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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA ESTRUTURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO PARA EFICÁCIA DA LEI MARIA DA PENHA Por: Sâmia Balreira Pontes Orientador Prof. Jean Alves Rio de Janeiro 2015 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

ESTRUTURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO PARA

EFICÁCIA DA LEI MARIA DA PENHA

Por: Sâmia Balreira Pontes

Orientador

Prof. Jean Alves

Rio de Janeiro

2015

DOCUM

ENTO

PROTEG

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

ESTRUTURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO PARA

EFICÁCIA DA LEI MARIA DA PENHA

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em Direito e Processo Penal.

Por: Sâmia Balreira Pontes

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3

AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus, sempre

presente em minha vida, realizando

meus sonhos e iluminando todos os

meus caminhos.

Aos meus inesquecíveis avós maternos

(in memoriam) Eleonor e Ernesto, cuja

criação, educação, carinho e suporte

me transformaram na pessoa que sou.

A minha mãe Evanilza, minha melhor

amiga, que sempre está ao meu lado

me incentivando e acima de tudo por

todo o seu carinho e paciência com o

meu “mau humor”.

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4

DEDICATÓRIA

Dedico a minha amiga Silvana Gondim

por sempre me apoiar, orientar e

incentivar nos estudos, no trabalho e

na vida.

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RESUMO

Analisam-se as questões e conceitos relevantes envolvendo a violência

doméstica e familiar consonante à Lei 11.340/2006 também denominada Lei

Maria da Penha, a violência de gênero no casal heterossexual. Para melhor

compreensão do tema, a primeira parte volta-se à análise dos aspectos

conceituais da Lei em comento. Na segunda parte é estudado o histórico da Lei

11.340/2006, antecedentes que visavam à proteção da vítima de violência

doméstica, o âmbito de incidência da lei Maria da Penha, as inovações, a

política pública proposta e natureza da Ação penal. A terceira parte dedica-se a

pesquisa de políticas públicas de proteção à mulher vítima e órgãos/instituições

criadas para desenvolvê-las.

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6

METODOLOGIA

A pesquisa parte do método bibliográfico analisando o conteúdo

legislativo e doutrinário sobre o tema. No aspecto legislativo, é estudada a

Constituição da República Federativa do Brasil/88 – CRFB/88 e a Lei Maria da

Penha – Lei 11.340/06. A pesquisa bibliográfica baseia-se em livros, revistas,

artigos jurídicos, documentos e impressos em geral, bem como textos da

internet.

Pela abordagem pretendida, não haverá pesquisa de campo através de

entrevistas.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - A Lei Maria da Penha 12

CAPÍTULO II - Políticas Públicas de proteção à mulher vítima 26

de violência doméstica no Estado do Rio de Janeiro

CAPÍTULO III – Medidas Protetivas da Lei 11.340/2006 45

CONCLUSÃO 54

BIBLIOGRAFIA 56

LEGISLAÇÃO 58

ANEXOS 59

ÍNDICE 76

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8

INTRODUÇÃO

Pesquisando o significado de violência doméstica ou familiar na literatura

anterior à criação da Lei Maria da Penha, não foi encontrada definição clara

sobre quais situações constituíam e quais não constituíam violência doméstica

ou familiar contra a mulher. Esta categoria era muito mais intuitiva do que

formal.

“No âmbito das relações privadas, a violência contra a mulher é um aspecto central da cultura patriarcal. A violência doméstica é uma forma de violência física e/ou psíquica, exercida pelos homens contra as mulheres no âmbito das relações de intimidade e manifestando um poder de posse de caráter patriarcal. Podemos pensar na violência doméstica como uma espécie de castigo que objetiva condicionar o comportamento das mulheres e demonstrar que não possuem o domínio de suas próprias vidas.” 1

Mas após a lei 11.340/2006 a violência doméstica ou familiar pôde ser

definida segundo três variáveis: quem agride, onde agride e quem sofre a

agressão. Para que a violência doméstica sofrida por uma mulher esteja

enquadrada na categoria “doméstica ou familiar” amparada pela lei Maria da

Penha é necessário que os atos de agressão sejam motivados não apenas por

questões estritamente pessoais, mas expressem posições de dominação do

homem e subordinação da mulher.

O objetivo deste trabalho é elencar as políticas públicas direcionadas às

mulheres2 vítimas de violência no casal heterossexual3, no Estado do Rio de

1 SABADELL, Ana Lucia. Manual de Sociologia Jurídica: introdução a uma leitura externa do

Direito. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, p. 235,236. 2 Aplicação analógica das medidas protetivas da lei Maria da Penha em favor do homem: as medidas protetivas desta lei poderiam ser aplicadas analogicamente em favor de outras pessoas desde que se constate alguma analogia fática. Por exemplo: violência doméstica contra o homem. Nesse caso, constatada que a violência está sendo utilizada pela mulher como uma forma de imposição, não há dúvida que todas as medidas protetivas da Lei 11.340/2006 podem favorecer o homem, impondo-se a analogia in bonam partem (TJMG, Apel. Crim. 1.0672.07.249317-0, rel. Judimar Biber, j. 06.11.07). Nesse mesmo sentido, decisão do juiz Mário R. Kono de Oliveira (Cuiabá-MT), que sublinhou: o homem que, em lugar de usar violência, busca a tutela judicial para sua situação de ameaça ou de violência praticada por mulher, merece atenção do Poder Judiciário. 3 A Justiça do Rio Grande do Sul tomou uma medida inédita em relação aos direitos dos homossexuais. Um juiz da comarca de Rio Pardo, a 150 quilômetros de Porto Alegre, decidiu

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9 Janeiro. O objeto do mesmo não abrange todas as situações de violência

doméstica e de gênero, pois, a violência que será estudada é a violência no

casal heterossexual, seja ela física, psicológica, sexual, patrimonial e moral,

conceituadas no artigo 7º da lei 11.340/2006, Incisos I a V, e as medidas

protetivas direcionadas às mulheres vítimas de violência no casal

heterossexual.

Este estudo se limitará ao conceito de violência de gênero da Lei

11.340/2006, por se entender que violência de gênero, para os fins de

compreensão desta análise, é a relação violenta entre homens e mulheres que

se estabelece dependendo da proximidade afetiva dos envolvidos, pois em

sentido geral a violência de gênero pode ocorrer também entre pessoas que

mal se conhecem, mas que, por um motivo qualquer se encontram em situação

de interação. Como, por exemplo, entre colegas de trabalho, companheiros de

viagem etc. E esse tipo de violência de gênero não é amparado pela lei

11.340/2006, pois dependendo do crime, será processado em um Juizado

Criminal Comum, Vara Criminal ou Tribunal de Júri. E não em Juizado de

Violência Domestica e Familiar criado para este fim.

Sergio Ricardo de Souza 4 define violência de gênero como:

“A violência de gênero se apresenta como uma forma mais extensa e se generalizou como uma expressão utilizada para fazer referência aos diversos atos praticados contra mulheres como forma de submetê-las a sofrimento físico, sexual e

aplicar a Lei Maria da Penha a uma relação homossexual e concedeu medida de proteção a um homem que afirmou estar sendo ameaçado pelo ex-companheiro.A decisão do juiz Osmar de Aguiar Pacheco foi tomada em 25 de fevereiro de 2011 e anunciada pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. A medida obriga o homem a manter uma distância de, no mínimo, 100 metros do ex-companheiro, sob pena de prisão.Para o magistrado, embora a Lei Maria da Penha tenha como objetivo a proteção das mulheres contra a violência doméstica, qualquer pessoa em situação vulnerável pode ser beneficiada pela lei. Ele citou a Constituição, segundo a qual todos são iguais perante a lei, sem discriminações de qualquer natureza. Mesmo sendo do sexo masculino, a vítima mereceria a proteção da lei em um caso de violência doméstica. E em 19 de abril de 2011 o Juiz da 11ª Vara criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro também aplicou a Lei Maria da Penha a um casal de homossexual, apesar da Lei Maria da Penha ser claramente destinada à violência doméstica contra mulheres. A decisão, divulgada pelo Tribunal de Justiça do Estado (TJ-RJ), condena o réu Renã Fernandes Silva a se manter a uma distância de 250 metros de seu companheiro, o cabeleireiro Adriano Cruz de Oliveira. O réu teve concedida a liberdade provisória, sem o pagamento de fiança. 4 SOUZA, Sérgio Ricardo. Comentários à lei de combate à violência contra a mulher. Curitiba: Juruá, 2009, p. 27.

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psicológico, aí incluídas as diversas formas de ameaças, não só no âmbito intrafamiliar, mas também abrangendo a sua participação social em geral, com ênfase para as suas relações de trabalho, caracterizando-se principalmente pela imposição ou pretensão de imposição de uma subordinação e controle de gênero masculino sobre o feminino. A violência de gênero se apresenta, assim, como um ‘gênero’, do qual as demais, são espécies.”

A Lei Maria da Penha pode garantir proteção a quem sofre agressões

físicas, patrimoniais, sexuais ou morais em suas relações íntimas de afeto,

domésticas e familiares. E no artigo 7º, incisos I a V, configura cada uma das

violências e seu campo de abrangência, in verbis:

I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal. II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da auto-estima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação; III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos; IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades; V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria.

A violência de gênero no casal heterossexual, na proposta deste trabalho,

é a que ocorre em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva

ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação, é um

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11 conceito especifico do conceito mais amplo que é o de violência doméstica,

porque se restringe àqueles indivíduos que de alguma maneira tiveram ou tem

uma relação intima de afeto, com a ofendida, independentemente de

coabitação.

Entretanto o conceito de violência doméstica, por sua vez, está ligado ao

conceito de território, abrangendo aqueles casos em que os envolvidos

desfrutam de certa intimidade e convivência em um espaço que pode ser

concreto ou simbólico. Sabemos que a violência doméstica, de maneira geral,

não se restringe ao espaço territorial do domicilio ou da residência das partes,

contudo, essa distinção é feita apenas para diferenciá-la da violência familiar.

Porque se entende que o legislador não quis deixar impune aquele individuo

que é um familiar e não mora com a vítima, mas que a agrediu na rua, no

trabalho ou na escola, ou em outro lugar. Da mesma forma também protegeu

aquela mulher que não tem ligação familiar, nem afetiva, mas que convive no

contexto doméstico.

Embora a Lei Maria da Penha (Lei 11.340/2006) utilize a violência

doméstica para significar também os casos de violência no casal, optamos por

utilizar esse conceito somente para o objeto em estudo. Pois o campo proposto

pela Lei Maria da Penha é muito vasto, mesmo que a Lei Maria da Penha não

venha abranger toda e qualquer violência doméstica ou familiar contra a

mulher, mas apenas aquela que pode ser qualificada como violência de

gênero, isto é, atos de agressão motivados não apenas por questões

estritamente pessoais, mas expressando posições de dominação do homem e

subordinação da mulher, ela atinge um grande universo. E o nosso objetivo

principal é analisar a violência no casal heterossexual e as medidas protetivas

direcionadas às mulheres vítimas neste contexto.

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CAPÍTULO I

A Lei Maria da Penha

1.1 Histórico da Lei

A Lei Maria da Penha, Lei n° 11340, foi promulgada em 07 de agosto de

2006, pelo presidente Lula.

A trajetória dessa lei começou em 1983 , quando o ex-marido da

farmacêutica Maria da Penha, o professor universitário e economista

colombiano Marco Antonio Heredia Viveros, tentou matá-la duas vezes. Na

primeira vez atirou contra ela, simulando um assalto, e na segunda tentou

eletrocutá-la. Por conta das agressões sofridas, Penha ficou paraplégica,

demonstrando que a violência contra a mulher não se limita às classes sociais

mais baixas, mas sim, é reflexo de uma cultura onde a mulher é encarada

como ser inferior que deve se subjugar às vontades muitas vezes cruéis de

seus parceiros.

Maria da Penha ergueu a voz, clamou por ajuda e, mesmo paraplégica,

foi buscar a proteção da Justiça. Em 20 de agosto de 1998, juntamente com

Centro pela Justiça e o Direito Internacional(CEJIL),5 através do Comitê Latino-

Americano e do Caribe para a defesa de Direitos da Mulher (CLADEM),6 Maria

da Penha formalizou uma denúncia contra o Brasil à Comissão Interamericana

dos Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA). A ação

resultou no relatório nº 54 de 2001,7 que concluiu pela omissão do Brasil no

que se refere à problemática da violência contra a mulher, e recomendou a

adoção de medidas para simplificar o sistema jurídico brasileiro para, desta

5 O CEJIL, é uma ONG fundada em 1991 e existe no Brasil desde 1994, tendo por finalidade a proteção e promoção dos direitos humanos junto aos Estados-Membros da Organização dos Estados Americanos. Disponível em www.dhnet.org.br/direitos/sip/ongs/cejil/cejil.html .Acesso em janeiro de 2015. 6 O CLADEM é formado por um grupo que atua na defesa dos direitos das mulheres da América Latina e Caribe. Disponível em www.cladem.org/ .Acesso em janeiro de 2015. 7 Comissão Interamericana de Direitos Humanos: relatório 54/01 – Disponível em www.cidh.org/comissao.htm. Acesso em janeiro de 2015.

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13 maneira, permitir uma concreta implementação dos direitos já reconhecidos

pela Convenção Americana e Convenção de Belém do Pará.

Após 9 (nove) anos de busca pela justiça, Maria da Penha pode ver seu

agressor condenado a dez anos e 6 seis meses de reclusão, mas Marco

Antônio recorreu da decisão, conseguindo êxito em sua pretensão, ficou preso

somente por 2 (dois) anos, podendo assim responder ao processo em

liberdade. A história de Maria da Penha representa um padrão sistemático de

violência, de impunidade, de ineficácia, de demora e de impossibilidade de

reparação.

1.2 Antecedentes que visavam à proteção da vítima de

violência doméstica

Um antecedente legislativo ocorreu em 2002, através da Lei nº 10.455/o2,

que acrescentou ao parágrafo único do art. 69 da Lei nº 9.099/958 a previsão

de uma medida cautelar, de natureza penal, consistente no afastamento do

agressor do lar conjugal na hipótese de violência doméstica, a ser decretada

pelo Juiz do Juizado Especial Criminal.

Outro antecedente ocorreu em 2004, com a Lei nº 10.886/04, que criou no

art. 129 do Código Penal, um subtipo de lesão corporal leve, decorrente de

violência doméstica, aumentando a pena mínima de 3 (três) para 6 (seis)

meses. Nenhum dos antecedentes empolgou. A violência doméstica,

infelizmente continuou acumulando estatísticas.

Veio, então, a lei nº 11.340/06 – a Lei Maria da Penha- cuja origem, não

se tem dúvidas em afirmar isto, está no fracasso da aplicação das alterações

feitas pelas leis anteriores.

8 Art. 69. A autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência lavrará termo circunstanciado e o encaminhará imediatamente ao Juizado, com o autor do fato e a vítima, providenciando-se as requisições dos exames periciais necessários. Parágrafo único. Ao autor do fato que, após a lavratura do termo, for imediatamente encaminhado ao juizado ou assumir o compromisso de a ele comparecer, não se imporá prisão em flagrante, nem se exigirá fiança. Em caso de violência doméstica, o juiz poderá determinar, como medida de cautela, seu afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a vítima. (Redação dada pela Lei nº 10.455, de 13.5.2002))

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14 1.3 Âmbito de incidência da lei Maria da Penha

A Lei 11.340/06 não criou novos tipos penais, mas trouxe em si

dispositivos complementares de tipos pré-estabelecidos, com caráter especial,

em referência aos quais exclui benefícios despenalizadores (art. 41), altera

penas (art. 44), estabelece nova majorante (art. 44) e agravante (art. 43),

engendra novas possibilidades de prisão preventiva (arts. 20 e 42), etc. A partir

de sua vigência, houve, por exemplo, versões especiais de lesões corporais

leves praticadas em situação de violência doméstica ou familiar contra a

mulher, do mesmo modo, ameaças, constrangimento ilegal, crime de

periclitação da vida e da saúde, exercício arbitrário das próprias razões, dano,

crimes contra a honra, todos em situações específicas que, como se sabe,

prevalecem sobre as formas gerais.

