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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS NO TRATAMENTO DE EFLUENTES INDUSTRIAIS Por: Daniele Carvalho Abrantes Orientador Prof. Luiz Eduardo Chauvet Rio de Janeiro 2015 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS NO TRATAMENTO DE

EFLUENTES INDUSTRIAIS

Por: Daniele Carvalho Abrantes

Orientador

Prof. Luiz Eduardo Chauvet

Rio de Janeiro

2015

DOCUM

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DOCUMENTO PROTEGID

O PELA

LEI D

E DIR

EITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS NO TRATAMENTO DE

EFLUENTES INDUSTRIAIS

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em Gestão Ambiental

Por: Daniele Carvalho Abrantes

3

AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer a Deus, por me

proporcionar tantas coisas boas. Ao

meu marido, Vinicius, meu

companheiro de todas os momentos.

Aos meus pais e irmão por serem a

base fundamental na minha vida. Às

minhas amigas e companheiras do

curso, Wanda e Iara.

4

DEDICATÓRIA

Dedico esta monografia a Deus, pois sem

ele não sou nada. E tudo posso naquele

que me fortalece.

5

RESUMO

O descarte incorreto de resíduos e o não tratamento dos efluentes

provocam modificações nas características do solo e da água, poluindo e

contaminado o meio ambiente. As empresas são obrigadas a tratar seus

efluentes, caso contrário são autuadas por órgão ambientais por prática de

crime ambiental. Atualmente, é comum se deparar com sistemas de reuso

industriais deficitário, apresentando problemas como, corrosão microbiológica,

odor séptico, depósito de lodo anaeróbico nas tubulações e equipamentos,

coloração inadequada da água de reuso e principalmente equipamentos

danificados e inutilizados. Recentemente, com o auge da crise hídrica, as

industrias precisarão investir em sistemas de reuso da água, caso contrário

este recurso será escasso e provocará danos econômicos à empresa.

Portanto, o objetivo deste trabalho foi demonstrar os processos convencionais

de tratamentos de efluentes, e os processos mais modernos como o MBR

(Membrane BioReactor), o MBBR (Moving Bed Biofilm Reactor) e os

Processos Oxidativos Alternativos (POA), e fazendo uma breve comparação

destes com o convencional, e apontando algumas vantagens nos processos

mais modernos.

6

METODOLOGIA

O presente trabalho tem cunho qualitativo, foram utilizados dados

secundários retirados de livros, pesquisas, índices e entrevistas da Agencia

Nacional das Águas (ANA), Companhia de Tecnologia de Saneamento

Ambiental (Cetesb) Federação das Industrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

Além de artigos científicos da base de dados da Scielo, dissertações de

mestrado e teses de doutorado.

7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 10

CAPÍTULO I - - Histórico do Tratamento de Efluentes 12

CAPÍTULO II - A Importância da Reutilização da Água nas Industria 18

CAPÍTULO III – Inovações Tecnológicas e sua Eficácia 26

CONCLUSÃO 38

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 39

ÍNDICE 41

8

INTRODUÇÃO

A utilização da água nas industrias ocorre de diversas maneiras: na

incorporação ao produto; lavagens de máquinas, tubulações e pisos; nos

sistemas de resfriamento e geradores de vapor; no próprio processo industrial

e nos vasos sanitários. Quando a água é incorporada aos produtos ou

evaporada não necessita realizar o tratamento da mesma. Nos demais casos,

os efluentes contaminados com resíduos dos processos produtivos devem ser

tratados.

O descarte incorreto de resíduos e o não tratamento dos efluentes

provocam modificações nas características do solo e da água, poluindo e

contaminado o meio ambiente. Atualmente, as empresas são obrigadas a

tratar seus efluentes, caso contrário são autuadas por órgão ambientais por

prática de crime ambiental. Sendo que as punições previstas em lei variam

desde multas até paralisação temporária ou definitiva das atividades.

É importante ressaltar que as empresas que tratam seus efluentes, além

de estarem cumprindo com a legislação ambiental, também observam

vantagens econômicas. A conta de água pode reduzir pela metade. Os

efluentes tratados podem ser reutilizados para finalidades como lavagem de

pisos, irrigação de jardins e bacias sanitárias, dentre outras. A escolha pelo

tratamento e reuso ainda é uma excelente alternativa para os períodos de

estiagem.

O grau de tratamento necessário para o lançamento em um corpo

receptor de efluentes tratados ou não, oriundos de atividades industriais, leva

em conta padrões legais de emissão e de qualidade. Os padrões de emissão

são reportados às características do efluente lançado, enquanto os padrões de

qualidade dependem das características do receptor deste efluente. Esses

padrões de emissão e qualidade são especificados via legislação, em nível

federal vige a Resolução CONAMA nº 357 de 17 de março 2005.

Os processos de tratamento são classificados em físicos, químicos e

biológicos, conforme a natureza dos poluentes a serem removidos e/ou das

9

operações unitárias utilizadas para o tratamento. O investimento no tratamento

de efluentes tem um custo, mas ele é pequeno em comparação aos problemas

e aos benefícios que a empresa pode ter se não houver um planejamento

nesse sentido.

O tratamento ideal para cada tipo de efluente é indicado de acordo com

a carga poluidora e presença de contaminantes. Apenas especialistas podem

avaliar e realizar a coleta de amostras para análise de diversos parâmetros que

representam a carga orgânica e a carga tóxica dos efluentes. A maioria das

Estações de Tratamento (ETE) existentes é antiga e/ou possui baixa

automoção. As conseqüências disso são o elevado custo operacional, a baixa

eficiência e o grande desperdício de produtos químicos utilizados no processo.

Com a crise hídrica que vivemos atualmente, as industrias precisarão

investir em sistemas de reuso da água. Uma grande porcentagem da água

disponibilizada à população é utilizada nas industrias. Portanto, o objetivo

deste trabalho foi mostrar os processos convencionais de tratamentos de

efluentes, e os processos mais modernos, como o MBR (Membrane

BioReactor), o MBBR (Moving Bed Biofilm Reactor) e os Processos Oxidativos

Alternativos (POA), e fazendo uma breve comparação destes com o

convencional.

