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1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA A LITERATURA COMO FERRAMENTA NA ATUAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA Por: Tainá da Rocha Ludiosa Guimarães Orientador Prof. Vilson Sérgio Rio de Janeiro 2015 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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  • 1

    UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

    PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

    AVM FACULDADE INTEGRADA

    A LITERATURA COMO FERRAMENTA NA ATUAÇÃO

    PSICOPEDAGÓGICA

    Por: Tainá da Rocha Ludiosa Guimarães

    Orientador

    Prof. Vilson Sérgio

    Rio de Janeiro

    2015

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    UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

    PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

    AVM FACULDADE INTEGRADA

    A LITERATURA COMO FERRAMENTA NA ATUAÇÃO

    PSICOPEDAGÓGICA

    Apresentação de monografia à AVM Faculdade

    Integrada como requisito parcial para obtenção do

    grau de especialista em Psicopedagogo

    Por: Tainá da Rocha Ludiosa Guimarães

  • 3

    AGRADECIMENTOS

    Agradeço a Deus que em toda minha

    vida esteve presente, me

    encaminhando em tudo o que sempre

    desejei. Ao meu esposo, pelo

    companheirismo e compreensão nas

    horas em que estive ausente. Aos

    demais colaboradores que direta ou

    indiretamente fizeram deste um

    trabalho melhor através de suas

    contribuições.

  • 4

    DEDICATÓRIA

    Dedico este trabalho primeiramente ao

    meu esforço em insistir e permanecer na

    constante busca do conhecimento mesmo

    com todas as adversidades da vida. Ao

    meu filho Lucas Matheus, que é sempre

    razão contínua do meu aperfeiçoamento

    em todos os sentidos de minha plena

    trajetória.

  • 5

    A humildade das palavras nos faz

    perceber o poder que elas têm para

    construir ou destruir relações. A

    humildade é tinta certa para que a

    pintura da aprendizagem não saia

    borrada. (Gabriel Chalita, 2014)

  • 6

    RESUMO

    A atual lei de Educação Brasileira – LDB 9.394/96 trouxe várias

    mudanças no campo da educação básica, em especial a infantil, principalmente

    no que tange a sua importância no desenvolvimento pleno e integral da criança

    desde a mais tenra idade. As experiências propiciadas devem contribuir para

    situações que produzam aprendizagens de relações interpessoais, de respeito

    e confiança, suas diferenças individuais, sociais, econômicas e culturais. O

    contato com a Literatura desde cedo, irá proporcionar a criança a oportunidade

    de abordar questões do nosso tempo e também problemas universais,

    inerentes ao ser humano.

    A Psicopedagogia, através da Literatura existente, poderá abordar

    assuntos e levantar hipóteses para a melhoria da qualidade do

    desenvolvimento da criança que apresente algum indicador de dificuldade de

    aprendizagem durante sua fase escolar. Nesse sentido, a finalidade deste

    estudo é compreender a importância e como a Literatura Infantil poderá atuar

    como ferramenta para o psicopedagogo em seu processo de intervenção com

    crianças que apresentem alguma dificuldade de aprendizagem.

    Um dos processos de intervenção que o psicopedagogo poderá utilizar

    será o de introdução da Literatura no desenvolvimento da aprendizagem,

    através de livros destinados à faixa etária, os quais poderão englobar situações

    que visem o estímulo a fantasia, a criatividade e a capacidade crítica e reflexiva

    das crianças.

    Estudos têm demonstrado que o contato da criança com a literatura

    poderá beneficiá-la, dentre as quais, irá permitir que ela fortaleça o seu auto-

    conceito, que cresça em sua habilidade de ser flexível a novos

    comportamentos que lhe parecem desagradáveis, como também colabora para

    que sua imaginação e criatividade floresçam. Desta forma, as histórias têm

    uma poderosa influência na educação das crianças e, fica inegável então, o

    caráter pedagógico da Literatura, pois está constitui-se num recurso de ensino

    na transmissão de conhecimentos e valores.

  • 7

    METODOLOGIA

    Trata-se de uma pesquisa bibliográfica explicativa, que terá enfoque

    metodológico histórico visando atender aos objetivos propostos no plano de

    pesquisa, e, buscando nos autores citados, como Bossa (2011), que contribuiu

    para um embasamento sobre a Psicopedagogia e Abramovich (2004) que

    enriqueceu o estudo com análise de contos e histórias e suas contribuições na

    educação. Também compuseram este trabalho as contribuições de Chalita,

    educador atuante que menciona muito a importância do professor e a relação

    de afeto em sala de aula que deve permear o trabalho para um

    desenvolvimento intelectual saudável da criança. Através dessa rede teórica,

    abriu-se uma gama de possibilidades que nos levam à reflexões sobre a

    trajetória do assunto abordado.

    Segundo as fontes de dados, será feita uma pesquisa teórica, ou seja, a

    coleta de material escrito com informações e ideias que possibilite nos refletir e

    encontrar respostas para as questões levantadas sobre o estudo.

    Quanto ao procedimento de coleta de dados, será a bibliográfica, pois

    esta possibilitará o alcance dos estudos teóricos desejados, já que fornecerá o

    material necessário.

  • 8

    SUMÁRIO

    INTRODUÇÃO 09

    CAPÍTULO I - História, situação e contribuições 12

    da Literatura Infantil

    1.1 - História e situação

    1.2 – Contribuições

    CAPÍTULO II - Traços históricos da Psicopedagogia 17

    2.1 – Construção histórica

    2.2 – Áreas de atuação do Psicopedagogo

    2.3 – O Psicopedagogo na Instituição Escolar

    CAPÍTULO III – A atuação da Literatura Infantil no 26

    trabalho psicopedagógico

    3.1 - O espaço escolar, o mundo da literatura e o

    psicopedagogo

    CONCLUSÃO 32

    BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 34

  • 9

    INTRODUÇÃO

    A Educação Infantil é o momento de iniciação da criança na vida

    escolar e, portanto, de suma importância. É o primeiro contato na maioria das

    vezes, da criança com um mundo cheio de novas descobertas e de novos

    conhecimentos antes nunca explorados. É nela que começa se processar todo

    desenvolvimento cognitivo, psicológico, sócio-emocional, físico e intelectual da

    criança em uma esfera educacional.

    Desta forma, os profissionais engajados na educação, que estão se

    preparando ou aqueles que já estão regendo uma classe de educação infantil

    devem conduzir seus olhares para uma forma ou um meio de atingirem seus

    objetivos, levando para a sala de aula um mundo que talvez alguns conheçam

    e outros não, mas que sem dúvida é bastante receptivo que é a Literatura

    Infantil.