A Lei Maria da Penha criou mecanismos para coibir e prevenir a violência

doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8o do art. 226 da

Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas

de Violência contra a Mulher, da Convenção Interamericana para Prevenir,

Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher e de outros tratados

internacionais ratificados pela República Federativa do Brasil; dispõe sobre a

criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; e

estabelece medidas de assistência e proteção às mulheres em situação de

violência doméstica e familiar.

“Concebendo-se a norma não apenas como uma forma vazada em palavras solenes, mas como um texto que anseia por tornar-se substância, por ser eficaz, resulta impossível separar a norma e a realidade histórica em que se encontra contextualizada, pois é esta realidade o solo mesmo do vigor normativo ou do seu definhamento. Essa pretensão de eficácia da norma jurídica, para atingir sua meta, deve, portanto, levar em conta as condições técnicas, naturais, econômicas e sociais de uma realidade, bem como o substrato espiritual de cada sociedade, traduzido nas concepções sociais concretas e no arcabouço axiológico que permeia a comunidade. Não se trata de a norma submeter-se a esta realidade, aviltando-se à condição de seu mero reflexo, pois a pretensão de eficácia é um apanágio autônomo da norma constitucional [e de qualquer

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15

norma legal] pelo qual esta procura imprimir ordem e conformação à realidade política e social.”9

Entretanto, não abrange toda e qualquer violência doméstica ou familiar

contra a mulher, mas apenas aquela que pode ser qualificada como violência

de gênero, isto é, atos de agressão motivados não apenas por questões

estritamente pessoais, mas expressando posições de dominação do homem e

subordinação da mulher. Conforme seu artigo 5º caput, in verbis:

Art. 5o Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial:

Com essa inovação tem-se a tipificação e definição da violência

doméstica e familiar contra a mulher. Determina ainda, punições mais graves,

criminalizando a agressão. Estabelece ainda no art.5º § único, as formas de

violência contra a mulher independente de sua orientação sexual, in verbis:

Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de

orientação sexual.

Podemos verificar, portanto, que a intenção do legislador brasileiro foi a

de buscar coibir a prática de violência contra a mulher no âmbito doméstico e

familiar.

Desse modo, sob o aspecto objetivo ou físico-espacial, a lei em comento

é destinada a combater e punir os fatos no âmbito doméstico (familiar ou

intrafamiliar). Já no que se refere ao aspecto subjetivo, tem por objetivo tutelar

a mulher contra ato de violência que possa sofrer, tendo como agressor (

sujeito ativo) homem ou mulher com o qual tenha uma relação íntima,

independente da orientação sexual. São englobados, assim, casais de

mulheres que mantenham uma relação homoafetiva.

Podem também caracterizar-se como agressoras pessoas com as quais a

mulher conviva no âmbito domestico e familiar, como pai, irmão, cunhado etc.,

9 PORTO, Pedro Rui da Fontoura. Direitos Fundamentais Sociais – Considerações acerca da Legitimidade Política e Processual do Ministério Público e do Sistema de Justiça para sua Tutela. Porto Alegre – Ed. Livraria do Advogado, ano 2006, p. 74.

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16 não exigindo em relação a tais pessoas a necessidade de que a violência tenha

ocorrido no espaço físico da convivência, podendo caracterizar-se ainda que

sua ocorrência se dê em qualquer outro lugar.

É importante frisar que as pessoas esporadicamente agregações ao

âmbito doméstico também podem ser sujeitos passivos, abrangendo, por

exemplo, as empregadas domésticas que venham a sofrer agressões

perpetradas por seus patrões.

1.4 Inovações na Lei Maria da Penha

De acordo com a lei a mulher somente poderá se retratar da

representação perante o juiz. É vedada a entrega da intimação pela mulher ao

agressor. O pagamento de multa ou cestas básicas ficam proibidas.

O Ministério Público apresentara denuncia ao juiz e poderá propor penas

de três meses a três anos de detenção.

O Juiz poderá conceder, no prazo de 48hs, medidas protetivas de

urgência, dependendo da situação. Como a suspensão do porte de armas do

agressor, afastamento do lar, distanciamento da vitima, entre outras.

A mulher deverá estar acompanhada de advogado (a) ou defensor (a) em

todos os atos processuais.

Determina a criação de juizados especiais de violência doméstica e

familiar contra a mulher com competência cível e criminal para abranger as

questões de família decorrentes da violência contra a mulher.

O crime não é mais considerado de baixo potencial ofensivo, a lei tem

caráter positivo, além de chamar a atenção do agressor, estimula a denúncia.

É importante salientar que as inovações da nova lei no tocante aos crimes

de ação penal privada, quando praticados em situação de violência doméstica

ou familiar contra a mulher, crimes de dano, exercício arbitrário das próprias

razões e crimes contra a honra. A nova lei apenas afastou a incidência da Lei

9.099/95, persistindo, porém, a regra da ação penal privada, com o que se

pode afirmar que legislador foi paradoxal, pois, novamente, a pretexto de

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17 aumentar a repressão desses delitos, acabou colaborando, inadvertidamente,

para sua impunidade.

Com efeito, desde que entrou em vigor a Lei 9.099/95 sempre houve forte

tendência a se trazer para o âmbito dos Juizados Especiais Criminais os

termos circunstanciados envolvendo delitos contra a honra, antes mesmo do

ajuizamento das ações privadas, oportunizando-se, nessa quadra pré-

processual, a conciliação e a transação penal.

Era uma forma de alentar o acesso à justiça e prevenir delitos mais

graves pela via célere da justiça consensual. Além disso, sempre que

impossível a conciliação ou a transação, a ofendida era então instruída a

procurar um advogado ou os órgãos de assistência judiciária para propor a

queixa-crime.

Agora, afastada a Lei 9.099/95, a vítima de crime contra a honra terá de

contar com a boa vontade da polícia judiciária, já assoberbada de trabalho,

para a realização de um inquérito policial a ser concluído antes do prazo

decadencial e, depois, dispondo do inquérito, procurar serviço de assistência

judiciária gratuita com disponibilidade para a propositura da queixa-crime em

tempo hábil.

Não é preciso grande esforço para concluir que a nova lei jogou esta cifra

delitiva para debaixo do tapete, inviabilizando, por completo, em face da atual

realidade estrutural, o acesso à justiça destas espécies típicas.

E esta realidade se fez presente no relatório do Instituto de Segurança

Pública –ISP do Estado do Rio de Janeiro, não foi feito nenhum registro de

violência dos crimes de dano, exercício arbitrário das próprias razões e crimes

contra a honra.

1.5 A política pública proposta pela Lei Maria da Penha

Foi visto que, ao contrário do que parece ao senso comum, uma boa

parte das pessoas que vivem em situações de violência tentaram por diversas

vezes romper com a mesma. Mas muitas vezes tais pessoas não foram bem

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18 sucedidas pelas fragilidades psicossociais, bem como pelas limitações das

instituições às quais recorreram.

As Políticas Públicas discutem as possibilidades de prevenir as diferentes

formas de violência a partir do campo da saúde pública.

O poder público brasileiro vem se alertando sobre os graves problemas

que a violência social significa para o setor saúde. Conclui-se que, trata de um

fenômeno histórico-cultural, construído em sociedade, portanto é passível de

desconstrução.

Dada a sua complexidade, qualquer processo de intervenção deverá

abranger questões macro-estruturais, conjunturais, culturais, de gênero,

relacionais e subjetivas, bem como focalizar a especificidade dos problemas,

de fatores de risco e das possibilidades de mudança.

As Políticas Públicas e serviços de atendimento às mulheres em situação

de violência começaram a ser implantados em decorrência das pressões

desenvolvidas pelos movimentos feministas no Brasil e no mundo a partir dos

anos 70.

Alguns promotores jurídicos enfatizam a falta de políticas públicas com

enfoque integral que visem o resgate das mulheres em situação de violência.

Juízes e Delegadas têm afirmado que as mulheres fazem a retratação da

representação para manterem ou voltarem à convivência com os agressores.

Para promotora de Justiça Jaqueline Martinelli desfazer um relacionamento

afetivo não é uma decisão fácil nem simples. São muitos os fatores envolvidos:

relacionamentos sociais, empregos, moradia, filhos10

Portanto é necessário um atendimento que considere todas essas

questões. Para o judiciário, se não for acompanhamento global, o trabalho não

é eficaz e acaba por reforçar a discriminação contra a mulher.

A violência doméstica permeia por todas as classes sociais, algumas

procuram as delegacias, para fazerem as representações contra seus

agressores, e há aquelas mulheres que por “status” social ficam caladas.

10 Jaqueline Lorenzetti Martinelli - Promotora de justiça, integrante do MP- São Paulo

25/08/2007.

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19 A lei Maria da Penha no seu art. 8º define como será feita a Política Pública

proposta:

Art. 8o A política pública que visa coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher far-se-á por meio de um conjunto articulado de ações da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios e de ações não-governamentais, tendo por diretrizes: I - a integração operacional do Poder Judiciário, do Ministério Público e da Defensoria Pública com as áreas de segurança pública, assistência social, saúde, educação, trabalho e habitação; II - a promoção de estudos e pesquisas, estatísticas e outras informações relevantes, com a perspectiva de gênero e de raça ou etnia, concernentes às causas, às conseqüências e à freqüência da violência doméstica e familiar contra a mulher, para a sistematização de dados, a serem unificados nacionalmente, e a avaliação periódica dos resultados das medidas adotadas; III - o respeito, nos meios de comunicação social, dos valores éticos e sociais da pessoa e da família, de forma a coibir os papéis estereotipados que legitimem ou exacerbem a violência doméstica e familiar, de acordo com o estabelecido no inciso III do art. 1o, no inciso IV do art. 3o e no inciso IV do art. 221 da Constituição Federal; IV - a implementação de atendimento policial especializado para as mulheres, em particular nas Delegacias de Atendimento à Mulher; V - a promoção e a realização de campanhas educativas de prevenção da violência doméstica e familiar contra a mulher, voltadas ao público escolar e à sociedade em geral, e a difusão desta Lei e dos instrumentos de proteção aos direitos humanos das mulheres; VI - a celebração de convênios, protocolos, ajustes, termos ou outros instrumentos de promoção de parceria entre órgãos governamentais ou entre estes e entidades não-governamentais, tendo por objetivo a implementação de programas de erradicação da violência doméstica e familiar contra a mulher; VII - a capacitação permanente das Polícias Civil e Militar, da Guarda Municipal, do Corpo de Bombeiros e dos profissionais pertencentes aos órgãos e às áreas enunciados no inciso I quanto às questões de gênero e de raça ou etnia; VIII - a promoção de programas educacionais que disseminem valores éticos de irrestrito respeito à dignidade da pessoa humana com a perspectiva de gênero e de raça ou etnia; IX - o destaque, nos currículos escolares de todos os níveis de ensino, para os conteúdos relativos aos direitos humanos, à eqüidade de gênero e de raça ou etnia e ao problema da violência doméstica e familiar contra a mulher.

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20

A política pública apresentada pela lei Maria da Penha, vem ao encontro

do anseio social, pois a lei determina que o Estado forneça mecanismos de

prevenção e meios de sobrevivência às mulheres vítimas de violência

doméstica e familiar, que precisam de amparo e orientação para que possam

voltar a viver uma vida digna.

Art. 9o A assistência à mulher em situação de violência doméstica e familiar será prestada de forma articulada e conforme os princípios e as diretrizes previstos na Lei Orgânica da Assistência Social, no Sistema Único de Saúde, no Sistema Único de Segurança Pública, entre outras normas e políticas públicas de proteção, e emergencialmente quando for o caso. § 1o O juiz determinará, por prazo certo, a inclusão da mulher em situação de violência doméstica e familiar no cadastro de programas assistenciais governo federal, estadual e municipal. § 2o O juiz assegurará à mulher em situação de violência doméstica e familiar, para preservar sua integridade física e psicológica: I - acesso prioritário à remoção quando servidora pública, integrante da administração direta ou indireta; II - manutenção do vínculo trabalhista, quando necessário o afastamento do local de trabalho, por até seis meses. § 3o A assistência à mulher em situação de violência doméstica e familiar compreenderá o acesso aos benefícios decorrentes do desenvolvimento científico e tecnológico, incluindo os serviços de contracepção de emergência, a profilaxia das Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) e da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) e outros procedimentos médicos necessários e cabíveis nos casos de violência sexual.

Para Helena Omena e Mônica Melo :11 a presente lei demonstra-se como

mais uma forma de implantação de ações afirmativas, de maneira a trazer a

observância do principio não só da igualdade material, mas acima de tudo, o da

dignidade a pessoa humana, de modo a igualar o status entre homens e

mulheres.

11 Série Estudo, Procuradoria Geral do Estado, São Paulo, nº 11. Outubro de 1988, p.381.

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21 1.6 Natureza da Ação Penal

QUADRO SINÓPTICO

Delito Representação Conciliação Transação Susp. Cond do

Processo (SCP)

Art. 129, § 9º, CP

Lesão

Corporal*

Exigível: art. 16 Lei

11.340/06

Cabível em juízo como

condição da renúncia à

representação.

Afastada pelo art.

41 da Lei

11.340/06

Afastada pelo art. 41

da Lei 11.340/06

Art. 147 CP

Ameaça

Exigível: art. 147, §

único, CP

Cabível em juízo como

condição da renúncia à

representação.

Afastada pelo art.

41 da Lei

11.340/06

Afastada pelo art. 41

Lei 11.340/06

Arts. 138, 139 e

140 CP

Calúnia, Difamação

Injúria

Ação penal privada. Cabível em juízo como

condição da renúncia à

queixa-crime ou perdão

do ofendido.

Afastada pelo art.

41 da Lei

11.340/06

Afastada pelo art. 41

da Lei 11.340/06

Art. 150 e seu § 1º

do CP

Violação de

Domicilio

Ação penal pública

incondicionada

Incabível, por se tratar

de ação penal pública

incondicionada

Afastada pelo art.

41 da Lei

11.340/06

Afastada pelo art. 41

da Lei 11.340/06

Art. 163 caput e

par. único, IV, do

CP

Dano

Ação penal privada Cabível em juízo como

condição da renúncia à

queixa-crime ou perdão

do ofendido

Afastada pelo art.

41 da Lei

11.340/06

Afastada pelo art. 41

da Lei 11.340/06

Art. 163, parágrafo

único, I e II, do CP.

Dano

Ação penal pública

incondicionada

Incabível, por se tratar

de ação penal pública

incondicionada

Incabível porque a

pena máxima é

superior a 02 anos

Afastada pelo art. 41

da Lei 11.340/06

Arts. 217-A, caput,

e 213-CP

Ação penal pública

incondicionada ou

pública condicionada à

representação (art.

225, § único)

Cabível, somente na

ação condicionada a

representação.

Afastada pelo art.

41 da Lei

11.340/06

Afastada pelo art. 41

da Lei 11.340/06

Art. 21 da LCP Exigível por analogia

ao delito de lesões

corporais leves

Cabível, pois pode

condicionar a opção

pela representação.

Cabível, pois o art.

41 da Lei

11.340/06,

somente se refere

a crimes

Cabível, pois o art.

