mães param de trabalhar ou ainda deixam as crianças em lugares cujas

condições são precárias. É uma questão que pode trazer sérias consequências negativas. Ou a

família perde poder aquisitivo, agravando a situação financeira, ou a criança corre o risco de

ter a sua saúde e desempenho escolar comprometido por causa da falta de estrutura do local

que a acolhe enquanto os pais trabalham. Há casos em que o aluno retorna à escola pela

merenda oferecida e que ele leva para casa para que, assim, os filhos tenham o que comer. A

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gravidez não planejada também tem levado jovens adolescentes ao abandono dos estudos

escolares, acabam não conseguindo conciliar e deixam a escola.

A distância entre a residência e a escola foi apontada por 40% dos questionados como

um dos grandes motivos de se deixar de estudar. Essa distância implica em diversas

situações. Outro problema bastante citado, 45% dos entrevistados, é a falta de segurança

pública nas imediações da escola, os assaltos são frequentes na região, provocando medo e

desistência dos estudos.

Os problemas de saúde, como motivo de evasão escolar, foram citados por apenas 7%

dos respondentes. Dentre as situações consideradas problemas estão: a gravidez em

adolescentes, mulheres que engravidam sem ter condições de sustentar os filhos, o consumo

de drogas, inclusive o cigarro, o alcoolismo e a AIDS. Sendo, dentre todos, a gravidez o

problema mais grave naquela comunidade, carecendo de um programa de conscientização e

de controle da natalidade, o que evitaria, no futuro, o grande número de crianças abandonadas

pelas ruas.

3.3 AÇÕES PROPOSTAS

As ações propostas no ano de 2016, pela coordenadora, tiveram a finalidade de

combater as principais causas de evasão escolar no Colégio Estadual Nathercia Pompeo dos

Santos, detectadas a partir da pesquisa realizada na escola em 2008. Tal pesquisa

proporcionou aos professores e alunos discussões sobre a evasão escolar no ensino médio

noturno com o intuito de assegurar permanência do aluno até o final dos estudos, concluindo-

os com sucesso.

Com base nos dados empíricos coletados foram implementadas as seguintes ações:

• Estudo de metodologias diferenciadas - para incentivar os professores a tornarem as

aulas mais dinâmicas, em que o conteúdo seja significativo, para que desperte no aluno o

interesse.

• Valorização dos estudos - com a intenção de propiciar aos professores e alunos

oportunidade de estudar e realizar reflexões acerca das questões pedagógicas que envolvem o

processo educacional e a melhoria do ensino e da aprendizagem.

• Democratização do ensino – com o intuito de democratizar as relações entre

profissionais da escola, alunos e comunidade, ou seja, melhorar a convivência entre professor

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/aluno, aluno/aluno, aluno/escola e de toda comunidade escolar, fazendo com que todos

participem com intensidade da vida escolar.

• Discussões sobre gênero: o trabalho com gênero, sexualidade, família e preconceitos

tem a intenção de desmitificar o papel da mulher na sociedade.

• Promoção de ações que diminuam e assegurem a permanência do aluno até o final

do ano letivo para que tenha oportunidade de concluir seus estudos.

No início do ano letivo foi feita a apresentação da Unidade Temática com os

resultados da pesquisa, realizada com professores e alunos evadidos durante o 2º semestre de

2016 - com discussão sobre os dados obtidos da Evasão Escolar no ensino médio noturno

para os professores - e em outro momento para os alunos do ensino médio noturno.

Logo após o Conselho de Classe foi lido com todas as turmas e turnos o texto “Muito

Além da Obrigação” e trabalhado o Roteiro de Estudo, que proporcionou aos alunos a

reflexão sobre a importância dos estudos dentro e fora da escola. Segundo a fala dos alunos,

gostaram muito do texto. Também foi conversado individualmente com aqueles que não

conseguiram a média neste trimestre para saber as causas e juntos achar soluções.

Os textos e documentários sobre Gênero foram lidos e assistidos pelos professores de

Língua Portuguesa, Sociologia, Biologia e Ciências os quais serviram de suporte para a

realização do trabalho com Gênero em sala de aula. O estudo sobre Gênero, principalmente

sobre a questão da “mulher” e da “família” foi abordado, pela professora de Língua

Portuguesa, dentro da literatura, e pelos professores de Sociologia conforme o que estava

previsto no Planejamento de Ensino; “sexualidade” foi o tema explorado pela professora de

Biologia no Ensino Médio. As questões sobre relação professor/aluno foram estudas pelos

professores na Hora Atividade. Foi realizada uma reunião com o Grêmio Estudantil para

levantar as necessidades básicas dos alunos em que o Colégio possa colaborar. Neste

momento foram discutidas ações culturais, esportivas e filantrópicas para este ano letivo. No

segundo semestre foi realizada uma palestra para os alunos com a colaboração do grupo AA

(Alcoólicos Anônimos).