    De acordo com a LDB 9394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação

    Nacional) que rege a educação brasileira, mudanças significativas ocorreram

    no campo da educação infantil, inclusive ao defini - lá como primeira etapa da

    educação básica, tendo como objetivo o desenvolvimento integral da criança

    até os seis anos de idade em todos os seus aspectos (art. 29).

    Hoje, as Creches, Pré-Escolas e EDIs (Espaço de Desenvolvimento

    Infantil) são espaços de ações pedagógicas intencionais e sistemáticas que,

    por isso tem impacto na Educação Básica.

    A Educação Infantil atua no processo de desenvolvimento da criança

    em todas as dimensões humanas, propiciando que ela conheça e aprenda

    sobre o mundo que a abraça com afeto através do prazer e/ou desprazer, que

    pode ser apresentada por meio da fantasia, literatura, música, artes, das

    ciências naturais e sociais e da matemática, possibilitando seu

    desenvolvimento e crescimento.

    A organização do trabalho pedagógico na educação infantil deve ser

    orientada pelo principio básico de procurar proporcionar o desenvolvimento da

  • 10

    autonomia, assim como gerar conceitos de cooperação e ajuda mútua,

    portanto, faz-se a necessidade do psicopedagogo institucional atuando e

    auxiliando os profissionais que estão ligados com esta construção, que não se

    esgota na infância, mas necessita ser iniciada na educação infantil.

    É durante essa fase de desenvolvimento da criança que a Literatura

    Infantil, pode contribuir para a formação de habilidades e competências

    cognitivas que poderão aguçar a criatividade e a curiosidade, despertar o gosto

    pela leitura gerando a busca de autodescobertas, expandindo pensamentos,

    trabalhando com o lúdico a fim de produzir uma maior aprendizagem.

    A Literatura Infantil e, principalmente, os contos de fadas podem ser

    decisivos para a formação da criança em relação a si mesma e ao mundo à

    sua volta. Através dos personagens que envolvem condições de pessoas boas

    e más, belas ou feias, poderosas ou fracas, a compreensão de certos valores

    básicos da conduta humana ou do convívio social, vão sendo despertadas e

    enraizadas nas crianças.

    A Literatura pode abordar várias questões de nosso tempo e também

    problemas universais, inerentes ao ser humano. Por isso, ela não deve ser

    vista apenas como um veículo de manifestação de cultura, mas também de

    ideologias que podem conscientizar as sociedades.

    O psicopedagogo institucional irá orientar os educadores de maneira que

    possam criar um ambiente livre, onde o principio pedagógico seja o respeito à

    liberdade e a criatividade das crianças. Nesse ambiente, os pequenos devem

    poder se locomover, ter atividades criativas que permitam sua auto-suficiência,

    a desobediência e a agressividade, pois estas não devem ser coibidas e sim

    orientadas de modo a alcançarem o sucesso.

    A Educação Infantil vista através deste olhar possibilita à criança desde

    cedo, criar o hábito da leitura e pensar de uma forma que futuramente, possa

    torná-lo um leitor critico, culto e um cidadão melhor, conhecedor de suas

    obrigações e contribuições.

    À cerca de tudo o que foi mencionado, o presente estudo monográfico,

    procura atender as necessidades das questões, através de uma revisão

    literária que será abordada em três capítulos.

  • 11

    No primeiro capítulo, trata-se da situação e contribuição da Literatura

    nos processos de aprendizagem. No segundo capítulo, alguns autores como

    Bossa, irão fundamentar o papel do psicopedagogo na Instituição Escolar e

    para finalizarmos, no terceiro capítulo, a abordagem será a compreensão da

    Literatura Infantil como ferramenta para auxiliar o psicopedagogo em

    prevenções e intervenções de tratamentos de diagnósticos de problemas de

    aprendizagem.

  • 12

    CAPÍTULO I

    HISTÓRIA, SITUAÇÃO E CONTRIBUIÇÕES DA LITERATURA

    INFANTIL

    1.1- História e situação

    Estamos vivendo em um mundo que tem passado por diversas

    transformações, daí os desequilíbrios sociais que ocorrem em nossa realidade

    em todas as áreas e em especial na Educação.

    Torna-se cada vez mais urgente renovarmos as idéias, refletindo sobre a

    Educação e o Ensino que desejamos como princípios ordenadores da

    sociedade, visando construir uma nova civilização com menos problemas e

    mais perspectivas.

    Diante disso, ainda temos que coordenar as transformações na área

    Educacional em um contexto moderno e todo tecnológico de massa que

    estamos vivendo na atual sociedade.

    “O pós-modernismo invadiu o cotidiano com a tecnologia

    eletrônica de massa e individual, visando a sua saturação

    com informações, diversões e serviços. Na Era da

    Informática, que é o tratamento computadorizado do

    conhecimento e da informação, lidamos mais com os

    signos do que com as coisas [...]” (COELHO,2000,p. 14)

    Enfim, o modernismo invadiu o nosso contexto cultural e precisamos

    com urgência resgatarmos a ausência de valores e de sentido para vida.

    A Literatura Infantil ou Infanto – Juvenil, oferece uma forma rica e eficaz

    de ler o mundo, auxiliando as crianças e os jovens a compreenderem a

    realidade concreta e desafiante da vida em sociedade.

    Compreender o espaço em que vivemos com seres e coisas sempre foi

    condição básica do ser humano. Desde suas origens pré-históricas o homem

  • 13

    procurou comunicar-se. A necessidade de imprimir suas expressões foi

    registrada através dos tempos.

    Sentindo essa necessidade de comunicar aos outros alguma experiência

    ou ensinamento, o homem, com o surgimento do papel e da escrita começa a

    registrá-los e o impulso de contar histórias vai nascendo e tornando-se uma

    tradição.

    Segundo Cunha (2004), em meados do século XVII e XVIII, começa a

    difundir-se a Literatura Infantil, quando o mundo entende a criança como um

    ser diferente do adulto, com características e necessidades especificas e

    percebe-se então que sua educação deva ser distinta, especial.

    Nesse contexto, grandes educadores como Comenius, Basedow,

    Compe, Fenélon, entre outros, já influenciados e envolvidos com a educação

    da criança assumem e evidenciam a ligação da Literatura Infantil com a

    Pedagogia e criam uma literatura mais apropriada.