41 da Lei 11.340/06,

somente se refere a

crimes e não a

contravenções

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22

* Nas hipóteses de crimes que decorram de violência doméstica e familiar

contra a mulher, o art. 16 da lei 11.340/2006 destaca que, nas ações penais

públicas condicionadas à representação da ofendida de que trata esta lei, só

será admitida a retratação perante o juiz, em audiência especialmente

designada com tal finalidade, antes do recebimento da denúncia e ouvido o

Ministério Público.

Entretanto, deve-se verificar, no caso de lesão corporal leve no âmbito de

violência doméstica e familiar contra a mulher, não se trata mais de infração de

menor potencial ofensivo, tendo em vista a pena máxima de três anos prevista

no art. 129, § 9º, do código penal. Dessa forma, não teriam aplicação as

disposições da lei 9.099/95, notadamente o art. 88 da referida lei, que diz se a

ação pública condicionada à representação da ofendida.

Nesse sentido, o STJ destaca que: A lesão corporal praticada contra a

mulher no âmbito doméstico é qualificada por força do art. 129, §9º, do CP e se

disciplina segundo as diretrizes desse diploma legal, sendo a ação penal

pública incondicionada.12

Ainda a Quinta Turma segue decidido que a ação é pública

incondicionada, vejamos decisão abaixo:

PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. LESÃO CORPORAL LEVE PRATICADA COM VIOLÊNCIA FAMILIAR CONTRA A MULHER. INAPLICABILIDADE DA LEI 9.099/95 E, COM ISSO, DE SEU ART. 88, QUE DISPÕE SER CONDICIONADA À REPRESENTAÇÃO O REFERIDO CRIME. AUSÊNCIA DE NULIDADE NA NÃO-DESIGNAÇÃO DA AUDIÊNCIA PREVISTA NO ART. 16 DA LEI MARIA DA PENHA, CUJO ÚNICO PROPÓSITO É A RETRATAÇÃO DA REPRESENTAÇÃO. PARECER MINISTERIAL PELA CONCESSÃO DO WRIT. ORDEM DENEGADA. 1. Esta Corte, interpretando o art. 41 da Lei 11.340/06, que dispõe não serem aplicáveis aos crimes nela previstos a Lei dos Juizados Especiais, já resolveu que a averiguação da lesão corporal de natureza leve praticada com violência doméstica e familiar contra a mulher independe de

12STJ, HC nº 106.805/MS, Min. Jane Silva(desembargadora convocada do TJ/MG), Sexta

Turma, DJe 9/3/2009

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23

representação. Para esse delito, a Ação Penal é incondicionada (REsp. 1.050.276/DF, Rel. Min. JANE SILVA, DJU 24.11.08). 2. Se está na Lei 9.099/90, que regula os Juizados Especiais, a previsão de que dependerá de representação a ação penal relativa aos crimes de lesões corporais e lesões culposas (art. 88) e a Lei Maria da Penha afasta a incidência desse diploma despenalizante, inviável a pretensão de aplicação daquela regra aos crimes cometidos sob a égide desta Lei. 3. Ante a inexistência da representação como condição de procedibilidade da ação penal em que se apura lesão corporal de natureza leve, não há como cogitar qualquer nulidade decorrente da não realização da audiência prevista no art. 16 da Lei 11.340/06, cujo único propósito é a retratação.

4. Ordem denegada, em que pese o parecer ministerial em contrário. (HC 91.540/MS, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, QUINTA TURMA, julgado em 19/02/2009, DJe 13/04/2009)

O STJ passou a adotar entendimento contrário em 24/2/2010, tendo

noticiado que, por maioria, a terceira Seção do STJ entendeu ser necessária a

representação da vítima nos casos de lesões corporais de natureza leve,

decorrentes de violência doméstica, para a propositura da ação penal pelo

Ministério Público.

Vejamos:

RECURSO ESPECIAL REPETITIVO REPRESENTATIVO DA CONTROVÉRSIA. PROCESSO PENAL. LEI MARIA DA PENHA. CRIME DE LESÃO CORPORAL LEVE. AÇÃO PENALPÚBLICA CONDICIONADA À REPRESENTAÇÃO DA VÍTIMA. IRRESIGNAÇÃOIMPROVIDA.LEI MARIA DA PENHA 1. A ação penal nos crimes de lesão corporal leve cometidos em detrimento da mulher, no âmbito doméstico e familiar, é pública condicionada à representação da vítima. 2. O disposto no art. 41 da Lei 11.340/2006, que veda a aplicação da Lei 9.099/95, restringe-se à exclusão do procedimento sumaríssimo e das medidas despenalizadoras. Art. 41 da lei 11.340 3. Nos termos do art. 16 da Lei Maria da Penha, a retratação da ofendida somente poderá ser realizada perante o magistrado, o qual terá condições de aferir a real

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24

espontaneidade da manifestação apresentada. Art.16 da Lei Maria da Penha 4. Recurso especial improvido. (Resp.1097042 DF 2008/0227970-6, Relator: Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, Data de Julgamento: 24/02/2010, S3 - TERCEIRA SEÇÃO, Data de Publicação: DJe 21/05/2010)

No STF, diante das divergentes decisões judiciais e posicionamentos

doutrinários, o Procurador Geral da República, Roberto Monteiro Gurgel

Santos, ingressou com Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIn), onde

defendia que todos os atos de violência praticados contra a mulher no âmbito

familiar não seriam aplicáveis os dispositivos da Lei nº 9.099/95, ou seja, os

crimes de lesão corporal independente da gravidade deveriam ser de ação

pública incondicionada a representação.

Dentre seus argumentos, Gurgel 13alegou que,

“Após dez anos da aprovação da Lei nº 9.099/95, cerca de 70%

dos casos que chegavam aos Juizados Especiais envolviam

situações de violência doméstica contra mulheres. A lei

desestimulava a mulher a processar o marido ou companheiro

agressor e consequentemente reforçava a impunidade

presente na cultura e na prática patriarcal.”

A referida ação foi julgada no dia 09 de fevereiro de 2012 pelos ministros do

STF. A referida decisão julgou procedente a ação ajuizada pelo Procurador

Geral da República quanto aos arts. 12, inc. I, 16 e 41 da Lei Maria da Penha,

por maioria dos votos, vencido o Presidente, ministro Cezar Peluso, conforme

segue a decisão14:

13 PROCURADORIA DA REPÚBLICA EM MATO GROSSO. ADI sobre Lei Maria da Penha é julgada procedente pelo STF. Cuiabá, 2012. Disponível em http://www.prmt.mpf.gov.br/noticias/adi-sobre-lei-maria-da-penha-e-julgada-procedente-pelo-stf Acesso em janeiro de 2015.

14 SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE (Med. Liminar) - 4424. Brasília, 2012. Disponível em http://www.stf.jus.br/portal/peticaoInicial/verPeticaoInicial.asp?base=ADIN&s1=maria%20da%20penha&processo=4424 . Acesso em janeiro de 2015.

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25

O Tribunal, por maioria e nos termos do voto do Relator, julgou

procedente a ação direta para, dando interpretação

conforme aos artigos 12, inciso I, e 16, ambos da Lei nº

11.340/2006, assentar a natureza incondicionada da ação

penal em caso de crime de lesão, pouco importando a

extensão desta, praticado contra a mulher no ambiente

doméstico.

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26

CAPÍTULO II

Políticas Públicas de proteção à mulher vítima de violência

doméstica no Estado do Rio de Janeiro.

Art. 35 da lei 11.340/2006:

Art. 35. A União, o Distrito Federal, os Estados e os Municípios

poderão criar e promover, no limite das respectivas

competências:

I - centros de atendimento integral e multidisciplinar para

mulheres e respectivos dependentes em situação de violência

doméstica e familiar;

II - casas-abrigos para mulheres e respectivos dependentes

menores em situação de violência doméstica e familiar;

III - delegacias, núcleos de defensoria pública, serviços de

saúde e centros de perícia médico-legal especializados no

atendimento à mulher em situação de violência doméstica e

familiar;

IV - programas e campanhas de enfrentamento da violência

doméstica e familiar;

V - centros de educação e de reabilitação para os agressores.

Na cabeça deste artigo consta uma notória obrigação do Estado

Brasileiro, a ser implantada por ações desenvolvidas nos três âmbitos do poder

político, consistente em criar os mecanismos indispensáveis para que se logre

alcançar os objetivos desta lei, e, não obstante o legislador federal tenha

utilizado o verbo “poderão, como se está a tratar de providências que são

imprescindíveis para o desenvolvimento de uma política nacional de

erradicação da violência doméstica e familiar contra a mulher, o que implica

garantir o respeito à “dignidade da pessoa humana” (CRFB, art. 1º, III) e o

cumprimento do disposto no § 8º do art. 226 da mesma Carta Política de 1988,

não há dúvida de que de “faculdade não se trata”, mas sim, de obrigação, que

se não for cumprida, pode inclusive dar ensejo à propositura de ação civil

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27 pública (Lei 7.347/85 e lei 11.340/06, art. 37), proposta pelo Ministério Público

ou por associação legitimada. A União vem desenvolvendo políticas para dar

cumprimento ao comando legal, principalmente através de ações

desenvolvidas pelo ministério da justiça, enfatizando-se a importância dos

convênios que a Secretaria de Reforma do Judiciário vem realizando com os

Estados e Municípios, envolvendo principalmente o repasse de verbas para a

instalação das varas especializadas e das equipes multidisciplinares, além da

assistência jurídica gratuita.

Com efeito, à medida que os direitos fundamentais vão evoluindo de uma

concepção formal e individual para outra democrática e substancial; na

proporção em que o Direito começa a interrelacionar-se com outras ciências

sociais, como a Sociologia, admitindo a existência de desigualdades que se

fazem sentir no plano cultural; conforme o Estado foi abandonando aquele viés

liberal abstencionista, evoluindo para um Estado gerador de políticas públicas

niveladoras das desigualdades, a possibilidade de ter efetivo proteção da

justiça firmou-se como direito fundamental do cidadão na perspectiva individual

ou coletiva, e no âmbito da desigualdade de gênero é necessário que o Estado

crie mecanismos de proteção à mulher vítima e aos seus dependente menores.

O Conselho Estadual dos Direitos da Mulher (CEDIM/RJ)15 foi criado em

1987 e foi um dos primeiros conselhos de direitos da mulher do país, como

resultado das lutas e reivindicações dos movimentos feministas e de mulheres

no Estado do Rio de Janeiro. O CEDIM foi instituído por meio do Decreto 9.906

de 06/05/1987 e, posteriormente, pela Lei Estadual nº 2.837 de

19/11/1997 “com a finalidade de elaborar e implementar, em todas as esferas

da administração do Estado do Rio de Janeiro, políticas públicas sob a ótica de

gênero, destinadas a garantir a igualdade de oportunidades e de direitos entre

homens e mulheres, de forma a assegurar à população feminina o pleno

exercício de sua cidadania”. Nesses 26 anos de existência, as ações do

CEDIM ganharam concretude e credibilidade junto à população feminina

fluminense, o que motivou a criação de um órgão executor de políticas públicas

15 Disponivel em: http://www.cedim.rj.gov.br/historicoSPMulheresRJ.asp# .Acesso em fevereiro de 2015.

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28 para as mulheres a ele vinculado. Em 2007 foi criada a Superintendência de

Direitos da Mulher-SUDIM/RJ, dentro da estrutura da Secretaria Estadual de

Assistência Social e Direitos Humanos (SEASDH), passando a abrigar o

CEDIM em sua estrutura. Em fevereiro de 2013 a SUDIM deixa de existir, com

a criação da Subsecretaria de Políticas para as Mulheres, conferindo maior

agilidade administrativa ao organismo responsável por elaborar e executar as

políticas públicas para as mulheres, no estado do Rio de Janeiro. A

Subsecretaria de Políticas para as Mulheres – SPMulheres-RJ/SEASDH – foi

instituída por meio do Decreto 44.076 de 20/02/2013, mantidas as atribuições

da extinta Superintendência, a saber:

• Desenvolver políticas públicas para a eliminação de toda e qualquer

discriminação contra as mulheres que provoca desigualdade e

vulnerabilidade social que impeça o acesso destas ao pleno exercício de

sua cidadania.

• Articular com diferentes órgãos das três esferas de governo e entidades

da sociedade civil, com o objetivo de assegurar a implementação dos

planos de Políticas às mulheres.

• Promover a valorização e a difusão da produção das mulheres que, por

meio de diferentes expressões e linguagens, permite transformar a

cultura patriarcal, vindo a compor o patrimônio cultural das mulheres

fluminenses.

• Manter canais permanentes de contato e diálogo com os movimentos

feministas e de mulheres por meio do Conselho Estadual dos Direitos da

Mulher - CEDIM/RJ.

• Coordenar a formatação e articulação das Redes de Serviços de

Atendimento às mulheres em situação de violência nos dez pólos

regionais de Referência de Políticas par as Mulheres;

• Atender mulheres em situação de violência e discriminação através dos

Centros Integrados de atendimento à Mulher, CIAM Márcia Lyra(Rio de

Janeiro), CIAM Baixada (Nova Iguaçu) e a Casa da Mulher de

Manguinhos. Os atendimentos são realizados por equipes formadas por

assistentes sociais, advogados e psicologos, que atuam no

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29

acompanhamento, apoio e orientação às usuárias. Os CIAM’S trabalham

em conjunto com as redes de atendimento locais(coordenadorias,

centros de referência, delegacias, defensoria pública, judiciário e

organizações da sociedade civil).

• Orientar mulheres em situação de violência e discriminação através do

DISQUE MULHER (21) 2332-8249.

• Participar da coordenação do Projeto Mulheres da Paz;

• Acolher, assistir e orientar as mulheres da comunidade de Maguinhos,

através da CASA DA MULHER DE MANGUINHOS, encaminhando-as

aos serviços especializados e à rede de atendimento.

2.1 Órgãos/Instituições criadas no Estado do Rio de Janeiro

para desenvolver as políticas públicas de proteção à mulher

vítima de violência doméstica, através dos serviços

especializados de atendimento à mulher.

2.1.1- Núcleo de Defesa dos Direitos da Mulher - NUDEM

A Defensora Pública Sula Caixeiro Omari coordenadora do Núcleo de

Defesa dos Direitos da Mulher Vítima de Violência (Nudem) aponta o silêncio

como um dos principais empecilhos para acabar com a violência doméstica e

familiar. A dependência econômica, a preocupação com os filhos e o

desconhecimento da rede de serviços para a proteção à mulher são outros

fatores apontados pelas vítimas.

No município do Rio de Janeiro, o Núcleo de Defesa dos Direitos da

Mulher Vítima de Violência - Nudem, situado na Rua do Ouvidor, 90- 4º andar,

Centro do Rio, tel 2332-6371, oferece assistência jurídica especial às mulheres.

Em todo o estado, o atendimento pode ser obtido nos núcleos de primeiro

atendimento da Defensoria Pública existentes nos bairros. E as vítimas

também poderão obter mais informações pelo telefone 0800-285-2279.

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30 2.1.2- Delegacia Especializada de Atendimento a Mulher - DEAM

No dia 18 de julho de 2011, a Delegacia Especializada de Atendimento a

Mulher (DEAM) completou 25 anos. Desde a inauguração da primeira unidade -

a DEAM–Rio, na Avenida Presidente Vargas, em 1986, atualmente na Rua

Visconde do Rio Branco, 12 Centro – mais 13 (treze) especializadas foram

construídas, além da Divisão de Polícia de Atendimento à Mulher (DPAM).

No dia 5 de setembro de 1985, a Defensora Pública Glauce Franco e um

grupo de estagiárias começaram a defender as mulheres vítimas de violência.