10

CAPITULO I

Tratamento de Efluentes

1.Tratamento aeróbico

O tratamento ideal para cada tipo de efluente é dependente do nível da

carga poluidora e seus contaminantes. Os processos de tratamento são

classificados em físicos, químicos e biológicos, conforme a natureza dos

poluentes a serem removidos e/ou das operações unitárias utilizadas para o

tratamento.

Os processos físicos removem os sólidos em suspensão sedimentáveis

e flutuantes através de separações físicas, tais como gradeamento,

peneiramento, caixas separadoras de óleos e gorduras, sedimentação e

flotação. Além disso, também removem a matéria orgânica e inorgânica em

suspensão coloidal e reduzem ou eliminam a presença de microrganismos por

meio de processos de filtração em areia ou em membranas (microfiltração e

ultrafiltração). Os processos físicos também são utilizados com a finalidade de

desinfecção, tais como a radiação ultravioleta.

Os processos químicos utilizam produtos químicos em seu processo,

tais como: agentes de coagulação, floculação, neutralização de pH, oxidação,

redução e desinfecção em diferentes etapas dos sistemas de tratamento.

Conseguem remover os poluentes por meio de reações químicas, além de

condicionar a mistura de efluentes que será tratada nos processos

subseqüentes.

A união destes dois processos, explicados acima, garante controlar

poluentes não removidos por processos biológicos convencionais e reduzir a

carga orgânica e, conseqüentemente diminuindo o dimensionamento da

estação de tratamento de efluentes (ETE). Estes processos retiram também

poluentes como o fósforo orgânico solúvel, nitrogênio, matéria orgânica,

bactéria e vírus, sólidos em suspensão, sólidos coloidais e soluções que

contribuam para turbidez.

O tratamento biológico ou secundário consiste na depuração da carga

poluidora contida no efluente de origem sanitária, pela injeção de oxigênio ao

11

efluente bruto. Na presença de agentes biológicos aeróbicos como bactérias e

protozoários. Von Sperling (2005) ressalta que nesta etapa de tratamento a

remoção da matéria orgânica é efetuada por reações bioquímicas, realizadas

por microorganismo. Estes por sua vez, transformam a matéria orgânica em

gás carbônico, água e material celular. Telles; Costa (2007) ressaltam que

pode haver uma remoção tanto da DBO como para Coliformes de 60 a 99%.

Já para os nutrientes, pode haver uma redução de 10 a 50%, podendo este

valor ser superior, caso haja unidades específicas para isso.

Os decantadores secundários normalmente estão presentes no

tratamento secundário. Estes são responsáveis pela separação dos sólidos em

suspensão presentes no tanque de aeração, permitindo a saída de um efluente

clarificado, e consequentememente, o aumento do teor de sólidos em

suspensão no fundo do decantador. Estes sólidos em suspensão originam o

lodo ativado, que apresenta alta eficiência no que se refere a remoção de

matéria orgânica em esgotos domésticos e efluentes industriais. São sistemas

que apresentam certa versatilidade na operação e se comparados a outros

tipos de sistemas biológicos normalmente utilizados no tratamento de resíduos,

ocupam menor espaço físico para implantação.

No tratamento secundário, todas as etapas ocorrem via ação biológica,

dividida em dois ambientes. O ambiente aeróbio é aplicado a todas as

variantes de lodos ativados e lagoas aeradas, nos quais o oxigênio é

introduzido artificialmente. Neste ambiente produz-se maior quantidade de lodo

ao invés do processo anaeróbico.

12

A.

B. C.

Figura 1. Sistema de Tratamento aeróbicos: A. Sistema de Lodo Ativado; B. Filtros Biológicos;

C. Lagoas Aeróbicas.

Quando ocorre o tratamento dos efluentes, os parâmetros de Demanda

Bioquímica de Oxigênio (DBO), Demanda Química de Oxigênio (DQO),

nitrogênio, fósforo, coliformes e outros, sofrem uma queda em suas

concentrações, a ponto passível de descarte em corpo receptor, dentro dos

padrões de emissão do órgão ambiental local.

A DBO de uma água é a quantidade de oxigênio necessária para oxidar

a matéria orgânica por decomposição microbiana aeróbica para uma forma

inorgânica estável. É um parâmetro importante no controle das eficiências das

13

estações, tanto nos tratamentos biológicos aeróbicos e anaeróbicos, bem

como físico –químicos. A DQO é a quantidade de oxigênio necessária para a

oxidação da matéria orgânica de uma amostra por meio de um agente químico,

como o dicromato de potássio. O aumento da concentração de DQO num

corpo d’agua deve principalmente a desejos de origem industrial. Por isso, tem

sido demonstrado ser um parâmetro bastante eficiente no controle de sistema

de tratamentos efluentes industriais e de tratamentos anaeróbicos de esgoto

sanitário. Atualmente, observa-se o uso prioritário da DQO para o controle das

cargas aplicadas e das eficiência obtidas e a DBO como parâmetro secundário

para veficar o atendimento à legislação, uma vez que tanto a legislação federal

quanto a do Estado de São Paulo não incluem a DQO.

2. Tratamento anaeróbico

A aplicação de reatores anaeróbios iniciou-se em 1860, pelo francês

Louis Mouras (DUNBAR, 1908), pesquisadores desenvolveram outros tipos de

tratamentos anaeróbios, como o tanque de Imhoff que, com variações, foi o

método mais utilizado por mais de 12 milhões de alemães até o ano de 1945.

Estima-se que a digestão anaeróbia do esgoto sanitário converta de 60-80%

da DQO em metano. No entanto, preocupações com odores gerados e a

necessidade de posterior tratamento do efluente produzido fizeram com que o

tratamento aeróbio se difundisse majoritariamente.