    A literatura divulgada era herança dos grandes clássicos contados a

    nobreza européia adulta, onde se difundiu. As lendas e os contos folclóricos

    mais tarde deram origem aos contos de fadas que também eram muito

    utilizados pelos mais velhos.

    O gênero literário tem grande impulso com os colecionadores de

    histórias Perrault e depois os irmãos Grimm que divulgam essas histórias

    folclóricas e apresentam uma infinidade de contos.

    No caminho percorrido, à procura de uma literatura adequada para a

    infância e juventude, grandes autores vão nascendo e permanecem

    eternizados nos dias atuais como: Andersen, Carlo Collodi, Amicis, Chales

    Dikens, Ferenc Molnar entre outros.

    No Brasil, esse processo chega um pouco mais tarde e torna-se uma

    reprodução do que já existia. Inicialmente a Literatura Infantil foi adaptada de

    produções portuguesas e mais tarde ela toma impulso através de Monteiro

    Lobato, com uma vasta obra, de gêneros diversificados e com personagens

    eternizados do tão famoso e adorado Sítio do Pica Pau Amarelo.

  • 14

    Lobato sempre explorou muito bem o folclore brasileiro e também soube

    adaptar grandes clássicos como Peter Pan e Pinóquio, mas sua maior

    contribuição está acerca do caminho que auxiliou muitos escritores de talento a

    trilharem, sobretudo nesta área.

    O aparecimento dos primeiros livros escritos para crianças chega ao

    final do século XX, e proporciona um acervo respeitável de diversas obras e de

    ótima qualidade, atraindo ainda mais as novas gerações de crianças.

    1.2 – Contribuições

    Ao longo dos anos, já ouvimos falar da importância da literatura, de

    como ela pode auxiliar os mecanismos de aprendizagem, mas pouco ou quase

    nada se tem feito para auxiliar essa questão nas instituições educacionais.

    Possibilitar o desenvolvimento e crescimento das crianças significa

    educar e cuidar, isto é, estas ações acontecem de forma indissociável e inclui

    atender a todas as necessidades infantis sejam elas físicas, emocionais,

    cognitivas ou sociais, dando a elas real possibilidade de aprendizagem.

    “Todo ser humano é sujeito de aprendizagem. Em todos

    os lugares e em todas as etapas da vida é possível

    aprender alguma coisa. A sala de aula não é o único

    espaço em que a aprendizagem acontece. Entretanto, a

    sala de aula é um espaço privilegiado para esse

    aprendizado.” (CHALITA, 2014, p. 22)

    Por ser privilegiada a sala de aula, devemos propiciar esses momentos

    de aprendizagem. O brincar é o principal modo de expressão da infância. É

    uma linguagem, na qual a criança aprende e se desenvolve, explora o mundo,

    amplia sua percepção sobre si mesma e os outros, organiza seus

    pensamentos, trabalha suas emoções, sua capacidade de iniciativa e de criar e

    se apropriar da cultura.

  • 15

    Nesse contexto, as brincadeiras de faz de conta iniciadas com as

    crianças irão funcionar como primeiro cenário para imitarem a vida e também

    transformá-la, baseada no desenvolvimento da imaginação e interpretação da

    realidade, sem ser ilusão ou mentira.

    Por meio do faz de conta as crianças vivenciam concretamente a

    elaboração e negociação de regras de convivência, ao mesmo tempo em que

    desenvolvem importantes habilidades, trabalham também alguns valores de

    suas comunidades e vivenciam formas de ser e pensar do grupo social em que

    está inserida.

    Antes de aprender a ler, a criança precisa fazer uma ideia do que seja a

    leitura. Através dos contos de fadas, das fábulas, de histórias bíblicas, de

    poemas e até de histórias inventadas por pais e professores, a criança começa

    a despertar para o interesse de conhecer que objeto é aquele que lhe traz

    encantamento e deslumbra a todos os que ouvem, proporcionando-lhe

    tamanha emoção.

    A criança precisa atribuir sentido a leitura e aproximar-se dela. A

    educação infantil poderá proporcionar esse acontecimento de maneira lúdica. A

    Aproximação com a leitura não precisa ser necessariamente complexa, embora

    está seja uma atividade cognitiva de tamanha complexidade não há

    inconvenientes em responder aos questionamentos e curiosidades sobre este

    código que é a leitura.

    “Aprende-se a ler vendo outras pessoas lerem, prestando

    atenção às leituras que fazem para si, tentando ler,

    experimentando e errando, em um processo cujo

    resultado inicial será seguramente menos convencional

    do que o esperado, mas não muito diferente do que se

    produz com outras aprendizagens.” (GALLART, ano 2, p.

    49)

    A citação nos esclarece que a leitura tem um lugar na etapa da

    Educação Infantil, lugar este que a equipe escolar juntamente com o

  • 16

    psicopedagogo institucional, deverá torná-la concreta através de suas

    propostas educativas, possuindo desde já atividades que fomentem o prazer da

    leitura.

    Logicamente o psicopedagogo deverá se prontificar de que as atividades

    que se deseja iniciar nessa fase em que as crianças se encontram da

    educação infantil, que é reconhecida de 0 a 6 anos, devem ser pertinentes aos

    seus interesses.

    Sendo introduzido desta maneira, a Literatura irá desenvolver na criança

    a noção de leitura, consolidando a linguagem que variará de acordo com o grau

    de complexidade de cada história, influenciando diretamente na formação de

    bons leitores, enriquecendo o vocabulário que está sendo construído nesta

    fase e fortalecendo os laços e vínculos emocionais que se perpetuará durante

    sua vida escolar.

    Por isso, é preciso dar à criança a possibilidade de conviver com os

    livros desde a mais tenra idade. Não só com livro objeto, mas também com o

    texto do livro, a história, mesmo que lida em voz alta por um adulto.

    A criança pequena já deve ter livros entre seus brinquedos, eles devem

    ser um brinquedo como qualquer outro, sempre ao alcance das crianças no

    momento que desejarem. É claro que alguns cuidados no manuseio devem ser

    recomendados, contudo o livro não deve ser mitificado como algo precioso e

    por isso intocável. Ele é precioso e por isso deve ser manuseado à vontade,

    pois seu valor reside no que possa transmitir como mensagem proporcionando

    um divertimento ou lazer. Um livro que nunca sai da estante, que mantém seu

    aspecto de novo, evidentemente não esta cumprindo sua função.