Elas prestavam assistência jurídica e classificaram essa iniciativa como “plano-

piloto” da delegacia feminina. Segundo a encarregada do Projeto da Delegacia

de Mulheres, Diva Mucio Teixeira, a violência contra as mulheres aumentava

cada vez mais. Só no ano de 1981, 800 homens mataram suas esposas ou

companheiras, alegando legítima defesa da honra.

Ainda naquele mês, o secretário de Justiça Vivaldo Barbosa começou a

examinar o projeto de lei da Delegacia de Defesa da Mulher, criado pelo

deputado Eurico Neves (PTB/RJ). O projeto foi inspirado na delegacia

especializada que existia em São Paulo. A criação da unidade tinha como

objetivo impedir que as mulheres continuassem se submetendo as situações

constrangedoras sempre que procuravam a polícia em busca de ajuda. De

acordo com o deputado, muitas vezes as mulheres ao serem atendidas por

homens não tinham suas queixas devidamente analisadas.

Em outubro daquele ano surge o plano de criação do precursor da DEAM

o Centro Policial de Atendimento a Mulher (CEPAM). O projeto tinha como

base atender a todas as mulheres, fazer uma avaliação de suas queixas e,

quando necessário, abrir inquérito. As escreventes, escrivães e assistentes

sociais dariam orientação às mulheres também em caso de desquite, divórcio,

direitos adquiridos e encaminhariam às Varas de Família.

A equipe do CEPAM foi chefiada pela delegada da Polícia Marly Preston,

única mulher no quadro de delegados da Polícia Civil naquela época.

Inaugurado em novembro de 1985, o centro era integrado por 15 mulheres,

sendo elas 13 policiais, uma assistente social e uma Defensora Pública.

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31

Mesmo com o CEPAM, as mulheres continuaram reivindicando a criação

de uma delegacia especial de atendimento à mulher no Rio de Janeiro, o que

desencadeou na inauguração da primeira DEAM.16

O Estado do Rio de Janeiro após 25 anos de criação da primeira DEAM

tem 14 (quatorze) Delegacias de atendimento à Mulher, são as seguintes:

Deam em Cabo Frio, Deam em Belford Roxo, Deam em Campos dos

Goytacazes, Deam em Duque de Caxias, Deam Legal-Rio(Centro), Deam em

Jacarepaguá, Deam em Niterói, Deam em Nova Friburgo, Deam em Nova

Iguaçu, Deam em Campo Grande, Deam em São Gonçalo, Deam em São João

de Meriti, Deam em Vota Redonda e Deam em Angra dos Reis além da DPAM-

Divisão de Polícia de Atendimento à Mulher, no Centro do Rio.17

2.1.3- Juizados da Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher no

Estado do Rio de Janeiro

A Lei 11.340/2006 – lei Maria da Penha - no art. 14 reza que: Os

Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, órgãos da Justiça

Ordinária com competência cível e criminal, poderão ser criados pela União, no

Distrito Federal e nos Territórios, e pelos Estados, para o processo, o

julgamento e a execução das causas decorrentes da prática de violência

doméstica e familiar contra a mulher.

No Estado do Rio de Janeiro a lei Estadual nº 5.337, de novembro de

2008, dispôs sobre os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a

Mulher.

E no Estado já foram criados os seguintes Juizados : I,II,III,IV,V,VI e VII

na Capital, Rio de Janeiro, Juizado da Violência Doméstica e Familiar contra a

Mulher -Duque de Caxias, Juizado da Violência Doméstica e Familiar contra a

Mulher -Nova Iguaçu, Juizado da Violência Doméstica e Familiar contra a

16 www.policiacivil.rj.gov.br Acesso em fevereiro de 2015. 17 Folder do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro- Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher- Justiça pela Paz em casa. 2015

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32 Mulher – Niterói, Juizado da Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher -

São Gonçalo.18

Os Juizados da Violência doméstica e Familiar contra a Mulher, foram

criados com esse título violência doméstica e Familiar, porém os juizados não

são competentes para julgar todas as ações que tem como objeto a Violência

doméstica e Familiar19, conforme o art. 5º da lei 11.340/2006 “configura

violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão

baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou

psicológico e dano moral ou patrimonial.” Portanto os Juizados só serão

competentes para julgar as ações que configurem violência de gênero. Para

Luiz Regis Prado20 a violência de gênero existe como um fenômeno social, ou

seja, como um tipo específico de violência vinculado de modo direto ao sexo da

vítima – ao fato de ser mulher.

É importante destacar que a edição da lei 11.340/2006 demonstra a

necessidade de se realmente atentar para a diferença existente entre a

violência doméstica e a violência de gênero (art. 5º) por essência

discriminatória, da qual a mulher é principal vítima. Nesse sentido, pontifica-se

que a “violência contra as mulheres não é uma questão biológica, mas de

gênero. (...) é conseqüência de uma situação de discriminação que tem sua

origem em uma estrutura social de natureza patriarcal.” Afirma ainda Maqueda

Abreu 21, que o recurso à violência não é uma manifestação da agressividade

18 Folder do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro- Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher- Justiça pela Paz em casa. 2015 19 Ação Penal- procedimento Sumário – Lesão Corporal Decorrente de Violência Doméstica (art. 129, §9º e/ ou §11 –CP) N/F Violência Doméstica Contra a Mulher. Autor Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro- Autor do Fato: Valeria – Inquérito 3498/10 23ª Delegacia Policial. “Ressalte-se que o caso em questão não envolve violência Doméstica e familiar contra a mulher. Uma vez, apesar de a vítima ser mulher e haver relação de parentesco entre a vítima e a autora do fato(filha e mãe), de acordo com o dispositivo no caput do artigo 5º da Lei 11.340/06, para se configurar violência doméstica e familiar contra a mulher, a ação ou omissão deve ser baseada no gênero; sendo, portanto incompetente este Juízo para processar e julgar o presente feito. Isso Posto declino de Competência para uma das varas Criminais Competentes. Mirella Letizia Guimaraes Vizzini – Juiza em Exercício, Rio de Janeiro 17/03/2011. 20 PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro. 6ª edição revista, atualizada e ampliada. Vol.2. Parte especial. Barra Funda, São Paulo.RT,2007, p. 159 21 MAQUEDA ABREU, M.L. La Violência de gênero: entre El concepto jurídico Y La realidad social. Revista Eletrônica de Ciência penal y Criminologia, n. 08-02, 2006, p.2

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33 ambiental dos conflitos típicos do casal, ou de fatores ocasionais, como a

ingestão de drogas ou álcool, pobreza, entre outros, tal como socialmente se

quer fazer crer, mas é um meio para garantir a relação de domínio por parte do

homem. Vale dizer: a violência tem aqui caráter instrumental para garantir a

submissão da mulher.

Portanto, as ações que configuram violência doméstica e familiar que não

estejam relacionadas com gênero, são julgadas por outras varas/juizados

competentes.

2.1.4- Casa Abrigo no estado do Rio de Janeiro

Assim afim de cumprir o previsto na Lei Maria da Penha, na Política e no

Pacto Nacional de Enfrentamento da Violência contra as Mulheres, na Política

Nacional de Abrigamento e nos relatórios produzidos nos seminários

promovidos pela SUDIM e realizados em 2008 e 2010, o Estado do Rio de

Janeiro, através da Comissão de Monitoramento da Casa Abrigo Lar da Mulher

– SUDIM/SEASDH, CEDIM, Riosolidário, CDDM/ALERJ e representação

governamental da Baixada Fluminense – elaborou a normatização técnica de

padronização de abrigamento de mulheres em situação de violência nas casas-

abrigo do estado.

O conceito de abrigamento diz respeito à gama de possibilidades,

(serviços, programas e benefícios) de acolhimento provisório destinados às

mulheres vítimas de violência doméstica e familiar que e encontrem sob

ameaça e necessitem de proteção em ambiente acolhedor e seguro.(política de

abrigamento – PNA)

A casa-abrigo é uma das formas de abrigamento de longa duração e faz

parte de uma das ações do Plano Nacional de Políticas para as Mulheres e do

Pacto Nacional de Enfrentamento da Violência contra a Mulher, que têm como

prioridades a ampliação e o aperfeiçoamento da rede de atendimento às

mulheres em situação de violência.

Disponível em http://criminet.ugr.es/recpc/08/recpc08-02.pdf. Acesso em fevereiro de 2015, apud PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro. 6ª edição revista, atualizada e ampliada. Vol.2. Parte especial. Barra Funda, São Paulo.RT,2007, p. 159

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34

A Casa Abrigo é um serviço (estadual ou municipal), de caráter sigiloso,

que atende a Mulheres Vítimas de Violência Doméstica e seus filhos, em

situação de risco iminente de morte. Um dos objetivos desta instituição é o

fortalecimento da auto-estima destas mulheres, bem como o resgate de sua

cidadania, através do acompanhamento da equipe técnica, composta por

Assistente Social, Psicóloga e Pedagoga.

O Termo de Referência para Implementação de Casas-Abrigo SPM/2005

define que: “As Casas-Abrigo são locais seguros que oferecem moradia

protegida e atendimento integral às mulheres em situação de risco de morte

iminente, em razão de violência doméstica. É um serviço de caráter sigiloso e

temporário, onde as usuárias poderão permanecer por um período

determinado, durante o qual deverão reunir condições necessárias para

retomar o curso de suas vidas. O atendimento deve pautar-se no

questionamento das relações de gênero enquanto construção histórica-cultural

dos papéis femininos e masculinos, que têm legitimado as desigualdades e a

violência contra as mulheres.”

Os Objetivos Específicos das Casas-Abrigo são:

• Promover atendimento integral e interdisciplinar às mulheres e

seus/suas filhos/as menores de idade que os/as estejam

acompanhando, em especial nas áreas psicológica, social e jurídica;

• Promover condições objetivas de inserção social da mulher, conjugando

as ações da casa-abrigo a programas de saúde, emprego e renda,

moradia, creches, profissionalização entre outros;

• Prover suporte informativo e acesso a serviços, instruindo as mulheres

para reconhecerem seus direitos como cidadãs e os meios para efetivá-

los;

• Proporcionar ambiente e atividades propícias para que as mulheres

possam exercitar sua autonomia e recuperar sua auto- estima.

• Proporcionar atividades para as crianças e adolescentes que

considerem o paradigma que os entende como ser em situação peculiar

de desenvolvimento estabelecido pela atual legislação – Estatuto da

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35

Criança e do Adolescente, como também considerem as necessidades

características de sua faixa etária;

• Prover meios para o fortalecimento do vínculo mãe/filhos(as),

favorecendo modos de convivência não-violentos.

O Período de permanência nas casas-abrigo é de 4 meses, podendo ser

prorrogado por igual período conforme avaliação da equipe técnica da casa-

abrigo.

2.1.5- Centro de Referência e Atendimento à Mulher

Os Centros de Referência são espaços de acolhimento/atendimento

psicológico, social, orientação e encaminhamento jurídico à mulher em situação

de violência, que proporcione o atendimento e o acolhimento necessários à

superação da situação de violência ocorrida, contribuindo para o fortalecimento

da mulher e o resgate da sua cidadania.

Nessa perspectiva, os Centros de Referência de acolhimento/atendimento

devem exercer o papel de articulador das instituições e serviços

governamentais e não governamentais que integram a Rede de Atendimento,

sendo o acesso natural a esses serviços para as mulheres em situação de

vulnerabilidade, em função de qualquer tipo de violência, ocorrida por sua

condição de mulher.

Os Centros de Referência devem prestar acolhimento permanente às

mulheres que necessitem de atendimento, monitorando e acompanhando as

ações desenvolvidas pelas instituições que compõem a Rede, instituindo

procedimentos de referência.

O atendimento deve pautar-se no questionamento das relações de gênero

baseadas na dominação e opressão dos homens sobre as mulheres, que têm

legitimado e perpetuado, as desigualdades e a violência de gênero.

O objetivo primário da intervenção é cessar a situação de violência

vivenciada pela mulher atendida sem ferir o seu direito à autodeterminação,

mas promovendo meios para que ela fortaleça sua auto-estima e tome

decisões relativas à situação de violência por ela vivenciada.

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36

Ressalta-se que o foco da intervenção do Centro de Referência deve ser

o de prevenir futuros atos de agressão e de promover a interrupção do ciclo de

violência.

Os serviços prestados pelos Centros de Referência devem seguir os

princípios de intervenção:

• Atender as necessidades da mulher em situação de violência, pois a

mulher em situação de violência é um sujeito de direitos, e é nesse

contexto que todo e qualquer serviço de atendimento deve ser a ela

oferecido, o que significa que o plano de intervenção deve ser elaborado

em conjunto com ela e suas escolhas devem ser respeitadas.

• O planejamento da intervenção deve integrar a Rede de Atendimento,

assegurando assim que as ações atendam as necessidades integrais da

mulher em situação de violência, como abrigo, serviços de saúde,

creche etc.

• A Defesa dos Direitos das Mulheres e Responsabilização do agressor e

dos serviços

• Agir contra a violência implica adotar uma posição clara de que não há

justificativa para a violência e condenar todos os tipos de violência

contra as mulheres, uma vez que adotar uma postura de neutralidade

perpetua a violência.

• Tratar as mulheres sem preconceito, mesmo que se a mulher não tenha

que provar a situação de violência a que foram submetidas. Os

profissionais devem ouvi-la, acreditar no seu relato e tratá-las sem

preconceito.

• Promover a responsabilização do agressor, por meio de

encaminhamento - e monitoramento - do caso para o sistema de

segurança pública e de justiça e acompanhamento da mulher em

situação de violência nos contatos com esses equipamentos.

• Reconhecer as Diversidades da Mulher, as ações de intervenção

devem considerar as necessidades de cada mulher em situação de

violência de forma individualizada, avaliando o impacto de cada ação de

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37

acordo com as circunstancias da mulher atendida e do(a) agressor(a),

tais como: situação econômica, cultural, étnica, orientação sexual,

dentre outras.

• Diagnosticar o contexto onde o episódio de violência se insere, o

conceito de violência de gênero adotado para a definição de estratégias

de intervenção deverá ser o previsto na Convenção Interamericana da

OEA, realizada em Belém do Pará em 1994, e subscrita pelo Estado

brasileiro, resumida no seu “Art. 1º. Para os efeitos desta Convenção,

entender-se-á por violência contra a mulher qualquer ato ou conduta

baseada no gênero, que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual

ou psicológico à mulher, tanto na esfera pública como na esfera

privada”. A maioria dos episódios de violência integra um padrão

histórico de violência. O grau de risco deve ser diagnosticado e

considerado para determinar a intensidade da intervenção.

• Evitar ações de intervenção que possam causar maior risco à mulher em

situação de violência. O mais importante para as vítimas de violência é

estarem em segurança. Assim, as questões relativas à segurança

devem ser a principal prioridade, devendo a estratégia de intervenção

ser pautada pelo sigilo e pela busca do equilíbrio entre a intervenção

institucional padronizada e a necessidade de respostas individualizadas,

as quais consideram as possíveis conseqüências para a mulher no

confronto com o agressor(a), validam as informações e opções da

mulher e promovem sua autonomia.

• Articular com demais profissionais dos serviços da Rede, pois a

estratégia de intervenção deve ser elaborada de forma integrada,

fundamentada na cooperação, comunicação e procedimentos integrados

e articulados que assegurem consistência entre a intervenção de

natureza civil e a de natureza criminal.

• Ter uma Gestão Democrática. Envolvimento de mulheres no

monitoramento das ações.

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38 O Centro de Referência deve promover o envolvimento de mulheres que já

estiveram em situação de violência na definição das estratégias adotadas e na

avaliação do serviço22.