O processo de tratamento anaeróbico segue o mesmo princípio de

depuração do processo aeróbico, porém, ocorre na ausência de oxigênio. A

digestão anaeróbia pode ser igualada a um ecossistema em que

microrganismos convertem matéria orgânica complexa em metano, gás

carbônico, água, gás sulfídrico,amônia e novas células bacterianas

(CHERNICHARO, 1997).

A formação destes produtos finais se desenvolve por meio de

fermentações, nas quais o material orgânico é transformado (i.e., oxidado). O

processo se divide em quatro etapas distintas, cada qual com sua população

bacteriana específica. São elas a hidrólise, acidogênese, acetogênese e

metanogênese.

14

Alguns fatores controlam a conversão da biomassa em biogás, são eles:

tipo de biomassa a ser utilizada, sua concentração, temperatura, presença de

metais tóxicos, pH, alcalinidade, tempo de detenção hidráulica, tempo de

retenção de sólidos, relação entre substrato e microrganismos e carga aplicada

(BURKE, 2001).

Figura 2. Sistema de Tratamento Anaeróbico.

Atualmente, é comum se deparar com sistemas de reuso industriais

deficitário, apresentando problemas como, corrosão microbiológica, odor

séptico, depósito de lodo anaeróbico nas tubulações e equipamentos,

coloração inadequada da água de reuso e principalmente equipamentos

danificados e inutilizados. Isto ocorre devido às características de processo

que são comuns, seja no tratamento biológico e/ou físico-químico, seja nos

equipamentos de polimento do efluente tratados inadequados.

A água de reuso deve ser considerada como matéria prima do processo,

conseqüentemente, deve possuir qualidade, e esta qualidade só será obtida de

maneira uniforme, mantendo-se sempre o máximo possível de rendimento de

processo, portanto, o monitoramento diário e o uso de novas tecnologias são

as principais ferramentas para alcançar e manter a qualidade do efluente

tratado.

15

Segundo especialista em química ambiental, um problema bastante

recorrente que as empresas enfrentam é a tratabilidade de determinados

efluentes, que varia conforme cada caso. Cada seguimento industrial vai gerar

um tipo diferente de despejo líquido. Por exemplo, o tratamento de efluentes

das industrias automobilísticas necessita de condições diferenciadas quando

comparados ao tratamento de efluentes de industrias têxteis.

3. Processos de Separação por Membrana

A filtração por membranas pode ser definida como um processo de

separação que usa membranas semipermeáveis para dividir o fluxo em duas

porções: retido ou concentrado e permeado. Baseando-se neste princípio, no

início dos anos 60, inicio-se a comercialização da tecnologia de membranas,

na forma de sistemas de osmose reversa, para fins de dessalinização da água

do mar. Na década de 80, a nanofiltração, uma variante desta tecnologia que

trabalha com menor pressão no sistema, começa a ser instalada em escala

comercial, para a remoção de cor em águas derivadas de zonas com turfas na

Noruega, e para a remoção de dureza de águas subterrâneas no estado da

Flórida- EUA. Portanto, hoje em dia, estes dois seguimentos representam

pequenos nichos dentro da gama de variedades de novos sistemas utilizados

no tratamento de água e esgoto em saneamento básico (SCHINEIDER &

TSUTIYA, 2011).

Segundo Viana (2004), uma membrana consiste em um filme que

separa duas fases, agindo como uma barreira semipermeável e seletiva,

restringindo total ou parcialmente o transporte de uma ou várias espécies

químicas presentes nas soluções. Para que ocorra o transporte destas

espécies é necessário que o meio permita a passagem de alguma espécie

(permeabilidade do meio) e da existência de uma força.

O grande interesse, tanto das empresas de engenharia química e

ambiental quanto de pesquisadores desta área, de aumentar a escala desta

16

tecnologia nos últimos anos estão sendo projetadas para substituir sistemas

convencionais de tratamento de água em grandes escalas.

As membranas apresentam diferentes estruturas em função das

aplicações a que se destinam. De um modo geral, as membranas podem ser

classificadas em duas grandes categorias: densas e porosas. Além disso, tanto

as membranas densas quanto as porosas podem ser dividas, ao longo da

espessura, respectivamente em isotrópica e anisotrópica. A natureza das

membranas pode ser classificada como sintéticas ou biológicas.

Na área de saneamento, a classificação mais comum é feita de acordo

com o tipo de filtração, ou seja, tamanho de poros das membranas e

substância passante (Tabela 1).

Tabela 1. Classificação das membranas quanto ao tamanho de poros. (fonte: Schinayder &

Tsutiya, 2001)

17

CAPÍTULO II

A Importância da Reutilização da Água nas Industria

1. Legislação Ambiental

No Brasil, a Política Nacional de Meio Ambiente foi imposta em 1981

pela Lei nº 6.938, posteriormente modificada pela Lei nº 7.804/1989, e

regulamentada pelos Decretos nº 88.351, de 01.06.1983 e 99.274, de

06.06.1990. Um dos princípios adotado por esta lei foi o do poluidor-pagador,

definido como: “a imposição ao usuário, da contribuição pela utilização dos

recursos ambientais com fins econômicos e da imposição ao poluidor e ao

predador da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados”.

Portanto, foi necessário uma nova postura em relação ao meio ambiente,

introduzindo medidas de conciliação entre o desenvolvimento econômico-social

e preservação do meio ambiente.

Durante os anos 90 do século passado, face à dramática realidade e

situações nas quais a água está inserida, o governo brasileiro, diante dos

alertas sobre a iminente crise de disponibilidade de água, em especial após a

realização da Eco 92 no Rio de Janeiro e do preceituado no artigo 21 da

Constituição Federal de 1988, equacionou medidas com o objetivo de minorar

os problemas já existentes, num país onde ainda convivem a cultura da

abundância e da finitude do recurso água.

Um documento intitulado “Declaração Universal dos Direitos da Água”

foi redigido pela ONU em 22 de março de 1992. O texto faz várias observações

sobre a importância da água, que é considerada um patrimônio do planeta.