  • 17

    CAPÍTULO II

    TRAÇOS HISTÓRICOS DA PSICOPEDAGOGIA

    2.1 – Construção histórica

    A Psicopedagogia no Brasil vem calcando seu caminho através da

    história à cerca de alguns longos anos, com um corpo teórico bastante

    diversificado e consistente em suas pesquisas. Contudo, ainda estamos em

    constante construção, pois o espaço do Psicopedagogo e sua

    profissionalização, ainda precisam ser regulamentados e devem ser elaborados

    a partir de uma delimitação do seu campo de estudo e de sua atuação.

    A formação do Psicopedagogo no Brasil é feita através de cursos de

    graduação e pós-graduação lato-sensu. Soa recebidos alunos de diversas

    áreas como: Pedagogia, Fonoaudiologia, Psicologia, Filosofia e Professores

    licenciados de um modo geral e devido à diversidade de profissionais que

    procuram os cursos de pós-graduação, podemos identificar a natureza

    multidisciplinar da área em questão.

    A Psicopedagogia no Brasil cresceu e vem sendo alicerçada, através de

    contribuições literárias advindas da Argentina, país no qual devido a

    proximidade e a facilidade da língua tem influenciado com ideias, a pratica

    adotada em nosso território.

    A vasta extensão de referências bibliográficas, de autores argentinos,

    como Sara Paín, Jorge Visca e Alicia Fernández, são obras que constituem o

    corpo teórico próprio da Psicopedagogia e fundamentam os cursos oferecidos

    hoje na atualidade em nosso país.

    “A Psicopedagogia não nasceu aqui tampouco na

    Argentina. Investigando a literatura sobre o tema,

    podemos verificar que a preocupação com os problemas

    de aprendizagem teve origem na Europa, ainda no século

    XIX” (BOSSA, 2011, p. 56)

  • 18

    De acordo com Bossa, a preocupação com os problemas de

    aprendizagem, que é o objeto do campo investigativo da Psicopedagogia,

    surge na sociedade à partir do momento que a escolaridade adquire uma

    função e um papel distinto.

    “Quanto mais raro o saber, mais ele vale. A escola, ponto

    de sustentação de ideário liberal, por teoricamente

    garantir a igualdade de oportunidades para a aquisição do

    conhecimento e do desenvolvimento, vai confirmar a

    crença de que as diferenças individuais seriam as

    responsáveis pelo fracasso escolar e pelas desigualdades

    sociais.” (BOSSA, 2011, p.56)

    Nessa ordem, o avanço tecnológico e as teorias evolucionistas de

    estudiosos como Darwin vão surgindo e profundas mudanças vão ocorrendo

    consequentemente, as ideias e teorias da literatura européia, principalmente

    francesa, vão delinear um caminho influenciador sobre a Psicopedagogia na

    Argentina , que por sua vez chega à prática brasileira.

    Nesse caminho, a psicopedagoga francesa Janine Mery, agrega

    considerações a Psicopedagogia, assim como os trabalhos de George Mauco

    que foi o fundador do primeiro Centro-Médico Psicopedagógico na França do

    qual se tem conhecimento, que percebeu a importância da articulação entre

    Medicina, Psicologia, Psicanálise e Pedagogia afim de solucionar problemas de

    comportamento e aprendizagem.

    Segundo Janine Mery (1995), vários educadores dedicaram se a tarefa

    de encontrar um método que levasse a solucionar os problemas de

    aprendizagem em crianças com distúrbios. Pestalozzi, Rousseau, Seguin entre

    outros foram pioneiros na tentativa de tratamentos para tais problemas,

    tentativas essas que no fim do século XIX, surge também Maria Montessori,

    psiquiatra italiana, que criou um método de aprendizagem que hoje estende-se

    por várias escolas, cuja a principal preocupação está na vontade e na

    alfabetização, seu método utiliza a estimulação dos órgãos dos sentidos,

    portanto sendo classificado como sensorial.

  • 19

    A partir do século XX, surgem os primeiros centros de reeducação para

    crianças delinquentes surge. Isso vai crescendo e tomando outras formas, e na

    França surgem os primeiros centros de orientação educacional infantil, voltadas

    para os problemas de aprendizagem, com equipes com diversas

    especialidades como médicos, psicólogos, educadores e assistentes sociais.

    “A crença de que os problemas de aprendizagem eram causados por

    fatores orgânicos perdurou por muitos anos e determinou a forma de

    tratamento dada à questão do fracasso escolar até bem recentemente.”

    (BOSSA, 2011, p.76)

    Por muito tempo então, os problemas de aprendizagem foram vistos

    como sendo de ordem orgânica. No Brasil, não foi diferente, na década de 70,

    era difundida a ideia que esses problemas advinham de disfunções

    neurológicas não detectáveis e, portanto rotulou-se durante um bom tempo as

    crianças com o chamado DCM – Disfunção Cerebral Mínima.

    No Brasil, esse rótulo foi bastante utilizado o que auxiliava a camuflar a

    situação do sistema de ensino do nosso país, precário, que perdura aos dias

    atuais e outros termos posteriormente também foram sendo incorporados como

    dislexia, disritmia a fim de traduzir os problemas d aprendizagem.

    Como menciona Bossa, temos que nos remeter historicamente que as

    preocupações com os problemas de aprendizagem sempre foram estudados e

    tratados inicialmente por médicos, e que ainda hoje, principalmente em nosso

    país, a atitude primordial de pais e educadores seja encaminhar essa criança

    com dificuldades de aprendizagem a um profissional da área da saúde e cabe

    a esse profissional orientar as famílias a cerca de suas preocupações.

    Vários autores começam a difundir suas pesquisas nas questões do

    fracasso escolar. Entre as décadas de 70 e 90, muito material teórico de

    autores renomes, irá consolidar as problemáticas da aprendizagem. Dentre

    eles, Bossa cita Cecília Azevedo L Collares e Maria Helena de S. Patto, que

    foram autoras, entre outros, que discursam o descaso com a educação do

    nosso país e abordam a questão do fracasso escolar sob o ponto de vista de

  • 20

    fatores sociopolíticos e das condições de vida de boa parte da população

    escolar do Brasil.

    Embora a Psicopedagogia tenha sido iniciada por médicos, sendo assim,

    clínica, houve um aprofundamento e um compromisso com os profissionais que

    começaram as se envolver na busca de um aspecto preventivo e, portanto,

    juntamente com a escola promover melhorias para essas crianças.