2.1.6- Central Judicial de abrigamento provisório da Mulher Vítima de

Violência Doméstica –CEJUVIDA-

A CEJUVIDA foi criada pelo Ato Executivo nº 2610/2010 da Presidência

do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, e seu objetivo é prestar

apoio e auxílio necessários ao encaminhamento, seguro e célere, de mulheres

vítimas de violência doméstica e familiar, e de seus filhos menores, às casas-

abrigo, articulando a comunicação entre os Juízes e as Delegadas de Polícia e

as casas de acolhimento, e vice-versa.

Integrada ao Plantão Judiciário, foi concebida para servir como um núcleo

integrado de apoio ao Juiz competente e / ou a 1ª DEAM/ERJ , que fora do

horário forense, precisam garantir o encaminhamento emergencial de mulheres

vitimizadas e de seus filhos menores, às casas-abrigo.

Envolve todas as comarcas que distem, no máximo, 150 quilômetros da

sede do Plantão Judiciário da Comarca da Capital. Funciona diariamente de

18h de um dia às 11h do dia seguinte, em finais de semana ou feriados,

prestando inclusive o primeiro atendimento às mulheres vítimas de violência

doméstica e familiar, sempre que os serviços especializados dos centros de

referência não estiverem em funcionamento.

Conta com uma estrutura especial no plantão judiciário, uma sala privada;

uma equipe formada por 8 (oito) servidores especialmente selecionados e

capacitados, com formação em psicologia ou serviço social; duas viaturas

oficiais, para uso exclusivo, com motoristas munidos de radiotransmissor para

contato permanente com às Autoridades23

22 Norma Técnica de Uniformização-Centros de Referência de atendimento à mulher em Situação de Violência. Brasília: Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres Presidência da República.2006 23 www.tjrj.jus.br . Acesso em fevereiro de 2015.

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39 2.1.7- Rede de Enfretamento à Violência contra a Mulher

O conceito de rede de enfrentamento à violência contra as mulheres diz

respeito à atuação articulada entre as instituições/serviços governamentais,

não-governamentais e a comunidade, visando ao desenvolvimento de

estratégias efetivas de prevenção; e de políticas que garantam o

empoderamento das mulheres e seus direitos humanos, a responsabilização

dos agressores e a assistência qualificada às mulheres em situação de

violência. Já a rede de atendimento faz referência ao conjunto de ações e

serviços de diferentes setores (em especial, da assistência social, da justiça, da

segurança pública e da saúde), que visam à ampliação e à melhoria da

qualidade do atendimento; à identificação e ao encaminhamento adequados

das mulheres em situação de violência; e à integralidade e à humanização do

atendimento.

A rede de enfretamento é composta por: agentes governamentais e não-

governamentais formuladores, fiscalizadores e executores de políticas voltadas

para as mulheres (organismos de políticas para as mulheres, ONGs feministas,

movimento de mulheres, conselhos dos direitos das mulheres, outros

conselhos de controle social; núcleos de enfretamento ao tráfico de mulheres,

etc.); serviços/programas voltados para a responsabilização dos agressores;

universidades; orgãos federais, estaduais e municipais responsáveis pela

garantia de direitos (habitação, educação, trabalho, seguridade social, cultura);

e serviços especializados e não-especializados de atendimento às mulheres

em situação de violência (que compõem a rede de atendimento às mulheres

em situação de violência). 24

2.1.8- Conselhos Nacionais, Estaduais e Municipais de Direitos das

Mulheres

Os Conselhos dos Direitos das Mulheres são espaços públicos de

controle social que garantem a participação da população nas atividades

políticas, econômicas e culturais do país. Os Conselhos devem ser compostos

por uma parcela da população, juntamente com trabalhadores e dirigentes 24 www.tjrj.jus.br . Acesso em fevereiro de 2015

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40 públicos, que periodicamente reúnem-se para debater e propor ações

relacionadas a políticas para as mulheres.

No Estado do Rio de Janeiro existem os seguintes conselhos: Conselho

de Mulheres – Maricá, Conselho Estadual dos Direitos da Mulher - Rio de

Janeiro, Conselho Municipal dos Direitos da Mulher - Barra do Piraí, Conselho

Municipal da Mulher - São Gonçalo, Conselho Municipal dos Direitos da Mulher

– Teresópolis, Conselho Municipal dos Direitos da Mulher – Niterói e Conselho

Municipal dos Direitos da Mulher – Macaé.

2.1.9- Organismos Governamentais de Políticas para as Mulheres

Os organismos executivos têm por missão contribuir nas ações dos

governos com vistas à promoção da igualdade de gênero por meio da

formulação, coordenação e articulação de políticas para as mulheres. Trata-se

de organismos como Secretarias, Superintendências e Coordenadorias de

Mulheres e Núcleos de Políticas para as Mulheres, que atuam hoje no país

tanto em âmbito estadual como municipal.

No Estado do Rio de Janeiro temos os seguintes organismos: Secretaria

Municipal de Assistência Social e Prevenção da Violência (SEMASPV) da

cidade de Nova Iguaçu, Instituto Promundo Rio de Janeiro, Sociedade Civil

Bem Estar Familiar no Brasil BEMFAM Rio de Janeiro, Coordenadoria Geral

da Mulher - Cabo Frio , Coordenadoria Municipal de Atendimento à Mulher -

Belford Roxo, Coordenadoria da Departamento dos Direitos da Mulher de

Duque de Caxias, Coordenadoria Municipal dos Direitos da Mulher – Mesquita,

Rio Mulher Rio de Janeiro, Coordenadoria Especial de Promoção da Política

para Igualdade de Gênero (CEPIG) – Rio de Janeiro, Disque Assembléia

Direitos da Mulher - Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro (ALERJ),

Coordenadoria Especial de Política para as Mulheres – Paracambi,

Coordenadoria Especial de Política para as Mulheres – Queimados,

Coordenadoria de Políticas para Mulheres – Itaboraí, Subsecretaria Municipal

de Políticas para as Mulheres – Macaé, Coordenadoria Municipal de

Atendimento à Mulher e Projetos, Superintendência da Mulher - São João de

Meriti, Superintendência de Políticas para as Mulheres - Rio de Janeiro ,

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41 Secretaria Especial dos Direitos da Mulher e das Minorias - Silva Jardim,

Subsecretaria Municipal de Políticas para as Mulheres – Maricá,

Superintendência dos Direitos da Mulher – Nilópolis, Subsecretaria de

Integração e Políticas para as Mulheres - São Gonçalo, Secretaria Municipal de

Políticas Públicas para as Mulheres – Itatiaia, Coordenação dos Direitos das

Mulheres (CODIM) – Niterói, Secretaria Municipal dos Direitos da Mulher –

Teresópolis, Coordenadoria Especial de Políticas para as Mulheres - Nova

Iguaçu, Coordenadoria da Mulher – Araruama.25

2.1.10- Organismos Não Governamentais de Políticas para as Mulheres

Representam uma grande expressão da sociedade civil organizada no

apoio à rede de atendimento à mulher. Em geral, exercem papel mobilizador,

reivindicativo, informativo e educativo referente aos direitos das mulheres.

No Estado do Rio de Janeiro Temos os seguintes Organismos não

governamentais:

Obra Social da Diocese de Duque de Caxias - ASPAS – CDVIDA, Fórum

de Mulheres Negras de Paraíba do Sul, Associação de Mulheres do Morro da

Mangueira, Associação de Mulheres e Amigos do Parque Eredia Sá Rio de

Janeiro, Casa de Integração da Mulher -São Gonçalo, Centro de

Documentação e Informação Coisa de Mulher Rio de Janeiro, Cidadania

Estudo Pesquisa Informação e Ação CEPIA Rio de janeiro, Ser Mulher Centro

de Estudos e Ação da Mulher Urbana e Rural Nova Friburgo, Casa da Mulher

Trabalhadora Rio de Janeiro, Comunicação, Educação e Informação em

Gênero CEMINA Rio de Janeiro, Instituto Brasileiro de Administração

Municipal IBAM Rio de Janeiro, Movimento D ellas Rio de Janeiro,Rede

Desenvolvimento Humano REDEH Rio de Janeiro, Prostituição, Direitos Civis,

Saúde Rio de Janeiro , Articulação de Mulheres Femininas Anti Racista Rio

de Janeiro, Movimento de Mulheres em São Gonçalo, Mulher 500 Anos Atrás

25 www.tjrj.jus.br .Acesso em fevereiro de 2015

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42 dos Panos Rio de Janeiro, Ipas Brasil Rio de Janeiro, Centro de Articulação

das Populações Marginalizadas Rio de Janeiro.

2.1.11- NIAM/NUAM - Núcleos (Integrados) de Atendimento à Mulher

Os Núcleos de Atendimento à Mulher prestam acolhida, apoio

psicossocial e orientação jurídica às mulheres em situação de violência.

Diferenciam-se dos Centros de Referência de Atendimento à Mulher pela sua

estrutura física e localização - em geral, funcionam em espaços menores que

os Centros de Referência de Atendimento à Mulher e em municípios de menor

porte.

No Estado do Rio de Janeiro existem os seguintes núcleos: Núcleo

Integrado de Atendimento à Mulher (NIAM) de Barra Mansa RJ, Núcleo de

Atendimento à Mulher (NUAM) do Rio de Janeiro, Coordenadoria Especial de

Promoção da Política para Igualdade de Gênero (CEPIG) Rio de Janeiro,

Núcleo de Atendimento à Mulher (NUAM) de Macaé, Núcleo Especial de

Atendimento à Mulher (NEAM) de Campos dos Goytacazes RJ, Núcleo de

Atendimento à Mulher São João de Mereti - 64ª DP, Núcleo Integrado de

Atendimento à Mulher (NIAM) - Coordenação dos Direitos das Mulheres

(CODIM) de Niterói, Núcleo Integrado de Atendimento à Mulher (NIAM) de

Campo dos Goytacazes, Núcleo Integrado de Atendimento à Mulher (NIAM) de

Resende RJ, Núcleo Integrado de Atendimento à Mulher (NIAM) de Três Rios

RJ, Núcleo Integrado de Atendimento à Mulher (NIAM) de Quissamã RJ 26

2.1.12- Centros de educação e de reabilitação para os agressores

A criação de centros ou de outros órgãos cuja atividade é voltada para a

educação e a reabilitação daquelas pessoas que tenham sido autores de

violência doméstica e familiar contra a mulher constitui providência

indispensável para evitar a reincidência, principalmente porque as penas

aplicáveis em relação à maioria dos crimes não importarão no efetivo

recolhimento carcerário do (a) agressor(a) e, à falta de uma reabilitação, ele(a)

será sério candidato à reincidência. Ademais, trata-se de uma experiência já 26 Folder da Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos. Rio de Janeiro.2010

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43 aplicada com sucesso em alguns países que se anteciparam na adoção de

práticas que visam à eliminação da causa da violência, e não só do tratamento

punitivo, até porque, em muitas situações, a pessoa agressora age em

decorrência da formação familiar e da bagagem cultural que recebeu, sendo

necessário reabilitar, aceitando novos conceitos e valores.

No Estado do Rio de Janeiro temos como exemplo de trabalho para

reabilitar homens agressores os Grupos Sócios-Educativos de Gênero em São

Gonçalo-RJ existentes deste 2002.27 No início do projeto foram encontradas

várias dificuldades como: Resistência inicial dos participantes; descrença na

efetividade de um programa educativo; entendimento de que a questão da

violência doméstica é da esfera do privado.

Porém o resultado do projeto foi satisfatório houve baixo índice de

reincidência no delito, mudança de âmbito sociocultural propiciando uma

prevenção a novos delitos, melhoria nas relações intrafamiliar dos atendidos.

Os grupos sócio-educativos de gênero é um trabalho desenvolvido na

Central de Penas e Medidas Alternativas à Prisão de Comarca de São

Gonçalo/RJ (CPMA-SG) com homens em situação de violência doméstica.

Desenvolvido nas instalações da própria CPMA-SG realizado pelos

profissionais componentes da equipe multiprofissional, assistente social e

psicólogo, e coordenado pelo Juiz Titular. Vale salientar que a referida proposta 27 O projeto Grupo Reflexivo surgiu em 1999. A princípio, houve uma parceria entre a ONG

NOOS e o CEOM(Centro Especial de Orientação à mulher) para montar o projeto piloto de

atendimento em grupo a homens autores de violência doméstica contra mulheres. Após este

passo, a equipe do CEOM elaborou a primeira metodologia, através de um grupo de trabalho

formado por assistentes sociais e psicólogos, sob a supervisão da então coordenadora Marisa

Gaspary. Duas participantes deste grupo foram designadas para integrar a equipe

CPMA(Central de Penas e Medidas Alternativas) de São Gonçalo, com o objetivo de enfrentar

no Judiciário a questão da violência doméstica. Na ocasião não existia nenhum trabalho como

este e foi um grande desafio abordar um tema tão polêmico. Em 2002 iniciou-se, com

metodologia própria, o desenvolvimento do grupo coordenado pelas duas assistentes sociais

oriundas da equipe do CEOM. Com o passar dos anos, com aumento da equipe técnica e com

acúmulo de experiência a referida metodologia foi sendo aprimorada, uma vez que está em

contínua construção, atendendo ao objetivo de favorecer o rompimento do ciclo de violência.

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44 de intervenção tem como objetivo prevenir e estimular o rompimento do ciclo

da violência possibilitando a estruturação de um novo modelo de relação de

gênero, baseada no respeito e na equidade, trabalhando reflexivamente outras

formas de solucionar conflitos que não passem pela via da violência

contribuindo assim, para a construção de uma sociedade mais justa e

igualitária.

Para o Juiz Marcelo Castro Anátocles da Silva Ferreira28, o projeto de

grupo reflexivo de gênero desenvolvido na CPMA/SG, veio trazer à população

atendida, um espaço reflexivo, indo para além do fator punitivo. É uma

proposta de trabalho inovadora, uma medida de atendimento que acima de

tudo, busca prevenir novos delitos com uso da violência na relação conjugal.

Sendo uma alternativa bem sucedida na superação de conflitos de gênero e

também de novas possíveis demandas processuais. A prática desse trabalho

pode ser considerada um meio alternativo para resolução de conflitos e/ou

como democratiza o acesso à Justiça. Por se tratar de um espaço que

privilegia a reflexão e a mudança de comportamento buscando, assim vai para

além do fator punitivo já que trabalha numa perspectiva educativa. A principal

inovação dessa prática é a proposta de reinserção social que não passa pela

reclusão do indivíduo e investe na prevenção.

28 Instituto Innovare. Edição V. 2008

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CAPÍTULO III

MEDIDAS PROTETIVAS DA LEI 11.340/2006

As medidas protetivas de urgências acham-se elencadas principalmente

nos arts. 22 (Medidas Protetivas de Urgência que obrigam o Agressor), 23 e 24

( Medidas protetivas de Urgência à ofendida) desta Lei, sendo aplicável, por

analogia, o poder geral de cautela previsto no art.798 do CPC, o qual dispõe

que, “além dos procedimentos cautelares específicos, que este Código regula,

poderá o Juiz determinar as medidas provisórias que julgar adequadas, quando

houver fundado receio de que uma parte, antes do julgamento da lide, cause

ao direito da outra lesão grave e de difícil reparação.

Essas medidas pode ser requeridas ao Poder Judiciário, valendo-se da

sistemática tradicional, onde a vitima, por si ou por seu representante

(capacidade jurídica e legitimidade), através de advogado(capacidade

postulatória) requer a medida compatível com a sua situação. Fora isso, prevê

a nova Lei a possibilidade de que a vítima elabore um ‘requerimento’, que será

enviado ao Judiciário da autoridade policial (Lei 11.340/2006, art.12, III)29.