Neste contexto atual de escassez de água em vários sistemas de

armazenamento, o item 7 deste decreto diz que, “a água não deve ser

desperdiçada, nem poluída, nem envenenada. De maneira geral, sua utilização

deve ser feita com consciência e discernimento para que não se chegue a uma

situação de esgotamento ou de deterioração da qualidade das reservas

atualmente disponíveis”.

18

Em dezembro de 1996, após uma longa tramitação e de dois

substitutivos, o Congresso Nacional aprovou o Projeto de Lei Nacional de

Recursos Hídricos, que instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos e

criou o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos. Em 8 de

janeiro de 1997, o Presidente da República sancionou a Lei nº 9.433, dotando

o Brasil dos instrumentos legais e institucionais necessários ao ordenamento

das questões referentes à disponibilidade e ao uso sustentável de suas águas.

Os principais instrumentos dessa Política são: os Planos de Recursos

Hídricos, elaborados por bacia hidrográfica e por Estado; o enquadramento

dos corpos d’água em classes, segundo os usos preponderantes da água; a

outorga de direito de uso; e a cobrança pelo uso dos recursos hídricos Como a

implementação de tais instrumentos é de caráter executivo, foi criada, através

da Lei nº 9.984 de 17 de julho de 2000, a Agência Nacional de Águas (ANA), o

órgão gestor dos recursos hídricos de domínio da União. Trata-se de uma

agência gestora de um recurso natural e não uma agência reguladora da

prestação de serviços públicos, o que a diferencia fundamentalmente das

agências já instaladas para os setores de eletricidade e de telefonia.

A ANA tem como missão coordenar a gestão dos recursos hídricos e

regular o acesso à água, promovendo o uso sustentável em benefício das

atuais e futuras gerações. Antes disso, o estado de São Paulo já havia

instituído uma política de gerenciamento de recursos hídricos, por meio da Lei

Estadual Nº 7663. Inspirada no modelo francês, a legislação brasileira sobre

recursos hídricos é um modelo ambicioso de gestão do uso dos rios e, de

acordo com esta Lei, as decisões sobre os usos dos rios em todo o País serão

tomadas pelos Comitês de Bacias Hidrográficas, que são constituídos por

representantes da sociedade civil (1/3), do estado (1/3) e dos municípios (1/3).

O decreto estadual de São Paulo nº 8468, de 8 de setembro de 1976,

aprovou o regulamento de lei nº 997, de 31 de maio de 1976, que dispõe sobre

prevenção e o controle da poluição do meio, estabelecendo padrões de

emissão para efluentes oriundos de atividades diversas. O artigo 19-A deste

decreto estabelece limites quantitativos para lançamento de efluentes

industriais em sistemas de esgoto, como segue:

I - pH entre 6,0 e 10,0;

II - temperatura inferior a 40º C;

19

III - materiais sedimentáveis até 20 mlL-1 em teste de 1 hora em "cone Imhoff";

IV - ausência de óleo e graxas visíveis e concentração máxima de 150 mgL-1

de substâncias solúveis em hexano;

V - ausência de solventes, gasolina, óleos leves e substâncias explosivas ou

inflamáveis em geral;

VI - ausência de despejos que causem ou possam causar obstrução das

canalizações ou qualquer interferência na operação do sistema de esgotos;

VII - ausência de qualquer substância em concentração potencialmente tóxica

a processos biológicos de tratamento de esgotos;

VIII - concentrações máximas dos seguintes elementos, conjuntos de

elementos ou substâncias:

a) arsênico, cádmio, chumbo, cobre, cromo hexavalente, mercúrio, prata e

selênio - 1,5 mgL-1 de cada elemento sujeitas à restrição da alínea e deste

inciso;

b) cromo total e zinco 5,0 mgL-1 de cada elemento, sujeitas ainda à restrição

da alínea e deste inciso;

c) estanho - 4,0 mgL-1 sujeita ainda à restrição da alínea e deste inciso;

d) níquel - 2,0 mgL-1, sujeita ainda à restrição da alínea e deste inciso;

e) todos os elementos constantes das alíneas "a" a "d" deste inciso,

excetuando o cromo hexavalente - total de 5,0 mglL-1;

f) cianeto - 0,2 mgL-1;

g) fenol - 5,0 mgL-1;

h) ferro solúvel - Fe2+ - 15,0 mgL-1;

i) fluoreto - 10,0 mgL-1;

j) sulfeto.

O Conselho Nacional do Meio Ambiente, por meio da Resolução

CONAMA 357, de 17 de março de 2005, estabeleceu condições de qualidade

para o enquadramento dos corpos hídricos em território nacional, de acordo

com seus usos preponderantes, e para o lançamento de efluentes. Essa

resolução, como instrumento jurídico, fixou limites superiores ou inferiores.

20

2. A Crise Hídrica no Brasil

Segundo dados quantitativos, produzidos por hidrólogos, 97,5% da água

disponível na Terra são salgadas e 2,493% estão concentrados em geleiras ou

regiões subterrâneas de difícil acesso; sobram, portanto, apenas 0,007% de

água doce para o uso humano, disponível em rios, lagos e na atmosfera

(SHIKLOMANOV, 1998). Com o crescimento acelerado da população e o

desenvolvimento industrial e tecnológico, essas poucas fontes disponíveis de

água doce estão comprometidas ou correndo risco. A poluição dos mananciais,

o desmatamento, o assoreamento dos rios, o uso inadequado de irrigação e a

impermeabilização do solo, entre tantas outras ações do homem moderno, são

responsáveis pela morte e contaminação da água. Atualmente, mais de 1,3

bilhão de pessoas carecem de água doce no mundo, e o consumo humano de

água duplica a cada 25 anos, aproximadamente. Com base nesse cenário, a

água doce adquire uma escassez progressiva e um valor cada vez maior,

tornando-se um bem econômico propriamente dito.