    A história da Psicopedagogia no Brasil começa a se desenhar neste

    período, cursos sendo criados por todo o país, e em Porto Alegre , mais um

    argentino faz sua contribuição, famoso foniatra e neurologista, Dr. Quirós,

    publica vários livros relacionados à linguagem e à aprendizagem.

    Outro marco histórico está no 1º Encontro de Psicopedagogos em São

    Paulo, que movimentou inúmeros trabalhos e amadureceu outras

    organizações, difundindo assim vários encontros e cursos de aperfeiçoamento

    com enfoque psicopedagógico.

    Essa nova abordagem vai se estendendo, e no início da década de 90,

    os cursos de especialização em Psicopedagogia, lato sensu, vão se

    multiplicando e a demanda cresce favorecendo tanto instituições estatais

    quanto as particulares.

    Ressaltamos a preocupação que esse crescimento provocou, mediante

    a história da educação brasileira nas últimas décadas. O grande interesse pela

    Psicopedagogia torna importante a preocupação nas formações oferecidas

    pelas instituições. Lembramos que o compromisso da área específica é de

    contribuir para a compreensão do processo de aprendizagem, identificando os

    fatores que podem favorecer esse processo, com vistas a uma intervenção.

    Nesse sentido, a preocupação com a formação deve ser evidenciada e

    ter grande importância. Sendo assim, não podemos de salientar um órgão de

    classe e de referência nacional para os psicopedagogos a ABPp – Associação

    Brasileira de Psicopedagogia que tem sido responsável por organizar e difundir

    em âmbito nacional publicações e preocupações com tendências na área.

  • 21

    A Associação tem o objetivo de tornar conhecido o campo de atuação

    profissional do psicopedagogo que ainda não está totalmente definido. A ABPp

    é um elo de interlocução formado por profissionais preocupados com o

    reconhecimento da profissão.

    A Psicopedagogia tem como objeto de estudo o processo de

    aprendizagem e suas dificuldades, sendo assim, desde o seu início, sempre

    englobou várias áreas do conhecimento a fim de através dessa integração,

    atender aos anseios e minimizar as dificuldades.

    Por seu caráter interdisciplinar, a Psicopedagogia encontra e agrega

    vários profissionais, o que dificulta a construção de sua própria identidade

    gerando discussões à cerca para regulamentar a profissão.

    Atualmente, existe um Projeto de Lei que regulamenta a profissão do

    Psicopedagogo que está na Comissão de Constituição para ser aprovado. Hoje

    existe a Lei n° 10.891 de 20 de setembro de 2001, que “autoriza o poder

    Executivo a implantar assistência psicológica e psicopedagógica em todos os

    estabelecimentos de ensino básico público, com o objetivo de diagnosticar e

    prevenir problemas de aprendizagem.”

    Em face de tudo isso, a profissão do Psicopedagogo tem amparo legal

    no Código Brasileiro de Ocupação, isto quer dizer que já existe a ocupação de

    Psicopedagogo, contudo, não é suficiente, precisamos da regulamentação.

  • 22

    2.2 – Áreas de atuação do Psicopedagogo

    O Psicopedagogo pode atuar em diversas áreas, tanto de forma

    preventiva quanto terapêutica, utilizando estratégias sempre objetivando se

    ocupar dos problemas que envolvem a compreensão dos processos de

    desenvolvimento e das aprendizagens humanas.

    Desta forma, pode atuar tanto na Saúde como na Educação, já que o

    seu saber visa compreender as variadas dimensões da aprendizagem humana.

    Pode trabalhar com crianças hospitalizadas tentando integrá-las no processo

    de aprendizagem, sempre em parceria com equipes multidisciplinares das

    instituições hospitalares, tais como psicólogos, assistentes sociais, médicos e

    enfermeiros.

    Também no campo empresarial, pode contribuir com as relações,

    visando à melhoria da qualidade dessas relações inter e intrapessoais dos

    indivíduos que ali atuam.

    Numa linha preventiva, o psicopedagogo institucional tem a função de

    desempenhar uma prática docente, envolvendo-se em capacitações de

    profissionais da educação, atuando dentro de escolas. Nessa função

    preventiva, o psicopedagogo irá investigar possíveis perturbações no processo

    de aprendizagem, deverá promover orientações metodológicas de acordo com

    o campo atuante e as características dos grupos, participar da dinâmica das

    relações da comunidade educativa a fim de favorecer a integração e a troca

    contínua de forma individual ou em grupo.

    Pensando na forma terapêutica, o psicopedagogo trata das dificuldades

    de aprendizagem, estabelecendo um diagnóstico, para desenvolver técnicas

    remediativas, orientando pais e professores se possível, mantendo contato com

    a equipe multidisciplinar de diversas especialidades como psicólogos,

    psicomotricistas, fonoaudiologistas entre outros, que se faz necessária, pois as

    dificuldades muitas vezes, são multifatoriais em suas origens e o seu

    tratamento terá eficácia e sucesso apropriando-se de variados conhecimentos.

  • 23

    2.3 – O Psicopedagogo na Instituição Escolar

    As instituições de ensino atualmente, tem se encontrado cada vez mais

    preocupadas com os alunos que apresentam dificuldades de aprendizagem.

    Em sua maioria já não sabem o que fazer com as crianças que não aprendem

    de acordo com os processos considerados “normais” e consequentemente não

    possuem uma forma de intervenção que seja capaz de contribuir para a

    superação dos problemas.

    “A aprendizagem na escola, na atualidade chega a uma

    situação de barbárie. Há, portanto, um significativo

    adoecimento das crianças, uma vez que o conteúdo de

    aprendizagem se apresenta como figura, em detrimento

    das relações formadas no ambiente escolar.”

    (FERNANDES, 2013, p.31)

    Diante disso, fica claro a importância como já mencionado neste

    trabalho, do psicopedagogo atuante na instituição escolar e do seu papel

    significativo.

    Bossa menciona que a intencionalidade da psicopedagogia institucional

    está na sua própria atuação, pois, como psicopedagogos construímos o

    conhecimento do sujeito, que no momento, esta agregado a instituição com sua

    filosofia, valores e ideologias.

    O psicopedagogo institucional, como um profissional qualificado, na área

    educacional, visa assistencializar professores e demais profissionais para a

    melhoria das condições do processo ensino-aprendizagem.

    Através de técnicas e métodos, o psicopedagogo possibilita intervenções

    visando à solução de problemas de aprendizagem juntamente com a equipe

    gestora, buscando a mobilização no espaço escolar para a construção

    adequada desta aprendizagem sempre elegendo metodologias que sejam

    facilitadoras do processo.