Destaca Maria BereniceDias:30

“Uma das grandes novidades da Lei Maria da Penha é admitir

que medidas protetivas de urgência do âmbito do Direito de

Família sejam requeridas pelas vítimas perante a autoridade

policial. A vítima, ao registrar a ocorrência da prática de

violência doméstica, pode requerer separação de corpos,

alimentos, vedação ao agressor de aproximar-se da vítima e de

seus familiares ou que ele seja proibido de freqüentar

29Art. 12, inc. III da lei 11.340/2006. “Art. 12. Em todos os casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, feito o registro da ocorrência, deverá a autoridade policial adotar, de imediato, os seguintes procedimentos, sem prejuízo daqueles previstos no Código de Processo Penal: III - remeter, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, expediente apartado ao juiz com o pedido da ofendida, para a concessão de medidas protetivas de urgência” 30DIAS, Maria Berenice. A Lei Maria da Penha na Justiça. RT, 2007.p.80 apud SOUZA, Sérgio Ricardo. Comentários à lei de combate à violência contra a mulher. Curitiba: Juruá, 2009, p. 80.

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46

determinados lugares. Essas providências podem ser pedidas

pela parte pessoalmente na polícia”.

Da dicção deste inc. III, percebe-se que o Legislador disse menos do que

pretendia e mesmo do que se pode extrair de uma interpretação sistemática da

Lei em comento, isso porque, ao dispor que deverá a autoridade policial

“remeter”, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, expediente apartado ao Juiz

com o pedido da ofendida, para a concessão de medidas protetivas de

urgência” o dispositivo parece ter limitado a atuação da autoridade policial a

simplesmente encaminhar um “requerimento” feito pela vítima, quando, na

verdade, para ser coerente com o propósito desta lei, a vítima precisa apenas

apresentar um “requerimento” relatando a ocorrência e indicando as suas

necessidades, cabendo à autoridade policial, enquanto órgão de execução da

Polícia Judiciária e em particular da Delegacia de Atendimento à Mulher não

apenas “encaminhar” esse “requerimento”, mas também, quando necessário

for, “representar”, indicando as medidas de proteção necessárias naquele caso,

mormente aquelas de natureza processual penal, podendo todas essas

providências serem adotadas em um simples oficio ou formulário-padrão de

encaminhamento do requerimento da vítima e de representação pela aplicação

das medidas que a autoridade policial entender necessárias, sem maiores

formalidades.

O art. 18 da Lei 11.340/200631 se refere ao “expediente” previsto no art.

12, inc. III, o qual estabelece que a autoridade policial deverá “remeter”, no

prazo de 48 (quarenta e oito) horas, expediente apartado ao juiz com o pedido

da ofendida, para a concessão de medidas protetivas de urgência”. Esse

expediente deve conter o mínimo de formalidade, dele constando a autoridade

remetente e aquela à qual é endereçado, o propósito, a representação pela 31 Art. 18. Recebido o expediente com o pedido da ofendida, caberá ao juiz, no prazo de 48

(quarenta e oito) horas: I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas

protetivas de urgência; II - determinar o encaminhamento da ofendida ao órgão de assistência

judiciária, quando for o caso; III - comunicar ao Ministério Público para que adote as

providências cabíveis.

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47 imposição de possíveis medidas protetivas de natureza criminal que autoridade

entenda compatível e necessária, servindo principalmente para encaminhar o

boletim de ocorrência formulado pela vítima ou seu representante, poderá ter a

forma de “ofício” como é comum no serviço público, ou mesmo de um

documento de encaminhamento, pré-formulado.

As medidas protetivas de natureza cível devem ser requeridas pela

vítima, preferencialmente no “boletim de ocorrência” ou em requerimento

apartado, podendo a autoridade policial representar apenas no que tange às

medidas protetivas de natureza criminal, principalmente aquelas que dizem

respeito à segurança da vítima, à produção de provas e ao regular

desenvolvimento das investigações.

Recebendo o “expediente” enviado pela Polícia Civil, o Juiz analisará, de

pronto , se há necessidade de aplicar o disposto do § 1º do art. 19 (deferimento

de liminares Inaudita altera partes) e, não sendo o caso, abrirá vista ao

Ministério Público, para que este adote as medidas pertinentes ao caso, não só

as previstas nesta lei, mas, também, outras, que sejam cabíveis e constem do

ordenamento brasileiro. Caso seja aplicável o disposto no já mencionado §1º

do art. 19 desta lei, a vista ocorrerá imediatamente após serem adotadas as

providências cartorárias necessárias ao cumprimento da medida imposta

liminarmente.

Art. 19. As medidas protetivas de urgência poderão ser

concedidas pelo juiz, a requerimento do Ministério Público ou a

pedido da ofendida.

§ 1o As medidas protetivas de urgência poderão ser

concedidas de imediato, independentemente de audiência das

partes e de manifestação do Ministério Público, devendo este

ser prontamente comunicado.

§ 2o As medidas protetivas de urgência serão aplicadas

isolada ou cumulativamente, e poderão ser substituídas a

qualquer tempo por outras de maior eficácia, sempre que os

direitos reconhecidos nesta Lei forem ameaçados ou violados.

§ 3o Poderá o juiz, a requerimento do Ministério Público ou a

pedido da ofendida, conceder novas medidas protetivas de

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urgência ou rever aquelas já concedidas, se entender

necessário à proteção da ofendida, de seus familiares e de seu

patrimônio, ouvido o Ministério Público.

O § 2º do dispositivo sob comento estabelece que as medidas protetivas

serão aplicadas isolada ou cumulativamente, e não poderia ser diferente, haja

vista que em várias situações uma só medida ou mesmo duas, podem ser

insuficientes para a proteção integral que esta lei visa dispensar à vítima. Da

mesma forma, “a qualquer tempo” a alteração da situação fática poderá

recomendar a aplicação de outra medida protetiva, mais eficaz, sempre com

vistas à proteção dos bens jurídicos tutelados por esta norma. Essa adaptação

pode ser procedida ex Officio pelo Juiz, havendo urgência, ouvindo

posteriormente as partes.

3.1- As medidas protetivas de urgência que obrigam o agressor

A lei Maria da Penha discrimina em seu artigo 22 as medidas protetivas

que obrigam o agressor.

Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica e familiar

contra a mulher, nos termos desta Lei, o juiz poderá aplicar, de

imediato, ao agressor, em conjunto ou separadamente, as

seguintes medidas protetivas de urgência, entre outras:

I - suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com

comunicação ao órgão competente, nos termos da Lei no

10.826, de 22 de dezembro de 2003;

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II - afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a

ofendida;32

III - proibição de determinadas condutas, entre as quais:

a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das

testemunhas, fixando o limite mínimo de distância entre estes e

o agressor;

b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por

qualquer meio de comunicação;

32 E M E N T A: Agravo de Instrumento. Medida Cautelar de Separação de Corpos apensa a

Ação de Divórcio. R. Decisão a quo deferindo à liminar, determinando o afastamento do lar do

Cônjuge Varão, fundamentada na animosidade demonstrada através de Registro de

Ocorrência perante a Autoridade Policial, efetuado mediante declaração unilateral da mulher. I -

Existência de Registro anterior formulado pelo Agravante noticiando agressões da Recorrida

em data pretérita aos fatos ensejadores do R. Julgado ora Vergastado. Fortes indícios de

ofensas mútuas entre as Partes. Inviabilidade da manutenção do convívio matrimonial.II -

Afastamento do lar. Partes casadas sob o regime da separação total de bens. Imóvel em

comento adquirido apenas pelo Recorrente. Escritura de Compra e Venda devidamente

registrada no RGI, enfatizando o estado civil, bem como a regra patrimonial.III - Agravante que

é pessoa contando com 60 (sessenta) anos de idade, além de ser estrangeiro residente no

Brasil. Ausência de notícia de parentes no país, bem como da existência de outro imóvel para

sua moradia. Proteção ao Idoso. Aplicação do artigo 4° da Lei nº10.741/2003.IV - Recorrida

que é mulher jovem, possuindo a residência de sua mãe, para onde pode se refugiar, caso se

sinta ameaçada ou em risco. In casu, havendo justo receio com a integridade da Agravada, é

facultado ao I. Magistrado a adoção das medidas previstas na Lei Maria da Penha (Lei nº

11.340/2006), observadas as peculiaridades do caso concreto. Exegese do disposto no artigo

23, inciso III.V - Se ainda assim não o fosse, e o pior, apesar da argumentação da Agravada,

não há até o momento lastro probatório a autorizar a antecipação liminar da pretensão em

cognição não exauriente, devendo ser respeitado o devido processo legal. Precedentes deste

Colendo Sodalício, conforme transcritos na fundamentação.VI - Recurso que se apresenta

manifestamente procedente, na forma parcial. Aplicação do § 1º-A do art. 557 do C.P.C.

Provimento Parcial apenas para excluir a ordem de afastamento do lar do Cônjuge Varão,

mantida a separação de corpos. (AGRAVO DE INSTRUMENTO.Medida Cautelar -

Separação de Corpos. Medida Cautelar – Liminar.Quarta Camara Civel. Rel.Des. Reinaldo

P. Alberto Filho). AI 0053354-52.2011.8.19.0000

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c) freqüentação de determinados lugares a fim de preservar a

integridade física e psicológica da ofendida;

IV - restrição ou suspensão de visitas aos dependentes

menores, ouvida a equipe de atendimento multidisciplinar ou

serviço similar;

V - prestação de alimentos provisionais ou provisórios.33

§ 1o As medidas referidas neste artigo não impedem a

aplicação de outras previstas na legislação em vigor, sempre

que a segurança da ofendida ou as circunstâncias o exigirem,

devendo a providência ser comunicada ao Ministério Público.

§ 2o Na hipótese de aplicação do inciso I, encontrando-se o

agressor nas condições mencionadas no caput e incisos do art.

6o da Lei no 10.826, de 22 de dezembro de 2003, o juiz

comunicará ao respectivo órgão, corporação ou instituição as

medidas protetivas de urgência concedidas e determinará a

restrição do porte de armas, ficando o superior imediato do

agressor responsável pelo cumprimento da determinação

judicial, sob pena de incorrer nos crimes de prevaricação ou de

desobediência, conforme o caso.

§ 3o Para garantir a efetividade das medidas protetivas de

urgência, poderá o juiz requisitar, a qualquer momento, auxílio

da força policial.

§ 4o Aplica-se às hipóteses previstas neste artigo, no que

couber, o disposto no caput e nos §§ 5o e 6º do art. 461 da Lei

no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 (Código de Processo

Civil).34

33 Ementa: ALIMENTOS PROVISÓRIOS. LEI MARIA DA PENHA. MEDIDA DE PROTEÇÃO. NATUREZA PENAL. INCOMPETÊNCIA DA CÂMARA CÍVEL PARA APRECIAR A INTERLOCUTÓRIA QUE FIXOU A VERBA. CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. Agravo de instrumento assestado contra decisão do juiz do III Juizado de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher que proibiu a aproximação e contato do Agravante com a vítima, bem como deferiu alimentos provisórios.No âmbito da Lei nº 11.340/2006, a fixação da verba alimentar provisória tem natureza penal por se tratar de mecanismo acessório destinado à proteção de vítima de violência doméstica. Esta Câmara Cível não tem competência para conhecer o recurso interposto. Conflito Negativo de Competência que se suscita.( Agravo de Instrumento nº DES.RICARDO RODRIGUES CARDOZO - Julgamento: 18/10/2011 - DECIMA QUINTA CAMARA CIVEL 0039050-38.2011.8.19.0000 34 Art. 22 da Lei 11.340/2006

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51

As medidas protetivas de urgência são espécies de medidas

essencialmente cautelares, que objetivam garantir principalmente a integridade

psicológica, física, moral e material (patrimonial) da mulher vítima de violência

doméstica e familiar, com vistas a garantir que ela possa agir livremente ao

optar por buscar a proteção estatal e, em especial, a jurisprudencial, contra

o(a) seu(sua) suposto(a) agressor(a).

São pressupostos gerais para a concessão das medidas protetivas a

constatação da prática de conduta que caracterize violência contra a mulher,

desenvolvida no âmbito das relações domésticas “ou” familiares dos

envolvidos, apesar de o emprego equivocado da conjunção aditiva “e”, na

cabeça do artigo 22 poder levar à falsa idéia de que teria que haver o concurso

das duas situações.

Como a violência doméstica reclama medidas eficazes, urgentes e

objetivas de repressão e prevenção, compatíveis com cada situação que

envolve as relações domésticas ou familiares, há uma multiplicidade de

medidas específicas previstas no art. 22 e ainda um extenso rol das medidas

não específicas que o órgão judiciário está autorizado a deferir, dentro do

amplo poder geral de cautela previsto no artigo sob comento, a desafiar a

argúcia do interprete e a eficácia do sistema judiciário na sua aplicação.

Será necessário que o intérprete esteja atento aos casos que evidenciem

a necessidade da aplicação dos princípios e métodos que regem a

interpretação das normas, com ênfase para o principio da proporcionalidade e

a ponderação de bens e valores, buscando aplicar a dose certa do remédio

cautelar no caso concreto, para que não ocorram desnecessários excessos.

Situações complexas que saltam aos olhos e já se apresentam desafiadoras

para o aplicador do direito. Como por ex: Quando a vítima trabalha no mesmo

local do agressor(a), e o aplicador tiver que aplicar a medida protetiva de

afastamento, e com isso o agressor(a) tiver como pena a demissão por ter que

se manter afastado da vítima e não poder comparecer ao seu local de trabalho,

pois para o agressor(a) não há proteção, como existe para vítima que precisar

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52 desse mecanismo, há expressa garantia reservada no art 9º, §2º, I e II da lei

em comento.

3.2- Das Medidas Protetivas de Urgência à Ofendida

O art. 22 apresenta um rol exemplificativo de medidas protetivas de

urgência, as quais possuem características e naturezas próprias; a maioria

delas pode inclusive ser aplicada tanto no âmbito criminal como no cível (direito

das famílias) e até mesmo no juízo de família, quando a matéria não for da

competência do juizado especializado previsto no art. 14:

Os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a

Mulher, órgãos da Justiça Ordinária com competência cível e

criminal, poderão ser criados pela União, no Distrito Federal e

nos Territórios, e pelos Estados, para o processo, o julgamento

e a execução das causas decorrentes da prática de violência

doméstica e familiar contra a mulher

ou da vara criminal mencionada no art. 33:

Enquanto não estruturados os Juizados de Violência

Doméstica e Familiar contra a Mulher, as varas criminais

acumularão as competências cível e criminal para conhecer e

julgar as causas decorrentes da prática de violência doméstica

e familiar contra a mulher, observadas as previsões do Título IV

desta Lei, subsidiada pela legislação processual pertinente.

Parágrafo único. Será garantido o direito de preferência, nas

varas criminais, para o processo e o julgamento das causas

referidas no caput.

Já o Art. 23 e 24. Apresentam as medidas de urgência à ofendida:

Poderá o juiz, quando necessário, sem prejuízo de outras

medidas:

I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa

oficial ou comunitário de proteção ou de atendimento;

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53

II - determinar a recondução da ofendida e a de seus

dependentes ao respectivo domicílio, após afastamento do

agressor;

III - determinar o afastamento da ofendida do lar, sem prejuízo

dos direitos relativos a bens, guarda dos filhos e alimentos;

IV - determinar a separação de corpos.35

Art. 24. Para a proteção patrimonial dos bens da sociedade

conjugal ou daqueles de propriedade particular da mulher, o

juiz poderá determinar, liminarmente, as seguintes medidas,

entre outras:

I - restituição de bens indevidamente subtraídos pelo agressor

à ofendida;

II - proibição temporária para a celebração de atos e contratos

de compra, venda e locação de propriedade em comum, salvo

expressa autorização judicial;

III - suspensão das procurações conferidas pela ofendida ao

agressor;

IV - prestação de caução provisória, mediante depósito judicial,

por perdas e danos materiais decorrentes da prática de

violência doméstica e familiar contra a ofendida.