O trabalho de contato com os alunos esteve presente em todo o ano letivo, logo após

constatar as faltas seguidas com o auxílio da lista de freqüência feita pelo representante de

turma ou pelo comunicado do professor. Quando as faltas são confirmadas entra-se em

contato com o aluno, ou seus familiares, para ver qual é o motivo das faltas; este

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procedimento tem dado resultado, em muitos casos consegue-se que voltem para o Colégio,

sem que fique muito tempo em casa, mas em algumas situações não há o que fazer.

Um dos problemas que encontrei neste ano de 2016 foi entrar em contato por telefone,

pois, muitos têm apenas celulares e acabam trocando de número e não informam o novo

número de telefone para a escola. No decorrer deste período letivo já ocorreram várias

desistências por inúmeros motivos como: trabalho, mudanças, brigas fora do Colégio,

casamento, gravidez, saúde, fracasso escolar e, em alguns casos, simplesmente porque não

querem mais estudar, mesmo conversando com eles ou com seus pais.

Algumas ações que vêm trazendo bons resultados foram aprimoradas e mantidas pelo

Colégio, como: listagem dos alunos que trabalhavam e enviada por eles uma declaração de

trabalho para que fosse preenchida pela Instituição onde trabalham. É recomendado aos

professores que não façam avaliações no primeiro horário. Os trabalhos são realizados em

sala de aula e o recreio é mantido no intervalo do segundo horário para atender os alunos que

vêm direto do trabalho.

Na esfera Estadual foi proposto o Ensino Médio por blocos, espera-se com esta

iniciativa venha a diminuir a evasão, pois permitirá aos alunos a conclusão das disciplinas em

seis meses. Observa-se que poucas escolas adotaram este sistema de ensino.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O resultado apontou a necessidade que os alunos têm de trabalhar e o cuidado com os

filhos como os motivos mais marcantes da evasão escolar naquela UE, o que fortalece o

pensamento de que os governos das três esferas, municipal, estadual e federal, num trabalho

conjunto, adotem medidas sócio-econômicas para minimizar a evasão, principalmente no que

tange ao trabalho como obstáculo à permanência na escola.

Diante dos problemas identificados como motivos de evasão na escola estadual

selecionada para pesquisa, principalmente no que diz respeito à necessidade de trabalhar, o

maior contribuinte para evasão, urge que sejam traçadas linhas de ação básicas, na tentativa

de viabilizar a transformação da vida sócio-econômica dos 54 alunos, para que não

abandonem os estudos e ex-alunos, para que retornem à sala de aula, e assim, a escola possa

desempenhar seu papel educativo. Para tanto, é preciso envolver decisões político-

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administrativo-pedagógicas, os alunos, os professores, os auxiliares, os funcionários, os pais,

os membros da comunidade. É preciso envolver o elemento humano, as pessoas e, através

delas mudar a cultura que se vive naquela comunidade.

O importante a registrar aqui é a intenção da equipe diretiva e dos professores em

propiciar um ensino de melhor qualidade. Intenção essa que procura romper com a

passividade e aceitação presentes no ensino tradicional e que ainda vigora. Mesmo assim, a

educação que se realiza, não deixa de ser semelhante aquela dispensada na maioria das

escolas públicas do país, apresentando os mesmos problemas e desencontros. Isso equivale

dizer, segundo Aquino (1997) que apesar das intenções e esforços da equipe diretiva e

professores, comprometidos com uma educação de qualidade, os determinantes envolvidos

no processo educacional parecem não deixar de atuar e decidir o tipo de ensino que se realiza

nas escolas.

Como escreveu Frigotto (1989, p. 200) é preciso instrumentalizar o aluno de maneira

que possa lutar contra as adversidades que a vida lhe impõe, referente às relações econômicas

e históricas; a escola importante para a classe trabalhadora é aquela que mostra a contradição

nas relações entre a classe dominante e os dominados e a condição da negação histórica do

saber, imposta aquela, pela classe dominante. A instrumentalização citada aqui é referente ao

ensino da leitura e da escrita e ao efetivo ensino de conteúdos nas diferentes áreas do

conhecimento, sendo a educação trabalhada no interior da escola como uma atividade

humana e transformadora, inserida no movimento coletivo de emancipação.

5. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

AQUINO, Júlio Groppa. O mal-estar na escola contemporânea: erro e fracasso em questão.

AQUINO, J. G. (Org.). In: Erro e fracasso na escola: alternativas teóricas e práticas. 4.

ed. São Paulo: Summus,1997, p. 91-110.

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