  • 24

    “O trabalho psicopedagógico, portanto, pelo visto, pode e

    deve ser pensado a partir da instituição escolar, a qual

    cumpre uma importante função social: a de socializar os

    conhecimentos disponíveis, promover o desenvolvimento

    cognitivo e a construção de regras de conduta, dentro de

    um projeto social mais amplo. A escola, afinal, é

    responsável por grande parte da aprendizagem do ser

    humano.” (BOSSA, 2011, p.141)

    Considerando o exposto, o psicopedagogo institucional deve esta

    preparado para auxiliar os educadores realizando atendimentos pedagógicos

    individualizados, contribuindo para a compreensão de problemas na sala de

    aula, permitindo ao docente alternativas de ação bem como participando dos

    relatos através de observação, dos distúrbios de aprendizagem de alunos.

    As escolas enfrentam um grande desafio: lidar com as dificuldades de

    aprendizagem e ao mesmo tempo traçar uma proposta de intervenção que seja

    capaz de contribuir para a superação dos problemas de aprendizagem das

    crianças. Aprender é o resultado da interação entre estruturas mentais e o meio

    ambiente. Por esse motivo, o professor e o aluno, não são os únicos

    protagonistas desta história, nesse caminho, estão também o núcleo familiar e

    outros membros da comunidade que vão interferir no processo de

    aprendizagem.

    O psicopedagogo junto ao professor irá exercer sua habilidade de

    mediador das construções de aprendizagem. Mediar é intervir para promover

    mudanças. Uma criança só aprende se ela tem o desejo de aprender. E para

    isso é importante que os pais contribuam para que ela desperte esse desejo.

    “A criança ingressa na escola com um desenvolvimento

    construído a partir do intercâmbio com o meio familiar e

    social, o qual pode ter funcionado tanto como facilitador

    quanto como inibidor no processo de desenvolvimento

    afetivo-intelectual.” (BOSSA, 2011, p.144)

  • 25

    Através dessa reflexão, entendemos que o psicopedagogo também tem

    o papel de se propor a incluir os pais no processo, por intermédio de reuniões,

    possibilitando o acompanhamento do trabalho realizado e dando uma

    ocupação nesse contexto aos pais, para que não sejam somente espectadores,

    e assumam a posição de parceiros junto ao processo.

    Dessa forma, acreditamos que o trabalho do psicopedagogo quando

    encontra consonância e parcerias na escola, pode promover efeitos muito

    positivos para a minimização das dificuldades que emergem no contexto

    escolar, apesar de representar um constante desafio, pois requer o

    envolvimento de toda a equipe, e um desejo permanente de mudanças, para

    que as transformações de fato ocorram.

  • 26

    CAPÍTULO III

    A ATUAÇÃO DA LITERATURA INFANTIL NO TRABALHO

    PSICOPEDAGÓGICO

    3.1 – O espaço escolar, o mundo da literatura e o psicopedagogo

    Quando falamos de aprendizagem, podemos afirmar que todo esse

    processo começa desde o ventre da progenitora, através de estímulos

    auditivos e sensoriais que vão ocorrendo durante a gestação.

    Após o nascimento, o indivíduo passa a fazer parte de uma instituição

    social organizada – a família – e depois, ao longo da vida, integra outras

    instituições. Nessa interação vai se construindo uma teia de saberes, onde os

    membros da sociedade são parceiros e contribuem cada um com seus

    conhecimentos, suas práticas, valores e crenças. O processo de construção

    então começa a se da a partir desse momento e se intensifica, quando o

    indivíduo integra a escola.

    Segundo Abramovich (1997), querer saber de tudo o que acontece ao

    seu redor, do processo de construção da vida em geral e da sua própria em

    particular, faz parte da curiosidade natural da criança. Saber sobre seu corpo,

    sua sexualidade, seus problemas de crescimento, suas relações com os outros

    são temas de frequentes perguntas que precisam de respostas convincentes e

    capazes de serem entendidas por essas crianças que muitas vezes podem ter

    ainda algum tipo de limitação na compreensão da linguagem, mas, que quando

    respondidas de forma doce, gentil e realista podem saciar e aguçar a

    curiosidade delas.

    As crianças dessa geração estão sempre fazendo interrogações sobre

    suas dúvidas, tristezas, dificuldades, conflitos e até sobre suas descobertas

    para poderem compreender melhor todo o processo de crescimento que estão

    sofrendo, é claro que muitas não fazem ideia do motivo de tal curiosidade. E

    atender tamanha curiosidade requer uma experiência e vivencia da própria

    criança com todo tipo de emoções que reflitam o seu cotidiano familiar, escolar

    ou em sociedade.

  • 27

    Portanto, a questão é saber como abordar os temas sem fugir das

    questões principais, ou seja, utilizando um meio de explicá-las que as leve a

    pensar, elaborar, identificar, discordar e criticar os assuntos pelos quais tenham

    interesse, sempre tendo em mente que valores agregamos a essas questões e

    como transferimos para nossas vidas esses ensinamentos.

    Os valores conduzem o nosso comportamento e geralmente são

    demonstrados através de nossas ações. Atualmente, nossa sociedade enfrenta

    sérios problemas decorrentes de fatores econômicos, sociais e culturais. Mas,

    sem dúvida, o mais grave é a crescente onda de novos e duvidosos conceitos,

    que passamos a vivenciar em detrimento de valores tradicionalmente aceitos

    até o momento.

    A literatura então nos dará o suporte para explanarmos qualquer

    assunto, mas a literatura a qual nos referimos não são aquelas encontradas

    somente nos livros didáticos ou para-didáticos que por diversas vezes são

    exigidos pelas escolas por transmitirem conteúdo do currículo, mas sim, os de

    histórias, de contos de fadas entre outros gêneros que abordam por diversas

    vezes problemas que as crianças podem esta atravessando ou que as

    interessem.

    Desta forma, cada leitura a ser feita deve ser capaz não só de transmitir

    conteúdos, embora estes muitas vezes sejam priorizados e o marco inicial de

    tudo, mas sim, de nos ensinar algo novo e essencial ao nosso crescimento e

    amadurecimento.

    Uma obra literária é composta por vários elementos, tais como: matéria

    e forma, estrutura narrativa, linhas ou tendências, gêneros e categorias entre

    outros. A leitura de textos literários acrescenta significado à vida da criança,

    estimulando a autoestima e valorizando o emocional, na apropriação do sentido

    e na transferência simbólica de identificação, a partir do texto.