Parágrafo único. Deverá o juiz oficiar ao cartório competente

para os fins previstos nos incisos II e III deste artigo.

35 Separação de corpos. União estável. Medida cautelar. A companheira tem o direito de

requerer o afastamento do companheiro do lar, pois os valores éticos que a medida visa

proteger estão presentes no casamento e fora dele. Recurso conhecido e provido.(REsp 93582

RJ 1996/0023380-2.Rel.Ministro Ruy Rosado de Aguiar.05/08/1996. Quarta Turma.

Publicação:DJ 09.09.1996 p. 32372 LEXSTJ vol. 90 p. 227)

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54

CONCLUSÃO

Em vários momentos na história da humanidade nos deparamos com a

violência contra as mulheres, seja na forma psicológica, física, sexual, moral ou

patrimonial. Em todas as sociedades, etnias, culturas essa violência de gênero,

acontece com mais ou menos intensidade.

A mulher biologicamente é um ser mais frágil que o homem, isso quando

levamos em conta sua natureza sem qualquer alteração química ou cirúrgica

para mudar esse conceito.

Durante décadas a mulher tem buscado o seu espaço na sociedade,

como cidadã de direitos e não só de deveres para com o seu “dono”, deixando

para trás o ranço de coisa ou propriedade de alguém. Contudo tem sido muito

difícil, pois está arraigado no homem o poder de apropriação, e em várias

culturas e crenças ainda permanece a dominação do homem sobre a mulher.

Porém apesar de várias culturas e crenças, devemos enxergar a mulher

como ser digno de respeito e amor, que deve ser compreendida por seu

companheiro e quando não existir mais afeto, que tenha a liberdade de seguir o

seu caminho. Pois muitos homens violentaram suas ex companheiras, esposas

ou namoradas, quando essas já não suportavam a vida de subjugação e

decidiram pelo divorcio, ou até mesmo empreenderem em fuga para não

serem mortas por eles. O homem tem que se conscientizar que não é com

violência que resgatará o afeto, e se realmente ele tem algum sentimento pela

companheira que se foi, deve mudar de atitude e se tornar um ser social.

Esse trabalho, teve como objetivo pesquisar se o Estado do Rio de

Janeiro, de alguma forma tem ajudado as mulheres vítimas de violência no

casal heterossexual. Foi surpreendente o resultado, pois o Estado tem

desenvolvido Políticas públicas para as mulheres vítimas de violência

doméstica e familiar em geral, para que haja efetivação das medidas protetivas

elencadas na lei 11.340/2006.

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55

O Estado do Rio de Janeiro tem se empenhado no combate à violência

doméstica e familiar. Tem desenvolvido meios e instrumentos para combater

de forma efetiva a prática desta violência. Mesmo com toda dedicação para

assegurar a proteção da mulher vítima, ainda não conseguiu erradicar essa

prática de dominação do homem sobre a mulher.

A maioria das vítimas ainda prefere ficar em silêncio. Devido à cultura, a

violência de gênero é tida como um fenômeno natural.

A lei Maria da Penha veio com grandes inovações concedendo à vítima

oportunidades de sobrevivência que antes não tinha, porque o Estado não

promovia meios e instrumentos para ajudar essas mulheres que queriam se

livrar da agressão, mas não tinham para onde ir.

Muitos Estados da Federação ainda não colocaram em prática a política

pública proposta pela Lei Maria da Penha, dificultando assim a eficácia da Lei.

É interessante constatar neste estudo que se não houver uma parceria do

poderes Executivo e Judiciário não será possível a efetividade da Lei.

É preciso que haja uma maior conscientização do combate a esta

violência, pois o homem agressor deve ser educado a não agredir, deve passar

por tratamento psicológico descobrir a real causa de sua ação e ser punido por

suas ações irracionais. Pois os algozes podem estar em qualquer classe social,

em qualquer credo religioso, qualquer raça ou etnia. Mesmo com o sistema

patriarcal implantado na sociedade, é importante alimentar a esperança que a

educação pode mudar esta realidade. É necessário que a vítima tenha

coragem de buscar a liberdade e a justiça, pois são fatores essenciais para se

obter uma mudança no quadro violento, existente não só no Estado do Rio de

Janeiro, mas em todo o País, e até mesmo no mundo.

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56

BIBLIOGRAFIA

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57 FREITAS,André Guilherme Tavares.Estudos sobre as novas Leis de Violência

Doméstica contra a Mulher e de Tóxicos. (Lei 11.340/2006 e

11.343/2006)Doutrina e Legislação. Rio de Janeiro. Lumen Juris. 2007

PRADO, Luiz Regis, Curso de direito Penal Brasileiro.Parte especial. 6ª edição.

Revista dos Tribunais. São Paulo.2007

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58

LEGISLAÇÃO

BRASIL. Constituição (1988). Lex: Vade Mecum Universitário 2010, Saraiva,

Rio de Janeiro.

BRASIL. Lei Ordinária 11.340, 07 de agosto de 2006. Lex: Vade Mecum

Universitário, Saraiva, Rio de Janeiro.

BRASIL. Lei Ordinária. 5.869 de 11 de Janeiro de 1973. Lex: Vade Mecum

Universitário, Saraiva, Rio de Janeiro.

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I. Lei Ordinária 11.340Saraiva, Rio de Janeiro.

Anexo I

LEI

O PRESIDENTE DA

e eu sanciono a seguinte

Art. 1o Esta Lei cria

familiar contra a mulher,

Convenção sobre a Elimi

Convenção Interamerican

Mulher e de outros trata

Brasil; dispõe sobre a cria

Mulher; e estabelece med

violência doméstica e fam

ANEXOS .340, 07 de agosto de 2006. Lex: Vade Meceiro.

Presidência da República

Casa Civil

Subchefia para Assuntos Jurídicos

LEI Nº 11.340, DE 7 DE AGOSTO DE 2006.

Cria mecanismos para cdoméstica e familiar conttermos do § 8o do art. 226Federal, da Convenção sode Todas as Formas dcontra as Mulheres e Interamericana para PrErradicar a Violência cdispõe sobre a criação Violência Doméstica e FMulher; altera o CódigPenal, o Código Penal e aPenal; e dá outras providê

DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso

uinte Lei:

TÍTULO I

DISPOSIÇÕES PRELIMINARES

ei cria mecanismos para coibir e prevenir a violê

ulher, nos termos do § 8o do art. 226 da Constitu

Eliminação de Todas as Formas de Violência co

ericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Vi

tratados internacionais ratificados pela Repúbli

a criação dos Juizados de Violência Doméstica e

e medidas de assistência e proteção às mulhere

e familiar.

59

Mecum Universitário,

icos

ara coibir a violência r contra a mulher, nos rt. 226 da Constituição ção sobre a Eliminação

as de Discriminação s e da Convenção a Prevenir, Punir e cia contra a Mulher; ção dos Juizados de

a e Familiar contra a Código de Processo al e a Lei de Execução rovidências.

resso Nacional decreta

violência doméstica e

onstituição Federal, da

cia contra a Mulher, da

a Violência contra a

epública Federativa do

tica e Familiar contra a

ulheres em situação de

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Art. 2o Toda mulher, independentemente de classe, raça, etnia, orientação

sexual, renda, cultura, nível educacional, idade e religião, goza dos direitos

fundamentais inerentes à pessoa humana, sendo-lhe asseguradas as oportunidades e

facilidades para viver sem violência, preservar sua saúde física e mental e seu

aperfeiçoamento moral, intelectual e social.

Art. 3o Serão asseguradas às mulheres as condições para o exercício efetivo dos

direitos à vida, à segurança, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, à moradia,

ao acesso à justiça, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à

dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária.

§ 1o O poder público desenvolverá políticas que visem garantir os direitos

humanos das mulheres no âmbito das relações domésticas e familiares no sentido de

resguardá-las de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência,

crueldade e opressão.

§ 2o Cabe à família, à sociedade e ao poder público criar as condições

necessárias para o efetivo exercício dos direitos enunciados no caput.

Art. 4o Na interpretação desta Lei, serão considerados os fins sociais a que ela se

destina e, especialmente, as condições peculiares das mulheres em situação de

violência doméstica e familiar.

TÍTULO II

DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER

CAPÍTULO I

DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 5o Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a

mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão,

sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial:

I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio

permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente

agregadas;

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II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por

indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por

afinidade ou por vontade expressa;

III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha

convivido com a ofendida, independentemente de coabitação.

Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de

orientação sexual.

Art. 6o A violência doméstica e familiar contra a mulher constitui uma das formas

de violação dos direitos humanos.

CAPÍTULO II

DAS FORMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR

CONTRA A MULHER

Art. 7o São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras:

I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade

ou saúde corporal;

II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano

emocional e diminuição da auto-estima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno

desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos,

crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação,

isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem,

ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que

lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação;

III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a

presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante

intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a

utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método

contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição,

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62 mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o

exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos;

IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure

retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de

trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos,

incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades;

V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia,

difamação ou injúria.

TÍTULO III

DA ASSISTÊNCIA À MULHER EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR

CAPÍTULO I

DAS MEDIDAS INTEGRADAS DE PREVENÇÃO

Art. 8o A política pública que visa coibir a violência doméstica e familiar contra a

mulher far-se-á por meio de um conjunto articulado de ações da União, dos Estados,

do Distrito Federal e dos Municípios e de ações não-governamentais, tendo por

diretrizes:

I - a integração operacional do Poder Judiciário, do Ministério Público e da

Defensoria Pública com as áreas de segurança pública, assistência social, saúde,

educação, trabalho e habitação;

II - a promoção de estudos e pesquisas, estatísticas e outras informações

relevantes, com a perspectiva de gênero e de raça ou etnia, concernentes às causas,

às conseqüências e à freqüência da violência doméstica e familiar contra a mulher,

para a sistematização de dados, a serem unificados nacionalmente, e a avaliação

periódica dos resultados das medidas adotadas;

III - o respeito, nos meios de comunicação social, dos valores éticos e sociais da

pessoa e da família, de forma a coibir os papéis estereotipados que legitimem ou

exacerbem a violência doméstica e familiar, de acordo com o estabelecido no inciso III

do art. 1o, no inciso IV do art. 3o e no inciso IV do art. 221 da Constituição Federal;

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63

IV - a implementação de atendimento policial especializado para as mulheres, em

particular nas Delegacias de Atendimento à Mulher;

V - a promoção e a realização de campanhas educativas de prevenção da

violência doméstica e familiar contra a mulher, voltadas ao público escolar e à

sociedade em geral, e a difusão desta Lei e dos instrumentos de proteção aos direitos

humanos das mulheres;

VI - a celebração de convênios, protocolos, ajustes, termos ou outros

instrumentos de promoção de parceria entre órgãos governamentais ou entre estes e

entidades não-governamentais, tendo por objetivo a implementação de programas de

erradicação da violência doméstica e familiar contra a mulher;

VII - a capacitação permanente das Polícias Civil e Militar, da Guarda Municipal,

do Corpo de Bombeiros e dos profissionais pertencentes aos órgãos e às áreas

enunciados no inciso I quanto às questões de gênero e de raça ou etnia;

VIII - a promoção de programas educacionais que disseminem valores éticos de

irrestrito respeito à dignidade da pessoa humana com a perspectiva de gênero e de

raça ou etnia;

IX - o destaque, nos currículos escolares de todos os níveis de ensino, para os

conteúdos relativos aos direitos humanos, à eqüidade de gênero e de raça ou etnia e

ao problema da violência doméstica e familiar contra a mulher.

CAPÍTULO II

DA ASSISTÊNCIA À MULHER EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR

Art. 9o A assistência à mulher em situação de violência doméstica e familiar será

prestada de forma articulada e conforme os princípios e as diretrizes previstos na Lei

Orgânica da Assistência Social, no Sistema Único de Saúde, no Sistema Único de

Segurança Pública, entre outras normas e políticas públicas de proteção, e

emergencialmente quando for o caso.

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§ 1o O juiz determinará, por prazo certo, a inclusão da mulher em situação de

violência doméstica e familiar no cadastro de programas assistenciais do governo

federal, estadual e municipal.

§ 2o O juiz assegurará à mulher em situação de violência doméstica e familiar,

para preservar sua integridade física e psicológica:

I - acesso prioritário à remoção quando servidora pública, integrante da

administração direta ou indireta;

II - manutenção do vínculo trabalhista, quando necessário o afastamento do local

de trabalho, por até seis meses.

§ 3o A assistência à mulher em situação de violência doméstica e familiar

compreenderá o acesso aos benefícios decorrentes do desenvolvimento científico e

tecnológico, incluindo os serviços de contracepção de emergência, a profilaxia das

Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) e da Síndrome da Imunodeficiência

Adquirida (AIDS) e outros procedimentos médicos necessários e cabíveis nos casos

de violência sexual.

CAPÍTULO III

DO ATENDIMENTO PELA AUTORIDADE POLICIAL

Art. 10. Na hipótese da iminência ou da prática de violência doméstica e familiar

contra a mulher, a autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência adotará,

de imediato, as providências legais cabíveis.

Parágrafo único. Aplica-se o disposto no caput deste artigo ao descumprimento

de medida protetiva de urgência deferida.

Art. 11. No atendimento à mulher em situação de violência doméstica e familiar, a

autoridade policial deverá, entre outras providências:

I - garantir proteção policial, quando necessário, comunicando de imediato ao

Ministério Público e ao Poder Judiciário;

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65

II - encaminhar a ofendida ao hospital ou posto de saúde e ao Instituto Médico

Legal;

III - fornecer transporte para a ofendida e seus dependentes para abrigo ou local

seguro, quando houver risco de vida;

IV - se necessário, acompanhar a ofendida para assegurar a retirada de seus

pertences do local da ocorrência ou do domicílio familiar;

V - informar à ofendida os direitos a ela conferidos nesta Lei e os serviços

disponíveis.

Art. 12. Em todos os casos de violência doméstica e familiar contra a mulher,

feito o registro da ocorrência, deverá a autoridade policial adotar, de imediato, os

seguintes procedimentos, sem prejuízo daqueles previstos no Código de Processo

Penal:

I - ouvir a ofendida, lavrar o boletim de ocorrência e tomar a representação a

termo, se apresentada;

II - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e de suas

circunstâncias;

III - remeter, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, expediente apartado ao juiz

com o pedido da ofendida, para a concessão de medidas protetivas de urgência;

IV - determinar que se proceda ao exame de corpo de delito da ofendida e

requisitar outros exames periciais necessários;

V - ouvir o agressor e as testemunhas;

VI - ordenar a identificação do agressor e fazer juntar aos autos sua folha de

antecedentes criminais, indicando a existência de mandado de prisão ou registro de

outras ocorrências policiais contra ele;

VII - remeter, no prazo legal, os autos do inquérito policial ao juiz e ao Ministério

Público.

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§ 1o O pedido da ofendida será tomado a termo pela autoridade policial e deverá

conter:

I - qualificação da ofendida e do agressor;

II - nome e idade dos dependentes;

III - descrição sucinta do fato e das medidas protetivas solicitadas pela ofendida.

§ 2o A autoridade policial deverá anexar ao documento referido no § 1o o boletim

de ocorrência e cópia de todos os documentos disponíveis em posse da ofendida.