O Brasil detém cerca de 12% daqueles 0,007% de toda a água doce

disponível no planeta destinada ao consumo humano, irrigação e atividades

industriais, graves problemas o afligem, relacionados à distribuição irregular

dos recursos hídricos e o desperdício presente em todos os níveis da

sociedade (AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS, 2002). Setenta por cento da

água brasileira estão na região Norte, onde está situada a bacia amazônica e

vivem

apenas 7% da população; a região Sudeste, que tem a maior concentração

populacional (42,63% do total brasileiro), dispõe de apenas 6% dos recursos

hídricos, e a região Nordeste, que abriga 28,91% da população dispõe apenas

de 3,3%. Portanto, apenas 30% dos recursos hídricos brasileiros estão

disponíveis para 93% da população. Em média, entre 40% e 60% da água

tratada são perdidos no percurso entre a captação e os domicílios, em função

de tubulações antigas, vazamentos, desvios clandestinos e tecnologias

obsoletas.

A Comissão Mundial da água, amparada pela Organização das Nações

Unidas e pelo Banco Mundial, avaliaram que o aumento da população até

2025 irá demandar um aumento de 17% de água para irrigação e de 70% para

21

suprimento urbano (RAMOS, 2007; WORLD WATER COUNCIL, 2000). Esta

demanda, associada a outros destinos da água, significa um acréscimo de

40% na demanda total de água. A Comissão Mundial da Água aponta a

necessidade de dobrar os investimentos globais em gestão da água e

saneamento para contribuir com as necessidades avaliadas e reduzir o número

de pessoas sem acesso à água tratada (1 bilhão) e ao saneamento básico (3

bilhões) (RAMOS, 2007; WORLD WATER COUNCIL, 2000).

Além da crescente demanda por água, o cenário projetado para as

próximas décadas inclui impactos das mudanças ambientais globais nos

sistemas hídricos. Um único evento pode produzir efeitos em níveis locais,

regionais, nacionais e internacionais. Estes efeitos podem ser o resultado

direto do próprio evento –consequências do evento – ou impactos indiretos,

como a redução na produção de alimentos ou a diminuição dos recursos

disponíveis.

De acordo com a Agencia Nacional de Águas (ANA), desde o segundo

semestre de 2012, observa-se uma gradativa e intensa redução nas taxas

pluviométricas (chuvas) em algumas regiões do País, que tem prejudicado a

oferta de água para o abastecimento público, especialmente no semiárido

brasileiro e nas regiões metropolitanas mais populosas e com maior demanda

hídrica (São Paulo e Rio de Janeiro). Outros setores que dependem do

armazenamento da água, como o de irrigação e o de energia hidrelétrica,

também estão sendo afetados pela falta de chuvas e pelo menor volume de

água armazenado nos reservatórios.

No sudeste, a atenção esta voltada para a forte interdependência dos

mananciais utilizados para abastecimento das regiões metropolitanas de São

Paulo, de Campinas, da Baixada Santista e de áreas adjacentes, que juntas

formam a Macrometrópole Paulista; e para a garantia da oferta de água para a

Região Metropolitana do Rio de Janeiro, fatores que evidenciam o papel

estratégico das bacias hidrográficas do Alto Tietê, PCJ (Piracicaba, Capivari e

Jundiaí) e do Paraíba do Sul para o atendimento simultâneo de todas as

regiões. As bacias de contribuição dos principais reservatórios de

abastecimento urbano do Sudeste como o Sistema Cantareira e os sistemas

do Paraíba do Sul contaram em 2014 com precipitações próximas as mais

22

baixas já registradas no histórico, o que impediu a recuperação dos níveis dos

reservatórios.

De acordo com o diretor titular do Meio Ambiente da Federação das

Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Nelson Pereira dos Reis, a crise

hídrica pode afetar 60 mil industrias da Grande São Paulo e da região de

Campinas. Estas industrias representam quase 60% do PIB industrial do

estado. Além disso, as duas regiões representam metade do emprego

industrial de São Paulo, cerca de 1,5 milhão de empregos.

Sendo assim, com a crise hídrica será preciso alterar hábitos e

procedimentos nas industrias, e isso afetará a competitividade, produtividade e

lucro. Além de economizar e reduzir o volume anteriormente utilizado, uma das

alternativas é intensificar o reuso da água no processo de produção.

Quando a água com a qualidade requerida para determinado uso se

torna um recurso escasso, buscam-se alternativas de suprimento ou repressão

do consumo para que seja restabelecido o equilíbrio oferta/demanda, através

de formas sistematizadas ou não. De uma maneira geral, o reuso da água

pode ocorrer de forma direta ou indireta, através de ações planejadas ou não

planejadas e para fins potáveis e não potáveis.

Em 1973, a Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou (WHO,1973)

uma classificação dos tipos de reuso em diferentes modalidades, de acordo

com seus usos e finalidades. Dentre eles estão:

Reuso indireto: ocorre quando a água já utilizada, uma ou mais vezes para o

uso doméstico ou industrial, é descarregada nas águas superficiais ou

subterrâneas e utilizada novamente a jusante de forma diluída.

Reuso direto: é o uso planejado e deliberado de esgotos tratados para certas

finalidades como irrigação, uso industrial, recarga de aqüífero e água potável.

Reciclagem interna: é o reuso da água internamente as instalações

industriais, tendo como objetivo a economia de água e o controle da poluição.

Reuso potável direto: ocorre quando o esgoto recuperado, através de

tratamento avançado, é diretamente reutilizado no sistema de água potável.

Reuso potável indireto: caso em que o esgoto, após tratamento, é disposto

na coleção de águas superficiais ou subterrâneas para a diluição, purificação

23

natural e subseqüente captação, tratamento e finalmente utilização como água

potável.

Reuso não potável direto: ocorre quando o esgoto é tratado, mas não torna-

se potável. Esta água não potável pode ser utilizada na agricultura para

irrigação; nas industrias para utilização em caldeiras, limpezas, entre outros;

Com a escassez da água, cada vez mais, a sociedade e as instituições

públicas e privadas terão que dar prioridade para as modalidades de reuso

direto e reciclagem interna, pois são as que mais colaboram com a

sustentabilidade hídrica.