    “É ouvindo histórias que se pode sentir (também)

    emoções importantes, como a tristeza, a raiva, a irritação,

    o bem estar, o medo, a alegria, o pavor, a insegurança, a

  • 28

    tranqüilidade, e tantas outras mais e viver profundamente

    tudo o que as narrativas provocam em quem as ouve –

    com toda amplitude, significância e verdade que cada

    uma delas fez (ou não) brotar...Pois ouvir, sentir e

    enxergar com os olhos do imaginário.” (ABAMOVICH,

    2004, p.17)

    Há unanimidade em torno do fato de que ouvir muitas histórias é

    importante para a formação de qualquer criança. Pode ser dito que esse é o

    inicio da aprendizagem para ser um leitor porque permite que a criança

    desenvolva um esquema de texto narrativo.

    Como toda a arte, a literatura privilegia um domínio do conhecimento

    normalmente ignorado pelo ensino tradicional: o domínio afetivo. Por esse

    motivo, deve ser oportunizado à criança o encontro com o texto literário através

    da descoberta do prazer e da beleza.

    “Muitas crianças e adolescentes não aprendem e

    recebem conceitos de menos inteligentes, quando, na

    verdade, estão afetivamente carentes. Afinal, nossa

    inteligência não só agrega aspectos cognitivos mas

    também emocional.” (CUNHA, 2010, p.22)

    A pessoa é um ser em constante relação. Essa relação é estabelecida

    consigo mesma e com os outros, na tentativa de satisfazer as próprias

    necessidades, amadurecer e realizar-se. O processo de construção de um

    relacionamento não acontece de forma mágica.

    A consciência desse complexo processo não pode ser adquirida através

    do estudo de conceitos teóricos, mas de uma vivência que seja capaz de

    modificar a mentalidade, criando uma nova forma de conceber e vivenciar, na

    prática cotidiana uma nova postura que se refere às relações interpessoais no

    ambiente escolar.

    Chalita (2014) menciona que o “primeiro trabalho a ser feito com o

    professor na sua relação afetiva é com ele mesmo. É no universo intrapessoal

  • 29

    que se constrói o interpessoal. Ninguém dá o que não tem. O professor tem de

    ser terno com ele mesmo, preparando-se para as vicissitudes que a profissão

    e a vida oferecem.” (p.67)

    No ambiente escolar, a acolhida torna-se uma habilidade fundamental

    dentro das relações humanas, uma vez que o outro terá sentimentos positivos

    para com o grupo e o ambiente de trabalho.

    Vivemos em relação com as outras pessoas, nas diversas esferas de

    nossa vida, cada uma com maneiras diferentes de perceber, de interpretar o

    que está ao seu redor. Saber lidar com elas é uma arte necessária ao sucesso

    de qualquer atividade humana.

    O psicopedagogo, através dessa visão utilizando o afetivo no ambiente

    escolar, irá articular as atividades literárias de forma que contemplem um

    ambiente de efetiva participação.

    O profissional que tece sua relação no diálogo, abrindo mão algumas

    vezes das relações mecânicas, poderá verificar o crescimento como um todo

    do indivíduo e da escola, num espaço onde o ser humano é engrandecido e a

    dignidade da vida resgatada, no sentido mais profundo da existência humana:

    o equilíbrio entre a razão e o afetivo.

    Torna-se, portanto, clara a necessidade das pessoas possuírem

    princípios que norteiem suas vidas para serem capazes de firmar relações

    construtivas com os que as cercam.

    Um princípio fundamental é acreditar que as pessoas são inerentemente

    boas, fato que possibilita a construção de um relacionamento pautado sobre as

    realidades da harmonia e do conflito, do desejo de ser melhor e de como

    somos, respeitando cada um dentro de sua individualidade e de sua busca de

    construir e construir-se.

    “No processo educativo em que a gente ensina a ser

    melhor, em que a gente ensina gente a ter dignidade, a

    ter um conhecimento que amplie os horizontes e possa

    transformar o mundo, a heterogeneidade tem de ser

  • 30

    respeitada. Insisto nessa ideia de que a educação

    transforma o mundo: o mundo de um país, o mundo de

    uma cidade, o mundo de uma família, o mundo de uma

    pessoa.” (CHALITA, 2014, p.79)

    Nessa concepção, oferecendo uma visão original da realidade, a

    literatura permite que a criança possa preencher lacunas resultantes de sua

    ainda pequena e escassa experiência existencial, nas classes de Educação

    Infantil. Através dos livros de gravuras com pequenos textos, da história oral,

    da leitura de histórias e poesias, das cantigas de roda, das lendas e fábulas, a

    criança vivencia as aventuras ainda não vividas na realidade.

    O convívio com o texto literário resulta num alargamento de horizontes,

    no descortinar de uma realidade possível, numa reestruturação de sua leitura

    de mundo. Vendo as gravuras de um livro ou ouvindo uma história, a criança

    pode criar seu próprio mundo, povoando-o de sonhos e fantasias, mas, ao

    mesmo tempo, insere-se no nosso mundo de adultos e no seu mundo infantil.

    O psicopedagogo com esse conhecimento poderá aplicar essa prática em sua

    intervenção.

    A literatura oferece alimento à criatividade e ao imaginário e oportuniza a

    criança o conhecimento de si mesmo, do mundo que a cerca, do seu ambiente

    de vida e lhe permite, então, estabelecer as relações tão importantes e

    necessárias entre o real e o não-real.

    A literatura possibilita especialmente à criança uma leitura em vários

    níveis: o sensorial – através dos aspectos exteriores do livro (tamanho,

    espessura, capa, tipo de letra, forma, cor, ilustração, textura); o emocional –

    pelos sentimentos que a leitura provoca, pelo gostar ou não do que lê ou ouve,

    pela reordenação do mundo subjetivo; o racional – pela reflexão a que conduz,

    oportunizando a construção do conhecimento e a reordenação do mundo

    objetivo.

    Como fonte de prazer, estímulo à criatividade, enriquecimento de

    experiências, desenvolvimento da percepção entre texto e contexto e das

  • 31

    dimensões afetiva e social do conhecimento, a literatura se constitui fator de

    impulso à aprendizagem.