§ 3o Serão admitidos como meios de prova os laudos ou prontuários médicos

fornecidos por hospitais e postos de saúde.

TÍTULO IV

DOS PROCEDIMENTOS

CAPÍTULO I

DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 13. Ao processo, ao julgamento e à execução das causas cíveis e criminais

decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher aplicar-se-ão

as normas dos Códigos de Processo Penal e Processo Civil e da legislação específica

relativa à criança, ao adolescente e ao idoso que não conflitarem com o estabelecido

nesta Lei.

Art. 14. Os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, órgãos

da Justiça Ordinária com competência cível e criminal, poderão ser criados pela União,

no Distrito Federal e nos Territórios, e pelos Estados, para o processo, o julgamento e

a execução das causas decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra

a mulher.

Parágrafo único. Os atos processuais poderão realizar-se em horário noturno,

conforme dispuserem as normas de organização judiciária.

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67

Art. 15. É competente, por opção da ofendida, para os processos cíveis regidos

por esta Lei, o Juizado:

I - do seu domicílio ou de sua residência;

II - do lugar do fato em que se baseou a demanda;

III - do domicílio do agressor.

Art. 16. Nas ações penais públicas condicionadas à representação da ofendida

de que trata esta Lei, só será admitida a renúncia à representação perante o juiz, em

audiência especialmente designada com tal finalidade, antes do recebimento da

denúncia e ouvido o Ministério Público.

Art. 17. É vedada a aplicação, nos casos de violência doméstica e familiar contra

a mulher, de penas de cesta básica ou outras de prestação pecuniária, bem como a

substituição de pena que implique o pagamento isolado de multa.

CAPÍTULO II

DAS MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA

Seção I

Disposições Gerais

Art. 18. Recebido o expediente com o pedido da ofendida, caberá ao juiz, no

prazo de 48 (quarenta e oito) horas:

I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas protetivas de

urgência;

II - determinar o encaminhamento da ofendida ao órgão de assistência judiciária,

quando for o caso;

III - comunicar ao Ministério Público para que adote as providências cabíveis.

Art. 19. As medidas protetivas de urgência poderão ser concedidas pelo juiz, a

requerimento do Ministério Público ou a pedido da ofendida.

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68

§ 1o As medidas protetivas de urgência poderão ser concedidas de imediato,

independentemente de audiência das partes e de manifestação do Ministério Público,

devendo este ser prontamente comunicado.

§ 2o As medidas protetivas de urgência serão aplicadas isolada ou

cumulativamente, e poderão ser substituídas a qualquer tempo por outras de maior

eficácia, sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem ameaçados ou violados.

§ 3o Poderá o juiz, a requerimento do Ministério Público ou a pedido da ofendida,

conceder novas medidas protetivas de urgência ou rever aquelas já concedidas, se

entender necessário à proteção da ofendida, de seus familiares e de seu patrimônio,

ouvido o Ministério Público.

Art. 20. Em qualquer fase do inquérito policial ou da instrução criminal, caberá a

prisão preventiva do agressor, decretada pelo juiz, de ofício, a requerimento do

Ministério Público ou mediante representação da autoridade policial.

Parágrafo único. O juiz poderá revogar a prisão preventiva se, no curso do

processo, verificar a falta de motivo para que subsista, bem como de novo decretá-la,

se sobrevierem razões que a justifiquem.

Art. 21. A ofendida deverá ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor, especialmente dos pertinentes ao ingresso e à saída da prisão, sem prejuízo

da intimação do advogado constituído ou do defensor público.

Parágrafo único. A ofendida não poderá entregar intimação ou notificação ao

agressor.

Seção II

Das Medidas Protetivas de Urgência que Obrigam o Agressor

Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica e familiar contra a mulher,

nos termos desta Lei, o juiz poderá aplicar, de imediato, ao agressor, em conjunto ou

separadamente, as seguintes medidas protetivas de urgência, entre outras:

I - suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com comunicação ao

órgão competente, nos termos da Lei no 10.826, de 22 de dezembro de 2003;

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II - afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida;

III - proibição de determinadas condutas, entre as quais:

a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas, fixando o

limite mínimo de distância entre estes e o agressor;

b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer meio de

comunicação;

c) freqüentação de determinados lugares a fim de preservar a integridade física e

psicológica da ofendida;

IV - restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores, ouvida a equipe

de atendimento multidisciplinar ou serviço similar;

V - prestação de alimentos provisionais ou provisórios.

§ 1o As medidas referidas neste artigo não impedem a aplicação de outras

previstas na legislação em vigor, sempre que a segurança da ofendida ou as

circunstâncias o exigirem, devendo a providência ser comunicada ao Ministério

Público.

§ 2o Na hipótese de aplicação do inciso I, encontrando-se o agressor nas

condições mencionadas no caput e incisos do art. 6o da Lei no 10.826, de 22 de

dezembro de 2003, o juiz comunicará ao respectivo órgão, corporação ou instituição

as medidas protetivas de urgência concedidas e determinará a restrição do porte de

armas, ficando o superior imediato do agressor responsável pelo cumprimento da

determinação judicial, sob pena de incorrer nos crimes de prevaricação ou de

desobediência, conforme o caso.

§ 3o Para garantir a efetividade das medidas protetivas de urgência, poderá o juiz

requisitar, a qualquer momento, auxílio da força policial.

§ 4o Aplica-se às hipóteses previstas neste artigo, no que couber, o disposto no

caput e nos §§ 5o e 6º do art. 461 da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 (Código

de Processo Civil).

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70

Seção III

Das Medidas Protetivas de Urgência à Ofendida

Art. 23. Poderá o juiz, quando necessário, sem prejuízo de outras medidas:

I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou comunitário

de proteção ou de atendimento;

II - determinar a recondução da ofendida e a de seus dependentes ao respectivo

domicílio, após afastamento do agressor;

III - determinar o afastamento da ofendida do lar, sem prejuízo dos direitos

relativos a bens, guarda dos filhos e alimentos;

IV - determinar a separação de corpos.

Art. 24. Para a proteção patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou daqueles

de propriedade particular da mulher, o juiz poderá determinar, liminarmente, as

seguintes medidas, entre outras:

I - restituição de bens indevidamente subtraídos pelo agressor à ofendida;

II - proibição temporária para a celebração de atos e contratos de compra, venda

e locação de propriedade em comum, salvo expressa autorização judicial;

III - suspensão das procurações conferidas pela ofendida ao agressor;

IV - prestação de caução provisória, mediante depósito judicial, por perdas e

danos materiais decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a

ofendida.

Parágrafo único. Deverá o juiz oficiar ao cartório competente para os fins

previstos nos incisos II e III deste artigo.

CAPÍTULO III

DA ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO

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71

Art. 25. O Ministério Público intervirá, quando não for parte, nas causas cíveis e

criminais decorrentes da violência doméstica e familiar contra a mulher.

Art. 26. Caberá ao Ministério Público, sem prejuízo de outras atribuições, nos

casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, quando necessário:

I - requisitar força policial e serviços públicos de saúde, de educação, de

assistência social e de segurança, entre outros;

II - fiscalizar os estabelecimentos públicos e particulares de atendimento à mulher

em situação de violência doméstica e familiar, e adotar, de imediato, as medidas

administrativas ou judiciais cabíveis no tocante a quaisquer irregularidades

constatadas;

III - cadastrar os casos de violência doméstica e familiar contra a mulher.

CAPÍTULO IV

DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA

Art. 27. Em todos os atos processuais, cíveis e criminais, a mulher em situação

de violência doméstica e familiar deverá estar acompanhada de advogado, ressalvado

o previsto no art. 19 desta Lei.

Art. 28. É garantido a toda mulher em situação de violência doméstica e familiar o

acesso aos serviços de Defensoria Pública ou de Assistência Judiciária Gratuita, nos

termos da lei, em sede policial e judicial, mediante atendimento específico e

humanizado.

TÍTULO V

DA EQUIPE DE ATENDIMENTO MULTIDISCIPLINAR

Art. 29. Os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher que

vierem a ser criados poderão contar com uma equipe de atendimento multidisciplinar,

a ser integrada por profissionais especializados nas áreas psicossocial, jurídica e de

saúde.

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Art. 30. Compete à equipe de atendimento multidisciplinar, entre outras

atribuições que lhe forem reservadas pela legislação local, fornecer subsídios por

escrito ao juiz, ao Ministério Público e à Defensoria Pública, mediante laudos ou

verbalmente em audiência, e desenvolver trabalhos de orientação, encaminhamento,

prevenção e outras medidas, voltados para a ofendida, o agressor e os familiares, com

especial atenção às crianças e aos adolescentes.

Art. 31. Quando a complexidade do caso exigir avaliação mais aprofundada, o

juiz poderá determinar a manifestação de profissional especializado, mediante a

indicação da equipe de atendimento multidisciplinar.

Art. 32. O Poder Judiciário, na elaboração de sua proposta orçamentária, poderá

prever recursos para a criação e manutenção da equipe de atendimento

multidisciplinar, nos termos da Lei de Diretrizes Orçamentárias.

TÍTULO VI

DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS

Art. 33. Enquanto não estruturados os Juizados de Violência Doméstica e

Familiar contra a Mulher, as varas criminais acumularão as competências cível e

criminal para conhecer e julgar as causas decorrentes da prática de violência

doméstica e familiar contra a mulher, observadas as previsões do Título IV desta Lei,

subsidiada pela legislação processual pertinente.

Parágrafo único. Será garantido o direito de preferência, nas varas criminais,

para o processo e o julgamento das causas referidas no caput.

TÍTULO VII

DISPOSIÇÕES FINAIS

Art. 34. A instituição dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a

Mulher poderá ser acompanhada pela implantação das curadorias necessárias e do

serviço de assistência judiciária.

Art. 35. A União, o Distrito Federal, os Estados e os Municípios poderão criar e

promover, no limite das respectivas competências:

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I - centros de atendimento integral e multidisciplinar para mulheres e respectivos

dependentes em situação de violência doméstica e familiar;

II - casas-abrigos para mulheres e respectivos dependentes menores em situação

de violência doméstica e familiar;

III - delegacias, núcleos de defensoria pública, serviços de saúde e centros de

perícia médico-legal especializados no atendimento à mulher em situação de violência

doméstica e familiar;

IV - programas e campanhas de enfrentamento da violência doméstica e familiar;

V - centros de educação e de reabilitação para os agressores.

Art. 36. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios promoverão a

adaptação de seus órgãos e de seus programas às diretrizes e aos princípios desta

Lei.

Art. 37. A defesa dos interesses e direitos transindividuais previstos nesta Lei

poderá ser exercida, concorrentemente, pelo Ministério Público e por associação de

atuação na área, regularmente constituída há pelo menos um ano, nos termos da

legislação civil.

Parágrafo único. O requisito da pré-constituição poderá ser dispensado pelo juiz

quando entender que não há outra entidade com representatividade adequada para o

ajuizamento da demanda coletiva.

Art. 38. As estatísticas sobre a violência doméstica e familiar contra a mulher

serão incluídas nas bases de dados dos órgãos oficiais do Sistema de Justiça e

Segurança a fim de subsidiar o sistema nacional de dados e informações relativo às

mulheres.

Parágrafo único. As Secretarias de Segurança Pública dos Estados e do Distrito

Federal poderão remeter suas informações criminais para a base de dados do

Ministério da Justiça.

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Art. 39. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, no limite de suas

competências e nos termos das respectivas leis de diretrizes orçamentárias, poderão

estabelecer dotações orçamentárias específicas, em cada exercício financeiro, para a

implementação das medidas estabelecidas nesta Lei.

Art. 40. As obrigações previstas nesta Lei não excluem outras decorrentes dos

princípios por ela adotados.

Art. 41. Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a

mulher, independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei no 9.099, de 26 de

setembro de 1995.

Art. 42. O art. 313 do Decreto-Lei no 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de

Processo Penal), passa a vigorar acrescido do seguinte inciso IV:

“Art. 313. .................................................

IV - se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos da

lei específica, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência.” (NR)

Art. 43. A alínea f do inciso II do art. 61 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de

dezembro de 1940 (Código Penal), passa a vigorar com a seguinte redação:

“Art. 61. ..................................................

.II - ............................................................

f) com abuso de autoridade ou prevalecendo-se de relações domésticas, de

coabitação ou de hospitalidade, ou com violência contra a mulher na forma da lei

específica;

........................................................... ” (NR)

Art. 44. O art. 129 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código

Penal), passa a vigorar com as seguintes alterações:

“Art. 129. ..................................................

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75 § 9o Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou

companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o

agente das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade:

Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos.

§ 11. Na hipótese do § 9o deste artigo, a pena será aumentada de um terço se o crime

for cometido contra pessoa portadora de deficiência.” (NR)

Art. 45. O art. 152 da Lei no 7.210, de 11 de julho de 1984 (Lei de Execução

Penal), passa a vigorar com a seguinte redação:

“Art. 152. ...................................................

Parágrafo único. Nos casos de violência doméstica contra a mulher, o juiz poderá

determinar o comparecimento obrigatório do agressor a programas de recuperação e

reeducação.” (NR)

Art. 46. Esta Lei entra em vigor 45 (quarenta e cinco) dias após sua publicação.

Brasília, 7 de agosto de 2006; 185o da Independência e 118o da República.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA

Dilma Rousseff

Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de 8.8.2006

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76

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

A LEI MARIA DA PENHA 12

1.1 – Histórico da Lei 12

1.2 – Antecedentes que visavam à proteção da vítima de violência 13

doméstica

1.3 – Âmbito de incidência da Lei Maria da Penha 14

1.4 – Inovações na Lei Maria da Penha 16

1.5 – A política pública proposta pela Lei Maria da Penha 17

1.6 – Natureza da Ação Penal 21

CAPÍTULO II

POLÍTICAS PÚBLICAS DE PROTEÇÃO À MULHER VÍTIMA DE VIOLÊNCIA

DOMÉSTICA NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 26

2.1 - Órgãos/Instituições criadas no Estado do Rio de Janeiro para desenvolver as

políticas públicas de proteção à mulher vítima de violência doméstica, através dos

serviços especializados de atendimento à mulher 29

2.1.1- Núcleo de Defesa dos Direitos da Mulher- NUDEM 29

2.1.2- Delegacia Especializada de Atendimento a Mulher- DEAM 30

2.1.3- Juizados da Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher no Estado

do Rio de janeiro 31

2.1.4- Casa Abrigo no Estado do Rio de Janeiro 33

2.1.5- Centro de Referência e Atendimento à Mulher 35

Page 77: LDOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL › docpdf › monografias_publicadas › K229833.pdf · Embora a Lei Maria da Penha (Lei 11.340/2006) utilize a violência doméstica

77 2.1.6- Central Judicial de abrigamento provisório da Muher Vítima de

Violência Doméstica – CEJUVIDA 38

2.1.7- Rede de Enfretamento à Violência contra a Mulher 39

2.1.8- Conselhos Nacionais, Estaduais e Municipais de Direitos das Mulheres

39

2.1.9- Organismos Governamentais de Políticas para as Mulheres 40

2.1.10- Organismos Não Governamentais de Políticas para as

Mulheres 41

2.1.11- NIAM/NUAM – Núcleos (Integrados) de Atendimento à Mulher 42

2.1.12- Centros de educação e de reabilitação para os agressores 42

CAPÍTULO III

MEDIDAS PROTETIVAS DA LEI 11.340/2006 45

3.1 – As medidas protetivas de urgência que obrigam o agressor 48

3.2 – Das medidas protetivas de urgência à Ofendida 52

CONCLUSÃO 54

BIBLIOGRAFIA 56

LEGISLAÇÃO 58

ANEXOS 59

ÍNDICE 76