24

CAPÍTULO III

Inovações tecnológicas e sua eficácia

1. Sustentabilidade Hídrica nas empresas

Várias medidas de enfrentamento da crise hídrica estão sendo tomadas

por toda a sociedade. Muitos encontros estão acontecendo entre órgãos do

governo e professores universitários com intuito de criarem um planejamento

de medidas de sustentabilidade hídrica a serem adotadas. E cada vez mais a

tecnologia vem sendo uma ferramenta essencial neste processo, como por

exemplo, um modelo de simulação de estiagem criado por professores

especialista em recursos hídricos da Universidade de Massachusets, que será

utilizado no sistema cantareira; aplicativo criado pela Companhia de

Saneamento Básico do Estado São Paulo (SABESP) para estimular a redução

do consumo de água.

Em relação ao tratamento de efluentes industrias, a tecnologia também

vem avançando bastante neste aspecto, mas esta tecnologia nem sempre é

acessível a todas as empresas. Segundo pesquisa realizada pelo

Departamneto de Pesquisa e Estudos Econômicos (Depecon) da Fiesp e

Ciesp órgão da Federação e do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo

(Fiesp e Ciesp), 67,6% das 413 indústrias ouvidas temiam a chance de

racionamento, sendo que 54,5% delas admitiam não ter uma fonte alternativa

de água, como políticas de reuso ou outras fontes de captação, como poços.

Por outro lado, industrias de médio e grande porte como a Toyota, Ambev,

entre outras até ganharam o Prêmio da Fiesp de Conservação e Reuso da

água. Estas empresas implantaram vários sistemas para economizar água e

sistemas para permitir o reuso da água tratada pela empresa.

Nos últimos quatro anos, a filial da Ambev de Jaguariúna reduziu o

índice de consumo de água de 3,80 para 2,75 litros de água usada na

produção de cada litro de cerveja (hL de água/ hL de produto), o que equivale

a mais de 1.174.742 m3. Desta forma, atingiu o melhor índice de consumo de

água desde o início da operação. A evolução dos índices de consumo de água

(hL de água/ hL de produto) entre 2010 e 2013 foi de 28% (Gráfico 1).

25

Gráfico 1. Evolução dos índices de consumo de água entre 2010 e 2013. (Fonte: Relatório

enviado ao 9° Prêmio Fiesp de Conservação e Reuso da água).

Uma nova tecnologia utilizada nesta planta da Ambev foram 35

medidores de vazão instalados em pontos estratégicos, identificando

prioridades e estratificando as lacunas que permitem mensurar e monitorar o

consumo de água de cada área da fábrica. A partir do consumo teórico de

cada local, é possível estabelecer metas individuais que são monitoradas pelo

GMR (Grupo de Melhoria da Rotina) (Grafico 2). Além disso, 34 sistemas de

reaproveitamento de água na unidade estão em operação, garantindo um

volume de até 1100 m³ de água reutilizada todos os dias (Figura 3).

26

Gráfico 2. Consumo de água de cada área da fábrica . (Fonte: Relatório enviado ao 9° Prêmio

Fiesp de Conservação e Reuso da água).

Figura 3. Sistema de reaproveitamento de água do rinser de latas (Fonte: Relatório enviado ao

9° Prêmio Fiesp de Conservação e Reuso da água).

Segundo dados da Depcon, as industrias situadas na Grande São Paulo

e no litoral paulista consomem 40% da água disponível para abastecimento

27

desta região, por isso é fundamental as empresas implementem um sistema de

gestão da água. Caso contrário o sistema sofre um grande risco de entrar em

colapso. O reuso é um dos pilares da sustentabilidade. Diminui a quantidade

de água retirada de rios e mananciais, ao mesmo tempo em que há aumento

da segurança hídrica de determinada região. Em comparação com outras

soluções, não é um processo caro, e existem muitas tecnologias capazes de

tratar a água adequadamente.

2. Tecnologia no Tratamento de Efluentes

É bem freqüente dentro do mundo industrial, se deparar com problemas

de corrosão microbiológica no sistema de reuso, odor séptico, depósito de lodo

anaeróbico nas tubulações e equipamentos, coloração inadequada da água de

reuso e principalmente equipamentos danificados e inutilizados. Isto ocorre

devido às características de processo que são comuns, seja no tratamento

biológico e/ou físico-químico, seja nos equipamentos de polimento do efluente

tratados inadequados.

A água de reuso deve ser considerada como matéria prima do processo,

conseqüentemente deve possuir qualidade de maneira uniforme, mantendo-se

sempre o máximo possível de rendimento do processo, para tanto, o

monitoramento diário e os novos sistemas de tratamento são a ferramenta

principal para alcançar e manter a qualidade do efluente tratado.

2.1. MBR (Membrane BioReactor)

O sistema MBR (Membrane BioReactor) está entre os que existe de

mais avançado em tratamento de efluentes doméstico e industriais, com a

eficiência elevada e aplicação em diversas situações. A tecnologia de

biorreatores com membranas é formada por um sistema biológico completo em

que as membranas de ultrafiltração fazem parte integrante do processo de

digestão da matéria orgância. As membranas são utlizadas tanto acopladas a

um biorreator aeróbio, como também podem ser instaladas em sistema já

existentes de lodo ativados (Figura 4 e 5).

28

Figura 4. Modulo de membranas externo ao módulo de aeração (Fonte: Kipper da Silva, M;

2010).

Figura 5. Modulo de membranas submerso ao tanque de aeração (Fonte: Kipper da Silva, M;

2010).

No reator com módulo submerso (SMBR), o feixe de membranas é

imerso no tanque aerado e o conteúdo do biorreator fica em contato com a

superfície externa das membranas. O permemado é obtido através da sucção

do conteúdo do reator que atravessa as parede da membrana. Uma das

principais vantagens dos SMBRs é o baixo custo energético. A energia

necessária para produzir vácuo para estes biorreatores é, normalmente, menor

do que a energia utilizada para os biorreatores de módulo externo, que utilizam

bombas centrífugas ou deslocamento positivo. Por outro lado, os fluxos

permeados das SMBRs são menores em comparação aos obtidos com os

29

MBRs com módulos externos, pois, estes últimos, são capazes de operar com

maior pressão.