    Diariamente, as crianças devem ter a oportunidade de ouvir e ter contato

    com os livros e as histórias escolhidas que, ao serem lidas ou contadas,

    propiciarão a formação do conceito individual, e depois coletivo, dos temas

    abordados e ainda servirem de base para discussões e questionamentos,

    ativando a criatividade e seu leque de opções para elaboração dos trabalhos e

    construções posteriores.

    O trabalho psicopedagógico faz a mediação entre a realidade da criança

    com irreal do conto, buscando a reconciliação da criança consigo mesmo e

    com as aprendizagens culturais, através do simbólico presente na narrativa,

    facilitando o acesso ao desejo e ao prazer de aprender.

    A arte de contar histórias na escola estabelece um vínculo entre aquele

    que ouve, permitindo que a emoção provocada pela história entre em

    comunicação com as crianças.

    A aquisição da leitura perde seu valor quando o que se aprendeu, ou o

    que se lê não acrescenta nada de importante à nossa vida. É a busca

    incansável do significado que já, na mais tenra idade, a criança deve aprender,

    à medida que se desenvolve, a se entender melhor, no auto-conhecimento,

    identificando-se com as situações, para poder relacionar-se melhor com outro e

    com o conhecimento atingindo o significante de forma significativa.

    A criança esta exposta à sociedade em que vive e assim sujeita a

    aprender a enfrentar a realidade com as condições que lhe são próprias, desde

    que seus recursos interiores o permitam. De modo que suas emoções,

    imaginação e intelecto se ajudem e se aprimorem mutuamente.

    Finalizando, vale lembrar que tudo que mencionamos servirá de efetivo

    trabalho preventivo juntamente com o psicopedagogo, orientando as diversas

    estratégias que podem promover o desenvolvimento das crianças observando

    a sua especificidade e importância e com a qual o professor poderá enriquecer

    o trabalho realizado com as crianças.

  • 32

    CONCLUSÃO

    Estamos vivendo em um mundo que tem passado por diversas

    transformações e consequentemente o influxo dessas forças comandam as

    sociedades. Daí os desequilíbrios sociais que ocorrem em nossa realidade em

    todas as áreas e em especial na Educação.

    Por isso, torna-se cada vez mais urgente renovarmos as ideias,

    refletindo sobre a Educação e o ensino que desejamos como princípios

    ordenadores da sociedade, visando construir uma nova civilização.

    Refletindo sobre isso, a escola passa a ser vista sobre outros olhares,

    não mais somente como mera reprodutora de saberes, os quais muitas vezes

    não estão sendo absorvidos por conta das adversidades encontradas. Daí

    nasce o Psicopedagogo e a necessidade de meios de intervenção.

    A Psicopedagogia surgiu da necessidade de melhor compreensão do

    processo de aprendizagem, comprometido com a transformação da realidade

    escolar, na medida em que possibilita, mediante dinâmicas de sala de aula,

    contemplar a interdisciplinaridade, juntamente com outros profissionais da

    escola. O psicopedagogo estimula o desenvolvimento de relações

    interpessoais, o estabelecimento de vínculos, a utilização de métodos de

    ensino compatíveis com as mais recentes concepções a respeito desse

    processo. Procura envolver a equipe escolar, ajudando-a a ampliar o olhar em

    torno da criança e das circunstâncias de produção do conhecimento, ajudando

    a criança a superar os obstáculos que se interpõem ao pleno domínio das

    ferramentas necessárias a leitura do mundo.

    Por isso, nesse mundo permeável onde a cada passo as coisas mudam

    de lugar, o Psicopedagogo através da Literatura Infantil, poderá trilhar um

    caminho que oferece uma forma rica e eficaz de ler o mundo, que auxilia as

    crianças e os jovens a compreenderem mais suavemente a vida em sociedade.

    O ser humano continua passando pelos mesmos problemas que sempre

    o afligiram e através da Literatura, o psicopedagogo poderá abordar várias

    questões do nosso tempo e também problemas universais.

  • 33

    A aprendizagem humana é determinada pela interação entre o indivíduo

    e o meio, da qual participam os aspectos biológicos, psicológicos e sociais.

    Dentro dos aspectos biológicos, a criança apresenta uma série de

    características que lhe permitem, ou não, o desenvolvimento de

    conhecimentos. As características psicológicas são conseqüentes da história

    individual, de interações com o ambiente e com a família, o que influenciará as

    experiências futuras.

    Nesse contexto, o psicopedagogo deve saber interpretar e estar

    inteirado com essas mudanças para poder agir e colaborar, preocupando-se

    com o que as experiências de aprendizagem sejam prazerosas e, sobretudo,

    que promovam o desenvolvimento.

    Portanto, a psicopedagogia, pode fazer um trabalho entre os muitos

    profissionais, visando à descoberta e o desenvolvimento das capacidades da

    criança, bem como pode contribuir juntamente com a Literatura, que as

    crianças sejam capazes de olhar esse mundo em que vivem de saber

    interpretá-lo e de nele ter condições de interferir com segurança e

    competência. Assim, o psicopedagogo não só contribuirá com o

    desenvolvimento da criança, como também contribuirá com a evolução de um

    mundo que melhore as condições de vida da maioria da humanidade.

  • 34

    BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

    ABRAMOVICH, Fanny. Literatura Infantil: gostosuras e bobices. 5 ed. S.P.:

    Scipione, 2004.

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    BETTELHEIM, Bruno. A Psicanálise dos Contos de Fadas. 6 ed. R.J.: Paz e

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    _______.Aprendendo com os Aprendizes: a construção de vínculos entre

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    professor. 1 ed. S.P: Cortez, 2014

    COELHO, Nelly N. Literatura Infantil: teoria, análise, didática. 7 ed. Ver. E

    atual. S.P.: Moderna, 2000.

  • 35

    CUNHA, Antônio Eugênio. Afeto e Aprendizagem: relação de amorosidade

    e saber na prática pedagógica. 2 ed.R.J.: Wak Editora, 2010.

    CUNHA, Maria A. Antunes. Literatura Infantil: teoria e prática. 18 ed. S.P:

    Ática, 2004.

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    GALLART, Isabel Solé. Literatura em Educação Infantil? Sim, obrigado!

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    SCICCHITANO, Rosa Maria J. Avaliação Psicopedagógica: recursos para a

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    AGRADECIMENTOSSUMÁRIOCAPÍTULO II - Traços históricos da Psicopedagogia17CAPÍTULO III – A atuação da Literatura Infantil no 26trabalho psicopedagógicoCONCLUSÃO32BIBLIOGRAFIA CONSULTADA34