Em comparação com as técnicas convencionais de tratamento de

efluentes, o sistema de membranas permite trabalhar com concentrações de

sólidos maiores que os sistemas biológicos comuns, o número de etapas

necessárias para o processo também são reduzidas, conseqüentemente os

tanques de aeração podem ser mais compactos que os utilizados em sistemas

de lodos ativados (figura 6 e 7).

Figura 6. Diagrama de um biorreator com membranas (fonte: Kipper da Silva, M; 2010).

Figura 7. Diagrama de um biorreator de efluentes convencional (fonte: Kipper da Silva, M;

2010).

Através destes diagramas podemos observar que a membrana substitui

o decantador secundário, e o filtro de areia, pois as membranas são capazes

de deter a biomassa produzindo um efluente de melhor qualidade. Além disso,

30

como o efluente tratado está livre de microorganismo, o processo elimina a

necessidade de uma etapa de desinfecção.

Nos sistemas convencionais, concentrações extremamente altas de

biomassa são inaceitáveis, pois podem causar uma sobrecarga do processo

de clarificação subseqüente, além da dificuldade de transferência de qualidade

de oxigênio adequadas.

Portanto, no tratamento convencional, o dimensionamento do

decantador secundário é dependente da concentração de biomassa no reator

biológico e da sedimentação do lodo. Nos sistemas MBRs não é preciso se

preocupar com o decantador, é possível trabalhar com concentrações de 3 a 6

vezes mais elevadas de biomassa em comparação com o tratamento

convencional de efluentes.

Podemos citar também as vantagens econômica e ambiental do sistema

MBR em relação à redução do uso de agentes químicos no processo de

tratamento, tais como floculantes, coagulantes, produtos para correção de pH,

desinfetantes, entre outros.

A tecnologia de membranas é considerada um processo mais estável e

seguro, onde permite obter um efluente final de alta qualidade com remoção

de carga orgânica e nutriente. É o processo que tem uma operação simples,

não havendo necessidade de controle de retorno de lodo, como ocorre nos

tratamentos convencionais.

Para viabilizar a utilização de membranas em processos de separação,

tanto em industrias quanto em estações de tratamento de água e efluentes, as

membranas devem ser acomodadas na forma de módulos compactos. Os

principais tipos de são: módulos com placa e quadrado, módulos espirais,

módulos tubulares, módulos com fibras ocas e módulos com disco rotatórios.

Com destaque para os módulos de fibras ocas que apresentam maior

aplicação em sistemas de microfiltração e ultrafiltração utilizados nos

tratamento de efluentes (Figura 8). Atualmente existem vários empresas

fornecedoras de membranas de filtração e sistemas MBR no país.

31

Figura 8. Módulos de fibras ocas ( fonte: Giacobbo, A; 2010).

No Brasil, a tecnologia de MBR ainda está começando a ganhar força.

Muitas empresas como a General Eletrics (GE), Huber Technology e

MANN+HUMMEL Fluid Brasil são especializadas em vários tipos de

membranas e sistemas MBR. Diante de tantas possibilidades oferecidas

pelo mercado, e com o avanço das novas tecnologias, as empresas

precisam pesquisar e analisar qual o sistema que melhor se adequa ao tipo

de efluente gerado.

2.2. MBBR (Moving Bed Biofilm Reactor)

Basicamente, o processo de MBBR consiste em uma tecnologia

adaptada aos sistemas de lodos ativados, por meio da introdução de pequenas

peças de plástico de baixa densidade e de grande área superficial (biomídias)

no interior do tanque de aeração, que atuaram como meio suporte para

desenvolvimento do biofilme, mantidos em constante circulação e mistura, seja

em função da introdução de ar difuso ou devido à existência de agitadores

mecanizado. Este mescanismo aumenta a capacidade de sistemas de lodo

ativado na remoção de carga orgânica, principalmente de nitrogênio.

32

Figura 9. (A) Projeto piloto em MBBR utilizado em pesquisa na USP; (B) biomídias de plástico

(retirado de B&F Dias).

Podemos destacar algumas vantagens deste sistema em relação ao

sistema convencional de lodo ativado:

1. Menor volume dos reatores bilógicos;

2. As taxas de aplicação de sólidos para unidades de clarificação são

reduzidas;

3. Não é necessário retrolavagem para o controle da espessura de biofilme

ou desentupimento do meio suporte, porque é um reator de mistura complexa

e fluxo contínuo;

4. A maior parte de biomassa ativa é retida continuamente no reator,

dispensando a etapa de separação de sólidos.

Seguindo os mesmos princípios básicos da MBBR foi criado um novo

modelo utilizando mídias têxteis nos processos biológicos aerados em conjunto

com os sistemas de aeração que, segundo algumas analises, possibilita um

incremento em até 100% da capacidade de tratamento nas estações de

esgotos sanitários e efluentes industriais, sem a necessidade de execução de

obras civis ou aumento da potência instalada no processo biológico. Esta

estrutura de mídias têxteis aumenta a fixação do número de microorganismos,

promovendo uma superfície larga, áspera e altamente estruturada, ideal para

colonização. A aeração é necessária apenas para o fornecimento de oxigênio

para a biomassa, e não obrigatoriamente para maior mistura como em alguns

processos de MMBR (Figura 10).

O meio têxtil proporciona condições ideais para o crescimento dos

microorganismos e é fixado numa estrutura de aço inoxidável que pode se

montada sobre sistemas de aeração já existentes ou não. Segundo a empresa

que instala este sistema, a estabilidade biológica e o alto desempenho do

33

sistema estão associados ao fato de conciliar as características e vantagens do

leito fixo e móvel num único conjunto.

Figura 10. Sistema de tratamento de efluentes com mídias têxteis. (fonte: B&F Dias)

2.3 Processos Oxidativos Avançados (POA)

Muitos estudos vem sendo desenvolvidos utilizando técnicas para o

tratamento de efluentes industriais de difícil degradação como, por exemplo,

efluentes de industrias têxteis, efluentes oleosos, efluentes contaminados com

agrotóxico, efluentes de siderúrgicas, entre outros.

Os Processos Oxidativos Avançados (POA) são tecnologias que

apresentam eficiência consolidada no tratamento de água e efluentes para a

remoção de poluentes orgânicos não tratáveis por meio de técnicas

convencionais devido a sua elevada estabilidade química e/ou baixa

biodegrabilidade.

Os POA ocorrem através de da degradação de contaminantes via

geração in situ de fortes oxidantes radicalares de oxigênio, como o radical

hodroxila ·OH. A versatilidade do POA está no fato de os radicais hidroxila

poderem ser gerados a partir de diferentes caminhos. Os radicais hidroxilas

podem ser produzidos utilizando-se agentes oxidantes como o ozônio (O3), o

peróxido de hidrogênio (H2O2), além da radiação ultra violeta (UV), ou de

34

combinações com o O3/ H2O2 , O3/ UV, H2O2/UV, O3/ H2O2/UV e da combinação

de peróxido de hidrogênio com íon ferroso, conhecido como reação de Fenton.

Estes processos podem ser divididos em dois grupos: os que envolvem reação

homegênea, usando O3, H2O2 e/ou radiação ultravioleta ou visível; e os que

acontecem em reações heterogêneas (irradiaodos ou não), utilizando

catalisadores metálicos.

Os processos mais explorados por pesquisadores são o reagente de

Fenton (H2O2 e ferro), que pode ser irradiado ou eletrizado (Foto-Fenton e

Eletron- Fenton), a ozonização (que pode ser combinado com H2O2, radiação

UV e catalisadores), a fotocatálise heterogênea (TiO2 ou outros

semicondutores) com UV ou luz solar e a peroxidação (H2O2), que pode ser

também irradiada.

A remoção da cor dos efluentes é um dos muitos problemas da

industrias têxteis; devido a utilização de grandes quantidades de água, o reuso

de águas residuárias vem sendo bastante discutido e estudado. Os processos

convencionais de tratamento de efluentes não removem as substâncias não

biodegradáveis, obtendo água com corantes após o processo.

As reações de Fenton e Foto-Fenton em sistemas homogêneos são

relatadas em vários estudos, os quais relatam remoções de até 100% da cor e

mineralização de matéria orgânica da ordem de 80% em termos de Demanda

Química de Oxigênio (DQO) e até 98% de Carbono Orgânico Total (COT).

35

Figura 11. Representação esquemática da utilização do tratamento biológico e do

tratamento com POA utilizando a reação de Fenton (fonte: Ribeiro, 2009)

36

CONCLUSÃO

O reuso de água deve ser considerado como parte de uma atividade

mais abrangente que é o uso racional ou eficiente da água, o qual compreende

também o controle de perdas e desperdícios, e a minimização da produção de

efluentes e do consumo de água.

As técnicas avançadas de tratamento de efluentes líquidos exercem um

papel fundamental no tratamento e gerenciamento de efluentes domésticos e

industriais, com o objetivo de atingir padrões de qualidade sustentáveis para o

ambiente aquático, proteção da saúde pública e para reuso e recirculação da

água.

Neste trabalho abordamos diferentes processos de tratamento de

efluentes que podem ser utilizados tanto em industrias como em estações de

tratamentos municipais, estaduais, entre outros. Os processos abordados

foram baseados nas tecnologias do MBR (Membrane BioReactor), o MBBR

(Moving Bed Biofilm Reactor) e os Processos Oxidativos Alternativos (POA).

Os processos MBR e MBBR apresentam muitas vantagens em

comparação com o processo convencional de tratamento que utiliza somente o

lodo ativado. Como, por exemplo, a eliminação de três etapas deste último, e

conseqüentemente a compactação da estação de tratamento.

O MBR é uma tecnologia promissora que está se consolidando em

países desenvolvidos, poucos estudos foram realizados no Brasil. Portanto é

necessário o desenvolvimento de novas pesquisas. Além de alguns estudos de

viabilidade econômica (implantação, operação, manutenção) comparando as

configurações de MBRs com módulo externo e submersos, visto que

atualmente as pesquisas estão voltadas aos MBRs com módulo submerso.

Os POA apresentam características mais específicas de tratamento que

complementam os processos de tratamento convencional de lodo ativado, pois

apresentam uma grande eficácia na remoção de poluentes orgânicos com a

destruição de contaminantes não biodegradáveis (corantes, agrotóxicos,

fármacos etc.) e remoção de metais pesados (Cr, Pb etc). Um processo

essencial em efluentes industriais que eliminam estes produtos.

37

Estas tecnologias de tratamento de efluentes abordadas possibilitam

tratamentos alternativos para as águas residuárias visando a reutilização e a

minimização de impactos causados pelos seus lançamentos em corpos

hídricos.

38

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

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39

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40

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

TRATAMENTO DE EFLUENTES 10

1. Tatamento Aeróbico 10

2. Tratamento Anaeróbico 13

3. Processos de separação por membrana 15

CAPÍTULO II

A IMPORTÂNCIA DA REUTILIZAÇÃO DA AGUA NAS INDUSTRIAS 17

1. Legislação Ambiental 17

2. A Crise Hídrica no Brasil 20

CAPÍTULO III

INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS E SUA EFICÁCIA 24

1. Sustentabilidade Hídrica nas empresas 24

2. Tecnologia no tratamento de efluentes 27

2.1- Membrane BioReactor (MBR) 27

2.2- Moving Bed Biofilm Reactor (MBBR) 31

2.3- Processos Oxidativos Avançados (POA) 33

CONCLUSÃO 36

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 37

ÍNDICE 40